Tese Fernao Lopes PDF
Tese Fernao Lopes PDF
Tese Fernao Lopes PDF
FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE
LINGUÍSTICA GERAL E ROMÂNICA
‘NOVIDADE DE PALLAVRAS’
NO
PORTUGUÊS DO SÉCULO XV
Mário José Silva Meleiro
DOUTORAMENTO EM LINGUÍSTICA
(Linguística Histórica)
2011
A ti, Ana, a ti, Tomás,
pelas horas de ausência,
novamente obrigado.
Agradecimentos
Abstract
The enrichment of the lexicon, either from imports or from internal morphological
characteristics, is a timeless process in the Portuguese language. If there is no doubt that Camoes is
the great introducer of new words in the portuguese language, especially Latinisms, there is also no doubt
that before him others contributed to its enrichment.
But this is a timeless procedure. Throughout the ages, many classical forms have entered the
language. Evidence that this is a timeless process is given by several authors before and after the
Renaissance. However, there is the conviction that it is from the fifteenth century that this process starts,
reaching its peak in the sixteenth century, the natural consequence of the Renaissance and the importance
of the readings of the classics then reached. However, a century before, either didactic prose, undertaken
by royal production, or history, by the chroniclers, had already opened the path.
The corpus of departure for this study is, then, the Chronicle of D. Fernando, by Fernão Lopes,
and the Chronicle of the Earl D. Pedro de Meneses, by Zurara of which I present an analytical index,
enabling the identification of the earliest records they contain. Using the words of the chronicler, the
objective is to seek “novidade de pallavras", hence the title of the thesis. The first chapter also contains an
approach to the main concepts of word formation and the role of translation in its import process.
Palavras-chave: Linguística Histórica, Português Médio, Primeiras Datações, Fernão Lopes, Zurara-
Key-Words: Historical Linguistics; Middle Portuguese, Earliest Records, Fernão Lopes, Zurara.
Índice Geral
Índice Geral
Índice geral 11
Siglas e abreviaturas 13
Introdução 15
I. Inovação Lexical 21
1. Formação e importação de palavras: principais conceitos 25
II. Datação das palavras 31
1. Os Dicionários Históricos-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM) 31
2. A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2) 43
3. Índice analítico conjunto da Crónica de D. Fernando e da Crónica do Conde
D. Pedro de Meneses (Anexo I) 51
3.1. Conclusões 56
III. Novidade de palavras no século XV 57
1. A Crónica de D. Fernando de Fernão Lopes. Edição de Giuliano Macchi 59
2. A Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Zurara. Edição de Teresa Brocardo 61
3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando 65
3.1. Comentários: 113
4. Novidade de ‘pallavras’ no português do século XV 115
Metodologia – ficha de palavra 115
4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de Dom Fernando 119
4.1.1. Comentários: 165
4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses 167
4.2.1. Comentários: 212
Conclusão 213
Referências Bibliográficas 215
ANEXO
Índice Analítico da Crónica de D. Fernando e da Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
11
Siglas e Abreviaturas
Siglas e abreviaturas
SIGLA OBRA
13
Siglas e Abreviaturas
14
Introdução
Introdução
1
Dissertação de Mestrado Latinização do léxico e da sintaxe nas odes de Ricardo Reis.
15
Introdução
2
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Prólogo, p. 3 (para esta obra sigo a edição organizada por Salvador
Dias Arnaut para a Civilização Editora, indicando o capítulo e a página).
16
Introdução
(i.e. adjectivos, nomes, verbos e advérbios em -mente)”3, muito ajudado pela máquina, é certo,
mas em que a última palavra é do homem.
Posteriormente, e já com os resultados obtidos no capítulo anterior, é neste terceiro
capítulo que pretendo apresentar a “novidade de pallavras”, registadas pela primeira vez na
Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes (III.4), e a Crónica do Conde D. Pedro de Meneses,
de Zurara (III.5), após uma breve análise às edições de Giuliano Macchi e Teresa Brocardo
(III.1,2) que serviram de base a este estudo lexical. Se para algumas a certeza se petrificou após
a consulta de dicionários e obras de diversa tipologia, para outras, sobretudo as que apresentam
atestação em obras da época de Avis, tendo em conta a sua produção ou tradução, não foi
possível tal solidificação. Para estas foi criada uma primeira lista onde se apresentam os
possíveis neologismos de Fernão Lopes (III.3).
Por fim, num quarto capítulo, e resultante da análise as duas Crónicas, procurarei fazer
um estudo comparativo / conclusivo entre os dois primeiros cronistas régios e analisar as
afirmações proferidas por Fernão Lopes no Prólogo da primeira parte da Crónica de D. João I,
que dão o título à tese, no sentido de perceber se são falsa modéstia, ou se, na verdade, são uma
prova de consciência linguística, no sentido em que o cronista do povo demonstra
conhecimentos superiores à grande maioria, mas muito aquém daqueles que seriam necessários
para fazer germinar e acompanhar os embriões do renascimento, nomeadamente através da
leitura e tradução dos clássicos, que os próprios príncipes fariam em secretária paralela à dele.
Do ponto de vista literário, é comummente aceite que Fernão Lopes é o primeiro grande
prosador português. Nas palavras de Zurara, Fernão Lopes era “uma notável pessoa (…) homem
de comunal ciência e grande autoridade”4, apesar da eventual crítica implícita à sua instrução
que estas palavras possam acarretar. Que era conhecedor das obras dos clássicos, porventura
lidas na biblioteca de D. Duarte, mostram-no as referências a alguns autores como Tito Lívio,
Ovídio, Cícero5, Santo Agostinho6 e até Aristóteles7. A utilização do Latim por Fernão Lopes,
ainda que em frases feitas8, demonstra alguma formação. Todavia, quer pela eventual crítica
3
Cf. Villalva, in Mateus (62004:949).
4
Cf. Crónica da Tomada de Ceuta, cap. III.
5
Cf. LOPP 6.80 (para a Crónica de D. Pedro sigo a segunda edição de Giuliano Macchi – Teresa Amado.
Lisboa: IN-CM, 22007, com a sigla LOPP e indicação da página e linha).
6
Cf. LOPJI1 cap. CLXXV, p. 373; LOPJI2, cap. CXCIX, p. 452.
7
Cf. LOPP, cap. XXIX, p. 136.
8
Cf. LOPJI2, Cap. XLI p. 103, (cf. também Evang. S. João, 1:14):
“Ho Arçebispo de Braguua ouutro sy semdo bẽ armado, avia amte sy a cruz de Braguua alevamtada
com que costumava visitar as Igrejas e nnaõ quedava de prover amdamdo huũs e os ouutros,
esforçamdo e absolvemdo todos, comfirmamdo lhe as perdoamças que o Papa Urbano seisto
outorguava comtra os cismaticos increos revees a Samta Igreja, dizemdo a todos quue tamto que
começasẽ ferirnos imiguos quue fosẽ membrados de dizer [ameude] et verbum caro factũ est
(sublinhado meu); e alguũs simplez inoramtes quue esto naõ emtẽdiaõ pergumtavaõ que queria dizer
aquilo, e ouutros por sabor respomdiaõ que queria dizer muy carofeito hee este.”
ou ainda LOPJI2, Cap. CXCIX p. 452:
17
Introdução
anterior, quer também pelas referências clássicas, parece ficar aquém em Zurara. A análise
lexical paralela, resultante do Índice Analítico das duas obras, permitirá tirar conclusões. Numa
primeira abordagem, se ao nível da utilização dos recursos internos da língua para formação de
novas palavras parece não haver diferenças, ao nível da introdução de novos termos latinismo,
mas sobretudo arábicos, elas deixam antever uma clara supremacia de Zurara. Não será alheio a
este factor a diferença de erudição dos cronistas, e muito menos a deslocação da acção do
território nacional para o norte de África.
Nas crónicas destes dois cronistas, a Língua Portuguesa abandona os simples relatos
históricos dos cronicões, para se embrenhar com a literatura. O recurso, por exemplo, a
comparações9, metáforas10, entre tantos outros recursos estilísticos, catapultam-nos já para uma
esfera totalmente diferente da tradição cronística anterior. Com um discurso que procura ser
claro onde predomina uma linguagem corrente, sobretudo em Lopes, são muitas as marcas de
oralidade ao longo dos textos. Resultará daqui, a designação de contador de histórias11.
O relato dos feitos de determinado herói, que tem exemplo esporádico na primeira metade
do século XV com Crónica do Condestabre, dá lugar em Lopes a uma narração de
acontecimentos do reino sempre com a preocupação de “escprever verdade, sem outra
mestura”12, apesar de tais relatos serem feitos passado meio século. A procura desta verdade
parece mesmo ser levada ao extremo quando afirma “que logar nos ficaria pera a fremosura e
afeitamento das pallavras, pois todo nosso cuidado em isto despeso, nom abasta pera hordenar
a nua verdade”13. Assim, a busca da verdade, parece ser truncadora na procura da beleza de
expressão, donde resulta a passagem para segundo plano dos valores literários. No entanto, quer
ao nível do léxico, quer da sintaxe, mesmo num estado de intensa flutuação, são já muitas as
“E quoamdo taes pesoas sabiam que avia de vir aquelle luguar homde asy viviam, fogiam dali para
outros luguares atee que se dali partia; e delles perbom geito fazia casar com as mamcebas que
tinhã, asy quebem se compria em sua casa e terra o dito que Samto Agostinho dizem que fallava a
seus frades: Si nom castus tamen cautũ.” (sublinhado meu).
9
Veja-se, a título meramente exemplificativo, esta passagem em LOPP 41.59-71, em que Lopes compara a
justiça a uma teia de aranha:
“Assi que bem podem dizer deste rrei dom Pedro, que nom sairom em seu tempo certos os ditos de
Salom filosopho e doutros algũus, os quaaes disserom que as leis e justiça eram taaes como a tea da
aranha, na quall os mosquitos pequenos caindo, som rreteudos e morrem em ella, e as moscas
grandes e que som mais rrijas, jazendo em ella, rrompem-na e vaan-sse; e assi diziam elles que as
leis e justiça, se nom compria senom em-nos pobres, mas os outros, que tiinham ajuda e acorro,
caindo em ella rrompiam-na e escapavam. El-rei Dom Pedro era muito per o contrairo, ca nẽnhũu,
per rrogo nem poderio, avia d’escapar da pena merecida, de guisa que todos rreceavam de passar
seu mandado.”
10
Entre tantos outros exemplos, veja-se esta passagem da LOPJI2, cap. XLI, p. 102:
“…quue os portuugueses nnaõ pareçiaõ mais amte eles que ho lume de huũa pobre estrela amte
claridade de lua em seus perfeitos dias”.
ou ainda a metáfora da pomba, em ZURP 251-252.68-89.
11
A classificação de Teresa Amado, transformada em título de livro, fundamenta-se em frases de começo de
alguns capítulos, por exemplo, LOPJI2, cap. XLIII, p. 195, em que prefere utilizar o verbo ouvir em detrimento de
ler: “Vos ouvistes no primeiro capitollo desta estória,”
12
LOPJI1, Prólogo, p. 2.
13
LOPJI1, Prólogo, p. 3.
18
Introdução
14
ZURP (186.295-299).
15
ZURP (179.134-139).
16
LOPJI1, Prólogo, p. 3.
19
I. Inovação Lexical
I. Inovação Lexical
A linguagem humana caracteriza-se pela mudança. Como que por reacção, todas as
línguas terão então de acompanhar esta mudança e evoluir para não entrar no rol das chamadas
línguas mortas. Além de factores estritamente linguísticos, outros, como os históricos, sociais
ou políticos, podem condicionar esta mudança, sem esquecer, claro está, que a língua “é um
sistema em perpétua adaptação às necessidades expressivas dos seus utentes”, mostrando que
“existem fases de permanência que alteram com fases de grande alteração (Cardeira 2005:33 e
65). O século XV, ou melhor, a passagem do português antigo para o português médio, mais
precisamente a passagem da dinastia de Borgonha para a de Avis, sobretudo no meio século de
reinado de D. João I e D. Duarte (1385-1433 e 1433-1438, respectivamente), parece ser uns
desses momentos de alteração, se não o grande momento de alteração de toda a história da
língua portuguesa. Estamos, pois, a falar da transição do ciclo de formação da língua para o
ciclo da expansão da língua, nas palavras de Ivo Castro. Esperança Cardeira considera, no
entanto, que este marco da batalha de Aljubarrota é tardio, uma vez que “as mudanças
inovadoras já ocorriam antes dessa data”18 em ‘franjas de separação’ entre o português antigo e
17
“Godos e mouros que estiveram longo tempo de posse de Portugal”.
18
Cardeira (2005:291).
21
I. Inovação Lexical
o português médio, em expressão que Magalhães Godinho, onde deve estar incluída a segunda
metade do século XIV.
A evolução de uma língua pode verificar-se a vários níveis, mas aquele que terá maior
importância neste estudo prende-se, fundamentalmente, com a evolução do léxico da língua
portuguesa. É que, como refere Correia Garção, também ao tempo estão sujeitas as palavras19.
Esta mutação linguística verifica-se quer ao nível das unidades que deixam de ser utilizadas, os
arcaísmos, quer ao nível das unidades que vão entrando na língua, os neologismos, contribuindo
para o seu enriquecimento e respectivo aumento do acervo lexical. Os arcaísmos, não
desaparecendo da língua, são um valiosíssimo “património lexical”20 que apenas deixam de
estar disponíveis na consciência dos falantes, mas que a eles recorrem em diversas situações,
sobretudo literárias, quando se pretendem representar e identificar épocas passadas. Quanto aos
neologismos, o processo parece ser idêntico, na medida em que todos ficam registados no léxico
da língua, mas onde nem todos ultrapassam o período probatório para ter registo nos
dicionários.
A “necessidade de denominar novos conceitos e novas realidades” (Correia 2005:9),
juntamente com a vontade de enriquecer a língua, vem de há muito tempo atrás. João de Barros,
por exemplo, no seu Diálogo em Louvor da nossa Linguagem, preconiza o enriquecimento da
língua através da criação de neologismos e revitalização de arcaísmos. Assim, ao vocabulário
designado como hereditário foram-se juntando novos termos resultado do contacto com outras
línguas. Foram vários os factores que colocaram o português em contacto com outras línguas,
dando início a um enriquecimento que chega até aos nossos dias. Como refere Rosa Virgínia,
“desde os inícios da formação de Portugal, havia contactos com a área franco-provencal:
lembre-se que o conde dom Henrique, pai de Afonso Henriques, era borgonhês”21.
Sabe-se que o léxico português apresenta vocábulos provenientes de sistemas linguísticos
muito variados. Não tendo aqui como objectivo aquela parte do léxico original, ou seja, os
vocábulos designados por hereditários, aqueles que segundo Bechara “viviam no léxico da
língua quando deixou de ser latim para ser identificada como português, numa passagem
ininterrupta no tempo e no espaço”22, procurarei tecer algumas considerações sobre os restantes
vocábulos, ou seja, aqueles que a língua absorve posteriormente de outros sistemas linguísticos
com vista ao seu enriquecimento, designados por empréstimos. Mas não é objectivo desta
investigação fazer o levantamento de todos os sistemas linguísticos que se encontram
representados no léxico português, mas sim tentar perceber algumas das razões que estão na
base da sua importação. Porque é que se importam palavras? Estará o léxico originário
19
Correia Garção, sátira II, dirigida ao Conde de S. Lourenço. Sobre a criação de novas palavras a que
Garção alude, vide etiam os versos 58-62 e 70-72 da Arte Poética de Horácio.
20
Correia (2005:11).
21
Matos e Silva (2008:99).
22
Bechara (2002:217-218).
22
I. Inovação Lexical
desprovido de tal termo? E como é que esses novos termos chegam? Por exemplo, no caso das
línguas clássicas, será por conhecimento directo dessas línguas, ou será através de traduções de
outros sistemas linguísticos? E relativamente ao português, se é verdade que recebeu muitas
palavras alienígenas, também o é que serviu para enriquecer outros sistemas linguísticos. Numa
época como a dos descobrimentos, em que Portugal se afirmava ao mundo, era natural a
absorção de lusitanismos. O sistema linguístico espanhol, por exemplo, de alguns deles se
serviu.
Serão estas as questões a que procurarei responder nas linhas que se seguem e das quais
apresentarei no final as conclusões.
23
I.1. Formação e importação de palavras: principais conceitos
Segundo Robert Verdonk, a entrada de palavras novas numa língua pode acontecer a dois
níveis, ou seja, a nível formal e a nível semântico, sendo que o primeiro pode ocorrer por dois
processos: empréstimos de outras línguas (vivas ou mortas) e formação de novas palavras, por
composição ou derivação23. Em palavras similares, Correia (2005:23) refere que para incorporar
palavras novas, os léxicos das línguas dispõe basicamente de três mecanismos distintos: a
construção de palavras, recorrendo a regras da própria língua; a reutilização de palavras
existentes, atribuindo-lhes novos significados e a importação de palavras de outras línguas.
Menciona ainda que além destes mecanismos, considerados os mais produtivos, pode ainda
considerar-se uma outra forma de criar novas palavras, a chamada ex nihilo, sem dúvida o
procedimento menos usual em qualquer estádio da língua. De qualquer forma, o que para este
trabalho se torna pertinente não é nenhum em particular, embora possam surgir justificações
pontuais, mas sim todos como um conjunto, na medida em que contribuem para o
enriquecimento da língua. A percentagem que caberá a cada um será o resultado da análise dos
dados recolhidos.
Ora, para um trabalho desta natureza, torna-se imprescindível um dicionário que registe a
entrada das palavras na língua. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é, sem dúvida, um
importantíssimo elemento de trabalho. Porém, quando reparamos nos instrumentos de que
dispõem os linguistas espanhóis é que verificamos, apesar dos enormes progressos dos últimos
anos, o caminho que ainda nos falta percorrer. Até há poucos anos, para um estudo linguístico
desta natureza, dispunham eles de um dicionário de referência obrigatória: Corominas. Porém,
graças à informática, foram criadas grandes bases de dados e uma delas merece destaque:
CORDE, ou seja, Corpus Diacrónico del Español, criada pela Real Academia Española24.
Robert Verdonk, no capítulo “Cambios en el léxico del español durante la época de los
austrias”, inserido na Historia de la Lengua Española, coordenada por Rafael Cano25, a
propósito do confronto entre dicionários históricos e esta base de dados refere: “De esta
confrontación resulta que una parte importante de las voces que hasta ahora se vienen
23
Cf. Rafael Cano (coord.) (2004). Historia de la Lengua Española. Madrid: Ariel, p. 895.
24
Pode consultar-se esta base de dados em http://corpus.rae.es/cordenet.html
25
Rafael Cano (coord.) (2004). Historia de la Lengua Española. Madrid: Ariel. O capítulo referido é o 34,
páginas 895-916.
25
I.1. Formação e importação de palavras: principais conceitos
26
Idem, Ibidem, p. 896.
27
Todas as referências são feitas pela edição crítica de Giuliano Macchi, IN-CM, 22004. Serão sempre feitas
pela indicação da página, seguida da linha.
28
Cf. o texto de Afonso X, General Estoria. Primera parte. Publicación de Pedro Sánchez Prieto-Borja,
Universidad de Alcalá de Henares (Alcalá de Henares), 2002:
“E fueron sueltas por ende las ataduras de los sos braços e de las sus manos, una vez cuando oyestes quel
prisieran sos hermanos yl ataron las manos yl echaron en el pozo seco, a que llama el latín cisterna otra vez de
cuandol fizo prender en Egipto e echarle en la cárcel aquella doña Zulaima, muger de Futifar su señor, con la quel
casó después el rey Faraón su señor, como es ya contado ante d'esto, e libról d'estas prisiones Dios, que siempre fue
él poderoso de Jacob su padre de Josep”.
29
Carlos Eugénio Corrêa da Silva (1972). Ensaio sobre os Latinismos nos Lusíadas. Lisboa: IN-CM. Não
deixa, no entanto, de questionar: “Como é que se pode escrever um trabalho definitivo sôbre os latinismos dos
Lusíadas, isto é, sôbre a contribuição que Camões trouxe ao enriquecimento da nossa língua literária, se nós não
sabemos com exactidão qual era o grau de enriquecimento dessa língua na fase imediatamente anterior à publicação
do poema?!” (1772:63). Passadas quatro décadas os estudos linguísticos já provaram que era maior do que aquele que
o próprio Corrêa da Silva imaginava, se atendermos ao número de latinismos por ele identificados em Camões com
registo anterior. Não estarão, no entanto, todos identificados, como aparentam as primeiras pesquisas deste trabalho.
26
I.1. Formação e importação de palavras: principais conceitos
anteriores, porém com outras formas30. No entanto, a forma begue encontra-se já atestada em
Fernão Lopes, na Crónica de D. Fernando31.
Em determinados momentos de produção escrita, poderá o autor sentir necessidade de
criar uma nova palavra para representar determinada ideia. Os passos a seguir são os
anteriormente enumerados e a eleição de um deles, ou de mais do que um, será garantidamente
de carácter pessoal. Por exemplo, Fernando Pessoa, exímio conhecedor da língua e literatura
latinas, recorria, por hábito, a perífrases verbais e a perfeitos decalques do Latim, neste caso do
particípio futuro como morituros.
Filinto Elísio, por exemplo, recorre constantemente à construção de novas palavras com
recurso a processos morfológicos que a língua lhe permite, mas que não aceitou e, por isso,
caíram em desuso. Sobre a formação de palavras de Filinto recordo a opinião de Rodrigues
Lapa: “julgou dar relevo ao seu estilo, forjando compostos à custa do grego e do latim. Como
era homem de mau gosto, saíram-lhe coisas arrevesadas como estas, que a língua justamente
repudiou: «septi-cole Roma», «flamivono alento», «regos frigíferos», «ebri-festante sumo»,
«ali-potente cisne», etc.”32. Ainda sobre a alteração semântica introduzida pelo prefixo, refere o
mesmo estudioso: “(...) Filinto Elísio (...) para acentuar ainda mais a ideia de negação, escrevia:
in-consolado, separando por hífen o prefixo da palavra, a fim de lhe dar maior relevo”33. Mas a
grande explicação sobre poesia guardou-a quase para o fim da vida, Numa longa carta a Brito34,
considerada uma verdadeira Arte Poética, mas repleta de versos mui secos, mui gramático-
prolixos35, não se coíbe de deixar o seguinte apelo: “De termos já sabidos formai novos / (Força
é que eu vo-lo diga, e que rediga) / Juntando-os com primor em laço estreito, / E sereis de bons
Mestres aprovados.36 Francisco Solano Constâncio, revisor das Obras e seu amigo, havia já
salientado que Filinto “foi procurar à língua Latina os vocábulos de que carece a nossa, ora
mudando-lhe as desinências, conforme o requer a analogia das duas línguas, ora formando
palavras compostas”37. Muitos dos neologismos de Filinto, mesmo que tenham passado por um
período probatório, foram apenas unidades de discurso, não chegando a entrar para o sistema da
língua, nem tendo, portanto, registo nos dicionários. Parecem ter sido meras necessidades
30
Cf. Houaiss: “s.m. (1608 cf. Pérsia) ÍND título honorífico entre os maometanos, posposto ao nome próprio,
correspondente a 'dom' ou 'senhor'. ETIM persa-tur. beg; Crooke deriva-o do ant. persa baga, relacionando-o com o
sânsc. bhaga 'senhor'; há diversas grafias desta pal. muito anteriores: cojibequy (1513), byqym (1520), indobeque
(1552), cogebequi (1563), bec (1571); há ainda assadbegue e begue (1608), beg (1718), bei (1789), beque (1884) etc.
SIN/VAR beque”.
31
Cf. 21.22:
“e de França eram hi estes cavalleiros: monssé Beltram de Claquim e o mariscall de França e o begue de
Vilhenes”.
32
Lapa (111984: 97-98).
33
Idem, Ibidem, p. 101.
34
Carta ao Senhor F. J. M. D Brito, Filinto I, pp. 27-95.
35
Filinto I, p. 94.
36
Filinto I, p. 79-80.
37
Filinto I, p. 15.
27
I.1. Formação e importação de palavras: principais conceitos
comunicativas pontuais e individuais, alguns deles mesmo considerados hápax, tanto quanto
pude observar em estudo anterior.
Voltando ao século XV, é comummente aceite que o embrião do Renascimento está já a
germinar. E se é verdade que muitos cultismos aparecidos nesta altura não vingaram, como
conhecente em vez de ‘conhecido’, emburilharem vez de ‘embrulhar’, descerdo em vez de ‘sem
cerco’, antreconhecer-se em vez de ‘conhecer-se reciprocamente’, duçor em vez de ‘doçura’,
acuitilar em vez de ‘ferir com cuitelo’, antredito em vez de ‘interdito’38, também o é que muitos
outros tiveram largo uso durante vários séculos, alguns deles mesmo até aos nossos dias, como
satisfação, malícia, circunstância, abstinência, infinito, fugitivo, evidente, intelectual, abranger,
apropriar ou reduzir39. A estes latinismos introduzidos na língua um século antes de Camões,
procurarei acrescentar outros a partir das duas crónicas em análise.
O que se verifica é uma clara consciência com língua que necessita de ser valorizada e
dignificada, quer do ponto de vista sintáctico, quer lexical. E este princípio pode ocorrer por
simples necessidade de denominação de realidades ou objectos novos, ideia já bem antida
vincada pelo infante D. Pedro, “consiirando os antigos que o nome de cada hũa cousa he o
primeiro conhecimento que sse della pode aver e per elle devem seer as propeiedades do seu
significado mostradas trabalharom-sse de poer nomes aas cousas, per que ellas en algũa guisa
fossem declaradas”40, ou por necessidades pontuais, resultantes das inúmeras traduções que
começaram a florescer na primeira metade de quatrocentos. É conhecida a afirmação de D.
Duarte no Leal Conselheiro: “que nom ponha pallavras latinadas, nem doutra lynguagem, mas
todo seja [em] nosso lynguagem scripto, mais achegadamente ao geral boo custume do nosso
falar que se poder fazer”41. Sobre o Livro da Vertuosa Benfeytoria, escreve logo no início da
introdução Adelino Calado (1994:VII): “distingue-se como um marco linguístico pela sua
posição liminar numa fase crucial do enriquecimento vocabular da língua portuguesa”.
Esta vontade de enriquecimento da língua, no entanto, nem sempre foi possível de
manter. Um povo invasor, naturalmente que traz consigo novas técnicas, instrumentos ou
produtos e com eles as suas designações originais (Cardeira 2006:32). Os empréstimos lexicais
da língua portuguesa são disso um exemplo e a Crónica de Zurara parece apresentar bons
indicadores que comprovem este princípio, não por relatar os feitos de um povo invasor do
nosso país, mas precisamente pelo contrário. E se porventura mais empréstimos ela não
incorpora na língua, terá sido pelo facto de lhe ter sido negada a possibilidade de os relar in
loco.
38
Termos indicados por Mira Mateus, obtidos a partir de Vida e Feitos de Júlio César.
39
Cf. Cardeira “Revisitando a periodização do português: o português médio” in Domínios da Lingu@gem –
Revista Electrônica de Linguística, ano 3, nº 2, 2º semestre 2009 (www.dominiosdelinguagem.org.br). Para
satisfação, malícia e intelectual, Houaiss apresenta, no entanto, o século XIV.
40
Cf. Livro da Vertuosa Benfeyturia, Calado (1994:19,23-27).
41
Cf. Piel (1942:373:1-3).
28
I.1. Formação e importação de palavras: principais conceitos
42
Tarrio (2001: 157-170).
29
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
31
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
Descrição do CD-ROM
43
Cf. Cunha (1986), Índice do Vocabulário Português Medieval, vol. 1:A, p. IX (“Da razão do título e dos
objectivos da publicação”), embora os trabalhos tenham apenas começado em Janeiro de 1979, com um pequeno
grupo de colaboradores, como se pode ler menu Ajuda > Apresentação.
44
Cf. Idem, ibidem, p. IX.
45
Cf. menu Ajuda > Manual do usuário > separador Conteúdo > Menu Ajuda.
33
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
A segunda, porventura a mais importante, diz respeito à opção Pesquisas que se encontra
na barra de ferramentas. Ao clicar neste menu abre-se uma nova janela onde temos à disposição
três possibilidades. A inicial, pesquisas por Nominata, permite fazer pesquisas de palavras
iniciadas e/ou terminadas por qualquer letra ou letras, com preenchimento dos campos em
simultâneo (1ª opção/possibilidade), ou apenas com o preenchimento de um dos campos, desde
que sejam introduzidas pelo menos duas letras (2ª e 3ª opções/possibilidades). Esta
possibilidade reveste-se de extrema importância para quem pretende fazer pesquisas por radicais
ou mesmo por afixos, se bem que não seja possível a pesquisa de radicais internos do tipo -terr-,
em palavras como aterragem, aterrar, enterrar ou -caval-, em palavras como encavalgar,
encavalgadura ou descavalgar.
A seguinte, pesquisas por Classe, permite fazer uma pesquisas por vocábulo iniciado por
e/ou terminado por, com a respectiva classificação gramatical seleccionada. De entre as
possibilidades apresentadas para a categoria gramatical, são catorze as seleccionáveis: adjetivo,
advérbio, artigo, conjunção, contracção, expressão, interjeição, locução, numeral, particípio
adjectivo, preposição, pronome, substantivo, verbo.
A terceira e última, pesquisas por Texto, permite fazer pesquisas de forma a encontrar a
palavra desejada, por exemplo (cronica, coronica, cronyca) nas abonações de toda a base de
dados do VH-CPM. Este é um recurso de inegável utilidade. Necessita, no entanto, de uma
maior focalização por parte do utilizador na pesquisa pretendida, pois permite testar a utilização
de uma determinada palavra/grafia em diferentes obras, ou verificar as suas possíveis acepções
semânticas. Estes resultados não são, no entanto, directos, uma vez que só são visíveis numa
nova janela e depois de clicar num dos verbetes listados à esquerda. Esta pesquisa implica, nesta
situação, clicar em todos os verbetes resultantes da pesquisa.
Tendo em conta a sua denominação -Vocabulário Histórico-Cronológico do Português
Medieval- e mesmo as palavras da Apresentação onde se afirma que “visa contribuir, de
maneira efectiva, para o melhor conhecimento da evolução histórica do léxico português,
estabelecendo um dos elos – e dos mais importantes – da cadeia evolutiva que, a partir do latim
vulgar, chegou até o português de nossos dias”, parece haver, no entanto, algumas arestas a
limar. Um dicionário que inclui no título a designação de Histórico-Cronológico não pode
esquecer tal indicação e listar as ocorrências de uma palavra pesquisada por ordem alfabética.
Tal situação seria minimizada se houvesse uma opção que permitisse elencar os termos
cronologicamente, ferramenta que me parece possível e de introdução fácil nos tempos actuais.
É verdade que o VH-CPM apresenta uma hipótese de pesquisa por datação cronológica. Porém,
ela refere-se apenas à primeira datação de cada verbete, não permitindo ordenar os vários
registos de datação que dentro dele se encontram.
34
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
Por exemplo, ao procurar informações sobre o verbo adorar, tendo seleccionada a opção
Português Actual, o que nos é apresentado é uma lista de 42 abonações, com datação alternada
entre o XV e o XIV, para chegar à 43ª e 44ª, precisamente penúltima e última, e perceber que,
afinal, o verbo adorar, também tem registo no século XIII, nas CSM. O modelo seguido no CD-
ROM não teve, pois, em conta o esquema a que Cunha tinha dado preferência no IVPM,
claramente cronológico e não alfabético, como se pode verificar na informação obtida do
mesmo verbo adorar, onde apresenta os registos cronologicamente, iniciando, precisamente,
pelo século XIII.
Foram mais as opções que divergiram do trabalho de Cunha. Por exemplo, no que diz
respeito a informações semânticas de entradas homónimas que constam no IVPM, elas foram
simplesmente ignoradas, agrupando agora o VH-CPM tudo na mesma entrada. Repare-se, por
exemplo, na informação pertinente que foi eliminada no caso da palavra ala, em que no IVPM
são apresentadas três entradas, cada uma com um significado diferente (‘fila, fileira, lado’;
‘asa’; ‘lá’), e que o VH-CPM, pura e simplesmente, agrupa e mistura numa só entrada,
preferindo uma ordenação alfabética (ala, alas, alla, allas), sem qualquer indicação do
respectivo significado. Também as acepções de ‘venerado’ e ‘doente, cheio de dores’ que
constam no IVPM para as entradas separadas de adorado não resistiram à evolução tecnológica.
Numa análise mais rigorosa, mas não exaustiva, é ainda possível verificar algumas
situações que necessitam de intervenção em versões futuras, agrupadas pelos tópicos que se
seguem46.
46
As indicações são feitas tendo por base a pesquisa Português Atual uma vez que é sob este lema que são
apresentadas todas as formas.
47
Regista, no entanto, abarregado, na forma abarregada, em abonação de CONF.
35
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
PRÍNCIPE
Para esta entrada, o VH-CPM apenas apresenta uma única abonação de REIX. Perdem-se,
assim, quatro formas históricas com ocorrência em ZURP: priçipe, primçipe, príncipe,
prymçipe.
Encontram-se nesta situação todas as palavras que têm ocorrência apenas em ZURP, por
comparação com as fontes utilizadas pelo IVPM e VH-CPM, entre as quais, abreviador,
acuitar, alar, amaçarocado, arnesado, azambujal, azeitoni, azervada49.
PRINCÍPIO
O VH-CPM não regista esta entrada, cuja ocorrência se verifica em LOPF:
Onde sabee que seu feo nacimento, muito d’avorrecer, ouve principio em este modo.
(385.14)
Após consulta em Houaiss, verifica-se que a datação é para o século XIV, cuja
proveniência vem, precisamente, do FichIVPM50.
48
Algumas destas palavras não têm ocorrência nas obras em análise. A sua indicação, que não resulta sequer
de uma pesquisa, apenas tem como objectivo mostrar o não aproveitamento de informação já recolhida pelo IVPM.
49
Apenas se indicam as iniciadas pela letra -A-. Para as outras letras veja-se a lista de Neologismos em
ZURP, capítulo III.5, sempre que nos registos não se encontrar a indicação VH-CPM.
50
Além deste exemplo podemos ainda encontrar outras palavras que têm ocorrência em LOPF e que não se
encontram averbadas no VH-CPM como frontar (frontando em LOPF), fulame (fullame), gaja (gajas), prior,
sanhudamente, sanhudo (sanhudos), serventia, vereador, vestido, ou vergonhosa.
36
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
TERREI
O VH-CPM não regista esta forma verbal do verbo ter, mas apresenta a forma terrey,
registada em COND. Não deixa de ser curioso é que a frase onde ocorrem é claramente
uma das marcas do aproveitamento que Lopes fez de COND.
e quãdo esto for eu terrey mays razõ e aazo de vos fazer mercees... (COND, 9c32)
e quando esto for, terrei eu mais rrazom e aazo de vos fazer mercees… (LOPF, 438.47-48)
B) Palavras Averbadas
LÁSTIMA
Um Vocabulário Histórico-Cronológico, não tendo como obrigatoriedade a indicação do
registo da palavra em todas as obras, deve, pelo menos, fazendo jus ao nome, procurar
indicar as formas históricas, preferencialmente, de forma cronológica. Para esta entrada, o
VH-CPM apresenta uma única abonação de INFA, com a forma lastema, mas não há
qualquer referência a LOPF, obra amplamente trabalhada51. Consultando apenas o VH-
CPM fica-se com a informação de que foi Fr. João Álvares o seu introdutor na língua,
quando, na verdade, já Lopes a tinha registado com a variante actual52.
Esta messagem foi ouvida com grande door e lastima, (LOPF, 438.47-48)
51
Pus a hipótese de ter sido identificada como forma verbal, mas também na entrada lastimar não há qualquer
referência.
52
Esta é uma situação que se verifica em mais palavras. Repare-se no caso de arrais apenas com abonação de
2
LOPJI II.264.19, mas com datação em Houaiss de 1298 (cf. IVPM); de armador apenas com abonação de ZURG
87.6, mas com datação em Houaiss de 1394 (cf. IVPM); de agomia apenas com duas abonações de ZURD 189.8 e
268.8, mas com datação em Houaiss de 1325 (cf. JM3);
37
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
EIBADO
Fazendo uma pesquisa na opção ‘Português Medieval’, o VH-CPM regista a palavra
eibado e remete para a palavra actual elvado. Pelo que pude observar esta palavra não
existe. O termo correcto será eivado, de eivar, com o significado de ‘perder o vigor,
enfraquecer-se’.
E) Obras trocadas
LANÇADOR
Apresenta uma abonação como sendo do prólogo de LOPP, P.16, mas, na verdade, é do
prólogo de LOPF:
CAMANHO
Apresenta uma abonação como sendo do prólogo de LOPF, II.234.1, mas, na verdade, é
de LOPJI2:
[...] ficou tamto aaquem delle que camanho golpe pemsou que lhe daua, tamanho deu
comsigo [...]. (cap. CXI).
No menu Ajuda > Siglas das obras, para a sigla LEAL (Leal conselheiro), podemos ler
“O texto é parte do códice do século XV da Biblioteca Nacional de Paris”; para a sigla
OFIC (Livro dos Ofícios), podemos ler “Manuscrito do Códice C/66, do século XV, da
Academia Real de História de Madrid”; para a sigla VERT (O livro das três vertudes),
podemos ler “Manuscrito 11.515 do século XV, da Biblioteca Nacional de Madrid”;
Não é, no entanto, a data apresentada nas abonação da palavra tesourar, torrão e
trigança:
38
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
G) Abonações em falta
ACONTIADO
Esta entrada está averbada no IVPM com seis abonações, todas do século XV, uma de
REIX, duas de LOPF e três de DESC, obra que se encontra indicada menu Ajuda > Sigla
das obras do VH-CPM. No entanto, este apenas apresenta três abonações, eliminando
todas as de DESC (1405, 1436 e 1460) apresentadas no IVPM. Uma dessas indicações é
mesmo a mais antiga, reiterada por Houaiss53.
BRACEIRO
Para esta entrada, Houaiss indica o século XIII e remete para o IVPM, que apresenta
abonações do século XIII, XIV e XV. Porém, no VH-CPM apenas são apresentadas duas
abonações do século XV, uma de LOPF e outra de ZURG. Para um dicionário Histórico-
Cronológico, faltam dois séculos de existência gráfica à palavra braceiro.
BISCOITO
Para biscoito, Houaiss indica o ano de 1317 e remete para o IVPM, que apresenta duas
abonações do século XIV e onze do XV. Porém, no VH-CPM apenas são apresentadas
cinco abonações, todas do século XV, uma de Lopes e quatro de Zurara54.
BARROCA
Para a palavra barroca, o VH-CPM apresenta quatro abonações, todas do século XV,
uma de LOPF. Mas aqui a falha parece não ser só do VH-CPM, pois mesmo não
copiando, ipsis verbis, o que está no segundo volume do IVPM (letras B-C, de 1988),
acrescenta mais uma abonação de ZURD 259.27, mas retira, erradamente, a de LOPJ1
53
Veja-se a mesma situação para baía, apenas com abonações de ZURD e ZURG no VH-CPM, mas com
1456 DESC no IVPM.
54
Foram eliminadas todas as abonações provenientes de MARR (vide supra p.33), e MMM (Monumenta
Missionária Africada).
39
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
I.42.1455, e corrige, com acerto, a indicação da fonte LOPP 136.52 no IVPM para
LOPF136.52)56. No entanto, o que é de registar é que tanto o IVPM como VH-CPM
apresentam o século XV como datação mais antiga. Ora, na segunda edição do Dicionário
Etimológico de Cunha, de 1986, mas não no Suplemento, ou seja, já com registo na
primeira edição de 1982, na entrada barro, está indicada a palavra barroca, com o
significado de ‘monte de barro’, com datação de século XIII, século que também Houaiss
confirma com indicação de ocorrência em Inq. (Inquisitiones. In PMH). O cruzamento de
obras do mesmo autor parece, pois, ser deficitário.
Ainda no que concerne a datações, vale a pena observar as divergências entre o VH-CPM
e o IVPM, relativamente à primeira atestação, na lista abaixo apresentada:
VH-CPM HOUAISS
55
A palavra barroca tem 12 ocorrências em LOPJ1, 7 delas como nome próprio, referindo-se a frei João da
Barroca, e as restantes 5 como nome comum.
56
Tal alteração dever-se-á mais a uma correcção do próprio Cunha no Suplemento ao IVPM, como se indicou
na página 36, sobre a palavra acontiado.
57
Os números 3 e 2 que acompanham a palavra febre identificam a mesma acepção em dicionários diferentes.
40
II.1 Os Dicionários Histórico-Cronológicos: o VH-CPM (CD-ROM)
Para finalizar esta breve análise do VH-CPM, importa referir e destacar a sua utilidade
enquanto instrumento de trabalho lexicográfico com a apresentação de um número significativo
de verbetes do português medieval. Assim, de forma rápida, é possível navegar por vários
séculos e verificar algumas das diferentes grafias de cada palavra, bem como identificar o seu
registo em determinadas obras. Fica, no entanto, aquém das expectativas se tivermos em conta a
sua finalidade de ser um Vocabulário Histórico-Cronológico, pois apresenta informação
desactualizada, uma vez que foi publicado depois de obras de referência, como o Dicionário
Houaiss, os Dicionário Etimológicos de José Pedro Machado e Antônio Geraldo da Cunha,
onde já consta informação correta e bem mais antiga, em algumas situações, como é o caso, por
exemplo, da palavra sala, com cinco séculos de diferença.
Em resumo, a ideia que mais prevalece é a de o VH-CPM parecer uma simples
digitalização, aqui e ali deficitária, das fichas do vasto acervo de Antônio Geraldo da Cunha,
sem qualquer intervenção crítica por parte da equipa que o produziu. A não inclusão de algumas
obras no corpus de extracção, como é o caso da Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de
Zurara, permite também algumas antedatações, quer ao VH-CPM, porque o IVPM não a
utilizou, quer ao próprio Houaiss, que seguiu o mesmo princípio.
41
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
3.9. O utilizador pode ainda proceder à identificação das classes gramaticais. Esta
identificação poderá ser morosa, dependendo da quantidade de palavras
existentes ou da velocidade do processador do PC. O utilizador deverá, no
menu Ferramentas, seleccionar a opção Verificar Classes Gramaticais.
Aparecerá uma janela com duas opções: Texto em Português Actual e
Texto em Português Antigo. O utilizador deverá seleccionar aquela que
melhor convém ao texto em análise.
3.9.1. A base de dados dispõe de 95.700 formas diferentes para o
português actual e 123.800 para o português antigo.
3.9.2. Certamente haverá palavras dos textos a analisar que não serão
identificadas gramaticalmente. A essas, o programa marca-as com a
expressão desconhecida.
3.9.3. Recomenda-se que no final o utilizador verifique os casos de palavras
homónimas e que pertençam a várias classes gramaticais.
58
Para os comentários a este programa foi apenas utilizada a Crónica de D. Fernando.
59
Cf. bibliografia.
60
O Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA) dispõe neste momento de várias obras para
consulta em http://www.uc.pt/uid/celga/recursosonline/cecppc
61
Uma das lematizações utilizadas neste trabalho é a Lematização de Textos Medievais Portugueses (versão
4.0), edição de José Barbosa Machado, UTAD, 2002-2007. Cf. infra p. 45.
62
Cf. http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/lexicon/index.html
43
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
A base de dados do programa Lexicon, constituída pelas 123.800 formas diferentes para o
português antigo, é formada a partir de várias obras, listadas abaixo:
Abreviatura Descrição
AP Auto de Partilhas (1192)
CBAN Crónica Breve do Arquivo Nacional
CDG Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné, de G. E. de Zurara (séc.
XV)
CDM Crónica do Conde D. Duarte de Meneses, de Gomes Eanes de Zurara (séc.
XV)
CPM Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, de Gomes Eanes de Zurara (séc.
XV)
CDAH Crónica de El-Rei D. Afonso Henriques, de Duarte Galvão (início do s. XVI)
CDD Crónica de D. Dinis (início do séc. XVI)
CDF Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes (séc. XV)
CJ1 Crónica de D. João I - Parte I, de Fernão Lopes (séc. XV)
CJ2 Crónica de D. João I - Parte II, de Fernão Lopes (séc. XV)
CDP Crónica de D. Pedro I, de Fernão Lopes (séc. XV)
CDS Constituições de D. Diogo de Sousa (1497)
CGE Crónica Geral de Espanha (1344)
CP Castelo Perigoso (séc. XIV)
CRP Crónica dos Primeiros Sete Reis de Portugal (1419)
CT Crónica Troiana (meados do séc. XVI)
CTC Crónica da Tomada de Ceuta, de Gomes Eanes de Zurara (séc. XV)
DSG A Demanda do Santo Graal (séc. XIV)
EER Evangelhos e Epístolas com suas Exposições em Romance (1497)
EV Estoria do mui nobre Vespesiano emperador de Roma (1496)
FCR Foros de Castelo Rodrigo (séc. XIII)
FR Foro Real de Afonso X (finais do séc. XIII)
LC Leal Conselheiro, de D. Duarte (séc. XV)
LE Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, de D. Duarte (séc. XV)
MP Livro das Confissões, de Martín Pérez (1399)
LHB Livro das Histórias da Bíblia (séc. XV)
LMP Livro de Marco Polo (1502)
NT Notícia de Torto (1206)
OE Orto do Esposo (séc. XV)
PMP Penitencial de Martim Pérez (séc. XV)
RP Regimento Proveitoso contra a Pestenença (1495?)
S Sacramental, de Clemente Sanchez de Vercial (1488)
SG Sumário das Graças (1488?)
TAII Testamento de D. Afonso II (1214)
44
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
Como o programa tem na base de dados todas as palavras destas obras e as trata
simultaneamente, a disparidade de classificações gramaticais seria inevitável, apresentando em
alguns casos classificações duplas ou mesmo, por vezes, triplas. Porém, se é verdade que podem
aparecer classificações gramaticais que fazem sentido numa determinada obra, noutra elas estão
claramente erradas. Veja-se o quadro seguinte:
63
As palavras e classificações que não se encontram em LOPF vão assinaladas a negrito e itálico. Dentro de
parêntesis é indicada a forma correcta.
45
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
64
Esta é uma eventual falha de formatação do programa que, em LOPF, à excepção de apenas 4 formas com
indicação de imperfeito do indicativo (abastavom, conselhavom, coutavom, escaramuçavom) considera todas as
outras terminações -avom como sendo do imperfeito do conjuntivo.
46
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
65
Ocorrem mais três situações deste tipo, mas com introdução de advérbios ou complementos no seu interior:
forom alli juntos (365.14); forom depois juntos (373.121) e forom em Santarem juntos (589.8-9).
47
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
Como conclusão, posso dizer que o programa Lexicon é uma ferramenta essencial para
uma primeira listagem das palavras de um qualquer texto. A sua interface é de fácil percepção e
permite uma escolha de entre várias hipóteses, donde se destaca possibilidade de, no menu das
Ferramentas, verificar o número de ocorrências, mas sobretudo todas as Classes Gramaticais.
Esta elencação, que por vezes desvirtua completamente a pesquisa, exige um trabalho redobrado
e minucioso na sua correcção. Apresenta ainda erros de classificação, uma vez que todos os
pretéritos imperfeitos do indicativo terminados em -avom, à excepção de quatro, são
classificados como pretéritos imperfeitos do conjuntivo. Apesar destas particularidades, este foi
o programa escolhido para a listagem de todas as palavras o que implicou seguir à risca as
recomendações do ponto 3.9.3 dos seus autores (Recomenda-se que no final o utilizador
verifique os casos de palavras homónimas e que pertençam a várias classes gramaticais). O
programa Lexicon é, sem dúvida, um excelente instrumento de trabalho, mas é também um
instrumento de trabalho para manusear com algum cuidado.
48
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
extenso, pela quantidade de obras que fazem parte do corpus de extracção, e automaticamente
da listagem de todas as palavras nelas contidas. É neste tipo de lematizações que se vê o
resultado, puro e duro, do que os referidos programas são capazes de fazer em segundos, talvez
minutos devido às suas extensões (neste caso são 6451 páginas), antecipando os resultados em
um intervalo de tempo incomensurável quando feito à mão, numa leitura e análise tão rigorosas
e cansativas, quase como desesperantes.
A existência destes trabalhos contribuem para o enriquecimento do estudo do português
médio e são uma mais-valia para os investigadores, na medida em que passam a dispor de mais
ferramentas de trabalho. O único senão dirá respeito à confiança progressiva que vamos
depositando nas máquinas, esquecendo as recomendações do ponto 3.9.3 dos autores do
programa Lexicon.
A este propósito veja-se, por exemplo, na Lematização de Barbosa (BLem) a
classificação do advérbio eramá, atestado em LOPF sob a forma eramaa, como imperfeito do
indicativo de ser, com a indicação de vb+pronp (p. 5612); a classificação do substantivo
follosa66, como feminino do adjectivo foloso (p. 3061); fferragem e fforragem ambas
lematizadas para ferragem (p. 2989-2990); escaramuçamdo lematizado para escapar (p. 2619);
bulhom lematizado para bulhar como sendo forma verbal no presente do indicativo, ou mesmo a
classificação do adjectivo husavees, como imperfeito do indicativo do verbo usar (p. 6171).
Como uma lematização deste tipo tem sempre por base um programa informático (presumo que
o Lexicon) que lista as palavras segundo uma base de dados previamente carregada a partir de
um determinado número de obras, verificam-se sempre algumas incoerências. Tais
discrepâncias podem dizer respeito a classificações pontuais, ou mesmo a todos ou quase todos
os campos apresentados, incluindo a própria palavra, como se verifica no seguinte quadro da
Lematização de Barbosa:
Relativamente a esta situação, ela só parece ser possível, presumo, devido a uma
digitalização deficitária da Crónica de D. Fernando, em princípio a de uma versão em
CD-ROM levada a cabo pela Biblioteca Nacional – Biblioteca Virtual de Autores Portugueses
(1999), que teve por base a edição impressa pela IN-CM e organizada por Giuliano Macchi, em
66
Cf. infra, entrada FELOSA, p. 41.
49
II.2 A elaboração de um Índice Analítico: o programa Lexicon (versão 5.2)
1975. Um forte argumento a favor de que seria esta a edição de partida é o facto de muitos dos
erros aí presentes se repetirem na Lematização de Textos Medievais Portugueses (versão 4.0)
como é o caso de alũus em vez de algũus (p. 368), Castellla por Castella (p. 1123), coindado
por condado (1757), contrario67 por contrairo (1634), Fernanado por Fernando (p. 2986),
lecenca por licença (p. 3798), lsabell por Isabell (p. 3863), valllessem por vallessem (p.
6198),com a indicação de que têm ocorrência exclusivamente em LOPF. No entanto, e porque a
lematização engloba vários textos, há outros erros coincidentes com a edição da Biblioteca
Nacional, mas porque têm registo noutras obras além de LOPF, não é possível afirmar, com
tanto rigor como para aqueles, que têm a mesma proveniência. Refiro-me a palavras como
irmano em vez de irmaão (p. 3562), fronteira por fronteiro (p. 3104), Franca por França (p.
3087), fortaleza por fortalleza (p. 3080), doe por de (2269), ciquo por cinquo (p. 1303), castelos
por castelos (p. 1127), cosmo por colmo (p. 1702).
Na Crónica de D. Fernando, digitalizada no referido CD-ROM, encontram-se ainda as
seguintes gralhas, corrigidas na Lematização de Barbosa, Casteila por castella; cheoou por
chegou; Conçallvez po Gonçallvez; depôs por depós; donzelllas por donzellas; eel-rrei por el-
rrei; eeteencom por eeteençom; Femando por Fernando; lrmaão por Irmaão; milll por mill;
villla por villa68.
67
Esta seria a única forma com metátese em LOPF face às restantes 31 contrairo(s).
68
Esta comparação é feita tendo por base a segunda edição da IN-CM, organizada por Giuliano Macchi –
Teresa Amado, em 2004.
50
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
51
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
verificamos que ainda não é bem essa que faz sentido no texto em análise. É aqui que a
investigação é produtiva e permite acrescentar algo de novo ao glossário que se vai construindo.
Assim, depois de redobradas duplas sensações, e encorajado pela observação de Macchi
sobre a “falta de glossários organizados para todas as crónicas [de Fernão Lopes]” (LOPP, IN-
CM, 2004, p. LXIX), autor incontornável para o estudo do português médio, aprofundou-se a
vontade de elaborar um Índice Analítico da Crónica de D. Fernando.
Normalmente, os glossários que acompanham os textos raramente constituem uma base
suficientemente ampla de trabalho. E se o que acompanha a segunda edição da Crónica de D.
Pedro I69, elaborado por Macchi, é um recurso importante para o leitor da actualidade menos
familiarizado com o português médio, ele fica muito aquém daqueles que, por variadíssimas
razões, necessitam de um trabalho mais exaustivo. A simples listagem de programas
informáticos fica igualmente distante das verdadeiras acepções de cada palavra.
Exemplificando: a forma aviindo ocorre duas vezes na Crónica de Fernando, lematizadas por
Barbosa Machado70 para advir e classificadas como adjectivos. Ora, uma delas pertence, de
facto, ao verbo advir, ‘suceder, acontecer’, e está no gerúndio; a outra pertence ao verbo avir
‘reconciliar’, e está no particípio.
Como esta, muitas outras formas são iguais, mas remetendo para classificações e
acepções diversas, pelo que é pertinente a sua desambiguação, tarefa a aplicar ao longo do
Índice Analítico.
Algumas observações sobre este Índice Analítico.
Foram eliminados todos os Antropónimos. Assim, por exemplo, para a forma do
adjectivo clara, apenas foram contabilizadas duas ocorrências, retirando a terceira – Clara. O
mesmo para outras siruações: covas – Covas; cruz – Cruz; curral – Curral; donzela – Donzella;
duque – Duque; façanha – Façanha; faria – Faria; ferro – Ferro; furtado – Furtado; ilha – Ilha;
leis – Leis; mercadores – rrua dos Mercadores; moor – Moor; novo – Novo; nova – (rua) Nova;
novas – (Torres) Novas; outeiro – Outeiro; paredes – Paredes; pedra – Pedra; ponte – Ponte (de
Lima); porto – Porto; santa – Santa (Maria); vaca – Vaca; velho – Velho; vitoria – Vitoria.
Foram eliminados todos os Topónimos.
Apenas se apresenta a primeira localização para cada palavra, com significado
inequívoco. Há casos em que o sentido é diferente, mas também aqui o objectivo é indicar a
ocorrência dessa diferença, pelo que se apresenta apenas uma localização (conto, grave, corda,
coroa, correr, comprida(s), comprido(s), cunhada, defeso, descendo, divido, …).
69
A Crónica de D. Fernando apenas possui um índice Onomástico.
70
Cf. Lematização de Textos Medievais Portugueses (versão 4.0), edição de José Barbosa Machado, UTAD,
2002-2007.
52
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
Por vezes, nem sempre se afigurou, de forma clara, a classificação gramatical, sobretudo
na distinção entre o particípio passado e o adjectivo verbal71. Assim, optei por considerar apenas
particípio (vb P) as formas que integravam quer tempos compostos, como “e emmendar os
danos e malles que os d’estes rregnos ham rrecebidos ataa o tempo d’ora” (LOPF 594.38-39),
“depois que ouve armadas viinte gallees pera mandar em ajuda d’el-rrei de França” (LOPF
405.5-6), “E temdo jaa açertada sua rremdiçã e de XV cristãos” (ZURP 623.1050-1051) ou “E
tinham acordado de lhe tomaar a terra e as outras barquetas que ficassem largas” (ZURP
448.121-122), quer verdadeiros particípios absolutos, como “A molher que o posera dentro,
acabadas estas rrazoões, disse estonce ao iffante:” (LOPF 358.107-109), “Estas rrazões assy
acabadas, ell rrey mãdou llogo lamçar pregão” (ZURP 208.851-852). Para todos os outros
casos adoptei a classificação de adjectivo verbal (adj vb), como em “e veendo como todos
estavom alvoraçados” (LOPF 214.27-28), ou “E assy forã abastados ate que lhe levarã o
mamtymemto destes rregnos”(ZURP 575.1021-1022).72
Quando se trabalha com um número significativo de palavras, obrigatoriamente tem de se
recorrer a programas informáticos que façam uma primeira classificação. O programa atrás
descrito, Lexicon (versão 5.2), foi o utilizado nesta tarefa. Como normalmente para as
terminações -ado(a)/(s) é atribuída a classificação de particípio73, procurei fazer todas as
desambiguações. Certamente ter-me-ão passado algumas.
No caso dos verbos, foi acrescentada a classificação gramatical do modo e tempo, onde
optei pela classificação já utilizada pelo CIPM. De referir que dentro de cada entrada verbal, e
para uma mais rápida localização, sobretudo em verbos com um elevado número de formas (dar
(33), dizer (43), fazer (46), haver (55), preferi elencar as formas por ordem alfabética em
detrimento de uma ordem modo-temporal, como se poderá verificar, por exemplo, com as
formas fezera e fizera, hiis, vaamos e vou, ou penso e pensso. As reduções utilizadas são as
seguintes:
71
A distinção levanta interrogações. Veja-se Ana Maria Brito in Mateus (62004:374 e 727) e Cunha
10
( 1994:493).
Mira Mateus, no pormenorizado Glossário da Vida e Feitos de Júlio César (vol. III), elenca dentro da entrada
do verbo, apenas as formas de particípio que são utilizadas nos tempos compostos (ter e haver) e as de particípios
absolutos (cf. s.v. acabar). Apresenta depois, em entrada à parte, a classificação de adjectivo verbal (adj. v.), para as
restantes (cf. s.v. acabado). Casos como abraçado e ceso são considerados apenas adjectivos (adj.), apesar de origem
verbal. Não é este, porém, o entendimento de José Carlos de Azeredo (32004: 242-243), que apresenta uma distinção
mais simples: “O particípio é sintaticamente uma forma do verbo apenas quando, invariável e com sentido ativo,
integra os chamados tempos compostos ao lado do auxiliar ter. Fora daí, o particípio se torna um adjetivo [...], tanto
pela forma - já que é variável em gênero e número -, quanto pelas funções, pois, assim como o adjetivo, pode ser
adjunto adnominal (cf. o livro novo/livro rabiscado) ou complemento predicativo, quando constitui a chamada voz
passiva (cf. Estas aves são raras/Estas aves são encontradas apenas no pantanal)”.
72
Mesmo com esta distinção, não deixaram de existir casos de difícil interpretação, como na frase “Pera
coelhos, rraposas e lebres e outras semelhantes salvajẽes monteses” (5.59.60), optei por considerar os três adjectivos,
subentendendo animais. No VH-CPM monteses é classificado como substantivo.
73
Cf. BLem adeantado, vb part (s.v. adeantar) em vez de substantivo; alçadas, vb part (s.v. alçar) em vez de
substantivo; arrancada, vb part (s.v. arrancar) em vez de substantivo; CIMP arrenegados, PP m.p., (s.v. arrenegar)
em vez de substantivo. O mesmo para as terminações -oso/a(s), normalmente classificadas como adjectivo. Veja-se
infra a entrada FELOSA, p. 87.
53
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
Na listagem das formas verbais, foram eliminados os pronomes enclíticos, pelo que
formas do tipo de fazendo-a, achou-ho, mandou-nos, acolherom-sse, dar-lhe, apenas são
grafadas fazendo, achou, mandou, acolherom, dar. Registam-se, porém, os casos em que a
eliminação desse pronome deixaria a forma verbal numa terminação não característica,
resultado, precisamente dessa pronominalização. Estão nesta situação palavras como, por
exemplo, abrian-as, armaren-se, assentaron-o, casá-lla, mantee-llo, combatê-lla, fornece-llas,
hirde-vos, vaamo-nos. Manteve-se também o pronome em todos os casos de mesóclise, em
formas como aqueentar-nos-emos, dizer-vos-hiam, gradecer-vo-llo-á, lança-llas-hia, chegar-
me-hei, decer-m’ei.
O índice está organizado por ordem alfabético da cabeça do lema74, mantendo assim
agrupadas, na coluna da palavra, à direita, todas as suas variantes. Nesta coluna, a forma
redonda serve para indicar proveniência de LOPF e a forma itálica para indicar a de ZURP.
Uma organização alfabética de toda esta segunda coluna seria mais pertinente para uma rápida
localização das formas medievais, mas afastaria as diferentes grafias da mesma entrada, um dos
objectivos deste índice. Assim, houve necessidade de fazer remissões de todas as palavras que
se encontravam em entradas alfabéticas diferentes, como daga (cf. adaga), fouto (cf. afouto),
bem como algumas dentro da própria letra, como avondar (cf. abundar) fame (cf. fome). Para
outras, pela fácil percepção, como christaão, deçiplina, emderemçar, ezquerda, imigos,
majestade, philosofo, não foi feita qualquer remissão.
No caso destas entradas remissivas, desde que se verifique a sua ocorrência efectiva, é
sempre apresentado o masculino do singular para os nomes masculinos e adjectivos e o
feminino do singular, para os nomes femininos, como bastecimento (cf. abastecimento),
omrroso (cf. honroso), fouteza (cf. afouteza). Nos restantes casos mantém-se a forma registada
74
Na coluna da lematização, apresenta-se, em maiúsculas, por norma, a forma actual da cabeça de lema. Há,
no entanto algumas excepções (ẽnader, membrar, mostrança, nembrança…).
54
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
nos textos, como em amoestaçoões (cf. admoestação)75ou frorõoes (cf. furão), apenas com
ocorrências no plural. Para os verbos foi utilizado o infinitivo, como aviir (cf. advir), bastecer
(cf. abastecer), mesmo este não tendo ocorrência na obra, como asolver, assolver (cf. absolver).
Foram também feitas remissões entre as entradas relacionadas, como acostumar (cf. costumar) /
costumar (cf. acostumar); acoutar (cf. coutar) / coutar (cf. acoutar); apenhar (cf. penhorar) /
penhorar (cf. apenhar); ajuntamento (cf. juntamento) / juntamento (cf. ajuntamento);
aportalecer (cf. portalecer) / portalecer (cf. aportalecer);
Nos casos em que para a mesma entrada ocorrem classificações gramaticais e/ou
significados diferentes e simultaneamente um grande número de ocorrências, pese embora
algumas vezes tenham sido tratados, nestes casos é apresentado o número dentro de parênteses
rectos, indicando que a desambiguação não foi feita. Indicam-se, no entanto, as localizações das
respectivas classificações e significações. Em alguns casos, o trabalho seria demorado e,
eventualmente, pouco profícuo, pois, em vez de um número (75) para duas classificações de
poder, nome e verbo, teríamos dois, por hipótese, 50 nomes e 25 verbos.
Casos como da/da; se/se, que podem ser ‘prep’ e ‘vb’ não foram trabalhados.
Nos casos de desambiguação entre as preposições e os nomes, por exemplo par(por)/par,
e os advérbios e adjectivos, por exemplo preto (perto)/ preto, o número de ocorrências dos
segundos é efectivo, ou sejam, foram excluídos da contagem as preposições e os advérbios.
Assim, das 6 ocorrências de par, apenas se indica 1 para o nome (LOPF 508.30)76 e das 13 de
preto, apenas se indicam as 3 que têm, efectivamente, a função de adjectivo (LOPF 166.22;
460.32; 592.40).
No campo da localização é apresentada a primeira ocorrência, salvo se o significado não
for claramente explícito na classificação gramatical ou significação. Nestes casos, procurei
apresentar uma localização inequívoca. Por exemplo, no caso de cuidado, classificado
gramaticalmente como nome com o significado de ‘preocupação’, entre a primeira ocorrência –
eviinham os falcoeiros e outros que de fazer aves tiinham cuidado. (4.41-42) – e a segunda – El-
rrei de Navarra, posto em gram cuidado por a promessa que feita avia a el-rrei dom Henrrique
(19.3-4) –, preferi esta última.
Regra geral, foram eliminados os advérbios. Em alguns casos, quando homónimos com
outra classe gramatical, como claro, ou no caso de eramá, por se verificar datação anterior à
registada em Houaiss e passamente, por ter origem em substantivo, mantiveram-se. Mantêm-se,
75
Neste caso em particular, amoestaçoões, a lematização para o masculino do singular seria sempre uma
escolha minha, elegendo uma forma gráfica não atestada no texto, em detrimento de outras perfeitamente possíveis:
amoestação, -çom, -çõ, -çãm, ou -çã…
76
Nos casos em que o nome faz parte de uma locução, esta desambiguação foi também feita, neste caso, a
par de, com 3 ocorrências (509.19; 510.34; 523.14).
55
II.3 Índice Analítico de LOPF e ZURP
3.1.Conclusões
77
Foram portanto eliminados os advérbios de modo aadur, asinha, debalde e toste.
56
III.1. A Crónica de D. Fernando de Fernão Lopes. Edição de Giuliano Macchi
78
Segundo Teresa Amado (Tavani 1993: 179, s.v. Crónica de D. Fernando).
79
Chronica do Senhor Rei D. Fernando, Nono rei de Portugal, in «Collecção de Livros Ineditos de Historia
Portugueza, dos reinados de D. Dinis, D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando publicados de ordem da Academia
Real da Sciencias de Lisboa pela comissão de Historia da mesma Academia», tomo IV, Lisboa, 1816
80
Cf. Introdução, sobretudo pp. XI-XXX, em Lopes, Fernão (22004). Crónica de D. Fernando. Edição de
Giuliano Macchi. Lisboa: IN-CM.
81
Idem, ibidem, pp. XXXI.
82
Idem, ibidem, pp. LXVIII.
57
III.1. A Crónica de D. Fernando de Fernão Lopes. Edição de Giuliano Macchi
58
III.1. A Crónica de D. Fernando de Fernão Lopes. Edição de Giuliano Macchi
curamos (22.48; 178.28; 229.48; 286.108; 310.90; 327.75; 353.75; 392.30; 401.65440.26;
551.128), desejamos (483.20-21), esperamos (572.46), ousamos (410.54), protestamos
(410.44), rrogamos (28.46; 32.40), porque só ocorrem no presente, eles avivam-se em casos
onde, claramente, são homógrafas, condição referida pelo editor, como achamos (142.45;
343.3), 1ª pl. do presente, e achamos (47.67; 128.26; 138.39; 275.18; 325.15; 418.25; 425.3), 1ª
pl. do pretérito perfeito, leixamos (35.73; 159.57; 182.105; 236.32; 340.44-45), 1ª pl. do
presente, e leixamos (15.5; 69.4; 399.4), 1ª pl. do pretérito perfeito. Também nos casos de
pronominalização a utilização do acento circunflexo não foi utilizada de forma regular, como de
pode verificar na forma fornece-llos (11.15-16) fornece-llas (262.45) face a metê-llos
(266.41)83, prendê-llo (380.48), combatê-lla (129.11-12), entre outros.
A utilização da acentuação para diferenciar homógrafas, como refere Macchi, é
fundamental para uma melhor leitura e mais fácil interpretação do texto. Essa aplicação verifica-
se certeira na grande maioria dos casos, como em às (19.7), único caso registado com acento
grave na contracção, face aos 59 de aas, para se distinguir do artigo definido feminino as. O
mesmo se pode dizer de outras homógrafas, nomeadamente de allá (33 ocorrências)84 / alla (6
ocorrências) com distinção do advérbio de lugar do substantivo ala (lado). No entanto, não
fazem sentido as quatro formas de já, com acento, face às 160 que aparecerem de ja, sem
acento, uma vez que não há qualquer pertinência na distinção. Não é, também, coerente a
utilização relativamente à distinção da forma verbal há do artigo definido feminino ha. Para há
verificam-se 20 ocorrências e para ha 7. Todavia, considerando as frases assi por proveito / dos
poboos quecada hũu de vós ha de rreger comopor / espiciall amor e boa voontade que vos tem
(237.19-21) e e consiirando eu como o meestre de Santiago de Castella / vos há feitos algũus
deserviços em esta guerra, (437.17-18), verifica-se uma ausência clara de acentuação, o que
deverá aumentar o número de 20 para 22 das ocorrências verbais e diminuir para 5 o do
determinante. Não é também coerente a utilização do acento agudo por três vezes na forma alló:
e enquanto aquell escudeiro alló esteve (562.39); e contou a el-rrei e aa rrainha todo o que lhe
alló avehera. (562.44); e nom podia alló hir. (573.64), deixando uma por acentuar: e el-rrei
dom Fernando por fraqueza de sua door nom podia / allo hir, (559.7), sendo o sentido o
mesmo. Igualmente na utilização do pronome pessoal da primeira pessoa nós, “Nem nós nom
achamos que el-rrei dom Henrrique” (142.44-45) face a “Nos nom achamos que Gonçallo
Vaasquez d’Azevedo” (343.3), das homógrafa porque e porquê, “mas porque vio o logar fraco e
nom deffenssavell” (113.58) e “e nom moiramos assi sem porque!” (135.56), bem como na
distinção da locução à pressa, “assi que alli era toda a pressa da batalha,” (35.54-55) face a
83
Neste caso, entom mandou tomar duas barcas e metê-llos frades todos em ellas sem barqueiros,
pronominalização com o próprio complemento directo expresso. Na edição da Bibliotheca de Classicos Portuguezes
(1895) metter os frades.
84
A forma alá ocorre apenas uma vez (343.21).
59
III.1. A Crónica de D. Fernando de Fernão Lopes. Edição de Giuliano Macchi
“como souberom que era perdida partirom a pressa caminho de Saragoça” (50.42.43). A forma
mice, com apenas uma ocorrência, destoa das catorze micé.
85
Na organizada por Dias Arnaut para a Civilização Editora, aquel, (cap. LXXXVII, p. 230).
86
Cf. o aparato crítico. O sentido é claramente de quantidade, apesar do registo mas em algumas edições,
como na organizada por Dias Arnaut, (cap. CXLII, p. 393).
87
A forma homónima ouve, do verbo ouvir, não aparece registada.
60
III.2. A Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Zurara. Edição de Teresa Brocardo
88
Citam-se as páginas seguidas das linhas.
89
Cf. capítulo quinto: O Condestabre, porque além da idade tinha temçom de se apartar pera serviço de
Deus, Gomçallo Vaz Coutinho, também por idade e por outras cousas que ho ympidiã e Martỹ Affomso de Mello,
por pressões dos que o acompanhavam.
90
Cf. Brocardo (1997:10).
61
III.2. A Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Zurara. Edição de Teresa Brocardo
Quando se edita uma obra em português de uma fase pretérita da língua, podem ser vários
os objectivos que a norteiam. No caso da Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Zurara,
eles são explicados por Teresa Brocardo na respectiva introdução, onde não pretende editar um
texto no sentido de se destinar exclusivamente “ao leitor estudioso da história da língua”, mas
também “a muitos outros leitores” dada a importância do seu conteúdo. E termina afirmando
que se trata “portanto, também de dar a ler o texto da Crónica, agora de forma
propositadamente mais abstracta, a um público menos restrito. Este segundo objectivo,
determinaria, ao contrário do primeiro, a introdução de alterações na transcrição”91. São estas
alterações gráficas, da exclusiva responsabilidade do editor, que nos mostram, portanto,
variações da mesma palavra em diferentes edições, que é diferente de variação e instabilidade
da forma gráfica à época ou mesmo a registo de de outra palavra por opção do copista. A este
respeito, e sobretudo para os estudos linguísticos, ganha pertinência o qualificativo crítica,
quando passamos a ter edições que no aparato apresentam as respectivas variantes. Foi o que
aconteceu com esta edição de Teresa Brocardo, apesar de ela própria afirmar que “esta não é
uma edição crítica”92 onde se podem acompanhar as variantes do manuscrito G (Manuscrito
146.B.7 da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa) que não sendo apenas gráficas,
revestem-se da maior importância para um estudo linguístico da forma “morfologicamente
diferente”, como os exemplos referidos por Teresa Brocardo “chorades” / “choraes”;
descreudos” / “descridos”93. A estes procurarei adicionar outros.
Ainda sobre as opções do editor ao procurar uma fixação do texto, se bem que não a
única, são por vezes tomadas decisões no sentido de preservar ao máximo o manuscrito. Nada a
opôr. Todavia, em trabalhos lexicais deste tipo, ajuda-nos o computador a isolar palavras, aqui
entendidas como uma sequência gráfica delimitada por dois espaços em branco. Daqui
resultaram duas situações de difícil percepção. A primeira, çea-voga, para a qual não encontrei
solução rápida ocorre nesta passagem: Emquamto a galle girou pera hyr de çea-voga sobre a
barca, as fustas pequenas forã logo dereitamemte a ella e começarã de a combater,
(421.829[826]). Não tendo dúvidas que o elemento voga ‘remada’, criação, aliás, de Zurara, era
a base deste suposto, e não havendo informação no aparato, a solução passou pelo confronto
com a edição publicada nos Inéditos da História Portuguesa, onde as palavras se encontram
separadas: Emquamto a galle girou pera hyr deça voga sobre a barca, (vol. II, p. 399)94.
Melhorou, mas a ajuda foi pouca, pois a leitura continuava sem sentido. Duas hipóteses, a partir
91
Cf. Brocardo (1997:155).
92
Cf. Brocardo (1997:154).
93
Cf. Brocardo (1997:170).
94
deça voga é também o registo que se encontra na edição Fac-similada da ed. do Abade Correia da Serra,
1792, Academia das Ciências de Lisboa, Porto, 1988.
62
III.2. A Crónica do Conde D. Pedro de Meneses de Zurara. Edição de Teresa Brocardo
da entrada voga, registada em Morais, ambas locuções: dar voga ‘remar para diante’, mais
difícil, e de uma voga ‘de uma remada’95, mais aceitável.
O outro caso prendeu-se com a palavra gramsolla. Neste caso, a dúvida dissipou-se mais
facilmente, também com a ajuda de Morais4: “Lè-se esta palavra como uma só nos Ined. II. 402.
Mandarom o bergantim a filhar a guarda, e quando forom dentro acharom grançolla, pelo qual
nom ousarom de sair fora: deve ler-se gran folla, grande marulhada, turvação, do mar. V.
Folla”96.
Neste tipo de trabalhos, por norma, as classes gramaticais fechadas não são alvo de
desambiguação, tal é o seu elevado número de ocorrências. Depois, à medida que a leitura vai
sendo apurada para determinadas palavras, vão surgindo casos que mereciam um tratamento
diferenciado, como entre o artigo e a interjeição nesta passagem: O companha pusylanyma de
corações molharigos e afiminados, dezei-me por que chorades. He porvemtura com themor
daquelles mouros que ally estam fora amedoremtados e espamtados? (218.77-80).
Para satisfazer os dois objectivos a que se propôs, e procurando conciliar conservação e
legibilidade, Teresa Brocardo introduz a respectiva pontuação e conserva as grafias do
manuscrito, incluindo as geminadas, as etimológicas ou não, a alternância entre <i> e <y> para
representar a semivogal e as diferentes representações da nasalidade, sobretudo o <m>, o qu, de
facto, se veio a revelar uma das características de Zurara comparado com Lopes, como melhor
se poderá observar no Índice Analítico das duas obras.
Uma das questões sensíveis na edição de textos antigos prende-se com a acentuação.
Tornar um texto quatrocentista legível “a muitos outros leitores” implica, como seria de esperar,
introduzir acentos gráficos que os ajudassem em desambiguações, sobretudo de homógrafas. A
este respeito, apenas duas observações. Sendo a forma verbal do presente do indicativo do verbo
ser quase sempre grafada <he>, não recebeu acento gráfico por não se confundir com a
conjunção, mas acentuou, mas “há em todo o manuscrito apenas três ocorrências desta forma
grafada <e> que se acentuaram”97. Com a informática a serviço da linguística, verifica-se que
são quatro as ocorrências, em 207.812, 420.823[820]98, 543.241 e 691.481. Quanto às formas
verbais, acentuaçam-se “as formas da segunda pessoa do plural dos verbos em “-er” com crase,
como <devês>, <fazês>, <poderês>, que são bastante frequentes no manuscrito”. Este é um
procedimento que também se estende aos verbos da primeira conjugação, pelo que pude apurar
em formas como aballês (256.174), acabassês (678.158), acharês (292.1081; 654.604),
ẽbaratês (359.378), guardês (499.278[279]), mãdarês (531.1090[1089]), pemsês (204.728) e
tomassês (562.699[698]).
95
Em Morais em duas vogas ‘em duas remadas’, com abonação de Couto, 5.4. I.
96
Cf. Morais4 s.v. gransolla.
97
Cf. Brocardo (1997:158).
98
Verifica-se em alguns capítulos uma deficiente numeração das linhas no formato em papel pelo que o
número entre parêntesis rectos diz respeito à edição informatizada, utilizada com muito maior frequência e rapidez.
63
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Nesta lista de palavras apenas se apresenta uma abonação de LOPF para cada entrada,
pois o objectivo é assinalar a sua ocorrência na obra. No entanto, vão indicadas todas as
localizações onde podem ser encontradas.
Outra indicação base desta lista são as atestações simultâneas de obras que surgiram ou
poderão ter surgido na mesma época. E se em alguns casos, pela datação das obras, podemos
apresentar alguma certeza nas afirmações, noutros a dúvida de quem foi o introdutor faz algum
sentido. Assim, perante a ocorrência de uma palavra em várias obras, podemos identificar três
situações:
1º. Pela sua datação anterior a Lopes, por exemplo LOPF, face a AVES, GRAL ou
ORTO. Nestes casos, com datação anterior segura, a palavra é automaticamente
excluída deste trabalho de investigação.
2º. Pela datação das obras em que a palavra ocorre percebe-se que o introdutor deverá ter
sido Lopes. Por exemplo um registo em LOPF, face a CONF, PAUL ou ZURP, que
são posteriores, a palavra faz parte da lista posterior (novidade em LOPF).
3º. Pela datação das obras, quer apresente uma informação mais geral, como apenas o
século XV, ou mais exacta, quando se conhecem limites temporais ou mesmo o ano,
não podemos afirmar que tenha sido Lopes o primeiro a registá-la na língua. Assim,
para o conjunto das obras/autores que se encaixam num período de mais ou menos 20
anos, entre 1418 (nomeado guarda-mor)99 e finais da quarta década 1438-40, o
máximo 1443 (data limite para a publicação da crónica de D. Fernando100) estaria
reservada esta alínea, como salvaguarda/possibilidade de também poderem ter sido os
introdutores de determinada palavra na língua (no fundo, estamos a falar dum período
da renovação do léxico em redor da época dos príncipes de Avis). Por exemplo, se
uma palavra aparece registada em obras com uma datação mais exacta como CAVA,
LEAL, OFIC e LOPF, e sabendo da ligação de Lopes à corte, como se pode afirmar
que o introdutor é Lopes e não D. Duarte ou D. Pedro? Ou mesmo o contrário, por que
99
Mais correctamente seria a data de 1415, incluindo também o Livro de Montaria, uma vez que se aponta
como data inicial da sua feitura (1415-1433), pois D. João de Portugal já acrescenta ao seu título “Señor de Ceuta”,
conquistada precisamente a 21 de agosto de 1415. No entanto, esta não é uma edição trabalhada para efeitos de
datação das palavras. Para mais esclarecimentos vide a entrada TRELA, p. 158.
100
Segundo Teresa Amado, in Tavani 1993:179.
65
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
A listagem das obras dos dois grupos que interessam a este trabalho acima referidos é a
que se encontra a seguir. Para a primeira, aquela que contém as obras pertencentes a um círculo
mais restrito e de mais provável conhecimento, as siglas que as identificam serão apresentadas
na entrada ‘atestações simultâneas’ a negrito101. Para a segunda, que contem obras com datação
mais genérica, as siglas serão apresentadas em itálico. À excepção de LOPF, cujas localizações
são indicadas por mim (página e linha, 2ª edição de Macchi), todas as outras, regra geral, são as
que constam no IVPM e no VH-CPM. Os casos divergentes serão indicados. Apenas se indicam
as localizações das obras das primeiras quatro letras, correspondentes aos três volumes
101
Apesar de algumas palavras como ala, avanguarda, cubelo, defensável, desabafado, escaramuça,
escaramuçar, esquerdo, forragem, frontaria, fronteiro, ladeira, maçar, reguarda, requesta, requestar, salvo-conduto,
tranca, virotão, vistoso, terem ocorrências em COND, esta obra é aqui considerada apesar de se verificar um
“aproveitamento sistemático por Fernão Lopes (…) que a elegeu como importante modelo de discurso narrativo”, cf.
T. Amado (Tavani 1993:186-188). Da eventual evolução gráfica das formas coincidentes se retirarão conclusões.
66
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
publicados do IVPM, no sentido de poder fazer uma comparação com o VH-CPM. Da letra -E-
à -Z-, apenas se indica a obra onde a palavra tem ocorrência.
No campo da etimologia, para as palavras formadas por derivação, apresenta-se em letra
redonda a base e em itálico os afixos. Para a composição ambos os elementos em itálico.
SALA: Documentos Gallegos de los siglos XIII al XVI, Andrés Martínez Salazar.
DESC: Descobrimentos Portugueses, (1057-1460)
MARR: Documentos das Chancelarias Reais anteriores a 1531 relativos a Marrocos,
(1415-1540)
CITR: Livro de citraria e experiencias de algús caçadores (séc. XV)
CONF; Tratado de Confissom (Chaves, 8-8-1489)
CONT: Contemplaçom que fez o santo sam Bernardo segundo as seis oras canonicas do
dia, (séc. XV)
ESOP: Livro de Esopo (trad.) (séc. XIV?/XV)
FRAD: Crónica da Ordem dos Frades Menores (séc. XV)
MMA: Monumenta Missionaria Africana, (?)
REIS: Crónica dos cinco Reis (Crónica de Portugal de 1419), Códice do Porto
REIX: Crónica dos sete Reis (Crónica de Portugal de 1419),Códice de Muge
ROBI: Diálogo de Robin e do Teólogo, (séc. XV)
SBER: Vida de S. Bernardo (trad.) (séc. XV)
67
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
SINA: Livros de Sinais, (séc. XV) [SIGNAIS que pertencem aa egreja. Edição de Mário
Martins. Boletim de Filologia, Lisboa: Centro de Estudos Filológicos, t. 17, p. 311-
326, 1958. Reprodução de parte do códice alcobacense 218, do século XV]
SOLI: Livro do Solilóquio de Sancto Agostinho (trad.) (antes de 1415-com certeza antes
de 1437)
TERS: Trasladação dos corpos de são Bento e sua irmã santa Escolástica, (séc. XV)
VERT: Livro das Três Vertudes (trad.) (séc. XV)
YSAC: Livro de Ysaac (séc. XV)
68
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
102
Por norma, os advérbios deadjectivais (+ -mente) não são averbados nos dicionários, pese embora algumas
excepções (em Houaiss, por exemplo, absolutamente, certamente, chãmente, efetivamente, felizmente…, entre
outros). Assim, o interesse do registo aqui destes advérbios, mais do que uma possível primeira datação, procurará
encontrar eventuais situações em que se verifique uma datação do advérbio anterior ao adjectivo, mostrando o uso
oral corrente deste último na língua, apesar do registo gráfico posterior.
103
Todas as localizações indicadas são as que constam no IVPM (letras -A- a -D-) e no VH-CPM (-E- a -Z-).
O objectivo desta rubrica não passa por fazer o levantamento de todas as obras onde a palavra possa ter ocorrência,
mas simplesmente provar que ela tem registo em alguma das que cumpre o requisito apresentado na introdução deste
ponto, ou seja, datadas da primeira parte do século XV, preferencialmente entre 1418-1443. Naturalmente que se
surgirem ouras localizações, provenientes quer de corpora informatizados, quer de lematizações, elas serão indicadas
no campo das observações.
104
Nas localizações do IVPM, o segundo número arábico, o que indica a linha, está sempre em itálico
(IVPM), ao passo que no VH-CPM está em redondo. Assim, por exemplo, numa indicação como FRAD I.3.5,
I.91.28, II.152.17, a primeira e última localização provêm da edição em papel e a do meio do CD-ROM. Se os
registos forem os mesmos, apenas se apresentam os do IVPM, todos em itálico. Será possível, assim, retirar
conclusões no final deste capítulo sobre a utilização, ou não utilização, das diferentes abonações apresentadas nas
duas obras.
69
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
70
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
e como era muita gente de pee sahindo afouto por o acostumado huso que tiinham,
hordenouo prioll de lhe lançar hũa cellada; (478.34).
portanto fallou assi fouto contra os do seu consselho, (420.87).
105
Cf. p. XIX da introdução do primeiro volume, letra -A-.
106
Com esta alteração, parece que o VH-CPM foi mais do que uma digitação das fichas constantes no
fichário da casa Rui de Barbosa, como se pode ler na apresentação: “Tivemos, assim, oportunidade de, no espaço de
quase dois anos, rever todo o trabalho, com o concurso de especialistas, procurando, sempre que possível, expurgá-
lo de imperfeições decorrentes do fato de não termos podido contar até o final com a orientação firme e experiente
de seu autor”.
107
Pisan (2002:31) e Tavani (1993:244), s.v. Espelho de Cristina.
108
Agasalhador figura nesta lista pela hipótese também levantada por Crispim (cf. Pisan 2002:33) da tradução
ter sido efetuada fora de Portugal entre 1430 e 1455.
71
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
pôs el-rrei em hũa alla que fossem a cavallo o conde dom Tello seu irmaão e dom Gomez
Pirez de Porras prior de Sam Joham e outros fidallgos ataa mill de cavallo, em que hiam
muitos cavallos armados. Na outra alla da maão dereita d’os que hiam tambem de pee,
(22.35, 38).
72
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
110
Ponto 4.2.2.4: “No caso de haver várias formas históricas datadas do mesmo século, indicou-se a data da
grafia correspondente à actual, para evitar mal-entendidos”.
73
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
111
Parece, no entanto, não se aplicar o princípio enumerado no ponto 4.2.2.4, referido na nota anterior, uma
vez que das formas históricas registadas aprouaçam (LOPJI2), aprouação (REIX e VITA), aprouaçom (1460 DESC)
e aprovação (LOPF) a forma escolhida não será a que mais corresponde à actual. O que se verifica, em várias
situações, é uma preferência por obras com data expressa, face a obras para as quais, normalmente, se indica apenas o
século. É o caso aqui, mas também o de aposentadoria, arvoredo, defensável. Excepção é o caso de depósito (cf. s.v.
DEPÓSITO).
112
KREMER, Dieter (2004). Primeiras datações. Trabalho não publicado. Apenas apresenta o ano de registo
da palavra, sem a fonte. De qualquer forma, e para esta palavra em concreto, a datação é tardia.
74
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
BOMBARDA, s.f. (1) ‘máquina de guerra que arremessava, por meio de cordas e molas,
grandes pedras’.
e alli mandou fazer engenhos e carros e bombardas e outros percebimentos de guerra.
(473.58).
113
No VH-CPM, como FRAD I.2019.
75
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Apesar da abonação de uma obra com data expressa anterior a 1418114, engloba-se nesta
lista pelo seu significado. Houaiss apresenta três entradas para esta palavra. Na primeira, datada
de 1440, consta na terceira acepção o significado de ‘peça das guarnições dos arreios das
mulas’, igual à que consta no IVPM com data de 1410115. Para a segunda, datada de 1899, com
proveniência de CF1, apresenta o significado de ‘espécie de punhal’. Apesar de no IVPM não
constar com esta acepção, parece-me ser a que faz aqui sentido.
Antedatação a Houaiss, para a acepção 3.
CAMAREIRA, s.f. (1) ‘serviçal encarregada da manutenção dos aposentos de uma rainha’.
Era de gram casa de donas e donzellas e camareiras e outra gente meuda, desi
d’escudeiros e muitos officiaaes, e graada e prestador a todos: (355.19).
114
Cf. p. 60, ponto 3.
115
Para a discrepância destas datas, veja-se o ponto 4.3 do detalhamento dos verbetes.
76
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
77
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
CISMÁTICO, adj. (3) ‘dissidente; aquele que se separou da comunhão duma igreja’.
por a quall rrazom os escomungou da mayor escomunhom e os privou dos cardeallados, e
fez outros cardeaaes de novo, dando-os por cismaticos e membros talhados da Egreja,
(393.56).
78
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
hũu dia a este dom Bertollameu que cedo poeria sobre seus hombros hũu mui grande
carrego; (387.62).
3. ‘tipo de gibão, muito usado pelos homens nobres; espécie de casaco curto,
semelhante ao colete’.
Em aquell dia aa tarde, depois que dançarom e ouverom vinho e fruita, mandou o conde
por hũua cota muito louçaã e hũu bulhom bem guarnido, a guisa de basalarte, e por hũua
faca mui fremosa que lhe trouverom de Ingraterra, e deu todo ao iffante. (365.17).
Etimologia: do fr. cotte.
Tipo de unidade: importação (galicismo).
Atestações simultâneas: CART 180; LEAL 224.23 (acepção 2); CESA III.15§34.2 (acepção
1); VERT 112.33 (acepção 1).
Obs.: Para a acepção 1 e 3, parte superior da indumentária feminina e masculina,
respectivamente. Para a acepção 2, de carácter mais militar. O IVPM apenas indica a terceira
acepção, onde engloba todas as obras. Houaiss, para todas as acepções (cf. 4cota), apresenta o
séc. XVI, remetendo para AGC. No IVPM, o próprio Cunha apresenta 11 abonações, todas do
século XV. O VH-CPM omite a abonação de CART, LOPO e MMM.
Antedatação face a Houaiss.
79
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
CUBELO, s.m. (1) ‘torreão em forma de cubo que havia em antigas fortificações, substituído
pelo baluarte’.
Entom moverom os batees com os rreis em dereito do cubello (290.49).
116
Cf. explicação mais pormenorizada em Viterbo, s.v. cova.
117
Na edição de Mendes dos Remedios, couaães de (1911:208); na de Adelino de Almeida Calado covaaes
(1991:200,15): “mandava-o todo encovar polla terra em bõos covaaes”.
80
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
118
Pode ler na explicação da sigla PAUL “conforme a impressão de Valentim Fernandes, feita em Lisboa em
1502”.
119
http://www.lexikon.com.br/index.php#[request_source]livro_ficha.php|col_esquerda|chave=&pagina=1&id=5
81
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: ‘Palavra com data e forma gráfica anteriores’. Houaiss prefere a obra com data expressa
(a1447 DESC)120, remetendo para o IVPM, onde são apresentadas abonações de obras mais
antigas, como COND, e LOPF. O VH-CPM omite a abonação de 1447 DESC.
120
Também aqui a escolha pela forma histórica que mais se aproxima da actualidade parece não fazer
sentido, defenssauees (a1447 DESC) face a defensavell ou defensável (LOPF), por exemplo. Verifica-se, sim, a
preferência por obras com data expressa.
82
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: segundo Houaiss, “f. snc. divg. do port. medv. descarrega (pronunciado
[descárrega]), regr. de descarregar”.
Tipo de unidade: derivação regressiva.
Atestações simultâneas:
Obs.: Encontra-se em Houaiss a informação de ocorrência nas Ordenações Afonsinas, mas já
indicada em JPM3: “descarga está por descarrega, der. regressivo de descarregar. Séc. XVI
(Morais2). Descárrega no séc. XV: «…navio, que for achado aas oras da guarda da Cidade,
filhãdo carrega, ou descarregaa…», Ord., I, tít. 62º, § 18, p. 357”. Informação proveniente de
RLor “1445?-1447?: descarregua: “«qualquer naujo…filhando carrega ou descarregua ou
metendo homeens» (Desc. Port. 156.5)”. Este apresenta ainda uma abonação para a forma
descarga “1489 «sobre rarason da barcajeen e pasajee e carga e descarga» (Ferro 197.4)”.
O verbo está atestado em 1228.
83
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
DESGARRADO, adj. vb. (1) ‘separado, extraviado, tresmalhado; sem vigor, entusiasmo (?)’.
e que quanto mais entrasse pello rreino, alçando-lhe os mantiimentos, que tanto viinriam
mais desgarrados e melhores de desbaratar. (251.20).
121
Cf. detalhamento dos verbetes, ponto 4.3.3.1.
122
Cf. o mesmo procedimento para agarrar.
84
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: do port. ant. espedir (sXIII) (do lat. expetĕre < petĕre, com mudança de pref.)
Tipo de unidade: derivação prefixal
Atestações simultâneas: REIX II.56.56, II.243.46, II.243.53, II.150.136; FRAD I.375.3,
I.70.22.
Obs.: O VH-CPM apresenta mais quatro abonações para esta variante de espedir do que as que
constam no IVPM provenientes, certamente do Suplemento ao IVPM. No entanto, como Cunha
não regista a abonação de LOPF, ela continua sem figurar no VH-CPM
O verbo tem, no entanto, registos anteriores na CGE, como o provam MD-CF, BLem e o CIPM,
mas também em CSM e CHP (1260-1300), para o CIPM.
Antedatação face a Houaiss.
O verbo espedir está atestado no século XIII, e pedir em 1152.
123
Cf. Tavani 1993:685.
85
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
DITADO, s.m. (3) ‘título de propriedade emitido ou recebido pelos reis de Portugal no
sXVI’.124
e o ditado do duque, como sse entom chamava, era este: «Dom Joham, pella graça de Deus
rrei de Castella e de Leom e de Tolledo e de Galliza e de Sevilha e de Cordova e de
Mollina e de Geem e do Algarve e d’Aljazira, duque d’Allancastro e senhor de Mollina»;
(236.34).
124
Segundo Houaiss.
125
A partir da letra -E-, as atestações simultâneas provêm do VH-CPM, pelo que não serão indicadas as
localizações. No entanto, sempre que se justifique, serão indicadas outras localizações no campo das observações
(Obs.). O levantamento, tal como se disse na introdução deste capítulo, não pretende ser exaustivo, mas sim indicador
de ocorrências simultâneas.
86
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
pera a dita cidade; e empachado longamente aquell porto per esta guisa, que Castella
rreceberia tam gram perda e dano por esta rrazom que seeria a el mui grande avantagem
pera comprir sua voontade. (137.16).
EMPARAMENTADA, adj. vb. (1) ‘decorar com paramentos; colocar adornos ou enfeites’.
A cama era bem emparamentada, e a cubricama d’hũu tapete preto com duas grandes
figuras de rrei e de rrainha na meatade, (460.31-32).
Outras ocorrências: 85.19; 86.34; 115.7; 154.58; 151.50; 165.7; 169.16; 246.47;
250.29; 254.86; 259.58-59; 284.34; 357.61, 62; 362.36; 370.35;
383.6-7; 384.37; 440.49-50; 451.8; 478.32; 505.69; 526.31.
Etimologia: de en- + caminhar.
Tipo de unidade: derivação prefixal
Atestações simultâneas: BENF, OFIC, LEAL, CAVA, CESA, REIS, REIX, LOPP, VITA,
VERT, SBER.
Obs.: A abundância de localizações em VITA pode indicar o primeiro registo da palavra e a
influência que teve nas obras de Avis, bem como nas de Lopes. A ser assim, estaríamos perante
o primeiro registo numa obra traduzida, revelando ser este um dos mecanismos de
enriquecimento vocabular.
O verbo está atestado no século XV.
87
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
88
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Outras ocorrências: 203.3; 213.2; 214.30; 357.56, 70; 463.15; 467.76, 78; 533.21;
591.8.
Etimologia: de escusa + -mente.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Atestações simultâneas: BENF, REIS, REIX, LOPP.
Obs.: O adjectivo é do século XIII. Pelas obras em que ocorre, faz parte do vocabulário de
Avis.
O substantivo está atestado no século XIII.
ESTOFA, s.m. (1) ‘espécie de capacete de tecido, couro, malha ou similar, usado por baixo do
elmo; coifa’.
e os que eram bem armados haviam de teer barvuda com seu camalho e estofa e cota e
jaque e coxotes e canelleiras franceses e luvas e estoque e daga e grave. (305.60).
89
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: segundo Houaiss, “orig. contrv.; ger. tido como red. do port. medv. facanea, actual
hacanéia; segundo JM, pode provir directamente do esp. ant. haca, hoje jaca, de
mesmo sentido 'cavalgadura'”.
2. ‘instrumento cortante, constituído de lâmina e cabo
Em aquell dia aa tarde, depois que dançarom e ouverom vinho e fruita, mandou o conde
por hũua cota muito louçaã e hũu bulhom bem guarnido, a guisa de basalarte, e por hũua
faca mui fremosa que lhe trouverom de Ingraterra, e deu todo ao iffante.(365.18).
Etimologia: segundo Houaiss, “orig. contrv.; os étimos propostos abrangem, entre outros, o lat.
fălcŭla, ae, dim. de falx, falcis ‘foice, roçadeira, garra ou cutelo de podar’
(Adolpho Coelho); um ár. hsp. farha ‘filhote, rebento novo’, a que se atribui, p.
ext., o signf. ‘faquinha’, não doc.; o fr. hache ‘archote, facho’, para o qual se supõe
evolução divg. de signf. para faca, justificado pela semelhança da correspondência
fonética entre o fr. roche e o port. roca, o fr. vache e o port. vaca; para Mansur
Guérios, um afr. sudanês faka, faga, baka etc.) ou banto i-vaka, ni-vaka etc. todos
com signf. ‘objeto cortante’; as várias hipóteses parecem difíceis de justificar
quanto a aspectos fonéticos ou insuficientes quanto a aspectos semânticos”. Para
Aurélio “de faca2, com alter. semântica, por metáfora giriesca, poss.”126
Tipo de unidade: importação (?)
Atestações simultâneas: CITR.
Obs.: O significado de ‘cavalgadura’ é o que se encontra na abonação de CAVA, com
ocorrência também em LOPJI. Tendo em conta a passagem nesta última obra: “cada huum bem
armado de (hum) bom caualo, e mais huma mulla hou rocim hou faca como mylhor podesse
[...]”, parece ser também este aqui o caso, onde se diferencia o pagamento, mediante os animais
apresentados. Outra interpretação possível será entender faca como uma marca que era aplicada
aos melhores cavalos, distinguindo-os assim dos restantes, e recebendo mais por essa qualidade.
MD-CF apresenta também uma abonação do Livro de Falcoaria do Emperador Enrique da
Alemanha, do século XV.
A antedatação que BLem apresenta com o registo de duas abonações em Vidas de Santos -
Manuscrito Alcobacense, portanto do século XIII/IV, parece ser um erro mecânico, pois as três
localizações que encontrei são: “nem per ventuyra ẽ este spaço ho ẽmiigo cruel me revolva e
faca husar de meos maaos feitos que ante husava”; “e de sua penitẽcia com o qual nos Deos
faca vivere” e “- O filha nõ chores nem facas planto”.127
126
Para faca2 apresenta: do fr. ant. haque < ingl. med. hakeney (actual hackney), pelo esp. ant. haca (actual
jaca).
127
Exemplos extraídos de CIPM, VS3.
90
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: do lat. *fallĭta (fem. de *fallitus ‘faltado’, por falsus, part. pas. de fallĕre).
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Atestações simultâneas: VERT.
Obs.: MD-CF apresenta oito abonações em TROY, todas na locução sem/sen falta, além de
várias outras que data do século XV, como no Livro de Falcoaria do Emperador Enrique da
Alemanha, ou no Miragre de Santiago.
Antedatação face a Houaiss.
91
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Houaiss tem averbadas as duas formas folosa e felosa, sendo que apenas apresenta
datação para esta última, indicando CF1 (a1899), ou seja, antes de 1899, mas sem localizar a
obra onde ocorre. A identificação de follosa como adjectivo, lematizado para foloso, por parte
de BLem é claramente erro informático.
Etimologia: do fr. flèche. Segundo Houaiss, “a forma frecha é mais ant. e mais vulg. em
Portugal, mais tarde substituída pela forma erudita retomada do fr. flèche”.
Tipo de unidade: importação (galicismo).
Atestações simultâneas: VERT, CESA.
Obs.: Houaiss data a forma flecha do século XV, apresentando na f. hist. a variante frecha. No
entanto, o VH-CPM, para a palavra frecha apresenta 8 atestações, todas do XV, e para a
variante flecha apresenta apenas 2 sob a forma frecha, sendo uma repetida, a de ZURC, e a
outra do séc. XIV, de TROI. No entanto, a passagem onde se encontra registada, mays tragiã
todos frechas et seetas de moytas maneyras, não coincide com a edição consultada, mays tragíã
todos saetas feytas de moytas maneyras. Aqui se verifica como a opção dos editores pode
alterar a datação de determinados termos.
Outras ocorrências: 106.27; 117.67; 119.7; 121.66; 142.46; 169.11; 251.9; 427.8,
22; 431.74; 433.5; 467.61; 525.9, 17; 256.44.
92
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Outras ocorrências: 108.30; 119.1, 10; 123.13; 124.29; 125.1, 3; 126.32; 127.4, 16;
253.62; 326.45; 421.21; 423.22; 425.3, 6; 427.1; 428.33; 429.1,
3, 8; 463.4; 475.5, 7, 19; 477.1, 19.
Etimologia: de fronte + -eiro.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Atestações simultâneas: REIX.
Obs.: Houaiss apresenta as duas classificações gramaticais, mas a data que apresenta é para o
adjectivo, não dando qualquer indicação para o substantivo, o que normalmente costuma
fazer129. A sua ocorrência parece ser, no entanto, posterior, pois apenas aparece registada com
dez abonações da CGE (MD-CF), donde nove como substantivo e uma como adjectivo, além
das várias ocorrências em obras já do XV. Faltará, assim, a indicação da primeira datação para o
substantivo em Houaiss, à semelhança do que acontece, por exemplo com, 1alvo, andar.
O substantivo está atestado no século XIII.
GANHA-DINHEIRO, s.m. (1) ‘trabalhador a quem se paga jornal (salário por um dia de
trabalho); jornaleiro’.
Nos logares hu sse costuma d’aver gaanhadinheiros, que sse escusar nom podem,
mandava leixar per numero certo os que ss’escusar nom podessem, (315.130).
129
Ponto 3.3.1.3 do detalhamento dos verbetes: “Quando o verbete apresentava classe dupla (por exemplo,
"adj.s.m.") e a datação correspondia a uma dessas classes apenas, fez-se o registro da data no seu campo próprio, mas
informou-se, dentro do campo da etimologia, a qual das classes a data correspondia”, s. v. divisor ou timor.
93
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Houaiss apresenta o século XIV, remetendo para o FichIVPM. Todavia, o que o VH-
CPM regista são apenas obras do século XV.
Etimologia: part. dito irreg. de gastar (lat. vastō, ās, āre, āvī, ātum).
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Atestações simultâneas: REIX, LOPP, VITA.
Obs.: MD-CF apresenta ainda uma abonação de ChPortDuarte.
94
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: AGC e JPM3 mantêm a data do século XVI, Houaiss antedata para o XV (cf. FichIVPM).
Quanto à data apresentada por Houaiss para a etimologia espanhola (1599), ela é tardia, apesar
da observação130. No CORDE é possível identificar este vocábulo numa poesia de Alfonso de
Villasandino (Cancionero de Baena), entre 1379 - a 1425: “Conde, non de los menores / mas
igual de los mayores, / por que los estorvadores / vean cómo es grandioso / el alto Rey
dadivoso / e virtuoso”.
BLem e MD-CF apresentam uma ocorrência da CGE.
Antedatação face a Houaiss.
Etimologia: do lat. ignōrans, āntis (part. pres. do v. lat. ignōrō, ās āre, āvī, ātum).
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Atestações simultâneas: BENF, REIX, VERT, SEGR.
Obs.: Segundo BLem, também com registo em CP. JPM3 mantém o século XVII, com
indicação proveniente de RLor de que anteriormente se encontram as formas anarante (Gil
Vicente) e inhorante (Sá de Miranda).
O verbo ignorar, segundo Houaiss, apenas está datado em 1563 (HPint I 41), verificando-se,
assim, uma entrada na língua do adjectivo participial anterior ao verbo.
130
Cf. introdução a Houaiss, campo da datação, ponto 4.3.5 “Em casos isolados, haverá discrepância entre a
data apurada para um vocábulo português e aquela dicionarizada para o seu étimo numa língua estrangeira. Quando
tal coisa sucedeu, o campo da datação foi preenchido e, por vezes, fez-se a enumeração das formas históricas
documentadas, admitindo que o fato talvez se devesse a diferenças entre as fontes do português e as fontes da língua
estrangeira usadas para a determinação da etimologia:” e campo da etimologia, ponto 44.6: “Na etimologia de
vocábulos provenientes de outras línguas que não o latim e o grego, registra-se o étimo próximo em itálico, com
inserção, entre parênteses, em redondo, da data de sua primeira ocorrência na língua estrangeira (se a data se encontra
consignada nas fontes consultadas)”.
95
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: do fr. ant. jaque. Segundo Houaiss, “a tradição lexicográfica costuma apontar
como orig. do fr. o esp. antigo jaque (mod. jaco) ‘4cota de malha de manga curta’ <
96
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
ár. xaqq, étimos rejeitados no TLF [Trésor de la Langue Française], dic. em que se
diz que o fr. é que foi o idioma irradiador do voc. para as outras línguas românicas;
s.v. jaque, Corominas não registra a acp. jaco; afirma apenas que na acp. aragonesa
‘cada uma das duas bolsas dos alforjes’, o voc. tem uma var. jeque ‘id.’ que
provém do ár. xiqq ‘metade de uma coisa, parte de um todo’, der. do v. ár. xaqq
‘rachar, dividir’; segundo o autor, o subst. ár. xaqq ‘entre pernas’, der. da mesma
raiz, tem tb. o sentido nuclear de ‘divisão em duas partes’ ”131.
Tipo de unidade: importação (galicismo).
Atestações simultâneas: CESA.
Obs.: Viterbo refere que na “Na Baixa Latinidade se disse Jacke, ou Jacque”132.
LANÇADOR [lançador a tavolado], s.m. (1) ‘praticante de exercício militar antigo que
consistia em lançar por terra um castelo de madeira com tiros de arremesso’.134
Era cavallgante e torneador, grande justador e lançador a tavollado; (3.16).
131
Em CF2 encontramos “de Jacoh, n. p., segundo Körting”.
132
Cf. Viterbo, s.v. jaqueta.
133
Houaiss e AGC apenas apresentam o século. BLem indica apenas obra, CGE. A localização completa
encontra-se em RLor, que corrige JPM: “«e guyouhos muy bem o pastor per hũa costa ladeira» Cr.1344 (281aV)”.
134
Cf. Morais4, s.v. tavolado.
135
Cf. p. 35, alínea E).
97
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
136
O VH-CPM, além da abonação de LOPF, apresenta uma outra como sendo de LEAL, o que na verdade
corresponde a VERT, com o significado de ‘bordar’: “E trabalharssea dauer muy fremosos lençõoes bem largos e
bem obrados de lauramento [...].”.Cf. p. 35, alínea E).
98
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Em BLem todas as ocorrências lematizadas para o verbo ligar, com indicação da
possibilidade de vb/nomc.
O verbo está atestado no século XIII.
Etimologia: Para Houaiss “de orig. contrv.; do esp. manada, segundo Corominas, der. de mano
'mão' (< lat. mănŭs, ūs) + suf. -ada, orign. 'o que cabe na mão, punhado', depois
'ajuntamento, grupo, conjunto de pessoas ou animais reunidos' e, com restrição de
sentido, 'ajuntamento de animais, esp. gado'; na tradição de Leite de Vasconcelos,
propõe-se tb. o lat. medv. *manuata, fem. substv. de mănŭātus, a, um, part. pas. de
mănŭāri 'rapinar, roubar', der. do lat. mănŭs, ūs 'mão'”.
Tipo de unidade: importação (castelhanismo).
Atestações simultâneas: FRAD, SBER, VERT, CONT.
Obs.: Houaiss data esta palavra do século XV (cf. FichIVPM). BLem apresenta uma abonação
da CGE, também referida por MD-CF, que acrescenta ainda VITA e ELOY. RLor, no entanto,
antedata o século XVI proposto por JPM para 1222 “(trad.) «ao da manada das ovelhas quatro
quarneiros e da manada das vaquas huma vaqua» (Leges 590); 1223 (trad.) «da manada das
ovelhas… da manada da uacas» (id. 596)”.
99
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
MORGADO, s.m. (1) ‘bens vinculados em certos sucessores de uma família, a quem vão
passando sem se poderem vender ou dividir’.
Joham Lourenço da Cunha, filho de Martim Lourenço da Cunha, senhor do moorgado de
Poombeiro. (198.23).
Etimologia: do lat. medv. maioricātus (der. do lat. mājor/maior, ōris ‘mais velho’).
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Atestações simultâneas: LOPP.
137
RLor apresenta antedatação a JPM para medianeiro com uma abonação de GenEst, mas não para mediano,
com várias ocorrências nesta mesma obra, segundo MD-CF.
100
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: JPM3 apresenta uma datação anterior para a forma maiorgado, em 1317: “«E assi deuent
herdar o dicto feu, per maneyra de mayorgado…», em Desc., I, p. 28), forma histórica que
Houaiss não tem em consideração. BLem apresenta também a indicação de registo em CP.
Para Kremer 1397.
Etimologia: prov. esp. neblí. Segundo Houaiss, para “Corominas, prov. alt. de *niblo, pal. irmã
do it. nibbio 'milhafre' < lat.vulg. nibŭlus < *milvŭlus, dim. de milvus 'id.'; o
vocábulo alterou-se na Espanha muçulmana por haver sido popularmente
relacionado com o nome da cidade de Niebla”.
101
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
OBJECTO, s.m. (2) ‘tudo o que é perceptível por qualquer dos sentidos’.
he tam doente em taaes homẽes que nom julga o ogeito da cousa que vee tall quall elle he
mas tall quall a elle parece; ca ell jullga a ffea por fremosa, e aquella que traz damno seer
a elle proveitosa; e portanto todo juizo da rrazom he sovertido acerca de tall ogeito,
(220.45, 48).
138
Houaiss indica, indevidamente, a data a partir de JPM3, uma vez que este não faz qualquer referência à
correcção que RLor lhe faz, pois a datação da primeira edição era de 1084 (RLor 1968:272).
102
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
PEJADO, adj. vb. (1) ‘que tem a capacidade completa; repleto, pesado’.
Em esto encherom-sse as gallees de Castella de tantos homẽes que as faziam mais de
pejadas que de ligeiras, e começarom de rremar contra as naaos e gallees dos portugueses.
(262.53)
139
Segundo Morais: “cultura, perfeiçoamento de nação culta, e politica, ou polida, nas obras de mecanica, no
saber, artes liberais, racionais, no governo, e administração interna da Republica, principalmente no que respeita ás
comodidades, i.é, limpeza, aceyo; fartura de viveres, e vestiaria; e á segurança dos Cidadãos”. Veja-se ainda o
seguinte verso d’ Os Lusíadas: “Na polícia da vossa Europa rica” (VII.12.8).
103
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
140
Segundo Morais: “reprehender de algum vício, ou acção malfeita” e Viterbo: “vituperar, arguir, estranhar,
criticar, repreheder, abominar”.
141
Segundo Morais: “censura, repreensão, nota” e Viterbo: “nota, mancha, culpa, defeito, censura, vituperio”.
104
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: A propósito do Livro do Esopo, Ivo Castro refere que Leite de Vasconcelos, “observa que
o manuscrito, sendo paleograficamente datável do século XV, apresenta alguns arcaísmos de
linguagem que levam a supor seja cópia de uma tradução mais antiga (século XIV)”142.
Ainda sem registo no CIPM.
142
Cf. Tavani 1993: 408, s.v. Livro do Esopo.
143
Podem ainda ser encontradas mais duas ocorrências em História dos Reis de Portugal in Crónica Geral de
Espanha de 1344, segundo MF-CF.
144
Cf. Tavani 1993: 683.
145
Em MF-CF as datas apresentadas são de 1430-1443.
105
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
106
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
soldados, de quem se fazia menos confidencia. Entre os grandes Privilegios que ElRei D. Diniz
concedeo aos Cavalleiros da Villa de Aljazur no Alemtejo foi, que nunca na Oste tivessem o
lugar da Reguarda, por ser o menos perigoso.”
REPOSTEIRO-MOR, s.m. (1) ‘fidalgo que serve um rei, rainha, ou pessoa nobre, em seus
aposentos’
E sse alguem disser quem husava ante das cousas que a estes cavalleirosos officios
perteence, dizee-lhe que fazia todo o alferez-moor; e o officio que agora he do camareiro-
moor suhia de seer do rreposteiro-moor. (524.42).
107
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
108
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
109
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
TARI, adj. (1) ‘tipo de freio que faria parte do arreio a ginete’.
e pagavom de solldo ao de cavallo tari com faca armado aa guisa, trinta solldos por dia,
(119.17).
Etimologia: (?)
Tipo de unidade: (?)
Atestações simultâneas: CAVA.
Obs.: Apenas registado em CF, com esta abonação de LOPF, mas sem significado.
Etimologia: do gr. thermós ‘quente’ (falando-se de banho, bebida, alimento etc.), pelo ár.
turmūs f. vulg. de turmus. Corominas, (do hispanoárane turmûs (ár. túrmus) e este
do grego thermós apresenta como primeira documentação a forma altarmuz em
1328-35 (Conde Luc.). Indica ainda tremoço, como forma portuguesa, e entremoço
ou atramoz como castelhana, uma vez que o norte conservou o romance llobí de
lŭpīnus.
Tipo de unidade: importação (arabismo).
Atestações simultâneas: CITR151.
148
Se pesquisarmos a palavra audiência, reparamos que a abonação engloba a palavra serventia no final: “[...]
alli faziam audiencia a todollos que andavom servindo que demandados eram por quaaesquer cousas, por nom seerem
torvados da serventia. (sublinhado meu)”. Não se compreende, pois, a sua não inclusão.
149
Obra apresentada sem qualquer outra indicação.
150
Colección Diplomática de Galicia Histórica. Santiago de Compostela. Vol. I, 1901 (91.7,9).
110
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia:, regr. de trasfegar, mas de origem obscura, segundo Houaiss. Corominas, com
dúvida, propõe como hipótese dois étimos para o esp. trasegar (1493) antes
trasfagar, o mesmo que o port. trasfegar, o lat. vulg. *transfricāre ‘roçar
prolongadamente, manusear’ com dissimilação do segundo -r-, ou o lat. vulg.
*transfaecāre ‘revolver as fezes’, de faex, faecis ‘fezes’.
Tipo de unidade: derivação regressiva.
Atestações simultâneas: 1436 (Desc. Port.c349.31).152
Obs.: Houaiss dá a indicação de “s.m. (sXVI cf. DNLeFern) m. q. trasfega (s.f. (1858 cf. MS6)
acção ou efeito de trasfegar; trasfegadura, trasfego”, pelo que se trata de uma antedatação. Para
Kremer em 1366.
O verbo está atestado no século XIV.
VASILHA, s.f. (1) ‘vaso para guardar líquidos; pipa, tonel, barril’.
e aas portas paredes travessas e pontes levadiças e cadafaises, e fornece-llos d’armas e
cubas e d’outras vasilhas, segundo os logares honde cada hũus eram. (11.16).
151
Indicação também referida por JMP3, s.v. tremoço: Livros de Falcoaria, no B.F.1, I, p. 224.
152
Segundo JPM3, embora sem o referir, após correcção de RLor.
153
Aumentativo de virote ‘seta pequena’, de vira ‘tipo de seta muito aguda’.
111
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
2. ‘regressar, retomar’.
e os castellaãos que tiinham ja vencidos os primeiros, voltarom sobr’elle, e foi vencido e
preso. (272.32).
112
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
3.1. Comentários
Ao longo da lista de possíveis neologismos (1ª atestações) foram sendo indicadas dois
tipos informação que agora se revela mais pertinente: o tipo de unidade apresentado pela
palavra e, no campo das observações, a data da primeira atestação, sempre que se estava perante
um termo formado por derivação.
Assim, é agora possível perceber que o mecanismo de enriquecimento vocabular, através
da importação de palavras, nomeadamente latinismo, demonstra a capacidade de renovação do
léxico (pré-renascimento), bem como forma novos derivados quer da mesma época, como
mediano e medianeiro (XV), mas também com vários séculos de distanciamento, como pedir
(1152) e pedinte (XV), romper (989) e rompimento (XV). Algumas palavras, como conclave,
poderão ter entrado na língua através da tradução, pois ocorrem, pela primeira vez, em obras
desta natureza.
O VH-CPM demonstra um procedimento contraditório, os seja, em muitas situações
omite abonações que constam nos três volumes publicados por Cunha, como em ala (MONT)
amorio (1447 DESC) arauto (CART, 1439 MARR), cismático (ROBI), cota (CART, LOPO e
MMM), defensável (1447 DESC), desgarrado (a1436 DESC), maré (LOPF). No caso de
arvoredo e conjectura, apenas com ocorrência em LOPF e MONT, a não utilização desta última
obra no corpus de extracção154 atribuem, assim, a LOPF a primeira atestação. Para tal facto não
encontrei explicação. Para muitas outras insere localizações que não constam nos três volumes
publicados por Cunha, como em aferrar (REIS), aliado (BENF), carriagem (REIS), cautela
(VITA e FRAD), cismático (SBER), comunicar (VITA), descontentar(VITA), ditado (BENF),
espedir (REIX, VESP e FRAD), Partindo do facto de este dicionário ser apenas a digitalização
do Fichário, tais referências constarão no Suplemento elaborado pelo próprio Cunha (cf. e
remeter para esta explicação).
Seria exaustivo, e linguisticamente pouco proveitoso, fazer o levantamento de todas as
entradas que JPM3 aproveita de RLor. No entanto, uma conclusão é possível retirar: há, em
muitas delas, um “inconfesso furto”155. Se é verdade que em muitas palavras consta no final da
entrada a indicação (Lorenzo), como em trela, ouriçar, reedificar, em muitas outras tal não se
verifica, como em legítimo, maré, ria. Esta opção de indicar Lorenzo parece prender-se com o
facto de tais palavras terem todas, ou quase todas, ocorrência em obras castelhanas ou galegas.
Parece, assim, que Machado assume como importante a contribuição de datas provenientes de
154
Outras obras que não fazem parte do corpus de extracção do VH-CPM, além de MONT, são CART,
MARR, MMM.
155
Classificação atribuída por Telmo Verdelho ao Elucidário de Viterbo sobre o aproveitamento dos
trabalhos de Fr. Bernardo da Encarnação (Verdelho e Silvestre 2007:26)
113
III.3. Eventual novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
obras externas, eventualmente de mais difícil acesso, mas não sente necessidade de indicar as
internas, eventualmente porque também seria capaz de as encontrar. Tudo passaria como facto
irrelevante, não fossem obras posteriores de referência como o Dicionário Houaiss, ao atribuir a
datação à quase totalidade das suas entradas a indicação da fonte de muitas dessas palavras156. O
seu a seu dono, e não é isso que se verifica em muitos casos. Ou seja, Houaiss apresenta como
primeira datação para palavras como boroa157, cunho, a origem em JM3, e casar, ao IVPM,
quando, na verdade, elas já tinham sido antedatadas por Lorenzo, no caso de JPM3 muitas vezes
sem qualquer referência.
Ao longo deste levantamento foram surgindo palavras cuja datação se verificou anterior à
época estabelecida para as atestações simultâneas, sobretudo provenientes de pesquisas
efectuadas em MD-CF. Mantiveram-se na lista para tratamento de dados relativamente a
antedatações a Houaiss.
156
No detalhamento dos verbetes, campo da datação, ponto 4.1., percebe-se a importância desta minha
observação ao ler-se: “Para a datação do vocabulário medieval, até o século XV, nossas principais fontes foram o
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, do filólogo José Pedro Machado (JM), retrodatações levantadas por
estudiosos, como o Prof. José Alves Fernandes (JAFernC), da Universidade Federal do Ceará, e abonações
documentadas por Antônio Geraldo da Cunha e colaboradores”.
157
Após RLor ter corrigido JPM com uma abonação da CSM 55 (“«pan, mais non de borõa» (53)”), as três
obras de Cunha (AGC, IVPM, VH-CPM, nestes dois últimos com forma barõa (?)) passaram a registar esta
ocorrência apenas, até chegar a Houaiss e atribuir a datação a JM3.
114
III.4. Novidade de ‘pallavras’ no português do século XV
O resultado do Índice Analítico elaborado foi uma listagem de palavras que foram sendo
eliminadas ou porque a sua datação, tendo por base o Dicionário Houaiss, era anterior à Crónica
de D. Fernando ou à Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, consoante os casos, ou porque
eram de registo simultâneo e, por isso, englobaram-se na lista anterior. Para as restantes, pelo
que pude apurar, encontram a sua primeira atestação em uma destas crónicas de Lopes e Zurara.
Assim, foi elaborada uma ficha de palavra constituída pelos seguintes pontos:
Entrada:
Para a entrada de cada palavra são apresentadas quatro informações, respeitando a
seguinte linearidade: lema da forma, normalmente, no português actual em maiúsculas,
‘ALFÉLOA’; classificação gramatical ‘s.f.’; o número de ocorrências entre parêntesis curvo
‘(1)’ e, por último, o significado ‘massa de açúcar’. A seguir a cada entrada apresenta-se a
respectiva abonação. Para as restantes ocorrências apenas se indica a localização.
Etimologia:
Sobre o campo da etimologia, são quatro os dicionários de referência para a pesquisa:
Houaiss, Machado, Cunha e Corominas, não descurando eventuais informações de outras obras.
No entanto, a etimologia apresentada é a que costa em Houaiss, uma vez que, regra geral, reúne
informações apresentadas pelos outros autores. Um exemplo ilustrativo deste procedimento
verifica-se na entrada peitoril, “ETIM lat. *pectorile, segundo AGC, JM e Nascentes”, ou, de
forma mais pormenorizada, em sobressalente, cuja primeira atestação se verifica em ZURP,
“ETIM orig. contrv.; AGC registra, com dúvida, “talvez de um *sobressaliente < sobre- +
115
III.4. Novidade de ‘pallavras’ no português do século XV
Tipo de unidade:
Neste campo será registado o tipo de unidade que a palavra apresenta. O objectivo é
poder tirar conclusões de dois tipos: em primeiro, perceber a quantidade, e a respectiva origem,
de palavras importadas, para assim perceber eventuais influências; em segundo, detectar
mecanismos internos da língua na formação de novas palavras, nomeadamente a derivação e a
composição. O que se pretende mostrar é a evolução do léxico derivado, ou seja, verificar o
espaçamento temporal entre o registo da palavra primitiva e o seu derivado, mas também o
inverso, como me parece acontecer.
Registos:
Neste ponto, o objectivo é apresentar toda a informação encontrada sobre o registo das
palavras que são novidade em LOPF e ZURP.
Num trabalho desta natureza, o ideal era ter um Tesouro da Língua Portuguesa,
instrumento de trabalho há muito ambicionado. Um dicionário desta natureza, teria de ter, como
sabe quem trabalha com datações, várias actualizações, pois novas datas vão sendo apresentadas
constantemente. Mateus (1974:8), num dos primeiros inventários das palavras de uma obra, a
propósito das “palavras atestadas nos dicionários históricos como tendo aparecido nos textos
literários em época posterior ao século XV” apresenta, sobre a palavra artéria, a seguinte
indicação: “está assinalada no Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, como tendo
entrado na língua no século XVI. O seu emprego na obra que estou a analisar [Vida e Feitos de
Júlio César] prova que podemos antecipar de um século a sua utilização em textos literários”.
Ora, desde 1974158, muitas outras obras, literários e não só, foram analisadas, o que permitam,
constantemente, novas antedatações. Nas palavras finais de Mateus (1974:8), “Quando o
inventário das palavras começadas por uma única letra do alfabeto nos propõe formas como as
indicadas acima, que vêm enriquecer os materiais organizados que possuímos para o estudo da
língua portuguesa arcaica, muito mais podemos esperar de um levantamento exaustivo do
léxico, não apenas deste texto mas de toda a produção literária portuguesa”. E assim foi. Como
o desenvolvimento de meios mecânicos, nomeadamente informáticos, foi possível a
digitalização de inúmeras obras e a consequente elaboração de listas de palavras. O passo
seguinte foi uma catapulta de antedatações. A este propósito refere Robert Verdonk, no capítulo
“Cambios en el léxico del español durante la época de los austrias”, inserido na Historia de la
158
Agora com segunda edição (Mateus 2010)
116
III.4. Novidade de ‘pallavras’ no português do século XV
Lengua Española159, coordenada por Rafael Cano, a propósito do confronto entre dicionários
históricos (Corominas) e a base de dados CORDE, Corpus Diacrónico del Español, criada pela
Real Academia Española: “De esta confrontación resulta que una parte importante de las voces
que hasta ahora se vienen considerando préstamos o creaciones de los siglos de Oro, en realidad
ya están atestiguadas en el siglo XV o incluso antes”160.
Outra hipótese, ainda, era ter todas as obras medievais disponíveis, informatizadas, para
uma consulta rápida e objectiva. Para lá caminharemos. O responsável pela Biblioteca de
Amsterdão, numa entrevista concedida após a decisão de digitalizar todas as obras, a começar
pelas mais antigas, respondeu peremptoriamente: “dentro de alguns anos, se não estiver na
internet não existe”. Como nenhuma das duas é possível, torna-se imperativo recorrer a obras da
área, desde dicionários etimológicos, cronológicos, vocabulários, lematizações, corpora
informatizados ou programas informáticos de concordância.
Assim, o que se pretende neste campo é apresentar as ocorrências de cada palavra cuja
primeira atestação ocorra em LOPF ou em ZURP. Serão também, adicionalmente, indicadas as
ocorrências nas outras obras de Lopes (LOPP, LOPJI1 e LOPJI2) e Zurara (ZURC, ZURG e
ZURD), deixando de fora todas as indicações referentes a obras posteriores. Para tal, sirvo-me,
particularmente, de nove obras/trabalhos161 para confirmar a efectividade do primeiro registo em
LOPF e ZURP. São eles:
JPM3: Dicionário Etimológico de José Pedro Machado, 3ª edição.
RLor: Sobre cronologia do vocabulário Galego-Português - Anotação ao ‘Dicionário
etimológico’ de José Pedro Machado, de Ramon Lorenzo (1968).
AGC: Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, 3ª
edição, 2ª impressão (2007).
IVPM: Índice do Vocabulário do Português Medieval, de Antônio Geraldo da Cunha, (os
três volumes publicados: letra A, 1986; letras B-C, 1988 e letra D, 1994).
VH-CPM: Vocabulário Histórico-Cronológico do Português Medieval, edição em CD-
ROM (versão 1.0), publicado pela Casa Fundação Rui Barbosa, tendo por base o
projecto do IVPM de Antônio Geraldo da Cunha (2007).
BLem: Lematização de textos medievais portugueses (versão 4.0), edição de José
Barbosa Machado, UTAD, 2002-2007.
159
Cano, Rafael (coord.) (2004). Historia de la Lengua Española. Madrid: Ariel. O capítulo referido é o 34,
páginas 895-916.
160
Idem, Ibidem, p. 896.
161
Para além destes, considerados principais, foram também consultados outros glossários e corpora
informatizados, bem como o programa informático Phrasis - versão 2.2, edição do Projecto Vercial, 1999-2009. Ao
Corpus Lexicográfico do Português (DICIweb), recorreu-se sempre que uma palavra não foi encontrada, na
expectativa de que tivesse ocorrência nos dicionários do século XVI.
117
III.4. Novidade de ‘pallavras’ no português do século XV
Por vezes, parecerá informação repetida, mas o que se pretende é poder tirar conclusões
que resultam do confronto entre as três obras de Cunha (AGC, IVPM, VH-CPM), confronto
entre JPM3 e RLor, informação nova de MD-CF e BLem e, por fim, perceber se é possível
antedatar a informação que consta em Houaiss.
Como nem todos os estes trabalhos registam todas as palavras que, pelo que apurei, tem a
sua primeira atestação nas duas Crónicas em análise, só serão indicados aqueles onde tal
vocábulo se encontra averbado, evitando assim informação repetida do tipo ‘não registado’.
Por fim, uma última informação relativa à apresentação das palavras. Antes de cada
forma histórica162 indicada é apresentado o século, seguido da fonte e localização, se tal se
confirmar na obra/trabalho de origem163. Dado verificarem-se algumas discrepâncias nas siglas
das obras adoptadas por parte dos vários autores, uniformizei todas as que dizem respeito às
obras em estudo de Fernão Lopes (LOPF) e Zurara (ZURP). Os casos em que tal não se verifica
é porque se encontram dentro de citações. Para todos os outros casos se mantêm as siglas
adoptadas por cada autor, devendo consultar-se a respectiva tabela de siglas onde se apresenta a
devida discriminação. Esta simples apresentação permitirá ter uma visão mais exacta e crítica
sobre os trabalhos apresentados, ou seja, aqueles mais minuciosos nas informações, localizações
apresentadas, face àqueles mais gerais, mais informatizados.
Observações (Obs.:)
Este é um campo reservado a considerações que se julguem pertinentes sobre cada
entrada. Nele serão registadas todas as informações que possam contribuir para qualquer
esclarecimento de determinada palavra.
162
Para o IVPM e Houaiss apenas se indicam as formas históricas do século XV e desde que diferentes na
que se verifica na respectiva entrada. Apresentam-se, no entanto, as formas posteriores se a própria palavra datada
por Houaiss apresentar uma primeira datação tardia face a LOPF ou ZURP.
163
AGC, por exemplo, só no suplemento à segunda edição passou a introduzir a localização de cada palavra.
Assim, nos casos em que tal se verificar, sabemos de antemão que tal informação se encontra so Suplemento. Por sua
vez, BLem apresenta apenas a obra onde tal palavra ocorre, sem a localização, mesmo quando introduz abonações.
118
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Numa primeira análise, foram identificadas algumas palavras com primeira atestação em
LOPF, sobretudo provenientes de obras como JPM3, AGC, IVPM, VH-CPM e Houaiss, mas
que com o decorrer do confronto entre elas, da consulta de corpora informatizados ou
lematizações (sobretudo MD-CF, CIPM e BLem) e dicionários ou glossários (sobretudo
Viterbo, Morais) se veio a confirmar ocorrência em obras anteriores. Assim, de tais palavras que
se vieram a revelar falsas primeiras atestações em LOPF, apenas se apresenta informação que
comprova tal antedatação. Encontram-se nesta situação palavras como:
164
Houaiss, por norma, não regista advérvios de modo. Este é um dos casos. Cf., no entanto, nota 102.
165
Cf. as formas afemẽçada, afemeçou, afemẽçouha, afemençada, afemençalla, afemençar, afemençou,
affemẽçando, affemençado, affemençouhas.
119
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
fornada (fornadas):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): séc. XIII em JPM3 e AGC. Sobre a palavra primitiva forno,
Houaiss data-a de 897, segundo JM3. Ora, como RLor corrige JPM (que na 1ª
edição apresenta a data de 977, corrigida agora para 897, com abonação de
Dipl. 8), este, na terceira edição, aproveita a informação de RLor, sem a citar166,
e Houaiss, que segue esta terceira edição, atribui-lhe a localização.
grou (grou):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): AGC XIV e JPM3: XI, “segundo L. V., na Rer. Lus., III, p.
265. Séc. XI: «Quomodo uadit ad nium de grou», Leges, p. 347”. Houaiss não
leva em consideração a data apresentada por JPM3 para grou, mas leva-a para a
forma nium, como primeira datação para ninho, embora interrogada.
milanês (millaneses):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): 1357 em JPM3, com proveniência omitida de RLor,
“«…aos mercadores mjlaneses», Desc., I, 106”.
miradoiro (miradoiro):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): 1141 em JPM3, “«…ad foce de arrugio quod uenit de
pousada et inde ad petram de miradoiro», em Chanc., p. 152.
rigoroso (rrigoroso):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): em Boosco Deleitoso, segundo MD-CF, “e se he rigoroso
em a justiça, dizem que he cruel” e ainda “e outros dizem que he cruel e
rigoroso”.
usável (husavees)167:
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): 1272 em JPM3, com proveniência omitida de RLor: “«da
usauil moeda», em Portel, p. 71”.
veludo (velludo):
Houaiss, XV (cf. FichIVPM): 1415 em JPM3, “«…panos douro e de sseda e de sirgo
Escudos de gustar e chapeletas de prumas e veludos e penas pera pera empenar
roupas…», em Desc., I, S., p. 463”.
166
Se é verdade que JPM refere muitas vezes que a informação provém de RLor, como mantel, nomeação,
perna, remanescente, remanescer, remate, remir, remissão, repicar, sobreventa, sobrevir, solenizar, vela, tornear1,
trancar, trela, (sobretudo se são de obras castelhanas) outras há em que essa informação não é indicada, como em
arrancar, fugir, usável, mal-crente, mantéu, milanês, palanco, pontifical, postar, pousentador (*RLor), prestar,
propor, resíduo, rude, *sacadaria, sacador, *seitosamente, teso, *torneamento…
167
Houaiss não apresenta datação para esta palavra.
120
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
168
Sigo a edição Fac-símile de 2004, da livraria da Alcalá - Vestigios da Lingoa Arabica em Portugal de
João de Sousa, p. 40.
169
JPM, para as obras de Lopes, indica o número da parte em algarismo romano e os números do capítulo
seguido da página em arábicos.
170
Na primeira edição do seu Dicionário Etimológico (1982), A. G. Cunha apresenta apenas a datação para
cada palavra. No suplemento para a segunda edição (1986), além da datação, passou a introduzir a obra com a
respectiva localização. Para o registo desta obra apenas se apresentam as formas históricas diferentes da actual.
171
O IVPM, para as obras de Lopes, indica o número da parte, em algarismos romanos, e os números do
página (em redondo) e da linha (em itálico) em arábicos.
172
O VH-CPM, para as obras de Lopes, indica o número da parte, em algarismos romanos, e os números do
página e da linha em arábicos.
173
BLem, na sua lematização, apenas indica as obras em que cada vocábulo tem ocorrência. Só em alguns
casos apresenta abonações, mas também só com a indicação da obra, sem a localização. Apresenta, separadamente
(cf. lista p. 40), uma lista de todas as obras utilizadas e a respectiva datação.
174
Por norma, Houaiss indica a(s) forma(s) histórica(s) de cada palavra com grafia(s) diferente(s) da actual
(cf. justificação apresentada, Tomo I, p. XXX (ed. em 6 vol. Círculo de Leitores), para a versão em papel, e em Ajuda
> Conhecendo o Dicionário > Detalhamento do verbete > Campo da datação [4.2 e segs.]), para a versão em CD-
ROM).
175
Feijó, João de Morais Madureira (101824). Orthographia, ou Arte de Pronunciar com Acerto a Lingua
Portugueza. Lisboa: Na Impressão Régia, p. 171-172
176
Sigo a edição de 1798/1799. As localizações são dadas pelo nº romano para o volume e arábico para as
páginas: I.84.
121
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
De resto, esta palavra tem ainda registo em vários dicionários, Morais assinala alféloa e remete
para alfenim: “massa delicada de assucar mui alvo”177, e vocabulários, Rebelo Gonçalves
apresenta-a com a indicação da variação arféloa178.
Myriam Benarroch, na sua tese de doutoramento sobre o contributo dos arabismos no português
do século XVI, regista esta palavra com a indicação de que se encontra atestada pela primeira
vez na Crónica de D. Fernando179. Não é pertinente, pois, a datação do ano de 1500 que Kremer
apresenta, provavelmente a Carta de Pêro Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel180.
Etimologia: Houaiss apenas indica que “segundo JM, var. de arrotar”. Já para este verbo
apresenta a seguinte explicação: “orig. contrv.; deve provir do lat. eructo, ās, ǎvi,
ǎtum, āre ‘ter arrotos, arrotar, vomitar’, ou mais prov., do v. lat. ructāre ‘arrotar,
dar golfadas’ (fonte de eructāre e de ructus ‘arroto’, com a- protético); segundo
AGC, proviria do v. lat. *eruptāre (formado a partir de eruptus, part. pas. de
erumpĕre ‘sair impetuosamente, fazer uma saída arrebatada, precipitar-se, romper,
fazer rebentar’), em lugar de (e)ructāre ‘arrotar’ ”182. Corominas remete também
para o verbo erumpere ‘precipitarse afuera’.
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Registos:
- JPM3: XV, remete para o verbo arrotar, onde depois regista a forma alrotar dando a seguinte
informação “ant., deve ser var. deste v. [arrotar]; séc. XV?: «Mandamos, que… assy homeẽs ,
177
Sigo a 4ª edição, de 1831. As localizações são dadas pelo nº romano para o volume e arábico para as
páginas: I.83.
178
Gonçalves, Rebelo (1940). Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional de
Lisboa, p. 43. Em nenhum outro local encontrei esta variação.
179
BENARROCH, Myriam (2000). Des premiers dictionnaires (Jerónimo Cardoso) aux textes: l’apport
lexical des arabismes dans la langue portugaise du XVIe siecle. Universite Paris III – Sorbonne Bouvelle, tomo 2, p.
510.
180
KREMER, Dieter (2004). Primeiras datações. Trabalho não publicado.
181
Cf. também Morais4 e CF25.
182
Para uma informação mais pormenorizada, consultar em Houaiss, s.v. arrot-, onde se verifica que AGC
seguiu o Dicionário da Academia (1976).
122
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
como molheres, que andarem alrotando, e pedindo, nom usando d’outro mester, sejão vistos e
catados pelas Justiças de cada huum lugar», Ord., livro IV, título 81, § 9, p. 288; hoje ainda se
emprega, mas raramente; cf. Morais10”.
- IVPM: XV, alrrotar (LOPF 89.87).
- VH-CPM: XV, alrrotando (LOPF, 89.87).
- BLem: XV, alrrotando (LOPF).
- MD-CF: XV, alrrotando (LOPF).
- Houaiss: XV, alrrotar (cf. IVPM).
Obs.: RLor não antedata JPM que indica o séc. XV, com interrogação. De qualquer forma, com
abonação posterior a LOPF.
Para Kremer 1435.
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- IVPM: XV, s.m. (?) (LOPF 43.39).
- VH-CPM: XV, subst. anguados (LOPF, 43.39).
- BLem: XV, adj. anguados (LOPF).
- MD-CF: XV, anguados (LOPF).
Obs.: Sem registo em JPM3, RLor, AGC e Houaiss. Parece não haver consenso nem de classe
gramatical nem de género. Nos dicionários consultados, apenas encontrei registado o
substantivo feminino anguada183, o que explica a interrogação do IVPM e contraria a certeza do
VH-CPM. Quanto à proposta de BLem, o adjectivo será apenas resultado de classificação
mecânica, eventualmente resultante da terminação -dos. No entanto, e apesar de na maioria das
edições da Crónica de Dom Fernando aparecer o substantivo masculino na frase “trinta
azcumas todas com contos e anguados de pratas dourados”, o feminino encontra-se registado
na edição da Biblioteca de Clássicos Portugueses, de 1895: “trinta azarmas, todas com contas e
anguadas de prata douradas”184, o que pode mostrar dupla interpretação do manuscrito. Na
edição de Macchi, o aparato crítico não faz qualquer referência a esta alternância.
APAVESADO, adj. vb. (3) ‘protegido com paveses (armação protectora, constituída de escudos
ou tábuas, que se colocava na borda das embarcações); empavesado’.
e as mayores naaos estavom deante todas com as alcacevas contra o mar, armadas e
apavesadas, percebidas de trõos e outros arteficios pera sse defender; (469.12)
A frota como pousou ante a cidade, lançarom todos os batees fora armados e pavesados,
(475.15).
183
CF25 regista a forma feminina anguada com indicação de forma antiga e com o significado de ‘espécie de
alamar’, com indicação de ocorrência em Fernão Lopes, Crónica de D. Fernando. Também com registo feminino em
VocRG, p. 65, e VocGV, p. 77.
184
LOPES, Fernão (1895). Chronica de El-Rei D. Fernando, Lisboa: Escriptorio, vol. I, p. 131.
123
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
185
JPM3 troca a obra, pois a abonação que apresenta é da Crónica de D. Fernando e não da de D. João I.
186
VH-CPM também regista pauesados como substantivo: LOPJI2, 71.35 e 148.2. JPM3 também já havia
dado essa indicação, embora de forma confusa. Na entrada do verbo pavesar, apresenta uma abonação com um
substantivo, com a seguinte observação: “Pavesado já também ocorria no mesmo século: «…e hordenarom sua
pavesada pera escaramuçar com os Castellaãos…», (F. L., J., I, cap. 113, p. 217).
187
BLem regista ainda o verbo pavesar, com as formas pavesada (LOPJI1; LOPJI2; ZURP) e pavesadas
1
(LOPJI1) e também o verbo empavesar com a forma empavesada (LOPJI ).
188
O Corpus do Português MD-CF não trabalha a Crónica de D. João I de Fernão Lopes, pelo que se
justifica, assim, a ausência do seu registo.
124
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
ARRAIA, s.f. (1) ‘a camada social mais baixa da sociedade; plebe, ralé, arraia-miúda’.
«Prendestes-me como nom deviees, disse elle, mas pois assi he, leixaae vĩir a arraya
meuda das vinhas, ca elles me tiraróm d’aqui». (609.19).
Etimologia: do ár. ar-raHýa ‘rebanho’, p. ext. ‘ovelhas (da igreja), súbditos, plebe’.
Tipo de unidade: importação (arabismo).
Registos:
- JPM3: XV, arraia1 “No séc. XIV, por cit. de F. L., (J., I, cap. 43, p. 86): «Desta guisa… se
levamtarom os poboos em outros lugares, seemdo gramde cisma e divisom amtre os gramdes e
os pequenos. O qual ajumtamento dos pequenos poboos, que se estomçe assi jumtava,
chamavom naquell tempo arraya meuda…» Deste passo parece deduzir-se que no tempo de F.
L. a locução teria menos uso; hoje, porém, é corrente, pelo menos em Lisboa.”
- IVPM: XV, arraya meuda (LOPF 177.19; LOPJI1 75.22).
- VH-CPM: XV, arraia (LOPF, 177.19; LOPJI1, 75.22).
- BLem: XV, arraya (LOPF; LOPJI1; LOPJI2); arraia (LOPJI2).
- MD-CF: XV, arraya (LOPF).
- Houaiss: XV, arraya meuda (cf. IVPM).
Obs.: Com este significado, a primeira utilização deste vocábulo parece ser na expressão arraya
meuda, nas duas obras de Lopes. JPM3 destaca a antiguidade do uso oral face ao registo escrito,
com a dedução acima apresentada. Esta é uma boa palavra para demonstrar como o VH-CPM
não aproveitou informação contida no IVPM. Neste, Cunha apresentou a palavra arraia com
quatro entradas diferentes, dando o respectivo significado para cada uma (‘fronteira’, ‘peixe’,
‘povo, gente’ e ‘embarcação antiga’) e a(s) correspondente(s) abonações. No VH-CPM, tudo foi
foi reduzido a uma entrada, com omissão de dois significados e respectivas abonações:
125
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: fem. substv. de arrancado, part. de arrancar. Sobre este verbo, de origem
controversa, Houaiss refere que é “voc. hsp., doc. desde as origens do port.; há
várias hipóteses de etim., principalmente a partir do germ. hring ‘romper as fileiras
(de soldados)’, daí, ‘debandar, separar, desenraizar’;” informação proveniente de
Corominas, como menciona na entrada arranc-.
Tipo de unidade: derivação imprópria.
Registos:
- AGC: XV.
- IVPM: XV, (LOPF 99.57).
- VH-CPM: XV, arrancada (LOPF, 99.57).
- BLem: XV, vb. part. arrancada (LOPF).
- MD-CF: XV, arrancada (LOPF).
- Houaiss: XV, rancada (cf. IVPM).
Obs.: BLem não faz a distinção e junta esta forma às do particípio do verbo arrancar. Tal
junção elimina três séculos entre a datação da base e o nome deverbal criado por Lopes. Ainda
sobre a datação do verbo arrancar, Houaiss indica as datas de 1188-1230, remetendo para
JPM3, e apresenta na f. hist. rancauerit, como sendo a mais antiga atestação, além de duas
outras, uma do séc. XIII, arrãcar, e outra do séc. XIV, arincar. São evidentes as diferenças de
registo entre estas formas, com a primeira a evidenciar ainda marcas claras do sistema verbal
latino. A serem estas marcas, de cariz evidentemente latino, consideradas para datações de
palavras da língua portuguesa, deveria Houaiss ter levado em conta a informação apresentada
por RLor (p. 29), que JPM3 aproveita sem citar, ao antedatar este mesmo verbo para o ano de
1114, com abonação do mesmo documento “qui autem arrancauerit armas in uilla perdat eas”
(Leges 360.10).
O verbo está atestado em 1188-1230.
Etimologia: JPM3, RLor, AGC e Houaiss apenas apresentam o verbo repicar, de re- + picar,
com registo desde o séc. XIV189, e não a variante precedida do a- protético,
fenómeno com representação ao longo dos vários períodos da língua, aqui registada
pela primeira vez em LOPF. Sobre a etimologia do verbo picar, encontra-se em
Houaiss uma completa explicação: “voc. de criação expressiva, formado a partir de
uma base onom. *pic- (ou *picc-) ‘golpe’ + -ar; como se trata de palavra espalhada
por quase todas as línguas românicas (exceto o romeno), a sua form. expressiva
deve remontar ao lat.vulg.; AGC reitera a criação expressiva do voc. e afirma que o
v. deve remontar, prov., ao lat. vulg. *piccare, de *pīccus, forma expressiva de
pīcus,i ‘picanço (ave)’, cuja orig. tem a mesma raiz, alusiva aos golpes a que esse
189
RLor 1968:315.
126
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: part. de arvorar. Sobre a etimologia deste verbo, arvorar (de árvore + -ar), pode
ler-se em Houaiss a seguinte indicação: “AGC considera de orig. contrv. a acp.
‘içar, levantar’; nesta acp. arvorar seria var. de 1alvorar e esta, por sua vez,
proviria do it. alberare ‘guarnecer de árvores (plantar), pôr mastro numa nave’;
assim, 1alvorar não só teria etim. ligada ao voc. it., mas tb. remissão a arvorar
como f. divg.;”.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- JPM3: XV, arvorar1 “No séc. XV, o adj. arvorado: «virom os mastos das gallees de Castella,
que jaziam lomge arvorados», F.L., F., II, cap. 124, p. 92”.
- IVPM: XV, (LOPF 124.61).
- VH-CPM: XV, arvorado (LOPF, 124.61).
- BLem: XV, vb. arvorados (LOPF).
- MD-CF: XV, arvorados (LOPF).
- Houaiss: XV, (cf. IVPM).
Obs.: A forma verbal alvorando tem registo em CAVA, com o significado de ‘levantar-se,
empinar-se’: “Pera tras me pode [sc. o cavalo] derribar alvorando, pulando, saltando, logo no
começo começando a correr [...].”190 Assim, o significado que aqui se verifica é diferente, é
precisamente o da forma divergente, como refere Houaiss na etimologia.
O substantivo está atestado em 984.
190
CAVA, ed. de Piel, p. 21, linha 17.
127
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
BARROCAL, s.m. (1) ‘lugar onde há muitos barrocos (monte de terra ou pedra); barranco’.
cobrindo-sse ell e os seus o melhor que podiam antre as vinhas e barrocaaes que hi avia
muitos, (482.26).
128
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
A palavra primitiva barroca, ‘monte de barro’ é datada do séc. XIII por JPM3, AGC e Houaiss,
mas, incompreensivelmente, do XV para IVPM e, por defeito, para o VH-CPM. Repare-se que
o vocábulo é introduzido no suplemento à segunda, em 1986, mas não é actualizado no segundo
volume do IVPM (letra B-C), em 1988.
O substantivo está atestado no século XIII.
BEGUE, s.m. (2) ‘título (ou cargo) honorífico correspondente a dom ou senhor’.
e de França eram hi estes cavalleiros: monssé Beltram de Claquim e o mariscall de França
e o begue de Vilhenes (21.22).
o conde da Ilha e dom Bernall conde de Ossona e o bastardo de Bearmem e monssé Berni
de Villamur e el-begue de Vilhenes; (57.19).
Etimologia: Houaiss deriva-o do persa-tur. beg, com indicação de que “Crooke deriva-o do ant.
persa baga, relacionando-o com o sânsc. bhaga ‘senhor’”193.
Tipo de unidade: importação (persa).
Registos:
- JPM3: 1513, begue “«Despemdeo em ir arrecadar os seis centos pardaos de Cojibequy que
devia a El Rey», Afonso de Albuquerque, Cartas, V, p. 48”.
191
Glosario de voces de Armería, apuntes reunidos por D. Enrique de Leguina, Madrid, Librería de Filipe
Rodríguez, 1912, p. 375.
192
“Léxico militar en el Cancionero de Baena” in Juan Alfonso de Baena y su Cancionero. Actas del I
Congreso Internacional sobre el Cancionero de Baena (Baena, del 16 al 20 de febrero de 1999). Eds. Jesús Luis
Serrano Reyes and Juan Fernández Jiménez. Baena: Ayuntamiento de Baena / Diputación de Córdoba. pp. 259-278.
193
Exposição mais pormenorizada encontra-se em JPM3, vol. I, p. 409-410.
129
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: Para Houaiss do fem. substv. do part. bicado, de bicar (bico + -ar). Corominas, na
entrada bico, refere “ ‘parte saliente de la cabeça de las aves’; según muestran el
port. y ast. bico e las formas análogas de muchos dialectos franceses,
retorromances y sardos, no se trata de un derivado del verbo PICAR, sino del celta
beccus194 íd. (de donde cat., oc., fr., bec, it., becco195), que en muchas partes sufrió
progresivamente el influjo fonético de aquel verbo.”
Tipo de unidade: derivação imprópria.
Registos:
- IVPM: XV, (LOPF 99.46).
- VH-CPM: XV, bicada (LOPF, 99.46).
- BLem: XV, bicada (LOPF).
- MD-CF: XV, bicada (LOPF).
- Houaiss: XV, (cf. IVPM).
Obs.: Houaiss, data o verbo bicar do século XV (a.sXV cf. IVPM), mas com a indicação de ser
“datado a partir do feminino substantivo do particípio” onde se pode verificar que o particípio,
ou outras formas verbais, servem como datações para os verbos196. Verifica-se também a
situação em que os femininos substantivados de adjectivos participiais podem ser datados de
qualquer das formas flexionadas do verbo, acrescentando-se, no final da etimologia, a
indicação: ‘datado a partir do (particípio ou verbo)’, de acordo com o caso. Ora, aqui, a situação
é algo especial, pois a forma feminina substantivada, é datada a partir do seu particípio
masculino. Assim, o verbo é datado a partir do seu particípio, mas que não é particípio, porque
foi substantivado na forma do feminino bicada. As formas verbais de bicar (nominais e
flexionais) só passados quatro séculos, segundo os corpora utilizados, é que encontram registo
na língua, como se pode verificar na f. hist. apresentada por Houaiss: sXV bicada, 1858 bicado,
1881 bicar.
194
Cf. Houaiss s.v. bic- do lat. imp. beccus, i ‘bico, sobretudo o do galo’.
195
Cf. Ortographia, Leão, onde regista ‘bico, becco’ como “vocábulo que tomamos dos Italianos”, p. 52.
196
Cf. detalhamento dos verbetes, ponto 4.3.3.1.
130
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: do fr. ant. ou dial. bouée ‘sinal flutuante’, prov. do frânc. *baukan ‘sinal, bóia’.
Para Corominas, donde esta informação provém, “no está bien estudada la história
del vocablo en francés”197.
Tipo de unidade: importação (galicismo).
Registos:
- JPM3: XV, bóia “«Sospiros por fengidores / Aguyar lhe fez cantigua / sabendo que nos amores
/ sam boyas dos desfavores…» C. Ger., I, p. 76”.
- AGC: XV, boya.
- IVPM: XV, boya (LOPF 124.52).
- VH-CPM: XV, boyas(LOPF, 124.52).
- BLem: XV, boyas (LOPF).
- MD-CF: XV, boyas (LOPF).
- Houaiss: XV, boya (cf. IVPM).
Obs.: Segundo JPM3, o verbo boiar provém de bóia, ambos datados do séc. XV. Houaiss, que
também apresenta este procedimento, verbo denominal, portanto, data-o do séc. XIII, remetendo
para o IVPM e este, por sua vez, para RLor. Significa isto que a palavra primitiva só encontra
registo escrito dois séculos depois da derivada, precisamente em LOPF.
Etimologia: Para Houaiss de boiar + -nte. Para Corominas é precisamente de boiante que se
forma o “ingl. buoyant íd. [1578], to buoy ‘boyar’ [1596], que se tomaría
directamente del castellano o del portugés en lá época de los grandes
descubrimientos, pues en francés no existen formas semejantes”198.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- AGC: XV, boyante (LOPF, 31.14).
- IVPM: XV, boyante (LOPF 31.14), (1441 MARR I.534.24).
- VH-CPM: XV, boyantes (LOPF, 31.14).
- BLem: XV, boyantes (LOPF)199.
- MD-CF: XV, boyantes (LOPF).
- Houaiss: 1441, boyante (cf. IVPM).
Obs.: JPM3 e RLor não registam esta palavra. Houaiss apresenta a data de 1441 remetendo para
o IVPM. Ora, aqui são apresentadas duas abonações: uma de LOPF e outra de MARR, datada,
precisamente, de 1441. Isto leva-me a concluir que Houaiss considera a Crónica de D.
Fernando posterior a esta data. Se tivermos em consideração que, não havendo uma data exacta,
os estudos indicam que ela deverá ter sido escrita “nos finais da quarta década do século XV ou
197
Para um maior aprofundamento, cf. s.v. boya.
198
Cf. s.v. boya.
199
Forma identificada como adjectivo, mas lematizada para boante, talvez bo[i]ante.
131
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
no início da seguinte, em qualquer caso antes de 1443”200, ficamos com uma margem de dois
anos para a elaboração de LOPF.
O VH-CPM omite a abonação de 1441 MARR, apresentada no IVMP, o que vem confirmar a
discrepância entre estes dois elementos de trabalho. Aliás, O VH-CPM omite todas as
abonações referentes a esta obra (cf. arauto e bombarda), o mesmo é dizer que omite a própria
obra.
O verbo está atestado no século XIII.
Etimologia: Para Houaiss de bofe + -ar, com a seguinte explicação “segundo Corominas, orign.
var. gráf. de bufar, firma-se depois como f. divg., de mesma orig. onom.”.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- BLem: XV, bofando (LOPF).
- MD-CF: XV, bofando (LOPF).
Obs.: À excepção de BLem, que lematiza o gerúndio para bofar, AGC, VH-CPM e IVPM
indicam o verbo bufar para a forma bofando. O IVPM menciona mesmo bofar, remetendo para
bufar. JPM3 regista apenas bufar, sem indicação em LOPF, e RLor não apresenta nenhum
registo.
Se atendermos à explicação de Corominas acima apresentada, percebemos que é um verbo que
diverge de bufar. Para este, Houaiss apresenta a datação do séc. XV (com a f. hist. bofar) e com
o significado de ‘expelir (ar, sopro, vapor ou outra emanação) com força’. Para bofar,
Corominas apenas indica que se forma depois, sem especificar quando é esse depois, mas a que
Houaiss atribui data recente (a1913 cf. CF2), com o significado de ‘expelir pela boca; golfar;
sair às golfadas’, precisamente o que me parece que ocorre em LOPF. A utilização do ‘o/u’
parece, pois, ser distintiva na matéria expelida.
O substantivo está atestado no século XV.
Ainda sem registo no CIPM.
CABO, s.m. (1) ‘ponta ou porção de continente que avança mar adentro’.
e levava cem mill livras pera pagar solldo aa frota de Portugall; e a través do cabo de
Santa Maria de Faarom chegarom a ella as gallees de Castella e matarom o meestre com
outros e d’elles cativarom, e queimarom a naao e tomarom os dinheiros. (145.62).
Etimologia: do lat. caput, ĭtis ‘cabeça, parte superior, bico, ponta, cabo, extremidade’, com o
seguinte complemento “através do lat. vulg. capus, i, do qual se orig. os voc.
român. correlatos romn. cap, it. capo, engad. ko, friul. kaf, fr. chef, provç. cat. cap,
esp. port. cabo, todas com ampla diversificação semântica”.
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Registos:
- Houaiss: XV, 2cabo (acepção 6).
200
Cf. Teresa Amado, in G. Tavani e G. Lanciani (1993). Dicionário da Literatura Medieval Galega e
Portuguesa, Lisboa: Caminho, p. 179.
132
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Esta palavra tem registo em todos os trabalhos que fundamentam esta pesquisa, com
datações a partir do séc. XIII, e com várias acepções apresentadas, mas sem lhes fazer as
respectivas abonações.201 A excepção é feita ao IVPM que apresenta uma distinção bastante
detalhada. Assim, regista cabo como ‘acidente geográfico’ e apresenta duas abonações de
Zurara (ZURD, 250.21 e ZURG, 5.18). No entanto, com este mesmo significado aparece antes,
em ZURP, obra não incluída no seu corpus de extracção, e aparece ainda antes, em LOPF,
como se atesta no exemplo acima. Por defeito, o VH-CPM também não atesta esta acepção em
LOPF.
Etimologia: (?)
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- IVPM: XV, calluga (LOPF 99.72).
- VH-CPM: XV, calluga (LOPF, 99.72).
- BLem: XV, calluga (LOPF).
- MD-CF: XV, calluga (LOPF).
Obs.: JPM3, RLor, ACG e Houaiss não registam esta palavra. O significado é retirado de CF25.
Etimologia: de canela, do fr. ant. canele, com a seguinte explicação em Houaiss: “(…) para a
acp. ‘parte anterior da perna’, a orig. é contrv.: AGC e JM relacionam a cana, prov.
cana + -ela, e segundo Nasc., do lat. *cannella, em vez de cannŭla, ae ‘pequena
cana’ ”.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- JPM3: XVI, canelo “«As ferraduras leves e curtas de canellos fazem melhoramento», António
Galvão, Tratado da Cavalaria de Gineta, p. 45”.
- AGC: XVI, canello.
- IVPM: XV, canello (LOPF 138.66).
- VH-CPM: XV, canello (LOPF, 138.66).
- BLem: XV, canello (LOPF).
- MD-CF: XV, canello (LOPF).
- Houaiss: XV, canello (cf. IVPM).
Obs.: RLor não propõe antedatação para o séc. XVI apresentado por JPM.
MD-CF regista ainda canello em Bento Pereira, Tesouro da lingua portuguesa 1, (1697), com o
significado de ‘pedaço de ferradura’.
201
BLem apresenta 38 obras em que ocorre a palavra cabo(s).
133
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
CECEAR, vb. (1) ‘pronunciar as consoantes sibilantes apoiando nos dentes a ponta da língua’.
E foi sua morte viinte e tres dias de março de mill e quatrocentos e sete, avendo entom de
sua hidade trinta e cinquo anos e sete meses: homem de boom corpo, branco e rruivo, e
ceceava hũu pouco na falla; (85.11).
202
Carnar (carne + -ar): ‘Proceder à matança de animais para fazer reserva alimentícia de carne’. Este
significado justifica a formação da palavra por via latina (de caro, carnis, ‘carne’), como sugere Corominas. JPM
apresenta, no entanto, proveniência do francês: “Do fr. carnage, tirado do picardo ou do normando; o ant. fr. Tinha
charnage, der. de char. Quanto ao lat. carnaticu-, vj.: Henry F. Muller, L’Époque Mérovingienne, p. 260”.
203
No MD-CF podem ainda encontrar-se mais duas ocorrências para carnagem na Estoria de Dom Nuno
Alvares Pereyra
204
No MD-CF não são apresentadas quaisquer indicações sobre capítulo ou página. Aqui se pode verificar a
importância da informática em estudos linguísticos desta natureza. Alguns segundos e as localizações estão feitas.
205
Cf. p. 18, linha 31 e p. 163, linha, 31. No final da edição é apresentado um vocabulário onde se pode
encontrar a palavra carriagem (p. 217), com indicação de três ocorrências. Duas delas são as assinaladas, a outra é
também na p. 18, linha 20.
206
Cf. p.17, linha 24 e p. 156, linha 24.
134
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: de cê + cê + -ar, com justificação de “talvez pelo esp. cecear (1272-1284), der. do
nome da letra, com a acp. ‘pronunciar o s como c’ ”, informação retirada de
Corominas207.
Tipo de unidade: importação (castelhanismo).
Registos:
- JPM3: XV, cecear “«…homem de boom corpo, bramco, e ruivo, e çeçeava huum pouco na
falla», F. L., F., cap. 24, p. 69”.
- AGC: XV, çeçear.
- IVPM: XV, (LOPF 24.11).
- VH-CPM: XV, ceceava (LOPF, 24.11).
- BLem: XV, ceceava (LOPF).
- MD-CF: XV, ceceava (LOPF).
- Houaiss: XV, (cf. IVPM).
Obs.: Um dos problemas de pesquisa dos corpora informatizados, como o MD-CF ou o
CORDE, é que só reconhecem a palavra exacta, pelo que se torna difícil procurar formas
flexionadas dos verbos. O mesmo se pode dizer relativamente a palavras mais antigas que
apresentam várias grafias. Só o seu conhecimento exacto permite a sua pesquisa. Neste ponto,
mérito para o VH-CPM que, tanto na pesquisa para o português actual, como para o português
medieval, é possível ver o surgimento das várias formas, à medida que vão sendo digitadas as
letras.
Ainda sem registo no CIPM.
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- IVPM: XV, (LOPF 49.31).
- VH-CPM: XV, cipres (LOPF, 49.31).
- BLem: XV, cipres (LOPF).
- MD-CF: XV, cipres (LOPF).
Obs.: Apenas registado em CF2, com dúvidas no significado e na atribuição de género, “m. (ou
f.?)”, e cita a abonação de LOPF.
Etimologia: segundo Houaiss, “agl. do snt. cobre cama determinada pela perda de tonicidade
do el. cobre, o que levou a ser grafado com -i em lugar de -e”.
Tipo de unidade: composição.
- IVPM: XV, (LOPF 130.32); (1452 LOPO 19.7).
- VH-CPM: XV, cubricama208 (LOPF, 130.32).
207
Cf. s.v. ce, linhas 14 a 23, onde Corominas apresenta a data [1272-84, Gral. Est. I, 302b1].
208
Lematizado para cobrecama.
135
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
COXIA, s.f. (1) ‘nas antigas galés, corredor por entre os remadores onde ficavam os comitres a
vigiá-los’.
e mandou poer por nobreza muitos e grandes dentes de porcos monteses, encastoados ao
longo da coxia d’amballas partes da galee, e todollos rremos pintados, e outros logares
por fremosura. (166.18).
Etimologia: Para Houaiss do it. corsia (1492), com a seguinte explicação: “ ‘corrente de água,
corredor us. como passagem ao longo de espaços laterais ocupados’, der. do lat. tar.
cursīvus ‘que percorre’, do lat. cursus, us ‘corrida, caminho, percurso’ ”;
Tipo de unidade: importação (italianismo).
Registos:
- JPM3: XV, “«…e com a lamça nas maãs pella coxia ao longo…», F. L., J., I, cap. 139, p. 278”.
- RLor: XV, “«leixou a galle… e com a lamça nas maãs pella coxia ao longo» (D. João I, I,
278) 211”.
209
Cf. s.v. cuelmo.
210
Como JPM não regista esta palavra na primeira edição, nem na terceira, RLor apresenta-a antecedida de
asterisco. Parece, no entanto, haver alguma confusão de significados entre a palavra abonada colmeeiro e a sua
lematização para colmeiro. Como se verifica em Morais ou em Viterbo, os significados são diferentes. Para colmeiro,
‘o que colma as casas; o feixe de colmo para as cobrir’ e ‘pavêa, braçado, molho, não só de Colmo, ou palha centêa;
mas tambem de palha triga, painça, ou milha’, respectivamente. Para colmeeiro, ‘o que cuida das colmeyas’ e ‘o que
trata de Colmêas’, também respectivamente.
136
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
- AGC: XV.
- IVPM: XV, (LOPF 49.18).
- VH-CPM: XV, coxia (LOPF, 49.18).
- BLem: XV, coxia (LOPF, LOPJI1).
- MD-CF: XV, coxia (LOPF).
- Houaiss: XV, coxia, coxya (cf. IVPM).
Obs.: A data apresentada por Houaiss para a etimologia italiana (1492), ela é tardia212.
CRAVEIRO, s.m. (2) ‘chaveiro, claviculário; frade que, nas Ordens militares, tinha a chave do
convento’.213
e mandou aas villas e logares da hordem d’Alcantara que ouvessem por logoteente do
meestre d’essa hordem Garcia Perez do Campo craveiro. (98.35).
e outro dia aa quarta-feira mandarom toda sua presa de gaado e prisoneiros pera
Badalhouce, e os meestres com sua companha partirom pera as Broças, por teer o caminho
ao prior do Crato e ao Craveiro, que lhes era dito que as tiinham cercadas; (424.38).
211
RLor corrige a data apresentada por JPM, (s.v. correr: “coxia, do it. corsia, este do lat. tardio cursīvu-,
pelo que é divergente de cursivo; séc. XVI, segundo Morais2; a passagem –rs- > ss- > x- ter-se-ia verificado em port.?
Cf.: Gonçalves Viana, Apostilas, I, p. 337”) do séc. XVI, para o XV com uma abonação de LOPJI1, precisamente a
que Machado apresenta na terceira edição. Verifica-se, pois, que algumas palavras antedatas por RLor foram tidas em
consideração por Machado para a terceira edição do seu dicionário (como esta), mas outras mativeram a datação
errada. De qualquer forma, a palavra coxia aparece registada em LOPF, anterior a LOPJI1.
212
Cf. introdução a Houaiss, ponto 44.6.
213
Segundo CF2. Com indicação de “por claveiro, do lat. clāvis”.
214
Do b. lat. clavarius.
215
Viterbo, s.v. clavario.
216
Morais4, s.v. clavario.
217
Grafado com maiúsculas na edição de 1895.
137
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
A data de AGC, sem significado, é inexacta e em Houaiss, pese embora as duas entradas, uma
como substantivo e outra como adjectivo, penso nenhuma delas se aplicar às passagens de
LOPF.
218
Cf. TRELA.
138
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Registos:
- IVPM: XV, decente (LOPF 158.57).
- VH-CPM: XV, decentes (LOPF, 158.57).
- BLem: XV, decentes (LOPF).
- MD-CF: XV, decentes (LOPF).
- Houaiss: XV, descente, deçemte, decente (cf. IVPM).
Obs.: JPM3, RLor e AGC apenas registam o verbo descender, no séc. XIII. Houaiss, que averba
descente, remetendo para IVPM, não aproveita, no entanto, o significado lá constante de
‘descendente, que descende, que desce; descida’.
O verbo está atestado em 1244.
139
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
219
Cf. Morais4 s.v. desnaturamento.
220
Cf. TRANCADO
221
Cf. p. 35, palavras mal lematizadas.
140
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Houaiss não apresenta datação para eivado como adjectivo, mas identifica esta forma
como particípio de eivar. Para este verbo, o primeiro registo apresentado é precisamente a
forma do particípio eibado.
A datação de AGC é tardia quer para esta forma, quer para o verbo eivar, que data de 1881.
Também em JPM3 a data é tardia. RLor não propõe antedatação.
O substantivo está atestado no século XV.
222
Em BLem, eventualmente para uma lematização mais uniforme, foram eliminados todos os hífenes, o que
em alguns casos causa ambiguidade, difícil de desfazer, uma vez que apenas apresenta a obra sem indicar a
localização. Torna-se, assim, imprescindível ter as obras informatizadas, de outra forma é impossível localizar os
passos e detectar diferentes significados.
141
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
ENCALHAR, vb. (2) ‘apoiar directamente a quilha da embarcação no fundo do meio em que
flutua ou em algum obstáculo’.
E seis gallees d’el-rrei de Graada estavom encalhadas em seco, com medo d’as de
Bellamarim, e ouverom conhecimento das naaos que eram de Portugall per algũuas
pinaças que hiam deante, e juntarom-sse todos, e forom sobre as gallees de Bellamarim e
fezeram-nas tanto encalhar em terra que as defendiam os mouros de cima do muro.
(300.46, 50).
223
Forma lematizada para o verbo encalçar.
224
Veja-se a opinião de Robert Verdonk, face ao CORDE, p. 23.
225
A f. hist. do verbo enfeitiçar comprova esta situação. Cf. introdução de Houaiss, ponto 4.3.3.1.
142
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
adjectivo. JPM3 havia já indicado o mesmo século226. A data de AGC continua tardia, corrigida
de 1813, na 1ª edição, para 1614, no suplemento da 2ª.
O substantivo está atestado no século XV.
226
Cf. JPM3 s.v. feitiço (vol. III, p. 32) “Como adj. no séc. XV: «…e como sse queria trabalhar d’aver chaves
feitiças pera abrir as portas de noite…», F. L., J., Iª parte, cap. 157, p. 334; na mesma época como s.: «…huu me falla
em estrollomia, outro me falla em semelhança de feitiços», Ceuta, p. 58”. Não se percebe o porquê da nota 1 aí
apresentada, dependente da classificação de adjectivo: “No séc. XIV a var. feitiço: «e pera esto ha de ter o dicto
samcristam huum cesto grande feetiço em que andem os monges quando cortarem os dictos matos», no Boletim da
Segunda Classe da Academia das Ciências de Lisboa, V, p. 335”. Falta contexto à frase, mas a interpretação como
substantivo também não me parece descabida.
227
Cf. os vários significados com as respectivas abonações de Morais4 s.v. ensecar.
228
Cf. RLor, p. 149 e JPM II.1956b, s.v. seco.
229
Com indicação de que “no port. med., na acepção de entesourar, ocorrem as formas tesourar e
thesaurizar, ambas no XIV”. O VH-CPM indica estas duas formas com abonações de ORTO, 106.6 (E a molher
casou cõ outro e lograrõ os bẽẽs que tesourou o auarẽto) e ORTO, 2.13 (Aprende hu he a prudencia, [...] hu som os
principes que das gentes que thesaurizam a prata e ho ouro [...]).
143
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
230
Cf. supra p. 35.
231
Cf. supra p. 51.
144
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
FEMENTIDO, adj. / s.m. (3) ‘que é desleal, que não cumpre a palavra, falso’233
e o principe, quando o vio, chamou-lhe treedor e fementido que merecia morte; e o
mariscall rrespondeo dizendo: «Senhor, vós sooes filho de rrei, e nom vos rrespondo como
poderia em este caso, mais eu nom ssom treedor nem ffementido». E o principe disse que
quiria estar a juizo de cavalleiros, e que lho provaria, e ell disse que ssi: e forom juizes
doze cavalleiros de desvairadas naçoões. E disse o principe contra elle que na batalha de
Piteus, que ell vencera, hu fora preso el-rrei de França, fora elle seu prisoneiro e posto a
rrendiçom, e lhe fezera preito e menagem, so pena de traiçom e ffementido, (37.10, 13,
19).
232
JPM3 apresenta etimologia intermédia “do fr. exsuder, este do lat. exsudāre” (cf. p. 519).
233
O significado apresentado por Morais4 é mais literal: “Que mente e falta à fé dada, à fidelidade” (s.v.
fementido)
145
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Registos:
- JPM3: XV, adj. “«…e o Prinçipe, quamdo o vio, chamoulhe treedor e fementido que merecia
morte, e o mariscal rrespondeo dizemdo: «Senhor… mais eu nom som treedor, nem
fementido…», F. L., F., cap. 10, vol- I, p. 35”.
- AGC: XV, adj. e s.m..
- VH-CPM: XV, adj. e s.m. fementido (LOPF, 10.10); ffementido (LOPF, 10.13,19)
- BLem: XV, vb. fementido, ffementido, (LOPF).
- MD-CF: XV, fementido, ffementido, (LOPF).
- Houaiss: XV, adj. fementido, ffementido (cf. FichIVPM).
Obs.: Parece haver alguma confusão na classificação gramatical desta palavra. Das três
ocorrências registadas em LOPF, e apresentadas acima, em nenhuma situação se verifica a
utilização como verbo, como sugere BLem. AGC e o VH-CPM identificam, correctamente, a
classe de adjectivo nas duas primeiras ocorrências, e de substantivo na última. É verdade que
esta classificação parece forçada, mas se tivermos em conta o significado de ‘má fé,
infidelidade’, parece aceitável. Falta pois a JPM3, e sobretudo a Houaiss, a introdução desta
classificação.
O substantivo está atestado em 1111 e o verbo no século XIII.
FLECHEIRO, s.m. (5) ‘soldado que fazia uso de arco e flecha, seteiro’.
assi que eram per todos dez mill homẽes d’armas e outros tantos frecheiros: (25.19).
146
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Portuguesa, cap. 17, p. 301, ed. De 1945)”234. Esta mesma observação, com a explicação do
significado do verbo forrejar encontra-se em Morais: “(do francês: fourrager.) Talar, roubar,
fazer damno, como quasi sempre se faz pelos que vão forragear na terra inimiga. Leão, Orig. c.
17 pag. 105. col. 1. V. Forragear”235 e também em Viterbo “Furtar, roubar, andar á pilhagem.
Hoje se diz Forragear: por buscar, e conduzir o pasto para as bestas do exercito; e a este pasto
chamão Forragem. E como este provimento de fenos, palhas, cevadas, &c. com muita
frequência se fazia nas terras dos inimigos, cujos campos se procuravam talar, roubar, e destruir,
foi muito fácil a translação da palavra”236.
Ainda sem registo no CIPM.
234
JPM3, s.v. forragear.
235
Morais4, s.v. forrejar.
236
Viterbo, s.v. forrejar.
237
Viterbo, forte II.
238
Morais4, s.v. forte, s.m..
239
Em LOPF com 14 ocorrências como adjectivo. Cf. Índice Analítico.
147
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
148
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
- AGC: XVI.
- VH-CPM: XV, jusante (LOPF, 44.19).
- BLem: XV, jusante (LOPF).
- MD-CF: XV, jusante (LOPF).
- Houaiss: XV, (cf. FichIVPM).
Obs.: RLor não corrige JPM.
LASTRAR, vb. (1) ‘espalhar lastro/balastro (cascalho ou saibro que se coloca no leito das
estradas)’ ou ‘acrescentar peso a algo, para torná-lo mais firme’.
de guisa que muito aginha foi feita hũua grande e espaçosa ponte, lastrada de terra e
d’area, tall per que folgadamente podiam hir a través seis homẽes a cavallo; (115.23).
240
Forma classificada como vb / nomc, lematizada para o verbo lastimar.
241
Forma identificada como particípio, mas lematizada para o verbo lançar.
149
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
LUGAR-TENENTE, n.2g. (1) ‘quem fica no lugar de outrem; pessoa que secunda um chefe e
o substitui em caso de ausência’.
e mandou aas villas e logares da hordem d’Alcantara que ouvessem por logoteente do
meestre d’essa hordem Garcia Perez do Campo craveiro. (98.34).
Etimologia: da loc. lat. locum tenens, tenentis 'o que ocupa um lugar', de locus, -i 'lugar' e de
tenens, -entis, part. pres. de tenēre 'ter'.
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Registos:
- JPM3: regista “logo-tenente, s. Vj. lugar-tenente”. Mas depois não há entrada para lugar-
tenente. Regista também locotenente, XVII “«Porém em quanto senhor do mundo com o
governo de todos os animais, era locotenente do mesmo deus», Sermões, V, 6, § 4, 320, p.
352”.
- VH-CPM: XV, logo-teente (LOPF, 28.34).
- BLem: XV, logoteente (LOPF)242.
- MD-CF: XV, logoteente (LOPF; ChUniPort, 1420-1460); logo teente (ChUniPort, 1420-
1460).
- Houaiss: XV, logo teente, (cf. FichIVPM).
Obs.: São várias as formas para este composto. Houaiss, em entrada separada, locotenente (cf.
OrdAf), regista as formas históricas 1446 locotenente, 1446 loguo-teenente, 1446 logo-teente,
todas posteriores a LOPF. No entanto, MD-CF apresentam possível antedatação a LOPF.
Sobre o plural deste composto, Houaiss regista lugares-tenentes, mas não era esse o
entendimento de Morais na altura: “«os Reis são lugarestenentes de Deus» Pinto Ribeiro,
242
Esta palavra tem também uma ocorrência em ZURD, aqui não registada por ser posterior. Como BLem
não a identifica e como ele trabalha a obra, tinha de existir uma razão. A explicação reside no facto de, em ZURP, a
palavra composta aparecer separada, ou seja, em vez dos dois elementos estarem juntos ou separados por hífen,
ocorre um espaço em branco. O computador assume duas palavras e logo está classificado como advérbio e teente
como presente do conjuntivo do verbo ter. O mesmo acontece com pee terra.
150
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Relaçao 1. §. 47. Lugartenente diz Arraes, 5.2. e melhor; porque o lugar de Deus, que elles tem,
é só um, e tal é a analogia nos vocabulos compostos, v.g. olhibrancos; eripedes, manietados,
pern’altos, etc.; alias dizemos os vice, e não os vicesgerentes, e hoje de ordinario se diz as
Republicas, e não Respublicas, com affectação pascassia”243.
MANTEEIRO, s.m. (1) ‘funcionário responsável pela guarda dos mantéis da casa real’.
e elles hindo pello caminho, acharom hũu Fernam Gallego seu manteheiro que lhes disse
como o iffante era partido e de que guisa, (383.8).
243
Cf. Morais4 s.v. lugartenente.
244
Cf. Morais4 s.v. machafemea: “Dobradiças, ou visagras de duas peças, n’uma das quaes há um macho,
eixo, que se embebe na fêmea, ou cano da outra”.
245
Cf. T. Amado in Tavani, p. 179.
246
Para a entrada isolada macha ‘peça de dobradiça encaixável na outra, a fêmea’, Houaiss não apresenta
datação.
151
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
152
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Geralmente, RLor regista os advérbios de modo que JPM não apresenta, como
notavelmente (Ofícios), novamente (Cr. Gal.). Neste caso isso não se verifica, embora JPM
registe notório dentro da entrada nota247.
O adjectivo está atestado no século XV.
247
Cf. também peitoril, s.v. peito; peirnear, s.v. perna; teso, s.v. tender. Este é um processo que mistura as
entradas quer por ordem alfabética, quer por bases ou raízes. Será por esta razão que RLor diz que “a colocação das
palavras é absurda no seu Dicionário e feita duma forma peregrina, o que faz perder muito tempo ao investigador.” p.
II)
248
Com registo em REIX, INFA, LOPJI, ZURD.
153
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Apenas encontrei registo em CF25 e Morais4, embora este remetesse para Viterbo. Em
BLEM não aparece registo porque a grafia é em duas palavras249, tal como a locução adverbial a
pee terra, também com quatro registos em LOPF250. Esta mesma locução é também identificada
uma vez pelo VH-CPM, com registo de ocorrência em REIX, e com a indicação do significado
de ‘a pé’. MD-CF mostra-se o mais completo ao apresentar 16 registos de pee terra, onde é
possível identificar 14 locuções (3 na Crónica do Condestável Nuno Alvarez Pereira, 1 na
Cronica de Portugal de 1419, 5 na Estoria de Dom Nuno Alvares Pereyra e 5 em LOPF) e os
dois substantivos do nome da moeda, precisamente em LOPF.
Os substantivos estão ambos atestados no século XIII.
249
Cf. supra nota 242.
250
Cf. LOPF, 22.33; 25.4; 33.15 e 304.22.
251
Houaiss justifica esta etimologia “segundo AGC, JM e Nascentes”.
154
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: RLor, que corrige a datação de perna, não corrige JPM em pernear, que se encontra na
entrada perna (“pernear no séc. XVI: «…sogigandolhe ho pescoço de modo que elle não era
poderoso pera se levantar e perneando dava assopros e rinchos», Jorge Ferreira de Vasconcelos,
Memorial da Távola Redonda, cap. 35, p. 232, ed. de 1867”) e AGC apenas regista espernear,
primeiro em 1844 e depois, no suplemento, 1836 SC.
Ainda sem registo no CIPM.
O substantivo está atestado no século XIII.
PETITE, adj. (1) ‘espécie de tornês que D. Fernando mandou cunhar; pequeno, secundário’.
D’outras moedas que el-rrei dom Fernando fez, assi como fortes de prata, que valliam dez
solldos, e outros de viinte, e torneses primeiros d’oito solldos, e torneses petites, e
dinheiros novos avalliados a oito graãos, (191.118).252
252
Cf. com LOPP: “e valia o tornês grande sete soldos e o pequeno tres soldos e meo, e chamavam a estas
moedas dobra e mea dobra e tornês e meo tornês (11.55)”. Segundo o VH-CPM, s.v. tornês, também a antiga moeda
de prata tornês é de origem francesa.
253
Segundo CF25.
254
Cf. Morais4 s.v. petites.
155
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- VH-CPM: XV, pogeja (LOPF, 55.37).
- BLem: XV, pogeja (LOPF).
- MD-CF: XV, pogeja (LOPF).
Obs.: Palavra registada em Viterbo, Morais e CF25, com a forma pojeja, mas sem nunca indicar
a sua origem.
255
Cf. Morais4 polpão.
156
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Primeira abonação dada por Morais. Se há palavras que com o passar do tempo, e com o
estudo e conhecimento de mais obras, vão sendo antedatadas, outras há que são identificadas
logo como primeiras atestações, como é o caso desta que conta com quase dois séculos.
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, rrecosso (LOPF).
- MD-CF: XV, rrecosso (LOPF).
Obs.: Em CF25 com a indicação de “Provavelmente o m. q. recoice. Cf. Fernão Lopes, Crón. D.
Fernando”. Em Morais4 aparece registado “*Recosso, s.m. V. Recoso, Ined. IV. f. 400 e
401”256. Para recoso regista “antiq. Duas barcas que andão a recoso. Ined. II, f. 345. Talvez
recovo, á carga, ganhando fretes, escrito com s por f affim de v.”. Estas duas localizações
indicadas por Morais são, precisamente, as ocorrências nas obras em análise, uma em LOPF e
outra em ZURP. O VH-CPM não regista esta palavra.
157
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
- JPM3: XV, “«Senhor, vos mandaaes fazer esta carta, rresumindolhe quegenda era…», F. L., J.,
1ª parte, cap. 3, p. 8”.
- AGC: XV, rresumir.
- VH-CPM: XV, rresumir (LOPF, 104.68).
- BLem: XV, rresumir (LOPF); resumidas (LOPOJI2); rresumimdolhe (LOPOJI2).
- MD-CF: XV, rresumir (LOPF).
- Houaiss: XV, resomiir, rresumir (cf. FichIVPM).
Obs.: Ainda sem registo no CIPM.
257
Segundo CF25.
258
Cf. nota supra 256.
158
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Pelo que pude apurar para esta época, é um adjectivo apenas utilizado em LOPF, mas que tem
em OFIC a utilização do advérbio seitosamente, o que mostra o registo de uma palavra derivada
antes da primitiva.259
O substantivo está atestado no século XIII.
259
Cf. introdução a Houaiss, campo da datação, ponto 4.3.3.3. “Quando tivemos em mãos datação de um
advérbio de sufixo -mente anterior à de seu adjetivo formador, estendemo-la ao adjetivo, inserindo, no campo da
etimologia, além das formas históricas, o comentário "datado a partir do adv.”, s.v. súbito.
260
Segundo CF25 e o VH-CPM.
261
Forma identificada como infinito pessoal/futuro do conjuntivo, seguida da forma de pronome, lematizada
para o verbo sobrever.
159
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Obs.: Além da grafia diferente, podemos verificar para esta palavra também classificações
distintas. O VH-CPM apresenta a classificação de substantivo e BLem, para a forma solevado, a
de particípio do verbo sublevar. Na verdade, esta é a ideia geral, ou seja a de ‘mover de baixo
para cima; erguer, elevar, sobrelevar’. A dúvida está na classificação, uma vez que a construção
é elíptica. Assim, podemos entender esta forma como particípio se subentendermos que abriam
as portas [quando o sol estava] levantado, erguido, ou então, com mais acerto, como
substantivo, até pela antítese com sol-posto262, ou seja, abrian-as [ao nascer do sol].
O substantivo está atestado no século XIII e o verbo em 1022-1065.
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- VH-CPM: XV, tavarenha (LOPF, 99.17).
- BLem: XV, tavarenha (LOPF).
- MD-CF: XV, tavarenha (LOPF).
Obs.: Apenas encontrei este adjectivo averbado em CF2 com uma abonação de LOPF, mas sem
indicação de significado.
262
Houaiss data sol-posto do séc. XV, segundo o FichIVPM, mas o VH-CPM apresenta três abonações do
séc. XIV, uma delas do Horto do Esposo: “Poucas vezes comem ante do sol posto”, cf. ed. de Irene Freire Nunes,
Colibri, 2007, p. 203, linhas 13-14.
160
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Registos:
- JPM3: 1813, (segundo Morais2).
- VH-CPM: XV, terreou (LOPF, 74.37).
- BLem: XV, terreou (LOPF)263.
- MD-CF: XV, terreou (LOPF).
Obs.: BLem regista esta palavra em LOPF, mas indica como forma verbal do ver ‘ter’264. RLor
não corrige JPM (s.v. terra: “terreal no séc. XIV: «nõ ousei a dizer meu pecado ante os
terreaes», cit. por J. J. Nunes na Rer. Lus., XXVII, p. 74, s.v.”)
O substantivo está atestado no século XIII.
Ainda sem registo no CIPM.
Etimologia: segundo Houiss, da mesma origem que teso (tensus, a, um ‘estendido, esticado,
tenso’), “do qual diverge porque reduzido da locução monte teso ‘monte muito
íngreme, difícil de subir’ e porque substv. com o signf. da loc.”.
Tipo de unidade: derivação imprópria.
Registos:
- JPM3: 1107, adj. “«et in anplo habet IIIes cubitos tesos », em D.M.P. III, p. 223”.
- RLor: 1107, “«et in anplo habet IIIes cubitos tesos», (DMP 223.9)”265.
- AGC: XV, adj. teso.
- VH-CPM: XV, subs. teso (LOPF, 138.6 ); tesso (LOPJI2, 148.13). XIV, adj. teso (GREG,
1.2.14); tesos (VERT, 65.40); XV, adv. teso (LOPJI2, 10.24).
- BLem: XV, adj. teso (LOPF; LOPJI1; LOPJI2); tesa (LOPJI1)266.
- MD-CF: XV, teso (LOPF; ChPortDuarte); tesas (Tratado de cozinha portuguesa).
- Houaiss: XIV, adj. 1teso: XV tesso (cf. FichIVPM); s.m. 2teso: 1552 (cf. JBarD).
Obs.: JPM3, RLor, AGC e BLem apenas registam esta palavra como adjectivo, datado para
RLor (JPM3 não cita) de 1107 e para Houaiss do séc. XIV. A utilização em LOPF é, no entanto,
como substantivo que Houaiss também regista e data de 1552, mais de um século depois. O
VH-CPM, além de adjectivo e de substantivo, apresenta ainda a classificação de advérbio267,
com o significado de ‘impetuosamente; rijamente’. MD-CF registam ainda a ocorrência em
ChPortDuarte.
Para Kremer 1464.
263
Forma identificada como pretérito perfeito, lematizada para o verbo ter.
264
Cf. BLem 2007: 5932.
265
RLor antedata esta palavra que JPM apresentava do séc. XIV-XV, s.v. tender: “teso do lat. tensu-, pelo
que é divergente de tenso; no séc. XIV-XV: «hũu dia caeu hũu grande penedo de cima d’ũu monte so que estava o
sseu mosteiro e, vijndo muy teso pera destroyr todo o moesteiro…», Diálogos de S. Gregório, p. 7, ed. de 1950”
266
A forma tesa, identificada como adjectivo em CGE é, todavia, topónimo.
267
LOPJI2, 100.24: “E mouendo teso contra huma parede, deu com as maãos nas façes [...]”.
161
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
TOSSIDO, s.m. (1) ‘Acto de tossir voluntariamente, para dar qualquer sinal ou exprimir algum
sentimento.
O conde dom Alvoro Perez de Castro, quando esto ouvio, deu hũu tossido e disse: «Arreall,
arreall, cujo for o rregno leva-llo-á»: (603.58).
Etimologia: part. de tossir (do lat. tussĭo, is, īre, īvi, ītum).
Tipo de unidade: derivação imprópria.
Registos:
- VH-CPM: XV, subs. tossido (LOPF, 175.58).
- BLem: XV, part. tossido (LOPF)270.
- MD-CF: XV, tossido (LOPF).
- Houaiss: XIII, adj. tossido (cf. FichIVPM). XV, s.m. tossido: XIII tossindo, XV tossido
Obs.: o verbo e o adjectivo são do século XIII, pelo que parece ser Lopes a introduzir o
substantivo no XV, com recurso à derivação imprópria.
268
Na Idade Média, jogo público e militar entre cavaleiros, em se que imitavam as escaramuças da guerra.
269
Morais4 torneyador.
270
Forma identificada como particípio do verbo tossir.
271
Cf. DESATRELAR.
272
Para CF2 “Talvez contr. de tarela”.
162
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
Registos:
- JPM3: XV, “«Hũas trelas outras seguem / leuam varedas ezquerp[d]as», Alvaro de Brito, no C.
Ger., I, p. 219. (…). Trenla em 1474: «hua corda e hua treenla», na Coí[l]ección Diplomática
de Galiçia Histórica, p. 71 (Lorenzo).”
- RLor: 1474, “«hua corda e hua treenla» (CDGH 71.22).
- AGC: XV.
- VH-CPM: XV, treelas (LOPF, 99.43)273.
- BLem: XV, treellas (LOPF).
- MD-CF: XV, treellas (LOPF).
- Houaiss: XV, treellas274 (cf. FichIVPM).
Obs.: O Livro da Montaria foi eliminado do VH-CPM, bem como todas as localizações que
Cunha tinha apresentado nos primeiros três volumes do IVPM, como por exemplo, ala,
arvoredo, conjectura. Ora, sendo este um livro didascálico, nas palavras de Manuel Simões275,
sobre ‘o melhor e mais proveitoso dos jogos’ - a caça -, seria de esperar que tal palavra lá viesse
registada, e vem276. Acontece que o Livro da Montaria nunca foi impresso e apenas se conhece
uma cópia de finais do séc. XVIII, inícios do XIX, feita por F. A. C. que se encontra na
Biblioteca Nacional, de uma outra cópia, crê-se, de 1626, feita pelo bacharel Manuel Serrão de
Paz, de um manuscrito que existia na Livraria do Colégio da Companhia de Jesus em Monforte
de Lemos, na Galiza. De facto, desde a sua produção até à cópia conhecida, que segundo o
escrivão moderno só não copiou os borrões para não lhos atribuirem a ele (estaremos, portanto,
a crer nestas palavras, na presença de uma cópia isenta de intervenção)277, a língua sofreu
inúmeras alterações autóctones, mais aquelas que a cópia conhecida já possui, com clara
influência da língua castelhana ou introduzidas pelo bacharel ou por outro copista, na hipótese
da cópia da Bibliotec Nacional não ter provindo directamente da de 1626278. Estamos a falar de
palavras como tamaño por tamanho, palzer por prazer, naturaleza por natureza, entre outras279.
Eventualmente, será este o facto que estará na origem do seu afastamento dos corpora
informatizados, como fonte para datar determinadas palavras do séc. XV. Neste caso em
concreto, a palavra trela, atribuída a LOPF, deverse-á mais ao infortúnio de muitos
pergaminhos, para o qual contribuiu a passagem do tempo, mas também a incúria dos homens,
do que ao seu conhecimento exclusivo do vocábulo ou capacidade de trasladar palavras, neste
caso do castelhano para o português.
Este é um bom exemplo para demonstrarmos que o uso oral da palavra trela seria vulgar nas
primeiras décadas do séc. XIV, mas apenas se considera o seu primeiro registo em LOPF.
273
Eventual gralha tree[l]las.
274
Normalmente, Houaiss apresenta todas as formas históricas registadas. Neste caso, falta a forma trella, que
ocorre em ZURP, obra não trabalhada por AGC.
275
Cf. Tavani 1993:412.
276
Cf. Livro da Montaria, edição de Francisco Maria Esteves Pereira, Coimbra: Imprensa da Universidade,
1918, p. (LXIV, onde refere este facto) e p. 88,1 ‘treela’. À semelhança de muitas outras que têm a ver com esta
temática, como espécies de cães, alão e sabujo, e mesmo armas, como ascuma ou ascumada.
277
Cf. idem, p. 428.
278
Francisco M. E. Pereira, na introdução, alerta para o facto de esta cópia ter sido feita numa altura em que
Portugal estava sob o domínio de Espanha e aponta como hipótese para estas alterações Manuel Serrão da Paz, até
pelo nome, ser originário de Portugal a viver em Monforte de Lemos, ou então ter existido outra cópia feita ou por
um português com domínio da língua castelhana, ou um castelhano que deixou transparecer para a escrita de um
documento em português as particularidades da sua língua.
279
Cf. idem, pp. 11-12.
163
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
ULTRAMONTANO, adj. (3) ‘que ou o que está além dos montes; transmontano’
E no mes de março, aos viinte e sete dias da era seguinte de mill e quatrocentos e dezeseis,
morreo este papa Gregorio em Rroma. Elle morto, ficarom em Rroma dezeseis cardeaaes,
scilicet, doze ultramontanos e os outros itallicos, aos quaaes perteencia o dereito de
enleger; e juntarom-sse estes cardeaaes em algũus logares fallando apartadamente, e aas
vezes juntos, quall d’elles socederia em seu logo, e nom concordavam em eleger pessoa
ultramontana, scilicet, de França ou de Ingraterra ou das Espanhas. E faziam os
ultramontanos de ssi duas partes; (386.31, 35, 36-37).
280
Para Houaiss do lat. montānus, a, um e para JPM3 do it. ultramontano.
164
III.4.1. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica de D. Fernando
4.1.1. Comentários
165
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
ABALROAR, vb. (1) ‘atracar um navio a outro com balroas, para combate de abordagem’.
E se porvemtura nos todos allcamçarẽ, aballrroemos hũa com a outra, e atemo-llas ambas,
(547.336).
Etimologia: de a- + balroar.
Tipo de unidade: derivação prefixal.
Registos:
- JPM3: XV, “«…abalroemos huma coma a outra, e atemo-las ambas», P. Men., II, cap. 5, p.
495 (Alex.)”.
- AGC: XV.
- IVPM: XV, (M2)281.
- BLem: XV, aballrroemos, (ZURP).
- MD-CF: XV, aballrroemos, (ZURP).
- CIPM: XV, aballrroemos, (ZURP).
- Houaiss: XV, abalroar (cf. IVPM).
Obs.: O VH-CPM não regista este verbo, eventualmente porque no IVPM apenas está averbado
com indicação de registo em Morais2, faltando pois abonação para apresentar.
Os substantivos abalroa e balroa apenas aparecem atestados em 1552 e 1553, respectivamente,
segundo Houaiss, pelo que se verifica a atestação de um derivado antes da primitiva.
281
O IVPM, bem como o VH-CPM, não trabalham esta Crónica de Zurara, pelo que o registo de quaisquer
palavras nela constantes será sempre indicação com referência a outras fontes e não de forma directa. Por acréscimo,
também Houaiss se inclui nestas circunstâncias, embora esta seja uma obra que conste na lista da ‘Bibliografia de
datação e etimologia’ indicada no dicionário (DPMen). Houaiss apresenta mesmo como primeira datação para
bombordo esta crónica de Zurara. Atendendo ao grande número de primeiras antestações que nela se verificam, será
este um caso esporádico de consulta.
167
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: Para Houaiss, de origem obscura; para o CIPM, talvez do lat. *acuitare; para CF
de coitar (de coita ‘desgarça’ < cast. cuita).
Tipo de unidade: importação (latinismo) (?).
Registos:
- BLem: XV, acuitose (ZURP).
- MD-CF: XV, acuito-se (ZURP)283.
- CIPM: acuito (ZURP).
- Houaiss: XV, (cf. InedHist)284.
282
Segundo Morais s.v. abreviador, ‘que resume matéria mais larga a menos razões’.
283
Lematizada para o verbo acoitar.
284
Em Houaiss, o volume da Collecção de Livros Inéditos de História Portuguesa referido na bibliografia de
datação e etimologia parece ser o primeiro, pela indicação da publicação em 1970, correspondente aos reinados de D.
João I, D. Duarte, D. Afonso V, e D. João II, e onde se incluem três obras, Livro da Guerra de Ceuta, por Mestre
168
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Mattheus de Pisano, Chronica d’elRey D. Duarte, por Ruy de Pina e Chronica d’elRey D. Affonso V., pelo mesmo
autor, como se pode ler no “Index’. Não há qualquer referência ao segundo volume, publicado em 1792,
correspondente aos mesmos reinados, mas onde se inclue a Chronica d’elRey D. João II, por Ruy de Pina e a
Chronica do Conde D. Pedro de Meneses, por Gomes Eanes de Zurara, bem como a referida forma verbal acuitou-se
nesta última obra. Também em Morais é possível confirmar a ocorrência neste segundo volume: “«acuitou-se a
doença do Conde.» Ined. 2. 624. no Tom. 3. f. 80. diz erradamente «se acoutou a door no Conde tanto, perque
conheceu em si sinaes de fallecimento»”.
285
O MD-CF não trabalha a Crónica do Conde D. Duarte de Meneses.
286
Segundo Morais, s.v. aduar, “povoação movel de Arabios errantes. B. Tenreiro, cap. 4 consta de 50. a
100. tendas”. Já com registo no Dict. Latinolusitanicum, 1569-70, de Jerónimo Cardoso, s.v. cateia(ae) e maga(ae).
169
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: importação (arabismo).
Registos:
- BLem: XV, agomer (ZURP).
- MD-CF: XV, agomer (ZURP).
Obs.: Pelo que consegui apurar será arabismo utilizado como hápax nesta única abonação.
287
Também com indicação de ocorrência em Castelo Perigoso (CP) que não consegui localizar, datado do
século XIV, XV para o CIPM.
288
A Crónica do Conde D. Pedro de Meneses aparece no segundo volume dos Inéditos da História
Portuguesa. No entanto, há algumas discrepâncias, quer na omissão, quer na indicação dos volumes. Cf. as entradas
ABALROAR (simplesmente P. Men., II), ALAÚDE (P. Men., nos Ined. Hist., I), ALBATOÇA (P. Men., nos Ined. Hist.,
II), CALA (P. M., nos Ined. Hist., II), ESCOL (P. Men., I, nos Ined. Hist., I), VELEIRO (P. Men., I, nos Ined. Hist.,
II).
170
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
171
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
289
Por similitude com anãzar: anã- + -z- + -ar. Sufixo masculino aumentativo,com flutuação entre -ã, -õ, -ão,
conforme barã (666.887), barõ (638.181) e barão (217.70).
172
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
290
Como particípio do verbo arreigar.
173
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
291
Cf. s.v. atemorizar. Verbo datado a partir do particípio.
174
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, azeytony (ZURP).
- MD-CF: XV, azeytony (ZURP).
Obs.: Forma averbada em Morais: “Comic. Azeitona. Cancioneiro. Como adj. «veludo
azeitoni;» cor de azeitona. Ined. 2. 618”.
292
Para Morais, “talves de acervo”, mas remetendo para azerve, indicado como termo agricula, com o
significado de “paravento feiro de ramos para emparar as eiras. Blut. Vocab.”.
293
Datação em itálico, como data provável.
294
Cf., no entanto, a palavra infra BOMBORDO.
175
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
precisamente com esta passagem de ZURP: “Cerca de madeiras á pressa para defensivo. Ined. 2.
380. E ali quizerom fazer huma azervada, em que pensavam de se salvar”295.
O substantivo está atestado no século XV.
Etimologia: de borda + -ar. JPM3 propõe também a hipótese do fr. border ou broder.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- JPM3: XVI, segundo Morais2, “De borda, isto é, «guarnecer a borda a»”.
- BLem: XV, bordar (ZURP).
- MD-CF: XV, bordar (ZURP)296.
295
Cf. Morais4 azervada.
176
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
BRAGA, s.f. (1) ‘grilheta, calceta; argola de ferro fixada ao tornozelo dos prisioneiros, e
que se ligava à sua cintura por meio de uma corrente de ferro ou ao pé de
outro prisioneiro’.
Ex vem o cristão em forma de catyvo, com sua braga de ferro, (417.750[747]).
296
No corpus MD-CF, no século XIV, ChUniPort (1300), encontra-se mal digitalizada a forma bordem:
“Johanes doctor legum Dom Joham pella graça de deus filho do moy nobre Rey dom Pedro meestre da caualaria da
bordem daujs”. São mais os casos da troca do ‘h’ pelo ‘b’: “E, como lhe comtasse por bordem todo o que avia
passado” (FRAD), “ilhos de dom frey Nuno de goyos prior da bordem do espital Carta” (ChPortDuarte).
297
JPM3 sugere também a forma mais antiga brax, brācis, mais usada no plural braces, com eventuais
reminiscências no inglês braces ‘suspensórios’, neste caso em particular, ‘suspensórios de ferro’.
298
Classificada como nome próprio.
299
RLor corrige a datação de JPM para a acepção de ‘espécie de calças’, do século XV para 1083 “et unas
brakas nobas cum sua inbragatoria” (Dipl. 369), mas que Houiss não leva em consideração.
300
Existem outros casos com ocorrência simultânea em INFA e ZURP que não serão trabalhados, como
elche, passante.
177
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
301
Viterbo, s.v. brenseda.
302
Morais4, s.v. brenseda.
303
Para Houaiss, a forma mais antiga boroa ocorrem em 1174 (JPM3) e a forma broa, apenas em 1652 (cf.
Agiólogo). No MD-CF, com abonação de Textos notariais (sd,1243-1300) in Docs. Notariais dos Séculos XII a XVI
(CIPM), pode encontrar-se já a forma broa: “sentindo-se agravados por lhes deitarem muita água no vinho e lhes
diminuirem a ração de broa”.
304
Em Houais, s.v. roteiro: “publicação com descrição minuciosa de pontos e acidentes geográficos de
regiões costeiras ou ilhas, com indicação de correntes, ventos, marés, faróis, cidades litorâneas, sugestão de rotas para
cada época do ano etc., cujo conhecimento é necessário para se fazer uma viagem marítima”.
178
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, caçoar (ZURP).
- MD-CF: XV, caçoar (ZURP).
Obs.: Normalmente registado como verbo. Como substantivo, apenas em Morais classificada de
s. f. ant., precisamente com esta abonação de ZURP, mas com um ponto de interrogação.
CALA, s.m. (16) ‘pequeno porto ou enseada muito estreita, com margens íngremes ou entre
rochedos’.
as quaes amte menham deram escalla em terra omde se acaba o muro d’Allmina, em hũa
calla que he da parte do llevamte. (346.59).
305
Esta é uma sigla atribuída ao Livro de Falcoaria de Pero Menino (P. M.), cf JPM3, Abreviaturas e Siglas
(1995:18). No entanto, a abonação é claramente de ZURP. Cf. obeservação, nota 288, s.v. ALAR.
179
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
CANAVEAR, vb. (1) ‘ferir, torturar, enfiando lascas de cana sob as unhas’.
comtanto que não sejam daquelles que se lamçarã per suas vomtades, porque taes nõ
tomaria senão pera hos canavear. (417.741[738]).
Etimologia: origem duvidosa. Segundo Houaiss, “há quem proponha a form. a- + 2cânave + -
ar; Nascentes deriva de cânave < lat. cannăbis,is e cannăbus,i ‘linho, cânhamo’,
por sua vez, do gr. kánnabis e kánnabos,os; há, ainda, os que associam a cânave
(desusado) ‘cana’ que, segundo DV, s.v. canáve, seria proveniente de canna, infl.
na forma por canave, do lat. cannăbis ‘cânhamo’ alguns relacionam ao ant.
canavea, do qual tb. procederia canavial, antes canaveal;”
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- JPM3: XV, “«… que lá seja prêso, com tanto que não sejam daqueles, que se lamçarom per
suas vontades, porque taes nom tomaria senão pera os cannavear», P. Men., cap. 56, em Inéd.
Hist., II, p. 396. A var. acanavear do séc. XVI: «… ẽ dous dias que ho martyrizarã, atado ẽ
hua cruz feita ẽ aspa, em que ho acanauearã», Gois, IV, cap. 8, p. 19”.
- BLem: XV, canavear (ZURP).
- MD-CF: XV, canavear (ZURP).
Obs.: Houaiss apenas apresenta a variante acanavear, com indicação de que “JM registra no
sXV um v. canavear, com uma var. acanavear no sXVI”. É precisamente esta Houaiss utiliza
com ocorrência em 1567 DGóis IV 21.
Ainda sem registo no CIPM.
O substantivo está atestado em 1338.
Estamdo jaa pera partir, vyram llargo ao maar, pera comtra omde elles estavã, hũa vella
latyna, a quall rreconheçemdo que hera caravo vogaram a elle. (344.18).
Caravo caravos carevo carevos
306
Forma classificada como vb / nomc e lematizada para o verbo calar.
307
Lematizada para calha.
308
Cf. abreviador (XVI), expedição (XVI), quilate (XVI), recosto (XVI), alar (XVII), meda (XVII),
muralha (XVII), entuna (XVIII), correspondente (1813), ladrilhado (1813), recrescimento (1813)..
309
Cf. sobretudo, a partir da letra -E-, para o VH-CPM, palavras como escol, espadim, falca, fragura.
310
Das 57 ocorrências em ZURP, além de caravo, apenas apresento o registo das três formas diferentes:
caravos, carevo, carevos.
180
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
CLIMA, s.m. (s.f.) (2) ‘conjunto de condições atmosféricas que caracterizam uma região’.
porque, emtramdo o sol no sygno da virgem, he naquella crima a força do Estio, omde
todallas fruytas tẽ sua primçipall sazão. (225.246).
311
Em ChPortDuarte como topónimo.
312
Para JPM3 de 1275 “«Petrus iulianj dictus carrasco», Portel doc. N.º 201, p. 116 da separata; cf. também
p. 117. (…)”.
181
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Registos:
- JPM3: XVI, “«… tem passados / na viagem, tam asperos perigos, / Tantos Climas & Ceos
experimentados», Lus., I, 29. A variante Crima no séc. XVI (…)”
- AGC: 1572.
- IVPM: XV, clima (ZURD 87.22).
- VH-CPM: XV, clima (ZURD, 87.22).
- BLem: XV, crima (ZURP); clima (ZURD).
- MD-CF: XV, crima (ZURP).
- Houaiss: XV, (cf. IVPM).
Obs.: Houaiss não apresenta a forma histórica crima, uma vez que não trabalha ZURP. Porém,
ela estava já identificada por JPM3 no século XVI, embora tardiamente face a ZURP. A datação
do século XV indicada em Houaiss é de ZURD, proveniente do IVPM, com a forma clima.
Antedatação a Houaiss em obra do mesmo autor.
182
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
313
Para Houaiss no século XIII, remetendo para o FichIVPM. No VH-CPM apenas são registadas abonações
do XV. Atendendo à datação de RLor, eventual gralha de Houaiss.
183
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: talvez da base latina pēs, pedis ‘pé’, com o prefixo de negação im- e o sufixo
adjectival -oso ‘que não pode por o pé, que não pode andar’.
Tipo de unidade: derivação parassintética.
Registos:
- BLem: XV, empidosos (ZURP).
- MD-CF: XV, empidosos (ZURP).
Obs.: Apenas registado em Morais.
Etimologia: Segundo Houaiss, de origem controversa “segundo Nasc., de em- + *preita, este do
gr. plektê ‘corda entrelaçada’, pelo lat. vulg. plecta; para A. G. Cunha e JM, do lat.
*implicta, por implicĭtus, a, um ‘entrançado, enlaçado, enroscado’ e, para JM,
talvez pelo esp. empleita (sXVII), do mesmo lat.vulg. plecta”.
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Registos:
- JPM3: XV, “«…se eu fezera empreita d’esparto, ou esteiras de jumco…», P. Men., cap. 2, nos Inéd.
Hist., II, p. 117.”
- BLem: XV, empreita (ZURP).
- MD-CF: XV, empreita (ZURP; Foraes).
- Houaiss: XV, (cf. FichIVPM).
Obs.: Sem registo no VH-CPM, apesar da remissão de Houaiss para o FichIVPM.
314
Forma lematizada para embranhar.
315
Segundo Morais4 s.v. empidoso.
184
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
316
No manuscrito G entranhas.
317
Em Houaiss,+ 1tuna, em vez de 2tuna.
185
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
ENXURRAR, vb. (5) ‘atacar de enxurrada; limpar a área (embarcação) de forma rápida’.
Porẽ aquelles bõs capitães cõ allgũs que se estremaram amtre os outros cristãos salltarão
em hũa fusta dos mouros e ẽxullarã-na toda, que nõ ficou nenhũ homẽ vivo sobre cuberta.
E em esto os outros cristãos que estavã na proa emxorarã as outras ate çerca da metade.
(577.1092,1094).
318
Forma lematizada para emxabeque.
319
Forma lematizada para enxorar.
320
S.v. enxorar: “Os nossos tomarão hum afusta, e enxorarom-na toda, antre os que matarão, e os que
fizeram saltar ao mar”. Confronte-se esta mesma passagem com a edição de Brocardo “Os nossos salltarão em hũa
das fustas e emxullarã na toda amtre os que matarão e os que fezerã salltar ao maar”.
321
A etimologia proposta por JPM3 para o verbo enxorar, de xó!, interjeição para espantar aves, não se aplica
neste contexto.
322
Em Houaiss com datação exacta para a Ceuta.
186
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
187
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
ESPORÃO, s.m. (1) ‘saliência reforçada na proa de um navio, usada para danificar o casco da
embarcação inimiga’.
E sendo assy aferrados dous navios a hũ, porque o Rraposo hera aymda ao largo, como
semtyo a pelleja voltou sobr’elles e emvestio hũa das fustas assy rrijo que meteo os
esporoes todos em ella, em tall guysa que a mayor parte da gemte foy ao mar. (576.1065).
Etimologia: Segundo Houaiss, do “provç. ant. esporon, der. do gót. ou do a.-al. ant. esporo; JM
pressupõe a existência de uma f. lat. *sporōne, com orig. no gót.”.
Tipo de unidade: importação (provençal).
Registos:
- AGC: c1539, esporam JCasD 122.3.
- VH-CPM: XV, sporoões (ZURD, 288.17).
- BLem: XV, esporoes (ZURD).
- MD-CF: XV, esporoes (ZURD).
- Houaiss: XV, sporoões, 1570 sporão (cf. FichIVPM).
Obs.: Em JPM3 apenas como topónimo em 1267. Claro exemplo de sucessivas antedatações de
Cunha, desde a primeira edição em AGC (sporão 1570), passando pelo suplemento à segunda,
(JCasD 122.3) até ao IVPM, com a abonação de ZURD.
323
Segundo Morais, s.v. espirica.
324
Segundo o Grande Dicionário Português ou Tesouro da Língua Portuguesa, pelo Dr. Frei Domingos
Vieira.
188
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
FALCA, s.f. (1) ‘tábua superior do costado de embarcação miúda; pedaço de madeira’.
E os mouros de sua parte começarã de se poer a pomto, metemdo rremos e fallcas pera
averẽ mais allta defemsõ, (601.515).
189
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: Segudo Houaiss “ligado a fogaça, prov. de uma base lat. fovicŭla, à qual se
prendem as f. snc. focŭla, ōrum ‘braseiro’ e focŭlus, ī dim. de fŏcus, ī ‘fogo’ ”.
Tipo de unidade: importação (latinismo).
Registos:
- JPM3: XVI, “na Origem da Língua Portuguesa de Duarte Nunes de Leão, cap. 16, p. 294, ed.
de 1945”.
- BLem: XV, follares (ZURP).
- MD-CF: XV, follares (ZURP).
- Houaiss: 1606, (cf. DNLeP).
Obs.: Antedatação face a Houaiss, com datação igual em JPM3.
Etimologia: de orig.obsc.
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, froto (ZURP).
- MD-CF: XV, foto (ZURP).
- Houaiss:
Obs.: Sem datação em Houaiss apesar da abonação de ZURP em Morais4.
190
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
FRAGURA, s.f. (1) ‘declive da montanha, com muitas fragas; aspereza, fragosidade’.
pello quall os mouros em breve foram na serra, tiramdo seu gado o mais que podiam pera
o sallvarem na fragura daquella momtanha. (332.737).
191
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
FURÃO325, s.m. (1) ‘instrumento pontiagudo de ferro usado nas embarcações para abalroar,
fazer buracos nos inimigos’.
Outrossy tomo Allvaro Affomso outro carevo, em que ouve XII mouros e duas negras, o
quall se perdeo, porque, do emvestir que a fusta fez ẽ elle no quartell da popa com hos
frorõoes, alagou-se. (641.264).
325
Eventualmente FLORÃO (Houais, 1624 cf. FrElis), com o significado figurativo de ‘ferro’ da acepção
gráfica de ‘ferro de dourador, usado para estampar ornato que imita flor ou folhagem’. De qualquer forma
antedatação.
192
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: importação (arabismo).
Registos:
- BLem: XV, agomer (ZURP).
- MD-CF: XV, agomer (ZURP).
Obs.: Pelo que consegui apurar, trata-se de um hápax.
326
Cf. Viterbo, s.v. job, suplemento, II volume.
327
No manuscrito G, nas duas ocorrências ladrando.
193
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Registos:
- JPM3: XV, “«E porque atras elles vinham alguns outros Mouros, que os vinham ladeamdo, fez
Dom Samcho volta sobr’elles», P. Men., I, cap. 35, nos Inéd. Hist., II, p. 604”.
- AGC: XV.
- BLem: XV, ladiando, ladiamdo (ZURP).
- MD-CF: XV, ladiando, ladiamdo (ZURP).
- Houaiss: XV, (cf. AGC).
Obs.: Sem registo no VH-CPM, apesar da ocorrência em AGC e da remissão de Houaiss.
O substantivo está atestado em 1280.
Ainda sem registo no CIPM.
194
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
MINHOTEIRA, s.f. (1) ‘ponte, que consta de uma, ou duas tábuas, ou de uma trave, para
passar uma cava, ou brejo, etc’329.
E tamto que foy fora da agua, pos-se a pee e chamou os outros, e despejarão o porto muyto
asynha, e assy passaram todolos de cavallo, caa os de pee passavã pellas minhoteiras, que
hi avia muytas. (391.110).
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, minhoteiras (ZURP).
- MD-CF: XV, minhoteiras (ZURP).
Obs.: O registo apresentado por JPM3 apenas diz respeito a minhoto, de Minho.
Morais apresenta três abonações para esta entrada, Chro. J. 1. c. 69. Cast. L.7. c. 20. H. Naut. 2.
f. 301. Duas destas abonações são claramente do século XVI, Castanheda e História Trágico-
Marítima, mas uma da Crónica de D. João I, que não consegui localizar, nem encontrei nos
corpora informatizados.
328
Forma lematizada para o advérbio medês.
329
Segundo Morais4
195
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
330
Forma lematizada para missiva, classificada como nomc.
196
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
197
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
PALMITAL, s.m. (1) ‘aglomerado de palmitos (gomo terminal comestível do caule das
palmeiras)’.
E estamdo assy ẽ sua vella vyram vir hũ mouro mamçeebo, que seria de XXII ate XXIII
annos, e trazia hũa soma de vacas amte sy, o quall, desviamdo seu gaado comtra hũs
pallmitaes, Diogo Vazquez de Porto Carreiro, que ally hera, emcaminhou a elle e o filhou.
(382.913).
331
JPM3 observa nesta entrada “só documento este voc. no séc. XVI, mas deve ser bastante anterior, como se
deduz da abonação de palmital”. Houaiss confirmou parte das suspeitas ao apresentar data de 1500, proveniente de
ACG. Metade da outra parte ficam aqui confirmadas, ficando a outra metade a aguardar eventual confirmação.
332
Cf. a fixação do texto da edição que JPM3 segue com a abonação retirada da de Teresa Brocardo.
198
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
PILOTAGEM, s.m. (1) ‘acção de pilotar, de conduzir seguramente uma embarcação no mar’.
- Ora - disse o comde - se vos quiserdes filhar ẽcarrego desta pillotagẽ e emtrar com hũa
nossa barca de mer-cadoria de dia no porto, (423.889[886]).
PORTALECER, vb. (1) ‘aparecer no alto de uma portela (passagem estreita entre montanhas)’.
E em esto chegarão outros mouros e rremessaram-lhe o cavallo, e matarã-ho, e, em
caymdo, foram os mouros sobre ho escudeyro e premderã-no. Mas Deus pareçee que se
quis lembrar delle e quis que ho comde portalleçesse, naquella hora, omde ho tinhã, pello
qual em breve foy leixado dos ymigos. (614.822).
199
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
E quando os vyram vyr mãdou Gomçallo Vazquez os cavallos e prisyoneiros diamte, e peça
de homẽs com elles, ate passar hũa rrachada pequena que estava ao fumdo do porto,
comtra Bulhões. (413.652[649]).
200
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Registos:
- BLem: XV, rachada (ZURP)333.
- MD-CF: XV, rachada (ZURP).
Obs.: Entrada apenas averbada em Houaiss, mas com acepção diferente.
O verbo está atestado em 1344334.
333
Forma classificada como vb part e lematizada para o verbo rachar.
334
Para Houaiss século XV.
335
Passagem repetica em ZURP. Cf. abonação (681.241-242).
201
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: de recrescer com alt. da vogal temática -e- > -i- + -mento.
Tipo de unidade: derivação sufixal.
Registos:
- AGC: 1813.
- BLem: XV, rrecreçimemto (ZURP).
- MD-CF: XV, rrecreçimemto (ZURP).
- Houaiss: 1562 (cf. JC).
Obs.: O verbo está atestado em 1275.
202
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
E daquella vez soube o comde como se a frota dell rrey de Grada corregia pera vyrem
çercar a çidade, ca o sabiam estes pellos messageiros que cada dia passavão a fazer seus
rrutos336 de hũ rrey pera outro, o que se claramemte mostrou nos feitos que se seguiram
adiamte. (353.466).
336
No manuscrito G tratos.
337
Sem registo em BLem. Regista, no entanto, a variante tratos em ZURP.
203
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Obs.: Derivado sem registo na maioria das obras consultadas. Antedatação de quase três séculos
face a Houaiss
O substantivo está atestado no século XIII.
Etimologia: Segundo Houaiss, “prov. do ár. sarmaq. ‘armolão’, por sua vez do persa; a
primeira forma esp. xaramago é de 1490, sendo o esp. jaramago do sXVII, o port.
saramago é também do sXVIII, tardio, pois, em relação ao étimo, razão por que o
admitem do esp., que dialetalmente ocorre como zaramago ‘erva-armoles’ ”.
Tipo de unidade: importação (arabismo).
Registos:
- JPM3: XVII, segundo Morais2, “Do ár. sarmaq, (…) de origem persa, não parecendo
impossível que o voc. nos tenha chegado por intermédio do ant. cast. xaramago (hoje
jaramago). ”
- AGC: XVII. “Do ár. sarmaq, com provável interferência do castelhano antigo çaramago (hoje
jaramago)”.
- BLem: XV, saramagos (ZURP).
- MD-CF: XV, saramagos (ZURP).
- Houaiss: 1708, (cf. MBFlos).
Obs.: Com a atestação em ZURP, fica assim excluída a interferência do castelhado, e deixa de
ser tardio em relação ao étimo como indica Houaiss.
SERTÃO, s.m. (9) ‘região agreste, distante das povoações ou das terras cultivadas’.
E logo de começo se foy dereitamemte a çidade com seys ou sete de cavallo e pareçeo assy
sobre a carreira que se fazia amtre as portas que sayam da çidade pera o sertam,
(237.552).
204
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Obs.: Sem registo no VH-CPM, apesar da ocorrência em AGC e remissão de Houaiss para o
FichIVPM.
SOBRESSELENTE, adj. (2) ‘que está a mais e é próprio para suprir faltas; de reserva’.
Mas o patrão della, com hũa agumia, e outros ofyçiaes que o ajudavão cortavã braços e
maãos a todos aquelles que viam travar nas bordas pera pojar açima, ou per outra
quallquer parte comtra sua hordenamça, de guysa que com pouco mais de çimquoemta
sobressallemtes começou de vogar o mais a pressa que pôde (518.765[764]).
338
Sobre esta datação, JPM3, s.v. sova, observa que “pela data desta palavra deduz-se que o uso do v. deve
ser mais ant. do que a data para ele antes indicada [XVI, Déc.]”.
205
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: (?).
Tipo de unidade: (?).
Registos:
- BLem: XV, sobcoixa (ZURP).
- MD-CF: XV, sobcoixa (ZURP).
Obs.: Apenas encontrei esta palavra com registo em Morais, com esta abonação de ZURP, mas
sem a atribuição de qualquer significado.
339
A justificação deste significado, bem como da etimologia, encontra-se em Houaiss: “no port. inicialmente
o voc. era exclusivamente us. no campo da náutica e significava 'estar fundeada, aportar (falando de embarcação),
lançar âncora'; nessas acp. o voc. vem do cat. sorgir (sXIII) e, este, do lat. surgĕre; segundo Corominas, a evolução
semântica do lat. surgĕre 'levantar-se, erguer-se' teria seu começo em frases como esta em lat. navis surgit in portu 'a
nave está erguida no porto', donde 'a nave está quieta, daí a nave está fundeada'; deste sentido com aspecto durativo
passaria para outro, de aspecto pontual: a nave surgiu a âncora 'a nave lançou a âncora'; outra evolução semântica
para este verbo foi 'fazer-se a nave ao mar, partir'; tal acp. parece vir do fr. ant. sourdre (< lat. surgère) e,
diferentemente das primeiras, é bem próxima do significado do v. lat.”
206
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
340
No manuscrito G tamargall.
207
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
TRAÇAR, vb. (1) ‘que se verifica como traçado, planeado; ocorrer, acontecer’.
o que leda-memte se pos em obra, porque allem da homrra sempre se lhe seguya proveito
quãdo lhe os feitos traçavã como elles queriã. (431.1091[1088]).
341
Segundo Bluteau, referido por Houaiss, assim chamada por ser uma espada curta e larga, à que faltava a
terça parte de uma espada de marca, isto é, de uma espada de dimensões normais.
342
Como forma verbal de traçar.
343
Com 40 abonações de Foraes (obra sem qualquer outra indicação), sempre como adjectivo e com o
significado de ‘misturado’ (do século XIV), 39 em pam terçado e 1 em casal terçado.
208
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
Etimologia: de orig.controversa. Houais, s.v. troç- indica, no entanto, que “é, porém, bastante
seguro que se relacione com o fr. ant. e dialetal trous ‘tronco de planta; fragmento
de lança, parte do fuste’ ”.
Tipo de unidade: importação (galicismo).
Registos:
- JPM3: 1553, “«…e com troços de escadas quebradas, atadas umas nas outras, pudemos
socorrer aos do muro com uma escada», Afonso de Albuquerque, Cartas, p. 177, na selecção
dos Clássicos Sá da Costa”.
- AGC: XVI, troço.
- BLem: XV, troço (ZURP).
- MD-CF: XV, troço (ZURP).
- Houaiss: 1513, (AAlbCar).
Obs.: Antedatação face a Houaiss.
344
BLem inclui, mecanicamente, no lema verbal traçarduas formas nominais: traçado ‘terçado; espada curta
e larga’ (ZURD) e traçom ‘pedaço, fragmento’ (LOPF).
209
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
210
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
211
III.4.2. Novidade de ‘pallavras’ na Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
4.2.1. Comentários
212
Conclusão
Conclusão
345
Matos e Silva (2008.41).
346
Cardeira (2005:35).
347
Cf. Livro da Vertuosa Benfeyturia, Calado (1994:3,18-20).
213
Referências Bibliográficas
Referências bibliográficas
Textos
LOPES, Fernão (22004). Crónica de D. Fernando. Edição crítica, introdução e índices de
Giuliano Macchi. Lisboa: IN-CM.
ZURARA, Gomes Eanes de (1997). Crónica do Conde D. Pedro de Meneses. Edição e Estudo
de Maria Teresa Brocardo. Lisboa: FCG-JNICT.
Dicionários
215
Referências Bibliográficas
216
Referências Bibliográficas
SILVA, António de Morais (41831). Diccionario da Língua Portugueza Composto pelo Padre
D. Rafael Bluteau reformado, e accreccentado por António de Moraes Silva, Lisboa.
SILVA, António de Morais (1949-1959). Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa:
Confluência. Actualização de Cardoso Moreno e José Pedro Machado.
SILVA, António de Morais (1980). Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa. Lisboa:
Editorial Confluência.
Vocabulário Histórico-Cronológico do Português Medieval (versão 1.0), (2002). Fundação
Casa de Rui Barbosa.
TEIXEIRA, G. (dir.) (2004). Grande Dicionário: Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora.
Corpora informatizados
217
Referências Bibliográficas
Estudos
219
Referências Bibliográficas
CASTRO, Ivo (1991). Curso de História da Língua Portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta.
CASTRO, Ivo (1993). Elaboração da língua portuguesa, no tempo do Infante D. Pedro. Biblos,
LXIX, 97-106.
CASTRO, Ivo (22006). Introdução à História do Português. Lisboa: Colibri.
CASTRO, Ivo e DUARTE, Inês (2003). Razões e Emoções – Miscelânia de estudos em
homenagem A Maria Helena Mira Mateus. Lisboa: IN-CM.
CASTRO, Maria Helena Lopes de (1998). Leal Conselheiro. Edição crítica e anotada. Lisboa:
Bertrand.
CHAVES, Maria A. G. Arola (1970). Formas de pensamento em Portugal no séc. XV. Lisboa:
Livros Horizonte.
COSTA, Avelino de Jesus (1979). Os mais antigos documentos escritos em português. Estudos
de Cronologia, Diplomática, Paleografia e Histórico-Linguísticos. Porto.
CRISPIM, Maria de Lurdes (2002). O Livro das Tres Vertudes – a Insinança da Damas, ed.
crítica. Lisboa: Caminho.
CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley (21984). Nova Gramática do Português
Contemporâneo. Lisboa: Ed. Sá da Costa.
CURTIUS, Ernst Robert (1989). Literatura europea y Edad Media latina. Trad. esp. de Margit
Frenk Alatorre y Antonio Alatorre. México: Fondo de Cultura Económica.
DIAS, Aida Fernanda (1998). História Crítica da Literatura Portuguesa (dir. de Carlos Reis)
Vol. I: A Idade Média. Lisboa: Verbo.
DINIS, António J. Dias (1949). Vida e obras de Gomes Eanes de Zurara, Introdução à Crónica
dos Feitos da Guiné, I. Lisboa: Agência Geral das Colónias.
ERNOUT, Alfred (31974). Morphologie historique du latin. Paris: Klincksieck.
ESTRADA, Francisco López (51987). Introducción a la literatura medieval española. Madrid:
Gredos.
FERREIRA, José de Azevedo (1995). Subsídios para o estudo da formação da prosa em
Portugal. Actas do XIX Colóquio Internacional de Linguística Funcional. Coimbra:
Faculdade de Letras, pp. 51-57.
FREIRE, António (1983). Lições de Filologia e Língua Portuguesa. Braga: Faculdade de
Filosofia.
FREIRE, António (1984). Helenismos Portugueses. Braga: Publicações da Faculdade de
Filosofia.
GÂNDAVO, Pêro de Magalhães (1981). Regras que ensinam a maneira de escrever e a
ortografia da língua portuguesa. Lisboa: Biblioteca Nacional.
GEADA, Maria Emília Duarte (1964). Fernão Lopes e a influência de Pero Lópes de Ayala na
Crónica de D. Fernando. Outras fontes. Coimbra: dissertação de Licenciatura.
220
Referências Bibliográficas
GODINHO, Vitorino Magalhães (2004). Portugal, a Emergência de uma Nação (Das Raízes a
1480). Lisboa: Edições Colibri.
HERNÁNDEZ, H. (ed. (1994). Aspectos de Lexicografía Contemporánea. Barcelona:
Bibliograf / Universidad de Murcia.
HIGHET, Gilbert (1954). La tradicion clasica: influencias griegas y romanas en la literatura
occidental. Trad. esp. de Antonio Alatorre. México: Fondo de Cultura Económica.
História da Expansão Portuguesa. Vol. 1. (1993). Direcção de Francisco Bethencourt e
Chaudhuri Kirti. Lisboa: Círculo de Leitores.
HUBER, Joseph (1986). Gramática do Português Antigo. Lisboa: Gulbenkian.
IRIARTE SANROMÁN, Álvaro. (2000) A Unidade Lexicográfica. Palavras, Colocações,
Frasemas, Pragmatemas. Dissertação de Doutoramento em Ciências da Linguagem -
Linguística Aplicada apresentada à Universidade do Minho. Braga: Centro de Estudos
Humanísticos - Universidade do Minho
IRIARTE SANROMÁN, Álvaro. (2001). A palavra como unidade lexicográfica? In
Actas do XVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa: APL,
pp. 459-468
KING, Larry (1978). Gomes Eanes de Zurara. Crónica do Conde D. Duarte de Meneses.
Edição diplomática. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa.
LANCIANI, Giulia e TAVANI, Giuseppe (org.) (1993). Dicionário da Literatura Medieval
Galega e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.
LAPA, Rodrigues (111984). Estilística da Língua Portuguesa. Coimbra: Coimbra Editora.
LAPA, Manuel Rodrigues (101981). Lições de Literatura Portuguesa. Época Medieval.
Coimbra: Coimbra Editora.
LAPA, Manuel Rodrigues (1930). Froissart e Fernão Lopes. Lisboa: Impr. Beleza.
LAPA, Manuel Rodrigues (1965). Miscelânea de Língua e Literatura Portuguesa Medieval.
Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro.
LAPA, Manuel Rodrigues (1972). Historiadores quinhentistas. Lisboa: Seara Nova.
LAPESA, Rafael (92001). Historia de la Lengua Española. Madrid: Gredos.
LAUSBERG, Heinrich (1974). Linguística Românica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
LÁZARO, António Manuel (1990). Gomes Eanes de Zurara. Crónica do Conde D. Pedro de
Meneses Continuada à Tomada de Ceuta. Edição diplomática e crítica. Lisboa:
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (dissertação
de mestrado).
LEITE, Yonne de Freitas (1980-81). Reordenamento ou analogias? (Algumas evidências da
História do Português). Boletim de Filologia, Lisboa, XXVI, pp. 51-68.
221
Referências Bibliográficas
222
Referências Bibliográficas
MATEUS, Mª. H. Mira; BRITO, Ana Maria; DUARTE, Inês; FARIA, Isabel Hub (62004).
Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.
MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (1989). Estruturas Trecentistas. Elementos para uma
gramática do Português Arcaico. Lisboa: IN-CM.
MATTOS e SILVA, Rosa Virgínia (2008). O Português Arcaico - Uma Aproximação. I
volume: Léxico e morfologia; II volume: Sintaxe e fonologia. Lisboa: IN-CM.
MATTOSO, José (1992-93). História de Portugal (dir.). Lisboa: Círculo de Leitores.
MEIER, Harri (1943). A evolução do português dentro do quadro das línguas ibero-românicas.
Separ. da Biblos, XVIII, tomo II.
MEIER, Harri (1948). Ensaios de Filologia Românica. Lisboa: Edição da Revista Portuguesa.
MENÉNDEZ PIDAL, Ramón (91980). Orígenes del Español. Estado Lingüístico de la
Península Ibérica hasta el Siglo XI. Madrid: Espasa-Calpe.
MESSNER, D. (2007). Os dicionários portugueses, devedores da lexicografia espanhola.
Península, Revista de Estudos Ibéricos, nº4, pp. 147-151.
MONTEIRO, João Gouveia (1988). Fernão Lopes. Texto e Contexto. Coimbra: Minerva.
MORENO, Humberto Baqueiro (s.d.). Crónica de D. João I de Fernão Lopes. I volume. Porto:
Livraria Civilização - Editora.
NADAL, Gloria Clavería (1991). El latinismo en español. Barcelona: Universitat Autònoma de
Barcelona.
NASCIMENTO, Aires do (1993). As livrarias dos príncipes de Avis. Biblos, LXIX, pp. 265-
287.
NEMÉSIO, Vitorino (1930-31). Alguns aspectos da prosa medieval, O Instituto, 80.
NETO, Serafim da Silva (1956). Ensaios de Filologia Portuguesa. São Paulo: Companhia
Editora Nacional.
NETO, Serafim da Silva (61992). História da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Presença.
NUNES, Irene Freire (2007). Horto do Esposo. Edição crítica. Lisboa: Edições Colibri.
NUNES, José Joaquim (91989). Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa. Fonética e
Morfologia. Lisboa: Livraria Clássica Editora.
PAIVA, Dulce de Faria (1988). História da Língua Portuguesa. Vol. II: Século XV e meados do
século XVI. São Paulo: Editora Ática.
PARKINSON, Stephen (1976-79). Os Tabeliães, o seu título e os seus documentos. Boletim de
Filologia, Lisboa, XXV, pp. 195-211.
PAUL, Herman (21983). Princípios Fundamentais da História da Língua. Trad. port. de Maria
Luísa Schemann. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
PEREIRA, Francisco Maria Esteves (1915). Crónica da Tomada de Ceuta por el Rei D. João I
composta por Gomes Eanes de Zurara. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa.
223
Referências Bibliográficas
PIEL, Joseph M. (1980). Um difícil verbo medieval português: amo(o)rar. Revista Portuguesa
de Filologia, Lisboa, LXIII, pp. 41-47.
PIEL, Joseph Maria (1989). Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa. Lisboa: IN-
CM.
PIEL, Joseph-Maria (1942). Leal Conselheiro, o qual fez Dom Eduarte Rey de portugal e do
algarve e senhor de Cepta. Edição crítica e anotada. Lisboa: Bertrand.
PIEL, Joseph-Maria (1948). Livro dos Oficios de Marco Túlio Cícero, o qual tornou em
linguagem o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra. Edição crítica, segundo o ms. de
Madrid, prefaciada, anotada e acompanhada de glossário. Coimbra: Universidade de
Coimbra (Acta Universitatis Conimbrigensis).
PIEL, Joseph-Maria (1986), Livro da Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela, que fez El-rey
Dom Eduarte Rey de Portugal e do Algarve e senhor de Ceuta. Edição crítica, introdução
e notas. Lisboa: IN-CM.
PIMPÃO, Álvaro J. da Costa (21959). História da Literatura Portuguesa: Idade Média.
Coimbra: Atlântida.
PIMPÃO, Álvaro Júlio da Costa (1939). A historiografia oficial e o sigilo sobre os
descobrimentos. Coimbra: Biblioteca Universidade.
PORTO DA PENA (2002). Manual de Técnica Lexicográfica, Madrid: Arcos / Libros.
RAPOSO, Eduardo Paiva (1984). Algumas observações sobre a noção de «língua portuguesa».
Boletim de Filologia, Lisboa, 29, pp. 585-592.
REBELO, Luís de Sousa (1982). A Tradição Clássica na Literatura Portuguesa. Lisboa: Livros
Horizonte.
RIBEIRO, Orlando (1987). A Formação de Portugal. Lisboa: ICALP.
RIBEIRO, Orlando (41986). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Lisboa: Sá da Costa.
RICO, Francisco (1993).El sueño del humanismo: (de Petrarca a Erasmo). Madrid: Alianza.
ROHLFS, Gerhard (1979). Estudios sobre el léxico Románico. Madrid: Gredos.
RUSSEL, Peter Edward (1941). As fontes de Fernão Lopes. Trad. port. do original inédito
inglês de A. Gonçalves Rodrigues. Coimbra: Coimbra Editora.
RUSSEL, Peter Edward (1985). Traducciones y Traductores en la Península Ibérica (1400 -
1550). Barcelona: Universidad Autónoma de Barcelona.
SAID ALI, Manuel (31964).Gramática Histórica da Língua Portuguesa. São Paulo: Edições
Melhoramentos.
SANTOS, Maria José de Moura (1980). Importação Lexical e Estruturação Semântica. Biblos,
LVI, pp. 573-598.
SANTOS, Maria José de Moura (1996-97). Cultismos ou Moçarabismos. Revista Portuguesa de
Filologia, Lisboa, 21, pp. 287-323.
224
Referências Bibliográficas
SARAIVA, António José (31996). O crepúsculo da Idade Média em Portugal. Lisboa: Gradiva.
SENA, Jorge de (1988). Estudos de Literatura Portuguesa. Lisboa: Edições 70.
SEQUEIRA, Francisco Júlio M. (1938).Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Lisboa:
Livraria Popular.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (1972). A Historiografia Portuguesa. Doutrina e Crítica. Lisboa:
Editorial Verbo.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo (21989). Cronistas do Século XV posteriores a Fernão Lopes.
Lisboa: ICLP.
SILVA, Carlos Eugénio Corrêa da (1972). Ensaio sobre os Latinismos nos Lusíadas. Lisboa:
IN-CM.
SOARES, Torquato de Sousa (1977). A Historiografia Portuguesa no Século XV. Crónicas e
Cronistas. Lisboa: Academia Portuguesa da História.
SOUSA, Fr. João de e MOURA, Fr. Joze de Santo Antonio (2004). Vestigios da Lingoa
Arabica em Portugal. Lisboa: Livraria Alcalá.
TARRÍO, Ana MAría (2001). Tradução e nobilitação literária: uma estratégia não re-
latinizadora no português quinhentista. Evphrosyne, 29, Lisboa: Centro de Estudos
Clássicos, pp. 157-170.
TEYSSIER, Paul (1980). História da Língua Portuguesa. Trad. port. de Celso Cunha, (82001).
Lisboa: Sá da Costa.
VASCONCELOS, José Leite de (31966). Lições de Filologia Portuguesa. Rio de Janeiro:
Livros de Portugal.
VERDELHO, Telmo (1992). Aspectos de diacronia lexical do Português. A inovação entre o
Dicionário de Morais Silva e o Vocabulário de Português Fundamental. Actas do XIX
Congreso Internacional de Lingüística e Filoloxía Românicas, vol. II: Lexicoloxía e
Metalexicografía, Corunha: Fundación Pedro Barrié de la Maza, pp. 133-147.
VERDELHO, Telmo e J. P. Silvestre (org.) (2007). Dicionarística Portuguesa. Inventariação e
Estudos do Património Lexicográfico. Aveiro: Universidade de Aveiro.
VIDOS, B. E. (1963).Manual de Linguística Romana. Trad. esp. de Francisco de B. Moll.
Madrid: Aguilar.
VILELA, Mário (ed.) (1979). Problemas de Lexicologia e Lexicografia. Porto: Livraria
Civilização.
VILLAVA, Alina (2000). Estruturas Morfológicas. Unidades e hierarquias nas palavras do
Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
WAGNER, M. L. (1941). Aditamentos às Nótulas sobre alguns arabismos do português. Biblos,
XVII, tomo II, Coimbra, pp. 601-612.
225
Referências Bibliográficas
226
Índice analítico da Crónica de D. Fernando e da Crónica do Conde D. Pedro de Meneses
ANEXO
227