Livro - Lcool de Fazenda PDF
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e
em Sistema Cooperativo
Juarez de Souza e Silva
Professor Titular do Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Viçosa
Viçosa - MG
Inclui apêndice.
INTRODUÇÃO GERAL 13
CAPÍTULO I
Noções sobre Fermentação e Produção de Álcool na Fazenda 17
Generalidades 17
Álcool a partir do caldo fermentado 28
Álcool a partir de pré-destilados 35
Rendimento em álcool 37
Processo de destilação 39
CAPÍTULO II
Produção Integrada de Álcool Combustível em Sistema Cooperativo 49
Introdução 49
Considerações gerais 52
CAPÍTULO III
Planejamento e Viabilidade Econômica de uma Microdestilaria 63
Generalidades 63
Planejamento de uma md para 200.000 l anuais 65
CAPÍTULO IV
Avaliação de um Evaporador para Destilação Contínua 75
Definição da área de estudo 75
Sistema de aquecimento evaporativo 76
Construção da fornalha 77
Isolamento térmico da campânula 79
Matéria-prima para os testes 80
Execução dos testes 85
Resultados 87
CAPÍTULO V
Análise Física do Evaporador Contínuo e Programa para
Dimensionamento 99
Generalidades 99
Desenvolvimento do programa 101
Resultados 119
Conclusões 125
CAPÍTULO VI
Construção do Pré-Destilador Modelo UFV 127
CAPÍTULO VII
Microdestilador com Dupla Coluna para Aproveitamento
de Resíduos da Cachaça 141
REFERÊNCIAS 151
APÊNDICE A
Programa Computacional 153
APÊNDICE B
Propriedades Físicas da Mistura Etanol-água 166
I NTRODUÇÃO GERAL
1. Necessidade do combustível
Desde a primeira crise do petróleo, na década de 1970, a
utilização de energia renovável tem sido pesquisada e incentivada. Nesse
contexto, foi lançado no Brasil o Pró-Álcool (Programa Nacional do
Álcool), que visou à inclusão do álcool carburante na matriz energética
nacional. As metas de então foram a produção de cerca de 11 bilhões de
litros anuais. Essa produção foi utilizada, principalmente, para substituir
a gasolina em veículos automotores (álcool hidratado) e para adição à
gasolina como antidetonante (álcool anidro).
Na década de 1980, a produção de automóveis a álcool chegou
a mais de 90% do total de veículos pequenos fabricados no Brasil. Em
razão de problemas políticos, o programa foi praticamente desativado e
o número de veículos fabricados que ainda utilizam apenas o álcool
carburante ficou abaixo de 5% até 2004. Mesmo assim, o Brasil tem
sido apontado como o país que implementou o maior programa de uso
de fontes renováveis de energia, graças ao Pró-Álcool. Vale lembrar
que a produção de álcool é usada para ser adicionada na gasolina e que
os derivados da cana-de-açúcar representavam, em 2003, mais de 10%
do uso de energia primária no Brasil.
Mais recentemente, as pessoas têm sido despertadas para
questões não somente energéticas, mas também ambientais. Prova disso
foram as notáveis reuniões da liderança mundial, que, na RIO–92, em
Kioto no ano de 2002, em Joanesburgo e na RIO+10, declararam a
14 Introdução geral
2. Processos de separação
Como será visto mais adiante, a destilação é um processo usado
para separar os componentes de uma solução líquida e depende da
distribuição destes entre as fases de vapor e líquida. A fase de vapor é
criada da fase líquida, pela sua vaporização no ponto de ebulição. O
requerimento básico para separação dos componentes é de que a
composição do vapor seja diferente da composição do líquido com o
qual ele se encontra em equilíbrio no ponto de ebulição do líquido.
Vaporização e condensação são os dois processos de mudança de
fase que podem ocorrer em uma interface sólido-líquido e sólido-vapor,
respectivamente. Nesses casos, os efeitos do calor latente, associados à
mudança de fase, são significativos. Segundo Incropera e Witt (1992), a
ebulição e a condensação envolvem movimento de fluido e, por isso,
são classificadas como espécies de modos convectivos de transferência
de calor. Devido à mudança de fase, é possível a transferência de calor
do fluido, ou para o fluido, sem alteração da sua temperatura.
Na ebulição e na condensação, é possível conseguir taxas elevadas
de transferência de calor com pequenas diferenças de temperatura. Como
em uma convecção simples, de acordo com Pitts e Sissom (1977), um
coeficiente de transferência de calor h é usado para relacionar o fluxo
de calor e a diferença de temperatura entre a superfície aquecedora (Ts)
e o líquido saturado (Tsat). Entretanto, os processos de mudança de
fase envolvem variações de densidade, viscosidade, calor específico e
condutividade térmica do fluido. O calor latente é liberado no caso da
condensação e absorvido na vaporização.
As determinações dos coeficientes de transferência de calor na
ebulição e na condensação são bem mais complicadas do que para
processos convectivos com uma única fase. Assim, a maioria dos cálculos
envolvendo a ebulição e a condensação é realizada por meio de
correlações empíricas.
Uma aproximação simplificada para determinação da
transferência de calor em escoamento com ebulição é feita pela adição
16 Introdução geral
Generalidades
O álcool de cana, se considerado como uma alternativa para a
geração de empregos em um país com excesso de mão-de-obra pode,
ainda, gerar ganhos com a redução na importação de combustíveis fósseis
e rendimento com a possibilidade de exportação do álcool excedente.
Deve-se, também, salientar o aspecto ambiental, já que o álcool gera
menor quantidade de resíduos tóxicos e contribui para uma menor
emissão de gases causadores do efeito estufa. Como o material gerado
(CO2) é seqüestrado pela fotossíntese quando do crescimento ou da
formação do novo canavial, o Brasil poderá, ainda, ser beneficiado com
a comercialização dos créditos de carbono.
No que se refere ao uso do álcool combustível, este pode ser
utilizado em motores de ciclo Otto ou Diesel. Nos motores de ciclo
Otto, o álcool pode ser utilizado por meio da mistura de álcool anidro
com gasolina ou puro, na forma de álcool hidratado. Em motores diesel,
ele pode ser utilizado de quatro formas: mistura de álcool com
emulsificantes; mistura de álcool com óleo diesel; em motor com duplo
18 Capítulo 1
Processo de fermentação
Fermentação alcoólica é a transformação de açúcares em álcool
etílico (etanol) e gás carbônico (CO2) pela ação de um determinado
grupo de organismos unicelulares denominados leveduras. Os mais
importantes e usados na produção do etanol são os do gênero
Saccharomyces. Esses organismos são desenvolvidos para propiciar
fermentação uniforme, rápida e com alto rendimento em etanol.
As leveduras devem ser tolerantes a grandes variações de
temperatura, a níveis de acidez (pH) e a altas concentrações alcoólicas.
Elas podem crescer na presença ou na ausência de oxigênio e, em um
ciclo normal de fermentação, usam o oxigênio do início do processo até
que ele seja todo consumido. Somente durante o período anaeróbio é
que as leveduras produzem o etanol.
Apesar de as leveduras resistirem a um ambiente anaeróbio, elas
são essencialmente aeróbias. Por essa razão, na preparação do “pé de
cuba” ou “pé de fermentação”, deve-se fornecer oxigênio ao mosto para
que ocorra um crescimento intenso da população de organismos.
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 19
Figura 1.1 - Sala de fermentação com várias dornas com fundo cônico
em aço inoxidável.
Temperatura
Nutrientes
Composição do vinho
Após a fermentação, o mosto fermentado recebe a denominação
de vinho e apresenta constituições variáveis, envolvendo substâncias
gasosas, sólidas e líquidas. As primeiras são representadas,
principalmente, pelo dióxido de carbono dissolvido em pequena
proporção no vinho. As sólidas se fazem presentes pelas células de
leveduras, bactérias, sais minerais, açúcares não-fermentados e
impurezas não-filtradas depois da moagem que ficam em suspensão no
vinho. A água e o etanol são as substâncias líquidas mais importantes
presentes nos vinhos. Produtos secundários como aldeído acético, ácido
succínico, ácido acético, ácido lático, ácido burítico, ésteres, álcoois
superiores e, às vezes, o furfural, estão presentes. A água e o etanol, nos
vinhos comuns, são encontrados em percentagens que variam,
respectivamente, de 88-93 % a 7-12 % (BORZANI, 1988).
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 27
b) Pé-de-cuba selvagem
Esse método consiste em utilizar leveduras naturalmente
existentes na natureza para obter o pé-de-cuba. Ele pode ser preparado
de diversas maneiras, alterando-se as quantidades dos ingredientes
utilizados.
• Colocar em um saco de aniagem 2 a 3kg de farelo de arroz; 2 a
3kg de fubá de milho; 0,5kg de bolacha e caldo de limão ou
laranja azeda, em quantidade suficiente para formar uma pasta.
• Deixar o material em repouso por até 24h ou até que surjam
rachaduras na superfície da pasta;
• Adicionar caldo de cana diluído em água de boa qualidade, na
proporção de 1:1, até que a pasta fique submersa;
• Cobrir com um pano e deixar em repouso por mais 24 h;
• Ao observar efervescência ou formação de borbulhas, adicionar
uma quantidade maior de caldo de cana diluído em água, na
proporção de 1:1 (2 a 5 vezes);
• Deixar o material novamente em repouso e fazer nova adição
de caldo diluído, nas mesmas proporções;
• Esta operação deverá ser repetida até que o volume do “pé-de-
cuba” preparado seja equivalente a 0,2 do volume de mosto a
ser fermentado na dorna principal.
32 Capítulo 1
2. Preencher essas dornas com caldo diluído para 16º Brix, até
completar o volume das dornas (260 L), tomando-se cuidado
para o teor de açúcar final não superar 7º Brix (metade de 16
menos 1).Observação: 260 L é o volume útil de cada dorna
que corresponde a 80% do volume total, que é de 325 L. Isso
deve ser feito para evitar transbordamento de espuma durante
a fermentação como é visto na Figura 1.2;
3. Transferir metade do material da dorna 2 para a dorna 3;
4. Completar o volume dessas dornas para 260 L, com caldo a
16º Brix;
5. Esperar até o teor de açúcar da dorna 1 cair a zero
(transformação total do açúcar em álcool), quando o seu
conteúdo será levado para destilar;
6. Lavar a dorna 1 e transferir para a mesma metade do conteúdo
da dorna 3;
7. Preencher essas dornas com caldo, com 16º Brix;
8. Esperar o teor de açúcar da dorna 2 cair para zero e levar seu
conteúdo para destilar;
9. Lavar a dorna 2, para receber metade do conteúdo da dorna
1;
10. Completar o volume dessas dornas, utilizando-se mosto com
16 Brix;
11. Esperar o teor de açúcar da dorna 3 cair para zero, quando o
material será encaminhado para a destilação.
Em resumo, o processo de corte das dornas é feito da seguinte
maneira (Figura1.5):
a) Quando parte do material da dorna 2 é transferido para
a dorna 3, destila-se o conteúdo da dorna 1;
b) Quando parte do material da dorna 3 é transferido para
a dorna 1, destila-se o conteúdo da dorna 2; e
34 Capítulo 1
Rendimento em álocol
Uma questão importante que deve ser abordada é o rendimento,
em álcool, possível de ser obtido em uma pequena unidade de destilação.
Pode-se considerar que, para produzir álcool a partir da fermentação do
caldo, serão necessários, em média, 100L de mosto para produzir, pelo
menos, 10L de álcool combustível. Como de uma tonelada de cana
consegue-se extrair, com o uso de pequenos engenhos, 600L de caldo,
concluí-se que uma tonelada de cana possibilita a obtenção de 60L de
álcool. Se for considerado que um hectare de cana bem conduzido forneça,
em média, 100ton, chega-se à conclusão que, de um hectare de cana pode-
se obter, pelo menos, 6.000L de álcool (veja, mais adiante, planejamento
de uma micro-destilaria). Essa quantidade de álcool é suficiente para
abastecer um veículo popular para rodar 60.000km por ano.
Caso a produção de álcool seja feita a partir de pré-destilados da
cachaça, podemos considerar que a quantidade de caldo obtida de uma
tonelada de cana, ou seja, 600L, serão suficientes para produzir em torno
de 11L de álcool. Portanto, de um hectare que produza, em média,
100 t de cana, pode-se produzir 1.100L de álcool e mais 11.400L de
cachaça de qualidade.
38 Capítulo 1
Processo de destilação
A finalidade da destilação é a separação dos elementos de uma
solução que apresentam temperaturas de ebulição diferentes. Puros, o
álcool etílico apresenta uma temperatura de ebulição de 78,15 ºC e a
água, nas mesmas condições, de 100 ºC (Figura 1.9). O aquecimento de
uma solução água-álcool, até uma temperatura adequada, proporcionará
a mudança de estado do álcool de líquido para vapor e, posteriormente,
para o estado líquido, após submeter o vapor ao resfriamento
(condensação). Neste processo busca-se a recuperação de álcool dentro
dos padrões de qualidade estabelecidos, em níveis compatíveis com os
equipamentos e atendendo às metas de produção. Para uma operação
eficiente dos equipamentos, devem-se controlar as temperaturas nas
diversas fases do processo, bem como as vazões de alimentação da água
de refrigeração e dos trocadores de calor.
O processo de destilação sucessiva proporciona um álcool etílico
mais concentrado. A separação das substâncias de uma só vez é
impossível, pois a temperatura de ebulição de uma solução álcool-água
varia conforme o percentual de cada componente da mistura
(CLEMENTE, 1995).
40 Capítulo 1
100
96
92
Composição
do vapor
Temperatura ºC
Composição
88 do líquido
84
80
Azeotropo
76
0 24,5 47,4 85,6 100
Percentagem volumar (líquido) 95,6
78,2 C
Destilação descontínua
Na destilação descontínua ou intermitente, faz-se uma carga
no aparelho; destila-se o álcool por aquecimento, separando-se os
vapores por condensação e refrigeração; descarrega-se o resíduo ou
vinhaça; faz-se nova carga e assim por diante (Figura 1.10). Esse tipo
de destilação é realizado em alambiques simples, de um só corpo, ou
em aparelhos de dois a três corpos, nos quais se consegue recuperar
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 41
Destilação contínua
A destilação contínua é realizada em colunas de destilação, fazendo-
se a alimentação contínua do aparelho com vinho e retirando
continuamente a vinhaça ou vinhoto na base e o destilado (álcool) no
topo da coluna de destilação. A separação dos componentes secundários,
com exceção do etanol, é feita pelo topo da coluna e pela lateral do
equipamento, segundo a natureza das impurezas.
As colunas de destilação (Figura 1.11) constituem-se de gomos
cilíndricos superpostos, contendo seções transversais às quais se dá o
nome de bandejas ou pratos. Os gomos e as bandejas, superpostos,
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 43
Destilação industrial
Para obtenção de etanol industrial com concentração acima de
96% de álcool em volume, isento de impurezas, fraciona-se o destilado
em álcool de primeira e álcool de segunda, separando-se os álcoois
superiores como subproduto e os outros componentes secundários
(aldeídos, bases voláteis, ésteres e ácidos).
No ramo industrial, o álcool pode ser aplicado em várias situações,
como na indústria farmacêutica, na indústria de perfumes e cosméticos,
para fins de corantes, na fabricação de vernizes e lacas, no preparo de
materiais explosivos, na fabricação de matérias plásticas, entre outros
(RASOVSKY, 1973).
A purificação do etanol, denominada retificação, industrialmente
é processada de forma contínua por destilações sucessivas em várias
colunas, denominadas colunas depuradoras, destiladoras, retificadoras
e de repasse final (Figura 1.13).
Na primeira destilação, o substrato fermentado é aquecido em
uma coluna com um número de bandejas suficiente para produzir, no
topo, mistura de vapores de baixo ponto de ebulição, que é eliminada
após a condensação e o resfriamento.
Na segunda destilação, esgota-se o substrato retirando-se o etanol
na extremidade superior da coluna, sob a forma de um destilado, com
uma concentração próxima de 50 % de álcool em volume. Na base da
coluna escoa-se o substrato isento de álcool.
Na terceira coluna concentra-se o álcool e separam-se os álcoois
superiores, de ponto de ebulição mais elevado que o etanol, na base da
coluna. No topo, obtém-se uma mistura de vapores de ponto de ebulição
menor, ao mesmo tempo em que se retira o etanol de alta concentração.
Envia-se este à quarta coluna, onde se separam mais impurezas, de ponto
de ebulição inferior ao do etanol.
Ao final dessas destilações, obtém-se uma mistura binária de
etanol e água que, no máximo, pode conter 95,6 % de etanol em volume
(SHREVE, 1980).
46 Capítulo 1
Introdução
Em 1975, o governo brasileiro estabeleceu o PRÓ-ALCOOL, um
programa bem sucedido que levou o Brasil a se tornar um líder mundial
na produção de etanol para substituição de parte da gasolina consumida
em veículos de pequeno porte, isso tornou o etanol um combustível
reconhecido mundialmente, por seus benefícios ambientais no sentido
de minimizar mudanças no clima da Terra. Devido à instabilidade no
fornecimento e ao alto preço do petróleo, ficou economicamente viável
produzir o etanol, e o Brasil aprendeu, de modo firme, as lições de como
produzi-lo, competitivamente, em qualquer situação com o petróleo
acima de US$50.00 por barril. Como o petróleo alcançou preço muito
acima desse valor, o etanol produzido em outros países e por outros
tipos de matéria-prima - como o milho no EUA - também ficou muito
competitivo com a gasolina.
Como não há probabilidade de que seja reduzido o preço do petróleo
num futuro previsível, o etanol como combustível para transporte parece,
50 Capítulo II
Considerações Gerais
Em particular, várias unidades para produção de etanol, em
pequena escala, integradas a uma cooperativa de comercialização, estão
sendo idealizadas, de maneira que os produtores rurais, em qualquer
município ou microrregião, usariam, em uma primeira fase, os resíduos
da produção de aguardente (cabeça e cauda) e o tempo disponível de
seus equipamentos para produção de uma solução alcoólica com
graduação acima de 80%, que seria transportada para a CENTRAL,
onde o produto seria submetido à retificação complementar e
transformado em álcool hidratado ou álcool combustível 92%, a fim de
suprir, a preços compatíveis, a frota de instituições públicas regionais
(prefeituras, policiamento, hospitais, etc.) e também a demanda dos
associados. O excesso seria comercializado com os distribuidores
oficiais, até que um número expressivo de cooperados se integrasse ao
sistema, para uma produção em grande escala.
Com o sistema de comercialização atual, fica difícil para o
pequeno produtor de cachaça participar do seletivo mercado de
aguardente especial para exportação, que, além do pequeno potencial
para expansão, tem dificuldades de atender às exigências de processos
e qualidades especiais do produto. Contudo, com a retomada da produção
de carros movidos a álcool ou do tipo Flexfuel, os pequenos e médios
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 53
c) Fermentação
O processo de fermentação é iniciado pelo ajustamento da
concentração de açúcar do caldo para o valor de 16o Brix (teor de açúcar),
ideal para fermentação eficiente. Depois do ajuste da concentração, o
caldo será misturado com o pé de cuba que contem leveduras especiais,
que converte o açúcar em gás carbônico e álcool (veja fermentação
alcoólica). Ao término do processo de fermentação, o produto é um
vinho com aproximadamente 12% de álcool, que deverá ser destilado
imediatamente.
Figura 2.5 - Vista geral de um destilador contínuo para fazenda 50L por
hora.
f) Comercialização do álcool
Uma vez produzido, o etanol pode ser comercializado para uso
em processos agroindustriais, laboratório específico, limpeza e
desinfecção, fonte de calor, abastecer a frota da cooperativa e cooperados
e, se possível, fornecer combustível para a frota da administração
municipal e de outras instituições públicas, a preços competitivos.
Devido ao fato de o mercado da cachaça ser muito competitivo, a
sua comercialização deve ser baseada em um produto de alta qualidade;
além disso, pelo fato de não possuírem condições, tempo ou desejo de
produzir cachaça de alta qualidade e de alto valor agregado, a maioria
dos produtores, de forma clandestina, só produz para o consumo local e
mercado negro, para consumo da propriedade ou para um mercado pouco
exigente em qualidade e higiene.
Para iniciar um programa de produção de álcool na fazenda, não
é difícil encontrar número suficiente de produtores para produzir o álcool
de baixo grau em qualquer município brasileiro. Hoje, a média dos
municípios brasileiros consome menos de 5.000 litros de etanol por dia.
É importante observar, entretanto, que em torno de 75% dos carros,
modelos 2007, vendidos e em uso no Brasil usam tecnologia Flexfuel
(gasolina ou etanol). Assim, além da grande necessidade de álcool para
atender à demanda exterior, as novas aquisições de veículos por
brasileiros serão, provavelmente, com motores Flex, aumentando ainda
mais a demanda por etanol. Também, com o etanol produzido na fazenda
por um preço abaixo de R$1,00, o uso de álcool como fonte de calor
será bastante competitivo e o consumo de GLP ou de lenha, para queima
em fogões será reduzido.
Embora seja possível a qualquer município brasileiro produzir
cana-de-açúcar e aumentar a eficiência do projeto, a meta global é formar
uma sociedade que permita que produtores que não desejam produzir o
pré-destilado possam participar do projeto com a produção de melado
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 59
g) Produção de cana
A cana é um dos principais produtos agrícolas brasileiros e uma
das principais fontes de exportação de produtos primários. Minas Gerais
é um dos Estados com maior produção de cana, juntamente com São
Paulo e dois outros Estados do Nordeste. Em Minas e São Paulo, as
épocas de plantio e colheita diferem da produção do Nordeste. Os
plantios em Minas e São Paulo vão de outubro a março, e a colheita, de
maio a outubro. A produção média da região é de aproximadamente
90 t/ha e, em condições de irrigação, pode chegar a 170 t/ha.
Geralmente, em regiões montanhosas a irrigação não é utilizada e
a produção fica limitada; devido ao fato de a mecanização ser difícil, o
plantio e a colheita são, em grande parte, feitos manualmente, sobretudo
em pequenas propriedades produtoras de aguardente.
62 Capítulo II
Planejamento e Viabilidade
Econômica de uma Microdestilaria
Generalidades
O etanol obtido a partir da fermentação do caldo de cana tem,
para produção em pequena escala, balanço de energia positivo, ou seja,
próximo a seis quilos de etanol por quilo de combustível fóssil.
A cana-de-açúcar é considerada um dos mais eficientes produtores
de biomassa convertível em álcool. Acima de um determinado nível, à
medida que o tamanho da usina aumenta, a eficiência na conversão
cresce. Contudo, o transporte da cana a longas distâncias aumenta
significativamente, o uso de energia, podendo reduzir a eficiência das
grandes usinas. Na destilação em fazendas, o agricultor, usando parte
das folhas e das pontas de canas na alimentação do rebanho de corte ou
de leite, aumentará o balanço de energia. Outro ponto importante da
destilação na fazenda é a utilização dos dejetos dos animais e do vinhoto
como fertilizantes para solo e alimentação de bovinos.
O bagaço produzido nas grandes usinas, além de servir com fonte
de calor, é também usado para co-geração de energia elétrica; em uma
microdestilaria, o bagaço será usado, também, como alimentação animal,
piso de confinamento e para melhorar a estrutura do solo. De modo
similar, o processo de destilação em pequena escala mostra outra
64 Capítulo III
Planejamento do canavial
a) Meta: Produzir 200.000L de ácool (80 oGL) durante uma safra com
período de colheita de 200 dias.
b) Capacidade de produção diária: 200.000 L ÷ 200 dias = 1.000 L de
álcool por dia.
c) Necessidade de cana por safra: Considerando que uma tonelada de
cana produz cerca de 70 L de álcool (dependendo do conhecimento,
66 Capítulo III
0 1 2 3 4 5 6 7
Plantio (ha) 18 1 1 1 1 1 13 1
1 colheita 140 18 2 1 1 1 1 14
2 colheita 130 18 2 1 1 1 1
3 colheita 120 18 4 1 1 1
4 colheita 100 18 5 1 1
5 colheita 90 18 7 1
6 colheita 80 18 1
h) Avaliação econômica
• Na Tabela 3.4 encontra-se o fluxo de caixa do projeto com
base no orçamento (saídas) e nas receitas (entradas).
• Na Tabela 3.5 encontram-se os índices de avaliação econômica
em relação ao fluxo de caixa.Para a produção somente de cana
o fluxo de caixa e os índices de avaliação encontram-se nas
Tabelas 3.6, 3.7, 3.8 e 3.9.
Tabela 3.2.- Composição de custos, até o ano 4, para produzir álcool, de baixo grau (80%), na fazenda
Ud Preço Quant. Valor Quat. Valor Quant. Valor Quant. Valor Quant. Valor
OPERAÇÕES/INSUMOS
Dist. adubo e calcário D/H 20,00 36 720,00 2 40,00 2 40,00 2 40,00 2 40,00
Dist.colmos, corte e recob. D/H 20,00 144 2.880,00 8 160,00 8 160,00 8 160,00 8 160,00
Corte da cana D/H 20,00 360 7.200,00 380 7.600,00 420 8.400,00 440 8.800,00 500 10.000,00
Transporte da cana D/H 20,00 360 7.200,00 380 7.600,00 420 8.400,00 440 8.800,00 500 10.000,00
Uréia kg 1,30 6.713 8.727,26 7.086 9.212,11 7.353 9.558,43 7.193 9.350,64 7.163 9.311,64
69
Tabela 3.2 - Cont.
70
Superfosfato simples kg 0,60 18.000 10.800,00 1.000 600,00 1.000 600,00 1.000 600,00 1.000 600,00
Cloreto de potássio kg 0,60 6.313 3.787,56 6.663 3.997,98 6.914 4.148,28 6.764 4.058,10 6.738 4.043,07
SUBTOTAL1 92.434,82
4) OUTROS
Mão-de-obra pro-álcool D/H 20,00 400 8.000,00 400 8.000,00 400 8.000,00 400 8.000,00 400 8.000,00
SUBTOTAL2 75.889,60
Tabela 3.5 - Valor presente liquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR),
tempo de retorno do capital (TCR) e renda líquida total (RLT)
VPL(15%) 135.909
TIR 40%
TRC 3 anos
RLT 74.568
Tabela 3.6 - Composição de custos, até o ano 4, para produzir apenas a cana para ser vendida
Saídas Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4
72
UD PREÇO Quant. VALOR Quant. VALOR Quant. VALOR Quant. VALOR Quant. VALOR
Tabela 3.8. - Valor presente líquido (VPL), taxa interna de retorno (TIR),
tempo de retorno do capital (TCR) e renda líquida total
(RLT)
TIR 38%
TRC 3 anos
RLT 7.811
C APÍTULO IV
Construção da Fornalha
Devido à impossibilidade de trabalhar com a queima de bagaço de
cana, nas condições do trabalho, foi construída uma fornalha para queima
de lenha, para suporte e aquecimento direto do sistema, permitindo melhor
aproveitamento da energia térmica liberada da combustão na parte inferior
do evaporador.
78 Capítulo 1V
Álcool retificado
O álcool hidratado carburante apresenta teor alcoólico de 93,8%
em peso de etanol e o restante em água e é usado como combustível em
motores de combustão interna.
84 Capítulo 1V
Funcionamento do equipamento
Para manter constante a vazão da mistura hidroalcoólica, usou-se
um tanque tipo Mariott. Esse reservatório de vinho ou de pré-destilado é
provido de um registro localizado na parte inferior, para saída da solução,
e de um bujão situado na parte superior, para carga da solução
hidroalcoólica (Figura 4.11).
Resultados
Generalidades
Destilação é um processo usado para separar os componentes de
uma solução líquida e depende da distribuição dos vários componentes
entre as fases de vapor e líquida. A fase de vapor é obtida da fase líquida,
pela vaporização no ponto de ebulição. O requerimento básico para
separação dos componentes é de que a composição do vapor seja diferente
da composição do líquido com o qual ele se encontra em equilíbrio no
ponto de ebulição.
Vaporização e condensação são os dois processos de mudança de
fase que podem ocorrer em uma interface sólido-líquido e sólido-vapor,
respectivamente. Nesses casos, os efeitos do calor latente, associados à
mudança de fase, são significativos. Segundo Incropera e DeWitt (1992),
a ebulição e a condensação envolvem movimento de fluido e, por isso,
são classificadas como espécies de modos convectivos de transferência
de calor. Devido à mudança de fase, é possível a transferência de calor
do fluido, ou para o fluido, sem alteração da sua temperatura.
100 Capítulo V
q
(b) de ebulição ( ebu ).
A
Quando um fluido encontra-se em um recipiente cuja face inferior
é aquecida, para taxas pequenas de adição de calor, vapor se formará na
superfície livre. À medida que o fluxo de calor aumenta, bolhas se formam
na região de aquecimento e mudam de tamanho enquanto se movimentam
para cima no fluido, além da vaporização na superfície livre. A formação
de bolhas com a agitação provocada é denominada de ebulição.
Se o recipiente encontra-se sobre uma superfície que é mantida a
uma temperatura acima da temperatura de saturação do líquido, a ebulição
pode ocorrer e o fluxo de calor dependerá da diferença entre as
temperaturas da superfície e a temperatura de saturação (HOLMAN,
1976). O comportamento de um fluido durante a ebulição é altamente
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 101
Desenvolvimento do Programa
Para análise de transferência de calor e de massa no evaporador
contínuo (Figura 5.1) utilizado nos testes de destilação do álcool, escreveu-
se um programa computacional (linguagem Pascal). Um fluxograma com
as principais etapas do programa é mostrado na Figura 5.2; cada um de
seus itens, assim como o volume de controle usado na análise, a
nomenclatura adotada no programa e os casos que foram simulados são
apresentados a seguir.
BALANÇO DE MASSA:
Cálculos de erros
Determinação da quantidade total de álcool
relativos percentuais
evaporado durante o processo
para concentrações
Determinação da concentração do álcool na saída
alcoólicas
Determinação da vazão de líquido em cada
compartimento
Transferência de calor ~
~ EBULIÇÃO:
efeito convectivo (sem ebulição) + efeito transferência de calor em
de ebulição regime de ebulição
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
P1 P2 P3 P4 P5
Local de medição do teor alcoólico; e
Local de medição de temperatura.
Estado da mistura
Se, na Figura 5.3, a solução inicial, fria e líquida, com XA= 0,3,
for aquecida, a ebulição começará a uma temperatura próxima de 84,5oC
e a composição do primeiro vapor em equilíbrio será, aproximadamente,
YA=0,71. À medida que a ebulição continua, a composição de XA moverá
para cima, pois YA é mais rico em A. As equações (5.2) e (5.3) têm por
objetivo estimar, durante o estado líquido-vapor, as composições do vapor
YA e do líquido XA de etanol (fração em massa de álcool na solução) em
função da temperatura (oC), respectivamente. Essas expressões foram
obtidas por meio de ajustes de equações polinomiais aos dados tabelados
e fornecidos por Geankoplis (1978).
1
Sistema em equilíbrio
XA (fração mássica de álcool na mistura)
0,9
linha de vapor y saturado
0,8
0,7
0,1
0
70 75 80 85 90 95 100
Temperatura (ºC)
Vazão (L/h) A1 B1 C1 D1 R2
Concentração = 50 oGL
54 _ -4,0083 -20,707 51,139 0,9385
35 _ -6,1698 -17,552 51,402 0,9007
30 _ 5,0809 -39,221 51,113 0,9623
8 -23,593 88,643 -112,69 49,998 1,0000
Concentração = 15 oGL
158 _ -3,8497 -2,1197 15,312 0,9098
115 _ -0,953 -8,5499 15,295 0,9703
72 _ -0,4862 -8,7559 15,603 0,8826
53 _ 1,761 -13,254 15,524 0,9185
Vazão(L/h) A2 B2 C2 D2 R2
Concentração = 50%
54 29,895 -99,948 114,16 43,49 0,99
35 51,703 -172,3 191,32 17,962 0,99
30 -2,1537 -8,167 33,943 68,326 1,00
8 42,477 -129,1 132,32 40,077 0,98
Concentração = 15%
158 -31,932 82,961 40,622 0,98
115 -34,852 86,915 41,549 0,99
72 23,813 -90,134 113,21 48,599 0,99
53 -28,209 65,422 59,159 1,00
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 111
Balanços de massa
Os valores para vazão total de álcool evaporado durante o processo,
concentração do álcool na saída, vazão e concentração da solução em
cada compartimento foram obtidos realizando-se balanços de massa no
volume de controle e em cada compartimento, como descrito a seguir:
Balanço global
L[1] = L[15] + (V[2]+V[3] +...+ V[15])=L[15] + TOTV (5.6)
TOTV=L[1]–L[15] (5.7)
Balanço de álcool
X[1] = L[15] X[15] + TOTV YB (5.8)
YB = (L[1] X[1] - L[15] X[15])/ TOTV (5.9)
112 Capítulo V
Para o compartimento I:
L[I] = L[I+1] + V[I+1] (5.10)
L[I+1] = L[I] - V[I+1] = L[I] – TOTV/14 (5.11)
L[I] X[I] = L[I+1] X[I+ 1] + V[I+1] YB (5.12)
X[I+1] = (L[I] X[I] – (TOTV/14) YB)/L[I+1] (5.13)
Para o compartimento I:
VEL[I] = L[I] * 0,001/área = L[I] * 0,001/(3600*0,05*0,1) (5.14)
Área = área transversal ao vetor velocidade, m/s.
q q q
= conv + ebu (5.15)
A A A
em que:
q
conv = h(Ts-T∞)
A
transferência convectiva de calor por unidade de área, Wm-2;
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 113
q
ebu - transferência por ebulição por unidade de área (convecção
A
ausente), W m-2.
3
q g(ρ l − ρ v c l (Ts − Tsat )
ebu = µ l h fg 1,7 (5.16)
A σ h fg Prl C sf
em que:
cl = calor específico do líquido saturado, J/kg.K;
Csf = constante superfície-líquido (Tabela 9-1, Schaum);
g = aceleração da gravidade local, m/s2;
hfg = entalpia de vaporização, J/kg;
Prl = número de Prandtl para o líquido saturado;
Ts – Tsat = excesso de temperatura, K;
µl = viscosidade do líquido, kg/m.s;
σ = tensão superficial, N/m;
ρl = densidade do líquido saturado, kg/m3; e
ρv = densidade do vapor saturado, kg/m3.
Ts − T∞
Tp = (5.17)
2
(2) obtenção das propriedades necessárias à determinação da transferência
de calor (temperatura da película, Tp).
(3) determinação do regime de escoamento (laminar ou turbulento) pela
obtenção do número de Reynolds no final da placa:
V∞ L
Re = (5.18)
υ
em que:
V∞ - velocidade, m s1;
L - comprimento, mm; e
í - viscosidade, m2s-1.
(4) Determinação do comprimento crítico, xc, no qual haverá transição
do regime de escoamento de laminar para turbulento (número de
Reynolds crítico = 500.000):
Reυ
xc = (5.19)
V∞
__
hL
( )
_____
Nu = = Pr 1 / 3 0,037 Re 0,8 − 871 (5.20)
k
Validade da equação: 0,6< Pr > 60; 5x105 < Re < 108
Propriedades da solução
Constantes para combinações superfície / fluido e
tensão superficial
Temperatura (oC)
% de álcool 20 40 50
5 - 54,92 53,35
10 - 48,25 46,77
24 - 35,50 34,32
34 33,24 31,58 30,70
48 30,1 28,93 28,24
60 27,56 26,18 25,50
72 26,28 24,91 24,12
80 24,91 23,43 22,56
96 23,04 21,38 20,40
Fonte: Handbook of Chemistry and Physics (1973).
Condutividade térmica
Viscosidade
Calor específico
Massa específica
Outras propriedades
Considerações
O programa computacional para simulação da transferência de
calor no evaporador horizontal é válido sob as seguintes condições:
1. O evaporador opera em regime permanente; existe equilíbrio
entre a fase líquida e a de vapor dentro de cada compartimento
(ambas possuem a mesma temperatura).
2. Distribuições homogêneas da temperatura da mistura e da
concentração de álcool em cada um dos compartimentos do
evaporador.
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 119
Resultados
Os estados físicos, temperaturas e concentrações da mistura em todos
os compartimentos internos do evaporador, para os oito casos investigados,
são mostrados na Tabela 5.8 e constituem os primeiros resultados provenientes
do programa computacional. Observa-se que, em todos os casos, a mistura
escoando nos primeiros compartimentos do evaporador encontrava-se no
estado líquido. As misturas nos casos 1, 3, 4, 7 e 8 permaneceram no estado
líquido nos quatro primeiros compartimentos, assim como nos casos 2, 5 e 6,
nos três primeiros compartimentos.
Durante cada teste, pôde-se observar, pelo visor central do
equipamento, a ebulição da mistura nos quatro compartimentos centrais;
entretanto, os compartimentos no início e no final do evaporador não puderam
ser visualizados. Esperava-se que as menores temperaturas da mistura fossem
nos primeiros compartimentos, pois no início de cada experimento a mistura
(à temperatura ambiente) foi introduzida diretamente no primeiro
compartimento do evaporador.
À medida que ocorre o escoamento da solução pelos compartimentos
do evaporador (temperatura constante), este cede calor para a solução até
120 Capítulo V
100
80
C)
o
Temperatura (
60
50%_8,3_caso 1
50%_29,5_caso 2
50%_34,8_caso 3
40
50%_54,4_caso 4
15%_52,9_caso 5
15%_72,03_caso 6
20
15%_115,3_caso 7
15%_158_caso 8
0
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60
C A S O 1 -5 0 % -8 ,3
C A S O 2 -5 0 % 2 9 ,5
0 ,5
C A S O 3 -5 0 % -3 4 ,8
C A S O 4 -5 0 % 5 4 .4
C A S O 5 _ 1 5 % _ 5 2 ,9
0 ,4
C A S O 6 -1 5 % 7 2 ,0 3
C A S O 7 -1 5 % 1 1 5 ,3
C A S O 8 -1 5 % 1 5 8
0 ,3
0 ,2
C o n c e n tra ç ã o a lc o ó lic a (d e c im a l)
0 ,1
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo
0
0 0 ,2 0, 4 0 ,6 0 ,8 1 1 ,2 1 ,4 1 ,6
D is tâ n c ia n o e va p o r a d o r (m )
Figura 5.6 - Concentrações alcoólicas da mistura, obtidas das equações ajustadas, para os diferentes
compartimentos do evaporador, com vazões de 8 a 158 L/h.
121
Tabela 5.8 - Resultados provenientes do programa computacional, simulando o comportamento do evaporador
contínuo 122
Comp.Dist. Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS
(m)
15 1,40 L SAT 91 0,01 L SAT 94 0,05 L SAT 91 0,13 L SAT 90, 0,13
Capítulo V
Continua...
Tabela 5.8 - Cont.
Comp.Dist. Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS Estado Temp ºC *XXS
(m)
CASO 5 15% 53 CASO 6 15% 72 CASO 7 15% 115 CASO 8 15% 158
1 0,00 LIQ 59,16 0,15 LIQ 48,60 0,15 LIQ 41,55 0,15 LIQ 40,62 0,15
2 0,15 LIQ 68,34 0,14 LIQ 63,63 0,14 LIQ 53,80 0,14 LIQ 52,35 0,15
3 0,30 LIQ 76,25 0,12 LIQ 75,09 0,13 LIQ 64,49 0,13 LIQ 62,64 0,14
4 0,44 L SAT 82,48 0,10 L SAT 82,99 0,12 LIQ 73,04 0,11 LIQ 70,94 0,14
5 0,59 L SAT 87,94 0,08 L SAT 88,91 0,10 L SAT 80,70 0,10 L SAT 78,45 0,13
6 0,66 L SAT 90,05 0,07 L SAT 90,90 0,09 L SAT 83,73 0,09 L SAT 81,47 0,12
7 0,73 L SAT 91,88 0,06 L SAT 92,47 0,09 L SAT 86,42 0,08 L SAT 84,17 0,12
8 0,80 L SAT 93,44 0,06 L SAT 93,67 0,08 L SAT 88,78 0,08 L SAT 86,56 0,11
9 0,91 L SAT 95,33 0,05 L SAT 94,92 0,07 L SAT 91,78 0,07 L SAT 89,68 0,10
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo
10 1,01 L SAT 96,46 0,04 L SAT 95,53 0,06 L SAT 93,78 0,06 L SAT 91,84 0,09
11 1,12 L SAT 97,05 0,03 L SAT 95,79 0,05 L SAT 95,18 0,04 L SAT 93,49 0,08
12 1,20 L SAT 97,04 0,02 L SAT 95,81 0,04 L SAT 95,66 0,04 L SAT 94,20 0,07
13 1,29 L SAT 96,61 0,01 L SAT 95,77 0,03 L SAT 95,67 0,03 L SAT 94,51 0,06
14 1,37 L SAT 95,84 0,01 L SAT 95,76 0,03 L SAT 95,21 0,02 L SAT 94,35 0,05
15 1,40 L SAT 94,71 0,00 L SAT 95,84 0,02 L SAT 94,30 0,01 L SAT 93,78 0,04
Conclusões
a) No teste com a solução com 15 % de álcool, a melhor vazão de
entrada no evaporador foi de 158,0 L/h, obtendo-se uma produção
de álcool de 10,5 L/h com 85 oGL. Entretanto, se for considerar o
resíduo na saída, deve-se, para o protótipo estudado, usar vazão
próximo a 70 L/h, que apresenta resíduo zero e produção de álcool
próximo a testes com maior vazão de entrada.
b) Embora o sistema em regime intermitente (batelada) tenha
apresentado vazão e teor alcoólico, aparentemente, melhores do
que o comparado com o sistema contínuo, ele leva em média
70 min para aquecer a mistura e iniciar a produção de álcool,
necessitando ainda do tempo de carga e descarga. O sistema em
regime contínuo leva em média 50 min para entrar em regime de
trabalho, não sendo necessária recarga; por produzir
continuamente, este sistema economiza mão-de-obra e energia para
aquecimento inicial. Além de apresentar carga contínua, não
necessitando de regulagem constante e desvio de produto com
diferentes teores alcoólicos.
c) Os resultados obtidos com o sistema em regime contínuo,
comparados com o intermitente, que apresentou produção de
29,0 L/h e teor de 86 oGL, comprovaram que o equipamento, neste
sistema, se comportou satisfatoriamente na produção de álcool
em termos de fazenda, com menor intervalo inicial e maior produção
diária de álcool combustível.
C APÍTULO VI
Construção do Pré-Destilador
Modelo UFV
96
92
Composição
do vapor
Temperatura ºC
88
84
Composição
do líquido
80
Azeotropo
76
0 24,5 47,4 68,2 85,6 100
95,6
Percentagem volumar (líquido)
78,2 C
Componentes do microdestilador
O microdestilador e todos os seus componentes devem ser
construídos em chapa de aço inoxidável (2 mm) ou em cobre e apresentar
os seguintes elementos:
a) Aquecedor ou Panela: consta de um cilindro, disposto
horizontalmente, provido de dois registros para carga do vinho
e descarga do resíduo ou vinhoto. Na parte superior do cilindro
é adaptada uma caixa convenientemente vedada, onde são
acopladas as duas colunas de retificação (Figura 7.3). Caso a
destilaria de cachaça seja aquecida por meio de caldeira, pode-
se dotar o cilindro aquecedor com um sistema de serpentina
para aquecer o pré-destilado. Caso contrário, o cilindro deve
ser, convenientemente, adaptado sobre uma fornalha para ser
aquecido diretamente pela queima de bagaço ou lenha.
b) Colunas 1 e coluna 2: a coluna 1é formada por um tubo de 3”
(inox ou cobre) e composta de um segmento de refluxo,
contendo bolas de gude (1,5 cm de diâmetro), até a altura de
1,2 m. A partir desse ponto, ligado por um par de flanges,
está o sistema de condensação primário, o qual é adaptado
acima do coletor de destilado, que, por sua vez, é ligado à
coluna 2 por um tubo de 12 mm (½’’) de diâmetro. Já a coluna
2 é constituída de um tubo (2 m) semelhante ao da coluna 1,
que é totalmente preenchido com bolas de gude (Figura 7.4).
O extremo superior da coluna 2 é conectado por um tubo
12mm (½”) ao condensador secundário, por onde é drenado o
álcool produzido. Deve-se lembrar que na base de cada coluna
será adaptada uma tela inox, para evitar que as bolinhas
desçam para a caixa que une a panela às colunas.
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 145
f) Seqüência operacional:
1. Junte quantidade suficiente de destilado de cauda ou de final
de destilação.
2. Adicione o pré-destilado (mistura de cabeça e cauda) até um
nível correspondente a dois terços do volume do cilindro
aquecedor.
3. Aqueça o cilindro até a temperatura de 90 oC para evaporar
e condensar o pré-destilado em álcool de alto grau; manter o
topo da coluna 1 em temperatura inferior a 70 oC.
4. Mantenha a temperatura do condensador o mais baixo
possível.
5. Recolha o álcool oriundo do condensador em um recipiente
apropriado e com segurança contra incêndio.
6. Continue a destilar até que o teor alcoólico do condensado
caia para 85 oGL. Deste ponto em diante, até 10 oGL, colete o
condensado em outro depósito (abaixo de 85 oGL o produto
deve ser redestilado, junto com a batelada seguinte); o
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 149
Programa Computacional
PROGRAM JULIO1;
{*************FINAL DO PROCEDURE
ESTADO********************}
BEGIN
CLRSCR;
{************** SAIDA DO PROGRAMA *****************}
ASSIGN(ENT,’SAIDA1.PAS’);
REWRITE(ENT);
ASSIGN(ANT,’SAIDA2.PAS’);
REWRITE(ANT);
ASSIGN(ONT,’SAIDA3.PAS’);
REWRITE(ONT);
ASSIGN(INT,’SAIDA4.PAS’);
REWRITE(INT);
{****************LEITURA DE INFORMACOES DE
ENTRADA************}
ASSIGN(UNT,’ENTRA8.PAS’); {ARQUIVO COM DADOS}
RESET(UNT);
READLN(UNT,HEADER);
READLN(UNT,XX[1],XX[5],XX[8],XX[11],XX[15]);{CONCENTRACOES
EXPERIMENTAIS}
READLN(UNT,TT[1],TT[5],TT[8],TT[11],TT[15]);{TEMPERATURAS
EXPERIMENTAIS}
READLN(UNT,COF1,COF2,COF3,COF4);{COEFICIENTES
REGRESSAO/CONCENTRACAO}
READLN(UNT,COF5,COF6,COF7,COF8);{COEFICIENTES
REGRESSAO/TEMPERATURA}
READLN(UNT,L[1], L[15],ETOTV, YB); {VAZOES DA MISTURA NA
ENTRADA E NA SAIDA,
VAZAO DO ALCOOL NA SAIDA E SEU TEOR}
READLN(UNT,TM); {TEMPERATURA DA CHAPA}
READLN(UNT,KT1, KT2); {COEFICIENTES PARA EQUACAO DE
CONDUTIVIDADE TERMICA}
READLN(UNT,MIT1, MIT2, MIT3,MIT4, MIT5); {COEFICIENTES
PARA EQUACAO DE VISCOSIDADE}
158 Apêndice
DIST[15]:=1.45;
LL[15]:=L[15];
FOR J:=1 TO 14 DO
L[J+1]:=L[J] - TOT;
FOR I:= 1 TO 15 DO
BEGIN
VEL[I]:=L[I]*0.001/(3600*0.05*0.1); {VAZAO EM L/h,VEL EM m/s}
END;
WRITELN(ONT,’ COMPART. VAZOES (L/h) VELOCIDADE (m/s)
***’);
{********* ERROS ********}
WRITELN(ONT,’ COMPART. VAZOES (L/h) VELOCIDADE (m/s)
XXS XA’);
FOR I:= 1 TO 15 DO
WRITELN(ONT,’ ‘,I,’ ‘,L[I]:3:2,’ ‘,VEL[I]:6:5,’
‘,XXS[I]:3:2,’ ‘,XA[I]:3:2);
ERRO2:=100*ABS(L[15]-LL[15])/LL[15];
WRITELN(ONT,’ERRO NA VAZAO DE SAIDA (%) = ‘,ERRO2:4:3);
ERRO20:=100*ABS(TEMP[5]-TT[5])/TT[5];
WRITELN(ONT,’ERRO NA TEMPERATURA-PONTO 5 (%) =
‘,ERRO20:4:3,’ *TEMP= ‘,TEMP[5]:3:2,’ *TT= ‘,TT[5]:3:2);
ERRO21:=100*ABS(TEMP[8]-TT[8])/TT[8];
WRITELN(ONT,’ERRO NA TEMPERATURA-PONTO 8 (%) =
‘,ERRO21:4:3,’ *TEMP= ‘,TEMP[8]:3:2,’ *TT= ‘,TT[8]:3:2);
ERRO22:=100*ABS(TEMP[11]-TT[11])/TT[11];
WRITELN(ONT,’ERRO NA TEMPERATURA-PONTO 11 (%) =
‘,ERRO22:4:3,’ *TEMP= ‘,TEMP[11]:3:2,’ *TT= ‘,TT[11]:3:2);
ERRO23:=100*ABS(TEMP[15]-TT[15])/TT[15];
WRITELN(ONT,’ERRO NA TEMPERATURA-PONTO 15 (%) =
‘,ERRO23:4:3,’ *TEMP= ‘,TEMP[15]:3:2,’ *TT= ‘,TT[15]:3:2);
ERRO5:=100*ABS(XXS[5]-XX[5])/XX[5];
WRITELN(ONT,’ERRO NA CONCENTRACAO-PONTO 5 (%) =
‘,ERRO5:3:1,’ *XXS= ‘,XXS[5]:3:2,’ *XX= ‘,XX[5]:3:2);
ERRO8:=100*ABS(XXS[8]-XX[8])/XX[8];
162 Apêndice
CET3*(XXS[I]*100*XXS[I]*100)+CET4*(XXS[I]*100)+CET5*TEMP[I]*(XXS[I]*100)+CET6;
{*** MASSA ESPECIFICA ***}
RO[I]:=ROR1*(XXS[I]*100*XXS[I]*100*XXS[I]*100)+ROR2*(XXS[I]*100*XXS[I]*100)
+ROR3*(XXS[I]*100)+ROR4;
WRITELN(ONT,I,’ ‘, CT[I]:7:4,’ ‘,VI[I]:8:6,’ ‘,CAL[I]:5:2,’
‘,RO[I]:6:5);
END;
WRITELN(ONT,’&&&&&&&&&&&&&&&&&&&
‘,L[I],VEL[I],L[I],VEL[I],L[I],VEL[I]);
{*********************************************************}
WRITELN(INT,’COMP.—REYNOLDS———X CRIT.—H MEDIO ‘);
FOR J:=1 TO 14 DO
BEGIN
{*** DETERMINACAO DO NUMERO DE REYNOLDS NO FINAL DO
COMPARTIMENTO ***}
RE[J]:=(VEL[J]*0.735*RO[J])/VI[J];
{*** COMPRIMENT0 CRITICO RE CRITICO: REc = 500000 ***}
XC[J]:=(500000*VI[J])/(RO[J]*VEL[J]);
{*** DETERMINACAO DO COEFICIENTE MEDIO DE
TRANSFERENCIA DE CALOR ***}
RE12[J]:=EXP((1/2)*LN(VEL[J]*0.735*RO[J]/VI[J]));
PR13[J]:=EXP((1/3)*LN(VI[J]*CAL[J]/CT[J]));
HT[J]:= (CT[J]/0.735)*RE12[J]*0.664*PR13[J];
END;
{*********************************************************}
{*** DETERMINACAO DA TAXA DE CALOR ***}
FOR J:= 1 TO 14 DO
BEGIN
QDAC[J]:=HT[J]*(TM-TEMP[J]);
IF J < 10 THEN
WRITELN(INT,J,’ ‘, RE[J]:5:2,’ ‘,XC[J]:3:2,’ ‘,HT[J]:5:2)
ELSE
WRITELN(INT,J,’ ‘, RE[J]:5:2,’ ‘,XC[J]:3:2,’ ‘,HT[J]:5:2);
164 Apêndice
END;
{**TRANSFERENCIA DE CALOR-REGIME DE EBULICAO
NUCLEADA**}
DUO:=EXP(3*LN(CSAT*(TM-TSAT)/
(HFH*CSF*EXP(1.7*LN(PRLSAT)))));
QEBU:=(MIL*HFH)*SQRT(GRA*(DLSAT-DVSAT)/TSU)*DUO;
WRITELN(INT);
WRITELN(INT,’COMPART——TAX.CAL.CONV.————
TAX.CAL.EBUL.———TAX.CAL.TOTAL’);
FOR I:= 1 TO 14 DO
BEGIN
IF TEMP[I]<78.1 THEN
BEGIN
QE1:=0;
QTOT[I]:= QDAC[I];
GOTO 300;
END;
QE1:=QEBU;
QTOT[I]:= QDAC[I] + QEBU;
300:
IF I <10 THEN
WRITELN(INT,I,’ ‘,QDAC[I],’ ‘,QE1,’ ‘,QTOT[I])
ELSE
WRITELN(INT,I,’ ‘,QDAC[I],’ ‘,QE1,’ ‘,QTOT[I]);
END;
WRITELN(INT,’FIM&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&’,QEBU,QEBU,QEBU,
QEBU,QEBU,QEBU);
END .
Produção de álcool na fazenda e em sistema cooperativo 165
A PÊNDICE B