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Seguimento Prematuro Oficial PDF

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SEGUIMENTO

AMBULATORIAL
DO PREMATURO
DE RISCO

Departamento Científico de
NEONATOLOGIA
SEGUIMENTO
AMBULATORIAL
DO PREMATURO
DE RISCO
Coordenação e Organização:

RITA DE CASSIA SILVEIRA

DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DE NEONATOLOGIA


Reservados todos os direitos de publicação à 
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA
Rua Augusta, 1939 – sala 53
CEP 01413-000 – São Paulo – SP – Brasil
www.sbp.com.br

Copyright  Sociedade Brasileira de Pediatria

S587
Manual seguimento ambulatorial do prematuro de risco / Rita de
Cássia Silveira. – 1. ed. – Porto Alegre : Sociedade Brasileira de Pediatria.
Departamento Científico de Neonatologia, 2012.

1,27 MB ; PDF

Está disponível online:


http://www.sbp.com.br/pdfs/Seguimento_prematuro_oficial.pdf
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-88520-24-0
Vários colaboradores.

1. Prematuro. 2. Doenças do Prematuro. 3. Nascimento Prematuro.


4. Sociedade Brasileira de Pediatria. I. Silveira, Rita de Cássia. II. Título.

CDD 618.9201 NLM WS 120

Todos os direitos reservados.


É proibida a duplicação ou reprodução deste material, no todo ou em parte,
sob quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na web
e outros), sem permissão expressa dos detentores dos direitos autorais.

Projeto gráfico e editoração: arte&composição

1a edição - 2012
Diretoria
Triênio 2010/2012

PRESIDENTE: Coordenação de Áreas de Atuação Diretoria de Publicações


Eduardo da Silva Vaz (RJ) Ângela Maria Spíndola Castro (SP) Danilo Blank (RS)
Wellington Borges (DF)
1° Vice-Presidente: Editor do Jornal de Pediatria
Fábio Ancona Lopez (SP) Coordenação de Certificação Profissional Renato Procianoy (RS)
Mitsuru Miyaki (PR)
2° Vice-Presidente: Editores da Revista SBP Ciência
Joel Alves Lamounier (MG) Diretoria de Relações Internacionais Joel Alves Lamounier (MG)
Fernando José de Nóbrega (SP) José Sabino de Oliveira (MG)
Secretário Geral: Paulo Cesar Pinho Ribeiro (MG)
Marilene Augusta R. Crispino Santos (RJ) Repres. International Pediatric Association (IPA)
Dioclécio Campos Júnior (DF) Editor da Revista Residência Pediátrica
1° Secretário: Clemax Couto Sant'Anna (RJ)
Sidnei Ferreira (RJ) Repres. Academia Americana Pediatria (AAP)
Ney Marques Fonseca (RN) Coord. Centro de Informação Científica
2ª Secretário: Prog. de Atualização Continuada a Distância:
Márcia Garcia Alves Galvão (RJ) Representante do MERCOSUL
Rita de Cássia Silveira (RS)
Vera Regina Fernandes (SC)
3ª Secretário: Portal SBP: Eduardo Jaeger (RS)
Carlos Eduardo Nery Paes (RS) Diretoria de Defesa Profissional
Coordenação do PRONAP
Milton Macedo de Jesus (PR)
Diretoria Financeira: Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira (SP)
Maria Marta Regal de Lima Tortori (RJ) Diretoria-Adjunta de Defesa Profissional
Diretoria de Ensino e Pesquisa
Carlindo de Souza Machado S. Filho (RJ)
2ª Diretora Financeira: Sandra Josefina Ferraz Grisi (SP)
Leda Amar de Aquino (RJ) Coordenação VIGILASUS
Coordenação de Pesquisa
Dennis Alexander Burns (DF)
3ª Diretora Financeira: Mauro Batista de Morais (SP)
Denise Garcia F. Machado e Silva (RJ) Secretário: Fernando de Castro Barreiro (BA) Ricardo Queiroz Gurgel (SE)
Membros: Corina Maria Nina Batista (AM), Coordenação de Graduação
ASSESSORIAS DA PRESIDÊNCIA: Érico José Faustini (RS), Euze Márcio Souza Carvalho (MT), Virgínia Resende Silva Weffort (MG)
Jorge Harada (SP), Nympha Carmen Akel Salomão (RR),
Assuntos Parlamentares Coordenação-Adjunta de Graduação
Vilma Francisca Hutim Souza (PA), Dioclécio Campos Júnior (DF),
Dioclécio Campos Júnior (DF) Rita de Cássia Silveira (RS)
Edson Ferreira Liberal (MG), Marilene Augusta R. Crispino
Saúde Ambiental Santos (RJ), Gil Simões Batista (RJ) Coordenação de Pós-Graduação
Eliane Mara Cesário Pereira (PR) Eduardo Jorge da Fonseca Lima (PE)
Coordenação de Saúde Suplementar
Renata Dejtiar Waksman (SP)
Políticas Públicas Mario Lavorato da Rocha (MG)
Carlos Eduardo Nery Paes (RS) Coord. de Residência e Estágios em Pediatria
Secretária: Adriana Maria Gurgel Maia (CE)
Vera Lucia Vilar de Araújo Bezerra (DF)
Políticas Públicas - Crianças e Adolescentes
Membros: Sidnei Ferreira (RJ), Silo Tadeu Cavalcanti (PE),
com Deficiência Coordenação-Adjunta de Residência e Estágios
Paulo Tadeu Falanghe (SP), João Batista Salomão (SP),
Amira Consuelo de Melo Figueiras (PA) Gil Simões Batista (RJ)
Gilca de Carvalho Gomes (PB), Regina Lucia Portela Diniz (CE),
Acompanhamento da Licença Maternidade Mário Tironi Júnior (ES), Marcelo Pavese Porto (RS) Coordenação de Doutrina Pediátrica
Valdenise Martins Laurindo Calil (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA)
Coord. do Programa de Gestão de Consultório
Luciano Borges Santiago (MG)
José Paulo Vasconcellos Ferreira (RS) Coordenação das Ligas dos Estudantes
Maribel Nazaré Smith Neves (AP)
Maria Nazareth Ramos Silva (RJ) Izilda das Eiras Tamega (SP)
Paulo Eduardo de Araújo Imamura (SP)
Mário Lavorato da Rocha (MG)
Diretoria de Benefícios e Previdência
Assuntos Estratégicos Regina Maria Santos Marques (GO)
Ana Maria Ramos (ES)
Ney Marques Fonseca (RN) Mário Tironi Júnior (ES)
Marcelo Pavese Porto (RS) Diretoria de Patrimônio
Legislação Escolar
Sheila Souza Muniz Tavares (RJ)
Maria de Lourdes Fonseca Vieira (AL) Diretoria dos Departamentos Científicos e
Coordenação de Documentos Científicos
Apoio às Filiadas
Dennis Alexander R. Burns (DF) Comissão de Sindicância
Eliane de Souza (MG)
Mariângela Medeiros Barbosa (PB) Diretoria-Adjunta dos Dep. Científicos Titulares:
José Sabino de Oliveira (MG) Ângela Marinho Barreto Fontes (SE)
Assessoria para Campanhas
Aristides Schier da Cruz (PR)
Rachel Niskier Sanchez (RJ) Diretoria de Cursos, Eventos e Promoções Corina Maria Nina V. Batista (AM)
Ércio Amaro de Oliveira Filho (RS) Silo Tadeu Holanda Cavalcanti (PE)
Assuntos da Região Norte
Consuelo Silva de Oliveira (PA) Coordenação de Congressos e Simpósios Teresa Cristina Maia dos Santos (AC)
Assuntos da Região Nordeste Luiz Anderson Lopes (SP) Suplentes:
Henrique Ferreira Dantas (PE) Coordenação dos CIRAPS Antonio da Silva Macedo (PI)
Assuntos da Região Centro-Oeste Edmar de Azambuja Salles (MS) Cláudio de Rezende Araújo (MA)
João Serafim Filho (GO) Fernando Antonio de Castro Barreiro (BA) Hélio Hermenegildo Maués (TO)
Robson Jorge Bezerra (RO)
Assuntos da Região Sudeste Coord. Programas de Reanimação Pediátrica Rosane Costa Gomes (RN)
Valmin Ramos da Silva (ES) Luiz Fernando Loch (RS)
Paulo Roberto Antonacci Carvalho (RS) Conselho Fiscal
Assuntos da Região Sul
Maria Marlene de Souza Pires (SC) Coord. Programas de Reanimação Neonatal Alberto Cubel Brull Júnior (MS) - Presidente
Maria Fernanda Branco de Almeida (SP) Gilca de Carvalho Gomes (PB) - Vice-Presidente
DIRETORIAS E COORDENAÇÕES Ruth Guinsburg (SP) Clóvis Francisco Constantino (SP) - Secretário

Dir. Qualificação e Certificação Profissionais Coordenação do Suporte Básico de Vida Academia Brasileira de Pediatria
Maria Marluce Vilela (SP) Valéria Bezerra Silva (PE) Fernando José de Nóbrega (SP) - Presidente
Coordenação do CEXTEP Coord. Programa de Atualização em Nutrologia Nubia Mendonça (BA) - Vice-Presidente
Hélcio Villaça Simões (RJ) Roseli Oselka Saccardo Sarni (SP) Julio Dickstein (RJ) - Secretário-Geral
Manual
SEGUIMENTO AMBULATORIAL
DO PREMATURO DE RISCO

Rita de Cassia Silveira (Coordenação e Organização)

Colaboradores:
Anniele Medeiros Costa
Aurimery Chermont
Durval Batista Palhares
João Borges Fortes Filho
José Roberto de Moraes Ramos
Leila Denise Cesário Pereira
Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo
Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
Marina Carvalho de Moraes Barros
Mário Cícero Falcão
Renato Soibelmann Procianoy
Rosangela Garbes
Rubia do Nascimento Fuentefria
Ruth Guinsburg

Departamento Científico de Neonatologia da SBP

Renato Soibelmann Procianoy (Presidente)


Adauto Dutra Moraes Barbosa (Secretário)
Licia Maria Oliveira Moreira
Rejane Silva Cavalcante
Rita de Cassia Silveira
Maria Fernanda Branco de Almeida
Durval Batista Palhares
ÍNDICE

1. Introdução
Importância do seguimento ambulatorial do pré-termo .................................................... 1
Renato Procianoy e Rita de Cássia Silveira

Como organizar o seguimento do prematuro .......................................................................... 3


Rita de Cassia Silveira

2. Preparo para a alta da Neonatologia


Critérios para a alta do prematuro ................................................................................................ 8
Leila Denise Cesário Pereira
Exame físico do recém-nascido de muito baixo peso na alta ....................................... 10
Leila Denise Cesário Pereira

Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal ........................................................................ 14


Leila Pereira e Rosangela Garbes

3. Avaliação do crescimento
Crescimento de recém-nascido pré-termo de muito baixo peso
nos primeiros anos de vida ................................................................................................................. 22
Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck

Sinais de alerta para déficit no primeiro ano de vida ........................................................ 25


Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck

Sinais de alerta para doenças crônicas na vida adulta ..................................................... 27


Aurimery Chermont
4. Nutrição após a alta
Nutrição do pretermo de muito baixo peso:
aspectos gerais e no primeiro ano ................................................................................................ 30
Rita de Cassia Silveira

Nutrição do pneumopata crônico .................................................................................................... 35


Mário Cícero Falcão

5. Avaliação do desenvolvimento
Avaliação do desenvolvimento do prematuro .......................................................................... 40
Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo

Sinais de alerta para atraso do neurodesenvolvimento do prematuro ................... 48


Rita de Cassia Silveira e Rubia do Nascimento Fuentefria

Psicopatologias no prematuro .......................................................................................................... 53


Marina Carvalho de Moraes Barros e Ruth Guinsburg

6. Acompanhamento das morbidades frequentes


Avaliação da Doença Metabólica Óssea ....................................................................................... 63
Durval Batista Palhares

Avaliação da função pulmonar .......................................................................................................... 68


Anniele Medeiros Costa e José Roberto de Moraes Ramos

Medidas preventivas em Retinopatia da Prematuridade (ROP) ..................................... 73


João Borges Fortes Filho

Introdução 1
ÍNDICE

Importância do seguimento
ambulatorial do pré-termo

Dr. Renato Soibelmann Procianoy


Presidente do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Membro da Academia Brasileira de Pediatria
Chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Professor Titular de Pediatria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Dra. Rita de Cassia Silveira


Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Professora do Departamento de Pediatria da UFRGS
Neonatologista do HCPA
Chefe da Unidade Ambulatório de Neonatologia do HCPA

A crescente demanda por tecnologia avançada no cuidado ao pré-termo enquan-


to internado na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal tem garantido maior
sobrevida a este grupo de pacientes. No entanto, a despeito da redução da mortali-
dade no período neonatal, a incidência de morbidades crônicas que envolvem déficit
de crescimento e atraso no neurodesenvolvimento entre os sobreviventes não tem
reduzido de forma significativa. Ou seja, a presença de morbidades em níveis va-
riados faz do adequado acompanhamento após a alta hospitalar uma extensão dos
cuidados empregados na UTI Neonatal. As anormalidades menores do neurodesen-
volvimento têm sido observadas de forma crescente nos países desenvolvidos. E no
Brasil? Dados do nosso meio ainda são escassos. Há a necessidade de acompanhar
de forma estruturada estes pacientes, a fim de conhecer o perfil dos recém-nascidos
que sobrevivem a UTI no Brasil e melhor assisti-los, estabelecendo um planejamento
de intervenção precoce.

Importância do seguimento ambulatorial do pré-termo 1


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A transposição da realidade assistencial de países desenvolvidos, como Estados


Unidos, Reino Unido e Canadá, para o nosso país, não é factível na prática. Precisamos
estabelecer prioridades no acompanhamento após a alta, definindo as situações mais
prevalentes em nosso meio e direcionando cuidados em todo Brasil.
O principal objetivo deste Manual de Seguimento é fornecer uma abordagem práti-
ca para orientação ao pediatra sobre o seguimento do prematuro de muito baixo peso.
Além disso, orientar o pediatra a respeito de como organizar o seguimento e atualizar
o pediatra nos diferentes aspectos que envolvem as peculiaridades do seguimento do
prematuro. Uma forma prática é por meio da organização de condutas padronizadas,
respeitando as características regionais brasileiras e da consequente sistematização
dessas condutas após a alta da Neonatologia.
Este manual foi estruturado em tópicos específicos direcionados ao cuidado e
atenção específicos ao prematuro, especialmente a faixa de peso e idade gestacional
mais vulnerável: pretermos de muito baixo peso. A pretensão não é esgotar o tema, e,
sim, abordar os aspectos mais relevantes ao acompanhamento do pré-termo, desde
a alta hospitalar.
Colegas do Departamento Científico de Neonatologia da SBP e associados convi-
dados foram responsáveis pela cuidadosa elaboração dos tópicos desse manual, com
o intuito de auxiliar no manejo após a alta das Unidades de Tratamento Intensivo
Neonatais do Brasil.

2 Importância do seguimento ambulatorial do pré-termo


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Como organizar
o seguimento do prematuro

Dra. Rita de Cassia Silveira


Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Neonatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Chefe da Unidade Ambulatório de Neonatologia do HCPA

Todo programa de seguimento da criança de alto risco, para ser bem sucedido,
deverá ser iniciado durante a internação hospitalar. Os prematuros, especialmente
aqueles de muito baixo peso, seguem essa regra. Protocolos assistenciais na UTI
Neonatal capacitarão e qualificarão o seguimento, e este, por sua vez, responderá com
os resultados das práticas adotadas na UTI Neonatal.
A preparação para a alta hospitalar do pré-termo é iniciada tão logo o recém-
nascido começa a coordenar sucção e deglutição, alimenta-se via oral sem sonda e
controla bem a temperatura corporal, mesmo que ainda não tenha peso suficiente
para ir para casa (veja capítulo específico sobre Orientações aos pais na alta). É um
tempo de orientação multiprofissional junto à família para que esta compreenda as
necessidades e se prepare para receber o novo componente familiar.
O médico neonatologista e ou pediatra que acompanha a internação deve ter co-
nhecimento e sensibilidade para prever o melhor momento para iniciar com orien-
tações sistematizadas referentes à alta hospitalar (veja o capítulo Exame físico do
recém-nascido).
Na organização do seguimento ambulatorial é fundamental o trabalho em equipe,
com papéis bem estabelecidos e definidos de cada membro da equipe. A coordenação,
em situação ideal, deverá ser do neonatologista ou pediatra que já tenha um vínculo
com a família e conheça a situação da criança em detalhes enquanto internada na
Neonatologia.
No Quadro a seguir consta a composição desejada de uma equipe de seguimento
após a alta e suas respectivas funções.

Como organizar o seguimento do prematuro 3


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Quadro 1 - Equipe do programa de seguimento

Membro da equipe Papel na equipe de seguimento

Pediatra/Neonatologista Núcleo da equipe, coordenação.


Avalia crescimento e triagem do desenvolvimento.
Responsável pelo manejo de intercorrências clínicas em geral.
Psicóloga infantil Avaliação formal do neurodesenvolvimento com escalas
diagnósticas.
Triagem dos problemas comportamentais, vínculos e manejo
dessas situações.
Intervenções de apoio e suporte terapêutico das morbidades
psiquiátricas frequentes.
Neurologista pediátrico Manejo em longo prazo das neuropatologias, tais como
convulsões, paralisia cerebral e distúrbios de deglutição.

Oftalmologista e Retinólogo Follow-up da retinopatia da prematuridade e tratamento.


Avaliação da acuidade visual e triagens, tais como estrabismo,
nistagmo e erros de refração.
Prevenção da cegueira.

Otorrinolaringologista Manejo da perda auditiva.

Nutricionista clínica Conselhos sobre aleitamento materno e alimentação


complementar adequada.
Manejo das crianças com falha de crescimento.
Manejo das situações que requerem dieta especial (ex.:
galactosemia).

Fonoaudiologia Avaliar potencial auditivo, prevenção da perda auditiva,


coordenação da deglutição e auxílio nas dificuldades de
linguagem e fonação.

Enfermagem Controle dos medicamentos em uso.


Orientação de medidas preventivas de diversas doenças.
Manejo do oxigênio domiciliar, sondas entéricas e cuidados gerais
de higiene, quando necessário reforço.

Assistente social Ajudar a recuperar perdas.


Manejo dos problemas sociais: pobreza extrema, etc.

Fisioterapeuta Avaliar desenvolvimento motor, tônus e força muscular.


Planejar apropriada intervenção individualizada.
Ensinar aos pais exercícios para fazer em casa.
Orientar com ortopedia: botox, se necessário.

Terapeuta ocupacional Programar reabilitações das crianças com dificuldades.


Interface e diálogo com escolas e pré-escolas.
Definir habilidades que capacitem no contexto social e
profissional futuro.

Fonte: Personnel required for follow-up program and their individual roles downloaded from www.newbornwhocc.org

4 Como organizar o seguimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A qualidade do acompanhamento ambulatorial é avaliada


pelas taxas de perdas ou falhas às consultas.

É necessário reduzir as perdas. Para garantir uma boa taxa de acompanha-


mento e manter o interesse das famílias em trazer os ex-prematuros nas con-
sultas, algumas ORIENTAÇÕES PRÁTICAS são fundamentais:

1. A importância do seguimento deve ser sempre enfatizada aos pais, desde a inter-
nação na unidade de tratamento intensivo neonatal e em todas as consultas após
a alta.
2. Investimento na boa relação médico-paciente, precocemente. A equipe que é
responsável pelo seguimento deve ser uma referência para a família dentro da UTI
Neonatal, estabelecendo-se vínculos nas reuniões em grupos de pais semanalmente.
O vínculo entre a equipe médica e multidisciplinar com as famílias e/ou cuidadores
do pré-termo é fundamental para minimizar as falhas às consultas de follow-up.
3. A manutenção de endereços e telefones de contato atualizados é fundamental.
Quando pais ou responsáveis pela criança falham à consulta, devem ser contatados
por telefone, carta e correio eletrônico. Toda forma de contato disponível é válida,
inclusive endereço profissional e de vizinhos. Em caso de substituição de pediatra
que acompanha a criança, a família deve requisitar uma carta com resumo da
situação a ser encaminhada ao novo profissional.
4. As notícias sobre tópicos de interesse no cuidado da criança: lembrete aos cuida-
dores para atualizar do cartão vacinal da criança, assim como dicas de cuidados
na sazonalidade (doenças do inverno, como gripes e resfriados; e do verão, como
epidemias de dengue, picadas de insetos, etc.) devem ser enviados sistematica-
mente.
5. O envio de um cartão de felicitação pelo aniversário do paciente, devidamente
assinado por todos profissionais que formam a equipe interdisciplinar, é uma forma
de fidelização ao programa de seguimento.
6. Deve haver uma avaliação abrangente da criança nas consultas, a fim de evitar
deslocamentos em diferentes dias para o cardiologista, neurologista, oftalmologista,
por exemplo.
7. Visitas domiciliares podem ser necessárias nos casos de falhas consecutivas, ou
quando simplesmente não retornam ao ambulatório após a alta, ou, ainda, em
situações de família de baixa renda ou nível socioeconômico.

Como organizar o seguimento do prematuro 5


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

No Brasil não há a possibilidade, ao menos em nível público, de um follow-up ex-


clusivo, em paralelo com as supervisões de saúde da criança realizadas pelo pediatra.
Sendo assim, no setor público as consultas de follow-up devem ser tão frequentes
quanto os momentos de avaliação na puericultura.
A primeira revisão ambulatorial deve ser organizada no momento da alta, e todas
as demais revisões devem ser agendadas logo após cada revisão de seguimento. As
consultas devem ser organizadas de forma que a criança faça uma avaliação global e
conjunta com a equipe multiprofissional (fonoaudióloga, fisioterapeuta, nutricionista,
psicóloga, enfermagem, etc.) e com as diversas especialidades médicas se for neces-
sário, evitando retornos repetidos ao centro de referência no follow-up.

O esquema de consultas recomendado é :

Primeira consulta 7 a 10 dias após a alta.

Revisões mensais até 6 meses de idade corrigida.

Revisões bimestrais ou trimestrais 6 meses aos 12 meses de idade corrigida.

Revisões trimestrais 13-24 meses.

Revisões semestrais 2 a 4 anos de idade cronológica.

Revisões anuais dos 4 anos até a puberdade.

São exceções as situações que necessitarão antecipar condutas assistenciais, e


nestes casos as consultas deverão ser agendadas com maior frequência. Presença
de baixo ganho ponderal para o esperado, de atraso do desenvolvimento observado
na revisão imediatamente anterior, um “potencial de entendimento” materno ou do
cuidador correspondente, e as frequentes reinternações hospitalares, são situações
onde os retornos devem ser antecipados, pois é fundamental monitorar estreitamente
o paciente que utiliza com muita frequência os serviços de saúde (emergências,
hospitais).

6 Como organizar o seguimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A organização do programa de seguimento do prematuro é pautada no conceito de


que não se trata de uma consulta pediátrica habitual. No momento atual, as famílias
e a sociedade como um todo, além dos profissionais envolvidos na assistência ao
prematuro, devem lembrar o conceito de que valorizar o investimento em sobrevida
do prematuro implica num pacote de medidas de acompanhamento e supervisão de
saúde após a alta da UTI Neonatal.
O melhor acompanhamento do prematuro, de forma supervisionada e interdisci-
plinar, garantirá o investimento em sobrevida anteriormente realizado com esses pa-
cientes nas unidades de tratamento intensivo: menores taxas de re-hospitalizações,
menor índice de infecções nos primeiros anos de vida dessas crianças, melhores taxas
de crescimento e neurodesenvolvimento, adequada inclusão na escola e potencial de
aprendizado e inserção na sociedade na vida adulta.

Referências

1. Hack M. Consideration of the use of health status, functional outcome, and quality-of-life to
monitor neonatal intensive care practice. Pediatrics. 1999;103:319-28.

2. Committee on Fetus and Newborn. Hospital Discharge of the High-Risk Neonate. American
Academy of Pediatrics. Pediatrics. 2008;122:1119-26.

3. Fanaroff AA, Stoll BJ, Wright LL, Carlo WA, Ehrenkranz RA, Stark AR, et al. Trends
in neonatal morbidity and mortality for very low birthweight infants. Am J Obst Gyn.
2007;196(2):147e1-8.

4. Adams MM, Barfield WD. The future of very preterm infants: learning from the past. JAMA.
2008;299(12):1477-8.

5. Hack M, Flannery DJ, Schluchter M, Cartar L, Borawski E, Klein N. Outcomes in young adulthood
for very-low-birth-weight infants. New Engl J Med. 2002;346:149-57.

6. Guellec I, Lapillonne A, Renolleau S, Charlaluk ML, Roze JC, Marret S, et al; EPIPAGE Study
Group. Neurologic outcomes at school age in very preterm infants born with severe or mild
growth restriction. Pediatrics. 2011;127:e883-91.

Como organizar o seguimento do prematuro 7


Preparo para a alta da Neonatologia 2
ÍNDICE

Critérios para a alta do prematuro


Dra. Leila Denise Cesário Pereira
Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Chefe da UTI Neonatal da Maternidade Carmela Dutra, Florianópolis, SC

A identificação do momento apropriado e seguro para a alta do prematuro é es-


sencial para garantir o sucesso da transição entre o hospital e o domicílio e reduzir o
risco de morte e de morbidades.
O critério baseado no peso mínimo, utilizado durante muitos anos, tem sido aban-
donado com base em evidências mostrando que é mais importante atingir a estabili-
dade fisiológica e assegurar uma assistência adequada após a alta.

Sendo assim, o prematuro é considerado pronto para a alta quando:

Demonstrar estabilidade fisiológica.

For constatado que seus pais e/ou cuidadores estão treinados, com
conhecimento e habilidade para alimentá-lo, prestar os cuidados básicos
do dia a dia e de prevenção, administrar medicações e detectar sinais e
sintomas de doenças.

Estiver concluído o plano de alta e tomadas as providências para


que as necessidades relativas ao cuidado domiciliar e médico sejam
devidamente atendidas.

Tiver garantido o acesso a seguimento ambulatorial para monitorização


do crescimento, do desenvolvimento e intervenção preventiva e
terapêutica.

8 Criterios para a alta do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

As três competências fisiológicas consideradas essenciais para a alta do prema-


turo são:

Capacidade para alimentar-se exclusivamente por via oral, sem


apresentar engasgo, cianose ou dispneia, em quantidade suficiente
para garantir um crescimento adequado (mínimo de 20 gramas por dia,
por pelo menos 3 dias consecutivos).

Capacidade de manter temperatura corporal normal, estando vestido


e em berço comum, a uma temperatura ambiente de 20 a 25 °C.

Função cardiorrespiratória estável e fisiologicamente madura, sem


apneia ou bradicardia por um período de 8 dias.

A maioria dos prematuros atinge tais competências com 36 a 37 semanas de idade


corrigida (IC), mas o controle da respiração, a ponto de permitir uma alta segura, pode
demorar até as 44 semanas de IC. Quanto menor o peso e a idade gestacional ao nas-
cer e quanto maior a gravidade da doença neonatal, maior será o tempo para atingir
essas competências fisiológicas.

Referências

1. Committee on Fetus and Newborn. Hospital Discharge of the High-RiskNeonate. American


Academy of Pediatrics. Pediatrics. 2008;122:1119-26.
2. Miyaki M, Sarquis AL, Schmidtke DC, Becker AM. Alta do recém-nascido prematuro, normal e
patológico. In: Procianoy RS, Leone CR, eds. Programa de Atualização em Neonatologia (PRORN)
– Sociedade Brasileira de Pediatria, Ciclo 5, Módulo 1. : Porto Alegre: Artmed/Panamericana.
2007; p. 57-101.
3. Brooten D, Kumar S, Brown LP, Butts P, Finkler SA, Bakewell-Sachs S, et al. A randomized
clinical trial of early hospital discharge and home follow-up of very low birth weight infants. N
Engl J Med. 1986;315:934-9.
4. Powell PJ, Powell CV, Hollis S, Robinson MJ. Whenwillmy baby go home? Arch Dis Child.
1992;67:1214-6.
5. Eichenwald EC, Aina A, Stark AR. Apnea frequently persists beyond term gestation in infants
delivered at 24 to 28 weeks. Pediatrics. 1997;100:354-9.
6. Davies DP, Haxby V, Herbert S, McNeish AS. When should preterm babies besent home from
neonatal units? Lancet. 1979;1(8122):914-5.

Criterios para a alta do prematuro 9


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Exame físico do recém-nascido


de muito baixo peso na alta
Dra. Leila Denise Cesário Pereira
Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Chefe da UTI Neonatal da Maternidade Carmela Dutra, Florianópolis, SC

Existem inúmeras publicações sobre o exame físico geral e neurológico do pré-


termo após o nascimento, mas uma escassez a respeito de como deve ser realizada a
avaliação clínica do recém-nascido de muito baixo peso (RNMBP) por ocasião da alta
hospitalar.

Um exame físico completo e detalhado, incluindo o exame neurológico, no momento


da alta, tem como objetivo avaliar a condição clínica do recém-nascido (RN), identificar
situações que necessitem monitorização, tratamento, encaminhamento para progra-
ma de intervenção precoce ou para ambulatório de especialidades. Portanto, sua im-
portância para o planejamento da alta e do seguimento do RNMBP é indiscutível.

Exame físico geral

Alguns sinais clínicos observados com certa frequência no RNMBP merecem


atenção.

É importante a inspeção cuidadosa de pele e mucosas, em busca de afecções


que exijam tratamento domiciliar, como a conjuntivite, a dermatite de fraldas, a mo-
nilíase oral e perineal. Lesões cicatriciais não são raras, podendo ser decorrentes de
trauma do septo nasal, pelo uso de pronga nasal, representar sequela de necrose da

10 Exame físico do RNMBP na alta


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

pele por extravasamento de soluções, ou resultar de cirurgias ocorridas no período


neonatal (PCA, ECN). Hemangiomas cavernosos, inexistentes ao nascimento, podem
surgir no primeiro ou segundo mês de vida.

Cerca de 80% dos pré-termos apresentam hérnia umbilical, que em geral fecha
espontaneamente até os dois anos de idade. O diagnóstico de hérnia inguinal, também
mais frequente nos pré-termos e no sexo masculino, precisa ser feito, já que tem indi-
cação cirúrgica e risco de necessitar intervenção de emergência se não for redutível.

A localização dos testículos deve ser verificada, pois a distopia testicular acomete
33% dos pré-termos.

A avaliação do padrão respiratório, incluindo frequência respiratória e presença


de tiragens e retrações, é particularmente importante nos portadores de displasia
broncopulmonar.

O exame do quadril, realizado ao nascimento, deve ser repetido na alta, particu-


larmente se a apresentação foi pélvica e quando há história familiar de displasia de
quadril.

Malformações congênitas maiores e menores, diagnosticadas ao nascimento ou


durante o período de internação precisam ser reavaliadas e registradas.

É importante verificar peso, perímetro cefálico e comprimento no momento da


alta, e, se disponível, entregar aos pais cópia do gráfico de crescimento construído
durante a internação, de forma que o crescimento possa ser mais bem avaliado nas
consultas de seguimento.

Lembrar que para a avaliação dos dados antropométricos é indispensável que se


conheça a idade corrigida (IC) no momento da obtenção da medida. A partir da IC de
40 semanas (correspondente ao nascimento), a monitorização do crescimento é feita
utilizando as curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar
de não serem consideradas ideais, uma vez que foram construídas para o acompa-
nhamento de recém-nascidos de termo, sua escolha justifica-se pela dificuldade em
definir um instrumento apropriado e específico para a avaliação do crescimento do
RNMBP no follow-up.

A existência de um checklist referente ao exame físico é útil para o registro dos


achados e para garantir que nada seja esquecido.

Exame físico do RNMBP na alta 11


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Exame neurológico

O exame neurológico do RNMBP na alta deve incluir, pelo menos, a avaliação de


três aspectos:
1) tônus passivo: postura e medida dos ângulos de extensibilidade (calcanhar-ore-
lha, ângulo poplíteo e flexor dorsal do pé, sinal do xale e manobra do recuo); 2) tônus
ativo: principalmente de pescoço e tronco; e 3) reflexos primitivos: sucção/deglu-
tição, preensão palmar, resposta à tração dos membros superiores (MMSS), Moro,
extensão cruzada e marcha reflexa.
Recomenda-se que a avaliação neurológica seja realizada de forma sistematizada.
O método de Amiel Tison (1968) avalia os três aspectos descritos acima, é simples,
prático e desenvolvido para aplicação em RN pré-termos e de termo.
Os achados neurológicos por ocasião da alta do RNMBP dependerão de sua IC e dos
agravos ocorridos durante o período neonatal. Com IC de 37 semanas espera-se que
o RNMBP saudável possua atitude flexora, tanto em membros inferiores (MMII) quanto
em MMSS, embora menos intensa que a observada nos recém-nascidos de termo.
Observa-se reação de endireitamento dos MMII, do tronco, e do segmento cefálico. A
posição do mento está acima do nível acromial e os movimentos de lateralização ativa
da cabeça são frequentes. O ângulo poplíteo é de 90° e o de flexão dorsal do pé, de
10o. A extensibilidade articular é semelhante ao RN de termo. Os reflexos primitivos
estão presentes e completos.
Os RNMBP possuem alto risco para anormalidades do desenvolvimento. A finalida-
de do exame neurológico, no momento da alta hospitalar, é identificar o pré-termo que
necessita de maior vigilância do seu desenvolvimento e de intervenção precoce.
Os principais sinais de alerta, considerados anormais nos RN em idade correspon-
dente ao termo, são: as alterações de tônus do pescoço, tronco e membros, tais como
hipotonia acentuada de pescoço e tronco, hipertonia extensora de pescoço e tronco e
tônus flexor de MMSS maior que o de MMII; polegares em persistente adução; assime-
trias de tônus e de reflexos em um ou em todos os membros, consideradas significati-
vas se acentuadas e persistentes; reflexo de Moro anormal (ausência de abdução dos
ombros e adução e flexão dos braços, estando presente, apenas, a extensão dos bra-
ços); movimentos oculares anormais, como nistagmo persistente, movimentos rápidos
de piscar; orientação inadequada aos estímulos visuais e auditivos; e, comportamento
anormal (letargia, irritabilidade, hiperexcitabilidade).

12 Exame físico do RNMBP na alta


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

O valor de anormalidades neurológicas isoladas no período neonatal é pequeno,


mas um conjunto de sinais alterados aumenta a capacidade preditiva para futuro
comprometimento neurológico. Foi demonstrada associação entre a severidade das
alterações do exame neurológico do RNMBP na alta e anormalidades motoras com 1
a 5 anos de idade.

As anormalidades detectadas no exame físico geral e neurológico deverão ser re-


gistradas no prontuário médico e no sumário de alta. Os pais precisam ser informados
e orientados com clareza quanto ao caráter transitório ou permanente dos achados,
sobre a gravidade, e as providências a serem tomadas.

Referências

1. Lissauer T. Physical Examination of the Newborn. In: Martin RJ, Fanaroff AA, Walsh MC, editors.
Neonatal-Perinatal Medicine – Diseases of the Fetus and Infant. 9th ed. St Louis: Elsevier-
Mosby; 2011. p. 485-500.

2. Volpe JJ. Neurology of the Newborn. 4th ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 2000.

3. Amiel-Tison C. Neurological evaluation of the maturity of newborn infants. Arch Dis Child.
1968;43:89-93.

4. Allen MC, Capute AJ. Neonatal neurodevelopment examination as a predictor of neuromotor


outcome in premature infants. Pediatrics. 1989;83:498-506.

Exame físico do RNMBP na alta 13


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Orientações aos pais na alta


da UTI Neonatal
Dra. Leila Denise Cesário Pereira
Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Chefe da UTI Neonatal da Maternidade Carmela Dutra, Florianópolis, SC

Dra. Rosangela Garbes


Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Neonatologista responsável pela UTI Neonatal da Maternidade Nossa Senhora de Fátima
e do Berçário do Hospital Pequeno Príncipe, Curitiba-PR

Orientações claras e detalhadas são importantes para tranquilizar, dar segurança


aos pais ou cuidadores, prevenir os principais problemas dos dias subsequentes à alta
e garantir a continuidade dos cuidados gerais e de saúde à criança. Recomenda-se que
as principais orientações sejam fornecidas também por escrito, visto que o volume de
informações é grande, além de receitas, exames laboratoriais e rotina de consultas.
No capítulo deste manual, Como organizar o seguimento ambulatorial, encontram-se
algumas informações fundamentais sobre o preparo para a alta hospitalar, válidas de
serem lidas.

Cuidados gerais

Quando o pré-termo recebe alta da UTI Neonatal para casa, as mães podem sentir-
se inseguras ao comparar seus cuidados com aqueles recebidos no ambiente hospi-
talar. Dois sentimentos ambivalentes estão presentes nesta fase: medo e felicidade.
Finalmente haverá a tão esperada ida para casa e inserção da criança no “seio da
família”, por outro lado, há insegurança e medo de não ser capaz de cuidar do seu filho
nas diversas demandas do ser pré-termo. É importante lembrá-las que na ocasião da
alta, seu bebê já está maior, mais amadurecido e pronto para iniciar uma vida normal
ao lado da sua família. Incentivar as mães a realizar tarefas como trocas fraldas, ba-
nhos e vestir seu filho ainda na unidade neonatal são medidas que auxiliam no vínculo
e transmitem segurança.

14 Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

O banho deve ser em local sem correntes de ar, sabonete neutro, secando a criança
com toalha macia, evitar uso de óleos, talco e perfumes. A roupa necessita ser ade-
quada ao clima local, evitando excessos de roupa, e aquecimento em demasia.
Evitar locais fechados e com muita circulação de pessoas. Todas as vacinas reco-
mendadas devem estar atualizadas antes da alta. Dentre os cuidados gerais, ter bom
senso é fundamental.

Alimentação

Desde o início do período de permanência na UTI Neonatal, o estímulo para que o


recém-nascido prematuro receba o leite ordenhado de sua própria mãe deve ser uma
prioridade, e tanto a equipe médica como a de enfermagem orientada para que isto
ocorra de forma natural e confiante.
Após a alta hospitalar, o aleitamento materno exclusivo deve ser incentivado pelo
máximo de tempo possível. A introdução de alimentos posteriormente iniciada com a
orientação do pediatra no seguimento (veja capítulo correspondente neste manual).
Quando a mãe necessitar retornar ao trabalho, poderá esgotar seu leite para ser ofe-
recido ao recém-nascido neste período, o qual poderá ser ordenhado manualmente ou
com o auxílio de ordenhas comercialmente disponíveis. Toda a informação acerca dos
cuidados com as mamas, estímulo e ambiente tranquilo para amamentar deverá ser
reforçada antes da alta, para garantia do adequado aleitamento materno. Os prema-
turos são em geral mais sonolentos, necessitam ser acordados para mamar, o tempo
de mamada varia muito entre eles, sempre observando não ultrapassar quatro horas
de intervalo entre as mesmas.

Prevenção de infecções

Os pais precisam saber que os prematuros são imunodeprimidos e, portanto, susce-


tíveis a infecções. Sendo assim, alguns cuidados preventivos são fundamentais, mui-
tos dos quais já descritos: manter o aleitamento materno, evitar ambientes fechados e
aglomerados de pessoas, manter a casa arejada, evitar contato com pessoas doentes

Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal 15


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

(principalmente com resfriado ou gripe), lavar as mãos antes de tocar na criança e an-
tes de alimentá-la, manter a higiene corporal adequada, lavar regularmente utensílios
e roupas da criança e manter o esquema de vacinação em dia (ver abaixo).

Vacinas
Os pais ou cuidadores devem ser informados sobre as vacinas que a criança já re-
cebeu durante a internação. O prematuro deve ser vacinado de acordo com sua idade
cronológica, seguindo o calendário oficial, nas mesmas doses e intervalos das crianças
maiores, devendo-se evitar atraso vacinal durante a longa permanência na UTI.

As particularidades da vacinação do prematuro são apresentadas abaixo:

Recém-nascidos internados na unidade neonatal não devem receber


vacinas com vírus vivo atenuado (BCG, poliomielite oral e rotavírus).

BCG: indicada após a alta hospitalar, quando a criança atingir 2.000


gramas, pelo menos.

Hepatite B: nos pré-termos com menos de 2.000 gramas recomenda-se


quatro doses (nas primeiras 12 horas de vida, com 1, 2 e 6 meses).

Poliomielite: a vacina Salk (injetável, com vírus inativado) está indicada em


pré-termos com peso ao nascer inferior a 1.000 g e em crianças que ainda
permaneçam internadas por ocasião da idade da vacinação.

DTP acelular: indicada em pré-termos com menos de 32 semanas e em


crianças que ainda permaneçam internadas por ocasião da idade da
vacinação.

Rotavírus: indicada após a alta hospitalar.

Influenza: lembrar que não somente a criança deve ser vacinada, mas
também seus familiares e comunicantes domiciliares.

16 Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Os prematuros em geral, e particularmente aqueles com doença pulmonar crônica,


podem apresentar infecção respiratória grave se infectados pelo vírus sincicial respi-
ratório (VSR). Os Departamentos Científicos de Neonatologia, Infectologia e Pneumo-
logia da Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam a administração de palimizu-
mabe de acordo com as diretrizes publicadas no site da SBP (clique aqui para acessar
o documento da SBP).
Nos estados cujas secretarias estaduais de saúde disponibilizam o palivizumabe
deve ser entregue aos pais toda a documentação devidamente preenchida e forne-
cidas orientações quanto à forma de aquisição, número de doses, locais e datas de
aplicação.
Em geral, as vacinas para prematuros e o palivizumabe são disponibilizados pelos
Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).

Prevenção da Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL)

Prematuridade e baixo peso ao nascer são fatores de risco para a ocorrência da


SMSL, que consiste no óbito inesperado e sem explicação durante o sono, cuja fre-
quência é maior nos primeiros meses de vida. Portanto, os pais devem ser orientados
sobre a importância de evitar outros fatores de risco que aumentam a chance de
ocorrência da SMSL. A criança deve dormir em seu próprio berço, próxima dos pais,
de barriga para cima, com a cabeça descoberta e os pés próximos da borda inferior do
berço, para evitar que deslize e seja sufocada pelo cobertor. O colchão deve ser firme
e o uso de travesseiros e cobertores volumosos é desaconselhado. Os pais devem ser
esclarecidos sobre o efeito protetor da chupeta, usada criteriosamente para dormir,
quando a amamentação ao seio já estiver estabelecida. A exposição ao fumo deve
ser proibida.

Estimulação

Os pais necessitam receber orientações sobre a possibilidade de seu bebê apre-


sentar atrasos no desenvolvimento, por ser prematuro, e da eventual necessidade
de acompanhamento por profissionais especializados em estimulação e correção de
vícios posturais que possam ocorrer. O acompanhamento fisioterápico deve ser man-
tido durante todo o primeiro ano de vida do prematuro ou mais, se indicado pelo fi-

Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal 17


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

sioterapeuta. Em alguns casos, avaliação e acompanhamento com fonoaudióloga pode


ser necessário (veja formação da equipe ideal do seguimento ambulatorial descrita no
capítulo Como organizar o seguimento do prematuro).

Exames complementares na alta

O preparo para a alta deverá ser organizado


uma a duas semanas antes da alta de fato.

Os exames necessários para o seguimento dos recém-nascidos pré-termos po-


derão ser individualizados de acordo a necessidade e grau de imaturidade, porém os
recém-nascidos pré-termos de muito baixo peso deverão ser monitorados quanto à
anemia, doença metabólica óssea, doenças infecciosas e imunopreveníveis.
Dentro da possibilidade de cada centro de Neonatologia, além da realização de ul-
trassonografia cerebral para diagnóstico de leucomalácia periventricular, a Ressonân-
cia Nuclear Magnética (RNM) é considerada o padrão-ouro de diagnóstico do compo-
nente difuso da leucomalácia periventricular, sendo preconizada ao termo ou próximo
do termo (entre 37 semanas e 40 semanas de idade pós-concepcional). Como é mais
complicado a sua realização em nível ambulatorial, nos hospitais que disponibilizam
desse recurso deverá ser realizada antes da alta hospitalar, em todo prematuro extre-
mo, independente da clínica apresentada durante a internação neonatal.

Medicamentos

Próximo ao momento da alta é preciso avaliar os medicamentos que a criança re-


cebe, manter apenas o necessário e adequar as doses ao peso atual. Os horários de
administração devem ser revistos procurando reduzir a frequência, quando possível,
de modo a evitar doses no meio da noite. A receita deve ser clara, legível e conter a
concentração, a dose e a frequência de administração de cada medicamento. Consi-
derando que alguns medicamentos são de difícil obtenção, a receita deve ser entregue
aos pais alguns dias antes da alta para permitir que tenham tempo de providenciá-los.
Os pais devem ser encorajados e treinados a ministrar à criança toda a prescrição
antes da alta, e esclarecidos sobre a importância de cada medicamento e sobre como
reconhecer os potenciais sinais de toxicidade.

18 Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

As crianças alimentadas exclusivamente ao seio devem receber a seguinte


prescrição na alta hospitalar:

Polivitamínico (solução oral) contendo vitaminas A, C e D: 12 gotas VO


1x/dia; ou, vitamina A + D, 4 gotas VO 1x/dia, mais vitamina C, 3 gotas
VO 1x/dia (a oferta de vitamina D deve ser de 400 UI/dia).

Sulfato ferroso (solução oral): a dose profilática para o RNMBP é de 3-4


mg/kg/dia de ferro elementar VO durante o primeiro ano de vida.

Sulfato de zinco (10 mg/ml): 0,5-1 mg/kg/dia VO desde 36 semanas


até 6 meses de idade corrigida.

Caso a criança esteja recebendo fórmula enriquecida com ferro, deve-se conside-
rar o aporte fornecido pelo leite e completar com sulfato ferroso até atingir a dose
desejada.
Quando o resultado da triagem para doença metabólica óssea for alterado, será
preciso continuar a suplementação de cálcio e fósforo após a alta, com solução ma-
nipulada. Deve-se garantir o aporte de 200-250 mg/kg/dia de cálcio e de 110-125
mg/kg/dia de fósforo, considerando o conteúdo do leite adicionado ao da solução de
cálcio e fósforo (veja capítulo específico neste manual).
Outros medicamentos podem ser necessários para a continuidade do tratamento
iniciado durante a internação (anticonvulsivante, corticoide inalatório, diuréticos e di-
gital são exemplos).

Recém-nascidos em situações especiais

Os prematuros com laringotraqueomalácia grave, pós-operatório de enterocolite


necrosante com ileostomia, sonda enteral ou gastrostomia para alimentação ente-
ral, oxigênio domiciliar entre outros, são situações que exigirão cuidados domiciliares
especializados. O sistema de home care no Brasil ainda é pouco desenvolvido com
relação ao cuidado do prematuro, e cada situação deverá ser avaliada individualmente
pela equipe multiprofissional.

Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal 19


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Situações de risco

Os pais devem ser orientados a reconhecer os principais sinais e sintomas diante


dos quais deverão procurar atendimento médico de urgência. São eles: hipoatividade,
choro fraco ou gemência, choro excessivo ou irritabilidade intensa, mudança de co-
loração da pele (cianose ou palidez), apneia, dificuldade respiratória, sucção fraca ou
recusa alimentar, regurgitações ou vômitos frequentes, distensão abdominal, tremores
ou convulsões, hipo ou hipertermia.
É importante informar que a criança nascida prematura apresenta maior risco de
reinternação quando comparada aos recém-nascidos a termo saudáveis, sendo as
causas mais frequentes: apneia, broncoaspiração, problemas respiratórios, diarreia,
infecção do trato urinário, perda de peso e anemia grave com necessidade de trans-
fusão de hemoderivados.

Prevenção de acidentes durante o transporte

Para o transporte de carro a criança deve ser colocada na cadeira de transporte,


presa pelo cinto de três pontas. Utiliza-se o cinto do banco traseiro do veículo para
prender a cadeira, que deve ficar posicionada de costas para o painel. Não transportar
no colo.
Recomenda-se que antes da alta a criança seja colocada na cadeira de transporte,
com monitorização por 90 a 120 minutos, a fim de detectar episódios de quedas de
saturação, apneia e bradicardia, onde é contraindicado o transporte em cadeira es-
pecífica, devendo-se usar car-bed no chão do banco traseiro do veículo. No Brasil, a
tradução mais adequada para car-bed são os populares Moisés, onde a criança fica
completamente deitada em berço com alças.

Sumário de alta e caderneta de saúde

A entrega do sumário de alta e da caderneta de saúde aos pais deve ser acom-
panhada de explicação sobre a importância desses dois documentos. O sumário de
alta contém o histórico completo de internação (condições perinatais, diagnósticos,
principais intercorrências, resultados de exames complementares, medidas preven-
tivas e terapêuticas adotadas), sendo fundamental para o seguimento ambulatorial.

20 Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A caderneta de saúde, devidamente preenchida, auxilia no acompanhamento e na


monitorização da saúde, principalmente das imunizações. Ambos devem acompanhar
a criança em suas visitas aos serviços de saúde.

Referências

1. Bernbaum J. Medical care after discharge. In: Avery G, Fletcher MA, Mac Donald MG, eds.
Neonatology Pathophysiology Management of the Newborn. 6th ed. Philadelphia: Lippincott,
2005; p.1618-31.

2. Committee on Fetus and Newborn. Hospital Discharge of the High-Risk Neonate. American
Academy of Pediatrics. Pediatrics. 2008;122:1119-26.

3. American Academy of Pediatrics Task Force on Sudden Infant Death Syndrome. The
changing concept of sudden infant death syndrome: diagnostic coding shifts, controversies
regarding the sleeping environment, and new variables to consider in reducing risk. Pediatrics.
2005;116(5):1245-55.

4. American Academy of Pediatrics, Prevention and the Committee on Fetus and Newborn.
Safe transportation of preterm and low birth weight infants at hospital Discharge. Pediatrics.
2009;123:1424-9.

5. Esposito S, Serra D, Gualtieri L, Cesati L, Principi N. Vaccines and preterm neonates: why, when
and with what. Early Hum Dev. 2009;85:S43-S45.

6. Dall’Agnola, Beghini L. Post-discharge supplementation of vitamins and minerals for preterm


neonates. Early Hum Dev. 2009;85:S27-S29.

7. Díaz-Gómez NM, Doménech E, Barroso F, Castells S, Cortabarria C, Jiménez A. The effect of


zinc supplementation on linear growth, body composition and growth factors in preterm infants.
Pediatrics. 2003;111(5):1002-9.

Orientações aos pais na alta da UTI Neonatal 21


Avaliação do crescimento 3
ÍNDICE

Crescimento de recém-nascidos pré-termo


de muito baixo peso nos primeiros anos de vida

Dra. Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck


Membro dos Departamentos de Neonatologia da SBP e da SPSP
Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Professora Colaboradora Médica do Departamento de Pediatria da FMUSP
Médica Encarregada de Setor do Berçário Anexo à Maternidade do ICR do Hospital das Clínicas - FMUSP

A avaliação do crescimento dos recém-nascidos (RN), logo após o nascimento, é


um procedimento rotineiro e que envolve a obtenção de medidas antropométricas que
deverão ser comparadas com os dados fornecidos por gráficos ou tabelas padroniza-
dos, de acordo com a idade gestacional e o sexo e apresentados na forma de percentil
ou escore “Z”. As medidas usualmente utilizadas como índices de crescimento são:
peso, comprimento e perímetro cefálico.
Avaliar o crescimento do recém-nascido pré-termo (RNPT) e especialmente daque-
le pequeno para sua idade gestacional (PIG), o qual provavelmente sofreu algum retar-
do do crescimento intrauterino (RCIU), é importante para identificar seu prognóstico e
crescimento, no sentido de alcançar uma vida saudável e semelhante aos demais1.
Essa avaliação é obtida pela comparação da medida individual, através do gráfico
respectivo, com a população, permitindo estabelecer uma avaliação do estado nu-
tricional desse recém-nascido e fornecendo informações em relação a quantidade e
qualidade do crescimento intrauterino.

É essencial identificar os agravos nutricionais que ocorreram


intraútero para estabelecer intervenções pós-natais.

22 Crescimento de RNPT de muito baixo peso nos primeiros anos de vida


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Apesar da atenção dispensada à nutrição logo após o nascimento dos RNMBP,


especialmente aos mais prematuros e de extremo baixo peso, observa-se que a falha
de crescimento nas primeiras semanas de vida e no momento da alta hospitalar ainda
é muito frequente. O estudo do National Institute of Health and Child Development
Research Network2, avaliando uma coorte de RNMBP de 1995-1998, mostrou que
22% dos RN ao nascimento foram classificados como PIG, e com 36 semanas de idade
gestacional corrigida para a prematuridade 97% da coorte estava abaixo do percentil
10 para o peso, configurando uma RCEU. Com os avanços tecnológicos e melhora ex-
pressiva da abordagem nutricional desses pacientes, observando-se um aumento da
velocidade de crescimento nesse grupo de maior risco de agravos nutricionais, ainda
não se conhece a melhor abordagem nutricional que propiciaria um crescimento e de-
senvolvimento adequados sem aumentar o risco de doenças futuras3,4.

Que curva de referência utilizar?

O parâmetro utilizado para determinar o crescimento pós-natal ótimo baseia-se na


velocidade de crescimento intrauterino.
Entre 23 a 27 semanas de gestação a velocidade de ganho de peso médio é de
21 g/kg/dia (15 g/dia), desacelerando para 12 g/kg/dia (33 g/dia) entre 35 a 37 se-
manas.
A média da velocidade de crescimento de 23 a 37 semanas é de 16  g/kg/d
(25 g/d).
Entretanto, o crescimento pós-natal dificilmente irá manter essa velocidade, pois
logo após o nascimento ocorre perda de peso, mais acentuada quanto menor o peso
de nascimento (PN) e a idade gestacional (IG), podendo chegar a 15% do peso de
nascimento, e a recuperação não ocorre antes de 10 a 21 dias de vida. Portanto,
mesmo que apresente uma aceleração da velocidade de crescimento (catch up) após
esse período, a grande maioria dos RNMBP estará com atraso do crescimento quando
atingirem 40 semanas de idade gestacional, comparados com os recém-nascidos a
termo4.
Várias curvas de crescimento5-8 têm sido utilizadas para o monitoramento dos
RNPT-MBP, mas nenhuma pode ser considerada ideal. Até atingir 40 semanas de IG
corrigida, pode-se utilizar as curvas de crescimento intrauterina, como a de Alexander
et al.5 ou baseada no pós-natal, como de Ehrenkrank et al.6. O importante é que cada
serviço escolha e utilize uma curva padrão para peso, comprimento e perímetro cefáli-

Crescimento de RNPT de muito baixo peso nos primeiros anos de vida 23


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

co, de acordo com o sexo e a idade gestacional. Após 40 semanas de idade gestacional
corrigida (IGc) podem-se utilizar as curvas de referência da OMS 2006, apresentadas
na forma de escore Z, diferenciadas pelo gênero (meninas/meninos).

Como utilizá-las?

Os RNMBP devem ser monitorados através da plotagem semanal, em curva de


crescimento intrauterino, das medidas de peso, comprimento e perímetro cefálico a
cada semana de idade gestacional corrigida (IGc), até atingir 40 semanas. A partir
de 40 semanas de IGc, deve-se utilizar a curva padrão de crescimento pós-natal,
considerando-a como o ponto zero na nova curva, e continuar utilizando a idade
corrigida para a prematuridade (ICP), ou seja, descontando da idade cronológica as
semanas que faltaram para a idade gestacional atingir 40 semanas (termo).

EXEMPLO: recém-nascido com 30 semanas de idade gestacional, aos 3


meses de idade cronológica terá idade corrigida = 40-30 = 10 semanas (2
meses e 15 dias de diferença), 3m-2m 15 dv = 15 dias de idade corrigida
para a prematuridade.

Até os 3 anos de idade deve utilizar a ICP, e, posteriormente, utilizar a idade cro-
nológica.
A avaliação do crescimento deve ser feita através de medidas periódicas (mensal
nos primeiros 6 meses, bimensal até 12 meses, quadrimensal até 24 meses, semestral
até 36 meses e, posteriormente, uma vez por ano) de peso, estatura, perímetro cefá-
lico a cada retorno, plotado nas curvas de crescimento de referência da OMS (2006),
de preferência a curva de escore Z.
Nos primeiros meses de ICP ocorre uma aceleração da velocidade de crescimento
com recuperação inicial do perímetro cefálico, seguida do comprimento, e, finalmen-
te, o peso. Alcançado o ponto de estabilidade de crescimento após a recuperação, a
criança atinge seu canal de crescimento dentro da curva de referência, e o crescimen-
to prossegue com o padrão próprio da criança mantendo-se paralelo aos canais da
referida curva9.

24 Crescimento de RNPT de muito baixo peso nos primeiros anos de vida


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Referências

1. Silveira RC, Proianoy RS. Crescimento nos primeiros anos de vida de recém-nascido de muito
baixo peso. In: Programa de Atualização em Neonatologia - PRORN Artmed/Panamericana Editora
Ltda., 2010, v.C7M4, p. 49-86.
2. Lemons JA, Bauer CR, Oh W, et al. Very low birth weight outcomes of the National Institute
of Child health and human development neonatal research network, January 1995 through
December 1996. NICHD Neonatal Research Network. Pediatrics. 2001;107(1):E1–8.
3. Bloom BT, Mulligan J, Arnold C, et al. Improving growth of very low birth weight infants in the
first 28 days. Pediatrics. 2003;112(1 Pt1):8–14.
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5. Alexander GR, Hilmes JH, Kaufman RB, Mor J, Kogan M. A United States national reference for
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Medicine. 6th ed. St. Louis: Mosby;1997. p. 952-7.

Sinais de alerta para déficit


no primeiro ano de vida

Dra. Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck


Membro dos Departamentos de Neonatologia da SBP e da SPSP
Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Professora Colaboradora Médica do Departamento de Pediatria da FMUSP
Médica Encarregada de Setor do Berçário Anexo à Maternidade do ICR do Hospital das Clínicas - FMUSP

Durante o primeiro ano de vida observa-se uma aceleração da velocidade de cres-


cimento de todos os parâmetros caracterizado pela mudança do escore Z. O períme-
tro cefálico se destaca nesse período, atingindo seu canal de crescimento entre os

Sinais de alerta para déficit no primeiro ano de vida 25


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

escores Z -2 a +2 entre 6 a 12 meses de ICP. Vários estudos têm relacionado pior


prognóstico neurológico nos casos de crescimento insuficiente ou exagerado do PC
nos primeiros meses de vida, merecendo uma atenção redobrada1,2,3.
No primeiro ano de ICP observa-se uma aceleração do peso e comprimento, mas
sem que consiga atingir escores adequados. É importante salientar que a criança po-
derá recuperar o peso e o comprimento mais lentamente, atingindo a normalidade nas
curvas de referência entre 2 a 3 anos. Geralmente, o comprimento atinge a normali-
dade ao redor de 2 anos, e o peso com 3 anos de ICP. Os casos de RN extremo baixo
peso (PN < 1.000g) e/ou extremos prematuros (IG < 28 semanas) podem necessitar de
mais tempo para essa recuperação3.
Para avaliar mais adequadamente o crescimento dos RNMBP é importante diferen-
ciar os RN adequados para a idade gestacional (AIG) e saudáveis, onde estes fenô-
menos ocorrem dentro dos dois primeiros anos de vida. Entretanto, aproximadamente
15% ainda estão, aos três anos de idade, com o peso abaixo da média. Para os RN
pequenos para a idade gestacional (PIG), a ordem de recuperação dos dados antro-
pométricos é igual a dos AIG. Entretanto, aos 3 anos de idade, 50% deles apresentam
peso menor que a média para a idade3.

Sinais de alerta após o primeiro ano de vida

Os RNMBP cuja curva de crescimento não se aproxima dos escores mínimos da nor-
malidade, apresentando achatamento ou padrão descendente, requerem investigação.
Em casos de falha de crescimento pode ser indicado o uso de hormônio de cresci-
mento com o objetivo de atingir uma estatura mais aceita socialmente. Os grupos de
maior risco de evoluírem com falha são: os RN com PN < 850 gramas, IG < 28 semanas,
portadores de displasia broncopulmonar, e os PIG.
Em contraste, os RN que apresentam maior catch-up nos primeiros anos, especial-
mente em relação ao peso, ultrapassando o escore Z estabelecido para o perímetro
cefálico e o comprimento, terão maior risco de desenvolver hipertensão arterial, dia-
betes tipo II e doença cardiovascular na adolescência ou adulto jovem4. Essas crianças
devem ser vigiadas, através das curvas de crescimento, medida de pressão arterial e
controles laboratoriais (glicemia, colesterol e triglicérides), iniciando precocemente a
intervenção dietética nos casos de desvios nutricionais. Esse cuidado permite preve-
nir ou minimizar esses riscos.

26 Sinais de alerta para déficit no primeiro ano de vida


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Referências

1. Lemons JA, Bauer CR, Oh W, et al. Very low birth weight outcomes of the National Institute
of Child health and human development neonatal research network, January 1995 through
December 1996. NICHD Neonatal Research Network. Pediatrics. 2001;107(1):E1–8.

2. Rugolo LSS. Crescimento e desenvolvimento a longo prazo do prematuro extremo. J Pediatr (Rio
J). 2005;81(1 Supl):S101-S110.

3. Hack M. Follow-up for high-risk neonates. In: Fanaroff AA, Martin RJ, editors. Neonatal-Perinatal
Medicine. 6th ed. St. Louis: Mosby; 1997. p. 952-7.

4. Uhing MR, Das UG. Optimizing growthin the preterm infant. Clin Perinatol. 2009;36:165–76.

Sinais de alerta para doenças crônicas


na vida adulta

Dra. Aurimery Chermont


Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Pará
Neonatologista, Doutora em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria,
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo

A sobrevida de prematuros extremos é crescente no mundo todo, porém, 1/3 dos


jovens adultos aos 20 anos terá ao menos um problema crônico, comparado a 1/5 dos
nascidos a termo1,2. Devemos estar atentos aos sinais de alerta no acompanhamento
pós-alta dos prematuros, uma vez que é necessário trabalhar a prevenção com a fa-
mília e seu prematuro, devido ao risco de sequelas motoras e neurosensoriais.
Sabe-se que, para cada 100 prematuros com IG ≤ 26 semanas, haverá três casos
de paralisia cerebral, um caso de cegueira e de surdez, e quatro casos de retardo
mental. Já para cada 100 bebês com peso de nascimento inferior ou menor de 800
gramas, há quase dois casos de paralisia cerebral e de cegueira, um de surdez e cinco
de retardo mental3.

Sinais de alerta para doenças crônicas na vida adulta 27


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Destacam-se algumas situações críticas que indicam tópicos de alerta; resumida-


mente apresentados:
Crescimento: meninos de muito baixo peso, sem sequelas neurossensoriais e mes-
mo nível socioeconômico aos 20 anos de idade, apresentaram peso e estatura me-
nores e baixo IMC comparado a controles de peso adequado. As meninas possuíam
21% de taxas de sobrepeso e 30% de obesidade; com risco elevado para hipertensão,
doença coronariana e morte por doença cardiovascular na vida adulta2,4.
Síndrome metabólica: estudos epidemiológicos têm demonstrado que baixo peso
ao nascimento está associado com o aumento do risco para aterosclerose e doenças
cardiovasculares na vida adulta. A prematuridade está estreitamente relacionada com
mais baixo peso de nascimento. Ainda não está bem definido o real papel da prema-
turidade neste contexto. Acredita-se que o nascimento prematuro pode trazer como
consequências para a vida adulta: diabete tipo II, obesidade, hipertensão e doença co-
ronariana, da mesma forma que o já estabelecido para o baixo peso de nascimento5.
Respiratório: os prematuros aos 18 anos de idade têm menor capacidade fun-
cional residual, menor volume pulmonar. Discute-se a relação de prematuridade e
maiores taxas de asma, rinite alérgica, com taxas de sibilância recorrentes em até
50% dos ex-prematuros. Há evidências de que crianças displásicas (ex.: prematuros
com história passada de displasia broncopulmonar) em todas as idades apresentam
grande necessidade de uso de medicação à base de inaladores para asma e signifi-
cante obstrução ao fluxo de ar. Redução da função pulmonar no prematuro pode ser
relacionada a alterações de desenvolvimento alveolar e pobre crescimento pulmonar,
independentemente da severidade da doença inicial e dos efeitos decorrentes das
terapias ventilatórias utilizadas durante a internação neonatal (veja capítulo referente
à função pulmonar neste manual).
Intelecto: o percentual QI superior a 85 é menor nas crianças prematuras de muito
baixo peso. Se o prematuro recebe alta da UTI Neonatal sem morbidade, apresenta
chance similar de bom desempenho na escola e de ter emprego na vida adulta de um
recém-nascido a termo. Porém, a chance de não completar o ensino médio nas meni-
nas e nos meninos é maior em qualquer faixa de prematuridade. A dificuldade escolar,
especialmente para habilidades matemáticas na infância precoce, é um sinal de alerta
para problemas de desempenho no trabalho na vida adulta daquela criança nascida
prematura.
O nível socioeconômico, em especial a escolaridade materna, é fundamental para
o desempenho cognitivo e educacional dos pretermos. O prognóstico a longo prazo é
determinado cada vez mais por fatores sociodemográficos5,6.

28 Sinais de alerta para déficit no primeiro ano de vida


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Comportamental: os meninos usam menos drogas, cigarro e álcool, obedecem


mais as leis e as meninas apresentam menor risco para gravidez na adolescência. No
entanto, possuem tendência ao sedentarismo, se engajam menos no grupo social, e
requerem maior proteção5.
Personalidade: possuem menos emoções negativas, maior submissão, cautela e cor-
dialidade, e as meninas maior tendência à internalização e maior ansiedade. Maior fre-
quência de psicopatia quando são adultos jovens, o que indica aconselhamento, destas
famílias a lidar com o psiquismo destas crianças para prevenir potencial psicopatológico. O
risco de déficit de atenção e hiperatividade é maior nos prematuros abaixo de 1.500 g7.
Os prematuros formam um grupo particular de potencial risco na interação com os
seus pais. Todos os procedimentos a que são submetidos no hospital os afastam dos
primeiros contatos com seus pais, contatos estes essenciais para a formação de vínculo.
O atraso neste contato inicial pode gerar dificuldades nas primeiras relações de apego e
na formação de vínculos afetivos no futuro. Como os seres humanos são adaptáveis e
são possíveis vários caminhos para a construção de ligações afetivas, estas devem ser
estimuladas desde o princípio na relação pais-bebê na UTI Neonatal7,8.

Referências

1. Hack M, Flannery DJ, Schluchter M, Cartar L, Borawski E, Klein N. Outcomes in young adulthood
for very-low-birth-weight infants. N Engl J Med. 2002;346(3):149-57.
2. Hack M, Schluchter M, Cartar L, Rahman M, Cuttler L, Borawski E. Growth of very low birth weight
infants to age 20 years. Pediatrics. 2003;112:e30-8.
3. Saigal S, Stoskopf B, Streiner D, Boyle M, Pinelli J, Paneth N, Goddeeris J. Transition of extremely
low-birth-weight infants from adolescence to young adulthood: comparison with normal birth-
weight controls. JAMA. 2006;295:667-75.
4. Kajantie E, Hovi P, Räikkönen K, Pesonen AK, Heinonen K, Järvenpää AL, Eriksson JG,
Strang-Karlsson S, Andersson S. Young adults with very low birth weight: leaving the parental
home and sexual relationships-Helsinki Study of Very Low Birth Weight Adults. Pediatrics.
2008;122:e62‑72.
5. Swamy GK, Ostbye T, Skjaerven R. Association of preterm birth with long-term survival,
reproduction, and next-generation preterm birth. JAMA. 2008;26;299:1429-36.
6. Pesonen AK, Räikkönen K, Heinonen K, Andersson S, Hovi P, Järvenpää AL, Eriksson JG, Kajantie.
Personality of young adults born prematurely: the Helsinki study of very low birth weight adults.
J Child Psychol Psychiatry. 2008;49:609-17.
7. Hack M, Youngstrom EA, Cartar L, Schluchter M, Taylor HG, Flannery D, Klein N, Borawski E.
Behavioral outcomes and evidence of psychopathology among very low birth weight infants at
age 20 years. Pediatrics. 2004;114:932-40.
8. Ekeus C, Lindstrom K, Lindblad F, Rasmussen F, Hjern A. Preterm birth, Social disadvantage and
cognitive competence in Swedish 18 to 19 Year Old Men. Pediatrics. 2010;125:e67e73.

Sinais de alerta para doenças crônicas na vida adulta 29


Nutrição após a alta 4
ÍNDICE

Nutrição do pretermo de muito baixo peso:


aspectos gerais e no primeiro ano

Dra. Rita de Cassia Silveira


Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Neonatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Chefe da Unidade Ambulatório de Neonatologia do HCPA

Sabemos que a maioria dos prematuros experimenta uma situação de déficit nutri-
cional durante a hospitalização na UTI Neonatal, classicamente conhecida como cres-
cimento extrauterino restrito. Após a alta da UTI Neonatal, nosso papel é determinar
o requerimento nutricional do nosso prematuro, com especial atenção no catch up do
crescimento (veja capítulo Avaliação do Crescimento nesse manual)1,2.
As necessidades nutricionais dos prematuros ainda não estão completamente
definidas na literatura, mas se acredita que sejam maiores que as de crianças
nascidas a termo, em função do objetivo de recuperação de um déficit prévio
no crescimento (catch up). De forma geral, é aceito como necessidades básicas
no primeiro ano de vida a oferta hídrica de 150-200 ml/kg/dia; calórica de 120-
130 cal/kg/dia; proteica de 2,5‑3,5 g/kg/dia; lipídica de 6,0-8,0 g/kg/dia, e de
carboidratos de 10-14 g/kg/dia.
Para alcançar esta meta nutricional básica, o prematuro necessita um programa
de orientação alimentar e nutricional padronizado, incluindo rotinas básicas
e adequando às suas necessidades. O pediatra necessita estar preparado para
orientar a família e coordenar a equipe multiprofissional que usualmente acompanha
as crianças muito prematuras3.

30 Nutrição do pretermo de muito baixo peso


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Rotinas para alimentação

O leite materno é sempre a primeira escolha na alimentação após a alta. Contém


altas concentrações de ácido docosahexaenoico (DHA), e este está relacionado com
melhor desempenho no neurodesenvolvimento. Além disso, o leite materno fornece
crescimento harmônico, com ganho de peso adequado nos primeiros anos de vida
(prevenindo a síndrome metabólica), possui nucleotídeos, lactoferrina e predominam
bifidobactérias. Há evidências que apontam para um efeito anti-infeccioso da lacto-
ferrina presente no leite humano4.

Devemos ter em mente e reforçar junto à família que a longa permanência na UTI
Neonatal não impede de amamentar, devendo ser um reforço para a mãe.

Fórmulas lácteas para primeiro (de início) e segundos semestres (de seguimento);
são alternativas ao aleitamento materno (AM), podendo ser empregadas em conjunto
com AM se for necessário (aleitamento misto). O volume de 200 ml/kg/dia das fórmu-
las de início é suficiente para oferta proteica e calórica adequadas.

Crianças nascidas prematuras que receberam suplementação de DHA e AA (ácido


araquidônico) no primeiro ano de vida, aos 12 meses de idade corrigida apresentavam
mais massa magra e menos massa gorda do que as crianças alimentadas sem esta
suplementação. Este dado reforça a importância de fórmulas adicionadas de ácidos
graxos poli-insaturados de cadeia longa (LC-PUFAS).

Nos prematuros com ganho de peso subnormal para idade pós-concepcional ou


com displasia broncopulmonar, patologia com necessidade de restrição hídrica, está
indicado suplementar com altas ofertas de proteína, minerais e oligoelementos, além
de LC-PUFAS, pelo menos até 52 semanas de idade corrigida. Como nestes casos
mais graves o aleitamento materno é mais difícil, pois a longa permanência na UTI
Neonatal gera maior nível de estresse e prejudica o pleno aleitamento materno, a al-
ternativa é o uso de fórmulas infantis mais concentradas.

Como aumentar a oferta de proteína, minerais e oligoelementos e manter a restrição


hídrica? Na prática, prepara-se uma medida do pó em 25 ml de água fervida, ao invés
dos 30 ml recomendados pelo fabricante, o que resulta em densidade calórica 20%
maior e obtém-se com volume 150 ml/kg/dia a oferta calórica de 120 Kcal/kg/dia.

Nutrição do pretermo de muito baixo peso 31


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Alimentação complementar no prematuro

O início da alimentação complementar depende da maturidade neurológica da crian-


ça, razão pela qual emprega-se a idade corrigida como parâmetro de decisão, e não a
idade cronológica da criança.
A Idade corrigida ou pós-concepcional (IC) pode ser determinada, pela seguinte
fórmula:

IC = I cronológica (dv ou sem) - (40 sem - IGP sem)

Exemplificando: nasce um prematuro com idade gestacional de 32 semanas, rece-


be alta hospitalar com três meses de vida (doze semanas), sua idade corrigida na alta
será de 44 semanas ou um mês de IC.
Numa situação de neurodesenvolvimento normal, entre 3 e 4 meses de idade
corrigida, a criança nascida prematura é capaz de fazer rolar para 2/3 posterior da
língua os alimentos semissólidos colocados no 1/3 anterior da língua. Já o reflexo de
mastigação estará presente somente entre 5 e 6 meses; nesta fase a criança é capaz
de controlar o reflexo de abrir a boca para dar entrada à colher e girar a cabeça para
os lados. Portanto, geralmente inicia-se alimentação complementar entre 4 e 6 meses
de idade corrigida e quando a criança adquire pelo menos 5 kg de peso, ou seja, tem
condições de gastar calorias.
A alimentação complementar é iniciada aos 6 meses de idade corrigida nas crian-
ças em aleitamento materno exclusivo, já o prematuro que recebe apenas aleitamento
artificial poderá iniciar com alimentação complementar mais cedo, com 3 meses de
idade corrigida.

Uso de suplementos: vitaminas, ferro e zinco6

A introdução da suplementação com ferro e vitaminas ACD inicia na internação


neonatal. As vitaminas, com 10 dias de vida, e o ferro entre 15 dias e 2 meses de
vida, quando haveria a queda da saturação dos transportadores plasmáticos e da fer-
ritina. O início depende ainda das condições clínicas para alimentação enteral na UTI
Neonatal.

32 Nutrição do pretermo de muito baixo peso


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A dose mínima de Vitamina D é 200 UI/dia (= 1 gota das apresentações comercial-


mente disponíveis).
A quantidade do ferro ofertada varia com o mais baixo peso ao nascer: nos pre-
maturos acima de 1.500 gramas de peso de nascimento, a partir de 30 dias de vida,
recomenda-se 2 mg/kg/dia durante 1 ano, e 1 mg/kg/dia por mais 1 ano. Naqueles
nascidos entre 1.500 gramas e 1.000 gramas de peso, 3 mg/kg/dia durante 1 ano e
mais 1 mg/kg/dia entre 1 e 2 anos de idade, e aos recém-nascidos com peso inferior
a 1.000 gramas deve ser ofertado 4 mg/kg/dia durante 1 ano, e 1 mg/kg/dia por mais
1 ano.
O zinco é oligoelemento fundamental nos processos fisiológicos que envolvem fun-
ção imune, defesa antioxidante e influencia no crescimento e no desenvolvimento de
tal forma que a sua deficiência pode causar déficit de crescimento pôndero-estatural.
A suplementação diária com 5 mg de zinco por seis meses melhora significativamente
o crescimento do prematuro.
Como a suplementação de zinco melhora significativamente o desenvolvimento
cognitivo e motor em pacientes prematuros de muito baixo peso, na rotina assistencial
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) iniciamos com sulfato de zinco quando
o recém-nascido atinge as 36 semanas de idade corrigida, e mantemos no ambulatório
até o sexto mês de idade corrigida. O sulfato de zinco deve ser formulado (10 mg/ml)
e adicionado à oferta alimentar.

Dificuldades comportamentais alimentares

São frequentemente observadas no seguimento ambulatorial do prematuro. As di-


ficuldades alimentares do prematuro podem ser consequências de alguma morbidade
do período neonatal, como enterocolite necrosante ou displasia bronco-pulmonar, ou
ainda causada pelo “stress de memória” decorrente dos múltiplos procedimentos a que
estes recém-nascidos estão sujeitos durante a sua hospitalização. O uso prolongado
de sonda gástrica tem sido descrito como causa de fobia alimentar no seguimento
ambulatorial após a alta.
A fobia alimentar pode ocorrer sempre que a criança sofreu alguma experiência
assustadora (engasgo por disfagia, distúrbio de deglutiçãoe problemas neurológicos
são alguns exemplos).

Nutrição do pretermo de muito baixo peso 33


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

As manifestações clínicas que auxiliam no diagnóstico desta situação são:

Presença de comportamento oral defensivo importante, a criança chora ao


ver o alimento ou a mamadeira, resiste à alimentação: chorando, arqueando
o corpo, recusando-se a abrir a boca.

Alteração no processamento sensorial extraoral e intraoral, observado


durante a avaliação fonoaudiológica.

Disfagia orofaríngea com sinais clínicos de aspiração para todas as


consistências (tanto líquida, quanto pastosa).

Reflexo de náusea muito acentuado, contribuindo para ocorrência de


vômitos.

Demanda de muito tempo durante as refeições e lanches: em média uma


hora/refeição.

Alimentação muito frequente, sendo descrita pela família e/ou cuidadores


como de 2 em 2 horas, mesmo ao final do primeiro ano de vida, e inclusive
à noite, causando alterações no padrão sono/vigília.

Considerações finais

É indispensável monitorizar a ingestão calórica e interpretar o ritmo de crescimento


do prematuro, baseando-se em um entendimento mais amplo da história pregressa
de cada um destes recém-nascidos, conhecendo as morbidades durante sua longa
permanência na UTI Neonatal, seus problemas no follow-up e suas expectativas de
crescimento no futuro. A adequada orientação alimentar enteral pós-alta, especial-
mente no primeiro ano de vida, amplia a expectativa de melhor qualidade de vida ao
prematuro, proporcionando crescimento e desenvolvimento saudáveis, enquanto pro-
cessos integrados e contínuos.

34 Nutrição do pretermo de muito baixo peso


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Referências

1. Euser AM, de Witt CC, Finken MJJ, Rijken M, Wit JM. Growth of preterm born children. Horm
Res. 2008;70:319-28.
2. Dusick AM, Poindexter BP, Ehrenkranz RA, Lemons JA. Growth failure in the preterm infant: can
we catch up? Sem Perinatol. 2003;27(4):302-10.
3. Silveira RC, Procianoy RS. Crescimento nos primeiros anos de vida de recém-nascidos de muito
baixo peso. In: Procianoy RS, Leone CR, editores. PRORN. Ciclo 7 - Módulo 4. Porto Alegre:
Artmed/Panamericana editora, 2010. p49-86.
4. Lin H-C, Hsu C-H, Chen H-L, Chung MY, Hsu JF, Lien R et al. Oral probiotics prevent necrotizing
enterocolitis in very low birth weight preterm infants: a multicenter, randomized, controlled trial.
Pediatrics. 2008;122:693-700.
5. Sices L, Wilson-Costello D, Minich N, Friedman H, Hack M. Postdischarge growth failure among
extremely low birth weight infants: correlates and consequences. Paediatr Child Health.
2007;12:22-8.
6. Mozaffari-Khosravi H, Shakiba M, Mohamad-Hassan E, Fatehi F. Effects of zinc supplementation
on physical growth in 2–5-year-old children. Biol Trace Elem Res. 2009;128:118–27.

Nutrição no pneumopata crônico

Dr. Mário Cícero Falcão


Doutor em Pediatria pelo Departamento de Pediatria
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Professor Colaborador da Disciplina de Pediatria Neonatal do Departamento de Pediatria da FMUSP
Médico Encarregado da Unidade de Cuidados Intensivo Neonatal
do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP

O nascimento prematuro é sempre uma situação de risco nutricional. Dentre os


diversos órgãos, o pulmão é particularmente afetado pela deficiência de nutrientes,
não permitindo que o seu amadurecimento ocorra de forma harmônica no ambiente
extrauterino, promovendo alterações da estrutura pulmonar com redução do coláge-
no, de fibras elásticas e de células que constituem o aparelho respiratório, como os
pneumócitos.
A displasia broncopulmonar é causa de morbidade pulmonar em longo prazo;
pode evoluir para pneumopatia crônica, sibilância e pneumonias de repetição, com
múltiplas hospitalizações e maior risco de morte súbita. As crianças com displasia
broncopulmonar apresentam um consumo 25% maior de oxigênio, mesmo em repouso,

Nutrição do pretermo de muito baixo peso 35


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

e isto se traduz em um aumento das exigências energéticas para o seu crescimento,


e estas são agravadas pela dificuldade de alimentação devida à insuficiência respira-
tória. Desta forma, este conjunto de morbidades agrava sobremaneira o déficit nutri-
cional já existente1,2.
A nutrição exerce papel importante em vários processos relativos à displasia bron-
copulmonar, como o próprio crescimento e desenvolvimento pulmonares, a tolerância
ao oxigênio, a regeneração pulmonar e a susceptibilidade às infecções. Portanto, no
prognóstico global desses recém-nascidos, um suporte nutricional adequado se mos-
tra imperioso, no sentido de se enfatizar uma nutrição adequada ao recém-nascido
de muito baixo peso, na tentativa de se exercer uma diminuição na prevalência desta
afecção ou, mesmo, em atenuar a sua própria evolução2.
Levando-se em conta que o recém-nascido com displasia broncopulmonar geral-
mente apresenta uma doença pulmonar aguda que evolui para a cronificação, o su-
porte nutricional deve ser bastante amplo, incluindo uma abordagem específica desde
o nascimento.
Na fase aguda, ainda sem estabilização, a nutrição parenteral deve ser utilizada
precocemente. A nutrição enteral mínima deve ser empregada assim que possível,
utilizando-se leite da própria mãe, para se promover o trofismo do trato gastrintesti-
nal e evitar a translocação bacteriana.
Ainda na fase aguda da doença pulmonar, porém já com estabilidade cardiocircu-
latória, a nutrição enteral deve ser incrementada, sempre que possível com o leite da
própria mãe, e a nutrição parenteral diminuída, até a sua suspensão.
Como os recém-nascidos com displasia broncopulmonar têm um gasto energético
aproximadamente 25% mais elevado, a oferta calórico-energética tem que ser maior,
entre 140 e 150 kcal/kg/dia.
Para obter uma nutrição enteral com uma dieta de alta densidade energética é útil
a introdução de aditivos do leite humano durante toda a internação na UTI Neonatal.

Abordagem nutricional no pneumopata após a alta hospitalar

O seguimento desses recém-nascidos após a alta do berçário, do ponto de vista


nutricional, ainda constitui um desafio, havendo vários protocolos em andamento,
procurando diferentes formulações e suplementações à dieta a ser oferecida, a fim de
promover um crescimento e desenvolvimento mais adequados. No entanto, ainda não
foram obtidos resultados consistentes o suficiente para uma recomendação objetiva.

36 Nutrição no pneumopata crônico


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Uma sobrecarga de carboidratos pode piorar a função respiratória por aumento do


quociente respiratório. Para reverter essa situação, o uso de lipídeos como fonte de
energia seria mais fisiológico no lactente com doença pulmonar, pois não sobrecar-
regaria a função respiratória. Entretanto, existem algumas desvantagens no uso de
quantidades maiores de lipídeos em longo prazo. Por este motivo, recomenda-se que
a oferta não ultrapasse 60% do total de calorias.
Lactentes com doença pulmonar crônica têm menores estoques de proteínas em
músculos, o que, associado ao fato de terem maior massa de gordura, sugere que
essas crianças venham recebendo cronicamente uma oferta inadequada de proteínas
em relação à energética.
O recém-nascido pré-termo costuma apresentar alterações no metabolismo do
cálcio e do fósforo. Na displasia broncopulmonar o risco de alterações no metabolismo
com depleção de cálcio e fósforo aumenta, principalmente na presença de oferta de
diuréticos calciúricos. Em função disto, maiores ofertas de cálcio e fósforo têm sido
recomendadas1-4.
A alimentação da criança com o leite da própria mãe é a base da nutrição infantil,
pois, além dos nutrientes necessários, o leite humano fornece fatores imunológicos,
de crescimento, elementos celulares e enzimas, entre outros, que protegem o recém-
nascido e o lactente contra infecções e regulam suas respostas imunes. No leite
humano destaca-se o papel dos lipídeos como fonte energética para o crescimento
adequado do lactente. O sistema lipídico do leite materno, responsável por aproxima-
damente 50% das calorias, é estruturado para o recém-nascido e o lactente. A diges-
tão e absorção do lipídio é facilitada pela organização da gordura, pelo tipo de ácido
graxo (ácidos palmítico, oleico, linoleico e linolênico), pela composição dos triglicérides
e pela lípase estimulada pelos sais biliares. Assim, o leite humano é o alimento de es-
colha para a criança prematura, não só pela sua capacidade de promover a digestão
absorção das gorduras, como também em razão das profundas funções metabólicas
atribuídas a sua composição ideal de ácidos graxos essenciais e poli-insaturados de
cadeia longa, que permitem um ótimo desenvolvimento neurológico4,5.
Lactentes portadores de cardiopatias congênitas, displasia broncopulmonar, des-
nutrição secundária a infecções neonatais e fibrose cística necessitam de atenção
nutricional individualizada, pois são crianças com risco nutricional iminente, por apre-
sentarem maior taxa metabólica basal e menores reservas corpóreas.
Os lactentes com pneumopatia crônica necessitam de grandes ofertas de nutrien-
tes para seu crescimento, desenvolvimento e maturação. Estes nutrientes devem pro-
ver o crescimento dessas crianças e também promover as suas reservas corpóreas.

Nutrição no pneumopata crônico 37


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Como não existem evidências de enteropatias específicas, como por exemplo, aquelas
com perdas de proteínas ou má absorção, essas crianças podem apresentar grandes
benefícios com dietas com densidades energéticas mais elevadas. O uso de uma dieta
hipercalórica e hiperproteica pode contribuir para que sejam oferecidas quantidades
adequadas de nutrientes por via enteral, respeitando as limitações de volume, fre-
quente abordagem terapêutica necessária para essas crianças3.
As dietas hipercalórica e hiperproteica apresentam alguns diferenciais, pois foram
desenhadas para serem ofertadas a lactentes doentes, menores do que um ano de
idade. Em primeiro lugar destaca-se a alta densidade calórica (1 ml = 1 kcal), Associa-
se a isto a quantidade proteica (2,6 g/100 ml), promovendo ótima relação proteína/
caloria para a recuperação de lactentes desnutridos. Em relação à qualidade proteica,
a relação proteína do soro/caseína é de 60:40, semelhante ao perfil de proteínas
do leite humano. Outro fato relevante é a osmolalidade da dieta de 350 mOsm/kg,
pois se sabe que estes lactentes geralmente não suportam osmolalidades superio-
res a 400  mOsm/kg. Em relação ao perfil lipídico, a adição de ácido araquidônico
(AA) e docosahexaenóico (DHA) tem por objetivo acelerar a síntese de fosfolipídios
das membranas celulares, melhorando o desenvolvimento neurológico e visual destas
crianças4-6.
A tabela abaixo evidencia de forma comparativa com a fase aguda, as necessidades
nutricionais dos recém-nascidos com doença pulmonar crônica.

Tabela 1 – Necessidades nutricionais em recém-nascidos


e lactentes com doença pulmonar crônica (DPC)

DNPC
Nutriente Fase aguda Fase crônica

Água â â
Energia á áá
Carboidratos á â
Gorduras – áá?
Proteínas – á
Cálcio – áá*
Vitamina A ?
áá  ?
á 
Vitamina E – ?
á 

* Especialmente em uso de diuréticos calciúricos.

38 Nutrição no pneumopata crônico


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Considerações finais

A nutrição da criança com pneumopatia crônica no primeiro ano de vida deve ser
individualizada, priorizando o aleitamento materno, e incentivando a sua manutenção.
Na impossibilidade do uso do leite humano (materno ou de banco de leite), as fórmulas
hipercalóricas e hiperproteicas são as alternativas para serem utilizadas, também de
maneira individualizada.

Referências

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rates for respiratory syncytial virus infection in premature infants born during two
consective seasons. Pediatr Infect Dis J. 2001;20:874-9.
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3. Falcão MC, Udsen N, Zamberlan P, Ceccon MER. Uso de dieta hiperproteica e
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4. Jordan IM, Robert A, Francart J, Sann L, Putet G. Growth in extremely low birth weight
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6. Vieira RA, Diniz EM, Vaz FA. Clinical and laboratory study of newborns with lower
respiratory tract infection due to respiratory viruses. Jfetal Neonatal Med. 2003;
13:341-50.

Nutrição no pneumopata crônico 39


Avaliação do desenvolvimento 5
ÍNDICE

Avaliação do desenvolvimento do prematuro

Dra. Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo


Professora Adjunta do Departamento de Pediatria - Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP
Chefe da Disciplina de Neonatologia

A avaliação do desenvolvimento infantil é responsabilidade de todo profissional da


área de saúde e deve ser feita rotineiramente em toda consulta médica, compreen-
dendo: o exame neurológico da criança, a valorização da opinião dos cuidadores, e a
avaliação dos marcos do desenvolvimento1.
Especial atenção deve ser dada ao desenvolvimento nos primeiros anos de vida,
período de grandes modificações e aquisições de habilidades nas diversas áreas: mo-
tora, linguagem, cognitiva e pessoal-social, quando os desvios da normalidade, os
distúrbios e atrasos manifestam-se e precisam ser detectados precocemente para
identificar as crianças que necessitam intervenção precoce1.

Fatores de risco e principais problemas no desenvolvimento2,3

Biológicos: prematuridade, especialmente os recém-nascidos prematuros (RNPT)


de muito baixo peso (< 1.500 g); muito prematuros (< 32 semanas de idade gestacional);
aqueles com morbidades graves no período neonatal, como displasia broncopulmonar,
hemorragia peri-intraventricular grave, leucomalácia periventricular; os com restrição
do crescimento intrauterino, e aqueles com perímetro cefálico anormal na alta.
Ambientais: baixa condição sócio-econômica-cultural e pais usuários de drogas.

40 Avaliação do desenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Para os RNPT de risco a avaliação rotineira do desenvolvimento não é suficiente;


há necessidade de avaliação sistematizada periódica com testes de triagem do desen-
volvimento para identificar crianças com suspeita de atraso que requerem a avaliação
mais específica do problema, orientação ou intervenção precoce, bem como o diag-
nóstico do desenvolvimento por meio de testes específicos.
Os principais problemas no desenvolvimento de RNPT de muito baixo peso são:
Nos primeiros 2 anos: distonias transitórias, menores escores nos testes de de-
senvolvimento, deficiências sensoriais, atraso na linguagem e paralisia cerebral.
Na idade escolar: pior desempenho acadêmico, principalmente em matemática,
leitura e ortografia; problemas comportamentais, especialmente hiperatividade e défi-
cit de atenção; menor fluência verbal, deficiência cognitiva e de memória; problemas
motores sutis; maior necessidade de escola especial.

Como avaliar o desenvolvimento do RNPT2,4

Uso da idade corrigida (IC)


Traduz o ajuste da idade cronológica em função do grau de prematuridade (subtrair
da idade cronológica as semanas que faltaram para a idade gestacional atingir 40 se-
manas). Embora não haja consenso sobre quanto tempo deve ser corrigida a idade do
prematuro, a maioria dos autores utiliza a IC nos primeiros 2 anos de vida.

O quê avaliar e quando


A avaliação do desenvolvimento inicia-se pela história clínica detalhada do RNPT
visando identificar fatores de risco, estimular e valorizar a opinião dos pais sobre
problemas no desenvolvimento deste filho. Segue-se a realização de detalhado exa-
me físico e neurológico que pode mostrar anormalidades sugestivas de determinada
etiologia, orientando para investigação diagnóstica e ou intervenção específica. En-
tretanto apenas essa avaliação clínica não é suficiente para detecção precoce dos
distúrbios do desenvolvimento (detecta cerca de 1/3 dos problemas, e geralmente os
mais graves), é necessário o seguimento com avaliações sistematizadas por meio de
testes de triagem do desenvolvimento, focalizando os aspectos mais relevantes nas
diversas faixas etárias.

Avaliação do desenvolvimento do prematuro 41


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

O desenvolvimento sensoriomotor é o principal aspecto a ser avaliado nos pri-


meiros 2 anos de vida, lembrando que as deficiências sensoriais (visual ou auditiva)
influenciam no desenvolvimento motor.

No primeiro ano as avaliações devem ser frequentes, com intervalo médio de 3


meses e especial atenção deve ser dada à evolução motora, com avaliação do tônus,
postura, mobilidade ativa e força muscular. Anormalidades transitórias na postura,
habilidades motoras grosseira e fina, coordenação, reflexos e principalmente disto-
nias (hiper ou hipotonia) são frequentes e desaparecem no segundo ano de vida.
Aos 9 meses, além da avaliação das habilidades motoras é importante verificar se
o crescimento do perímetro cefálico está dentro da normalidade, pois o inadequado
crescimento está associado ao pior prognóstico de desenvolvimento. A avaliação da
função motora grosseira aumenta a capacidade de diagnosticar paralisia cerebral leve
até 2 anos de idade. Persistência de padrões primitivos de tônus, reflexos e postura
no segundo semestre é um sinal de alerta, pois pode ser anormalidade transitória ou
manifestação de paralisia cerebral. A acurácia no diagnóstico de paralisia cerebral é
maior no segundo ano de vida, quando desaparecem as distonias transitórias.

Outro aspecto que precisa ser criteriosamente avaliado nos primeiros anos é o de-
senvolvimento da linguagem, pois quanto menor o peso de nascimento e a idade ges-
tacional, maior a chance de atraso seja nos marcos pré-linguísticos, como reconhecer
objetos e figuras, obedecer a comando verbal e executar atos simples aos 12 meses;
menor vocabulário e capacidade de formar frases aos 2-3 anos. Ao detectar problema
na linguagem há que se investigar a possibilidade de deficiência auditiva, pois neste
caso a intervenção audiológica precoce pode melhorar o prognóstico.

Aos 18-24 meses deve ser feito o diagnóstico do desenvolvimento, por meio
de testes específicos; aos 3 anos o diagnóstico do desenvolvimento da linguagem
e cognição; aos 4 anos a avaliação do comportamento, alterações sutís e visuo-
motoras, e a partir de 6 anos de idade deve ser acompanhado o desempenho escolar
da criança.

Quem avalia o desenvolvimento infantil


Dada a multiplicidade de aspectos que precisam ser avaliados, que podem apresen-
tar problemas e requererem intervenção específica precoce, há necessidade de equipe
multiprofissional, coordenada pelo pediatra e com participação de fisioterapeuta, tera-
peuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista, entre outros.

42 Avaliação do desenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Instrumentos de avaliação do desenvolvimento4,5

Há duas categorias de testes: de triagem e de diagnóstico. Dentre os vários tes-


tes utilizados, nenhum foi desenvolvido especificamente para crianças brasileiras, mas
alguns foram adaptados à nossa população.

Testes de triagem
Para serem válidos devem ter sensibilidade e especificidade mínimas de 0,7-0,8;
serem confiáveis e reprodutíveis. O uso seriado aumenta sensibilidade destes testes.
Denver II é o teste de triagem mais utilizado, de fácil e rápida execução (20
minutos). Pode ser aplicado por vários profissionais da saúde, sem necessidade de
treinamento. Não foi validado, mas foi adaptado para o Brasil e tem boa reprodutibi-
lidade. Avalia 4 setores do desenvolvimento: motor grosseiro, motor-adaptativo fino,
linguagem, pessoal-social. Pode ser usado na faixa etária de 0 a 6 anos. Permite saber
se o desenvolvimento da criança está dentro da faixa de normalidade e categorizar
o risco no desenvolvimento, mas não tem valor prognóstico e não avalia alterações
qualitativas. Na interpretação dos resultados considera-se: normal quando executa
as atividades previstas, aceitando-se 1 falha/área; suspeita de atraso se ≥ 2 falhas
em ≥ 2 áreas de atividades realizadas por 75-90% das crianças; atraso quando ≥ 2
falhas nas atividades realizadas por mais que 90% das crianças. Nos casos de suspeita
de atraso, reavaliar em 2-3 meses. Se persistirem as alterações, investigar a causa e
realizar intervenção. Uma limitação do teste de Denver II é sua baixa sensibilidade em
lactentes < 8 meses.
Outros testes de triagem têm sido utilizados, principalmente por fisioterapeutas e
terapeutas ocupacionais, focalizando o desenvolvimento motor, tais como:
Escala motora infantil Alberta (AIMS): de uso crescente no Brasil, avalia o de-
senvolvimento motor nos primeiros 18 meses de vida. Baseia-se na observação da
criança em 4 posturas quanto a: tempo de permanência, atitude antigravitacional e
mudança de posturas. Permite quantificar o desenvolvimento, pois o repertório de
respostas aumenta com a idade (mas pode gerar resultados duvidosos). Foi adaptado
à população brasileira, tem boa correlação com outros testes, é de fácil e rápida reali-
zação (20 minutos), geralmente aplicado por terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta.
É útil no acompanhamento de lactentes submetidos à intervenção precoce. Na inter-
pretação dos resultados o escore obtido é confrontado em uma escala de percentís e
considerado: normal: entre P25-90; suspeito: < P10 após o 6o mês; alto risco: P10 aos

Avaliação do desenvolvimento do prematuro 43


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

4 meses, P5 aos 8 meses. Apresenta maior sensibilidade a partir de 6 meses e melhor


acurácia quando o resultado for ≤ P5.

Avaliação dos movimentos generalizados: avalia de forma qualitativa os padrões


motores característicos dos RNPT e de termo, que se modificam com a idade, por meio
de filmagem dos movimentos espontâneos da criança acordada. A avaliação deve ser
feita em 3 momentos, a partir do 3° dia de vida até 20 semanas IC. Tem alta sensibi-
lidade e especificidade, mas requer treinamento, pois se baseia na observação visual.
É útil para detecção precoce de anormalidades aos 3 meses; nesta idade a ausência
de movimentos irregulares e a presença de espasmos predizem paralisia cerebral. Li-
mitação: não serve para acompanhamento da criança.

Teste infantil de desempenho motor (TIMP) : avalia a postura e movimentos


funcionais característicos do 1° trimestre, como: controle de cabeça e controle seletivo
dos membros, em várias posições e com estímulos visuais e auditivos. Aplicado desde
32 semanas de idade gestacional até 4 meses, tem se mostrado útil para discriminar
os graus de alterações.

Avaliação dos movimentos da criança: instrumento usado por terapeutas ocupa-


cionais e fisioterapeutas para avaliar efeito da fisioterapia. Não é bom método, pois
requer muita habilidade do examinador, é demorado e manipula muito a criança.

Testes de diagnóstico do desenvolvimento6,7


Escalas Bayley: é o instrumento mais utilizado. Avalia várias habilidades, a aquisi-
ção dos marcos de desenvolvimento e identifica áreas de atraso ou inadequação em
crianças de 1 até 42 meses, possibilitando o diagnóstico precoce de anormalidades
no desenvolvimento.
As escalas Bayley II têm sido as mais usadas na literatura para determinar as taxas
de atraso no desenvolvimento de prematuros e RN de risco. Bayley II compreende
três escalas: mental, psicomotora e comportamental (esta última realiza avaliação
qualitativa e não é utilizada). As escalas mental e psicomotora fornecem os índices de
desenvolvimento mental (MDI) e psicomotor (PDI). MDI avalia o desenvolvimento men-
tal, cognitivo e linguagem, enquanto que PDI avalia o desenvolvimento motor grosseiro
e fino. A aplicação das escalas é feita por psicólogo e o tempo depende da idade da
criança: 25-35 minutos se < 15 meses; até 60 minutos se > 15 meses. O escore mé-
dio tanto para o MDI como para o PDI é de 100±15 (variação 50-150) e com base na
pontuação da criança classifica-se: ≥ 115 desempenho acelerado; 85-114 = normal;
70-84 = atraso leve; < 70 = atraso grave.

44 Avaliação do desenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Uma limitação na Bayley II é a natureza ampla das escalas, sendo que MDI baixo
pode ser por atraso nas habilidades de comunicação, cognição ou ambas. Para corrigir
essa limitação foi proposta em 2006 a 3a versão das escalas Bayley, que incorpo-
rou um questionário para pais sobre o comportamento socioemocional e adaptativo
da criança e apresenta escores separados para os domínios: cognição, linguagem
e motor. Assim, pode discriminar melhor problemas específicos do desenvolvimento
norteando para intervenção específica; entretanto os estudos iniciais com o uso desta
versão sugerem que ela pode subestimar o atraso no desenvolvimento, pois os es-
cores obtidos pelos prematuros são próximos aos valores normativos. Recomenda-se
cautela ao interpretar os resultados da Bayley III em crianças de alto risco, na ausência
de um grupo controle9.
Estudo demonstrou que a avaliação do desenvolvimento de pré-termos de muito
baixo peso pela Bayley-III promove uma estimativa mais adequada da linguagem. Ava-
liando a comunicação receptiva e expressiva, a escala motora permite uma composi-
ção de escore com motricidade fina e ampla9.
Escalas de inteligência de Wechsler: essa avaliação é recomendada na idade
pré-escolar/escolar.

Avaliação da linguagem2,4,8

Atraso na linguagem além de ser frequente, chegando a acometer mais que 40%
dos RNPT < 1.000 g, associa-se com maior risco de problemas de aprendizagem (< ha-
bilidade na leitura e escrita), problemas comportamentais e de ajuste social. Mesmo
os RNPT com desenvolvimento normal têm pior desempenho na linguagem expressiva
(menor complexidade), receptiva (menor entendimento) e prejuízo na memória audio-
métrica e verbal, em comparação aos RN de termo. Assim, a avaliação do desenvol-
vimento da linguagem deve ser um tópico de especial atenção durante o seguimento
do RNPT. A ausência de verbalização com um ano de idade e quando a fala é confusa
ou diferente de outras crianças constituem motivo de preocupação.
O desenvolvimento da linguagem pode ser avaliado pelos testes de desenvolvimento
global como o Denver II e escalas Bayley e também por instrumentos específicos como
Inventário de MacArthur de Desenvolvimento Comunicativo, PPVT-R (Peabody Picture
Vocabulary Test-Revised) CAT/CLAMS (Cognitive Adaptative Test/Clinical Linguistic
Auditory Milestone Scale) e a escala ELM (Early language milestones).

Avaliação do desenvolvimento do prematuro 45


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Inventário de MacArthur compreende dois formulários: o primeiro designado Pala-


vras e gestos mede a compreensão, produção lexical e uso de gestos em crianças de
8-16 meses. O segundo, Palavras e sentenças, mede a produção lexical de crianças
de 16-30 meses. Esse instrumento foi adaptado e normatizado para a língua portu-
guesa.
ELM é um teste de triagem rápido (≤ 10 minutos), que avalia o desenvolvimento
da linguagem e fala na faixa etária de 0 a 36 meses. Tem boa sensibilidade e abrange
as áreas auditiva-expressiva, auditiva-receptiva e visual. Os resultados são avaliados
em percentís.
CAT/CLAMS é aplicado na faixa etária de 3-36 meses, com duração de 15-20
minutos. Avalia a capacidade visual-motora e de resolução de problemas, bem como
a linguagem expressiva e receptiva, fornecendo um quociente de desenvolvimento. É
bastante específico, mas pouco sensível.
PPVT-R é um teste de múltipla escolha, aplicado em crianças a partir de 3 anos,
que avalia o vocabulário receptivo, ou seja, o conhecimento das palavras, por meio da
identificação da figura que corresponde à palavra falada pelo examinador. O escore
obtido corresponde ao total de respostas corretas.

Em resumo

RNPT < 32 semanas, de muito baixo peso, com restrição do crescimento


intrauterino ou grave morbidade neonatal precisa de acompanhamento
sistematizado do desenvolvimento.

A avaliação do desenvolvimento deve ser iniciada precocemente, realizada de


forma sequencial e sistematizada, por equipe multiprofissional, com adequados
instrumentos de avaliação.

Cabe ao pediatra obter história clínica completa (identificar fatores de risco);


realizar exame físico e neurológico (identificar achados de risco) e acompanhar
o desenvolvimento por meio do teste de triagem de Denver II, que permite
saber se o desenvolvimento da criança está dentro da faixa de normalidade e
se há algum distúrbio que necessite investigação/intervenção específica.

46 Avaliação do desenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

O diagnóstico de desenvolvimento é realizado no 2° ano de vida, por meio das


escalas Bayley, aplicadas por psicólogos.

Nos primeiros dois anos de vida especial atenção deve ser dada ao
desenvolvimento sensoriomotor e da linguagem, que podem ser avaliados
por meio de instrumentos específicos aplicados por outros profissionais da
saúde, como: avaliação do desenvolvimento motor pela Escala Motora Infantil
de Alberta, avaliação dos movimentos generalizados e TIMP, aplicados por
fisioterapeutas ou terapeutas ocupacionais. Avaliação do desenvolvimento da
linguagem por meio de testes aplicados por fonoaudiólogos, tais como: ELM,
CAT/CLAMS, inventário de MacCarthur e PPVT-R.

Os distúrbios do desenvolvimento do RNPT nos primeiros anos de vida podem


comprometer a qualidade de vida futura, mas a identificação precoce dos
mesmos possibilita medidas de intervenção precoce e pode melhorar, em
muito, o prognóstico futuro do prematuro.

Referências

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Avaliação do desenvolvimento do prematuro 47


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Sinais de alerta para atraso no


neurodesenvolvimento do prematuro

Dra. Rita de Cassia Silveira


Membro do Departamento Científico de Neonatologia da SBP
Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Neonatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Chefe da Unidade Ambulatório de Neonatologia do HCPA

Fisioterapeuta Rubia do Nascimento Fuentefria


Especialização em Fisioterapia Neurofuncional e em Clínica Interdisciplinar em Estimulação Precoce
Doutoranda em Saúde da Criança e do Adolescente - UFRGS

O desenvolvimento motor é um processo sequencial que envolve a aquisição de


habilidades motoras progressivamente maiores, ou seja, a evolução de movimentos
e reflexos primitivos para movimentos voluntários e controlados. É necessário co-
nhecer cada etapa evolutiva normal da criança a fim de determinar sinais de alerta
para atraso. O foco deve ser nos aspectos evolutivos do primeiro ano de vida, em
função das múltiplas aquisições neuroevolutivas que caracterizam esta fase da vida.
A detecção no período neonatal de lesões cerebrais ao ultrassom, como leucomalácia
periventricular e hemorragia peri-intraventricular são importantes preditores de para-
lisia cerebral (PC) em pré-termos de risco1. No entanto, estudo multicêntrico mostrou
que 1/3 das crianças que desenvolvem PC não apresentavam lesões cerebrais, e que
pré-termo com ruptura prematura das membranas ovulares (ROPREMA) e do sexo
masculino são fatores de risco independentes para PC2.
O nascimento prematuro desafia o desenvolvimento do controle motor, já que a
criança começa a vida extrauterina com os sistemas motor e sensorial imaturos e
mais vulneráveis. Há risco de apresentar pobre comportamento motor e exploratório,
além de pouca variabilidade no movimento voluntário3. Estudos têm mostrado de-
senvolvimento motor inferior quando comparado ao das crianças nascidas a termo,
mesmo com a correção da idade. Estas diferenças parecem estar relacionadas ao
atraso no desenvolvimento de habilidades motoras nas posições mais verticais, como
sentado e em pé, posições estas que exigem maior força muscular e controle motor
antigravitacional4,5.

48 Sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Nas consultas de seguimento do pré-termo é fundamental definir os sinais de aler-


ta, conforme as aquisições evolutivas, portanto:

De 40 semanas a três meses de IC

É esperado que neste período a criança tenha uma atitude postural em assimetria
por influência do reflexo tônico cervical assimétrico, em flexão dos membros superio-
res e inferiores devido à hipertonia flexora fisiológica e que seus movimentos sejam
de ordem reflexa.
No entanto, sinais de alerta podem estar presentes e indicar de forma muito preco-
ce alterações existentes. São eles: pouco interesse aos estímulos visuais e auditivos;
ausência do reflexo de fuga; mãos cerradas e polegar incluso na palma da mão de
forma persistente; exagero da hipertonia flexora dos membros superiores e inferiores,
com muita dificuldade para a movimentação destes segmentos; hipotonia dos mem-
bros superiores e inferiores, com ausência de resistência durante a movimentação
destes segmentos; cotovelos dirigidos excessivamente para trás na postura sentada
e em prono; e reflexos exacerbados, ausentes ou com respostas assimétricas (por
exemplo, reflexos de Moro e de Preensão Palmar assimétricos).

De quatro a seis meses de IC

Nesta etapa o lactente ex-prematuro deverá apresentar controle cefálico e pa-


drão de simetria corporal, tônus de tronco presente com redução da hipertonia dos
membros e início da hipotonia fisiológica. Esta evolução neuromotora permitirá a ex-
ploração do seu corpo e a movimentação antigravitacional. No entanto, se persis-
tir hipertonia devemos ficar alertas. Além disso, o prematuro com comprometimento
significativo não brinca e segura os pés aos 5-6 meses de IC, nem rola, passando de
decúbito lateral para prono e vice-versa.
Ausência de “lalação” fisiológica e de exploração do ambiente pode ser um sinal
precoce de espectro autista. Ausência de desenvolvimento do controle flexor com-
pleto até o final do sexto mês de IC significa atraso motor. A presença de reflexos
primitivos em geral, aos seis meses, é preocupante, assim como a criança que não
interage com o meio social.

Sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento do prematuro 49


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A criança deve ser testada na postura prono, observando sua capacidade de apoiar-
se nos antebraços com controle da cabeça e alinhamento ombro-cotovelo. Espera-se
esta aquisição em torno dos 3 aos 4 meses. A dificuldade em elevar a cabeça, os
ombros e o tronco superior pode estar refletindo uma inabilidade para vencer a ação
da gravidade, seja por hipotonia cervical e dos músculos dos ombros ou até mesmo
por falta de experiência nesta postura. Já a exagerada extensão, observada nos bebês
que se empurram constantemente para trás quando estão em prono e que apresen-
tam os cotovelos excessivamente para trás dos ombros, pode sugerir presença de
hipertonia extensora axial e/ou hipertonia flexora dos membros superiores.
Na posição sentada, a cabeça não oscila mais a partir do quarto mês de IC, há es-
boço de apoio anterior aos cinco meses e os membros superiores apresentam função
de sustentação corporal. Aos seis meses de IC já tem melhor controle de tronco na
postura sentada, podendo permanecer sentado sem apoio ou com discreto apoio das
mãos. A criança também deve ser observada com suspensão vertical onde normal-
mente ocorre ausência de apoio em membros inferiores, pois não há sustentação de
peso corporal nos membros inferiores antes dos seis meses de IC (período de astasia-
abasia).
O teste de tração de supino para a postura sentada pode oferecer informações
importantes quanto ao tônus muscular da coluna cervical e controle da cabeça. O ân-
gulo dos adutores, dos poplíteos e a manobra do echarpe também são relevantes para
comparar membros superiores e inferiores e verificar simetria direita-esquerda nesta
e nas próximas fases do primeiro ano de vida.
Em resumo, os sinais de alerta para atraso no final do segundo trimestre são: con-
trole pobre da cabeça, ausência de fixação ocular na mãe e nos objetos coloridos e
sonoros, hiperextensão da cabeça e tronco (desequilíbrio do tônus axial), persistência
de assimetria (presença frequente do reflexo tônico-cervical assimétrico), hipertonia
de membros superiores e inferiores e pobreza de movimentação voluntária de um
hemicorpo em relação ao outro.

De sete a nove meses de IC

A partir dos sete meses de IC é esperado que o bebê tenha a capacidade de se


manter sentado sem apoio dos membros superiores, liberando-os para brincar. Esta
aquisição deve ser obtida entre 7 e 9 meses de IC, sendo assim, o controle pobre de
tronco neste período pode ser observado por meio da queda do tronco para frente,

50 Sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

sugerindo um quadro de hipotonia axial; ou ainda pela queda para trás, sugerindo de-
sequilíbrio do tônus axial e hipertonia dos membros inferiores. As reações de proteção
dos membros superiores surgem quando a postura sentada é adquirida e podem ser
avaliadas deslocando lateralmente e de forma brusca o ombro da criança. A ausência
ou o retardo na resposta extensora, ou ainda assimetria na resposta direita-esquerda
pode ser sinal de algum dano neurológico.
Nesta etapa a criança normalmente prefere ficar em posição prono, pois há mais
condição de movimentos, arrastando-se para frente. Aos oito meses de IC há o início
do engatinhar e com nove meses torna-se mais competente nesta função, desde que
não tenha atraso motor. Também é importante observar se o paciente consegue man-
ter parcialmente o peso do corpo sobre seus membros inferiores.
Desta forma, os sinais de alerta para atraso no final do terceiro trimestre são:
controle pobre de tronco (queda exagerada para frente ou para trás), ausência ou
assimetria de respostas na Reação de Paraquedas (extensão protetora dos membros
superiores), ausência de respostas na Reação de Landau (combinação de reação de
retificação com reflexos tônicos) e persistência de reflexos primitivos.

De dez aos doze meses de IC

Nessa fase é preocupante a ausência de interesse na exploração do ambiente,


observada naquela criança com dificuldade de mobilidade e que aceita pouco os es-
tímulos e brincadeiras (não busca brinquedos fora de seu alcance). A ausencia de
linguagem simbólica: “pa-pa, ma-ma” poderá significar perda de audição. Na presença
de leucomalácia periventricular, a criança não conseguirá sentar-se com membros
inferiores estendidos e alinhados, devido à diplegia espástica.
A maturação neurológica e os estímulos ambientais irão se refletir na capacidade
da criança escalar móveis e pessoas, na aquisição da postura em pé com apoio, na
marcha lateral e na marcha independente, a qual se dá em média aos 13 meses de IC
(com limite de aquisição em torno dos 18 meses de IC), e no aperfeiçoamento do indi-
cador e do polegar para o uso da pinça superior, o qual se espera que aconteça antes
dos 12 meses de idade de IC. A maturação do indicador para pinça superior depende
muito de estímulos recebidos ao brincar, portanto a ausência desta é frequente em
prematuros, inclusive por aspectos de superproteção familiar ou ainda por dano motor
das funções superiores, caso haja postura aduzida do polegar durante as preensões
voluntárias.

Sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento do prematuro 51


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Os sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento ao final dos 10-12 me-


ses de IC são: dificuldade para engatinhar ou se deslocar em busca de um brinquedo
que não está ao seu alcance, dificuldade na transferência de peso para os membros
inferiores quando posicionado em pé, presença de um padrão reflexo de apoio dos
membros inferiores e de marcha, e ainda marcha em tesoura, muito característica de
neuropatologia grave. Sinais de hipertonia, distonias ou outras alterações de tônus
podem se tornar mais evidentes nesta fase.
Identificar precocemente os prematuros que estão em risco para o neurodesenvol-
vimento requer atenção dos profissionais quanto aos sinais de alerta, os quais podem
se manifestar ainda nos primeiros meses de vida. Neste sentido, a avaliação e a inter-
venção podem acontecer precocemente, ou seja, no primeiro ano de vida da criança,
período este de maior plasticidade cerebral, aumentando assim as chances de reverter
o quadro e prevenir deficiências.

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52 Sinais de alerta para atraso no neurodesenvolvimento do prematuro


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Psicopatologias no prematuro
Dra. Marina Carvalho de Moraes Barros
Doutora em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria
Professora Afiliada da Disciplina de Pediatria Neonatal do Departamento de Pediatria
da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo

Dra. Ruth Guinsburg


Professora Titular da Disciplina de Pediatria Neonatal do
Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo

No Brasil, 7,0% dos recém-nascidos são prematuros, sendo 1,3% com muito baixo
peso ao nascer, taxas essas que vêm se elevando nos últimos dez anos. Paralelamen-
te, observa-se um aumento da sobrevida dessas crianças, que passam a representar
uma parcela importante das acompanhadas em serviços de puericultura. A criança
nascida prematura, especialmente aquela com peso ao nascer inferior a 1.000 gramas,
é de risco para apresentar vários distúrbios do neurodesenvolvimento, entre eles a
paralisia cerebral (12-13%), o déficit cognitivo (17-42%), a deficiência visual (2-13%)
e/ou auditiva (1-6%), problemas esses identificados, em geral, já nos primeiros dois
anos de vida. A partir da idade pré-escolar, escolar e adolescência, a atenção da equi-
pe multidisciplinar que acompanha estes pacientes deve se voltar para a possibilida-
de de dificuldades escolares, alterações comportamentais e distúrbios psiquiátricos.
Todos esses temas são tratados no presente Manual, mas a ênfase desse capítulo se
relaciona à identificação de possíveis distúrbios psiquiátricos nas clínicas de segui-
mento de neonatos prematuros.
De maneira geral, os fatores de risco associados às alterações do desenvolvimento
são aqueles também associados à complexa gama de distúrbios comportamentais e
psicopatológicos que podem acometer os prematuros. Deve-se lembrar que, na maio-
ria das vezes, diversas variáveis abaixo citadas coexistem em uma mesma criança.
Destacam-se, no rol de variáveis que contribuem para os transtornos do desenvolvi-
mento do prematuro, em relação aos fatores maternos, o baixo nível socioeconômico,
a reduzida escolaridade materna, a gestação múltipla, a corioamnionite e as síndromes
hemorrágicas do 3° trimestre de gestação. Em relação às características neonatais, são
referidas a baixa idade gestacional, o baixo peso ao nascer e o sexo masculino. No to-
cante às intercorrências neonatais, vale citar a hemorragia perintraventricular, a leuco-
malácia periventricular, a doença pulmonar crônica, a sepse, a enterocolite necrosante,
a meningite, a síndrome do desconforto respiratório, o pneumotórax, a presença de

Psicopatologia no prematuro 53
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

episódios repetidos de hipotensão e de hipocapnia, além da presença de estresse e dor


durante a permanência na unidade de terapia intensiva. Alguns procedimentos e medi-
das de suporte aos quais os prematuros são submetidos no período neonatal também
se constituem em fatores associados a alterações do desenvolvimento, ressaltando-se
o uso pós-natal de corticosteroides e o tempo de ventilação mecânica1.
A pesquisa na área do desenvolvimento de prematuros vem buscando, com gran-
de intensidade nos últimos anos, substrato anatômico, em especial com exames de
neuroimagem, para as alterações encontradas em termos de cognição, comporta-
mento e psicopatologia. Tal pesquisa visa, por um lado, entender as modificações
da arquitetura do sistema nervoso central que expliquem os achados do seguimento
desse grupo de pacientes e, por outro lado, encontrar marcadores que possibilitem a
identificação precoce e o cuidado especializado daquelas crianças que desenvolverão
as alterações de desenvolvimento. Entre as lesões de substância branca observadas
no período neonatal, destacam-se as alterações de sinal, as alterações císticas, a
redução de volume, o aumento do tamanho dos ventrículos e o afilamento do corpo
caloso. Em relação à substância cinzenta, além da alteração de sinal, citam-se o au-
mento do espaço subaracnoídeo e modificações na maturação dos giros cerebrais.
Alterações cerebelares também são descritas e vêm sendo enfatizadas na literatura
recente, como o menor volume e a hemorragia cerebelar2. No entanto, ressalta-se que
problemas cognitivos e comportamentais também estão presentes em prematuros
com exames de neuroimagem normais no período neonatal, e que parecem decorrer de
episódios de hemorragia ou de hipóxia-isquemia da substância branca, os quais nem
sempre deixam “marcas” visíveis na neuroimagem. Outras vezes, essas alterações
neurocomportamentais ocorrem por modificação em eventos de organização cerebral
ou por lesão dos gânglios da base e hipocampo. O glutamato e outros aminoácidos
excitotóxicos, liberados em situações de hipóxia e isquemia, promovem a lesão da ca-
mada subcortical, fundamental no processo de organização cerebral e direcionamento
dos axônios, acarretando disrupção da organização cerebral. Os mesmos aminoácidos
excitotóxicos, aliados a mediadores inflamatórios liberados em resposta à hipóxia,
isquemia, intercorrências neonatais como sepse, enterocolite necrosante e displasia
broncopulmonar, entre outras, além da dor e do estresse, lesam os gânglios da base,
sobretudo o corpo estriado, que tem um papel importante na modulação da função
cortical, levando a alterações nas funções motoras, cognitivas e comportamentais. Da
mesma forma, pode haver alterações no hipocampo, que é uma região fundamental
para as funções de memória e aprendizado3.
As dificuldades escolares em recém-nascidos de extremo baixo peso acometem
diferentes domínios do conhecimento. No estudo de seguimento de oito anos de

54 Psicopatologia no prematuro
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

coorte australiana de recém-nascidos com peso inferior a 1.000 g, estas crianças


foram comparadas às nascidas a termo e avaliadas aos oito anos de idade pela
Weschsler Intelligence Scale for Children (WISC-III) e pela Wide Range Achievement Test
(WRAT-3). Os escolares nascidos pré-termo mostraram menor quociente de inteligência
e menores escores em leitura, linguagem, escrita, verbalização e matemática. Além
disso, um maior número de prematuros necessitou de reforço escolar (39% versus
21%) e havia repetido algum ano escolar (20% versus 7%)4. As dificuldades escolares
presentes nas coorte de prematuros seguidas longitudinalmente contribuem para que
um menor número de adultos jovens prematuros conclua o ensino médio e o ensino
universitário, e, quando o fazem, isto ocorra mais tardiamente do que os seus pares
nascidos a termo.

Alterações comportamentais e doenças psiquiátricas

De forma similar e paralela às dificuldades escolares, problemas de comportamento


têm sido relatados com frequência mais elevada no acompanhamento de prematuros,
quando tais crianças são comparadas às nascidas a termo. Na coorte de nascidos
prematuros dos Países Baixos, os problemas comportamentais e emocionais foram
1,6 (IC95% 1,2-2,2) vezes mais frequentes nas crianças de muito baixo peso ao nas-
cer, avaliadas aos cinco anos de idade, comparadas às nascidas a termo. Dentre as
alterações comportamentais mais citadas, destacam-se os comportamentos de so-
matização, o déficit de atenção e hiperatividade, a ansiedade e as dificuldades de
socialização, além de problemas de internalização e externalização5. Em uma coorte
de adolescentes nascidos prematuros com idade gestacional inferior a 26 semanas, no
Reino Unido e Irlanda, avaliados aos 11 anos de idade e comparados a adolescentes
nascidos a termo, observou-se que os primeiros tiveram risco três vezes maior (22%
vs. 9%; OR 3,1 e IC95% 1,6-6,0%) de apresentar distúrbios psiquiátricos. O Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade foi 4,4 (IC95%: 1,5-13,4) mais frequente, es-
tando presente em 12% dos ex-prematuros. Já os distúrbios emocionais acometeram
9,0% dos adolescentes prematuros, sendo 4,5 (IC 95% 1,3-15,8) vezes mais prevalen-
tes do que nos pares nascidos a termo. A Síndrome do Espectro Autista foi observada
em 5,4% das crianças prematuras e em nenhuma das nascidas a termo. Os distúrbios
psiquiátricos foram 3,5 vezes mais frequentes nas crianças com déficit cognitivo6. Aos
14 anos, os distúrbios psiquiátricos continuam a ter uma prevalência maior nos ado-
lescentes nascidos prematuros. Indredavik et al. observaram uma chance 4,3 (IC95%
1,5-12,0) maior de doenças psiquiátricas em adolescentes nascidos com muito baixo
peso, comparados aos nascidos a termo7. Recentemente, em uma metanálise que

Psicopatologia no prematuro 55
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

incluiu 14 estudos e 4.125 crianças nascidas com idade gestacional inferior a 33


semanas e/ou peso menor que 1.500 gramas, comparadas a 3.197 nascidas a termo,
os prematuros, avaliados entre cinco e 18 anos, apresentaram desempenho inferior
em matemática, leitura e verbalização. Entre sete e 18 anos, foram mais frequentes
os problemas de déficit de atenção. No domínio da função executiva, os prematuros,
avaliados na infância, adolescência e quando adultos jovens, apresentaram menor
fluência verbal, dificuldades de memória e de desempenho cognitivo8.

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é o distúrbio psiquiá-


trico mais frequente nas crianças de muito baixo peso ao nascer, acometendo 16% a
19% dessa população, com uma prevalência 2 a 3 vezes maior do que nos nascidos
a termo, havendo predomínio do déficit de atenção, em relação à hiperatividade. Na-
queles pacientes pré-termo com peso ao nascer inferior a 1.000 gramas, o distúrbio
é quatro vezes mais frequente do que nos nascidos a termo. Os sintomas de TDHA
associam-se à diminuição do volume de substância branca e afilamento do corpo ca-
loso, com comprometimento das conexões entre os hemisférios cerebrais9.
O TDAH acomete pessoas de todas as idades, sendo mais comumente diagnosti-
cado antes dos sete anos. Aproximadamente 65% das crianças com este diagnóstico
continuam a apresentar os sintomas de TDAH na idade adulta. O diagnóstico de TDAH
é baseado nas diretrizes do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
quarta edição (DSM-IV-TR) e pode ser dividido em três categorias: predomínio de de-
satenção, hiperatividade-impulsividade ou o tipo combinado. O DSM-IV-TR lista nove
sintomas para cada uma das formas, desatenção ou hiperatividade-impulsividade e,
para fazer o diagnóstico, a criança precisa apresentar seis dos nove sintomas, com
comprometimento de suas atividades na escola e em casa e interferência na socia-
lização. Além disso, os sintomas devem estar presentes por pelo menos seis meses
(alguns deles, antes dos sete anos de idade) e não podem ser explicados por outros
distúrbios psiquiátricos. Os sintomas a serem pesquisados para o diagnóstico da con-
dição estão listados no Quadro 1.
O diagnóstico do TDAH é realizado por meio da avaliação do paciente, além de
entrevistas com os pais ou cuidadores e professores. Os testes psicológicos não são
essenciais, mas podem auxiliar caso haja déficit de aprendizado. As comorbidades
psiquiátricas devem ser investigadas, uma vez que elas podem coexistir com quadros
de TDAH. Embora o tratamento farmacológico seja o de eleição, sua conjunção com

56 Psicopatologia no prematuro
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

terapias comportamentais associadas a treinamento dos pais e professores apresenta


melhores resultados.
O tratamento farmacológico da TDAH baseia-se em sua neurofisiopatologia. O cór-
tex pré-frontal, juntamente com as suas conexões, incluindo o corpo estriado, o tála-
mo e o cerebelo são as áreas responsáveis pela função comportamental e cognitiva,
sendo a dopamina e a noradrenalina os dois principais neurotransmissores. As drogas
utilizadas para tratamento do TDAH potencializam a transmissão das catecolaminas
no córtex pré-frontal e incluem a anfetamina e o metilfenidato. As duas drogas têm
eficácia semelhante, com boa resposta em 65% a 75% dos casos. Como principais
efeitos colaterais citam-se a diminuição do apetite e a insônia, podendo haver também
alterações afetivas e do humor10.
Nos serviços de seguimento de recém-nascidos prematuros é muito importante que
a anamnese de escolares e adolescentes seja dirigida aos aspectos comportamentais,
que podem levantar a suspeita de TDAH. Uma vez feita a suspeita, a avaliação conjun-
ta do neurologista e/ou psiquiatra infantil é importante para a condução adequada do
paciente, com a oferta, sempre que necessária, de abordagem multiprofissional, que
orientará a família a acolher e superar as dificuldades relacionadas ao desenvolvimen-
to da criança e do adolescente.

Desordens do Espectro Autista

As Desordens do Espectro Autista (ASD) também são mais frequentes nos nasci-
dos pré-termo, sendo apontadas em 3,6% daqueles com extremo baixo peso ao nas-
cer, aos 8 anos de idade11 e, em 8%, aos 11 anos6. Embora as ASD tenham um caráter
genético, na criança prematura se associam a déficit cognitivo, menor quociente de
inteligência, menor perímetro cefálico, alterações à ultrassonografia de crânio, redu-
ção do volume cerebral de substância branca, aumento do tamanho dos ventrículos e
hemorragia cerebelar9,12,13. As ASD também se associam à displasia broncopulmonar,
provavelmente, devido às dificuldades relacionadas à oxigenação durante o período
neonatal11. As ASD incluem o autismo, a Síndrome de Asperger e os transtornos não-
invasivos do desenvolvimento não especificados, sendo seu diagnóstico efetuado se-
gundo as diretrizes do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, quarta
edição (DSM-IV-TR). O Quadro 2 resume os critérios diagnósticos para o autismo.
Além da dificuldade na interação social, dos distúrbios de linguagem e dos com-
portamentos estereotipados e repetitivos, outras características das ASD incluem as
disfunções sensoriais, o déficit cognitivo e, mais recentemente descreve-se também

Psicopatologia no prematuro 57
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

a hipotonia e o déficit motor fino e grosseiro. A macrocefalia está presente em 20%


das crianças.
As ASD são doenças de herança genética envolvendo diversos genes, mas fatores
ambientais podem modular sua expressão fenotípica. Em termos neuropatológicos, os
estudos mostram alterações no crescimento e na organização cerebral, tais como o
menor número de células de Purkinje no cerebelo, a maturação anormal do sistema
límbico e alterações no córtex frontal e temporal.
Devido à grande frequência das ASD, que acometem seis a sete a cada 1.000
crianças, a suspeita diagnóstica deve ser feita pelo pediatra. Dar a devida atenção às
observações dos pais, avaliar o desenvolvimento da criança e identificar os fatores
de risco auxiliam a pensar na possibilidade desse diagnóstico. É importante ressaltar
que, quanto mais precoce as ASD forem identificadas e as crianças tratadas por meio
de programas de intervenção, melhores serão os resultados. A Academia Americana
de Pediatria recomenda que as crianças sejam triadas para as ASD com ferramentas
específicas, com nove, 18, 24 e 30 meses. Na consulta pediátrica, investigar quatro
itens: presença de sintomas das ASD em irmãos (item 1), existência de preocupações
quanto ao comportamento e desenvolvimento da criança, referidas pelos pais (item
2), cuidadores (item 3) ou pelo próprio pediatra (item 4). Se dois ou mais desses itens
forem positivos, o paciente deve ser encaminhado para avaliações mais abrangentes
com especialistas em neuropediatria e psiquiatria infantil, avaliação auditiva e de lin-
guagem, indicando-se programas de intervenção. Se apenas um dos itens for positivo
e a criança tiver menos de 18 meses de idade, o pediatra deve encaminhar o paciente
para a aplicação de testes específicos para o diagnóstico das ASD; no caso de crian-
ças com mais de 18 meses, procede-se também a avaliação da linguagem. Se estas
avaliações forem positivas, adota-se a conduta descrita anteriormente e, em caso ne-
gativo, uma nova avaliação pelo pediatra deve ser agendada em 30 dias. Se nenhum
dos quatro itens for positivo e a criança tiver entre 18 e 24 meses de idade, deve-se
também aplicar os testes de triagem para o diagnóstico das ASD. Em sendo positivo,
adota-se a conduta referida acima e, em caso negativo, a criança deve ser avaliada
nas consultas de rotina.
O diagnóstico definitivo das ASD deve ser firmado por profissionais especializados
nesta doença, como o neurologista infantil, o pediatra especialista em desenvolvimen-
to infantil ou o psiquiatra. Avaliações complementares realizadas por fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais e psicólogos podem auxiliar no diagnóstico. Tão logo a crian-
ça tenha a hipótese diagnóstica de ASD, ela deve ser encaminhada a programas de
intervenção precoce14.

58 Psicopatologia no prematuro
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Quadro 1 – Sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

DESATENÇÃO

Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em


atividades escolares, de trabalho ou outras.

Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.

Com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra.

Com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas
domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou
incapacidade de compreender instruções).

Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.

Com frequência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço
mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa).

Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo,
brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais).

É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa.

Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias.

HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE

Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira.

Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se
espera que permaneça sentado.

Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado.

Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em


atividades de lazer.

Está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”.

Frequentemente fala em demasia.

Frequentemente dá respostas precipitadas, antes de as perguntas terem sido


completadas.

Com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez.

Frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intromete-


se em conversas ou brincadeiras).

Psicopatologia no prematuro 59
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Quadro 2 – Critérios diagnósticos do Autismo

1. Presença de seis ou mais itens, dos listados abaixo, sendo pelo


menos dois relativos à dificuldade de interação social e um à
dificuldade de comunicação e comportamentos estereotipados e
repetitivos.

Dificuldade na interação social:


Dificuldade no uso de comportamentos não-verbais, tais como olho-no-olho,
expressão facial, posturas corporais e gestos de interação social.
Dificuldade em estabelecer relacionamento com seus pares, apropriado ao
nível de desenvolvimento.
Falta de vontade em compartilhar prazeres, interesses ou realizações, com
outras pessoas.
Falta de reciprocidade social ou emocional.

Dificuldades de comunicação:
Atraso ou ausência de desenvolvimento da linguagem falada, não
acompanhada de uma tentativa de compensar através de modos alternativos,
como gestos ou mímicas.
Em indivíduos com fala adequada, dificuldade em iniciar ou manter uma
conversa com os outros.
Uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática.
Não participação em jogos tipo “faz de conta” ou de imitação social,
apropriados ao nível de desenvolvimento.

Comportamentos estereotipados e repetitivos:


Preocupação abrangendo um ou mais padrões de interesse, anormais em
intensidade ou foco.
Adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos, não
funcionais.
Comportamentos motores estereotipados e repetitivos.
Preocupação persistente com partes de objetos.

2. Atraso ou presença de alterações em pelo menos uma das seguintes


áreas, com início antes dos três anos de idade: interação social,
comunicação ou jogos simbólicos ou imaginativos.

3. Alterações não explicadas pela Síndrome de Rett ou por transtornos


desintegrativos da infância.

60 Psicopatologia no prematuro
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Distúrbios emocionais

Os distúrbios emocionais também são mais frequentes no seguimento de pacientes


pré-termo, embora os achados não sejam consistentes entre os vários estudos. Em
prematuros extremos nascidos nos Estados Unidos, avaliados aos 8 anos de idade,
os problemas de ansiedade e depressão foram duas a três vezes mais prevalentes
do que nas crianças nascidas a termo, porém, sem significância estatística11. Mais re-
centemente, em um estudo que avaliou adolescentes por volta de 11 anos de idade,
nascidos na Inglaterra, os distúrbios emocionais foram 4,6 vezes mais frequentes em
prematuros do que nos nascidos a termo (9% versus 2%)6. Alguns estudos mostram
que esses distúrbios permanecem até a fase de adulto jovem, sobretudo no sexo fe-
minino e naqueles que apresentaram restrição de crescimento intra-útero15. Metanáli-
se dos estudos relacionados a distúrbios comportamentais em longo prazo de recém-
nascidos com idade gestacional inferior a 33 semanas e/ou peso ao nascer menor do
que 1.500 g indica que tais pacientes, avaliados entre 5-22 anos, apresentam déficits
no desempenho acadêmico, problemas de atenção, comportamentos internalizantes
(ansiedade e depressão) e de função executiva (flexibilidade cognitiva e planejamen-
to). Todos esses achados se correlacionam fortemente com a imaturidade ao nascer, o
que se associa à disrupção do desenvolvimento cortical e da conectividade cerebral8.
Por outro lado, comportamentos de risco, como o consumo de drogas lícitas e ilí-
citas e atos delinquentes têm sido menos observados em adultos jovens prematuros,
comparados àqueles nascidos a termo, provavelmente por um conjunto de fatores que
incluem a família e o adolescente. A família de prematuros tende a ser mais protetora e
exercer maior monitorização sobre as atividades exercidas pelos adolescentes. De ma-
neira simultânea, as diversas coortes de acompanhamento de prematuros indicam que
esses pacientes, de maneira geral, são mais tímidos, cautelosos e menos sociáveis16.

Conclusão

Além dos distúrbios psiquiátricos serem mais frequentes em crianças nascidas pre-
maturas, deve-se enfatizar que na maioria dos casos, eles estão associados a outras
morbidades, particularmente o déficit cognitivo. Os distúrbios mais frequentes são o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, principalmente na forma de falta
de atenção, ansiedade e as Desordens do Espectro Autista. Ressalta-se a importância
do diagnóstico precoce dessas doenças para permitir o início do tratamento. A sus-
peita diagnóstica deve ser realizada pelo pediatra, mediante informações oriundas dos

Psicopatologia no prematuro 61
SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

pais, cuidadores e/ou professores, além da avaliação da criança. Diante de qualquer


suspeita, a criança deve ser encaminhada para avaliações mais amplas por profissio-
nais com experiência no diagnóstico e manejo individual e familiar de portadores de
distúrbios comportamentais. Quanto mais precoce forem iniciados os programas de
intervenção, melhor será o prognóstico em termos de desenvolvimento global e inser-
ção familiar, escolar, social e econômica dos pacientes.

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62 Psicopatologia no prematuro
Acompanhamento das
morbidades frequentes 6
ÍNDICE

Avaliação da Doença Metabólica Óssea

Dr. Durval Batista Palhares


Membro do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
Professor Titular de Pediatria da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS
Neonatologista. Orientador do Programa de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado
com as linhas de pesquisas: Nutrição Neonatal e Infecção Neonatal

A Doença Metabólica Óssea da prematuridade deve-se ao conteúdo mineral ósseo


diminuído que ocorre principalmente como um resultado da falta de ingestão adequa-
da de cálcio e fósforo na vida extrauterina. O maior acréscimo fetal de cálcio (Ca++)
e fósforo (P) ocorre durante o último trimestre de gravidez, como consequência, a
criança prematura quando não suplementada com quantidades adequadas de cálcio,
fósforo e vitamina D, pode desenvolver osteopenia e/ou raquitismo.
A incidência em criança de muito baixo peso é aproximadamente de 30%, princi-
palmente naquelas menores de 30 semanas de idade gestacional e peso menor que
1.250 g1.
Sendo a etiologia multifatorial, alguns fatores predisponentes devem ser citados:
prematuridade extrema, ventilação mecânica prolongada, uso de diuréticos e corticos-
teroides, nutrição parenteral prolongada, icterícia colestática e alimentação enteral
com baixo teor mineral.
Dentre as manifestações clínicas, sintomas iniciais manifestam-se entre a 6
e 12 semanas de vida pós-natal em crianças menores de 28 semanas de idade
gestacional1,2.

Avaliação da Doença Metabólica Óssea 63


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Fisiopatologia

A homeostase do cálcio, fósforo e magnésio é fundamental para a matrix estrutural


do osso. Cálcio e fósforo representam os maiores constituintes inorgânicos do osso. A
maior parte da quantidade de cálcio (99%) e de fósforo (80%) encontra-se nos micro
cristais de apatita do osso. Apenas 1% do cálcio total do corpo está no fluido extra-
celular do corpo e tecidos moles. A homeostase do cálcio e fósforo está em função
de hormônios, vitamina D, da dieta e da absorção intestinal, acréscimo no esqueleto e
reabsorção e excreção urinária3.
O paratormônio (PTH) responde frente ao nível baixo de cálcio ionizado, regulando
o metabolismo e homeostase mineral óssea pela sua ação em células-alvo nos ossos
e rins. O PTH estimula a reabsorção de cálcio e excreção de fósforo na reabsorção
renal de cálcio e osso, é ainda capaz de ativar a síntese de calcitriol renal através da
estimulação de 25 (OH) D3 atividades-1-alfa-hidroxilase. Em sua forma ativa, 1, 25
(OH) 2 vitamina D, estimula a reabsorção renal de cálcio e fósforo. A síntese de cal-
citriol é inibida por elevados níveis séricos de cálcio e fósforo. Sendo assim, as ações
combinadas de PTH e calcitriol mantêm a concentração adequada de cálcio nos flui-
dos extracelular. Um terço do cálcio urinário é proveniente da dieta, e os restantes das
reservas do corpo, principalmente do osso4.
O período de maior desenvolvimento esquelético é durante a vida intrauterina e,
especificamente, durante o último trimestre. O processo de mineralização é determi-
nada pela síntese da matriz orgânica óssea pelos osteoblastos (osteoide) no qual os
sais de cálcio e fosfato estão depositados. Esse processo aumenta exponencialmente
entre 24 e 37 semanas de gestação, atingindo os 80% de acréscimo mineral no ter-
ceiro trimestre. O acúmulo fetal de cálcio e fosfato durante os últimos três meses de
gestação é de cerca de 20 g e 10 g, respectivamente, o que representa taxa de acre-
ção de 100-120 mg/kg/dia de cálcio e de 50-65 mg/kg/dia de fosfato ou teor bem
maior, dependendo a idade gestacional fetal5.
O leite humano é o ideal na alimentação enteral do pré-termo, entretanto, apresen-
ta quantidades inadequadas de cálcio, fósforo, zinco e outros nutrientes para alimen-
tação do recém-nascido de muito baixo peso ao nascimento, havendo necessidade de
usar aditivos para aumentar o valor calórico, proteico e minerais, principalmente de
cálcio e fósforo6.
A investigação laboratorial da DMO deverá ser iniciada na UTI Neonatal, utilizan-
do marcadores bioquímicos no soro e urina:

64 Avaliação da Doença Metabólica Óssea


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

1. Fosfatase alcalina (FA), fósforo e cálcio:


FA aumenta em todos recém-nascidos nas primeiras 2-3 semanas e,
após, aumenta quando o suplemento mineral é insuficiente. A FA no
prematuro pode aumentar devido a crescimento acelerado ou devido ao
suplemento insuficiente de mineral5. Valores entre 400 e 800 UI podem
comumente ser encontrados em recém-nascidos que se encontram
em crescimento rápido, mas frente a valores acima de 800 UI deve-se
suspeitar de osteopenia, como também se o fósforo sérico estiver
abaixo de 3,5 mg/dl. O cálcio sérico habitualmente está normal.

2. Testes séricos complementares:


1,25 Hidroxi-Vitamina D está aumentado e 25-Hidroxivitamina D está
diminuído quando o paciente apresenta osteopenia da prematuridade8.
O PTH na osteopenia da prematuridade está normal ou elevado.

3. Análise urinária:
Concentração baixa de cálcio e fósforo na urina sugere baixa ingestão.
Isso ocorre principalmente devido a um aumento da reabsorção tubular de
fosfato consequente à baixa ingestão na dieta, e pelo aumento do PTH,
que estimula a reabsorção de cálcio4. Recém-nascido muito prematuro
perde muito mais fósforo na urina do que recém-nascido de termo.

Na investigação radiológica:
RX simples: osteopenia por ser detectada por meio de um RX simples, mostrando
ossos finos, fraturas ou fraturas em fase de consolidação; porém para que sejam
observadas essas alterações radiológicas, há necessidade de pelos 20 a 40% da di-
minuição da mineralização7. A investigação aos 6 meses de idade corrigida deve ser
realizada em prematuros que tenham apresentado suspeita clínica na UTI Neonatal,
com marcadores bioquímicos e séricos alterados.
DEXA: atualmente é o padrão-ouro para medir massa óssea em adultos e correla-
ciona com risco de fratura9, apesar de ter sido realizado em crianças, mas seu uso tem
sido limitado. A realização em prematuros tem sido validado7. DEXA é sensível na mu-
dança do conteúdo mineral ósseo e densidade, e pode predizer riscos de fraturas .
Ultrassom quantitativo: oferece medidas que estão relacionadas com a densidade
e estrutura óssea. É um método simples, não invasivo e relativamente de baixo custo.

Avaliação da Doença Metabólica Óssea 65


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A tíbia é uma boa região para este exame e há referências para crianças de termo e
pré-termo11. Deve ser repetido aos 6 meses de idade corrigida no seguimento ambu-
latorial.

Tratamento

A ingesta oral de cálcio recomendada varia entre 140-160 mg/100 Kcal (Ameri-
can Academy of Pediatrics) e 70-140 mg/Kg/dia por 100 Kcal (European Society of
Paediatric Gastroenterology and Nutrition (Espgan). Atualmente, podemos usar as re-
comendações: cálcio: 100-160 mg/Kg/dia e fósforo: 95-108 mg/Kg/dia por 100
Kgcal. Nenhuma fórmula de seguimento, nem leite materno fornece quantidade
terapêutica; portanto, cálcio e fósforo devem ser adicionados à dieta.

Tratamento profilático:
Nos recém-nascidos abaixo de 1.500 gramas de peso de nascimento, iniciar com
nutrição parenteral total nos casos em que não há condições de alimentação enteral.
Fornecer 40 mg/Kg de cálcio (4 ml/Kg de gluconato de cálcio a 10%) e 50 mg/Kg de
fósforo (0,5 ml/Kg de fosfato ácido de potássio). A melhor relação cálcio/ fósforo para
mineralização óssea é 1.7:1.
Assim que as condições clínicas do paciente permitirem, iniciar com a alimentação
enteral, preferentemente com leite humano, inicialmente com a enteral mínima e au-
mentar paulatinamente o volume. Quando atingir pelo menos 100 ml/Kg/dia, adicionar
o suplemento FM85 (Nestlé), na proporção de 1 grama/20 ml de leite humano. Dá-se
preferência pelo leite da própria mãe, caso seja possível. A suplementação de cálcio e
fósforo deverá ser realizada até a criança completar 40 semanas de idade gestacional
corrigida.
Considerar o conteúdo de cálcio do leite humano de 24 mg% e de fósforo 14 mg%.
O FM 85 contém 51 mg de Cálcio/5g do pó, e 34 mg de fósforo/5g do pó. Assim, o
leite humano de banco suplementado com FM85 contém aproximadamente 75 mg de
cálcio e 48 mg de fósforo.
Caso haja necessidade de prescrever um total de 140 mg/Kg de cálcio e 100 mg/Kg
de fósforo para um pré-termo, deve-se descontar o conteúdo do leite humano suple-
mentado, isto é, 75 mg de cálcio/Kg e 48 mg/Kg de fósforo.
Na situação em que o recém-nascido pré-termo está com uma fórmula específica,
como por exemplo o Pre NAN, que contém 70 mg% de cálcio e 46 mg% de fósforo,

66 Avaliação da Doença Metabólica Óssea


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

como o fosfato tricálcico xarope a 12,9%, cada 1 ml contém 50 mg de cálcio e 25 mg


de fósforo. No cálculo da quantidade de cálcio e fósforo a ser administrada a um pre-
maturo deve ser descontado o conteúdo do leite humano suplementado ou da fórmula
do pré-termo. O fosfato tricálcico deve ser oferecido a cada 6 horas.
Vitamina D:
A absorção do cálcio depende do estado da vitamina D, da solubilidade dos sais de
cálcio, da qualidade e quantidade da ingesta de gorduras. As exigências de vitamina D
são influenciadas pelo conteúdo ao nascimento, que depende da duração da gestação
e do status da vitamina D materna4. A vitamina D participa na absorção do cálcio em
nível intestinal e renal. A suplementação de 400 UI de vitamina D deve ser suficiente;
observar o conteúdo no multivitamínico. Terapia com anticonvulsivante tem sido as-
sociada com metabolismo aumentado da vitamina D.

Controle do cálcio, fósforo e fosfatase alcalina:


Durante nutrição parenteral, analisar semanalmente. Durante leite humano com
suplemento ou fórmula de pré-termo, a cada 15 dias. Período só alimentando ao seio
ou fórmula de criança de termo, fazer controle a cada 3 meses e até 1 ano de idade
corrigida.

Referências

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metabolic bone diseases and disorders of mineral metabolism. 4. Philadelphia: Lippincott William
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preterm infants. J Pediatr Endocrinol Metab. 2003;16:43–7.

Avaliação da Doença Metabólica Óssea 67


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Avaliação da função pulmonar

Dra. Anniele Medeiros Costa


Doutoranda em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Criança e da Mulher – FIOCRUZ
Fisioterapeuta do Laboratório de Função Pulmonar Neonatal do Instituto Fernandes Figueira

Dr. José Roberto de Moraes Ramos


Doutor em Saúde da Criança e da Mulher - FIOCRUZ
Secretário Geral da SOPERJ - Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro
Chefe do Laboratório de Função Pulmonar Neonatal do Neonatal do Instituto Fernandes Figueira

O rápido progresso das ciências básicas tem permitido novas abordagens diagnós-
ticas e terapêuticas no manejo da doença respiratória neonatal, como por exemplo, o
uso rotineiro da corticoterapia antenatal, a administração de surfactante exógeno e as
novas estratégias ventilatórias. A avaliação da função pulmonar em recém-nascidos
e lactentes também tem se desenvolvido bastante nos últimos anos. Com os novos
equipamentos é possível medir a mecânica respiratória à beira do leito, otimizando o
manejo da doença pulmonar no início da vida. Estudos utilizando diversas técnicas,
inclusive técnicas não invasivas, como a compressão torácica rápida a partir de volu-
mes elevados, têm contribuído de forma significativa para um melhor entendimento do
processo de crescimento e desenvolvimento dos pulmões e das vias aéreas.
As evidências científicas mais recentes demonstram que os valores de mecânica
pulmonar são diretamente proporcionais à idade gestacional e, que nascer antes do
tempo previsto pode ocasionar alterações pulmonares importantes, mesmo que o pre-
maturo não apresente doença respiratória significativa. Recém-nascidos prematuros
possuem alvéolos em menor número, e compensam o volume corrente aumentando
seu tamanho. No entanto, quando mensuramos os valores de fluxo expiratório forçado
podemos observar valores menores que o esperado. Além disso, sua via aérea possui
menor calibre e os bronquíolos são de menor diâmetro o que, associado ao fato de
possuírem sistema imunológico menos desenvolvido com menor quantidade de anti-
corpos maternos recebidos através da placenta, os tornam mais vulneráveis e com
elevado risco de morbidade respiratória (Tabela 1).
Quando estes bebês prematuros apresentam sepse, persistência do canal arterial
ou doenças respiratórias significativas que necessitem de terapias agressivas, como

68 Avaliação da função pulmonar


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Tabela 1 – Crianças com risco elevado de morbidade respiratória

Prematuro Aparelho respiratório incompleto


Ausência de anticorpos maternos

Doença pulmonar crônica Atividade deficiente dos brônquios


Capacidade pulmonar reduzida

Cardiopatias congênitas Circulação pulmonar deficiente


Hipertensão pulmonar
Fluxo sanguíneo pulmonar aumentado

Doenças neuromusculares Diminuição da capacidade dos músculos


respiratórios

Imunodeficientes Diminuição das defesas


Baixa capacidade para eliminar o vírus

ventilação mecânica e oxigenioterapia, estas lesões referentes ao desenvolvimento


pulmonar tornam-se ainda mais evidentes. Estas alterações do sistema respiratório
adquiridas no período neonatal parecem ser permanentes e os dados atuais sugerem
que pelo menos até os dois anos de vida estes bebês não conseguem fazer o catch
up de sua função pulmonar tal como se observa na recuperação de seu peso, estatura
e perímetro cefálico. Nos casos descritos de maior gravidade relacionados à Displasia
Broncopulmonar (DBP) grave, essas repercussões podem ultrapassar a adolescência e
atingir a fase adulta.
O aumento expressivo das taxas de sobrevida de prematuros menores que 1.500 g
tem contribuído para o aumento do atendimento de egressos de UTI Neonatal com
diagnóstico de DBP em nossos ambulatórios de seguimento Neonatal, com conse-
quente aumento da população de risco para doenças respiratórias.
Os estudos realizados no seguimento de recém-nascidos prematuros demonstram
que, além da idade gestacional e história de atopia familiar, a redução da função pul-
monar tem forte associação com a sibilância, sugerindo que as anormalidades sejam
realmente nas pequenas vias aéreas.
Além disso, dados de necropsia em lactentes com DBP sugerem pouca lesão infla-
matória e fibrose, no entanto, existe forte evidência de comprometimento no desen-

Avaliação da função pulmonar 69


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

volvimento alveolar destes bebês. Os dados de Baraldi (2010) confirmam que estas
alterações podem estar presentes até a idade adulta caracterizada pela diminuição do
volume expiratório forçado em 1 segundo - FEV1 (Figura 1).

Figura 1 – Seguimento da função pulmonar

FEV1 = volume expiratório forçado em 1 segundo.

Atualmente alguns centros no País possuem como rotina o acompanhamento da


função pulmonar de egressos de UTI Neonatal, seja através da obtenção de medidas
de complacência e resistência do pulmão e do sistema respiratório (Figura 2), ou atra-
vés da compressão torácica rápida a partir de volumes elevados (Figura 3). Os dados
obtidos podem ajudar a equipe do ambulatório de seguimento na compreensão do
comportamento do pulmão e da via aérea destes bebês, auxiliando na condução mais
adequada de seu tratamento, assim como atuar com mais eficiência na prevenção de
complicações graves decorrentes de infecções virais que ocorrem, obedecendo a sa-
zonalidade intrínseca de cada Estado de nosso País. Os exames que utilizam a técnica
de regressão linear na coleta de dados para complacência e resistência do pulmão
obtido pelo uso do cateter de pressão esofagiana geralmente podem ser realizados em
bebês com peso até próximo de 9 quilos. Os exames que utilizam a técnica de com-
pressão torácica estendem a informação sobre a função pulmonar dos prematuros
egressos de UTI até cerca de 2 anos.

70 Avaliação da função pulmonar


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Tabela 2 – Principais aplicações clínicas das provas funcionais


em recém-nascidos e lactentes

Avaliar a mecânica ventilatória nas fases aguda e crônica

Avaliar movimentos da caixa torácica, principalmente em doenças


neuromusculares

Verificar a eficácia de uma intervenção terapêutica, como broncodilatadores,


diuréticos e corticoides

Avaliar a reatividade de vias aéreas

Avaliar padrões de ventilação alveolar

Auxiliar na intervenção terapêutica e no desmame das medicações em uso

Avaliar a resolução de uma doença pulmonar aguda

Avaliar relação do fluxo e volume pulmonar com refluxo gastresofágico

Acompanhar a evolução de doenças pulmonares, principalmente a DBP*

Auxiliar no prognóstico da doença pulmonar crônica

*
DBP = displasia broncopulmonar.

Figura 2 – Coleta dos dados de função pulmonar em prematuro

Avaliação da função pulmonar 71


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Figura 3 – Coleta de dados através de compressão torácica

Referências

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72 Avaliação da função pulmonar


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Medidas preventivas em
Retinopatia da Prematuridade (ROP)

Dr. João Borges Fortes Filho


Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutor e pós-doutorando em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo
Chefe do Setor de Retinopatia da Prematuridade do Serviço de Oftalmologia
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença ocular retiniana vasoprolifera-


tiva que ocorre em recém-nascidos pré-termos de muito baixo peso ao nascimento.
A ROP é uma das maiores causas de cegueira infantil nos países desenvolvidos e que
apresentam baixa taxa de mortalidade entre nascidos prematuros. Nos anos mais re-
centes, devido à maior oferta de hospitais habilitados ao atendimento de gestantes de
risco e pela melhora na qualidade assistencial prestada ao paciente nascido prematu-
ro, houve um grande aumento na sobrevivência entre nascidos prematuros de muito
e de extremo baixo peso, também, nos países de economia em desenvolvimento. Esse
fato tem repercutido com um grande aumento na incidência da ROP nos vários países
da America Latina, Ásia e, também, no Leste Europeu1.
O surgimento da ROP ocorre pela interrupção do processo natural de formação dos
vasos da retina em função do nascimento prematuro. A doença está relacionada com
o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF), mediado pelo oxigênio, e com o
fator de crescimento insulínico-I (IGF-I), não mediado pelo oxigênio. Após o nascimen-
to prematuro, o oxigênio suplementar a que o bebê é submetido gera uma situação de
hiperóxia retiniana que causa vaso-constrição e obliteração vascular retiniana perifé-
rica. Essa condição conduz à interrupção definitiva do processo de formação natural
dos vasos da retina (interrupção da angiogênese). O uso do oxigênio durante um
período de tempo prolongado causará superprodução do fator VEGF que estimulará
uma neovascularização indesejada na retina periférica isquêmica com o surgimento
das demais complicações da doença2.

Medidas preventivas em ROP 73


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

A ROP, em sua evolução natural, poderá levar à cegueira irreversível se não diag-
nosticada ou tratada oportunamente3.
Os programas de triagem oftalmológica para a detecção da ROP, com exames de
fundo de olho sistematicamente realizados nas Unidades de Terapia Intensiva Neo-
natal (UTIN) nos pacientes no grupo de risco para o surgimento da ROP, são a melhor
possibilidade de se diagnosticar a doença para o tratamento adequado, quando ne-
cessário.
Os critérios de inclusão de pacientes nos programas de triagem variam entre
diferentes países e são baseados no peso de nascimento (PN) e na idade gestacional
(IG). No Brasil ficou estabelecido que os exames para a detecção precoce da ROP se-
riam realizados em todos os nascidos prematuros com PN de 1.500 gramas ou menos
e/ou com IG igual ou menor do que 32 semanas ao nascimento. O exame oftalmológico
inicial deve ser realizado entre a 4a e a 6a semana de vida utilizando-se dilatação das
pupilas. Poderiam, ainda, vir a serem incluídos nas triagens todos os bebês com maior
PN ou com maior IG que estivessem em risco de vir a desenvolver a ROP em função
de suas condições clínicas, quando solicitado pelo neonatologista responsável4.
A eficiência de um programa de triagem oftalmológica para a detecção e para o
tratamento precoce da ROP em pacientes pré-termos exige a criação de rotinas nas
UTIN e a plena integração entre oftalmologistas, neonatologistas e a equipe de enfer-
magem. Isto gera otimização no tempo despendido durante os atendimentos, pouca
interferência deste exame nas demais atividades da unidade neonatal, e menor risco
aos pacientes5.
No dia dos exames oftalmológicos é necessário que os profissionais da UTIN
identifiquem ao oftalmologista quais os bebês que deverão ser examinados e quais
seus fatores de risco para o surgimento da ROP: presença de displasia bronco-pulmo-
nar, necessidade de oxigenioterapia em CPAP ou em ventilação mecânica, presença de
septicemia, necessidade de transfusões sanguíneas, uso de surfactante, indometacina
e outras drogas.
Existe relação direta entre o uso do oxigênio com a ROP6. O desenvolvimento de
aparelhos que permitiram a monitorização transcutânea do oxigênio não só mostrou o
alto grau de flutuação nos níveis de oxigênio oferecidos ao prematuro, como também
permitiu a possibilidade de se estudar se o controle contínuo de PaO2 pode reduzir
a incidência de ROP7. A Academia Americana de Pediatria recomenda atualmente a
manutenção de PaO2 entre 45-80 mmHg8.
Quanto aos limites de saturação de oxigênio ideal para recém-nascidos prematuros,
foram estabelecidos nos grandes centros, guidelines para o controle da concentração

74 Medidas preventivas em ROP


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

de oxigênio fornecida: prematuros com IG maior do que 32 semanas, manter satura-


ção de oxigênio entre 85-95%; recém-nascidos com IG inferior ou igual a 32 semanas,
manter saturação de oxigênio entre 85-93%7,8.
O paciente nascido prematuro está mais sujeito aos efeitos da toxicidade do oxigê-
nio, pois, no meio intraútero, vive sob baixa tensão de oxigênio (aproximadamente de
22 a 24 mmHg). Após o nascimento, ocorre um aumento dramático nas concentrações
de oxigênio. Com o início do metabolismo aeróbico a relativa hiperóxia pode aumentar
a produção de VEFG. A administração de oxigênio suplementar pode levar a uma hi-
peróxia sustentada onde os níveis elevados de VEFG estimulam a neovascularização
da retina que pode resultar em fibrose e descolamento de retina. Repetidos ciclos de
hipóxia–hiperóxia favorecem a progressão da ROP. O uso restrito de oxigênio reduz o
risco relativo da ocorrência da ROP9.
A triagem neonatal para detecção da ROP com exames de FO realizados por OBI
sob dilatação das pupilas quando realizado inicialmente entre a 4a e a 6a semana de
vida em todos os nascidos pré-termo com PN ≤1.500 g e/ou IG ≤ 32 semanas é a
melhor possibilidade de controlar a doença naqueles com chances de desenvolver as
complicações irreversíveis da ROP.
A colaboração eficiente entre neonatologistas, oftalmologistas e equipes de enfer-
magem muito está contribuindo para diminuir a incidência da ROP em quase todos os
países com qualidade de atendimento perinatal10. O papel do profissional de enferma-
gem, desde o agendamento dos pacientes por ocasião do nascimento, sua presença
durante todo desenrolar dos exames de cada pré-termo e junto aos familiares nas
recomendações sobre a continuação do acompanhamento oftalmológico após a alta
da unidade neonatal é fundamental para o sucesso na prevenção da cegueira pela
ROP11. O papel principal nesse esforço é do neonatologista que deve garantir o melhor
tratamento possível para o conjunto dos fatores de risco que cada paciente, indivi-
dualmente, apresente durante o período pós-natal e a implementação de padrões do
uso e do monitoramento sobre a oxigenoterapia em sua UTIN. O controle adequado
dos fatores de risco e um rígido controle sobre a oxigenoterapia, além dos programas
de triagem neonatal para a detecção e para o tratamento precoce da ROP, muito têm
contribuído para a diminuição da cegueira infantil pela ROP em todo o mundo e em
nosso país5.

Medidas preventivas em ROP 75


SBP / Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Risco

Referências

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76 Medidas preventivas em ROP


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