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Técnicas Melhoramento de Solos

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

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TÉCNICAS DE MELHORAMENTO DE
SOLOS PARA A REALIZAÇÃO DE
ESCAVAÇÕES PROFUNDAS.

2.1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento subterrâneo das cidades, especialmente em zonas aluvionares, tem impulsionado o
crescimento de técnicas que permitem o melhoramento das propriedades do solo. Este melhoramento,
quando realizado no interior de uma escavação, permite um travamento das paredes de contenção que
a suportam e consequentemente tem efeito minorador dos distúrbios do solo à superfície.
O presente capítulo pretende abordar as principais tecnologias na forma como permitem efectuar o
tratamento do solo e nas resistências e geometrias possíveis de alcançar. Posteriormente são apresen-
tados alguns casos, em que cada uma das diferentes técnicas foi utilizada para a realização de escava-
ções em solos argilosos moles, com o objectivo da mitigação dos deslocamentos das paredes de con-
tenção, por via do aumento da resistência passiva do solo e da adesão solo-estrutura.
Primeiramente será abordada a técnica de realização de painéis transversais de betão (amplamente
divulgada pela obra do metro de Oslo a que esteve associada). Serão também apresentados os méto-
dos: Deep Soil Mixing (DSM), Compaction Grouting, Jet Grouting e por fim a técnica mais recente-
mente introduzida em Portugal, que se espera bastante promissora, designada por Cutter Soil Mixing
(CSM).

2.2. PAREDES MOLDADAS


2.2.1. INTRODUÇÃO
A técnica de realização de painéis transversais de betão, consiste na execução de painéis perpendicula-
res às paredes longitudinais de contenção da escavação, como forma de travar a sua convergência
durante o faseamento construtivo. Estes painéis, além de tornarem a estrutura global significativamen-
te mais rígida, contribuem para a estabilidade da base, quer pelo facto de se desenvolver adesão entre
eles e o solo envolvente, quer pela acção estabilizadora desse mesmo solo. Por serem de difícil des-
monte, são normalmente realizados abaixo da base de escavação.
Estes painéis são executados pela técnica de paredes moldadas e por isso são realizados in situ, a partir
da superfície, por meio da escavação no terreno de valas profundas e alargadas, sem necessidade de
entivações.
Em seguida são divulgados alguns exemplos de aplicação em que esta técnica foi empregue.

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

2.2.2. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO


2.2.2.1. Escavação para execução do túnel Studenterlunden, localizado no centro de Oslo.
O caso mais bem descrito da utilização de septos de paredes moldadas como forma de obtenção das
condições de apoio necessárias à parte enterrada da cortina, bem como na garantia do coeficiente de
segurança necessário à realização da escavação sem ocorrência de levantamento do fundo da mesma é
o do túnel Studenterlunden no centro do Oslo. A descrição seguidamente apresentada é da autoria de
Karlsrud & Andresen, 2008 (adaptada de Eide et al.,1972; Karlsrud, 1976).
O túnel tem dois andares e foi construído através da técnica cut-and-cover para um troço da linha do
metropolitano e comboio locais.
A escavação desenvolveu-se ao longo de mais de 240 m de comprimento em solos argilosos moles, ao
longo dos quais o estrato firme se encontrava a profundidades entre os 35 m e 40 m. As dimensões da
escavação foram de 15,5 m e 10,5 m, respectivamente profundidade e largura. As paredes de conten-
ção e os painéis transversais, ambos com 1,0 m de espessura, foram executados através da técnica de
paredes moldadas.
Em seguida são apresentadas as principais etapas de construção do túnel em causa.
1. Instalação de painéis de parede moldada com 1,0 m de espessura e 4,5 m de largura até
aos 21 m de profundidade, ou seja, 5,5 m abaixo da base de escavação, de modo a formar
o revestimento permanente para o túnel.
2. Execução, anterior aos trabalhos de escavação, de painéis transversais de parede moldada.
Estes foram iniciados imediatamente abaixo da base de escavação e prolongados cerca de
4,5 m. O espaçamento longitudinal entre os diversos painéis foi também de 4,5 m.
3. Início da escavação e execução da laje de topo, imediatamente abaixo da superfície.
4. Continuação dos trabalhos de escavação, concomitante à execução do andar superior do
túnel e da laje intermédia.
5. Escavação para o túnel inferior e construção da laje inferior sobre o topo dos septos de
parede moldada.
O túnel foi construído com sucesso entre 1973 e 1975, sem terem ocorrido acidentes (Karlsrud 1975 e
1981). Na Figura 2.1 são apresentados os deslocamentos laterais ao longo de algumas fases de escava-
ção.

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.1 - Deslocamentos observados no túnel ferroviário Studenterlunden em Oslo (Matos Fernandes e
Almeida e Sousa, 2003, adaptada de Eide et al., 1972; Karlsrud, 1976).

De um modo geral pode-se dizer que os painéis transversais proporcionaram, durante o faseamento da
escavação, condições de travamento bastante favoráveis às paredes de contenção laterais. A compar-
timentação em blocos, do solo subjacente à escavação, limitado nos quatro lados por paredes de con-
tenção, assegurou a estabilidade do fundo (Matos Fernandes e Almeida e Sousa, 2003). O deslocamen-
to máximo horizontal de 43 mm ocorreu imediatamente abaixo da base dos painéis e correspondeu a
aproximadamente 0,3% da profundidade de escavação, o que para a época foi um feito notável.
Concluiu-se que o deslocamento de 32 mm observado ao nível dos painéis transversais é bastante
superior aos cerca de 0,3 mm provenientes da compressão do betão devido aos esforços induzidos
pelas paredes de contenção. Esta diferença de valores pode ser explicada pela falta de limpeza das
juntas entre os painéis e as paredes longitudinais, bem como por algumas imperfeições existentes entre
as juntas dos diversos painéis.
É também importante referir que os assentamentos ao nível da superfície foram cerca do dobro dos
deslocamentos laterais. Esta situação foi devida à consolidação do estrato argiloso, acentuada pela
drenagem provocada pela execução dos painéis de parede moldada; este é um aspecto importante que
não deve ser ignorado quando se realizam este tipo de escavações, principalmente em maciços argilo-
sos moles.

2.2.2.2. Escavação para a execução de um túnel rodoviário pelo método cut-and-cover.


A realização de um túnel rodoviário na cidade de Gothenburg (Suécia), através do método cut-and-
cover, no qual parte da escavação foi executada sobre um espesso estrato argiloso, é em seguida,
motivo de observação. O caso apresentado tem por base o estudo de Karlsrud et al., 2005.
A escavação desenvolveu-se ao longo de aproximadamente 230 m e é apresentada na Figura 2.2. Do
lado Oeste (zona A1) o túnel apresenta profundidade máxima de 17 m e foi fundado sobre rocha firme.

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.2 - Vista em planta da escavação estudada (adaptada de Karlsrud et al., 2005).

À medida que se avança para Este (zona A2) o túnel começa a emergir ficando o seu topo situado a
cerca de 8 m da superfície. No entanto, a profundidade em relação ao estrato firme aumenta progressi-
vamente, verificando-se distâncias superiores a 60 m. Esta situação levou a que as paredes de conten-
ção que ladeiam a escavação não pudessem atingir o estrato firme, optando-se por mantê-las no estrato
argiloso mole. Este facto, associado às propriedades do solo e a restrições impostas pelo dono de obra
(relativamente aos deslocamentos horizontais das paredes de contenção e assentamentos do solo à
superfície densamente povoado), levou à adopção de uma estrutura de contenção com realização de
painéis transversais de betão.
A solução adoptada é apresentada na Figura 2.3 e consistiu na execução, longitudinalmente ao longo
de toda a escavação, de paredes moldadas como principal elemento de suporte temporário, travadas
transversalmente por painéis de betão. Estes têm utilidade, como estrutura rígida que une as duas
paredes de contenção laterais, na redução dos deslocamentos e na redução do risco da ocorrência do
levantamento da base de escavação, uma vez que a malha formada aumenta a resistência de ponta e a
superfície de adesão solo-estrutura.

Figura 2.3 - Secção transversal da escavação (adaptada de Karlsrud et al., 2005).

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Os painéis transversais foram sempre dispostos ao meio de cada painel da parede longitudinal e espa-
çados de 4,5 m. Para além deste apoio foi também considerada a colocação, antes do início dos traba-
lhos de escavação, de um nível de escoras metálicas no topo da parede de contenção. É também visível
na Figura 2.3 a existência de vigas de coroamento no topo das paredes laterais, para a promoção de
uma maior ligação entre os diversos painéis e consequente distribuição de esforços para as escoras
metálicas
Para uma correcta definição da geometria dos painéis transversais teve-se em conta várias combina-
ções possíveis de esforços horizontais (compressão induzida pelo deslocamento das paredes longitudi-
nais) e verticais (levantamento provocado pelo solo abaixo da base de escavação).
Existem assim duas grandes combinações de esforços. Uma, correspondente ao menor esforço axial
combinado com o maior esforço vertical, é especialmente gravosa para a mobilização da adesão solo-
painel e concentração de tensões elevadas junto dos painéis do meio da escavação. A outra correspon-
de à mobilização da menor força vertical e maior força horizontal, onde a resistência do painel bem
como a qualidade da ligação painel-parede é avaliada.
Na determinação da máxima força vertical suportada pelo conjunto de painéis, verificou-se que o valor
obtido depende fortemente do factor de segurança escolhido, da flexibilidade dos painéis e da resistên-
cia e rigidez de todo o sistema (painéis e paredes de contenção). O valor obtido está contudo limitado
à máxima mobilização da resistência de ponta e adesão solo-estrutura.
Do dimensionamento resultou que os painéis deveriam ter a espessura de 0,8 m e ser prolongados cer-
ca de 3 m para além da base de escavação (altura D, Figura 2.3)
Na Figura 2.4 é apresentada a comparação entre os deslocamentos horizontais medidos e os obtidos no
programa PLAXIS® para dois módulos de deformabilidade distintos.

Figura 2.4 - Deslocamentos horizontais, numa determinada secção, da parede de contenção (adaptada de Karls-
rud et al., 2005).

Como esperado, quanto maior é o módulo de deformabilidade, menores são os deslocamentos. A dis-
crepância entre os valores de resistência não drenada obtidos e esperados levaram, após o término dos

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

trabalhos, à conclusão de que poderia ter-se reduzido a profundidade das paredes longitudinais de con-
tenção, mantendo à mesma profundidade os painéis transversais.
Após se ter atingido a base de escavação concluiu-se que o ponto G, representado na Figura 2.3, se
deslocou ascendentemente entre 20 mm a 40 mm, o que é explicado pelo ligeiro levantamento do fun-
do de escavação (situação que era esperada pois o posicionamento dos painéis promoveu a estabilida-
de do fundo de escavação).
O deslocamento vertical entre os painéis verticais e a paredes de contenção foi obtido pela diferença
entre os valores medidos nos pontos E e C. Desta análise concluiu-se que a diferença não excedeu os 5
mm, o que confirma a boa ligação painel-parede.
O movimento vertical relativo entre o ponto médio da parede de septos (ponto G) e o ponto E situado
nos painéis próximos da parede de contenção, revelou uma diferença de 15 mm, ou seja, o dobro do
previsto nas modelações efectuadas no programa PLAXIS ®. Tal, é indicador da deficiências de liga-
ção entre os diversos painéis e (ou) uma elevada concentração de tensões sob os painéis localizados a
meio-vão da escavação.

Quadro 2.1 - Resumo dos aspectos mais relevantes da escavação apresentada.

Resumo

Características da escavação
-Dimensões: 230 m de comprimento; largura entre 35 m e 40 m;
-Profundidade de escavação: 17 m.
-Contenção: Paredes moldadas com espessura de 0,8 m e 20 m de altura.
-Solo: argiloso (distância entre a base de escavação e o estrato firme é superior a 60 m).
Solução
-Execução de painéis de parede moldada transversais às paredes e contenção, prolongados
3 m para além da base de escavação.
-Espaçamento longitudinal entre painéis: 4,5 m.
Principais conclusões
-Limite para o deslocamento horizontal: 20-100 mm.
-Deslocamento horizontal alcançado: <20 mm.
-Grandes dificuldades em garantir boa ligação entre os diversos painéis transversais bem como
na ligação painel-parede.
-Maior deslocamento horizontal ocorreu abaixo dos septos.

2.3. DEEP SOIL MIXING (DSM)


2.3.1. INTRODUÇÃO
A tecnologia conhecida internacionalmente por Deep Soil Mixing assente numa mistura solo-cimento
teve origem simultaneamente na Suécia e no Japão por volta dos anos 70 (Bruce, 2002). Estudos pos-
teriores na Suécia, levaram em 1975 a incorporar na mistura cal e outros aditivos, utilizando para tal
diferentes técnicas de mistura e cabeças de rotação. Actualmente o DSM é uma tecnologia de trata-
mento do solo in situ com incorporação de cimento e (ou) outros materiais, que podem ser introduzi-
dos na forma seca (dry mixing) ou em pasta (wet mixing).
O objectivo deste método é melhorar as características do solo in situ (compressibilidade, resistência
ao corte e permeabilidade) através de aditivos químicos que reagem com o solo.

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Actualmente existem inúmeras variantes do chamado Deep Soil Mixing. O agrupamento e a classifica-
ção de cada variante podem ser feitos de acordo com o método de mistura (por rotação do trado ou por
injecção de material) ou pelo tipo de material injectado (dry ou wet mixing) (Massarsch & Topolnicki,
2005)
O processo de execução, identificável na Figura 2.5, é mais ou menos comum às diferentes variantes
do método e consiste no posicionamento, penetração e retorno do equipamento de mistura. De um
modo geral compreende as seguintes etapas:
1. posicionamento do trado na vertical;
2. penetração do trado até à profundidade desejada, com desagregação do solo;
3. ascensão do trado a um ritmo constante à medida que a mistura previamente preparada é
injectada a baixa pressão pelo interior do trado; pelo processo de rotação o solo é envol-
vido com o aglutinante;
4. execução da coluna até a cota pretendida.

(1) (2) (3) (4)

Figura 2.5 - Sequência de execução de dry e wet mixing (Massarsch & Topolnicki, 2005)

O solo tratado apresenta, normalmente, elevada resistência, baixa permeabilidade e menor compressi-
bilidade que o solo original. No entanto, a densidade final é inferior à inicial. As propriedades obtidas
reflectem as características do solo, as variáveis inerentes ao processo construtivo (nomeadamente a
qualidade da mistura, método de mistura, etc) e os parâmetros operacionais utilizados (velocidade da
mistura, velocidade de descida e de subida do trado, etc).
O dry mixing é principalmente utilizado para um melhoramento de solos coesivos enquanto o wet
mixing é dirigido para solos granulares. É de referir que, para algumas aplicações, tais como em trata-
mentos relacionados com a prevenção de liquefacção, o dry mixing pode também ser usado em solos
granulares soltos.

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

(a) (b)
Figura 2.6 - Execução da técnica DSM utilizando: a) vários trados (www.keller.co.uk); b) um só trado (Stocker &
Seidel, 2005 adaptado de Massarsch & Topolnicki, 2005)

Inicialmente no processo de dry mixing era apenas introduzida cal. No entanto, o desenvolvimento da
técnica levou à adição de cimento. O processo de tratamento com colunas de cimento-cal é especial-
mente adequado para argilas moles e é maioritariamente utilizado nos países nórdicos. A proporção da
mistura varia de caso para caso, ou seja, depende das características do solo e das exigências do pro-
jecto. É normalmente empregue uma mistura paritária, com a qual se obtém uma melhoria das pro-
priedades do solo variável entre 10% e 30%, face às propriedades iniciais. Nos países orientais,
nomeadamente no Japão, a melhoria é de cerca de 50%, o que evidencia uma diferença substancial
entre as técnicas Japonesa e Europeia (Massarsch & Topolnicki, 2005).
Relativamente ao wet mixing, o processo de execução é idêntico ao descrito para o dry mixing. No
entanto, o principal aglutinante utilizado na mistura é o cimento, ao qual podem ser adicionados outros
constituintes. Conforme atesta a Figura 2.6, a mistura pode ser executada por meio de trados contí-
nuos, curtos ou múltiplos.
O Quadro 2.2 apresenta as diversas vantagens e desvantagens do método.

Quadro 2.2 - Vantagens e desvantagens da técnica Deep Soil Mixing (adaptado de U.S Department of Transpor-
tation, 2000).

Deep Soil Mixing


-Baixa quantidade de material de refluxo.
-Baixa vibração e ruído durante a execução.
Vantagens
-Baixos custos de produção para profundidades até 40 m.
-Facilmente utilizado em quase todo o tipo de solos.
-Necessidade de muito espaço em obra.
-Não adequado para solos demasiado densos, consistentes e com pre-
sença de calhaus.
Desvantagens
-Elevado custo de mobilização dos equipamentos.
-Uniformidade e qualidade do solo tratado dependem de bastantes facto-
res.

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

2.3.2. GEOMETRIAS DO SOLO TRATADO


Dependendo do fim, é possível realizar diferentes formas de tratamento, conjugando de modo diferen-
te a execução e intersecção das colunas de solo tratado.
Normalmente são realizadas colunas de diâmetro entre 0,5 m e 1,2 m e profundidades entre 15 m e 25
m. Nos países orientais a técnica está mais desenvolvida, existindo equipamentos com mais de uma
vara (Figura 2.6a) que permitem o tratamento a profundidades maiores. A Figura 2.7 apresenta algu-
mas das geometrias possíveis de realizar pela intersecção de colunas.

Figura 2.7 - Formas de tratamento possíveis de obter com colunas DSM (adaptado de Bruce et al., 2002).

Segundo Karlsrud & Andresen (2007) podem também ser executadas colunas DSM entre as duas
paredes de contenção de uma escavação. Para tal deve ser garantida uma determinada sobreposição,
por forma a originar uma “parede” compacta, conforme é apresentado na Figura 2.8. Contudo, pelo
facto de as colunas serem executadas após a parede de contenção, não se consegue garantir uma boa
ligação entre o tratamento e parede. Tal deve ser solucionado com a realização de colunas “extra” que
garantam um contacto adicional.

Figura 2.8 - Vista em planta da execução de colunas DSM, formando uma “parede” de solo tratado (adaptado de
Karlsrud & Andresen, 2007)

Existe ainda a possibilidade de efectuar um tratamento contínuo (laje) ao longo de toda a área de esca-
vação. Na Figura 2.9 é apresentado o faseamento necessário, que consiste na sobreposição de colunas
individuais.

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.9 - Fases de execução de uma laje com colunas DSM. (adaptado de U.S Department of Transportation,
2000).

A sobreposição de colunas é um aspecto crucial quando se executam tratamentos como os evidencia-


dos nas figuras anteriores. A manutenção da verticalidade das colunas ao longo de toda a zona de
sobreposição, bem como a existência de uma área de intersecção adequada são aspectos fundamentais
para a obtenção da resistência desejada.

2.3.3. PROPRIEDADES DO SOLO TRATADO


O Quadro 2.3 contém, de uma forma resumida, as diversas propriedades do solo tratado.

Quadro 2.3 - Resumo das propriedades do solo tratado com a técnica Deep Soil Mixing.

Propriedades do solo tratado com Deep Soil Mixing

Resistência à Compressão (UCS)


- 0,2 a 2 MPa em solos coesivos (U.S Department of Transportation, 2000);
-0,2 a 1 MPa - dry mixing - tratamento com cal e calda de cimento em solos argilosos moles
orgânicos (Holm (2005) e ǖhnberg (2006) adaptado de Karlsrud & Andresen, 2007);
-0,2 a 2 MPa - dry mixing - tratamento com calda de cimento em solos argilosos moles
(Karlsrud & Andresen, 2007);
- 1 a 6 MPa - wet mixing - tratamento com calda de cimento em solos argilosos moles
(Terashi, 2005 adaptado de Karlsrud & Andresen, 2007);
Módulo de deformabilidade
- 150-500 vezes os valores de UCS, (U.S Department of Transportation, 2000).
Tensão de corte
- 40-50% os valores de UCS, quando UCS < 1MPa (rácio com tendência a decrescer com o
aumento de UCS), (U.S Department of Transportation, 2000).

2.3.4. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

2.3.4.1. Escavação em meio urbano na cidade de Taipé


O caso de obra em seguida apresentado retrata uma escavação em meio urbano divulgada por Ou et
al., 2007. Para além do sistema de escoras metálicas utilizado, foi também fomentado o melhoramento
do solo de escavação com recurso à técnica de Deep Soil Mixing. Um aspecto peculiar e interessante

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

desta obra foi o facto de se tirar partido da maior resistência das paredes de contenção junto aos can-
tos, não se efectuando, por isso, tratamento do solo em toda a área de escavação.
A obra em causa, apresentada na Figura 2.10a, tem 51,65 m de comprimento por 23,75 m de largura e
uma profundidade de 9,30 m. Foi suportada por paredes moldadas com 0,6 m de espessura e 21 m de
altura. Os solos em causa consistem em camadas alternadas de areia e argila mole.
Devido às dimensões da escavação e considerando que apenas se encontravam edifícios sensíveis,
fundados sobre sapatas, nas imediações da maior dimensão da escavação, decidiu-se que não seria
necessário proceder ao melhoramento do solo em toda a área, mas apenas nas zonas essenciais para
reduzir os danos sobre os edifícios.
A maior resistência da estrutura junto dos cantos, juntamente com o facto de se virem a observar des-
locamentos inferiores próximo da menor dimensão da escavação, foi motivo para que fossem executa-
dos uma série de estudos paramétricos (num modelo de elementos finitos, com as áreas de tratamento
apresentadas na Figura 2.10b).

(a) (b)
Figura 2.10 - Aplicação de colunas DSM numa escavação em Taipé (Ou et al., 2007): a) Planta da escavação; b)
estudo paramétrico para diferentes áreas de tratamento.

Nesta fase de estudo foram admitidas como propriedades de solo tratado 2 MPa de resistência à com-
pressão, a relação E/cu= 400 para o módulo de deformabilidade. O coeficiente de Poisson foi de 0,3.
Pela análise dos deslocamentos horizontais da parede de contenção, presentes na Figura 2.11, constata-
se o efeito benéfico da realização do melhoramento do solo com a técnica DSM. O deslocamento
máximo na secção A-A foi reduzido de 6,5 cm (L1 = 0) para 4,1 cm, com o mínimo de tratamento
previsto (L1 = 11,2 m) e para cerca de 3,2 cm com o máximo de tratamento (L1 = 51 m).

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.11 - Deslocamentos horizontais da parede de contenção, nas secções A-A e B-B. para diversas hipóte-
ses de tratamento (adaptada de Ou et al., 2007).

A Figura 2.12 atesta o efeito bastante evidente da redução promovida pelo tratamento, não só do
máximo assentamento do solo, como também por deslocar a secção onde ele ocorre para próximo do
canto, isto é, a secção de máximo assentamento deixa de se situar a “meio vão” para se situar mais
próximo dos cantos. É possível também verificar que o tratamento deixa de promover uma redução
significativa dos assentamentos a partir de L1 = 33,6 m. Outro dado importante é a quase sobreposição
dos deslocamentos a uma distância próxima dos 8 m do canto da escavação, o que significa que deixa
de ser proveitoso proceder ao tratamento a partir desta distância.

Figura 2.12 - Variação, para diferentes graus de tratamento, dos máximos assentamentos do solo (à superfície)
relativamente à distância aos cantos da escavação (adaptada de Ou et al., 2007).

Na prática, e por uma questão de segurança, foi decidido aplicar o tratamento correspondente a L1 =
36,8 m, ou seja, a uma distância de cerca de 7 m dos cantos não foram realizadas colunas de DSM.
Uma vista geral, em planta, do tratamento aplicado é apresentada na Figura 2.13.

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.13 - Vista em planta do tratamento executado (adaptada de Ou et al., 2007)

O melhoramento do solo foi realizado com colunas e não sob a forma de bloco ou laje, precisamente
por ser menos oneroso e de mais fácil produção. As colunas foram realizadas desde os 9,4 m até aos
21 m de profundidade, com diâmetro de 1,6 m. A disposição segue o padrão apresentado na Figura
2.13.
Durante as diversas fases de desenvolvimento da obra, foram monitorizados os deslocamentos das
paredes de maior dimensão. Na Figura 2.14 são apresentados os resultados dos deslocamentos obtidos
por dois inclinómetros, bem como os determinados pelo método dos elementos finitos, ambos referen-
tes às duas últimas fases de construção. As diferenças patentes devem-se à maior resistência das colu-
nas de Deep Soil Mixing, relativamente ao que foi previsto durante a fase de projecto.
Resta assinalar que, no final de todos os trabalhos, o deslocamento de 3,7 cm das paredes moldadas
não induziu qualquer dano nas estruturas vizinhas. Ficou também comprovado que o “efeito de canto”
permite uma maior contenção dos deslocamentos nas zonas contíguas, sendo por isso, desnecessário o
tratamento nessas áreas.

Figura 2.14 - Comparação entre os deslocamentos previstos e verificados, nas duas paredes de maior dimensão,
para as duas últimas fases de construção (adaptada de Ou et al., 2007).

O Quadro 2.4 contém um resumo dos factos mais relevantes da escavação apresentada.

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O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Quadro 2.4 - Resumo dos aspectos mais relevantes da escavação apresentada.

Resumo

Características da escavação
-Dimensões: 51,65 m x 23,75 m.
-Profundidade de escavação: 9,30 m.
-Contenção: paredes moldadas; 0,6 m de espessura e 21 m de altura.
-Solo: argila mole.
Tipo de Tratamento Propriedades Resistentes Deep Soil Mixing (projecto)
-Resistência à compressão: 2 MPa.
-Colunas de Deep Soil Mixing.
-E/cu = 400.
-Diâmetro: 1,6 m.
-Coef. Poisson = 0,3.
-Profundidade 11,4 m (9,4 m-21 m).

Desempenho
-Tratamento Aplicado: ao longo de 36,8 m dos 51 m possíveis.
-Deslocamento horizontal previsto: 5,9 cm.
-Deslocamento horizontal alcançado: 3,7 cm.

2.4. COMPACTION GROUTING


2.4.1. INTRODUÇÃO
A técnica designada por Compaction Grouting consiste numa controlada injecção de volume de arga-
massa pouco fluida, a elevada pressão, no interior do solo a tratar. Devido à sua composição não se
pretende que a matéria preencha os vazios do solo, mas sim que ocupe volume, expanda e consequen-
temente induza compactação e o aumento de resistência do solo envolvente.
Fundamental para o sucesso da técnica é a deposição da argamassa sob a forma de um bolbo com
características e dimensões apropriadas, de modo a que se consiga alcançar uma correcta interacção
com o solo a tratar.
A técnica Compaction Grouting, representada na Figura 2.15, é principalmente utilizada para controlar
deslocamentos, reduzir a permeabilidade e aumentar a capacidade de suporte do solo. Para alcançar
estes objectivos o deslocamento e a compactação da massa de solo devem ser tais que permitam o
aumento da rigidez, da resistência ao corte e da compacidade, levando assim a um aumento do módulo
de deformabilidade e redução de deslocamentos do solo.

Figura 2.15 - Princípio do Compaction Grouting (adaptado de Warner, 2004).

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Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Como é compreensível esta técnica é dificilmente empregue em solos demasiado consistentes, devido
à óbvia incapacidade em fazer expandir o volume de argamassa injectada. O Compaction Grouting
deixa de ser praticável em solos cuja resistência de ponta (qc) obtida através do ensaio CPT seja supe-
rior a 4 MPa (Warner, 2004). Por outro lado, esta técnica também deixa de produzir o efeito desejado
em argilas muito moles, pois apesar de numa fase inicial ser produzido o efeito desejado, com o decor-
rer do tempo a dissipação dos excessos de pressões neutras gerados induz o retorno às características
iniciais do solo (Chang et al.,1993).
O alcance da uniformidade de características pretendidas, numa grande massa de solo, exige um bom
conhecimento do equipamento e do solo a tratar.
São conhecidos dois métodos diferentes de levar a cabo o tratamento, sendo que a diferença reside na
ordem de introdução dos bolbos de argamassa (Warner, 2004).
O método bottom-up é apresentado na Figura 2.16 e as etapas de execução do tratamento são as
seguintes:
1. perfuração desde a superfície até à profundidade desejada;
2. colocação de tubagem ao longo da perfuração previamente executada;
3. injecção de material até ao limite (“nega”), que pode ser identificado de diversas formas:
• levantamento do solo à superfície;
• injecção de uma quantidade pré-determinada de material;
• alcance de uma determinada pressão limite.
4. elevação da vara de injecção em distâncias fixas, previamente determinadas (pode variar
entre 0,3 e 0,6 m);
5. repetição dos procedimentos dos pontos 3 e 4 até à profundidade desejada.

Figura 2.16 - Faseamento construtivo do Compaction Grouting, variante bottom-up (editado de


www.haywardbacker.com)

No método top-down o processo é em tudo semelhante ao anterior, embora, como o próprio nome
indica, o processo seja conduzido desde a superfície até à profundidade desejada.
O primeiro método é o mais frequentemente utilizado para melhoramento de solo a grandes profundi-
dades, provando ser mais económico. Para pequenas profundidades de tratamento (4 m a 5 m) é prefe-
rível o método top-down, com o qual existe a vantagem de cada bolbo de material injectado propor-
cionar confinamento ao seguinte.

17
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Em qualquer um dos métodos, o resultado final consiste numa série de bolbos sobrepostos desde o
topo até à superfície, conforme é ilustrado na Figura 2.16.

Quadro 2.5 - Resumo dos aspectos mais relevantes, inerentes ao Compaction Grouting (Warner, 2004)

Compaction Grouting

Vantagens Desvantagens
-Bom controlo de posicionamento do tratamento.
-Pouco eficiente em solos argilosos muito
-Baixa mobilização de equipamento.
plásticos e cascalhos grossos.
-Baixa interferência com os trabalhos em obra.
-Inclinação máxima das colunas de 20º.
-Possibilidade de alcançar grandes profundidades.
Boas práticas de execução
-Ritmos correntes de injecção variáveis entre 28 e 57 l/min.
-Injecções devem ser separadas entre 2,5 m a 3,7 m, ou seja, 3 a 5 vezes o diâmetro do bolbo.
-A efectividade da injecção é proporcional à espessura do material injectado.
-Numa grande área, o tratamento deve ser efectuado alternando entre colunas primárias e secun-
dárias, iniciando-se os trabalhos do exterior para o interior.

2.4.2. GEOMETRIA ALCANÇADA


Uma vez que o tratamento consiste na injecção de bolbos de argamassa em pontos localizados, conse-
guem-se obter diversas geometrias de tratamento (incluindo lajes), através da conjugação de várias
colunas de tratamento.
Para que se alcance uma geometria uniforme, as injecções devem ser espaçadas de uma determinada
distância, de modo que a força transmitida ao solo pelas sucessivas injecções reaja contra a massa de
solo executada em injecções anteriores. Por esta razão as colunas formadas, bem como o volume de
solo injectado, devem ser convenientemente estabelecidos, por forma a se determinar o intervalo
óptimo entre colunas (Warner, 2004).
A redução de deslocamentos é normalmente alcançada pela compressão do solo num valor maior ou
igual ao deslocamento esperado para a estrutura. O incremento de compacidade provocado pelos des-
locamentos introduzidos leva a um aumento da resistência do solo e consequentemente do módulo de
deformabilidade. O facto de os bolbos de argamassa serem mais densos e resistentes que o solo cir-
cundante, leva a que as tensões neles mobilizadas sejam superiores, reduzindo deste modo as tensões e
deslocamentos no solo envolvente (Warner, 2004).

2.4.3. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

2.4.3.1. Escavação para uma estação do metro de Shangai


O caso em estudo refere-se a uma escavação em solos argilosos moles em Shangai, executada para a
estação do metro local. A exposição apresentada tem por base um estudo de Liu et al. (2005).
A obra, apresentada na Figura 2.17, tem uma extensão de 335 m, largura de 17,4 m e profundidade de
15,5 m. Os dados recolhidos da monitorização efectuada foram posteriormente comparados com os de
outras escavações de características semelhantes.
Devido à existência de edifícios e estruturas viárias nas imediações da escavação, foram adoptados
limites rígidos para os deslocamentos possíveis. Deste modo, o limite máximo de assentamento do

18
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

solo à superfície foi de 0,001h e o limite para o deslocamento das paredes de contenção de 0,0014h,
sendo h a profundidade da escavação.

Figura 2.17 - Planta da escavação (Liu et al., 2005)

A escavação desenvolve-se ao longo de argilas moles, típicas de Shangai, sendo que as paredes de
contenção penetram entre 12 m a 18 m em estratos argilosos de maior consistência.
Após a construção das paredes moldadas efectuaram-se duas lajes de Compaction Grouting, situadas
entre as profundidades de 8,6 m e 10,6 m (2 m de espessura) e entre 16,6 m e 19,6 m (3 m de espessu-
ra), na zona passiva da escavação. Testes posteriores com o CPT registaram um acréscimo de resistên-
cia de 0,6 MPa para 1,2 MPa nas zonas de tratamento. A Figura 2.18 apresenta a escavação em corte.

Figura 2.18 - Secção transversal da escavação (Liu et al., 2005)

A Figura 2.19 apresenta um resumo dos deslocamentos horizontais nos vários inclinómetros, que
variaram entre 20 mm e 37 mm. À excepção do primeiro inclinómetro, às cortinas de maior compri-
mento correspondem deslocamentos horizontais menores.

19
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.19 - Resumo dos deslocamentos horizontais em diversas zonas da intervenção (Liu et al., 2005).

Na Figura 2.20 encontram-se os limites para a relação entre o factor de segurança ao levantamento da
base da escavação e o deslocamento horizontal da parede de contenção (Mana & Clough, 1981) e
também diversos casos estudados nas argilas da Ásia por Long (2001) com um factor de segurança de
2,4. São ainda assinalados os valores da escavação em estudo (factor de segurança de 2,2). Da compa-
ração entre ambos verifica-se o efeito benéfico do melhoramento do solo com a técnica Compaction
Grouting, uma vez que com um factor de segurança de 2,2 a relação įh(máx)/h(%) é menor que para os
casos apresentados por Long (2001).

Figura 2.20 - Relação entre o factor de segurança ao levantamento da base da escavação e o deslocamento
horizontal máximo da parede (Long, 2001).

Relativamente aos assentamentos do solo à superfície, é apresentada na Figura 2.21 a carta de assen-
tamentos proposta por Peck (1969), na qual estão também patentes os assentamentos da escavação em
estudo. Apesar das débeis características de resistência e deformabilidade das argilas, nas quais a
escavação se desenvolveu, os valores obtidos encontram-se dentro da zona I. Note-se que esta zona I

20
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

se adequa a assentamentos em areias e argilas médias a rijas. Concluiu-se que os bons resultados obti-
dos se devem à aplicação de Compaction Grouting e ao uso de escoras pré-esforçadas.

Figura 2.21 - Classificação dos assentamentos do solo adjacente à escavação (adaptado de Liu et al., 2005).

O Quadro 2.6 contém um resumo das características mais importantes da escavação estudada.
Quadro 2.6 - Resumo dos aspectos mais relevantes da escavação apresentada.

Resumo

Características da escavação
-Dimensões: 335 m x 17,4 m.
-Profundidade da escavação: 15,5 m.
-Contenção: paredes moldadas com 0,6 m de espessura e 28 - 34 m de altura.
-Solo: argiloso mole.
Tipo de tratamento
-Duas lajes de colunas Compaction Grouting, uma acima e outra abaixo da base de escavação.
-Primeira laje: 2 m de espessura, localizada entre 8,6 m e 10,6 m de profundidade.
-Segunda laje: 3 m de espessura, localizada entre 16,6 m e 19, 6 m de profundidade.
Desempenho

-Assentamento máximo do solo permitido: 0,1h (%).


-Assentamento máximo do solo verificado: 0,08h (%).
-Deslocamento máximo horizontal permitido da cortina de contenção: 0,14h (%).
-Deslocamento máximo horizontal verificado da cortina de contenção: 0,13h (%).

2.5. JET GROUTING


2.5.1. INTRODUÇÃO
O Jet Grouting é uma técnica de melhoria de solos realizada directamente no interior do terreno sem
escavação prévia, utilizando para tal um ou mais jactos horizontais que, devido à sua elevada energia
cinética, desagregam a estrutura natural do terreno permitindo a mistura com a calda de cimento intro-

21
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

duzida (Figura 2.22). O resultado final é um material de melhores características mecânicas e menor
permeabilidade do que o inicial.

Figura 2.22 - Pormenor da vara de Jet Grouting: coroa e respectivos jactos (www.heidelbergcement.com) e
(www.cement.org).

O desenvolvimento desta técnica iniciou-se a partir de 1970 e deriva, em certo modo, de técnicas de
injecção cujas principais dificuldades consistiam no controle da pressão de injecção e volume de calda
introduzido. Com o Jet Grouting estes parâmetros são controlados de forma mais eficiente, para além
de se garantir o envolvimento solo-cimento em geometrias mais ou menos regulares.
O processo físico do Jet Grouting envolve, regra geral, as três etapas seguintes (Carreto, 1999):
• corte - a estrutura inicial do solo é quebrada e as partículas resultantes são dispersas pela
acção de um ou mais jactos horizontais de alta velocidade;
• mistura e substituição parcial - uma parte das partículas de solo é substituída, outra parte
é misturada com a calda de cimento injectada a partir dos bicos de injecção;
• cimentação - as partículas de solo são aglutinadas entre si através do papel auto-
endurecedor da calda, formando um material consolidado.

2.5.2. PROCESSO DE EXECUÇÃO


O processo de execução, esquematizado na Figura 2.23, é iniciado pela colocação da sonda em posi-
ção nivelada, isto é, o eixo da vara coincidente com o eixo da coluna, no caso de se pretender obter um
corpo cilíndrico, ou então coincidente com uma das extremidades do painel (geometria plana). Em
seguida a vara é introduzida no terreno, até ser atingida a profundidade desejada, através de um movi-
mento rotacional e com o auxilio de um jacto de agua vertical (jacto de pré-furação).

22
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.23 - Sequência de execução do tratamento (adaptada de www.haywardbaker.com): a) furação; b) início


de Injecção; c) subida da vara e formação da coluna; d) tratamento com várias colunas.

A etapa seguinte depende do tipo de geometria de tratamento desejado. No caso de se pretender obter
um corpo cilíndrico, imprime-se à vara um movimento rotacional e inicia-se a injecção de calda atra-
vés de bicos situados na extremidade inferior. Simultaneamente a vara é elevada através do furo com
uma velocidade constante. Concluída a execução do corpo cilíndrico retira-se a vara do furo, preen-
chendo-o de calda por acção da gravidade até ao seu topo. No caso de se querer obter um corpo de
geometria plana (painel) o processo é em tudo semelhante ao descrito, excepto na ascensão da vara
que se faz sem movimento rotacional.
Existe ainda a possibilidade de conjugar a execução de colunas cilíndricas para a obtenção de um ele-
mento horizontal plano de solo tratado (laje), sendo para tal necessário garantir uma determinada
sobreposição entre colunas sucessivas.

Quadro 2.7 - Principais vantagens e desvantagens do sistema Jet Grouting.

Jet Grouting

Vantagens
-Baixo ruído produzido e inexistência de vibrações.
-Possibilidade de executar diversas geometrias, através da intersecção de colunas.
-Possibilidade de executar tratamento com qualquer inclinação começando e terminando à pro-
fundidade desejada.
-Capacidade de tratar solos heterogéneos cujas camadas são conhecidas (através da adaptação
de parâmetros a cada tipo de solo).
-Aplicabilidade a uma gama extensa de solos.
Desvantagens
-Elevada dispersão das características mecânicas do material tratado.
-Difícil controlo da quantidade de material de refluxo (podendo daí resultar movimentos do terre-
no à superfície e de movimentos laterais das paredes de elevada magnitude).
-Dificuldade de remoção e manuseamento da grande quantidade de material de refluxo.

23
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

2.5.3. SISTEMAS DE JET GROUTING


A técnica de Jet Grouting subdivide-se essencialmente em três métodos que se baseiam no mesmo
processo físico. Os três principais sistemas são apresentados na Figura 2.24: sistema de jacto simples
ou JET 1, o de jacto duplo ou JET 2 e o sistema de jacto triplo ou JET 3.

(A) (B) (C)

Figura 2.24 - Sistemas de Jet Grouting (adaptada de Nikbakhtan & Osanloo, 2008): a) JET 1; b) JET 2; c) JET 3.

No sistema JET1, o fluido injectado é apenas calda de cimento.


No sistema JET2 é injectado em simultâneo ar comprimido e calda de cimento, a qual é responsável
pela mistura e aglutinação. O jacto de ar é responsável pelo aumento do alcance do jacto de calda. A
injecção combinada de cimento e ar permite uma maior remoção do solo original e consequente subs-
tituição por material injectado.
No sistema JET3 é injectado em conjunto ar, água e calda de cimento. Esta tripla combinação permite
uma remoção do solo original superior ao sistema JET2, levando assim a uma substituição quase com-
pleta do solo pelo material injectado. O princípio básico deste sistema é a separação das acções de
erosão da de mistura do solo com a calda. Cada um dos jactos tem funções diferentes (Nikbakhtan &
Osanloo, 2008):
• jacto de água: utilizado para destruir a estrutura do terreno; tem também a função de
remoção de parte do solo erodido (através do refluxo pelo buraco de furação);
• jacto de ar: o ar é injectado através do mesmo bico de injecção da água envolvendo-a e
potenciando o efeito desagregador do conjunto; permite ainda a emulsão da mistura água
-solo erodido, reduzindo a densidade e facilitando a saída para o exterior;
• jacto de calda: a calda que é injectada através de um segundo bico, posicionado abaixo do
bico de injecção de ar e água, mistura-se com o terreno que permanece na cavidade
depois da passagem do jacto de água e ar, dando origem a um corpo solidificado.
O sistema JET3 permite um maior controlo das quantidades e pressões do material injectado, que se
traduz numa melhoria da qualidade do tratamento final. Devido às características enunciadas, o siste-
ma JET3 tem a possibilidade de ser empregue na maior parte dos solos, contrastando com os sistemas
JET1 e JET2, cuja aplicabilidade está mais limitada a solos de baixa consistência.
Recentemente surgiu uma nova variante do sistema JET2, designada por Super Jet Grouting. Neste
sistema o equipamento é utilizado de um modo mais eficaz, com maior energia, para criar um material
compósito de melhor qualidade. São utilizados bicos de injecção opostos em que a calda é envolvida
pelo jacto de ar, resultando numa maior destruição e mistura do solo. A velocidade de elevação e rota-

24
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

ção da vara é menor que no método “tradicional”, alcançando-se colunas de solo tratado com 3 a 5 m
de diâmetro (Burke, 2004). Segundo Wang et al.(1999), a maior homogeneidade da coluna de solo
obtida permite a obtenção de propriedades de solo tratado superiores ao do sistema JET 3.

2.5.4. GARANTIA DE QUALIDADE E PRINCIPAIS PARÂMETROS INTERVENIENTES NO PROCESSO DE JET GROUTING


A garantia de qualidade em trabalhos de Jet Grouting começa antes de mais por um correcto julga-
mento dos materiais e equipamentos existentes em obra. É crucial que antes de se iniciarem os traba-
lhos se estabeleçam os parâmetros adequados para que se obtenha os propósitos desejados. Os princi-
pais parâmetros a determinar e controlar são o fluxo e pressão de ar, quantidades de água e cimento a
injectar, bem como a velocidade de rotação e subida da sonda de injecção (Wen, 2005).
No Quadro 2.8 são apresentados os valores máximos e mínimos normalmente utilizados nos parâme-
tros referentes às três variantes da técnica Jet Grouting. Nos métodos JET1 e JET2 é apresentada a
sigla “PF” no parâmetro “água” o que significa que um jacto vertical de água é utilizado como meio
auxiliar na pré-furação da vara.
Quadro 2.8 - Valores limite para os parâmetros intervenientes nos diferentes sistemas de Jet Grouting (Carreto,
1999).

Parâmetros de procedimento JET1 JET2 JET3


Calda (MPa) 20 a 60 20 a 55 0,4 a 27,6
Pressão Ar (MPa) - 0,7 a 1,7 0,5 a 1,7
Água (MPa) PF PF 20 a 60
Calda (l/min) 30 a 180 60 a 150 60 a 250
3
Caudal Ar (m /min) - 1 a 9,8 0,33 a 6
Água (l/min) PF PF 30 a 150
Diâmetro Calda (mm) 1,2 a 5 2,4 a 3,4 2a8
dos bicos Água (mm) PF PF 1a3
Número de Calda 1a6 1a2 1
bicos Água PF PF 1a2
Relação água - cimento 1:0,5 a 1:1,25 1:0,5 a 1:1,25 1:0,5 a 1:1,25
Velocidade de subida da vara
0,1 a 0,8 0,07 a 0,3 0,04 a 0,5
(m/min)
Velocidade de rotação da vara
6 a 30 6 a 30 3 a 20
(rpm)

Enquanto o tratamento é executado existe um conjunto de parâmetros, determinados na fase de projec-


to, que devem ser controlados, nomeadamente as pressões a que estão a ser injectados os diversos
componentes, velocidades de rotação e subida da sonda. Deve ser prestada uma atenção especial à
quantidade de refluxo de material que chega à superfície. É também conveniente um correcto controlo
durante a fase de produção da calda de cimento, pois variações neste parâmetro têm influência nas
resistências alcançadas, na quantidade de material de refluxo, no diâmetro das colunas, etc. (Wen,
2005).
Estes parâmetros têm influência nas propriedades finais do material tratado. Os Quadro 2.9 e Quadro
2.10 apresentam de uma forma resumida algumas notas relativas aos principais parâmetros de execu-
ção do Jet Grouting, que influem na geometria do corpo tratado bem como na resistência e na rigidez
possíveis de obter.

25
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Quadro 2.9 - Parâmetros influentes e principais conclusões relativas à geometria de corpo tratado pela técnica
Jet Grouting (Carreto, 1999).

Geometria de corpo tratado

Parâmetros influentes
-Compacidade e consistência do solo.
-Sistema utilizado (JET 1, JET 2, JET 3 ou Super Jet Grouting).
-Pressão de injecção dos materiais.
-Caudal dos fluidos introduzidos.
-Velocidade de subida da vara.
Conclusões relativas ao diâmetros das colunas.
-Os maiores diâmetros de tratamento correspondem, regra geral, e por ordem decrescente aos
sistemas: Super Jet Grouting (3 m a 5 m), JET 3 (0,8 m a 3 m), JET 2 (0,6 m a 2,0 m) e final-
mente JET 1 (0,3 a 1,2 m).
-Para qualquer sistema e solo, quanto maior velocidade de subida da vara menor o diâmetro da
coluna formada.
-Para o mesmo valor de NSPT, o diâmetro das colunas em solos incoerentes é superior ao reali-
zado em solos coesivos.

Quadro 2.10 - Parâmetros influentes e principais conclusões relativas à resistência e deformabilidade alcançadas
pelo corpo tratado através da técnica Jet Grouting. (Carreto, 1999).

Resistência e deformabilidade

Parâmetros influentes
-Compacidade e consistência do solo.
-Sistema utilizado (JET 1, JET 2, JET 3 ou Super Jet Grouting).
-Relação água/cimento da calda.
-Velocidade de rotação da vara.
-Velocidade de subida da vara.
Conclusões relativas à resistência de solo tratado.
-Em solos coesivos as maiores resistências resultam da aplicação do sistema JET 3 e Super Jet
Grouting.
-Em solos coesivos, quanto maior é o teor em água do solo, menor é a resistência do solo trata-
do.
-Quanto maior é o volume de calda injectada, maior é a resistência à compressão do material
tratado.
-Quanto maior é a relação água/cimento da calda, menor é a resistência do material obtido.

2.5.5. CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DO SOLO TRATADO POR JET GROUTING


Relativamente às características do material tratado são apresentadas em seguida algumas conclusões
obtidas por Wen (2005) que acompanhou diversas obras em Singapura em que a técnica de Jet Grou-
ting foi utilizada para realização de uma laje como forma de redução dos deslocamentos da parede de
contenção. Pelo conjunto de ensaios realizados em laboratório sobre diversas amostras de laje de Jet
Grouting, ficou comprovado que o material tratado apresentava (conforme é ilustrado na Figura 2.25)
uma ruptura frágil para níveis de deformação na ordem de 0,5%-1,5%, no entanto para amostras em
que os valores de resistência à compressão são menores (na ordem de 1 MPa) esta propriedade mos-
trou-se menos evidente.

26
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.25 - Curvas tensão - deformação para várias amostras de colunas Jet Grouting (adaptado de Wen,
2005).

Outro aspecto comprovado por Wen (2005) nas diversas utilizações de Jet Grouting em Singapura foi
o facto de o peso volúmico do solo tratado se manter aproximadamente igual ao do solo antes de rece-
ber tratamento.
Concluiu, ainda que nas regiões em que o tratamento foi executado o número de pancadas SPT,
aumentava drasticamente após tratamento, variando de aproximadamente zero para valores da ordem
de 50, conforme atesta a Figura 2.26.

Figura 2.26 - NSPT versus profundidade de escavação numa aplicação em Singapura (adaptado de Wen, 2005).

Uma vez que as amostras de Jet Grouting apresentaram uma ruptura frágil, para níveis baixos de
deformação, é recomendável efectuar um acompanhamento regular da execução, verificando os níveis
de deformação para diferentes fases do processo, pois é habitual verificar-se diferenças entre os resul-
tados obtidos em laboratório e a resistência efectivamente existente do conjunto formado pela inter-

27
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

secção das várias colunas. Um dos principais motivos é a existência de determinados defeitos como
espaços vazios (sem tratamento) entre as várias colunas.
O Quadro 2.11 contém um resumo das principais características de solo tratado com Jet Grouting.
Quadro 2.11 - Propriedades de solo argiloso, tratado com a técnica Jet Grouting

Propriedades do solo tratado com Jet Grouting

Resistência à Compressão (MPa)


2- 5 MPa em Argilas (www.kellerterra.com)
3-7 Areias siltosas (www.kellerterra.com)
0,3 - 2,5 Argilas Orgânicas (Carreto, 1999)
0,5-3,5 Argilas (Carreto, 1999)
(1)
0,6 argilas (Wang, 1999)
(2)
0,4 argilas (Wang, 1999)
Módulo de deformabilidade
300 vezes os valores de UCS (Keller)
(1)
- Valor obtido em amostras recolhidas 9 dias após tratamento com sistema Super Jet Grouting
(2)
- Valor obtido em amostras recolhidas 13 dias após tratamento com sistema JET3

2.5.6. ASPECTOS RELACIONADOS COM A EXECUÇÃO DE LAJES DE JET GROUT


O processo de execução de uma laje de Jet Grout numa escavação e consequente processo de escava-
ção acarretam determinados riscos. Assim, Shirlaw et al. (2000) identificaram os principais mecanis-
mos de rotura para escavações suportadas por lajes de Jet Grout, fazendo distinção entre as escavações
cuja parede de contenção atinge um estrato firme e aquelas em que o mesmo não acontece. As princi-
pais forças que actuam na laje, para cada um dos casos, são apresentadas na Figura 2.27.

(a) (b)
Figura 2.27 - Principais forças que actuam numa laje de Jet Grout (Shirlaw et al (2000), adaptado de Wen, 2005):
a) Escavação em que as paredes de contenção penetram no estrato firme; b) escavação em que as paredes não
atingem o estrato firme.

28
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Para a Figura 2.27a, referente a situações em que a parede de contenção penetra no estrato firme, Shir-
law et al. (2000) identificaram as seguintes causas de rotura da laje:
• levantamento excessivo do solo na base de escavação, que pode ser provocado por expan-
são de argilas moles sob a base da laje;
• força axial excessiva, transmitida pelo deslocamento horizontal das paredes de contenção;
• defeitos na execução do Jet Grouting.
Para a Figura 2.27b, referente a situações em que a parede de contenção não atinge o estrato firme, as
principais causas de rotura da laje são:
• levantamento excessivo do solo abaixo da laje, provocando rotura por corte ou flexão;
• força axial excessiva, transmitida pelo deslocamento horizontal das paredes de contenção;
• defeitos na execução do Jet Grouting;
• incapacidade de resistir às forças descendentes transmitidas, normalmente associadas às
componentes verticais das forças nas ancoragens (caso existam);
• deficiências na ligação entre a laje e as paredes de contenção, dificultando a transferência
de esforços desta quer para as paredes quer para as escoras.

No caso de serem realizadas lajes de Jet Grout acima da base de escavação, deve prever-se a situação
de carga mais gravosa, uma vez que o desmonte de um destes elementos acarreta um aumento dos
esforços para os restantes apoios.
Relativamente à execução do tratamento de Jet Grouting, o principal problema com que Wen (2005)
se deparou, nas diversas escavações estudadas, foi o levantamento e a movimentação lateral do solo no
exterior à escavação. A principal explicação para este facto está no processo de execução de Jet Grou-
ting, ou melhor, numa consequência desse processo.
Durante a execução elevados volumes de calda de cimento, ar e água são injectados no interior do
solo. O material excedente tem tendência a sair para o exterior pela cavidade de furação, ou seja, pelo
espaço existente entre a sonda e a cavidade de furação. No entanto, se esta estiver obstruída ou blo-
queada, a pressão no interior do solo aumenta, o que provoca uma expansão da zona onde o solo é
tratado e consequente movimento do solo nas direcções vertical e horizontal. Deste modo, a expansão
da cavidade não é provocada pela elevada pressão de injecção de material mas sim pela pressão acu-
mulada pelo material que não é expelido. A Figura 2.28, pretende representar esquematicamente esta
situação. A pressão P exercida é o resultado do somatório da pressão do material que fica retido mais a
pressão que seria necessária para que o material fosse expelido para a superfície (a cavidade de fura-
ção está entupida).

29
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.28 - Fenómeno de aumento de pressão no interior da escavação, durante execução do Jet Grouting.
(adaptado de Wen, 2005)

Determinadas medidas podem ser tomadas de modo a reduzir a pressão anteriormente referida:
• reduzir a densidade do material a expelir;
• executar uma cavidade de furação de maior diâmetro para que o espaço entre a sonda e o
limite desse furo permita o fácil refluxo do material excedentário;
• entubar o furo, por exemplo com tubo de PVC (sugerido por Shirlaw et al, 2003), para
prevenir o bloqueio da cavidade de expulsão do material excedente.
Outras medidas podem ser tomadas, de modo a promover uma correcta expulsão do fluido excedente,
como executar um pré-tratamento com Jet Grouting a reduzida pressão junto das paredes de conten-
ção, ou executar furos específicos para a expulsão do material excedentário.
De qualquer modo, devem sempre ser criadas condições para proporcionar uma boa ligação / aderên-
cia entre as lajes de Jet Grout e as paredes de contenção. Se as paredes forem constituídas por estacas
secantes pode, por exemplo, promover-se uma maior rugosidade através do método de furação, utili-
zando sempre que possível trado e lama bentonítica ao invés de tubo moldado perdido.

2.5.7. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO


2.5.7.1. Escavação para a construção de um parque subterrâneo em Singapura.
O caso de obra seguidamente apresentado refere-se a uma escavação para um parque de estacionamen-
to subterrâneo em Singapura e tem por base um estudo realizado por Ho et al., 2005. Conforme retrata
a Figura 2.29, a envolvente à escavação é constituída por diversos edifícios e infra-estruturas de rele-
vo.
As paredes moldadas têm espessura de 0,8 m na zona Este onde serão executados apenas dois níveis
de parque subterrâneo e 1,2 m na zona Oeste onde serão executados três níveis. De acordo com estas
orientações, a profundidade de escavação varia entre os 12 m e os 15,5 m, respectivamente. Neste
contexto apenas se abordará a execução da laje na zona Oeste da escavação.

30
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.29 - Localização da escavação (adaptado de Ho et al., 2005).

Relativamente à geologia do local, pode dizer-se que a camada superficial (2,5 m a 4 m de espessura)
é constituída maioritariamente por solos argilo-arenosos; sob esta estão presentes diversas camadas de
argila de consistência mole a muito mole, que se estendem até 31 m de profundidade. O estrato com-
petente de granito alterado está presente a partir desta profundidade.
De acordo com os códigos locais, os deslocamentos em estruturas adjacentes provocados pelos traba-
lhos levados a cabo durante a escavação são limitados a 15 mm em qualquer direcção. Os desvios
provocados (distorção angular) num viaduto contíguo à escavação devem ser menores que 1/2000.
Devido às elevadas dimensões da escavação, pressões de terra e limitações atrás referidas, optou-se
por efectuar a escavação utilizando 4 ou 5 níveis de escoras pré-esforçadas associadas a uma laje de
solo tratado com recurso à técnica de Jet Grouting. O posicionamento da laje foi considerado imedia-
tamente abaixo da base de escavação.
A execução do tratamento consistiu na sobreposição de colunas de Jet Grout com 1,8 m de diâmetro,
obtendo-se uma laje de 3 m de altura. A resistência à compressão e o módulo de deformabilidade
impostos para o solo tratado foram de 0,6 MPa e 150 MPa, respectivamente.
O tratamento foi executado com sistema JET3, uma vez que o empreiteiro possuía bastante experiên-
cia, adquirida em obras anteriores na região em apreço.
Por forma a cumprir os limites impostos, decidiu-se que deveriam ser minimizados os deslocamentos
das paredes de contenção na fase autoportante, ou seja, antes da colocação da primeira escora. Assim o
projectista definiu a execução de um mecanismo de transferência de carga da parede para a laje de Jet
Grout existente a maior profundidade.
Conforme atesta a Figura 2.30, inicialmente esse sistema consistia na execução de colunas de Jet
Grout, formando uma malha triangular que unia a parede de contenção à laje propriamente dita. No
entanto, dúvidas associadas aos fenómenos de transferência de carga e dificuldade de implementação
do projecto em obra deram lugar à execução de um bloco de colunas Jet Grout (representado a traço
interrompido na Figura 2.30), com 10 m de comprimento e 9 m de altura. Este bloco permitiu um
maior confinamento da parede e uma melhor transferência de carga para a laje presente no interior da
escavação.

31
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.30 - Localização da laje de Jet Grout e dos mecanismos de transferência de carga. (adaptado de Ho et
al., 2005).

Da análise das amostras recolhidas na intersecção de colunas obtiveram-se, na generalidade, valores


de resistência à compressão superiores ao desejado (0,6 MPa). No entanto, em cerca de 21% das
amostras foram obtidos valores bastante inferiores (entre 52 kPa e 428 kPa). Em relação ao módulo de
deformabilidade, obtiveram-se valores bastante díspares variando entre 2,01 MPa e 196 MPa; em ape-
nas 23,5% das amostras o valor de projecto (150 MPa) foi ultrapassado.
Destes ensaios pode concluir-se que o tratamento foi adequado, apesar de ter ficado patente a elevada
heterogeneidade das propriedades do solo final, particularmente na intersecção entre colunas. Contudo
era expectável que os valores de resistência e deformabilidade fossem superiores e mais uniformes no
interior das colunas.
No final dos trabalhos considerou-se que os objectivos propostos foram alcançados, uma vez que o
deslocamento das paredes de contenção nas zonas onde foram executados os blocos foi de apenas 11,2
mm. A construção da laje de Jet Grout proporcionou um conjunto de efeitos benéficos que ultrapassou
os objectivos iniciais de absorver os esforços de compressão e diminuir os deslocamentos da parede.
Tais benefícios traduziram-se no aumento de estabilidade do fundo de escavação e no aumento da
resistência das argilas em torno da laje (por via do calor de hidratação gerado durante a presa da cal-
da). O Quadro 2.12 contém um resumo dos factos mais relevantes da escavação apresentada.
Quadro 2.12 - Resumo dos aspectos mais relevantes da escavação apresentada.

Resumo
Características da escavação
-Dimensões: 241,3 m x 88 m.
-Profundidade de escavação: 15,5 m.
-Contenção: paredes moldadas com 1,2 m de espessura.
-Solo: argiloso mole.
Tipo de tratamento Propriedades resistentes Jet Grouting (projecto)
-Laje de Jet Grout (3 m espessura)
-Resistência à compressão: 0,6 MPa.
localizada imediatamente abaixo da
-E =150 MPa.
base de escavação.
Desempenho
-Resistência à compressão, do solo tratado, superior a 0,6 MPa (em 79% das amostras).
-Módulo de deformabilidade superior ao imposto em apenas 23,5% das amostras.
-Deslocamento máximo em estruturas adjacentes = 11,2 mm (inferior ao limite de 15 mm imposto).

32
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

2.5.7.2. Escavação para a construção de um edifício habitacional em Singapura


A construção de um edifício habitacional em Singapura envolveu a realização de uma laje de Jet
Grout como medida de mitigação dos deslocamentos horizontais das paredes de contenção. No entan-
to, é também referido um estudo experimental, realizado previamente à escavação propriamente dita,
do qual se retiraram conclusões bastante importantes sobre o funcionamento da laje e dos efeitos da
sua execução nas paredes de contenção. Os casos apresentados têm por base um estudo de Wong &
Poh, 2005.
A realização do estudo experimental compreendeu a aplicação de Jet Grout numa área de 6,4 m x 6,75
m, em colunas de 1,8 m de diâmetro e com um comprimento de 9 m. O tratamento consistiu num
pequeno bloco de Jet Grout formado pela intersecção de colunas. O sistema utilizado foi o JET3.
Foi também executada uma parede de contenção com 0,8 m de espessura e 32 m de comprimento.
Foram instalados vários conjuntos de inclinómetros para monitorização do ensaio. A Figura 2.31 apre-
senta uma vista em corte do campo experimental, onde também é apresentada a implantação dos
diversos inclinómetros.

Figura 2.31 - Vista em corte do estudo experimental (adaptado de Wong & Poh, 2005).

As colunas de Jet Grout que compõem a laje, foram executadas faseadamente de forma a garantir o
tempo necessário para o endurecimento da coluna previamente realizada. Foi tido um cuidado extra
com os furos da sonda, para que não ficassem entupidos, garantindo assim a libertação para a superfí-
cie da maioria do solo erodido e impedindo a geração de pressões adicionais no seio da escavação.

33
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Em seguida são apenas apresentadas as conclusões mais relevantes obtidas da análise da instrumenta-
ção no decorrer da execução do tratamento referido.
Durante a execução dos trabalhos, registos obtidos na parede de contenção (inclinómetro I6 da Figura
2.32a) evidenciaram um deslocamento de 10 mm para o exterior da escavação. Por outro lado, o solo
situado no interior da escavação deslocou-se bastante mais. Resultados obtidos a 5,25 m das colunas
de solo tratado (inclinómetro I4 da Figura 2.32a) mostram um deslocamento de 35 mm. No entanto,
esse deslocamento tem tendência a diminuir com o afastamento à parede de contenção (inclinómetros
I2 e I1).

(a) (b)
Figura 2.32 - Estudo experimental (adaptado de Wong & Poh, 2005): a) Efeito da execução do Jet Grouting nos
deslocamentos horizontais do solo; b) deslocamentos horizontais do solo versus distância relativamente ao tra-
tamento.

Na Figura 2.32b constata-se a importância da parede de contenção na redução dos deslocamentos do


solo, provocados pela execução do tratamento de Jet Grouting. O movimento do solo no interior da
escavação é, como é lógico, bastante superior ao verificado atrás da parede de contenção.
Um aspecto muito interessante é apresentado na Figura 2.33a, que representa o diagrama de momentos
flectores na parede de contenção durante a execução do tratamento. A figura atesta que a camada supe-
rior de aterro provocou uma certa restrição impedindo a parede de se deslocar para o solo. A transição
para uma camada mais resistente (junto da base da laje) permitiu uma inflexão na curvatura dos
momentos flectores.
Os máximos momentos negativos variaram (durante a execução das 18 colunas do tratamento) entre
156 kN/m e 195 kN/m, tendo estabilizado, após finalização do tratamento, nos 70 kN/m (Figura
2.33b). Estes valores foram verificados na camada de argila menos resistente.

34
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

(a) (b)
Figura 2.33 - Estudo experimental (adaptado de Wong & Poh, 2005): a) momento flector na parede de conten-
ção, durante a execução do Jet Grouting ; b) momento flector máximo, na parede de contenção, durante a exe-
cução das várias colunas de tratamento.

Relativamente às pressões no solo, verificou-se que apenas existiu um aumento temporário devido à
execução das colunas (cerca de 73 kPa), sendo que após a finalização dos trabalhos a pressão voltou
aos valores iniciais, o que sugere que a realização do tratamento apenas provocou um aumento tempo-
rário e pouco relevante das pressões do solo.
Como forma de inspecção e validação do tratamento foram retiradas amostras das colunas realizadas.
Após ensaios laboratoriais concluiu-se que a utilização de um único conjunto de parâmetros de execu-
ção para realização de colunas em estratos com características distintas não foi a melhor solução. Veri-
ficou-se também que o conjunto de parâmetros inicialmente estabelecido era adequado para a camada
de argila mole mas para o estrato seguinte, mais resistente, (argila lodosa média) foi identificada uma
anomalia relacionada com a mistura deficiente da calda de cimento com o solo. Como solução a
implementar em obra, decidiu-se estabelecer um novo conjunto de parâmetros, para esta camada, com
maior energia de injecção da calda e uma subida mais lenta da vara de injecção.
Após as conclusões retiradas no campo experimental iniciou-se a escavação para a construção do edi-
fício habitacional. A profundidade de escavação é de aproximadamente 12,2 m.
As restrições de deslocamentos impostos pelo dono de obra em relação às estruturas vizinhas (15 mm)
e a elevada espessura das camadas de argilas moles (entre 10 m e 25 m) conduziram à opção por pare-
des moldadas com espessura de 1,2 m e 0,8 m, assim como uma laje de Jet Grout imediatamente abai-
xo da base de escavação.
Pela leitura dos inclinómetros, durante a execução do tratamento, foram verificados deslocamentos da
parede, no sentido oposto ao da escavação, que variaram entre 9,4 mm e 36,4 mm. Para atestar a vali-
dade destes resultados foi realizado um estudo numérico no programa PLAXIS®, apresentado na Figu-
ra 2.34, em que foi simulada a pressão da execução do Jet Grouting, na parede de contenção. Utilizou-
se uma pressão de 43 kPa (máximo aumento das pressões de terra verificado no ensaio experimental).

35
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Figura 2.34 - Malha de elementos finitos utilizada nas análises dos efeitos da execução do Jet Grouting na pare-
de de contenção (adaptado de Wong & Poh, 2005).

A Figura 2.35a apresenta a diferença entre os valores obtidos pela análise no programa de elementos
finitos e os resultados obtidos da leitura de um inclinómetro. A Figura 2.35b contém os deslocamentos
horizontais da parede de contenção no final da escavação (o inclinómero WI3 representa uma parede
de contenção com 1,2 m de espessura e o inclinómero WI10 uma parede de 0,8 m) em que se pode
atestar que os máximos deslocamentos variaram entre 11 mm e 20 mm. Conclui-se que a laje de Jet
Grout foi bastante efectiva no controlo dos deslocamentos durante a escavação. Verifica-se também
que houve reversão dos deslocamentos da parede de contenção desde o momento de execução do tra-
tamento até ao final da escavação. O facto de ter ocorrido, numa fase inicial, deslocamento da parede
de contenção contra o terreno pode ter sido benéfico na medida em que a contra-flecha gerada permi-
tiu uma redução dos deslocamentos máximos obtidos (Figura 2.35b).

(a) (b)
Figura 2.35 - Comparação entre os deslocamentos horizontais obtidos pelo M.E.F. e medidos num inclinómetro
(adaptado de Wong & Poh, 2005): a) após a construção da laje de Jet Grout; b) no fim da escavação.

36
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Os valores de momento flector obtidos na parede, durante a execução do tratamento, dependeram da


sua espessura. No caso da parede de 1,2 m (inclinómetro WI4) os momentos positivos variaram entre
333 e 1043 kN.m/m e os negativos entre -103 e -1005 kN.m/m. Para as paredes de 0,8 m de espessura
estes valores foram em média 30% inferiores. Estes resultados evidenciam, segundo Wong & Poh
(1995) e Poh et al. (1997), que tal como se sabe, as paredes mais espessas atraem mais esforços, e que
a execução do tratamento de Jet Grouting pode provocar esforços significativos. A Figura 2.36 contém
os diagramas de momento flector (obtidos a partir de diversos inclinómetros instalados nas paredes de
contenção da escavação) resultantes da execução do tratamento do solo por Jet Grouting.

Figura 2.36 - Momento flector na parede de contenção, resultantes da execução da técnica Jet Grouting (adapta-
do de Wong & Poh, 2005)

2.6. CUTTER SOIL MIXING (CSM)


2.6.1. INTRODUÇÃO
A técnica de Cutter Soil Mixing (CSM) foi desenvolvida em 2003 pela empresa alemã Bauer Maschi-
nen GmbH, tendo sido o produto da longa experiência, pesquisa e desenvolvimento de técnicas para a
execução de paredes de contenção (Stoetzer et al., 2006).
O sistema CSM difere das técnicas mais antigas (Deep Soil Mixing), nas quais o solo é misturado in
situ através de trados que rodam em torno de eixos verticais. Conforme representa a Figura 2.37, nesta
nova técnica a cabeça de corte é constituída por duas rodas dentadas (fresas) que rodam em sentidos
opostos em torno de um eixo horizontal. O solo é assim fragmentado e posteriormente misturado com
a argamassa introduzida in situ através de um orifício existente no espaço entre as duas rodas. No final
é formado um painel uniforme em que a mistura e a interligação das partículas do solo com a argamas-
sa são factores bastante diferenciadores face aos métodos mais antigos.
As dimensões dos painéis executados estão cingidas às da cabeça de corte utilizada. Assim, a dimen-
são final (espessura e largura) é dependente das dimensões de equipamento utilizado. Conforme ilustra

37
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

a Figura 2.38, podem ser realizados painéis com larguras que variam entre 2,2 m e 2,8 m e espessuras
entre 0,5 m e 1,2 m (Stoetzer et al., 2006).

(a) (b)
Figura 2.37 - Técnica CSM: a) Cabeça de corte; b) baixo refluxo após execução de um painel (Stoetzer et al.,
2006).

A execução de uma parede contínua através deste método requer a união entre diversos painéis. O
princípio normal de execução de um painel é o seguinte:
1) construção de um muro guia para o correcto posicionamento do equipamento de corte;
2) à medida que o equipamento vai sendo introduzido no solo inicia-se o processo de injec-
ção de argamassa e (ou) bentonite, aumentando a fluidificação e promovendo uma melhor
desagregação da matriz do solo; o volume de material injectado é determinado pela velo-
cidade de penetração do equipamento no solo;
3) durante a subida é ajustado o volume ideal de argamassa necessária à formação dos pai-
néis;
4) a parede contínua é formada pela sobreposição de painéis primários e secundários; os
painéis secundários podem ser executados imediatamente após a conclusão dos primários
ou posteriormente, numa altura em que a argamassa já endureceu. A Figura 2.38 ilustra
uma sequência de realização de painéis;
5) para uma maior rigidez das paredes, podem ser introduzidos perfis metálicos logo após a
execução do painel.

38
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Figura 2.38 - Realização de uma parede CSM pela intersecção de painéis primários (P1 e P2) e Secundário (S1)
(adaptado de BAUER Maschinen GmbH, 2005).

Todo o processo de execução é acompanhado em tempo real pelo manobrador do equipamento, tendo
ele o controlo sobre todos os parâmetros que interferem na qualidade final do painel. Assim é possível
alterar durante o processo a quantidade de argamassa introduzida, a velocidade de rotação das rodas
dentadas, o seu sentido de rotação, a velocidade de subida ou descida do equipamento, etc.
O Quadro 2.13 apresenta de uma forma resumida e geral as condições mais favoráveis e desfavoráveis
à execução de painéis com a técnica CSM.
Quadro 2.13 - Condições favoráveis e desfavoráveis à execução de painéis (adaptado de BAUER Maschinen
GmbH, 2005).

Condições favoráveis Condições desfavoráveis


-Solo constituído por uma só
Estrutura do solo -Solo constituído por varias camadas.
camada.
-Solo denso a muito denso com pre-
-Areia, gravilha, argila mole a
Tipo de solo sença de rochas.
média.
Geometria pretendida -Geometria irregular da parede.
-Painéis longos e secções estrei-
-Profundidade dos painéis < 10 m
tas.
Comprimento dos (maior influência de períodos não
-Profundidade dos painéis > 10 m
painéis produtivos)

São expostas, no Quadro 2.14, as principais vantagens e desvantagens da técnica exposta, bem como
as boas práticas de execução e resistências médias alcançáveis.

39
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

Quadro 2.14 - Resumo dos aspectos mais relevantes inerentes ao Cutter Soil Mixing (adaptado de BAUER Mas-
chinen GmbH, 2005).

Cutter Soil Mixing

Vantagens
-O solo existente é utilizado como material de construção.
-Pequena quantidade de material de refluxo (Figura 2.37b).
3
-Elevado rendimento de produção (200 m /dia).
-Com a selecção de rodas dentadas apropriadas consegue-se fragmentar / destruir praticamente
todas os tipos de solos.
-Inexistência de juntas entre painéis.
-Elevado grau de verticalidade e homogeneidade dos painéis.
-Podem obter-se profundidades de tratamento da ordem dos 55 m.
Desvantagens
-Equipamento demasiado recente, inexistência de experiência de construção em algumas empre-
sas.
-Custo de execução.
Boas práticas de execução
-Durante a penetração do equipamento no solo, a rotação preferencial dos discos é do interior
para o exterior.
-A velocidade de descida do equipamento deve situar-se entre os 10 e 60 cm/ min.
Resistências alcançadas
-Resistência à compressão: entre 5 a 15 MPa.
3
-Quantidade de cimento adicionada: entre 200 a 450 kg/m de Solo.

Não é apresentado qualquer caso prático de aplicação da técnica CSM no âmbito aqui tratado, preci-
samente pelo facto de ser um método recente. No entanto, no Quadro 2.15 são divulgados dois casos
de obra em que a técnica CSM foi empregue na realização das paredes de contenção. A explanação
demonstra especial enfoque nos parâmetros de solo tratado.

2.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Após uma abordagem de algumas técnicas de melhoramento das propriedades do solo, são apresenta-
das as conclusões mais relevantes para que assim se consiga comparar de uma forma mais eficaz as
vantagens, desvantagens e a adequabilidade de cada técnica.
Relativamente aos painéis transversais de betão:
• trata-se da abertura de valas com equipamento de paredes moldadas e, posterior betona-
gem até à cota pretendida. Realização de painéis, limitados à dimensão do equipamento
utilizado (balde de maxilas), que por norma varia entre 60 cm a 80 cm de largura e 2,5 m
de comprimento;
• é apenas executável em solos de fácil desmonte;
• tendo como fim a redução dos deslocamentos horizontais das paredes longitudinais de
contenção, concluiu-se que o resultado final depende essencialmente da ligação entre os
diversos painéis. Devido ao modo de execução existe, geralmente, grande dificuldade em
garantir uma boa ligação entre os diversos painéis primários e secundários;

40
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

• as propriedades dos painéis são bastante elevadas, uma vez que dependem apenas da qua-
lidade da argamassa;
• os painéis são a única geometria executável, obtendo-se sempre bons resultados no que
concerne às propriedades dos septos (dependem essencialmente da resistência do betão
utilizado).
O Deep Soil Mixing permite uma mistura do solo com aglutinantes, através de um ou mais trados ver-
ticais. Em seguida apresentam-se os pontos mais relevantes desta técnica:
• é comum a utilização de cimento e cal (em iguais proporções) como aglutinantes no tra-
tamento de solos argilosos moles, garantindo-se melhorias entre 10% e 30% das proprie-
dades finais do solo (nos países orientais este valor é superior, fruto do maior desenvol-
vimento da técnica);
• tratamento executado sob a forma de colunas, sendo que por isso as dimensões obtidas
estão cingidas às do trado (na Europa o diâmetro varia entre 0,5 m e 1,2 m e profundida-
des máximas da ordem dos 25 m). Contudo, existe a possibilidade de conjugar a intersec-
ção das colunas obtendo-se geometrias de tratamento bastante diversas (painéis, lajes,
malhas, etc);
• propriedades do material tratado dependem muito do solo no qual se executa o tratamen-
to. Em solos coesivos é comum obterem-se valores entre 0,2 MPa e 2 MPa.
O Compaction Grouting é uma técnica principalmente utilizada nos países orientais. As principais
conclusões são:
• o método de tratamento consiste na introdução de argamassa pouco fluida, a elevada
pressão, no interior do solo a tratar. O resultado final consiste na formação de bolbos que
ocupam volume, compactando o solo envolvente e por isso aumentando a sua resistência
e compacidade;
• método torna-se inadequado para solos demasiado consistentes (dificuldade de expansão
do volume de argamassa injectado) e para solos argilosos muito moles, pois a curto prazo,
com a dissipação dos excessos de pressões neutras gerados, o solo volta às condições ini-
ciais revelando-se assim o tratamento pouco proveitoso;
• o tratamento por Compaction Grouting consiste na sobreposição de bolbos ao longo de
um eixo vertical (vara de injecção da argamassa). A melhoria de propriedades do solo, de
uma determinada área, depende da distância entre colunas de bolbos, do seu volume e do
deslocamento que imprimem ao solo.
O Jet Grouting é uma técnica de mistura do solo com calda de cimento, injectada a alta pressão atra-
vés de bicos situados na base de uma vara.
• Método que tem vindo a ser bastante aperfeiçoado desde a sua origem, existindo já um
vasto conjunto de sistemas que permitem uma desagregação da matriz do solo e mistura
deste com calda, garantindo a execução de colunas de maior diâmetro (5 m no caso do
Super Jet Grouting) e melhores propriedades.
• Possibilidade de executar tratamento ao longo de estratos com diferentes características,
desde que se estabeleçam cuidadosamente os parâmetros de operação mais adequados.
• É comum registar-se uma grande dispersão das características do solo tratado, sendo que
os piores valores são obtidos na intersecção entre colunas.

41
O uso de Técnicas de Jet-Grouting ou similares em escavações em solos argilosos moles

• Possibilidade de realização de diferentes tratamentos, desde colunas, painéis ou lajes. As


resistências alcançadas dependem do solo e do sistema utilizado. De um modo geral, para
solos argilosos, a resistência à compressão situa-se entre 0,5 MPa e 3,5 MPa, ou seja, é
obtido um valor intermédio entre o método Deep Soil Mixing e Cutter Soil Mixing.
• Por ser um tratamento baseado na injecção de aglutinantes a alta pressão no interior do
solo, foram identificados junto das paredes de contenção, em diversos casos práticos,
desenvolvimentos de esforços de momento flector bastante relevantes (e por vezes até
condicionantes).
• É também apontado, por diversos autores, o desenvolvimento de pressões excessivas no
interior da escavação e consequente deslocamento do solo à superfície, como resultado do
entupimento do buraco de furação por onde deve ser expelido o material de refluxo.
O Cutter Soil Mixing é a mais recente novidade no que toca ao melhoramento das características do
solo. Os principais destaques são:
• técnica com algumas semelhanças com o Deep Soil Mixing, distinguindo-se pela melhor
capacidade de fragmentação do solo e mistura com o calda de cimento injectada. As duas
cabeças de corte permitem uma aplicabilidade a quase todos os tipos de solos e possibili-
tam a obtenção de painéis bastante homogéneos;
• apenas são possíveis de realizar painéis / paredes, uma vez que a geometria está circuns-
crita às dimensões da cabeça de corte;
• a formação de uma parede contínua é o resultado da ligação entre painéis primários e
secundários, possível pela sobreposição possível de realizar. A boa ligação entre os diver-
sos painéis é um factor positivamente diferenciador das restantes técnicas;
• fruto da elevada homogeneidade dos painéis finais, são alcançáveis as maiores resistên-
cias, comparativamente com as restantes técnicas de mistura solo-cimento apresentadas.
Para solos argilosos a resistência à compressão situa-se entre os 5 MPa e 15 MPa.

2.8. QUADRO RESUMO


Apresenta-se de seguida um resumo, sob a forma de quadro (Quadro 2.15), da pesquisa do tratamento
de solo argiloso inserido no âmbito aqui apresentado. No quadro descreve-se os autores, o local da
intervenção, as características da cortina, do tratamento efectuado , resistências alcançadas e, por últi-
mo, os resultados alcançados. Os diversos casos de obra apresentados encontram-se organizados por
técnica de tratamento.

42
Capítulo 2 – Técnicas de melhoramento de solos para a realização de escavações profundas

Quadro 2.15 - Resumo de escavações que recorreram ao tratamento prévio do solo

Cortina Tratamento Prop. Solo tratado


Condiçõe Resist. máx (% máx (%
Autores Local Obra hmédio Comp. Contínuo Situação em corte E c įh įv
Tipo Espes. (m) s Tipo Comp. ) )
(m) Long.? trans. (MPa) (kPa) h h
do pé (MPa)
Não Abaixo base
Karlsrud, K. Túnel Parede Parede transversal 0,3 0,45
Oslo 15,5 1 21 apoiado (espaçamento: de escavação - - -
(1975) Studenterlunden moldada de betão (obra) (obra)
4,5m) (4,5 m)
Não Abaixo base
Karlsrud, K. et Lilla Bommen Parede Parede transversal 0,08 a 0,18 0,06
Gothenburg 17 0,8 20 apoiado (espaçamento: de escavação
al. (2005) tunnel moldada de betão (obra) (obra)
4,5m) (de 4 a 7,5 m)
Acima e abaixo
Hu, Z. F. et al Parede da 0,12 0,06
Shangai Estação Xin Zha 12,5 0,8 23 Livre Deep Soil Mixing Sim - 100 250
(2003) moldada base de (obra) (obra)
escavação
O' Rourke, T. Acima e abaixo
Parede 0,86 Deep Soil Mixing
D. Artéria central e da 1,1 1
Boston 15 Deep Soil (diâmetro do 20 Livre e Não - - -
e O' Donnell C. Tunel (CA/T) base de (obra) (obra)
Mixing trado) Jet Grouting
J. (1997) escavação
Acima e abaixo
Ou, C. Y. et al Song-San Parede Deep Soil Mixing da 0,4 0,37
Taipé 9,3 0,6 21 apoiado Não 2 19 34-46
(2007) excavation moldada (colunas) base de (obra) (calculado)
escavação
Deep Soil Mixing Não. Acima e abaixo
Ou, C. Y. et al Kon-Her Parede (colunas) - Colunas da 0,63
Taipé 12,75 0,6 26 apoiado 2 - - -
(1996) Building moldada aglutinante:calda realizadas até 8 base de (obra)
cimento. m da parede escavação
Acima e abaixo
Liu, G. B. et al Estação Road Parede Compaction da 0,12 a 0,22 0,05 a 0,08
Shangai 16,5 0,6 28 a 34 apoiado Sim - - -
(2005) Yishan moldada Grouting base de (obra) (obra)
escavação
Ho, C. E. et al The Singapore 12 a Parede Jet Grouting Abaixo da base 0,08
Singapura 08 - 1,2 - - Sim > 0,6 150 - -
(2005) Post Center 15,5 moldada (laje) de escavação (obra)
Matos
Fernandes, M.
Parede Jet Grouting Abaixo da base 0,1
e Almeida e Lisboa Cais do Sodré 16,5 1 28,5 apoiado Sim 4 1000 - -
moldada (laje) de escavação (Calculado)
Sousa, J.
(2003)

Ho, C. E. e Hu, Estudo para a realização de Parede Jet Grouting Abaixo da base
14,5 - 33 Livre Sim 150 300 - -
S.(2006) um bloco e laje de jet grouting. moldada (laje e bloco) de escavação

Acima e abaixo
Ou, C. Y. et al Parede Jet Grouting da 0,15
Escavação hipotética 12 0,6 24 Livre Não 1 - - -
(1996) moldada (Colunas) base de (calculado)
escavação
Burke, G. K. et Atlantic City Estacas Abaixo da base
New Jersey 7 - - apoiado Super Jet Grouting Sim 2,8 - - - - -
al(2000) tunnel secantes de escavação
0,6x2,4 Resist. Compressão: >
Excavation for
Lopez, R. A. et Parede (sobreposição 1,38 (solo argiloso)
Seattle "The Elliott 8 17 apoiado - - - - -
al (2009) CSM entre paineis: Permeabilidade entre
Avenue project" -6 -8
0,15 m) 1x10 e 8x10
0,6x2,4
Parque de
Geo Rumo Parede (sobreposição
Lagos estacionamento 6 12 livre - - - 9 8300 - - -
(2009) CSM entre paineis:
subterrâneo
0,15 m)

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