As IPSS Num Contexto de Crise Económica PDF
As IPSS Num Contexto de Crise Económica PDF
As IPSS Num Contexto de Crise Económica PDF
TEXTO
Sónia Sousa et al.
CAPA
FORMA, DESIGN: Margarida Oliveira
COORDENAÇÃO EDITORIAL
IPI Consulting Network Portugal
Execução
ÍNDICE
Nota prévia................................................................................................................ 5
1. Introdução............................................................................................................. 7
2. A importância das IPSS na economia portuguesa e europeia .......................... 9
2.1. Introdução .................................................................................................................. 9
2.2. Dimensão económica das ISFLSF em Portugal .......................................................... 10
2.3. Dimensão económica das ISFLSF na União Europeia ................................................ 12
2.4. Síntese das principais ilações..................................................................................... 13
3. Desafios à actuação das IPSS num quadro de crise e de uma sociedade
em profunda mudança ............................................................................................. 15
3.1. Introdução .................................................................................................................. 15
3.2. As necessidades sociais............................................................................................. 15
3.3. A resposta das IPSS às necessidades sociais ............................................................ 19
3.4. O que falta fazer para melhor responder às necessidades sociais .............................. 25
3.5. Síntese dos desafios à actuação das IPSS ................................................................. 28
4. Desafios à viabilidade financeira das IPSS ........................................................ 31
4.1. Introdução .................................................................................................................. 31
4.2. A aproximação possível à estrutura financeira das IPSS: O caso das ISFLSF ............ 31
4.3. Perspectiva qualitativa sobre o financiamento das IPSS ............................................. 33
4.3.1. A perspectiva das IPSS ...................................................................................... 34
4.3.2. A perspectiva da sociedade tal como reflectida na imprensa escrita.................... 38
4.4. Síntese das pré-condições para vencer o desafio da viabilidade financeira ................. 40
5. Benchmarking da actuação e sustentabilidade
das instituições sociais sem fins lucrativos .......................................................... 43
5.1. Algumas tendências previsíveis .................................................................................. 43
5.1.1. Um novo paradigma no relacionamento com benfeitores e mecenas .................. 44
5.1.2. A importância crescente da internet e das redes sociais virtuais ......................... 45
5.1.3. Um novo paradigma de Estado enquanto prestador de serviços sociais.............. 47
5.1.4. As tendências demográficas ............................................................................... 48
5.1.5. A economia da partilha (collaborative consumption) ............................................ 49
5.2. Boas práticas de sustentabilidade das instituições sociais sem fins lucrativos............. 50
5.2.1. Boas práticas de empreendedorismo social ........................................................ 50
Empresas sociais ............................................................................................... 50
Mutualidades de empresas sociais ..................................................................... 53
Cooperativas sociais .......................................................................................... 54
Voluntariado técnico ........................................................................................... 55
Parcerias para a responsabilidade social ............................................................ 56
Empresas detidas por fundações ........................................................................ 57
Parcerias para o uso de tecnologia proprietária para fins sociais ........................ 58
Prestação de serviços complementares.............................................................. 58
Políticas públicas de estímulo ao empreendedorismo social ............................... 59
Prémios de mérito para empreendedores sociais................................................ 60
5.2.2. Boas práticas de investimento social .................................................................. 60
Community pledge.............................................................................................. 60
Redes e círculos de investimento social ............................................................. 61
Empréstimos sociais........................................................................................... 61
Fundos de investimento social ............................................................................ 62
Intermediação de investimento social ................................................................. 63
Mercado de valores sociais ................................................................................ 63
Produtos financeiros derivados sociais ............................................................... 64
Rating social....................................................................................................... 65
Banco de tempo social ....................................................................................... 65
Unidades monetárias de serviço social ............................................................... 66
Intermediação de voluntariado ............................................................................ 67
Comunidades autofinanciadas ............................................................................ 67
5.2.3. Exemplos de outras boas práticas ...................................................................... 68
Payshop ............................................................................................................. 68
Pontos t .............................................................................................................. 68
Arredonda .......................................................................................................... 68
10 milhões de estrelas - um gesto pela paz ........................................................ 69
6. Recomendações ................................................................................................... 71
6.1. VIABILIDADE económico-financeira das IPSS............................................................ 73
6.2. SUBSISTÊNCIA: adequação entre as necessidades sociais e
as respostas das IPSS ...................................................................................................... 77
6.3. COMPLEMENTARIDADE: divulgação, colaboração com
congéneres, envolvimento da sociedade civil .................................................................... 81
A empresa e a equipa............................................................................................... 85
Anexos
…Anexo I – Resultados dos inquéritos às IPSS .................................................... 89
…Anexo II – Entrevistas a IPSS: metodologia e guião .......................................... 113
…Anexo III – A visão da sociedade sobre a actuação das IPSS:
resultados da pesquisa de imprensa ............................................... 117
…Anexo IV – Resultados dos inquéritos às juntas de freguesia .......................... 133
…Anexo V – Resultados dos inquéritos às câmaras municipais ......................... 147
…Anexo VI – Resultados das entrevistas a informadores privilegiados ............. 165
NOTA PRÉVIA
Para esta prestação, o Estado recorreu à participação das IPSS, regulando sua
actividade e assegurando-lhes uma parte significativa do financiamento. Daí resultou
um estatuto que, parecendo ambíguo, foi criativo para o desenvolvimento da acção
social: As instituições «sentiram-se» contratadas pelo Estado para a prestação de
serviços que a este competiam; e, ao mesmo tempo, procuraram manter a sua
identidade própria, radicada na sociedade civil, independentemente do papel do
Estado.
Esta evolução originou três concepções acerca da missão das IPSS: a estatizante, a
de auto-responsabilização e a de cooperação. A primeira considera o Estado como o
responsável pela acção social, que pode, e talvez deva, concessionar, no todo ou em
parte, às IPSS e a outras entidades; nesta concepção, as instituições configuram-se
como prestadoras de serviços ao Estado e, em simultâneo, aos utentes. Na segunda
concepção, as instituições consideram-se emanação da sociedade civil e, por isso,
vinculadas directamente à solução dos respectivos problemas sociais; porém, desde
as fases mais antigas da sua história, sempre se verificou a comparticipação dos
poderes públicos, no pressuposto de que também eram co-responsáveis por esta
dimensão fundamental do bem comum. A terceira concepção corresponde à síntese
das outras duas: as instituições estão comprometidas, e até identificadas, com as
pessoas necessitadas, prestam-lhes as ajudas possíveis, com os seus próprios meios,
requerem a intervenção subsidiária do Estado e assumem-no como co-responsável e
regulador. Neste entendimento, as instituições não se posicionam face ao Estado,
fundamentalmente, na defesa da sua viabilidade, mas sim a favor das pessoas
necessitadas; e, assim, com estas mesmas pessoas e suas famílias, com o Estado,
com as comunidades locais e com outras entidades, procuram as melhores soluções
possíveis.
Cremos ser legítimo afirmar que, ao longo da nossa história social, prevaleceu a
terceira concepção, isto é, a cooperação, não só com o Estado mas também com
outras entidades, mau grado as oscilações pontuais para a primeira concepção e para
a segunda. Nesta conformidade, acha-se muito difundida entre as IPSS, a convicção
de que, mesmo que o Estado fosse ilimitado em recursos financeiros, continuava a
ser indispensável a existência das instituições; naturalmente com uma configuração
diferente. Elas estariam capilarmente inseridas, como estão, no tecido social e
desenvolveriam, pelo menos, as seguintes actividades: atenção a cada caso ou
problema social; prestação directa e imediata das primeiras ajudas; mediação junto de
entidades responsáveis pelas soluções adequadas; e acompanhamento de cada caso
ou problema até à respectiva solução.
8
2. A IMPORTÂNCIA DAS IPSS
NA ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA
2.1. Introdução
A quantificação da importância económica das Instituições Particulares de
Solidariedade Social (IPSS) é apenas possível de forma aproximada, dadas as
lacunas que ainda persistem em matéria de recolha e sistematização da informação
estatística sobre este sector de actividade económica. Da informação estatística
disponível, aquela que melhor se aproxima do universo de actuação das IPSS é a
informação respeitante ao universo das designadas Instituições Sem Fim Lucrativo ao
Serviço das Famílias (ISFLSF).
É ainda de notar que a informação estatística das ISFLSF analisada neste capítulo
está em conformidade com a informação disponível em dois importantes estudos
anteriores de referência no sector não lucrativo. O primeiro é o estudo conjunto da
Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal, e da John Hopkins University,
Baltimore, USA, intitulado “O Sector Não Lucrativo Português Numa Perspectiva
Comparada”, cujos resultados reportam ao ano de 2002. Este estudo correspondeu a
um projecto-piloto que esteve na base do segundo estudo de referência no sector, a
“Conta Satélite das Instituições Sem Fim Lucrativo para a Economia Portuguesa no
Ano de 2006”, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística em 7 de Julho de 2011.
Ambos os estudos têm um âmbito de abrangência que vai muito para além do
universo das IPSS na medida em que incluem não só as ISFLSF, aquele conjunto que
1
A Conta Satélite das Instituições Sem Fim Lucrativo para a Economia Portuguesa publicada pela
primeira vez pelo Instituto Nacional de Estatística em Julho de 2011 e reportando-se a 2006, estima que a
contabilização da produção de serviços não mercantis aumente em 12% o valor acrescentado bruto das
ISFLSF em Portugal no ano de 2006.
9
melhor se aproxima do universo das IPSS, mas também todas as restantes
instituições sem fim lucrativo, como sejam: (1) as associações sem fim lucrativo ao
serviço das empresas (p.e. associações profissionais, patronais, e sindicais); (2) as
instituições sem fim lucrativo que operam no sector mercantil da economia (p.e.
escolas, universidades, centros de investigação, associações de desenvolvimento
económico, social e comunitário,...); (3) as instituições sem fim lucrativo da
administração pública central e local (p.e. Prevenção Rodoviária Portuguesa, Casa Pia
de Lisboa, e Santa Casa de Misericórdia de Lisboa); e (4) as instituições sem fim
lucrativo de pequena dimensão (p.e. associações de pais, administrações de
condomínios, associações de moradores, etc.). Ainda assim, nos anos em análise em
cada um destes estudos (2002 e 2006, respectivamente) os resultados aí divulgados
relativos ao subconjunto das ISFLSF são directamente comparáveis com os resultados
que adiante se analisam e que abrangem o período de 1995 a 2008.
10
3. DESAFIOS À ACTUAÇÃO DAS IPSS
NUM QUADRO DE CRISE E DE UMA SOCIEDADE
EM PROFUNDA MUDANÇA
3.1. Introdução
Este capítulo tem como objectivo discutir os desafios que se colocam à actuação das
IPSS na resposta às necessidades sociais, num contexto de mudanças estruturais
profundas tanto económicas como sociais.
11
As IPSS têm consciência de que é preciso fazer algo para responder a estes novos
desafios e são vários os exemplos de iniciativas louváveis já tomadas nesse sentido.
No entanto, está ainda muito enraizada nas mentalidades de muitas IPSS que as
soluções passam quase sempre e fundamentalmente pelo reforço dos apoios
financeiros públicos. Ora, a escassez de recursos públicos actuais e previsíveis para
os anos vindouros torna esta visão cada vez mais irrealista. O grande desafio à
actuação das IPSS é, pois, continuarem a responder às necessidades sociais, antigas
e novas, mas a partir de uma base de apoios financeiros mais diversificada onde os
apoios públicos são uma entre várias outras fontes de financiamento. Os apoios
públicos continuarão a ter necessariamente um papel importante na estrutura de
financiamento das IPSS, mas estes não podem continuar a ser encarados como a
fonte primeira e em muitos casos quase exclusiva de recursos financeiros. Esta
mudança de visão obriga também e primeiro que tudo a uma mudança de
mentalidades no seio de muitas das IPSS. Mas esta mudança é inevitável e urgente.
12
4. DESAFIOS
À VIABILIDADE FINANCEIRA DAS IPSS
4.1. Introdução
Este capítulo tem por objectivo analisar o actual modelo de financiamento das
Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e discutir a sua viabilidade
financeira no quadro da previsível redução das transferências públicas.
Na ausência de estatísticas económico-financeiras oficiais para o sector das IPSS,
este estudo recorre a informação primária para complementar a análise possível tendo
por base as estatísticas oficiais respeitantes às Instituições sem Fins Lucrativos ao
Serviço das Famílias (ISFLSF). Conforme discutido no Capitulo 2, as ISFLSF são o
sector de actividade que melhor se aproxima do universo das IPSS de entre aqueles
sectores para os quais as fontes oficiais recolhem informação económico-financeira
numa base sistemática.
Assim, na secção seguinte analisa-se a situação financeira e modelo de financiamento
das ISFLSF com base na informação económico-financeira disponível nas Contas
Nacionais. Esta análise eminentemente quantitativa e relativa a um sector de
actividade não inteiramente coincidente com o sector das IPSS é complementada e
enriquecida na secção seguinte com um conjunto de informação qualitativa específica
ao conjunto das IPSS. Tal informação qualitativa foi recolhida pela IPI através (1) de
entrevistas longas a líderes de quase duas dezenas de IPSS, (2) de inquéritos
realizados a mais de 560 IPSS, e (3) da pesquisa de imprensa realizada com o intuito
de aferir da visão da sociedade sobre os vários aspectos da actuação das IPSS,
incluindo a sua viabilidade financeira.
13
O vencer deste desafio obrigará, primeiro que tudo, a uma profunda mudança de
mentalidades, tanto do lado das instituições e suas direcções, como do lado da
sociedade civil. Do lado das instituições, é fundamental colocar de lado a convicção,
ainda enraizada em muitas das suas direcções, de que é normal e natural estas serem
dependentes em larga medida das transferências públicas porque estão a prestar um
serviço público. Ainda que tal convicção possa estar certa, o facto é que os recursos
públicos serão muito escassos nos anos que se seguem, pelo que será irrealista
pensar que as despesas sociais, incluindo as transferências para as IPSS, estarão
imunes aos inevitáveis cortes na despesa pública.
Do lado da sociedade civil é igualmente necessária uma radical mudança de
mentalidades. Como demonstram os resultados tanto do inquérito como da pesquisa
de imprensa, o financiamento e sustentabilidade das IPSS não tem sido um assunto
que preocupe significativamente a sociedade civil. Todos nós, sociedade civil,
tendemos a tomar por garantidos os serviços sociais prestados pelas IPSS, mas a
consciência de que é também uma responsabilidade de todos nós colaborarmos para
a sustentabilidade a prazo desses serviços, é ainda muito incipiente. Isto é patente no
reduzido número de vezes em que este assunto aparece debatido na imprensa, no
pouco destaque que tais artigos merecem, mas também, e sobretudo, na pouca
importância relativa que as ajudas financeiras provenientes da sociedade civil têm na
estrutura de financiamento das IPSS. Um maior envolvimento da sociedade civil na
sustentabilidade das IPSS obrigará também a um esforço por parte das IPSS de
abertura à comunidade que a rodeia, de divulgação das suas actividades e da
importância social das mesmas. Em suma, um maior envolvimento da sociedade
requer um esforço por parte das IPSS de promoção da sua imagem social, até porque
“não se pode ajudar o que não se conhece”.
A sustentabilidade financeira a prazo e até mesmo a sobrevivência de muitas das
IPSS passa em larga medida por elas serem capazes de encontrar a combinação de
estratégias de redução de custos e de aumento das receitas próprias que lhes permita
atingir o equilíbrio económico-financeiro num quadro de quebra das transferências
públicas. A análise supra revela vários bons exemplos neste sentido. Esta análise
revela igualmente que estes exemplos são um pouco mais do que casos isolados.
Com efeito, os resultados dos anos mais recentes indiciam uma tendência para o
aumento do valor absoluto e da importância relativa das receitas provenientes de
serviços prestados e da rentabilização do património no total das receitas das IPSS.
Os resultados indiciam ainda alguma tendência para a contenção do aumento dos
custos. No entanto, e salvo algumas excepções, a situação financeira da maioria das
instituições é (ainda) deficitária. Embora muitas delas estejam já a avançar no sentido
da menor dependência das transferências públicas, para a larga maioria as medidas
tomadas são ainda insuficientes. Em muitos casos, a ausência de medidas mais
eficazes resulta da incapacidade das instituições em saberem que medidas concretas
tomar, tanto do lado da contenção dos custos como do lado do aumento das receitas.
14
Desejavelmente, as recomendações discutidas no último capítulo deste estudo
poderão servir de guia orientador.
15
5. BENCHMARKING DA ACTUAÇÃO
E SUSTENTABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES
SOCIAIS SEM FINS LUCRATIVOS
Esta análise comparativa internacional usou como fontes principais as seguintes: (1)
as comunicações apresentadas em conferências internacionais sobre a economia
social, entre as quais 3rd EMES International Research Conference on Social
Enterprise; (2) publicações em sítios da internet da especialidade, nomeadamente o
sítio noticioso norte-americano The Chronicle of Philanthropy; (3) as publicações e
comunicações divulgadas por entidades ligadas à economia social tais como a
associação internacional de investigação em economia social The International Society
for Third Sector Research (ISTR), e a bolsa de pensamento belga Pour la
Solidarité (PLS). Foram ainda tidas em conta outras fontes de informação não
específicas ao sector mas com publicações disponíveis na internet em língua inglesa,
francesa, portuguesa e castelhano.
16
5.1.1. Um novo paradigma no relacionamento com benfeitores e mecenas
As organizações sem fins lucrativos vêem-se confrontadas com um cenário de
abrandamento económico mundial, quebra de emprego e aumento do desemprego, e
um decréscimo do montante e do número dos apoios públicos e do mecenato.
Para tal, as organizações sociais sem fins lucrativos devem ser capazes de
demonstrar e comunicar publicamente, de forma continuada, o valor acrescentado
socioeconómico por si gerado bem como as vantagens comparativas que oferecem
face a organizações similares, públicas e privadas.
2
“2011 Fundraising Effectiveness Survey Report”, 2011, Fundraising Effectiveness Project (FEP), Center
on Nonprofits and Philanthropy (CNP) e Association of Fundraising Professionals (AFP), edição
electrónica em formato digital PDF, 26 de Agosto de 2011, Washington DC.
3
BRANDSEN, TACO; PESTOFF, VICTOR e VERSCHUERE, BRAM, “New Public Governance, the Third
Sector, and Co-Production”,2011, Routledge Critical Studies in Public Management, Routledge, Taylor &
Francis Group, Oxfordshire, 2011.
17
Em concreto, as organizações sociais sem fins lucrativos serão cada vez mais
pressionadas a demonstrarem de forma qualitativa, mas também quantitativa, qual o
impacte da sua actividade na comunidade e qual a eficácia com que utilizam os
recursos angariados. Para muitas instituições tal significará demonstrarem que as
actividades por si desenvolvidas (p.e., cuidados de vigilância e prevenção da doença
junto de populações carenciadas) reduzem custos sociais e financeiros, presentes e
futuros. Noutros casos será importante demonstrarem que podem prestar serviços
com uma relação custo/benefício mais favorável e/ou com uma taxa de redução da
incidência das necessidades nos públicos-alvo mais favorável que a conseguida por
organizações congéneres do sector público ou privado.
18
6. RECOMENDAÇÕES
19
6.1. VIABILIDADE económico-financeira das IPSS
20
despesas sociais, incluindo as transferências públicas para as IPSS, estarão
imunes aos inevitáveis cortes da despesa pública.
21
A redução de custos e o aumento da eficiência na utilização dos recursos
existentes têm que ser igualmente prosseguidas de modo a assegurar a
subsistência económica e financeira das instituições. Exemplos incluem:
(1) Criação de centrais de compras. Através das centrais de compras que
sirvam várias instituições é mais fácil conseguir preços mais baixos tanto de
bens como de serviços. Novamente, tal estratégia pressupõe a já discutida
capacidade das instituições dialogarem e cooperarem entre si de modo a
assumirem propósitos comuns.
(2) Aquisição de escala mínima de eficiência. Vários dos serviços prestados
pelas instituições requerem equipamentos, instalações físicas, e meios
humanos especializados que não raras vezes são subaproveitados.
Frequentemente é possível servir mais pessoas com os mesmos recursos
conseguindo assim uma maior eficiência e consequentemente melhores
resultados financeiros, seja porque este aumento de eficiência permite
reduzir custos ou porque potencia o aumento de receitas. As estratégias para
captação de um maior número de utentes para as valências com recursos
subaproveitados incluem, por exemplo:
a. A cooperação com instituições congéneres visando o encaminhamento
entre elas de utentes/pessoas necessitadas de acordo com as valências
e recursos que cada uma delas tem subutilizados;
b. O estabelecimento de protocolos com escolas e outras entidades visando
a prestação de serviços que potenciam a maior rentabilização dos
recursos disponíveis nas instituições. Um exemplo é o fornecimento de
refeições a escolas. Outro exemplo é a prestação de serviços de
medicina do trabalho a empresas e organizações (no caso de instituições
com valências médicas).
(3) Partilha de recursos humanos especializados. A contracção de recursos
humanos especializados de forma conjunta por mais do que uma instituição
é uma alternativa possível para instituições em que a resposta a certas
necessidades sociais exige pessoal especializado mas o volume de casos
não justifica a sua contratação a tempo integral. Neste tipo e contratação o
profissional contratado teria um contrato estável de trabalho a tempo inteiro
prevendo o exercício de funções similares mas com a particularidade destas
funções serem exercidas em mais do que um local físico – as diferentes
IPSS contratantes. Comparativamente com a alternativa de contratação de
profissionais liberais à hora, este modelo de contratação em tempo integral
partilhado tem a vantagem de permitir contratar profissionais mais
empenhados e conhecedores da realidade das IPSS.
22
6.2. SUBSISTÊNCIA: adequação entre as necessidades sociais
e as respostas das IPSS
23
local e das restantes IPSS numa lógica de colaboração em rede com entidades
congéneres e de partilha de experiências.
24
com entidades congéneres e de partilha de experiências.
A avaliação do impacte das respostas sociais deve ser uma prática regular.
Só com uma avaliação de impacte se podem ir corrigindo e melhorando as
formas de intervenção social.
Uma condição necessária à avaliação de impacte é a elaboração de estatísticas
por parte dos serviços de atendimento social. Estas estatísticas devem incluir:
As lojas solidárias, tanto físicas como virtuais (na Internet), têm provado ser um
meio eficaz de angariação e distribuição de bens de primeira necessidade a
pessoas carenciadas. Este conceito deve, por isso, ser ampliado.
As lojas solidárias virtuais são especialmente eficazes em comunidades com
problemas significativos de pobreza envergonhada porque evitam o embaraço
do contacto directo entre quem recebe e quem oferece.
As hortas sociais promovidas por IPSS são uma experiência ainda pouco
comum em Portugal mas com resultados encorajadores, pelo que devem ser
estimuladas.
25
As respostas sociais deverão seguir a lógica do serviço integrado ajustado à
pessoa. Se uma pessoa ou família apresenta várias necessidades sociais, as
respostas serão mais eficientes se forem prestadas de forma integrada. Só
assim se pode começar por suprir as necessidades sociais de primeiro nível,
como a promoção da autonomia do indivíduo e a superação de necessidades
primárias – alojamento temporário, alimentação, e cuidados de saúde básicos. A
superação destas necessidades primárias é uma condição indispensável para
uma efectiva supressão de necessidades sociais de níveis superiores. Por
exemplo, antes de arranjar um emprego a um sem-abrigo, tem de se lhe
proporcionar alojamento temporário, trabalhar a sua auto-estima e promover a
sua capacidade de autonomia.
26
6.3. COMPLEMENTARIDADE: divulgação, colaboração com congéneres,
envolvimento da sociedade civil
27
vez abertas a receber inputs da sociedade civil no que respeita à gestão, ao
financiamento, mas também à forma e tipo de serviços prestados por estas
instituições.
Às IPSS caberá o crucial papel de envolvimento das várias partes, de junção dos
esforços e contributos de todos e de coordenação do serviço a prestar.
Mais uma vez, a eficácia deste serviço será potenciada se o esforço de
organização e coordenação resultar da cooperação entre várias instituições
sociais focadas numa mesma comunidade. Todos os esforços de cooperação
entre instituições devem ser feitos para evitar a situação indesejável de serem
postas em prática várias iniciativas idênticas por diferentes instituições sociais
visando servir uma mesma comunidade.
28
a) Demonstração da redução dos custos sociais e financeiros, presentes e
futuros, decorrentes dos serviços sociais prestados pelas IPSS;
b) Demonstração da capacidade de oferta de serviços com uma relação
custo/benefício mais favorável;
c) Demonstração da capacidade de reduzir a taxa da incidência das
necessidades nos públicos-alvo de forma mais eficaz que a conseguida por
organizações congéneres do sector público ou privado.
29
COLABORARAM NESTE TRABALHO:
Coordenação
o Carlos Laranjo Medeiros
Subcoordenação
o António Lourenço Pinheiro
Consultores Especialistas
o Acácio Catarino
o Sónia Sousa
Apoio técnico
o Filipa Batista
o Jorge Medeiros
o Mário Barroqueiro
o Tiago Serrenho
30