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Deitos 2014 Caracterização de Resíduo de Couro e Calçado

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CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUO DE COURO E CALÇADO VISANDO A

SUA RECICLAGEM

Alice Riehl, Aline Deitos*, Amanda Gonçalves Kieling, Carlos Alberto Mendes Moraes, Feliciane
Andrade Brehm, Fabiano André Trein
* Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) – line_deitos@hotmail.com

SÚMULA

A indústria de couro e calçado gera grande volume de resíduos sólidos e a forma mais comum de
gerenciá-los é descartando-os em aterros industriais. O grande problema destes resíduos é que
estes são classificados pela NBR 10004, como Classe I - perigosos, devido a utilização do cromo
no processo de curtimento. Com a Lei nº 12.305/10, é preciso que sejam esgotadas todas as
possibilidades de aproveitamento antes do descarte final. Uma vez que existe a possibilidade de
reciclagem destes resíduos, o presente trabalho tem como objetivo caracterizar os resíduos
sólidos, a partir de métodos físico-químicos, físicos e térmicos, a fim de se ter um melhor
aproveitamento deste resíduo para reciclagem. Resultados preliminares, como o baixo teor de
umidade, alto poder calorífico e baixos teores de carbono indicam que estes resíduos são uma
boa fonte de reciclagem para processos de cogeração, como incineração e pirólise. Os baixos
teores de cinza indicam uma redução significativa de volume do resíduo pós queima, o que
auxiliaria na resolução de um problema para disposição destes em aterros. Os resíduos
apresentaram ainda a presença significativa de substâncias químicas, sugerindo que as aparas
podem ser recicladas antes de sua disposição final, reaproveitando melhor o cromo e demais
metais presentes para diferentes aplicações. Estudar as características dos resíduos de couro
para processos de reciclagem possibilita a reinserção deste no ciclo produtivo, contribuindo de
maneira significativa na diminuição de passivos ambientais e redução na extração de matérias-
primas nobres como o cromo e demais metais.
Palavras-chave: Couro, Resíduo, Biomassa, Reaproveitamento.

CHARACTERIZATION OF LEATHER AND FOOTWEAR WASTE AIMING


ITS RECYCLING
ABSTRACT

The leather and footwear industry generates large volumes of solid waste and the most common way
to manage them is discarding them in industrial landfills. The main problem is that these wastes are
classified by NBR 10004, as Class I - hazardous due to use of chrome in the tanning process.
According to Law No. 12.305/10, it is necessary to evaluate all the possibilities for recycling before the
final disposal in landfill. As result of that, the present work aims to characterize the solid wastes via
chemical, physical and thermal methods in order to have a better use of this waste. Preliminary
results, such as low moisture content, high calorific value and low carbon indicate that these residues
are a good source of recycling for cogeneration processes as gasification and pyrolysis. Low levels of
ash indicate a significant reduction in the volume of residue after burning, which would help in solving
a problem for its disposal in landfills. Leather Ash still showed significant presence of chemicals,
suggesting that it can be recycled before its final disposal, recovering chromium and other metals
present for different applications. Studying the characteristics of leather waste recycling processes
allows for the reintegration to the production cycle, contributing significantly in reducing environmental
liabilities and a reduction in the extraction of noble raw materials such as chromium and other metals.
Keywords: Leather. Wastes. Biomass. Recycling.
1. INTRODUÇÃO

Embora a indústria do couro seja vista como o principal usuário de resíduos provenientes dos
frigoríferos (a pele), os curtumes são também considerados como consumidores de recursos e,
um gerador de poluentes. O processo de transformação de peles em couro gera grandes
quantidades de resíduos sólidos e líquidos e a forma mais comum de gerenciar estes resíduos
sólidos é de descartá-los em aterros. (GIL et al. 2012).
Este volume gerado, aliado a disposição de resíduos em aterros acarreta num grande problema
de passivos ambientais para empresas e sociedade. (SERVIÇO BRASILEIRO DE NORMAS
TÉCNICAS, 2013). A Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM, em 2002, apresentou os
resultados do Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais, referentes à etapa do Rio Grande
do Sul, no qual mostram que entre as empresas inventariadas dos diversos setores, a que gera
maior quantidade, em massa, de resíduo perigoso é a indústria do setor de couro. (FEPAM, 2002).
A demanda por soluções de gerenciamento destes resíduos vem aumentando, principalmente
aqueles provenientes do processo de curtimento, cujo agente curtente na maioria dos casos é o
cromo. Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305/10, para que um resíduo
seja considerado rejeito é preciso que tenham se esgotado todas as possibilidades de
aproveitamento. Segundo esta mesma lei a destinação final ambientalmente adequada de
resíduos inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento
energético destes. (BRASIL, 2010).
Sabe-se que os resíduos que estão sendo descartados nos aterros industriais ainda possuem
diversas possibilidades de reaproveitamento. Segundo Hoinacki, Kiefer, Moreira (1994) a
caracterização dos resíduos, gerados durante o processo de transformação da pele em couro,
auxilia na escolha do tratamento, disposição final, bem como o aproveitamento econômico dos
mesmos.
Os processos de transformação de peles em couros englobam diversas etapas, sendo que, pode-
se considerar que são quatro as principais etapas que podem influenciar na caracterização física,
química e estrutural dos resíduos de couro. Sendo elas o curtimento, recurtimento, secagem e
acabamento final.
O curtimento é o processo no qual, a pele é submetida à reação com diferentes produtos
denominados agentes curtentes. Essa reação da pele com esses agentes tem por fim estabilizar
as proteínas que a constituem. O acabamento molhado ou recurtimento define parte das
características físico-mecânicas, tais como maciez, elasticidade, enchimento e algumas
características da flor como toque, cor, tamanho do poro da superfície, etc. Após o recurtimento, a
pele passa por uma série de etapas de secagem, cuja sequência e choque térmico dependem da
aplicação final do couro. A operação de acabamento confere ao couro sua apresentação e
aspecto definitivo. O acabamento poderá melhorar a espessura, o brilho, o toque e certas
características físico-mecânicas, tais como impermeabilidade a água, resistência à fricção, solidez
à luz, etc. Com o acabamento, poderão ser eliminadas ou compensadas certas deficiências
naturais do couro. (HOINACKI; KIEFER; MOREIRA, 1994).
Conforme citado anteriormente durante o processo de transformação das peles, ocorre a geração
de um grande volume de resíduos, como por exemplo, a serragem, aparas e lodos de estação de
tratamento de efluentes líquidos e também emissões atmosféricas. (SANTOS et al., 2002).
Basicamente os resíduos de couros curtidos ocorrem nas etapas de preparação das peles para o
recurtimento, no processo de lixa (uniformização da superfície e da espessura) e na preparação
das peles para o acabamento.
Uma das possibilidades de reciclagem dos resíduos de couro é a utilização deste como biomassa
para processos de geração de energia. Segundo Godinho (2006), o resíduo de couro pode ser
definido como biomassa, por tratar-se de um resíduo de origem animal e apresentar
características, entre elas seu poder calorífico, que permitem a sua utilização como fonte de
energia. Segundo Cortez, Lora e Gómez (2008) para que se possa avaliar a potencialidade de um
combustível, deve-se primeiramente conhecer as suas características químicas e térmicas
fundamentais, sendo expressa através da composição imediata, composição elementar e do
poder calorífico.
De acordo com Gutterres (2008), para que se tenha um aproveitamento efetivo destes resíduos,
como biomassa, é de grande importância estudar a fundo suas características. As informações
necessárias para a caracterização dos resíduos de couro e posterior utilização como biomassa
englobam a análise calorimétrica, quantidade de resíduo, necessidades de beneficiamento e
adequação do coproduto para cogeração, análise química elementar, pH, umidade, densidade,
dentre outros. Tais dados, após analisados, podem ajudar na escolha da melhor alternativa para a
utilização na geração de energia através desta biomassa.
Além disso, autores como Martins (2001), Pereira (2006), Dettmer (2008), Marcello (2013),
estudaram alternativas para a reciclagem das cinzas obtidas a partir dos processos de incineração
de resíduos de couros objetivando a recuperação do cromo e obtenção de diferentes compostos
como o sulfato básico de cromo e ligas ferrocromo, demonstrando a preocupação de reciclagem
dos resíduos em todo ciclo produtivo.
Frente ao exposto e considerando a Lei n° 12.305/10, a qual diz que o plano de gerenciamento de
resíduos sólidos considera itens como a caracterização dos resíduos (BRASIL, 2010) é notória a
importância do estudo da caracterização do resíduo, pois desta forma é possível determinar quais
serão as aplicabilidades e a melhor maneira de se fazer a reciclagem do resíduo, contribuindo de
maneira significativa para a diminuição do passivo ambiental presente e futuro.

2. OBJETIVO

O presente trabalho tem como objetivo caracterizar os resíduos sólidos do setor de couro e
calçado de um aterro industrial a partir de métodos físico-químicos, físicos e térmicos.

3. MÉTODOS

A metodologia de amostragem seguiu o que preconiza a NBR ABNT 10007 para amostragem de
resíduos sólidos. Primeiramente retirou-se 15 fardos de couro da célula do aterro em diferentes
pontos do local. A partir disso, realizou-se a separação de 5 em 5 fardos de couro, pois esta foi a
maneira mais fácil de separá-los, já que estavam bem compactados. Com os couros bem
separados, conforme Figura 1, foi possível segregá-los para avaliar a presença de outros
resíduos. Estes resíduos então foram armazenados em três bags e posteriormente, destes três
bags fez-se uma única mistura com o intuito de obter um único bag homogeneizado.

Figura 1: Couros devidamente separados.

Fonte: Elaborada pelos autores.


A Figura 2 mostra como se procedeu a etapa de amostragem ocorrida no local do aterro industrial
de resíduos perigosos.

Figura 2: Fluxograma da metodologia de amostragem.

Aterro de Resíduos
Industriais Perigosos

Retirada de 15 fardos
de couro da célula

Utilização de cinco em
cinco fardos

Segregação

Mistura das amostras


de couro

Geração de três bags


com couro

Mistura

Geração de um bag
com couro

Fonte: Elaborado pelos autores.

Após a etapa de amostragem, realizou-se a moagem do resíduo através de um moinho de facas.


Com as aparas de couro devidamente moído, Figura 3, foi possível iniciar a etapa de caracterização.

Figura 3: Aparas de couro devidamente moído.

Fonte: Elaborado pelos autores.


A etapa de caracterização contemplou a análise granulométrica, de umidade, teor de cinzas,
analise elementar (enxofre, carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio+halogênios), poder
calorífico e fluorescência de raios x.
A determinação da distribuição granulométrica baseou-se na Norma CEMP 081, que consiste na
utilização de doze peneiras padronizadas que possuem aberturas com diâmetros diferentes. Com
isso, foi preciso colocar a amostra no agitador de peneiras por 15 minutos e em seguida fazer a
pesagem das aparas de couro moído que ficaram retidas em cada uma delas.
A fluorescência de raios x é uma análise que, através de sinais de raios x, estimula uma amostra
desconhecida, fazendo com que os elementos presentes na amostra emitam seus raios x
característicos. Desta forma, é possível determinar os tipos de elementos que se encontram no
material através do EDX que detecta estes raios x. (SHIMADZU DO BRASIL, 2012). Para esta
análise utilizou-se o espectrômetro de fluorescência de raios x por energia dispersiva, modelo
EDX 720, que obtêm resultados qualitativamente.
A determinação do teor de cinzas, umidade, poder calorífico e análise elementar foi realizado pela
Fundação de Ciência e Tecnologia de Porto Alegre - CIENTEC. O teor de cinzas e umidade foi
determinado pelo método ASTM D-7582/12 por macro análise termogravimétrica. A análise do
enxofre foi através da ASTM D-4239 (combustão com detecção por infravermelho). O carbono,
hidrogênio e nitrogênio (combustão da amostra por infravermelho e condutividade térmica) pela
Norma ASTM D-5373. Teor de oxigênio+halogênios pela Norma ASTM D-3176/2009. O poder
calorífico superior e cálculo do inferior por bomba calorimétrica isoperibol. As amostras foram
secas em estufas de lâmpadas e circulação de ar e temperatura de (50+-5) ºC, até massa
constante.
Além da caracterização das aparas, realizou-se a caracterização das cinzas no Instituto
Tecnológico de Micropaleontologia (ITT Fossil) da Unisinos. As cinzas foram geradas em
laboratório através da ASTM D-2617 e realizou-se as análises de teor de carbono pela Norma
ASTM C1408-9 e enxofre pela Norma ASTM D-4239, sendo que para ambas usou-se o
equipamento Analisador de Carbono e Enxofre, combustão com leitura de infravermelho.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na etapa de amostragem foi possível constatar que no aterro havia outros materiais além do
resíduo de couro, como partes de calçados com reforço e forro, laminados têxteis de poliuretano e
pvc, solas, sacolas plásticas, borrachinhas de dinheiro, etc, conforme Figura 4.

Figura 4: Resíduos encontrados durante a segregação do couro.

Fonte: Elaborado pelos autores.


Após a segregação e preparação das amostras, os couros seguiram para a etapa de preparação e
caracterização. Nos itens a seguir, são apresentados e interpretados os resultados (cinzas,
análise elementar e poder calorífico são apresentados em base seca).

4.1 Teor de umidade

Para a análise do teor de umidade, encontrou-se para as amostras de aparas de couro moído um
teor de umidade de 11,61%. Godinho (2006), Vieira (2004), Caballero, Font e Esperanza (1998) e
Bahillo et al. (2004) apresentaram teores de umidade nas aparas de couro de 14,1%, 14,13%,
12% e 13,3%, respectivamente. Segundo Cortez, Lora e Gómez (2008) a composição elementar
de uma amostra engloba também seu teor de umidade e este tem papel importante durante
ignição e as etapas iniciais de combustão de um material para ser reaproveitado, por exemplo,
como biomassa.

4.2 Análise Granulométrica

Para a análise da distribuição granulométrica obteve-se tamanho maior que 3,75mm. Segundo
Calheiro (2001), através da distribuição granulométrica é possível determinar o tamanho médio
das partículas das substâncias em estudo. Hoff (2002) destaca que para a realização das análises
químicas se faz necessário a preparação das amostras conforme NBR 11034 – Preparação de
amostras de couro para análise química. Essa NBR determina que o tamanho médio das
partículas de couro moído seja menor ou igual a 4 mm. (ABNT, 2005).
Ribeiro (2003) em sua preparação da amostra de serragem de wet blue e após o processo
de peneiramento a seco sob agitação mecânica durante 40min chegou a uma granulometria
média menor que 2,36 mm.

4.3 Fluorescência de raios x

Na tabela 1 é possível analisar os resultados obtidos a partir da fluorescência de raios x.

Tabela 1: Análise de fluorescência de raios x.


Tipo de análise Qualitativa
Elementos majoritários (>50%) Cr
Menor quantidade (5% > x > 50%) S
Elementos Traços (< 5%) Ti, Si, Fe, Ca, Al, K
Fonte: Elaborada pelos autores.
Através da tabela 1 verificou-se que o material analisado possui como elemento majoritário
o Cr, com mais de 50%. Em menor quantidade têm-se o S e os elementos traços presentes são
Ti, Si, Fe, Ca, Al e K. Para Vieira (2004) foram encontrados como elemento majoritário o Cr, para
os elementos em menor quantidade foram o S, Cl, Ca, Fe, Na e P e para elementos traço foram o
Mg, Si, K, V e Br.
Cabe salientar que a presença de diversos metais observados nos resíduos, deve-se a presença
de pigmentos adicionados nas etapas de acabamento do couro, como é o caso do titânio.
(VIEIRA, 2004). Os resultados variam entre si porque durante o processamento das peles em
couros são utilizados diferentes insumos, principalmente nas etapas de recurtimento e
acabamento final dos couros. O Cr permanece como majoritário por ser o produto de maior
fixação na pele, sendo responsável pela estabilização e durabilidade do material.

4.4 Teor de cinzas


Os resultados obtidos para a determinação do teor de cinzas das aparas foi de 6,23%. Alguns
autores chegaram a valores de teor de cinza de 5,8% (GODINHO, 2006), de 6,16% (VIEIRA,
2004) e 5,25% (BAHILLO et al., 2004). Conforme Dettmer (2008), o teor de substâncias minerais
que estão no couro são identificadas através do teor de cinzas. Entre as substâncias identificadas
estão os sais e óxidos minerais curtentes, provenientes do processo de curtimento.

4.5 Análise elementar

As aparas de couro moído apresentaram os seguintes resultados, conforme tabela 2:

Tabela 2: Análise elementar.


Elemento Aparas Cinzas
C 49,66% 0,46%
S 2,09% 2,48%
H 6,51%
N 11,8%
O + Halogênios 23,71%
Fonte: elaborado pelos autores.

Os resultados encontrados por outros autores em aparas de couro foram de 45% de teor de
carbono e 2,33% de enxofre (CAVALLERO, 1998), 49,31% de carbono, enxofre 1,83%, 8,52% de
hidrogênio, 12,42% de nitrogênio e oxigênio de 24,70% (GODINHO,2006). Viera (2004) chegou a
resultados de 48% carbono, 1,93% de enxofre, 8,41% de hidrogênio, 12,29% de nitrogênio e
29,02% de oxigênio. Segundo Vieira (2004) que analisou o teor de carbono e encontrou valores
de 48% nas aparas, este fator é o principal responsável pelo processo de combustão dos
resíduos. Conforme apresentado por Viera (2004) este teor está presente em cerca de 50% do
resíduo de couro e calçado, tanto na matéria carbonosa, quanto nos minerais carbonatados das
cinzas, o que permite constatar o potencial de utilização desses resíduos para a produção de
energia calorífica através do processo de incineração.
A presença de enxofre nas aparas promoverá a geração de gases ácidos sulfurosos no processo
de incineração, os quais deverão passar necessariamente por um sistema de neutralização antes
de serem liberados para atmosfera. (VIEIRA 2004). A presença de enxofre nas cinzas indica que
este elemento não volatilizou completamente na queima e permanece como resíduo nas cinzas.
Para valores de carbono das cinzas Alves (2007) analisou cinzas provenientes de um reator de
leito fixo com tecnologia de gaseificação e combustão combinadas, chegando a valores de
carbono de 0,1%. Segundo o autor, a quantidade baixa de teores de carbono indica um processo
de combustão eficiente. Em Godinho (2006) as cinzas coletadas neste mesmo incinerador,
possuíam concentração de C, respectivamente de 0,03% (cinzas coletadas no cinzeiro) e 0,7%
(cinzas coletadas no ciclone). Godinho (2006) citando Gomez-Moreno et al. (2003) afirma que
teores menores de 0,7% de carbono na cinza sugere uma boa performance de combustão.
Wenzel (2008) chegou a teores de C das cinzas de incineração com valores de 0,04%.
Ainda segundo Benn (1981 apud MARTINS, 2001), os resíduos apropriadamente queimados se
transformam em cinzas, com conteúdo mínimo de carbono, podendo assim, serem dispostos em
aterros de modo seguro.

4.6 Poder calorífico

Os valores encontrados de poder calorífico superior e inferior foram respectivamente de 5170


kcal/kg e 4.835 kcal/kg. Segundo Taborski (2005) os combustíveis que apresentam poder
calorífico superior a 2150 kcal/kg e 3000 kcal/kg permitem uma combustão auto sustentável, não
havendo necessidade de um combustível auxiliar, desde que a umidade não exceda 50%.
Godinho (2006) caracterizou aparas de couro e chegou a um resultado de 4.406 kcal/kg de poder
calorífico superior e de 3959 kcal/kg de poder calorífico inferior.

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que um dos pontos essenciais para a reciclagem dos resíduos é a etapa de
caracterização, visando um melhor reaproveitamento destes antes de sua disposição final em
centrais de resíduos. O baixo teor de umidade e baixos teores de carbono indicam que estes
resíduos são uma boa fonte de reciclagem para processos de cogeração, como incineração e
pirólise. Além disso, os baixos teores de cinza das análises indicam uma redução significativa de
volume do resíduo pós incineração, o que auxiliaria na resolução de um problema para disposição
destes em aterros.
Na análise FRX constatou-se altos teores de cromo nas aparas, podendo o resíduo ser extraído
para reinserção no ciclo produtivo como matéria prima em diferentes aplicações, desde o
curtimento das peles, até a utilização deste em pigmentos e ligas de ferro cromo, cabendo um
estudo mais aprofundado para utilização e reinserção deste no ciclo produtivo.
O estudo de alternativas para reciclagem de resíduos de couro vem a ser uma possibilidade de
diminuir a sua destinação em centrais de resíduos perigosos, contribuindo para a diminuição de
passivos ambientais. Além disso, reciclar alguns compostos, como o cromo, e fazer uso deste
como matéria prima em diferentes processos, contribui de maneira significativa na redução da
extração deste metal na natureza.
Tendo em vista que a caracterização é de extrema importância será necessária a realização de
outras análises para que se possa avaliar melhor o resíduo couro e assim decidir a melhor
maneira de utilizá-lo, como coproduto.

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