CABALLERO Ileana Dieguez Cenarios Limina-2
CABALLERO Ileana Dieguez Cenarios Limina-2
CABALLERO Ileana Dieguez Cenarios Limina-2
mais destacados pelo seu trabalho e persistência na Améri ca Latina não são
subvencionados oficialmente. É o trabalho dos seus integrantes que dá coesão e
permite a sobrevivência do grupo, e não o contrá rio.
"7 O Grupo Yuyachkani se organiza em seis áreas de trabalho: produção artística,
promoção e difus ão, pesquisa, comunicação, pedagogia e administração. Em
um sistema de auto-gestão, se us integrantes contam com uma casa-teatro ond e,
em paralelo ao trabalho de criação e produção teatral, realizam atividades
pedagógicas, seminários, encontros : Além de criar uma biblioteca especializada
e um espaço para confecção de más caras, possuem um exten so trabalho
documental sobre seus próprios trabalhos e processos de pesquisa, o grupo
mantém um elevado compromisso com diferentes públicos e setores sociais,
junto aos quais desenvolvem cursos, além de manter um repertório vivo que
inclui criações realizad as há mais de dez anos junto a outras mais recentes.
84 o conflito desenv olvido no texto de Sófocles foi refletido por Hegel. qu e viu em
Antígona o dr am a qu e simbo lizava de for ma exe mplar o dilem a ético do cida dão
fre nte aos mecan ism os do Esta do (Est ética. "La poesia dramática").
Cenár ios Iimina res (teatra lida des, perform an ces e políti ca) • 73
sabi lidade que leva ao silêncio; a dívida para com os outros, o
peso das decisões de um tempo onde as pessoas são manietadas
pelo temor. Quando a atriz realiza o enterro cênico da másca-
ra mortuária de Polinice, a ação é ao mesmo tempo ato ético e
ritual simbólico. O ritual fúnebre que precedia a cena cond en -
sava uma ânsia real: enterrar os corpos de tantos seres queri-
dos desaparecidos naqueles anos. Aquela convivência teatral na
qual se concentravam paixões coletivas criou uma communitas
xamânica, em uma experiência que propiciava um caminho de
restaurações simbólicas.
8q "A ação cê nica foi dese nha da para instalar-se nos mercad os como um ponto
ambulante a mais. Uma mesa 1e 1,50 x 1,50 mts, com teto e pared es de plástico
az ul é o cenário qu e tem percorrido os mercados, praças e átrios de igreja s
de Ayaviri, Puno, Urubamba, Abancay, Hua manga, Huan ta, Puq uio, Huancayo,
Huánuco, Tingo María, Ica, Huancavelica, Yauli y Lima" (RU BlO, 2003, p. 7).
so "Uart action est un concept ouvert par lequel on pourrait désig ner des pratiq ues
artistiques qui se réalisent le plus souvent en direct, opérant une esthétisa tion
ou une investigati on d'un rapport avec un public, un espace, ou un espace public,
social, éthique" (MARTEL, 2001, p. 13).
Ana Cor rea construiu uma partitu ra na qual incluía uma dan-
ça e uma es pécie de ablução ritu al, esp argindo nos espectadores
um a água florida preparad a por ela mesm a. "Esta ação converte-
-se num ato de sa nida de e limpeza. As pesso as receb em as pétalas
e a água, qu e são esfrega das em se us braços e rosto s. As pessoas
ficam perto de Ana e depoi s da apresentaçã o ped em para ela água
ben ta e flores" (RUBlO, 2003, p. 7). No se u diári o, a atriz fazia refe-
rênci a a esta performance como "um rito de purifi cação, limpeza e
fl orescimento", qu e ajuda as pessoas a perderem o med o, a começa r
a cura r-se do esquecime nto (CORREA, 2009, p.l l l ]?'.
Em um imagin ário coletivo qu e identifi ca o xa mã co mo
aq ue le qu e executa um percurso por "outros mundos" para re-
cupe ra r a a lma do enfer mo e curá-lo, a imag em da atriz transfi-
.,.\ Test emunhos de a lguns criado res, como o cita do a seg uir, prov ocaram es tas
cons iderações. "A experiência tem sido, para minha vida, de força e human idad e
como vedo ras. Ont em à noit e, na Vigília, desfil amos com jovens famili ares de
det entos e desap arecidos e dep ois chega mos ao átrio da Igreja o nde fiz Rosa
Cuchillo para um as 500 pesso as, na sua gra nde maioria mulh ere s qu e chegavam
de várias comunida des . Sentimos que a nossa vid a e o nosso trab alho tinh a
se ntido, qu e tudo o que tínhamos aprendido, recolhid o, se ntido, expressado
du rante todo es te tempo era para isto, para chegar aqui e ac o mpa nha r a
espe ra nça de tod as es tas mulh eres de olhos gra ndes e choro sos" (ANACORREA.
em: RUBlO, 2003, p. 8).
QS Re to mo uma ideia deli neada por Gustavo Geirola no livro Teatra lidad y
Exp eriencia Política em América - Latina (1957-77). lrvine, Califórnia: Gest os,
2000, mas inte ressa-me uma nova def inição num âmbito de estratégias
relacionais.
96 Extra ído de urna co nversaç ão com Ter esa Ralli, em julho de 200 4, em Lima.
97 Estas palavras fazem pa rte do voca bulário técnico do Yuyachkan i relacionad o à
criação dram at úrgica e cênica.
qq Vest imenta ca racte rís tica das comunidad es ashán inka do Perú.
lOS Send o difundid a nos textos de"[ulia Kristeva, a intertextu aliad e tem sido
elabo rada a partir dos estudos de Mikhail Bakhtin sobre a condição dialógica da
linguagem. Pode-s e conferir Bakhtin,le mot, le dialogue et le rornan, Critique, n..
239. Pari s: Minuit, abr.196 7, p. 438 -46 5.
106Este tex to a pre se ntava a mostra coletiva Sobre heróis e pátrias. 1992·2002,
qu e no mês de julho de 200 4 se exibia e m Lima, na Galeria Pancho Fierro.
Simulta neame nte se aprese ntava no Centro Cultu ral de Belas Artes: Onde estão
os nossos heróis e heroínas?, probl emat izand o a representação do heroi co no
imaginário peru ano.
10 7A "arte processual" tem sido conceitualizada pela crítica como derivada da arte
minimalista, deslocando o interesse de realização do objeto até a sua específica
operatividad, adquirindo cada vez mais um caráter "processual" e temporal: "A
obra ou o novo objeto artístico precisava ser entendida como uma presença em
relação ao espaço/ambiente que a circundava e dependendo da aç ão/reação
do espectador. Isto suporia que, pela primeira vez, o espaço de exposição era
concebido como um volume globalizador, onde eram produzidas constantes
interferências entre as obras e os observadores ou espectadores destas"
(GUASCH, 2002, p. 29).
108 Segundo Gustavo Buntinx, membro fundador deste coletivo, a própria
cristalização do CSC deve ser entendida "como resultado adicional da
mobilização generalizada da cidadania que durante essa hora suprema declara
em militante alerta cívico e recupera o espaço público para o acionar político ".
Nesta nota, todas as citações entre aspas, sem referências ou com referências
a Buntinx, pertencem ao texto "Lava la Bandera: El Colectivo Sociedad Civil
y el derrocamiento de la dictadura em el Peru" (Versão reduzida, 200S,
generosamente cedida pelo autor) Na nota que acompanha esse ensaio, Buntinx
estabelece que "as frases escolhidas têm sido tomadas do fluido e afiado diálogo
compartilhado com os outros integrantes do CSC na intensidade daquele ano
que junto vivemos no perigo". Existe uma versão publicada do texto na Revista
Quehacer, n.. lS8, Ene. Feb. 2006.
Plaza Mayor, até ser este ndida até outras cidades inclus ive fora do Peru.
Cen ár ios limin ar es (tea tra lida des , perform an ces e política1 • 97
pelas práticas artísticas do século XX, remete a uma produção es-
tética e limita a dimensão proposta pelos integrantes do esc.
na sua informalid ade litúrgica, mas não menos sublime por isso", especificou
Buntinx.
La bala bandera. Colect ivo Arde Arte, Bue nos Aires, 20 01.
Arqu ivo Ard e Art e
desenvolvem seus accion ismo plástico nas ruas de distintas cidad es a rgentinas,
as imagen s e inform ações cedidas por ela.
Cen ários Iiminar es (tea tra lida des, per form anc es e política) • 99
tra a repressão ao movimento organizado Assembleia Popular
dos Povos de Oaxaca (APPO). Um grupo de teatro, associado à
Fundação Cultural Crisol, lançou um chamado para lavar a ban-
deira nacional "em total resistência às simulações que preteri-
diam dar fim à solução do conflito". Ainda que o chamado fosse
para realizar uma ação conjunta e simultânea nas praças públi-
cas, ficou reduzida a uma performance realizada por um número
mínimo de artistas de teatro. O chamado que circulou via inter-
net pontuava uma partitura com uma série de ações: "Alguém
chega a uma praça pública (cheia de gente) com uma bandei-
ra nacional. Lava a bandeira. Seca a bandeira. Costura a ban-
deira. Pega a bandeira com muito cuidado. Guarda a bandeira.
Abandona a praça". (Bem diferente das referênci as mais ativistas
e situacionistas acontecidas na Argentina e no Peru).
No México, diferente dos referentes de corte mais artivis-
tas e situacionistas (Argentina e Peru), foi proposta a dramati-
zação e representação de lavar, pendurar, costurar e guardar a
bandeira num espaço público, mantendo a distância entre atores
e espectadores:
Cen ários limin ares (teat ralid ad es, performanc es e po lítica) • 101
ticulação simbólica da memória. Pelo seu potencial regenerador
de cidadania, Gustavo Buntinx define como "xamanísmo social"
a energia produzida por estas ações. Esta mesma característica
está presente em outros rituais cidadãos, como as passeatas das
Mães da Praça de Maio e os "rituais de reconciliação" desenvol-
vidos no Chile na pós-dítadura!",
123 Alicia dei Campo tem desenvolvido lúcidas reflexões sobre estes acontecimentos
em Teatralidades de la memoria: rituales de reconciliación en el Chile de la
transición. Santiago de Chile: Mosquito Comunicaciones, 2004.
124 "Pavlovsky responde a Eco: Não há futebol sem torcida" publicada na p. 12,
mas às relações entre teatro e cultura. Dubatti inclui na categoria "novo teatro"
os criadores que emergiram na década de oitenta.
126 "[ ... ] Em 1930 o teatro de arte encontraria uma estrutura que o converteria em
uma arma contra o sistema. No final deste ano, Leónidas Barletta - um inteletual,
homem de teatro, mas também jornalista e escritor - funda o Teatro dei Pueblo,
base do movimento de teatros independentes, um fenômeno que mudou a
estrutura do teatro na Argentina e que serviu de modelo para o nascimento de
grande parte do atual teatro de arte da América Latina" (CaSSA. 1993, p. 531).
I27 Vários são os exemplos que poderiam ser invocados como produções de
resistência; entre eles, penso no Teatro Abierto, surgido durante a ditadura
militar. Preparado durante vários meses de 1980, o primeiro ciclo de espetáculos