Apostila Ludoterapia
Apostila Ludoterapia
Apostila Ludoterapia
Este é considerado como uma linguagem, O processo do brincar é apreciado tal como é
uma vez que permite às crianças comunicar pela criança e o produto final do brincar não
com as outras pessoas e iniciar a compre- é o mais importante desta actividade.
ensão, desde muito cedo, de que podem A maioria dos adultos é capaz de expressar
suportar e representar a ausência temporá- sob a forma verbal os seus sentimentos,
ria das pessoas que amam, substituindo-as frustrações e angústias; no entanto, a crian-
pelas primeiras brincadeiras. ça, por ainda não ter facilidade cognitiva e
«Há meninos que não sabem onde há médicos». Manuel
verbal, utiliza os brinquedos como palavras. em que a criança realiza, constrói e se apropria criadas e respeitadas as regras. Conviver com
Podemos mesmo dizer que quando a criança de conhecimentos das mais diversas ordens. outra pessoa exige que se respeitem limites:
brinca, o seu ser está totalmente presente. Eles possibilitam, igualmente, a construção os limites impostos pelo outro.
Entende-se então que o brincar é realmente de categorias e a ampliação dos conceitos Surgem por isso alguns conflitos, sendo que
uma forma de actividade complexa, que en- das várias áreas do conhecimento. é nesta fase que cresce nas famílias a preo-
volve a criança física, mental, social e emo- Num contexto de creche (neste caso, 2 e 3 cupação com a possibilidade de o seu filho
cionalmente, revelando os seus sentimentos, anos), as crianças brincam imenso ao longo ser uma criança violenta. Normalmente não
experiências e reacções a essas mesmas ex- do dia, tanto mais quanto lhes for dado es- há motivo para preocupação, as crianças es-
periências (desejos, receios, percepção de si paço para isso. É também curioso perceber tão apenas a crescer e a aprender cada vez
própria, entre outros). que, num grupo alargado de crianças, há al- mais sobre o comportamento humano!
Através do brincar, a criança conhece o Mun- gumas que procuram bastante a atenção do A imaginação começa a dominar e brincam
do, e com ele, conhece as pessoas, as rela- adulto e brincar com ele, enquanto outras se muito ao faz-de-conta. Representam pa-
ções e regras sociais; pode imitar o adulto, envolvem completamente nas brincadeiras, péis, recriam situações, agradáveis ou não.
expressando conflitos, além de, ao brincar, individualmente e em grupo. Quando a criança recria estas situações, fá-
serem transmitidos conhecimentos educa- Cabe ao educador mediar estas situações, lo duma forma que ela é capaz de suportar,
cionais e este ser igualmente um indicativo aproveitando para interagir e transmitir co- não correndo riscos reais. É comum ver, por
do desenvolvimento da criança: as brincadei- nhecimentos através da brincadeira que ali exemplo, uma criança que é a “mãe” ralhar
ras duma criança podem ser indicativas de se desenrola, uma vez que o lúdico possibi- com o bebé – “Senta-te bem na cadeira! E
alguma dificuldade ou desenvolvimento tar- lita uma das actividades mais significativas come a papa toda!” –, à semelhança do que
dio em determinado aspecto, visível aos pais para a aprendizagem. Diríamos até a mais ela experimenta na realidade.
e outros adultos que contactam diariamente significativa! Através do faz-de-conta, a criança traz para
com a criança. Nesta faixa etária, as crianças já desenvol- perto de si uma situação vivida, adaptando-a
O brincar está muito presente no dia-a-dia veram capacidades emocionais e cognitivas à sua realidade e necessidades emocionais.
duma educadora de infância. É o instrumen- para incluir outras pessoas nas suas brinca- Percebemos então a importância das brin-
to principal pelo qual as crianças aprendem deiras. Anteriormente, brincavam ao lado do cadeiras na casinha e na garagem, como os
coisas novas e crescem a cada dia, a todos outro, mas não com o outro. E é perceben- “pais e as mães”, o “médico”, o “supermerca-
os níveis: cognitivo, emocional, linguístico, do a presença do outro que começam a ser do”, “a oficina”, entre tantas outras.
social e motor. É imprescindível haver este
espaço para que as crianças se possam de-
senvolver.
Além de fonte de lazer, o brincar é simulta-
neamente fonte de conhecimento. É esta
dupla natureza que nos leva a considerar o
brincar como parte integrante da actividade
educativa, sobretudo no pré-escolar. Infeliz-
mente, a brincadeira começa a ganhar cada
vez menos importância, à medida que as
crianças crescem, começando a haver cada
vez mais exigências a nível intelectual.
No dia-a-dia da sala de creche, o brincar, para
além de possibilitar o exercício daquilo que é
próprio no processo de desenvolvimento e
aprendizagem, possibilita situações em que
a criança constitui significados, sendo uma
forma de assimilação dos papéis sociais e
de compreensão das relações afectivas que
ocorrem no seu meio, assim como para a
construção do conhecimento.
O jogo e a brincadeira são sempre situações
Portanto, a brincadeira e as situações de Como forma de conclusão, é importante sa- compreendidas da forma que elas melhor são
jogos são fundamentais para a vida saudá- lientar mais uma vez a importância do brin- capazes de se expressar: através do brincar.
vel da criança e, por que não dizê-lo, para o car e do lúdico, que começam a ter cada vez
adulto também. mais relevância, apesar de ainda haver um
Pode-se em relação a isto acrescentar que, en- grande caminho a percorrer.
volvidos em brincadeiras com as crianças, os Não só educadores e outros profissionais
adultos sentem-se igualmente divertidos, mais que trabalham com crianças, mas também
descontraídos e felizes, o que é benéfico para os pais ajudariam bastante os seus filhos ao
o clima e ambiente na sala, onde deve existir serem esclarecidos e orientados sobre a ne-
cumplicidade e harmonia. E é igualmente be- cessidade de brincar com as crianças.
néfico para os adultos como pessoas, se pen- Como educadores de infância, é importante
sarmos no conceito de playfulness, associado, contribuirmos para esta mudança, alertando
entre outros, ao bom humor, capacidade lúdica os pais e os outros profissionais sobre estas
e descontracção. Algo que deveríamos manter questões, começando a construir um caminho
como seres humanos depois da infância! para que, cada vez mais, as crianças possam ser