Mongrafia Monjane
Mongrafia Monjane
Mongrafia Monjane
Índice
DECLARAÇÃO .................................................................................................................iv
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ v
DEDICATÓRIA .................................................................................................................vi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ...................................................................... vii
LISTAS DE GRÁFICOS E FIGURAS ........................................................................... viii
RESUMO ...........................................................................................................................ix
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO......................................................................................... 10
1.1. Problema ............................................................................................................. 11
1.2. Delimitação do Tema .......................................................................................... 11
1.3. Justificativa ......................................................................................................... 12
1.4. Objectivos ........................................................................................................... 13
1.4.1. Objectivo Geral............................................................................................ 13
1.4.2. Objectivos Específicos ................................................................................ 13
1.5. Hipóteses ............................................................................................................. 13
CAPÍTULO II: MARCO TEÓRICO ................................................................................. 14
1.6. Conceito do Casamento ...................................................................................... 14
1.7. Legislação e Documentos Oficiais Relacionados ao Combate dos Casamentos
Prematuros ..................................................................................................................... 14
1.8. Perfil do Casamento Prematuro .......................................................................... 17
1.9. Determinantes de Casamentos Prematuros ......................................................... 18
1.9.1. Pobreza ........................................................................................................ 18
1.9.2. Fraca Difusão da Legislação e das Políticas Públicas ................................. 20
1.9.3. Factores Socioculturais (ritos de iniciação) ................................................. 21
1.9.4. Orfandade .................................................................................................... 22
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................ 23
3.1. Tipo de Pesquisa.................................................................................................. 23
3.1.1 Quanto aos objectivos ....................................................................................... 23
3.1.2 Quanto aos procedimentos ................................................................................ 23
3.1.3 Quanto à abordagem.......................................................................................... 23
iii
DECLARAÇÃO
Declaro, por minha honra que esta monografia nunca foi apresentada para a obtenção de qualquer
grau, e que ela constitui o resultado da minha inteira investigação, para o grau de Licenciatura em
Ensino de História, pela Universidade Católica de Moçambique – Centro de Ensino á Distancia
Gurué, estando indicadas no texto e nas bibliografias as fontes por mim utilizadas.
A autora
________________________________________
Lelita José Carlos
v
AGRADECIMENTOS
A minha gratidão vai primeiramente à DEUS, que sempre iluminou a minha vida.
Aos meus pais, filhos, irmãos, primos e amigos pelo apoio e amor que me deram durante esta
longa caminhada.
Ao meu esposo José Simão pelo apoio que me deu em toda esta etapa.
À Direcção da Escola Secundária Geral de Macuarrro, concretamente na pessoa do DAE, por ter
aceitado a realização do trabalho e, a todos os funcionários que mesmo estando ocupados na
realização das suas actividades aceitaram responder as questões que lhes foram colocadas. De
igual modo se estende o agradecimento aos pais, encarregados de educação e a comunidade em
geral.
A todos aqueles que directa ou indirectamente deram o seu contributo à minha vida académica.
MUITO OBRIGADA.
vi
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de conclusão de curso ao meu pai José Carlos Fabião em memória família
por me ensinar a amar e perdoar.
vii
CP – Casamentos prematuros
Gráfico 04: Sobre o que deve ser feito para estancas os CP’s ……………………….....30
Gráfico 05: Sobre os motivos que levam a rapariga a se casarem cedo …………......…30
Gráfico 06: Sobre idade de casamento de acordo com a lei de família ………...………31
ix
RESUMO
O presente trabalho com o tema “Impacto dos Casamentos Prematuros no Processo Ensino e
Aprendizagem: O Caso da Escola Secundária Geral de Macuarro” aborda o impacto de
casamento prematuro como uma das expressões pouco percebida de abuso sexual e da violação
dos direitos sexuais e reprodutivos da rapariga e pretendendo deste modo evidenciar os
determinantes da persistência dos casamentos prematuros em Macuaro e seu impacto nas crianças
no âmbito do processo de ensino e aprendizagem. Apresentou com objectivo geral analisar o
impacto de casamentos prematuros no caso da Escola Secundária Geral de Macuarro. Foi uma
investigação exploratória, explicativa, e quantitativa. Conclui-se, deste modo que os factores que
motivam a ocorrência do casamento prematuro, estão relacionados com o facto de nas instâncias
sociais, principalmente na família e comunidade, ocorrer um processo dinâmico e contínuo de
atribuição de papéis e modelos de feminilidade e masculinidade que produzem e reproduzem as
relações assimétricas de poder entre adultos e crianças e entre homens e mulheres. Mais do que
apontar factores transversais como os altos índices de pobreza entre a população rural, o fraco
acesso aos serviços social básico, como a saúde, educação, água potável o casamento prematuro
deve ser analisado partindo o da premissa da distribuição desigual de recursos e serviços
atribuídos as crianças em função do seu sexo.Portanto, propoe-se a divulgação e implementação
da Estratégia Nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros e a protecção dos
direitos da criança contra os casamentos prematuros.
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda o impacto de casamento prematuro como uma das expressões pouco
percebida de abuso sexual e da violação dos direitos sexuais e reprodutivos da rapariga e
pretendendo deste modo evidenciar os determinantes da persistência dos casamentos prematuros
em Moçambique e seu impacto nas crianças no âmbito do processo de ensino e aprendizagem.
Espera-se que o resultado do cruzamento das percepções dos inqueridos sobre esta prática com as
normas jurídicas fundamentais pelas convenções internacionais e políticas, que visam proteger e
promover os direitos das crianças sejam mobilizados os actores no sentido de promoção da saúde
sexual e reprodutiva da rapariga, para que tal mobilização se efective torna-se pertinente que, os
direitos humanos da rapariga sejam abordados de forma holística, integrando aspectos específicos
na abordagem de género, desenvolvida nos “estudos feministas”, e estudos sobre criança, infância
onde se destacam a família e a sociologia da infância.
O estudo foi abordado em seis (seis) capítulos. Ao longo do primeiro capítulo falou se sobre a
formulação do problema, delimitação da pesquisa, justificativa, objectivos (geral e específicos) e
hipóteses. O segundo capítulo tratou do embasamento teórico que por sua vez envolverá a
definição de termos (revisão da literatura teórica), revisão da literatura focalizada e revisão da
literatura empírica. O terceiro e último capítulo abordou a metodologia da pesquisa, desenho de
pesquisa, população em estudo, processo de amostragem, tamanho de amostra, método de colecta
de dados, colecta de dados primários, colecta de dados secundários. O quarto capítulo apresentou
a interpretação dos resultados. O quinto capítulo versou sobre a discussão dos resultados. E no
último capítulo apresentou as considerações finais e sugestões, e por fim as Referências
11
Bibliográficas dos autores que serviram de base para a procuração deste trabalho, apêndice e
anexos.
1.1. Problema
A pesquisadora aborda este assunto sobre ponto de vista da existência do fenómeno no Posto
Administrativo de Mepuagiua concretamente na ESGM, o que cria maior atenção ao público, e
ainda mais a pesquisadora foca que, é por existir maior número de analfabetismo, o que dificulta
a tomada de decisões.
O Plano Económico Social (PES, 2015) aprovado pela Assembleia da República, tinha entre
vários objectivos criar condições para a redução dos riscos de gravidez indesejada na
adolescência, das populações locais através da criação de projectos a nível de cada distrito, no
âmbito da luta contra a gravidez indesejada na Adolescência. Daí que nos surge a seguinte
questão: Qual é o impacto dos casamentos prematuros no Processo de ensino-aprendizagem
na ESGM?
O presente projecto propõe como objecto de estudo, o Impacto dos Casamentos Prematuros no
Processo Ensino e Aprendizagem: O Caso da Escola Secundária Geral de Macuarro.
Questão a ser estudada no distrito de Gurué, no Posto Administrativo de Mepuagiua, na Escola na
Secundária Geral de Macuarro (ESGM) na localidade do mesmo nome durante o período de 2017
12
a 2019. A Escola Secundária Geral de Macuarro (ESGM) cita na zona norte da Província da
Zambézia no distrito Gurué ao longo da N103.
1.3. Justificativa
O que motivou a pesquisadora a estudar este tema de casamentos prematuros, foi por ver vários
jovens principalmente do sexo feminino que abandonam a escola na Localidade de Macuarro,
indo criar lar muito cedo. Acto que só irá gerar mais pobreza, não só para a criança mas para o
país em geral.
Por ser estudante do curso de História sob ponto de visto o acto de casamentos prematuros, é uma
autêntica violação da vida historial das raparigas, constituindo deste modo um atraso do
desenvolvimento de uma nação, pois, não irá desenvolver se o futuro da mesma.
Moçambique é um dos países ao nível mundial com as taxas mais elevadas de prevalência de
casamentos prematuros, representando uma grande violação dos direito humanos e da rapariga.
Esta situação afecta negativamente os esforços para a redução da pobreza. E influenciando em
particular as raparigas as quais em gravidez precoce deixam de ter acesso a educação,
aumentando os riscos de mortalidade materna e infantil e mesmo frequentando a escola no estado
de gravidez reduz o seu nível no acompanhamento do Processo de Ensino e Aprendizagem.
A pesquisa é de importância social, jurídica e política porque a maior parte das desistências
escolares está ligada a gravidez precoce nas raparigas, numa fase do seu desenvolvimento físico e
emocional em que elas ainda não se encontram preparadas para gerar uma criança com
consequências bastante sérias para a sua saúde e para a sobrevivência dos seus filhos.
Porém, a pesquisa é importante para MINEDH, a escola e a sociedade em geral porque irá
contribuir para a retenção da rapariga na escola e promovendo deste jeito a educação escolar que
é o garante da formação de um cidadão íntegro.
13
1.4. Objectivos
1.5. Hipóteses
Os casamentos prematuros podem concorrer para o aumento das desistências dos alunos.
Os casamentos prematuros podem concorrer no baixo rendimento escolar por parte das
raparigas que se encontram a cuidar lares.
Os casamentos prematuros podem prejudicar a saúde sexual reprodutiva da rapariga
14
O Dicionário da Língua Portuguesa (1998), define o casamento como “contrato celebrado entre
duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão
de vida (p. 317)”.
O Art. 7 da Lei n. 10 (2004), que aprova a Lei da Família, em Moçambique, define o casamento
como “a união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o propósito de
constituir família, mediante comunhão plena de vida”.
Em suma pode se concluir que o casamento pressupõe, antes de mais, o livre consentimento das
partes.
Tal definição é ambígua. Pode estar susceptível a diversos entendimentos, uma vez que
Moçambique é um país multicultural e multiétnico, o que não se adequa a uma definição
resumida, como no Art. 7. São necessários outros procedimentos esclarecedores. A título de
exemplo, essa lei não é conhecida cabalmente pelos membros da comunidade.
A Resolução 66/170 (2011), instituiu o dia Internacional da Rapariga, visando promover uma
maior mobilização e sensibilização de pessoas em todo o mundo, para evitar que se perpetuem a
discriminação e todas as formas de violência contra a rapariga. Por essas razões, no ano de 2011
criou-se a Resolução 66/170 (2011), que recomenda fazer-se a reflexão da situação da rapariga
em todo o mundo, no dia 11 de Outubro de cada ano, na vertente da promoção e protecção dos
seus direitos, com vistas alcançar um desenvolvimento sustentável até o ano de 2030, em âmbito
mundial, conforme as metas traçadas pela ONU.
A Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança (2005), no seu Art. 11º, estabelece que
“Toda a criança deve ter o direito à educação que deve ser orientada para a promoção e
desenvolvimento da personalidade da criança, talentos e habilidades físicas e mentais para o
desempenho total das suas potencialidades”. Para o caso concreto de Moçambique, há que se
15
ressaltar que a aplicação desse artigo ainda é um desafio, haja vista os dados da investigação
conduzida por Osório (2015) segundo os quais as 110 crianças que deixaram de frequentar a
escola em três províncias moçambicanas (Cidade de Maputo, Província de Maputo e Cabo
Delgado) eram do sexo feminino. Excepcionalmente, um menino da Cidade de Maputo casou-se
com menos de 18 anos de idade. Tal fato evidencia que nem todas as crianças têm os mesmos
direitos, e que as meninas têm mais direitos violados que os meninos.
Em cumprimento às recomendações da ONU, que havia definido o ano de 1979 como o Ano
Internacional da Criança, o Estado moçambicano, dentre as comemorações, publicou a
Declaração dos Direitos da Criança de Moçambique, através da Resolução n. 23 (1979),com o
intuito de divulgar e debater os direitos da criança em todo o país.
A Assembleia da República, o então órgão mais alto do Estado moçambicano, mandado respeitar
e fazer cumprir, primeiro estabelece que “todas as crianças têm os mesmos direitos”. Em seguida,
prevê o segundo direito: “crescer rodeada de amor e compreensão, num ambiente de segurança e
de paz”. Igualmente, merece destaque o terceiro direito estipulado: “Tens o direito de viver numa
família. [...] Quando não tiveres família, tens o direito a passar a viver numa família que te ame
como filho.” O quinto determina “o direito de receber educação”. Assim escrito, fica evidente
que, apesar de terem se passado mais de cinco décadas da assinatura dessa Resolução, o desejo
do povo moçambicano ainda está longe de ser concretizado, especialmente para as crianças do
sexo feminino que vivem em famílias mais pobres e nas comunidades periféricas do país.
A Lei n. 7(2008) sobre Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, releva o direito à
dignidade, à convivência familiar, ao lazer, à convivência comunitária, à vida, à saúde e à
liberdade. Ressaltando a Lei da Família, n. 10(2004), o Art. 290.1 decreta que “Cabe a ambos os
pais, de acordo com as suas possibilidades e com o superior interesse dos seus filhos, promover o
desenvolvimento físico, intelectual e moral daqueles”. O Art. 293, acerca do convívio familiar,
define que “os pais não podem, injustamente, privar os seus filhos de conviver com os irmãos,
descendentes e demais parentes.” A par disso, o estudo de Bagnol, Sousa, Fernandes e Cabra
(2015) frisa que, em algumas comunidades da região central de Moçambique, especialmente na
província de Zambézia, muitos pais forçam suas filhas a se casarem prematuramente para,
17
alegadamente, terem uma pessoa a menos no seu agregado familiar. Outros, para que o genro
ajude nas despesas da casa.
Recentemente o relatório estatístico do Fundo das Nações Unidas para a Infância, intitulado “Um
Perfil do Casamento Prematuro em África”, tornou público que as taxas de redução de mulheres
que se casaram ainda crianças são lentas, diminuíram apenas 10% desde 1990, ano em que havia
44% em todo o continente africano, ou seja, 34% actualmente. O relatório advertiu que as
projecções indicam que, caso tal situação não se reverta até 2050, o continente africano terá o
maior número de mulheres casadas precocemente, ultrapassando a região sul do continente
asiático, reconhecida mundialmente (UNICE- Moçambique, 2016). O casamento precoce em
Moçambique é um fenómeno notório. Ocorre em muitas comunidades; o número de crianças
incluídas nessa prática, especialmente meninas, tende a crescer cada vez mais, comprometendo o
seu futuro e, em muitos casos, forçando-as a deixar de frequentar o ensino, como relatam a
RECAC (2015) e a pesquisa realizada pelo (UNICEF), pelo Fundo das Nações Unidas para a
População (FNUAP) e Coligação para a Eliminação dos Casamentos Prematuros (CECAP)
(UNICEF, FNUAP, & CECAP, 2015).
Os dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) realizado no país em 2011 apontam que
48% de mulheres inqueridas da faixa etária entre 20 a 24 anos contraíram matrimónio antes da
idade legal e 14% antes de 15 anos de acordo com os dados da pesquisa de Ministério da Saúde
(MISAU) e Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE), (2013). Paralelamente, o
relatório de 2016 da UNICEF assinala que Moçambique é um dos países com a maior taxa de
casamentos prematuros na região sul do continente africano, ocupando a segunda posição na
região e a décima primeira em âmbito mundial. Estima-se que uma em cada duas mulheres da
faixa etária de 20 a 24 anos de idade se casa antes dos 18 anos, e uma em cada dez mulheres,
antes dos 15 anos (UNICEF, FNUAP, & CECAP, 2015).
As circunstâncias e os factores que motivam a ocorrência dos Casamentos Prematuros no país são
vários, destacando-se, de acordo com os estudos e dados estatísticos: a pobreza, a fraca difusão
da legislação e das políticas públicas que protegem crianças contra casamentos prematuros, e os
factores socioculturais, especialmente os ritos de iniciação e a orfandade.
1.9.1. Pobreza
A pobreza constitui o principal determinante no que diz respeito aos casamentos precoces em
Moçambique. Alguns pais apoiam-se na ideia de suas filhas menores de 18 anos deixarem de
frequentar o ensino primário para se casarem, geralmente com um homem adulto, muito mais
idoso, na expectativa de obter um rendimento para suas famílias, ter um genro que aliviará as
despesas, sendo um agregado familiar (Sitoe, 2017). Elas deixam de ir à escola para assumir os
seus novos papéis sociais, os de esposas.
Para Bagnol, Sousa, Fernandes e Cabra (2015), nas situações em que os esposos abandonam suas
esposas (menores), elas ficam com os bebés que resultam desse casamento, sob os cuidados de
avós, fato que implica grande insegurança, tanto para a mãe adolescente quanto para o bebé,
especialmente quando a família tem poucos recursos financeiros e é incapaz de sustentá-los.
De acordo com Sitoe (2017), são muitas as meninas casadas precocemente na área rural. São os
próprios pais ou familiares que permitem que as raparigas se casarem, visto que no Gurué, logo
que a rapariga entra no primeiro ciclo menstrual a consideram preparada para o casamento. Essas
meninas tornam-se mães na idade de 14 a 16 anos. Depois disso, infelizmente, muitas são
19
abandonadas pelos seus esposos, que emigram para áreas urbanas em busca de trabalho, sem
deixar rastros.
Assim, a grande expectativa de sair da pobreza concretiza-se em outra realidade, uma situação
pior, posto que os pais não aceitam as filhas de volta, e elas têm que se sujeitar, muitas vezes, a
um novo casamento, em busca de sustento. Às vezes são exploradas sexualmente, em troca de
alimentação e abrigo. Em 2016, na Escola Secundária de Gurué, Província de Zambézia, região
central de Moçambique, 23 meninas entre 12 e 14 anos de idade deixaram de frequentar a escola,
por preferirem contrair matrimónio. Seus pais justificaram que foi devido à falta de condições
económicas, como descrito a seguir:
O noivo leva alguns alimentos como peixe e farinha para almoço. Uma bebida [alcoólica]
[...] preparada para o pequeno número de convidados. Na sequência do casamento, a
família da noiva cede um espaço do seu terreno, onde o genro vai construir a sua casa o
qual passa assim, a reforçar a capacidade produtiva familiar, partilhando os seus
rendimentos com os sogros, com quem partilha até as refeições diárias (Sitoe, 2017, p. 4).
Os casamentos, então, servem para superar dificuldades económicas. A par disso, o relatório de
pesquisa de 2014, do Instituto Panos África Austral (PSAF) (2014), assinala que muitos estudos
apontam a pobreza como a principal causa da persistência do casamento precoce, reiterando que:
Muitas famílias [moçambicanas] não têm condições para sustentar os seus filhos [...]
enquanto as famílias lutam para dar o mínimo necessário para a criança, algumas crianças
envolvem-se em actividades de prostituição e outras juntam-se a homens adultos na
expectativa de obter ganhos económicos. [...] Também existem alegados casos em que as
famílias incentivam as crianças a procurarem meios de sustento (PSAF, 2014, p. 4).
20
Essa prática, em síntese, contribui para a marginalização das meninas. Ainda de acordo com os
dados do Relatório do PSAF em destaque, é comum ver jovens casais unidos prematuramente
vivendo em condições sociais e de saúde difíceis. Por vezes são desnutridos e vivem em extrema
pobreza, sem condições nem mesmo de se alimentarem nos seus lares.
nas áreas rurais do que nas urbanas. Como igualmente ilustra a pesquisa UNICEF, FNUAP e
CECAP (2015), 56% das mulheres da faixa etária entre 20 e 24 anos de áreas rurais casaram-se
antes da idade legal (18 anos) e 36% da mesma faixa etária nas áreas urbanas.
Assim, os dois estudos, Pinto (2017) e PSAF (2014), apresentam conceitos que se
complementam. Paralelamente, ainda de acordo com Pinto (2017), na cultura macua, na região
Norte e um pouco no centro do país, toda criança que passou pelo respectivo ritual não deve ser
mais considerada e chamada por criança, é tida como adulta. As comunidades moçambicanas
praticantes dessa tradição entende esse atam como a passagem da fase da criança para a fase
adulta. Se uma menina que cumpriu esse ritual já se tornou adulta, não pode ter medo de se
relacionar sexualmente, muito menos de se casar com qualquer pessoa, independentemente da
sua idade. Por conseguinte, as meninas de pais e responsáveis pobres, sobretudo da região rural,
sem escolarização e ritualizadas, casam-se mais prematuramente do que as demais.
Os pesquisadores Cardoso (2012), Osório e Macuaca (2013), assim como Bagnol, Sousa,
Fernandes e Cabra (2015), denunciam que alguns conteúdos transmitidos durante os ritos de
iniciação femininos, assim como nos masculinos, violam os direitos da criança. Segundo eles, há
falta de respeito para com as meninas com idade entre 8 e 12 anos, quando são submetidas a essa
prática ritual, em que aprendem conteúdos relacionados ao sexo, a como agradar o futuro esposo
e a não se negar a fazer sexo com ele. Coisa similar acontece nos rituais masculinos, onde os
mestres dos ritos de iniciação veiculam a mensagem, aos meninos, de que todo homem é superior
à mulher, mesmo nas situações em que ele tenha idade inferior.
1.9.4. Orfandade
Um dos determinantes que deixam meninas vulneráveis aos casamentos prematuros em
Moçambique é a orfandade. As meninas órfãs enfrentam severas dificuldades para cuidar dos
seus irmãos menores após o falecimento dos seus pais biológicos. A situação é piorada quando os
pais morrem em casas alugadas, porque as crianças ficam sem abrigo. Preferem, então, casar-se
com alguém para ajudar nas despesas (UNICEF- Moçambique, 2016). Daí a importância de o
Conselho de Escola criar uma comissão que auxilie as crianças a identificar colegas em risco de
Casamento Prematuro. Após tal identificação, a Comissão intervém, encaminhando os casos para
a Acção Social, sector responsável pela ajuda às crianças órfãs e vulneráveis, e
consequentemente, busca-se garantir-lhes a permanência na escola, até concluir pelo menos os
sete anos de escolaridade gratuitos e obrigatórios no país.
23
Segundo Gil (2002), este tipo de pesquisa “tem a preocupação central de identificar os factores
que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos. Esse é o tipo de pesquisa
que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das
coisas(p.42)”.
Segundo Ventura (2002) citado por Ivala et all (2007) “ a pesquisa de campo deve merecer
grande atenção, pois devem ser indicados os critérios de escolha de amostragem (das pessoas que
serão escolhidas como exemplares de certa situação), a forma pela qual serão colectados os dados
e os critérios de análise dos dados obtidos (p.30)”.
Segundo Fachin (1999) a pesquisa qualitativa “é aquela que tem por objectivo compreender de
forma detalhada as características de um determinado problema (p.45),”.
3.2 Método
O Método segundo Garcia (1998, p. 44) “representa um procedimento racional ordenado (forma
de pensar), constituído por instrumentos básicos, que implica a reflexão e a experimentação, para
proceder ao longo do caminho (significado etimológico de método) e alcançar os objectivos
preestabelecidos no panejamento da pesquisa”.
24
3.3.1 Universo
De acordo com Prodanov e Freitas (2013) “universo o (ou população da pesquisa) é a totalidade
de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo” (p.
98).Comummente, fala-se de população como referência ao total de habitantes de determinados
lugares. Nisto, o universo desta pesquisa foram os professores, alunos, pais e encarregados de
educação e todos que directa ou indirectamente fazem o dia-a-dia da ESGM num total de 1845
elementos.
3.3.2 Amostra
Segundo Prodanov e Freitas (2013) amostra “é parte da população ou do universo, seleccionada
de acordo com uma regra ou um plano. Refere-se ao subconjunto do universo ou da população,
por meio do qual estabelecemos ou estimamos as características desse universo ou dessa
população”. (p. 98)
A presente pesquisa apresenta como amostra 19 (dezanove) intervenientes, dos quais 2 (dois)
membros de direcção, 4 (quatro) professores 10 (dez) alunos dos quais 5 (cinco) rapazes e igual
número de raparigas.
25
Os dados colectados foram tratados segundo uma abordagem dialéctica, uma vez que seu enfoque
foi a mudança, segundo um processo contraditório, que não se encontra isolado, pois forma uma
totalidade geral, em que cada parte fornece a sua contribuição e tem, em seu movimento, um
lugar no todo.
26
De realçar que este estabelecimento teve as suas obras de raiz erguidas em 2014 (dois mil e
catorze) onde teve o seu funcionamento em 2017 (dois mil e dezassete) funcionando
primeiramente com três (3) turmas das quais contava com duas (2) turmas de Oitavas classes e
uma (1) de nona classe com 150 (cento e cinquenta alunos) leccionadas por 7 (sete) professores.
Desde os primórdios a escola funcionou com cinco salas até actualmente onde as salas são
divididas em regimes de turnos, pois até ao devido momento lecciona de oitava a decimas classes
contando com um efectivo de 12 funcionários, dos quais três são membros de direcção, sete são
do corpo docente e dois agentes de serviço.
Género
Mascolino Femenino
48% 52%
Masculino Femenino
Neste item constatou-se que o elevado número foi de sexo feminino com 52% por cento. Este
dado foi um marco importante, pois, as mulheres (as raparigas) sobretudo é que são as principais
vítimas deste mal. Por tanto, há que ressaltar que os casamentos prematuros no fundo deixam
27
muitas vítimas, desde o país que por exemplo se encontra a perder uma futura médica, ministra,
etc.
100%
67% De 14 a 18
50% De 19 a 23
19% 14%
Mais de 24
0%
De 14 a 18 De 19 a 23 Mais de 24
O gráfico acima ilustra que de entre três faixas etárias dos entrevistados, a maior percentagem foi
de 14 a 18 anos. Isso é algo preponderante para a pesquisa, visto que esta faixa etária representa o
fulcro desta pesquisa, ou seja, denominam se casamentos prematuros a união de menores ou
casamento de menores de idade.
Não sei
Nascer criança com ma formação congénita
Sofrimento durante no parto
Entrada na vida adulta antes do tempo certo
Abandono escolar
52%
26%
4% 12%
6%
Esta questão mostrou claramente que a população entende que os casamentos prematuros fazem
com que a rapariga abandone a escola (52%).O casamento precoce em Moçambique é um
fenómeno notório. Os estudos sobre a temática levados a cabo no país sempre constatam o
abandono do ensino primário pelas meninas, motivado por casamentos. A escola é o local
apropriado e inigualável para abranger um número maior de pessoas na disseminação de
informação que desmotivam para o casamento prematuro e potencializam o empoderamento das
meninas, pois saber ler e escrever pode mudar muitas realidades. A protecção da criança tem,
como consequência, a prevenção da adultização e do incentivo à erotização e à sexualidade
precoce, entre outros benefícios. Ocorre em muitas comunidades; o número de crianças incluídas
nessa prática, especialmente meninas, tende a crescer cada vez mais, comprometendo o seu
futuro e, em muitos casos, forçando-as a deixar de frequentar o ensino primário, como relatam a
RECAC (2015).
Mesmo assim, é preocupante o número dos entrevistados que desconhecem as consequências dos
casamentos prematuros (26%). A eliminação dos casamentos prematuros em Moçambique
necessita ser prioridade na agenda nacional. Por um lado, as acções do Estado moçambicano
abarcam as entidades não-governamentais, que insistem em desenvolver as suas actividades
sistematicamente nas grandes cidades, onde o fenómeno ocorre com menos frequência. Deixam
em segundo plano as áreas rurais, onde está o berço das culturas e crenças que favorecem essa
prática e onde vivem meninas de famílias mais pobres, que mais comummente vivenciam esse
flagelo, com o consentimento dos seus pais e ou responsáveis. Por outro lado, a legislação e as
políticas relacionadas à protecção da criança contra os casamentos prematuros não abordam de
forma concreta a questão de casamentos de crianças e como as instituições públicas devem se
engajar para a sua eliminação. É essencial que se redistribuam as metas e a periodicidade na
elaboração de relatórios para cada instituição (Bagnol, et al, 2015).
29
Questão nº2:No seu entender o que deve ser feito para evitar os casamentos prematuros?
Não sei
Leccionar a matéria sobre os casamentos prematuros como currículo local
Realização de palestras nos lugares públicos
Difusão da Legislação e das Políticas Públicas
35%
30%
25%
10%
Gráfico 04: Sobre o que deve ser feito para estancar os CP’s
Neste item, a maior parte dos entrevistados sugerem que deve se leccionar a matéria que aborda
os casamentos locais como questão de currículo local (35%) seguida dos que preferem a difusão
da legislação (30%). Sendo que 25% optaram pela realização de palestras nos lugares públicos e
10% não tem conhecimento do que pode ser feito com vista a estancar este mal.
Questão nº 3: No seu entender, qual é a causa que leva as raparigas se casarem cedo?
Nesta questão, a pobreza (48%) foi apontada como a principal causa dos casamentos prematuros
seguida da orfandade (22%) e factores socioculturais (20%). Há que perceber que geralmente os
pais permitem casamentos prematuros com garantias de que o genro vai apoiar a família da
rapariga. Outro facto destacado foi o referente a factores socioculturais, visto que, confunde se a
entrada do ciclo menstrual da rapariga com o crescimento.
A Carta Africana dos Direitos e Bem-Estar da Criança (2005), no seu Art. 11º, estabelece que
“Toda a criança deve ter o direito à educação que deve ser orientada para a promoção e
desenvolvimento da personalidade da criança, talentos e habilidades físicas e mentais para o
desempenho total das suas potencialidades”. Para o caso concreto de Moçambique, há que se
ressaltar que a aplicação desse artigo ainda é um desafio, haja vista os dados da investigação
conduzida por Osório (2015) segundo os quais as 110 crianças que deixaram de frequentar a
escola em três províncias moçambicanas (Cidade de Maputo, Província de Maputo e Cabo
Delgado) eram do sexo feminino.
Questão nº4: Tendo em conta com a lei de família, com que idade as raparigas devem se
casar?
Nesta questão, verificou-se que há uma necessidade de se adoptar mecanismo de fazer com a Lei
de Família vigente no país, chegue a todo o canto, pois, a 97% dos inqueridos não sabem qual é a
idade legislada para o casamento.
31
O governo moçambicano focaliza suas acções de combate aos casamentos prematuros nas áreas
urbanas e, com maior dificuldade, na zona rural, o que pode contribuir para desequilíbrios em
termos de taxas de prevalência nas duas áreas. Estudos recentes do UNICEF- Moçambique
(2016) e Sitoe (2017) comprovam que em Moçambique se registaram mais casamentos precoces
nas áreas rurais do que nas urbanas. Como igualmente ilustra a pesquisa UNICEF, FNUAP e
CECAP (2015), 56% das mulheres da faixa etária entre 20 e 24 anos de áreas rurais casaram-se
antes da idade legal (18 anos) e 36% da mesma faixa etária nas áreas urbanas.
Não obstante, os dados do Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) realizado no país em 2011
apontam que 48% de mulheres inqueridas da faixa etária entre 20 a 24 anos contraíram
matrimónio antes da idade legal e 14% antes de 15 anos de acordo com os dados da pesquisa de
Ministério da Saúde (MISAU) e Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE), (2013).
32
pobres, sobretudo as que vivem em regiões rurais, valorizam casamentos precoces em detrimento
da escolarização.
Há ainda pais e responsáveis em muitas comunidades moçambicanas que acreditam ser sorte o
facto de suas filhas se casarem ainda crianças. Ficam alegres com isso, infelizmente,
demonstrando que não sabem que estão violando os direitos dessas crianças. É bem provável que
também desconheçam as possíveis consequências, frustrações e limitações de suas filhas na fase
adulta, ou mesmo as suas responsabilidades civis quando se envolvem nessa prática.
O governo de Moçambique tem inserido a sociedade civil e a média jornalística, sobretudo nos
dias comemorativos ou festivos, nas grandes cidades, locais onde o facto não é tão frequente.
Contudo, por se tratar de um fenómeno, sobretudo rural, associado especialmente à pobreza e a
factores socioculturais, não tem sido tarefa fácil reduzir as taxas de ocorrência. Faltam parcerias
entre entidades governamentais e não-governamentais, que precisam, em conjunto, planificar
iniciativas e mecanismos atractivos, que desencorajem essas práticas.
No País, estudos levados a cabo sobre os casamentos prematuros abrangem, via de regra, um
universo menor. Muitas vezes são pesquisas que englobam universo e amostra reduzidos, tendo
em conta que Moçambique é um país extenso e populoso.
34
6.2 Sugestões
Após a conclusão do presente estudo, apresentam-se como sugestões os seguintes aspectos:
A prover e divulgar os direitos e dever das crianças com vista que as crianças tenham
noção dos seus direito;
Manter-se informado com o governo dos assuntos legais relacionados com os casamentos
prematuro;
Discentivar a comunidade sobre os casamentos prematuro;
Prosseguir com as acções para o acesso e retenção das crianças na escola em especial das
raparigas;
É relevante responsabilizar o Conselho de cada escola, para preparar e qualificar os seus
membros, a fim de que busquem formas de eliminar esse fenómeno com acções
localmente desenhadas, tais como actualizar os dados sobre as crianças e os adolescentes
das regiões, para a sua priorização e urgência na prevenção e combate aos casamentos
prematuros.
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Referências Bibliográficas
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como dia Internacional da Rapariga. Acessado em 16 de Março de 2019, de
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Bardin, L. (2009). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA. Acessado em de 02
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Neglected.
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Julho. Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral da
Organizaçãodas Nações Unidas.
Osório, C, (2000). Direitos humanos, direitos humanos das mulheres. In Direitos humanos das
mulheres em quatro tópicos.
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Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos Relativo aos Direitos da Mulher
em África. (2005). Acessado em 17 de Março de 2019 de
http://www.linguee.com.br/portuguesingles/traducao/protocolo+%C3%A0+carta+africana+dos+d
ireitos+humanos.html.
APÊNDICES
Apêndice A: questionário
ANEXOS
Anexo A – Credencial