Contos de Misterios Mes 04
Contos de Misterios Mes 04
Contos de Misterios Mes 04
As alegações dos três irmãos da suicida foram checadas. Não tinham mentido. O mais velho, Juan,
permanecera das cinco da tarde até a meia-noite (a senhora Stevens se suicidou entre sete e dez da noite) detido
numa delegacia, por sua imprudente participação num acidente de trânsito. O segundo irmão, Esteban, estivera no
povoado de Lister desde as seis da tarde daquele dia até as nove do seguinte. Quanto ao terceiro, doutor Pablo,
ele não se afastara em nenhum momento do laboratório de análise de leite da Cia. Erpa, mais exatamente do setor
de doseamento da gordura.
O curioso é que, naquele dia, os três irmãos tinham almoçado com a suicida, comemorando seu aniverśario,
e ela, por sua vez, em nenhum momento deixara entrever uma intenção funesta. Todos comeram alegremente e, às
duas da tarde, os homens se retiraram.
Suas declarações coincidiram em tudo com as da criada que, desde muitos anos trabalhava para a senhora
Stevens. Essa mulher, que não dormia no emprego, às sete da noite foi para casa. A última ordem que recebeu foi
a de dizer ao porteiro que trouxesse o jornal da tarde. Às sete e dez o porteiro entregou o jornal à senhora
Stevens, e o que fez esta antes de matar-se pode ser presumido logicamente. Revisou os últimos lançamentos da
contabilidade doméstica, pois a livreta estava na mesa da copa, com os gastos do dia sublinhados. Serviu-se de
uísque com água e nessa mistura deixou cair, aproximadamente, meio grama de cianureto de potássio. Pôs-se a ler
o jornal, depois bebeu o veneno e, ao sentir que ia morrer, levantou-se, para logo tombar no chão atapetado. O
jornal foi achado entre seus dedos contraídos.
Tal foi a primeira hipótese, construída a partir de um conjunto de coisas pacificamente ordenadas no
interior da residência, mas esse suicídio estava carregado de absurdos psicológicos e não queríamos aceitá-lo. No
entanto, só a senhora Stevens podia ter posto o veneno no copo. O uísque da garrafa não continha veneno. A água
misturada também era pura. O veneno, claro, podia estar no fundo ou nas paredes do copo, mas esse copo tinha
sido retirado de uma prateleira onde havia uma dúzia de outros iguais: o eventual assassino não havia de saber
qual copo a senhora Stevens escolheria. De resto, o laboratório da polícia nos informou que nenhum copo tinha
veneno em suas paredes.
A investigação não era fácil. As primeiras provas – provas mecânicas, como eu as chamava – sugeriam que
a viúva morrera por suas próprias mãos, mas a evidência de que, ao ser surpreendida pela morte, estava distraída
na leitura do jornal, tornava disparatada a ideia de suicídio.
Essa era a situação quando fui desligado por meus superiores para continuar a investigação. A informação
de nosso laboratório era categórica: havia veneno no copo que a senhora Stevens usara, mas a água e o uísque da
garrafa eram inofensivos. O depoimento do porteiro era igualmente seguro: ninguém visitara a senhora Stevens
depois que lhe entregara o jornal. Se após as diligências iniciais eu tivesse concluído o inquérito optando pelo
suicídio, meus superiores nada teriam objetado. Porém, concluir o inquérito nesses termos era a confissão de um
fracasso. A senhora Stevens tinha sido assassinada e havia certo indício: onde estava o envoltório do veneno? Por
mais que revistássemos a casa, não encontramos a caixa, o envelope ou o frasco do tóxico. Aquilo era eloquente.
Glossário
Funesta: que causa a morte; fatal; mortal.
Cianureto de potássio: poderoso veneno.
Hipótese: suposição, conjetura, pela qual a imaginação antecipa conhecimento, com o fim de explicar ou prever
a possível realização de um fato.
Evidência: indicação; indício; sinal; traço.
Eloquente: aquele ou aquilo que é convincente; persuasivo.
1) Reflita sobre o título do conto: Um crime quase perfeito. O que seria um crime quase perfeito?
Um crime quase perfeito é aquele cuja autoria não se consegue provar.
5) Quem nos narra todo o caso? Reescreva um trecho que comprove sua resposta. Se o trecho selecionado deixar
dúvidas, complemente sua resposta com uma explicação.
Quem nos conta um caso é um policial, detetive ou inspetor da polícia. “Essa era a situação quando fui designado
por meus superiores para continuar a investigação. A informação de nosso laboratório era categórica”.
6) Qual é a primeira hipótese apresentada para a morte da senhora Stevens? Por que o narrador crê que ela é
disparatada?
Hipótese de suicídio. O narrador crê que essa hipótese é disparatada porque a Sra. Stevens não parecia ter
provocado a própria morte e o envoltório do veneno não foi encontrado.
7) “Envoltório” é tudo aquilo que serve de recipiente para guardar, conservar ou proteger alguma coisa. Quais são as
outras três palavras presentes no texto que poderiam substituir o termo “envoltório”?
Caixa, envelope e frasco.
8) A ausência de veneno nos outros copos do armário reforça a ideia de assassinato ou de suicídio?
De suicídio.
9) Por que encontrar o envoltório original do veneno seria uma peça fundamental da investigação policial?
O envoltório do veneno poderia indicar quem foi a última pessoa a manuseá-lo, pelas impressões digitais, por
exemplo.
O lobo e o cão
Ruth Rocha
Certo dia, um Lobo só pele e osso encontrou um cão gordo, forte e com o pêlo muito
lustroso enquanto andava pela estrada. Via-se bem que não passava fome. O Lobo, admirado,
quis saber onde é que ele conseguia obter tanta comida.
- Se me seguires ficarás tão forte como eu - respondeu o cão. - O homem dar-te-
á restos saborosos.
- Mas o que preciso fazer em troca? - quis saber o Lobo.
- Muito pouco, na verdade - respondeu o Cão. - Uivar aos intrusos, agradar ao dono e
adular os seus amigos. Só por isto receberás carne e outras iguarias muito bem cozinhadas.
De vez em quando, receberás também festas no dorso.
O Lobo ficou encantado com a ideia e meteram-se ambos ao caminho. A dada altura, o
Lobo reparou que o cão tinha o pescoço esfolado.
- O que tens no pescoço? - perguntou.
- Nada de grave. É da argola com que me prendem - explicou o Cão.
- Preso? Então não podes correr quando queres?- exclamou o Lobo. - Esse é um preço
demasiado elevado: não troco a minha liberdade por toda a comida do mundo.
Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pode para bem longe dali.
Moral da história:
A tua liberdade não tem preço.
1) Você seria capaz de contar essa fábula de maneira diferente? Tente contá-la no formato
de história em quadrinhos. Para facilitar, primeiro faça um ROTEIRO colocando no papel como
será a história toda.Veja o exemplo:
1-Primeiro quadrinho:
Desenho – O Lobo esfomeado encontra o Cão forte e alimentado na estrada e pergunta ao
cachorro onde ele conseguia alimento.
Balão: – Onde achas tanta comida?
2-Segundo quadrinho:
Desenho – O Cão responde ao Lobo.
Balão: - Venha comigo, terás comida à vontade, terás afeto e carinho na boa casa em que vivo!
3-Terceiro quadrinho:
Desenho - O Lobo concorda com a idéia e segue o Cão pelo caminho.
Balão: – Vou com você!
4-Quarto quadrinho:
Desenho – O Lobo percebe que o Cão tem o pescoço esfolado.
Balão: – Que tens no pescoço?
5-Quinto quadrinho:
Desenho – O cachorro explica.
Balão: - É que, às vezes, me deixam amarrado durante o dia.
Depois, calcule quantos quadrinhos você vai precisar para contar sua história. Tente descobrir
quantas páginas vai utilizar.
Exemplo: 12 quadrinhos. Você pode colocar em 2 páginas, 6 quadrinhos em cada uma.
Para fazer cada quadrinho, comece pelo texto (balões dos personagens). Use letras
maiúsculas. Se preferir, destaque palavras importantes ou gritos com cores mais fortes.
Escreva as letras antes de fazer o balão. Fazendo assim, você garante o espaço para o texto.
Depois faça os desenhos. Se você acha difícil desenhar, não fique preocupado. Faça desenhos
simples. A cena parece complicada demais para desenhar? Pense em outra. Sempre há uma
solução mais simples...
Agora, você faz o quadrinho. Não esqueça de escrever o título da história e colocar a palavra
“fim” no último quadrinho.