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APL IPARDES - Porcelanas - Campo - Largo

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GOVERNO DO

PARANA
SECRETARIA DE ESTADO
DO PLANEJAMENTO E
COORDENAÇÃO GERAL

A PLs do Estado do Paraná

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL


DE LOUÇAS E PORCELANAS
DE CAMPO LARGO

ESTUDO DE CASO
SEC RETARIA D E ESTAD O
DO PLAN EJAM ENTO


 
   
 




   


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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
Roberto Requião - Governador

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL


Nestor Celso Imthon Bueno - Secretário

INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - IPARDES


José Moraes Neto - Diretor-Presidente
Nei Celso Fatuch - Diretor Administrativo-Financeiro
Maria Lúcia de Paula Urban - Diretora do Centro de Pesquisa
Sachiko Araki Lira - Diretora do Centro Estadual de Estatística
Thais Kornin - Diretora do Centro de Treinamento para o Desenvolvimento

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA - UEPG


João Carlos Gomes - Reitor

PROJETO "IDENTIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO, CONSTRUÇÃO DE TIPOLOGIA E APOIO NA FORMULAÇÃO DE


POLÍTICAS PARA ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS NO ESTADO DO PARANÁ"

Coordenação
Cesar Rissete (SEPL)
Gracia Maria Viecelli Besen (IPARDES)
Paulo Delgado (IPARDES)

Equipe Técnica
Hermes Yukio Higachi (UEPG/Departamento de Economia) - Coordenador
Milton Xavier Brollo (UEPG/Departamento de Economia)
Hemmile Graciani Pontes de Aguiar (UEPG) - Acadêmica de Economia

Orientação Técnico-Metodológica (Fundação Carlos Alberto Vanzolini)


Wilson Suzigan - Doutor em Economia pela University of London, Inglaterra
João Eduardo de Moraes Pinto Furtado - Doutor em Economia pela Université de Paris XIII, França
Renato de Castro Garcia - Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas

Editoração
Maria Laura Zocolotti - Coordenação
Cláudia Ortiz - Revisão de texto
Léia Rachel Castellar - Editoração eletrônica
Luiza Pilati Lourenço - Normalização bibliográfica
Lucrécia Zaninelli Rocha, Stella Maris Gazziero - Digitalização de Informações

A773a Arranjo produtivo local de louças e porcelanas de Campo Largo :


estudo de caso / Universidade Estadual de Ponta Grossa,
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social,
Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral. –
Curitiba : IPARDES, 2006.
31p.

1. Arranjo produtivo local. 2. Louças e porcelanas. 3. Campo Largo.


I. Título. II.. Universidade Estadual de Ponta Grossa.
III. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.
IV. Paraná. Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral.

CDU 666.5/.6(816.22)
SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ iii


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA........................................................... 2
2.1 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DAS EMPRESAS.............................................................. 2
2.2 NÚMERO E PERFIL DAS EMPRESAS VISITADAS..................................................... 3
2.3 INSTITUIÇÕES VISITADAS.......................................................................................... 3
3 LOCALIZAÇÃO, REGIÃO DE INFLUÊNCIA E INFRA-ESTRUTURA DO APL.............. 4
3.1 LOCALIZAÇÃO E ÁREA DE ABRANGÊNCIA REGIONAL........................................... 4
3.2 CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS E ATIVOS INSTITUCIONAIS REGIONAIS......... 5
3.3 INTERLIGAÇÃO A MEIOS DE TRANSPORTE, COMUNICAÇÕES E LOGÍSTICA
PARA DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO E PARA SUPRIMENTOS ............................. 6
4 POPULAÇÃO LOCAL E EMPREGO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DO APL ................. 7
5 HISTÓRIA: CONDIÇÕES INICIAIS, EVOLUÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL DO APL ........ 8
6 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS ........................ 9
7 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS VISITADAS...................................................... 10
7.1 CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA E PERFIL DO SÓCIO-FUNDADOR ................... 10
7.2 MÃO-DE-OBRA............................................................................................................. 10
7.3 RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ......................................................................... 11
7.4 ESTRUTURA PRODUTIVA E DE COMERCIALIZAÇÃO.............................................. 14
7.5 RELAÇÕES INTEREMPRESARIAIS ............................................................................ 17
7.6 INTERAÇÃO COM FORNECEDORES DE BENS E SERVIÇOS ................................. 17
7.7 COOPERAÇÃO MULTILATERAL ................................................................................. 18
7.8 PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO ....................................................... 19
7.9 CONTROLE DA QUALIDADE....................................................................................... 19
7.10 MEIO AMBIENTE.......................................................................................................... 20
7.11 FINANCIAMENTO......................................................................................................... 21
8 INSTITUIÇÕES VINCULADAS AO APL ......................................................................... 22
8.1 PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO LARGO.......................................................... 22
8.2 O SINDLOUÇA.............................................................................................................. 22
8.3 TECPAR........................................................................................................................ 22
8.4 LACTEC ........................................................................................................................ 23
8.5 SEBRAE........................................................................................................................ 23
8.6 BRDE ............................................................................................................................ 24
8.7 ASSOCIAÇÕES DOS ARTESÃOS DE CAMPO LARGO.............................................. 24
8.8 REDE DA CERÂMICA .................................................................................................. 25
9 A GOVERNANÇA E OS ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAIS DO APL........... 26
10 DEMANDAS E SUGESTÕES LOCAIS ........................................................................... 27
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 29
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 31

ii
LISTA DE QUADROS

1 EMPRESAS DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS SELECIONADAS PARA O ESTUDO DE


CASO, SEGUNDO ANO DE FUNDAÇÃO, PORTE E NÚMERO DE EMPREGADOS - 2006....... 2
2 INSTITUIÇÕES DE ENSINO QUE OFERECEM CURSOS RELACIONADOS AO SEGMENTO
DE LOUÇAS E PORCELANAS - 2006........................................................................................... 6
3 EXISTÊNCIA E TIPOS DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO - 2005 ....................................... 12
4 NÚMERO DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS E ATIVIDADES
SUBCONTRATADAS PELAS EMPRESAS DO APL - 2005 .......................................................... 12
5 NÚMERO DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS PELAS EMPRESAS
SUBCONTRATANTES E ATIVIDADES PRESTADAS PELAS EMPRESAS DO APL - 2006 ....... 13
6 TIPOS DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS PELAS EMPRESAS
DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO - 2006........................................... 13
7 PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS PELAS EMPRESAS DO APL - 2006 ............... 14
8 FATORES DECISIVOS NA COMERCIALIZAÇÃO, POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA - 2006 ..... 16
9 LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS FORNECEDORES DE BENS E SERVIÇOS ESPECIALIZADOS
DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO - 2006........................................... 16
10 DEMANDAS POR FINANCIAMENTO PARA DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS E OUTRAS
TECNOLOGIAS DAS EMPRESAS PESQUISADAS - 2006 .......................................................... 21
11 PRINCIPAIS DEMANDAS, SEGUNDO OS EMPRESÁRIOS, PARA COMPOR UMA AGENDA
DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O APL DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO
LARGO - 2006 ................................................................................................................................ 27

iii
1

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório faz parte da quarta etapa do Projeto de Identificação, Caracteri-


zação, Construção de Tipologia e Apoio na Formulação de Políticas para Arranjos Produtivos
Locais (APLs) do Estado do Paraná, que está sendo desenvolvido pela Secretaria de Estado do
Planejamento e Coordenação Geral (SEPL), pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) e pelas Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES).
Nas etapas anteriores, foram validados e selecionados 22 casos de APLs no Estado.
Entre eles, o de Louças e Porcelanas localizado no município de Campo Largo foi caracterizado
como um Vetor Avançado (VA), por tratar-se de uma aglomeração localizada em uma região
urbana com uma estrutura industrial mais diversificada.
Considerando-se os fundamentos teóricos e metodológicos desenvolvidos nas
etapas anteriores do projeto, e conforme a proposta metodológica para esta etapa, o propósito
deste relatório é caracterizar o APL de Louças e Porcelanas de Campo Largo, a fim de
subsidiar a Rede APL Paraná no desenvolvimento de ações integradas de políticas públicas
voltadas para o fortalecimento desse arranjo.
O relatório está estruturado em 11 seções, incluindo esta introdução. Na segunda
seção, apresentam-se os aspectos metodológicos adotados na pesquisa, seja para a seleção
das empresas e descrição de seu perfil, seja para informar sobre as instituições locais
visitadas. Na terceira seção, abordam-se a questão da localização e a abrangência regional,
suas características produtivas e a disponibilidade de ativos institucionais, bem como a infra-
estrutura de transporte e logística da região. A quarta seção examina as relações entre a
população local e o emprego na atividade. A quinta seção trata a evolução histórica do APL.
Na sexta seção, é apresentada uma caracterização geral da estrutura produtiva, da forma
de organização da produção e do sistema de comercialização do APL. A sétima seção
apresenta uma caracterização bastante detalhada das empresas pesquisadas, conforme o
questionário aplicado. Na oitava seção, são descritas as instituições locais e regionais
vinculadas ao APL, com ênfase no papel que vêm cumprindo para a estruturação deste. Na
nona seção, são analisados a estrutura de governança do APL e os elementos sócio-político-
culturais que viabilizam a interação entre os atores sociais. Na décima seção, são apresentadas
as principais demandas e sugestões locais, captadas pela pesquisa de campo junto aos
empresários do segmento. Finalmente, na última seção estão as considerações finais.
2

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.1 CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DAS EMPRESAS

Com base nos dados da RAIS, em 2004 havia 25 empresas formalmente estabe-
lecidas em Campo Largo – gerando um total de 1.447 empregos formais –, número superior
se comparado aos de 1995 e 2000 (24 e 23 estabelecimentos, respectivamente).
A estrutura de produção e a abrangência da cadeia produtiva do APL de Louças e
Porcelanas de Campo Largo têm o núcleo da atividade composto por apenas uma classe de
atividade econômica (CNAE 2649-2): Fabricação de produtos cerâmicos não-refratários para
usos diversos.
Segundo os dados do Sindicato de Louças e Porcelanas de Campo Largo
(SINDLOUÇA), existiam na época da pesquisa de campo no município de Campo Largo
14 estabelecimentos (quadro 1) com vínculos empregatícios, sendo todos classificados na
CNAE 2649-2. Esse conjunto de empresas é representativo dos principais elos da cadeia de
produção local do segmento de cerâmica e porcelana utilitária e decorativa: modelagem;
produção de decalque e massa cerâmica; produção de bens finais (peças em cerâmica e
porcelana); e distribuição. Com efeito, esse conjunto de empresas foi selecionado para a
pesquisa de campo.

QUADRO 1 - EMPRESAS DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS SELECIONADAS PARA O


ESTUDO DE CASO, SEGUNDO ANO DE FUNDAÇÃO, PORTE E NÚMERO DE
EMPREGADOS - 2006

(1) NÚMERO DE
EMPRESA ANO DE FUNDAÇÃO PORTE
EMPREGADOS
1 1953 Pequena 24
8 1956 Grande 640
4 1958 Média 550
2 1964 Pequena 50
5 1984 Micro 20
6 1988 Pequena 22
11 1992 Micro 9
9 1993 Pequena 311
14 1994 Micro 40
12 1995 Micro 3
10 2001 Micro 52
7 2001 Pequena 16
3 2001 Micro 7
13 2003 Micro 7
FONTE: Pesquisa de campo - UEPG
(1) O porte da empresa foi definido pelo faturamento anual, seguindo a classificação da SEFA-PR para
micro e pequenas empresas, e a do BNDES para médias e grandes, resultando em nove intervalos de
classe com a seguinte estratificação: microempresa (até R$ 108.000,00; de R$ 108.001,00 a
R$ 216.000,00); pequena (de R$ 216.001,00 a R$ 576.000,00; de R$ 576.001,00 a
R$ 1.200.000,00; de R$ 1.200.001,00 a R$ 1.440.000,00; de R$ 1.440.001,00 a R$ 1.800.000,00;
de R$ 1.800.001,00 a R$ 10.500.000,00); média (de R$ 10.500.001,00 até R$ 60.000.000,00);
grande (acima de R$ 60.000.000,00).
3

2.2 NÚMERO E PERFIL DAS EMPRESAS VISITADAS

As 14 empresas selecionadas são de Campo Largo, e, como se pode verificar, houve


uma constante criação delas da década de 1950 até 2003, exceto na década de 1970.
Quanto ao porte, segundo o critério de faturamento anual declarado, a maioria é
de micro (seis) e pequeno (seis) porte; há ainda uma de médio e outra de grande porte.
Em relação à mão-de-obra, o conjunto das empresas selecionadas emprega
formalmente um total de 1.751 trabalhadores. Destes, cerca de 90% estão em micro e
pequenas empresas.
Os principais produtos que compõem os negócios do APL são a linha utilitária em
cerâmica e porcelana (pratos, canecas, xícaras) e as peças decorativas (canecos, pratos,
vasos, estatuetas).
Tais produtos são comercializados principalmente no mercado interno, praticamente
no território nacional, com destaque para o Estado de São Paulo. No mercado externo,
destaca-se a venda para a União Européia.

2.3 INSTITUIÇÕES VISITADAS

Em relação ao ambiente institucional, o APL de Louças e Porcelanas de Campo


Largo conta com um número considerável de instituições de apoio de âmbito geral às empresas:
SENAI, TECPAR, LACTEC, SEBRAE, BRDE, MINEROPAR, UTFPR, UFPR, UEPG e a
Rede da Cerâmica.
No ambiente local, tem-se o Sindicato de Louças e Porcelanas (SINDLOUÇA) e a
prefeitura, sendo estas as principais instituições de apoio ao APL no momento. Também
fazem parte do ambiente institucional duas associações de artesãos.
Essas foram as instituições que contribuíram para o desenvolvimento deste estudo.
4

3 LOCALIZAÇÃO, REGIÃO DE INFLUÊNCIA E INFRA-ESTRUTURA DO APL

3.1 LOCALIZAÇÃO E ÁREA DE ABRANGÊNCIA REGIONAL

O APL de Louças e Porcelanas reúne empresas situadas no município de Campo


Largo, o qual integra a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), localizada na porção leste
do Paraná (mapa 1). O município, situado no Primeiro Planalto Paranaense, totaliza uma
área de 1.252,677 Km2, representando 0,6% do território paranaense.
Ao norte da RMC, encontra-se a região serrana do Açungui, formada por um
relevo montanhoso. Essa área é rica em minérios, com destaque para calcário, prata,
chumbo e mármore.
Ao sul, localiza-se o planalto de Curitiba, uma bacia sedimentar, cuja topografia
apresenta colinas suavemente onduladas.

MAPA 1 - LOCALIZAÇÃO E ÁREA DE INFLUÊNCIA DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Mapa-regiao-metropolitana2.gif
5

3.2 CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS E ATIVOS INSTITUCIONAIS REGIONAIS

Quanto à composição do Produto Interno Bruto (PIB) do município de Campo


Largo, do total de R$ 881,9 milhões, em 2003, segundo dados do IBGE, a agropecuária
participa com 7,8% (R$ 68, 8 milhões), a indústria com 58,1% (R$ 512,2 milhões) e os serviços
com 34,1% (R$ 300,8 milhões). Na indústria, predominam as atividades relacionadas com a
cerâmica (azulejos, pisos e louças), além da indústria moveleira e metal-mecânica.
Um dos recursos minerais mais importantes de Campo Largo é a argila, utilizada
na fabricação de louças, azulejos, tijolos, telhas e vasos; também pode ser encontrado o
ouro nessa região, mas na forma aluvionar.
Por outro lado, a localização deste APL, próximo à capital paranaense, em princípio,
favorece o intercâmbio tecnológico com instituições de ensino e pesquisa, dada a concentração
de ativos institucionais e de suporte.
No entanto, a oferta de cursos e laboratórios relacionados diretamente ao setor de
cerâmica e porcelana utilitária e decorativa é limitada (quadro 2).
6

QUADRO 2 - INSTITUIÇÕES DE ENSINO QUE OFERECEM CURSOS RELACIONADOS AO SEGMENTO


DE LOUÇAS E PORCELANAS - 2006

INSTITUIÇÃO (localização) NÍVEL DE ENSINO CURSO

UFTPR (Curitiba) Pós-Graduação (Mestrado) Mecânica e Materiais


UEPG (Ponta Grossa) Graduação Engenharia de Materiais

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

3.3 INTERLIGAÇÃO A MEIOS DE TRANSPORTE, COMUNICAÇÕES E LOGÍSTICA

PARA DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO E PARA SUPRIMENTOS

A rodovia federal BR 277 constitui o principal acesso à área do APL. O município


dista 24,5 km da capital do Estado, pólo da microrregião; 105,05 km do município de Ponta
Grossa, segunda maior cidade limítrofe; e 123 km do porto de Paranaguá. Essa localização
facilita o escoamento da produção tanto para o próprio Estado quanto para outros – São
Paulo, principalmente – e também para o Exterior.
Outro ponto positivo da localização de Campo Largo é a facilidade de acesso a
serviços de apoios institucionais, em especial os de natureza tecnológica e de suporte
logístico, como a UTFPR, UEPG, MINEROPAR e TECPAR.
7

4 POPULAÇÃO LOCAL E EMPREGO NA ATIVIDADE PRINCIPAL DO APL

A análise dos dados sobre população mostra que o município de Campo Largo
apresentou, entre 2000 e 2005, taxa de crescimento bem acima da média estadual –
respectivamente 2,6% e 1,4% –, indicando o dinamismo do município na retenção e/ou
atração de população.

TABELA 1 - POPULAÇÃO TOTAL E TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL - CAMPO LARGO E PARANÁ -


2000-2005

POPULAÇÃO
MUNICÍPIO Taxa de crescimento
2000 2005
(% a.a.)

Campo Largo 92.782 105.474 2,60


Paraná 9.563.458 10.261.856 1,42

FONTE: IBGE
NOTA: Os dados para o ano de 2000 são censitários, e para os demais anos são estimativas.

Em relação ao mercado de trabalho, segundo dados do IBGE, em 2000 a


população economicamente ativa (PEA) do município de Campo Largo era de 44.378 pessoas,
o equivalente a 0,95% do Estado. Da PEA municipal, 41% eram pessoas ocupadas com
vínculo formal de emprego, perfazendo 18.014 pessoas. Destas, 51% estava ocupada na
indústria de transformação, totalizando 9.173 pessoas.
8

5 HISTÓRIA: CONDIÇÕES INICIAIS, EVOLUÇÃO E SITUAÇÃO ATUAL DO APL

O município de Campo Largo, localizado na microrregião de Curitiba, possui um


solo rico em caulim e argila, próprios para a fabricação de cerâmica e porcelana utilitária e
decorativa. Esse fato deu origem à formação de um parque industrial, formado ao longo das
últimas décadas. O surgimento das firmas pioneiras na localidade ocorreu a partir da década
de 1950 (três empresas). Porém, a maior concentração de surgimento de empresas ocorreu
a partir da década de 1990 (sete empresas). Embora somente cinco empresários tivessem
experiência nas atividades do APL antes de criarem suas empresas, o conhecimento local,
tácito e específico, gerado pelas empresas pioneiras e suas seguidoras, teve papel fundamental
na criação das principais empresas locais e na formação da mão-de-obra.
A maioria das empresas do ramo é de pequeno porte, fabricante de louças de
cerâmica, produtos intensivos em mão-de-obra, embora muitas etapas do processo produtivo
sejam totalmente mecanizadas. Há também no município microempresas familiares que
produzem peças artesanais de cerâmica. Por outro lado, há duas empresas, mais antigas,
que são de grande porte e diferenciam-se por fabricarem porcelanas finas em alta escala, um
produto de maior valor agregado, comercializado tanto no mercado interno como no externo.
Atualmente, o APL é responsável pela fabricação de 90% da porcelana vendida
no mercado interno; contudo, a exportação ainda é bastante reduzida. Mas, com o apoio do
governo federal, por meio do Programa Exporta Cidade,1 Campo Largo pretende atingir a
meta estabelecida de aumentar as exportações do segmento em 30% nos próximos anos.
O Departamento de Turismo da prefeitura de Campo Largo também pretende
reativar a “Rota da Louça”, que consiste na visitação das empresas deste segmento por
turistas. A intenção é ampliar o número de empresas participantes do projeto. Anteriormente,
a rota incluía apenas as duas grandes empresas. Essa iniciativa visa divulgar o segmento
de louças e porcelanas da região.
Em junho de 2006, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná,
através de Ato Administrativo n.o 02/06 da Unidade Gestora do Fundo Paraná (UGF), estabe-
leceu a instituição Rede da Cerâmica para a realização de pesquisas, formação de recursos
humanos e desenvolvimento tecnológico da área.
Por último, as Instituições de Ensino Superior (UTFPR, UFPR E UEPG) em parceria
com as empresas locais formularam e apresentaram à FINEP um projeto de inovação de
produto com orçamento de 600 mil reais, o qual está atualmente em julgamento quanto ao
mérito técnico-científico. Este projeto teve apoio da prefeitura de Campo Largo, do SINDLOUÇA
e da UEPG.

1 Campo Largo foi um dos dez municípios brasileiros selecionados para participar do Programa Exporta
Cidade, do governo federal. O Programa prevê um conjunto de ações que fortalecerá a competitividade
exportadora desses municípios.
9

6 CARACTERIZAÇÃO GERAL DO APL DE LOUÇAS E PORCELANAS

O município de Campo Largo, segundo informações da RAIS de 2004, tem 25


estabelecimentos vinculados ao segmento de louças e porcelanas. A pesquisa de campo foi
realizada em 14 estabelecimentos fabricantes de insumos e de bens finais, representativos
desta atividade, em sua maioria composta por empresas de micro e pequeno porte.
Grande parte dos fornecedores de matéria-prima, componentes e prestadores de
serviços está localizada dentro ou próximo ao APL, mostrando a média densidade da cadeia
produtiva local. No entanto, os fornecedores de máquinas e equipamentos estão localizados em
outros estados e sobretudo em outros países, o que certamente dificulta o aprendizado interativo.
Observa-se, também, a especialização produtiva desse APL em alguns produtos
principais, como peças em cerâmica e porcelana utilitária e decorativa. Embora os bens
finais sejam relativamente distintos, os insumos básicos e o processo de produção são
muito similares, sobretudo das empresas de micro e pequeno porte.
Os insumos mais relevantes são: argila, caulim, quartzo, feldspato, albita, caulenita,
filito. O talco e o gesso para a produção da massa; e os esmaltes, corantes, verniz e decalque
para a fase de pintura e acabamento.
Em geral, o maior nível de interação produtiva ocorre entre as empresas produtoras
de bens finais e as fornecedoras de insumos localizados fora da área do APL. Já, no interior
do APL, as interações estão concentradas em somente três empresas: um produtor de
massa cerâmica, um produtor de bens finais de porcelana e um produtor de vasos, estatuetas e
porcelanas decoradas. Entretanto, verifica-se a emergência de uma estratégia de diversificação
da produção, com pauta em produtos distintos e muitas vezes complementares: massa
cerâmica, semiporcelana, cerâmica e porcelana decorada. Com efeito, há uma média interação
produtiva entre as empresas produtoras de bens finais e insumos, e provavelmente está
havendo um adensamento da cadeia produtiva local.
As empresas do APL de louças e porcelanas de Campo Largo direcionam a maior
parte de sua produção para o mercado nacional e utilizam os canais tradicionais de comer-
cialização, como a representação comercial e a venda direta a redes e pequenos varejistas
do país.
A produção local revela-se competitiva em nível nacional, tendo em vista que o
volume de produção e emprego aumentou, e principalmente que a maior parcela das vendas é
realizada em outros estados do país e no Exterior. Contudo, as empresas do segmento de
louças e porcelanas têm como principal fonte de informação para a concepção e o desen-
volvimento de produtos e processos a imitação de concorrentes externos ao APL, ficando
restritas suas possibilidades de agregar maior valor ao produto e, portanto, de acesso a
mercados mais exigentes.
10

7 CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS VISITADAS

7.1 CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA E PERFIL DO SÓCIO-FUNDADOR

De acordo com a classificação por faturamento anual declarado, o conjunto de


empresas selecionadas (quatorze) do segmento de louças e porcelanas é formado, princi-
palmente, pelas de micro (seis) e de pequeno porte (seis). Apenas duas empresas foram
enquadradas como sendo de médio e grande porte.
O surgimento das firmas pioneiras na localidade ocorreu a partir da década de
1950 (três empresas); no entanto, a maior concentração de nascimento de empresas
ocorreu a partir da década de 1990 (sete empresas). A maioria das empresas foi constituída
com capital nacional, sendo também a totalidade delas de sociedade limitada, com no mínimo
dois e no máximo três sócios. Cabe destacar a presença de um sócio estrangeiro que possui
participação minoritária (40%) em uma dessas empresas. Por sua vez, a gestão das empresas
é em sua maioria familiar (dez). Por outro lado, apenas duas empresas de médio e de grande
porte são sociedades anônimas e com gestão profissional.
No que tange ao perfil do sócio-fundador das empresas visitadas, verificou-se que
somente três empresários já possuíam curso superior completo quando as fundaram,
enquanto a maioria (sete) possuía o Ensino Médio. A maioria (dez) era jovem (entre 24 e 40
anos), do sexo masculino, proveniente da própria localidade do APL. Antes de criarem suas
empresas, somente cinco empresários tiveram experiência em atividades do APL, como
empregado de empresa local ou externa na atividade do APL.

7.2 MÃO-DE-OBRA

No que se refere à mão-de-obra, os dados da pesquisa de campo sugerem que,


no período 2005-2006, houve acréscimo no total do emprego formal direto, na atividade do
APL, de aproximadamente 10%. De um total de 1.582, em 2005, o emprego formal aumentou
para 1.742, em 2006. Aproximadamente 60% da variação absoluta do volume de emprego é
gerado por empresas de pequeno porte, e outros 40% por microempresas.
Somando-se ao volume de emprego direto os 787 trabalhadores ocupados nas
micro, pequenas e médias empresas subcontratadas no local, o número deve totalizar 2.529
pessoas vinculadas diretamente ao segmento.
A organização da produção industrial de cerâmica e porcelana é muito similar no
conjunto das empresas, envolvendo basicamente sete etapas produtivas: preparação da
massa; modelagem em gesso ou silicone; estampamento; esponjamento; pintura e decoração
11

de peças (verniz, esmalte, decalque, filete); queima em forno; classificação; e embalagem.


Algumas empresas produtoras de bens finais têm por estratégia, ou por restrição de sua
escala de produção, a terceirização da modelagem e da preparação da massa. Cabe destacar
que uma das empresas do APL está especializada na produção de massa cerâmica e
fornece, mediante contratos de curto prazo, para pelo menos três empresas de bens finais
do APL.
O segmento de louças e porcelanas é intensivo em mão-de-obra. Do total da mão-
de-obra, a maior parte está alocada na área de produção, sobretudo nas fases de estampa-
mento, esponjamento, queima em forno, pintura e decoração de peças.
A estrutura administrativa das empresas do APL é relativamente simplificada,
sobretudo para as micro e pequenas empresas, predominando o cargo de auxiliar administrativo;
os cargos de diretor ou gerente de produção, comercial e financeiro são exercidos pelos
proprietários e filhos.
Conforme os dados da pesquisa de campo, a idade média do pessoal ocupado na
produção é de aproximadamente 32 anos; portanto, relativamente jovem. Por sua vez, a esco-
laridade requerida pela maior parcela das empresas é, no máximo, o Ensino Fundamental
completo. Em duas empresas entrevistadas, constatou-se a exigência de segundo grau
completo; porém em nenhuma delas a escolaridade requerida foi o terceiro grau.
No que se refere à qualificação da mão-de-obra, como não há uma escola técnica
de cerâmica e porcelana ou uma instituição específica que esteja qualificando trabalhadores
nesse segmento, a totalidade das empresas realiza as atividades de qualificação e/ou
capacitação de mão-de-obra no próprio ambiente de trabalho, em serviço ou em atividade
específica. Apenas uma empresa realiza as atividades de qualificação e/ou capacitação fora da
empresa, em atividades específicas na área de produção no Serviço Nacional da Indústria
(SENAI), na área de gestão no Serviço Nacional do Comércio (SENAC) e na área de segurança
do trabalho no Serviço Social da Indústria (SESI). Um fenômeno que ocorre com certa
freqüência é a saída de mão-de-obra treinada das empresas menores para as maiores.

7.3 RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO

Neste item, trata-se da existência de relações interfirmas mediante contratos formais


ou acordos tácitos, no âmbito da área de influência do APL ou entre as firmas locais e externas.
A quase totalidade das empresas entrevistadas possui relações de subcontratação
com outras, ao passo que a única exceção é uma empresa de grande porte (quadro 3). O tipo de
subcontratação predominante é a empresa como subcontratante, e não como subcontratada.
Ademais, várias empresas (seis) são, ao mesmo tempo, subcontratantes e subcontratadas.
12

QUADRO 3 - EXISTÊNCIA E TIPOS DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO - 2005


TIPO DE SUBCONTRATAÇÃO
EMPRESA
Subcontratante Subcontratada
1 x x
2 x
3
4 x x
5 x
6 x
7 x x
8
9 x
10 x
11 x x
12 x x
13 x
14 x
FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

As atividades subcontratadas pelas empresas do APL, por seu turno, são


basicamente para o suprimento de insumos e componentes, e para a realização de fases do
processo produtivo e dos serviços de caráter administrativo, como transporte, alimentação,
entre outros (quadro 4). Esse resultado sugere que, distintamente da empresa de grande
porte, as micro, pequenas e médias empresas não são integradas a montante com a
produção de insumos. Por outro lado, a maioria das empresas subcontratantes está
localizada na área do APL.

QUADRO 4 - NÚMERO DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS E ATIVIDADES


SUBCONTRATADAS PELAS EMPRESAS DO APL - 2005
TIPO DE ATIVIDADE CONTRATADA NO APL FORA DO APL
Fornecimento de insumos e componentes 7 4
Etapas do processo produtivo 4 0
Administrativo 2 3
TOTAL 13 7
FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

No que se refere às seis empresas do APL subcontratadas, verifica-se que as


atividades prestadas compreendem basicamente o fornecimento de insumos e componentes
e, em menor escala, porém não menos relevante, o fornecimento de bens finais (quadro 5).
Entretanto, uma única empresa é a fornecedora de matéria-prima (faiança, faiança
feldspática, faiança grés elétrico) para outras empresas situadas dentro e fora do APL,
principalmente para as empresas produtoras de bens finais da indústria da cerâmica utilitária
e decorativa do Estado de São Paulo: Pedreira, Porto Ferreira, Jaguariúna, Jaú, e Piracicaba.
As relações de subcontratação da fornecedora de matéria-prima com as empresas produtoras
de bens finais são reguladas através de contratos de curto prazo. Por sua vez, a presença
de três empresas subcontratadas para o suprimento de produtos completos é o indício de
uma maior divisão do trabalho entre as empresas produtoras de bens finais do APL.
13

QUADRO 5 - NÚMERO DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS PELAS


EMPRESAS SUBCONTRATANTES E ATIVIDADES PRESTADAS PELAS
EMPRESAS DO APL - 2006

ATIVIDADE PRESTADA PELAS EMPRESA SUBCONTRANTE


EMPRESAS DO APL Dentro do APL Fora do APL
Fornecimento de insumos e componentes 3 6
Serviços especializados 1 1
Produtos completos 3 3
TOTAL 7 10
FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

O quadro 6 sintetiza as relações de subcontratação estabelecidas pelas empresas


pesquisadas e revela que a estrutura econômica do APL é relativamente complexa. Destaca
também a relevância das interações entre as sete empresas produtoras de bens finais com
empresas de fora do APL2 na posição sobretudo de contratada para o suprimento de massa
cerâmica ou de bens finais. Aponta ainda a importância das interações entre as seis
empresas produtoras de insumos e bens finais com as empresas prestadoras de serviços e
fornecedoras de etapas do processo produtivo.

QUADRO 6 - TIPOS DE RELAÇÕES DE SUBCONTRATAÇÃO ESTABELECIDAS PELAS EMPRESAS DO APL DE


LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO - 2006
RELAÇÃO ESTABELECIDA COM:
Empresas Pesquisadas Produtoras de Bens Finais ou Insumos Empresas
EMPRESA Prestadoras
PESQUISADA de Serviços
PRODUTORA (Terceirizadas Empresas
DE BENS FINAIS do APL) ou de fora
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 fornecedoras do APL
OU INSUMOS
de etapas
processo
produtivo
1 X X
2 X
3
4 Y Y Y X Z
5 Y X
6 Y Y
7 Y Y Y Y
8
9 X
10 X X Z
11 Y X Y
12 X X X X X
13 X
14 X X
TOTAL de Relações 1 0 1 3 1 0 3 1 1 1 3 1 1 1 28 75
FONTE: Pesquisa de campo - UEPG
NOTA: X - Subcontratante; Y - Subcontratada; Z - Subcontratante e Subcontratada.

2 As empresas de fora do APL se compõem de produtoras de bens finais de cerâmica utilitária e


decorativa, bem como de empreendimentos que atuam no segmento de distribuição, como os
pequenos, médios e grandes varejistas.
14

Observa-se, por último, que o número de relações ainda está concentrado em


somente três empresas: um produtor de massa cerâmica, um produtor de bens finais de
porcelana e um produtor de vasos, estatuetas e porcelanas decoradas. Entretanto, a pesquisa
de campo revelou que as novas empresas que entraram no APL, a partir da segunda
metade da década de 1990, buscaram adotar uma estratégia de diversificação da produção
com pauta em produtos distintos e muitas vezes complementares: massa cerâmica, semipor-
celana, cerâmica e porcelana decorada. Com efeito, há uma média interação produtiva entre
as empresas produtoras de bens finais e insumos, e provavelmente está havendo um
adensamento da cadeia produtiva local.

7.4 ESTRUTURA PRODUTIVA E DE COMERCIALIZAÇÃO

O processo de produção de cerâmica (faiança, grés) e porcelanas apresenta basi-


camente cinco fases: modelagem, massa, conformação, queima e decoração. As principais
diferenças na produção da cerâmica e da porcelana residem, entre outros fatores, na
temperatura de queima e na composição da massa, que no caso da cerâmica é do tipo
composta. A porcelana é um produto branco, impermeável e translúcido. Ela se distingue da
cerâmica pela: vitrificação que evita gretar (trincar o esmalte), transparência, resistência,
completa isenção de porosidade e sonoridade (ao bater na peça, esta soa como sino).
Obtém-se pela cozedura dupla de uma mistura de caulim, argila, quartzo e feldspato. Cabe
ressaltar que o ponto mais crítico da etapa da queima encontra-se na 2.a queima, que é
realizada em temperatura elevada, variando entre 1.380oC e 1.400oC.
No que se refere à estrutura produtiva das empresas selecionadas, verifica-se a
presença de uma variedade de insumos e bens finais: como insumos, tem-se o decalque e a
massa cerâmica; e como bens finais, as peças e os jogos em cerâmica e porcelana (quadro 7).

QUADRO 7 - PRINCIPAIS PRODUTOS COMERCIALIZADOS PELAS EMPRESAS DO APL - 2006

EMPRESAS PESQUISADAS
PRODUTO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Decalque x
Massa cerâmica x
Peças ou jogos de cerâmica (pratos, xícaras,
x x x X x
canecas, travessas, bules, pratos para sobremesa)
Pratos, xícaras, travessas, leiteira, chaleira de
porcelana para jogo de mesa, linha hoteleira, x x
linha refratária e adornos (vasos)
Louças em cerâmica e porcelana, vasos e
x x x x X
estatuetas decorativas

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG


15

O segmento local de louças em cerâmica está direcionado a um mercado consu-


midor mais popular, enquanto que o segmento de louças em porcelana, a um mercado
consumidor de maior renda e mais exigente. Em ambos os segmentos, há uma concorrência
com a porcelana decorativa, proveniente da China, sendo que a maior pressão competitiva
recai sobre o segmento mais popular. Entretanto, já se observa o desenvolvimento de linhas de
produtos de cerâmica de maior valor agregado, incluindo também produtos de porcelana.
Entre os principais produtos do segmento de cerâmica do APL, estão as peças ou
jogos: pratos, xícaras, canecas, travessas, bules e pratos para sobremesa. Por outro lado, no
segmento de porcelana estão pratos, xícaras, travessas, leiteira e chaleira, comercializados
na forma de jogo de mesa, linha hoteleira, linha refratária e adornos (vasos). Por último, na
linha de produtos de cerâmica e porcelana de maior valor agregado, são fabricados louças,
vasos e estatuetas decorativas.
Em suma, verifica-se uma relativa e crescente divisão do trabalho, e uma elevação
no adensamento da cadeia produtiva do APL de louças e porcelanas.
Conforme a pesquisa de campo, a produção anual estimada em 2006 será de
27.585 milhões de peças de cerâmica e porcelana. Associado a esse nível de produção, o
nível médio de utilização da capacidade instalada no segmento de cerâmica e porcelana é
de 86%, sendo que o grau médio de utilização da capacidade instalada é menor nas
empresas produtoras de louças em cerâmica (80%) do que nas produtoras de louças em
porcelana (89%).
Porém, cabe salientar que entre as micro e as pequenas empresas, sete já operam
no limite de sua capacidade instalada de produção, enquanto que as maiores tendem a operar
próximo dele. Por sua vez, as empresas com maior grau de ociosidade apresentam dificuldades
tecnológicas, gerenciais, financeiras e sobretudo mercadológicas. Das quatro empresas com
elevado grau de ociosidade, três são tradicionais fabricantes locais de cerâmica.
Vale ressaltar que a maioria das empresas (dez) opera em um único turno de
trabalho. No entanto, aquelas empresas que estão operando próximo ou no limite de sua
capacidade de produção adotam três ou quatro turnos de trabalho.
Outro aspecto-chave associado à estrutura produtiva das empresas refere-se ao
nível de concentração da produção em apenas quatro empresas locais: duas de cerâmica e
duas de porcelana. O volume de produção das quatro empresas representa cerca de 92%
da produção, o que sugere a presença de economias de escala e/ou de escopo na tecnologia
de produção de cerâmica e porcelana utilitárias. Em geral, essas empresas maiores apre-
sentam um maior grau de conteúdo tecnológico e científico em seus processos de produção
e produtos finais.
Para a maioria das empresas, o pico da produção ocorre entre os meses de abril-
maio e outubro-dezembro, e a baixa, entre janeiro-fevereiro e junho-julho. O efeito que a
sazonalidade exerce é similar tanto para as vendas da cerâmica utilitária quanto para as
vendas da porcelana utilitária.
16

Quanto à comercialização, o mercado relevante da indústria local é o nacional. Do


total comercializado, em torno de 88% é direcionado ao mercado nacional, e apenas 12% é
direcionado ao Exterior. Já, do total comercializado no mercado nacional, cerca de 77% é
direcionado a outros estados, e o restante para a região do APL e a outros municípios do
Paraná. A inserção no mercado nacional e internacional, por seu turno, é uma evidência de
que, atualmente, o segmento é competitivo, com capacidade de conquista e ampliação de
mercado, assegurando sua posição em nível nacional tanto na faixa de bens mais populares
quanto na de bens mais sofisticados.
No que se refere à sua inserção no mercado externo, as iniciativas ainda são muito
limitadas. Apenas três empresas do APL exportam seus produtos para o mercado internacional
(União Européia, Estados Unidos, México e Bolívia), e uma empresa está iniciando o processo
de exportação. Mesmo se houver uma desvalorização significativa da taxa de câmbio efetiva
real, esse quadro estrutural não sofrerá grandes alterações, pois a maioria das empresas de
micro e pequeno porte não exporta e não conhece a dinâmica do mercado internacional.
A principal forma de comercialização apontada por todas as empresas entrevistadas
foi a representação comercial, respondendo por mais de 68% do total das vendas realizadas
pelas empresas do APL. Como segundo canal mais relevante aparece a venda direta a redes
varejistas do país e aos pequenos varejistas; em terceiro lugar, surgem as lojas da fábrica. As
demais formas de comercialização têm participação menor no processo de comercialização.
Os fatores decisivos no processo de comercialização, segundo informações das
empresas, são o preço e a qualidade dos produtos, bem como a marca e a tradição da
empresa. Outra variável relevante são as promoções e a propaganda.

QUADRO 8 - FATORES DECISIVOS NA COMERCIALIZAÇÃO, POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA - 2006

ORDEM DE IMPORTÂNCIA
FATORES DECISIVOS NA COMERCIALIZAÇÃO
o o o
1. 2. 3.
Preço 9 3 2
Qualidade 2 3
Marca e tradição da empresa 1 4 3
Prazos e confiabilidade 1 5
Promoções e propaganda 3 1

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG


NOTA: Os valores correspondem ao número de empresas que citaram cada fator, especificando sua ordem de
importância.

Esses resultados revelam que, para o mercado relevante em que as empresas do


APL operam, o preço é a variável-chave do padrão de concorrência. Uma das razões para
isso é o fato de que, conforme a pesquisa de campo, a China produz e exporta para o Brasil
produtos de porcelana utilitária de qualidade relativamente baixa, porém com preços compe-
titivos. No entanto, a competitividade das empresas depende também da garantia da
qualidade dos produtos, que se expressa na marca e tradição da empresa. Com efeito, além
do conhecimento tácito, torna-se inexorável a elevação do conteúdo científico e tecnológico
nos produtos do APL.
17

7.5 RELAÇÕES INTEREMPRESARIAIS

A respeito das relações entre as empresas selecionadas, foi constatado que a


maioria do empresários (57%) interage com outros empresários locais, sobretudo nas atividades
de troca/empréstimo de materiais (43%) e na compra de matéria-prima (36%). Porém, a
cooperação nas atividades de desenvolvimento de produtos (7%) e de marketing (7%) é
muito incipiente.
As relações entre os fabricantes de produtos finais similares, no APL, são muito
fracas no que tange à troca de idéias e discussão de estratégias comuns, e à abertura das
empresas para visitação por outros fabricantes. Esse padrão de relacionamento é reforçado
pela fraca interação social entre os empresários em atividades recreativas, esportivas e
culturais. A esse respeito, nove empresários afirmaram não interagir com os demais em algo
além das relações comerciais.

7.6 INTERAÇÃO COM FORNECEDORES DE BENS E SERVIÇOS

Em relação à estrutura de fornecedores, verifica-se que o segmento de cerâmica


da cadeia de produção local é relativamente frágil, com a maior parcela dos encadeamentos
a montante sendo realizados com fornecedores de matéria-prima, e de equipamentos de
fora do APL, localizados sobretudo nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul e Rio Grande do Norte. Em geral, as matérias-primas de maior qualidade estão locali-
zados fora do APL, e, em casos de produtos com maior conteúdo tecnológico, os equipamentos
são importados de países desenvolvidos. Os fornecedores localizados no Estado do Paraná
são secundários (quadro 9).

QUADRO 9 - LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS FORNECEDORES DE BENS E SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DO APL


DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO - 2006

BENS E SERVIÇOS PRINCIPAIS


LOCALIZAÇÃO
Tipo Especificação FORNECEDORES

Argila, caulim, feldspato, Mineração Pianaro, Oxford, São


bentonita e talco, quartzo, albita, Simão, Aruana, Marc Minerais,
Matéria-prima PR, SC, RS, SP, RN
filito, faiança branca, massa São Simão, Gabiroba, EdEd,
cerâmica, gesso Arcongil, Rubmar

Esmalte, corante, tinta ouro, Degussa, Magia Johnson


PR, SP, SC, Alemanha
Componentes e Acessórios platina, papel decalque, telas, Matley, Hereus, Coloróbia,
e Inglaterra
material limpeza, verniz Colorminas

Filtro-prensa, rooler, maromba,


Eurotech, Turingia, Máquina SP, SC, PR,
Maquinário fornos, tambor, impressora
Uliana, Fornotec, Raw material Alemanha, Japão
decalque

Dilatamento, manutenção NP Engenharia, Tecpar,


Serviços Especializados PR, SP
maromba, manutenção do forno Lactec, Eletrobala, Sampa Sul

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG


18

A participação de fornecedores do Paraná (locais e regionais) possui relevância


no suprimento de componentes e acessórios e na prestação de serviços especializados.
As empresas pesquisadas afirmaram que, em geral, não há grandes dificuldades
no suprimento de insumos. No entanto, algumas empresas declararam que falta regularidade
na qualidade da matéria-prima utilizada e que a solução tem sido realizar lotes de matéria-
prima. A esse respeito, a pesquisa de campo também revelou que não há um estudo técnico
do potencial mineral do solo local e regional, em termos de quantidade e de qualidade da
matéria-prima disponível, voltada especificamente para a indústria da cerâmica.
Em relação à cooperação entre fornecedores e empresas do APL, constata-se
que a maioria das empresas pesquisadas recebe algum tipo de apoio de seus fornecedores.
As formas de apoio mais comuns consistem em apresentar informações para melhoria e
diferenciação dos produtos finais, assim como oferecer apoio e colaboração na solução de
problemas decorrentes de produtos/insumos fornecidos. Interações que requeiram maior
envolvimento dos fornecedores com as empresas para inovações incrementais e radicais de
produtos e processos são inexistentes.
A esse respeito, uma das principais dificuldades mencionadas por alguns empresários
é a ausência de fornecedores locais de máquinas como filtro-prensa, de fabricar pratos,
marombas, entre outros. Este problema se agrava pois há escassez dessas máquinas no
país, os preços são muito altos e não existe assistência técnica. Muitas empresas procuram
enfrentar essa situação adquirindo máquinas e equipamentos usados importados de países
da União Européia. Em Campo Largo, está localizado um fornecedor internacional de equipa-
mentos para fornos, a Eurotec, porém esta empresa não busca estabelecer uma cooperação
para melhorar os equipamentos fornecidos.

7.7 COOPERAÇÃO MULTILATERAL

No que se refere à cooperação entre as empresas pesquisadas e as instituições


vinculadas direta ou indiretamente ao segmento de louças e porcelanas, cabe destacar que
o número de instituições de apoio ao APL de Campo Largo é relativamente amplo; no entanto,
dada a incipiente organização do APL, o relacionamento das empresas com as instituições
existentes ainda é frágil. Porém, os empresários já começam a observar as instituições como
relevantes parceiros para o desenvolvimento do APL.
Quanto às categorias de cooperação multilateral, verifica-se que a maioria das
empresas (79%) está associada ao SINDLOUÇA-PR ou à Associação Comercial de Campo
Largo, porém não participa de iniciativas interempresariais (93%) e de programas de apoio
coordenados por entidades locais ou por instituições públicas e privadas (64%).
As instituições de apoio local como o SINDLOUÇA e a Associação Comercial têm
papel praticamente nulo na definição de objetivos comuns ao APL, no auxílio à definição de
ações estratégicas, na disponibilização de informações sobre matérias-primas, na abertura
de canais de comercialização (interna e externa), na prospecção sobre tendências de mercado
19

e produtos, e na promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das empresas. O papel


das instituições locais restringe-se à apresentação de reivindicações comuns, que envolve,
por exemplo, a questão salarial, a questão do preço do gás boliviano, entre outros.

7.8 PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO

Embora haja instituições de apoio tecnológico no âmbito do APL para a criação e


desenvolvimento de novos produtos e processos, a principal fonte de informação para a
concepção (projeto e design) e o desenvolvimento de produtos são as visitas a feiras em
outras regiões do país, citada por 50% das empresas. Também foram apontados como fonte
relevante para o desenvolvimento de produtos as especificações de clientes, os catálogos,
revistas e sites especializados na internet, e as visitas a feiras no Exterior. Muitas vezes, a
sinalização para novos produtos é captada pelos representantes comerciais das empresas.
Em relação às fontes de informação para inovação de processo, tanto para maqui-
nário quanto para a organização da produção, quatro são as principais utilizadas pelas
empresas locais: feiras e exposições, visitas a outras empresas de fora da região, os clientes e
os funcionários que trabalham em outras empresas.
A maioria das empresas pesquisadas (57%) não possui departamento de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, com a presença de pessoal especializado em química, engenharia
química e de materiais. Mesmo nas empresas que possuem laboratório de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico (43%), o número total de funcionários com qualificação em
química e engenharia química é pequeno (quatro). Não há nenhum funcionário formado em
engenharia de materiais.

7.9 CONTROLE DA QUALIDADE

A maioria das empresas pesquisadas (86%) não tem implantado um sistema


formal de gestão de qualidade. Somente duas delas, as maiores, utilizam sistema formal de
gestão de qualidade (5S, Controle Estatístico de Processo - CEP, Controle de Qualidade
Total - TCQ). Em relação à certificação da qualidade dos produtos, nenhuma das empresas
pesquisadas a possui.
Quanto aos testes de qualidade do produto, dentro do conjunto das empresas que
os realizam (79%), os três tipos básicos são: absorção do decalque, testes de resistência
térmica e mecânica, e dilatação. Os testes são realizados na própria empresa, diariamente,
por mês ou por lotes. Em casos mais complexos, algumas empresas recorrem ao TECPAR
ou ao LACTEC.
Cabe destacar que as empresas menores, em geral, não possuem laboratório ade-
quado para realizar os testes de qualidade. Muitas vezes, estes são realizados através de
inspeção visual e baseados no conhecimento tácito dos funcionários ou do proprietário. Com
efeito, o risco de uma peça em cerâmica gretar ou lascar é desconhecido e pode ser elevado.
20

Para a maioria das empresas entrevistadas, o percentual de não-conformes é


relativamente elevado (11%) e varia entre 2% e 30%; ao passo que o percentual de retrabalho
do produto não-conforme varia entre 2% e 100%. Com efeito, a maior parte do produto não-
confome é perdida no processo de produção.
Em relação à segurança e qualidade no ambiente de trabalho, a maioria das
empresas (79%) afirma que adota um conjunto de procedimentos de segurança para evitar
acidentes e garantir a saúde de seus trabalhadores. Os procedimentos mais utilizados são:
os Equipamentos de Proteção Individual - EPIs (79%), iluminação adequada (50%), mapea-
mento de áreas de risco (5%), sinalização (5%); os programas de ergonomia e climatização
foram mencionados por 4% das empresas.

7.10 MEIO AMBIENTE

A grande maioria dos resíduos deste setor são classificados como não-perigosos.
Os resíduos da indústria cerâmica são em sua maior porcentagem constituídos de moldes
de gesso que já atingiram sua vida útil, bem como de cacos cozidos, ou seja, peças que
foram danificadas no decurso da operação de secagem, no transporte ou na embalagem.
Estes resíduos não podem ser reintegrados, em sua totalidade, ao processo de produção,
sendo na sua grande maioria aproveitados para a pavimentação de estradas, para a fabri-
cação de cimento e, em alguns casos, depositados em solos que pertencem às unidades
fabris que os geraram. Existem, no entanto, algumas empresas que realizam a trituração
destes resíduos, reutilizando-os posteriormente, em diversas porcentagens, no processo de
produção (INETI, 2001).
Confirmando a experiência internacional, a maioria das empresas (79%) afirmou
que não faz uso de material poluente no processo de produção e sugeriu que a produção de
cerâmica e porcelana utilitárias e decorativas não gera resíduos tóxicos, que venham a
afetar a fauna, a flora e a saúde dos trabalhadores. Os principais resíduos sólidos são o gesso
quebrado, que é levado ao aterro sanitário, e o biscoito que é usado como cascalho na
pavimentação de estradas.
Por outro lado, as empresas que afirmaram usar material potencialmente poluente,
destacaram apenas o fenol isolado, que é o resíduo do carvão, a tinta queimada e o solvente
para limpeza de telas.
Entre as principais medidas preventivas e corretivas adotadas pelas empresas para
as questões ambientais, destacam-se: o controle, recuperação ou reciclagem das descargas
líquidas da atividade industrial; o controle de ruídos e vibrações; e a disposição adequada
de resíduos sólidos (lixos) da atividade industrial. O percentual do faturamento destinado
aos procedimentos adotados para enfrentar a questão ambiental, para a maioria das empresas,
é igual ou próximo de zero.
21

7.11 FINANCIAMENTO

No que tange à expansão da capacidade produtiva, constatou-se que aproxi-


madamente 64% das empresas do APL realizaram algum tipo de investimento nos últimos
cinco anos.
A maioria dos empresários (50%) afirmou que a principal fonte de financiamento
para esses investimentos foram recursos próprios, e outros empresários declararam que os
recursos para os investimentos foram provenientes de bancos comerciais públicos (21%), de
bancos comerciais privados (7%) e de bancos e agências de desenvolvimento. Em suma, a
contribuição para o financiamento de investimentos em ativo fixo das empresas do APL, de
bancos de desenvolvimento, como o BRDE e o BNDES, ainda é relativamente baixa.
Quanto ao capital de giro, observa-se praticamente o mesmo padrão de financia-
mento, com 79% das empresas atribuindo como principal fonte de financiamento o capital
próprio. Porém, os recursos de bancos comerciais privados tornam-se a principal fonte para
36% das empresas, ao passo que os recursos de bancos comerciais públicos, a principal
fonte para 21% das empresas do APL.
Entre as principais dificuldades declaradas na obtenção de financiamento estão o
excesso de burocracia (29%), a inadequação das taxas de juros (21%), e as exigências de
garantias (14%).
Para a maioria das empresas (nove), existem demandas específicas visando ao
financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos, desenvolvimento de processos
e produtos, melhoria da qualidade da matéria-prima e ampliação de instalações (quadro 10).

QUADRO 10 - DEMANDAS POR FINANCIAMENTO PARA DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS


E OUTRAS TECNOLOGIAS DAS EMPRESAS PESQUISADAS - 2006

DEMANDA DAS EMPRESAS

 Filtro-prensa
 Máquinas para a produção de pratos
 Máquinas para a produção de peças maiores como as “sopeiras”
 Ampliação de instalações
 Aumento da qualidade da matéria-prima
 Frascos de cerâmica para perfume para exportação
 Compra de forno
 Melhoria na produção (desenvolvimento da monoqueima)
 Melhoria na qualidade da matéria-prima (argila, terra vermelha) para o artesanato

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

A maioria das empresas do APL não conhece as linhas de financiamento de fontes


públicas disponíveis para apoio tecnológico: 43% conhecem as linhas do BNDES, 29%
conhecem as linhas do BRDE, e apenas 21% conhecem as linhas da FINEP.
No que se refere à utilização de benefícios fiscais para a instalação de empresas,
a maioria (93%) declara não ter sido beneficiada por nenhum tipo de apoio.
22

8 INSTITUIÇÕES VINCULADAS AO APL

Há um grande número de instituições de apoio na região do APL de Louças e


Porcelanas de Campo Largo; seu apoio às firmas locais é limitado, porém crescente. As
instituições de apoio com atuação efetiva no local, até a data da pesquisa, eram a prefeitura
de Campo Largo, o SINDLOUÇA, o TECPAR, o LACTEC, o SEBRAE e duas associações de
representação dos artesãos. Recentemente foi criada a Rede da Cerâmica (CESTEC). A seguir,
há uma caracterização sucinta da participação efetiva dessas entidades junto ao APL.

8.1 PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO LARGO

A prefeitura de Campo Largo, além de ser membro da Rede da Cerâmica, está


iniciando um trabalho específico no setor, demonstrando interesse em fomentar o segmento
e reconhecendo sua importância para a geração de emprego e renda na cidade. Uma das
principais iniciativas é o esforço para a criação de uma escola técnica de cerâmica, visando
suprir a carência de oferta de mão-de-obra qualificada no APL de Campo Largo.
Outra iniciativa é a criação de um centro comercial, com aproximadamente 400m2,
para a exposição dos fabricantes de cerâmica, porcelana e das associações de artesãos. O
espaço físico, antes ocupado por uma antiga fábrica de cerâmica, está sendo negociado
com a Câmara de Vereadores para que esteja disponível até o final de 2006.
A terceira iniciativa, em parceria com as empresas locais, é a reativação da Rota
da Louça, visando explorar o turismo regional envolvendo o maior número de empresas do
APL. Anteriormente, a rota incluía apenas as duas maiores empresas do APL.

8.2 O SINDLOUÇA

A maioria das empresas pesquisadas (onze) é filiada ao Sindicato das indústrias de


vidros, cristais, espelhos, cerâmica de louça e porcelana no Estado do Paraná (SINDLOUÇA-PR),
situado em Campo Largo.
Embora de forma incipiente, o sindicato contribui na apresentação de reivindicações
comuns – como nas negociações salariais e na questão do preço do gás boliviano; na
organização de eventos técnicos (formação de mão-de-obra) e comerciais (Feira da Louça,
realizada anualmente); e na criação de fóruns e ambientes para discussão.

8.3 TECPAR

O TECPAR, empresa pública vinculada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecno-


logia e Ensino Superior (SETI), é uma instituição de pesquisa, desenvolvimento, produção e
23

prestação de serviços tecnológicos. Na área de prestação de serviços opera o Programa de


Apoio Tecnológico à Exportação (PROGEX), criado pelo governo federal para facilitar o
acesso de empresas brasileiras, principalmente das pequenas e médias, ao mercado exterior.
Esse programa tem como objetivo contribuir para a melhoria da qualidade dos produtos
brasileiros e apoiar as micro, pequenas e médias empresas, para que se tornem exportadoras,
possibilitando a inserção de seus produtos em mercados mais exigentes, superando barreiras
tecnológicas e contribuindo para o aumento da competitividade e geração de renda.3
O TECPAR realiza teste de teor de chumbo e cádmio nas peças de cerâmica que
são exportadas. Cabe ressaltar que esta é uma exigência muito comum dos países importadores.
Outra atividade desenvolvida, no âmbito do PROGEX, é o apoio a uma das empresas para a
instituição de uma marca própria e seu respectivo registro, confecção de programas, cartões
de visita e catálogos.

8.4 LACTEC

Esse instituto é uma associação civil, de direito privado, auto-sustentável e sem


fins lucrativos, sediada em um dos campus da UFPR. Entre os seus associados estão a
COPEL, a FIEP, a Associação Comercial do Paraná, o Instituto de Engenharia do Paraná e
a UFPR. O LACTEC tem por objetivo fornecer soluções tecnológicas, produtos e serviços
que contribuam para o desenvolvimento econômico, científico, tecnológico e social, de forma
sustentável e inovadora, preservando e conservando o meio ambiente. Atualmente, tem
atuado nas áreas de eletricidade, eletrônica, hidráulica e hidrologia, meio ambiente, materiais,
química aplicada, mecânica, estruturas civis e tecnologia da informação.
O LACTEC tem prestado serviços a uma das empresas locais para a realização
de testes nos componentes da matéria-prima utilizada na produção de diferentes tipos de
massa, fornecida aos clientes.

8.5 SEBRAE

O SEBRAE é uma instituição técnica de apoio ao desenvolvimento da atividade


empresarial de pequeno porte voltada para o fomento e difusão de programas e projetos
que visam à promoção e ao fortalecimento de micro e pequenas empresas. É administrado
pela iniciativa privada e constitui um serviço social autônomo, uma sociedade civil sem fins
lucrativos que opera em sintonia com o setor público.

3As
informações sobre TECPAR, LACTEC e SEBRAE foram extraídas da pesquisa de campo e
ARRANJO, 2006a.
24

O SEBRAE presta serviços na área de gestão, custos de produção e no repasse


de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador para o financiamento de capital de giro e
aquisição de fornos de pequeno valor.

8.6 BRDE

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) tem por objetivo o


financiamento a empresas dos segmentos da indústria, comércio e serviços, localizadas nos
três estados da Região Sul. Outro objetivo é apoiar a produção de bens para a exportação.
Sua atuação junto ao APL tem sido na concessão de financiamentos dirigidos à
expansão e/ou modernização da capacidade produtiva.

8.7 ASSOCIAÇÕES DOS ARTESÃOS DE CAMPO LARGO

No APL de Campo Largo estão localizadas duas associações de artesãos. Uma,


fundada em 1991, representa especificamente os artesãos que produzem peças decorativas
em cerâmica (vasos, estatuetas, entre outras). O objetivo dessa associação é colocar o
produto no mercado e contribuir para a melhoria da gestão das atividades do artesanato.
Um dos serviços prestados é a organização de visitas coletivas a feiras e congressos em
outros estados. Outro serviço atualmente em desenvolvimento, em parceria com o SEBRAE, é a
elaboração do memorial da cerâmica, usando-se a idéia da Rota dos Tropeiros. A associação
atende direta ou indiretamente a cerca de 30 famílias que trabalham com artesanato em
cerâmica. A pesquisa de campo revela que as principais carências dos artesãos são a falta
de uma escola de cerâmica para o desenvolvimento de novas peças, de um centro comercial,
de representantes comerciais e de catálogos para a divulgação dos produtos.
A outra associação, fundada em 2001, presta serviços a pessoas físicas na forma de
cursos de formação e aperfeiçoamento, ministrados por associados, nas áreas de porcelana,
cerâmica, madeira, tela e gesso. Outra atividade desenvolvida é a realização de mostra de
arte e feira de artesanato em 2000, 2001, 2003 e 2004. Por último, foi responsável pela
realização de bazares em comunidades carentes com a renda revertida para a associação.
Cabe destacar que a associação é consumidora de produtos locais (cerâmica,
gesso, porcelana, argila, madeira, embalagens, entre outros) e tem dificuldades enquanto
cliente das empresas locais, tais como: falta de interesse dessas empresas em desenvolver
produtos diferenciados (design, faiança, etc.); não-cumprimento, por parte dos fornecedores,
dos prazos de entrega; baixa qualidade da matéria-prima (argila) para a queima em altas tempe-
raturas; e descontinuidade no fornecimento de alguns produtos por parte dos fornecedores.
25

8.8 REDE DA CERÂMICA

Recentemente, em junho de 2006, foi criada a Rede da Cerâmica, que constitui


uma rede de laboratórios, instituições de pesquisa, universidades e outras instituições que
atuam no Estado do Paraná e realizam pesquisas, caracterização, certificação, desenvolvimento
e/ou formação de pessoal na grande área do conhecimento que é a cerâmica. O objetivo da
Rede da Cerâmica é criar o Centro de Tecnologia Cerâmica do Paraná (CESTEC), buscando
integrar as competências específicas das várias instituições científicas e tecnológicas, no
sentido de apoiar o desenvolvimento de produtos, processos e serviços que desenvolvam a
cadeia produtiva da cerâmica.
A Rede da Cerâmica será composta, inicialmente, por representantes das seguintes
instituições:
- Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG);
- Prefeitura Municipal de Campo Largo;
- Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR);
- Universidade Federal do Paraná (UFPR);
- Minerais do Paraná S. A. (MINEROPAR);
- Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI);
- Centro Di Cultura Italiana Paraná/Santa Catarina;
- Consórcio entre Regiões Italianas e os Estados do Brasil (CRISB).
26

9 A GOVERNANÇA E OS ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAIS DO APL

Neste trabalho, foi visto que as atividades de cooperação das empresas do APL
são muito fracas no que tange à troca de idéias e à discussão de problemas e estratégias
comuns, e também quanto à interação social entre os empresários em atividades recreativas,
esportivas e culturais.
Nesse ponto, falta ainda consolidar uma estratégia de mobilização que proporcione
maior comunicação entre os agentes do APL, para poderem tanto discutir suas necessidades
e reivindicações como compartilhar os benefícios provenientes da união de suas forças.
Além disso, as instituições de apoio local têm papel praticamente nulo na definição
de objetivos comuns ao APL como:
a) auxílio na definição de ações estratégicas;
b) disponibilização de informações sobre matérias-primas;
c) abertura de canais de comercialização (interna e externa);
d) prospecção sobre tendências de mercado e produtos;
e) promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das empresas.

Por outro lado, a prefeitura de Campo Largo, com o apoio do SINDLOUÇA, está
iniciando um trabalho específico para o desenvolvimento do APL local através:
a) da criação de uma escola técnica de cerâmica;
b) de um centro comercial;
c) da reativação da Rota da Louça visando explorar o turismo regional envolvendo
o maior número de empresas do APL.

Outra tendência no APL é o surgimento de novas lideranças empresariais, que


tornam viável uma nova visão sobre os problemas e soluções comuns para o APL. Cabe
ressaltar, entretanto, que ainda não há uma liderança empresarial e, ao mesmo tempo, uma
credibilidade consolidada nas instituições de apoio local e regional.
Atualmente, o APL de Louças e Porcelanas de Campo Largo apresenta uma
estrutura de governança relativamente fraca, dado que ainda está em formação. Falta ainda
consolidar uma cultura da cooperação e uma credibilidade nas instituições de apoio local.
27

10 DEMANDAS E SUGESTÕES LOCAIS

Nesta seção sintetizam-se as principais dificuldades ou necessidades que as empresas


do APL de Louças e Porcelanas de Campo Largo vêm enfrentando nos últimos anos, que
poderão ser consideradas relevantes para compor uma agenda de políticas governamentais
no âmbito municipal, estadual e federal.
Para isso, foram registrados 15 tipos de demandas apresentadas pelas empresas
e associações de artesãos visitadas. O quadro 11 revela uma diversidade de dificuldades
para a manutenção e/ou elevação da competitividade. Revela também que há basicamente
dois grupos distintos de dificuldades. O primeiro grupo (1 a 5) é composto pelos problemas
mais comuns para a maioria das empresas do APL; enquanto o segundo grupo (6 a 15) é
composto pelos problemas que afetam apenas algumas empresas.

QUADRO 11 - PRINCIPAIS DEMANDAS, SEGUNDO OS EMPRESÁRIOS, PARA COMPOR UMA AGENDA DE POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA O APL DE LOUÇAS E PORCELANAS DE CAMPO LARGO - 2006

NÚMERO DE
N.º PRINCIPAIS DEMANDAS
EMPRESAS

1 Escola Técnica para formação de mão-de-obra especializada (produção e decoração) 10


2 Centro Comercial 8
3 Laboratórios especializados 6
4 União dos empresários 6
5 Problemas em relação à energia (gás) 5
6 Fábrica de massa de porcelana 1
7 Serviços especializados para fazer manutenção das máquinas (assistência técnica) 1
8 Diminuição da carga tributária 1
9 Planejamento para expansão da produção 1
10 Feiras locais para venda dos produtos 1
11 Planejamento para a formalização dos artesãos 1
12 Implementação de um padrão de qualidade 1
13 Melhorias na Lei de Integralização 1
14 Incentivos para a implantação de fabricantes de equipamentos no município 1
15 Formação de uma cooperativa de produtores 1

FONTE: Pesquisa de campo - UEPG

Uma das principais dificuldades do APL é a ausência de uma escola técnica para
a formação de mão-de-obra especializada nas áreas de produção, que vão desde o design
das peças, os testes de qualidade da matéria-prima, da massa cerâmica, até o acabamento
final de peças de cerâmica e porcelana, que envolve a pintura e a decoração. Todas as
empresas do APL treinam a sua mão-de-obra no próprio ambiente de trabalho, e as empresas
maiores, algumas vezes, contratam a mão-de-obra já treinada das empresas menores,
dificultando o crescimento destas.
Outra dificuldade é a ausência de um centro comercial que possibilite a exposição,
em um mesmo espaço físico, dos produtos de vários fabricantes de cerâmica, porcelana e
28

adornos, no sentido de realizar o processo de comercialização. Atualmente, alguns dos


fabricantes locais de louças e porcelanas possuem lojas próprias de fábrica dispersas no
município de Campo Largo, o que dificulta, em parte, a exploração do turismo regional e, ao
mesmo tempo, a consolidação da marca local de “capital da louça brasileira”. Vários fabricantes
locais de louças e adornos de cerâmica acabam recorrendo às feiras na cidade de São
Paulo para expor seus produtos a lojistas, atacadistas, importadores, exportadores, represen-
tantes, decoradores, hotéis, restaurantes, distribuidores. Vale frisar que o valor pago por m2
de espaço físico para exposição nestas feiras é relativamente elevado.
Foram verificados na pesquisa de campo alguns gargalos de natureza tecnológica,
como a falta de regularidade de matéria-prima e a gretagem de peças de cerâmica, nas
micro e pequenas empresas. Com efeito, para aumentar a qualidade e a produtividade das
empresas do APL, torna-se necessária a implantação de um laboratório especializado local
para realizar os testes de todas as matérias-primas, da massa cerâmica e do produto semi-
acabado e final.
As principais sugestões de políticas públicas são:
a) Implantar uma escola técnica de cerâmica, e de design e acabamento final de
peças em cerâmica em Campo Largo.
b) Implantar um laboratório especializado para testes físico-químicos de matérias-
primas, da massa cerâmica, do biscoito da primeira queima e do produto final
após a segunda queima.
c) Implantar um centro comercial para a exposição dos produtos de fabricantes de
cerâmica, porcelana e dos artesãos. Para formular uma estratégia de mercado,
seria fundamental promover um estudo das tendências mercadológicas no
segmento de cerâmica e porcelana em nível mundial e no Brasil.
d) Constituir uma governança local com a participação das empresas do APL,
Sindicato Patronal, da prefeitura de Campo Largo e das instituições de apoio
tecnológico e gerencial. Aumentar o número de projetos de inovação tecnológica
de processo e de produto, bem como de inovações organizacionais e merca-
dológicas. Fomentar ações conjuntas como cooperativas de crédito, aquisição
conjunta de matérias-primas, equipamentos, e vendas internas e externas.
e) Criar projetos de inovação tecnológica de processos para aumentar a eficiência
no uso da energia. No sentido de reduzir o tempo de queima, uma das
possibilidades seria adaptar os fornos de queima da cerâmica estrutural para
o processo de produção de peças cerâmicas. Outra possibilidade seria reduzir o
processo de queima das peças cerâmicas de duas para a monoqueima. A
terceira possibilidade seria reduzir ou eliminar o quartzo da composição de
massas para diminuir a temperatura de queima. Por último, explorar novas
fontes de energia como o gás extraído do eucaliptus.
29

11 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No APL de Louças e Porcelanas verifica-se que a prefeitura de Campo Largo com


o apoio do Governo do Estado do Paraná, e do SINDLOUÇA, está iniciando um trabalho
específico para o setor, demonstrando interesse em fomentar o segmento e reconhecendo
sua importância para a geração de emprego e renda na cidade. Uma das principais iniciativas é
o esforço para a criação do Centro de Tecnologia da Cerâmica (CETEC) visando suprir as
carências de oferta de mão-de-obra qualificada do APL de Campo Largo. Para a compra de
equipamentos para o CETEC, a Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia concedeu o
montante de 400 mil reais para a prefeitura de Campo Largo. Cabe destacar ainda que o
CETEC é parte integrante do Centro de Estudos de Ciências e Tecnologias Cerâmicas
(CESTEC).
Outra iniciativa relevante é a criação do Centro Comercial, com aproximadamente
400m2 para a exposição dos fabricantes de cerâmica, porcelana e das associações de
artesãos. O espaço físico, antes ocupado por uma antiga fábrica de cerâmica, está sendo
negociado com a Câmara de Vereadores para que esteja disponível até ao final de 2006.
A terceira iniciativa, em parceria com as empresas locais, é a reativação da Rota
da Louça visando explorar o turismo regional envolvendo o maior número de empresas
do APL.
De qualquer forma, até o momento, o APL não conta concretamente com os serviços
de formação de mão-de-obra específicos para o segmento de cerâmica e porcelanas, assim
como de um laboratório especializado. Apesar da especialização local e da existência de
fornecedores de matéria-prima na região, o segmento carece ainda de instituições de suporte
tecnológico, gerencial e mercadológico ao empresário. As instituições de apoio como o
SENAI, o SEBRAE, o TECPAR, a MINEROPAR e as instituições de ensino superior ainda
interagem muito pouco com as empresas do APL, devido a problemas de oferta (laboratórios
de instituições sucateados) e de demanda (as micro e pequenas empresas não possuem
tempo disponível e/ou não possuem recursos para pagar pelos serviços prestados).
Apesar da fraca cooperação entre as empresas do APL, atualmente o segmento
reconhece a necessidade de ações coletivas, como retomar o projeto de implantação de
uma escola técnica de cerâmica, de laboratório especializado, bem como de projetos
integrados de inovação tecnológica. Um projeto de inovação de produto, a ser coordenado e
executado por professores da UTFPR, da UFPR e do Departamento de Engenharia de
Materiais da UEPG, está sendo proposto junto à FINEP, em parceria com empresas do APL.
O objetivo é desenvolver novos produtos com maior valor agregado e conteúdo tecnológico.
30

Outra tendência visível no APL é a possibilidade do surgimento de novas lideranças


empresariais, a partir da sucessão familiar de pais para filhos e da entrada de novas firmas,
o que torna possível uma nova visão sobre os problemas e soluções de longo prazo para o
APL. Mais ainda, verifica-se uma crescente divisão do trabalho, de interação e de diversificação
de atividades no APL. Seguindo a tendência internacional, verifica-se a presença de uma
empresa especializada no fornecimento de massas cerâmicas que interage com algumas
empresas locais no desenvolvimento de novas massas cerâmicas. Ademais, observa-se a
emergência de empresas especializadas no design e no acabamento final de peças de
cerâmica que envolve a pintura e a decoração das peças, produzindo e comercializando
produtos cerâmicos com maior valor agregado.
31

REFERÊNCIAS

ARRANJO produtivo local de instrumentos, equipamentos e aparelhos médico-odonto-


hospitalares da Microregião de Curitiba: estudo de caso: versão preliminar. Curitiba:
IPARDES: SEPL, 2006a.

ARRANJO produtivo local de metais sanitários de Loanda e região: estudo de caso: versão
preliminar. Curitiba: IPARDES: SEPL, 2006b.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais -


RAIS: 2004. Brasília, 2005. 1 CD-ROM.

IBGE. Estimativas de população. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20


jul. 2006.

IDENTIFICAÇÃO, caracterização, construção de tipologia e apoio na formulação de políticas


para os arranjos produtivos locais (APLs) do Estado do Paraná: etapa 3 - Caracterização
estrutural preliminar dos APLs pré-selecionados e nota metodológica para os estudos de
caso. Curitiba: IPARDES: SEPL, 2005. Cooperação técnico-científica SEPL, IPARDES.

INETI. Guia técnico: sector da indústria da cerâmica. Lisboa, 2001.

IPARDES. Caderno estatístico: Município de Campo Largo. Disponível em:


<http://www.ipardes.gov.br/cadernos/Montapdf.php?Municipio=83600&btOk=ok>. Acesso
em: ago. 2006.
GOVERNO DO
PARANA
SECRETARIA DE ESTADO
DO PLANEJAMENTO E
COORDENAÇÃO GERAL

INSTITUT O PARANAENSE DE DESENVOLVIMEN TO ECO NÔMICO E SOCIAL


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