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Purificação Da Glicerina

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Artigo

Purificação de Glicerina Residual Obtida na Produção de


Biodiesel a Partir de Óleos Residuais
Lopes, A. P.; Canesin, E. A.; Suzuki, R. M.; Tonin, L. T. D.; Palioto, G. F.;
Seixas, F. L.
Rev. Virtual Quim., 2014, 6 (6), 1564-1582. Data de publicação na Web: 2 de novembro de 2014
http://www.uff.br/rvq

Purification of Residual Glycerol Obtained in Biodiesel Production from Waste Oils


Abstract: Domestic production of biodiesel is becoming increasingly widespread, via transesterification
processes; it generates a significant amount of glycerol that can become available in various sectors of
national industry providing that it has a level of compatible purity. This paper presents a purification
route for glycerin obtained in alkaline methyl transesterification of waste oils and soybean oils of animal
origin obtained from commercial rotissery processes. The residual oils were characterized as acid ,
peroxide, saponification and iodine values, as well as viscosity and ash contents; after obtaining the
residual glycerine from biodiesel it was subjected to processes of pre-purification through washing with
solvent, acidification and neutralization, followed by purification with active charcoal and cationic and
anionic resins. After the process of purification the glycerin samples were characterized by glycerol
content, alkalinity, ash, chloride, color and moisture, obtaining as the best result for glycerol content
94.19 ± 1.46 for glycerin obtained from soybean oil used.
Keywords: Waste oils; transesterification methods; glycerol; biodiesel.

Resumo
A produção nacional de biodiesel em crescente expansão, através de processos de transesterificação,
gera uma quantidade expressiva de glicerol que pode ser aproveitado em diversos setores da indústria
nacional desde que apresente um teor de pureza compatível. Este trabalho apresenta uma rota de
purificação de glicerina obtida em processo de transesterificação alcalina metílica de óleos residuais de
soja e óleos de origem animal obtidos em assadores comerciais. Os óleos residuais foram caracterizados
quanto a índice de acidez, peróxido, saponificação e iodo, além da viscosidade e do teor de cinzas, após
a obtenção do biodiesel a glicerina residual foi submetida a processos de pré-purificação através de
lavagem com solvente, acidificação e neutralização, seguida de purificação com carvão ativo e resinas
catiônicas e aniônicas. Após a purificação as amostras de glicerina foram caracterizadas pelo teor de
glicerol, alcalinidade, teor de cinzas, cloretos, umidade e cor, obtendo como melhor resultado um teor
de glicerol de 94,19 ± 1,46 obtido na glicerina proveniente de óleo de soja usado.
Palavras-chave: Óleos residuais; métodos de transesterificação; glicerina; biodiesel.

* Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Química. Av. Colombo 5790, CEP 87020-900,
Maringá-PR, Brasil.
ana-quimica@hotmail.com
DOI: 10.5935/1984-6835.20140102

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582| 1564


Volume 6, Número 6 Novembro-Dezembro 2014

Revista Virtual de Química


ISSN 1984-6835

Purificação de Glicerina Residual Obtida na Produção de


Biodiesel a Partir de Óleos Residuais
Ana Paula Lopes,a,* Edmilson Antonio Canesin,b Rúbia Michele Suzuki,b
Lilian Tatiani D. Tonin,b Graciana F. Palioto,b Fernanda L. Seixasb
a
Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Química. Av. Colombo 5790, CEP
87020-900, Maringá-PR, Brasil.
b
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Apucarana, Rua Marcílio Dias, 635, CEP
86812-460, Apucarana-PR, Brasil.
* ana-quimica@hotmail.com

Recebido em 4 de maio de 2014. Aceito para publicação em 2 de novembro de 2014

1. Introdução
2. Metodologia
2.1. Análises físico-químicas dos óleos
2.2. Síntese de biodiesel
2.3. Preparo das amostras de glicerina
2.4. Caracterização das amostras de glicerina
3. Resultados e Discussão
3.1. Análise dos óleos usados como matéria prima
3.2. Caracterização da glicerina bruta
3.3. Caracterização da glicerina pré-purificada
3.4. Tratamento da glicerina com resinas trocadoras de íons
3.5. Caracterização da glicerina purificada
4. Conclusões

1. Introdução e passará para 7% (B7) até novembro de


2014. Em 2013 o total de biodiesel
consumido no Brasil chegou a 2,9 bilhões de
O biodiesel é uma fonte alternativa em litros. A mudança para o B7 (mistura de 7 %)
substituição ao óleo diesel derivado do faria a demanda obrigatória por biodiesel
petróleo. Devido aos incentivos crescer 40 %.1 Dessa forma, cresce um fator
governamentais, atualmente a produção de preocupante frente a este acelerado
biodiesel possui grande escala e demanda, crescimento, o destino do glicerol excedente,
pois o mesmo é adicionado ao diesel de visto que para cada tonelada de biodiesel
petróleo em proporção de 6% (B6) da mistura obtido são gerados cerca de 100 kg de
glicerol, provocando efeitos adversos à
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economia do biodiesel. Neste contexto, concentração de aproximadamente 30 % a


teme-se que o excesso de glicerina temperatura ambiente ou 40 % a 80 °C, onde
produzida, a qual pode provocar um elevado a glicerina deve ser alimentada livre de
nível de poluição, possa ser descartada de turbidez e de materiais coloidais. A passagem
maneira irresponsável no ambiente.2 através das resinas elimina sais, ácidos graxos
livres, impurezas que conferem cor e odor,
A glicerina quando é obtida a partir da
entre outras impurezas minerais presentes. A
reação de transesterificação, precisa ser
concentração subsequente da solução de
purificada, sendo as principais impurezas o
glicerina purificada se dá pela evaporação do
catalisador, álcool (etanol ou metanol),
solvente.7
ácidos graxos, óleo residual, ésteres, água,
sabões e sais, que lhe conferem um baixo Neste trabalho apresenta-se uma rota de
valor.2 Quando purificada, com purificação da glicerina bruta obtida a partir
aproximadamente 99 % de glicerol, é uma da produção de biodiesel de óleo de soja
matéria prima de alto valor, pois pode ser novo e dos seguintes óleos residuais: óleo de
empregada em uma ampla variedade de soja de frituras domésticas, óleo de origem
produtos como cosméticos, fármacos, animal (mistura de óleo bovino e suíno) e
indústria têxtil, tintas, alimentos, entre óleo de frangos provenientes de assadouros
outros, todavia seu uso depende do seu grau comerciais.
de pureza, que deve estar usualmente acima
de 95 %. A glicerina bruta, resultante do
processo de produção de biodiesel, 2. Metodologia
apresenta cerca de 30 % de impurezas, e são
necessários complexos processos para que
essa matéria prima alcance tal grau de pureza 2.1. Análises físico-químicas dos óleos
visando aplicação industrial.3,4 Essas
impurezas dependem da natureza das
oleaginosas e do tipo de catálise empregada Os óleos residuais utilizados para
na preparação do biodiesel.4 produção do biodiesel passaram por um pré-
Para ser comercializada, a glicerina obtida tratamento em duas etapas: uma filtração
pela reação de transesterificação deve passar em peneira (mesh 60) para remoção de
por um processo de refino, que geralmente é sólidos, e nova filtração em papel de filtro
realizado por destilação, seguida por com sulfato de sódio anidro para remoção da
tratamento com carvão ativo. Em alguns umidade. Esse procedimento não foi
casos o refino é realizado por processos de realizado para a amostra de óleo de soja
troca iônica.5 A destilação é o método mais novo. Para a caracterização dos óleos, foram
utilizado nos processos de purificação da realizadas análises físico-químicas de: acidez,8
glicerina e deve ser feita à alto vácuo, de índice de peróxido,9 índice de saponificação,9
0,600 a 1,330 kPa absoluto. A temperatura índice de iodo,10 viscosidade11 e cinzas
utilizada não deve ultrapassar 204 °C, a fim sulfatadas.4
de prevenir a polimerização e a Determinação da acidez – Titulou-se em
decomposição da glicerina em acroleína.3,4,6 triplicata cerca de 0,1000 g ± 0,1 mg de cada
O método de purificação por troca iônica amostra de óleo dissolvidos em 10,0 mL de
vem recebendo grande aceitação por sua etanol, com solução de hidróxido de potássio
simplicidade nas operações e baixo consumo 0,01 mol L-1, padronizada com solução
de energia.7 A purificação por troca iônica padrão de biftalato de potássio 0,02 mol L-1 e
envolve a passagem do material filtrado 2 gotas de fenolftaleína a 1 % como
através de sucessivos leitos de cátion forte e indicador, realizando-se também um branco
ânion fraco, ou em uma mistura desses leitos. com etanol apenas.12
A unidade de troca iônica opera Determinação do índice de peróxido –
eficientemente com soluções diluídas a uma Solubilizou-se cerca de 5,0000 g ± 0,1 mg da
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amostra de óleo residual, em 30,0 mL de uma adicionou-se 20,0 mL de iodeto de potássio


mistura de ácido acético:clorofórmio (3:2 v/v) 15,0 % (m/v) e 100,0 mL de água destilada, a
em erlenmeyer com rolha, adicionou-se amostra foi então titulada com uma solução
excesso de iodeto na amostra, este reagiu de tiossulfato de sódio, previamente
com os peróxidos presentes para formação padronizado com dicromato de potássio,
de I2 (Equação 1). utilizando-se uma solução de amido solúvel
0,5 % (m/v) como indicador.9
Viscosidade - Utilizou-se um viscosímetro
2 ROOH(l) + 2H+(aq) + 2I-(aq) I2(aq) + 2 ROH(l) +
microprocessado (QUIMIS, modelo
H2O(l) (Equação 1)
Q860M26). Para garantir a temperatura do
óleo durante a medida acoplou-se um
Na forma de I2 a solubilidade em água é sistema de circulação ultra termostatizado
baixa, mas com excesso de iodeto ocorre a (SOLAB), para estabilização da temperatura
formação de triiodeto (I3-) que é muito das amostras em 40,0 ± 0,1 C. O
solúvel. O iodo formado foi titulado com equipamento foi previamente calibrado
solução de tiossulfato de sódio 0,01 mol L-1 através de um padrão de glicerina p.a.
na presença solução de amido 0,70 % (m/v) (Vetec, 99,9 % de pureza), conforme
como indicador (Equação 2). recomendação do fabricante.
Determinação do teor de cinzas sulfatadas
– Utilizou-se um cadinho que inicialmente foi
I2(s) + 2 S2O32-(aq) 2 I-(aq) + S4O62-(aq) aquecido em mufla a 550 °C e resfriado em
(Equação 2) um dessecador, após foi pesado com
precisão de 0,1 mg. Em seguida foram
pesados cerca de 5,0 g de amostra de óleo no
As amostras foram conservadas ao abrigo cadinho previamente tarado. Já com a
da luz, tampadas e na temperatura de 20 C amostra foram aquecidos lentamente em
em estufa termostatizada (Marca Solab – chapa de aquecimento até um resíduo
DBO 20) durante o procedimento escuro, o qual foi então colocado em mufla e
minimizando as perdas de iodo, e incinerado a 550 °C por uma hora. Após esse
consequentes erros de titulação.13,14,15 tempo o cadinho foi retirado da mufla e
Índice de Saponificação – Em um balão de colocado em um dessecador para esfriar e
fundo chato de capacidade 100 mL, foi em seguida foi pesado com precisão de 0,1
pesado aproximadamente 0,50 g de amostra, mg. Novamente foi colocado na mufla e
em seguida adicionou-se 30 mL de solução de aquecido até a temperatura de incineração
potassa alcoólica em excesso. Logo após ser alcançada, por um tempo de 15 min. Após
deixou-se sob aquecimento por 1 h e 30 min atingir o tempo estimado, foi retirado da
sob refluxo, onde após esse tempo esperou- mufla, resfriado em dessecador e pesado
se o completo resfriamento. As amostras novamente.4
foram tituladas com solução padronizada de
ácido sulfúrico (H2SO4) 1,0 mol L-1, utilizando
fenolftaleína como indicador.9 2.2. Síntese de biodiesel

Índice de Iodo – Pesou-se, em um


erlenmeyer de 500 mL, cerca de 0,5000 g da O biodiesel foi sintetizado por
amostra de óleo que foi dissolvida em 20,0 transesterificação com cerca de 300,0 g de
mL de hexano, em seguida foi adicionado, cada óleo através da catálise básica, para a
com pipeta volumétrica, 20,0 mL do reagente qual se dissolveu hidróxido de potássio em
de Wijs, o conteúdo foi cuidadosamente metanol anidro (1,25 % m/v). A reação
agitado, tampado e colocado em estufa ao ocorreu observando-se uma razão molar de
abrigo da luz, por 1 h a 25 °C. Após o tempo
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6:1 do metanol sob refluxo, com agitação de etapa visou à extração de resíduos de ésteres
800 rpm através de um agitador magnético e triacilgliceróis que estavam presentes na
com aquecimento e temperatura controlada glicerina. Após a separação das fases o
em 60 ± 2 C durante 20 min.16 hexano foi recuperado por rotaevaporação,
pesando-se o resíduo de ésteres e
Após a transesterificação, as misturas
triacilgliceróis.
foram deixadas em repouso por 10 min para
decantação em funil de separação do tipo b) Acidificação – A glicerina resultante da
pera de 500,0 mL (Figura 1-a). A fase de lavagem com solvente foi então aquecida a
glicerina com excesso de metanol foi 60 °C e titulada, lentamente, com ácido
separada e a fase de ésteres foi lavada, sulfúrico (H2SO4) 3,0 mol L-1 até pH=4,
inicialmente com 200 mL de solução aquosa a utilizando fita indicadora de pH para controle
2,0 % de ácido acético a 80 C e (Figura 1-c). O ácido sulfúrico reage com os
posteriormente por mais duas vezes com 200 sabões presentes na mistura formando
mL de água destilada a 80 C com agitação no ácidos graxos livres. A glicerina deposita-se
funil. Após a decantação completa da fase na fase inferior e os ácidos graxos na fase
aquosa ao final da última lavagem por uma superior, sendo então separados (Figura 1-
hora, o biodiesel foi filtrado através de d).5 Uma centrifugação do conteúdo
coluna com sulfato de sódio anidro e acidificado, mais especificamente a fase mais
armazenado em frascos de vidro âmbar a densa, foi realizado em uma Centrífuga
temperatura ambiente. SOLAB a 5000 rpm por 5 min, para melhorar
o rendimento da glicerina bruta.
c) Neutralização – Após a separação do
2.3. Preparo das amostras de glicerina
sistema trifásico (Figura 1-d) a glicerina bruta
foi neutralizada a temperatura ambiente com
adição lenta de NaOH 6,0 mol L-1 até pH entre
Pré-purificação da glicerina bruta
6,5 e 7,5 utilizando fitas indicadoras para
controle do pH final. Em seguida foi
A maioria das impurezas contidas na centrifugada para nova separação dos sais
glicerina é originada de ácidos graxos formados, utilizando a técnica descrita no
produzidos por processos de decomposição item b.
do óleo neutro. Alguns ácidos graxos voláteis d) Salting-outing – Corresponde à fase
se associam com bases utilizadas na final da pré-purificação, que também é
transesterificação, formando sais solúveis conhecida como precipitação por anti-
que diminuem a qualidade da glicerina bruta, solvente, é um método rápido e simples no
sendo necessárias etapas de pré-purificação.4 qual se adicionou etanol na proporção 2:1,
a) Lavagem com solvente – Após a em relação ao volume de glicerina e
separação da glicerina do biodiesel, a mesma centrifugou-se a mistura para separação do
foi pesada e transferida para um funil de precipitado. O solvente da mistura (etanol)
decantação onde foram adicionados cerca de foi removido por rotaevaporação e foi
30 mL de hexano, o funil foi tampado e armazenado para posteriormente ser
agitado. A mistura permaneceu em repouso reutilizado.5
para separação das fases (Figura 1-b). Esta

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(a) (b) (c) (d)


Figura 1. (a) Separação da glicerina do biodiesel. (b) Lavagem com solvente da glicerina obtida.
(c) Processo de acidificação. (d) Sistema trifásico após acidificação

Purificação da glicerina bruta através da determinação da condutividade


elétrica da solução de glicerina, utilizando-se
um condutivímetro digital marca Tecnopon
a) Tratamento com carvão ativado – Foi modelo mCA-150.17
utilizado carvão ativado granular da marca
Para avaliação de um melhor desempenho
VETEC para a remoção de pigmentos, odor, e
das resinas e consequentemente obtenção
para adsorver parte dos possíveis íons
de glicerina de melhor qualidade foram
metálicos presentes. Os ensaios foram
efetuados três processos de troca iônica,
realizados em sistema batelada adicionando-
denominados processos 1, 2 e 3. Todas as
se a 50 mL da solução de glicerina cerca de
amostras de glicerina foram submetidas ao
3,0 g de carvão ativado, deixando sob
processo 1 (Figura 2) e apenas as amostras de
agitação magnética por 1 h. A remoção do
glicerina provenientes do biodiesel obtido de
carvão ativado da solução foi feita por
óleo residual de soja foram submetidas aos
filtração a vácuo.
processos 2 e 3 (Figuras 3 e 4). Em todos os
b) Processo de purificação com troca processos partiu-se de amostras de glicerina
iônica – As resinas utilizadas foram Amberlite diluídas em água destilada a uma
IRA120 Na (Catiônica) e Amberlite IRA410 Cl concentração média de 33 % de glicerina pré-
(Aniônica), ambas da marca VETEC. As resinas purificada.
foram ativadas por um tempo de 45 min,
No processo 1, cada solução de glicerina
utilizando-se para resina catiônica, solução
ficou em contato direto com cada resina, sob
HCl 5 % e para resina aniônica NaOH 3 %. Os
agitação constante de 150 rpm (Figura 2), à
ensaios foram realizados passando a solução,
temperatura ambiente, sendo a
primeiramente pela resina catiônica e em
condutividade da solução monitorada a cada
seguida pela resina aniônica, avaliando-se
20 min para avaliação da saturação da resina.
seu efeito em cada resina individualmente

Figura 2. Tratamento realizado em todas as amostras de glicerina - Processo 1

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Nos processos 2 e 3 (Figuras 3 e 4) o vácuo para separação da solução de glicerina


procedimento foi o mesmo utilizado no e da resina, em seguida o solvente (água) foi
processo 1, porém o monitoramento da evaporado da solução utilizando-se um
condutividade foi realizado a cada 10 min evaporador rotativo. O produto resultante da
para avaliação da saturação das resinas. O evaporação foi identificado como glicerina
produto final de cada processo foi filtrado a purificada.

Figura 3. Tratamento realizado nas amostras de glicerina provenientes de óleo de soja usado -
Processo 2

Após sua utilização, as resinas foram uma hora sob agitação magnética de 150 rpm
regeneradas com solução de NaCl 10 %, à temperatura ambiente, podendo ser
ficando em contato com a solução salina por novamente ativadas para posterior utilização.

Figura 4. Tratamento realizado nas amostras de glicerina provenientes de óleo de soja usado -
Processo 3

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2.4. Caracterização das amostras de método de Karl Fisher – Utilizou-se a titulação


glicerina de Karl-Fischer para a determinação do teor
de água, através de um titulador semi-
automático (QUIMIS modelo Q349).20 O
Determinação do glicerol – Foi realizada método é baseado na titulação
utilizando-se o método do periodato de sódio potenciométrica, com detecção por eletrodo
que consiste na diluição da amostra de platina. A reação clássica de Karl Fischer é
previamente pesada, em água destilada, baseada na reação de Bunsen usada para
adição de verde de bromocresol como determinação de dióxido de enxofre em
indicador, seguida de acidificação com ácido solução aquosa (Equação 3).14,21
sulfúrico 0,10 mol L-1, até pH=4, neutralização
com hidróxido de sódio 0,05 mol L-1 até o
aparecimento da coloração azul e adição de SO2(g) + I2(s) + 2 H2O(l)  4 H+(aq) + SO42-(aq)
10,0 mL de periodato de sódio 60,0 g L-1. A + 2 I-(aq) (Equação 3)
amostra foi mantida no escuro por 30 min
em seguida adicionados 1,0 mL de
etilenoglicol 99,5 % e novamente no escuro O reagente Karl-Fischer é composto de
por mais 20 min. Logo após a amostra foi iodo, dióxido de enxofre e metanol, sem
diluída a um volume de 30,0 mL com água piridina (marca Vetec) sendo a
destilada e titulou-se com hidróxido de sódio estequiometria da reação entre água e iodo
0,125 mol L-1, sob agitação magnética, com na razão 1:1, usando-se como solvente
auxílio de pHgâmetro para determinação do clorofórmio/metanol (3:1 v/v). Inicialmente
pH final de titulação de 6,5.4 calibrou-se o reagente de Karl Fischer com
cerca de 20 µL de água, usando-se micro
Determinação de cloretos – Foram
seringa previamente aferida em balança com
titulados, em triplicata, aproximadamente
precisão de 0,1 mg. Em seguida foram
0,5000 g de cada amostra, diluídas em 10,0
tituladas amostras de glicerina em triplicatas
mL água destilada, com solução de nitrato de
com cerca de 0,2000 ± 0,1 mg, com a
prata 0,01 mol L-1 previamente padronizada
inserção da amostra diretamente no copo
com solução padrão cloreto de sódio 0,01
reator para evitar umidade.
mol L-1. Foi adicionado como indicador 1,0 mL
de cromato de potássio a 5 % (m/v) na Determinação do teor de sódio (Na+) e
amostra diluída, em seguida efetuou-se a potássio (K+) – Foram preparadas soluções de
titulação até o aparecimento da coloração 1000 ppm de cada amostra glicerina para que
avermelhada, que indica o ponto final da fossem analisadas em um espectrofotômetro
titulação, realizou-se também um branco de chama. Como padrão foi preparado uma
com água destilada.18 solução contendo 100 ppm em sódio e
potássio. O procedimento de análise foi
Determinação da alcalinidade – Titulou-
realizado segundo descrito na manual do
se, em triplicata, cerca de 0,5000 g de cada
aparelho.
amostra, diluídas em 10,0 mL água destilada,
com solução de ácido sulfúrico 0,01 mol L-1 Análise da cor – Foi realizada utilizando
previamente padronizada com solução um colorímetro AquaColor, com calibração
padrão carbonato de sódio 0,0100 mol L-1. com padrão de cor de 5, 100, 500 e 3500 uC
Usou-se como indicador 3 gotas de verde de (unidade de cor), efetuando leitura em
bromocresol na amostra diluída, em seguida duplicata de cada amostra.
efetuou-se a titulação até o aparecimento da
coloração verde, que indica o ponto final da
titulação. Foi realizado também um branco
da água destilada.19
Determinação do teor de água pelo

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3. Resultados e Discussão óleos e gorduras, no caso do óleo de cozinha,


sucessivas reutilizações no processo de
fritura podem aumentar o teor de ácidos
graxos livres no óleo, elevando o índice de
3.1. Análise dos óleos usados como
acidez.22
matéria prima
O índice de peróxido pode ajudar na
determinação do nível de degradação do
De acordo com a Tabela 1, que apresenta óleo, os resultados da Tabela 1 demonstram
os resultados das análises realizadas para as valores relativamente elevados e acima do
amostras de óleo, pode-se observar que as permitido para os níveis de peróxidos do óleo
amostras de óleo que apresentaram valores de soja usado, do óleo animal e para o óleo
de acidez dentro dos padrões permitidos pela de frango, somente o óleo de soja novo
ANVISA, que é de 0,3 g 100 g-1 para óleos e apresentou valores dentro dos padrões
gorduras.12 A acidez pode revelar permitidos pela ANVISA, que é de no máximo
parcialmente o estado de conservação dos 10 meq kg-1.23

Tabela 1. Propriedades físico-químicas analisadas e metodologia utilizada para as amostras


de óleo
Óleo soja Óleo residual Óleo residual Óleo residual
Parâmetro Avaliado Metodologia
novo de soja animal* de frango
Acidez
0,20 ± 0,02a 2,15 ± 0,02b 2,25 ± 0,05c 1,80 ± 0,02c ANP, 2004 8
(mg KOH g-1)
Índice de Peróxido
-1
3,13 ± 0,52a 13,77 ± 1,52b 47,52 ± 2,58c 84,30 ± 4,50d Adolfo Lutz 9
(meq O2 kg )
Índice de Iodo
-1
153,08±4,69a 38,30 ± 6,45b,d 34,45 ± 1,23b,e 30,80 ± 5,17d,e Adolfo Lutz 9
(mg I2 100 g )
Índice de saponificação
-1
196,0 ± 1,8a 184,0 ± 4,7b,d 180,1 ± 4,4c.e 182,5 ± 5,4d,e Adolfo Lutz 10
(mg KOH g )
Teor de cinzas
0,009 ± 0,003a 0,117 ± 0,004b 0,026 ± 0,022a 0,011 ± 0,008a ASTM 11
(g 100 g-1)
Viscosidade
2 -1
39,1 37,5 42,9 43,9 Ferreira 4
(mm s )
*Mistura óleo bovino e suíno. Resultados expressos como média ± desvio padrão. Letras
diferentes na mesma linha indicam diferenças significativas (P<0,05) pelo Teste de Tukey entre
os métodos aplicados

As amostras de óleo apresentaram valores de bons rendimentos na produção de


dentro dos padrões permitidos para o índice biodiesel. Quanto menor este índice, a
de saponificação, onde o óleo de soja novo transesterificação possivelmente apresentará
apresentou o maior, o que deve ser um rendimento menor, principalmente no
considerado normal, os demais óleos caso das catálises básicas.24 Valores muito
apresentaram este índice um pouco mais baixos significam que existem muitos ácidos
baixo, porém ainda suficientes para obtenção graxos, di e triacilgliceróis livres no meio. A
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Lopes, A. P. et al.

ANVISA23 determina para índice de os óleos residuais estudados apresentam


saponificação de óleos e gorduras valores viscosidade dentro da média.
entre 189 a 195 mg de KOH g-1 óleo.
Os valores de índice de iodo se
3.2. Caracterização da glicerina bruta
apresentaram baixos indicando degradação
das duplas ligações das cadeias carbônicas do
óleo utilizado para produção do biodiesel, Após a preparação do biodiesel, a
somente o óleo de soja novo apresentou glicerina bruta foi separada e lavada com
dentro dos padrões permitidos, que hexano para determinação do resíduo de
determina valores para índice de iodo entre óleo presente no meio, os resultados foram
120 e 143 mg I2 g-1 óleo. Os valores baixos do dispostos na Tabela 2, que mostra a
índice de iodo podem ser associados à porcentagem de resíduo presente nas
exposição dos óleos residuais a temperaturas amostras de glicerina bruta variando de 0,65
elevadas, o que irá causar uma diminuição a 7,66 % em relação à massa inicial. As
principalmente das cadeias poli- amostras que apresentaram maior teor de
20,25
insaturadas. resíduo foram as de origem animal, isso pode
Quanto ao teor de cinzas, todas as indicar que o óleo utilizado para produção do
amostras se apresentaram dentro dos biodiesel não foi totalmente
padrões permitidos, de 0,6 % de cinzas para o transesterificado, porém outro fator que
óleo de soja e de 0,7 % de cinzas para pode resultar em um alto teor de resíduo na
gorduras animais.26 Segundo a ASTM D44511 glicerina é a não separação total do biodiesel
a viscosidade cinemática do óleo de soja e da glicerina no processo de decantação.
novo pode variar de 35 a 45 mm2 s-1. Todos

Tabela 2. Resultado da determinação do resíduo de triacilgliceróis presentes na glicerina


bruta
Amostras de glicerina bruta Massa inicial (g) Massa do resíduo (g) %
Glicerina bruta óleo de soja novo (GBSN) 123,8334 2,9845 2,41
Glicerina bruta óleo de soja usado (GBSU) 387,3501 2,5123 0,65
Glicerina bruta óleo animal (GBA) 89,8241 5,5929 6,23
Glicerina bruta óleo de frango (GBF) 122,8567 9,4065 7,66
GBSN: glicerina bruta de óleo de soja novo. GBSU: glicerina bruta de óleo de soja usado;
GBA: glicerina bruta de óleo animal (mistura bovino e suíno); GBF: glicerina bruta de óleo de
frango

As amostras de glicerina bruta resultantes as amostras apresentaram valores baixos que


do processo de lavagem com hexano foram não comprometeram as etapas posteriores
submetidas às análises para caracterização, de purificação. A cor de todas as amostras de
os resultados são mostrados na Tabela 3, glicerina bruta se apresentaram bastante
onde se pode observar que o teor de glicerol escuras, sendo comparadas com os padrões
em cada amostra se apresentou bastante de cor que variam na faixa de 10 a 500 uC
variado. Quanto ao índice de peróxido todas (unidades de cor).

1573 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582|


Lopes, A. P. et al.

Tabela 3. Resultados da caracterização das amostras de glicerina bruta


Parâmetro avaliado GBSN GBSU GBA GBF
Teor de glicerol (%) 64,54 ± 1,43a 56,52 ± 2,47b,d 27,91 ± 1,91c 60,67 ± 2,24a,d
Índice de peróxido (meq O2 kg-1) 13,51 ± 1,04a 15,37 ± 2,06a 7,57 ± 1,50b 5,71 ± 2,96b
Cor (uC) 1.223 ± 11a 2.754 ± 18b 3.021 ± 23c 2.990 ± 26c
GBSN: glicerina bruta de óleo de soja novo. GBSU: glicerina bruta de óleo de soja usado;
GBA: glicerina bruta de óleo animal (mistura bovino e suíno); GBF: glicerina bruta de óleo de
frango. Todas lavadas com hexano. Resultados expressos como média ± desvio padrão. Letras
diferentes na mesma linha indicam diferenças significativas (P<0,05) pelo Teste de Tukey entre
os métodos aplicados.

3.3. Caracterização da glicerina pré- processo de transesterificação com base na


purificada catálise alcalina que foi utilizada.27
De acordo com Mota e Pestana3 a
glicerina loira precisa apresentar grau de
O processo de pré-purificação de glicerina
pureza mínimo de 80 %, podendo então as
bruta se apresentou bastante eficaz na
amostras oriundas de óleo de soja novo e de
remoção de grande parte de contaminantes.
óleo de soja usado serem consideradas
Os resultados da caracterização das amostras
glicerina loira. Com esse grau de pureza essas
desta etapa estão dispostos na Tabela 4,
amostras poderiam ser aplicadas como
onde se observa que o teor de glicerol das
plastificantes, aditivo que confere maior
amostras pré-purificadas aumentou em
resistência e elasticidade aos plásticos e no
relação às amostras de glicerina bruta, sendo
caso de produção de biofilmes pode
que as amostras oriundas de óleo de soja
aumentar a permeabilidade do vapor
novo e de óleo de soja usado apresentaram
d’água.28,29 Já a acidez apresentou-se elevada
teor de glicerol mais elevado em comparação
(Tabela 4) nas amostras de glicerina pré-
às amostras provenientes de óleo animal e de
purificadas, o que pode ser associado ao
frango, o que pode ser associado a uma
processo de acidificação da glicerina bruta,
melhor qualidade dos óleos de soja e
devido a grande quantidade de ácido
principalmente a um melhor rendimento do
sulfúrico utilizado.

Tabela 4. Resultados da caracterização das amostras de glicerina pré-purificadas*.


Parâmetro avaliado GPPSN GPPSU GPPA GPPF
a a b
Teor de glicerol (%) 85,87 ± 5,90 89,99 ± 0,79 60,87 ± 2,24 68,30 ± 0c
-1 a b a
Acidez (mg KOH g ) 12,53 ± 0,16 33,23 ± 1,95 12,75 ± 2,93 11,78 ± 2,34a
a b c
Cor (uc) 167 ± 3 776 ± 5 705 ± 7 545 ± 2d
Teor de sódio (Na+) (ppm) 3,33 ± 2,52a 3,67 ± 2,52a 6,00 ± 1,73b 3,00 ± 2,65a
GPPSN: glicerina pré-purificada de óleo de soja novo; GPPSU: glicerina pré-purificada de
óleo de soja usado; GPPA: glicerina pré-purificada de óleo animal (mistura bovino e suíno);
GPPF: glicerina pré-purificada de óleo de frango. *Glicerina após o processo de acidificação,
separação, neutralização, centrifugação, salting-outing e recuperação do solvente. Resultados
expressos como média ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma linha indicam diferenças
significativas (P<0,05) pelo Teste de Tukey entre as amostras

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582| 1574


Lopes, A. P. et al.

A cor das amostras apresentadas na repete para as amostras GOA e GOF. Os


Tabela 4 diminuiu significativamente em valores apresentados para o tempo 0 min são
comparação à cor das amostras de glicerina da solução antes da passagem pelas resinas.
bruta, com redução nos valores de 86,34 %, Os valores de condutividade aumentam com
71,82 %, 76,66 % e 81,77 %, respectivamente a passagem da solução pela resina catiônica e
para as amostras provenientes do óleo de depois diminuem com a passagem da solução
soja novo, do óleo de soja usado, do óleo de pela resina aniônica. Esse comportamento
origem animal e do óleo de frangos, não foi observado para a amostra de GOSU,
evidenciando que o processo de pré- na qual a condutividade diminuiu com a
purificação foi eficiente na remoção de passagem de resina catiônica e aumentou
impurezas que conferem coloração escura a com a passagem pela resina aniônica. Mas
glicerina, como ácidos graxos, sabões e sais, deve-se levar em conta que as amostras são
sendo que, apenas na amostra proveniente de origens variadas, portanto apresentam
do óleo animal o teor de sódio apresentou-se contaminantes diferentes.
um pouco mais elevado, com valor
O aumento da condutividade das
significativo estatisticamente.
amostras quando tratadas pela resina
catiônica se deve ao fato de que a resina
troca os cátions Na+, presentes na solução
3.4. Tratamento da glicerina com resinas
por cátions H+ presentes na resina, que são
trocadoras de íons
muito mais efetivos no aumento da
condutividade. E a diminuição da
A Figura 5 apresenta os valores de condutividade se deve ao fato de que a
condutividade obtidos durante o tratamento resina aniônica troca os ânions SO4-2
com as resinas de troca iônica do Processo 1, presentes na solução de glicerina pelos
obtendo o resultado A, a unidade de tempo é ânions OH- presentes na resina. Os ânions
dada em minutos e de condutividade para as OH- combinam-se aos cátions H+, formando
resinas catiônica e aniônica é dada em µS cm- água na solução, por isso ocorre a diminuição
1
. Sendo GOSN – Glicerina de óleo de soja da condutividade das amostras quando
novo; GOSU – Glicerina de óleo de soja passadas pela resina aniônica. Apesar dos
usado; GOA – Glicerina de óleo animal valores de condutividade se apresentarem
(mistura bovino e suíno); GOF – Glicerina de menores, não foi possível atingir o valor
óleo de frango. requerido, que é de 10 µS cm-1 segundo a
norma, e observou-se que o tempo de 60 min
Observou-se que para GOSN os valores de pode ser associado ao fenômeno da
condutividade variaram até o tempo de 40 saturação da resina que necessita ser
min, tanto para a resina catiônica quanto regenerada a partir desse tempo de contato
para a aniônica, estabilizando-se a partir de com a solução de glicerina.17
então, sendo que este comportamento se

1575 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582|


Lopes, A. P. et al.

18000
16000 GOSN - Catiônica
14000 GOSN - Aniônica
Condutividade µS cm-1

12000 GOSU - Catiônica

10000 GOSU - Aniônica

8000 GOA - Catiônica

6000 GOA - Aniônica

4000 GOF - Catiônica


GOF - Aniônica
2000
0
0 20 40 60 80 100 120 t (min)

Figura 5. Variação da condutividade das amostras de glicerina provenientes dos óleos residuais
após tratamento com uma passagem por resina catiônica e uma passagem por resina aniônica
- Processo 1

A Figura 6 apresenta os resultados obtidos segunda passagem pela mesma resina


no tratamento do processo 2, que foi resultou em aumento na condutividade, que
realizado somente com amostra de glicerina pode ser devido ao aumento na quantidade
de óleo de soja usado, no qual a de íons hidroxila, apontando que esta
condutividade da amostra aumentou com a segunda passagem não melhora a condição e
passagem da solução pela resina catiônica e a qualidade da glicerina, pois os valores de
diminuiu com a primeira passagem pela condutividade se apresentaram equivalentes
resina aniônica, pelo mesmo motivo que no processo 2 em comparação com o
ocorreu no processo 1. Observou-se que uma processo 1.

8000
7000
Condutividade µS cm-1

6000 Catiônica

5000
Aniônica - 1a.
4000
passagem
3000
Aniônica - 2a.
2000
passagem
1000
0
0 10 20 30 t (min)

Figura 6. Variação da condutividade das amostras de glicerina proveniente de óleo de soja


usado após tratamento com uma passagem por resina catiônica e duas passagens por resina
aniônica - Processo 2

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582| 1576


Lopes, A. P. et al.

A Figura 7 apresenta os resultados obtidos para a solução no processo de troca iônica. A


para o tratamento da solução de glicerina condutividade a partir do tempo de 10 min
com a resina catiônica processo 3. Pode-se praticamente estabiliza, indicando que a
observar que a condutividade da solução de resina saturou e precisa ser regenerada.
glicerina aumentou com as passagens pela Antes de cada passagem as resinas foram
resina catiônica, fato devido ao aumento na devidamente regeneradas e ativadas com
quantidade de íons H+ que migram da resina solução de NaCl 10 %.

45000
40000
35000
Condutividade µS cm-1

30000
Catiônica - 1a.
25000 Passagem
20000 Catiônica - 2a.
15000 passagem

10000 Catiônica - 3a.


passagem
5000
0
0 10 20 30 40 t (min)

Figura 7. Variação da condutividade das amostras de glicerina proveniente de óleo de soja


usado após tratamento com 3 passagens por resina catiônica - Processo 3

A Figura 8 apresenta os resultados obtidos aniônica e mantiveram-se constantes durante


para o tratamento da solução de glicerina a terceira passagem, o que indica que a
com a resina aniônica no processo 3, onde resina utilizada é eficiente na remoção de
observa-se que os valores de condutividade íons até a saturação da resina na segunda
obtidos para a solução de glicerina após as passagem, não sendo necessário a repetição
três passagens pela resina catiônica em uma terceira passagem.
diminuíram após duas passagens pela resina

1577 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582|


Lopes, A. P. et al.

50,000
45,000
Condutividade µS cm-1 40,000
35,000
30,000
25,000 Aniônica - 1a. Passagem
20,000 Aniônica - 2a. passagem
15,000 Aniônica - 3a. passagem
10,000
5,000
0
0 10 20 30 40 t (min)

Figura 8. Variação da condutividade das amostras de glicerina proveniente de óleo de soja


usado após tratamento com 3 passagens por resina aniônica - Processo 3

3.5. Caracterização da glicerina purificada de glicerol das amostras aumentou depois do


tratamento com as resinas de troca iônica,
sendo que todas apresentaram percentuais
A Tabela 5 apresenta os resultados das acima de 90 %, porém apesar de apresentar
análises físico-químicas das amostras de elevado teor de glicerol as amostras ainda
glicerina purificada de óleo de soja novo, de não podem ser consideradas glicerina
óleo de soja usado, de óleo de origem animal comercial, para o qual o teor de glicerol deve
e de óleo de frangos, utilizando o processo de ser no mínimo de 95 %. Com este percentual
uma única passagem pela resina catiônica e as amostras ainda estão classificadas como
uma única passagem pela resina aniônica glicerina loira.30
(Figura 1), onde pode-se observar que o teor

Tabela 5. Resultados da caracterização das amostras de glicerina purificada de óleo de soja


novo (GPJN), glicerina purificada de óleo de soja usado (GPJU), glicerina purificada de óleo de
origem animal (GPA) e glicerina purificada de óleo de frango (GPF), correspondentes ao
resultado A (Após uma passagem pela resina catiônica e uma passagem pela resina aniônica)
Parâmetro avaliado GPJN GPJU GPA GPF
Glicerol (%) 91,68 ± 1,05 90,85 ± 1,15 90,42 ± 2,32 90,26 ± 1,32
Alcalinidade (%) 0,0010±0,0001a 0,0018±0,0001b 0,0030±0,0001c 0,0025±0,0001d
Cloretos (%) 0,0034±0,0003a 0,0034±0,0001a 0,009±0,0001b 0,0036±0,0001a
a a b
Cinzas (%) 0,0420 ± 0,001 0,0365±0,0025 0,0163±0,0001 0,0640±0,0035c
Umidade (%) 8,394 ± 1,125 13,72 ± 6,77 7,702 ± 0,178 6,793 ± 2,056
Cor (uC) 35,20 ± 1,35a 205,5 ± 1,1b 236,7 ± 4,6c 227 ± 8d
+ ab ac bc
Na (ppm) 5,333 ± 1,155 4,667 ± 2,082 8,333 ± 1,527 15,333 ± 1,528d
Glicerina purificada após tratamento com carvão ativado, com as resinas de troca iônica e
evaporação da água. Resultados expressos como média ± desvio padrão. Letras diferentes na
mesma linha indicam diferenças significativas (P<0,05) pelo Teste de Tukey entre os resultados
obtidos.

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582| 1578


Lopes, A. P. et al.

Todas as amostras apresentaram níveis de A cor foi significativamente reduzida após


cloretos muito baixos, sendo tolerados até os tratamentos com carvão e com as resinas
7,0 % (m/m) de cloretos segundo BIO 1001.31 de troca iônica, se apresentando visivelmente
Os teores de cinzas também se apresentaram mais claras. A etapa de pré-purificação e a
baixos para todas as amostras, pois são etapa de purificação com as resinas de troca
tolerados até 7,0 % (m/m) de cinzas.31 As iônica foram essenciais para a remoção dos
amostras apresentaram teor de umidade pigmentos que conferiam coloração escura as
inferior a 13 % e, segundo a norma ASTM E amostras de glicerina, como mostra a Figura
203 a glicerina loira pode apresentar de 10,0 9.
a 23,0 % de umidade.32

Figura 9. Variação na coloração das amostras após etapas de pré-purificação e purificação


com as resinas de troca iônica. (a) Glicerina de origem do óleo de soja novo; (b) Glicerina de
origem do óleo de soja usado; (c) Glicerina de origem do óleo animal (mistura bovino e suíno);
(d) Glicerina de origem do óleo de frango. Em cada grupo, da esquerda para a direita, glicerina
bruta, glicerina pré-purificada e glicerina purificada

A Tabela 6 apresenta os resultados Resultado F), o que pode ser associado a uma
obtidos na caracterização das amostras de melhor eficiência na remoção de íons e
glicerina de óleo de soja usado, obtida dos consequentemente maior facilidade de
tratamentos submetidos no processo 2 (após remoção da água no processo de
uma passagem pela resina catiônica e duas rotaevaporação.
passagens pela resina aniônica) e no processo
As três passagens das amostras pela
3, onde foram caracterizadas as amostras
resina aniônica também foram eficientes na
conforme foram apresentados os
melhora da cor do produto final (Resultado D
tratamentos na Figura 4.
e Resultado F) que diminuiu em comparação
De acordo com a Tabela 6 houve diferença as outras amostras (Resultados A, B, C e E),
significativa no teor de glicerol entre os em contra partida os valores de pH das
resultados B, C, D, E e F, o teor de umidade amostras para os Resultados D e F foram os
diminuiu nas amostras que tiveram três maiores entre todas as amostras, o que pode
passagens pela resina aniônica (Resultado D e ser devido ao aumento da quantidade de

1579 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582|


Lopes, A. P. et al.

hidroxilas, liberada pela resina, na solução de é de 1499 mPa s, cujo resultado pode ser
glicerina, em função do maior número de considerado bom para o método de
passagens pela resina aniônica. purificação, considerando os teores de
glicerol de acordo com a Tabela 6.30
A viscosidade encontrada foi de 1241 mPa
s, sendo que o valor tabelado para o glicerol

Tabela 6. Resultados obtidos na caracterização das amostras de glicerina purificada de óleo


de soja usado para os tratamentos dos processos 2 e 3
Análise Resultado B Resultado C Resultado D Resultado E Resultado F
Glicerol (%) 84,28 ± 0,970a,b 80,33 ± 0,452a 91,22 ± 4,24c,d 87,77 ± 0,17b,c 94,19 ± 1,46d
Umidade (%) 10,38 ± 1,95 9,42 ± 1,75 5,94 ± 1,49 8,75 ± 2,28 3,99 ± 0,65
Cor 288 ± 4a 370 ± 5b 165 ± 6c 344 ± 4d 161 ± 8e
pH 11,65 ± 0,13a 10,75 ± 0,14b 12,02 ± 0,09c 10,50 ± 0,07b 11,90 ± 0,11d
Resultados expressos como média ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma linha indicam
diferenças significativas (P<0,05) pelo Teste de Tukey entre os resultados obtidos

4. Conclusões Nas tentativas de melhorar a qualidade da


glicerina purificada efetuando-se mais
passagens pelas resinas de troca iônica, a
Para os óleos residuais utilizados como solução de glicerina do Processo 2 (Resultado
matéria prima, os resultados obtidos nas B) foi a que apresentou os menores valores
de condutividade, porém apresentou baixo
análises físico-químicas mostraram que todos
teor de glicerol e alto teor de umidade. Os
apresentaram alto potencial de produção de
Resultados D e F, do Processo 3,
biodiesel, mesmo sendo óleos de origem
apresentaram valores de condutividade mais
residual todos se enquadram dentro dos
elevados, o processo foi mais eficiente na
limites permitidos pelas legislações
remoção da umidade, porém não houve
regulamentadoras. A reação de
diferença significativa no teor de glicerol para
transesterificação foi satisfatória, havendo a
separação da fase de biodiesel de glicerina os Resultados B, C, D, E, e F. Observou-se que
em todos os processos, com relativa rapidez apenas uma passagem da solução de
e eficiência. glicerina pela resina catiônica foi eficiente
para remoção de contaminantes de caráter
O processo de pré-purificação foi eficaz catiônico. Para remoção dos contaminantes
para remoção de ácidos graxos livres, sais e de caráter aniônico o processo mais eficiente
impurezas que conferem cor e odor à foi com três passagens da solução de
glicerina bruta, no caso da cor conseguiu-se glicerina pela resina aniônica.
redução de até 86,34 % (amostra
Todas as matérias primas testadas
proveniente do óleo de soja novo). Os
apresentam grande potencial para produção
processos de troca iônica foram eficientes na
remoção de sais e de pigmentos que não de biodiesel e de glicerina bruta, sendo que o
foram removidos na pré-purificação. Além da óleo de soja usado apresenta o maior
excelente redução de cor das amostras e um potencial dentre todas as testadas, devido a
maior disponibilidade dessa matéria-prima.
grande aumento na quantidade de glicerol,
As amostras de glicerina obtidas dos
comparando-se as amostras de glicerina
processos de troca iônica testados no
bruta com as amostras de glicerina
trabalho são classificadas como glicerina loira
purificadas com as resinas de troca iônica.
e poderiam ser aplicadas como plastificantes,

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 6| |1564-1582| 1580


Lopes, A. P. et al.

10
um aditivo que confere maior resistência e Instituto Adolfo Lutz. Métodos Físico-
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