Parte 5 Manual Processos Cisolo
Parte 5 Manual Processos Cisolo
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PARTE V
PROCESSOS NO SOLO
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Erosividade: poder intrínseco da chuva em causar erosão, que depende da sua intensidade, frequência e
duração.
Erosão
RELEVO CLIMA
Rejuvenescimento
ORGANISMOS
MATERIAL PARENTAL Temperatura
H2O microor-
CO2 ganismos
minerais
O2
microorganism-os &
matéria
orgânica
uso de
nutrientes
S
e
d Hidrólise, Hidratação, solução Humificação
i Oxidação, Redução
m
e
n
t
o
s
RESÍDUOS
RESISTENTES HUMUS, NO3-, NH4+
Quartzo, zircon ÁCIDOS ORGÂNICOS
Dispersão, Agregação
Precipitação, troca de iões, translocação
Lixiviação
Figura V-2. Velocidade de produção (A) e decomposição (B) de matéria orgânica sob drenagem boa (B1) e
má (B2), em função da temperatura média anual (Fonte: Van Dam, 1971).
Além das chuvas, outros elementos climáticos intervêm no O termo relevo refere-se às formas do terreno que compõe a
regime hídrico dos solos e na lixiviação dos mesmos. A evaporação paisagem. O relevo influência a formação dos solos de diversas
na superfície dos solos pode causar o movimento ascendente da formas interligadas:
solução do solo por efeito da transmissão por capilaridade, o que dinâmica da água, tanto no sentido vertical (infiltração), como
pode levar à acumulação de sais solúveis. Assim, afora o regime de no sentido lateral (escoamento superficial e fluxo da água
chuvas, a insolação, a humidade relativa do ar e a incidência de subterrânea), resultando em variações de:
ventos têm influência nos processos de formação dos solos. processos de erosão e sedimentação;
hidrólise e lixiviação;
O clima tem um marcado efeito condicionador na distribuição clima do solo (humidade);
dos seres vivos, particularmente no tocante à vegetação primária. clima do solo (temperatura e humidade) através da incidência
Assim, as formações vegetais naturais guardam relações de diferenciada da radiação solar;
dependência com as condições climáticas, incluindo a influência do clima do solo (temperatura) através do decréscimo das
regime de humidade dos solos. Exemplos marcantes são, entre temperaturas com o aumento da altitude.
outros, as florestas equatoriais ombrófilas (húmidas) densas no
médio Amazonas e África Central; os bosques abertos e savanas A água que cai sobre um terreno e não se evapora, tem dois
das regiões sub-húmidas e semi-áridas da África Austral e as possíveis caminhos: penetrar no solo ou escorrer pela superfície.
florestas de clima temperado (pinheiros) no Canadá. Geralmente, segue concomitantemente ambos os caminhos, com
maior ou menor participação de um ou outro, dependendo das
O ciclo do material orgânico no solo está intimamente condições do relevo (declive e comprimento da vertente), da
relacionado com o clima e com as espécies que determinam a cobertura vegetal e de factores intrínsecos do solo.
velocidade de produção e decomposição de matéria orgânica. Tanto
a velocidade de produção como de decomposição aumentam com a Em terrenos declivosos, a quantidade de água que penetra no
temperatura, e dependem do regime hídrico, mas de formas solo é, em igualdade de incidência de precipitação pluvial,
diferentes. Assim, o teor de matéria orgânica do solo no ponto de normalmente menor que nos terrenos menos inclinados. Na
equilíbrio pode ser considerada como função do clima pedológico, coexistência de ambas as situações, compartilhando uma porção da
como ilustrado simplificadamente na Figura V-2. paisagem, as áreas menos declivosas recebem o acréscimo de
água do escoamento superficial proveniente das áreas mais altas.
Os aspectos climáticos são, portanto, muito importantes no que
concerne à distribuição dos solos na paisagem. Áreas territoriais A quantidade e velocidade do escoamento superficial da água
com prevalência de importantes diferenças do ponto de vista dependem tanto do declive como do comprimento da vertente e da
climático são cobertas por solos diferentes. presença de obstáculos (microrrelevo). Nos casos em que a energia
cinética da chuva for suficiente para deslocar partículas da
superfície do solo, depende da quantidade e velocidade da água
que escoa pela superfície se estas partículas podem ser removidas
e transportadas (erosão) e/ou sedimentadas. A remoção das
1.2. Relevo partículas do solo pela erosão, em termos de formação do solo é
É interessante mencionar a acção exercida pelas florestas, No caso dos substratos rochosos, o material de origem
através da transpiração das plantas, particularmente notável nas distingue-se da rocha mãe (Ing. parent rock) por já ter sofrido
regiões equatoriais de alta densidade vegetal. Não só têm processos de meteorização4 que transformaram a rocha dura num
participação relevante na composição gasosa da atmosfera como material não consolidado, mas que ainda conserve a estrutura
intervêm no ciclo da água, retirando-a dos solos e transferindo-a no rochosa, denominado saprolita. Nas descrições pedológicas este
estado gasoso à atmosfera. Bem ilustrativo é o facto de, naqueles material é indicado como horizonte C, e a rocha mãe, como camada
ambientes florestais equatoriais húmidos e superhúmidos, os R.
terrenos se apresentarem, por algum tempo, mais húmidos logo
após as derrubadas. A distinção entre a formação do material parental a partir da
rocha mãe, e a formação dos solos é apenas uma questão de
Cabe ainda lembrar o efeito da cobertura vegetal nas visualização conceitual, porque, como fenómenos naturais, ambas
condições microclimáticas e até climáticas regionais que podem se devem à interferência dos mesmos agentes e são ocasionados
sofrer mudanças com as grandes alterações na cobertura vegetal por reacções da mesma natureza e que se efectivam mediante
em amplas extensões territoriais. alterações, decomposições e neoformações análogas. Pode-se
dizer que a meteorização age, tanto na produção de material
Muito relevante é a acção dos organismos exercida na saprolítico derivado das rochas, como no processamento da
composição do ar dos solos. A função respiratória dos seres vivos e formação dos solos. Existem muitos casos em que o solo assenta
as transformações inerentes ao metabolismo alimentar afectam praticamente directamente na rocha mãe, não há horizonte C. Isto
reacções de oxidação, de redução, de carbonatação, condicionando significa que a formação do solo acompanha a transformação da
a solubilização de minerais das rochas, de compostos químicos rocha mãe em saprolito.
inorgânicos delas derivados, tornando-os disponíveis ou não na
água do solo. Não é sempre fácil identificar o material de origem com certeza.
Especialmente em regiões tropicais, ao longo dos tempos, foram
A macrofauna actua sobretudo como agente homogeneizador frequentes os retrabalhamentos dos mantos superficiais; sendo os
dos solos; desfazendo a estrutura rochosa e/ou estratificação do produtos da meteorização sobre as rochas transportadas tanto a
material de origem. São muito citados os efeitos dos tatus, curta como a longa distância. Por outro lado, as condições de
pangolins, toupeiras e de muitos roedores que cavam buracos. A meteorização no ambiente tropical húmido e subhúmido são
chamada mesofauna, consistindo de minhocas e insectos como notavelmente agressivas, promovendo intensas alterações e
térmitas e formigas, bem como as larvas de muitos insectos decomposição muito adiantada dos constituintes iniciais. Nessas
voadores, são responsáveis pela formação dum sistema de poros circunstâncias, torna-se difícil vislumbrar o que tenha existido e
estáveis e heterogéneos. Estes poros melhoram o enraizamento vindo a transformar-se nos solos presentemente encontrados.
das plantas e a disponibilidade de água, bem como a remoção de
excessos de água e consequente aeração do solo. Vários Os materiais de origem dos solos podem ser provenientes do
pesquisadores atribuem a típica microestrutura dos solos vermelhos substrato em que se encontram (solos ditos autóctones), ou
fortemente meteorizados das regiões tropicais à acção das térmitas. oriundos de fontes distantes. No primeiro caso, a produção do
material de origem e o desenvolvimento dos solos têm lugar
Os micróbios, por sua vez, têm acção marcante na directamente a partir da rocha subjacente e as transmutações
decomposição dos compostos orgânicos, na fixação de nitrogénio, operam (ou operaram) em materiais de origem de natureza
em certos processos de oxidação e/ou redução. Todas estas acções comparável àquela dos actuais produtos de meteorização do
têm importantes reflexos na morfologia e composição dos solos. substrato sobre o qual se encontra. Nos materiais oriundos de
outros locais, próximos ou não, os materiais de origem dos solos
O homem constitui um elemento perturbador da constituição e sobrepõem-se ao substrato rochoso local. Esses materiais são
arranjo das camadas dos solos, através das modificações que chamados pseudo-autóctones se forem de composição similar
imprime na paisagem: desmatamentos, reflorestamentos, aberturas aos produtos de meteorização do substrato a que se encontram
de estradas, aplainamentos, escavações; ou através de alterações sotopostos, como acontece frequentemente nos retrabalhamentos
que visam a modificação directa do solo, como arrações e
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gradagens, aplicação de correctivos e fertilizantes, irrigação, conjunto de processos físicos, químicos e biológicos, que atuam sobre as rochas e minerais expostos
drenagem; ou mesmo através da simples e continuada deposição na interface litosfera - atmosfera, desintegrando-os e decompondo-os quimicamente. No Brasil, o termo
de restos da sua faina diária. meteorização é considerado obsoleto entre os pedólogos, preferindo-se "intemperismo".
Adicionalmente, o material de origem influi na intensidade das É interessante fazer a distinção entre idade (cronologia) e
reacções perante o tempo necessário para as transformações que maturidade (evolução) dos solos. Alguns solos podem apresentar
se devem realizar no transcurso da formação dos solos. Por idade absoluta relativamente pequena e ser bem mais maduros
exemplo, no material de origem proporcionado por um siltito existem (evoluídos) que outros com idade absoluta bem maior. A idade
menos constituintes a alterar, decompor, mobilizar, translocar para absoluta de um solo é a medida dos anos transcorridos desde seu
processamento da formação de solos evoluídos, do que nos início até determinado momento, enquanto a maturidade é expressa
produtos derivados de um diabásico. No segundo caso, a formação pela evolução por ele sofrida, manifesta por seus atributos, em dado
de um solo evoluído seria mais demorada, caso os demais factores momento de sua existência.
da formação dos solos forem iguais.
Em igualdade de condições de duração de eventos
pedogenéticos concernentes a determinado material de origem em
zonas semi-áridas e os concernentes a um material de origem numa
5 zona quente e húmida, e admitida igualdade de condições de
Nota-se que estes materiais devem ser considerados como parte do material de origem, e não como
Apesar dos processos discutidos nesta secção serem típicos Na ausência de ácidos fortes no solo, a solubilidade de CaCO3
para solos bem drenados de clima húmido ou subhúmido, estes depende da pressão de CO2 na pedosfera (atmosfera do solo) e da
processos não são totalmente confinados para estas condições. temperatura. A Figura V-3 mostra esta relação, baseada no
Alguns dos processos discutidos podem ocorrer também em solos equilíbrio para a reacção (2.1)
hidromórficos ou sob clima árido.
CaCO3 + CO2 + H2O Ca2+ + 2HCO3- (2.1)
2. HIDRÓLISE E LIXIVIAÇÃO A solubilidade é maior sob pressão parcial de CO 2 alta e
temperatura baixa. A pressão de CO2 na pedosfera está comumente
2.1. Dissolução e lixiviação de carbonato de cálcio entre 0.1 e 1 kPa, i.e. várias ordens de magnitude maior que no ar
O material de origem de muitos sedimentos (eólicos, marinhos, livre (3.10-2 kPa). Este valor alto é causado pela combinação da
fluviais) contém quantidades consideráveis de calcário. Depois da actividade respiratória de microorganismos e raízes, e a lenta
Quanto mais baixo o pH, maior será a concentração de pressão do ar nos agregados pode ficar tão grande que os
alumínio (Al3+) na solução do solo em equilíbrio com minerais que agregados ficam destruídos por uma pequena "explosão". Como
contêm alumínio. Isto é consequência da reacção de equilíbrio: resultado disto, a argila pode entrar em suspensão, e ficará dispersa
se as composições do complexo de troca e da solução do solo
Al(OH)3 + 3H+ Al3+ + 3H2O (3.1) permitirem.
A suspensão pode mover-se para baixo através dos poros largos ou
Sob pH baixo (<5) o teor de Al 3+ é suficientemente elevado para pode ser "chupada" por acção capilar pelos poros finos. Se a água
manter a argila floculada, mesmo se a participação de Na + for for absorvida pela massa do solo, as lâminas de argila serão
grande. Sob pH maior que 5, o teor de Al 3+ trocável fica demasia- empurradas contra as paredes dos poros médios e largos. Isto
damente baixo para uma floculação efectiva. Entre pH 5 e 7 as resultará na formação de películas de argila orientada, também
concentrações de cations divalentes são geralmente pequenas (a chamadas "argilãs" (Ing: argillans ou clayskins). As películas
menos que haja uma fonte de Ca2+ relativamente bem solúvel, como podem ser identificados sob o microscópio na análise de lâminas
p.e. gipso), e a argila pode dispersar mais facilmente. delgadas. Ao olho nú podem dar um aspecto de "cerosidade"
(lustrosidade) às faces dos agregados, mas que podem facilmente
Em solos com pH entre 7 e 8.5 as concentrações de cations ser confundidos com "faces de pressão". "Ferri-argilãs" são
divalentes estão geralmente na ordem de 1 a 2 mmol.l -1, o que é
As películas não duram para sempre. Parte deles passará pelo O mesmo processo pode ocorrer também em regiões húmidas,
intestino de animais do solo para aparecer como pequenos mas não sob cobertura vegetal natural. As condições mais propícias
agregados de argila orientada, chamados "papules". Com o tempo a para translocação em clima húmido ocorrem quando o solo está
orientação nos "papules" pode desaparecer. Isto explica porque há descoberto, por exemplo depois do preparo do solo para o cultivo.
muitas vezes uma discrepância entre a quantidade de argila
orientada no horizonte textural, e a quantidade iluviada, como
deduzida das diferenças texturais ao longo do perfil. Uma outra 4. QUELAÇÃO E LIXIVIAÇÃO POR ÁCIDOS ORGÂNICOS:
razão para discrepâncias pode ser a actuação de outros processos QUELUVIAÇÃO
que podem dar origem a uma diferenciação textural como:
destruição de minerais de argila no horizonte superficial; Certos solos, geralmente arenosos, apresentam uma
neo-formação de argila a partir de minerais primários no solo sequência típica de horizontes, caracterizada por um horizonte
sub-superficial; distinto, de cor esbranquiçada, de eluviação sobre um horizonte de
erosão selectiva de partículas finas da superfície, deixando as cor preta ou vermelha escura, de iluviação. A morfologia típica
mais grosseiras; destes chamados Podzóis é o resultado de processos de
transporte lateral de argila em suspensão; interacções específicas entre ácidos orgânicos, ferro e alumínio,
descontinuidade litológica, p.e. um sedimento de material mais indicados por queluviação ou podzolização. Este capítulo discute
grosseiro sobre um de granulação mais fina. os processos envolvidos e as condições sob quais ocorrem.
Figura V-5. Morfologia de um perfil com glei freático (A) e com pseudoglei (B).
Tabela 7.1 Solubilidade (mol.l-1) de sais diferentes a temperaturas de 10 e 30oC. [ Fonte: adaptada de Vergouwen, 1981]
que o carbonato de cálcio, pois é mais solúvel. Mesmo sob regimes pode estar ligada às variações sazonais e anuais de precipitação e
de humidade com apenas algumas centenas de mm de chuva por a variações da solubilidade de sais em função da temperatura.
ano, a concentração de sais bem solúveis em solos bem drenados Variações espaciais podem estar correladas com factores
pode ser baixa, enquanto o gipso e o carbonato de cálcio topográficos, hídricos e edáficos.
acumulam. Em solos de regiões áridas, com lençol freático Diferentes minerais secundários dominam em áreas sub-
profundo, muitas vezes há ocorrência de gipso na forma de húmidas e áridas; ou numa planície aluvial numa região árida:
pequenos (<2cm) cristais claros e planos nos primeiros 20 cm do carbonato de cálcio nos lugares menos áridos; depois
solo. respectivamente gipso, sulfato de magnésio, sulfato de sódio e
cloreto de sódio, e finalmente, apenas sob condições extremamente
áridas, os higroscópios e muito bem solúveis cloretos de cálcio e
8. SALINIZAÇÃO E SODIFICAÇÃO magnésio. Esta sequência (que na prática ocorre somente em
casos simples) pode ser derivada das solubilidades relativas de
8.1. Salinização sais, apresentadas na Tabela V-1, e depende do tipo de água e da
A acumulação de sais solúveis no solo ocorre se a presença de fontes que podem dar origem a diferentes tipos de
evapo(transpi)ração for maior ou igual à precipitação efectiva. Sais sais.
podem provir da meteorização de rochas ou de sedimentos locais
ou podem ter sido transportados pela água ou pela poeira.
A salinização é um processo geral em regiões áridas e semi-áridas; 8.2. Sodificação
mas pode ocorrer também localmente, em regiões sub-húmidas. Sodificação é o tipo de salinização que leva ao aumento da
Condições favoráveis para a salinização em climas sub-húmidos relação entre o sódio e cations di-(e tri-)valentes: a percentagem de
ocorrem quando há suprimento lateral de água de partes mais sódio trocável (PST). Níveis elevados de Na são nocivos para as
elevadas, como em depressões; ou na presença de um lençol culturas. Além disso, a sodificação traz o risco de diminuição da
freático raso, que permite evaporação, enquanto a precipitação estabilidade da estrutura, seguido pela dispersão de material
efectiva for baixa, devido ao escoamento superficial. A salinização argiloso. Na literatura antiga os termos "alcalinização" e "solos
também pode ocorrer em regiões húmidas: áreas costeiras, com alcalinos" foram usados para denominar respectivamente
intrusão de água das marés. sodificação e solos sódicos. Estes termos são equívocos, pois a
No entanto, em regiões áridas também podem ocorrer situações sodificação não está restrita aos solos com uma reacção alcalina,
que mantém a concentração de sais a níveis baixos. Tal é o caso embora a ocorrência desta combinação seja muito comum.
por exemplo do suprimento superficial de água por escoamento de
sítios mais elevados ou ao longo de grandes rios por inundação em A sodificação pode ser causada por dois processos diferentes:
combinação com um sistema de drenagem para remover os sais (1) Um solo originalmente não salino fica salinizado por sais de
lavados da parte superior do perfil. sódio, p.e. pelo suprimento de água freática contendo cloreto
ou sulfato de sódio. A saturação por Na + no complexo de
(2) A evapo(transpi)ração duma solução que contém mais 8.3.1. Maneio de solos salinos
alcalinidade8 do que cations divalentes - na prática Sob clima húmido, a única maneira de remover sais do solo é
principalmente Ca2+. A evaporação desta solução causa a por dissolução na solução do solo ou em água superficial, se o solo
precipitação de CaCO3 até que a maior parte dos ions Ca 2+ estiver alagado; seguido por drenagem vertical ou lateral. Nesta
tenham sido consumidos, enquanto as concentrações dos situação os sais drenarão finalmente para o mar. Sob clima árido,
sais bem solúveis (bicarbonato de sódio e carbonato de sais dissolvidos podem ser levados para campos adjacentes, pela
sódio) continuam a aumentar. O Ca 2+ trocável também é água subterrânea ou superficial. Ali os sais transportados podem
removido do complexo de troca e precipita como CaCO3: acumular dentro do perfil ou na superfície, por concentração
evaporativa. Este processo é chamado "drenagem seca". A
Ca2+troc + 2Na+aq + 2HCO3-aq CaCO3 + CO2 + H2O drenagem seca pode causar a salinização rápida de glebas não
+ 2Na+troc (8.1) irrigadas em posições relativamente baixas, ou de glebas
insuficientemente irrigadas com drenagem impedida. A irrigação
Este tipo de sodificação é muito efectivo, produzindo solos seca também pode ser usada propositadamente como ferramenta
sódicos com o suprimento de muito pouco Na +. Os solos de maneio, para desalinizar campos irrigados pela promoção da
produzidos têm pH maior que 8.5; podendo chegar a 11. concentração dos sais em campos vizinhos, não utilizados para
agricultura. Em solos dominados por minerais de argila expansíveis
Em certos casos o primeiro tipo de sodificação pode também (Vertissolos), os efeitos da salinização para culturas irrigadas
levar a valores de pH>8.5. Por exemplo em "playa's" com tendem a ser minimizadas, por causa dos processos de expansão e
acumulação de Na2SO4. Na presença de matéria orgânica e formação de fendas. Sais provenientes da água de irrigação podem
inundações sazonais, o sulfato fica reduzido, o que resulta na ser imobilizadas da seguinte maneira:
formação de H2S (que pode sair do sistema por volatilização) e Durante um período seco, a camada superficial do solo apresentará
Na2CO3. Enquanto a concentração de sais for elevada, a argila fica fendilhamento e quebra em pequenos elementos. Horizontes mais
floculada, mesmo se o complexo de troca estiver saturado com profundos secam mais lentamente e fendas profundas (até 1-1.5m)
sódio. No entanto, quando a solução do solo ficar diluída, p.e. pela podem se desenvolver, resultando numa estrutura prismática
água da chuva, a argila ficará facilmente dispersa (Capítulo 2). Isto grosseira. Durante a irrigação ou chuvas pesadas depois do pousio,
poderá levar à eluviação de argila e a formação de um horizonte B a água que está a escoar sobre a superfície e dentro das fendilhas
textural, com PST elevado, que apresenta uma estrutura colunar e levará sais dissolvidos da superfície do solo para a subsuperfície. A
com uma densidade aparente elevada na sua base. Este tipo de água com os sais dissolvidos entrará na massa do solo e os
solo chama-se Solonetz. elementos prismáticos expandirão. O resultado é que quantidades
apreciáveis de sais podem acumular debaixo da zona radicular, em
Em certas condições, sob clima (sub)húmido, a camada material muito pouco permeável, sem prejudicar as culturas. Estas
superficial do solo sódico poderá perder o Na+ trocável sob a características podem ser aproveitadas para a agricultura, em
influência de CO2: esquemas de irrigação bem manejados, em áreas com Vertissolos.
O arroz é moderadamente tolerante para com a salinidade, e
Na+troc + H2O + CO2 H+troc + Na+aq + HCO3-aq (8.2) pode ser cultivado em solos salinos, se houver disponibilidade de
água de boa qualidade para irrigação para manter a conductividade
Isto resulta num solo com uma camada superficial ácida e com eléctrica da camada superficial (0-20cm) abaixo de 6 dS.m-1. Desta
teor de argila relativamente baixo, sobre um horizonte B textural maneira, pode-se combinar a lavagem de sais com o cultivo de
adensado, saturado com sódio, o que é característico dos arroz.
chamados "solonetz degradados" ou Solods.