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Interpretação Da Lei

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Conceito de interpretação da lei

Antes de se aplicar a lei (ou qualquer norma jurídica), há que interpretá-la, para se ter
uma clara percepção do sentido e alcance do que nela se contém, ou seja, do
pensamento do legislador.

Estudada no âmbito da denominada Hermenêutica Jurídica , a interpretação da lei é o


processo técnico-jurídico que visa determinar qual o conteúdo e alcance das normas
jurídicas.

A interpretação da norma jurídica integra duas fases: interpretação literal, em que se vai
apreender o sentido gramatical, textual ou literal da norma legal; interpretação lógica,
em que, a partir do texto da norma e com base em elementos extra-literais, se procura
extrair o pensamento do legislador.

A interpretação das leis é objecto de estudo no âmbito da Hermenêutica Jurídica.

5.1.2. Elementos da Interpretação

Na interpretação da lei, temos presentes quatro elementos, a saber: - Elemento literal –


atende-se à letra da lei, ao sentido das palavras que a compõem;

Elemento lógico. – Vai-se explorar todas as possibilidades de análise do texto legal,


para se determinar a razão de ser das normas, o espírito da lei;

Elemento sistemático – Tem se em conta a norma não numa perspectiva isolada mas
sim no âmbito do sistema em que a norma está inserida;

Elemento histórico – Para se interpretar bem a norma, deve-se considerar o contexto


histórico em que a mesma foi adoptada, sendo para isso importante a consulta dos
documentos que fazem parte dos trabalhos preparatórios do diploma.

Métodos de interpretação da lei

Existem vários métodos de interpretação da normas jurídicas, cuja classificação varia


consoante os critérios: sua fonte ou origem, sua finalidade e seu resultado
Atendendo ao critério da fonte ou origem da interpretação, esta pode ser autêntica ou
doutrinária:

a) Interpretação autêntica - É uma interpretação que é feita pelo próprio órgão que
criou a norma (não pode ser feita por um órgão de hierarquia inferior) e deve assumir a
mesma forma de acto que a utilizada na produção da norma que ora se interpreta

b) Interpretação doutrinal - É uma interpretação feita por especialistas e técnicos de


Direito, como os magistrados, juristas, assim como pelos tribunais, fazendo uso da
doutrina e da ciência jurídicas.

Quanto ao critério da finalidade da interpretação da norma jurídica, distinguem-se os


métodos de interpretação: subjectivista, objectivista, histórica ou actualista.

a) Interpretação subjectivista - É um método de interpretação através do qual se


procura reconstituir o pensamento concreto do legislador.

b) Interpretação objectivista - É um método de interpretação em que se busca apurar o


sentido da norma abstraindo-se de quem foi o legislador ou de quem produziu essa
norma

c) Interpretação histórica - É um método de interpretação em que se busca alcançar o


sentido que a norma tinha no momento de sua aprovação e entrada em vigor

d) Interpretação actualista - É um método de interpretação em que se busca alcançar o


sentido que a norma tinha no momento de sua aplicação ou execução

Atendendo ao resultado da interpretação, distinguem-se os seguintes métodos de


interpretação: interpretação declarativa, extensiva, restritiva, enunciativa e ab-rogante.

a) Interpretação declarativa - É um método de interpretação em que o intérprete


entende que o sentido da norma está de acordo com o respectivo texto Interpretação
extensiva - É um método através do qual se faz uma interpretação de modo a corrigir a
não conformidade entre a letra da norma e o pensamento do legislador, no entendimento
de que este expressou na lei menos do que queria, não abarcando todas as situações que
caberiam razoavelmente no seu pensamento. Assim, o intérprete alarga o alcance da
norma de modo a abarcar essas situações, adequando-se, assim, a letra da norma ao
pensamento do legislador.

c) Interpretação restritiva - É um método através do qual se faz uma interpretação de


modo a corrigir a desconformidade existente entre a letra da norma e o pensamento do
legislador, no entendimento de que este expressou na lei mais do que queria, usando
uma formulação demasiado ampla que foi além da realidade que pretendia abarcar.
Assim, o intérprete restringe ou reduz o alcance da norma de modo a abarcar apenas as
situações que caberiam razoavelmente no pensamento do legislador.

d) Interpretação enunciativa - É uma interpretação em que, através de um processo


dedutivo, se retira da norma todas as suas consequências

e) Interpretação ab-rogante - É um método de interpretação em que o intérprete,


apesar de presumir que o legislador consagrou a solução mais acertada e exprimiu
correctamente seu pensamento, conclui que a norma não tem qualquer efeito útil,
nomeadamente porque é incompatível e irreconciliável com outra norma jurídica. É
semelhante à interpretação correctiva, a que se refere Ascensão (1993), que ocorre
quando se conclui que a lei é nociva para a comunidade, contrastando com os interesses
que a ordem jurídica considera preponderantes; neste caso, a norma inadequada, injusta,
inoportuna ou nociva é afastada pelo intérprete no pressuposto de que o legislador não
teria desejado esse efeito caso o pudesse prever.

5.1.3. Exemplos da aplicação de métodos de interpretação

Vejamos, com alguns exemplos práticos, como os métodos de interpretação ajudam a


compreender o sentido e o alcance de normas jurídicas:

- Exemplo de aplicação de interpretação doutrinária: - A obra “Estudos sobre os


Direitos Fundamentais, de José Gomes Canotilho, ajuda a compreender as normas da
Constituição relativas aos direitos dos cidadãos;

A obra “O Estado democrático e a cidadania”, de António Teixeira Fernandes”, permite


compreender o sentido e o alcance da norma da Constituição que define Moçambique
como um “Estado de Direito Democrático”;
O Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça (enquanto Tribunal Constitucional) que
declara inconstitucionais as normas de natureza fiscal constantes da lei de orçamento
por terem sido aprovadas por maioria absoluta, como as demais normas da mesma lei, e
não por maioria qualificada (2/3), como a Constituição exige para a aprovação das leis
fiscais, ajuda a clarificar o sentido em que devem ser interpretada a maioria de
aprovação da lei orçamental.

- Exemplo de uma interpretação extensiva: “É permitido aos cidadãos expressar sua


opinião através dos meios de comunicação social, designadamente a rádio e os jornais”
(a interpretação extensiva permite incluir, por exemplo, a televisão e o cinema, que
foram omitidos na norma)

- Exemplo de uma interpretação restritiva:“É concedido aos meios de comunicação


subsídio de papel, no montante correspondente à metade dos custos de impressão” (a
interpretação restritiva impõe-se, porque o legislador quererá referir-se apenas aos
jornais e não aos demais meios de comunicação social, que não são impressos)

- Exemplo de aplicação dos métodos de interpretação histórica e actualista: Uma


hipotética lei de 1947, constante de uma lei portuguesa, ainda vigente em Moçambique,
diz: É dever de todos os cidadãos prestar serviço militar à Pátria. Se se tomar em conta o
momento da aprovação, o termo cidadãos referia-se a “portugueses” e a palavra Pátria a
“Portugal”, fazendo, assim, uma interpretação histórica. Se se procura atender ao
significado actual da norma em Moçambique, tem-se um sentido completamente
diferente: o termo “cidadãos” deve entender-se referido a “Moçambicanos” e o da
“Pátria” a “Moçambique”.

5.1.4 As lacunas e sua integração

Diferente da interpretação é a questão do tratamento a dispensar às lacunas na lei, que


são os casos omissos no sistema normativo (de ausência de normas aplicáveis a certas
situações).

Efectivamente, o legislador não consegue, por mais previdente que seja, prever todas as
hipóteses que podem ocorrer na vida real. Esta, em sua manifestação infinita, cria a todo
instante situações que o legislador não lograra fixar em fórmulas legislativas. Pode
ocorrer que ao julgar determinada questão o juiz não encontre no ordenamento jurídico
a solução legislativa adequada. Houve época em que, na falta de disposição legal
aplicável ao caso concreto, o juiz abstinha-se de julgar. Hodiernamente, tal solução não
mais se admite, sob pena de remanescerem questões sem pronunciamento definitivo.
Efectivamente, após a interpretação e uma vez verificada a lacuna, o jurista procura,
pelos processos admitidos pela doutrina e pelo ordenamento jurídico, encontrar a forma
de resolver a situação. Assim, por exemplo, segundo o Código Civil vigente (artigo 8º),
o juiz, na sua função de julgar não pode deixar de decidir um caso devido ao silêncio da
lei (ou à falta dela). Ao resolver o caso, estará a fazer a integração de lacuna (artigo 10º
do Código Civil) .

Na integração de lacunas, o juiz deve começar por procurar no ordenamento jurídico


uma norma que embora não regule especificamente a situação em causa, possa contudo
ser-lhe aplicável em virtude da semelhança da situação regulada pela mesma norma.
Deste modo, estará a aplicar a analogia Analogia é, pois, a aplicação ao caso omisso a
norma reguladora de um caso semelhante (ou análogo)

Coisa diferente é a interpretação extensiva, em que não há ausência de norma (como na


analogia), existindo, sim, uma norma que, na sua letra, não abarca certos aspectos que
no entanto cabem no seu espírito ou no espírito do legislador (este disse menos do que
pretendia).

Todavia, há casos em que não é aplicável a analogia nem, por conseguinte, a integração
de lacunas. São os casos de:

a) Leis excepcionais, que regulam um sector particular das relações sociais de modo
diverso do regime geral adoptado para relações situações do mesmo género (ora, nas
situações excepcionais reguladas pelo Direito, a ausência de norma de excepção não é
susceptível de suprimento por analogia);

b) Leis penais, que se regem pelos princípios da legalidade e da tipicidade57, nos


termos dos quais não é possível condenar ninguém por condutas e ou com penas não
previstas expressamente na lei;

c) Leis tributárias (normas do Direito Fiscal ou Tributário), pois que ninguém é


obrigado a pagar impostos que não tenham sido criados nos termos da lei.
Conhecer os princípios da interpretação da lei é a primeira tarefa de quem pretende
entra nos labirintos do direito; a lei aparece-nos como um conjunto de palavras que
exprimem uma ideia do legislador referentes à organização de uma sociedade ou a
regular as relações entre os homens. Mas, as palavras, como uma forma de manifestação
da vontade do homem, comportam muitas vezes mais do que um significado; por isso se
torna necessário uma profunda análise do todo o texto da lei no seu todo para
determinar o sentido em que foram empregues as palavras ou o pensamento que por
meio delas se pretendeu

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