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Celia Maria

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FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO

Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho


Mestrado em Administração Pública – Gestão da Informação

ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃO


UTILIZADAS NO GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS:
estudo no Comitê de Bacia Hidrográfica do rio das Velhas

Célia Maria Brandão Fróes

Belo Horizonte
2009
Célia Maria Brandão Fróes

ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃO


UTILIZADAS NO GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS:
estudo no Comitê de Bacia Hidrográfica do rio das Velhas

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação do


Mestrado em Administração Pública, da Escola de Governo
Paulo Neves de Carvalho, da Fundação João Pinheiro, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Administração Pública.

Área de Concentração: Gestão da Informação

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Ronan Oleto


Co-orientador: Prof. Dr. Leonardo Mitre Alvim de Castro

Belo Horizonte
2009
FICHA CATALOGRÁFICA

Fróes, Célia Maria Brandão


F926a Análise das práticas de gerenciamento da informação utilizadas no
gerenciamento de recursos hídricos: estudo no Comitê de Bacia Hidrográfica
do Rio das Velhas / Célia Maria Brandão Fróes. - Belo Horizonte, 2009.
123 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Ronan Oleto


Co-orientador: Prof. Dr. Leonardo Mitre Alvim de Castro
Dissertação (Mestrado) – Fundação João Pinheiro – Escola de Governo
Paulo Neves de Carvalho. Programa de Pós-Graduação em Administração
Pública.

1. Gerenciamento da informação. 2. Administração estratégica. 3. Bacias


hidrográficas – Minas Gerais. I. Oleto, Ronaldo Ronan. II. Castro, Leonardo Mitre
Alvim de. III. Fundação João Pinheiro. Escola de Governo Paulo Neves de
Carvalho. Programa de Pós-Graduação em Administração Pública. IV. Título.

CDU: 658.012.2

Bibliotecária: Erica Fruk Guelfi – CRB/ 6-2068


Para Tadeu, pelo incentivo, carinho e compreensão pelas minhas ausências.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre do meu lado em todos os momentos da minha vida.

À minha mãe, ao meu pai (in memoriam), às minhas irmãs e ao meu irmão, que
sempre incentivaram todos os meus estudos e por compreender a importância dessa
etapa em minha vida.

Ao Adilson, meu grande e sempre incentivador para novas conquistas, por tudo que
me ensinou.

Ao professor Dr. Ronaldo Ronan Oleto, meu orientador, sempre presente e


comprometido com o trabalho e pela paciência para transmitir seus ensinamentos.
Obrigada por confiar e acreditar que eu conseguiria vencer mais este desafio.

Ao Dr. Leonardo Mitre Alvim de Castro, meu co-orientador, pela amizade e


dedicação. Meu sincero agradecimento.

Aos meus colegas do Mestrado, em especial ao Armando, meu inseparável parceiro


de trabalhos acadêmicos, à Norma, pelas caronas e pela amizade e às colegas
Raissa e Kamila pela convivência maravilhosa neste período.

Á Conceição, minha colega e companheira incansável, pelo apoio e incentivo nos


momentos difíceis. Valeu muito te conhecer.

Aos funcionários do Mestrado e da secretaria de ensino da Escola de Governo Paulo


Neves de Carvalho da FJP, sempre dispostos a atender com presteza e educação a
todos.
Aos professores do Mestrado, em especial aos da área de concentração em Gestão
da Informação, Elisa e Simone, pela troca de experiências em sala de aula e por me
mostrarem de forma tão clara como posso fazer a diferença.

A todos os entrevistados, que participaram das reuniões dos grupos de foco, pela
disponibilidade e pela valiosa contribuição à pesquisa.

Ao IGAM, por me liberar nos horários de aula e por viabilizar financeiramente esta
pesquisa.

Aos colegas do IGAM, em especial à turma da Gerência de Planejamento de


Recursos Hídricos, pelo apoio e por compreenderem minhas ausências.

À colega do IGAM, Joselaine Filgueiras, pela disposição e desprendimento em


participar como observadora das reuniões dos grupos de foco, muito obrigada, pela
força neste momento.

À colega do IGAM, Ângela, pela disposição e presteza na disponibilização dos


mapas, muito obrigada.

Aos amigos Alberto Simon, Iude, Luiza de Marillac e Malu, pela sincera amizade e
pelo incentivo para que eu buscasse vencer mais esta etapa em minha vida.

Aos que fazem parte da minha vida, pois mesmo que indiretamente, sempre
contribuíram para o meu sucesso.
O rio nasce toda a vida.
Dá-se ao mar a alma vivida.
A água amadurecida, a face ida.
O rio sempre renasce.
A morte é vida.

(Guimarães Rosa)
RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo analisar as práticas formais do


gerenciamento da informação utilizadas pelos membros do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH-Velhas) no gerenciamento de recursos
hídricos. Foi escolhido como estudo de caso o CBH-Velhas por ser um dos primeiros
Comitês, criado no Estado de Minas Gerais, com maior tempo de atuação e melhor
estruturado. As fontes de coleta de dados foram o acervo documental do Comitê e
entrevistas com três grupos de foco, composto por 5 a 8 membros, organizados
conforme o segmento que eles representam no comitê. A pesquisa analisou se os
membros do CBH-Velhas utilizam as práticas formais do gerenciamento da
informação no gerenciamento de recursos hídricos, adotando como referencial
teórico o modelo de gerenciamento de informação proposto por Davenport (1998),
referentes aos passos 1 (determinação das exigências da informação) e 4 (uso da
informação). Foi usado como base para formulação das variáveis pesquisadas, o
conteúdo mínimo exigido na legislação, para elaboração do Plano Diretor de
Recursos Hídricos. Foram apresentadas 10 perguntas sobre a determinação da
exigência da informação, usando o Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia
hidrográfica do rio das Velhas como referência e as mesmas 10 questões foram
repetidas, mas com o foco no uso da informação. Todas as perguntas foram
respondidas considerando a sua importância em uma escala de 0 a 10, com
justificativa para cada resposta. Os resultados mostraram que os membros utilizam
poucas as práticas formais de gerenciamento da informação, no gerenciamento de
recursos hídricos, e que eles ainda não se apropriaram das informações constantes
no Plano nas tomadas de decisão. Consideram que são importantes, mas têm
dificuldades ao utilizá-las como suporte para o gerenciamento dos recursos hídricos
da bacia do rio das Velhas.

Palavras-chave: Gerenciamento da informação. Gerenciamento de recursos


hídricos. Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.
ABSTRACT

This study aimed to examine the practices formal of management information used
by members of the Velhas river Basin Committee (CBH-Velhas) in the management
of water resources. The CBH-Velhas was chosen as a study case due to fact it of the
Watershed Committee of the to be one of the first Committees, established in the
State of Minas Gerais, with more time for action and better structured. The sources of
data collection were the documentary collection of the Committee and interviews with
three focus groups, composed of 5 to 8 members, organized as the segment they
represent the committee. The research examined whether members of the CBH-
Velhas practice formal of using management information in the management of water
resources, adopting as reference the theoretical model proposed by management
information Davenport (1998), referring to steps 1 (determination of the requirements
of information ) and 4 (use of information). Was used as a basis for formulation of the
variables studied, the minimum required by law, for preparing the Master Plan of
Water Resources. 10 questions were presented on determining the information
requirement, using the Master Plan of Water Resources of the river basin as the old
reference and the same 10 questions were repeated but with the focus on the use of
information. All questions were answered considering its importance on a scale from
0 to 10, with justification for each answer. The results showed that members use the
bit of information management practices formal in the management of water
resources, and they have not yet appropriated the information contained in the Plan
in decision making. Consider that are important but are difficult to use them as
support for the management of water resources in river basin Velhas.

Key words: Information management. Management of water resources. Velhas river


Basin Committee.
LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Mapa situação dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado de


Minas Gerais ............................................................................................................. 23
FIGURA 2 – Tarefas do processo de gerenciamento da informação (modelo de
McGee e Prusak) ...................................................................................................... 37
FIGURA 3 – Modelo de representação do fluxo da informação nas organizações,
segundo Beal ............................................................................................................ 39
FIGURA 4 – Modelo processual de administração da informação, segundo Choo ... 41
FIGURA 5 – Mapa da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas ..................................... 59
FIGURA 6 – O processo de gerenciamento da informação segundo Davenport ...... 65

QUADRO 1 – Representantes do CBH-Velhas – gestão 2007/2009 ........................ 63


QUADRO 2 – Critério para pontuação na escala de 0 a 10, para as perguntas
apresentadas aos grupos de foco ............................................................................. 85
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Relação entre a área de cada trecho da Bacia Hidrográfica do rio das
Velhas e a sua população total ................................................................................. 60
TABELA 2 – Resultados para a determinação das exigências da informação –
passo 1 ...................................................................................................................... 85
TABELA 3 – Resultados para o uso da informação – passo 4 .................................. 91
TABELA 4 – Resultados do Grupo 1 (usuários de água) .......................................... 98
TABELA 5 – Resultados do Grupo 2 (poder público) .............................................. 100
TABELA 6 – Resultados do Grupo 3 (sociedade civil) ............................................ 101
LISTA DE SIGLAS

ABES − Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e


Ambiental
ABG-Peixe-Vivo − Associação Executiva de Apoio á Gestão de Bacias
Hidrográficas Peixe Vivo
ANA − Agência Nacional de Águas
ANVISA − Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BDMG − Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
CBH − Comitê de Bacia Hidrográfica
CBH-Velhas − Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas
CEEIBH/MG − Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias
Hidrográficas de Minas Gerais
CEMIG − Companhia Energética de Minas Gerais
CERH/MG − Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CETEC − Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais
CGFAI − Comitê Gestor de Fiscalização Ambiental Integrada
CODEVASF − Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco e Parnaíba
COPASA − Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais
CTIL − Câmara Técnica de Assuntos Institucionais e Legais
CTOC − Câmara Técnica de Outorga e Cobrança
CTPC − Câmara Técnica de Planejamento, Projetos e Controle
DAE/MG − Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de
Minas Gerais
DMFA − Diretoria de Monitoramento e Fiscalização Ambiental
DNAEE − Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
DNPM − Departamento Nacional de Produção Mineral
DRH/MG − Departamento de Recursos Hídricos do Estado de
Minas Gerais
ECO/92 − Conferência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável
EMATER − Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
FAEMG − Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais
FEAM − Fundação Estadual de Meio Ambiente
FHIDRO − Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento
Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de
Minas Gerais
IBAMA − Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Renováveis
IEF − Instituto Estadual de Florestas
IGAM − Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IMA − Instituto Mineiro de Agropecuária
MMA − Ministério de Meio Ambiente
MME − Ministério de Minas e Energia
OGE − Ouvidoria Geral do Estado
PERH − Política Estadual de Recursos Hídricos
PIB − Produto Interno Bruto
PMMG − Polícia Militar de Meio Ambiente e Trânsito
PROSAM − Programa de Saneamento Ambiental das Bacias dos
Rios Arrudas e Onça
SAAE − Serviço de Água e Esgoto
SEAP − Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca
SEAPA − Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
SEDRU − Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e
Política Urbana
SEGRH − Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos
SEIRH − Sistema Estadual de Informações de Recursos Hídricos
SEMAD − Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável
SIAM − Sistema Integrado de Meio Ambiente
SISEMA − Sistema Estadual de Meio Ambiente
SRH − Secretaria de Recursos Hídricos
SUPRAM − Superintendência Regional de Meio Ambiente
TDR − Termo de Referência
UT − Unidade Técnica Executiva Interinstitucional
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

1.1 Tema ............................................................................................................................ 20

1.2 Delimitação do tema ................................................................................................. 22

1.3 Justificativa ................................................................................................................ 27

1.4 Objetivo geral ............................................................................................................. 32

1.5 Problema .................................................................................................................... 33

1.6 Hipótese ...................................................................................................................... 34

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 36

2.1 O gerenciamento da informação ............................................................................. 36

2.2 Gestão e gerenciamento de recursos hídricos ..................................................... 43

2.3 Modelos de gerenciamento de Recursos Hídricos ............................................... 45

2.4 O gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil ............................................... 49

2.5 O gerenciamento de Recursos Hídricos em Minas Gerais .................................. 51

2.6 Os comitês de Bacia Hidrográfica ........................................................................... 57

2.6.1 O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas .......................................... 59

2.7 Processo de gerenciamento da informação proposto por Davenport (1998)... 64

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 70

4 RESULTADOS E ANÁLISE................................................................................... 74

4.1 Coleta de dados ......................................................................................................... 74

4.2 Análise e discussão dos resultados ....................................................................... 76

4.2.1 Contextualização das respostas às perguntas genéricas................................. 79


4.2.1.1 Grupo 1 – Representantes dos usuários de água .................................... 79

4.2.1.2 Grupo 2 – Representantes do poder público ............................................ 81

4.2.1.3 Grupo 3 – Representantes da sociedade civil .......................................... 83

4.2.2 Análise das respostas às perguntas específicas .............................................. 84

4.2.2.1 Análise dos resultados apresentados na TAB. 2 ..................................... 85

4.2.2.1.1 Análise dos resultados dos três grupos ...................................................... 86

4.2.2.1.2 Análise dos resultados por grupo ............................................................... 89

4.2.2.2 Análise dos resultados apresentados na TAB. 3 ..................................... 91

4.2.2.2.1 Análise dos resultados dos três grupos ...................................................... 92

4.2.2.2.2 Análise dos resultados por grupo ............................................................... 97

4.2.2.3 Análise dor resultados apresentados na TAB. 4 ...................................... 98

4.2.2.4 Análise dos resultados apresentados na TAB. 5 ................................... 100

4.2.2.5 Análise dos resultados apresentados na TAB. 6 ................................... 101

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 103

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 110

APÊNDICES

APÊNDICE A – Carta convite........................................................................................ 115

APÊNDICE B – Roteiro de entrevista dos grupos de foco................................. 117


15

1 INTRODUÇÃO

A necessidade, cada vez maior, de se obter água em quantidade e qualidade


para os diversos usos exige planejamento e gerenciamento1 adequado dos recursos
hídricos. Assim, a gestão2 dos recursos hídricos torna-se fator de importância
estratégica para o desenvolvimento econômico sustentável de uma região. O grande
desafio, porém, é promover uma gestão que compreenda, em todo o seu arcabouço,
a participação efetiva de todos os interessados nesta questão – poder público,
usuários e sociedade civil organizada.
Neste contexto a criação de um novo modelo de gestão de recursos hídricos
para atender aos anseios da sociedade surge como resultado de uma confluência de
processos – a evolução de aspectos jurídicos e institucionais, além dos debates
sobre o assunto em décadas passadas no Brasil. Este novo modelo previsto na Lei
Federal nº 9.433 (BRASIL, 1997) tem um caráter inovador, é avançado e moderno
porque é resultado de quase 14 anos de trabalho e discussões, e segundo Munõz
(2000), está coerente com os princípios básicos da Declaração de Dublin sobre
Recursos Hídricos e Desenvolvimento Sustentável, além de atender às
recomendações contidas na Agenda 21.
A Declaração de Dublin sobre Recursos Hídricos e Desenvolvimento
Sustentável, aprovada em evento preparatório na Irlanda no ano de 1992, para a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92)
ocorrida no Rio de Janeiro em junho do mesmo ano destaca que:

A escassez e o desperdício da água doce representam sérios e crescentes


ameaças ao desenvolvimento sustentável e à proteção do meio ambiente. A
saúde e bem estar do homem, a garantia de alimentos, o desenvolvimento
industrial e o equilíbrio dos ecossistemas estarão sob risco se a gestão da
água e do solo não se tornar realidade, na presente década, de forma bem
mais efetiva do que tem sido no passado (BARTH, 1999, p. 568)

Ainda, segundo o mesmo autor, os princípios mais importantes da Declaração


de Dublin são:

1
O gerenciamento de recursos hídricos é, segundo Lanna (1997), o conjunto de ações destinadas a
regular e controlar o uso das águas.
2
De acordo com Barth (1987) gestão de recursos hídricos é definida em sentido amplo como a forma
pela qual se busca equacionar e resolver as questões da escassez relativa à água.
16

1) A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para a


conservação da vida, a manutenção do desenvolvimento e do meio
ambiente.
2) O desenvolvimento e a gestão da água devem ser baseados em
participação dos usuários, dos planejadores e dos decisores políticos,
em todos os níveis.
3) As mulheres devem assumir papel essencial na conservação e gestão
da água.
4) A água tem valor econômico em todos seus usos competitivos e deve-se
promover sua conservação e proteção (BARTH, 1999, p. 568).

A Agenda 21 que trata do plano de metas em termos de ambiente e


desenvolvimento para o século XXI, foi produzida pela ECO/92 e apontou, em seu
capítulo 18, a Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos Hídricos e a
urgência com que a água e o saneamento devem ser considerados pelos países
membros das Nações Unidas (HESPANHOL, 1999).
Visando adequar-se às inovações na gestão de recursos hídricos, o Estado
de Minas Gerais instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos por meio da Lei
Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999) com os mesmos princípios e
fundamentos legais da Lei Federal.
A Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) prevista na Lei Estadual
tem como objetivo “assegurar o controle, pelos usuários atuais e futuros, do uso da
água e de sua utilização em quantidade, qualidade e regime satisfatórios”
(MENDONÇA, 2002, p. 242).
A Lei Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999) traz em seu escopo a
caracterização do Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(SEGRH) como um arranjo institucional baseado em novos tipos de organização
para a gestão compartilhada do uso da água.
O SEGRH é composto pelas seguintes entidades:
− Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), que tem a função de
entidade gestora do SEGRH.
− Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(SEMAD).
− Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/MG), órgão deliberativo e
normativo central do Sistema.
− Órgãos e entidades dos poderes estadual e municipais cujas
competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos.
17

− Agências de bacia hidrográfica, unidades executivas descentralizadas que


atuarão como secretaria executiva dos Comitês de Bacia Hidrográfica.
− Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH), órgãos deliberativos e normativos
na sua área territorial de atuação, compostos por representantes dos
usuários de água, dos poderes públicos municipal e estadual e da
sociedade civil organizada.
Uma destas entidades foi objeto de estudo desta pesquisa para análise das
práticas formais do gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos
hídricos, ou seja, o Comitê de Bacia Hidrográfica do rio das Velhas (CBH-Velhas).
Dentre os fundamentos previstos na legislação estadual (MINAS GERAIS,
1999) sobre recursos hídricos é importante ressaltar os seguintes:
− O direito de acesso de todos aos recursos hídricos, com prioridade para o
abastecimento público e a manutenção dos ecossistemas.
− O gerenciamento integrado, visando os usos múltiplos.
− O reconhecimento dos recursos hídricos como um bem de valor
econômico, social e ecológico.
− A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
− A gestão descentralizada e participativa.
− E a vinculação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos às
disponibilidades quantitativas e qualitativas.
Ainda são aspectos relevantes da Política Estadual de Recursos Hídricos
(MINAS GERAIS, 1999) o estabelecimento de instrumentos de gerenciamento,
dentre os quais:
− Plano Estadual de Recursos Hídricos: deverá estabelecer diretrizes e
critérios para o gerenciamento dos recursos hídricos do Estado.
− Planos Diretores de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas: são
documentos fundamentais para agregar informações regionais que
influenciarão na tomada de decisão para a repartição das vazões na bacia
hidrográfica.
− Enquadramento dos Corpos de Água em Classes Segundo seus Usos
Preponderantes: instrumento que estabelece um sistema de vigilância
sobre os níveis de qualidade dos corpos de água, bem como realiza a
ligação entre a gestão da quantidade e a gestão da qualidade da água;
18

− Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos: instrumento usado para criar as


condições de equilíbrio entre a oferta e a demanda, agindo como
mecanismo de racionalização do uso.
− Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos: instrumento por meio do
qual se faz a repartição dos recursos hídricos disponíveis entre os
diversos usuários que, eventualmente, disputam recursos escassos para
as suas necessidades.
− Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos (SEIRH): tem
como finalidade organizar a coleta, o tratamento, o armazenamento, a
recuperação e a divulgação de informações sobre recursos hídricos e
fatores intervenientes em sua gestão.
Esse último é um instrumento de grande importância, uma vez que irá
possibilitar o acesso às informações referentes à dinâmica hídrica do Estado, aos
usos e demandas de água, à disponibilidade e qualidade da água, bem como sobre
informações da aplicação dos demais instrumentos de gerenciamento. Esse Sistema
de Informações ainda não foi implementado, mas está sendo desenvolvido no
âmbito do projeto estruturador do Governo do Estado de Minas Gerais
“Consolidação da gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas”, com
previsão para iniciar sua implementação a partir de 2009 e término em 2011. Por
este motivo não foi objeto de estudo desta pesquisa.
Considerando que o gerenciamento de recursos hídricos se faz de forma
descentralizada e participativa, as informações, que hoje estão hospedadas em
bancos de dados dispersos pelas entidades que compõem SEGRH, deverão ser
usadas pelos agentes que o compõem, principalmente pelos Comitês de Bacias
Hidrográficas. Os Comitês são os promotores e decisores das políticas locais de
recursos hídricos e atuam como instância local nas tomadas de decisões sobre a
utilização das águas da bacia.
Para que os Comitês façam o gerenciamento local dos recursos hídricos, eles
precisam também fazer o gerenciamento da informação de forma a subsidiá-los nas
suas tomadas de decisões. Para isto precisa-se conhecer como é efetuado o fluxo
19

das informações3 nestes Comitês, como são definidas as suas exigências da


informação e como a informação é usada para gerar conhecimento e subsidiar as
decisões locais.
Neste contexto, esta pesquisa pretendeu analisar as práticas formais de
gerenciamento da informação utilizadas pelo CBH-Velhas no gerenciamento de
recursos hídricos, sob as perspectivas estratégica e ferramental, conforme o modelo
referencial de Davenport (1998).
A análise das práticas formais de gerenciamento da informação utilizadas
pelo CBH-Velhas consistiu, portanto, em perscrutar os membros do Comitê no
sentido de construir, conjuntamente, uma leitura prática das suas exigências da
informação e do uso da informação na tomada de decisão, no gerenciamento local
de recursos hídricos.
O modelo de Davenport (1998) apresenta um processo composto de quatro
passos para o fluxo da informação sendo, passo 1: determinação das exigências da
informação; passo 2: obtenção de informações; passo 3: distribuição e passo 4: uso
da informação. Entretanto, foram objeto de análise desta pesquisa os passos 1 e 4
por serem os que mais apresentaram resultados condizentes com o interesse da
pesquisa, principalmente pela importância de se analisar como os membros do
Comitê determinam as suas exigências da informação e como a usam no momento
de decidirem sobre a gestão das águas da bacia, dentro das suas competências
legais.
A análise do passo 1 é um problema complexo, pois envolve identificar, no
caso do CBH-Velhas, como os seus membros determinam as suas exigências da
informação, esse passo é fundamental para o desenvolvimento de todo o processo,
pois se os membros do Comitê conseguirem definir, com clareza, as suas
necessidades de informação, estarão orientados para o uso da informação que se
trata o passo 4.
O passo 4 define como é usada a informação nas tomadas de decisão; no
caso do CBH-Velhas, foi analisado como os seus membros usam a informação para
fazer o gerenciamento dos recursos hídricos na bacia. Nesse passo foi importante

3
Como fluxo de informação será adotado o conceito de Beal (2004), para a qual a atividade de
identificação de necessidades e requisitos de informação age como elemento acionador do processo,
que pode estabelecer um ciclo contínuo de coleta, tratamento, distribuição/armazenamento e uso
para alimentar os processos decisórios e/ou operacionais da organização, e leva também à oferta de
informações para o ambiente externo.
20

analisar como a informação é usada, se está atendendo o objetivo para o qual foi
proposta, isto é se está correta e adequada. Se as exigências da informação foram
determinadas com clareza, essas deverão ser usadas para uma tomada de decisão
segura pelos membros do Comitê.
O trabalho que aqui se apresenta está estruturado em cinco capítulos,
incluindo esta introdução, composta pelo tema, delimitação do tema, justificativa,
objetivo geral, problema e hipótese.
O segundo capítulo apresenta uma revisão da literatura abordando a teoria
sobre o gerenciamento da informação, especialmente o modelo de gerenciamento
da informação proposto pelo Davenport (1998), o gerenciamento de recursos
hídricos, os modelos de gestão de recursos hídricos, o papel dos Comitês de Bacias
Hidrográficas e uma descrição sobre o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das
Velhas.
No capítulo três é apresentada a metodologia adotada pela pesquisa.
No quatro são apresentados os resultados e análise, com descrição da coleta
de dados e discussão dos resultados.
Finalmente, no capítulo cinco, as conclusões principais da pesquisa sobre as
práticas formais de gerenciamento da informação utilizadas no gerenciamento de
recursos hídricos, tendo como estudo de caso o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio
das Velhas.

1.1 Tema

O tema definido para esta pesquisa foi: Práticas formais de gerenciamento da


informação no contexto do gerenciamento de recursos hídricos.
A água é um recurso estratégico e, portanto, sua gestão é um dos grandes
desafios do poder público e da sociedade. Desse recurso depende a manutenção da
vida, o equilíbrio ecológico e a realização de todas as atividades humanas, sejam
econômicas ou sociais. Para uma gestão eficaz e de qualidade, é necessário que se
conheça e entenda as peculiaridades relacionadas à água no meio ambiente, bem
como de sua apropriação e de seu uso pela sociedade. A própria criação tanto pelo
21

Governo Federal como pelo Governo do Estado, de uma Política de Recursos


Hídricos demonstra a importância de se fazer o gerenciamento de recursos hídricos.
Segundo Bergeron (1996), o gerenciamento da informação constitui uma
estratégia utilizada pelas organizações com vistas à solução dos possíveis
problemas informacionais, por meio da disponibilização de informações corretas
para uma determinada pessoa ou grupo de pessoas, no momento e na forma
adequados. Portanto, a qualidade das decisões tomadas pelos gestores é
diretamente afetada pela disponibilidade de informações completas, atualizadas e
relevantes para a solução dos problemas da organização.
Para Beal (2004) gestão estratégica da informação deve designar a
administração dos recursos informacionais de uma empresa a partir de um
referencial estratégico. Para a autora, adotar a gestão estratégica da informação não
implica abandonar a perspectiva permanente da gestão da informação voltada para
a coleta, o tratamento e a disponibilização de informação que dê suporte aos
processos organizacionais, tendo em vista o alcance de seus objetivos permanentes,
mas adicionar a ela a perspectiva situacional, cujo foco é a informação direcionada
para a consecução dos objetivos estratégicos definidos para determinado período de
tempo. Portanto, na visão da autora, a gestão estratégica da informação deve ir
muito além da simples administração de infra-estrutura de Tecnologia de Informação
e de Sistemas de Informação. Ainda para a autora, a gestão estratégica da
informação deve incluir, como proposto por Davenport (2001) apud Beal (2004), a
administração do comportamento informacional, da cultura organizacional e da
equipe informacional entre outros fatores importantes para obter melhor retorno
possível da informação disponível, com foco no próprio gerenciamento da
informação.
Como citado acima, Davenport (1998) propõe uma perspectiva ecológica para
o gerenciamento da informação centrada no ser humano, levando em consideração
o ambiente informacional como um todo, contemplando os valores e crenças
empresariais sobre informação; a maneira como as pessoas utilizam efetivamente a
informação e o que fazem com ela; as armadilhas que podem interferir no
intercâmbio de informações e os sistemas de informações que já se encontram
instalados e alinhados com as necessidades de informação.
Portanto, o gerenciamento da informação é fundamental para um melhor
conhecimento da situação de uso dos recursos hídricos no Estado, possibilitando o
22

gerenciamento adequado destes recursos no sentido de garantir água em


quantidade e qualidade para as gerações atuais e futuras. O gerenciamento da
informação deve ser praticado a partir da determinação das exigências da
informação, como ela é obtida, como é distribuída e como é usada para gerar
conhecimento e subsidiar as tomadas de decisões.
Para conhecer alguns passos desse fluxo da informação foram elaboradas
questões que envolvem as competências dos Comitês relacionadas com o
gerenciamento da informação e de recursos hídricos.
Como ainda não existe bibliografia que trate deste tema vinculando o
gerenciamento da informação com o gerenciamento de recursos hídricos, o presente
trabalho se empenhou em desenvolver a conversão dos conceitos de definição dos
princípios do gerenciamento da informação à realidade e prática do gerenciamento
de recursos hídricos.

1.2 Delimitação do tema

Análise das práticas formais do gerenciamento da informação utilizadas no


gerenciamento de recursos hídricos, pelos membros que compõem o Comitê da
Bacia Hidrográfica do rio das Velhas.
Atualmente, existem em Minas Gerais 34 Comitês de Bacias Hidrográficas
instituídos, em diferentes níveis de articulação, mobilização e atuação (FIG. 1). Os
mais articulados e atuantes são o Comitê da bacia do rio das Velhas, do rio
Paraopeba, do rio Santo Antônio, do rio Araguari, do rio Pará, do rio Paracatu e da
bacia do entorno da Represa de Três Marias. Dentre esses mais atuantes, o Comitê
da bacia do rio das Velhas foi escolhido para ser analisado por esta pesquisa. A
escolha se justifica porque este Comitê foi o primeiro criado no Estado, pela sua
atuação ao longo deste tempo e pela sua importância no cenário estadual. A bacia
do rio das Velhas teve, ainda, o primeiro Plano Diretor elaborado em 1997 e
atualizado no ano 2004, com definição de metas, ações e programas para a
melhoria da gestão dos recursos hídricos, sendo também, o primeiro Comitê no
Estado a aprovar as outorgas de empreendimentos de grande porte e potencial
poluidor.
23

FIGURA 1 – Mapa situação dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais
Fonte: IGAM, 2008.

O Comitê da bacia do rio das Velhas foi criado em 1998, pelo Decreto
Estadual nº 39.692 (MINAS GERAIS, 1998), formado por 56 membros, sendo 28
titulares e 28 suplentes, representando, paritariamente, os poderes públicos
estaduais e municipais, usuários e sociedade civil organizada.
A bacia do rio das Velhas está localizada na região central do Estado,
compreendendo uma área de 29.173 km2, representando cerca de 5% da superfície
do Estado, onde estão localizados, total ou parcialmente, 51 municípios, abrigando
uma população estimada em cerca de 4,8 milhões de habitantes. Essa bacia
apresenta importante dinâmica produtiva, com o seu Produto Interno Bruto (PIB)
representando 22% do Estado (CAMARGOS, 2005).
O CBH-Velhas tem como competências, previstas no artigo 43 da Lei
Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999):
− Promover o debate das questões relacionadas com recursos hídricos e
articular a atuação dos órgãos.
24

− Deliberar sobre propostas de enquadramento.


− Arbitrar os conflitos de água em primeira instância.
− Aprovar o plano diretor de recursos hídricos.
− Aprovar a outorga de direito de uso de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor.
− Estabelecer critérios e normas para a cobrança pelo uso da água.
− Aprovar o orçamento anual da agência de sua área de atuação.
− Aprovar o plano de ação de controle de qualidade e quantidade de
recursos hídricos proposto pela agência na sua área de atuação, dentre
outras.
O processo decisório nos Comitês é fundamentado em suas atribuições legais
e no fluxo de informações sobre os objetivos e operacionalidades do próprio Comitê
e informações hidrológicas da bacia, dentre outras. Para a adequada consecução de
suas atribuições torna-se necessário o gerenciamento da informação como apoio
para as tomadas de decisões no gerenciamento de recursos hídricos.
Dentre as competências do CBH-Velhas, algumas foram escolhidas para a
análise desta pesquisa, pelo fato de estarem documentadas sendo, portanto,
possível analisar o gerenciamento da informação por meio da pesquisa documental
junto à secretaria executiva do Comitê. Tratam-se das seguintes competências:
− Aprovar o Plano Diretor de Recursos Hídricos.
− Aprovar a outorga4 de direito de uso de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor.
Alguns questionamentos foram apresentados aos membros do CBH-Velhas
visando analisar como eles praticam o gerenciamento da informação no
gerenciamento de recursos hídricos, na perspectiva dessas competências.

a) Quanto à determinação das exigências da informação pelos membros do


CBH-Velhas dentro das competências legais especificadas (Passo 1 do
modelo de Davenport, 1998):

4
Outorga de direito de uso de recursos hídricos é um instrumento legal, previsto na Lei Estadual nº
13.199 (MINAS GERAIS, 1999), que assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos hídricos.
25

a.1) aprovar o Plano Diretor de Recursos Hídricos:


− Para aprovação do Plano faz-se necessário que os membros do Comitê
identifiquem quais são as informações chaves constantes no Plano, de
que fonte elas derivaram e quais foram os documentos utilizados para a
sua elaboração e se as informações constantes no Plano são aquelas
exigidas na legislação específica. O Plano deve ser elaborado a partir de
um Termo de Referencia (TDR) que tem como objetivo definir diretrizes
sobre o seu conteúdo mínimo. Esse conteúdo mínimo é uma exigência
legal prevista na Lei Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999) e no
Decreto Estadual nº 41.578 (MINAS GERAIS, 2001).
− O conteúdo mínimo conforme a legislação é o citado abaixo:
I) diagnóstico da situação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica;
II) análise de opções de crescimento demográfico, de evolução de
atividades produtivas e de modificação dos padrões de ocupação do
solo;
III) balanço entre disponibilidades e demandas atuais e futuras dos
recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de
conflitos potenciais;
IV) metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria
da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;
V) medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e
projetos a serem implantados para o atendimento de metas previstas,
com estimativas de custos;
VI) prioridades para outorga de direito de uso de recursos hídricos;
VII) diretrizes e critérios para cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
VIII) propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com
vistas à proteção de recursos hídricos e de ecossistemas aquáticos
(LEI ESTADUAL nº 13.199, art. 11).

I) a vazão remanescente ou ecológica para usos específicos;


II) a vazão de referência para o cálculo da vazão outorgável;
III) os usos preponderantes e prioritários para a outorga;
IV) os usos preponderantes para o enquadramento dos corpos de água
em classes;
V) os estudos de viabilidade econômica e financeira nas respectivas
bacias hidrográficas para a determinação dos critérios básicos de
cobrança pelo uso das águas superficiais e subterrâneas;
VI) a indicação de projetos para o alcance das metas de qualidade e
quantidade dos recursos hídricos, com vistas ao estabelecimento de
programas de investimento;
VII) os estudos para indicar a criação de áreas sujeitas à restrição de uso,
com vistas à proteção de recursos hídricos e de ecossistemas
aquáticos, em especial as zonas de recarga dos aqüíferos;
VIII) os mecanismos de articulação e apoio ao Sistema Estadual de
Informações sobre Recursos Hídricos (DECRETOESTADUAL nº
41.578 , art. 28).

Esse conteúdo mínimo foi convertido em questões do instrumento de


pesquisa, conforme item 2.7, propiciando a análise proposta pelo estudo.
26

a.2) Aprovar a outorga de direito de uso de recursos hídricos para


empreendimentos de grande porte e potencial poluidor:
− Para aprovar o processo de outorga os membros do Comitê devem
observar quais informações constam no processo, qual a fonte, quais os
documentos utilizados pelo IGAM para emitir o parecer técnico que irá
subsidiá-los na tomada de decisão, se essas informações são aquelas
necessárias para essa decisão e os motivos que levaram o IGAM a
encaminhar o processo de outorga para aprovação do Comitê.
− De acordo com o artigo 43, inciso V, da Lei Estadual nº 13.199 (MINAS
GERAIS, 1999) compete ao Comitê “aprovar a outorga de direito de uso
de recursos hídricos para empreendimentos de grande porte e potencial
poluidor” e a classificação de uma outorga como grande porte baseia-se
na Deliberação Normativa CERH/MG nº 07 (MINAS GERAIS, 2002), que
estabelece a classificação dos empreendimentos quanto ao porte e
potencial poluidor, tendo em vista a legislação de recursos hídricos do
Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1999).

b) Quanto ao uso da informação pelos membros do CBH-Velhas dentro das


competências legais especificadas (Passo 4 do modelo de Davenport,
1998):

b.1) Aprovar o Plano Diretor de Recursos Hídricos:


− O uso da informação para aprovação do Plano baseou-se na
identificação das exigências da informação. No uso das informações
foi observado se o que foi disponibilizado está correto e atende as
necessidades dos membros do Comitê para aprovar o Plano, a partir
do conteúdo mínimo exigido na legislação, conforme apresentado
acima.
b.2) Aprovar a outorga de direito de uso de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor:
− Para aprovar a outorga, o uso da informação disponível é importante
e os membros devem observar se as informações são suficientes e
atendem as suas necessidades, principalmente com relação ao
27

conteúdo mínimo exigido no Plano Diretor, que é fundamental para


orientá-los na tomada de decisão.
− É importante destacar que a utilização da informação é a etapa mais
importante de todo o processo, pois é o uso da informação que
garantirá os resultados finalísticos do Comitê. Isto será possível por
meio de questões que foram elaboradas a partir de variáveis
escolhidas dentre o conteúdo mínimo exigido para o Plano Diretor.
Foram elaboradas questões sob a ótica do uso da informação, para
10 (dez) variáveis utilizadas para aprovação da outorga de grande
porte e potencial poluidor, em uma escala de 0 a 10, com justificativa
para cada resposta.

De acordo com Davenport (1998) alguns pontos devem ser observados nesta
etapa: se a informação está atendendo ao objetivo para qual será utilizada, a
preparação do usuário e a avaliação constante do uso das informações, o retorno ao
cliente e o acompanhamento da atualização constante das informações.
Portanto, analisar como é praticado o gerenciamento da informação pelos
membros do CBH-Velhas mostrou como ocorre o fluxo da informação no âmbito do
Comitê.

1.3 Justificativa

Estima-se, que atualmente, a quantidade total de água na Terra, de 1.386


milhões de Km3 tem permanecido constante durante os últimos 500 milhões de anos,
ressaltando-se, entretanto, que as quantidades de armazenamentos nos
reservatórios individuais de água, variaram substancialmente ao longo desse
período (REBOUÇAS, 1999).
Ainda para o mesmo autor, pela distribuição das águas na Terra, verifica-se
que 97,5% do volume total formam os oceanos e mares e somente 2,5% são de
água doce. Destaca-se ainda que a maior parcela desta água doce (68,9%) forma as
calotas polares e as geleiras. A forma de armazenamento em que a água está mais
acessível é a água doce contida nos lagos e rios, o que representa apenas 0,3% do
volume de água doce da Terra. Portanto, diante de todo este volume de água
28

existente na Terra, somente 0,007% está disponível para o uso humano e


ecossistemas.
Segundo Barbosa e Barreto (in Barbosa, 2008), nova visão sobre a água tem
ganhado espaço nos diferentes círculos da sociedade moderna: como commodity,
recurso ou bem material capaz de exercer influência e poder nas relações humanas.
Essa visão traduz a importância da água como um bem essencial para as atividades
da sociedade moderna e, ainda de grande importância nas relações sociais,
econômica e ambiental.
Para os autores, a água deverá constituir-se em um dos mais importantes
recursos, com enorme valor econômico agregado, para a sociedade mundial. Ainda
para eles, “em escala global, 80 países já vivem em regime de escassez de água e,
portanto, países detentores desse recurso terão a possibilidade de usá-lo com
considerável poder de negociação” (BARBOSA e BARRETO in BARBOSA, 2008, p.
18).
Mattos (2008), na sua fala no evento “Diálogos da Terra no Planeta Água”,
que ocorreu em dezembro de 2008, em Belo Horizonte, demonstra a grande
preocupação mundial com os recursos naturais, principalmente com a água,

A população mundial em 1802 era de um bilhão de habitantes. Em 1900


saltou para 1,5 bilhão e 100 anos depois chegou a seis bilhões de
habitantes. No período de 1950 a 2000 a população mundial se multiplicou
por quatro e o consumo de água aumentou seis vezes mais. As
conseqüências se materializaram principalmente no século XXI, por meio do
aquecimento global, escassez dos recursos naturais, principalmente de
água e iminente escassez de petróleo (MATTOS, 2008, p. 29).

De acordo com Rebouças (1999), a escassez de água será o grande desafio


ao desenvolvimento no futuro, já que em muitas regiões a demanda de água para
uso na indústria e abastecimento humano está competindo cada vez mais com o uso
para produção agrícola. Para ele já existem análises globais que confirmam que a
escassez da água está afetando áreas cada vez maiores, principalmente na Ásia
Ocidental e África, o que poderá resultar em problemas de segurança regional,
conflitos e migrações em grande escala. Ainda segundo Rebouças (1999), a
escassez de água, motivo para muitas guerras no passado, poderá agir como o
catalisador para a paz dos conflitos futuros.
O Brasil, de modo geral, não faz parte do universo de países com problema
de escassez, pois se destaca no cenário mundial pela produção hídrica de 177.900
29

m3/s, que se somando com os 73.100 m3/s da Amazônia internacional, representa


53% da produção de água doce da América do Sul e 12% do total mundial
(REBOUÇAS, 1999).
No entanto, apesar de possuir todo este volume de água, o Brasil apresenta
desequilíbrios na distribuição e na demanda pelos recursos hídricos. Segundo,
Matsumura, Matsumura e Tundisi in Barbosa (2008, p. 158), “estes desequilíbrios
são causados pelas condições naturais da distribuição da precipitação e ciclo
hidrológico no Brasil e, também, pela distribuição da população humana e suas
atividades”. Para os autores a região da Amazônia tem uma grande disponibilidade
de água com baixo adensamento urbano, ao contrário do sudeste brasileiro, onde
está a maior concentração de população humana do continente sul-americano, com
adensamento urbano elevado e intensas atividades industriais e agrícolas. Tudo isto
agrava a demanda por recursos hídricos, instalando conflitos por escassez.
O Estado de Minas Gerais (IBGE, 1977) com uma superfície aproximada de
582.586 km², equivalente a 6,9% da área total do País, engloba dezessete bacias
hidrográficas, correspondentes às nascentes de alguns dos principais rios federais.
Além do rio da integração nacional, o rio São Francisco, tem-se os rios Grande e
Paranaíba, formadores da bacia internacional do rio da Prata, o rio Doce, principal
rio do Estado do Espírito Santo, o rio Paraíba do Sul, de importância fundamental
para o PIB Nacional e para o abastecimento do Estado do Rio de Janeiro, dentre
outros. Devido a sua posição geográfica e sendo a sua condição de grande produtor
de água, a gestão dos recursos hídricos em Minas Gerais toma um caráter
estratégico para o Brasil.
Apesar de toda riqueza na produção de água, o Estado de Minas Gerais
apresenta diversidades quanto aos seus recursos hídricos. A partir do paralelo 19º
até os limites com o Estado da Bahia, totalizando 175.000 km², mais
especificamente nas bacias hidrográficas dos rios Jequitinhonha e Pardo e nas sub-
bacias dos rios Jequitaí e Verde Grande, a escassez de água predomina, e com ela,
a pobreza e a miséria. Para exemplificar, na bacia do rio Jequitinhonha, em sua
porção mais ao Norte, a disponibilidade hídrica média de longo termo apresenta
valores unitários de vazões específicas menores que 2 l/s/km² (para cada quilômetro
quadrado de área uma produção menor que 2 litros/segundo), contra, por exemplo,
15 l/s/km² (15 litros por segundo para cada quilômetro quadrado de área) na bacia
do rio Paranaíba (SOUZA, 1993). Estes valores representam a realidade dos
30

problemas de distribuição de água no Estado, significando que a população que vive


em regiões de menor rendimento específico (l/s/km2) tem menor quantidade de água
para as suas atividades, seja para abastecimento humano, irrigação ou outros usos.
Esses números oferecem, ainda, uma pequena amostra da diversidade hidrológica
do Estado de Minas Gerais e, portanto, da importância de um sistema como o
SEGRH, que possa dar respostas à necessidade de Minas Gerais.
A gestão de recursos hídricos é um dos temas fundamentais no terceiro
milênio. Portanto, ter água de boa qualidade e em quantidade para satisfazer as
necessidades mínimas de 6 bilhões de pessoas, ainda é uma das metas primordiais
para governos e sociedades (TUNDISI, in: BARBOSA, 2008).
Os desafios para a implementação da Política de Recursos Hídricos são
muitos, considerando o novo enfoque sobre a gestão de águas no Brasil. Um dos
desafios seria superar os muitos interesses e práticas formais historicamente
estabelecidas, tais como o hábito de “privatizar” o uso da água, as decisões isoladas
e centralizadas sobre a gestão das águas e a cultura do desperdício.
Outro desafio é efetivação da gestão descentralizada e participativa, onde
todos os usuários da água, bem como os organismos governamentais e não
governamentais possam participar da gestão local. No entanto, a sociedade, aos
poucos, está descobrindo novos espaços para práticas formais sociais de
participação em tomadas de decisões que lhes envolvam direta e indiretamente.
E nesse contexto de participação descentralizada e participativa, as
atribuições estabelecidas ao Comitê de Bacia Hidrográfica são as mais importantes
no sentido de definir os interesses de crescimento na área da bacia hidrográfica. Os
planos de recursos hídricos e as outorgas de direito de uso de recursos hídricos são
instrumentos essenciais para a definição de quais as tipologias de empreendimentos
serão possíveis de implantar ou ampliar seus usos e em quais locais na bacia.
Nesse sentido, com base na disponibilidade hídrica e nas informações disponíveis e
gerenciadas por ele, o Comitê torna-se o principal decisor sobre qual a aptidão
daquela bacia e em que direção deve seguir o seu desenvolvimento.
A participação no gerenciamento de recursos hídricos é a etapa inicial para
que a sociedade passe a integrar o processo decisório com vistas à adequada
utilização desses recursos, visando às questões quantitativa e qualitativa da água
para as gerações atuais e futuras. Alguns pontos servem como referência para a
postura e participação do cidadão face às questões relativas aos recursos hídricos,
31

tais como: conscientização, participação institucional, atividade profissional,


divulgação de informações, educação, participação política e comunitária e
encaminhamento de denúncias. Somente a informação, com a devida reflexão,
oferece condições para a formação de opiniões. Isto pode ser evidenciado no texto
de Davernport (1998, p. 12) em que “a informação e o conhecimento são,
essencialmente, criações humanas, e nunca seremos capazes de administrá-los se
não levarmos em consideração que as pessoas desempenham nesse cenário um
papel fundamental”.
Ainda segundo Davenport (1998) deve-se ter em mente uma perspectiva
holística, que possa assimilar as alterações que ocorrem no mundo dos negócios e
ao mesmo tempo adaptar-se às mudanças das realidades sociais. Para o autor essa
nova abordagem é a ecologia da informação, que valoriza o ambiente da informação
como um todo. A ecologia da informação considera os valores e as crenças sobre a
informação, refletindo na cultura do meio empresarial; como as pessoas realmente
usam a informação e o que fazem com ela, isto é, como se dá o comportamento e os
processos de trabalho; como as armadilhas podem interferir na troca de informações
e por fim, se a tecnologia já está instalada. Em vez de concentrar-se na tecnologia, a
ecologia da informação baseia-se na forma como as pessoas criam, distribuem,
compreendem e usam a informação.
Portanto, diante do exposto, esta pesquisa justifica-se pela importância de se
analisar como os membros do CBH-Velhas praticam o gerenciamento da informação
no que se refere à determinação das exigências da informação e seu uso em uma
área fundamental para toda a sociedade que é o gerenciamento de recursos
hídricos.
Nesse sentido, foi importante analisar como os membros do CBH-Velhas
praticam o gerenciamento da informação no que se refere à determinação das
exigências da informação e seu uso no gerenciamento de recursos hídricos. O
gerenciamento adequado dos recursos hídricos possibilita uma melhor definição das
aptidões da bacia hidrográfica e do seu potencial de crescimento. Esse
gerenciamento é realizado pelo Comitê ao assumir e executar suas atribuições
legais. Para tanto, ele deve realizar o gerenciamento das informações relevantes de
forma a tê-las disponíveis e adequadas à sua tomada de decisão.
A importância desta análise se deve ao fato de que o CBH-Velhas funciona
como fórum integrador de políticas, articulando a política de recursos hídricos com a
32

política ambiental, socioeconômica e de uso do solo, entre outras, buscando sempre


de forma sustentável a utilização dos recursos naturais da bacia. Ele é o gestor local
e todas as suas decisões são baseadas em informações e por isso os membros do
Comitê precisam conhecer com muita clareza as suas exigências da informação e
como estas informações poderão ser usadas como ferramenta de suporte à tomada
de decisão no gerenciamento de recursos hídricos, conforme descrito na introdução.
Acredita-se que os resultados desta pesquisa poderão servir para enriquecer
o debate sobre o gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos
hídricos e ainda subsidiar o necessário processo de aperfeiçoamento da gestão das
águas no Estado.

1.4 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi analisar as práticas formais do gerenciamento


da informação utilizadas pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das
Velhas no gerenciamento de recursos hídricos.
Analisar como é praticado o gerenciamento da informação pelos membros do
CBH-Velhas consistiu em mostrar como ocorre o fluxo da informação no âmbito do
Comitê, especificadamente nos quesitos determinação das exigências da informação
e uso da informação. Esta análise foi efetuada a partir de perguntas dirigidas aos
membros do Comitê, que foram organizados em três grupos focais com 5 a 8
membros cada. Foram apresentadas questões relativas ao gerenciamento da
informação no gerenciamento dos recursos hídricos e na atuação dos membros do
Comitê, como eles determinam as suas exigências quanto à informação e como
usam estas informações no gerenciamento de recursos hídricos, de acordo com as
suas competências legais. Foram definidas 10 (dez) variáveis, escolhidas dentre o
conteúdo mínimo previsto na Lei Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999) e no
Decreto Estadual nº 41.578 (MINAS GERAIS, 2001) necessário para a aprovação do
Plano Diretor. Essas variáveis foram analisadas sob a ótica da determinação das
exigências da informação e do uso, em uma escala de 0 a 10, com justificativa para
cada resposta, conforme item 2.7.
33

Os resultados da pesquisa, a partir das entrevistas com os grupos focais,


foram confrontados com o modelo apresentado pelo Davenport (1998), o qual foi
adotado como referencial-teórico.

1.5 Problema

− São utilizadas práticas formais de gerenciamento da informação pelos


membros do Comitê de Bacia Hidrográfica do rio das Velhas no
gerenciamento de recursos hídricos?

Segundo Diehl e Tatim (2004), vários métodos fornecem uma base lógica
para a investigação, entre eles, destaca-se o método hipotético-dedutivo. Os autores
afirmam que, segundo Popper apud Diehl e Tatim (2004), “quando os
conhecimentos disponíveis sobre um determinado assunto são insuficientes para a
explicação de um fenômeno, surge o problema” (DIEHL e TATIM, 2004, p. 49).
Assim, a definição do problema de pesquisa tem como função, responder a
pergunta: o que pesquisar?
Lakatos e Marconi (1991) com base em Popper asseguram que o problema
dá origem a um método que produz uma solução provisória. Segundo as autoras, a
pesquisa é desencadeada pelo problema “teórico/prático”, e mencionam Bunge, que
propõe as etapas para a colocação do problema:

a) Reconhecimento dos fatos – exame, classificação preliminar e seleção


dos fatos que, com maior probabilidade, são relevantes no que respeita
a algum aspecto.
b) Descoberta do problema – encontro de lacunas ou incoerências no saber
existente.
c) Formulação do problema – colocação de uma questão que tenha alguma
probabilidade de ser correta, em outras palavras, redução do problema
a um núcleo significativo, com probabilidades de ser solucionado e de
apresentar-se frutífero, com o auxílio do conhecimento disponível
(LAKATOS e MARCONI, 1991, p. 99).

A partir da linha de raciocínio proposta pelos autores acima, pretendeu-se


analisar como o gerenciamento da informação é praticado pelos membros do CBH-
Velhas no gerenciamento de recursos hídricos.
34

Efetuar essa análise consistiu em levantar por meio de documentos e atas


das reuniões do CBH-Velhas e, ainda a partir das entrevistas dos grupos de foco
como os seus membros determinam as exigências da informação e como essa
informação é usada no gerenciamento de recursos hídricos. As questões da
entrevista foram formuladas a partir das atribuições legais do Comitê (MINAS
GERAIS, 1999) com vista a atender aos passos 1 e 4 do modelo de Davenport
(1998), adotado como referencial teórico para essa pesquisa.
Essa pesquisa pode ser considerada como importante passo para o
gerenciamento de recursos hídricos no Estado, tendo em vista que o seu resultado
poderá apresentar aos membros do CBH-Velhas a importância do gerenciamento da
informação no gerenciamento de recursos hídricos, demonstrando que ao
determinarem suas exigências da informação e o uso da informação, terão mais
segurança nas tomadas de decisão.
Além disso, a metodologia e os resultados da pesquisa poderão ser
analisados quanto à possibilidade de aplicação para outras bacias hidrográficas do
Estado ou do País, no sentido de avaliar o gerenciamento da informação e quais as
alternativas de aperfeiçoamento.

1.6 Hipótese

Segundo Cervo e Bervian (2006, p. 86), “a hipótese consiste em supor


conhecida a verdade ou explicação que se busca”. A hipótese, portanto, equivale a
uma suposição que pode ser verdadeira, depois comprovável ou não pelos fatos,
que irão decidir, no último caso, sobre a verdade ou falseamento dos fatos.
Como hipótese básica tem-se que as práticas formais de gerenciamento da
informação no gerenciamento de recursos hídricos ainda são pouco utilizadas pelos
membros do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.
Acredita-se que o gerenciamento da informação no gerenciamento dos
recursos hídricos ainda é pouco praticado pelos membros do CBH-Velhas, devido
principalmente às dificuldades ainda existentes na estruturação dos Comitês de
Bacias Hidrográficas no Estado de Minas Gerais.
35

O apoio administrativo, técnico e financeiro necessário ao funcionamento


adequado dos Comitês deverá ser prestado por sua Agência de Bacia
(MENDONÇA, 2002). Essa Agência de Bacia por sua vez será mantida com parte
dos recursos advindos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, instrumento legal
previsto na Lei Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999), conforme citado na
introdução. Em Minas Gerais somente foram equiparadas a Agência de Bacia duas
entidades, que são a Associação Executiva de Apoio à Gestão de Bacias
Hidrográficas Peixe Vivo (AGB-Peixe Vivo) do CBH-Velhas e a Associação
Multissetorial de Usuários de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do rio
Araguari (ABHA) do CBH-Araguari, ainda não instrumentalizadas. Como também
ainda não foi implementada a cobrança, o Estado, por meio do IGAM, é o
responsável pela estruturação física e administrativa destes Comitês. Eles devem
ser providos de uma estrutura mínima com um escritório com infra-estrutura em
computadores, internet, telefone, pessoal administrativo e apoio técnico para o seu
funcionamento. Isto está sendo providenciado pelo IGAM, mas de forma lenta,
principalmente devido ao processo formal exigido na administração pública.
Isto pode ser considerado, em caráter preliminar, como um elemento
dificultador para o desenvolvimento dos Comitês, principalmente quanto ao
gerenciamento da informação como subsídio às tomadas de decisão no
gerenciamento dos recursos hídricos. Como citado por Davenport (1998, p.11)
“todos os computadores do mundo de nada servirão se seus usuários não estiverem
interessados na informação que esses computadores podem gerar”. No entanto,
como descrito acima sobre as dificuldades enfrentadas pelos Comitês, se os
membros desses Comitês sequer têm uma estrutura mínima para acessar as
informações, como poderão ter interesse na informação e gerenciá-la?
Outro fator que pode ser aventado como um dificultador para a prática do
gerenciamento da informação no gerenciamento dos recursos hídricos talvez seja a
não implementação, ainda, do SEIRH, conforme já descrito na introdução. Este
sistema irá possibilitar o acesso às informações referentes à dinâmica hídrica do
Estado, aos usos e demandas de água, à disponibilidade e qualidade da água, bem
como sobre informações da aplicação dos demais instrumentos de gerenciamento, o
que poderá levar à melhoria das práticas formais do gerenciamento da informação
no gerenciamento de recursos hídricos.
36

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 O gerenciamento da informação

A informação é um instrumento de gerenciamento fundamental em uma


organização. Ela constitui-se em um recurso essencial para a definição,
implementação e avaliação da estratégia, bem como para a execução dos processos
operacionais das organizações. No entanto, a informação somente será útil se
atender às necessidades dos usuários, por isso a importância de se identificar as
informações necessárias ao processo de gerenciamento, de modo a promover o uso
da informação como instrumento estratégico para a organização.
Alguns autores como Choo (2003), Beal (2004), McGee e Prusak (1994) e
Davenport (1998) apresentam modelos genéricos para o processo de gerenciamento
da informação.
Para McGee e Prusak (1994) um modelo de gerenciamento da informação
deve ser genérico porque a informação recebe diferentes ênfases na organização e
ainda porque dentro do modelo, as diferentes tarefas podem assumir diferentes
níveis de importância e valor entre as organizações. Para os autores o modelo é
denominado de Tarefas do Processo de Gerenciamento da Informação. Apresenta-
se estruturado em tarefas em uma seqüência que inicia com a identificação de
necessidades e requisitos de informação até a análise e uso da informação. O
destaque do modelo está na importância da utilização da informação como valor
estratégico para a organização. Os recursos humanos também são destacados no
modelo como fatores chave para a gestão da informação. Destaca ainda os
diferentes usos em vários ambientes organizacionais, já que a informação recebe
ênfases diferentes em cada segmento econômico e em cada organização.
O modelo é estruturado conforme FIG. 2.
37

FIGURA 2 – Tarefas do processo de gerenciamento da informação (modelo de McGee e Prusak)


Fonte: McGEE e PRUSAK, 1994, p.108.

1. Tarefa de identificação de necessidades e requisitos de informação: essa


tarefa tem papel fundamental no processo, tendo em vista que aqueles
que projetam os sistemas, inequivocadamente, consideram garantida a
identificação ou agem como se fossem capazes de presumir as
necessidades dos usuários. São três pontos importantes que devem ser
considerados ao tentar efetivar essa tarefa: a variedade necessária, isto é,
o número de fontes que irão alimentar o sistema deverá ser tão variado
quanto o ambiente que o sistema irá interpretar; preocupação com o fato
de que as pessoas não sabem o que não sabem e o momento de
aquisição e coleta de informações. Estes fatos ressaltam a importância dos
profissionais da informação conhecerem as fontes da informação. Esta
tarefa terá maior eficiência se os especialistas em conteúdo trabalharem
em conjunto com os profissionais de tecnologia.

2. Tarefas de classificação e armazenamento de informação/tratamento e


apresentação de informação: estas duas tarefas surgem como
conseqüência da anterior e pressupõem como os usuários irão ter acesso
às informações e como irão armazená-las. Para isto será necessário
38

certificar de que o sistema está preparado no modo como os usuários


trabalham, a classificação da informação deverá ser encarada por vários
ângulos, de acordo com os recursos disponíveis pela organização e pelo
tipo de material e por fim não deve ser ignorada a dimensão do projeto que
se pretende desenvolver.

3. Tarefa de desenvolvimento de produtos e serviços de informação:


normalmente será nessa tarefa que os usuários finais do sistema terão a
oportunidade de usar o próprio conhecimento e experiências para
acrescentar pontos novos ao processo, e para isto um ponto muito
importante deverá ser observado: o papel do ser humano no sistema, já
que mesmo com o atual estágio de desenvolvimento tecnológico, um
sistema de informações precisa de alguns agentes humanos para trabalhar
com eficiência informações externas em tempo hábil.

4. Tarefa de distribuição e disseminação da informação: os profissionais que


participaram do processo das tarefas anteriores deverão atentar-se para a
complexidade dessa tarefa, já que devem tentar antecipar-se às
necessidades dos usuários de forma a fazer com o sistema alcance um
valor estratégico.

O objetivo final do processo será alcançado com a análise e o uso eficiente da


informação.
Beal (2004) apresenta um modelo de representação do fluxo da informação
nas organizações com sete etapas que correspondem ao ciclo de vida da
informação. O modelo apresenta as etapas do ciclo de vida da informação, desde a
identificação das necessidades e dos requisitos até o descarte da informação. A
atividade de identificação das necessidades e dos requisitos de informação age
como elemento acionador do processo, tendo a organização como o ambiente
principal, mas o processo é alimentado com informações coletadas externamente ou
produzidas pela própria organização e destinadas ao público interno. Após passar
por todas as etapas a informação produzida pela organização pode ser destinada ao
público externo. O foco deste modelo é observar todo o ciclo de vida da informação
de forma a alimentar os processos decisórios e/ou operacionais da organização e
ainda ofertar informações ao ambiente externo (FIG. 3).
39

FIGURA 3 – Modelo de representação do fluxo da informação nas organizações, segundo Beal


Fonte: BEAL, 2004, p. 29.

1. Identificação das necessidades e dos requisitos: Esta etapa é fundamental


para o desenvolvimento dos serviços e produtos informacionais,
necessários tanto interna como externamente. Essa fase deve ser vista
como um processo a ser repetido periodicamente.

2. Obtenção: nesta etapa são criadas, recepcionadas e capturadas as


informações provenientes de fontes internas e externas. A obtenção de
informação, geralmente não é um processo pontual, tendo às vezes que
repetir-se para alimentar o processo.

3. Tratamento: para que a informação seja acessível, organizada e de fácil


localização pelos usuários, precisa de formatação, estruturação,
classificação, ter boa apresentação e reprodução.

4. Distribuição: é uma etapa importante que possibilitará que a informação


alcance quem necessita dela. A rede de comunicação da organização tem
que funcionar bem para que a distribuição tanto interna como
externamente seja eficiente.
40

5. Uso: é considerada a etapa mais importante de todo o processo, pois é o


uso da informação que garante os resultados finalísticos da organização.

6. Armazenamento: assegura a conservação dos dados e informações,


tornando possível o seu uso e, se necessário, o seu reuso dentro da
organização.

7. Descarte: a informação tem sua vida útil de acordo com a necessidade de


seu uso, quando esta se torna obsoleta, deverá ser objeto de descarte.

Choo (2003) apresenta um modelo de uso da informação onde os ciclos de


busca e uso da informação estão inseridos em três dimensões: no meio
profissional/social, nas necessidades cognitivas e das reações emocionais. O
modelo tenta identificar e relacionar os principais elementos que podem influenciar o
comportamento daquele que busca e usa a informação. Apresenta ainda, uma
estrutura onde o conceito de processo de uso da informação é dividido em três
estágios: necessidade, busca e uso da informação. Para o autor a necessidade de
informação surge a partir do momento que o indivíduo reconhece vazios em seu
conhecimento e em sua capacidade de dar significado a uma experiência. A busca é
o processo onde o indivíduo, de forma intencional busca a informação que irá alterar
o seu estado de conhecimento. Já o uso da informação ocorre no momento em que
o indivíduo seleciona e processa as informações que produzem mudança em sua
capacidade de vivenciar e agir a partir dos novos conhecimentos adquiridos,
gerando assim mais ciclos de necessidade-busca-uso.
Choo (2003), ainda sugere que a administração da informação deve ser vista
como a administração de uma rede de processos que adquirem, criam, organizam,
distribuem e usam a informação com um ciclo contínuo de seis processos correlatos:
identificação das necessidades de informação; aquisição da informação;
organização e armazenamento da informação; desenvolvimento de produtos e
serviços de informação; distribuição da informação e uso da informação (FIG. 4).
41

FIGURA 4 – Modelo processual de administração da informação, segundo Choo


Fonte: CHOO, 2003, p. 404.

1. Identificação das necessidades de informação: as necessidades de


informação surgem a partir de problemas, incertezas e ambigüidades
encontradas em situações e experiências específicas em uma
organização. Isto pode ser considerado como resultado das interações de
um grande número de fatores relacionados à questão subjetiva e cultural
da organização, bem como questões de execução de tarefas, controle,
clareza dos objetivos, etc. Avaliar cuidadosamente as necessidades de
informação dos vários grupos e indivíduos da organização é estratégico
para a administração da informação, já que essas necessidades são
condicionais, dinâmicas e variadas, e, uma especificação completa
somente será possível dentro de uma representação do ambiente total em
que a informação será usada. Para Taylor,

Uma maneira sistemática de analisar as necessidades de informação em


uma organização é: identificar os grupos de usuários da informação,
reconhecer os tipos de problemas que eles costumam enfrentar, examinar
seu ambiente profissional e social, e entender as maneiras pelas quais eles
consideram que um problema foi resolvido (apud CHOO, 2003, p. 406):

2. Aquisição da informação: essa é uma fase crítica e cada vez mais


complexa da administração da informação e por isso a seleção e o uso
das fontes de aquisição de informação precisam ser planejados e
continuadamente monitorados. Para que os usuários não sejam
42

sobrecarregados com excesso de informação, a sua variedade deve ser


administrada de forma refletir a complexidade do ambiente organizacional.

3. Organização e armazenamento da informação: a maneira como a


informação é armazenada reflete como a organização enxerga e
representa seu ambiente, portanto a informação armazenada é um
componente muito importante e pode ser considerado como a extensão da
memória da organização.

4. Produtos e serviços de informação: produtos e serviços de informação


devem ser desenvolvidos como qualidades que agregam valor à
informação, com o objetivo de subsidiar o usuário nas suas tomadas de
decisões, a perceber melhor as situações e ainda empreender ações mais
eficientes.

5. Distribuição da informação: essa é fase em que a disseminação das


informações pela organização deve ser feita de maneira que “a informação
correta atinja a pessoa certa no momento, lugar e formato adequados”.
(CHOO, 203, p. 414).

6. Uso da informação: o uso da informação é um processo dinâmico e


importante nas fases de criação de significado, na construção de
conhecimento e na tomada de decisão. Isso requer flexibilidade na
representação da informação e facilidade na troca e avaliação das varias
representações entre os indivíduos.

O modelo genérico proposto por Davenport (1998) é composto de 4 passos:


determinação das exigências, obtenção, distribuição e utilização da informação. Por
ser escolhido como referencial teórico para esta pesquisa, está detalhado no item
2.7.
Os quatro modelos de gerenciamento da informação possuem processos,
tarefas ou atividades relacionados, ou seja, identificação/determinação de
necessidade/exigência da informação, obtenção/aquisição/busca/coleta,
classificação/armazenamento/tratamento, distribuição/desenvolvimento e uso da
informação. Portanto, servirão como orientação para análise pretendida nessa
pesquisa quanto às práticas formais dos membros do CBH-Velhas, já que análise
43

terá como base duas fases desses processos/tarefas, isto é, a determinação das
exigências e uso da informação, dentro das competências legais definidas para os
questionamentos realizados nos grupos focais.

2.2 Gestão e gerenciamento de recursos hídricos

Os conceitos de gestão e gerenciamento de recursos hídricos são diferentes,


mas, frequentemente, essa palavras são consideradas como sinônimos. Abaixo
alguns conceitos são apresentados por diversos autores.
Para Mazzini (2003), gestão e gerenciamento podem ser considerados
sinônimos, sendo o gerenciamento apenas parte da gestão. A gestão é mais
abrangente, tendo em vista que considera o planejamento, a partir de aspectos
políticos, econômicos e sociais.
De acordo com Barth (1987) a expressão “gestão de recursos hídricos” é
definida em sentido amplo como a forma pela qual se busca equacionar e resolver
as questões da escassez relativa à água
Segundo Freitas (in: SILVA e PRUSKI, 2000), o processo de gestão de
recursos hídricos deve ser constituído por uma política que estabeleça as diretrizes
gerais, por um gerenciamento que estabeleça os instrumentos necessários e um
sistema de gerenciamento formado por entidades governamentais e privadas para a
execução da política.
Já segundo Setti et al. (2001), gestão de recursos hídricos, de modo geral, é a
forma pela qual se pretende equacionar os problemas de escassez de água, com
vistas a seu uso adequado, buscando a otimização dos recursos em benefício da
sociedade. Portanto, a gestão de recursos hídricos deve ser feita mediante decisão
política baseada em procedimentos de planejamento e administração. O
planejamento visa a avaliação das demandas e disponibilidades dos recursos
hídricos e definir as metas e ações a serem realizadas para a garantia da gestão
adequada dos recursos hídricos, a administração é o conjunto das ações
necessárias para se efetivar o planejamento. Ainda de acordo com Setti et al. (2001,
p. 91) “a gestão é considerada de forma ampla, abrigando todas as atividades,
incluindo o gerenciamento, que é considerado uma atividade de governo”.
44

Lanna (1997) apresenta uma definição mais detalhada, argumentando que a


gestão das águas é uma atividade voltada à formulação de princípios e diretrizes, ao
preparo de documentos orientadores e normativos, à estruturação de sistemas
gerenciais e à tomada de decisões que têm por objetivo último promover o
levantamento, uso, controle e proteção dos recursos hídricos. Ainda de acordo com
o autor, fazem parte dessa atividade a Política das Águas; o Plano de Uso, o
Controle e a Proteção das Águas. Assim, a Política das Águas constitui-se no
conjunto de princípios doutrinários que refletem as aspirações da sociedade e
governo no que diz respeito à regulamentação, usos, controle e proteção das águas.
O Plano de Uso, Controle e Proteção das Águas é qualquer estudo prospectivo que
busca adequar o uso, o controle e o grau de proteção dos recursos hídricos às
aspirações sociais e governamentais expressas formal ou informalmente em uma
Política das Águas, por meio da coordenação, compatibilização e articulação entre
as partes envolvidas. Na PERH, esse plano encontra seu similar no Plano Estadual
de Recursos Hídricos e nos Planos Diretores de Bacias.
Para Lanna (1997), o gerenciamento das águas é um conjunto de ações
governamentais destinadas a regular o uso, o controle e a proteção das águas e
avaliar a conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários
estabelecidos pela Política das Águas. Dessa maneira, o gerenciamento das águas
diz respeito à implementação dos instrumentos legais apregoados na PERH.
Portanto, para o autor, o gerenciamento é o conjunto de ações destinadas a regular
e controlar o uso das águas.
Por outro lado Lanna percebe ser comum também confundir os conceitos de
gerenciamento de recursos hídricos com gerenciamento de bacia hidrográfica. O
primeiro, como já descrito, corresponde ao conjunto de ações governamentais
estabelecidas na PERH para ser aplicado em uma bacia, enquanto o segundo é o
resultado da adoção da bacia como unidade de planejamento e intervenção em um
sentido sistêmico de gestão ambiental (apud SILVA, 1998).
A gestão das águas apresenta como princípios norteadores o acesso à água
garantido a todos, com prioridade para abastecimento público e manutenção dos
ecossistemas; o valor ecológico, social e econômico da água; a bacia hidrográfica
como unidade espacial de gestão; a contemplação de usos múltiplos e a
descentralização da gestão (MENDONÇA, 2002).
45

Portanto, a gestão e o gerenciamento se diferenciam basicamente pelo fato


da gestão ser constituída por uma política, que estabelece diretrizes gerais e o
gerenciamento uma das atividades da gestão, viabilizadas pela execução de
instrumentos específicos. Os instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos
são,

− Plano Estadual de Recursos Hídricos.


− Planos Diretores de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas.
− Sistema Estadual de Informações sobre Recursos Hídricos.
− Enquadramento dos Corpos de Água em Classes Segundo seus
Usos Preponderantes.
− Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos.
− Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos.
− Compensação a municípios pela exploração e restrição de uso de
recursos hídricos.
− Rateio de custos das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou
coletivo.
− Penalidades (MINAS GERAIS, 1999).

No caso do CBH-Velhas será analisado como é praticado o gerenciamento da


informação no gerenciamento de recursos hídricos, tendo como base algumas
competências legais do Comitê para a implementação dos instrumentos de
gerenciamento. Será analisado como os membros do CBH-Velhas determinam suas
exigências da informação e como ela será usada ao tomarem decisões que implicam
os instrumentos de outorga de direito de uso de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor e do plano diretor de
recursos hídricos. Essa análise será baseada no conteúdo mínimo exigido na Lei
Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999) e no Decreto Estadual nº 41.548
(MINAS GERAIS, 2001) para aprovação do Plano Diretor de Recursos Hídricos.

2.3 Modelos de gerenciamento de Recursos Hídricos

A gestão adequada dos recursos hídricos é realizada por meio do controle


para assegurar sua disponibilidade em quantidade e qualidade para as gerações
atuais e futuras. Para isso, o Poder Público teve que buscar um modelo de gestão
que contemplasse os usos múltiplos do recurso água.
Buscando analisar e compreender o processo de evolução da gestão dos
recursos hídricos Setti et al. (2001) consideram que a evolução dos mecanismos
46

institucionais (legais e institucionais) e financeiros de gestão das águas no Brasil


aconteceu a partir de três modelos: o modelo burocrático, econômico-financeiro e o
sistêmico de integração participativa.
Segundo Setti et al. (2001) o modelo burocrático teve como marco
referencial o Código de Águas, da década de 1930, cujo objetivo era cumprir os
dispositivos legais. Tem como principais características a racionalidade e a
hierarquização. A autoridade e poder eram centrados nas instituições públicas de
natureza burocrática que tinham ocupação com processos casuísticos e reativos,
destinados à aprovação de concessões e autorizações de uso da água,
licenciamento de obras, ações de fiscalização, interdição, multa e quaisquer ações
que estivessem de acordo com as atribuições a eles destinados.
Para Tonet e Lopes, as principais falhas deste modelo são que as reações e
comportamentos humanos são considerados previsíveis e que a burocracia
excessiva impede a percepção dos elementos dinâmicos, isto é, o ambiente
organizacional (apud SETTI et al., 2001). Os autores apresentam ainda como
conseqüências negativas nesse modelo: uma visão fragmentada do processo de
gerenciamento; um desempenho restrito ao cumprimento de normas e
engessamento da atividade de gerenciamento; dificuldade de adaptação às
mudanças internas e externas; centralização do poder decisório nos escalões mais
altos; padronização no atendimento de demandas; excesso de formalismo; pouca ou
nenhuma importância dada ao ambiente externo. Isto faz com que a autoridade
pública torne-se ineficiente e politicamente frágil ante os grupos interessados nos
atos administrativos.
Apesar desse modelo não ter tido sucesso no gerenciamento das águas no
Brasil, encontrou condições propícias para ser reformulado no ensejo da preparação
das novas constituições federal e estaduais, a partir de 1988. Havia a possibilidade
do preparo de leis mais adequadas, com produção de legislação totalmente nova e
mais eficiente. No entanto, isso acabou não ocorrendo, não por incompetência dos
administradores, juristas e legisladores, mas pela limitação do processo que tais
mudanças poderiam acarretar. Sendo assim, adotar o mesmo modelo poderia levar
a se cometerem os mesmos erros. Surge então a necessidade de um novo modelo
de gerenciamento de águas operacionalizado e instrumentalizado por uma
legislação efetiva com vistas à promoção do desenvolvimento sustentável.
47

O modelo econômico-financeiro, segundo Setti et al. (2001), foi o modelo


utilizado na década de 1930, como resultado da análise custo-benefício, aplicada
aos recursos hídricos nos Estados Unidos. No Brasil, tem como marco a sua
aplicação na década de 1940 com a criação da Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF). É caracterizado pelo emprego de
instrumentos econômicos e financeiros utilizados pela administração pública, para
promoção do desenvolvimento econômico, bem como a indução à obediência à
legislação vigente. Os autores reconhecem que o modo de aplicação deste modelo é
semelhante ao modelo burocrático, com atuação setorial nas áreas de energia,
saneamento entre outros. A principal falha no modelo é a adoção de uma concepção
relativamente abstrata para solucionar os problemas contingenciais. Em um
ambiente mutável e dinâmico há exigência de grande flexibilidade do sistema de
gerenciamento com vistas mudanças freqüentes e diversas. O modelo tende a
subdimensionar ou superdimensionar a questão ambiental no processo de
planejamento integrado na bacia hidrográfica, o que pode levar à contestação e
conflitos com grupos desenvolvimentistas ou ambientalistas. No entanto, ainda
segundo os autores, apesar dessas críticas, o modelo mesmo com a orientação
setorial, representa um avanço em relação ao modelo burocrático, já que, mesmo
sendo setorial, possibilita o planejamento estratégico da bacia hidrográfica. Mesmo
assim pode falhar quanto ao gerenciamento integral, pois não assegura o tratamento
global a todos os problemas e oportunidades de desenvolvimento e proteção para a
bacia, sendo que o poder público é mais distante dos problemas locais e mais
restritos ao tratamento setorial.
Já o modelo sistêmico de integração participativa para, Setti et al. (2001)
é um modelo mais moderno de gerenciamento das águas. Incorpora elementos
novos em sua gestão, buscando integração de forma sistêmica, na forma matricial
com funções gerenciais e pela adoção de três instrumentos:
1. Planejamento estratégico por bacia hidrográfica, visando o
desenvolvimento sustentável.

2. Tomada de decisão por meio de deliberações multilaterais, por meio de


Comitês de Bacias Hidrográficas, constituídos de representantes de
instituições públicas, privadas, usuários e comunidade. Esses Comitês irão
propor, analisar e aprovar os planos e programas de investimentos.
48

3. Estabelecimento de instrumentos legais e financeiros, baseados no


planejamento estratégico e nas deliberações dos Comitês, visando
aprovação de planos e programas de investimentos para bacia
hidrográfica.

Esse último modelo onde a bacia hidrográfica é adotada como unidade de


planejamento e o gerenciamento de recursos hídricos é realizado de forma
participativa e descentralizado é o modelo preconizado pela Lei Federal nº 9.433
(BRASIL, 1997) e adotado por todos os Estados do país. A adoção desse modelo
sistêmico participativo deu um novo tom à gestão dos recursos hídricos, permitindo
assim um avanço na direção de um modelo de gerenciamento integrado para a
bacia hidrográfica.
A preservação tanto da água como dos demais recursos naturais é
atualmente preocupação e um desafio não só para planejadores como também para
toda sociedade, uma vez que envolve fatores econômicos e sociais e, ao mesmo
tempo, busca satisfazer as necessidades atuais e futuras. O processo de gestão dos
recursos hídricos foi evoluindo com o tempo, mas muitos fatores ainda precisam ser
melhorados.
Para Cunha (2000),

O processo de gestão integrada dos recursos hídricos tem sido definido


como um processo que favorece o desenvolvimento e a gestão coordenada
da água, solo e outros recursos relacionados, e tem em vista maximizar, de
forma eqüitativa, o bem-estar econômico e social, sem, contudo
comprometer a sustentabilidade dos ecossistemas vitais (CUNHA, 2000, p.
68).

Sob essa nova ótica de trabalho é fundamental a união entre os diferentes


atores da sociedade para a efetivação da gestão integrada dos recursos hídricos.
Portanto, está evidenciado o importante papel dos Comitês de Bacia
Hidrográfica no gerenciamento de recursos hídricos e da necessidade do
gerenciamento da informação para que eles possam atuar como gestores locais na
suas bacias de atuação.
O CBH-Velhas não tem modelo formal para fazer o gerenciamento de
recursos hídricos, mas as características do Comitê foram analisadas sob a ótica do
modelo sistêmico de integração participativa, tendo em vista ser esse o modelo que
adota a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, e o gerenciamento de
49

recursos hídricos é realizado de forma participativa e descentralizada, conforme


preconizado pela Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997).
Por fim, ressalta-se que pela carência de bibliografia, foram apresentados
somente os três modelos de gerenciamento de recursos hídricos, tendo em vista que
o processo de gestão de recursos hídricos existente no país e no mundo ser ainda
muito recente.

2.4 O gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil

Segundo Setti et al. (2001), a evolução histórica das administrações das


águas no Brasil não é recente, iniciou-se desde 1909 com a criação e extinção de
vários órgãos ao longo do tempo, criação de Ministérios, Secretarias, edição de
códigos, promulgação da Constituição Federal, edição e aprovação de leis. Por
possuir situação privilegiada quanto à sua disponibilidade hídrica, a idéia de
abundância levou ao desperdício da água disponível no Brasil, sem preocupação
quanto ao seu valor econômico ou ao devido tratamento quanto ao uso adequado.
Os problemas de escassez começaram a surgir em decorrência da combinação
entre o crescimento da população, principalmente nas grandes cidades e
degradação da qualidade das águas devido ao processo de industrialização e
expansão agrícola.
Para Moreira (2001), os problemas relacionados à quantidade e qualidade da
água só foram percebidos no final da década de 70. A partir daí surge o
envolvimento de profissionais brasileiros para pensar uma forma de gerenciar os
recursos hídricos e foram realizados vários seminários, inclusive internacionais,
sobre o gerenciamento das águas.
De acordo Cedraz (2000), as mudanças econômicas e territoriais que vinham
acontecendo desde meados de 1906 e a necessidade de proteger o imenso
potencial hídrico do Brasil, levaram técnicos, cientistas e políticos da época a
refletirem sobre como disciplinar, de forma racional e adequada os seus usos.
Elabora-se, portanto, o Código de Águas idealizado pelo jurista Alfredo Valadão.
Segundo o autor foram necessários dois anos para concluir a primeira versão do
50

Código, que chegou a ser aprovada pela Câmara de Deputados. Porém, o tema
ficou congelado até 1934.
O Código de Águas foi estabelecido pelo Decreto Federal nº 24.643 (BRASIL,
1934) e consolidou, à época, a legislação básica brasileira de águas. É considerado
por vários estudiosos e juristas como um ato legal avançado para o momento
histórico em que foi promulgado.

Nascia assim a legislação que pretendia regular o setor e que, embora de


1934, já incorporava quase todos os dispositivos hoje contidos nas leis mais
modernas. Não foi por falta de legislação que deixaram de gerenciar
adequadamente os recursos hídricos, durante todo esse tempo. Em
realidade faltou mesmo foi conscientização e vontade política, pois o Código
de Águas, embora privilegiasse o setor de geração de energia e a
navegação, agasalhava quase todos os princípios e instrumentos
considerados modernamente necessários ao adequado gerenciamento do
setor. Lá estão as figuras da outorga e a maioria dos condicionantes para a
sua emissão, bem como indicação para a cobrança pelo uso do domínio
público hidráulico, como instrumento de gestão (CEDRAZ, 2000, p.110).

Esse decreto federal é considerado uma das primeiras ações em benefício


dos recursos hídricos, e que serve até hoje de base para as legislações atuais. No
Código de Águas o Estado assumiu o poder regulador das atividades relacionadas
aos recursos hídricos, deixando, entretanto, de contemplar a participação da
sociedade em qualquer etapa de elaboração das diretrizes ou qualquer ação relativa
ao tema.
Para Moreira (2001), desde a criação do Código de Águas ficou claro que o
uso prioritário da água seria para geração de energia elétrica e, desta feita, a sua
administração ficou por conta do setor elétrico. O órgão responsável à época pelas
atribuições governamentais sobre a água em todo território nacional era o
Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), órgão da
administração direta, vinculado ao Ministério das Minas e Energia (MME). O órgão
teve algumas dificuldades em efetuar essa administração, uma vez que estava
havendo um crescimento econômico e logicamente o aumento da demanda sobre a
água. A responsabilidade simultânea pela política de geração de energia elétrica e
pela administração/gestão de recursos hídricos por parte do setor elétrico perdurou
até 1997, quando foi criado espaço administrativo específico no âmbito do Ministério
do Meio Ambiente (MMA), na forma de uma Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).
Problemas como fragmentação do gerenciamento dos recursos hídricos e
51

insatisfações de alguns setores surgiram durante as mudanças, vindo a dificultar a


administração dos recursos hídricos no Brasil.
Além do Código de Águas, pode-se citar outro avanço importante na
legislação, a Constituição Federal (BRASIL, 1988), que estipulou como competência
privativa da União legislar sobre os recursos hídricos e aos Estados, Distrito Federal
e Municípios legislarem de maneira concorrente sobre a proteção ao meio ambiente
e combate à poluição em qualquer de suas formas. Os municípios ficaram
impossibilitados de interferir diretamente na gestão dos recursos hídricos a não ser
pela gestão territorial, uma vez que é atribuição dos municípios legislarem sobre o
uso do solo, por meio dos seus planos diretores. Por meio da recomendação do
Ministério de Minas e Energia propôs-se a criação do Sistema de Gerenciamento de
Recursos hídricos, previsto na Constituição Federal e nas Leis Estaduais, só vindo a
ser efetivada nove anos depois, com a sanção da Lei Federal nº 9.433 (BRASIL,
1997) hoje em vigor.
Essa Lei trouxe grandes novidades para a gestão de recursos hídricos no
país e tem como objetivo principal “assegurar à atual e às futuras gerações a
necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos” (BRASIL, 1997, art 2º, inciso I). As diretrizes gerais propõem uma
visão integrada dos recursos hídricos com a gestão ambiental e dentre os seus
fundamentos tem-se que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e
ter a participação do poder público, dos usuários e da sociedade civil organizada.
Isto reforça o papel do Comitê de Bacia Hidrográfica como importante ente no
gerenciamento dos recursos hídricos no país.

2.5 O gerenciamento de Recursos Hídricos em Minas Gerais

Em Minas Gerais, a gestão das águas em diversos momentos refletiu as


diretrizes das políticas adotadas em nível nacional. À medida que o modelo de
gestão foi sendo questionado e as mudanças de visão foram introduzidas, o Estado
acompanhou os aperfeiçoamentos que vinham acontecendo na política e na
normativa nacional.
52

De acordo com os relatórios da 1ª etapa do Plano Estadual de Recursos


Hídricos (TC/BR, 2006), a gestão de recursos hídricos no Estado desenvolveu-se,
principalmente, a partir da criação do Comitê Especial de Estudos Integrados de
Bacias Hidrográficas de Minas Gerais (CEEIBH/MG), em julho de 1979 e pela
promulgação da Lei Estadual nº 11.504 em junho de 1994 (MINAS GERAIS, 1994),
estabelecendo o SEGRH.
Segundo Cardoso (2003) essa importante Lei foi resultado das discussões
iniciadas no Seminário Legislativo Águas de Minas, realizado em 1993, com amplo
debate da sociedade sobre temas relativos à gestão de recursos hídricos.
A partir de então, o Estado resolveu assumir o novo modelo de gestão das
águas e organizar o aparato institucional para sua implantação. Após pouco mais de
uma década, Minas Gerais está entre as unidades federativas que alcançaram
maiores avanços na implementação da política de recursos hídricos.
Até a década de 1980, a entidade pública responsável pela gestão dos
recursos hídricos em Minas Gerais era o Departamento de Águas e Energia Elétrica
– DAE/MG, mais tarde denominado Departamento de Águas e Energia pela Lei
Delegada nº 7 de 1985 (MINAS GERAIS, 1985). No entanto o modelo de gestão
adotado pelo Estado priorizava os usos para abastecimento público e geração de
energia elétrica, assim como na política nacional.
Em 1987 o DAE/MG passa a ser chamado de Departamento de Recursos
Hídricos do Estado de Minas Gerais (DRH/MG), (MINAS GERAIS, 1987). A partir
desse ano, a gestão de recursos hídricos no Estado passa a adotar uma política com
foco nos usos múltiplos da água. O DRH/MG apresentava como principais
competências: propor a política estadual de recursos hídricos; desenvolver funções
técnicas e administrativas relativas à utilização racional dos recursos hídricos,
objetivando seu aproveitamento múltiplo; implantar e operar a rede de
monitoramento hidrológico no Estado e secretariar o CERH/MG (MINAS GERAIS,
1987).
Continuando as mudanças com os objetivos de aperfeiçoar e acompanhar a
gestão das águas no nível nacional, em 1997 o DRH/MG tem o nome alterado e é
reorganizado, passando a se chamar IGAM e a se vincular à SEMAD. Além das
competências do antigo DRH/MG, o órgão assume um papel mais efetivo e ganha
maior autonomia no gerenciamento das águas. Dentre as principais competências, o
órgão passa a ter a função de executar a PERH aprovada pelo CERH/MG, incentivar
53

e apoiar a criação dos comitês e agências de bacias hidrográficas, fiscalizar e


controlar a utilização dos recursos hídricos no Estado, monitorar a qualidade das
águas superficiais e subterrâneas e outorgar o direito de uso dos recursos hídricos.
Tem ainda como competência apoiar tecnicamente os Comitês de Bacias
Hidrográficas.
O IGAM, ao longo dos 11 anos de sua criação, avançou bastante na
implementação dos instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos no Estado.
Hoje o Estado já conta com 34 Comitês de Bacia Hidrográfica criados e 2
Comissões Pró-Comitê articuladas para formar os respectivos Comitês faltantes,
para assim completar o total previsto no Estado que são de 36. Tem feito ainda um
grande esforço para estruturar técnica e administrativamente esses Comitês e
possibilitar o seu funcionamento, visando, assim, efetivar o gerenciamento
descentralizado e participativo dos recursos hídricos no Estado, conforme
preconizado pela Lei Estadual nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999). Os Comitês são
instituídos por ato do Governador do Estado e são compostos por representantes do
poder público municipal e estadual, dos usuários e de entidades da sociedade civil
ligadas a recursos hídricos. O CBH-Velhas que será estudo de caso dessa pesquisa,
compõe o quadro dos 34 Comitês instituídos no Estado e, com 10 anos de
existência, pode ser considerado como um dos mais desenvolvidos e atuantes na
gestão participativa, devido principalmente ao relevante papel desempenhado no
gerenciamento dos recursos hídricos da bacia e na promoção dos encontros entre
todos os segmentos que compõe o Comitê, por meio das reuniões ocorridas
frequentemente para a discussão dos assuntos de sua competência.
A rede de monitoramento da qualidade das águas superficiais de Minas
Gerais, em execução desde 1997, disponibiliza uma série histórica da qualidade das
águas no Estado e gera dados indispensáveis ao gerenciamento dos recursos
hídricos. Essa rede iniciou com 222 pontos de amostragem nas oito principais bacias
hidrográficas do Estado e hoje conta com 260 pontos de coleta, o que representa a
cobertura de 98,3% da área estadual. As coletas são feitas a cada trimestre, com um
total de 4 campanhas anuais. Nas amostras coletadas são realizadas análises físico-
químicas, bacteriológicas e ecotoxicológicas pela Fundação Centro Tecnológico de
Minas Gerais (CETEC), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Ciência e
Tecnologia. Em 2005, o IGAM implantou uma Rede Piloto de Monitoramento da
Qualidade das Águas Subterrâneas nas bacias dos rios Verde Grande, Riachão e
54

Jequitaí, todas inseridas na bacia do Rio São Francisco. A rede piloto é constituída
por 39 poços tubulares profundos, instalados em uma área aproximada de 36.000
km², contemplando cerca de 30 municípios do norte de Minas Gerais (IGAM, 2008).
Quanto à outorga de direito de uso de recursos hídricos, este foi o primeiro
instrumento que o IGAM focalizou e é hoje o mais desenvolvido, sendo referência
para o País. Com a implementação do Sistema Integrado de Meio Ambiente (SIAM)
pela SEMAD os processos autorizativos estão sendo realizados de forma integrada,
buscando assim, a compatibilização da gestão de recursos hídricos com a gestão
ambiental.
O IGAM já emitiu cerca de 17.000 autorizações para captações de águas
superficial e subterrânea, bem como para intervenções em rios, ribeirões e córregos,
possibilitando assim a gestão dos recursos hídricos de forma a garantir o acesso à
água a todos os usuários do Estado. A outorga é um instrumento legal que não dá
ao usuário a propriedade da água ou sua alienação, mas o simples direito de seu
uso. Portanto, a outorga poderá ser suspensa, parcial ou totalmente, em casos
extremos de escassez ou de não cumprimento pelo outorgado dos termos de
outorga previstos nas regulamentações, ou por necessidade premente de se
atenderem os usos prioritários e de interesse coletivo. O IGAM efetua também o
cadastro dos usos considerados insignificantes quanto à vazão e que não estão
sujeitos à outorga (IGAM, 2008).
As discussões sobre a cobrança pelo uso da água avançaram bastante, e
apesar de não estar implementada ainda no Estado, tem-se previsão de iniciá-la no
segundo semestre do ano de 2009 nas bacias hidrográficas do rio das Velhas, do rio
Araguari e da bacia dos rios Piracicaba e Jaguari. A cobrança visa o reconhecimento
da água como um bem natural de valor ecológico, social e econômico, cuja utilização
deve ser orientada pelos princípios do desenvolvimento sustentável, dando ao
usuário uma indicação de seu real valor pelo estabelecimento de um preço público
para seu uso. O objetivo deste instrumento é induzir os usuários de água, públicos e
privados, a utilizarem esse recurso natural de forma mais racional, evitando-se o seu
desperdício e garantindo, dessa forma, o seu uso múltiplo para as atuais e futuras
gerações. A Cobrança não é um imposto, uma vez que sua implementação ocorrerá
por bacia hidrográfica, a partir de iniciativa do respectivo Comitê de Bacia
Hidrográfica. Os recursos financeiros arrecadados com sua implementação serão
revertidos obrigatoriamente para a bacia onde foram gerados, sendo utilizados no
55

financiamento de estudos, projetos e obras que visem à melhoria quantitativa e


qualitativa das águas da bacia, previstos no seu Plano Diretor de Recursos Hídricos
(IGAM, 2008).
Outros importantes instrumentos para o gerenciamento dos recursos hídricos
em Minas Gerais são o Plano Estadual e os Planos Diretores de Recursos Hídricos
(MINAS GERAIS, 1999). O IGAM já fez a primeira parte do Plano Estadual e está
elaborando a segunda etapa, com previsão de término no final de 2009. Com o
Plano Estadual de Recursos Hídricos concluído, o Estado dá um importante passo
para efetivar a implementação da PERH em Minas Gerais. O Plano Estadual de
Recursos Hídricos é o instrumento gerencial que estabelece as diretrizes para o
gerenciamento dos recursos hídricos no Estado e, portanto, o documento gerencial
para uso de todas as entidades que compõem o SEGRH. Já os Planos Diretores de
Recursos Hídricos têm a mesma finalidade do Plano Estadual, mas com o escopo
mais detalhado e com foco na bacia hidrográfica específica para onde será
elaborado. É, portanto, um importante documento gerencial para o Comitê de Bacia,
uma vez que nele são definidas as diretrizes para o gerenciamento, bem como as
ações, projetos e programas que deverão ser implementados na bacia para a gestão
adequada dos recursos hídricos locais. O Estado já tem 6 Planos Diretores
concluídos (bacia do rio das Velhas, rio Araguari, rio Pará, rio Paracatu, rios Pomba
e Muriaé e afluentes do rios Preto e Paraibuna), em fase de elaboração atualmente
são 9 e com previsão de iniciar mais 6 Planos em 2009. Serão, portanto, 17 Planos
elaborados dos 36 previstos para todo o Estado e a meta é que até 2010 todos os
Comitês tenham seus Planos Diretores elaborados (IGAM, 2008).
Uma importante fonte de recursos para a conservação e proteção dos
recursos hídricos do Estado é o Fundo de Recuperação, Proteção e
Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais
(FHIDRO). O FHIDRO tem por objetivo dar suporte financeiro a programas e
projetos que promovam a racionalização do uso e a melhoria, nos aspectos
quantitativo e qualitativo, dos recursos hídricos no Estado. Os projetos devem ser
protocolados no IGAM acompanhados de toda a documentação legal exigida. Os
projetos são submetidos á comissão de analise do IGAM, ao Grupo Coordenador do
FHIDRO e ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). A SEMAD é o
órgão gestor do FHIDRO, o IGAM é a secretaria executiva e o BDMG é o
responsável para a contratação das operações com os recursos. Atualmente o
56

FHIDRO tem aprovado vários projetos com o objetivo de conservação, proteção e


melhoria dos recursos hídricos do Estado (IGAM, 2008).
Sobre a fiscalização do uso de água no Estado, o IGAM adotou uma mudança
de conceito, onde busca atuar preventivamente; incentivar o uso racional; garantir os
usos múltiplos; coibir usos predatórios; potencializar a regularização e promover a
melhoria da qualidade ambiental. A fiscalização é realizada de forma integrada com
os demais órgãos ambientais do Estado sob a coordenação do Comitê Gestor de
Fiscalização Ambiental Integrada (CGFAI). Entre as competências legais fixadas
para o Comitê estão o planejamento integrado e o controle (monitoramento) das
ações de fiscalização, estabelecendo diretrizes conjuntas para que a Secretaria
Executiva exerça a coordenação dessas ações no Estado. O CGFAI deverá expedir
orientações e regras de conduta para que as entidades que compõem o Sistema
Estadual de Meio Ambiente (SISEMA) possam executar de forma integrada,
contínua, sistemática e coordenada, suas missões institucionais, previstas em lei, no
que se refere à fiscalização ambiental integrada, de forma a melhorar sua eficácia.
Daí a importância do CGFAI como elemento coordenador, indutor do processo de
integração e responsável pelo planejamento estratégico da fiscalização ambiental no
Estado.
A Fiscalização Ambiental desempenha importante função na garantia da
qualidade e quantidade das águas do Estado de Minas Gerais, já que monitora e
controla o uso de recursos hídricos. As ações de fiscalização do IGAM são
realizadas pela Gerência de Controle e Fiscalização e, em razão de convênio, pela
Polícia Militar de Meio Ambiente e Trânsito (PMMG) e visam coibir o uso irregular e
incorreto dos recursos hídricos e a conseqüente degradação do meio ambiente.
A atuação dos fiscais até meados de 2006 era pouco incisiva em razão do
caráter meramente informativo da legislação vigente a época: Naquele período a
grande maioria das penalidades aplicadas se limitava a advertências. A partir de
junho de 2006, ocorrem alterações na legislação, buscando maior efetividade na
atuação dos fiscais e minimizar os valores das multas aplicadas, e especificar
melhor as infrações, tratando de forma diferenciada os usos de recursos hídricos
para consumo humano e dessedentação animal.
Dando continuidade à essa nova concepção, houve a criação e o
fortalecimento institucional das Diretorias de Monitoramento e Fiscalização
Ambiental (DMFA) da Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), do Instituto
57

Estadual de Florestas (IEF) do e IGAM, que demonstra a intenção do SISEMA em


implementar um novo e eficiente modelo de fiscalização.
Tal modelo é essencial para garantir o cumprimento da legislação específica,
já que pressupõe um processo de gestão de políticas públicas abrangente, que não
está ligado exclusivamente à administração ambiental do Governo, mas implica em
inter-relações institucionais entre distintos setores do Estado, de entidades
representativas do setor produtivo, da sociedade civil e das organizações não-
governamentais. Como por exemplo, Ministério Público Estadual e Federal; Poder
Judiciário; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA); Agência Nacional de Águas (ANA); Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA); Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM); Polícia
Federal; Delegacias Regionais do Trabalho; Secretaria Especial de Aqüicultura e
Pesca (SEAP); Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana
(SEDRU); Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA); Ouvidoria Geral do Estado
(OGE); Órgãos municipais de meio ambiente, trânsito e de transporte; Entidades
representativas de profissionais liberais e da sociedade organizada.
Em razão dessas mudanças houve um aumento nas ações de fiscalização do
IGAM, merecendo destaque a atuação da PMMG. Cabe a Polícia Militar de Meio
Ambiente a execução da fiscalização, mediante convênio, bem como o apoio
operacional na execução das fiscalizações a cargo do IGAM, FEAM, IEF e das
Superintendências Regionais de Meio Ambiente (SUPRAM), sob a coordenação da
Secretaria Executiva do CGFAI.

2.6 Os comitês de Bacia Hidrográfica

A Política Nacional de Recursos Hídricos, fundamentada nos princípios da


descentralização e da participação, instituiu a bacia hidrográfica como unidade de
gestão. Para fazer esta gestão foi idealizado o Comitê de Bacia Hidrográfica, órgão
colegiado, de caráter deliberativo e normativo, inteiramente novo na realidade
institucional brasileira, contando com a participação dos usuários, da sociedade civil
organizada e do poder público (BRASIL, 1997). O Comitê atua como um “parlamento
das águas”, já que é o fórum de decisão no âmbito da cada bacia hidrográfica.
58

Segundo Muñoz (2000, p. 222) “bacia hidrográfica pode ser definida como
uma área topográfica, drenada por um curso de água ou um sistema de cursos de
água de forma que toda vazão efluente seja descarregada através de uma simples
saída”. Para o autor, no âmbito da ciência ambiental, a bacia hidrográfica contém o
conceito de integração, sendo que sua adoção, uso e aplicação para estudos de
problemas ambientais são fundamentais, pois contém informações físicas, biológicas
e socioeconômicas importantes para a gestão local.
A Lei Federal nº 9.433 (BRASIL, 1997) trouxe uma abordagem moderna e
inovadora ao colocar os Comitês no papel de entes centrais no processo de gestão
das águas. Eles são autoridades máximas em suas respectivas áreas de atuação
nas questões referentes aos recursos hídricos locais, têm como atribuição promover
o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação de
outras entidades que queiram participar do processo.
A inclusão do Comitê no novo modelo de gestão adotado no País e no Estado
criou um espaço formal de participação da sociedade nas decisões acerca da gestão
das águas, o que reforça o motivo da gestão dos recursos hídricos ser entendida
como um fenômeno tão social quanto técnico.
Essas organizações desempenham um papel estratégico na política de
recursos hídricos, são elas que materializam a gestão descentralizada e
compartilhada, por meio da participação dos três setores e tendo a bacia hidrográfica
como a unidade de gestão.
Para Domingues e Santos (2002) os Comitês de Bacias Hidrográfica
constituem a base do sistema de gerenciamento, pois neles são promovidos os
debates das questões relacionadas a recursos hídricos da bacia, articulada a
atuação das entidades intervenientes, e resolvidos, em primeira instância, os
conflitos relacionados ao uso da água. Deles emanam as diretrizes gerais sobre o
uso, conservação, proteção e recuperação dos recursos hídricos da bacia.
Portanto, cabe aos Comitês o papel de participar do gerenciamento local dos
recursos hídricos, buscando soluções para os problemas que surgem na bacia, por
meio da articulação dos diversos segmentos da sociedade, consubstanciadas por
meio das negociações que permitem atingir um acordo social. E para isso faz-se
necessário o gerenciamento da informação para possibilitar um gerenciamento
adequado dos recursos hídricos. Os membros dos Comitês, mais especificadamente
do CBH-Velhas, objeto de estudo dessa pesquisa, para fazerem o seu papel dentro
59

do gerenciamento dos recursos hídricos precisam determinar suas exigências da


informação e conhecer como essa informação será usada nas suas tomadas de
decisões.

2.6.1 O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas

De acordo com Camargos (2005) a bacia do rio das Velhas está localizada na
região central de Minas Gerais, entre as latitudes 17º 15’ 25”S e longitudes 43º 25’W
e 44º 50W, apresentando uma forma alongada na direção norte-sul (FIG. 5).

FIGURA 5 – Mapa da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas


Fonte: CAMARGOS, 2005.
60

Ainda, segundo a autora, o rio das Velhas, com 761 km de extensão, nasce
na Cachoeira das Andorinhas, no município de Ouro Preto e deságua no rio São
Francisco na barra do Guaicuy. Toda a bacia compreende uma área de 29.173 km2,
onde estão localizados 51 municípios que abrigam uma população de
aproximadamente 4,8 milhões de habitantes. A bacia do rio das Velhas divide-se em
três regiões com diferenças relevantes no que diz respeito à população total,
aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos, sendo elas denominadas por:
− Alto rio das Velhas: compreende toda a região denominada Quadrilátero
Ferrífero, tendo o Município de Ouro Preto como o limite ao sul e os
municípios de Belo Horizonte, Contagem e Sabará como limite ao norte.
Uma porção do município de Caeté faz parte do alto rio das Velhas, tendo
a Serra da Piedade como limite leste.
− Médio rio das Velhas: ao norte traça-se a linha de limite desse trecho da
bacia coincidindo com o rio Paraúna, o principal afluente do rio das
Velhas. No lado oeste, atravessa o município de Curvelo e, em outro
trecho, coincide com os limites do município de Corinto.
− Baixo rio das Velhas: compreende, ao sul, a linha divisória entre os
municípios de Curvelo, Corinto, Monjolos, Gouveia e Presidente
Kubitscheck e, ao norte, os municípios de Buenópolis, Joaquim Felício,
Várzea da Palma e Pirapora.

TABELA 1 – Relação entre a área de cada trecho da Bacia Hidrográfica do rio das Velhas e a sua
população total

2
Região População total % população Área (km ) % área
Baixo Velhas 202.446 5 18.576,01 48
Médio Velhas 1.121.337 25 16.970,70 44
Alto Velhas 3.082.407 70 3.347,60 8
Total 4.406.190 100 38.894,30 100

Fonte: CAMARGOS, 2005 (adaptado).

Pela TAB. 1 observa-se que é inversamente proporcional a relação existente


entre área e população total; principalmente quando se compara os trechos alto e
baixo Velhas. O alto Velhas apresenta o maior contingente populacional (70%) e
ocupa a menor área dos três trechos (8%). Possui uma expressiva atividade
61

econômica, concentrada, principalmente em Belo Horizonte e Contagem, onde estão


presentes os maiores focos de poluição hídrica de toda a bacia. Os principais
agentes poluidores são os esgotos industriais e domésticos não tratados e os
efluentes gerados pelas atividades minerárias atuantes nesta parte da bacia. Já os
trechos médio e baixo rio das Velhas englobam a maior parte da área da bacia
(92%), no entanto são regiões pouco povoadas, principalmente o baixo Velhas (5%)
com vocação rural. Assim possuem características físicas, culturais, econômicas e
de uso e ocupação do solo diferenciadas, se comparado ao alto trecho. Quanto à
área de drenagem, o trecho denominado alto Velhas contribui com cerca de 8% da
área, a média bacia com cerca de 44% e a baixa bacia com 48% do total
(CAMARGOS, 2005).
A partir da divisão político-administrativa dos 51 municípios integrantes da
bacia é possível observar que 44 destes não estão totalmente inseridos na área da
bacia, o que justifica a diferença na área total apresentada na TAB. 1 e aquela
apresentada no segundo parágrafo desse item e do item 1.2.
Para fazer o gerenciamento das águas dessa bacia foi criado o Comitê da
Bacia Hidrográfica do rio das Velhas. De acordo com Cardoso (2003) a criação do
CBH-Velhas foi uma exigência do Banco Mundial no âmbito do Programa de
Saneamento Ambiental das Bacias dos Rios Arrudas e Onça (PROSAM). Este
Programa constituía-se do Plano Diretor da Bacia e o Estudo sobre a Viabilidade da
Agência de Bacia do Rio das Velhas.
Para Abers (2001) a criação do Comitê, em 1998, ocorreu de forma rápida e
sem um amplo processo de mobilização dos setores interessados. Aconteceram
apenas quatro reuniões preparatórias e uma reunião conclusiva onde foi
estabelecida a composição do Comitê, demonstrando que o processo foi feito de
forma apressada. Por ter sido o primeiro Comitê de Minas Gerais, e também pela
agilidade que o processo relacionado ao PROSAM exigiu, a mobilização da
sociedade da bacia ficou comprometida. No entanto, apesar da forma como foi
criado, pode-se perceber então que o CBH Velhas alavancou todo o processo
organizativo de várias regiões do Estado para a gestão dos recursos hídricos. Ao
longo dos seus 10 anos de existência o CBH-Velhas teve momentos difíceis, com
baixa participação e envolvimento dos membros e pouca produtividade. À medida
que a própria Política Estadual de Recursos Hídricos (MINAS GERAIS, 1999) foi se
consolidando, o Comitê também se fortaleceu e hoje é o mais atuante no Estado.
62

De acordo com Costa (2008), no período de 1998/2000, ocorreram as


primeiras reuniões do CBH-Velhas e a proposta de criação da Unidade Técnica
Executiva Interinstitucional (UT), para funcionar como a Agência de Bacia até que
esta fosse criada. Nesse período ocorreram 7 reuniões com decisões importantes
como a aprovação em dezembro de 2000 da criação da UT e a eleição para escolha
da diretoria do Comitê para o mandato de 2001/2002. Nesse mandato, apesar da UT
não ter conseguido executar o seu papel como Agência de Bacia, houve um grande
avanço nas ações do CBH-Velhas. Foram realizadas 9 reuniões surgindo novos
assuntos na rotina das reuniões tais como o aumento dos pedidos de outorga de
grande porte, a participação e promoção de eventos sobre recursos hídricos, a
divulgação e participação do Comitê em trabalhos e projetos de revitalização da
bacia e ainda ampliação do espaço para denúncias contra uso ilegal de água e
outros atos de degradação da bacia. A autora considera os mandatos de 2003/2004
e 2005/2007 como um marco para o CBH-Velhas, devido à eleição e reeleição do
Coordenador Geral do Projeto Manuelzão como Presidente do Comitê. Para Costa
(2008) o fato de se ter um presidente oriundo do segmento sociedade civil e ainda
um ambientalista bastante envolvido nas questões da revitalização, preservação e
conservação da bacia do rio das Velhas era extremamente positivo para o CBH-
Velhas. E de fato o foi, pois a partir desse período foi potencializado e diversificado o
papel do Comitê, fazendo com que ele passasse a ter maior visibilidade e
importância no gerenciamento das águas da bacia. No ano de 2004 foi atualizado o
Plano Diretor elaborado no âmbito do PROSAN na década de 90 e lançada a Meta
2010, um projeto que visa à revitalização da bacia, tendo como meta: navegar,
pescar e nadar no rio das Velhas, em seu trecho que passa pela região
metropolitana de Belo Horizonte, até o ano de 2010. De acordo com o “Suplemento
Informativo sobre a Meta 2010”(PROJETO MANUELZÃO, 2008) o foco da Meta
2010 é a região mais poluída da bacia do rio das Velhas, que vai da foz do rio
Itabirito até o ribeirão Jequitibá. Em 2007, a Meta 2010 passou a ser um dos
Projetos Estruturadores do Governo de Minas Gerais, onde a SEMAD é a entidade
responsável pelo projeto, articulando ações com vários parceiros como as prefeitura
municipais da bacia, o CBH-Velhas, a Companhia de Saneamento do Estado de
Minas Gerais (COPASA), Secretarias de Estado, Projeto Manuelzão, comunidades e
empresas.
63

Ainda nesse mandato o CBH-Velhas continuou bastante atuante, com muitas


deliberações sobre outorga de direito de usos de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor e ainda, ampliando as
discussões sobre a implementação da cobrança pelo uso da água na bacia. Foram
criadas três Câmaras Técnicas: a Câmara Técnica de Assuntos Institucionais e
Legais (CTIL), Câmara Técnica de Planejamento, Projetos e Controle (CTPC) e a
Câmara Técnica de Outorga e Cobrança (CTOC). A CTOC passa a discutir mais
intensamente sobre a criação de uma entidade equiparada à Agência de Bacia,
discussão que evolui até que em março de 2006 é aprovada pelo CERH/MG a
criação da Associação Executiva de Apoio á Gestão de Bacias Hidrográficas Peixe
Vivo (ABG-Peixe Vivo), que irá fazer o papel da Agência de Bacia do CBH-Velhas,
viabilizando assim o início da cobrança pelo uso da água na bacia a partir de
meados de 2009. Em outubro de 2007 o Comitê aprovou o Estatuto da AGB-Peixe
Vivo definindo como sua finalidade prestar apoio técnico-operativo ao gerenciamento
dos recursos hídricos da bacia, mediante a execução e o acompanhamento de
ações, programas, projetos, pesquisas e quaisquer outros procedimentos,
deliberados pelo CBH-Velhas. Para o mandato 2007/2009 foi realizada eleição no
segundo semestre de 2007, com uma nova composição de seus membros
(QUADRO 1) e sendo novamente eleito como presidente do CBH-Velhas um
representante da sociedade civil, indicando que o Comitê manterá o seu crescimento
como órgão colegiado em prol da revitalização da bacia. Os próximos passos do
Comitê será viabilizar a estruturação e funcionamento da AGB-Peixe, para torná-la
operacional e eficiente.

QUADRO 1 – Representantes do CBH-Velhas – gestão 2007/2009

Continua

PODER PÚBLICO MUNICIPAL PODER PÚBLICO ESTADUAL

Titular/Suplente: Prefeitura de Ouro Preto e Titular/Suplente: 7º Cia Polícia Militar de


de Curvelo. Meio Ambiente e IEF
Titular/Suplente: Prefeitura de Belo Horizonte Titular/Suplente: - Empresa de Assistência
e de Lagoa Santa. Técnica e Extensão Rural (EMATER) e
Titular/Suplente: Prefeitura de Contagem Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA)
e de Confins. Titular/Suplente: Secretária de Estado de
Titular/Suplente: Prefeitura de Funilândia Agricultura, Pecuária e Abastecimento
e de Baldim. Titular/Suplente: Secretaria de Estado de
64

QUADRO 1 – Representantes do CBH-Velhas – gestão 2007/2009

Conclusão

PODER PÚBLICO MUNICIPAL PODER PÚBLICO ESTADUAL

Titular/Suplente: Prefeitura de Jaboticatubas Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e


e Santana do Riacho. Secretária de Estado de Saúde
Titular/Suplente: Prefeitura de Jequitibá Titular/Suplente: IGAM
e de Morro da Garça. Titular/Suplente: FEAM
Titular/Suplente: Prefeitura de Presidente Titular/Suplente: Secretária de Estado de
Juscelino e de Santana do Pirapama. Educação

USUÁRIOS SOCIEDADE CIVIL

Titular/Suplente: FAEMG – Federação da Titular/Suplente: Instituto Guaicuy e


Agricultura do Estado de MG e Sindicato dos Instituto de Estudos Pró-Cidadania
Produtores Rurais de Curvelo. Titular/Suplente: ONG Conviverde e
Titular/Suplente: COPASA Faculdade Arnaldo
Titular/Suplente: Federação das Indústrias do Titular/Suplente: ABES e Faculdade de
Estado de Minas Gerais (FIEMG) e Top Engenharia e Arquitetura da Universidade
Confecções LTDA. (FUMEC)
Titular/Suplente: Holcim (Brasil) S.A. e Titular/Suplente: Creche Lar Frei Toninho
Empresa de Cimentos LIZ S.A. e Mineiridade em Pencas
Titular/Suplente: Companhia Vale do Rio Doce Titular/Suplente: Sociedade Pró
Titular/Suplente: SAAE – Sete Lagoas e SAAE Melhoramentos do Bairro São Geraldo
- Itabirito (SOPROGER) e ONG Leão
Titular/Suplente: CEMIG Titular/Suplente: ONG Caminhos da Serra
Ambiente Educação e Cidadania e
Sociedade Mineira dos Engenheiros
Titular/Suplente: AMDA e Associação
Comunitária dos Chacareiros do Maravilha
(ACOMCHAMA)

Fonte: COSTA, 2008.

2.7 Processo de gerenciamento da informação proposto por Davenport (1998)

De acordo com Davenport (1998) o gerenciamento da informação pode ser


considerado como um conjunto estruturado de atividades que envolvem a forma
como as organizações obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento.
Ainda para o autor, dentro de uma organização, o fato de identificar todos os passos
de um processo informacional, todas as fontes envolvidas, todas as pessoas que
65

participam de cada passo, todos os problemas que surgem, pode indicar o caminho
para mudanças que realmente fazem a diferença.
Para Davenport (1998) quase todos os processos, geralmente, seguem os
mesmos passos, dependendo dos interesses de cada organização. Dessa forma,
propõe um processo genérico composto por quatro passos, a saber: determinação
das exigências, obtenção, distribuição e utilização da informação, conforme FIG. 6.

FIGURA 6 – O processo de gerenciamento da informação segundo Davenport


Fonte: DAVENPORT, 1998, p. 175.

Passo 1 – Determinação das Exigências da Informação: é considerado um


problema difícil, pois implica entender os ambientes de trabalho de que utiliza a
informação e requer perspectivas política, psicológica, cultural, estratégica e
ferramental, bem como avaliações individual e organizacional.
De acordo com Davenport (1998), para a determinação das exigências da
informação é necessário observar as atividades gerenciais, compreender quais são
as informações necessárias para a gerência, identificar quais são as informações
necessárias para cada grupo de usuários, o que constitui a informação considerada
chave, quais são os limites dessa informação, de que fonte deve derivar, quais são
os documentos mais utilizados, bem como os mais importantes. A partir desta
observação é possível realizar o mapeamento da informação disponível na
organização, elaborando-se um mapa da informação organizacional, de forma a
registrar os tipos de recursos informacionais existentes, suas fontes e localizações,
as unidades organizacionais responsáveis e os serviços e sistemas a eles
associados.
Passo 2 – Obtenção: é uma atividade fundamental para o processo, deve
incorporar um sistema de aquisição contínua e consiste nas seguintes atividades:
Exploração de informações; Classificação da informação, Formatação e estruturação
das informações.
66

Após a determinação das exigências da informação, torna-se necessário


obtê-la e isso constitui em uma atividade ininterrupta, isto é, trata-se de uma fase
que não pode ser interrompida. Para Davenport (1998), para o processo ser eficaz,
deve ser baseado em um sistema de aquisição contínua.
Ainda segundo o autor, a atividade de obtenção de informação consiste em
várias tarefas, não necessariamente seqüenciais, que são: exploração de
informações, fator essencial para qualquer processo de gerenciamento
informacional; classificação da informação em estruturas categorizadas. Segundo
Davenport (1998), criar categorias certas pode afetar a maneira como se obtém a
informação. O autor afirma, ainda, que as classificações são sempre arbitrárias,
mesmo que algumas sejam mais úteis que as outras.
Quanto à formatação das informações, de acordo com Tufte apud Davenport
(1998, p. 186) “o que se vê é sempre aquilo que obtém”. Para o autor o exercício de
se encontrar a melhor forma para a informação acaba por determinar o quanto ela
será aceita e utilizada. Portanto, o ato de se encontrar a melhor forma de
informação, faz parte da rotina da informação. Já a estruturação para Davenport
(1998) deve ser feita a partir dos documentos, que é a maneira mais útil e óbvia de
se estruturar a informação.
Passo 3 – Distribuição: consiste na forma como são feitas a comunicação e a
divulgação das informações utilizadas.
A distribuição envolve a ligação de gerentes e funcionários com a informação
de que necessitam. Segundo Davenport (1998), para que a distribuição seja mais
efetiva, os outros passos do processo devem funcionar satisfatoriamente e, para
isso, a definição das exigências informacionais ajuda a aumentar a consciência de
que a informação é valiosa e o formato correto facilitam a distribuição. A organização
deve definir a estratégia de distribuição a ser adotada, podendo optar tanto pela
divulgação às pessoas autorizadas, partindo da premissa de que as pessoas não
conhecem o que não sabem, bem como pela disponibilização da informação.
Passo 4 – Uso da Informação: está relacionado com a maneira como a
informação disponibilizada será usada nos processos de tomada de decisão.
A utilização constitui a etapa final e mais importante do processo genérico
para a implantação da gestão da informação em uma organização, conforme
sugerido por Davenport (1998, p. 194), já que, “como um medicamento que não é
tomado, a informação de nada servirá até que seja utilizada”. Para o autor, quando
os gerentes de alto nível têm conhecimento de qual freqüência são utilizadas as
67

informações armazenadas na organização, podem fazer o equivalente ao que fazem


os executivos das redes de televisão quando medem o índice de audiência. Isso é
aquilo que não costuma ser acessado, pode ser eliminado ou modificado e, o
material mais popular, por sua vez, é analisado para se descobrir por que é tão
utilizado.
Davenport (1998) sugere que o uso da informação possa ser
institucionalizado em uma organização por meio de mecanismos de avaliação de
desempenho e de recompensas e punições, mas também que a utilização da
informação possa se estimada e melhorada por outros processos. Ele acredita que
“é melhor fazer o bom uso de um ambiente informacional pobre do que mau uso de
um ambiente bom” (DAVENPORT, 1998, p. 197).
Foram objeto de análise desta pesquisa os passos 1 e 4 por serem os que
mais deverão apresentar resultados condizentes com o interesse da pesquisa, para
as competências legais dos membros do CBH-Velhas: aprovar o Plano Diretor de
Recursos Hídricos e aprovar a outorga de direito de uso de recursos hídricos para
empreendimentos de grande porte e potencial poluidor.
Para o passo 1, determinação das exigências da informação, nas
perspectivas estratégica e ferramental, foi analisado como os membros do CBH-
Velhas determinam as suas exigências da informação a partir do conteúdo mínimo
necessário para a aprovação do Plano Diretor, previsto na Lei Estadual nº 13.199
(MINAS GERAIS, 1999) e no Decreto Estadual nº 41.578 (MINAS GERAIS, 2001).
Foram analisadas sob a ótica da determinação das exigências da informação
10 (dez) variáveis dentre as previstas nesse conteúdo mínimo, com justificativa para
cada resposta:
Pergunta 1: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise de
opções de crescimento demográfico apresentadas no Plano? Por quê? Justifique
sua resposta.
Pergunta 2: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise da
evolução das atividades produtivas apresentadas no Plano? Por quê? Justifique sua
resposta.
Pergunta 3: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das
modificações dos padrões de ocupação do solo apresentadas no Plano? Por quê?
Justifique sua resposta.
68

Pergunta 4: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das


disponibilidades hídricas atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano?
Por quê? Justifique sua resposta.
Pergunta 5: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das
disponibilidades hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano? Por
quê? Justifique sua resposta.
Pergunta 6: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das
demandas hídricas atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano? Por
quê? Justifique sua resposta.
Pergunta 7: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das
demandas hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano? Por quê?
Justifique sua resposta.
Pergunta 8: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância das prioridades de
outorga de direito de uso definida no Plano? Por quê? Justifique sua resposta.
Pergunta 9: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das
propostas para criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção
dos recursos hídricos e de ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano? Por
quê? Justifique sua resposta.
Pergunta 10: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância das metas de
melhoria da qualidade dos recursos hídricos apresentadas no Plano? Por quê?
Justifique sua resposta.
Para o passo 4, a partir das respostas acima, foram analisadas, sob a ótica do
uso da informação, 10 (dez) variáveis utilizadas para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor, em uma escala de 0 a 10, com justificativa para
cada resposta:
Pergunta 1: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das opções de crescimento
demográfico apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de grande porte e
potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 2: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso da evolução das atividades
produtivas apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de grande porte e
potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 3: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das modificações dos
padrões de ocupação do solo apresentadas no Plano para a aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
69

Pergunta 4: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das disponibilidades


hídricas atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 5: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das disponibilidades
hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 6: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas hídricas
atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano para a aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 7: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas hídricas
atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano para a aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 8: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das prioridades de outorga
definida no Plano para a aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor?
Justifique sua resposta.
Pergunta 9: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das propostas para criação
de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos e
de ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
Pergunta 10: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das metas de melhoria da
qualidade dos recursos hídricos apresentadas no Plano para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
A partir das respostas apresentadas às questões referentes aos passos 1 e 4,
foi possível confrontar o resultado da pesquisa, a partir do seu objeto, com o
referencial teórico apresentado no modelo de gerenciamento da informação
proposto por Davenport (1998, p. 174), sob as perspectivas estratégica e
ferramental.
70

3 METODOLOGIA

A pesquisa quanto às bases lógicas da investigação adotou o método


hipotético-dedutivo. Foi apresentado um problema relacionado ao gerenciamento da
informação no gerenciamento de recursos hídricos no Comitê de Bacia Hidrográfica
do rio das Velhas e uma hipótese afirmativa.
As etapas do método foram aquelas propostas por Bunge: colocação do
problema, construção de um método teórico, dedução de conseqüências
particulares, teste das hipóteses e adição das conclusões na teoria (apud Lakatos e
Marconi, 1991, p.99).
O argumento dedutivo parte do geral para o específico, proporcionando um
entendimento, dentro do assunto proposto como tema, de como é praticado o
gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos hídricos pelo CBH-
Velhas. A hipótese da pesquisa surgiu a partir do fato de se supor que as práticas
formais de gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos hídricos são
pouco utilizadas pelos membros do Comitê.
Desta maneira, a proposição da hipótese tentou explicar as dificuldades
apresentadas no problema e proporcionar a visão de como se encontra CBH-Velhas
quanto às práticas formais do gerenciamento da informação na gestão de recursos
hídricos.
Quanto à abordagem do problema esta foi qualitativa. Segundo Diehl e Tatim
(2004), a abordagem qualitativa contribui para o entendimento de fenômenos
complexos e dinâmicos e da relação entre suas variáveis. Possibilita, ainda, um
entendimento mais profundo, conseguindo captar as peculiaridades dos indivíduos e
grupos sociais. Estas características são adequadas para se pesquisar o fenômeno
do gerenciamento da informação no âmbito do gerenciamento dos recursos hídricos,
uma vez que é impossível separá-lo do seu contexto e que o mesmo envolve
diversas variáveis, como tecnologia, pessoas, cultura, ambiente organizacional, etc.
Neste caso a pesquisa qualitativa mostra uma situação de busca de atributo, sem,
no entanto, preocupar-se com a medição quantitativa dos fatos.
Segundo o objetivo geral a pesquisa foi exploratória, tendo em vista a
necessidade de se buscar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais
explícito (DIEHL e TATIM, 2004). Geralmente envolve a realização de entrevistas e a
71

análise de exemplos que possam estimular a melhor compreensão dos fatos. Para
esta pesquisa ela se mostrou oportuna, já que não se conhece ainda temas
estruturados sobre o assunto, o que poderá surgir a partir deste estudo.
Segundo o procedimento técnico adotou-se a pesquisa bibliográfica e
documental. Foram utilizados livros e artigos científicos sobre gerenciamento da
informação e gerenciamento de recursos hídricos e documentos internos do Comitê
e do IGAM. De acordo com Diehl e Tatim (2004) as pesquisas bibliográfica e
documental são semelhantes, sendo a principal diferença entre elas a natureza das
fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído principalmente por livros de referência, publicações periódicas
e impressos diversos, a pesquisa documental usa materiais que ainda não
receberam tratamento analítico. Já segundo Marconi e Lakatos (1990) uma das
características da pesquisa documental é o fato da fonte de coleta de dados estar
restrita a documentos escritos ou não (dados primários), sendo que esta coleta pode
ser feita no momento em que ocorre o fenômeno ou depois.
A pesquisa também se classificou como um estudo de caso. Para Yin (2001),
o estudo de caso é a estratégia adequada para investigar questões do tipo “como” e
“por que” e quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos
pesquisados. Para esta pesquisa, o estudo de caso foi apropriado por que dentre os
34 (trinta e quatro) Comitês de Bacias Hidrográficas existentes no Estado, foi objeto
de estudo somente o CBH-Velhas.
O universo foi formado pelos membros dos 34 Comitês de Bacias
Hidrográficas de Minas Gerais. A amostragem foi não probabilística e intencional. A
amostra foi composta pelos 56 membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio das
Velhas, sendo 28 titulares e 28 suplentes. Os sujeitos amostrados foram 30
membros do Comitê, sendo 10 escolhidos entre os representantes dos usuários de
água, 10 do poder público e 10 da sociedade civil.
As fontes de coleta de dados foram os documentos internos e observação
direta intensiva sistemática, também conhecida como grupo de foco, grupo focal ou
grupo de discussão.
Segundo Marconi e Lakatos (1990, p. 79), “a observação é uma técnica para
conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos
da realidade”. A observação pode ser assistemática ou não estruturada, sendo
também chamada de espontânea, informal, simples, livre e ocasional, e o
72

pesquisador não precisa usar meios técnicos especiais ou fazer perguntas diretas. É
mais empregada em estudos exploratórios, como se pretende nessa pesquisa,
segundo o objetivo geral.
De acordo com Morgan (1996) grupo focal é uma técnica de pesquisa para
coletar dados por meio da interação do grupo sobre um tópico determinado pelo
pesquisador. O propósito é criar uma situação informal na qual os integrantes do
grupo possam discutir sobre um tema que diz respeito a eles, com ajuda de um
moderador e na presença de um ou mais observadores. Um ambiente agradável
deve ser criado para que as pessoas possam se sentir à vontade para expressar
suas idéias e sentimentos.
Portanto, como uma forma de pesquisa qualitativa, os grupos de foco são
basicamente entrevistas em grupo, estabelecidas de acordo com um roteiro que tem
o propósito de atingir os objetivos pretendidos pelo pesquisador. Deve ser
coordenada por um moderador experiente, que conduza a entrevista de modo a
gerar a confiança e interação entre dos membros do grupo.
Quanto aos documentos internos, foram utilizadas atas das reuniões do
Comitê e do CERH/MG, deliberações normativas emitidas pelo CBH-Velhas e
Conselho Estadual de Recursos Hídricos e, ainda estudos desenvolvidos pelo IGAM
e pelo próprio Comitê sobre as suas demandas, principalmente aquelas relativas às
necessidades de dados e informações.
Foram criados 3 grupos de foco, com 5 a 8 membros cada um, buscando o
máximo de homogeneidade possível entre os representantes de cada grupo,
escolhidos intencionalmente de acordo com a formação escolar, o conhecimento
técnico e atividade exercida. Sendo escolhidos ainda, dentre aqueles que tiveram
mais iniciativa, participação e freqüência nas reuniões do CBH-Velhas, conforme
constatado nas atas e listas de presenças das reuniões do Comitê. Os grupos foram
formados de acordo com os segmentos que compõem o Comitê, um grupo
composto por representantes da sociedade civil organizada, um por representantes
do poder público e um por representantes dos usuários de água da bacia. A escolha
de 3 grupos possibilitou a comparação dos resultados obtidos de acordo com o
objetivo da pesquisa.
Foi elaborado um roteiro da entrevista de grupo com questões direcionadas
de acordo com o objetivo pretendido na pesquisa. Foram apresentadas questões
relativas ao gerenciamento da informação no gerenciamento dos recursos hídricos e
73

na atuação dos membros do Comitê, dentro das suas competências legais, para a
determinação das exigências da informação e do uso da informação, conforme
descrito no item 2.7.
Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente. No primeiro caso,
foi identificada a freqüência de respostas e no segundo, os dados foram comparados
e confrontados com o referencial teórico do modelo de gerenciamento da informação
proposto por Davenport (1998, p. 174).
A análise de dados da pesquisa foi realizada utilizando o método de análise
de conteúdo. De acordo com Dellagnelo e Silva (in VIEIRA e ZOUAIN, 2005), a
análise de conteúdo é um método de análise de dados que pode utilizar diferentes
técnicas para tratamento do material coletado. Para Bardin a análise de conteúdo é
um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que visam, por meio de
procedimentos sistemáticos e objetivos, obter os significados que vão além das
mensagens concretas (apud DELLAGNELO e SILVA, in VIEIRA e ZOUAIN, 2005).
Esta pesquisa foi uma pesquisa bibliográfica, documental, de caráter
qualitativa, exploratória e, dado a análise ser realizada em um Comitê de Bacia
Hidrográfica, tratou de um estudo de caso e por se tratar de um estudo de caso, não
poderá ter os seus resultados generalizados para outros Comitês do Estado.
74

4 RESULTADOS E ANÁLISE

4.1 Coleta de dados

Na fase de coleta de dados os grupos focais foram organizados, conforme


descrito na metodologia, em três grupos de 5 a 8 membros, divididos de acordo com
o segmento a qual eles representam no CBH-Velhas.
Os entrevistados foram convidados, primeiramente por contato telefônico e
depois por correspondência (APENDICE A, f. 115) por meio eletrônico, com
informações sobre horário e endereço. Todas as correspondências foram nominais
aos entrevistados, tornando o processo mais interativo entre a pesquisadora e o
convidado.
Foi elaborado um roteiro de entrevista (APENDICE B, f. 117) contendo um
aquecimento preparatório e uma introdução com algumas perguntas genéricas sobre
todos os passos do modelo de gerenciamento da informação do Davenport (1998) e
perguntas específicas sobre o objeto de pesquisa. As questões específicas foram
divididas de acordo com o passo 1 (determinação da exigência de informação) e
passo 4 (uso da informação) do modelo de gerenciamento da informação de
Davenport (1998). Foram apresentadas 10 perguntas sobre a determinação da
exigência de informação, usando o Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia
hidrográfica do rio das Velhas como referência e as mesmas 10 questões foram
repetidas, mas com o foco no uso da informação para a aprovação da outorga de
direito de uso de recursos hídricos para empreendimentos de grande porte e
potencial poluidor. Todas essas perguntas foram respondidas considerando a sua
importância em uma escala de 0 a 10, com justificativa para cada resposta.
Para a definição da escolha dos entrevistados, bem como da formulação das
perguntas a serem apresentadas, a pesquisadora baseou-se no acervo documental
do CBH-Velhas ao longo dos seus 10 anos de existência. Foram lidas todas as atas
deste período, de forma a conhecer os membros com maior participação nas
reuniões e quais temas mais debatidos por eles. A partir desta pesquisa foi
detectado o Plano Diretor de Recursos Hídricos e a Outorga de direito de uso de
recursos hídricos para empreendimentos de grande porte e potencial poluidor como
75

os temas mais discutidos nas reuniões neste período. Diante disso, buscou-se criar
variáveis que possibilitassem analisar, sob a perspectiva do modelo referencial do
Davenport (1998) quanto aos passos 1 e 4, como as informações contidas no Plano
Diretor poderiam ser identificadas como a determinação das exigências da
informação para os membros do CVB-Velhas e como estas informações seriam
usadas para a aprovação da outorga. Para isto foram elaboradas 10 perguntas
baseadas no conteúdo mínimo previsto na legislação, tendo sido selecionados os
itens considerados pela pesquisadora como os mais importantes para serem
utilizados na aprovação da outorga.
Foram realizadas três reuniões com os grupos focais que ocorreram no
período de 13 a 21 de outubro de 2008, no horário das 19 horas às 21 horas. Foi
utilizado um espaço próprio para fazer esse tipo de entrevista, com ambientação
apropriada, confortável e equipado com aparelhagem para gravação e filmagem. O
ambiente era composto por duas salas; em uma ficaram os entrevistados com a
moderadora e na outra sala, anexa, com uma parede espelhada, ficaram os
observadores sem serem vistos pelos entrevistados. Foi contratada uma profissional
experiente para fazer a moderação dos grupos focais. Durante as três reuniões
estiveram acompanhando as entrevistas dois observadores de cada vez, dentre os
quais colegas da Fundação João Pinheiro, do IGAM e o co-orientador da
pesquisadora. Para cada reunião foram convidados 10 membros por segmento.
A primeira reunião ocorreu no dia 13 de outubro de 2008, com a participação
de 7 membros representantes do segmento Usuários de Água, o equivalente a 70%
do número de convidados. Estiverem presentes:
− 1 representante da Companhia de Saneamento de Minas Gerais
(COPASA).
− 1 representante da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG).
− 2 representantes da Vale,
− 1 representante da Cimento Holcim.
− 1 representante do Serviço de Água e Esgoto de Sete Lagoas (SAAE).
− 1 representante da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais
(FAEMG).
76

A segunda reunião ocorreu no dia 15 de outubro de 2008, com a participação


de 8 membros representantes do segmento Poder Público, o equivalente a 80% do
número de convidados. Estiverem presentes:
− 1 representante Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER).
− 2 representantes da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (SEAPA).
− 2 representantes do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM).
− 1 representante Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM).
− 1 representante Secretaria de Estado de Educação.
− 1 representante da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
A terceira reunião ocorreu no dia 21 de outubro de 2008, com a participação
de 5 membros representantes do segmento Sociedade Civil, o equivalente a 50% do
número de convidados. Ressalte-se que foram confirmadas as presenças de 6
convidados, mas por problemas de última hora um dos convidados não pode
comparecer. Estiverem presentes:
− 2 representantes do Instituto Guaicuy-SOS Rio das Velhas.
− 1 representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e
Ambiental (ABES).
− 1 representante da Sociedade Mineira de Engenheiros.
− 1 representante da Associação Comunitária dos Chacareiros do Maravilha.
Pelo percentual de participação nos três grupos, isto é de 50 a 80%, pode-se
concluir que o interesse e envolvimento dos membros do CBH-Velhas com relação
ao tema é expressivo, o que reforça a justificativa da pesquisadora ter escolhido este
Comitê para estudo.

4.2 Análise e discussão dos resultados

Neste item são apresentados os resultados obtidos com a análise dos dados
coletados nas entrevistas com os três grupos de foco.
Para a análise dos dados procurou-se reunir as respostas dos membros do
CBH-Velhas quanto aos questionamentos apresentados sobre as práticas formais de
77

gerenciamento da informação utilizadas no gerenciamento de recursos hídricos,


tendo como referencial teórico os passos 1 e 4 do modelo de gerenciamento da
informação proposto por Davenport (1998).
A análise foi feita de acordo com as respostas dos grupos, que foram
divididos por segmento de representação no Comitê. O grupo 1 é composto por
representantes do segmento de Usuários de Água, o grupo 2 por representantes do
segmento do Poder Público (estadual e municipal) e o grupo 3 por representantes do
segmento Sociedade Civil:
1. Inicialmente foi feita uma contextualização das respostas dos três grupos às
perguntas genéricas apresentadas aos entrevistados como aquecimento na
introdução e referentes aos passos 1 (determinação das exigências da
informação), passo 2 (obtenção da informação), passo 3 (distribuição da
informação) e passo 4 (uso da informação) do modelo de gerenciamento da
informação proposto por Davenport (1998) e adotado nesta pesquisa como
referencial teórico.
2. Em seguida foram analisados os resultados obtidos a partir das respostas às
10 perguntas específicas ao objeto desta pesquisa, com foco na
determinação das exigências da informação (passo 1) e no uso da informação
(passo 4) para o Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica do
rio das Velhas e aprovação da Outorga de direito de uso de recursos hídricos
para empreendimentos de grande porte e potencial poluidor.
Os dados foram analisados qualitativamente e quantitativamente:
1. Considerando os resultados para a determinação das exigências da
informação (TAB. 2, f. 85), das respostas para cada pergunta entre os três
segmentos entrevistados e das respostas para as 10 perguntas por
segmento.
2. Considerando os resultados para o uso da informação (TAB. 3, f. 91), das
respostas para cada pergunta entre os três segmentos entrevistados e das
respostas para as 10 perguntas por segmento.
3. Considerando os resultados entre as TAB. 2 e 3 por segmento.
A análise de dados da pesquisa foi realizada utilizando o método de análise
de conteúdo, conforme descrito na metodologia.
78

A análise de conteúdo implica certas etapas e para esta pesquisa adotou-se


aquelas recomendadas por Bardin, a saber: pré-análise; exploração e análise do
material e interpretação (apud DELLAGNELO e SILVA, in: VIEIRA e ZOUAIN, 2005).
A pré-análise é a etapa onde se organiza o material, isto é, o momento onde
se faz a leitura geral do material, a transcrição de fitas, ordenação, classificação de
documentos ou entrevistas, codificação de textos e etc. Nessa etapa foi feita a
organização do material coletado, com leitura de toda a documentação do acervo do
CBH-Velhas (atas de todas as reuniões e documentos emitidos pelo Comitê) e a
transcrição dos depoimentos dos três grupos de foco.
A exploração e análise do material, de acordo com Bardin, é “um momento
fundamental na pesquisa, uma vez que as possibilidades de inferências e
interpretações são bastante dependentes daquilo que for feito nessa etapa” (apud
DELLAGNELO e SILVA, in: VIEIRA e ZOUAIN, 2005, p. 106). Os dados brutos são
tratados nessa etapa de maneira a serem significativos e válidos. Para a autora a
codificação é o primeiro momento da etapa de exploração e análise do material, e
corresponde a três escolhas: o recorte ou escolha das unidades; a enumeração ou
escolha das regras de contagem; a classificação e a agregação ou escolha das
categorias. Nesse caso as unidades de registro a serem trabalhadas podem ser: a
palavra, o tema, o objeto ou referente, o personagem, o documento, o item ou a
frase. Nessa pesquisa foi adotado como unidade de registro o tema, por ser
considerada a unidade mais utilizada para estudo de motivações, opiniões, atitudes,
crenças, etc. A escolha pela pesquisadora do tema como unidade de registro
possibilitou descobrir o sentido que os entrevistados queriam dar a cada mensagem
e com isso ter o entendimento das representações que cada membro tem sobre os
assuntos apresentados.
A interpretação é a etapa de reflexão e intuição, embasada nos materiais
empíricos e nos referenciais teóricos, buscando estabelecer as relações com o que
foi proposto na pesquisa. É nesse momento que se busca dar sentido ao que os
dados tratados revelaram. Para a autora é aqui que se alcançam efetivamente os
objetivos propostos pela análise de conteúdo. Ainda para a Bardin (apud
DELLAGNELO e SILVA, in: VIEIRA e ZOUAIN, 2005), a interpretação deve contar
com o conhecimento teórico do analista, com a sua percepção, intuição e
experiência diante do fenômeno em análise.
79

4.2.1 Contextualização das respostas às perguntas genéricas

4.2.1.1 Grupo 1 – Representantes dos usuários de água

De modo geral para todos os membros deste grupo a importância do CBH-


Velhas traduz-se por ser a bacia hidrográfica do rio das Velhas responsável por
parte do PIB mineiro, por se constituir em um dos principais mananciais de
abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte e por ser o mais antigo,
avançado e atuante Comitê do Estado, onde “as coisas realmente acontecem e
ainda por servir de modelo para os demais Comitês”. Para eles o CBH-Velhas é
muito organizado, tem um forte aporte de massa crítica, o que o diferencia dos
demais Comitês.
Para o grupo o Comitê é um órgão de Estado, um espaço que proporciona a
prática da verdadeira democracia, permitindo que grupos com interesses
diferenciados se reúnam buscando o consenso, para o melhor gerenciamento dos
recursos hídricos da bacia. E ainda que este modelo de gestão participativa e
descentralizada é uma forma diferente de se fazer a gestão das águas, um processo
novo e muito avançado, que está muito premente, mas eles são otimistas e
acreditam que o processo é lento, porém muito positivo para o futuro das águas da
bacia hidrográfica do rio das Velhas, bem como de todo o estado de Minas Gerais.
Para a grande maioria do grupo, a participação no CBH-Velhas, inicialmente,
foi por indicação como representante da empresa onde trabalham. Mas a partir da
freqüência às reuniões e convivência com os demais membros eles se envolveram
tanto com o tema “gestão de águas” que passaram a participar do Comitê não só
como representantes da empresa, mas também como cidadãos com grande
interesse pelo assunto e pelo desenvolvimento de suas ações.
Uma parte do grupo disse conhecer o Plano Diretor da Bacia desde a sua
primeira versão de 1997 e que participou da sua atualização em 2004, os demais
alegaram conhecê-lo a partir da versão atualizada.
Sobre a determinação das exigências da informação para a maioria do grupo
as fontes de dados são a legislação sobre recursos hídricos, especialmente a Lei
Estadual de Recursos Hídricos, as informações colhidas em visitas de campo, os
80

pareceres do IGAM, a população local e os estudos contratados pelas empresas que


solicitam a outorga de direito de uso de recursos hídricos. Para eles uma fonte de
grande importância são os Subcomitês, grupos consultivos e propositivos, com
atuação nas sub-bacias da bacia hidrográfica do rio das Velhas, originários a partir
do projeto Manuelzão, com grande capilaridade na bacia. Como estes Subcomitês
atuam localmente são, portanto, fonte direta de informação sobre os problemas
locais da bacia.
Alguns membros do grupo não vêem o Plano Diretor de Recursos Hídricos
como uma fonte de informações para a atuação do CBH-Velhas ainda, no entanto
dois membros entendem que o Plano é uma importante fonte de informação e que
deveria ser mais utilizado pelo Comitê.
Para o grupo, como o Comitê não é um órgão executivo, ele ainda não
exercita o gerenciamento verdadeiramente, falta a estruturação da Agência de
Bacia, já criada, que atuará como secretaria executiva do Comitê. Ainda para eles, o
grande trabalho do CBH-Velhas ao longo dos seus 10 anos de existência foi a sua
estruturação e criação da Agência, que para ser isto teve como exigência a
elaboração do Plano Diretor de Recursos Hídricos, por este motivo o CBH-Velhas foi
um dos primeiros Comitês a ter o seu Plano elaborado.
De modo geral o grupo entende que toda informação é relevante para o
Comitê, principalmente o cadastro de usos e usuários de água da bacia e a
disponibilidade e demanda de água, no entanto estes dados não estão disponíveis
ainda, e que no Plano Diretor não faltam informações, ele apresenta diretrizes
gerais, não detalhes como, por exemplo, o consumo real de água na bacia. Para
eles se na elaboração do Plano fossem atendidos todos os requisitos do conteúdo
mínimo exigido em Lei, não haveria nenhuma deficiência de informação para o
Comitê fazer o gerenciamento das águas da bacia.
Para eles uma grande dificuldade para obtenção de informação é a forma
como os dados são organizados, existe uma cultura no País de organizá-los por
municípios e o gerenciamento das águas é feito por bacia hidrográfica. Não existe
ainda um procedimento padrão para obtenção das informações. Quando a
discussão no Comitê é sobre outorga, eles usam os formulários adotados pelo IGAM
e informações gerais buscadas de acordo com interesse de cada um no processo
que estiver em discussão.
81

Quanto à divulgação e distribuição das informações estas são feitas pela


SEMAD e IGAM que as enviam ao Comitê por meio digital e este por meio de sua
secretaria executiva repassa aos membros. Vale ressaltar que este procedimento
ocorre, principalmente, no caso dos processos de outorga de direito de uso de
recursos hídricos que são deliberados pelo Comitê. Algumas informações às vezes
chegam por meio de denúncias levadas por algum membro, sendo apresentadas no
momento da reunião. Desta forma todos têm acesso à mesma informação,
democraticamente.
Para a maioria do grupo ainda não existe um controle sobre o uso correto das
informações, eles entendem que talvez quando o Sistema Estadual de Informações
de Recursos Hídricos estiver funcionando será viável a implementação de um
mecanismo de controle das informações dentro do Comitê.

4.2.1.2 Grupo 2 – Representantes do poder público

Para este grupo o CBH-Velhas é um Comitê emblemático e de grande


visibilidade tanto para Minas Gerais como para todo o País, pois esta é a bacia que
possui um PIB bastante representativo e engloba toda a região metropolitana de
Belo Horizonte. O comitê tem também uma grande relevância sócio-político-
ambiental para a gestão de águas no Estado. Foi criado em 1998, sendo o precursor
dos Comitês no Estado. O processo de criação iniciou-se com o PROSAN,
Programa de Saneamento Ambiental das Bacias dos Rios do Arrudas e Onça, onde
se iniciaram as primeiras discussões sobre a gestão de recursos hídricos em Minas
Gerais.
Para eles o Comitê está ainda na fase de construção da gestão, o que denota
a sua importância na mobilização e articulação em detrimento da qualificação e
acesso à informação. O Comitê é político e não técnico, e toda a discussão
envolvendo o gerenciamento das águas de forma descentralizada e participativa
ainda está no início, com ênfase mais na discussão que na operacionalidade. Este
modelo participativo trouxe uma mudança de paradigma, onde a decisão é
democrática, proporcionando à todos a oportunidade de participar do processo de
tomada de decisão na bacia. O comitê é o espaço que permite a participação de
82

vários atores de segmentos diferentes, onde ocorrem discussões que influenciam as


demais políticas públicas da bacia, conduzindo à gestão transversal.
Para a maioria do grupo a principal fonte de dados para o trabalho do Comitê
é o IGAM, sendo ainda o Censo do IBGE, o Plano Diretor e informações técnicas e
científicas considerados como fontes complementares. Para eles a informação é
importante para o membro que participa das decisões e o acesso e uso à informação
são realizados de formas distintas de acordo com a capacidade de articulação de
cada segmento. Eles entendem que a informação por informação não é importante,
e que os anseios da sociedade por informação devem ser contemplados no Plano
Diretor de Recursos Hídricos. Os dados fundamentais para atuação do Comitê são o
cadastro dos usos e usuários, disponibilidade hídrica da bacia, demanda de água e
informações sobre as metas e programas previstos para a bacia.
Para o grupo as informações existem, principalmente no IGAM, mas não há
uma forma sistematizada de organização e disseminação. Há uma grande
desigualdade no nível de absorção da informação, que depende do conhecimento
de cada membro, já que as pessoas que fazem parte do Comitê possuem cultura e
formações intelectuais diferentes. Há uma personalização da informação por meio
de pessoas que são consideradas “pessoas-chave” na bacia, que possuem a
informação e esta acaba sendo disseminada “boca a boca”. A bacia é muito
organizada socialmente, possui uma rede de informação informal, principalmente por
causa do projeto Manuelzão e dos Subcomitês.
Ainda para o grupo a informação deve ser adequada àquele que a recebe,
sendo importante a transposição didática da informação técnica para uma linguagem
mais acessível a todos os membros do Comitê.
Para eles o controle da informação é feito somente pelas atas das reuniões e
não existe um sistema de monitoramento das decisões do Comitê ou se a
informação foi utilizada corretamente, como também ainda não existe uma cultura de
revisão das decisões do Comitê.
83

4.2.1.3 Grupo 3 – Representantes da sociedade civil

Para o grupo 3 o Comitê é o espaço onde todos da sociedade têm a plena


oportunidade de manifestar sua opinião sobre a gestão das águas na bacia e ainda
podem influenciar nos resultados do gerenciamento de forma participativa e
descentralizada. Este novo modelo de gestão é uma revolução cultural e política. A
tomada de decisão no Comitê é baseada em consensos construídos previamente,
sempre com um viés técnico e político. O grupo percebe o Comitê como uma arena
que propicia a oposição de idéias por meio do movimento de base popular versus
visão técnica elitizada. É um espaço de gestão de conflitos.
Sobre o Plano Diretor alguns alegaram que conheciam o Plano elaborado na
década de 90, mas todos conhecem a sua atualização efetuada em 2004. Eles
acham que o Plano é o documento adequado de apoio às decisões do CBH-Velhas,
contém um bom diagnóstico sobre a realidade da bacia. Para o grupo o Plano
Diretor deve possuir hierarquização de todos os usos e não somente dos usos
prioritários os quais já estão definidos em Lei (conteúdo mínimo do Plano).
Para eles as principais fontes de dados utilizadas para as tomadas de
decisões são o arcabouço legal (Leis, Decretos, Deliberações Normativas e
Portarias) e o Plano Diretor de Recursos Hídricos. O Plano Diretor é a Constituição
do Comitê, isto é, a sua Carta Magna, que deve reger todas as suas decisões.
Outras fontes são o site do IGAM e SEMAD, as atas das reuniões do CBH-Velhas,
denúncias da sociedade, estudos sobre a bacia e a meta 2010.
Para o grupo os dados que são fundamentais e importantes para a atuação
do Comitê são o cadastro de usos e usuários de água da bacia, o monitoramento
quantitativo e qualitativo das águas, os estudos detalhados das áreas específicas da
bacia e os procedimentos do IGAM, no caso dos processos de outorga de direito de
uso de recursos hídricos.
Para a maioria do grupo não existe um procedimento padrão para a obtenção
de informação, no caso dos processos de outorga a referência são as instruções e o
parecer do IGAM. Os procedimentos são muito informais ainda. A informação existe
e pode ser acessada por quem a buscar, o problema é o canal, e onde buscar. Nem
todos os membros do Comitê têm acesso à internet. A inexistência do Sistema
Estadual de Informações de Recursos Hídricos também dificulta a obtenção de
84

informação. A maior dificuldade dos membros do CBH-Velhas não é o acesso à


informação, pois para o exercício de suas competências eles têm a informação
necessária, a dificuldade reside na diferenciação do nível de conhecimento e
entendimento das questões discutidas no Comitê. A heterogeneidade de formação
leva à necessidade de transposição didática da informação, como também colocado
pelo grupo 2. Para eles não basta somente ter informação é necessário a
qualificação dos membros, pois o mal uso da informação pode levar a decisões
equivocadas. Cada segmento utiliza seus meios e mecanismos para o atendimento
de suas necessidades de informação. A produção de informação é muitas vezes
feita pelos próprios membros do CBH-Velhas e pelos Subcomitês.
O grupo espera que com a estruturação da Agência de Bacia do CBH-Velhas,
que será a sua secretaria executiva e dará apoio técnico e operacional ao Comitê,
grande parte dos problemas com o fluxo de informação será resolvido.

4.2.2 Análise das respostas às perguntas específicas

Neste item foram analisados os resultados apresentados nas TAB. 2 (f. 85),
TAB. 3 (f. 91), TAB. 4 (f. 98), TAB. 5 (f. 100) e TAB. 6 (f. 101).
Buscando tornar mais clara a análise e interpretação dos resultados, a
pesquisadora adotou o critério do QUADRO 2 para a pontuação na escala de 0 a 10,
quanto ao grau de importância às perguntas apresentadas aos grupos de foco.
A adoção deste critério deveu-se ao fato de que durante as entrevistas
observou-se que para os representantes dos grupos as notas 10 ou 9 tinham o
mesmo valor de importância. Muitas vezes os grupos preferiram pontuar
determinada questão com nota 9 no lugar de 10, simplesmente para não dar nota
máxima, mas entendendo ser a questão muito importante como informação a ser
apresentada no Plano. Nas demais faixas de pontuação o comportamento dos
grupos também foi o mesmo.
85

QUADRO 2 – Critério para pontuação na escala de 0 a 10, para as perguntas


apresentadas aos grupos de foco

Pontuação Grau
10 a 9 Muito importante
8a6 Importante
5a3 Pouco importante
2a0 Não importante

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

4.2.2.1 Análise dos resultados apresentados na TAB. 2

TABELA 2 – Resultados para a determinação das exigências da informação – passo 1

Continua

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3


Variáveis pesquisadas (Usuários de (Poder (Sociedade
Água) Público) Civil)
1. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise de opções de crescimento 10 9 10
demográfico apresentadas no Plano?
2. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise da evolução das atividades 7 9 10
produtivas apresentadas no Plano?
3. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das modificações dos padrões de 9 9 10
ocupação do solo apresentadas no Plano?
4. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das disponibilidades hídricas
10 10 10
atuais e futuras em quantidade apresentadas
no Plano?
5. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das disponibilidades hídricas
10 10 10
atuais e futuras em qualidade apresentadas
no Plano?
6. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das demandas hídricas atuais e
10 10 10
futuras em quantidade apresentadas no
Plano?
7. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das demandas hídricas atuais e
10 10 10
futuras em qualidade apresentadas no
Plano?
8. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
das prioridades de outorga de direito de uso NR 9 10
definidas no Plano?
86

TABELA 2 – Resultados para a determinação das exigências da informação – passo 1

Continua

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3


Variáveis pesquisadas (Usuários de (Poder (Sociedade
Água) Público) Civil)
9. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
da análise das propostas para criação de
áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas
9 10 10
à proteção dos recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos apresentadas no
Plano?
10. Em uma escala de 0 a 10 qual a importância
das metas de melhoria da qualidade dos 10 10 10
recursos hídricos apresentadas no Plano?
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Nota: O sinal NR significa que a pergunta não foi respondida.

4.2.2.1.1 Análise dos resultados dos três grupos

A análise dos resultados dos três grupos apresentados na TAB. 2 busca


verificar como cada segmento considera, em grau de importância, as informações
constantes no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio das Velhas para
a determinação de suas exigências da informação. O Plano Diretor é um documento
fundamental onde são agregadas informações sobre a bacia, que serão utilizadas na
tomada de decisão, com vistas à repartição dos recursos hídricos. É considerado o
documento gerencial do Comitê.
Esta análise possibilitou à pesquisadora analisar como são utilizadas as
práticas formais de determinação das exigências da informação por cada segmento
para fazerem o gerenciamento dos recursos hídricos na bacia.
Para a pergunta nº 1 os três grupos responderam ser muito importante a
análise de opções de crescimento demográfico apresentadas no Plano. Foram duas
notas 10 dos segmentos Usuários de Água e Sociedade Civil e uma nota 9 do Poder
Público. Houve um consenso de que essa informação é de grande relevância para o
gerenciamento das águas da bacia, já que com essa informação é possível fazer a
previsão de como será a demanda pelo uso de água. Outro ponto colocado pelos
representantes do Poder Público foi de que umas das principais finalidades da água
87

é o abastecimento humano, que pode ser considerado como o protagonista principal


na demanda de água, por isto esta informação é considerada muito importante. Uma
outra questão é que o crescimento demográfico pode estar associado ao
crescimento de demanda e consequentemente ao aumento de poluição, uma grande
preocupação para todos os gestores de recursos hídricos.
Já para a pergunta nº 2 que analisa a importância da evolução das atividades
produtivas apresentadas no Plano, não houve o mesmo consenso da primeira. Para
os representantes do segmento Usuários de Água esse tema é importante (nota 7),
tendo em vista que a bacia do rio das Velhas tem características físicas muito
diferenciadas da sua nascente à foz. Isto é, as atividades produtivas também são
bastante diferenciadas, com destaque para o trecho considerado Alto Velhas onde
são desenvolvidas as atividades minerárias do Estado, um fato já consolidado. Os
representantes do Pode Público e Sociedade Civil, notas 9 e 10, respectivamente,
entenderam ser essa pergunta muito importante para a tomada de decisão pelo
Comitê. Para eles trata-se de informação que indicará a vocação da bacia quanto
aos usos de água. Para os representantes da Sociedade Civil são as atividades
produtivas que transformam o uso dos recursos naturais da bacia.
A pergunta nº 3 sobre a importância da análise das modificações dos padrões
de ocupação do solo apresentadas no Plano, teve pontuação de muito importante
para os três grupos, por considerarem que essa informação está vinculada à
ocupação da bacia, refletindo no uso de água pelos mais diversos fins. Os
representantes dos Usuários e Poder Público deram nota 9 e a Sociedade Civil
pontuou com nota 10. Para o grupo 2 esta informação foi considerada muito
importante por que poderá influenciar na elaboração das propostas de
enquadramento dos corpos de água em classes segundo seus usos
preponderantes.
A 4ª pergunta sobre a importância da análise das disponibilidades hídricas
atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano teve unanimidade na nota 10
pelos três segmentos, sendo considerada como muito importante. Para todos eles
conhecer a disponibilidade hídrica da bacia é sempre o foco de todos os gestores de
água, somente assim se poderá fazer balanço da água da bacia e definir como esta
água será repartida na bacia.
Para a 5ª pergunta sobre a importância da análise das disponibilidades
hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano, os três grupos deram
88

nota 10, sendo considerada como muito importante. Para eles qualidade e
quantidade de água são parâmetros indissociáveis, sendo que quase sempre a
quantidade é garantia de qualidade de água. Ressaltaram, porém que essas
informações estão desatualizadas no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia
do Rio das Velhas.
A questão nº 6 que dispõe sobre a importância da análise das demandas
hídricas atuais e futuras, em quantidade apresentadas no Plano, teve nota 10 pelos
três grupos de segmentos Usuários, Poder Público e Sociedade Civil. Todos eles
consideraram essa questão muito importante já que essa informação significa
conhecer quem são os usuários de água da bacia e juntamente com as informações
sobre disponibilidade é possível ter o balanço de água, isto é, saber quanto
realmente se tem de água e assim fazer um gerenciamento adequado. Neste caso
também foi informado que o cadastro de usos e usuários de água da bacia está
desatualizado e precisa urgentemente de atualização.
Para a 7ª pergunta onde é questionada a importância da análise das
demandas hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano,
novamente os três grupos deram nota 10, com grau de muita importância. Para eles
essa informação é muito importante por que ela é um indicativo de melhoria da
qualidade da água da bacia e consequentemente daqueles que vivem nela A meta
2010 é o primeiro passo para se atingir o desejo de ter todos os cursos de água da
bacia despoluídos. A meta é inicialmente tornar o trecho do rio das Velhas que
passa pela região metropolitana de Belo Horizonte em condições de se nadar,
pescar e navegar até o ano 2010. Hoje, neste trecho do rio, praticar estas atividades
é inviável devido ao alto grau de poluição existente.
A pergunta nº 8 sobre a importância da análise das prioridades de outorga de
direito de uso definidas no Plano, foi mais polêmica. Os grupos 2 e 3, representantes
do Poder Público e Sociedade Civil deram nota 9 e 10, respectivamente,
considerando-a muito importante. Para eles apesar desta informação não constar no
Plano, trata-se de uma informação relevante, pois será por meio dela que o Comitê
terá a possibilidade de atender a todos os usuários de água da bacia de forma
igualitária. No caso de escassez, como previsto na Lei nº 9.433 (BRASIL, 1997) o
uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de
animais. Os demais usos deverão ter suas prioridades de uso definidas no Plano
Diretor de Recursos Hídricos. Já o grupo 1, representante dos Usuários de Água,
89

entendeu que esta questão não deveria ser respondida pelo fato do Plano não
constar esta priorização, apesar de ser uma exigência legal de constar no Plano
como conteúdo mínimo.
Para a pergunta nº 9 sobre a importância da análise das propostas para
criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos
hídricos e de ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano, os três grupos a
consideraram muito importante, com pontuação de nota 9 para o segmento Usuários
de Água, e nota 10 para os segmentos Poder Público e Sociedade Civil. Para eles
esta informação é fundamental para o gerenciamento das águas da bacia, pois a
definição destas áreas de restrição de uso é uma forma de se fazer a preservação e
manutenção das áreas de recarga de água da bacia e assim ter garantia de água
para as gerações atuais e futuras. Foi ressaltado por todos que no Plano ainda não
consta esta informação, que deverá se incluída na sua próxima atualização.
A 10ª pergunta, sobre a importância das metas de melhoria da qualidade dos
recursos hídricos apresentadas no Plano, foi pontuada com nota 10 pelos três
grupos, sendo considerada muito importante. Para eles a definição destas metas é
um dos negócios do Comitê, já que este tem sempre que trabalhar com vistas à
melhoria da qualidade dos recursos hídricos da bacia. Ainda para eles o alcance
destas metas é a garantia de água para as gerações atuais e futuras.

4.2.2.1.2 Análise dos resultados por grupo

Esta análise possibilitou a verificação de como o mesmo grupo considera, em


grau de importância, todas as 10 perguntas apresentadas no Plano para a
determinação de suas exigências da informação.
O grupo 1, representante do segmento Usuários de Água, não foi muito
uniforme nas suas respostas. Para eles 80% das perguntas apresentadas foram
consideradas como informações muito importantes para o gerenciamento dos
recursos hídricos da bacia. Já a pergunta nº 2, que corresponde à análise da
evolução das atividades produtivas, foi considerada somente como importante (nota
7), justamente para aqueles que deveriam considerar esta informação muito
relevante para as suas atividades. Esta informação é de grande importância, já que
90

por meio dela torna-se possível ao Comitê fazer projeções de curto, médio e até
mesmo de longo prazo de como a bacia deverá se comportar em relação à locação
de água. Com relação à pergunta nº 8, para a qual o grupo não deu responda, pelo
fato desta informação ainda não constar no Plano, também se percebe que o
comportamento do grupo foi uma forma de evitar o assunto. Esta informação,
prioridades de outorga de direito de uso de recursos hídricos, é muito importante
para que o gestor faça a repartição dos recursos hídricos da bacia de forma
eqüitativa, sem privilegiar nenhum usuário ou segmento.
Para o grupo 2, representantes do segmento Poder Público, houve uma
coerência na atribuição das notas das dez questões apresentadas, que foram
pontuadas com notas 9 e 10. Portanto, 100% das perguntas foram consideradas
como informações muito importantes. Durante a entrevista observou-se que de
forma unânime todos os participantes do grupo consideravam todas as informações
muito importantes. As três perguntas iniciais (1, 2 e 3) receberam nota 9, não por
não serem consideradas muito importantes, mas sim pelo fato de que no início das
discussões eles entenderam que não seria conveniente dar nota 10 para todas as
questões, no entanto no desenrolar da entrevista eles mudaram de idéia e
pontuaram as demais com nota 10. Diante disto observa-se que este grupo
comportou-se como um gestor preocupado com as informações consideradas muito
importantes para o gerenciamento adequado dos recursos hídricos. Para eles,
mesmo que algumas informações ainda não constem no Plano, o importante é
buscar a sua atualização para que o mesmo sirva como instrumento de apoio às
tomadas de decisões.
O grupo 3, composto por representantes do segmento Sociedade Civil, foi
totalmente coerente em suas notas para as dez perguntas. Isto é, 100% das
questões foram pontuadas com nota 10, consideradas muito importantes. Portanto,
percebe-se que o grupo, formado em sua maioria por ambientalistas, tem uma
grande preocupação com a preservação e conservação dos recursos hídricos da
bacia hidrográfica do rio das Velhas. Para eles qualquer informação é essencial para
o gerenciamento adequado das águas da bacia e o Plano é o instrumento que
congregará todas as informações que servirão de suporte às tomadas de decisões,
tanto para as questões que envolvem gerenciamento de recursos hídricos como
para as questões ambientais no sentido mais amplo.
91

4.2.2.2 Análise dos resultados apresentados na TAB. 3

TABELA 3 – Resultados para o uso da informação – passo 4

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3


Variáveis pesquisadas (Usuários) de (Poder (Sociedade
Água Público) Civil)
1. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das opções de
crescimento demográfico apresentadas no Plano
para a aprovação da outorga de grande porte e
- 9 4
potencial poluidor?
2. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso da evolução
das atividades produtivas apresentadas no Plano
para a aprovação da outorga de grande porte e
- 9 8
potencial poluidor?
3. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das
modificações dos padrões de ocupação do solo
apresentadas no Plano para a aprovação da
- 7 7
outorga de grande porte e potencial poluidor?
4. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das
disponibilidades hídricas atuais e futuras em
quantidade apresentadas no Plano para a 10 10 8
aprovação da outorga de grande porte e potencial
poluidor?
5. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das
disponibilidades hídricas atuais e futuras em
qualidade apresentadas no Plano para a aprovação
- 10 8
da outorga de grande porte e potencial poluidor?
6. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas
hídricas atuais e futuras em quantidade
apresentadas no Plano para a aprovação da
10 10 8
outorga de grande porte e potencial poluidor?
7. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas
hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas
no Plano para a aprovação da outorga de grande
- 10 8
porte e potencial poluidor?
8. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das
prioridades de outorga definidas no Plano para a
aprovação da outorga de grande porte e potencial
10 10 6
poluidor?
9. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das propostas
para criação de áreas sujeitas à restrição de uso,
com vistas à proteção dos recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano
- 10 2
para a aprovação da outorga de grande porte e
potencial poluidor?
10. Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das metas de
melhoria da qualidade dos recursos hídricos
apresentadas no Plano para a aprovação da
- 8 8
outorga de grande porte e potencial poluidor?
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Nota: Sinal convencional utilizado:
- dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.
92

4.2.2.2.1 Análise dos resultados dos três grupos

Esta análise entre os três grupos buscou verificar como cada segmento
considera, em grau de importância, o uso das informações constantes no Plano
Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio das Velhas para a aprovação da
outorga de direito de uso de recursos hídricos para empreendimentos de grande
porte e potencial poluidor. Esta é uma análise importante por que possibilitou à
pesquisadora analisar se as informações constantes no Plano são usadas pelos
representantes dos Usuários de Água, Poder Público e Sociedade Civil, no momento
de se tomar decisão em relação à aprovação da outorga.
A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o instrumento por meio do
qual se faz a repartição dos recursos hídricos disponíveis entre os diversos usuários
da bacia. A base para se fazer esta repartição são as informações sobre a
disponibilidade e demanda de água (balanço hídrico), informações sobre o tipo de
uso, local de captação, periodicidade do uso, quantidade de água e outras
informações que porventura possam ser necessárias à tomada de decisão. Todas
estas informações devem ser analisadas sempre com a visão sistêmica da bacia,
isto é, devem ser considerados todos os usos e usuários existentes na bacia, bem
como as projeções de demandas futuras, de forma a garantir água para as gerações
atuais e futuras.
No caso de outorga para empreendimentos de grande porte e potencial
poluidor o critério de análise e aprovação é o mesmo, o que a diferencia das
outorgas de empreendimentos de pequeno e grande porte é o fato de que somente
este tipo de outorga deve ser submetida à aprovação pelo Comitê de Bacia
Hidrográfica. Trata-se de previsão legal, conforme disposto no art. 43, inciso V da Lei
nº 13.199 (MINAS GERAIS, 1999).
Para a pergunta nº 1 sobre a importância do uso da informação sobre as
opções de crescimento demográfico apresentadas no Plano para aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor, a pontuação foi bastante diferenciada
entre os três grupos. Para o grupo 1, composto por representantes do segmento
Usuários de Água, a nota foi zero. Eles entendem que para aprovar a outorga não se
precisa recorrer a essas informações do Plano, os critérios de outorga são muito
específicos e, portanto, o uso desta informação não tem importância para a sua
93

aprovação. Já para o grupo 2 (Poder Público) o uso desta informação foi


considerada muito importante, pontuada com nota 9. Eles consideram que esta
informação é básica e o seu uso essencial para a aprovação da outorga, pois para
se tomar esta decisão é fundamental ter conhecimento da projeção de crescimento
da população e assim saber como ficarão os usos futuros de água na bacia. O grupo
3 (Sociedade Civil) nesta questão foi mais polêmico, eles não conseguiram chegar a
um consenso sobre o grau de importância do uso desta informação para a
aprovação da outorga. Dois membros entenderam que esta informação não é usada
para aprovação da outorga e avaliaram com nota zero. Para eles o órgão gestor de
águas do Estado (IGAM) tem obrigação de usar todas estas informações ao efetuar
a análise do processo de outorga e preparar o parecer técnico que é enviado aos
membros do Comitê. Portanto, trata-se de uma informação não importante para o
Comitê, mas importante para o IGAM. Os demais membros do grupo entenderam
ser o uso da informação importante ou pouco importante, já que o parecer técnico
sobre outorga é elaborado por técnicos do IGAM, com conhecimento específico
sobre o assunto. Foi feita uma média das notas dos 5 representantes, definida como
um uso pouco importante (nota 4). Neste caso se fosse feita a média das notas
desconsiderando as notas zero o valor seria 6 e cairia portanto, na faixa de grau
importante, mostrando a influência da pontuação zero para o resultado final.
Na pergunta nº 2 onde é questionada a importância do uso da evolução das
atividades produtivas apresentadas no Plano para aprovação da outorga de grande
porte e potencial poluidor, o grupo 1 teve o mesmo posicionamento da 1ª pergunta,
com as mesmas justificativas. Já o grupo 2 manteve a nota 9, considerando o uso da
informação como muito importante. Para eles esta informação é necessária para se
conhecer os usos de água na bacia e assim tornar possível fazer o balanço hídrico,
informação essencial para a aprovação da outorga. No caso do grupo 3 (Sociedade
Civil) novamente um dos membros decidiu pela nota zero pelos mesmos motivos
acima explicitados, os demais entenderam ser o uso da informação muito importante
(nota 10), pois se trata de informação fundamental para a definição de quais
atividades produtivas permanecerão na bacia e poderão necessitar de outorga.
Assim pela média a nota do grupo passou para 8, sendo o uso da informação
considerado importante.
Para a pergunta nº 3 sobre a importância do uso das modificações dos
padrões de ocupação do solo apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
94

grande porte e potencial poluidor, como nas questões anteriores, os representantes


dos Usuários de Água se posicionaram da mesma forma, atribuindo-a nota zero e
com a mesma justificativa. Os grupos 2 e 3 atribuíram nota 7 por entenderem que o
uso desta informação é importante para aprovação da outorga. Mas para eles,
apesar da importância da informação, ela tem pouca interferência no processo de
tomada de decisão para a outorga. Eles entendem que mesmo que ocorram
modificações no padrão de ocupação do solo, isto não trará muita alteração no
balanço hídrico, que é a informação básica para a análise da outorga.
No caso do grupo 3 deve-se considerar o cálculo da média das notas, pelos
mesmos motivos já expostos acima.
A 4ª pergunta trata da importância do uso das disponibilidades hídricas atuais
e futuras em quantidade apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor e foi pontuada pelos grupos 1 e 2, representantes
dos segmentos Usuários de Água e Poder Público com nota 10, respectivamente.
Neste caso o grau de importância do uso desta informação foi de muito importante.
Eles entendem que esta informação é fundamental para se decidir a outorga, já que
todos os estudos para emissão do parecer técnico sobre o processo de outorga se
baseiam nesta informação. Já o grupo 3 (Sociedade Civil) atribuiu nota 8,
considerando o uso da informação como importante. Esta nota na realidade não
reflete a opinião de todos os representantes do grupo, já que a nota zero de um dos
membros abaixou a média para 8. No caso de desconsiderar a nota zero, a média
seria 10, tornando assim a informação muito importante, como para os demais
grupos.
A pergunta nº 5, sobre a importância do uso das disponibilidades hídricas em
qualidade atuais e futuras apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor, teve pontuação zero pelo grupo 1 (Usuários de
Água), sendo o seu uso considerado não importante. Para eles como ainda não foi
implementada a outorga para lançamento de efluentes, cujo parecer técnico terá que
se basear na qualidade das águas do curso de água onde se solicita a outorga, esta
informação não é ainda considerada. Talvez no futuro, quando o IGAM já estiver
emitindo estas outorgas, o uso desta informação passará a ter relevância na
aprovação das outorgas pelo Comitê. O grupo 2 (Poder Público) deu nota 10,
considerando o uso desta informação como muito importante. Eles entendem que a
qualidade de água é um parâmetro indissociável da quantidade, portanto, são dois
95

fatores essenciais para a decisão da outorga, seja de captação ou de lançamento.


Para o grupo 3 (Sociedade Civil) a nota foi 8, considerando o seu uso importante,
mas a nota na realidade não reflete a opinião de todos os representantes do grupo,
já que a nota zero de um dos membros abaixou a média para 8. No caso de
desconsiderar a nota zero, a média seria 10, tornando assim o uso da informação
muito importante. Para os representantes do grupo 3 que pontuaram a questão com
nota 10, entendem que o uso da informação sobre disponibilidade hídrica em
qualidade de água é fundamental para a aprovação da outorga, pois se um curso de
água não tem boa qualidade, esta água se torna indisponível para diversos usos,
impossibilitando, portanto, a aprovação da outorga.
Para a pergunta nº 6 sobre a importância do uso das demandas hídricas em
quantidade atuais e futuras apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor, tanto o grupo 1 como o grupo 2 atribuíram nota
10, considerando o uso desta informação como muito importante. Eles entendem
que esta informação, bem como a disponibilidade em quantidade, são essenciais
para a aprovação da outorga. Conhecer a demanda significa conhecer todos os usos
e usuários da bacia. O grupo 3 repetiu a mesma forma de pontuação das questões 4
e 5. Isto é, quatro participantes deram nota 10 e uma nota zero, podendo ser
considerado o uso da informação como importante para a média de 8, e muito
importante com média de 10, na exclusão da nota zero. A justificativa do participante
para a nota zero é a mesma das respostas anteriores. Já os demais que deram nota
10, entendem que o uso desta informação é de grande relevância para o
gerenciamento adequado dos recursos hídricos da bacia e para a aprovação da
outorga.
Para a pergunta nº 7 sobre a importância do uso das demandas hídricas em
qualidade atuais e futuras apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor, novamente os representantes do segmento
Usuários de Água deram nota zero pelo mesmo motivo já apresentado na 5ª
pergunta. Para eles ainda não é o momento de se discutir ou analisar a qualidade de
água, seja na disponibilidade ou demanda. Já os grupos 2 e 3 pontuaram o uso
desta informação da mesma forma que na pergunta nº 6 e com a mesma justificativa
A pergunta nº 8 sobre a importância do uso das prioridades de outorga
definidas no Plano para aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor,
teve nota 10 dos grupos 1 e 2, sendo considerado o seu uso como muito importante.
96

Para eles o fato desta informação ainda não constar no Plano, não significa que não
seja relevante para a aprovação da outorga. A prioridade de outorga servirá para
definir os usos considerados prioritários para bacia, de acordo com a sua vocação.
Por isto é uma informação tão importante para a tomada de decisão sobre outorga.
No grupo 3 não houve muito consenso sobre a importância do uso desta informação.
Para dois participantes trata-se de informação onde o seu uso para aprovação da
outorga não é importante e deram nota zero. Já para os demais o seu uso é
considerado muito importante e deram nota 10. Eles entendem que o uso desta
informação irá propiciar o gerenciamento adequado dos recursos hídricos da bacia.
A média das notas do grupo ficou em 6, considerando o uso da informação como
importante.
Para a pergunta 9, sobre a importância do uso das propostas para criação de
áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano para aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor, o grupo 1 considerou o uso não importante,
atribuindo nota zero. Para eles esta informação ainda não consta no Plano e,
portanto, seu uso não deve ser considerado para a aprovação da outorga. O grupo
2, composto por representantes do Poder Público, deu nota 10 considerando o uso
desta informação como muito importante para a aprovação da outorga. Eles
entendem que esta informação possibilitará ao Comitê conhecer as aéreas da bacia
onde os recursos hídricos deverão ser preservados e conservados, restringindo
assim a emissão de outorga nestas aéreas. Já o grupo 3 considerou o uso desta
informação para aprovação da outorga não importante, com nota 2, a partir da média
das notas dos participantes. Para esta pergunta dois participantes do grupo
atribuíram nota zero e três nota 5. Eles entendem que esta informação não deve ser
contemplada no Plano Diretor, já que existe uma legislação específica para tal.
Para a pergunta nº 10 sobre a importância do uso das metas de melhoria de
qualidade dos recursos hídricos apresentadas no Plano para aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor, o grupo 1 deu nota zero, considerando-o não
importante, pelos mesmos motivos apresentados na 9ª questão. Os grupos 2 e 3
deram nota 8, considerando o uso desta informação para aprovação da outorga
como importante. No caso do grupo 3, se fosse excluída a nota zero de um dos
participantes, a nota a partir da média do demais seria 10, portanto, considerando o
uso muito importante.
97

4.2.2.2.2 Análise dos resultados por grupo

Esta análise possibilitou a verificação de como o mesmo grupo considera, em


grau de importância, o uso das informações apresentadas nas 10 perguntas para a
aprovação da outorga de direito de uso de recursos hídricos para empreendimentos
de grande porte e potencial poluidor.
O grupo 1, composto por representantes do segmento Usuários de Água,
atribuiu nota zero, o equivalente a 70% das perguntas e com nota 10, o equivalente
às 30% restantes. Para eles, portanto, mais da metade das informações
apresentadas nas 10 perguntas tiveram seu uso considerado não importante para a
aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor. A justificativa para este
comportamento do grupo foi que algumas destas informações ainda não constam no
Plano e não devem ter o seu uso considerado para a aprovação da outorga. Outra
justificativa apresentada foi o fato de que para se aprovar a outorga não há
necessidade de usar as informações do Plano, os critérios de outorga são muito
específicos (procedimentos definidos pelo IGAM) e, portanto, o uso destas
informações não tem importância para a sua aprovação. Quanto às perguntas
pontuadas com nota 10 e para qual o uso de suas informações foram consideradas
como muito importantes, a justificativa do grupo é que se trata de informações
fundamentais para a análise e aprovação da outorga. São informações sobre a
disponibilidade e demanda hídrica em quantidade e a definição das prioridades de
outorga para a bacia.
O grupo 2, representando o Poder Público, foi mais uniforme nas suas
respostas. Para eles 80% das perguntas tiveram nota entre 9 e 10, sendo, portanto,
considerado o uso de suas informações como muito importante para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor. Para os 20% restantes o uso da
informação foi considerado importante. Estas respostas confirmam a preocupação
deste segmento em fazer um gerenciamento responsável dos recursos hídricos,
sempre com vista na valorização do uso adequado da informação nas tomadas de
decisão.
No grupo 3, formado pelos representantes da Sociedade Civil, teve muita
divergência na atribuição das notas das dez perguntas apresentadas. Para todas as
perguntas foi necessário fazer o cálculo da média das notas, pelo fato de que eles
98

não conseguiam chegar a um consenso de uma única nota para o grupo. Um dos
participantes decidiu atribuir a todas as perguntas a nota zero, por considerar que
para todas as informações apresentadas o seu uso não é importante para a
aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor. Ele entende que o órgão
gestor (IGAM) é que tem a responsabilidade de usar todas estas informações no
momento em que emite o parecer técnico sobre a outorga. Ainda para ele, este
parecer, o qual é encaminhado para todos os membros do Comitê, deverá servir de
instrumento de apoio à tomada de decisão pelos membros. Diante da posição deste
participante os demais ficaram indecisos no momento de decidirem as suas notas.
No geral, eles consideraram que para 80% das perguntas o uso de suas
informações é importante para a aprovação da outorga. No caso de se
desconsiderar a nota zero, para a nova a média das notas, 70% das perguntas
teriam o uso de suas informações considerado como muito importante, mostrando a
influência da pontuação zero para o resultado final.

4.2.2.3 Análise dor resultados apresentados na TAB. 4

TABELA 4 – Resultados do Grupo 1 (usuários de água)

Continua

Passo 1 – Importância da Passo 4 – Importância do uso


informação apresentada no da informação apresentada no
Informações Plano para a determinação Plano para aprovação da
das exigências da outorga de grande porte e
informação potencial poluidor
1. Opções de crescimento
10 -
demográfico.
2. Uso da evolução das atividades
7 -
produtivas.
3. Modificações dos padrões de
9 -
ocupação do solo.
4. Disponibilidades hídricas atuais
10 10
e futuras em quantidade.
5. Disponibilidades hídricas atuais
10 -
e futuras em qualidade.
6. Demandas hídricas atuais e
10 10
futuras em quantidade.
99

TABELA 4 – Resultados do Grupo 1 (usuários de água)

Conclusão

Passo 4 – Importância do uso


Passo 1 – Importância da
da informação apresentada no
informação apresentada no
Informações Plano para aprovação da
Plano para a determinação
outorga de grande porte e
das exigências da informação
potencial poluidor
7. Demandas hídricas atuais e
10 -
futuras em qualidade.
8. Prioridades de outorga. NR 10
9. Propostas para criação de
áreas sujeitas à restrição de
uso, com vistas à proteção dos 9 -
recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos.
10. Metas de melhoria da qualidade
10 -
dos recursos hídricos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.


Notas: 1) O sinal NR significa que a pergunta não foi respondida.
2) Sinal convencional utilizado:
- dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Com a análise dos resultados apresentados na TAB. 4 foi possível verificar se


ocorreu coerência entre as respostas do grupo 1, de acordo com o grau de
importância da informação apresentada no Plano, para a determinação das
exigências da informação e para o uso desta informação para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor.
Pelos resultados apresentados foi possível verificar incoerência na atribuição
das notas dos representantes dos Usuários de Água. Verifica-se que eles
consideraram que 80% das informações apresentadas no Plano são muito
importantes para a determinação de suas exigências da informação e
conseqüentemente para o gerenciamento dos recursos hídricos da bacia do rio das
Velhas, mas quanto à importância do uso destas mesmas informações para a
aprovação da outorga, somente 30% foram consideradas como muito importantes.
Percebe-se ainda que na informação tida como sem resposta, o seu uso foi
considerado muito importante para a aprovação da outorga. Somente as
informações relativas às disponibilidades e demandas hídricas atuais e futuras em
quantidade foram consideradas como muito importantes, tanto para a determinação
das exigências da informação como para o uso na aprovação da outorga.
100

4.2.2.4 Análise dos resultados apresentados na TAB. 5

TABELA 5 – Resultados do Grupo 2 (poder público)

Passo 1 – Importância da Passo 4 – Importância do uso


informação apresentada no da informação apresentada no
Informações Plano para a determinação Plano para aprovação da
das exigências da outorga de grande porte e
informação potencial poluidor
1. Opções de crescimento
9 9
demográfico.
2. Uso da evolução das
9 9
atividades produtivas.
3. Modificações dos padrões de
9 7
ocupação do solo.
4. Disponibilidades hídricas
atuais e futuras em 10 10
quantidade.
5. Disponibilidades hídricas
10 10
atuais e futuras em qualidade.
6. Demandas hídricas atuais e
10 10
futuras em quantidade.
7. Demandas hídricas atuais e
futuras em qualidade.
10 10

8. Prioridades de outorga. 9 10
9. Propostas para criação de
áreas sujeitas à restrição de
uso, com vistas à proteção dos 10 10
recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos.
10. Metas de melhoria da
qualidade dos recursos 10 8
hídricos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Com a análise dos resultados apresentados na TAB. 5 foi possível verificar se


ocorreu coerência entre as respostas do grupo 2, representantes do Poder Público,
de acordo com o grau de importância da informação apresentada no Plano, para a
determinação das exigências da informação e para o uso desta informação para a
aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor.
Ao considerarem 100% das informações apresentadas no Plano como muito
importantes para a determinação das exigências da informação, e confirmarem que
o seu uso para a aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor é muito
101

importante e importante (80% e 20%, respectivamente), os representantes do grupo


2 demonstraram coerência nas suas respostas.

4.2.2.5 Análise dos resultados apresentados na TAB. 6

TABELA 6 – Resultados do Grupo 3 (sociedade civil)

Passo 1 – Importância da Passo 4 – Importância do uso


informação apresentada no da informação apresentada no
Informações Plano para a determinação Plano para aprovação da
das exigências da outorga de grande porte e
informação potencial poluidor
1. Opções de crescimento 10 4
demográfico.
2. Uso da evolução das atividades 10 8
produtivas.
3. Modificações dos padrões de 10 7
ocupação do solo.
4. Disponibilidades hídricas atuais 10 8
e futuras em quantidade.
5. Disponibilidades hídricas atuais 10 8
e futuras em qualidade.
6. Demandas hídricas atuais e 10 8
futuras em quantidade.
7. Demandas hídricas atuais e 10 8
futuras em qualidade.
8. Prioridades de outorga. 10 6

9. Propostas para criação de


áreas sujeitas à restrição de
uso, com vistas à proteção dos 10 2
recursos hídricos e de
ecossistemas aquáticos.
10. Metas de melhoria da qualidade 10 8
dos recursos hídricos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2008.

Com a análise dos resultados apresentados na TAB. 6 foi possível verificar se


ocorreu coerência entre as respostas do grupo 3, de acordo com o grau de
importância da informação apresentada no Plano, para a determinação das
exigências da informação e para o uso desta informação para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor.
102

Neste grupo 3 as divergências no momento de atribuição das notas levaram a


algumas incoerências nos resultados, principalmente com relação às perguntas 1 e
9, onde informação foi considerada como muito importante, mas o seu uso como
pouco importante e não importante. Mas de um modo geral 60% dos resultados
foram coerentes entre si. Para eles 100% das informações apresentadas no Plano
foram consideradas como muito importantes para a determinação das exigências da
informação. Quanto à importância do uso destas informações para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor, como houve necessidade de se fazer o
cálculo da média das notas, chegou-se que 70% do uso destas informações são
importantes. Desconsiderando-se a nota zero atribuída a todas as perguntas por um
dos participantes do grupo, o grau de importância para este percentual iria para
muito importante, demonstrando assim a coerência entre as respostas do grupo 3. A
incoerência nas respostas de um dos participantes do grupo que considerou todas
as informações apresentadas no Plano como muito importantes, mas o seu uso para
aprovação da outorga como não importante, pode ser entendida como conseqüência
da sua atuação como um profissional que trabalha a muitos anos na área de
recursos hídricos. Para ele, os membros do Comitê não têm que se preocuparem
com o uso destas informações para a aprovação da outorga, já que o parecer
técnico sobre o processo de outorga deve ser elaborado pelo IGAM, que deverá sim,
considerar todas as informações constantes no Plano Diretor. A decisão dos
membros devem se basear somente no parecer técnico do IGAM.
103

5 CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve como foco a análise das práticas formais do


gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos hídricos utilizadas
pelos membros do CBH-Velhas. Trata-se de um estudo que possibilitou verificar se
os membros do Comitê utilizam as práticas formais do gerenciamento da informação
no gerenciamento de recursos hídricos da bacia, sob a perspectiva dos passos 1
(determinação das exigências da informação) e 4 (uso da informação) do modelo de
gerenciamento da informação proposto por Davenport (1998).
Para atingir esse objetivo foram utilizados como instrumento de coleta de
dados, documentos internos do CVB-Velhas e entrevistas com os membros do
Comitê por meio de grupo de foco, o que permitiu a obtenção dos resultados
desejados.
Foram criados três grupos focais com 5 a 8 membros cada, de acordo com o
segmento o qual eles representam no Comitê. O Comitê é formado por três
segmentos: Usuários de Água, Poder Público (estadual e municipal) e Sociedade
Civil.
Foram apresentadas 10 perguntas (APÊNDICE B, f. 117) relativas ao
gerenciamento da informação no âmbito do gerenciamento de recursos hídricos,
com foco na determinação das exigências da informação e do uso da informação no
gerenciamento de recursos hídricos. A base para elaboração das questões foram as
informações contidas no Plano Diretor de Recursos Hídricos e a aprovação da
outorga de direito de uso de recursos hídricos para empreendimentos de grande
porte e potencial poluidor. Os resultados foram agrupados em tabelas para os
passos 1 e 4. No entanto, como preparação dos participantes dos grupos de foco
para o tema específico da pesquisa, inicialmente foram apresentadas perguntas
genéricas sobre todos os passos do modelo de gerenciamento da informação
proposto por Davenport (1998), ou seja, determinação das exigências da
informação, obtenção, distribuição e uso da informação.
Buscando tornar mais clara a análise e interpretação dos resultados, a
pesquisadora adotou o critério do QUADRO 2 (f. 85), para a pontuação na escala de
104

0 a 10, quanto ao grau de importância às perguntas apresentadas aos grupos de


foco.
Portanto, a partir da análise das respostas às 10 perguntas, para cada
segmento, foi possível inferir algumas conclusões sobre as práticas formais do
gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos hídricos utilizadas
pelos membros do CBH-Velhas.
Quanto às perguntas gerais sobre os 4 passos do modelo de gerenciamento
da informação proposto por Davenport (1998), de uma forma geral percebe-se que
as práticas formais de gerenciamento da informação ainda são pouco utilizadas
pelos membros do CBH-Velhas, confirmando, portanto, a hipótese levantada no
projeto de pesquisa.
Os representantes dos três segmentos (grupo1: Usuários de Água, grupo 2:
Poder Público e grupo 3: Sociedade Civil) apontaram a falta de estruturação da
Agência de Bacia e da implementação do Sistema Estadual de Informações de
Recursos Hídricos como um dos fatores que estão dificultando os trabalhos do
Comitê. Para eles a Agência, que será a secretaria executiva do Comitê, dará todo o
apoio operacional para a organização e gerenciamento da informação e o SEIRH
será uma importante fonte de armazenamento dessas informações, já que
atualmente não existe um procedimento padrão no Comitê para a determinação das
exigências da informação, obtenção, distribuição e uso da informação. O Sistema de
Informação, com previsão de implementação pelo IGAM até o ano de 2011, tem
como finalidade organizar a coleta, o tratamento, o armazenamento, a recuperação e
a divulgação de informações sobre os recursos hídricos do estado de Minas Gerais.
Quanto às perguntas específicas, objeto dessa pesquisa, pelos resultados
apresentados na TAB. 2 (f. 85) sobre a determinação da informação, foi possível
verificar que os representantes dos três grupos, na sua maioria, consideram 93%
das informações apresentadas no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio das Velhas como muito importantes para a tomada de decisão e
gerenciamento das águas da bacia. Somente as perguntas nº 2 e 8 não foram
consideradas como muito importantes de acordo com o entendimento dos
representantes dos Usuários de Água. Para eles, a pergunta nº 2 que se refere à
importância da análise da evolução das atividades produtivas apresentadas no
Plano, é uma informação importante, mas sem muita relevância para o
105

gerenciamento da informação. A bacia hidrográfica do rio das Velhas tem


características muito diferenciadas e isto poderá prejudicar as tomadas de decisão
pelos seus membros e refletir negativamente para aqueles que fazem uso de água.
A pergunta nº 8 sobre a importância das prioridades de outorga apresentadas no
Plano não foi respondida pelos representantes dos Usuários de Água. Para eles o
fato desta informação ainda não constar no Plano inviabilizou a sua avaliação. Pela
reação deles, percebe-se certa preocupação com a defesa dos interesses do
segmento, já que a partir da definição das prioridades de outorga, a alocação de
água será feita pelo Comitê de acordo com o que for definido no Plano. E neste caso
poderão alguns tipos de usos ser prejudicados ou até mesmo não considerados
como benéficos para a bacia. As prioridades de outorga são informações muito
importantes para que o gestor faça a repartição dos recursos hídricos da bacia de
forma eqüitativa, sem privilegiar nenhum usuário ou segmento.
Em síntese, foi possível perceber que todos os segmentos têm o Plano
Diretor como uma fonte para a determinação de suas exigências da informação, mas
que eles ainda sentem a necessidade de uma Agência de Bacia bem estruturada
que possa dar o suporte técnico e operacional para a melhoria e atualização do
Plano, motivo pelo qual a maioria deles ressaltou a urgência de estruturação da
Agência.
Pelos resultados apresentados na TAB. 3 (f. 91) sobre o uso da informação
percebem-se comportamentos diferenciados entre os três grupos. O próprio perfil de
cada segmento leva a esta diferenciação, onde 60% das perguntas tiveram o uso
das informações consideradas como muito importantes ou importantes para a
aprovação da outorga de grande porte. Os representantes dos Usuários de Água
entendem que a aprovação da outorga deve ser baseada apenas no parecer técnico
do IGAM, talvez uma forma de tornar o processo mais expedito e de ter a garantia
de liberação de água para os seus usos. Para eles mais da metade das informações
(70%) apresentadas nas 10 perguntas tiveram seu uso considerado não importante.
Percebe-se que eles têm a visão utilitarista da água, e não de gestores. Já o
segmento Poder Público agiu na maioria das questões como gestores,
demonstrando preocupação em fazer o gerenciamento da água de forma
responsável. Eles consideraram que para 80% das perguntas, os usos de suas
informações são muito importantes para a aprovação da outorga de grande porte e
106

potencial poluidor, confirmando, portanto, a visão de gestores, tão importante para o


gerenciamento da informação e dos recursos hídricos. Para os representantes da
Sociedade Civil houve muita divergência na atribuição das notas, ficando evidente a
heterogeneidade de idéias e conhecimento técnico, bem como a importância
atribuída ao uso das informações, já que eles consideraram que para 80% das
perguntas os usos de suas informações são importantes para a aprovação da
outorga, confirmando, portanto, a visão preservacionista e conservacionista deste
segmento. No entanto, para todas as perguntas respondidas por eles foi necessário
fazer o cálculo da média das notas, pelo fato de que eles não conseguiam chegar a
um consenso de uma única nota para o grupo. Um dos participantes decidiu atribuir
a todas as perguntas a nota zero, por considerar que para todas as informações
apresentadas, o seu uso não é importante para a aprovação da outorga de grande
porte e potencial poluidor. Ele entende que o órgão gestor (IGAM) é que tem a
responsabilidade de usar todas estas informações no momento em que emite o
parecer técnico sobre a outorga e, portanto, não há necessidade dos membros do
Comitê se prenderem em informações apresentadas no Plano para a tomada de
decisão.
A partir dos resultados apresentados nas TAB. 4 (f. 98), TAB. 5 (f. 100) e
TAB. 6 (f. 101) foi possível verificar se ocorreu coerência entre as respostas dos três
grupos, de acordo com o grau de importância da informação no Plano para a
determinação das exigências da informação e para o uso desta informação para a
aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor.
Novamente percebem-se comportamentos diferenciados entre os três grupos.
Foi possível verificar incoerência na atribuição das notas dos representantes dos
Usuários de Água, já que eles consideraram que 80% das informações
apresentadas no Plano são muito importantes para a determinação de suas
exigências da informação, mas quanto à importância do uso destas mesmas
informações para a aprovação da outorga, somente 30% foram consideradas como
muito importantes. Para a pergunta não respondida, o seu uso foi considerado muito
importante para a aprovação da outorga. Somente as informações relativas às
disponibilidades e demandas hídricas atuais e futuras em quantidade foram
consideradas como muito importantes, tanto para a determinação das exigências da
informação como para o uso na aprovação da outorga. Este comportamento dos
107

Usuários de Água fortalece ainda mais a visão utilitarista que eles têm da água. É
possível verificar, portanto, que o grupo 1 utiliza em parte as práticas formais do
gerenciamento da informação no gerenciamento dos recursos hídricos da bacia do
rio das Velhas quanto à determinação das exigências da informação, mas não fazem
o mesmo quanto ao uso da informação.
O grupo 2, composto pelos representantes do Poder Público, foi bastante
coerente nas suas respostas. Para eles 100% das informações apresentadas no
Plano são muito importantes para a determinação das exigências da informação, e o
seu uso para a aprovação da outorga de grande porte e potencial poluidor é
considerado como muito importante e importante (80% e 20%, respectivamente).
Esta coerência confirma o papel de gestor que os representantes do Poder Público
exercem no gerenciamento da informação e dos recursos hídricos, sempre com
vistas na valorização do uso da informação nas tomadas de decisão. É possível
verificar, portanto, que mesmo diante de algumas dificuldades estruturais, ainda
existentes no Comitê, este grupo 2 já utiliza um pouco das práticas formais de
gerenciamento da informação no gerenciamento dos recursos hídricos.
Para os representantes da Sociedade Civil as divergências no momento de
atribuição das notas levaram a algumas incoerências nos resultados. Pelas
respostas às perguntas nº 1 e 9 as informações apresentadas no Plano foram
consideradas como muito importante, mas o seu uso como pouco importante e não
importante. No entanto, de um modo geral 60% dos resultados foram coerentes
entre si. Para eles 100% das informações apresentadas no Plano foram
consideradas como muito importantes para a determinação das exigências da
informação. Quanto à importância do uso destas informações para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor, como houve necessidade de se fazer o
cálculo da média das notas, chegou-se que 70% do uso destas informações são
importantes. Desconsiderando-se a nota zero atribuída a todas as perguntas por um
dos participantes do grupo, o grau de importância para este percentual iria para
muito importante, demonstrando assim a coerência entre as respostas do grupo 3. A
incoerência nas respostas de um dos participantes do grupo que considerou todas
as informações apresentadas no Plano como muito importantes, mas o seu uso para
aprovação da outorga como não importante, pode ser entendida como conseqüência
da sua atuação como um profissional que trabalha a muitos anos na área de
108

recursos hídricos. Este é um grupo que tem a visão mais preservacionista e


conservacionista da água, mas percebe-se que eles já utilizam um pouco as práticas
formais do gerenciamento da informação no gerenciamento dos recursos hídricos.
Em síntese, foi possível perceber que para o uso da informação na aprovação
da outorga, os três grupos já utilizam as práticas formais de gerenciamento da
informação, mesmo que de forma superficial. No entanto percebe-se que eles ainda
não se apropriaram das informações constantes no Plano para o seu uso nas
tomadas de decisão, acham elas muito importantes, mas têm dificuldades em
entenderem como utilizá-las como suporte para o gerenciamento dos recursos
hídricos da bacia do rio das Velhas. Não foi possível verificar dentre o percentual
considerado como muito importante, se existe uma priorização dessas informações
quanto à importância para o uso na aprovação da outorga, considerando que nem
todas aquelas informações são, efetivamente, utilizadas ou disponíveis para uma
análise de outorga.
Vale ressaltar que durante toda a análise dos resultados foi possível verificar
o papel dos representantes do Poder Público sempre buscando valorizar o Plano
Diretor e o seu uso no gerenciamento dos recursos hídricos. Já os Usuários, com a
sua visão utilitarista da água, não valorizam o Plano e o seu uso da mesma forma
que o Poder Público e a Sociedade Civil. Os representantes da Sociedade Civil
também agem para a valorização do Plano e seu uso, com vistas à melhor
preservação e conservação da água. Portanto, foi possível perceber que o Poder
Público e a Sociedade Civil têm comportamentos mais parecidos e os Usuários são
mais diferenciados. Comprovando assim, que o uso da informação depende dos
interesses de cada segmento.
Por fim, pode-se verificar pelos resultados apresentados que o objetivo
proposto na pesquisa foi alcançado, isto é, foi possível analisar as práticas formais
do gerenciamento da informação utilizadas pelos membros do CBH-Velhas no
gerenciamento dos recursos hídricos, quanto à determinação das exigências da
informação e ao uso da informação. Foi possível também, obter resposta quanto ao
problema apresentado e ainda a confirmação da hipótese de que as práticas formais
de gerenciamento da informação no gerenciamento de recursos hídricos ainda são
pouco utilizadas pelos membros do CBH-Velhas.
109

A presente pesquisa, por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, documental,


de caráter qualitativa e exploratória, poderá ser replicada para todos os Comitês do
País, tendo em vista que as dificuldades no gerenciamento da informação no
gerenciamento dos recursos hídricos tendem a ser semelhantes.
Ainda para futuras pesquisas, sugere-se avaliar, periodicamente, o CBH-
Velhas quanto as suas práticas formais de gerenciamento da informação,
principalmente, após a estruturação da Agência de Bacia, atualização do Plano
Diretor de Recursos Hídricos e implementação da cobrança pelo uso de recursos
hídricos. Outro ponto que poderia ser pesquisado seria o estudo dos Comitês de
Bacia Hidrográfica como uma rede para troca e gerenciamento da informação com
vistas à avaliação das políticas públicas para o gerenciamento dos recursos hídricos.
110

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115

APÊNDICES

APÊNDICE A – Carta convite


116

Belo Horizonte, 08 de outubro de 2008.

Prezado (----),

Estou finalizando o mestrado em Administração Pública – Área de


concentração Gestão da Informação, pela Fundação João Pinheiro - Escola de
Governo Paulo Neves de Carvalho e, conforme previsto na metodologia de minha
dissertação intitulada – “Análise das práticas formais de gerenciamento da
informação utilizadas no gerenciamento de recursos hídricos: estudo no
comitê de bacia hidrográfica do rio das Velhas” – terei que fazer entrevistas aos
membros do Comitê, que serão organizados em três grupos focais com 8 membros
cada.
Os grupos de foco são basicamente entrevistas em grupo, estabelecidas de
acordo com um roteiro que tem o propósito de atingir os objetivos pretendidos pelo
pesquisador. O propósito é criar uma situação informal na qual os integrantes do
grupo possam discutir sobre um tema que diz respeito a eles, com ajuda de um
moderador e na presença de um ou mais observadores.
Nesse sentido, convido-o a participar do grupo que irá se reunir no dia
13/10/2008, às 19h, na Rua Silva Ortiz, n. 62, Floresta, Belo Horizonte.
Referência para acesso, atravessar o viaduto Santa Tereza, seguir pela av. Assis
Chateaubriand, depois da av. Francisco Sales, 2ª rua à direita. A reunião terá
duração de cerca de 1 hora e 30 minutos.
Agradeço antecipadamente a colaboração e conto com a sua presença.

Célia Maria Brandão Fróes


117

APÊNDICE B – Roteiro de entrevista dos grupos de foco


118

AQUECIMENTO

Antes de qualquer coisa, queria pedir o máximo de sinceridade de vocês, pelo


seguinte motivo: não estamos aqui para julgar nem para cobrar nada de ninguém.
Somos apenas pesquisadores. Nosso único objetivo é conhecer o que cada um
pensa. A pesquisa qualitativa tem o objetivo de conhecer mais profundamente as
opiniões sobre um determinado tema.

O objetivo do nosso trabalho, hoje, é fazer uma análise de como o comitê do


Rio das Velhas está atuando na gestão das águas.

Temos algumas regras: eu tenho que sair daqui com algumas respostas.
Portanto, não podemos discutir somente um assunto durante toda a reunião e nem
posso deixar que alguns poucos monopolizem a conversa. É importante ouvir a
opinião de todos. Não há opinião certa ou errada, toda e qualquer opinião é
igualmente importante. O que importa mesmo são a espontaneidade e a sinceridade
de vocês.

Ninguém tem que ter resposta pronta pra tudo, mas se alguém não entender
o que estou perguntando, é só me pedir para explicar melhor.

Falar sobre: sigilo, espelho e lanche.

Alguma dúvida?

Antes de começarmos a conversar gostaria que cada um se apresentasse...

Para o nosso trabalho, as seguintes informações são importantes: se vocês


trabalham, qual empresa, qual a profissão e qual a função...
119

INTRODUÇÃO

1. Na opinião de vocês, qual a importância do Comitê da bacia do rio das Velhas na


gestão das águas do estado de Minas?

2. E qual é a importância de suas participações na gestão das águas como


membros desse Comitê?

3. Quais foram os principais motivos que levaram vocês a participar desse Comitê?

4. Sabem que existe o Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia do rio das
Velhas? Que esse Plano foi elaborado em 1998 e atualizado em 2004? Se não
surgir espontaneamente: Vocês conhecem o conteúdo desse plano?
Participaram da sua elaboração e aprovação? Como este processo ocorreu?

5. Vocês sabiam que existe um conteúdo mínimo exigido na lei de recursos hídricos
para compor esse Plano? E que quando o Plano foi elaborado todo esse
conteúdo mínimo teve que ser obedecido ou não? (ENTREGAR O PLANO)

PASSO 1: DETERMINAÇÃO DAS EXIGÊNCIAS DA INFORMAÇÃO

6. Quais são as principais fontes de dados para o trabalho no Comitê, para as


tomadas de decisões de vocês? Quem determina essas fontes? Por quê?

7. Na opinião de vocês, quais dados são fundamentais para a atuação do Comitê da


bacia do Rio das Velhas? Justificar.

8. E por outro lado, quais são os dados irrelevantes ou dispensáveis? Justificar.

9. Há informações adicionais que vocês considerariam importantes constar no plano,


mas não são consideradas?

10.Se não surgir: vocês acreditam que as informações contidas no Plano Diretor de
Recursos Hídricos são necessárias para tomarem alguma decisão no Comitê, ou
não?
120

PASSO 2: OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO

11.Existe algum procedimento padrão de obtenção de informações? Me expliquem


como funciona este procedimento?

PASSO 3: DISTRIBUIÇÃO DA INFORMAÇÃO

12.Como são feitas a comunicação e a divulgação das informações utilizadas?

13.Quem são os responsáveis por essa distribuição?

14.Onde, como e quando são disponibilizadas?

15.Acreditam que todos os membros têm acesso às mesmas informações ou não?

PASSO 4: USO DA INFORMAÇÃO

16. Como as informações são utilizadas?

17.Existe algum mecanismo de controle das informações dentro do comitê? Qual?

18.Como o desempenho é avaliado? Que meios utilizam para verificar se a


informação foi utilizada devidamente?

19.Lembram de ocasiões em que as informações não foram utilizadas devidamente?

20.Qual a sua sugestão para melhor o gerenciamento de informações do comitê?

21.Há informações adicionais que vocês considerariam importantes constar nos


documentos enviados pelo IGAM para avaliação da outorga, mas não são
consideradas?
121

ENCERRAMENTO – VARIÁVEIS COMPONENTES DO ESTUDO

– Devem ser respondidas por todos os componentes dos grupos –

PASSO 1

Pergunta 1: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise de opções de


crescimento demográfico apresentadas no Plano? Por quê? Justifique sua
resposta.

Pergunta 2: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise da evolução


das atividades produtivas apresentadas no Plano? Por quê? Justifique sua
resposta.

Pergunta 3: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das


modificações dos padrões de ocupação do solo apresentadas no Plano? Por
quê? Justifique sua resposta.

Pergunta 4: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das


disponibilidades hídricas atuais e futuras em quantidade apresentadas no
Plano? Por quê? Justifique sua resposta.

Pergunta 5: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das


disponibilidades hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano?
Por quê? Justifique sua resposta.

Pergunta 6: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das demandas


hídricas atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano? Por quê?
Justifique sua resposta.

Pergunta 7: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das demandas


hídricas atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano? Por quê?
Justifique sua resposta.
122

Pergunta 8: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância das prioridades de


outorga de direito de uso definidas no Plano? Por quê? Justifique sua resposta.

Pergunta 9: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância da análise das propostas


para criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos
recursos hídricos e de ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano? Por
quê? Justifique sua resposta.

Pergunta 10: Em uma escala de 0 a 10 qual a importância das metas de melhoria


da qualidade dos recursos hídricos apresentadas no Plano? Por quê? Justifique
sua resposta.

PASSO 4

Pergunta 1: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das opções de crescimento


demográfico apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de grande porte
e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 2: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso da evolução das atividades


produtivas apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de grande porte e
potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 3: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das modificações dos padrões


de ocupação do solo apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 4: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das disponibilidades hídricas


atuais e futuras em quantidade apresentadas no Plano para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 5: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das disponibilidades hídricas


atuais e futuras em qualidade apresentadas no Plano para a aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.
123

Pergunta 6: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas hídricas atuais e


futuras em quantidade apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 7: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das demandas hídricas atuais e


futuras em qualidade apresentadas no Plano para a aprovação da outorga de
grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 8: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das prioridades de outorga


definidas no Plano para a aprovação da outorga de grande porte e potencial
poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 9: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das propostas para criação de


áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos
e de ecossistemas aquáticos apresentadas no Plano para a aprovação da outorga
de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

Pergunta 10: Em uma escala de 0 a 10 qual o uso das metas de melhoria da


qualidade dos recursos hídricos apresentadas no Plano para a aprovação da
outorga de grande porte e potencial poluidor? Justifique sua resposta.

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