FIEMA-2012 - 2 - RS-100 2 Autor
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Resumo
A indústria calçadista é uma das que mais movimenta a economia brasileira, e também uma
das indústrias que produz maior quantidade de resíduos. Dentre estes resíduos o couro natural
é o material mais encontrado e que traz maiores problemas ambientais devido à necessidade
de utilização de diversos produtos químicos para o seu processamento. Desta forma, estudar
as possibilidades e condições de processamento para a reciclagem deste material é essencial.
Neste sentido o objetivo deste trabalho, realizado em conjunto com uma empresa da indústria
de calçado do Rio Grande do Sul foi avaliar as propriedades de isolamento térmico e acústico,
de placas de resíduos de couro oriundo desta indústria para verificar a possibilidade de
reutilização destes como produtos para a construção civil. Foram avaliadas também a
utilização de dois agentes aglomerantes o pré-polímero, PMDI e o poliacetato de vinila, PVA.
Os resultados preliminares demonstram que as placas apresentaram boas características de
isolamento tanto térmico quanto acústico, e que a escolha do agente aglomerante deve levar
em conta a relação de custo beneficio, já que ambos apresentaram resultados semelhantes,
porém o PVA que é um produto mais barato apresentou resultados inferiores para absorção de
umidade.
Abstract
The footwear industry is one of the fastest moving the Brazilian economy, and also one of
the industries that produce more waste. Among these residues the natural leather is the
materialmost frequently found and that brings the biggest environmental problems due to the
need to use several chemical products for their processing. Therefore, studying
the possibilities and conditions for this process to recycling material is essential. In this
sense the objective of this work, which was held in conjunction with a company of the shoe
industryof Rio Grande do Sul, was to evaluate the properties of thermal and acoustic
insulation, plate waste, leather coming from the industry to verify the possibility of reuse of
these products as for the building industry. Were also evaluated the use of two binding agents
PMDI and the PVA. Preliminary results demonstrate that the plates presented
good insulation characteristics both thermal asacoustic, and that the choice of agglomerating
agent must take into account the relationship of cost benefit, since both presented similar
results, but the PVA which is a product and cheaply was inferior to moisture absorption.
1 Introdução
O setor coureiro calçadista brasileiro é formado por 7,5 mil indústrias produzindo em
2008 cerca de 800 milhões de pares de calçados, no qual aproximadamente 21% para
exportação, sendo a região do Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul o maior pólo produtor de
calçados. (Relatório LAFIS, 2009) Conforme os resultados obtidos no Relatório sobre a
Geração de Resíduos Sólidos Industriais, executado por Silva, Sangoi e Espinoza (2003), o
setor coureiro-calçadista é o maior gerador de resíduos sólidos industriais perigosos no estado
do Rio Grande do Sul, o que demonstra que a indústria calçadista representa um grande
impacto ambiental.
Segundo Cultri (2006) dentre os resíduos sólidos oriundos da fabricação de calçados
encontram-se entre os resíduos perigosos que compreendem materiais como couro atanado,
couro, cromo, sapatos com defeitos, pó de couro, varrição de fábrica, rachado,
miolo/vira/atanado, resto de fachete, resto de atanado e resto de recouro. Dariva et al (1999)
afirma que estes resíduos são cerca 52% dos resíduos provenientes desta industria.
O couro contém cerca de 17 tipos de diferentes de produtos químicos usados para
possibilitar seu processamento e que são destinados a aterros. A maioria destes aditivos é
nociva ao meio ambiente e à saúde. O chorume dos aterros que recebem os resíduos da
indústria calçadista e dos curtumes, portanto, carregam estes produtos químicos. (ROQUE,
2011)
Desta forma, os resíduos de couro oriundo da indústria calçadista quando dispostos em
aterros são causadores de grandes problemas ambientais e o estudo de formas de
reaproveitamento destes é de suma importância. Assim, com esta pesquisa objetivou-se
avaliar as propriedades, principalmente quanto a isolamento sonoro e térmico, de placas de
resíduos de couro oriundos de calçados para aplicação no setor da construção civil. Além de
avaliar a influência da utilização dos agentes aglomerantes PMDI e PVA nestas propriedades
e verificar as vantagens de custo e benefícios da utilização destes um contra o outro.
Conforme Vilar (2008) o Difenilmetano diisocianato (MDI) é um dos isociantos mais
consumidos pelo mercado de PU, e em sua forma polimérica (PMDI) (apresentada na Figura
1) costumam serem utilizadas em espumas rígidas, espumas para isolamento térmico,
aglomerante de raspas de madeira e em fundição, adesivos rígidos, pisos, na fabricação de
pré-polímeros para solados, revestimento de couro, poliuretanos termoplásticos, adesivos
termo fundíveis e etc.
Figura 1 – Estrutura do PMDI
2 Metodologia
Materiais
Foram utilizados resíduos de couro moído, oriundos de uma empresa calçadista, com
granulometria maior que 1 cm.
Caracterização
Foram avaliadas o acabamento físico das placas, a umidade relativa destas, a porcentagem de
absorção de água e o isolamento sonoro e térmico proporcionado por estas. A porcentagem de
umidade relativa foi obtida através da variação da massa das amostras após ficarem durante
3º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 25 a 27 de Abril de 2012
3h em uma estufa a 70°C. Para a obtenção da porcentagem de absorção de água foi avaliada a
variação de massa das amostras após estas ficarem durante 24h submergidas em água. O
ensaio de isolamento sonoro foi realizado com a utilização do sistema esquematizado na
Figura 2 utilizou-se como fonte sonora uma onda quadrada variando a freqüência em 100,
1000 e 10000 Hz conforme a Figura 3. O ensaio de isolamento térmico foi realizado conforme
o esquema da Figura 4, onde a temperatura de dois compartimentos, um com gelo e outro
sem, foram verificadas e comparadas por um período de tempo de 80 min.
3 Resultados
Propriedades físicas
Na Figura 6 vemos as placas produzidas com o resíduo de couro com cada um dos agentes
utilizados. Podemos verificar que visualmente ambas as placas tiveram boa compactação e
aderência das partículas. A placa com o PMDI apresentou maior brilho e uma coloração
levemente mais escura que a com o PVA. Avaliando estas amostras qualitativamente
concluímos que a placa com o PVA apresenta menor dureza, e uma resiliência ligeiramente
maior que a placa com o PMDI, quando estas foram flexionadas manualmente.
3º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente
Bento Gonçalves – RS, Brasil, 25 a 27 de Abril de 2012
Figura 6- Peças moldadas por compressão térmica: a) Placa com PVA e b) Placa com PMDI.
5
% de umidade relativa
4
4,54
3
3,63
0
MDI PVA
Agentes aglomerantes
60
% de absorção de água
55
58,06
57,58
50
45
40
MDI PVA
Agentes aglomerantes
Isolamento sonoro
Os resultados para o ensaio de isolamento sonoro são apresentados na Figura 9, com
estes verificou-se que ambas as placas apresentaram um bom sistema de isolamento acústico,
pois houve uma diminuição da intensidade de pressão sonora. Observamos, que para a
freqüência de 100 Hz não houve diferença significativa na redução, mas que para as
freqüências de 1000 e 10000 Hz a placa com o agente PVA resultados superiores de
isolamento. Isto ocorreu provavelmente pelo PVA não criar uma camada externa de barreira
sobre a placa como ocorre com o PMDI, desta forma é facilitada a penetração e dissipação das
ondas sonoras na placa.
Figura 9- Resultados do ensaio de isolamento sonoro
100
Intensidade de pressão sonora (dB)
90 I amb =
90,40
Δ=8,7
Δ=11 43,5 dB
80 Δ=3,8
Δ=3,7
Onda
79,00
81,70
79,40
Δ=9,9
76,40
75,20
70 Quadrada
75,30
Δ=12,9
66,60
60
63,50
50
40
100 1000 10000
Frequência (hz)
Isolamento térmico
80,39
80,39
60
78,66
67,75
50
40
30
20
10
0
PVA PMDI
Agentes Aglomerantes
Figura 11- Seguimento da variação da temperatura dos compartimentos com e sem gelo em função do
tempo de ensaio a) placa com PVA b) placa com PMDI
25 25
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
20 20
15 15
10 10
5 5
0 20 40 60 80 0 20 40 60 80
Tempo (min) Tempo (min)
Compartimento com gelo Compartimento com gelo
Compartimento sem gelo Compartimento sem gelo
30 Tamb=
25 27°C
Massa do gelo (g)
y = -4,1432x + 28,26
20
15
10
5
y = -3,9071x + 23,403
0
0 20 40 60 80
Tempo (min)
PVA PMDI
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4 Conclusões
Com os dados obtidos até o presente momento podemos verificar que as placas de
resíduos de couro apresentam potencial para isolamento tanto sonoro quanto térmico, sendo
que os resultados são superiores para o isolamento sonoro.
Quanto à utilização dos agentes aglomerantes, as placas com a utilização do agente
aglomerante PMDI apresentaram menor porcentagem de umidade e absorção de água e
resultados ligeiramente superiores para isolamento térmico. No entanto, as placas com o
agente aglomerante PVA apresentaram resultados superiores quanto ao isolamento sonoro e
muito próximos aos apresentados pelas placas com PMDI, quanto a isolamento térmico.
Desta forma, verificamos que a utilização de resíduos de couro em aplicações para
construção civil pode ter resultados promissores; e que para a escolha do agente aglomerante
utilizado deve-se levar em conta, a relação de custo benefício, pois placas com PVA
apresentam resultados um pouco inferiores aos apresentados para placas com PMDI pela
maior absorção de umidade, porém apresentam custo mais barato, visto que o PVA apresenta
menor custo que o PMDI.
5 Agradecimentos
Os autores agradecem a FAURGS e a Empresa Paquetá por fornecer apoio financeiro a
pesquisa. Os autores também agradecem ao prof. Carlos Arthur Ferreira pelo fornecimento do
PVA e ao ao Prof. Krenzinger pelo uso do decibelímetro.
Referências
ROQUE, L. P. Empresa usa resíduos de couro para fabricar blocos para a construção
civil. Revista Sustentabilidade, 2011