Arte e Periferia
Arte e Periferia
Arte e Periferia
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
1
Kayane Rodrigues Hörlle
2
Dedico este trabalho aos
meus alunos da Igreja
Santíssima Trindade na
Vila Dique
3
Meu muito obrigada à minha família, de maneira especial aos meus pais,
minhas irmãs Kyndze e Kyzie.
À Cleusa Prates e Marcus Wittmann pelo auxílio.
Aos meus amigos sempre prontos pra me acolher e ajudar a dar luz aos meus
pensamentos quando eles estavam perdidos.
Aos colegas de curso que deixaram todo o processo mais fácil.
Ao João Pedro Izé Jardim pelo apoio e carinho.
E aos meus alunos da Vila Dique com que aprendi muito.
4
RESUMO
5
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................7
1.Situação:
Social..............................................................................14
2. Práticas Teatrais.................................................................18
Referências Bibliográficas....................................................42
6
INTRODUÇÃO
8
Dessa forma, a estrutura do trabalho organiza-se da seguinte maneira:
Análise da situação da Vila Dique e do processo em que se encontra, reflexões
sobre a caracterização do teatro dentro do Projeto de Trabalho Técnico e
Social (PTTS), exame das práticas teatrais realizadas na comunidade, com o
foco centralizado nas oficinas realizadas na Igreja Santíssima Trindade,
meditação sobre o aluno ator nas aulas e apresentações e também
pensamentos sobre o professor dentro dos Grupos de Teatro em uma
comunidade de periferia em fase de mudança.
1. SITUAÇÃO
9
Na localização mostrada pelo quadro acima, moram 1142 (mil cento e
quarenta e duas) famílias que moram, em sua maioria, em casas sem infra-
estrutura.
10
Alves (que possui uma padaria comunitária em funcionamento), a
Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Santíssima Trindade, a
Creche Comunitária Galpãozinho e o Posto de Saúde Santíssima Trindade.
No que diz respeito ao Saneamento básico, a Vila Dique não é
contemplada pelos cuidados como canalização e tratamento de esgotos,
limpeza pública de ruas e avenidas, coleta e tratamento de resíduos
orgânicos. Ao caminhar pela Avenida Dique, observa-se a quantidade de lixo
no chão e também do esgoto que corre a céu aberto.
A partir dos dados coletados pode-se perceber que os moradores da Vila
Dique estão em situação de vulnerabilidade social. Em sua maioria trabalham
sem carteira assinada ou vínculo empregatício, muitas famílias sobrevivem da
coleta e venda de lixo seco e utilizam-se de cavalos e carroças para esta
realização. Parte da área ocupada está sobre um arroio poluído.
11
Segundo o Projeto de Trabalho Técnico e Social (PTTS), o Condomínio
de casas, planejado pelo órgão da Prefeitura de Porto Alegre DEMHAB
(Departamento de Habitação) em parceria com a empresa contratada para a
execução, prevê habitações com saneamento básico e infra-estrutura
melhorada em comparação das habitações encontradas na Zona entre a Rua
Taim e a Avenida Free Way, juntamente com um trabalho de educação socio-
ambientais, buscando que seus moradores encontrem-se em situação de
cidadania.
13
hábitos comportamentais e habilidades laborativas.
(Projeto de Trabalho Técnico e Social, 2008, p 20)
16
reassentamento, seria principalmente a mudança de hábitos destes indivíduos
para serem melhor aceitos por uma sociedade que os marginaliza.
2. PRÁTICAS TEATRAIS
18
responsáveis do projeto pelos resultados das oficinas de teatro. Não
compreendiam como não havia um número significativo de participantes dentro
dos Grupos de Teatro.
19
estivessem relacionadas àquelas propostas pelo eixo de Educação Sanitária e
Ambiental (ESA).
20
Oficina na Igreja Santíssima Trindade
21
Roda de conversa com o Grupo de Teatro da Igreja Santíssima Trindade
22
O número dos participantes mesmo não sendo significativo para as
oficinas de teatro idealizadas, começou a chamar atenção da construtora das
casas e mais tarde do Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB) pela
assiduidade de quem participava. Em Junho de 2010 o Grupo de Teatro da
Santíssima Trindade foi convidado pelo Departamento Municipal de Habitação
a apresentar-se em sua sede, mesmo sem ter apresentado nenhuma peça na
comunidade. Assumindo uma postura de liderança, os jovens aceitaram o
desafio e pela primeira vez um dos Grupos de Teatro da Dique iria se
apresentar.
23
Assim, utilizando-se do material trabalhado no Grupo de Teatro desde
março de 2010, foi construída uma dramaturgia que, ao contrário da que era
enviada pelo DEMHAB, questionava a mudança. Refletindo sobre o contexto
em que se encontrava a Vila Dique e o novo condomínio e auxiliados pelo
educador, os integrantes da oficina construíram uma estrutura dramática que
apresentava seus prós e contras para mudarem-se, nesta estrutura falava-se
sobre a dificuldade de estar na Dique, mas da vontade que tinham em
permanecer, da saudade que sentiriam ao partir.
24
Apresentação na Sede do DEMHAB
25
questões que os afligiam, os jovens calavam-se e apenas sofriam com a
possibilidade de mudar-se. Criava-se uma mitificação da mudança, das novas
casas, do DEMHAB.
26
A tomada de consciência, pelos oficinandos, de que poderiam adquirir
uma postura ativa perante o processo de mudança teve seu ápice com a
apresentação para o DEMHAB. Nela, os integrantes enxergaram estar
presentes dentro desta engrenagem que é o reassentamento, sendo assim,
perceberam que não é apenas o DEMHAB que está presente neste processo,
mas uma junção de pessoas e órgãos de igual importância. Eles, não apenas
receptores passivos, passavam a compreender-se como pessoas não mais
invisíveis, mas responsáveis e capazes de transformação se assim quisessem.
27
Ao adulto hoje colocam-se diversas opções, deve escolher
entre diversas alternativas. Embora compreendendo a
necessidade de optar, é sempre possível deixar-se levar pelo
“já pronto”, pelos mecanismos autorizados, sem decidir, sem
optar, sem empreender sem nenhuma mudança. (BARBOSA,
1984.)
28
visão sobre o mundo e nos treinamos na percepção da nossa
própria individualidade. (VIGANÒ,2006, p 38)
30
Como atores no duplo sentido que a palavra comporta, o público adquire
um papel ativo e não apenas o de um espectador. O Ator, sendo atuador e
atuante torna-se um agente sócio-cultural, interferindo diretamente na platéia.
31
Oficinas, apenas um deles possuía pessoas que já tinham assistido uma peça,
e esta ação se deu na Instituição de Ensino que eles freqüentaram. Dar
oficinas sobre um conteúdo que pouco se sabe a respeito, portanto possui um
conceito abstrato, torna-se um desafio para o professor.
32
Para o teatro, uma arte pouco inserida na Vila Dique, a abertura dos
alunos é fator fundamental para a possibilidade da oficina. É a partir da vontade
dele que desaparece o estranhamento causado pelo pouco contato com esta
arte. O professor torna-se uma ponte que aproxima sua realidade do Grupo de
Teatro. É necessário, dessa forma, utilizar-se de assuntos conhecidos à
comunidade para iniciar o processo educativo. Precisa-se estar reciclado e livre
de preconceitos para não ver os meios de comunicação como antagonistas,
pois desta vez, são aliados para a ponte a ser estabelecida.
Paulo Freire reflete sobre esse papel mutante de professor e aluno e nos
brinda com a seguinte frase:
34
É no contato com suas verdades, confrontando-as, que o ser humano
descobre seus valores. Compreendendo essa necessidade, a tarefa do arte-
educador em sua oficina, torna-se conduzir seu aluno para o encontro com as
verdades do seu ponto-de-vista. “Nesse sentido, o bom professor é o que
consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu
pensamento”. (FREIRE, 1996, p86)
Traçar uma ponte diminui distâncias. Coloca-se uma ponte para que dois
locais liguem-se. É compreendendo a idéia desta imagem que penso no
mediador Sócio-Cultural, um elo que une duas realidade.
É através dos jogos teatrais que o aluno torna-se aberto. O jogo retira as
preocupações dos pensamentos, para jogar é preciso viver o presente e, para
tanto, mantêm-se a atenção no momento. Já expostos no jogo, em atividade
lúdica, o participante tira amém suas amarras como a preocupação com a sua
imagem, com o olhar do outro. Assim, o participante da oficina torna-se mais
livre para experimentar os estímulos do educador e construir, através dele, seu
próprio saber.
35
autonomia pelo educando. É através dela que o individuo pode passar para o
processo de independência, para a sua inclusão:
36
os moradores a adquirir uma nova postura, novas atitudes que os identifiquem
com a sociedade que atualmente os exclui.
37
com relação à mudança. Assim, avalia-se que o incentivo ao protagonismo e
autonomia possa ser um caminho para uma educação menos determinista e
mais possibilista.
As oficinas teatrais que passaram a assumir uma postura onde não se
tentava domesticar ações, foi transformada num momento facilitador do
protagonismo de alguns jovens moradores da comunidade. Os mesmos,
utilizavam este espaço como um meio de expor seus sentimentos. Logo foi
criada uma nova peça teatral criada pelos oficinandos, partindo de suas
experiências. A construção de uma dramaturgia a partir de um processo
criativo trouxe ganhos únicos para o grupo teatral.
Verifico que a oportunidade de revelar-se de forma artística, que
significa, neste caso, expressar-se através do teatro, possibilitou aos
integrantes da oficina uma abertura para o mundo. Expondo suas opiniões e,
em contrapartida, visualizando às ideias expostas pelos colegas os alunos
podem traçar comparações para a chegar a um novo pensamento, ou para o
reafirmar a convicção em seus antigos pensamentos, construindo consciência
crítica. A consciência crítica é uma possibilidade de recriar a realidade
individual e do grupo, ética e esteticamente.
A reflexão traz possibilidades que as verdades estáticas não
possibilitam. Quando existe um tema e esse é examinado, discutido com
opiniões diferentes pode-se chegar a conclusões que não se calculavam.
Quando, por outro lado, temos uma opinião única elevada ao patamar do
indiscutível, temos como resultado uma forma domesticada, sem a essência
consciencial.
O educador que está aberto aos saberes do educando não entende a
sua opinião como incontestável, pois está sujeito a conseguir mais do que
apenas ensinar, está inclinado a também aprender.
A consciência de que estes alunos da periferia da Vila Dique possuem
pensamentos de relevância pra serem ditos ao mundo faz com que elevemos
esses indivíduos da situação de necessitados ao patamar de necessários.
Fazer com que isso seja descoberto pelo aluno faz com que ele compreenda
38
sua responsabilidade social. Todavia, como construir uma metodologia que
possibilite a chegada desta compreensão?
Ao iniciar meu processo de busca às respostas dos questionamentos
que iniciaram este trabalho deparei-me com mais perguntas. A falta de material
específico sobre a mudança fez com que me enxergasse, não apenas no papel
de professora, mas também investigadora e cientista. Como se a todo o dia
não houvessem respostas, mas a possibilidade de fazer experiências. Me
perguntava: como realizar um trabalho onde todos estão compartilhando? E
como resposta encontrava um “não sei”. Questionando-me sobre a relação que
deveria ter com estes alunos que, sem raízes, freqüentam minha sala?
Encontrava como resposta “não sei”. Colocando em cheque como organizar
peças teatrais onde não se pode contar com a presença constante de todos,
recebia mais uma vez como resposta um “não sei”. Minhas respostas a
perguntas também minhas me impulsionaram a investigar. O “não sei”
freqüente, pouco a pouco evoluindo para uma metodologia bem mais simples
do que imaginava.
39
Foi assim, sem respostas, que encontrei a diferença entre um teatro na
periferia e da periferia. Já que, construindo, estando aberta às inúmeras
possibilidades que os alunos traziam não impus, conduzi e também me permiti
ser conduzida.
O aluno em uma prática teatral neste contexto não trabalha apenas para
conhecer-se ator, mas para transformar-se em um ator em duplo sentido
atuador e atuante, para que como agente artista possa mudar sua realidade.
40
Ao proporcionara a experiência estética o senso de
coletividade e a capacidade para o diálogo, o teatro torna os
indivíduos capazes de fazer escolhas e produzir um discurso
crítico sobre a realidade, para então levá-lo ao debate do
espaço público. (VIGANÒ, 2006, p35)
41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
42
43