Binze - MONOGRAFIA - McLaren (Retificado para Oponente)
Binze - MONOGRAFIA - McLaren (Retificado para Oponente)
Binze - MONOGRAFIA - McLaren (Retificado para Oponente)
Monografia do Curso
Título:
Autor:
Binze Gonçalo Posse
FACULDADE DE ENGENHARIA
Título:
Autor:
Binze Gonçalo Posse
Supervisor: Co-Supervisor:
__________________________ ____________________________
(Delfim Augusto, Lic.) (Claudino Raul Chaquisse, Lic.)
Faça o bem, o mundo te fará de brinquedo, faça o mal, o mundo te usara como arma.
Melhor é ter um brinquedo do que usar uma arma!
i
PÁGINA DE ACEITAÇÃO
Presidente do Júri
Secretário
Vogal
ii
DECLARAÇÃO DE HONRA
Declaro que sou autor desta Monografia e que autorizo a Universidade Lúrio, a fazer uso
da mesma, com a finalidade que julgue conveniente.
Assinatura: _____________________________
Data: _________________________________
iii
AGRADECIMENTO
Com este trabalho, quero me juntar a toda criação de Deus, a natureza que de uma forma
incansável louva ao Criador pelos benefícios e favores que nos é dado incondicionalmente
e dizer como o salmista disse "Bendiz, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de
nenhum de seus benefícios." (Salmos 103: 2). Pois, este trabalho é mais uma obra do
Senhor em minha vida.
Ao meu pai, como sendo a pessoa que mais se dedicou para que um dia pudesse ver a se
tornar realidade o sonho que desde que nasci esteve em seu coração, o qual prestes esta
para se concretizar, e juntamente com a minha família os quais deram-me muito apoio,
ensino, cuidado e amor acima de tudo. Aos meus preciosos irmãos Manuel José, Chungano
Posse, Maria Posse, Sande Posse, e as minhas duas preciosas mães as quais sempre não me
deixavam regressar aos estudos após as férias sem providenciar-me quando podiam o
mantimento para a minha viagem.
v
DEDICATÓRIA
Este é o troféu que dedico aos que me trouxeram ao mundo, meu pai
Gonçalo Francisco Posse e minha mãe Elisabete Chungano.
vi
LISTA DE FIGURAS
vii
Figura 21- Variação longitudinal dos parâmetros granulométricos ao longo da face da praia
do Wimbe. ............................................................................................................................ 42
Figura 22- O padrão de transporte na área de estudo segundo o modelo de McLaren. ....... 44
Figura 23- Comparação da linha de costa da praia em períodos de tempos diferentes. ...... 45
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01- Dados médios mensais da direcção e intensidade dos ventos referentes ao
município de Pemba………………………………………………………………………...7
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
MP - Mineral Pesado
ix
RESUMO
x
ABSTRACT
Analyze the transport of sediments on Wimbe beach, based on the model of Mclaren is the
aim of this work, and based on the results; examine the possibility of occurrence of coastal
erosion in the study site and in its vicinity. The methodology of this study, this based on
four main components, to make the use of the model of Mclaren, first: a bibliographic
review, where they were obtained information about the current situation of the theme or
problem researched, Second: the collection of samples in the field, where they were
collected a total of 20 samples in the longitudinal direction from west to east, thirdly:
treatment of data, step that held the granulometric analysis and the calculation of the
average granulométricos parameters, the degree of selection and asymmetry, Fourth:
interpretation of the results, which consisted in the classification of granulométricos
parameters, which allowed the construction of tables and charts and finally made the
calculation of the Z-test to accept or not the hypothesis that there may be a tendency in the
transport of sediments on Wimbe beach. We analyzed the net transport of sediments
influenced by some factors, such as the sea currents, the direction and intensity of the
winds and the waves, which indicated the movement of sediments to the easterly direction.
The results in the laboratory have indicated an increase in the size of the sediments,
improving the degree of selection and asymmetry being positive in all points except at the
point P17 that was negative and applying the calculation of the Z-test result of 2.03 for the
case C, allows us to accept the hypothesis H1 who claims to be a certain preferential
direction in the process of longitudinal transport of sediments on Wimbe beach, The
process of transport occurs under conditions of high energy, in which coarse particles are
transported from P1 with more energy carrier agent until they are deposited in P2 with
lower power level. In this way, it is observed that the West region of the beach suffers
erosion, that is, a reduction of its coastal strip, while the region this suffers the sedimentary
increase by observing the relative enlargement of the coast line of this band, which
somehow matches the pattern of transport found by application of the model of McLaren.
xi
ÍNDICE
PENSAMENTO...................................................................................................................... i
DECLARAÇÃO DE HONRA..............................................................................................iii
AGRADECIMENTO............................................................................................................ iv
DEDICATÓRIA ................................................................................................................... vi
RESUMO ............................................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
1.2.1. Geral....................................................................................................... 3
xii
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 15
4. METODOLOGIA ............................................................................................................ 32
xiii
5.3. DISCUSSÃO .......................................................................................... 46
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 48
7. RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................... 49
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 50
ANEXOS ................................................................................................................................ i
APÊNDICES ........................................................................................................................iii
xiv
1. INTRODUÇÃO
Uma vez que, as praias geralmente são constituídas de sedimentos que consistem de
partículas de dimensões de areia, que são facilmente removidos até por correntes do mar e
pelas projecções de ondas moderadas; há que se considerar então, que estes sedimentos são
transportados de um ponto de maior energia para um de menor energia ao longo da linha
da costa, causando assim o processo de erosão – deposição.
1
porque contribui na determinação de alguma tendência de migração da linha de costa em
curtos e longos períodos de tempo.
A praia do Wimbe situada na zona costeira da cidade de Pemba é o local de estudo neste
trabalho; a mesma é espelho do turismo na Província, sendo a principal praia urbana de
Cabo Delgado, por constituir uma das principais praias que fazem parte da terceira maior
Baia do mundo.
A Praia segundo DNGA & DPCA-CD (2011, p.38) é uma “formação geológica constituída
de partículas soltas de rochas tais como areia e cascalhos, ao longo da margem de um
corpo de água”. Isto é, sempre que se estiver diante de um corpo de água com margens
constituídas de partículas terrosos ou rochosos que ficam sujeitos a acção da dinâmica das
águas, a esta margem chama-se de Praia. As praias podem ser de três tipos nomeadamente:
praias arenosas, lodosas e rochosas.
Para uma melhor gestão costeira e cuidados a serem tomados nas actividades antrópicas na
praia do Wimbe, sendo esta uma praia arenosa, é no entanto, imprescindível fazer-se o
estudo da tendência no processo de transporte longitudinal dos sedimentos ao longo da
linha da costa, uma vez que existindo uma direcção preferencial dos sedimentos, estes por
sua vez deparando com um impedimento no seu percurso, haverá acumulação de um lado e
erosão do lado adjacente.
Para a realização do trabalho, será utilizado o modelo de Mclaren que segundo o mesmo,
se baseia em três parâmetros estatísticos granulométricos: a média, o desvio padrão e a
assimetria, usando amostras de sedimento colectadas em linha de amostragem para deduzir
o transporte líquido de sedimento em regiões de erosão, crescimento e equilíbrio dinâmico.
1.1. PROBLEMATIZAÇÃO
De acordo com Rossetti (2008), mais do que qualquer outro sistema físico, o ambiente
costeiro caracteriza-se pelas mudanças temporal e espaciais que resultam numa variedade
de feições geomorfológicas. Esse grande dinamismo costeiro é resultante da complexa
interacção de processos deposicionais e erosivos o que consiste no transporte dos
sedimentos resultante da variação energética das ondas, marés e correntes litorâneas, além
de influências antrópicas.
2
Portanto, havendo falta de análise no transporte dos sedimentos em uma praia de intenso
uso, haverá consequentemente também deficiência no processo de gerenciamento costeiro,
podendo causar erosão e ate a destruição da praia.
Segundo Odorico (2009, p.134), “Há contudo que ter imenso cuidado na planificação das
construções, pois elas podem ter efeitos colaterais muito diferentes do que se espera. Estas
construções podem, por um lado, proteger uma parte da praia, e, por outro, destruir outra
parte”.
Tratando-se de praias arenosas e urbanas como a do Wimbe, onde há predominância de
actividades antrópicas, há que se considerar aqui os possíveis impactos que as obras já
existentes e as que são projectadas para o futuro que podem de impedir o movimento dos
sedimentos, podem influenciar no aspecto da praia e nas áreas costeiras adjacentes, uma
vez que não é conhecido ainda a tendência dos sedimentos no seu processo de transporte
ao longo da linha costeira.
1.1.1. Problema
1.2. OBJECTIVOS:
1.2.1. Geral
1.2.2. Específicos
3
2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
4
2.1.1. Características Geomorfológicas
Na zona da Planície costeira, isto é, no lado Este e Norte da cidade onde se localiza a praia
do Wimbe, apresenta terrenos com características mais suaves em termos da sua
morfologia, apresentando elevações na linha de costa abaixo dos 5 metros do nível do mar.
Deste modo, a morfologia da praia do Wimbe que é representado pelo traçado de um perfil
longitudinal (Figura 02) com aproximadamente 1 km (963 m) de comprimento, é quase
que plana, tendo variações de altitudes entre 1 a 6 metros em relação ao nível do mar, tem-
se um declive médio de 1,6% á 2% e o declive máximo de 7.5 % o que classifica o terreno
como plana ao suave ondulado de acordo com Oliveira & Lima (2011).
Figura 02- Traçado de um perfil longitudinal de elevações na praia do Wimbe. Fonte: Google earth
De acordo com o Perfil Ambiental do Município de Pemba, produzido pela DNGA et al,
(2011) a cidade não apresenta cursos de águas que merecem alguma referência, contudo,
destacam-se, o curso de água que tem a sua nascente na zona da cerâmica e desagua no
5
Oceano junto do Complexo Turístico Náutilos na praia do Wimbe e um curso de água que
nasce no bairro de Cariacó e que desagua na marina de Pemba Beach Hotel e denomina-se
rio N’poroma. Embora não em grande escala, esses cursos de água constituem aportes
fluviais que transportam material detrítico de várias regiões por onde passam, depositando-
o no mar, para manutenção das praias.
2.2.1. Climas
Quanto à precipitação, há duas estações bem definidas, ao longo do ano: a estação seca e a
estação húmida. A estação húmida dura de Dezembro a Abril, e traz altos índices
pluviométricos, com o mês mais húmido o Março, com 202,2 mm de média mensal. Por
outro lado, a estação seca alonga-se de Maio a Novembro, e traz, secundariamente,
temperaturas mais frescas, com céu ensolarado e baixa precipitação. O mês mais seco do
ano é, tipicamente, Setembro, com 2,2 mm de precipitação. A humidade é muito alta
durante a estação húmida, com média de 80-90%, sendo muito mais baixa durante a
estação seca. O mês mais quente é Janeiro ou Fevereiro, e o mais frio é Julho, de acordo
com Instituto Nacional de Meteorologia - INAM (2009).
6
incluindo eólica, causada pelos ventos, assim como pelas ondas das águas marinhas,
DNGA et al, (2011).
Deste modo, a intensidade e a direcção dos ventos, associados ou não com outros factores
contribuem significativamente no processo de transporte dos sedimentos principalmente
em zonas costeiras, mas, dentre as várias formas energéticas características do ambiente
litoral, as ondas são as que mais interferem no transporte dos sedimentos costeiros a curto
prazo.
Como mostra o Gráfico 01, as intensidades e direcções do vento em Pemba durante o ano
de 2011 o qual registou maiores intensidades deste o ano 2007 (vede o Anexo ΙΙ),
verificando-se geralmente que os meses de Outubro a Janeiro são predominantemente de
Nordeste (NE), enquanto, durante os meses de Março a Setembro, predominam os ventos
de Sudeste (SE), os ventos com maior intensidade registadas foram das direcções Sudeste
com velocidade média de ate 6,2 m/s, INAM (2011).
Gráfico 01- Dados médios mensais da direcção e intensidade dos ventos referentes ao município de Pemba.
5 Março
Velocidade em (m/s)
Abril
4 Maio
Junho
3
Julho
2 Agosto
Setembro
1
Outubro
0 Novembro
N NE E SE S SW W NW
(Adaptado de INAM, 2011).
Com base nisto, pode-se observar que o predomínio dos ventos nas direcções colaterais NE
e SE na cidade de Pemba durante o ano favorecem a direcção das projecções das ondas do
7
mar, para a direcção resultante Este (E), facto que vai influenciar a tendência do transporte
de sedimentos e consequentemente no progresso da linha da costa a esta direcção.
8
Gráfico 02- Representação do predomínio dos ventos no município de Pemba em forma de diagrama de rosa-
dos-ventos.
É importante observar também, que as direcções dos ventos que têm o potencial para
criação de dunas costeiras são as que se opõem contra a península, isto é, contra a porção
da terra em sua trajectória do oceano ao continente, sendo estas as direcções de
Sul/Sudeste, predominantes nos meses de Março a Setembro.
2.2.3. Ondas
Em relação aos dados de clima de ondas referentes a zona costeira de Pemba são escassos e
limitados, pois, na medida de ir em busca destes dados no Instituto Nacional de
Hidrografia e Navegação (INAHINA), teve-se a informação com o director desta
instituição de que os estudos referente as alturas e intensidade das ondas, ainda não foram
levados a cabo, uma vez que precisa-se de especialistas da área e os equipamentos de
medição não são de fácil acesso.
9
2.2.4. Maré e correntes
As variações relativo a maré ao longo da costa Moçambicana são mostradas na Figura 03.
Uma das amplitudes mais altas ao longo da costa africana inteira é achado na Beira (com
6.3 m) e é causado por uma extensa plataforma continental rasa, com 140 km de
comprimento, (Ord & Uppsala, 1997).
Como pode-se observar, a área costeira de Pemba está sujeita a uma variação de amplitude
de maré com cerca de 4 m para marés vivas e cerca de 2,8 m no período de baixa maré,
mas estas amplitudes podem variar chegando nos valores abaixo de 1 m como pode-se
observar nas tabelas em anexos Ι.
Figura 03- Variações relativo a maré ao longo da costa Moçambicana, (adaptado de Ord & Uppsala, 1996).
10
As costas cuja amplitude de maré estão entre dois e quatro (2 e 4) metros são chamadas de
mesomaré e nelas as ilhas de barreira tendem a ser mais curtas, aumentando,
consequentemente, o número de canais ou bocas entre elas. Esta amplitude de marés
quando combinadas com uma topografia ligeiramente inclinada levam à ocorrência de
extensas zonas entremarés, como pode-se ver na Figura 04.
Figura 04- Extensas zonas entremarés devido as variações das amplitudes na praia do Hinos, Pemba.
Ι- Lamelas de areia com cascalhos locais (Qss): As areias tendem a ser castanho-
amareladas, cor-de-rosa ou laranja, com horizontes de seixos redondos espalhados ou
lentes de cascalho (Figura 06- a). A areia é rica em quartzo e os grãos variam de bem
arredondados a subangulares e de muito finos a grossos em tamanho.
12
litorânea”. Quando está localizada na zona de pós-praia indica um recuo da linha de costa.
Os cimentos mais comuns são o carbonato de cálcio, sílica e óxido de ferro.
a) b)
c) d)
Figura 06- Formações do período quaternário: a)- Lamelas de areia com cascalhos
locais (Qss); b)- Dunas interiores (Qdi); c)- Corais e sedimentos bioclásticos (Qmr);
d)- Lama aluvial de origem fluvio-marinha (Qst)
As litologias descritas acima são referentes apenas ao ambiente litoral, as quais compõe as
formações geológicas do quaternário (Qmr, Qst, Qdi e Qss), sendo estas, as mais novas
dentre as várias outras formações que pertencem a geologia de Pemba (figura 07).
13
Figura 07- Enquadramento Geológico da Cidade de Pemba, Adaptado de Bingen, B., et al. (2007). Qdi-
Duna interior, areia eólica vermelha; Qmr- Recife marinha, coral e sedimentos bioclásticos; Tek- Areia
inconsolidada, arenito e conglomerado; Qst- Lama aluvial de origem marinho-fluvial; Qss- Lamelas de
areias com cascalhos locais; TeAj- Calcário por vezes recife de coral, marga ou arenito; TeQs- Calcário
fossilífero ou recife de coral, com arenito basal; CrMf- Marga com siltito Calcário ou com gesso.
14
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Elorza (2008), os processos que incidem sobre a costa são, o vento, as ondas,
marés e correntes marítimas, todos eles se interferem e é conveniente estuda-los
separadamente. Mas a principal fonte de energia para este efeito costeiro procede das
Ondas.
Figura 08- Formas de transporte dos sedimentos por um curso de água. (Fonte:
https://www.geocaching.com).
Arche (2010, p.444) afirma que, o processo fundamental que actua nas praias são as
ondas, ou seja, o conjunto de ondas que colidem contra a praia e dissipam sua energia
cinética esfregando-se contra o fundo.
15
Além dos processos que incidem sobre a costa mencionados acima, existem vários factores
que a eles se associam (Figura 09), os quais afectam a dinâmica litoral, condicionando
desta maneira o transporte dos sedimentos e alterando deste modo, a curto ou a longo prazo
a morfologia do litoral.
Segundo Arche (2010), dois dos mais importantes factores a curto prazo são as ondas e as
marés, cuja acção é condicionada, em grande medida, por outros factores, como a
orientação das condições costeiras e oceanográficas, especialmente a largura e a inclinação
da Plataforma localizada na costa (Figura 09). Esses factores são responsáveis pelo tipo de
sequência sedimentar. O terceiro factor é a disponibilidade de sedimentos, ou seja, a
contribuição, suas flutuações e vicissitudes que levam ao acúmulo ou eliminação (erosão)
do sedimento em determinadas áreas. Isso acontece, normalmente, em alta velocidade, de
modo que a modelagem dinâmica e costeira e também os riscos geológicos associados
dependem em grande medida da contribuição. Este factor Influencia também a sequência
sedimentar, especialmente na forma de tendências regressivas ou transgressivas e em
superfícies erosivas. O tamanho dos grãos influencia a inclinação da praia, os grãos mais
grossos geralmente são mais inclinados que os grãos finos, e com isso, as praias de grãos
mais grossos tendem a ser mais inclinadas do que as de grãos mais finos.
Finalmente, a acção antrópica, que nos últimos milénios tem sido um agente
desestabilizador de primeira ordem. A intervenção humana geralmente acelera os
processos e, em geral, afecta negativamente o sistema natural porque modifica o
suprimento e o transporte de sedimentos.
16
Figura 09- Factores que influenciam a morfologia do litoral, adaptado de Arche (2010).
17
3.2. EFEITO DAS ONDAS E MARÉ
3.2.1. Ondas
O processo fundamental que actua nas praias são as ondas, ou seja, o conjunto de ondas
que se chocam contra a praia e dissipam sua energia cinética por fricção com o fundo. Uma
onda é um movimento circular de partículas de água que, pelo menos teoricamente, não
envolve um deslocamento horizontal (lateral) do corpo de água. As ondas são geradas em
alto mar pela fricção do vento na superfície da água. A produção de ondas é
particularmente intensa durante tempestades ou em áreas onde os ventos sopram
desimpedidos sobre grandes extensões do mar, Arche (2010).
Neste sentido, Elorza (2008) define as ondas como, as projecções sobre a superfície da
água produzidas pelo vento. Como pode-se observar na Figura 10, as ondas caracterizam-
se por movimentos orbitais da água que diminuem rapidamente até ao fundo, onde o
movimento diminui progressivamente para baixo até ser anulado a uma certa profundidade
que é a metade do comprimento de onda (λ/2).
O efeito de fundo produzido pela intensidade das ondas é mais notório na costa, isto é, nas
águas com menor profundidade, sucedendo na interface entre a onda e os sedimentos uma
transferência de energia existente no movimento das águas para mover os sedimentos que
antes estavam estacionados.
18
Figura 10- Movimentos das ondas e o efeito sobre o fundo ao diminuir a profundidade, adaptado de Harvey,
(1976 citado em Arche 2010).
As maiorias das ondas oceânicas são formadas pela acção do vento, que ao soprar sobre a
superfície da água, forma pequenas ondas capilares. Mantendo-se a acção do vento, estas
pequenas rugosidades da superfície da água se somam para produzirem em ondas maiores.
Uma vez geradas, as ondas mantêm sua trajectória mesmo depois de cessada a influência
do vento.
3.2.2. Maré
19
As marés, sendo uma reacção directa da interacção existente entre a terra e os
corpos celestes que lhe estão próximos, em particular o Sol e a Lua, representam
uma outra fonte de energia fornecida às águas do mar causando-lhes uma variação
de suas amplitudes. No seu constante ritmado movimento ascendente e
descendente, avançando e recuando face ao litoral, num vaivém interminável,
tornam-se deste modo, geradoras de correntes susceptíveis de exercer erosão,
transporte e redeposição de sedimentos, quer junto ao litoral, onde são mais
visíveis e conhecidas por correntes de maré, quer na plataforma continental, na
transição com a vertente continental.
Do ponto de vista sedimentológico, existe uma estreita relação entre a morfologia costeira
e a amplitude das marés (Figura 11). De acordo com Arche (2010), Costas em que a
amplitude da maré não excede dois (2) metros são chamadas de micro maré. Nestas, as
ilhas de barreira são formadas, elas são longas, com poucas interrupções ou etapas entre
elas. As costas cuja amplitude de maré estão entre dois e quatro (2 e 4) metros são
chamadas de meso maré e nelas as ilhas de barreira tendem a ser mais curtas, aumentando,
consequentemente, o número de canais ou bocas entre elas. As costas nas quais a
amplitude das marés excede os quatro (4) metros são chamadas de macro maré e são
geralmente lugares onde as planícies de maré e os estuários são assentados, nos quais
corpos ou barras de areia tendem a ser dispostos perpendicularmente à direcção geral da
costa.
Cristas de areia
Ilhas barreira
Deltas das marés
Entradas de maré
Planícies de maré
Pântanos salgados
Estuários
Figura 11- Relação entre a amplitude das marés e a morfologia costeira. Adaptado de, Arche 2010.
20
3.3. TRANSPORTE DE SEDIMENTOS NA ANTE PRAIA
3.3.1. Espraiamento
Várias nomenclaturas podem ser utilizadas para determinar as diversas regiões que
compõem uma praia, este estudo adoptou a subdivisão proposta por Hoefel (1998, citado
por Okamoto 2009), que considera que um ambiente de praia oceânico típico pode ser
dividido nos seguintes ambientes: Pós-praia (backshore), antepraia superior (foreshore),
antepraia intermediária (nearshore) e antepraia inferior (shoreface) ilustrados na Figura 12.
Figura 12- Sub-ambientes de uma Praia e suas delimitações. Fonte: modificado de Albino (1999, citado em
Okamoto, 2009).
Segundo as considerações feitas por Larson et al, (2004 citado em Okamoto 2009),
denomina-se zona de espraiamento a região da praia onde as ondas sobem e descem na
face da praia, dissipando ou reflectindo a energia que ainda lhe resta depois de viajar em
direcção à costa. Ciclo de espraiamento, por sua vez, é o conjunto de dois processos
conhecidos como uprushe e backwash. A propagação da onda para cima na praia é
tipicamente referida como uprush, enquanto o retorno da água é denominado backwash.
21
3.3.2. Transporte de sedimentos na zona de espraiamento
Figura 13- Principais processos devido a acção das ondas na região costeira. Fonte: (Okamoto, 2009, p. 25).
Quando a onda incide obliquamente ao litoral, a areia é retirada e reposta pelo vaivém das
ondas, migrando deste modo, em ziguezague, numa trajectória serreada, com uma
resultante paralela a linha de costa, para o sentido que as condições locais ditarem,
processo este referido entre os oceanógrafos por deriva litoral.
22
O fluxo de sedimentos nesta zona comporta-se quase que como um “rio de sedimentos”,
que corre ao longo da linha de costa, facto que, merece muita atenção quando se projecta
construções de infra-estruturas nestas zonas, que podem interferir no fluxo destes
sedimentos.
O transporte longitudinal ocorre ao longo da costa, através de correntes que são formadas
com o efeito de refracção das ondas em função da batimetria do fundo tendendo a tornar a
direcção das cristas das ondas paralelas à linha de costa, atingindo a praia com um certo
ângulo, gerando um fluxo longitudinal. Essas correntes transportam sedimentos colocados
em suspensão pelas ondas incidentes, podendo movê-los ao longo de vários quilómetros
tanto na zona de surfe como na face da praia, Carter, et al, (2002 citado em Okamoto
2009).
Neste sentido, o transporte longitudinal resulta de dois processos: o primeiro é a suspensão
dos sedimentos, que é causada pelo forte impacto das ondas, transmitindo uma grande
quantidade de energia para move-los, o segundo é o ângulo de incidência que as ondas
tomam, influenciados pelos ventos ou pela corrente marítima, que vão transportar
obliquamente os sedimentos gerando vectores bidimensionais, diferentemente do ambiente
fluvial onde o fluxo das águas é unidimensional.
23
3.5.1. Modelo de McLaren
O modelo de McLaren conhecido como sediment trend analysis (STA), isto é, método da
análise da tendência do sedimento Segundo (McLaren; Bowles, 1985) usa a diferença na
distribuição do tamanho do grão das amostras de sedimento colectadas em linhas de
amostragem para deduzir o transporte líquido de sedimento em regiões de erosão,
crescimento e equilíbrio dinâmico. Para a análise, o modelo de McLaren usa três
parâmetros estatísticos granulométricos: a média, o desvio padrão e a assimetria. Outras
propriedades do sedimento como a mineralogia, a textura e a forma não são consideradas
nessa análise.
2) Podem também tornar-se mais grossos, melhor seleccionados e com assimetria mais
positiva;
3) Em depósitos sucessivos os sedimentos tendem a ficar mais finos ou mais grossos mas a
selecção tende a melhorar e a assimetria a ficar mais positiva.
Portanto, mais tarde McLaren (1981) e McLaren e Bowles (1985) identificaram três
probabilidades que podem ser caracterizadas pela relativa diferença nos parâmetros de
distribuição do tamanho do grão entre duas localizações, considerando os pontos d1e d2,
como ve-se na figura 14. Tem-se:
24
Figura 14- variação de parâmetros granulométricos entre a fonte, zona de transporte e deposição Gao &
Collins, (1991) citado por Neto (2013).
Caso A: último depósito. Se o ponto d2 tem média mais grossa, é mais bem seleccionada e
é mais positivamente assimétrica que o ponto d1, então a amostra d2 é o último depósito da
amostra d1, e ambas as distribuições foram originalmente a mesma. Neste caso nenhuma
direcção de transporte pode ser determinada.
Caso B: sedimentos afinando. Se o ponto d2 tem média mais fina, é mais bem
seleccionada e é mais negativamente assimétrica que o ponto d1, então a direcção do
transporte é da amostra d1 para a amostra d2. Neste caso o regime de energia transportando
o sedimento é decrescente de d1 para d2, e os grãos mais grossos não são transportados até
onde os grãos mais finos são depositados.
Caso C: sedimento engrossando. Se o ponto d2 tem média mais grossa, é mais bem
seleccionada e é mais positivamente assimétrica que o ponto d1, então a direcção do
transporte é da amostra d1 para a amostra d2. O nível da energia é tal que partículas
grossas possam ser transportadas até serem depositadas em d2 com nível de energia menor.
Se a média, o desvio padrão e a assimetria de uma amostra d1 são comparados com uma
segunda amostra d2, existem oito possíveis tendências e duas destas seriam tendências
indicativas de transporte, a partir da aplicação de um Z- teste; sendo elas:
25
3. Mais fina, bem selecionada e mais positivamente assimétrica (F, B, +);
Assim, um Z-teste pode ser usado para determinar se o número de pares de amostras
indicando transporte de sedimento, excede a probabilidade aleatória de 0,125 (p = ),
que é a probabilidade de uma das 8 tendências ocorrer.
é aceitável se:
Sendo, x o número de pares de amostras que apontam a mesma tendência (mesmo Caso e
mesma direcção preferencial); p a probabilidade aleatória de ocorrência de uma tendência
granulométrica (0,125); q= 1 – p (0,875); e N é o número total de possíveis pares de
amostras (combinações), sendo dado por:
N = (n2 - n) / 2, devendo ser N> 30, sendo n o número de amostras (n≥ 9).
26
O Z-teste é considerado válido para N Então para a sua aplicação, 9 amostras é o
mínimo requerido para avaliar adequadamente uma direcção de transporte.
Os números de pares de amostras que apontam a mesma tendência (x) obtêm-se mediante
uma dedução através da comparação de valores dos parâmetros granulométricos tendo em
conta cada um dos casos separadamente como se mostra na tabela 01, e a direcção para a
qual se faz a análise.
Tabela 01- Os dois casos possíveis de tendência de transporte sedimentar, combinando os parâmetros.
A premissa básica desses modelos é que, sob transporte, os sedimentos sempre formam
depósitos gradativamente melhor seleccionados, podendo ocorrer aumento ou diminuição
do tamanho granulométrico médio e da assimetria dos sedimentos superficiais. A principal
vantagem dessa abordagem, em relação às outras existentes, reside na facilidade de
aquisição de sedimentos superficiais, Guerra et al (2006).
Para a realização deste trabalho, será aplicado o modelo de Mclaren para fazer face aos
objectivos e ao problema, estabelecidos inicialmente, que se resumem na determinação da
tendência dos sedimentos no processo de transporte ao longo da costa na praia do Wimbe,
visto que é um modelo muito apreciado pelos estudiosos e que, tem-se popularizado em
vários estudos e quando bem aplicado fornece resultados que reflectem a realidade, como é
fundamentado logo a seguir.
27
Segundo Okamoto (2009, p.36), o modelo de McLaren tem sido aplicado por diversos
autores como Pavani (2006), Wrigth (2008), Sanchez et al (2009), Masselink (1992),
Hughes (2005), Bittencourt et al. (1992), De Falco et al. (2003), Bear (2009).
Pavani, o aplicou com sucesso no arco da praia entre a Ponta da Fruta e Setiba –
ES, uma vez que seus resultados para a direcção do transporte coincidiram com a
direcção da deriva litorânea local determinada pelas análises dos ângulos de
incidência das ondas e da geomorfologia da costa. E assim, constatou apenas a
tendência de mais grosso, melhor seleccionado e mais positivamente assimétrico
como sendo significante, o que indicou um transporte com altos níveis de energia.
Wrigth, também validou o modelo para sua área de estudo, a linha de costa
adjacente à desembocadura do Rio Doce, Linhares –ES, de forma que estabeleceu o
padrão de transporte no ambiente flúvio-marinho como sendo reflexo de
interacções entre configuração da plataforma continental, carga e descarga do rio e
seu efeito de molhe hidráulico, e inversões de correntes.
De Falco, aplicou o modelo em uma praia na Sardenha, no Mediterrâneo, a fim de
avaliar a tendência do transporte de sedimentos e os processos deposicionais. Os
sedimentos siliciclásticos analisados indicaram um afinamento, melhor selecção e
assimetria negativa, quando comparados as suas fontes. Já para sedimentos
biogénicos, os resultados demonstraram um afinamento, mau selecionamento e
assimetria negativa. Essa tendência não segue o princípio proposto por McLaren,
que prediz que nas áreas deposicionais os grãos são mais bem seleccionados
comparados com a área fonte.
Bear, em seu projecto para avaliar os processos de erosão e sedimentação em uma
praia da Nova Zelândia, aplicou três diferentes modelos para predizer o transporte
de sedimentos Sunamura e Horikawa (1972), McLaren (1981) e “Waihi” proposto
por Phizacklea (1993).
Sanchez, com a finalidade de determinar o transporte residual de sedimentos na
Baía de Todos Santos, Baixa Califórnia, México, aplicou os modelos de Sunamura
& Horikawa (1971, apud Sanchez et al., 2009), McLaren e Bowles (1985), e Gao e
Collins (1994). O primeiro modelo usa a média e o desvio padrão como critérios de
comparação para inferir a direcção de transporte, enquanto os outros dois usam
além desses parâmetros granulométricos estatísticos, a assimetria. Segundo os
autores, os dois primeiros modelos são unidimensionais e o terceiro é
28
bidimensional. O modelo de Gao e Collins (1994) foi considerado como o mais
adequado neste trabalho.
O modelo de McLaren faz o uso de três parâmetros granulométricos para fazer análise do
transporte dos sedimentos, a saber: a Média, o Desvio padrão e a Assimetria.
A média ou diâmetro médio consiste no tamanho médio das partículas. Segundo Martins
(2003 citado em Jesus & Andrade 2013), a granulometria dos sedimentos de praia, em
geral, varia de areia muito fina a média, enquanto que a granulometria dos sedimentos
fluviais varia de areia média a grossa. Porém, quando a oferta de sedimentos é muito
grande, a praia pode ser composta tanto por areia e cascalho (seixo, granulo), como por
silte.
29
Em uma praia, o grau de selecção reflecte as características dos sedimentos que são
transportados para a zona costeira e seu posterior retrabalhamento pela acção de ondas,
marés, e ventos. Segundo Folk (1957), os sedimentos praiais derivados de uma mesma
fonte serão mais bem selecionados do que sedimentos fluviais, devido à actuação dos
agentes costeiros.
Friedman e Martins (citado em Jesus & Andrade, 2013) afirmam que assimetria positiva
ocorre devido à capacidade do agente de transporte de um fluxo unidireccional (ambiente
fluvial e eólico), enquanto a assimetria negativa é causada pela remoção da cauda de grão
fino da distribuição através do joeiramento ou adição de material grosso (ambiente de
praia). Duane (citado em Jesus & Andrade, 2013) afirma que a assimetria negativa em
sedimentos ocorre somente em praias nas quais não existe interferência de outros agentes
30
costeiros, além de ondas e correntes costeiras. Friedman, afirma que quando areias de praia
possuem assimetria positiva podem ser distinguidas das areias de rio pelo seu grau de
selecção, maior que os sedimentos fluviais.
31
4. METODOLOGIA
A metodologia desse trabalho tem como propósito uma pesquisa exploratória, uma vez que
trata-se de um assunto desconhecido e que através de procedimentos de estudo pretende-se
validar ou não as hipóteses de transporte dos sedimentos. Quanto ao tipo de abordagem dos
resultados que serão apresentados é quantitativa, sendo que, o modelo de McLaren usa de
técnicas estatísticas usando tabelas e gráficos e se baseia em números para chegar-se aos
resultados para validar uma hipótese. Para a execução deste trabalho foram seguidos quatro
etapas principais, para chegar-se aos resultados esperados, os quais se resumem em:
1. Revisão bibliográfica
2. Trabalho de campo
4. Interpretação dos
resultados
Classificação dos
Cálculo do Z-teste
parâmetros
granulométricos
32
Na etapa da revisão bibliográfica especificamente na busca da fundamentação teórica para
o uso do modelo de Mclaren, constatou-se que é importante antes de ir ao campo e colher
as amostras, analisar primeiramente a direcção do transporte liquido do sedimento na praia
do Wimbe, caso não, é impossível saber a direcção ao longo da qual pares de amostras têm
que ser examinados, (Lanckneus, etal., 1993).
Foram comparadas duas imagens através do Google earth, uma imagem do ano 2007 e a
outra do actual ano 2018, para se avaliar a ocupação costeira dos sedimentos ao longo da
praia, como ilustra a Figura 18, as imagens foram tomadas na mesma posição e escala
espacial, diferindo apenas na escala temporal.
Direcção de transporte
líquido (SE)
a) a b)
)
Figura 18- Comparação dos sedimentos através de imagens do Google Earth na praia do Wimbe. a)- Imagem
do ano 2007, b)- Imagem do actual ano 2018.
Observando-se com atenção nas duas imagens, pode-se notar que na imagem a) no lado
Este da praia, os sedimentos não preenchem o local onde afloram algumas rochas de praia,
diferentemente da imagem b) onde observa-se o alargamento da linha de costa com
sedimentos cobrindo a porção em que antes não havia sedimentos. Assim, há indicação de
que o transporte líquido dos sedimentos influenciado por alguns factores como a corrente
marítima, a direcção e intensidade dos ventos e a acção das ondas, é para a direcção
33
Sudeste (SE), portanto, é na direcao Oeste-Este que será feita recolha de amostras para a
análise.
4.2. OBTENÇÃO DE DADOS EM CAMPO
Em campo foram obtidas um total de 20 amostras, que foram colectadas no dia 23 de Julho
a partir das 13 horas, período em que a maré alta começava a recuar em direcção a
plataforma continental. A amostragem foi realizada na zona de espraiamento, tendo como
ponto inicial (P1) o lado Oeste da praia (Figura 16), localizado logo após o curso de água
que tem a sua nascente na zona da cerâmica e desagua no mar junto do Complexo Turístico
Náutilos, indo em direcção ao lado Este (P20), tomando as amostras em um perfil
longitudinal, em que os pontos amostrais distavam 60 metros umas das outras.
Figura 19- Localização do perfil de amostragem. Partindo do ponto 1 para o ponto 20.
34
um marcador para registar o código das amostras e um GPS para tomar as respectivas
coordenadas, como mostra a Figura 18. Foram anotados a presença ou não do mineral
pesado em cada ponto, e constatou-se que os pontos P1, P2, P3 e P5, isto é, os mais
próximos do curso de água, apresentam pequena presença do Mineral Pesado (MP) de cor
escura apresentando um brilho metálico, que provavelmente é trazido ao ambiente marinho
pelo referido curso de água.
Figura 20- Amostragem de sedimentos no perfil longitudinal da praia do Wimbe. Fonte: Autor
McLaren também recomenda fazer a colecta no mesmo dia em todos pontos amostrais,
para evitar o erro de analisar o comportamento de sedimentos que possivelmente sofreram
eventos ou processos sedimentológicos distintos. As amostras, posteriormente foram
levadas ao laboratório para o seu devido tratamento e realização do ensaio de
granulometria.
35
classificação, que não apresentam material siltoso, argiloso ou com muita pequena
quantidade de silte não plástico.
4.3.1. Determinação granulométrica
A etapa que seguiu a partir dos dados obtidos em laboratório foi a determinação dos
parâmetros estatísticos de granulometria, que foi realizada utilizando o programa
GRADISTAT versão 8.0 de Blott (2010), na janela do Excel, desta maneira, a média, o
desvio padrão e assimetria, foram calculados na escala métrica em milímetros (mm) para
cada ponto amostral, usando as seguintes fórmulas:
= = =
Onde:
Para classificação dos dados obtidos pelo programa GRADISTAT versão 8.0 foi adotado o
método descrito por Folk & Ward (1957). Neste método, os tamanhos dos grãos são
expressos em Phi (Φ), sendo Phi o logaritmo negativo de base dois do valor em milímetro
(Φ = - log2 mm).
Para classificação das amostras, baseada no tamanho das partículas, expressa pelo valor da
média, foi empregada a classificação proposta por Wentworth (1922), que obedece aos
limites da Tabela 02 abaixo.
36
Tabela 02- Classificação de Wentworth (1922) baseada no valor do tamanho das partículas.
Para a classificação da selecção (desvio padrão) das partículas, foram utilizados os limites
propostos por Folk (1968, citado em Okamoto 2009), que obedece, para os valores em phi
e a sua correspondência em milímetro (mm), aos da Tabela 03 que se segue.
Tabela 03- Classificação para o grau de seleção, adaptado de Folk (1968, citado em Okamoto 2009).
Com relação à assimetria foi considerada a classificação proposta por Blott (2010) no
programa GRADISTAT versão 8.0 na tabela 04, entretanto quando a classificação era
assimétrica, no lugar de dizer se a assimetria é bem ou muito bem distorcida, utilizou-se o
termo positiva (que caracteriza partículas finas) ou negativa (que caracteriza partículas
grossas). Deste modo, a classificação seguiu os limites expostos na tabela abaixo.
37
Tabela 04- Classificação para assimetria, adaptado de Blott (2010).
Para verificar a relação na tendência das variações granulométricas, foram feitos regressões
lineares para os três parâmetros estatísticos mencionados acima e os resultados foram
plotados em gráficos de dispersão em linha, possibilitando avaliar o comportamento
sedimentológico das amostras colectadas ao longo do perfil da praia.
De seguida, os parâmetros estatísticos de cada uma das amostras foram comparados entre
si, de forma a observar casos onde a segunda amostra (P2) comparada seja mais fina (F),
melhor selecionada (B) e com assimetria mais negativa (-) ou mais grossa (G), melhor
selecionada (B) e com assimetria mais positiva (+) que a primeira amostra (P1). Isso
porque esses dois casos, denominados, respectivamente, Caso B e Caso C, representam,
de acordo com o modelo de McLaren (McLaren & Bowles, 1985), as duas possibilidades
indicativas de que há uma direção de transporte sedimentar preferencial.
38
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Deste modo, observou-se que o tamanho dos sedimentos tende a aumentar na direção do
P1 à P20 e verifica-se uma redução da presença do mineral pesado (MP) na mesma
direção, ao longo da praia do Wimbe, facto que favorece a suposição de que o MP achado
ao longo da praia é trazido do continente através do curso de água e posteriormente
depositado no mar.
No que diz respeito ao desvio padrão ou o grau de selecionamento, a areia apresenta uma
grande variedade na sua classificação, variando de muito mal a muito bem selecionados, e
entre estes acham-se pontos com selecionamento mal e moderado, sendo o ponto
classificado como muito mal selecionado ao longo da praia o P4 com 0,104 mm e o ponto
mais bem selecionado o P17 com 0,786 mm de desvio padrão, em outras palavras, os
tamanhos das partículas do ponto P4 possuem uma elevada dispersão em termos de suas
dimensões, enquanto, já no ponto P17 há pequenas variações de tamanho entre os
sedimentos, onde as partículas são sequenciadas em termos da suas dimensões (bem
graduados). Analisando esse padrão pode-se observar uma pequena tendência de
melhoramento da seleção das partículas em direção da porção Este da praia, isto é, do P1 à
P20.
A assimetria dos sedimentos da praia consistiu apenas de duas classificações, sendo elas,
muito positiva e muito negativa. Na verdade, quase que todos pontos apresentaram uma
assimetria muito positiva, ou seja assimetria para o lado dos finos e apenas um ponto P17
que apresentou uma assimetria muito negativa.
Os dados das análises estatísticas (diâmetro médio, grau de seleção ou desvio padrão e
assimetria) e as suas respectivas classificações estão mostrados na Tabela 05.
39
Tabela 05- Parâmetros estatísticos granulométricos e a sua classificação, avaliados nas amostras colectadas
na face da praia do Wimbe.
40
A variação longitudinal dos sedimentos na praia do Wimbe pode ser visualizada na Figura
21 que segue abaixo. Analisando os resultados apresentados pode-se observar que a
regressão linear da variação longitudinal da média, desvio padrão e assimetria dos
sedimentos apresentaram coeficiente de correlação (r) de 0,57; 0,57 e 0,28,
respectivamente. Em outras palavras, a média dos tamanhos tem a mais alta correlação
com a variação espacial longitudinal, indicando uma relação não muito uniforme (linear)
entre essas duas variáveis, isto é, a variação do tamanho dos sedimentos altera na medida
que se passa de um ponto amostral para outro, o mesmo acontece com o desvio padrão nas
amostras tendo estes o mesmo valor da correlação, e a assimetria tem correlação mais
baixa com a tal variação, uma vez que em todos pontos ela é classificada como positiva,
excetuando o ponto P17. Observando as linearidades, denota-se um aumento do tamanho
das partículas, melhoramento do grau seleção e diminuição da assimetria das distribuições
granulométricas analisadas.
Média
0,8
0,7 r = 0,57
Média em mm
0,6
0,5
0,4
0,3 Média mm
0,2 Linear (Média mm)
0,1
0
0 5 10 15 20 25
Pontos amostrais
41
Seleção
0,9
Desvio padrão em mm 0,8
r = 0,57
0,7
0,6
0,5
0,4 Seleção mm
0,3
0,2 Linear (Seleção mm)
0,1
0
0 5 10 15 20 25
Pontos amostrais
Assimetria
1,2
r = 0,28
Assimetria em mm
1
0,8
0,6
Assimetria mm
0,4
0,2 Linear (Assimetria mm)
0
-0,2 0 5 10 15 20 25
Pontos amostrais
Figura 21- Variação longitudinal dos parâmetros granulométricos ao longo da face da praia do Wimbe.
O passo a seguir foi o cálculo do Z-teste previsto no modelo para os pares de amostras
indicando a mesma tendência (vede o apêndice Ι), segundo o qual somente valores maiores
que 2,33 (para 1% de nível de significância) ou maiores que 1,645 (para 5% de nível de
significância) para o Z-teste, admite aceitar a hipótese que sustenta haver uma certa
direção preferencial no processo de transporte longitudinal dos sedimentos na praia de
Wimbe. Como pode-se ver na Tabela 06 os resultados da análise da tendência de
42
sedimentos, somente o valor de 2,03 a vermelho na tabela para o Caso C na direção de P1
para P20 é o único que satisfaz o teste estatístico validando a hipótese da existência de uma
preferência no transporte dos sedimentos e sendo deste modo essa a direção de transporte
longitudinal definida pelo modelo de McLaren.
De acordo com o nível de significância de 5% que aceita o caso do transporte, este valor
denuncia com ate um nível de confiança de 95% a aceitação de que os sedimentos nesta
direção se tornam mais grossos, com melhoramentos do grau de seleção e com assimetria
mais positiva, apesar de a regressão linear da variação longitudinal (Figura 21) aparente
que a assimetria tende a se tornar mais negativa, uma vez que em todos pontos ela é
classificada como positiva, excetuando apenas o ponto P17 com assimetria muito negativa
devido ao excesso de partículas grossas que supostamente deve ser causada pela remoção
43
da cauda de grão fino da distribuição através do joeiramento (seleção criteriosa) ou adição
de material grosso. E essas características que apresentam o caso C declaram, que o
processo de transporte se dá sob condições de alta energia, em que partículas grossas são
transportadas de P1 com maior energia do agente transportador até serem depositadas em
P2 com nível de energia menor.
Fazendo uma observação geral nos fatores a curto prazo que condicionam o transporte dos
sedimentos na praia do Wimbe, tais como as ondas, a maré, a corrente oceânica e a direção
dos ventos, os mesmos podem transportar os sedimentos ao longo do ano em várias
direções, tais como, Sul, Este, Nordeste, Sudeste, como já foi mostrado anteriormente, mas
o padrão de transporte definido pelo modelo de Mclaren aplicado neste ambiente da praia
denuncia que os sedimentos são transportados ao longo da linha da costa do ponto P1 para
o ponto P20, isto é, eles percorrem, da porção Oeste onde localiza-se o Complexo Turístico
Náutilos para a porção Este da praia do Wimbe (Figura 22), onde começa o afloramentos
das rochas de praia, como se pode ver no mapa abaixo.
Figura 22- O padrão de transporte na área de estudo segundo o modelo de McLaren. As setas representam o
transporte de sedimento para direcção Este (de P1 para P20) da praia.
44
Este padrão de transporte definido pelo modelo também esta de acordo com a direção de
transporte líquido por análise de tendência analisado na secção 4.2.1 onde observa-se por
meio das imagens a) e b) em períodos de tempo diferente, observa-se em b) um relativo
alargamento da linha de costa na porção Este da praia, isto é, na direção do transporte, com
sedimentos cobrindo algumas rochas de praia que antes afloravam nesta porção.
Deste modo, é evidente que segundo este padrão de transporte devem existir regiões de
erosão e de deposição de sedimentos, neste caso, observa-se na figura 23 abaixo que a
região Oeste da praia sofre uma erosão, isto é, uma redução da sua faixa costeira, enquanto
a região Este sofre a deposição sedimentar observando-se o relativo alargamento da linha
de costa nesta faixa, o que de certa forma corresponde o padrão de transporte encontrado
pela aplicação do modelo de McLaren, que indica uma direção de transporte de sedimentos
da porção Oeste para Este.
82,7 m
a) b)
Figura 23- Comparação da linha de costa da praia em períodos de tempos diferentes. Verificando-se que a
região Oeste é a zona de erosão, enquanto a porção Este é a zona de deposição segundo a direcção do
transporte.
Pode-se também através dos dados de espaço e do tempo em que os sedimentos levaram
para ocupar esta região, estimar-se a velocidade com que os sedimentos são transportados
nesta direção. De acordo com as imagens a) e b) tem-se:
= 82,7 m
ʋ= = = 7,5 m/ano.
Lembrando que a intensidade dos fatores hidrodinâmicos costeiros que vão influenciar o
movimento dos sedimentos não se repete de igual maneira de ano para ano, e é evidente
que a velocidade do transporte estimado também irá variando de acordo com a intensidade
desses factores, podendo ser menor ou ate maior que esta.
5.3. DISCUSSÃO
Quanto ao tamanho granulométrico dos sedimentos, os resultados indicam que os mesmos
variam de areia média a areia grossa, o que indica segundo Martins (2003 citado em Jesus
& Andrade 2013) uma oferta muito grande de sedimentos à praia, provenientes de aporte
fluvial e da erosão das falésias costeiras, pois que, geralmente a granulometria dos
sedimentos de praia, varia de areia muito fina a média.
Todos pontos apresentaram uma assimetria muito positiva, ou seja assimetria para o lado
dos finos e apenas um ponto P17 que apresentou a assimetria muito negativa. De acordo
com Friedman e Martins (citado por Jesus & Andrade, 2013) afirmam que assimetria
positiva ocorre devido à capacidade do agente de transporte de um fluxo unidireccional
(ambiente fluvial e eólico), enquanto a assimetria negativa é causada pela remoção da
cauda de grão fino da distribuição através do joeiramento ou adição de material grosso
(ambiente de praia). O comportamento da assimetria do ponto P17 é singular devido a
adição de material grosso nesta região que deve ser proveniente da meteorização das
rochas de praia existente naquela porção da praia.
Os resultados da análise da tendência de sedimentos revelam que dos 190 possíveis pares
de amostras, apenas 48,5 % dos pares indicam pelo menos uma das quatro (4) tendências
de transporte definidas pelo modelo, nos quais, para a direção P1 a P20 tem-se 13,2% dos
pares indicam os sedimentos afinando (Caso B) e 17,4 % dos pares indicam os sedimentos
engrossando nesta direção, percentagem esta que valida a hipótese da preferência dos
sedimentos nesta direção segundo o modelo.
A direção de transporte de sedimentos definidos por este modelo na praia de Wimbe é uma
resultante unidirecional das várias tendências dos fatores hidrodinâmicos e costeiros que
caracterizam-se por movimentos bidirecionais em suas trajetórias, a qual define o padrão
de transporte nesta praia.
47
6. CONCLUSÃO
O estudo realizado neste trabalho apontou que a praia do Wimbe regida por alguns fatores
oceanográficos, tais como, ondas, mares e correntes oceânicas apresentou:
48
7. RECOMENDAÇÕES
49
8. BIBLIOGRAFIA
50
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51
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https://www.researchgate.net/publication/305322612
52
ANEXOS
Anexo Ι
Tabelas de amplitudes de marés no porto de Pemba, em que as alturas são referidas ao nível do
zero hidrográfico que situa-se a 2,25 m abaixo do nível médio do Mar.
i
Anexo ΙΙ
De acordo com esses dados, os ventos de Pemba são predominantemente moderados que vão de
5,5 a 7,9 m/s têm o potencial de formar ondas mais largas que podem alcançar os 1,5 m de altura
e também podem levantar poeira.
ii
APÊNDICES
Apêndice Ι
Identificação dos pares de amostras que apontam a mesma tendência (mesmo Caso e mesma
direcção preferencial), na direcção P1 para P20, usadas para o cálculo do Z-teste, neste caso os
pares P8-P9, P8-P13 e P18-P20 não satisfazem a condição da assimetria ( > ) em termos
da comparação dos seus valores, mas foram consideradas por serem do mesmo caso e mesma
classificação assimétrica.
iii
Apêndice ΙΙ
Dados do ensaio granulométrico, das massas retidas em cada peneiro de cada ponto de colecta de
amostras ao longo da praia, a partir dos quais efectuou-se o cálculo do parâmetros de
granulometria, a saber a Média, o desvio padrão e assimetria.
P1 P2 P3 P4
iv
P13 P14 P15 P16
Abertura Massa
Abertura Massa em retida Abertura Massa Abertura Massa
em retida em retida em retida
(mm) (g)
(mm) (g) (mm) (g) (mm) (g)
4,750 0,500
4,750 32,000 4,750 5,000 4,750 2,500
2,360 2,500
2,360 32,000 2,360 2,500 2,360 4,000
1,180 22,000
1,180 112,500 1,180 39,500 1,180 17,000
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