Glauco Mattoso - MELOPÉA
Glauco Mattoso - MELOPÉA
Glauco Mattoso - MELOPÉA
MELOP�A
SONNETTOS MUSICADOS
SUMMARIO
NOTA INTRODUCTORIA
[1] SONNETTOS MUSICADOS E DECLAMADOS
[1.1] CONCEP��O DO CD
[1.2] REPERTORIO DO CD
[1.3] COMMENTARIO DO REPERTORIO
[2] SONNETTOS TRANSCRIPTOS
MANIFESTO OBSONETO (SONNETTO 8)
ESCATOLOGICO (SONNETTO 72)
INESCRUPULOSO (SONNETTO 129)
TROPICALISTA (SONNETTO 150)
FLATULENTO (SONNETTO 192)
AO MAIOR (SONNETTO 214)
CONFESSIONAL (SONNETTO 234)
ENSAISTICO (SONNETTO 241)
AMELIA E EMILIA (SONNETTO 259)
DERCY GON�ALVES (SONNETTO 270)
BELLICO (SONNETTO 273)
PACIFISTA (SONNETTO 274)
VIRTUAL (SONNETTO 284)
UTOPICO (SONNETTO 287)
DESERTADO (SONNETTO 352)
REVISTA (SONNETTO 377)
PREGUICISTA (SONNETTO 427)
PRECIPUO (SONNETTO 429)
[3] CRITICA
[3.1] COMMENTARIO DE FERNANDO BONASSI
[3.2] COMMENTARIO DE RICARDO CORONA
[3.3] COMMENTARIO DE SYLVIO ESSINGER
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NOTA INTRODUCTORIA
https://www.youtube.com/watch?v=hPOlCA8xEPc
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[1.1] CONCEP��O DO CD
[1.2] REPERTORIO DO CD
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[3] CRITICA
Mas parte desse d�ficit est� sendo sanado neste momento. O melhor seria
dizer insana e deliciosamente sanado. Um encontro expl�cito entre a
poesia e a m�sica est� � disposi��o dos ouvidos antenados: trata-se do
CD "Melop�ia", de Glauco Mattoso. Glauco -- que � um desses
"penetrantes" transitando por diversas �reas, com o nome sempre
associado a can��es e � pr�pria hist�ria da MPB -- produziu 23 sonetos,
interpretados pelas mais variadas vozes/arranjos da m�sica brasileira,
de Itamar Assump��o a Inocentes, passando por Humberto Gessinger, Falc�o
e Arnaldo Antunes. O espectro de sonoridades � amplo e o mesmo acontece
com o alcance dos textos. Se a palavra soneto faz voc� lembrar de
alienadas velharias parnasianas, "Melop�ia" pode ser uma revela��o.
Numa tradi��o de g�nios, mas que tamb�m comporta muito lixo, "Melop�ia"
representa a un��o da intelig�ncia cr�tica, senso de humor e suingue.
Uma porrada ador�vel. Melhor que isso, s� mais disso.
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"COMENDO AS CONSERVAS"
Nunca a forma fixa esteve t�o bem (ou mal) acompanhada, com bandas e
cantores que v�o do punk ao samba, do rockabilly ao blues, do jazz ao
funk, do folk ao techno -- al�m de samplers de sonatas para cravo (de
Scarlatti) introduzindo cada faixa do disco. Cada trecho � da sonata
cujo n�mero corresponde ao de um soneto. Por exemplo: o disco abre com
um trecho do in�cio da sonata 150, para introduzir o soneto 150.
Talvez porque sempre transitou pela forma fixa com inventividade e rigor
libert�rios, fazendo haicais urbanos e limericks nordestinos, por
exemplo. Neste caso, chegando a produzir uma verdadeira obra-prima:
LIMEIRIQUES & OUTROS DEBIQUES GLAUQUIANOS (Edi��es Dubolso, 1989).
Limeirique, segundo Glauco, � um h�brido de limerick (forma justa
inglesa, composta de versos metrificados em 10/10/5/5/10) e Z� Limeira
(cantador do Nordeste, conhecido como poeta do absurdo). Glauco misturou
poesia popular nordestina -- via Br�ulio Tavares -- com poesia inglesa
tradicional, transformando o limerick em limeirique. Uma apropria��o
"abrazileirada" e abusada da tradi��o.
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Mito da chamada poesia marginal daquele Brasil dos cinzentos anos 70, o
paulistano Pedro Jos� Ferreira da Silva, 50, acabou conhecido pelo
grande p�blico em 1984, quando Caetano Veloso o citou no meio da
torrente verbal que � a letra de "L�ngua", faixa do LP VEL�. N�o pelo
nome de batismo, mas pelo de Glauco Mattoso, "pseud�nimo-trocadilho" que
adotou por causa do glaucoma que lhe roubaria a vis�o por completo em
meados da d�cada de 90. Depois de envolvimentos com quadrinhos, tradu��o
e produ��o fonogr�fica (para o selo punk Rotten Records), ele volta ao
campo que mais divulgou seu nome: o da can��o popular. Pela Rotten, ele
acaba de editar o CD MELOP�IA, em que diversos nomes mais e menos
conhecidos do pop brasileiro musicam os sonetos que come�ou a tra�ar nas
noites de ins�nia provocadas pela cegueira. "Como n�o podia escrever, ia
guardando tudo na mem�ria", conta. A escala��o do CD tem de Arnaldo
Antunes ("Confessional"), Humberto Gessinger (l�der dos Engenheiros do
Hawaii, em "Revista") e o metabrega Falc�o (ao lado do ator Eriberto
Le�o em "Prec�puo") aos punks Inocentes ("Preguicista") e Devotos
("Dercy Gon�alves"), o punk-brega Wander Wildner ("Ensa�stico") e o
inclassific�vel Itamar Assump��o (com Renata Mattar em "Am�lia &
Em�lia"), passando pelos undergrounds Billy Brothers ("Escatol�gico"),
Laranja Mec�nica ("Confessional") e DJ Kr�neo (fragmentos de "Ut�pico" e
"Inescrupuloso"). Com capa do quadrinista Louren�o Mutarelli e
interpola��es de m�sica barroca, o CD, segundo Glauco, re�ne artistas
que, como ele, se pautam pela transgress�o. Ou n�o � transgressor um
adorador de p�s masculinos que j� escreveu o MANUAL DO POD�LATRA AMADOR
e, desbravador da l�ngua, j� criou o DICIONARINHO DO PALAVR�O?
Subproduto - N�o � por acaso que MELOP�IA tem uma capa que parodia a de
TROPIC�LIA OU PANIS ET CIRCENSIS, o disco-manifesto do tropicalismo.
"Sou um subproduto do tropicalismo", admite. "N�s, os poetas marginais,
absorvemos essa salada, essa no��o de descontra��o nada acad�mica." Al�m
disso, lembra Glauco, os tropicalistas se reportavam muito ao
modernismo, que est� na base de sua poesia. Mas ainda teve aquela for�a
de Caetano Veloso em "L�ngua", n�o? "Meu nome j� circulava antes de ele
ter me citado. A m�sica n�o chegou a alterar minha trajet�ria, s� ajudou
um pouco em termos de m�dia", minimiza ele, admitindo uma afinidade com
Caetano, mas ressalvando que o baiano � "muito mais clean". "Minha
matriz � Greg�rio de Matos e Bocage. Por uma op��o est�tica, h� uma
s�rie de palavras que Caetano n�o usa nas m�sicas", explica.
Simpatizante do movimento hippie na d�cada de 70, Glauco chegou a morar
um tempo no Rio na meca do paz e amor, o bairro de Santa Teresa. "Era um
lugar onde se respirava paz, subir o morro de bondinho era uma esp�cie
de conto de fadas. Fico muito chateado quando ou�o hoje hist�rias como a
daquela mulher que foi estuprada e morta l�", diz. Anos mais tarde, seu
inconformismo o levou ao punk, dentro do qual encontrou uma grande
paix�o: os skinheads. Paix�o gerada por causa do rock que os skins
ouviam e da est�tica, de cabe�as raspadas, que ele passou a adotar.
/// [12/11/2016]