Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Binze - MONOGRAFIA - McLaren (Retificado para Oponente)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 73

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOLÓGICA

Curso de Licenciatura em Engenharia Geológica

Monografia do Curso

Título:

Transporte de sedimentos segundo o Modelo de McLaren na zona costeira de


Pemba - caso de estudo: Praia do Wimbe

Autor:
Binze Gonçalo Posse

Supervisor: Delfim Augusto, Lic

Co-Supervisor: Claudino Raul Chaquisse, Lic

Pemba, Dezembro de 2018


UNIVERSIDADE LÚRIO

FACULDADE DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOLÓGICA

Título:

Transporte de sedimentos segundo o Modelo de McLaren na zona costeira de


Pemba - caso de estudo: Praia do Wimbe

Monografia apresentada ao Curso de


Licenciatura em Engenharia Geológica da
Universidade Lúrio como cumprimento do
requisito obrigatório para obtenção do título de
Licenciado em Engenharia Geológica.

Autor:
Binze Gonçalo Posse

Supervisor: Co-Supervisor:

__________________________ ____________________________
(Delfim Augusto, Lic.) (Claudino Raul Chaquisse, Lic.)

Pemba, Dezembro de 2018


PENSAMENTO

Faça o bem, o mundo te fará de brinquedo, faça o mal, o mundo te usara como arma.
Melhor é ter um brinquedo do que usar uma arma!

i
PÁGINA DE ACEITAÇÃO

Presidente do Júri

Secretário

Vogal

Pemba, Dezembro de 2018

ii
DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro que sou autor desta Monografia e que autorizo a Universidade Lúrio, a fazer uso
da mesma, com a finalidade que julgue conveniente.

Assinatura: _____________________________
Data: _________________________________

iii
AGRADECIMENTO

Com este trabalho, quero me juntar a toda criação de Deus, a natureza que de uma forma
incansável louva ao Criador pelos benefícios e favores que nos é dado incondicionalmente
e dizer como o salmista disse "Bendiz, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de
nenhum de seus benefícios." (Salmos 103: 2). Pois, este trabalho é mais uma obra do
Senhor em minha vida.
Ao meu pai, como sendo a pessoa que mais se dedicou para que um dia pudesse ver a se
tornar realidade o sonho que desde que nasci esteve em seu coração, o qual prestes esta
para se concretizar, e juntamente com a minha família os quais deram-me muito apoio,
ensino, cuidado e amor acima de tudo. Aos meus preciosos irmãos Manuel José, Chungano
Posse, Maria Posse, Sande Posse, e as minhas duas preciosas mães as quais sempre não me
deixavam regressar aos estudos após as férias sem providenciar-me quando podiam o
mantimento para a minha viagem.

Ao MSc. Eng Angel L. Fernandez Torres, o qual carinhosamente o chamo de Mestre


Angel, na verdade a sua missão para trabalhar connosco foi uma providência de muitíssimo
valor, deixando a sua família em Chile e Argentina enfrentou o desafio para poder nos
ensinar não apenas a ciência, mas também compartilhar a sua experiencia de vida aos seus
estudantes para puder ultrapassar situações adversas durante a formação. Ao docente
Claudino Chaquisse o meu estimado supervisor, sempre esteve ao lado me apoiando para o
progresso do meu TCC e ultrapassei muitas dificuldades no decorrer deste trabalho através
de suas consistentes orientações, uma das coisas marcante, foi de ter-me indicado um
docente Oceanógrafo o Dr. Delfim Augusto para juntos trabalhar neste assunto que de
facto precisava de um especialista da área costeira, para que se produzisse no final um
conteúdo científico muito rico como este.

Obrigado aos companheiros que tornaram possível a realização da colecta de amostras no


campo, ao Sérgio sendo meu ajudante nesta actividade, ao Edilson por me disponibilizar o
seu GPS, ao Macamo pela sua câmera fotográfica. Aos homens do laboratório, os quais
pacientemente me instruíram a realização do ensaio granulométrico especialmente ao
técnico Armando, aos colegas Célio, David, Ernesto Sifa e Tiago que me ajudaram na
realização do mesmo.

Em último, agradeço aos meus companheiros de carteira ao Apolinário, que sempre me


motivava a resolver as fichas de exercícios, ao José Maximino, Marcos Inácio, que
iv
compartilhavam de várias maneiras os seus conhecimentos quando os inquiria. Sem me
esquecer do técnico do estágio Sr. Tomé da vereação de Mudanças Climáticas,
Saneamento Básico e Agua, no Conselho Municipal Cidade de Pemba, o qual com a sua
paciência forneceu me informações de grande valia para o uso neste trabalho.

v
DEDICATÓRIA

Este é o troféu que dedico aos que me trouxeram ao mundo, meu pai
Gonçalo Francisco Posse e minha mãe Elisabete Chungano.

vi
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Enquadramento Geográfico da área de estudo ....................................................... 4


Figura 2- Traçado de um perfil longitudinal de elevações na praia do Wimbe. .................... 5
Figura 3- Variações relativo a maré ao longo da costa Moçambicana, (adaptado de Ord &
Uppsala, 1996). .................................................................................................................... 10
Figura 4- Ervas marinhas nas zonas entremarés na praia do Hinos, Pemba ........................ 11
Figura 5- Padrão de circulação do Canal de Moçambique Saetre & Silva, (1982 citado em
Hoguane, 2007). ................................................................................................................... 11
Figura 6- Formações do período quaternário ....................................................................... 13
Figura 7- Enquadramento Geológico da Cidade de Pemba, Adaptado de Bingen, B., et al.
(2007).. ................................................................................................................................. 14
Figura 8- Formas de transporte dos sedimentos por um curso de água. (Fonte:
https://www.geocaching.com). ............................................................................................ 15
Figura 9- Factores que influenciam a morfologia do litoral, adaptado de Arche (2010). ... 17
Figura 10- Movimentos das ondas e o efeito sobre o fundo ao diminuir a profundidade,
adaptado de Harvey, (1976 citado em Arche 2010). ........................................................... 19
Figura 11- Relação entre a amplitude das marés e a morfologia costeira. Adaptado de,
Arche 2010. .......................................................................................................................... 20
Figura 12- Sub-ambientes de uma Praia e suas delimitações. Fonte: modificado de Albino
(1999, citado em Okamoto, 2009). ...................................................................................... 21
Figura 13- Principais processos devido a acção das ondas na região costeira. Fonte:
(Okamoto, 2009, p. 25). ....................................................................................................... 22
Figura 14- variação de parâmetros granulométricos entre a fonte, zona de transporte e
deposição Gao & Collins, (1991) citado por Neto (2013). .................................................. 25
Figura 15- Sedimentos bem seleccionados. Fonte: docente.ifrn.edu.br .............................. 29
Figura 16- Distribuicao da Assimetria. Negativa, Simetrica e Positiva. ............................. 30
Figura 17- Esquema da metodologia de pesquisa. ............................................................... 33
Figura 18- Comparação dos sedimentos através de imagens do Google Earth na praia do
Wimbe.. ................................................................................................................................ 33
Figura 19- Localização do perfil de amostragem. Partindo do ponto 1 para o ponto 20. .... 34
Figura 20- Amostragem de sedimentos no perfil longitudinal da praia do Wimbe. Fonte:
Autor .................................................................................................................................... 35

vii
Figura 21- Variação longitudinal dos parâmetros granulométricos ao longo da face da praia
do Wimbe. ............................................................................................................................ 42
Figura 22- O padrão de transporte na área de estudo segundo o modelo de McLaren. ....... 44
Figura 23- Comparação da linha de costa da praia em períodos de tempos diferentes. ...... 45

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Os dois casos possíveis de tendência de transporte sedimentar, combinando os


parâmetros. ........................................................................................................................... 27
Tabela 2- Classificação de Wentworth (1922) baseada no valor do tamanho das partículas
............................................................................................................................................. 37
Tabela 3- Classificação para o grau de selecção, adaptado de Folk (1968, citado em
Okamoto 2009). ................................................................................................................... 37
Tabela 4- Classificação para assimetria, adaptado de Blott (2010). .................................... 38
Tabela 5- Parâmetros estatísticos granulométricos e a sua classificação, avaliados nas
amostras colectadas na face da praia do Wimbe. ................................................................. 40
Tabela 6- Resultado da análise de tendência de sedimentos, pelo cálculo do Z-teste. ........ 43

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01- Dados médios mensais da direcção e intensidade dos ventos referentes ao
município de Pemba………………………………………………………………………...7

Gráficos 02- Representação do predomínio dos ventos no município de Pemba em forma


de diagrama de rosa-dos-ventos. ............................................................................................ 9

viii
LISTA DE ABREVIATURAS

ANE - Administração Nacional de Estradas

DNGA - Direcção Nacional de Gestão Ambiental

DPCA-CD - Direcção Provincial para a Coordenação da Acção Ambiental - Cabo Delgado

GPS - Global Position Sistem

HRB - Highway Research Board

INAHINA - Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação

INAM - Instituto Nacional de Meteorologia

MP - Mineral Pesado

PEDM - Plano Estratégico de Desenvolvimento

STA - Sediment Trend Analysis

ix
RESUMO

Analisar o transporte de sedimentos na praia do Wimbe, com base no modelo de Mclaren é


o objectivo deste trabalho, e com base nos resultados, analisar a possibilidade da
ocorrência da erosão costeira no local de estudo e em suas proximidades. A metodologia
deste trabalho, esta fundamentada em quatro componentes principais, para fazer o uso do
modelo de Mclaren, primeiro: a revisão bibliográfica, onde foram obtidos informações
sobre a situação actual do tema ou do problema pesquisado, segundo: recolha de amostras
em campo, onde foram colectadas um total de 20 amostras na direcção longitudinal de
Oeste para Este, terceiro: tratamento dos dados, etapa que realizou-se a análise
granulométrica e o cálculo de parâmetros granulométricos a média, o grau de selecção e
assimetria, quarto: interpretação dos resultados, que consistiu na classificação dos
parâmetros granulométricos, os quais permitiram a construção das tabelas e gráficos e
finalmente efectuou-se o cálculo do Z-teste para aceitar ou não a hipótese de haver uma
tendência no transporte de sedimentos na praia do Wimbe. Foi analisado o transporte
líquido dos sedimentos influenciado por alguns factores como a corrente marítima, a
direcção e intensidade dos ventos e a acção das ondas, que indicou o movimento dos
sedimentos para a direcção Sudeste. Os resultados no laboratório indicaram um aumento
do tamanho dos sedimentos, melhoramento do grau de selecção e assimetria sendo positiva
em todos os pontos excepto no ponto P17 que foi negativa e aplicando o cálculo do Z-teste
o resultado de 2,03 para o caso C, permite aceitar a hipótese que sustenta haver uma
certa direcção preferencial no processo de transporte longitudinal dos sedimentos na praia
de Wimbe, o processo de transporte se dá sob condições de alta energia, em que partículas
grossas são transportadas de P1 com maior energia do agente transportador até serem
depositadas em P2 com nível de energia menor. Desta forma, observa-se que a região
Oeste da praia sofre uma erosão, isto é, uma redução da sua faixa costeira, enquanto a
região Este sofre o acréscimo sedimentar observando-se o relativo alargamento da linha da
costa nesta faixa, o que de certa forma corresponde o padrão de transporte encontrado pela
aplicação do modelo de McLaren.

Palavras-chave: Transporte. Direcção. longitudinal. Sedimentos. Praia.

x
ABSTRACT

Analyze the transport of sediments on Wimbe beach, based on the model of Mclaren is the
aim of this work, and based on the results; examine the possibility of occurrence of coastal
erosion in the study site and in its vicinity. The methodology of this study, this based on
four main components, to make the use of the model of Mclaren, first: a bibliographic
review, where they were obtained information about the current situation of the theme or
problem researched, Second: the collection of samples in the field, where they were
collected a total of 20 samples in the longitudinal direction from west to east, thirdly:
treatment of data, step that held the granulometric analysis and the calculation of the
average granulométricos parameters, the degree of selection and asymmetry, Fourth:
interpretation of the results, which consisted in the classification of granulométricos
parameters, which allowed the construction of tables and charts and finally made the
calculation of the Z-test to accept or not the hypothesis that there may be a tendency in the
transport of sediments on Wimbe beach. We analyzed the net transport of sediments
influenced by some factors, such as the sea currents, the direction and intensity of the
winds and the waves, which indicated the movement of sediments to the easterly direction.
The results in the laboratory have indicated an increase in the size of the sediments,
improving the degree of selection and asymmetry being positive in all points except at the
point P17 that was negative and applying the calculation of the Z-test result of 2.03 for the
case C, allows us to accept the hypothesis H1 who claims to be a certain preferential
direction in the process of longitudinal transport of sediments on Wimbe beach, The
process of transport occurs under conditions of high energy, in which coarse particles are
transported from P1 with more energy carrier agent until they are deposited in P2 with
lower power level. In this way, it is observed that the West region of the beach suffers
erosion, that is, a reduction of its coastal strip, while the region this suffers the sedimentary
increase by observing the relative enlargement of the coast line of this band, which
somehow matches the pattern of transport found by application of the model of McLaren.

Keywords: Transportation. Direction. longitudinal. Sediments. Beach.

xi
ÍNDICE

PENSAMENTO...................................................................................................................... i

PÁGINA DE ACEITAÇÃO ..................................................................................................ii

DECLARAÇÃO DE HONRA..............................................................................................iii

AGRADECIMENTO............................................................................................................ iv

DEDICATÓRIA ................................................................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS ..........................................................................................................vii

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................viii

LISTA DE GRÁFICOS ......................................................................................................viii

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................. ix

RESUMO ............................................................................................................................... x

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

1.1. PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................. 2

1.1.1. Problema ................................................................................................ 3

1.2. OBJECTIVOS: ............................................................................................. 3

1.2.1. Geral....................................................................................................... 3

1.2.2. Específicos ............................................................................................. 3

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 4

2.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA............................................................... 4

2.1.1. Características Geomorfológicas ........................................................... 5

2.2. CARACTERISTICAS METEÓRICOS E OCEANOGRÁFICOS .............. 6

2.2.1. Climas .................................................................................................... 6

2.2.2. Regime de ventos ................................................................................... 6

2.2.3. Ondas ..................................................................................................... 9

2.2.4. Maré e correntes................................................................................... 10

2.3. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO ....................................................... 12

2.3.1. Geologia Regional e Local .................................................................. 12

xii
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 15

3.1. TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA PRAIA...................................... 15

3.1.1. Factores de dinâmica costeira e processos sedimentares ..................... 16

3.2. EFEITO DAS ONDAS E MARÉ .............................................................. 18

3.2.1. Ondas ................................................................................................... 18

3.2.2. Maré ..................................................................................................... 19

3.3. TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA ANTE PRAIA .......................... 21

3.3.1. Espraiamento ....................................................................................... 21

3.3.2. Transporte de sedimentos na zona de espraiamento ............................ 22

3.4. TRANSPORTE LONGITUDINAL DE SEDIMENTO ............................ 23

3.5. MODELOS PARA A DETERMINAÇÃO DO TRANSPORTE DE


SEDIMENTOS ................................................................................................................ 23

3.5.1. Modelo de McLaren........................................................................... 24

3.5.2. Aplicação do modelo Mclaren em vários estudos relacionados ........ 27

3.6. SIGNIFICADO DOS PARÂMETROS GRANULOMÉTRICOS ......... 29

4. METODOLOGIA ............................................................................................................ 32

4.1. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS............................................ 32

4.1.1. Direcções de transporte líquido por análise de tendência .................. 33

4.2. OBTENÇÃO DE DADOS EM CAMPO ............................................... 34

4.3. TRATAMENTO DOS DADOS ............................................................. 35

4.3.1. Determinação granulométrica ............................................................ 36

4.3.2. Cálculo e classificação de parâmetros granulométricos .................... 36

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 39

5.1. DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA AO LONGO DA PRAIA .... 39

5.2. CARACTERIZAÇÃO E PADRÃO DE TRANSPORTE DE


SEDIMENTOS NA PRAIA ............................................................................................ 42

5.2.1. Transporte longitudinal de sedimentos de acordo com o modelo de


McLaren……………………………………………………………………………...42

xiii
5.3. DISCUSSÃO .......................................................................................... 46

6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 48

7. RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................... 49

8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 50

ANEXOS ................................................................................................................................ i

APÊNDICES ........................................................................................................................iii

xiv
1. INTRODUÇÃO

O litoral é a zona que separa os meios marinhos e continentais, o mesmo está


sujeito a acções de diversos agentes dinâmicos e é muito sensível a suas mudanças
de energia. Tendo em conta que mais da metade da população mundial vive na
costa ou em sua proximidade, é compreensível a importância de adquirir um
adequado conhecimento de seu comportamento geodinâmico tanto desde o ponto
de vista da gestão costeira como dos riscos geológicos associados, e seus
respectivos impactos, (Arche 2010, p.441).

Uma vez que, as praias geralmente são constituídas de sedimentos que consistem de
partículas de dimensões de areia, que são facilmente removidos até por correntes do mar e
pelas projecções de ondas moderadas; há que se considerar então, que estes sedimentos são
transportados de um ponto de maior energia para um de menor energia ao longo da linha
da costa, causando assim o processo de erosão – deposição.

O transporte dos sedimentos costeiros sucede de duas maneiras, transversal e


longitudinalmente. Neste trabalho, o foco está direccionado no transporte longitudinal,
pois, é neste em que os sedimentos são transportados paralelamente a linha da costa.
Segundo Usace, (1984) o movimento de sedimentos transportados ao longo da costa é
denominado deriva litorânea e a sua interrupção, seja por causas naturais ou induzidas pelo
homem, pode alterar o equilíbrio existente em determinado ambiente costeiro, seja a longo
ou curto prazo, ocasionando ou acelerando processos erosivos e resultando em prejuízos
económicos e ambientais.

Em contra partida, o transporte transversal é perpendicular a linha de costa e apesar de


transportar grandes quantidades de sedimentos, o movimento sucede na direcção
continente-oceano e vice-versa, em que durante o ano a quantidade resultante dos
sedimentos transportados nestas duas direcções é praticamente nula, Fontoura (2004).

Actualmente, de acordo com Araújo & Alfredini (2001) os estudos de transporte


longitudinal de sedimento têm recebido destaque e importância reconhecida especialmente
em costas de intenso uso, seja recreativo, económico ou social. O conhecimento deste tipo
de transporte é fundamental para o projecto de qualquer obra costeira que interfira na
movimentação dos sedimentos na zona litorânea, e é útil para estimar os impactos que
estas obras podem causar na praia e áreas costeiras adjacentes. Além disto, é importante

1
porque contribui na determinação de alguma tendência de migração da linha de costa em
curtos e longos períodos de tempo.

A praia do Wimbe situada na zona costeira da cidade de Pemba é o local de estudo neste
trabalho; a mesma é espelho do turismo na Província, sendo a principal praia urbana de
Cabo Delgado, por constituir uma das principais praias que fazem parte da terceira maior
Baia do mundo.

A Praia segundo DNGA & DPCA-CD (2011, p.38) é uma “formação geológica constituída
de partículas soltas de rochas tais como areia e cascalhos, ao longo da margem de um
corpo de água”. Isto é, sempre que se estiver diante de um corpo de água com margens
constituídas de partículas terrosos ou rochosos que ficam sujeitos a acção da dinâmica das
águas, a esta margem chama-se de Praia. As praias podem ser de três tipos nomeadamente:
praias arenosas, lodosas e rochosas.

Para uma melhor gestão costeira e cuidados a serem tomados nas actividades antrópicas na
praia do Wimbe, sendo esta uma praia arenosa, é no entanto, imprescindível fazer-se o
estudo da tendência no processo de transporte longitudinal dos sedimentos ao longo da
linha da costa, uma vez que existindo uma direcção preferencial dos sedimentos, estes por
sua vez deparando com um impedimento no seu percurso, haverá acumulação de um lado e
erosão do lado adjacente.

Para a realização do trabalho, será utilizado o modelo de Mclaren que segundo o mesmo,
se baseia em três parâmetros estatísticos granulométricos: a média, o desvio padrão e a
assimetria, usando amostras de sedimento colectadas em linha de amostragem para deduzir
o transporte líquido de sedimento em regiões de erosão, crescimento e equilíbrio dinâmico.

1.1. PROBLEMATIZAÇÃO

De acordo com Rossetti (2008), mais do que qualquer outro sistema físico, o ambiente
costeiro caracteriza-se pelas mudanças temporal e espaciais que resultam numa variedade
de feições geomorfológicas. Esse grande dinamismo costeiro é resultante da complexa
interacção de processos deposicionais e erosivos o que consiste no transporte dos
sedimentos resultante da variação energética das ondas, marés e correntes litorâneas, além
de influências antrópicas.

2
Portanto, havendo falta de análise no transporte dos sedimentos em uma praia de intenso
uso, haverá consequentemente também deficiência no processo de gerenciamento costeiro,
podendo causar erosão e ate a destruição da praia.
Segundo Odorico (2009, p.134), “Há contudo que ter imenso cuidado na planificação das
construções, pois elas podem ter efeitos colaterais muito diferentes do que se espera. Estas
construções podem, por um lado, proteger uma parte da praia, e, por outro, destruir outra
parte”.
Tratando-se de praias arenosas e urbanas como a do Wimbe, onde há predominância de
actividades antrópicas, há que se considerar aqui os possíveis impactos que as obras já
existentes e as que são projectadas para o futuro que podem de impedir o movimento dos
sedimentos, podem influenciar no aspecto da praia e nas áreas costeiras adjacentes, uma
vez que não é conhecido ainda a tendência dos sedimentos no seu processo de transporte
ao longo da linha costeira.

1.1.1. Problema

Qual é a preferência dos sedimentos da Praia do Wimbe no seu processo de transporte


longitudinal?

1.2. OBJECTIVOS:

1.2.1. Geral

Analisar o transporte de sedimentos na praia do Wimbe, com base no modelo de Mclaren.

1.2.2. Específicos

 Determinar as diferentes granulometrias dos sedimentos que ocorrem na praia de


Wimbe, por meio do ensaio granulométrico;
 Definir as tendências dos sedimentos no processo de transporte longitudinal ao
longo da praia através do método sediment trend analysis (STA) de Mclaren e
Bowles;
 Analisar a possibilidade da ocorrência da erosão costeira no local de estudo e em
suas proximidades, com base na tendência dos sedimentos.

3
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRAFICA


A Praia do Wimbe limitada pelas coordenadas geográficas 12°58'16.42"S/40°32'25.39"E e
12°58'13.52"S/40°32'52.02"E, situa-se na parte Norte da cidade de Pemba, esta que, por
sua vez é a capital da província de Cabo Delgado localizado na costa Norte de
Moçambique, sendo limitada a Este pelo oceano Índico, a Oeste e a Norte estende-se a
Baia de Pemba e ao Sul pelo distrito de Mecúfi, através do posto administrativo de
Murrébuè e pelo distrito de Pemba Metuge, através da localidade de Miézi (Figura 01),
com uma área municipal de 194 km2, a cidade ocupa uma península que define a Baia de
Pemba, a Terceira Maior Baia do Mundo, DNGA et al,. (2011, p.12).

Em termos de limites, a praia do Wimbe tem como vizinhanças as praias de Nanhimbe na


parte Este e a praia de Meia via na parte Oeste, ela é constituída de uma extensa área, isto
é, cerca de 1 Km de comprimento, tendo um formato de um arco, ela contem uma areia
branca, água azul e transparente.

Figura 01- Enquadramento Geográfico da área de estudo. Fonte: DIVAGIS, 2018

4
2.1.1. Características Geomorfológicas

No lado Oeste do Município, a partir da baixa da cidade, a topografia eleva-se bruscamente


a uma altura de 50 metros na zona da Cidade Alta, e subsequentemente a 100 metros na
zona do aeroporto. O efeito é como o de um plano inclinado, que com o seu lado alto
formando o topo da escarpa, vem descendo abruptamente para o interior da baía e inclina-
se mais suavemente em direcção à costa do oceano, DNGA et al, (2011).

Na zona da Planície costeira, isto é, no lado Este e Norte da cidade onde se localiza a praia
do Wimbe, apresenta terrenos com características mais suaves em termos da sua
morfologia, apresentando elevações na linha de costa abaixo dos 5 metros do nível do mar.
Deste modo, a morfologia da praia do Wimbe que é representado pelo traçado de um perfil
longitudinal (Figura 02) com aproximadamente 1 km (963 m) de comprimento, é quase
que plana, tendo variações de altitudes entre 1 a 6 metros em relação ao nível do mar, tem-
se um declive médio de 1,6% á 2% e o declive máximo de 7.5 % o que classifica o terreno
como plana ao suave ondulado de acordo com Oliveira & Lima (2011).

Figura 02- Traçado de um perfil longitudinal de elevações na praia do Wimbe. Fonte: Google earth

De acordo com o Perfil Ambiental do Município de Pemba, produzido pela DNGA et al,
(2011) a cidade não apresenta cursos de águas que merecem alguma referência, contudo,
destacam-se, o curso de água que tem a sua nascente na zona da cerâmica e desagua no

5
Oceano junto do Complexo Turístico Náutilos na praia do Wimbe e um curso de água que
nasce no bairro de Cariacó e que desagua na marina de Pemba Beach Hotel e denomina-se
rio N’poroma. Embora não em grande escala, esses cursos de água constituem aportes
fluviais que transportam material detrítico de várias regiões por onde passam, depositando-
o no mar, para manutenção das praias.

2.2. CARACTERISTICAS METEÓRICOS E OCEANOGRÁFICOS

2.2.1. Climas

De um modo geral, o clima da cidade é tropical húmido, reforçado pelo facto de


se localizar sobre a margem da Baía de Pemba e de sua proximidade do Canal de
Moçambique. É sujeito ao regime de monções, responsável, em larga medida, pela
existência de duas estações anuais, seca e húmida, em que se verifica uma desigual e
irregular distribuição de chuvas ao longo do ano DNGA e tal., (2011).

Quanto à precipitação, há duas estações bem definidas, ao longo do ano: a estação seca e a
estação húmida. A estação húmida dura de Dezembro a Abril, e traz altos índices
pluviométricos, com o mês mais húmido o Março, com 202,2 mm de média mensal. Por
outro lado, a estação seca alonga-se de Maio a Novembro, e traz, secundariamente,
temperaturas mais frescas, com céu ensolarado e baixa precipitação. O mês mais seco do
ano é, tipicamente, Setembro, com 2,2 mm de precipitação. A humidade é muito alta
durante a estação húmida, com média de 80-90%, sendo muito mais baixa durante a
estação seca. O mês mais quente é Janeiro ou Fevereiro, e o mais frio é Julho, de acordo
com Instituto Nacional de Meteorologia - INAM (2009).

2.2.2. Regime de ventos

Os ventos associados com a zona de convergência intertropical ocorrem normalmente no


verão, principalmente em Janeiro. Nos demais períodos, a circulação atmosférica é
influenciada por ventos que sopram de Este e acções anticiclónicas. A acção das
tempestades e ventos constitui o factor principal para a formação e manutenção da linha da
costa através da deposição da areia. Adicionalmente as ondas e correntes oceânicas,
também influenciam na dinâmica da costa, através de processos de acareação ou de erosão,

6
incluindo eólica, causada pelos ventos, assim como pelas ondas das águas marinhas,
DNGA et al, (2011).

Deste modo, a intensidade e a direcção dos ventos, associados ou não com outros factores
contribuem significativamente no processo de transporte dos sedimentos principalmente
em zonas costeiras, mas, dentre as várias formas energéticas características do ambiente
litoral, as ondas são as que mais interferem no transporte dos sedimentos costeiros a curto
prazo.

Como mostra o Gráfico 01, as intensidades e direcções do vento em Pemba durante o ano
de 2011 o qual registou maiores intensidades deste o ano 2007 (vede o Anexo ΙΙ),
verificando-se geralmente que os meses de Outubro a Janeiro são predominantemente de
Nordeste (NE), enquanto, durante os meses de Março a Setembro, predominam os ventos
de Sudeste (SE), os ventos com maior intensidade registadas foram das direcções Sudeste
com velocidade média de ate 6,2 m/s, INAM (2011).

Gráfico 01- Dados médios mensais da direcção e intensidade dos ventos referentes ao município de Pemba.

Direção e intensidade dos ventos


7
Janeiro
6
Fevereiro

5 Março
Velocidade em (m/s)

Abril
4 Maio
Junho
3
Julho
2 Agosto
Setembro
1
Outubro
0 Novembro
N NE E SE S SW W NW
(Adaptado de INAM, 2011).

Com base nisto, pode-se observar que o predomínio dos ventos nas direcções colaterais NE
e SE na cidade de Pemba durante o ano favorecem a direcção das projecções das ondas do

7
mar, para a direcção resultante Este (E), facto que vai influenciar a tendência do transporte
de sedimentos e consequentemente no progresso da linha da costa a esta direcção.

De acordo com (A. Fontes, 2011, p51):

A acção dos ventos constitui um elemento importante da morfogénese litorânea.


Através desse fenómeno atmosférico, partículas de areia e poeira são transportadas
e posteriormente depositadas formando as dunas costeiras, bem como participando
de outros processos da dinâmica costeira como na geração de ondas e correntes que
associadas às marés estabelecem o padrão de circulação das águas marinhas das
zonas litorâneas e sublitorâneas.

O gráfico 02 abaixo demonstra numa representação em diagrama de rosa-dos-ventos, as


direcções dos ventos predominantes durante o ano inteiro no município de Pemba, através
do qual constata-se que os ventos na direcção NE prevalecem durante cinco (5) meses, de
Outubro a Fevereiro atingindo o seu pico no mês de Dezembro, os ventos na direcção SE
predominam durante os meses de Agosto e Setembro alcançando o seu pico em Agosto e já
os da direcção S abarcam os meses de Março a Julho e atingem o pico nos meses de Maio
e Junho, os quais apresentam mesmas características em termos de intensidade e direcção
dos ventos.

8
Gráfico 02- Representação do predomínio dos ventos no município de Pemba em forma de diagrama de rosa-
dos-ventos.

Direcções dos ventos


N Janeiro predominantes durante
80% um ano na cidade de
Fevereiro
NW 60% NE Março
Pemba (NE, S e SE),
Representadas no
40% Abril diagrama de rosa-dos-
20% Maio ventos.
Junho
W 0% E
Julho
Agosto
Setembro
SW SE Outubro
Novembro
S Dezembro

(Adaptado de DNG A & DPCA-CD, 2011).

É importante observar também, que as direcções dos ventos que têm o potencial para
criação de dunas costeiras são as que se opõem contra a península, isto é, contra a porção
da terra em sua trajectória do oceano ao continente, sendo estas as direcções de
Sul/Sudeste, predominantes nos meses de Março a Setembro.

2.2.3. Ondas

Em relação aos dados de clima de ondas referentes a zona costeira de Pemba são escassos e
limitados, pois, na medida de ir em busca destes dados no Instituto Nacional de
Hidrografia e Navegação (INAHINA), teve-se a informação com o director desta
instituição de que os estudos referente as alturas e intensidade das ondas, ainda não foram
levados a cabo, uma vez que precisa-se de especialistas da área e os equipamentos de
medição não são de fácil acesso.

Portanto, neste trabalho, a informação de grande importância referente as ondas não é


sobre as alturas ou intensidades, mas sim, sobre as suas direcções quando estas chegam a
costa, e esta informação pode ser deduzida segundo Arche (2010) através das direcções dos
ventos nesta região.

9
2.2.4. Maré e correntes

De acordo com Hoguane (2007), As marés nas águas marinhas de Moçambique


comportam-se como uma onda estacionária, isto é, a corrente de marés muda de sentido na
maré cheia e na maré baixa e as maiores velocidades são observadas nos períodos
intermediários. As marés são semidiurnas com desigualdade diurna bastante significativa.

As variações relativo a maré ao longo da costa Moçambicana são mostradas na Figura 03.
Uma das amplitudes mais altas ao longo da costa africana inteira é achado na Beira (com
6.3 m) e é causado por uma extensa plataforma continental rasa, com 140 km de
comprimento, (Ord & Uppsala, 1997).

Como pode-se observar, a área costeira de Pemba está sujeita a uma variação de amplitude
de maré com cerca de 4 m para marés vivas e cerca de 2,8 m no período de baixa maré,
mas estas amplitudes podem variar chegando nos valores abaixo de 1 m como pode-se
observar nas tabelas em anexos Ι.

Altura de Maré alta

Altura de Maré baixa

Figura 03- Variações relativo a maré ao longo da costa Moçambicana, (adaptado de Ord & Uppsala, 1996).

10
As costas cuja amplitude de maré estão entre dois e quatro (2 e 4) metros são chamadas de
mesomaré e nelas as ilhas de barreira tendem a ser mais curtas, aumentando,
consequentemente, o número de canais ou bocas entre elas. Esta amplitude de marés
quando combinadas com uma topografia ligeiramente inclinada levam à ocorrência de
extensas zonas entremarés, como pode-se ver na Figura 04.

Figura 04- Extensas zonas entremarés devido as variações das amplitudes na praia do Hinos, Pemba.

O padrão de circulação ou corrente das águas oceânicas ao longo da costa de Moçambique,


segundo Saetre & Silva (1982) citado por Hoguane (2007), é caracterizado por três células
anticiclónicas, que variam a sua posição ao longo do ano, e por pequenos vórtices
ciclónicos entre os grandes anticiclónicos (Figura 05).
S
De acordo com este padrão de
E
E circulação do canal de
Moçambique, a direcção da
SE corrente marítima de Pemba é
definida pelo vórtice anticiclónico
(I), que move-se no sentido anti-
horário cujas componentes das
direcções S e E geram uma
resultante da corrente na direcção
SE (Sudeste) em relação ao
terreno, facto este, que contribui
bastante na análise do transporte
líquido dos sedimentos costeiros.

Figura 05- Padrão de circulação do Canal de Moçambique Saetre & 11


Silva, (1982 citado em Hoguane, 2007).
2.3. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

2.3.1. Geologia Regional e Local

Regionalmente a geologia de Pemba pertence a Bacia sedimentar de Rovuma, a qual, situa-


se no extremo sul do sistema de bacia de margem passiva da África Oriental que se estende
da Somália a Moçambique Flores, 1973; Lonropet SARL, 2000 (citados por Bingen, B., et
al. 2007). As rochas sedimentares da Bacia cobrem as rochas metamórficas e ígneas pré-
cambrianas do Cinturão de Moçambique de forma inconformada. A Bacia do Rovuma é
caracterizada pela ocorrência de bivalves (Megatrigonia schwarzi), gastrópodes e
equinodermes datados do Neocomiano. Fauna de amonites de idade apciana ocorre mais
para leste da Bacia, juntamente com grés, margas, calcários siltosos e argilas,
característicos de um ambiente marinho de mar aberto Cumbe, (2007, p115).

Localmente a geologia de Pemba distingue, a faixa litoral e a faixa continental. Os


principais grupos e unidades lito-estratigráficas da faixa litoral da cidade de Pemba são do
período quaternário, DNGA et al, (2011), entre as quais pode-se distinguir:

Ι- Lamelas de areia com cascalhos locais (Qss): As areias tendem a ser castanho-
amareladas, cor-de-rosa ou laranja, com horizontes de seixos redondos espalhados ou
lentes de cascalho (Figura 06- a). A areia é rica em quartzo e os grãos variam de bem
arredondados a subangulares e de muito finos a grossos em tamanho.

ΙΙ- Formações sedimentares de ambiente deposiocional eólico (Qdi): Nesta formação,


as areias finas e soltas têm dunas formadas localmente em cordilheiras aproximadamente
paralelas à costa leste da península. Eles geralmente ocorrem no interior de praias arenosas
e são estabilizados pela vegetação (Figura 06- b).

ΙΙΙ- Recifes marinhos, corais e sedimentos bioclásticos (Qmr): Os detritos bioclásticos


calcificados com cimento, incluindo corais e bivalves, bem como quartzo grosseiro a
quartzo finos são bem expostos ao redor da península em Pemba, a Oeste da praia de
Wimbe (Figura 06- c).

Nestas formações há predomínio da Rocha de praia, na qual segundo Moretz-sohn,


Cavalcante & Bittencourt (2010), “é rocha formada pela rápida cimentação dos
sedimentos de praia, em geral, na zona intermaré, que define o estágio evolutivo da zona

12
litorânea”. Quando está localizada na zona de pós-praia indica um recuo da linha de costa.
Os cimentos mais comuns são o carbonato de cálcio, sílica e óxido de ferro.

ΙV- Lama aluvial de origem fluvio-marinha (Qst): As planícies de maré compreendem


areias argilosas fortemente bioturbadas (com sondas de caranguejo e vermes) e são
particularmente bem desenvolvidas ao longo das principais entradas (Figura 06- d), por
exemplo em Mecufi e no delta do Rovuma.

a) b)

c) d)

Figura 06- Formações do período quaternário: a)- Lamelas de areia com cascalhos
locais (Qss); b)- Dunas interiores (Qdi); c)- Corais e sedimentos bioclásticos (Qmr);
d)- Lama aluvial de origem fluvio-marinha (Qst)

As litologias descritas acima são referentes apenas ao ambiente litoral, as quais compõe as
formações geológicas do quaternário (Qmr, Qst, Qdi e Qss), sendo estas, as mais novas
dentre as várias outras formações que pertencem a geologia de Pemba (figura 07).

De acordo com a folha 1240 Quissinga-Pemba e 1340 Mecufi, da Norconsult elaborado


por Bingen, et al. (2007), a geologia do interior de Pemba é composta pelas seguintes
formações geológicas:

13
Figura 07- Enquadramento Geológico da Cidade de Pemba, Adaptado de Bingen, B., et al. (2007). Qdi-
Duna interior, areia eólica vermelha; Qmr- Recife marinha, coral e sedimentos bioclásticos; Tek- Areia
inconsolidada, arenito e conglomerado; Qst- Lama aluvial de origem marinho-fluvial; Qss- Lamelas de
areias com cascalhos locais; TeAj- Calcário por vezes recife de coral, marga ou arenito; TeQs- Calcário
fossilífero ou recife de coral, com arenito basal; CrMf- Marga com siltito Calcário ou com gesso.

 Formação Mikindani: Composta por rochas sedimentares do Terciário, formadas


no período Neogénico, nas quais se destaca a Areia inconsolidada, arenito e
conglomerado (Tek) ocupando a maior área administrativa de Pemba.
 Formação Alto Gingone: Rochas sedimentares do Terciário, formadas no período
Paleogénico, sendo representados por Calcário por vezes recife de coral, marga ou
arenito (TeAj), formando um cordão dentro das litologias, saindo do extremo Sul
para o Norte de Pemba sendo intercalado por Margas com Siltito da formação
Mifume.
 Formação de Quissanga: Representado pelo Calcário fossilífero ou recife de
coral, com arenito basal (TeQs), rocha sedimentar do período Neogénico.
 Formação Mifume: Pertencente ao período Cretácico na sua formação, sendo
representado por Marga com siltito Calcário ou com gesso (CrMf), assumindo
deste modo, a litologia mais velha na geologia da cidade de Pemba.

14
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA PRAIA

De um modo geral, o transporte de sedimentos sucede de três formas principais, sendo


elas, o transporte por arrastamento (predominante nos cascalhos), por saltos (predominante
nas areias) e transporte por suspensão (em siltes e argilas) como é mostrado na Figura 08.
Mas, localmente, o tipo de transporte não depende apenas do tamanho das partículas, mas
também da forma e do seu peso específico, e as partículas de maior tamanho e peso
específico, estes são primeiros a se depositarem no processo de transporte.

Segundo Elorza (2008), os processos que incidem sobre a costa são, o vento, as ondas,
marés e correntes marítimas, todos eles se interferem e é conveniente estuda-los
separadamente. Mas a principal fonte de energia para este efeito costeiro procede das
Ondas.

Figura 08- Formas de transporte dos sedimentos por um curso de água. (Fonte:
https://www.geocaching.com).

Arche (2010, p.444) afirma que, o processo fundamental que actua nas praias são as
ondas, ou seja, o conjunto de ondas que colidem contra a praia e dissipam sua energia
cinética esfregando-se contra o fundo.

15
Além dos processos que incidem sobre a costa mencionados acima, existem vários factores
que a eles se associam (Figura 09), os quais afectam a dinâmica litoral, condicionando
desta maneira o transporte dos sedimentos e alterando deste modo, a curto ou a longo prazo
a morfologia do litoral.

3.1.1. Factores de dinâmica costeira e processos sedimentares

Segundo Arche (2010), dois dos mais importantes factores a curto prazo são as ondas e as
marés, cuja acção é condicionada, em grande medida, por outros factores, como a
orientação das condições costeiras e oceanográficas, especialmente a largura e a inclinação
da Plataforma localizada na costa (Figura 09). Esses factores são responsáveis pelo tipo de
sequência sedimentar. O terceiro factor é a disponibilidade de sedimentos, ou seja, a
contribuição, suas flutuações e vicissitudes que levam ao acúmulo ou eliminação (erosão)
do sedimento em determinadas áreas. Isso acontece, normalmente, em alta velocidade, de
modo que a modelagem dinâmica e costeira e também os riscos geológicos associados
dependem em grande medida da contribuição. Este factor Influencia também a sequência
sedimentar, especialmente na forma de tendências regressivas ou transgressivas e em
superfícies erosivas. O tamanho dos grãos influencia a inclinação da praia, os grãos mais
grossos geralmente são mais inclinados que os grãos finos, e com isso, as praias de grãos
mais grossos tendem a ser mais inclinadas do que as de grãos mais finos.

O quarto factor, importante a longo prazo, é o contexto tectónico, que geralmente é


simplificado em subsidência, isto é, na taxa de elevação ou afundamento da costa.

O quinto é a mudança relativa no nível do mar (mudanças eustáticas) que determinam


quais áreas são cobertas pelo mar ou expostas ao ar. Também tem um papel essencial no
tipo de sequência sedimentar.

Finalmente, a acção antrópica, que nos últimos milénios tem sido um agente
desestabilizador de primeira ordem. A intervenção humana geralmente acelera os
processos e, em geral, afecta negativamente o sistema natural porque modifica o
suprimento e o transporte de sedimentos.

16
Figura 09- Factores que influenciam a morfologia do litoral, adaptado de Arche (2010).

O transporte litorâneo de sedimentos, conduzido pela dinâmica dos fluidos, é factor


condicionante para a ocorrência de mudanças morfológicas em zonas costeiras, Cowell e
Thom, (1994 citado em Araújo 2015). Dependendo das potencialidades de movimento e
transporte envolvidos nesse fenómeno e das características físicas do sedimento,
significativos processos erosivos e de sedimentação podem ser desencadeados. Esses
efeitos podem decorrer em escalas temporais de curto ou longo prazo, porém, quanto mais
intensa for a ocupação e o desenvolvimento de actividades antrópicas nas regiões costeiras,
mais perceptíveis são os seus impactos.

Deste modo, segundo Araújo (2015), o conhecimento e a capacidade de se prever o


transporte de sedimentos costeiros é essencial para a elaboração de projectos, bem como
para auxiliar a tomada de decisões estratégicas de gerenciamento costeiro.

17
3.2. EFEITO DAS ONDAS E MARÉ

3.2.1. Ondas

O processo fundamental que actua nas praias são as ondas, ou seja, o conjunto de ondas
que se chocam contra a praia e dissipam sua energia cinética por fricção com o fundo. Uma
onda é um movimento circular de partículas de água que, pelo menos teoricamente, não
envolve um deslocamento horizontal (lateral) do corpo de água. As ondas são geradas em
alto mar pela fricção do vento na superfície da água. A produção de ondas é
particularmente intensa durante tempestades ou em áreas onde os ventos sopram
desimpedidos sobre grandes extensões do mar, Arche (2010).

As ondas constituem um dos processos marinhos mais efectivos no selecionamento e


redistribuição dos sedimentos depositados nas regiões costeiras e plataforma continental
interna, elas agem como que uma “dona de casa” com capacidade de colocar em ordem
todos os constituintes fazedores deste ambiente geológico, seja do mais pequeno sedimento
até as grandes formações rochosas.

Neste sentido, Elorza (2008) define as ondas como, as projecções sobre a superfície da
água produzidas pelo vento. Como pode-se observar na Figura 10, as ondas caracterizam-
se por movimentos orbitais da água que diminuem rapidamente até ao fundo, onde o
movimento diminui progressivamente para baixo até ser anulado a uma certa profundidade
que é a metade do comprimento de onda (λ/2).

O efeito de fundo produzido pela intensidade das ondas é mais notório na costa, isto é, nas
águas com menor profundidade, sucedendo na interface entre a onda e os sedimentos uma
transferência de energia existente no movimento das águas para mover os sedimentos que
antes estavam estacionados.

18
Figura 10- Movimentos das ondas e o efeito sobre o fundo ao diminuir a profundidade, adaptado de Harvey,
(1976 citado em Arche 2010).

As maiorias das ondas oceânicas são formadas pela acção do vento, que ao soprar sobre a
superfície da água, forma pequenas ondas capilares. Mantendo-se a acção do vento, estas
pequenas rugosidades da superfície da água se somam para produzirem em ondas maiores.
Uma vez geradas, as ondas mantêm sua trajectória mesmo depois de cessada a influência
do vento.

Segundo Okamoto (2009, p.23-24):

O processo de refracção de ondas consiste na mudança do ângulo das cristas das


ondas quando estas passam por isóbatas rasas que não são constantes. Em águas
profundas, as ondas se movimentam com suas cristas paralelas, enquanto em águas
intermediárias e rasas, a redução da velocidade das ondas faz com que as suas
cristas mudem de direcção. Quando chegam à costa, as ondas refractadas podem
convergir ou divergir, influenciando na altura e energia de onda no ponto de quebra
e consequentemente no transporte de sedimentos ao longo da costa.

3.2.2. Maré

Segundo (Carvalho, 2008, p.281):

19
As marés, sendo uma reacção directa da interacção existente entre a terra e os
corpos celestes que lhe estão próximos, em particular o Sol e a Lua, representam
uma outra fonte de energia fornecida às águas do mar causando-lhes uma variação
de suas amplitudes. No seu constante ritmado movimento ascendente e
descendente, avançando e recuando face ao litoral, num vaivém interminável,
tornam-se deste modo, geradoras de correntes susceptíveis de exercer erosão,
transporte e redeposição de sedimentos, quer junto ao litoral, onde são mais
visíveis e conhecidas por correntes de maré, quer na plataforma continental, na
transição com a vertente continental.

Do ponto de vista sedimentológico, existe uma estreita relação entre a morfologia costeira
e a amplitude das marés (Figura 11). De acordo com Arche (2010), Costas em que a
amplitude da maré não excede dois (2) metros são chamadas de micro maré. Nestas, as
ilhas de barreira são formadas, elas são longas, com poucas interrupções ou etapas entre
elas. As costas cuja amplitude de maré estão entre dois e quatro (2 e 4) metros são
chamadas de meso maré e nelas as ilhas de barreira tendem a ser mais curtas, aumentando,
consequentemente, o número de canais ou bocas entre elas. As costas nas quais a
amplitude das marés excede os quatro (4) metros são chamadas de macro maré e são
geralmente lugares onde as planícies de maré e os estuários são assentados, nos quais
corpos ou barras de areia tendem a ser dispostos perpendicularmente à direcção geral da
costa.

Amplitude das marés

Cristas de areia

Ilhas barreira
Deltas das marés
Entradas de maré
Planícies de maré
Pântanos salgados
Estuários

Figura 11- Relação entre a amplitude das marés e a morfologia costeira. Adaptado de, Arche 2010.

20
3.3. TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA ANTE PRAIA

3.3.1. Espraiamento

As praias são divididas em vários ambientes morfológicos que buscam separar os


diferentes meios e processos oceanográficos que neles predominam.

Várias nomenclaturas podem ser utilizadas para determinar as diversas regiões que
compõem uma praia, este estudo adoptou a subdivisão proposta por Hoefel (1998, citado
por Okamoto 2009), que considera que um ambiente de praia oceânico típico pode ser
dividido nos seguintes ambientes: Pós-praia (backshore), antepraia superior (foreshore),
antepraia intermediária (nearshore) e antepraia inferior (shoreface) ilustrados na Figura 12.

Figura 12- Sub-ambientes de uma Praia e suas delimitações. Fonte: modificado de Albino (1999, citado em
Okamoto, 2009).

Segundo as considerações feitas por Larson et al, (2004 citado em Okamoto 2009),
denomina-se zona de espraiamento a região da praia onde as ondas sobem e descem na
face da praia, dissipando ou reflectindo a energia que ainda lhe resta depois de viajar em
direcção à costa. Ciclo de espraiamento, por sua vez, é o conjunto de dois processos
conhecidos como uprushe e backwash. A propagação da onda para cima na praia é
tipicamente referida como uprush, enquanto o retorno da água é denominado backwash.

21
3.3.2. Transporte de sedimentos na zona de espraiamento

O movimento de espraiamento na face da praia é um dos principais mecanismos de


transporte de sedimentos entre as zonas submersas e emersas da praia e, então, é um factor
relevante nas mudanças ocorrentes na linha de costa, ou seja, na erosão e deposição dos
sedimentos (Masselink & Hughes, 1998) citado por Okamoto (2009).

O transporte de sedimento na zona de espraiamento é representado pelo fluxo e refluxo das


ondas (uprushe e backwash, respectivamente). O movimento de subida e descida da água
no espraiamento é a força dirigente do transporte de sedimentos nesta região (Figura 13),
sendo o uprush o responsável pela movimentação do sedimento na direcção da praia
(onshore) enquanto o backwash move os sedimentos em direcção à plataforma (offshore),
Okamoto (2009).

Figura 13- Principais processos devido a acção das ondas na região costeira. Fonte: (Okamoto, 2009, p. 25).

Quando a onda incide obliquamente ao litoral, a areia é retirada e reposta pelo vaivém das
ondas, migrando deste modo, em ziguezague, numa trajectória serreada, com uma
resultante paralela a linha de costa, para o sentido que as condições locais ditarem,
processo este referido entre os oceanógrafos por deriva litoral.

22
O fluxo de sedimentos nesta zona comporta-se quase que como um “rio de sedimentos”,
que corre ao longo da linha de costa, facto que, merece muita atenção quando se projecta
construções de infra-estruturas nestas zonas, que podem interferir no fluxo destes
sedimentos.

3.4. TRANSPORTE LONGITUDINAL DE SEDIMENTO


O conhecimento relativo ao transporte de sedimentos litorâneo é um dos temas básicos de
estudos e pesquisas dos processos praiais, visto que, uma das causas mais frequentes da
erosão ou progradação costeira é a alteração no volume de sedimento transportado
paralelamente à linha de costa, Araújo & Alfredine, (2001).

O transporte longitudinal ocorre ao longo da costa, através de correntes que são formadas
com o efeito de refracção das ondas em função da batimetria do fundo tendendo a tornar a
direcção das cristas das ondas paralelas à linha de costa, atingindo a praia com um certo
ângulo, gerando um fluxo longitudinal. Essas correntes transportam sedimentos colocados
em suspensão pelas ondas incidentes, podendo movê-los ao longo de vários quilómetros
tanto na zona de surfe como na face da praia, Carter, et al, (2002 citado em Okamoto
2009).
Neste sentido, o transporte longitudinal resulta de dois processos: o primeiro é a suspensão
dos sedimentos, que é causada pelo forte impacto das ondas, transmitindo uma grande
quantidade de energia para move-los, o segundo é o ângulo de incidência que as ondas
tomam, influenciados pelos ventos ou pela corrente marítima, que vão transportar
obliquamente os sedimentos gerando vectores bidimensionais, diferentemente do ambiente
fluvial onde o fluxo das águas é unidimensional.

3.5. MODELOS PARA A DETERMINAÇÃO DO TRANSPORTE DE


SEDIMENTOS
Rios et al., (2002) afirmam que:

Nas duas últimas décadas têm-se desenvolvido, rapidamente, métodos empregados


na identificação da direcção do transporte de sedimentos em ambientes costeiros
(McLaren, 1981, McLaren e Bowles, 1985, Gao e Collins, 1994., Lê Roux, 1994).
Todas essas técnicas são baseadas nas mudanças espaciais (tendências) do
parâmetro de tamanho dos grãos do sedimento, que resultam dos processos de
transporte de sedimentos.

23
3.5.1. Modelo de McLaren

O modelo de McLaren conhecido como sediment trend analysis (STA), isto é, método da
análise da tendência do sedimento Segundo (McLaren; Bowles, 1985) usa a diferença na
distribuição do tamanho do grão das amostras de sedimento colectadas em linhas de
amostragem para deduzir o transporte líquido de sedimento em regiões de erosão,
crescimento e equilíbrio dinâmico. Para a análise, o modelo de McLaren usa três
parâmetros estatísticos granulométricos: a média, o desvio padrão e a assimetria. Outras
propriedades do sedimento como a mineralogia, a textura e a forma não são consideradas
nessa análise.

Em síntese, baseando-se em um sedimento com distribuição hipotética e assumindo que


grãos mais finos (leves) apresentam maior probabilidade de serem erodidos e transportados
do que grãos mais grossos (pesados), McLaren (1981, citado por Veiga, Angulo, Lamour,
Brandini & Soares 2005) afirma que:

1) Durante o transporte os sedimentos tornam-se mais finos, melhor seleccionados com


assimetria mais negativa do que o sedimento na fonte;

2) Podem também tornar-se mais grossos, melhor seleccionados e com assimetria mais
positiva;

3) Em depósitos sucessivos os sedimentos tendem a ficar mais finos ou mais grossos mas a
selecção tende a melhorar e a assimetria a ficar mais positiva.

Portanto, mais tarde McLaren (1981) e McLaren e Bowles (1985) identificaram três
probabilidades que podem ser caracterizadas pela relativa diferença nos parâmetros de
distribuição do tamanho do grão entre duas localizações, considerando os pontos d1e d2,
como ve-se na figura 14. Tem-se:

24
Figura 14- variação de parâmetros granulométricos entre a fonte, zona de transporte e deposição Gao &
Collins, (1991) citado por Neto (2013).

Caso A: último depósito. Se o ponto d2 tem média mais grossa, é mais bem seleccionada e
é mais positivamente assimétrica que o ponto d1, então a amostra d2 é o último depósito da
amostra d1, e ambas as distribuições foram originalmente a mesma. Neste caso nenhuma
direcção de transporte pode ser determinada.

Caso B: sedimentos afinando. Se o ponto d2 tem média mais fina, é mais bem
seleccionada e é mais negativamente assimétrica que o ponto d1, então a direcção do
transporte é da amostra d1 para a amostra d2. Neste caso o regime de energia transportando
o sedimento é decrescente de d1 para d2, e os grãos mais grossos não são transportados até
onde os grãos mais finos são depositados.

Caso C: sedimento engrossando. Se o ponto d2 tem média mais grossa, é mais bem
seleccionada e é mais positivamente assimétrica que o ponto d1, então a direcção do
transporte é da amostra d1 para a amostra d2. O nível da energia é tal que partículas
grossas possam ser transportadas até serem depositadas em d2 com nível de energia menor.

Se a média, o desvio padrão e a assimetria de uma amostra d1 são comparados com uma
segunda amostra d2, existem oito possíveis tendências e duas destas seriam tendências
indicativas de transporte, a partir da aplicação de um Z- teste; sendo elas:

1- Mais fina, bem selecionada e mais negativamente assimétrica (F, B,-);

2. Mais grossa, mal selecionada e mais positivamente assimétrica (G, P,+);

25
3. Mais fina, bem selecionada e mais positivamente assimétrica (F, B, +);

4. Mais fina, mal selecionada e mais negativamente assimétrica (F, P, -);

5. Mais fina, mal selecionada e mais positivamente assimétrica (F, P, +);

6. Mais grossa, mal selecionada e mais negativamente assimétrica (G, P, -);

7. Mais grossa, bem selecionada e mais negativamente assimétrica (G, B, -);

8. Mais grossa, bem selecionada e mais positivamente assimétrica (G, B, +).

Deste modo, segundo o modelo de McLaren, para inferir o sentido do transporte, os


sedimentos se tornariam mais finos (F), melhor seleccionados (B) e com assimetria mais
negativa (-) (Casos B); ou mais grossos (G), melhor seleccionados (B) e com assimetria
mais positiva (+) (Casos C). As outras seis possibilidades de combinação não podem ser
usadas para determinar uma direcção de transporte.

Assim, um Z-teste pode ser usado para determinar se o número de pares de amostras
indicando transporte de sedimento, excede a probabilidade aleatória de 0,125 (p = ),
que é a probabilidade de uma das 8 tendências ocorrer.

Assim, tem-se as seguintes hipóteses:

: se p ≤ 0,125, não há nenhuma direção de transporte preferencial;

: se p ˃ 0,125, o transporte está ocorrendo em uma direção preferencial.

é aceitável se:

Z= ˃ 2,33 (1% de nível de significância), ou

Z= ˃ 1,645 (para 5% de significância).

Sendo, x o número de pares de amostras que apontam a mesma tendência (mesmo Caso e
mesma direcção preferencial); p a probabilidade aleatória de ocorrência de uma tendência
granulométrica (0,125); q= 1 – p (0,875); e N é o número total de possíveis pares de
amostras (combinações), sendo dado por:

N = (n2 - n) / 2, devendo ser N> 30, sendo n o número de amostras (n≥ 9).

26
O Z-teste é considerado válido para N Então para a sua aplicação, 9 amostras é o
mínimo requerido para avaliar adequadamente uma direcção de transporte.

Os números de pares de amostras que apontam a mesma tendência (x) obtêm-se mediante
uma dedução através da comparação de valores dos parâmetros granulométricos tendo em
conta cada um dos casos separadamente como se mostra na tabela 01, e a direcção para a
qual se faz a análise.

Tabela 01- Os dois casos possíveis de tendência de transporte sedimentar, combinando os parâmetros.

Tendência Média (em mm) Desvio padrão Assimetria


Caso B FB- > < <
Caso C GB+ < < >

Gao e Collins (1992, 1994) sugeriram modificações na abordagem original de McLaren e


Bowles (1985), propondo um modelo bidimensional para análise e a introdução do
conceito de vectores de transporte na análise de tendência de sedimento. Essa técnica
define uma grade de vectores de tendência adimensional, comparando o parâmetro do
tamanho de grão das estações circunvizinhas, que posteriormente são transformadas em
vectores de transporte através da aplicação de uma técnica de filtragem.

A premissa básica desses modelos é que, sob transporte, os sedimentos sempre formam
depósitos gradativamente melhor seleccionados, podendo ocorrer aumento ou diminuição
do tamanho granulométrico médio e da assimetria dos sedimentos superficiais. A principal
vantagem dessa abordagem, em relação às outras existentes, reside na facilidade de
aquisição de sedimentos superficiais, Guerra et al (2006).

3.5.2. Aplicação do modelo Mclaren em vários estudos relacionados

Para a realização deste trabalho, será aplicado o modelo de Mclaren para fazer face aos
objectivos e ao problema, estabelecidos inicialmente, que se resumem na determinação da
tendência dos sedimentos no processo de transporte ao longo da costa na praia do Wimbe,
visto que é um modelo muito apreciado pelos estudiosos e que, tem-se popularizado em
vários estudos e quando bem aplicado fornece resultados que reflectem a realidade, como é
fundamentado logo a seguir.

27
Segundo Okamoto (2009, p.36), o modelo de McLaren tem sido aplicado por diversos
autores como Pavani (2006), Wrigth (2008), Sanchez et al (2009), Masselink (1992),
Hughes (2005), Bittencourt et al. (1992), De Falco et al. (2003), Bear (2009).

 Pavani, o aplicou com sucesso no arco da praia entre a Ponta da Fruta e Setiba –
ES, uma vez que seus resultados para a direcção do transporte coincidiram com a
direcção da deriva litorânea local determinada pelas análises dos ângulos de
incidência das ondas e da geomorfologia da costa. E assim, constatou apenas a
tendência de mais grosso, melhor seleccionado e mais positivamente assimétrico
como sendo significante, o que indicou um transporte com altos níveis de energia.
 Wrigth, também validou o modelo para sua área de estudo, a linha de costa
adjacente à desembocadura do Rio Doce, Linhares –ES, de forma que estabeleceu o
padrão de transporte no ambiente flúvio-marinho como sendo reflexo de
interacções entre configuração da plataforma continental, carga e descarga do rio e
seu efeito de molhe hidráulico, e inversões de correntes.
 De Falco, aplicou o modelo em uma praia na Sardenha, no Mediterrâneo, a fim de
avaliar a tendência do transporte de sedimentos e os processos deposicionais. Os
sedimentos siliciclásticos analisados indicaram um afinamento, melhor selecção e
assimetria negativa, quando comparados as suas fontes. Já para sedimentos
biogénicos, os resultados demonstraram um afinamento, mau selecionamento e
assimetria negativa. Essa tendência não segue o princípio proposto por McLaren,
que prediz que nas áreas deposicionais os grãos são mais bem seleccionados
comparados com a área fonte.
 Bear, em seu projecto para avaliar os processos de erosão e sedimentação em uma
praia da Nova Zelândia, aplicou três diferentes modelos para predizer o transporte
de sedimentos Sunamura e Horikawa (1972), McLaren (1981) e “Waihi” proposto
por Phizacklea (1993).
 Sanchez, com a finalidade de determinar o transporte residual de sedimentos na
Baía de Todos Santos, Baixa Califórnia, México, aplicou os modelos de Sunamura
& Horikawa (1971, apud Sanchez et al., 2009), McLaren e Bowles (1985), e Gao e
Collins (1994). O primeiro modelo usa a média e o desvio padrão como critérios de
comparação para inferir a direcção de transporte, enquanto os outros dois usam
além desses parâmetros granulométricos estatísticos, a assimetria. Segundo os
autores, os dois primeiros modelos são unidimensionais e o terceiro é

28
bidimensional. O modelo de Gao e Collins (1994) foi considerado como o mais
adequado neste trabalho.

3.6. SIGNIFICADO DOS PARÂMETROS GRANULOMÉTRICOS

O modelo de McLaren faz o uso de três parâmetros granulométricos para fazer análise do
transporte dos sedimentos, a saber: a Média, o Desvio padrão e a Assimetria.

A média ou diâmetro médio consiste no tamanho médio das partículas. Segundo Martins
(2003 citado em Jesus & Andrade 2013), a granulometria dos sedimentos de praia, em
geral, varia de areia muito fina a média, enquanto que a granulometria dos sedimentos
fluviais varia de areia média a grossa. Porém, quando a oferta de sedimentos é muito
grande, a praia pode ser composta tanto por areia e cascalho (seixo, granulo), como por
silte.

O tamanho dos sedimentos de praia varia de acordo com a intensidade da energia do


ambiente. Os sedimentos finos (lama) tendem a se acumular em ambientes de baixa
energia de ondas, enquanto que os sedimentos de tamanho de areia tendem a se acumular
em ambientes de alta energia de ondas. Portanto, segundo Jesus & Andrade (2013), a
actuação de eventos de tempestade, no entanto, pode alterar temporariamente a energia do
ambiente, favorecendo a deposição momentânea de sedimentos mais grossos.

Desvio padrão ou grau de selecção é uma medida de dispersão da amostra, ou seja, da


distribuição de tamanho. Sedimentos bem seleccionados implicam em grãos com pequena
dispersão dos seus valores granulométricos (Figura 15), ou dos valores das medidas de
tendência central. Com o aumento do transporte ou da agitação do meio as partículas de
diferentes tamanhos tendem a ser separadas por tamanho.

Figura 15- Sedimentos bem seleccionados, Caputo (1988).

29
Em uma praia, o grau de selecção reflecte as características dos sedimentos que são
transportados para a zona costeira e seu posterior retrabalhamento pela acção de ondas,
marés, e ventos. Segundo Folk (1957), os sedimentos praiais derivados de uma mesma
fonte serão mais bem selecionados do que sedimentos fluviais, devido à actuação dos
agentes costeiros.

A assimetria representa o grau de deformação da curva de frequência simples para a


direita ou para a esquerda, analisando-se a relação entre a moda, a média e a mediana.
Como pode-se ver na figura 16, quando os valores da moda, da média e da mediana forem
iguais, a distribuição é considerada simétrica. No caso dos valores serem diferentes, a
distribuição é assimétrica. A assimetria positiva ocorre quando o valor da média é superior
ao valor da mediana que por sua vez é superior ao valor da moda. Nesse caso, a cauda da
curva de distribuição é mais acentuada para direita (grãos mais finos). A assimetria
negativa ocorre quando o valor da média é inferior ao valor da mediana que por sua vez é
inferior ao valor da moda. Nesse caso, a cauda é mais acentuada para a esquerda (grãos
mais grossos).

Figura 16- Distribuição da Assimetria. Negativa, Simétrica e Positiva.

Friedman e Martins (citado em Jesus & Andrade, 2013) afirmam que assimetria positiva
ocorre devido à capacidade do agente de transporte de um fluxo unidireccional (ambiente
fluvial e eólico), enquanto a assimetria negativa é causada pela remoção da cauda de grão
fino da distribuição através do joeiramento ou adição de material grosso (ambiente de
praia). Duane (citado em Jesus & Andrade, 2013) afirma que a assimetria negativa em
sedimentos ocorre somente em praias nas quais não existe interferência de outros agentes

30
costeiros, além de ondas e correntes costeiras. Friedman, afirma que quando areias de praia
possuem assimetria positiva podem ser distinguidas das areias de rio pelo seu grau de
selecção, maior que os sedimentos fluviais.

31
4. METODOLOGIA

4.1. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

A metodologia desse trabalho tem como propósito uma pesquisa exploratória, uma vez que
trata-se de um assunto desconhecido e que através de procedimentos de estudo pretende-se
validar ou não as hipóteses de transporte dos sedimentos. Quanto ao tipo de abordagem dos
resultados que serão apresentados é quantitativa, sendo que, o modelo de McLaren usa de
técnicas estatísticas usando tabelas e gráficos e se baseia em números para chegar-se aos
resultados para validar uma hipótese. Para a execução deste trabalho foram seguidos quatro
etapas principais, para chegar-se aos resultados esperados, os quais se resumem em:

Figura 17- Esquema da metodologia de pesquisa.

1. Revisão bibliográfica

Obtenção de informações sobre a Buscar o fundamento teórico para


situação actual do tema ou do problema o uso do modelo de Mclaren.
pesquisado.

2. Trabalho de campo

Busca de dados nas Trabalho de campo para a


instituições de estudo recolha de amostras.
relacionado.

Análise 3. Tratamento dos dados Cálculo de parâmetros


granulométrica granulométricos
5.1.

4. Interpretação dos
resultados

Classificação dos
Cálculo do Z-teste
parâmetros
granulométricos

Construção das tabelas Determinação do


e gráficos transporte dos sedimentos

32
Na etapa da revisão bibliográfica especificamente na busca da fundamentação teórica para
o uso do modelo de Mclaren, constatou-se que é importante antes de ir ao campo e colher
as amostras, analisar primeiramente a direcção do transporte liquido do sedimento na praia
do Wimbe, caso não, é impossível saber a direcção ao longo da qual pares de amostras têm
que ser examinados, (Lanckneus, etal., 1993).

4.1.1. Direcções de transporte líquido por análise de tendência

Foram comparadas duas imagens através do Google earth, uma imagem do ano 2007 e a
outra do actual ano 2018, para se avaliar a ocupação costeira dos sedimentos ao longo da
praia, como ilustra a Figura 18, as imagens foram tomadas na mesma posição e escala
espacial, diferindo apenas na escala temporal.

Direcção de transporte
líquido (SE)

a) a b)
)
Figura 18- Comparação dos sedimentos através de imagens do Google Earth na praia do Wimbe. a)- Imagem
do ano 2007, b)- Imagem do actual ano 2018.

Observando-se com atenção nas duas imagens, pode-se notar que na imagem a) no lado
Este da praia, os sedimentos não preenchem o local onde afloram algumas rochas de praia,
diferentemente da imagem b) onde observa-se o alargamento da linha de costa com
sedimentos cobrindo a porção em que antes não havia sedimentos. Assim, há indicação de
que o transporte líquido dos sedimentos influenciado por alguns factores como a corrente
marítima, a direcção e intensidade dos ventos e a acção das ondas, é para a direcção

33
Sudeste (SE), portanto, é na direcao Oeste-Este que será feita recolha de amostras para a
análise.
4.2. OBTENÇÃO DE DADOS EM CAMPO
Em campo foram obtidas um total de 20 amostras, que foram colectadas no dia 23 de Julho
a partir das 13 horas, período em que a maré alta começava a recuar em direcção a
plataforma continental. A amostragem foi realizada na zona de espraiamento, tendo como
ponto inicial (P1) o lado Oeste da praia (Figura 16), localizado logo após o curso de água
que tem a sua nascente na zona da cerâmica e desagua no mar junto do Complexo Turístico
Náutilos, indo em direcção ao lado Este (P20), tomando as amostras em um perfil
longitudinal, em que os pontos amostrais distavam 60 metros umas das outras.

A zona de espraiamento é representativa quanto a ocorrência de transporte de sedimentos


numa praia, sendo que, constantemente, através das ondas no período de alta maré, os
sedimentos experimentam os processos de remoção, redistribuição e a deposição,
experimentando sucessivos processos deposicionais consoante a sua forma e tamanho.

Figura 19- Localização do perfil de amostragem. Partindo do ponto 1 para o ponto 20.

Em cada ponto, foi colhido 1 Kg de sedimentos a uma profundidade de 10 cm como


recomenda o autor McLaren, et al., (2007 citado em Neto 2013), usando uma colher
plástica de modo a evitar abrasão com as partículas, sacos plásticos para sua conservação,

34
um marcador para registar o código das amostras e um GPS para tomar as respectivas
coordenadas, como mostra a Figura 18. Foram anotados a presença ou não do mineral
pesado em cada ponto, e constatou-se que os pontos P1, P2, P3 e P5, isto é, os mais
próximos do curso de água, apresentam pequena presença do Mineral Pesado (MP) de cor
escura apresentando um brilho metálico, que provavelmente é trazido ao ambiente marinho
pelo referido curso de água.

Figura 20- Amostragem de sedimentos no perfil longitudinal da praia do Wimbe. Fonte: Autor

McLaren também recomenda fazer a colecta no mesmo dia em todos pontos amostrais,
para evitar o erro de analisar o comportamento de sedimentos que possivelmente sofreram
eventos ou processos sedimentológicos distintos. As amostras, posteriormente foram
levadas ao laboratório para o seu devido tratamento e realização do ensaio de
granulometria.

4.3. TRATAMENTO DOS DADOS


O ensaio granulométrico foi realizado no laboratório da Administração Nacional de
Estradas (ANE) no departamento de Estradas e pontes.

Todas as amostras foram submetidas ao processo de secagem, primeiro ao ar livre depois


colocados ao forno numa temperatura de 100º C durante 24 h visto que, foram colhidas
com humidade, não foi feito o quarteamento, porque toda quantidade de cada amostra foi
utilizada no ensaio, e nem a lavagem para a retirada de finos, por serem sedimentos com
caracteristicas do solo A-3 segundo a classificação (HRB) - sistema rodoviário de

35
classificação, que não apresentam material siltoso, argiloso ou com muita pequena
quantidade de silte não plástico.
4.3.1. Determinação granulométrica

A realização do ensaio de granulometria, obedeceu o padrão ASTM, tendo no topo a


peneira de n° #4 (4,750 mm) e na base o de n° #200 (0,075). Desta forma, o jogo de oito
peneiras foi levado a um vibrador eléctrico, donde cada sedimento foi submetido a 5
minutos de vibração e de seguida, os pesos retidos em cada peneiro foram medidos em
uma balança sensível a 0,5 g e foram anotados (vede o apêndice ΙΙ) para os posteriores
cálculos estatísticos.

4.3.2. Cálculo e classificação de parâmetros granulométricos

A etapa que seguiu a partir dos dados obtidos em laboratório foi a determinação dos
parâmetros estatísticos de granulometria, que foi realizada utilizando o programa
GRADISTAT versão 8.0 de Blott (2010), na janela do Excel, desta maneira, a média, o
desvio padrão e assimetria, foram calculados na escala métrica em milímetros (mm) para
cada ponto amostral, usando as seguintes fórmulas:

Média: Desvio padrão: Assimetria:

= = =

Onde:

- Media granulométrica; - Desvio padrão da amostra; - Assimetria da amostra; f-


Frequência (que corresponde as massas retidas em cada peneira); - Abertura das
peneiras em milímetro; n- Massa total da amostra.

Para classificação dos dados obtidos pelo programa GRADISTAT versão 8.0 foi adotado o
método descrito por Folk & Ward (1957). Neste método, os tamanhos dos grãos são
expressos em Phi (Φ), sendo Phi o logaritmo negativo de base dois do valor em milímetro
(Φ = - log2 mm).

Para classificação das amostras, baseada no tamanho das partículas, expressa pelo valor da
média, foi empregada a classificação proposta por Wentworth (1922), que obedece aos
limites da Tabela 02 abaixo.

36
Tabela 02- Classificação de Wentworth (1922) baseada no valor do tamanho das partículas.

CLASSIFICAÇÃO Escala em Phi Escala em mm


Areia muito grossa -1 a 0 2a1
Areia grossa 0a1 1 a 0,50
Areia média 1a2 0,50 a 0,25
Areia fina 2a3 0,25 a 0,125
Areia muito fina 3a4 0,125 a 0,0625
Silte 4a8 0,0625 a 0,0039
Argila >8 <0,0039

Para a classificação da selecção (desvio padrão) das partículas, foram utilizados os limites
propostos por Folk (1968, citado em Okamoto 2009), que obedece, para os valores em phi
e a sua correspondência em milímetro (mm), aos da Tabela 03 que se segue.

Tabela 03- Classificação para o grau de seleção, adaptado de Folk (1968, citado em Okamoto 2009).

CLASSIFICAÇÃO Escala em Phi Escala em mm


Muito bem selecionado <0,35 >0,785
Bem selecionado 0,35 a 0,50 0,785 a 0,707
Moderadamente bem 0,50 a 0,71 0,707 a 0,611
selecionado
Moderadamente selecionado 0,71 a 1,00 0,611 a 0,500

Mal selecionado 1,00 a 2,00 0,500 a 0,250


Muito mal selecionado 2,00 a 4,00 0,250 a 0,063
Extremamente mal >4,00 <0,063
selecionado

Com relação à assimetria foi considerada a classificação proposta por Blott (2010) no
programa GRADISTAT versão 8.0 na tabela 04, entretanto quando a classificação era
assimétrica, no lugar de dizer se a assimetria é bem ou muito bem distorcida, utilizou-se o
termo positiva (que caracteriza partículas finas) ou negativa (que caracteriza partículas
grossas). Deste modo, a classificação seguiu os limites expostos na tabela abaixo.

37
Tabela 04- Classificação para assimetria, adaptado de Blott (2010).

CLASSIFICAÇÃO Escala em Phi Escala em mm

Assimetria muito positiva >1,30 <0,406

Assimetria positiva 1,30 a 0,43 0,742 a 0,406


Simétrica 0,43 a -0,43 1,347 a 0,742
Assimetria negativa -0,43 a -1,30 2,462 a 1,347
Assimetria muito negativa <-1,30 >2,462

Para verificar a relação na tendência das variações granulométricas, foram feitos regressões
lineares para os três parâmetros estatísticos mencionados acima e os resultados foram
plotados em gráficos de dispersão em linha, possibilitando avaliar o comportamento
sedimentológico das amostras colectadas ao longo do perfil da praia.

De seguida, os parâmetros estatísticos de cada uma das amostras foram comparados entre
si, de forma a observar casos onde a segunda amostra (P2) comparada seja mais fina (F),
melhor selecionada (B) e com assimetria mais negativa (-) ou mais grossa (G), melhor
selecionada (B) e com assimetria mais positiva (+) que a primeira amostra (P1). Isso
porque esses dois casos, denominados, respectivamente, Caso B e Caso C, representam,
de acordo com o modelo de McLaren (McLaren & Bowles, 1985), as duas possibilidades
indicativas de que há uma direção de transporte sedimentar preferencial.

38
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA AO LONGO DA PRAIA

Em termos de granulometria ao longo da praia, a média granulométrica das partículas


variou de 0,275 mm (no ponto P1) a 0,754 mm (no ponto P17) ou seja, de areia média a
areia grossa, e assim, a média dos últimos três pontos (P18 a P20) tendeu a reduzir o seu
tamanho, mas, estando mais próximo dos grossos que dos finos, apesar de serem
classificados como areia média.

Deste modo, observou-se que o tamanho dos sedimentos tende a aumentar na direção do
P1 à P20 e verifica-se uma redução da presença do mineral pesado (MP) na mesma
direção, ao longo da praia do Wimbe, facto que favorece a suposição de que o MP achado
ao longo da praia é trazido do continente através do curso de água e posteriormente
depositado no mar.

No que diz respeito ao desvio padrão ou o grau de selecionamento, a areia apresenta uma
grande variedade na sua classificação, variando de muito mal a muito bem selecionados, e
entre estes acham-se pontos com selecionamento mal e moderado, sendo o ponto
classificado como muito mal selecionado ao longo da praia o P4 com 0,104 mm e o ponto
mais bem selecionado o P17 com 0,786 mm de desvio padrão, em outras palavras, os
tamanhos das partículas do ponto P4 possuem uma elevada dispersão em termos de suas
dimensões, enquanto, já no ponto P17 há pequenas variações de tamanho entre os
sedimentos, onde as partículas são sequenciadas em termos da suas dimensões (bem
graduados). Analisando esse padrão pode-se observar uma pequena tendência de
melhoramento da seleção das partículas em direção da porção Este da praia, isto é, do P1 à
P20.

A assimetria dos sedimentos da praia consistiu apenas de duas classificações, sendo elas,
muito positiva e muito negativa. Na verdade, quase que todos pontos apresentaram uma
assimetria muito positiva, ou seja assimetria para o lado dos finos e apenas um ponto P17
que apresentou uma assimetria muito negativa.

Os dados das análises estatísticas (diâmetro médio, grau de seleção ou desvio padrão e
assimetria) e as suas respectivas classificações estão mostrados na Tabela 05.

39
Tabela 05- Parâmetros estatísticos granulométricos e a sua classificação, avaliados nas amostras colectadas
na face da praia do Wimbe.

PONTOS MÉDIA (mm) SELECÇÃO (mm) ASSIMETRIA (mm)


P1 0,275 0,104 0,000001
Areia média Muito mal Muito positiva
P2 0,349 0,285 0,01
Areia média Mal Muito positiva
P3 0,301 0,130 0,000003
Areia média Muito mal Muito positiva
P4 0,318 0,124 0,0000004
Areia média Muito mal Muito positiva
P5 0,326 0,141 0,000004
Areia média Muito mal Muito positiva
P6 0,325 0,134 0,000002
Areia média Muito mal Muito positiva
P7 0,314 0,132 0,000001
Areia média Muito mal Muito positiva
P8 0,341 0,143 0,000002
Areia média Muito mal Muito positiva
P9 0,358 0,145 0,000003
Areia média Muito mal Muito positiva
P10 0,335 0,370 0,0001
Areia média Mal Muito positiva
P11 0,333 0,164 0,000009
Areia média Muito mal Muito positiva
P12 0,298 0,156 0,000009
Areia média Muito mal Muito positiva
P13 0,345 0,155 0,000004
Areia média Muito mal Muito positiva
P14 0,357 0,260 0,002
Areia média Mal Muito positiva
P15 0,296 0,148 0,000007
Areia média Muito mal Muito positiva
P16 0,676 0,427 0,034
Areia grossa Moderada Muito positiva
P17 0,754 0,786 1,05
Areia grossa Muito boa Muito negativa
P18 0,422 0,266 0,001
Areia média Mal Muito positiva
P19 0,466 0,411 0,032
Areia média Moderada Muito positiva
P20 0,425 0,375 0,01
Areia média Mal Muito positiva

40
A variação longitudinal dos sedimentos na praia do Wimbe pode ser visualizada na Figura
21 que segue abaixo. Analisando os resultados apresentados pode-se observar que a
regressão linear da variação longitudinal da média, desvio padrão e assimetria dos
sedimentos apresentaram coeficiente de correlação (r) de 0,57; 0,57 e 0,28,
respectivamente. Em outras palavras, a média dos tamanhos tem a mais alta correlação
com a variação espacial longitudinal, indicando uma relação não muito uniforme (linear)
entre essas duas variáveis, isto é, a variação do tamanho dos sedimentos altera na medida
que se passa de um ponto amostral para outro, o mesmo acontece com o desvio padrão nas
amostras tendo estes o mesmo valor da correlação, e a assimetria tem correlação mais
baixa com a tal variação, uma vez que em todos pontos ela é classificada como positiva,
excetuando o ponto P17. Observando as linearidades, denota-se um aumento do tamanho
das partículas, melhoramento do grau seleção e diminuição da assimetria das distribuições
granulométricas analisadas.

Média
0,8
0,7 r = 0,57
Média em mm

0,6
0,5
0,4
0,3 Média mm
0,2 Linear (Média mm)
0,1
0
0 5 10 15 20 25
Pontos amostrais

41
Seleção
0,9
Desvio padrão em mm 0,8
r = 0,57
0,7
0,6
0,5
0,4 Seleção mm
0,3
0,2 Linear (Seleção mm)
0,1
0
0 5 10 15 20 25

Pontos amostrais

Assimetria
1,2
r = 0,28
Assimetria em mm

1
0,8
0,6
Assimetria mm
0,4
0,2 Linear (Assimetria mm)
0
-0,2 0 5 10 15 20 25
Pontos amostrais

Figura 21- Variação longitudinal dos parâmetros granulométricos ao longo da face da praia do Wimbe.

5.2. CARACTERIZAÇÃO E PADRÃO DE TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA


PRAIA

5.2.1. Transporte longitudinal de sedimentos de acordo com o modelo


de McLaren

O passo a seguir foi o cálculo do Z-teste previsto no modelo para os pares de amostras
indicando a mesma tendência (vede o apêndice Ι), segundo o qual somente valores maiores
que 2,33 (para 1% de nível de significância) ou maiores que 1,645 (para 5% de nível de
significância) para o Z-teste, admite aceitar a hipótese que sustenta haver uma certa
direção preferencial no processo de transporte longitudinal dos sedimentos na praia de
Wimbe. Como pode-se ver na Tabela 06 os resultados da análise da tendência de

42
sedimentos, somente o valor de 2,03 a vermelho na tabela para o Caso C na direção de P1
para P20 é o único que satisfaz o teste estatístico validando a hipótese da existência de uma
preferência no transporte dos sedimentos e sendo deste modo essa a direção de transporte
longitudinal definida pelo modelo de McLaren.

Tabela 02- Resultado da análise de tendência de sedimentos, pelo cálculo do Z-teste.

DIRECÇÃO P1 - P20 Caso B Caso C


Z-teste (Z = ) FB- GB+
Número de amostras (n) 20 20
Número de pares possíveis 190 190
N= (n2 - n) / 2
Número de pares apontando 25 33
a mesma tendência (x)
p 0,125 0,125
q = 1- p 0,875 0,875
Valor do Z-teste 0,27 2,03
Teste de significância para Rejeita Aceita
5%
Teste de significância para Rejeita Rejeita
1%

DIRECÇÃO P20 – P1 Caso B Caso C


Variáveis do Z-teste FB- GB+
Número de amostras (n) 20 20
Número de pares possíveis 190 190
(N)
Número de pares apontando 21 13
a mesma tendência (X)
P 0,125 0,125
Q 0,875 0,875
Valor do Z-teste -0,60 -2,36
Teste de significância para Rejeita Rejeita
5%
Teste de significância para Rejeita Rejeita
1%

De acordo com o nível de significância de 5% que aceita o caso do transporte, este valor
denuncia com ate um nível de confiança de 95% a aceitação de que os sedimentos nesta
direção se tornam mais grossos, com melhoramentos do grau de seleção e com assimetria
mais positiva, apesar de a regressão linear da variação longitudinal (Figura 21) aparente
que a assimetria tende a se tornar mais negativa, uma vez que em todos pontos ela é
classificada como positiva, excetuando apenas o ponto P17 com assimetria muito negativa
devido ao excesso de partículas grossas que supostamente deve ser causada pela remoção
43
da cauda de grão fino da distribuição através do joeiramento (seleção criteriosa) ou adição
de material grosso. E essas características que apresentam o caso C declaram, que o
processo de transporte se dá sob condições de alta energia, em que partículas grossas são
transportadas de P1 com maior energia do agente transportador até serem depositadas em
P2 com nível de energia menor.

5.2.1.1. O padrão de transporte longitudinal

Fazendo uma observação geral nos fatores a curto prazo que condicionam o transporte dos
sedimentos na praia do Wimbe, tais como as ondas, a maré, a corrente oceânica e a direção
dos ventos, os mesmos podem transportar os sedimentos ao longo do ano em várias
direções, tais como, Sul, Este, Nordeste, Sudeste, como já foi mostrado anteriormente, mas
o padrão de transporte definido pelo modelo de Mclaren aplicado neste ambiente da praia
denuncia que os sedimentos são transportados ao longo da linha da costa do ponto P1 para
o ponto P20, isto é, eles percorrem, da porção Oeste onde localiza-se o Complexo Turístico
Náutilos para a porção Este da praia do Wimbe (Figura 22), onde começa o afloramentos
das rochas de praia, como se pode ver no mapa abaixo.

Figura 22- O padrão de transporte na área de estudo segundo o modelo de McLaren. As setas representam o
transporte de sedimento para direcção Este (de P1 para P20) da praia.

44
Este padrão de transporte definido pelo modelo também esta de acordo com a direção de
transporte líquido por análise de tendência analisado na secção 4.2.1 onde observa-se por
meio das imagens a) e b) em períodos de tempo diferente, observa-se em b) um relativo
alargamento da linha de costa na porção Este da praia, isto é, na direção do transporte, com
sedimentos cobrindo algumas rochas de praia que antes afloravam nesta porção.

Deste modo, é evidente que segundo este padrão de transporte devem existir regiões de
erosão e de deposição de sedimentos, neste caso, observa-se na figura 23 abaixo que a
região Oeste da praia sofre uma erosão, isto é, uma redução da sua faixa costeira, enquanto
a região Este sofre a deposição sedimentar observando-se o relativo alargamento da linha
de costa nesta faixa, o que de certa forma corresponde o padrão de transporte encontrado
pela aplicação do modelo de McLaren, que indica uma direção de transporte de sedimentos
da porção Oeste para Este.

82,7 m

a) b)

Figura 23- Comparação da linha de costa da praia em períodos de tempos diferentes. Verificando-se que a
região Oeste é a zona de erosão, enquanto a porção Este é a zona de deposição segundo a direcção do
transporte.

Pode-se também através dos dados de espaço e do tempo em que os sedimentos levaram
para ocupar esta região, estimar-se a velocidade com que os sedimentos são transportados
nesta direção. De acordo com as imagens a) e b) tem-se:

= 82,7 m

= (2007 - 2018) = 11 anos


45
Então, segundo a fórmula: ʋ = , a velocidade média estimada de transporte será:

ʋ= = = 7,5 m/ano.

Lembrando que a intensidade dos fatores hidrodinâmicos costeiros que vão influenciar o
movimento dos sedimentos não se repete de igual maneira de ano para ano, e é evidente
que a velocidade do transporte estimado também irá variando de acordo com a intensidade
desses factores, podendo ser menor ou ate maior que esta.

5.3. DISCUSSÃO
Quanto ao tamanho granulométrico dos sedimentos, os resultados indicam que os mesmos
variam de areia média a areia grossa, o que indica segundo Martins (2003 citado em Jesus
& Andrade 2013) uma oferta muito grande de sedimentos à praia, provenientes de aporte
fluvial e da erosão das falésias costeiras, pois que, geralmente a granulometria dos
sedimentos de praia, varia de areia muito fina a média.

Os resultados do grau de seleção variam de muito mal a muito bem selecionados,


analisando o gráfico de dispersão do desvio padrão pode-se observar uma tendência de
melhoramento da seleção das partículas na direção do transporte. De acordo com Folk
(1957), os sedimentos da praia do Wimbe não são derivados de uma mesma fonte, por
conter na sua maioria sedimentos mal selecionados, pois que, os sedimentos praiais
derivados de uma mesma fonte serão mais bem selecionados devido à atuação dos agentes
costeiros.

Todos pontos apresentaram uma assimetria muito positiva, ou seja assimetria para o lado
dos finos e apenas um ponto P17 que apresentou a assimetria muito negativa. De acordo
com Friedman e Martins (citado por Jesus & Andrade, 2013) afirmam que assimetria
positiva ocorre devido à capacidade do agente de transporte de um fluxo unidireccional
(ambiente fluvial e eólico), enquanto a assimetria negativa é causada pela remoção da
cauda de grão fino da distribuição através do joeiramento ou adição de material grosso
(ambiente de praia). O comportamento da assimetria do ponto P17 é singular devido a
adição de material grosso nesta região que deve ser proveniente da meteorização das
rochas de praia existente naquela porção da praia.

A observação da variação longitudinal dos parâmetros granulométricos mostrados na


figura 21 vai de acordo com a aplicação do modelo mostrando o aumento no tamanho dos
46
sedimentos, melhoramento no grau de seleção e em relação a assimetria, estes demostram
uma pequena discordância, mostrando a tendência de se tornar mais negativa enquanto
para o modelo, este caso a assimetria teria que tender a ser positiva.

Os resultados da análise da tendência de sedimentos revelam que dos 190 possíveis pares
de amostras, apenas 48,5 % dos pares indicam pelo menos uma das quatro (4) tendências
de transporte definidas pelo modelo, nos quais, para a direção P1 a P20 tem-se 13,2% dos
pares indicam os sedimentos afinando (Caso B) e 17,4 % dos pares indicam os sedimentos
engrossando nesta direção, percentagem esta que valida a hipótese da preferência dos
sedimentos nesta direção segundo o modelo.

A direção de transporte de sedimentos definidos por este modelo na praia de Wimbe é uma
resultante unidirecional das várias tendências dos fatores hidrodinâmicos e costeiros que
caracterizam-se por movimentos bidirecionais em suas trajetórias, a qual define o padrão
de transporte nesta praia.

Segundo Usace, (1984) a interrupção do padrão do movimento de sedimentos


transportados (definido neste trabalho) ao longo da praia do Wimbe, seja por causas
naturais ou induzidas pelo homem, pode alterar o equilíbrio existente em determinado
ambiente costeiro, seja a longo ou curto prazo, ocasionando ou acelerando processos
erosivos.

E analisando este padrão de transporte, o mesmo já denuncia um processo de erosão –


deposição na praia do Wimbe, estando este, a ocorrer na mesma direção do transporte do
ponto P1 a P20. E o processo de erosão pode ser intensificado se a desembocadura do
curso de água que esta junto ao Hotel Náuticos interferir no movimento dos sedimentos
transportados (Causa natural) ou se forem erguidas infraestruturas de lazer ou de proteção
litoral (ex. Esporão, molhe, etc) e estes intervirem no transporte dos sedimentos, pois que,
os mesmos alterarão o equilíbrio dinâmico entre a entrada e saída dos sedimentos, de
acordo com Arche (2010).

47
6. CONCLUSÃO

O estudo realizado neste trabalho apontou que a praia do Wimbe regida por alguns fatores
oceanográficos, tais como, ondas, mares e correntes oceânicas apresentou:

 Variedades de tamanho granulométricos nos sedimentos, variando de areia média à


areia grossa, distribuídos ao longo da sua costa.
 Do ponto P1 a P20, um aumento no tamanho dos sedimentos (G), um melhoramento no
grau de seleção das partículas (B) e assimetria tendeu a ser negativa (-).
 A assimetria não vai de acordo com o previsto no caso C do modelo, que foi aceito na
tendência de transporte dos sedimentos neste trabalho, o qual prevê um sinal positivo
(+) para assimetria.
 De acordo com a aplicação do modelo de Mclaren o resultado apresentou com ate um
nível de confiança de 95% a aceitação de que os sedimentos na direção Oeste-Este se
tornam mais grossos (G), com melhoramentos do grau de seleção (B) e com assimetria
mais positiva (+).
 O processo de transporte se dá na direção resultante Oeste-Este, sob condições de alta
energia, em que partículas grossas são transportadas com maior energia do agente
transportador até serem depositadas com nível de energia menor.
 O padrão de transporte de sedimentos definido neste trabalho, também esta de acordo
com a direção de transporte líquido por análise da tendência analisado dos sedimentos.
 Por análise, observou-se que o processo de erosão na praia do Wimbe pode ser
intensificado se houver causas naturais ou antrópicas que interferirem no movimento
dos sedimentos transportados alterando o equilíbrio dinâmico entre a entrada e saída
dos sedimentos.

48
7. RECOMENDAÇÕES

Para que se façam tomadas de decisões estratégicas de gerenciamento costeiro, recomenda-


se que nos trabalhos posteriores faça-se o uso de outros modelos científicos, de modo a
trazer resultados de transporte mais detalhados em termos das direcções dos sedimentos,
sendo que o modelo de McLaren analisa os parâmetros de granulometria em cada perfil de
amostragem isoladamente e produz como resultado um padrão de transporte
unidireccional, sem ter em conta o comportamento granulométrico das amostras
circunvizinhas que produz um resultado de transporte bidireccional, como é o caso do
modelo de Gao & Collins (1992).

49
8. BIBLIOGRAFIA

 Araújo, D, C. (2015). Transporte longitudinal de sedimento na zona costeira de


Natal/RN. Pdf. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de
Tecnologia. Natal – Brasil.
 Araújo, R.N. De. & Alfredine, P. (2001). O cálculo do transporte de sedimentos
litorâneo: Estudo de caso das praias de Suarão e Cibratel (Município de Itanhaém,
São Paulo). Revista Brasileira de Recursos Hídricos, São Paulo, v. 6.
 Arche, A. (2010). Sedimentología: Del proceso físico a la cuenca sedimentaria.
Consejo Superior de Investigaciones Científicas-Madrid. CSIC, Alfredo Arche
(ed.) y de cada texto, su autor.
 Bingen, B., et al. (2007). Mineral resources management capacity building project,
republic of Mozambique- geological infrastructure development project geological
mapping – lot 1. República de Moçambique, ministério dos recursos minerais e
energia, direcção nacional de geologia. Norconsult International AS.
 Blott, S, J. (2010). A Grain Size Distribution and Statistics Package for the
Analysis of Unconsolidated Sediments by Sieving or Laser Granulometer. Softwere
Gradistat Version 8.0 Disponivel em: s.blott@kpal.co.uk.
 Caputo, H. P. (1988). Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Vol.1, 6 ed. Rio de
Janeiro – Brasil.
 Carvalho, G. D. (2008). Geologia Sedimentar. Volume 1 – Sedimentogénese.
Âncora Editora. 2ª Edição. Lisboa.
 Conselho Municipal da Cidade de Pemba (2014). Plano Estratégico de
Desenvolvimento- PEDM (2014-2018). Pdf. Pemba – Moçambique.
 Cumbe, A. F. (2007). O Património Geológico de Moçambique: Proposta de
Metodologia de Inventariação, Caracterização e Avaliação. Universidade do
Minho, Escola de ciências, Departamento de ciências da terra. Braga - Portugal.
 DNGA & DPCA-CD (2011). Perfil Ambiental do Município de Pemba. Pdf.
Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental. Pemba – Moçambique.
 Elorza, M. G. (2008). Geomorfología. PRENTICE HALL es un sello editorial
autorizado de PEARSON EDUCACIÓN, S.A. Madrid – Espanha.
 Folk, R. L.; Ward, W. C. (1957), Brazos river bar: a study in the significance of
grain size parameters. Journal of Sedimentary Petrology. USA, v. 27; p. 3-26.

50
 Fontes, A. L. (2011). Geomorfologia costeia. Disponível em:
http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/15493316022012Geomo
fologia_Costeira_9.pdf.
 Fontoura, J. A. S. (2004). Hidrodinâmica costeira e qualificação do transporte
longitudinal de sedimentos não coesivos na zona de surfe das praias adjacentes aos
molhes da barra do Rio Grande, RS, Brasil. Tese de Doutoramento – Instituto de
Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
 Gao, S. & Collins, M. (1992). Net sediment transport patterns inferred from grain
size trends, based upon definition of transport vectors. Sedimentary Geology, v. 81,
p. 47-60.
 Guerra, J.V. e tal, (2006). Influência do padrão de transporte de sedimentos junto
às sand ridges da plataforma continental interna do Rio Grande do Sul a partir da
aplicação de modelos de tendência direcional. In: SINAGEO, Goiânia.
 Hoguane, A. M. (2007). Perfil Diagnóstico da Zona Costeira de Moçambique.
Revista de Gestão Costeira Integrada 7(1):69-82 (2007). Artigo sem revisão
editorial.
 https://www.geocaching.com. Imagem obtido em 22 de Junho de 2018.
 Instituto Nacional de Meteorologia (2009). Dados Médios de Temperatura em (°c),
Humidade Relativa (%), Precipitação (mm). Delegação de Cabo Delgado, Pemba.
 Jesus & Andrade, (2013). Parâmetros Granulométricos dos sedimentos da praia
dos Artistas-Aracaju – SE. Vol. 9, nº 5. Disponível em: www.scientiaplena.org.br.
 Lanckneus, J. et al., (1993). The Use of the McLaren Model for the Determination
of Residual Transport Directions on the Gootebank, Southern North Sea. Institute
of Marine Research And Air Sea Interaction (IRMA). Brussels – Belgica.
 Krumbein, W.C. and Pettijohn, F.J. (1938), Manual of Sedimentary Petrography.
Appleton-Century-Crofts, New York.
 Masselink, G. (1992). Longshore variation of grain size distribution along the
coast of the Rhone Delta, Southern France: A test of the “McLaren model”.
Journal of Coastal Research. v. 8(2), p. 286-291.
 Moretz-sohn, Cavalcante & Bittencourt (2010). Glossário de oceanografia
abiótica. Coleção Habitat 4. Universidade federal do ceará – UFC, Instituto de
Ciências do Mar – LABOMAR. Fortaleza – Brasil.

51
 McLaren, P., and Bowles, D. (1985), The Effects of sediment transport on grainsize
distributions, Journal of Sedimentary Petrology. V. 55(4), p. 0457-0470.
 Neto, N, C. (2013). Deriva litorânea e evolução da linha de costa no sul do
Espírito Santo. Pdf. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico. SP –
Brasil.
 Odorico, S. C. (2009). Geológia geral. Disponível em:
https://www.scribd.com/document/319341747/Manual-de-Geologia-Geral.
 Oliveira & Lima (2011). Declividade De Terrenos.Disponivel em:
http://www.dcs.ufla.br/site/. Pdf.
 Okamoto, N. (2009). Transporte de sedimentos e estado morfodinâmico da praia
da curva de jurema, vitória – es. Pdf. Universidade Federal do Espírito Santo,
Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento de Oceanografia e
Ecologia. Vitória – Brasil.
 Ord & Uppsala, (1997). Integrated coastal zone management in Mozambique.
Ministry for Coordination of Environmental Affairs – MICOA.
 Rios, F. et al, (2002); Seasonal sediment transport pathways in Lirquen Harbor,
Chile, as inferred from grain-size trends. Invest. Mar. v. 30(1), p. 3-23.
 Rossetti, D. F. (2008). Em Polizel, S. P. (2014). Caracterização morfológica do
delta do rio doce (ES) com base em sensoriamento remoto. Dissertação de
Mestrado. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE.
 Wentworth, C.K. (1922), A scale of grade and class terms for clastic sediments.
Journal of Geology, 30, 377-392.
 USACE – US Army Corps of Engineers (1984). Shore Protection Manual, Coastal
Engineering Research Center. Vol. 1. Washington, DC – US.
 Veiga, e tal. (2005). Padrões de transporte de sedimentos baseado em três
programas geradores de vectores de tendências de transporte a partir de
parâmetros granulométricos. Boletim Paranaense de Geociências, n. 57, p. 75-87,
2005. Editora UFPR. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/305322612

52
ANEXOS

Anexo Ι

Tabelas de amplitudes de marés no porto de Pemba, em que as alturas são referidas ao nível do
zero hidrográfico que situa-se a 2,25 m abaixo do nível médio do Mar.

i
Anexo ΙΙ

De acordo com esses dados, os ventos de Pemba são predominantemente moderados que vão de
5,5 a 7,9 m/s têm o potencial de formar ondas mais largas que podem alcançar os 1,5 m de altura
e também podem levantar poeira.

ii
APÊNDICES

Apêndice Ι

Identificação dos pares de amostras que apontam a mesma tendência (mesmo Caso e mesma
direcção preferencial), na direcção P1 para P20, usadas para o cálculo do Z-teste, neste caso os
pares P8-P9, P8-P13 e P18-P20 não satisfazem a condição da assimetria ( > ) em termos
da comparação dos seus valores, mas foram consideradas por serem do mesmo caso e mesma
classificação assimétrica.

iii
Apêndice ΙΙ

Dados do ensaio granulométrico, das massas retidas em cada peneiro de cada ponto de colecta de
amostras ao longo da praia, a partir dos quais efectuou-se o cálculo do parâmetros de
granulometria, a saber a Média, o desvio padrão e assimetria.

P1 P2 P3 P4

Abertura Massa Abertura Massa Abertura Massa Abertura Massa


em retida em retida em retida (g) em retida
(mm) (g) (mm) (g) (mm) (mm) (g)
4,750 0,000 4,750 2,500 4,750 0,000 4,750 0,000
2,360 0,000 2,360 1,000 2,360 0,000 2,360 0,000
1,180 1,000 1,180 7,500 1,180 1,000 1,180 0,500
0,600 26,000 0,600 88,000 0,600 30,500 0,600 26,500
0,425 203,500 0,425 287,500 0,425 258,000 0,425 332,000
0,300 306,500 0,300 247,000 0,300 268,500 0,300 254,500
0,150 357,500 0,150 239,500 0,150 261,000 0,150 221,000
0,075 13,500 0,075 11,000 0,075 11,000 0,075 7,000
P5 P6 P7 P8

Abertura Massa Abertura Massa


em retida em retida Abertura Massa Abertura Massa
(mm) (g) em retida em retida
(mm) (g)
4,750 0,000 (mm) (g) (mm) (g)
4,750 0,000
2,360 0,000 4,750 0,000 4,750 0,000
2,360 0,000
1,180 1,000 2,360 0,000 2,360 0,500
1,180 1,500
0,600 54,000 1,180 0,500 1,180 1,500
0,600 68,500
0,600 45,000 0,600 72,000
0,425 314,500 0,425 361,500
0,425 329,500 0,425 416,000
0,300 242,500 0,300 257,500
0,300 257,000 0,300 163,500
0,150 240,000 0,150 249,000
0,150 267,000 0,150 246,500
0,075 9,000 0,075 6,000 0,075 8,500
0,075 10,000

P9 P10 P11 P12

Abertura Massa Abertura Massa Abertura Massa Abertura Massa


em retida em retida em retida em retida
(mm) (g) (mm) (g) (mm) (g) (mm) (g)
4,750 0,000 4,750 0,000 4,750 0,000 4,750 0,000
2,360 0,000 2,360 0,000 2,360 0,000 2,360 0,000
1,180 2,500 1,180 2,500 1,180 2,000 1,180 1,000
0,600 98,500 0,600 100,000 0,600 133,000 0,600 88,000
0,425 421,000 0,425 347,500 0,425 318,500 0,425 262,000
0,300 179,500 0,300 155,500 0,300 152,500 0,300 169,000
0,150 201,000 0,150 283,000 0,150 319,500 0,150 387,500
0,075 5,500 0,075 7,500 0,075 11,500 0,075 18,000

iv
P13 P14 P15 P16

Abertura Massa Abertura Massa Abertura Massa


Abertura Massa
em retida em retida em retida
em retida
(mm) (g) (mm) (g) (mm) (g) (mm) (g)
4,750 0,000 4,750 1,000 4,750 0,000 4,750 6,500
2,360 0,000 2,360 2,500 2,360 0,000 2,360 30,500
1,180 1,500 1,180 11,000 1,180 1,500 1,180 135,500
0,600 116,500 0,600 161,000 0,600 67,500 0,600 522,000
0,425 355,000 0,425 275,000 0,425 303,500 0,425 203,500
0,300 202,000 0,300 45,500
0,300 165,500 0,300 148,500
0,150 399,000 0,150 61,500
0,150 249,000 0,150 308,500
0,075 14,000
0,075 13,000 0,075 13,000 0,075 10,000

P17 P18 P19 P20

Abertura Massa
Abertura Massa em retida Abertura Massa Abertura Massa
em retida em retida em retida
(mm) (g)
(mm) (g) (mm) (g) (mm) (g)
4,750 0,500
4,750 32,000 4,750 5,000 4,750 2,500
2,360 2,500
2,360 32,000 2,360 2,500 2,360 4,000
1,180 22,000
1,180 112,500 1,180 39,500 1,180 17,000
0,600 297,500
0,600 495,500 0,600 339,500 0,600 292,000
0,425 222,500 0,425 171,000
0,425 156,000 0,425 225,000
0,300 75,500 0,300 55,000 0,300 76,000
0,300 33,500 0,150 216,500 0,150 230,500 0,150 233,500
0,150 116,500 0,075 26,000 0,075 27,000 0,075 31,000
0,075 21,000

Você também pode gostar