CAPÍTULO 4 - Precipitaçao
CAPÍTULO 4 - Precipitaçao
CAPÍTULO 4 - Precipitaçao
4 PRECIPITAÇÃO 4.4
4.1 INTRODUÇÃO 4.4
EXERCÍCIOS 4.56
BIBLIOGRAFIA 4.60
Precipitação
Lista de Figuras
Figura 4.1 – Atmosfera-padrão internacional 4.8
Figura 4.2 − Superfície fásica da água 4.12
Figura 4.3 – Tensão de saturação do vapor de água 4.16
Figura 4.4 – Diagrama psicrométrico 4.20
Figura 4.5 – Superfície do ponto de orvalho (equidistância = 5 ºC) 4.22
Figura 4.6 – Diagrama aerológico 4.24
Figura 4.7 – Avaliação da energia envolvida nos processos termodinâmicos 4.25
Figura 4.8 – Processos de saturação do ar 4.26
Figura 4.9 – Deslocamento vertical de uma massa de ar 4.27
Figura 4.10 – Características de partículas atmosféricas (r = raio , µm, n = número por litro, u =
velocidade terminal, cm s-1) 4.30
Figura 4.11 – Precipitação convectiva. Fases de desenvolvimento de um cúmulo-nimbo 4.31
Figura 4.12 – Precipitação orográfica 4.31
Figura 4.13 – Evolução de um sistema frontal e da precipitação associada 4.32
Figura 4.14 – Água precipitável entre 1000 hPa e a uma pressão indicada (ΔW = 5 mm) 4.34
Figura 4.15 – Modelo de precipitação orográfica 4.34
Figura 4.16 – Modelo de precipitação de convergência 4.36
Figura 4.17 – Udógrafo de sifão 4.37
Figura 4.18 – Gráfico diário de um udógrafo de sifão 4.37
Figura 4.19 – Balanceiro de um udógrafo de báscula com registo eletrónico 4.38
Figura 4.20 – Gráfico diário de um udógrafo de báscula 4.38
Figura 4.21 – Representação esquemática de um radar convencional 4.39
Figura 4.22 – Imagem do campo da intensidade da precipitação (http://www.meteo.pt) 4.40
Figura 4.23 – Recordes de precipitação em função da duração 4.41
Figura 4.24 – Curvas IDF de Maputo e de Lisboa (IGIDL) para T = 50 a 4.43
Figura 4.25 – Parâmetros de curvas IDF para Portugal (DR nº 23/95) 4.44
Figura 4.26 – Parâmetros de curvas IDF para Moçambique 4.45
Figura 4.27 – Fator de probabilidade da PMP em função da duração e da média da precipitação
anual máxima com essa duração (adaptada de Hershfield, 1965) 4.46
Figura 4.28 – Precipitação medida sobre e na vizinhança de uma área (mm) 4.47
Figura 4.29 – Construção e malha de polígonos de Thiessen sobre uma área 4.48
Figura 4.30 – Construção e traçado de isoietas 4.49
Figura 4.31 – Diagramas de Tukey para a precipitação mensal em Lisboa (IGIDL) 4.50
Figura 4.32 – Precipitação anual em Lisboa (IGIDL) de 1900/01 a 1993/94 4.51
Figura 4.33 – Diagramas de Tukey para a precipitação mensal em Maputo (Observatório) 4.52
Figura 4.34 – Precipitação anual em Maputo de 1913/14 a 2004/05 4.53
Figura 4.35 – Distribuição da precipitação anual média em Portugal continental 4.54
Figura 4.36 – Distribuição da precipitação anual média em Moçambique (isoietas em mm) 4.55
4.2
Precipitação
Lista de Quadros
Quadro 4.1 – Recordes mundiais de precipitação em função da duração 4.42
4.3
Precipitação
4 PRECIPITAÇÃO
4.1 INTRODUÇÃO
A camada gasosa que envolve a Terra, a atmosfera, tem uma enorme importância na
circulação da água, desde que se evapora até que precipita, determinando em conjunto com outros
fatores a sua distribuição sobre a superfície dos continentes e dos oceanos. Ela é também, à escala
global, um dos mais importantes agentes da filtração e da redistribuição da energia proveniente do
Sol, a qual atinge a superfície do globo de modo não uniforme, quer no espaço quer no tempo.
A baixa atmosfera subdivide-se em duas camadas, nas quais o gradiente térmico muda de
sinal. Na camada inferior, troposfera, que atinge altitudes de 18 km no equador e de 6 km nos polos,
a temperatura decresce com a altitude tipicamente cerca de 6,5 C km-1. Acima da troposfera e até
cerca de 50 km, em camada designada por estratosfera, a temperatura permanece constante nos
primeiros 15 km e volta depois a crescer até cerca de 0 C. A região que separa a troposfera da
estratosfera, região onde o gradiente térmico se inverte ou inicialmente se anula, é designada por
tropopausa.
A troposfera, que compreende cerca de 75 por cento da massa total da atmosfera, constitui a
sua porção mais dinâmica, sendo nela que se manifestam os fenómenos do tempo, objeto das
previsões meteorológicas e em média definidores do clima.
4.4
Precipitação
onda emitida pela Terra, com o que contribuem para o chamado efeito de estufa; o último, pela sua
capacidade para absorver a radiação de pequeno comprimento de onda emitida pelo Sol, com o que
contribui para o aquecimento do ar na estratosfera e, principalmente, para a proteção dos tecidos
orgânicos à superfície do planeta.
Pela sua importância, dois outros componentes, embora não gasosos, são também
apresentados no referido quadro: a água, nas formas líquida e sólida, e as poeiras em suspensão.
Estes dois elementos do quadro, em conjunto com o óxido de diazoto, são os únicos visíveis na
atmosfera. A cor azul do céu em dias claros deve-se à dispersão molecular na banda do violeta da
radiação emitida pelo Sol.
Na análise termodinâmica dos processos atmosféricos é geralmente aceite que os gases que
compõem a atmosfera se comportam, com razoável aproximação, de acordo com a equação de
estado dos gases ideais:
pV nRT (4.1)
onde
p representa a pressão a que o gás está sujeito (Pa)1,
V, o volume que ocupa (m3),
n, a quantidade de matéria nesse volume (mol),
T, a temperatura absoluta (K), e
R, a constante molar dos gases ideais (8,314 J mol-1 K-1).
Numa mistura de gases, a quantidade total de matéria é a soma das quantidades de matéria
de cada um dos gases:
n t n1 n 2 n 3 n i
i
então, se todos os gases se encontrarem à mesma temperatura e dado que eles ocupam o mesmo
volume, será
1
As fórmulas que se apresentam são dimensionalmente homogéneas. Assim, as unidades que se sugerem poderão ser
substituídas pelas de outro sistema coerente de unidades.
4.5
Precipitação
n t R T n1 R T n 2 R T n 3 R T RT
V
V
V
V
V i
ni
p t p1 p 2 p 3 p i
i
ou seja, a pressão total exercida por uma mistura de gases à mesma temperatura e que ocupam um
determinado volume é igual à soma das pressões parciais de cada gás.
n
pi i p t x i p t
nt
pa pd p v
pa pd e (4.2)
A equação de estado dos gases ideais, tendo em atenção que a quantidade de matéria (n) é a
razão entre a massa da substância (m) e a sua massa molar (M), pode escrever-se para cada um dos
componentes (i) do seguinte modo:
mi
p i Vi RT
Mi
ou
pi vi R i T (4.3)
ou, ainda,
p i i R i T (4.4)
onde
4.6
Precipitação
Vi
vi representa o volume mássico (m3 kg-1),
mi
m
i i , a massa volúmica (kg m-3), e
Vi
R
Ri , a constante mássica dos gases desse componente (J kg-1 K-1).
Mi
Md = 0,02896 kg mol-1
Mv = 0,01802 kg mol-1
dp d d g dz (4.5)
onde
Substituindo a massa volúmica pelo valor que se obtém da equação de estado, será
pd
dp d g dz (4.6)
R dT
dT dz (4.7)
dp d g dT
(4.8)
pd Rd T
4.7
Precipitação
g
T Rd
p d p d0
T0
(4.9)
T T0 z z 0
que permite a obtenção da pressão e da temperatura do ar seco a qualquer altitude, dentro da zona
de gradiente de temperatura constante, a partir de um ponto (pd0, T0, z0) conhecido.
pd pd1 exp
g
z z1 (4.10)
R d T1
z0 = 0 m
T0 = 288,15 K
p0 = 101 325 Pa
4.8
Precipitação
Verificam-se, pela referida figura, as grandes variações que sofrem as variáveis com a
altitude. Considerando a passagem do nível do mar para uma altitude de 11 km, vê-se que para esta
atmosfera, que representa condições-padrão, a pressão diminui para cerca de um quarto do seu
valor, e a temperatura, para um valor de −56,5 C. São estes factos que levam, por exemplo, a que
as cabinas dos aviões com propulsão a jato das modernas carreiras de passageiros tenham de ser
pressurizadas e climatizadas. Sendo a pressão exterior menor do que a interior, se houver uma
rutura da cabina, desenvolver-se-ão fortes correntes de ar para o exterior. Se o sistema climatizador
se avariar, e o avião se mantiver a essa altitude, os passageiros, sem vestuário apropriado, perecerão
de frio.
Para a mesma variação de altitude, a massa volúmica também se reduz a cerca de um terço
do seu valor ao nível do mar, implicando a redução pelo mesmo fator da sustentação do avião e da
resistência ao seu deslocamento, quando a velocidade se mantiver constante.
As massas de ar, como é óbvio, apresentam grande mobilidade, estando raras vezes em
repouso. Assim, por efeito de gradientes térmicos e de pressão, elas deslocam-se, sofrendo expansões
e contrações de acordo com as pressões a que ficam sujeitas. Para analisar essas variações é
necessário recordar as leis da termodinâmica.
dQ dE dW
onde a energia da massa de gás (E) é a soma da sua energia interna (U) com a energia potencial
1
(mgz) e com a energia cinética ( mV 2 ):
2
1
E U mg z m V2
2
dQ dU p dV
dq du p dv (4.11)
onde as letras minúsculas designam as grandezas anteriores divididas pela massa do gás:
Q
q , energia fornecida por unidade de massa (J kg-1), e
m
4.9
Precipitação
U
u , energia interna mássica (J kg-1).
m
Nas condições admitidas para a equação (4.11), define-se capacidade térmica mássica a
volume constante (cv) por
dq du
cv (4.12)
dT v cte dT
dq
cp (4.13)
dT p cte
cp cv R (4.14)
dp v p dv v dp (4.15)
obtém-se
dq c v dT d(pv) v dp
c v dT R dT v dp
dq
dT cp cv R
p cte
Num processo adiabático, sem trocas de energia entre a massa de gás e o exterior (dq = 0),
será
du p dv 0
ou
c v dT p dv 0
4.10
Precipitação
c p dT v dp 0
RT
c p dT dp 0
p
dT R dp
(4.16)
T cp p
k
T p
(4.17)
T0 p 0
R cv
com k 1 1 .
cp cv R
kd = 0,286
kv = 0,247
Designa-se por temperatura potencial (θ) a temperatura a que ficaria uma massa de gás,
inicialmente à pressão p e à temperatura T, depois de passar por um processo adiabático que a
levasse à pressão de 1000 hPa. Será
k
100 000
T (4.18)
p
c p dT v dp 0
d p v
cp v dp 0
R
c v v dp c p p dv 0
dp c p dv
p cv v
4.11
Precipitação
e, integrando,
p v0
(4.19)
p0 v
cp 1 R
com 1 1.
cv 1 k cv
γd = 1,400
γv = 1,328
Na Figura 4.2 apresenta-se em gráfico logarítmico a superfície fásica da água por recurso à
linha de saturação, com a forma de um V invertido, e a algumas isolinhas da temperatura (0 C,
400 C e 800 C).
Entre os dois ramos da linha de saturação não se representa qualquer das fases da água.
Os estados duplos e triplo da água são representados pelas intersecções das linhas
horizontais a tracejado com cada um dos ramos da linha de saturação.
pc = 22,12 MPa
vc = 3,2 × 10-3 m3 kg-1
Tc = 374,16 C
4.12
Precipitação
Acima da pressão crítica e à temperatura crítica, não é possível distinguir a água líquida do
seu vapor. Em mudanças isobáricas de fase, abaixo da pressão crítica, existe descontinuidade no
volume mássico de cada fase, enquanto, acima da pressão crítica, o volume mássico varia de modo
contínuo, sendo igual para as duas fases à temperatura crítica.
Nas fases sólida e líquida, a água é praticamente incompressível. Assim, as porções das
isotérmicas correspondentes a essas fases saturadas, só água ou só gelo, ficariam representadas no
gráfico, devido às escalas adotadas, por linhas praticamente verticais. Por tal motivo e para manter a
legibilidade do gráfico, não se desenharam essas porções das isotérmicas. Pela última das razões
apontadas, manutenção da legibilidade, apenas se desenharam do lado do vapor as isotérmicas 0 C,
400 C e 800 C, sendo fácil, por interposição, imaginar a posição das restantes isotérmicas.
De acordo com a regra das fases ou regra de Gibbs, o número de graus de liberdade de um
sistema (l) é igual à adição da diferença entre o número de componentes (c) e o número de fases (f)
presentes no sistema com 2:
l cf 2
Quando a água se apresenta simultaneamente nas suas três fases, o número de graus de
liberdade é zero. Tal estado, designado por triplo, verifica-se à pressão de 611,2 Pa e à temperatura
de 0,01 C. Nesse estado, o volume mássico do gelo é 0,001091 m3 kg-1, o da água é 0,0010002 m3
kg-1 e o do vapor é 206,48 m3 kg-1.
Designa-se por calor latente mássico (l12) a quantidade de calor que por unidade de massa é
necessário adicionar (l12 > 0) ou subtrair (l12 < 0) a uma substância para que, em condições de
equilíbrio, isotérmico e isobárico, ela mude de uma dada fase, designada por 1, para outra fase,
designada por 2, ambas coexistindo simultaneamente. De acordo com a primeira lei da
termodinâmica
(4.11), será
2 2 2
l12 dq du p dv
1 1 1
ou
l12 u 2 u1 p v 2 v1 (4.20)
h u pv
4.13
Precipitação
Pode, então, também definir-se calor latente mássico como sendo a diferença entre as entalpias
mássicas das duas fases:
l12 h 2 h1
dq
ds
T
pode escrever-se
2 2
T s 2 s1
dq
l12 dq T (4.21)
1 1 T
u1 p v1 T s1 u 2 p v 2 T s 2
onde cada um dos membros da igualdade representa a energia livre de Gibbs (g) da respetiva fase.
Então, se coexistem duas fases em equilíbrio isotérmico e isobárico, as suas energias livres são
iguais:
g1 g 2
O diferencial da energia livre para qualquer das fases será
d gi du i p dv i v i dp T ds i s i dT
dq i T ds i v i dp s i dT
v i dp s i dT
Sendo iguais as energias livres de cada uma das fases em equilíbrio, então as variações das
energias livres para outro ponto (p,T) de equilíbrio deverão também ser iguais:
v1 dp s1 dT v 2 dp s 2 dT
dp l12
(4.22)
dT T v 2 v1
que permite, em conjunto com a equação (4.20) e a lei de estado, a definição da linha de saturação.
4.14
Precipitação
Assim, considere-se a passagem da água líquida para o vapor, vaporização. Então, em face
de vv, vw será desprezável. Derivando em relação à temperatura a equação (4.20), obtém-se
d l wv d
(u v u w R v T)
dT dT
c vv c w R v
c pv c w
l wv l wv0 (c w c pv ) (T T0 )
e, designando por esw a tensão de saturação do vapor em equilíbrio com a água líquida e
substituindo o resultado anterior na equação (4.22), obtém-se
de sw
l wv 0 c w c pv T T0
e sw
dT R v T2
e 1 1 T
ln sw ln
e sw 0 T T0 T0
com
l wv0 (c w c pv ) T0
Rv
c w c pv
Rv
4.15
Precipitação
17,67 (T 273,15)
e sw 611,2 exp
T 29,6
2,66 (4.24)
T
e si e sw
273,15
Como se referiu, é usual decompor o ar em ar seco e vapor de água, existindo em função das
aplicações várias grandezas para exprimir o conteúdo em vapor de água do ar. Referem-se
seguidamente algumas dessas grandezas:
– Humidade absoluta (ρv), que se define pela relação entre a massa de vapor de água (mv) e o
volume de ar húmido (Va) que a contém:
mv e
v
Va R vT
– Humidade específica (qv), que se define pela relação entre as massas de vapor de água (mv) e
de ar húmido (ma) que existem em determinado volume de ar húmido:
mv v v
qv
m a a d v
– Humidade relativa (U), que se define pela relação entre as massa de vapor de água (mv) que
existe em determinado volume de ar e a massa de vapor de água em equilíbrio com a água
líquida que saturaria esse volume à mesma temperatura (mvs):
4.16
Precipitação
mv e
U v
m vs vs e sw
– Razão de mistura (w), que se define pela razão entre a massa de vapor de água que existe em
determinado volume de ar e a massa de ar seco que compartilha esse volume:
mv v e e
w
m d d pd pa e
Rd
onde 0,622 representa a relação entre as constantes dos gases para o ar seco e
Rv
para o vapor.
Para determinar a constante dos gases para o ar húmido recorda-se a equação das pressões
parciais:
pa pd e (4.2)
Será
pa d R d T v R v T
w
d R d T 1
Sendo
a d v
(1 w ) d
p a a R a T
com
w
1
Ra R (4.25)
d
1 w
Designa-se por temperatura virtual (T v) a temperatura que deveria ter uma massa de ar seco
para que à mesma pressão (pa) que uma massa de ar húmido com a temperatura T tivesse a massa
volúmica desta. Será
pa R
Tv a T
R d a R d
e, considerando (4.25),
4.17
Precipitação
w
1
Tv T (4.26)
1 w
d v dq d c vd dT v c vv dT
e, dividindo por ρd e explicitando dq, obtém-se
c w c vv
c va vd (4.27)
1 w
c pa c va R a (4.28)
Observa-se que as expressões (4.25), (4.27) e (4.28) podem reescrever-se como médias
ponderadas com a massa volúmica dos componentes, ar seco e vapor de água, das correspondentes
propriedades, Ri , cvi e cpi .
Quando a razão de mistura varia entre 0 e 0,04, valores que correspondem a ar seco e a ar
muito húmido, os intervalos de variação das relações entre os respetivos expoentes adiabáticos,
equações (4.17), (4.18) e (4.19), são os seguintes:
k
1 a 1,01
kd
1 a 1,01
d
ka kd
(4.29)
a d
m a a 1 w d
dm a da d dw
4.18
Precipitação
Então, supondo o vapor em equilíbrio com a água líquida, a primeira lei da termodinâmica
permite escrever:
l wv d dw c pa 1 w d dT
ou
dw dT
c pd w c pv l wv
ww dw Tw dT
w0 c pd w c pv T0 l
wv
onde
As equações (4.23), por serem lineares, indicam que lwv pode ser representado por
l wv l wv0 wv T T0
c pv
ln 1 w w w 0 ln 1 wv T0 Tw
l 1
c pv c pd wv l wv 0
w w w 0 T0 Tw
(4.30)
c pd l wv 0
esw Tw
ww (4.31)
pa esw Tw
cpd
w0 w w T0 Tw (4.32)
l wv 0
w 0 pa
e (4.33)
w0
4.19
Precipitação
e
U (4.34)
esw T0
c pd
Na Figura 4.4, desenhada com base nas expressões anteriores com a razão consi-
l wv0
derada constante e igual a 0,0004 K-1, ilustra-se de modo aproximado a relação que existe entre a
humidade relativa (U), a temperatura ambiente (T 0) e a depressão térmica (T 0 – Tw).
w w w 0 T0 Tf Tw Tf
cpd l wv 0 livf
w w w 0 T0 Tw
cpd liv0
4.20
Precipitação
onde α, que se designa por constante do psicrómetro, é indicada pelo fabricante, de acordo com o
tipo de aparelho (0,0006 α 0,0012 K-1). Por vezes, utiliza-
c pd p a
γ α pa
ε l wv
e esw Td
w0
pa e pa esw Td
1
Td esw e (4.36)
e esw T0 U
e
x ln
611,2
29,66 x 4827
Td
x 17,67
4.21
Precipitação
Agora, considere-se apenas que, durante a expansão do ar, todo o vapor que se condense é
removido da massa de ar depois de lhe ter transmitido o calor latente de condensação. Designa-se
este processo por pseudoadiabático.
4.22
Precipitação
Ra T
va
pa
dT dp
d k a a
T pa
será
d
dq T cpa (4.38)
d
l wv d dw s 1 w s d T cpa (4.39)
esw T
ws (4.40)
1
k
100 000 esw T
T
e diferenciando
w s w s
dw s dT d
T
obtém-se
l wv w s
d 1 w s cpa T T
(4.41)
dT 1 l wv w s
1 w s cpa T
A equação anterior não se presta com facilidade a aplicações práticas. Assim, considerando
que
w 1 ws ws ws
d s dT d 2 dT
T T T T
1
dw s
T
4.23
Precipitação
l wv w d
d s
c pd w s c pv T
e, integrando com a fração onde intervêm o calor latente e as capacidades térmicas considerada
constante, obtém-se a seguinte equação:
l wv w s w s0
ln (4.42)
cpd w s cpv T T0 0
0
A razão de mistura de saturação, equação (4.40), a pressão a que o ar está sujeito, expli-
citada da equação (4.18), e as linhas que representam os processos pseudoadiabáticos, obtidas por
integração numérica da equação (4.41), podem ser representadas num gráfico semilogarítmico onde
no eixo das abcissas se marcam as temperaturas do ar e no das ordenadas, em escala logarítmica, a
sua temperatura potencial. Apresenta-se tal gráfico, que se designa por diagrama aerológico, na
Figura 4.6.
As linhas de igual pressão do ar, isobáricas, são também aproximadamente retas, fazem com
o eixo das temperaturas ângulos de cerca de 45 e estão cotadas em hPa sensivelmente a meio. Entre
parênteses indica-se também a altitude (km) que na atmosfera-padrão corresponderia a essa pressão.
4.24
Precipitação
Para que a altitude varie na vertical, é usual rodar-se o diagrama até que as isobáricas fiquem
aproximadamente horizontais.
Convém notar que as quantidades de calor postas em jogo por unidade de massa no processo
de passagem de um ponto 1, com coordenadas (T 1,θ1), para um ponto 2, com coordenadas (T 2,θ2),
são calculadas pelo integral da equação (4.38):
2 d
q12 T c pa
1
que, sendo cpa pouco variável e aproximadamente igual a cpd, se pode escrever:
1 T dln
2
q12 c pd
4.25
Precipitação
Considere-se uma massa de ar com uma temperatura de 19,5 C, à pressão de 1000 hPa e
com uma razão de mistura de 9 g/kg (ponto a na Figura 4.8). De entre os vários processos que
existirão para se atingir uma razão de mistura de saturação destacam-se os seguintes:
Tc Td Tw Tsw Ta
Faz-se notar que cada linha pseudoadiabática pode ser caracterizada pela temperatura que se
obteria conduzindo uma compressão pseudoadiabática desde o ponto de condensação adiabática até
à pressão de 1000 hPa. Designa-se tal temperatura por pseudotemperatura potencial do termómetro
molhado (θsw). Na Figura 4.8, a pseudoadiabática que passa em c e sw seria caracterizada por θsw =
Tsw, visto que o ponto sw se encontra já na isobárica 1000 hPa.
4.26
Precipitação
Considere-se que a massa de ar referida no exemplo anterior (ponto a, Figura 4.9) se vai
elevar na atmosfera do nível correspondente à pressão de 1000 hPa até ao nível correspondente a
800 hPa, ou seja, cerca de 1800 m, e regressar ao nível inicial.
A temperatura mais baixa atingida pela massa de ar seria a correspondente à maior altitude,
ponto e, cerca de 5,6 C.
4.27
Precipitação
As nuvens são formadas por gotas de água e partículas de gelo com génese no vapor de água
da atmosfera. A observação mostra que a sua forma não é estável e que sofrem transformações mais
ou menos rápidas ao longo do tempo.
As nuvens classificam-se segundo o aspeto que delas se percebe quando observadas do solo.
O sistema adotado internacionalmente distingue fundamentalmente quatro tipos: cúmulos (nuvens
com grande desenvolvimento vertical e com dimensões horizontais da mesma ordem de grandeza, de
alguns quilómetros a cerca de uma dezena de quilómetros), estratos (nuvens que se desenvolvem em
camadas estreitas e sobrepostas, podendo atingir desenvolvimentos de centenas de quilómetros na
horizontal), cirros (nuvens de grande altitude com aspeto filiforme) e nimbos (nuvens que produzem
precipitação). A classificação internacional compreende dezenas de tipos cujos nomes são
combinações dos anteriores (cirros-estratos, cúmulos-nimbos) ou indicam a altitude a que ocorrem
(altos-estratos) ou indicam desenvolvimento notável (cúmulos congestionados).
As mudanças de fase de que se tratou na secção anterior do texto dizem respeito à presença
simultânea das fases, as quais se consideravam separadas por superfícies planas. Se apenas uma das
fases estiver presente, tais mudanças só ocorrem espontaneamente, às temperaturas e pressões então
indicadas, no sentido da fase de maior desordem (geloágua líquidavapor), ou seja, de maior
entropia. Em sentido contrário, a experiência e a teoria mostram que é necessário valores muito
superiores da tensão do vapor em relação à de saturação de equilíbrio e valores muito inferiores da
temperatura da água em relação ao ponto de fusão.
No entanto, na atmosfera formam-se gotas de água a partir do vapor, logo que a tensão de
saturação (esw) seja ligeiramente excedida. Tal facto deve-se à presença de partículas higroscópicas
que funcionam como núcleos de condensação (heterogénea). Muitas destas partículas são
constituídas por sal proveniente do mar, poeiras geradas pelo vento à superfície dos continentes,
fogos florestais e produtos de combustão e outras operações industriais.
Logo que alguma condensação ocorra, a tensão do vapor baixa e a condensação terminará se
o vapor não for substituído por vapor proveniente de outras camadas ou se o ar não se encontrar em
ascensão, fenómeno que justifica a saturação inicial, ficando portanto saturado a temperaturas
sucessivamente mais baixas e às quais correspondem menores tensões do vapor.
Devido à tensão superfícial (σ), cerca de 0,075 N m-1 para a gama de temperaturas da
atmosfera, a pressão da água líquida à superfície das gotas pequenas é superior à pressão da água à
superfície das gotas grandes, como atesta a fórmula de Laplace:
4.28
Precipitação
1 1
pi pa
r1 r 2
onde
pa representa a pressão do ar no exterior da gota,
pi, a pressão no interior da gota, e
r1 e r2, os raios principais de curvatura.
Assim, as gotas pequenas vaporizar-se-ão mais facilmente do que as gotas grandes, existindo
um tamanho de gota, designado por crítico, tal que as gotas mais pequenas que as desse tamanho
vaporizam-se e tendem a desaparecer, e as gotas maiores crescem, à custa do vapor em excesso das
pequenas, tendendo a ficar cada vez maiores.
À medida que as gotas crescem, a sua velocidade de queda (u) relativa à velocidade do ar
ascendente vai aumentando, como atesta a lei de Stokes para pequenos números de Reynolds (R e <
1), com um coeficiente de resistência inversamente proporcional ao referido número (Cd = 24/Re):
2 g w a 2
u r
9
onde
r representa o raio da gota, suposta esférica, e
μ, a viscosidade dinâmica do ar ( 1,83 10-5 N m-2 s)
ou, para grandes números de Reynolds (Re > 105), com um coeficiente de resistência constante (Cd =
0,45),
1
u 220 r 2
Enquanto o tamanho das gotas não for suficiente para que comecem a descer, as gotas
maiores subirão a menor velocidade que as mais pequenas que com aquelas podem colidir se a sua
inércia for suficiente para que a corrente ascendente ao contornar as gotas maiores não as desvie.
Por outro lado, quando as gotas maiores tiverem tamanho suficiente para descer, colidirão com as
que sobem e com as que descem, mas a menores velocidades. Destas colisões podem resultar gotas
maiores por coalescência. Por exemplo, uma gota de água com um diâmetro de 1 mm pode resultar
de 105 colisões.
4.29
Precipitação
Se as gotas descendentes atingirem tamanho suficiente para não se evaporarem até ao solo,
então ocorrerá precipitação à superfície. O tamanho das gotas da chuva, expresso como sendo o
diâmetro da esfera com o mesmo volume, varia em geral entre 0,1 mm e 6 mm. As gotas que
eventualmente atinjam tamanhos maiores sofrem processos de subdivisão ao longo da sua queda. A
moda dos tamanhos de gota cresce com a intensidade da precipitação.
O gelo forma-se nas nuvens com base no congelamento das gotas líquidas sobrearrefecidas,
mas a temperaturas inferiores a 0 C. Tal facto indica que, tal como na condensação, também a
nucleação do gelo é heterogénea. Os núcleos de gelo na atmosfera, em número muito inferior ao dos
núcleos de condensação, são constituídos fundamentalmente por partículas de caulinite. Tais
partículas são capazes de iniciar o processo de congelamento das gotas de água a temperaturas da
ordem de –9 C. No entanto, não é invulgar a ausência de gelo em nuvens com temperaturas até
cerca de –15 C.
O crescimento dos cristais de gelo dá-se, numa primeira fase e tal como acontecia para as
gotas de água, a partir da deposição do vapor de água sobre a superfície do cristal. Como a tensão
do vapor saturante é menor sobre o gelo do que sobre a água líquida, à medida que aquele se vai
depositando sobre os cristais, vai-se também evaporando das gotas que terão tendência a diminuir de
tamanho e, eventualmente, a desaparecer.
4.30
Precipitação
4.31
Precipitação
Designam-se por frentes as regiões de separação das duas massas de ar. No vértice da onda,
a pressão baixa e o ar passa a convergir para essa região deprimida, adquirindo pelo efeito de
Coriolis um movimento de rotação que no hemisfério norte tem um sentido contrário ao dos pontei-
ros dos relógios. Na frente que se designa por fria, o ar frio desloca-se por baixo do ar quente, ele-
vando-o rapidamente, ao longo de uma superfície de separação com curvatura acentuada, e
empurrando-o contra a outra superfície de separação. Na frente que se designa por quente, o ar
quente, empurrado pela frente fria, desloca-se suavemente sobre o ar frio ao longo de uma superfície
sem grande curvatura e declive. A frente fria desloca-se com maior velocidade que a frente quente e,
portanto, as duas frentes acabam por unir-se, ficando o ar quente por cima do ar frio. Na frente fria,
durante a fase de maturidade do sistema, frentes fazendo aproximadamente um ângulo reto, a
turbulência é muito grande, e as precipitações, muito intensas. Os tornados, muito frequentes nos
Estados Unidos, têm a sua origem na extrema turbulência que por vezes se manifesta nas frentes
frias.
4.32
Precipitação
Designa-se por água precipitável (W12) a quantidade de água existente numa coluna vertical
de ar com uma altura compreendida entre dois níveis atmosféricos, o nível 1 e o nível 2, por unidade
de área da base da coluna. Quando a água contida na coluna existir apenas na fase gasosa, será
z2
W12 v dz (4.43)
z1
onde
W12 representa a água precipitável (kg m-2),
z1 e z2, os níveis entre os quais a coluna se desenvolve (m), e
ρv, a massa volúmica do vapor de água (kg m-3).
Faz-se notar que, supondo que a água precipitável se encontra na fase líquida e que a sua
massa volúmica é 1000 kg m-3, então, distribuindo-a uniformemente sobre uma superfície
horizontal com área unitária, obtém-se uma altura que é expressa em mm pelo mesmo valor com
que é expressa em kg m-2 e que nos estudos hidrológicos se adota tradicionalmente a unidade de
comprimento (mm).
dp a g dz
p1 v dp p1 q v
W12 dp (4.44)
p2 a g p2 g
onde
qv representa a humidade específica do ar (–), podendo ser considerado aproximadamente
igual à razão de mistura, w.
4.33
Precipitação
Figura 4.14 – Água precipitável entre 1000 hPa e a uma pressão indicada (ΔW = 5 mm)
p 0,19023
z 44308 1
101325
A água precipitável é uma grandeza fundamental nos modelos que seguidamente se vão
analisar, como se verá.
4.34
Precipitação
R b V v dz V v dz
z2 z4
(4.45)
z1 z3
onde
R representa a massa de água precipitada (kg s-1),
V, a velocidade do vento (m s-1),
ρv, a humidade absoluta do ar saturado (kg m-3), e
b, a largura do volume de controlo (m).
onde
Vij representa a velocidade média do vento na face ij (m s-1), e
Wij, a água precipitável na face ij (kg m-2).
A relação entre as velocidades do vento nas duas faces do volume de controlo pode estimar-
-se pela aplicação do princípio anterior ao componente ar seco, supondo constante a sua massa no
interior do referido volume:
z2 z4
z1
V d dz V d dz
z3
p1 p3
p 2
V dp
p4
V dp
ou
p12
V34 V12 (4.47)
p34
onde
Δpij representa a diferença de pressões entre os níveis i e j.
Substituindo o valor de V34 dado pela equação anterior na equação (4.46), obtém-se
p
R b V12 W12 12 W34 (4.48)
p34
4.35
Precipitação
p
R 2 r V12 W12 12 W34 (4.49)
p34
onde se considerou para volume de controlo a coluna cilíndrica de raio r e V12 representa a veloci-
dade média do ar saturado à entrada do volume de controlo (m s-1), tendo as outras variáveis o signi-
ficado já definido para o modelo anterior.
R
I 3 600 (4.50)
A
onde A representa a área da superfície do terreno (m2) sobre a qual se precipita a água (no segundo
modelo pode ser igualada à área da base do cilindro do controlo e, no primeiro, será inferior à área
do retângulo onde se pode projetar horizontalmente o volume de controlo, Lb).
4.36
Precipitação
A medição da precipitação pode ser feita localmente ou por deteção remota. Na medição
local utilizam-se udómetros ou pluviómetros, que podem ser totalizadores ou registadores. Na
medição remota utilizam-se radares meteorológicos.
A – Funil recetor
C – Depósito
D – Flutuador
E – Sifão
F – Haste do flutuador
M – Aparo
R – Tambor de registo
S – Recipiente
acumulador
4.37
Precipitação
A, B – Reservatórios do
balanceiro
C – Íman
D – Interruptor
4.38
Precipitação
Pode mostrar-se que a potência média recebida no radar, Pr , de uma região atmosférica à
distância r da antena é definida por (Battan, 1973):
2
C K aI b
Pr (4.51)
r2
onde
C representa a constante do radar,
2
K , um parâmetro dependente do índice de refração dos hidrometeoros, que se considera
ter um valor de 0,93 para a água líquida,
I, a intensidade da precipitação (mm/h), e
a e b , parâmetros de ajustamento ligados ao tipo de precipitação que se observa com o
radar.
4.39
Precipitação
Na Figura 4.23, com eixos logarítmicos, e no Quadro 4.1 apresentam-se os valores máximos
da precipitação registados no mundo em função da duração do intervalo de tempo em que ocorreu.
Na Figura 4.23 apresentam-se também os valores máximos registados em Portugal.
P 50 t 0,5 (4.52)
4.40
Precipitação
100000
10000
Precipitação (mm)
1000
Recorde Mundial
Recorde Português
1440; 292
2880; 299
360; 272
720; 276
100 Envolvente
60; 96
30; 59
5; 20
10
1
1
10
100
1000
10000
100000
1000000
10000000
Duração (min)
Por baixo das marcas que representam os recordes de precipitação em Portugal indica-se a
duração (min) e a precipitação (mm) separadas por ponto e vírgula.
A análise dos valores da precipitação (Quadro 4.1) mostra que, embora esta seja crescente
com a duração, ao dobro duma dada duração corresponde um valor de precipitação que é inferior ao
dobro da precipitação com essa duração:
P
I 3000 t 0,5 (4.54)
t
e mostra que a intensidade média da precipitação diminui com a duração, como a análise do Quadro
4.1 evidencia.
4.41
Precipitação
para representar a relação que existe entre a precipitação e a respetiva duração, para determinado
período de retorno, T, e local. Designam-se por linhas de possibilidade udométrica (Manzanares,
1947) as representações gráficas das funções que, como a anterior, representam tal relação.
0 n 1 (4.56)
A análise dos recordes portugueses de precipitação (Figura 4.23) revela a existência, perto
da duração de seis horas, duma mudança de alinhamento nas marcas que os representam. Brandão
et al., 2001, sugerem que, no que diz respeito a Portugal continental, deve considerar-se a existência
de três trechos no estabelecimento das linhas de possibilidade udométrica: um trecho para durações
4.42
Precipitação
inferiores a 30 min, outro para durações entre 30 min e 6 h e um último para durações superiores a
6 h.
Em gráficos com escalas logarítmicas para a duração e para a precipitação, a evidência das
mudanças de alinhamento dos pontos que representam a linha de possibilidade udométrica para
determinado período de retorno pode conduzir à utilização de outras funções. Exemplo de uma
dessas funções é a função de Wenzel, que se pode escrever:
ct
P (4.57)
t f
e
onde c = c(T), e = e(T) e f = f(T) são parâmetros a determinar. Faz-se notar que a função (4.57) se
reduz à função monómia (4.55) quando f = 0. Por vezes, considera-se que os parâmetros e e f são
constantes e que c é uma função monómia do período de retorno, T:
c k Tm (4.58)
Para representar a relação que existe entre a intensidade média da precipitação e a respetiva
duração para determinado período de retorno utilizam-se funções do tipo:
cujas representações gráficas se designam por curvas IDF (intensidade, duração, frequência).
Evidentemente, será
e a(T) depende das unidades de I e de t. Se I for expresso nas unidades de P e de t, então, o valor de
a(T) é idêntico ao valor que tem em (4.55).
Na Figura 4.24 apresentam-se as curvas IDF de Maputo e de Lisboa (IGIDL) para o período
de retorno de 50 a.
160
140
120
100
I (mm/h)
80
60
40
20
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
t (min)
4.43
Precipitação
KA=1,0
KB=0,8
KC=1,2
4.44
Precipitação
KA=0,8
KB=1,2
KC=0,7
KD=1,5
4.45
Precipitação
Brandão et al., 2001, tendo considerado à entrada do volume de controlo apenas a água
precipitável entre os níveis 1000 hPa e 200 hPa, numa atmosfera saturada, Figura 4.14, sugerem
que em Portugal se poderá estimar a precipitação máxima provável como sendo cerca de 2,5 vezes a
precipitação com o período de retorno de 1000 anos. Em alternativa, é por vezes utilizado para o
cálculo da PMP um período de retorno de 10 000 anos.
Ponce (1989) propõe também que se obtenha a PMP através da utilização da equação do
fator de probabilidade:
xM x K sx (4.61)
20
Fator de probabilidade, K (-)
16
24 h
6h
12
1h
5 min
8
4
0 100 200 300 400 500 600
Média da precipitação anual máxima (mm)
1
A A
P P( x, y) dA (4.62)
4.46
Precipitação
onde P(x,y) representa a precipitação expressa em altura no ponto (x,y) da projeção da região, e A, a
área da região medida em planta. Evidentemente, o volume da precipitação sobre a região é
representado na expressão anterior pelo integral de P(x,y) ao longo da área.
Pi P(x i , y i ) (4.63)
e o cálculo da equação (4.62) faz-se por ajustamento de uma função P(x,y) à precipitação medida
em vários postos.
1 N
P ( x , y) P Pi
N i1
(4.64)
onde N representa o número de postos sobre e na vizinhança da área em estudo (Figura 4.28). De
(4.62) obtém-se
PP (4.65)
4.6
1.6
6.2
4.1
4.5
9.1
4.1
9.7
1.3
5.0
8.2
4.47
Precipitação
4.6
1.6
6.2
4.1
4.5
9.1
4.1
9.7
1.3
5.0
8.2
Cada um dos segmentos de área é definido pelo lugar geométrico dos pontos da área que
estão mais próximos de um posto do que de qualquer outro posto e designa-se por área de influência
desse posto. Faz-se notar que o posto que define uma determinada área de influência pode estar
situado fora da área em análise.
A construção das áreas de influência de cada posto pode fazer-se com recurso a uma rede de
triângulos adjacentes com vértices coincidentes com os postos de medição. Deve procurar-se que a
circunferência circunscrita a cada triângulo da rede não contenha nenhum posto no seu interior, ou
seja, que a rede de triângulos seja uma rede de Delaunay. Os polígonos de Thiessen associados a um
determinado posto são constituídos pelas mediatrizes aos lados dos triângulos que têm esse posto
como vértice. A área de influência do posto resulta da intersecção da área em análise com o
respetivo polígono de Thiessen. No contexto de outras disciplinas, os polígonos de Thiessen são por
vezes designados por polígonos de Voronoi.
Ai
P Pi (4.66)
i A
onde Ai representa a área de cada segmento e o somatório se estende a todos os postos com
influência na área em análise. Evidentemente será
Ai A (4.67)
i
As equações (4.66) e (4.67) mostram que o método das áreas de influência corresponde a
atribuir à área em análise uma precipitação que é a média ponderada das precipitações em cada um
dos postos com influência sobre a área em análise. Os fatores de ponderação são as razões entre as
áreas de influência e a área total.
No método das isoietas, linhas de igual precipitação, interpola-se entre postos com a
precipitação medida de modo a definir P(x,y) e, consequentemente, a permitir o traçado das linhas
de igual precipitação, P(x, y) P . A equação (4.62) pode então ser estimada através de
P P1
P
1
A
2 A A 1 (4.68)
4.48
Precipitação
1.6 1.6
6.2 6.2
4.1 4.1
4.5 4.5
9.1 9.1
4.1 4.1
9.7 9.7
1.3 1.3
5.0 5.0
8.2 8.2
N
w i Pi
i 1
P ( x , y) N
wi (4.69)
i 1
1
wi
d i
onde
N, representa o número de postos vizinhos de (x,y) a utilizar na interpolação,
wi, o fator de ponderação a utilizar no ponto (x,y) para o posto i com a precipitação Pi,
di, a distância entre o ponto (x,y) e o posto i, e
, um expoente a que se eleva a distância.
O valor mais frequente de é 2. Faz-se notar que, se =0, então a interpolação reduz-se à
média aritmética das precipitações medidas nos N postos vizinhos.
4.49
Precipitação
ocorrer períodos de vários dias sem precipitação e períodos de vários dias com precipitação e que em
alguns períodos a precipitação pode ser muito intensa e noutros pouco intensa.
Na Figura 4.31 ilustra-se essa variabilidade com diagramas de Tukey (box plots) para a
precipitação mensal em Lisboa, medida no Instituto Geofísico Infante D. Luís (IGIDL), no período
entre Outubro de 1900 e Setembro de 1994.
400
350
300
250
P (mm)
200
150
100
50
0
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Cada diagrama mensal representa por traços horizontais, para a série de valores da
precipitação nesse mês, o mínimo, o primeiro quartil, a mediana, o terceiro quartil e o máximo e,
por uma marca cheia, a média.
Pode observar-se que a precipitação ocorre principalmente nos seis meses de outono e de
inverno do hemisfério Norte, com o máximo registado em dezembro (383 mm). Nos meses do verão
a precipitação é muito baixa, com valores médios de cerca de 4 mm em julho e agosto e com uma
mediana, nos mesmos meses, de cerca de 1 mm.
A variabilidade mensal num dado ano pode ser quantificada pelo coeficiente de variação da
precipitação mensal:
12
Pi P2
12
i 1
CVP M (4.70)
P
onde Pi representa a precipitação no mês i, e P , a média das precipitações mensais nesse ano.
Designa-se por ano médio, em relação a uma grandeza hidrológica, um ano fictício durante
o qual o valor dessa grandeza em frações sucessivas do ano é igual ao valor médio da grandeza
4.50
Precipitação
nesses períodos. Na Figura 4.31 o ano médio encontra-se representado pelas marcas cheias.
Verifica-se que o coeficiente de variação da precipitação mensal em ano médio é inferior ao valor
médio dos coeficientes de variação da precipitação mensal dos vários anos de registo, isto é, que o
ano médio apresenta uma variabilidade menor (regularidade maior) do que a média dos anos. Em
Lisboa, no período analisado, o coeficiente de variação da precipitação mensal em ano médio é 0,61
e a média dos coeficientes de variação da precipitação mensal é 0,96.
1400
1200
1000
Precipitação Anual (mm)
800
600
400
200
0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94
Ano
4.51
Precipitação
600
500
400
P (mm)
300
200
100
0
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
4.52
Precipitação
1800
1600
1400
Precipitação Anual (mm)
1200
1000
800
600
400
200
0
14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44 47 50 53 56 59 62 65 68 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 10
01 10
04
1 4
Ano
4.53
Precipitação
4.54
Precipitação
4.55
Precipitação
EXERCÍCIOS
4.1 Determine a massa volúmica do oxigénio ao nível do mar (1013,25 hPa e 15 ºC) e no cume
do monte Evereste (317 hPa e –42 ºC), tomando como fração molar do oxigénio 0,21.
De modo aproximado, refira também quantas vezes mais depressa do que ao nível do mar
teria um alpinista de respirar no referido cume.
4.2 Numa bomba para encher pneus de bicicleta, o ar seco é admitido da atmosfera à
temperatura de 15 C e a 1 atm. Considerando o processo de compressão adiabático,
determine a temperatura do ar à saída da bomba quando a pressão no pneu for de 2,5 bar.
4.4 Num reservatório encontram-se 0,5 m3 de um gás comprimido a 4250 mbar e cujas
constante mássica (R) e capacidade térmica mássica a volume constante (cv) são
250 J kg-1 K-1 e 500 J kg-1 K-1. Mantendo a massa de gás constante e supondo um processo
adiabático, determine a que valor seria necessário reduzir a pressão para que o volume
ocupado pelo gás duplicasse. Qual seria a sua temperatura final, sabendo que a inicial era de
20 C ?
4.7 Determinada massa de ar húmido encontra-se à pressão de 1000 mbar, com uma
temperatura de 20 C e a tensão do vapor de água que contém é de 1000 Pa.
Nessas condições determine:
4.8 Exprima humidade absoluta, v, e humidade específica, qv, em função da razão de mistura
do vapor de água, w, e, caso seja necessário, da pressão atmosférica e da temperatura.
4.10 Num psicrómetro instalado ao nível do mar, com uma constante = 0,0006 K-1, obteve-se
uma depressão de 4 C quando a temperatura no termómetro seco era de 25 C. Qual era a
razão de mistura do vapor de água no ar?
4.11 Uma massa de ar com uma humidade relativa de 40 por cento apresenta a temperatura de
25 C. Qual é o ponto de orvalho de tal massa de ar ?
4.56
Precipitação
4.12 Determinada parcela de ar, que se encontrava à pressão de 1000 mbar e à temperatura de
20 C, com uma razão de mistura do vapor de água de cerca de 6 g kg-1, é elevada a um
nível correspondente à pressão de 600 hPa e, posteriormente, reposta à pressão inicial.
Determine também:
Supondo que a massa de ar seco contido na parcela de ar húmido era de 2000 kg, determine
ainda:
4.13 Sobre uma elevação do terreno com 4 km de altitude e situada junto à costa sopra um vento
saturado com uma velocidade média de 45 km h-1. Supondo que a temperatura do ar na
costa é de 27 ºC e que a 10 km de altitude a direção do vento não é perturbada pela elevação
do terreno, estime a intensidade média da precipitação que ocorre sobre uma área da encosta
de barlavento que, projetada horizontalmente, tenha as dimensões de um quadrado com 12
12 km2 e com um dos lados paralelo à direção do vento.
4.14 Numa tempestade com um raio de 6 km, o ar saturado converge para a sua periferia entre os
níveis de 900 mbar e 800 mbar com uma velocidade média de 30 km h-1. Sabendo que a
temperatura à superfície é de 25 C e que o ar diverge da célula tempestuosa entre as
altitudes de 9 km e de 10 km, estime a intensidade da precipitação em mm h-1.
4.15 A figura abaixo representa um registo diário de um udógrafo de sifão. Sabendo que a escala
vertical corresponde a 10 mm de precipitação, estime a precipitação nesse dia.
4.16 Na figura abaixo representam-se em papel de probabilidade Normal uma série de máximos
anuais da precipitação diária e a lei Normal que lhe foi ajustada pelo método dos momentos.
4.57
Precipitação
140.0
130.0
120.0
110.0
100.0
Precipitação (mm)
90.0
80.0
70.0
60.0
50.0
40.0
30.0
20.0
-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
z (-)
6
T
KG 0,5772 lnln
T 1
estime a precipitação máxima diária com um período de retorno de 100 a (se não
respondeu à alínea a), arbitre valores plausíveis da média e do desvio-padrão).
t (min) 0 10 20 30 40 50 60
P (mm) 0 15 35 41 45 47 47
a) Determine para esse período de retorno, pelo método do mínimo dos quadrados, os
parâmetros a e b da curva IDF.
b) Com base no resultado anterior, determine os parâmetros da linha de possibilidade
udométrica com P em mm e t em min.
4.19 Em três postos udométricos com áreas de influência de 10, 20 e 30 km2 sobre determinada
bacia hidrográfica registaram-se em dado período de tempo precipitações de 12, 18 e 23
mm, respetivamente. Estime pelo método de Thiessen a precipitação sobre a bacia nesse
período de tempo
2
4.20 Para estimar a precipitação sobre uma bacia hidrográfica, com a área de 23,5 km , traçaram-
se as respetivas isoietas, tendo-se obtido os resultados que se apresentam no seguinte quadro,
onde P representa a precipitação, e A, a área de bacia hidrográfica onde a precipitação foi
4.58
Precipitação
superior a P.
4.21 Na figura abaixo representam-se três estações udométricas e um ponto onde se pretende
saber a precipitação que ocorreu em determinado ano.
E1
E3
E2
M P Precipitação
(km) (km) (mm)
E1 12,6 12,4 1020
E2 9,0 4,4 752
E3 21,1 6,3 813
P 14,2 9,3 ?
a) Média aritmética.
b) Área de influência.
c) Interpolação bilinear.
d) 3.
4.59
Precipitação
BIBLIOGRAFIA
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4.60