Análise O Baile Do Judeu
Análise O Baile Do Judeu
Análise O Baile Do Judeu
“Um bravo geral aplaudiu a melodia cadenciada e monótona da Varsoviana, a cujos primeiros
compassos correspondeu um viva prolongado. Os pares que ainda dançavam retiraram-se,
para melhor poder apreciar o engraçado cavalheiro de chapéu desabado que, estreitando então
a dama contra o côncavo peito, rompeu numa valsa vertiginosa, num verdadeiro turbilhão, a
ponto de se não distinguirem quase os dois vultos que rodopiavam entrelaçados, espalhando
toda a gente e derrubando tudo quanto encontravam”. (O Bale do Judeu – Inglês de Sousa)
R: Para entendermos o pano de fundo do conto O Baile do Judeu, do Inglês do Sousa, se faz
necessário refletirmos o processo de migração de famílias judaicas para a nossa região
amazônica. Tendo em vista que, com a vinda desses povos, também veio parte de suas
culturas e não sendo possível o apagamento da cultura local, estas misturam-se em seu
cotidiano. A forma como o escritor descreve um boto que dança valsa, sobretudo uma
Varsoviana, que é uma composição de origem polonesa, é a prova dessa hibridação de
diversos elementos culturais. Entre as narrativas mais comuns que figuram no imaginário
amazônico é comum a descrição de uma moça que se apaixona perdidamente pela figura do
boto, aqui não obstante a moça não se apaixona pelo boto, embora o narrador faça uma breve
menção sobre haver um aparente contentamento no semblante da moça, o que não configura
uma paixão alucinante.
2) Embora o conto de Inglês de Sousa tenha como uma das personagens o Boto e sua lenda,
responda: como o narrador desconstrói a figura dessa personagem tão marcante nas narrativas
orais populares da Amazônia?
“No meio dessa estupenda valsa, o homem deixa cair o chapéu e o tenente-coronel, que o
seguiu assustado, para pedir que parassem, viu, com horror, que o tal sujeito tinha a cabeça
furada. Em vez de ser homem, era um boto, sim, um grande boto, ou o demônio por ele, mas
um senhor boto que afetava, por um maior escárnio, uma vaga semelhança com o Lulu
Valente. O monstro, arrastando a desgraçada dama pela porta fora, espavorido com o sinal da
cruz feito pelo Bento de Arruda, atravessou a rua, sempre valsando ao som da Varsoviana e,
chegando à ribanceira do rio, atirou-se lá de cima com a moça imprudente e com ela se atufou
nas águas”. (O Bale do Judeu – Inglês de Sousa)