Histórico e Escolas Da Criminologia
Histórico e Escolas Da Criminologia
Histórico e Escolas Da Criminologia
CRIMINOLOGIA
HISTÓRIA E ESCOLAS DA CRIMINOLOGIA
Por Rochester Araújo
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SUMÁRIO
ATUALIZADO EM 26/03/201712
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo
(setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura
identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o
número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca
do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos
anteriormente citados.
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Atenção: este material é produzido a partir de textos autorais, compilações e transcrições. O objetivo não é esgotar o tema
de criminologia. É o de facilitar o estudo desta matéria, principalmente para quem é iniciante no tema e tem dificuldade em
certos conceitos ou construções. Este material deve ser desconstruído e reconstruído, como tudo que a criminologia gosta de
fazer. Provavelmente você só entenderá essa “piadinha” no final dos seus estudos criminológicos. Além disso, em alguns
tópicos, explorou-se a visão tradicional sobre o tema, tendo o cuidado de sempre apresentar abordagens críticas em seguida,
sobretudo em atenção aos alunos Ciclos que irão prestar concurso para Defensoria Pública.
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despontou na segunda metade do século XIX e que sofreu uma forte influência das ideias liberais e
humanistas de Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, com a edição de sua obra genial, intitulada
“Dos delitos e das penas”, em 1764.
Por derradeiro, releva frisar que, numa perspectiva não biológica, o belga Adolphe Quetelet,
integrante da Escola Cartográfica, ao publicar seu “Ensaio de física social” (1835), seria um expoente da
criminologia inicial, projetando análises estatísticas relevantes sobre criminalidade, incluindo os
primeiros estudos sobre “cifras negras de criminalidade” (percentual de delitos não comunicados
formalmente à Polícia e que não integram dados estatísticos oficiais).
Aproveitando que abordamos o assunto sobre as cifras negras de criminalidade, vejamos tabela
que resume o tema:
#ATENÇÃO
Refere-se à porcentagem de crimes não solucionados ou punidos, à
Cifra Negra existência de um significativo número de infrações penais
desconhecidas "oficialmente". É a “mãe” de todas as cifras.
Tratam-se dos crimes que chegam ao conhecimento da autoridade
Cifra Cinza
policial, entretanto não prosperam na fase processual.
Trata-se especificamente da criminalidade cometida pelas classes
privilegiadas, referindo-se também a expressão “crimes de colarinho
Cifra Dourada branco”.
Como exemplo pode-se citar crimes como: sonegação fiscal, lavagem
de dinheiro, crimes eleitorais.
Dizem respeito aos crimes ambientais que não chegam ao
Cifra Verde
conhecimento das autoridades.
São os crimes cometidos por funcionários públicos, onde geralmente
Cifra Amarela a vítima deixa de denunciar o fato às autoridades competentes por
medo de represálias.
Cifra Rosa Tratam-se dos crimes com viés homofóbico.
Contrapõem-se aos chamados “crimes do colarinho branco”, dizem
respeito aos pequenos crimes comuns praticados por pessoas
Cifra Azul
economicamente desabastadas e se verifica como uma alusão aos
macacões azuis utilizados nas fábricas dos Estados Unidos.
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Nessa discussão quase estéril acerca de quem é o criador da moderna criminologia, uma coisa é
imperiosa: houve forte influência do Iluminismo, tanto nos clássicos quanto nos positivistas, conforme
se verá adiante.
3. ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS
4. ESCOLA CLÁSSICA
Não existiu propriamente uma Escola Clássica, que foi assim denominada pelos positivistas em
tom pejorativo (Ferri).
As ideias consagradas pelo Iluminismo acabaram por influenciar a redação do célebre livreto de
Cesare Beccaria, intitulado “Dos delitos e das penas” (1764),3 com a proposta de humanização das
ciências penais.4 Além de Beccaria, despontam como grandes intelectos dessa corrente Francesco
Carrara (dogmática penal) e Giovanni Carmignani.
Os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o jusnaturalismo (direito natural, de Grócio),
que decorria da natureza eterna e imutável do ser humano, e o contratualismo (contrato social ou
utilitarismo, de Rousseau), em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre os homens, no qual
estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva.
A burguesia em ascensão procurava afastar o arbítrio e a opressão do poder soberano com a
manifestação desses seus representantes através da junção das duas teorias, que, embora distintas,
igualavam-se no fundamental, isto é, a existência de um sistema de normas anterior e superior ao
Estado, em oposição à tirania e violência reinantes.
Pra que tudo isso é importante? O Direito Penal é sempre fruto de uma intenção e de um
contexto. Ele, como todo o direito, é um instrumento para algum interesse político e social. Portanto,
entender a base que justifica a aplicação de um direito penal nos faz entender que direito penal será
esse!
A escola clássica utiliza como base a perspectiva racionalista do iluminismo. O homem é um ser
racional. Inclusive o homem criminoso. Não se afasta a racionalidade de quem cometeu um crime. Ao
contrário, partir do pressuposto de que ele fez aquilo racionalmente é importante para reconhecer
como um crime e aplicar uma pena.
Os princípios fundamentais da Escola Clássica são:
a) o crime é um ente jurídico; não é uma ação, mas sim uma infração (Carrara) – é uma criação
3 Sabia que esse livro que você não quis ler na graduação é um dos livros mais publicados e lidos no MUNDO? Fica no topo da
lista ao lado da Bíblia, Alcorão, Harry Potter...
4 A partir dos estudos críticos da criminologia, este avanço humanista apresentado pela escola clássica também é posto em
cheque. Quando falamos em criminologia crítica, ela é crítica MESMO! Se prepare para tudo que você achou saber do Direito
Penal (bom x mau) ser desconstruído!
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jurídica!
b) a punibilidade deve ser baseada no livre-arbítrio;
c) a pena deve ter nítido caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente (maldade), de
modo a prevenir o delito com certeza, rapidez e severidade e a restaurar a ordem externa social;
d) método e raciocínio lógico-dedutivo.
Assim, para a Escola Clássica, a responsabilidade criminal do delinquente leva em conta sua
responsabilidade moral e se sustenta pelo livre-arbítrio, este inerente ao ser humano.
Isso quer dizer que se parte da premissa de que o homem é um ser livre e racional, capaz de
pensar, tomar decisões e agir em consequência disso; em outras palavras, como preleciona Alfonso
Serrano Maíllo (2008, p. 63), “Quando alguém encara a possibilidade de cometer um delito, efetua um
cálculo racional dos benefícios esperados (prazer) e os confronta com os prejuízos (dor) que acredita
vão derivar da prática do delito; se os benefícios são superiores aos prejuízos, tenderá a cometer a
conduta delitiva”.
#TRADUZACABRAL: quando falamos em função manifesta e não manifesta do Direito Penal, partimos
de uma concepção já bem mais moderna do Direito Penal. Nessa concepção, é possível dividir a
função do Direito Penal em duas: aquela que dizem ser a função e aquela que realmente é a função.
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Imagine o Direito Penal como um estelionatário! Ele chega para a vítima (sociedade) com um
discurso, geralmente muito convincente. Essa é a função manifesta, já que é aquela que ele afirma ser
a razão da sua atuação. Daí ele pede para você assinar um documento para uma ONG que cuida de
criancinhas na África! Que fofo! Contudo, na verdade, o que ele quer é enganar aquela pessoa para
obter alguma vantagem. Então, a função manifesta dele é bela. Mas, a função não manifesta é a que
ele realmente deseja. Ele tá te enrolando! Ele vai pegar aquela assinatura e tocar o terror. Essa é a
função não manifesta. Nunca que ele conseguiria seu apoio (assinatura) se ele chegasse contando a
função não manifesta. Por isso, sempre vem muito bem atraente com uma função manifesta que é
atrativa. Essa função manifesta também pode ser referida como o “discurso do direito penal”, por
exemplo, já que é aquilo que ele diz querer. #NÃOSEJABOBO
Atenção: a função da pena, em cada uma das escolas, e a existência ou negação de uma
finalidade preventiva é um dos principais elementos de diferenciação das escolas da criminologia. Por
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isso, apresentaremos um breve resumo sobre as formas de prevenção antes de avançar para a próxima
escola.
PROGRAMAS DE PREVENÇÃO
PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA
Estratégias de prevenção de
natureza mais situacional que Prevenção especial
Combate as causas, a
CARACTERÍSTICA etiológica (não combate a raiz do delito
raiz do crime –
PRINCIPAL do crime, mas o impede de se (ressocialização do
prevenção etiológica.
manifestar em determinadas criminoso).
situações).
Não atua quando nem onde a A mais distante das
vontade de praticar um crime raízes do crime.
Atua antes de o crime
MOMENTO se produz, senão quando e
ser gerado.
onde se manifesta ou Opera no âmbito
exterioriza. penitenciário.
Se orienta seletivamente aos
grupos que ostentam maior O recluso (população
DESTINATÁRIO Todos os cidadãos.
risco de sofrer ou protagonizar encarcerada).
um crime.
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Política cultural,
Política legislativa penal, ação
econômica e social
policial.
(educação e
Instrumentos não penais que
socialização, casa,
alteram o cenário criminal Programas
trabalho, bem-estar
INSTRUMENTOS modificando alguns dos reabilitadores,
social, qualidade de
UTILIZADOS elementos do mesmo (espaço ressocializações e de
vida).
físico, desenho arquitetônico, inclusão.
Intervenção
urbanístico, atitudes de
comunitária, e não mera
vítimas, efetividade policial
dissuasão penal
etc.).
(intimidação).
Da Escola Clássica surgiram alguns dogmas modernos do Direito Penal – O direito penal liberal –
e que se consagram como princípios penais. Por exemplo: apenas por meio de lei (já que esta pode
presumir ser algo que todos conhecem ou podem conhecer e respeitam) é possível dizer que alguma
coisa é crime (princípio da legalidade). Se o crime é um ato racional, quem fez aquela escolha é que
deve sofrer as penas, e não outras pessoas (princípio da intranscendência da pena).
Assim, na escola clássica, a pena é uma retribuição a um mal causado. Aquela pessoa que
cometeu o crime violou um contrato (social). No Direito Civil, se uma parte descumpre a cláusula
contratual, deve ser obrigada a uma reparação. No contrato social (entre o indivíduo e a sociedade), há
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obrigatoriedade de uma reparação por parte do criminoso. Por isso, as penas são certas e pré-
determinadas (para saber o quanto da reparação).
#COMPLICANDO: a pena, segundo Hegel, é a negação da negação do direito. OI? Veja bem. Existe o
direito. Quem comete um crime, viola o direito. Portanto, esta pessoa está negando o direito. Como
reparar isso? Negando o que essa pessoa fez! Ao negar o que a pessoa fez (que foi negar o direito) é
possível se reestabelecer a ordem. Matematicamente, duas negações geram uma afirmação. Daí que a
pena (afirmação) é a negação da negação do direito!
Uma última anotação sobre a escola clássica: qual o método de estudo aplicado pelos
criminólogos desta escola? Ou seja, como eles chegavam as conclusões deles, ao olhar para o crime? Era
o método lógico-abstrato, ou método dedutivo. Porque? O outro método que era possível, para a
época, e que admitia que aquilo que se estudasse fosse caracterizado como ciência era o método
experimental. No experimental, você deveria submeter suas hipóteses a testes, verificando
experimentalmente algo para comprovar. Nas concepções da escola clássica, isso seria irrealizável.
Como verificar, com um experimento, que todo homem é dotado de uma racionalidade e irá agir com
livre-arbítrio? E o contrato social, cadê as três cópias assinadas? Portanto, a única forma era o método
dedutivo, em que se partia de algumas premissas para chegar a determinadas conclusões.
5. ESCOLA POSITIVA
A chamada Escola Positiva deita suas raízes no início do século XIX na Europa, influenciada no
campo das ideias pelos princípios desenvolvidos pelos fisiocratas e iluministas no século anterior. Pode-
se afirmar que a Escola Positiva teve três fases: antropológica (Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica
(Garófalo).
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estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de mãos e pernas foram analisados com detalhes.
Lombroso também buscou informes em dezenas de parâmetros frenológicos, decorrentes de exames de
crânios, traçando um viés científico para a teoria do criminoso nato.
Os estudos científicos de Lombroso assumiram feição multidisciplinar, pois emprestaram
informes da psiquiatria, com a análise da degeneração dos loucos morais, bem como lançaram mão de
dados antropológicos para retirar o conceito de atavismo e de não evolução, desenvolvendo o conceito
de criminoso nato. Para ele, não havia delito que não deitasse raiz em múltiplas causas, incluindo-se aí
variáveis ambientais e sociais, por exemplo, o clima, o abuso de álcool, a educação, o trabalho etc.
Ademais, Lombroso propôs a utilização de método empírico-indutivo ou indutivo-experimental,
que se ajustava ao causalismo explicativo defendido pelo positivismo. Efetuou ainda estudos intensos
sobre as tatuagens, constatando uma tendência à tatuagem nos dementes.
Por isso, afirmou que o crime não é uma entidade jurídica, mas sim um fenômeno biológico,
razão pela qual o método indutivo-experimental deveria ser o empregado. Registre-se, por oportuno,
que suas pesquisas foram feitas na maioria em manicômios e prisões, concluindo que o criminoso é um
ser atávico, um ser que regride ao primitivismo, um verdadeiro selvagem (ser bestial), que nasce
criminoso, cuja degeneração é causada pela epilepsia, que ataca seus centros nervosos.
Estavam fixadas as premissas básicas de sua teoria: atavismo, degeneração epilética e
delinquente nato, cujas características seriam: fronte fugidia, crânio assimétrico, cara larga e chata,
grandes maçãs no rosto, lábios finos, canhotismo (na maioria dos casos), barba rala, olhar errante ou
duro etc.
Embora Lombroso não tenha afastado os fatores exógenos da gênese criminal, entendia que
eram apenas aspectos motivadores dos fatores endógenos. Assim, o clima, a vida social etc. apenas
desencadeariam a propulsão interna para o delito, pois o criminoso nasce criminoso (determinismo
biológico).
Tais conclusões decorreram sobretudo dos estudos médico-legais feitos na necropsia do
famigerado bandido calabrês Villela, em que se descobriu que este possuía uma fossa occipital igual à
dos vertebrados superiores, mas diferente do homo sapiens (degeneração). Depois, ao estudar os
crimes de sangue cometidos pelo soldado Misdea, verificou-se que a epilepsia poder-se-ia manifestar
por impulsos violentos (epilepsia larvar). Lombroso classificou os criminosos em natos, loucos, por
paixão e de ocasião (cf. n. 9.3, infra).
Inúmeras críticas foram feitas a Lombroso, justamente pelo fato de que milhares de pessoas
sofriam de epilepsia e jamais praticaram qualquer crime. Então, em socorro do mestre, surgiu o
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Em apertada síntese, poderíamos dizer que os principais postulados da Escola Positiva são:
a) o direito penal é obra humana;
b) a responsabilidade social decorre do determinismo social;
c) o delito é um fenômeno natural e social (fatores biológicos, físicos e sociais);
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#Atenção: boa parte do nosso sistema penal, sobretudo quanto aquilo que se relaciona as pessoas
com transtornos mentais que cometem crime, possui forte influência da escola positiva da
criminologia. Por consequência, temos que a aplicação de medida de segurança nos casos de
inimputabilidade identificada na ação penal (salvo a menoridade), é feita com prazo indeterminado
para cessar, estabelecendo-se o período mínimo e a frequência de novos exames para verificar a
culpabilidade do indivíduo. Além disso, somente após forte embate jurisprudencial que vem se
admitindo que a medida de segurança poderá durar, no máximo, o período da pena máxima em
abstrato previsto para o tipo penal. Ainda assim, o alinhamento da posição da Defensoria Pública é
favorável a uma reforma em relação a tal parte no Código Penal e se relaciona com a luta
antimanicomial.
Esta corrente foi também denominada Escola Sociológica Alemã, e teve como principais
expoentes Franz von Lizst, Adolphe Prins e Von Hammel, criadores, aliás, da União Internacional de
Direito Penal, em 1888. Von Lizst ampliou na conceituação das ciências penais a criminologia
(com a explicação das causas do delito) e a penologia (causas e efeitos da pena).
A Escola Moderna Alemã tem íntima relação com a criação da União Internacional do Direito
Penal (que existiu até a Primeira Guerra Mundial). Formado o pensamento por correntes ecléticas que
buscavam conciliar princípios de vários movimentos, tais como os da Escola Clássica, do Tecnicismo
Jurídico e a Escola Positiva. Algo que também foi tentado pelo positivismo crítico da Terceira Escola
Italiana.
Von Liszt experimentou uma espécie de segunda versão do positivismo jurídico, dividindo a
utilização de um método descritivo/classificatório que, em razão da pretensa cientificidade, excluía
juízos de valor, mas se diferenciou do positivismo ao apresentar ligações à consideração da realidade
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empírica não jurídica – o esvaziamento do direito das questões reais – e, portanto, foi um positivismo
jurídico com nuances naturalísticas.
O pensamento em si da Escola Moderna Alemã é um pouco menos exato quanto as demais,
mas teve certa influência. Primeiro, Von Liszt apresentou em seu “Programa de Marburgo – A ideia do
fim no Direito Penal” a necessidade de uma modernização do direito penal positivo. Elaborando seu
raciocínio com muita base dogmática, sistematizou o Direito Penal com um formato complexo e uma
estrutura muito completa, fazendo nascer a moderna teoria do delito como conhecemos hoje.
Para Liszt, a orientação que o Direito Penal deveria assumir era segundo o fim, o objetivo a que
o mesmo se destina. Beirando o utilitarismo, a escola alemã disse que o Direito Penal deve possuir um
efeito útil “[...] que seja capaz de ser registrado e captado pela estatística criminal” (BITENCOURT, 2011).
A pena justa é a pena necessária. Basicamente esse era o conceito chave desse aspecto da escola alemã.
Nem livre arbítrio nem determinismo era definitivo para a escola, sendo a pena proposta
decorrente da necessidade de um caráter intimidativo para os delinquentes normais, e medida de
segurança para os anormais, tendo o fim único de justiça. Ganha espaço, portanto, a prevenção
especial.
São características dessa escola:5
a) Adoção do método lógico-abstrato (Direito Penal) e indutivo-experimental (demais ciências
criminais): essa característica diz respeito à necessidade de delimitar o objeto de estudo do Direito
Penal, realizando um corte metodológico que exclui áreas como a Criminologia, Sociologia, etc.;
b) Distinção entre imputáveis e inimputáveis: ele não fundamenta essa diferença no livre
arbítrio, mas sim na “normalidade de determinação do indivíduo”. Para os imputáveis a sanção é a pena,
e para os outros, uma medida de segurança, o que caracteriza a feição duplo-binária de sua teoria;
c) O crime é um fenômeno humano-social e fato jurídico: mesmo que se considere o crime
como um fato jurídico, a escola não elimina a ideia que simultaneamente também é um fenômeno
social e humano, o que constitui sua realidade;
d) Função finalística da pena: em detrimento de uma pena retributiva com a escola clássica, a
escola moderna alemã a substitui dizendo que a pena deve ajustar-se à própria natureza daquele sujeito
que declina as normas penais. Ainda que não tenham excluído totalmente o caráter retributivo da pena,
os alemães priorizam “[...] a finalidade preventiva, particularmente a prevenção especial”;
e) Eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração: a escola
sugere penas alternativas a esse tipo de sanção. Desenvolve assim, verdadeiramente, uma política
5 BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal, Parte geral I. São Paulo: Saraiva, 2011.
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criminal liberal.
Os postulados da Escola de Política Criminal foram:
b) a distinção entre imputáveis e inimputáveis (pena para os normais e medida de segurança para os
perigosos);
7. TERZA SCUOLA
As Escolas Clássica e Positiva foram as únicas correntes do pensamento criminal que, em sua
época, assumiram posições extremadas e bem diferentes filosoficamente.
Depois delas apareceram outras correntes que procuraram conciliar seus preceitos. Dentre
essas teorias ecléticas ou intermediárias, reuniram-se penalistas orientados por novas ideias, mas sem
romper definitivamente com as orientações clássicas ou positivistas.
A terza scoula italiana, uma das correntes ecléticas, é também conhecida como Escola Crítica.
Tem como marco a Publicação do artigo Una Terza Scuola di Diritto Penale in Itália, por Manuel
Carnevale.
As mais importantes características dessa corrente são: a) a responsabilidade penal tem por
base a imputabilidade moral, sem o livre arbítrio, que é substituído pelo determinismo psicológico: o
homem está determinado mais forte, sendo imputável aquele que é capaz de se deixar pelos motivos.
Aos que possuem tal capacidade, deve ser aplicada medida de segurança. A imputabilidade funda-se na
dirigibilidade do ato humano e na intimidabilidade; b) o delito é contemplado no seu aspecto real –
fenômeno natura e social; e c) a pena tem uma função defensiva ou preservadora da sociedade.
Diante da aplicabilidade da medida de segurança no lugar da pena, conclui o professor Cesar
Roberto Bitencourt, em sua obra (2003, p.58):
“O crime, para esta escola, é concebido como um fenômeno social e individual, condicionado,
porém, pelos fatores apontados por Ferri. O fim da pena é a defesa social, embora sem perder seu
caráter aflitivo, e é de natureza absolutamente distinta da medida de segurança”.
Dessa forma, a Terza Scoula utiliza da criação da escola positiva no formato de sanção – medida
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b) responsabilidade moral baseada no determinismo (quem não tiver a capacidade de se levar pelos
motivos deverá receber uma medida de segurança);
8. ESCOLA TÉCNO-JURÍDICA
A Escola Penal Positiva provocou diversas críticas no sentido de ter afastado o estudo do crime
do âmbito jurídico, concentrando-se mais em aspectos antropológicos e sociológicos. Como reação,
surge a Escola Tecno-Jurídica.
A própria metodologia utilizada pela Escola Positiva foi objeto de renovação nessa escola,
reaproximando-se do elemento jurídico ao apontar o verdadeiro objeto do Direito Penal como sendo o
fenômeno do crime.
As pesquisas casual-explicativas, típicas da criminologia etiológica, eram importantes. Contudo,
para reaproximar do direito, era necessário se afastar desse método e se reaproximar com aqueles
típicos das ciências normativas, qual seja, um estudo tecno-jurídico ou lógico-abstrato.
Entre as principais características, temos: a) o delito é pura relação jurídica, de conteúdo
individual e social; b) a pena constitui uma reação e uma consequência do crime (tutela jurídica), com
função preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis; c) a medida de segurança – preventiva –
deve ser aplicada aos inimputáveis; d) responsabilidade moral (vontade livre); e) método tecno-jurídico;
e f) recusa o emprego da filosofia no campo penal.
O crime é uma relação de conteúdo individual e social: sendo um entre jurídico, porque é o
direito que valoriza determinados fatos e a lei que os tipifica como crimes (elemento social),
simultaneamente não se pode negar que há influência de elementos naturais, fatores biológicos e
sociais (elemento individual).
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9. ESCOLA CORRECIONALISTA
Tem como principais expoentes Karl Roder, Giner de los Ros, Alfredo Alderón, Pedro Dorado
Montero.
A essência dessa escola pode ser retirada da nomenclatura que foi batizada: ao ser
correcionalista, a função principal – e única – da pena é a correção do indivíduo. Cezar Roberto
Bitencourt (2003, p. 63), em sua obra explicita:
“Para os correcionalistas, a pena não se dirige ao homem real, vivo e concreto, que se tornou
responsável por um determinado crime, revelador de uma determinação defeituosa de vontade. Na
verdade, a sua finalidade é trabalhar sobre a causa do delito, isto é, a vontade defeituosa, procurando
convertê-la segundo os ditames do direito. O correcionalismo, de fundo ético-panteísta, apresentou-se
como uma doutrina cristã, tendo em conta a moral e o Direito natural” (…) “Em outros termos, o
delinquente, para os correcionalistas, é um ser anormal, incapaz de uma vida jurídica livre, constituindo-
se, por isso, em um perigo para a convivência social, sendo indiferente a circunstância de tratar-se ou
não de imputável. Como se constata, não dá nenhuma relevância ao livre-arbítrio. O criminoso é um ser
limitado por uma anomalia de vontade, encontrando no delito o seu sintoma mais evidente, e, por isso,
a sanção penal é vista como um bem. Dessa forma, o delinquente tem o direito de exigi sua execução e
não o dever de cumpri-la. Ao estado cabe a função de assistência às pessoas necessitadas de auxilio
(incapazes de autogoverno). Para tanto o órgão púbico deve atuar de dois modos: a) restringindo a
liberdade individual (afastamento dos estímulos delitivos); e b) corrigindo a vontade defectível. O
importante não é a punição do delito, mas sim a cura ou emenda do delinquente. A administração da
Justiça deve visar o saneamento social (higiene e profilaxia social) e o juiz ser entendido como médico
social.”
O conceito mais próximo da ideia de ressocialização surge nesse momento, sendo que com um
aspecto mais próximo do terapêutico e de uma suposta cura do delinquente. A pena serve como meio
de controle social, e não mais uma mera retribuição ao crime praticado.
Portanto, temos que a pena idônea, para essa escola, é a privação de liberdade. Essa pena deve
ser indeterminada, já que a “cura” do delinquente não é algo que possa ser previamente delimitado em
relação ao tempo necessário. A função do direito penal é preventiva e de controle social e a
responsabilidade penal deve ser entendida como uma responsabilidade coletiva, solidária e difusa.
A principal característica é a aplicação de penas indeterminadas, embora no discurso
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correcionalista isso não representasse, obrigatoriamente, uma pena infinita. Na verdade, a ideia seria a
de uma pena mais breve possível, desde que o indivíduo fosse curado.
Por incrível que pareça, esse movimento filosófico reformista da valoração do direito deu
origem à difusão dos direitos humanos, ao pensamento alternativo, e a uma nova Escola de Direito
Penal, a Escola da Defesa Social.
Deve-se a Adolphe Prins (A defesa social e as transformações do direito penal) sua primeira
sistematização. Em 1945, Felipe Gramática funda, na Itália, o Centro Internacional de Estudos de Defesa
Social, objetivando renovar os meios de combate à criminalidade.
“O objetivo é uma radical supressão dos conceitos de crime, responsabilidade e pena. Dessa
forma, propõe-se a substituição da responsabilidade penal, fundada no delito, pela anti-sociabilidade,
fundada em dados subjetivos do autor; substituir a infração, considerada como fato, pelo índice da anti-
sociabilidade e, finalmente, substituir a pena por medidas sociais.”
Após essas bases, já em 1954, Marc Ancel publica a famosa Défense sociale nouvelle
(verdadeiro documento ideológico) com destaque para: desjuridicização; nova atitude em ralação ao
delinquente e política criminal humanista, por ele definida como “uma doutrina” humanista de proteção
social contra o crime”. O fundamento básico dessa corrente é a defesa social pela
adaptação/ressocialização do delinquente e não pela sua neutralização. Sua essência se encontra,
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http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=846
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