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Avaliação de Impactos Ambientais Provocados Pela Mineração Do Mármore em Ourolândia Bahia

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XI CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DE POÇOS DE

CALDAS

21 A 23 DE MAIO DE 2014 – POÇOS DE CALDAS – MINAS GERAIS

IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA MINERAÇÃO DO MÁRMORE EM


OUROLÂNDIA BAHIA

Elismar Santos de Almeida(1), Elisama Santos de Almeida(2) e Marcus Vinicius Silva Santos(3)

(1)
Discente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia; Avenida Nazaré, bairro Centenário
s/n, Jacobina, Bahia; lisaalmeida10@gmail.com
(2)
Discente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia; Avenida Nazaré, bairro Centenário
s/n, Jacobina, Bahia; elisamasantosalmeida@gmail.com
(3)
Professor Esp. do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia; Avenida Nazaré, bairro
Centenário s/n, Jacobina, Bahia; marcusvinicius.ifba@yahoo.com.br

RESUMO – O município de Ourolândia-BA está localizado a 390 km de Salvador, e


tem na mineração do mármore forte gerador de renda e emprego. A reserva de
mármore Bege Branco no município está relacionada ao intervalo geológico da
Formação Caatinga. O mármore Bege Bahia é explorado através de lavra
semimecanizada e mecanizada, sendo utilizado como rocha ornamental,
revestimentos de pisos, esculturas e obras de arte. O objetivo deste trabalho foi
identificar os principais impactos ambientais provocados pela exploração do
mármore em Ourolândia, Bahia, através de visitações, entrevistas com populares,
trabalhadores, empresários e levantamentos bibliográficos. Os resultados apontam
impactos visuais, de fauna e flora, gerações de ruídos, vibrações, e degradação de
cavernas que compõem sítios arqueológicos. As empresas exploradoras estão
passando por processo de licenciamento ambiental, e, embora estejam investindo
em equipamentos mais eficientes que minimizem os riscos aos trabalhadores e
impactos ambientais, nota-se a ausência de medidas reparatórias aos problemas
ambientais já causados.

Palavras-chave: Mármore. Ourolândia., Impactos Ambientais. Meio Ambiente.

Introdução

O município de Ourolândia-BA está localizado a 390 km da capital Salvador,


às margens da BR 324. Sua população estimada é de 16.279 habitantes e PIB de
R$ 5.947,12 (IBGE, 2010). A principal atividade econômica do município é a
mineração, responsável por cerca de 40% do seu PIB e pela geração de quase 700
empregos diretos. As primeiras jazidas começaram a ser exploradas no início dos
anos 60, quando o município ainda pertencia a Jacobina-BA. Neste período não
havia preocupação com o Meio Ambiente em praticamente nenhum setor da
economia brasileira, sendo esta iniciada apenas nos anos 70. (IBRAM, 1992).
A rocha ornamental comercialmente conhecida como mármore Bege Bahia, é
uma variedade do calcrete ou travertino da Formação Caatinga – brechas calcíferas,
com seixos de calcário cinza-escuro e calcrete-travertino (RIBEIRO, 2002). Segundo
Penha (1994), o travertino é constituído por uma matriz micrítica, com
neomorfização parcial para microespato ou pseudo-espato, às vezes substituído por
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dolomita, sílica ou ambas. O Bege Bahia é apreciado como rocha ornamental,


material de revestimento, e pisos em áreas internas. É possível encontrar sua
aplicação em esculturas e objetos de arte.
Ourolândia é um importante polo de extração do mármore Bege Bahia, tanto
em termos de produção bruta quanto nos aspectos econômicos. Possui 66
empresas de desdobramento, dentre as quais, 29 exploram mármore em pedreiras.
A produção total do mármore fica em média em 1.500 m³ mensais. O potencial de
exploração do mármore Bege Bahia em Ourolândia está relacionado a um intervalo
geológico da Formação Caatinga, com espessura variável entre dez e trinta metros
(PENHA, 1994). A figura 1 mostra alguns locais onde ocorre exploração do mármore
em Ourolândia-BA.

Figura 1 – Exploração do mármore Bege Bahia no município de Ourolândia-Ba.

A lavra do mármore ocorre de duas maneiras em Ourolândia:


semimecanizada e mecanizada (figura 1). Cerca de 20 minas a céu aberto realizam
lavra semimecanizada no complexo extrator, com auxílios de guincho de arraste e
pá carregadeira, içando os blocos através do pau de carga simples, que utiliza fio
diamantado em troca dos antigos fios helicoidais. O método da lavra mecanizada é o
predominante em Ourolândia, permitindo redução da quantidade necessária de
explosivos em comparação ao método de lavra semimecanizada. Com este tipo de
lavra, a produção do mármore é superior a 350 m 3 mensais.

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Figura 1 – Lavra semimecanizada (esquerda) e mecanizada (direita) em Ourolândia-BA.

Não foram feitos estudos geológicos para início da exploração de mármore


em Ourolândia, mesmo a região possuindo cavernas em mais de 50 sítios
arqueológicos às margens do rio Salitre (SANTANA, et al. 2012). A mais famosa
caverna é O Complexo da Toca dos Ossos, onde foi encontrado o fóssil de uma
preguiça gigante do gênero Eremotherium, em 1982. A abertura de estradas, a
supressão da vegetação e remoção do solo eram feitas sem nenhum planejamento
de reabilitação do meio ambiente, tampouco plano de fechamento das cavas. As
lavras operavam de maneira rudimentar com larga utilização de explosivos.
O objetivo deste trabalho foi identificar os principais impactos ambientais
provocados pela exploração do mármore no município de Ourolândia, Bahia.

Material e Métodos

Foram realizados levantamentos bibliográficos, visitas in loco e entrevistas


com populares, proprietários e trabalhadores das minas do complexo extrator do
mármore Bege Bahia em Ourolândia-BA. As visitas ocorreram em oito minas
extratoras e em cinco empresas de beneficiamento.

Resultados e Discussão

Como toda atividade de exploração mineral, a extração de blocos de rochas


ornamentais é uma atividade altamente impactante. A abertura de estradas, a
supressão de vegetação e remoção do solo, a utilização de explosivos no processo
de lavra, o desperdício de rocha na retirada de um bloco comercial, o tráfego intenso
de veículos pesados dentro de povoados e centro urbano, são problemas
comumente associados aos processos de mineração. Nas entrevistas e visitas às
mineradoras, foram identificados impactos visuais, de fauna e flora, de solo,
vibrações e ruídos.
Os impactos visuais identificados relacionam-se a lavra a céu aberto em cavas
e encostas. Em Ourolândia, os impactos visuais são oriundos da extração e dos
rejeitos abandonados nas as cavas. Nas lavras rudimentares, o impacto tem maiores

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proporções, por conta da dificuldade de remoção do rejeito.


A supressão vegetal é o primeiro passo para a abertura das frentes de lavra e
abertura de estradas. A vegetação precisa ser retirada, provocando redução de
extensão da mata nativa e perca da qualidade ambiental, afastando animais,
interferindo nas relações fauna e flora e promovendo redução da biodiversidade. A
remoção do solo é o segundo passo para a abertura das frentes de lavra, causando
perca da qualidade, erosão e voçorocas. Durante a lavra há abertura de crateras
que dificultam a possibilidade de reflorestamento.
O trafego dos veículos pesados utilizados no transporte dos blocos provoca a
compactação dos solos, abalo das cavernas, morte de animais, poluição sonora e
levantamento de poeira, por vezes perigosas para a saúde dos trabalhadores. Os
equipamentos utilizados dentro das unidades de lavra poluem o solo pelo
derramamento de óleos e graxas, além de provocar vibração e ruídos que afetam os
trabalhadores. O martelo pneumático utilizado na lavra produz excesso de ruídos e
vibrações que afetam a saúde do trabalhador. Em maio de 2010 o trabalhador G.J.
desenvolveu a doença do marteleiro após trabalhar por mais de 20 anos na
mineração do mármore, falecendo devido a complicações respiratórias. O laudo
médico apontou ser a silicose a causa do óbito.
Uma realidade preocupante constatada foi a destruição do patrimônio
arqueológico em decorrência da mineração de rochas, que se encontra em estado
avançado. Segundo Santana et al. (2012), os sítios inseridos no município de
Ourolândia se apresentam em estado delicado de conservação devido a atividade
mineradora.
A falta de preocupação com o Meio Ambiente no início da exploração do
mármore, deixou um legado de destruição que dificilmente será revertido ou
compensado. Devido à falta de fiscalização por órgãos competentes, a atividade
mineradora em Ourolândia continua ocorrendo, mesmo sem a devida Licença de
Operação pertinente ao funcionamento. Desta forma, os impactos ambientais
continuam ocorrendo. Como ainda não houve planejamento ambiental nas
empresas, não existe um Plano de fechamento de lavra. Desta forma, as cavas
abertas são abandonadas após o período de exploração.
Atualmente, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMA), órgão ambiental
responsável pelo licenciamento das empresas, cobra regularização para o
funcionamento das atividades no município. Das 66 empresas em funcionamento,
somente 21 possuem licença para funcionar, sendo que 07 delas foram licenciadas
pelo IBAMA, e 14 foram licenciadas pela SMA. Das empresas licenciadas, somente
03 são de lavra.

Conclusão

Os impactos ambientais identificados estão relacionados ao início de


exploração do mármore de forma descontrolada, afetando principalmente a fauna,
flora, solo, a paisagem e sítios arqueológicos. Nota-se uma tendência na atividade
mineradora no município de Ourolândia, a qual vem passando lentamente por

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mudanças, aumentando a preocupação com segurança ao trabalhador.


Equipamentos mais tecnológicos estão sendo introduzidos, como exemplo da
utilização da broca fundo-furo em substituição aos explosivos. Dessa forma, espera-
se que ocorra uma minimização dos impactos ambientais futuros. Atualmente, todas
as empresas estão passando por processos de Licenciamento Ambiental e a
Associação dos Produtores de Mármore Bege Bahia – ASSOBEGE está à frente na
busca pelo licenciamento das empresas associadas.
Apesar desta perspectiva, os impactos da mineração em Ourolândia ainda
são significativos. A lavra ainda apresenta um alto potencial de impacto. Toda a
degradação causada durante os anos anteriores não está sendo compensada, bem
como os sítios arqueológicos permanecem sem a devida proteção.

Referências

BARBOSA, A. Pinturas Rupestres da Serra do Tombador - Jacobina - Bahia. 2011.


Disponível em: <http://geografiadopiemonte.blogspot.com.br/2011/05/artigo-sobre-pinturas-
rupestres-da.html> Acesso em: 16 de out 2013.

IBGE. Pesquisa de saneamento básico. 2010. Disponível em: <http://


www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf>.
Acesso em: 12 dez 2013.

IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração. Mineração e meio ambiente. Brasília-Brasil:


1992. p. 1-126.

PENHA, A. E. P. O calcário caatinga de Ourolândia, Bahia: feições diagnósticas, gênese e


evolução de um perfil calcrete. 1994. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Universidade
Federal da Bahia, Salvador. 1994

RIBEIRO, A. F. Mármore Bege Bahia em Ourolândia-Mirangaba-Jacobina, Bahia: grologia,


potencialidades e desenvolvimento sustentavel/ Adalberto de Figueredo Ribeiro e Outros. -
Salvador: CBPM, 2002. 52 p.: mapa. (série arquivos abertos:17)

SANTANA, C. C. S., SILVA, G. O., VIEIA, N. S., SANTANA, M. A., SANTANA, H. A.


Desafios para a gestão e conservação de sítios rupestres em áreas de extração de rochas
ornamentais na Bahia. Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da
UEPB. Paraíba. Vol. 1, n. 5. Set/out. 2012.

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