Paramartha Prasanga Ate 340
Paramartha Prasanga Ate 340
Paramartha Prasanga Ate 340
PARAMARTHA PRASANGA
Swami Virajananda
Dedicado
Com profunda humildade e devoção
À
SRI SARADA DEVI
E
SWAMI VIVEKANANDA
Em memória de
Sua benigna graça e bênção.
(Swami Virajananda)
1 Swami Virajananda (1873-1951), um venerado discípulo da Santa Mãe Sri Sarada Devi, foi iniciado
como monge por Swami Vivekananda (em 1897); em 1938 tornou-se o Sexto Presidente da Ordem
Ramakrishna. (Nota do tradutor).
1
e nas escrituras), e Samâdhâna (concentração da mente sobre o Ideal Escolhido,
ou Deus).
2
alma. O Senhor é o Morador Interno, é o Guia Interior. Ele vê seu coração; Sua
medida não é sobre quanto tempo você medita sobre ele ou quantas vezes você
faz Japa, mas sim sobre seu anelo interior.
10. Não é bom para os que vivem no mundo fazer muito Prânâyama
ou Yoga. Aqueles que são inclinados a fazê-los devem observar rígida
regularidade e moderação em todas as fases da vida. Devem ter comida
nutritiva e Sáttvica (pura) nas horas certas, atividades bem-ordenadas, uma
vida sem preocupação, um lugar saudável e afastado com ar puro e clima
temperado, limpeza interior e moderação ao falar. Acima de tudo é imperativo
observar Brahmacharya, ou perfeita castidade. A violação destas restrições será
capaz de causar doença do coração ou da mente.
3
la no objeto da adoração. De outro modo, você não saberá quando a mente
poderá correr em outra direção; ou você pode ter até adormecido. Portanto,
apesar de que estes processos devem parecer para alguns como causadores de
um pouco de distração no início, eles o capacitarão a manter-se vigilante sobre
as andanças da mente, detectá-las facilmente, e trazer a mente de volta e mantê-
la fixada no objeto da meditação.
14. Nunca pense em você mesmo como sendo fraco. Tenha fé firme em
si mesmo. Pense, “Não há nada que eu não possa fazer; Eu posso fazer tudo que
quiser.” Por que você deveria reconhecer a derrota para sua mente? Saiba que
se puder subjugá-la, o mundo inteiro estará sob seus pés. Aquele que não tem
confiança em si mesmo não tem fé real em Deus. Swami Vivekananda disse que
o verdadeiro ateu é aquele que não tem fé em si mesmo. Ninguém escuta as
palavras daquele que não tem confiança em si mesmo e Deus também não
escuta suas orações.
3 Solitude é o estado de privacidade voluntária de uma pessoa, não significando propriamente, estado de solidão -
Wikipédia (nota do tradutor).
4
18. O homem sensível não tenta diagnosticar sua própria doença e
prescrever remédios para si mesmo lendo livros médicos. No caso da doença, o
conselho de um médico deve ser buscado. Da mesma maneira, se após ler
muitos livros e escrituras, uma pessoa tenta escolher para si mesmo uma
disciplina espiritual particular, sua mente pode ficar confusa e atormentada por
dúvidas e temores, o progresso pode ser interrompido, e a perda do esforço
realizado ou até mesmo algum dano pode ocorrer. A razão é que as várias
escrituras contêm caminhos e métodos divergentes e até mesmo contraditórios,
adequados para aspirantes de temperamentos e capacidades diferentes e de
diferentes estágios de vida. Por isso é perigoso em muitos casos decidir por si
mesmo o que é adequado para você exatamente. Somente o Guru pode conduzi-
lo para o caminho correto. Por isso é que o conhecimento espiritual deve ser
adquirido diretamente do Guru. Saiba que a iniciação e as instruções dadas por
ele são o único caminho para você seguir. Se você fizer com firmeza e constância
as práticas espirituais dadas por ele com fé total nelas e também nele, esteja certo
de alcançar o sucesso com o passar do tempo. Em qualquer evento, nunca
abandone estas práticas e recorra a outros métodos sob o conselho de outros. Se
você pular de um caminho para outro, o único resultado será que você se
perderá no caminho e ficará vagando sem ganhar nada.
5
próximos e queridos, mais você será o recipiente de Sua graça. Através de Sua
graça você será livre e bem-aventurado mesmo nesta vida.
22. Até que o Amor e Devoção a Deus cresçam, não se pode ter
consciência da natureza transitória e sem substância do mundo. A mente é
apenas uma e não pode ser dividida em compartimentos, uma parte dada a
Deus e outras partes cheias de desejos por fama, nome e objetos sensórios. Deus
não pode ser realizado a menos que a mente inteira seja dada a Ele. A menos
que se possa fazer isto, terá que se nascer repetidas vezes no mundo e sofrer
misérias sem fim.
24. Se você tiver que permanecer no mundo afinal, faça de Deus o seu
mundo. Organize sua casa com Ele. Qualquer coisa que faça, veja ou escute,
pense ser de Deus. É tudo um jogo, um jogo com Ele. Saiba que a vida é como
um jogo, no qual a própria Mãe é a Jogadora e você é Seu companheiro de jogos.
O mundo será muito diferente quando você souber que a Mãe está jogando com
você. Então você descobrirá que neste mundo não existe nem felicidade nem
sofrimento, bem ou mal, apego ou aversão, nem cobiça ou ciúmes.
Consequentemente, toda ilusão, interesse próprio e conflito desaparecerá, e os
pares de opostos não poderão atormentá-lo. Todas as ideias de união e
separação, amigo ou inimigo, alto e baixo, de ‘eu’ e ‘meu’, não existem naquele
seu jogo com a Divina Mãe. Só existe apenas – inesgotável Bem-aventurança,
infinito Amor e infinita Paz. Se apenas uma gota daquela Bem-aventurança for
experimentada, os prazeres dos objetos mundanos parecerão desprezíveis. A
posse de mesmo um átomo daquele Amor fará que o mundo inteiro seja mais
querido do que os nossos mais queridos, e a Bem-aventurança celestial será
sentida através de cada poro do corpo. Não há medo neste jogo, nenhuma
ansiedade, nem amarras, nem esgotamento; é um jogo sempre novo. E que
infinitos modos de jogar a Mãe conhece! Infinitas são as formas e maneiras nas
quais Ela joga! Perdemo-nos neste pensamento e mergulhamos nele. Naquele
momento de êxtase transcendental o jogo termina; pois para quem então
brincar, e com quem? Aquela experiência beatífica, aquele estado de bem-
aventurada união, está além do alcance da fala e da mente! Somente sabe aquele
que a conhece! Que grande diversão! Oh, a grande diversão!
6
25. Queremos gozar de todos os prazeres do mundo o mais que
podemos e ter a realização de Deus ao mesmo tempo. Sonho vão! Isto não pode
ser feito, meu amigo.
26. Se Deus viesse e dissesse: “O que você quer? Você quer a Mim – ou
você quer viver uma vida feliz cheia de fama, nome, saúde e riqueza por cem
anos com esposa, filhos e netos?” Você descobrirá que, exceto talvez por um em
cada dez milhões, todos pediriam ansiosamente pelo último.
28. Aquele que realmente O quer, encontra-O; aquele que não quer é
obrigado a dançar conforme o tom dos cinco malvados, torna-se o jogo dos cinco
elementos, que compreende o material do corpo e do universo – terra, água,
coração, ar e espaço. Ele está à mercê de todos os tipos de más influências.
30. A oração não consiste em recitar uma fórmula definida. Isto não dá
nenhum fruto. Você deve sentir internamente uma ânsia real por aquilo pelo
qual você ora, sofrer intensa dor e agonia enquanto a sua oração não é satisfeita.
Você deve se sentir ansioso para achar o caminho e os meios de ganhar o objeto
de sua oração, a despeito de insuperáveis dificuldades no seu caminho e
esforçar-se de todo coração para alcançá-lo, como se a própria vida dependesse
disso. Somente então sua oração será respondida e o desejo de seu coração
satisfeito. Somente tais orações atingem o trono do Altíssimo.
32. Se você abandonar seu pequeno ser por causa de outras pessoas,
você não apenas encontrará seu Ser real, mas também fará com que elas sejam
7
próximas. Quanto mais buscar salvar seu pequeno ser, mais você perderá seu
verdadeiro Ser e afastará as pessoas.
33. Continue a lutar sem cessar. Lute como um herói. Nunca olhe para
trás, mas sempre para frente. Siga em frente para a Meta! Não dê a menor
atenção se estiver exausto, arruinado ou mutilado no caminho. Abhih, Abhih!
Seja destemido! Coragem! Coragem! Não permita nem mesmo um pensamento
de derrota entrar em sua mente. Realização da Meta ou que caia o corpo! – que
este seja seu Mantra. Vitória ou morte! – que esta seja a sentença. Se você tiver
que morrer, morra como um herói. Somente assim o forte será tomado.
8
qualquer resultado obtido é pequeno e evanescente. A adoração com desejo pelo
fruto não purifica a mente. Também não dá nem a suprema devoção a Deus ou
a salvação, nem a paz e felicidade eterna. Sri Ramakrishna não podia aceitar e
nem mesmo tocar coisas oferecidas a ele com algum desejo ou motivo por
detrás.
37. Para realizar a Deus nesta vida deve-se fazer Sâdhanâ (práticas
espirituais) com toda sua força e capacidade e oferecer seu tudo a Ele – e se
possível, um pouco mais. Como Sri Ramakrishna costumava dizer, tenha fé e
devoção, até mais do que cem por cento. O significado é de que se deve tornar-
se como uma vasilha transbordando de fé e devoção. Quantos têm esta
quantidade abundante? Não há, contudo, motivo para desespero. Continue com
sua Sâdhanâ o melhor que possa. Mas sempre tenha esta firme convicção de que
por mais que você se esforce, isto não é nada – nunca será suficiente – quando a
Meta é a realização do Ser; pois ao final esta Meta só poderá ser alcançada por
Sua graça.
38. Mas a graça de Deus desce apenas sobre aquele que tem lutado ao
máximo, que não tem se poupado, que não soltou o timão e que finalmente
chegou a conhecer, após um esforço tremendo, que é impossível realizar a Ele
apenas através do autoesforço – sem Sua graça. Quando o aspirante sente que
está perdido numa impenetrável escuridão, que está para se afogar num mar
sem limites, sua força esgotada para se manter na superfície – então e somente
então o Senhor o levantará com Suas mãos de lótus e o levará além do plano da
vida e morte, onde existem bem-aventurança interminável e paz infinita! A
posse de apenas uma partícula daquela bem-aventurança faz o Jiva ou alma
individual sentir uma felicidade além de todo limite.
39. Por que você deveria temer tanto o mundo, como se ele fosse
devorá-lo? Seja corajoso e destemido! Seja um herói e não dê tanta importância
ao mundo e o mundo soltará suas garras de você. “Eu sou muito fraco, sou
inferior e pecador, não tenho nenhum valor. Eu não consigo fazer nada, sou um
incapaz” – a menos que você abandone estas ideias daninhas, jamais terá
sucesso em atingir algo na vida. Varra estas ideias da mente, levante-se e diga
como um herói, “O que existe que eu não possa fazer? Eu sou o filho da
Imortalidade: A Imortalidade é meu direito de nascimento, nada pode me tirar
isto!”
9
O sofrimento e a tristeza não podem me tocar.
Eu sou Existência-Conhecimento-Bem-aventurança.
Eu sou sempre-livre por natureza.
Oh, minha mente, diga – Om! Tat Sat Om!”
41. Recorde ao Senhor e pense n’Ele tanto quanto possa. Saiba que só
Ele é seu, mais íntimo e mais querido do que seu próprio ser. Ele, que é seu
único refúgio e fortaleza, aqui e no além, ame-O apenas, com todo seu coração
e alma. Pensa-se no bem-amado e assim pensando se obtêm felicidade e alegria;
se deseja estar sempre na companhia do bem-amado, se ressente de outros
tópicos de conversação ou distrações. Apesar disto, tal amor mundano, como o
restante no mundo, tem separação e fim. Mas não há fim no amor a Deus. É um
tesouro inesgotável! Quanto mais você bebe dele, mais sede você sente; e ao
final, perdendo-se na bem-aventurança, você esquece a si mesmo e mergulha
profundamente. Então, esta pequena individualidade se derreterá e a divindade
tomará seu lugar; em lugar desta existência corpórea, a divina consciência (a
qualidade de Shiva) iluminará a alma; a dança da morte cessará para sempre e
você atingirá a Imortalidade.
10
45. Continue a praticar Japa e meditação com grande devoção,
perseverança e paciência. Gradualmente a mente se tornará tranquila e a
meditação se aprofundará. Você sentirá um desejo pela sua meditação, de modo
que se falhar de fazê-la algum dia, tudo parecerá insípido e você se sentirá
extremamente desconfortável, como um adicto que deixou de usar sua droga
na hora costumeira. Você desejará permanecer mergulhado em meditação
apenas.
47. É muito bom sonhar com o Guru, com o Ideal escolhido e com
divindades. Isto encoraja e deleita muito a mente. Mas não se sinta infeliz ou
deprimido se você não tem tais sonhos com frequência. Se você os experimentar,
não fique contando sobre eles aos outros; você deve contá-los ao seu Guru, se
desejar. Não se preocupe em tentar extrair um significado para cada parte de
seu sonho. Apesar de tudo, um sonho é apenas um sonho e não tem nenhum
propósito esperar integração ou coerência através dele. Isto acontece apenas no
caso de âdesha, direto Divino Comando ou guia, ou da percepção intuitiva
durante a absorção na meditação, ou na Realização – a verdade da qual não
deixa lugar para dúvidas, e a posse da qual transforma toda a vida de um
homem e o torna divino. Tal experiência não chega a qualquer um; ela depende
de longa e austera Sâdhanâ, ou práticas espirituais e de Sua graça.
11
Ideal Escolhido como da natureza da consciência incondicionada – sempre-
puro, sempre-livre e autoluminoso – despojado de adjuntos limitantes. Pense,
enquanto meditar, que Ele, como Pura Consciência, permeia sua consciência do
ego; e que seu ser – a consciência do ego – está dentro Dele – a Consciência Pura.
Na realidade, você é da mesma essência que Ele, a diferença é apenas no grau
da manifestação. Tudo isto requer prática espiritual para sua verdadeira
compreensão e não pode ser colocado em palavras. “Jiva – a alma individual –
é o Ser na escravidão, e Shiva – o Espírito Puro – é o Ser fora da escravidão.”
12
a pureza, compaixão, força, coragem e outras virtudes divinas; e quando exalar,
pense que está tirando de dentro de si todas as imperfeições, tais como
pensamentos maldosos, impureza, estreiteza mental, inveja e tendências
pecaminosas.
13
de algum modo ou de outro. Mas seus méritos excepcionais predominam de tal
maneira que mesmo os seus defeitos e excentricidades frequentemente servem
para adornar seus caracteres e fazê-los ainda mais amados. Além disso,
deixando de lado estes personagens exaltados, o olho do amor não vê a feiura
ou as manchas de pessoas que amamos ou adoramos.
60. O Guru não pode fazer você realizar a Verdade a menos que você
tente intensamente por si mesmo. O Guru pode mostrar a você o caminho; pode
remover suas dúvidas e dificuldades e corrigir seus erros; pode alertá-lo se você
sair do caminho; pode colocá-lo de volta no caminho correto e pode até levá-lo
certa distância por ele, segurando-o pela mão. Mas quanto a andar você terá que
fazê-lo por si só – ele não pode carregá-lo até a meta sobre seus ombros. Sem
dúvida o caminho é longo e difícil, mas não será por isso que você se sentará no
meio do caminho, dizendo que está além do seu poder prosseguir mais; ou se
você estiver com medo ou sem esperança. Você não pode ficar parado. Você
deve seguir para frente ou voltar para trás. Se você voltar para trás
inevitavelmente perderá o que já tinha alcançado. Quanto mais você seguir para
frente, mais fácil o caminho se tornará. Coragem e força virão e você conseguirá
a felicidade.
14
62. Adiante! Adiante! Não olhe para este ou aquele lado. Não dê a
menor atenção aos fenômenos psíquicos como ver uma luz ou visão, etc. Ao
continuar a praticar a meditação, várias destas experiências ocultas podem
aparecer por si mesmas e você poderá ver vários tipos de coisas sobrenaturais e
também pode ter algum prazer nelas. Mas não pare aí; pois nesse caso você
jamais será capaz de progredir além disso. Mantenha sempre sua atenção total
fixa no Ideal e que seu único desejo e meta seja como aumentar sua devoção e
amor por Deus, como mergulhar sua mente n’Ele e como ganhar a realização
direta Dele nesta vida.
65. Nosso desejo por Mukti ou Liberação, é mera pretensão; não é real
e sincero. Se Deus aparecesse diante de nós e dissesse: “Aqui, eu estou lhe dando
a salvação, aceite-a!”, nós sentiríamos medo e indecisos e gritaríamos: “Não,
não, eu não quero Mukti agora; o que acontecerá aos meus parentes e queridos
que dependem de mim se eu tiver Mukti agora? Dê-me Mukti após a morte!”
Você se lembra da estória do lenhador? Exausto pelo peso de sua carga, ele
rezou à Yama, o deus da morte, “Ó Senhor, eu não posso suportar mais, liberte-
15
me!” Quando o deus veio e quis levá-lo embora, ele disse, “Não, não, Senhor,
eu chamei por ti apenas para me ajudar a levar esta carga de madeira sobre
minha cabeça!” Similar é a situação de todos os seres humanos que estão atados
pelos pés e mãos ao mundo; eles somente querem escapar de seus sofrimentos
– não querem ter Mukti realmente.
16
Ele estaria caído descuidado num canto do aposento.
Mas se Tu deres Teus Pés de Lótus que eliminam o medo,
Eu os manterei sobre o assento de lótus de meu coração.”
68. O essencial é trazer a mente sob controle. Se você não puder fazer
isto, nada mais servirá. Como se diz:
6 Aqui existe um jogo de palavras, montore, (coloquial para ‘Mantra’) e mon tore significando em
Bengali ‘sua mente’. Portanto significa que – tudo depende de sua mente, quer aceite e seja beneficiado
por isto ou não. (Realmente, este verso não pode ser efetivamente traduzido para o Português).
17
Assim a mente torna-se cada vez mais absorvida e quando esta atitude
amadurece e atinge seu desenvolvimento completo de maneira que a mente flui
como uma constante corrente de óleo, somente então ficará verdadeiramente
imersa na luminosa e bem-aventurada forma e ideia do Ideal Escolhido, que é
Puro Amor, Existência e Bem-aventurança – Brahman Absoluto. Este estado é
chamado Bhâva, o bendito estado do êxtase espiritual ou Samâdhi, o estado
superconsciente da união com a Divindade.
18
75. Conheça este mundo como sendo um longo sonho. Enquanto ele
dura, continue a cumprir o seu dever, com a consciência de que o mundo é
relativamente verdadeiro, para os propósitos práticos. Mas ao mesmo tempo
tenha a convicção firme de que Deus apenas é a única Verdadeira e Eterna
Realidade e que não há felicidade, paz ou Mukti [Liberação] até que Ele seja
realizado. Após ter este raro privilégio do nascimento humano e a oportunidade
de atingir o verdadeiro conhecimento, a vida e tudo mais serão em vão se você
não tentar realizá-Lo.
77. Esteja sempre alerta. Nunca acredite em sua mente nem por um
momento. Por mais elevado espiritualmente que seja o estado que tenha
alcançado, não seja muito confiante de ter conquistado os sentidos, pois uma
queda é ainda possível. De modos sutis o mal pode tentar enganá-lo assumindo
às vezes a forma de virtude, algumas vezes a forma de compaixão, outras vezes
a forma de amizade, para trazê-lo sob seu poder. Após um longo tempo, você
pode descobrir que inconscientemente você se perdeu. E na ocasião que você
chegar a inteirar-se disso, pode ser impossível retornar.
19
se, sob tais circunstâncias aos exercícios espirituais e atos religiosos, por mais
intensamente que se possa desejar!
81. Como o pai deseja ser ultrapassado por seu filho, assim também o
Guru deseja ser ultrapassado por seu discípulo. O pai quer que seu filho e o
Guru, que seu discípulo, seja maior do que ele.
82. Deus mesmo é o Supremo Guru, o Guru do guru. Ele é aquele que
faz a ação. O homem-Guru é apenas Seu instrumento – o veículo através do qual
Seu poder é transmitido ao discípulo.
84. Pratique Japa e meditação todos os dias, pelo menos por algum
tempo. Quando você falhar em fazê-las, pergunte a si mesmo: É por falta de
tempo ou por falta de vontade? Você consegue achar tempo para todo tipo de
trabalho, por mais trivial que seja, porém não consegue tempo para praticar Japa
e meditação por mais ou menos uma hora! Como a água é necessária para matar
a sede, a comida para satisfazer a fome e a respiração é necessária para a vida,
Japa e meditação, oração e outras práticas espirituais são também necessárias,
senão mais ainda, para a realização da Verdade Suprema. Um sentimento de
querê-Lo deve ser criado. Isto virá gradualmente através da prática diária e
poder será acumulado por isto.
85. Existem muitos que dizem ao Guru após a iniciação, “Nós não
seremos capazes de fazer nada. Agora nós somos livres, tendo colocado toda a
responsabilidade sobre ti.” Isto é apenas uma desculpa para fugir de sua própria
responsabilidade e por não desejar fazer algo eles próprios. É tão fácil conseguir
assim a espiritualidade? Ela é assim tão barata? “Assim como é a ideia, assim é
a realização.” A realização é proporcional à profundidade e intensidade do
20
pensamento e da ação. Pode toda a responsabilidade ser transferida ao Guru
por mera palavra de boca? Deve-se entregar-se completamente, sacrificando seu
pequeno ego. Isto é conseguido através de longa prática. Você corre dia e noite
e trabalha sem cessar, até abandonando comida e sono, para ganhar algumas
moedas sem valor. Mas quando a questão é adquirir conhecimento e devoção
espiritual, você diz: “Nós não somos capazes de fazer nada!” Como isto é
absurdo! A Verdade só pode ser realizada se devotar-se de todo coração à
prática espiritual ao máximo de sua capacidade, dia após dia, mês após mês,
ano após ano. Não há outro caminho além deste. Não há outro caminho para
Mukti.
88. Muitos reclamam após apenas algum tempo após a iniciação, “Por
que a mente não está se aquietando, pois não somos capazes de meditar
corretamente? Por favor, faça alguma coisa para que a mente se acalme.” Por
acaso é fácil ter a mente calma ou a capacidade de mergulhar fundo na
meditação? A mente tem a tendência natural de ir para fora, sob a influência dos
Samskâras (hábitos, tendências e impressões) e apego aos objetos dos sentidos,
acumulados em vidas anteriores. Consequentemente, ela sempre busca possuir
e desfrutar daqueles objetos. Não há um atalho para acalmar esta mente
21
inquieta, exceto por esforço repetido e renúncia. Deve-se praticar Japa e
meditação com paciência e constância – dia após dia, mês após mês, ano após
ano – de acordo com o método prescrito pelo Guru e ao mesmo tempo, tratar
de desenvolver desapego pelos objetos mundanos. Quanto mais o desejo pelos
objetos sensórios diminuir, mais o amor e devoção por seu Ideal Escolhido
crescerá. Quanto mais você realizar que Ele é mais próximo e querido que seus
próprios seres queridos, mais a mente de forma automática se tornará calma e
quieta. Então a meditação também se aprofundará e você terá felicidade e paz.
Em vez de estar apressado por resultados rápidos, deve-se manter-se firme às
práticas espirituais como na parábola de Sri Ramakrishna do agricultor
hereditário, que continua a arar o solo mesmo se as colheitas se perdem ano
após ano.
22
seu próprio Ser, Deus, em tudo, seu Prema (amor) é universal – é o mesmo para
todos os seres. Não há conotação física ou sensual em seu Prema, nenhum traço
de luxúria, nenhuma paixão pela beleza física. O Jnâni é verdadeiramente o
amante real, e o verdadeiro amante de Deus é um Jnâni.
92. Renúncia, amor por Deus e pureza são os meios de realizá-Lo. São
inter-relacionados como os membros de um corpo; se um está presente, os
outros dois estão lá também. Deus, cuja natureza é amor e pureza, não pode ser
alcançado sem aversão pelos objetos mundanos, sem amor por todos os seres e
o sentimento de que eles são seus próprios, nem sem pureza interna e externa
de corpo, mente e fala. Se alguém se esforça constantemente com ânsia para
manter um inquebrantável fluxo de pensamento puro dentro de si, todos os
pensamentos e tendências impuras desaparecerão. O caráter será tão
transformado que maus pensamentos e ações, sentimentos de malícia e inveja,
tornam-se impossíveis. Tal homem irradia um poder que transforma os
malvados em pessoas boas. O pior pecador, ao seu toque, torna-se religioso e
veraz, mesmo o ateu é convertido em um devoto de Deus e os homens
atormentados pelas aflições do mundo, encontram paz permanente.
23
95. Uma pessoa não se sente bem-disposta de mente nem forte no
corpo se come indiscriminadamente qualquer coisa que puder e onde quer que
seja e que tenha uma existência desordenada, se submetendo livremente a
luxúria e outras paixões. Tanta carga é irracionalmente colocada sobre seu corpo
e mente por esta vida imprudente que o corpo desmorona e torna-se incapaz
mesmo de esforço físico. Através da gula por todos os tipos de comida metade
da energia do corpo é desperdiçada em digeri-la; e mesmo oito a dez horas de
sono não irá reparar isto. Qualquer energia que restar poderá se esgotar em
atividades inúteis e nas fofocas ociosas. Consequentemente, pouco ou nada
restará para praticar meditação e Japa, nem mesmo haverá qualquer inclinação
para isto. Tão logo tais pessoas se sentam para a prática espiritual começam a
bocejar e cochilar. Se as coisas continuam assim, que grande trabalho poderá ser
feito? Sem falar das práticas de espiritualidade e fazer bons trabalhos, nem
mesmo será possível para tal pessoa ser um homem prático no mundo. Que
pena uma coisa rara como a vida humana ser desperdiçada deste modo! Se nem
mesmo virtudes humanas puderem ser conseguidas na vida humana, que
possui a promessa da Divindade, então qual é a diferença entre esta e a vida de
um bruto?
24
então ela se rebela. A força de um rio aumenta cem vezes se é feita uma tentativa
de controlá-lo. E se esta poderosa força – se o tremendo poder que é gerado
assim – é voltado para algum propósito útil e desejado, um resultado
multiplicado por cem é obtido.
99. Deus realmente não fez com que tivéssemos falta de nada, a
necessidade está apenas na mente. Felicidade e sofrimento estão na mente e não
fora dela. “Como é a concepção mental, assim é a realização.” Nós conseguimos
o que buscamos.
102. O Tantra diz, “Vai ao inferno aquela pessoa que considera seu Guru
como mero ser humano, o santo Mantra de seu Ideal Escolhido como meras
palavras ou as imagens de Deus ou Deusas como mera pedra e argila.” O
significado disto é que se, devido à falta de fé e devoção, uma pessoa tem tais
noções perversas e materialistas contrárias às determinações das escrituras,
como mostrado acima – não apenas bloqueia o caminho de seu progresso
espiritual, como também busca sua própria ruína.
25
farão inconscientes das dores da morte, afastarão seus apegos ao mundo, aos
homens e ao dinheiro e a mente ficará totalmente fixa n’Ele, desfrutando de Sua
presença. Tal consumação vem para aqueles que não nascerão e morrerão mais
neste mundo. Pela prática repetida da Recordação e de sentir Sua presença, isto
se torna parte de sua própria natureza.
109. Nenhum trabalho jamais poderá ser feito e nada poderá jamais ser
executado com sucesso, ao sentar-se inerte e esperando pelo que o destino ou a
sorte poderá trazer. Mais ainda, tal atitude faz um homem indigno e Tamásico
(inerte) e o degrada totalmente. Os homens cometem erros ou falham devido a
suas próprias faltas e colocam toda a culpa no destino ou nos astros! Uma pessoa
cai ou escorrega devido a sua própria falta de cuidado, mas culpa o solo!
Normalmente toda a realização depende de seu próprio esforço. Se existe algo
26
chamado destino que é sentido como um obstáculo à realização da meta da vida,
ele tem que ser vencido despertando com o autoesforço a força inata que jaz
adormecida dentro de todos. Somente então você será um Homem. Se você fizer
isto, descobrirá que o destino também será favorável a você. Se o destino apenas
fosse todo-poderoso, não poderia haver tais coisas como falar de certo ou
errado, virtude ou vício, ou o poder do Espírito. Os homens não são como
pedras. “Apenas o destino me obriga a fazer tudo, não sou responsável pelos
meus atos. Estou sendo comandado por isso.” – Se esta é a atitude mental,
nenhum homem jamais poderá erguer-se, ou ter esperança de atingir Mukti, ou
salvação. Lembre-se, é algo degradante para um homem pensar em si mesmo
como sendo fraco e à mercê de Poderes invisíveis; isto o empurra ainda mais
para o lodaçal.
111. Quando algum trabalho tiver que ser feito, você deveria estar
repleto de determinação, entregando-se a ele com todo seu coração e alma. Não
dê a menor atenção aos obstáculos e impedimentos, se eles surgirem, por mais
insuperáveis que pareçam ser. Você então descobrirá que estes mesmos
obstáculos e impedimentos o ajudarão de um modo ou outro. Por acaso é
sempre possível ter circunstâncias favoráveis? A pessoa que pensa que se
devotará à adoração de Deus com uma mente despreocupada depois de
completar todos os seus deveres e preparado todos os seus assuntos familiares
satisfatoriamente, se engana como o tolo que foi banhar-se no mar, mas com
medo das ondas violentas, pensou que só entraria na água após as ondas terem
se acalmado e o mar se tornado calmo. Isto jamais acontece, mesmo sentando-
se na praia até o último dia de sua vida. Sempre haverá ondas no mar. Deve-se
corajosamente atirar-se ao mar e banhar-se lutando com as ondas e atravessá-
las. Do mesmo modo, neste mar do mundo, deve-se chamar por Deus, fazer as
práticas espirituais e adorá-Lo, sempre lutando com as ondas. Mas sua
esperança de realização jamais será satisfeita se você sentar-se abraçando seus
joelhos em desespero e esperar pelo momento correto em que as circunstâncias
melhorem.
27
112. Muitos expressam desejo de tornarem-se monges da Ordem
Ramakrishna, com vista a evitar suas responsabilidades no mundo ou quando
falham em conseguir um emprego ou por terem sofrido de pobreza crônica e
todos os tipos de problemas e sofrimentos e por terem sido frustrados em cada
passo de suas ações. Hoje em dia isto se tornou uma moda, por assim dizer,
tornar-se um Sannyâsin! Por acaso é fácil ter verdadeiro Vairâgyam ou aversão
pelos desejos e paixões mundanas e tornar-se um verdadeiro Sannyâsin ou
homem de renúncia? É necessário preparar-se para esta vida enquanto se vive
no mundo, preparando o solo com as disciplinas espirituais e treinar até certo
ponto no hábito do desapego aos objetos, não ter ansiedade e egoísmo. De outra
maneira, o súbito surgimento de um novo amor breve acaba como o fogo nas
folhas das palmeiras secas. Os dias se passam na preguiça e a mente gravita em
torno da felicidade pessoal e do conforto, nome e fama. Então se senta pouco
mais de uma hora e faz sua prática de Japa e meditação como se toma um
remédio ou se faz um trabalho forçado. “Hoje eu não estou me sentindo bem”,
- “Amanhã não terei tempo devido a outro trabalho” – desculpas deste tipo
surgem. É frequente ver-se que após livrar-se das preocupações e obstáculos do
mundo e passar a vida de renúncia de modo fácil e satisfeito, estes pensam, “Eu
consegui o que queria; não há nenhuma razão para me apressar agora; será
suficiente se eu chamar por Deus conforme minha conveniência e
disponibilidade.” O espírito e fervor original desapareceram e a mente pouco a
pouco seguirá o caminho para a queda.
28
estrada de seu progresso fica bloqueada e eles gradualmente se afastam de seu
Ideal.
29
116. O supremo amor por Deus não pode ser adquirido sem conseguir
o Conhecimento também – ou seja, sem a realização de que meu Ideal Escolhido,
Deus, está em todos os seres e indivíduos, que os mundos animados e
inanimados não têm uma existência separada Dele. O sentimento da identidade,
ou união, entre o Ser Supremo e os mundos animados e inanimados, como
também o ser interior, é por si só o Supremo Amor e o Supremo Conhecimento.
Mas os dois caminhos e os modos das práticas espirituais pertencentes a cada
um diferem de acordo com as respectivas tendências mentais e qualificações dos
aspirantes. As pessoas qualificadas para seguir exclusivamente o caminho do
Conhecimento são raras no mundo; também o caminho é extremamente árduo.
Por esta razão Bhakti mesclada com Jnâna é preferível.
30
levada para cima e ser convertida em tremendas forças do bem que inundarão
a vida com um inesgotável sentimento de suprema bem-aventurança. Se você
deseja o prazer, tenha sede pelo êxtase de estar na abençoada companhia do
Senhor que é Todo Amor! Se você tiver que ser avarento, anseie pela posse do
imortal Supremo Tesouro, que é Deus! Se você tiver que estar enamorado pela
beleza, esteja enamorado do Eternamente Belo! Se você tiver que ter raiva, fique
zangado com Ele por não se revelar a ti! E assim por diante com relação ao
orgulho e inveja, que o mantém preso às insignificâncias da vida.
120. Qualquer um que tenha sido iniciado pode, sem exceção, fazer a
adoração de seu Ideal Escolhido. A iniciação purifica o corpo. Faça sua adoração
(Pujâ) com profunda devoção, sabendo que Ele [o Senhor] é seu mesmo e tendo
inteira fé n’Ele. Ofereça flores, pasta de sândalo, guirlandas e doces, conforme
o desejo de seu coração. Se a mente estiver absorvida na adoração, facilmente
ficará quieta, a meditação se aprofundará e você terá grande felicidade. Não
existe “isto pode e isto não pode” na adoração que é feita por amor, não há
necessidade de textos sagrados, fórmulas, diagramas, genuflexões, gestos
particulares ou manipulação dos dedos. Os únicos requisitos são fé, reverência
e amor. Na hora de executar a adoração, pense que seu Ideal Escolhido está
realmente e amorosamente aceitando suas oferendas de flores, frutos, doces e
outros objetos, por mais insignificantes que possam ser. A comida ungida com
amor e devoção é muito doce e querida para Ele. Ele comeu com extremo gosto
a comida simples do Bhakta Vidur, recusando o convite do Rei Duryodhana.
Qualquer coisa que coma, faça-o após oferecer mentalmente a Ele; saiba que esta
31
é comida consagrada, a dádiva de Sua misericórdia. Isto destrói qualquer
propriedade daninha que possa estar ligada à comida.
32
constantes. Existe um poder tremendo na prática. A prática torna-se firme e
constante se for contínua e ininterrupta por um longo tempo com fé e devoção.
Qualquer coisa que você pratique torna-se com o passar do tempo sua segunda
natureza. Então não será mais necessário esforçar-se para conseguir uma coisa
desejada, pois ela é automaticamente feita. Se você praticar constantemente a
recordação de Deus, a oração, Japa e meditação, então eles sairão de seu coração,
sem o exercício de qualquer vontade ou esforço consciente, mesmo enquanto
você estiver envolvido em outro trabalho. A mente fica apontada para aquele
caminho, como a agulha de uma bússola. Daí o apego aos objetos mundanos
desaparece e os perigos e calamidades não poderão perturbar a mente de tal
pessoa. Mesmo no momento da morte a mente permanece firme e absorta n’Ele.
Tal pessoa não terá que nascer ou morrer novamente, e mergulhará no supremo
estado da Beatitude.
126. Se você for capaz de estabelecer Deus em seu coração, por meio da
prática espiritual feita com intensa sinceridade, discernimento, desapego e
amor, você O realizará, e O verá em toda parte, dentro e fora, e em todas as
coisas. Nada permanecerá mais no universo para tal pessoa ganhar ou desejar,
sua vida estará cheia de bem-aventurança. Esta é a verdadeira meta da vida
humana. O resto não é nada, apenas perseguir sombras.
127. Pratique Japa e austeridades com todo seu coração o máximo que
puder. Você deve, contudo, ter firmemente a ideia na mente que Deus somente
poderá ser realizado por Sua graça 7, e não como resultado de sua prática de
certa quantidade de Japa e austeridades. As práticas espirituais servem apenas
para cansar as asas, por assim dizer. Um pássaro quer descansar tão logo suas
asas se cansam. Depois de voar pelo oceano, o pássaro descobre que não há
outro lugar de descanso exceto o mastro de um navio e ele pousa sobre ele. Mas
a menos que o sentimento de que Deus é o único refúgio cresça até ser uma
convicção inabalável, ninguém poderá refugiar-se completamente n’Ele e
conhecê-Lo como sendo seu tudo em tudo.
7 Hari Maharaj (Swami Turiyananda) de forma bela e repetida fez observações deste tipo em suas
“Cartas”. O propósito delas é dado neste e nos três parágrafos subsequentes.
33
“Se é Tua vontade, Ó Mãe, salvar-me por virtude de Sua própria natureza,
então volte Teu olhar de misericórdia sobre mim! De outra forma toda esta
conversa de encontrar-Te praticando Japa é como o Sângâ de fantasmas.” Sângâ
significa casamento. Que casamento pode haver para fantasmas? Isto é uma
tolice! Ninguém jamais realizou a Ele ou realizará meramente pelo poder das
práticas espirituais. O homem de sabedoria sabe que a esperança de realizá-Lo
por meio de práticas espirituais é como “cruzar o oceano nadando”.
131. Mas este anelo, este sentimento de que Ele é o único refúgio, chega
facilmente? Ele chega apenas no último nascimento daquele que se devotou
arduamente às práticas espirituais para atingir a meta em muitas vidas prévias.
Esta característica rara brilhou de forma constante durante toda a vida de Nâg
Mahâsaya, o grande discípulo chefe de família de Sri Ramakrishna. Que
espantoso estado de intoxicação divina preenchia todo seu ser constantemente!
Que absorção completa sem qualquer consciência do corpo! Que maravilhosa
humildade, considerando-se a mais baixa das criaturas de Deus! Que intenso
anelo pela visão de Deus queimava em sua alma e consumia seu corpo terreno!
Aquele que não o viu não pode formar nenhuma ideia de sua personalidade
única. Que maravilhosa vida! Que maravilhoso exemplo!
34
132. Deus não pode ser visto a menos que a mente se torne tranquila,
pura e imaculada. A menos que a água de um lago permaneça calma e
transparente, ela não refletirá nada, ou o fará de forma indistinta. Se o espelho
estiver coberto com poeira, não refletirá uma imagem ou o fará de uma forma
borrada. Por esta razão repetidas práticas e renúncia são o único meio ou
disciplina para a purificação mental. Mesmo aquilo que se acha difícil ou
impossível torna-se fácil de conseguir por força da prática constante. O que quer
que seja regularmente praticado, gradualmente torna-se parte de sua própria
natureza. Junto com isto o espírito da renúncia deve ser cultivado. “Tudo é
passageiro e sem substância, somente Deus é real e eterno”. Se, ansioso desta
forma, puder se entregar com todo coração e alma a Ele somente, o amor puro
surgirá em seu coração. Se ele chegar, o que mais existe para buscar e possuir?
“O Senhor é da natureza do amor inefável”. Quando este amor, que está além
da fala e da mente, se aprofunda e habita no coração, então ele se revela como
transformado na forma do Bem-amado que é amor personificado.
133. Qualquer que seja seu salário, tente poupar um pouco todos os
meses. O Mestre costumava dizer que é muito necessário para o chefe de família
poupar. Torna-se muito útil no futuro, porque saúde, emprego, negócio,
riqueza, parentes – nada disto é permanente. Se na juventude ou na meia idade,
uma pessoa iludida pelo gozo dos prazeres sensórios, sob a influência de más
companhias, tendências e hábitos maus, gasta sem um pensamento para o
futuro tudo o que ganha ou mais, então é certo chegar a sofrer até o fim. Doenças
e incômodos, perigos e calamidades, preocupações e ansiedades, estão sempre
presentes no mundo. Na velhice torna-se presa de doenças e decrepitude, e
perde rapidamente a capacidade de trabalhar. Se houver alguma economia,
então não sucumbirá às dificuldades, nem se lamentará, mas poderá passar o
resto de sua vida independentemente com paz mental, pensando em Deus e no
Espírito.
35
enganamos ao querer ter o que gostamos. O Senhor sabe infinitamente melhor
que nós o que será para o nosso real bem, porque Ele é Todo-conhecedor.
Sofrimento e felicidade não podem perturbar a equanimidade da mente daquele
que estando satisfeito com qualquer coisa que Ele disponha, refugia-se apenas
n’Ele e vive no mundo tendo total confiança n’Ele.
135. “Vários tipos de obstruções surgem sem aviso para aquele cuja
mente está apegada aos objetos mundanos, mesmo se ele se retirar para a
floresta. Mas se uma pessoa está engajada em boas ações e controla os cinco
sentidos, apesar de viver em seu lar, isto é Tapasyâ (prática de austeridade). O
lar de um homem sem apego é realmente um Tapovana (mosteiro).” – assim diz
o Hitopadesha. Onde quer que você vá, o que quer que você faça, com a mente
descontrolada, inevitavelmente você sofrerá e não haverá escapatória. Além
disso, você também ficará amarrado em novas e impensáveis correntes e
amarras. Mas para aquele que pode controlar sua mente através das práticas
espirituais, que está livre do apego aos objetos apesar de viver no mundo, o lar
ou a floresta são iguais. Onde quer que ele possa viver, ele é sempre-livre e cheio
de bem-aventurança.
36
Presença é inequivocamente sentida. Assim as escrituras dizem, “A Realização
chega através de Japa”.
138. Os Yogis dizem que existem sete lótus ou centros nervosos no corpo
humano. Na base, na região retal existe o lótus de quatro pétalas Mulâdhâra; o
de seis pétalas Swâdhisthâna na raiz do órgão genital; o de dez pétalas Manipura
atrás do umbigo; o de doze pétalas Anâhata no coração; o de dezesseis pétalas
Vishuddha atrás da garganta; o de duas pétalas Ajnâ entre as sobrancelhas e o
lótus de mil pétalas chamado Sahasrâra no topo da cabeça. Além disso, existem
os três nervos chamados Idâ, Pingalâ e Sushumnâ respectivamente à esquerda, à
direita e no centro da coluna espinhal, subindo através dela. A corrente nervosa,
Sushumnâ, termina no Sahasrâra, o assento de Brahman, depois de passar através
do centro dos seis lotús, um após o outro. Mas a passagem do Sushumnâ
permanece fechada até que Kulakundalini, o poder enrolado como uma serpente,
desperte. O Kulakundalini é o poder do Conhecimento do Ser, é da essência da
Inteligência e Brahman. Esta Shakti está dormente – inativa e não percebida –
adormecida, por assim dizer, deitada enrolada como uma serpente adormecida
no lótus Mulâdhâra em todos os seres humanos e é despertada pela Yoga,
meditação, práticas espirituais, etc. Quando este poder no Mulâdhâra desperta e
une-se com o Supremo Shiva ou Paramâtman (Ser Supremo) no Sahasrâra, após
subir pelo canal do nervo Sushumnâ abrindo e passando sucessivamente através
dos centros Mulâdhâra, Swâdhisthâna, Manipura, Anâhata, Vishuddha e Ajnâ, então
o néctar de uma doçura supra sensória flui da união dos dois, saboreando o qual
o indivíduo mergulha no Samâdhi. Somente então o indivíduo desperta para o
Conhecimento do Ser Supremo e atinge a Perfeição. Mais ainda, várias
experiências espirituais maravilhosas ocorrem, como a percepção de uma luz
auto-luminosa que abrange tudo ou a gloriosa visão do Ideal Escolhido.
Algumas vezes esta Kundalini-Shakti desperta por si mesma, ou com pouco
esforço, pela graça do Guru ou do Supremo Senhor, devido à força das
Sâdhanâs ou boas ações feitas nas vidas passadas. O Mestre costumava dizer
que o corpo não dura normalmente mais do que vinte e um dias neste estado de
Nirvikalpa Samâdhi (o estado de Pura Consciência além de todas as
modificações mentais), quando o indivíduo é absorvido no Supremo Ser ou
Brahman – torna-se UM com Ele. Isto, de forma abreviada é o que é conhecido
como Shat-chakra-bheda ou a abertura dos seis Chakras, ou místicos centros
nervosos.
37
chamado Bhâvamukha, rejeitando para si mesmos até a Bem-aventurança de
Brahman. Eles vivem alternativamente nos estados de consciência absoluta e
relativa, quer dizer, algumas vezes se perdem em Samâdhi ou consciência
Divina e descem ao plano humano, com o único propósito de liberar, por
compaixão, milhares de almas da ilusão e das correntes da ignorância.
141. Como os homens veem o sol com a ajuda da própria luz do sol e
não por acender uma luz, da mesma forma Deus é visto apenas através de Sua
própria graça e não através dos poderes limitados dos homens. Mas o sol não
pode ser visto se nuvens vêm e o cobrem. Da mesma forma Avidyâ (ignorância),
ou Mâyâ, bloqueia a visão de Deus. Os ventos da oração e da disciplina
espiritual sopram aquelas nuvens e Ele se revela. A oração e a disciplina
espiritual não são as causas que resultam na revelação de Deus, pois Ele se auto-
revela; elas apenas retiram a cobertura e as obstruções.
142. Jnâna, Bhakti, Pureza, Renúncia, Anelo por Deus – estas são
Divinas qualidades, Suas próprias características essenciais. Com estas Ele dota
adiantadamente a pessoa a quem Ele quer mostrar favorecimento ou revelar-Se.
Quando estas virtudes são encontradas em uma pessoa, fica claro que a noite
escura da ilusão está perto de terminar e que a gloriosa alvorada breve surgirá.
Você conhece o seguinte ensinamento do Mestre? Um Zamindar (dono de
terras) importunado por seu inquilino, não apenas concordou em visitar sua
casa e compartilhar de sua hospitalidade, mas também enviou certas
mercadorias para a casa do inquilino, pois sabia que ele era pobre e não seria
38
capaz de adquirir aquelas coisas caras. Deus mostra seu favorecimento apenas
a aquele que anseia por Ele com um coração cheio de anelo, tendo renunciado a
tudo por Sua causa.
143. Deus então tem gostos e desgostos, favorece alguns e rejeita outros?
Então Ele não favorece ou fica insatisfeito com aquele que vive no mundo
esquecido d’Ele, envolvido com esposa, filhos, família e propriedade? Como
pode ser isto? Todos, sejam devotos ou difamadores, sejam sannyasins ou chefes
de família, são verdadeiramente Seus filhos. A mãe tem o mesmo amor e afeição
tanto quando seu filho está absorvido nas brincadeiras e esquecido dela, quanto
quando ele chora por ela jogando fora todos os brinquedos e ela para seus
afazeres e o pega em seus braços e o acaricia. A mãe pensa que enquanto o filho
está envolvido no jogo, está muito feliz, então porque perturbá-lo? Que ele
continue brincando! Quando ele não acha mais interessante o jogo, o deixa e
derruba os brinquedos, então ele quer sua mãe apenas e não se conforta com
nada mais – então é que a mãe vem e o pega em seu colo. Na verdade pode
haver algum jogo que possa dar aquela felicidade que o filho sente ao sugar os
seios nos braços da mãe? Mas como sempre, ele não abandona os jogos! Isto se
chama Mâyâ.
144. Por mais que trovões soem e tempestades e chuvas desabem, por
mais que relâmpagos brilhem e raios caiam, ainda assim o pássaro Châtak, sem
nenhum medo, voltará sem rosto em direção ao céu e matará sua sede bebendo
água de chuva à vontade. Ele nunca bebe, como diz a tradição, a água de um
tanque, lago ou sobre o solo, mesmo que estiver morrendo de sede. De forma
similar, aquele que é um sincero devoto de Deus, olha apenas para Ele para
extinguir a imensa sede de sua alma e não tem nenhuma expectativa de nada e
de ninguém exceto por Deus. Ele sabe que tudo que acontece, é uma dádiva de
Sua misericórdia. Ele nunca está perturbado, por mais que possa ver Sua face
aterrorizadora, e seja na dor ou no sofrimento, miséria ou pobreza, calamidades
e outros males que possam cair sobre ele no mundo, ele vê neles somente a face
de seu Bem-Amado. Ele sabe que Deus é Bom, que qualquer coisa que Ele faz é
para o seu bem e para o bem de todos. Ficar descontente significa ver defeitos
n’Ele e reclamar contra Ele e Suas dádivas. O verdadeiro devoto não pode fazer
isto mesmo por sua própria vida.
145. O Guru é aquele que leva o Jiva [ser individual], queimado pelo
fogo do sofrimento tríplice da vida (dor corpórea, mental e aquelas causadas
por causas naturais) em direção a Deus e ao caminho da paz. A relação entre o
Guru e o discípulo é aquela de um pai espiritual e um filho ou filha. Um pai
mundano gera um filho. O Guru liberta o discípulo do nascimento e da morte
mostrando a ele a Suprema Verdade. A dívida paterna pode ser paga
continuando a linhagem familiar executando as cerimônias de Srâddha
39
(cerimônias sacramentais feitas por um filho após a morte de seu pai para seu
bem-estar no além). Mas a dívida ao Guru não pode ser paga mesmo oferecendo
seu tudo, pois ele liberta o discípulo de Avidyâ (ignorância). Como uma ou
outra virtude é herdada pelos filhos e netos em vários graus, assim também a
espiritualidade por certo descende ao discípulo e aos discípulos de seus
discípulos na linhagem de Gurus.
148. Pensar que nossa vida e morte dependem deste mundo faz com que
nós próprios criemos todos os tipos de problemas e perturbações para nós
mesmos em uma tentativa de salvaguardar “nossos próprios direitos e
interesses”. Daí nos sentimos infelizes e nem temos nenhum escrúpulo também
em causar perda ou ruína aos outros. Dia e noite nos esgotamos correndo para
conseguir nossos fins, lutando pela vida e brigando com outros. Como as
pessoas dizem, “Ó, não tenho tempo nem para morrer!” Tal é a Mâyâ (feitiço
ilusório) de Mahâmâyâ, a Divina Mãe, a grande criadora da Ilusão Cósmica! A
Mãe senta-se e observa o jogo e sorri. São como gatinhos e cachorrinhos
brincando, entrando em lutas e às vezes arranhando-se bastante uns aos outros.
Nós damos uma importância indevida ao jogo, nos misturamos e nos
envolvemos tanto com ele que nos descuidamos das consequências e não nos
importamos nem se morrermos na briga. O jogo sem dúvida torna-se muito
atraente, como uma peça de teatro parece real se os atores e atrizes
identificarem-se totalmente com os seus personagens. Mas isto é apenas por um
tempo – uma fase temporária.
40
um sonho agradável – por exemplo, que ganhamos 200.000 rúpias na loteria, e
nos enchemos de felicidade; e quando o sonho termina subitamente, ficamos
deprimidos. Toda nossa vida não é nada além de um longo e contínuo sonho
como esse. É formada de bons e maus sonhos, de esperança e desespero, de
prazer e dor, como suas características e conteúdo. Enquanto este sonho durar,
consideramos tudo como real. O universo desaparece completamente quando o
sonho acaba. Então o que permanece? – O Sempre-Verdadeiro existe e revela
Seu próprio Ser por Sua própria natureza.
150. Porque deveria Deus estar zangado com alguém? A raiva é causada
quando alguém se coloca no caminho de um objetivo muito desejado. Existe
algo que Ele deseja ou que Ele deva ainda obter ou que não possa obter? E quem
pode colocar obstáculos em Seu caminho? Ele não espera nada de nós. Não tem
a mínima importância para Ele se chamamos por Ele ou se permanecemos
esquecidos d’Ele. O ganho ou perda, prazer ou dor, bem ou mal, pertencem a
nós apenas.
41
que vê e o que é visto ambos são destruídos e somente permanece a ideia de
unidade. Obtém-se então a percepção intuitiva que só existe Brahman, sempre
o mesmo no passado, presente e futuro, brilhando em Sua Glória transcendente
– que Mâyâ jamais O tocou, que o sentido da dualidade é mera ilusão e que “Eu
sou Brahman, o Absoluto”.
156. Um cadáver golpeado por uma espada não sente nada. Se o corpo
pode se tornar como um cadáver, quero dizer, se a autoidentificação com o
corpo for destruída, então por mais severos que possam ser os golpes que caiam
sobre alguém na vida, jamais serão sentidos! Somente homens dessa natureza
não reagem às circunstâncias, como os mortais comuns, e são livres enquanto
vivem no corpo. Para eles a sua casa e o crematório – vida e morte – são o
mesmo.
42
157. Apego a este corpo – autoidentificação com o corpo – é
verdadeiramente a raiz de todo o mal. Todos os medos, erros e vícios se
originam disto. Não há pecado que um homem evite cometer – roubo, fraude,
arruinar as pessoas, e até mesmo matar – para preservar seu corpo e viver.
“Mulher e ouro 8” [sexualidade e cobiça] torna-se a única divindade que ele
adora. Como resultado, ele abraça a dor esperando o prazer e até a própria
morte na esperança de salvar seu bendito corpo. Teme a morte a cada momento.
Mas a alma iluminada, que foi capaz de erguer-se acima do sentido do corpo,
está pronta para sacrificar sua vida alegremente mesmo por um humilde
animal. Este corpo não é nada para ele – algo totalmente insignificante. Os
homens são de duas classes – os homens animais e os homens divinos – aqueles
que se identificam com o corpo e aqueles sem o sentido do corpo. O indivíduo
na escravidão do corpo é o homem-animal, enquanto que o outro, sem o sentido
do corpo, é o homem divino.
8 Expressão usada com frequência por Sri Ramakrishna nas conversas com devotos homens,
significando os maiores impedimentos na vida espiritual, a luxúria (ou sexualidade) e a cobiça pelos
bens mundanos. (Nota do Tradutor).
43
momento da criação, melhor dito, projeção. Enquanto o conhecimento da
Realidade não é obtido, os homens estão sujeitos ao nascimento e morte
repetidas vezes e a passar por vários tipos de sofrimentos, tendo que renascer
como homens, animais ou pássaros, etc., de acordo com sua natureza e Karma.
161. Então é em vão tentar atingir Mukti? Certamente que não! Pois
Avidyâ tem um fim para indivíduos em particular. Quando, após um
sofrimento interminável, surgir o discernimento e a renúncia (Viveka e
Vairâgya) e o Jiva refugiar-se em Deus, então Avidyâ é totalmente destruída e
o conhecimento vem, pela graça do Senhor. Assim tem declarado o
infinitamente misericordioso Senhor no Gita: “Tendo vindo a este mundo
passageiro, cheio de dor, adore-Me e refugie-se em Mim apenas. Eu o libertarei
de todos os pecados e o conduzirei ao plano da Bem-aventurança através do
oceano de existência do mundo, caracterizado por nascimento e morte e tão
difícil de cruzar”.
163. Vê-se que muitas pessoas praticam Japa e meditação com grande
anelo por algumas semanas após receber a iniciação e conseguem considerável
felicidade e benefício disto. Depois disso, seu anelo subitamente desaparece e
não se sentem mais inclinados a sentar-se para a meditação. Eles sentem seus
corações vazios, por assim dizer, se acham abandonados e sem qualquer
suporte para persistir. Contudo, não há nada para temer ou se desesperar sobre
isto. Tudo tem seus altos e baixos, união e separação. Na vida do aspirante, de
44
igual maneira, há esperança e desespero, luz e escuridão. Se isto acontecer para
aquele cujo coração anseia apaixonadamente realizar Deus ou ganhar
espiritualidade, então seu anelo é mais intensificado; ele não tem descanso, mas
chora pela agonia de seu coração, implorando o favor Divino. Então, pela graça
do Senhor, ele novamente dedica-se à meditação com entusiasmo redobrado e
faz um progresso maior e mais rápido e encontra maior felicidade do que antes.
45
árvore próxima nas margens do Gangâ na hora do banho, mas tão logo o
banhista sai do rio eles caem novamente sobre seus ombros”.
167. Apesar disto é verdade que alguns dos pecados dos discípulos
atingem o Guru. Pois se vê frequentemente que se é dado Mantra-Dikshâ
(iniciação) frequentemente sem escolher ou verificar a natureza moral e
capacidade dos discípulos, alguma doença mortal se apodera do físico do puro
e imaculado Guru e encurta sua vida. Mas impelido pelo desejo de fazer o bem
aos outros e conduzi-los para Deus, o abnegado, eminente Guru de misericórdia
ilimitada, a despeito de total conhecimento deste fato, não pensa em seu próprio
corpo e entrega sua vida pouco a pouco pelo bem-estar dos discípulos. As
Encarnações de Deus tomam sobre Si próprios a carga dos pecados dos outros
e por isso eles também têm que sofrer de várias doenças por causa disto. Sri
Ramakrishna costumava dizer, “Esta doença (câncer na garganta) que aflige
meu corpo é devido a ter tomado sobre mim os pecados de Girish.” – (Seu
grande discípulo dramaturgo).
46
sem propósito, sua vida passará em vão e você apenas irá colher o sofrimento.
Devote-se com toda sua energia, com todo seu coração e alma, a realizar a Deus,
enquanto você tiver força e vigor em seu corpo e mente. Nunca, por qualquer
razão, enfraqueça seus esforços. “Estas práticas podem ser feitas mais tarde,
estas só serão possíveis quando Deus assim quiser, ou for propício” - estas são
as palavras de preguiçosos que não fazem nada, aqueles que nunca
sinceramente querem fazer algo. Nada de bom jamais será conseguido por eles.
170. A melhor época da vida é dos dezesseis aos trinta anos de idade,
quando o corpo retém total capacidade para o trabalho, e quando as qualidades
que são úteis para atingir o fim desejado, tais como o entusiasmo, iniciativa,
coragem, autoconfiança, força de vontade e firmeza de resolução, por si só estão
presentes na mente. Você se engana com a ideia de que devotará sua mente às
Sâdhanâs [práticas] espirituais na velhice após ter desperdiçado este
inestimável período da vida? Vã esperança! Isto é apenas autoengano. Mesmo
se a mente ou o espírito quiserem, você descobrirá que o corpo ou a carne
falhará, incapaz de suportar o esforço. Ele será então uma constante presa de
todos os tipos de doenças crônicas, será distraído com doença e dor, se sentirá
exausto e prostrado por um pequeno esforço e ficará indolente e apático.
Desamparado, com as grandes esperanças e ambições frustradas,
completamente dependente de outros para os menores favores e serviços, a vida
será insuportável. Mesmo quando o corpo for relativamente forte, ainda assim
todos os Samskâras ou tendências resultantes de sua vida passada e suas
preocupações e hábitos há muito adquiridos, como também seu excessivo apego
à esposa, filhos e netos, etc., o prenderão tão firmemente que nem a mente se
dirigirá facilmente ao pensamento de Deus, nem fará um sincero esforço para
devotar-se às práticas espirituais para realizá-Lo, nem você será capaz, por mais
que possa tentar, de desviar a mente de sua rota mundana. Além de tudo isso,
a vida é incerta e pode terminar hoje ou amanhã. Quem pode afirmar que viverá
até a velhice e então ter tempo livre suficiente? O que você tiver que fazer, faça
agora; pois se deixar para “amanhã”, este amanhã poderá nunca chegar.
47
vigor irreprimível vem a mente. O poder de trabalhar e a capacidade intelectual
aumentarão muito. (3) Moderação e regularidade na comida e na recreação. A
comida deve ser não excitante, nutritiva e facilmente digerível. A gula deve ser
evitada. O propósito de comer não é agradar o paladar, mas manter o corpo
saudável e preparado para o trabalho. Respirar ar puro e exercícios leves são
benéficos. Nenhum trabalho de nenhuma espécie – sem falar de qualquer
grande trabalho – pode ser feito por pessoas doentes, inválidas, fracas,
sonolentas, indolentes ou inertes. (4) Más companhias, discursos ou palestras
más, criticar os outros em sua ausência e desperdiçar o tempo em atividades
sem significado e inúteis devem ser abandonados. Buscar companhia santa,
estudar as escrituras, pensar bons pensamentos e discernir entre o real e o irreal.
(5) Sempre manter sua atenção na meta e ideal da vida, e empregar seu corpo,
mente e alma para realizá-lo. Continue com suas práticas espirituais com
infinita paciência e perseverança. Nunca permita que o desespero e a debilidade
ataquem sua mente. Se você adorar a Deus com todo seu coração e alma,
sabendo que Ele é o único Bem-amado e seu Tudo em tudo, sem se importar em
nada para sua felicidade pessoal, conforto e nem para os frutos de seu Karma,
você desfrutará de suprema paz e bem-aventurança.
48
coisas inúteis e prejudiciais. Por isso foi dito corretamente, uma mente vazia é o
armazém do diabo. Para trazê-la sob controle ela deve ser contida a força por
um conjunto de regras rígidas. Após uma correta ponderação, defina uma rotina
diária que seja praticável para você observar. E decida firmemente que,
qualquer que seja a situação na qual você se encontre ou qualquer outro
trabalho que possa aparecer, você jamais falhará em seguir a rotina que você
definiu. Tal firmeza e determinação são essenciais ao progresso espiritual.
Refeições, recreação, estudo, exercício, sono, trabalho, meditação e práticas
espirituais e até mesmo brincadeiras e diversão, esportes e jogos – na verdade,
todos os tipos de atividades saudáveis – deveriam ter seu horário fixo. Se você
passar seus dias de uma maneira volúvel, a vida será desperdiçada. Após
definir uma rotina você deveria advertir a mente severamente, dizendo a ela,
“Olhe aqui, senhora, quer você queira ou não, você terá que observar estas
regras!” Por algum tempo a mente se mostrará obstinada e intratável, resistirá
a todas suas tentativas de induzi-la ao trabalho e correrá para diferentes
direções. Você não deve, no entanto, jamais abandonar o esforço de trazê-la de
volta a força e colocá-la no trabalho, persuadindo-a suavemente ao mesmo
tempo. Além disso, fique atento para ver se o trabalho está sendo feito
corretamente. Domar a mente é como domar um animal selvagem. Requer
infinita paciência, perseverança e força de vontade. Quando a mente ao final
descobre que não há modo de escapar, ela cessará de brincar como um macaco
e sendo obediente cumprirá seu comando. Isto é chamado de Abhyâsa-yoga, o
caminho da repetida prática. Saiba que não há outro modo de controlar a mente.
174. Se você puder seguir esta Yoga de prática continuamente por três
ou quatro anos, mesmo como tomar um remédio amargo, por mais difícil, seco,
insípido ou desagradável que possa parecer, você então descobrirá quão doce e
saudável, como néctar, e como cheia da mais pura bem-aventurança, é esta
prática da meditação e da disciplina espiritual! Que terrível trabalho os
estudantes têm que passar, ficando acordados até a meia-noite,
impensadamente sacrificando o corpo e arruinando a saúde, para passar por
este ou aquele exame para entrar em uma universidade! E sobre tudo isto existe
constante medo, ansiedade e preocupação. É como passar por uma crise – como
se a vida e morte dependesse de passar pelo exame com sucesso! E para que fim
é tudo isto? Não é com a expectativa de conseguir um bom emprego, ganhar
dinheiro e conseguir nome, fama, etc., com vista a viver com conforto e
felicidade? O esforço para a realização de Deus é certamente mais fácil do que
isto, ao menos no sentido de que não é necessário estar repleto com tal medo e
ansiedade sobre o resultado final, pois este está plenamente assegurado. Se
alguém se aplica assídua e tenazmente para a realização de Deus renunciando
a todos os outros trabalhos e fazendo o inexorável voto, “Seja realizar a meta ou
destruir o corpo”, então o Senhor, sem a menor sombra de dúvida, se revelará
e outorgará tais tesouros inestimáveis ao devoto que todas as riquezas, fortuna
49
e prazeres do mundo serão insignificantes se comparados. Tendo cruzado a
morte, se tornará herdeiro da Imortalidade.
176. Mesmo Sri Sâradâ Devi (a Santa Mãe) costumava ser importunada
pelas atitudes impensadas de seus filhos (discípulos). Ela costumava dizer,
“Como eram bons os vários devotos no tempo de Sri Ramakrishna! Aqueles que
vêm hoje apenas dizem, ‘Mãe, mostre-nos o Senhor!’ ‘Mostre o Mestre para
nós!’. ‘Porque não temos Sua visão?’ ‘Tu podes certamente fazer isto por nós, se
quiser!’ Quantos de nossos veneráveis Yogis e Rishis de outrora falharam em
encontrá-Lo mesmo após praticarem severas austeridades era após era! E ainda
assim estes esperam atingir tudo num piscar de olhos! Eles não praticam
disciplina espiritual, nem praticam austeridades ou autocontrole e ainda assim
dizem, ‘Mostre-se a nós agora!’ Quem sabe quais as más ações que eles
cometeram em tantas vidas passadas! Como podem esperar por coisas sublimes
antes que estas tenham sido gradualmente esgotadas? Se a Realização não for
conseguida nesta vida, ela poderá vir na próxima, ou mesmo vir na vida após a
próxima. Mas a Realização virá se você continuar a trabalhar por ela. É a
Realização de Deus tão fácil? Apenas que, desta vez, com o advento de Thâkur
(Sri Ramakrishna) e o caminho mostrado por ele, é mais fácil, isto é tudo. Eles
estão vivendo uma vida mundana e gerando filhos todos os anos, e ainda assim
eles vêm e dizem, ‘Porque não tenho a visão do Divino Mestre’? As mulheres
costumavam ir a Thâkur e dizer, ‘Porque a mente não se volta para Deus?
Porque ela não fica firme?’ e assim por diante. O Mestre costumava responder
a elas: ‘Ah! Como pode acontecer agora? Ainda existe o cheiro do parto [do
nascimento de seu filho] em você. Que primeiro ele desapareça. Isto virá com o
passar do tempo. É o suficiente para esta vida que você tenha vindo a mim. Na
próxima vida o caminho espiritual será fácil de atingir para você.’ Uma visão
d’Ele em sonhos pode ocorrer, talvez. Mas vê-Lo realmente com estes olhos ou
mostrando-Se a um devoto assumindo um corpo – a quantos isto acontece? Este
é um raro e bom destino, de verdade.”
50
177. Sri Ramakrishna costumava dizer, “Eu fiz dezesseis annas 9; é o
suficiente para você fazer apenas um anna.” Está, na verdade, além dos poderes
de um mortal fazer uma centésima parte dos rigores das austeridades sobre-
humanas para a realização de Deus que Sri Ramakrishna realizou. Contudo é
necessário fazer no mínimo aquele um anna como pedido por ele. Mas é apenas
quando se tenta fazer a total medida [o todo] das dezesseis partes que se pode
possivelmente ter sucesso em fazer uma parte apenas. Se você der um passo na
direção de Deus, Ele se aproximará dez passos em sua direção. O resto Ele faz
o devoto cumprir com Sua ajuda. Esta é Sua graça, Sua misericórdia.
178. Que Ahimsâ (não ferir [não causar o mal]) é a virtude suprema é,
sem dúvida, verdade. Mas apenas professando-a pela palavra da boca é pior do
que ser inútil; meramente evitar matar animais, por exemplo, não comer carne
ou peixe, não é Ahimsâ. O verdadeiro não ferir pode apenas ser praticado
quando Deus for visto em todos os seres, ou seja, quando o Ser for realizado. A
própria natureza da vida envolve a cada momento, seja consciente ou
inconscientemente, a destruição ou danos às vidas de incontáveis seres, visíveis
e invisíveis. Os Yogis praticam austeridades vivendo de leite, pois é um
alimento puramente Sâttvico 10. Mas para obter aquele leite, o bezerro, que tem
por seu direito de nascimento todo o leite de sua mãe, foi privado de uma parte
de sua comida natural. Não é isto um ato de ferir ou crueldade? Mas quanto
mais se puder viver sem conscientemente causar danos ou ferir aos outros,
melhor. Contudo, pela habitual prática da real qualidade de não ferir, se
desenvolve amor por todos os seres, o pequeno ego ou egoísmo desaparece e
nenhuma distinção é sentida entre amigo e inimigo. Consequentemente o
coração é purificado e no coração puro, Deus é refletido.
51
180. “Na floresta”, significa em um lugar solitário longe do ruído dos
homens e das cidades, como por exemplo, nos Himalayas ou nas margens de
rios sagrados como o Gangâ, ou em uma atmosfera pura e saudável em meio às
belezas da natureza. Os Yogis escolhem lugares como esses como favoráveis às
práticas espirituais, onde não existe a mínima oportunidade para tentações
como “mulher e ouro”. Mas se uma pessoa continuar a pensar sobre assuntos
mundanos, mesmo após se retirar para a floresta, então este lugar não
permanece “uma floresta” mais, é como se você tivesse levado o mundo com
você. Mas se a mente puder ser aquietada e dirigida a um só pensamento, nada
externo poderá perturbar seu equilíbrio. Daí então este “mercado barulhento”
do mundo se tornará uma floresta para os Yogis, como eles sentem a quietude
da floresta mesmo no meio do um mercado barulhento.
181. Meditação “na mente” é o essencial. Onde quer que você medite,
instale o Ideal escolhido no mais íntimo recesso de seu coração e restringindo
os sentidos, utilize toda sua força para concentrar sua mente inteira, ou
consciência do ego sobre Ele. Esta prática ininterrupta desenvolve um tremendo
poder da Alma internamente, pelo qual a verdadeira natureza de Deus pode ser
realizada. Quanto mais a mente está dispersa em direções diferentes, mais ela
perde seu poder potencial e torna-se fraca e impotente, até que nenhum grande
trabalho pode ser feito por ela.
184. As mais favoráveis horas para a meditação são: (1) a junção do dia
e da noite, ou seja, de madrugada ou ao crepúsculo; (2) no “momento de
52
Brahman” como é chamado, a parte mais tarde da noite, uma hora antes de
amanhecer; (3) no final da noite 12. Durante essas horas a Natureza está
tranquila, pacífica e solene. E durante essas horas o nervo Sushumnâ, que está
no interior da coluna espinhal geralmente torna-se ativo e como consequência a
respiração é feita por ambas as narinas. Em outras horas um ou outro dos dois
nervos, Idâ ou Pingalâ, que correm por ambos os lados do Sushumnâ, está ativo
e a respiração é feita pela narina direita ou esquerda. Isto torna a mente instável.
Muitos Yogis, por esta razão, observam quando o Sushumnâ se torna ativo e tão
logo verificam isto eles se sentam para a meditação, deixando de lado toda outra
ação.
185. Existem momentos em que o aspirante sente que a mente está inerte
e monótona, e que nenhum sentimento ou ideia a anima; não há inclinação para
fazer Japa ou meditação; ou a mente mergulha de cabeça nos maus pensamentos
e tendências, e não parece possível detê-la com qualquer esforço. Se ela continua
desta maneira, então o único remédio é companhia santa. Entrando em contato
com pessoas santas, por sua visão e toque, e por serviço pessoal a eles, seu
espírito e divino estado são transmitidos ao coração do devoto, trazendo anelo
espiritual e inspiração, as impurezas da mente são lavadas e se avança com novo
entusiasmo. Se não há oportunidade para companhia santa, deve-se recorrer ao
estudo das sagradas escrituras, discussão sobre bons assuntos e orar a Deus com
um coração cheio de anelo. Uma resolução firme deve ser feita de se repetir o
Nome de Deus ou o Mantra, goste ou não disto, e exercer a força de vontade. Se
descobrirá então que o mal desapareceu e que a sombria noite de Tamas
terminou.
53
187. Como a fricção traz o fogo que está na madeira, batendo o leite, a
manteiga que está nele, esmagando o gergelim, o óleo que está nele, cavando o
solo, a água que está no subsolo – da mesma forma, o Supremo Ser que jaz
escondido na câmara do coração se manifesta em Sua verdadeira natureza ao
Jiva como sua essência, através de austeridades e concentração mental
executadas com uma devoção exclusiva.
54
191. A menos que os Sannyâsins continuem a fazer os exercícios
espirituais corretamente, não têm o direito de aceitar dádivas ou presentes de
pessoas que vivem no mundo. Isto seria a prática da fraude sobre estas pessoas
e afastaria os Sannyâsins de suas vidas de votos sagrados. Os chefes de família
servem os Sannyâsins com o objetivo de que estes [os Sannyâsins] possam
passar todo seu tempo em práticas espirituais sem ter nenhuma preocupação
sobre comida, roupas, e outras necessidades básicas da vida. Por causa desta
ação meritória, de forma natural compartilham de uma parcela dos frutos das
práticas espirituais e méritos dos Sannyâsins. Por esta razão os Sannyâsins
deveriam ganhar suficiente mérito para ter o suficiente para si mesmos, mesmo
depois de repartir a parcela devida aos seus benfeitores e doadores. De outra
forma, se eles caírem do caminho espiritual, sofrerão uma grande perda moral
e espiritualmente. Não há fim ao sofrimento daqueles que perdem tudo, aqui
ou no além. De forma crônica precisam sempre de algo. Por esta razão, os
Sannyâsins com o espírito da verdadeira renúncia, como também os Brâhmins
piedosos e ortodoxos, nunca aceitam presentes, assim como o pai de Sri
Ramakrishna nunca os aceitava. Além disso, a aceitação de presentes implica
em um sentido de obrigação e tira a liberdade [de quem recebe].
55
com ele. Alguns dias se passaram deste modo e o menino estava muito feliz.
Chegou a época da cerimônia de Shrâddha para o bem-estar da mãe falecida do
professor da escola e os estudantes foram instruídos a trazer várias coisas como
presentes para ele nessa ocasião. Portanto todos os estudantes que tinham
condições levaram vários tipos de presentes em quantidades generosas para seu
professor. Mas a mãe de Gopal não tinha nada para mandar. Madhusudan
Dâdâ, notando que Gopal estava indo à escola nesse dia com uma feição triste,
perguntou a ele a razão, e o consolando, deu-lhe um pequeno pote de leite
dizendo, “Leve isto ao seu professor.” Assim que Gopal deu isto ao professor,
o mesmo se enfureceu e o repreendeu severamente por ser algo insignificante.
Mas todos ficaram espantados e maravilhados ao descobrir que assim que o
pote se esvaziava, ficava cheio de novo. Então, o professor, tendo escutado a
estória de Gopal, foi com ele à floresta e pediu que chamasse seu Madhusudan
Dâdâ para que pudesse vê-lo. Assim que Gopal o chamou, uma voz do céu foi
ouvida. “Você Me vê devido a sua fé simples, mas seu professor não está
qualificado para ver-Me, pois sua mente ainda não é pura”.
194. Apenas aquele que chama por Deus do fundo de seu coração com
fé simples e não quer nada além Dele, O encontrará. E encontrando-O, não
restará mais nada para querer ou buscar. Aquele que invoca a Deus para ganhar
felicidade aqui ou no além, ou que mendiga à Ele por coisas mundanas, pode
consegui-las se Ele assim desejar, mas não encontrará a Deus.
196. As observações da Santa Mãe sobre este assunto são ainda mais
rígidas e surpreendentes. Ela disse a uma jovem viúva discípula iniciada por
ela, “Minha filha, nunca confie no sexo oposto, o que falar de outros, não confie
nem mesmo em seu pai ou irmão, nem em Deus Mesmo se Ele aparecer a você
assumindo a forma de um homem!” A ideia é de que enquanto houver o
56
sentimento de autoidentificação com o corpo, também existe luxúria e
consequentemente o perigo de cair. Enquanto a mente for imatura, existirá
sempre a chance de ser vencido pela tentação. Portanto é necessário manter-se
afastado disto com total esforço, de outra forma o perigo é inevitável.
197. Para o aspirante não existe um inimigo tão terrível e tão difícil de
conquistar como a luxúria. Não há escapatória de suas garras sem um esforço
interminável até a morte. É como o ditado de Râvana: “Que inimigo é este
Rama! Não morre mesmo após ser morto repetidas vezes!” Nossos Puranas
contêm tantas estórias sobre grandes Yogis e Rishis que, depois de praticarem
severas austeridades por centenas de anos, escorregaram da Brahmacharya,
sucumbindo à paixão pelas mulheres. Portanto as escrituras instruem que
Sannyâsins e Brahmachârins não devem ser íntimos de mulheres; não devem
nem mesmo olhar para suas faces, ou conversar com elas de um modo irrestrito
ou brincar com elas em segredo. São aconselhados a nem mesmo olhar para
figuras e fotos de mulheres, pois isto pode incitar os maus impulsos em uma
mente imatura e criar tendências más que agem de um modo sutil. Estas rígidas
normas não são para a pessoa comum, mas apenas para Sannyâsins e
Brahmachârins que, tendo renunciado a tudo, buscam realizar a Deus nesta
mesma vida pela prática de Yoga e severas austeridades. Eles pertencem a uma
categoria diferente.
198. Por esta razão, um aspirante religioso deve descartar como veneno
a companhia livre e promíscua com o sexo oposto. Todas as organizações e
instituições religiosas, antigas ou modernas, onde esta regra foi violada,
sofreram contaminação e degradação. Exemplos disso são encontrados nas
seitas Buddhistas, Tântricas e Vaishnavas na Índia, nas ordens Católicas
Romanas no Ocidente nas eras medievais. Quando um convento para
Bhikshunis (monjas) foi fundado no tempo de Buddha, ele declarou: “A
semente da destruição do Buddhismo foi plantada!” O Grande Mestre do
Divino Amor, Sri Chaitanya, apesar de sua misericórdia ilimitada, abandonou
seu bem-amado discípulo monástico, o jovem Haridas, pela simples razão de
que ele tinha aceitado esmolas das mãos de uma das mais eminentes senhoras
devotas de Seu Mestre. Que lição severa para a instrução da humanidade!
57
200. A mente imatura é uma grande enganadora. É muito difícil
compreender quando e como, em um momento despercebido, ela pode
inconscientemente levar o aspirante para fora do caminho [espiritual] e prendê-
lo nas teias de Mâyâ. A natureza da mente imatura é buscar os prazeres do corpo
e dos sentidos; ser enfeitiçada por Mâyâ ou apego à esposa, filhos e família,
pensando que eles lhe pertencem e considerar riqueza, descendentes, fama,
posição e poder os únicos objetos desejáveis da vida. Não desperta nem mesmo
após sofrer repetidamente na busca pelo prazer recebendo golpes a cada passo.
O homem com uma mente imatura, mesmo após todos os dias ver pessoas
morrendo em todos os lados, não percebe que ele mesmo terá que partir a
qualquer momento, deixando tudo para trás. Ele quer se assegurar de seus fins
engenhosamente, ou melhor, por quaisquer meios; não importa nem um pouco
se suas ações causarem perda ou sofrimento a outros. Sua própria felicidade é
tudo que lhe importa. Todo seu interesse está centrado neste mundo.
201. A mente imatura é como minério não fundido de uma mina, cheio
de escória e impurezas de todo tipo. Se o material bruto é lavado e fundido de
acordo com processos químicos, pode ser convertido em ouro puro ou em
outras coisas muito mais valiosas ainda que o ouro e estas coisas ajudarão e
servirão ao homem de muitas maneiras. Similarmente, a mente imatura pode
purificar-se, se é lavada com a água de Viveka, ou seja, o discernimento entre o
Real e o irreal; se seu desejo por objetos mundanos é queimado pelo fogo da
renúncia e do amor por Deus; e se é purificado pelas práticas de disciplina
espiritual como ensinado pelo Guru para alcançar a Suprema Verdade. Então a
mente imatura torna-se madura. O Sempre-Puro Senhor Supremo, que é da
natureza da Existência, Consciência e Bem-aventurança, manifesta-se nesta
mente pura e madura.
202. A mente é como uma fruta. Uma fruta imatura tem gosto amargo,
adstringente ou insípido, e causa todo tipo de mal-estar se é comida; mas
quando é madura, quão benéfica e doce ela é! Então ela pode ser oferecida até
mesmo a Deus na adoração. Assim também acontece com a mente.
58
em sua maioria pessoas malvadas. Seu único pensamento e esforço é sobre como
prejudicar e arruinar os outros. Eles são sensuais, gananciosos – são pecadores.
205. No início era Brahman sem um segundo [sem uma segunda coisa],
a Existência Pura imersa em Sua própria glória. Ele estava sozinho, nada mais
existia. Tudo estava bem. Então, em um dado momento, Ele desejou, “Eu serei
muitos”, e surgiu toda a criação com sua quantidade incontável de mundos! E
mesmo Ele teve que praticar austeridades e meditação para fazer isso. Tendo
criado o universo, composto de todos os objetos móveis e imóveis – todos os
objetos animados e inanimados – Ele próprio entrou neles, e capacitou apenas
o ser humano com faculdades de raciocínio, Sua consequente situação, como diz
o ditado, era, “Brahman chora, preso na rede dos cinco elementos”. Ora, estes
sábios assim chamados ‘muitos’ consideram-se livres de todas as
responsabilidades pessoais, tendo transferido todas suas falhas e erros, loucuras
e fraquezas, incapacidades e maus hábitos, etc., para Seus ombros! Se eles
fracassam em qualquer trabalho devido a seus próprios erros ou falta de esforço,
eles dizem, “Não foi a vontade de Deus!” E se eles falham em fazer algo sobre
o que estavam muito inclinados, apenas dizem: “Aconteceu assim apenas por
Sua vontade!” Como se eles conhecessem tudo o que o Senhor deseja e não
deseja! Se fosse assim, eles não seriam pessoas comuns, pois até conhecem o
pensamento do Onisciente Senhor! Eles até declaram com uma mostra de
autoridade, “É a vontade de Deus que todos se casem e vivam uma vida
mundana. Pois se todos se tornassem monges, como iria se sustentar a criação?”
Como se estivessem passando noites sem dormir receando esta terrível
catástrofe – a dissolução do mundo! Como se todas as pessoas do mundo
estivessem morrendo para tornarem-se monges!
59
crianças pequenas que dizem, ‘Pela minha honra!’, ‘Meu santo Deus!’, ou ‘Só
Deus sabe!’ Somente aquele que realmente sente a Divina vontade e está
designado para falar assim, é quem se entregou completamente a Deus, que
realizou a Verdade: “Eu sou a máquina, Ele é o operador”; é aquele que não faz
distinção entre bom e mal, que não tem desejo ou aversão por nada, e que
permanece o mesmo no elogio ou na calúnia, no ganho ou na perda, no prazer
ou na dor.
208. Mas nem todos têm a mesma força e habilidade. Para um jovem
destemido, talentoso e vigoroso que cortou todas suas amarras com o mundo e
que pratica exercícios de Yoga dia e noite, em solitude 13, para o controle da
mente e interrupção de todas as modificações mentais, que vive com uma
refeição por dia conseguida mendigando, ou de frutas e raízes, alcançar a Deus
ou Samadhi pode ser fácil. Mas existem outros que a despeito de seu intenso
anelo pela Realização, encontram-se sempre em situações extremamente
desfavoráveis. Eles estão ocupados no mundo em servir pais idosos e
desamparados, ou estão engajados em um trabalho exaustivo para manter
mulher e filhos. E também podem ser devotos confinados a cama com alguma
doença incurável, sua mente e corpo esgotados para executar exercícios
espirituais adequadamente. Por acaso não existe esperança de salvação para
estas pessoas? Eles continuarão a ser sacudidos e golpeados por toda a
eternidade sobre o agitado mar da causa e efeito, como um pequeno bote em
uma tormenta? Eles não têm esperança de libertação? Serão destroçados sem
misericórdia pelos resultados de seu Karma passado, como insetos e vermes,
sob a inexorável roda da causa e efeito? Não, isto jamais pode acontecer nos
domínios de um Deus misericordioso. Seu choro [destes seres sofridos] do
fundo de seu coração, com certeza, chegará aos Seus ouvidos, e eles escutarão
dentro de seus corações a firme e pequena voz da esperança e consolação. Se
seu desejo por Mukti for forte e profundo e tomarem refúgio em Deus com o
coração cheio de anelo, conhecendo bem sua própria incapacidade; se levam
uma vida doméstica executando todas as suas ações sem apego e com um
13 Solitude é o estado de privacidade voluntária de uma pessoa, não significando propriamente, estado de solidão
(nota do tradutor).
60
sentido de dever, considerando sua família e parentes e o resto como
pertencentes a Deus; e se não são ligados a qualquer trabalho, ou por qualquer
apego ou paixão por quaisquer pessoas e não amam a ninguém do fundo do
coração exceto a Deus – então, por mais adversas que sejam as circunstâncias e
ambientes, também serão herdeiros da paz nesta vida e ganharão o Estado
Supremo no além, devido a ilimitada graça e misericórdia do Senhor que é
Amor personificado, Ele que liberta Seus devotos das correntes do destino.
210. Seja você um Sannyasin ou uma pessoa que vive em família, você
tem que lutar ao longo de seu próprio caminho, deve construir sua vida inteira
em harmonia com seu caminho espiritual. A Realização não pode ser alcançada
através de fraude; engana-se a si mesmo praticando falsidade. De forma geral,
parece como se Deus mostrasse de alguma forma mais favorecimento aos
devotos que vivem em família do que aos Sannyasins. Estes últimos
renunciaram tudo pelo único propósito de invocar apenas a Deus. Será
certamente um grande pecado se eles alguma vez falharem em fazer isto. Mas
os piedosos e firmes devotos que vivem em família recordam e pensam no
Senhor e rezam por Sua graça mesmo enquanto carregam suas cargas pesadas
ao longo da acidentada estrada do mundo. Além disso, eles respeitam, honram
e servem os Sannyasins e devotos de Deus e executam atos meritórios como dar
esmolas e fundar instituições de caridade para ajudar os pobres e aflitos e casas
de repouso para os peregrinos, e assim por diante.
211. A realização de Deus nesta mesma vida não é para todos. Aqueles
que têm praticado severas austeridades e disciplinas espirituais vida após vida
para realizá-Lo e que têm apenas um pouco de Karma para esgotar, nascem
dotados de boas tendências e desejos, devido ao mérito adquirido em suas vidas
anteriores. Desta maneira, quando conseguem circunstâncias favoráveis para o
61
esforço espiritual nesta vida, terminam facilmente o que resta e mergulham no
Estado Supremo que está além do nascimento e da morte.
212. Não existe nenhum tipo de trabalho [ou ação] que não produza
resultados ou que seja desperdiçada ou perdida. O trabalho inevitavelmente
produzirá seus frutos, bons ou maus, em algum momento. Por esta razão o que
é bem deveria ser sempre feito. Tal ação se converte em um capital, do qual se
pagará a dívida das más ações e da massa de pecado executado.
62
atingido a meta da vida, sendo abençoado conseguindo a Suprema Bem-
aventurança, que está além da felicidade e do sofrimento.
217. O desapego pelos objetos do mundo e amor por todos os seres são
os fundamentos, os princípios-raiz, de todas as religiões. Aquele que tem estas
virtudes não está sujeito ao corpo e aos sentidos, não tem nenhum desejo por
nome, fama, ou amor pelo poder, não tem nenhuma ideia egoísta de “eu e meu”,
e nenhum sentimento de distinção entre seus próprios parentes e os outros.
Considera todos os seres vivos – ricos e pobres, Brahmins e párias, virtuosos e
viciosos, inimigos e amigos, animais, pássaros e insetos – com a mesma visão.
Ele não é afetado – nem exaltado nem deprimido – pelo louvor ou calúnia,
ganho ou perda, vitória ou derrota, dor ou prazer. Mesmo estando trabalhando,
ele não trabalha, e mesmo sem trabalhar, ele trabalha. Ele é verdadeiramente o
Karma-Yogi ideal.
63
mente diminui e ela torna-se tranquila. Como a mente está espalhada em vários
objetos, seus poderes são dissipados. Se todas estas forças espalhadas puderem
ser concentradas sobre um único objeto, então a mente conseguiria infinito
poder. De acordo com as escrituras sobre Yoga, não existe nada no universo
além do poder desta mente atingir. Se no plano espiritual, aquele poder
concentrado é dirigido por meio da meditação à verdadeira natureza do Ser
Supremo, o Jiva se funde no Supremo Brahman através do Nirvikalpa Samadhi,
o estado da mais elevada Supraconsciência. E se a mente se tornar totalmente
absorvida na contemplação de Deus com forma no lótus do coração, será
abençoada com a visão direta do Ideal Escolhido, ou seja, realiza a Deus. Além
disso, se a mente for aplicada aos fenômenos naturais ou sobrenaturais, várias
verdades maravilhosas e sutis serão descobertas e os oito Siddhis, ou faculdades
sobre-humanas ou poderes ocultos serão adquiridos.
219. Os oito Siddhis são: (1) Animâ, o poder de tornar-se tão pequeno
quanto um átomo; (2) Laghimâ, o poder de assumir excessiva leveza por sua
vontade; (3) Vyâpti, o poder de tornar-se todo-penetrante por sua vontade; (4)
Prâkâmya, vontade irresistível; (5) Mahimâ, o poder de aumentar seu tamanho
por sua vontade; (6) Ishitva, soberania; (7) Vashitva, o poder de subjugar os
outros por sua vontade; e (8) Kâmâvasâyitâ, o poder de ser capaz de agir ou
para obter os objetos desejados, por sua vontade.
64
de contrair alguma doença nervosa incurável ou problemas no coração, e pode
levar até a insanidade ou um transtorno cerebral.
223. Existem muitos que pensam: “Eu não tenho muito apego pelo
corpo; eu não tenho muita paixão por minha esposa, ou afeto por meus filhos,
nem muita atração por dinheiro; eu não sou ligado a nada; eu poderia livrar-me
de tudo se quisesse.” Mas quando eles cambaleiam nos golpes e contragolpes
de dentro e de fora, ou são sacudidos quando enfrentam horríveis provações
em uma virada do destino, então despertam de sua ilusão e realizam sua
desesperada situação de estar amarrados pelos pés e mãos pelas terríveis
correntes de Maya. Aqueles que são dotados com boas tendências herdadas de
nascimentos anteriores consideram estas correntes intoleráveis. Eles lutam de
coração e alma para libertarem-se delas por quaisquer meios. Estes são os
Mumukshus, ou seja, pessoas com desejo de alcançar Mukti, ou liberação do
nascimento e da morte.
224. Existe outro tipo de Jivas que levam uma vida de sujeição como
escravos, geração após geração. Suas condições tornam-se tão naturais para eles
que têm medo até de escutar o nome da liberdade. Eles pensam: “Estamos bem
como estamos. Se tivermos que entrar pelo caminho que leva à liberdade, que é
65
desconhecido e incerto, renunciando a tudo que temos, é melhor abster-se da
liberdade!” Se o verme que vive na imundície é colocado em uma pilha de
flores, morrerá lutando para respirar. Estes são os Jivas ligados. Eles
permanecem eternamente presos à vida mundana.
226. Seja um mendigo faminto, faminto pelo amor a Deus. Chore cheio
de anelo pela visão de Sua forma de Amor. Fique louco por Ele como se a vida
fosse insuportável sem Ele. Quem mais existe que sinta como Ele sente a aflição
de Seu devoto? Quem mais é nosso mais íntimo, como Ele é? Quem mais existe
depois de seu coração – a quem você pode entregar seu próprio coração e alma
– como Ele? Se alguém se arrepende, Ele perdoa e o coloca em Seu colo em
amoroso abraço, mesmo após cem transgressões. Seu amor ultrapassa toda
compreensão, e está além de todos os limites. Ele é o oceano da infinita
felicidade. Ele é o oceano de néctar da imortalidade. Mergulhe neste oceano e
você alcançará a imortalidade, você nadará em bem-aventurança como rasagollâ
(um doce esponjoso) flutuando na calda. Não é por isso que o amante de Deus
não quer Mukti ou Nirvana (Aniquilação), abstendo-se de gozar da bem-
aventurança na adoração de Deus Pessoal?
66
unidade com o Ser, onde os dois se confundem, e um não pode ser distinguido
do outro.
67
Quando se deitar, pense que você está se prosternando diante da
Mãe,
Enquanto está dormindo, pense que está meditando n’Ela.
Quando sair para ir à cidade, pense que está circulando a Mãe
Shyâmâ.
Qualquer coisa que entre em seus ouvidos é verdadeiramente o
Mantram (nome sagrado) da Mãe.
Kâli é feita de todas as cinquenta letras 14 do alfabeto, cada letra é
um nome d’Ela.
Compartilhe de todos os pratos deliciosos que existem no mundo-
Que são próprios para chupar, sugar, lamber ou beber,
E pense que está oferecendo oferendas à Mãe Shyâmâ.”
68
233. Upâsanâ significa o ato de se aproximar de Deus, pela adoração,
orações e Serviço; literalmente, estar sentado em Sua proximidade. Os vãos
pensamentos e as vãs ações, longe de beneficiar-nos, nos fazem mal. Deliciando-
nos com eles, nos perdemos e eles nos afastam de Deus e nos conduzem a um
poço de lixo, por assim dizer – ninguém sabe onde. Quanto mais nos mantemos
afastados de pensamentos e ações sem valor e dos objetos mundanos
passageiros e nos devotamos à lembrança e contemplação de Deus, à meditação,
adoração e repetição de Seu santo nome, e às atividades como fazer bem aos
outros e servir a humanidade, mais perto nos aproximamos de Deus e nos
transfiguramos em Sua semelhança, enchendo cada vez mais nossos corações
com a bem-aventurança. Não existe outro caminho do que este para conquistar
o mundo e salvar-se do sofrimento e da inquietude mental.
15 O primeiro mosteiro estabelecido em uma casa alugada perto da chácara de Cossipore após o falecimento de
Sri Ramakrishna em 1886.
69
por alguém que elas possam agarrar e devorar. Deve-se, portanto, estar sempre
desperto e alerta, sempre discernir entre o certo e errado, e rogar a Deus. Se um
ladrão vê luz acesa em um quarto de uma casa e alguém acordado lá, ele não a
invade, mas vai para outro lugar. No momento em que você fraquejar, tornar-
se descuidado e fraco, seus inimigos também, descobrindo uma entrada, ficarão
violentos e tentarão derrubar você com qualquer meio astuto; e mesmo se forem
derrotados várias vezes, jamais recuarão ou abandonarão. Mas não desanime,
de nenhuma maneira. Mesmo se você cair várias vezes, deve se levantar a cada
vez com novo vigor e lutar com toda a sua força. Você então descobrirá que
mesmo a sua derrota, se acontecer, é tão boa quanto a vitória. Assim você
avançará um pouco mais a cada vez em seu caminho. Deus mesmo ajuda
aqueles que estão sinceramente ansiosos por levar uma vida superior; Ele dá a
estes, força e inspiração e torna o seu caminho suave removendo todo tipo de
obstruções, perigos e dificuldades. E quando eles, exaustos por sua luta
incessante contra as paixões, tomam refúgio n’Ele com o coração ansioso, então
Ele também os coloca em Seu colo. Pois Seu nome é – “Compassivo pelos
devotos”.
70
239. Assim como o devoto não pode viver sem Deus, também Deus
Mesmo não pode viver sem o devoto – como um jovem e uma jovem quando
apaixonados. Mas o amor entre um jovem e sua bem-amada nasce da luxúria e
da paixão entre eles pela sua beleza ou talentos; está manchado com desejo
carnal. Cheira forte à “peixe”, da felicidade pessoal ou autointeresse – ele não
dura muito se houver qualquer variação destes ou incompatibilidade de gênios,
e deixa um gosto amargo na boca. O amor por Deus, por outro lado, é sem
desejos, suprassensório, celestial e eterno. Quanto mais se bebe deste néctar de
amor, mais a sede por ele cresce, nunca se sente saciado. Aqui o Amor, Deus de
Amor – o Bem-amado, e o que está apaixonado, todos se tornam em um sem
uma distinção. Então o que fica é – Bem-aventurança Absoluta.
240. Qualquer que seja o modo de vida ou situação na qual a Mãe possa
colocar você, saiba que isto é para seu bem – compreenda você isto ou não. A
felicidade e a dor são apenas o toque benigno de Suas mãos de lótus. Quem
pode compreender Sua Lila (Jogo)? Se Ela mantiver você na felicidade ou no
sofrimento, na prosperidade ou na aflição, humildemente aceite tudo como Sua
benção.
71
tornam-se a causa de sofrimento e destruição sem fim da vida humana,
transforma os homens em bestas selvagens e o mundo em um verdadeiro
inferno.
72
mesmo Yoga e austeridades – por nenhum desses, nem por todos esses juntos,
Deus poderá ser realizado – não por nenhum ou todos esses Ele permitirá ser
capturado, ou seja, compreendido. A única arma irresistível para compreendê-
Lo ou mantê-Lo cativo é o Amor puro, a Devoção de toda a alma. “Ele é da
natureza do amor inefável.” Se você tocar aquela corda, Sua natureza se revelará
por si só, Ele não pode mais esconder-se. É como a vaca leiteira esguichando
leite a torrentes, por assim dizer, quando o bezerro aperta a mama com sua
cabeça.
248. Deus assume uma forma por compaixão pelo aspirante e para
tornar fácil sua adoração. Não é possível conceber a Ele em Seu aspecto
inconcebível, que está além de todos os atributos e adjuntos limitantes, ou
compreender a Ele como a totalidade de todas as qualidades Divinas abstratas.
Começando por modelar uma imagem de Shiva, frequentemente terminamos
moldando um macaco! Enquanto formos seres humanos, enquanto temos o
sentido de corpo ou o sentido de dualidade, não temos nenhuma alternativa
senão pensar em Deus como uma Pessoa Ideal dotada com infinitos atributos
Divinos.
73
249. Se tentarmos imaginar a Deus como sem forma, nós podemos no
máximo pensar no vasto céu ou no oceano sem limites. Se tentarmos meditar
em Deus em Seu aspecto sem forma no estágio inicial, não poderemos fazer
nada além de meditar no vazio apenas. Nada pode ser sobreposto nisto – é como
jogar pedras no escuro. Meditação no Divino Pai sem forma, ou na Divina Mãe
sem forma, é um processo elaborado da imaginação estéril – uma mera frase
vazia e sem significado. Não podemos avançar muito longe pelo caminho do
progresso espiritual através da meditação sem forma. Pois ela é seca como o pó
e sem qualquer suporte para manter-se. O Paramahansa liberado, que não tem
o sentimento de identificação com o corpo, e aquele que vê Deus em todos os
seres, apenas estes são qualificados para meditar em Brahman sem forma além
de todas as limitações.
74
inteligência. Atraídas por aquele sublime Amor, as jovens Gopis, ou pastoras-
leiteiras, de Vraja (Vrindaban) corriam como loucas para as margens do
Yamuna, ouvindo o chamado de Sua flauta, na esperança de vê-Lo e de estar
perto d’Ele. Deixando de lado todo sentimento de vergonha, medo, reputação
familiar e posição social, costumavam perder em Sua companhia o sentido do
corpo e sua individualidade e fundiam-se n’Ele! Este amor abnegado, sem
egoísmo, não poderia nunca ser causado por qualquer pessoa senão por Deus e
apenas por Deus. A doce e espiritual influência daquele maravilhoso, Eterno e
sempre sentido Jogo Divino tem atraído os corações de incontáveis homens e
mulheres por seu Bem-amado por eras, sim, tem derramado paz e bem-
aventurança sobre suas vidas, e qualificando-os para a Liberação, através de Sua
adoração como seu Ideal escolhido. Séculos depois, o Grande Mestre, Sri
Chaitanya Deva, veio como uma Encarnação para ressuscitar a ideia deste
mesmo Amor; e perdendo-se em Mahabhava, o supremo estado bem-aventurado
de Samadhi, através da contemplação daquele doce Jogo de Sri Krishna com
Radha, a principal da Gopis, imaculada pela mais ínfima mancha da luxúria,
disseminou aquele divino amor e pura devoção livremente para todos no
mundo. E em nossos próprios dias, Sri Ramakrishna ao cantar e falar da mesma
Lila de Radha-Krishna, costumava ficar tão dominado pela emoção, que ele
também se perdia em Mahabhava, expressando em sua pessoa todos os oito
sinais exteriores daqueles raríssimos sentimentos divinos, que foram
manifestados somente nas vidas de Sri Radha e Sri Chaitanya Deva.
252. Pode-se renunciar apenas aquilo que se possui; como pode alguém
renunciar a algo que não tem? Se algo tem que ser renunciado, primeiro deve
ser adquirido. Não se deve esquivar-se do problema ou da responsabilidade que
isto implica. Não adiantará “oferecer à Govinda o arroz inflado que foi levado
pelo vento 16”. Os Shastras, ou escrituras Hindus, não proíbem o gozo; elas
dizem: “Desfrute do mundo através da renúncia; ou seja, desfrute do mundo,
abandonando o sentimento de ‘meu’ e o apego nisso. Tudo no universo é
permeado por Deus. Ele está em cada objeto, tudo é d’Ele. Por isso, tendo firme
este conhecimento, faça todo o trabalho, desfrute de tudo, renunciando à ideia
de ‘eu e meu’; de outra forma o gozo se tornará sofrimento.” Se você desfrutar
do mundo com esta ideia, Yoga virá por si só; você a terá praticado
automaticamente, ou seja, sem ter passado por seus processos prescritos.
16 Govinda é um nome de Sri Krishna. A alusão é sobre um vendedor que vendo que seu arroz estava sendo levado
por uma rajada de vento, e que perderia tudo, o ofereceu à Govinda com vista de ganhar Punya, ou mérito religioso
nesta ou em vida futura.
75
substância-mental 17 ficarão quietos, mais esta corrente será inquebrantável
como o fluxo do óleo sendo passado de um vasilhame a outro. Somente então
será chamada de Dhyana, ou meditação. Quando esta meditação se aprofunda
ainda mais, a mente une-se com o objeto de meditação, torna-se transformada
naquela forma ou substância. Este estado é chamado Samadhi, ou o Estado
Superconsciente. Apenas então a verdadeira natureza do Ser é totalmente
experimentada, o Ideal Escolhido ou Deus é realizado. Apenas para esta pessoa
que realizou a Brahman, dizem os Upanishads, os nós do coração são desatados,
ou seja, todos os desejos, etc. são destruídos, todas as dúvidas são eliminadas
para sempre, todos os frutos das ações são esgotados – verdadeiramente, todo
o sofrimento termina. Então para chegar a isso, o primeiro passo é o constante
pensamento e recordação d’Ele; o estado calmo e imperturbável das
modificações mentais é o segundo passo; Dhyana é o terceiro passo; Samadhi é
o último passo ou degrau da escada. Não é possível atingir um degrau mais
elevado pulando os anteriores. Assim, o estágio final do constante pensamento
e lembrança de Deus é a realização de Deus.
17 Antakharana. É analisado pela filosofia Sankhya como Manas, mente ou faculdade receptiva, Buddhi, intelecto
ou faculdade determinativa, Chitta, ou faculdade cogitativa, e Ahankâra, ou o sentido do ego.
76
ação ou pensamento guardado também influencia os outros e lhes causa
sofrimento ou felicidade.
258. Muitos têm a impressão que o Samadhi não pode ser alcançado sem
a prática de Yoga ou sem trilhar o caminho de Jnana ou Conhecimento. A
filosofia Yoga de Patanjali fala assim: “A união com o Ideal Escolhido é atingida,
ou seja, Deus é visto, por Mantra-japa ou repetição do santo nome.” Depois
disso, está declarado: “O Samadhi é alcançado por autoentrega a Deus”;
também em outro lugar está dito, “Ou pela meditação em Deus.” Ou seja, o
18 “Destemor, pureza de coração, firmeza no conhecimento e Yoga, caridade, controle dos sentidos, Yajna, leitura
das Escrituras, austeridade, retidão, não fazer o mal, veracidade, ausência da raiva, renúncia, tranquilidade,
ausência de calúnia, compaixão, ausência da cobiça, gentileza, modéstia, constância, coragem, perdão, fortaleza,
limpeza, ausência do ódio, ausência de orgulho – estes pertencem a aquele nascido para um estado divino.”
77
Samadhi pode ser obtido pela concentração da mente em Deus, ou dedicando
todas as ações e seus frutos a Deus. Mais ainda, o comentador Vyasadeva
escreve neste contexto: “Deus estando satisfeito com a meditação n’Ele com
amor e devoção especial, mostra seu favorecimento ao devoto por Sua mera
vontade. Os Yogis também alcançam o Samadhi e seu resultado muito
rapidamente, meramente por Sua vontade,” ou seja, incondicionalmente.
Portanto vemos com isso que o estado de Samadhi pode ser alcançado até sem
praticar os oito passos da Yoga. Atingir a absorção em Deus com forma, e o
Samadhi em Brahman sem forma, são uma só coisa; somente a atitude e os
meios variam; a realização da Realidade e seu efeito são os mesmos em ambos.
Na verdade, aquilo que é Brahman sem atributos é em Si mesmo Brahman com
atributos; apenas que, a adoração de Brahman com atributos é fácil para os Jivas,
ou indivíduos, por possuírem o sentido de identificação com o corpo.
78
inclinação. Estas atividades ampliam e animam a mente, o sentimento Sáttvico
ou estado santo vem através de bons pensamentos e a execução de boas ações,
e criam fé e atração pelos deveres religiosos mais elevados e pela ação abnegada.
Mas ao mesmo tempo lembre-se que apesar de que elas são prescrições Védicas,
pertencem ao Karma Kanda, a seção dos Vedas que se relaciona com os atos
cerimoniais e ritos sacrificiais – e não são verdadeiramente Bhakti, ou devoção.
No amor a Deus não há compra e venda, nenhum comércio ou barganha,
nenhum cálculo de ganho ou perda, e nenhum desejo pelos frutos das ações.
Somente existe a inteira dedicação de corpo, mente e alma, e de tudo mais, a
Deus do coração; existe a total satisfação simplesmente em amá-Lo – pois
quando Ele é amado, sente-se como se nenhum outro objeto de desejo é digno
de ser buscado. É amor por causa do Amor. A própria natureza deste devoto é
amar; toda sua atitude é, “Eu não suporto viver e respirar sem amá-Lo”. Este é
o estágio final, o cume de Bhakti ou Prema – suprema, pura e abnegada devoção
ou amor por Deus. Mas tal Bhakti é muito rara, não vem por si só no começo.
Por isto é que a prática do Karma Kanda e da devoção formal têm sido
aconselhada por nossas escrituras. Se estes ritos são executados com reverência
e fé, a mente é gradualmente purificada pela graça de Deus, suas impurezas são
lavadas, o desejo por resultados agradáveis parecem desprezíveis, e aversão é
sentida pelos objetos passageiros do mundo. Então o coração sentirá o anelo
para ganhar o estado Imortal e Supremo. Este estado é chamado de Suprema
Bhakti ou Suprema Jnana.
79
pedindo a Ela que recebesse ambos os pares de opostos e desse a ele puro Amor.
Mas ele não pode dizer, “Mãe, aqui está Tua Verdade e aqui está Tua falsidade!”
Pois, como ele disse, em que ele iria se segurar, se abandonasse a Verdade?
265. Todos têm que sofrer as consequências de suas ações passadas; não
haverá liberação antes que os frutos das ações sejam colhidos, ou seja, ante que
se tenha esgotado sua experiência de prazer e dor, e aprendido assim sua lição.
Mas se refugiar-se em uma Encarnação de Deus, ou alguma alma sempre-
perfeita com especial autoridade de Deus, então através de sua graça, as
tendências com potencial de darem frutos que teriam levado várias vidas para
serem esgotadas, o serão nesta mesma vida.
80
é muito forte nestes, tornam-se a meta e tudo em suas existências. Se puderem
conseguir os objetos de gozo por quaisquer meios, consideram-se muito
espertos e acham que são muito felizes. O verme que vive no excremento, se
sente feliz ali apenas e se alimenta apenas ali. Mas estas pessoas são tão
estúpidas e iludidas que jamais refletem que terão que suportar dor e angústia
terrível na próxima vida pela carga de suas más ações que estão acumulando
nesta vida. Quem sabe, devido a sua natureza animal, poderão até ter que
transmigrar para um corpo animal inferior? Não levando isto em conta, aqueles
que estão mergulhados em tão profunda ignorância, aqueles que não sentiram
a picada do escorpião da consciência, são simplesmente animais em forma
humana.
267. Nunca, nem por um momento suponha que aqueles que estão
cegos pelo interesse próprio, que são escravos de seus sentidos, ou loucos com
o vinho das riquezas conseguidas de forma malvada, têm real felicidade e paz
em seus corações, por mais espertos que possam parecer exteriormente.
Desfrutar os objetos mundanos parece doce enquanto dura, mas chega a hora
quando se torna a fonte de dor e problemas que atormentam o coração. A vida
daquele que gratifica seus desejos torna-se carregada de constante medo,
preocupação, mal-estar, e frustação ao final; até chega a desejar a morte ou
cometem suicídio. Eles são realmente objetos de piedade.
81
“o estado de estar louco de Amor”. O anelo intenso por Deus é, em essência,
viver n’Ele. O anelo é a chave para o portal interno da mansão do Senhor.
270. Não pense após fazer Japa e meditação por algum tempo: ‘Eu
pratiquei tanto todos estes dias, e mesmo assim não ganhei nada!’ Se você não
conseguir resultados mesmo após praticar por um longo tempo, saiba que existe
em você algum defeito em algum lugar, que existe alguma trinca ou furo através
do qual todo o seu ato de adoração está vazando, como a água de uma jarra.
Descubra isso procurando dentro de você mesmo e feche-o. Somente então a
sua ‘jarra’ gradualmente encherá e o coração ficará repleto de força espiritual e
bem-aventurança. “Estou me esforçando tanto, estou fazendo tanto exercício
religioso” - é ilusão ter estas ideias e um sinal de egoísmo. Ao invés disso pense:
“Por mais que eu tenha tentado e me esforçado, que insignificante é isso para
realizar a Ti, ó Senhor? Que capacidade tenho eu, em virtude da qual possa
encontrar a Ti? Se Tu mostrares a mim favorecimento, por Sua própria
misericórdia, somente então poderei encontrar a Ti. Não tem outro caminho
para mim. Tomei refúgio em Ti apenas. Tenha compaixão por mim por Tua
infinita misericórdia. Salve-me, ó Senhor, e liberte-me da escravidão da
existência!”
82
273. Pranayama é o ato de respirar de forma calma e uniforme de acordo
com um processo especial, que é o controle do Prana, ou alento vital. Se
Pranayama for praticado metódica e corretamente por um longo período, a
mente torna-se calma; ela concentra-se sobre o objeto no qual está dirigida e o
conhecimento perfeito deste objeto é alcançado. Este é particularmente o
resultado espiritual de Pranayama. Seu efeito sobre o corpo e a mente também
é maravilhoso. Torna o corpo saudável, forte e radiante. A mente também se
torna alegre, calma e paciente, viril e determinada, e uma irresistível força de
vontade e magnetismo pessoal se manifesta. Assim, qualquer tarefa em que a
mente se aplique, será realizada. Através do Pranayama, os Yogis atingem vidas
longas e adquirem muitos poderes sobrenaturais. Mas tais poderes são grandes
obstáculos para a realização da Meta Suprema.
19 Atualmente é geralmente de 15-16 vezes, por isso o homem tem vida de curta duração.
83
277. De acordo com o Shiva Samhita, a primeira condição para o sucesso
na Yoga é a crença, “Certamente eu terei sucesso”. A segunda condição é a
prática espiritual com fé e devoção, a terceira é a adoração do Guru, a quarta é
a equanimidade, a quinta é o controle dos sentidos, e a sexta é comer
moderadamente. Não há uma sétima condição. Quer dizer, se estas seis
condições são cumpridas adequadamente, nada mais é necessário, pois o
sucesso é inevitável. Isto se aplica sem exceção a todos os aspirantes pela
liberação.
84
ou daninho, Tamásico; e uma mistura destes dois, Rajásico. A marca ou
impressão que é deixada na substância mental ou no corpo sutil pelas ações,
etc., é chamada Samaskâra. Isto é o que chamamos de Karma, Adrishta - o não-
visto (destino), Dharma e Adharma (mérito e demérito), Pâpa-Punya (virtude e
vício), etc. Não existe efeito sem causa. Nossos bons ou maus gostos ou
tendências, o que quer que sejam, todos são estímulos dos Samskaras
acumulados no passado. Somente aqueles entre eles que encontram condições
favoráveis, manifestam-se e se tornam ativos. Os outros permanecem
armazenados, esperando por uma ocasião propícia e dão bons ou maus
resultados no momento oportuno. Tudo que fazemos é uma mistura de bom e
mau, daí colhemos frutos nos quais felicidade e sofrimento estão misturados.
Chamamos algo bom ou mau de acordo com a predominância de um ou outro
nele.
282. Toda ação [ou trabalho] sem exceção causa servidão. Seja na
felicidade ou no sofrimento, todos causam servidão. Não pode haver Mukti até
que se vá além destes dois. A ação ou trabalho jamais se tornará uma causa de
servidão para aqueles que trabalham pelos outros sem a ideia de “eu”, pois eles
não desejam resultados, não trabalham para atingir fins egoístas, ou por nome
e fama. O amor brota em seus corações; vendo Deus em todos os seres,
trabalham com espírito de Serviço feito para Ele. Consequentemente, seu
trabalho consome os resultados potenciais de toda sua ação acumulada e não
produz mais sementes de qualquer ação na forma de novos Samskaras na
mente. Assim, livres da causa de repetidos nascimentos e mortes, tornam-se
dignos de conseguirem Moksha, ou liberação, após a dissolução do corpo.
284. O Karma-Yogi dedica o fruto de sua ação a Deus sem estar apegado
a esta [ação], já que sabe que “só Deus é o fazedor [aquele que faz a ação ou
trabalho], eu não sou o fazedor da ação”. O Raja-Yogi sabe que “Prakriti, a
Natureza, existe para o Purusha, o Ser, e não Purusha para a Prakriti”. Purusha
é o Atman, o Ser, Prakriti é a Matéria; portanto Ele é totalmente diferente de
Prakriti; sua relação é temporária, ou seja, não é eterna. Purusha não está
submetido à Prakriti. Ele é o mestre, e Prakriti, a serva. Prakriti existe apenas
para a realização de Seu propósito. A função dela [a Prakriti] é levá-Lo [o
85
Atman] através de várias experiências e deste modo fazê-Lo realizar Sua
própria verdadeira natureza. Portanto o Raja-Yogi não se identifica com Prakriti
e como consequência abandona todo apego ilusório por ela.
285. A renúncia do Jnana-Yogi é a mais difícil, pois ele tem que assumir
desde o princípio que todo o universo e sua relação com ele são irreais – Maya
– e que toda a vida é como um sonho. Seu caminho é: “Neti, Neti, não é isto, não
é isto; Eu não sou isto, nem aquilo – nada que eu veja ou possua; não sou o
corpo, nem a mente, nem os sentidos; não tenho prazer, nem dor, nem
nascimento, nem morte; eu não tenho escravidão, nem amarras, nem liberação;
Eu sou o Absoluto Brahman, o Ser Supremo; Eu sou da natureza da Consciência,
Sempre-puro, Sempre-iluminado, Sempre-livre”. Conscientemente deve
submergir-se na meditação sobre sua própria essência real, o Ser, rejeitando
todos os objetos externos.
288. Como qualquer uma das quatro Yogas é impossível sem Tyâga, ou
renúncia, assim também é a verdadeira Bhoga, ou o gozo dos objetos do mundo,
impossível sem renúncia. O gozo sem renúncia é só sofrimento, sua única
consequência é sofrimento. Os homens correm de medo tão logo escutam a
palavra ‘renúncia’, pois não podem conceber quanta felicidade há nela. Se uma
pessoa é aconselhada a renunciar, por que deveria necessariamente significar
que deve ser um monge, abandonando sua esposa e filhos, seus familiares, seu
lar, riquezas e propriedades? Por que não praticar um pouco de renúncia de
coisas pequenas na vida diária, de acordo com sua capacidade? Então você
86
compreenderá quanta felicidade e alegria existe na renúncia, quanto expande o
coração e alegra a mente. A renúncia que não traz a felicidade não é realmente
renúncia. É outra coisa.
87
292. O nome e o objeto designado pelo nome são idênticos; Deus e Seu
nome são o mesmo. Como Suas formas, atributos e concepções são incontáveis,
também Seus nomes são incontáveis. O poder de Seu nome é irresistível e
infinito. Qualquer nome que tenha apelo para você, continue a repeti-lo. Ele
responderá a isso. Todas as metas desejadas podem ser cumpridas e Ele pode
ser realizado pela repetição de Seu nome apenas. “Por Japa a Realização é
alcançada.”
293. Mas a Suprema Realização não pode ser alcançada sem submeter-
se as instruções transmitidas em sucessão pela linhagem de Gurus. Isto é
chamado Guru-paramparâ. Um poder flui através da linhagem de mestres
espirituais de Guru para discípulo, e quando um discípulo por sua vez se torna
um Guru, para seus discípulos. Assim, devido às rigorosas práticas espirituais
dos Gurus desde tempo imemorial, o poder místico dos santos nomes das
Divindades particulares adoradas, tem sido concentrado na forma de especiais
“mantras-sementes”. Este Mantra é a força e suporte do aspirante e o símbolo
vivo de seu Ideal escolhido. Se este Mantra é constantemente praticado através
de Japa com a mente concentrada, seu grande poder é percebido como uma
realidade. Mas deve-se ter Diksha, ou iniciação, da maneira prescrita, de uma
pessoa espiritual qualificada de mente pura, que tenha recebido o santo nome
da linhagem tradicional de Gurus. Então, se seguir as disciplinas espirituais de
acordo com as instruções de seu Guru, com total reverência e fé nele, a
Realização chega rapidamente.
88
e sofredores, tais atos são ascetismo do corpo. Veracidade é ascetismo da fala.
Controle dos sentidos e a prática da concentração sobre o objeto da meditação é
o ascetismo da mente. Aquele que busca a suprema Realização deve praticar
esse tríplice Tapasyâ.
89
esposa da Religião, a fonte de todas as virtudes, deu à luz aos Rishis Divinos
Nara e Nârâyana – o Homem-Deus e o Deus-Homem.
90
daninho e arruína a natureza espiritual. É especialmente entre os chamados
‘educados’ que se encontra uma grande proporção de pessoas sem uma base
moral, sem fé na religião, sem patriotismo e mortos vivos. Somente aqueles que
são dotados de bons e incomuns Samskaras, conseguem sobreviver.
303. Tendo nascido nesta rara vida humana, tente encontrar a Ele,
chegando a Quem tudo se obtém e nada mais permanece para ser obtido. Lute
para conhecer a Ele, conhecendo a Quem tudo se torna conhecido e nada mais
permanece para ser conhecido. Ame-O, amando a Quem todos os outros objetos
de amor – todo apego a “Mulher e Ouro” – parecem ser apenas poeira e cinzas.
Construa sua vida de tal maneira que possa atingir a vida imortal.
304. Mas então deve-se ter essa classe de desejo e devoção pelo supremo
Ideal. A prática espiritual é necessária – rigorosa prática de todo coração. Uma
grama de prática vale mais que uma tonelada da profissão de religioso. Uma
gota de Prema ou Amor Divino satisfaz a sede melhor do que um conhecimento
das escrituras tão vasto quanto o oceano. Prema é, por assim dizer, leite
condensado, creme ou manteiga; e toda a sabedoria, como dos Vedas e outras
escrituras sagradas é, por assim dizer, soro de leite. Discussão sobre doutrinas,
explicação erudita dos Shastras, ou sagradas escrituras, palestras e coisas
semelhantes são para os homens de nível inferior – que eles sejam felizes com
essas coisas. Que aqueles que o querem, bebam soro de leite, mas você coma
leite condensado, creme e manteiga até se fartar.
305. A pureza é como o Monte Kailâs coberto pela neve eterna, a morada
do Verdadeiro, do Bem e do Belo. O Senhor é refletido no coração puro. As
grandes verdades espirituais se desenvolvem apenas em uma alma pura. Há
muitas eras, nossos Yogis e Rishis descobriram verdades prodigiosas sobre o
átomo, sobre os cinco elementos sutis e primários, sobre o funcionamento
interno do corpo – ou seja, as atividades que ocorrem dentro do corpo em seu
tríplice conjunto de corpo denso, o corpo sutil ou orgânico e o corpo elemental
e as doenças que ocorrem se suas atividades se desviam de suas funções
normais – sobre o curso e as influências de estrelas, a física, a astrologia, etc.,
que são corroboradas pela ciência moderna. Como isso foi possível? Eles nunca
tiveram instrumentos científicos como o telescópio e o microscópio, nem
laboratórios com todo o equipamento moderno. As verdades complexas que
descobriram ou que foram reveladas para eles, simplesmente por focar
intensamente a visão interna de suas mentes puras sobre os problemas em
mãos, são uma maravilha para os sábios do mundo civilizado de hoje.
306. Se você desejar intensamente ter o Supremo Amor por Deus, Jnana
ou Moksha, deve primeiro tornar-se puro por dentro e por fora. Ambos, o corpo
e a mente devem estar limpos e puros. O significado disso, como o Mestre
91
costumava dizer, é “renúncia de Mulher e Ouro”, ou seja, a luxúria e a as posses.
Essa renúncia é extremamente difícil, mas não impossível. Lute com todo seu
coração e alma. Prática contínua, - esforço e disciplina espiritual intensos – torna
tudo possível. Mas nem mesmo é possível fazer este esforço sem a Graça de
Deus. É verdade que “Somente um ou dois em um milhão, são libertados (como
no corte da linha da brincadeira de empinar pipas)”. Mas quem pode dizer que
você não será um daqueles “um ou dois”? Portanto siga adiante com esta fé em
você.
309. “Não farei nada”, “Não posso fazer nada”, “Isso só pode ser feito
se você fizer isso por mim” – estas são as palavras de imbecis. “Leve até minha
boca, então eu comerei”. É melhor para a sociedade e para as próprias pessoas
que têm esse tipo de atitude que morressem; pois pela lei da natureza eles
morrerão perdendo a força e a vitalidade lenta e constantemente. Viver em
constante expectativa da ajuda de outros ou de algum agente externo, visível ou
invisível é como a morte. A liberdade é o paraíso, depender dos outros é o
inferno.
92
cortando as amarras do mau Karma com correta resolução, boas ações e correto
modo de vida? A humanidade ficaria totalmente louca se não houvesse
nenhuma possibilidade de alcançar a Liberação. E novamente, por que
deveríamos continuar a fazer boas ações ou esforçar-nos para sermos espirituais
através do sacrifício, se podemos ganhar mais ou avançar mais em nossos
interesses através de más ações? Se fosse assim, toda a espiritualidade, bondade,
compaixão, e todo amor e solidariedade desapareceriam do mundo e os homens
se tornariam verdadeiras feras.
93
314. Como podem o autoesforço e a misericórdia de Deus serem
harmonizados? Parecem ser contraditórios, mas não são. O autoesforço é uma
dádiva de Deus, Sua misericórdia. Os devotos sem vigor são de uma classe
inferior. Vejam quão viris e heroicos foram os devotos Mahâvira, Arjuna e
Prahlâda! Hanumâna (Mahâvira) não tinha medo nem de cruzar o mar; ele o
cruzou em um pulo gritando “Glória a Rama”! Prahlâda não se intimidou
mesmo quando repetidamente enfrentou a morte, mas refugiou-se em Vishnu
com sua mente imersa n’Ele. Como resultado, Ele apareceu e o salvou. A
coragem de Arjuna é conhecida universalmente. Existem muitas centenas de
brilhantes exemplos nos Puranas.
315. O devoto heroico diz: “Do que terei medo, sendo um servo de
Deus? O que existe que não possa fazer? O heroico devoto exclama:
“De quem terei medo neste mundo, cuja Rainha é a Mãe, a Suprema
Deusa? ...
Eu posso comprar o estado de Brahmamayee (a Mãe que é Brahman) com
a força de minha devoção.”
E de novo:
“Venha, Mãe, a este campo de batalha espiritual! Deixe-me ver quem será
derrotado, Mãe ou filho.”
Hoje, Ó Mãe, vou resolver isto de uma vez por todas lutando contra Ti;
que medo existe na morte?
Vou capturar facilmente o tesouro de Mukti soando o tambor, por assim
dizer.
O som sibilante de minha língua canta vibrante o nome de Kali,
Quem se atreve a ficar na batalha comigo?
O Sâdhaka Rasikchandra diz: Ó minha Mãe!
Eu conquistarei a Ti na batalha pela virtude de Tua própria força!”
316. Deus ajuda e torna-se compassivo por aqueles que têm intrepidez.
Devotos sem coragem, entusiasmo e zelo são estéreis, sem vida, e, portanto,
Tamásicos por natureza. Eles pensam: “Nós repetimos o nome de Deus de
manhã e à noite e temos alguma satisfação. Ele mostrará sua misericórdia e nos
levará a Meta quando chegar a hora. O que já conseguimos é suficiente.” O anelo
de realizar a Deus vem a eles somente após muitos nascimentos. Estes são como
ladrões insignificantes que invadem a casa, cheios de medo, e satisfeitos com
20
Do inglês, “robber-like Bhakti”. (nota do tradutor)
21
Literalmente, “Matar e destruir! Acabar com toda oposição!”
94
qualquer coisa pequena em que pusessem as mãos. E mesmo assim, devem ser
ladrões hábeis, pois apesar de tudo, é um roubo em uma casa na qual o dono
está totalmente despertado!
318. Qualquer coisa que é feita pelo bem real de si mesmo e dos outros
é religião. Todo o resto é irreligião.
319. Por mais que você possa dar conselhos e instrução para pessoas que
não sentiram a necessidade real da Autorrealização interna e não têm a sede
pela Liberação, tudo é em vão. Eles ouvem com um ouvido e tudo sai pelo outro.
Em nosso país, mesmo os camponeses iletrados e pessoas das aldeias são
filósofos. Eles instintivamente compreendem as verdades superiores da religião
melhor do que muitos eruditos do ocidente. “Brahman é verdadeiro e o mundo
é falso” - temos escutado este dito desde nossa infância. Se o solo não está
preparado e boas sementes não são semeadas no tempo correto, como poderá a
colheita corresponder ao esperado? A devoção daqueles nos quais o gosto pelos
prazeres mundanos secou, se inflama rapidamente como uma fagulha de fogo
caindo em uma pilha de feno. Lâlâ Babu deixou seu lar, renunciando ao mundo,
ao ouvir apenas uma palavra da lavadeira: “Coloque fogo na Vasana!”22
Vilvamangal despertou ao ser repreendido por uma prostituta. Imediatamente
ele renunciou ao mundo e tornou-se um mendigo pelo amor de Krishna. Que
maravilhosa e austera vida de devoção levaram em Vrindaban e alcançaram a
Meta desejada! É a exata maneira naqueles que atingirão a realização nesta
mesma vida.
22
Há um jogo de palavras com a palavra Vasana aqui, que em Bengali significa desejo, como também talos secos
de bananeiras, que são queimados até as cinzas como substância alcalina para lavar roupa pelos lavadeiros.
95
320. Seja perfeitamente sincero e todos os seus pecados serão
perdoados. A sinceridade o salvará de uma montanha de pecados. Um homem
sincero, apesar de ser um abjeto pecador, ganha a graça de Deus com o passar
do tempo e atinge a santidade.
321. A vida não é um solo estéril. Sem o devido cuidado e cultivo, torna-
se uma floresta cheia de animais e plantas selvagens, escorpiões e cobras
rastejantes, assim sempre dando medo. Se este mesmo solo – esta vida dos
homens – for cuidadosamente cultivado, se as disciplinas espirituais instruídas
pelo Guru forem energicamente praticadas com fé e devoção, trará uma
inestimável riqueza de felicidade, paz e bênção. Assim cantou o Sadhaka
Ramprasada:
322. Não há nada no mundo que seja matéria inanimada, morta. Aquilo
que chamamos assim, não é nada mais senão consciência ou inteligência coberta
por tamas, escuridão ou Ignorância. Quando esta cobertura de tamas é removida,
a escuridão de Maya desaparecerá e a consciência pura ou Supremo Espírito
será revelado. O mundo então aparecerá como sendo todo-Espírito e a fonte da
bem-aventurança transbordará.
324. Sree Sree Chandi é uma parte do Mârkandeya Purana e o livro mais
sagrado dos adoradores do culto de Shakti. Ele é cantado com as devidas
cerimônias e prescrições dos Shâstras, seja diariamente ou em dias especiais do
calendário lunar, em ritos solenes para propiciar planetas não-auspiciosos e
seres celestiais, para evitar possíveis males, ou assegurar prosperidade, ou para
curar-se de doenças incuráveis e invariavelmente como parte do Puja da Divina
Mãe. Swamiji costumava dizer que uma ideia tão perfeita e que abrange a tudo,
do Divino como declarado no Chandi, na meditação e adoração da Devi ou
Divina Mãe, não pode ser encontrada em nenhuma outra escritura religiosa do
mundo. Mais ainda, existe muito a ser aprendido e praticado do Chandi. Um
desses ensinamentos é – considerar todas as mulheres como mãe, como parte da
96
Mãe do Universo e respeitá-las dessa forma. Esta atitude encontramos ilustrada
de forma especial na vida de Sri Ramakrishna.
326. Aplicando a lição acima [do verso 325] a nossa situação atual na
Índia: Se para o propósito de fazer o bem ao nosso país e ao nosso povo,
esquecermos todas as diferenças entre nós e nossos próprios interesses pessoais
e nos unirmos e trabalharmos juntos com uma só mente sob a [liderança] de um
só líder escolhido obedecendo-o implicitamente - então qualquer poder hostil,
por mais poderoso que seja, não poderá ou ousará, se levantar contra nós ou
subjugar-nos. Seremos vitoriosos em todas as frentes.
97
Se tivermos firme fé em nossa religião, se não retrocedermos em entregar nossas
vidas à causa da religião, ninguém se atreverá em insultar nossa religião ou
profanar nossas imagens ou nossos templos. Nem se atreveriam a violar nossas
mulheres e tratá-las de maneiras abomináveis e desumanas. Não há outro modo
para os hindus de sobreviverem como uma nação exceto unindo-se e tornando-
se de uma só mente. Para preservar o Dharma, a sociedade, a cultura e a eles
mesmos, se conseguirem se unir, esquecendo diferenças de casta, os interesses
particulares e de grupos, terminando com a malícia e a inimizade entre eles,
então as pessoas de outras fés terão temor em difamar nossos costumes e
preceitos religiosos.
23
Os discípulos de um mesmo mestre espiritual, nesse sentido, aos outros discípulos de Sri Ramakrishna
(nota do tradutor).
98
evitando o conhecimento público, para não sermos descobertos. Aqueles que
admitem serem ateus são mil vezes melhores do que as pessoas com esse
caráter.
332. Swamiji costumava dizer: Ajude os outros sempre que puder com
tudo que puder, mas cuide de saber qual é o seu motivo. Se é feito por alguma
finalidade egoísta ou ganhar alguma vantagem, saiba que isto não beneficiará
aqueles que você ajuda nem a você próprio. Por outro lado, se seu motivo for
abnegado, seu serviço trará não apenas felicidade e bem-estar aos outros, mas
infinitas bênçãos para você. Isto é tão certo quanto você estar vivo.
99
pelo pecado. Os Shastras até prescrevem sofrimentos no inferno para aquele que
vive em família que se alimenta sem dar parte dela para os famintos.
(Brihadâranyaka Upanishad, Cap. I, 5º Brâhmana, 2º Sloka). De acordo com sua
capacidade, deve-se fazê-lo o máximo que puder.
336. O que quer que seja feito para ganhar felicidade, por algum fim
egoísta para si mesmo ou sua família e parentes, não é Dharma, mas apenas um
assunto mundano. Amor ou apego por sua esposa, filhos e parentes é chamado
Maya. Pertence à vida mundana ou Samsâra. O amor por todos os seres é Prema,
Dayâ ou compaixão. De forma similar, quaisquer trabalhos ou ações de mérito
religioso, como austeridades, adoração ou disciplinas religiosas, que sejam
praticadas com o objetivo de ganhar felicidade e bem-estar nesta vida ou na
próxima, são atos egoístas e nesse sentido não pertencem a Dharma ou
espiritualidade. Mas estas mesmas ações, executadas para o bem e felicidade de
todos os seres sem qualquer desejo para desfrutar seus resultados, executados
com a ideia de que todos compartilhem igualmente de seus méritos, traz
imensos frutos para si mesmo e para os outros. O Senhor Buddha, a encarnação
da misericórdia, declarou, “Até que todos os indivíduos no mundo alcancem a
salvação, não quero minha própria Mukti 24!” Que grande ideal!
24
Liberação, salvação (nota do tradutor).
25
A organização mundial com sede na Índia Ramakrishna Math and Mission (nota do tradutor).
100
339. A extensão das águas do lago na forma de ondas na figura abaixo
representa Karma, o lótus – Bhakti, o sol nascente – Jnana. A serpente enrolada
simboliza o poder Kula-Kundalini desperto e o cisne simboliza o Paramatman,
o Supremo Ser. Assim o emblema transmite a ideia de
que quando Yoga se une com Karma, Bhakti e Jnana,
o Paramatman é realizado.
CONTINUA
101
102