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E-Book Planejamento e Gestao Territorial PDF

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PLANEJAMENTO E GESTÃO

TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
2017 ©Copyright UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
Av. Universitária, 1105 – Bairro Universitário – C.P. 3167 – 88806-000 – Criciúma – SC
Fone: +55 (48) 3431-2500 – Fax: +55 (48) 3431-2750

Reitora
Luciane Bisognin Ceretta
Vice-Reitor
Daniel Ribeiro Preve
Pró-Reitora de Ensino de Graduação
Indianara Reynaud Toreti Becker
Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Oscar Rubem Klegues Montedo
Pró-Reitor de Administração e Finanças
Thiago Rocha Fabris

Conselho Editorial
Dimas de Oliveira Estevam (Presidente)
Alex Sander da Silva
Fabiane Ferraz
Marco Antonio da Silva
Melissa Watanabe
Miguelangelo Gianezini
Nilzo Ivo Ladwig
Oscar Rubem Klegues Montedo
Reginaldo de Souza Vieira
Ricardo Luiz de Bittencourt
Tiago Elias Allievi Frizon
Vidalcir Ortigara
Willians Cassiano Longen

Editora da UNESC
Editor-Chefe:
Dimas de Oliveira Estevam

Revisão ortográfica e gramatical (textos em português): Margareth Maria Kanarek e Carina Fernandes de Andrade
de Freitas
Revisão ortográfica e gramatical (textos em espanhol): Marianela Marana Vieyto
Projeto gráfico, diagramação e capa: Luiz Augusto Pereira

As ideias, imagens, figuras e demais informações apresentadas nesta obra são de inteira responsabilidade de seus
autores e de seus organizadores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


P712 Planejamento e gestão territorial [recurso eletrônico]: gestão integrada do
território / Nilzo Ivo Ladwig, Hugo Schwalm (organizadores). –
Criciúma, SC : UNESC, 2017.
331p. : il.

ISBN: 978-85-8410-076-7
DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan

Modo de acesso: <http://www.unesc.net/portal/capa/index/300/5886/>.

1. Planejamento urbano. 2. Planejamento territorial. 3. Proteção


ambiental. 4. Ordenamento territorial. 5. Licenciamento ambiental.
6. Impacto ambiental. I. Título.
CDD – 22.ed. 711.4

Bibliotecária Eliziane de Lucca Alosilla - CRB 14/1101


Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC
Nilzo Ivo Ladwig | Hugo Schwalm
ORGANIZADORES

PLANEJAMENTO E GESTÃO
TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Criciúma
UNESC
2017
PLANEJAMENTO E GESTÃO
TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Comitê Científico

Prof. Dr. Adriano Michael Bernardin – UNESC


Prof. Dr. Álvaro José Back – UNESC
Prof.a Dra. Birgit Harter Marques – UNESC
Prof. Dr. Carlyle Torres Bezerra de Menezes – UNESC
Prof.a Dra. Fabiana Gonçalves Barbosa - UNESC
Prof. Dr. Geraldo Milioli – UNESC
Prof. Dr. Gianfranco Ceni - UNESC
Prof. Jader Lima Pereira - UNESC
Prof. Dr. Jairo José Zocche – UNESC
Prof. Dr. Juliano Bitencourt Campos - UNESC
Prof.a Dra. Kelly Gianezini – UNESC
Prof.a Ledina Lentz Pereira - UNESC
Prof. Dr. Marcos Back - UNESC
Prof. Mario Ricardo Guadagnin - UNESC
Prof. Me. Maurício Pamplona - UNESC
Prof.a Dra. Melissa Watanabe – UNESC
Prof.a Nadja Zim Alexandre - UNESC
Prof.a Dra. Natalia Martins Gonçalves - UNESC
Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig – UNESC
Prof.a Dra. Patricia de Aguiar Amaral – UNESC
Prof. Dr. Rafael Martins – UNESC
Prof. Dr. Robson dos Santos – UNESC
Prof. Sergio Luciano Galatto - UNESC
Prof.a Dra. Teresinha Maria Gonçalves – UNESC
Prof.a Dra. Vanilde Citadini-Zanette – UNESC
Prof.a Dra. Viviane Kraieski Assunção – UNESC
PREFÁCIO
Diante dos desafios contemporâneos, o livro “Planejamento e Gestão Territorial: Gestão
Integrada do Território” trata de temática oportuna, na qual conciliar desenvolvimento e conser-
vação ambiental merece destaque.
O território, enquanto espaço concreto, apresenta-se como laboratório de experimen-
tações de alternatividades, nas palavras de Boaventura de Sousa Santos,1 ou de ecossocioeco-
nomias, segundo Ignacy Sachs,2 e bem viver, complementando esses dois expoentes, segundo
Sampaio et al.,3 para evidenciar a interconectividade entre sistemas sociais e ecológicos.
É no território onde as pessoas nascem, crescem, estudam, trabalham, vivem, amam
e morrem. Ainda que a vida humana se limite à escala do tempo biológico, no território, o que
acontece com um ser, sucessivamente, deflagra em seu descendente e em outros, e assim
reverbera no planeta.4
Assim, ainda que o território tenha uma dinâmica própria, não está desconectado de
outras escalas espaciais – região, país, continente – e do próprio planeta.
Dessa maneira, a desigualdade que se vê em residências de um mesmo bairro, vê-se
também em nível global. Segundo o Relatório sobre Desenvolvimento Humano 20155, 16% da
população do planeta concentram 67% da renda bruta. Para exemplificar tal efeito, os países com
maior e menor expectativa de vida – Hong Kong com 84 anos e Suazilândia com 49 – possuem
renda, Produto Interno Bruto e Índice de Desenvolvimento Humano inversamente proporcionais.
Se não bastasse tal disparidade, esses mesmos 16% concentram 57% do lançamento de dióxido
de carbono (CO2) de todo o planeta. Sob tal constatação, questiona-se: que desenvolvimento é
esse?
Tal cenário justifica a contribuição dos 23 capítulos aqui organizados, que refletem diálogos e
interações entre o corpo docente e discente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
e seus colaboradores – externos à Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) –, os quais rela-
tam seus esforços de conhecimento, compreensão, proposição e ação no território.
Cabe ressaltar a importância de universidades comunitárias – como a UNESC, localizada
no município de Criciúma, Santa Catarina –, que desenvolvem ações para o fortalecimento do
território e de suas paisagens.
Não querendo roubar o protagonismo dos organizadores, finalizo convidando os leitores
a realizarem esta viagem para conhecer a obra, sob a organização dos amigos Nilzo Ivo Ladwig e
Hugo Schwalm.
Boa leitura!

Prof. Dr. Carlos Alberto Cioce Sampaio


Professor dos Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (FURB),
Gestão Ambiental (UP) e em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR)
Pesquisador (CNPq) e Coordenador da Área de Ciências Ambientais (CAPES)
1
SANTOS, B. de S. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática. São Paulo: Cortez, 2011.
2
SACHS, I. Rumo à ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2007.
3
SAMPAIO, C. A. C. et al. Good living for the next generation: between subjectivity and common good from the perspective of eco-
socio-economy. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 40-50, jan./mar. 2017.
4
LYONS, C. O. Listening to natural law. In: NELSON, M. K. (Ed.) Original instructions: indigenous teachings for a sustainable future.
Rochester: Bear & Company, 2008, p. 22-26.
5
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME - UNDP. Human development index (HDI) 2015. New York: UNDP, 2016.
SUMÁRIO
Apresentação
Mauri Luiz Heerdt 10
Capítulo I
CONTRIBUIÇÕES DE UM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
PARA A GESTÃO DO TERRITÓRIO NA REGIÃO CARBONÍFERA CATARINENSE: UM
12
LEVANTAMENTO DAS DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS PELO PPGCA (UNESC)
Gláucia Cardoso de Souza | Amanda Bellettini Munari | Viviane Kraieski Assunção |
Adriano Michael Bernardin | Vanilde Citadini-Zanette | Patrícia de Aguiar Amaral |
Geraldo Milioli

Capítulo II
EL PAISAJE COMO ELEMENTO CLAVE PARA LA GESTIÓN TERRITORIAL DE LAS ÁREAS
DE PROTECCIÓN AMBIENTAL
24
Deisiane dos Santos Delfino | Albert Pèlachs Mañosa | Angela da Veiga Beltrame

Capítulo III
MEIO AMBIENTE E GESTÃO TERRITORIAL: LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS
DESAFIOS DO ORDENAMENTO TERRITORIAL 38
Gisele Victor Batista | Alice Maccari | Daniela Fernandes Medeiros

Capítulo IV
PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL EM SÃO BONIFÁCIO (SC): OS DESAFIOS DA
GESTÃO INTEGRADA 52
Giully de Oliveira | Adilson Tadeu Basquerote Silva

Capítulo V
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO ARROIO CORNETA COMO FERRAMENTA DE
GESTÃO AMBIENTAL DA APA ROTA DO SOL, EM SÃO FRANCISCO DE PAULA (RS) 65
Eloisa Lovison Sasso | Edison Claudiomiro Mucke da Rosa |Daniel Brinckmann Teixeira
| Marcia dos Santos Ramos Berreta

Capítulo VI
IMPACTOS AMBIENTAIS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO RIO MAIOR, NO
MUNICÍPIO DE URUSSANGA/SC 79
Nilzo Ivo Ladwig | Jairo José Zocche | Andréia Gimenes Amaro | Cristiane Scussel
Capítulo VII
INDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL NO BAIRRO VILA MANAUS, EM CRICIÚMA
(SC), E A SUSTENTABILIDADE DO TERRITÓRIO NO OLHAR DOS MORADORES LOCAIS 88
Graziela Serafim Casagrande | José Carlos Virtuoso | Carlyle Torres Bezerra de Menezes

Capítulo VIII
LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS): EVOLUÇÃO
E PANORAMA ATUAL 103
Brandaly Staudt | Naiara Machado da Silva | Letícia Gonçalves Peres | Marcelo
Maisonette Duarte

Capítulo IX
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA SINTETIZADA DE ÁREA DEGRADADA PELA MINERAÇÃO DE
CARVÃO NA LOCALIDADE DE RIO BONITO, EM LAURO MÜLLER (SC) 115
Daniel Pazini Pezente | William de Oliveira Sant Ana | Jefferson de Faria

Capítulo X
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO SOCIAL: A INSERÇÃO DAS COMUNIDADES
NAS ATIVIDADES DE DETONAÇÕES DE ROCHAS DO CONTORNO RODOVIÁRIO DE 127
FLORIANÓPOLIS
Marília Simoni Dordete da Silva | Daniela Beatriz Goudard Bussmann | Renato
Muzzolon | Cássia Gabrielli Padilha | Rubens Vicente de Mesquita | Elder Owsiany
Mendes | Renata Muzzolon | Alessandro Martins Matsunaga | Renato Muzzolon
Júnior

Capítulo XI
MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO E AO DESLIZAMENTO NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO URUSSANGA, UTILIZANDO O MÉTODO DE ANÁLISE 142
HIERÁRQUICA – AHP
Nilzo Ivo Ladwig | Aldo Fernando Assunção | Adriano de Oliveira Dias | Camila Pedro
Guimarães | Rosabel Bertolin | Kelly Daiane Savariz Bôlla | Henrique Matos

Capítulo XII
ELABORAÇÃO DO MAPA GEOTÉCNICO PRELIMINAR E APLICAÇÃO DO MODELO
SHALSTAB PARA MAPEAMENTO DE SUSCETIBILIDADE A ESCORREGAMENTOS RASOS
NO MUNICÍPIO DE BRAÇO DO NORTE (SC)
161
Dayani Della Giustina Michels

Capítulo XIII
ANÁLISE DO RISCO DE OCUPAÇÃO URBANA SOBRE ÁREAS MINERADAS EM SUBSOLO
NO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA (SC), UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO 176
Rafaela Bendo | Fabiano Luiz Neris | Gustavo José Deibler Zambrano
Capítulo XIV
MANGUES, CIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS
COSTEIROS PARA AS CIDADES DE ITAJAÍ E JOINVILLE (SC) DIANTE DOS PROGNÓSTICOS
DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR
191
Samara Braun | Alessandra Hodecker-Dietrich | Juarês José Aumond

Capítulo XV
URBANIZAÇÃO E CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NO MUNICÍPIO DE MATINHOS (PR)
Sidney Vincent de Paul Vikou | Sony Cortese Caneparo | Eduardo Vedor de Paula
209
Capítulo XVI
A GESTÃO DO ESPAÇO URBANO E A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
A PARTIR DO SURGIMENTO DOS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS NOS 226
MUNICÍPIOS DE CAPÃO DA CANOA E XANGRI-LÁ (RS)
Juarez Camargo Borges

Capítulo XVII
ESPACIALIZAÇÃO DE DADOS SOCIOECONÔMICOS COMO BASE PARA A GESTÃO
TERRITORIAL 238
Roberta Plangg Riegel |Douglas Cristian Roque | Marco Antônio Siqueira Rodrigues |
Daniela Muller de Quevedo

Capítulo XVIII
ANÁLISE DO ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA (IAC) PARA O MUNICÍPIO DE PALMITOS,
NO EXTREMO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA 252
Fabiane Nunes Gonçalves | Álvaro José Back

Capítulo XIX
VIDA E TRABALHO: UMA DISCUSSÃO SOCIOAMBIENTAL DA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Teresinha Maria Gonçalves
261
Capítulo XX
REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DESIGUAL E COMBINADO EM PROCESSOS
DE INTEGRAÇÃO: TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E SUA INCIDÊNCIA TERRITORIAL 268
NA UNIÃO EUROPEIA
Rogério Santos da Costa | Andréia de Simas Cunha Carvalho

Capítulo XXI
CRISE CIVILIZATÓRIA E A NECESSÁRIA RUPTURA DA ORDEM VIGENTE
Danilo Barbosa de Arruda | Geraldo Milioli 281
Capítulo XXII
BIODIVERSIDADE VEGETAL EM SANTA CATARINA
Guilherme Alves Elias | Robson dos Santos | Vanilde Citadini-Zanette 298

Capítulo XXIII
GESTÃO INTEGRADA DO PATRIMÔNIO E DA PAISAGEM CULTURAL: BREVES
CONSIDERAÇÕES 310
Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues | Juliano Bitencourt Campos | Deisi Scunderlick
Eloy de Farias | Paulo DeBlasis | Marcos César Pereira Santos | Jairo José Zocche

Sobre os Organizadores
322
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

APRESENTAÇÃO

O modo como o ser humano se relaciona com a natureza, ou como a utiliza, é uma preo-
cupação já formulada na Grécia antiga, embora as reflexões, no sentido que hoje discutimos,
sejam relativamente recentes, observadas especialmente a partir da II Guerra Mundial, quando
o uso da energia nuclear como fator de destruição nos trouxe uma dimensão sombria quanto ao
futuro do Planeta.
Daquele ponto em diante, observamos crescer o interesse de pesquisadores pelo estudo
dos diferentes desdobramentos relacionados às questões ambientais. Entre eles, vale destacar a
bióloga marinha e ecologista Rachel Carson, que publicou, em 1962, o livro Primavera Silenciosa,
alertando para os perigos do desequilíbrio do ecossistema, bem como Elinor Ostrom, sobre o uso
dos bens comuns (commons) ou recursos comuns (oceanos, florestas, água potável, etc.) discu-
tidos no livro Governing the Commons, de 1990. A propósito desses recursos comuns, Ostrom
lembra que o problema está no predomínio do benefício de uns em detrimento de outros e na
prática de extrair do ambiente quantidade superior à capacidade de recuperação dos recursos
naturais.
Nessa mesma linha, Lester Brown disseminou o conceito de sustentabilidade a partir
de um ponto de vista sistêmico, ou seja, nesse caso, percebendo o Planeta como um sistema
integrado e não como partes dissociadas. Autor de diversos livros sobre o tema, entre eles Plano
B 4.0; fundador do Worldwatch Institute e, posteriormente, do Earth Policy Institute (EPI), Brown
10 colaborou significativamente para que tivéssemos uma visão interconectada, holística, a respeito
da sustentabilidade, expressa por ele de modo simples e claro em uma frase: “Uma sociedade
sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as perspectivas das gerações
futuras”. Frase que resume também, de modo claro, o grande desafio das pessoas, das institui-
ções e dos governos: criar comunidades sustentáveis, em cujos ambientes sociais, econômicos e
culturais seja possível uma vida satisfatória para todos – hoje e no futuro.
Não se trata, no entanto, somente de mudança de paradigma quanto ao abandono de
um pensamento mecanicista ou reducionista em favor de uma perspectiva sistêmica, integradora.
É indispensável para a mudança da forma como agimos no mundo que se observe primeiramen-
te o alcance dos atos realizados hoje, de tal modo que a sustentabilidade ambiental seja usada
como estratégia de desenvolvimento, incluindo a esfera econômica, política, tecnológica, social
e a esfera da educação, especialmente. Essa é a base, o caminho para internalizarmos as formas
viáveis como uma sociedade pode usar os recursos naturais sem interferir em sua qualidade ou
esgotá-los.
Não significa, com isso, que o crescimento deve ser interrompido. A esse respeito, o
conceituado economista Ignacy Sachs, que em 1972 ajudou a redigir a declaração da Conferência
das Nações Unidas de Estocolmo, observa que não temos o direito de paralisar o crescimento
enquanto não tivermos alcançado um nível de vida razoável para todos, com base em um consumo
inteligente e equitativo de material. Sachs entende que o conceito de desenvolvimento sustentá-
vel, na verdade, desdobra-se em cinco dimensões: sustentabilidade econômica, sustentabilidade
social, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade geográfica e sustentabilidade cultural. O que
conduziu à ideia expressa pelo termo “desenvolvimento sustentável”, usado pela primeira vez
na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela então primeira-
-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, em 1983, definindo desenvolvimento sustentável
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

como capacidade de “[...] atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capaci-
dade das futuras gerações em prover suas próprias demandas”.
Ali ficou claramente estabelecido que o desenvolvimento econômico deveria estar atre-
lado à questão ambiental, assim como esta deveria compreender a preservação dos bens naturais
e da dignidade humana. Certamente, esses são valores indissociáveis e não é difícil projetar a
situação de impasse no futuro, pois, conforme a visão dos cientistas, teremos muitos conflitos
decorrentes da escassez dos bens naturais.
No Brasil, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, nos últimos 50 anos, a popu-
lação cresceu de 60 para 200 milhões de habitantes e a taxa de urbanização passou de 45% para
quase 85%. Além disso, o número de municípios hoje está em 5.565. Ainda segundo dados do
Ministério, é interessante ponderarmos que se do ponto de vista econômico tivemos uma diver-
sificação e desconcentração produtiva, permitindo avanços na inclusão social, de outro também
observamos forte e negativo impacto sobre os ecossistemas, cujo ritmo vem determinando o
aumento da vulnerabilidade de alguns segmentos sociais – o que desestabiliza, ou mesmo impe-
de, o crescimento não apenas de algumas regiões, mas do próprio País.
É exatamente sob essa perspectiva que a discussão proposta nos 23 capítulos deste livro
mostra sua relevância. Por meio das diferentes análises, seus autores montam um painel no qual
se configura a necessidade de uma visão estratégica do território, de tal forma que se conci-
lie crescimento econômico e conservação dos bens comuns, permeando essa equação o efetivo
combate às desigualdades sociais.
Trata-se, portanto, de uma obra imprescindível para o enriquecimento do debate acadê-
mico. Uma iniciativa pela qual felicito os seus organizadores – Prof. Dr. Nilzo Ivo Ladwig e Prof. Me.
11 Hugo Schwalm –, o Comitê Científico e os respectivos autores dos capítulos.

Mauri Luiz Heerdt


Reitor da Unisul
CAPÍTULO I

CONTRIBUIÇÕES DE UM PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS PARA A
GESTÃO DO TERRITÓRIO NA REGIÃO CARBONÍFERA
CATARINENSE: UM LEVANTAMENTO DAS DISSERTAÇÕES
DEFENDIDAS PELO PPGCA (UNESC)

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan01

Gláucia Cardoso de Souza - UNESC


Amanda Bellettini Munari - UNESC
Viviane Kraieski Assunção - UNESC
Adriano Michael Bernardin - UNESC
Vanilde Citadini-Zanette - UNESC
12 Patrícia de Aguiar Amaral - UNESC
Geraldo Milioli - UNESC

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

A questão ambiental começou a ser problematizada pelo meio científico a partir da déca-
da de 1970. Inicialmente, tal temática era tratada de forma fragmentada pelos ementários de
alguns cursos de graduação, como Ciências Biológicas, Engenharia Civil, Geografia e Engenharia
Sanitária. A década de 1990 foi marcada por uma grande difusão de cursos superiores ligados ao
meio ambiente, com as mais variadas titulações (BURSZTYN, 2004; REIS et al., 2005).
Diante da necessidade de tratar dos inúmeros problemas ambientais de forma mais
complexa e a partir de uma visão sistêmica que considerasse métodos interdisciplinares de inter-
venção teórica e prática, a CAPES criou, em 1999, a área de Ciências Ambientais, com a finali-
dade de agrupar programas de pós-graduação que não se enquadravam no sistema tradicional
de compartimentação e classificação do conhecimento científico. Em 2011, a área de Ciências
Ambientais foi elevada ao status de grande área e, desde a sua criação, é uma das que mais cresce
no sistema CAPES (CAPES, 2013).
No contexto de degradação socioambiental proveniente da mineração de carvão, o
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) entra em funcionamento em
Criciúma, cidade polo da região carbonífera, no ano de 2002, na Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC). No âmbito de sua área de concentração – Ecologia e Gestão de Ambientes
Alterados –, o programa tem por finalidade tratar de problemas atrelados à degradação dos
ambientes naturais e construídos, contribuindo para a produção de conhecimento e subsidiando
a tomada de decisões sob a perspectiva de políticas públicas, especialmente na região onde se
insere.
13 A região carbonífera sul catarinense constitui-se, atualmente, em 12 municípios e conta
com uma população de pouco mais de 425 mil habitantes, distribuídos em uma área de 2.654,88
km². Economicamente, compreende uma área bastante industrializada (GOULARTI FILHO, 2002;
MONTIBELLER-FILHO, 2009), forjada a partir da atividade carbonífera. Os impactos socioambien-
tais cumulativos decorrentes de tal prática conferem à região uma realidade bastante comple-
xa, em função do passivo socioambiental persistente no tempo e no espaço (MILIOLI; SANTOS;
CITADINI-ZANETTE, 2009).
Muitas cidades da região sul do Estado se desenvolveram e ainda se mantêm com base
na atividade mineradora. Os municípios de Siderópolis, Treviso, Urussanga e Lauro Müller exibem
testemunhos da época de intensa exploração de carvão a céu aberto pela presença de extensas
áreas degradadas e de recursos hídricos comprometidos pela elevada acidez das águas (LOPES;
SANTO; GALATTO, 2009). Durante décadas, foram depositados rejeitos de carvão em margens
de rios e banhados, poluindo as águas e deixando o solo improdutivo sob a perspectiva agrícola
(MENEZES; WATERKEMPER, 2009).
Além da atividade carbonífera, a região desenvolve-se, atualmente, com base nos
segmentos cerâmico, químico, de produtos plásticos, vestuário e metalmecânico (MILIOLI, 1995;
SEBRAE, 2010). Em contrapartida ao crescimento econômico, tem-se o esgotamento de recur-
sos naturais, uma vez que as atividades industriais estão estritamente vinculadas a significativos
processos de desgaste do ambiente, caracterizados pela geração de áreas degradadas, contami-
nação dos rios e lençóis freáticos, somados à poluição atmosférica (MONTIBELLER-FILHO, 2009).
Compreendendo que o Programa contribui, notadamente, para a gestão dos recursos
naturais, bem como para a gestão do território, mesmo porque atua em duas linhas de pesquisa
que dão conta dessas temáticas – Ambientes Naturais e Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento
–, a presente pesquisa teve como objetivo analisar a contribuição do PPGCA para a gestão do
território na região carbonífera catarinense.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O ENSINO SUPERIOR E A QUESTÃO AMBIENTAL

Gradativamente, a globalização da degradação socioambiental exigiu do meio científico


a internalização de valores e princípios ecológicos que contribuíssem para a construção de novos
padrões de desenvolvimento. Por consequência, emergiram novos enfoques metodológicos na
tentativa de tratar da complexidade de tal problemática, tendo em vista a causalidade múltipla e
o potencial sinergético dos processos de ordem física, biológica, tecnológica e social que a cons-
tituem. Surgiram, consequentemente, espaços voltados para a pesquisa e a formação ambiental
(LEFF, 2001; BURSZTYN, 2004).
No caso das universidades brasileiras, a questão ambiental já é abordada há algumas
décadas. O processo de internalização se acentuou na década de 1970 e, especialmente, na déca-
da de 1980, que pode ser considerada um marco na vinculação de temas ambientais como foco
de interesse de pesquisas realizadas nas universidades brasileiras (BURSZTYN, 2004; REIS et al.,
2005).
Destaca-se, entretanto, que a eminência da questão ambiental foi trabalhada por inter-
médio de disciplinas isoladas, dentro da grade curricular dos cursos tradicionais de graduação,
como Engenharia Civil, Ciências Biológicas e Geografia. Foi a partir da década de 1990 que ocorreu
uma verdadeira difusão de cursos ligados à temática ambiental, com as mais variadas denomina-
ções. Nesse mesmo período, países como a Inglaterra também observavam o aumento da deman-
da por cursos universitários voltados à questão ambiental (CAWSEY, 1994).

A PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS


14

A interdisciplinaridade nas universidades brasileiras ganhou destaque no mesmo momen-


to em que se problematizaram as questões ambientais, a partir das décadas de 1960 e 1970
(ROCHA, 2003). No Brasil, o curso mais antigo, com um enfoque integrado e multidisciplinar, é o
curso de Ecologia, cuja data de criação remonta à década de 1970 (BURSZTYN, 1999).
Na Inglaterra, graus acadêmicos em Ciências Ambientais já eram oferecidos desde a
década de 1970. Igualmente, na Alemanha, onde há uma tradição na abordagem técnica de temas
ambientais, o assunto faz parte do cotidiano acadêmico há bastante tempo. No entanto, diferen-
temente das universidades britânicas, onde são formados cientistas ambientais com uma visão
mais global de meio ambiente, o ensino universitário alemão é orientado no sentido de formar
técnicos altamente qualificados em áreas específicas (LEAL FILHO, 1999).
Historicamente, o reconhecimento das Ciências Ambientais, no Brasil, ocorreu, inicial-
mente, como um subprograma de incentivo do Ministério da Ciência e da Tecnologia, por meio do
Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia (PADCT), com a finalidade de
legitimar o trabalho de equipes multidisciplinares universitárias no trato das questões ambientais
por diversas áreas do saber (PHILIPPI JUNIOR, 2000).
Assim, a área multidisciplinar foi criada pela CAPES em 1999 para abrigar programas de
pós-graduação que não se encaixavam na visão tradicional de ensino e pesquisa; consequente-
mente, em 2008, criou-se uma grande área multidisciplinar constituída por quatro áreas interdis-
ciplinares, dentre as quais a área Interdisciplinar I (Meio Ambiente e Agrárias), da qual fazia parte
a subárea/subprograma de Ciências Ambientais. Ressalta-se que, desde a sua criação, essa é uma
das áreas com maior taxa de crescimento e, por consequência, com o maior número de cursos
reconhecidos (ROCHA, 2003; FLORIANI et al., 2010; CAPES, 2011; CAPES, 2016a).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A subárea de Ciências Ambientais fez parte da área interdisciplinar até o ano de 2010.
A partir de junho de 2011, ganhou status de CACiAmb, decisão justificada pela complexidade
inerente aos problemas socioambientais e pela interação possível entre diversas áreas do conhe-
cimento científico (CAPES, 2016a).
Conforme o documento da CAPES (2013), a criação dessa área é reflexo do reconheci-
mento, pelo meio científico, de que são necessárias também mudanças profundas na organização
do conhecimento, que tenham como premissa a visão sistêmica da realidade e métodos inter-
disciplinares de intervenção teórica e prática. As demandas socioambientais e a perspectiva do
desenvolvimento sustentável são elementos inerentes às Ciências Ambientais, de modo que lhes
são competências atribuíveis:

[...] abordar processos sociais e naturais, desenvolver novas tecnologias, estabelecer


processos de gestão socioambientais e, considerando maior inclusão social, formular e
analisar políticas públicas voltadas à gestão ambiental em sentido amplo. Dentre os gran-
des desafios das ciências ambientais, está a conservação e gestão dos recursos naturais,
essenciais à qualidade de vida, contribuir para a resolução de macroproblemas, como
mobilidade urbana, saneamento básico, favelização e pobreza, violência, desastres natu-
rais e outros. (CAPES, 2013, p. 6).

A crescente discussão sobre a interdisciplinaridade é resultado de uma crítica à doutri-


na científica moderna, que tem monopolizado um saber extremamente tecnicista e pragmático
(ROCHA 2003). Nesse sentido, o documento de área (CAPES, 2013) deixa claro que a interdiscipli-
15 naridade, não enquanto uma disciplina fragmentada, mas como uma forma de abordar os proble-
mas socioambientais, deve essencialmente se fazer presente nos Programas de Pós-Graduação
em Ciências Ambientais, em todos os seus aspectos, desde a sua criação até a concepção de seus
projetos de pesquisa.
A interdisciplinaridade é, obrigatoriamente, multidisciplinar, e o tratamento das questões
ambientais como um processo interdisciplinar, envolvendo duas ou mais disciplinas, exige que tal
processo seja dialético, sistêmico, seletivo, interativo e aberto. A construção do conhecimento
a partir da interdisciplinaridade se dá com a colaboração de diversas disciplinas, transcendendo
a simples justaposição ou a reintegração de conhecimentos existentes (COIMBRA, 2000; LEFF,
2000).
Trata-se de um processo de inter-relação de conhecimentos e práticas que transcende o
campo da pesquisa e do ensino. O termo “interdisciplinaridade” pode ser associado a toda inter-
conexão e colaboração entre campos distintos do conhecimento e do saber, tanto no âmbito de
projetos que envolvem diferentes disciplinas acadêmicas, como em práticas não científicas que
incluem instituições e atores sociais diversos. Desse modo, aplica-se tanto a uma prática multidis-
ciplinar, como ao diálogo de saberes (LEFF, 2000).
Tendo em vista a problemática ambiental e toda a sua complexidade, uma nova forma
de produzir conhecimento não pode ser indiferente à prática interdisciplinar, na tentativa de gerir
situações de acomodação e conflito entre as necessidades humanas e as dinâmicas naturais.
Ademais, a interdisciplinaridade não se restringe a uma simples metodologia de ensino e apren-
dizagem, ela faz parte e contribui para a reformulação do saber, na busca pela reorganização do
mundo, da nossa casa (FLORIANI, 2000; COIMBRA, 2000).
Ao considerar a evolução histórica da criação de programas da CACiAmb, verificou-se um
crescimento bastante significativo da referida área desde 2011, cujo número de programas era
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Gestão Integrada do Território

57. Em 2012, esse número se elevou para 67; em 2013, para 80 programas (CAPES, 2013; CAPES,
2016b).

O PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS (PPGCA) DA


UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE (UNESC)

Nesse contexto de degradação, causada, principalmente (mas não exclusivamente), pela


mineração de carvão, a UNESC direciona parte de suas atividades para a formação e a produção de
conhecimentos científicos que visem dar respostas às problemáticas socioambientais regionais.
Criada em 1968 pelo Poder Público Municipal de Criciúma (SC), a UNESC tornou-se universidade
em 1997, com a missão de “Promover o desenvolvimento regional para melhorar a qualidade do
ambiente de vida.” (UNESC, 2012, p. 18).
Em 2008, sua missão foi reelaborada e passou a contemplar também a sustentabilidade:
“Educar, por meio do ensino, pesquisa e extensão, para promover a qualidade e a sustentabilidade
do ambiente de vida.” (UNESC, 2012, p. 19). O comprometimento com a sustentabilidade surge,
ainda, em sua visão de futuro, na qual assume a “[...] formação profissional e ética do cidadão,
na produção de conhecimentos científicos e tecnológicos, com compromisso socioambiental.”
(UNESC, 2012, p. 19).
Em 2002, a UNESC deu início ao seu primeiro curso de mestrado, o Mestrado em Ciências
Ambientais (PPGCA), oficialmente reconhecido e recomendado pela CAPES em dezembro de
2001, marcando sua trajetória de busca por uma abordagem sistêmica e interdisciplinar das ques-
tões ambientais, que se mantém atualmente. Em 2012, teve seu curso de Doutorado em Ciências
16 Ambientais aprovado pela CAPES, abrindo sua primeira turma no ano de 2013.
A área de concentração do PPGCA, “Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados”, está
atrelada à necessidade de apresentar respostas à degradação dos ambientes natural e construído,
observada na região carbonífera e nas demais regiões brasileiras, causada por modelos predató-
rios de desenvolvimento. As duas linhas de pesquisa do Programa apontam para o estudo dessa
realidade de forma complexa e integrada, buscando a produção de conhecimentos que visem à
solução de problemas socioambientais e o subsídio a políticas públicas voltadas para a preserva-
ção, conservação e melhoria da qualidade ambiental (CAPES, 2016b).
A linha de pesquisa “Ambientes Naturais” desenvolve estudos sobre a biodiversidade
e a dinâmica de ecossistemas naturais, bem como sobre a relação entre populações humanas e
o ambiente natural, buscando sua preservação e a dos conhecimentos tradicionais construídos
em sua interação. Já a linha de pesquisa “Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento” visa realizar
pesquisas que problematizam as complexas relações entre sociedade e natureza, as concepções
de desenvolvimento e as consequências dos processos de urbanização. Essa linha também reúne
estudos sobre educação ambiental e gestão ambiental e urbana, entre outros.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram analisadas as dissertações defendidas ao longo dos quinze anos em que o Programa
se instituiu, mais precisamente entre os anos de 2003 (primeira defesa) e 2016. Contabilizou-se a
totalidade de dissertações produzidas e quantas efetivamente consideraram a região carbonífera
como locus de estudo. Ao verificar as linhas de pesquisa características do Programa e dos labo-
ratórios atualmente vinculados, fez-se um levantamento do número de dissertações por linha e
por laboratório.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O levantamento dos dados partiu de uma consulta na Plataforma Sucupira para verificar
a evolução da área de Ciências Ambientais ao longo dos anos. Na sequência, foram catalogadas
as dissertações defendidas, classificando-as quanto ao ano de defesa (2003-2016), ao local de
estudo, ao laboratório de atuação do(a) professor(a) orientador(a) e à linha de pesquisa prepon-
derante (Ambientes Naturais ou Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A consulta ao número de programas no banco de dados da Plataforma Sucupira6, consi-


derando “Ciências Ambientais” como área de avaliação, revelou a existência de 118 programas
em funcionamento até agosto de 2016 (Gráfico 1). Sobre as modalidades, verificou-se a seguinte
distribuição: 43% em nível de Mestrado, 4% de Doutorado, 26% de Mestrado Profissionalizante e
26% de Mestrado e Doutorado. Destaca-se que somente 13 programas possuem notas superiores
a cinco.

Figura 1 – Evolução no número de programas na área de ciências ambientais no


Gráfico 1 – Evolução no Número de Programas na Área de Ciências Ambientais no Brasil entre os Anos de 2011 e
Brasil, entre os anos
2016 de 2011 e 2016
140
118
120
Nº de progr. na área de CA

100
80
80 67
17 60
57

40

20

0
2011 2012 2013 2016
.
Fonte: Plataforma Sucupira (CAPES, 2016b).
Fonte: Plataforma Sucupira.

Da totalidade de programas encontrados, constatou-se a existência de 70 denominações


diferentes. A titulação mais encontrada, em convergência com a própria área do conhecimento
em questão, foi “Ciências Ambientais”, com aproximadamente 18% dos registros, e, em segundo
lugar, “Desenvolvimento e Meio Ambiente”, com 11% do total de registros. No que se refere ao
foco dos programas, percebeu-se, pelas titulações, programas voltados para a área de agroecolo-
gia, de tecnologia e de modelagem. Alguns programas são voltados para a pesquisa em ambientes
específicos – como a Amazônia, o Cerrado, o ambiente marinho – ou, ainda, para o agropecuário
ou para os recursos hídricos de modo geral.
A palavra “ambiente” também foi encontrada em diversas titulações: “Ambiente e
Desenvolvimento”, “Ambiente e Sociedade”, “Ambiente e Tecnologias Sustentáveis”. Diversos
programas fazem referência à sustentabilidade, como o anteriormente citado ou “Ambiente, Saúde
e Sustentabilidade”, “Desenvolvimento Sustentável”, “Desenvolvimento Regional Sustentável”,
“Uso Sustentável dos Recursos Naturais”, entre outros.
6
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR – CAPES. Plataforma Sucupira. Informações do Pro-
grama. 2016b. Disponível em: <https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/informacoes_programa/informacoesPrograma.jsf>.
Acesso em: 09 jun. 2016. Aba “Informações do Programa”, dados cadastrais do programa, área de avaliação: “Ciências Ambientais”.
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Gestão Integrada do Território

Não há uma uniformização ou padronização nas nomenclaturas dos programas, o que


pode gerar questionamentos sobre as atribuições e as contribuições de cada formação acadêmi-
ca para a atuação profissional. Essa diversidade de titulações demonstra que a área de Ciências
Ambientais apresenta amplas possibilidades de desenvolvimento e diferentes abordagens, dada a
polissemia que caracteriza a utilização de termos como “meio ambiente” e “problemática ambien-
tal.” (VIEIRA, 1993).
Em termos de distribuição dos programas nas áreas de Ciências Ambientais no ano de
2016, observa-se que a maioria se concentra na região Sudeste (30%) e Nordeste do País (25%).
A região onde a área é menos representativa é o norte do País, com apenas 13 cursos em funcio-
namento (Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição dos Programas da área de Ciências Ambientais por regiões do


Tabela 1 – Distribuição dos Programas dapaís Áreanode Ciências Ambientais por Regiões do País no Ano de
ano de 2016.
2016
Região Nº de registros Participação (%)
Centro-oeste 17 14
Nordeste 30 25
Norte 13 11
Sudeste 35 30
Sul 23 19
Total 118 100
Fonte: Plataforma Sucupira (CAPES, 2016).
Fonte: Plataforma Sucupira (CAPES, 2016b).

Na região Sul, estão em funcionamento 23 programas, contribuindo com 19% em repre-


sentatividade para a área de Ciências Ambientais. Em Santa Catarina, foram encontrados oito
programas em funcionamento, dois pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e os
18
demais pelas seguintes instituições: Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Universidade
do Vale do Itajaí (UNIVALI), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Universidade de
Chapecó (UNOCHAPECÓ), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e Universidade
Regional de Blumenau (FURB).
No que se refere ao PPGCA da UNESC, o Programa completou 15 anos de atuação em
2016. No período entre 2003 e agosto de 2016, contabilizaram-se 163 dissertações defendidas
(Gráfico 2). Desse total, 99 (60%) delas tiveram como unidade de estudo a região carbonífera cata-
rinense. Observa-se que, em todos os anos, desde a criação do PPGCA, um número considerável
de trabalhosFigura
se dedicou ao estudo de uma problemática envolvendo a região.
2 – Distribuição e número de dissertações defendidas entre os anos de 2003 e
2016 no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais
Gráfico 2 – Distribuição e número de dissertações defendidas entre os anos de 2003 e 2016 no Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais
18
Nº de dissertações defendidas

16
14
12
10
8
6
4
2
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Ano de defesa

Total de dissertações defendidas por ano


Dissertações que consideraram a região carbonífera como unidade de análise

Não Tem fonte


Fonte: Elaborado pelos autores (2016). [SdM1] Comentário:
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Gestão Integrada do Território

Observou-se que algumas dissertações elegeram grandes regiões onde se insere a região
carbonífera (Tabela 2). Ao considerar os doze municípios constituintes, percebeu-se que somente
Cocal do Sul não foi mencionado. Em contrapartida, o município mais citado foi Criciúma, que
contou com 38 (23%) registros.
Tabela 2 – Distribuição e número de dissertações defendidas entre os anos de 2003 e
2016 no Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais, em relação ao local de
Tabela 2 – Distribuição e Número de Dissertações Defendidas entre os Anos de 2003 e 2016 no Programa de
estudo
Pós-Graduação em Ciências Ambientais em Relação ao Local de Estudo
Local de estudo Frequência %

Grandes regiões* que contemplam a região carbonífera 21 13


Laboratórios 21 13
Municípios localizados fora de SC** 7 4
Municípios localizados em SC, com exceção da região carbonífera*** 25 15
Municípios da região carbonífera 73 44
Parques, barragens e bacias hidrográficas 6 4
Locais não identificados 10 6

Total 163 100

*Sul*Sul do Brasil,
do Brasil, SC, litoral
SC, litoral sul de
sul de SC, SC,carbonífera,
região região carbonífera, bacia carbonífera,
bacia carbonífera, sul de SC. sul de SC.
**Minas Gerais, São Paulo **Minas Gerais,doSão
e Rio Grande Sul.Paulo e Rio Grande do Sul.
***Araranguá,
***Araranguá, Capivari de Baixo,
Capivari Garopaba,
de Baixo, Morro Grande,
Garopaba, MorroSombrio,
Grande,Tubarão
Sombrio, e Turvo.
Tubarão e Turvo.
Fonte: Elaborada pelos autores (2016).
Sem fonte

Em torno de 15% das dissertações de mestrado defendidas pelo PPGCA trazem pesqui-
19
sas desenvolvidas em municípios fora da região carbonífera, mas localizadas em Santa Catarina,
principalmente no sul do Estado. Somente 4% das dissertações se detiveram ao estudo de proble-
máticas em municípios fora de Santa Catarina. Do mesmo modo, 4% elegeram uma barragem,
um parque ou uma bacia hidrográfica como locus de estudo. Salienta-se, ainda, que 13% dos
trabalhos não se reportaram a nenhum município ou região, tendo em vista que trataram de uma
problemática analisada por meio de práticas experimentais em laboratório.
No que se refere às duas grandes linhas de pesquisa do Programa, comparativamente, 52%
dos trabalhos desenvolvidos se inseriram na linha de “Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento”,
enquantoFigura
a linha
3 –de “Ambientes
Distribuição Naturais”
do número contribuiu defendidas
de dissertações com 37% dos estudos de
no Programa realizados
Pós- (Gráfico 3).
Graduação em Ciências Ambientais em relação às duas grandes linhas de pesquisa
Gráfico 3 – Distribuição do número de dissertações
do Programa
defendidas no Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais em Relação às Duas Grandes Linhas de Pesquisa do Programa

Não identificadas
11%
Ambientes
Naturais
37%

Sociedade,
Ambiente e
Desenvolvimento
52%

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Sem fonte [SdM1] Comentário:


PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O Gráfico 4 ilustra o número de dissertações defendidas por linha e o número de traba-


lhos desenvolvidos na região carbonífera para cada linha. Salienta-se que para 18 dissertações
não foi possível identificar a grande linha de pesquisa e que foram contabilizados os trabalhos
cujo(a)s professore(a)s orientadore(a)s não estão mais vinculado(a)s ao Programa.
Figura 4 – Distribuição do número de dissertações defendidas no Programa de Pós-
Gráfico 4 – Distribuição
Graduação do Número
em Ciências de Dissertações
Ambientais em relaçãoDefendidas
às duas no Programa
grandes de Pós-Graduação
linhas de pesquisa em
CiênciasdoAmbientais
Programa,em considerando a região
Relação às Duas carbonífera
Grandes catarinense
Linhas de Pesquisa docomo lócus de
Programa, trabalho a Região
Considerando
Carbonífera Catarinense como Locus de Trabalho
100
85
Nº de dissertações

80
60
60 52
39
40

20

0
Ambientes Naturais Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento
Linha de pesquisa

Total de dissertações defendidas por linha


Dissertações defendidas por linha no âmbito da região carbonífera
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).
Sem fonte [SdM1] Comentário: Sem fo

No que se refere à linha de pesquisa “Ambientes Naturais”, da totalidade de temas abor-


dados, 65% tiveram a região carbonífera como locus de estudo. Para a linha “Ambiente, Sociedade
e Desenvolvimento”, de forma também bastante significativa, em torno de 62% das dissertações
20
se detiveram à investigação de algum problema no âmbito da região supracitada.
Sob a ótica dos laboratórios atualmente vinculados ao PPGCA e das suas linhas de
pesquisa preponderantes, admite-se que do total de dissertações, 42 (25,8%) foram orientadas
por professore(a)s que atualmente não estão mais ligado(a)s ao Programa, por isso não foram
contabilizadas nos dados abaixo (Gráfico 5).
Figura 5 – Distribuição do número de dissertações defendidas no período
Gráfico 5 – Distribuição do número
compreendido de2003
entre dissertações
e 2016 no defendidas
Programa deno período compreendido
Pós-Graduação em Ciências entre 2003 e 2016
Ambientais em relação
no Programa de Pós-Graduação aos laboratórios
em Ciências Ambientaisvinculados ao PPGCA
em relação e ao número vinculados
aos laboratórios de temas ao PPGCA e ao
relacionados à região carbonífera catarinense
Número de Temas Relacionados à Região Carbonífera Catarinense
25

20
Nº de dissertações

15

10

TOTAL de dissertações por laboratório


Dissertações defendidas por laboratório na Região Carbonífera

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).


Sem fonte [SdM1] Comentário: Sem fonte
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Da totalidade das dissertações defendidas, em torno de 14% foram desenvolvidas no


Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz, cujas linhas de pesquisa estão relacionadas à florística e à ecologia
de florestas, bem como à etnobiologia e à restauração ecológica. Citam-se, ainda, as contribuições
dos laboratórios de Interação Animal-Planta (7%) e de Plantas Medicinais (2%) para a gestão inte-
grada dos recursos naturais. O laboratório de Ecologia de Paisagem e de Vertebrados, igualmente,
coopera tanto para a gestão dos recursos naturais quanto para a gestão integrada da paisagem,
com 8% dos trabalhos realizados.
Em relação às dissertações defendidas na linha de “Sociedade, Ambiente e
Desenvolvimento”, citam-se os trabalhos atrelados aos laboratórios de Gestão Integrada de
Ambientes Costeiros (10%), de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano e Psicologia Ambiental
(12%) e de Sociedade, Desenvolvimento e Meio Ambiente (14%). Dentro da respectiva linha, tais
trabalhos contribuem para a gestão integrada do espaço urbano, bem como dos recursos hídricos
e ambientes costeiros. O Grupo de Materiais Cerâmicos (GMC), vinculado ao PPGCA quando da
aprovação do curso de doutorado em 2012, atende à demanda de duas linhas de atuação pelo
PPGCA: valorização de resíduos sólidos e degradação de compostos orgânicos por fotocatálise.
O Programa conta, ainda, com um laboratório de pesquisa voltado exclusivamente para
a gestão do território, intitulado “Laboratório de Gestão e Planejamento Territorial”, o qual foi
criado em 2013. Ao considerar as linhas de pesquisa do(a)s professore(a)s vinculado(a)s, inclusive,
com trabalhos anteriores à criação do laboratório, verificou-se que 7% das dissertações defendi-
das contribuíram para elucidar e apontar alternativas para algum problema específico no âmbito
da gestão territorial.

21 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao considerar a evolução da área de Ciências Ambientais, a elevação do número de


Programas reflete a existência de problemas que não podem ser tratados de forma compartimen-
tada e que não se inserem no sistema tradicional de classificação vigente. A criação dessa grande
área foi um reconhecimento de que se faz necessária outra abordagem para tratar da problemá-
tica ambiental, a qual dê conta de analisar as inter-relações entre todas as suas facetas, por meio
do diálogo integrado entre as diversas áreas do conhecimento científico.
Quanto ao PPGCA, que caminha nesse sentido desde a sua criação, as duas grandes linhas
de pesquisa – “Ambientes Naturais” e “Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento” – denotam a
preocupação com a conservação do meio ambiente de modo geral. A primeira, particularmente,
oferece subsídios e aponta alternativas para que tenhamos uma gestão dos recursos naturais e
uma gestão do ambiente natural e da paisagem de forma mais harmônica, racional e sustentável.
A segunda linha se dedica à pesquisa do ambiente natural e, sobretudo, construído, problema-
tizando a gestão do espaço urbano e dos recursos costeiros e o modo como a sociedade usa e
gere o território. De forma geral, ambas contribuíram com pouco mais de 60% de seus trabalhos,
tomando a região carbonífera como referência de estudo.
Ao se fundamentar na análise das dissertações defendidas no período considerado, cons-
tata-se que o PPGCA contribuiu – e notadamente continua contribuindo – para a gestão integrada
do território e, por consequência, para a melhoria da qualidade socioambiental da região carbo-
nífera catarinense por meio da investigação e da proposição de soluções para problemas socioam-
bientais diversos. É importante ressaltar que sua contribuição vai além dos conhecimentos produ-
zidos sobre o contexto regional e que corrobora o potencial dos cursos de pós-graduação stricto
sensu na transformação da realidade social por meio da produção científica qualificada.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

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CAPÍTULO II
EL PAISAJE COMO ELEMENTO CLAVE PARA LA GESTIÓN
TERRITORIAL DE LAS ÁREAS DE PROTECCIÓN AMBIENTAL

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan02

Deisiane dos Santos Delfino - UFSC e UAB (España)


Albert Pèlachs Mañosa - UAB (España)
Angela da Veiga Beltrame - UFSC

24

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUCCIÓN

Las primeras unidades de conservación brasileñas fueron creadas a partir de un para-


digma preservacionista – asumiendo su plena protección. Por el contrario, el paradigma conser-
vacionista – que considera la presencia del hombre y el desarrollo de las actividades económi-
cas tradicionales dentro de los límites de una unidad de conservación – dio origen a la creación
de unidades de conservación de uso sostenible. Así, empezaron a surgir las Áreas de Protección
Ambiental (APA) a partir de los años 80 (CORTE, 1997; RENTE, 2006; MACEDO, 2008).
En el año 2000, se dio un gran paso para la gestión de las áreas protegidas, con la aproba-
ción del Sistema Nacional de Unidades de Conservación de la Naturaleza (SNUC).
En total, actualmente, el Sistema Nacional de Unidades de Conservación (SNUC) cuenta
con 568 unidades de conservación de plena protección y 1260 de uso sostenible – lo que significa
la protección de 1.524.080 km2 en los diferentes biomas (BRASIL, 2016).
El APA es la categoría que presenta más conflictos, ya que en su interior pueden existir
comunidades tradicionales y actividades económicas (MACEDO, 2008).
Actualmente en Brasil existen 278 APAs – siendo 32 federales, 183 estaduales y 63 muni-
cipales, con una cobertura total de 442.771 km2 – representan 1/3 de las áreas protegidas del País
(BRASIL, 2016).

Cuadro 1: Áreas
Cuadro 1 - Áreas
de de Protección Ambiental
Protección Ambiental Federales por Bioma
Federales, por Bioma
Bioma N. APAs Área (Hect)
25
Amazônia 2 2.091.086

Cerrado 9 1.493.474

Pantanal 0 0

Caatinga 3 2.684.911

Mata atlântica 5 1.945.681

Pampa 1 318.000

Marinho 12 3.727.882

Fonte: Cnuc/Mma, (2016).


Fonte: BRASIL (2016).

Su creación está ligada a la necesidad de la institución de una planificación territorial


en áreas que tengan características biológicas relevantes. Tiene el propósito de conservar estas
áreas, así como, de promover el uso sostenible de los recursos y ordenar la ocupación del suelo,
de modo que se establezca un proceso de desarrollo territorial (BRASIL, 2000).
Además, son reconocidas como una categoría de unidad de conservación que tiene el
potencial de establecer un nuevo modelo de gestión, enfocado no solamente a la protección de
los recursos naturales, sino también, a los actores, sus valores y el territorio (MACEDO, 2008;
MARQUES; OLIVEIRA, 2012; MARTINS, 2012; RODRIGUES et al., 2008; LIMA, 2013; GRANJA, 2009).
Teniendo en cuenta esta realidad, este estudio tiene como objetivo presentar el paisaje
como elemento clave en el proceso de gestión territorial en las APAs, a través del análisis del Área
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de Protección Ambiental de la Ballena Franca (APABF), ubicada en litoral sur de Santa Catarina,
Brasil.
Se trata de una investigación participante y cualitativa que persigue, a través del análisis
de un estudio de caso específico, contribuir a la construcción del conocimiento sobre la gestión
territorial de las áreas protegidas en Brasil. Se ha desarrollado a partir del marco teórico metodo-
lógico Catalá sobre la gestión del paisaje y sus valores (BERTRAND, 2000; BERTRAND; BERTRAND,
2009; NOGUÉ; SALA, 2006, 2009; BUSQUETS; CORTINA, 2009; NEL.LO, 2012).

MARCO TEÓRICO: LA GESTIÓN DEL PAISAJE COMO HERRAMIENTA DE


GESTIÓN Y ORDENACIÓN DEL TERRITORIO EN ÁREAS PROTEGIDAS

El paisaje es el resultado de la transformación colectiva de la naturaleza, de la proyección


cultural de una sociedad en el espacio (NOGUÉ; SALA, 2009). Es dinámica, se transforma tal cual
la dinámica de la sociedad, siguiendo las transformaciones sociales, económicas y políticas. Está
hecha de elementos de actualidades del presente y del pasado (SANTOS, 2004).
El paisaje es el resultado de la transformación colectiva de la naturaleza, la proyección
cultural de una sociedad en un espacio determinado, repleto de significados y símbolos, es la
forma de apropiación del espacio por un colectivo determinado. La construcción y reconstrucción
del paisaje también es un reflejo de las relaciones de poder, donde interactuan múltiples identi-
dades e ideologías (NOGUÉ; SALA, 2009, p. 12). El paisaje tiene una gran responsabilidad en la
creación y el fortalecimiento de las identidades, participa del patrimonio individual y colectivo
(BERTRAND; BERTRAND, 2009).
26 Sin embargo, la dinámica de transformación del paisaje y la velocidad con que se produ-
ce, compromete sus valores y el potencial de constituirse o mantenerse como un elemento de la
identidad. Ha despertado un sentimiento de pérdida, la pérdida de valores es de gran importancia
social, cultural, histórica, económica y ambiental (NEL·LO, 2012).
El paisaje ha ganado importancia en los procesos de gestión en Europa en los años 90,
con la redacción del primer proyecto del Convenio Europeo de Paisaje (CEP), firmado en el año
2000.
El Convenio es resultado de la preocupación por la aceleración del proceso de
transformación del paisaje en función de la economía mundial y de la globalización. Reconoce
que el paisaje es un importante elemento que contribuye a la formación de las culturas locales,
patrimonio natural y cultural, recurso económico; y contribuye, además, a la consolidación de las
identidades (CONSEJO DE EUROPA, 2000; ZOIDO, 2009).
El paisaje es un elemento importante de la calidad de vida de las poblaciones en todas
partes y su protección, gestión y ordenación implica derechos y responsabilidades para cada
persona (CONSEJO DE EUROPA, 2000). Constituye un pilar en la construcción del sentido colectivo,
en la configuración de la identidad social, dotada de valores que posibilitan evaluar su evolución
y definir políticas para su gestión (NEL.LO, 2012).
De acuerdo con esta visión sobre el paisaje, el CEP, la define como “[...] cualquier parte
del territorio, tal como es percibido por las poblaciones, cuyo carácter resulta de la acción de
factores naturales y/o humanos y sus inter relaciones”. Y, de este modo, ha determinado medidas
de gestión y ordenación del paisaje para todo el territorio (CONSEJO DE EUROPA, 2000).
Entre los puntos innovadores de la política de gestión del paisaje europeo está la califi-
cación del paisaje considerando sus valores particulares atribuidos por los actores sociales y, la
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integración del paisaje a las políticas de ordenación del territorio, urbanística, ambiental y otras
políticas que puedan tener efectos directos o indirectos sobre el paisaje.
El convenio se refiere al paisaje, no solo en su dimensión natural o a las unidades geográ-
ficas del paisaje tradicionales, sino al paisaje en su totalidad, configurando una visión sistémica,
multidimensional e integradora.
En el ámbito de la aplicación del CEP y la elaboración de las políticas de gestión y orde-
nación del paisaje, la Comunidad Autónoma de Cataluña (España), ha desarrollado una de las
políticas más ambiciosas y pioneras en el contexto europeo (ZOIDO, 2009; NEL.LO, 2012). En 2005,
se aprobó la ley 8/2005 del Paisaje de Cataluña que tenía por finalidad promover “[...] el reco-
nocimiento, la protección, la gestión y la ordenación del paisaje, a fin de preservar sus valores
naturales, patrimoniales, culturales, sociales y económicos en un marco de desarrollo sostenible”
(GENERALITAT DE CATALUNYA, 2006).
La implementación de la política de gestión de paisaje en Cataluña ha sido posible gracias
a la creación del Observatorio del Paisaje y la elaboración de los Catálogos del Paisaje, ambos
previstos en la ley 8/2005. Los catálogos clasifican los valores del paisaje desde todos los puntos
de vista (material e inmaterial). De acuerdo con Nogué y Sala (2009), los catálogos son una impor-
tante herramienta de gestión del paisaje, y son la base de los objetivos de calidad paisajística que
sirven para marcar directrices a la ley.
La identificación de los valores es tenida como una de las etapas más importantes de
todo el proceso, porque implica la participación de los ciudadanos. “[…] no todos los paisajes
tienen el mismo significado para la población y, por otro lado, a cada paisaje se le puede atribuir
diferentes valores y en grados distintos, según el agente o individuo que lo percibe.” (NOGUÉ;
27 SALA, 2009, p. 422).
De acuerdo con Nogué y Sala (2009), los valores pueden ser determinados de acuerdo
con las siguientes características: a) Valores estéticos: elementos estéticos ligados al sentimiento
de belleza que el paisaje puede transmitir, en función de su significado cultural que ha adquirido
a lo largo de la historia; b) Valores naturales y ecológicos: elementos que determinan la calidad
del medio ambiente natural, relacionados con las áreas de especial interés natural; c) Valores
Productivos: elementos relacionados con la capacidad de un paisaje de proporcionar beneficios
económicos en los diferentes sectores, como el turístico, agrícola, industrial, mineral, etc.; d)
Valores históricos: elementos materiales concretos producidos por el ser humano en el paisaje,
las construcciones más relevantes hechas por el hombre a lo largo de la historia; e) Valores de uso
social: elementos relacionados con el ocio, placer, práctica de deportes, terapias, etc.; f) Valores
religiosos y espirituales: relacionados con las prácticas y creencias religiosas; g) Valores simbólicos
e identitários: elementos que poseen una fuerte carga simbólica o de identidad para las poblacio-
nes locales, teniendo en cuenta la relación de pertenencia.
De acuerdo con Nel.lo (2012), los valores del paisaje se encuentran en riesgo por el
impacto de las dinámicas territoriales. Por este motivo, la preservación de los valores es esencial
para el bienestar, la calidad de vida y la cohesión social. Lo que implica la elaboración de políticas
específicas del paisaje, integradas con el planeamiento territorial y urbanístico.
De acurdo con Sala y Moles (2014),cada vez más, las instituciones locales, como los ayun-
tamientos, ven el paisaje como el posible motor para su desarrollo: un atractivo local, una señal de
civilidad y una vía para incrementar la identidad y la calidad de vida de las personas. En el contexto
de la globalización, la calidad del paisaje puede volverse un factor de diferenciación del territorio
y competitividad para los municipios y la singularización de los territorios, una manera de ser más
fuertes frente al mundo global.
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Las políticas del paisaje mejor desarrolladas en Europa son aquellas que disponen de
estrategias articuladas entre sí y que cuentan con la participación ciudadana y de los agentes
públicos y privados del territorio (SALA; MOLES, 2014).

MARCO METODOLÓGICO

Para el desarrollo de la investigación se ha utilizado el marco teórico metodológico sobre


la gestión del paisaje europeo y catalán y los valores del paisaje como instrumento de gestión
territorial y pauta comparativa con el caso brasileño (NEL.LO, 2012; BUSQUETS; CORTINA, 2009;
NOGUÉ; SALA, 2006, 2009).
Para comprender el objeto de investigación, se ha realizado la búsqueda de las investi-
gaciones realizadas en el país en el sitio Scielo, publicadas en forma de artículos en las principales
revistas, y de las disertaciones y tesis sobre las APAs. Se han reunido éstas en dos grupos de
trabajo: uno, con enfoque ecológico y otro, con enfoque social. Este último, constituye el grupo
de mayor interés para este estudio.
En total, para esta publicación, fueron analizados 78 trabajos académicos, de los cuales
16 tratan del APABF, en su totalidad o en parte de su territorio. Entre las obras con enfoque social,
se han seleccionado aquellas que tratan, directa o indirectamente, aspectos territoriales que
contribuyen a este estudio.
Asimismo, las fuentes de información sobre el APABF, consisten también en datos prima-
rios y secundarios; encuestas y aplicación de cuestionarios entre 2013-2015. Los actores y los
instrumentos principales para el análisis han sido: a) 25 cuestionarios con los consejeros del
28 Consejo Gestor del APABF en el periodo 2013-2014; b) 21 entrevistas semi estructuradas con acto-
res indicados según muestreo por bola de nieve entre 2013-2015 (GOODMAN, 1961; COLEMAN,
1958); c) Reuniones con el equipo gestor del APABF. Entre los temas principales de los instrumen-
tos de coleta de datos están: la transformación del paisaje, los actores implicados, los valores del
paisaje y las Debilidades-Amenazas-Fortalezas-Oportunidades (DAFO).
Es un trabajo de investigación participante y cualitativa. El modelo de análisis general se
basa en el modelo GTP (Geossistema-Territorio-Paisaje) (BERTRAND, 2000). El análisis de los datos
fue hecho a través de la combinación del método cualitativo deductivo e inductivo de análisis de
contenidos, con la codificación de los datos en el software de análisis de contenidos, el Atlas.ti
(BARDIN, 2009).
Esta investigación concibe la gestión territorial en APAs a partir del enfoque teórico-con-
ceptual del Territorio y del Paisaje. De esta forma para el análisis de la gestión en el territorio del
APA de la Ballena Franca, se ha considerado más allá de sus límites jurídico políticos. Lo que se
ha determinado como territorio del APABF es la zona compuesta por la continuidad paisajística
que conecta los nueve municipios que la componen – basado en el marco teórico metodológico
adoptado.
Cuando se refiere (a al) APABF en esta investigación, se refiere, no solo a la unidad de
conservación, sino también a la institución social y política, compuesta por sus gestores, técnicos
y el consejo gestor.
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DISCUSIÓN TEÓRICA Y RESULTADOS PARCIALES DEL ANÁLISIS DE DATOS:


LAS APAS, EL PAISAJE Y LA GESTIÓN TERRITORIAL

La mayoría de las APAs federales fueron creadas entre los años 80 y 90. Estas se encuen-
tran en los biomas marinos y del Cerrado. Sin embargo, cuando se trata de hectáreas protegidas,
el bioma con el área protegida más grande es el Marino, que a lo largo de la Mata Atlántica,
representa el 46,2% de las áreas protegidas del país (BRASIL, 2016).

A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais espe-
cialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas,
e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000).

El APA, según la legislación brasileña, es una categoría que enfrenta conflictos entre las
áreas protegidas, ya que en su interior pueden existir comunidades tradicionales y actividades
económicas (BRASIL, 2002; CORTE, 1997).
La creación de APAs en Brasil está ligada a la necesidad de la institución de una plani-
ficación territorial en áreas que tengan características biológicas relevantes. Tiene el propósito
de conservar estas áreas, así como, promover el uso sostenible de los recursos y disciplinar la
ocupación del suelo, de modo a que se establezca un proceso de desarrollo territorial (DELFINO;
29 BELTRAME, 2014; MACEDO, 2008).
El mayor conflicto al que los APAs se enfrentan está relacionado con la propiedad de la
tierra, una vez que esta unidad permite tierras privadas en su interior, sometidas a restricciones
de uso del suelo y de los recursos naturales (BENSUSAN; PRATES, 2014; MACEDO, 2008; CORTE,
1997).
La propiedad de la tierra es uno de los factores que distingue el APA de otras áreas prote-
gidas. Porqué soluciona “uno de los problemas más importantes, que es el de la expropiación de
la tierra” cuando “permite que la tierra permanezca bajo el control de su propietario, incluso si
el uso del suelo y de los recursos naturales son restringidos.” (CORTE, 1997). Sin embargo, este
mismo factor se considera como un generador de los principales conflictos que aparecen en los
territorios que consisten los APAS (MACEDO, 2008).
Además, otros conflictos pueden ser identificados en el contexto de los APAs: la falta de
planes de manejo, la superposición de funciones entre los distintos organismos gubernamentales
responsables de la gestión del territorio y de sus recursos; el conflicto entre Planes Directores
Municipales y los planes de gestión; la expansión urbana; la degradación de los recursos natu-
rales; y la contaminación de los recursos hídricos (MARTINS, 2012; MARQUES; OLIVEIRA, 2012;
GRANJA, 2009; MACEDO, 2008; CORTE, 1997).
En el caso de las APAs en el contexto urbano, cuando su territorio abarca varios munici-
pios, y estos tienen la obligación de elaborar sus Planes Directores, existe un conflicto relacionado
con la superposición de las herramientas de gestión. (GRANJA, 2009). Los Planes Directores muni-
cipales pueden o no converger con los intereses de la gestión del plan de manejo del APA.
El SNUC determina que las unidades de conservación ambientales brasileñas tengan
un plan de manejo – documento técnico que debe contener el diagnóstico, objetivos, normas y
programas de gestión y zonificación de las mismas (BRASIL, 2000).
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Los planes de manejo constituyen la principal herramienta para la gestión de UCs y deben
ser elaborados hasta cinco años después de la fecha de su creación. La participación ciudadana
en los procesos de gestión se dan en la formación de un Consejo Gestor, que puede ser consulti-
vo o deliberativo, con la participación de representantes de los sectores públicos, económicos y
sociales (BRASIL, 2000).
Las APAs son consideradas, por diversos autores, una oportunidad para promover
el desarrollo sostenible y territorial (LIMA, 2013; MARQUES; OLIVEIRA, 2012; MARTINS, 2012;
GRANJA, 2009; RODRIGUES et al., 2008; MACEDO, 2008).
Asimismo, las APAs son una categoría de unidad de conservación que tiene el potencial
de establecer un nuevo modelo de gestión, enfocado en los actores y en el territorio, donde los
actores sean capaces de definir colectivamente el destino del territorio (MACEDO, 2008).
Los estudios y los datos sobre las APAs, demuestran la importancia que estas unidades
han asumido frente al campo de las unidades de conservación ambiental brasileñas. Así como,
que las APAs poseen ciertas peculiaridades que les confieren el carácter de territorios ambienta-
les, en el sentido de territorio usado y vivido, material y simbólico.
Esos territorios – en el sentido material concreto – son sobre todo, territorios jurídico-
-políticos1, controlados por el poder público. Al mismo tiempo, representan el territorio en su
dimensión cultural – en el sentido material, simbólico y de apropiación – a partir del momento
en que existen grupos de actores, que pertenecen a ese territorio, desenvuelven sus actividades
y hacen diferentes usos de ellos y les atribuyen diferentes valores (DELFINO; BELTRAME, 2014).
Todavía, constituyen territorios económicos, una vez que sus recursos son aptos, no
solo para las comunidades tradicionales, sino que en algunos casos también, para empresas e
30 industrias.
En este último, la institución de estos territorios pretende proteger las poblaciones tradi-
cionales, que dependen de la extracción de los recursos naturales en detrimento de las corpora-
ciones industriales que explotan en mayor escala. Asimismo, buscan garantizar el uso racional de
los recursos naturales frente a estos dos grupos de actores – las poblaciones tradicionales y las
industrias.
Por lo tanto, el proceso de institución y gestión de áreas de protección, implica reconocer
la existencia de los actores que participan, su relación con el territorio, las territorialidades y los
conflictos desencadenados.
A partir del momento en que se reconoce una APA como un territorio, es posible avanzar
en el proceso de gestión de la unidad, para el proceso de gestión territorial.
Generalmente, las APAS están compuestas por grandes áreas, que implican más de un
municipio, a veces más de una región o más de una unidad de la federación. Lo que presupone
la integración de diferentes escalas, instituciones, políticas y actores en la gestión del APA. Hay
distintos intereses en juego: políticos, económicos, ambientales y culturales.
De este modo, surge en este contexto el APA de la Ballena Franca (Mapa 1), creada
en 2000 para proteger la especie de la Ballena Franca (Eubaleena Australis), que llegó hasta la
amenaza de extinción en el territorio brasileño. Sin embargo, este no es el único objetivo del
APABF. Entre sus objetivos está la promoción de la ordenación territorial en su área de influencia,
que está compuesta por nueve municipios del litoral centro-sur catarinense, en Brasil.
1
Haesbaert (2013) agrupa la concepción de territorio a partir de tres vertientes: 1) Jurídico-política donde el territorio es visto
como un espacio delimitado y controlado generalmente por la figura del Estado. 2) Cultural, donde el territorio posee un sentido
más subjetivo, producto de la apropiación de un determinado grupo sobre su espacio. 3) Económico, resultado de las relaciones
económicas del choque entre las clases sociales.
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El paisaje del APABF es bastante diversificado y singular, resultado de una combinación


de agentes y procesos naturales específicos de la zona costera marino sur catarinense y de la
actuación humana en diferentes periodos históricos – sobre todo, de origen indígena, azoriana e
italiana, ligada a las actividades culturales y económicas de cada época.
Los principales pilares ecológicos del paisaje del APABF son la ballena, el mar, las dunas
y la vegetación. Ocupan cerca de 130 km de playas con dunas, lagunas, estuarios de grandes ríos,
marismas, selvas densas, vegetación de restinga y remanentes de manglares. Por otro lado, los
pilares culturales del paisaje del APABF son las comunidades tradicionales y toda la cultura liga-
da a la pesca artesana. Asimismo, su paisaje está compuesto por concheros, centros históricos,
paisajes rurales y urbanos; infraestructuras como el puerto, el aeropuerto y las autopistas; las
actividades turísticas de verano, agrícolas, industriales y la pesca.
Entre las amenazas para la gestión del APABF, están la degradación de áreas de dunas
y vegetación de restinga – áreas protegidas por la política ambiental brasileña –, el crecimien-
to poblacional, el turismo de masas estacional y el crecimiento del mercado inmobiliario en las
playas.
Su localización genera conflicto no solo con los ayuntamientos, sino también con los
agentes inmobiliarios y con los empresarios que hacen frente a instalaciones de grandes obras
en curso: duplicación del tramo sur de la autopista BR-101, ampliación del puerto de Imbituba,
ampliación del aeropuerto de Florianópolis, el aeropuerto de Jaguaruna. Además, del área de
expansión urbana de la grande Florianópolis.
Un camino trazado por los gestores del APA ha sido la creación y el fortalecimiento de
su Consejo Gestor, el Consejo Gestor del APA de la Ballena Franca, creado en 2005. El Consejo es
31 una referencia en la gestión ambiental pública y participativa en Brasil. Desde su creación discu-
te y trata temas importantes para la gestión y ordenación del territorio, tales como la pesca, el
turismo de observación de ballenas, la ocupación de las dunas y los bancos de arena en las playas
con exceso de urbanización y la especulación inmobiliaria, las licencias ambientales y la actividad
portuaria (DELFINO; BELTRAME, 2013).
Además de promover la gestión de la unidad y de sus recursos, los gestores del APA han
promovido la gestión territorial por la participación del Consejo Gestor en las decisiones pertinen-
tes al territorio, por el diálogo con actores estratégicos como los empresarios y los ayuntamientos,
en el intento de influenciar en las políticas públicas locales y regionales; y por considerar los valo-
res locales en la gestión de la unidad (DELFINO; BELTRAME, 2014).
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Figura 1: Mapa del Territorio del APABF:
Limites del área protegida y de los nueve municipios involucrados
Mapa 1: Mapa del Territorio del APABF: Limites del área protegida y de los nueve municipios involucrados

32

Fuente: Deisiane dos (2013).


Fonte: IBGE, Santos Delfino (2017)

Según Macedo (2008), el Consejo Gestor del APABF fue concebido como un espacio efec-
tivamente legítimo, representativo y democrático, bajo el enfoque de la cogestión. A través de
este, el APA establece relaciones interinstitucionales, que le proporcionan credibilidad y legitimi-
dad en el contexto nacional, donde ocupa el status de referencia nacional.
Se ha verificado que, entre los grupos de actores, los principales conflictos giran en torno
de los recursos y los valores del paisaje de las playas. Entre ellos, se destaca el importante papel
de los municipios, los agentes inmobiliarios, los residentes nativos y sus descendientes, y los inmi-
grantes provenientes de otras regiones.
Estos grupos de actores de alguna manera compiten por el mismo objeto – el paisaje de
las playas. Aunque lo hacen de diferentes modos, atribuyéndoles diferentes valores y generando
diferentes conflictos.
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Cuadro 2: Valores del Paisaje del Territorio del APABF


Cuadro 2 - Valores del Paisaje del Territorio del APABF
Grupo de los Valores del paisaje del APABF
valores

Valores estéticos Ballena Franca; delfines; Mar; lagunas; montaña; vegetación (foresta
ombrófila densa, de várzea, restinga y mangle); Playas.

Valores ecológicos Ballena Franca; delfines; Tainha (pescado); dunas; lagunas;


vegetación (foresta ombrófila densa, de várzea, restinga y mangle);
otras áreas protegidas cercanas municipales estaduales y federales;
áreas costeras preservadas; la desembocadura de los ríos en las
playas (Barra del Ibiraquera, Camacho, Laguna y Urussanga);
Monumento geológico de la Pinheira.

Valores productivos Pesca artesanal; Turismo de sol y playa; turismo cultural y gastronomía
de la cultura azoriana; turismo de observación de las ballenas y de
delfines; turismo ecológico; deportes náuticos; agricultura orgánica y
familiar; rizicultura; porto de Imbituba; Ferrovía Tereza Christina;
generación de energías renovables (solar y eólica).

Valores históricos Cultura azoriana; sitios arqueológicos (sambaquis); comunidades


tradicionales azorianas; comunidades quilombolas; casas de harina de
mandioca; Faro del cabo de Santa Marta; Patrimonio arquitectónico de
Laguna; Ferrovía Tereza Christina.

Valores del uso social Playas; surf; deportes náuticos; caminatas en la naturaleza;
presentaciones culturales; terapias alternativas.

Valores espirituales y Fiestas religiosas en las comunidades; Igreja Santo Antonio en


religiosos Laguna.
33
Valores simbólicos y Identidad y cultura azoriana; comunidades tradicionales; vida sencilla;
identitários pesca artesanal; artesanía local; fiestas religiosas; gastronomía local;
cualidad de vida; seguridad.

Fonte:
Fuente: elaborado pelos
Elaborado por losautores.
autores.

Los grupos de actores encuestados, aunque atribuyen diferentes valores al paisaje en el


APABF, destacan el importante papel del paisaje costero para el mantenimiento de los valores y
para el desarrollo del territorio. En la identificación de los valores, los actores cuando son pregun-
tados, atribuyen al APABF los mismos valores que atribuyen a los municipios que representan.
Entre los valores del territorio (cuadro 2), apuntados por los actores encuestados están:
el mar, la pesca artesanal, la Ballena Franca, el surf, las playas, las dunas, la vegetación, los lagos, el
turismo, la cultura azoriana, la tranquilidad, la seguridad, la calidad de vida, la belleza escénica, el
puerto, la carretera BR-101, el ferrocarril, los aeropuertos, el patrimonio histórico y arqueológico,
las caminatas ecológicas, el turismo de observación de ballenas, entre otros.
El paisaje es un importante elemento en la constitución de unidades de conservación. Sin
embargo, es en el ámbito de las unidades de conservación de uso sostenible, donde se revela en
su sentido más amplio – el paisaje como resultado dinámico de la interfaz sociedad y naturaleza a
lo largo del tiempo. El paisaje se presenta como un elemento clave en la constitución de las APAs,
ya que uno de los mayores desafíos para las APAs es equiparar el uso de los recursos y la conser-
vación de estos con el desarrollo económico.
Teniendo en cuenta la experiencia del APA de la Ballena Franca, se ha verificado que
el paisaje es el principal elemento de conexión entre los municipios y el APA. Por lo tanto, es
fundamental reconocer el paisaje como un instrumento de gestión territorial y avanzar en el
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reconocimiento de los valores del paisaje, para contribuir en la consolidación de un proyecto


de gestión territorial en el APA a través de los valores comunes, de forma sostenible, integrada,
sistémica y participativa.

CONSIDERACIONES GENERALES

Entre los estudios investigados, se ha identificado que hay una diversidad de ellos que
tratan de APAs en Brasil, llevados a cabo en diferentes áreas del conocimiento. Entre los estudios
con enfoque social, se ha verificado la deficiencia de investigación sobre la gestión del territorio
en las APAs.
Los estudios, datos y relatos de los actores, revelan que el APA de la Ballena Franca ha
concebido una forma diferenciada de gestión, que se destaca en el contexto nacional.
Por su extensión, la APABF, con 156.000 hectáreas y 130 quilómetros de playas, alcanza
nueve municipios y diferentes paisajes; donde se destacan los paisajes de las playas: por sus valo-
res naturales, ecológicos, culturales y sociales.
Con base a método teórico-metodológico europeo y catalán sobre gestión del paisaje, se
ha verificado que los valores más importantes y que justifican la existencia del APABF son los valo-
res naturales y ecológicos: la Ballena, el mar, las playas, las dunas, las lagunas, la vegetación, entre
otros. Seguidos de los valores históricos, relacionados principalmente, con la cultura azoriana que
posee trazos muy peculiares del territorio: la pesca artesana, las casas de harina de mandioca, y
el modo de vida de las comunidades más tradicionales que imprimen una identidad muy propia al
paisaje del territorio. Los cuales también componen los valores de identitarios y simbólicos.
34
Los gestores del APABF, la conciben como un territorio, dotado de valores singulares,
donde hay distintos intereses, actuación de múltiples grupos de actores, relaciones de poder y,
consecuentemente, diferentes estrategias en torno al uso de los recursos ambientales – los natu-
rales y los culturales – y de apropiación de sus valores. Su actuación consiste en promover el
diálogo con los diferentes actores implicados y romper con el paradigma de que las áreas protegi-
das son un obstáculo para el desarrollo económico. Sin embargo, aún se encuentran con muchas
resistencias, sobre todo, por parte de los agentes económicos y los gestores municipales.
Teniendo en cuenta que: 1) El APABF es un área protegida que considera la interacción
entre las comunidades y la naturaleza, y además, que de esta interacción resultan ciertos valores
distintos y singulares a su territorio; 2) Los conflictos de gestión que se enfrenta; 3) La necesidad
de articulación y de integración entre las políticas y los actores en diferentes escalas; 4) El terri-
torio del APABF ultrapasa los límites político jurídicos utilizados para la elaboración del plan de
manejo; esta investigación ha buscado un marco teórico metodológico capaz de contribuir a la
gestión territorial en el APA de la Ballena Franca, pautada por la gestión del paisaje y los valores
del paisaje. Una herramienta útil en manos de los actores, aquellos que viven y sienten el paisaje
a cada día.
El marco teórico europeo y catalán adoptado ha demostrado ser un importante marco
conceptual para repensar y estructurar un plan de gestión territorial para las áreas protegidas, en
que los valores territoriales y paisajísticos son la principal herramienta de gestión integrada entre
los distintos agentes implicados en el territorio.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

FUENTE FINANCIADORA Y AGRADECIMIENTOS

Agradecemos a la CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,


agencia financiadora de la beca de estudios de doctorado de uno de los autores de este trabajo. A
el equipo gestor y al el Consejo Gestor del APA de la Ballena Franca por la participación y colabo-
ración para la obtención de los datos durante el proceso de investigación. (A al) Departamento de
Geografía de la Universidad Autónoma de Barcelona y al Programa de Posgrado en Geografía de
la Universidad Federal de Santa Catarina por el apoyo a la investigación.

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CAPÍTULO III
MEIO AMBIENTE E GESTÃO TERRITORIAL:
LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DO
ORDENAMENTO TERRITORIAL

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan03

Gisele Victor Batista - UFSC


Alice Maccari - UNESC
Daniela Fernandes Medeiros - UNISUL

38

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O fenômeno da urbanização no Brasil foi acentuadamente rápido, embora tardio. Até a


década de 1940, segundo dados do IBGE (1950), apenas 31% da população viviam nas cidades,
enquanto 69% estavam situadas no meio rural. Contudo, a partir da década de 1950, houve a
criação de novas cidades no País, como resultado de um processo de mecanização do campo,
passando esses pequenos núcleos urbanos a receber mais estradas, rede de energia elétrica, água
encanada, etc. para atender a população em processo de êxodo rural.
O Censo Demográfico de 1970, de acordo com o IBGE (1970), denota que a situação ante-
rior se inverteu e que a concentração populacional nas cidades obteve 56%, contra 44% residindo
no campo. Datam dessa época alguns esforços para implementar o planejamento urbano como
uma alternativa de disciplinamento do uso e ocupação do solo. Atualmente, com o aumento da
densidade demográfica nas cidades, registram-se com mais frequência sérios conflitos sociais e
desequilíbrios ambientais, que se traduzem como consequências danosas ao modo de vida da
população dos centros urbanos.
Segundo Maricato (2008), as desigualdades territoriais condicionadas pelo planejamen-
to excludente provocam nas cidades uma série de problemas urbanísticos, tanto sociais quanto
ambientais. Para tanto, é indispensável que sejam construídas políticas urbanas alinhadas com
procedimentos e ações que respeitem a especificidade de cada espaço e suas relações com o
entorno e com a dinâmica social existente.
No processo de gestão das cidades, quando se remete ao ordenamento do território,
implica-se em falar de planejamento e gestão urbana. Segundo Santos (1997), o planejamento é
39 um processo contínuo de sistematização de informações para se chegar a decisões ou a escolhas
acerca das melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos disponíveis.
A gestão territorial, segundo Veyret e Richemond (2007), pode ser entendida como
sendo um conjunto de atividades, meios e técnicas que visam à localização espacial ordenada das
estruturas urbanas. Silva (2008) destaca que a gestão territorial está vinculada ao planejamento,
à organização, ao supervisionamento, ao controle e à avaliação de bens, serviços ou interesses
públicos ou privados, com a finalidade de defendê-los, conservá-los e aprimorá-los.
Para Souza (2003), a gestão territorial pode ser entendida como uma visão compartilha-
da com o conceito de planejamento, uma vez que gestão é administrar uma situação dentro dos
marcos dos recursos presentes disponíveis, tendo em vista as necessidades imediatas. Strohaecker
(2007) acrescenta à discussão que a gestão territorial seria, portanto, uma forma de administrar e
manter o controle sobre um determinado território.
Segundo Vieira (2007), a gestão territorial é um processo contínuo, participativo, inte-
rativo e hierarquizado nos diversos níveis de governo (nacional, estadual e municipal), sob um
território soberano. Para o autor, a gestão territorial:

Deve atender aos instrumentos de ordenamento territorial e todos os diplomas legais, de


forma a cumprir os princípios e determinações constitucionais, na execução de políticas
públicas e de segurança nacional, visando o desenvolvimento da sociedade, a proteção
do meio ambiente e o conhecimento completo dos recursos naturais, [sic] suas limita-
ções quanto à exploração, conservação e preservação. (VIEIRA, 2007, p. 27).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A gestão territorial pode ser subdividida em gestão urbana, gestão ambiental e gestão
rural, cuja repartição serve apenas para fins de estudos específicos, tendo em vista que esses
subtipos fazem parte da complexidade que compõe a gestão territorial. Neste estudo, tratar-se-á
da gestão ambiental e urbana, com o intuito de analisar os instrumentos disponíveis ao ordena-
mento territorial, principalmente no que compete ao licenciamento ambiental, como forma de
minimizar as desigualdades e os conflitos espaciais existentes dentro do espaço urbano.
Para a melhor compreensão dos assuntos pertinentes ao estudo, foi necessário realizar
uma pesquisa bibliográfica e o levantamento de material existente. Foram investigadas produções
científicas e internacionais sobre o tema, que serviram de base para a composição do estado da
arte dos conceitos apresentados.
Ainda, para melhor conhecimento das questões que envolvem o licenciamento ambien-
tal e o ordenamento territorial, foram investigadas as legislações brasileiras que regem sobre o
tema. O embasamento legal foi de suma importância à composição deste estudo, pois permitiu
um melhor tratamento da questão, levando-se em consideração a qualidade de vida e do ambien-
te urbano.
Para tanto, buscou-se o apoio da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual dispõe
sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Essa legislação precisou a terminolo-
gia de meio ambiente, quando definiu que: “Art. 3º- Para os fins previstos nesta Lei, entende-se
por: I - Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A Constituição
Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, em seu Artigo 225, dispõe que o meio ambiente
é um bem de uso comum do povo e um direito de todos os cidadãos, das gerações presentes e
futuras, estando o Poder Público e a coletividade obrigados a preservá-lo e a defendê-lo (BRASIL,
40
2007).
Nesses termos, o conceito de meio ambiente supera a denominação de que é um bem
público, tendo em vista que não é apenas do Estado, mas também da coletividade, o dever de
defendê-lo e de preservá-lo. Ao considerar que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é
um direto fundamental de todos, a sua natureza jurídica encaixa-se no plano dos direitos difusos,
já que se trata de um direito transindividual, de natureza indivisível, de que são titulares pessoas
indeterminadas e ligadas entre si por circunstâncias de fato.
Acentua-se ainda mais esse caráter difuso do direito ambiental quando o próprio artigo
constitucional diz que é dever da coletividade e do poder público defender e preservar o meio
ambiente, ancorado em uma axiologia constitucional de solidariedade. Para Abelha (2004, p.
43), “O interesse difuso é assim entendido porque, objetivamente, estrutura-se como interesse
pertencente a todos e a cada um dos componentes da pluralidade indeterminada de que se trate”.
Isso significa que o meio ambiente não pode ser um simples interesse individual, reco-
nhecedor de uma esfera pessoal e própria, exclusiva de domínio. Seu uso ou apropriação deve
incorrer de uma avaliação prévia, com vistas ao dimensionamento, quantitativo e qualitativo, dos
impactos ambientais e sociais decorrentes.

AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) surge como um instrumento de política ambien-


tal que pode ser adotado em diferentes esferas de governo e entidades privadas. Segundo Sánchez
(2008), a utilização da AIA é considerada uma forma potencialmente eficaz de prevenção dos
danos ambientais e para a promoção do desenvolvimento sustentável.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

No Brasil, a experiência nos processos de AIA, até o início da década de 1980, não conta-
va com instrumentos jurídico-legais que regulamentassem o processo de avaliação de impacto
ambiental. Para Ruppenthal (2014), foi somente a partir dos anos 90 que o foco dos problemas
ambientais passou a se voltar para a otimização dos processos produtivos e para a redução dos
impactos ambientais. Isso porque houve o amadurecimento de que as consequências sobre o mau
uso dos recursos naturais e suas ações sobre o meio ambiente acabariam ocasionando impactos
sobre a vida de todos os seres vivos.
Segundo Almeida (2002), as primeiras tentativas de aplicação de metodologias foram
decorrentes de exigências de órgãos financeiros internacionais para a aprovação de empréstimos
de projetos governamentais brasileiros. Esses primeiros estudos foram realizados com base na
experiência internacional e com intervenção indireta do exterior.
Pode-se considerar que a introdução da AIA como um instrumento legal para avaliação
de projetos que causam impactos ao meio ambiente ocorreu em 1980, a partir da Lei Federal
nº 6.803/1980, que dispunha sobre a obrigatoriedade da avaliação de impactos ambientais para
fins industriais, ainda que limitada em seu escopo por não contemplar outras modalidades de
ações potencialmente impactantes ao meio ambiente (BRASIL, 1980). A partir da referida lei, a
AIA deixou de ser exigência de órgãos financiadores internacionais para ser incorporada como
instrumento de gestão do meio ambiente.
No ano seguinte, a criação da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do
Meio Ambiente – PNMA), instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISMANA) e permitiu
a articulação dos diversos órgãos setoriais ligados direta ou indiretamente à temática ambiental.
Isso fez com que as AIAs fossem elaboradas em processo coordenado, incluindo diversas obras e
empreendimentos potencialmente degradadores do meio ambiente.
41
A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 001, de 23 de janei-
ro de 1986, definiu as atividades sujeitas à elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e
do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), quando da solicitação de licenciamento. A
referida Resolução apresenta as diretrizes gerais para a elaboração do EIA, bem como as ativida-
des técnicas mínimas, que devem ser cumpridas em relação ao diagnóstico ambiental da área, a
previsão e a análise dos impactos ambientais, a definição de medidas mitigadoras e as atividades
de acompanhamento e monitoramento.
Para Moreira (1993), o EIA deve ser elaborado como um conjunto de atividades, pesqui-
sas e tarefas técnicas com a finalidade de determinar as principais consequências ambientais
decorrentes da implantação de um empreendimento. Milaré (2004) acrescenta que a incorpo-
ração pelo direito brasileiro desse instrumento preventivo de tutela ambiental, EIA, estimulou a
participação da sociedade nas discussões democráticas sobre a implantação de projetos e contri-
buiu para o manejo adequado dos recursos naturais, o uso correto de matérias-primas e a utiliza-
ção de tecnologias de ponta, evitando altos investimentos futuros em equipamentos de controle
e monitoramento.
Dentro da AIA, segundo Bisset (2002), Bastos e Almeida (2002), identificam-se distintos
componentes, sendo um deles responsável por diagnosticar, avaliar e prevenir efeitos adversos
relacionados com o conhecimento científico sobre o ambiente, a ação e suas inter-relações. O
outro é o processo de tomada de decisão, cuja avaliação de impactos de uma ação pode ter um
importante papel, intimamente relacionado a regras administrativas e à vontade política. De qual-
quer modo, é um instrumento de gestão ambiental formado por um conjunto de procedimentos
capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos
ambientais de uma ação e de suas alternativas.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O principal objetivo da AIA, de acordo com Arruda (2000) e Bolea (1984), é fornecer
subsídios para o processo de tomada de decisão, por meio do exame sistemático das atividades
do projeto, permitindo maximizar os benefícios, considerando os fatores saúde, bem-estar huma-
no e meio ambiente, elementos dinâmicos no estudo para a avaliação. Dessa forma, é possível
efetuar a prevenção dos danos causados ao meio ambiente por atividades antrópicas, de acordo
com Bisset (2002), envolvendo três fases: (i) identificação dos impactos; (ii) predição dos impac-
tos – previsão do comportamento dos ecossistemas; e (iii) a avaliação propriamente dita. Nesta
última fase, atribuem-se aos efeitos previstos parâmetros de importância ou significância.
O artigo 3º da PNMA (Lei Federal nº 6.938/1981) destaca que qualquer alteração no meio
ambiente pode ser enquadrada como impacto ambiental e que a sua efetivação caracterizará um
dano ambiental, seja ele ao meio ambiente, a terceiro ou à coletividade (BRASIL, 1981). De acordo
com a Resolução CONAMA nº 001/1986, impacto ambiental é:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante de atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da popu-
lação; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986).

Pode-se considerar, de maneira geral, que impacto ambiental é a diferença entre a situa-
ção do meio ambiente (natural e social) futuro, modificado pela realização do projeto, e a situação
do meio ambiente futuro tal como teria evoluído sem o projeto. Entretanto, a identificação e a
42 quantificação de impactos ambientais consistem em uma atividade complexa, tendo em vista que
eles podem envolver uma série de fatores para a sua determinação (KULIK; HORNSBY; BISHOP,
2011).
A primeira dificuldade consiste na própria delimitação do impacto/dano, já que este se
propaga, espacial e temporariamente, por meio de uma complexa rede de inter-relações. O segun-
do entrave reside nas deficiências instrumentais e metodológicas para determinar as respostas
dos ecossistemas às atividades humanas, sobretudo quando se adota a dimensão social, como
nos casos dos projetos de regularização fundiária.
Para o melhor tratamento do problema, foram criadas diversas metodologias de Avaliação
de Impacto Ambiental, que são estudos realizados para identificar, prever, interpretar e prevenir
os danos que determinadas ações ou projetos podem causar à saúde, ao bem-estar humano e ao
meio ambiente. Podem ser entendidas como um conjunto de atividades técnicas e científicas que
incluem o diagnóstico ambiental, a fim de prevenir e dimensionar, quando possível, os impactos
ambientais (KULIK; HORNSBY; BISHOP, 2011).
Segundo a Resolução CONAMA nº 237/1997 (Art. 1º, III), os estudos ambientais “[...]
são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização,
instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como
subsídio para a análise da licença requerida.” (BRASIL, 1997).
No Brasil, existem diversos tipos de estudos ambientais, criados por diferentes instru-
mentos legais. Conforme Sánchez (2008), além do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), dependendo das particularidades ligadas a certos tipos de
empreendimentos, podem ser solicitados outros tipos de estudos: Estudo Ambiental Simplificado
(EAS), Relatório Ambiental Preliminar (RAP), Estudo de Conformidade Ambiental (ECA), Plano de
Recuperação de Áreas Degradas (PRAD), dentre outros.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Diante disso, Scheunemann et al. (2012) consideram que a sustentabilidade do espaço


urbano requer a introdução de prerrogativas inerentes à gestão das cidades, destacando o impac-
to da deterioração ambiental sobre a qualidade de vida das comunidades urbanas. Essa sustenta-
bilidade demanda novas formas de relação entre desenvolvimento socioeconômico, crescimento
urbano e qualidade ambiental, sendo que esses elementos se refletem na forma de ordenamento
territorial.

ORDENAMENTO TERRITORIAL E AS IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO

O ordenamento territorial tem por função a orientação para um planejamento integrado


do espaço, contemplando uma ampla diversidade de elementos, sejam eles físicos, humanos ou
biológicos, que configuram o território. Ele busca sempre eleger uma forma mais adequada de se
organizar o uso e a ocupação do território, dentre diversas alternativas.
Portanto, as diretrizes de ordenamento territorial precisam estar de acordo com a reali-
dade e a dinâmica existente em cada área de planejamento para, assim, buscar a melhor forma
possível de alocar os recursos existentes, na perspectiva de deixar o território organizado e aces-
sível à justa e livre circulação da população. Nesses termos, o uso do solo deve ser disciplinado e
regulado, com vistas ao alcance da função social da propriedade, como previsto no Artigo 182 da
Constituição de 1988, cujo caput dispõe que:

A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,


conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o desenvolvimen-
43 to das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (BRASIL,
2007).

De acordo com Cenci (2009), o uso e a ocupação do solo na formação dos espaços urba-
nos evidenciam características do modelo de desenvolvimento centrado na lógica que estrutura
o modo de produção capitalista, marcado pela propriedade privada, pelo qual o próprio espaço
torna-se objeto. É por meio dessa lógica mercadológica que a cidade se transforma em mercado-
ria, em detrimento da cidade, como o direito à terra.
Carlos (2004) acrescenta que a formação do espaço urbano é resultante de uma produ-
ção geral da sociedade no seu todo, mas vinculada à apropriação do espaço em parcelas privadas.
É com essa apropriação individualizada do espaço que a cidade se torna objeto de compra e venda
e impulsiona a própria acumulação de capital.
Sarti (2009) completa, relatando que os mecanismos de expansão da mancha urbana
são ditados pela lógica do mercado imobiliário, provocando o avanço da área urbanizada sobre
os espaços ao seu redor e transformando a zona rural próxima em uma reserva de espaço para
a cidade do futuro. A autora acrescenta que esse modelo de expansão dos espaços urbanos tem
exigido uma maior demanda de implantação de infraestrutura urbana (água, esgotos, telecomu-
nicações, iluminação etc.) e equipamentos comunitários (áreas de lazer, postos de saúde, escolas,
creches e outros).
Para o IPEA (2001), é a disponibilidade, a proximidade ou os investimentos públicos
nesses equipamentos urbanos e comunitários que irão influenciar no preço final da terra, seja
ela de propriedade privada ou pública. Cenci (2009) afirma que, para evitar a segregação socioes-
pacial da cidade e mantê-la acessível à população, o governo local passa a incorporar o papel de
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

organização social e do território, exercendo a função de planejamento, gestão e controle do uso


e ocupação do solo municipal.
Araújo (2009) destaca que o modelo brasileiro de regulação e controle urbanístico, apesar
de estar centrado nos municípios de maior porte, tem se aberto tanto conceitualmente como na
prática para a incorporação de mecanismos de gestão democrática e automatizada. Sarti (2009)
afirma que as práticas de controle do uso e da ocupação do solo têm que apresentar instrumentos
de avaliação de impactos ambientais, centrados no processo de licenciamento de certos tipos de
empreendimentos que possam causar prejuízos ao meio ambiente, sobretudo ao urbano.
Cabe destacar, a fim de atender aos preceitos da PNMA, a implantação de empreen-
dimentos considerados pela legislação ambiental brasileira como degradadores da natureza, os
quais devem ser submetidos ao licenciamento ambiental. Para a Resolução CONAMA nº 237/1997,
este se refere ao procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a
localização, a instalação, a ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou aquelas que, sob
qualquer forma, possam causar a degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 1997).
A exigência da licença ambiental permite um controle maior das atividades poluidoras
ou potencialmente poluidoras. Nesse sentido, compete aos órgãos Federal, Estadual e Municipal,
dentro de suas especificidades, concederem a licença ambiental. Ao submeter um projeto à análi-
se dos órgãos competentes, pode-se obter um dos três tipos de licença ambiental, que será deter-
minada de acordo com a etapa em que se encontra o projeto, a saber: licença prévia, de instalação
ou de operação.
44 A licença prévia é concedida quando os requisitos de localização e de concepção do proje-
to são atendidos, indicando viabilidade ambiental. Nessa etapa, são solicitados os complementos
adicionais para melhor compreender as atividades, que normalmente compreendem o EIA-RIMA,
incluindo as análises de solo, água e ar, a fim de prever como o meio socioeconômico e ambiental
será afetado com a instalação de determinado empreendimento.
Após o detalhamento das informações iniciais e deliberadas as ações para proteção
ambiental, pode-se providenciar o requerimento para a instalação efetiva do projeto. Isso se dá
por meio da licença de instalação, que permite o início da execução do empreendimento, sendo
que toda e qualquer alteração no projeto deverá ser informada ao órgão licenciador para que ele
possa reanalisar o processo. Por fim, encontra-se a etapa de operacionalização do projeto, ou
seja, ele já passou pelas outras duas etapas, então é solicitada a licença de operação, que permite
o funcionamento de suas instalações.
O processo de licenciamento ambiental é composto de uma série de procedimentos
específicos, inclusive da realização de audiência pública, que envolve diversos segmentos da
população interessados ou afetados pelo empreendimento. Destaca-se, ainda, que o conteúdo de
um estudo ambiental é estipulado por um Termo de Referência do órgão ambiental competente
e pela legislação pertinente.
Além da legislação que incide sobre o meio natural, Carvalho (2000) declara que a gestão
territorial pode ser regulamentada por meio de um corpo básico de leis, as quais se constituem
em instrumentos de controle do uso do solo. Para Altes e Tambach (2008), a importância desses
instrumentos de gestão municipal é evidenciada quando a sua ausência ou inadequação é regis-
trada e, com isso, sérios problemas de ordem social e ambiental são identificados.
Nesse sentido, quando se menciona sobre a ordenação dos espaços urbanos, segun-
do Canepa (2007, p. 5), o que se objetiva finalmente é “[...] a concretização de um comando
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constitucional a não ser desconsiderado, que é o da função social da cidade”. Tal pretensão só será
alcançada justamente com uma política constitucional urbana e com uma defesa ambiental dos
espaços habitáveis, alcançando todas as variáveis da vida humana, tais como saúde, educação,
lazer e segurança, visando a uma “sadia qualidade de vida”, conforme o disposto no artigo 225 da
Constituição Federal (BRASIL, 2007), dedicado ao meio ambiente.
Um avanço significativo do ponto de vista da sustentabilidade e do desenvolvimento
urbano, que merece ser destacado, é o Estatuto da Cidade, representado pela Lei Federal nº
10.257/2001, o qual esclarece, com maior propriedade, o papel dos municípios no que se refe-
re ao cumprimento da cidade em desempenhar sua função social e ambiental, introduzindo os
conceitos de sustentabilidade ambiental e de gestão democrática por intermédio da participação
popular e do estabelecimento de algumas normas específicas, visando à regularização fundiária
(BRASIL, 2001).
Além disso, o Estatuto da Cidade apresenta o Plano Diretor como instrumento básico da
política de desenvolvimento urbano obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes. O
Plano Diretor, que dispõe sobre a política de desenvolvimento, ordenamento territorial e expan-
são urbana da cidade, atua não apenas na regulação físico-territorial, mas também na inserção
de mecanismos de conteúdo ambiental, como o próprio licenciamento ambiental, a criação de
espaços territoriais protegidos e a Avaliação de Impactos Ambientais para diversas atividades de
uso e ocupação do solo.
Esse diálogo entre os atributos do meio biofísico com os instrumentos de ordenamento
territorial, conforme Sayago e Pinto (2005), é que dá ênfase ao caráter estratégico na busca pela
qualidade de vida das cidades. Contudo, não deve haver confusão quanto aos objetos de estudo
do ambiente natural com o ambiente urbano.
45
Como exemplo cita-se o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), que é um dos instrumen-
tos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade. No art. 36 da referida Lei consta que:

Lei Municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área


urbana que dependerão de elaboração de Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança (EIV)
para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a
cargo do Poder Público municipal. (BRASIL, 2001).

A elaboração do EIV, no entanto, não substitui a elaboração e a aprovação do estudo


prévio de impacto ambiental, requeridas nos termos da legislação ambiental. Os dois estudos se
complementam, por isso, na maioria das situações, é preciso que ambos sejam realizados. Um se
refere às questões afetas à flora, à fauna e à qualidade da água e do ar, à emissão de poluentes, à
emissão de ruídos e à preservação do ecossistema. O outro é voltado às questões do meio urba-
no, às densidades demográficas, ao transporte e à infraestrutura, aos equipamentos urbanos e
comunitários necessários ao bom atendimento das necessidades da população afetada, direta e
indiretamente, pelos empreendimentos e atividades que se implantam nas cidades, suas implica-
ções e decorrências no ambiente construído, buscando a melhoria da qualidade de vida urbana e
o desenvolvimento do sistema que dá sustentabilidade ao ambiente urbano.
Entretanto, apesar de a Lei Federal nº 10.257/2001, que instituiu o Estatuto da Cidade, ter
trazido poderosos instrumentos de governança necessários à elaboração e à execução da política
urbana deferida aos municípios e ao Distrito Federal, ela não foi o bastante para se atingir o fim
máximo que o projeto político de 1988 desejava. Assim, a discussão sobre o tratamento do meio
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ambiente no âmbito de processos de regularização fundiária e área urbana consolidada carecia de


um instrumento regulador que atendesse a esse problema tão presente nas cidades brasileiras.
Com isso ocorreu a edição da Lei Federal nº 11.977, de 07 de julho de 2009, que, modifi-
cada pela Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011, ao dispor sobre o programa “Minha Casa, Minha
Vida”, também foi incisiva ao tratar da regularização fundiária de assentamentos localizados em
áreas urbanas. O artigo 46 da Lei nº 11.977/2009 conceitua que:

A regularização fundiária consiste no conjunto de medidas jurídicas, urbanísticas, ambien-


tais e sociais que visem à regularização de assentamentos irregulares e à titulação de
seus ocupantes, de modo a garantir o direito social à moradia, o pleno desenvolvimento
das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. (BRASIL, 2009).

Diante do tema da regularização, não se há de ter como premissa uma mera situação de
ilegalidade. Nesse prisma, vale considerar o artigo 46 da referida lei (BRASIL, 2009) quando cita os
eixos prioritários ao ordenamento territorial – representado pelas medidas jurídicas, urbanísticas,
ambientais e sociais – em torno dos quais se centram as ações que visam à regularização dos
assentamentos urbanos.
Considerando que a regularização fundiária urbana depende da ação de diversos atores
políticos e jurídicos, salienta-se a necessidade de entrelaçamento entre a ação legislativa e a
administrativa, para que se proceda ao ordenamento territorial, prevendo a preservação do meio
ambiente. Assim, o artigo 54 da Lei Federal nº 11.977/2009 informa que o projeto de regularização
46 fundiária de interesse social deverá considerar as características da ocupação e da área ocupada
para definir parâmetros urbanísticos e ambientais específicos, além de identificar os lotes, as vias
de circulação e as áreas destinadas ao uso público. 
O legado deixado pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, no que tange à ocupação
humana em áreas preservadas, teve reflexos diretos na revisão do Código Florestal, derivando
na criação da Lei Federal nº 12.651, de 25 de maio de 2012. O novo Código Florestal apresen-
tou a flexibilização legal à ocupação humana em área de preservação permanente (APP), mas
impôs alguns requisitos, denotando um amadurecimento nas discussões sobre a sociedade como
elemento impactante – ao mesmo tempo impactado por obras ou atividades.
Na Seção II (Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente) do Novo
Código Florestal, o artigo 8 trata que a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área
de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de utilidade pública, de interesse
social ou de baixo impacto ambiental previstas nessa Lei (BRASIL, 2012).
O artigo 64 (BRASIL, 2012) disciplina a utilização dos espaços das APPs, nos casos de regu-
larização fundiária de interesse social dos assentamentos inseridos em área urbana de ocupação
consolidada, dispondo que a regularização ambiental será admitida por meio da aprovação do
projeto de regularização fundiária, na forma da Lei no  11.977, de 07 de julho de 2009, devendo
incluir um estudo técnico que demonstre a melhoria das condições ambientais em comparação
com a situação anterior à adoção das medidas preconizadas.
O estudo técnico proposto deve conter elementos mínimos, tais como: caracterização da
situação ambiental da área a ser regularizada; especificação dos sistemas de saneamento básico;
proposição de intervenções para a prevenção e o controle de riscos geotécnicos e de inundações;
recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de regularização; dentre outros.
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Gestão Integrada do Território

Ainda, o novo Código Florestal, em seu artigo 65, informa que, na regularização fundiária
de interesse específico dos assentamentos inseridos em área urbana consolidada e que ocupam
Áreas de Preservação Permanente não identificadas como áreas de risco, a regularização ambien-
tal será admitida por meio da aprovação do projeto de regularização fundiária, na forma da Lei no
11.977, de 07 de julho de 2009 (BRASIL, 2012). Para fins de prévia autorização pelo órgão ambien-
tal competente, devem fazer parte do processo de regularização ambiental alguns elementos, tais
como: a caracterização físico-ambiental, social, cultural e econômica da área; a identificação dos
recursos ambientais, dos passivos e fragilidades ambientais e das restrições e potencialidades da
área; a identificação das unidades de conservação e das áreas de proteção de mananciais na área
de influência direta da ocupação; a especificação da ocupação consolidada existente na área; a
identificação das áreas consideradas de risco de inundações e de movimentos de massa rochosa,
dentre outros.
Do ponto de vista ambiental, o processo de transformação de casas irregulares em mora-
dias legalizadas, com registro no Cartório de Registro de Imóveis, promove o meio ambiente, pois
ocorre a implantação de serviços de água tratada, canalização de esgotos, pavimentação das ruas,
iluminação pública, coleta de lixo e limpeza pública. Nesses termos, o artigo 225 da Constituição
Federal poderá ser atendido quando as medidas jurídicas, ambientais e sociais, que visam à regu-
larização de assentamentos irregulares e à titulação de seus ocupantes, garantirem o direito social
à moradia, o pleno desenvolvimento das funções sociais da propriedade urbana e o direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Com o propósito de disciplinar o quadro de qualidade ambiental, principalmente no que
diz respeito ao parcelamento do solo urbano, foi instituída a Lei no 6.766/79 (modificada pela Lei
no 9.785/99). De acordo com Moraes (2010), conhecida como Lei Lehman, estabelece exigências
47 mínimas de padrões urbanísticos necessários à aprovação e à implantação do loteamento urbano,
também limites para a ocupação do solo, observando os cuidados para com a proteção do meio
ambiente.
O artigo 3º da referida lei informa que somente será admitido o parcelamento do solo
para fins urbanos, em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim
definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal, trazendo como limitação a proibição
de parcelamento de solos que possuem as seguintes características: terrenos alagadiços e sujeitos
a inundações sem medidas de providências para o escoamento das águas; terrenos aterrados com
material nocivo à saúde pública; terrenos com declividade igual ou superior a 30% (salvo se aten-
didas as exigências específicas); terrenos geologicamente limitados para edificações; e em áreas
de preservação ecológica (BRASIL, 1979).
A Lei Federal do Parcelamento do Solo (Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979), que,
no seu rigor inerente às condições para a elaboração e a aprovação de loteamentos urbanos,
acabou deixando escapar o ideal quase utópico de desenvolvimento urbano de primeiro mundo
para o qual estava projetada, é incompatível com a realidade conjuntural na qual a pobreza é
predominante.
Os projetos de parcelamento do solo podem se apoiar, tecnicamente, no geoprocessa-
mento que, conforme Ladwig (2013), é definido como sendo a área do conhecimento que utiliza
técnicas matemáticas e computacionais para tratar dados espaciais, produzindo informações rele-
vantes para a tomada de decisão. Sendo assim, as ações de planejamento e gestão sustentável
do território, ordenando as ações do homem sobre o território, ficam garantidas de forma mais
assertiva com a utilização dessa ferramenta. O SIG (Sistema de Informação Geográfica) permite
realizar análises espaciais complexas ao integrar dados de diversas fontes de bancos de dados
georreferenciados.
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Gestão Integrada do Território

É indispensável entender o funcionamento dos processos naturais no planejamento


ambiental e no projeto urbano, como premissa de construirmos uma cidade socialmente e
ambientalmente saudável. As informações sobre os usos atuais do solo são imprescindíveis para o
planejamento do seu uso e controle futuro. De acordo com Ladwig (2013), as técnicas de sensoria-
mento remoto, associadas a diversas ferramentas, são de grande auxílio aos gestores nas tomadas
de decisões no espaço urbano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ocupação desordenada que vem ocorrendo na maioria das cidades brasileiras, muitas
vezes em consonância com a ingerência de responsáveis pela gestão adequada do espaço urbano,
faz avançar consequências tanto para a população residente em determinadas áreas quanto ao
meio ambiente.
As propostas existentes para um bom exercício da política urbana encontram-se apresen-
tadas tanto no Estatuto das Cidades quanto no programa “Minha Casa, Minha Vida”, que circun-
dam a busca da conformidade entre a convivência nas cidades e a preservação do meio ambiente
como obediência à legislação.
Essas novas diretrizes relacionadas ao desenvolvimento urbano, no entanto, somente
serão alcançadas por meio de uma gestão municipal planejada e democrática, assegurando os
direitos inerentes à população, principalmente pela edição e cumprimento dos referidos planos
diretores municipais.

48
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51
CAPÍTULO IV
PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL EM SÃO BONIFÁCIO
(SC): OS DESAFIOS DA GESTÃO INTEGRADA

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan04

Giully de Oliveira - UDESC


Adilson Tadeu Basquerote Silva - UFSC

52

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Em pesquisa de campo realizada pelo primeiro autor nos anos de 2013 e 2014, no muni-
cípio de São Bonifácio, estado de Santa Catarina, investigou-se que elementos do patrimônio
cultural e natural se evidenciavam naquele município, relacionados ao turismo rural e, em espe-
cial, à Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia (AAAC),2 a qual se encontrava em fase de
expansão. Em meio a essa investigação, diferentes elementos foram fundamentais para descrever
o panorama turístico da cidade, ou seja, o que um turista procura e encontra quando visita São
Bonifácio. No ano de 2016, os estudos foram retomados com a finalidade de analisar a relação da
gestão pública municipal com a gestão integrada do patrimônio natural e cultural do município.
Nesse sentido, este capítulo tem como objetivo analisar as dificuldades da gestão inte-
grada do patrimônio natural e cultural no município de São Bonifácio, SC, a partir da gestão públi-
ca do município.
A pesquisa que o gerou é de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), realizada por
meio de um estudo de caso, que, de acordo com Yin (2001, p. 32), “[...] é uma investigação empí-
rica de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Caracteriza-se como uma abor-
dagem etnográfica (LAPLANTINE, 1993) na medida em que buscou a compreensão dos elemen-
tos exteriores de uma sociedade, compreendendo os significados que os próprios indivíduos dão
aos seus comportamentos. Os dados foram coletados em 2013 e em 2014 mediante entrevistas
semiestruturadas (FLICK, 2013) e observação participante (MAY, 2004) e foram complementados
em 2016 com a aplicação de um questionário enviado eletronicamente aos gestores municipais
53 responsáveis pelo turismo no município de São Bonifácio. Posteriormente, tais dados foram anali-
sados, sendo utilizados os procedimentos de análise de conteúdo (BARDIN, 2009), sem, contudo,
criar categorias de análise.
O capítulo traz uma breve caracterização do território de São Bonifácio, o referencial
teórico de patrimônio cultural e natural, os elementos considerados patrimônios naquele muni-
cípio e como ocorre a gestão integrada de seus patrimônios naturais e culturais, bem como apre-
senta as considerações sobre a gestão do patrimônio em São Bonifácio.

BREVE CARACTERIZAÇÃO DE SÃO BONIFÁCIO

Incrustado nas encostas da Serra Geral de Santa Catarina, na região da Grande


Florianópolis, o município de São Bonifácio teve sua colonização iniciada no ano de 1864, período
no qual chegaram os primeiros imigrantes de cultura alemã, oriundos da região de Westfália,
atual Alemanha (MARTINS; WELTER, 2012). Inicialmente, segundo Martins e Welter (2012), os
colonos instalaram-se em Teresópolis, atual município de Águas Mornas; em seguida, motivados
pela procura de novas e melhores terras, fixaram moradia em São Bonifácio. O mapa 1 apresenta
a localização do município de São Bonifácio em distintas projeções.

2
A Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia (AAAC) é composta por agricultores e integra a rede Accueil Paysan, que atua
na França desde 1987. Tem como objetivo valorizar o modo de vida rural por meio do agroturismo ecológico, fazendo com que os
agricultores abram suas casas para visitantes, a fim de compartilhar o saber fazer, histórias, sua cultura e paisagens (ASSOCIAÇÃO
DE AGROTURISMO ACOLHIDA NA COLÔNIA – AAAC. Estatuto da Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia. Santa Rosa de
Lima: [s.n.], 1999).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Figura 01 – Mapa
Mapa de de
1 – Mapa Localização doMunicípio
Localização do Municípiode de
SãoSão Bonifácio/SC
Bonifácio/SC

Fonte: Giully de Oliveira (2015).


Fonte: Felipe Alves Geolab, (2015).

São Bonifácio possui uma área territorial de 452 km², relevo sinuoso, altitude média de
610 metros e clima subtropical úmido. Sua população é de 3.008 habitantes (IBGE, 2010), dos
54 quais 75% residem na área rural. Dentre os elementos que caracterizam a região, está a presença
da arquitetura em estilo enxaimel,3 bem como a preservação da tradição e de costumes germâni-
cos presentes na alimentação típica, na língua alemã – com seus dialetos específicos –, na música,
na religiosidade, entre outros. A economia se baseia na agricultura, na pecuária de leite e de
corte, na apicultura, na avicultura, no beneficiamento de madeira, nas indústrias de lacticínios,
com vocação para o turismo.
O acesso norte à cidade se dá pela BR-282, via Santo Amaro da Imperatriz e SC-435. O
acesso sul se dá pela SC-438, via Gravatal, ou, ainda, pela SC-431, via Armazém e São Martinho.
Devido à sua posição geográfica, 55% da área total do município localiza-se dentro do Parque
Estadual da Serra do Tabuleiro, que é a

[...] maior unidade de conservação de proteção integral do Estado, criada em 1975 com
base nos estudos dos botânicos Pe. Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, com o objetivo
de proteger a rica biodiversidade da região e os mananciais hídricos que abastecem as
cidades da Grande Florianópolis e do Sul do Estado [...]. (FATMA, 2009).

Segundo Martins e Welter (2012), os traços culturais atuais remontam aos hábitos e aos
costumes dos primeiros colonos. A língua alemã é um deles, à medida que parte da população
compreende ou fala o idioma. Segundo Oliveira (2015), nos últimos anos, vem se intensifican-
do o resgate e a preservação do folclore alemão, por meio da música e do canto realizados por
corais dos grupos folclóricos Kleine Tänzer e Tanzen Freude und Liebe, que apresentam as danças
3
Segundo Weimer (2005), são compostas por paredes montadas com hastes de madeira, encaixadas entre si em posições horizon-
tais, verticais ou inclinadas, cujos espaços são preenchidos, geralmente, por pedras ou tijolos. Essa arquitetura é típica da região
da Westfália (Alemanha).
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das regiões de origem dos imigrantes, com ênfase para a Dança dos Sete Passos. Destacam-se
também as festas religiosas realizadas nas localidades e na sede do município, em homenagem ao
padroeiro de São Bonifácio, a Festa do Hospital, a Festa do Pão de Milho e o Natal Luz (PREFEITURA
MUNICIPAL DE SÃO BONIFÁCIO, 2015).

PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL

A preservação do patrimônio natural e cultural vem assumindo uma importância cada


vez maior em escala mundial, à medida que a lógica do capitalismo fez com que o desenvolvimen-
to e a exploração do espaço gerassem descompassos entre o uso e a sua preservação, afetando
diretamente o que Carvalho (2002, p. 100) concebe como a “alma do lugar”. Nesse sentido, para
que ocorra a valorização do patrimônio, é necessário que haja, primeiramente, o seu (re)conheci-
mento e o entendimento da população local, tendo em vista que

[...] é sua responsabilidade sensibilizar e conscientizar as comunidades em torno de seus


valores e tradições, inserindo tais práticas na vida sustentável, resgatando e preservando
o imaginário coletivo e o patrimônio representativo da cultura, no eixo temporal e espa-
cial. (FARIAS, 2002, p. 62).

Segundo Castillo Ruíz (1996), o patrimônio é compreendido como os elementos mate-


riais e imateriais, naturais ou culturais, herdados do passado ou criados no presente, em que um
55 determinado grupo de indivíduos reconhece sinais de sua identidade.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, na
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, realizada no ano de 1972,
em Paris, observando as degradações dos patrimônios em todo o mundo, gerou um documento
que define o que são patrimônios naturais e culturais. Quanto ao Patrimônio Natural, designa que
é “[...] algo com características físicas, biológicas e geológicas extraordinárias; habitats de espé-
cies animais ou vegetais em risco e áreas de grande valor do ponto de vista científico e estético ou
do ponto de vista da conservação.” (UNESCO, 1972, n.p.).
Como forma de facilitar a compreensão do patrimônio natural, a UNESCO (1972, n.p.) o
classifica em três modalidades:

1. Formações físicas e biológicas, ou grupos destas formações, de valor universal incal-


culável do ponto de vista estético e científico.
2. Formações geológicas e fisiográficas e áreas bem delimitadas que constituam o
habitat de espécies animais ou vegetais em risco de valor incalculável do ponto de
vista da ciência e da conservação.
3. Sítios naturais ou áreas naturais bem delimitadas de valor universal incalculável do
ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural.

Ao avaliar o patrimônio natural brasileiro, Zanirato (2010) afiança que a riqueza de sua
biodiversidade se encontra bem distribuída no território, o que resulta em dificuldades em prote-
ger esses bens. Em outro trabalho, Zanirato (2011) analisa a relação do patrimônio natural com
o turismo e os desafios para a adoção da sustentabilidade em áreas protegidas no Brasil. Nele, a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

autora dialoga com as políticas de valorização do patrimônio natural e cultural adotadas no Brasil
em relação ao turismo. Corroborando, Ruschmann (1997, p. 10) avalia a relação entre turismo e
planejamento, afirmando que “O planejamento é fundamental para o desenvolvimento turístico
equilibrado e em harmonia com os recursos físicos, culturais e sociais das regiões receptoras,
evitando, assim, que o turismo destrua as bases que o fazem existir”.
Além da preservação do patrimônio natural, é crescente a preocupação com a preser-
vação dos bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis, que compreendem o patrimônio
cultural. Nesse sentido, González-Varas (2003, p. 44) pontua que eles são considerados “[...] mani-
festações ou testemunhos significativos da cultura humana”. Na mesma perspectiva, a UNESCO
(1972, n.p.) sinaliza que o patrimônio cultural se apresenta nas formas de:

[...] monumento, conjunto de edifícios ou sítio de valor histórico, estético, arqueológico,


científico, etnológico e antropológico.
1. Monumentos: obras arquitetônicas, trabalhos de escultura e pintura monumentais,
elementos ou estruturas de natureza arqueológica, inscrições, habitações rupestres
e combinações de estilos, que sejam de valor universal incalculável do ponto de vista
histórico, artístico e científico;
2. Conjuntos de edifícios: grupos de edifícios, separados ou contíguos, que devido à sua
arquitetura, homogeneidade e situação na paisagem sejam de um valor universal
incalculável do ponto de vista histórico, artístico ou científico;
3. Sítios: obras efetuadas pela mão do Homem ou obras combinadas do Homem e da
Natureza e zonas, incluindo sítios arqueológicos, que sejam de valor universal incal-
56 culável do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.

Ao destacar a importância e o significado, Pellegrini (1997, p. 90-91) expõe que o patri-


mônio cultural tem um significado muito amplo, “[...] incluindo outros produtos do sentir, do
pensar e do agir humano – o que no conjunto poderia se definir como meio ambiente artificial”.
Em contexto semelhante, Zanirato (2009) discute sobre os usos sociais do patrimônio cultural e
natural, ou seja, sobre a participação social na identificação, conservação, estudo e difusão dos
bens que configuram a identidade de uma dada comunidade. Nesse cenário, o patrimônio cultu-
ral não se restringe à produção material humana, envolve sentimentos e valores, situações que
remetem a espécie humana a conhecer a si mesma e o mundo que a rodeia.

SÃO BONIFÁCIO E SEUS PATRIMÔNIOS

Devido à sua diversidade patrimonial, São Bonifácio vem se desenvolvendo no ramo do


turismo, principalmente pelos seus atrativos culturais e naturais. No que concerne ao patrimônio
cultural, o município possui uma densa identificação com as origens coloniais de referência alemã,
visto a presença dos hábitos de cultura germânica se apresentarem latentes, seja na alimentação,
na língua falada, na arquitetura ou nos modos de vida.
Dentre os elementos mais expressivos no patrimônio histórico e cultural do município
está a arquitetura em estilo enxaimel. Característica da colonização germânica no século XIX, esse
tipo de construção apresenta estruturas de madeira aparente, preenchidas com tijolos maciços,
encontradas predominantemente na área rural do município. Atualmente, encontram-se mais de
130 casas cadastradas e mapeadas no município, o que lhe confere o título de maior concentrador
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de casas em estilo enxaimel do estado de Santa Catarina. As imagens 1a e 1b apresentam esse


estilo arquitetônico bastante apreciado pelos turistas que visitam o município.

Figura 02
Imagens 1a –e Casa Típica
1b - Casas Em Estilo
Típicas Enxaimel
em Estilo Enxaimel

Fonte: ARQUIVO
Fontes: Prefeitura Municipal DA SMCT.
de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (2015). [e1] Comentário: Não en
referência

O patrimônio cultural de São Bonifácio envolve a questão histórica, a memória coletiva e


a identidade cultural preservada pela comunidade. Muitos dos hábitos e costumes dos primeiros
colonos ainda são conservados. Conforme Halbwachs (2006, p. 170), “[...] não há memória cole-
tiva que não aconteça em um contexto espacial”. Nessa perspectiva, a língua alemã é falada em
muitas casas no dia a dia, e as danças típicas estão presentes nas festas. Com o intuito de resgatar
e preservar a cultura
Figura alemã,
03 – Grupo os grupos folclóricos
Humanação Que em Seu Kleine Tänzer ePossui
Repertório TanzenMúsicas
Freude und Liebe apre-
Alemãs
sentam danças das regiões de origem dos imigrantes. A imagem 2 mostra o grupo Humanação,
que em seu repertório possui músicas alemãs, em dia de apresentação, e a imagem 3 apresenta o
57 grupo folclórico Tanzen Freude und Liebe em atividade.
Figura 03 – Grupo Humanação Que
Imagem 2 -em Seu
Grupo Repertório Possui Músicas Alemãs
Humanação

FONTE: ARQUIVO SMCT. [e1] Come


referência
[GdO2] Co
Secretaria Mu
Fonte: Prefeitura Municipal de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (2015). vou colocar o
FONTE: ARQUIVO SMCT.
Figura 04 – Grupo
Imagem Folclórico
3 - Grupo Folclórico Tanzen Freude
Tanzen Freude und Und
Liebe Liebe [e1] Come
referência
[GdO2] Co
Secretaria Mu
vou colocar o

Figura 04 – Grupo Folclórico Tanzen Freude Und Liebe

Fonte: Prefeitura Municipal de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (2015).

Duvida?? [SdM3] Co
e qual a 04??
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Outro elemento cultural bem significativo para o município é a Festa do Pão de Milho,
iniciada em 1993 por iniciativa do padre holandês Sebastião Van Lieshout (1970-1992), então líder
da Paróquia de São Bonifácio, que idealizou criar a festa do alimento característico da região, o
pão de milho. A ideia recebeu apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de
Santa Catarina – EPAGRI, por meio de seu escritório local, que viu na festa uma forma de divul-
gar aos visitantes de São Bonifácio a produção agropecuária do município (BOEING, 2011). As
imagens 4a e 4b apresentam o desfile típico na tradicional Festa do Pão de Milho e como acontece
a produção artesanal do alimento.
Imagens 4a e 4b - Desfile da imigração alemã na Festa do Pão de Milho, em 2014, e produção
Imagens 4a e 4b - Desfile dade
imigração
pão dealemã
milhona
naFesta do Pão de Milho,
residência Renitraem 2014, e produção de pão de milho na
Hawerroth
residência de Renitra Hawerroth

Imagens 4a e 4b - Desfile da imigração alemã na Festa do Pão de Milho, em 2014, e produção


de pão de milho na residência de Renitra Hawerroth

Fontes: Acervo pessoal de Adilson Tadeu Basquerote Silva (2014).


Fontes: Acervo pessoal de Adilson Tadeu Basquerote Silva (2014).

58 São Bonifácio também se destaca pelo variado patrimônio natural existente no muni-
cípio. A quantidade de cachoeiras em seu território lhe confere o título de “Capital Catarinense
das Cachoeiras”
Imagens 5a(Lei
e 5bEstadual nº Dona
- Cachoeira 13.096 de(localizada
Bebê 18/08/2004). As inúmeras
na propriedade nascentes
de Teresinha de águas
e Kraus) e ea
topografia acidentada propiciaram
Fontes: Acervo pessoal cachoeira
o de
surgimento Evilasio Norbal
de belíssimas
Adilson Tadeu quedas
Basquerote de água, ideais para banho
Silva (2014).
e esportes de aventura. Em algumas delas, o acesso acontece por trilhas ecológicas. Segundo
Oliveira (2015), algumas já contam com um acesso facilitado, mas outras carecem de mais infraes-
trutura. As imagens 5a e 5b apresentam uma amostra do patrimônio natural do município.
Imagens 5a e 5b - Cachoeira Dona Bebê (localizada na propriedade de Teresinha e Kraus) e
Imagens 5a e 5b - Cachoeira Dona Bebê cachoeira Evilasio
(localizada na Norbalde Teresinha e Kraus) e cachoeira Evilasio Norbal
propriedade

Fontes: Prefeitura Municipal de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo


(2015).

Fontes: Prefeitura Municipal de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (2015).


Fontes: Prefeitura Municipal de São Bonifácio/Secretaria Municipal de Cultura e Turismo
(2015).
Conforme a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Bonifácio, o município
apresenta o relevo entrecortado de planícies e serras cobertas de mata nativa, o que favorece
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

o traçado de trilhas por ambientes de vegetação original e cachoeiras. As trilhas são inúmeras,
algumas com possibilidades de exploração turística imediata e outras ainda precisando ser devi-
damente trabalhadas, mas necessitando sempre do acompanhamento de um guia local.
Merece destaque também a atuação do programa Associação de Agroturismo Acolhida
na Colônia. Atualmente, o município conta com cinco propriedades filiadas, que oferecem hospe-
dagem, alimentação e atividades de integração aos turistas nas atividades desenvolvidas nas
propriedades.

GESTÃO INTEGRADA DO PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL EM SÃO


BONIFÁCIO

Nos anos em que a pesquisa de campo foi realizada (2013 e 2014), estavam à frente da
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Bonifácio dois servidores, o secretário muni-
cipal (gestor 1, G1) e a assistente administrativa (gestor 2, G2), respectivamente, que tinham a
incumbência de desenvolver as atividades de planejamento e execução relativas à cultura e ao
turismo no município. Atualmente, ambos ainda exercem essas funções, facilitando a retomada
de contato e a coleta de dados. Dessa forma, foram obtidos relatos e descrições a respeito do
panorama da gestão integrada da cultura e do turismo no município, que reflete na conservação
dos patrimônios cultural e natural.
A gestão integrada, de acordo com Moraes (2010, p. 414), “[...] compreende um sistema
que interliga diversas áreas de processos de uma organização”. Em contexto semelhante, Chaib
(2005) afiança que nela há um conjunto de dados interdependentes, cujo resultado obtido com
59 a soma de todos os processos aplicados é maior do que se estiverem atuando separadamente.
Nesse cenário, a questão cultural perpassa os fatores econômicos, sociais e ambientais, conferin-
do-lhes um caráter de transversalidade.
A Gestão Integrada do Território incorpora uma variável fundamental: a cultura. Como
bem define Eliezer Batista (2014 apud MOTTA; NUNES, 2015, p. 183):

[...] a questão cultural passa a ter um efeito de transversalidade sobre os demais fato-
res. Ela costura as pontas econômica, social e ambiental, conferindo uma compreensão
integrada a algo até então visto de forma compartimentada, a partir de uma perspectiva
dissociada. A gestão integrada visa usar a cultura como elo.

De acordo com os questionários, por determinação legal, a gestão da cultura e do turismo


em São Bonifácio acontece de forma conjunta em uma única secretaria, fato que é considerado
positivo pelos gestores (G1; G2), tendo em conta que existem muitas ações e trabalhos correlata-
dos. Questionados sobre as dificuldades de gerenciar cultura e turismo, os destaques foram:

- Escassez de visão mais apurada e concreta do poder público municipal em relação à


cultura e ao turismo;
- Carência de autonomia da Secretaria de Cultura e Turismo para desenvolver ações
básicas;
- Falta a gestão participativa desta secretaria na destinação de recursos da Lei de Diretrizes
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Orçamentárias – LDO e do Plano Plurianual;


- Inexistência de conselho municipal de cultura e turismo;
- Falta interesse e apoio mais concreto dos parceiros turísticos e culturais;
- Formação adequada dos agentes turísticos e culturais. (G1; G2. Questionário respondi-
do em 24 de julho de 2014).

Segundo os gestores (2014), tais dificuldades interferem na eficiência da gestão da cultu-


ra e do turismo no município. Sendo assim, destacam algumas dificuldades estruturais e financei-
ras para uma gestão mais exitosa de sua secretaria, dentre elas:

- Ausência de posse de um veículo específico para secretaria para atender à demanda de


atividades externas;
- Expansão da autonomia da secretaria;
- Maiores recursos disponíveis para a secretaria;
- Expansão do quadro pessoal da secretaria (um funcionário para intermediar as ações
concretas entre a secretaria e agentes turísticos e culturais);
- Criação de um Conselho Municipal de Cultura e reativar o Conselho Municipal de
Turismo;
- Elaboração de um Plano Municipal de Cultura e Plano Municipal de Turismo;
- Maior integração entre os agentes turísticos e culturais, e entre esses com a secretaria
60 Municipal de Cultura e Turismo;
- Dificuldades para implementação de projetos em andamento. (G1; G2. Questionário
respondido em 24 de julho de 2014).

Apesar dos problemas supracitados, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São


Bonifácio já conseguiu atingir alguns dos seus objetivos. Entre os destaques mencionados estão
as:

- Dificuldades para implementação de projetos em andamento;


- Mapeamento com localização descritiva de acesso com fotos de 63 cachoeiras/corre-
deiras do município;
- Sinalização com placas nas propriedades para facilitar o acesso às cachoeiras e às trilhas
abertas à visitação;
- Confecção de placas de sinalização das vias, melhorando a localização dos empreendi-
mentos turísticos;
- Divulgação do município por meio de reportagens e documentários feitos pelas emis-
soras de TV Bandeirantes, Ric Record e RBS TV, retratando os atrativos turísticos de São
Bonifácio;
- Atualização do Portal Eletrônico de Turismo do município com a finalidade de apresen-
tar aos turistas seus atrativos, hospedagem, gastronomia, eventos, o patrimônio natural
paisagístico, entre outros;
- Confecção do folder “Roteiro Turístico Autoguiado”, indicando e localizando os princi-
pais atrativos turísticos e culturais do município;
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

- Reestruturação da Festa Regional do Pão de Milho, com ênfase para o desfile da colo-
nização alemã;
- Melhorias e apoio à conservação das grutas religiosas;
- Apoio aos técnicos do Sebrae para realização de visitas e consultorias gratuitas aos
proprietários dotados de algum patrimônio (em fase de construção);
- Integração do município em Roteiros Integrados com municípios da região para o forta-
lecimento da cultura e do turismo;
- Reabertura do Museu da Colonização Prof. Francisco Serafim Guilherme Schaden. (G1;
G2. Questionário respondido em 24 de julho de 2014).

Os gestores destacaram, ainda, que aguardam, há dois anos, a apreciação do poder públi-
co municipal quanto aos seguintes projetos:

- Limpeza de rios e riachos;


- Revitalização do monumento Heróis do Combate da Serra da Garganta;
- Construção do Centro Cultural da Imigração Alemã;
- Recuperação de casas em estilo enxaimel;
- Embelezamento paisagístico da cidade;
- Livro “São Bonifácio: Natureza, História e Cultura – 50 anos de Emancipação Política”.
(G1; G2. Questionário respondido em 24 de julho de 2014).
61
Os dados evidenciaram também que o caminhar da gestão do turismo e da cultura refle-
te de forma direta nos patrimônios culturais e naturais do município e que as atividades turísti-
cas existentes se baseiam nesses patrimônios, ou seja, as cachoeiras, as trilhas, as paisagens, a
comida típica, o presenciar de um saber fazer de algo tradicional, uma apresentação de dança
(manifestação cultural), entre outros são os elementos oferecidos aos turistas. Nesse sentido, é
conveniente que a gestão do turismo e da cultura aconteça de forma conjunta e integrada, pois,
ao compartilharem ações conjuntas, há uma maior eficiência no desenvolvimento do turismo e na
preservação do patrimônio, seja ele natural ou cultural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente capítulo teve como objetivo analisar as dificuldades da gestão integrada do


patrimônio natural e cultural no município de São Bonifácio, SC, a partir da gestão pública do
município.
Percebeu-se que realizar uma gestão integrada não é uma tarefa fácil, mesmo em São
Bonifácio, onde ela acontece por intermédio de uma única secretaria – a Secretaria Municipal de
Cultura e Turismo. A falta de integração entre a secretaria e o poder público municipal se apre-
senta como um entrave para uma atuação mais efetiva e eficaz da gestão integrada do patrimônio
cultural e natural no município.
Evidenciou-se que a atuação da gestão integrada no município está condicionada ao apoio
da prefeitura municipal e que nem sempre se faz acontecer. Em decorrência, a implementação de
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

ações e o desenvolvimento de novas iniciativas de atuação se tornam comprometidas ou morosas


para se perpetuarem.
Destacou-se que a deficiência de infraestrutura física e de material humano é condicio-
nante de uma ação mais efetiva da gestão integrada do patrimônio em São Bonifácio. Revelou-se
que a indisponibilidade de um veículo e de ampliação do quadro de servidores afeta de forma
direta nas ações da gestão do patrimônio no município.
Constatou-se que, apesar das características naturais do território serem favoráveis ao
desenvolvimento do turismo relacionado ao patrimônio natural, o diálogo com os proprietários
das áreas e a sua permissão para o acesso do turista ao recurso natural ainda é insuficiente frente
ao potencial que o território apresenta. Na mesma direção, apesar da aptidão para o turismo
relacionado ao patrimônio cultural de imigração alemã, ainda existe uma fraca articulação entre
a gestão pública e os munícipes. Embora já tenham sido mapeadas as propriedades e identificado
o seu potencial para a atividade turística, o número de residências que acolhem ou oferecem
produtos e serviços aos turistas é incipiente.
Verificou-se que São Bonifácio, dentro do seu potencial turístico, consegue oferecer
distintas opções de patrimônio natural e cultural aos visitantes. No entanto, há uma insuficiente
articulação entre a gestão do patrimônio natural e cultural no município, de modo que ainda seria
possível ampliar a atuação de seu setor turístico sem, contudo, comprometer a preservação de
seu patrimônio natural e cultural.
Evidenciou-se que, mesmo apresentando dificuldades, existem exitosas experiências
de promoção do turismo naquele local. Dentre elas se destacam as propriedades vinculadas ao
projeto Acolhida na Colônia, que oferecem hospedagem, alimentação, venda de produtos, além
62 da possibilidade de participar de atividades cotidianas e de turismo pedagógico. Ademais, exis-
tem produtores convencionais ou agroecológicos que comercializam parte da produção em suas
propriedades, enquanto outros comercializam em feiras ou terceirizam a comercialização. Isso
demonstra que há necessidade de uma maior articulação entre essas propriedades e a gestão do
turismo municipal.
Constatou-se, assim, que embora a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo encontre
fortes dificuldades, a gestão integrada do turismo e da cultura ocorre em São Bonifácio. Desde
que a atual gestão assumiu a Secretaria, diversas iniciativas e ações foram desenvolvidas, objeti-
vando a gestão e o desenvolvimento da cultura e do turismo no município. Ademais, os gestores
estão conscientes de que há ainda muita coisa a ser realizada.

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64
CAPÍTULO V
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO ARROIO CORNETA
COMO FERRAMENTA DE GESTÃO AMBIENTAL DA APA ROTA DO
SOL, SÃO FRANCISCO DE PAULA, RS

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan05

Eloisa Lovison Sasso - UERGS


Edison Claudiomiro Mucke da Rosa - UERGS
Daniel Brinckmann Teixeira - UERGS
Marcia dos Santos Ramos Berreta - UERGS

65

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Os recursos hídricos sofrem influência direta de atividades antrópicas. A água natural


suporta suas funções ecológicas em relação a um determinado ecossistema, além de suprir as
necessidades humanas relacionadas à indústria, à energia, à agricultura, entre outras (TUNDISI,
2000).
Infelizmente, a sociedade só se deu conta da gravidade da situação quando isso já era
demasiadamente preocupante e quando passou a ser um agravante para a sua própria saúde
(REBOUÇAS, 1999).
Este quadro atual que se vive, no qual muitas espécies estão ameaçadas e a saúde huma-
na também, nada mais é que o resultado de anos de mau gerenciamento de recursos hídricos e
do desperdício (REBOUÇAS, 1999).
Essa crise foi tomando proporções cada vez maiores com o avanço da tecnologia (leia-se
industrialização também) e, principalmente, com o aumento desenfreado da população urbana
(STRASKRABA, 1996).
Ironicamente, a maioria das doenças de veiculação hídrica provém de atividades huma-
nas, como o lançamento indiscriminado de efluentes de indústrias, a lixiviação de agrotóxicos em
lavouras e o despejo de esgotos em águas superficiais que, posteriormente, serão tratadas para o
consumo humano (STRASKRABA, 1996).
O Brasil é privilegiado com recursos hídricos superficiais (como o rio Amazonas) e subter-
râneos (como o Aquífero Guarani) de grande qualidade e vazão. Estima-se que em torno de 16%
66 da água doce do mundo se encontra em terras brasileiras (STRASKRABA, 1996). Contudo, na
região sul do País, já não existem mais recursos hídricos de qualidade para sustentar o consumo
humano. Há escassez de água, apesar dos rios de grande porte (como o rio Paraná, por exemplo)
(REBOUÇAS, 1999).
Isso ocorreu devido aos efeitos acumulativos de contaminação microbiológica e por
metais pesados (entre outros parâmetros) dessas águas por um amplo espectro de atividades,
como a agricultura, a indústria, a recreação, entre outras (REBOUÇAS, 1999).
Segundo Telles (2013), o início da preocupação com o meio ambiente se deu por volta
dos anos de 1960, nos EUA, propagando-se ao resto do mundo devido à simpatia com que outras
nações viam suas propostas de planejamento, gestão e avaliação de impactos ambientais.
Sob esse mesmo olhar de preocupação, a década de 1980 foi marcada por grandes
mudanças no paradigma do cenário ambiental nacional, com a criação da Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA) em 1981. Entre outras medidas, essa política instituiu os órgãos ambien-
tais regulamentadores. Por conseguinte, os bens classificados como naturais passaram a ser consi-
derados bens da união e patrimônio da comunidade brasileira (NEDER, 2002).
Nesse contexto, um dos mais notáveis meios encontrados para conservar e proteger o
meio ambiente foi o estabelecimento de Unidades de Conservação (UCs). De acordo com a Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000), as Unidades de Conservação são espaços territoriais
(incluindo águas jurisdicionais e suas características naturais relevantes) legalmente instituídos
pelo Poder Público, com objetivos de conservação.
Ainda de acordo com a Lei no 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação – SNUC (BRASIL, 2000), as unidades podem ser classificadas da seguinte forma
(Quadro 1):
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Quadro 1 - Classificação das Unidades de Conservação

Categoria UC Objetivo

Preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto


dos seus recursos naturais. São de posse e domínio
Proteção Integral público. Nessa categoria estão as estações ecológicas, as
reservas ecológicas, os parques nacionais, os monumentos
naturais e os refúgios de vida silvestre.

Compatibilizar a conservação da natureza com o uso


sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Podem
ser de posse e domínio público ou privado. Nessa categoria
estão as áreas de proteção ambiental, as áreas de
Uso Sustentável
relevante interesse ecológico, a Floresta Nacional, a
reserva extrativista, a reserva de fauna, a reserva de
desenvolvimento sustentável e a reserva particular do
patrimônio natural.

Fonte: Adaptado do Sistema Nacional de Unidades de Conservação − SNUC (Lei 9.985/2000).

O modo mais eficaz de preservação da biodiversidade é a conservação de comunidades


biológicas intactas. As comunidades biológicas podem ser preservadas por intermédio do estabe-
lecimento de áreas protegidas (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).
67
Entretanto, de acordo com o que nos sugere Muhle (2012), a criação de áreas protegidas
é um assunto muito delicado, que dá margem para conflitos e polêmicas, pois envolve desapro-
priação de terras e evacuação dos moradores locais, entre outros fatores. Além disso, tem-se a
preocupação de que nem sempre há garantias de que a área terá sua biodiversidade protegida.
O estado do Rio Grande do Sul (RS), além de contar com dois biomas diferentes (Mata
Atlântica e Pampa) em um espaço territorial diminuto, é caracterizado pela ampla diversidade de
espécies. Ele preserva, hoje, em torno de 2,67% de sua área. Desse total, 55,89% correspondem
às UCs sob a responsabilidade do Governo Federal, 37,18% às Unidades sob a responsabilidade do
Governo Estadual e 5,62% dessas UCs são responsabilidade das Prefeituras Municipais (BACKES,
2012), conforme podemos observar no Mapa 1:
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Mapa 1 - Unidades de Conservação do Rio Grande do Sul


Figura 1 - Unidades De Conservação Do Rio Grande Do Sul

Fonte: Biomas do RS (2011).


Fonte: Biomas do RS (2011).

Pode-se notar que a maioria das Unidades de Conservação está localizada no eixo norte-
-nordeste do Estado, em área onde predomina o bioma Mata Atlântica, que apresenta formações
campestres denominadas Campos de Altitude do Planalto das Araucárias ou, ainda, Campos de
Cima da Serra, sua alcunha mais famosa (BOLDRINI, 2009).
Na região dos Campos de Cima da Serra, a paisagem é composta por mosaicos de florestas
e campos, formando uma beleza cênica incomparável, tendo por espécie emblemática o Pinheiro-
68
do-Paraná (Araucaria angustifolia) (BENCKE et al., 2006).
A flora serrana é caracterizada por diversos endemismos, sendo que muitas das espécies
estão ameaçadas de extinção. Quanto à fauna, de toda a área de Mata Atlântica no Brasil, há 250
espécies, das quais 55 são endêmicas da região (BENCKE et al., 2006).
De acordo com Silva (2002), a região citada caracteriza-se pela presença de banhados de
altitude, que abrigam inúmeras nascentes, as quais contribuem diretamente para a formação da
Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí.
Tais banhados são abrigados por turfeiras (associações de plantas formadas pelo acúmulo
e decomposição de vegetais em ambientes saturados por água), imprimindo ao cenário dos
Campos de Cima da Serra uma condição muito peculiar, conforme pode ser visto na Imagem 1:
Figura 2 - Banhado de Altitude Típico da Região dos Campos de Cima da Serra
Imagem 1 - Banhado de altitude típico da região dos Campos de Cima da Serra

Fonte:Fonte:
Caminhos do do
Caminhos SulSul
(2015).
(2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Devido ao fato de os rios serem típicos das terras altas, com águas rápidas e cristalinas, e
o substrato rochoso, associado às águas límpidas e à intensa radiação solar, proporcionar a proli-
feração de algas, a ictiofauna é ricamente biodiversa (BOND-BUCKUP, 2008).
Conforme a Divisão de Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul, 21 municípios
situados no litoral norte são banhados pela Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí (Mapa 2), que
tem suas principais nascentes localizadas no município de São Francisco de Paula (FEPAM, 2002).
Segundo Mello e Castro (2013), essa bacia hidrográfica é unidade territorial básica de
gestão de recursos hídricos e ambiental como um todo. Nesse sentido, devido à sua importância,
um Comitê de Gerenciamento da Bacia foi criado como instância pública para a definição quanto
ao uso da água, a fim de garantir que a sua quantidade seja apropriada para todos os municípios
envolvidos e, sobretudo, que sua qualidade seja sempre preservada.
Figura 3 - Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí
Mapa 2 - Bacia Hidrográfica do rio Tramandaí

69

Fonte: Profill (2005).

Fonte: Profill (2005).


Na área da Bacia existem nove Unidades de Conservação, destacando-se a ESEC Aratinga,
de proteção integral, e a APA Rota do Sol, de uso sustentável (Mapa 1).
A ESEC4 Aratinga situa-se nos municípios de São Francisco de Paula (45,31%) e de Itati
(54,69%) e possui uma área territorial de 6.020 ha. Atualmente, 32%, de forma gradual, já foram
desapropriadas e indenizadas (regularização fundiária).
Além de abrigar inúmeras espécies animais e vegetais ameaçadas e em risco de extinção,
a ESEC tem como característica principal e foco de preservação as nascentes do Arroio Carvalho,
principal tributário do rio Três Forquilhas (RIO GRANDE DO SUL, 1997a).
Contornando a ESEC, encontra-se a APA Rota do Sol (52.355 ha), que busca preservar os
recursos hídricos existentes em seus domínios, uma vez que algumas nascentes de tributários, tal
como o Arroio Corneta, nascem em suas mediações (RIO GRANDE DO SUL, 1997b).
4
Estação Ecológica.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A área dessa APA distribui-se entre os municípios dos Campos de Cima da Serra e a
Encosta do Planalto da seguinte forma: São Francisco de Paula (49,99 %), Itati (20,77 %), Três
Forquilhas (15,54 %) e Cambará do Sul (13,7 %) (RIO GRANDE DO SUL, 1997b).
Agindo como um verdadeiro escudo da biodiversidade, a APA Rota do Sol, pertencente
ao grupo de UC de uso sustentável, tem como principal objetivo mitigar ações antrópicas e possí-
veis impactos ambientais, a fim de preservar as nascentes da ESEC Aratinga. A localização de tais
unidades de conservação pode ser observada no mapa 3 abaixo:

Figura 4 Mapa 3 - Mapa


- Mapa de localização
Localização Das das
UcsUcs ApaRota
Apa Rota do
DoSolSol
e Esec Aratinga
E Esec Aratinga

70 Fonte: Acervo dos Autores (2016).


Fonte: Acervo do Autor (2016).

De modo geral, para a avaliação dos impactos ambientais em ecossistemas aquáticos −


sejam eles de origem antrópica ou em decorrência de fenômenos naturais − tem sido realizada a
avaliação de parâmetros físico-químicos e microbiológicos (GOULART; CALLISTO, 2003). A avalia-
ção da qualidade da água, conforme Goulart e Callisto (2003), é um evento importante, pois, ao
avaliar as condições em que ela se apresenta, é possível se ter uma dimensão do problema e de
que forma ele afeta as comunidades da biota aquática. Além disso, em casos de contaminação por
metais pesados oriundos de agrotóxicos, há grandes chances de ocorrer bioacumulação desses
tóxicos na fauna do ecossistema aquático em questão.
O uso de Protocolos de Análise Rápida de Diversidade de Habitats (PAR) vem crescen-
do nos últimos anos e se mostrando muito útil como ferramenta de apoio em monitoramentos
ambientais em bacias hidrográficas. Isso se deve ao fato de ser de fácil aplicação e muito eficaz,
pois a fauna aquática geralmente depende de condições muito específicas, que não dependem
exclusivamente da qualidade da água (CALLISTO et al., 2002).
Este estudo se baseia na avaliação visual do local, classificando-o como ótimo (trecho
natural, preservação eficaz), passando por níveis intermediários até chegar a ruim (trecho altamen-
te impactado e preservação pobre ou inexistente). Sua proposta é avaliar a qualidade das águas
da sub-bacia hidrográfica do arroio Corneta, situada na Área de Proteção Ambiental (APA) Rota
do Sol, na região nordeste do Rio Grande do Sul (RS). Essa sub-bacia pertence à Bacia Hidrográfica
do rio Tramandaí, tem suas nascentes no Banhado Amarelo e seu exutório no arroio Carvalho,
situado na Estação Ecológica (ESEC) Aratinga, que contribuiu, junto com o arroio do Pinto, para
o surgimento do arroio Três Forquilhas, um dos principais sistemas hídricos de fornecimento de
água doce para as lagoas costeiras do litoral norte do Rio Grande do Sul.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Atualmente, não existe uma rede de monitoramento das águas para o controle da
poluição e da contaminação hídrica nessas Unidades de Conservação (UCs), o que dificulta a
análise ambiental referente às condições desses ecossistemas aquáticos. Ressalta-se que a APA
tem como uma de suas funções propiciar uma zona de amortecimento à ESEC, ao mesmo tempo
que esta última deverá proteger os recursos hídricos de seu território. Assim, a escolha do tema
surgiu dessa problemática que envolve o monitoramento ambiental da APA, a qual serve de zona
de amortecimento da ESEC Aratinga.
Estudos realizados pelo Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CECLIMAR) e pela Ação Nascente Maquiné (ANAMA)
apresentaram dados sobre a qualidade das águas dessa sub-bacia a partir da análise de parâme-
tros físicos, químicos e microbiológicos (CASTRO; ROCHA, 2016).
As análises dos resultados indicaram que os altos índices de coliformes fecais encontra-
dos nas águas do arroio Corneta são preocupantes, pois comprometem localmente as condições
daquele sistema hídrico e a saúde da população, bem como regionalmente, uma vez que contri-
buem para a eutrofização da lagoa de Itapeva, a qual recebe as águas da rede hidrográfica do
arroio Três Forquilhas e é um importante ponto de captação para o abastecimento doméstico do
litoral.
A média encontrada nesse parâmetro foi alta, na faixa de 1.550 NMP/100 mL durante o
monitoramento entre abril de 2014 e outubro de 2015. Esses índices podem estar relacionados
às residências que se situam ao longo da rede de drenagem e que se abastecem das águas da
sub-bacia ao mesmo tempo que as contaminam com o esgotamento doméstico.
Além disso, suas águas servem de dessedentação para os animais, tanto para os de cria-
71 ção como para os silvestres, como também de balneário nos períodos mais quentes da região.
Para a gestão das águas nesses ambientes, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA)
propôs, por meio da Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, que as águas que servem para
a preservação dos ambientes aquáticos em UCs de Proteção Integral devem ser classificadas
como Classe Especial, devendo ser mantidas, portanto, as condições naturais daquele manancial
(BRASIL, 2005).
Mesmo o enquadramento da bacia hidrográfica do rio Tramandaí prevendo que o arroio
Carvalho, que recebe as águas da sub-bacia do arroio Corneta e se encontra dentro da ESEC, seja
de Classe 1, as condições das águas devem estar numa situação de qualidade ambiental favorável.
O monitoramento das águas de uma bacia hidrográfica é um dos mais importantes
instrumentos da gestão ambiental. Ele consiste, basicamente, no acompanhamento sistemático
dos aspectos qualitativos das águas, visando à produção de informações. É destinado à comuni-
dade científica, ao público em geral e, principalmente, às diversas instâncias decisórias, como os
Conselhos de UC.
Portanto, esta pesquisa é relevante, pois poderá servir de subsídio para os gestores
dessas UCs e contribuir com um Plano de Monitoramento da Qualidade das Águas.

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo é a sub-bacia hidrográfica do arroio Corneta. Seus cursos d’água nascem
no Banhado Amarelo e percorrem parte do território da APA Rota do Sol, a leste da rodovia Rota
do Sol (RS 486). Seu exutório localiza-se na ESEC Aratinga, que deságua no arroio Carvalho.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A área contemplada pelo estudo situa-se nas localidades de Josafaz e Vila de Aratinga,
pertencentes ao município de São Francisco de Paula. A fim de realizar uma amostragem mais
homogênea e representativa da dimensão da poluição no arroio Corneta, realizou-se a coleta de
água no dia 22 de junho de 2015 (Imagens 2 e 3), obtendo-se uma amostra em cada ponto, em
um total de quatro pontos diferentes, conforme Quadro 2.

Quadro 2 - Localização dos pontos de coleta de água

Ponto de
Localização
amostragem

1 Ponte na comunidade de Josafaz (-29o.18’46,3”;-50o.10’15,1”)

2 Vila de Aratinga (-29o 20’26,4”;-50 o 11’15,0”)

3 Vila de Aratinga (- 29º 20’ 25,5”;-50º 11’ 14,3”)

Imagem 2 - Coleta de Amostra na Comunidade de Josafaz


4 Vila de Aratinga, exutório do arroio Corneta (- 29º 20’27,2”;-50º 11’18,0”)

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).


Imagem 2 - Coleta de Amostra na Comunidade de Josafaz
Imagem 2 - Coleta de Amostra na Comunidade de Josafaz
72

Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).

Fonte:
Imagem 3 - Controle das Acervo
Condiçõespessoal dos autores
Ambientais (2015). e pH) e Coleta de
(Temperatura
Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).
Amostra na Vila de Aratinga
Imagem 3 - Controle das Condições Ambientais (Temperatura e pH) e Coleta de Amostra na Vila de Aratinga

Imagem 3 - Controle das Condições Ambientais (Temperatura e pH) e Coleta de


Amostra na Vila de Aratinga

Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).


Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).

Fonte: Acervo pessoal dos autores (2015).


PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A metodologia de avaliação da qualidade da água compreendeu o cálculo dos índices de


qualidade da água (IQA) e o índice de estado trófico (IET). Além desses índices, foram avaliados
todos os parâmetros previstos para o IQA, que são: oxigênio dissolvido, coliformes termotoleran-
tes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, temperatura da água, nitrogênio total, fósforo total,
turbidez e resíduo total. Por fim, os resultados obtidos para tais parâmetros foram comparados
aos valores máximos previstos na Resolução nº 357/2005 do CONAMA.
Além da avaliação dos índices, aplicou-se o índice PAR (Peer Assessment Rating)5, adap-
tado do modelo de Callisto et al. (2002), que compreendeu 22 etapas de observação e notificação
das condições das matas ciliares de cada ponto de amostragem.
Para o processamento da informação, a partir dos dados obtidos nos laudos de labora-
tório, utilizou-se o IQA Data, elaborado por Posselt e Costa (2010), cujo software utilizado permi-
tiu cadastrar os pontos de coletas, adicionando informações pertinentes às condições em que a
amostra foi coletada (posição geográfica, altitude, temperatura, entre outras) e calcular o IQA.
Segundo Telles (2013), o IET é obtido por meio do cálculo:

0,36(𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙)
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 = 10𝑥𝑥 (6 − (0,42 − ))
𝑙𝑙𝑙𝑙2

cujo fósforo total (PT) é expresso em µg/L.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

73 Após ter sido feita a coleta das amostras de água, essas foram encaminhadas para a análi-
se em laboratório. Os parâmetros estipulados, bem como os resultados obtidos, encontram-se na
tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – Resultados laboratoriais dos parâmetros de qualidade de água

Parâmetros Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

Temperatura (º C) 9 9 9 9

Turbidez (NTU) 3,70 3,66 2,00 4,55

Sólidos Totais 45,0 49,0 47,0 43,0


(mg/L)

pH 6,66 7,07 7,04 7,19


OD (mg O2/L) 9,97 10,16 10,52 10,59

Fósforo (mg P/L) Nd 0,154 nd nd

Nitrogênio (mg 0,31 0,43 0,33 0,41


NH3-N/L)

Coliformes 2,0X101 1,1x103 1,3x102 7,9x102


termotolerantes
(NMP/100mL)

DBO 5 (mg nd 1,7 nd 1,7


O2/L)

Fonte: Elaborada pelos autores (2015).

5
Classificação de Avaliação dos Pares.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Sobre o IQA

Com base nos resultados obtidos, referentes aos quatro pontos de coleta, realizou-se a
classificação do IQA conforme as faixas de qualidade da água apresentadas pelo CETESB (2013)
na Tabela 2.

Tabela
Tabela2 –2 Faixas de qualidade
– Faixas da água
de Qualidade conforme
da Água o IQA o IQA
Conforme

Faixa Nível de Qualidade

90 < IQA ≤ 100 Excelente

70 < IQA ≤ 90 Bom

50 < IQA ≤ 70 Regular

25 < IQA ≤ 50 Ruim

00 < IQA ≤ 25 Muito ruim

Fonte:CETESB,
Fonte: (2013).
CETESB (2013). [SdM1] Comentário: Verif
é a fonte?

De acordo com os resultados obtidos nos quatro pontos de amostragem coletados, o


74 nível de qualidade da água pode ser considerado Bom.

Sobre o IET

A avaliação da qualidade das águas pelo IET é pertinente, pois o parâmetro utilizado
(fósforo total) é um indicador de contaminação por atividades agrícolas. Nessa sub-bacia existem
muitas áreas de silvicultura nos arredores e também a supressão dos limites da APA pelo aumen-
to das fronteiras agrícolas. Os resultados encontrados em laboratório para o parâmetro fósforo
apontaram a ausência desse elemento nas amostras dos pontos 1, 3 e 4. O ponto 2, por sua vez,
apresentou 0,154 mgP/L. Procedeu-se o cálculo do IET para o ponto 2 por intermédio do cálculo
destacado na parte de materiais e métodos deste trabalho. A classificação do nível de estado
trófico das amostras foi realizada com o auxílio da Tabela 3.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Tabela3 3– –Classificação
Tabela Classificação
do do Estado
Estado Trófico
Trófico Conforme
Conforme IET para
IET para Corpos
Corpos Hídricos
Hídricos
Categoria estado trófico Ponderação

Ultraoligotrófico IET ≤ 47

Oligotrófico 47 < IET ≤ 52

Mesotrófico 52 < IET ≤ 59

Eutrófico 59 < IET ≤ 63

Supereutrófico 63 < IET ≤ 67

Hipereutrófico IET> 67

Fonte: CETESB (2013). [SdM1] Comentário: Verifi


Fonte: CETESB, (2013).

Para todas as amostras coletadas, os valores encontrados de fósforo correspondem a


valores IET ≤ 47, o que corresponde à Classe Ultraoligotrófica de Eutrofização. Isso implica dizer
que em todas as amostragens a concentração de nutrientes é insignificante.

Sobre o PAR

75 De acordo com o trabalho realizado por Sutil (2014), para aplicar o PAR, deve-se atribuir
valores para cada um dos parâmetros. Do número 1 até 11, eles variam entre zero a quatro, de
acordo com o grau de impactação do local. Do parâmetro 12 ao 22, os resultados são expressos
em porcentagem, sendo que os trechos ditos naturais variam de zero a cinco pontos, tendo o
trecho impactado valor zero e o não impactado valor cinco.
Assim sendo, para os diferentes pontos de amostragem, observou-se que:

• Ponto 1 - a pontuação correspondeu a 69, que representa o trecho natural (não há


impactação), apesar da construção da ponte de pequeno porte.
• Ponto 2 - a aplicação do PAR gerou uma contagem total de 59 pontos. Esse ponto
apresenta algumas características imediatas de impactação ambiental, tais como a
destruição das margens para a passagem de maquinário e insumos agrícolas.
• Ponto 3 - o valor alcançado foi de 72 pontos. Apesar de estar situada em uma área
de serraria onde há confinamento de animais e silvicultura, esse ponto se caracteriza
como um trecho natural, com a presença de vegetação ciliar.
• Ponto 4 - a observação da área gerou um somatório de 52 pontos. Pela classificação
proposta pela metodologia, a área representaria uma condição de trecho natural, pois
o valor obtido é superior a 46 pontos. Todavia, observou-se a presença de material
flutuante na água (espumas), cheiro de dejetos de animais e a presença de resíduos
sólidos (garrafas PET e sacolas plásticas).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Sobre a Resolução CONAMA no 357/2005

De acordo com os resultados obtidos, os parâmetros analisados obtiveram resultados


aceitáveis para Classe Especial, com exceção dos parâmetros fósforo total e coliformes termoto-
lerantes que apresentaram valores acima dos valores máximos permitidos no segundo ponto de
amostragem. Conforme a Resolução CONAMA no 357/2005, o número mais provável de coliformes
presentes em 100mL de amostra não deve exceder 200 indivíduos (BRASIL, 2005). Os resultados
obtidos para os pontos 2 e 4 apresentaram 1100 NMP/100mL e 790 NMP/100mL. Para o parâ-
metro de fósforo total, conforme essa mesma resolução, o limite máximo permitido corresponde
a 0,1mg/L de fósforo. O resultado obtido para o Ponto 2 apresentou 0,154 mgP/L. Isso pode ser
consequência das ações antrópicas do local (alguns pequenos impactos, como presença de lixo na
várzea, presença de animais soltos, danificação das duas margens para passagem de implementos
agrícolas, entre outros fatores).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se perceber, pela metodologia aplicada, que a área com maior índice de fósforo e
coliformes termotolerantes foi observada nos pontos 2 e 4, que se situam próximo às residências.
No momento da coleta, observaram-se dejetos de animais e lixo no leito do rio, além da
presença de espumas e sólidos em suspensão. Isso deflagra que as ações antrópicas são poten-
cialmente danosas ao meio ambiente e interferem de maneira direta na qualidade ambiental da
76 água. Além disso, a região vem sofrendo com a intensificação da agricultura, com as lavouras e
hortaliças diversas.
A aplicação do PAR mostrou-se um método muito didático, pois permitiu que até mesmo
as pessoas da comunidade lançassem um olhar crítico sobre a qualidade ambiental naquele lugar.
Observou-se que as áreas onde a mata ciliar está seriamente danificada, como os pontos próxi-
mo à serraria, foram consideradas as de maior impacto pelo PAR, visto que tais pontos foram os
que apresentaram os piores resultados físico-químicos e microbiológicos, o que permitiu avaliar
o método como sendo efetivo.
Assim, a partir dos dados obtidos neste estudo, pode-se afirmar que a APA Rota do Sol
talvez não seja tão eficaz na sua função de amortecedora de impactos ambientais sobre a ESEC
Aratinga.
Finalmente, recomenda-se um monitoramento por um período maior de tempo, tendo
em vista que este trabalho foi realizado com apenas uma amostragem. Na continuidade deste
estudo, que se dará no segundo semestre de 2016, período com mais escassez hídrica, uma nova
amostragem será coletada, a fim de comparar os dados obtidos e dar continuidade ao Plano de
Monitoramento.

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CAPÍTULO VI
IMPACTOS AMBIENTAIS NA ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL DO RIO MAIOR, NO MUNICÍPIO DE
URUSSANGA/SC

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan06

Nilzo Ivo Ladwig - UNESC


Jairo José Zocche - UNESC
Andréia Gimenes Amaro - UNESC
Cristiane Scussel - UNESC

79

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

As pressões causadas ao meio ambiente pela ação antrópica tornam cada vez mais urgen-
tes medidas preventivas de planejamento e gestão dos espaços naturais e produzidos, sendo um
exemplo a urbanização desordenada em áreas de preservação, a qual compromete o equilíbrio
dos ecossistemas, colocando em risco a biodiversidade e a manutenção da vida.
Diante dos problemas ambientais da urbanização, que geram impactos no solo, na
água, no ar e na vegetação, Dias (2011) argumenta que manter o meio ambiente ecologicamente
equilibrado é um dever que tem respaldo em leis, decretos e resoluções que apontam para a
sustentabilidade. Assim, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) criou resoluções que
são largamente utilizadas pelos órgãos ambientais, com o intuito de proteger os recursos natu-
rais, sendo que em 1990 já havia sido criada a Resolução CONAMA nº 13/1990 (BRASIL, 1990),
dispondo sobre as normas referentes às atividades desenvolvidas no entorno das Unidades de
Conservação (UC), determinando que o órgão responsável por cada uma delas (em conjunto com
os órgãos licenciadores e de meio ambiente) definirá as atividades que possam afetar a biota,
devendo ser obrigatoriamente licenciada a atividade com significativo potencial de degradação,
se existente num raio de 10 km circundante à UC (CONAMA, 2008).
Após a Lei Federal nº 9.985/2000 (BRASIL, 2000), que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), dividiu as Unidades de Conservação (UC) em
dois grupos com características específicas: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso
Sustentável, que, por sua vez, são organizadas em “categorias de manejo”, as quais determinam o
uso que será permitido para cada unidade. As Unidades de Uso Sustentável admitem a presença
80 de moradores e têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso susten-
tável de parte de seus recursos naturais, sendo a Área de Proteção Ambiental (APA) uma das
categorias.
De acordo com a Lei Federal nº 9.985/2000 (BRASIL, 2000), as UC têm como objetivos:
contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos; proteger as espé-
cies ameaçadas de extinção; contribuir à preservação e à restauração da diversidade de ecos-
sistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável; proteger paisagens naturais e de
notável beleza cênica; recuperar ecossistemas degradados; proporcionar incentivos à atividade
de pesquisa científica, educação e monitoramento ambiental, bem como proteger os recursos
naturais necessários à sobrevivência humana (BRASIL, 2006).
O SNUC é gerido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), órgão central coordenado
pelo CONAMA, que acompanha a implementação do sistema, e pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que administra as UC. Em 2002, foi criado
o Decreto Federal nº 4.340/2002 (BRASIL, 2002), que regulamenta alguns artigos da Lei do SNUC,
tratando da criação da UC, dos limites em relação ao subsolo, do plano de manejo, do conselho a
ser criado, da autorização para exploração de bens e serviços, do reassentamento das populações
tradicionais, dentre outras questões.
Pela importância que a bacia hidrográfica do rio Maior tem para o abastecimento público
de água é que o município de Urussanga, por meio da Lei nº 1.665/1998 (PREFEITURA MUNICIPAL
DE URUSSANGA, 1998), criou a Área de Proteção Ambiental do rio Maior, com o objetivo de garan-
tir a conservação de expressivos remanescentes de floresta ribeirinha e dos recursos hídricos ali
existentes; melhorar a qualidade de vida da população residente por meio da orientação e disci-
plina das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico, a educação ambiental e a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

pesquisa científica; preservar o patrimônio cultural e arquitetural do meio rural, além de proteger
espécies ameaçadas de extinção (PREFEITURA MUNICIPAL DE URUSSANGA, 1998).
Assim, por meio dos atos do Poder Público, é que se criam as Unidades de Conservação,
onde, a priori, devem ser realizados estudos técnicos sobre o local a ser implantada a unidade e,
em seguida, fornecidas as informações à população local, para que possa participar efetivamente
das ações propostas, além de criar um Plano de Manejo para a área a ser protegida. Mesmo com
todas essas leis, ainda ocorre ilegalidade e/ou conflitos de entendimento no que se refere ao seu
cumprimento, seja pela falta de pessoal ou por negligência das autoridades fiscalizadoras.
Para Peres e Silva (2013), embora a dimensão ambiental tenha recebido destaque na
definição de políticas públicas brasileiras com a criação de diversos planos e instrumentos legais,
em se tratando de ordenamento territorial e planejamento regional, não houve a efetivação de
uma política articulada, ou seja, urbana e ambiental. Essa ocupação desenfreada e sem limites
leva a conflitos socioambientais (MELLO-THÉRY, 2011; NASCIMENTO; BURSZTYN, 2012; FONTES;
GUERRA, 2016) que ora refletem ações positivas, no sentido de unir os atores locais para possíveis
tomadas de decisão, ora desencadeiam atritos e desentendimentos. Assim sendo, as relações
entre homem e natureza devem ser consideradas sob uma perspectiva holística na qual todos os
fatores estão conectados e se interdependem.
São muitos os conflitos existentes pela ocupação urbana irregular em Unidades de
Conservação de Uso Sustentável. Para Fontes e Guerra (2016), compreendê-los é importante para
a formulação das políticas e diretrizes que envolvem a construção da gestão e do manejo das UC,
pois, em última análise, os conflitos refletem o processo histórico das lutas sociais e da transfor-
mação econômica na construção dos espaços geográficos.
Nesse contexto, Palavizini (2012) traz a importância da transdisciplinaridade como meio
81 de planejar e gerir o território e o espaço nele ocupado. As bacias hidrográficas têm se constituído
em importantes unidades de planejamento e gestão, pois a preservação dos recursos hídricos
foi uma das temáticas que evidenciou a necessidade de ações regionais conjuntas, uma vez que
ultrapassa fronteiras político-administrativas (PERES; SILVA, 2013).
Na busca para garantir que as normas estabelecidas pela legislação vigente sejam cumpri-
das, diversas técnicas de diagnóstico de monitoramento ambiental, desenvolvidas com o uso da
técnica de geoprocessamento, possuem fundamental importância no planejamento e gestão
territorial. As análises sobre o uso e a ocupação da terra se intensificaram por causa do auxílio
de técnicas espaciais, como as de geoprocessamento, que contribuem para o monitoramento
ambiental (RODRIGUES et al., 2014). A escolha dessa área para estudo foi em função de estar
inserida em uma Área de Proteção Ambiental e já se terem passado 17 anos, desde a sua criação,
e nada ter sido feito, na prática, para a implantação do plano de manejo.
Os recursos hídricos da bacia do rio Maior são importantes, uma vez que suas águas são
utilizadas para abastecimento público, abastecimento familiar rural – por meio de poços artesia-
nos –, dessedentação de animais e irrigação de horticultura. Assim sendo, o estudo teve como
objetivo analisar se o processo de ocupação urbana na bacia hidrográfica do rio Maior, localizada
no município de Urussanga, estado de Santa Catarina, está alinhado às normatizações previstas
nas leis que regem esse espaço geográfico específico em se tratando de uma APA.

MATERIAL E MÉTODOS

A bacia hidrográfica do rio Maior localiza-se no município de Urussanga, região sul do


estado de Santa Catarina, entre as coordenadas geográficas de 28º26’11’’– 28º31’28’’ latitude sul
e 49º16’44’’– 49º20’00’’ longitude oeste de Greenwich (Mapa 1).
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Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Maior


Mapa 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Maior
[SdM1] Comentário: Fo

82

Fonte: MATOS (2015).

A bacia hidrográfica do rio Maior possui área de 25,6 km², 15,50 km de extensão e apre-
senta altitude máxima de 425 m e mínima de 35 m. O clima da região, segundo Köppen, é do tipo
Cfa, com média anual de precipitação entre 1300 a 1600 mm. Está inserida na unidade geomor-
fológica Depressão da Zona Carbonífera Catarinense, que se caracteriza por apresentar solos das
classes Cambissolo (Ca14) e Argissolo (PVa9) (EMBRAPA, 2004; ALVARES et al., 2014; BACK et al.,
2016).
Tem suas nascentes na porção nordeste da bacia e exutório na confluência com a bacia
hidrográfica do rio Carvão. As duas bacias são formadoras da bacia hidrográfica do rio Urussanga,
que deságua no Oceano Atlântico. A densidade da drenagem da microbacia do rio Maior é supe-
rior a 3,50 Km/km², índice que demonstra solos excepcionalmente drenados, o que pode ser
constatado pelo número de 350 tributários do rio principal, considerando a escala cartográfica de
1:5000. Drena a área do domínio da Cobertura Sedimentar Gonduânica da Bacia do Paraná e do
Pré-Cambriano − Suíte Intrusiva Pedras Grandes (BACK et al., 2016).
Foram usados como documentos cartográficos imagens ortorretificadas, composição
RGB, com resolução espacial de 0,39 metros, modelo digital de terreno na escala 1:10.000, arqui-
vo vetorial da rede hidrográfica ottocodificada e mapa temático de uso e cobertura do solo refe-
rente ao ano de 2011, disponibilizados pelo Laboratório de Planejamento e Gestão Territorial da
Universidade do Extremo Sul Catarinense (LabPGT, 2016), que serviram de base para a mensura-
ção das áreas de uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

As leituras realizadas sobre o tema auxiliaram na definição dos métodos de análise, além
do registro fotográfico, que foi útil para ilustrar e melhor analisar as classes de uso e cobertura da
terra e seus possíveis impactos. Nas visitas a campo, além das observações sobre a ocupação do
espaço geográfico, foram feitas medições no terreno com trena métrica, com o intuito de verificar
se estão sendo cumpridas as determinações previstas na legislação vigente em relação à faixa de
proteção de 50 m, definida para proteção das nascentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nas análises realizadas em laboratório e comprovadas posteriormente no estu-


do de campo, pôde-se constatar que o uso e a cobertura da terra na bacia hidrográfica não condi-
zem com as normatizações estabelecidas na legislação e que a negligência na fiscalização por
parte dos órgãos responsáveis, aliada à falta de sensibilização e consciência da população local,
está causando significativos danos aos ecossistemas.
Os problemas ambientais decorrentes da ocupação antrópica comprometem a qualidade
e a integridade das nascentes e cursos d’água e interferem negativamente no abastecimento dos
núcleos urbanos e na manutenção da biodiversidade como um todo.
O capítulo V da Lei n° 1.665/98 (PREFEITURA MUNICIPAL DE URUSSANGA, 1998), que
dispõe sobre os projetos de urbanização e dos loteamentos rurais, trata da implantação de siste-
mas de coleta e tratamento de esgoto, exigências para a aprovação de projetos de urbanização. O
Mapa 2, que segue, apresenta as classes de uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica. A área
representada pela cor vermelha reflete a ocorrência dos locais de maior urbanização, situados às
83 margens da Rodovia SC-108, que liga Orleans-Criciúma. Pôde-se verificar a falta de planejamento
e fiscalização na ocupação do espaço, pela presença de residências e empreendimentos comer-
ciais e industriais construídos sobre a Área de Preservação Permanente (APP) do rio, inclusive com
o lançamento de dejetos domésticos e industriais, in natura, diretamente nos cursos d’água, o que
resulta em danos à qualidade da água e à biodiversidade como um todo.
A ocupação urbana, em determinados locais da bacia do rio Maior, contraria a Lei que
institui a APA do rio Maior, cujo capítulo IV, Art. 8 proíbe o exercício de atividades capazes de provo-
car erosão de terras, assoreamento das coleções hídricas ou que ameacem extinguir os cursos
d’água. Observa-se, ainda, a implantação de loteamentos, residências unifamiliares, comércio e
rodovias, que desrespeitam as normatizações dispostas, colocam em risco a Área de Preservação
Permanente (APP) e demonstram o desrespeito em relação às legislações ambiental, municipal,
estadual e federal vigentes.
Outra preocupação se refere ao descaso com as nascentes presentes na APA, visto o fato
de algumas encontrarem-se ameaçadas pelo não cumprimento da Lei no que tange à manutenção
da faixa de APP prevista no seu entorno, o que resulta em ameaças, por exemplo, decorrentes
da construção de rodovias, do pisoteio pelo gado criado em pequenas propriedades e do uso
inadequado das APPs com atividades de agricultura, que estão causando impactos ambientais de
contaminação do recurso hídrico por coliformes fecais e o aumento do índice de erosividade no
local da nascente, os quais, consequentemente, acabam degradando o recurso hídrico da bacia
hidrográfica em toda a sua extensão.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 2 - Mapa de uso e cobertura da terra mostrando a distribuição das classes de
Mapa 2uso mais
- Mapa deexpressivas e osdaprincipais
uso e cobertura impactos
terra mostrando decorrentes
a distribuição dasdo uso inadequado
classes do
de uso mais expressivas
espaço
e os principais impactos decorrentes do uso inadequado do espaço

84

Fonte: Fonte:
Elaborado pelos Autores
Autores, (2016).(2016).

Dias (2011) destaca que o espaço reservado às rodovias é essencial, porque tem utilidade
na instalação de equipamentos e infraestrutura favoráveis à qualidade de vida da população, tais
como redes de abastecimento de água, coleta de esgoto, drenagem, energia elétrica, iluminação
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pública e telefonia. Em que pese as vias de acesso aos locais serem consideradas positivas, devem
passar por avaliações ambientais da mesma forma, uma vez que a bacia hidrográfica do rio Maior
está inserida em uma APA (NASCIMENTO; BURSZTYN, 2012).
Mesmo com todas as diretrizes e restrições previstas em lei, as pessoas não as respeitam,
porque sabem que o controle e a fiscalização das instituições públicas responsáveis não são sufi-
cientes para acompanhar cada alteração, cada transformação (MELLO-THÉRY, 2011). As políticas
públicas precisam ser articuladas, estarem coesas para fazer com que as populações se envolvam
e passem a defender a qualidade ambiental e não as antagonizem. A comunidade de Rio Maior,
organizada na associação de moradores, vem lutando pela preservação do meio ambiente, reali-
zando ações pontuais e buscando garantir uma melhor qualidade de vida, porém, como se pôde
constatar, sem grandes avanços.
Cabe lembrar que o progresso e o desenvolvimento econômico podem e devem estar
alinhados à preservação dos ecossistemas e à qualidade ambiental e que a formação de estru-
turas de governança e de mobilização da população local e do entorno é capaz de fortalecer os
processos mediadores e reguladores da gestão ambiental. Como exemplo, pode-se citar o conflito
socioambiental ocorrido na própria localidade de Rio Maior, cuja comunidade se mobilizou contra
as atividades de exploração de uma pedreira com mineração e britagem de basalto.
A atividade de mineração estava colocando em risco a conservação do único manancial
de água de boa qualidade e as construções centenárias tombadas pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que apresentavam rachaduras possivelmente causadas por
detonações. Nesse caso específico, embora as ações da Fundação Estadual do Meio Ambiente
(FATMA) não tenham sido as esperadas, “[...] houve um aumento das estruturas de governan-
ça local com atuação do MPF e Polícia Ambiental, bem como forte participação da comunida-
85
de na vigilância e denúncia de atividades danosas ao meio ambiente no bairro.” (NASCIMENTO;
BURSZTYN, 2012, p. 182).
Com a realização deste estudo, constatou-se que normas e determinações legais não
faltam para garantir a preservação dos ecossistemas e dos recursos hídricos da localidade. É notá-
vel, também, que a falta de fiscalização regular por parte dos órgãos competentes e de institucio-
nalização da gestão ambiental, aqui entendida como ações, atitudes e reconhecimento social das
estruturas que garantem a efetividade das ações, resulta em desrespeito, negligência e compro-
metimento dos ecossistemas e dos recursos naturais.
Considera-se de suma importância destacar que o principal caminho para que sejam
garantidos o equilíbrio e a sustentabilidade entre os meios econômico, social e ambiental é a
educação voltada à ecocidadania. A implementação de medidas eficientes e eficazes perpassa
por sensibilização, consciência, cuidado e pela compreensão de que todos os elementos do meio
estão interligados e, portanto, interdependem-se.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no estudo desenvolvido, constatou-se a importância do uso de ferramentas de


geoprocessamento para a análise da paisagem, principalmente quando se refere à conservação
de bacias hidrográficas, tomando-as como unidades de planejamento e gestão. Por meio delas
pode ser considerado o desenvolvimento econômico, social e ambiental, como uma teia de inter-
-relações, que se não for tratado de forma transdisciplinar, haverá o desenvolvimento de um meio
em detrimento de outro.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Nas áreas destinadas à ocupação de empreendimentos de qualquer natureza, é impres-


cindível o processo de licenciamento, com o intuito de garantir respaldo legal, assim como possibi-
litar a negociação entre os diversos atores sociais e os ajustes aos projetos, de modo a adequá-los
às exigências legais. Cabe ressaltar a importante presença dos órgãos de fiscalização territorial
e ambiental, a fim de que sejam cobradas as adequações necessárias para minimizar os danos
causados aos ecossistemas.
Ademais, acredita-se que caberia a realização de estudos comparativos e investigativos
sobre a configuração do espaço em décadas anteriores com o momento atual, a fim de verifi-
car suas alterações (taxas de urbanização, expansão, dentre outros fatores) e avaliar os supos-
tos danos ou melhorias decorrentes de tais mudanças. A realização de estudos complementa-
res, incluindo os referentes aos recursos hídricos, às áreas florestadas, às áreas degradadas e
às mudanças climáticas, por exemplo, poderiam subsidiar políticas públicas e ações mitigatórias
voltadas aos impactos decorrentes da ocupação e do desenvolvimento das atividades humanas
sobre os recursos hídricos da região.
Por fim, tendo em vista que a área objeto de estudo está localizada em um espaço
geográfico frágil e de suma importância quanto aos recursos naturais disponíveis, considera-se
que os governantes locais e todos os demais munícipes devem ser os agentes principais na sua
fiscalização. Desse modo, promoverão o desenvolvimento sustentável, proporcionarão incentivos
à atividade de pesquisa científica e à ecocidadania, contribuindo para a preservação dos ecossis-
temas naturais presentes na microbacia, os quais são necessários à sobrevivência humana.

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Gestão Integrada do Território

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CAPÍTULO VII

INDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL NO


BAIRRO VILA MANAUS, EM CRICIÚMA (SC), E A
SUSTENTABILIDADE DO TERRITÓRIO NO OLHAR DOS
MORADORES LOCAIS

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan07

Graziela Serafim Casagrande - UNESC


José Carlos Virtuoso - UNESC
Carlyle Torres Bezerra de Menezes - UNESC

88

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O grande impulso econômico decorrente das atividades carboníferas, na primeira meta-


de do século XX, tornou Criciúma a cidade polo da região sul catarinense. Tal fator ocasionou um
elevado crescimento populacional devido à oferta de emprego e ao sonho de uma vida melhor
de trabalhadores oriundos das mais diversas regiões. Milhares de pessoas migraram para as vilas
operárias e para as áreas periféricas da cidade, gerando um número de ocupações desordenado.
A falta de planejamento urbano expôs moradores a situações precárias de moradia, enquanto os
serviços públicos básicos, como saneamento e água canalizada, não existiam. Da mesma forma, as
jornadas de trabalho nas minas de carvão eram exaustivas, aliadas à completa falta de segurança,
expondo os operários ao constante risco de acidentes. Problemas de saúde eram outro fator de
ameaça, decorrentes de horas de trabalho e da inalação de poeira (VOLPATO, 1984; GONÇALVES,
2014).
Diante desse contexto, os índices de poluição atmosférica tornaram-se elevados em
consequência do grande descaso na deposição dos rejeitos piritosos, contaminando uma grande
área de solo e dois terços dos mananciais hídricos da região (ALEXANDRE, 1999). Um diagnóstico
realizado pela JICA, instituição de cooperação internacional japonesa, indicou que a região carbo-
nífera possuía em torno de 4.780 hectares de áreas degradadas por rejeitos, estéreis de minera-
ção de carvão a céu aberto, minas paralisadas e coquerias, que, efetivamente, contribuem para a
degradação dos recursos hídricos (MILIOLI; SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009).
Mais recentemente, em 2010, com a divulgação do Quarto Relatório de Monitoramento
dos Indicadores Ambientais da região pelo Ministério Público Federal (SANTA CATARINA, 2010),
89 os números relativos à degradação de solo dimensionaram o tamanho da degradação. As áreas
a céu aberto impactadas na bacia carbonífera de Santa Catarina representam 2.900,69 hectares,
com 3.134,95 hectares de depósitos de rejeitos e outros 155,95 hectares de depósitos de rejeitos
em cava a céu aberto, totalizando 6.191,59 hectares. O referido relatório é resultado de sentença
solidária envolvendo a União, o estado catarinense e as empresas mineradoras para a recuperação
ambiental da área atingida pela atividade de extração de carvão (SANTA CATARINA, 2010).
Apesar de muitas lavras serem desativadas ao longo do tempo, elas continuam gerando
problema devido à falta de cuidados ambientais – o fim da lavra não significa o fim do seu proces-
so de poluição, pois seus rejeitos carbonosos oriundos do processo continuam ativos por muitos
anos. Observa-se na Bacia Carbonífera Catarinense a ocorrência de áreas mineradas inativas, que
contribuem para a geração de drenagem ácida de mina (DAM), comprometendo severamente a
qualidade dos recursos hídricos das bacias hidrográficas (ZOCCHE, 2005 apud GONÇALVES, 2010).
A exploração de carvão gera grande prejuízo à vegetação e à flora, afetando seriamente
as matas ciliares com a acidez das águas, ocasionando danos à agricultura devido à contaminação
dos produtos, constituindo-se, paulatinamente, em séria ameaça à saúde pública (CAROLA, 2010).
Na ocupação de áreas degradas, conforme Volpato (1984), os moradores residiam em
terrenos baixos, alagadiços e poluídos pelo rejeito de extração de carvão. Foi nesse ambiente que
surgiu o bairro Vila Manaus, igualmente um exemplo de ocupação desordenada no município
ante a falta de políticas habitacionais para o atendimento das demandas populacionais carentes.
Tratava-se de uma área de deposição de rejeitos da mineração de carvão, com péssimas condições
para o estabelecimento de uma área residencial. Apesar de não apresentar as mínimas condições
ao assentamento humano, o local foi ocupado por famílias economicamente carentes, formando
comunidades instaladas em situação de risco, em área periférica de Criciúma (TEIXEIRA, 2011).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O processo de urbanização no bairro em questão, ao longo do tempo, fez com que o


cenário de um passado de grave degradação ambiental, com a presença de pirita no solo e nos
cursos de água, melhorasse no aspecto paisagístico, em razão da pavimentação de ruas. Como
reforço favorável para a composição desse quadro, o mesmo bairro protagonizou uma mobiliza-
ção social pela melhoria do ambiente, com o projeto comunitário Nossa Rua, que ajudou a trans-
formar as condições locais, a partir da conscientização da população em torno da coleta seletiva,
do ajardinamento e da arborização, dentre outras ações de melhoria. (GUADAGNIN, 2001).
A aparente melhora panorâmica do bairro, contudo, não representa, necessariamen-
te, qualidade de vida para os seus moradores que habitam terrenos sobre rejeitos de carvão. A
presença de rejeitos piritosos no ambiente, mesmo que sob camadas de argila, como é comum
naquela localidade, caracteriza um problema ambiental, pelo fato de conter metais pesados, que
representam uma ameaça de comprometimento da saúde pública. Essa realidade foi o objeto da
pesquisa (em caráter de iniciação científica) realizada no ano de 2012, quando se buscou identi-
ficar, na população local, o grau de conhecimento que seus habitantes tinham quanto aos riscos
aos quais estavam expostos e se identificavam naquela região a atuação do projeto Nossa Rua.
Assim, buscava-se compreender o processo de ocupação urbana daquela área, inda-
gando-se os seguintes aspectos: qual era a compreensão dos moradores em relação às condi-
ções socioambientais do bairro onde residiam? O processo de urbanização do local reduziu os
problemas ambientais causados pela deposição de rejeitos de carvão? Quais eram os principais
problemas do bairro? Considerado, portanto, o cenário aqui problematizado e com o escopo de
responder a tais questões norteadoras, busca-se mostrar, neste capítulo, a partir de um estu-
do de caso, a dimensão do desafio de se promover o desenvolvimento local do território com
sustentabilidade, considerando-se o grau de (des)conhecimento da população sobre a sua própria
90 realidade socioambiental.

HISTÓRIA DO CARVÃO EM CRICIÚMA

O carvão, de acordo com Borba (2001), é considerado um combustível fóssil formado


a partir de matéria orgânica de vegetais depositados nas bacias sedimentares. Devido à ação
da pressão e da temperatura em ambiente com ausência de ar, os restos de vegetais orgânicos
se solidificam ao longo do tempo, perdendo oxigênio e hidrogênio, enriquecendo-se em carbo-
no, em um processo conhecido como carbonificação. Segundo Monteiro (2004), a qualidade do
carvão depende de sua natureza, da matéria vegetal, do clima ao qual está exposto e da sua loca-
lização geográfica. Considerando tais aspectos, o carvão brasileiro é classificado como de baixa
qualidade, devido a seus altos teores de impurezas, como enxofre e ferro, que geram muita cinza
(MONTEIRO, 2004)
Figura 1 - [SdM1] Comentário: Sem título

Imagem 1 – Pedra de Carvão Mineral

Fonte: Acervo dos autores.

Sem fonte [SdM2] Comentário: Sem fonte


PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Em Santa Catarina, o mineral foi descoberto no início do século XIX por tropeiros que
faziam o trajeto entre Lages e Laguna. Após sua descoberta, o então governo imperial enviou
expedições para verificar a qualidade do mineral, iniciando sua exploração de forma rudimentar
e sedimentar – logo após a avaliação favorável –, com a extração das primeiras lavras ocorrendo
próximo à região de Minas, atual município de Lauro Müller (GOULARTI FILHO, 2004).
Em decorrência da Primeira Guerra Mundial, o carvão ganhou relevância, havendo gran-
de impulso para a sua exploração devido às restrições de abastecimento do carvão estrangeiro.
A considerável procura pelo mineral despertou o interesse para determinar a sua qualidade e a
viabilidade do seu aproveitamento, sendo retomada a sua exploração na região para atender à
crescente demanda. Esse novo ciclo de exploração predominou na região dos rios Urussanga e
Araranguá, tendo as cidades de Urussanga e, principalmente, de Criciúma como novos grandes
centros de atividade carbonífera (GOULARTI FILHO, 2004).
A exploração de carvão na cidade de Criciúma, segundo Goularti Filho (2004), iniciou
no fim da década de 1910 e início da década de 1920. As primeiras minas abertas foram as da
Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá, na localidade de Santo Antônio, em 1916, e da
Companhia Próspera, por volta de 1920. Nas proximidades das minas, foram se formando as
vilas operárias. A mineração de carvão, em Criciúma, concentrou-se, inicialmente, em torno do
morro Cechinel, onde se encontravam as duas maiores minas (nas encostas do morro). Em segui-
da, surgiu uma série de minas de menor porte, como a Mina Brasil, a Mina do Bainha, entre
outras. As minas eram abertas em encostas de morros onde era possível alcançar o veio de carvão
(GOULARTI FILHO, 2004).
Para a cidade de Criciúma, no decorrer dos anos, foi se tornando cada vez mais priori-
tária a extração de carvão. Das 11 companhias de mineração da região, seis tinham sua sede no
91
município – de 25 minas, 11 situavam-se ali. O total de operários era de 7.734 homens, sendo que
Criciúma empregava 4.865 trabalhadores, correspondendo a 60%. A cidade gerava dois terços da
produção total de carvão da área explorada (VOLPATO, 1984)
Por causa do aumento do número de minas, especialmente entre os anos de 1940 e
1970, ocorreu um grande crescimento populacional no município. Sua população, na década de
1940, girava em torno de 27.000 pessoas, que quase dobrou, chegando a mais de 50 mil em 1950.
Nos anos de 1970, entre 1973 e 1979, houve outro crescimento da atividade carbonífera com o
advento da crise do petróleo, o qual proporcionou um aumento na procura do carvão energético,
que durou até a década de 80 (GOULARTI FILHO, 2004).
Com o grande avanço da extração de carvão, as carboníferas foram ampliando as vilas
operárias, mas a metade das casas dos trabalhadores apresentava condições precárias. Foram
construídas em locais inadequados, isso é, alagadiços, em barrancos, sem segurança, sem esgoto
e com péssimo serviço de água (VOLPATO, 1984).
Não era apenas em relação à moradia que os trabalhadores sofriam descaso. Volpato
(1984) destaca, também, que o ambiente de trabalho no subsolo era extremamente insalubre,
agredindo o operário, deixando-o tenso. Múltiplos perigos eram propiciados pela atividade carbo-
nífera, por isso havia um elevado índice de acidentes de trabalho – o maior entre todos os ramos
da indústria no estado catarinense. As condições de risco proporcionavam ao trabalhador um
clima de ansiedade e apreensão, marcando-o psicologicamente, além de gerarem problemas de
saúde, como os gastrointestinais e respiratórios, que eram mais frequentes, e a pneumoconiose,
uma das doenças mais comuns, cuja patologia assumiu elevados índices de prevalência (só na
região carbonífera foram analisados mais de 3 mil casos da doença em trabalhadores de carvão)
(MONTEIRO, 2004).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

No período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, houve a retomada da defe-
sa da produção de carvão mineral, mas após o seu término testemunhou-se uma crise no setor
carbonífero, iniciada devido ao fato de o governo federal ter suspendido a aquisição de toda a
produção nacional e optado pelo carvão importado (GOULARTI FILHO, 2004).
A atividade de extração de carvão foi realizada de maneira predatória por muitos anos,
ocasionando grandes problemas ambientais, os quais afetam até hoje a bacia carbonífera catari-
nense. Mesmo com os esforços das mineradoras para aperfeiçoar métodos, realizar o beneficia-
mento mineral de tratamento e a deposição de resíduos da mineração, com o objetivo de redu-
zir os impactos ambientais negativos, os problemas ambientais permanecem até hoje (MILIOLI;
SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009).
Concomitantemente, o avanço da mecanização nos processos de extração do mineral e a
difusão de novos equipamentos tecnológicos para o setor não apenas provocaram o aumento da
produção, como também da ocorrência de acidentes e dos índices de poluição, acarretando novos
problemas de saúde e o aumento da destruição ambiental (CAROLA, 2010).

IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DA ATIVIDADE MINERÁRIA

Durante mais de 50 anos, a região carbonífera sofreu danos ambientais com o depósi-
to de rejeitos de carvão nas margens dos rios, os quais poluíram suas águas e deixaram o solo
improdutivo. Em Criciúma, na época denominada Capital do Carvão, muitos rios foram poluídos
e muitas áreas foram usadas para depósitos de rejeitos da indústria carbonífera. Com o fim da
atividade, essas áreas foram utilizadas como espaço de moradia pela população de baixa renda
92 (CAROLA, 2010; CAROLA; DASSI, 2014).
As áreas de mineração e depósitos de rejeitos, segundo Lawrey (1976 apud DAMIANI,
2010), apresentam alterações físicas, podendo modificar as condições do habitat do ambiente
físico e químico devido à exposição de material tóxico. Elas ocasionam impactos nos ecossistemas,
afetando diretamente as diversas espécies e provocando mudanças biológicas. Eliminam espé-
cies, limitam o estabelecimento de novas e a recuperação das antigas, interferindo na composição
da cadeia alimentar e nas relações de interdependência.
Quando se iniciou o processo de mecanização da extração de carvão, o método de lavra
conhecido como Câmara e Pilares foi o mais utilizado. Ele consiste na abertura de galerias com
pilares para sustentar a mina, os quais são retirados no recuo para o maior aproveitamento da
lavra. Essa estratégia gerava como consequência fraturas nos terrenos e, em função das condi-
ções hidrogeológicas, a drenagem das águas superficiais para o interior, secando poços e açudes
nas imediações da atividade e gerando a contaminação das águas que retornavam à superfície,
as quais ficavam poluídas por causa do processo de oxidação da pirita e da geração de DAM.
Também acontecia a subsidência dos terrenos, que danificava as casas e impossibilitava a ativida-
de agrícola, pois o terreno perdia a sua capacidade de retenção de umidade (MILIOLI; SANTOS;
CITADINI-ZANETTE, 2009).
A DAM é um dos problemas ambientais mais preocupantes. Conforme explicam Borma
e Soares (2002), é uma solução ácida decorrente de minerais sulfetados presentes em resíduos,
que podem ser rejeitos ou estéreis, os quais oxidam na presença de água. Gaivizzo (2002 apud
PEREIRA, 2008) define que a drenagem ácida ocorre em áreas mineradas a céu aberto, onde exis-
te a presença de compostos sulfurados, principalmente na forma de pirita e de outros sulfetos,
cuja exposição às condições do ambiente é responsável pela formação de ácido sulfúrico.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 2 - Lagoa de Decantação, Drenagem Ácida
Imagem 2 - Lagoa dedeDecantação, Drenagem
Mina e Rejeito PiritosoÁcida de Mina e Rejeito Piritoso

Fonte: Acervo dos autores.


[SdM1] Comentário: Sem

A ocorrência de rejeitos piritosos próximo às residências e aos trabalhadores pode


ocasionar graves problemas de saúde devido ao processo de combustão da pirita, que libera gás
sulfídrico e dióxido de enxofre. Monteiro (2004) diz se tratar de um gás irritante que, além das
implicações negativas à saúde, produz danos às folhas das plantas em decorrência do tempo de
exposição. Da mesma forma, pode danificar tintas, corroer metais e expor as camadas descober-
tas ao processo de oxidação. Em relação a substâncias como o hidrocarboneto e o alcatrão, gases
irritantes tóxicos e corrosivos, Carola (2010) destaca seus sérios danos à saúde, como o aumento
93 na incidência de doenças do aparelho respiratório, de bronquite crônica e de enfisema pulmo-
nar, que ocorrem principalmente em crianças. O alcatrão e o hidrocarboneto são causadores de
câncer nos ossos, consequentemente afetam o sistema nervoso central, provocam lesões na pele
e, em grandes concentrações, podem levar à morte.
Os riscos à saúde por causa da presença de metais pesados no solo foram devidamente
indicados a partir da tese de Martins (2014). Por meio da análise de hortaliças cultivadas em áreas
degradadas pela mineração, ficou demonstrada a absorção de elementos tóxicos pelos vegetais.
Conforme a pesquisadora, há “[...] evidências de que o consumo de hortaliças cultivadas sobre
área de exploração de carvão apresenta potencial genotóxico, podendo gerar um risco considerá-
vel à saúde humana e também a animais que vivem próximo a essas áreas e se alimentam dessas
mesmas hortaliças [...]” (MARTINS, 2014, p. 91).
A contaminação dos solos é definida tanto a partir da erosão e da lixiviação pelas águas
nas pilhas de rejeitos, como pelas águas residuais do processo de beneficiamento. As águas sofrem
adição de cargas ácidas, decorrente da dissolução e da oxidação da pirita (FeS4) e do ácido sulfúri-
co (H2SO4), que, quando dissolvido na água, proporciona a diminuição do pH (2 e 3), prejudicando
minerais e compostos orgânicos, pois libera grandes concentrações de ferro, alumínio, manganês,
zinco, cádmio, mercúrio, selênio, arsênio, chumbo, cobre, entre outros (CAROLA, 2010).
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Figura 03 - Área de Deposição de Rejeito na Região Carbonífera
Imagem 3 - Área de deposição de Rejeito na Região Carbonífera

Fonte: Santa Catarina (2010).


Fonte: Brasil, 2010. [e1] Comentário: Não encontrei
referência

As três bacias hidrográficas da região carbonífera (Tubarão, Urussanga e Araranguá) apre-


sentam um total de 786 Km de rios contaminados por drenagem ácida, 115 depósitos de rejeitos
pirítico-carbonosos e 77 lagoas ácidas, todos cadastrados em projeto de Recuperação Ambiental
(SOARES; SANTOS; POSSA, 2008). Um exemplo desse descaso é o rio Sangão, que se encontra
seriamente comprometido pela mineração de carvão, além de receber cargas de poluição indus-
trial, resíduos urbanos e esgoto doméstico, que comprometem ainda mais sua qualidade ambien-
tal (MILIOLI; SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009).

Imagem 4 -3Lago
Figura de de
- Lago Água Ácida
Água emem
Ácida Siderópolis (SC)SC.
Siderópolis,
94

Fonte: Santos (2004).


Fonte: SANTOS, 2004. [e1] Comentário: Não encontre
referência

Dados da Fatma (1991 apud MILIOLI; SANTOS; CITADINI-ZANETTE, 2009) indicam que
Criciúma, Tubarão e Imbituba apresentam problemas na qualidade do ar, devido a materiais libera-
dos pela combinação das atividades da indústria carbonífera, das coquerias, entre outras. De toda
a região, esses municípios representam os piores índices de qualidade atmosférica. Nesse sentido,
Carola (2010) adverte que a região carbonífera é considerada, pelo Decreto Federal n° 85.206/80,
uma das 14 regiões mais poluídas do Brasil, devido à atividade de exploração do carvão.
Somente a partir do ano 2000, em decorrência de uma sentença judicial (processo de
execução n° 2000.72.04.002543-9) (SANTA CATARINA, 2013), foi que as mineradoras tiveram que
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se preocupar com o meio ambiente. A condenação impôs às rés a obrigatoriedade de recuperar


as áreas degradadas pela mineração (CAROLA, 2010). Tal desdobramento judicial buscou garan-
tir o que está assegurado na Constituição Federal, Capítulo VI – Do Meio Ambiente –, Art. 225:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 2009, p. 203).
Portanto, conforme já referido, a degradação ambiental causada pela mineração tem
sido evidenciada por meio da formação de DAM, juntamente com a poluição do ar e da água, o
impacto visual, a perda de áreas agriculturáveis, assim como a subsidência em zona rural e urbana.
No que diz respeito à poluição das águas, informações geradas pelo IPAT (Instituto de Pesquisas
Ambientais e Tecnológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense) ilustram a extensão e
a gravidade do problema (ALEXANDRE; KREBS, 1996; ALEXANDRE, 1999; MENEZES; LATTUADA;
PAVEI, 2009):

i. Dois terços dos rios e córregos da região apresentam pH bastante ácido, grande aporte
de sedimentos, além de altas concentrações de metais pesados e sulfatos;
ii. Em efluentes das carboníferas, verificou-se elevada acidez e baixos valores de pH do meio
(2,5 < pH < 3,5), sendo que em alguns rios e córregos foram encontrados valores inferio-
res a pH = 2,5;
iii. Em efluentes de DAM, detectou-se a presença de metais pesados em concentrações
acima dos limites recomendados pelo órgão ambiental estadual FATMA (Fundação do
Meio Ambiente), tais como: ferro (205 mg/L), manganês (22 mg/L) e zinco (7,6 mg/L),
95 entre outros de menor abundância;
iv. Em efluentes de subsolo e drenagem de infiltração de bacias de decantação, encontra-
ram-se valores de acidez total na faixa de 1700 a 2810 mg/L de CaCO3 e concentrações de
sulfato entre 3600-4500 mg/L.

A contaminação das águas subterrâneas e superficiais da microrregião de Criciúma


mantém-se em constante atividade devido a três fatores de grave importância (CETEM/ CANMET,
2000 apud CASTILHOS, 2001, p. 376-381):

i. Nas bacias hidrográficas dos rios Araranguá, Tubarão e Urussanga, encontram-se deposi-
tados milhões de metros cúbicos de rejeitos e estéreis oriundos da indústria carbonífera.
Tais depósitos constituem uma fonte permanente de geração de drenagem ácida;
ii. Águas drenadas de minas em atividade, bem como a captação de águas de lagoas
ácidas resultantes de minas a céu aberto paralisadas, de córregos e de rios da região,
em grande parte, alimentam os circuitos de beneficiamento de carvão e correspondem
aos percentuais de umidade contida nos rejeitos dispostos nos depósitos de sólidos nas
minas em atividade, gerando uma vazão de efluentes ácidos. Mesmo após o tratamento,
essas águas não retornam mais à sua condição de potabilidade. Além disso, podem, sob
determinadas situações operacionais ou acidentais, tais como ocorrido recentemente,
contaminar direta ou indiretamente os recursos hídricos da região;
iii. Essas fontes de poluição são objeto, atualmente, de projetos de recuperação ambiental
– PRADS em função de uma Ação Civil Pública, que visa à sua identificação e ao posterior
equacionamento do problema ambiental causado. No entanto, apesar dos esforços por
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parte dos envolvidos nessa ação, um grande passivo ambiental ainda persiste na região
(SANTA CATARINA, 2013; MENEZES et al., 2004).

A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO NO VILA MANAUS

A área onde hoje está situado o bairro Vila Manaus passou a receber a deposição de
rejeitos da mineração de carvão na década de 1960. A primeira intenção do poder público era
a criação de um distrito industrial. Com isso houve a instalação de duas indústrias metalúrgicas,
tendo em vista as péssimas condições para o estabelecimento de uma área residencial. Apesar de
a região apresentar mínimas condições, o território foi sendo devidamente ocupado por famílias
de baixa renda, que fixaram suas residências no local (TEIXEIRA, 2011).
Entre os anos de 1970 e 1980, ocorreram diversos conflitos e uma mobilização comu-
nitária para a formação oficial do bairro. Nos anos seguintes, a comunidade organizou-se para
lutar por melhorias nas condições de moradia, dando origem à sua associação de moradores,
acumulando grandes conquistas, como a instalação de redes de água e energia, aquisição de um
centro comunitário e de um posto de saúde, ocorrendo a regulamentação fundiária e a obtenção
do direito à assistência técnica. Outro resultado da mobilização da comunidade foi a construção
de um canal sobre o córrego que corta
Figura o5 bairro, iniciado
- Localização nos primeiros
do Bairro anos de 1990, para resolver
Vila Manaus
o problema de mau cheiro decorrente do esgotamento doméstico (TEIXEIRA, 2011).

Mapa 1 - Localização do Bairro Vila Manaus

96

Fonte: Guadagnin (2001).


Fonte: Guadagnin, (2001).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Em meados de 1997, iniciou-se, no bairro, uma mobilização participativa, dando origem


ao Projeto Nossa RUA (Reciclagem, União e Arborização). O objetivo principal da iniciativa era
trabalhar a sensibilização para a promoção da coleta seletiva de lixo, da arborização das ruas
com espécies nativas e da realização de atividades recreativas, abordando a temática ambiental.
O movimento, que ganhou status de ONG (organização não governamental), buscou orientação
na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), recebendo total apoio institucional. Sua
proposta foi integrada como Projeto de Extensão no então Núcleo de Pesquisa em Educação
Ambiental – NUPEA (TEIXEIRA,
Figura 62011).
- Localização do Bairro Vila Manaus

Mapa 2 - Localização do Bairro Vila Manaus

97

Fonte: Guadagnin (2001).

Fonte: Guadagnin,
O Projeto foi aceito pela comunidade (2001).
e cresceu com grande rapidez em número de famí-
lias, mas, devido à falta de infraestrutura e a outros aspectos que geraram desgaste no processo,
não conseguiu o necessário fortalecimento para ter continuidade. Em 2004, sem perspectiva de
crescimento, parou de desenvolver suas atividades (TEIXEIRA, 2011). Cessava, então, uma mobi-
lização que poderia contribuir para a sensibilização dos moradores do local a respeito das condi-
ções socioambientais, que precisariam ser compreendidas para serem superadas no futuro que
ainda não chegou.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Como estratégia metodológica para o desenvolvimento deste trabalho, realizou-se um


estudo de campo, de caráter descritivo, compreendendo algumas etapas. Em primeira instância,
buscou-se identificar in loco os aspectos socioambientais do bairro, com registro de imagens e
coleta de material (água e solo) para análise e identificação das suas condições físico-químicas
pelo laboratório do Ipat/Unesc. Na sequência, realizou-se a aplicação de um questionário, com o
objetivo de coletar informações dos moradores.
A população deste estudo foi composta por moradores do bairro, em áreas contem-
pladas por ações do projeto Nossa Rua. A quantidade total da amostra definiu-se com base na
amostragem aleatória simples, utilizando-se a fórmula de Barbetta (2010) para se chegar a 288
residências, do total de 1.200, correspondente a uma população de 3,6 mil pessoas, tomando-se
por média familiar o número de três pessoas (IBGE, 2010). A pesquisa abrangeu 37 ruas, sendo
oito casas para cada uma delas, orientando-se pelo mapa utilizado pelos agentes de saúde da
unidade de saúde do bairro.
Foram incluídos na abordagem indivíduos de ambos os sexos (a partir de 18 anos), sem
especificação de idade, e excluídos da pesquisa os não residentes ou que apresentavam alguma
limitação que os impedisse de responder ao questionário.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com conteúdo pertinente à qualidade
ambiental, elaborado pelos autores, com questões abertas e fechadas, buscando-se respostas aos
objetivos traçados. Além de dados socioeconômicos, que ajudaram na noção do perfil do públi-
co-alvo, e os de cunho especificamente socioambiental, foram abordadas temáticas referentes às
98 condições de atendimento das necessidades básicas, como segurança pública e atendimento à
saúde. Na parte socioambiental, a ênfase foi dada para as condições físicas do ambiente, como a
presença ou não de rejeito de carvão, da poluição das águas superficiais, dentre outros aspectos.
A submissão do projeto no Comitê de Ética da UNESC (CEP), com a devida aprovação,
antecedeu o procedimento de aplicação do instrumento de pesquisa. O contato com os(as) mora-
dores(as) aconteceu em dias alternados, a fim de se garantir a participação dos(as) informantes
– alguns/algumas só tiveram disponibilidade nos fins de semana, por causa do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O conhecimento prévio sobre a realidade socioambiental do bairro Vila Manaus já propi-


ciava uma condição mínima para se compreender a extensão dos impactos causados pela mine-
ração de carvão no local. O assentamento em área minerada e onde houvera deposição de rejei-
tos do carvão (Guadagnin, 2001) dificilmente deixaria de apresentar um cenário socioambiental
complexo e problemático, mesmo com o processo de urbanização desdobrado nas últimas déca-
das, “maquiando” a situação de fundo com os impactos ocasionados pelo uso do solo anterior à
conformação do bairro.
O panorama desvelado pela pesquisa, portanto, ganhou os contornos a partir das infor-
mações obtidas por meio da aplicação dos 288 questionários, cujos resultados passam a ser descri-
tos a seguir. Devido à maior relevância das temáticas socioambientais, optou-se por priorizá-las.
O histórico de ocupação de uma área degradada de forma irregular, nos anos de 1970,
por pessoas carentes (TEIXEIRA, 2011), pode ser identificado nas falas das pessoas, conforme os
dados levantados na pesquisa. O maior percentual de informantes (43%) admitiu residir no bairro
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

por falta de uma melhor opção, por causa das limitações econômicas. Sobre esse aspecto, os
números também mostraram que 76% recebiam até um salário mínimo, o que reforça a condição
financeira como preponderante para a escolha do bairro.
Quanto aos indicadores socioambientais, as informações levantadas trouxeram preocu-
pação aos pesquisadores, devido à identificação do pouco entendimento do público-alvo em rela-
ção à degradação (presença de rejeitos de carvão no solo e nos cursos d’água na área em estudo).
Por exemplo, 60% dos informantes disseram desconhecer os possíveis danos da poluição à saúde
e à qualidade de vida. Sobre a qualidade do solo, mais da metade dos abordados (53%) conside-
rou o solo fértil e um percentual ainda maior (77%) disse não ver implicação negativa da pirita nos
recursos hídricos, não associando problemas da pirita com o solo (65% dos pesquisados).
A naturalização da degradação socioambiental como preço do progresso (GONÇALVES,
2007), na avaliação dos pesquisadores, pode estar relacionada ao nível de entendimento sobre as
condições do bairro. Em que pese, naquele mesmo local, durante alguns anos, ter havido mobili-
zação social em defesa da melhoria do bairro, a qual envolveu 37 de suas ruas.
O desconhecimento sobre os riscos reais coloca os indivíduos sob risco contínuo, confor-
me o uso que fazem do solo. No caso específico do cultivo de hortaliças em seus terrenos, os
moradores podem estar ingerindo alimentos contaminados com doses elevadas de metais pesa-
dos, presentes no rejeito de carvão (MARTINS, 2014).
Figura 7 - Moradia Construída Sobre Rejeito De Carvão, Em 2011 (Esq.) 2016
Imagens 05 e 06 - Moradia construída sobre rejeito de carvão, em 2011 (esq.) e em 2016

99

Fontes: Acervo dos autores.


[SdM1] Comentário: Sem fonte

Em relação à coleta de material para análise de laboratório, tendo-se conhecimento do


quadro de poluição que afeta a maioria dos rios das bacias hidrográficas da região de considerável
área de solo (ALEXANDRE, 1999), fez-se a opção por esse expediente como reforço daquilo que já
Figura 8 - Curso D’água E Solo Poluídos No Bairro Vila Manaus, Criciúma
era passível de compreensão por meio observacional. Foram, portanto, analisados os parâmetros
de solo e água, chegando-se aos seguintes resultados:
Os parâmetros analisados nas amostras de solo indicaram pH baixo nas áreas de pirita
(entre 3,6 e 3,7), normalizando em locais livres de deposição de rejeitos (5,5). A amostra de água
apresentou pH 3,9 com acidez total de 218,8 mg.L-1, cuja coleta foi realizada em córrego afluente
do rio Sangão, um dos rios da região mais impactados pela mineração de carvão, além da carga
permanente de esgoto doméstico e industrial.

Sem fonte [SdM2] Comentário: Sem fonte


PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 8 - Curso D’água E Solo Poluídos No Bairro Vila Manaus, Criciúma
Imagens 07 e 08 - Curso d’água e solo poluídos no bairro Vila Manaus, Criciúma (SC)

Fontes: Acervo dos autores.


Sem fonte [SdM2] Comentário: Sem fonte

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelas limitações inerentes a um projeto de iniciação científica, não houve condições


ideais para o aprofundamento do estudo sobre o tema. No entanto, mesmo assim, pode-se consi-
derar a relevância dos resultados alcançados, os quais apontam para a necessidade de se trazer à
tona o problema do uso do solo em regiões que receberam deposição de rejeito piritoroso, não
apenas no município de Criciúma, como nos demais da região carbonífera. Trata-se, acima de
tudo, de uma questão de saúde pública, considerando o fato de que as condições desfavoráveis
do meio ambiente podem estar refletindo na baixa qualidade de vida das pessoas, por causa do
comprometimento direto da sua saúde.
O pouco entendimento do problema da poluição ocasionado pela mineração de carvão
contribui para a sua perpetuação. Isso porque, não havendo preocupação por parte das comuni-
100
dades afetadas, não haverá igualmente o interesse da gestão pública no sentido de reverter tal
quadro. Espera-se, portanto, que a socialização deste trabalho possa contribuir para que o tema
ganhe o devido destaque e mobilize os atores sociais na defesa de políticas públicas que interfi-
ram no processo.
No âmbito do planejamento urbano territorial da região, qualquer proposta que seja
sinalizada pelos gestores públicos, mas que não considere a problemática trazida neste trabalho,
certamente será ineficaz. Importa, portanto, que o tema seja devidamente problematizado, a fim
de que se possa prospectar um futuro melhor, levando-se em conta a necessidade de se melhorar
as condições socioambientais para as populações residentes em áreas contaminadas.

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160.
CAPÍTULO VIII
LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL (RS): EVOLUÇÃO E PANORAMA ATUAL

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan08

Brandaly Staudt - UERGS


Naiara Machado da Silva -UERGS
Letícia Gonçalves Peres - UERGS
Marcelo Maisonette Duarte - UERGS

103

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

A busca contínua da evolução, na trajetória humana, tem adquirido uma nova dimensão
nas últimas décadas: a necessidade do desenvolvimento sustentável. Questiona-se a noção de
desenvolvimento restrita à acumulação de recursos materiais, a partir da constatação de que, na
medida em que afeta a natureza, o homem também é afetado por ela. Presencia-se, a partir daí,
uma mudança de paradigmas, que leva à necessidade de estabelecer critérios que limitem a ação
humana em suas interações com os ambientes naturais.
Partindo dessa premissa, pretende-se, no presente capítulo, encadear as transformações
da legislação ambiental no que concerne ao licenciamento para os dados de processos de licen-
ciamento propriamente ditos. Para tanto, apresentam-se, inicialmente, conceitos relacionados
ao desenvolvimento sustentável e à multiplicidade de significações a ele atribuídas, perpassan-
do pela evolução acerca de seu entendimento nas últimas décadas. Referenciam-se autores que
discorrem sobre a necessidade de limites e regulações, a qual vem resultando na adequação das
instituições e no estabelecimento de leis, normas e práticas nos diversos regimes dos países, em
nível mundial, como forma de promover os princípios do desenvolvimento sustentável.
Apresentam-se, a seguir, as principais características e os conceitos relacionados ao licen-
ciamento. Expõem-se as leis ambientais basilares a que está sujeito o processo de Licenciamento
Ambiental e, a partir dessas informações, analisa-se a evolução do licenciamento ambiental no
estado do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, por meio da análise dos dados disponibilizados pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler – FEPAM, busca-se uma corres-
pondência entre as mudanças na legislação ambiental e a quantidade de licenciamentos ambien-
104 tais concedidos no Estado, bem como os tipos de licenciamento e em qual fase eles se situam.
Outra questão a se relacionar são os desastres ambientais, a divulgação nos veículos midiáticos e
como eles podem influenciar em uma tomada de decisão para mudanças na legislação do estado
do Rio Grande do Sul.

SUSTENTABILIDADE, EVOLUÇÃO E LIMITES

Partindo de uma multiplicidade de interpretações, o termo desenvolvimento sustentá-


vel foi se delineando paralelamente à evolução das políticas ambientais no contexto mundial.
Segundo Saavedra (2014), nas décadas de 70 e 80 do século XX, quando o conceito de desenvolvi-
mento sustentável não era ainda amplamente discutido, definido e socializado, na América Latina
já se utilizava com frequência o conceito de “ecodesenvolvimento”. Como refere o autor, esse
conceito propunha:

[...] unir a necessidade de cuidado do meio ambiente com as necessidades de desen-


volvimento, para defender a possibilidade de diferentes estilos de desenvolvimento dos
países subdesenvolvidos e criticar as interpretações economicistas do desenvolvimen-
to que se associavam unicamente ao crescimento econômico e à imitação mecânica do
modelo de crescimento econômico primeiro-mundista. (SAAVEDRA, 2014, p. 177).

O autor destaca o ecodesenvolvimento como um conceito de vanguarda no nascente


debate político, apresentado em seminário no México por Sachs6, apenas um ano depois de
6
Economista polonês, francês e mais tarde naturalizado brasileiro, Ignacy Sachs, na segunda metade dos anos 60, trabalhou como
professor na École des Hautes Études e Sciences Sociales.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

finalizada a conferência de Estocolmo de 1972 e desenvolvido predominantemente por cientistas


e intelectuais latino-americanos. Segundo ele, a partir dos debates daí advindos, descartou-se a
tese do Primeiro Mundo, que culpava o crescimento demográfico – sobretudo no Terceiro Mundo
– pela crise ambiental global e que “[...] absolutizando os limites físicos da Terra defendiam deter
todo tipo de desenvolvimento e crescimento econômico.” (SAAVEDRA, 2014, p. 189).
Saavedra ressalta, ainda, que somente 19 anos após a convocação da Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (CNUMAH), a partir do famoso relatório de 1987,
Nosso Futuro Comum, a comunidade internacional, representada na Assembleia Geral da ONU
em 1991, chegou a um acordo para avançar na resolução de questões ambientais, com base
na ligação e inter-relação dos conceitos de meio ambiente e desenvolvimento, em um fenôme-
no único e indivisível, sob a forma de desenvolvimento sustentável. Conforme conclui o autor,
“[...] o meio ambiente e desenvolvimento, como perspectiva estruturante do debate ambiental,
gerado em grande parte por intelectuais latino-americanos, foi formalmente aceito pela ONU.”
(SAAVEDRA, 2014, p. 195). O conceito formulado no referido relatório (também conhecido como
Brundtland) defende que o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades
da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas
próprias necessidades.
Entretanto, conforme ressalta Mendes (2009), ainda hoje, a falta de precisão no conceito
de sustentabilidade traz consigo deficiências nas referências teóricas. Desse modo, busca relacio-
nar esse conceito aos diversos campos do conhecimento, tendo como base o modelo de dimen-
sões do desenvolvimento sustentável explicitado por Sachs (1993), cujas principais dimensões
seriam: ecológica, econômica, social, espacial ou territorial, cultural, política e, ainda, psicológica.
Nessa abordagem, o desenvolvimento da dimensão econômica se contrapõe ao desenvolvimen-
105 to das demais dimensões, por aquela não visar necessariamente a uma melhoria no bem-estar
social.
Ainda, conforme Redclift (2002), na perspectiva do novo século, e com o avanço da globa-
lização, discursos ideológicos “[...] traduzem ideias como a de sustentabilidade para o terreno
linguístico, gerando uma sintaxe que normalmente não se encontra na diplomacia internacional.”
(REDCLIFT, 2002, p. 127). Esses discursos, segundo o autor, abrem oportunidades para diferentes
atores e grupos se mobilizarem em torno de políticas, dando-lhes legitimidade durante o processo.
Todavia, os diferentes atores são também capazes de elaborar e articular esses discursos, criando
maneiras de refiná-los e/ou de modificá-los. Nesse contexto, Redclift identifica que as ligações
entre o meio ambiente, a justiça social e a governabilidade “[...] têm se tornado crescentemente
vagas em alguns discursos de sustentabilidade, e que as relações estruturais entre o poder, a
consciência e o meio ambiente têm sido, gradualmente, obscurecidas.” (REDCLIFT, 2002, p. 125).
Estabelece-se, a partir disso, a necessidade de haver limites que viabilizem um desen-
volvimento sustentável capaz de equilibrar o crescimento econômico com o bem-estar social, em
consonância com a preservação dos meios naturais. Nesse sentido, o Estado deve atuar como
agente regulador, garantindo que prevaleça o interesse público – nesse caso, a preservação dos
ecossistemas, a fim de que possamos viver em um ambiente saudável –, mas, para isso, é igual-
mente fundamental que a sociedade entenda e legitime essa atuação do Estado, no sentido de
tratar com rigor ações ambientalmente nocivas. O licenciamento ambiental, que será abordado a
seguir, representa uma das formas de regulação e controle aqui referidas.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O licenciamento constitui-se em um dos principais instrumentos de gestão ambiental


atualmente no País e foi estabelecido pela Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, também
conhecida como Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Durante o processo de licenciamento
ambiental, são avaliados os impactos que podem ser causados pelo empreendimento, tais como:
seu potencial ou sua capacidade de gerar líquidos poluentes (despejos e efluentes), resíduos
sólidos, emissões atmosféricas, ruídos e o potencial de risco, como, por exemplo, explosões e
incêndios. Por sua natureza, algumas atividades causam danos ao meio ambiente principalmente
na sua instalação, como no caso da construção de estradas ou de hidrelétricas; outras, em maior
escala, a partir do seu processo de produção. Desse modo, as licenças ambientais estabelecem as
condições para que a atividade ou o empreendimento cause o menor impacto possível ao meio
ambiente. Qualquer alteração, portanto, deve ser submetida a novo licenciamento, com a solici-
tação de uma Licença Prévia. Nesse sentido, são passíveis das seguintes etapas do licenciamento
ambiental:

•• Licença Prévia (LP) - Deve ser solicitada na fase de planejamento da implantação, alteração
ou ampliação do empreendimento. Aprova a viabilidade ambiental do empreendimento, não
autorizando o início das obras.
•• Licença Instalação (LI) - Licença que aprova os projetos. Autoriza o início da obra/empreendi-
mento, concedida depois de atendidas às condições da Licença Prévia.
•• Licença de Operação (LO) - Licença que autoriza o início do funcionamento do empreendimen-
106
to/obra. É concedida após atendidas às condições da Licença de Instalação.

Deve-se observar que a solicitação de qualquer uma das licenças deve estar de acor-
do com a fase em que se encontra a atividade/empreendimento: concepção, obra, operação ou
ampliação, mesmo que não tenha obtido anteriormente a licença prevista em lei. Atividades que
estiverem em fase de ampliação e não possuírem Licença de Operação, por exemplo, deverão
solicitar, ao mesmo tempo, a LO da parte existente e a LP para a nova situação. No caso de já
possuírem a LO, deverão solicitar a LP para a situação pretendida.
Além das licenças, o órgão ambiental pode emitir outros documentos, como a autori-
zação temporária de atividade, declarações ou certificados específicos. Um exemplo importante
desse tipo de documento é o Certificado de Cadastro de Laboratório, por meio do qual os labora-
tórios de análises ambientais são habilitados a emitir laudos de efluentes líquidos com vistas ao
Licenciamento Ambiental no estado do Rio Grande do Sul.
Quanto aos setores afetados, um amplo rol de atividades ou empreendimentos estão
sujeitos ao licenciamento ambiental, tais como: de extração e tratamento de minerais; indús-
tria de produtos minerais não metálicos; indústria metalúrgica, mecânica, de material elétrico,
eletrônico e de comunicações; indústria de material de transporte, de madeira, de borracha, de
couros e de peles; indústria química, de produtos de matéria plástica; indústria têxtil, de vestuá-
rio, de calçados e de artefatos de tecidos; indústria de produtos alimentares, de bebidas e de
fumo; indústrias diversas (usinas de produção de concreto, asfalto, serviços de galvanoplastia);
obras civis; serviços de utilidade (produção de energia termoelétrica, estações de tratamento de
água, tratamento e destinação de resíduos industriais, recuperação de áreas contaminadas ou
degradadas); transporte, terminais e depósitos; turismo; atividades diversas (parcelamento do
solo, projeto agrícola, projetos de assentamentos e de colonização) e de uso de recursos naturais.
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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Conforme estabelecido na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (BRASIL, 1988).
Consta também a obrigatoriedade de que todo aquele que explorar recursos minerais
deverá recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei.
Ainda, quanto à legislação em âmbito nacional, a Lei no 6.938/81, referida anteriormen-
te, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e
aplicação. Essa Política objetiva a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental
propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.
Nesse sentido, o licenciamento é um dos instrumentos de gestão ambiental estabelecido
pela Lei Federal no 6.938/81. A partir daí, em 1997, a Resolução no 237 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) definiu as competências da União, dos Estados e dos Municípios
e determinou que o licenciamento deverá ser sempre feito em um único nível de competência.
Na próxima seção, faz-se referência a outras legislações específicas e/ou regionais, que foram se
somando nessa evolução.
Enfim, como se verifica pelo exposto, partindo de uma realidade em que se percebia
a natureza como um recurso inesgotável ou até como um entrave a ser superado, ocorre uma
107
mudança de paradigma, em que a biodiversidade deve ser preservada de acordo com recursos
legais presentes na Constituição, num patamar e rigidez desproporcional à compreensão da socie-
dade. Deve-se destacar, ainda, que as dificuldades para a evolução na aplicação da legislação
ambiental vão além das questões de opinião ou de oposição. Um sério problema da legislação,
unanimemente constatado pelos órgãos institucionais ligados ao tema, como a FEPAM, é de
ordem simplesmente e principalmente operacional.
Essa deficiência estrutural e operacional, além de ser grave por dificultar a fluidez dos
trabalhos ou mesmo ocasionar a sua precarização, tornou-se discurso principal dos opositores das
causas ambientais, formulando uma situação de retrocesso da legislação de proteção ambiental,
o que sabidamente trará consequências negativas em níveis inimagináveis. Assim sendo, ficou
para sociedade, nas suas organizações, a tutela de protetora ambiental, buscando conhecimento
e formando frentes de defesa diante das tendências de flexibilização das leis e de processos já
consolidados, tendo em vista a atual conjuntura econômico-social do Brasil e, mesmo, da América-
Latina. Especialmente neste momento, essa temática é de fundamental importância, dada a
evolução de uma série de projetos de lei que representam um retrocesso na consolidação da
Política Nacional do Meio Ambiente. Nesse sentido, a procuradora de justiça, Sílvia Cappelli, que
coordenou a área de Meio Ambiente do Ministério Público e presidiu a Associação Brasileira dos
Membros do Ministério Público de Meio Ambiente, afirmou, em entrevista concedida ao Jornal da
Universidade (da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o seguinte:

Tenho dificuldade de traçar um cenário, porque estamos vivendo um momento de tran-


sição muito ruim, no qual a mera constatação de que existem sete iniciativas diferentes
versando sobre o licenciamento – que ocorrem paralelamente, sem qualquer conversação
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Gestão Integrada do Território

entre elas e sem lógica – bem demonstra o quão pulverizado está o assunto e como não
existe uma liderança. (JORNAL DA UNIVERSIDADE, 2016, p. 16-17).

Ela também ressaltou, por exemplo, o risco do Projeto de Decreto Legislativo no 170/2015,
que susta a aplicação da Resolução no 01/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
única norma brasileira que trata especificamente do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), discipli-
nando o conteúdo das etapas, as responsabilidades e as audiências públicas. Segundo a procura-
dora, na mesma entrevista: “Esse projeto é inconstitucional porque, ao retirar essa resolução do
cenário normativo nacional, não fica nada, apenas a Constituição”.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Alberto
Bocuhy, vários desses dispositivos abrem espaço para o licenciamento simplificado, deixando
brechas para que se arbitre a condução do licenciamento sem critérios transparentes, particular-
mente sobre o Projeto de Lei no 3.729/2004, que tramita em regime de prioridade. Nesse sentido,
ele referiu-se que a tendência será a aprovação de licenças em regime cartorial, com o princípio
da celeridade se voltando contra a suficiência e a eficácia do licenciamento, que é um importante
instrumento de gestão ambiental (BOCUHY, 2016).
Merece destaque, ainda, a Emenda Constitucional no 65/2012, a qual estabelece que, a
partir apenas da apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), nenhuma obra poderá
mais ser suspensa ou cancelada. Desse modo, o que se verifica é que a série de ordenamen-
tos jurídicos em tramitação, além de não resolver a carência de recursos humanos e materiais
que atingem o órgão licenciador, ainda, via de regra, tende a tornar o processo de licenciamento
somente uma formalidade a ser superada.
108
RESULTADOS E DISCUSSÕES

No presente estudo, foram utilizados dados dos anos 2000, 2005, 2010 e 2015. Para cada
ano, os parâmetros analisados foram a licença prévia (LP), a licença de instalação (LI), a licença de
operação (LO) e a declaração de isenção de licenciamento (DI). Em cada um desses parâmetros, há
empreendimentos de porte mínimo, pequeno, médio, grande e excepcional. A página eletrônica
da FEPAM (s.d.) divide cada documento por atividade registrada, a qual terá um determinado
porte, dentro de cada um dos parâmetros (Figura 1).
Figura 1 - Organograma Exemplificando as Etapas do Licenciamento Ambiental
Figura 1 - Organograma exemplificando as etapas do licenciamento ambiental

Fonte: (Modificado
Elaborada pelos Autores (2016).
De: Autores). [SdM1] Comentário: F

Dentre as atividades, temos diversas categorias: na área da agricultura, de infraestrutu-


ra, da indústria, de mineração, de saneamento, de transporte, de turismo, dentre outras. Essas
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Gestão Integrada do Território

categorias são subdivididas em ramos, por exemplo: a categoria agrossilvipastoril vai abarcar
desde a irrigação e a construção de barragens até a criação de aves, suínos, alevinos e piscicultura.
Cada um desses ramos terá um potencial poluidor, como, por exemplo, o potencial da irrigação
superficial, que é alto, e o potencial da drenagem agrícola, que é médio. O potencial poluidor de
cada um dos portes implicará em um valor diferente a ser pago em cada um dos tipos de licença
ambiental. Quanto aos portes dos empreendimentos, eles se enquadram em mínimo, pequeno,
médio, grande e excepcional. Em determinado tipo de ramo, o porte será medido de uma manei-
ra. Por exemplo: para a barragem, a unidade é a área alagada por hectares; para a irrigação, é
medida em hectares; para redes domésticas de esgoto, a unidade é medida em comprimento
por quilômetro; para aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos, a medida é em quantidade de
resíduos em toneladas por dia; para a produção de substâncias químicas, a unidade é a área útil
em metros quadrados, ou seja, para cada ramo, a unidade será adequada à atividade. Para os
empreendimentos excepcionais, a resolução CONAMA no 369, de 28 de março de 2006, dispõe
sobre esses empreendimentos quando o órgão ambiental pode autorizar a supressão de vegeta-
ção em Área de Preservação Permanente (APP) para a implantação de obras e/ou ações de baixo
impacto ambiental, assim como o manejo de fauna e flora.
Observando os dados disponibilizados pela FEPAM (s.d.), podemos ver, em primeira
análise, que as quantidades de licenças de operação sempre são muito superiores às outras licen-
ças (Figura 2). Isso demonstra que muitos empreendimentos se preocuparam em realizar apenas
o estudo para a LO, visto que primeiro se fixaram economicamente e só depois se legalizaram de
acordo com os critérios da legislação ambiental. Tendo em vista que a legislação sobre os tipos de
licenciamento é de 1981, houve um atraso na tomada dessas iniciativas. Esse hiato existente entre
a criação da lei e a sua ampla implantação pode ter se dado por um conjunto de fatores, como
109 a falta de profissionais habilitados, a falta de uma instituição vinculada a esse tipo de estudo,
ou pelo fato de a legislação ser muito ampla, não especificando tipos de projetos e licenças, ou,
ainda, pelo vácuo existente entre as legislações federais, estaduais e municipais.
Figura 2: Quantidade Total das Principais Licenças Concedidas Pela Fepam Entre os
Anos
Figura 2 - Quantidade total das principais de 2000
licenças a 2015 pela FEPAM entre os anos 2000 a 2015
concedidas

Fonte: Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler – FEPAM/RS (2016).
Fonte: Modificado de: Sítio Eletrônico da FEPAM, (2016). [SdM1] Comentário: Verific
correta a fonte

Com o passar dos anos, essas três esferas tomaram uma consciência maior sobre a impor-
tância da preservação ambiental. Além disso, com inúmeros desastres ocorrendo, houve a neces-
sidade de se criarem leis mais restritivas para os usos dos recursos naturais. Alguns estados da
federação incluíram a temática ambiental em sua constituição antes de outros, como Amazonas,
São Paulo, Mato Grosso (VIANA, 2005). Cabe ressaltar que, apesar da Lei Federal no 6.938/81
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caracterizar os tipos de licenças (LP, LI e LO) e a Legislação de 1988 exigir um estudo prévio de
impacto ambiental, apenas em 1997 a Resolução no 237/97 do CONAMA define as competências
do licenciador. Incluindo isso ao fato de a FEPAM ser implantada somente no ano de 1991, enten-
de-se porque muitos empreendimentos não possuíam as LP e LI, tendo, assim, que obter a LO
somente após o estabelecimento já estar em funcionamento.
Outro agravante para essa situação é o fato de que, inicialmente, todo licenciamento
ficaria a cargo do Estado, deixando, assim, a FEPAM sobrecarregada. Somente no ano 2000 é que
atividades de impacto local puderam obter um licenciamento municipalizado, tornando o proces-
so mais ágil e mais minucioso. Entende-se que os servidores do município têm plena capacidade
de analisar o impacto de um projeto de âmbito local, pois eles conhecem em detalhes a região e
sua geologia, seus ecossistemas e as interações sociais. Tal descentralização possibilita que sejam
de competência do Estado somente projetos de cunho intermunicipal, ou com impactos de médio
e grande porte, ou, ainda, de caráter excepcional.
Essa melhor distribuição do trabalho realizado fez com que o número de licenciamentos
aumentasse consideravelmente a partir de 2001, assim como o número de licenciamentos muni-
cipalizados. A quantidade desses licenciamentos, em 2000, era 36; em 2005, subiu para 226 – um
reflexo direto da mudança. Outra questão que muda também é a quantidade de licenciamentos
indeferidos: em 2000, foram apenas 10 projetos; em 2005, 162. Esse pode ser um reflexo da Lei
Estadual no 11.520/2000, que instituiu o Código de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, cujo
artigo 56 elenca os tipos de licenças (LP, LI e LO) (Figura 3).

Figura 3: Gráficos Apresentando uma Comparação Entre as Três Fases do


Figura 3 - Gráficos apresentando uma comparação
Licenciamento ao Longo dos entre as três
Anos, Com fases do licenciamento
as Quantidades em Cada Porte ao longo dos anos, com as
quantidades em cada porte
110

Fonte: Fundação EstadualFonte:


de Proteção
Modificado Ambiental Henrique
de: Sítio Eletrônico Luis
da FEPAM, Roessler – FEPAM/RS (2016).
(2016). [SdM1] Comentário: Verificar Fonte
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No ano de 2010, houve a inclusão do item de licença única, com 67 documentos, todos
para empreendimentos de pequeno porte. As licenças municipalizadas continuaram com altos
números (261). Nesse ano, o que chama a atenção é o alto índice de licenças e declarações inde-
feridas, um total de 605 cadastros (destes, 18 eram de certificados de cadastros de agrotóxicos
e 414 de licenças de operação). Esse alto índice tem íntima correlação com um dos principais
casos de desastre ambiental ocorridos no Estado, quando cinquenta toneladas de peixes mortos
foram encontradas em Rio dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre. Na ocasião, três
empresas (dois curtumes e uma de alimentos) de Estância Velha e Portão foram autuadas por
contribuírem para o desastre lançando resíduos tóxicos no Arroio Portão, cuja desembocadura é
no rio dos Sinos (EXPRESSO NOTÍCIA JUSBRASIL, 2006, n.p.).
No ano de 2015, o percentual de licença ambiental única (LAU) ficou alto, 249, compara-
do ao de 2010. Essa licença ambiental única é necessária para o empreendedor rural que queira
explorar sua área, visto que, a partir da Lei nº 12.651/12, que trata do novo Código Florestal, é
necessário que o agricultor possua o cadastro ambiental rural (CAR), de preservação da Reserva
Legal e das Áreas de Preservação Permanente, para que possa obter a LAU (MELO, 2014).
Esse alto índice de licença única é muito positivo, pois nos mostra que, nos últimos anos,
o empreendedor rural vem tendo a noção da importância da preservação dos ecossistemas e de
como eles interagem com a sua propriedade. Ainda no ano de 2015, observamos também 39
processos de manejo de fauna silvestre, a maioria em caráter excepcional, um indeferido. A quan-
tidade de processos indeferidos, na verdade, foi grande, 357. Esse valor foi um reflexo da lei, cada
vez mais preventiva e punitiva quanto ao controle dos licenciamentos, e, também, do trabalho
da Polícia Federal, que deflagrou operações entre 2012 e 2014, denunciando e desarticulando
esquemas de fraudes em licenciamentos ambientais. O trabalho da polícia foi outro fator de suma
111 importância, pois desmantelou quadrilhas e inibiu futuras ações fraudulentas.
Conforme o exposto, em todos os anos analisados, a quantidade de LO se apresentou
muito superior, enquanto a quantidade de DI sempre se apresentou menor e os valores de LP e
LI se apresentaram muito similares. De 2010 a 2015, encontramos uma tendência à diminuição
das LP, LI e DI e uma tendência para o aumento da LO. No que tange às LP’s, em 2000, a maioria
possuía porte mínimo e pequeno; em 2005, porte pequeno; em 2010 e 2015, os valores entre os
portes mínimos, pequenos e médios se apresentaram muito similares (Figura 3). Quanto às LI’s,
no ano 2000, os valores para os empreendimentos de porte mínimo e pequeno ficaram muito
parecidos; em 2005, os valores para porte mínimo, pequeno e médio ficaram similares; em 2010
e 2015, a maioria dos empreendimentos possuía portes médios, mas, no geral, os valores ficaram
parecidos, com um grande número em caráter excepcional.
As LO’s, no ano 2000, eram, a maioria, de porte mínimo, pequeno e médio; em 2005,
2010 e 2015, a maioria tinha porte pequeno e médio. De 2000 para 2005, as licenças de operação
para empreendimentos de porte mínimo aumentaram seis vezes; as de pequeno e médio porte
aumentaram em torno de 11 vezes; as de porte grande aumentaram oito vezes e, em caráter
excepcional, aumentaram 10 vezes. Quanto às declarações de isenção de licenciamento, em todos
os anos, a maioria delas eram de porte pequeno, com exceção de 2000, cuja maioria era de porte
mínimo. No endereço eletrônico da FEPAM não há uma distinção entre as licenças destinadas a
empreendimentos novos ou à ampliação de empreendimentos já em funcionamento, o que difi-
culta as comparações aprofundadas.
Os empreendimentos passíveis de declaração de isenção de licenciamento são, dentre
eles, comércio em geral, farmácias, estabelecimentos de ensino, ampliação da rede de distribui-
ção de energia, hospitais, hotéis, fossa e sumidouro de esgotos (a rede de esgoto em que está
inserida deve estar devidamente licenciada), construções de casas em loteamentos já licenciados,
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instalações de cabos telefônicos, lavagem de carros e outros. Segundo a Resolução CONAMA nº


237/97, esses estabelecimentos também devem atender às resoluções CONSEMA nº 05/98 e
CONSEMA nº 04/00 para terem a isenção. Os ramos passíveis de isenção de licenciamentos são
aqueles que têm uma demanda muito grande. Por causa disso, a quantidade observada desses
empreendimentos parece pequena, sendo necessário atentar-se ao fato de que pode haver muitos
empreendimentos que não realizaram a declaração de isenção, pois, se todos os empreendimen-
tos estivessem com esse documento de acordo, consequentemente, a quantidade de isenção
seria muito alta.
Vale destacar, ainda, que, conforme publicado no Jornal da Universidade (2016), em
janeiro de 2015, a FEPAM possuía 12.700 processos em tramitação, os quais foram reduzidos para
7.462 atualmente. Segundo o diretor-técnico da FEPAM, Rafael Volquind, “Tiramos o que não
precisava, padronizamos os procedimentos e automatizamos muita coisa, incorporando tecnolo-
gia de informação para agilizar as licenças e reduzir o número de pessoas envolvidas.” (JORNAL DA
UNIVERSIDADE, 2016). Verifica-se, desse modo, que a instituição vem concentrando esforços no
sentido de reduzir esse estoque e otimizar os processos de licenciamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para que o discurso acerca do desenvolvimento sustentável se converta em prática,


conforme já referido, é necessário mediar os diversos objetivos e interesses observados a partir
dos grupos sociais e dos mais variados atores relacionados às questões ambientais. Nesse sentido,
os limites e as regulações são algumas das formas de buscar um maior equilíbrio, por meio do
112 estabelecimento de critérios mínimos que devem ser adotados em relação às alterações no meio
natural e à exploração econômica de atividades, particularmente aquelas com maior potencial de
degradação ambiental.
Sabe-se que a legislação brasileira está entre as mais desenvolvidas e abrangentes do
mundo. A legislação ambiental, no entanto, precisa ser mais divulgada e democratizada para a sua
efetiva aplicação. É inegável que a crescente pressão antrópica sobre os ambientes naturais tem
reduzido o número de áreas reservadas e/ou preservadas, mediante a ação direta do homem, por
isso a proteção do meio ambiente deve ser priorizada e colocada em prática pelos diversos atores
da sociedade e em cada uma das esferas governamentais. Para isso, o embasamento legal deve
nortear as decisões por meio do conhecimento dessas leis e da sua efetiva aplicação.
Como observado neste capítulo, os licenciamentos ambientais no estado do Rio Grande
do Sul obedecem às diretrizes federais. No entanto, devido ao crescente número de empreen-
dimentos, muitas vezes, eles têm suas autorizações atrasadas, visto que esse aumento não é
acompanhado pela contratação de profissionais da área. Essa situação somente pode ser reme-
diada com um incremento no corpo técnico das instituições reguladoras. Soma-se a isso a pouca
compreensão acerca da legislação ambiental por parte da sociedade, assim como a permanente
pressão política no sentido da flexibilização dessas leis, especialmente por parte de bancadas
conservadoras no legislativo, como a ruralista. Ainda assim, demonstrou-se o crescente avanço no
número de licenciamentos e a constante exigência de novos empreendimentos e daqueles que
queiram ampliar suas áreas. O estudo conseguiu, também, correlacionar mudanças na legislação
com os dados apresentados em licenciamentos.
Vale ressaltar, contudo, que para uma análise mais ampla seria importante avaliar dados
mais antigos, assim como incorporar os dados obtidos para os empreendimentos de mínimo,
pequeno, médio e grande porte, além do de caráter excepcional. Com esses dados, poderia ser
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comparado, quantitativamente, o aumento das licenças, além de possibilitar elucidações sobre a


evolução de seus tipos.
Apesar dos problemas que cercam essa área, em termos gerais, o País evoluiu muito no
que tange à legislação ambiental e à sua implantação. Hoje essa temática é muito mais comum
e o empresário sabe das sanções do governo, mesmo que sua empresa não esteja de acordo. A
legislação está muito mais rígida e há um controle maior dos empreendimentos, o que pode ser
considerado um ganho para a sociedade, pois, com um ambiente saudável, poderemos formar
cidadãos completamente saudáveis.
O grande desafio atual é a ampliação dos órgãos responsáveis pelas concessões de licen-
ciamento e a contínua incorporação das leis, para que estas não fiquem apenas no papel. Outro
desafio é a conscientização da população sobre a importância de se manter um meio ambiente
saudável, pois, sabendo de seus direitos e deveres, a população também age como um agente
da lei, denunciando empreendimentos irregulares, ajudando, assim, o Estado e a comunidade
em que está inserido. Essa conscientização nos aproxima do caminho para a construção de uma
cultura de valorização e de preservação dos bens públicos e, especialmente, dos naturais.

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CARACTERIZAÇÃO FÍSICA SINTETIZADA DE ÁREA
DEGRADADA PELA MINERAÇÃO DE CARVÃO NA
LOCALIDADE DE RIO BONITO, EM LAURO MÜLLER, SC

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan09

Daniel Pazini Pezente - UNESC


William de Oliveira Sant Ana - SATC
Jefferson de Faria - SATC

115

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

A região sul do estado de Santa Catarina possui histórico de conjuntura econômica,


social, cultural, política e ambiental vinculada à mineração de carvão, conhecendo-se bem a rela-
ção entre os benefícios econômicos trazidos por essa atividade, assim como os danos ambien-
tais do passado, que constituíram os atuais passivos. Diante do quadro de degradação ambiental
herdado, surgiram diversas pesquisas e trabalhos focados em diagnosticar, monitorar e/ou reme-
diar essa problemática, inclusive por meio da proposição de métodos mais eficazes para auxiliar
no Programa de Recuperação Ambiental da Bacia Carbonífera de Santa Catarina, a exemplo do
Relatório de Monitoramento dos Indicadores Ambientais (BRASIL, 2012).
Nesse contexto, esta proposição metodológica objetiva sintetizar o diagnóstico da fisio-
grafia em áreas-alvo de projetos de reabilitação ambiental (PRAD’s) e mesmo de monitoramentos
ambientais. Esse procedimento dar-se-á por meio de um cruzamento dos mapas de cobertura
do solo, tipo de substrato e tipos de solos, por meio da junção sintética de classes resultantes,
interpretações de suas quantificações, análise e avaliação da qualidade do solo, contribuindo para
uma caracterização simples e fidedigna de áreas de passivo ambiental da mineração carbonífera.
A área piloto selecionada para a aplicação da metodologia situa-se no sul catarinense, na
localidade de Rio Bonito, interior do município de Lauro Müller, perfazendo uma área de 244,43
ha (Mapa 1). A justificativa dessa seleção reside no fato de que o local, após o fim da atividade
mineira, está em processo de recuperação ambiental, optando-se por subsidiar a caracterização
física da área, com a proposição e a aplicação dessa metodologia.

116 Mapa
Figura11––Localização
Localização da
da área
Área de estudono
de Estudo noSul
SulCatarinense
catarinense

Sempelos
Fonte: Elaborada fonteautores (2015). [SdM1] Comentário: Sem Fonte
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Gestão Integrada do Território

Com base no atual Plano Diretor do Município de Lauro Müller, Lei nº 1.549/2008
(PREFEITURA MUNICIPAL DE LAURO MÜLLER, 2008), na área do Rio Bonito, a ocupação urbana
é esparsa, existindo vazios urbanos, demonstrando o baixo potencial de adensamento no local.
Todo o polígono da área piloto elencada, de acordo com o Plano Diretor, situa-se na Zona Rural
Agroindustrial e de Mineração. O artigo 119 desse plano caracteriza esse seguimento do municí-
pio de Lauro Müller como o que possui uso implementado do solo voltado à silvicultura, à pecuá-
ria e a atividades de mineração (pelo potencial de desenvolvimento de mais atividades mineiras,
pela pouca aparelhagem da máquina pública e estruturas existentes e por existir baixa ocupação
e adensamento populacional) (PREFEITURA MUNICIPAL DE LAURO MÜLLER, 2008).
Complementa-se que dada a sua complexidade na ocupação do solo, bem como pretéri-
to contexto mineiro, somente as informações disponibilizadas pelo Plano Diretor não são suficien-
tes para caracterizar e orientar ações de recuperação ambiental na área piloto, tendo em vista a
necessidade da individualização e espacialização de setores com diferentes fisiografias.

METODOLOGIA

A primeira etapa da metodologia consiste em propor classes de cobertura do solo, que


devem ser selecionadas para este mapeamento, as quais devem exprimir fielmente a nature-
za física da área estudada. Para a definição de classes de cobertura, partiu-se dos estudos de
Campos et al. (2009) e Souza, Campos e Gomes (2010). Da mesma forma, propõe-se a classifica-
ção dos diferentes tipos de substrato da área do Rio Bonito, assim como a classificação do tipo de
solo, seguindo a metodologia proposta pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos - SiBCS
117 (EMBRAPA, 2013).
A segunda etapa corresponde à aplicabilidade de mapeamento na área piloto, com utili-
zação das classes de cobertura, substrato e tipos de solos definidos na primeira etapa, finalizando
com o cruzamento de informações levantadas neste mapeamento. Nesta etapa, objetivou-se a
aplicação de metodologia que possibilitasse o emprego de técnicas de geoprocessamento em
ambiente de Sistema de Informação Geográfica – SIG (Figura 1). Conforme Marcelino (2007), a
ferramenta SIG possibilita o cruzamento e a geração de informações de dados diversos, interpo-
lando variáveis e pautando modelos que podem subsidiar tomadas de decisões.
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Figura 2 – Etapas Metodológicas para Execução da Proposta


Figura 1 – Etapas Metodológicas para a execução da proposta

Fonte: Elaborada pelos Autores (2015).


118 Sem fonte [SdM1] Comentár

LEVANTAMENTOS EM CAMPO
O diagnóstico prévio da cobertura do solo baseou-se nas imagens de satélite GeoEye®
(SIECESC, 2011). Como complemento às informações mapeadas em gabinete, foram feitos traba-
lhos de campo para balizar os apontamentos iniciais. Com relação à caracterização dos diferentes
tipos de substrato, o levantamento das informações em campo ocorreu após consulta de foto-
grafias aéreas datadas de 1978, de número 18537 e 18538, de voo executado pela Empresa de
Serviços Aerofotogramétricos Cruzeiro do Sul S.A.
A utilização de imagens aéreas de diferentes intervalos temporais justifica-se pelo fato de
que as datadas de 2011 podem elucidar condições aproximadas à realidade atual, ao passo que
as da década de 70 relatam a condição em plena vigência da atividade mineira na área de estudo.
Os mapas de campo foram construídos sobre essas imagens, sendo demarcados os polígonos de
classes de cobertura e de substrato em diferentes níveis de informação.
Para a classificação do solo, foi percorrida toda a extensão da área do Rio Bonito, com o
objetivo de delimitar os solos de ocorrência natural, ou levemente antropizados, posteriormen-
te buscando encontrar diferenças em relação ao relevo e ao material de origem dos solos, aos
fatores de formação mais heterogêneos na área e aos locais de notáveis propriedades físicas e
edáficas dos solos, definindo dez pontos de amostragem e caracterização (Mapa 2).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013) adota metodologia que
se baseia em um conjunto de classes definidas segundo atributos diagnósticos em um mesmo
nível de generalização ou abstração. Sendo assim, a caracterização valeu-se de cortes topográficos
do terreno ou de aberturas de trincheiras, destacando inteiramente, ou a maior parte, o perfil do
solo para a determinação dos níveis dos atributos. Nesta fase, quatro etapas foram seguidas:
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1ª etapa: Caracterização geral do solo e do ambiente;


2ª etapa: Identificação do horizonte diagnóstico superficial;
3ª etapa: Identificação do horizonte diagnóstico subsuperficial;
4ª etapa: Identificação de outras propriedades diagnósticas.

A identificação dos horizontes foi obtida por meio da visualização das zonas de transi-
ção, de acordo com a nitidez ou contraste, espessura e topografia. A profundidade do solo foi
obtida por meio de um escalímetro, na posição vertical, fazendo-se coincidir seu zero com a parte
superior do horizonte ou camada superficial do solo, efetuando-se a leitura de cima para baixo a
partir da marca zero. A identificação dos horizontes foi obtida com o auxílio do Manual Técnico
de Pedologia (IBGE, 2007). Para cada um dos horizontes ou camadas, anotou-se, então, a medida
observada nos seus limites superior e inferior.
As cores dos solos e a presença de mosqueados foram definidas por meio de compara-
ções com a carta de cores de solos Munsell® (MUNSELL SOIL COLOR COMPANY, 1975). A textura
do solo foi determinada também em campo, de maneira expedita, em amostra de solo úmida, por
meio de sensação do tato, esfregando-se a amostra entre os dedos após amassada e homogenei-
zada, e a classe textural de acordo com o Triângulo de Classes Texturais (LEMOS; SANTOS, 1996). A
estrutura do solo também foi verificada em campo por meio da carta de cores de solos Munsell®
(MUNSELL SOIL COLOR COMPANY, 1975) e das representações apresentadas por Capeche (2008).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos define seis possíveis níveis categóricos, dos
quais os quatro primeiros são os mais usuais. Para a caracterização da área de estudo, fizeram-se
suficientes apenas os dois primeiros níveis: ordens e subordens, constituindo a 5ª e 6ª etapas
119 da classificação dos solos: Identificação da Ordem de Solo com o uso da chave e Identificação da
Subordem.

ELABORAÇÃO DOS MAPAS


Usou-se o software ArcGis 10.1 para a conversão dos dados levantados para composição
dos mapas em um ambiente SIG. Esta etapa tem, basicamente, dois propósitos: primeiro, garantir
a consistência geométrica dos limites das classes dos mapas, por meio da criação de topologias;
segundo, para empregar rotinas de cruzamentos espaciais e a quantificação das áreas das catego-
rias mapeadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A definição dos tipos de substrato existentes na área piloto, a classificação dos solos e das
diferentes coberturas sucederam as atividades de campo, sendo elencadas três classes para subs-
trato e cinco classes para cobertura, ou seja, foi possível encontrar até 15 diferentes associações
de classes sintetizadas entre substrato/cobertura, associadas ao tipo de solo da região.

TIPOS DE SUBSTRATO E CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS


Após o mapeamento na área piloto do Rio Bonito, verificou-se que existem três diferen-
tes substratos, os quais agrupam características peculiares e diferentes entre si, sendo possível
sua aplicabilidade para outras áreas da bacia carbonífera. As três classes sugeridas são:
• Solo de Mineração: inclui os locais em que os passivos da mineração subterrânea e a céu
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aberto são encontrados em superfície, caracterizados por conterem rochas sedimentares


associadas ao carvão mineral e a nódulos de pirita (FeS2), modificando estrutural e morfologi-
camente a paisagem (KALKREUTH et al., 2010). Esses materiais, oriundos do beneficiamento
e/ou da descobertura da camada de carvão, foram dispostos no local, em diferentes épocas,
compreendendo setores que estão sendo gradativamente urbanizados e/ou recuperados
ambientalmente;
• Solo Construído: é constituído por porções em que houve a execução de atividades de recupe-
ração ambiental, de acordo com um planejamento e critérios de remoção e/ou estabilização
dos materiais contaminantes, com conformação e estruturação de substrato, visando implan-
tar a cobertura vegetal (KÄMPF et al., 2000);
• Solo Natural: congrega as porções no interior da área em que o substrato consiste num corpo
estruturalmente e texturalmente natural, organizado em horizontes, como produto de altera-
ção das rochas in situ, bem como solos transportados e remanejados sob a ação da pedogê-
nese (TROEH; THOMPSON, 2007).

O mapeamento dos tipos de substrato na área de estudo (Mapa 2), com 244,43 ha resul-
tou em 22,58 ha de solo de mineração, 207,55 ha de solo natural e 14,3 ha de solo construído.

Figura 3 – Mapa Dos Diferentes Tipos De Substrato na Área de Estudo, Associado aos
Mapa 2 – Mapa dos diferentes tipos de substrato
Tipos DenaSolos
área de estudo, associados aos tipos de solos

120

Fonte: Elaborado pelos Autores (2015).


Sem fonte [SdM1] Comentário: Font

Nos pontos de análise e avaliação da qualidade dos solos, o matiz deles variou de 5YR a
10YR, com a grande maioria perfazendo índices 7,5YR e 10YR nos horizontes A e B (MUNSELL SOIL
COLOR COMPANY, 1975). Os valores dos matizes estiveram entre 2 e 6, concentrando-se mais em
4 e 5, revelando tendência de tonalidades de matiz intermediárias, entre claras e escuras. Quanto
ao croma, a variação de 2 a 8 demonstra valores mais próximos do cinza que o matiz da escala
(Tabela 1).
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Em relação à textura, no horizonte B (diagnóstico), observa-se uma maior contribuição


da fração argila em relação ao silte e à areia, apesar de alguns pontos terem apresentado textura
franco-argilo-siltosa e argilo-arenosa. A natureza coloidal da fração argila propicia uma elevada
coesão e estruturação de partículas (CAPECHE, 2008), o que pode ser verificado pela grande quan-
tidade de blocos subangulares formados e a considerável estabilidade desses blocos no horizonte
B de todos os solos analisados (Tabela 2).
O atributo que mais variou, considerando-se os dez pontos distintos, foi a profundidade
dos horizontes, em especial do horizonte B. Dentre eles, pôde-se identificar desde solos extrema-
mente rasos, de profundidade menor que 30 cm (Ponto 5) até solos muito profundos, em que o
horizonte C (o qual indica a presença de materiais de formação pouco intemperizados ou sapróli-
tos) foi identificado a mais de 210 cm de profundidade (Ponto 4) (Tabela 1).
Tabela 1 – Localização dos Pontos, Profundidade e Aspectos Relacionados à Matiz
dos Solos Amostrados na Área De Estudo de Diagnóstico do Campo Rio Bonito –
Tabela 1 – Localização dos pontos, profundidadeLauro
e aspectos relacionados ao matiz dos solos amostrados na área de
Müller, SC
estudo de diagnóstico do campo Rio Bonito – Lauro Müller, SC
Coordenada UTM Profundidade
Ponto Horizonte Matiz Valor Croma
E N (cm)
A 14 10YR 3 6
1 653.981 6.856.172
Bt >100 10YR 4 6
A 4 7,5YR 5 8
2 652.986 6.855.578
Bt 45 7,5YR 5 6
A 9 7,5YR 4 6
3 653.332 6.856.007
Bt 110 7,5YR 5 8
A 10 7,5YR 4 6
4 653.670 6.856.300
Bt 200 7,5YR 5 8
A 7 10YR 4 3
5 653.522 6.856.362
Cg 13 7,5YR 2,5 3
A 15 10YR 5 8
6 653.813 6.856.248
Bt 100 10YR 6 8
121 7 654.533 6.856.911
A
Bt
13
70
7,5YR
10YR
2,5
4
3
6
A 10 5YR 3 4
8 654.537 6.856.013
Bt 180 7,5YR 5 8
A 7 7,5YR 3 4
9 655.098 6.855.785
Bt 50 7,5YR 5 8
A 7 7,5YR 2 2
10 654.378 6.856.328
Bt 105 7,5YR 5 8
[SdM1] Comentário: Fonte
Fonte?? Fonte: Elaborada pelos autores (2015).
Tabela 2 – Aspectos Relacionados aos Atributos Físicos do Horizonte B dos Solos
Amostrados
Tabela na Área aos
2 – Aspectos relacionados de atributos
Estudofísicos
do Campo Rio
do horizonte Bonito
b dos – LauronaMüller,
solos amostrados SC. do
área de estudo
campo Rio Bonito – Lauro Müller, SC
Ponto Textura Estrutura Coesão entre partículas
1 Argilo-siltoso Blocos subangulares Moderada à forte
2 Franco-argilo-siltosa Blocos subangulares Moderada à forte
3 Argilo-siltoso Blocos subangulares Moderada
4 Argilo-arenoso Blocos subangulares Moderada
5 Argiloso Prismática Muito forte
6 Argilo-siltoso Blocos subangulares Moderada à forte
7 Argiloso Blocos subangulares Moderada
8 Argilo-siltoso Blocos subangulares Moderada
9 Argilo-arenoso Blocos subangulares Moderada
10 Argilo-siltoso Blocos subangulares Moderada à forte
Fonte: Elaborada pelos autores (2015). [S
Fonte??
Conforme critérios do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013), duas
classes de solo, de acordo com o primeiro nível categórico, foram encontradas na área de estudo.
Nos pontos amostrados de número 1, 3, 4, 6, 8, 9 e 10 (Mapa 2), a classe é determina-
da como Argissolo. Para tanto, os seguintes critérios foram observados: solos constituídos por
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material mineral, que têm como características diferenciais a presença de horizonte B textural de
argila de atividade baixa ou alta conjugada com saturação por bases baixa ou caráter alítico. Os
pontos de coleta 2 e 7 foram realizados fora da área de estudo, a fim de servirem como checklist,
e se apresentaram semelhantes ao encontrado dentro da área.
O horizonte B textural (Bt) encontra-se imediatamente abaixo de qualquer tipo de hori-
zonte superficial, exceto o hístico (que não foi observado em todos os pontos analisados), sem
apresentar, contudo, os requisitos estabelecidos para ser enquadrado nas classes dos Luvissolos,
Planossolos, Plintossolos ou Gleissolos (também não observados) (EMBRAPA, 2013).
No solo dessa área, há um evidente incremento no teor de argila do horizonte superficial
para o horizonte B, com ou sem decréscimo nos horizontes subjacentes. A transição entre os
horizontes A e Bt é clara e, eventualmente, gradual. Tem profundidade variável, desde forte a
imperfeitamente drenada, de cores mais amareladas e/ou brunadas. A textura varia de arenosa
à argilosa no horizonte A e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento
de argila daquele para este.
No ponto amostrado de número 5, a classe é determinada como Gleissolo. Para ser
enquadrado dentro dessa classe, o solo obedeceu aos seguintes critérios: solo hidromórfico,
constituído por material mineral, apresentando horizonte glei dentro dos 30 cm do solo, imedia-
tamente abaixo do horizonte A. Não apresenta textura, exclusivamente areia ou areia franca em
todos os horizontes até o contato lítico, tampouco horizonte vértico ou horizonte B textural, com
mudança textural abrupta acima ou coincidente com o horizonte glei ou com qualquer outro tipo
de horizonte B diagnóstico acima do horizonte glei.
Esse tipo de solo, segundo Capeche (2008), encontra-se periodicamente saturado por
122 água, sendo que essa permanece estagnada internamente. A saturação também ocorre por fluxo
lateral no solo. Em qualquer circunstância, a água do solo pode se elevar por ascensão capilar,
atingindo a superfície. Há presença de forte gleização, em decorrência do ambiente redutor,
virtualmente livre de oxigênio dissolvido em razão da saturação por água. Esse processo é identifi-
cado por meio da manifestação de cores acinzentadas, devido à redução e à solubilização do ferro
e também pela observação da precipitação de compostos ferrosos no horizonte glei (IBGE, 2007).
Em relação ao segundo nível categórico (subordem), os pontos 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e
10 caracterizam-se por terem solo de classificação Argissolo Amarelo, já que variaram, segundo
Embrapa (2013), em matiz entre 7,5YR a 10YR na maior parte dos primeiros 100 cm do horizonte
B (inclusive BA). Além do horizonte B, todos os horizontes A apresentaram matiz mais amarelado,
à exceção do ponto 8, cujo matiz correspondeu a 5YR.
A subordem do solo do ponto 5 corresponde a um Gleissolo Háplico, já que não apresen-
ta horizontes com presença de tiomorfismo, caráter sálico ou melânico (EMBRAPA, 2013).

DEFINIÇÃO DA COBERTURA DO SOLO


Dentre os critérios de mapeamento fisiográfico utilizados, enquadraram-se as observa-
ções acerca das classes de cobertura do solo (Mapa 3), definidas também de acordo com a forma
de estabelecimento das comunidades vegetais. Assim, para a cobertura vegetal, componente da
cobertura do solo, foram consideradas duas classes:

• Vegetação Introduzida: comunidade vegetal que foi estabelecida por meio


de intervenção antrópica, em que a cobertura vincula-se ao uso econômico
da área recuperada, a exemplo das pastagens, das culturas agrícolas e da
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silvicultura. Essa classe é identificada por meio de características fisionômicas


da vegetação, como o plantio homogêneo e/ou sistematizado;
• Vegetação Espontânea: essa comunidade vegetal teve seu desenvolvimen-
to de forma natural, sem a intervenção antrópica. Nessa classe, podem ser
incluídas tanto espécies nativas quanto exóticas, pertencentes a comunidades
vegetais herbáceas, arbustivas ou arbóreas, que, em alguns casos, encontram-
-se bastante desenvolvidas, sendo semelhantes a remanescentes florestais
nativos. Na escala dessa proposição não houve a distinção entre diferentes
fisionomias relacionadas a essa classe.

Além das classes de cobertura vegetal, a cobertura do solo compreende também:

• Corpos d’água: é classificado como corpo d’água qualquer área que, ao menos,
fique sazonalmente alagada. Dentro dessa classe estão as antigas cavas de
mineração, que hoje são lagoas, alagadiços e banhados;
• Solo Urbano: são áreas que possuem uma densidade de construções residen-
ciais e industriais, ou cercamentos e/ou loteamentos em implantação. A deli-
mitação dessa classe é importante, do ponto de vista ambiental, pois muitas
dessas áreas são zonas frágeis, propícias a invasões, cuja ocupação desordena-
da dificulta ou inviabiliza quaisquer ações de recuperação ambiental;
• Sem Cobertura: agrupam locais em que inexiste ocupação urbana ou corpos
d’água, bem como a vegetação que foi suprimida ou não se desenvolveu.
123
Mapa 3Figura
– Mapa das das
4 – Mapa diferentes
Diferentesclasses
Classes de cobertura
de Cobertura do do
Solosolo na área
na Área de estudo
de Estudo

Fonte: ElaboradoFonte:
pelos autores (2015). [SdM1] Comentário: Fonte?/

MAPA SÍNTESE DE CRUZAMENTO


A partir do mapeamento de três classes de substrato (Mapa 2) e das cinco classes de
cobertura do solo (Mapa 3), foi realizado o cruzamento das informações desses dois níveis de
informação, com a finalidade de quantificar cada classe sintetizada (cobertura/substrato) em rela-
ção ao total da área de estudo.
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O cruzamento das informações (Tabela 3) resultou em 14 classes sintetizadas, que


reúnem, conjuntamente, as características do substrato sobreposto pela cobertura do solo (Mapa
4).
Tabela 3 - Adoção de Classes Sintetizadas Com o Tipo De Substrato Em Relação à
Cobertura
Tabela 3 - Adoção de classes sintetizadas com o tipo de substrato em relação à cobertura
Classe Substrato Cobertura Hectares
1 Solo de mineração Vegetação espontânea 2,03
2 Solo de mineração Vegetação introduzida 6,76
3 Solo de mineração Sem cobertura 12,32
4 Solo de mineração Solo urbano 1,40
5 Solo de mineração Corpos d'água 0,07
6 Solo natural Vegetação introduzida 135,01
7 Solo natural Vegetação espontânea 47,22
8 Solo natural Solo urbano 15,62
9 Solo natural Sem cobertura 9,39
10 Solo natural Corpos d'água 0,31
11 Solo construído Vegetação introduzida 5,86
12 Solo construído Vegetação espontânea 0,13
13 Solo construído Sem cobertura 7,95
14 Solo construído Solo urbano 0,37
TOTAL 244,43
Fonte?????/ Fonte: Elaborada pelos Autores (2015).
Figura 5 – Mapa Síntese do Cruzamento dos Tipos De Substrato e Classes de
Mapa 4 – Mapa síntese do cruzamento Cobertura
dos tiposnadeÁrea
substrato e classes de cobertura na área de estudo
de Estudo

124

Sem Fonte???? Fonte: Elaborado pelos Autores (2015). [SdM1] Comentário: Sem fonte??

Quanto ao substrato, no interior da área de estudo, há a predominância de solo natural,


com 207,55 ha; os solos de mineração respondem por 22,58 ha e os solos construídos perfazem
14,30 ha. Conforme a Tabela 3, verifica-se que as classes sintetizadas de 1 a 5 congregam cober-
turas alocadas sobre o solo de mineração. As classes de 6 a 10 estão associadas ao solo natural,
enquanto as de número entre 10 e 14 se referem ao solo construído.
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No que se refere à cobertura do solo na área de estudo, preponderam as classes sinteti-


zadas 6 e 7, que correspondem às vegetações introduzida e espontânea, respectivamente, desen-
volvidas sobre solo natural. Também é interessante mencionar que a ausência de cobertura é
majoritária sobre os solos de mineração e sobre os solos construídos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposição desta metodologia de cruzamento de diferentes níveis de informação


envolvendo a conceituação de três classes de tipos de substrato, cinco de cobertura do solo e a
classificação do tipo de solo demonstrou-se apta para o rápido reconhecimento de uma área de
estudo. A aplicação desse método na área piloto do Rio Bonito forneceu subsídios para a inter-
pretação acerca de 14 classes sintetizadas, concluindo-se que predominam no local solos naturais
com características de Argissolos Amarelos. Nas classes indicativas de solo de mineração e de solo
construídos, a ausência de cobertura é majoritária.
A definição de Argissolo Amarelo na maioria da área de estudo, associada às condições
de relevo altamente ondulado, gera informações de um solo com grande restrição ao uso agrícola
devido à sua baixa fertilidade, acidez, teores elevados de alumínio e susceptibilidade a processos
erosivos, principalmente nas áreas com relevo acentuado. Esse tipo de solo tende a ser mais
susceptível à erosão, devido à relação textural, que resulta em diferentes níveis de infiltração dos
horizontes superficiais para os subsuperficiais.
A constatação das características do solo, bem como da sua cobertura, pode orientar
o diagnóstico ambiental dessa área, fornecendo subsídios adequados para posteriores projetos
125 executivos de recuperação, uma vez que na ausência de cobertura em solos de mineração cons-
truídos, e mesmo em solos naturais, pode desencadear processos erosivos e de lixiviação.
Salienta-se que esta metodologia vem sendo empregada pelo Núcleo do Meio Ambiente
do CTCL/SATC na elaboração de projetos de recuperação de áreas degradadas pela mineração de
carvão, portanto, trata-se de método já comprovadamente útil para traçar estratégias de aborda-
gens diferenciadas para cada grau de impacto mapeado.
A continuidade desta pesquisa caminha para relacionar as classes sintetizadas com o uso
futuro previsto nos planos diretores municipais, buscando a padronização das ações de recupera-
ção para cada subtipo do mapa síntese.

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TROEH, F. H.; THOMPSON, L. M. Solos e Fertilidade do Solo. 6. ed. São Paulo: Andrei, 2007. 718p.
CAPÍTULO X
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO SOCIAL:
A INSERÇÃO DAS COMUNIDADES NAS ATIVIDADES DE
DETONAÇÕES DE ROCHAS DO CONTORNO RODOVIÁRIO DE
FLORIANÓPOLIS

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan10

Marília Simoni Dordete da Silva - ARTERIS


Daniela Beatriz Goudard Bussmann - ARTERIS
Renato Muzzolon - AVISTAR
Cássia Gabrielli Padilha- AVISTAR
Rubens Vicente de Mesquita - AVISTAR
Elder Owsiany Mendes - AVISTAR
Renata Muzzolon - AVISTAR
127 Alessandro Martins Matsunaga - AVISTAR
Renato Muzzolon Júnior - AVISTAR

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O Contorno Rodoviário de Florianópolis é um empreendimento em implantação, loca-


lizado no estado de Santa Catarina, mais precisamente nos municípios de Governador Celso
Ramos, Biguaçu, São José e Palhoça, compreendendo a região da Grande Florianópolis. Trata-se
de uma nova rodovia, em pista dupla, Classe 1A, iniciando no km 175+200 da rodovia BR 101/SC
e terminando no km 229+240 da BR 101/SC, com aproximadamente 50 km de extensão (Mapa 1)
(RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL, 2013).
O projeto do traçado prevê implantações de interseções nas principais vias de ligação
federais, estaduais e municipais, como também passagens inferiores para atender às estradas
municipais e aos demais acessos, mantendo, assim, as ligações entre as comunidades que fica-
rão no entorno da nova rodovia. Com o intuito de minimizar os impactos ambientais, também
está projetado a implantação de oito túneis, que totalizam aproximadamente 8 km de extenção
(RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL, 2013).
No Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) para a implantação do Contorno Rodoviário
de Florianópolis, especificamente nas proximidades do empreendimento, foi previsto a possibili-
dade do aumento dos níveis de ruídos e vibrações. Esse aumento pode ocorrer devido às ativida-
des de construção e de implantação da nova rodovia, as quais se dão nas áreas de implantação
dos túneis e dos cortes a céu aberto (RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL, 2013).
Ruídos e vibrações podem estar relacionados às atividades de construção de qualquer
grande empreendimento, como a movimentação das máquinas de grande porte, a compactação
do solo, os desmontes das rochas, as escavações mecânicas, bem como o transporte do material
128 desmontado. Hiller (2011) considera o desmonte de rochas com uso de explosivos a atividade
mais significativa na geração de impactos relacionados a ruídos e vibrações.
De acordo com o RIMA (2013) da nova rodovia, a alternativa tecnológica para a abertura
dos túneis e dos maciços rochosos é a utilização de explosivos para as detonações de rochas com
o controle da fragmentação, pois, dessa maneira, o avanço da obra ocorrerá com maior eficácia.
Alguns danos podem ser gerados diante das atividades de detonações, como, por exem-
plo, o incômodo temporário à população. Esse incômodo é referente à capacidade de o corpo
humano perceber e/ou sentir o desconforto causado pela atividade de detonação, como também
os riscos e/ou danos às edificações localizadas nas proximidades das áreas das detonações
(HILLER, 2011). A elevação dos níveis de ruídos também pode gerar incômodos à população, além
de perturbação temporária na qualidade de vida local (RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL,
2013).
Por isso que se tornou necessário um planejamento detalhado para as atividades de
detonações de rochas no Contorno Rodoviário de Florianópolis, uma vez que na área de influên-
cia do empreendimento existem comunidades rurais e/ou urbanas dos municípios da Grande
Florianópolis. Esse planejamento visa à elaboração antecipada do plano de fogo de cada detona-
ção, que permite providenciar medidas mitigatórias para reduzir os níveis de ruídos e vibrações.
Além disso, a implementação de ações de Educação Ambiental e de Comunicação Social tornou-se
necessária nas comunidades, com o intuito de antecipar e de informar as datas e horários, como
também orientar sobre a metodologia das atividades das detonações.
O presente capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia realizada nas comuni-
dades do entorno do empreendimento Contorno Rodoviário de Florianópolis, por meio das ações
de Educação Ambiental e de Comunicação Social nos eventos de detonações de rochas.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada
Figura 1 - do Território
Mapa de Localização do Contorno Rodoviário de Florianópolis (Br-101 SC)

Mapa 1- Mapa de Localização do Contorno Rodoviário de Florianópolis BR-101 SC

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia,(2016).
129 A Zona de Influência das atividades de detonações de rochas são as áreas onde os impac-
tos dos desmontes devem ser estudados mais detalhadamente. Essas áreas coincidem com a
Área de Influência Direta (AID) do meio físico definida no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do
Contorno Rodoviário de Florianópolis (ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL, 2013).
Para a delimitação das Zonas de Influência, foram respeitadas as especificidades da
ocupação territorial, as quais compreendem as áreas reais ou potencialmente ameaçadas pelos
impactos diretos do empreendimento (RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL, 2013).
Sendo assim, os limites da Zona de Influência correspondem a uma faixa de 1000 m
de largura, com centro coincidente ao eixo da via projetada (500 m para cada lado da via) nas
áreas onde está prevista a realização das detonações. O Mapa 2 está exemplificando a área de
um ponto de detonação de rochas a céu aberto no Contorno Rodoviário de Florianópolis (ponto
CO-5), destacando a área de influência das detonações.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 1- Mapa de Localização do Contorno Rodoviário de Florianópolis (Br-101 SC),
em Destaque Um dos Pontos de Detonações de Rochas a Céu Aberto (Co-5) Com a
Mapa 2 - Mapa de Localização do Contorno
Área deRodoviário
Influênciade das
Florianópolis (BR-101 SC). Em Destaque um dos Pontos
Detonações
de Detonações de Rochas a Céu Aberto (CO-5) com a Área de Influência das Detonações

130

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

Com as imagens de satélite, pode-se realizar o levantamento das áreas residenciais na


Zona de Influência dos pontos de detonações, as quais são locais que deverão receber atenção
especial em relação ao monitoramento das detonações e das ações de Educação Ambiental e de
Comunicação Social.
Como parte integrante do Programa de Comunicação Social do Contorno Rodoviário de
Florianópolis, o Plano de Aviso de Detonação tem como objetivo manter um canal de comuni-
cação aberto e contínuo entre o empreendimento e as comunidades da Zona de Influência das
detonações.
A comunicação serve tanto para o fornecimento das informações às populações a respei-
to das atividades de detonações, de seus impactos e implicações na vida da comunidade e as
medidas de controle e monitoramento implantadas, quanto para ouvir sugestões e reclamações
em relação aos possíveis problemas que possam ocorrer, subsidiando ações orientadas à mitiga-
ção dessas implicações.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

As principais ações previstas no Plano de Aviso de Detonação são:

1 - Realizar reuniões antes do início da fase de detonação com os representantes das


comunidades (associações de bairros, lideranças de escolas e igrejas, vereadores, equipe da
prefeitura e cidadãos em geral):
• Prestar esclarecimentos quanto ao andamento da obra, previsão de início e fim das
detonações/escavações em cada ponto de detonação;
• Estabelecer um acordo com a comunidade sobre os horários determinados de deto-
nação, com sinal sonoro audível que não gere desconforto adicional (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005);
• Tranquilizar a população, deixando clara a diferença entre as vibrações perceptíveis e
aquelas capazes de causar algum dano efetivo;
• Divulgar a realização de monitoramento das vibrações e ruídos e as medidas para
assegurar a integridade das edificações;
• Divulgar os procedimentos de segurança necessários durante as detonações;
• Divulgar o canal de comunicação a ser estabelecido para atendimento da comunidade.

2 - Estabelecer um canal centralizado de comunicação com a comunidade, por meio de


agente tecnicamente habilitado e familiarizado com as operações da obra, incluindo as seguintes
atividades:
• Implementar sistema de informação à população quanto às atividades de desmonte,
131 envolvendo aspectos tais como: sinalização, horário de detonação, procedimentos de
segurança adotados, entre outros;
• Estabelecer registro de reclamações em formulário adequado, contendo, pelo menos,
nome e endereço do reclamante, horário, tipo de incômodo verificado, quais as provi-
dências tomadas pela empresa para minimizar os aspectos relativos ao objeto de
reclamação e outras providências eventuais.

3 - Elaborar cartazes e folhetos informativos contendo as informações sobre os dias e horá-


rios das detonações e os respectivos procedimentos de segurança implantados.
4 - Divulgar informações sobre as detonações em outros meios de comunicação, como
rádios locais, carro de som, dentre outros, antes do início das atividades de detonação. A divulga-
ção deve continuar durante o período previsto para a fase de detonação.
5 - Instalar placas informativas nas principais as vias públicas localizadas na área de influên-
cia, informando as datas, os horários das detonações, bem como quando e quais vias terão seu
fluxo interrompido durante as atividades de detonação.
6 - Elaborar e divulgar boletim informativo bimestral contendo informações sobre o anda-
mento das atividades da obra, próximas fases previstas, interferências no cotidiano da população
e andamento dos monitoramentos de ruídos e vibrações.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

DESENVOLVIMENTO

Para a realização das reuniões, o público-alvo são as comunidades residentes ou que


frequentam/transitam as vias da Zona de Influência das atividades de detonações. Todavia, os
esforços para a divulgação das reuniões nas comunidades foram diferenciados conforme a distân-
cia, a partir de cada ponto de detonação:
• Grupo Prioritário I: Grupos mais vulneráveis e diretamente afetados pelas atividades
de detonações. São moradores e usuários das áreas correspondentes aos 500 m a
partir do ponto de detonação;
• Grupo Prioritário II: Grupos menos vulneráveis, porém diretamente afetados pelas
atividades de detonações. São moradores e usuários das áreas correspondentes aos
700 m a partir do ponto de detonação;
• Grupo Prioritário III: Entidades locais (associações de moradores, sindicatos, igrejas,
escolas) localizadas próximo aos limites dos perímetros das Zonas de Influências das
detonações.

As ações de Educação Ambiental e de Comunicação Social são realizadas para contem-


plar a adequada comunicação com a comunidade. Assim sendo, o público prioritário é aquele
mais vulnerável e afetado pelo empreendimento, como também aquele diretamente influenciado
pelas atividades de detonações. Os principais assuntos abordados por meio da exposição dialoga-
da nas comunidades são:
132
• Processo de licenciamento ambiental do empreendimento (histórico, objetivos,
marco legal, entidades sociais estatais e não estatais envolvidas na implantação do
Contorno Rodoviário de Florianópolis);
• EIA/RIMA do Contorno Rodoviário de Florianópolis;
• Os Programas Ambientais e as medidas mitigadoras e compensatórias;
• O Subprograma de Controle, Minimização e Monitoramento dos Impactos Provocados
pela Construção de Túneis e de Áreas de Desmonte de Rocha e as medidas mitigadoras
e compensatórias por meio do conteúdo:
→→ Quais serão os pontos de detonações (túneis e áreas a céu aberto);
→→ Atividades de monitoramento: Fases do monitoramento da integridade das edificações
(Identificação e registro; Análise dos dados; Vistoria cautelar), Ultralançamentos,
Nível de pressão acústica, Vibrações;
→→ A aplicabilidade do monitoramento de ruídos e vibrações e do lençol freático nas
áreas de detonações;
→→ Atividades de mitigação;
→→ Plano de aviso das detonações.

PREPARAÇÃO PARA AS REUNIÕES

As reuniões foram realizadas em locais favoráveis às comunidades. Em cada ponto onde


ocorreram as detonações, foram averiguados os espaços físicos que contemplavam a acomodação
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

de pessoas, os quais eram propícios à projeção das apresentações em slides. Sendo assim, os
locais previstos para as realizações das reuniões foram: pavilhões de igrejas, pátios escolares,
galpões comunitários e/ou salões particulares para eventos.
Foram distribuídos convites, os quais tinham a finalidade de convidar os membros das
comunidades para as reuniões (Figura 1).
Figura 3 - Modelo do Convite Utilizado para Reunião do Ponto Co-5.1, o Qual Foi
Distribuído aos Moradores Influenciados Diretamente Pelas Detonações de Rochas do
Figura 1 - Modelo do convite utilizado para a reunião do ponto CO-5.1, o qual foi distribuído aos moradores influen-
Empreendimento Contorno Rodoviário De Florianópolis
ciados diretamente pelas detonações de rochas do empreendimento Contorno Rodoviário de Florianópolis

133
Fonte: Autopista Litoral Sul (2016).
Fonte: Autopista Litoral Sul, (2016).

RESULTADOS

Foram realizados eventos de detonações nos pontos CO-5, CO-5.1 e CO-6, em áreas
localizadas nos km 217+800, km 219+560 e 219+840 do Contorno Rodoviário de Florianópolis,
respectivamente, do tipo céu aberto e localizados próximo ao morro da Pedra Branca (entre os
municípios de São José e Palhoça/SC, bairros Sertão do Maruim e Pedra Branca) (Mapa 3).
As reuniões foram programadas com carga horária de 4 (quatro) horas. A metodologia
seguiu com a exposição teórica realizada com o auxílio de recurso audiovisual na apresentação
dos slides. Durante as reuniões, foram capturadas fotografias e realizadas filmagens integrais das
apresentações e dos questionamentos levantados pelos(as) participantes.
Foram disponibilizados informativos sobre as atividades de desmontes de rochas e os
Jornais da Obra de nº 6, 7 e 8, cedidos pela Concessionária (CONTORNO DE FLORIANÓPOLIS,
2016). Além disso, canetas personalizadas ALS foram distribuídas para facilitar as anotações
dos(as) participantes.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 4 - Mapa de Localização do Contorno Rodoviário de Florianópolis (Br-101 SC),
em Destaque os Pontos Co-5, Co-5.1 E Co-6, Áreas Onde Ocorrem as Detonações de
Mapa 3 - Mapa de localização do Contorno
Rochas Rodoviário de
Nos Municípios DeFlorianópolis
São José (BR-101 SC). Em destaque os pontos CO-5,
E Palhoça/SC
CO-5.1 e CO-6, áreas onde ocorrem as detonações de rochas nos municípios de São José e Palhoça/SC

134

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

Na Tabela 1, são apresentadas as datas de realização das reuniões sobre detonações de


rochas nos respectivos pontos:

Tabela 1 - Datas, Localizações e Comunidades Onde Foram Realizadas as Reuniões


Tabela 1 - Datas, localizações e comunidades onde foram
Sobre As Atividades de realizadas
Detonações asde
reuniões
Rochassobre as atividades de detonações
de rochas
Data Localização Comunidade
17/06/2016 Ponto CO-5.1 Bairro Pedra Branca - Palhoça/SC
18/06/2016 Ponto CO-5 Bairro Sertão do Maruim - São José/SC
20/08/2016 Ponto CO-6 Bairro Pedra Branca - Palhoça/SC
Fonte: Autopista Litoral Sul (2016).
Fonte??? [SdM1] Comentário: Fonte???

Um dos indicadores utilizados nas reuniões foi o número de participantes das comunida-
des (Tabela 2).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Tabela 1 - Número de Participantes Envolvidos nas Reuniões com as Comunidades
em Cada Ponto de Detonação
Tabela 2 - Número de participantes envolvidos(as) nas reuniões com as comunidades em cada ponto de detonação
Localização Número de participantes
Ponto CO-5.1 27 (vinte e sete)
Ponto CO-5 15 (quinze)
Ponto CO-6 16 (dezesseis)
Fonte [SdM1] Comentário: Fonte
Fonte: Autopista Litoral Sul (2016).

Abaixo estão apresentados os registros fotográficos de cada reunião realizada nos pontos
CO-5, CO-5.1 e CO-6.

ImagemFigura 5 - Reunião
1 - Reunião Com a Comunidade
com a comunidade influenciadaInfluenciada Pelas
pelas atividades Atividades de
das detonações das Detonações
rochas do Ponto CO-5.1
de Rochas do Ponto Co-5.1. Distribuição dos Informativos ao
(Distribuição dos informativos ao público presente)Público Presente

135

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).
Figura 6 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das Detonações
Imagem 2 - Reunião com a comunidade influenciada pelas atividades das detonações de rochas do Ponto CO-5.1
de Rochas do Ponto Co-5.1. Apresentação do Vídeo Institucional da Concessionária, o
(Apresentação do vídeo institucional da concessionária, o qual apresenta o andamento da obra do Contorno
Qual Apresenta o Andamento da Obra do Contorno Rodoviário de Florianópolis
Rodoviário de Florianópolis)

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

Figura 7 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das Detonações


de Rochas do Ponto Co-5.1. Leitura da Ata Sobre os Assuntos Tratados Durante a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 7 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das Detonações
de Rochas
Imagem 3do Ponto
- Reunião comCo-5.1.
a comunidadeLeitura da pelas
influenciada Ataatividades
Sobredas osdetonações
Assuntos Tratados
de rochas do Ponto Durante
CO-5.1 a
Reunião
(Leitura da ata sobre os assuntos tratados durante a reunião)

Fonte: Avistar Engenharia (2016).

136 Figura 8 - Reunião ComFonte: Avistar Influenciada


a Comunidade Engenharia, (2016).
pelas Atividades das Detonações
Imagem 4 - Reunião com a comunidade influenciada pelas atividades das detonações de rochas do Ponto CO-5
de Rochas do Ponto Co-5. Distribuição dos Informativos ao Público Presente
(Distribuição dos informativos ao público presente)

Fonte: Avistar Engenharia, (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

Figura 9 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das Detonações


de Rochas do Ponto Co-5. Apresentação do Subprograma de Controle, Minimização e
Monitoramento de Impactos Provocados pela Construção dos Túneis e de Áreas de
Desmonte de Rocha
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Figura 9 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das Detonações
Gestão Integrada do Território
de Rochas do Ponto Co-5. Apresentação do Subprograma de Controle, Minimização e
Monitoramento
Imagem 5 - Reuniãodecom Impactos Provocados
a comunidade pelaatividades
influenciada pelas Construção dos Túneis
das detonações de rochasedo
de Áreas
Ponto CO-5 de
(Apresentação do subprograma de controle, Desmonte de Rocha
minimização e monitoramento de impactos provocados pela constru-
ção dos túneis e de áreas de desmonte de rocha)

Figura 10 - Reunião Com a Fonte: Avistar Engenharia


Comunidade (2016).
Influenciada pelas Atividades das
Fonte: Avistar Engenharia, (2016).
Detonações de Rochas do Ponto Co-5. Leitura da Ata Sobre os Assuntos Tratados
Imagem 6 - Reunião com a comunidade influenciada
Durante pelas atividades das detonações de rochas do Ponto CO-5
A Reunião
137 (Leitura da ata sobre os assuntos tratados durante a reunião)

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

Figura 10 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das


Detonações de Rochas do Ponto Co-5. Leitura da Ata Sobre os Assuntos Tratados
Durante A Reunião
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 10 - Reunião Com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das
Detonações de Rochas
Imagem 7 - Reunião do Ponto
com a comunidade Co-5. pelas
influenciada Leitura da Ata
atividades Sobre osdeAssuntos
das detonações Tratados
rochas do Ponto CO-6
Durante
(Abordagem sobre as áreas de detonações de A Reunião
rocha previstas no projeto de engenharia do Contorno Rodoviário de
Florianópolis)

Fonte: Avistar Engenharia (2016).


Fonte: AvistarInfluenciada
Figura 12: Reunião com a Comunidade pelas. Atividades das Detonações
Engenharia, (2016)

138 de Rochas
Imagem 8 -do Ponto
Reunião comCo-6. Apresentação
a comunidade do Vídeo
influenciada pelas atividadesInstitucional darochas
das detonações de Concessionária,
do Ponto CO-6 o
(Apresentação do vídeo institucional da concessionária, o qual apresenta o andamento da obra do Contorno
Qual Apresenta o Andamento da Obra do Contorno Rodoviário de Florianópolis
Rodoviário de Florianópolis)

Fonte: Avistar
Fonte: Engenharia
Avistar (2016). (2016).
Engenharia,

Figura 13: Reunião com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das


Detonações de Rochas do Ponto Co-6. Dinâmica com Mapa Temático Aplicado com o
Fonte: Avistar Engenharia, (2016).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Na reunião do ponto CO-6, foi realizada uma dinâmica com mapa temático, o qual abor-
dou as diversas vertentes (recursos naturais – água, fauna, flora; população, veículos) em relação
à obra do Contorno
Figura 13:(Imagem
Reunião9). com a Comunidade Influenciada pelas Atividades das
Detonações de Rochas do Ponto Co-6. Dinâmica com Mapa Temático Aplicado com o
Públicopelas
Imagem 9 - Reunião com a comunidade influenciada Presente
atividades das detonações de rochas do Ponto CO-6
(Dinâmica com mapa temático aplicado ao público presente)

139
Fonte: Avistar Engenharia (2016).
Fonte: Avistar Engenharia, (2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo busca, por meio das reuniões com as comunidades, apresentar como
as atividades de detonações de rochas vêm acontecendo na região onde o Contorno Rodoviário
de Florianópolis está sendo implantado. Todo o processo de detonação foi exposto e explica-
do, a fim de demonstrar a importância e o porquê de se realizar os desmontes de rochas em
obras rodoviárias. As comunidades precisam compreender o processo, bem como a periodicidade
dessas atividades.
Nas reuniões, foram apresentados, integralmente, o histórico da obra, os processos
de licenciamentos ambientais (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação), o
projeto Contorno Rodoviário de Florianópolis, o Subprograma de Controle, a Minimização e o
Monitoramento de Impactos Provocados pela Construção de Túneis e de Áreas de Desmonte de
Rocha. Ao agir dessa maneira se espera que essas reuniões possam colaborar para o conhecimen-
to das comunidades influenciadas pelas atividades de detonações de rochas, bem como sanar
suas dúvidas em relação à obra da nova rodovia.
As reuniões seguiram um procedimento baseado no método do Diagnóstico Rápido
Participativo (DRP) (CHAMBRERS; GUIJT, 1995). Esse diagnóstico considera a participação volun-
tária dos setores sociais, ou seja, todos os questionamentos e contribuições apontados foram
relevantes, bem como a participação quantitativa da comunidade convidada.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O DRP é uma metodologia que permite o levantamento de informações e conhecimentos


da realidade da comunidade ou instituições, a partir do ponto de vista de seus membros. Promove
a mobilização dos(as) interessados(as) em torno da reflexão sobre a situação atual e a visualização
de cenários futuros. O DRP é aberto à participação, criando a oportunidade da vivência democrá-
tica, isto é, produzindo conhecimento coletivamente e criando opções para as decisões coletivas
(CHAMBRERS; GUIJT, 1995).
De acordo com Weid (1991), as comunidades têm cultura, conhecimentos, habilidades,
limitações, vontades, experiências, gostos e tendências, além de condições materiais diversificadas.
Essas condições devem ser valorizadas pela gestão ambiental das grandes empresas rodoviárias,
em função de evitar impasses e fracassos durante a implantação dos empreendimentos (FREITAS;
FREITAS; DIAS, 2012). Por isso a importância de se realizarem ações como as reuniões, pois se
trata de uma metodologia participativa que se torna altamente viável na integração dos grupos
comunitários com o(a) empreendedor(a), levando-se em conta a realidade das comunidades.
O uso da Educação Ambiental envolvida com a Comunicação Social torna-se pertinente,
uma vez que a educação, junto com a comunicação, assume papel relevante na construção da
realidade dos indivíduos e na formação real do conhecimento (FREIRE; CARVALHO, 2012). Esse
campo, constituído pela inter-relação entre as duas áreas, não é algo novo, mas apenas a consta-
tação de uma integração existente entre educação e comunicação, que passa a ser reconhecida
como área de intervenção social capaz de contribuir para a construção da cidadania através do
direito à expressão e à comunicação (SANTOS, 2012).
Além disso, esse envolvimento oportuniza um campo que traz consigo novas posturas
teóricas e práticas à gestão ambiental, além de abrir caminho para uma educação cidadã eman-
cipatória. Novos conceitos são elaborados para a inter-relação e também surgem novas necessi-
140
dades, a exemplo da figura do(a) educomunicador(a), profissional com diferentes características,
típicas de professor(a), comunicador(a), pesquisador(a) e consultor(a) (SANTOS, 2012).
Portanto, a gestão ambiental dos grandes empreendimentos deve levar em conta não
somente a leva das informações superficiais, como a simples distribuição de folders e informati-
vos. Ações que envolvam a integração comunitária podem apresentar resultados mais concretos,
ou seja, possibilitam a promoção de conhecimentos mais satisfatórios e oportunizam o envolvi-
mento dos gestores com o público influenciado pelas atividades das grandes obras.

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SANTOS, J. F. Educomunicação: uma inter-relação entre educação e comunicação. Revista
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WEID, J. M. V. D. Diagnósticos rápidos participantes de agroecossistemas (DRPA). Alternativas:
Cadernos de Agroecologia, Rio de Janeiro, jun. 1991.

141
CAPÍTULO XI

MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO


E AO DESLIZAMENTO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO URUSSANGA, UTILIZANDO O MÉTODO DE ANÁLISE
HIERÁRQUICA – AHP

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan11

Nilzo Ivo Ladwig - UNESC


Aldo Fernando Assunção - UNESC
Adriano de Oliveira Dias - UNESC
Camila Pedro Guimarães - UNESC
Rosabel Bertolin - UNESC
Kelly Daiane Savariz Bôlla - UNESC
142 Henrique Matos - UNESC

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Para melhor entendimento da discussão sobre a terminologia “riscos”, será definido o que
compreende risco natural (desastre natural), risco tecnológico ou industrial e risco socioambien-
tal. O risco é aqui entendido como “[...] percepção de um perigo possível mais ou menos previsível
por um grupo social ou por um indivíduo que tenha sido exposto a ele.” (VEYRET; RICHEMOND,
2007, p. 24).

RISCOS NATURAIS
Os riscos naturais decorrentes de desastres naturais acontecem quando fenômenos
naturais atingem determinadas áreas e causam danos a seus habitantes. O conceito de desastre
adotado pela Agência das Nações Unidas para Redução de Riscos de Desastres – UNISDR (2009)
considera desastre uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma
sociedade, envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande exten-
são, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com
seus próprios recursos.
Segundo Tominaga, Santoro e Amaral (2012), os desastres naturais são causados por
diversos fenômenos, tais como inundações, escorregamentos, erosão, terremotos, tornados,
furacões, tempestades, estiagem, dentre outros. Além da intensidade dos fenômenos naturais, há
um processo de intensificação de riscos decorrente da aceleração da urbanização, que promove a
ocupação imprópria de determinadas áreas.
143 Estudos recentes indicam que as mudanças climáticas têm levado a extremos climáticos,
com aumento de temperatura, maior frequência de temporais, intensificação de chuvas, de torna-
dos ou de estiagens severas, dentre outros, resultando em maiores probabilidades de desastres
naturais (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).
De acordo com Carvalho e Galvão (2006), os principais fenômenos relacionados a desas-
tres naturais no Brasil são os deslizamentos de encostas e as inundações. Tais fenômenos estão
associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, tornando-se mais severos a cada
período chuvoso. Segundo os autores citados, são os deslizamentos que provocam o maior núme-
ro de vítimas fatais, anualmente, no território brasileiro. Tais eventos expõem a população, espe-
cialmente aquela residente em áreas urbanas, a riscos elevados.
Para Palacios, Chuquisengo e Ferradas (2005), o risco natural consiste na probabilidade
de que um desastre ocorra como resultado da multiplicação das ameaças pela vulnerabilidade.
Para os autores, as ameaças são geradas tanto por mudanças naturais do planeta como pela inter-
ferência humana sobre os elementos naturais. A vulnerabilidade, por sua vez, aumenta à medida
que o desenvolvimento econômico promove o crescimento das cidades sem um planejamento
urbano adequado.
Em seu trabalho, Iwama et al. (2016, p. 96) destacam que a Agência das Nações Unidas
para Redução de Riscos de Desastres (UNISDR) define risco natural (risk) como “[...] a probabilida-
de de ocorrência de um evento e suas consequências negativas”. Segundo os autores, a percepção
sobre o significado de risco pode variar de pessoa para pessoa. Essa percepção tende a ser maior
naqueles grupos de indivíduos que possuem maior experiência ou vivência do problema (um
exemplo são as populações que vivem em áreas sujeitas à ocorrência de inundações, movimentos
de massa, etc.). Tal percepção será influenciada por fatores diversos, como fatores psicológicos,
simbólicos e socioculturais; acesso às informações e à forma como elas são divulgadas para o
grande público.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O risco natural é a denominação mais utilizada para fazer referência aos riscos que não
estão relacionados diretamente à ação humana. Apesar da dificuldade dessa separação, Rebelo
(2003, p. 11-22) apresenta a seguinte tipologia de riscos naturais: riscos tectônicos e magmáticos;
riscos climáticos; riscos geomorfológicos, os mais típicos, tais quais ravinamento, de movimen-
tações de massa como desabamento ou deslizamento e outros riscos geomorfológicos como os
decorrentes da erosão eólica e do descongelamento de neves de altitude; e os riscos hidrológicos.

RISCOS TECNOLÓGICOS OU INDUSTRIAIS


O risco industrial ou tecnológico, categoria que se evidencia em área urbana, necessita
ser discutido. Sánchez (2013, p. 358) afirma que:

[...] os riscos tecnológicos são aqueles cuja origem está diretamente ligada à ação huma-
na e são classificados de acordo com o modo de ocorrência de seus efeitos: agudos ou
crônicos. Incluem-se os riscos de acidentes tecnológicos (explosões, vazamentos, etc.) e
os riscos à saúde (humana ou dos ecossistemas) causados por diferentes ações antrópi-
cas, como a utilização de substâncias químicas, de radiações ionizantes e de organismos
patogênicos ou daqueles geneticamente modificados.

Os processos de urbanização intensificam os riscos que têm origem nas atividades tecno-
lógicas. Sobre isso informa o Manual de Desastres Humanos de natureza tecnológica (SEDEC apud
BRASIL, 2003):

144
O crescimento desordenado das cidades, a redução do estoque de terrenos em áreas
seguras e a consequente valorização dos mesmos, associados a um relaxamento
dos órgãos responsáveis pela segurança das construções, provocaram a favelização
e o adensamento dos estratos populacionais mais vulneráveis, em áreas de riscos
intensificados.

Referindo-se aos riscos industriais e tecnológicos Veyret e Richemond (2007, p. 70) espe-
cificam os riscos industriais maiores definindo-os:

[...] o risco correspondente à probabilidade de ocorrer um acontecimento fora do


comum, temporalmente inesperado, ligado às disfuncionalidades de um sistema técnico
complexo e cujas consequências, de amplitude considerável, frequentemente permane-
cem difíceis de serem delimitadas de forma precisa no tempo e no espaço.

Complementam as autoras que “[...] este tipo de risco é ainda mais perigoso quando as
atividades industriais estão inseridas no tecido urbano.” (VEYRET; RICHEMOND, 2007, p. 70).
Dessa forma, os riscos industriais ou tecnológicos se potencializam quando ocorrem
ocupações humanas no entorno de unidades produtivas, muitas vezes de formas irregulares e em
situações precaríssimas de equipamentos de controle e fuga. Tratam-se das habitações e outras
formas de ocupações desordenadas que surgem do descontrole do poder público, caracterizan-
do-se por ações ilegais e, até mesmo, clandestinas da população, de forma que a urbanização
engendra e agrava os riscos e desencadeia efeitos desastrosos. Conforme Touret (apud VEYRET,
2007, p. 86):
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Os efeitos da concentração e da densidade urbana, a desigual mobilidade dos cidadãos,


são mais marcantes nas cidades dos países em vias de desenvolvimento (PED), e o impac-
to das práticas de urbanismo desregrado induzem as interações entre os agentes destrui-
dores e as construções.

Tal fato é citado por Lima e Souza (2014) em um de seus estudos:

Atualmente, o espaço da Baixada Fluminense possui uma alta concentração de atividades


industriais, com presença de grandes parques e distritos industriais em toda a região
fluminense. Com isso a Baixada Fluminense se tornou reconhecida por ser uma “zona
de sacrifício”, ou seja, uma região onde os riscos industriais, sociais, ambientais e políti-
cos são indicadores de uma superposição a empreendimentos, instalações e produções
responsáveis por possíveis danos a determinados grupos sociais.

Contudo, apesar do risco de desastres tecnológicos serem mais perigosos quando inseri-
dos no tecido urbano, afirma Parizzi (2014, p. 9) que:

O gerenciamento do risco deve ser uma ação prioritária e permanente nas cidades. (...)
os centros urbanos crescem cada vez mais e, muitas vezes, a forma de ocupação ou uso
é inadequada ao tipo de terreno (geologia e geomorfologia). Isso aumenta a vulnera-
bilidade e, consequentemente, o grau de risco. Seja qual for o fenômeno causador do
desastre (terremoto, furacão, vulcão, chuvas intensas, deslizamentos, etc.), os danos
145 podem ser atenuados ou até inexistentes se a ocupação for realizada de modo racional,
visando conhecer e respeitar o equilíbrio, a dinâmica natural e as características físicas
do ambiente a ser ocupado.

A gestão de risco poderá contar com o uso de vários instrumentos. Um deles é o conjunto
normativo de que dispõe os gestores públicos ou privados. Assim, em 10 de abril de 2014, foi
promulgada a Lei nº 12.608, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, a
qual tem como princípio básico a precaução, ao dispor que a incerteza quanto ao risco de desas-
tre não constituirá óbice à adoção das medidas preventivas e mitigatórias da situação de risco
(BRASIL, 2012).
Dentre os objetivos constantes do artigo 5 da PNPDEC, citamos, a título de ilustração:

[...] reduzir os riscos de desastres (I); estimular o desenvolvimento de cidades resilientes


e os processos sustentáveis de urbanização (VI); promover a identificação e avaliação das
ameaças, suscetibilidades e vulnerabilidades a desastres, de modo a evitar ou reduzir
sua ocorrência (VII); estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo
em vista sua conservação e a proteção da vegetação nativa, dos recursos hídricos e da
vida humana (X); combater a ocupação de áreas ambientalmente vulneráveis e de risco e
promover a realocação da população residente nessas áreas (XI); e, estimular iniciativas
que resultem na destinação de moradia em local seguro (XII). (BRASIL, 2012).

Outro instrumento crível de uso pelos gestores e pela população envolvida é a participa-
ção efetiva e informada, tratando-se de elemento essencial na tomada de decisão. Segundo Taun
(apud SANTOS; MARANDOLA JUNIOR, 2012, p. 123):
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O que ainda não foi incorporado com a mesma intensidade é a necessidade de compreen-
der o nível de informação da população, sua experiência ambiental e os elementos que
medeiam sua percepção e atitudes frente ao ambiente.

Entretanto, em se tratando de riscos – em especial, riscos tecnológicos –, participação e


informação são dois instrumentos (ou medidas não estruturais) essenciais na busca de soluções
aos problemas causados pelas ocupações desordenadas no entorno de unidades fabris isoladas
ou em aglomerados industriais. Sendo assim, à medida que a distância entre decisores e afetados
pode ser reduzida por meio de uma esfera de participação conjunta, o princípio da informação se
torna uma peça chave para a construção da confiança, contribuindo para o grau de efetividade e
adequação das decisões (GOMES; SIMIONI, 2015).
Sobre a necessidade de inserir a informação como elemento essencial na gestão de
riscos, afirma Carvalho (2014, p. 49):

A informação detém um papel fundamental na gestão dos desastres, quer em sua coleta
e/ou em sua publicização, uma vez que não apenas facilita a prevenção de tais eventos
pelo seu conhecimento como tais informações fornecem às partes envolvidas, bem como
aos possíveis afetados, motivação e potencial de mobilização.

Carvalho (2012, p. 142) menciona ainda outro importante instrumento a ser utilizado em
gestão de risco em matéria de desastres ambientais, devido à sua relevância em planos preventi-
vos. Trata-se dos serviços ambientais, que
146
[...] também começam a exercer uma forte influência na delimitação da intolerabilidade
social do risco, servindo de medidas não estruturais (estudos técnicos) – como critério
e parâmetro de decisão para a disseminação de medidas preventivas proporcionais, e
estruturais (infraestrutura verde), estimulando a valorização da manutenção e do moni-
toramento dos recursos ambientais e seus serviços ecossistêmicos.

É relevante alertar, nesse instante, que os instrumentos aqui apontados ainda não fazem
parte efetiva da tomada de decisões por vários motivos. Um deles é a novíssima existência desses
instrumentos. Nesse sentido, o “ingresso” dos mesmos em ações governamentais ou privadas
exigirá certo período que dependerá, dentre outros fatores, da consolidação desses instrumentos
nas “agendas” dos diversos atores envolvidos.

RISCOS SOCIOAMBIENTAIS
Os riscos socioambientais abrangem os riscos naturais, tecnológicos e sociais e parecem
ter sofrido intensificação com o avanço da modernidade, conforme Ladwig e Gonçalves (2014).
Os riscos socioambientais são a relação entre probabilidade e severidade de um efeito adverso
para a saúde, propriedade e meio ambiente e devem ser compreendidos como um processo que
se estrutura ao longo do tempo, segundo Castro (1995).
Os riscos socioambientais podem ser entendidos como decorrentes “[...] da interação
entre sociedade e natureza, onde o ambiente é sujeito a alterações realizadas pelos seres huma-
nos, principalmente, na forma desigual de apropriação dos solos urbanos e pelos fenômenos
naturais, gerando mudanças na paisagem, no lugar e no espaço” (BRASIL, 2003, p. 33).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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Riscos referem-se à possiblidade de ocorrer prejuízos ou danos decorrentes de perigos


naturais ou induzidos pelos seres humanos. Os conceitos de ameaça e vulnerabilidade auxiliam a
compreensão do risco. São eles que, em determinada equação, podem se quantificar em diferen-
tes níveis para cada análise (LADWIG; GONÇALVES, 2014).
A ameaça pode ser entendida como um fator de influência direta ao risco, seja por ação
natural, antrópica ou industrial, e que dependendo da análise pode ainda assumir um caráter
ativo ou passivo.
A vulnerabilidade envolve três fatores principais: exposição, suscetibilidade e capacidade
de enfrentamento frente ao risco (MENDES; TAVARES, 2011). A vulnerabilidade social, marcada
pelo acesso precário a equipamentos e a oportunidades sociais, econômicas e culturais oferecido
pelo Estado, mercado e sociedade, além de tornar suscetíveis pessoas e grupos a riscos sociais,
de acordo com Mendes e Tavares (2011), predispõe determinados grupos a danos, em termos
físico, social, econômico ou político, no caso de uma situação catastrófica de origem natural ou
antrópica. O IPCC (2014) ressalta que os,

[...] riscos relacionados ao clima afetam diretamente a vida das pessoas pobres através
de impactos nos meios de subsistência, reduções nas colheitas ou destruição de casas; e
indiretamente por meio de, por exemplo, aumento dos preços dos alimentos e insegu-
rança alimentar. (IPCC, 2014).

De acordo com Freitas et al. (2012, p. 1578), vulnerabilidade socioambiental é a baixa


capacidade de redução de riscos e a baixa resiliência decorrente de condições de vida precárias e
147 mudanças ambientais que combinam:

[...] os processos sociais relacionados à precariedade das condições de vida e proteção


social (trabalho, renda, saúde e educação, assim como aspectos ligados à infraestrutura,
como habitações saudáveis e seguras, estradas, saneamento, por exemplo) que tornam
determinados grupos populacionais (por exemplo, mulheres e crianças), principalmente
entre os mais pobres, vulneráveis aos desastres; 2) as mudanças ambientais resultantes
da degradação ambiental (áreas de proteção ambiental ocupadas, desmatamento de
encostas e leitos de rios, poluição de águas, solos e atmosfera, por exemplo) que tornam
determinadas áreas mais vulneráveis quando da ocorrência de uma ameaça e seus even-
tos subsequentes.

Para Freitas e Cunha (2013), o conceito de vulnerabilidade deve levar em consideração


elementos mesológicos ou ambientais (água, ar, florestas, por exemplo), ou seja, um conjunto de
elementos que, apesar de exteriores ao ser humano, em muito contribuem para a sua qualidade
de vida e sua capacidade de resiliência.
Áreas de risco socioambientais podem ser espaços de moradia de grupos humanos que
vivem situação de vulnerabilidade social, por serem impactados pela pobreza, falta de acesso aos
serviços básicos de saúde, alimentação, educação, emprego, entre outros, e falta de informação
sobre os riscos (LADWIG; GONÇALVES, 2014).
A acelerada urbanização brasileira aumentou a concentração de assentamentos precários
como favelas, ocupação das margens de rios ou de morros, tornando habitáveis áreas inadequa-
das e ambientalmente frágeis. As populações que se encontram nesses locais estão mais vulne-
ráveis aos riscos que os impactos causados ao meio ambiente podem trazer. Essas áreas de riscos
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socioambientais são afetadas por inundações, desmoronamentos ou deslizamentos, deixando


muitas pessoas desabrigadas (BRASIL, 2003, p. 33).
Catapreta e Heller (1999) destacam a exposição de pessoas que moram em zonas periféri-
cas dos centros urbanos até as consequências danosas à saúde, provenientes da disposição inade-
quada dos resíduos sólidos. Os riscos socioambientais afetam tanto o espaço físico do ambiente
quanto a saúde das pessoas e suas condições de vida.
Embora populações em situação de vulnerabilidade social sejam as mais expostas por
habitarem locais ambientalmente inadequados ou ecologicamente frágeis e pela baixa capacida-
de de enfrentamento frente ao risco, os riscos socioambientais podem afetar toda a população.
O que não dispensa o fato de que aqueles mais favorecidos de renda e educação estejam
longe de sofrer os riscos, porém o que está em contradição aqui é a condição de resistência e
resiliência que dispõem essas pessoas em seu nível social. O nível de exposição ao risco socioam-
biental pode ser agravado pela sua cultura e desenvolvimento definidos pela desigualdade da
globalizada sociedade do século XX.
Cutter, Boruff e Shirley (2003) atrelam a identificação das vulnerabilidades às condições
sociais de pessoas e às condições ambientais das áreas que as mesmas estão ocupando, integran-
do ao conceito o potencial que essa população tem de superar danos e perigos de origem natural,
social e econômica.
Cutter (2011) traz a necessidade da abordagem integradora e interdisciplinar da vulnera-
bilidade socioambiental devido à complexidade das interações entre os sistemas naturais, sociais,
econômicos e culturais em jogo.
Na Sociedade de Risco, conceito desenvolvido pelo sociólogo alemão Ulrich Beck para
148 designar a sociedade contemporânea, as instituições e a cultura política têm papel relevante na
gestão das áreas em vulnerabilidade socioambiental para o diagnóstico dos riscos, tendo em vista
que a sociedade define suas políticas e usos do meio conforme sua cultura (BORINELLI et al.,
2015).
Esse cenário tem importância para a análise de riscos. Nesse sentido, Cutter, Boruff e
Shirley (2003) defendem a integração de índices que influenciam a análise dos riscos socioam-
bientais (dados demográficos, como a idade e sexo, a existência de população com necessidades
educativas especiais, o letramento, a cultura, a economia, como também o índice de urbanidade).
Atrelado ao que traz Beck em sua Teoria da Sociedade de Risco, Borinelli et al. (2015)
destacam que os recursos naturais, a despeito de sua relativa fartura e concentração, foram e vêm
sendo tratados de forma predatória, a partir de uma apropriação desleixada e extensiva, o que é
uma das bases dos riscos socioambientais.
Na Sociedade de Risco, a debilidade política dos órgãos ambientais e das agências regula-
doras, das instituições que podem agir para aplicar o princípio da prevenção aos riscos, é apenas
mais um indicador da produção de uma vulnerabilidade institucional de grandes consequências,
sendo funcional aos interesses da poderosa influência econômica, política, cultural e tecnológica
de grandes empresas nacionais e transnacionais no avanço dos riscos socioambientais.
Segundo a teoria de Ulrich Beck (1994), o debate sociológico em torno da relação entre
a distribuição da riqueza e a produção de desigualdades de classe não tem como prescindir do
debate em torno da distribuição do risco, levando ao cidadão a informação sobre o risco ao qual
está suscetível, ou seja, de sua vulnerabilidade socioambiental.
Para Borinelli et al. (2015), a desigual divisão da riqueza pode justificar e obscurecer a
produção de riscos pela prioridade absoluta ao crescimento econômico; por isso é necessário
distinguir entre a atenção cultural e política e a difusão real dos riscos.
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Levando-se em consideração os indicadores para a análise de riscos, a relação entre


percepção e produção dos riscos é especialmente relevante. A propagação dos riscos e as ações
necessárias para mitigá-los envolve, necessariamente, a percepção desses riscos. A percepção
não é idêntica à realidade, como ressalta Morin (2000), mas uma interpretação do sujeito.
Nessa perspectiva, a percepção ambiental – processo que possibilita a construção de
impressões sobre o ambiente – está relacionada à cultura e aos valores daquele que percebe.
Melazo (2005) afirma, portanto, a partir da singularidade dos processos sensoriais associados aos
mecanismos cognitivos de percepção, cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente
ante as ações sobre o meio.
A consciência do risco e o compromisso com seu enfrentamento dependem do nível
material, da informação e formação das pessoas (BORINELLI et al., 2015). Além do desenvolvi-
mento de educação ambiental permanente formal e informalmente, é imprescindível o compro-
misso dos gestores públicos com a elaboração holística e interdisciplinar de análise de riscos dos
territórios para uma eficiente gestão ambiental, que possa minimizar ao máximo os danos ao
ambiente, à propriedade e à saúde das pessoas.
É importante ainda levar em conta a necessidade de eficácia de políticas públicas que
garantam habitação em locais apropriados para os cidadãos em situação de vulnerabilidade
social e fiscalização de locais inapropriados ou ecologicamente frágeis, como as zonas costeiras,
altamente exploradas pela urbanização voltada às classes mais altas.
A contextualização da terminologia de categorias de risco foi necessária para orientar
este trabalho que possui como objetivos identificar e avaliar as áreas de risco à inundação e
deslizamento.
149
MATERIAL E MÉTODOS

A bacia hidrográfica do rio Urussanga possui uma área territorial de 679,687631 km²,
correspondendo a 67968,7631 ha, situada no estado de Santa Catarina. Possui área nos muni-
cípios de Balneário Rincão, Cocal do Sul, Criciúma, Içara, Jaguaruna, Morro da Fumaça, Pedras
Grandes, Sangão, Treze de Maio e Urussanga. O Mapa 1 representa a área de estudo localizada
entre as coordenadas geográficas 28°25’56” e 28°48’42” de latitude sul e 49°23’56” e 49°01’15”
de longitude oeste do meridiano de Greenwich.
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Figura
Mapa 1-
1 - Localização daÁrea
Localização da Áreade
deEstudo
Estudo
[SdM1] Comentário: Sem

150

Fonte: KUHNEN, (2016).

Para atender aos objetivos de identificar e avaliar as áreas de risco de deslizamento e


inundação e elaborar os mapas temáticos de vulnerabilidade em bacia hidrográfica, a metodolo-
gia utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica, técnicas de geoprocessamento, entrevista infor-
mal e análise de dados levantados em campo.
Foi trabalhado o levantamento de dados espaciais e a elaboração da base cartográfica
da área de interesse em ambiente de SIG (Sistema Geográfico de Informação). A ferramenta para
trabalhar os dados espaciais foi o software ArcGis versão 10.
Na estruturação da base cartográfica foi utilizado o levantamento aerofotogramétrico
realizado no estado de Santa Catarina, iniciado em 2010. A base contém imagens ortorretificadas,
composição RGB com resolução de 0,37 metros, dados de topografia e hidrografia.
Com os dados no ambiente de SIG foram elaborados os mapas temáticos de risco. Para
a representação da altitude usou-se o modelo digital de terreno (MDT), que apresenta todas as
diferenças altimétricas, desde o ponto de maior ao de menor altitude.
O mapa de declividade representa as declividades do relevo. Na sua elaboração, foi utili-
zada uma simbologia para cada classe, ou seja, à medida que aumenta a declividade, intensifica-se
a tonalidade das cores. As classes no mapa de declividade foram definidas usando metodologia
trabalhada por De Biasi (1970) e representa cinco classes de declividade, conforme se pode veri-
ficar no Quadro 1 abaixo:
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Quadro 1 - Classes de Declividade


Quadro 1- Classes de Declividade
Classe de Uso da terra recomendado
declividade
0 - 5% Correspondem às áreas sem problemas de ocorrência
de erosão e o limite máximo de industrialização.

5 – 12% Correspondem ao limite para emprego de mecanização


na agricultura e construção civil sem necessidade de
cortes ou aterros.

12 – 30% Representam maior inclinação do relevo, dificultando


práticas agrícolas, sendo possível a prática de culturas
permanentes.

30 – 47% São as encostas de morro constituindo-se em limite


para corte raso da vegetação.

Maior que 47% Áreas onde não é permitida a retirada de vegetação,


exceto em regime de utilização racional, são áreas de
preservação permanente (APP), de acordo com a
Legislação Ambiental.
Fonte:DeDeBiasi,
Fonte: Biasi,(1970).
(1970).

Na elaboração do mapa de uso e cobertura da terra, foi realizada classificação supervisio-


nada pelo método de máxima verossimilhança (MAXVER) na identificação das classes. Foram defi-
nidas as seguintes classes: vegetação arbustiva, cultivo, solo exposto/urbanização e massa d’água.
151 Na estruturação dos mapas de vulnerabilidade de risco, foi utilizado o método de análise
hierárquica, o AHP (Analytic Hierarchy Process), criado por Saaty (1980), que consiste em cons-
truir uma escala de importância entre os fatores considerados e colocá-los em uma matriz para
ser feita uma comparação, podendo assim haver uma percepção de que há uma hierarquia de
importância entre os fatores analisados.
Os mapas de hipsometria, declividade, uso e cobertura da terra e pedologia foram anali-
sados e reclassificados. Sobre eles foram aplicados valores de acordo com o grau de susceptibili-
dade à inundação ou deslizamento, variando de 0 a 10, do menos ao mais susceptível.
A área de estudo foi dividida em classes de áreas susceptíveis ao risco de deslizamento
em: baixo, moderado, alto e muito alto. Com relação ao risco de inundação em: muito alto, alto,
moderado, baixo e muito baixo.
Para elaboração da matriz de comparação, utilizou-se a escala fundamental de Saaty,
conforme apresentado no Quadro 2. A elaboração é definida a partir de uma escala linearmen-
te hierárquica de importância entre os fatores altitude, declividade, uso e cobertura da terra e
pedologia.
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2 - Escala
QuadroQuadro de Comparadores
2 - Escala de Comparadores

Valores Importância Mútua

1/9 Extremamente menos importante que


1/7 Muito fortemente menos importante que
1/5 Fortemente menos importante que
1/3 Moderadamente menos importante que
1 Igualmente importante a
3 Moderadamente mais importante que
5 Fortemente mais importante que
7 Muito fortemente mais importante que
9 Extremamente mais importante que

Fonte:Fonte: Adaptado
Adaptado de Saaty
de Saaty, (1980).
(1980).

Para definição dos pesos dos fatores foram definidas 5 (cinco) matrizes de comparação
elaboradas pelos alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, que faziam parte da disciplina
de Análise de Riscos. Definidos os valores de importância relativa dos fatores, o passo seguinte
consistiu em fornecê-los ao aplicativo IdrisiTAIGA, para que fosse feito o cálculo dos pesos. Os
resultados do cálculo das matrizes de comparação são apresentados conforme Tabelas 1 e 2.
A partir da escolha dos critérios para a comparação e do estabelecimento da importância
relativa de cada plano de informação, o modelo AHP informa uma razão de consistência (CR).
Essa é utilizada para determinar o grau de coerência, ou seja, indica a probabilidade de que as
152 comparações tenham sido geradas aleatoriamente (DAI et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2009). A
razão de consistência deve ser inferior a 0,10 e quando ocorrem valores superiores a esse índice é
necessária a realização de revisões nas comparações realizadas. Neste estudo, a CR obtida foi de
0,07 para inundação e 0,06 para deslizamento em média, atestando a coerência na hierarquização
dos dados.

Tabela11--Matriz
Tabela dosFatores
Matriz dos Fatores de Inundação
de Inundação

FATORES M1 M2 M3 M4 M5 Med.
(INUNDAÇÃO) Final
A 0,0956 0,1231 0,1296 0,0597 0,1296 0,10752
D 0,2085 0,2923 0,3031 0,2175 0,1783 0,23994
U 0,2085 0,35 0,1783 0,5347 0,3889 0,33208
P 0,4874 0,2345 0,3889 0,1881 0,3031 0,32040
A = Altitude / D = Declividade / U = Uso e cobertura da terra / P = Pedologia
Fonte: Autores (2016).
Fonte: Adaptado De Saaty, (1980).

Depois de calculado o peso de cada fator, foram atribuídos os valores conforme a equa-
ção (1) gerada para elaboração do mapa de vulnerabilidade à inundação:

R (inu) = 0,10752 *A + 0,23994*D + 0,33208*U + 0,32040*P


Onde:
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Gestão Integrada do Território

R = Risco;
A = Mapa de altitude;
U = Mapa de uso da terra;
D = Mapa de declividade;
P = Pedologia Eq.(1)
Tabela 2 - Matriz dos Fatores de Deslizamento
Tabela 2 - Matriz dos Fatores de Deslizamento

FATORES M1 M2 M3 M4 M5 Med.
(DESLIZAMENTO) Final
A 0,0812 0,1512 0,0812 0,045 0,1219 0,09610
D 0,3994 0,5083 0,3994 0,292 0,5439 0,42860
U 0,1594 0,2653 0,1594 0,5106 0,2706 0,27306
P 0,3599 0,0752 0,3599 0,1626 0,0636 0,20424
A = Altitude / D = Declividade / U = Uso e cobertura da terra / P = Pedologia
Fonte: Autores, (2016).
Fonte: Adaptado de Saaty, (1980).

Depois de calculado o peso de cada fator foi atribuído os valores conforme a equação (2)
gerada para elaboração do mapa de deslizamento:

R(desl) = 0,09610 *A + 0,42860*D + 0,27306*U + 0,20424*P


153 Onde:
R = Risco;
A = Mapa de altitude;
U = Mapa de uso da terra;
D = Mapa de declividade;
P = Pedologia Eq.(2)

Após a elaboração dos mapas de vulnerabilidade, foi efetuada a reambulação de campo


em quatro pontos críticos (nível alto e muito alto) para inundação e deslizamento na bacia hidro-
gráfica do rio Urussanga, localizados nos municípios de Içara, Morro da Fumaça, Treze de Maio
e Urussanga, com a finalidade de verificar a precisão dos mapas. Concomitantemente, foram
realizadas nove entrevistas informais com moradores dos locais visitados, tendo como objetivo
investigar suas percepções de risco em relação à inundação e ao deslizamento e os registros de
ocorrência desses eventos na história socioambiental do território.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise de riscos realizada a partir das metodologias aplicadas permitiu avaliar os graus
de vulnerabilidades à inundação e ao deslizamento na Bacia Hidrográfica do rio Urussanga, o que
será exposto a seguir.
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Gestão Integrada do Território

VULNERABILIDADE À INUNDAÇÃO
A análise do Mapa 2 demonstra que 25,63% da área total da Bacia Hidrográfica do rio
Urussanga encontra-se em grau muito alto de vulnerabilidade à inundação. Há de se destacar
que 33,39% da área total da bacia se apresenta em vulnerabilidade alto, elevando assim a susce-
tibilidade à ocorrência de inundação. Quanto aos demais percentuais, tem-se 27,27% em grau
moderado, 10,79% baixo e apenas 2,92% muito baixo.

Figura 2 - Mapa
Mapa de de
2 - Mapa Vulnerabilidade
Vulnerabilidadeàà Inundação
Inundação

154

Fonte:Fonte???
Autores, (2016). [SdM1] Comentário: Fonte??

Os resultados demonstram que as áreas mais vulneráveis à ocorrência de inundações


(classes muito alto e alto) localizam-se em baixas altitudes, abrangendo uma parcela significativa
da área dos municípios de Balneário Rincão, Criciúma, Içara, Jaguaruna e Morro da Fumaça inse-
rida na Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga.
As áreas menos vulneráveis à ocorrência de inundações (classes baixo e muito baixo)
localizam-se próximo às cabeceiras da bacia, onde predominam altitudes elevadas e, conse-
quentemente, maiores declividades. Essa área abrange porções dos municípios de Cocal do Sul,
Urussanga e Treze de Maio.
Após a realização da reambulação de campo em pontos críticos para ocorrência de inun-
dação, constatou-se que as áreas mais sujeitas a inundações apresentam-se, em boa parte, urba-
nizadas. Nelas vários canais fluviais tiveram suas características naturais alteradas devido a inter-
venções antrópicas realizadas sobre os mesmos. Nesse sentido, muitos rios sofreram processo de
canalização. Em alguns casos, foi realizada a cobertura completa do canal fluvial, como é o caso
do trecho de um rio que drena a região central do município de Içara. Em outros pontos visitados,
constataram-se rios que sofreram processo de canalização, no qual o canal fluvial foi retilinizado,
porém sem a cobertura completa do mesmo, caso do rio Linha Torrens, que drena a área central
do município de Morro da Fumaça (SILVEIRA, 2011).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Aliado ao processo de canalização dos cursos d’água, as áreas urbanizadas apresentam


vastos trechos em que o solo foi impermeabilizado, o que reduz a infiltração das águas pluviais.
Tal fato favorece a ocorrência de inundações.
A ausência de planejamento urbano e execução de obras que amenizem as problemáticas
e reduzam os graus de vulnerabilidades em municípios como Içara e Morro da Fumaça colaboram
para a sensação de desamparo dos moradores. É notável tal consideração no depoimento de um
morador e comerciante de Içara que em entrevista relatou que o espaço de seu estabelecimento
comercial foi atingido mais de uma vez por alagamentos que afetaram o município nos últimos
anos. A área circundante forma o que ele chamou de “bacia d’água” quando chove intensamente,
o que tem se agravado após a construção da Praça da Juventude na última década.
O entrevistado discorreu que, em situações de alagamento, precisa utilizar tábuas de
madeira para tentar conter a entrada da água, medida que se torna insuficiente e não impede que
a água atinja o interior de seu estabelecimento, na altura aproximada de meio metro.
As consequências do incidente no interior e no exterior da sua área comercial deman-
dam, posteriormente ao ocorrido, cerca de quatro horas de limpeza. O entrevistado citou a ausên-
cia de medidas oriundas do poder público municipal para sanar o problema que atinge várias
ruas do município, embora seja de seu conhecimento a existência de um projeto elaborado pela
prefeitura, mas que não foi executado, entre outros motivos, porque encontra empecilhos relati-
vos à presença da via férrea na área afetada pela inundação.
Outro relato, já em Morro da Fumaça, denotou a consciência e a percepção de mora-
dores quanto aos riscos socioambiental, natural e tecnológico em períodos de inundação oriun-
dos da ocupação irregular nas margens dos rios. O entrevistado afirmou que tem certeza de que
155 aquele ponto é uma área de risco para as casas que circundam o rio, a escola e toda a cidade, pois
há desmoronamento dos barrancos. Citou, ainda, a altura insuficiente da ponte sobre o rio e o
lançamento de esgoto na água.
Observa-se que além das construções, o rio não possui a atenção adequada quanto à
manutenção de sua cobertura vegetal e é evidente a falta de planejamento, gestão e fiscalização,
fatores que contribuem para o aumento de acidentes e desastres naturais na cidade, o que coloca
os moradores em situações de vulnerabilidade a riscos socioambientais devidos às inundações.
Podem-se evidenciar esses fenômenos de enxurradas e fortes chuvas de verão, que são
eventos naturais, o problema está na ocupação irregular em áreas de ciclagem espontânea da
própria natureza, onde os recursos hídricos e a vegetação devem estar protegidos e integrados.
Essas áreas, quando sofrem ação antrópica e são ocupadas de forma desordenada, ficam altamen-
te suscetíveis às cheias e às inundações e colocam famílias em situação de alta vulnerabilidade.
Essas inundações são eventos que poderiam ser evitados quando impedidos os usos
urbanos irregulares e preservados os recursos hídricos.

VULNERABILIDADE AO DESLIZAMENTO
O Mapa 3 demonstra que apenas 2,70% da área total da Bacia Hidrográfica do rio
Urussanga encontra-se em grau muito alto de vulnerabilidade ao risco de deslizamento. Destaca-
se, ainda, que 30,24% da área total da bacia apresenta vulnerabilidade baixa à ocorrência de
deslizamento e 28,58% grau muito baixo. Quanto aos demais percentuais, tem-se 27,50% em grau
moderado e 10,98% em grau alto.
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Mapa 3 - Mapa de Vulnerabilidade ao Deslizamento

Fonte: Autores, (2016).

156 A análise dos resultados demonstra que as áreas mais vulneráveis a deslizamentos (clas-
ses alto e muito alto) localizam-se próximo às cabeceiras da bacia. Essas áreas caracterizam-se
por apresentarem relevo acidentado, maiores altitudes e declividades acentuadas, abrangendo
porções dos municípios de Cocal do Sul, Urussanga e Treze de Maio.
As áreas menos vulneráveis a deslizamentos (classes muito baixo, baixo e moderado)
ocupam, juntas, cerca de 86% da área total da bacia. A maior parte dessas áreas apresenta baixas
altitudes, relevo menos acidentado e declividades mais modestas. Tais fatores reduzem a possi-
bilidade de ocorrência de deslizamentos. A análise do Mapa 3 permite constatar que a vulnera-
bilidade a deslizamentos na bacia do rio Urussanga diminui no sentido noroeste-sudeste (das
cabeceiras da bacia para o litoral).
No que se refere à percepção de risco dos moradores nessas áreas de mais vulnerabilida-
de, lembranças de ocorrências anteriores desempenham papel importante no modo de perceber
o ambiente de sujeitos ou grupos sociais que já foram vítimas de riscos variados devidos a aciden-
tes e desastres naturais, como os de deslizamento (VEYRET; RICHEMOND, 2007).
Um caso evidenciado em entrevista informal foi narrado por uma moradora, na faixa
etária de 60 anos, que reside há 30 anos no local:

“Já passamos por uma enchente em 74, mas aqui estamos livres. Inundação ocorre aqui
só até ali na esquina abaixo, aqui não chega. Por isso que viemos para cá, um ponto mais
alto para não passar por enchente novamente. Não, nunca teve deslizamento, nos 30
anos que estou aqui nunca vi.”
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Em contraponto ao relato acima, foi constatada uma ocorrência de desmoronamento de


bloco em uma residência na rua paralela há menos de um ano, conforme narrativa abaixo presta-
da por uma moradora de 78 anos, intermediada por sua cuidadora:

“Aqui é uma área de risco sim. Já ocorreu um desmoronamento, uma pedra caiu nessa
casa há 08 anos, mas ninguém se feriu, pois estavam em outra parte da casa. A prefeitura
e a Defesa Civil retiraram a pedra da casa, mas ninguém foi indenizado, a família teve que
arcar com a reconstrução da casa”.

Em relação aos relatos acima, observa-se que, embora as duas entrevistadas estejam em
uma área suscetível a deslizamentos, uma não identifica a vulnerabilidade aos riscos e percebe
como risco somente o que tem na lembrança de uma catástrofe já vivida, que é a enchente de
1974.
A partir da entrevista, foi possível observar alta discrepância na percepção de risco de
duas moradoras de um mesmo ponto de alta vulnerabilidade ao deslizamento na Bacia do rio
Urussanga. Suas residências estão em ruas paralelas e estão afastadas por uma rua, no entanto
fazem fronteira com o mesmo talude.
Uma das entrevistadas considera a área totalmente segura, embora de sua casa seja
possível visualizar raízes de árvores expostas devido à remoção do solo, enquanto a outra mora-
dora relatou grande insegurança na residência oriunda da constatação de iminente perigo.
Esse fato pode condizer com o que Martins e Oliveira (2011) chamam de desqualifica-
ção dos riscos, a qual faz com que, mesmo que haja o entendimento de que determinada área
157 habitada está sujeita a riscos socioambientais por desastres ambientais, exista um sentimento de
pertença e cultivação do espaço apropriado por determinados moradores. Esses fatores fazem
com que as pessoas prefiram remediar e achar alternativas para se defender a mudar de bairro
ou até mesmo de cidade.
É possível inferir que a história pessoal, permeada pela memória ambiental do local,
somada ao nível de informação e de conhecimento socioambiental que possuem, favoreceram a
percepção oposta das entrevistadas.
Ressalta-se, nesse sentindo, a importância da manutenção de um processo contínuo
de educação ambiental formal e informal pelo poder público, capaz de promover a consciência
ecológica, o desenvolvimento de hábitos sustentáveis e a percepção de riscos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de riscos a partir das metodologias aplicadas permitiu avaliar os graus de vulne-
rabilidades à inundação e ao deslizamento na Bacia Hidrográfica do rio Urussanga e evidenciou,
em pontos visitados, a ausência de execução de obras capazes de minimizar os perigos que provo-
cam ou intensificam os riscos provenientes de eventos de deslizamentos e inundações.
A falta de planejamento urbano e de gestão territorial agravam esses riscos, colocando a
sociedade como um todo, principalmente pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade social,
numa situação de vulnerabilidades socioambiental constante. Somado a esses fatores, o grande
volume de precipitação, que tem ocorrido na região em estudo, em poucas horas, tem aumenta-
do a frequência e a magnitude dos eventos de deslizamentos e de inundação.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Cabe ressaltar que a percepção de risco é fator condicionante para que uma determinada
pessoa ou grupo suporte e se recupere de uma ocorrência ou acidente ambiental. A capacidade
de resistência e resiliência perante a concretização de um risco socioambiental depende tanto de
fatores socioeconômicos, como de condições de moradia e renda, quanto do grau de informação
e percepção do que pode ser perigoso.
Neste estudo, foi possível observar uma alta variação na percepção de risco de duas mora-
doras de um mesmo ponto de alta vulnerabilidade ao deslizamento na Bacia do rio Urussanga.
Suas residências estão em ruas paralelas, afastadas por uma rua, no entanto fazem fronteira com
o mesmo talude. A história pessoal, que traz também a memória ambiental do local, somada ao
aspecto informacional e de conhecimento socioambiental, favorece a percepção discrepante das
entrevistadas.
A percepção de risco é fundamental para impedir que pessoas habitem locais indevidos
ou, no caso de ausência de condições financeiras capazes de possibilitar a habitação em locais
próprios, ela pode motivar o requerimento, nos órgãos públicos, da efetivação do seu direito de
moradia em áreas seguras.
Na entrevista informal, foi levada em consideração a individualidade de cada sujeito,
relacionando-a com seu meio externo, sendo que a proposta deste estudo é analisar a vulnera-
bilidade como uma realidade vivida, vinculada aos aspectos econômicos, físicos, psicológicos e
afetivos de cada sujeito.
A metodologia com uso de ferramentas e softwares geotécnicos propôs uma visão real
dos riscos à inundação e deslizamento, bem como dos graus de vulnerabilidade de cada ponto.
Portanto, a análise de risco deve ser utilizada para gestão dos riscos por setores públicos e priva-
158 dos no planejamento de planos e programas de prevenção e até mesmo de regularização para
autorização de habitação e construções, impondo cautela no sentido de prevenir que um número
maior de pessoas seja exposto a situações críticas de vulnerabilidades por meio de ocupação
indevida em áreas de riscos naturais, tecnológicos e socioambientais.
Ficou evidente que o progresso e o crescimento de determinadas regiões, baseados em
ocupação de margens de rios, retificação de ribeirões, canalização de cursos d’água e abertura de
estradas e ruas que dão acesso às áreas de encostas e morros, colocam a sociedade em situação
de riscos constantes, haja vista a ligação do sujeito com o seu espaço, sendo influenciado pelas
modificações que vão ocorrendo no lugar.
Resta que a pesquisa contribua para que medidas sejam tomadas a fim de prevenir ocor-
rências e que as ações de mitigação sejam executadas no sentido de minimizar seus efeitos. Dadas
as percepções destacadas neste estudo, salienta-se a importância da educação ambiental formal
e informal como processo contínuo de promoção de consciência ambiental, comportamentos
sustentáveis e percepção de riscos.

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CAPÍTULO XII

ELABORAÇÃO DO MAPA GEOTÉCNICO PRELIMINAR E


APLICAÇÃO DO MODELO SHALSTAB PARA MAPEAMENTO
DE SUSCETIBILIDADE A ESCORREGAMENTOS RASOS NO
MUNICÍPIO DE BRAÇO DO NORTE (SC)

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan12

Dayani Della Giustina Michels - UFSC

161

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Os desastres naturais constituem, hoje, um dos grandes problemas socioeconômicos


do mundo, os quais são objetos de interesse de pesquisadores, planejadores e administradores
públicos, uma vez que acabam afetando regiões onde localiza-se cidades e infraestruturas relacio-
nada a elas. Tominaga; Santoro; Amaral (2009, apud MARCELINO 2008), define desastres naturais
como o resultado do impacto de fenômenos naturais extremos ou intensos sobre um sistema
social, causando sérios danos e prejuízos que excede a capacidade da comunidade ou da socieda-
de atingida em conviver com o impacto.
Dentre os fenômenos podemos destacar os deslizamentos, os quais são fenômenos natu-
rais de movimentos gravitacionais de massa, importantes na evolução geomorfológica do relevo.
Assim, juntamente, com outros processos exógenos e endógenos, são responsáveis por modelar
a paisagem terrestre. (SBROGLIA, 2015).
Devido às condições climáticas, com intensas chuvas de verão e geomorfologia, com gran-
des maciços montanhosos, associado as atividades antrópicas, como a ocupação das encostas em
conjunto com desmatamento e o corte de taludes, o Brasil está muito suscetível à ocorrência dos
movimentos de massa.
Diante da susceptibilidade da ocorrência desse fenômeno, torna-se necessário a adoção
de medidas preventivas. Com o intuído de evitar a vulnerabilidade, deve-se realizar a prevenção e
mitigação dos movimentos de massa. Segundo Kobiyama et al. (2004), existem dois tipos de medi-
das preventivas a desastres naturais, as estruturais e as não-estruturais. As medidas estruturais
possuem custos mais elevados e envolvem obras de engenharia, como obras de estabilização de
162 encostas, sistemas de drenagem, obras de infraestrutura urbana, realocação de moradias, etc. Já
as medidas não-estruturais apresentam custos inferiores e técnicas que envolve medidas preven-
tivas, uma vez que envolvem ações relacionadas às políticas urbanas de planejamento e geren-
ciamento, com a elaboração de mapas de riscos, bem como sistemas de alerta e mapeamentos
prévios.
De acordo com Mafra Jr. (2007), a técnica de mapeamento e estudo dos solos tem se
mostrado eficientes frente aos problemas citados. A obtenção de dados coerentes sobre as proprie-
dades do solo juntamente com técnicas de sensoriamento remoto e Sistema de Informações
Geográficas (SIG) permitem otimizar a obtenção de informação e gerar modelo de previsão.
Para a geração do modelo de previsão existe a necessidade da elaboração do mapa
geotécnico. Algumas metodologias foram desenvolvidas para o mapeamento voltadas às áreas
tropicais e seus solos característicos, como pode ser citado as metodologias proposta por Zuquette
e Davison Dias. Essa última, busca estimar a partir de dados geológicos, pedológicos e topográfi-
cos de uma determinada área, ou seja, unidades de solos com comportamento geotécnico seme-
lhante (SBROGLIA; HIGASHI, 2013).
Dentre os principais métodos de previsão, Vieira e Ramos (2015) destacam os modelos
matemáticos em bases físicas que, frente aos demais métodos podem ser considerados mais obje-
tivos em função da aplicação direta de equações que descrevem fisicamente os processos. Ainda
segundo Vieira e Ramos (2015), esses modelos têm como característica básica o uso acoplado de
modelos de estabilidade de encostas e hidrológicos, com destaque para: o dSLAM - Distributed,
Physically Based Slope Stability Model (WU e SIDLE, 1995, apud VIEIRA; RAMOS, 2015); o SINMAP
- Stability INdex MAPping (Pack et al., 1998, apud VIEIRA; RAMOS, 2015) e o SHALSTAB - Shallow
Landslide Stability Analysis (MONTGOMERY E DIETRICH, 1994, apud VIEIRA; RAMOS, 2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

No Brasil, por exemplo, foram aplicados os modelos SHALSTAB e SINMAP na bacia do


Rio Cunha, município de Rio dos Cedros/SC, segundo os autores Michel et al. (2014, apud VIEIRA;
RAMOS, 2015) o modelo SHALSTAB apresentou melhor desempenho na identificação de áreas
susceptíveis a escorregamentos. Listo e Vieira (2012, apud VIEIRA; RAMOS, 2015), em uma bacia
com elevado grau de urbanização no município de São Paulo, verificaram que muitas áreas classi-
ficadas como instáveis pelo SHALSTAB coincidiram com a classe de Alto Risco mapeada em campo.
Na microbacia do Ribeirão Baú, na cidade de Ilhota/SC, Sbroglia (2015) conjugou os mapas de
suscetibilidade criados por intermédio do SHALSTAB e do FS, em que 91% (481) das cicatrizes de
deslizamentos mapeadas ocorreram em áreas instáveis e 9% (45) deu-se em áreas com média
suscetibilidade.
Considerando a ausência de estudos relacionados na cidade de Braço do Norte/SC e a
necessidade de se conhecer as áreas de risco, assim como a suscetibilidade ao movimentos de
massa, está pesquisa tem como objetivo, por meio da metodologia Davison Dias (1995) elaborar
o mapa geotécnico preliminar e identificar as áreas suscetíveis a deslizamento rasos. Para isso,
será utilizado o modelo SHALSTAB desenvolvido por Dietrich e Montgmoery (1998), o qual servirá
como ferramenta para a gestão do uso e ocupação do solo, delimitando as áreas suscetíveis ao
fenômeno a fim de que se estabeleça a segurança da população.

ÁREA DE ESTUDO

A área a ser analisada é delimitada pelo limite municipal da cidade de Braço do Norte,
na região sul de Santa Catarina, a mesma pertence a sub-bacia do rio Braço do Norte e a bacia do
163 Rio Tubarão e Complexo Lagunar. A cidade conta com 31.725 habitantes e com uma área total de
211,864 km² (IBGE, 2015).
Figura 1 – Localização da munícipio de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verif
numeração da figura estava 2.
Imagem 1 – Localização da munícipio de Braço do Norte/SC

Fonte: Autor.

Fonte: IBGE, (2015). [SdM2] Comentário: Verif


No levantamento geológico do município de Braço do Norte, realizado pelo Projeto
Gerenciamento Costeiro – GERCO - desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE em escala 1:100.000 (imagem 2) foram identificadas seis unidades geológicas: Formação
Serra Geral (JKsg), Suíte Intrusiva Pedras Grandes (PSpg), Suíte Intrusiva Tabuleiro (PSɣt), Formação
Rio Bonito (Prb), Formação Rio do Sul (Prs) e Sedimentos Aluvionares (QHa). Sendo os sedimen-
tos quaternários formados por areias, cascalheiras e sedimentos síltico-argilosos inconsolidados,
depositados em planícies de inundação, terraços e calhas da rede fluvial (KAUL et al., 2002), loca-
liza-se em maior parte ao longo do Rio Braço do Norte e Rio Pequeno.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Nas regiões mais elevadas encontra-se predominância da unidades Suíte Intrusiva Pedras
Grandes. É constituída de granitoides alcalinos do embasamento cristalino, de granulação média
a grossa, de cor cinza a rósea (HIGASHI, 2006).
Quanto às unidades pedologias, foram identificadas duas classes: Cambissolo Háplico e
Podzólico Vermelho-Amarelo, as quais foram extraídas do mapeamento realizado pelo Projeto
RADAMBRASIL realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em escala
1:250.000 (imagem 3). A área de estudo é formada por 2,68% de Cambissolo e 96,32% de Podólico
Vermelho-Amarelos. Os cambissolos têm como característica textura franco-arenoso com pouca
variação de horizontes A-B-C, porém diferenciável. Já os Podzólicos Vermelho-Amarelo são cons-
tituído por solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural e boa diferenciação entre
Figura 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verificar
horizontes. Dentro dessa classe, ocorrem solos com cascalho e/ou mesmo cascalhento, em relevo
numeração figura 2.2
desde suave ondulado a montanhoso.
Figura 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Verificar
Imagem 2 – Mapa Geológico do município de Braço do Norte/SC numeração figura 2.2

164

Fonte???????? [SdM2] Comentário: Fonte

Fonte: Adaptado IBGE, (2002).


Fonte????????
Figura 3 – Mapa Pedológico do município de Braço do Norte/SC [SdM2]
[SdM3] Comentário:
Comentário: Fonte
Verificar
Imagem 3 – Mapa Pedológico do município de Braço do Norte/SC numeração 2.3

Figura 3 – Mapa Pedológico do município de Braço do Norte/SC [SdM3] Comentário: Verificar


numeração 2.3

Fonte: Adaptado IBGE, (1986).


Fonte? [SdM4] Comentário: Fonte:??

Fonte? [SdM4] Comentário: Fonte:??


PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

As características topográficas da área de estudos foram obtidas do Modelo Digital do


Terreno disponibilizado pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável – SDS com pixel de 1
metro, com a altimetria chegando a 550 metros (imagem 5).
A partir do MDT extraiu-se as declividade (imagem 4) e os intervalos foram classificados
baseadas no Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos da EMBRAPA (2006), conforme tabela 1.

Tabela 1- Quantificação das áreas segundo a declividade [SdM1] Comentário: Isso deveria se
Tabela 1 - Quantificação das áreas segundo a declividade uma tabela e não quadro

Classificação Área Área


Declividade
EMBRAPA (km²) (%)
0-3% Plano 19,52 9,31%
Suavemente
3 - 8% ondulado 35,71 17,03%
8 - 20% Ondulado 108,18 51,59%
Fortemente
20-45% ondulado 47,94 22,86%
45-75% Montanhoso 0,12 0,05%
Falta Fonte??
Fonte: Autor. [SdM2] Comentário: Fonte?

O município apresenta a maior parte do seu relevo classificado como ondulado, 51,59%,
caracterizando a declividade entre 8 e 20%.

Figura
Imagen4 4– –Mapa
Mapade
dedeclividade
declividadedo
domunícipio
munícipiode
de Braço do Norte
Braço do Norte

[SdM1] Comentário: Fonte


165

Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Figura 5 – MDT com altimetria do munícipio de Braço do Norte


Imagem 5 – MDT com altimetria do munícipio de Braço do Norte

Fonte: Autor.
Fonte?? [SdM1] Comentário: Font

MATERIAIS E MÉTODOS

MAPEAMENTO GEOTÉCNICO PRELIMINAR


A partir da obtenção dos dados topográficos, pedológicos e geológicos da área de estudo
criaram-se os mapas que embasarão o estudo de riscos de deslizamentos em modelo SHALSTAB,
por meio do software de geoprocessamento. Preconiza-se que a cartografia de todos os mapas
166 estão em datum SIRGAS 2000 (Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas) ou WGS 1984
(World Geodetic System) as quais são praticamente equivalentes.
Na elaboração do mapa geotécnico preliminar, foi empregado os preceitos da metodo-
logia proposta por Davison Dias (1995), a qual utiliza o cruzamento dos mapas litológico e pedo-
lógico com indicações de comportamento do solo para que se obtenha um terceiro mapa de
estimativa de comportamento dos solos, o mapa geotécnico. As unidades geotécnicas criadas são
compostas por polígonos classificados segundo a pedologia, horizontes B e C, representada por
letras maiúsculas, e pela geologia, horizontes RA e R (rocha sã), por letras minúsculas. Na classifi-
cação geológica é considerada a rocha dominante na formação (MAFRA JR, 2007).
O mapa pedológico foi disponibilizado no formato dgn do Microstation pelo Projeto
RADAMBRASIL, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (imagem
6).
Já o mapa litológico foi obtido partir de interpretações do mapa geológico disponibilizado
no formato dgn do Microstation pelo Projeto Gerenciamento Costeiro - GERCO, desenvolvido pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, representando o tipo de rocha predominante,
conforme quadro 1:
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Quadro 1 – Caracterização das unidades geotécnicas preliminares do
Municípiogeotécnicas
Quadro 1 - Caracterização das unidades de Braço do Norte/SC do Município de Braço do Norte/SC.
preliminares [SdM1] Comentário: Se for qua
não pode ser aberto dos lados

Unidades Geológicas Siglas Unidades litológicas

Sedimentos
Sedimentos Aluvionares QHa
Quaternários
Suite Intrusiva Pedras
PSpg Granito
Grandes
Formação Serra Geral JKpg Basalto/Diabásio
Suite Intrusiva Tabuleiro PSɣt Granito
Sedimentos
Formação Rio Bonito Prb
Quaternários
Formaçação Rio do Sul Prs Arenito

Fonte: Autor.
Fonte: [SdM2] Comentário: Fonte

MAPEAMENTO DE SUSCETIBILIDADE A ESCORREGAMENTOS RASOS


O modelo matemático determinístico SHALSTAB, foi criado por Montgomery e Diemitrich
(1994, apud VIEIRA; RAMOS, 2015) e visa avaliar as áreas suscetíveis a deslizamentos translacio-
nais rasos, composto por um modelo de análise de taludes infinitos e um modelo hidrológico.
O modelo incorpora em suas análises os parâmetros topográficos declividade, relacionada ao
equilíbrio entre escoamento superficial e infiltração da agua no solo, e área de contribuição e
167
os parâmetros do solo coesão, ângulo de atrito, massa especifica natural das partículas sólidas e
espessura.
Os parâmetros do solo referente à coesão, ângulo de atrito interno e densidade do
solo foram retirados de estudos que possuem unidades geológicas semelhantes. Higashi (2006),
Oliveira (2014), Guesser (2013), Souza (2015) e Sbroglia (2015) trazem valores de coesão, ângulo
de atrito interno e densidade oriundos de fontes bibliográficas e ensaios de cisalhamento, direto
de áreas objeto de estudo dos respectivos trabalhos. Na unidade substrato granito, realizou-se a
média simples nos valores de coesão e ângulo de atrito, para obtenção de um único valor.
Tabela 2 – Parâmetros do solo das unidades geotécnicas do Município de
Braço do Norte/SC [SdM1] Comentário: Aqui
Tabela 2 - Parâmetros do solo das unidades geotécnicas do Município de Braço do Norte/SC. ser tabela 2
Ângul
Pesos
Coesão o de Autores
específico
Litologia efetiva Atrito
saturado
(kPa) (graus
(kg/m ³)
)
Higashi (2006),
Oliveira
Granito 10,9 33,8 1714
(2014), Guesser
(2014)

Basalto/Diabásio 4,8 35,9 1768 Higashi (2006)


Sedimentos Quaternários 3,4 35,3 1850 Souza (2015)
Arenito 8,4 26,5 1740 Sbroglia (2015)

Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A espessura do solo (profundidade da superfície de ruptura), também é um parâmetro


de entrada e foi variada, tendo em vista diferentes cenários. Foram realizadas 5 (cinco) simula-
ções utilizando o modelo SHALSTAB, com as profundidades (z) igual a 1, 5, 7, 10 e 15 metros.
Quanto a coesão das raízes, Michel (2013, apud OLIVEIRA, 2014) aponta que só tem influência
significativa até no máximo 4m de profundidade, entretanto, foi considerado o valor nulo em
todos os cenários.
Classes de estabilidade referentes às condições de estabilidade e saturação foram dividi-
das em sete classes, conforme Dietrich e Montgomery (1998): incondicionalmente instável e não
saturado; incondicionalmente instável e saturado; instável e saturado; instável e não saturado;
estável e não saturado; incondicionalmente estável e não saturado; incondicionalmente estável
e saturado.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com a sobreposição do mapa geológico e pedológico foi gerado o mapa geotécnico


preliminar. Denominado assim, uma vez que pode sofrer alterações após as unidades geotécni-
cas serem chegadas e validadas em campo. O mapa apresentado na imagem 6 possui escala de
1:250.000 onde foi possível identificar sete unidades geotécnicas.

Imagem 6 - Mapa geotécnico preliminar do município de Braço do Norte/SC

168

Fonte: Autor.

As unidades geotécnicas identificadas foram: Cambissolo substrato arenito (Ca);


Cambissolo substrato basalto (Cb); Cambissolo substrato granito (Cg); Cambissolo substrato sedi-
mentos quaternários (Csq); Podzólico substrato arenito (PVa); Podzólico substrato sedimentos
quaternários (PVsq) e Podzólico substrato granito (PVg), quantificadas na Tabela 4, conforme cada
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

unidade geotécnica. Observa-se que a maior área do município de Braço do Norte é composta
pelas unidades Podzólico substrato granito (84,04%) e Podzólico substrato sedimentos quaterná-
rios (10,16%).

[SdM1] Comentário: Deveria se


Tabela 3 – 3Quantificação
Tabela da da
- Quantificação área geotécnica
área geotécnica tabela e não quadro

Sigla Unidade Geotécnica Área (km²) Área (%)

Ca Cambissolo substrato arenito 0,18 0,08%


Cb Cambissolo substrato basalto 0,39 0,19%
Cg Cambissolo substrato granito 1,95 0,93%
Cambissolo substrato sedimentos
Csq quaternários 4,52 2,16%
PVa Podzólico substrato arenito 5,12 2,44%
Podzólico substrato sedimentos
PVsq quaternários 21,30 10,16%
PVg Podzólico substrato granito 176,22 84,04%

Fonte: Autor.
[SdM2] Comentário: Falta font

Para a aplicação do modelo SHALSTAB realizaram-se 5 simulações com dados de entrada


referentes à profundidade do solo (z) igual a: 1, 5, 7, 10 e 15 metros. Além da profundidade do
169
solo, variável, foram inseridos os mapas topográfico, hidrológico, geotécnico e os parâmetros de
resistência ao cisalhamento dos solos para cada unidade.

Imagem 7 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 1,0 metro.

Fonte: Autor.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Figura 7 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada
de 5,0 metro [SdM1] Comentário: Dev
Imagem 8 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 5,0 metro
[SdM2] Comentário: Sem

Figura 7 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada


de 7,0 metro [SdM1] Comentário: Dev

[SdM2] Comentário: Sem

Figura 7 - Mapa de suscetibilidade a Fonte: Autor. rasos com espessura de camada


deslizamentos
de 7,0 metro [SdM1] Comentário: Deve s
Imagem 9 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 7,0 metro
[SdM2] Comentário: Sem fo

170

Fonte: Autor
Figura 8 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada
de 10,0 metro
Imagem 10 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 10,0 metro [SdM3] Comentário: Dev

[SdM4] Comentário: Sem

Figura 8 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada


de 10,0 metro [SdM3] Comentário: Deve s

[SdM4] Comentário: Sem fo

Fonte: Autor
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Imagem 11 - Mapa de suscetibilidade a deslizamentos rasos com espessura de camada de 15,0 metro

Fonte: Autor.
Tabela 5 - Quantificação das áreas instáveis para as profundidades de solo
simulados
Tabela 4 - Quantificação das áreas instáveis para as profundidades de solo simulados
Classificação z=15 z=10 z=7 z=5 z=1
Incondicionalmente instável e
0,58% 0,41% 0,27% 0,16% 0,00%
saturado
171
Incondicionalmente instável e não
0,86% 0,64% 0,42% 0,24% 0,00%
saturado
Instável e saturado 1,70% 1,27% 0,84% 0,47% 0,00%
Instável e não saturado 4,54% 3,70% 2,73% 1,66% 0,01%
Estável e não saturado 6,85% 5,88% 4,65% 3,19% 0,03%
Incondicionalmente estável e não
14,76% 13,11% 11,00% 8,24% 0,16%
saturado
Incondicionalmente estável e
70,72% 74,98% 80,08% 86,11% 99,79%
saturado
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.

A partir dos mapas das imagens 7,8, 9, 10 e 11 e da Tabela 5, percebe-se que há um


acréscimo de áreas instáveis com o aumento da profundidade do solo, bem como a diminuição
de áreas incondicionalmente estáveis. Com a ausência de um mapa de cicatrizes para a validação
do estudo, utilizou-se o mapa com a espessura do solo (z) igual a 15 metros (imagem 12) uma vez
que trata-se do pior cenário.
Com base no pior cenário, observa-se a concentração de zonas “incondicionalmente
instáveis” e “instáveis” predominam na unidade Podzólico com a predominância de relevo ondu-
lado, conforme imagem 12 e tabela 6.
Imagem 12 - Mapa de maior instabilidade (z=15m) x unidade geotécnica
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Imagem 12 - Mapa de maior instabilidade
Gestão Integrada do Território
(z=15m)
predominante (PVg)x unidade geotécnica
predominante (PVg)
Imagem 12 - Mapa de maior instabilidade (z=15m) x unidade geotécnica predominante (PVg)

abela 6 – Áreas de instabilidade na unidade geotécnica PVg e relação com a


Fonte: Autor
abela 6 – Áreas de instabilidade na unidade
áreageotécnica
total PVg e relação com a
Tabela 5 – Áreas de instabilidade na unidade geotécnica PVg e relação com a área total
área total
Outras und.
Und. PVg
Classificação Geotécnicas Total (%)
(%)Outras und.
172 Und. PVg (%)
Classificação Geotécnicas Total (%)
(%)
Incondicionalmente (%)
69,40 30,60 100,00
Incondicionalmente
instável e saturado
69,40 30,60 100,00
instável e saturado
Incondicionalmente
85,23 14,77 100,00
Incondicionalmente
instável e não saturado
85,23 14,77 100,00
instável eInstável
não saturado
e saturado 88,98 11,02 100,00
Instável e saturado
Instável e não saturado88,98 90,73 11,02 9,27 100,00100,00
InstávelEstável
e não saturado
e não saturado 90,73 90,80 9,27 9,20 100,00100,00
Estável Incondicionalmente
e não saturado 90,80 9,20 100,00
89,60 10,40 100,00
Incondicionalmente
estável e não saturado
89,60 10,40 100,00
estável eIncondicionalmente
não saturado
82,22 17,78 100,00
Incondicionalmente
estável e saturado
82,22 17,78 100,00
estável e saturado Fonte:
Fonte: Autor.
Autor.
Fonte: Autor.
Imagem 13 – Mapa de declividade x unidade geotécnica (PVg)

PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL


Gestão Integrada do Território
Imagem 13 – Mapa de declividade x unidade geotécnica (PVg)
Imagem 13 – Mapa de declividade x unidade geotécnica (PVg)

Fonte: Autor.

Tabela 7 - Áreas de instabilidade na unidade geotécnica PVg e nas demais


Fonte:Fonte:
Autor.Autor.
unidades
Tabela 7 - Áreas de instabilidade na unidade geotécnica PVg e nas demais unidades
Tabela 7 - Áreas de instabilidade Outras
na unidade geotécnica PVg und.
e nas demais
Classificação
Und. PVg Geotécnicas Total (%)
Declividade EMBRAPA unidades
173 (%) (%)
0 - 3% Plano 48,16 Outras
51,84
und. 100,00
Classificação
Und. PVg Geotécnicas Total (%)
3 - 8%
Declividade Suavemente
EMBRAPA ondulado 78,02 21,98 100,00
(%) (%)
8 - 20% Ondulado 88,34 11,66 100,00
0 - 3% Plano 48,16 51,84 100,00
20 - 45% Fortemente ondulado 90,30 9,70 100,00
3 - 8% Suavemente ondulado 78,02 21,98 100,00
45 - 75% Montanhoso 83,33 16,67 100,00
8 - 20% Ondulado 88,34 11,66 100,00
>75% Fortemente montanhoso 50,00 50,00 100,00
20 - 45% Fortemente ondulado 90,30 9,70 100,00
Fonte: Autor
Fonte: Autor
45 - 75% Montanhoso 83,33 16,67 100,00
>75% Fortemente montanhoso 50,00 50,00 100,00
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fonte: Autor

Aplicando-se a metodologia proposta por Davison Dias (1995), foram identificadas


sete unidades geotécnicas na área de estudo, sendo elas: Cambissolo substrato arenito (Ca);
Cambissolo substrato basalto (Cb); Cambissolo substrato granito (Cg); Cambissolo substrato
sedimento quaternários (Csq); Podzólico substrato arenito (PVa); Podzólico substrato sedimen-
tos quaternários (PVsq) e Podzólico substrato granito (PVg). As unidades Podzólidos substratos
sedimentos quaternários (PVSq) e Podzólico susbstrato granito (PVg) destacam-se, pois abrangem
10,16% e 84,04% da área total, respectivamente.
Analisando o mapa geotécnico e o mapa de declividade observa-se que nas áreas mais
planas há predominância da unidade Podzólico com substrato quaternários e Cambissolo com
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

substrato quaternários, chegando em uma declividade de até 20%. Em declividades superiores a


20%, há predominância da unidade Podzólico com substrato granito.
Com a aplicação do modelo SHALSTAB ressalta-se que com o aumento da profundidade
aumenta-se as áreas instáveis e diminui-se as áreas estáveis. Devido à ausência do mapeamento
de cicatrizes, o qual possibilitaria validar o mapeamento, adotou-se o mapa que privilegia as áreas
mais instáveis, profundidade z=15metros, o qual apresenta a maior quantidade de áreas susce-
tíveis a movimento de massa. Observou-se que a maior quantidade de áreas instáveis pertence
a unidade geotécnica Podzólico substrato granito: 69,40% referente a área, incondicionalmente
instável e saturada, pertencente à unidade geotécnica; 85,23% referente à área incondicional-
mente instável e não saturada; 88,98% referente à área instável e saturada e 90,73% referente à
área instável e não saturada.
Conclui-se, ainda, que além de áreas instáveis se concentrarem na unidade geotécnica
Podzólico substrato granito, as áreas com maior declividade também pertencem a essa unidade.
Sendo 84,33% do relevo ondulado, 90,30% do relevo fortemente ondulado, 83,33% do relevo
montanhoso e 50% do relevo fortemente ondulado.

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Gestão Integrada do Território

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cia do Ribeirão Baú, Ilhota/SC. 2015. 187f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2015.
SBROGLIA, R.M.; HIGASHI, A.R.A. Mapeamento geotécnico preliminar de áreas suscetíveis a
movimentos de massa na microbacia do Ribeirão Baú, Ilhota/SC. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
SENSORIAMENTO REMOTO - SBSR, p. 834-846,2013, Foz do Iguaçu. Anais... Florianópolis, 2013.
Versão eletrônica.
SOUZA, A.M.S. Mapeamento de áreas suscetíveis a deslizamentos rasos na região da bacia do Rio
Camboriú. 2015. 117p. TCC (Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Civil) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2015.
VIEIRA, B.C.; RAMOS, H. Aplicação do modelo SHALSTAB para mapeamento da suscetibilidade
a escorregamentos rasos em Caraguatatuba, Serra do Mar (SP). Revista do Departamento de
Geografia – USP, São Paulo, v.29, p. 161 a 174, 2015.
175
CAPÍTULO XIII

ANÁLISE DO RISCO DE OCUPAÇÃO URBANA SOBRE


ÁREAS MINERADAS EM SUBSOLO NO MUNICÍPIO
DE CRICIÚMA (SC), UTILIZANDO TÉCNICAS DE
GEOPROCESSAMENTO

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan13

Rafaela Bendo - UNESC / UNINTER


Fabiano Luiz Neris - UNESC / UFSC
Gustavo José Deibler Zambrano - UNESC / UNIVALI

176

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O carvão foi descoberto na região Sul de Santa Catarina no ano de 1822 (JFSC/IPAT, 2010).
No entanto, a atividade de mineração ocorreu de forma mais intensa, apenas a partir do ano 1930
(MILIOLI, 2009). Na época, foram empregados diversos métodos de lavra do minério, dentre eles:
câmaras e pilares, longwall ou lavra com recuperação de pilares, picareta e céu aberto. Para a
operação das minas, era exigida autorização do órgão competente, nesse caso o Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Devido às atividades de extração de carvão em subsolo, foram causadas alterações no
comportamento geotécnico de grande parte do Município de Criciúma, que podem resultar em
situações de risco para a ocupação desses locais, sobre áreas mineradas em subsolo (KREBS,
2013). Atualmente, existe o conflito entre os superficiários, habitantes que residem sobre áreas
mineradas, e as empresas mineradoras, dado que, a ocupação urbana ocorreu até a década de
1970, sem qualquer plano de ordenamento. Dessa forma, há grande número de reclamações
concernentes a danos estruturais e patrimoniais, por parte dos moradores.
A Análise de Risco Ambiental (ARA) é um instrumento previsto no arcabouço jurídico
brasileiro, com o intuito de assegurar a sadia qualidade de vida e um meio ambiente equilibrado.
A ARA faz-se necessária quando se vislumbra o risco a vida humana, como no caso em questão.
Principalmente, no que tange à ocupação urbana proposta pelo zoneamento do plano diretor
sobre áreas mineradas em subsolo, dentro do território em análise.
Essa área ganha relevância do ponto de vista do planejamento e gestão territorial, uma
vez que, visa diagnosticar e fornecer subsídios para ações de melhoria com indicação técnica para
177 decisões acerca do ordenamento do uso do solo, de maneira a minimizar os conflitos existentes.
A organização dos dados coletados em um sistema de informações geográficas (SIG),
contendo as áreas onde houve mineração de carvão em subsolo, vem auxiliar, principalmente, os
procedimentos referentes ao atendimento de denúncias; assim como, em relação à ocorrência de
danos estruturais em edificações, danos patrimoniais e subsidências. Dessa forma, possibilitará
identificar a existência de mina subterrânea no local. Nesse sentindo, em caso afirmativo, definir
qual a mina, qual empresa minerou, e informar qual a espessura de capeamento aproximada que
existe naquele local. Além disso, também facilitará o fornecimento de respostas a consultas reali-
zadas por parte do setor de construção civil, em ampla expansão na região, quanto à ocorrência
de mina em determinadas áreas.
Conforme Ladwig e Schwalm (2012), os mapas dispõem da vantagem de transmitirem
informações com rapidez, por meio de desenhos que seguem padrões determinados, por isso
tornam-se cada vez mais empregados como ferramentas fundamentais para o planejamento da
ocupação urbana nos municípios. O mapa de risco, do qual trata este estudo, portanto, tem o
papel de fornecer uma representação cartográfica dos riscos de danos aos recursos estruturais
e patrimoniais, decorrentes da atividade de mineração de carvão em subsuperfície em Criciúma.
Com a elaboração da base de dados geoespaciais, torna-se possível comparar as áreas
onde houve mineração de subsuperfície, com a proposta de ocupação urbana, conforme o zonea-
mento do Plano Diretor Municipal (CRICIÚMA, 2012). A análise da relação entre ambos é de extre-
ma importância, e esta pode ser feita através da criação de um índice de risco, que proporciona
o conhecimento de áreas com risco maior ou menor de ocupação, conforme as características
da mina, relacionando com a permissividade de ocupação urbana de cada zona do Plano. Desse
modo, pode-se identificar áreas onde o desenvolvimento da ocupação urbana deve ser limitado,
com o intuito de evitar danos estruturais às edificações e danos patrimoniais.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

METODOLOGIA

A delimitação da área de estudo foi definida como o limite municipal de Criciúma, Estado
de Santa Catarina. Optou-se pela cidade, uma vez que, consiste no município mais urbanizado da
região carbonífera, com alto índice de ocupação urbana, e, além disso, dispõe de um plano diretor
aprovado recentemente (CRICIÚMA, 2012), que foi alvo de grandes discussões ao longo de pouco
mais de dez anos. Ademais, o maior número de reclamações recebidas pelo órgão fiscalizador das
atividades minerárias, relativas a danos estruturais e patrimoniais, são oriundas do Município.
O Município integra a região extremo Sul do Estado, e dispõe de 235,71 km² de área total
(Imagem01), conforme dados do IBGE (2013). Pertencente à bacia hidrográfica do rio Araranguá,
e à Associação de Municípios da Região Carbonífera (AMREC), Criciúma dispõe de 192.308 habi-
tantes, com a maior densidade demográfica da região (IBGE, 2010).
Imagem 1 – Localização do Município de Criciúma, SC
Imagem 1 – Localização do Município de Criciúma, SC

178

Fonte: IBGE, (2010).


Fonte: IBGE, (2010).

O produto desse artigo objetiva um mapa síntese de risco de ocupação urbana sobre
áreas mineradas em subsuperfície. Então, utilizou-se a integração de planos de informações, refe-
rentes a atributos relativos ao risco do ambiente e aos aspectos técnicos relacionados à atividade
de extração de carvão mineral em subsolo.
A metodologia de sobreposição de mapas (overlay mapping) e análise multicritério com
suporte decisão por processo analítico hierárquico (AHP) foram escolhidas tendo por base o incen-
tivo ao uso proposto por vários autores, como: Duarte (1991); Berry (1993 apud SOARES FILHO,
2000); Barbosa (1997); Soares Filho (2000); Câmara, Davis e Monteiro (2001); Miranda (2005);
Loch (2006); Ladwig e Schwalm (2012), Krebs (2013).
Para a utilização dos atributos como critérios de ponderação, empregou-se a análise AHP,
que é justificada devido à necessidade de atribuir pesos diferentes aos parâmetros, pois eles não
possuem mesmo potencial de influência de ocupação. A análise pareada consiste em classificar a
relação existente entre duas variáveis, em uma escala de 1 a 9. Sendo que, o grau de importância
cresce de 1: Igual até 9: Absolutamente Melhor (SAATY, 1992).
Os níveis de consistência adquiridos foram utilizados como ponderações em equações
multicritérios, ocasionando a unificação de parâmetros quantitativos, bem como, a inclusão de
parâmetros qualitativos.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A partir da escolha da área de estudo, definiu-se os dados necessários à produção dos


mapas, e demais informações pertinentes ao trabalho. A coleta de dados foi dividida em duas
frentes, uma de informações documentais, e outra de informações geográficas. Por meio da defi-
nição das necessidades, buscaram-se as informações na Prefeitura Municipal de Criciúma (PMC),
Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense (IPAT/
UNESC), Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Governo do Estado (SDS), Departamento
Nacional de Produção Mineral, Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), Sindicato
da Indústria de Extração do Carvão do esta do de Santa Catarina (SIECESC), Ministério Público
Federal (MPF), Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (FATMA), e empresas do setor
mineral.
Todas as abordagens envolveram parcialmente dados geoespaciais, tabelas de informa-
ção, e Sistemas de Informação Geográfica para integração e manipulação de uma base de dados.
Tal enfoque incidiu na edição dos atributos vetoriais e matrizes, infundindo, agregando e poten-
cializando a informação em geoinformação.
Dessa forma, os dados foram coletados, sistematizados e espacializados a partir de técni-
cas de geoprocessamento, utilizando o programa ArcGIS®, constituindo um Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Os produtos cartográficos foram trabalhados no ambiente computacional,
usando como sistema de referência a projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), fuso 22S
e datum horizontal SIRGAS 2000, conforme determina a Resolução IBGE nº 01/2005 (IBGE, 2005).
Os dados utilizados em agregação ao SIG foram: mancha de ocupação urbana; zonea-
mento do plano diretor municipal; áreas mineradas em subsolo e suas espessuras de capeamen-
to; método de lavra para extração de carvão em subsolo; e, registros de danos estruturais e patri-
moniais. A partir dos dados coletados, procedeu-se a elaboração dos mapas: mapa do grau de
179
ocupação urbana segundo o zoneamento do plano diretor, e mapa de risco da ocupação urbana
sobre áreas mineradas em subsolo. Posteriormente, as informações foram amalgamadas em um
mapa de conflitos, esse visando um cenário de ocupação urbana futura.

MAPA DO GRAU DE OCUPAÇÃO URBANA SEGUNDO O ZONEAMENTO DO PLANO DIRETOR


O mapa que representa o grau de ocupação urbana proposto pelo plano diretor foi produ-
zido por meio do cruzamento entre o mapa de zoneamento, e as informações referentes aos
parâmetros urbanísticos, constantes no plano diretor municipal. Assim, definiu-se que as variá-
veis a serem adicionadas ao banco de dados do mapa deveriam ser: Índice de Aproveitamento
básico (IA); Taxa de ocupação básica (TO básica); Lote mínimo (Lote mín); e, Número Máximo de
Pavimentos (NP).
As variáveis acima foram categorizadas quantitativamente, seguindo critérios subjetivos,
em escalas entre 1 a 10, sob forma crescente de ocupação urbana conforme o Quadro 1.
PLANEJAMENTO QuadroE1GESTÃO– Proposta de ocupação do plano diretor, conforme análise
TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território hierárquica de parâmetros urbanísticos

Quadro 1 – Proposta de ocupação do plano diretor, conforme análise hierárquica de parâmetros urbanísticos
ZONAS IA Nota IA TO básica Nota TO Lmín Nota Lmín NP Nota NP Nota Final

ZM1-16 3,5 10 60 8,5 360 2 16 10 8,586

ZC2-16 3,5 10 60 8,5 360 2 16 10 8,586

ZM2-8 3 9 70 10 360 2 10 6,5 8,12

ZC1-4 3 9 70 10 360 2 4 2,5 7,944

ZM1-8 3 9 60 8,5 360 2 10 6,5 7,808

ZC3-8 3 9 60 8,5 360 2 10 6,5 7,808

ZC3-5 2,5 7,5 60 8,5 360 2 5 3 6,718

ZM2-4 2,5 7,5 60 8,5 360 2 4 2,5 6,696

ZR3-8 2 6 60 8,5 360 2 10 6,5 5,65

ZAA 1 3 50 7 5000 10 2 1 4,062

ZI-1 1 3 50 7 2500 8 2 1 3,924

ZRU 1 3 50 7 2500 8 2 1 3,924

ZI-2 1 3 50 7 1000 4 2 1 3,648

ZR2-4 1 3 50 7 360 2 4 2,5 3,576

ZR1-2 1 3 50 7 360 2 2 1 3,51


180 ZEIS 1 3 50 7 250 1 2 1 3,441

Z-APA 0,1 1 5 1 2000 6 2 1 1,29

Fonte: osDos
Fonte: autores
autores

Dessa forma, com a razão de consistência em 0,064, a análise pode ser validada, e os
pesos identificados para cada parâmetro culminaram na equação:

𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂çã𝑜𝑜 + (𝐼𝐼𝐼𝐼 × 0,624) + (𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇á𝑠𝑠 × 0,044) + (𝐿𝐿𝐿𝐿í𝑛𝑛 × 0,208) + (𝑁𝑁𝑁𝑁
× 0,069)

MAPA DE RISCO DA OCUPAÇÃO URBANA SOBRE ÁREAS MINERADAS EM SUBSOLO


𝐸𝐸𝐸𝐸 = urbana
O mapa de risco da ocupação 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑏𝑏 −sobre
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑙𝑙 áreas
+ 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶
mineradas
𝑡𝑡 em subsolo representa os
locais onde existem maior potencial de dano no futuro, com vista às fragilidades das minerações
de subsolo, que ocorrem no Município. Por isso, para elaboração desse mapa, foi necessário reali-
zar o cruzamento entre os mapas: Espessura de Capeamento das Áreas Mineradas em Subsolo;
Áreas Mineradas em Subsolo; e, Métodos de Lavra para Extração de Carvão em Subsolo.
Para a produção do mapa de Espessura de Capeamento foram utilizadas as informações
dos perfis de sondagem da CPRM, referentes à camada de carvão Barro Branco. Contudo, devido
aos perfis não abrangerem toda a extensão da área de estudo, o mapa limitou-se à disponibilida-
de dos dados. Aplicou-se a equação abaixo para obtenção da espessura de capeamento, onde EC
é a espessura de capeamento, Cotab é a cota da boca do furo, Cotal é a cota da lapa, e, Camadat é
a camada total de carvão.
𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺𝐺 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂çã𝑜𝑜 + (𝐼𝐼𝐼𝐼 × 0,624) + (𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇𝑇á𝑠𝑠 × 0,044) + (𝐿𝐿𝐿𝐿í𝑛𝑛 × 0,208) + (𝑁𝑁𝑁𝑁
× 0,069)
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

𝐸𝐸𝐸𝐸 = 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑏𝑏 − 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑙𝑙 + 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑡𝑡

Em sequência, deu-se início à produção do modelo digital de elevação, para densificar


por interpolação, conforme os valores de espessura de capeamento. O modelo de elevação é uma
ferramenta bastante comum em geoprocessamento, e propicia a modelagem numérica tridimen-
sional do terreno.
Para o mapa de risco, primeiramente, foram definidas as categorias a serem analisadas,
no que se refere à mineração, destacando: método de lavra quanto à Recuperação de Pilares (RP);
Sobreposição de Áreas Mineradas (SAM); e, Espessura de Capeamento das áreas mineradas (EC).
As variáveis acima foram categorizadas quantitativamente, seguindo critérios subjetivos,
Quadro
em escalas entre 12 a–10,
Notas atribuídas
sob forma de acordo
crescente de riscocom o potencial
de danos de causar
patrimoniais danos confor-
e estruturais
me o Quadro 02.
estruturais e patrimoniais à superfície de áreas mineradas, conforme as
fragilidades das minas de subsolo
Quadro 2 – Notas atribuídas de acordo com o potencial de causar danos estruturais e patrimoniais à superfície de
áreas mineradas, conforme as fragilidades das minas de subsolo
Sobreposição de áreas mineradas – SAM NOTA

Sim 10

Não 2,5

Lavra com recuperação de pilares – RP NOTA

Sim 2,5
181 Não 10

Sem Informação 5

Espessura de Capeamento – EC (m) NOTA

0 – 30 10

30 – 60 5

> 60 2,5

Fonte: os autores
Fonte: Dos autores

A análise ocorreu de forma subjetiva e embasada em referências técnicas. Assim, obte-


ve-se a razão de consistência de 0,016, e os pesos identificados para cada parâmetro culminaram
na equação:

𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂çã𝑜𝑜 = (𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆𝑆 × 0,769) + (𝑅𝑅𝑅𝑅 × 0,14) + (𝐸𝐸𝐸𝐸 × 0,084)

MAPA DE CONFLITOS

O mapa de conflitos entre o grau de ocupação urbana segundo o zoneamento do plano


diretor, e o risco da ocupação urbana sobre áreas mineradas em subsolo, apresenta o resultado
final das análises. Dessa maneira, tem-se uma projeção da potencialidade ou minimização do
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

risco de ocupação sobre as áreas mineradas, em função do plano diretor recentemente aprovado.
Esse resultou da sobreposição das bases geradas anteriormente.
Por meio da análise hierárquica, foram obtidos os valores correspondentes ao risco de
danos estruturais e patrimoniais associados a cada polígono, bem como, o grau de ocupação.
Quadro 3 – Potencial de conflito interpretado a partir do cruzamento entre o
Ambos foram classificados em cinco categorias, que variaram de acordo com as notas: 0 a 2 (muito
baixo); 2 agrau de ocupação
4 (baixo); urbana
4 a 6 (médio); 6ae o riscoe,de
8 (alto); pordanos
fim, 8 estruturais
a 10 (muito e patrimoniais
alto) (Quadro 03).
proveniente da mineração
Quadro 3 – Potencial de conflito interpretado a partir do cruzamento entre o grau de ocupação urbana e o risco de
danos estruturais e patrimoniais proveniente da mineração
Risco de Mineração
Grau de
Ocupação Muito Muito
Alto Médio Baixo
Alto Baixo

Muito Muito
Muito Alto Alto Alto Médio
Alto Alto

Muito
Alto Alto Alto Médio Médio
Alto

Médio Alto Alto Médio Médio Baixo

Muito
Baixo Alto Médio Médio Baixo
Baixo

Muito Muito
Muito Baixo Médio Médio Baixo
Baixo Baixo
182
Fonte:Dos
Fonte: os autores
autores

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme análise, a mancha de ocupação urbana atual do Município Criciúma represen-


ta cerca de 60,11 km², do total de 235,71 km² dos quais dispõem o Município (IBGE, 2013). Logo,
compreende-se que os 192.308 habitantes da cidade (IBGE, 2010) estão distribuídos, basicamen-
te, em uma área de apenas 60,11 km², ou seja, a densidade demográfica, praticamente, equivale
a 815,87 habitantes por km². É de se esperar que essa concentração populacional venha a gerar
conflitos de uso do solo, e consequências ao meio ambiente.
Portanto, pode-se concluir que o Município de Criciúma é essencialmente urbano, o que
tende a agravar os conflitos resultantes da existência de áreas mineradas em subsolo, já que as
movimentações do solo são sentidas nas edificações, resultando principalmente em rachaduras,
rebaixamento de pisos, e demais patologias. Em alguns casos de subsidência, a edificação acaba
comprometida, a ponto de ser interditada. O resultado dessa situação é percebido pelo número
de denúncias recebidas pelos órgãos fiscalizadores, principalmente, MPF, SIECESC e DNPM.
O zoneamento do plano diretor municipal apresenta as divisões de zonas, onde cada
uma delas dispõe de usos pré-determinados, ou seja, há parâmetros urbanísticos associados, que
são responsáveis pela maior ou menor permissividade de ocupação urbana. Logo, tem-se que as
zonas residenciais e mistas estão concentradas na área central, oeste e noroeste do Município.
Sendo que, na região oeste coincide área urbana com locais onde houve minas de subsolo. Do
contrário, ao sul de Criciúma, ocorreram várias minas, no entanto, o uso proposto para essa região
é Z-APA.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Quanto às áreas mineradas em subsolo, pode-se concluir que, aproximadamente 87,15


km² do Município de Criciúma foi minerado. Além disso, do total, cerca de 83,44 km² foram na
camada Barro Branco, 3,49 km² na camada Irapuá e 0,22 km² na camada Bonito.
A pesquisa relacionada à espessura de capeamento, das áreas mineradas em subsolo,
permitiu identificar que os locais com menor espessura ocorrem nos bairros Nossa Senhora da
Salete, São Cristóvão, Progresso, Mina União, Cidade Mineira Nova, Cidade Mineira Velha, Vila
Macarini, Rio Maina, Catarinense, Vila Visconde, Metropol, Vila São José, Nossa Senhora do
Carmo, Wosocris, Distrito Industrial, Vila Isabel, Vila São Sebastião, Sangão, correspondentes às
regiões centro-leste, oeste e sudoeste, densamente ocupadas.
Ainda, cabe destacar que, apesar de não terem sido encontrados dados da CPRM rela-
tivos à parte da cidade, sabe-se por meio do aparecimento de galerias em propriedades particu-
lares, que a espessura de capeamento nos bairros Pio Corrêa, Santo Antônio, Operária Nova, São
Luiz e Santa Augusta, também é bastante pequena. Por outro lado, os locais onde a camada de
carvão encontra-se em maiores profundidades correspondem aos bairros Verdinho, Quarta Linha
e São Roque. Todavia, esse fato não anula os riscos oriundos das demais características geológicas
locais. Ressalta-se que em uma modelagem de previsão de riscos de subsidência, é ideal se dispor
de informações relativas à constituição litológica, grau de fraturamento do material, dimensões
de galeria, além da espessura de capeamento da camada de carvão.
Os métodos de lavra para a extração de carvão em subsolo foram divididos em três cate-
gorias: com recuperação de pilares, sem recuperação de pilares, e, sem informação, representan-
do 8%, 24% e 68%, respectivamente. Os dados evidenciam a ausência de informações relativas às
minas de subsuperfície em Criciúma, o que configura um fator agravante de risco para ocupação
urbana.
183
As minas onde não houve recuperação de pilares representam, atualmente, risco maior à
população do que aquelas nas quais foi realizada a remoção dos pilares, uma vez que, seus pilares
de sustentação estão expostos a contatos com água ou oxigênio, agentes que podem diminuir o
tempo de vida útil dessas estruturas. Portanto, mesmo que essas minas disponham de pilares de
sustentação, não se sabe qual o estado de integridade desses, podendo haver colapso de pilares
a qualquer momento. Ainda, a ocorrência de construções sobre as áreas mineradas acaba por
agregar maior peso a ser sustentado pelos pilares da mina, que ficam com sobrecarga, se compa-
rada com aquela para qual foram projetados a suportar. As minas com recuperação de pilares
concentraram-se na região centro-oeste da cidade, onde as lavras datam de épocas mais antigas,
enquanto que nas minas mais recentes, como aquelas localizadas ao sul, não houve retirada dos
pilares.
A imagem 02 mostra um exemplo de dano, pois ao realizar escavação para construção
da escadaria que daria acesso à residência, encontrou-se uma galeria, no bairro Operária Nova.
Além disso, a imagem evidencia a baixa espessura de capeamento da mina, lavrada pela CBCA.
O local está situado sobre Zona Residencial, que permite construções de até dois pavimentos, o
que agrega peso maior aos pilares de sustentação da mina, favorecendo a ocorrência de colapsos.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 2 – Galeria de mina de extração de carvão, na camada Barro Branco,
Imagem 2 – Galeria de mina de extração de carvão, na camada Barro Branco, encontrada durante a construção de
encontrada durante a construção de uma
uma residência residência
em Criciúma, SC. em Criciúma, SC.

184 Fonte: arquivo pessoal dos autores.


Fonte: arquivo pessoal dos autores.

Além disso, é importante informar que os conflitos tendem a ocorrer, também, nas áreas
de recuperação ambiental, onde se teve a disposição de rejeitos piritosos, os quais estão sendo
isolados em cápsulas de argila. Assim, visando evitar que haja o contato com água e oxigênio. No
entanto, o plano diretor não considera uso futuro restrito para essas áreas, o que coloca em risco
a integridade dessas cápsula. Conforme a atividade proposta, pode haver o retorno da exposição
dos rejeitos piritosos à água e ao oxigênio, o que vem a gerar novamente drenagem ácida, junta-
mente com todos os impactos causados pela lixiviação de metais.
Ao comparar o grau de ocupação urbana proposto pelo plano diretor municipal, obtido
pelo método de suporte à decisão AHP, com o mapa de áreas mineradas em subsolo, nota-se que
estão sobrepostas áreas de densa ocupação permitida, com áreas mineradas. O fato caracteriza
a existência de zonas de risco, onde é mais provável que ocorram problemas futuros, como nos
bairros, Pinheirinho, Jardim Angélica, Pio Corrêa, Santo Antônio, Operária Nova, Ana Maria, Vila
Macarini, entre outros.
O mapa de Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em Subsolo (Imagem 03)
apresenta as áreas com risco de ocupação urbana, devido à ocorrência de antigas lavras de carvão
em subsolo no Município de Criciúma, sob uma escala que varia dentro de cinco classes de risco:
muito baixo; baixo; médio; alto; e, muito alto.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 3 – Mapa Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em
Subsolo
Imagem 3 – Mapa Risco da Ocupação Urbana Sobre Áreas Mineradas em Subsolo

Fonte: Dos autores.


Fonte: os autores

Através do mapa, pode-se constatar que do total de áreas mineradas do Município,


cerca de 23% encontra-se sob área urbanizada, com casas, edifícios e comércios instalados. Esse
dado expõe a potencialidade da ferramenta aplicada para o planejamento urbano adequado de
185
Criciúma, que permitiu a ocupação de 20,10 km² de áreas de risco. Além disso, a maior parte das
áreas mineradas está dentro do perímetro urbano do Município.
Analisando os resultados obtidos no mapa, nota-se que o risco baixo foi predominante
no município, compondo 80% das áreas mineradas, o que significa 41,91 km², seguido do risco
médio representado por 17%, com 8,73 km², muito alto com 3%, ou seja, 1,82 km², muito baixo
com 0,05 km², e alto, que não possui área.
O fato de que 80% das áreas mineradas foram consideradas de baixo risco é um ponto
positivo a se destacar. Todavia, o risco ainda é presente. O argumento justifica-se no registro de
subsidências, que tiveram reflexos na superfície, mesmo em mina com espessura de capeamento
de 110 metros, considerada risco baixo. O caso foi registrado na localidade de Sangão, área da
antiga Mina A, da Carbonífera Próspera.
As áreas de risco muito alto dizem respeito, principalmente, aos locais onde existem
mais de uma camada de carvão minerada. Com destaque para os bairros Sangão, Recanto Verde,
Pinheirinho, Ana Maria, Próspera, Jardim Maristela, Ceará, Primeira Linha, Fábio Silva, Universitário
e São Luiz, já ocupados.
É imprescindível que esses locais sejam restringidos de ocupação urbana, principalmente
residencial, comercial e industrial. Pois, as construções localizadas sobre essas áreas, tornam-se
expostas a riscos bastante altos de sofrerem danos, como rachaduras e rebaixamento de pisos,
podendo comprometer a integridade civil da obra.
Enfatiza-se a necessidade de evitar a instalação de edifícios com mais pavimentos, tendo
em vista que, quanto mais alta a construção, maiores são os impactos sofridos, além de prejudicar
um número maior de pessoas. Os autores Krebs, Dias e Viero (1994) relatam que quanto maior o
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Gestão Integrada do Território

número de pavimentos da edificação, maior é o comprometimento da construção civil, ou seja, os


impactos da ocorrência de subsidências são sentidos com maior intensidade.
Destaca-se a presença de um posto de combustível em área de muito alto risco. Tendo
em vista que, os postos possuem tanque de armazenamento subterrâneo, há que se preocupar,
pois uma movimentação do terreno poderia resultar na deformação dos tanques, e permitir o
vazamento do produto, altamente contaminante, botando em risco à qualidade das águas subter-
râneas. Logo, essa atividade deveria ser evitada sobre essas áreas.
O ideal é que seja limitado o uso superficial dessas áreas, a atividades às quais não sejam
afetadas de forma significativa pela ocorrência de uma possível subsidência. Como as áreas de
muito alto risco, correspondem a apenas 1,82 km², verifica-se a viabilidade em restringir usos
nesses locais, e por a área ser pequena, facilita a implantação de medidas cautelares.
Já o risco médio, atinge áreas menos urbanizadas, concentrando-se próximas ao limite
centro-oeste do Município.
As áreas de baixo risco são identificadas nos bairros Pinheirinho e Arquimedes Naspolini.
Identifica-se que as ocupações sobrepostas às áreas de baixo risco constituem-se em urbaniza-
ção horizontal, composta por residências, em sua maioria, de um, dois e três pavimentos. E, no
caso do Morro Cechinel, a ocupação é limitada por ser uma área de proteção ambiental, além de
contar com lotes de tamanho maior, dispondo de poucas construções instaladas.
Apenas uma área foi classificada como de muito baixo risco, situada no bairro Vila
Macarini. O local recebeu essa classificação por ter sido realizada lavra com recuperação de pila-
res em subsolo, e já haver acontecido o caimento, ou seja, a subsidência já ocorreu, e as condições
geológicas do terreno já estão estáveis, logo, pode ser utilizada para diversas finalidades, e voltar
186 a ser ocupada.
O ideal seria a adoção de medidas de mitigação, tratamento e reabilitação, para que as
atividades humanas, desenvolvidas em superfície, não fiquem sujeitas à instabilidade dos solos ou
a outros riscos que afetem à segurança pública, associados às atividades de mineração. Conforme
as sugestões feitas por Krebs (2013), alternativas para evitar e minimizar danos vão desde a incor-
poração de membranas à prova de gás dentro de edificações, evitando a contaminação por meta-
no, até o tratamento de forma mais criteriosa das questões estruturais de minas de carvão pouco
profundas, a fim de garantir a estabilidade do solo e das rochas.
O resultado do mapa serve de base para projetos de planejamento físico-territorial do
Município, a fim de constituir mais uma fonte de informações fundamentais para determinação
dos locais menos adequados ao desenvolvimento da cidade. Além disso, serve como ferramenta
de consulta para empreendimentos que desejam se instalar no Município, já que, expõe dados
que facilitam a escolha dos locais mais adequados para o uso urbano.
O mapa de conflitos entre o grau de ocupação urbana proposto pelo plano diretor muni-
cipal e o risco de ocupação urbana sobre áreas mineradas em subsolo (Imagem 04), evidencia
a ausência de comprometimento do plano diretor municipal, com os fatores de risco de ocupa-
ção urbana para Criciúma, ao incentivar a ocupação em áreas sujeitas a riscos resultantes de
subsidências.
PLANEJAMENTO E GESTÃO
Imagem 4 – Mapa TERRITORIAL
de Conflitos Entre o Grau de Ocupação Urbana Proposto
Gestão Integrada do Território
pelo Plano Diretor Municipal e o Risco de Ocupação Urbana Sobre Áreas
Imagem 4 – Mapa de Conflitos Entre o Grau de Ocupação Urbana Proposto pelo Plano Diretor Municipal e o Risco
Mineradas
de Ocupação emÁreas
Urbana Sobre Subsolo
Mineradas em Subsolo

Fonte: Dos autores


Fonte: os autores

Esse mapa contrasta os riscos provenientes das áreas mineradas em subsolo, com a
ocupação futura, proposta conforme os parâmetros urbanísticos do plano diretor municipal.
187 Dessa forma, o mapa apresenta a localização das áreas, onde tende a ocorrer mais problemas
futuramente, com vista à alta taxa de ocupação proposta e existente nessas áreas, sobre zonas de
riscos oriundos da mineração de subsuperfície.
A escala de risco de conflitos, aplicada ao Município de Criciúma, apresentou risco muito
baixo em 9,26 km² (18%); baixo em 33,98 km² (65%); médio em 7,67 km² (14%); alto em 1,51 km²
(3%); e, muito alto em 0,11 km².
Deve-se destacar que, a grande maioria das áreas foram consideradas de baixo risco de
conflito, devido à ocupação proposta pelo plano diretor para essas áreas, determinar construções
horizontalizadas, de baixos pavimentos, que dispõe de menores riscos associados. Além disso, os
locais onde a lavra mineral em subsolo ocorreu a profundidades maiores, também ficaram enqua-
drados na escala de baixo risco.
Também as áreas onde o risco foi considerado muito baixo, nota-se que ocorreram prin-
cipalmente sobre Z-APA, ou seja, onde o plano já prevê a ocupação bastante restrita dessas áreas,
uma vez que, tratam-se de zonas de proteção ambiental. A restrição de ocupação dessas áreas
ocorre pelo apelo de preservar recursos hídricos e florestais. No entanto, ao ter sido minerada
em subsolo, essas regiões correm o risco de apresentarem rebaixamento do lençol freático, já
que as deformações resultantes de subsidências e instabilidades geológicas formam passagens
preferenciais para a água subterrânea, e podem direcioná-las para o interior das minas. Portanto,
verifica-se que o risco ambiental permanece existindo, ainda que sem a ocorrência de ocupações
urbanas.
As áreas onde se identificou risco médio de conflito correspondem principalmente, àque-
las marginais a rodovias, avenidas, e vias de importância do Município, onde o zoneamento permi-
te a construção de edifícios mais altos, e densa ocupação demográfica sobre áreas mineradas. O
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

fato agrava o risco de conflito, pois quando o dano ocorre em áreas com maior incidência popula-
cional, acaba atingindo um número maior de pessoas.
O risco alto de conflito foi atribuído às áreas onde houve sobreposição de camadas mine-
radas, bem como, onde o plano diretor permite ocupação industrial e residencial, de dois, quatro,
oito, dez e até dezesseis pavimentos sobre áreas mineradas. O risco alto se manifesta principal-
mente nos bairros Ana Maria, Recanto Verde, Fábio Silva, São Luiz, Primeira Linha, Pinheirinho,
Jardim Angélica, Sangão, Morro Estevão e Nossa Senhora do Carmo. Com destaque para a área
próxima ao Parque das Nações e ao Criciúma Shopping, que apesar de não ter sido classificada
como de risco muito alto, trata-se da região mais conflitante, pois permite a construção de edifí-
cios de até dezesseis pavimentos, sobre áreas onde houve mineração em subsolo.
O mesmo ocorre para as áreas de muito alto risco de conflito, uma vez que, são permi-
tidos até cinco pavimentos sobre áreas mineradas. O risco é considerado maior para essas áreas,
pois tiveram duas camadas de carvão lavradas. Ou seja, o risco é agravado, pois a instabilidade
geológica associada é maior.
Caso uma subsidência, em sua curvatura, atinja um pilar de fundação de um prédio,
este pode ter toda a sua extensão comprometida. O resultado pode ser a interdição do edifício,
gerando prejuízos aos moradores, além de uma série de processos judiciais, tanto contra a própria
prefeitura, como também, contra a empresa construtora da obra, e a empresa mineradora.
Os usos permitidos sobre áreas mineradas devem ser restritos a atividades que não
sofram tanto impacto, caso aconteça uma subsidência. Esses usos devem priorizar a atribuição de
pouco peso às estruturas mineiras em subsolo. Outra opção, viável apenas para as regiões onde a
lavra foi próxima à superfície, é fazer as fundações de construções abaixo das galerias, garantindo
188 a estabilidade da edificação.
Com esse mapa, fica evidente a necessidade de realização de furos de sondagem, para
que se verifique a existência de galerias, bem como, sua profundidade. É fundamental a realização
de amostragens, anteriormente ao início das obras de construção, principalmente de edifícios
com número maior de pavimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização do SIG mostrou-se uma ferramenta bastante eficiente, automatizando


tarefas que, antigamente, eram realizadas manualmente, bem como facilitando a realização de
análises complexas, por meio da integração de dados oriundos de diversas fontes. Trata-se de
um instrumento eficaz para estudos na área de planejamento ambiental. Por sua vez, o método
de suporte à decisão por análise hierárquica de variáveis, também se mostrou bastante útil e
adequado a processos de planejamento, pois transforma em números, condições que antes eram
qualitativas. A vantagem da sua aplicação está em quantificar elementos de forma a subsidiar
análises e modelagens.
A integração de dados geoespaciais em ambiente SIG, para subsídio a processos de plane-
jamento e análise de risco, é uma técnica bastante satisfatória, já que permite a espacialização e
hierarquização dos riscos associados. Desta forma, permite a inclusão da abordagem territorial na
tomada de ação.
Os conflitos mapeados visam auxiliar planejadores, gestores públicos, sociedade civil,
empreendedores e órgãos fiscalizadores, uma vez que, permite identificar os locais minerados,
com potenciais riscos associado. Logo, constatou-se a necessidade de incluir a espacialização dos
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

riscos provenientes da existência de minas subterrâneas, como requisito essencial no planeja-


mento urbano de Criciúma.
É fundamental que seja definida uma faixa de segurança ao entorno das áreas mineradas,
de modo a promover seu uso restrito, devido à possibilidade de ocorrência de subsidência. Em
um estudo realizado por Krebs, Dias e Viero (1994), apontam que a faixa de segurança deve ser
calculada a partir de um ângulo de 45º, visto que, a zona de influência sujeita à subsidência é
oblíqua, o que expande as áreas sujeitas a riscos além dos limites cartografados.

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190
CAPÍTULO XIV

MANGUES, CIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: A


IMPORTÂNCIA DOS ECOSSISTEMAS COSTEIROS PARA
AS CIDADES DE ITAJAÍ E JOINVILLE (SC) DIANTE DOS
PROGNÓSTICOS DA ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan14

Samara Braun - FURB


Alessandra Hodecker-Dietrich - FURB
Juarês José Aumond - FURB

191

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Ao longo deste século, as mudanças climáticas provocarão alterações diversas nos


componentes físicos e biológicos das paisagens. Dessa forma, torna-se urgente compreender a
adaptabilidade dos ecossistemas, principalmente para os riscos relacionados ao agravamento das
mudanças climáticas (IPCC, 2014; KIRWAN, et al., 2010).
No domínio marinho os ecossistemas, como mangues, são particularmente importantes
para a vida do meio natural, detendo um papel de suporte para outras espécies que o utilizam em
sua fase de reprodução, mas também como elemento de proteção e estabilidade da linha de costa
(ODUM, 1988). Entretanto, a ocupação antrópica na zona costeira do Brasil tem causado impactos
nos ecossistemas naturais, restando atualmente uma cobertura vegetal de aproximadamente 7%
de sua área original.
Diante disso, esta pesquisa tem como objetivo aprofundar os estudos sobre os a relação
entre ecossistemas e mudanças climáticas em áreas urbanas como subsídio às estratégias de miti-
gação e adaptação às mudanças climáticas. Essa pesquisa emerge da necessidade de compreen-
der os impactos das mudanças climáticas, com enfoque sobre a elevação do nível do mar, sobre
os ecossistemas costeiros nas cidades de Santa Catarina, tomando por base as cidades de Joinville
e Itajaí.
Atualmente, a adaptação, integrada às demais estratégias de gestão, é reconhecida em
nível internacional como um enfoque necessário, diante dos possíveis cenários futuros decor-
rentes das mudanças climáticas em curso. Dentre as abordagens de adaptação cabe destaque
ao conceito de Adaptação baseada nos Ecossistemas (sigla AbE), que se popularizou a partir da
192 Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) (SIERRA-CORREA,
KINTZ, 2015).
A partir da revisão bibliográfica e mapeamento de áreas suscetíveis a elevação do nível
do mar decorrente das mudanças climáticas, foram estabelecidos recortes para realização de
transectos geoambientais com equipe multidisciplinar.
Dessas observações sistemáticas e interdisciplinares, pautados sobre o conceito de AbE,
verificou-se a relevância da preservação e conservação das áreas de mangues para a mitigação,
bem como adaptação às mudanças climáticas. Para tanto, é necessário planejar estratégias inte-
gradas que priorizem a resiliência e a permanência, além de qualidade de vida nos mais diversos
aspectos.
As estratégias adotadas no presente serão cruciais a longo prazo. A quantidade de
pessoas e de infraestruturas atingidas dependerá dos padrões de desenvolvimento e crescimento
efetivados nas cidades. Assim, as medidas de AbE adotadas são relevantes para o futuro, sobre-
tudo, já no presente devem ser um diferencial para a qualidade de vida local e na diminuição da
vulnerabilidade socioambiental.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMBIENTES URBANOS COSTEIROS

O Planeta Terra está em constante transformação e cada período é caracterizado por uma
combinação única de fatores e elementos que compõe esse sistema dinâmico da superfície, da
atmosfera, do oceano, dos organismos e dos ecossistemas (TAVARES, 2004). Característica ineren-
te dessas transformações globais são as pulsações climáticas e o balanço energético do planeta
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

(GELBSPAN, 1999; LABOURIAU, 1998). Essa dinâmica configura um complexo sistema interdepen-
dente, que por si, busca o equilíbrio ecológico do planeta.
Entretanto, a emissão em grande escala dos Gases de Efeito Estufa (GEE), com origem
nas atividades antrópicas, tem influenciado este equilíbrio energético e acelerado o Efeito Estufa,
ocasionado nestes últimos séculos o aumento acelerado da temperatura média global (IPCC,
2014; LABOURIAU, 1998; TAVARES, 2004). A interferência antrópica no sistema climático ocasiona
diversas transformações, não somente no clima, mas em inúmeros outros fenômenos e nos siste-
mas naturais e socioeconômicos - os quais o clima mantém interação – configurando um ciclo de
retroalimentação positiva, que repercute nos elementos componentes do sistema climático e nos
demais sistemas do universo interativo.
Estas interferências antrópicas são de tal grandeza, que pesquisadores falam agora de
uma nova era geológica, o “Antropoceno” (HODSON, MARVIN, 2014). As alterações no clima global
e os impactos resultantes sobre o meio ambiente vem incidindo ao longo das gerações, devido
a questões ambientais não resolvidas desde a revolução industrial e da urbanização. Entretanto,
além das transformações já observadas, e das transformações em curso, a emissão contínua de
GEE causará ainda mais aquecimento e mudanças em todos os componentes do sistema climático,
ampliando consideravelmente a probabilidade de novos e graves impactos difusos e irreversíveis.
Estas mudanças ocasionam transformações em diversos outros fenômenos e sistemas
naturais e socioeconômicos, que estarão sujeitos, em maior ou menor grau conforme sua vulne-
rabilidade, magnitude e a rapidez dos acontecimentos (TAVARES, 2004). Diante deste cenário,
fica evidente a exposição e vulnerabilidade de alguns ecossistemas e dos sistemas humanos à
variabilidade climática. Especificamente em áreas urbanas, as mudanças climáticas interferirão
sobre a qualidade de vida através dos riscos de estresse ocasionado pelo calor, tempestades e
193
precipitações extremas, inundações costeiras, deslizamentos de terra, poluição do ar, escassez de
água e elevação do nível do oceano, tornando ainda mais vulneráveis as localidades desprovidas
de infraestrutura básica e serviços e as áreas de exposição direta aos impactos (IPCC, 2014).
No intuito de elucidar os possíveis impactos decorrentes das mudan-
ças climáticas para as próximas décadas, o IPCC apresenta quatro distintos cenários
- com uma sinopse estimativa de impactos futuros. Esses cenários variam desde o cumprimento
rigoroso de medidas de mitigação (denominado cenário RCP 2.6) até o cenário possível, caso os
modelos vigentes de crescimento econômico e populacional se mantenham (cenário RCP 8.5). A
tabela a seguir (Tabela 1) apresenta uma síntese desses quatro cenários, contendo os principais
impactos globais para o período entre 2081- 2100 em relação ao período de 1986-2005 (IPCC,
2014).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Tabela 1Tabela 1 - Síntese


- Síntese dosdos Cenários Futuros
Cenários Futuros dasdas
Mudanças Climáticas
Mudanças Climáticas

CENÁRIOS FUTUROS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

IMPACTOS RCP 2.6 RCP 4.5 RCP 6.0 RCP 8.5

AUMENTO
MÉDIO DA 0,3 °C a 1,7 °C 1,1 °C a 2,6 °C 1,4 °C a 3,1 °C 2,6 °C a 4,8 ºC
TEMPERATURA

aumento de 15 aumento de 100


ACIDIFICAÇÃO aumento de 38 a aumento de 58 a
a 17% da a 109% da
DOS OCEANOS 41% da acidez 62% da acidez
acidez acidez

DERRETIMENTO
15 a 55% 35 a 85%
DAS GELEIRAS

AUMENTO
0,26m e 0,55
MÉDIO DO 0,45m e 0,82 m.
m
NÍVEL DO MAR

Fonte:
Fonte: Elaboradoaapartir
Elaborado partirdos
dos dados
dadosdo
doIPCC
IPCC(2014).
(2014).

Especificamente quanto à elevação do nível do oceano, as projeções do IPCC (2014) para o


século XXI mostram que o fenômeno será ainda mais acelerado do que o ocorrido no último século7
, continuando a subir mesmo que as emissões de GEE sejam reduzidas (LABOURIAU, 1998).
194
A elevação média global do nível do oceano acarretará diversos impactos ao longo das
costas – como o avanço da lâmina d’água sobre o continente e o recuo das linhas de orla em
regiões de baixadas de lagoas costeiras e baías. Entre os impactos negativos, prevê-se o confina-
mento da biota, que não encontrará espaço para migração devido a supressão de ecossistemas
costeiros. Nas áreas urbanas, poderá ocorrer invasão dos aquíferos de água doce por água salga-
da; interferências na macrodrenagem de águas interiores, provocando; e interferência nas redes
de abastecimento de água e de saneamento básico (GESCH, 2009; KOPP, et al., 2014).
A partir destes cenários, para limitar as alterações climáticas exigiria reduções substan-
ciais nas emissões de GEE que, juntamente com outras medidas de adaptação, poderão limitar
os riscos decorrentes (IPCC, 2014). Nesse contexto, a adaptação é uma resposta alternativa para
a redução dos impactos sobre os sistemas biofísicos, socioeconômicos e institucionais (SIERRA-
CORREA, KINTZ, 2015). Para tanto, se faz urgente repensar o modelo de desenvolvimento prati-
cado na atualidade, inclusive, repensando o modelo como utilizamos o espaço e interagimos com
os ecossistemas, visto que certos impactos serão irreversíveis e terão influência direta sobre o
espaço urbano.
As cidades são causadoras do maior impacto ambiental, ocupando cerca de 2% do terri-
tório do globo, mas gerando 75% do total de emissões de GEE (VAGGIONE, 2014). As cidades
estão entre as áreas mais suscetíveis aos impactos decorrentes das mudanças climáticas. Entre
os impactos destaca-se a elevação da temperatura devido ao agravamento das ilhas de calor, a
escassez de água e energia e as inundações que provocarão desastres socioambientais. As cidades
em zonas costeiras estarão suscetíveis à elevação do nível do oceano e às ressacas que poderão
levar a destruição de equipamentos urbanos.
7
Pelas medições maregráficas durante o período de 1901 a 2010 constatou-se a elevação média global do nível do oceano de 0,19
m (IPCC, 2014).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

No Brasil, cerca de 19% da população do país ocupa as zonas costeiras (o que corres-
ponde menos de 1% do território nacional). Dessas áreas, diversas cidades ocupam espaços de
planícies costeiras, com pouca variação altimétrica em relação ao nível do mar. Outro agravante
se dá pela ocupação sobre os ecossistemas costeiros, como mangues, gerando pressões antrópi-
cas e interferindo na saúde e conservação destes, e consequentemente expondo comunidades a
fenômenos como erosão, ressacas e tempestades.
A variabilidade de cenários futuros, previstos para o clima, exigem cons-
tante supervisão e aprendizagem para tornar mais eficaz as medidas de adaptação8
e mitigação (IPCC, 2014). Essas medidas demandam uma nova forma de desenvolvimento, que
implica em planejamento e tomada de decisões em um contexto de incertezas num ambiente
dinâmico.
No contexto urbano, a adaptação consiste na adoção de medidas de ajuste dos sistemas
socioeconômicos e preservação dos sistemas naturais que aumentem a capacidade de resiliência,
e em estratégias de que objetivem reduzir a vulnerabilidade socioambiental às mudanças climá-
ticas (IPCC, 2014; VAGGIONE, 2014), fundamentadas numa perspectiva de sustentabilidade e de
que cada ambiente demanda soluções singulares.

ADAPTAÇÃO BASEADA NOS ECOSSISTEMAS

De forma geral, ecossistemas costeiros e marinhos são considerados especialmente


vulneráveis às mudanças climáticas, devido a sua fragilidade e incapacidade de adaptação em
casos de transgressão marinha. Em casos de ecossistemas afetados pelas transformações advin-
195 das das mudanças climáticas, as migrações de fauna e de flora serão dificultosas à medida que
áreas contíguas estejam ocupadas ou contenham barreiras físicas, e no caso dos mangues, tal
situação, além da supressão do ecossistema, ocasionará entre outros impactos o aumento de
danos provocados por inundações costeiras (MMA, 2010; TAVARES, 2004).
Nessa perspectiva, surgem correntes como a Adaptação baseada em Ecossistemas
(AbE), que partem do princípio de adaptação a partir da inclusão dos serviços ambientais
prestados pelos ecossistemas (ICLEI, FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2015; OLIVIER, et al.,
2012), como por exemplo, as cidades de Jacarta (Indonésia), província de Soc Trang (Vietnã)9
e Mumbai (Índia)10, onde a preservação e recuperação de ecossistemas tem sido uma das prin-
cipais estratégias de proteção das zonas costeiras à erosão e inundação. No Brasil, sendo um
conceito novo, as experiências em AbE ainda são pontuais e incipientes11.
A AbE objetiva a restauração, conservação e gestão de ecossistemas e de serviços ambien-
tais para a redução da vulnerabilidade socioambiental aos impactos oriundos das mudanças
climáticas, complementando e até mesmo substituindo obras civis. É um conceito de abrangência
multisetorial e multiescalar, pois pressupõe a gestão integrada do território, envolvendo diferentes
setores da sociedade, para encontrar e implementar respostas frente às diferentes pressões exis-
tentes sobre os serviços ecossistêmicos e os possíveis impactos das mudanças climáticas sobre os
8
A capacidade de adaptação diz respeito à habilidade do sistema para se ajustar às mudanças climáticas, tirando vantagens de
eventuais situações benéficas ou enfrentando as consequências para moderar os danos” (TAVARES, 2004, p. 70-71).
9
O projeto realizado no Vietnã conta com parceria internacional e visa proteger e utilizar as zonas úmidas costeiras em benefício
da população local através da reabilitação e gestão destas áreas, com ênfase na resiliência às mudanças climáticas. Os resultados
deste projeto foram relatados por SCHMITT, et al., (2013).
10
Outras cidades possuem projetos de gestão mais antigos e que se assemelham aos princípios da AbE, como é o caso da Colôm-
bia, que desde 1995 atua para preservar as funções ecológicas e socioeconômicas dos mangues no país – porém, sem levar em
conta os impactos das mudanças climáticas (SIERRA-CORREA, KINTZ, 2015).
11
Um levantamento das estratégias de AbE no Brasil e no mundo foram listadas pelo ICLEI e Fundação Grupo Boticário (2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

espaços urbanos e naturais (ICLEI, FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2015; SIERRA-CORREA, KINTZ,


2015).
Entretanto, para compreender e implementar estratégias de AbE, é necessário compreen-
der a relevância dos serviços ambientais. Entre os serviços ambientais prestados pelos ecossis-
temas, cabe destacar: conservação e manutenção ecológica para sobrevivência das espécies, a
segurança alimentar e gestão da água e o sequestro de carbono. Diante das mudanças climáticas,
uma visão integrada do território e dos serviços ambientais dos ecossistemas poderão contribuir
para a redução da vulnerabilidade através do suporte e da regulação (BRASIL, 2016).
A AbE é um conceito flexível, de menor custo econômico e com benefícios adicionais,
que pode ser combinada com outras estratégias (infraestrutura verde associada a infraestrutu-
ra cinza), priorizando aspectos como custo-benefício, custo-efetividade e co-benefícios (ICLEI,
FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2015). Para a gestão pública, é importante sensibilizar a rele-
vância da AbE em ações, planos, estratégias setoriais e integradas, principalmente, para os que
usufruem de tais serviços para a promoção do desenvolvimento sustentável e resiliência. Nessa
pesquisa, damos enfoque aos ecossistemas de mangues, presentes nas cidades abordadas. É
apresentado na sequência uma síntese das principais funções e serviços ecológicos prestados por
este ecossistema e possíveis impactos advindos das mudanças climáticas.

MANGUES
Os mangues são ecossistemas característicos por ocuparem espaços entre a terra e
o mar, em áreas de baixa latitude, sendo a fauna e flora robustas e adaptáveis à exposição de
mudanças diárias de maré, ambientes de água salgada e variação de anoxia (KIRWAN, et al., 2010;
196 SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Dentre a ampla gama de serviços ecológicos prestados pelos mangues, está o amorte-
cimento de impactos das ondas e proteção da costa; redução da erosão e estabilização do solo;
purificação da água através da absorção de impurezas e metais pesados e absorção de poluentes
no ar; nidificação de peixes, répteis, aves e; meios de subsistência para comunidades tradicionais
(ALONGI, 2007; SCHMITT, et al., 2013).
No Brasil, a ocorrência de mangues se dá, de forma descontínua, do estado do Amapá,
acompanhando a costa litorânea até Santa Catarina, estando localizados em áreas estuárias, lagu-
nares, baías e enseadas, abrangendo cerca de 1.225.444 hectares, o que corresponde a 9% dos
manguezais do mundo - a maior faixa protegida de manguezais do planeta (FALKENBERG, 1999;
MMA, 2010). Entretanto, muitas destas áreas de manguezais encontram-se expostas às pressões
antrópicas, como a expansão urbana e a maricultura, além da exposição aos impactos advindos
das mudanças climáticas (SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Atualmente, a União garante a proteção dos ecossistemas costeiros através da Lei nº
12.651/2012 (Código Florestal), na qual dispõe sobre a proteção da vegetação nativa (Áreas de
Preservação Permanente). O dever de conservação dos territórios costeiros é assegurado também
pela Lei nº 7.661/1988, no qual institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) e dá
outras providências. O art. 3º, o PNGC prevê o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira
e dá prioridade à conservação e proteção, dos recursos naturais, renováveis e não renováveis,
como restingas, manguezais, entre outros. (BRASIL, 1998).
Em Santa Catarina, de acordo com Klein (1978) a extensão original da região fitoecoló-
gica de Restingas e Manguezais, eram de 1.999,05 km², ocupando aproximadamente 2,10% da
superfície do Estado. Em estudo recente, Korte et al., (2013) descrevem as restingas e mangues,
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Gestão Integrada do Território

como ecossistemas ricos em espécies, dos quais desenvolvem importantes serviços ambientais de
considerável importância ecológica.
Cada região tem diferentes fatores de influência na capacidade de resiliência12
e persistência13 dos mangues às mudanças climáticas e a recuperação dessas perturbações varia
na escala temporal e também de acordo com a escala do distúrbio (ALONGI, 2007; KIRWAN, et al.,
2010; IPCC, 2014). As pesquisas realizadas por Kirwan et al., (2010), Gilman et al., (2008) e Alongi
(2007) indicam como as mudanças climáticas poderão impactar os mangues:

• 20 a 60% das zonas úmidas costeiras do mundo irão submergir devido à elevação do nível do
mar, aumentando a vulnerabilidade de comunidades, expondo o litoral a inundações, tempes-
tades e a erosão14..
• Redução da qualidade das águas costeiras, redução da biodiversidade, e liberação de grandes
quantidades de carbono armazenado.
• O aumento da intensidade e da frequência das tempestades implica em estresse e mortalida-
de de flora, a elevação de sedimentos através da erosão e sedimentação do solo, a compacta-
ção do solo, entre outros impactos.
• O aumento da salinidade provocará maior disponibilidade de sulfato na água do mar, o que
aumentaria a decomposição anaeróbia de turfa, aumentando a vulnerabilidade do mangue.
• Respostas antropogênicas às mudanças climáticas podem agravar os efeitos adversos sobre
estes ecossistemas.
Porém, as respostas de manguezais às mudanças climáticas dependem, essencialmente,
197 da interação entre processos locais (SOARES, et al., 2008) e pressões não-climáticas, que também
interferem na resiliência. Assim, essas mesmas áreas, se restauradas e conservadas, a partir de
uma gestão integrada de AbE, apresentam potencial inerente no auxílio à adaptação e resiliência
local frente às mudanças climáticas e seus impactos adversos. Desse modo, apresentam potencial
a serem gerenciados para a proteção das comunidades que dependem desses sistemas ecoló-
gicos, bem como a prestação sustentada de serviços ambientais às comunidades (SCHAEFFER-
NOVELLI, et al., 2016).

CONTEXTUALIZAÇÃO E METODOLOGIA

Essa pesquisa é parte dos estudos realizados pelos Programas de Pós-Graduação em


Desenvolvimento Regional e Engenharia Ambiental da FURB, que consiste num estudo sistemá-
tico, interdisciplinar e transdisciplinar para a identificação de vulnerabilidades socioambientais
decorrentes do impacto da elevação do nível do mar, resultantes das mudanças climáticas, em
cidades litorâneas de Joinville e Itajaí, Estado de Santa Catarina (imagem 1).

12
Resiliência é a capacidade de se recuperar de uma perturbação para algum estado mais ou menos persistente (ALONGI, 2007);
resiliência [ecológica] é a quantidade de mudança que um sistema pode sofrer, mantendo sua estrutura e funções (SCHAEFFER-
-NOVELLI, et al., 2016); ou ainda, a capacidade de um mangue migrar naturalmente devido à elevação do nível do mar, de tal modo
que o ecossistema absorva e reorganize-se de forma a manter as suas funções, processos e estrutura (GILMAN, et al., 2008).
13
Persistência refere-se a constância ao longo do tempo, independentemente da perturbação ambiental (ALONGI, 2007).
14
Sierra- Correa e Kintz (2015) apresentam estimativas de que se o ritmo atual de perda contínua de ecossistemas persistir, em 100
anos, 30-40% das zonas húmidas costeiras e 100% das florestas de mangues poderão ser perdidos.
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Imagem 1 - Localização das Cidades de Itajaí e Joinville
Imagem 1 - Localização das Cidades de Itajaí e Joinville

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).


Fonte: Elaborado pelos Autores (2016).

Tais estudos emergem da necessidade de trazer ao público a urgência de aprofundar


as pesquisas sobre os possíveis impactos locais e da necessidade de se pensar em estratégias
desenvolvimento sustentável e ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas para a
redução da vulnerabilidade socioambiental. A metodologia desse trabalho, consiste em revisão
bibliográfica, mapeamento de áreas atingidas pela elevação do nível do mar nas diferentes
localidades e, posteriormente, na realização de transectos geoambientais.
198
Os transectos geoambientais são caminhadas com equipe multidisciplinar, realizados
em recortes selecionados das áreas de estudo para coleta de informações mediante observações
sistemáticas dos elementos que compõem a paisagem (SEIXAS, 2005). Os aspectos mais relevan-
tes da paisagem, nesse caso, incluem situações problemáticas constatadas em campo, morfo-
logia, tipo de uso e ocupação do solo e tipo de ecossistemas locais. Esses aspectos são registra-
dos e posteriormente discutidos de forma inter e transdisciplinar, para se atingir os objetivos da
pesquisa. Tal método, permite levantar informações que possam contribuir para a identificação
e caracterização das áreas vulneráveis a elevação do nível do mar e também, para averiguar em
campo os dados gerados pelos mapeamentos de impacto da elevação do nível do mar.
Os transectos foram realizados ao longo do ano de 2016, com equipes multidisciplinares,
com profissionais da área de Arquitetura e Urbanismo, Geologia, Geografia e Biologia. Realizados
a partir da cartografia de cenários de elevação do nível do mar, onde foram estabelecidos os
trajetos e pontos de parada nas áreas consideradas mais críticas – como, por exemplo, em áreas
onde os ecossistemas estavam limitados pela expansão urbana. Os resultados dos mapeamentos
e transectos estão relatados a seguir.

RESULTADOS

Para essa pesquisa, os recortes concentram-se em áreas urbanas centrais das cidades,
principalmente, em áreas limítrofes às áreas de mangues. No caso de Itajaí, a área de estudo loca-
liza-se na foz do Rio Itajaí-Açú, e em Joinville na região de entorno da Lagoa Saguaçu.
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ITAJAÍ
O município de Itajaí está localizado na região Cento Norte do litoral catarinense. A foz
do Rio Itajaí, abarca um dos maiores complexos portuários do país. O bairro Fazenda faz parte do
complexo portuário e situa-se próximo ao Centro, na margem direita do rio, onde se localiza parte
da área urbana do município e a região conhecida como Saco da Fazenda (Imagem 2).
O Saco da Fazenda surge de intervenções de obras de engenharia que ampliaram artifi-
cialmente a sua área. Conhecida como uma região tradicional, que se desenvolveu rapidamente,
atualmente abrange a rota gastronômica, o Centro Eventos, a Associação Náutica e a Área de
Imagem
Proteção 2 - Mapeamento
Ambiental de Aumento
do Saco da Fazenda 15
. do Nível do Mar no Bairro Saco da
Fazenda em Itajaí.
Imagem 2 - Mapeamento de Aumento do Nível do Mar no Bairro Saco da Fazenda em Itajaí.

199

Fonte: Dos autores, (2016).


Fonte: Autores, (2016).

Além da ocupação urbana ter se estabelecido, em áreas que por lei são Áreas de
Preservação Permanente16, sofreu ao longo dos anos alterações antrópicas nos meandros do estuá-
rio que ali existia, limitando seus espaços (SCHETTINI, 2009). Tognella et al., (2009) destaca que o
Saco da Fazenda é um ambiente importante, tanto sob o ponto de vista ecológico quanto econô-
mico, pois inúmeros pescadores dependem dessa área para ancoragem de suas embarcações.
Embora se trata de uma área pequena (imagem 3a) é um ecossistema de mangue e
de estuário, um ambiente naturalmente complexo com alta biodiversidade, onde se encontram
espécies nativas em ambiente razoavelmente preservado. Nesse ambiente, encontra-se a foz do
ribeirão Schneider (IZA, MARENZI, 2009).
15
Prefeitura Municipal de Itajaí. Decreto 8.513 de 04 de março de 2008. Unidade de Conservação de Uso Sustentável de aproxi-
madamente 650.000 m2.
16
De acordo com a Lei 12.651/12, art. 4º, que estabelece o mínimo de Área de Preservação Permanente de 100 (cem) metros, em
cursos d’água que tenham mais de 50 (cinquenta) metros de largura, como o Rio Itajaí.
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Itajaí (2012) estabelece como um dos objetivos da macrozona, recuperar as áreas ambien-
talmente degradadas e promover a regularização urbanística e fundiária dos assentamentos exis-
tentes para contribuir com o desenvolvimento econômico sustentável. É importante destacar, que
elementos de lazer, tais como: parques, quadras de esportes, ciclovias e faixas para pedestres, são
necessários para a qualidade de vida da população (imagem 3b).
O limite entre o ecossistema natural (mangue) e a urbanização da área é delimitado por
uma estrutura de muro com pedras, como forma de contenção. Conforme pode ser observado, na
imagemImagem
3c, a dinâmica do sistema
3. (A) Área natural no
de Mangue já está interferindo
Bairro Saco da na estrutura
Fazenda emdeItajaí,
contenção,
(B) inician-
do pequenas erosões ao longo do limite entre as áreas.
Presença de Elementos de Lazer, como Parques, Quadras de Esportes,
Ciclovias
Imagem e Faixas
3 - (A) Área paranoPedestres
de Mangue (C)
Bairro Saco da Pequenas
Fazenda em Itajaí,Erosões aodeLongo
(B) Presença do de
Elementos Limite
Lazer, como
Parques, Quadras de Esportes, Ciclovias e Faixas para Pedestres
Entre As Áreas (C) Pequenas Erosões ao Longo do Limite Entre As
Áreas

Fonte: Dos autores (2016).


200 Fonte: Autores (2016).

Embora a área seja relativamente pequena, constatou-se a presença de espécies nativas


do ecossistema mangue, e aparenta ser uma área natural conservada (imagem 3a). Iza e Marenzi
(2009) descrevem para essa área as espécies de Spartina sp. e Brachiaria sp, associado a mangue-
zal alterado com presença de Laguncularia sp. e Hibiscus tiliaceus.
Segundo levantamento da avifauna, realizada por Zimmermann e Branco (2009) nessa
área, as aves com maior abundância são espécies com forte ligação a ambientes degradados. Os
autores atribuem a baixa diversidade de espécies ao elevado grau de deterioração ambiental do
Saco da Fazenda. As espécies mais abundantes neste ecossistema são Coragypsatratus (Urubu-
comum), Passer domesticus (Pardal) e Estrilda astrild (Bico-de-lacre).
A presença de fragmentos vegetais e a ocorrência de aves no local, embora não sejam
espécies chaves da conservação ecológica, são destacadas por diversos autores (IZA, MARENZI
2009; SCHETTINI, 2009; BAIL, et al., 2009; ZIMMERMANN, BRANCO 2009; TOGNELLA, et al., 2009)
devido a sua relevância para manutenção da biodiversidade, bem como contribuem na qualidade
dos serviços ecossistêmicos nesta área. Em consequência de sua localização estar dentro da área
urbana, apresenta-se sob pressão urbana e especulação imobiliária. Com o cenário estimado para
2030 estes ecossistemas (mangue e estuário), que já sofrem pressão urbana, se tornarão alta-
mente vulneráveis.

JOINVILLE
A cidade de Joinville, localizada no Norte Catarinense, é atualmente a cidade mais popu-
losa e industrializada do estado e está localizada na planície costeira, às margens do estuário Baía
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da Babitonga. A região concentra 43km² de áreas de mangues (SOUZA, 1991), o que equivale a
cerca de 37% das áreas de manguezais do estado catarinense17..
Historicamente, o crescimento e a expansão urbana causaram a poluição e supressão
de parte dos manguezais, principalmente a partir da década de 1970. Esse processo ocorreu de
forma desordenada sob a pressão da especulação imobiliária e do crescimento industrial, devido
à localização privilegiada de proximidade do centro urbano e da baía (CAVION, 2014; SOUZA,
1991). A ocupação urbana e a ação antrópica sobre as áreas de mangues impactaram o ecossis-
tema e provocaram a degradação ambiental, afetando também a qualidade de vida da população
e do meio.
As áreas remanescentes são protegidas, fisicamente por canais que às separam das áreas
ocupadas, e legalmente, através de legislação de preservação (CAVION, 2014), pelas unidades
de conservação e pelo zoneamento urbano específico. Essas áreas de preservação exercem uma
importante função de prestação de serviços ecológicos para o estuário e para a cidade, principal-
mente durante as inundações periódicas de amplitude de marés.
Com o advento das mudanças climáticas, os manguezais da região de Joinville deparam-
-se com uma situação crítica em relação aos cenários futuros previstos. As áreas sujeitas ao impac-
to da elevação do nível do mar no município extrapolam o perímetro rural e dos ecossistemas de
mangues, e pelas projeções poderão atingir a área central de Joinville (imagem 04).
Imagem 4 - Mapeamento das Áreas Inundadas pela Elevação do Nível do Mar
na Região
Imagem 4 - Mapeamento das Áreas Central
Inundadas de Joinville
pela Elevação do Nível do Mar na Região Central de Joinville

201

Fonte: Dos autores, (2016).


Fonte: Autores, (2016).

A adaptação dos mangues dependerá, entre outros fatores, das condições morfológi-
cas do terreno e dos processos locais de erosão e deposição de sedimentos para que ocorra a
17
Em Santa Catarina, os mangues ocupam uma extensão de cerca de 11.576 hectares.
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sua migração (GILMAN, et al., 2008; SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016). Porém, tal condição está
restrita à existência de barreiras físicas. Em Joinville, os ecossistemas de mangues, ao longo da
Baía da Babitonga perpassam as áreas rurais, áreas de preservação (Imagem 5a) e áreas urbanas.
Nessa última, o mangue encontra-se
Imagem em parte limitado
5 - Manguezais Na Cidadepela infraestrutura
De Joinville urbana, impossibilitan-
do a migração da flora e fauna (imagem 5b).

Imagem 5 - Manguezais Na Cidade De Joinville

Fonte: Arquivo dos autores (2016).


Fonte: Arquivo Dos Autores (2016).

A redução e perda das áreas de mangues aumenta a vulnerabilidade socioambiental,


expondo a cidade a inundações mais intensas, erosões e consequente diminuição da relevância
202 ecológica e socioambiental da Baía da Babitonga para a cidade de Joinville. A conservação dos
mangues trará benefícios que se estendem à cidade, pela sua capacidade de sequestro de carbo-
no, conservação da biodiversidade, como meio de subsistência das comunidades tradicionais e
pela proteção da costa contra o impacto das ondas e consequente erosão e diminuição da vulne-
rabilidade. Além de benefícios paisagísticos, de lazer, drenagem e qualidade da água e microclima.

INTEGRAÇÃO PARA A ADAPTAÇÃO

Apesar de todos os ecossistemas passarem por mudanças, como uma maneira de se


adaptarem às perturbações que interferem no equilíbrio ecológico, as mudanças climáticas
provocarão alterações diversas na paisagem, e cada região tem diferentes fatores de influência na
capacidade de resiliência e persistência, variando de acordo com a escala temporal e com a escala
do distúrbio (ALONGI, 2007; KIRWAN, et al., 2010; IPCC, 2014).
Nos casos apresentados nesse estudo, os mangues estão suscetíveis à supressão, tanto
pela expansão urbana como pelos impactos da elevação do nível do mar, decorrente das mudan-
ças climáticas. A perda dessas áreas de ecossistema nas cidades de Itajaí e Joinville provocará a
redução da qualidade das águas costeiras, afetando habitats e causando a redução da biodiver-
sidade, impactando inclusive as comunidades humanas que dependem dos serviços ecológicos
prestados pelos manguezais.
A supressão dessas áreas de manguezais implica, também, em interferência no sequestro
e liberação de grandes quantidades de carbono armazenado por este ecossistema. Isso porque,
grande parte do carbono ativo no planeta está armazenado em zonas úmidas, e os manguezais
são responsáveis por cerca de 1% do sequestro de carbono das florestas do mundo e como habi-
tats costeiros são responsáveis por 14% do sequestro de carbono do oceano (ALONGI, 2012).
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Conhecido como “carbono azul” - que é o carbono sequestrado e armazenado pelos


ecossistemas costeiros - o processo de sequestro é auto organizado e sustentável, mantendo o
armazenamento a longo prazo. A degradação e perda dessas áreas de ecossistemas costeiros,
especialmente de mangues, podem liberar grandes quantidades de carbono armazenado a milha-
res de anos (SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Para Schaeffer-Novelli, et al., (2016), a gestão dessas áreas apresenta potencial para
compensação de emissões de gases de efeito estufa em nível industrial e nacional. Para Alongi
(2012), a proteção dessas áreas de sequestro e armazenamento de carbono azul apresenta vanta-
gens para além da compensação; reforçando a importância de outros serviços ecológicos, sendo
um benefício tanto de mitigação, quanto adaptação e conservação frente às mudanças climáticas.
Diante dos cenários estimados das mudanças climáticas e das ações antrópicas, a avaliação de
vulnerabilidade dos ecossistemas costeiros é fundamental para subsidiar o planejamento local e
regional para as ações de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, de forma a minimizar
certos impactos e perturbações sobre os ecossistemas (GILMAN, et al., 2008).
As estratégias de mitigação e adaptação de forma integrada, muitas vezes, requerem
lidar com objetivos conflitantes de diferentes setores e atores (GILMAN, et al., 2008), porém, a
partir da noção de Adaptação Baseada nos Ecossistemas, emerge a possibilidade de repensar
ações com múltiplos benefícios.
Ao se analisar de forma sistêmica os ecossistemas e seus serviços ambientais, é possível
compreender as complexas dinâmicas de interações entre os diferentes subsistemas (ambientais,
sociais, econômicos, entre outros) que compõem o meio, bem como, as consequências quando
ocorrem pertubações. Assim, compreender tal dinâmica permite planejar estratégias que priori-
zem a resiliência e a permanência desses ecossitemas, além de garantir a qualidade de vida nos
203
mais diversos aspectos.
A restauração e conservação dessas áreas de mangues para as cidades litorâneas cata-
rinenses é de suma relevância, pois os ecossistemas podem contribuir ativamente para minimi-
zação das alterações climáticas, através do sequestro e fixação de carbono, e também por exer-
cerem a função de barreiras naturais diante da elevação do nível do mar, proteção em eventos
extremos de enchentes, ressacas e tempestades. Exercem, também, outros serviços ambientais,
paisagísticos e de lazer, que contribuem com a capacidade adaptativa do sistema costeiro, uma
parte importante das medidas de adaptações às alterações climáticas.
Por fim, assegurar a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas através da AbE
necessitará de uma abordagem de gestão integrada, em estreita coordenação e cooperação, de
forma a evitar que aspectos subestimados enfraqueçam a gestão ou que desconsiderem a capa-
cidade de carga desses ecossistemas (SIERRA-CORREA, KINTZ, 2015). Tanto em Itajaí como em
Joinville, apesar de essas áreas de mangues serem essenciais à adaptação, é necessário considerar
as pressões antrópicas exercidas sobre estes, que os colocam em situação de fragilidade frente
aos cenários futuros.
Recomenda-se o aprofundamento das pesquisas sobre o papel desses ecossistemas
nessas cidades, tanto em seus serviços ecológicos atuais, quanto no potencial de mitigação e
adaptação às mudanças climáticas. Nesse sentido, é relevante também o envolvimento comu-
nitário, visto o conhecimento tradicional sobre estas áreas; e o envolvimento de gestores públi-
cos, para a integração da AbE em políticas públicas, de forma transversal e multisetorial (SIERRA-
CORREA, KINTZ, 2015).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do advento das mudanças climáticas, da necessidade de tornar as cidades resilien-


tes, de garantir a qualidade de vida e saúde do ambiente urbano e natural para o desenvolvimento
sustentável, o planejamento e as ações sobre o espaço precisam ser compatíveis e dialogadas,
rompendo com atual sistema perverso de processos e ações que tem gerado círculos de retroali-
mentação positiva viciosos nas cidades, e pôr em prática a transição para um sistema integrado.
Repensar o desenvolvimento urbano das cidades litorâneas, diante do advento das
mudanças climáticas, compreenderá a integração de planos, projetos e gestão, dos mais diversos
setores e nas mais diversas escalas, que compreendam tanto a mitigação quanto a adaptação.
Tais estratégias, precisam considerar os ecossistemas locais e sua relevância, para fins de planeja-
mento e construção de uma cidade sustentável, resiliente e saudável, tanto para população local,
quanto para cidades de entorno e inclusive para o meio ambiente, indo ao encontro da noção de
“adaptação” baseada em “ecossistemas”.
Nos casos contemplados nessa pesquisa, das cidades de Itajaí e Joinville, os ecossiste-
mas de mangue passaram por um processo histórico de supressão devido à expansão urbana,
restando poucas áreas, que atualmente já exercem um papel fundamental. Entretanto, com os
cenários de elevação do nível do mar previstos para ocorrerem ao longo deste século, estas áreas
encontram-se vulneráveis, sujeitas ao desaparecimento, trazendo maiores impactos e prejuízos
ao meio urbano e natural.
A restauração e preservação dessas áreas serão fundamentais para lidar com a eleva-
ção do nível do mar. Para tanto, necessitam ser adequadamente geridas, principalmente para
204 enfrentar os efeitos negativos sobre as populações mais vulneráveis, para que possam usufruir de
maneira sustentável os recursos e serviços prestados pelos ecossistemas, dentro de sua capacida-
de de carga (FARACO, et al., 2016).
As estratégias, o planejamento e as ações adotadas no presente serão cruciais em longo
prazo. A quantidade de pessoas e de infraestruturas atingidas dependerá dos padrões de desen-
volvimento e crescimento das cidades. Assim, as medidas de adaptação serão relevantes para o
futuro, mas já no presente exercerem influência sobre a qualidade de vida local e na diminuição
da vulnerabilidade socioambiental.
Com a identificação e caracterização das áreas mais vulneráveis poderão se planejar
medidas de adaptação às mudanças climáticas, associadas à manutenção dos serviços ambientais
e à conservação da biodiversidade. Essas medidas poderão minimizar os impactos negativos da
elevação do nível do oceano sobre os ambientes naturais e humanos. No caso dos mangues, e
demais ecossistemas costeiros, a restauração e conservação dessas áreas contribuirão para atingir
as metas de mitigação de emissão de gases de efeito estufa, firmados em acordos internacionais
(SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016).
Cabe destacar que parte relevante do processo de adaptação se dá pela aprendizagem,
de conhecer o ambiente, para então propor respostas mais apropriadas. Nesse sentido, um dos
primeiros passos para incorporar a AbE é a partir de ações educação ambiental e de conscientiza-
ção da relevância dos manguezais nas escolas, comunidades e instituições, bem como, da vulne-
rabilidade socioambiental atual e dos possíveis cenários frente às mudanças climáticas.
A educação ambiental, no contexto de conscientização das mudanças climáticas e sua
complexidade, será capaz de romper os atuais modelos praticados, libertando-nos do raciona-
lismo que nos coloca como exógenos à natureza, compreendendo que pertencemos ao meio
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ambiente e não mais temos a função de dominá-lo, mas de vivermos em simbiose. Para Capra
(1996), aprender sobre a complexidade da natureza e sua sustentabilidade permitirá nos aproxi-
mamos dela com respeito, cooperação e diálogo, nos reconectando com a teia da vida.
A partir desta conscientização é possível gerar o envolvimento social na gestão integrada.
Nesse aspecto, a participação comunitária é também relevante devido ao conhecimento tradicio-
nal e percepção local, que precisam ser integrados às pesquisas e ao planejamento. Disso, cabe
também reconhecer que a comunidade é um ator em potencial com capacidade de auto-organi-
zação, sendo a participação uma maneira de legitimar o plano e garantir a aceitação e implemen-
tação de ações locais.
Em paralelo, para que se possam iniciar as ações de conscientização e a formu-
lação de planos e estratégias, é fundamental compreender as dinâmicas locais. Devido
às dinâmicas constantes do meio antrópico e natural, o monitoramento desses ecossiste-
mas (natural e urbano) é um indicador potencial para detectar as variações do nível do mar18
e traçar possibilidades de atuação e adaptação a esses novos tempos.
Assim, tanto o envolvimento e engajamento multisetorial (comunidade, pesquisadores
e instituições) como o conhecimento científico e tradicional são bases para a formulação de um
plano (não-rígido) de AbE. Lidar com as mudanças climáticas e adaptação é lidar com incertezas.
Logo, a AbE permite a diversificação e conectividade de abordagens. Dessa forma, se possibilita
a alternância, assegurando uma menor dependência de uma única estratégia (SCHMITT, et al.,
2013).
Cidades e ecossistemas são dinâmicos, assim como os seres humanos que constante-
mente as criam e transformam. A cidade resiliente será, então, aquela que constantemente se
recria, com criatividade e de forma colaborativa. Uma política bem-sucedida e sustentável será
205
uma política que progride com cautela, deliberação, flexibilidade, justiça e paciência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Acesso em 10 de setembro de 2016.
18
Como por exemplo, através do acompanhamento da migração de mangues, da expansão ou retração urbana, movimentação
de fauna local e sondagem do domínio de estabilidade, bem como a correspondência entre os indicadores e influências externas
exercidas (SCHAEFFER-NOVELLI, et al., 2016)
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208
CAPÍTULO XV

URBANIZAÇÃO E CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NO


MUNICÍPIO DE MATINHOS (PR)

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan15

Sidney Vincent de Paul Vikou - UFPR


Sony Cortese Caneparo - UFPR
Eduardo Vedor de Paula - UFPR

209

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

A organização social e espacial contemporânea retrata uma clara tendência das pessoas
a morar ou a migrar para as cidades. Do ponto de vista histórico, desde meados do século XX até
o presente século XXI, observou-se, a escala mundial, um forte processo de crescimento demo-
gráfico e de urbanização. Vários autores apontaram, respectivamente, os séculos XX e XXI como
o “século da urbanização” e o “século da cidade”. (MENDONÇA, 2004). De acordo com Oberai
(1989), as formas de crescimento urbano englobam o aumento natural da sua população pela
diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade, as migrações e a conversão de zonas rurais
em áreas urbanas.
No Brasil, conforme apresentado por Maricato (2011), analisando o período de 1940 a
2010, a autora concluiu que a proporção da população brasileira vivendo nas cidades passou de
31% para 84%, destacando de fato, um dos processos mais intensos de urbanização ocorridos no
mundo durante o século XX. Na mesma lógica de estudo do processo de urbanização brasileira,
Santos (1993) afirma que em 35 anos (1953 – 1988), a população urbana brasileira foi praticamen-
te multiplicada por 5 e, nos últimos 25 anos (1963 – 1988), ela passou a triplicar.
No entanto, toda esta população que migra para as cidades não desfruta de forma igual
das mesmas condições e qualidade de vida. O espaço urbano é estruturado e dividido conforme
classes de renda. As parcelas de maior renda conseguem habitar as melhores áreas da cidade, a
parcela de menor poder aquisitivo, as áreas centrais e deterioradas, para os mais desfavorecidos,
geralmente restam as favelas. Dentro dessa conjuntura de urbanização acelerada, caracterizada
em alguns locais por uma diferenciação da ocupação espacial e do acesso às infraestruturas urba-
210 nas, surge uma nítida ameaça sobre as áreas naturais dentro das cidades ou nas adjacências dos
grandes centros urbanos. Essas áreas geralmente, mesmo quando existe uma legislação que asse-
gure sua conservação, são os alvos privilegiados de uma forma de ocupação urbana diferenciada.
(CARLOS, 2001).
A realidade supracitada é presente em vários municípios brasileiros e, desde a década
de 1980, intensificou-se em Matinhos (litoral do Paraná), devido ao seu processo de urbanização
que, em 2010, já apresentava segundo os dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES, 2016), um grau de urbanização de 99,49%. Esse processo de urbani-
zação gera vários impactos sobre suas características naturais, dentro das quais, pode-se destacar
as ameaças sobre as Unidades de Conservação presentes, principalmente sobre os limites do
Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange, cuja área de entorno está sendo transformada progressi-
vamente em área urbana.
O trabalho objetiva apresentar, em um primeiro momento, uma revisão bibliográfica acer-
ca da temática norteadora do estudo, que é a relação urbanização - meio ambiente, bem como
identificar e caracterizar o processo de urbanização do município de Matinhos-PR, tendo como
um de seus desdobramentos a expansão urbana no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange.
A organização do trabalho será estruturada conforme a seguir. A primeira parte apre-
sentará uma breve revisão bibliográfica sobre os conceitos relativos à urbanização e seus desdo-
bramentos sobre o meio ambiente. Demonstrará, também, a importância das Unidades de
Conservação, principalmente os parques para a conservação ambiental. Em seguida, será apre-
sentado o processo histórico de urbanização do município de Matinhos-PR juntamente com os
resultados e discussões sobre a análise que foi realizada com o objetivo de identificar as pressões
antrópicas no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

A forma como as sociedades, ao longo dos séculos, foram se organizando e estruturan-


do apresentou padrão de configuração e de organização diferentes. Assim, pode-se dizer que se
o século XIX foi o dos impérios e o XX, das nações ou da urbanização, a principal característica
do presente século (século XXI) é a das cidades. (MENDONÇA, 2004, LEITE e AWAD, 2012). Essa
realidade justifica-se pelo fato que a população mundial apresentar um perfil, predominante-
mente, urbano e que as previsões demográficas apontam para uma tendência de crescimento
da população urbana que, por volta de 2025, representará cerca de 70% da população mundial.
(MENDONÇA, 2004).
De um ponto de vista histórico, as cidades surgiram a partir da divisão do trabalho, crian-
do de um lado o campo e de outro as atividades urbanas. Nessa lógica, de acordo com Carlos
(2001), pode-se atrelar a formação das cidades pelo menos seis elementos: divisão do trabalho
e da sociedade em classes, avanço e acumulação tecnológica, produção do excedente agrícola
decorrente da evolução tecnológica, sistema de comunicação e uma concentração espacial das
atividades não agrícolas.
Tendo como base a ideia de sistema ou instâncias, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento /Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos -PNUD/UNOPS (1997)
concebe o ambiente urbano como:

el proceso de intercambio entre la base natural de uma cuidad, la respectiva sociedade


allí existente y la infraestructura constituída. Por conseguinte, el ambiente urbano es
211
el resultado de diversos processos de interacción entre três instancias o subsistemas:
la humana o social, la natural y la construída. La instancia natural (o territorio) está
compuesta por los elementos físicos de la naturaliza; la humana (o social) por los indivi-
duos y sus distintos níveles de organización así como por sus múltiples formas de inter-
relación; y la construída está formada por las formas y estructuras del espacio que son,
a la vez, resultantes de la dinâmica social sobre el territorio urbano. (MENDONÇA, 2004,
p.195).

Essa definição apresenta um aspecto mais holístico e integrador entre as diferentes bases
que compõem o ambiente urbano. Retrata claramente que, as cidades nascem e se sustentam da
relação que existe entre seus componentes natural, social e construído. A cidade torna-se, então,
o palco das mudanças na base física (ou natural) do espaço, a fim de abrigar populações que têm
dinâmicas econômicas, sociais e culturais específicas. Em outras palavras, pode-se dizer que a
instância natural das cidades é a que sustenta as demais instâncias pela sua capacidade de prover
um ambiente adequado e os recursos.
A urbanização pode ser, portanto considerada como um dos principais fatores modifi-
cadora da Natureza para fim de instalação humana. Segundo Monteiro (1987 apud Nucci, 2008,
p.12) “(...) as pressões exercidas pela concentração da população e de atividades geradas pela
urbanização e industrialização concorrem para acentuar as modificações do meio ambiente, com
o comprometimento da qualidade de vida”.
Para Ribeiro, Freitas e Costa (2010), o acentuado processo de urbanização que está
ocorrendo desde o início do século passado, traz consigo grandes alterações nas características
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

naturais das áreas modificadas como, por exemplo, remoção da cobertura vegetal original, imper-
meabilização de extensas áreas, canalização de rios, entre outros.
É importante frisar também que a urbanização, do ponto de vista social e econômico, não
oferece para todos condições iguais de vida digna dentro do espaço urbano. Conforme ressaltado
por Maricato (2010), para as camadas mais desfavorecidas que ocupam as áreas ambientalmente
inadequadas, “não é por falta de leis ou planos que essas áreas são ocupadas, mas por falta de
alternativas habitacionais para a população de baixa renda”. (MARICATO, 2010, p.9).
Nesse sentido, o processo de urbanização desordenado e sem o adequado planejamen-
to pode causar graves problemas ambientais. Isso porque, dependo do modelo de urbanização
adotado pela cidade, poderão ser gerados a curto, médio ou longo prazo, problemas específicos
que necessitarão de uma agenda de priorizações. A busca para a resolução ou minimização desses
problemas pode conduzir ao desenvolvimento voltado à perspectiva da sustentabilidade urbana.
Tratar da problemática ambiental urbana necessita a adoção de um conjunto de medidas que
poderão ser materializados pela adoção de uma política de ocupação para o território que consiga
englobar estudos sobre pontos chave, tais como: a rede de cidades, bacias hidrográficas, uso e
ocupação do solo, entre outros. (VERONA, GALINA e TROPPMAIR, 2003).
Toda a conjuntura apresentada anteriormente sobre a forma como a urbanização deu-se
em algumas regiões, nos faz vislumbrar a necessidade de se focar no processo de planejamen-
to das cidades. Esse processo deve considerar os aspectos sociais, econômicos e ambientais. O
desenvolvimento das cidades implica em novos conceitos, tanto na forma de enxergar como de
planejar. Crescer sem destruir, fortalecimento da democracia, gestão integrada e participativa
e informação para a tomada de decisões são fatores primordiais e prioritárias para alcançar a
sustentabilidade urbana e exige uma indissolubilidade da problemática social da problemática
212
ambiental. (MMA, 2000).

A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E A CRIAÇÃO DO SISTEMA


NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (SNUC)

Conforme apresentado por Rylands e Brandon (2005), a classificação do Brasil como país
megadiverso lhe impõe um compromisso maior, a escala planetária, em proteger os três maiores
biomas mais representativos da sua biodiversidade (a Amazônia, o Pantanal, e a Caatinga – e dois
hotspots de biodiversidade – a Mata Atlântica e o Cerrado). Para tanto, os autores ressaltam que
as Unidades de Conservação constituem um fator crucial para conservar o que resta.
Contudo, observa-se que a dinâmica de urbanização brasileira está exatamente concen-
trada em um dos biomas mais importantes para a conservação, a Mata Atlântica. Esse bioma é
caracterizado por abrigar aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domí-
nio e onde são gerados aproximadamente 70% do PIB brasileiro. Atualmente, seus remanescentes
de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original. Apenas cerca de 7%
estão bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares. (BRASIL, 2015).
De acordo com Oliveira (1998), o processo de ocupação das cidades brasileiras, caracteri-
zado pelo seu grande crescimento populacional, foi marcado pela falta de planejamento em rela-
ção aos recursos naturais e à qualidade de vida da população. Nesse aspecto, tornou-se importan-
te direcionar mais ações para melhorar as condições ambientais e evitar uma deterioração mais
acentuada dessas. Isso foi concretizad,o pela aprovação de várias legislações nas três esferas do
Governo com o intuito de conservar a natureza.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Assim, a nível federal, foi instituído, pela Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e regulamentado
pelo Decreto Nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), atual legislação em vigor e de forte influência na criação de Unidades de Conservação. O
SNUC é entendido como o conjunto das unidades de conservação federais, estaduais, municipais
e particulares que atendem aos objetivos de conservação e preservação da biodiversidade brasi-
leira. O SNUC define as Unidades de Conservação como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com


características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objeti-
vos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se
aplicam garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000,p.1).

As Unidades de Conservação (UCs) são subdividas, por sua vez, em duas categorias de
manejo. As UCs de Proteção Integral são caracterizadas pela “manutenção dos ecossistemas
livres de alterações causadas por interferência humana, admitido apenas o uso indireto dos
seus atributos naturais”. Elas englobam: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional;
Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. As UCs de Uso Sustentável admitem o uso direto
dos seus recursos naturais desde que tenha um manejo adequado e uma compatibilização entre
a conservação da natureza e o uso sustentável dos recursos naturais. Elas são constituídas por:
Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva
Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e Reserva Particular do
Patrimônio Natural. (BRASIL, 2000).
213 De forma mais específica e dentro das categorias de Proteção Integral, os Parques foram
criados tendo como objetivo de preservar os ecossistemas naturais que têm uma importante rele-
vância do ponto de vista ecológico e da sua beleza cênica, com o intuito de proporcionar a reali-
zação de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.
Os parques desempenham vários papeis como, por exemplo, auxiliar na conservação dos
recursos genéticos e da biodiversidade, proporcionar o sequestro do carbono, regular os ciclos
hídricos, bem como a manutenção da qualidade da água, evitar processos erosivos, inundações,
entre outros. (DOUROJEANNI e PÁDUA, 2001; MILANO, 2002).

HISTÓRICO DE URBANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MATINHOS – PR

Para Santos (1993), a urbanização é marcada, principalmente, pela migração de pessoas


do meio rural para o urbano. De acordo com Esteves (2011), no contexto do avanço da urbani-
zação brasileira destaca-se o litoral por concentrar parte significativa da população brasileira em
municípios de diversos portes (pequenas cidades, áreas de ocupação contínua, grandes aglome-
rados urbanos como as metrópoles).
O Litoral do Paraná está localizado na mesorregião geográfica Metropolitana de Curitiba,
mais especificamente na microrregião geográfica Paranaguá. É composto por sete municí-
pios, sendo eles: Guaratuba, Matinhos, Pontal do Paraná, Paranaguá, Antonina, Morretes e
Guaraqueçaba. De forma mais específica, dentre desses, Matinhos (imagem 1) se localiza entre
as latitudes 25 º 49 ‘ 03 ‘’ S e entre as longitudes 48 º 32 ‘ 34 ‘’ W. Distancia-se de 111 km de
Curitiba, capital do estado e 50 Km da cidade de Paranaguá, principal polo econômico da região
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Gestão Integrada do Território

litorânea. Conta com uma população de 29.428 mil habitantes (IBGE, 2010) e com as seguintes
Unidades de Conservação: Parque Estadual do Rio da Onça, Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange (imagem 2) e Área de Proteção Ambiental Estadual de Guaratuba. Além desses, conforme a
Lei Nº 1067, de 05 de dezembro 2006 que dispõe sobre a instituição do plano diretor participativo
e de desenvolvimento integrado de matinhos, e dá outras providências, foi prevista a criação de
cinco parques municipais que são: Parque Municipal Praia Grande, Parque Municipal Morro de
Sambaqui, Parque Municipal do Tabuleiro, Parque Municipal do Morro do Boi e Parque Municipal
do Sertãozinho (MATINHOS, 2006).

Imagem 1 - Localização do Município de Matinhos – PR


Imagem 1 - Localização do Município de Matinhos – PR

214

Fonte:
Fonte: Organizado
Organizado pelo
pelo do do aautor
autor partira da
partir da cartografia
cartografia disponibilizada
disponibilizada pelo IBGE,pelo IBGE,
(2010); (2010);
ICMBio, (2016) e ITCG,
ICMBio, (2016) e(2015).
ITCG, (2015).
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Imagem2-
Imagem 2 - Parque
Parque Nacional Saint Hilaire/Lange
Nacional Saint Hilaire/Lange

Fonte:
Fonte:Blog PARNA
Blog SaintSaint
PARNA Hilaire/Lange, (2016).(2016).
Hilaire/Lange,

O principal fator que desencadeou as transformações na dinâmica de urbanização do


litoral do Paraná remonta a década de 1920, pela abertura da Estrada do Mar que ligava a antiga
estrada Curitiba-Paranaguá através do Posto Fiscal à Praia de Leste, de onde o trajeto até Caiobá
215
era feito pela praia. Essa abertura estimulou a instalação dos primeiros veranistas na região, de
comércios e o desenvolvimento do turismo por favorecer o acesso aos balneários, até então pouco
conhecidos. (BIGARELLA, 2009). Na ausência de uma legislação específica, que orientasse a forma
de uso e ocupação do solo, o início do loteamento de Caiobá deu-se obedecendo à valorização da
paisagem natural, nesse caso, a proximidade das praias. (RIBEIRO, 2008).
O processo de loteamento do município iniciou-se na década de 1930 e o plano de urba-
nização da região de Caiobá de Augusto Blitzkow foi organizado por meio de um traçado de três
avenidas que permitiria a ventilação das casas construídas em Caiobá. Um dos desdobramentos
gerado pelo loteamento foi a retirada da vegetação de restinga e das pequenas dunas, além da
ocupação das encostas. Nos meados da década de 1930, Caiobá já contava com a construção
de um hotel, de disponibilidade de água, fatores que favoreceram o desenvolvimento da região.
(GOBBI, 1997; RIBEIRO, 2008).
As décadas de 1940 e 1950 foram marcadas pela realização de um conjunto de obras de
melhoramento, dentro dos quais a construção de canais (o canal da Avenida Juscelino Kubitschek
de Oliveira), que dentre suas finalidades estava a erradicação da malária. (RIBEIRO, 2008). Além
da construção dos canais, existia mais um obstáculo logístico que se relacionava à locomoção.
Esse foi resolvido pela abertura da estrada ligando Praia de Leste a Matinhos, seguida pela ligação
Caiobá-Matinhos.
Junto a esse quadro de melhorias urbanísticas, a década seguinte, a de 1960, foi marcada
pelas construções dos primeiros edifícios dando início a um processo de verticalização que se
acentuou nas décadas posteriores. Esse processo de verticalização foi marcado pela construção
dos edifícios Itamar de 13 andares e Caiobá com 16 andares. (ESTEVES, 2011).
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Nos municípios litorâneos uma tendência consolidou-se na década de 1980: o turismo


de sol e praia. Esse segmento de turismo, conforme definido pelo Ministério do Turismo como,
engloba o conjunto de atividades turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descan-
so em praias, em função da presença conjunta de água, sol e calor (MTUR, 2017). Como decor-
rência do adensamento da ocupação na orla (vale ressaltar que o adensamento populacional é
apenas no veraneio, e ao longo do ano, as residências se encontram vazias), aliado ao crescente
fluxo de imigrantes, iniciou-se nas áreas que até então não despertavam nenhum interesse, as
menos nobres, um processo de ocupação marcado espacialmente pela construção de moradias
em bairros no interior da planície, como o bairro do Tabuleiro em Matinhos. Processo esse que se
consolidou ainda mais na década de 1990. (MOURA e WERNECK, 2000; ESTEVES, 2011).
De acordo com Fonseca Neto (2007), considerando os últimos 30 anos, a população do
litoral do Paraná é a que vêm apresentando os maiores índices de crescimento do estado do
Paraná, a uma taxa de 2,25%. A título ilustrativo, enquanto a média do estado, entre os anos de
1980 e 1991, foi de menos de 1%, a cidade de Matinhos teve uma taxa de 6,49%. Observa-se,
então, que no decorrer dos últimos 30 anos, o município de Matinhos passou por um processo
muito acelerado tanto de crescimento populacional como de expansão urbana.
Os motivos que justificam o aumento populacional estavam ligados principalmente aos
processos migratórios. Isso porque, devido à diminuição das oportunidades de trabalho e moradia
na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), outros destinos começaram a se tornar atraentes.
Nessa conjuntura, a partir da década de 1990, o litoral atraiu um fluxo de pessoas de outros esta-
dos, do interior do Paraná e da RMC, à procura de oportunidade de trabalho. Do ponto de vista
espacial, essas populações recém-chegadas se localizam em Matinhos: nas encostas dos morros
da região periférica de Caiobá; no curso da estrada Alexandra-Matinhos; nas localidades da Vila
216 Nova e do Tabuleiro; nos balneários situados ao norte da área central de Matinhos. Esse processo
de migração e instalação das populações na região e, por consequente, de urbanização foi ilustra-
do conforme a Imagem 3 a seguir. (ESTEVES, 2011). De acordo com Deschamps e Kleinke (2000),
as motivações que desencadearam esse processo migratório foram as oportunidades de trabalho
na atividade turística e na construção civil.

Imagem 3Imagem 3 - Evolução


- Evolução Urbana dosUrbana dos Municípios
Municípios da Áreada
deÁrea de Ocupação
Ocupação Contínua
Contínua do Litoral do Paraná
– 1960/1980/1996/2003
do Litoral do Paraná – 1960/1980/1996/2003

Fonte: Vanhoni e Esteves (2009).


Fonte: Vanhoni e Esteves (2009).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

OS DESDOBRAMENTOS DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO


DE MATINHOS

O recorte temporal, que se inicia a partir da década de 1980, representa um período


crucial na implantação de políticas de proteção ao meio ambiente, materializado pela criação
das unidades de conservação, frente à degradação ambiental promovida por algumas atividades
econômicas. (PIERRI, 2003). A década de 1980 se destaca também por abrigar uma conjuntura
de fatores que dizem respeito às mudanças significativas na configuração da região, tais como:
aumento demográfico regional e crescimento na construção civil devido a maior concentração de
segundas residências.
Analisando as duas imagens das figuras 04 e 05, observa-se que, na década de 1980, o
processo de ocupação urbana era concentrado na porção leste do município e direcionado para
a orla marítima que, por sua vez, representa um grande atrativo. Existiam poucas construções na
porção oeste do município (atual bairro de Tabuleiro e Bela Vista). As infraestruturas existentes se
encontravam localizadas no bairro de Caiobá e no centro da cidade, posto que esses já possuíam
uma urbanização consolidada, além de serem as de primeira ocupação urbana do município.
Imagem 4 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1980 - 2000
Imagem 4 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1980 – 2000

217

2000
1980

Fonte:
Fonte: organizado
organizado pelopelo autor
autor a partir
a partir de imagens
de imagens disponibilizadas
disponibilizadas pelopelo ITCG,
ITCG, (1980);
(1980); Google
Google Earth – Séries
Earth – Séries Históricas,
Históricas, (2000).
(2000).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 5 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1970 – 2016
Imagem 5 - Mudanças Ocorridas ao Longo do Período de 1970 – 2016

Fonte:
Fonte: Fotografias
Fotografias do Acervo
do Acervo dada
da Casa Casa da Cultura
Cultura de Matinhos
de Matinhos - Prefeitura
- Prefeitura Municipal;Municipal; Google
Google Earth, (2016).
Earth, (2016).
* As setas indicam o ponto de referência aqui adotado como sendo o edifício Caiobá
* As setas indicam o ponto de referência aqui adotado como sendo o edifício Caiobá

Hoje em dia, as áreas centrais do município tais como Caiobá e o centro da cidade, já
possuem uma urbanização bem mais consolidada que a dos demais localidades. Isso faz com que
218 a expansão urbana da cidade se oriente para novas áreas tais como o bairro de Tabuleiro, Vila
Nova (face oeste), entre outros que, por sua vez são ocupadas pelas populações residentes do
município. Aqui, é importante frisar que o perfil da população do município de Matinhos se divide
basicamente em moradora (residente) e visitante (turista).
Matinhos, por ter um perfil de cidade litorânea, pode-se considerar a atividade turística
como um dos principais fatores que moldou a urbanização do município. Além disso, os municí-
pios praianos do litoral do Paraná (dentre os quais está Matinhos) ainda se destacam dos demais
da região por apresentar uma das maiores porcentagens de domicílios de uso ocasional (segunda
residência). Tratam-se de residências que são utilizadas com pouca frequência, principalmente,
em alguns fins de semana e feriados durante o ano, porém passam a ter uma maior taxa de ocupa-
ção durante o verão. Por outro lado, a população moradora é constituída pelos residentes que são
pessoas que trabalham e residem ao longo do ano no município.
Destacando os desdobramentos da urbanização sobre os limites do Parque Nacional
Saint Hilaire/Lange (criado em maio de 2001 por meio da Lei nº 10.227), os mapas representados
nas imagens 06 e 07 mostram uma expansão urbana do município em direção à atual área do
parque. As formas de uso da terra mapeadas no período de 1989 a 1990 pelo Instituto de Terras,
Cartografia e Geociências (ITCG) foram: floresta, agricultura cíclica, restinga e área urbana. No
entanto, apesar de ter sido feito pelo mesmo órgão (ITCG), observou-se que as formas de uso do
período de 2001 a 2002 para a mesma área diferiram. Assim, no último caso, passou-se a ter duas
classes: cobertura florestal e uso misto. Apesar de que a nomenclatura tenha mudado, observa-se
uma pequena variação entre a mancha “área urbana” do período 1989-1990 e da mancha de “uso
misto” de 2001 a 2002; exatamente localizadas no entorno do Parque Nacional de Saint-Hilaire/
Lange. Essas variações mostram uma expansão da mancha urbana em direção aos bairros de
Tabuleiro e Sertãozinho.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território
Imagem 6 - Caracterização do Uso da Terra no Período de 1989 A 2002 e
Imagem 6 - Caracterização do Uso da Terra no Período de 1989 A 2002 e Crescimento da Área Urbana do Município
Crescimento da Área Urbana do Município
de Matinhos de Matinhos
entre 1989– 2002 entre 1989– 2002

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
219 Fonte: Elaborado pelo
Imagem 7 - autor a partir
Delimitação da cartografia
e Crescimento da Áreadisponibilizada pelo
Urbana do Município de Itcg, (2002).
Matinhos entre 1989 - 1990 e 2002 – 2002
Imagem 7 - Delimitação e Crescimento da Área Urbana do Município de Matinhos entre 1989 - 1990 e 2002 – 2002

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo Itcg, (2002).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Ao se analisar a imagem 08, elaborada a partir dos dados publicados pelo Censo
Demográfico do IBGE de 2010, observa-se que a concentração populacional na área central do
município engloba grande parte da população residente, sendo que se nota a existência de alguns
setores censitários que são colados aos limites do parque. Dos 58 setores censitários conside-
rados no censo de 2010, 45 estão localizados a um raio de 3 km a partir dos limites do parque,
totalizando mais de 80% da população total, o que representa 23.737 habitantes. Além disso,
pode-se observar uma concentração dos domicílios no entorno do parque que varia entre a faixa
de intervalo de 370 a 710. Ademais, observa-se que os setores com maior número de residentes
são os que são mais próximos aos limites do parque e que têm um número menor de domicílios
em relação à Caiobá.
Imagem 8 - Número de Domicílio e População Residente no Município de
Matinhos em
Imagem 8 - Número de Domicílio e População 2010 no Município de Matinhos em 2010
Residente

220

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).

No que diz respeito à questão da renda, a qual foi obtida a partir do valor do rendimento
nominal mensal das pessoas responsáveis por domicílios particulares permanentes (com e sem
rendimento) do Censo de IBGE 2010), observa-se que as faixas maiores de renda estão nos bairros
da Praia Mansa, Caiobá e no centro (imagem 9). As demais áreas, principalmente as mais próxi-
mas aos limites do parque englobam a população de menor poder aquisitivo.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Imagem 9 - Distribuição da Renda no Município de Matinhos em 2010


Imagem 9 - Distribuição da Renda no Município de Matinhos em 2010

221
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir da cartografia disponibilizada pelo IBGE (2010).

Os resultados obtidos pelo presente trabalho permitem apresentar o perfil da confi-


guração urbana que caracteriza o município de Matinhos, principalmente, o entorno do Parque
Nacional de Saint Hilaire/Lange. O uso da terra no entorno é predominantemente residencial e
de serviços, apresentando uma dinâmica que abriga o maior número de população residente
do município. Nota-se que a área estudada, a partir de um raio de 3 km (conforme Resolução
CONAMA n° 428/2010, prorrogada pela Resolução CONAMA n°473/2015), engloba 80,66% da
população residente do município e 67,95% dos domicílios. Desse modo, abrange várias faixas de
renda, sendo que a faixa que se destaca com uma representatividade de 82,37% é a de mais de
1/2 a 1 salário mínimo, seguida da de mais de 3 a 5 salários mínimos.
Observou-se também que o maior número de população residente, porém com baixa
quantidade de domicílios localiza-se nas áreas mais próximas aos limites do parque. É impor-
tante frisar a questões dos domicílios permanentes, posto que Matinhos por ser um município
balneário possui também um alto número de residências de uso ocasional. Geralmente, essas
residências são utilizadas nas férias ou na época de veraneio.
A configuração urbana atual observada no entorno do parque decorre de um processo
histórico que se intensificou, principalmente, nas décadas de 1980 e 1990. O município atualmen-
te apresenta uma configuração urbana subdivida em dois polos separados pela Avenida Juscelino
Kubitschek. De um lado Caiobá que concentra parte da infraestrutura urbana do município e por
outro lado, os demais bairros que surgiram depois dos anos 1980. A elitização de certas áreas do
município faz com que a população residente procure outras novas áreas para moradias.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual perfil de forte urbanização que caracteriza o século XXI faz surgir a necessidade
de se repensar a forma como as cidades crescem. Essa discussão sobre o crescimento das cidades
não pode ser dissociada da discussão ambiental, seja da relação que existe entre urbanização e
meio ambiente. Isso se justifica pelo fato que o crescimento urbano, em alguns locais, está ocor-
rendo sobre a base da expansão das áreas urbanas sobre as áreas naturais.
Nessa lógica, além das relações sociais que existem e são criadas e mantidas nas cidades,
é preciso levar também em consideração os impactos das cidades sobre o meio ambiente. Trata-
se de uma forma de se conceber ou olhar para as cidades com o adequado peso que elas têm no
que diz respeito à geração de transformações sobre o ambiente natural que elas causam.
A conservação ambiental em áreas urbanas, a consolidação de unidades de conserva-
ção já existentes frente à expansão urbana, bem como a valorização da proteção ambiental nas
suas áreas de entorno (zona de amortecimento), a conscientização e educação ambiental, entre
outros, são temas de suma importância que se devem ser consideradas ao direcionar os rumos da
urbanização atual. As cidades constituem o elemento central da nossa atual organização espacial
e são, provavelmente, as principais forças modificadoras da paisagem.
O presente estudo permitiu tecer uma reflexão acerca do processo de urbanização do
município de Matinhos-PR, sendo que um dos desdobramentos foi a urbanização no entorno do
Parque Nacional de Saint-Hilaire/Lange. Constatou-se que nessa porção do município está instala-
da parcela significativa da população residente. Além disso, devido ao fato que o plano de manejo
do parque está em processo de elaboração, o parque se encontra em uma situação delicada no
222 que diz respeito à sua relação com seu entorno.
Diante do exposto anteriormente, há a necessidade de pensar e de orientar o processo
de expansão urbana do município para áreas mais adequadas e que não possam constituir uma
ameaça ao entorno do parque. Isso poderá ser materializado, pela criação de instrumento de
controle e de monitoramento do uso e ocupação do solo principalmente nas áreas limítrofes ao
parque. Nesse sentido, torna-se importante pensar no planejamento urbano e gestão da cidade
envolvendo os mais diversos atores, seja eles do poder público municipal, de órgãos ambientais
e também das populações residentes, cuja grande finalidade será, de um lado, oferecer melhores
condições de vida às populações e assegurar a integridade dos limites do Parque Nacional de
Saint-Hilaire/Lange.

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225
CAPÍTULO XVI

A GESTÃO DO ESPAÇO URBANO E A EVOLUÇÃO DO


PROCESSO DE URBANIZAÇÃO A PARTIR DO SURGIMENTO
DOS CONDOMÍNIOS HORIZONTAIS FECHADOS NOS
MUNICÍPIOS DE CAPÃO DA CANOA
E XANGRI-LÁ (RS)

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan16

Juarez Camargo Borges - UNIASSELVI

226

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O litoral norte do Rio Grande do Sul e suas belezas naturais beneficiados pela facilidade
de acesso às praias apresentaram, nos últimos vinte anos, um desenvolvimento expressivo, tanto
em sua economia, movimentado principalmente pela construção civil, quanto na urbanização das
cidades.
A construção civil é a principal atividade econômica das cidades em destaque neste estu-
do, e o produto condomínio horizontal fechado provoca diversos impactos seja no meio ambien-
te, no modelo de urbanização e na vida das pessoas. Modifica, principalmente, a paisagem natural
do litoral entre o mar e a lagoa, devido à ocupação urbana de áreas rurais, com grandes e luxuosas
residências.
Esse artigo busca identificar e apresentar alguns aspectos que contribuíram para o desen-
volvimento urbano das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, localizadas na região Litoral Norte,
no Rio Grande do Sul a partir do surgimento de novos produtos imobiliários, os condomínios hori-
zontais fechados, bem como os possíveis impactos provocados por este modelo de urbanização.
O estudo é de natureza qualitativa exploratória, composto de uma pesquisa bibliográfica
com o uso de dados secundários de alguns estudos realizados anteriormente, principalmente de
índices e indicadores da FEPAM19, FAMURS20, IBGE21, a legislação e os Planos Diretores municipais,
que regulamentam o zoneamento urbano dos dois municípios.
Quanto à organização desse estudo, inicialmente, apresenta-se uma breve revi-
são bibliográfica acerca do desenvolvimento urbano e o crescimento das cidades. Na sequência,
destaca-se o Litoral Norte do Rio Grande do Sul e sua limitação geográfica, em seguida o processo
227
de urbanização principalmente o surgimento dos condomínios fechados, a gestão do espaço urba-
no e a legislação para a construção dos condomínios fechados nos municípios de Capão da Canoa
e Xangri-lá. Por fim, tem-se uma análise dos principais impactos causados pelos condomínios
fechados no território e deste estudo.

DESENVOLVIMENTO URBANO

O desenvolvimento urbano é definido, segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento


Urbano (PNDU, 2004, p. 08), como a melhoria das condições de vida nas cidades, possível com a
“[...] diminuição da desigualdade social e garantia de sustentabilidade ambiental, social e econô-
mica”. Dessa forma, entende-se que o planejamento urbano deve ser orientado para os impactos
ambientes quando se trata de parcelamento do solo e das demandas da cidade cada vez maiores.
“O objeto de uma política de desenvolvimento urbano é o espaço socialmente construí-
do. Não estamos tratando das políticas sociais, de um modo geral, mas daquelas que estão rela-
cionadas ao ambiente urbano.” (PNDU, 2004, p. 08). No espaço urbano, o tema que gera maior
impacto na vida da população é a falta de habitação, saneamento ambiental e mobilidade urbana
e trânsito.
O desenvolvimento urbano e o desenvolvimento econômico têm uma forte relação, pois
os problemas relacionados ao crescimento das cidades acabam por impactar na economia, além
dos temas Habitação e Saneamento, ao surgirem questões que devem consideradas na elaboração

19
FEPAM –Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente.
20
FAMURS – Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul.
21
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

de políticas de planejamento urbano. No PNDU (2004, p. 17), apontam-se alguns questionamen-


tos, entre eles “não reconhecer a importância econômica de gigantescas ocupações ilegais e infor-
mais do território urbano, que colocam em risco mananciais de água potável [...]”. Esse problema
torna-se de grande escala, pois implica em gastos públicos com o tratamento dessa água poluída
e gastos com o tratamento de doenças ligados à falta de saneamento em áreas urbanas.
Ainda sobre os custos, o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano destaca os custos
com a mobilidade urbana e aponta que, em estudos realizados, “permite estimar que até 2%
do PIB é perdido nos congestionamentos das cidades brasileiras” (PNDU, 2004, p. 17). Isso sem
contar, os inúmeros acidentes de trânsito que aumentam o saldo de feridos e mortos, represen-
tando o segundo maior problema de saúde pública no país.
O PNDU esclarece que “Sem o investimento público, o crescimento econômico é insufi-
ciente para promover o desenvolvimento social e urbano” (2004, p. 19). O investimento privado
sempre se volta às construções residenciais e de luxo. A partir dessa forma de desenvolvimento
urbano, percebe-se o aparecimento das desigualdades em algumas regiões da cidade que recebe-
ram investimento privado em relação à parte que aguarda investimento público.

O CRESCIMENTO DAS CIDADES

O PNDU aponta ainda que “O crescimento de nossas cidades reproduz a cultura urba-
nística herdada do período autoritário” (2004, p. 56). Caracteriza-se pela exclusão, pois, naquele
modelo, desconsiderava as necessidades da maioria dos moradores. Por fim, segrega e diferencia
moradores “incluídos” na urbanidade formal e moradores dela excluídos, bem como os impactos
228 socioambientais para a cidade como um todo, sendo esse um grande problema social devido ao
crescimento das cidades.
O crescimento das cidades impacta em inúmeros problemas sociais, econômicos e
ambientais, principalmente em áreas com ocupações ilegais e sem a devida estrutura para viver
com qualidade. Portanto, é necessária a consciência política sobre a “urbanização da pobreza”,
que se fez presente na criação, em 2003, do Ministério das Cidades, que foi estruturado levando
em consideração as variáveis mais relevantes em aspectos econômicos e sociais, atuando em
estratégicas de sustentabilidade ambiental e inclusão social no espaço urbano (PNDU, 2004).
É importante destacar que “Aquelas cidades que buscam oferecer a desregulamenta-
ção como vantagens tiveram seu crescimento limitado pela própria queda na qualidade de vida”
(PNDU, 2004, p. 19). Em algumas cidades, percebe-se a falta de políticas públicas fiscalizadoras,
pois é visível o crescimento desordenado.
Mesmo com o aumento cada vez maior dos recursos financeiros federais, “o ministé-
rio das cidades considera urgente a expansão dos investimentos públicos em habitação e em
infraestrutura urbana” (PNDU, 2004, p. 21). Esses investimentos em todos os níveis de governo
(Federal, Estadual e Municipal) acontecem, principalmente, em regiões com famílias em maior
nível de vulnerabilidade social que, na realidade do Brasil, representa a maioria dos brasileiros
que compõem o déficit de moradias e de infraestrutura nas cidades brasileiras.
Para o PNDU, “a cidade não é neutra e pode ser vista como uma força ativa, uma ferra-
menta eficaz para gerar empregos e renda e produzir desenvolvimento econômico” (PNDU, 2004,
p. 37, grifo do autor). Essa nova tipologia do entendimento da formação das cidades deve estar
pautada em atender às demandas comerciais de transportes, armazenagem e reparações mecâ-
nicas para fomentar o desenvolvimento econômico e as variáveis relacionadas à infraestrutura da
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Gestão Integrada do Território

cidade como habitação, saúde, cultura, finanças, educação geral e profissional. Portanto, cabe à
política urbana revelar as cidades para a ação governamental e destacar a sua importância para
o desenvolvimento de toda uma região e até do país como um todo. Essa é a função da nova
tipologia das cidades, em elaboração no âmbito da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano.
Conforme Constituição Federal, previsto no artigo 182, as cidades com mais de 20 mil
habitantes têm a obrigatoriedade de elaborar um Plano Diretor. O plano “é um documento da
natureza técnica e política que tem por objetivo direcionar o crescimento físico-territorial e
socioeconômico dos núcleos urbanos do município.” (BONAMENTE; SOUZA, 2012, p 21).
O Plano Diretor deve conter (BONAMENTE; SOUZA, 2012, p 22):

Documentos de informação e análise (diagnóstico, relatórios, mapas), Documentos de


orientação (definição de políticas, diretrizes, estratégias), Documentos operativos (planos
de ação, projetos) e Documentos normativos (projetos de lei), que formam um conjunto
de leis ou códigos que tratam de assuntos concernentes à vida urbana, como ordena-
mento do território, a localização das atividades, a largura das ruas e as regras para os
loteamentos e construções. O objetivo do Plano Diretor é direcionar o desenvolvimento
da cidade de forma a garantir a qualidade de vida da população.

Conforme Bonamente e Souza (2012), com base no Plano Diretor, o crescimento da cida-
de não está vinculado aos interesses políticos particulares ou imediatistas, possibilitando o cres-
cimento ordenado da cidade com visão de longo prazo. De acordo com o desenvolvimento da
cidade, o Plano Diretor deve ser revisado e ampliado de maneira formal, incluindo atividades que
229 até então não existiam na região.
O “repensar o desenvolvimento urbano e regional brasileiro implica em elaborar um
projeto de médio e longo prazo que tenha como meta a redução das desigualdades regionais e
sociais” (PNDU, 2004. p. 35). Dessa forma, o desenvolvimento regional deve considerar “o trinô-
mio formado pelo crescimento econômico, pela justiça social e pela necessária prudência ecoló-
gica, estabelecendo metas seguras para o desenvolvimento sustentável.” (BONAMENTE; SOUZA,
2012, p 79). O crescimento da cidade deve respeitar o Plano Diretor que regulamenta o uso e a
ocupação do solo, principalmente em aspectos ambientais.
É importante destacar que o desenvolvimento urbano deve considerar sempre os
aspectos legais de uso e ocupação do solo, garantindo, assim, a qualidade de vida das pessoas.
Dessa forma, cabe ao poder público desenvolver um planejamento urbano envolvendo os
principais agentes do desenvolvimento e de maneira multidisciplinar determinar as regras de
ocupação do espaço urbano, promovendo a gestão integrada do espaço urbano respeitando as
particularidades de cada território.

O LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL E SUA LIMITAÇÃO GEOGRÁFICA

O litoral norte tem sua região delimitada ao sul pelo município de Pinhal em função de
sua formação geológica, relevo, bacia de drenagem e limites políticos, até os limites de Torres.
A região do litoral norte é composta por 21 municípios entre eles Capão da Canoa e Xangri-lá
(FEPAM, 2014).
A ocupação dessa região é datada de 1732, destacando-se a colonização dos Açores,
de Portugal e de Laguna, através da concessão de sesmarias e datas de terras, sendo que a
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característica da economia se dava pela agricultura, pecuária e pesca. Conforme Strohaecker e


Toldo Jr., citados por Souza (2013), a falta de investimento em estradas dificultava o acesso ao
litoral, e a ocupação e a urbanização do litoral foram mais intensas a partir de 1930, com investi-
mentos do governo do estado em rede de água e de energia elétrica.
A atividade turística e o processo de urbanização dos municípios costeiros do litoral Norte
do Rio Grande do Sul, somados às emancipações políticas, os investimentos de empresas no lito-
ral Norte, associados aos investimentos do Poder Público, através de obras como a duplicação da
rodovia BR 101 e a construção da Rota do Sol RS 486 contribuíram fortemente para o processo de
urbanização da região. Assim, os veranistas de Porto Alegre e Caxias do Sul na Serra Gaúcha come-
çaram suas construções residenciais no litoral norte a partir do ano de 1982 (SHEFFER, 2010).
Outro investimento importante para o processo de urbanização do litoral foi a construção
da Estrada do Mar RS -389 em 1980 fazendo a ligação dos municípios de Osório e Torres, facilitan-
do o acesso às praias. É importante lembrar que o município e a praia de Capão da Canoa, naquele
tempo, pertenciam à cidade de Osório, emancipando-se em 1982. Já Xangri-lá, emancipou-se em
1992 de seu município de origem, Capão da Canoa (FAMURS apud SOUZA, 2013).
A paisagem dessa região é composta pelo espaço natural e as construções efetuadas pela
ação humana em um cenário único e em processo de constante transformação. Isso é resultado
das dinâmicas naturais com as sociais, originando ambientes diferenciados que podem ser obser-
vados em diferentes escalas de abordagem e ao longo do tempo (BONAMENTE; SOUZA, 2012).
A formação da paisagem sofre transformações conforme o modelo de ocupação do terri-
tório provocando alterações no ambiente natural (BONAMENTE; SOUZA, 2012). A paisagem das
cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá sofreu muitas modificações ao longo do tempo desde a
230 emancipação dessas localidades, principalmente no setor imobiliário, formando um padrão de
urbanização diferenciado. A cidade de Capão da Canoa possui uma legislação municipal sobre
a construção de edifícios limitados a 13 (treze) andares, já em Xangri-lá é de sete andares para
residenciais verticais.
Capão da Canoa é constituído de um patrimônio natural muito agradável, principalmen-
te no verão, pois é nessa estação que o município recebe muitos visitantes. Segundo o Censo
Demográfico do IBGE (2010), a população de Capão da Canoa, nos últimos trinta anos, apresentou
um crescimento expressivo, registrando, em 1991, uma população de 25 mil habitantes seguido
de 32 mil no ano de 2000. Atualmente, compõe-se de 42.040. No entanto, estima-se que a popu-
lação do município esteja por volta dos 45 mil habitantes. Sabe-se que esse número aumenta
consideravelmente em períodos de veraneio, compreendidos de dezembro a março, quando a
marca chega a 600 mil habitantes, entre visitantes e moradores fixos. Xangri-lá, segundo o censo
de 2010 do IBGE, possui 12.434 habitantes, e a população flutuante na alta temporada, segundo
informações da Associação dos Municípios do Litoral Norte (AMLINORTE, 2014), pode chegar a
300 mil.
O crescimento do mercado imobiliário desde 1995 chamou a atenção do poder públi-
co devido ao desenvolvimento da construção civil, registrado entre os anos de 1999 e 2002. O
aumento populacional e a ocupação desordenada em áreas sem finalidade urbana e o modelo
de ocupação implantado apresentam aspectos indesejáveis de insustentabilidade, degradação
ambiental e informalidade, não isentando o serviço público do atendimento de suas necessidades
básicas, o que levou os municípios a acumularem problemas no serviço básico. O surgimento
desse modelo de urbanização, tanto em Capão da Canoa quanto em Xangri-lá, permite uma visível
separação entre quem tem alto poder aquisitivo para adquirir uma residência dentro do condomí-
nio, com todo o seu conforto, podendo distanciar-se dos grandes centros urbanos, daqueles que
não possuem as mesmas condições (SOUZA, 2013).
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Sobre o crescimento da cidade, é preciso que o poder municipal estabeleça políticas de


ocupação e uso do solo neste território, na tentativa de garantir o crescimento sustentável do
município. É preciso atuar de forma a prevenir um problema que a sociedade começou a perceber
na medida em que esses fatores passam a evoluir, em alguns casos de maneira desordenada.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DE CAPÃO DA CANOA E XANGRI-LÁ

“O litoral norte é uma região riquíssima sob o ponto de vista ambiental” (FEPAM apud
SOUZA, 2013). As características peculiares da região e a questão ambiental devem ser analisadas
no momento da ocupação e urbanização dessa região. Para isso, tem-se a Constituição do Rio
Grande do Sul de 1989 e a Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998, que estipulam penas e
sanções ao crime ambiental. Com a devida importância, tem-se ainda o Estatuto das Cidades que
estabelece diretrizes da política urbana.
O litoral norte tem como principal atividade econômica o turismo. Scheffer (2010) desta-
ca que o turismo, por sua vez, acabou por desenvolver diversos produtos como, por exemplo, os
diversos empreendimentos imobiliários a fim de atender os veranistas que buscam a qualidade
de vida nas praias gaúchas. Porém, esse desenvolvimento acabou por prejudicar a fauna e a flora
da região.
No desenvolvimento das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, destacam-se os princi-
pais responsáveis pela transformação do espaço urbano, sendo eles os investidores, construtores
e os corretores de imóveis. O produto mais divulgado e comercializado no litoral são os condo-
mínios fechados, dado pelo custo benefício caracterizado, principalmente, pela segurança e pela
231 infraestrutura oferecidas nesses empreendimentos (SOUZA, 2013).
Porém, a ocupação do espaço urbano no litoral se deu de forma não planejada. Percebe-
se uma deficiência na infraestrutura dessas cidades, pela formação de aglomerados de residên-
cias e ocupações irregulares de áreas privadas tanto no município de Capão da Canoa no bairro
Novo Horizonte e Capão Novo quanto em Xangri-lá, no bairro Figueirinha (SOUZA, 2013).
O processo de urbanização de Capão da Canoa, segundo Souza (2013), está relacionado
ao desenvolvimento econômico da construção civil, sendo que a dinâmica da urbanização seguiu
uma direção para atender à demanda por residências para uma classe social de maior poder
aquisitivo. Cabe, porém, destacar que o setor demandou também de mão de obra para trabalhar
na construção civil. Assim, atraiu muitas pessoas para a cidade, contribuindo para a formação
do perfil de urbanização da cidade, deixando uma parte da cidade com alta valorização imobiliá-
ria, muitas vezes por especulação, com maiores investimentos em infraestrutura pública, e outra
parte sem muito interesse comercial. Nesses locais de baixo valor agregado, concentra-se a popu-
lação de renda inferior, principalmente os trabalhadores da construção civil.
Ainda sobre o processo de urbanização de Capão da Canoa e Xangri-lá, Souza (2013)
destaca que até certo ponto essas duas cidades apresentam características comuns ao país, devi-
do à forte influência do setor imobiliário na supervalorização de espaços urbanos, marcando a
segregação socioeconômica e espacial. Essa segregação, diante do crescimento populacional da
cidade, culminou em uma ocupação desordenada e, muitas vezes, irregular por pessoas de baixo
poder aquisitivo, sendo esse um problema a ser tratado pelo Poder Público.
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OS CONDOMÍNIOS FECHADOS EM CAPÃO DA CANOA E XANGRI-LÁ

O cenário do mercado da construção civil no litoral teve uma grande evolução. Nestes
últimos dez anos, grandes empreendimentos e, consequentemente, grandes empreendedores,
juntamente com outros profissionais do ramo da construção civil, se instalaram nas cidades lito-
râneas (SESSEGOLO, 2014).
No litoral norte do Rio Grande do Sul, principalmente nas cidades de Xangri-lá e Capão
da Canoa, os condomínios horizontais residenciais surgiram inicialmente a partir de 1990, em
Xangri-lá, e no ano de 2012 registrava-se o número de nove condomínios em Capão da Canoa e
18 em Xangri-lá. Os empreendimentos não estão limitados a uma localização pré-determinada.
Em toda extensão territorial dos municípios, encontram-se tais modelos de ocupação à beira-mar
bem como à beira da lagoa (SOUZA, 2013).
Em Xangri-lá, os condomínios fechados surgiram da iniciativa do empresário Elmar
Ricardo Wagner, que visualizou, na região, a oportunidade de investimentos na construção civil,
seguindo nesse ramo até os dias atuais. Esse tipo de empreendimento, tornou-se um produto
bastante procurado, principalmente por pessoas de alto poder aquisitivo, por conta do valor de
aquisição. Seu primeiro empreendimento foi o Villas Resort, em 1995, no município de Xangri-lá,
e seu último lançamento foi o Costa Serena, no ano de 2010, em Capão da Canoa (ELY, 2013). Em
2013, o município de Xangri-lá já contava com 23 empreendimentos desse tipo. Estima-se que,
em breve, esse número será maior do que 30, pois alguns estão em fase final de liberações pelos
órgãos ambientas e da prefeitura (SOUZA, 2013).
Citam-se, como componentes do desenvolvimento da região do litoral norte, o forte ato
232 de empreendedorismo de algumas pessoas que acreditaram no mercado da construção civil e
investiram na criação de novas empresas e, consequentemente, de novos postos de trabalho.
Deu-se, assim, uma identidade muito evidente do setor que está à frente da economia da cidade e
da região. O presidente do Sinducon-RS, Sessegolo (2014, p.49), afirma que “Hoje o maior empre-
gador aqui no litoral é a construção civil”.
O surgimento desse modelo de urbanização, tanto em Capão da Canoa quanto em
Xangri-lá, permite uma visível separação entre quem tem alto poder aquisitivo para adquirir uma
residência dentro do condomínio, com todo o seu conforto, distanciando-se dos grandes centros
urbanos, daqueles que não possuem as mesmas condições (SOUZA, 2013).
No Estatuto das Cidades, conforme cita Souza (2013), no artigo quarto, destaca-se o
papel do Estado, que deve ser a instituição reguladora e deve, também, proteger a cidade como
um todo, na buscar de evitar a segregação espacial e social no desenvolvimento urbano da cida-
de. A prefeitura municipal pode desenvolver um conjunto de ações para resolver os problemas
ocasionados pela segregação contando com profissionais nas áreas de urbanização e engenharia
e demais órgãos do Poder Público, para tratar também da (i)legalidade dos condomínios nestas
cidades.

A GESTÃO DO ESPAÇO URBANO E A LEGISLAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO


DOS CONDOMÍNIOS FECHADOS EM CAPÃO DA CANOA E XANGRI-LÁ

A gestão pública municipal deve atuar de forma a combater a segregação urbana. De


acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (2004):
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Devem ser garantidas a redução e a eliminação das desigualdades sócio-espaciaisinter e


intra-urbanas e regionais. [...] combatendo todas as formas de espoliação e segregação
urbana. Garantir a acessibilidade de todos os cidadãos aos espaços públicos, aos trans-
portes, aos bens e serviços públicos, à comunicação e ao patrimônio cultural e natural,
para a sua utilização com segurança e autonomia, independente das diferenças. (PNDU,
2004, p.78).

Sobre a gestão ambiental nas esferas Federal, Estadual e Municipal, devem ser utiliza-
das, de forma articulada, as ferramentas de gestão, o zoneamento, o sistema de unidades de
conservação e o licenciamento, seja na esfera pública ou privada. Isso tudo deve visar não somen-
te às questões econômicas, mas também às socioambientais, possibilitando o desenvolvimento
sustentável da região (BONAMENTE; SOUZA, 2012).
Segundo Bonamente; Souza, (2012), as diretrizes de uso e ocupação do solo determi-
nado pela FEPAM devem seguir as seguintes etapas: caracterização dos principais elementos
da paisagem natural; caracterização dos aspectos atuais relevantes; definição dos objetivos de
conservação; e definição de regras de uso para uma ou mais atividade. As diretrizes possibilitam
a qualificação do processo de zoneamento ambiental e correta ocupação dos espaços urbanos
e rurais, considerando a vulnerabilidade e o potencial ambiental de cada região (BONAMENTE;
SOUZA, 2012).
A legislação para a ocupação do solo na construção de condomínios pode ser entendida
233 pela sua denominação e com base na legislação. Conforme destaca Souza (2013), no litoral norte
é possível encontrar basicamente o modelo de loteamento fechado ou condomínios fechados.
Seguem a denominação e as formas existentes para ocupação do solo no município de
Xangri-lá, conforme explica Souza (2013, p. 78):

O loteamento e o condomínio horizontal. O loteamento é regulado pela Lei n.º 6.766/79,


§ 1.º do artigo 2.º: Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados à
edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolon-
gamento, modificação ou ampliação das vias existentes [...].
Já o condomínio horizontal é instituído pela Lei n.º 4.591/64 e ocorre quando as unidades,
de fins residenciais ou não, isoladas entre si, possuem todos os equipamentos, serviços,
vias de circulação, praça, etc. como propriedade privada dos próprios condôminos.[...].
O condomínio horizontal de lotes, neste caso, há a prévia construção de casas. O próprio
lote é uma unidade autônoma, sendo que neste o proprietário poderia erigir uma casa
de acordo com suas vontades e interesses [...].

A legislação urbanística de Xangri-lá apresenta em seu Plano Diretor municipal o


Zoneamento Ambiental identificado como Z1 e Z2. De acordo com Souza (2013, p.76):

ZONA 1 (Z1) – Faixa de praia - Corresponde a uma faixa de dinâmica ambiental muito
intensa, que consiste na interface entre o oceano e o continente, limitada por dunas
frontais. a) Metas - Compatibilizar os usos de lazer, recreação, turismo e esportes com
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preservação da paisagem e das características da (Z1). b) Restrições - Preservar ou recu-


perar as dunas frontais através de um plano de manejo; Manter as drenagens naturais
principais; Proibir o tráfego de caminhões e veículos pesados na faixa de praia; Permitir
a implantação de estabelecimentos comerciais do tipo quiosque, somente com base em
um plano municipal, de acordo com os critérios técnicos da FEPAM; Não permitir edifica-
ções na faixa de 60 m contados da praia para o interior a partir da base da primeira duna
frontal junto à praia.
ZONA 2 (Z2) – Zona Urbanização intensiva - Área formada pela erosão e deposição eólica
de sedimentos, composta por dunas vegetadas monticulares, corredores de alimenta-
ção eólica, dunas livres, lençóis eólicos e planícies interdunas. Apresenta-se atualmente
com ocupação urbana praticamente contínua em faixa longitudinal ao oceano. a) Metas
- Ordenamento da ocupação urbana, adequando-se às condições de suporte do ambien-
te natural; Incentivar as atividades de veranismo, turismo, lazer e recreação; Manter
os ecossistemas remanescentes representativos das condições ambientais originais;
Incentivar o plantio de espécies nativas e exóticas adequadas ao clima. b) Restrições
ambientais - Manter as drenagens naturais principais; Preservar as dunas de importância
paisagística; Manter a mata nativa, especialmente de restinga; Preservar os sambaquis
inseridos na área urbana; Não permitir aterro sanitário; Garantir a infiltração das águas
pluviais vinculadas aos índices de ocupação do solo urbano.

A quantidade de empreendimentos com suas características como, por exemplo, os


muros usados como fronteira, acabam por modificar a paisagem da cidade e revelam uma descon-
tinuidade na malha urbana. Diante desse cenário, cabe aos municípios legislarem sobre os condo-
234 mínios horizontais (SOUZA, 2013).
Imagem 1 – Área de Zoneamento por Município
Imagem 1 – Área de Zoneamento por Município

Fonte: FEPAM (2014).


Fonte: FEPAM (2014).

As políticas públicas de ocupação do espaço de acordo com as características de cada


região são importantes para a inserção de empreendimentos de forma adequada. Ao mesmo
tempo, asseguram o desenvolvimento regional em consonância com a conservação ambiental do
litoral, visto que a dinâmica da expansão imobiliária com a construção de condomínios horizontais
vem se ampliando cada vez mais no litoral norte e acaba por transformar a paisagem natural e
a identidade dessas duas cidades, principalmente pelo modelo de ocupação e uso do território
urbano.
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OS IMPACTOS CAUSADOS PELOS CONDOMÍNIOS FECHADOS

Como o principal objetivo desse trabalho foi o de é identificar os principais impactos


provocados com o surgimento de novos produtos imobiliários, o estudo mostra que na sociedade
podem ser percebidos na esfera econômica, ambiental e social. Sobre este último, é percebido
pela segregação urbana que provoca nas cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, pois a limitação
do espaço com a construção dos muros deixa evidente a divisão entre aqueles que residem no
condomínio e os demais moradores da cidade.
No aspecto econômico, o processo de urbanização nessas cidades alavancou as oportuni-
dades de serviços como os de engenharia e arquitetura, além da expressiva geração de empregos
na construção civil e demais serviços ligados ao setor. Ao mesmo tempo, fomentou o comércio
local, principalmente de materiais de construção, através do fornecimento de materiais para gran-
des construções desde a fundação até o acabamento e decoração.
Especificamente sobre a geração de emprego, tem-se o exemplo do Condomínio Xangri-
lá Villas Resort que, atualmente, para seu funcionamento diário, emprega em torno de 150 funcio-
nários, a citar os empregos diretos: 12 zeladores; seis jardineiros para manutenção das áreas
de uso comum; e quatro encarregados de serviços gerais. Com relação aos empregos indiretos,
o condomínio conta com mais de 130 pessoas que prestam serviços terceirizados de limpeza e
segurança privada ao condomínio durante todo o ano. Outro exemplo, é o Condomínio Condado
de Capão, que gera 17 empregos diretos e conta com mais de 30 pessoas envolvidas com serviços
terceirizados para a segurança e a jardinagem do condomínio durante o ano todo.
Com o mesmo grau de importância, destacam-se os impactos ambientais inerentes à
235 construção e urbanização de áreas com características naturais do litoral. O que se percebe é uma
grande modificação da paisagem natural, da fauna e da flora, pois os campos e os animais nativos
perderam espaço para grandes e luxuosas construções.
Diante dos impactos abordados aqui, vale ressaltar que os empreendimentos foram
importantes para o desenvolvimento regional em aspectos econômicos e sociais, porém com
uma série de provocações às questões ambientais. Dessa forma, cabe incentivar um estudo sobre
o impacto que esses empreendimentos provocam na cidade em relação ao meio ambiente, na
cultura da cidade e na vida das pessoas (SOUZA, 2013).
Diante da vulnerabilidade ambiental dos municípios no recorte territorial deste estudo,
principalmente em Capão da Canoa e Xangri-lá, é importante mencionar que o Poder Público
deve pensar que, futuramente, a cidade vai demandar de mais escolas e postos de saúde maiores.
Além disso, o município pode não dispor de terrenos para atender a toda essa demanda. Também,
o fornecimento de água e o tratamento de esgoto é uma questão importante a ser considerada,
porque a Lagoa dos Quadros não suportará o recebimento de todos os rejeitos (SOUZA, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do mercado imobiliário nas cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá é


caracterizado como um dos motivos da intensa urbanização das cidades e pela visível modificação
da paisagem natural de balneário. Isso tudo, em uma paisagem totalmente urbanizada entre o
mar e a lagoa, principalmente nos últimos 20 anos.
As políticas de desenvolvimento sustentável dependem de mudanças culturais para
adequação da urbanização das cidades. Pode-se dizer que Capão da Canoa e Xangri-lá buscam
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o desenvolvimento e a manutenção dos recursos naturais na aplicação de suas regulamentações


internas, “Lei Complementar” e “Plano Diretor”, para a construção de condomínios horizontais e
edifícios residenciais.
Dessa forma, o principal objetivo desse estudo foi abordar alguns aspectos do processo
recente de urbanização das cidades de Capão da Canoa e Xangri-lá, no RS. Cabe destacar, portan-
to, que esse processo de urbanização das cidades ocorre por meio da construção civil e desse
novo produto imobiliário que são os condomínios horizontais. Além desses, também os edifícios
residenciais refletiram em uma nova imagem do litoral gaúcho, principalmente das cidades de
Capão da Canoa e Xangri-lá, mudando a paisagem natural pela dinâmica da urbanização. O setor
contribui fortemente para o crescimento da economia da região e com a geração de emprego nas
cidades, pois é a atividade que mais emprega mão de obra na região.
Por outro lado, a evolução do processo de urbanização das cidades impacta também na
demanda de serviços públicos como educação, saúde, tratamento de água e esgoto, mobilida-
de urbana e habitação para a população mais vulnerável, levando os municípios a acumularem
problemas com demandas sociais. Considerando o expressivo crescimento da cidade, o plane-
jamento urbano deve desenvolver políticas de ocupação do solo respeitando o meio ambien-
te natural, principalmente em questões que envolvam habitação, demandas de saneamento e
melhorias da mobilidade urbana no centro e nos bairros.
Por fim, é importante destacar que o desenvolvimento econômico do litoral está direta-
mente ligado ao turismo e à construção civil, mas se deve respeitar a legislação local em relação
à ocupação do solo, ao zoneamento ambiental e às demais legislações ambientais, valorizando as
belezas naturais. Para tanto, o Poder Público deve suportar a pressão vinda do setor imobiliário,
por meio de empresas privadas. O município precisa pensar de maneira estratégica suas ações,
236 no intuito de encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação dos
recursos naturais. Assim, garantir não só a qualidade de vida, que tanto atrai os investimentos na
região, mas também o desenvolvimento regional de maneira sustentável e em longo prazo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Residenciais. 2013. Disponível em: <http://btd.unisc.br/Dissertacoes/MarianaSouza.pdf>. Acesso
em: 10 out. 2014.

237
CAPÍTULO XVII

ESPACIALIZAÇÃO DE DADOS SOCIOECONÔMICOS COMO


BASE PARA A GESTÃO TERRITORIAL

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan17

Roberta Plangg Riegel - FEEVALE


Douglas Cristian Roque - FEEVALE
Marco Antônio Siqueira Rodrigues - FEEVALE
Daniela Muller de Quevedo - FEEVALE

238

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O crescimento demográfico nos centros urbanos, assim como a falta de infraestrutu-


ra vêm acarretando em consequências para o meio ambiente, logo a necessidade de ordenar
e planejar o espaço de maneira sustentável. Nesse contexto, em que a expansão urbana tem
se processado na maior parte das cidades brasileiras, observa-se a importância das informações
geoambientais para a realização do planejamento urbano. Assim, as geotecnologias estão presen-
tes em todo território e ganham força a medida que os sistemas tecnológicos expandem-se, bem
como tornam-se mais acessíveis para a população. Sua utilização em zoneamentos geoambien-
tais permite diagnosticar o espaço e definir as potencialidades e restrições de uso (BUENO, 2003).
O Censo Demográfico institui-se em um dos principais mecanismos de banco de infor-
mações, visando parâmetros de planejamento e gestão. A quantidade de dados revela uma série
de aspectos socioeconômicos da população, assim como das condições de moradia no território
Nacional (SOUZA, 2012). A integração dos mesmos, no âmbito dos aspectos físicos ambientais
e socioeconômicos, admite desenvolver uma gestão e planejamento sustentável, que se preo-
cupa com a manutenção da biodiversidade e os problemas do cotidiano, buscando a criação de
instrumentos, capazes de minimizar os efeitos negativos causados pelos processos de urbanização
(BUENO, 2003).
Com o avanço das tecnologias, os censos demográficos se transformaram em banco de
informações georreferrenciados. Um dos aspectos que o mesmo proporciona, é a caracterização
socioeconômica de uma determinada região, tornando possível conhecer e entender a sociedade,
visando estabelecer os problemas e a localização dos mesmos. Dessa forma, o objetivo do traba-
239 lho é espacializar os dados demográficos, econômicos e de saneamento ambiental, empregando
técnicas de geoprocessamento, a fim de estabelecer uma base de dados para a construção de um
modelo de zoneamento Urbano e Ambiental, tendo como estudo de caso o Município de Novo
Hamburgo.

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO
O município de Novo Hamburgo localiza-se na porção metropolitana do estado do Rio
Grande do sul nas coordenadas 29°67’ Latitude Sul e 51°13’ Longitude Oeste, integrando a Região
do Vale dos Sinos, um importante polo econômico e industrial do estado. Distante 40 km da capi-
tal Porto Alegre possui aproximadamente 238.940 habitantes distribuídos em uma área territorial
de 224 km² (IBGE, 2010b). Seu perímetro urbano, atualmente, ocupa aproximadamente 21,8%
da área total do município, e está estabelecido entre a RS 239 e a BR 116, o restante da cidade é
considerado área rural e área de preservação permanente, composta por banhados, mata nativa
e topos de morro (RIEGEL, 2014) (Imagem 1).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Imagem
Imagem 1 - Localização
1 - Localização da Áreada
de Área
Estudode Estudo

Fonte:Fonte: Adaptado pelos Autores Riegel e Quevedo, (2015).


Adaptado pelos Autores Riegel e Quevedo, (2015).

MATERIAIS
Dados Vetorizados – Limite do município de Novo Hamburgo em projeção UTM, Datum
SAD 69 e escala 1:250.000 (IBGE, 2001); Setores censitários referente aos anos de 2000 e 2010
também em projeção UTM, Datum SIRGAS 2000, e escala 1:250.000 (IBGE, 2000b; IBGE, 2010d);
Recursos hídricos e Sistema Viário em projeção UTM, Datum SAD 69 e escala 1:50.000 (PROJETO
MONALISA, 2005)
Dados estatísticos – Foram utilizados os dados das planilhas Básico e Domicílio01, refe-
rente aos Censos de 2000 e 2010 (IBGE, 2000a; IBGE 2010a).
240
MÉTODOS
O Censo Demográfico é um banco de dados que tem a finalidade exatamente de inves-
tigar a população e os domicílios do Território Nacional (IBGE, 2011). Para tanto, utilizou-se o
arquivo vetorizado, com os setores censitários do município de Novo Hamburgo 2000 e 2010, e
a planilha dos resultados dos censos referentes aos mesmos anos. Conforme IBGE (2011, p.1), “o
setor censitário é a menor unidade territorial, formada por área contínua, integralmente conti-
da em área urbana ou rural, com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto
esgota a totalidade do Território Nacional”. Dessa forma, o setor censitário foi objeto de estudo
dessa análise a fim de criar respostas mais imediatas e realistas para cada localidade do município.
Contudo, a delimitação dos setores censitários não é compatível, conforme mostra a imagem 2.
Imagem 2 - Delimitações dos Setores Censitários
Imagem 2 - Delimitações dos Setores Censitários

Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000b; IBGE, 2001; IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000b; IBGE, 2001; IBGE, 2010d).

No sentido de compatibilizar os arquivos, optou-se por utilizar o limite do município de


Novo Hamburgo referente a malha de 2001, também disponibilizada pelo IBGE e utilizada por
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Gestão Integrada do Território

Riegel (2014) nos demais mapas que serão utilizados em trabalhos futuros. Para tanto, se utilizou
a ferramenta de recorte para as áreas sobressalentes, ou seja aquelas que ultrapassam o limite
do município. Já nas áreas internas sem informação buscou-se o banco de dados dos municí-
pios vizinhos: Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Gravataí, Ivoti, São Leopoldo, Sapiranga e
Taquara. Contudo, é importante ressaltar que essas variações não resultam em impactos para as
análises, visto que correspondem a 0,7% e 1% do território respectivamente para os anos de 2000
e 2010, e foram realizadas com o intuito de permitir o cruzamento dos mapas nas próximas etapas
(imagem 3).

Imagem
Imagem 3 - Delimitações
3 - Delimitações Após
Após Alterações
Alterações

Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptadopelos
pelosautores
autores(IBGE,
(IBGE, 2000b;
2000b;IBGE,
IBGE, 2001;
2001; IBGE, 2010d)
IBGE, 2010d)

Os dados alfanuméricos, foram retirados das planilhas Básico e Domicílio do IBGE refe-
241 rente aos respectivos anos, conforme a Tabela 1. Logo, se montou uma planilha única que foi asso-
ciada aos setores censitários, permitindo a reclassificação dos mapas, conforme cada variável.

Tabela 1 - Variáveis Utilizadas na Composição dos Mapas


Tabela 1 - Variáveis Utilizadas na Composição dos Mapas
Nome da Nome da
Censo 2000 Censo 2010
Variável Variável
Domicílios particulares Domicílios particulares
V001 V001
permanentes ou pessoas permanentes ou pessoas
(Planilha (Planilha
responsáveis por domicílios responsáveis por domicílios
Básico) Básico)
particulares permanentes particulares permanentes
Moradores em domicílios Moradores em domicílios
V012 V002
particulares permanentes ou particulares permanentes ou
(Planilha (Planilha
população residente em domicílios população residente em domicílios
Básico) Básico)
particulares permanentes particulares permanentes
Domicílios particulares V018 Domicílios particulares V012
permanentes com abastecimento (Planilha permanentes com abastecimento (Planilha
de água da rede geral Domicilio) de água da rede geral Domicilio)
Domicílios particulares
permanentes com banheiro de uso
Domicílios particulares
V030 exclusivo dos V017
permanentes com banheiro ou
(Planilha moradores ou sanitário e (Planilha
sanitário e esgotamento sanitário
Domicilio) esgotamento sanitário via rede Domicilio)
via rede geral de esgoto ou pluvial
geral de esgoto ou
pluvial
V048 V035
Domicílios particulares Domicílios particulares
(Planilha (Planilha
permanentes com lixo coletado permanentes com lixo coletado
Domicilio) Domicilio)
Média do rendimento nominal Valor do rendimento nominal médio
V006 V007
mensal das pessoas responsáveis mensal das pessoas
(Planilha (Planilha
por domicílios particulares responsáveis por domicílios
Básico) Básico)
permanentes particulares permanentes
Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2010a).
Fonte: Adaptado pelos autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2010a).
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Gestão Integrada do Território

A construção dos mapas foi divida em três grupos: Análise Demográfica (Densidade
Média, Densidade Populacional e Densidade Habitacional); Análise do Saneamento Ambiental
(Rede de Água, Rede de Esgoto e Coleta de Resíduos); e Análise Econômica (Renda Média).

• Densidade Média - Corresponde a divisão do número de moradores existente em cada setor


pelo número de domicílios, como intuito de verificar a média de habitantes por habitação. O
resultado foi subdivido em 5 classes: 1hab/dom; 2 hab/dom; 3 hab/dom; 4 hab/dom; 5 hab/
dom.
• Densidade Habitacional - Estabelecida com a divisão do número de domicílios pela metragem
quadrada de cada setor, logo expressa a relação média de domicílios por hectare. Classes: <
5dom/ha; 5 - 10 dom/ha; 10 - 20 dom/ha; 20 - 30 dom/ha; > 30 dom/ha.
• Densidade Populacional - Obtida a partir da divisão do número de habitantes pela metragem
quadrada de cada setor, ou seja a média de habitantes por hectare. As 5 classes propostas: <
25 hab/ha; 25 - 50 hab/ha; 50 - 100 hab/ha; 100 - 200 hab/ha; > 200 hab/ha.
• Rede de água, Rede de Esgoto e Coleta de Resíduos - Nos mapas relacionados com a infraes-
trutura, optou-se por expor os resultados em porcentagem, e assim permitir a comparação
entre os setores. Logo, utilizou-se o número geral de domicílios e o número de domicílios
atendidos por cada infraestrutura, expressando em cinco classes as áreas com maior e menor
grau de atendimento: <20%; 20 - 40%; 40 - 60%; 60 - 80%; 80 - 100%.
• Renda Média - Com o intuito de comparar as informações de 2000 e 2010, se dividiu os valo-
res pelo salário mínimo vigente de cada período, ou seja, R$ 151,00 em 2000 (BRASIL, 2000) e
R$ 510,00 em 2010 (BRASIL, 2010).
242
Na etapa seguinte, realizou-se uma análise comparativa quantitativa das mudanças
socioeconômicas ocorridas entre os anos de 2000 e 2010. Para identificar a relação entre os
aspectos demográficos, de saneamento e econômicos foi utilizado o coeficiente de correlação
de Pearson. A inferência estatística foi aplicada considerando-se um nível de significância de 5%.

RESULTADOS

ANÁLISE DEMOGRÁFICA
O município de Novo Hamburgo, entre 2000 e 2010, teve sua população total aumentada
de 236.193 habitantes para 238.940 habitantes, o que significa um acréscimo de 2.747 habitan-
tes em 10 anos. A porcentagem de crescimento de 1,16% (ou taxa média geométrica de 0,13%
a.a.) nesse período, é relativamente menor que na década anterior (1991-2000) que registrou um
aumento de 14,84% (ou 1,55% a.a). A queda no rítmo de crescimento da população Hamburguense
apresenta resultados relevantes se comparado aos demais anos: 50,68% entre 1990/80; 58,80%
entre 1980/70 e 59,43% entre 1960/70 (RIEGEL, 2014). O processo deve-se aos acontecimentos
históricos do município, como a instalação de indústrias na década 60 e a construção da rodovia
BR 116; o processo migratório nas décadas de 70 e 80 com a industrialização do calçado; a crise
coureiro calçadista na década de 90; e o esgotamento territorial na região urbana do município
(RIEGEL E QUEVEDO, 2015). O contexto da cidade, fica mais evidente, se comparado ao cresci-
mento da população Brasileira para o mesmo período que foi de 12,34% (1,17%a.a.) entre 2000
e 2010 (IBGE 2010c).
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A Imagem 4, apresenta os mapas referentes a densidade média de Novo Hamburgo,


ou seja a média de habitantes por domicilio. O resultado demonstra uma informação bastante
relevante, pois em 2000 apenas a região central apresentava uma média de três moradores por
residência (19% dos domicílios), enquanto que a maior parte da cidade possuía uma média 4 habi-
tantes por domicilio (77% dos domicílios). Em 2010, o número de moradores por habitação caiu
em grande parte da cidade, expandindo essa realidade de famílias menores para a periferia do
município. Atualmente, o número de habitantes por moradia predominante, permanece sendo
4 pessoas (51% dos domicílios), porém a quantidade de habitações com apenas 3 moradores
aumentou significativamente (46% dos domicílios), conforme a Imagem 5.

Imagem 4 - Mapa
Imagem da da
4 - Mapa Densidade Média
Densidade Média

243 Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Imagem 5 - Gráfico da Densidade Média
Imagem 5 - Gráfico da Densidade Média
90%

80% 77,23%

70%

60% 1 hab/dom
51,16% 2 hab/dom
50% 46,22%
3 hab/dom
40%
4 hab/dom
30% 5 hab/dom
19,04%
20%

10%
0% 0,59% 3,14% 2,35% 0,27%
0%
0%
2000 2010
Fonte: Fonte: Adaptado
Adaptado pelos pelos Autores
Autores (IBGE,
(IBGE, 2000a;
2000a; IBGE2010a).
IBGE 2010a).

O número de domicílios que em 2000 era 71.085, e em 2010 passou para 80.409, o que
representa um aumento de 13,11%. Aumento superior ao crescimento populacional de 1,16%, ou
seja, enquanto foram construídos 9.324 novas moradias num período de 10 anos, apenas 2.747
pessoas foram acrescidas na população total. Logo, a média geral de pessoas por moradia caiu de
3,32 hab/dom para 2,97 hab/dom. Alguns fatos que justificam essas constatações são: os novos
projetos de financiamento da casa própria ofertados pelo governo que possibilitaram que muitos
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jovens saíssem de casa e a redução das taxas de fecundidade, que segundo os dados do IBGE
(2015), reduziram de 2,38 para 1,90 a nível nacional.
Em relação ao número de domicílios por hectare (Imagem 6), houve poucas alterações de
2000 para 2010, dessa forma destaca-se: a ampla distribuição das novas construções pelo terri-
tório, principalmente na zona rural; e as 5 classes propostas que estabelecem categorias amplas
que acabam absorvendo essas pequenas mudanças. A Imagem 7, apresenta a área composta
por cada classe, onde é visível que a maior parte do território possui menos de 5 domicílios por
hectare (83% em 2000 e 81% em 2010). Esse resultado, deve-se a enorme área rural do município,
conhecida como Lomba Grande, além das áreas de preservação ambiental que somadas totali-
zam 78,2% da cidade (RIEGEL E QUEVEDO, 2015). Analisando as demais classes, que traduzem de
forma mais fiel a região urbana do município, observa-se uma disposição maior de regiões com
10 a 20 dom/ha (7,30% em 2000 e 9,24% em 2010), o que corresponde em média a um domicílio
a cada 500 a 1000 metros quadrados.

Imagem 6 -6Mapa
Imagem - Mapa da Densidade
da Densidade Habitacional
Habitacional

244

Fonte: Adaptado
Fonte: Adaptado pelos pelos Autores
Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b;IBGE,
IBGE, 2010a,
2010a,IBGE, 2010d).
Imagem 7 –(IBGE, 2000a;
Gráfico de IBGE, 2000b;
Densidade Habitacional IBGE, 2010d).

Imagem 7 – Gráfico de Densidade Habitacional


90,00%
83,24% 81,34%
80,00%

70,00%

60,00% < 5 dom/ha


50,00% 5 - 10 dom/ha

40,00% 10 - 20 dom/ha
20 - 30 dom/ha
30,00%
> 30 dom/ha
20,00%

10,00% 5,07% 7,30% 4,52% 9,24%


2,91% 1,48% 3,00% 1,90%
0,00%
2000 2010
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2010a).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2010a).

Riegel e Quevedo (2015), também destacam que a expansão urbana no período entre
1997 e 2009 ocorreu, principalmente, na zona rural do município, visto o esgotamento territorial
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da região urbana. Logo, grande parte dos 9.324 domicílios novos, se estabeleceram, sobretudo,
em regiões com baixa densidade.
No mesmo mapa (imagem 6) observa-se alguns pontos com alto grau de densidade (> 30
dom/ha): 1 - região localizada acima da RS 239, onde está inserida o Loteamento Kephas região
com risco de deslizamentos; 2 - região limítrofe do arroio Pampa, próxima ao Rio do Sinos, ocupa-
da pelas Vilas Getúlio Vargas e Kipling, locais com alto índice de alagamentos nos últimos anos;
3 - Área localizada no Bairro Santo Afonso, as margens do Rio dos Sinos, onde também habita uma
comunidade chamada de Vila Palmeira, a qual possui um histórico de inundações na década de
80 (RIEGEL E QUEVEDO, 2015); e 4 - pontos centrais isolados, áreas compostas por construções
verticais que acabam aumentando a densidade habitacional.
No mapa de Densidade Populacional de 2000 e 2010 (Imagem 8), percebe-se que
houve poucas variações, principalmente em virtude do baixo aumento populacional na cidade. A
Imagem 9, apresenta alguns pontos relevantes: a redução de pessoas que vivem em áreas com
mais de 200 habitantes por hectare que caiu de 7,34 para 5,24%; e a concentração da popula-
ção na classe entre 50 a 100 habitantes por hectare (31,61%), o equivalente a 100 e 200 metros
quadrados por pessoa.

ImagemImagem
8 - Mapa da Densidade
8 - Mapa da Densidade Populacional
Populacional

245

Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Imagem 9 – Gráfico
Imagem 9 – Gráficode
deDensidade Populacional
Densidade Populacional
40,00%
35,85%
35,00%
31,61%
29,56%
30,00%
23,75% < 25 hab/ha
25,00%
25 - 50 hab/ha
20,00%
17,64% 16,82% 16,77% 50 - 100 hab/ha
15,42%
15,00% 100 - 200 hab/ha
> 200 hab/ha
10,00%
7,34%
5,24%
5,00%

0,00%
2000 2010
Fonte:
Fonte: Adaptado
Adaptado pelos
pelos Autores(IBGE,
Autores (IBGE, 2000a;
2000a; IBGE,
IBGE,2010a).
2010a).
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Os pontos mais críticos são os mesmos apontados nos mapas de densidade habitacional,
com algumas mudanças na região central da cidade, que no caso possui um número grande de
domicílios, porém com uma baixa quantidade de habitantes.

ANÁLISE DO SANEAMENTO AMBIENTAL


Os aspectos referentes a infraestrutura estão associados a existência de água canali-
zada, esgoto canalizado e coleta de resíduos, visto a disponibilidade de dados georreferencia-
dos. Destaca-se que esses dados não garantem necessariamente uma qualidade nos serviços de
infraestrutura, dadas algumas características: domicílios sem abastecimento de água via rede
geral, muitas vezes possuem poços artesianos, logo também possuem abastecimento de água
(IBGE, 2010a); o esgoto e os resíduos coletados, nem sempre possuem uma destinação apropria-
da, o que significa a locomoção do problema para outra região. Contudo, eles representam um
diagnóstico geral do município e servem para orientar a situação atual da população em relação
aos aspectos básicos de saneamento.
A Imagem 10, apresenta os mapas referentes a porcentagem de domicílios abasteci-
dos com água via rede geral, ou seja, que são atendidos pela Comusa (Companhia Municipal de
Saneamento de Novo Hamburgo), conforme os dados do IBGE. De uma forma geral cabe ressaltar
que a região urbana do município possui um alto índice de abastecimento, o inverso da região
rural, a qual não recebe água canalizada. Analisando as transformações dos dois mapas, observa-
-se poucas variações, que são mais representativas devido as mudanças nos limites dos setores
censitários, do que realmente um aumento ou redução no número de domicílios com abasteci-
mento de água.
246
Imagem 10 - Mapa
Imagem 10 -do Abastecimento
Mapa do Abastecimentode
deÁgua Via
Água Via Rede
Rede GeralGeral

Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).

Os mapas referentes a rede de esgoto (Imagem 11) demonstram um avanço no sistema


de coleta da cidade. Em 2000, observa-se um território com baixo número de domicílios ligados
a rede, tanto na região rural como na zona urbana do município. Em 2010, o mapa apresenta
alterações no número de domicílios com esgoto coletado, principalmente na área urbana, com
setores que chegam a ter 100% dos domicílios ligados a rede. Contudo, é importante ressaltar
que esses dados são uma compilação de informações populares fornecidas pelos moradores, logo
é passível de erro, devido a falta de compreensão dos questionamentos ou até mesmo a falta de
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conhecimento do assunto. Segundo a COMUSA (2012) - Companhia Municipal de Saneamento -


existem cinco estações de tratamento, as quais tratam 4,5% do esgoto total da cidade.

Imagem 11 - Mapa
Imagem 11 -do Esgotamento
Mapa do EsgotamentoSanitário Via
Sanitário Via Rede
Rede GeralGeral

Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).

Em relação a coleta dos resíduos sólidos, o mapa (Imagem 12) apresenta mudanças na
zona rural: regiões que apresentavam coleta entre 40 e 80% dos domicílios em 2000, alcança-
ram os 100% em 2010. Também cabe destacar a existência de quatro setores identificados na
cor vermelha, ou seja com menos de 20% dos domicílios com os resíduos coletados, localizados
247 próximo ao Rio do Sinos. São áreas de preservação permanente, onde não observa a existência de
moradias, logo não possuem sistemas de infraestrutura.

ImagemImagem 12 - Mapa
12 - Mapa da Coletade
da Coleta de Resíduos
Resíduos

Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).

A Tabela 2, demonstra a quantidade de domicílios, o percentual e as variações entre 2000
e 2010, para todas as infraestruturas citadas anteriormente. Dessa forma, observa-se o déficit na
variação da rede de água, que não apresenta uma redução no número de habitações ligadas a
rede e sim uma diminuição no percentual total de domicílios, considerando o número existente
em cada ano. Também cabe ressaltar, o aumento de 46,3% na rede de esgoto, que alcançou os
55,95% dos domicílios, ou seja, mais da metade das habitações do município estão ligadas a rede
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coletora. Em relação a coleta de resíduos, se percebe um aumento de 9607 domicílios, o qual foi
semelhante ao crescimento total de habitações no território de 9324.

Tabela 2 - 2Tabela
Tabela - Tabelade
deDados
Dados Referentes
Referentes aoaoSaneamento
Saneamento Ambiental
Ambiental
Quantidade Quantidade
Saneamento Porcentagem Porcentagem
Domicílios Domicílios Variações
Básico 2000 2010
2000 2010
Rede de água 56186 79,04% 61386 76,34% -2,7%
Rede de 46,3%
esgoto 6866 9,65% 44993 55,95%
Coleta de 99,52% 0,45%
resíduos 70424 99,07% 80031
Total 71085 100,00% 80409 100,00%
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2010a; IBGE 2010a).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2010a; IBGE 2010a).

A porcentagem de domicílios com infraestrutura em 2010, foi superior aos valores do


Brasil em dois aspectos: rede de esgoto com 55,45%; e coleta de resíduos 87,40%. Em relação a
canalização da água a porcentagem de Novo Hamburgo foi inferior ao valor nacional, que alcan-
çou 82,85% (IBGE, 2010e). De forma geral, a região urbana do município possui um atendimento
regular frente aos índices de abastecimento de água, rede de esgoto e coleta de resíduos, confor-
me os dados do Censo 2010. Já a zona rural, necessita de avanços nos sistemas de água e esgoto,
que atualmente não são ofertados na região. Contudo, cabe destacar que a existência do sistema,
não significa água de qualidade, esgoto tratado e resíduo depositado em aterro sanitário, caben-
do aos órgãos competentes a fiscalização e a execução de serviços de qualidade.

248
ANÁLISE ECONÔMICA
As mudanças relacionadas a renda média dos responsáveis das famílias são visíveis,
porém é importante levar em consideração todo contexto da situação econômica do pais. A
imagem 13 relaciona a população total em 2000 e 2010 com a renda média mensal das pessoas
responsáveis por domicílio respectivamente. Logo, percebe-se a redução da desigualdade entre
a sociedade, pois enquanto no ano de 2000, 67% da população ganhava até 5 Salários Mínimos
(SM). Em 2010, esse percentual passou para 87%. A redução dos chefes de famílias que recebem
mais que >20 SM, também foi relevante, passando para 0,51%.

Imagem 13 - Dados
Imagem Referentes
13 - Dados Referentes à à Situação
Situação Econômica
Econômica
70,00%
65,66%

60,00%

50,00%
43,74% 43,57% < 2 SM
40,00% 2 - 5 SM
5 - 10 SM
30,00%
10 - 20 SM
21,40%
20,00% > 20 SM
10,14% 10,79%
10,00%
1,64% 1,16% 1,39% 0,51%
0,00%
2000 2010
Fonte:
Fonte: Adaptadopelos
Adaptado pelosAutores
Autores (IBGE,
(IBGE, 2010;
2010;IBGE 2010).
IBGE 2010).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Contudo, é importante salientar que em 2000, o SM aplicado era de R$ 151,00 (BRASIL,


2000), e em 2010, com as novas regras de reajuste, o mesmo passou a valer R$ 510,00 (BRASIL,
2010), ou seja 3 vezes mais. Na Imagem 14, também percebe-se características predominantes: a
centralização do poder aquisitivo mais alto, principalmente em 2000; e a redução na renda média,
em relação a quantidade de salários mínimos, com destaque para as regiões da periferia urbana,
que estão classificadas com uma renda inferior a 2SM.

Imagem 14 -Imagem
Mapa da
14 -Renda
Mapa da Média
Renda Média

Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE, 2010d).
Fonte: Adaptado pelos Autores (IBGE, 2000a; IBGE, 2000b; IBGE, 2010a, IBGE,
2010d).
249 RELAÇÕES ENTRE OS DADOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS E DE SANEAMENTO
AMBIENTAL
As informações referentes aos aspectos demográficos, de saneamento e econômicos
foram correlacionadas para identificar as possíveis relações entre habitação, renda e saneamento.
A Densidade populacional (número de habitantes por área) e a Densidade habitacional (número
de domicílios por área), apresentaram alta correlação (R=0,980; p<0,01), identificando que real-
mente setores com alta taxa de domicílios necessariamente apresentam um alto número de habi-
tantes. Contudo, diferentemente do que se imaginava, esses fatores apresentaram correlação
baixa com os dados de Densidade média (R= 0,251; p< 0,01 e R=0,106; p<0,01 respectivamente),
ou seja, setores que apresentam uma média alta de moradores por habitação, necessariamente
não estarão inseridos nos setores com maior densidade habitacional ou populacional. Esses dois
processos, podem ser observados nos mapas demográficos, ou seja, a configuração dos Mapas de
Densidade Habitacional e Densidade Populacional (Imagem 6 e 8) são semelhantes entre si, com
distribuição mais densa em pontos específicos da zona urbana. Diferentemente, da configuração
do Mapa de Densidade Média (Imagem 4), que possui uma conformação radial em 2010.
Por outro lado, o número de salários mínimos teve correlação inversa a Densidade
Média (R= -0,722; p<0,01), ou seja, famílias compostas por mais integrantes possuem um poder
aquisitivo mais baixo associado ao chefe da família. Estabelecendo uma relação com o Mapa de
Densidade Média (imagem 4), observa-se que os domicílios com mais habitantes por moradia
estão localizadas na periferia da zona urbana, normalmente estabelecidas em áreas impróprias a
ocupação, logo se explica essa ocupação irregular devido ao baixo poder aquisitivo dos mesmos.
Em relação aos aspectos de saneamento ambiental, observou-se que o número de domi-
cílios abastecidos com água encanada estão relacionados aos locais com maior quantidade de
domicílios e habitantes (R=0,706; p<0,01 e R=0,665; p<0,01, respectivamente). No entanto, isso
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

não ocorre com os dados de coleta de esgoto, os quais possuem uma relação moderada se rela-
cionado com os mesmos aspectos (R=0,446; p<0,01 e R=0,431; p<0,01).
No entanto, nenhum dos aspectos de saneamento, demonstraram correlação com os
fatores econômicos. Nesse caso, verifica-se que o poder aquisitivo da população não estabelece
nenhuma relação em se ter água encanada, esgoto conectado na rede e ou coleta de resíduos,
ressaltando que a população Hamburguense, assim como a população Brasileira, está longe de ter
resultados ideais frente aos aspectos ambientais, visto que mesmo as áreas mais nobres economi-
camente possuem problemas de saneamento ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os dados e a espacialização dos mesmos sobre o território, foi possível observar
os contrastes da região urbana e rural; as altas densidades de ocupação em alguns pontos espe-
cíficos; os aspectos de saneamento ambiental que não atendem todo o território; e a situação
econômica do município. Além de se analisar e salientar as variações temporais referente a cada
aspecto dentro do período de 10 anos.
Os dados demográficos demonstram que houve uma redução no rítmo do crescimen-
to populacional e, consequentemente, na expansão urbana do município na última década.
Entretanto, o grau de degradação em alguns pontos é observado pelos índices de ocupação, com
destaque para algumas regiões centrais e áreas de risco, sinalizadas com alta densidade. Essa
distribuição irregular da sociedade sobre o território acaba impactando o meio ambiente devido
aos processos de urbanização.
250 Em relação aos aspectos de saneamento ambiental, observa-se um grau satisfatório se
comparado aos dados nacionais, principalmente na região urbana do município. No entanto, a
zona rural necessita de avanços nos sistemas de abastecimento de água e esgoto, que atualmente
não são ofertados na região. Os futuros desdobramentos do trabalho seguem na linha de avalia-
ção dos aspectos físico ambientais, e na criação de pesos que visem estabelecer as regiões com
maior e menor aptidão a ocupação urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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251
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– Retirada e Devolução de Água. 2005.
RIEGEL, R. P. Análise e avaliação da evolução urbana de Novo Hamburgo com ênfase nas áreas de
risco e suas relações com a degradação ambiental. 2014. Dissertação (Mestrado de Pós-Graduação
em Qualidade Ambiental Mestrado em Qualidade Ambiental) - Feevale, Novo Hamburgo - RS,
2014. Disponível em : <http://biblioteca.feevale.br/Dissertacao/DissertacaoRobertaRiegel.pdf>.
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SOUZA, L. G. Preparação da Base Espacial do Censo Demográfico IBGE 2010 para o município do
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Recife, 2012. Disponível em: <https://www.ufpe.br/cgtg/SIMGEOIV/CD/artigos
CAPÍTULO XVIII

ANÁLISE DO ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA (IAC) PARA


O MUNICÍPIO DE PALMITOS, NO EXTREMO OESTE DO
ESTADO DE SANTA CATARINA

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan18

Fabiane Nunes Gonçalves - UNESC


Álvaro José Back - UNESC / EPAGRI

252

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Apesar de ser uma característica normal do clima, a seca é difícil de ser monitorada e
causa diversos impactos sobre o meio ambiente, economia e sociedade. Difere-se de outras ocor-
rências naturais, visto que, ao contrário daquelas, esse fenômeno possui, normalmente, um início
lento, uma longa duração e pode espalhar-se por uma extensa área (FREITAS, 1998).
Para Palmer (1965) é difícil de encontrar uma definição completa da seca. Superficialmente,
pode-se dizer que a seca é a precipitação mensal ou anual em porcentagem menor do que a
normal; ou condição que prevalece sempre que a precipitação é insuficiente para satisfazer as
necessidades de atividades humanas. Segundo o autor, uma das problemáticas é desenvolver um
método para calcular a quantidade de precipitação que deveria ter ocorrido em uma determinada
área durante um certo período de tempo, ou seja, para responder a seguinte questão: que quan-
tidade de precipitação deve ocorrer durante um determinado período para que sejam mantidos
os recursos hídricos mensurados e para que se possa atender a seus usos?
Segundo Heim (2002), a relação entre os diferentes tipos de seca é complexa e se divide
nas seguintes categorias: seca meteorológica, ocorre quando as condições atmosféricas resultam
numa redução ou abstenção da precipitação. Essas podem ser prolongadas ou abruptas; seca
agrícola, tem duração de poucas semanas que ocorre no período crítico durante a estação de
crescimento; seca hidrológica, ocorre, normalmente, no fim de um período muito longo de seca
meteorológica e afeta o abastecimento de água subsuperficial, gerando redução de vazões, de
águas subterrâneas, reservatório, bem como os níveis dos lagos e seca socioeconômica, a qual
associa o fornecimento e a procura de algum bem de valor econômico com elementos da seca
253 meteorológica, agrícola e hidrológica.
A definição das secas acima citadas depende da região de ocorrência, já que as condições
atmosféricas que decorrem de deficiências de precipitação podem diferenciar consideravelmente
de uma região para outra (CUNHA, 2008).
De acordo com Miranda et al. (2002), cenários climáticos projetam o aumento de
situações extremas de seca, portanto é muito importante estudar e caracterizar o fenômeno da
seca e apurar a sua tendência em termos de frequência e intensidade, contribuindo dessa forma
para um melhor conhecimento da seca em Santa Catarina (PIRES, 2003).
Sousa Jr et al. (2011) afirmam que a região Sul do Brasil tem enfrentado nos últimos dez
anos períodos de seca com intensidade e frequência acima do normal, afetando de forma decisiva
a sua economia. Dentre os estados frequentemente afetados, está o estado de Santa Catarina e os
municípios do extremo oeste catarinense com ocorrências, principalmente, nos meses de janeiro,
julho e dezembro (GONÇALVES; MOLLERI, 2007).
Fenômenos atmosféricos globais como a La Niña e El Niño têm relação com os períodos
de seca no estado, aliado a intervenção humana no ambiente que atua como agravante desse tipo
de desastre natural, através das formas de utilização e manejo dos recursos hídricos (GONÇALVES;
MOLLERI, 2007).
O aquecimento global é uma das alterações climáticas que tem causado grandes preocu-
pações em nível mundial (ALENCAR et al., 2011). Segundo o Intergovernamental Panel on Climate
Change - IPCC (2013), se a emissão de gases do efeito estufa continuarem a crescer às atuais taxas
ao longo dos próximos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar até 4,8 °C neste século.
Para Yu et al. (2002), essa tendência pode levar a mudanças nos elementos do clima, como a
temperatura, umidade relativa e precipitação, tanto em níveis globais como regionais.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Silva et al. (2010) e Souza et al. (2013) concordam que é importante analisar os impactos
causados pela variabilidade climática, principalmente no que tange as áreas de interesse socioe-
conômico e ambiental. É por meio de estudos que se torna possível conhecer as problemáticas
de uma região e ao mesmo tempo tentar solucioná-los ou minimizá-los através de planejamento
de ações.
Existem diversos índices para classificação dos períodos de seca e chuva, como o de
Palmer (1965) e o de Rooy (1965). Essas classificações são úteis em projetos de abastecimento de
água, irrigação, culturas dependentes da regularidade da chuva e em locais onde o uso de água
subterrânea é pequeno em relação às águas superficiais (FREITAS, 1998; NORONHA et al., 2016).
A reflexão a respeito dos impactos de anomalias de chuvas e de possíveis impactos das
mudanças climáticas e seus desdobramentos nas disponibilidades hídricas para as atividades agrí-
colas, sociais e ambientais do Estado de Santa Catarina têm despertada a necessidade de ações
de órgãos governamentais e da sociedade civil (NORONHA et al., 2016). Moraes (2007) aponta
que isso tem sido motivo para o investimento em vários projetos de pesquisa, que buscam propor
políticas públicas e medidas que resultem no controle da degradação ambiental, recuperação dos
níveis de base dos cursos d’água, a revitalização das nascentes, a melhoria da qualidade de vida
da população e, conseguintemente, a redução do êxodo rural.
Este trabalho buscou avaliar a intensidade da anomalia do regime de chuva no município
de Palmitos no período de junho de 1959 a maio de 2016, utilizando o Índice de Anomalia de
Chuva (IAC) proposto por Rooy (1965). O uso IAC tem se revelado um importante método de análi-
se das precipitações quando levado em consideração sua simplicidade procedimental, graças aos
recursos computacionais (planilha eletrônica) e a determinação qualitativa de anomalias extre-
mas (SANCHES et al., 2014).
254

MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO
O município de Palmitos, localizado no extremo oeste do estado de Santa Catarina (Figura
1), possui área de territorial de 352,5 km2, compreendido pelas coordenadas de latitude 27º 04’
03” S e 53º 09’ 40” W de longitude e conta com uma população de aproximadamente 17 mil
habitantes, de acordo com o censo de 2010 do IBGE (2016).

Imagem 1- Mapa de Localização Do Município de Palmitos/SC


Imagem 1- Mapa de Localização Do Município de Palmitos/SC

Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).


Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

As principais atividades econômicas são a bovinocultura de leite, produção de suínos e


aves, a atividade agrícola voltada à produção de grãos, destacando-se o milho, soja e feijão. O
clima da região é Subtropical úmido, com temperatura média entre 18ºC e 28ºC (SEBRAE, 2010).
A precipitação média anual varia de 1.700 a 1.900mm e a umidade relativa do ar média
varia entre 78 e 80% (SDR, 2003).
De acordo com o Atlas de Desastres Naturais de Santa Catarina (CEPED UFSC, 2013), no
período de 1991 a 2012 houve oito ocorrências de estiagem no município de Palmitos.

DADOS
Os dados pluviométricos diários utilizados para o cálculo do IAC foram obtidos da rede
de postos da Agência Nacional de Águas (ANA, 2016), através da plataforma hidroweb (http://
hidroweb.ana.gov.br), sendo selecionadas para este trabalho as informações do posto de Palmitos/
SC. Os dados mensais de precipitação foram agrupados em totais anuais para a obtenção dos IAC
da série.

O ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA (IAC)


Para a classificação dos períodos secos e úmidos foi utilizado o IAC proposto por Rooy
(1965) e posteriormente adaptado por Freitas (1998), expresso por:

𝑃𝑃−𝑃𝑃̅
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = 3 ̅ −𝑃𝑃̅
𝑀𝑀
(1) para as anomalias positivas, e
𝑃𝑃−𝑃𝑃̅
255 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = −3 ̅ −𝑃𝑃̅
𝑚𝑚
(2) para as anomalias negativas.

Nas equações propostas, p compreende a precipitação mensal atual(mm.mês-1); ,


corresponde à precipitação média mensal da série histórica (mm.mês-1); representa a média das
dez maiores precipitações mensais da série histórica (mm.mês-1) e, compreende a média
das dez menores precipitações mensais da série histórica (mm.mês-1).
A classificação dos resultados de anomalias positivas e negativas foi alcançada seguin-
do a metodologia proposta por Araújo et al. (2009), sendo o IAC > 4 (Extremamente úmido); 2 <
IAC < 4 (Muito úmido); 0 < IAC < 2 (Úmido); 0 < IAC < -2 (Seco); -2 < IAC < -4 (Muito seco); IAC < -4
(Extremamente seco).
Por fim, para a elaboração dos gráficos representativos foi utilizado o software
Microsoft Excel 2010.

ANÁLISE DOS DADOS


O emprego do IAC possibilitou identificar padrões ou mudanças no comportamento das
chuvas, o que permitiu determinar a severidade dos ciclos secos e úmidos na área de estudo. A
imagem 2 apresenta o gráfico de precipitação média ao longo do ano para o período de 1959
a 2016. O município de Palmitos não apresenta estação chuvosa bem definida, apresentando
maiores volumes de precipitação nos meses de fevereiro (184,46 mm) e outubro (206,30 mm).
Já para o períodode seca, também não há uma estação definida, sendo os menores valores de
precipitação observados nos meses de julho (135,95 mm) e agosto (133,65).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Imagem
Gestão Integrada do 2 - Precipitação Média Mensal no Município de Palmitos/Sc (1959-
Território

2016)
Imagem 2 - Precipitação Média Mensal no Município de Palmitos/Sc (1959-2016)

Fonte:
Fonte:Elaborado
Elaboradopelos autores,(2015).
pelos autores, (2015).

Com relação ao resultado do IAC para o período proposto de 1959 a 2016 (Imagem 3),
para os anos de anomalias negativas, houve uma predominância de anos classificados como secos
(33%), seguido por anos muito secos (23%). Já para as anomalias positivas, houve predomínio
de períodos chuvosos (28%), seguido por períodos muito chuvosos (10%). Os casos extremos de
chuva e seca tiveram a mesma porcentagem, correspondendo a 3% cada um.
Também é possível identificar, períodos de quatro anos consecutivos de seca entre 1959
e 1962, e de 1967 a 1970; um período médio de seca entre 1976 e 1982 e um período de seco
bastante intenso entre 2001 e 2012. Além disso, observam-se três períodos de três anos consecu-
tivos de períodos de chuva. Os valores calculados para IAC anual variaram entre +1,427 e -2,987. O
número de ocorrência de anomalias negativas (59%) foi maior que a de anomalias positivas (41%).

256 Imagem 3 -Imagem


Índice3de Anomalia
- Índice de Chuva
de Anomalia de Chuvado
do Município
Município de de Palmitos/SC
Palmitos/SC

Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).


Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).

As Imagens 4 a 7 apresentam os valores de IAC trimestral para o período entre 1959 e


2016. Os valores calculados para IAC trimestral variaram entre +3,843 e -5,181.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Imagemdo 4Território
Gestão Integrada - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Janeiro A Março
De 1959 A 2016)
Imagem 4 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Janeiro A Março De 1959 A 2016)

Imagem 5 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Abril A Junho De


1959 pelos
Fonte:elaborado
elaborado A 2016) (2015).
Fonte: pelosautores,
autores, (2015).
Imagem 5 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Abril A Junho De 1959 A 2016)

257

Imagem 6 - Iac Trimestral para o Município de Palmitos/Sc (Julho a Setembro


Fonte:Elaborado
Fonte: Elaborado pelos
pelosautores,
autores,(2015).
(2015).
de 1959 a 2016)

Imagem 6 - Iac Trimestral para o Município de Palmitos/Sc (Julho a Setembro de 1959 a 2016)

Fonte:Elaborado
Fonte: Elaborado pelos
pelosautores,
autores,(2015).
(2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Imagem 7 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Outubro A
Gestão Integrada do Território
Dezembro De 1959 A 2016)
Imagem 7 - Iac Trimestral Para O Município De Palmitos/Sc (Outubro A Dezembro De 1959 A 2016)

Fonte: Elaborado
Fonte: Elaboradopelos
pelosautores,
autores,(2015).
(2015).

A imgem 5 apresenta os resultados encontrados na análise de frequência das classes dos


Imagem 5para
IACs trimestrais - Frequência
períodos dedas
dez Classes
anos. No do
eixoIac:
dasJaneiro,
abscissasFevereiro e MS,
as siglas ES, Março
S, C,(A),
MC e EC
representam as classes
Abril, Maio e Junho“extremamente seco”, “muito
(B), Julho, Agosto seco”, “seco”,
E Setembro “chuvoso”,Novembro
(C) e Outubro, “muito chuvoso”
e
e “extremamente chuvoso”, respectivamente, conforme metodologia proposta por Araújo et
al. (2009). Dezembro (D)

Imagem 8 - Frequência das Classes do Iac: Janeiro, Fevereiro e Março (A), Abril, Maio e Junho (B), Julho, Agosto E
Setembro (C) e Outubro, Novembro e Dezembro (D)
258

Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).


Fonte: Elaborado pelos autores, (2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O período de “seca extrema” foi observado apenas em três períodos: nos meses de janei-
ro/79 a março/88; janeiro/89 a março/98 e julho/79 a setembro/88. Já o período de “muita seca”
foi observado, principalmente nos períodos de julho a setembro e outubro a dezembro de 1959
a 2016.
Todos os gráficos apresentaram períodos consideráveis de “seca” e “chuva”, porém o que
mais se destaca em relação à seca são os meses de outubro a dezembro de 1959 a 2016. Já no que
se refere à intensidade chuvosa, destaca-se o período de abril a junho de 1959 a 2016.
Os casos de “muita chuva” ficaram em torno dos 10% de ocorrência, contudo o período
de julho a setembro de 1959 a 2016 apresentou alguns valores mais elevados, chegando a 20%.
As ocorrências de “extrema chuva” chegaram a zero nos seguintes períodos: janeiro a
março de 1959 a 1968 e de 1999 a 2008; abril a junho de 1959 a 1968 e de 1999 a 2008; julho a
setembro de 1959 a 2016 e de 1989 a 2008; outubro a dezembro de 1969 a 1988.
No geral, durante a série de 1959 a 2016 houve uma maior ocorrência de períodos chuvo-
sos e secos, sendo os períodos secos cerca de 5% mais frequentes que os chuvosos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O IAC demonstrou-se uma ferramenta de uso e interpretação, relativamente, simples


e de resultado bastante eficiente que pode ser utilizado para a gestão dos recursos hídricos e,
consequentemente, evitar problemas relacionados à escassez de água.
Apesar de o estado de Santa Catarina apresentar as quatro estações bem definidas e
259 chuvas bem distribuídas, o IAC apresentou para a série de jun/1959 a mai/2016, mais períodos de
seca do que de chuva o que pode estar relacionado às mudanças climáticas.

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CAPÍTULO XIX

VIDA E TRABALHO: UMA DISCUSSÃO SOCIOAMBIENTAL


DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan19

Teresinha Maria Gonçalves - Unesc

261

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

VIDA E TRABALHO

Podemos considerar que o emprego dos tempos modernos ou dos tempos pós-moder-
nos tem o mesmo significado para o homem dos primórdios da civilização? Ao arriscar a vida pela
savana, na competição por alimentos com os animais, e, hoje, ao submeter-se a trabalhos peno-
sos, o homem está desesperadamente lutando pela vida? O que será geração de emprego e o que
será desenvolvimento? A questão do desenvolvimento restringe-se ao mero desenvolvimento
econômico? O crescimento econômico destruiu e continua a destruir centenas de civilizações
rurais e culturais, sem falar nos dilemas urbanos das cidades produzidas pela lógica do sistema
capitalista de produção.
Quais são, hoje, os valores que se agregam à vida? A degradação da biosfera vem acom-
panhada da própria degradação humana, pois, ao interferir violentamente nos modos de vida
das pessoas, produz um desequilíbrio psicossocial que vai refletir no processo de produção da
subjetividade.
Parece que, no sul de Santa Catarina, na região carbonífera, para grande parcela da popu-
lação, o valor que se agrega à vida é o emprego, este a qualquer custo, pois os ecossistemas
locais são degradados com muita naturalidade. Guerra, Castilhos e Bidone (2000, p. 284) chamam
a atenção para essa justificação do emprego a qualquer custo, dizendo “[...] o que é conven-
cionalmente medido como renda ignora a deterioração do meio ambiente, seja como fonte de
materiais, seja com receptor ou depositário de dejetos da atividade humana”. Um dos poucos rios
preservados, o São Bento, no município de Siderópolis, na região carbonífera de Santa Catarina,
cedeu sua vazão para uma barragem ligada ao abastecimento de água de Criciúma e mais alguns
262 municípios da região. A cabeceira do rio Mãe Luzia, que ainda se encontra preservada, está sendo
cogitada para uso de uma termelétrica, prevista para ser instalada na região. Essas questões,
somente são discutidas como problemas ambientais nos fóruns populares de meio ambiente que
acontecem na região, liderados por algumas ONGs. A poluição dos rios e a acidificação das águas,
que fazem parte do cotidiano da população, parecem problemas já incorporados ao imaginário
de grande parte de intelectuais e técnicos, parte de dirigentes e parte da sociedade criciumense.
A região de Criciúma é uma área crítica em termos de poluição ambiental. Na atualidade,
apesar de toda a degradação socioambiental ocorrida, e ainda recorrente, as pesquisas da UNESC
(Universidade do Extremo Sul Catarinense) mostram que parte da população é a favor da indústria
do carvão. O slogan “O importante é ter emprego” é muito forte na região, pois os problemas
que esse emprego poderá trazer parecem nada pesar nas decisões individuais ou coletivas da
sociedade regional.
O conflito socioambiental da região carbonífera de Santa Catarina, cuja cidade polo é
Criciúma, estabelece-se ante a um questionável progresso, trazido pela exploração do carvão e
pelas perdas socioambientais decorrentes dessa atividade econômica, que teve seu auge entre
as duas guerras mundiais (1914-1945) e, em um segundo momento, nas décadas de 1970-1980
(GONÇALVES, 2002).
A mineração é uma atividade extremamente insalubre. Várias doenças acometem a popu-
lação, notadamente a de baixa renda ou de nenhuma renda, como pneumoconiose, bronquite,
rinite, artrite, lesões na coluna vertebral e nas articulações e inflamação dos tendões, devido às
precárias condições de trabalho, com a presença de fumaça, pó, lama, umidade elevada, pouca
ventilação e confinamento nos subterrâneos escuros.
O trem carvoeiro atravessa várias vezes a área central da cidade, com os vagões carre-
gados de carvão e sem nenhuma proteção, projetando, no ar, partículas de materiais pesados. A
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

fuligem do carvão está nas cortinas das janelas e nos rostos das pessoas que moram próximo à
via férrea.
Os amontoados de rejeitos de carvão, nos bairros da periferia da cidade, servem de local
de brincadeiras das crianças. Com a umidade, os compostos químicos entram em autocombus-
tão, sendo frequente a ocorrência de acidentes com crianças (queimaduras das pernas nas cinzas
quentes, ingestão de material e gases tóxicos, etc.). As doenças respiratórias aumentam com essa
umidade, pois os materiais particulados se condensam no ar, aumentando o risco de obstrução
das vias aéreas.
Criciúma constitui-se, assim, em uma sociedade de risco; duplamente de risco, pois refle-
te o contexto da sociedade contemporânea, cuja vastidão do tema risco é assustadora, estando
a vulnerabilidade socioambiental a ele associada. A sociedade de risco é, hoje, um assunto que
afeta os vários domínios da ciência. Na percepção de Beck (2003), risco diz respeito ao futuro,
sendo uma modalidade de relação com o futuro. Todavia, para o homem carvoeiro não existe
futuro, apenas presente.
Há, assim, na cultura do carvão, um imediatismo quase desesperado pela criação de
emprego. Essa ânsia manifesta-se tanto por parte dos desempregados e dos jovens da classe
trabalhadora, ou da classe média, que conseguem seu diploma na Universidade local e querem
ingressar no mercado de trabalho, quanto pelo grupo de mineiros, ou seja, trabalhadores das
minas de carvão, que administram uma carbonífera e têm poder político na cidade, e ainda se
estendendo aos empresários do carvão, que têm uma grande influência no governo federal. O
carvão foi muito valorizado na segunda guerra mundial, mas embora esse tempo já tenha se
passado, ainda se recorre a esse expediente para evidenciar a força do carvão.
263 A necessidade de preservação do emprego está acima do pavor da morte embaixo da
mina. Na fala dos mineiros, a mina é um local onde a morte está sempre presente. Porém, apesar
de tudo isso, o importante é ter emprego, independentemente da destruição que esse emprego
possa trazer para a natureza e para si.
Concretamente, Criciúma é uma cidade de alto risco e vulnerabilidade socioambiental,
cujos impactos, decorrentes da mineração do carvão, são evidentes. Esses se manifestam na cida-
de através de seus seis rios poluídos e um rio canalizado embaixo dela, que serve para o escoa-
mento dos dejetos. A cidade não dispõe de um metro sequer de rede de esgotamento sanitário.
Nela há ocorrências de chuvas ácidas, seu solo é degradado, sua fauna e sua flora estão compro-
metidas e grande parte de sua superfície urbana é sustentada pelos pilares das antigas minas.
Além de todos esses problemas, as várias doenças que acometem a população, decorrentes da
intensa degradação ambiental, tornam a problemática analisada ainda mais complexa.
Segundo UNESC/IPAT (2000), a maioria da população da região de Criciúma percebe,
como fonte de poluição, o carvão e as indústrias. Existe a possibilidade de que a poluição do
carvão volte. Cogita-se a abertura de novas minas para a sustentação de mais uma usina termelé-
trica, além da já existente no município de Capivari de Baixo.
Segundo estudos da Japan International Cooperation Agency ̵̶ JICA (1997), o Ministério
do Meio Ambiente presidiu, na década de 90, o Comitê para elaborar um projeto de recuperação
ambiental com o objetivo de recuperar 4,7 mil hectares em sete municípios do extremo sul cata-
rinense. Ao mesmo tempo, em 2003, a Universidade do Extremo Sul Catarinense ̵̶ UNESC realizou
o relatório de Impacto Ambiental com vistas à instalação da Usina Termelétrica de Treviso. Esse
verdadeiro paradoxo de se gastar dinheiro público para recuperar áreas degradadas (solo) e poluir
o ar com as usinas termelétricas vem demonstrar que a região ainda tem presente a crença de ser
o carvão o elemento impulsionador da economia. Uma das prioridades do Comitê era conseguir
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

a liberação de US$ 750 mil, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e US$ 96 mil, do
Estado de Santa Catarina (JICA, 1997).
Como se vê, o movimento pró-carvão se insurge com grande euforia e busca o apoio
do Governo Federal novamente. Dessa vez, o grupo reforça sua tese na geração de energia e do
desenvolvimento, além da geração de emprego. O “fetiche” do carvão os impede de pensar em
outras alternativas de desenvolvimento, como indústrias mais limpas com eficientes programas
de gestão ambiental, como, por exemplo, vestuário, turismo, entre outras. As jazidas de carvão
são grandes e a tentação também. A região carbonífera conta hoje com 374.292 habitantes, esti-
mativa (IBGE,1995-1996 ). Estima-se que dez mineradoras empregam aproximadamente 2.500
pessoas.
Se a continuação da exploração da indústria carbonífera representa a possibilidade de
emprego para a maioria da população pobre e desempregada, ao mesmo tempo que ganhos
para os mineradores, por outro lado, preocupa os ambientalistas, parte dos profissionais ligados
ao meio ambiente e parte da intelectualidade. Há que se considerarem os altos custos sociais e
ambientais dessa indústria, em que pese à introdução de novas tecnologias para minimizar os
efeitos nefastos.

TRABALHO E NEOLIBERALISMO

Não podemos deixar de ligar essa discussão com as feitas sobre a sociedade moderna e
pós-moderna. Para tanto, referenciamo-nos nas discussões de Kumar (1997). Para ele, a moderni-
dade e a pós-modernidade são conceitos controversos, e muito se discute sobre eles. Para alguns
264 autores, como Jürgen Habermas (1990), por exemplo, a pós-modernidade nem existe. Beck (2003)
fala de primeira e segunda modernidade, enquanto Kumar (1997) expõe que um novo começo
infundiu um novo significado a velhos conceitos. Para esse autor, a Revolução Francesa de 1789 foi
a primeira revolução moderna, pois ela transformou o conceito de revolução. Naquele momento,
ela passou a significar a criação de uma coisa inteiramente nova, pois levou ao mundo uma nova
era da história e marcou o nascimento da modernidade. Nessa perspectiva, a Revolução Francesa
deu à modernidade sua forma e consciência características ‒ uma revolução baseada na razão,
cuja substância material lhe foi dada pela Revolução Industrial. É difícil separar o industrialismo
da modernidade. Dessa forma, a modernidade não é só uma questão de ideias e atitudes, mas
também uma questão de técnica, pois ela está ligada à revolução científica. Portanto, a moderni-
dade se relaciona com o capitalismo, sistema social que dela decorreu. Kumar (1997) fala que a
sociedade moderna é a sociedade industrial.
Estamos vivendo, segundo o autor, a sociedade pós-moderna, cujo arauto principal de
suas ideias é o neoliberalismo. O ressurgimento do liberalismo hoje (neoliberalismo) dá-se num
contexto bem diferente daquele do seu nascimento, embora os principais objetivos sejam os
mesmos: abrir mercados, privatizar a propriedade e estender as relações comerciais por meio
de uma ideologia de países capitalistas/imperialistas. Os países de desenvolvimento capitalista
tardio resistiram ao liberalismo e optaram por políticas populistas de protecionismo nacional para
salvaguardar suas indústrias emergentes e criar um mercado doméstico por meio do trabalho
assalariado.
O ressurgimento do “neoliberalismo” é, segundo Peters (1998), uma resposta à crise do
nacional populismo. Contudo, o neoliberalismo é semelhante em alguns pontos e diferente em
outros do liberalismo clássico. Assemelham-se na defesa da ideia de liberdade de mercado, do
Estado Mínimo, da desregulamentação do mercado, da derrubada de barreiras comerciais, da
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

livre circulação de bens, do trabalho e capital. O que os diferencia são o contexto e as estra-
tégias. Na análise de Peters (1998), o liberalismo combateu as restrições pré-capitalistas; já o
neoliberalismo combate o capitalismo, que se submete às influências do sindicalismo e o estado
de Bem-Estar Social (Welfare State).
Diferenciam-se, também, nos efeitos que ambos exercem sobre a estrutura social: o libe-
ralismo estimulou o crescimento das cidades e dos complexos urbano-industriais; o neoliberalis-
mo desfaz a complexa sociedade urbano-industrial, mercado doméstico e circuitos financeiros,
exercendo um efeito devastador sobre a classe operária e sobre os camponeses. No entanto,
Paulani (1999) lembra que a hegemonia do neoliberalismo, a qual ele mesmo se atribui, não é
privilégio da fase contemporânea de sua existência. Desde o início, traz consigo essa ideia de
inexorabilidade da sociedade de mercado.
Para o neoliberalismo, segundo Peters (1998), “[...] o mercado é o primeiro e último
objetivo da história”. A liberdade, portanto, não é aquela apregoada pelo ideário da Revolução
Francesa, mas sim a liberdade do mercado em nome da qual se deve lutar contra qualquer forma
de intervenção. Como ficam as relações de trabalho nesse contexto? Com as inovações tecnológi-
cas, grande parte dos postos de trabalho é substituída.
Há algumas décadas, vem ocorrendo, em nível mundial, um extraordinário avanço técni-
co-científico, trazendo consequências na organização da produção, construindo novos padrões
industriais de acumulação do capital. O novo padrão industrial rompe com o sistema eletro-mecâ-
nico de produção e com a antiga organização fordista-taylorista, substituindo-as por um novo siste-
ma de reprodução automatizado, com a ampla utilização dos computadores de alta tecnologia.
O novo padrão industrial tem como característica a substituição, cada vez maior, do
265 “trabalho vivo” pelo “trabalho morto”, isto é, a redução da mão de obra operária por unidades
produtivas automatizadas espalhadas pelo mundo. No Brasil, estamos vivendo, neste momento,
o caso da montadora da Volkswagen que, em nome da modernização do sistema de produção
editada pela sua matriz na Alemanha, demitiu 3.000 funcionários no mês de setembro de 2016.
Para evitar mais demissões e até a ameaça de fechamento da fábrica, no desespero, esses 3.000
trabalhadores aceitaram a proposta das tais demissões incentivadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O capitalismo globalizado, de forma instantânea, põe em circulação tanto a informação


como o dinheiro e o poder. Por isso, impõe a destruição das barreiras representadas pelos esta-
dos nacionais. Dessa forma, o Estado Nacional Burguês, que, no início do capitalismo, foi a sua
alavanca, hoje torna-se empecilho e entrave à globalização da economia. Ainda, as ideias neoli-
berais infundem e fomentam a sociedade de mercado como solução para os problemas da falta
de trabalho. Por exemplo, em vez de ser um trabalhador, você pode ser um empreendedor e ter
seu próprio negócio na construção da sociedade pós-industrial. Não é o princípio da colaboração
que é evocado, mas o da competição, o progredir num mercado competitivo. O problema sai
da instância do coletivo e vai para o estatuto individual, com consequências preocupantes no
processo de construção da subjetividade. “Se não consigo levar avante meu próprio negócio, sou
um fracassado”, frase muito ouvida hoje.
No universo da vida urbana, não apenas no Brasil, mas em grande parte das cidades do
mundo, principalmente nas dos países pobres, descortina-se um panorama desolador: violência
crescente, desvalorização da vida humana, corrupção desenfreada, completa falta de limites e de
compromisso com o coletivo, falta de solidariedade, convivendo com a mais alta concentração de
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

renda. Diante desse panorama, segundo Damergian (2001), é quase impossível pensar em cida-
des com urbanidade e relações amorosas entre as pessoas, que levem à prática da solidariedade.
O desemprego é, ao mesmo tempo, um fantasma e uma presença que angustia e humi-
lha aqueles que, incorporando o ideário da sociedade de mercado, acham que não tiveram a
competência de conseguir ou de preservar o seu trabalho.
Em Criciúma, a situação complica-se à medida que estamos discutindo uma indústria
extrativista para fomento da produção de energia. O carvão, um combustível fóssil não reco-
mendado e sem futuro, sob o ponto de vista ambiental, além da degradação socioambiental que
produz, é uma atividade temporária na medida em que as minas têm tempo determinado de
existência. Por ser uma indústria extrativista, a atividade é encerrada quando terminam os veios
de carvão, bem como o emprego. Fim do emprego e início de mais uma quantidade de problemas
socioambientais: degradação do solo, ar mais poluído, perda de matas e terras para a agricultura,
desemprego e mais pessoas doentes.
Mas afinal, de que viveremos? Precisamos de emprego que nos garanta as condições
de nos mantermos vivos. Não apenas biologicamente vivos, mas vivos enquanto seres huma-
nos. Com uma fonte de criatividade dentro de nós; com subjetividade integrada que nos permita
mudar a realidade, modificar a situação atual e projetar um futuro em que o trabalho seja a fonte
de vida e não o abreviamento dela. Que chances de vida tem o trabalhador brasileiro? Os autores
Kadt e Tasca (1993) entendem que as chances de vida estão relacionadas à probabilidade que as
pessoas têm, ou não, de satisfazer suas necessidades, sendo que essas não dependem de fatores
genéticos e biológicos, mas da estrutura social, especialmente da distribuição de bens. Diríamos
que as chances de viver dependem da qualidade de vida.
266 A noção da qualidade de vida surge num momento em que a massificação do consumo, a
concentração da riqueza e a degradação ambiental convergem para o empobrecimento das maio-
rias e para as limitações do Estado, para prover os serviços básicos a uma população crescente,
marginalizada pelos circuitos da produção e do consumo. Surge, com toda força, no âmbito do
trabalho, tentando responder a uma pergunta renitente: vivemos para trabalhar ou trabalhamos
para viver? A discussão, principalmente nos países pobres ou emergentes, como muitos querem
nominar, é sobre a geração de empregos. Sobre a qualidade do emprego pouco se discute, espe-
cialmente se ele é fonte de vida ou de saúde. As condições em que o trabalho é realizado nos
centros urbanos, o estresse a que todos são submetidos no seu trabalho desde os mais altos
postos na hierarquia do sistema de produção neoliberal até os postos do trabalho informal são
extremamente estressantes.

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267
CAPÍTULO XX
REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
E COMBINADO EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO:
TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E SUA INCIDÊNCIA
TERRITORIAL NA UNIÃO EUROPEIA

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan20

Rogério Santos da Costa - UNISUL


Andréia de Simas Cunha Carvalho - Universidad Piloto de Colombia / UNISUL

268

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O pano de fundo que move a construção deste artigo é uma discussão sobre a desi-
gualdade do desenvolvimento em processos de integração regional, no caso específico da União
Europeia. Ampliando a questão do capital e sua mobilidade para além da experiência europeia,
é conhecida a capacidade que esse possui em movimentar-se para buscar os melhores locais de
valorização. Por outro lado, também é conhecida a disputa entre os diferentes Estados-nação pelo
alcance de graus elevados de desenvolvimento de sua matriz econômica, o que significa melhorar
sua capacidade de autonomia capitalista completando a equação de produção possuindo em seu
território as indústrias de bens de capital, de bens intermediários e de bens de consumo final.
Assim, um país com grau elevado de desenvolvimento capitalista tende a ter vantagem
comparativa em relação aqueles que não completaram essa etapa do capitalismo. Numa situação
dessa, o país com essa competitividade tende a desenvolver tecnologia e agregação de valor que
não só se difundem no restante da economia e sociedade nacional, como barram a entrada de
competidores externos e mantém um fluxo de recursos positivos pela venda de seus produtos
industrializados de alto valor agregado.
Essa situação já foi exposta desde a década 50 do século passado pela escola latino-a-
mericana de economia da Cepal, depois desenvolvida pela escola da dependência, e mais recen-
temente por economistas brasileiros, egípcios e sul coreanos (SADER; SANTOS, 2009; COUTINHO;
FERRAZ, 1994; AMIM, Samir; 1987; CHANG, 2002). A base para o desenvolvimento industrial
de alguns dos principais países centrais da atualidade foi a defesa de suas fronteiras contra a
concorrência externa até que seus capitalismos estivessem com a matriz industrial desenvolvi-
269 da e completada, sendo exemplos dessas políticas as teses do economista Friedrich List para a
Alemanha e Alexander Hamilton para os Estados Unidos da América.
Diante disso, a história nos remete a um desenvolvimento desigual e combinado no
capitalismo que traduz as diferentes capacidades dos países em termos de competitividade de
suas economias, associada ao desenvolvimento pleno ou parcial da matriz econômica. Isso expli-
ca muito dos discursos liberais de alguns países centrais para produtos industrializados, para a
propriedade industrial, bem como explica suas políticas protecionistas naqueles ramos em que
possuem menor competitividade, como a agricultura. Grosso modo é isso que Chang (2002)
chama de chutar a escada, ou seja, após alcançarem níveis elevados de desenvolvimento de seus
capitalismos os países centrais praticam toda forma de política interna e internacional para evita-
rem que países com menores níveis de desenvolvimento capitalista os alcancem. Dessa forma,
o discurso do “desenvolvimento para todos” fica evidentemente apenas uma retórica, não uma
prática.
O que se poderia esperar de um processo de integração é a implementação de políticas
de desenvolvimento regional que contribuíssem para a consolidação capitalista dos países envol-
vidos. No caso da União Europeia, a Política Regional é uma realidade desde a década de 70 do
século passado. No entanto, há que se perguntar o porquê de países como Portugal, Espanha e
Grécia manterem suas posições relativas em termos de desenvolvimento quando comparados
com Alemanha, Inglaterra e França.
Teria sido inevitável, dadas as características no capitalismo de concentração e centrali-
zação do capital? Foram políticas que apontavam para a transferência de tecnologia a ponto de
consolidar a matriz econômica? Ou foram políticas que reforçaram o caráter periférico e comple-
mentar destas economias em relação às economias consolidadas?
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

O propósito desse artigo é apontar caminhos que possam ser trilhados para a melhor
compreensão do que ocorre na Política de Desenvolvimento Regional da União Europeia quan-
to à estas questões. Para tanto, busca-se primeiramente expor as linhas gerais da problemática
do desenvolvimento regional em processos de integração, em seguida faz-se uma exposição de
alguns instrumentos jurídicos institucionais da integração do velho continente, para finalmente
introduzir uma discussão de literatura sobre a transferência de tecnologia como necessidade para
uma efetivação da matriz econômica capitalista dos países sem esta característica.
Esse trabalho baseia-se no acumulo de vários anos de pesquisa relacionados ao tema do
desenvolvimento regional de processos de integração regional, de políticas de desenvolvimento
regional em processos de integração, agregados pelos avanços mais recentes em pesquisa relacio-
nados à Transferência de Tecnologia na União Europeia (COSTA 2011, 2013, 2014; SILVA; COSTA,
2013; COSTA; CARVALHO, 2016). O estudo possui, tanto base bibliográfica como documental,
procurando aprofundar uma problemática recorrente pesquisada e estudada. Elaborando ques-
tões que possam auxiliar no entendimento dos processos de integração regional, no desenvolvi-
mento regional, na transferência e difusão de tecnologia que possam contribuir para a melhoria
das capacidades de desenvolvimento das sociedades nacionais, seja do ponto de vista econômico,
social, político ou ambiental.

DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DESIGUAL E COMBINADO EM PROCESSOS


DE INTEGRAÇÃO

O sistema capitalista historicamente produz desigualdades, verificáveis no espaço-tempo


270 (WALLERSTEIN, 1985). Chama-se à atenção, aqui, para as desigualdades regionais num mesmo
espaço econômico, ou entre países. No ambiente de mundialização do capital que se acelerou
com o fim da guerra fria (CHESNAIS, 1996), as capacidades de redefinição do espaço-tempo impu-
seram maiores desafios para os problemas relacionados à questão regional (LINS, 1998). O desen-
volvimento territorial ou regional é, por essa razão, um tema clássico na literatura de desenvol-
vimento no capitalismo. Suas resultantes desigualdades guardam lugar especial, tanto na análise
de territorialidade, quanto na formulação de planejamento para a sua eventual minimização, com
implicações acentuadas a partir do processo de globalização e da “nova economia” (THEIS, 2005;
MARINI; SILVA, 2012).
Os efeitos de uma atividade econômica podem ser centrífugos ou centrípetos, ou seja,
sua força propulsora de disseminação do desenvolvimento pode tanto ser positiva quanto negati-
va. Esses resultados são mais fortes em criar desigualdades em países com baixo nível de desen-
volvimento, sendo importante a participação do Estado na formação de políticas públicas que
revertam ou minimizem esses impactos (MYRDAL, 1968; SINGER, 1973; PERROUX, 1967), mais
especificamente em planejamento do desenvolvimento regional (BRANDÃO, 2011).
Os impactos regionais da atividade econômica sob o capitalismo têm importância signifi-
cativa na integração entre países. Entende-se como processo de integração regional a ação entre
países, ou poderes, para construírem estruturas socioeconômicas comuns com objetivo de unifi-
cação em níveis aprofundados do todo ou de partes de suas economias e sociedade. Assim, para
ser aqui compreendido como processo de integração regional é preciso que os países façam, no
mínimo, uma União Aduaneira, liberando o fluxo de mercadorias internamente e unificando o
tratamento com terceiros externamente (OLIVEIRA, 2009).
Nesse sentido, apesar de existir certo grau de interação, não se considera como processo
de integração a criação de Zonas de Preferência Tarifária ou Zonas de Livre Comércio, em que há
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o desgravamento de tarifas entre os países, apesar dessas dinâmicas serem etapas iniciais de um
processo de integração. Nessa perspectiva, a unificação e a criação dos Estados alemão e italiano,
no século 19, resultaram de processos iniciados com Uniões Aduaneiras.
Uma das características mais importantes de processos de integração como aqui são deli-
mitados é que sua formatação proporciona a criação de sinergias entre as partes. Sinergia, aqui,
é entendida conforme a teoria sistêmica, como fenômeno que exprime o fato segundo o qual,
num sistema, o efeito final obtido pela interação de elementos que o constituem é maior do que
a soma dos resultados alcançados pela operação separada deles.
O exemplo mais importante de processo de integração é o da União Europeia, cuja unifi-
cação remonta ao pós-Segunda Guerra, que não só chegou à etapa de União Aduaneira, mas
aprofundou a integração com a criação de um Mercado Comum, em que circulam livremente
todos os fatores de produção. Além disso, criou instituições e políticas comunitárias, e busca a
perspectiva de consolidação de uma Constituição Comum, com a possibilidade de elevar o proces-
so à categoria de integração total (SILVA; COSTA, 2013).
As assimetrias estavam e estão presentes no processo de integração europeu, bem como
a preocupação teórica e prática para entendê-lo e poder lidar com ele (HASS; SHMITTER, 1964).
Assim, integração entre países de diferentes níveis de desenvolvimento tendem a reproduzir desi-
gualdades, dimensão que os europeus já percebiam no início da década de 60.

Pode sustentar-se que nos países menos desenvolvidos o volume limitado de novos inves-
timentos vai principalmente para as regiões onde a existência de indústrias relacionadas
entre si e de infraestruturas econômicas e sociais oferece rendimentos mais altos, e a
271 influência dos melhoramentos feitos nas regiões mais desenvolvidas é contrariada pela
falta de um sistema de transportes e comunicações interregionais adequado e pela rigi-
dez sociológica e psicológica. Por outro lado, nas economias avançadas, um sistema de
preços altamente desenvolvido permite o aproveitamento das diferenças de salários, as
facilidades de transporte e comunicações são desenvolvidas, a proporção das economias
externas móveis aumenta e é natural que se obtenha uma distribuição mais equitativa de
infra-estruturas (BALASSA, 1961, p. 303).22

Resgatando o debate da introdução desse artigo, as possibilidades de um processo de


integração manter-se no tempo estão intimamente associados ao tratamento dessa problemática
apontada por Balassa (1961), acima. No entanto, as premissas apontadas por esse autor indicam
a direção de deslocamento do capital, mas não asseguram a consolidação da matriz econômica
capitalista. O que pode ocorrer é somente a instalação da indústria de bens de consumo final, sem
capacidade de dinamização em larga escala da economia menos desenvolvida. A Transferência de
Tecnologia é uma condição fundamental para essa consolidação, não apenas a instalação de uma
infraestrutura adequada.
Vê-se, pois, que os desafios dos processos de integração são muito grandes, haja vista a
dimensão, profundidade e impactos socioeconômicos que deles podem resultar. Duas ações na
Europa originam-se dessa percepção e estão diretamente, embora de modo não exclusivo, rela-
cionadas com o avanço e o relativo sucesso do movimento integracionista naquele continente.
Uma é a necessidade de convergência estrutural por parte dos países aspirantes a
membros aderentes ao processo. A ampliação foi e é uma estratégia recorrente da integração do
22
Bela Balassa foi um dos maiores teóricos da economia, que estudou profundamente o processo de inte-
gração, particularmente o europeu, da perspectiva, principalmente, de seus impactos regionais.
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Velho Continente, e as ações de convergência das condições econômicas e sociais passam a ser
garantia de diminuição dos impactos no país ingressante, assim como têm a função de não conta-
minar negativamente o bloco integrado, evitando prejudicar os avanços alcançados.
A outra é a criação de políticas comunitárias comuns, como a industrial, a agrícola e a de
desenvolvimento regional. Na década de 70, vislumbrando a problemática das assimetrias com
o processo de entrada de Portugal, Espanha e Grécia, foi criado no âmbito daquela integração o
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – Feder.
Esse Fundo foi um dos principais responsáveis pela inserção desses países no processo
de integração com diminuição significativa do impacto das assimetrias. O Feder não tratou, e
não trata, apenas da problemática das assimetrias entre países, mas vislumbra uma perspectiva
de redução dos impactos de desenvolvimento regional no interior mesmo dos países-membros.
Além disso, a experiência europeia nesse campo conjuga aspectos técnicos e políticos, pois a
existência de Comitê de Regiões foi uma resposta democrática à crítica da tecnicidade na política
pública.
Ora, como um sistema de aporte para a diminuição das desigualdades regionais age do
ponto de vista da Transferência de Tecnologia? Há uma preocupação associada a essa problemá-
tica, indicando ações que coloquem países com menos desenvolvimento da matriz econômica
capitalista em posição de competitividade, ou a Política Regional reforça o que é chamado na
literatura e já mencionado aqui, o desenvolvimento desigual e combinado? Para encaminhar luz
às essas questões, um olhar nos instrumentos jurídicos principais da União Europeia é o próximo
passo nesse trabalho.

272 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E SEU TRATAMENTO JURIDICO-


INSTITUCIONAL NA UNIÃO EUROPEIA

O regulamento da União Europeia (COMISSÃO EUROPEIA, 2014) relativo à aplicação do


artigo 101, nº3, do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia a certas categorias de acor-
dos de transferência de tecnologia e de práticas concertadas conexas abrangidas pelo Tratado,
sempre que em tais acordos ou práticas participem apenas duas empresas, (um licenciante e
um licenciado) foi publicado em 21 de março de 2014 e segue vigente até 30 de abril de 2026.
Discorre-se sobre todos os aspectos concernentes à essa prática dentro da União Europeia, tendo
em conta a experiência globalmente positiva da aplicação do antigo regulamento, que expirou
em 30 de abril de 2014. O regulamento atual prevê satisfazer a dupla exigência de assegurar uma
proteção eficaz da concorrência e de garantir uma segurança jurídica adequada às empresas. A
prossecução desses objetivos deve ter em conta a necessidade de simplificar ao máximo a super-
visão administrativa e o quadro legislativo.
O tratado define “Acordo” uma decisão de uma associação de empresas ou uma prática
concertada; “Direitos de Tecnologia” o saber-fazer e os direitos enumerados a seguir ou uma
combinação desses direitos, incluindo: os pedidos de registro desses direitos de patentes, mode-
los de utilidade, direitos sobre desenhos e modelos, topografias de produtos semicondutores,
certificados de proteção suplementar para medicamentos ou outros produtos relativos, certifi-
cados de obtentor vegetal e direitos de autor relativos a programas informáticos; “Transferência
de Tecnologia” um acordo de concessão de licença de direitos de tecnologia celebrado entre
duas empresas com vista ao fabrico de produtos contratuais pelo licenciado e/ou o(s) seu(s)
subcontratante(s), cessão dos direitos de tecnologia entre duas empresas com vista ao fabrico
de produtos contratuais em que parte do risco associado à exploração da tecnologia incumba ao
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cedente; “Acordo Recíproco” um acordo de transferência de tecnologia pelo qual duas empresas
se concedem mutuamente, no mesmo contrato ou em contratos distintos, uma licença de direitos
de tecnologia, quando essas licenças disserem respeito a tecnologias concorrentes ou puderem
ser utilizadas para o fabrico de produtos concorrentes; “Acordo Não Recíproco” um acordo de
transferência de tecnologia pelo qual uma empresa concede a outra uma licença de direitos de
tecnologia, ou pelo qual duas empresas se concedem mutuamente licenças desse tipo, mas essas
licenças não dizem respeito a tecnologias concorrentes e não podem ser utilizadas para o fabrico
de produtos concorrentes; “Produto” ou um “serviço” os bens e serviços quer intermédios, quer
finais; “Produto Contratual” um produto fabricado, direta ou indiretamente, com base nos direi-
tos de tecnologia licenciados; “Direitos de Propriedade Intelectual” os direitos de propriedade
industrial, nomeadamente patentes e marcas registradas, direitos de autor e direitos conexos.
Os acordos de transferência de tecnologia dizem respeito à concessão de licenças de
direitos de tecnologia. Tais acordos contribuirão normalmente para melhorar a eficiência econô-
mica e promover a concorrência, dado que podem reduzir a duplicação em matéria de investiga-
ção e desenvolvimento, reforçar os incentivos a favor de novas ações de investigação e desenvol-
vimento, promover a inovação incremental, facilitar a disseminação de tecnologia e fomentar a
concorrência no mercado dos produtos.
Sobre a questão de competitividade e concorrência, o tratado afirma que a probabilidade
de esses efeitos, em termos de eficiência e concorrência acrescidas, compensarem eventuais efei-
tos anticoncorrenciais, resultantes de restrições contidas nos acordos de transferência de tecno-
logia, depende do poder de mercado das empresas em questão. E, por conseguinte, do grau em
que essas empresas se defrontam com a concorrência de empresas proprietárias de tecnologias
alternativas ou de empresas fabricantes de produtos alternativos, conforme a estrutura e a dinâ-
273 mica dos mercados da tecnologia e do produto relevantes.
Esse Tratado abrange também casos em que o licenciado seja obrigado a instituir um
sistema de distribuição específica, e forem detalhadas as obrigações que o licenciado deve ou
pode impor condições (estabelecidas no Regulamento [UE] n. 330/2010 da Comissão; Ibdem)
aos revendedores dos produtos que forem produzidos sob a licença. Esse regulamente torna-se
aplicável somente em acordos em que o licenciante e/ou um ou mais de seus subcontratantes seja
autorizado a explorar os direitos de tecnologia em proposta, para efeito de produção de bens e
serviços. Não é aplicável a acordos para agrupamentos de tecnologias, ou seja, acordos destina-
dos a agrupar tecnologias com o objetivo de as licenciar a terceiros, tampouco a acordos em que
a tecnologia agrupada é licenciada a esses terceiros.
Uma das questões mais importantes a respeito da transferência de tecnologia entre os
países é a de acordos entre concorrentes. O tratado presume que quando a quota agregada das
partes nos mercados relevantes não excede 20% e os acordos não contêm certos tipos de restri-
ções anticoncorrenciais graves, esses conduzem em geral a uma melhoria da produção ou da
distribuição, assegurando aos consumidores uma parte equitativa dos benefícios daí resultan-
tes. Já quando não abrange relações entre concorrentes, os acordos seguem o princípio de não
ultrapassar 30% do mercado relevante. A despeito de salvaguardar os incentivos em matéria de
inovação e aplicação adequada dos direitos de propriedade intelectual, algumas restrições devem
ser excluídas do benefício da isenção por categoria, nomeadamente, certas obrigações de retro-
cessão e cláusulas de não contestação.
Em consonância com a tendência e necessidade do amplo diálogo universidade-indús-
tria, a Carta Europeia das Pequenas Empresas (COMISSÃO EUROPEIA, 2004) afirma que a inovação
constante dentro das empresas é fundamental para que possam reinventar produtos e serviços
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e, consequentemente, desenvolver estratégias de resposta à procura do mercado. Ademais, no


capítulo “Reforço da capacidade tecnológica das pequenas empresas, incluindo inovação”, expli-
cita os seguintes compromissos:

Reforçaremos os programas existentes destinados a promover a disseminação de tecno-


logias junto das pequenas empresas, bem como a capacidade destas últimas para identi-
ficar, selecionar e adaptar essas tecnologias. Fomentaremos a cooperação tecnológica e
a partilha de tecnologias entre empresas de diferentes dimensões e especialmente entre
pequenas empresas europeias, desenvolveremos programas de investigação mais efica-
zes centrados na aplicação comercial dos conhecimentos e da tecnologia [...] É importan-
te assegurar que as pequenas empresas possam obter patentes comunitárias e que estas
lhes sejam facilmente acessíveis [...]e apoiar a colaboração entre pequenas empresas
para aumentar a sua capacidade de penetração nos mercados pan-europeus e alargar
as suas actividades nos mercados de países terceiros”. (Idbem) (COMISSÃO EUROPEIA,
2004, p.17)

Ainda de acordo com a Carta (Ibdem), a Comissão Europeia define como transferência de
tecnologia não somente todo o processo que compreende desde a ideia científica na base até sua
adoção pela indústria, mas também a transferência de conhecimentos entre as empresas.
A Comissão ainda aponta a existência de dois meios de favorecer essa transferência: o
meio indireto e o meio direto. O primeiro consiste em modificar as condições e os mecanismos
institucionais para facilitar a aproximação entre o setor público, as entidades de pesquisa e as
274 empresas, como a criação de parques científico-tecnológicos regionais, diálogo entre universi-
dades e outras entidades de pesquisa, aspectos jurídicos de proteção à propriedade intelectual
que facilitem a transferência, incentivos fiscais e financeiros que proporcionem capital de risco
às empresas de inovação e fundos específicos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Já os
métodos diretos consistem na promoção de transferência entre organizações e pessoas, atra-
vés de programas de transferência e exploração dos resultados, mobilidade de pessoas entre as
organizações, difusão da informação sobre oportunidades científicas e tecnológicas e projetos
cooperativos industriais e de demonstração.
Dessa forma, uma visão com olhar de transferência de tecnologia para os instrumentos
jurídicos da União Europeia indica que a preocupação maior é da proteção de propriedade e
da concorrência, apesar de existirem diretrizes encaminhando possibilidades de transferência de
tecnologia. Não se vislumbram, nesses documentos de formalização da União, condições concre-
tas de que a transferência de tecnologia possa ser um instrumento de indução da concretização
da matriz econômica dos países menos desenvolvidos, como Portugal, Espanha e Grécia. A lógica
da integração, nesse sentido, persiste na formação de infraestrutura sem grandes capacidades de
diminuição dos níveis de desigualdade econômica existentes.
Assim, ao menos no que diz respeito à questão jurídico-institucional há um reforço das
desigualdades e das forças centrípetas do capitalismo apontadas anteriormente neste trabalho.
Em seguida apontamos algumas analises sobre inovação e transferência de tecnologia na União
Europeia para situar esta problemática no âmbito do desenvolvimento regional e dos processos
de integração.
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AVALIAÇÕES SOBRE A POLÍTICA REGIONAL EUROPEIA PARA O


DESENVOLVIMENTO E O PAPEL DA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A Política Regional europeia é, atualmente, administrada e difundida pela Direção-Geral


da Política Regional e Urbana (DG-REGIO), órgão gerencial da Comissão Europeia. Na Carta da
Política de Coesão da União Europeia (COMISSÃO EUROPEIA, 2004) é constante a conjugação
de atuação na diminuição das desigualdades regionais através do estímulo e de políticas de
Transferência de Tecnologia, entre outras medidas.
De fato, o diagnóstico em termos econômicos é sempre nesse sentido, em razão da cons-
tatação histórica de que o alcance de níveis elevados de desenvolvimento, bem como sua susten-
tabilidade, está intimamente relacionado aos níveis Tecnológicos alcançados por uma determi-
nada sociedade e sua economia. Fica evidente, portanto, a conexão direta entre Transferência de
Tecnologia e Desenvolvimento de regiões menos industrializadas no espaço da União Europeia,
principalmente em face das Políticas Regionais. (BEGG, 1989)
O sistema de inovação deve ser complexo e envolver toda a sociedade em rede, desde
empresas, governos, universidades e instituições da sociedade civil organizada não-governamen-
tal, um “sistema hibrido”, conforme Kuhlmanna e Edlera (2012), pois possui uma influência deci-
siva nos processos de modernização da sociedade. No entanto, conforme aponta Begg (2013), os
indicadores são incontestáveis ao mostrarem que existe uma forte concentração de tecnologia e
de inovação nas principais e mais desenvolvidas regiões.
Segundo Nijkamp (1995), há uma tendência da União Europeia ser a “casa das regiões”
em detrimento de ser a “casa das nações”, evidenciando-se a importância dos enfoques nas
275 problemáticas regionais. Balassa (op. cit) já alertava muito antes que a integração e o desenvol-
vimento das áreas menos desenvolvidas são incompatíveis, e sustentava que a política dirigida à
integração favorece as regiões que possuem polos de desenvolvimento à custa das regiões subde-
senvolvidas. Sendo assim, a integração econômica enfraqueceria a tendência de aglomerações
condicionadas pelas fronteiras, tendendo a aglomerações regionais.
De acordo com Smylr (1997), o objetivo central da reforma dos anos 1980 (quando entra-
ram na União os menos desenvolvidos até hoje Grécia/1981, Espanha e Portugal/1986) da polí-
tica de desenvolvimento regional da Comunidade Europeia foi contribuir para um aumento na
autoridade dos tomadores de decisão regionais. O autor alega que iniciativas políticas podem ser
mais bem compreendidas como ferramentas para o encorajamento dos agentes em implementar
um conjunto de disposições, que vão acabar por privilegiar certos caminhos em detrimento de
outros. Desde a metade dos anos 1980, a Comissão Europeia tem procurado encorajar o empo-
deramento das autoridades regionais na reforma das suas próprias políticas de desenvolvimento.
De acordo com Jones-Evans et al. (1999), um dos principais problemas para o desenvol-
vimento tecnológico nas regiões periféricas europeias é a baixa interação entre a ciência local e
a infraestrutura tecnológica, particularmente no setor universitário, ou seja, a baixa colaboração
entre quem cria e quem absorve, especialmente em trocas com o terceiro setor. Kaufmann (2005),
questiona os efeitos da política regional em gerar certa ambiguidade na estrutura econômica das
regiões mais pobres. O autor revela que os gastos realizados pela UE não atraem Pesquisa e
Desenvolvimento intensivos nas indústrias, e acabam por não valorizar as vantagens comparativas
dessas regiões. Alguns casos de sucesso isolados tornaram-se uma ilusão em face de uma melhor
performance da economia regional de modo geral.
Ainda segundo Jones-Evans et al. (Ibdem), o diálogo entre indústria e instituições acadê-
micas é um assunto pertinente e frequente para a produção de inovação tecnológica, bem como
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para a difusão dessa inovação, sobretudo no setor de pequenas empresas e em economias peri-
féricas. Universidades tornam-se cada vez mais importantes no desenvolvimento das economias
periféricas na Europa (Suécia e Irlanda), no entanto é necessário aprofundar mais conhecimentos
sobre as maneiras de interação da universidade com a indústria.
Como o orçamento da União Europeia (UE) torna-se mais apertado (cada vez mais pelo
constante alargamento desde os anos 90 do século passado) e os principais destinatários das
transferências regionais europeias lutam com crises de dívida, segundo Becker (2012) dúvidas
sobre a utilização ou sobre a efetividade adequada de transferências do orçamento central da
UE para as regiões mais pobres da Europa são muito debatidas. Desde 1975, quando o Fundo
Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) foi fundado, um orçamento significativo tem sido
dedicado para a redução dos desequilíbrios regionais, especialmente em termos de renda per
capita. O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor em 2009, reconhece a coesão regional como um
dos objetivos centrais da União Europeia.
De acordo com Fagerberg (1994), na literatura teórica sobre o crescimento o progres-
so tecnológico está concebido como um “bem livre”, como um subproduto de outras atividades
econômicas ou como resultado de atividades intencionais de Pesquisa & Desenvolvimento em
empresas privadas. Essas atividades econômicas que resultam em progresso tecnológico possuem
direta ligação com as políticas regionais de inovação. Conforme Prange (2004), isso significa que
as medidas na área da ciência, da educação superior e de tecnologia devem fazer com que as
regiões persigam seus objetivos nacionais, de crescimento, emprego e maior igualdade entre as
suas regiões.
Por outro lado, a regionalização e a internacionalização, tornam complexa a formação da
autonomia nacional econômica e em ciência e tecnologia. Kuhlmanna e Edlera (op. cit) afirmam
276
que na Europa a pesquisa pública, a tecnologia e a inovação de políticas não estão mais restritas
apenas às autoridades nacionais, mas também dizem respeito às iniciativas nacionais, suportadas
ou concorrentes, da inovação nas políticas nas regiões ou de programas transnacionais, particu-
larmente nas atividades dentro da União Europeia. Ao mesmo tempo, segundo os mesmos auto-
res, a crescente inovação industrial ocorre dentro das interações internacionais.
Kuhlmanna e Edlera (Ibdem) expõem a visão de que as políticas de iniciativas para a inova-
ção são restritas e se concentram na criação de um “valor agregado europeu”. O o Framework
Programme, por exemplo, tende a seguir os princípios de subsídios e do valor agregado europeu,
o que significa que cada programa e seus respectivos projetos precisam ser justificados através
de cooperação transfronteiriça. Porém, esses projetos tendem a não ser geridos de forma eficaz
pelas administrações nacionais, e os efeitos dessa sinergia acabam por não se tornarem tangíveis
dentro das fronteiras nacionais.
Becker (op. cit) afirma que uma realocação dos fundos entre as regiões-alvo levaria a
um maior crescimento agregado na UE e poderia gerar uma convergência mais rápida do que
o sistema atual faz. Segundo Kaufmann (op. cit.), em suma, as corporações, principalmente as
maiores, que eram anteriormente enraizadas nos sistemas de inovação nacionais, estão perdendo
e relativizando seus relacionamentos com a infraestrutura e a inovação nacionais. Essa internacio-
nalização, na visão de Kuhlmanna e Edlera (op. cit), tem duas consequências, pois afeta questões
graves sobre a autonomia e não deixa espaço aberto para manobras do sistema político de inova-
ção nacional, mas também pode abrir uma janela de oportunidade para inovação transnacional,
havendo possíveis medidas que ultrapassem as estruturas supranacionais.
Por fim, de acordo com Kaufmann (op. cit.), a interrelação do desenvolvimento regional
e da inovação foi reconhecida ao longo dos anos pelos atores políticos regionais, ambas no nível
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nacional e continental. Muitas atividades da União Europeia para suportar o desenvolvimento


regional têm tido um forte foco em implementar performances em inovação. Mudanças estrutu-
rais e de infraestrutra levaram a níveis mais altos de compartilhamento, de competitividade e de
valor agregado das indústrias, sendo diretamente ligadas ao setor de negócios inovadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse artigo procuramos introduzir algumas questões que tem sido constante nos estu-
dos e pesquisas realizadas sobre a transferência de tecnologia e sua incidência territorial em
processos de integração. O foco principal recai sobre o entendimento da manutenção dos níveis
de desigualdade regional existentes na União Europeia, mesmo esta fazendo Política Regional
desde a década de 70 do século passado e teóricos sobre a temática emitirem alertas desde a
década anterior. Mais de quarenta anos de quarenta anos de Política Regional não foram suficien-
tes para mudar os níveis de desigualdade entre os países membros.
Estaria a União Europeia, dessa forma, reproduzindo o padrão capitalista de um desen-
volvimento desigual e combinado, sem alterar a capacidade dos países menos desenvolvidos
construírem suas autonomias capitalistas a partir da efetivação de sua matriz econômica. No
mínimo, estaríamos diante de uma incapacidade de mudar a lógica intrínseca do capital na busca
pelo lucro.
Fez-se, primeiramente, uma exposição sobre o capital e sua territorialidade, buscando
demonstrar os pressupostos e conceitos que reforçam: o quanto deixado à sua própria sorte, o
capital tende a fazer grandes estragos nos processos de integração, pelo aprofundamento das
277 desigualdades regionais. Uma política regional que não construa caminhos para a autonomia
capitalista dos Estados membros é incompleta do ponto de vista da coesão social e de resultados
amplos para as sociedades integradas.
A transferência de tecnologia seria uma forma de encaminhar os Estados menos desen-
volvidos para esta autonomia capitalista. Assim, estudou-se alguns mecanismos e tratados da
União Europeia para verificar o tratamento dado a esta temática, buscando associa-la com política
regional. É possível dizer que a preocupação existe e é realçada nos instrumentos estudados, mas
não chegam a ultrapassar a barreira da manutenção dos níveis de competitividade e proteção de
propriedade industrial.
Por fim, buscou-se num levantamento de literatura encontrar análises mais aprofunda-
das sobre a temática da transferência de tecnologia na política regional da União Europeia. De
uma forma geral, a complexidade relacionada à mundialização do capital e à própria questão
regional da integração europeia impõe grandes desafios para o alcance de autonomia tecnológica
e econômica dos países e regiões menos desenvolvidas.
Assim, parece pertinente que estudos e pesquisas sejam aprofundadas para que se
melhore a capacidade analítica das políticas regionais da União Europeia e se encaminhe o enten-
dimento de seus resultados. Pode-se elencar alguns pressupostos que conduziriam estes estudos:
1) que o capital não seguirá os indicativos da política regional e continuará a reproduzir e até
aprofundar as desigualdades, evitando que países menos desenvolvidos completem sua matriz
econômica capitalista; 2) que a política regional tem sido insuficiente e equivocada para resolver
a equação da matriz econômica dos países menos desenvolvidos, ou; 3) que a política regional é
deliberadamente dirigida pelos países mais desenvolvidos justamente para evitar que os menos
desenvolvidos alcance sua condição, ou seja, para evitar que completem a equação da matriz
econômica capitalista.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
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280
CAPÍTULO XXI

CRISE CIVILIZATÓRIA E A NECESSÁRIA RUPTURA DA


ORDEM VIGENTE

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan21

Danilo Barbosa de Arruda - UNESC


Geraldo Milioli - UNESC

281

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

A crise ecossistêmica tem dado sinais da falência do modus operandi capitalista. Nesse
cenário, acentua-se o paradoxo diante de uma sociedade interligada, baseada em farta tecnolo-
gia e equipamentos de ponta, com produção de riquezas, mas que não sabe resolver questões
elementares de distribuição de renda e oportunidade, com precária gestão ambiental, uso indis-
criminado dos recursos naturais, tornando a Terra um lugar cada vez mais hostil à própria espécie
humana.
Na outra ponta, para tentar mitigar os efeitos adversos do sistema produtivo e suas impli-
cações socioambientais, surgem os pressupostos de uma nova era pautada pela racionalidade
ambiental, por uma ética da vida, pelo bem viver e efetivação dos direitos humanos e sociais. A
desigualdade e formas de dominação existentes entre países desenvolvidos (Norte) e subdesen-
volvidos (Sul) são evidenciadas pela macroeconomia, destruição de recursos naturais, colapso
social e transformações oriundas de decisões político-econômicas. Desse modo, provoca uma
retroalimentação da relação de poder entre ricos e pobres, opressão, utilitarismo, consumismo e
individualismo pregados pelas mídias.
No entanto, guardada as proporções e imperfeições do artigo em comento, até por ques-
tões de delimitação de conteúdo, é notável o desfecho das turbulências que assolam os seres
humanos e a biodiversidade, decorrentes do modelo de produção adotado na maioria dos países
do mundo. Na era da globalização um enorme contingente de materiais, pessoas, serviços e
produtos transitam num fluxo acelerado. Esse fluxo decorrente do mercado internacional e nacio-
nal gera inúmeros efeitos colaterais para a sociobiodiversidade.
282 O meio ambiente agoniza com a velocidade de retirada de insumos que é superior à
reposição natural dos recursos energéticos mostrando a incompatibilidade do crescimento econô-
mico ad infinitum. Direitos humanos e sociais são renegados em prol do crescimento econômico e
da manutenção do establishment atual, quase sempre traduzido num Produto Interno Bruto que
não atende as reais necessidades dos países exportadores de commodities23. Nessa toada, com
a dinâmica da globalização no século XXI, há um exacerbado aumento das incongruências entre
a sustentabilidade, sociedade, economia e meio ambiente conduzindo a conflitos em diversas
escalas e pondo em risco a vida.

RELAÇÕES DE PODER ENTRE PAÍSES DO NORTE E DO SUL: ASSIMETRIAS E


AMBIVALÊNCIAS

As relações de poder existentes na atualidade consolidaram-se ao longo do tempo e dos


ciclos econômicos, bem como de circulação do capital. Após as revoluções industriais e Segunda
Guerra Mundial constituiu-se um seleto grupo de países que ditou os rumos de boa parte do
restante do mundo. O poderio bélico, econômico, científico, político e cultural de Europa, Estados
Unidos, Japão e alguns países esparsos no globo trouxeram uma hegemonia por parte destes em
detrimento dos demais. Um dos resultados decorrentes dessas relações divergentes de poder é
23
Para melhor compreensão, as commodities tradicionais (ou convencionais) são mercadorias padronizadas para compra e venda.
É tudo o que está na prateleira do supermercado. Por exemplo, encontram-se, dentre as commodities tradicionais, garrafas de
água mineral, todas iguais e com a mesma quantidade, mesmo critério de engarrafamento, mesmo tratamento fitossanitário. O
consumidor que compra uma commodity tradicional exige certificado de qualidade, selos que comprovem a fiscalização sanitária
e, nos dias de hoje, questiona-se se trata de alimentos transgênicos ou orgânicos. Para ser uma commodity, o produto passa por
uma série de exigências de comercialização, tributação e transporte, além de enfrentar negociações com os agentes internacionais
na sua colocação no mercado externo. A commodity disputa espaço enfrentando embargos, barreiras tarifárias e não-tarifárias (EL
KHALILI, 2009, p. 58).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

em relação aos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, dito países do Sul. Os países que
se encontram abaixo da linha do Equador, os do Sul, têm várias características em comum.
Perante esse complexo de transformações, mudanças, adaptação cultural sob a batuta
de conflitos e tensões, ondas de imigrações, guerras, crise hídrica, extremos climáticos e outros
que ensejaram a definição de natureza e o tipo de relação exercido em relação a ela no mundo
moderno. Seja uma relação de convivência harmônica e sentimento de pertencer a ela e dela ser
parte, com uma visão holística e integradora da parte no todo e vice-versa, ou modernamente,
uma relação de dominação, de destrutividade e de separação do que é natural ou advindo da
natureza dos demais elementos construídos e elaborados na atualidade (GONÇALVES, 2002, p.96).
Dentre as mudanças e transformações radicais que assolam o mundo, em sua maior
parte, há que se considerar um impacto maior para os países pobres. Essa complexidade ambien-
tal exige uma racionalidade no Sul que possuem problemas e oportunidades semelhantes: uma
ampla riqueza ambiental, desigualdades24 sociais acentuadas, problemas ambientais, conflitos
internos, disparidades regionais e uma gama de especificidades que todos, em maior ou menor
grau, compartilham como herança da colonização. Sendo assim, as assimetrias são evidentes e há
que se procurar entender as causas e consequências disso. Além da origem das questões entre
Norte e Sul, há uma ambivalência das relações de poder que são perpetuadas ou maquiadas ao
longo dos séculos para manter a dominação ideológica, política, social, econômica, educacional,
social, civil. O comércio internacional, a perpetuação ideológica e cultural da globalização25 geram
mais injustiças nas nações da América Latina, Ásia e África consubstanciam esse ciclo de explora-
ção das riquezas e socialização dos custos ambientais26.
Os prejuízos ambientais oriundos da usurpação dos ativos ambientais encontrados nos
países pobres têm dado suporte a uma economia27 voraz. A velocidade de exploração é superior a
283
capacidade de recarga e reposição por parte dos sistemas naturais, seus biomas e ecossistemas. A
transformação da paisagem28 têm sido absurdamente rápida e isso tem provocado impactos das
mais variadas ordens e dimensões. No que tange ao tema das mudanças climáticas, despertou um
debate rico que afeta diretamente países pobres, pois são os mais vulneráveis e com problemas

24
O resultado dessas contradições é antes o aprofundamento do que a atenuação dos desenvolvimentos geográficos desiguais
em suas dimensões tanto políticas como econômicas. A extensão de todo tipo de sistema de dominação pelo Estado reduz zonas
inteiras do globo e vários estratos de população que ali vivem a condições próximas da escravidão. E a concentração de recursos,
principalmente públicos, no espaço produz uma espiral de desigualdades geográficas em todas as escalas. E tudo isso no interesse
da preservação das fontes político-econômicas do poder do Estado que garantem o funcionamento dos livre mercados. Os para-
doxos e contradições se evidenciam em toda parte (HARVEY, 2009, p.238).
25
Neste sentido, o conceito de ambiente se defronta com as estratégias fatais da globalização. O princípio de sustentabilidade sur-
ge como uma resposta à fratura da razão modernizadora e como uma condição para construir uma nova racionalidade produtiva,
fundada no potencial ecológico e em novos sentidos de civilização a partir da diversidade cultural do gênero humano. Trata-se da
reapropriação da natureza e da reinvenção do mundo; não só de “um mundo no qual caibam muitos mundos”, mas de um mundo
conformado por uma diversidade de mundos, abrindo o cerco da ordem econômico-ecológica globalizada (LEFF, 2011, p.31).
26
Assim, a internalização dos custos ecológicos e das condições ambientais da produção implica a necessidade de caracterizar
os processos sociais que determinam o valor da natureza. A revalorização da natureza induzida pelo ambientalismo emergente
está se refletindo na economia pela alta dos preços dos recursos e dos custos ambientais. Porém, o movimento ambiental não só
transmite os custos ecológicos ao sistema econômico como uma resistência à capitalização da natureza; as lutas sociais para me-
lhorar as condições de sustentabilidade e a qualidade de vida abrem um processo de reapropriação social da natureza. Portanto,
o ambientalismo está propondo tanto a descentralização do processo de desenvolvimento como uma reconstrução das próprias
bases do processo produtivo (LEFF, 2011, p.66).
27
É a relação com o não-econômico que falta a ciência econômica. Essa é uma ciência cuja matematização e a formalização são
cada vez mais rigorosas e sofisticadas; mas essas qualidades contêm o defeito de uma abstração que se separa do contexto (social,
cultural, político); ela conquista sua precisão formal esquecendo a complexidade de sua situação real, ou seja, esquecendo que
a economia depende daquilo que depende dela. Assim, o saber economicista que se encerra no econômico torna-se incapaz de
prever suas perturbações e seu devir, e torna-se cego ao próprio econômico (MORIN; KERN, 1995, p.70)
28
A paisagem resulta de um somatório de diferentes elementos, das formas como se inter-relacionam, de informações complexas,
de inúmeras formas de percepção isoladas e de visões analíticas. Ela envolve questões físicas, atuais ou pretéritas, a gênese de
aspectos como a formação geológica e geomorfológica, a diversidade de formas de relevo, a compartimentação geográfica e hi-
drológica, registros de acontecimentos paleoclimáticos e vegetacionais de capital importância para o conhecimento da história do
planeta, marcas deixadas por povos pré-históricos, assim como, os efeitos provocados pelas ações do homem moderno (DELPHIM,
2005, p.4).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

congênitos. Lançando o premente questionamento, quem vai pagar para amenizar os efeitos
que as alterações do clima vão gerar nos países que, diferentemente dos que se tornaram ricos
ao longo dos tempos, emitiram muito menos gases de efeito estufa? Esse aspecto permanece
em discussão e é um dos mais polêmicos, dada a resistência dos países que mais emitiram no
passado- leia-se EUA, Europa e Japão- em financiar os estragos nos países mais pobres (RIBEIRO,
2010, p.77).
Nessa toada, as assimetrias são reais e têm consequências para a sociedade, biodiver-
sidade, a própria economia no longo prazo e contribui para relações de poder desiguais entre os
países do Norte e Sul:

Observa-se que os recursos naturais não são usados pela maioria dos países pobres para
o seu desenvolvimento e melhoria da qualidade e padrão de vida de seus habitantes, mas
para atender exigências financeiras dos países industrializados e credores, suscitando,
por conseguinte, problemas de sustentabilidade sócio-econômica, política e ambiental.
Diante desta realidade, torna-se ainda mais relevante o papel dos organismos interna-
cionais, dos fluxos financeiros, do comércio exterior, dos investimentos transnacionais,
da transferência de tecnologia e das cooperações multi e bilaterais. Mas é lógico que
esta não é uma questão fácil quando se pensa em expansão, taxas de juros, avanço do
protecionismo, níveis de consumo e desigualdades, etc. Porém, o que parece estar em
jogo, nesse momento, é a necessidade de se sair de ajustes puramente econômicos para
as dimensões ecológicas, negligenciadas no passado e de alcance incipiente no presente
(MILIOLI, 1999, p.80).

284
Assim, o bem estar dos países do Norte é advindo, em parte, da exploração, devastação e
degradação dos recursos minerais e energéticos nos países do Sul. As externalidades ambientais29,
o passivo deixado pelas transnacionais fica nos países pobres e todo sortilégio de implicações para
os direitos humanos, econômicos, sociais e ambientais. O real valor de cada produto, serviço e
mercadoria não é devidamente pago, pois o verdadeiro custo não está embutido. É necessário
rever esse conceito de não incutir após as transformações dos recursos naturais, o seu preço equi-
valente desde a extração. Ademais, reprogramar a lógica do modelo capitalista de produção para
uma nova era de imperial necessidade com a vida em todas as suas formas. Diminuir insumos,
substituir tecnologias, é o que afirma o excerto a seguir:

Todavia, o discurso da sustentabilidade chegou a afirmar o propósito e a possibilidade de


conseguir um crescimento econômico sustentado através dos mecanismos do mercado,
sem justificar sua capacidade de internalizar as condições de sustentabilidade ecológica,
nem de resolver a tradução dos diversos processos que constituem o ambiente (tempos
ecológicos de produtividade e regeneração da natureza, valores culturais e humanos,
critérios qualitativos que definem a qualidade de vida) em valores e medições dos merca-
do (LEFF, 2011, p.11).

A ambivalência entre manter o status quo com todas as suas idiossincrasias e investir
num futuro que assegure a sobrevivência humana, a manutenção dos ecossistemas, e um novo
29
Porém, o conceito de ambiente cobra um sentido estratégico no processo político de supressão das “externalidades do desen-
volvimento”- a exploração econômica da natureza, a degradação ambiental, a desigual distribuição social dos custos ecológicos e
a marginalização social- que persistem apesar da ecologização dos processos produtivos e capitalização da natureza (LEFF, 2011,
p.19).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

ritmo socioeconômico requer um trabalho de envergadura que perpassa a interdisciplinaridade


e a visão holística da sustentabilidade para abarcar todos os seres vivos, contemplar sua efetiva
proteção, restauração e melhorias. Entretanto, o que tem se confirmado ao longo das últimas
décadas é um retrocesso na seara da partilha dos bens e riquezas produzidas mundialmente.
Pelo contrário, há um aumento considerável de uma elite que concentra, cada vez mais, poder
econômico-financeiro:

Degradação social decorrente do processo de globalização e neoliberalismo implica a


perda parcial ou total do status social, a exclusão dos direitos a que todo indivíduo tem na
sociedade, levando, quase sempre, à marginalidade e/ou marginalização daqueles que
não possuem a materialidade desses direitos (RATTNER, 1995, 60-65).

Na mesma esteira, o excerto adiante endossa essa profunda ilusão do capitalismo como
único sistema viável num planeta em demasiada crise de valores, em permanente extinção de
espécies, envolto em poluição, guerras, conflitos, escassez de água, migrações forçadas e desas-
tres climáticos:

A realidade do sistema e suas promessas são incompatíveis, afinal a desigualdade, a


competição, o acúmulo, privilégios e concentração de renda são inerentes ao capitalismo.
Sem distinção de classes, sem diferenças sociais, poderio econômico versus pobreza e
marginalização o sistema entra em declínio. Logo, os ideais prometidos no capitalismo se
anulam, pois o inviabilizam, caso liberdade e igualdade sejam oportunizados a todos de
285 maneira concreta. Esses conceitos e valores são reais e objetivos, organicamente gerados
pelo próprio sistema de mercado e dialeticamente ligados a ele de maneira indissociável.
O sistema é mantido e perpetuado graças à desigualdade, acúmulo, retroalimentando as
mazelas sociais de uma esmagadora maioria para incrementar o rendimento e privilégios
de poucos (JAMESON, 1996, p. 280).

A humanidade na contemporaneidade está imersa num espectro complexo de proble-


mas. A globalização aproximou e, ao mesmo tempo, afastou ainda mais os ricos dos pobres, os
imigrantes indesejados dos ricos turistas, os países ricos e desenvolvidos dos pobres subdesen-
volvidos. Tornando latente questões étnicas, culturais, de interesse geopolítico, conflitos inter-
nos e externos, deixando em perspectiva os fatores que engendraram esse caos30. O colapso da
internacionalização para os direitos humanos advém do eufemismo da flexibilização dos direitos
trabalhistas, da usurpação de direitos e garantias constitucionais, da rejeição ao capital natural, da
desvalorização do meio ambiente, da supremacia do ter em detrimento do ser:

Por fim, o excerto adiante põe em evidência sempre que, em questões políticas, o são
juízo humano fracassa ou renuncia à tentativa de fornecer respostas, nos deparamos com
uma crise. Crise esta engendrada pela civilização humana, multifacetada, pois abarca um
30
Na percepção desta crise ecológica foi sendo configurado um conceito de ambiente como uma nova visão do desenvolvimento
humano, que reintegra os valores e potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes subjugados e a complexidade do
mundo negados pela racionalidade mecanicista, simplificadora, unidimensional e fragmentadora que conduziu o processo de mo-
dernização. O ambiente emerge como um saber reintegrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos potenciais
sinergéticos gerados pela articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais. O saber ambiental ocupa seu lugar no vazio
deixado pelo progresso da racionalidade científica, como sintoma de sua falta de conhecimento e como sinal de um processo inter-
minável de produção teórica e de ações práticas orientadas por uma utopia: a construção de um mundo sustentável, democrático,
igualitário e diverso (LEFF, 1986).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

sortilégio de aspectos da vida, incluindo seu próprio fim. Essa espécie de juízo é, na reali-
dade, aquele senso comum em virtude do qual nós e nossos cinco sentidos individuais
estão adaptados a um único mundo comum a todos nós. O desaparecimento do senso
comum nos dias atuais é o sinal mais seguro da crise atual. Em toda crise, é destruída
uma parte do mundo, alguma coisa comum a todos nós, isso é claramente demonstrado
nos atos que excluem, denigrem, marginalizam, subjugam ou incutem no semelhante
que ele é diferente, tipificando-o como uma ameaça, inferior ou passível de extermínio
pelo simples fato de não comungar da mesma língua, traços físicos, vestimentas, dentre
outros (ARENDT, 1972, p.227).

A crise civilizacional atinge todos, em maior e menor grau, dependendo de fatores


como renda, cultura, acesso, território, país de origem, mas está impregnada na sociedade, meio
ambiente e economia da humanidade, como um todo. Perfaz, assim, um desolador espectro
conjuntural que está desgastando conceito de desenvolvimento sustentável. Pois, o termo politi-
camente cunhado para perpetuar com menos agressividade o modelo capitalista, mas não alterar
sua base e funções essenciais, tem sofrido críticas pelo demasiado uso da palavra como se fosse
mágica. Até porque não há um consenso quanto ao adjetivo sustentável, relação desigual Norte-
Sul modelo insustentável de produção e consumo ocidental e todas as suas mazelas.
Diante do exposto, há que se reconhecer que existem vários tipos de desenvolvimento
sustentável para cada região e de acordo com as especificidades de um bioma, cultura e povo. Não
se ater ao simples uso do adjetivo como panacéia, mas sim como um recorte político-ideológico
capaz de superar com outros mecanismos as dicotomias Norte-Sul. Deve-se analisar criticamente
o uso de tecnologias para combater externalidades ambientais de oriundas processos tecnológi-
286 cos diversos, consoante um estilo alternativo de desenvolvimento renunciando ao crescimento
ecológico ilimitado obstando o ritmo de degradação ambiental (DIEGUES, 1992):

A ideologia capitalista difundiu de forma única que a vida seria melhor, muita riqueza seria
gerada e, óbvio, espalhada, que os produtos, mercadorias e serviços trariam felicidade e
acabariam com os problemas existentes na sociedade. No entanto, para grande maioria
das pessoas ao redor do mundo, a globalização acentuou ambivalências já existentes
entre os povos e as questões latentes se acirraram, havendo um exponencial aumento
da crise planetária de refugiados do clima, economias em colapso, guerras, perseguições
políticas e religiosas. Não obstante, dentro das nações e entre elas também houve um
significativo aumento das trocas, comunicação, mas é preciso a compreensão entre os
seres humanos. Além disso, fazer ciência para os seres vivos e não para maximização do
lucro e acumulação por poucos indivíduos e famílias (MORIN, 2002, p.50).

Não obstante, a mitigação dos direitos humanos, a flexibilização e retirada de direitos


trabalhistas e sociais historicamente adquiridos, as externalidades ambientais e os passivos ecoló-
gicos causados pela própria sociedade, iniciativa privada e Estado sob a batuta do dito progresso
e desenvolvimento têm conduzido os povos a um extermínio das outras espécies e condições de
vida para manutenção até mesmo dos elementos essenciais ao homem. Com a socialização dos
custos ambientais e a privatização dos lucros, a questão ambiental passa ser vista na sua comple-
tude já que não é somente técnica, mas sobretudo político-ideológica, com uma práxis recorrente
e pulverizada como “natural”. Sobretudo, depende de interesse político e investimento público e
diz respeito às divergentes posições do social, ambiental e econômico.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A eliminação da expoliação de recursos do Sul para o Norte, com seus interesses hege-
mônicos para construir uma sociedade sustentável levando em consideração suas necessidades
e conhecimentos, as idiossincrasias dos países em desenvolvimento, deixando de lado o padrão
das sociedades altamente industrializadas do Norte e seu modelo único calcado na economia de
mercado irrestrito, com sociedade e meio ambiente em plano de fundo para alcance do extraor-
dinário lucro dos banqueiros e investidores (DIEGUES, 1992).

DIREITOS HUMANOS E GLOBALIZAÇÃO EM PERSPECTIVA NA


CONTEMPORANEIDADE

Os direitos humanos foram sendo adquiridos, construídos e ordenados sistema-


ticamente ao longo dos séculos. É uma invenção social e faz parte do direito ocidental que visa
corroborar para a consecução de objetivos concretos para a comunidade componente num dado
espaço, tempo e regida por ordenamento pátrio participante. Não obstante, os tempos modernos
recrudesceram alguns sentimentos latentes que estavam em dormência desde a configuração
da Europa e Estados Unidos da América como exemplos impostos pela Organização das Nações
Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), sendo decorrência direta das duas Grandes Guerras31 e dos programas
estratégicos de polarização mundial que se seguiram.
Nesse diapasão, houve uma reformulação do Estado de bem estar social para um
Estado liberal, agora neoliberal32, que aprofunda e torna nítido as questões entre classes no capi-
talismo vigente:
287
As misérias do tempo de guerra e do pós-guerra deram lugar ao consumo desenfreado,
ao crescimento industrial e urbano das cidades, à consequente poluição do ar, solo e
águas, e aos constrangimentos da natureza. Todas estas mazelas da cidade industrial e
dos modos de vida moderno fizeram com que alguns grupos de pessoas percebessem
que a poluição das cidades e a diminuição da biodiversidade apontam o aquecimento
global, e a destruição da camada de ozônio, constatando que a catástrofe ambiental é
evidente. Mesmo assim, a industrialização e o consumo continuam a saga de degradação,
utilizam recursos naturais dos países em desenvolvimento, impactam a natureza, poluem
cidades e alteram o clima da Terra (OLIVEIRA; MILIOLI, 2014, p.75).

As implicações advindas da rápida urbanização e da industrialização desordenada, aliado
a outros fatores histórico, sociais, econômicos e culturais, corroboram com modus operandi do
capitalismo para a catástrofe ambiental. Some-se a isso o alto consumo dos países ricos em maté-
rias-primas e insumos, produtos e serviços que são explorados nos países em desenvolvimento
afetando diretamente a população já negligenciada:
31
As misérias do tempo de guerra e do pós-guerra deram lugar ao consumo desenfreado, ao crescimento industrial e urbano das
cidades, à consequente poluição do ar, solo e águas, e aos constrangimentos da natureza. Todas estas mazelas da cidade industrial
e dos modos de vida moderno fizeram com que alguns grupos de pessoas percebessem que a poluição das cidades e a diminuição
da biodiversidade apontam o aquecimento global, e a destruição da camada de ozônio, constatando que a catástrofe ambiental é
evidente. Mesmo assim, a industrialização e o consumo continuam a saga de degradação, utilizam recursos naturais dos países em
desenvolvimento, impactam a natureza, poluem cidades e alteram o clima da Terra (OLIVEIRA; MILIOLI, 2014, p.75).
32
O discurso do desenvolvimento sustentável inscreve as políticas ambientais nos ajustes da economia neoliberal para solucionar
os processos de degradação ambiental e o uso racional dos recursos ambientais; ao mesmo tempo, responde à necessidade de
legitimar a economia de mercado que resiste à explosão, à qual está predestinada por sua própria “ingravidez” mecanicista. As-
sim, precipitamo-nos para o futuro sem uma perspectiva clara para desconstruir a ordem antiecológica herdada da racionalidade
econômica e para caminhar para uma nova ordem social, orientada pelos princípios de sustentabilidade ecológica, democracia
participativa e racionalidade ambiental (LEFF, 1994).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Zygmunt Bauman (1998) adverte que o capitalismo se reinventa e seduz, desperta dese-
jo, consumismo e mercantiliza as relações sociais e tudo que possa ter valor e ser tomado
como mercadoria, serviço ou produto. O mundo na era da globalização não é mais sólido,
se tornou líquido e toma a forma que achar mais producente e for conveniente. Nesse
mote, a mobilidade social, vem consubstanciada como a robustez do capitalismo num
ano em que migrações em massa de países africanos para Europa e de países pobres da
Ásia para os Tigres Asiáticos e economias em expansão. Um chamariz desse glamour da
urbanização é medido pela desigualdade socioeconômica, inerente ao sistema. Afinal,
para existir bilionários e milionários têm que haver muitos na miséria e exclusão.

Discorrer acerca de globalização é falar de problemas inerentes a esse processo exclu-


dente e pernicioso, para quem está fora do circuito do poder econômico, político e social de
destaque para se sobrepor a supremacia do sistema em voga. Enquanto existir desigualdade entre
seres dotados de liberdade e de razão, haverá necessidade de ética. Embora, essa não tenha
poder para impor a igualdade econômica, ela tem o poder de lembrar continuamente aos “mais
iguais” o dever de respeitar o âmbito da liberdade dos demais na busca do bem-estar e da própria
felicidade. Isso é de fundamental importância e relevo, para poder dar amplitude aos que não
têm voz ativa e poder de intervir nos eixos temáticos mais influentes do meio social. “Mesmo que
diferentes, todos são humanos, têm necessidades básicas semelhantes que, por mecanismos de
mercado e livre circulação de mercadorias, serviços e capitais acabam por excluir maciça parcela
da população mundial de direitos humanos mínimos” (FELIPE, 2003, p.85).
Nesse contexto, vê-se que uma alta concentração de recursos e acesso a eles têm desen-
cadeado inúmeros conflitos e tensões entre os povos no momento em que a globalização só
288 expande seus tentáculos aprofundando problemas entre países e dentro desses e suas regiões,
com enfoque para os dilemas da homogeneização cultural que impede um diálogo aberto e franco
sobre o neoliberalismo e suas implicações:

Todos devem ter como objetivo compartilhar os benefícios e custos do uso de recursos
entre comunidades e grupos interessados, entre as comunidades pobres e ricas, entre as
gerações presentes e futuras. Cada geração deve deixar para sua sucedânea um mundo
pelo menos tão diverso e produtivo quanto aquele que herdou. A proteção dos direi-
tos humanos e da natureza é responsabilidade de âmbito mundial que transcende as
fronteiras culturais, ideológicas e geográficas. A responsabilidade é tanto coletiva como
individual (AVELINE, 1999, p.8).

Outrossim, discorrer acerca de direitos humanos e globalização no século XXI é trazer a


lume várias questões e suas causas, origens e possíveis respostas diante do conhecimento que
se tem para tentar obstar os efeitos adversos do massacre ambiental, da exploração do homem
pelo homem, da usurpação dos recursos naturais dos países pobres pelos ricos, dentre outros que
deveriam estar em primazia na agenda política e da iniciativa privada. Desse modo, importantíssi-
mo esclarecer o que é dignidade da pessoa humana:

Há quem aponte para o fato de que a dignidade da pessoa não deve ser considerada
exclusivamente como algo inerente à natureza humana (no sentido de uma qualidade
inata pura e simplesmente), isto na medida em que a dignidade possui também um senti-
do cultural, sendo fruto do trabalho de diversas gerações e da humanidade em seu todo,
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razão pela qual as dimensões natural e cultural da dignidade da pessoa se complemen-


tam e interagem mutuamente, guardando, além disso, relação direta com o que se pode-
rá designar de dimensão prestacional (ou positiva) da dignidade (SARLET, 2008, p.28).

Se a dignidade da pessoa humana requer uma prestação positiva do Estado33 (União,
Estados e Municípios) há, também, uma contrapartida por parte do exercício legítimo da cidada-
nia por parte do povo. Esse povo que é composto de histórias e culturas também têm, por sua
vez, o dever se zelar pelos bens públicos e pelas condições de vida para as gerações vindouras. Em
outras palavras, a geração que habita um dado espaço nesse momento tem o dever de assegurar
o equilíbrio ecossistêmico para o usufruto das gerações do porvir. Nesse caso, há de se trabalhar a
dimensão ambiental, social, urbana, rural, em sua totalidade para contemplar a prestação positiva
de dignidade para como legado civilizacional:

O que se percebe, em última análise, é que onde não houver respeito pela vida e pela
integridade física e moral do ser humano, onde não houver limitação do poder, enfim,
onde a liberdade e a autonomia, a igualdade (em direitos e dignidade) e os direitos
fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço
para a dignidade da pessoa humana e esta (a pessoa), por sua vez, poderá não passar de
mero objeto de arbítrio e injustiças (SARLET, 2008, p.35).

A limitação de poder do próprio Estado, o respeito pela vida e pela integridade física, a
livre expressão e autonomia, igualdade formal e material, visam assegurar a concretização dos
289 direitos fundamentais para impedir a arbitrariedade do mercado e suas injustiças. A regulação
estatal dos excessos cometidos pela economia no neoliberalismo, a fiscalização adequada de
recursos financeiros e transações internacionais, visando diminuir as gritantes diferenças entre
seus cidadãos, facilitando o acesso a direitos e assegurando o exercício de condições básicas para
quem antes estava à margem da sociedade:

A recente crise financeira global, cujo incêndio ainda não foi debelado de todo, serviu
para mostrar o quanto a teoria econômica dominante estava fora da realidade – o que,
aliás, tem precedentes históricos (como na Grande Depressão). A livre mobilidade do
capital e a desregulamentação financeira tornaram os países em desenvolvimento extre-
mamente vulneráveis aos choques globais. Ficou provado que quanto mais aberta e a
economia, maior a necessidade de proteção social do Estado e não o contrário. Qualquer
que seja o rumo que o novo estruturalismo venha a tomar no futuro, o ponto de partida,
sem dúvida, devera ser a redefinição das funções do Estado, particularmente em relação
a sua inserção no mundo globalizado (PEREIRA, 2006, p. 140).

A inserção social, a eliminação das disparidades de renda, diluir a exclusão, miséria e dico-
tomias decorrentes do processo capitalista é dever do Estado que faça por seus cidadãos menos
desprovidos o controle desses excessos. Além disso, na era da expansão comercial, das frontei-
ras apenas para alguns grupos e segmentos sociais, da produção em larga escala, das questões
33
Não obstante, a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força da necessidade ou do instinto de
sobrevivência da sociedade. A história mostrou ad nauseam e ad mortem como as ideologias, os interesses e o poder são capazes
de burlar os mais elementares princípios morais de convivência pacífica entre os humanos. Estas mudanças não serão alcançadas
sem uma complexa estratégia política, orientada pelos princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável,
mobilizada pelas reformas do Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil (LEFF, 2011, p.64).
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humanitárias e ambientais transfronteiriças, do sistema financeiro planetário, da informatização


do saber, da aplicação de tecnologia em diversos setores, engendrando um emblemático rol de
questões das mais variadas ordens para respostas locais, regionais e globais que exigem solução
urgente. Os direitos humanos na modernidade estão à deriva por causa desses e outros perigos
que o excesso de intervenção antrópica incutiu na teia da vida:

Entretanto, há caminhos viáveis pra sanar parcela considerável dessa falta de recursos.
Especialistas apontam que a melhor solução é o imposto progressivo anual sobre o capi-
tal, afinal ele tem mostrado robustez através do número de bilionários e milionários34,
dos lucros recordes de bancos. Com a taxação de grandes fortunas, heranças e lucros, é
possível evitar a espiral desigualadora sem fim e ao mesmo tempo preservar as forças da
concorrência e os incentivos para que novas acumulações primitivas se produzam sem
cessar. Por exemplo, menciona-se a possibilidade de uma tabela de cálculos de tributos
com taxas limitadas a 0,1% ou 0,5% ao ano para patrimônios inferiores a 1 milhão de
euros, 1% para aqueles entre 1 e 5 milhões de euros, 2% para os que estão entre os 5
e 10 milhões de euros, podendo subir até 5% ou 10% ao ano para os patrimônios entre
centenas de milhões ou bilhões de euros. Isso permitiria conter a progressão ilimitada
da desigualdade mundial, pois mostra concretamente que a riqueza produzida mundial-
mente está se concentrando nas mãos de um seleto grupo de pessoas, crescendo num
ritmo insustentável no longo prazo, que deve alarmar mesmo o mais fervoroso defensor
do mercado autorregulado. A experiência histórica indica, além disso, que desigualdades
de riquezas tão desmedidas não têm tanta relação com o espírito empreendedor- o que
refuta o aclamado termo “meritocracia”- e não apresentam nenhuma utilidade para o
290 crescimento, pois ele é amorfo, assimétrico e injusto (PIKETTY, 2014, p.556).

Os direitos humanos devem agir de forma integrada para dar ou apontar soluções e
respostas que transcendem o ordenamento jurídico conceitual típico. Por isso, a transdiscipli-
naridade é requisito essencial para tecer uma macroestrutura para compreensão dos dilemas e
dicotomias existentes hoje.
Conforme o excerto adiante, a falta de racionalidade ambiental e o pensamento a curto
prazo de gestores públicos e iniciativa privada conduzem a um abismo a sociedade presente:

Nós somos herdeiros de um tipo de sociedade, hoje globalizada, que já perdura por
trezentos anos, e que se propôs algo inaudito na história: explorar a Terra e todos os seus
recursos e serviços no solo, no subsolo, nos rios e nos oceanos de forma ilimitada. Faz isso
para aumentar mais e mais a oferta de produtos para o consumo ou então para acumular
riqueza de forma crescente e no tempo mais curto possível (BOFF, 2009, p.108-109).

Os conflitos decorrentes da extrema falta de cuidado com o outro e com os recursos


naturais estão trazendo um sortilégio de malefícios sociais, econômicos, ambientais, e outros que
se somam para retroalimentar tensões e disputas em pleno século XXI. Água doce, matéria-prima,
elementos cruciais para manter o ritmo do crescimento econômico a todo custo traz um chamado
“mercado global” nada mais é do que uma rede de máquinas programadas para atender a um
34
O número de bilionários no mundo aumentou 7% e atingiu 2.325 em 2014, um novo recorde, de acordo com um “Censo de bi-
lionários” publicado nesta semana pelo banco suíço UBS e pela consultoria de Hong Kong Wealth-X. No Brasil, são 61 ricaços, com
US$ 182 bilhões no total, segundo esse levantamento. Outro ranking divulgado recentemente, da revista “Forbes Brasil”, fala em
150 bilionários no país e considera a fortuna em reais, não em dólares (ABE, 2014).
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único princípio fundamental: o de que o ganhar dinheiro deve ter precedência sobre os direi-
tos humanos, a democracia, a proteção ambiental e qualquer outro valor (CAPRA, 2002, p. 268).
Sendo imperioso recorrer a uma nova ética e racionalidade ambientais para projetar, bem como
estimular qual e como será o futuro diante das tragédias socioambientais que, por hora, já são
manifestas.

MODERNIDADE E CONFLITOS AMBIENTAIS: POR UMA NOVA ÉTICA E


RACIONALIDADE AMBIENTAIS

Lançar novos matizes que subsidiem uma nova era para a humanidade é preciso, poeti-
camente falando, quebrar todas os paradigmas e transpor as barreiras impostas pelo status quo.
A pós modernidade será composta de instrumentos e conhecimentos múltiplos que possibili-
tem a sociedade.Satisfazer as necessidades e as aspirações humanas é o principal objetivo do
desenvolvimento.
Nos países em desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número de pessoas-
alimento, roupas, habitação, emprego- não estão sendo atendidas, pois não há distribuição de
renda que seja compatível para pagar pelo alimento, nem acesso a terra que recai na falta de
reforma agrária. Além dessas necessidades básicas, as pessoas também aspiram legitimamente a
uma melhor qualidade de vida, com acesso digno a saúde pública de qualidade, educação básica e
superior, saneamento básico e tratamento de esgotos, acesso a água potável, mobilidade urbana,
melhorias para quem mora no campo.
Num mundo onde a pobreza e a injustiça são endêmicas, sempre poderão ocorrer crises
291 ecológicas e de outros tipos, pois há uma alta concentração de poder, terra, conhecimento e
capitais nas mãos de poucos. Para que haja um desenvolvimento sustentável, é preciso que todos
tenham atendidas suas necessidades e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar
suas aspirações a uma vida melhor (NOSSO FUTURO COMUM, 1988, p.47).
A eliminação das contradições encontradas no âmago das sociedades ocidentais contem-
porâneas requer um arcabouço sociológico, antropológico e filosófico novos. Não apenas ruptura
pontuais e descontínuas, mas sim uma adesão coletiva, planejamento de Estado e com execução
e cobrança para rede privada vislumbrando uma radical alteração comportamental:

Outras manifestações alternativas ao modelo hegemônico surgem aqui e acolá. Muitas


delas vislumbram a necessidade de tornar mais democrático o acesso à base material
da existência. É verdade que as convenções internacionais ainda não representam essa
possibilidade em sua plenitude, em especial quando prescrevem relações desiguais entre
os países partes, mas certamente representam alternativas mais saudáveis que a da
guerra, além de permitirem que países com menor condição econômica e, especialmen-
te militar, expressem seus pontos de vista com sucesso nos foros multilaterais (RIBEIRO,
2010, p.78).

As realizações de Cúpula dos Povos, Conferências Climáticas, Fórum Social Mundial,


cooperativas, bancos de microcrédito e dinheiro alternativo, têm possibilitado a inserção formal
de milhares de pessoas no meio social, empoderando famílias e contribuindo para eliminação da
pobreza extrema. O diálogo, poder de voto e decisão originados pelos representantes dos países
nos tratados e convenções internacionais, criam uma atmosfera de negociação na qual é possível
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obter, sem guerras, ganhos promissores para as searas social, ambiental e econômica na inter-
minável jogo de poder por mercado consumidor e fornecedores de insumos. Nessa esteira, uma
nova racionalidade ambiental que abarque as diversas dimensões do ser, da relação homem-na-
tureza, natureza-homem, do todo e suas partes recai numa ética conceitual que está sendo tecida
para fugir ao mero antropocentrismo.
Assim sendo, se reforça a premissa crucial da dignidade da pessoa humana porque
não pode existir inclusão de quem nunca estive dentro, de quem só vive na marginalização socioe-
conômica e sofrendo injustiça ambiental, de tal forma que na qualidade intrínseca e distintiva
reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por
parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudá-
vel, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria
existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET, 2008, p. 37-38).
Em termos gerais, o paradoxo oriundo da base de acumulação e concentração de capitais
para medir o desenvolvimento de um povo, pautando em índice econômico o bem estar social
deve ser refutado, pois esse método avaliativo é distorcido e não dá vazão para aferir qualitativa-
mente uma nação. Conectado a isto, num contexto político, econômico, sócio-cultural e ambien-
tal, essa tendência trouxe algumas inquietações. Então, meio ambiente e desenvolvimento não
se constituem questões isoladas ou desconectas, mas estão interligadas e por conseguinte não
podem ser tratadas separadamente dado a (trans)interdisciplinaridade. A questão, portanto, tem
um fundo teórico de extrema importância: meio ambiente e desenvolvimento constituem parte
de um sistema complexo de causa e efeito, estabelecendo conexões e uma simbiose difícil de
292 compartimentalizar.
A partir dessa leitura, em que os desgastes ambientais e os padrões de desenvolvimen-
to econômico interligam-se a vários fatores sociais e econômicos, bem como as características
sistêmicas transcendem os limites internos e geográficos das nações, a questão da segurança dos
ecossistemas passa a ganhar uma importância crucial. Nesse sentido, a necessidade de interliga-
ção das várias ciências e de se interpretar integradoramente os conceitos e teorias para na prática
ter uma aplicação mais acertada (MILIOLI, 1999, p.73).
Exposto isso, uma reordenação da base produtiva e do que é primordial para a huma-
nidade entra em cena. O parâmetro é a felicidade e qualidade de vida, não mais a acumulação
de recursos e bens materiais, perfazendo um novo trajeto que possibilita a economia ecológi-
ca lançar um olhar crítico sobre a degradação ecológica energética resultante dos processos de
produção e consumo, tentando sujeitar o intercâmbio econômico às condições do metabolismo
geral da natureza, incutindo os passivos ambientais no processo produtivo e mudando a relação
do público consumidor com o consequente resíduo sólido gerado (LEFF, 2011, p.44).
Não obstante, o antagonismo desempenhado por mecanismos de mercado que insistem
em perpetuar o estabilishment e há contracenso nas políticas públicas que, grosso modo, nem
sempre privilegiam a longo prazo a extração, distribuição e solidariedade entre os detentores da
biodiversidade:

Na confluência dos múltiplos interesses em jogo na transição para uma ordem econômi-
ca sustentável, abre-se um amplo espaço de concordâncias e um espectro de modelos
sociais alternativos. Neste processo, parece pouco realista enfrentar o projeto neoliberal
tão somente com os valores de uma ética conservacionista. Um dos grandes desafios que
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a sustentabilidade enfrenta é a construção do conceito de ambiente como um potencial


produtivo sustentável; isto é, materializar o pensamento complexo numa nova racionali-
dade social que integre os processos ecológicos, tecnológicos e culturais, para gerar um
desenvolvimento alternativo (LEFF, 2011, p.60).

Repensar o meio ambiente significa alterar radicalmente o estabilishment e a ideologia


do capitalismo selvagem. Transpor as barreiras do mero consumismo35 e mecanismos de domi-
nação instrumentalizado pela globalização. Viver numa cidade ou no campo, desde que com
dignidade humana, pautado por novos valores sociais alicerçados no comprometimento com o
próximo e com o outros seres vivos, acredito que uma sociedade nova requer isso. Planejamento,
organização e execução de planos que envolva todos os setores de uma sociedade democrática e
sustentável são regras básicas para se tecer uma nova era em termos de crescimento e desenvol-
vimento sociodemográfico:

Constatamos, então, que há muitos tipos de sociedade, com suas instituições e normas
legais que organizam de forma diferente os relacionamentos com a natureza. Em algu-
mas, especialmente nos povos originários, os indígenas, vigora uma profunda comunhão
com a natureza e um cuidado natural para com os ecossistemas. Disso resulta uma gran-
de harmonia entre ser humano e meio ambiente. Há outras que quebram essa harmonia.
Em geral, por onde passa, o ser humano deixa um rastro de irresponsabilidade e falta de
cuidado (BOFF, 2009, p.108).

293 Nesse mote, há limites para o crescimento exponencial dos capitais e fundação e subsis-
tência das condições ideais de vida numa cidade para seres humanos. Esses limites da urbaniza-
ção e fatores limitantes de recursos são: água potável, saneamento básico, tratamento de água
e esgoto, destinação adequada de resíduos sólidos, mobilidade urbana, auto sustentação em
termos de emprego e renda, qualidade de vida, bem-estar, dentre outros sendo fundamental
uma gestão ambiental participativa:

A gestão ambiental participativa está propondo, além da oportunidade de reverter os


custos ecológicos e sociais da crise econômica, a possibilidade de integrar a população
marginalizada num processo de produção para satisfazer suas necessidades fundamen-
tais, aproveitando o potencial ecológico de seus recursos ambientais e respeitando suas
identidades coletivas. Assim estão surgindo “iniciativas descentradas” para construir
uma nova racionalidade produtiva, fundada em práticas de manejo múltiplo, integrado e
sustentado dos recursos naturais, adaptadas às condições ecológicas particulares de cada
região e aos valores culturais da comunidade (LEFF, 2011, p.63).

Ainda assim, há fissuras que devem ser levadas em consideração na concepção de reso-
luções dos conflitos socioambientais:

Não obstante, a transição para um desenvolvimento sustentável não se fará por força
da necessidade ou do instinto de sobrevivência da sociedade. A história mostrou ad
35
A Terra já ultrapassou em 25% sua capacidade de carga e regeneração. Não iremos enfrentar uma grande crise. Já estamos den-
tro dela. Estudos da Universidade de Campinas (São Paulo) revelaram que bastou o aumento no clima do Estado de São Paulo e no
sudeste de Minas Gerais para fazer com que as flores de café caíssem antes de formarem o grão. E a Embrapa mostrou o mesmo
em relação ao milho, ao feijão e a soja (BOFF, 2009, p.110).
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nauseam e ad mortem como as ideologias, os interesses e o poder são capazes de burlar


os mais elementares princípios morais de convivência pacífica entre os humanos. Estas
mudanças não serão alcançadas sem uma complexa estratégia política, orientada pelos
princípios de uma gestão democrática do desenvolvimento sustentável, mobilizada pelas
reformas do Estado e pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil (LEFF,
2011, p.64).

O que explica uma luta de classes, uma dicotomia de interesses, ensejando um amál-
gama de ideais, necessidades, desejos e sonhos que estão permeados por culturas diferentes e
sujeitos diversos. Essa divisão social engendra uma hierarquia que tende a sedimentar os pode-
rios econômicos, cultural, geopolítico, estratégico e de perpetuação das classes dominantes36.
O que se tem é uma ascensão das cidades que ficam nos países ricos (Norte) em detrimento
das megalópoles instaladas nos países periféricos (Sul). As externalidades ambientais e passivos
causados pela industrialização têm anuência do Estado, pois o mesmo mantém relações de poder
com a iniciativa privada.
Nesse diapasão, há uma nítida performance da racionalidade econômica em face da
racionalidade ambiental, deixando para a tecnologia resolver os problemas que ela mesma engen-
drou. Eis a falsa crença de que os problemas do capitalismo exacerbado serão por ele mesmo solu-
cionados. Ainda, conforme Leff (2001, p.59), “existem processos ecológicos e valores humanos
impossíveis de serem reduzidos ao padrão de medida do mercado”.
Como pressuposto da globalização, o neoliberalismo advém da alta capacidade de adap-
tação do capital e sua sinuosidade para transformar quaisquer coisa, pessoa, material ou objeto
294 em mercadoria que seja passível de lucro. No Brasil e no mundo, observa-se uma fuga de capitais
e cérebros para os países que possam ofertar insumos e mão-de-obra barata. Lógico que a “flexi-
bilização” e os direitos trabalhistas e ambientais conquistados ao longo de séculos são ultrajados
nesse processo de circulação de mercadorias e serviços:

O tipo de indústria que mobiliza os ciclos econômicos no Brasil necessitou e necessita


concentrar a renda para viabilizar o padrão de consumo dos países capitalistas centrais e
isso pode ser visto em todo o território nacional com o vigor de largos nichos de segmen-
tação social. Um sistema tributário que concentra assustadoramente a renda não pode
produzir senão um cenário social de desigualdade (BARBOSA, 2007, p.3).

Nessa toada, o discurso do Desenvolvimento Sustentável como meio da autopromoção


dos povos com respeito à natureza foi concebido para perpetuar o capitalismo. Todavia, ainda
assim, é considerado um avanço, mesmo não tendo sobressaído o conceito original de ecodesen-
volvimento, pois poria fim a era do capitalismo predatório. Mas, há teóricos que defendem o DS
dizendo que ele erradica a pobreza e criando alternativas de desenvolvimento de base local, parti-
cipativa e descentralizada (LEFF, 2001, p.61). Rompendo com a lógica dominante, uma gestão
ambiental que trabalhe o desenvolvimento diferente para os países do terceiro mundo que devem
trabalhar melhor seus recursos e não seguir, meramente, o padrão hegemônico euroamericano
que foi imposto pelo neoliberalismo (LEFF, 2001, p.65).
36
Historicamente existem conflitos entre as classes sociais que existem na sociedade. Dentro de uma estrutura social há estratifica-
ções em que a classe dominante possuirá e controlará os estoques dos recursos econômicos (ou meios de produção), e controlará,
dessa maneira, o destino é a burguesia, que detém o capital, enquanto a classe subordinada é o proletariado (cujos membros têm
apenas a habilidade para o trabalho, que eles devem vender para sobreviver). A exploração ocorre por meio da expropriação da
mais-valia, o que significa dizer que a recompensa do proletariado por vender seu trabalho vale menos do que o valor de troca do
produto quando vendido. Esses conflitos são minimizados através de mecanismos ideológicos (instituições educacionais, religião
e mídia de massa) existentes na sociedade. (EDGAR; SEDGWICK, 2003, p. 58-59).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise socioambiental engendrada no Brasil é semelhante, em muitos aspectos, a mesma


crise que perpassa o planeta Terra. Uma premissa universal é a que a civilização ocidental e toda
sua conjectura trouxe inúmeras transformações para o meio ambiente na qual está inserida. Ao
longo da história, houve uma acumulação contínua de conhecimentos e capitais para culminar no
capitalismo que se tem hoje. Com a formação do Estado Moderno e as profusões da revolução
industrial houve uma acentuada sistematização da crise ecológica e social que permeia o cotidia-
no da humanidade atualmente.
As evoluções técnico-científicas e os problemas decorrentes do modo de produção capi-
talista, o extremo uso e dependência dos recursos naturais e energéticos, trouxeram uma gama
de degradações sociais, ambientais, geográficas, físicas e humana. Mediante esse cenário desola-
dor, há uma congênita e famigerada crise que se instala nos quatro cantos do mundo nos diversos
campos supramencionados.
Os obstáculos encontrados são os mais diversos, dentre eles podem ser citados: perda
de direitos, flexibilização de direitos, mão-de-obra escrava, trabalho infantil, prostituição, tráfi-
co internacional de seres humanos, poluição ambiental, devastação da fauna e flora, poluição
dos recursos hídricos, questões de mobilidade urbana, violência, fome, desigualdade, exploração
Norte-Sul e dentro das regiões desses próprios países. Não obstante, as possibilidades para um
futuro alternativo já são, em alguma medida, encontradas. Investimento em energia renovável;
tratamento de água e esgoto com alcance 100%, educação pública de qualidade e universal;inves-
tir em pessoas e seus talentos e não em instituições financeiras; erradicar a pobreza extrema e a
295 desigualdade entre países e dentro deles; diminuir o consumismo; massificar o acesso a tecnolo-
gias de baixo custo e alto impacto para populações carentes; empoderar pessoas; distribuir recur-
sos a baixo ou zero custo para países pobres, possibilitando pontes e conexões para um futuro
diversificado e pautado nas relações humanas de qualidade.
Uma nova era para a humanidade pode ser composta por uma sociedade que tenha
ações concretas de um novo porvir. Um mundo diferente é possível se houver comprometimento
e engajamento político, civil, privado, e todos os atores sociais se unirem para utilizar os meca-
nismos já existentes para cada localidade ser transformada. A mudança pode e deve acontecer,
pois o mundo está beirando o caos e já padece de inúmeros conflitos nas dimensões humana,
ambiental, cultural, psicológica, cidade, política, levando ao colapso civilizacional. Alternativas de
desenvolvimento e manutenção das condições de vida na Terra são apontadas por especialistas e
estudiosos.
A questão recai bastante na aceitação política e privada, já que têm um peso acentuado
na disseminação de novas práticas e ideias, e no interesse em multiplicar, dinamizar e ratificar
esses instrumentos que visam aniquilar os problemas que assolam a humanidade. É intrínseco da
ideologia capitalista e neoliberal demarcar territórios para exploração e zonas de mercantilização
das mercadorias. Esse processo torna objeto não só os insumos e mercadorias decorrentes da
matéria-prima natural e transformada, mas os próprios seres humanos. Romper essas barreiras e
limitações do sistema significa transpor o sistema e criar uma nova base para disseminar poetica-
mente e enfaticamente laços de humanidade e respeito para com a diversidade em todas as suas
formas e variáveis.
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CAPÍTULO XXII

BIODIVERSIDADE VEGETAL EM SANTA CATARINA

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan22

Guilherme Alves Elias - UNESC


Robson dos Santos - UNESC
Vanilde Citadini-Zanette - UNESC

298

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

O termo Biodiversidade é a forma contraída de diversidade biológica, e está intimamente


relacionado com os temas fundamentais da ecologia e da biologia evolutiva, com a diversidade
de espécies e com os ambientes que lhe servem de suporte, ao mesmo tempo em que são supor-
tados por ela, sendo resultado do processo evolutivo (FRANCO, 2013). Dentre os 17 países que
abrigam 70% da riqueza de espécies do planeta (Estados Unidos da América, México, Colômbia,
Equador, Peru, Venezuela, Brasil, República Democrática do Congo, África do Sul, Madagascar,
Índia, Malásia, Indonésia, Filipinas, Papua Nova Guiné, China e Austrália), o Brasil é o mais megadi-
verso (TURNER et al., 2007)and it compromises the essential benefits, or ecosystem services, that
humans derive from functioning ecosystems. Securing both species and ecosystem services might
be accomplished with common solutions. Yet it is unknown whether these two major conserva-
tion objectives coincide broadly enough worldwide to enable global strategies for both goals to
gain synergy. In this article, we assess the concordance between these two objectives, explore
how the concordance varies across different regions, and examine the global potential for safe-
guarding biodiversity and ecosystem services simultaneously.We find that published global prio-
rity maps for biodiversity conservation harbor a disproportionate share of estimated terrestrial
ecosystem service value (ESV. Essa grande biodiversidade, por sua vez, garante os mais distintos
serviços ecossistêmicos que são vitais para a sobrevivência e o bem-estar humanos (SCARANO;
CEOTTO, 2016).
O Brasil também abriga em seu território a maior riqueza de espécies da flora, além
dos maiores remanescentes de ecossistemas tropicais (MYERS et al., 2000), atualmente, sendo
299 reconhecidas 46.366 espécies para a flora brasileira (FLORA DO BRASIL 2020 EM CONSTRUÇÃO,
2017), podendo, seguramente, desempenhar papel estratégico na consolidação do desenvolvi-
mento nacional, bem como na qualidade de vida da população brasileira (CORADIN; SIMINSKI;
REIS, 2011).
No entanto, a crise da biodiversidade mundial é evidente a partir da estimativa de que a
taxa global de extinção de espécies é, pelo menos, mil vezes superior às taxas históricas (MACE;
MASUDIRE; BAILLIEI, 2005), sendo atribuído a quatro fatores determinantes, entre eles: destrui-
ção de habitat, ação predatória humana excessiva, espécies invasoras e cadeias de extinção
(DIAMOND, 1989). Com isso, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas de cooperação
internacionais para que esses fatores não afetem ainda mais a vida na Terra, destacando-se a
Convenção da Diversidade Biológica.

CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Os objetivos da Convenção da Diversidade Biológica, assinada durante Conferência das


Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro,
no período de 5 a 14 de junho de 1992, são:

[...] conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componen-


tes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos
genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferên-
cia adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais
recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado (MMA, 2000, p. 9).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

As nações se propuseram a atuar em três níveis da biodiversidade: diversidade de ecos-


sistemas, de espécies e a diversidade genética dentro de cada espécie (SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013). Os ecossistemas são as primeiras unidades completas na hierarquia ecológica, uma vez
que abrangem componentes físicos e biológicos, interagindo entre si e com o meio em que habi-
tam (ODUM; BARRET, 2007). As espécies, como segundo nível, são consideradas como comuni-
dades reprodutivas isoladas de outras comunidades (MALLET, 1995) mantida por compartilhar
um estoque comum de genes (ODUM; BARRET, 2007). O terceiro e último nível, destacado pela
convenção, foi a variabilidade genética, relativo a diversidade dentro das espécies (SEVEGNANI;
SCHROEDER, 2013).
O Brasil representa papel importante dentro da Convenção da Diversidade Biológica, pois
é um país com elevado número de espécies (megadiverso) quando comparado a países de clima
temperado, abrigando 10% das espécies do planeta (LEWINSOHN; PRADO, 2005). Esse expressivo
número, sobre a biodiversidade brasileira (Imagem 1), revela a importância do avanço no conhe-
cimento científico sobre os seis biomas existentes no Brasil, uma vez que apresentam peculiarida-
des e grupos específicos de seres vivos.

Imagem 1 - Número de espécies de plantas e fungos do Brasil


Imagem 1 - Número de espécies de plantas e fungos do Brasil

300

Fonte: SIBBr (2016).

Fonte: SIBBr (2016).


BIOMAS BRASILEIROS

O bioma, na definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012), é o


conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos
e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e histórias compar-
tilhadas de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria, podendo ser definido
como uma grande área de vida formada por um complexo de ecossistemas com características
homogêneas (SANTOS et al., 2016).
Outras definições consideram que um bioma é uma área do espaço geográfico que tem
por características a uniformidade de um macroclima definido, de uma determinada fitofisionomia
ou formação vegetal, de uma fauna e outros organismos vivos associados, conferindo ao bioma
uma ecologia própria, com estrutura e funcionalidades peculiares (COUTINHO, 2006; SANTOS et
al., 2016).
O Brasil possui grande extensão territorial, abrigando seis biomas: Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa. Todos eles com características heterogêneas, em
diversos aspectos, contudo, em virtude da degradação ambiental, são considerados em perigo.
Um dos biomas mais ameaçados e degradados é a Mata Atlântica, que vem sendo explorado por
mais de 500 anos (MORELLATO; HADDAD, 2000).

BIOMA MATA ATLÂNTICA

O bioma Mata Atlântica estendia-se por aproximadamente 1.300.000 km2, cobrindo


17 estados do território brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), apesar de existir grande divergência a respei-
to da área de abrangência original da Floresta Atlântica (SANTOS et al., 2016).
Com diferentes ecossistemas, o bioma Mata Atlântica abriga parcela significativa da
biodiversidade do Brasil e do mundo. Os altos níveis de riqueza e endemismo se devem a gran-
de distribuição latitudinal e conferem características favoráveis ao desenvolvimento de espécies
endêmicas. O grau de riqueza associado ao desmatamento incluiu a Mata Atlântica no cenário
mundial como um dos 35 hotspots de biodiversidade, que são áreas prioritárias para conservação
(EISENLOHR; OLIVEIRA-FILHO; PRADO, 2015).
Dentre os estados cobertos pela Mata Atlântica, apenas o Espírito Santo, Rio de Janeiro
e Santa Catarina encontram-se totalmente inseridos no bioma, onde ainda são encontrados gran-
des fragmentos florestais em diferentes estágios de sucessão, restando poucos remanescentes
de floresta primária (VIBRANS et al., 2012a, 2015). Klein (1978) definiu, em seu mapa fitogeográ-
fico, sete regiões fitoecológicas (Imagem 2), levando em consideração as características de cada
formação:

Imagem 2 - 2Mapa
Imagem - MapaFitogeográfico
Fitogeográfico dede Santa
Santa Catarina.
Catarina.

Fonte:Fonte:
Adaptado de Klein (1978).
Adaptado de Klein (1978).
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FLORESTA OMBRÓFILA DENSA (FLORESTA PLUVIAL ATLÂNTICA)


A Floresta Ombrófila Densa cobria originalmente uma área de 29.282 km², equivalente
a 31% da superfície do estado de Santa Catarina. Na Floresta Ombrófila Densa, pode-se observar
cinco formações distintas (IBGE, 2012):

• Formação Aluvial: não condicionada topograficamente e apresenta sempre ambientes repe-


titivos, dentro dos terraços aluviais dos flúvios;
• Formação das Terras Baixas: situada em áreas de terrenos sedimentares do terciário/quater-
nário-terraços, planícies e depressões aplanadas não suscetíveis a inundações, distribuída de
5 m até 30 m de altitude;
• Formação Submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras, em altitudes de 30
m até 400 m;
• Formação Montana: situada no alto dos planaltos e/ou serras, de 400 m até 1.000 m de
altitude;
• Formação Alto-Montana: situada acima dos limites estabelecidos para a formação montana.

FLORESTA OMBRÓFILA MISTA (FLORESTA COM ARAUCÁRIAS)


Essa formação florestal, também chamada de Floresta com ou de araucárias, pela presen-
ça inerente de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze, está reduzida a menos de 3% da área origi-
nal, sobrevivendo nos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, bem como em
maciços descontínuos, nas partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais
302 (SANTOS et al., 2016). Essa floresta cobria, originalmente, uma área de 42.851 km², equivalente a
45% da superfície do estado de Santa Catarina (VIBRANS et al., 2013a). Grande parte da cobertura
florestal, atualmente, está fragmentada e metade das áreas analisadas encontra-se com até 20
hectares (VIBRANS et al., 2013b).

FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL (FLORESTA CADUCIFÓLIA)


A Floresta Estacional Decidual cobria originalmente uma área de 7.946 km², equivalente
a 8% da superfície do estado de Santa Catarina (VIBRANS et al., 2012b). É uma das formações mais
ameaçadas, com poucas áreas remanescentes em regiões da Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul. Possui vegetação ocorrente em locais com duas estações bem demarcadas:
uma chuvosa, seguida de outra com longo período seco. Metade das árvores perde as folhas na
época de estiagem (SANTOS et al., 2016). Aproximadamente 60% da cobertura da floresta está
altamente fragmentada, com área de até 20 hectares (VIBRANS et al., 2012b).

ESTEPE (CAMPOS DE ALTITUDE)


Foi adotado o termo estepe para os campos brasileiros desde o contato com a região da
Savana (Cerrado), nas imediações da cidade de Ponta Grossa, no Paraná, acerca de 25º sul, até o
extremo sul do país, onde se integram aos extensos Pampas sul-americanos (IBGE, 2012). O tipo
de vegetação campestre predomina, com muitas espécies herbáceas, arbustivas e de arvoretas,
coexistindo na matriz de gramíneas (CABRERA; WILLINK, 1980; SANTOS et al., 2016).
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AMBIENTES ASSOCIADOS AO BIOMA MATA ATLÂNTICA

FORMAÇÕES PIONEIRAS DE INFLUÊNCIA MARINHA (RESTINGA)


A vegetação da Restinga em Santa Catarina possui características peculiares, e reúne
um conjunto de ecossistemas com alta heterogeneidade ambiental, ocorrendo desde dunas até
planícies costeiras (SANTOS et al., 2017)foi realizado um estudo fitossociol\u00f3gico do compo-
nente arbustivo-arb\u00f3reo na restinga da Lagoa do Arroio Corrente, no munic\u00edpio de
Jaguaruna, sul do Estado. Para amostragem da vegeta\u00e7\u00e3o, foi usado o m\u00e9todo
de parcelas, incluindo os indiv\u00edduos com di\u00e2metro a altura do solo (DAS. A Restinga
ocupa grandes extensões do litoral, sobre dunas e planícies costeiras. Inicia-se junto à praia, com
gramíneas e vegetação rasteira, e torna-se gradativamente mais variada e desenvolvida, à medida
que avança para o interior, podendo também apresentar brejos com densa vegetação aquática
(SANTOS et al., 2016).

FORMAÇÕES PIONEIRAS DE INFLUÊNCIA FLUVIOMARINHA (MANGUEZAL)


O Manguezal é uma formação que ocorre ao longo dos estuários, em função da água
salobra produzida pelo encontro da água doce dos rios com a do mar. Possui vegetação caracte-
rística, pois há apenas sete espécies de árvores, mas abriga uma diversidade de microalgas pelo
menos dez vezes maior. Serve de criadouro para várias espécies de peixes, crustáceos e outros
animais mais sensíveis, tendo seu limite austral no município de Laguna, no estado de Santa
Catarina (SANTOS et al., 2016).
303
AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE
Estima-se que a extinção de espécies em âmbito global tenha atingido um nível no míni-
mo 1.000 vezes maior que os índices históricos (MARTINELLI; MORAES, 2013). Santa Catarina,
assim como outros estados brasileiros, sofrem com a urbanização desordenada e consumo exage-
rado dos recursos naturais, exigindo a destruição da biodiversidade, uma vez que 40% de tudo
que o planeta consegue produzir é utilizado pelas pessoas (WILSON, 1997). Cinco fatores são
citados pela Convenção da Diversidade Biológica (MMA, 2000):

1) Perda de hábitat: a perda da biodiversidade provocada pela mudança no uso da terra originou
principalmente na Mata Atlântica, a formação de locais com grande diversidade de espécies e
altos níveis de endemismo, com percentual elevado de perda de hábitat (MYERS et al., 2000).
Além disso, uma das principais causas para essa perda de habitat está relacionada à conver-
são dos ecossistemas naturais em áreas de cultivo agrícola, que mundialmente alcançam de
20 a 50% do total de áreas nativas (SEVEGNANI; SCHROEDER, 2013).
2) Uso insustentável do ecossistema: a sobre-exploração da biodiversidade, geralmente moti-
vada pelas necessidades da sociedade (alimentação, combustível e moradia, resultam em
uma combinação de consumo não sustentável nos países desenvolvidos e da persistência da
pobreza nos países em desenvolvimento (MEA, 2005).
3) Mudanças climáticas: os efeitos serão, progressivamente, mais devastadores nos próximos
anos, afetando diretamente cadeias alimentares, a fenologia das plantas, bem como a sincro-
nização com os ritmos biológicos dos animais (MARENGO, 2006; SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013). Além disso, o desmatamento das florestas tropicais e subtropicais é considerado o
segundo maior desencadeador de mudanças climáticas no Planeta (STRASSBURG et al., 2010).
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4) Plantas e animais invasores: a introdução dessas espécies pode causar graves danos à fauna
e flora nativas, uma vez que podem competir por recursos alimentares, transmitir doenças,
causar mudanças genéticas e, sobretudo, ocasionar a extinção (SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013).
5) Poluição: o acúmulo de fósforo ou nitrogênio, derivado de áreas agrícolas leva à proliferação de
algas nos ambientes aquáticos, causando a toxicidade do meio, levando a um gasto excessivo
de oxigênio, podendo ocasionar a morte de diversos organismos (SEVEGNANI; SCHROEDER,
2013). As principais causas para esses fenômenos estão ligadas ao adensamento populacional
em regiões litorâneas, bem como aumento das áreas agrícolas (MMA, 2000).

INVENTÁRIO FLORÍSTICO FLORESTAL DE SANTA CATARINA


O estado de Santa Catarina é pioneiro nos estudos de sua flora (ELIAS et al., 2016)repre-
sents an economic alternative for people, being very important in forest environments. Objective:
This paper presents a study of large native arborescent palm (Arecaceae, inicialmente com a
Flora Ilustrada Catarinense, idealizada e desenvolvida pelo Pe. Dr. Raulino Reitz e Dr. Roberto
Miguel Klein (REITZ, 1965), publicada pelo Herbário Barbosa Rodrigues, de Itajaí, de 1965 a 2011.
Atualmente, Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a finalizar seu Inventário Florístico
Florestal (VIBRANS et al., 2012a, 2012b, 2013b, 2013c) (VIBRANS et al., 2012a,b, 2013b,c). Os
resultados revelaram um cenário preocupante sobre os remanescentes florestais catarinenses
(VIBRANS et al., 2013a), necessitando de medidas concretas de preservação com intuito de rever-
ter algumas das tendências mais alarmantes:

304 • A cobertura florestal remanescente em Santa Catarina atualmente é de 29% (formações


florestais com mais de 10 m de altura e mais de 15 anos de idade);
• As três regiões fitoecológicas de Santa Catarina apresentam cobertura florestal de 16% para
a Floresta Estacional Decidual, 24% para a Floresta Ombrófila Mista e 40% para a Floresta
Ombrófila Densa;
• Os remanescentes florestais estão empobrecidos, tendo de 30 a 50 espécies lenhosas, quan-
do o ideal seria de 60 a 100;
• Das espécies arbóreas registradas há 50 anos pelos botânicos Pe. Dr. Raulino Reitz e Dr.
Roberto Miguel Klein, 20% não foram mais observadas em 2010;
• Dentre as florestas do estado, 95% são constituídas por formações secundárias, consideradas
jovens com baixo estoque de diversidade, de biomassa e de carbono;
• Dos fragmentos florestais de Santa Catarina, 85% possuem área menor que 50 hectares, alta-
mente impactados, em seu entorno, por intensivo uso agrícola;
• Baixa diversidade genética em comunidades de várias espécies importantes, como Euterpe
edulis Mart. (palmiteiro), Dicksonia sellowiana Hook. (xaxim-bugio) e Ocotea catharinensis
Mez. (canela-preta);
• Aumento do risco de extinção local de diversas espécies devido à perda de adaptabilidade e
dinamismo populacional.

A seguir estão relacionadas as espécies com maior valor de importância nos remanescen-
tes florestais, por tipo de vegetação no estado de Santa Catarina, segundo o Inventário Florístico
Florestal de Santa Catarina (VIBRANS et al., 2012a,b, 2013b,c) (VIBRANS et al., 2012a, 2012b,
2013b, 2013c).
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Tabela 1 - Dez espécies com maior valor de importância (VI) nos


Tabela 1 - Dez espécies com maior valor de importância (VI) nos remanescentes da Floresta Ombrófila Densa, em
remanescentes da Florestaordem Ombrófila Densa, em ordem decrescente de VI
decrescente de VI
Nome científico Nome popular
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. Tanheiro
Alsophila setosa Kaulf. xaxim-setoso
Hieronyma alchorneoides Allemão Licurana
Psychotria vellosiana Benth. Caixeta
Cyathea phalerata Mart. Samambaiaçu
Euterpe edulis Mart. Palmiteiro
Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Canjerana
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Jerivá
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin jacatirão-açu
Casearia sylvestris Sw. cafezeiro-do-mato
Fonte: Vibrans
Fonte: Vibrans et
et al.
al. (2013a).
(2013a).

Tabela
Tabela 2 - Dez espécies 2 -maior
com Dezvalor
espécies com maior
de importância valor
(VI) nos de importância
remanescentes (VI) Ombrófila
da Floresta nos Mista, em
remanescentes da Florestaordem Ombrófila Mista,
decrescente de VIem ordem decrescente de VI
Nome científico Nome popular
Dicksonia sellowiana Hook. xaxim-bugio
Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze pinheiro-brasileiro
Clethra scabra Pers. carne-de-vaca
Matayba elaeagnoides Radlk. camboatá-branco
Lithrea brasiliensis Marchand Bugreiro
305 Ocotea porosa (Nees & Mart.) Barroso Imbuia
Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-sebo
Prunus myrtifolia (L.) Urb. pessegueiro-do-mato
Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez canela-lageana
Vernonanthura discolor (Spreng.) H.Rob. vassourão-preto
Fonte: Vibrans et al. (2013a)
Fonte: Vibrans et al. (2013a).

Tabela
Tabela 3 – Dez espécies com3 maior
– Dez espécies
valor com maior
de importância (VI) nosvalor de importância
remanescentes (VI)
da Floresta nos Decidual, em
Estacional
remanescentes da Floresta Estacional Decidual,
ordem decrescente de VI em ordem decrescente de VI
Nome científico Nome popular
Ocotea puberula (Rich.) Nees canela-sebo
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez canela-fedorenta
Luehea divaricata Mart. & Zucc. açoita-cavalo
Nectandra lanceolata Nees. canela-amarela
Cupania vernalis Cambess. camboatá-vermelho
Machaerium stipitatum (DC.) Vogel farinha-seca
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Jerivá
Glassman
Cedrela fissilis Vell. Cedro
Casearia sylvestris Sw. cafezeiro-do-mato
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan Angico
Fonte: Vibransetetal.
Fonte: Vibrans al.(2013a).
(2013a).
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Recentemente Santos et al. (2016) organizaram uma obra direcionada à biodiversidade


em Santa Catarina, realizada no Parque Estadual da Serra Furada, localizada no sul do Estado.
Nesse trabalho, foram amostrados os principais grupos vegetais: as samambaias e licófitas, as
trepadeiras herbáceas e lianas, a vegetação epifítica, o estrato herbáceo terrícola, as palmeiras
e as árvores. O resultado desse estudo somou, aproximadamente, 440 espécies da flora. Sendo,
um dos estudos mais completos e abrangentes realizados em Unidades de Conservação em Santa
Catarina.
A reunião desses dados, além de outros, coletados por meio de instituições de pesquisas
e projetos específicos ligados à biodiversidade, garante a qualidade das informações, bem como a
disponibilidades dos dados. Neste sentido, para as espécies da flora, coleções biológicas como os
Herbários, funcionam como grandes bases de dados de apoio às atividades de ensino, pesquisa e
extensão.

HERBÁRIOS CATARINENSES
CRI - O Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC)
possui, atualmente, cerca de 10 mil espécimes. A maior parte dos registros é do Bioma Mata
Atlântica, principalmente da Floresta Ombrófila Densa e da Restinga. Curador: Prof. Dr. Robson
dos Santos
FLOR – O Herbário do Departamento de Botânica (FLOR) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) conta, atualmente, com um acervo de 60 mil espécimes. Trata-se de uma impor-
tante coleção científica das diferentes formações vegetais do bioma Mata Atlântica. Curadora:
Profa. Dra. Ana Zannin.
306 FURB - O Herbário Dr. Roberto Miguel Klein da Universidade Regional de Blumenau
(FURB) conta, atualmente, com 54 mil espécimes de vários locais do Brasil, mas concentra a maior
parte da coleção no estado de Santa Catarina. Nesse Herbário, estão armazenadas as coletas reali-
zadas durante o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC). Curador: Prof. Dr. André
Luís de Gasper.
HBR - O Herbário Barbosa Rodrigues possui a maior e mais antiga coleção do estado, em
que estão depositadas as coletas que deram origem à Flora Ilustrada Catarinense, publicada pelo
próprio HBR, com autoria do Pe. Dr. Raulino Reitz e Dr. Roberto Miguel Klein. Curador: Prof. Dr.
Ademir Reis.
JOI - O Herbário Joinvillea da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) possui, atual-
mente, 12 mil espécimes coletadas em todos os tipos de vegetação do estado. Curadora: Profa.
Dra. Cynthia Hering Rinnert
LUSC - O Herbário Lages da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) possui,
atualmente, cerca de 6.100 espécimes. Os espécimes registrados na coleção são originados de
levantamentos florísticos em áreas úmidas (banhados) e áreas de Floresta Ombrófila Mista com
ocorrência no Planalto Catarinense. Curadora: Profa. Dra. Roseli Lopes da Costa Bortoluzzi.
Todas essas coleções auxiliam na divulgação da diversidade vegetal de Santa Catarina,
auxiliando órgãos e instituições de pesquisa, bem como na formulação de políticas públicas.
O investimento nessas coleções deve ser regular, visando o enriquecimento na qualidade das
informações.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse contexto, a preocupação com a conservação da biodiversidade transcende os arti-


gos científicos e publicações técnicas, visto sua representatividade e importância. Tanto que, a
campanha da fraternidade da Igreja Católica de 2017, maior religião praticada no Brasil, traz como
tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Essa temática tem como intuito levar
conhecimento e conscientizar a população sobre a importância da biodiversidade brasileira.
Os avanços tecnológicos também estão apoiando a conservação da biodiversidade no
Brasil. Um dos melhores exemplos é a criação do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade
Brasileira (SiBBr, 2017), iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC), por meio da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (SEPED),
com suporte técnico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e apoio
financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). O SiBBr é o primeiro passo para o Brasil
consolidar uma infraestrutura nacional de dados e conteúdos em biodiversidade.
Outra importante ferramenta será uma plataforma prevista para divulgação em 2018,
que será criada por um grupo de mais de 50 pesquisadores brasileiros, ligados às principais univer-
sidades e instituições de pesquisa do país, que reunirá e sintetizará os dados disponíveis sobre a
biodiversidade e serviços ecossistêmicos (como polinização e proteção de recursos hídricos) no
Brasil e tem como objetivo elaborar o primeiro diagnóstico nacional sobre esses temas (FAPESP,
2017).
Com isso, espera-se que a biodiversidade se torne um tema recorrente, não só no meio
científico, mas em todas as esferas da sociedade, para que todos tenham ciência da importância
307 que a temática representa.

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309
CAPÍTULO XXIII

GESTÃO INTEGRADA DO PATRIMÔNIO E DA PAISAGEM


CULTURAL: BREVES CONSIDERAÇÕES

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/plan23

Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues - UTAD/PT


Juliano Bitencourt Campos - UNESC
Deisi Scunderlick Eloy de Farias - UNISUL
Paulo DeBlasis - USP
Marcos César Pereira Santos - UNESC
Jairo José Zocche - UNESC

310

SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

INTRODUÇÃO

Ao longo dos milênios diferentes povos ocuparam e transformam a paisagem, nela


deixando suas evidências materiais, físicas e não materiais: sítios arqueológicos, ruínas históricas,
edifícios atuais, paisagens urbanas, entre outros.
A necessidade de realinhamento no conceito entre natural e cultural, entendendo a inte-
ração homem-natureza, como a relação dos povos com o seu ambiente, foi assunto de debates
internacionais durante décadas, sobretudo, pelo comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, que
definiu em 1992 o conceito de paisagem cultural, como sendo “a interação do homem com o meio
ambiente ao qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores” (MITCHELL
et al., 2009; BRASIL, 2017).
A ideia de Paisagem integrada à Cultura começa a ser pensada no século XIX por Ratzel e
no início do Século XX por Sauer. O primeiro considerou a cultura como um conjunto de materiais
produzidos pelos homens; já o segundo assumiu que a cultura deveria ser campo de investigação
da Geografia, pois essa seria uma ciência social (PEREIRA, 2012). Posteriormente, paisagem e
cultura, ainda que tivessem conceitos distintos, conjugaram-se em um conceito único, definido o
binômio Paisagem Cultural (MAGALHÃES, 2012/2013).
A partir dessas reflexões, a UNESCO aprovou a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio
Mundial Cultural e Natural, no ano de 1972, com o objetivo de demonstrar a interação entre
homem e natureza e a necessidade de preservação do equilíbrio entre ambos. Essa ação foi resul-
tado de uma conferência realizada em 1965, na cidade de Washington, quando foi debatido o estí-
mulo à cooperação internacional que protegesse as “maravilhosas áreas naturais e paisagísticas
311 do mundo e os sítios históricos para o presente e para o futuro de toda a humanidade” (UNESCO,
2016).
Em 1992, a Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO, por ocasião da 16ª sessão do
Comitê do Patrimônio Mundial, realizado em Santa Fé, Novo México, reconheceu e deu subsídios
para a proteção das paisagens culturais, quando as considerou “obras conjugadas do homem e
da natureza”, que demonstram a transformação das sociedades diante da influência do ambien-
te natural e das forças sociais, econômicas e culturais sucessivas, tanto externas como internas
(CASTRIOTA, 2013).
A UNESCO (2008) através das Diretrizes Operacionais do World Heritage Centre enqua-
draram as paisagens culturais em três categorias principais: a paisagem claramente definida, que
abrange jardins e parques construídos, associados ou não a edifícios e conjuntos monumentais
religiosos, possuindo caráter estético; a paisagem evolutiva, que é resultado de decisões socioe-
conômicas, administrativas e/ou religiosas e; por fim a paisagem cultural associativa, que associa
elementos religiosos, artísticos ou culturais ao elemento natural.
Assim, o conceito de Paisagem Cultural envolve manifestações e interações entre o
homem e o ambiente em que ele se insere. Essas paisagens são reflexos de técnicas utilizadas ao
longo da história que deixaram marcas indeléveis em cada pedaço de terra ocupado pelo homem.
Para Ingold (2000) são áreas habitadas onde a paisagem é constituída de um registro permanente
dos testemunhos da vida e das obras de gerações passadas que ali viveram e deixaram algo de si
mesmos.
Em 30 de abril de 2009, por meio da Portaria n° 127, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) estabeleceu a chancela da Paisagem Cultural Brasileira (BRASIL, 2009,
p.1) cujo conceito dado: “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas
ou atribuíram valores”, se atrela à Constituição brasileira de 1988, segundo a qual, em seu Artigo
216, o patrimônio cultural brasileiro é constituído por:

[...] bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,


portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos forma-
dores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos
de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico cultu-
rais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

O documento demonstra preocupação com os elementos antrópicos contemporâneos,


como a expansão e massificação das populações urbanas e rurais que colocam em risco os sabe-
res e fazeres locais. Considera ainda que é necessário o desenvolvimento de ações e iniciativas
administrativas e institucionais, a fim de preservar esses contextos culturais frágeis e complexos
que se destacam pelas interações peculiares entre o homem e o ambiente.
A guisa dessa consideração, Weissheimer (2012) avalia que o termo “porção peculiar do
território” denota que o ambiente a ser reconhecido e valorizado deve se destacar dos demais
contextos, uma vez que, para a pesquisadora, esse adjetivo serve para diferenciar, ressaltar ou
particularizar o local que será chancelado. A autora assinala ainda que: “A rigor, qualquer ambien-
te que possua alguma interferência humana pode ser definido como paisagem cultural”.
312 A cidade do Rio de Janeiro foi reconhecida pela UNESCO como a primeira área urbana do
mundo a receber a chancela de paisagem cultural (UNESCO, 2016), onde se destacam elementos
como Pão de Açúcar, Corcovado, Floresta da Tijuca, Aterro do Flamengo, Jardim Botânico, Praia
de Copacabana e a entrada da Baía de Guanabara, atrelados ao Forte, Morro do Leme, Forte de
Copacabana, Arpoador, Parque do Flamengo e Enseada de Botafogo.
No Brasil, muito ainda está por se fazer sobre esses dois elementos, que foram, ao longo
do tempo, unificados conceitualmente. Inventariar, cadastrar, investigar para enfim valorizar apre-
senta-se como um dos desafios da preservação dos patrimônios naturais e culturais do país.
No campo interdisciplinar em que atuam várias ciências sociais e humanas, inclusive
a Arqueologia, abriu-se um leque de possibilidades no que concerne ao estudo da arqueologia
da paisagem em uma perspectiva multivocal (RODRIGUES, 2016). É inegável que se vive em um
momento de transição e amadurecimento da ciência arqueológica e já não é mais possível pensar
em pesquisas arqueológicas, no Brasil, “sem considerar a aplicação de perspectivas legais, éticas,
de gestão, científicas no atendimento às preocupações do patrimônio cultural” (DEBLASIS, 2016).
Dentro dessa conjuntura, o tema da Gestão Integrada do Patrimônio e da Paisagem
cultural teve assento no Grupo de Trabalho (GIT) do VII Seminário de Pesquisa em Planejamento
e Gestão Territorial da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) em 2016, com foco no
patrimônio arqueológico e paisagem cultural. O objetivo do encontro teve como intuito fortale-
cer a discussão dos princípios e bases da Gestão Integrada do Território e sua interconexão
com a economia, o ambiente e o social, estabelecendo como eixo transversal à cultura, o que
impõe que o território seja trazido para dentro das discussões sobre sustentabilidade.
Assim sendo, o presente ensaio tem como escopo principal palmilhar os principais concei-
tos de paisagem cultural e gestão integrada do patrimônio dentro de uma perspectiva conceitual
e multivocal.
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A PAISAGEM, A PAISAGEM CULTURAL E A ECOLOGIA DA PAISAGEM

A noção de paisagem está presente na memória humana antes mesmo da elaboração


do seu conceito, uma vez que a sobrevivência do homem sempre dependeu da relação mantida
com o meio (CAMPOS, 2010; ZOCCHE et al., 2012). As expressões desta memória e da observa-
ção podem ser encontradas nas artes e nas ciências das diversas culturas, que retratavam inicial-
mente elementos particulares como os animais selvagens, um conjunto de montanhas ou um rio
(METZGER, 2001; 2009). As pinturas rupestres, por exemplo, são referências para esta percepção
direcionada a alguns componentes da natureza (MAXIMIANO, 2004; SCHMIDT, 2009; CAMPOS,
2015).
A paisagem é definida de modo diferenciado, em função do contexto, do tempo/período
e de quem a está usando (FORMAN; GODRON, 1986). É uma construção social e não uma entida-
de com existência própria (SOMMER; SALDANHA, 2010). Dessa forma, seu significado é assumida-
mente polissêmico, sendo possível encontrar as mais diversas aproximações ou olhares, desde os
campos da criação artística até os disciplinares ou científicos, demonstrando sua temporalidade
(NAVEH; LIEBERMAN, 1994; ZONNEVELD, 1995; FARINA, 1998; INGOLD, 2000; METZGER, 2001;
MAXIMIANO, 2004,). É mais do que a soma de suas partes por causa da interdependência que
existe entre a biota e os vários elementos do meio (NAVEH; LIEBERMAN, 1994; ZONEVELD, 1995).
O ambiente constitui o sustentáculo para a biota microbiológica, vegetal, animal e para
os humanos, permitindo o desenvolvimento de vários processos a partir das rápidas alterações
que esse último consegue promover (ZONEVELD, 1995). O complexo sistema de interações e a
dinâmica desses elementos possibilitam infinitas variáveis no que tange às diversas configurações
313 aleatórias (naturais) e ou intencionais (antrópicas) resultantes (QUEIROZ; CARVALHO, 2014).
As relações que o homem estabeleceu e ainda estabelece com seu ambiente imediato,
levou-o à percepção ambiental (CAMPOS, 2010; ZOCCHE et al., 2012; CAMPOS, 2015). Tais rela-
ções representam a maneira histórica e específica de ver o mundo, desenvolvida por certos grupos
sociais (COSGROVE, 1984), como resultado da apropriação e transformação do meio (FERRAZ,
2013), ou seja, a manifestação da sua cultura.
A paisagem cultural é usualmente a combinação da natureza e cultura (BRASIL, 2009;
WEISSHEIMER, 2012). Os termos natureza e cultura se referem ao papel que o homem exerce no
meio e a natureza é o todo, são os componentes abióticos e bióticos que existem e se mantém
sem a intervenção humana (FARINA, 1998). O homem não pode criá-los, apenas usá-los, protegê-
-los ou destruí-los (ZONNEVELD, 1995). A cultura é o fruto das habilidades espirituais do homem,
ambas a natureza e cultura são intrínsecas ao ser humano (COSGROVE, 1984). Seu corpo e suas
funções biológicas são naturais, mas, seu pensamento é abstrato e a produção de ideias, religião,
arte, tecnologia e também os artefatos produzidos a partir de materiais naturais, em conjun-
to, é denominado de cultura (ZONNEVELD, 1995). Nesse sentido, não são os elementos indivi-
dualizados, mas o conjunto deles que constituem a paisagem, seja ela remontada com base nos
ecofatos ou artefatos produzidos no passado, ou tal qual como se observa atualmente (QUEIROZ;
CARVALHO, 2014).
As paisagens culturais são os meios, através dos quais os elementos identitários passados,
vigentes e emergentes de lugares e regiões são gerados, registrados, assumidos ou pretendidos
(SILVA, 2007). Assim, são elementos constitutivos e, ao mesmo tempo, fatores das identidades
territoriais, pois, o estudo da paisagem sob o enfoque da identidade territorial nos leva a buscar
os principais fatores históricos, sociais e econômicos que compõem a identidade cultural em um
determinado espaço geográfico (SOMMER; SALDANHA, 2010). As modificações que se expressam
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

através da paisagem no espaço-tempo são características das sociedades em relação ao seu terri-
tório (COSGROVE, 1984; SOMMER; SALDANHA, 2010; FERRAZ, 2013).
O entendimento das relações espaciais, das interações e das mudanças estruturais que
ocorrem em um ambiente, provocadas pela ação antrópica, nas mais diferentes escalas têm sido
o objeto de estudo de um ramo científico relativamente novo, a Ecologia de Paisagem (METZGER,
2001; ZOCCHE et al., 2012; CAMPOS, 2015). Essa Ciência, sob a ótica da abordagem geográfi-
ca, pode contribuir para a solução dos problemas ambientais, pois se propõe a lidar com paisa-
gens antropizadas em escala na qual o homem está modificando o seu ambiente (MORAIS, 2001;
MARTINELLI et al., 2005; METZGER, 2001, 2009).
Tal ciência, procura entender as modificações estruturais e, portanto funcionais, trazidas
pelo homem à paisagem como um todo, incorporando de forma explícita toda a complexidade das
inter-relações espaciais de seus componentes, tanto naturais quanto culturais (METZGER, 2009).
Tendo por base a heterogeneidade espacial, que resulta dos padrões e dos processos ecológicos
(BUNCE; JONGMAN, 1993; PICKETT; CADENASSO, 1999), busca compreender a dinâmica dessa
heterogeneidade e os efeitos das atividades humanas como elemento modelador da paisagem
(PICKETT; CADENASSO, 1999; CAMPOS, 2010; CAMPOS et al., 2013; CAMPOS, 2015).
Nos dias atuais, há uma crescente preocupação com a questão ambiental e as instituições
e a comunidade científica têm estudado as relações entre o homem e ambiente por um prisma de
diferentes metodologias (FERNANDES; PELISSARI, 2003). A junção de diversas metodologias nos
conduz aos estudos interdisciplinares que propiciam a observação, a caracterização e a interpre-
tação do ambiente, no qual se inserem os personagens, possibilitando assim o entendimento das
peculiaridades do espaço estudado sob as mais diversas perspectivas (FORMAN; GODRON, 1986;
ZONNEVELD, 1995; TURNER et al., 2001).
314
Nesse cenário, insere-se a Ecologia de Paisagem, que é uma área do conhecimento relati-
vamente nova e está em busca de bases teóricas e conceituais sólidas para o seu estabelecimento
como ciência (ZONNEVELD, 1995; PICKETT; CADENASSO, 1999; METZGER, 2001; TURNER et al.,
2001). Os termos adotados nem sempre são muito claros, característica de disciplinas emergentes
que ainda buscam uma definição e a superação de impasses, oriundos das diferentes visões de
paisagem estabelecidas por seus pesquisadores (HOBBS, 1994; ZONNEVELD, 1995; WIENS, 1999;
METZGER, 2001; TURNER et al., 2001).
A Ecologia de Paisagem surge como uma disciplina integradora no estudo da estrutu-
ra, da função e das mudanças da paisagem (FORMAM; GODRON, 1986, TURNER, 1990; NAVEH;
LIEBERMAN, 1994). Devido ao seu caráter multidisciplinar, figura como base científica para a
proteção, recuperação, planejamento do uso e gerenciamento do território (RUZICKA; MIKLOS,
1989; NAVEH; LIEBERMAN, 1994; ZOCCHE et al., 2012), incluindo ai o patrimônio e a paisagem
cultural resultante das atividades humanas.
O diálogo entre as mais diversas áreas do conhecimento é imprescindível para o bom
gerenciamento territorial (ZOCCHE et al., 2012). Assim sendo, a integração de diferentes abor-
dagens metodológicas e conceituais nos estudos e avaliações das paisagens, possibilita a repre-
sentação mais fiel dos fatores que nelas interagem e as configuram, contribuindo assim para o
entendimento humano da paisagem cultural como resultado de suas ações (CAMPOS, 2015).
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

A GESTÃO INTEGRADA DO PATRIMÔNIO: UMA DISCUSSÃO


CONTEMPORÂNEA

Do ponto de vista legal a gestão do patrimônio cultural brasileiro é regulamentada por


lei específica e portarias que normatizam as ações pertinentes aos órgãos públicos, buscando a
preservação da memória nacional (CAMPOS, 2015).
A gestão do patrimônio cultural integrada a ações educativas associadas ao arqueotu-
rismo apresenta-se como um importante fator de visibilidade e sustentabilidade do patrimônio
arqueológico (GUIMARÃES et al., 2016). Os autores citam, como exemplo, a região sul de Santa
Catarina, que possui muitos sítios arqueológicos, dando ênfase à presença dos sítios Sambaqui.
Essa região vem, ao longo dos últimos anos, sendo objeto de pesquisas sistemáticas que são
intensamente difundidas na comunidade local, gerando dessa forma um olhar consciente sobre o
patrimônio arqueológico ali presente.
Nos últimos 30 anos foi possível obter avanços significativos no que tange as normativas
de preservação e fruição do patrimônio cultural, reflexo do amadurecimento e comprometimen-
tos dos órgãos que gerem o patrimônio cultural no Brasil. Nas palavras de Wijesuriya, Thompson
e Young, (2016, p.163), “o patrimônio tem importância cada vez maior para as sociedades e pode
ser um importante definidor de identidade. Compreender o passado pode, também, ajudar a
gerir os problemas do presente e do futuro”.
Nesse cenário, a governança de projetos na rubrica da Gestão Integrada do Patrimônio
busca propor uma metodologia que envolva todos nas transformações do território na construção
de cenários de futuro. Desse modo, promover escolhas participativas e conscientes, trazendo o
315 olhar cultural para discutir a implantação de políticas, visto que a cultura está na paisagem, nas
práticas, nos objetos e nos valores de cada sociedade. Por isso, uma gestão integrada prevê a
participação da sociedade como fator fundamental para sua fruição (OOSTERBEEK, 2013a, b).
De acordo com Oosterbeek (2013a, b) e Rodrigues (2016) a gestão do patrimônio arqueo-
lógico foi considerada depois de muito tempo como uma necessidade decorrente de dois fatores:
1 – a compreensão do dever ético de conservação, especialmente evidenciado pela acelerada
destruição de vestígios arqueológicos após a Segunda Guerra Mundial; 2 – o reconhecimento da
importância da Arqueologia no quadro econômico global, na sua relação com o turismo.
Para melhor ilustrar essa discussão os dois fatores supracitados serão a seguir delineados:

• A compreensão do dever ético de conservação, especialmente evidenciado pela acelerada


destruição de vestígios arqueológicos após a segunda guerra mundial.

No campo da arqueologia é comum associar a dimensão ética e não ética no desenvolvi-


mento da sua prática. De modo óbvio, a Arqueologia toca em assuntos de natureza ética, precisa-
mente por sua relação com a identidade, a história e o cotidiano de comunidades, de nações e do
próprio gênero humano. Na maioria das vezes são problemas complexos de gerenciar os conflitos
(RENFREW; BAHN, 1993). Desse modo, é imprescindível que um projeto de Gestão Integrada do
Patrimônio respeite os códigos de ética nacionais e internacionais, reconhecendo, entre outros,
os direitos das comunidades e incentive ações participativas juntos a elas, colocando o conheci-
mento produzido à disposição da sociedade.
Continuando nessa seara, internacionalmente os membros da Word Archaeological
Congress – WAC, realizado em 1990 no WAC-2 em Barquisimeto, Venezuela, entenderam a
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

responsabilidade que tem com os povos tradicionais, devendo, portanto, respeitar princípios
éticos no desenvolvimento das pesquisas em seus territórios. Criaram, contudo, um ponto de
vista de valores e responsabilidades para tomar decisões a respeito de como agir ou reagir a situa-
ções particulares. Esse código de ética pode ser considerado um guia para todos os arqueólogos
do mundo (WAC, 1990 apud RODRIGUES, 2016).
No caso brasileiro, a Associação Brasileira de Antropologia motivou, na década de 80, a
Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) a esboçar a primeira minuta de criação de um código
de ética para a arqueologia brasileira definindo quais seriam as práticas moralmente adequadas.
Depois disso, o assunto foi avançando por meio de várias reuniões até chegar à compilação de
um documento comum, recentemente atualizado, com a finalidade de garantir a flexibilidade e a
liberdade para se “fazer e pensar” a Arqueologia nesse novo cenário em que se apresenta, com
destaque ao respeito às comunidades locais e ao incentivo de estratégias a ações participativas
juntas às comunidades (RODRIGUES, 2016).

• O reconhecimento da importância da arqueologia no quadro econômico global, na sua rela-


ção com o turismo.

Mediante o reconhecimento de que os espaços considerados patrimônio não são isola-


dos, seu entorno passa a ser visto tanto como ambiente físico como, também, como espaços passí-
veis de ameaças e oportunidades sociais, econômicas e ambientais (WIJESURIYA; THOMPSON e
YOUNG, 2016, p. 15).
Assim, os referidos autores completam:
316
O que acontece nesses arredores pode ter impacto sobre o patrimônio e seu significado.
Isso significa que um sistema de gestãodo patrimônio deve ter a capacidade de interferir
nas decisões a ele relacionadas. Mudanças nos arredores provavelmente são inevitáveis,
mas não devem prejudicar os valores do patrimônio. Em vez disso, elas podem ser cata-
lisadoras de apoio, afetando o significado social do bem.

Partindo desse pressuposto, devem-se adotar estratégias de gestão Integrada no desen-


volvimento de práticas sustentáveis. Nesse reordenamento, a vocação do turismo arqueológico
apresenta-se como alternativa viável para que as comunidades que vivem nos arredores dos sítios
arqueológicos possam, além de reconhecer e revalorizar o patrimônio, usufruir desse potencial
para o desenvolvimento socioeconômico. Para transformar o patrimônio cultural em veículo de
desenvolvimento é preciso primeiramente garantir a formação da comunidade local, por meio da
educação, pois um dos elementos básicos como marco inicial de qualquer iniciativa para o desen-
volvimento sustentável é, entre outros, a “apropriação do espaço e da concepção do lugar pela
população local” (BASTOS, 2007, p. 155).
No Brasil temos exemplos de lugares arqueológicos, em que o Plano de Gestão Territorial
foi delineado com forte apelo para o desenvolvimento do turismo arqueológico sustentável,
como a região do Território da Serra da Capivara no Piauí, o Território das Missões Jesuítas dos
Guaranis no Rio Grande do Sul e a Paisagem Cultural do Rio de Janeiro, ambos reconhecidos como
Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Obviamente, que os desafios para implantar e gerir um Plano de Gestão Integrada com
diferentes Stakholders requerem comprometimento diário e uma série de medidas que mensure
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

cotidianamente os riscos culturais, sociais e ambientais. Isso quer dizer que os gestores do patri-
mônio não podem agir de maneira independente, conforme destacam (WIJESURIYA; THOMPSON;
YOUNG, 2016, p. 18):

É essencial que os organismos responsáveis pelo patrimônio atuem o máximo possível


em parceria com outros interessados, a fim de desenvolver uma visão compartilhada
e implementar politicas para a gestão de cada local de patrimônio considerando seu
contexto físico e social mais amplo. Dessa maneira, o trabalho colaborativo assume
papel crucial, assim como o completo e transparente envolvimento dos interessados.
Em qualquer sistema de gestão, incluindo o desenvolvimento e a implementação de um
plano de gestão, precisa-se levar isso em consideração.

Para Murta e Albano (2002, p. 10), “uma comunidade que não conhece a si mesma
dificilmente poderá comunicar a importância de seu patrimônio”. Nesse sentido, a prática inter-
pretativa deve proporcionar a discussão entre os diferentes segmentos sociais sobre aquilo que
os tornam diferentes, levando os moradores a (re) descobrirem novas formas de olhar, apreciar
e usar o seu lugar, de forma a desenvolver entre eles atitudes preservacionistas. E, finalmente,
estarão aptos a novas vocações e oportunidades de trabalho e renda ligadas ao turismo cultural
(MURTA; ALBANO, 2002, p. 11).
Para Guimarães et al. (2006, p. 282):

Seguindo este pensamento o turismo pode atuar como mecanismo de valorização, quan-
317 do desenvolvido de forma responsável, poderá garantir a salvaguarda do patrimônio
cultural material. Como atividade consolidada, pode trazer benefícios, principalmen-
te para a comunidade local e subsequentemente para o sítio arqueológico, desde que
planejado.

Para Lickorish e Jenkins (2000, p. 109):

O turismo pode até mesmo ofereceruma forma de reativar a vida social e cultural da
população residente, revitalizando assim a comunidade local, estimulando contatos no
país, atraindo jovens e favorecendo as atividades da região.

Diante disso, avalia-se que a integração entre patrimônio e turismo, produzida de forma
sustentável, é um dos caminhos para a valorização e conservação dos sítios arqueológicos.

CONSIDERACÕES FINAIS

Como corolário do que se discutiu acima, emergem algumas considerações com as quais
vão concluir esse ensaio. Em primeiro lugar, é fundamental a percepção de que a ideia de paisa-
gem é, há um tempo, natural e cultural. Embora, os ambientes do planeta existam a muito mais
tempo que a humanidade, não há rincão desse mundo que não traga impressas as marcas cultu-
rais da adaptação humana, repletas de significados que nem sempre são claros ao observador
contemporâneo, necessitando decodificação – eis um dos trabalhos do arqueólogo.
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Gestão Integrada do Território

Por outro lado, contemplar ou viver uma paisagem é por si só um ato cultural e assim
sendo, diferentes observadores podem experimentar diferentes sentidos em relação a um mesmo
contexto paisagístico. Cultura material (e imaterial) é carregada de significados simbólicos, que
veiculam poder e domínio sobre o mundo, o território. A preservação do patrimônio arqueológico
sem a integração com a paisagem constitui-se, por si só, em um equívoco. Somente a partir da
comunidade qualquer ação patrimonial pode fazer sentido.
Aqui, a contemplação da paisagem torna-se também um ato social: é preciso negociar
sempre os sentidos, significados e interesses que derivam de diferentes olhares. Não se pode
deixar de considerar, mais uma vez, que, no passado, no presente e no futuro, as perspectivas e
interesses daqueles que habitam determinada paisagem não devem, em hipótese alguma, ser
esquecidos, ou desconsiderados.

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321
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Sobre os organizadores

Nilzo Ivo Ladwig


Doutor em Engenharia Civil – Cadastro e Gestão Territorial, Graduado em Geografia
Bacharelado e Licenciatura, Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
e Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Professor e pesquisador do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais – PPGCA – UNESC, atuando na área de Planejamento e
Gestão Territorial Sustentável.

Hugo Schwalm
Possui graduação em Engenharia de Agrimensura pela Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC, Especialização em Engenharia de Produção pela a Universidade Federal
de Santa Catarina – UFSC, Mestre em Ciências Ambientais pela a Universidade do Extremo Sul
Catarinense – UNESC e atualmente é professor titular. Atuando principalmente nos seguintes
temas: topografia, georreferenciamento, parcelamento de solo, planejamento urbano e regulari-
zação fundiária.

Sobre os autores

322 Adilson Tadeu Basquerote Silva Graduação em Estudos Sociais-Geografia


Mestre em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Sócio-ambiental
Doutorando em Geografia

Adriano de Oliveira Dias Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Botânica
Doutorando em Botânica 

Adriano Michael Bernardin Graduação em Engenharia Mecânica


Mestrado em Engenharia Mecânica
Doutorado em Engenharia Química

Albert Pèlachs Mañosa Universitat Autònoma de Barcelona - UAB - Espanã


Faculdade de Letras - Departamento de Geografia

Aldo Fernando Assunção Graduação em Ciências Biológicas


Graduação em Direito
Mestrado em Ciências Ambientais

Alessandra Hodecker-Dietrich Graduação em Ciências Biológicas


Cursando Mestrado em Engenharia Ambiental
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Alessandro Martins Matsunaga Graduação em Engenharia Ambiental 

Alice Maccari Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária 


Especialização em Gestão Ambiental: Licenciamento e
Perícia
Mestrado em Ciências Ambientais 

Álvaro José Back Graduação em Agronomia


Mestrado em Engenharia Agrícola
Doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental

Amanda Bellettini Munari Graduação em Engenharia Ambiental


Mestrado em Ciências Ambientais 
Doutoranda em Ciências Ambientais

Andréia de Simas Cunha Carvalho Cursando Graduação em Relações Internacionais 

Andréia Gimenes Amaro Graduação em Licenciatura Plena em Geografia


Especialização em Educação Ambiental e
Sustentabilidade 
323
Cursando Mestrado em Ciências Ambientais

Angela da Veiga Beltrame Graduação em Agronomia


Mestrado em Geografia
Doutorado em Geografia

Brandaly Staudt Graduação em Geologia


Especialização em Gerenciamento Ambiental

Camila Pedro Guimarães Graduação em Gestão Ambiental


Especialização em Gestão Ambiental
Cursando Mestrado em Ciências Ambientais

Carlyle Torres Bezerra de Menezes Graduação em Engenharia de Minas


Aperfeiçoamento em Gestão da Qualidade e
Produtividade
Especialização em Valorização de Recursos Minerais
Doutorado em Engenharia Mineral 
Pós-Doutorado - Ciências Humanas - Ciências Biológicas
- Ecologia - Ecologia Aplicada

Cássia Gabrielli Padilha Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Zoologia
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Cristiane Scussel Graduação em Ciências Biológicas


Cursando Mestrado em Ciências Ambientais

Daniel Brinckmann Teixeira Graduação em Engenharia Ambiental


Mestrado em Tecnologia Ambiental

Daniel Pazini Pezente Graduação em Agronomia


Especialização em Auditoria e Perícia Ambiental
Cursando Mestrado em Ciências Ambientais

Daniela Beatriz Goudard Bussmann Graduação em Ciências Biológicas


Especialização MBA em Gestão Ambiental

Daniela Fernandes Medeiros Graduação em Engenharia de Agrimensura


Especialização em Gestão Ambiental

Daniela Muller de Quevedo Graduação em Matemática


Mestrado em Estatística e Probabilidade Matemática
Doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental 
324
Danilo Barbosa de Arruda Graduação em Direito
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente 
Doutorado em Ciências Ambientais 

Dayani Della Giustina Michels Graduação em Engenharia Civil


Especialização MBA Executivo em Gestão Ambiental

Deisi Scunderlick Eloy de Farias Graduação em História


Mestrado em História
Doutorado em História 

Deisiane dos Santos Delfino Graduação em Geografia


Mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano
Doutorado em Geografia 

Douglas Cristian Roque Cursando Graduação em Engenharia Civil

Edison Claudiomiro Mucke da Rosa Graduação em Gestão Ambiental

Eduardo Vedor de Paula Graduação em Geografia


Mestrado em Geografia
Doutorado em Geografia
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Gestão Integrada do Território

Elder Owsiany Mendes Cursando Graduação em Engenharia de Produção

Eloisa Lovison Sasso Graduação em Química


Especialização em Gerenciamento Ambiental
Cursando Mestrado profissional em Ambiente e
Sustentabilidade

Fabiane Nunes Gonçalves Graduação em Engenharia Ambiental


Cursando Mestrado em Ciências Ambientais 

Fabiano Luiz Neris Graduação em Engenharia de Agrimensura


Mestrado em Engenharia Civil 

Geraldo Milioli Graduação Bacharelado em Ciências Sociais


Graduação Licenciatura em Ciências Sociais
Especialização em Administração Hoteleira
Mestrado em Sociologia Política
Doutorado em Engenharia de Produção e Sistemas

Gisele Victor Batista Graduação em Geografia


325 Mestrado em Programa de Pós-Graduação em
Geografia
Doutorado em Engenharia Civil

Giully de Oliveira Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado profissional em Planjamento Territorial e
Desenvolvimento Socioambiental
Cursando Doutorado em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Socioambiental 

Gláucia Cardoso de Souza Graduação em Engenharia Ambiental


Especialização em formação de Agentes para o
Desenvolvimento Regional
Mestrado em Ciências Ambientais

Graziela Serafim Casagrande Graduação em Engenharia Ambiental

Guilherme Alves Elias Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Ciências Ambientais 
Cursando Doutorado em Ciências Ambientais

Gustavo José Deibler Zambrano Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária


Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental 
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Henrique Matos Graduação em Engenharia de Agrimensura

Jairo José Zocche Graduação em Ciências Habilitação Biologia


Mestrado em Ecologia 
Doutorado em Botânica
Pós-Doutorado em Ciências Biológicas

Jefferson de Faria Graduação em Engenharia de Agrimensura


Especialização em Geoprocessamento e Meio
Ambiente

José Carlos Virtuoso Graduação em Comunicação Social Habilitação em


Jornalismo
Mestrado em Ciências Ambientais
Doutorando em Ciências Ambientais

Juarês José Aumond Graduação em Geologia


Mestrado em Geografia
Doutorado em Engenharia Civil

Juarez Camargo Borges Graduação em Administração


326
Mestrado em Desenvolvimento Regional 

Juliano Bitencourt Campos Graduação em História


Mestrado em Ciências Ambientais
Doutorado em Quaternário, Materiais e Culturas

Kelly Daiane Savariz Bôlla Graduação em Psicologia


Mestrado em Ciências Ambientais
Cursando Doutorado em Ciências Ambientais 

Letícia Gonçalves Peres Graduação em Engenharia Agronômica


Especialização em Gestão Ambiental
Cursando Mestrado profissional em Meio Ambiente e
Sustentabilidade

Marcelo Maisonette Duarte Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Ecologia
Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais 
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Marcia dos Santos Ramos Berreta Graduação em Estudos Sociais


Graduação em Geografia
Mestrado em Geografia 
Doutorado em Geografia

Marco Antônio Siqueira Rodrigues Graduação em Bacharel em Química


Mestrado em Ciências dos Materias
Doutorado em Ciências dos Materias

Marcos César Pereira Santos Graduação em História


Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre
Cursando Doutorado em Quaternary and Prehistory

Marian Helen da Silva Gomes Graduação em Letras-Português


Rodrigues
Mestrado em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre
Doutorado em Quaternário, Materiais e Culturas

Marília Simoni Dordete da Silva Graduação em Ciências Biológicas

327 Naiara Machado da Silva Graduação em Administração


Cursando Mestrado profissional em Ambiente e
Sustentabilidade

Nilzo Ivo Ladwig Graduação em Geografia Bacharelado


Mestrado em Engenharia Civil
Doutorado em Engenharia Civil

Patrícia de Aguiar Amaral Graduação em Farmácia


Mestrado em Ciências Farmacêuticas
Doutorado em Ciências Farmacêuticas

Paulo DeBlasis Graduação em História


Mestrado em Antropologia Social
Doutorado em Arqueologia
Livre-docência em Arqueologia - Universidade de São
Paulo

Rafaela Bendo Graduação em Engenharia Ambiental

Renata Muzzolon Graduação em Comunicação Não-Verbal com ênfase


em imagem
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Renato Muzzolon Graduação em Geologia


MBA em Gestão Financeira, Contabilidade e Auditoria
Especialista em Geologia Exploratória

Renato Muzzolon Júnior Graduação em Engenharia Ambiental


Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho

Roberta Plangg Riegel Graduação em Arquitetura e Urbanismo


Mestrado em Qualidade Ambiental
Cursando doutorado em Qualidade Ambiental

Robson dos Santos Graduação em Ciências Biológicas


Graduação em Química Industrial
Mestrado em Microbiologia Agrícola e do Ambiente
Doutorado em Engenharia Mineral

Rogério Santos da Costa Graduação em Ciências Econômicas


Mestrado em Administração
Doutorado em Ciência Política

328 Rosabel Bertolin Graduação em Ciências Biológicas

Rosabel Bertolin Daniel Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Ciências Ambientais

Rubens Vicente de Mesquita Graduação em Geografia


Especialização em Geoprocessamento

Samara Braun Graduação em Arquitetura e Urbanismo


Mestrado em Desenvolvimento Regional

Sidney Vincent de Paul Vikou Graduação em Gestão Ambiental


Mestrado em andamento em Geografia

Sony Cortese Caneparo Graduação em Geografia


Mestrado em Ciências Geodésicas
Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Teresinha Maria Gonçalves Graduação em Serviço Social


Especialização em Saúde Pública
Especialização em Filosofia Política
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL
Gestão Integrada do Território

Mestrado em Psicologia
Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento
Pós-Doutorado Ciências Humanas - Psicologia
- Antropologia
Aperfeiçoamento em Pós doutorado

Vanilde Citadini-Zanette Graduação em Ciências Biológicas


Mestrado em Botânica
Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais
Pós-Doutorado em Ciências Biológicas

Viviane Kraieski Assunção Graduação Bacharelado em Jornalismo


Mestrado em Antropologia Social
Doutorado em Antropologia Social
Pós-Doutorado Ciências Humanas

William de Oliveira Sant Ana Graduação em Geografia


Mestrado em Geografia

329

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