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Resolução 225-16 CNJ

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Identi cação Resolução Nº 225 de 31/05/2016

Apelido ---

Ementa Dispõe sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.

Situação Vigente

Situação STF ---

Origem Presidência

Fonte DJe/CNJ, nº 91, de 02/06/2016, p. 28-33.

Resolução nº 300, de 29 de novembro de 2019


Alteração

Resolução nº 76, de 12 de maio de 2009

Resolução nº 128, de 17 de março de 2011

Resolução nº 154, de 13 de julho de 2012

Legislação Correlata Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995 - arts. 72, 77 e 89

Lei 12.594, de 18 de janeiro de 2012 - art. 35, II e III

Portaria nº 74, de 12 de agosto de 2015

Assunto Justiça Restaurativa ;  

Observação  

Texto
Texto Original

O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), no uso de suas atribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO as recomendações da Organização das Nações Unidas para ns de implantação da Justiça


Restaurativa nos estados membros, expressas nas Resoluções 1999/26, 2000/14 e 2002/12, que estabelecem os
seus princípios básicos;

CONSIDERANDO que o direito ao acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV, da Carta Magna, além da vertente
formal perante os órgãos judiciários, implica o acesso a soluções efetivas de con itos por intermédio de uma
ordem jurídica justa e compreende o uso de meios consensuais, voluntários e mais adequados a alcançar a
paci cação de disputa;

CONSIDERANDO que, diante da complexidade dos fenômenos con ito e violência, devem ser considerados, não
só os aspectos relacionais individuais, mas também, os comunitários, institucionais e sociais que contribuem para
seu surgimento, estabelecendo-se uxos e procedimentos que cuidem dessas dimensões e promovam mudanças
de paradigmas, bem como, provendo-se espaços apropriados e adequados;

CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de buscar uniformidade, no âmbito nacional, do conceito de


Justiça Restaurativa, para evitar disparidades de orientação e ação, assegurando uma boa execução da política
pública respectiva, e respeitando as especi cidades de cada segmento da Justiça;

CONSIDERANDO que cabe ao Poder Judiciário o permanente aprimoramento de suas formas de resposta às
demandas sociais relacionadas às questões de con itos e violência, sempre objetivando a promoção da paz
social;

CONSIDERANDO que os arts. 72, 77 e 89 da Lei 9.099/1995 permitem a homologação dos acordos celebrados
nos procedimentos próprios quando regidos sob os fundamentos da Justiça Restaurativa, como a composição
civil, a transação penal ou a condição da suspensão condicional do processo de natureza criminal que tramitam
perante os Juizados Especiais Criminais ou nos Juízos Criminais;
CONSIDERANDO que o art. 35, II e III, da Lei 12.594/2012 estabelece, para o atendimento aos adolescentes em
con ito com a lei, que os princípios da excepcionalidade, da intervenção judicial e da imposição de medidas,
favorecendo meios de autocomposição de con itos, devem ser usados dando prioridade a práticas ou medidas
que sejam restaurativas e que, sempre que possível, atendam às vítimas;

CONSIDERANDO que compete ao CNJ o controle da atuação administrativa e nanceira do Poder Judiciário, bem
como zelar pela observância do art. 37 da Constituição da República;

CONSIDERANDO que compete, ainda, ao CNJ contribuir com o desenvolvimento da Justiça Restaurativa, diretriz
estratégica de gestão da Presidência do CNJ para o biênio 2015-2016, nos termos da Portaria 16 de fevereiro de
2015, o que gerou a Meta 8 para 2016, em relação a todos os Tribunais;

CONSIDERANDO o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria CNJ 74 de 12 de agosto de 2015 e o decidido pelo
Plenário do CNJ nos autos do Ato Normativo 0002377-12.2016.2.00.0000, na 232ª Sessão Ordinária realizada
em 31 de maio de 2016;

RESOLVE:

CAPÍTULO I

DA JUSTIÇA RESTAURATIVA

  

Art. 1º. A Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos,
técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais
motivadores de con itos e violência, e por meio do qual os con itos que geram dano, concreto ou abstrato, são
solucionados de modo estruturado na seguinte forma:

I – é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, bem como, das suas famílias e dos demais
envolvidos no fato danoso, com a presença dos representantes da comunidade direta ou indiretamente atingida
pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos;

II – as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores restaurativos capacitados em técnicas


autocompositivas e consensuais de solução de con itos próprias da Justiça Restaurativa, podendo ser servidor do
tribunal, agente público, voluntário ou indicado por entidades parceiras;

III – as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das necessidades de todos os envolvidos, a
responsabilização ativa daqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso e o
empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparação do dano e da recomposição do tecido
social rompido pelo con ito e as suas implicações para o futuro.

§ 1º Para efeitos desta Resolução, considera-se:

I – Prática Restaurativa: forma diferenciada de tratar as situações citadas no caput e incisos deste artigo;

II – Procedimento Restaurativo: conjunto de atividades e etapas a serem promovidas objetivando a composição


das situações a que se refere o caput deste artigo;

III – Caso: quaisquer das situações elencadas no caput deste artigo, apresentadas para solução por intermédio de
práticas restaurativas;

IV – Sessão Restaurativa: todo e qualquer encontro, inclusive os preparatórios ou de acompanhamento, entre as


pessoas diretamente envolvidas nos fatos a que se refere o caput deste artigo;

V – Enfoque Restaurativo: abordagem diferenciada das situações descritas no caput deste artigo, ou dos
contextos a elas relacionados, compreendendo os seguintes elementos:

a) participação dos envolvidos, das famílias e das comunidades;

b) atenção às necessidades legítimas da vítima e do ofensor;

c) reparação dos danos sofridos;

d) compartilhamento de responsabilidades e obrigações entre ofensor, vítima, famílias e comunidade para


superação das causas e consequências do ocorrido.

§ 2° A aplicação de procedimento restaurativo pode ocorrer de forma alternativa ou concorrente com o processo
convencional, devendo suas implicações ser consideradas, caso a caso, à luz do correspondente sistema
processual e objetivando sempre as melhores soluções para as partes envolvidas e a comunidade.
Art. 2º São princípios que orientam a Justiça Restaurativa: a corresponsabilidade, a reparação dos danos, o
atendimento às necessidades de todos os envolvidos, a informalidade, a voluntariedade, a imparcialidade, a
participação, o empoderamento, a consensualidade, a con dencialidade, a celeridade e a urbanidade.

§ 1º Para que o con ito seja trabalhado no âmbito da Justiça Restaurativa, é necessário que as partes
reconheçam, ainda que em ambiente con dencial incomunicável com a instrução penal, como verdadeiros os
fatos essenciais, sem que isso implique admissão de culpa em eventual retorno do con ito ao processo judicial.

§ 2º É condição fundamental para que ocorra a prática restaurativa, o prévio consentimento, livre e espontâneo,
de todos os seus participantes, assegurada a retratação a qualquer tempo, até a homologação do procedimento
restaurativo.

§ 3º Os participantes devem ser informados sobre o procedimento e sobre as possíveis consequências de sua
participação, bem como do seu direito de solicitar orientação jurídica em qualquer estágio do procedimento.

§ 4º Todos os participantes deverão ser tratados de forma justa e digna, sendo assegurado o mútuo respeito
entre as partes, as quais serão auxiliadas a construir, a partir da re exão e da assunção de responsabilidades,
uma solução cabível e e caz visando sempre o futuro.

§ 5º O acordo decorrente do procedimento restaurativo deve ser formulado a partir da livre atuação e expressão
da vontade de todos os participantes, e os seus termos, aceitos voluntariamente, conterão obrigações razoáveis e
proporcionais, que respeitem a dignidade de todos os envolvidos.

CAPÍTULO II

DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Art. 3º. Compete ao CNJ organizar programa com o objetivo de promover ações de incentivo à Justiça
Restaurativa, pautado pelas seguintes linhas programáticas:

I – caráter universal, proporcionando acesso a procedimentos restaurativos a todos os usuários do Poder


Judiciário que tenham interesse em resolver seus con itos por abordagens restaurativas;

II – caráter sistêmico, buscando estratégias que promovam, no atendimento dos casos, a integração das redes
familiares e comunitárias, assim como das políticas públicas relacionadas a sua causa ou solução;

III – caráter interinstitucional, contemplando mecanismos de cooperação capazes de promover a Justiça


Restaurativa junto das diversas instituições a ns, da academia e das organizações de sociedade civil;

IV – caráter interdisciplinar, proporcionando estratégias capazes de agregar ao tratamento dos con itos o
conhecimento das diversas áreas cientí cas a ns, dedicadas ao estudo dos fenômenos relacionados à aplicação
da Justiça Restaurativa;

V – caráter intersetorial, buscando estratégias de aplicação da Justiça Restaurativa em colaboração com as


demais políticas públicas, notadamente segurança, assistência, educação e saúde;

VI – caráter formativo, contemplando a formação de multiplicadores de facilitadores em Justiça Restaurativa;

VII – caráter de suporte, prevendo mecanismos de monitoramento, pesquisa e avaliação, incluindo a construção
de uma base de dados.

Art. 4º. O programa será implementado com a participação de rede constituída por todos os órgãos do Poder
Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino, cabendo
ao Conselho Nacional de Justiça:

I – assegurar que a atuação de servidores, inclusive indicados por instituições parceiras, na Justiça Restaurativa
seja não compulsória e devidamente reconhecida para ns de cômputo da carga horária, e que o exercício das
funções de facilitador voluntário seja considerado como tempo de experiência nos concursos para ingresso na
Magistratura;

II – buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e privadas da área de
ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura de não-violência e para que nas
Escolas Judiciais e da Magistratura, bem como nas capacitações de servidores e nos cursos de formação inicial e
continuada, haja módulo voltado à Justiça Restaurativa;

III – estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados do Brasil, as Defensorias Públicas, as Procuradorias, o
Ministério Público e as demais instituições relacionadas, estimulando a participação na Justiça Restaurativa e
valorizando a atuação na prevenção dos litígios.

 
CAPÍTULO III

DAS ATRIBUIÇÕES DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

Art. 5º. Os Tribunais de Justiça implementarão programas de Justiça Restaurativa, que serão coordenados por
órgão competente, estruturado e organizado para tal m, com representação de magistrados e equipe técnico-
cientí ca, com as seguintes atribuições, dentre outras:

I – desenvolver plano de difusão, expansão e implantação da Justiça Restaurativa, sempre respeitando a


qualidade necessária à sua implementação;

II – dar consecução aos objetivos programáticos mencionados no art. 3º e atuar na interlocução com a rede de
parcerias mencionada no art. 4º;

III – incentivar ou promover capacitação, treinamento e atualização permanente de magistrados, servidores e


voluntários nas técnicas e nos métodos próprios de Justiça Restaurativa, sempre prezando pela qualidade de tal
formação, que conterá, na essência, respostas a situações de vulnerabilidade e de atos infracionais que deverão
constar dentro de uma lógica de uxo interinstitucional e sistêmica, em articulação com a Rede de Garantia de
Direitos;

IV – promover a criação e instalação de espaços de serviço para atendimento restaurativo nos termos do artigo 6º,
desta Resolução.

§1º. Caberá aos tribunais estabelecer parcerias ou disponibilizar recursos humanos e materiais para a instalação e
continuidade do programa e dos serviços de atendimento, que contarão com a atuação de facilitadores de
processos restaurativos e de equipe técnica interdisciplinar composta por pro ssionais como psicólogos e
assistentes sociais.

§2º. Para os ns do disposto no caput deste artigo, os tribunais deverão apoiar e dar continuidade a eventuais
coordenadorias, núcleos ou setores que já venham desenvolvendo a Justiça Restaurativa em suas atividades
institucionais.

Art. 6º. Na implementação de projetos ou espaços de serviço para atendimento de Justiça Restaurativa, os
tribunais observarão as seguintes diretrizes:

I – destinar espaço físico adequado para o atendimento restaurativo, diretamente ou por meio de parcerias, que
deve ser estruturado de forma adequada e segura para receber a vítima, o ofensor e as suas comunidades de
referência, além de representantes da sociedade;

II – designar magistrado responsável pela coordenação dos serviços e da estrutura, que deverá contar, também,
com pessoal de apoio administrativo;

III – formar e manter equipe de facilitadores restaurativos, arregimentados entre servidores do próprio quadro
funcional ou designados pelas instituições conveniadas, os quais atuarão com dedicação exclusiva ou parcial, e
voluntários, sempre que possível auxiliados por equipes técnicas de apoio interpro ssional;

IV – zelar para que cada unidade mantenha rotina de encontros para discussão e supervisão dos casos atendidos,
bem como promova registro e elabore relatórios estatísticos;

V – primar pela qualidade dos serviços, tendo em vista que as respostas aos crimes, aos atos infracionais e às
situações de vulnerabilidade deverão ser feitas dentro de uma lógica interinstitucional e sistêmica e em
articulação com as redes de atendimento e parceria com as demais políticas públicas e redes comunitárias;

VI – instituir, nos espaços de Justiça Restaurativa, uxos internos e externos que permitam a institucionalização
dos procedimentos restaurativos em articulação com as redes de atendimento das demais políticas públicas e as
redes comunitárias, buscando a interconexão de ações e apoiando a expansão dos princípios e das técnicas
restaurativas para outros segmentos institucionais e sociais.

CAPÍTULO IV

DO ATENDIMENTO RESTAURATIVO EM ÂMBITO JUDICIAL

Art. 7º. Para ns de atendimento restaurativo judicial das situações de que trata o caput do art. 1º desta
Resolução, poderão ser encaminhados procedimentos e processos judiciais, em qualquer fase de sua tramitação,
pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública, das partes, dos seus
Advogados e dos Setores Técnicos de Psicologia e Serviço Social.
Parágrafo único. A autoridade policial poderá sugerir, no Termo Circunstanciado ou no relatório do Inquérito
Policial, o encaminhamento do con ito ao procedimento restaurativo.

Art. 8º. Os procedimentos restaurativos consistem em sessões coordenadas, realizadas com a participação dos
envolvidos de forma voluntária, das famílias, juntamente com a Rede de Garantia de Direito local e com a
participação da comunidade para que, a partir da solução obtida, possa ser evitada a recidiva do fato danoso,
vedada qualquer forma de coação ou a emissão de intimação judicial para as sessões.

§ 1º. O facilitador restaurativo coordenará os trabalhos de escuta e diálogo entre os envolvidos, por meio da
utilização de métodos consensuais na forma autocompositiva de resolução de con itos, próprias da Justiça
Restaurativa, devendo ressaltar durante os procedimentos restaurativos:

I – o sigilo, a con dencialidade e a voluntariedade da sessão;

II – o entendimento das causas que contribuíram para o con ito;

III – as consequências que o con ito gerou e ainda poderá gerar;

IV – o valor social da norma violada pelo con ito.

§ 2º. O facilitador restaurativo é responsável por criar ambiente propício para que os envolvidos promovam a
pactuação da reparação do dano e das medidas necessárias para que não haja recidiva do con ito, mediante
atendimento das necessidades dos participantes das sessões restaurativas.

§ 3º. Ao nal da sessão restaurativa, caso não seja necessário designar outra sessão, poderá ser assinado acordo
que, após ouvido o Ministério Público, será homologado pelo magistrado responsável, preenchidos os requisitos
legais.

§ 4º. Deverá ser juntada aos autos do processo breve memória da sessão, que consistirá na anotação dos nomes
das pessoas que estiveram presentes e do plano de ação com os acordos estabelecidos, preservados os
princípios do sigilo e da con dencialidade, exceção feita apenas a alguma ressalva expressamente acordada entre
as partes, exigida por lei, ou a situações que possam colocar em risco a segurança dos participantes.

§5º. Não obtido êxito na composição, ca vedada a utilização de tal insucesso como causa para a majoração de
eventual sanção penal ou, ainda, de qualquer informação obtida no âmbito da Justiça Restaurativa como prova.

§6º. Independentemente do êxito na autocomposição, poderá ser proposto plano de ação com orientações,
sugestões e encaminhamentos que visem à não recidiva do fato danoso, observados o sigilo, a con dencialidade
e a voluntariedade da adesão dos envolvidos no referido plano.

Art. 9º. As técnicas autocompositivas do método consensual utilizadas pelos facilitadores restaurativos buscarão
incluir, além das pessoas referidas no art. 1º, § 1º, V, a, desta Resolução, aqueles que, em relação ao fato danoso,
direta ou indiretamente:

I – sejam responsáveis por esse fato;

II – foram afetadas ou sofrerão as consequências desse fato;

III – possam apoiar os envolvidos no referido fato, contribuindo de modo que não haja recidiva.

Art. 10. Logrando-se êxito com as técnicas referidas no artigo anterior, a solução obtida poderá ser repercutida
no âmbito institucional e social, por meio de comunicação e interação com a comunidade do local onde ocorreu o
fato danoso, bem como, respeitados os deveres de sigilo e con dencialidade, poderão ser feitos
encaminhamentos das pessoas envolvidas a m de atendimento das suas necessidades.

Art. 11. As sessões restaurativas serão realizadas em espaços adequados e seguros, conforme disposto no art. 6º
desta Resolução.

Art. 12. Quando os procedimentos restaurativos ocorrerem antes da judicialização dos con itos, ca facultado às
partes diretamente interessadas submeterem os acordos e os planos de ação à homologação pelos magistrados
responsáveis pela Justiça Restaurativa, na forma da lei.

CAPÍTULO V

DO FACILITADOR RESTAURATIVO

Art. 13. Somente serão admitidos, para o desenvolvimento dos trabalhos restaurativos ocorridos no âmbito do
Poder Judiciário, facilitadores previamente capacitados, ou em formação, nos termos do Capítulo VI, desta
Resolução.
Parágrafo único. Os facilitadores deverão submeter-se a curso de aperfeiçoamento permanente, realizado na
forma do Capítulo VI, o qual tomará por base o que declinado pelos participantes das sessões restaurativas, ao
nal destas, em formulários próprios.

Art. 14. São atribuições do facilitador restaurativo:

I – preparar e realizar as conversas ou os encontros preliminares com os envolvidos;

II – abrir e conduzir a sessão restaurativa, de forma a propiciar um espaço próprio e quali cado em que o con ito
possa ser compreendido em toda sua amplitude, utilizando-se, para tanto, de técnica autocompositiva pelo
método consensual de resolução de con ito, própria da Justiça Restaurativa, que estimule o diálogo, a re exão do
grupo e permita desencadear um feixe de atividades coordenadas para que não haja reiteração do ato danoso ou
a reprodução das condições que contribuíram para o seu surgimento;

III – atuar com absoluto respeito à dignidade das partes, levando em consideração eventuais situações de
hipossu ciência e desequilíbrio social, econômico, intelectual e cultural;

IV – dialogar nas sessões restaurativas com representantes da comunidade em que os fatos que geraram dano
ocorreram;

V – considerar os fatores institucionais e os sociais que contribuíram para o surgimento do fato que gerou danos,
indicando a necessidade de eliminá-los ou diminuí-los;

VI – apoiar, de modo amplo e coletivo, a solução dos con itos;

VII – redigir o termo de acordo, quando obtido, ou atestar o insucesso;

VIII – incentivar o grupo a promover as adequações e encaminhamentos necessários, tanto no aspecto social
quanto comunitário, com as devidas articulações com a Rede de Garantia de Direito local.

Art. 15. É vedado ao facilitador restaurativo:

I – impor determinada decisão, antecipar decisão de magistrado, julgar, aconselhar, diagnosticar ou simpatizar
durante os trabalhos restaurativos;

II – prestar testemunho em juízo acerca das informações obtidas no procedimento restaurativo;

III – relatar ao juiz, ao promotor de justiça, aos advogados ou a qualquer autoridade do Sistema de Justiça, sem
motivação legal, o conteúdo das declarações prestadas por qualquer dos envolvidos nos trabalhos restaurativos,
sob as penas previstas no art. 154 do Código Penal.

CAPÍTULO VI

DA FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO

Art. 16. Caberá aos tribunais, por meio das Escolas Judiciais e Escolas da Magistratura, promover cursos de
capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de facilitadores em Justiça Restaurativa, podendo fazê-lo por meio
de parcerias.

§1º. O plano pedagógico básico dos cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de facilitadores em
Justiça Restaurativa deverá ser estruturado em parceria com o órgão delineado no art. 5º da presente Resolução.

§2º. Levar-se-ão em conta, para o plano pedagógico básico dos cursos de capacitação, treinamento e
aperfeiçoamento de facilitadores em Justiça Restaurativa, os dados obtidos nos termos do Capítulo VII da
presente Resolução.

§3º. Os formadores do curso referido no caput deste artigo devem ter experiência comprovada em capacitação na
área de Justiça Restaurativa, bem como atestados de realização de procedimentos restaurativos e atuação em
projetos relacionados à Justiça Restaurativa.

Art. 17. Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de facilitadores deverão observar conteúdo
programático com número de exercícios simulados e carga horária mínima, conforme deliberado pelo Comitê
Gestor da Justiça Restaurativa, contendo, ainda, estágio supervisionado, como estabelecido pelas Escolas
Judiciais e Escolas da Magistratura.

Parágrafo único. Será admitida a capacitação de facilitadores voluntários não técnicos oriundos das comunidades,
inclusive indicados por instituições parceiras, possibilitando maior participação social no procedimento
restaurativo e acentuando como mecanismo de acesso à Justiça.

 
CAPÍTULO VII

DO MONITORAMENTO E DA AVALIAÇÃO

Art. 18. Os tribunais, por meio do órgão responsável, deverão acompanhar o desenvolvimento e a execução dos
projetos de Justiça Restaurativa, prestando suporte e auxílio para que não se afastem dos princípios básicos da
Justiça Restaurativa e dos balizamentos contidos nesta Resolução.

§1º. Os tribunais deverão, ainda, valer-se de formulários especí cos, pautados nos princípios e na metodologia
próprios da Justiça Restaurativa, conforme Resolução CNJ 76/2009.

§2º. A criação e manutenção de banco de dados sobre as atividades da Justiça Restaurativa é de responsabilidade
dos tribunais.

Art. 19. Caberá ao CNJ compilar informações sobre os projetos de Justiça Restaurativa existentes no país e sobre
o desempenho de cada um deles.

Parágrafo único. Com base nas informações oriundas dos tribunais, o CNJ promoverá estudos, com auxílio de
especialistas, para ns de elaboração de plano disciplinar básico para a formação em Justiça Restaurativa junto às
Escolas Judiciais e Escolas da Magistratura.

Art. 20. Serão adotados, pelos Tribunais de Justiça, parâmetros adequados para a avaliação dos projetos de
Justiça Restaurativa, preferencialmente, com instituições parceiras e conveniadas.

CAPÍTULO VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 21. Os tribunais, consideradas as peculiaridades locais no âmbito de sua autonomia, estabelecerão
parâmetros curriculares para cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento de facilitadores, com número
de exercícios simulados, carga horária mínima e estágio supervisionado.

Art. 22. Para ns de efetivação do disposto no art. 35, II, da Lei 12.594/2012, poderão os tribunais certi car como
aptos ao atendimento extrajudicial de autocomposição de con itos, os espaços de serviço mantidos por
organizações governamentais ou não governamentais, que atendam aos quali cativos estabelecidos nesta
Resolução.

Art. 23. Fica acrescido o seguinte dispositivo ao § 1º do art. 2º da Resolução CNJ 154/2012:

“V – Projetos de prevenção e ou atendimento a situações de con itos, crimes e violências, inclusive em fase de
execução, que sejam baseados em princípios e práticas da Justiça Restaurativa.”

Art. 24 Fica acrescido o seguinte parágrafo ao art. 3º da Resolução CNJ 128/2011:

“§3º. Na condução de suas atividades, a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e
Familiar deverá adotar, quando cabível, processos restaurativos com o intuito de promover a responsabilização
dos ofensores, proteção às vítimas, bem como restauração e estabilização das relações familiares.”

Art. 25. Portaria da Presidência do CNJ poderá instituir selo de reconhecimento, e seu respectivo regulamento,
aos tribunais que implementarem os objetivos da presente Resolução.

Art. 26. O disposto nesta Resolução não prejudica a continuidade de eventuais programas similares,
coordenadorias, núcleos ou setores já em funcionamento, desde que desenvolvidos em consonância com os
princípios da Justiça Restaurativa apresentados nesta Resolução.

Art. 27. Compete à Presidência do CNJ, com o apoio da Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania,
coordenar as atividades da Política Judiciária Nacional no Poder Judiciário, assim como instituir e regulamentar o
Comitê Gestor da Justiça Restaurativa, que será responsável pela implementação e acompanhamento das
medidas previstas nesta Resolução.

Art. 28. Os tribunais, consideradas as peculiaridades locais e autonomia, poderão suplementar esta Resolução
naquilo que não lhe for contrário.

Artigo 28-A. Deverão os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais, no prazo de cento e oitenta dias,
apresentar, ao Conselho Nacional de Justiça, plano de implantação, difusão e expansão da Justiça Restaurativa,
sempre respeitando a qualidade necessária à sua implementação, conforme disposto no artigo 5o, inciso I, e de
acordo com as diretrizes programáticas do Planejamento da Política de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder
Judiciário Nacional, especialmente: (Acrescentado pela Resolução nº 300, de 29.11.2019)
I – implementação e/ou estruturação de um Órgão Central de Macrogestão e Coordenação, com estrutura e
pessoal para tanto, para desenvolver a implantação, a difusão e a expansão da Justiça Restaurativa, na amplitude
prevista no artigo 1o desta Resolução, bem como para garantir suporte e possibilitar supervisão aos projetos e às
ações voltados à sua materialização, observado o disposto no artigo 5o, caput e § 2o (Item 6.2 do Planejamento
da Política de Justiça Restaurativa do Poder Judiciário Nacional);

II – desenvolvimento de formações com um padrão mínimo de qualidade e plano de supervisão continuada (Item
6.4 do Planejamento da Política de Justiça Restaurativa do Poder Judiciário Nacional);

III – atuação universal, sistêmica, interinstitucional, interdisciplinar, intersetorial, formativa e de suporte, com
articulação necessária com outros órgãos e demais instituições, públicas e privadas, bem como com a sociedade
civil organizada, tanto no âmbito da organização macro quanto em cada uma das localidades em que a Justiça
Restaurativa se materializar como concretização dos programas (Item 6.6 do Planejamento da Política de Justiça
Restaurativa do Poder Judiciário Nacional);

IV – implementação e/ou estruturação de espaços adequados e seguros para a execução dos projetos e das ações
da Justiça Restaurativa, que contem com estrutura física e humana, bem como, que proporcionem a articulação
comunitária (Item 6.8 do Planejamento da Política de Justiça Restaurativa do Poder Judiciário Nacional); e

V – elaboração de estudos e avaliações que permitam a compreensão do que vem sendo construído e o que pode
ser aperfeiçoado para que os princípios e valores restaurativos sejam sempre respeitados (Item 6.10 do
Planejamento da Política de Justiça Restaurativa do Poder Judiciário Nacional);

Parágrafo único. O Comitê Gestor da Justiça Restaurativa atuará, caso demandado, como órgão consultivo dos
tribunais na elaboração do plano previsto neste artigo, acompanhando, também, a sua implementação, cabendo,
aos tribunais, enviar relatórios, semestralmente, nos meses de junho e dezembro de cada ano.

Artigo 28-B. Fica criado o Fórum Nacional de Justiça Restaurativa, que se reunirá, anualmente, com a participação
dos membros do Comitê Gestor da Justiça Restaurativa do CNJ, dos coordenadores dos órgãos centrais de
macrogestão e coordenação da Justiça Restaurativa nos tribunais, ou de alguém por eles designados, sem
prejuízo de participações diversas, que terá como nalidade discutir temas pertinentes à Justiça Restaurativa e
sugerir ações ao Comitê Gestor de Justiça Restaurativa do CNJ. (Acrescentado pela Resolução nº 300, de
29.11.2019)

Art. 29. Esta Resolução aplica-se, no que couber, à Justiça Federal.

Art. 30. Esta Resolução entra em vigor após decorridos sessenta dias de sua publicação.

Ministro Ricardo Lewandowski

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