Artigo Tereza Garbin PDF
Artigo Tereza Garbin PDF
Artigo Tereza Garbin PDF
CASCAVEL
2008
1
GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA:LIMITES E
POSSIBILIDADES
Tereza Garbin1
Janaina Almeida2
1
Professora da Rede Estadual de Ensino Paranaense e Região Oeste do Estado.
2
Professora Orientadora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus
de Foz do Iguaçu.
2
Gestão Escolar Democrática na escola pública: limites e possibilidades.
Resumo: A democracia e, consequentemente, a gestão democrática na
educação, não se originam no interior da escola. No entanto, são postos como
campo privilegiado de intervenções política e ideológica e trazem na sua
essência pedagógica a possibilidade de construção de novos paradigmas e
práticas que priorizem a via democrática no espaço escolar e, sociedade. O
processo de gestão democrática constrói-se na correlação das forças políticas
colocando o bem comum em primeiro plano. Discutir Gestão Democrática, os
seus limites e as suas possibilidades é um grande desafio, dado a nossa
própria experiência em democracia representativa. No entanto, sabemos que
há um longo caminho a percorrer, o que exige de nós, professores, uma ação
mais efetiva, ou seja, sair da zona de conforto,da espera do milagre, enfrentar
desafios na busca de uma Gestão que priorize a educação como veículo para
se alcançar uma sociedade mais justa e igualitária.
Introdução
3
Este artigo é parte da pesquisa bibliográfica feita pelo Programa de
Desenvolvimento Educacional, vinculado à Secretaria de Estado da Educação do
Paraná entre o período de 2007 a 2008.
Tendo como objetivo contribuir para ampliação da discussão, da reflexão
e da ação dos dirigentes escolares, equipe pedagógica, professores e funcionários
que atuam no ensino público paranaense, bem como, à toda comunidade escolar
sobre a problemática da Gestão .
Durante a trajetória de 35 anos no magistério, foi possível observar que o
processo de transformação histórica muito tem influenciado no perfil do gestor
escolar. Considerando que todo processo de mudança deixa marcas, com o
administrador escolar não foi diferente. Os anos 90 deixaram marcas profundas no
sistema educacional brasileiro.
De acordo com a nova LDB/9394/96 configurada neste momento
político enviesado de nuances neoliberais é que se pôde ter uma abertura maior
para a democratização da gestão. Falava-se em gestão participativa e uma nova
visão parecia nascer para o papel do diretor aconteceram alguns avanços que não
se multiplicaram em todas as esferas educacionais, pois apesar da criação de
conselhos e colegiados, muitos eram apenas de fachada e a participação da
comunidade escolar não acontecia, ficando todas as decisões sob a
responsabilidade do diretor .Sabemos que, infelizmente, ainda existem escolas com
dirigentes , trabalhando numa linha autoritária , centralizando as ações e
dificultando as tomadas de decisões de forma coletiva.
Na perspectiva de abrir debates em torno da construção de uma escola
democrática, o governo junto à secretaria de estado, vêm desenvolvendo vários
programas que visam proporcionar aos gestores escolares uma preparação
adequada para melhor direcionarem as ações que envolvem o ambiente escolar,
sem perder de vista a melhoria da qualidade de ensino função precípua da escola.
Sabe-se que, hoje, é possível apontar instituições de ensino que poderiam
ser modelo na construção do caminho para a democratização da escola pública.
São aquelas que buscam, no coletivo, superar desafios e romper com a rotina
burocrática. Longe de desempenhar uma função meramente burocrática, a escola
por meio dos docentes, discentes, funcionários, equipe pedagógica, diretiva, enfim,
4
a toda comunidade escolar cabe estabelecer um relacionamento entre “meios e
fins” para equacionar na escola problemas educacionais e administrativos.
Exercendo o cargo de diretora auxiliar percebemos a necessidade de
aprofundar e estudar sobre o conceito e concepção que permeia a prática da gestão
democrática na escola pública. Cabe ao administrador envolver o grupo que dirige
não só na execução, mas também no planejamento ou programação, e na
avaliação das atividades desenvolvidas.
Segue o depoimento de uma diretora que faz parte do GTR:
5
quando ele diz que não pode haver na escola um clima de hostilidade, de
individualismo, de irresponsabilidade e de não envolvimento, pois esses atrapalham
o andamento do planejamento participativo e que invés da construção desse clima
deva existir sim, um ambiente de acolhida, aceitação mútua e interesses de um
pelo outro.
Nossa experiência nos mostra que o respeito, a fraternidade, o direito
de igualdade e o companheirismo são fatores essenciais no desenvolvimento do
trabalho coletivo para ,desta forma, atingirmos a conscientização sobre a
necessidade de mudanças de atitudes que visam a combater ideologias impostas
por grupos dominantes.Seria a maneira de “abrir os olhos “ou seja, não se alienar
diante de situações que merecem ser melhor analisadas.
Sabemos que tudo isso faz parte de um grande desafio diante dos
problemas sociais que vivenciamos e, diante dos quais, muitas vezes, nos sentimos
limitados em frente ao desinteresse e falta de responsabilidade de pessoas que, às
vezes, caminham conosco dentro do nosso ambiente de trabalho. Sentimos-nos
enfraquecidos pelo descaso em relação ao material, estrutura física, número restrito
de pessoal sem contar a cobrança dos nossos superiores.
Por outro lado, vemos oportunidades que não podemos deixar passar e
mesmo diante das dificuldades é preciso ter coragem e ousadia para buscar nossos
objetivos. E através de um trabalho coletivo nos fortalecermos, fazendo das pedras
do nosso caminho degraus que nos ajudarão no alcance das metas finais.
Portanto, diante das experiências vivenciadas e com o apoio que
tivemos dos professores e orientadores do PDE, vemos a nossa frente um horizonte
com mais possibilidades de trabalharmos para que a democratização da escola
pública, principalmente, no que se refere à gestão, passe do faz de conta para uma
nova forma de administração, que rompe com a concepção de organização
burocrática, assumindo a administração compartilhada e integrada totalmente ao
pedagógico com o objetivo final de desenvolver um ensino-aprendizagem que
venha ao encontro das expectativas dos nossos educandos, dando-lhes bases
necessárias para continuarem seus estudos e, conseqüentemente, possam estar
inseridos no contexto sócio político e econômico do nosso país.
6
No desenvolvimento deste trabalho, buscamos estudar autores que
discutem essa problemática como Paro (1993), Freire (1997),Gadotti (1997),
Machado(1999).
De acordo com Anísio Teixeira, segundo LÔBO (1999), democracia é
liberdade de pensar, para produzir a unidade de ação consentida e partilhada. A
democracia só vai se realizar pela Educação quando essa for compreendida como
um processo de aprender a pensar, tornando-se capaz de partilhar a vida em
comum e dar a si e a essa vida comum a sua contribuição necessária e única. Não
é só uma forma de governo, é acima de tudo um modo de vida. Nada deve ser
imposto do alto, mas tudo deve ser resultado do pensamento partilhado de todos os
envolvidos. Faz-se necessário recuperar a escola como espaço democrático pelo
debate, pela discussão, pela competência técnica, pelo currículo, pelos métodos de
ensino e de disciplina, na relação entre alunos, professores e diretores.
Para que estas ações sejam efetivadas na escola, torna-se
imprescindível que se repense as formas administrativas e pedagógicas vivenciadas
até o presente momento, principalmente , quando nos referimos à gestão , pois se
trata de um assunto que representa um importante instrumento de consolidação de
democracia em nível de sociedade, considerando que a escola e a sociedade estão
dialeticamente constituídas. Promover a democratização da gestão escolar significa
estabelecer novas relações entre a escola e o contexto social no qual está inserida.
Repensar a teoria e a prática da gestão educacional no sentido de eliminar os
controles formais e incentivar a autonomia das unidades escolares, via participação
da comunidade, sem, contudo, desconsiderar o papel do Estado na manutenção e
no desenvolvimento das instituições públicas de ensino.
7
Segundo Paro, o fortalecimento da escola e a conquista da autonomia
político-pedagógica são condições indispensáveis para promover a qualidade da
educação e fundamentalmente, constituem-se em instrumentos de construção de
uma nova cidadania. Assim, a democratização institucional constitui um caminho
para que a prática pedagógica torne-se efetivamente prática social e possa
contribuir para o fortalecimento do processo democrático mais amplo.
8
da escola. Projetar significa "lançar-se para frente",
antever um futuro diferente do presente (GADOTTI,
1997, p.579).
9
professores, desenvolvendo atitudes investigativas e possibilitando, assim, uma
maior qualificação teórica e prática entre os educadores, capacitando-os para o
exercício da participação democrática, consciente e ativa na implementação do
projeto político-pedagógico, na perspectiva de, com isso, chegar a uma escola
centrada na democratização, feita pela comunidade próxima e pelos quadros da
Organização Escolar.
Quem foi ou é diretor já sabe que o dia- a- dia deste profissional em
educação não é uma tarefa fácil. Desde o momento que chega na escola até o
encerramento das atividades ele, muitas vezes, se perde diante de tantos
compromissos.Suprir as necessidades da escola ,atender alunos,conversar com os
professores ,ouvir reivindicação dos pais,interar-se do trabalho pedagógico sem
contar que o burocrático lhe toma a maior parte do tempo. É comum ouvir diretores
que se sentem cansados e digam que nessa função é preciso “matar um leão por
dia”.Entretanto, há aqueles que já desenvolvem um trabalho diferenciado ,
delegando poderes , dividindo as responsabilidades e promovendo a articulação
com toda a comunidade escolar.Estudam e buscam formação específica.
10
problemas que envolvem a escola como um todo. Exercício Democrático vive de
uma ação coletiva; a cultura democrática cria-se com a própria democracia.
Concordamos com Ana Luiza Machado ,(UNESCO,2000), quando ela diz que:
11
experiências do passado, levando-se em conta os
contextos e os pressupostos filosófico, cultural,
econômico e político de quem planeja e de com quem
se planeja”.
12
Este processo, sustentado no diálogo e na alteridade, tem como base a
participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito a
normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a
garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos.Sabe-se que há um longo
caminho a percorrer, no entanto, é preciso agir, sair da zona de conforto, sair da
espera do milagre, enfrentar desafios na busca de uma educação que seja veículo
para se alcançar uma sociedade mais justa e igualitária. Sobre isso, nos referimos a
Paulo Freire, na obra Pedagogia da Esperança :
Considerações finais
13
perspectiva crítica. Entendemos que a gestão democrática se tornará possível
quando a comunidade escolar estiver envolvida na compreensão da palavra, em
sua concepção, não apenas conceitual, que vincula - se às teorias crítico reflexivas,
mas também, às vivências dos professores, desde as escolas mais distantes,
aquelas em que os alunos necessitam percorrer quilômetros para ter acesso ao
ensino, ou mesmo, os grandes colégios das cidades-pólo, como Cascavel,
Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Curitiba, entre outras.
Podemos dizer, também, que a gestão democrática não é apenas um
alicerce para conquista da autonomia e da construção de forma coletiva de
administrar, mas também é, fundamentalmente, uma necessidade e, como tal,
deveria ser o objetivo comum de todo o universo escolar.
Ao finalizarmos, citamos CORTELLA (2002), “um amanhã sobre o
qual não possuímos certezas, mas que sabemos possibilidades” é com estas
possibilidades, com os nossos índices reais de educação pública, que devemos
focar o nosso trabalho de educadores.
Neste cenário, foi fundamental a participação deste programa de
desenvolvimento educacional, quando pudemos trocar experiências com nossos
pares, ter acesso a uma bibliografia atualizada e, acima de tudo, perceber que a
pesquisa é um dos grandes horizontes para aprimorar o ensino público.
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
15