E-Book Planejamento e Gestao Territorial PDF
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TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
2017 ©Copyright UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
Av. Universitária, 1105 – Bairro Universitário – C.P. 3167 – 88806-000 – Criciúma – SC
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Editora da UNESC
Editor-Chefe:
Dimas de Oliveira Estevam
Revisão ortográfica e gramatical (textos em português): Margareth Maria Kanarek e Carina Fernandes de Andrade
de Freitas
Revisão ortográfica e gramatical (textos em espanhol): Marianela Marana Vieyto
Projeto gráfico, diagramação e capa: Luiz Augusto Pereira
As ideias, imagens, figuras e demais informações apresentadas nesta obra são de inteira responsabilidade de seus
autores e de seus organizadores.
ISBN: 978-85-8410-076-7
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan
PLANEJAMENTO E GESTÃO
TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Criciúma
UNESC
2017
PLANEJAMENTO E GESTÃO
TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Comitê Científico
Capítulo II
EL PAISAJE COMO ELEMENTO CLAVE PARA LA GESTIÓN TERRITORIAL DE LAS ÁREAS
DE PROTECCIÓN AMBIENTAL
24
Deisiane dos Santos Delfino | Albert Pèlachs Mañosa | Angela da Veiga Beltrame
Capítulo III
MEIO AMBIENTE E GESTÃO TERRITORIAL: LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS
DESAFIOS DO ORDENAMENTO TERRITORIAL 38
Gisele Victor Batista | Alice Maccari | Daniela Fernandes Medeiros
Capítulo IV
PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL EM SÃO BONIFÁCIO (SC): OS DESAFIOS DA
GESTÃO INTEGRADA 52
Giully de Oliveira | Adilson Tadeu Basquerote Silva
Capítulo V
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO ARROIO CORNETA COMO FERRAMENTA DE
GESTÃO AMBIENTAL DA APA ROTA DO SOL, EM SÃO FRANCISCO DE PAULA (RS) 65
Eloisa Lovison Sasso | Edison Claudiomiro Mucke da Rosa |Daniel Brinckmann Teixeira
| Marcia dos Santos Ramos Berreta
Capítulo VI
IMPACTOS AMBIENTAIS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO RIO MAIOR, NO
MUNICÍPIO DE URUSSANGA/SC 79
Nilzo Ivo Ladwig | Jairo José Zocche | Andréia Gimenes Amaro | Cristiane Scussel
Capítulo VII
INDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL NO BAIRRO VILA MANAUS, EM CRICIÚMA
(SC), E A SUSTENTABILIDADE DO TERRITÓRIO NO OLHAR DOS MORADORES LOCAIS 88
Graziela Serafim Casagrande | José Carlos Virtuoso | Carlyle Torres Bezerra de Menezes
Capítulo VIII
LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS): EVOLUÇÃO
E PANORAMA ATUAL 103
Brandaly Staudt | Naiara Machado da Silva | Letícia Gonçalves Peres | Marcelo
Maisonette Duarte
Capítulo IX
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA SINTETIZADA DE ÁREA DEGRADADA PELA MINERAÇÃO DE
CARVÃO NA LOCALIDADE DE RIO BONITO, EM LAURO MÜLLER (SC) 115
Daniel Pazini Pezente | William de Oliveira Sant Ana | Jefferson de Faria
Capítulo X
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO SOCIAL: A INSERÇÃO DAS COMUNIDADES
NAS ATIVIDADES DE DETONAÇÕES DE ROCHAS DO CONTORNO RODOVIÁRIO DE 127
FLORIANÓPOLIS
Marília Simoni Dordete da Silva | Daniela Beatriz Goudard Bussmann | Renato
Muzzolon | Cássia Gabrielli Padilha | Rubens Vicente de Mesquita | Elder Owsiany
Mendes | Renata Muzzolon | Alessandro Martins Matsunaga | Renato Muzzolon
Júnior
Capítulo XI
MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO E AO DESLIZAMENTO NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO URUSSANGA, UTILIZANDO O MÉTODO DE ANÁLISE 142
HIERÁRQUICA – AHP
Nilzo Ivo Ladwig | Aldo Fernando Assunção | Adriano de Oliveira Dias | Camila Pedro
Guimarães | Rosabel Bertolin | Kelly Daiane Savariz Bôlla | Henrique Matos
Capítulo XII
ELABORAÇÃO DO MAPA GEOTÉCNICO PRELIMINAR E APLICAÇÃO DO MODELO
SHALSTAB PARA MAPEAMENTO DE SUSCETIBILIDADE A ESCORREGAMENTOS RASOS
NO MUNICÍPIO DE BRAÇO DO NORTE (SC)
161
Dayani Della Giustina Michels
Capítulo XIII
ANÁLISE DO RISCO DE OCUPAÇÃO URBANA SOBRE ÁREAS MINERADAS EM SUBSOLO
NO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA (SC), UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO 176
Rafaela Bendo | Fabiano Luiz Neris | Gustavo José Deibler Zambrano
Capítulo XIV
MANGUES, CIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS
COSTEIROS PARA AS CIDADES DE ITAJAÍ E JOINVILLE (SC) DIANTE DOS PROGNÓSTICOS
DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR
191
Samara Braun | Alessandra Hodecker-Dietrich | Juarês José Aumond
Capítulo XV
URBANIZAÇÃO E CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NO MUNICÍPIO DE MATINHOS (PR)
Sidney Vincent de Paul Vikou | Sony Cortese Caneparo | Eduardo Vedor de Paula
209
Capítulo XVI
A GESTÃO DO ESPAÇO URBANO E A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
A PARTIR DO SURGIMENTO DOS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS NOS 226
MUNICÍPIOS DE CAPÃO DA CANOA E XANGRI-LÁ (RS)
Juarez Camargo Borges
Capítulo XVII
ESPACIALIZAÇÃO DE DADOS SOCIOECONÔMICOS COMO BASE PARA A GESTÃO
TERRITORIAL 238
Roberta Plangg Riegel |Douglas Cristian Roque | Marco Antônio Siqueira Rodrigues |
Daniela Muller de Quevedo
Capítulo XVIII
ANÁLISE DO ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA (IAC) PARA O MUNICÍPIO DE PALMITOS,
NO EXTREMO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 252
Fabiane Nunes Gonçalves | Álvaro José Back
Capítulo XIX
VIDA E TRABALHO: UMA DISCUSSÃO SOCIOAMBIENTAL DA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Teresinha Maria Gonçalves
261
Capítulo XX
REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DESIGUAL E COMBINADO EM PROCESSOS
DE INTEGRAÇÃO: TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E SUA INCIDÊNCIA TERRITORIAL 268
NA UNIÃO EUROPEIA
Rogério Santos da Costa | Andréia de Simas Cunha Carvalho
Capítulo XXI
CRISE CIVILIZATÓRIA E A NECESSÁRIA RUPTURA DA ORDEM VIGENTE
Danilo Barbosa de Arruda | Geraldo Milioli 281
Capítulo XXII
BIODIVERSIDADE VEGETAL EM SANTA CATARINA
Guilherme Alves Elias | Robson dos Santos | Vanilde Citadini-Zanette 298
Capítulo XXIII
GESTÃO INTEGRADA DO PATRIMÔNIO E DA PAISAGEM CULTURAL: BREVES
CONSIDERAÇÕES 310
Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues | Juliano Bitencourt Campos | Deisi Scunderlick
Eloy de Farias | Paulo DeBlasis | Marcos César Pereira Santos | Jairo José Zocche
Sobre os Organizadores
322
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
APRESENTAÇÃO
O modo como o ser humano se relaciona com a natureza, ou como a utiliza, é uma preo-
cupação já formulada na Grécia antiga, embora as reflexões, no sentido que hoje discutimos,
sejam relativamente recentes, observadas especialmente a partir da II Guerra Mundial, quando
o uso da energia nuclear como fator de destruição nos trouxe uma dimensão sombria quanto ao
futuro do Planeta.
Daquele ponto em diante, observamos crescer o interesse de pesquisadores pelo estudo
dos diferentes desdobramentos relacionados às questões ambientais. Entre eles, vale destacar a
bióloga marinha e ecologista Rachel Carson, que publicou, em 1962, o livro Primavera Silenciosa,
alertando para os perigos do desequilíbrio do ecossistema, bem como Elinor Ostrom, sobre o uso
dos bens comuns (commons) ou recursos comuns (oceanos, florestas, água potável, etc.) discu-
tidos no livro Governing the Commons, de 1990. A propósito desses recursos comuns, Ostrom
lembra que o problema está no predomínio do benefício de uns em detrimento de outros e na
prática de extrair do ambiente quantidade superior à capacidade de recuperação dos recursos
naturais.
Nessa mesma linha, Lester Brown disseminou o conceito de sustentabilidade a partir
de um ponto de vista sistêmico, ou seja, nesse caso, percebendo o Planeta como um sistema
integrado e não como partes dissociadas. Autor de diversos livros sobre o tema, entre eles Plano
B 4.0; fundador do Worldwatch Institute e, posteriormente, do Earth Policy Institute (EPI), Brown
10 colaborou significativamente para que tivéssemos uma visão interconectada, holística, a respeito
da sustentabilidade, expressa por ele de modo simples e claro em uma frase: “Uma sociedade
sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações
futuras”. Frase que resume também, de modo claro, o grande desafio das pessoas, das institui-
ções e dos governos: criar comunidades sustentáveis, em cujos ambientes sociais, econômicos e
culturais seja possível uma vida satisfatória para todos – hoje e no futuro.
Não se trata, no entanto, somente de mudança de paradigma quanto ao abandono de
um pensamento mecanicista ou reducionista em favor de uma perspectiva sistêmica, integradora.
É indispensável para a mudança da forma como agimos no mundo que se observe primeiramen-
te o alcance dos atos realizados hoje, de tal modo que a sustentabilidade ambiental seja usada
como estratégia de desenvolvimento, incluindo a esfera econômica, política, tecnológica, social
e a esfera da educação, especialmente. Essa é a base, o caminho para internalizarmos as formas
viáveis como uma sociedade pode usar os recursos naturais sem interferir em sua qualidade ou
esgotá-los.
Não significa, com isso, que o crescimento deve ser interrompido. A esse respeito, o
conceituado economista Ignacy Sachs, que em 1972 ajudou a redigir a declaração da Conferência
das Nações Unidas de Estocolmo, observa que não temos o direito de paralisar o crescimento
enquanto não tivermos alcançado um nível de vida razoável para todos, com base em um consumo
inteligente e equitativo de material. Sachs entende que o conceito de desenvolvimento sustentá-
vel, na verdade, desdobra-se em cinco dimensões: sustentabilidade econômica, sustentabilidade
social, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade geográfica e sustentabilidade cultural. O que
conduziu à ideia expressa pelo termo “desenvolvimento sustentável”, usado pela primeira vez
na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela então primeira-
-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, em 1983, definindo desenvolvimento sustentável
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
como capacidade de “[...] atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capaci-
dade das futuras gerações em prover suas próprias demandas”.
Ali ficou claramente estabelecido que o desenvolvimento econômico deveria estar atre-
lado à questão ambiental, assim como esta deveria compreender a preservação dos bens naturais
e da dignidade humana. Certamente, esses são valores indissociáveis e não é difícil projetar a
situação de impasse no futuro, pois, conforme a visão dos cientistas, teremos muitos conflitos
decorrentes da escassez dos bens naturais.
No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, nos últimos 50 anos, a popu-
lação cresceu de 60 para 200 milhões de habitantes e a taxa de urbanização passou de 45% para
quase 85%. Além disso, o número de municípios hoje está em 5.565. Ainda segundo dados do
Ministério, é interessante ponderarmos que se do ponto de vista econômico tivemos uma diver-
sificação e desconcentração produtiva, permitindo avanços na inclusão social, de outro também
observamos forte e negativo impacto sobre os ecossistemas, cujo ritmo vem determinando o
aumento da vulnerabilidade de alguns segmentos sociais – o que desestabiliza, ou mesmo impe-
de, o crescimento não apenas de algumas regiões, mas do próprio País.
É exatamente sob essa perspectiva que a discussão proposta nos 23 capítulos deste livro
mostra sua relevância. Por meio das diferentes análises, seus autores montam um painel no qual
se configura a necessidade de uma visão estratégica do território, de tal forma que se conci-
lie crescimento econômico e conservação dos bens comuns, permeando essa equação o efetivo
combate às desigualdades sociais.
Trata-se, portanto, de uma obra imprescindível para o enriquecimento do debate acadê-
mico. Uma iniciativa pela qual felicito os seus organizadores – Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig e Prof. Me.
11 Hugo Schwalm –, o Comitê Científico e os respectivos autores dos capítulos.
CONTRIBUIÇÕES DE UM PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS PARA A
GESTÃO DO TERRITÓRIO NA REGIÃO CARBONÍFERA
CATARINENSE: UM LEVANTAMENTO DAS DISSERTAÇÕES
DEFENDIDAS PELO PPGCA (UNESC)
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan01
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
A questão ambiental começou a ser problematizada pelo meio científico a partir da déca-
da de 1970. Inicialmente, tal temática era tratada de forma fragmentada pelos ementários de
alguns cursos de graduação, como Ciências Biológicas, Engenharia Civil, Geografia e Engenharia
Sanitária. A década de 1990 foi marcada por uma grande difusão de cursos superiores ligados ao
meio ambiente, com as mais variadas titulações (BURSZTYN, 2004; REIS et al., 2005).
Diante da necessidade de tratar dos inúmeros problemas ambientais de forma mais
complexa e a partir de uma visão sistêmica que considerasse métodos interdisciplinares de inter-
venção teórica e prática, a CAPES criou, em 1999, a área de Ciências Ambientais, com a finali-
dade de agrupar programas de pós-graduação que não se enquadravam no sistema tradicional
de compartimentação e classificação do conhecimento científico. Em 2011, a área de Ciências
Ambientais foi elevada ao status de grande área e, desde a sua criação, é uma das que mais cresce
no sistema CAPES (CAPES, 2013).
No contexto de degradação socioambiental proveniente da mineração de carvão, o
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) entra em funcionamento em
Criciúma, cidade polo da região carbonífera, no ano de 2002, na Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC). No âmbito de sua área de concentração – Ecologia e Gestão de Ambientes
Alterados –, o programa tem por finalidade tratar de problemas atrelados à degradação dos
ambientes naturais e construídos, contribuindo para a produção de conhecimento e subsidiando
a tomada de decisões sob a perspectiva de políticas públicas, especialmente na região onde se
insere.
13 A região carbonífera sul catarinense constitui-se, atualmente, em 12 municípios e conta
com uma população de pouco mais de 425 mil habitantes, distribuídos em uma área de 2.654,88
km². Economicamente, compreende uma área bastante industrializada (GOULARTI FILHO, 2002;
MONTIBELLER-FILHO, 2009), forjada a partir da atividade carbonífera. Os impactos socioambien-
tais cumulativos decorrentes de tal prática conferem à região uma realidade bastante comple-
xa, em função do passivo socioambiental persistente no tempo e no espaço (MILIOLI; SANTOS;
CITADINI-ZANETTE, 2009).
Muitas cidades da região sul do Estado se desenvolveram e ainda se mantêm com base
na atividade mineradora. Os municípios de Siderópolis, Treviso, Urussanga e Lauro Müller exibem
testemunhos da época de intensa exploração de carvão a céu aberto pela presença de extensas
áreas degradadas e de recursos hídricos comprometidos pela elevada acidez das águas (LOPES;
SANTO; GALATTO, 2009). Durante décadas, foram depositados rejeitos de carvão em margens
de rios e banhados, poluindo as águas e deixando o solo improdutivo sob a perspectiva agrícola
(MENEZES; WATERKEMPER, 2009).
Além da atividade carbonífera, a região desenvolve-se, atualmente, com base nos
segmentos cerâmico, químico, de produtos plásticos, vestuário e metalmecânico (MILIOLI, 1995;
SEBRAE, 2010). Em contrapartida ao crescimento econômico, tem-se o esgotamento de recur-
sos naturais, uma vez que as atividades industriais estão estritamente vinculadas a significativos
processos de desgaste do ambiente, caracterizados pela geração de áreas degradadas, contami-
nação dos rios e lençóis freáticos, somados à poluição atmosférica (MONTIBELLER-FILHO, 2009).
Compreendendo que o Programa contribui, notadamente, para a gestão dos recursos
naturais, bem como para a gestão do território, mesmo porque atua em duas linhas de pesquisa
que dão conta dessas temáticas – Ambientes Naturais e Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento
–, a presente pesquisa teve como objetivo analisar a contribuição do PPGCA para a gestão do
território na região carbonífera catarinense.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
A subárea de Ciências Ambientais fez parte da área interdisciplinar até o ano de 2010.
A partir de junho de 2011, ganhou status de CACiAmb, decisão justificada pela complexidade
inerente aos problemas socioambientais e pela interação possível entre diversas áreas do conhe-
cimento científico (CAPES, 2016a).
Conforme o documento da CAPES (2013), a criação dessa área é reflexo do reconheci-
mento, pelo meio científico, de que são necessárias também mudanças profundas na organização
do conhecimento, que tenham como premissa a visão sistêmica da realidade e métodos inter-
disciplinares de intervenção teórica e prática. As demandas socioambientais e a perspectiva do
desenvolvimento sustentável são elementos inerentes às Ciências Ambientais, de modo que lhes
são competências atribuíveis:
57. Em 2012, esse número se elevou para 67; em 2013, para 80 programas (CAPES, 2013; CAPES,
2016b).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foram analisadas as dissertações defendidas ao longo dos quinze anos em que o Programa
se instituiu, mais precisamente entre os anos de 2003 (primeira defesa) e 2016. Contabilizou-se a
totalidade de dissertações produzidas e quantas efetivamente consideraram a região carbonífera
como locus de estudo. Ao verificar as linhas de pesquisa características do Programa e dos labo-
ratórios atualmente vinculados, fez-se um levantamento do número de dissertações por linha e
por laboratório.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
O levantamento dos dados partiu de uma consulta na Plataforma Sucupira para verificar
a evolução da área de Ciências Ambientais ao longo dos anos. Na sequência, foram catalogadas
as dissertações defendidas, classificando-as quanto ao ano de defesa (2003-2016), ao local de
estudo, ao laboratório de atuação do(a) professor(a) orientador(a) e à linha de pesquisa prepon-
derante (Ambientes Naturais ou Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
100
80
80 67
17 60
57
40
20
0
2011 2012 2013 2016
.
Fonte: Plataforma Sucupira (CAPES, 2016b).
Fonte: Plataforma Sucupira.
16
14
12
10
8
6
4
2
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano de defesa
Observou-se que algumas dissertações elegeram grandes regiões onde se insere a região
carbonífera (Tabela 2). Ao considerar os doze municípios constituintes, percebeu-se que somente
Cocal do Sul não foi mencionado. Em contrapartida, o município mais citado foi Criciúma, que
contou com 38 (23%) registros.
Tabela 2 – Distribuição e número de dissertações defendidas entre os anos de 2003 e
2016 no Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais, em relação ao local de
Tabela 2 – Distribuição e Número de Dissertações Defendidas entre os Anos de 2003 e 2016 no Programa de
estudo
Pós-Graduação em Ciências Ambientais em Relação ao Local de Estudo
Local de estudo Frequência %
*Sul*Sul do Brasil,
do Brasil, SC, litoral
SC, litoral sul de
sul de SC, SC,carbonífera,
região região carbonífera, bacia carbonífera,
bacia carbonífera, sul de SC. sul de SC.
**Minas Gerais, São Paulo **Minas Gerais,doSão
e Rio Grande Sul.Paulo e Rio Grande do Sul.
***Araranguá,
***Araranguá, Capivari de Baixo,
Capivari Garopaba,
de Baixo, Morro Grande,
Garopaba, MorroSombrio,
Grande,Tubarão
Sombrio, e Turvo.
Tubarão e Turvo.
Fonte: Elaborada pelos autores (2016).
Sem fonte
Em torno de 15% das dissertações de mestrado defendidas pelo PPGCA trazem pesqui-
19
sas desenvolvidas em municípios fora da região carbonífera, mas localizadas em Santa Catarina,
principalmente no sul do Estado. Somente 4% das dissertações se detiveram ao estudo de proble-
máticas em municípios fora de Santa Catarina. Do mesmo modo, 4% elegeram uma barragem,
um parque ou uma bacia hidrográfica como locus de estudo. Salienta-se, ainda, que 13% dos
trabalhos não se reportaram a nenhum município ou região, tendo em vista que trataram de uma
problemática analisada por meio de práticas experimentais em laboratório.
No que se refere às duas grandes linhas de pesquisa do Programa, comparativamente, 52%
dos trabalhos desenvolvidos se inseriram na linha de “Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento”,
enquantoFigura
a linha
3 –de “Ambientes
Distribuição Naturais”
do número contribuiu defendidas
de dissertações com 37% dos estudos de
no Programa realizados
Pós- (Gráfico 3).
Graduação em Ciências Ambientais em relação às duas grandes linhas de pesquisa
Gráfico 3 – Distribuição do número de dissertações
do Programa
defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais em Relação às Duas Grandes Linhas de Pesquisa do Programa
Não identificadas
11%
Ambientes
Naturais
37%
Sociedade,
Ambiente e
Desenvolvimento
52%
80
60
60 52
39
40
20
0
Ambientes Naturais Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento
Linha de pesquisa
20
Nº de dissertações
15
10
21 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan02
24
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUCCIÓN
Cuadro 1: Áreas
Cuadro 1 - Áreas
de de Protección Ambiental
Protección Ambiental Federales por Bioma
Federales, por Bioma
Bioma N. APAs Área (Hect)
25
Amazônia 2 2.091.086
Cerrado 9 1.493.474
Pantanal 0 0
Caatinga 3 2.684.911
Pampa 1 318.000
Marinho 12 3.727.882
de Protección Ambiental de la Ballena Franca (APABF), ubicada en litoral sur de Santa Catarina,
Brasil.
Se trata de una investigación participante y cualitativa que persigue, a través del análisis
de un estudio de caso específico, contribuir a la construcción del conocimiento sobre la gestión
territorial de las áreas protegidas en Brasil. Se ha desarrollado a partir del marco teórico metodo-
lógico Catalá sobre la gestión del paisaje y sus valores (BERTRAND, 2000; BERTRAND; BERTRAND,
2009; NOGUÉ; SALA, 2006, 2009; BUSQUETS; CORTINA, 2009; NEL.LO, 2012).
integración del paisaje a las políticas de ordenación del territorio, urbanística, ambiental y otras
políticas que puedan tener efectos directos o indirectos sobre el paisaje.
El convenio se refiere al paisaje, no solo en su dimensión natural o a las unidades geográ-
ficas del paisaje tradicionales, sino al paisaje en su totalidad, configurando una visión sistémica,
multidimensional e integradora.
En el ámbito de la aplicación del CEP y la elaboración de las políticas de gestión y orde-
nación del paisaje, la Comunidad Autónoma de Cataluña (España), ha desarrollado una de las
políticas más ambiciosas y pioneras en el contexto europeo (ZOIDO, 2009; NEL.LO, 2012). En 2005,
se aprobó la ley 8/2005 del Paisaje de Cataluña que tenía por finalidad promover “[...] el reco-
nocimiento, la protección, la gestión y la ordenación del paisaje, a fin de preservar sus valores
naturales, patrimoniales, culturales, sociales y económicos en un marco de desarrollo sostenible”
(GENERALITAT DE CATALUNYA, 2006).
La implementación de la política de gestión de paisaje en Cataluña ha sido posible gracias
a la creación del Observatorio del Paisaje y la elaboración de los Catálogos del Paisaje, ambos
previstos en la ley 8/2005. Los catálogos clasifican los valores del paisaje desde todos los puntos
de vista (material e inmaterial). De acuerdo con Nogué y Sala (2009), los catálogos son una impor-
tante herramienta de gestión del paisaje, y son la base de los objetivos de calidad paisajística que
sirven para marcar directrices a la ley.
La identificación de los valores es tenida como una de las etapas más importantes de
todo el proceso, porque implica la participación de los ciudadanos. “[…] no todos los paisajes
tienen el mismo significado para la población y, por otro lado, a cada paisaje se le puede atribuir
diferentes valores y en grados distintos, según el agente o individuo que lo percibe.” (NOGUÉ;
27 SALA, 2009, p. 422).
De acuerdo con Nogué y Sala (2009), los valores pueden ser determinados de acuerdo
con las siguientes características: a) Valores estéticos: elementos estéticos ligados al sentimiento
de belleza que el paisaje puede transmitir, en función de su significado cultural que ha adquirido
a lo largo de la historia; b) Valores naturales y ecológicos: elementos que determinan la calidad
del medio ambiente natural, relacionados con las áreas de especial interés natural; c) Valores
Productivos: elementos relacionados con la capacidad de un paisaje de proporcionar beneficios
económicos en los diferentes sectores, como el turístico, agrícola, industrial, mineral, etc.; d)
Valores históricos: elementos materiales concretos producidos por el ser humano en el paisaje,
las construcciones más relevantes hechas por el hombre a lo largo de la historia; e) Valores de uso
social: elementos relacionados con el ocio, placer, práctica de deportes, terapias, etc.; f) Valores
religiosos y espirituales: relacionados con las prácticas y creencias religiosas; g) Valores simbólicos
e identitários: elementos que poseen una fuerte carga simbólica o de identidad para las poblacio-
nes locales, teniendo en cuenta la relación de pertenencia.
De acuerdo con Nel.lo (2012), los valores del paisaje se encuentran en riesgo por el
impacto de las dinámicas territoriales. Por este motivo, la preservación de los valores es esencial
para el bienestar, la calidad de vida y la cohesión social. Lo que implica la elaboración de políticas
específicas del paisaje, integradas con el planeamiento territorial y urbanístico.
De acurdo con Sala y Moles (2014),cada vez más, las instituciones locales, como los ayun-
tamientos, ven el paisaje como el posible motor para su desarrollo: un atractivo local, una señal de
civilidad y una vía para incrementar la identidad y la calidad de vida de las personas. En el contexto
de la globalización, la calidad del paisaje puede volverse un factor de diferenciación del territorio
y competitividad para los municipios y la singularización de los territorios, una manera de ser más
fuertes frente al mundo global.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Las políticas del paisaje mejor desarrolladas en Europa son aquellas que disponen de
estrategias articuladas entre sí y que cuentan con la participación ciudadana y de los agentes
públicos y privados del territorio (SALA; MOLES, 2014).
MARCO METODOLÓGICO
La mayoría de las APAs federales fueron creadas entre los años 80 y 90. Estas se encuen-
tran en los biomas marinos y del Cerrado. Sin embargo, cuando se trata de hectáreas protegidas,
el bioma con el área protegida más grande es el Marino, que a lo largo de la Mata Atlántica,
representa el 46,2% de las áreas protegidas del país (BRASIL, 2016).
A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais espe-
cialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000).
El APA, según la legislación brasileña, es una categoría que enfrenta conflictos entre las
áreas protegidas, ya que en su interior pueden existir comunidades tradicionales y actividades
económicas (BRASIL, 2002; CORTE, 1997).
La creación de APAs en Brasil está ligada a la necesidad de la institución de una plani-
ficación territorial en áreas que tengan características biológicas relevantes. Tiene el propósito
de conservar estas áreas, así como, promover el uso sostenible de los recursos y disciplinar la
ocupación del suelo, de modo a que se establezca un proceso de desarrollo territorial (DELFINO;
29 BELTRAME, 2014; MACEDO, 2008).
El mayor conflicto al que los APAs se enfrentan está relacionado con la propiedad de la
tierra, una vez que esta unidad permite tierras privadas en su interior, sometidas a restricciones
de uso del suelo y de los recursos naturales (BENSUSAN; PRATES, 2014; MACEDO, 2008; CORTE,
1997).
La propiedad de la tierra es uno de los factores que distingue el APA de otras áreas prote-
gidas. Porqué soluciona “uno de los problemas más importantes, que es el de la expropiación de
la tierra” cuando “permite que la tierra permanezca bajo el control de su propietario, incluso si
el uso del suelo y de los recursos naturales son restringidos.” (CORTE, 1997). Sin embargo, este
mismo factor se considera como un generador de los principales conflictos que aparecen en los
territorios que consisten los APAS (MACEDO, 2008).
Además, otros conflictos pueden ser identificados en el contexto de los APAs: la falta de
planes de manejo, la superposición de funciones entre los distintos organismos gubernamentales
responsables de la gestión del territorio y de sus recursos; el conflicto entre Planes Directores
Municipales y los planes de gestión; la expansión urbana; la degradación de los recursos natu-
rales; y la contaminación de los recursos hídricos (MARTINS, 2012; MARQUES; OLIVEIRA, 2012;
GRANJA, 2009; MACEDO, 2008; CORTE, 1997).
En el caso de las APAs en el contexto urbano, cuando su territorio abarca varios munici-
pios, y estos tienen la obligación de elaborar sus Planes Directores, existe un conflicto relacionado
con la superposición de las herramientas de gestión. (GRANJA, 2009). Los Planes Directores muni-
cipales pueden o no converger con los intereses de la gestión del plan de manejo del APA.
El SNUC determina que las unidades de conservación ambientales brasileñas tengan
un plan de manejo – documento técnico que debe contener el diagnóstico, objetivos, normas y
programas de gestión y zonificación de las mismas (BRASIL, 2000).
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Los planes de manejo constituyen la principal herramienta para la gestión de UCs y deben
ser elaborados hasta cinco años después de la fecha de su creación. La participación ciudadana
en los procesos de gestión se dan en la formación de un Consejo Gestor, que puede ser consulti-
vo o deliberativo, con la participación de representantes de los sectores públicos, económicos y
sociales (BRASIL, 2000).
Las APAs son consideradas, por diversos autores, una oportunidad para promover
el desarrollo sostenible y territorial (LIMA, 2013; MARQUES; OLIVEIRA, 2012; MARTINS, 2012;
GRANJA, 2009; RODRIGUES et al., 2008; MACEDO, 2008).
Asimismo, las APAs son una categoría de unidad de conservación que tiene el potencial
de establecer un nuevo modelo de gestión, enfocado en los actores y en el territorio, donde los
actores sean capaces de definir colectivamente el destino del territorio (MACEDO, 2008).
Los estudios y los datos sobre las APAs, demuestran la importancia que estas unidades
han asumido frente al campo de las unidades de conservación ambiental brasileñas. Así como,
que las APAs poseen ciertas peculiaridades que les confieren el carácter de territorios ambienta-
les, en el sentido de territorio usado y vivido, material y simbólico.
Esos territorios – en el sentido material concreto – son sobre todo, territorios jurídico-
-políticos1, controlados por el poder público. Al mismo tiempo, representan el territorio en su
dimensión cultural – en el sentido material, simbólico y de apropiación – a partir del momento
en que existen grupos de actores, que pertenecen a ese territorio, desenvuelven sus actividades
y hacen diferentes usos de ellos y les atribuyen diferentes valores (DELFINO; BELTRAME, 2014).
Todavía, constituyen territorios económicos, una vez que sus recursos son aptos, no
solo para las comunidades tradicionales, sino que en algunos casos también, para empresas e
30 industrias.
En este último, la institución de estos territorios pretende proteger las poblaciones tradi-
cionales, que dependen de la extracción de los recursos naturales en detrimento de las corpora-
ciones industriales que explotan en mayor escala. Asimismo, buscan garantizar el uso racional de
los recursos naturales frente a estos dos grupos de actores – las poblaciones tradicionales y las
industrias.
Por lo tanto, el proceso de institución y gestión de áreas de protección, implica reconocer
la existencia de los actores que participan, su relación con el territorio, las territorialidades y los
conflictos desencadenados.
A partir del momento en que se reconoce una APA como un territorio, es posible avanzar
en el proceso de gestión de la unidad, para el proceso de gestión territorial.
Generalmente, las APAS están compuestas por grandes áreas, que implican más de un
municipio, a veces más de una región o más de una unidad de la federación. Lo que presupone
la integración de diferentes escalas, instituciones, políticas y actores en la gestión del APA. Hay
distintos intereses en juego: políticos, económicos, ambientales y culturales.
De este modo, surge en este contexto el APA de la Ballena Franca (Mapa 1), creada
en 2000 para proteger la especie de la Ballena Franca (Eubaleena Australis), que llegó hasta la
amenaza de extinción en el territorio brasileño. Sin embargo, este no es el único objetivo del
APABF. Entre sus objetivos está la promoción de la ordenación territorial en su área de influencia,
que está compuesta por nueve municipios del litoral centro-sur catarinense, en Brasil.
1
Haesbaert (2013) agrupa la concepción de territorio a partir de tres vertientes: 1) Jurídico-política donde el territorio es visto
como un espacio delimitado y controlado generalmente por la figura del Estado. 2) Cultural, donde el territorio posee un sentido
más subjetivo, producto de la apropiación de un determinado grupo sobre su espacio. 3) Económico, resultado de las relaciones
económicas del choque entre las clases sociales.
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Gestão Integrada do Território
32
Según Macedo (2008), el Consejo Gestor del APABF fue concebido como un espacio efec-
tivamente legítimo, representativo y democrático, bajo el enfoque de la cogestión. A través de
este, el APA establece relaciones interinstitucionales, que le proporcionan credibilidad y legitimi-
dad en el contexto nacional, donde ocupa el status de referencia nacional.
Se ha verificado que, entre los grupos de actores, los principales conflictos giran en torno
de los recursos y los valores del paisaje de las playas. Entre ellos, se destaca el importante papel
de los municipios, los agentes inmobiliarios, los residentes nativos y sus descendientes, y los inmi-
grantes provenientes de otras regiones.
Estos grupos de actores de alguna manera compiten por el mismo objeto – el paisaje de
las playas. Aunque lo hacen de diferentes modos, atribuyéndoles diferentes valores y generando
diferentes conflictos.
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Valores estéticos Ballena Franca; delfines; Mar; lagunas; montaña; vegetación (foresta
ombrófila densa, de várzea, restinga y mangle); Playas.
Valores productivos Pesca artesanal; Turismo de sol y playa; turismo cultural y gastronomía
de la cultura azoriana; turismo de observación de las ballenas y de
delfines; turismo ecológico; deportes náuticos; agricultura orgánica y
familiar; rizicultura; porto de Imbituba; Ferrovía Tereza Christina;
generación de energías renovables (solar y eólica).
Valores del uso social Playas; surf; deportes náuticos; caminatas en la naturaleza;
presentaciones culturales; terapias alternativas.
Fonte:
Fuente: elaborado pelos
Elaborado por losautores.
autores.
CONSIDERACIONES GENERALES
Entre los estudios investigados, se ha identificado que hay una diversidad de ellos que
tratan de APAs en Brasil, llevados a cabo en diferentes áreas del conocimiento. Entre los estudios
con enfoque social, se ha verificado la deficiencia de investigación sobre la gestión del territorio
en las APAs.
Los estudios, datos y relatos de los actores, revelan que el APA de la Ballena Franca ha
concebido una forma diferenciada de gestión, que se destaca en el contexto nacional.
Por su extensión, la APABF, con 156.000 hectáreas y 130 quilómetros de playas, alcanza
nueve municipios y diferentes paisajes; donde se destacan los paisajes de las playas: por sus valo-
res naturales, ecológicos, culturales y sociales.
Con base a método teórico-metodológico europeo y catalán sobre gestión del paisaje, se
ha verificado que los valores más importantes y que justifican la existencia del APABF son los valo-
res naturales y ecológicos: la Ballena, el mar, las playas, las dunas, las lagunas, la vegetación, entre
otros. Seguidos de los valores históricos, relacionados principalmente, con la cultura azoriana que
posee trazos muy peculiares del territorio: la pesca artesana, las casas de harina de mandioca, y
el modo de vida de las comunidades más tradicionales que imprimen una identidad muy propia al
paisaje del territorio. Los cuales también componen los valores de identitarios y simbólicos.
34
Los gestores del APABF, la conciben como un territorio, dotado de valores singulares,
donde hay distintos intereses, actuación de múltiples grupos de actores, relaciones de poder y,
consecuentemente, diferentes estrategias en torno al uso de los recursos ambientales – los natu-
rales y los culturales – y de apropiación de sus valores. Su actuación consiste en promover el
diálogo con los diferentes actores implicados y romper con el paradigma de que las áreas protegi-
das son un obstáculo para el desarrollo económico. Sin embargo, aún se encuentran con muchas
resistencias, sobre todo, por parte de los agentes económicos y los gestores municipales.
Teniendo en cuenta que: 1) El APABF es un área protegida que considera la interacción
entre las comunidades y la naturaleza, y además, que de esta interacción resultan ciertos valores
distintos y singulares a su territorio; 2) Los conflictos de gestión que se enfrenta; 3) La necesidad
de articulación y de integración entre las políticas y los actores en diferentes escalas; 4) El terri-
torio del APABF ultrapasa los límites político jurídicos utilizados para la elaboración del plan de
manejo; esta investigación ha buscado un marco teórico metodológico capaz de contribuir a la
gestión territorial en el APA de la Ballena Franca, pautada por la gestión del paisaje y los valores
del paisaje. Una herramienta útil en manos de los actores, aquellos que viven y sienten el paisaje
a cada día.
El marco teórico europeo y catalán adoptado ha demostrado ser un importante marco
conceptual para repensar y estructurar un plan de gestión territorial para las áreas protegidas, en
que los valores territoriales y paisajísticos son la principal herramienta de gestión integrada entre
los distintos agentes implicados en el territorio.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
37
CAPÍTULO III
MEIO AMBIENTE E GESTÃO TERRITORIAL:
LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO
ORDENAMENTO TERRITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan03
38
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
A gestão territorial pode ser subdividida em gestão urbana, gestão ambiental e gestão
rural, cuja repartição serve apenas para fins de estudos específicos, tendo em vista que esses
subtipos fazem parte da complexidade que compõe a gestão territorial. Neste estudo, tratar-se-á
da gestão ambiental e urbana, com o intuito de analisar os instrumentos disponíveis ao ordena-
mento territorial, principalmente no que compete ao licenciamento ambiental, como forma de
minimizar as desigualdades e os conflitos espaciais existentes dentro do espaço urbano.
Para a melhor compreensão dos assuntos pertinentes ao estudo, foi necessário realizar
uma pesquisa bibliográfica e o levantamento de material existente. Foram investigadas produções
científicas e internacionais sobre o tema, que serviram de base para a composição do estado da
arte dos conceitos apresentados.
Ainda, para melhor conhecimento das questões que envolvem o licenciamento ambien-
tal e o ordenamento territorial, foram investigadas as legislações brasileiras que regem sobre o
tema. O embasamento legal foi de suma importância à composição deste estudo, pois permitiu
um melhor tratamento da questão, levando-se em consideração a qualidade de vida e do ambien-
te urbano.
Para tanto, buscou-se o apoio da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Essa legislação precisou a terminolo-
gia de meio ambiente, quando definiu que: “Art. 3º- Para os fins previstos nesta Lei, entende-se
por: I - Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A Constituição
Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, em seu Artigo 225, dispõe que o meio ambiente
é um bem de uso comum do povo e um direito de todos os cidadãos, das gerações presentes e
futuras, estando o Poder Público e a coletividade obrigados a preservá-lo e a defendê-lo (BRASIL,
40
2007).
Nesses termos, o conceito de meio ambiente supera a denominação de que é um bem
público, tendo em vista que não é apenas do Estado, mas também da coletividade, o dever de
defendê-lo e de preservá-lo. Ao considerar que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é
um direto fundamental de todos, a sua natureza jurídica encaixa-se no plano dos direitos difusos,
já que se trata de um direito transindividual, de natureza indivisível, de que são titulares pessoas
indeterminadas e ligadas entre si por circunstâncias de fato.
Acentua-se ainda mais esse caráter difuso do direito ambiental quando o próprio artigo
constitucional diz que é dever da coletividade e do poder público defender e preservar o meio
ambiente, ancorado em uma axiologia constitucional de solidariedade. Para Abelha (2004, p.
43), “O interesse difuso é assim entendido porque, objetivamente, estrutura-se como interesse
pertencente a todos e a cada um dos componentes da pluralidade indeterminada de que se trate”.
Isso significa que o meio ambiente não pode ser um simples interesse individual, reco-
nhecedor de uma esfera pessoal e própria, exclusiva de domínio. Seu uso ou apropriação deve
incorrer de uma avaliação prévia, com vistas ao dimensionamento, quantitativo e qualitativo, dos
impactos ambientais e sociais decorrentes.
No Brasil, a experiência nos processos de AIA, até o início da década de 1980, não conta-
va com instrumentos jurídico-legais que regulamentassem o processo de avaliação de impacto
ambiental. Para Ruppenthal (2014), foi somente a partir dos anos 90 que o foco dos problemas
ambientais passou a se voltar para a otimização dos processos produtivos e para a redução dos
impactos ambientais. Isso porque houve o amadurecimento de que as consequências sobre o mau
uso dos recursos naturais e suas ações sobre o meio ambiente acabariam ocasionando impactos
sobre a vida de todos os seres vivos.
Segundo Almeida (2002), as primeiras tentativas de aplicação de metodologias foram
decorrentes de exigências de órgãos financeiros internacionais para a aprovação de empréstimos
de projetos governamentais brasileiros. Esses primeiros estudos foram realizados com base na
experiência internacional e com intervenção indireta do exterior.
Pode-se considerar que a introdução da AIA como um instrumento legal para avaliação
de projetos que causam impactos ao meio ambiente ocorreu em 1980, a partir da Lei Federal
nº 6.803/1980, que dispunha sobre a obrigatoriedade da avaliação de impactos ambientais para
fins industriais, ainda que limitada em seu escopo por não contemplar outras modalidades de
ações potencialmente impactantes ao meio ambiente (BRASIL, 1980). A partir da referida lei, a
AIA deixou de ser exigência de órgãos financiadores internacionais para ser incorporada como
instrumento de gestão do meio ambiente.
No ano seguinte, a criação da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do
Meio Ambiente – PNMA), instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISMANA) e permitiu
a articulação dos diversos órgãos setoriais ligados direta ou indiretamente à temática ambiental.
Isso fez com que as AIAs fossem elaboradas em processo coordenado, incluindo diversas obras e
empreendimentos potencialmente degradadores do meio ambiente.
41
A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 001, de 23 de janei-
ro de 1986, definiu as atividades sujeitas à elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), quando da solicitação de licenciamento. A
referida Resolução apresenta as diretrizes gerais para a elaboração do EIA, bem como as ativida-
des técnicas mínimas, que devem ser cumpridas em relação ao diagnóstico ambiental da área, a
previsão e a análise dos impactos ambientais, a definição de medidas mitigadoras e as atividades
de acompanhamento e monitoramento.
Para Moreira (1993), o EIA deve ser elaborado como um conjunto de atividades, pesqui-
sas e tarefas técnicas com a finalidade de determinar as principais consequências ambientais
decorrentes da implantação de um empreendimento. Milaré (2004) acrescenta que a incorpo-
ração pelo direito brasileiro desse instrumento preventivo de tutela ambiental, EIA, estimulou a
participação da sociedade nas discussões democráticas sobre a implantação de projetos e contri-
buiu para o manejo adequado dos recursos naturais, o uso correto de matérias-primas e a utiliza-
ção de tecnologias de ponta, evitando altos investimentos futuros em equipamentos de controle
e monitoramento.
Dentro da AIA, segundo Bisset (2002), Bastos e Almeida (2002), identificam-se distintos
componentes, sendo um deles responsável por diagnosticar, avaliar e prevenir efeitos adversos
relacionados com o conhecimento científico sobre o ambiente, a ação e suas inter-relações. O
outro é o processo de tomada de decisão, cuja avaliação de impactos de uma ação pode ter um
importante papel, intimamente relacionado a regras administrativas e à vontade política. De qual-
quer modo, é um instrumento de gestão ambiental formado por um conjunto de procedimentos
capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos
ambientais de uma ação e de suas alternativas.
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O principal objetivo da AIA, de acordo com Arruda (2000) e Bolea (1984), é fornecer
subsídios para o processo de tomada de decisão, por meio do exame sistemático das atividades
do projeto, permitindo maximizar os benefícios, considerando os fatores saúde, bem-estar huma-
no e meio ambiente, elementos dinâmicos no estudo para a avaliação. Dessa forma, é possível
efetuar a prevenção dos danos causados ao meio ambiente por atividades antrópicas, de acordo
com Bisset (2002), envolvendo três fases: (i) identificação dos impactos; (ii) predição dos impac-
tos – previsão do comportamento dos ecossistemas; e (iii) a avaliação propriamente dita. Nesta
última fase, atribuem-se aos efeitos previstos parâmetros de importância ou significância.
O artigo 3º da PNMA (Lei Federal nº 6.938/1981) destaca que qualquer alteração no meio
ambiente pode ser enquadrada como impacto ambiental e que a sua efetivação caracterizará um
dano ambiental, seja ele ao meio ambiente, a terceiro ou à coletividade (BRASIL, 1981). De acordo
com a Resolução CONAMA nº 001/1986, impacto ambiental é:
Pode-se considerar, de maneira geral, que impacto ambiental é a diferença entre a situa-
ção do meio ambiente (natural e social) futuro, modificado pela realização do projeto, e a situação
do meio ambiente futuro tal como teria evoluído sem o projeto. Entretanto, a identificação e a
42 quantificação de impactos ambientais consistem em uma atividade complexa, tendo em vista que
eles podem envolver uma série de fatores para a sua determinação (KULIK; HORNSBY; BISHOP,
2011).
A primeira dificuldade consiste na própria delimitação do impacto/dano, já que este se
propaga, espacial e temporariamente, por meio de uma complexa rede de inter-relações. O segun-
do entrave reside nas deficiências instrumentais e metodológicas para determinar as respostas
dos ecossistemas às atividades humanas, sobretudo quando se adota a dimensão social, como
nos casos dos projetos de regularização fundiária.
Para o melhor tratamento do problema, foram criadas diversas metodologias de Avaliação
de Impacto Ambiental, que são estudos realizados para identificar, prever, interpretar e prevenir
os danos que determinadas ações ou projetos podem causar à saúde, ao bem-estar humano e ao
meio ambiente. Podem ser entendidas como um conjunto de atividades técnicas e científicas que
incluem o diagnóstico ambiental, a fim de prevenir e dimensionar, quando possível, os impactos
ambientais (KULIK; HORNSBY; BISHOP, 2011).
Segundo a Resolução CONAMA nº 237/1997 (Art. 1º, III), os estudos ambientais “[...]
são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização,
instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como
subsídio para a análise da licença requerida.” (BRASIL, 1997).
No Brasil, existem diversos tipos de estudos ambientais, criados por diferentes instru-
mentos legais. Conforme Sánchez (2008), além do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), dependendo das particularidades ligadas a certos tipos de
empreendimentos, podem ser solicitados outros tipos de estudos: Estudo Ambiental Simplificado
(EAS), Relatório Ambiental Preliminar (RAP), Estudo de Conformidade Ambiental (ECA), Plano de
Recuperação de Áreas Degradas (PRAD), dentre outros.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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De acordo com Cenci (2009), o uso e a ocupação do solo na formação dos espaços urba-
nos evidenciam características do modelo de desenvolvimento centrado na lógica que estrutura
o modo de produção capitalista, marcado pela propriedade privada, pelo qual o próprio espaço
torna-se objeto. É por meio dessa lógica mercadológica que a cidade se transforma em mercado-
ria, em detrimento da cidade, como o direito à terra.
Carlos (2004) acrescenta que a formação do espaço urbano é resultante de uma produ-
ção geral da sociedade no seu todo, mas vinculada à apropriação do espaço em parcelas privadas.
É com essa apropriação individualizada do espaço que a cidade se torna objeto de compra e venda
e impulsiona a própria acumulação de capital.
Sarti (2009) completa, relatando que os mecanismos de expansão da mancha urbana
são ditados pela lógica do mercado imobiliário, provocando o avanço da área urbanizada sobre
os espaços ao seu redor e transformando a zona rural próxima em uma reserva de espaço para
a cidade do futuro. A autora acrescenta que esse modelo de expansão dos espaços urbanos tem
exigido uma maior demanda de implantação de infraestrutura urbana (água, esgotos, telecomu-
nicações, iluminação etc.) e equipamentos comunitários (áreas de lazer, postos de saúde, escolas,
creches e outros).
Para o IPEA (2001), é a disponibilidade, a proximidade ou os investimentos públicos
nesses equipamentos urbanos e comunitários que irão influenciar no preço final da terra, seja
ela de propriedade privada ou pública. Cenci (2009) afirma que, para evitar a segregação socioes-
pacial da cidade e mantê-la acessível à população, o governo local passa a incorporar o papel de
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constitucional a não ser desconsiderado, que é o da função social da cidade”. Tal pretensão só será
alcançada justamente com uma política constitucional urbana e com uma defesa ambiental dos
espaços habitáveis, alcançando todas as variáveis da vida humana, tais como saúde, educação,
lazer e segurança, visando a uma “sadia qualidade de vida”, conforme o disposto no artigo 225 da
Constituição Federal (BRASIL, 2007), dedicado ao meio ambiente.
Um avanço significativo do ponto de vista da sustentabilidade e do desenvolvimento
urbano, que merece ser destacado, é o Estatuto da Cidade, representado pela Lei Federal nº
10.257/2001, o qual esclarece, com maior propriedade, o papel dos municípios no que se refe-
re ao cumprimento da cidade em desempenhar sua função social e ambiental, introduzindo os
conceitos de sustentabilidade ambiental e de gestão democrática por intermédio da participação
popular e do estabelecimento de algumas normas específicas, visando à regularização fundiária
(BRASIL, 2001).
Além disso, o Estatuto da Cidade apresenta o Plano Diretor como instrumento básico da
política de desenvolvimento urbano obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes. O
Plano Diretor, que dispõe sobre a política de desenvolvimento, ordenamento territorial e expan-
são urbana da cidade, atua não apenas na regulação físico-territorial, mas também na inserção
de mecanismos de conteúdo ambiental, como o próprio licenciamento ambiental, a criação de
espaços territoriais protegidos e a Avaliação de Impactos Ambientais para diversas atividades de
uso e ocupação do solo.
Esse diálogo entre os atributos do meio biofísico com os instrumentos de ordenamento
territorial, conforme Sayago e Pinto (2005), é que dá ênfase ao caráter estratégico na busca pela
qualidade de vida das cidades. Contudo, não deve haver confusão quanto aos objetos de estudo
do ambiente natural com o ambiente urbano.
45
Como exemplo cita-se o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), que é um dos instrumen-
tos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade. No art. 36 da referida Lei consta que:
Diante do tema da regularização, não se há de ter como premissa uma mera situação de
ilegalidade. Nesse prisma, vale considerar o artigo 46 da referida lei (BRASIL, 2009) quando cita os
eixos prioritários ao ordenamento territorial – representado pelas medidas jurídicas, urbanísticas,
ambientais e sociais – em torno dos quais se centram as ações que visam à regularização dos
assentamentos urbanos.
Considerando que a regularização fundiária urbana depende da ação de diversos atores
políticos e jurídicos, salienta-se a necessidade de entrelaçamento entre a ação legislativa e a
administrativa, para que se proceda ao ordenamento territorial, prevendo a preservação do meio
ambiente. Assim, o artigo 54 da Lei Federal nº 11.977/2009 informa que o projeto de regularização
46 fundiária de interesse social deverá considerar as características da ocupação e da área ocupada
para definir parâmetros urbanísticos e ambientais específicos, além de identificar os lotes, as vias
de circulação e as áreas destinadas ao uso público.
O legado deixado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, no que tange à ocupação
humana em áreas preservadas, teve reflexos diretos na revisão do Código Florestal, derivando
na criação da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. O novo Código Florestal apresen-
tou a flexibilização legal à ocupação humana em área de preservação permanente (APP), mas
impôs alguns requisitos, denotando um amadurecimento nas discussões sobre a sociedade como
elemento impactante – ao mesmo tempo impactado por obras ou atividades.
Na Seção II (Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente) do Novo
Código Florestal, o artigo 8 trata que a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área
de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse
social ou de baixo impacto ambiental previstas nessa Lei (BRASIL, 2012).
O artigo 64 (BRASIL, 2012) disciplina a utilização dos espaços das APPs, nos casos de regu-
larização fundiária de interesse social dos assentamentos inseridos em área urbana de ocupação
consolidada, dispondo que a regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do
projeto de regularização fundiária, na forma da Lei no 11.977, de 07 de julho de 2009, devendo
incluir um estudo técnico que demonstre a melhoria das condições ambientais em comparação
com a situação anterior à adoção das medidas preconizadas.
O estudo técnico proposto deve conter elementos mínimos, tais como: caracterização da
situação ambiental da área a ser regularizada; especificação dos sistemas de saneamento básico;
proposição de intervenções para a prevenção e o controle de riscos geotécnicos e de inundações;
recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de regularização; dentre outros.
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Ainda, o novo Código Florestal, em seu artigo 65, informa que, na regularização fundiária
de interesse específico dos assentamentos inseridos em área urbana consolidada e que ocupam
Áreas de Preservação Permanente não identificadas como áreas de risco, a regularização ambien-
tal será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária, na forma da Lei no
11.977, de 07 de julho de 2009 (BRASIL, 2012). Para fins de prévia autorização pelo órgão ambien-
tal competente, devem fazer parte do processo de regularização ambiental alguns elementos, tais
como: a caracterização físico-ambiental, social, cultural e econômica da área; a identificação dos
recursos ambientais, dos passivos e fragilidades ambientais e das restrições e potencialidades da
área; a identificação das unidades de conservação e das áreas de proteção de mananciais na área
de influência direta da ocupação; a especificação da ocupação consolidada existente na área; a
identificação das áreas consideradas de risco de inundações e de movimentos de massa rochosa,
dentre outros.
Do ponto de vista ambiental, o processo de transformação de casas irregulares em mora-
dias legalizadas, com registro no Cartório de Registro de Imóveis, promove o meio ambiente, pois
ocorre a implantação de serviços de água tratada, canalização de esgotos, pavimentação das ruas,
iluminação pública, coleta de lixo e limpeza pública. Nesses termos, o artigo 225 da Constituição
Federal poderá ser atendido quando as medidas jurídicas, ambientais e sociais, que visam à regu-
larização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, garantirem o direito social
à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Com o propósito de disciplinar o quadro de qualidade ambiental, principalmente no que
diz respeito ao parcelamento do solo urbano, foi instituída a Lei no 6.766/79 (modificada pela Lei
no 9.785/99). De acordo com Moraes (2010), conhecida como Lei Lehman, estabelece exigências
47 mínimas de padrões urbanísticos necessários à aprovação e à implantação do loteamento urbano,
também limites para a ocupação do solo, observando os cuidados para com a proteção do meio
ambiente.
O artigo 3º da referida lei informa que somente será admitido o parcelamento do solo
para fins urbanos, em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim
definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal, trazendo como limitação a proibição
de parcelamento de solos que possuem as seguintes características: terrenos alagadiços e sujeitos
a inundações sem medidas de providências para o escoamento das águas; terrenos aterrados com
material nocivo à saúde pública; terrenos com declividade igual ou superior a 30% (salvo se aten-
didas as exigências específicas); terrenos geologicamente limitados para edificações; e em áreas
de preservação ecológica (BRASIL, 1979).
A Lei Federal do Parcelamento do Solo (Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979), que,
no seu rigor inerente às condições para a elaboração e a aprovação de loteamentos urbanos,
acabou deixando escapar o ideal quase utópico de desenvolvimento urbano de primeiro mundo
para o qual estava projetada, é incompatível com a realidade conjuntural na qual a pobreza é
predominante.
Os projetos de parcelamento do solo podem se apoiar, tecnicamente, no geoprocessa-
mento que, conforme Ladwig (2013), é definido como sendo a área do conhecimento que utiliza
técnicas matemáticas e computacionais para tratar dados espaciais, produzindo informações rele-
vantes para a tomada de decisão. Sendo assim, as ações de planejamento e gestão sustentável
do território, ordenando as ações do homem sobre o território, ficam garantidas de forma mais
assertiva com a utilização dessa ferramenta. O SIG (Sistema de Informação Geográfica) permite
realizar análises espaciais complexas ao integrar dados de diversas fontes de bancos de dados
georreferenciados.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocupação desordenada que vem ocorrendo na maioria das cidades brasileiras, muitas
vezes em consonância com a ingerência de responsáveis pela gestão adequada do espaço urbano,
faz avançar consequências tanto para a população residente em determinadas áreas quanto ao
meio ambiente.
As propostas existentes para um bom exercício da política urbana encontram-se apresen-
tadas tanto no Estatuto das Cidades quanto no programa “Minha Casa, Minha Vida”, que circun-
dam a busca da conformidade entre a convivência nas cidades e a preservação do meio ambiente
como obediência à legislação.
Essas novas diretrizes relacionadas ao desenvolvimento urbano, no entanto, somente
serão alcançadas por meio de uma gestão municipal planejada e democrática, assegurando os
direitos inerentes à população, principalmente pela edição e cumprimento dos referidos planos
diretores municipais.
48
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51
CAPÍTULO IV
PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL EM SÃO BONIFÁCIO
(SC): OS DESAFIOS DA GESTÃO INTEGRADA
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan04
52
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
Em pesquisa de campo realizada pelo primeiro autor nos anos de 2013 e 2014, no muni-
cípio de São Bonifácio, estado de Santa Catarina, investigou-se que elementos do patrimônio
cultural e natural se evidenciavam naquele município, relacionados ao turismo rural e, em espe-
cial, à Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia (AAAC),2 a qual se encontrava em fase de
expansão. Em meio a essa investigação, diferentes elementos foram fundamentais para descrever
o panorama turístico da cidade, ou seja, o que um turista procura e encontra quando visita São
Bonifácio. No ano de 2016, os estudos foram retomados com a finalidade de analisar a relação da
gestão pública municipal com a gestão integrada do patrimônio natural e cultural do município.
Nesse sentido, este capítulo tem como objetivo analisar as dificuldades da gestão inte-
grada do patrimônio natural e cultural no município de São Bonifácio, SC, a partir da gestão públi-
ca do município.
A pesquisa que o gerou é de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), realizada por
meio de um estudo de caso, que, de acordo com Yin (2001, p. 32), “[...] é uma investigação empí-
rica de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Caracteriza-se como uma abor-
dagem etnográfica (LAPLANTINE, 1993) na medida em que buscou a compreensão dos elemen-
tos exteriores de uma sociedade, compreendendo os significados que os próprios indivíduos dão
aos seus comportamentos. Os dados foram coletados em 2013 e em 2014 mediante entrevistas
semiestruturadas (FLICK, 2013) e observação participante (MAY, 2004) e foram complementados
em 2016 com a aplicação de um questionário enviado eletronicamente aos gestores municipais
53 responsáveis pelo turismo no município de São Bonifácio. Posteriormente, tais dados foram anali-
sados, sendo utilizados os procedimentos de análise de conteúdo (BARDIN, 2009), sem, contudo,
criar categorias de análise.
O capítulo traz uma breve caracterização do território de São Bonifácio, o referencial
teórico de patrimônio cultural e natural, os elementos considerados patrimônios naquele muni-
cípio e como ocorre a gestão integrada de seus patrimônios naturais e culturais, bem como apre-
senta as considerações sobre a gestão do patrimônio em São Bonifácio.
2
A Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia (AAAC) é composta por agricultores e integra a rede Accueil Paysan, que atua
na França desde 1987. Tem como objetivo valorizar o modo de vida rural por meio do agroturismo ecológico, fazendo com que os
agricultores abram suas casas para visitantes, a fim de compartilhar o saber fazer, histórias, sua cultura e paisagens (ASSOCIAÇÃO
DE AGROTURISMO ACOLHIDA NA COLÔNIA – AAAC. Estatuto da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia. Santa Rosa de
Lima: [s.n.], 1999).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 01 – Mapa
Mapa de de
1 – Mapa Localização doMunicípio
Localização do Municípiode de
SãoSão Bonifácio/SC
Bonifácio/SC
São Bonifácio possui uma área territorial de 452 km², relevo sinuoso, altitude média de
610 metros e clima subtropical úmido. Sua população é de 3.008 habitantes (IBGE, 2010), dos
54 quais 75% residem na área rural. Dentre os elementos que caracterizam a região, está a presença
da arquitetura em estilo enxaimel,3 bem como a preservação da tradição e de costumes germâni-
cos presentes na alimentação típica, na língua alemã – com seus dialetos específicos –, na música,
na religiosidade, entre outros. A economia se baseia na agricultura, na pecuária de leite e de
corte, na apicultura, na avicultura, no beneficiamento de madeira, nas indústrias de lacticínios,
com vocação para o turismo.
O acesso norte à cidade se dá pela BR-282, via Santo Amaro da Imperatriz e SC-435. O
acesso sul se dá pela SC-438, via Gravatal, ou, ainda, pela SC-431, via Armazém e São Martinho.
Devido à sua posição geográfica, 55% da área total do município localiza-se dentro do Parque
Estadual da Serra do Tabuleiro, que é a
[...] maior unidade de conservação de proteção integral do Estado, criada em 1975 com
base nos estudos dos botânicos Pe. Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, com o objetivo
de proteger a rica biodiversidade da região e os mananciais hídricos que abastecem as
cidades da Grande Florianópolis e do Sul do Estado [...]. (FATMA, 2009).
Segundo Martins e Welter (2012), os traços culturais atuais remontam aos hábitos e aos
costumes dos primeiros colonos. A língua alemã é um deles, à medida que parte da população
compreende ou fala o idioma. Segundo Oliveira (2015), nos últimos anos, vem se intensifican-
do o resgate e a preservação do folclore alemão, por meio da música e do canto realizados por
corais dos grupos folclóricos Kleine Tänzer e Tanzen Freude und Liebe, que apresentam as danças
3
Segundo Weimer (2005), são compostas por paredes montadas com hastes de madeira, encaixadas entre si em posições horizon-
tais, verticais ou inclinadas, cujos espaços são preenchidos, geralmente, por pedras ou tijolos. Essa arquitetura é típica da região
da Westfália (Alemanha).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
das regiões de origem dos imigrantes, com ênfase para a Dança dos Sete Passos. Destacam-se
também as festas religiosas realizadas nas localidades e na sede do município, em homenagem ao
padroeiro de São Bonifácio, a Festa do Hospital, a Festa do Pão de Milho e o Natal Luz (PREFEITURA
MUNICIPAL DE SÃO BONIFÁCIO, 2015).
Ao avaliar o patrimônio natural brasileiro, Zanirato (2010) afiança que a riqueza de sua
biodiversidade se encontra bem distribuída no território, o que resulta em dificuldades em prote-
ger esses bens. Em outro trabalho, Zanirato (2011) analisa a relação do patrimônio natural com
o turismo e os desafios para a adoção da sustentabilidade em áreas protegidas no Brasil. Nele, a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
autora dialoga com as políticas de valorização do patrimônio natural e cultural adotadas no Brasil
em relação ao turismo. Corroborando, Ruschmann (1997, p. 10) avalia a relação entre turismo e
planejamento, afirmando que “O planejamento é fundamental para o desenvolvimento turístico
equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões receptoras,
evitando, assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir”.
Além da preservação do patrimônio natural, é crescente a preocupação com a preser-
vação dos bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis, que compreendem o patrimônio
cultural. Nesse sentido, González-Varas (2003, p. 44) pontua que eles são considerados “[...] mani-
festações ou testemunhos significativos da cultura humana”. Na mesma perspectiva, a UNESCO
(1972, n.p.) sinaliza que o patrimônio cultural se apresenta nas formas de:
Figura 02
Imagens 1a –e Casa Típica
1b - Casas Em Estilo
Típicas Enxaimel
em Estilo Enxaimel
Fonte: ARQUIVO
Fontes: Prefeitura Municipal DA SMCT.
de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (2015). [e1] Comentário: Não en
referência
Duvida?? [SdM3] Co
e qual a 04??
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Outro elemento cultural bem significativo para o município é a Festa do Pão de Milho,
iniciada em 1993 por iniciativa do padre holandês Sebastião Van Lieshout (1970-1992), então líder
da Paróquia de São Bonifácio, que idealizou criar a festa do alimento característico da região, o
pão de milho. A ideia recebeu apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de
Santa Catarina – EPAGRI, por meio de seu escritório local, que viu na festa uma forma de divul-
gar aos visitantes de São Bonifácio a produção agropecuária do município (BOEING, 2011). As
imagens 4a e 4b apresentam o desfile típico na tradicional Festa do Pão de Milho e como acontece
a produção artesanal do alimento.
Imagens 4a e 4b - Desfile da imigração alemã na Festa do Pão de Milho, em 2014, e produção
Imagens 4a e 4b - Desfile dade
imigração
pão dealemã
milhona
naFesta do Pão de Milho,
residência Renitraem 2014, e produção de pão de milho na
Hawerroth
residência de Renitra Hawerroth
58 São Bonifácio também se destaca pelo variado patrimônio natural existente no muni-
cípio. A quantidade de cachoeiras em seu território lhe confere o título de “Capital Catarinense
das Cachoeiras”
Imagens 5a(Lei
e 5bEstadual nº Dona
- Cachoeira 13.096 de(localizada
Bebê 18/08/2004). As inúmeras
na propriedade nascentes
de Teresinha de águas
e Kraus) e ea
topografia acidentada propiciaram
Fontes: Acervo pessoal cachoeira
o de
surgimento Evilasio Norbal
de belíssimas
Adilson Tadeu quedas
Basquerote de água, ideais para banho
Silva (2014).
e esportes de aventura. Em algumas delas, o acesso acontece por trilhas ecológicas. Segundo
Oliveira (2015), algumas já contam com um acesso facilitado, mas outras carecem de mais infraes-
trutura. As imagens 5a e 5b apresentam uma amostra do patrimônio natural do município.
Imagens 5a e 5b - Cachoeira Dona Bebê (localizada na propriedade de Teresinha e Kraus) e
Imagens 5a e 5b - Cachoeira Dona Bebê cachoeira Evilasio
(localizada na Norbalde Teresinha e Kraus) e cachoeira Evilasio Norbal
propriedade
o traçado de trilhas por ambientes de vegetação original e cachoeiras. As trilhas são inúmeras,
algumas com possibilidades de exploração turística imediata e outras ainda precisando ser devi-
damente trabalhadas, mas necessitando sempre do acompanhamento de um guia local.
Merece destaque também a atuação do programa Associação de Agroturismo Acolhida
na Colônia. Atualmente, o município conta com cinco propriedades filiadas, que oferecem hospe-
dagem, alimentação e atividades de integração aos turistas nas atividades desenvolvidas nas
propriedades.
Nos anos em que a pesquisa de campo foi realizada (2013 e 2014), estavam à frente da
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Bonifácio dois servidores, o secretário muni-
cipal (gestor 1, G1) e a assistente administrativa (gestor 2, G2), respectivamente, que tinham a
incumbência de desenvolver as atividades de planejamento e execução relativas à cultura e ao
turismo no município. Atualmente, ambos ainda exercem essas funções, facilitando a retomada
de contato e a coleta de dados. Dessa forma, foram obtidos relatos e descrições a respeito do
panorama da gestão integrada da cultura e do turismo no município, que reflete na conservação
dos patrimônios cultural e natural.
A gestão integrada, de acordo com Moraes (2010, p. 414), “[...] compreende um sistema
que interliga diversas áreas de processos de uma organização”. Em contexto semelhante, Chaib
(2005) afiança que nela há um conjunto de dados interdependentes, cujo resultado obtido com
59 a soma de todos os processos aplicados é maior do que se estiverem atuando separadamente.
Nesse cenário, a questão cultural perpassa os fatores econômicos, sociais e ambientais, conferin-
do-lhes um caráter de transversalidade.
A Gestão Integrada do Território incorpora uma variável fundamental: a cultura. Como
bem define Eliezer Batista (2014 apud MOTTA; NUNES, 2015, p. 183):
[...] a questão cultural passa a ter um efeito de transversalidade sobre os demais fato-
res. Ela costura as pontas econômica, social e ambiental, conferindo uma compreensão
integrada a algo até então visto de forma compartimentada, a partir de uma perspectiva
dissociada. A gestão integrada visa usar a cultura como elo.
- Reestruturação da Festa Regional do Pão de Milho, com ênfase para o desfile da colo-
nização alemã;
- Melhorias e apoio à conservação das grutas religiosas;
- Apoio aos técnicos do Sebrae para realização de visitas e consultorias gratuitas aos
proprietários dotados de algum patrimônio (em fase de construção);
- Integração do município em Roteiros Integrados com municípios da região para o forta-
lecimento da cultura e do turismo;
- Reabertura do Museu da Colonização Prof. Francisco Serafim Guilherme Schaden. (G1;
G2. Questionário respondido em 24 de julho de 2014).
Os gestores destacaram, ainda, que aguardam, há dois anos, a apreciação do poder públi-
co municipal quanto aos seguintes projetos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
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CAPÍTULO V
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO ARROIO CORNETA
COMO FERRAMENTA DE GESTÃO AMBIENTAL DA APA ROTA DO
SOL, SÃO FRANCISCO DE PAULA, RS
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan05
65
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
Categoria UC Objetivo
Pode-se notar que a maioria das Unidades de Conservação está localizada no eixo norte-
-nordeste do Estado, em área onde predomina o bioma Mata Atlântica, que apresenta formações
campestres denominadas Campos de Altitude do Planalto das Araucárias ou, ainda, Campos de
Cima da Serra, sua alcunha mais famosa (BOLDRINI, 2009).
Na região dos Campos de Cima da Serra, a paisagem é composta por mosaicos de florestas
e campos, formando uma beleza cênica incomparável, tendo por espécie emblemática o Pinheiro-
68
do-Paraná (Araucaria angustifolia) (BENCKE et al., 2006).
A flora serrana é caracterizada por diversos endemismos, sendo que muitas das espécies
estão ameaçadas de extinção. Quanto à fauna, de toda a área de Mata Atlântica no Brasil, há 250
espécies, das quais 55 são endêmicas da região (BENCKE et al., 2006).
De acordo com Silva (2002), a região citada caracteriza-se pela presença de banhados de
altitude, que abrigam inúmeras nascentes, as quais contribuem diretamente para a formação da
Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí.
Tais banhados são abrigados por turfeiras (associações de plantas formadas pelo acúmulo
e decomposição de vegetais em ambientes saturados por água), imprimindo ao cenário dos
Campos de Cima da Serra uma condição muito peculiar, conforme pode ser visto na Imagem 1:
Figura 2 - Banhado de Altitude Típico da Região dos Campos de Cima da Serra
Imagem 1 - Banhado de altitude típico da região dos Campos de Cima da Serra
Fonte:Fonte:
Caminhos do do
Caminhos SulSul
(2015).
(2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Devido ao fato de os rios serem típicos das terras altas, com águas rápidas e cristalinas, e
o substrato rochoso, associado às águas límpidas e à intensa radiação solar, proporcionar a proli-
feração de algas, a ictiofauna é ricamente biodiversa (BOND-BUCKUP, 2008).
Conforme a Divisão de Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul, 21 municípios
situados no litoral norte são banhados pela Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí (Mapa 2), que
tem suas principais nascentes localizadas no município de São Francisco de Paula (FEPAM, 2002).
Segundo Mello e Castro (2013), essa bacia hidrográfica é unidade territorial básica de
gestão de recursos hídricos e ambiental como um todo. Nesse sentido, devido à sua importância,
um Comitê de Gerenciamento da Bacia foi criado como instância pública para a definição quanto
ao uso da água, a fim de garantir que a sua quantidade seja apropriada para todos os municípios
envolvidos e, sobretudo, que sua qualidade seja sempre preservada.
Figura 3 - Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí
Mapa 2 - Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí
69
A área dessa APA distribui-se entre os municípios dos Campos de Cima da Serra e a
Encosta do Planalto da seguinte forma: São Francisco de Paula (49,99 %), Itati (20,77 %), Três
Forquilhas (15,54 %) e Cambará do Sul (13,7 %) (RIO GRANDE DO SUL, 1997b).
Agindo como um verdadeiro escudo da biodiversidade, a APA Rota do Sol, pertencente
ao grupo de UC de uso sustentável, tem como principal objetivo mitigar ações antrópicas e possí-
veis impactos ambientais, a fim de preservar as nascentes da ESEC Aratinga. A localização de tais
unidades de conservação pode ser observada no mapa 3 abaixo:
Atualmente, não existe uma rede de monitoramento das águas para o controle da
poluição e da contaminação hídrica nessas Unidades de Conservação (UCs), o que dificulta a
análise ambiental referente às condições desses ecossistemas aquáticos. Ressalta-se que a APA
tem como uma de suas funções propiciar uma zona de amortecimento à ESEC, ao mesmo tempo
que esta última deverá proteger os recursos hídricos de seu território. Assim, a escolha do tema
surgiu dessa problemática que envolve o monitoramento ambiental da APA, a qual serve de zona
de amortecimento da ESEC Aratinga.
Estudos realizados pelo Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CECLIMAR) e pela Ação Nascente Maquiné (ANAMA)
apresentaram dados sobre a qualidade das águas dessa sub-bacia a partir da análise de parâme-
tros físicos, químicos e microbiológicos (CASTRO; ROCHA, 2016).
As análises dos resultados indicaram que os altos índices de coliformes fecais encontra-
dos nas águas do arroio Corneta são preocupantes, pois comprometem localmente as condições
daquele sistema hídrico e a saúde da população, bem como regionalmente, uma vez que contri-
buem para a eutrofização da lagoa de Itapeva, a qual recebe as águas da rede hidrográfica do
arroio Três Forquilhas e é um importante ponto de captação para o abastecimento doméstico do
litoral.
A média encontrada nesse parâmetro foi alta, na faixa de 1.550 NMP/100 mL durante o
monitoramento entre abril de 2014 e outubro de 2015. Esses índices podem estar relacionados
às residências que se situam ao longo da rede de drenagem e que se abastecem das águas da
sub-bacia ao mesmo tempo que as contaminam com o esgotamento doméstico.
Além disso, suas águas servem de dessedentação para os animais, tanto para os de cria-
71 ção como para os silvestres, como também de balneário nos períodos mais quentes da região.
Para a gestão das águas nesses ambientes, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)
propôs, por meio da Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, que as águas que servem para
a preservação dos ambientes aquáticos em UCs de Proteção Integral devem ser classificadas
como Classe Especial, devendo ser mantidas, portanto, as condições naturais daquele manancial
(BRASIL, 2005).
Mesmo o enquadramento da bacia hidrográfica do rio Tramandaí prevendo que o arroio
Carvalho, que recebe as águas da sub-bacia do arroio Corneta e se encontra dentro da ESEC, seja
de Classe 1, as condições das águas devem estar numa situação de qualidade ambiental favorável.
O monitoramento das águas de uma bacia hidrográfica é um dos mais importantes
instrumentos da gestão ambiental. Ele consiste, basicamente, no acompanhamento sistemático
dos aspectos qualitativos das águas, visando à produção de informações. É destinado à comuni-
dade científica, ao público em geral e, principalmente, às diversas instâncias decisórias, como os
Conselhos de UC.
Portanto, esta pesquisa é relevante, pois poderá servir de subsídio para os gestores
dessas UCs e contribuir com um Plano de Monitoramento da Qualidade das Águas.
MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo é a sub-bacia hidrográfica do arroio Corneta. Seus cursos d’água nascem
no Banhado Amarelo e percorrem parte do território da APA Rota do Sol, a leste da rodovia Rota
do Sol (RS 486). Seu exutório localiza-se na ESEC Aratinga, que deságua no arroio Carvalho.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
A área contemplada pelo estudo situa-se nas localidades de Josafaz e Vila de Aratinga,
pertencentes ao município de São Francisco de Paula. A fim de realizar uma amostragem mais
homogênea e representativa da dimensão da poluição no arroio Corneta, realizou-se a coleta de
água no dia 22 de junho de 2015 (Imagens 2 e 3), obtendo-se uma amostra em cada ponto, em
um total de quatro pontos diferentes, conforme Quadro 2.
Ponto de
Localização
amostragem
Fonte:
Imagem 3 - Controle das Acervo
Condiçõespessoal dos autores
Ambientais (2015). e pH) e Coleta de
(Temperatura
Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).
Amostra na Vila de Aratinga
Imagem 3 - Controle das Condições Ambientais (Temperatura e pH) e Coleta de Amostra na Vila de Aratinga
0,36(𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙)
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 = 10𝑥𝑥 (6 − (0,42 − ))
𝑙𝑙𝑙𝑙2
RESULTADOS E DISCUSSÕES
73 Após ter sido feita a coleta das amostras de água, essas foram encaminhadas para a análi-
se em laboratório. Os parâmetros estipulados, bem como os resultados obtidos, encontram-se na
tabela 1 abaixo:
Temperatura (º C) 9 9 9 9
5
Classificação de Avaliação dos Pares.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Sobre o IQA
Com base nos resultados obtidos, referentes aos quatro pontos de coleta, realizou-se a
classificação do IQA conforme as faixas de qualidade da água apresentadas pelo CETESB (2013)
na Tabela 2.
Tabela
Tabela2 –2 Faixas de qualidade
– Faixas da água
de Qualidade conforme
da Água o IQA o IQA
Conforme
Fonte:CETESB,
Fonte: (2013).
CETESB (2013). [SdM1] Comentário: Verif
é a fonte?
Sobre o IET
A avaliação da qualidade das águas pelo IET é pertinente, pois o parâmetro utilizado
(fósforo total) é um indicador de contaminação por atividades agrícolas. Nessa sub-bacia existem
muitas áreas de silvicultura nos arredores e também a supressão dos limites da APA pelo aumen-
to das fronteiras agrícolas. Os resultados encontrados em laboratório para o parâmetro fósforo
apontaram a ausência desse elemento nas amostras dos pontos 1, 3 e 4. O ponto 2, por sua vez,
apresentou 0,154 mgP/L. Procedeu-se o cálculo do IET para o ponto 2 por intermédio do cálculo
destacado na parte de materiais e métodos deste trabalho. A classificação do nível de estado
trófico das amostras foi realizada com o auxílio da Tabela 3.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Tabela3 3– –Classificação
Tabela Classificação
do do Estado
Estado Trófico
Trófico Conforme
Conforme IET para
IET para Corpos
Corpos Hídricos
Hídricos
Categoria estado trófico Ponderação
Ultraoligotrófico IET ≤ 47
Hipereutrófico IET> 67
Sobre o PAR
75 De acordo com o trabalho realizado por Sutil (2014), para aplicar o PAR, deve-se atribuir
valores para cada um dos parâmetros. Do número 1 até 11, eles variam entre zero a quatro, de
acordo com o grau de impactação do local. Do parâmetro 12 ao 22, os resultados são expressos
em porcentagem, sendo que os trechos ditos naturais variam de zero a cinco pontos, tendo o
trecho impactado valor zero e o não impactado valor cinco.
Assim sendo, para os diferentes pontos de amostragem, observou-se que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se perceber, pela metodologia aplicada, que a área com maior índice de fósforo e
coliformes termotolerantes foi observada nos pontos 2 e 4, que se situam próximo às residências.
No momento da coleta, observaram-se dejetos de animais e lixo no leito do rio, além da
presença de espumas e sólidos em suspensão. Isso deflagra que as ações antrópicas são poten-
cialmente danosas ao meio ambiente e interferem de maneira direta na qualidade ambiental da
76 água. Além disso, a região vem sofrendo com a intensificação da agricultura, com as lavouras e
hortaliças diversas.
A aplicação do PAR mostrou-se um método muito didático, pois permitiu que até mesmo
as pessoas da comunidade lançassem um olhar crítico sobre a qualidade ambiental naquele lugar.
Observou-se que as áreas onde a mata ciliar está seriamente danificada, como os pontos próxi-
mo à serraria, foram consideradas as de maior impacto pelo PAR, visto que tais pontos foram os
que apresentaram os piores resultados físico-químicos e microbiológicos, o que permitiu avaliar
o método como sendo efetivo.
Assim, a partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se afirmar que a APA Rota do Sol
talvez não seja tão eficaz na sua função de amortecedora de impactos ambientais sobre a ESEC
Aratinga.
Finalmente, recomenda-se um monitoramento por um período maior de tempo, tendo
em vista que este trabalho foi realizado com apenas uma amostragem. Na continuidade deste
estudo, que se dará no segundo semestre de 2016, período com mais escassez hídrica, uma nova
amostragem será coletada, a fim de comparar os dados obtidos e dar continuidade ao Plano de
Monitoramento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACKES, A. Áreas Protegidas no Estado do Rio Grande do Sul: o esforço para conservação.
Pesquisas, São Leopoldo, n. 63, p. 225-355, 2012. (Série Botânica).
BENCKE, G. A. et al. Áreas importantes para conservação de aves no Brasil: Parte I – estados do
domínio da Mata Atlântica. São Paulo: Editora Save Brasil, 2006.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan06
79
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
As pressões causadas ao meio ambiente pela ação antrópica tornam cada vez mais urgen-
tes medidas preventivas de planejamento e gestão dos espaços naturais e produzidos, sendo um
exemplo a urbanização desordenada em áreas de preservação, a qual compromete o equilíbrio
dos ecossistemas, colocando em risco a biodiversidade e a manutenção da vida.
Diante dos problemas ambientais da urbanização, que geram impactos no solo, na
água, no ar e na vegetação, Dias (2011) argumenta que manter o meio ambiente ecologicamente
equilibrado é um dever que tem respaldo em leis, decretos e resoluções que apontam para a
sustentabilidade. Assim, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) criou resoluções que
são largamente utilizadas pelos órgãos ambientais, com o intuito de proteger os recursos natu-
rais, sendo que em 1990 já havia sido criada a Resolução CONAMA nº 13/1990 (BRASIL, 1990),
dispondo sobre as normas referentes às atividades desenvolvidas no entorno das Unidades de
Conservação (UC), determinando que o órgão responsável por cada uma delas (em conjunto com
os órgãos licenciadores e de meio ambiente) definirá as atividades que possam afetar a biota,
devendo ser obrigatoriamente licenciada a atividade com significativo potencial de degradação,
se existente num raio de 10 km circundante à UC (CONAMA, 2008).
Após a Lei Federal nº 9.985/2000 (BRASIL, 2000), que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), dividiu as Unidades de Conservação (UC) em
dois grupos com características específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso
Sustentável, que, por sua vez, são organizadas em “categorias de manejo”, as quais determinam o
uso que será permitido para cada unidade. As Unidades de Uso Sustentável admitem a presença
80 de moradores e têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso susten-
tável de parte de seus recursos naturais, sendo a Área de Proteção Ambiental (APA) uma das
categorias.
De acordo com a Lei Federal nº 9.985/2000 (BRASIL, 2000), as UC têm como objetivos:
contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos; proteger as espé-
cies ameaçadas de extinção; contribuir à preservação e à restauração da diversidade de ecos-
sistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável; proteger paisagens naturais e de
notável beleza cênica; recuperar ecossistemas degradados; proporcionar incentivos à atividade
de pesquisa científica, educação e monitoramento ambiental, bem como proteger os recursos
naturais necessários à sobrevivência humana (BRASIL, 2006).
O SNUC é gerido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), órgão central coordenado
pelo CONAMA, que acompanha a implementação do sistema, e pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que administra as UC. Em 2002, foi criado
o Decreto Federal nº 4.340/2002 (BRASIL, 2002), que regulamenta alguns artigos da Lei do SNUC,
tratando da criação da UC, dos limites em relação ao subsolo, do plano de manejo, do conselho a
ser criado, da autorização para exploração de bens e serviços, do reassentamento das populações
tradicionais, dentre outras questões.
Pela importância que a bacia hidrográfica do rio Maior tem para o abastecimento público
de água é que o município de Urussanga, por meio da Lei nº 1.665/1998 (PREFEITURA MUNICIPAL
DE URUSSANGA, 1998), criou a Área de Proteção Ambiental do rio Maior, com o objetivo de garan-
tir a conservação de expressivos remanescentes de floresta ribeirinha e dos recursos hídricos ali
existentes; melhorar a qualidade de vida da população residente por meio da orientação e disci-
plina das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico, a educação ambiental e a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
pesquisa científica; preservar o patrimônio cultural e arquitetural do meio rural, além de proteger
espécies ameaçadas de extinção (PREFEITURA MUNICIPAL DE URUSSANGA, 1998).
Assim, por meio dos atos do Poder Público, é que se criam as Unidades de Conservação,
onde, a priori, devem ser realizados estudos técnicos sobre o local a ser implantada a unidade e,
em seguida, fornecidas as informações à população local, para que possa participar efetivamente
das ações propostas, além de criar um Plano de Manejo para a área a ser protegida. Mesmo com
todas essas leis, ainda ocorre ilegalidade e/ou conflitos de entendimento no que se refere ao seu
cumprimento, seja pela falta de pessoal ou por negligência das autoridades fiscalizadoras.
Para Peres e Silva (2013), embora a dimensão ambiental tenha recebido destaque na
definição de políticas públicas brasileiras com a criação de diversos planos e instrumentos legais,
em se tratando de ordenamento territorial e planejamento regional, não houve a efetivação de
uma política articulada, ou seja, urbana e ambiental. Essa ocupação desenfreada e sem limites
leva a conflitos socioambientais (MELLO-THÉRY, 2011; NASCIMENTO; BURSZTYN, 2012; FONTES;
GUERRA, 2016) que ora refletem ações positivas, no sentido de unir os atores locais para possíveis
tomadas de decisão, ora desencadeiam atritos e desentendimentos. Assim sendo, as relações
entre homem e natureza devem ser consideradas sob uma perspectiva holística na qual todos os
fatores estão conectados e se interdependem.
São muitos os conflitos existentes pela ocupação urbana irregular em Unidades de
Conservação de Uso Sustentável. Para Fontes e Guerra (2016), compreendê-los é importante para
a formulação das políticas e diretrizes que envolvem a construção da gestão e do manejo das UC,
pois, em última análise, os conflitos refletem o processo histórico das lutas sociais e da transfor-
mação econômica na construção dos espaços geográficos.
Nesse contexto, Palavizini (2012) traz a importância da transdisciplinaridade como meio
81 de planejar e gerir o território e o espaço nele ocupado. As bacias hidrográficas têm se constituído
em importantes unidades de planejamento e gestão, pois a preservação dos recursos hídricos
foi uma das temáticas que evidenciou a necessidade de ações regionais conjuntas, uma vez que
ultrapassa fronteiras político-administrativas (PERES; SILVA, 2013).
Na busca para garantir que as normas estabelecidas pela legislação vigente sejam cumpri-
das, diversas técnicas de diagnóstico de monitoramento ambiental, desenvolvidas com o uso da
técnica de geoprocessamento, possuem fundamental importância no planejamento e gestão
territorial. As análises sobre o uso e a ocupação da terra se intensificaram por causa do auxílio
de técnicas espaciais, como as de geoprocessamento, que contribuem para o monitoramento
ambiental (RODRIGUES et al., 2014). A escolha dessa área para estudo foi em função de estar
inserida em uma Área de Proteção Ambiental e já se terem passado 17 anos, desde a sua criação,
e nada ter sido feito, na prática, para a implantação do plano de manejo.
Os recursos hídricos da bacia do rio Maior são importantes, uma vez que suas águas são
utilizadas para abastecimento público, abastecimento familiar rural – por meio de poços artesia-
nos –, dessedentação de animais e irrigação de horticultura. Assim sendo, o estudo teve como
objetivo analisar se o processo de ocupação urbana na bacia hidrográfica do rio Maior, localizada
no município de Urussanga, estado de Santa Catarina, está alinhado às normatizações previstas
nas leis que regem esse espaço geográfico específico em se tratando de uma APA.
MATERIAL E MÉTODOS
82
A bacia hidrográfica do rio Maior possui área de 25,6 km², 15,50 km de extensão e apre-
senta altitude máxima de 425 m e mínima de 35 m. O clima da região, segundo Köppen, é do tipo
Cfa, com média anual de precipitação entre 1300 a 1600 mm. Está inserida na unidade geomor-
fológica Depressão da Zona Carbonífera Catarinense, que se caracteriza por apresentar solos das
classes Cambissolo (Ca14) e Argissolo (PVa9) (EMBRAPA, 2004; ALVARES et al., 2014; BACK et al.,
2016).
Tem suas nascentes na porção nordeste da bacia e exutório na confluência com a bacia
hidrográfica do rio Carvão. As duas bacias são formadoras da bacia hidrográfica do rio Urussanga,
que deságua no Oceano Atlântico. A densidade da drenagem da microbacia do rio Maior é supe-
rior a 3,50 Km/km², índice que demonstra solos excepcionalmente drenados, o que pode ser
constatado pelo número de 350 tributários do rio principal, considerando a escala cartográfica de
1:5000. Drena a área do domínio da Cobertura Sedimentar Gonduânica da Bacia do Paraná e do
Pré-Cambriano − Suíte Intrusiva Pedras Grandes (BACK et al., 2016).
Foram usados como documentos cartográficos imagens ortorretificadas, composição
RGB, com resolução espacial de 0,39 metros, modelo digital de terreno na escala 1:10.000, arqui-
vo vetorial da rede hidrográfica ottocodificada e mapa temático de uso e cobertura do solo refe-
rente ao ano de 2011, disponibilizados pelo Laboratório de Planejamento e Gestão Territorial da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (LabPGT, 2016), que serviram de base para a mensura-
ção das áreas de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
As leituras realizadas sobre o tema auxiliaram na definição dos métodos de análise, além
do registro fotográfico, que foi útil para ilustrar e melhor analisar as classes de uso e cobertura da
terra e seus possíveis impactos. Nas visitas a campo, além das observações sobre a ocupação do
espaço geográfico, foram feitas medições no terreno com trena métrica, com o intuito de verificar
se estão sendo cumpridas as determinações previstas na legislação vigente em relação à faixa de
proteção de 50 m, definida para proteção das nascentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
84
Fonte: Fonte:
Elaborado pelos Autores
Autores, (2016).(2016).
Dias (2011) destaca que o espaço reservado às rodovias é essencial, porque tem utilidade
na instalação de equipamentos e infraestrutura favoráveis à qualidade de vida da população, tais
como redes de abastecimento de água, coleta de esgoto, drenagem, energia elétrica, iluminação
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
pública e telefonia. Em que pese as vias de acesso aos locais serem consideradas positivas, devem
passar por avaliações ambientais da mesma forma, uma vez que a bacia hidrográfica do rio Maior
está inserida em uma APA (NASCIMENTO; BURSZTYN, 2012).
Mesmo com todas as diretrizes e restrições previstas em lei, as pessoas não as respeitam,
porque sabem que o controle e a fiscalização das instituições públicas responsáveis não são sufi-
cientes para acompanhar cada alteração, cada transformação (MELLO-THÉRY, 2011). As políticas
públicas precisam ser articuladas, estarem coesas para fazer com que as populações se envolvam
e passem a defender a qualidade ambiental e não as antagonizem. A comunidade de Rio Maior,
organizada na associação de moradores, vem lutando pela preservação do meio ambiente, reali-
zando ações pontuais e buscando garantir uma melhor qualidade de vida, porém, como se pôde
constatar, sem grandes avanços.
Cabe lembrar que o progresso e o desenvolvimento econômico podem e devem estar
alinhados à preservação dos ecossistemas e à qualidade ambiental e que a formação de estru-
turas de governança e de mobilização da população local e do entorno é capaz de fortalecer os
processos mediadores e reguladores da gestão ambiental. Como exemplo, pode-se citar o conflito
socioambiental ocorrido na própria localidade de Rio Maior, cuja comunidade se mobilizou contra
as atividades de exploração de uma pedreira com mineração e britagem de basalto.
A atividade de mineração estava colocando em risco a conservação do único manancial
de água de boa qualidade e as construções centenárias tombadas pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que apresentavam rachaduras possivelmente causadas por
detonações. Nesse caso específico, embora as ações da Fundação Estadual do Meio Ambiente
(FATMA) não tenham sido as esperadas, “[...] houve um aumento das estruturas de governan-
ça local com atuação do MPF e Polícia Ambiental, bem como forte participação da comunida-
85
de na vigilância e denúncia de atividades danosas ao meio ambiente no bairro.” (NASCIMENTO;
BURSZTYN, 2012, p. 182).
Com a realização deste estudo, constatou-se que normas e determinações legais não
faltam para garantir a preservação dos ecossistemas e dos recursos hídricos da localidade. É notá-
vel, também, que a falta de fiscalização regular por parte dos órgãos competentes e de institucio-
nalização da gestão ambiental, aqui entendida como ações, atitudes e reconhecimento social das
estruturas que garantem a efetividade das ações, resulta em desrespeito, negligência e compro-
metimento dos ecossistemas e dos recursos naturais.
Considera-se de suma importância destacar que o principal caminho para que sejam
garantidos o equilíbrio e a sustentabilidade entre os meios econômico, social e ambiental é a
educação voltada à ecocidadania. A implementação de medidas eficientes e eficazes perpassa
por sensibilização, consciência, cuidado e pela compreensão de que todos os elementos do meio
estão interligados e, portanto, interdependem-se.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
86
ALVARES, C. A. et al. Köppen’sclimate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v.
22, n. 6, p. 711–728, 2014.
BACK, A. J. et al. Características morfométricas da bacia hidrográfica relacionadas à erosão hídrica.
In: POLETO, C. (Org.). Hidrossedimentologia. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2016, v. 1, p.
10-30.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002. Regulamenta
artigos da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação da Natureza - SNUC e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF,
23 de agosto de 2002, Seção 1, p. 9.
______. Ministério do Meio Ambiente. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art.
225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 19 de
julho de 2000, Seção 1, p. 1.
______. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 13, de 6 de dezembro de 1990.
Dispõe sobre normas referentes às atividades desenvolvidas no entorno das Unidades de
Conservação. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 28 de dezembro de 1990, Seção 1, p. 25541.
______. Ministério do Meio Ambiente. Sistema nacional de unidades de conservação. Brasília:
MMA/SBF, 2006. 6. ed. 57 p. Disponível em: <http://www.ecosocialnet.com/legislacao/SNUC.
pdf>. Acesso em: 09 ago. 2016.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resoluções do CONAMA: resoluções
vigentes publicadas entre julho de 1984 e novembro de 2008. 2. ed. Brasília, DF: CONAMA, 2008.
928p.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan07
88
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
Em Santa Catarina, o mineral foi descoberto no início do século XIX por tropeiros que
faziam o trajeto entre Lages e Laguna. Após sua descoberta, o então governo imperial enviou
expedições para verificar a qualidade do mineral, iniciando sua exploração de forma rudimentar
e sedimentar – logo após a avaliação favorável –, com a extração das primeiras lavras ocorrendo
próximo à região de Minas, atual município de Lauro Müller (GOULARTI FILHO, 2004).
Em decorrência da Primeira Guerra Mundial, o carvão ganhou relevância, havendo gran-
de impulso para a sua exploração devido às restrições de abastecimento do carvão estrangeiro.
A considerável procura pelo mineral despertou o interesse para determinar a sua qualidade e a
viabilidade do seu aproveitamento, sendo retomada a sua exploração na região para atender à
crescente demanda. Esse novo ciclo de exploração predominou na região dos rios Urussanga e
Araranguá, tendo as cidades de Urussanga e, principalmente, de Criciúma como novos grandes
centros de atividade carbonífera (GOULARTI FILHO, 2004).
A exploração de carvão na cidade de Criciúma, segundo Goularti Filho (2004), iniciou
no fim da década de 1910 e início da década de 1920. As primeiras minas abertas foram as da
Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá, na localidade de Santo Antônio, em 1916, e da
Companhia Próspera, por volta de 1920. Nas proximidades das minas, foram se formando as
vilas operárias. A mineração de carvão, em Criciúma, concentrou-se, inicialmente, em torno do
morro Cechinel, onde se encontravam as duas maiores minas (nas encostas do morro). Em segui-
da, surgiu uma série de minas de menor porte, como a Mina Brasil, a Mina do Bainha, entre
outras. As minas eram abertas em encostas de morros onde era possível alcançar o veio de carvão
(GOULARTI FILHO, 2004).
Para a cidade de Criciúma, no decorrer dos anos, foi se tornando cada vez mais priori-
tária a extração de carvão. Das 11 companhias de mineração da região, seis tinham sua sede no
91
município – de 25 minas, 11 situavam-se ali. O total de operários era de 7.734 homens, sendo que
Criciúma empregava 4.865 trabalhadores, correspondendo a 60%. A cidade gerava dois terços da
produção total de carvão da área explorada (VOLPATO, 1984)
Por causa do aumento do número de minas, especialmente entre os anos de 1940 e
1970, ocorreu um grande crescimento populacional no município. Sua população, na década de
1940, girava em torno de 27.000 pessoas, que quase dobrou, chegando a mais de 50 mil em 1950.
Nos anos de 1970, entre 1973 e 1979, houve outro crescimento da atividade carbonífera com o
advento da crise do petróleo, o qual proporcionou um aumento na procura do carvão energético,
que durou até a década de 80 (GOULARTI FILHO, 2004).
Com o grande avanço da extração de carvão, as carboníferas foram ampliando as vilas
operárias, mas a metade das casas dos trabalhadores apresentava condições precárias. Foram
construídas em locais inadequados, isso é, alagadiços, em barrancos, sem segurança, sem esgoto
e com péssimo serviço de água (VOLPATO, 1984).
Não era apenas em relação à moradia que os trabalhadores sofriam descaso. Volpato
(1984) destaca, também, que o ambiente de trabalho no subsolo era extremamente insalubre,
agredindo o operário, deixando-o tenso. Múltiplos perigos eram propiciados pela atividade carbo-
nífera, por isso havia um elevado índice de acidentes de trabalho – o maior entre todos os ramos
da indústria no estado catarinense. As condições de risco proporcionavam ao trabalhador um
clima de ansiedade e apreensão, marcando-o psicologicamente, além de gerarem problemas de
saúde, como os gastrointestinais e respiratórios, que eram mais frequentes, e a pneumoconiose,
uma das doenças mais comuns, cuja patologia assumiu elevados índices de prevalência (só na
região carbonífera foram analisados mais de 3 mil casos da doença em trabalhadores de carvão)
(MONTEIRO, 2004).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
No período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, houve a retomada da defe-
sa da produção de carvão mineral, mas após o seu término testemunhou-se uma crise no setor
carbonífero, iniciada devido ao fato de o governo federal ter suspendido a aquisição de toda a
produção nacional e optado pelo carvão importado (GOULARTI FILHO, 2004).
A atividade de extração de carvão foi realizada de maneira predatória por muitos anos,
ocasionando grandes problemas ambientais, os quais afetam até hoje a bacia carbonífera catari-
nense. Mesmo com os esforços das mineradoras para aperfeiçoar métodos, realizar o beneficia-
mento mineral de tratamento e a deposição de resíduos da mineração, com o objetivo de redu-
zir os impactos ambientais negativos, os problemas ambientais permanecem até hoje (MILIOLI;
SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009).
Concomitantemente, o avanço da mecanização nos processos de extração do mineral e a
difusão de novos equipamentos tecnológicos para o setor não apenas provocaram o aumento da
produção, como também da ocorrência de acidentes e dos índices de poluição, acarretando novos
problemas de saúde e o aumento da destruição ambiental (CAROLA, 2010).
IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DA ATIVIDADE MINERÁRIA
Durante mais de 50 anos, a região carbonífera sofreu danos ambientais com o depósi-
to de rejeitos de carvão nas margens dos rios, os quais poluíram suas águas e deixaram o solo
improdutivo. Em Criciúma, na época denominada Capital do Carvão, muitos rios foram poluídos
e muitas áreas foram usadas para depósitos de rejeitos da indústria carbonífera. Com o fim da
atividade, essas áreas foram utilizadas como espaço de moradia pela população de baixa renda
92 (CAROLA, 2010; CAROLA; DASSI, 2014).
As áreas de mineração e depósitos de rejeitos, segundo Lawrey (1976 apud DAMIANI,
2010), apresentam alterações físicas, podendo modificar as condições do habitat do ambiente
físico e químico devido à exposição de material tóxico. Elas ocasionam impactos nos ecossistemas,
afetando diretamente as diversas espécies e provocando mudanças biológicas. Eliminam espé-
cies, limitam o estabelecimento de novas e a recuperação das antigas, interferindo na composição
da cadeia alimentar e nas relações de interdependência.
Quando se iniciou o processo de mecanização da extração de carvão, o método de lavra
conhecido como Câmara e Pilares foi o mais utilizado. Ele consiste na abertura de galerias com
pilares para sustentar a mina, os quais são retirados no recuo para o maior aproveitamento da
lavra. Essa estratégia gerava como consequência fraturas nos terrenos e, em função das condi-
ções hidrogeológicas, a drenagem das águas superficiais para o interior, secando poços e açudes
nas imediações da atividade e gerando a contaminação das águas que retornavam à superfície,
as quais ficavam poluídas por causa do processo de oxidação da pirita e da geração de DAM.
Também acontecia a subsidência dos terrenos, que danificava as casas e impossibilitava a ativida-
de agrícola, pois o terreno perdia a sua capacidade de retenção de umidade (MILIOLI; SANTOS;
CITADINI-ZANETTE, 2009).
A DAM é um dos problemas ambientais mais preocupantes. Conforme explicam Borma
e Soares (2002), é uma solução ácida decorrente de minerais sulfetados presentes em resíduos,
que podem ser rejeitos ou estéreis, os quais oxidam na presença de água. Gaivizzo (2002 apud
PEREIRA, 2008) define que a drenagem ácida ocorre em áreas mineradas a céu aberto, onde exis-
te a presença de compostos sulfurados, principalmente na forma de pirita e de outros sulfetos,
cuja exposição às condições do ambiente é responsável pela formação de ácido sulfúrico.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 2 - Lagoa de Decantação, Drenagem Ácida
Imagem 2 - Lagoa dedeDecantação, Drenagem
Mina e Rejeito PiritosoÁcida de Mina e Rejeito Piritoso
Imagem 4 -3Lago
Figura de de
- Lago Água Ácida
Água emem
Ácida Siderópolis (SC)SC.
Siderópolis,
94
Dados da Fatma (1991 apud MILIOLI; SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009) indicam que
Criciúma, Tubarão e Imbituba apresentam problemas na qualidade do ar, devido a materiais libera-
dos pela combinação das atividades da indústria carbonífera, das coquerias, entre outras. De toda
a região, esses municípios representam os piores índices de qualidade atmosférica. Nesse sentido,
Carola (2010) adverte que a região carbonífera é considerada, pelo Decreto Federal n° 85.206/80,
uma das 14 regiões mais poluídas do Brasil, devido à atividade de exploração do carvão.
Somente a partir do ano 2000, em decorrência de uma sentença judicial (processo de
execução n° 2000.72.04.002543-9) (SANTA CATARINA, 2013), foi que as mineradoras tiveram que
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i. Dois terços dos rios e córregos da região apresentam pH bastante ácido, grande aporte
de sedimentos, além de altas concentrações de metais pesados e sulfatos;
ii. Em efluentes das carboníferas, verificou-se elevada acidez e baixos valores de pH do meio
(2,5 < pH < 3,5), sendo que em alguns rios e córregos foram encontrados valores inferio-
res a pH = 2,5;
iii. Em efluentes de DAM, detectou-se a presença de metais pesados em concentrações
acima dos limites recomendados pelo órgão ambiental estadual FATMA (Fundação do
Meio Ambiente), tais como: ferro (205 mg/L), manganês (22 mg/L) e zinco (7,6 mg/L),
95 entre outros de menor abundância;
iv. Em efluentes de subsolo e drenagem de infiltração de bacias de decantação, encontra-
ram-se valores de acidez total na faixa de 1700 a 2810 mg/L de CaCO3 e concentrações de
sulfato entre 3600-4500 mg/L.
i. Nas bacias hidrográficas dos rios Araranguá, Tubarão e Urussanga, encontram-se deposi-
tados milhões de metros cúbicos de rejeitos e estéreis oriundos da indústria carbonífera.
Tais depósitos constituem uma fonte permanente de geração de drenagem ácida;
ii. Águas drenadas de minas em atividade, bem como a captação de águas de lagoas
ácidas resultantes de minas a céu aberto paralisadas, de córregos e de rios da região,
em grande parte, alimentam os circuitos de beneficiamento de carvão e correspondem
aos percentuais de umidade contida nos rejeitos dispostos nos depósitos de sólidos nas
minas em atividade, gerando uma vazão de efluentes ácidos. Mesmo após o tratamento,
essas águas não retornam mais à sua condição de potabilidade. Além disso, podem, sob
determinadas situações operacionais ou acidentais, tais como ocorrido recentemente,
contaminar direta ou indiretamente os recursos hídricos da região;
iii. Essas fontes de poluição são objeto, atualmente, de projetos de recuperação ambiental
– PRADS em função de uma Ação Civil Pública, que visa à sua identificação e ao posterior
equacionamento do problema ambiental causado. No entanto, apesar dos esforços por
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
parte dos envolvidos nessa ação, um grande passivo ambiental ainda persiste na região
(SANTA CATARINA, 2013; MENEZES et al., 2004).
A área onde hoje está situado o bairro Vila Manaus passou a receber a deposição de
rejeitos da mineração de carvão na década de 1960. A primeira intenção do poder público era
a criação de um distrito industrial. Com isso houve a instalação de duas indústrias metalúrgicas,
tendo em vista as péssimas condições para o estabelecimento de uma área residencial. Apesar de
a região apresentar mínimas condições, o território foi sendo devidamente ocupado por famílias
de baixa renda, que fixaram suas residências no local (TEIXEIRA, 2011).
Entre os anos de 1970 e 1980, ocorreram diversos conflitos e uma mobilização comu-
nitária para a formação oficial do bairro. Nos anos seguintes, a comunidade organizou-se para
lutar por melhorias nas condições de moradia, dando origem à sua associação de moradores,
acumulando grandes conquistas, como a instalação de redes de água e energia, aquisição de um
centro comunitário e de um posto de saúde, ocorrendo a regulamentação fundiária e a obtenção
do direito à assistência técnica. Outro resultado da mobilização da comunidade foi a construção
de um canal sobre o córrego que corta
Figura o5 bairro, iniciado
- Localização nos primeiros
do Bairro anos de 1990, para resolver
Vila Manaus
o problema de mau cheiro decorrente do esgotamento doméstico (TEIXEIRA, 2011).
96
97
Fonte: Guadagnin,
O Projeto foi aceito pela comunidade (2001).
e cresceu com grande rapidez em número de famí-
lias, mas, devido à falta de infraestrutura e a outros aspectos que geraram desgaste no processo,
não conseguiu o necessário fortalecimento para ter continuidade. Em 2004, sem perspectiva de
crescimento, parou de desenvolver suas atividades (TEIXEIRA, 2011). Cessava, então, uma mobi-
lização que poderia contribuir para a sensibilização dos moradores do local a respeito das condi-
ções socioambientais, que precisariam ser compreendidas para serem superadas no futuro que
ainda não chegou.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
ASPECTOS METODOLÓGICOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
por falta de uma melhor opção, por causa das limitações econômicas. Sobre esse aspecto, os
números também mostraram que 76% recebiam até um salário mínimo, o que reforça a condição
financeira como preponderante para a escolha do bairro.
Quanto aos indicadores socioambientais, as informações levantadas trouxeram preocu-
pação aos pesquisadores, devido à identificação do pouco entendimento do público-alvo em rela-
ção à degradação (presença de rejeitos de carvão no solo e nos cursos d’água na área em estudo).
Por exemplo, 60% dos informantes disseram desconhecer os possíveis danos da poluição à saúde
e à qualidade de vida. Sobre a qualidade do solo, mais da metade dos abordados (53%) conside-
rou o solo fértil e um percentual ainda maior (77%) disse não ver implicação negativa da pirita nos
recursos hídricos, não associando problemas da pirita com o solo (65% dos pesquisados).
A naturalização da degradação socioambiental como preço do progresso (GONÇALVES,
2007), na avaliação dos pesquisadores, pode estar relacionada ao nível de entendimento sobre as
condições do bairro. Em que pese, naquele mesmo local, durante alguns anos, ter havido mobili-
zação social em defesa da melhoria do bairro, a qual envolveu 37 de suas ruas.
O desconhecimento sobre os riscos reais coloca os indivíduos sob risco contínuo, confor-
me o uso que fazem do solo. No caso específico do cultivo de hortaliças em seus terrenos, os
moradores podem estar ingerindo alimentos contaminados com doses elevadas de metais pesa-
dos, presentes no rejeito de carvão (MARTINS, 2014).
Figura 7 - Moradia Construída Sobre Rejeito De Carvão, Em 2011 (Esq.) 2016
Imagens 05 e 06 - Moradia construída sobre rejeito de carvão, em 2011 (esq.) e em 2016
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan08
103
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
A busca contínua da evolução, na trajetória humana, tem adquirido uma nova dimensão
nas últimas décadas: a necessidade do desenvolvimento sustentável. Questiona-se a noção de
desenvolvimento restrita à acumulação de recursos materiais, a partir da constatação de que, na
medida em que afeta a natureza, o homem também é afetado por ela. Presencia-se, a partir daí,
uma mudança de paradigmas, que leva à necessidade de estabelecer critérios que limitem a ação
humana em suas interações com os ambientes naturais.
Partindo dessa premissa, pretende-se, no presente capítulo, encadear as transformações
da legislação ambiental no que concerne ao licenciamento para os dados de processos de licen-
ciamento propriamente ditos. Para tanto, apresentam-se, inicialmente, conceitos relacionados
ao desenvolvimento sustentável e à multiplicidade de significações a ele atribuídas, perpassan-
do pela evolução acerca de seu entendimento nas últimas décadas. Referenciam-se autores que
discorrem sobre a necessidade de limites e regulações, a qual vem resultando na adequação das
instituições e no estabelecimento de leis, normas e práticas nos diversos regimes dos países, em
nível mundial, como forma de promover os princípios do desenvolvimento sustentável.
Apresentam-se, a seguir, as principais características e os conceitos relacionados ao licen-
ciamento. Expõem-se as leis ambientais basilares a que está sujeito o processo de Licenciamento
Ambiental e, a partir dessas informações, analisa-se a evolução do licenciamento ambiental no
estado do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, por meio da análise dos dados disponibilizados pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – FEPAM, busca-se uma corres-
pondência entre as mudanças na legislação ambiental e a quantidade de licenciamentos ambien-
104 tais concedidos no Estado, bem como os tipos de licenciamento e em qual fase eles se situam.
Outra questão a se relacionar são os desastres ambientais, a divulgação nos veículos midiáticos e
como eles podem influenciar em uma tomada de decisão para mudanças na legislação do estado
do Rio Grande do Sul.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL
•• Licença Prévia (LP) - Deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração
ou ampliação do empreendimento. Aprova a viabilidade ambiental do empreendimento, não
autorizando o início das obras.
•• Licença Instalação (LI) - Licença que aprova os projetos. Autoriza o início da obra/empreendi-
mento, concedida depois de atendidas às condições da Licença Prévia.
•• Licença de Operação (LO) - Licença que autoriza o início do funcionamento do empreendimen-
106
to/obra. É concedida após atendidas às condições da Licença de Instalação.
Deve-se observar que a solicitação de qualquer uma das licenças deve estar de acor-
do com a fase em que se encontra a atividade/empreendimento: concepção, obra, operação ou
ampliação, mesmo que não tenha obtido anteriormente a licença prevista em lei. Atividades que
estiverem em fase de ampliação e não possuírem Licença de Operação, por exemplo, deverão
solicitar, ao mesmo tempo, a LO da parte existente e a LP para a nova situação. No caso de já
possuírem a LO, deverão solicitar a LP para a situação pretendida.
Além das licenças, o órgão ambiental pode emitir outros documentos, como a autori-
zação temporária de atividade, declarações ou certificados específicos. Um exemplo importante
desse tipo de documento é o Certificado de Cadastro de Laboratório, por meio do qual os labora-
tórios de análises ambientais são habilitados a emitir laudos de efluentes líquidos com vistas ao
Licenciamento Ambiental no estado do Rio Grande do Sul.
Quanto aos setores afetados, um amplo rol de atividades ou empreendimentos estão
sujeitos ao licenciamento ambiental, tais como: de extração e tratamento de minerais; indús-
tria de produtos minerais não metálicos; indústria metalúrgica, mecânica, de material elétrico,
eletrônico e de comunicações; indústria de material de transporte, de madeira, de borracha, de
couros e de peles; indústria química, de produtos de matéria plástica; indústria têxtil, de vestuá-
rio, de calçados e de artefatos de tecidos; indústria de produtos alimentares, de bebidas e de
fumo; indústrias diversas (usinas de produção de concreto, asfalto, serviços de galvanoplastia);
obras civis; serviços de utilidade (produção de energia termoelétrica, estações de tratamento de
água, tratamento e destinação de resíduos industriais, recuperação de áreas contaminadas ou
degradadas); transporte, terminais e depósitos; turismo; atividades diversas (parcelamento do
solo, projeto agrícola, projetos de assentamentos e de colonização) e de uso de recursos naturais.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Conforme estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 1988).
Consta também a obrigatoriedade de que todo aquele que explorar recursos minerais
deverá recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
Ainda, quanto à legislação em âmbito nacional, a Lei no 6.938/81, referida anteriormen-
te, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação. Essa Política objetiva a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.
Nesse sentido, o licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido
pela Lei Federal no 6.938/81. A partir daí, em 1997, a Resolução no 237 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) definiu as competências da União, dos Estados e dos Municípios
e determinou que o licenciamento deverá ser sempre feito em um único nível de competência.
Na próxima seção, faz-se referência a outras legislações específicas e/ou regionais, que foram se
somando nessa evolução.
Enfim, como se verifica pelo exposto, partindo de uma realidade em que se percebia
a natureza como um recurso inesgotável ou até como um entrave a ser superado, ocorre uma
107
mudança de paradigma, em que a biodiversidade deve ser preservada de acordo com recursos
legais presentes na Constituição, num patamar e rigidez desproporcional à compreensão da socie-
dade. Deve-se destacar, ainda, que as dificuldades para a evolução na aplicação da legislação
ambiental vão além das questões de opinião ou de oposição. Um sério problema da legislação,
unanimemente constatado pelos órgãos institucionais ligados ao tema, como a FEPAM, é de
ordem simplesmente e principalmente operacional.
Essa deficiência estrutural e operacional, além de ser grave por dificultar a fluidez dos
trabalhos ou mesmo ocasionar a sua precarização, tornou-se discurso principal dos opositores das
causas ambientais, formulando uma situação de retrocesso da legislação de proteção ambiental,
o que sabidamente trará consequências negativas em níveis inimagináveis. Assim sendo, ficou
para sociedade, nas suas organizações, a tutela de protetora ambiental, buscando conhecimento
e formando frentes de defesa diante das tendências de flexibilização das leis e de processos já
consolidados, tendo em vista a atual conjuntura econômico-social do Brasil e, mesmo, da América-
Latina. Especialmente neste momento, essa temática é de fundamental importância, dada a
evolução de uma série de projetos de lei que representam um retrocesso na consolidação da
Política Nacional do Meio Ambiente. Nesse sentido, a procuradora de justiça, Sílvia Cappelli, que
coordenou a área de Meio Ambiente do Ministério Público e presidiu a Associação Brasileira dos
Membros do Ministério Público de Meio Ambiente, afirmou, em entrevista concedida ao Jornal da
Universidade (da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o seguinte:
entre elas e sem lógica – bem demonstra o quão pulverizado está o assunto e como não
existe uma liderança. (JORNAL DA UNIVERSIDADE, 2016, p. 16-17).
Ela também ressaltou, por exemplo, o risco do Projeto de Decreto Legislativo no 170/2015,
que susta a aplicação da Resolução no 01/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
única norma brasileira que trata especificamente do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), discipli-
nando o conteúdo das etapas, as responsabilidades e as audiências públicas. Segundo a procura-
dora, na mesma entrevista: “Esse projeto é inconstitucional porque, ao retirar essa resolução do
cenário normativo nacional, não fica nada, apenas a Constituição”.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Alberto
Bocuhy, vários desses dispositivos abrem espaço para o licenciamento simplificado, deixando
brechas para que se arbitre a condução do licenciamento sem critérios transparentes, particular-
mente sobre o Projeto de Lei no 3.729/2004, que tramita em regime de prioridade. Nesse sentido,
ele referiu-se que a tendência será a aprovação de licenças em regime cartorial, com o princípio
da celeridade se voltando contra a suficiência e a eficácia do licenciamento, que é um importante
instrumento de gestão ambiental (BOCUHY, 2016).
Merece destaque, ainda, a Emenda Constitucional no 65/2012, a qual estabelece que, a
partir apenas da apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), nenhuma obra poderá
mais ser suspensa ou cancelada. Desse modo, o que se verifica é que a série de ordenamen-
tos jurídicos em tramitação, além de não resolver a carência de recursos humanos e materiais
que atingem o órgão licenciador, ainda, via de regra, tende a tornar o processo de licenciamento
somente uma formalidade a ser superada.
108
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No presente estudo, foram utilizados dados dos anos 2000, 2005, 2010 e 2015. Para cada
ano, os parâmetros analisados foram a licença prévia (LP), a licença de instalação (LI), a licença de
operação (LO) e a declaração de isenção de licenciamento (DI). Em cada um desses parâmetros, há
empreendimentos de porte mínimo, pequeno, médio, grande e excepcional. A página eletrônica
da FEPAM (s.d.) divide cada documento por atividade registrada, a qual terá um determinado
porte, dentro de cada um dos parâmetros (Figura 1).
Figura 1 - Organograma Exemplificando as Etapas do Licenciamento Ambiental
Figura 1 - Organograma exemplificando as etapas do licenciamento ambiental
Fonte: (Modificado
Elaborada pelos Autores (2016).
De: Autores). [SdM1] Comentário: F
categorias são subdivididas em ramos, por exemplo: a categoria agrossilvipastoril vai abarcar
desde a irrigação e a construção de barragens até a criação de aves, suínos, alevinos e piscicultura.
Cada um desses ramos terá um potencial poluidor, como, por exemplo, o potencial da irrigação
superficial, que é alto, e o potencial da drenagem agrícola, que é médio. O potencial poluidor de
cada um dos portes implicará em um valor diferente a ser pago em cada um dos tipos de licença
ambiental. Quanto aos portes dos empreendimentos, eles se enquadram em mínimo, pequeno,
médio, grande e excepcional. Em determinado tipo de ramo, o porte será medido de uma manei-
ra. Por exemplo: para a barragem, a unidade é a área alagada por hectares; para a irrigação, é
medida em hectares; para redes domésticas de esgoto, a unidade é medida em comprimento
por quilômetro; para aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, a medida é em quantidade de
resíduos em toneladas por dia; para a produção de substâncias químicas, a unidade é a área útil
em metros quadrados, ou seja, para cada ramo, a unidade será adequada à atividade. Para os
empreendimentos excepcionais, a resolução CONAMA no 369, de 28 de março de 2006, dispõe
sobre esses empreendimentos quando o órgão ambiental pode autorizar a supressão de vegeta-
ção em Área de Preservação Permanente (APP) para a implantação de obras e/ou ações de baixo
impacto ambiental, assim como o manejo de fauna e flora.
Observando os dados disponibilizados pela FEPAM (s.d.), podemos ver, em primeira
análise, que as quantidades de licenças de operação sempre são muito superiores às outras licen-
ças (Figura 2). Isso demonstra que muitos empreendimentos se preocuparam em realizar apenas
o estudo para a LO, visto que primeiro se fixaram economicamente e só depois se legalizaram de
acordo com os critérios da legislação ambiental. Tendo em vista que a legislação sobre os tipos de
licenciamento é de 1981, houve um atraso na tomada dessas iniciativas. Esse hiato existente entre
a criação da lei e a sua ampla implantação pode ter se dado por um conjunto de fatores, como
109 a falta de profissionais habilitados, a falta de uma instituição vinculada a esse tipo de estudo,
ou pelo fato de a legislação ser muito ampla, não especificando tipos de projetos e licenças, ou,
ainda, pelo vácuo existente entre as legislações federais, estaduais e municipais.
Figura 2: Quantidade Total das Principais Licenças Concedidas Pela Fepam Entre os
Anos
Figura 2 - Quantidade total das principais de 2000
licenças a 2015 pela FEPAM entre os anos 2000 a 2015
concedidas
Fonte: Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – FEPAM/RS (2016).
Fonte: Modificado de: Sítio Eletrônico da FEPAM, (2016). [SdM1] Comentário: Verific
correta a fonte
Com o passar dos anos, essas três esferas tomaram uma consciência maior sobre a impor-
tância da preservação ambiental. Além disso, com inúmeros desastres ocorrendo, houve a neces-
sidade de se criarem leis mais restritivas para os usos dos recursos naturais. Alguns estados da
federação incluíram a temática ambiental em sua constituição antes de outros, como Amazonas,
São Paulo, Mato Grosso (VIANA, 2005). Cabe ressaltar que, apesar da Lei Federal no 6.938/81
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
caracterizar os tipos de licenças (LP, LI e LO) e a Legislação de 1988 exigir um estudo prévio de
impacto ambiental, apenas em 1997 a Resolução no 237/97 do CONAMA define as competências
do licenciador. Incluindo isso ao fato de a FEPAM ser implantada somente no ano de 1991, enten-
de-se porque muitos empreendimentos não possuíam as LP e LI, tendo, assim, que obter a LO
somente após o estabelecimento já estar em funcionamento.
Outro agravante para essa situação é o fato de que, inicialmente, todo licenciamento
ficaria a cargo do Estado, deixando, assim, a FEPAM sobrecarregada. Somente no ano 2000 é que
atividades de impacto local puderam obter um licenciamento municipalizado, tornando o proces-
so mais ágil e mais minucioso. Entende-se que os servidores do município têm plena capacidade
de analisar o impacto de um projeto de âmbito local, pois eles conhecem em detalhes a região e
sua geologia, seus ecossistemas e as interações sociais. Tal descentralização possibilita que sejam
de competência do Estado somente projetos de cunho intermunicipal, ou com impactos de médio
e grande porte, ou, ainda, de caráter excepcional.
Essa melhor distribuição do trabalho realizado fez com que o número de licenciamentos
aumentasse consideravelmente a partir de 2001, assim como o número de licenciamentos muni-
cipalizados. A quantidade desses licenciamentos, em 2000, era 36; em 2005, subiu para 226 – um
reflexo direto da mudança. Outra questão que muda também é a quantidade de licenciamentos
indeferidos: em 2000, foram apenas 10 projetos; em 2005, 162. Esse pode ser um reflexo da Lei
Estadual no 11.520/2000, que instituiu o Código de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, cujo
artigo 56 elenca os tipos de licenças (LP, LI e LO) (Figura 3).
No ano de 2010, houve a inclusão do item de licença única, com 67 documentos, todos
para empreendimentos de pequeno porte. As licenças municipalizadas continuaram com altos
números (261). Nesse ano, o que chama a atenção é o alto índice de licenças e declarações inde-
feridas, um total de 605 cadastros (destes, 18 eram de certificados de cadastros de agrotóxicos
e 414 de licenças de operação). Esse alto índice tem íntima correlação com um dos principais
casos de desastre ambiental ocorridos no Estado, quando cinquenta toneladas de peixes mortos
foram encontradas em Rio dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre. Na ocasião, três
empresas (dois curtumes e uma de alimentos) de Estância Velha e Portão foram autuadas por
contribuírem para o desastre lançando resíduos tóxicos no Arroio Portão, cuja desembocadura é
no rio dos Sinos (EXPRESSO NOTÍCIA JUSBRASIL, 2006, n.p.).
No ano de 2015, o percentual de licença ambiental única (LAU) ficou alto, 249, compara-
do ao de 2010. Essa licença ambiental única é necessária para o empreendedor rural que queira
explorar sua área, visto que, a partir da Lei nº 12.651/12, que trata do novo Código Florestal, é
necessário que o agricultor possua o cadastro ambiental rural (CAR), de preservação da Reserva
Legal e das Áreas de Preservação Permanente, para que possa obter a LAU (MELO, 2014).
Esse alto índice de licença única é muito positivo, pois nos mostra que, nos últimos anos,
o empreendedor rural vem tendo a noção da importância da preservação dos ecossistemas e de
como eles interagem com a sua propriedade. Ainda no ano de 2015, observamos também 39
processos de manejo de fauna silvestre, a maioria em caráter excepcional, um indeferido. A quan-
tidade de processos indeferidos, na verdade, foi grande, 357. Esse valor foi um reflexo da lei, cada
vez mais preventiva e punitiva quanto ao controle dos licenciamentos, e, também, do trabalho
da Polícia Federal, que deflagrou operações entre 2012 e 2014, denunciando e desarticulando
esquemas de fraudes em licenciamentos ambientais. O trabalho da polícia foi outro fator de suma
111 importância, pois desmantelou quadrilhas e inibiu futuras ações fraudulentas.
Conforme o exposto, em todos os anos analisados, a quantidade de LO se apresentou
muito superior, enquanto a quantidade de DI sempre se apresentou menor e os valores de LP e
LI se apresentaram muito similares. De 2010 a 2015, encontramos uma tendência à diminuição
das LP, LI e DI e uma tendência para o aumento da LO. No que tange às LP’s, em 2000, a maioria
possuía porte mínimo e pequeno; em 2005, porte pequeno; em 2010 e 2015, os valores entre os
portes mínimos, pequenos e médios se apresentaram muito similares (Figura 3). Quanto às LI’s,
no ano 2000, os valores para os empreendimentos de porte mínimo e pequeno ficaram muito
parecidos; em 2005, os valores para porte mínimo, pequeno e médio ficaram similares; em 2010
e 2015, a maioria dos empreendimentos possuía portes médios, mas, no geral, os valores ficaram
parecidos, com um grande número em caráter excepcional.
As LO’s, no ano 2000, eram, a maioria, de porte mínimo, pequeno e médio; em 2005,
2010 e 2015, a maioria tinha porte pequeno e médio. De 2000 para 2005, as licenças de operação
para empreendimentos de porte mínimo aumentaram seis vezes; as de pequeno e médio porte
aumentaram em torno de 11 vezes; as de porte grande aumentaram oito vezes e, em caráter
excepcional, aumentaram 10 vezes. Quanto às declarações de isenção de licenciamento, em todos
os anos, a maioria delas eram de porte pequeno, com exceção de 2000, cuja maioria era de porte
mínimo. No endereço eletrônico da FEPAM não há uma distinção entre as licenças destinadas a
empreendimentos novos ou à ampliação de empreendimentos já em funcionamento, o que difi-
culta as comparações aprofundadas.
Os empreendimentos passíveis de declaração de isenção de licenciamento são, dentre
eles, comércio em geral, farmácias, estabelecimentos de ensino, ampliação da rede de distribui-
ção de energia, hospitais, hotéis, fossa e sumidouro de esgotos (a rede de esgoto em que está
inserida deve estar devidamente licenciada), construções de casas em loteamentos já licenciados,
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOCUHY, C. Licenciamento ambiental e democracia. Folha de São Paulo [On-line]. São Paulo, 01
de julho de 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/07/1787448-li-
cenciamento-ambiental-e-democracia.shtml> Acesso em: 03 jul. 2016.
113 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm>. Acesso em: 16 jun. 2016.
______. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997.
Brasília, DF: MMA, 1997. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/
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______. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 369, de 28 de março de 2006.
Brasília, DF: MMA, 2006. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/
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______. Ministério Público Federal. Grupo de Trabalho Intercameral. Nota Técnica – A PEC 65/2012
e as Cláusulas Pétreas. Brasília, DF: Subprocuradoria-Geral da República, 2016. Disponível em:
<http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/nota-tecnica-pec-65-2012/>. Acesso em: 16 jun. 2016
______. Ministério do Meio Ambiente. Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a
proteção da vegetação nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19
de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nºs 4.771, de 15 de
setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166- 67, de 24
de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 28 de maio de
2012. Seção 1, p. 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/
lei/L12651compilado.htm>. Acesso em: 21 jun. 2016.
______. Ministério do Meio Ambiente. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 02 de setembro de 1981. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 21 jun. 2016.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan09
115
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
116 Mapa
Figura11––Localização
Localização da
da área
Área de estudono
de Estudo noSul
SulCatarinense
catarinense
Sempelos
Fonte: Elaborada fonteautores (2015). [SdM1] Comentário: Sem Fonte
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Com base no atual Plano Diretor do Município de Lauro Müller, Lei nº 1.549/2008
(PREFEITURA MUNICIPAL DE LAURO MÜLLER, 2008), na área do Rio Bonito, a ocupação urbana
é esparsa, existindo vazios urbanos, demonstrando o baixo potencial de adensamento no local.
Todo o polígono da área piloto elencada, de acordo com o Plano Diretor, situa-se na Zona Rural
Agroindustrial e de Mineração. O artigo 119 desse plano caracteriza esse seguimento do municí-
pio de Lauro Müller como o que possui uso implementado do solo voltado à silvicultura, à pecuá-
ria e a atividades de mineração (pelo potencial de desenvolvimento de mais atividades mineiras,
pela pouca aparelhagem da máquina pública e estruturas existentes e por existir baixa ocupação
e adensamento populacional) (PREFEITURA MUNICIPAL DE LAURO MÜLLER, 2008).
Complementa-se que dada a sua complexidade na ocupação do solo, bem como pretéri-
to contexto mineiro, somente as informações disponibilizadas pelo Plano Diretor não são suficien-
tes para caracterizar e orientar ações de recuperação ambiental na área piloto, tendo em vista a
necessidade da individualização e espacialização de setores com diferentes fisiografias.
METODOLOGIA
LEVANTAMENTOS EM CAMPO
O diagnóstico prévio da cobertura do solo baseou-se nas imagens de satélite GeoEye®
(SIECESC, 2011). Como complemento às informações mapeadas em gabinete, foram feitos traba-
lhos de campo para balizar os apontamentos iniciais. Com relação à caracterização dos diferentes
tipos de substrato, o levantamento das informações em campo ocorreu após consulta de foto-
grafias aéreas datadas de 1978, de número 18537 e 18538, de voo executado pela Empresa de
Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S.A.
A utilização de imagens aéreas de diferentes intervalos temporais justifica-se pelo fato de
que as datadas de 2011 podem elucidar condições aproximadas à realidade atual, ao passo que
as da década de 70 relatam a condição em plena vigência da atividade mineira na área de estudo.
Os mapas de campo foram construídos sobre essas imagens, sendo demarcados os polígonos de
classes de cobertura e de substrato em diferentes níveis de informação.
Para a classificação do solo, foi percorrida toda a extensão da área do Rio Bonito, com o
objetivo de delimitar os solos de ocorrência natural, ou levemente antropizados, posteriormen-
te buscando encontrar diferenças em relação ao relevo e ao material de origem dos solos, aos
fatores de formação mais heterogêneos na área e aos locais de notáveis propriedades físicas e
edáficas dos solos, definindo dez pontos de amostragem e caracterização (Mapa 2).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013) adota metodologia que
se baseia em um conjunto de classes definidas segundo atributos diagnósticos em um mesmo
nível de generalização ou abstração. Sendo assim, a caracterização valeu-se de cortes topográficos
do terreno ou de aberturas de trincheiras, destacando inteiramente, ou a maior parte, o perfil do
solo para a determinação dos níveis dos atributos. Nesta fase, quatro etapas foram seguidas:
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
A identificação dos horizontes foi obtida por meio da visualização das zonas de transi-
ção, de acordo com a nitidez ou contraste, espessura e topografia. A profundidade do solo foi
obtida por meio de um escalímetro, na posição vertical, fazendo-se coincidir seu zero com a parte
superior do horizonte ou camada superficial do solo, efetuando-se a leitura de cima para baixo a
partir da marca zero. A identificação dos horizontes foi obtida com o auxílio do Manual Técnico
de Pedologia (IBGE, 2007). Para cada um dos horizontes ou camadas, anotou-se, então, a medida
observada nos seus limites superior e inferior.
As cores dos solos e a presença de mosqueados foram definidas por meio de compara-
ções com a carta de cores de solos Munsell® (MUNSELL SOIL COLOR COMPANY, 1975). A textura
do solo foi determinada também em campo, de maneira expedita, em amostra de solo úmida, por
meio de sensação do tato, esfregando-se a amostra entre os dedos após amassada e homogenei-
zada, e a classe textural de acordo com o Triângulo de Classes Texturais (LEMOS; SANTOS, 1996). A
estrutura do solo também foi verificada em campo por meio da carta de cores de solos Munsell®
(MUNSELL SOIL COLOR COMPANY, 1975) e das representações apresentadas por Capeche (2008).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define seis possíveis níveis categóricos, dos
quais os quatro primeiros são os mais usuais. Para a caracterização da área de estudo, fizeram-se
suficientes apenas os dois primeiros níveis: ordens e subordens, constituindo a 5ª e 6ª etapas
119 da classificação dos solos: Identificação da Ordem de Solo com o uso da chave e Identificação da
Subordem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A definição dos tipos de substrato existentes na área piloto, a classificação dos solos e das
diferentes coberturas sucederam as atividades de campo, sendo elencadas três classes para subs-
trato e cinco classes para cobertura, ou seja, foi possível encontrar até 15 diferentes associações
de classes sintetizadas entre substrato/cobertura, associadas ao tipo de solo da região.
Figura 3 – Mapa Dos Diferentes Tipos De Substrato na Área de Estudo, Associado aos
Mapa 2 – Mapa dos diferentes tipos de substrato
Tipos DenaSolos
área de estudo, associados aos tipos de solos
120
Nos pontos de análise e avaliação da qualidade dos solos, o matiz deles variou de 5YR a
10YR, com a grande maioria perfazendo índices 7,5YR e 10YR nos horizontes A e B (MUNSELL SOIL
COLOR COMPANY, 1975). Os valores dos matizes estiveram entre 2 e 6, concentrando-se mais em
4 e 5, revelando tendência de tonalidades de matiz intermediárias, entre claras e escuras. Quanto
ao croma, a variação de 2 a 8 demonstra valores mais próximos do cinza que o matiz da escala
(Tabela 1).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
material mineral, que têm como características diferenciais a presença de horizonte B textural de
argila de atividade baixa ou alta conjugada com saturação por bases baixa ou caráter alítico. Os
pontos de coleta 2 e 7 foram realizados fora da área de estudo, a fim de servirem como checklist,
e se apresentaram semelhantes ao encontrado dentro da área.
O horizonte B textural (Bt) encontra-se imediatamente abaixo de qualquer tipo de hori-
zonte superficial, exceto o hístico (que não foi observado em todos os pontos analisados), sem
apresentar, contudo, os requisitos estabelecidos para ser enquadrado nas classes dos Luvissolos,
Planossolos, Plintossolos ou Gleissolos (também não observados) (EMBRAPA, 2013).
No solo dessa área, há um evidente incremento no teor de argila do horizonte superficial
para o horizonte B, com ou sem decréscimo nos horizontes subjacentes. A transição entre os
horizontes A e Bt é clara e, eventualmente, gradual. Tem profundidade variável, desde forte a
imperfeitamente drenada, de cores mais amareladas e/ou brunadas. A textura varia de arenosa
à argilosa no horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento
de argila daquele para este.
No ponto amostrado de número 5, a classe é determinada como Gleissolo. Para ser
enquadrado dentro dessa classe, o solo obedeceu aos seguintes critérios: solo hidromórfico,
constituído por material mineral, apresentando horizonte glei dentro dos 30 cm do solo, imedia-
tamente abaixo do horizonte A. Não apresenta textura, exclusivamente areia ou areia franca em
todos os horizontes até o contato lítico, tampouco horizonte vértico ou horizonte B textural, com
mudança textural abrupta acima ou coincidente com o horizonte glei ou com qualquer outro tipo
de horizonte B diagnóstico acima do horizonte glei.
Esse tipo de solo, segundo Capeche (2008), encontra-se periodicamente saturado por
122 água, sendo que essa permanece estagnada internamente. A saturação também ocorre por fluxo
lateral no solo. Em qualquer circunstância, a água do solo pode se elevar por ascensão capilar,
atingindo a superfície. Há presença de forte gleização, em decorrência do ambiente redutor,
virtualmente livre de oxigênio dissolvido em razão da saturação por água. Esse processo é identifi-
cado por meio da manifestação de cores acinzentadas, devido à redução e à solubilização do ferro
e também pela observação da precipitação de compostos ferrosos no horizonte glei (IBGE, 2007).
Em relação ao segundo nível categórico (subordem), os pontos 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e
10 caracterizam-se por terem solo de classificação Argissolo Amarelo, já que variaram, segundo
Embrapa (2013), em matiz entre 7,5YR a 10YR na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte
B (inclusive BA). Além do horizonte B, todos os horizontes A apresentaram matiz mais amarelado,
à exceção do ponto 8, cujo matiz correspondeu a 5YR.
A subordem do solo do ponto 5 corresponde a um Gleissolo Háplico, já que não apresen-
ta horizontes com presença de tiomorfismo, caráter sálico ou melânico (EMBRAPA, 2013).
• Corpos d’água: é classificado como corpo d’água qualquer área que, ao menos,
fique sazonalmente alagada. Dentro dessa classe estão as antigas cavas de
mineração, que hoje são lagoas, alagadiços e banhados;
• Solo Urbano: são áreas que possuem uma densidade de construções residen-
ciais e industriais, ou cercamentos e/ou loteamentos em implantação. A deli-
mitação dessa classe é importante, do ponto de vista ambiental, pois muitas
dessas áreas são zonas frágeis, propícias a invasões, cuja ocupação desordena-
da dificulta ou inviabiliza quaisquer ações de recuperação ambiental;
• Sem Cobertura: agrupam locais em que inexiste ocupação urbana ou corpos
d’água, bem como a vegetação que foi suprimida ou não se desenvolveu.
123
Mapa 3Figura
– Mapa das das
4 – Mapa diferentes
Diferentesclasses
Classes de cobertura
de Cobertura do do
Solosolo na área
na Área de estudo
de Estudo
Fonte: ElaboradoFonte:
pelos autores (2015). [SdM1] Comentário: Fonte?/
124
Sem Fonte???? Fonte: Elaborado pelos Autores (2015). [SdM1] Comentário: Sem fonte??
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Justiça Federal. 1ª Vara Federal de Criciúma, SC. 6° Relatório de Monitoramento dos
Indicadores Ambientais. Processo n. 2000.72.04.002543-9. Criciúma, 2012. 218 p.
CAMPOS, J. J. et al. Ferramenta para monitoramento ambiental de áreas degradadas pela mine-
ração de carvão. In: ENCONTRO DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS E METALURGIA EXTRATIVA, 23,
2009, Gramado. Anais... Gramado: UFRGS, 2009, v. 2, p. 403.
CAPECHE, C. L. Noções sobre tipos de estruturas do solo e sua importância para o manejo conser-
vacionista. Comunicado técnico 51. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 2008, p. 1-6.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Sistema brasileiro de classifica-
ção de solos. 3. ed. Brasília: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 2013. 353 p.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan10
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
130
DESENVOLVIMENTO
de pessoas, os quais eram propícios à projeção das apresentações em slides. Sendo assim, os
locais previstos para as realizações das reuniões foram: pavilhões de igrejas, pátios escolares,
galpões comunitários e/ou salões particulares para eventos.
Foram distribuídos convites, os quais tinham a finalidade de convidar os membros das
comunidades para as reuniões (Figura 1).
Figura 3 - Modelo do Convite Utilizado para Reunião do Ponto Co-5.1, o Qual Foi
Distribuído aos Moradores Influenciados Diretamente Pelas Detonações de Rochas do
Figura 1 - Modelo do convite utilizado para a reunião do ponto CO-5.1, o qual foi distribuído aos moradores influen-
Empreendimento Contorno Rodoviário De Florianópolis
ciados diretamente pelas detonações de rochas do empreendimento Contorno Rodoviário de Florianópolis
133
Fonte: Autopista Litoral Sul (2016).
Fonte: Autopista Litoral Sul, (2016).
RESULTADOS
Foram realizados eventos de detonações nos pontos CO-5, CO-5.1 e CO-6, em áreas
localizadas nos km 217+800, km 219+560 e 219+840 do Contorno Rodoviário de Florianópolis,
respectivamente, do tipo céu aberto e localizados próximo ao morro da Pedra Branca (entre os
municípios de São José e Palhoça/SC, bairros Sertão do Maruim e Pedra Branca) (Mapa 3).
As reuniões foram programadas com carga horária de 4 (quatro) horas. A metodologia
seguiu com a exposição teórica realizada com o auxílio de recurso audiovisual na apresentação
dos slides. Durante as reuniões, foram capturadas fotografias e realizadas filmagens integrais das
apresentações e dos questionamentos levantados pelos(as) participantes.
Foram disponibilizados informativos sobre as atividades de desmontes de rochas e os
Jornais da Obra de nº 6, 7 e 8, cedidos pela Concessionária (CONTORNO DE FLORIANÓPOLIS,
2016). Além disso, canetas personalizadas ALS foram distribuídas para facilitar as anotações
dos(as) participantes.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 4 - Mapa de Localização do Contorno Rodoviário de Florianópolis (Br-101 SC),
em Destaque os Pontos Co-5, Co-5.1 E Co-6, Áreas Onde Ocorrem as Detonações de
Mapa 3 - Mapa de localização do Contorno
Rochas Rodoviário de
Nos Municípios DeFlorianópolis
São José (BR-101 SC). Em destaque os pontos CO-5,
E Palhoça/SC
CO-5.1 e CO-6, áreas onde ocorrem as detonações de rochas nos municípios de São José e Palhoça/SC
134
Um dos indicadores utilizados nas reuniões foi o número de participantes das comunida-
des (Tabela 2).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Tabela 1 - Número de Participantes Envolvidos nas Reuniões com as Comunidades
em Cada Ponto de Detonação
Tabela 2 - Número de participantes envolvidos(as) nas reuniões com as comunidades em cada ponto de detonação
Localização Número de participantes
Ponto CO-5.1 27 (vinte e sete)
Ponto CO-5 15 (quinze)
Ponto CO-6 16 (dezesseis)
Fonte [SdM1] Comentário: Fonte
Fonte: Autopista Litoral Sul (2016).
Abaixo estão apresentados os registros fotográficos de cada reunião realizada nos pontos
CO-5, CO-5.1 e CO-6.
ImagemFigura 5 - Reunião
1 - Reunião Com a Comunidade
com a comunidade influenciadaInfluenciada Pelas
pelas atividades Atividades de
das detonações das Detonações
rochas do Ponto CO-5.1
de Rochas do Ponto Co-5.1. Distribuição dos Informativos ao
(Distribuição dos informativos ao público presente)Público Presente
135
138 de Rochas
Imagem 8 -do Ponto
Reunião comCo-6. Apresentação
a comunidade do Vídeo
influenciada pelas atividadesInstitucional darochas
das detonações de Concessionária,
do Ponto CO-6 o
(Apresentação do vídeo institucional da concessionária, o qual apresenta o andamento da obra do Contorno
Qual Apresenta o Andamento da Obra do Contorno Rodoviário de Florianópolis
Rodoviário de Florianópolis)
Fonte: Avistar
Fonte: Engenharia
Avistar (2016). (2016).
Engenharia,
Na reunião do ponto CO-6, foi realizada uma dinâmica com mapa temático, o qual abor-
dou as diversas vertentes (recursos naturais – água, fauna, flora; população, veículos) em relação
à obra do Contorno
Figura 13:(Imagem
Reunião9). com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das
Detonações de Rochas do Ponto Co-6. Dinâmica com Mapa Temático Aplicado com o
Públicopelas
Imagem 9 - Reunião com a comunidade influenciada Presente
atividades das detonações de rochas do Ponto CO-6
(Dinâmica com mapa temático aplicado ao público presente)
139
Fonte: Avistar Engenharia (2016).
Fonte: Avistar Engenharia, (2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo busca, por meio das reuniões com as comunidades, apresentar como
as atividades de detonações de rochas vêm acontecendo na região onde o Contorno Rodoviário
de Florianópolis está sendo implantado. Todo o processo de detonação foi exposto e explica-
do, a fim de demonstrar a importância e o porquê de se realizar os desmontes de rochas em
obras rodoviárias. As comunidades precisam compreender o processo, bem como a periodicidade
dessas atividades.
Nas reuniões, foram apresentados, integralmente, o histórico da obra, os processos
de licenciamentos ambientais (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação), o
projeto Contorno Rodoviário de Florianópolis, o Subprograma de Controle, a Minimização e o
Monitoramento de Impactos Provocados pela Construção de Túneis e de Áreas de Desmonte de
Rocha. Ao agir dessa maneira se espera que essas reuniões possam colaborar para o conhecimen-
to das comunidades influenciadas pelas atividades de detonações de rochas, bem como sanar
suas dúvidas em relação à obra da nova rodovia.
As reuniões seguiram um procedimento baseado no método do Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP) (CHAMBRERS; GUIJT, 1995). Esse diagnóstico considera a participação volun-
tária dos setores sociais, ou seja, todos os questionamentos e contribuições apontados foram
relevantes, bem como a participação quantitativa da comunidade convidada.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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tos provocados pelo explosivos nas minerações em áreas urbanas. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
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Provocados pela Construção dos Túneis e Áreas de Desmonte de Rocha: Relatório Técnico. São
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litoralsul.com.br/publicacoes/>. Acesso em: 09 out. 2016.
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Florianópolis: MPB Engenharia, vol. 4, 2013.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
141
CAPÍTULO XI
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan11
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
Para melhor entendimento da discussão sobre a terminologia “riscos”, será definido o que
compreende risco natural (desastre natural), risco tecnológico ou industrial e risco socioambien-
tal. O risco é aqui entendido como “[...] percepção de um perigo possível mais ou menos previsível
por um grupo social ou por um indivíduo que tenha sido exposto a ele.” (VEYRET; RICHEMOND,
2007, p. 24).
RISCOS NATURAIS
Os riscos naturais decorrentes de desastres naturais acontecem quando fenômenos
naturais atingem determinadas áreas e causam danos a seus habitantes. O conceito de desastre
adotado pela Agência das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres – UNISDR (2009)
considera desastre uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma
sociedade, envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande exten-
são, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com
seus próprios recursos.
Segundo Tominaga, Santoro e Amaral (2012), os desastres naturais são causados por
diversos fenômenos, tais como inundações, escorregamentos, erosão, terremotos, tornados,
furacões, tempestades, estiagem, dentre outros. Além da intensidade dos fenômenos naturais, há
um processo de intensificação de riscos decorrente da aceleração da urbanização, que promove a
ocupação imprópria de determinadas áreas.
143 Estudos recentes indicam que as mudanças climáticas têm levado a extremos climáticos,
com aumento de temperatura, maior frequência de temporais, intensificação de chuvas, de torna-
dos ou de estiagens severas, dentre outros, resultando em maiores probabilidades de desastres
naturais (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).
De acordo com Carvalho e Galvão (2006), os principais fenômenos relacionados a desas-
tres naturais no Brasil são os deslizamentos de encostas e as inundações. Tais fenômenos estão
associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, tornando-se mais severos a cada
período chuvoso. Segundo os autores citados, são os deslizamentos que provocam o maior núme-
ro de vítimas fatais, anualmente, no território brasileiro. Tais eventos expõem a população, espe-
cialmente aquela residente em áreas urbanas, a riscos elevados.
Para Palacios, Chuquisengo e Ferradas (2005), o risco natural consiste na probabilidade
de que um desastre ocorra como resultado da multiplicação das ameaças pela vulnerabilidade.
Para os autores, as ameaças são geradas tanto por mudanças naturais do planeta como pela inter-
ferência humana sobre os elementos naturais. A vulnerabilidade, por sua vez, aumenta à medida
que o desenvolvimento econômico promove o crescimento das cidades sem um planejamento
urbano adequado.
Em seu trabalho, Iwama et al. (2016, p. 96) destacam que a Agência das Nações Unidas
para Redução de Riscos de Desastres (UNISDR) define risco natural (risk) como “[...] a probabilida-
de de ocorrência de um evento e suas consequências negativas”. Segundo os autores, a percepção
sobre o significado de risco pode variar de pessoa para pessoa. Essa percepção tende a ser maior
naqueles grupos de indivíduos que possuem maior experiência ou vivência do problema (um
exemplo são as populações que vivem em áreas sujeitas à ocorrência de inundações, movimentos
de massa, etc.). Tal percepção será influenciada por fatores diversos, como fatores psicológicos,
simbólicos e socioculturais; acesso às informações e à forma como elas são divulgadas para o
grande público.
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O risco natural é a denominação mais utilizada para fazer referência aos riscos que não
estão relacionados diretamente à ação humana. Apesar da dificuldade dessa separação, Rebelo
(2003, p. 11-22) apresenta a seguinte tipologia de riscos naturais: riscos tectônicos e magmáticos;
riscos climáticos; riscos geomorfológicos, os mais típicos, tais quais ravinamento, de movimen-
tações de massa como desabamento ou deslizamento e outros riscos geomorfológicos como os
decorrentes da erosão eólica e do descongelamento de neves de altitude; e os riscos hidrológicos.
[...] os riscos tecnológicos são aqueles cuja origem está diretamente ligada à ação huma-
na e são classificados de acordo com o modo de ocorrência de seus efeitos: agudos ou
crônicos. Incluem-se os riscos de acidentes tecnológicos (explosões, vazamentos, etc.) e
os riscos à saúde (humana ou dos ecossistemas) causados por diferentes ações antrópi-
cas, como a utilização de substâncias químicas, de radiações ionizantes e de organismos
patogênicos ou daqueles geneticamente modificados.
Os processos de urbanização intensificam os riscos que têm origem nas atividades tecno-
lógicas. Sobre isso informa o Manual de Desastres Humanos de natureza tecnológica (SEDEC apud
BRASIL, 2003):
144
O crescimento desordenado das cidades, a redução do estoque de terrenos em áreas
seguras e a consequente valorização dos mesmos, associados a um relaxamento
dos órgãos responsáveis pela segurança das construções, provocaram a favelização
e o adensamento dos estratos populacionais mais vulneráveis, em áreas de riscos
intensificados.
Referindo-se aos riscos industriais e tecnológicos Veyret e Richemond (2007, p. 70) espe-
cificam os riscos industriais maiores definindo-os:
Complementam as autoras que “[...] este tipo de risco é ainda mais perigoso quando as
atividades industriais estão inseridas no tecido urbano.” (VEYRET; RICHEMOND, 2007, p. 70).
Dessa forma, os riscos industriais ou tecnológicos se potencializam quando ocorrem
ocupações humanas no entorno de unidades produtivas, muitas vezes de formas irregulares e em
situações precaríssimas de equipamentos de controle e fuga. Tratam-se das habitações e outras
formas de ocupações desordenadas que surgem do descontrole do poder público, caracterizan-
do-se por ações ilegais e, até mesmo, clandestinas da população, de forma que a urbanização
engendra e agrava os riscos e desencadeia efeitos desastrosos. Conforme Touret (apud VEYRET,
2007, p. 86):
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Contudo, apesar do risco de desastres tecnológicos serem mais perigosos quando inseri-
dos no tecido urbano, afirma Parizzi (2014, p. 9) que:
O gerenciamento do risco deve ser uma ação prioritária e permanente nas cidades. (...)
os centros urbanos crescem cada vez mais e, muitas vezes, a forma de ocupação ou uso
é inadequada ao tipo de terreno (geologia e geomorfologia). Isso aumenta a vulnera-
bilidade e, consequentemente, o grau de risco. Seja qual for o fenômeno causador do
desastre (terremoto, furacão, vulcão, chuvas intensas, deslizamentos, etc.), os danos
145 podem ser atenuados ou até inexistentes se a ocupação for realizada de modo racional,
visando conhecer e respeitar o equilíbrio, a dinâmica natural e as características físicas
do ambiente a ser ocupado.
A gestão de risco poderá contar com o uso de vários instrumentos. Um deles é o conjunto
normativo de que dispõe os gestores públicos ou privados. Assim, em 10 de abril de 2014, foi
promulgada a Lei nº 12.608, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, a
qual tem como princípio básico a precaução, ao dispor que a incerteza quanto ao risco de desas-
tre não constituirá óbice à adoção das medidas preventivas e mitigatórias da situação de risco
(BRASIL, 2012).
Dentre os objetivos constantes do artigo 5 da PNPDEC, citamos, a título de ilustração:
Outro instrumento crível de uso pelos gestores e pela população envolvida é a participa-
ção efetiva e informada, tratando-se de elemento essencial na tomada de decisão. Segundo Taun
(apud SANTOS; MARANDOLA JUNIOR, 2012, p. 123):
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O que ainda não foi incorporado com a mesma intensidade é a necessidade de compreen-
der o nível de informação da população, sua experiência ambiental e os elementos que
medeiam sua percepção e atitudes frente ao ambiente.
A informação detém um papel fundamental na gestão dos desastres, quer em sua coleta
e/ou em sua publicização, uma vez que não apenas facilita a prevenção de tais eventos
pelo seu conhecimento como tais informações fornecem às partes envolvidas, bem como
aos possíveis afetados, motivação e potencial de mobilização.
Carvalho (2012, p. 142) menciona ainda outro importante instrumento a ser utilizado em
gestão de risco em matéria de desastres ambientais, devido à sua relevância em planos preventi-
vos. Trata-se dos serviços ambientais, que
146
[...] também começam a exercer uma forte influência na delimitação da intolerabilidade
social do risco, servindo de medidas não estruturais (estudos técnicos) – como critério
e parâmetro de decisão para a disseminação de medidas preventivas proporcionais, e
estruturais (infraestrutura verde), estimulando a valorização da manutenção e do moni-
toramento dos recursos ambientais e seus serviços ecossistêmicos.
É relevante alertar, nesse instante, que os instrumentos aqui apontados ainda não fazem
parte efetiva da tomada de decisões por vários motivos. Um deles é a novíssima existência desses
instrumentos. Nesse sentido, o “ingresso” dos mesmos em ações governamentais ou privadas
exigirá certo período que dependerá, dentre outros fatores, da consolidação desses instrumentos
nas “agendas” dos diversos atores envolvidos.
RISCOS SOCIOAMBIENTAIS
Os riscos socioambientais abrangem os riscos naturais, tecnológicos e sociais e parecem
ter sofrido intensificação com o avanço da modernidade, conforme Ladwig e Gonçalves (2014).
Os riscos socioambientais são a relação entre probabilidade e severidade de um efeito adverso
para a saúde, propriedade e meio ambiente e devem ser compreendidos como um processo que
se estrutura ao longo do tempo, segundo Castro (1995).
Os riscos socioambientais podem ser entendidos como decorrentes “[...] da interação
entre sociedade e natureza, onde o ambiente é sujeito a alterações realizadas pelos seres huma-
nos, principalmente, na forma desigual de apropriação dos solos urbanos e pelos fenômenos
naturais, gerando mudanças na paisagem, no lugar e no espaço” (BRASIL, 2003, p. 33).
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[...] riscos relacionados ao clima afetam diretamente a vida das pessoas pobres através
de impactos nos meios de subsistência, reduções nas colheitas ou destruição de casas; e
indiretamente por meio de, por exemplo, aumento dos preços dos alimentos e insegu-
rança alimentar. (IPCC, 2014).
A bacia hidrográfica do rio Urussanga possui uma área territorial de 679,687631 km²,
correspondendo a 67968,7631 ha, situada no estado de Santa Catarina. Possui área nos muni-
cípios de Balneário Rincão, Cocal do Sul, Criciúma, Içara, Jaguaruna, Morro da Fumaça, Pedras
Grandes, Sangão, Treze de Maio e Urussanga. O Mapa 1 representa a área de estudo localizada
entre as coordenadas geográficas 28°25’56” e 28°48’42” de latitude sul e 49°23’56” e 49°01’15”
de longitude oeste do meridiano de Greenwich.
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Figura
Mapa 1-
1 - Localização daÁrea
Localização da Áreade
deEstudo
Estudo
[SdM1] Comentário: Sem
150
2 - Escala
QuadroQuadro de Comparadores
2 - Escala de Comparadores
Fonte:Fonte: Adaptado
Adaptado de Saaty
de Saaty, (1980).
(1980).
Para definição dos pesos dos fatores foram definidas 5 (cinco) matrizes de comparação
elaboradas pelos alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, que faziam parte da disciplina
de Análise de Riscos. Definidos os valores de importância relativa dos fatores, o passo seguinte
consistiu em fornecê-los ao aplicativo IdrisiTAIGA, para que fosse feito o cálculo dos pesos. Os
resultados do cálculo das matrizes de comparação são apresentados conforme Tabelas 1 e 2.
A partir da escolha dos critérios para a comparação e do estabelecimento da importância
relativa de cada plano de informação, o modelo AHP informa uma razão de consistência (CR).
Essa é utilizada para determinar o grau de coerência, ou seja, indica a probabilidade de que as
152 comparações tenham sido geradas aleatoriamente (DAI et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2009). A
razão de consistência deve ser inferior a 0,10 e quando ocorrem valores superiores a esse índice é
necessária a realização de revisões nas comparações realizadas. Neste estudo, a CR obtida foi de
0,07 para inundação e 0,06 para deslizamento em média, atestando a coerência na hierarquização
dos dados.
Tabela11--Matriz
Tabela dosFatores
Matriz dos Fatores de Inundação
de Inundação
FATORES M1 M2 M3 M4 M5 Med.
(INUNDAÇÃO) Final
A 0,0956 0,1231 0,1296 0,0597 0,1296 0,10752
D 0,2085 0,2923 0,3031 0,2175 0,1783 0,23994
U 0,2085 0,35 0,1783 0,5347 0,3889 0,33208
P 0,4874 0,2345 0,3889 0,1881 0,3031 0,32040
A = Altitude / D = Declividade / U = Uso e cobertura da terra / P = Pedologia
Fonte: Autores (2016).
Fonte: Adaptado De Saaty, (1980).
Depois de calculado o peso de cada fator, foram atribuídos os valores conforme a equa-
ção (1) gerada para elaboração do mapa de vulnerabilidade à inundação:
R = Risco;
A = Mapa de altitude;
U = Mapa de uso da terra;
D = Mapa de declividade;
P = Pedologia Eq.(1)
Tabela 2 - Matriz dos Fatores de Deslizamento
Tabela 2 - Matriz dos Fatores de Deslizamento
FATORES M1 M2 M3 M4 M5 Med.
(DESLIZAMENTO) Final
A 0,0812 0,1512 0,0812 0,045 0,1219 0,09610
D 0,3994 0,5083 0,3994 0,292 0,5439 0,42860
U 0,1594 0,2653 0,1594 0,5106 0,2706 0,27306
P 0,3599 0,0752 0,3599 0,1626 0,0636 0,20424
A = Altitude / D = Declividade / U = Uso e cobertura da terra / P = Pedologia
Fonte: Autores, (2016).
Fonte: Adaptado de Saaty, (1980).
Depois de calculado o peso de cada fator foi atribuído os valores conforme a equação (2)
gerada para elaboração do mapa de deslizamento:
A análise de riscos realizada a partir das metodologias aplicadas permitiu avaliar os graus
de vulnerabilidades à inundação e ao deslizamento na Bacia Hidrográfica do rio Urussanga, o que
será exposto a seguir.
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VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO
A análise do Mapa 2 demonstra que 25,63% da área total da Bacia Hidrográfica do rio
Urussanga encontra-se em grau muito alto de vulnerabilidade à inundação. Há de se destacar
que 33,39% da área total da bacia se apresenta em vulnerabilidade alto, elevando assim a susce-
tibilidade à ocorrência de inundação. Quanto aos demais percentuais, tem-se 27,27% em grau
moderado, 10,79% baixo e apenas 2,92% muito baixo.
Figura 2 - Mapa
Mapa de de
2 - Mapa Vulnerabilidade
Vulnerabilidadeàà Inundação
Inundação
154
Fonte:Fonte???
Autores, (2016). [SdM1] Comentário: Fonte??
VULNERABILIDADE AO DESLIZAMENTO
O Mapa 3 demonstra que apenas 2,70% da área total da Bacia Hidrográfica do rio
Urussanga encontra-se em grau muito alto de vulnerabilidade ao risco de deslizamento. Destaca-
se, ainda, que 30,24% da área total da bacia apresenta vulnerabilidade baixa à ocorrência de
deslizamento e 28,58% grau muito baixo. Quanto aos demais percentuais, tem-se 27,50% em grau
moderado e 10,98% em grau alto.
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156 A análise dos resultados demonstra que as áreas mais vulneráveis a deslizamentos (clas-
ses alto e muito alto) localizam-se próximo às cabeceiras da bacia. Essas áreas caracterizam-se
por apresentarem relevo acidentado, maiores altitudes e declividades acentuadas, abrangendo
porções dos municípios de Cocal do Sul, Urussanga e Treze de Maio.
As áreas menos vulneráveis a deslizamentos (classes muito baixo, baixo e moderado)
ocupam, juntas, cerca de 86% da área total da bacia. A maior parte dessas áreas apresenta baixas
altitudes, relevo menos acidentado e declividades mais modestas. Tais fatores reduzem a possi-
bilidade de ocorrência de deslizamentos. A análise do Mapa 3 permite constatar que a vulnera-
bilidade a deslizamentos na bacia do rio Urussanga diminui no sentido noroeste-sudeste (das
cabeceiras da bacia para o litoral).
No que se refere à percepção de risco dos moradores nessas áreas de mais vulnerabilida-
de, lembranças de ocorrências anteriores desempenham papel importante no modo de perceber
o ambiente de sujeitos ou grupos sociais que já foram vítimas de riscos variados devidos a aciden-
tes e desastres naturais, como os de deslizamento (VEYRET; RICHEMOND, 2007).
Um caso evidenciado em entrevista informal foi narrado por uma moradora, na faixa
etária de 60 anos, que reside há 30 anos no local:
“Já passamos por uma enchente em 74, mas aqui estamos livres. Inundação ocorre aqui
só até ali na esquina abaixo, aqui não chega. Por isso que viemos para cá, um ponto mais
alto para não passar por enchente novamente. Não, nunca teve deslizamento, nos 30
anos que estou aqui nunca vi.”
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“Aqui é uma área de risco sim. Já ocorreu um desmoronamento, uma pedra caiu nessa
casa há 08 anos, mas ninguém se feriu, pois estavam em outra parte da casa. A prefeitura
e a Defesa Civil retiraram a pedra da casa, mas ninguém foi indenizado, a família teve que
arcar com a reconstrução da casa”.
Em relação aos relatos acima, observa-se que, embora as duas entrevistadas estejam em
uma área suscetível a deslizamentos, uma não identifica a vulnerabilidade aos riscos e percebe
como risco somente o que tem na lembrança de uma catástrofe já vivida, que é a enchente de
1974.
A partir da entrevista, foi possível observar alta discrepância na percepção de risco de
duas moradoras de um mesmo ponto de alta vulnerabilidade ao deslizamento na Bacia do rio
Urussanga. Suas residências estão em ruas paralelas e estão afastadas por uma rua, no entanto
fazem fronteira com o mesmo talude.
Uma das entrevistadas considera a área totalmente segura, embora de sua casa seja
possível visualizar raízes de árvores expostas devido à remoção do solo, enquanto a outra mora-
dora relatou grande insegurança na residência oriunda da constatação de iminente perigo.
Esse fato pode condizer com o que Martins e Oliveira (2011) chamam de desqualifica-
ção dos riscos, a qual faz com que, mesmo que haja o entendimento de que determinada área
157 habitada está sujeita a riscos socioambientais por desastres ambientais, exista um sentimento de
pertença e cultivação do espaço apropriado por determinados moradores. Esses fatores fazem
com que as pessoas prefiram remediar e achar alternativas para se defender a mudar de bairro
ou até mesmo de cidade.
É possível inferir que a história pessoal, permeada pela memória ambiental do local,
somada ao nível de informação e de conhecimento socioambiental que possuem, favoreceram a
percepção oposta das entrevistadas.
Ressalta-se, nesse sentindo, a importância da manutenção de um processo contínuo
de educação ambiental formal e informal pelo poder público, capaz de promover a consciência
ecológica, o desenvolvimento de hábitos sustentáveis e a percepção de riscos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de riscos a partir das metodologias aplicadas permitiu avaliar os graus de vulne-
rabilidades à inundação e ao deslizamento na Bacia Hidrográfica do rio Urussanga e evidenciou,
em pontos visitados, a ausência de execução de obras capazes de minimizar os perigos que provo-
cam ou intensificam os riscos provenientes de eventos de deslizamentos e inundações.
A falta de planejamento urbano e de gestão territorial agravam esses riscos, colocando a
sociedade como um todo, principalmente pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade social,
numa situação de vulnerabilidades socioambiental constante. Somado a esses fatores, o grande
volume de precipitação, que tem ocorrido na região em estudo, em poucas horas, tem aumenta-
do a frequência e a magnitude dos eventos de deslizamentos e de inundação.
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Cabe ressaltar que a percepção de risco é fator condicionante para que uma determinada
pessoa ou grupo suporte e se recupere de uma ocorrência ou acidente ambiental. A capacidade
de resistência e resiliência perante a concretização de um risco socioambiental depende tanto de
fatores socioeconômicos, como de condições de moradia e renda, quanto do grau de informação
e percepção do que pode ser perigoso.
Neste estudo, foi possível observar uma alta variação na percepção de risco de duas mora-
doras de um mesmo ponto de alta vulnerabilidade ao deslizamento na Bacia do rio Urussanga.
Suas residências estão em ruas paralelas, afastadas por uma rua, no entanto fazem fronteira com
o mesmo talude. A história pessoal, que traz também a memória ambiental do local, somada ao
aspecto informacional e de conhecimento socioambiental, favorece a percepção discrepante das
entrevistadas.
A percepção de risco é fundamental para impedir que pessoas habitem locais indevidos
ou, no caso de ausência de condições financeiras capazes de possibilitar a habitação em locais
próprios, ela pode motivar o requerimento, nos órgãos públicos, da efetivação do seu direito de
moradia em áreas seguras.
Na entrevista informal, foi levada em consideração a individualidade de cada sujeito,
relacionando-a com seu meio externo, sendo que a proposta deste estudo é analisar a vulnera-
bilidade como uma realidade vivida, vinculada aos aspectos econômicos, físicos, psicológicos e
afetivos de cada sujeito.
A metodologia com uso de ferramentas e softwares geotécnicos propôs uma visão real
dos riscos à inundação e deslizamento, bem como dos graus de vulnerabilidade de cada ponto.
Portanto, a análise de risco deve ser utilizada para gestão dos riscos por setores públicos e priva-
158 dos no planejamento de planos e programas de prevenção e até mesmo de regularização para
autorização de habitação e construções, impondo cautela no sentido de prevenir que um número
maior de pessoas seja exposto a situações críticas de vulnerabilidades por meio de ocupação
indevida em áreas de riscos naturais, tecnológicos e socioambientais.
Ficou evidente que o progresso e o crescimento de determinadas regiões, baseados em
ocupação de margens de rios, retificação de ribeirões, canalização de cursos d’água e abertura de
estradas e ruas que dão acesso às áreas de encostas e morros, colocam a sociedade em situação
de riscos constantes, haja vista a ligação do sujeito com o seu espaço, sendo influenciado pelas
modificações que vão ocorrendo no lugar.
Resta que a pesquisa contribua para que medidas sejam tomadas a fim de prevenir ocor-
rências e que as ações de mitigação sejam executadas no sentido de minimizar seus efeitos. Dadas
as percepções destacadas neste estudo, salienta-se a importância da educação ambiental formal
e informal como processo contínuo de promoção de consciência ambiental, comportamentos
sustentáveis e percepção de riscos.
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Contexto, 2007. 319 p.
VEYRET, Y.; RICHEMOND, N. M. O risco, os riscos. In: VEYRET. Y. (Org.). Os riscos: O homem como
agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007. 319p.
CAPÍTULO XII
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan12
161
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
ÁREA DE ESTUDO
A área a ser analisada é delimitada pelo limite municipal da cidade de Braço do Norte,
na região sul de Santa Catarina, a mesma pertence a sub-bacia do rio Braço do Norte e a bacia do
163 Rio Tubarão e Complexo Lagunar. A cidade conta com 31.725 habitantes e com uma área total de
211,864 km² (IBGE, 2015).
Figura 1 – Localização da munícipio de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verif
numeração da figura estava 2.
Imagem 1 – Localização da munícipio de Braço do Norte/SC
Fonte: Autor.
Nas regiões mais elevadas encontra-se predominância da unidades Suíte Intrusiva Pedras
Grandes. É constituída de granitoides alcalinos do embasamento cristalino, de granulação média
a grossa, de cor cinza a rósea (HIGASHI, 2006).
Quanto às unidades pedologias, foram identificadas duas classes: Cambissolo Háplico e
Podzólico Vermelho-Amarelo, as quais foram extraídas do mapeamento realizado pelo Projeto
RADAMBRASIL realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em escala
1:250.000 (imagem 3). A área de estudo é formada por 2,68% de Cambissolo e 96,32% de Podólico
Vermelho-Amarelos. Os cambissolos têm como característica textura franco-arenoso com pouca
variação de horizontes A-B-C, porém diferenciável. Já os Podzólicos Vermelho-Amarelo são cons-
tituído por solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural e boa diferenciação entre
Figura 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verificar
horizontes. Dentro dessa classe, ocorrem solos com cascalho e/ou mesmo cascalhento, em relevo
numeração figura 2.2
desde suave ondulado a montanhoso.
Figura 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verificar
Imagem 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC numeração figura 2.2
164
Tabela 1- Quantificação das áreas segundo a declividade [SdM1] Comentário: Isso deveria se
Tabela 1 - Quantificação das áreas segundo a declividade uma tabela e não quadro
O município apresenta a maior parte do seu relevo classificado como ondulado, 51,59%,
caracterizando a declividade entre 8 e 20%.
Figura
Imagen4 4– –Mapa
Mapade
dedeclividade
declividadedo
domunícipio
munícipiode
de Braço do Norte
Braço do Norte
Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Fonte: Autor.
Fonte?? [SdM1] Comentário: Font
MATERIAIS E MÉTODOS
Sedimentos
Sedimentos Aluvionares QHa
Quaternários
Suite Intrusiva Pedras
PSpg Granito
Grandes
Formação Serra Geral JKpg Basalto/Diabásio
Suite Intrusiva Tabuleiro PSɣt Granito
Sedimentos
Formação Rio Bonito Prb
Quaternários
Formaçação Rio do Sul Prs Arenito
Fonte: Autor.
Fonte: [SdM2] Comentário: Fonte
Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
RESULTADOS E DISCUSSÕES
168
Fonte: Autor.
unidade geotécnica. Observa-se que a maior área do município de Braço do Norte é composta
pelas unidades Podzólico substrato granito (84,04%) e Podzólico substrato sedimentos quaterná-
rios (10,16%).
Fonte: Autor.
[SdM2] Comentário: Falta font
Imagem 7 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 1,0 metro.
Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 7 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada
de 5,0 metro [SdM1] Comentário: Dev
Imagem 8 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 5,0 metro
[SdM2] Comentário: Sem
170
Fonte: Autor
Figura 8 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada
de 10,0 metro
Imagem 10 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 10,0 metro [SdM3] Comentário: Dev
Fonte: Autor
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 11 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 15,0 metro
Fonte: Autor.
Tabela 5 - Quantificação das áreas instáveis para as profundidades de solo
simulados
Tabela 4 - Quantificação das áreas instáveis para as profundidades de solo simulados
Classificação z=15 z=10 z=7 z=5 z=1
Incondicionalmente instável e
0,58% 0,41% 0,27% 0,16% 0,00%
saturado
171
Incondicionalmente instável e não
0,86% 0,64% 0,42% 0,24% 0,00%
saturado
Instável e saturado 1,70% 1,27% 0,84% 0,47% 0,00%
Instável e não saturado 4,54% 3,70% 2,73% 1,66% 0,01%
Estável e não saturado 6,85% 5,88% 4,65% 3,19% 0,03%
Incondicionalmente estável e não
14,76% 13,11% 11,00% 8,24% 0,16%
saturado
Incondicionalmente estável e
70,72% 74,98% 80,08% 86,11% 99,79%
saturado
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan13
176
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
O carvão foi descoberto na região Sul de Santa Catarina no ano de 1822 (JFSC/IPAT, 2010).
No entanto, a atividade de mineração ocorreu de forma mais intensa, apenas a partir do ano 1930
(MILIOLI, 2009). Na época, foram empregados diversos métodos de lavra do minério, dentre eles:
câmaras e pilares, longwall ou lavra com recuperação de pilares, picareta e céu aberto. Para a
operação das minas, era exigida autorização do órgão competente, nesse caso o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Devido às atividades de extração de carvão em subsolo, foram causadas alterações no
comportamento geotécnico de grande parte do Município de Criciúma, que podem resultar em
situações de risco para a ocupação desses locais, sobre áreas mineradas em subsolo (KREBS,
2013). Atualmente, existe o conflito entre os superficiários, habitantes que residem sobre áreas
mineradas, e as empresas mineradoras, dado que, a ocupação urbana ocorreu até a década de
1970, sem qualquer plano de ordenamento. Dessa forma, há grande número de reclamações
concernentes a danos estruturais e patrimoniais, por parte dos moradores.
A Análise de Risco Ambiental (ARA) é um instrumento previsto no arcabouço jurídico
brasileiro, com o intuito de assegurar a sadia qualidade de vida e um meio ambiente equilibrado.
A ARA faz-se necessária quando se vislumbra o risco a vida humana, como no caso em questão.
Principalmente, no que tange à ocupação urbana proposta pelo zoneamento do plano diretor
sobre áreas mineradas em subsolo, dentro do território em análise.
Essa área ganha relevância do ponto de vista do planejamento e gestão territorial, uma
vez que, visa diagnosticar e fornecer subsídios para ações de melhoria com indicação técnica para
177 decisões acerca do ordenamento do uso do solo, de maneira a minimizar os conflitos existentes.
A organização dos dados coletados em um sistema de informações geográficas (SIG),
contendo as áreas onde houve mineração de carvão em subsolo, vem auxiliar, principalmente, os
procedimentos referentes ao atendimento de denúncias; assim como, em relação à ocorrência de
danos estruturais em edificações, danos patrimoniais e subsidências. Dessa forma, possibilitará
identificar a existência de mina subterrânea no local. Nesse sentindo, em caso afirmativo, definir
qual a mina, qual empresa minerou, e informar qual a espessura de capeamento aproximada que
existe naquele local. Além disso, também facilitará o fornecimento de respostas a consultas reali-
zadas por parte do setor de construção civil, em ampla expansão na região, quanto à ocorrência
de mina em determinadas áreas.
Conforme Ladwig e Schwalm (2012), os mapas dispõem da vantagem de transmitirem
informações com rapidez, por meio de desenhos que seguem padrões determinados, por isso
tornam-se cada vez mais empregados como ferramentas fundamentais para o planejamento da
ocupação urbana nos municípios. O mapa de risco, do qual trata este estudo, portanto, tem o
papel de fornecer uma representação cartográfica dos riscos de danos aos recursos estruturais
e patrimoniais, decorrentes da atividade de mineração de carvão em subsuperfície em Criciúma.
Com a elaboração da base de dados geoespaciais, torna-se possível comparar as áreas
onde houve mineração de subsuperfície, com a proposta de ocupação urbana, conforme o zonea-
mento do Plano Diretor Municipal (CRICIÚMA, 2012). A análise da relação entre ambos é de extre-
ma importância, e esta pode ser feita através da criação de um índice de risco, que proporciona
o conhecimento de áreas com risco maior ou menor de ocupação, conforme as características
da mina, relacionando com a permissividade de ocupação urbana de cada zona do Plano. Desse
modo, pode-se identificar áreas onde o desenvolvimento da ocupação urbana deve ser limitado,
com o intuito de evitar danos estruturais às edificações e danos patrimoniais.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
METODOLOGIA
A delimitação da área de estudo foi definida como o limite municipal de Criciúma, Estado
de Santa Catarina. Optou-se pela cidade, uma vez que, consiste no município mais urbanizado da
região carbonífera, com alto índice de ocupação urbana, e, além disso, dispõe de um plano diretor
aprovado recentemente (CRICIÚMA, 2012), que foi alvo de grandes discussões ao longo de pouco
mais de dez anos. Ademais, o maior número de reclamações recebidas pelo órgão fiscalizador das
atividades minerárias, relativas a danos estruturais e patrimoniais, são oriundas do Município.
O Município integra a região extremo Sul do Estado, e dispõe de 235,71 km² de área total
(Imagem01), conforme dados do IBGE (2013). Pertencente à bacia hidrográfica do rio Araranguá,
e à Associação de Municípios da Região Carbonífera (AMREC), Criciúma dispõe de 192.308 habi-
tantes, com a maior densidade demográfica da região (IBGE, 2010).
Imagem 1 – Localização do Município de Criciúma, SC
Imagem 1 – Localização do Município de Criciúma, SC
178
O produto desse artigo objetiva um mapa síntese de risco de ocupação urbana sobre
áreas mineradas em subsuperfície. Então, utilizou-se a integração de planos de informações, refe-
rentes a atributos relativos ao risco do ambiente e aos aspectos técnicos relacionados à atividade
de extração de carvão mineral em subsolo.
A metodologia de sobreposição de mapas (overlay mapping) e análise multicritério com
suporte decisão por processo analítico hierárquico (AHP) foram escolhidas tendo por base o incen-
tivo ao uso proposto por vários autores, como: Duarte (1991); Berry (1993 apud SOARES FILHO,
2000); Barbosa (1997); Soares Filho (2000); Câmara, Davis e Monteiro (2001); Miranda (2005);
Loch (2006); Ladwig e Schwalm (2012), Krebs (2013).
Para a utilização dos atributos como critérios de ponderação, empregou-se a análise AHP,
que é justificada devido à necessidade de atribuir pesos diferentes aos parâmetros, pois eles não
possuem mesmo potencial de influência de ocupação. A análise pareada consiste em classificar a
relação existente entre duas variáveis, em uma escala de 1 a 9. Sendo que, o grau de importância
cresce de 1: Igual até 9: Absolutamente Melhor (SAATY, 1992).
Os níveis de consistência adquiridos foram utilizados como ponderações em equações
multicritérios, ocasionando a unificação de parâmetros quantitativos, bem como, a inclusão de
parâmetros qualitativos.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Quadro 1 – Proposta de ocupação do plano diretor, conforme análise hierárquica de parâmetros urbanísticos
ZONAS IA Nota IA TO básica Nota TO Lmín Nota Lmín NP Nota NP Nota Final
Fonte: osDos
Fonte: autores
autores
Dessa forma, com a razão de consistência em 0,064, a análise pode ser validada, e os
pesos identificados para cada parâmetro culminaram na equação:
𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂çã𝑜𝑜 + (𝐼𝐼𝐼𝐼 × 0,624) + (𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇á𝑠𝑠 × 0,044) + (𝐿𝐿𝐿𝐿í𝑛𝑛 × 0,208) + (𝑁𝑁𝑁𝑁
× 0,069)
Sim 10
Não 2,5
Sim 2,5
181 Não 10
Sem Informação 5
0 – 30 10
30 – 60 5
> 60 2,5
Fonte: os autores
Fonte: Dos autores
MAPA DE CONFLITOS
risco de ocupação sobre as áreas mineradas, em função do plano diretor recentemente aprovado.
Esse resultou da sobreposição das bases geradas anteriormente.
Por meio da análise hierárquica, foram obtidos os valores correspondentes ao risco de
danos estruturais e patrimoniais associados a cada polígono, bem como, o grau de ocupação.
Quadro 3 – Potencial de conflito interpretado a partir do cruzamento entre o
Ambos foram classificados em cinco categorias, que variaram de acordo com as notas: 0 a 2 (muito
baixo); 2 agrau de ocupação
4 (baixo); urbana
4 a 6 (médio); 6ae o riscoe,de
8 (alto); pordanos
fim, 8 estruturais
a 10 (muito e patrimoniais
alto) (Quadro 03).
proveniente da mineração
Quadro 3 – Potencial de conflito interpretado a partir do cruzamento entre o grau de ocupação urbana e o risco de
danos estruturais e patrimoniais proveniente da mineração
Risco de Mineração
Grau de
Ocupação Muito Muito
Alto Médio Baixo
Alto Baixo
Muito Muito
Muito Alto Alto Alto Médio
Alto Alto
Muito
Alto Alto Alto Médio Médio
Alto
Muito
Baixo Alto Médio Médio Baixo
Baixo
Muito Muito
Muito Baixo Médio Médio Baixo
Baixo Baixo
182
Fonte:Dos
Fonte: os autores
autores
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Além disso, é importante informar que os conflitos tendem a ocorrer, também, nas áreas
de recuperação ambiental, onde se teve a disposição de rejeitos piritosos, os quais estão sendo
isolados em cápsulas de argila. Assim, visando evitar que haja o contato com água e oxigênio. No
entanto, o plano diretor não considera uso futuro restrito para essas áreas, o que coloca em risco
a integridade dessas cápsula. Conforme a atividade proposta, pode haver o retorno da exposição
dos rejeitos piritosos à água e ao oxigênio, o que vem a gerar novamente drenagem ácida, junta-
mente com todos os impactos causados pela lixiviação de metais.
Ao comparar o grau de ocupação urbana proposto pelo plano diretor municipal, obtido
pelo método de suporte à decisão AHP, com o mapa de áreas mineradas em subsolo, nota-se que
estão sobrepostas áreas de densa ocupação permitida, com áreas mineradas. O fato caracteriza
a existência de zonas de risco, onde é mais provável que ocorram problemas futuros, como nos
bairros, Pinheirinho, Jardim Angélica, Pio Corrêa, Santo Antônio, Operária Nova, Ana Maria, Vila
Macarini, entre outros.
O mapa de Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em Subsolo (Imagem 03)
apresenta as áreas com risco de ocupação urbana, devido à ocorrência de antigas lavras de carvão
em subsolo no Município de Criciúma, sob uma escala que varia dentro de cinco classes de risco:
muito baixo; baixo; médio; alto; e, muito alto.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 3 – Mapa Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em
Subsolo
Imagem 3 – Mapa Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em Subsolo
Esse mapa contrasta os riscos provenientes das áreas mineradas em subsolo, com a
ocupação futura, proposta conforme os parâmetros urbanísticos do plano diretor municipal.
187 Dessa forma, o mapa apresenta a localização das áreas, onde tende a ocorrer mais problemas
futuramente, com vista à alta taxa de ocupação proposta e existente nessas áreas, sobre zonas de
riscos oriundos da mineração de subsuperfície.
A escala de risco de conflitos, aplicada ao Município de Criciúma, apresentou risco muito
baixo em 9,26 km² (18%); baixo em 33,98 km² (65%); médio em 7,67 km² (14%); alto em 1,51 km²
(3%); e, muito alto em 0,11 km².
Deve-se destacar que, a grande maioria das áreas foram consideradas de baixo risco de
conflito, devido à ocupação proposta pelo plano diretor para essas áreas, determinar construções
horizontalizadas, de baixos pavimentos, que dispõe de menores riscos associados. Além disso, os
locais onde a lavra mineral em subsolo ocorreu a profundidades maiores, também ficaram enqua-
drados na escala de baixo risco.
Também as áreas onde o risco foi considerado muito baixo, nota-se que ocorreram prin-
cipalmente sobre Z-APA, ou seja, onde o plano já prevê a ocupação bastante restrita dessas áreas,
uma vez que, tratam-se de zonas de proteção ambiental. A restrição de ocupação dessas áreas
ocorre pelo apelo de preservar recursos hídricos e florestais. No entanto, ao ter sido minerada
em subsolo, essas regiões correm o risco de apresentarem rebaixamento do lençol freático, já
que as deformações resultantes de subsidências e instabilidades geológicas formam passagens
preferenciais para a água subterrânea, e podem direcioná-las para o interior das minas. Portanto,
verifica-se que o risco ambiental permanece existindo, ainda que sem a ocorrência de ocupações
urbanas.
As áreas onde se identificou risco médio de conflito correspondem principalmente, àque-
las marginais a rodovias, avenidas, e vias de importância do Município, onde o zoneamento permi-
te a construção de edifícios mais altos, e densa ocupação demográfica sobre áreas mineradas. O
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
fato agrava o risco de conflito, pois quando o dano ocorre em áreas com maior incidência popula-
cional, acaba atingindo um número maior de pessoas.
O risco alto de conflito foi atribuído às áreas onde houve sobreposição de camadas mine-
radas, bem como, onde o plano diretor permite ocupação industrial e residencial, de dois, quatro,
oito, dez e até dezesseis pavimentos sobre áreas mineradas. O risco alto se manifesta principal-
mente nos bairros Ana Maria, Recanto Verde, Fábio Silva, São Luiz, Primeira Linha, Pinheirinho,
Jardim Angélica, Sangão, Morro Estevão e Nossa Senhora do Carmo. Com destaque para a área
próxima ao Parque das Nações e ao Criciúma Shopping, que apesar de não ter sido classificada
como de risco muito alto, trata-se da região mais conflitante, pois permite a construção de edifí-
cios de até dezesseis pavimentos, sobre áreas onde houve mineração em subsolo.
O mesmo ocorre para as áreas de muito alto risco de conflito, uma vez que, são permi-
tidos até cinco pavimentos sobre áreas mineradas. O risco é considerado maior para essas áreas,
pois tiveram duas camadas de carvão lavradas. Ou seja, o risco é agravado, pois a instabilidade
geológica associada é maior.
Caso uma subsidência, em sua curvatura, atinja um pilar de fundação de um prédio,
este pode ter toda a sua extensão comprometida. O resultado pode ser a interdição do edifício,
gerando prejuízos aos moradores, além de uma série de processos judiciais, tanto contra a própria
prefeitura, como também, contra a empresa construtora da obra, e a empresa mineradora.
Os usos permitidos sobre áreas mineradas devem ser restritos a atividades que não
sofram tanto impacto, caso aconteça uma subsidência. Esses usos devem priorizar a atribuição de
pouco peso às estruturas mineiras em subsolo. Outra opção, viável apenas para as regiões onde a
lavra foi próxima à superfície, é fazer as fundações de construções abaixo das galerias, garantindo
188 a estabilidade da edificação.
Com esse mapa, fica evidente a necessidade de realização de furos de sondagem, para
que se verifique a existência de galerias, bem como, sua profundidade. É fundamental a realização
de amostragens, anteriormente ao início das obras de construção, principalmente de edifícios
com número maior de pavimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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rial, tecnologia e inovação. Florianópolis: Insular, 2012. 264 p.
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ciais. Florianópolis: UFSC, 2006. 314 p.
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Santa Catarina. In: MILIOLI, Geraldo; SANTOS, Robson Dos; CITADIN-ZANETTE, Vanilde. Mineração
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190
CAPÍTULO XIV
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan14
191
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
O Planeta Terra está em constante transformação e cada período é caracterizado por uma
combinação única de fatores e elementos que compõe esse sistema dinâmico da superfície, da
atmosfera, do oceano, dos organismos e dos ecossistemas (TAVARES, 2004). Característica ineren-
te dessas transformações globais são as pulsações climáticas e o balanço energético do planeta
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
(GELBSPAN, 1999; LABOURIAU, 1998). Essa dinâmica configura um complexo sistema interdepen-
dente, que por si, busca o equilíbrio ecológico do planeta.
Entretanto, a emissão em grande escala dos Gases de Efeito Estufa (GEE), com origem
nas atividades antrópicas, tem influenciado este equilíbrio energético e acelerado o Efeito Estufa,
ocasionado nestes últimos séculos o aumento acelerado da temperatura média global (IPCC,
2014; LABOURIAU, 1998; TAVARES, 2004). A interferência antrópica no sistema climático ocasiona
diversas transformações, não somente no clima, mas em inúmeros outros fenômenos e nos siste-
mas naturais e socioeconômicos - os quais o clima mantém interação – configurando um ciclo de
retroalimentação positiva, que repercute nos elementos componentes do sistema climático e nos
demais sistemas do universo interativo.
Estas interferências antrópicas são de tal grandeza, que pesquisadores falam agora de
uma nova era geológica, o “Antropoceno” (HODSON, MARVIN, 2014). As alterações no clima global
e os impactos resultantes sobre o meio ambiente vem incidindo ao longo das gerações, devido
a questões ambientais não resolvidas desde a revolução industrial e da urbanização. Entretanto,
além das transformações já observadas, e das transformações em curso, a emissão contínua de
GEE causará ainda mais aquecimento e mudanças em todos os componentes do sistema climático,
ampliando consideravelmente a probabilidade de novos e graves impactos difusos e irreversíveis.
Estas mudanças ocasionam transformações em diversos outros fenômenos e sistemas
naturais e socioeconômicos, que estarão sujeitos, em maior ou menor grau conforme sua vulne-
rabilidade, magnitude e a rapidez dos acontecimentos (TAVARES, 2004). Diante deste cenário,
fica evidente a exposição e vulnerabilidade de alguns ecossistemas e dos sistemas humanos à
variabilidade climática. Especificamente em áreas urbanas, as mudanças climáticas interferirão
sobre a qualidade de vida através dos riscos de estresse ocasionado pelo calor, tempestades e
193
precipitações extremas, inundações costeiras, deslizamentos de terra, poluição do ar, escassez de
água e elevação do nível do oceano, tornando ainda mais vulneráveis as localidades desprovidas
de infraestrutura básica e serviços e as áreas de exposição direta aos impactos (IPCC, 2014).
No intuito de elucidar os possíveis impactos decorrentes das mudan-
ças climáticas para as próximas décadas, o IPCC apresenta quatro distintos cenários
- com uma sinopse estimativa de impactos futuros. Esses cenários variam desde o cumprimento
rigoroso de medidas de mitigação (denominado cenário RCP 2.6) até o cenário possível, caso os
modelos vigentes de crescimento econômico e populacional se mantenham (cenário RCP 8.5). A
tabela a seguir (Tabela 1) apresenta uma síntese desses quatro cenários, contendo os principais
impactos globais para o período entre 2081- 2100 em relação ao período de 1986-2005 (IPCC,
2014).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
AUMENTO
MÉDIO DA 0,3 °C a 1,7 °C 1,1 °C a 2,6 °C 1,4 °C a 3,1 °C 2,6 °C a 4,8 ºC
TEMPERATURA
DERRETIMENTO
15 a 55% 35 a 85%
DAS GELEIRAS
AUMENTO
0,26m e 0,55
MÉDIO DO 0,45m e 0,82 m.
m
NÍVEL DO MAR
Fonte:
Fonte: Elaboradoaapartir
Elaborado partirdos
dos dados
dadosdo
doIPCC
IPCC(2014).
(2014).
No Brasil, cerca de 19% da população do país ocupa as zonas costeiras (o que corres-
ponde menos de 1% do território nacional). Dessas áreas, diversas cidades ocupam espaços de
planícies costeiras, com pouca variação altimétrica em relação ao nível do mar. Outro agravante
se dá pela ocupação sobre os ecossistemas costeiros, como mangues, gerando pressões antrópi-
cas e interferindo na saúde e conservação destes, e consequentemente expondo comunidades a
fenômenos como erosão, ressacas e tempestades.
A variabilidade de cenários futuros, previstos para o clima, exigem cons-
tante supervisão e aprendizagem para tornar mais eficaz as medidas de adaptação8
e mitigação (IPCC, 2014). Essas medidas demandam uma nova forma de desenvolvimento, que
implica em planejamento e tomada de decisões em um contexto de incertezas num ambiente
dinâmico.
No contexto urbano, a adaptação consiste na adoção de medidas de ajuste dos sistemas
socioeconômicos e preservação dos sistemas naturais que aumentem a capacidade de resiliência,
e em estratégias de que objetivem reduzir a vulnerabilidade socioambiental às mudanças climá-
ticas (IPCC, 2014; VAGGIONE, 2014), fundamentadas numa perspectiva de sustentabilidade e de
que cada ambiente demanda soluções singulares.
MANGUES
Os mangues são ecossistemas característicos por ocuparem espaços entre a terra e
o mar, em áreas de baixa latitude, sendo a fauna e flora robustas e adaptáveis à exposição de
mudanças diárias de maré, ambientes de água salgada e variação de anoxia (KIRWAN, et al., 2010;
196 SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Dentre a ampla gama de serviços ecológicos prestados pelos mangues, está o amorte-
cimento de impactos das ondas e proteção da costa; redução da erosão e estabilização do solo;
purificação da água através da absorção de impurezas e metais pesados e absorção de poluentes
no ar; nidificação de peixes, répteis, aves e; meios de subsistência para comunidades tradicionais
(ALONGI, 2007; SCHMITT, et al., 2013).
No Brasil, a ocorrência de mangues se dá, de forma descontínua, do estado do Amapá,
acompanhando a costa litorânea até Santa Catarina, estando localizados em áreas estuárias, lagu-
nares, baías e enseadas, abrangendo cerca de 1.225.444 hectares, o que corresponde a 9% dos
manguezais do mundo - a maior faixa protegida de manguezais do planeta (FALKENBERG, 1999;
MMA, 2010). Entretanto, muitas destas áreas de manguezais encontram-se expostas às pressões
antrópicas, como a expansão urbana e a maricultura, além da exposição aos impactos advindos
das mudanças climáticas (SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Atualmente, a União garante a proteção dos ecossistemas costeiros através da Lei nº
12.651/2012 (Código Florestal), na qual dispõe sobre a proteção da vegetação nativa (Áreas de
Preservação Permanente). O dever de conservação dos territórios costeiros é assegurado também
pela Lei nº 7.661/1988, no qual institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) e dá
outras providências. O art. 3º, o PNGC prevê o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira
e dá prioridade à conservação e proteção, dos recursos naturais, renováveis e não renováveis,
como restingas, manguezais, entre outros. (BRASIL, 1998).
Em Santa Catarina, de acordo com Klein (1978) a extensão original da região fitoecoló-
gica de Restingas e Manguezais, eram de 1.999,05 km², ocupando aproximadamente 2,10% da
superfície do Estado. Em estudo recente, Korte et al., (2013) descrevem as restingas e mangues,
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Gestão Integrada do Território
como ecossistemas ricos em espécies, dos quais desenvolvem importantes serviços ambientais de
considerável importância ecológica.
Cada região tem diferentes fatores de influência na capacidade de resiliência12
e persistência13 dos mangues às mudanças climáticas e a recuperação dessas perturbações varia
na escala temporal e também de acordo com a escala do distúrbio (ALONGI, 2007; KIRWAN, et al.,
2010; IPCC, 2014). As pesquisas realizadas por Kirwan et al., (2010), Gilman et al., (2008) e Alongi
(2007) indicam como as mudanças climáticas poderão impactar os mangues:
• 20 a 60% das zonas úmidas costeiras do mundo irão submergir devido à elevação do nível do
mar, aumentando a vulnerabilidade de comunidades, expondo o litoral a inundações, tempes-
tades e a erosão14..
• Redução da qualidade das águas costeiras, redução da biodiversidade, e liberação de grandes
quantidades de carbono armazenado.
• O aumento da intensidade e da frequência das tempestades implica em estresse e mortalida-
de de flora, a elevação de sedimentos através da erosão e sedimentação do solo, a compacta-
ção do solo, entre outros impactos.
• O aumento da salinidade provocará maior disponibilidade de sulfato na água do mar, o que
aumentaria a decomposição anaeróbia de turfa, aumentando a vulnerabilidade do mangue.
• Respostas antropogênicas às mudanças climáticas podem agravar os efeitos adversos sobre
estes ecossistemas.
Porém, as respostas de manguezais às mudanças climáticas dependem, essencialmente,
197 da interação entre processos locais (SOARES, et al., 2008) e pressões não-climáticas, que também
interferem na resiliência. Assim, essas mesmas áreas, se restauradas e conservadas, a partir de
uma gestão integrada de AbE, apresentam potencial inerente no auxílio à adaptação e resiliência
local frente às mudanças climáticas e seus impactos adversos. Desse modo, apresentam potencial
a serem gerenciados para a proteção das comunidades que dependem desses sistemas ecoló-
gicos, bem como a prestação sustentada de serviços ambientais às comunidades (SCHAEFFER-
NOVELLI, et al., 2016).
CONTEXTUALIZAÇÃO E METODOLOGIA
12
Resiliência é a capacidade de se recuperar de uma perturbação para algum estado mais ou menos persistente (ALONGI, 2007);
resiliência [ecológica] é a quantidade de mudança que um sistema pode sofrer, mantendo sua estrutura e funções (SCHAEFFER-
-NOVELLI, et al., 2016); ou ainda, a capacidade de um mangue migrar naturalmente devido à elevação do nível do mar, de tal modo
que o ecossistema absorva e reorganize-se de forma a manter as suas funções, processos e estrutura (GILMAN, et al., 2008).
13
Persistência refere-se a constância ao longo do tempo, independentemente da perturbação ambiental (ALONGI, 2007).
14
Sierra- Correa e Kintz (2015) apresentam estimativas de que se o ritmo atual de perda contínua de ecossistemas persistir, em 100
anos, 30-40% das zonas húmidas costeiras e 100% das florestas de mangues poderão ser perdidos.
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Gestão Integrada do Território
Imagem 1 - Localização das Cidades de Itajaí e Joinville
Imagem 1 - Localização das Cidades de Itajaí e Joinville
RESULTADOS
Para essa pesquisa, os recortes concentram-se em áreas urbanas centrais das cidades,
principalmente, em áreas limítrofes às áreas de mangues. No caso de Itajaí, a área de estudo loca-
liza-se na foz do Rio Itajaí-Açú, e em Joinville na região de entorno da Lagoa Saguaçu.
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ITAJAÍ
O município de Itajaí está localizado na região Cento Norte do litoral catarinense. A foz
do Rio Itajaí, abarca um dos maiores complexos portuários do país. O bairro Fazenda faz parte do
complexo portuário e situa-se próximo ao Centro, na margem direita do rio, onde se localiza parte
da área urbana do município e a região conhecida como Saco da Fazenda (Imagem 2).
O Saco da Fazenda surge de intervenções de obras de engenharia que ampliaram artifi-
cialmente a sua área. Conhecida como uma região tradicional, que se desenvolveu rapidamente,
atualmente abrange a rota gastronômica, o Centro Eventos, a Associação Náutica e a Área de
Imagem
Proteção 2 - Mapeamento
Ambiental de Aumento
do Saco da Fazenda 15
. do Nível do Mar no Bairro Saco da
Fazenda em Itajaí.
Imagem 2 - Mapeamento de Aumento do Nível do Mar no Bairro Saco da Fazenda em Itajaí.
199
Além da ocupação urbana ter se estabelecido, em áreas que por lei são Áreas de
Preservação Permanente16, sofreu ao longo dos anos alterações antrópicas nos meandros do estuá-
rio que ali existia, limitando seus espaços (SCHETTINI, 2009). Tognella et al., (2009) destaca que o
Saco da Fazenda é um ambiente importante, tanto sob o ponto de vista ecológico quanto econô-
mico, pois inúmeros pescadores dependem dessa área para ancoragem de suas embarcações.
Embora se trata de uma área pequena (imagem 3a) é um ecossistema de mangue e
de estuário, um ambiente naturalmente complexo com alta biodiversidade, onde se encontram
espécies nativas em ambiente razoavelmente preservado. Nesse ambiente, encontra-se a foz do
ribeirão Schneider (IZA, MARENZI, 2009).
15
Prefeitura Municipal de Itajaí. Decreto 8.513 de 04 de março de 2008. Unidade de Conservação de Uso Sustentável de aproxi-
madamente 650.000 m2.
16
De acordo com a Lei 12.651/12, art. 4º, que estabelece o mínimo de Área de Preservação Permanente de 100 (cem) metros, em
cursos d’água que tenham mais de 50 (cinquenta) metros de largura, como o Rio Itajaí.
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Itajaí (2012) estabelece como um dos objetivos da macrozona, recuperar as áreas ambien-
talmente degradadas e promover a regularização urbanística e fundiária dos assentamentos exis-
tentes para contribuir com o desenvolvimento econômico sustentável. É importante destacar, que
elementos de lazer, tais como: parques, quadras de esportes, ciclovias e faixas para pedestres, são
necessários para a qualidade de vida da população (imagem 3b).
O limite entre o ecossistema natural (mangue) e a urbanização da área é delimitado por
uma estrutura de muro com pedras, como forma de contenção. Conforme pode ser observado, na
imagemImagem
3c, a dinâmica do sistema
3. (A) Área natural no
de Mangue já está interferindo
Bairro Saco da na estrutura
Fazenda emdeItajaí,
contenção,
(B) inician-
do pequenas erosões ao longo do limite entre as áreas.
Presença de Elementos de Lazer, como Parques, Quadras de Esportes,
Ciclovias
Imagem e Faixas
3 - (A) Área paranoPedestres
de Mangue (C)
Bairro Saco da Pequenas
Fazenda em Itajaí,Erosões aodeLongo
(B) Presença do de
Elementos Limite
Lazer, como
Parques, Quadras de Esportes, Ciclovias e Faixas para Pedestres
Entre As Áreas (C) Pequenas Erosões ao Longo do Limite Entre As
Áreas
JOINVILLE
A cidade de Joinville, localizada no Norte Catarinense, é atualmente a cidade mais popu-
losa e industrializada do estado e está localizada na planície costeira, às margens do estuário Baía
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da Babitonga. A região concentra 43km² de áreas de mangues (SOUZA, 1991), o que equivale a
cerca de 37% das áreas de manguezais do estado catarinense17..
Historicamente, o crescimento e a expansão urbana causaram a poluição e supressão
de parte dos manguezais, principalmente a partir da década de 1970. Esse processo ocorreu de
forma desordenada sob a pressão da especulação imobiliária e do crescimento industrial, devido
à localização privilegiada de proximidade do centro urbano e da baía (CAVION, 2014; SOUZA,
1991). A ocupação urbana e a ação antrópica sobre as áreas de mangues impactaram o ecossis-
tema e provocaram a degradação ambiental, afetando também a qualidade de vida da população
e do meio.
As áreas remanescentes são protegidas, fisicamente por canais que às separam das áreas
ocupadas, e legalmente, através de legislação de preservação (CAVION, 2014), pelas unidades
de conservação e pelo zoneamento urbano específico. Essas áreas de preservação exercem uma
importante função de prestação de serviços ecológicos para o estuário e para a cidade, principal-
mente durante as inundações periódicas de amplitude de marés.
Com o advento das mudanças climáticas, os manguezais da região de Joinville deparam-
-se com uma situação crítica em relação aos cenários futuros previstos. As áreas sujeitas ao impac-
to da elevação do nível do mar no município extrapolam o perímetro rural e dos ecossistemas de
mangues, e pelas projeções poderão atingir a área central de Joinville (imagem 04).
Imagem 4 - Mapeamento das Áreas Inundadas pela Elevação do Nível do Mar
na Região
Imagem 4 - Mapeamento das Áreas Central
Inundadas de Joinville
pela Elevação do Nível do Mar na Região Central de Joinville
201
A adaptação dos mangues dependerá, entre outros fatores, das condições morfológi-
cas do terreno e dos processos locais de erosão e deposição de sedimentos para que ocorra a
17
Em Santa Catarina, os mangues ocupam uma extensão de cerca de 11.576 hectares.
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sua migração (GILMAN, et al., 2008; SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016). Porém, tal condição está
restrita à existência de barreiras físicas. Em Joinville, os ecossistemas de mangues, ao longo da
Baía da Babitonga perpassam as áreas rurais, áreas de preservação (Imagem 5a) e áreas urbanas.
Nessa última, o mangue encontra-se
Imagem em parte limitado
5 - Manguezais Na Cidadepela infraestrutura
De Joinville urbana, impossibilitan-
do a migração da flora e fauna (imagem 5b).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ambiente e não mais temos a função de dominá-lo, mas de vivermos em simbiose. Para Capra
(1996), aprender sobre a complexidade da natureza e sua sustentabilidade permitirá nos aproxi-
mamos dela com respeito, cooperação e diálogo, nos reconectando com a teia da vida.
A partir desta conscientização é possível gerar o envolvimento social na gestão integrada.
Nesse aspecto, a participação comunitária é também relevante devido ao conhecimento tradicio-
nal e percepção local, que precisam ser integrados às pesquisas e ao planejamento. Disso, cabe
também reconhecer que a comunidade é um ator em potencial com capacidade de auto-organi-
zação, sendo a participação uma maneira de legitimar o plano e garantir a aceitação e implemen-
tação de ações locais.
Em paralelo, para que se possam iniciar as ações de conscientização e a formu-
lação de planos e estratégias, é fundamental compreender as dinâmicas locais. Devido
às dinâmicas constantes do meio antrópico e natural, o monitoramento desses ecossiste-
mas (natural e urbano) é um indicador potencial para detectar as variações do nível do mar18
e traçar possibilidades de atuação e adaptação a esses novos tempos.
Assim, tanto o envolvimento e engajamento multisetorial (comunidade, pesquisadores
e instituições) como o conhecimento científico e tradicional são bases para a formulação de um
plano (não-rígido) de AbE. Lidar com as mudanças climáticas e adaptação é lidar com incertezas.
Logo, a AbE permite a diversificação e conectividade de abordagens. Dessa forma, se possibilita
a alternância, assegurando uma menor dependência de uma única estratégia (SCHMITT, et al.,
2013).
Cidades e ecossistemas são dinâmicos, assim como os seres humanos que constante-
mente as criam e transformam. A cidade resiliente será, então, aquela que constantemente se
recria, com criatividade e de forma colaborativa. Uma política bem-sucedida e sustentável será
205
uma política que progride com cautela, deliberação, flexibilidade, justiça e paciência.
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P. 263-272.
208
CAPÍTULO XV
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan15
209
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
A organização social e espacial contemporânea retrata uma clara tendência das pessoas
a morar ou a migrar para as cidades. Do ponto de vista histórico, desde meados do século XX até
o presente século XXI, observou-se, a escala mundial, um forte processo de crescimento demo-
gráfico e de urbanização. Vários autores apontaram, respectivamente, os séculos XX e XXI como
o “século da urbanização” e o “século da cidade”. (MENDONÇA, 2004). De acordo com Oberai
(1989), as formas de crescimento urbano englobam o aumento natural da sua população pela
diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade, as migrações e a conversão de zonas rurais
em áreas urbanas.
No Brasil, conforme apresentado por Maricato (2011), analisando o período de 1940 a
2010, a autora concluiu que a proporção da população brasileira vivendo nas cidades passou de
31% para 84%, destacando de fato, um dos processos mais intensos de urbanização ocorridos no
mundo durante o século XX. Na mesma lógica de estudo do processo de urbanização brasileira,
Santos (1993) afirma que em 35 anos (1953 – 1988), a população urbana brasileira foi praticamen-
te multiplicada por 5 e, nos últimos 25 anos (1963 – 1988), ela passou a triplicar.
No entanto, toda esta população que migra para as cidades não desfruta de forma igual
das mesmas condições e qualidade de vida. O espaço urbano é estruturado e dividido conforme
classes de renda. As parcelas de maior renda conseguem habitar as melhores áreas da cidade, a
parcela de menor poder aquisitivo, as áreas centrais e deterioradas, para os mais desfavorecidos,
geralmente restam as favelas. Dentro dessa conjuntura de urbanização acelerada, caracterizada
em alguns locais por uma diferenciação da ocupação espacial e do acesso às infraestruturas urba-
210 nas, surge uma nítida ameaça sobre as áreas naturais dentro das cidades ou nas adjacências dos
grandes centros urbanos. Essas áreas geralmente, mesmo quando existe uma legislação que asse-
gure sua conservação, são os alvos privilegiados de uma forma de ocupação urbana diferenciada.
(CARLOS, 2001).
A realidade supracitada é presente em vários municípios brasileiros e, desde a década
de 1980, intensificou-se em Matinhos (litoral do Paraná), devido ao seu processo de urbanização
que, em 2010, já apresentava segundo os dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES, 2016), um grau de urbanização de 99,49%. Esse processo de urbani-
zação gera vários impactos sobre suas características naturais, dentro das quais, pode-se destacar
as ameaças sobre as Unidades de Conservação presentes, principalmente sobre os limites do
Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, cuja área de entorno está sendo transformada progressi-
vamente em área urbana.
O trabalho objetiva apresentar, em um primeiro momento, uma revisão bibliográfica acer-
ca da temática norteadora do estudo, que é a relação urbanização - meio ambiente, bem como
identificar e caracterizar o processo de urbanização do município de Matinhos-PR, tendo como
um de seus desdobramentos a expansão urbana no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange.
A organização do trabalho será estruturada conforme a seguir. A primeira parte apre-
sentará uma breve revisão bibliográfica sobre os conceitos relativos à urbanização e seus desdo-
bramentos sobre o meio ambiente. Demonstrará, também, a importância das Unidades de
Conservação, principalmente os parques para a conservação ambiental. Em seguida, será apre-
sentado o processo histórico de urbanização do município de Matinhos-PR juntamente com os
resultados e discussões sobre a análise que foi realizada com o objetivo de identificar as pressões
antrópicas no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Essa definição apresenta um aspecto mais holístico e integrador entre as diferentes bases
que compõem o ambiente urbano. Retrata claramente que, as cidades nascem e se sustentam da
relação que existe entre seus componentes natural, social e construído. A cidade torna-se, então,
o palco das mudanças na base física (ou natural) do espaço, a fim de abrigar populações que têm
dinâmicas econômicas, sociais e culturais específicas. Em outras palavras, pode-se dizer que a
instância natural das cidades é a que sustenta as demais instâncias pela sua capacidade de prover
um ambiente adequado e os recursos.
A urbanização pode ser, portanto considerada como um dos principais fatores modifi-
cadora da Natureza para fim de instalação humana. Segundo Monteiro (1987 apud Nucci, 2008,
p.12) “(...) as pressões exercidas pela concentração da população e de atividades geradas pela
urbanização e industrialização concorrem para acentuar as modificações do meio ambiente, com
o comprometimento da qualidade de vida”.
Para Ribeiro, Freitas e Costa (2010), o acentuado processo de urbanização que está
ocorrendo desde o início do século passado, traz consigo grandes alterações nas características
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naturais das áreas modificadas como, por exemplo, remoção da cobertura vegetal original, imper-
meabilização de extensas áreas, canalização de rios, entre outros.
É importante frisar também que a urbanização, do ponto de vista social e econômico, não
oferece para todos condições iguais de vida digna dentro do espaço urbano. Conforme ressaltado
por Maricato (2010), para as camadas mais desfavorecidas que ocupam as áreas ambientalmente
inadequadas, “não é por falta de leis ou planos que essas áreas são ocupadas, mas por falta de
alternativas habitacionais para a população de baixa renda”. (MARICATO, 2010, p.9).
Nesse sentido, o processo de urbanização desordenado e sem o adequado planejamen-
to pode causar graves problemas ambientais. Isso porque, dependo do modelo de urbanização
adotado pela cidade, poderão ser gerados a curto, médio ou longo prazo, problemas específicos
que necessitarão de uma agenda de priorizações. A busca para a resolução ou minimização desses
problemas pode conduzir ao desenvolvimento voltado à perspectiva da sustentabilidade urbana.
Tratar da problemática ambiental urbana necessita a adoção de um conjunto de medidas que
poderão ser materializados pela adoção de uma política de ocupação para o território que consiga
englobar estudos sobre pontos chave, tais como: a rede de cidades, bacias hidrográficas, uso e
ocupação do solo, entre outros. (VERONA, GALINA e TROPPMAIR, 2003).
Toda a conjuntura apresentada anteriormente sobre a forma como a urbanização deu-se
em algumas regiões, nos faz vislumbrar a necessidade de se focar no processo de planejamen-
to das cidades. Esse processo deve considerar os aspectos sociais, econômicos e ambientais. O
desenvolvimento das cidades implica em novos conceitos, tanto na forma de enxergar como de
planejar. Crescer sem destruir, fortalecimento da democracia, gestão integrada e participativa
e informação para a tomada de decisões são fatores primordiais e prioritárias para alcançar a
sustentabilidade urbana e exige uma indissolubilidade da problemática social da problemática
212
ambiental. (MMA, 2000).
Conforme apresentado por Rylands e Brandon (2005), a classificação do Brasil como país
megadiverso lhe impõe um compromisso maior, a escala planetária, em proteger os três maiores
biomas mais representativos da sua biodiversidade (a Amazônia, o Pantanal, e a Caatinga – e dois
hotspots de biodiversidade – a Mata Atlântica e o Cerrado). Para tanto, os autores ressaltam que
as Unidades de Conservação constituem um fator crucial para conservar o que resta.
Contudo, observa-se que a dinâmica de urbanização brasileira está exatamente concen-
trada em um dos biomas mais importantes para a conservação, a Mata Atlântica. Esse bioma é
caracterizado por abrigar aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domí-
nio e onde são gerados aproximadamente 70% do PIB brasileiro. Atualmente, seus remanescentes
de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original. Apenas cerca de 7%
estão bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares. (BRASIL, 2015).
De acordo com Oliveira (1998), o processo de ocupação das cidades brasileiras, caracteri-
zado pelo seu grande crescimento populacional, foi marcado pela falta de planejamento em rela-
ção aos recursos naturais e à qualidade de vida da população. Nesse aspecto, tornou-se importan-
te direcionar mais ações para melhorar as condições ambientais e evitar uma deterioração mais
acentuada dessas. Isso foi concretizad,o pela aprovação de várias legislações nas três esferas do
Governo com o intuito de conservar a natureza.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Assim, a nível federal, foi instituído, pela Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e regulamentado
pelo Decreto Nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), atual legislação em vigor e de forte influência na criação de Unidades de Conservação. O
SNUC é entendido como o conjunto das unidades de conservação federais, estaduais, municipais
e particulares que atendem aos objetivos de conservação e preservação da biodiversidade brasi-
leira. O SNUC define as Unidades de Conservação como:
As Unidades de Conservação (UCs) são subdividas, por sua vez, em duas categorias de
manejo. As UCs de Proteção Integral são caracterizadas pela “manutenção dos ecossistemas
livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos
seus atributos naturais”. Elas englobam: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional;
Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. As UCs de Uso Sustentável admitem o uso direto
dos seus recursos naturais desde que tenha um manejo adequado e uma compatibilização entre
a conservação da natureza e o uso sustentável dos recursos naturais. Elas são constituídas por:
Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva
Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e Reserva Particular do
Patrimônio Natural. (BRASIL, 2000).
213 De forma mais específica e dentro das categorias de Proteção Integral, os Parques foram
criados tendo como objetivo de preservar os ecossistemas naturais que têm uma importante rele-
vância do ponto de vista ecológico e da sua beleza cênica, com o intuito de proporcionar a reali-
zação de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Os parques desempenham vários papeis como, por exemplo, auxiliar na conservação dos
recursos genéticos e da biodiversidade, proporcionar o sequestro do carbono, regular os ciclos
hídricos, bem como a manutenção da qualidade da água, evitar processos erosivos, inundações,
entre outros. (DOUROJEANNI e PÁDUA, 2001; MILANO, 2002).
litorânea. Conta com uma população de 29.428 mil habitantes (IBGE, 2010) e com as seguintes
Unidades de Conservação: Parque Estadual do Rio da Onça, Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange (imagem 2) e Área de Proteção Ambiental Estadual de Guaratuba. Além desses, conforme a
Lei Nº 1067, de 05 de dezembro 2006 que dispõe sobre a instituição do plano diretor participativo
e de desenvolvimento integrado de matinhos, e dá outras providências, foi prevista a criação de
cinco parques municipais que são: Parque Municipal Praia Grande, Parque Municipal Morro de
Sambaqui, Parque Municipal do Tabuleiro, Parque Municipal do Morro do Boi e Parque Municipal
do Sertãozinho (MATINHOS, 2006).
214
Fonte:
Fonte: Organizado
Organizado pelo
pelo do do aautor
autor partira da
partir da cartografia
cartografia disponibilizada
disponibilizada pelo IBGE,pelo IBGE,
(2010); (2010);
ICMBio, (2016) e ITCG,
ICMBio, (2016) e(2015).
ITCG, (2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem2-
Imagem 2 - Parque
Parque Nacional Saint Hilaire/Lange
Nacional Saint Hilaire/Lange
Fonte:
Fonte:Blog PARNA
Blog SaintSaint
PARNA Hilaire/Lange, (2016).(2016).
Hilaire/Lange,
217
2000
1980
Fonte:
Fonte: organizado
organizado pelopelo autor
autor a partir
a partir de imagens
de imagens disponibilizadas
disponibilizadas pelopelo ITCG,
ITCG, (1980);
(1980); Google
Google Earth – Séries
Earth – Séries Históricas,
Históricas, (2000).
(2000).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 5 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1970 – 2016
Imagem 5 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1970 – 2016
Fonte:
Fonte: Fotografias
Fotografias do Acervo
do Acervo dada
da Casa Casa da Cultura
Cultura de Matinhos
de Matinhos - Prefeitura
- Prefeitura Municipal;Municipal; Google
Google Earth, (2016).
Earth, (2016).
* As setas indicam o ponto de referência aqui adotado como sendo o edifício Caiobá
* As setas indicam o ponto de referência aqui adotado como sendo o edifício Caiobá
Hoje em dia, as áreas centrais do município tais como Caiobá e o centro da cidade, já
possuem uma urbanização bem mais consolidada que a dos demais localidades. Isso faz com que
218 a expansão urbana da cidade se oriente para novas áreas tais como o bairro de Tabuleiro, Vila
Nova (face oeste), entre outros que, por sua vez são ocupadas pelas populações residentes do
município. Aqui, é importante frisar que o perfil da população do município de Matinhos se divide
basicamente em moradora (residente) e visitante (turista).
Matinhos, por ter um perfil de cidade litorânea, pode-se considerar a atividade turística
como um dos principais fatores que moldou a urbanização do município. Além disso, os municí-
pios praianos do litoral do Paraná (dentre os quais está Matinhos) ainda se destacam dos demais
da região por apresentar uma das maiores porcentagens de domicílios de uso ocasional (segunda
residência). Tratam-se de residências que são utilizadas com pouca frequência, principalmente,
em alguns fins de semana e feriados durante o ano, porém passam a ter uma maior taxa de ocupa-
ção durante o verão. Por outro lado, a população moradora é constituída pelos residentes que são
pessoas que trabalham e residem ao longo do ano no município.
Destacando os desdobramentos da urbanização sobre os limites do Parque Nacional
Saint Hilaire/Lange (criado em maio de 2001 por meio da Lei nº 10.227), os mapas representados
nas imagens 06 e 07 mostram uma expansão urbana do município em direção à atual área do
parque. As formas de uso da terra mapeadas no período de 1989 a 1990 pelo Instituto de Terras,
Cartografia e Geociências (ITCG) foram: floresta, agricultura cíclica, restinga e área urbana. No
entanto, apesar de ter sido feito pelo mesmo órgão (ITCG), observou-se que as formas de uso do
período de 2001 a 2002 para a mesma área diferiram. Assim, no último caso, passou-se a ter duas
classes: cobertura florestal e uso misto. Apesar de que a nomenclatura tenha mudado, observa-se
uma pequena variação entre a mancha “área urbana” do período 1989-1990 e da mancha de “uso
misto” de 2001 a 2002; exatamente localizadas no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange. Essas variações mostram uma expansão da mancha urbana em direção aos bairros de
Tabuleiro e Sertãozinho.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 6 - Caracterização do Uso da Terra no Período de 1989 A 2002 e
Imagem 6 - Caracterização do Uso da Terra no Período de 1989 A 2002 e Crescimento da Área Urbana do Município
Crescimento da Área Urbana do Município
de Matinhos de Matinhos
entre 1989– 2002 entre 1989– 2002
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
219 Fonte: Elaborado pelo
Imagem 7 - autor a partir
Delimitação da cartografia
e Crescimento da Áreadisponibilizada pelo
Urbana do Município de Itcg, (2002).
Matinhos entre 1989 - 1990 e 2002 – 2002
Imagem 7 - Delimitação e Crescimento da Área Urbana do Município de Matinhos entre 1989 - 1990 e 2002 – 2002
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Ao se analisar a imagem 08, elaborada a partir dos dados publicados pelo Censo
Demográfico do IBGE de 2010, observa-se que a concentração populacional na área central do
município engloba grande parte da população residente, sendo que se nota a existência de alguns
setores censitários que são colados aos limites do parque. Dos 58 setores censitários conside-
rados no censo de 2010, 45 estão localizados a um raio de 3 km a partir dos limites do parque,
totalizando mais de 80% da população total, o que representa 23.737 habitantes. Além disso,
pode-se observar uma concentração dos domicílios no entorno do parque que varia entre a faixa
de intervalo de 370 a 710. Ademais, observa-se que os setores com maior número de residentes
são os que são mais próximos aos limites do parque e que têm um número menor de domicílios
em relação à Caiobá.
Imagem 8 - Número de Domicílio e População Residente no Município de
Matinhos em
Imagem 8 - Número de Domicílio e População 2010 no Município de Matinhos em 2010
Residente
220
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
No que diz respeito à questão da renda, a qual foi obtida a partir do valor do rendimento
nominal mensal das pessoas responsáveis por domicílios particulares permanentes (com e sem
rendimento) do Censo de IBGE 2010), observa-se que as faixas maiores de renda estão nos bairros
da Praia Mansa, Caiobá e no centro (imagem 9). As demais áreas, principalmente as mais próxi-
mas aos limites do parque englobam a população de menor poder aquisitivo.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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221
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atual perfil de forte urbanização que caracteriza o século XXI faz surgir a necessidade
de se repensar a forma como as cidades crescem. Essa discussão sobre o crescimento das cidades
não pode ser dissociada da discussão ambiental, seja da relação que existe entre urbanização e
meio ambiente. Isso se justifica pelo fato que o crescimento urbano, em alguns locais, está ocor-
rendo sobre a base da expansão das áreas urbanas sobre as áreas naturais.
Nessa lógica, além das relações sociais que existem e são criadas e mantidas nas cidades,
é preciso levar também em consideração os impactos das cidades sobre o meio ambiente. Trata-
se de uma forma de se conceber ou olhar para as cidades com o adequado peso que elas têm no
que diz respeito à geração de transformações sobre o ambiente natural que elas causam.
A conservação ambiental em áreas urbanas, a consolidação de unidades de conserva-
ção já existentes frente à expansão urbana, bem como a valorização da proteção ambiental nas
suas áreas de entorno (zona de amortecimento), a conscientização e educação ambiental, entre
outros, são temas de suma importância que se devem ser consideradas ao direcionar os rumos da
urbanização atual. As cidades constituem o elemento central da nossa atual organização espacial
e são, provavelmente, as principais forças modificadoras da paisagem.
O presente estudo permitiu tecer uma reflexão acerca do processo de urbanização do
município de Matinhos-PR, sendo que um dos desdobramentos foi a urbanização no entorno do
Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange. Constatou-se que nessa porção do município está instala-
da parcela significativa da população residente. Além disso, devido ao fato que o plano de manejo
do parque está em processo de elaboração, o parque se encontra em uma situação delicada no
222 que diz respeito à sua relação com seu entorno.
Diante do exposto anteriormente, há a necessidade de pensar e de orientar o processo
de expansão urbana do município para áreas mais adequadas e que não possam constituir uma
ameaça ao entorno do parque. Isso poderá ser materializado, pela criação de instrumento de
controle e de monitoramento do uso e ocupação do solo principalmente nas áreas limítrofes ao
parque. Nesse sentido, torna-se importante pensar no planejamento urbano e gestão da cidade
envolvendo os mais diversos atores, seja eles do poder público municipal, de órgãos ambientais
e também das populações residentes, cuja grande finalidade será, de um lado, oferecer melhores
condições de vida às populações e assegurar a integridade dos limites do Parque Nacional de
Saint-Hilaire/Lange.
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e regulamentou o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, 2000.
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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
225
CAPÍTULO XVI
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan16
226
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
O litoral norte do Rio Grande do Sul e suas belezas naturais beneficiados pela facilidade
de acesso às praias apresentaram, nos últimos vinte anos, um desenvolvimento expressivo, tanto
em sua economia, movimentado principalmente pela construção civil, quanto na urbanização das
cidades.
A construção civil é a principal atividade econômica das cidades em destaque neste estu-
do, e o produto condomínio horizontal fechado provoca diversos impactos seja no meio ambien-
te, no modelo de urbanização e na vida das pessoas. Modifica, principalmente, a paisagem natural
do litoral entre o mar e a lagoa, devido à ocupação urbana de áreas rurais, com grandes e luxuosas
residências.
Esse artigo busca identificar e apresentar alguns aspectos que contribuíram para o desen-
volvimento urbano das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, localizadas na região Litoral Norte,
no Rio Grande do Sul a partir do surgimento de novos produtos imobiliários, os condomínios hori-
zontais fechados, bem como os possíveis impactos provocados por este modelo de urbanização.
O estudo é de natureza qualitativa exploratória, composto de uma pesquisa bibliográfica
com o uso de dados secundários de alguns estudos realizados anteriormente, principalmente de
índices e indicadores da FEPAM19, FAMURS20, IBGE21, a legislação e os Planos Diretores municipais,
que regulamentam o zoneamento urbano dos dois municípios.
Quanto à organização desse estudo, inicialmente, apresenta-se uma breve revi-
são bibliográfica acerca do desenvolvimento urbano e o crescimento das cidades. Na sequência,
destaca-se o Litoral Norte do Rio Grande do Sul e sua limitação geográfica, em seguida o processo
227
de urbanização principalmente o surgimento dos condomínios fechados, a gestão do espaço urba-
no e a legislação para a construção dos condomínios fechados nos municípios de Capão da Canoa
e Xangri-lá. Por fim, tem-se uma análise dos principais impactos causados pelos condomínios
fechados no território e deste estudo.
DESENVOLVIMENTO URBANO
19
FEPAM –Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente.
20
FAMURS – Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul.
21
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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O PNDU aponta ainda que “O crescimento de nossas cidades reproduz a cultura urba-
nística herdada do período autoritário” (2004, p. 56). Caracteriza-se pela exclusão, pois, naquele
modelo, desconsiderava as necessidades da maioria dos moradores. Por fim, segrega e diferencia
moradores “incluídos” na urbanidade formal e moradores dela excluídos, bem como os impactos
228 socioambientais para a cidade como um todo, sendo esse um grande problema social devido ao
crescimento das cidades.
O crescimento das cidades impacta em inúmeros problemas sociais, econômicos e
ambientais, principalmente em áreas com ocupações ilegais e sem a devida estrutura para viver
com qualidade. Portanto, é necessária a consciência política sobre a “urbanização da pobreza”,
que se fez presente na criação, em 2003, do Ministério das Cidades, que foi estruturado levando
em consideração as variáveis mais relevantes em aspectos econômicos e sociais, atuando em
estratégicas de sustentabilidade ambiental e inclusão social no espaço urbano (PNDU, 2004).
É importante destacar que “Aquelas cidades que buscam oferecer a desregulamenta-
ção como vantagens tiveram seu crescimento limitado pela própria queda na qualidade de vida”
(PNDU, 2004, p. 19). Em algumas cidades, percebe-se a falta de políticas públicas fiscalizadoras,
pois é visível o crescimento desordenado.
Mesmo com o aumento cada vez maior dos recursos financeiros federais, “o ministé-
rio das cidades considera urgente a expansão dos investimentos públicos em habitação e em
infraestrutura urbana” (PNDU, 2004, p. 21). Esses investimentos em todos os níveis de governo
(Federal, Estadual e Municipal) acontecem, principalmente, em regiões com famílias em maior
nível de vulnerabilidade social que, na realidade do Brasil, representa a maioria dos brasileiros
que compõem o déficit de moradias e de infraestrutura nas cidades brasileiras.
Para o PNDU, “a cidade não é neutra e pode ser vista como uma força ativa, uma ferra-
menta eficaz para gerar empregos e renda e produzir desenvolvimento econômico” (PNDU, 2004,
p. 37, grifo do autor). Essa nova tipologia do entendimento da formação das cidades deve estar
pautada em atender às demandas comerciais de transportes, armazenagem e reparações mecâ-
nicas para fomentar o desenvolvimento econômico e as variáveis relacionadas à infraestrutura da
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cidade como habitação, saúde, cultura, finanças, educação geral e profissional. Portanto, cabe à
política urbana revelar as cidades para a ação governamental e destacar a sua importância para
o desenvolvimento de toda uma região e até do país como um todo. Essa é a função da nova
tipologia das cidades, em elaboração no âmbito da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano.
Conforme Constituição Federal, previsto no artigo 182, as cidades com mais de 20 mil
habitantes têm a obrigatoriedade de elaborar um Plano Diretor. O plano “é um documento da
natureza técnica e política que tem por objetivo direcionar o crescimento físico-territorial e
socioeconômico dos núcleos urbanos do município.” (BONAMENTE; SOUZA, 2012, p 21).
O Plano Diretor deve conter (BONAMENTE; SOUZA, 2012, p 22):
Conforme Bonamente e Souza (2012), com base no Plano Diretor, o crescimento da cida-
de não está vinculado aos interesses políticos particulares ou imediatistas, possibilitando o cres-
cimento ordenado da cidade com visão de longo prazo. De acordo com o desenvolvimento da
cidade, o Plano Diretor deve ser revisado e ampliado de maneira formal, incluindo atividades que
229 até então não existiam na região.
O “repensar o desenvolvimento urbano e regional brasileiro implica em elaborar um
projeto de médio e longo prazo que tenha como meta a redução das desigualdades regionais e
sociais” (PNDU, 2004. p. 35). Dessa forma, o desenvolvimento regional deve considerar “o trinô-
mio formado pelo crescimento econômico, pela justiça social e pela necessária prudência ecoló-
gica, estabelecendo metas seguras para o desenvolvimento sustentável.” (BONAMENTE; SOUZA,
2012, p 79). O crescimento da cidade deve respeitar o Plano Diretor que regulamenta o uso e a
ocupação do solo, principalmente em aspectos ambientais.
É importante destacar que o desenvolvimento urbano deve considerar sempre os
aspectos legais de uso e ocupação do solo, garantindo, assim, a qualidade de vida das pessoas.
Dessa forma, cabe ao poder público desenvolver um planejamento urbano envolvendo os
principais agentes do desenvolvimento e de maneira multidisciplinar determinar as regras de
ocupação do espaço urbano, promovendo a gestão integrada do espaço urbano respeitando as
particularidades de cada território.
O litoral norte tem sua região delimitada ao sul pelo município de Pinhal em função de
sua formação geológica, relevo, bacia de drenagem e limites políticos, até os limites de Torres.
A região do litoral norte é composta por 21 municípios entre eles Capão da Canoa e Xangri-lá
(FEPAM, 2014).
A ocupação dessa região é datada de 1732, destacando-se a colonização dos Açores,
de Portugal e de Laguna, através da concessão de sesmarias e datas de terras, sendo que a
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“O litoral norte é uma região riquíssima sob o ponto de vista ambiental” (FEPAM apud
SOUZA, 2013). As características peculiares da região e a questão ambiental devem ser analisadas
no momento da ocupação e urbanização dessa região. Para isso, tem-se a Constituição do Rio
Grande do Sul de 1989 e a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998, que estipulam penas e
sanções ao crime ambiental. Com a devida importância, tem-se ainda o Estatuto das Cidades que
estabelece diretrizes da política urbana.
O litoral norte tem como principal atividade econômica o turismo. Scheffer (2010) desta-
ca que o turismo, por sua vez, acabou por desenvolver diversos produtos como, por exemplo, os
diversos empreendimentos imobiliários a fim de atender os veranistas que buscam a qualidade
de vida nas praias gaúchas. Porém, esse desenvolvimento acabou por prejudicar a fauna e a flora
da região.
No desenvolvimento das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, destacam-se os princi-
pais responsáveis pela transformação do espaço urbano, sendo eles os investidores, construtores
e os corretores de imóveis. O produto mais divulgado e comercializado no litoral são os condo-
mínios fechados, dado pelo custo benefício caracterizado, principalmente, pela segurança e pela
231 infraestrutura oferecidas nesses empreendimentos (SOUZA, 2013).
Porém, a ocupação do espaço urbano no litoral se deu de forma não planejada. Percebe-
se uma deficiência na infraestrutura dessas cidades, pela formação de aglomerados de residên-
cias e ocupações irregulares de áreas privadas tanto no município de Capão da Canoa no bairro
Novo Horizonte e Capão Novo quanto em Xangri-lá, no bairro Figueirinha (SOUZA, 2013).
O processo de urbanização de Capão da Canoa, segundo Souza (2013), está relacionado
ao desenvolvimento econômico da construção civil, sendo que a dinâmica da urbanização seguiu
uma direção para atender à demanda por residências para uma classe social de maior poder
aquisitivo. Cabe, porém, destacar que o setor demandou também de mão de obra para trabalhar
na construção civil. Assim, atraiu muitas pessoas para a cidade, contribuindo para a formação
do perfil de urbanização da cidade, deixando uma parte da cidade com alta valorização imobiliá-
ria, muitas vezes por especulação, com maiores investimentos em infraestrutura pública, e outra
parte sem muito interesse comercial. Nesses locais de baixo valor agregado, concentra-se a popu-
lação de renda inferior, principalmente os trabalhadores da construção civil.
Ainda sobre o processo de urbanização de Capão da Canoa e Xangri-lá, Souza (2013)
destaca que até certo ponto essas duas cidades apresentam características comuns ao país, devi-
do à forte influência do setor imobiliário na supervalorização de espaços urbanos, marcando a
segregação socioeconômica e espacial. Essa segregação, diante do crescimento populacional da
cidade, culminou em uma ocupação desordenada e, muitas vezes, irregular por pessoas de baixo
poder aquisitivo, sendo esse um problema a ser tratado pelo Poder Público.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
O cenário do mercado da construção civil no litoral teve uma grande evolução. Nestes
últimos dez anos, grandes empreendimentos e, consequentemente, grandes empreendedores,
juntamente com outros profissionais do ramo da construção civil, se instalaram nas cidades lito-
râneas (SESSEGOLO, 2014).
No litoral norte do Rio Grande do Sul, principalmente nas cidades de Xangri-lá e Capão
da Canoa, os condomínios horizontais residenciais surgiram inicialmente a partir de 1990, em
Xangri-lá, e no ano de 2012 registrava-se o número de nove condomínios em Capão da Canoa e
18 em Xangri-lá. Os empreendimentos não estão limitados a uma localização pré-determinada.
Em toda extensão territorial dos municípios, encontram-se tais modelos de ocupação à beira-mar
bem como à beira da lagoa (SOUZA, 2013).
Em Xangri-lá, os condomínios fechados surgiram da iniciativa do empresário Elmar
Ricardo Wagner, que visualizou, na região, a oportunidade de investimentos na construção civil,
seguindo nesse ramo até os dias atuais. Esse tipo de empreendimento, tornou-se um produto
bastante procurado, principalmente por pessoas de alto poder aquisitivo, por conta do valor de
aquisição. Seu primeiro empreendimento foi o Villas Resort, em 1995, no município de Xangri-lá,
e seu último lançamento foi o Costa Serena, no ano de 2010, em Capão da Canoa (ELY, 2013). Em
2013, o município de Xangri-lá já contava com 23 empreendimentos desse tipo. Estima-se que,
em breve, esse número será maior do que 30, pois alguns estão em fase final de liberações pelos
órgãos ambientas e da prefeitura (SOUZA, 2013).
Citam-se, como componentes do desenvolvimento da região do litoral norte, o forte ato
232 de empreendedorismo de algumas pessoas que acreditaram no mercado da construção civil e
investiram na criação de novas empresas e, consequentemente, de novos postos de trabalho.
Deu-se, assim, uma identidade muito evidente do setor que está à frente da economia da cidade e
da região. O presidente do Sinducon-RS, Sessegolo (2014, p.49), afirma que “Hoje o maior empre-
gador aqui no litoral é a construção civil”.
O surgimento desse modelo de urbanização, tanto em Capão da Canoa quanto em
Xangri-lá, permite uma visível separação entre quem tem alto poder aquisitivo para adquirir uma
residência dentro do condomínio, com todo o seu conforto, distanciando-se dos grandes centros
urbanos, daqueles que não possuem as mesmas condições (SOUZA, 2013).
No Estatuto das Cidades, conforme cita Souza (2013), no artigo quarto, destaca-se o
papel do Estado, que deve ser a instituição reguladora e deve, também, proteger a cidade como
um todo, na buscar de evitar a segregação espacial e social no desenvolvimento urbano da cida-
de. A prefeitura municipal pode desenvolver um conjunto de ações para resolver os problemas
ocasionados pela segregação contando com profissionais nas áreas de urbanização e engenharia
e demais órgãos do Poder Público, para tratar também da (i)legalidade dos condomínios nestas
cidades.
Sobre a gestão ambiental nas esferas Federal, Estadual e Municipal, devem ser utiliza-
das, de forma articulada, as ferramentas de gestão, o zoneamento, o sistema de unidades de
conservação e o licenciamento, seja na esfera pública ou privada. Isso tudo deve visar não somen-
te às questões econômicas, mas também às socioambientais, possibilitando o desenvolvimento
sustentável da região (BONAMENTE; SOUZA, 2012).
Segundo Bonamente; Souza, (2012), as diretrizes de uso e ocupação do solo determi-
nado pela FEPAM devem seguir as seguintes etapas: caracterização dos principais elementos
da paisagem natural; caracterização dos aspectos atuais relevantes; definição dos objetivos de
conservação; e definição de regras de uso para uma ou mais atividade. As diretrizes possibilitam
a qualificação do processo de zoneamento ambiental e correta ocupação dos espaços urbanos
e rurais, considerando a vulnerabilidade e o potencial ambiental de cada região (BONAMENTE;
SOUZA, 2012).
A legislação para a ocupação do solo na construção de condomínios pode ser entendida
233 pela sua denominação e com base na legislação. Conforme destaca Souza (2013), no litoral norte
é possível encontrar basicamente o modelo de loteamento fechado ou condomínios fechados.
Seguem a denominação e as formas existentes para ocupação do solo no município de
Xangri-lá, conforme explica Souza (2013, p. 78):
ZONA 1 (Z1) – Faixa de praia - Corresponde a uma faixa de dinâmica ambiental muito
intensa, que consiste na interface entre o oceano e o continente, limitada por dunas
frontais. a) Metas - Compatibilizar os usos de lazer, recreação, turismo e esportes com
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
237
CAPÍTULO XVII
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan17
238
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
O município de Novo Hamburgo localiza-se na porção metropolitana do estado do Rio
Grande do sul nas coordenadas 29°67’ Latitude Sul e 51°13’ Longitude Oeste, integrando a Região
do Vale dos Sinos, um importante polo econômico e industrial do estado. Distante 40 km da capi-
tal Porto Alegre possui aproximadamente 238.940 habitantes distribuídos em uma área territorial
de 224 km² (IBGE, 2010b). Seu perímetro urbano, atualmente, ocupa aproximadamente 21,8%
da área total do município, e está estabelecido entre a RS 239 e a BR 116, o restante da cidade é
considerado área rural e área de preservação permanente, composta por banhados, mata nativa
e topos de morro (RIEGEL, 2014) (Imagem 1).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem
Imagem 1 - Localização
1 - Localização da Áreada
de Área
Estudode Estudo
MATERIAIS
Dados Vetorizados – Limite do município de Novo Hamburgo em projeção UTM, Datum
SAD 69 e escala 1:250.000 (IBGE, 2001); Setores censitários referente aos anos de 2000 e 2010
também em projeção UTM, Datum SIRGAS 2000, e escala 1:250.000 (IBGE, 2000b; IBGE, 2010d);
Recursos hídricos e Sistema Viário em projeção UTM, Datum SAD 69 e escala 1:50.000 (PROJETO
MONALISA, 2005)
Dados estatísticos – Foram utilizados os dados das planilhas Básico e Domicílio01, refe-
rente aos Censos de 2000 e 2010 (IBGE, 2000a; IBGE 2010a).
240
MÉTODOS
O Censo Demográfico é um banco de dados que tem a finalidade exatamente de inves-
tigar a população e os domicílios do Território Nacional (IBGE, 2011). Para tanto, utilizou-se o
arquivo vetorizado, com os setores censitários do município de Novo Hamburgo 2000 e 2010, e
a planilha dos resultados dos censos referentes aos mesmos anos. Conforme IBGE (2011, p.1), “o
setor censitário é a menor unidade territorial, formada por área contínua, integralmente conti-
da em área urbana ou rural, com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto
esgota a totalidade do Território Nacional”. Dessa forma, o setor censitário foi objeto de estudo
dessa análise a fim de criar respostas mais imediatas e realistas para cada localidade do município.
Contudo, a delimitação dos setores censitários não é compatível, conforme mostra a imagem 2.
Imagem 2 - Delimitações dos Setores Censitários
Imagem 2 - Delimitações dos Setores Censitários
Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000b; IBGE, 2001; IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000b; IBGE, 2001; IBGE, 2010d).
Riegel (2014) nos demais mapas que serão utilizados em trabalhos futuros. Para tanto, se utilizou
a ferramenta de recorte para as áreas sobressalentes, ou seja aquelas que ultrapassam o limite
do município. Já nas áreas internas sem informação buscou-se o banco de dados dos municí-
pios vizinhos: Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Gravataí, Ivoti, São Leopoldo, Sapiranga e
Taquara. Contudo, é importante ressaltar que essas variações não resultam em impactos para as
análises, visto que correspondem a 0,7% e 1% do território respectivamente para os anos de 2000
e 2010, e foram realizadas com o intuito de permitir o cruzamento dos mapas nas próximas etapas
(imagem 3).
Imagem
Imagem 3 - Delimitações
3 - Delimitações Após
Após Alterações
Alterações
Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptadopelos
pelosautores
autores(IBGE,
(IBGE, 2000b;
2000b;IBGE,
IBGE, 2001;
2001; IBGE, 2010d)
IBGE, 2010d)
Os dados alfanuméricos, foram retirados das planilhas Básico e Domicílio do IBGE refe-
241 rente aos respectivos anos, conforme a Tabela 1. Logo, se montou uma planilha única que foi asso-
ciada aos setores censitários, permitindo a reclassificação dos mapas, conforme cada variável.
A construção dos mapas foi divida em três grupos: Análise Demográfica (Densidade
Média, Densidade Populacional e Densidade Habitacional); Análise do Saneamento Ambiental
(Rede de Água, Rede de Esgoto e Coleta de Resíduos); e Análise Econômica (Renda Média).
RESULTADOS
ANÁLISE DEMOGRÁFICA
O município de Novo Hamburgo, entre 2000 e 2010, teve sua população total aumentada
de 236.193 habitantes para 238.940 habitantes, o que significa um acréscimo de 2.747 habitan-
tes em 10 anos. A porcentagem de crescimento de 1,16% (ou taxa média geométrica de 0,13%
a.a.) nesse período, é relativamente menor que na década anterior (1991-2000) que registrou um
aumento de 14,84% (ou 1,55% a.a). A queda no rítmo de crescimento da população Hamburguense
apresenta resultados relevantes se comparado aos demais anos: 50,68% entre 1990/80; 58,80%
entre 1980/70 e 59,43% entre 1960/70 (RIEGEL, 2014). O processo deve-se aos acontecimentos
históricos do município, como a instalação de indústrias na década 60 e a construção da rodovia
BR 116; o processo migratório nas décadas de 70 e 80 com a industrialização do calçado; a crise
coureiro calçadista na década de 90; e o esgotamento territorial na região urbana do município
(RIEGEL E QUEVEDO, 2015). O contexto da cidade, fica mais evidente, se comparado ao cresci-
mento da população Brasileira para o mesmo período que foi de 12,34% (1,17%a.a.) entre 2000
e 2010 (IBGE 2010c).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 4 - Mapa
Imagem da da
4 - Mapa Densidade Média
Densidade Média
243 Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Imagem 5 - Gráfico da Densidade Média
Imagem 5 - Gráfico da Densidade Média
90%
80% 77,23%
70%
60% 1 hab/dom
51,16% 2 hab/dom
50% 46,22%
3 hab/dom
40%
4 hab/dom
30% 5 hab/dom
19,04%
20%
10%
0% 0,59% 3,14% 2,35% 0,27%
0%
0%
2000 2010
Fonte: Fonte: Adaptado
Adaptado pelos pelos Autores
Autores (IBGE,
(IBGE, 2000a;
2000a; IBGE2010a).
IBGE 2010a).
O número de domicílios que em 2000 era 71.085, e em 2010 passou para 80.409, o que
representa um aumento de 13,11%. Aumento superior ao crescimento populacional de 1,16%, ou
seja, enquanto foram construídos 9.324 novas moradias num período de 10 anos, apenas 2.747
pessoas foram acrescidas na população total. Logo, a média geral de pessoas por moradia caiu de
3,32 hab/dom para 2,97 hab/dom. Alguns fatos que justificam essas constatações são: os novos
projetos de financiamento da casa própria ofertados pelo governo que possibilitaram que muitos
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
jovens saíssem de casa e a redução das taxas de fecundidade, que segundo os dados do IBGE
(2015), reduziram de 2,38 para 1,90 a nível nacional.
Em relação ao número de domicílios por hectare (Imagem 6), houve poucas alterações de
2000 para 2010, dessa forma destaca-se: a ampla distribuição das novas construções pelo terri-
tório, principalmente na zona rural; e as 5 classes propostas que estabelecem categorias amplas
que acabam absorvendo essas pequenas mudanças. A Imagem 7, apresenta a área composta
por cada classe, onde é visível que a maior parte do território possui menos de 5 domicílios por
hectare (83% em 2000 e 81% em 2010). Esse resultado, deve-se a enorme área rural do município,
conhecida como Lomba Grande, além das áreas de preservação ambiental que somadas totali-
zam 78,2% da cidade (RIEGEL E QUEVEDO, 2015). Analisando as demais classes, que traduzem de
forma mais fiel a região urbana do município, observa-se uma disposição maior de regiões com
10 a 20 dom/ha (7,30% em 2000 e 9,24% em 2010), o que corresponde em média a um domicílio
a cada 500 a 1000 metros quadrados.
Imagem 6 -6Mapa
Imagem - Mapa da Densidade
da Densidade Habitacional
Habitacional
244
Fonte: Adaptado
Fonte: Adaptado pelos pelos Autores
Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b;IBGE,
IBGE, 2010a,
2010a,IBGE, 2010d).
Imagem 7 –(IBGE, 2000a;
Gráfico de IBGE, 2000b;
Densidade Habitacional IBGE, 2010d).
70,00%
40,00% 10 - 20 dom/ha
20 - 30 dom/ha
30,00%
> 30 dom/ha
20,00%
da região urbana. Logo, grande parte dos 9.324 domicílios novos, se estabeleceram, sobretudo,
em regiões com baixa densidade.
No mesmo mapa (imagem 6) observa-se alguns pontos com alto grau de densidade (> 30
dom/ha): 1 - região localizada acima da RS 239, onde está inserida o Loteamento Kephas região
com risco de deslizamentos; 2 - região limítrofe do arroio Pampa, próxima ao Rio do Sinos, ocupa-
da pelas Vilas Getúlio Vargas e Kipling, locais com alto índice de alagamentos nos últimos anos;
3 - Área localizada no Bairro Santo Afonso, as margens do Rio dos Sinos, onde também habita uma
comunidade chamada de Vila Palmeira, a qual possui um histórico de inundações na década de
80 (RIEGEL E QUEVEDO, 2015); e 4 - pontos centrais isolados, áreas compostas por construções
verticais que acabam aumentando a densidade habitacional.
No mapa de Densidade Populacional de 2000 e 2010 (Imagem 8), percebe-se que
houve poucas variações, principalmente em virtude do baixo aumento populacional na cidade. A
Imagem 9, apresenta alguns pontos relevantes: a redução de pessoas que vivem em áreas com
mais de 200 habitantes por hectare que caiu de 7,34 para 5,24%; e a concentração da popula-
ção na classe entre 50 a 100 habitantes por hectare (31,61%), o equivalente a 100 e 200 metros
quadrados por pessoa.
ImagemImagem
8 - Mapa da Densidade
8 - Mapa da Densidade Populacional
Populacional
245
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Imagem 9 – Gráfico
Imagem 9 – Gráficode
deDensidade Populacional
Densidade Populacional
40,00%
35,85%
35,00%
31,61%
29,56%
30,00%
23,75% < 25 hab/ha
25,00%
25 - 50 hab/ha
20,00%
17,64% 16,82% 16,77% 50 - 100 hab/ha
15,42%
15,00% 100 - 200 hab/ha
> 200 hab/ha
10,00%
7,34%
5,24%
5,00%
0,00%
2000 2010
Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptado pelos
pelos Autores(IBGE,
Autores (IBGE, 2000a;
2000a; IBGE,
IBGE,2010a).
2010a).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Os pontos mais críticos são os mesmos apontados nos mapas de densidade habitacional,
com algumas mudanças na região central da cidade, que no caso possui um número grande de
domicílios, porém com uma baixa quantidade de habitantes.
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Imagem 11 - Mapa
Imagem 11 -do Esgotamento
Mapa do EsgotamentoSanitário Via
Sanitário Via Rede
Rede GeralGeral
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Em relação a coleta dos resíduos sólidos, o mapa (Imagem 12) apresenta mudanças na
zona rural: regiões que apresentavam coleta entre 40 e 80% dos domicílios em 2000, alcança-
ram os 100% em 2010. Também cabe destacar a existência de quatro setores identificados na
cor vermelha, ou seja com menos de 20% dos domicílios com os resíduos coletados, localizados
247 próximo ao Rio do Sinos. São áreas de preservação permanente, onde não observa a existência de
moradias, logo não possuem sistemas de infraestrutura.
ImagemImagem 12 - Mapa
12 - Mapa da Coletade
da Coleta de Resíduos
Resíduos
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
A Tabela 2, demonstra a quantidade de domicílios, o percentual e as variações entre 2000
e 2010, para todas as infraestruturas citadas anteriormente. Dessa forma, observa-se o déficit na
variação da rede de água, que não apresenta uma redução no número de habitações ligadas a
rede e sim uma diminuição no percentual total de domicílios, considerando o número existente
em cada ano. Também cabe ressaltar, o aumento de 46,3% na rede de esgoto, que alcançou os
55,95% dos domicílios, ou seja, mais da metade das habitações do município estão ligadas a rede
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
coletora. Em relação a coleta de resíduos, se percebe um aumento de 9607 domicílios, o qual foi
semelhante ao crescimento total de habitações no território de 9324.
Tabela 2 - 2Tabela
Tabela - Tabelade
deDados
Dados Referentes
Referentes aoaoSaneamento
Saneamento Ambiental
Ambiental
Quantidade Quantidade
Saneamento Porcentagem Porcentagem
Domicílios Domicílios Variações
Básico 2000 2010
2000 2010
Rede de água 56186 79,04% 61386 76,34% -2,7%
Rede de 46,3%
esgoto 6866 9,65% 44993 55,95%
Coleta de 99,52% 0,45%
resíduos 70424 99,07% 80031
Total 71085 100,00% 80409 100,00%
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2010a; IBGE 2010a).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2010a; IBGE 2010a).
248
ANÁLISE ECONÔMICA
As mudanças relacionadas a renda média dos responsáveis das famílias são visíveis,
porém é importante levar em consideração todo contexto da situação econômica do pais. A
imagem 13 relaciona a população total em 2000 e 2010 com a renda média mensal das pessoas
responsáveis por domicílio respectivamente. Logo, percebe-se a redução da desigualdade entre
a sociedade, pois enquanto no ano de 2000, 67% da população ganhava até 5 Salários Mínimos
(SM). Em 2010, esse percentual passou para 87%. A redução dos chefes de famílias que recebem
mais que >20 SM, também foi relevante, passando para 0,51%.
Imagem 13 - Dados
Imagem Referentes
13 - Dados Referentes à à Situação
Situação Econômica
Econômica
70,00%
65,66%
60,00%
50,00%
43,74% 43,57% < 2 SM
40,00% 2 - 5 SM
5 - 10 SM
30,00%
10 - 20 SM
21,40%
20,00% > 20 SM
10,14% 10,79%
10,00%
1,64% 1,16% 1,39% 0,51%
0,00%
2000 2010
Fonte:
Fonte: Adaptadopelos
Adaptado pelosAutores
Autores (IBGE,
(IBGE, 2010;
2010;IBGE 2010).
IBGE 2010).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 14 -Imagem
Mapa da
14 -Renda
Mapa da Média
Renda Média
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE,
2010d).
249 RELAÇÕES ENTRE OS DADOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS E DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
As informações referentes aos aspectos demográficos, de saneamento e econômicos
foram correlacionadas para identificar as possíveis relações entre habitação, renda e saneamento.
A Densidade populacional (número de habitantes por área) e a Densidade habitacional (número
de domicílios por área), apresentaram alta correlação (R=0,980; p<0,01), identificando que real-
mente setores com alta taxa de domicílios necessariamente apresentam um alto número de habi-
tantes. Contudo, diferentemente do que se imaginava, esses fatores apresentaram correlação
baixa com os dados de Densidade média (R= 0,251; p< 0,01 e R=0,106; p<0,01 respectivamente),
ou seja, setores que apresentam uma média alta de moradores por habitação, necessariamente
não estarão inseridos nos setores com maior densidade habitacional ou populacional. Esses dois
processos, podem ser observados nos mapas demográficos, ou seja, a configuração dos Mapas de
Densidade Habitacional e Densidade Populacional (Imagem 6 e 8) são semelhantes entre si, com
distribuição mais densa em pontos específicos da zona urbana. Diferentemente, da configuração
do Mapa de Densidade Média (Imagem 4), que possui uma conformação radial em 2010.
Por outro lado, o número de salários mínimos teve correlação inversa a Densidade
Média (R= -0,722; p<0,01), ou seja, famílias compostas por mais integrantes possuem um poder
aquisitivo mais baixo associado ao chefe da família. Estabelecendo uma relação com o Mapa de
Densidade Média (imagem 4), observa-se que os domicílios com mais habitantes por moradia
estão localizadas na periferia da zona urbana, normalmente estabelecidas em áreas impróprias a
ocupação, logo se explica essa ocupação irregular devido ao baixo poder aquisitivo dos mesmos.
Em relação aos aspectos de saneamento ambiental, observou-se que o número de domi-
cílios abastecidos com água encanada estão relacionados aos locais com maior quantidade de
domicílios e habitantes (R=0,706; p<0,01 e R=0,665; p<0,01, respectivamente). No entanto, isso
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
não ocorre com os dados de coleta de esgoto, os quais possuem uma relação moderada se rela-
cionado com os mesmos aspectos (R=0,446; p<0,01 e R=0,431; p<0,01).
No entanto, nenhum dos aspectos de saneamento, demonstraram correlação com os
fatores econômicos. Nesse caso, verifica-se que o poder aquisitivo da população não estabelece
nenhuma relação em se ter água encanada, esgoto conectado na rede e ou coleta de resíduos,
ressaltando que a população Hamburguense, assim como a população Brasileira, está longe de ter
resultados ideais frente aos aspectos ambientais, visto que mesmo as áreas mais nobres economi-
camente possuem problemas de saneamento ambiental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os dados e a espacialização dos mesmos sobre o território, foi possível observar
os contrastes da região urbana e rural; as altas densidades de ocupação em alguns pontos espe-
cíficos; os aspectos de saneamento ambiental que não atendem todo o território; e a situação
econômica do município. Além de se analisar e salientar as variações temporais referente a cada
aspecto dentro do período de 10 anos.
Os dados demográficos demonstram que houve uma redução no rítmo do crescimen-
to populacional e, consequentemente, na expansão urbana do município na última década.
Entretanto, o grau de degradação em alguns pontos é observado pelos índices de ocupação, com
destaque para algumas regiões centrais e áreas de risco, sinalizadas com alta densidade. Essa
distribuição irregular da sociedade sobre o território acaba impactando o meio ambiente devido
aos processos de urbanização.
250 Em relação aos aspectos de saneamento ambiental, observa-se um grau satisfatório se
comparado aos dados nacionais, principalmente na região urbana do município. No entanto, a
zona rural necessita de avanços nos sistemas de abastecimento de água e esgoto, que atualmente
não são ofertados na região. Os futuros desdobramentos do trabalho seguem na linha de avalia-
ção dos aspectos físico ambientais, e na criação de pesos que visem estabelecer as regiões com
maior e menor aptidão a ocupação urbana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO XVIII
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan18
252
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
Apesar de ser uma característica normal do clima, a seca é difícil de ser monitorada e
causa diversos impactos sobre o meio ambiente, economia e sociedade. Difere-se de outras ocor-
rências naturais, visto que, ao contrário daquelas, esse fenômeno possui, normalmente, um início
lento, uma longa duração e pode espalhar-se por uma extensa área (FREITAS, 1998).
Para Palmer (1965) é difícil de encontrar uma definição completa da seca. Superficialmente,
pode-se dizer que a seca é a precipitação mensal ou anual em porcentagem menor do que a
normal; ou condição que prevalece sempre que a precipitação é insuficiente para satisfazer as
necessidades de atividades humanas. Segundo o autor, uma das problemáticas é desenvolver um
método para calcular a quantidade de precipitação que deveria ter ocorrido em uma determinada
área durante um certo período de tempo, ou seja, para responder a seguinte questão: que quan-
tidade de precipitação deve ocorrer durante um determinado período para que sejam mantidos
os recursos hídricos mensurados e para que se possa atender a seus usos?
Segundo Heim (2002), a relação entre os diferentes tipos de seca é complexa e se divide
nas seguintes categorias: seca meteorológica, ocorre quando as condições atmosféricas resultam
numa redução ou abstenção da precipitação. Essas podem ser prolongadas ou abruptas; seca
agrícola, tem duração de poucas semanas que ocorre no período crítico durante a estação de
crescimento; seca hidrológica, ocorre, normalmente, no fim de um período muito longo de seca
meteorológica e afeta o abastecimento de água subsuperficial, gerando redução de vazões, de
águas subterrâneas, reservatório, bem como os níveis dos lagos e seca socioeconômica, a qual
associa o fornecimento e a procura de algum bem de valor econômico com elementos da seca
253 meteorológica, agrícola e hidrológica.
A definição das secas acima citadas depende da região de ocorrência, já que as condições
atmosféricas que decorrem de deficiências de precipitação podem diferenciar consideravelmente
de uma região para outra (CUNHA, 2008).
De acordo com Miranda et al. (2002), cenários climáticos projetam o aumento de
situações extremas de seca, portanto é muito importante estudar e caracterizar o fenômeno da
seca e apurar a sua tendência em termos de frequência e intensidade, contribuindo dessa forma
para um melhor conhecimento da seca em Santa Catarina (PIRES, 2003).
Sousa Jr et al. (2011) afirmam que a região Sul do Brasil tem enfrentado nos últimos dez
anos períodos de seca com intensidade e frequência acima do normal, afetando de forma decisiva
a sua economia. Dentre os estados frequentemente afetados, está o estado de Santa Catarina e os
municípios do extremo oeste catarinense com ocorrências, principalmente, nos meses de janeiro,
julho e dezembro (GONÇALVES; MOLLERI, 2007).
Fenômenos atmosféricos globais como a La Niña e El Niño têm relação com os períodos
de seca no estado, aliado a intervenção humana no ambiente que atua como agravante desse tipo
de desastre natural, através das formas de utilização e manejo dos recursos hídricos (GONÇALVES;
MOLLERI, 2007).
O aquecimento global é uma das alterações climáticas que tem causado grandes preocu-
pações em nível mundial (ALENCAR et al., 2011). Segundo o Intergovernamental Panel on Climate
Change - IPCC (2013), se a emissão de gases do efeito estufa continuarem a crescer às atuais taxas
ao longo dos próximos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 °C neste século.
Para Yu et al. (2002), essa tendência pode levar a mudanças nos elementos do clima, como a
temperatura, umidade relativa e precipitação, tanto em níveis globais como regionais.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Silva et al. (2010) e Souza et al. (2013) concordam que é importante analisar os impactos
causados pela variabilidade climática, principalmente no que tange as áreas de interesse socioe-
conômico e ambiental. É por meio de estudos que se torna possível conhecer as problemáticas
de uma região e ao mesmo tempo tentar solucioná-los ou minimizá-los através de planejamento
de ações.
Existem diversos índices para classificação dos períodos de seca e chuva, como o de
Palmer (1965) e o de Rooy (1965). Essas classificações são úteis em projetos de abastecimento de
água, irrigação, culturas dependentes da regularidade da chuva e em locais onde o uso de água
subterrânea é pequeno em relação às águas superficiais (FREITAS, 1998; NORONHA et al., 2016).
A reflexão a respeito dos impactos de anomalias de chuvas e de possíveis impactos das
mudanças climáticas e seus desdobramentos nas disponibilidades hídricas para as atividades agrí-
colas, sociais e ambientais do Estado de Santa Catarina têm despertada a necessidade de ações
de órgãos governamentais e da sociedade civil (NORONHA et al., 2016). Moraes (2007) aponta
que isso tem sido motivo para o investimento em vários projetos de pesquisa, que buscam propor
políticas públicas e medidas que resultem no controle da degradação ambiental, recuperação dos
níveis de base dos cursos d’água, a revitalização das nascentes, a melhoria da qualidade de vida
da população e, conseguintemente, a redução do êxodo rural.
Este trabalho buscou avaliar a intensidade da anomalia do regime de chuva no município
de Palmitos no período de junho de 1959 a maio de 2016, utilizando o Índice de Anomalia de
Chuva (IAC) proposto por Rooy (1965). O uso IAC tem se revelado um importante método de análi-
se das precipitações quando levado em consideração sua simplicidade procedimental, graças aos
recursos computacionais (planilha eletrônica) e a determinação qualitativa de anomalias extre-
mas (SANCHES et al., 2014).
254
MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
O município de Palmitos, localizado no extremo oeste do estado de Santa Catarina (Figura
1), possui área de territorial de 352,5 km2, compreendido pelas coordenadas de latitude 27º 04’
03” S e 53º 09’ 40” W de longitude e conta com uma população de aproximadamente 17 mil
habitantes, de acordo com o censo de 2010 do IBGE (2016).
DADOS
Os dados pluviométricos diários utilizados para o cálculo do IAC foram obtidos da rede
de postos da Agência Nacional de Águas (ANA, 2016), através da plataforma hidroweb (http://
hidroweb.ana.gov.br), sendo selecionadas para este trabalho as informações do posto de Palmitos/
SC. Os dados mensais de precipitação foram agrupados em totais anuais para a obtenção dos IAC
da série.
𝑃𝑃−𝑃𝑃̅
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = 3 ̅ −𝑃𝑃̅
𝑀𝑀
(1) para as anomalias positivas, e
𝑃𝑃−𝑃𝑃̅
255 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = −3 ̅ −𝑃𝑃̅
𝑚𝑚
(2) para as anomalias negativas.
2016)
Imagem 2 - Precipitação Média Mensal no Município de Palmitos/Sc (1959-2016)
Fonte:
Fonte:Elaborado
Elaboradopelos autores,(2015).
pelos autores, (2015).
Com relação ao resultado do IAC para o período proposto de 1959 a 2016 (Imagem 3),
para os anos de anomalias negativas, houve uma predominância de anos classificados como secos
(33%), seguido por anos muito secos (23%). Já para as anomalias positivas, houve predomínio
de períodos chuvosos (28%), seguido por períodos muito chuvosos (10%). Os casos extremos de
chuva e seca tiveram a mesma porcentagem, correspondendo a 3% cada um.
Também é possível identificar, períodos de quatro anos consecutivos de seca entre 1959
e 1962, e de 1967 a 1970; um período médio de seca entre 1976 e 1982 e um período de seco
bastante intenso entre 2001 e 2012. Além disso, observam-se três períodos de três anos consecu-
tivos de períodos de chuva. Os valores calculados para IAC anual variaram entre +1,427 e -2,987. O
número de ocorrência de anomalias negativas (59%) foi maior que a de anomalias positivas (41%).
257
Imagem 6 - Iac Trimestral para o Município de Palmitos/Sc (Julho a Setembro de 1959 a 2016)
Fonte:Elaborado
Fonte: Elaborado pelos
pelosautores,
autores,(2015).
(2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Imagem 7 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Outubro A
Gestão Integrada do Território
Dezembro De 1959 A 2016)
Imagem 7 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Outubro A Dezembro De 1959 A 2016)
Fonte: Elaborado
Fonte: Elaboradopelos
pelosautores,
autores,(2015).
(2015).
Imagem 8 - Frequência das Classes do Iac: Janeiro, Fevereiro e Março (A), Abril, Maio e Junho (B), Julho, Agosto E
Setembro (C) e Outubro, Novembro e Dezembro (D)
258
O período de “seca extrema” foi observado apenas em três períodos: nos meses de janei-
ro/79 a março/88; janeiro/89 a março/98 e julho/79 a setembro/88. Já o período de “muita seca”
foi observado, principalmente nos períodos de julho a setembro e outubro a dezembro de 1959
a 2016.
Todos os gráficos apresentaram períodos consideráveis de “seca” e “chuva”, porém o que
mais se destaca em relação à seca são os meses de outubro a dezembro de 1959 a 2016. Já no que
se refere à intensidade chuvosa, destaca-se o período de abril a junho de 1959 a 2016.
Os casos de “muita chuva” ficaram em torno dos 10% de ocorrência, contudo o período
de julho a setembro de 1959 a 2016 apresentou alguns valores mais elevados, chegando a 20%.
As ocorrências de “extrema chuva” chegaram a zero nos seguintes períodos: janeiro a
março de 1959 a 1968 e de 1999 a 2008; abril a junho de 1959 a 1968 e de 1999 a 2008; julho a
setembro de 1959 a 2016 e de 1989 a 2008; outubro a dezembro de 1969 a 1988.
No geral, durante a série de 1959 a 2016 houve uma maior ocorrência de períodos chuvo-
sos e secos, sendo os períodos secos cerca de 5% mais frequentes que os chuvosos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan19
261
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
VIDA E TRABALHO
Podemos considerar que o emprego dos tempos modernos ou dos tempos pós-moder-
nos tem o mesmo significado para o homem dos primórdios da civilização? Ao arriscar a vida pela
savana, na competição por alimentos com os animais, e, hoje, ao submeter-se a trabalhos peno-
sos, o homem está desesperadamente lutando pela vida? O que será geração de emprego e o que
será desenvolvimento? A questão do desenvolvimento restringe-se ao mero desenvolvimento
econômico? O crescimento econômico destruiu e continua a destruir centenas de civilizações
rurais e culturais, sem falar nos dilemas urbanos das cidades produzidas pela lógica do sistema
capitalista de produção.
Quais são, hoje, os valores que se agregam à vida? A degradação da biosfera vem acom-
panhada da própria degradação humana, pois, ao interferir violentamente nos modos de vida
das pessoas, produz um desequilíbrio psicossocial que vai refletir no processo de produção da
subjetividade.
Parece que, no sul de Santa Catarina, na região carbonífera, para grande parcela da popu-
lação, o valor que se agrega à vida é o emprego, este a qualquer custo, pois os ecossistemas
locais são degradados com muita naturalidade. Guerra, Castilhos e Bidone (2000, p. 284) chamam
a atenção para essa justificação do emprego a qualquer custo, dizendo “[...] o que é conven-
cionalmente medido como renda ignora a deterioração do meio ambiente, seja como fonte de
materiais, seja com receptor ou depositário de dejetos da atividade humana”. Um dos poucos rios
preservados, o São Bento, no município de Siderópolis, na região carbonífera de Santa Catarina,
cedeu sua vazão para uma barragem ligada ao abastecimento de água de Criciúma e mais alguns
262 municípios da região. A cabeceira do rio Mãe Luzia, que ainda se encontra preservada, está sendo
cogitada para uso de uma termelétrica, prevista para ser instalada na região. Essas questões,
somente são discutidas como problemas ambientais nos fóruns populares de meio ambiente que
acontecem na região, liderados por algumas ONGs. A poluição dos rios e a acidificação das águas,
que fazem parte do cotidiano da população, parecem problemas já incorporados ao imaginário
de grande parte de intelectuais e técnicos, parte de dirigentes e parte da sociedade criciumense.
A região de Criciúma é uma área crítica em termos de poluição ambiental. Na atualidade,
apesar de toda a degradação socioambiental ocorrida, e ainda recorrente, as pesquisas da UNESC
(Universidade do Extremo Sul Catarinense) mostram que parte da população é a favor da indústria
do carvão. O slogan “O importante é ter emprego” é muito forte na região, pois os problemas
que esse emprego poderá trazer parecem nada pesar nas decisões individuais ou coletivas da
sociedade regional.
O conflito socioambiental da região carbonífera de Santa Catarina, cuja cidade polo é
Criciúma, estabelece-se ante a um questionável progresso, trazido pela exploração do carvão e
pelas perdas socioambientais decorrentes dessa atividade econômica, que teve seu auge entre
as duas guerras mundiais (1914-1945) e, em um segundo momento, nas décadas de 1970-1980
(GONÇALVES, 2002).
A mineração é uma atividade extremamente insalubre. Várias doenças acometem a popu-
lação, notadamente a de baixa renda ou de nenhuma renda, como pneumoconiose, bronquite,
rinite, artrite, lesões na coluna vertebral e nas articulações e inflamação dos tendões, devido às
precárias condições de trabalho, com a presença de fumaça, pó, lama, umidade elevada, pouca
ventilação e confinamento nos subterrâneos escuros.
O trem carvoeiro atravessa várias vezes a área central da cidade, com os vagões carre-
gados de carvão e sem nenhuma proteção, projetando, no ar, partículas de materiais pesados. A
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
fuligem do carvão está nas cortinas das janelas e nos rostos das pessoas que moram próximo à
via férrea.
Os amontoados de rejeitos de carvão, nos bairros da periferia da cidade, servem de local
de brincadeiras das crianças. Com a umidade, os compostos químicos entram em autocombus-
tão, sendo frequente a ocorrência de acidentes com crianças (queimaduras das pernas nas cinzas
quentes, ingestão de material e gases tóxicos, etc.). As doenças respiratórias aumentam com essa
umidade, pois os materiais particulados se condensam no ar, aumentando o risco de obstrução
das vias aéreas.
Criciúma constitui-se, assim, em uma sociedade de risco; duplamente de risco, pois refle-
te o contexto da sociedade contemporânea, cuja vastidão do tema risco é assustadora, estando
a vulnerabilidade socioambiental a ele associada. A sociedade de risco é, hoje, um assunto que
afeta os vários domínios da ciência. Na percepção de Beck (2003), risco diz respeito ao futuro,
sendo uma modalidade de relação com o futuro. Todavia, para o homem carvoeiro não existe
futuro, apenas presente.
Há, assim, na cultura do carvão, um imediatismo quase desesperado pela criação de
emprego. Essa ânsia manifesta-se tanto por parte dos desempregados e dos jovens da classe
trabalhadora, ou da classe média, que conseguem seu diploma na Universidade local e querem
ingressar no mercado de trabalho, quanto pelo grupo de mineiros, ou seja, trabalhadores das
minas de carvão, que administram uma carbonífera e têm poder político na cidade, e ainda se
estendendo aos empresários do carvão, que têm uma grande influência no governo federal. O
carvão foi muito valorizado na segunda guerra mundial, mas embora esse tempo já tenha se
passado, ainda se recorre a esse expediente para evidenciar a força do carvão.
263 A necessidade de preservação do emprego está acima do pavor da morte embaixo da
mina. Na fala dos mineiros, a mina é um local onde a morte está sempre presente. Porém, apesar
de tudo isso, o importante é ter emprego, independentemente da destruição que esse emprego
possa trazer para a natureza e para si.
Concretamente, Criciúma é uma cidade de alto risco e vulnerabilidade socioambiental,
cujos impactos, decorrentes da mineração do carvão, são evidentes. Esses se manifestam na cida-
de através de seus seis rios poluídos e um rio canalizado embaixo dela, que serve para o escoa-
mento dos dejetos. A cidade não dispõe de um metro sequer de rede de esgotamento sanitário.
Nela há ocorrências de chuvas ácidas, seu solo é degradado, sua fauna e sua flora estão compro-
metidas e grande parte de sua superfície urbana é sustentada pelos pilares das antigas minas.
Além de todos esses problemas, as várias doenças que acometem a população, decorrentes da
intensa degradação ambiental, tornam a problemática analisada ainda mais complexa.
Segundo UNESC/IPAT (2000), a maioria da população da região de Criciúma percebe,
como fonte de poluição, o carvão e as indústrias. Existe a possibilidade de que a poluição do
carvão volte. Cogita-se a abertura de novas minas para a sustentação de mais uma usina termelé-
trica, além da já existente no município de Capivari de Baixo.
Segundo estudos da Japan International Cooperation Agency ̵̶ JICA (1997), o Ministério
do Meio Ambiente presidiu, na década de 90, o Comitê para elaborar um projeto de recuperação
ambiental com o objetivo de recuperar 4,7 mil hectares em sete municípios do extremo sul cata-
rinense. Ao mesmo tempo, em 2003, a Universidade do Extremo Sul Catarinense ̵̶ UNESC realizou
o relatório de Impacto Ambiental com vistas à instalação da Usina Termelétrica de Treviso. Esse
verdadeiro paradoxo de se gastar dinheiro público para recuperar áreas degradadas (solo) e poluir
o ar com as usinas termelétricas vem demonstrar que a região ainda tem presente a crença de ser
o carvão o elemento impulsionador da economia. Uma das prioridades do Comitê era conseguir
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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a liberação de US$ 750 mil, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e US$ 96 mil, do
Estado de Santa Catarina (JICA, 1997).
Como se vê, o movimento pró-carvão se insurge com grande euforia e busca o apoio
do Governo Federal novamente. Dessa vez, o grupo reforça sua tese na geração de energia e do
desenvolvimento, além da geração de emprego. O “fetiche” do carvão os impede de pensar em
outras alternativas de desenvolvimento, como indústrias mais limpas com eficientes programas
de gestão ambiental, como, por exemplo, vestuário, turismo, entre outras. As jazidas de carvão
são grandes e a tentação também. A região carbonífera conta hoje com 374.292 habitantes, esti-
mativa (IBGE,1995-1996 ). Estima-se que dez mineradoras empregam aproximadamente 2.500
pessoas.
Se a continuação da exploração da indústria carbonífera representa a possibilidade de
emprego para a maioria da população pobre e desempregada, ao mesmo tempo que ganhos
para os mineradores, por outro lado, preocupa os ambientalistas, parte dos profissionais ligados
ao meio ambiente e parte da intelectualidade. Há que se considerarem os altos custos sociais e
ambientais dessa indústria, em que pese à introdução de novas tecnologias para minimizar os
efeitos nefastos.
TRABALHO E NEOLIBERALISMO
Não podemos deixar de ligar essa discussão com as feitas sobre a sociedade moderna e
pós-moderna. Para tanto, referenciamo-nos nas discussões de Kumar (1997). Para ele, a moderni-
dade e a pós-modernidade são conceitos controversos, e muito se discute sobre eles. Para alguns
264 autores, como Jürgen Habermas (1990), por exemplo, a pós-modernidade nem existe. Beck (2003)
fala de primeira e segunda modernidade, enquanto Kumar (1997) expõe que um novo começo
infundiu um novo significado a velhos conceitos. Para esse autor, a Revolução Francesa de 1789 foi
a primeira revolução moderna, pois ela transformou o conceito de revolução. Naquele momento,
ela passou a significar a criação de uma coisa inteiramente nova, pois levou ao mundo uma nova
era da história e marcou o nascimento da modernidade. Nessa perspectiva, a Revolução Francesa
deu à modernidade sua forma e consciência características ‒ uma revolução baseada na razão,
cuja substância material lhe foi dada pela Revolução Industrial. É difícil separar o industrialismo
da modernidade. Dessa forma, a modernidade não é só uma questão de ideias e atitudes, mas
também uma questão de técnica, pois ela está ligada à revolução científica. Portanto, a moderni-
dade se relaciona com o capitalismo, sistema social que dela decorreu. Kumar (1997) fala que a
sociedade moderna é a sociedade industrial.
Estamos vivendo, segundo o autor, a sociedade pós-moderna, cujo arauto principal de
suas ideias é o neoliberalismo. O ressurgimento do liberalismo hoje (neoliberalismo) dá-se num
contexto bem diferente daquele do seu nascimento, embora os principais objetivos sejam os
mesmos: abrir mercados, privatizar a propriedade e estender as relações comerciais por meio
de uma ideologia de países capitalistas/imperialistas. Os países de desenvolvimento capitalista
tardio resistiram ao liberalismo e optaram por políticas populistas de protecionismo nacional para
salvaguardar suas indústrias emergentes e criar um mercado doméstico por meio do trabalho
assalariado.
O ressurgimento do “neoliberalismo” é, segundo Peters (1998), uma resposta à crise do
nacional populismo. Contudo, o neoliberalismo é semelhante em alguns pontos e diferente em
outros do liberalismo clássico. Assemelham-se na defesa da ideia de liberdade de mercado, do
Estado Mínimo, da desregulamentação do mercado, da derrubada de barreiras comerciais, da
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Gestão Integrada do Território
livre circulação de bens, do trabalho e capital. O que os diferencia são o contexto e as estra-
tégias. Na análise de Peters (1998), o liberalismo combateu as restrições pré-capitalistas; já o
neoliberalismo combate o capitalismo, que se submete às influências do sindicalismo e o estado
de Bem-Estar Social (Welfare State).
Diferenciam-se, também, nos efeitos que ambos exercem sobre a estrutura social: o libe-
ralismo estimulou o crescimento das cidades e dos complexos urbano-industriais; o neoliberalis-
mo desfaz a complexa sociedade urbano-industrial, mercado doméstico e circuitos financeiros,
exercendo um efeito devastador sobre a classe operária e sobre os camponeses. No entanto,
Paulani (1999) lembra que a hegemonia do neoliberalismo, a qual ele mesmo se atribui, não é
privilégio da fase contemporânea de sua existência. Desde o início, traz consigo essa ideia de
inexorabilidade da sociedade de mercado.
Para o neoliberalismo, segundo Peters (1998), “[...] o mercado é o primeiro e último
objetivo da história”. A liberdade, portanto, não é aquela apregoada pelo ideário da Revolução
Francesa, mas sim a liberdade do mercado em nome da qual se deve lutar contra qualquer forma
de intervenção. Como ficam as relações de trabalho nesse contexto? Com as inovações tecnológi-
cas, grande parte dos postos de trabalho é substituída.
Há algumas décadas, vem ocorrendo, em nível mundial, um extraordinário avanço técni-
co-científico, trazendo consequências na organização da produção, construindo novos padrões
industriais de acumulação do capital. O novo padrão industrial rompe com o sistema eletro-mecâ-
nico de produção e com a antiga organização fordista-taylorista, substituindo-as por um novo siste-
ma de reprodução automatizado, com a ampla utilização dos computadores de alta tecnologia.
O novo padrão industrial tem como característica a substituição, cada vez maior, do
265 “trabalho vivo” pelo “trabalho morto”, isto é, a redução da mão de obra operária por unidades
produtivas automatizadas espalhadas pelo mundo. No Brasil, estamos vivendo, neste momento,
o caso da montadora da Volkswagen que, em nome da modernização do sistema de produção
editada pela sua matriz na Alemanha, demitiu 3.000 funcionários no mês de setembro de 2016.
Para evitar mais demissões e até a ameaça de fechamento da fábrica, no desespero, esses 3.000
trabalhadores aceitaram a proposta das tais demissões incentivadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
renda. Diante desse panorama, segundo Damergian (2001), é quase impossível pensar em cida-
des com urbanidade e relações amorosas entre as pessoas, que levem à prática da solidariedade.
O desemprego é, ao mesmo tempo, um fantasma e uma presença que angustia e humi-
lha aqueles que, incorporando o ideário da sociedade de mercado, acham que não tiveram a
competência de conseguir ou de preservar o seu trabalho.
Em Criciúma, a situação complica-se à medida que estamos discutindo uma indústria
extrativista para fomento da produção de energia. O carvão, um combustível fóssil não reco-
mendado e sem futuro, sob o ponto de vista ambiental, além da degradação socioambiental que
produz, é uma atividade temporária na medida em que as minas têm tempo determinado de
existência. Por ser uma indústria extrativista, a atividade é encerrada quando terminam os veios
de carvão, bem como o emprego. Fim do emprego e início de mais uma quantidade de problemas
socioambientais: degradação do solo, ar mais poluído, perda de matas e terras para a agricultura,
desemprego e mais pessoas doentes.
Mas afinal, de que viveremos? Precisamos de emprego que nos garanta as condições
de nos mantermos vivos. Não apenas biologicamente vivos, mas vivos enquanto seres huma-
nos. Com uma fonte de criatividade dentro de nós; com subjetividade integrada que nos permita
mudar a realidade, modificar a situação atual e projetar um futuro em que o trabalho seja a fonte
de vida e não o abreviamento dela. Que chances de vida tem o trabalhador brasileiro? Os autores
Kadt e Tasca (1993) entendem que as chances de vida estão relacionadas à probabilidade que as
pessoas têm, ou não, de satisfazer suas necessidades, sendo que essas não dependem de fatores
genéticos e biológicos, mas da estrutura social, especialmente da distribuição de bens. Diríamos
que as chances de viver dependem da qualidade de vida.
266 A noção da qualidade de vida surge num momento em que a massificação do consumo, a
concentração da riqueza e a degradação ambiental convergem para o empobrecimento das maio-
rias e para as limitações do Estado, para prover os serviços básicos a uma população crescente,
marginalizada pelos circuitos da produção e do consumo. Surge, com toda força, no âmbito do
trabalho, tentando responder a uma pergunta renitente: vivemos para trabalhar ou trabalhamos
para viver? A discussão, principalmente nos países pobres ou emergentes, como muitos querem
nominar, é sobre a geração de empregos. Sobre a qualidade do emprego pouco se discute, espe-
cialmente se ele é fonte de vida ou de saúde. As condições em que o trabalho é realizado nos
centros urbanos, o estresse a que todos são submetidos no seu trabalho desde os mais altos
postos na hierarquia do sistema de produção neoliberal até os postos do trabalho informal são
extremamente estressantes.
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267
CAPÍTULO XX
REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
E COMBINADO EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO:
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E SUA INCIDÊNCIA
TERRITORIAL NA UNIÃO EUROPEIA
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan20
268
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
O pano de fundo que move a construção deste artigo é uma discussão sobre a desi-
gualdade do desenvolvimento em processos de integração regional, no caso específico da União
Europeia. Ampliando a questão do capital e sua mobilidade para além da experiência europeia,
é conhecida a capacidade que esse possui em movimentar-se para buscar os melhores locais de
valorização. Por outro lado, também é conhecida a disputa entre os diferentes Estados-nação pelo
alcance de graus elevados de desenvolvimento de sua matriz econômica, o que significa melhorar
sua capacidade de autonomia capitalista completando a equação de produção possuindo em seu
território as indústrias de bens de capital, de bens intermediários e de bens de consumo final.
Assim, um país com grau elevado de desenvolvimento capitalista tende a ter vantagem
comparativa em relação aqueles que não completaram essa etapa do capitalismo. Numa situação
dessa, o país com essa competitividade tende a desenvolver tecnologia e agregação de valor que
não só se difundem no restante da economia e sociedade nacional, como barram a entrada de
competidores externos e mantém um fluxo de recursos positivos pela venda de seus produtos
industrializados de alto valor agregado.
Essa situação já foi exposta desde a década 50 do século passado pela escola latino-a-
mericana de economia da Cepal, depois desenvolvida pela escola da dependência, e mais recen-
temente por economistas brasileiros, egípcios e sul coreanos (SADER; SANTOS, 2009; COUTINHO;
FERRAZ, 1994; AMIM, Samir; 1987; CHANG, 2002). A base para o desenvolvimento industrial
de alguns dos principais países centrais da atualidade foi a defesa de suas fronteiras contra a
concorrência externa até que seus capitalismos estivessem com a matriz industrial desenvolvi-
269 da e completada, sendo exemplos dessas políticas as teses do economista Friedrich List para a
Alemanha e Alexander Hamilton para os Estados Unidos da América.
Diante disso, a história nos remete a um desenvolvimento desigual e combinado no
capitalismo que traduz as diferentes capacidades dos países em termos de competitividade de
suas economias, associada ao desenvolvimento pleno ou parcial da matriz econômica. Isso expli-
ca muito dos discursos liberais de alguns países centrais para produtos industrializados, para a
propriedade industrial, bem como explica suas políticas protecionistas naqueles ramos em que
possuem menor competitividade, como a agricultura. Grosso modo é isso que Chang (2002)
chama de chutar a escada, ou seja, após alcançarem níveis elevados de desenvolvimento de seus
capitalismos os países centrais praticam toda forma de política interna e internacional para evita-
rem que países com menores níveis de desenvolvimento capitalista os alcancem. Dessa forma,
o discurso do “desenvolvimento para todos” fica evidentemente apenas uma retórica, não uma
prática.
O que se poderia esperar de um processo de integração é a implementação de políticas
de desenvolvimento regional que contribuíssem para a consolidação capitalista dos países envol-
vidos. No caso da União Europeia, a Política Regional é uma realidade desde a década de 70 do
século passado. No entanto, há que se perguntar o porquê de países como Portugal, Espanha e
Grécia manterem suas posições relativas em termos de desenvolvimento quando comparados
com Alemanha, Inglaterra e França.
Teria sido inevitável, dadas as características no capitalismo de concentração e centrali-
zação do capital? Foram políticas que apontavam para a transferência de tecnologia a ponto de
consolidar a matriz econômica? Ou foram políticas que reforçaram o caráter periférico e comple-
mentar destas economias em relação às economias consolidadas?
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
O propósito desse artigo é apontar caminhos que possam ser trilhados para a melhor
compreensão do que ocorre na Política de Desenvolvimento Regional da União Europeia quan-
to à estas questões. Para tanto, busca-se primeiramente expor as linhas gerais da problemática
do desenvolvimento regional em processos de integração, em seguida faz-se uma exposição de
alguns instrumentos jurídicos institucionais da integração do velho continente, para finalmente
introduzir uma discussão de literatura sobre a transferência de tecnologia como necessidade para
uma efetivação da matriz econômica capitalista dos países sem esta característica.
Esse trabalho baseia-se no acumulo de vários anos de pesquisa relacionados ao tema do
desenvolvimento regional de processos de integração regional, de políticas de desenvolvimento
regional em processos de integração, agregados pelos avanços mais recentes em pesquisa relacio-
nados à Transferência de Tecnologia na União Europeia (COSTA 2011, 2013, 2014; SILVA; COSTA,
2013; COSTA; CARVALHO, 2016). O estudo possui, tanto base bibliográfica como documental,
procurando aprofundar uma problemática recorrente pesquisada e estudada. Elaborando ques-
tões que possam auxiliar no entendimento dos processos de integração regional, no desenvolvi-
mento regional, na transferência e difusão de tecnologia que possam contribuir para a melhoria
das capacidades de desenvolvimento das sociedades nacionais, seja do ponto de vista econômico,
social, político ou ambiental.
o desgravamento de tarifas entre os países, apesar dessas dinâmicas serem etapas iniciais de um
processo de integração. Nessa perspectiva, a unificação e a criação dos Estados alemão e italiano,
no século 19, resultaram de processos iniciados com Uniões Aduaneiras.
Uma das características mais importantes de processos de integração como aqui são deli-
mitados é que sua formatação proporciona a criação de sinergias entre as partes. Sinergia, aqui,
é entendida conforme a teoria sistêmica, como fenômeno que exprime o fato segundo o qual,
num sistema, o efeito final obtido pela interação de elementos que o constituem é maior do que
a soma dos resultados alcançados pela operação separada deles.
O exemplo mais importante de processo de integração é o da União Europeia, cuja unifi-
cação remonta ao pós-Segunda Guerra, que não só chegou à etapa de União Aduaneira, mas
aprofundou a integração com a criação de um Mercado Comum, em que circulam livremente
todos os fatores de produção. Além disso, criou instituições e políticas comunitárias, e busca a
perspectiva de consolidação de uma Constituição Comum, com a possibilidade de elevar o proces-
so à categoria de integração total (SILVA; COSTA, 2013).
As assimetrias estavam e estão presentes no processo de integração europeu, bem como
a preocupação teórica e prática para entendê-lo e poder lidar com ele (HASS; SHMITTER, 1964).
Assim, integração entre países de diferentes níveis de desenvolvimento tendem a reproduzir desi-
gualdades, dimensão que os europeus já percebiam no início da década de 60.
Pode sustentar-se que nos países menos desenvolvidos o volume limitado de novos inves-
timentos vai principalmente para as regiões onde a existência de indústrias relacionadas
entre si e de infraestruturas econômicas e sociais oferece rendimentos mais altos, e a
271 influência dos melhoramentos feitos nas regiões mais desenvolvidas é contrariada pela
falta de um sistema de transportes e comunicações interregionais adequado e pela rigi-
dez sociológica e psicológica. Por outro lado, nas economias avançadas, um sistema de
preços altamente desenvolvido permite o aproveitamento das diferenças de salários, as
facilidades de transporte e comunicações são desenvolvidas, a proporção das economias
externas móveis aumenta e é natural que se obtenha uma distribuição mais equitativa de
infra-estruturas (BALASSA, 1961, p. 303).22
Velho Continente, e as ações de convergência das condições econômicas e sociais passam a ser
garantia de diminuição dos impactos no país ingressante, assim como têm a função de não conta-
minar negativamente o bloco integrado, evitando prejudicar os avanços alcançados.
A outra é a criação de políticas comunitárias comuns, como a industrial, a agrícola e a de
desenvolvimento regional. Na década de 70, vislumbrando a problemática das assimetrias com
o processo de entrada de Portugal, Espanha e Grécia, foi criado no âmbito daquela integração o
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – Feder.
Esse Fundo foi um dos principais responsáveis pela inserção desses países no processo
de integração com diminuição significativa do impacto das assimetrias. O Feder não tratou, e
não trata, apenas da problemática das assimetrias entre países, mas vislumbra uma perspectiva
de redução dos impactos de desenvolvimento regional no interior mesmo dos países-membros.
Além disso, a experiência europeia nesse campo conjuga aspectos técnicos e políticos, pois a
existência de Comitê de Regiões foi uma resposta democrática à crítica da tecnicidade na política
pública.
Ora, como um sistema de aporte para a diminuição das desigualdades regionais age do
ponto de vista da Transferência de Tecnologia? Há uma preocupação associada a essa problemá-
tica, indicando ações que coloquem países com menos desenvolvimento da matriz econômica
capitalista em posição de competitividade, ou a Política Regional reforça o que é chamado na
literatura e já mencionado aqui, o desenvolvimento desigual e combinado? Para encaminhar luz
às essas questões, um olhar nos instrumentos jurídicos principais da União Europeia é o próximo
passo nesse trabalho.
cedente; “Acordo Recíproco” um acordo de transferência de tecnologia pelo qual duas empresas
se concedem mutuamente, no mesmo contrato ou em contratos distintos, uma licença de direitos
de tecnologia, quando essas licenças disserem respeito a tecnologias concorrentes ou puderem
ser utilizadas para o fabrico de produtos concorrentes; “Acordo Não Recíproco” um acordo de
transferência de tecnologia pelo qual uma empresa concede a outra uma licença de direitos de
tecnologia, ou pelo qual duas empresas se concedem mutuamente licenças desse tipo, mas essas
licenças não dizem respeito a tecnologias concorrentes e não podem ser utilizadas para o fabrico
de produtos concorrentes; “Produto” ou um “serviço” os bens e serviços quer intermédios, quer
finais; “Produto Contratual” um produto fabricado, direta ou indiretamente, com base nos direi-
tos de tecnologia licenciados; “Direitos de Propriedade Intelectual” os direitos de propriedade
industrial, nomeadamente patentes e marcas registradas, direitos de autor e direitos conexos.
Os acordos de transferência de tecnologia dizem respeito à concessão de licenças de
direitos de tecnologia. Tais acordos contribuirão normalmente para melhorar a eficiência econô-
mica e promover a concorrência, dado que podem reduzir a duplicação em matéria de investiga-
ção e desenvolvimento, reforçar os incentivos a favor de novas ações de investigação e desenvol-
vimento, promover a inovação incremental, facilitar a disseminação de tecnologia e fomentar a
concorrência no mercado dos produtos.
Sobre a questão de competitividade e concorrência, o tratado afirma que a probabilidade
de esses efeitos, em termos de eficiência e concorrência acrescidas, compensarem eventuais efei-
tos anticoncorrenciais, resultantes de restrições contidas nos acordos de transferência de tecno-
logia, depende do poder de mercado das empresas em questão. E, por conseguinte, do grau em
que essas empresas se defrontam com a concorrência de empresas proprietárias de tecnologias
alternativas ou de empresas fabricantes de produtos alternativos, conforme a estrutura e a dinâ-
273 mica dos mercados da tecnologia e do produto relevantes.
Esse Tratado abrange também casos em que o licenciado seja obrigado a instituir um
sistema de distribuição específica, e forem detalhadas as obrigações que o licenciado deve ou
pode impor condições (estabelecidas no Regulamento [UE] n. 330/2010 da Comissão; Ibdem)
aos revendedores dos produtos que forem produzidos sob a licença. Esse regulamente torna-se
aplicável somente em acordos em que o licenciante e/ou um ou mais de seus subcontratantes seja
autorizado a explorar os direitos de tecnologia em proposta, para efeito de produção de bens e
serviços. Não é aplicável a acordos para agrupamentos de tecnologias, ou seja, acordos destina-
dos a agrupar tecnologias com o objetivo de as licenciar a terceiros, tampouco a acordos em que
a tecnologia agrupada é licenciada a esses terceiros.
Uma das questões mais importantes a respeito da transferência de tecnologia entre os
países é a de acordos entre concorrentes. O tratado presume que quando a quota agregada das
partes nos mercados relevantes não excede 20% e os acordos não contêm certos tipos de restri-
ções anticoncorrenciais graves, esses conduzem em geral a uma melhoria da produção ou da
distribuição, assegurando aos consumidores uma parte equitativa dos benefícios daí resultan-
tes. Já quando não abrange relações entre concorrentes, os acordos seguem o princípio de não
ultrapassar 30% do mercado relevante. A despeito de salvaguardar os incentivos em matéria de
inovação e aplicação adequada dos direitos de propriedade intelectual, algumas restrições devem
ser excluídas do benefício da isenção por categoria, nomeadamente, certas obrigações de retro-
cessão e cláusulas de não contestação.
Em consonância com a tendência e necessidade do amplo diálogo universidade-indús-
tria, a Carta Europeia das Pequenas Empresas (COMISSÃO EUROPEIA, 2004) afirma que a inovação
constante dentro das empresas é fundamental para que possam reinventar produtos e serviços
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Ainda de acordo com a Carta (Ibdem), a Comissão Europeia define como transferência de
tecnologia não somente todo o processo que compreende desde a ideia científica na base até sua
adoção pela indústria, mas também a transferência de conhecimentos entre as empresas.
A Comissão ainda aponta a existência de dois meios de favorecer essa transferência: o
meio indireto e o meio direto. O primeiro consiste em modificar as condições e os mecanismos
institucionais para facilitar a aproximação entre o setor público, as entidades de pesquisa e as
274 empresas, como a criação de parques científico-tecnológicos regionais, diálogo entre universi-
dades e outras entidades de pesquisa, aspectos jurídicos de proteção à propriedade intelectual
que facilitem a transferência, incentivos fiscais e financeiros que proporcionem capital de risco
às empresas de inovação e fundos específicos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Já os
métodos diretos consistem na promoção de transferência entre organizações e pessoas, atra-
vés de programas de transferência e exploração dos resultados, mobilidade de pessoas entre as
organizações, difusão da informação sobre oportunidades científicas e tecnológicas e projetos
cooperativos industriais e de demonstração.
Dessa forma, uma visão com olhar de transferência de tecnologia para os instrumentos
jurídicos da União Europeia indica que a preocupação maior é da proteção de propriedade e
da concorrência, apesar de existirem diretrizes encaminhando possibilidades de transferência de
tecnologia. Não se vislumbram, nesses documentos de formalização da União, condições concre-
tas de que a transferência de tecnologia possa ser um instrumento de indução da concretização
da matriz econômica dos países menos desenvolvidos, como Portugal, Espanha e Grécia. A lógica
da integração, nesse sentido, persiste na formação de infraestrutura sem grandes capacidades de
diminuição dos níveis de desigualdade econômica existentes.
Assim, ao menos no que diz respeito à questão jurídico-institucional há um reforço das
desigualdades e das forças centrípetas do capitalismo apontadas anteriormente neste trabalho.
Em seguida apontamos algumas analises sobre inovação e transferência de tecnologia na União
Europeia para situar esta problemática no âmbito do desenvolvimento regional e dos processos
de integração.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
para a difusão dessa inovação, sobretudo no setor de pequenas empresas e em economias peri-
féricas. Universidades tornam-se cada vez mais importantes no desenvolvimento das economias
periféricas na Europa (Suécia e Irlanda), no entanto é necessário aprofundar mais conhecimentos
sobre as maneiras de interação da universidade com a indústria.
Como o orçamento da União Europeia (UE) torna-se mais apertado (cada vez mais pelo
constante alargamento desde os anos 90 do século passado) e os principais destinatários das
transferências regionais europeias lutam com crises de dívida, segundo Becker (2012) dúvidas
sobre a utilização ou sobre a efetividade adequada de transferências do orçamento central da
UE para as regiões mais pobres da Europa são muito debatidas. Desde 1975, quando o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) foi fundado, um orçamento significativo tem sido
dedicado para a redução dos desequilíbrios regionais, especialmente em termos de renda per
capita. O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em 2009, reconhece a coesão regional como um
dos objetivos centrais da União Europeia.
De acordo com Fagerberg (1994), na literatura teórica sobre o crescimento o progres-
so tecnológico está concebido como um “bem livre”, como um subproduto de outras atividades
econômicas ou como resultado de atividades intencionais de Pesquisa & Desenvolvimento em
empresas privadas. Essas atividades econômicas que resultam em progresso tecnológico possuem
direta ligação com as políticas regionais de inovação. Conforme Prange (2004), isso significa que
as medidas na área da ciência, da educação superior e de tecnologia devem fazer com que as
regiões persigam seus objetivos nacionais, de crescimento, emprego e maior igualdade entre as
suas regiões.
Por outro lado, a regionalização e a internacionalização, tornam complexa a formação da
autonomia nacional econômica e em ciência e tecnologia. Kuhlmanna e Edlera (op. cit) afirmam
276
que na Europa a pesquisa pública, a tecnologia e a inovação de políticas não estão mais restritas
apenas às autoridades nacionais, mas também dizem respeito às iniciativas nacionais, suportadas
ou concorrentes, da inovação nas políticas nas regiões ou de programas transnacionais, particu-
larmente nas atividades dentro da União Europeia. Ao mesmo tempo, segundo os mesmos auto-
res, a crescente inovação industrial ocorre dentro das interações internacionais.
Kuhlmanna e Edlera (Ibdem) expõem a visão de que as políticas de iniciativas para a inova-
ção são restritas e se concentram na criação de um “valor agregado europeu”. O o Framework
Programme, por exemplo, tende a seguir os princípios de subsídios e do valor agregado europeu,
o que significa que cada programa e seus respectivos projetos precisam ser justificados através
de cooperação transfronteiriça. Porém, esses projetos tendem a não ser geridos de forma eficaz
pelas administrações nacionais, e os efeitos dessa sinergia acabam por não se tornarem tangíveis
dentro das fronteiras nacionais.
Becker (op. cit) afirma que uma realocação dos fundos entre as regiões-alvo levaria a
um maior crescimento agregado na UE e poderia gerar uma convergência mais rápida do que
o sistema atual faz. Segundo Kaufmann (op. cit.), em suma, as corporações, principalmente as
maiores, que eram anteriormente enraizadas nos sistemas de inovação nacionais, estão perdendo
e relativizando seus relacionamentos com a infraestrutura e a inovação nacionais. Essa internacio-
nalização, na visão de Kuhlmanna e Edlera (op. cit), tem duas consequências, pois afeta questões
graves sobre a autonomia e não deixa espaço aberto para manobras do sistema político de inova-
ção nacional, mas também pode abrir uma janela de oportunidade para inovação transnacional,
havendo possíveis medidas que ultrapassem as estruturas supranacionais.
Por fim, de acordo com Kaufmann (op. cit.), a interrelação do desenvolvimento regional
e da inovação foi reconhecida ao longo dos anos pelos atores políticos regionais, ambas no nível
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Gestão Integrada do Território
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse artigo procuramos introduzir algumas questões que tem sido constante nos estu-
dos e pesquisas realizadas sobre a transferência de tecnologia e sua incidência territorial em
processos de integração. O foco principal recai sobre o entendimento da manutenção dos níveis
de desigualdade regional existentes na União Europeia, mesmo esta fazendo Política Regional
desde a década de 70 do século passado e teóricos sobre a temática emitirem alertas desde a
década anterior. Mais de quarenta anos de quarenta anos de Política Regional não foram suficien-
tes para mudar os níveis de desigualdade entre os países membros.
Estaria a União Europeia, dessa forma, reproduzindo o padrão capitalista de um desen-
volvimento desigual e combinado, sem alterar a capacidade dos países menos desenvolvidos
construírem suas autonomias capitalistas a partir da efetivação de sua matriz econômica. No
mínimo, estaríamos diante de uma incapacidade de mudar a lógica intrínseca do capital na busca
pelo lucro.
Fez-se, primeiramente, uma exposição sobre o capital e sua territorialidade, buscando
demonstrar os pressupostos e conceitos que reforçam: o quanto deixado à sua própria sorte, o
capital tende a fazer grandes estragos nos processos de integração, pelo aprofundamento das
277 desigualdades regionais. Uma política regional que não construa caminhos para a autonomia
capitalista dos Estados membros é incompleta do ponto de vista da coesão social e de resultados
amplos para as sociedades integradas.
A transferência de tecnologia seria uma forma de encaminhar os Estados menos desen-
volvidos para esta autonomia capitalista. Assim, estudou-se alguns mecanismos e tratados da
União Europeia para verificar o tratamento dado a esta temática, buscando associa-la com política
regional. É possível dizer que a preocupação existe e é realçada nos instrumentos estudados, mas
não chegam a ultrapassar a barreira da manutenção dos níveis de competitividade e proteção de
propriedade industrial.
Por fim, buscou-se num levantamento de literatura encontrar análises mais aprofunda-
das sobre a temática da transferência de tecnologia na política regional da União Europeia. De
uma forma geral, a complexidade relacionada à mundialização do capital e à própria questão
regional da integração europeia impõe grandes desafios para o alcance de autonomia tecnológica
e econômica dos países e regiões menos desenvolvidas.
Assim, parece pertinente que estudos e pesquisas sejam aprofundadas para que se
melhore a capacidade analítica das políticas regionais da União Europeia e se encaminhe o enten-
dimento de seus resultados. Pode-se elencar alguns pressupostos que conduziriam estes estudos:
1) que o capital não seguirá os indicativos da política regional e continuará a reproduzir e até
aprofundar as desigualdades, evitando que países menos desenvolvidos completem sua matriz
econômica capitalista; 2) que a política regional tem sido insuficiente e equivocada para resolver
a equação da matriz econômica dos países menos desenvolvidos, ou; 3) que a política regional é
deliberadamente dirigida pelos países mais desenvolvidos justamente para evitar que os menos
desenvolvidos alcance sua condição, ou seja, para evitar que completem a equação da matriz
econômica capitalista.
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280
CAPÍTULO XXI
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan21
281
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
A crise ecossistêmica tem dado sinais da falência do modus operandi capitalista. Nesse
cenário, acentua-se o paradoxo diante de uma sociedade interligada, baseada em farta tecnolo-
gia e equipamentos de ponta, com produção de riquezas, mas que não sabe resolver questões
elementares de distribuição de renda e oportunidade, com precária gestão ambiental, uso indis-
criminado dos recursos naturais, tornando a Terra um lugar cada vez mais hostil à própria espécie
humana.
Na outra ponta, para tentar mitigar os efeitos adversos do sistema produtivo e suas impli-
cações socioambientais, surgem os pressupostos de uma nova era pautada pela racionalidade
ambiental, por uma ética da vida, pelo bem viver e efetivação dos direitos humanos e sociais. A
desigualdade e formas de dominação existentes entre países desenvolvidos (Norte) e subdesen-
volvidos (Sul) são evidenciadas pela macroeconomia, destruição de recursos naturais, colapso
social e transformações oriundas de decisões político-econômicas. Desse modo, provoca uma
retroalimentação da relação de poder entre ricos e pobres, opressão, utilitarismo, consumismo e
individualismo pregados pelas mídias.
No entanto, guardada as proporções e imperfeições do artigo em comento, até por ques-
tões de delimitação de conteúdo, é notável o desfecho das turbulências que assolam os seres
humanos e a biodiversidade, decorrentes do modelo de produção adotado na maioria dos países
do mundo. Na era da globalização um enorme contingente de materiais, pessoas, serviços e
produtos transitam num fluxo acelerado. Esse fluxo decorrente do mercado internacional e nacio-
nal gera inúmeros efeitos colaterais para a sociobiodiversidade.
282 O meio ambiente agoniza com a velocidade de retirada de insumos que é superior à
reposição natural dos recursos energéticos mostrando a incompatibilidade do crescimento econô-
mico ad infinitum. Direitos humanos e sociais são renegados em prol do crescimento econômico e
da manutenção do establishment atual, quase sempre traduzido num Produto Interno Bruto que
não atende as reais necessidades dos países exportadores de commodities23. Nessa toada, com
a dinâmica da globalização no século XXI, há um exacerbado aumento das incongruências entre
a sustentabilidade, sociedade, economia e meio ambiente conduzindo a conflitos em diversas
escalas e pondo em risco a vida.
em relação aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, dito países do Sul. Os países que
se encontram abaixo da linha do Equador, os do Sul, têm várias características em comum.
Perante esse complexo de transformações, mudanças, adaptação cultural sob a batuta
de conflitos e tensões, ondas de imigrações, guerras, crise hídrica, extremos climáticos e outros
que ensejaram a definição de natureza e o tipo de relação exercido em relação a ela no mundo
moderno. Seja uma relação de convivência harmônica e sentimento de pertencer a ela e dela ser
parte, com uma visão holística e integradora da parte no todo e vice-versa, ou modernamente,
uma relação de dominação, de destrutividade e de separação do que é natural ou advindo da
natureza dos demais elementos construídos e elaborados na atualidade (GONÇALVES, 2002, p.96).
Dentre as mudanças e transformações radicais que assolam o mundo, em sua maior
parte, há que se considerar um impacto maior para os países pobres. Essa complexidade ambien-
tal exige uma racionalidade no Sul que possuem problemas e oportunidades semelhantes: uma
ampla riqueza ambiental, desigualdades24 sociais acentuadas, problemas ambientais, conflitos
internos, disparidades regionais e uma gama de especificidades que todos, em maior ou menor
grau, compartilham como herança da colonização. Sendo assim, as assimetrias são evidentes e há
que se procurar entender as causas e consequências disso. Além da origem das questões entre
Norte e Sul, há uma ambivalência das relações de poder que são perpetuadas ou maquiadas ao
longo dos séculos para manter a dominação ideológica, política, social, econômica, educacional,
social, civil. O comércio internacional, a perpetuação ideológica e cultural da globalização25 geram
mais injustiças nas nações da América Latina, Ásia e África consubstanciam esse ciclo de explora-
ção das riquezas e socialização dos custos ambientais26.
Os prejuízos ambientais oriundos da usurpação dos ativos ambientais encontrados nos
países pobres têm dado suporte a uma economia27 voraz. A velocidade de exploração é superior a
283
capacidade de recarga e reposição por parte dos sistemas naturais, seus biomas e ecossistemas. A
transformação da paisagem28 têm sido absurdamente rápida e isso tem provocado impactos das
mais variadas ordens e dimensões. No que tange ao tema das mudanças climáticas, despertou um
debate rico que afeta diretamente países pobres, pois são os mais vulneráveis e com problemas
24
O resultado dessas contradições é antes o aprofundamento do que a atenuação dos desenvolvimentos geográficos desiguais
em suas dimensões tanto políticas como econômicas. A extensão de todo tipo de sistema de dominação pelo Estado reduz zonas
inteiras do globo e vários estratos de população que ali vivem a condições próximas da escravidão. E a concentração de recursos,
principalmente públicos, no espaço produz uma espiral de desigualdades geográficas em todas as escalas. E tudo isso no interesse
da preservação das fontes político-econômicas do poder do Estado que garantem o funcionamento dos livre mercados. Os para-
doxos e contradições se evidenciam em toda parte (HARVEY, 2009, p.238).
25
Neste sentido, o conceito de ambiente se defronta com as estratégias fatais da globalização. O princípio de sustentabilidade sur-
ge como uma resposta à fratura da razão modernizadora e como uma condição para construir uma nova racionalidade produtiva,
fundada no potencial ecológico e em novos sentidos de civilização a partir da diversidade cultural do gênero humano. Trata-se da
reapropriação da natureza e da reinvenção do mundo; não só de “um mundo no qual caibam muitos mundos”, mas de um mundo
conformado por uma diversidade de mundos, abrindo o cerco da ordem econômico-ecológica globalizada (LEFF, 2011, p.31).
26
Assim, a internalização dos custos ecológicos e das condições ambientais da produção implica a necessidade de caracterizar
os processos sociais que determinam o valor da natureza. A revalorização da natureza induzida pelo ambientalismo emergente
está se refletindo na economia pela alta dos preços dos recursos e dos custos ambientais. Porém, o movimento ambiental não só
transmite os custos ecológicos ao sistema econômico como uma resistência à capitalização da natureza; as lutas sociais para me-
lhorar as condições de sustentabilidade e a qualidade de vida abrem um processo de reapropriação social da natureza. Portanto,
o ambientalismo está propondo tanto a descentralização do processo de desenvolvimento como uma reconstrução das próprias
bases do processo produtivo (LEFF, 2011, p.66).
27
É a relação com o não-econômico que falta a ciência econômica. Essa é uma ciência cuja matematização e a formalização são
cada vez mais rigorosas e sofisticadas; mas essas qualidades contêm o defeito de uma abstração que se separa do contexto (social,
cultural, político); ela conquista sua precisão formal esquecendo a complexidade de sua situação real, ou seja, esquecendo que
a economia depende daquilo que depende dela. Assim, o saber economicista que se encerra no econômico torna-se incapaz de
prever suas perturbações e seu devir, e torna-se cego ao próprio econômico (MORIN; KERN, 1995, p.70)
28
A paisagem resulta de um somatório de diferentes elementos, das formas como se inter-relacionam, de informações complexas,
de inúmeras formas de percepção isoladas e de visões analíticas. Ela envolve questões físicas, atuais ou pretéritas, a gênese de
aspectos como a formação geológica e geomorfológica, a diversidade de formas de relevo, a compartimentação geográfica e hi-
drológica, registros de acontecimentos paleoclimáticos e vegetacionais de capital importância para o conhecimento da história do
planeta, marcas deixadas por povos pré-históricos, assim como, os efeitos provocados pelas ações do homem moderno (DELPHIM,
2005, p.4).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
congênitos. Lançando o premente questionamento, quem vai pagar para amenizar os efeitos
que as alterações do clima vão gerar nos países que, diferentemente dos que se tornaram ricos
ao longo dos tempos, emitiram muito menos gases de efeito estufa? Esse aspecto permanece
em discussão e é um dos mais polêmicos, dada a resistência dos países que mais emitiram no
passado- leia-se EUA, Europa e Japão- em financiar os estragos nos países mais pobres (RIBEIRO,
2010, p.77).
Nessa toada, as assimetrias são reais e têm consequências para a sociedade, biodiver-
sidade, a própria economia no longo prazo e contribui para relações de poder desiguais entre os
países do Norte e Sul:
Observa-se que os recursos naturais não são usados pela maioria dos países pobres para
o seu desenvolvimento e melhoria da qualidade e padrão de vida de seus habitantes, mas
para atender exigências financeiras dos países industrializados e credores, suscitando,
por conseguinte, problemas de sustentabilidade sócio-econômica, política e ambiental.
Diante desta realidade, torna-se ainda mais relevante o papel dos organismos interna-
cionais, dos fluxos financeiros, do comércio exterior, dos investimentos transnacionais,
da transferência de tecnologia e das cooperações multi e bilaterais. Mas é lógico que
esta não é uma questão fácil quando se pensa em expansão, taxas de juros, avanço do
protecionismo, níveis de consumo e desigualdades, etc. Porém, o que parece estar em
jogo, nesse momento, é a necessidade de se sair de ajustes puramente econômicos para
as dimensões ecológicas, negligenciadas no passado e de alcance incipiente no presente
(MILIOLI, 1999, p.80).
284
Assim, o bem estar dos países do Norte é advindo, em parte, da exploração, devastação e
degradação dos recursos minerais e energéticos nos países do Sul. As externalidades ambientais29,
o passivo deixado pelas transnacionais fica nos países pobres e todo sortilégio de implicações para
os direitos humanos, econômicos, sociais e ambientais. O real valor de cada produto, serviço e
mercadoria não é devidamente pago, pois o verdadeiro custo não está embutido. É necessário
rever esse conceito de não incutir após as transformações dos recursos naturais, o seu preço equi-
valente desde a extração. Ademais, reprogramar a lógica do modelo capitalista de produção para
uma nova era de imperial necessidade com a vida em todas as suas formas. Diminuir insumos,
substituir tecnologias, é o que afirma o excerto a seguir:
A ambivalência entre manter o status quo com todas as suas idiossincrasias e investir
num futuro que assegure a sobrevivência humana, a manutenção dos ecossistemas, e um novo
29
Porém, o conceito de ambiente cobra um sentido estratégico no processo político de supressão das “externalidades do desen-
volvimento”- a exploração econômica da natureza, a degradação ambiental, a desigual distribuição social dos custos ecológicos e
a marginalização social- que persistem apesar da ecologização dos processos produtivos e capitalização da natureza (LEFF, 2011,
p.19).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Na mesma esteira, o excerto adiante endossa essa profunda ilusão do capitalismo como
único sistema viável num planeta em demasiada crise de valores, em permanente extinção de
espécies, envolto em poluição, guerras, conflitos, escassez de água, migrações forçadas e desas-
tres climáticos:
Por fim, o excerto adiante põe em evidência sempre que, em questões políticas, o são
juízo humano fracassa ou renuncia à tentativa de fornecer respostas, nos deparamos com
uma crise. Crise esta engendrada pela civilização humana, multifacetada, pois abarca um
30
Na percepção desta crise ecológica foi sendo configurado um conceito de ambiente como uma nova visão do desenvolvimento
humano, que reintegra os valores e potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes subjugados e a complexidade do
mundo negados pela racionalidade mecanicista, simplificadora, unidimensional e fragmentadora que conduziu o processo de mo-
dernização. O ambiente emerge como um saber reintegrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos potenciais
sinergéticos gerados pela articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais. O saber ambiental ocupa seu lugar no vazio
deixado pelo progresso da racionalidade científica, como sintoma de sua falta de conhecimento e como sinal de um processo inter-
minável de produção teórica e de ações práticas orientadas por uma utopia: a construção de um mundo sustentável, democrático,
igualitário e diverso (LEFF, 1986).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
sortilégio de aspectos da vida, incluindo seu próprio fim. Essa espécie de juízo é, na reali-
dade, aquele senso comum em virtude do qual nós e nossos cinco sentidos individuais
estão adaptados a um único mundo comum a todos nós. O desaparecimento do senso
comum nos dias atuais é o sinal mais seguro da crise atual. Em toda crise, é destruída
uma parte do mundo, alguma coisa comum a todos nós, isso é claramente demonstrado
nos atos que excluem, denigrem, marginalizam, subjugam ou incutem no semelhante
que ele é diferente, tipificando-o como uma ameaça, inferior ou passível de extermínio
pelo simples fato de não comungar da mesma língua, traços físicos, vestimentas, dentre
outros (ARENDT, 1972, p.227).
A ideologia capitalista difundiu de forma única que a vida seria melhor, muita riqueza seria
gerada e, óbvio, espalhada, que os produtos, mercadorias e serviços trariam felicidade e
acabariam com os problemas existentes na sociedade. No entanto, para grande maioria
das pessoas ao redor do mundo, a globalização acentuou ambivalências já existentes
entre os povos e as questões latentes se acirraram, havendo um exponencial aumento
da crise planetária de refugiados do clima, economias em colapso, guerras, perseguições
políticas e religiosas. Não obstante, dentro das nações e entre elas também houve um
significativo aumento das trocas, comunicação, mas é preciso a compreensão entre os
seres humanos. Além disso, fazer ciência para os seres vivos e não para maximização do
lucro e acumulação por poucos indivíduos e famílias (MORIN, 2002, p.50).
A eliminação da expoliação de recursos do Sul para o Norte, com seus interesses hege-
mônicos para construir uma sociedade sustentável levando em consideração suas necessidades
e conhecimentos, as idiossincrasias dos países em desenvolvimento, deixando de lado o padrão
das sociedades altamente industrializadas do Norte e seu modelo único calcado na economia de
mercado irrestrito, com sociedade e meio ambiente em plano de fundo para alcance do extraor-
dinário lucro dos banqueiros e investidores (DIEGUES, 1992).
Zygmunt Bauman (1998) adverte que o capitalismo se reinventa e seduz, desperta dese-
jo, consumismo e mercantiliza as relações sociais e tudo que possa ter valor e ser tomado
como mercadoria, serviço ou produto. O mundo na era da globalização não é mais sólido,
se tornou líquido e toma a forma que achar mais producente e for conveniente. Nesse
mote, a mobilidade social, vem consubstanciada como a robustez do capitalismo num
ano em que migrações em massa de países africanos para Europa e de países pobres da
Ásia para os Tigres Asiáticos e economias em expansão. Um chamariz desse glamour da
urbanização é medido pela desigualdade socioeconômica, inerente ao sistema. Afinal,
para existir bilionários e milionários têm que haver muitos na miséria e exclusão.
Todos devem ter como objetivo compartilhar os benefícios e custos do uso de recursos
entre comunidades e grupos interessados, entre as comunidades pobres e ricas, entre as
gerações presentes e futuras. Cada geração deve deixar para sua sucedânea um mundo
pelo menos tão diverso e produtivo quanto aquele que herdou. A proteção dos direi-
tos humanos e da natureza é responsabilidade de âmbito mundial que transcende as
fronteiras culturais, ideológicas e geográficas. A responsabilidade é tanto coletiva como
individual (AVELINE, 1999, p.8).
O que se percebe, em última análise, é que onde não houver respeito pela vida e pela
integridade física e moral do ser humano, onde não houver limitação do poder, enfim,
onde a liberdade e a autonomia, a igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos
fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço
para a dignidade da pessoa humana e esta (a pessoa), por sua vez, poderá não passar de
mero objeto de arbítrio e injustiças (SARLET, 2008, p.35).
A limitação de poder do próprio Estado, o respeito pela vida e pela integridade física, a
livre expressão e autonomia, igualdade formal e material, visam assegurar a concretização dos
289 direitos fundamentais para impedir a arbitrariedade do mercado e suas injustiças. A regulação
estatal dos excessos cometidos pela economia no neoliberalismo, a fiscalização adequada de
recursos financeiros e transações internacionais, visando diminuir as gritantes diferenças entre
seus cidadãos, facilitando o acesso a direitos e assegurando o exercício de condições básicas para
quem antes estava à margem da sociedade:
A recente crise financeira global, cujo incêndio ainda não foi debelado de todo, serviu
para mostrar o quanto a teoria econômica dominante estava fora da realidade – o que,
aliás, tem precedentes históricos (como na Grande Depressão). A livre mobilidade do
capital e a desregulamentação financeira tornaram os países em desenvolvimento extre-
mamente vulneráveis aos choques globais. Ficou provado que quanto mais aberta e a
economia, maior a necessidade de proteção social do Estado e não o contrário. Qualquer
que seja o rumo que o novo estruturalismo venha a tomar no futuro, o ponto de partida,
sem dúvida, devera ser a redefinição das funções do Estado, particularmente em relação
a sua inserção no mundo globalizado (PEREIRA, 2006, p. 140).
A inserção social, a eliminação das disparidades de renda, diluir a exclusão, miséria e dico-
tomias decorrentes do processo capitalista é dever do Estado que faça por seus cidadãos menos
desprovidos o controle desses excessos. Além disso, na era da expansão comercial, das frontei-
ras apenas para alguns grupos e segmentos sociais, da produção em larga escala, das questões
33
Não obstante, a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força da necessidade ou do instinto de
sobrevivência da sociedade. A história mostrou ad nauseam e ad mortem como as ideologias, os interesses e o poder são capazes
de burlar os mais elementares princípios morais de convivência pacífica entre os humanos. Estas mudanças não serão alcançadas
sem uma complexa estratégia política, orientada pelos princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável,
mobilizada pelas reformas do Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil (LEFF, 2011, p.64).
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Entretanto, há caminhos viáveis pra sanar parcela considerável dessa falta de recursos.
Especialistas apontam que a melhor solução é o imposto progressivo anual sobre o capi-
tal, afinal ele tem mostrado robustez através do número de bilionários e milionários34,
dos lucros recordes de bancos. Com a taxação de grandes fortunas, heranças e lucros, é
possível evitar a espiral desigualadora sem fim e ao mesmo tempo preservar as forças da
concorrência e os incentivos para que novas acumulações primitivas se produzam sem
cessar. Por exemplo, menciona-se a possibilidade de uma tabela de cálculos de tributos
com taxas limitadas a 0,1% ou 0,5% ao ano para patrimônios inferiores a 1 milhão de
euros, 1% para aqueles entre 1 e 5 milhões de euros, 2% para os que estão entre os 5
e 10 milhões de euros, podendo subir até 5% ou 10% ao ano para os patrimônios entre
centenas de milhões ou bilhões de euros. Isso permitiria conter a progressão ilimitada
da desigualdade mundial, pois mostra concretamente que a riqueza produzida mundial-
mente está se concentrando nas mãos de um seleto grupo de pessoas, crescendo num
ritmo insustentável no longo prazo, que deve alarmar mesmo o mais fervoroso defensor
do mercado autorregulado. A experiência histórica indica, além disso, que desigualdades
de riquezas tão desmedidas não têm tanta relação com o espírito empreendedor- o que
refuta o aclamado termo “meritocracia”- e não apresentam nenhuma utilidade para o
290 crescimento, pois ele é amorfo, assimétrico e injusto (PIKETTY, 2014, p.556).
Os direitos humanos devem agir de forma integrada para dar ou apontar soluções e
respostas que transcendem o ordenamento jurídico conceitual típico. Por isso, a transdiscipli-
naridade é requisito essencial para tecer uma macroestrutura para compreensão dos dilemas e
dicotomias existentes hoje.
Conforme o excerto adiante, a falta de racionalidade ambiental e o pensamento a curto
prazo de gestores públicos e iniciativa privada conduzem a um abismo a sociedade presente:
Nós somos herdeiros de um tipo de sociedade, hoje globalizada, que já perdura por
trezentos anos, e que se propôs algo inaudito na história: explorar a Terra e todos os seus
recursos e serviços no solo, no subsolo, nos rios e nos oceanos de forma ilimitada. Faz isso
para aumentar mais e mais a oferta de produtos para o consumo ou então para acumular
riqueza de forma crescente e no tempo mais curto possível (BOFF, 2009, p.108-109).
único princípio fundamental: o de que o ganhar dinheiro deve ter precedência sobre os direi-
tos humanos, a democracia, a proteção ambiental e qualquer outro valor (CAPRA, 2002, p. 268).
Sendo imperioso recorrer a uma nova ética e racionalidade ambientais para projetar, bem como
estimular qual e como será o futuro diante das tragédias socioambientais que, por hora, já são
manifestas.
Lançar novos matizes que subsidiem uma nova era para a humanidade é preciso, poeti-
camente falando, quebrar todas os paradigmas e transpor as barreiras impostas pelo status quo.
A pós modernidade será composta de instrumentos e conhecimentos múltiplos que possibili-
tem a sociedade.Satisfazer as necessidades e as aspirações humanas é o principal objetivo do
desenvolvimento.
Nos países em desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número de pessoas-
alimento, roupas, habitação, emprego- não estão sendo atendidas, pois não há distribuição de
renda que seja compatível para pagar pelo alimento, nem acesso a terra que recai na falta de
reforma agrária. Além dessas necessidades básicas, as pessoas também aspiram legitimamente a
uma melhor qualidade de vida, com acesso digno a saúde pública de qualidade, educação básica e
superior, saneamento básico e tratamento de esgotos, acesso a água potável, mobilidade urbana,
melhorias para quem mora no campo.
Num mundo onde a pobreza e a injustiça são endêmicas, sempre poderão ocorrer crises
291 ecológicas e de outros tipos, pois há uma alta concentração de poder, terra, conhecimento e
capitais nas mãos de poucos. Para que haja um desenvolvimento sustentável, é preciso que todos
tenham atendidas suas necessidades e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar
suas aspirações a uma vida melhor (NOSSO FUTURO COMUM, 1988, p.47).
A eliminação das contradições encontradas no âmago das sociedades ocidentais contem-
porâneas requer um arcabouço sociológico, antropológico e filosófico novos. Não apenas ruptura
pontuais e descontínuas, mas sim uma adesão coletiva, planejamento de Estado e com execução
e cobrança para rede privada vislumbrando uma radical alteração comportamental:
obter, sem guerras, ganhos promissores para as searas social, ambiental e econômica na inter-
minável jogo de poder por mercado consumidor e fornecedores de insumos. Nessa esteira, uma
nova racionalidade ambiental que abarque as diversas dimensões do ser, da relação homem-na-
tureza, natureza-homem, do todo e suas partes recai numa ética conceitual que está sendo tecida
para fugir ao mero antropocentrismo.
Assim sendo, se reforça a premissa crucial da dignidade da pessoa humana porque
não pode existir inclusão de quem nunca estive dentro, de quem só vive na marginalização socioe-
conômica e sofrendo injustiça ambiental, de tal forma que na qualidade intrínseca e distintiva
reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por
parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudá-
vel, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria
existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET, 2008, p. 37-38).
Em termos gerais, o paradoxo oriundo da base de acumulação e concentração de capitais
para medir o desenvolvimento de um povo, pautando em índice econômico o bem estar social
deve ser refutado, pois esse método avaliativo é distorcido e não dá vazão para aferir qualitativa-
mente uma nação. Conectado a isto, num contexto político, econômico, sócio-cultural e ambien-
tal, essa tendência trouxe algumas inquietações. Então, meio ambiente e desenvolvimento não
se constituem questões isoladas ou desconectas, mas estão interligadas e por conseguinte não
podem ser tratadas separadamente dado a (trans)interdisciplinaridade. A questão, portanto, tem
um fundo teórico de extrema importância: meio ambiente e desenvolvimento constituem parte
de um sistema complexo de causa e efeito, estabelecendo conexões e uma simbiose difícil de
292 compartimentalizar.
A partir dessa leitura, em que os desgastes ambientais e os padrões de desenvolvimen-
to econômico interligam-se a vários fatores sociais e econômicos, bem como as características
sistêmicas transcendem os limites internos e geográficos das nações, a questão da segurança dos
ecossistemas passa a ganhar uma importância crucial. Nesse sentido, a necessidade de interliga-
ção das várias ciências e de se interpretar integradoramente os conceitos e teorias para na prática
ter uma aplicação mais acertada (MILIOLI, 1999, p.73).
Exposto isso, uma reordenação da base produtiva e do que é primordial para a huma-
nidade entra em cena. O parâmetro é a felicidade e qualidade de vida, não mais a acumulação
de recursos e bens materiais, perfazendo um novo trajeto que possibilita a economia ecológi-
ca lançar um olhar crítico sobre a degradação ecológica energética resultante dos processos de
produção e consumo, tentando sujeitar o intercâmbio econômico às condições do metabolismo
geral da natureza, incutindo os passivos ambientais no processo produtivo e mudando a relação
do público consumidor com o consequente resíduo sólido gerado (LEFF, 2011, p.44).
Não obstante, o antagonismo desempenhado por mecanismos de mercado que insistem
em perpetuar o estabilishment e há contracenso nas políticas públicas que, grosso modo, nem
sempre privilegiam a longo prazo a extração, distribuição e solidariedade entre os detentores da
biodiversidade:
Na confluência dos múltiplos interesses em jogo na transição para uma ordem econômi-
ca sustentável, abre-se um amplo espaço de concordâncias e um espectro de modelos
sociais alternativos. Neste processo, parece pouco realista enfrentar o projeto neoliberal
tão somente com os valores de uma ética conservacionista. Um dos grandes desafios que
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Constatamos, então, que há muitos tipos de sociedade, com suas instituições e normas
legais que organizam de forma diferente os relacionamentos com a natureza. Em algu-
mas, especialmente nos povos originários, os indígenas, vigora uma profunda comunhão
com a natureza e um cuidado natural para com os ecossistemas. Disso resulta uma gran-
de harmonia entre ser humano e meio ambiente. Há outras que quebram essa harmonia.
Em geral, por onde passa, o ser humano deixa um rastro de irresponsabilidade e falta de
cuidado (BOFF, 2009, p.108).
293 Nesse mote, há limites para o crescimento exponencial dos capitais e fundação e subsis-
tência das condições ideais de vida numa cidade para seres humanos. Esses limites da urbaniza-
ção e fatores limitantes de recursos são: água potável, saneamento básico, tratamento de água
e esgoto, destinação adequada de resíduos sólidos, mobilidade urbana, auto sustentação em
termos de emprego e renda, qualidade de vida, bem-estar, dentre outros sendo fundamental
uma gestão ambiental participativa:
Ainda assim, há fissuras que devem ser levadas em consideração na concepção de reso-
luções dos conflitos socioambientais:
Não obstante, a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força
da necessidade ou do instinto de sobrevivência da sociedade. A história mostrou ad
35
A Terra já ultrapassou em 25% sua capacidade de carga e regeneração. Não iremos enfrentar uma grande crise. Já estamos den-
tro dela. Estudos da Universidade de Campinas (São Paulo) revelaram que bastou o aumento no clima do Estado de São Paulo e no
sudeste de Minas Gerais para fazer com que as flores de café caíssem antes de formarem o grão. E a Embrapa mostrou o mesmo
em relação ao milho, ao feijão e a soja (BOFF, 2009, p.110).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
O que explica uma luta de classes, uma dicotomia de interesses, ensejando um amál-
gama de ideais, necessidades, desejos e sonhos que estão permeados por culturas diferentes e
sujeitos diversos. Essa divisão social engendra uma hierarquia que tende a sedimentar os pode-
rios econômicos, cultural, geopolítico, estratégico e de perpetuação das classes dominantes36.
O que se tem é uma ascensão das cidades que ficam nos países ricos (Norte) em detrimento
das megalópoles instaladas nos países periféricos (Sul). As externalidades ambientais e passivos
causados pela industrialização têm anuência do Estado, pois o mesmo mantém relações de poder
com a iniciativa privada.
Nesse diapasão, há uma nítida performance da racionalidade econômica em face da
racionalidade ambiental, deixando para a tecnologia resolver os problemas que ela mesma engen-
drou. Eis a falsa crença de que os problemas do capitalismo exacerbado serão por ele mesmo solu-
cionados. Ainda, conforme Leff (2001, p.59), “existem processos ecológicos e valores humanos
impossíveis de serem reduzidos ao padrão de medida do mercado”.
Como pressuposto da globalização, o neoliberalismo advém da alta capacidade de adap-
tação do capital e sua sinuosidade para transformar quaisquer coisa, pessoa, material ou objeto
294 em mercadoria que seja passível de lucro. No Brasil e no mundo, observa-se uma fuga de capitais
e cérebros para os países que possam ofertar insumos e mão-de-obra barata. Lógico que a “flexi-
bilização” e os direitos trabalhistas e ambientais conquistados ao longo de séculos são ultrajados
nesse processo de circulação de mercadorias e serviços:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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CAPÍTULO XXII
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan22
298
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
300
Imagem 2 - 2Mapa
Imagem - MapaFitogeográfico
Fitogeográfico dede Santa
Santa Catarina.
Catarina.
Fonte:Fonte:
Adaptado de Klein (1978).
Adaptado de Klein (1978).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
1) Perda de hábitat: a perda da biodiversidade provocada pela mudança no uso da terra originou
principalmente na Mata Atlântica, a formação de locais com grande diversidade de espécies e
altos níveis de endemismo, com percentual elevado de perda de hábitat (MYERS et al., 2000).
Além disso, uma das principais causas para essa perda de habitat está relacionada à conver-
são dos ecossistemas naturais em áreas de cultivo agrícola, que mundialmente alcançam de
20 a 50% do total de áreas nativas (SEVEGNANI; SCHROEDER, 2013).
2) Uso insustentável do ecossistema: a sobre-exploração da biodiversidade, geralmente moti-
vada pelas necessidades da sociedade (alimentação, combustível e moradia, resultam em
uma combinação de consumo não sustentável nos países desenvolvidos e da persistência da
pobreza nos países em desenvolvimento (MEA, 2005).
3) Mudanças climáticas: os efeitos serão, progressivamente, mais devastadores nos próximos
anos, afetando diretamente cadeias alimentares, a fenologia das plantas, bem como a sincro-
nização com os ritmos biológicos dos animais (MARENGO, 2006; SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013). Além disso, o desmatamento das florestas tropicais e subtropicais é considerado o
segundo maior desencadeador de mudanças climáticas no Planeta (STRASSBURG et al., 2010).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
4) Plantas e animais invasores: a introdução dessas espécies pode causar graves danos à fauna
e flora nativas, uma vez que podem competir por recursos alimentares, transmitir doenças,
causar mudanças genéticas e, sobretudo, ocasionar a extinção (SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013).
5) Poluição: o acúmulo de fósforo ou nitrogênio, derivado de áreas agrícolas leva à proliferação de
algas nos ambientes aquáticos, causando a toxicidade do meio, levando a um gasto excessivo
de oxigênio, podendo ocasionar a morte de diversos organismos (SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013). As principais causas para esses fenômenos estão ligadas ao adensamento populacional
em regiões litorâneas, bem como aumento das áreas agrícolas (MMA, 2000).
A seguir estão relacionadas as espécies com maior valor de importância nos remanescen-
tes florestais, por tipo de vegetação no estado de Santa Catarina, segundo o Inventário Florístico
Florestal de Santa Catarina (VIBRANS et al., 2012a,b, 2013b,c) (VIBRANS et al., 2012a, 2012b,
2013b, 2013c).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Tabela
Tabela 2 - Dez espécies 2 -maior
com Dezvalor
espécies com maior
de importância valor
(VI) nos de importância
remanescentes (VI) Ombrófila
da Floresta nos Mista, em
remanescentes da Florestaordem Ombrófila Mista,
decrescente de VIem ordem decrescente de VI
Nome científico Nome popular
Dicksonia sellowiana Hook. xaxim-bugio
Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze pinheiro-brasileiro
Clethra scabra Pers. carne-de-vaca
Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco
Lithrea brasiliensis Marchand Bugreiro
305 Ocotea porosa (Nees & Mart.) Barroso Imbuia
Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-sebo
Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-do-mato
Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez canela-lageana
Vernonanthura discolor (Spreng.) H.Rob. vassourão-preto
Fonte: Vibrans et al. (2013a)
Fonte: Vibrans et al. (2013a).
Tabela
Tabela 3 – Dez espécies com3 maior
– Dez espécies
valor com maior
de importância (VI) nosvalor de importância
remanescentes (VI)
da Floresta nos Decidual, em
Estacional
remanescentes da Floresta Estacional Decidual,
ordem decrescente de VI em ordem decrescente de VI
Nome científico Nome popular
Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-sebo
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canela-fedorenta
Luehea divaricata Mart. & Zucc. açoita-cavalo
Nectandra lanceolata Nees. canela-amarela
Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho
Machaerium stipitatum (DC.) Vogel farinha-seca
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Jerivá
Glassman
Cedrela fissilis Vell. Cedro
Casearia sylvestris Sw. cafezeiro-do-mato
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan Angico
Fonte: Vibransetetal.
Fonte: Vibrans al.(2013a).
(2013a).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
HERBÁRIOS CATARINENSES
CRI - O Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
possui, atualmente, cerca de 10 mil espécimes. A maior parte dos registros é do Bioma Mata
Atlântica, principalmente da Floresta Ombrófila Densa e da Restinga. Curador: Prof. Dr. Robson
dos Santos
FLOR – O Herbário do Departamento de Botânica (FLOR) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) conta, atualmente, com um acervo de 60 mil espécimes. Trata-se de uma impor-
tante coleção científica das diferentes formações vegetais do bioma Mata Atlântica. Curadora:
Profa. Dra. Ana Zannin.
306 FURB - O Herbário Dr. Roberto Miguel Klein da Universidade Regional de Blumenau
(FURB) conta, atualmente, com 54 mil espécimes de vários locais do Brasil, mas concentra a maior
parte da coleção no estado de Santa Catarina. Nesse Herbário, estão armazenadas as coletas reali-
zadas durante o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC). Curador: Prof. Dr. André
Luís de Gasper.
HBR - O Herbário Barbosa Rodrigues possui a maior e mais antiga coleção do estado, em
que estão depositadas as coletas que deram origem à Flora Ilustrada Catarinense, publicada pelo
próprio HBR, com autoria do Pe. Dr. Raulino Reitz e Dr. Roberto Miguel Klein. Curador: Prof. Dr.
Ademir Reis.
JOI - O Herbário Joinvillea da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) possui, atual-
mente, 12 mil espécimes coletadas em todos os tipos de vegetação do estado. Curadora: Profa.
Dra. Cynthia Hering Rinnert
LUSC - O Herbário Lages da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) possui,
atualmente, cerca de 6.100 espécimes. Os espécimes registrados na coleção são originados de
levantamentos florísticos em áreas úmidas (banhados) e áreas de Floresta Ombrófila Mista com
ocorrência no Planalto Catarinense. Curadora: Profa. Dra. Roseli Lopes da Costa Bortoluzzi.
Todas essas coleções auxiliam na divulgação da diversidade vegetal de Santa Catarina,
auxiliando órgãos e instituições de pesquisa, bem como na formulação de políticas públicas.
O investimento nessas coleções deve ser regular, visando o enriquecimento na qualidade das
informações.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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309
CAPÍTULO XXIII
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan23
310
SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
INTRODUÇÃO
de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas
ou atribuíram valores”, se atrela à Constituição brasileira de 1988, segundo a qual, em seu Artigo
216, o patrimônio cultural brasileiro é constituído por:
através da paisagem no espaço-tempo são características das sociedades em relação ao seu terri-
tório (COSGROVE, 1984; SOMMER; SALDANHA, 2010; FERRAZ, 2013).
O entendimento das relações espaciais, das interações e das mudanças estruturais que
ocorrem em um ambiente, provocadas pela ação antrópica, nas mais diferentes escalas têm sido
o objeto de estudo de um ramo científico relativamente novo, a Ecologia de Paisagem (METZGER,
2001; ZOCCHE et al., 2012; CAMPOS, 2015). Essa Ciência, sob a ótica da abordagem geográfi-
ca, pode contribuir para a solução dos problemas ambientais, pois se propõe a lidar com paisa-
gens antropizadas em escala na qual o homem está modificando o seu ambiente (MORAIS, 2001;
MARTINELLI et al., 2005; METZGER, 2001, 2009).
Tal ciência, procura entender as modificações estruturais e, portanto funcionais, trazidas
pelo homem à paisagem como um todo, incorporando de forma explícita toda a complexidade das
inter-relações espaciais de seus componentes, tanto naturais quanto culturais (METZGER, 2009).
Tendo por base a heterogeneidade espacial, que resulta dos padrões e dos processos ecológicos
(BUNCE; JONGMAN, 1993; PICKETT; CADENASSO, 1999), busca compreender a dinâmica dessa
heterogeneidade e os efeitos das atividades humanas como elemento modelador da paisagem
(PICKETT; CADENASSO, 1999; CAMPOS, 2010; CAMPOS et al., 2013; CAMPOS, 2015).
Nos dias atuais, há uma crescente preocupação com a questão ambiental e as instituições
e a comunidade científica têm estudado as relações entre o homem e ambiente por um prisma de
diferentes metodologias (FERNANDES; PELISSARI, 2003). A junção de diversas metodologias nos
conduz aos estudos interdisciplinares que propiciam a observação, a caracterização e a interpre-
tação do ambiente, no qual se inserem os personagens, possibilitando assim o entendimento das
peculiaridades do espaço estudado sob as mais diversas perspectivas (FORMAN; GODRON, 1986;
ZONNEVELD, 1995; TURNER et al., 2001).
314
Nesse cenário, insere-se a Ecologia de Paisagem, que é uma área do conhecimento relati-
vamente nova e está em busca de bases teóricas e conceituais sólidas para o seu estabelecimento
como ciência (ZONNEVELD, 1995; PICKETT; CADENASSO, 1999; METZGER, 2001; TURNER et al.,
2001). Os termos adotados nem sempre são muito claros, característica de disciplinas emergentes
que ainda buscam uma definição e a superação de impasses, oriundos das diferentes visões de
paisagem estabelecidas por seus pesquisadores (HOBBS, 1994; ZONNEVELD, 1995; WIENS, 1999;
METZGER, 2001; TURNER et al., 2001).
A Ecologia de Paisagem surge como uma disciplina integradora no estudo da estrutu-
ra, da função e das mudanças da paisagem (FORMAM; GODRON, 1986, TURNER, 1990; NAVEH;
LIEBERMAN, 1994). Devido ao seu caráter multidisciplinar, figura como base científica para a
proteção, recuperação, planejamento do uso e gerenciamento do território (RUZICKA; MIKLOS,
1989; NAVEH; LIEBERMAN, 1994; ZOCCHE et al., 2012), incluindo ai o patrimônio e a paisagem
cultural resultante das atividades humanas.
O diálogo entre as mais diversas áreas do conhecimento é imprescindível para o bom
gerenciamento territorial (ZOCCHE et al., 2012). Assim sendo, a integração de diferentes abor-
dagens metodológicas e conceituais nos estudos e avaliações das paisagens, possibilita a repre-
sentação mais fiel dos fatores que nelas interagem e as configuram, contribuindo assim para o
entendimento humano da paisagem cultural como resultado de suas ações (CAMPOS, 2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
responsabilidade que tem com os povos tradicionais, devendo, portanto, respeitar princípios
éticos no desenvolvimento das pesquisas em seus territórios. Criaram, contudo, um ponto de
vista de valores e responsabilidades para tomar decisões a respeito de como agir ou reagir a situa-
ções particulares. Esse código de ética pode ser considerado um guia para todos os arqueólogos
do mundo (WAC, 1990 apud RODRIGUES, 2016).
No caso brasileiro, a Associação Brasileira de Antropologia motivou, na década de 80, a
Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) a esboçar a primeira minuta de criação de um código
de ética para a arqueologia brasileira definindo quais seriam as práticas moralmente adequadas.
Depois disso, o assunto foi avançando por meio de várias reuniões até chegar à compilação de
um documento comum, recentemente atualizado, com a finalidade de garantir a flexibilidade e a
liberdade para se “fazer e pensar” a Arqueologia nesse novo cenário em que se apresenta, com
destaque ao respeito às comunidades locais e ao incentivo de estratégias a ações participativas
juntas às comunidades (RODRIGUES, 2016).
cotidianamente os riscos culturais, sociais e ambientais. Isso quer dizer que os gestores do patri-
mônio não podem agir de maneira independente, conforme destacam (WIJESURIYA; THOMPSON;
YOUNG, 2016, p. 18):
Para Murta e Albano (2002, p. 10), “uma comunidade que não conhece a si mesma
dificilmente poderá comunicar a importância de seu patrimônio”. Nesse sentido, a prática inter-
pretativa deve proporcionar a discussão entre os diferentes segmentos sociais sobre aquilo que
os tornam diferentes, levando os moradores a (re) descobrirem novas formas de olhar, apreciar
e usar o seu lugar, de forma a desenvolver entre eles atitudes preservacionistas. E, finalmente,
estarão aptos a novas vocações e oportunidades de trabalho e renda ligadas ao turismo cultural
(MURTA; ALBANO, 2002, p. 11).
Para Guimarães et al. (2006, p. 282):
Seguindo este pensamento o turismo pode atuar como mecanismo de valorização, quan-
317 do desenvolvido de forma responsável, poderá garantir a salvaguarda do patrimônio
cultural material. Como atividade consolidada, pode trazer benefícios, principalmen-
te para a comunidade local e subsequentemente para o sítio arqueológico, desde que
planejado.
O turismo pode até mesmo ofereceruma forma de reativar a vida social e cultural da
população residente, revitalizando assim a comunidade local, estimulando contatos no
país, atraindo jovens e favorecendo as atividades da região.
Diante disso, avalia-se que a integração entre patrimônio e turismo, produzida de forma
sustentável, é um dos caminhos para a valorização e conservação dos sítios arqueológicos.
CONSIDERACÕES FINAIS
Como corolário do que se discutiu acima, emergem algumas considerações com as quais
vão concluir esse ensaio. Em primeiro lugar, é fundamental a percepção de que a ideia de paisa-
gem é, há um tempo, natural e cultural. Embora, os ambientes do planeta existam a muito mais
tempo que a humanidade, não há rincão desse mundo que não traga impressas as marcas cultu-
rais da adaptação humana, repletas de significados que nem sempre são claros ao observador
contemporâneo, necessitando decodificação – eis um dos trabalhos do arqueólogo.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Por outro lado, contemplar ou viver uma paisagem é por si só um ato cultural e assim
sendo, diferentes observadores podem experimentar diferentes sentidos em relação a um mesmo
contexto paisagístico. Cultura material (e imaterial) é carregada de significados simbólicos, que
veiculam poder e domínio sobre o mundo, o território. A preservação do patrimônio arqueológico
sem a integração com a paisagem constitui-se, por si só, em um equívoco. Somente a partir da
comunidade qualquer ação patrimonial pode fazer sentido.
Aqui, a contemplação da paisagem torna-se também um ato social: é preciso negociar
sempre os sentidos, significados e interesses que derivam de diferentes olhares. Não se pode
deixar de considerar, mais uma vez, que, no passado, no presente e no futuro, as perspectivas e
interesses daqueles que habitam determinada paisagem não devem, em hipótese alguma, ser
esquecidos, ou desconsiderados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Sobre os organizadores
Hugo Schwalm
Possui graduação em Engenharia de Agrimensura pela Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC, Especialização em Engenharia de Produção pela a Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC, Mestre em Ciências Ambientais pela a Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC e atualmente é professor titular. Atuando principalmente nos seguintes
temas: topografia, georreferenciamento, parcelamento de solo, planejamento urbano e regulari-
zação fundiária.
Sobre os autores
Mestrado em Psicologia
Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Pós-Doutorado Ciências Humanas - Psicologia
- Antropologia
Aperfeiçoamento em Pós doutorado
329