Glauco Mattoso - Tripé Do Tripudio
Glauco Mattoso - Tripé Do Tripudio
Glauco Mattoso - Tripé Do Tripudio
SUM�RIO
ABUSADORES E ACUSADORES
Tal � o panorama de fundo nos contos mattosianos, que, por tr�s duma
aparentemente inconseq�ente fantasia masturbat�ria, de vi�s
sadomasoquista ou fetichista, p�e o dedo na ferida psicol�gica ou
social, mais profundamente do que p�e um ded�o na boca ou um p�nis no
�nus. Mattoso n�o se limita ao plano autobiogr�fico, por�m, tampouco �
esfera infantil ou juvenil, e incursiona no degenerado mundo adulto, ou
submundo, como querem os acusadores moralistas: h� contos, neste volume,
que devassam a degradante privacidade duma sociedade hipocritamente
humanista e humanit�ria, mas domesticamente animalesca.
Nesta edi��o, s�o apenas doze os contos, selecionados numa safra mais
volumosa j� veiculada na rede virtual, nas revistas alternativas como a
cearense "Literatura" ou em antologias como aquela "Sadomasoquista" que
o pr�prio Mattoso organizou em colabora��o com o professor e escritor
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. � guisa de fio condutor
alinhavando esta amostragem, a sele��o do autor sugere que a hediondez
n�o est� no maior ou menor grau de perversidade ou de pervers�o, nem na
maior ou menor faixa et�ria, mas na pr�pria natureza humana e na
deteriorada civiliza��o que a humanidade edifica e a animalidade
infiltra, corr�i e solapa. Depois da leitura, e do eventual orgasmo
inconfess�vel, cada leitor avaliar� o n�vel de pasmo, asco ou fastio
provocado por esta est�tica ficcion�stica que nada tem de antiss�ptica.
///
[1] O DESOCUPADO
O soneto 583 me veio quando lembrei dum cara que morava no meu pr�dio,
n�o este onde moro, mas no mesmo bairro, defronte � padaria da rua E�a
de Queiroz. O sujeito era bem novo (tinha uns dez anos a menos que eu,
nos meus trinta), mas n�o andava enturmado. Quase n�o sa�a, talvez
porque n�o tivesse grana, talvez porque n�o tivesse amigos, ou uma coisa
por causa da outra. Ficava o tempo todo zanzando pelo quarteir�o, da
portaria do pr�dio � esquina, da esquina para a padoca. Ali batia ponto
e papo com outros habituais fazedores de hora e, eventualmente, filava
uns comes ou, sobretudo, uns bebes que algu�m pagasse. Namorada n�o
tinha, ou melhor, vivia rodeando as vizinhas mais abertas � conversa, e
por algum tempo foi visto sentado no jardim com a filha do zelador, mas
logo a menina dividiu o banco com o manobrista da garagem, e nosso her�i
voltou a zanzar com cara de quem n�o comeu e n�o gostou.
A mim o que chamava aten��o era a sand�lia havaiana que ele n�o tirava
do p�. Na �poca eu era banc�rio e costumava me vestir sobriamente: n�o
se usava mais terno e gravata, mas camisa, cal�a e sapato tinham que ser
sociais. A molecada, por outro lado, exibia na rua suas roupas folgadas
e coloridas, seus t�nis colossais e chamativos. Mas o cara n�o
acompanhava moda alguma: vestia-se com desleixo, parecia usar sempre a
mesma camiseta e o mesmo cal��o. As havaianas eu tinha certeza de que
eram as mesmas. Nunca fui muito atra�do por chinelo ou sand�lia: as
botas (especialmente coturnos) e os t�nis me sugeriam as cenas tribais
de ent�o: hippie ou punk, rockabilly ou skinhead. Sexo e poder marchavam
juntos, simbolizados, para mim, nas solas pisando caras, de prefer�ncia
a minha cara.
Mas se a sand�lia de dedo n�o me seduzia, o ded�o exposto sim: era mais
curto que o segundo artelho, e o p� espalhado e chato, formato que me
fazia viajar de volta � meninice, quando fui abusado por moleques de
periferia, um dos quais tinha p� assim e me pisou na boca, obrigando-me
a lamber, antes que os demais me currassem. A reminisc�ncia, que me
perseguiu pelo resto da vida, voltava naqueles momentos em que eu
cruzava com o marmanjo no sagu�o do condom�nio ou na cal�ada, mas ele
era t�o desligado que nem reparava em meu olhar fixo no ch�o, fascinado
por aquela prancha descal�a e apoiada numa palmilha gasta e encardida.
Na verdade ele s� aparentava ser sonso, pois bem que me manjava, apesar
da minha discri��o no relacionamento com os vizinhos. N�o que eu n�o
fosse assumido: �quela altura j� tinha participado do grupo SOMOS e
colaborado no LAMPI�O, e minha poesia francamente er�tica e
sadomasoquista circulava impressa. S� que, no pr�dio como no banco, eu
preferia n�o dar muita bandeira e achava melhor preservar minha
privacidade. Sempre que recebi visitas de "amigas" mais "pintosas" ou
"fechativas" (como se dizia na g�ria camp da �poca), contudo, l� estava
o rapaz de olho, parado como que por acaso na escadaria da entrada,
enquanto eu as acompanhava at� o port�o ou sa�a junto.
N�o tardou para que o gelo se quebrasse. Uma manh� fui xerocar um artigo
do LAMPI�O e ele aguardava, no balc�o da papelaria, enquanto o
balconista me atendia. N�o me perturbei quando o vi ali ao lado, mas n�o
pude disfar�ar a olhadela que dei para conferir se aquele pez�o cal�ava
as indefect�veis havaianas. Na sa�da, ele me encarou com aquela
express�o de folgado e riu triunfalmente, escancarando os bei��es, como
se tivesse flagrado uma ninfeta tomando sol sem suti� na piscina do
edif�cio ao lado. Apontou para o tabl�ide na minha m�o e perguntou com
for�ada intimidade:
-- Poesia.
-- Poesia?
-- De sacanagem.
Olhei para os lados, achando que estariam nos ouvindo, mas a cal�ada n�o
estava muito movimentada e j� cheg�vamos ao pr�dio. Entramos e segui
direto para o sof� do sagu�o, sentando-me e esperando que ele me
imitasse. N�o hesitou, interessado que estava na continuidade do
di�logo. Fui bem did�tico e objetivo:
-- Nem todo mundo gosta de tudo. Que eu saiba, a maioria dos gays curte
chupada e nem todos d�o o cu. E tem gay que curte outras coisas, como
eu.
-- Principalmente.
-- O resto depende.
-- Depende do qu�?
-- Chupava agora?
-- No seu ap�?
-- Claro!
Quando ele se levantou percebi o pau duro sob o cal��o. Subimos e, assim
que ele bateu o olho no meu barzinho, esqueceu momentaneamente o tes�o,
magnetizado pela cole��o de decantadores de cristal que se perfilavam na
prateleira, cada um contendo uma tonalidade de licor. Claro que ia
pedir, mas n�o esperei e ofereci. Ele se acomodou numa poltrona,
servi-lhe o drinque, e dali a pouco, fingindo ou n�o, o cara estava
suficientemente "anestesiado" para, se fosse o caso, esquecer tudo o que
se passaria no apartamento do banc�rio solit�rio. Mas n�o foi o caso,
pois ele percebeu que a situa��o poderia se repetir da forma mais
conveniente: ele interfonava e subia quase todo dia, mas j� n�o pela
manh�, quando eu me preparava para sair ao trabalho. Ficou combinado que
ele podia me chamar depois das oito da noite, sempre que quisesse, e eu
s� n�o o receberia se estivesse muito ocupado ou se tivesse compromisso
fora. A partir da�, o cara me freq�entou sem a menor cerim�nia e se
serviu sozinho de seus drinques, enquanto eu lhe prestava o servi�o no
p�.
-- T�.
///
[2] O APRENDIZADO
Esfor�ou-se, mas da primeira vez levou quinau daquele professor com cara
de colegial: o gordo n�o controlara sua ansiedade, fora com muita sede
ao pote, e sua afoba��o fez a porra jorrar antes da hora. O moleque
queria prolongar a sess�o, coisa que rolou mais naturalmente nos
encontros seguintes. Bob teve de admitir -- e sinto-lhe a sinceridade
nas mensagens intern�uticas -- que havia muito a aprender, e engoliu,
juntamente com o orgulho de adulto deficiente mas auto-suficiente, um
caralho imaturo mas convencido da superioridade de quem tem vis�o
normal, ainda que corrigida pelos �culos fundo-de-garrafa do nerd�o.
N�o tenho muitos detalhes sobre o fim que levou esse benem�rito fodedor
de bocas. Parece que come�ou a sair com a mais fodona de suas
professoras e, vendo que dava certo com as mulheres, esqueceu-se do cego
obeso, como das bichas de rua. Outros mestres apareceram, prontos a
treinar um perseverante aprendiz.
///
Sonetos como aqueles dois "do (con)dom�nio" (817 e 818) me vieram quando
o zelador do meu pr�dio, ao cruzar comigo no sagu�o, disse ter revisto
na rua o tal Rolando, j� nos seus vinte e poucos, andando de esqueite
como se ainda estivesse nos treze e fumando como se fosse adulto.
Rolando n�o morou neste condom�nio, mas foi o garoto mais famoso do
quarteir�o, e todos os zeladores, porteiros e vizinhos o conheciam. A
fama � que n�o era nada boa: aprontou com crian�as e adultos. Seus
pr�prios pais, ao que se sabe, preferiam fazer de conta que o diabrete
era um anjo a ter de enquadr�-lo, e simplesmente ignoravam quaisquer
reclama��es. N�o sei se houve alguma ocorr�ncia policial, mas imagino
que a conduta do moleque deu bons motivos para tanto.
-- Ah, vai sim! Vai ser meu escravo! -- e Rolando chamava a aten��o do
porteiro que, de dentro da cabine, assistia � cena sem ousar intervir,
quem sabe at� curtindo o espet�culo:
Para n�o cortar o barato dos meninos, Diego fingiu que esperava o
elevador sem prestar aten��o ao jogo, mas Rolando, empolgado pela emo��o
da nova brincadeira, arrastou Noel para o p�tio de tr�s e ambos
perderam-se de vista.
A leitura da frase n�o podia ser mais ir�nica: Por que ser� que o
bobinho n�o revida? Por medo ou porque reconhece a inferioridade?
N�o fizeram ali, � vista de quem passasse, mas fiquei sabendo que
fizeram no topo do pr�dio, entre os muros que cercavam o terra�o da laje
superior, um esconderijo ao qual s� tinha acesso quem fazia manuten��o
de instala��es hidr�ulicas, mas cuja porta Rolando dera jeito de abrir.
Parece que freq�entavam o antro com regularidade, a julgar pela profus�o
de picha��es e pelo cheiro de maconha que vazava para as escadarias do
bloco. Ali�s, a molecada adorava descer pela escada, sempre em
desabalada carreira e tocando todas as campainhas dos apartamentos, isso
quando n�o se optava por apostar corrida entre o elevador social e o de
servi�o, a segunda e divertida alternativa.
-- Por qu�?
-- Que mais?
-- S�. Ele achava que era dono do Noel, mas pra mim ele emprestava
porque gostava de ver o Noel me chupando.
-- No ap� de quem?
-- Tinha que chupar. No come�o ele enjoava com a pica do Rolando, mas
foi acostumando e j� engolia quase inteira.
-- Demorou mais, porque a minha � maior... n�o cabe toda. Eu fazia ele
lamber bastante, depois ele tinha que me punhetar enquanto eu metia a
cabe�a at� onde dava.
-- N�o, mas a gente n�o dava moleza. Enquanto n�o fizesse o que a gente
mandava, n�o podia se livrar. Eu catava ele pela orelha e metia bronca.
-- Ele que experimentasse n�o engolir! At� mijo ele teve que engolir!
-- Eu que tive a id�ia, mas acho que ele bebeu o mijo do Rolando quando
ficavam sozinhos.
-- Acho que gostava igual. Tudo era legal. Eu tamb�m peguei o Noel
sozinho, mas o Rolando n�o sabia, sen�o n�o deixava...
-- Ele falava que queria ver se minha rola ia caber na boca do Noel. Uma
vez ele mediu at� onde entrou.
-- E depois que o Noel mudou? Quem ficou chupando voc�s no lugar dele?
-- Fez mais pro Rolando. O pau do Rolando ele mamava com gosto, mesmo.
Parece at� que o cara nasceu pra ser escravo, e que o Rolando s� queria
gozar na boca dele. Era que nem um t�nis, tem que ser nosso n�mero,
sen�o n�o serve, n�?
-- Nem todas. A maioria tem nojo, n�o gosta do cheiro, fala que tem
sebinho... um saco! Mas como elas t�m buraco at� de sobra, a gente goza,
dum jeito ou de outro...
Diego saiu-se bem, mas fico me perguntando por onde anda Rolando, e como
rola sua rola... Quanto a Noel, o que eu queria era ter o "emeio" dele
pra fazer minhas pr�prias perguntas acerca do p� de Rolando, que suponho
ser chato e ter chul�, e cujo ded�o imagino mais curto, at� um
cent�metro a menos que o artelho vizinho...
///
Tudo veio � tona durante uma visita que, ainda quando enxergava, fiz a
seu est�dio de grava��o, onde eram produzidos os discos de muitas bandas
punks nos 80. Enquanto escolh�amos algumas fotos que ilustrariam meu
pr�ximo artigo sobre rock tribal, Marc�o mostrou-me um �lbum pessoal
cujo destaque era uma figura feminina bastante provocante: loira,
vestida de motoqueira e sorrindo com arrog�ncia atrav�s dum batom
vampiresco muito bem desenhado nos l�bios desdenhosos.
-- Dois anos. Foi morar nos States. Ela adorava as HD e queria se juntar
a uma gangue de "bikers". N�o sei se conseguiu, mas levava jeito...
-- N�o. Quem me v�, com esse meu jeit�o de Rambo, pensa que sou um
Hell's Angel, mas n�o me equilibro nem na bicicleta. Foi por causa disso
que ela me corneou.
-- Antes fosse! Teve bate-boca, quase saiu porrada, mas engoli o ci�me e
fingi indiferen�a. Pra ver se ela tentava me reconquistar, fiz que n�o
me importava e deixei que continuasse saindo com o motoboy, mas no fundo
ainda achava que ela sentia tes�o por mim e que n�o me trocaria por um
pivete metido. Sei l� o que ela falou de mim pro cara, mas ele me olhava
como se eu fosse o cachorrinho dela.
-- Por que voc� n�o quebrou logo a cara dele? J� vi voc� perder a
esportiva com gente mais barra-pesada por muito menos!
-- A� � que t�. Nunca levei desaforo nem transei com homem, voc� me
conhece. Mas tenho que confessar que com ela minha rela��o era mais de
mandado que de mand�o. Eu me excitava quando ela me usava como objeto
sexual e me programava como um rob�, entende? Meu pau subia por controle
remoto: era s� ela empinar aquele narizinho e p�r a linguinha pra fora
que nem serpente tentadora. Quanto mais garanh�o eu ficava, mais ela me
tratava como um cavalo domado, entende?
-- Cheguei. Mas ningu�m tinha combinado nada. Ela sabia que podia mandar
em mim na cama, mas n�o sabia quais eram meus limites. Estava a fim de
testar. Quando saquei que ela e o motoboy estavam de acordo a fim de me
sacanear, pensei na vingan�a, mas alguma coisa estranha me impediu de
reagir.
-- Voc� eu sei que n�o acha, mas em mim era uma tenta��o de experimentar
coisa diferente. Comecei a reparar melhor na pinta do motoboy: o tal de
Al� n�o passava dum magrela com boca de sapo e convencido que era o rei
da selva s� porque uma gostosa lhe dava bola. Achei aquele comportamento
t�o abusado que fiquei me imaginando rebaixado na frente dele. N�o me
pergunte o motivo, mas eu queria passar por aquilo, mesmo que fosse pra
me vacinar duma vez por todas e nunca mais entrar numa arapuca igual.
Queria ir at� o fim pra saber at� que ponto pode chegar um corno manso.
-- N�o sei. Nunca tive papo com ele, nem quis. S� encontrava com ele
quando a V�nia estava junto. Uma noite eles chegaram em casa bem tarde,
voltando do cinema. Eu quis dar uma de tolerante e, em vez de ficar na
minha, vendo v�deo ou curtindo som no fone, como fazia sempre, resolvi
beber e papear com eles, como se a coisa nem fosse comigo. V�nia
aproveitou a deixa e levou o papo pro ponto cr�tico: mandou que eu
servisse a bebida e preparasse um lanche pro Al�, que ele tava com fome.
Ficaram os dois sentad�es na sala e eu fui pra cozinha. Na hora me veio
vontade de virar a mesa, mas ela falou com tamanha autoridade e ele me
olhou rindo dum jeito t�o c�nico que levei uma esp�cie de choque
el�trico e comecei a funcionar como um rob� que tivesse sido ligado
naquele momento. Da cozinha escutei o papo deles, as risadas, como se
tudo j� estivesse ensaiado. Servi os copos e pratos na mesinha de
centro, enquanto a TV passava v�deos montados pela V�nia, clipes
intercalando cenas de sexo, moto e rock numa colagem bem "hardcore".
Imagine o quadro, Glauco: eu pondo as coisas no meio da mesa e eles
apoiando os p�s nas beiradas, cada um dum lado. Eu me abaixava pra
servir e s� via sola em volta... Voc� ia delirar, na certa!
-- S�. A V�nia gostava de usar sempre e o Al� precisava usar por causa
da moto.
-- Do jeito que voc� imagina. Por isso � que n�o resisto a lhe contar o
neg�cio todo.
-- Infelizmente pra voc�, n�o recebi essa ordem. Mas a pr�pria V�nia,
assim que eu tirei as botas dele, mandou que eu tirasse tamb�m as meias
e fizesse uma massagem igual � que eu fazia no pezinho dela. Ainda posso
sentir aquele cheiro na minha m�o, que parecia n�o sair nem no dia
seguinte, com sabonete perfumado e tudo.
-- Mais pra eles que pra mim, l�gico. Pra completar, ela fez ao Al� uma
demonstra��o de como eu sabia lustrar uma bota com a l�ngua. V�nia
chegou a pisar num prato de fritas enquanto eu babava no cano alto
daquela botinha preta de dominadora, Glauco! Adivinha se eu tive que
abocanhar os farelinhos das batatinhas esmigalhadas pelo salto! N�o deu
tempo de massagear tamb�m o p� dela, porque o Al� queria tomar banho
antes de ir pra cama.
-- Gozei, e voc� nem adivinha como! Sabe o que a V�nia fez antes de me
mandar pro quarto? Me entregou o par de botas do Al� e falou: "Leva isso
e trata de engraxar bem engraxado. Amanh� de manh� o Al� quer ver esse
couro brilhando, n�, Al�?" E o cara j� me dava as costas quando
respondeu: "Brilhando que nem a sua vai ser dif�cil, mas ele que se
vire, que rale a l�ngua!"
-- Brincou! Uma humilha��o dessas � coisa que rola uma vez na vida e
outra na morte! E que tal a sensa��o de lamber uma bota de motoqueiro?
-- Pra mim o que machucou n�o foi a l�ngua, foi saber que o dono da bota
tava trepando com a V�nia enquanto eu lambia!
-- Mas lambeu...
-- Pra falar a verdade, n�o dava vontade, n�o: era muita poeira e muita
zoeira prum cara como eu, que s� tinha praticado essas coisas com a
V�nia e entre quatro paredes. Mas pensei na bota dela, que lambi tantas
vezes, pensei na submiss�o que podia ser a �ltima, j� que ela parecia
estar decidida a me trocar pelo Al�, pensei em tragar o gosto daquilo
at� o fundo do copo. S� lhe digo uma coisa, Glauco: comecei a lamber com
nojo, mas depois do primeiro orgasmo o trabalho virou uma rotina que
atravessou a madrugada, com algumas pausas pra relaxar e me excitar de
novo. De manh� minha porra e minha l�ngua estavam secas, mas a bota nem
parecia a mesma.
-- Mesmo que tivesse n�o praticaria! Aquilo foi dose. V�nia precipitou
as coisas porque j� tinha planos de ir embora do pa�s. Nossa rela��o
estava no limite, e s� dava pra manter se eu virasse rob� em tempo
integral, coisa que nem de longe cabia na minha personalidade.
Simplesmente deixei que ela fizesse as malas e nos despedimos numa boa.
-- N�o sei direito, mas parece que est� preso por tr�fico.
///
Ap�s ter lido no meu s�tio v�rios sonetos como este, um ex-boleiro de
v�rzea a quem fui apresentado contou-me seu caso. O papo que levamos vai
reportado com a maior fidelidade poss�vel numa vers�o escrita:
-- Voc� disse que certos temas lhe interessam mais de perto. Sua
experi�ncia tem a ver com eles?
-- Vivi uma situa��o de quem leva a melhor... Quer dizer, quem mijou fui
eu.
-- Meu padrasto. Foi assim: eu tinha dezesseis quando meu pai morreu.
�ramos muito apegados, eu e o velho. Ele me incentivou a jogar bola na
mesma posi��o dele, zagueiro.
-- Est�. Eu � que sa� fora. Pra ela a vida melhorou quando conheceu o
Cl�vis, mas pra mim foi uma fase de maior revolta. � verdade que eu j�
era revoltado contra tudo e naquela idade a gente quer que o mundo se
foda. Mas o Cl�vis queria ser mais severo comigo do que meu pai tinha
sido e, quanto mais ele me cobrava uma ocupa��o ou um diploma, mais
vagabundo eu ia ficando. Parei de estudar e, quando n�o estava jogando
bola, estava dormindo ou lendo gibi.
-- Dele, mas n�o por vontade pr�pria. Ela se sentia uma escrava sexual
do cara. N�o ia me contar, mas sei que ele tratava a coitada como puta
na cama e como empregada na cozinha. Ela se sujeitava porque n�o queria
perder a vaga, mas acho que at� gostava de ficar por baixo. Acontece que
eu s� podia ficar com mais bronca dele por causa disso, n�?
-- Sua m�e n�o conseguia vigiar voc� pra evitar esses flagras?
-- Como assim?
-- Ele pensou que eu n�o estava em casa, mas eu tinha ido procurar uns
gibis velhos empilhados na �rea de servi�o. Ali fiquei distra�do,
relendo aquelas rel�quias, quando escutei a voz do Cl�vis resmungando:
"Moleque filho da puta!" A janelinha do banheiro dava pra �rea, e sem
fazer barulho espiei pelo vitral aberto. N�o � que o Cl�vis tava
ajoelhado na frente da privada?
-- Na hora n�o deu pra ver, mas a cara dele quase encostava no meu mijo.
Ele respirava fundo e ficava repetindo: "Moleque sem-vergonha! Parasita
duma figa! Porco safado!" Antes que ele percebesse a minha presen�a,
tirei a cara da janela e me escondi at� que tivesse sa�do. A partir dali
comecei a espionar a rotina dele quando mam�e estava fora. V�rias vezes
peguei o Cl�vis cafungando no meu mijo e, como ele ficava t�o empolgado
que n�o escutava nem o telefone tocar, pude assistir melhor � cena sem
ser descoberto.
-- Que � que ele ficava fazendo? S� cheirando? Tirava o pau pra fora?
Chegava a gozar?
-- Nas minhas bronhas eu bem que imaginava a boca dele aberta na frente
do meu pau ou debaixo do meu cu... Mas eu preferia outras fantasias. Eu
queria que minhas namoradas gemessem de dor quando eu comesse o cuzinho
delas, do mesmo jeito que mam�e gemia quando estava com ele no quarto...
-- Estou vendo que voc� n�o tem nenhum bloqueio pra falar na sexualidade
da sua m�e. Voc� se sente traumatizado?
-- L�gico. Mas n�o vou ficar posando de criancinha carente nem guardando
pudores. Sen�o nem teria por que estar dialogando com voc� agora.
-- Tamb�m acho. Mas voltando �quela cena forte: isso se repetiu muito?
-- At� a hora em que resolvi mostrar pra ele que eu sabia de tudo. S�
que bolei um castigo daqueles que ningu�m esquece. Em vez de encostar o
sujeito na parede e jogar a verdade na cara dele, preferi preparar uma
armadilha. Mijei num copo e deixei em cima do vaso tampado, como se a
t�bua fosse uma mesa e o copo estivesse cheio de cerveja. Caso mam�e
entrasse em casa, dava tempo de ir l� e tirar o copo, mas quem chegou
foi ele, no mesmo hor�rio de sempre, achando que eu tinha ido jogar
bola.
-- N�o, desta vez fiquei no meu quarto at� ter certeza de que ele tinha
entrado no banheiro e trancado a porta, afobado e ansioso como sempre.
S� ent�o liguei o som e deixei rolar o rock dos Cramps como trilha
sonora.
-- Ent�o n�o dava pra presenciar a rea��o dele quando deu de cara com o
copo de mijo...
-- Pois �, Glauco, mas ele n�o saiu l� de dentro logo que foi pego de
surpresa, n�o. Em vez de xingar e vir atr�s de mim pra tirar
satisfa��es, ficou um temp�o trancado, sem fazer barulho, curtindo sei
l� o qu�! Quem sabe um pouco de p�nico, um pouco de �dio, um pouco de
tes�o e um pouco de rock... sem falar no sabor do mijo, que com certeza
ainda tava morno.
-- Tudo, n�o sei, mas que provou, provou. Disfar�ou, fingiu que estava
cagando, demorou, deu a descarga e acabou abrindo a porta e saindo com o
copo na m�o, vazio e lavado. Nem me chamou pra conversar, nem olhou pra
minha cara.
-- N�o, ele fechava o vitral, que era fosco, e sem a fresta aberta n�o
dava pra distinguir nada l� dentro. Mas ele ficava bem quieto, sabendo
que eu ria da cara dele aqui fora. Um dia variei e fiz outra surpresa:
um prato bem cheio, com um cagalh�o daqueles! Parecia um quibe tamanho
fam�lia!
-- N�o, porque era mais c�modo mijar no copo. Mas tamb�m n�o deu pra
repetir muito, porque eu logo dei um jeito de me mudar pra casa duns
tios no interior, com a desculpa de que ia ter chance de jogar num time
profissional. At� cheguei a impressionar uns olheiros, mas acabei
arrumando trampo como entregador de pizza... e tudo acabou em guaran�...
Parece que nosso boleiro rev� a m�e de tempos em tempos, mas, agora que
est� casado, os sogros lhe d�o o amparo familiar que o padrasto sonegou.
Hoje em dia, pelo jeito, o molec�o j� tem motivo para dar a descarga e
ainda jogar um pouco de desinfetante no vaso...
///
-- N�o, porque ela me garantiu que eu n�o seria usado como escravo de
amarras nem de surras e que meu papel se limitaria a servir de escabelo.
E o que a Bia determina ningu�m desautoriza. Ela sabe se impor. Por isso
mesmo � que a pr�pria Wilma, quando visitou o clube, se sentiu
desrespeitada pela atitude arrogante da Bia. Mas ela � assim com todo
mundo, at� com as colegas mais veteranas... Faz parte da imagem que
construiu.
-- Nem capuz, nem venda, nem m�scara, nada. S� tive que raspar a careca
com navalha, pra ficar bem lisa contra a luz. Alguns escravos eram
vendados, mas no programa da casa eu j� estava catalogado como "cego
aproveit�vel" e destinado a "relaxar ou engraxar p�s e cal�ados" dos
freq�entadores. O programa explicava que, como cego, eu j� estava
permanentemente sob castigo e privado da liberdade pela venda "natural"
da cegueira.
-- E como voc� sabia quem era quem? Quem foi que lhe contou?
-- Um amigo da Bia, que ela encarregou de ficar por perto, vigiando pra
que nenhum doido fora de controle aparecesse pra me agredir. O Gustavo
ficou de guarda sei l� quanto tempo, e de vez em quando vinha saber se
eu ainda estava firme na posi��o. Na hora em que me dei por fatigado e
dolorido, ele me ajudou a caminhar at� o camarim da Bia, onde me
recuperei e vesti roupa normal.
-- Ent�o a Beatrix at� que foi bem legal com voc�! Nem sacrificou tanto
quanto seria de esperar...
-- N�o, porque at� esse acabou fugindo com outra mestra. Ningu�m �
perfeito. Nem a pr�pria Bia, que j� me confessou ter experimentado na
pele o chicote do tal assessor parlamentar... e este, por sua vez, n�o
resistiu aos encantos da Condessa e j� lambeu as botas dela pelo menos
uma vez, segundo me revelou o Gustavo.
-- Ent�o n�o escapa ningu�m! Quer dizer que n�o existe o s�dico puro e o
masoquista puro? Todo mundo � vers�til e at� ecl�tico?
///
Se � noite todos os gatos s�o pardos, ali a maioria era parda no duro,
inclusive as gatas. E se eu n�o seria o �nico branco, talvez fosse o
mais longil�neo e hirsuto. O fato � que a mulatona me olhava e sorria (e
que boca!): sorri de volta, gentilmente, e, t�o logo outro amigo ocupou
e desocupou a cadeira � minha frente, ela veio puxar papo.
-- � vontade!
-- N�o, eu sei que ela � que tava paquerando. Toda vez que a gente briga
ela faz assim, pra me deixar com raiva. Como voc� n�o � daqui (entendi
que dizia: "Voc� n�o tem nossa cor!") � bom ficar esperto, cara.
-- Pode ficar descansado. Comigo voc� n�o tem motivo pra se preocupar.
Eu sou gay.
S� ent�o me dei conta de que o pau dele podia estar t�o duro quanto o
meu. Ele parecia decidido:
-- Moro aqui do lado. Vamos pra l�... (a retic�ncia tanto podia ser uma
interroga��o como uma exclama��o imperativa)
-- Tudo bem. S� vou avisar uns amigos que volto logo. J� venho.
-- A�, seu trouxa! E agora? T� sentindo o gosto? Agora vai ter que dar
conta! T� pensando o qu�? Mulher minha n�o sai por a� beijando macho,
n�o! Ela t� pensando que beija e fica por isso mesmo? Agora voc� � que
vai beijar no biquinho, seu trouxa! Ainda fa�o aquela cadela chupar sem
reclamar! Vai, chupa, quero ver seu capricho agora!
-- Viu s�? Agora voc� sabe por que a Zoraide n�o me troca por ningu�m!
Ela briga mas volta!
-- Ah, s� mais uma coisa: gostei daquele beijo que voc� deu no meu p�!
///
O soneto 505 me veio ao lembrar dum raro epis�dio entre mim e um rapaz
de aluguel. No come�o dos 80 ainda n�o grassava a paran�ia da AIDS ou da
criminalidade, de sorte que se podia perambular � noite pelas avenidas
do centro velho, coisa que eu costumava fazer nas adjac�ncias da pra�a
da Rep�blica, entre os restaurantes do Arouche e os teatros da
Roosevelt. Nos fundos do col�gio Caetano de Campos, onde come�a a rua
S�o Lu�s, a cal�ada fronteira a uns pr�dios neocl�ssicos � bem larga e
ali ficava um ponto que n�o era s� de �nibus: a maioria dos que
esperavam estava era no aguardo dum outro tipo de t�xi, ou seja, o
taxi-boy.
Quando escutei voz de "lamber meu p�", fiquei ouri�ado. Apurei o ouvido
e, como o tipo grisalho n�o deu trela ao garoto, este voltou na minha
dire��o. Desta vez sorri convidativamente, de modo que ele se sentiu
animado a repetir seu repert�rio: a mulher que o deixara na m�o pagaria
caro, seria fodida em todos os buracos, porque ele gostava de foder de
todas as maneiras, mas agora j� passava da hora e ela n�o viria mais...
-- Escutei voc� dizendo que ia fazer aquela cadela lamber seu p�. Voc�
j� fez isso?
-- Ah, se fiz! Teve que lamber no v�o dos dedos, teve que chupar o
ded�o...
-- E quando foi a �ltima vez que voc� fez um cara lamber seu p�?
-- Ah, n�o faz muito tempo. Acho que foi m�s passado. Era um alem�o
enorme, que passou de carro no Trianon.
-- Alem�o mesmo?
-- Tinha cara, mas n�o tinha sotaque de gringo. Me levou pro hotel, ali
na Augusta. Pagou s� pra tirar meu t�nis com a boca e chupar meu p�...
-- Mas j� rolou alguma cena igual com algu�m que n�o tivesse pedido
isso?
-- Bom... Teve um lance quando eu tava come�ando nessa vida, logo que
cheguei do interior. Eu era office-boy dum despachante e fui entregar
documentos na casa dum jornalista. Um colega de escrit�rio j� tinha me
contado que o cara era gay e pagava pra chupar rola grande. Eu tava
ganhando mal, devia pra uns e outros e precisava me virar. No interior
eu j� tinha transado por pouco troco, com um padre e um professor, mas
sem acostumar. Dessa vez a oportunidade era mais profissional, a� me
ofereci pro jornalista. Quando viu o tamanho do neg�cio ele ficou
fregu�s. Eu ia l� todo s�bado. O cara chupava feito um desesperado, at�
perdia o f�lego na hora que levava minha porra na goela, e gozava junto
comigo. Nunca reclamou do cheiro da minha rola, nem quando tava mal
lavada. Uma vez fez at� quest�o de chupar logo depois que eu tinha
mijado. Mas n�o � que o cara implicava com o cheiro do meu p�?
-- Quis endurecer o jogo mas, quando eu j� tava na porta pra sair, ele
pediu por favor. A� eu montei em cima. Teve que tirar meu t�nis e a
meia, cheirou na marra e chupou cada dedo. Ainda levou uma solada na
cara e, depois que gozei na boca dele, mandei cal�ar e amarrar o t�nis.
Dali em diante ele teve que cumprir aquela obriga��o toda vez que eu
aparecia l�!
-- N�o deu tempo, porque larguei dele logo em seguida. Apareceu quem
pagasse mais e cobrasse menos. O mais engra�ado foi que ele chorou no
telefone quando eu falei que n�o ia voltar. Disse que eu podia n�o
acreditar, mas ele tava me amando...
-- At� senti, pra falar a verdade, mas nunca dei bandeira pra n�o perder
moral. S� depois de ter cortado o compromisso � que me deu um pouco de
saudade, mas a� eu j� tava em outra. A vida continua, n�?
-- Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. E hoje, voc� ainda tem o mesmo
chulezinho?
-- N�o, agora uso aquele talco azedo. Mas se o fregu�s pede, paro de
usar e fico sem trocar de meia...
-- Perguntei por perguntar. Faz de conta que eu n�o curto chul�, certo?
///
N�o me adaptei, mas hoje convivo com a cegueira mais pacificamente que
nos anos noventa, quando o impacto da desgra�a me levou a sonetar
desesperadamente, como no soneto "Perp�tuo", em que me considero
prisioneiro e condenado a chupar o pau do primeiro carcereiro (leia-se
qualquer visita) que aparecesse. Com o passar do tempo, consegui me
virar na vida pr�tica, e o fantasma da solid�o deixou de ser um p�nico
meramente material para se concentrar na car�ncia afetiva. J� n�o era a
incapacidade que me assustava, e sim a ociosidade, que a punheta talvez
n�o fosse bastante para preencher.
Tocava o interfone e, como n�o havia ningu�m comigo, pronto a descer at�
a portaria, o zelador estava prevenido para deixar subir o rapaz que
trazia a �gua. Eu j� tinha o dinheiro contado no bolso, e recebia o
entregador pela porta da cozinha. Nem sempre o menino percebia que
lidava com um cego. Quando eu avisava que n�o podia v�-lo, ele ficava
meio sem jeito, a menos que n�o fosse sua primeira entrega comigo. Mas
aconteceu que um desses garot�es, ao inv�s de se constranger e balbuciar
qualquer desculpa, riu quase gargalhando assim que me ouviu falar da
defici�ncia. Fiz que interpretei seu gesto como um desembara�ado
embara�o e procurei agir com naturalidade.
Ele pegou o dinheiro da minha m�o, e senti seus dedos grossos e �speros.
Logo imaginei um crioul�o forte.
Eu apontava para a pia, mas ele ria porque j� tinha avistado os copos e
mexia neles antes que eu terminasse de falar. Encheu duas vezes, bebeu e
deixou o copo sobre o m�rmore.
-- Bom, rir ele ria mesmo. Achei que tava at� tirando sarro do
ceguinho...
-- � ele mesmo. O cara n�o perdoa nada. Sabe o doutor Tolentino, aquele
sessent�o?
-- Dependendo da pessoa, ele sabe disfar�ar. Mas nesse caso deu a maior
bandeira, e o bofinho, ali�s bof�o, n�o se fez de rogado. Pediu pra usar
o banheiro, do mesmo jeito que fez com voc�, deixando a porta aberta. O
Tolentino ficou espiando ele mijar e, quando acabou, o Alem�o virou de
frente pro velho e balan�ou a rola sem parar de rir. Tolentino n�o se
ag�entou: perguntou se o cara queria ganhar uma gorjeta especial. "Que
que eu tenho de fazer?", perguntou o Alem�o. "S� deixar que eu fa�a...",
respondeu o velho, todo bab�o. "Ent�o fa�a!", disse o moleque, pondo as
m�os na cintura e deixando o pau pendurado pra fora da cal�a. O velho
nem piscou: ajoelhou na frente do chouri�o e bebericou as gotinhas na
ponta da cabe�a, depois beijou de l�ngua na pele meio arrega�ada (ele me
contou que a pele era t�o carnuda que parecia um l�bio), depois punhetou
o garoto com a boca at� jorrar mingau pra encher meio prato. Tolentino
falou que o pau nem tava muito duro, mas era t�o comprido que, mesmo
durante o boquete, continuou dobrado pra baixo, e era t�o grosso que o
bei�o do velho ficou dolorido, de tanto que esticou...
-- Ai, me deu pena! A gente bem que podia fazer uma vaquinha pra ajudar
a pagar a gorjeta do Alem�o, n�o acha, Glauco?
-- Mas ele continua indo l� no ap� do velho? Na adega eu sei que n�o
trabalha mais...
-- Olha, Daniel, pode at� ser. Mas n�o � que ele seja t�o popular: a
gente � que deixa passar a chance de ficar famoso...
///
Um soneto como aquele "da cena cortada" (771) me veio depois dum papo
com Daniel, o balconista da farm�cia, com quem me ponho a par das
fofocas do quarteir�o. Foi ele quem me contou por que o neto da
jornaleira anda sumido: esteve preso e passou uma temporada na FEBEM.
N�o nego que a not�cia me pegou de surpresa.
-- S�rio? O moleque at� que tinha um sotaque meio malaco, mas eu achava
que era modismo da nova gera��o... Quer dizer que ele � mesmo
bandidinho?
-- Ora, Daniel, n�o seja autocr�tico! Vamos, que foi que o menino fez
pra ser internado?
-- Come�ou roubando a pr�pria av�. Voc� sabe que a Zefa � vi�va faz
tempo, n�? O marido n�o deixou nada, a velha s� tem aquela banquinha pra
sobreviver. Revista sai pouco, de modo que � quase que s� jornal o que
ela vende. Ela costumava deixar o Vaguinho tomando conta da banca
enquanto ia entregar jornal nos pr�dios do quarteir�o, e acabou
descobrindo que volta e meia faltava algum trocado. Pra ela cada moeda
faz falta, e na hora de fazer as contas dava uma diferencinha cada vez
maior, sempre que o Vaguinho tinha estado na fun��o de caixa...
-- Ah, tem uns anos, o Vaguinho inda cal�ava uns trinta e nove. Hoje
deve estar cal�ando quarenta e tr�s, quase quarenta e quatro, pra usar
seu m�todo de c�lculo...
-- Tava demorando pra voc� me provocar, n�? S� falta voc� me contar que
o pivete tem p� chato e o ded�o mais curto... Mas n�o vamos mudar de
assunto, pelo menos por enquanto. Continuando o caso do Vaguinho, ali�s
Vag�o...
-- N�o era ela quem tinha espalhado que o Tolentino foi pego chupando o
pau do vigia daquele pr�dio em constru��o?
-- No fim foi o pr�prio velho que confirmou tudo pra voc�, n�o foi? O
Tolentino se faz de senhor respeit�vel mas � t�o escroto como... eu ou
voc�, certo? Ent�o acho que a Zefa nunca exagerou. O problema � que ela
dramatiza muito e a gente acaba enjoando da novela...
-- O fato � que o Vaguinho tava mesmo metido com sujeira. Sabe como a
Zefa tomou conhecimento da pris�o dele? No pr�prio jornal que ela mais
vendia! Tava l�, na primeira p�gina: Wagner de Tal, detido por
participar dum arrast�o...
-- N�o s� confirmou como detalhou coisas da FEBEM que a pr�pria Zefa n�o
contaria, se soubesse. Imagine, Glauco, que puseram o moleque numa cela
t�o lotada que n�o tinha espa�o pra todo mundo dormir! De noite a
molecada repartia os poucos colchonetes que cobriam o ch�o. Dormir �
modo de dizer, porque ningu�m descansa direito naquela aglomera��o,
muito menos do jeito que ficavam deitados. Como n�o tinha colch�o nem
espa�o suficiente, em cada cama cabiam dois e at� tr�s pivetes, em
posi��o de valete. Aqui � que a coisa fica curiosa pra voc�, Glauco! J�
pensou? Aquela molecada suada de jogar bola no sol durante o dia, sem
banho, tirando o t�nis na hora de dormir e deitando, um com o p� na cara
do outro?
-- Vou deixar pra pensar em casa. Agora conte o resto, seu torturador
s�dico!
-- A� � que t�: o pau ele chupou de dia, fora da cela, num canto
escondido qualquer, mas o p� era ali no colchonete. Disse que, por causa
da posi��o, mal podiam se mexer, mas rolava muita chupa��o de p�s. Uns
faziam por gosto, outros na marra, mas o chul� era igual pra todos...
-- Se algu�m inventou foi o Vaguinho. Disse at� que tinha gente que
vivia carregando os t�nis dos mais mand�es pra todo lado. Amarravam os
dois p�s pelo cadar�o e penduravam no pesco�o, andando com aquele
charmoso cachecol pra l� e pra c�, enquanto o dono do t�nis tava de
chinelo ou descal�o, �s vezes praticando algum esporte, ou usando outro
pisante. Sei l�. Mas que o Vaguinho encarou a lancha, encarou. Disse que
o outro gozava, �s vezes na punheta, �s vezes na m�o do pr�prio
Vaguinho, conforme a vontade do momento.
-- Sabe, Glauco, o menino tem jeito de bruto mas s� � valente com a av�.
Acho at� que tem tend�ncia pra virar um gay t�o passivo ou t�o enrustido
como qualquer um de n�s... Sempre a velha hist�ria, n�? Menino �rf�o...
Algu�m vai dizer que � car�ncia, m�s companhias, falta de escola, de
acompanhamento psicol�gico, coisa e tal... S� que na pr�tica o corp�o
n�o evitava que o moleque fosse abusado.
-- Aqui � que entra o lado mais curioso. Vaguinho acabou abrindo o jogo.
Contou que o cara fingia que n�o gostava, que desviava o rosto, e tal,
mas bem que ficava relando o nariz quando achava que o Vaguinho tinha
pegado no sono. At� que, uma vez, mandou que o Vaguinho ficasse quieto
enquanto ele lambia no v�o dos dedos. Vaguinho disse que sentiu c�cegas
mas deixou, porque o outro mandava...
-- Por que n�o reconhece que deixou porque tava gostoso? Que mania de
n�o dar o bra�o a torcer! Quer dizer, o p�...
-- Ele que nem apare�a, que me faz um favor! O que tem de tamanho tem de
malandragem! Se voc� soubesse...
-- Outra hora a senhora me conta, t�? Tenho que fazer uma coisa urgente!
Zefa riu descontra�da, pensando que meu aperto era talvez intestinal.
Coitada da velhinha! Parece t�o maliciosa mas � t�o ing�nua... Ou ser�
que o inocente aqui sou eu?
///
-- Bem lembrado. Sei dum caso que ilustra perfeitamente essa carga que
voc� acha importante.
-- Pode ser. O novelo n�o tem nada de enrolado. Numa ponta est� um
deficiente f�sico, na mesma situa��o em que voc� ficou. N�o falo da
cegueira, mas da inferioridade. O cara � cadeirante, amputado nas duas
pernas e na m�o esquerda.
"When I became a wheelchair user years ago, after a drinking and driving
accident, I had no idea how drastically my life would change. I had once
been a cutie, but now I was sitting in a chair. How could I still be
attractive to other men? While trying to figure out the answer to that
question, I discovered that people can and do make me feel like a
second-class citizen by the way they treat me, talk to me, stare at me.
I am tired of people talking to me like I'm stupid. They see me using a
wheelchair and automatically start speaking slowly and clearly. I'm a
crip, not an idiot! If I live to be 100 years old it will never cease to
amaze me how many stupid fuckin' people there are in this world. I live
an independent life. I work. I play. I clean my house. I shop for food.
And I live alone. Despite all that, too many people see me as
less-than-a-whole person -- someone who will require nothing but
caretaking. I try to dispel myths like that by example, by commanding
respect wherever I go. I'm a powerful man and I'm diligent about
maintaining the power I get. But there's one time when I feel more
powerful than others. Let me explain. I'm very much into anonymous Sex.
Sure, some people will criticize, but I don't give a shit. I'm a big boy
and I do what I want. I always play it safe so there's not much I need
to worry about. My specialty is cocksucking. That's right. I'm an
expert. There's nobody better and I have the letters of recommendation
to prove it! My friends call me 'whore,' 'slut,' and a bunch of other
names, but I just write it off as jealousy, pure jealousy. [...] I do it
better than anybody. My mouth is made for cock. While any size will do,
the bigger the better. For me, there's no better feeling than having my
mouth crammed with somebody's big dick. I use my mouth unlike anyone
else. When I apply a certain pressure, devote my attention to a certain
spot, well, I can make a man blow his load in record time. My disability
has prompted me to perfect my technique. In the past I could spend hours
kneeling at a glory hole. Now I have to sit to give it all my attention
and concentration. And when you suck cock you've got to concentrate if
you want to be the best. Now what's this power I speak of? Well, let me
just tell you. Take a big, strapping guy -- a guy you wouldn't want to
meet in the proverbial dark alley if he was intent on ripping you off.
But put this same guy in a sex club or my house with his dick in my
mouth and he becomes a babbling, moaning baby -- defenseless and
vulnerable, just the way I want him. I find it amazing that someone with
such strength can become a 'husk of his former self' just by inserting
one particular body part (a BIG part, I hope) in my mouth. [seguia-se
uma s�rie de situa��es nas quais o cadeirante compensava a defici�ncia
com sua habilidade na fela��o, gabando-se de ter feito com que os
mach�es mais abrutalhados gozassem em sua boca e, totalmente relaxados,
revelassem fragilidade] So now you see how it works. When society makes
me feel weak and powerless, I suck dick! There's no better way to boost
my self-esteem."
-- Ser�?
-- Veja s�: o sujeito � jovem, ainda t� no vigor dos trinta. Vou chamar
o cara de Aleixo. Sempre se considerou gay, mas pros amigos gays dizia
ser bi e pra fam�lia aparecia at� com namorada, daquelas que est�o mais
pra noiva que pra esposa. Na fam�lia era ele o �nico com curso superior,
algum desses diplomas na �rea empresarial, mas que n�o lhe dava a fun��o
de alto executivo que ele ambicionava. Mesmo assim tinha emprego melhor
que o das duas irm�s mais novas e que o do pai, metal�rgico quase
aposentado. Antes de se acidentarem, viviam todos na mesma casa no ABC
paulista. Depois do acidente s� ele sobreviveu.
-- Que acidente?
-- Sem asco nem fiasco, eu diria. Mas como voc� ficou sabendo disso
tudo?
-- No sebo?
-- O cunhado. Hoje em dia ela tem mais intimidade com o Valdir que com o
Valmir...
-- Entendo. Basta a meia palavra. Mas me diga uma coisa: por que voc�
ainda n�o usou este caso num conto?
-- Deixo pra voc�. Esse departamento homo n�o � bem o meu, voc� sabe.
-- Ent�o voc� fica com os adult�rios das cunhadas que eu fico com as
bissexualidades dos primos. Combinado?
///
-- Sorte sua ter esse direito! -- fala Sadao -- Na sua situa��o muita
gente fica desamparada s� porque n�o prestou um concurso p�blico.
-- Tudo � relativo, n�? Tem quem diga que � melhor mendigar no Brasil
que ser escravo na �sia. Voc�s j� ouviram falar como � dura a vida dum
cego l� na Tail�ndia ou na Indon�sia? Me contaram que eles viram
massagistas cativos pra terem o que comer, sem direito a recusar nem
reclamar nada...
Neste ponto Minoru acha um pretexto para ir pegar mais cerveja e acaba
entretido num papo mais palat�vel com umas primas. Sadao vai fazer o
mesmo mas volta trazendo uma garrafa gelada. Enche meu copo e retoma o
tema. Parece que mordeu a isca, ou acha que eu � que vou morder.
-- Mas "Gurauko", voc� n�o acha humilhante esse neg�cio de massagear sem
enxergar nem poder recusar qualquer tipo de massagem? L� no Jap�o tamb�m
tem algumas coisas que um cego n�o se sujeitaria a fazer. S� faria se
quisesse. N�o � s� quest�o de adapta��o ou de necessidade...
-- Mas acho que eu faria. A cegueira ensina a gente a ser humilde. Al�m
do mais, sempre acreditei que os japoneses t�m raz�o de se considerarem
superiores. Um "gaijin" j� � naturalmente inferior, quanto mais sendo
cego! Em pouco tempo eu acabava me dando por honrado em trabalhar pra
dar prazer a um "nihonjin", tenho certeza.
-- Olha que o japon�s � muito exigente, hem "Gurauko"? Voc� ia ter que
satisfazer um gosto meio extravagante...
-- Eu sei disso. Usar s� a m�o n�o seria suficiente, n�? Eu teria que
estar preparado pra trabalhar com a boca, e teria que me acostumar com
cheiros e gostos bem variados, certo?
Sadao solta outra daquelas gargalhadas escrotas, mas logo silencia ante
a aproxima��o de vozes femininas. Chega a mulher dele com uma amiga,
comentando que na certa est�vamos contando as tais "piadas de homem",
mas como elas s� tinham vindo trazer umas frutas at� a mesa � qual nos
sent�vamos, somos novamente deixados a s�s e o papo prossegue.
-- Como � que voc� sabe dessas coisas, "Gurauko"? Por acaso j� praticou?
-- Quase. Um amigo meu j� passou por isso. Ele � cego de nascen�a e at�
fez curso de massagem, de reflexologia, de shiatsu, do-in, essas coisas
todas. Mas na hora do vamos ver o que funcionou mesmo foi a l�ngua. Ele
costumava massagear a domic�lio, sabia bengalar e tomar �nibus sozinho.
Quer dizer: tinha boca pra tudo, n�o s� pra ir a Roma. Um dia teve que
atender um "oji-san" no escrit�rio, depois do expediente. Tinha sido
recomendado pelo filho do cara, outro que gostava de tirar uma casquinha
do cego. Chegou l�, quando os funcion�rios do cara j� estavam de sa�da,
e, quando perguntou se um div� estava preparado, o cara disse que n�o
precisava de div� pro tipo de massagem que o cego ia fazer. "Come�a pelo
p�", falou o "oji-san", e se acomodou numa poltrona, apoiando os p�s num
pufe. "Quero primeiro com a m�o, depois com a l�ngua!" O cego nem
estranhou, porque j� estava prevenido pra situa��es do tipo. Tratou de
se agachar e foi descal�ando as meias do fregu�s, que j� estava sem
sapato. Manipulou direitinho, de acordo com o tal "mapa hol�stico" da
sola, e logo passou a lamber. L�gico que deu pra notar, ou melhor, pra
sentir a bela frieira que o sujeito tinha nos dois mindinhos...
-- Claro! Ele at� pensou que s� ia pegar lambari, e acabou levando uma
carpa... (e tome risada)
-- Voc� � muito gozador, Sadao! Vai, conta a�! Que foi que voc� aprontou
com ele?
-- Nada de mais. S� dei a ele uma boa hist�ria de pescador pra contar. O
mais gostoso de tudo � que nem precisei desembolsar num pesque-pague!
Vai por mim, Minoru: a melhor higiene mental � quando voc� d� a um
deficiente a chance de ser �til pra sua higiene corporal...
///
O soneto 914 me veio quando, num papo com outro pod�latra, confessei que
nunca havia encontrado em macho adulto um chul� t�o forte quanto aqueles
de que me lembro enquanto ainda estudava num col�gio de bairro e vivia
fu�ando escondido no vesti�rio dos alunos de educa��o f�sica, onde
alguns p�s de t�nis ou chuteira, negligentemente largados, me deixavam
chapado a ponto de gozar na cueca sem sequer tocar uma bronha. Nelo, que
se gabava de ter degustado mais p�s que qualquer outro retifista, deu
sua risadinha desdenhosa:
-- Aquilo � que era chul�, Glauco! Acontece que isso rolou ainda nos 70,
quando os condom�nios obrigavam os funcion�rios a usar uniforme, lembra?
-- Deve ter ficado ainda mais puto, achando que at� os colegas estavam
de persegui��o contra ele. Mas, pra n�o deixar o cara no preju, dei uma
lavada no t�nis e tratei de colocar no mesmo lugar, dois dias depois.
-- Ah, n�o era novo nem velho. Comum, de pano, desses de amarrar. Era
branco mas estava encardido. Por dentro � que o bicho pegava: a palmilha
tinha virado uma po�a de suor acumulado, estava marrom de sujeira.
Depois que cansei de lamber ficou cor de caf� com leite...
-- E o gosto?
-- �, Nelo, estou vendo que, cada vez que batemos papo, aumentam meus
motivos pra invejar voc�...
-- Tamb�m achei que demorou, porque eu n�o tinha jeito de chegar nele,
sabendo como estava no veneno. Por ironia, justamente porque o veneno se
agravou � que eu consegui. Foi assim: naquela �poca n�o tinha tanta
inseguran�a, a gente podia deixar uma c�pia da chave na portaria, pro
caso dalguma emerg�ncia ou pra que uma empregada fosse trabalhar na
aus�ncia dos patr�es. Pra minha chave a instru��o era que s� fosse
entregue � faxineira durante o dia e ao L�cio (meu namorado), que
costumava vir tarde da noite. Mam�e s� vinha quando eu estava, mas uma
noite ela apareceu de surpresa, trazendo um curau, e, como eu tinha
sa�do, pediu a chave. Odair, que estava de plant�o, reconheceu a velha e
entregou. A� foi minha vez de perder a paci�ncia com ele. Esqueci do
t�nis, do chul� m�gico, de tudo, porque mam�e entrou no ap� quando n�o
podia ter entrado: muita coisa estava fora do lugar, revistas, fotos,
v�deos, um monte de material comprometedor... Resultado: mais um
esculacho no Odair. Quando foi mais tarde, o edif�cio todo j� sem
movimento, n�o � que ele deu uma subida at� meu ap� s� pra tirar
satisfa��o?
-- De que jeito?
-- Veja s�: espero at� o dia seguinte e, quando ele t� distra�do lendo a
manchete de estupro no jornal descartado por um cond�mino, chego de
supet�o na cabine e vou direto ao ponto. Digo: "Pode ficar sossegado.
N�o vou dar queixa de voc�, Odair. Voc� sabe que se um morador faz uma
reclama��o dessas � demiss�o na certa. Mas eu sei que voc� tem motivo
pra ficar com raiva, e n�o � s� de mim. Estou disposto a fazer uma
coisa: eu � que vou pedir desculpa pra voc�. Mas vou pedir dum jeito bem
humilde, saca?" Odair passou do susto ao espanto. "Fica s� entre n�s,
certo? Eu vou me ajoelhar pra voc�, vou me colocar debaixo do seu p�.
Mas debaixo mesmo, com a boca, t� entendendo?" A bei�ola dele se
arreganhou numa esp�cie de risada misturada com careta de nojo,
desprezo, al�vio, desforra, pressentimento do gozo, tudo junto. Mas o
que importa � que ele percebeu que eu queria compensar humilha��o moral
com humilha��o oral. Antes que respondesse, deixei bem claro: "Amanh�
voc� chega mais cedo e sobe direto pro meu ap�. Sem tirar o t�nis,
certo? Quem vai tirar sou eu. E nada de passar desodorante no p�, hem?
Aqueles produtos ardem muito na l�ngua..." Minha risadinha terminou de
descontrair o cara. No olho dele dava pra perceber que tinha entendido.
Pude ver o brilho da vingan�a naquele olhar, Glauco!
-- E ele foi?
-- Que d�vida! Al�m de n�o ter escolha, estava era louco pra descontar o
que tinha engolido. Quem ia engolir agora era eu, depois de lamber at�
que o suor secasse junto com a saliva. Chupei uma rola quase t�o fedida
quanto o pez�o, mas acho que maior que o orgasmo dele foi o prazer
psicol�gico de me ver no ch�o, agachado na frente da poltrona, da minha
pr�pria poltrona, enquanto ele se refestelava e nem se dava ao trabalho
de desamarrar o t�nis. O cadar�o eu desatei com o dente, a biqueira eu
abocanhei at� descal�ar cada p�, a meia eu tirei com a l�ngua, com uma
ajudinha dos dedos na hora de soltar do calcanhar... mas o espet�culo do
cheiro sendo absorvido era invis�vel, Glauco, s� na imagina��o dava pra
notar aquela nuvem de fuma�a se afunilando e sendo tragada pelo meu
nariz, pela minha boca... como se fosse um ralo escoando uma banheira
cheia de �gua podre...
-- Que nada! Nesse ponto sou eu que tenho motivo pra invejar voc�.
Aposto que vai escrever um soneto contando a cena como se fosse
acontecida com voc�.
-- Talvez. Mas sempre faz mais efeito quando a gente conta a verdade,
n�?
///
-- Al�, eu nem acredito no que estou vendo! N�o me diga que o Kaptor
teve coragem de expor isso, e logo em Jerusal�m!
-- Nem todas. Esta e esta, por exemplo, n�o estavam na exposi��o. Esta
aqui saiu na imprensa pelo mundo todo. At� a VEJA usou pra ilustrar uma
mat�ria sobre prisioneiros palestinos torturados pela pol�cia
israelense, mas o agente do Shin Bet s� aparece do p� at� o ombro. A
revista corta a foto na altura do pesco�o, pra n�o mostrar a cara dele
rindo. Voc� chegou a ver?
-- Isso deve ter aumentado a revolta dos palestinos, hem Al�? Como � que
o Kaptor se posiciona nesse conflito?
-- Ele n�o t� nem a�. Voc� n�o leu na VEJA o que ele falou? "Se voc�
quer viver seguro dominando um milh�o e meio de �rabes, algu�m tem que
fazer o servi�o sujo", alguma coisa assim. Esse neg�cio j� vem fedendo e
n�o � de agora. Pros palestinos o Shin Bet � uma verdadeira Gestapo,
essas fotos s�o s� um detalhe da orienta��o que os agentes recebem. Eles
sempre p�em o p� na cara de quem � pego nesses patrulhamentos noturnos.
-- Como assim? As instru��es s�o pra pisar de prop�sito? Quem foi que
disse?
-- O Samuel. O agente que posava contou pra ele. Acontece que na cultura
isl�mica a sola ofende muito mais que na nossa. At� sentar mostrando a
sola do sapato � um gesto ofensivo, quanto mais pisar na cara de algu�m!
-- Mas por qu� os israelenses t�m interesse em humilhar tanto? Isso n�o
serve s� pra agravar o �dio?
-- O Samuel se diverte � be�a, e ainda por cima fatura com as fotos. At�
j� comentei com ele aquela profecia do Isa�as sobre o dom�nio de
Israel... mas ele acha aquilo tudo um sarro, diz que n�o leva a s�rio.
-- Isa�as, cap�tulo 49, vers�culo 23. Li tantas vezes que at� decorei:
"...Reis ser�o os teus aios, e rainhas as tuas amas; diante de ti se
inclinar�o com o rosto em terra e lamber�o o p� dos teus p�s..." N�o sei
das vers�es hebraicas, mas acho que entram em mais pormenores...
-- E como foi?
"Um dia voc� vai ser meu patr�o, Nata, e pra mim vai ser uma honra se eu
puder engraxar seu sapato..."
"Ah, Glauco, quando eu contratar voc� n�o vai ser pra isso..."
"Eu sei. Pra isso eu nem tenho que ser pago. Fa�o por obriga��o, n�?"
"N�o topo brincadeira com essas coisas, Glauco. Se voc� � gay n�o pode
ser racista..."
"E se voc� n�o � gay pode se dar ao luxo de ser racista, Nata. S� que o
inferior aqui sou eu, pra que negar?"
"Eu me considero seu amigo, s� isso. Mas se voc� quiser se humilhar o
problema � seu."
"N�o s� teria coragem como n�o teria culpa. J� humilhei outros viados,
mas n�o eram amigos."
"Nesse caso vai ter sua chance de provar que sabe ficar por baixo."
"Nem tanto, Glauco, se voc� n�o for insistente. Deixa que eu decido
quando vou querer, e voc� vai ter outras oportunidades, certo?"
///
O soneto 926 me veio depois que peguei o Nelo de veneta e cobrei dele o
caso que me pisa no calo desde crian�a: saber se mais algu�m sente
atra��o por um p� chato igual �quele do moleque que abusara de mim
quando eu tinha meus nove anos e a turminha dele uns onze. N�o um mero
p� chato, claro, mas um daquele tipo espalhado, cujo ded�o � bem
separado do segundo artelho, e bem mais curto. J� vi tal formato sendo
chamado de "grego" ou de "eg�pcio", mas o r�tulo se refere ao menor
comprimento do ded�o, n�o necessariamente ao arco ca�do. Os pod�logos,
podiatras e ortopedistas ainda me devem uma nomenclatura que enquadre
especificamente a chatura combinada com o ded�o an�o e o largo v�o. Mas
se venho procurando um p� desses desde que fui seviciado por aquele
pivete, mais curioso fico em descobrir se outros pod�latras tiveram mais
chance que eu de cruzar com algo t�o raro na anatomia do brasileiro.
Dizem que os anglo-sax�es s�o mais propensos a ter p�s assim, mas meu
contato � com os pod�latras daqui, dos quais Nelo � sem d�vida o mais
experiente e -- por que n�o dizer? -- calejado.
-- Ah, Glauco, voc� sabe muito bem que p� chato n�o � "my cup of tea",
como diriam l� na Inglaterra. Mas j� pensei no seu caso. N�o � a
primeira vez que voc� me pergunta. Eu j� n�o lhe contei a respeito
daquele peruano?
-- Peruano? Voc� me disse uma vez que tinha "feito" um p� como eu quero,
mas s� falou por alto, ficou devendo a hist�ria. N�o falou de peruano
nenhum, mas agora n�o me escapa.
-- Deixe eu ver... S�o tantos casos... Ah, � verdade, foi um lance bem
do seu gosto, Glauco. Enquanto for contando vou me lembrando... Isso j�
tem uns oito anos, foi quando eu morava no Bixiga. Bem atr�s do meu
pr�dio ficava um corti��o que dava pra rua de baixo. Meu ap� era no
segundo andar e da janela dava pra ver e ouvir tudo que rolasse no
quintal do corti�o. Toda hora tinha marmanjo aproveitando o sol pra se
esticar, mostrando a solona descal�a. Muitas punhetas matinais eu toquei
assim, lambendo de longe aqueles pez�es desocupados e desperdi�ados...
-- Voc� tem raz�o, Glauco, de dizer que brasileiro n�o costuma ter p�
chato. Meu olho � cl�nico e de longe pego os detalhes. Quase sempre o p�
da rapaziada era arqueado e o ded�o mais comprido que os outros dedos,
mais "batatudo". J� os p�s grand�es, do jeito que eu gosto, sempre
apareciam, ainda que p� grande tamb�m n�o seja o forte do brasileiro.
-- Mas n�o fez a pesquisa de campo que nem n�s, n� Glauco? Por falar em
sociologia, � aqui que entra o peruano. Ele me chamou a aten��o, antes
que eu visse seu p�, por causa do papo que levava com outro malaco, bem
na hora em que cheguei na janela. Estavam os dois sentados no p�tio, de
frente pra mim, de modo que tive que me esconder atr�s da cortina. Mesmo
assim deu pra escutar tudo direitinho. Ou eles se achavam impunes ou
eram muito desligados, j� que deviam ter mais cuidado pra comentar
aquelas coisas...
-- Que coisas?
-- Sim, mas quando eles se calaram pensei que tinham ido pra dentro e
apareci na janela. Dei com ele me olhando direto, enquanto o outro j� ia
saindo. Nunca esque�o aquela cara de �ndio me secando, aquele cabelo
preto escorrido, a pele morenona, a boca de sapo e o olho meio puxado. A
franja at� dava um ar de moleque, mas o rosto maltratado e raivoso
mostrava que o cara tinha perdido a meninice antes do tempo. Sorrir pra
ele s� fez que me encarasse com mais desconfian�a. Vi que n�o ia dar
aproxima��o e sa� da janela. Mais tarde, quando voltei a me debru�ar pra
regar as plantas, o quintal tava ocupado pela molecada mais
descontra�da. Esqueci do �ndio, passaram uns dias, e de repente cruzo
com ele na cal�ada. O cara vinha na minha dire��o, meio mancando, parou,
como quem estivesse na d�vida se me reconhecia, mas me tra� quando sorri
de novo, automaticamente. A� ele chegou perto e fez que me conhecia.
"Tudo bem, vizinho, meu nome � Nelo, e o seu?" (Estendi a m�o e ele
apertou, sempre na defensiva.)
"Escutei, mas nem prestei aten��o. O que eu queria era olhar..." (Ele
percebeu que eu n�o tirava o olho do seu p�. Cal�ava botina de el�stico,
j� deformada de tanto bater. Parece que tinha o p� largo demais, porque
o couro tava torto pros lados, ainda que o tamanho fosse bastante pra
caber um quarenta e quatro folgado no comprimento.)
"Melhor pra voc� n�o ter 'escuchado'. Mas... que � que olhava?"
"Agora estou vendo mais de perto. Acho que voc� t� precisando de sapato
novo. Quer ganhar um par de t�nis?"
"Por qu�? Voc� tem sobrando? Mas n�o cal�a meu n�mero..." (Pelo jeito
ele tamb�m reparava no detalhe, apesar de que qualquer um perceberia que
meu p� era bem menor.)
"N�o, eu compro um novinho pra voc�, que tal? Em troca s� quero uma
coisa."
"J� sei, voc� gosta dum 'carajo', n�o gosta?" (A boca de sapo se abriu
num riso sacana, mostrando a dentu�a falhada e manchada de fumo.)
"Se for na boca, gosto. Mas o que mais quero � sua botina. Troca por uma
nova, ou prefere t�nis?"
-- Ele fez cara de quem come�ava a entender. Pra ter certeza provocou:
"No p� nunca. Mas voc� faz aqui tamb�m, sen�o nada feito." (Deu uma
co�ada na braguilha da cal�a de jeans.)
"Fechado. Garanto que voc� n�o vai esquecer da minha boca, Pablo."
-- Toda a conversa rolou ali, quase na entrada do meu pr�dio. Marcamos a
hora e no fim da tarde ele tocava o interfone. Era daqueles pr�dios sem
porteiro, bastava comandar de dentro e a porta da rua destrancava
sozinha.
"Olha, Pablo, eu sei que voc� � puxador, mas n�o tenho nada com isso. Se
voc� n�o estranha meu v�cio, eu n�o estranho seu neg�cio, e tamos
conversados."
-- N�o, Nelo, nem fa�o quest�o. S� quero ficar viajando nessa lancha, me
mordendo de inveja...
-- Renderam pra mais de m�s de punheta, daquele jeito que mais curto:
uma no pau e outra na boca. Depois perderam o cheiro, o sinal de vida, e
tamb�m a gra�a. Foram direto pro lixo, onde j� deviam estar faz tempo.
As meias tamb�m. Dei ao Pablo um par das minhas, fiquei com aquele mei�o
pra ir cafungando nele durante as punhetas, mas a ess�ncia logo se
evaporou, que nem alegria de pobre...
-- Nem precisa dizer. Claro que eu recomendaria seus pr�stimos. Mas vai
ser dif�cil, tanto tempo depois que me mudei. Nem imagino se o cara
ainda t� no Brasil, nem se t� vivo. Calcule, Glauco, essa malandragem �
muito n�made, s� tem endere�o fixo quando passa uma temporada na
cadeia...
///
-- Ah, mas d� pra pegar quando a coisa � meio for�ada... Quer ver?
Confira a� no primeiro volume aquele depoimento do pod�latra lambedor de
t�nis. Um que t� marcado em vermelho.
Carlos foi folheando at� achar. Leu em voz alta e num tom afetado de
locutor comercial: "Here is my true story of when I attended a mid-Texas
university and was a sneaker slave to a basketball player. In my last
year at the university I was fortunate enough to have as a roommate a
tall basketball jock. At first I was afraid to approach him but finally
told him I 'loved' his big Converse sneakers. After some small talk I
asked him if I could tongue wash his sneaks. He said, 'Get to it freak.'
He stretched out on a chair while I got on my belly and cleaned his big
size 14s clean. He was not much of a basketball player, had average
looks but big feet. I of course cleaned his sneakers anytime after that.
His friend was in the R.O.T.C. and brought his boots and shoes to me to
be spit shined every 2 weeks. This guy was all military & demanded
nothing but the best. Often he told me they were not done good enough
and I had to spend many long hours servicing his boots & shoes. I of
course did without a whimper. They did not ask for any sex, except two
times, when they came in the room a bit tipsy & the military guy ordered
me to 'blow me you fag', while the basketball jock would jack off. I
really miss that place. I still have a pair of his size 14 sneakers
which I begged him to give me before I left school. Since then I have
had to lick hustlers" sneakers." (85)
-- Reparou, Carlos, que tudo parece fiel aos fatos? E por qu�? Porque
nem tudo corre como o depoente quer, e tudo ocorre no m�ximo a tr�s. Uma
das pistas pra detectar se o cara exagera ou inventa � a quantidade de
personagens ou de orgasmos. Muita gente ou muito gozo j� d� pra
desconfiar, ainda que o caso em si tenha fundamento. Agora leia um que
n�o me convence muito. Aquele que tem um cart�o marcando a p�gina, a
hist�ria do professor que foi vendido como escravo.
-- N�o de motoqueiros, mas dum professor que foi seq�estrado pela gangue
dum ex-aluno. N�o lhe conto em detalhe porque quem sabe de tudo � o cara
que me falou disso por alto. Se quiser ponho voc� em contato com ele.
Claro que eu quis, mas o contato foi s� por fone. Recomendado pelo
contista, meu nome foi digno da confian�a de Jorj�o, hoje pai de
fam�lia, que na adolesc�ncia tinha participado da gangue. Aos poucos o
sujeito foi se abrindo e logo se imbuiu do meu esp�rito l�dico e c�nico
no trato desses assuntos submundanos. Digamos que a hist�ria pudesse ser
desfiada numa �nica liga��o e fa�amos de conta que o papo tenha rolado
assim:
-- Tudo era da cabe�a do Davidinho. A gente at� brincava que ele � que
devia ter o nome do irm�o: Dami�o. Por causa do Damien, aquele filho do
Diabo no filme A PROFECIA, saca? Mas o Dami�o acabou saindo logo da
turma, porque n�o tava a fim de barbarizar nem de vandalizar. Acabou
entrando pra aeron�utica, agora deve ser piloto. J� o David foi parar l�
pras bandas da fronteira paraguaia, acho que entrou pra pistolagem. Ele
sempre foi maluco e revoltado, com mania de vingan�a. Tudo pra ele era
acerto de conta, desforra, lei de Tali�o, essas coisas. Ele queria rir
por �ltimo em tudo e ainda comprar a briga dos outros. Sempre se achou
um justiceiro, mas a lei dele era a crueldade, n�o tinha nada de
positivo.
-- Sei l�, vai ver que � porque ele era mais raqu�tico que a gente. O
que tinha de mi�do tinha de ruim. Parece que apanhou bastante quando era
crian�a, em casa e na escola. Naquela �poca era meio bobinho, todo mundo
pensava que era marica. At� ganhou apelido de "Daviadinho". Tinha que
ag�entar goza��o e pancada, porque ningu�m aceitava o cara em nenhuma
turma e ele n�o podia se defender sozinho. Acho que dar o cu ele n�o
deu, porque no fundo ele n�o tinha tend�ncia pra ser bicha, saca? S� era
mesmo zoado, ningu�m deixava em paz um pirralho daquele. Se reagia,
apanhava porque reagia; se n�o ligava, apanhava pra se ligar. S�
conseguia tr�gua quando desenhava pros colegas.
-- Aula de educa��o art�stica. Ele tinha que fazer o trabalho dos outros
pra ser poupado. Era o �nico que tinha queda pra essas coisas, mas
depois deixou pra l� porque n�o achou incentivo. Quando passou dos dez e
mudou de escola, come�ou a ficar mais esperto e j� liderava uma turminha
da pesada. Percebeu que tinha intelig�ncia pra mais arte que a do
desenho, saca? Juntou uns caras mais troncudos e mais burros que ele e
passou a infernizar s� com a influ�ncia que tinha. Qualquer coisinha, e
ele mandava os capangas fazerem um "servicinho" nos inimigos. A partir
da� come�ou a bolar o grupo de sadistas e a escolher as v�timas.
--Quase sempre algu�m das outras turmas. Mas tamb�m tinha algum namorado
novo duma menina que dispensou colega nosso, ou algum irm�o que tentasse
proteger a irm� caso ela fosse currada pelo grupo ou escolhida como
garota dum de n�s. O �nico adulto bem mais velho que ficou cativo nosso
foi mesmo o professor Haroldo. Os moleques a gente segurava s� umas
horas e torturava, mas o Haroldo ficou em nosso poder a noite inteira e
depois mais vezes.
-- S�! Chupar rola e ser enrabado era rotina. Melhor ainda quando o cara
era obrigado a beber mijo e comer merda. O Davidinho fazia quest�o de
"cantar o jogo" antes, durante e depois, escolhendo quem ia cagar na
boca de quem. Ficava assistindo e dando as instru��es. S� no caso do
professor fez quest�o de fazer tudo pessoalmente.
-- Que foi que o sujeito fez pra merecer esse tratamento privilegiado do
Davidinho?
-- Olha, Jorj�o, voc� tocou num ponto bem curioso. Por que ser� que o
ser humano gosta de se comparar pra ver quem sofre menos ou quem goza
mais? Parece que o gozo n�o funciona sozinho, s� quando leva vantagem em
cima da concorr�ncia, n�o acha?
///
-- Tem este do gay enrustido que entrou pruma confraria s� pra poder ser
currado sem se comprometer:
"In 1965, I desperately wanted to join a college fraternity just for the
opportunity to be disciplined, humiliated and put through 'Hell Week.'
My interest in bondage/discipline as well as my homosexual interests
could both be explored without appearing to be gay. I had heared lurid
rumors of hazing and degradation during the '7 Days of Hell' and I
wanted very much to be dominated. The fraternity was made up of 25
actives and 5 pledges. As a pledge, I was assigned to 5 actives. I was
to do their bidding for the whole semester, provided that I passed Hell
Week. During Hell Week the house was off-limits for outsiders; the
actives had no dates or social outings. Instead, they played out their
sexual fantasies on the 'slave' pledges. And indeed we were their slaves
for the week. Blindfolds were issued and our clothes stripped. We were
not allowed to stand and quite often our hands were tied. Only three
hours of sleep was permitted each night. We could not use our hands when
eating but were issued food in a bowl on the floor. Breakfast was always
the same -- we knelt at the urinals which had our breakfast, consisting
of a pile of corn flakes liberally soaked with piss. The foul odor of
the actives' early morning piss made us almost throw up. Paddling was
administered until we finished. It was an unbelievable experience.
Today, I still welcome that experience. The actives cut loose with loads
of foul piss onto the corn flakes when our blindfolds were in place. We
had 30 minutes to clean up every morcel of cereal and EVERY drop of
piss. Verbal abuse also accompanied breakfast. Hell Week was long and
tiresome. Our asses were red and sore. The final evening, Saturday, each
pledge was put over a sawhorse and securely fastened. The blindfolds
were put on again. A liberal amount of Vaseline was rubbed in each of
the 5 assholes. I felt pressure on my asshole and just as I was ready to
yell a cock was stuck down my throat. In an instant, I was being fucked
by two of my brothers. As each climaxed and withdrew, another active
took his place. After an hour we were released and with a formal ritual
we were accepted into the fraternity. I had to do the bidding the
remaining part of the semester for my 5 actives. But it was generally
light chores, laundry, etc., with paddling once a week. No further
sexual abuse was conducted. I never knew whose cocks fucked me during
the initiations."
-- N�o chegava a tanto, Glauco, mas n�o � a suruba final que conta aqui,
� a comida servida no ch�o e os bichos comendo sem usar as m�os, fora o
abuso sexual, �bvio. Repare agora neste outro caso, como a coisa se
concentra na implic�ncia entre um veterano e um calouro em particular:
"I am glad there is a publication which gives me the chance to tell of
an experience I had as a pledge to a fraternity at Brown University.
Before initiation we all had to spend some free hours each week working
at the frat house -- serving meals, cleaning and generally catering to
the whims of Brothers. For any mistake we would 'assume the position' --
bent over to get our asses whacked with the paddle. None of the members
but one would paddle us on the bare ass so we wore heavy pants and
several pairs of undershorts and the beatings were not so bad. But the
one guy, Randy, was a mean bastard and would make us drop our pants and
shorts and beat our naked tails till we yelled. He seemed to pick on me
especially because I was taller than the others and than him. One night
I was supposed to clean up supper dishes while everybody went out to
some bash. When I thought they were all gone I grabbed a beer, which was
forbidden, and sat down to watch television. Suddenly Randy came back.
He caught me red-handed, called me a 'fucking sneak,' and told me to
fetch the paddle. As I walked from the room he almost lifted me off the
floor with the hardest kick in the ass I ever got. When I came back with
the paddle I was scared shit. He told me to bare my ass and bend over.
Then, did he ever blister my hind end with that paddle, I screamed and
cried, begging for mercy. But he wouldn't stop. My ass went from pain to
numbness, till I couldn't stand it and jumped away. We argued and he
told me if I was chickenshit I could get the hell out and forget about
the fraternity. I didn't want that or for him to get the best of me so I
apologized and decided to take anything he dished out. He made me strip
altogether and then marched me bareass upstairs, smacking my already
sore behind all the way up. He tied me hand and foot on a bed and lit a
candle. First he teased the soles of my feet with the flame, threatening
to really burn them. They did burn once or twice and I let out a howl.
He ran the lighted candle up my legs to my groin and set my cock hair on
fire. He would put it out when the flames grew big but by the time he
finished practically all my manly hair was singed to stubble. He turned
me over and I thought he was going to tan my ass some more but instead
he spread my hind cheeks and started dropping hot wax from the candle on
my asshole. Many didn't hurt but a couple of real hot drops hit my
sensitive tail pipe right on target and made me jump. At last he asked
if I was ready to obey and I said yes so he untied me and made me get on
my knees and take his cock in my mouth and suck on it. I was never so
humiliated in my life. There were tears running down my face as he
ground his hips and dug his prick deep into my throat. All the time he
was calling me 'Cocksucker' and 'Fag' and saying 'Suck it, Mary.' The
only thing I was spared was his coming in my mouth because I choked and
gagged and turned red so he slapped my face and told me to get
downstairs, put on my clothes and get back to work. On the way
downstairs he booted my ass again and almost sent me sprawling. The
initiation that came some weeks later was also a pretty bad time."
-- Que � que voc� v� de comum nesses dois casos? Neste aqui a sess�o de
tortura e de sexo n�o � coletiva nem an�nima como a bacanal da outra
confraria.
-- Que � que tem? Isso � constante, os calouros sempre s�o tratados como
bichos e t�m que servir de escravos, n�o s� na hora do sexo ou da
brincadeira.
-- D�, sim. Foi o pr�prio aluno quem me contou, e n�o escondeu nada. Vou
tentar ser fiel. A rep�blica se chamava Agrurapura. Voc� sabe que l�
todas as rep�blicas t�m nome e fama: uma � a Kantagalo, outra a
Jacarepagu�, outra a Sobrad�o, e assim por diante. A Agrurapura tinha,
como as outras, a tradi��o de "ralar" os bichos no auge do trote, quando
come�ava o ano letivo, mas no dia-a-dia do meio do ano ningu�m de fora
imaginava como era a vida do calouro. Pois bem: o Ot�vio chegou a
Piracicaba sabendo do folclore em torno dos trotes inaugurais, mas
ignorando a rotina interna das rep�blicas. Estava preparado pra passar
pela fase pesada, igual �quela "semana infernal" das "fraternities", mas
achava que o sacrif�cio acabava ali. Quis logo se enturmar com os
"doutores" (como os veteranos querem ser chamados), e esse foi seu erro.
Ot�vio vinha duma cidade menor, onde tinha morado com os pais numa casa
enorme, com muitos cachorros no quintalz�o. O casar�o da Agrurapura
tamb�m era espa�oso, com quintal, mas ningu�m tinha tempo pra cuidar de
cachorro. Ot�vio caiu na asneira de sugerir que a rep�blica adotasse um
mascote, que ele se prontificava a criar. Ah, pra qu�? Os veteranos
simplesmente responderam: "Boa id�ia! O cachorro vai ser voc� mesmo!" E
a partir daquele dia o novato teve que se comportar como c�o. S� na hora
do estudo ou quando tivesse que sair ele podia ficar vestido como gente,
andando e falando normalmente. Nas horas vagas, quando n�o estava
escalado pra algum servi�o dom�stico, era obrigado a ficar de quatro, s�
de cueca e camiseta, �s vezes sem nada, engatinhando pela casa ou
amarrado por uma coleira, comendo no ch�o e s� latindo em vez de falar.
Esse tipo de "condicionamento" n�o era nenhuma novidade, j� que todos os
bichos passam por algo parecido durante os trotes, principalmente na
hora das refei��es. Como toda rep�blica, aquela tinha uma mesa tamanho
fam�lia na sala de jantar e, quando os "doutores" se sentavam pra comer,
sempre tinha um ou mais calouros servindo e outros de quatro no ch�o,
catando com a boca os nacos que algu�m jogasse. O mais comum era a
"mastiguinha". Sabe o que �?
-- Sei. O veterano enche a boca, �s vezes mistura a comida com p�o, com
bebida, mas n�o engole: cospe a massa no ch�o e o bicho tem que
abocanhar, terminar de mastigar e engolir. J� ouvi at� meninas
entrevistadas na TV, reclamando que aquilo era muito "escatol�gico"...
-- Coitadas! Aquilo era o de menos. O nojo dos calouros era testado com
coisas bem mais dif�ceis de p�r na boca... Mas vou chegar l�. Pois bem:
o Ot�vio j� tinha rastejado junto com outros bichos por baixo da mesa e
j� tinha saboreado todo tipo de "mastiguinha". Acontece que ele era bem
mais corpulento que o resto da calourada, e de quatro parecia um fila
comparado aos bass�s. Quem mais implicava com isso era um veterano
chamado de S�rgio Sergipano, sujeito baixinho e atarracado. S�rgio n�o
tinha nada a ver com o estere�tipo de "cabe�a chata" que os maldosos
atribuem ao nordestino, mas parece que se ressentia de n�o ter porte
atl�tico, coisa que sobrava no f�sico do Ot�vio. Desde o come�o passou a
abusar dele com mais insist�ncia. Suas "mastiguinhas" pro Ot�vio eram
mais freq�entes, mais nojentas, mais volumosas, e sempre pisadas, pra
que Ot�vio tivesse que abocanhar quase debaixo do chinelo do S�rgio.
Ora, quando o garot�o foi transformado em cachorro, S�rgio era quem mais
"treinava" o mascote, fazendo latir no tom certo, abanar o rabo
direitinho, apanhar coisas que ele jogava longe e trazer na boca, ir
buscar chinelos ou t�nis... tudo levando chutes e pis�es, claro. Na
frente dos outros "doutores" a coisa n�o ia muito al�m disso, at� porque
os outros tamb�m queriam brincar. Mas na primeira oportunidade em que
ficaram a s�s, S�rgio resolveu descontar no Ot�vio umas coisas que
estavam guardadas. Foi assim: Ot�vio tinha aproveitado uma hora em que
n�o ficava ningu�m na casa, e tentava estudar um pouco, quando S�rgio
chegou de surpresa e de prop�sito. Ouvindo a porta, deu tempo pra que
Ot�vio voltasse correndo � posi��o de cachorro e ao seu lugar no canto
da sala, mas o veterano estava decidido a castigar com ou sem motivo.
Parou na entrada, estalando o dedo, e esperou que o cachorro viesse
fazer festa. Ot�vio foi at� ele, desajeitado, engatinhando e rebolando
ao mesmo tempo, pra mostrar que j� sabia abanar o rabo. Levou um pontap�
na testa e teve que ganir, enquanto S�rgio ria. "J�! Buscar meu
chinelo!" Quando Ot�vio volta com os dois chinelos balan�ando entre os
dentes, S�rgio est� sentado no sof�. "Tira meu t�nis!" Ot�vio come�a a
morder o cadar�o, tentando desamarrar. "Que foi? T� dif�cil? Anda logo,
meu p� t� doendo, quero me aliviar!" O t�nis acaba saindo e, como S�rgio
n�o usa meia, o p� suado pegou sujeira. "Lambe a�!" S�rgio ap�ia o p� na
mesinha de centro e Ot�vio faz de conta que aquilo � igual a outras
coisas nojentas e fedidas que os bichos t�m de encarar. Sabe que � sua
�nica justificativa pra suportar as baixarias sexuais que amea�am
acontecer, mas ainda espera, ingenuamente, que n�o v�o passar da l�ngua
no v�o dos dedos ou da chupada no ded�o. "Que foi? O chul� t� forte?
Anda, trata de lamber! Quero esse banho de l�ngua bem dado!" Ot�vio
obedece quieto, s� se escuta sua respira��o ofegante debaixo das risadas
do veterano. "Agora vem c�! Lambe aqui!" Ot�vio olha e v� que o pau do
S�rgio sai pra fora da cueca, completamente duro. Tenta recuar e
recusar, mas, antes que diga "Isso n�o!" ou coisa parecida, S�rgio
avisa: "Olha aqui, bicho, nada de macheza pro meu lado, t� legal? Ou faz
o que eu mando e faz bem gostoso, ou espalho sua fama na escola toda. Ou
me chupa de verdade aqui dentro ou vai ser tratado como chupador l� fora
e vai ter que procurar outra rep�blica! Quero s� ver voc� encarar essa!
E a�? Anda, come�a a lamber!" Ot�vio se lembra das brincadeiras de
crian�a com outros moleques, do troca-troca com o priminho, e se deixa
levar na viagem mental. Enquanto esfrega a l�ngua na chapeleta
arrega�ada e sente o gosto do sebinho, compara e conclui que,
contrastando com o tamanho do corpo, o pau do S�rgio parece at� maior
que o seu, e muito, muito maior que o do priminho. Mas dessa conclus�o
S�rgio nunca vai ficar sabendo, muito menos saberiam as namoradas que
Ot�vio coleciona, garotas que, ali�s, nunca reclamaram do tamanho de seu
pau.
-- T� a� uma coisa que a fic��o n�o pode resolver, nem qualquer outra
forma de arte, por mais c�nica que seja... Mas e o amestramento do
mascote, teve seq��ncia?
-- Com Ot�vio parece que ficou naquilo: farra coletiva e sarro a dois, e
o caralho do veterano sendo chupado durante aquele ano. Mas a moda pegou
e outros mascotes foram "adotados" e amestrados nas rep�blicas, fora os
que eram tratados como animais diversos. Na mesma �poca tamb�m foi moda
fazer os bichos comerem grama como se fosse capim...
-- Ah, disso eu me lembro. Deu at� num jornal que os veteranos mijavam
na grama que ia servir de pasto, e at� pisavam na nuca dos bichos
enquanto eles "gramavam"... Mas a� j� � outro departamento da zootecnia,
n�? Nada disso entrou nos seus contos?
-- N�o, Glauco, j� tenho tara demais pra explorar. Deixo pra voc�.
-- Legal. J� que n�o tive a chance de estudar agronomia, vou ter que
imaginar como seria minha vida dom�stica de cachorrinho piracicabano
adotivo...
///
O soneto 685 me veio no dia seguinte a um sarau porn�, para o qual cada
um dos participantes havia levado alguns poemas de pr�pria lavra acerca
do tema orogenital. Aproveitando o clima, os poetas comentavam o ato
felativo ou cunilingual � luz de tratadistas t�o diversos quanto
Vatsyayana (nos KAMA SUTRA), Paul Ableman (em A BOCA SENSUAL) ou Gershon
Legman (em O BEIJO MAIS �NTIMO).
-- Que tudo � fantasia pra sofisticar uma coisa das mais simples, n�o
resta d�vida. Mas deixem que eu puxe uma brasinha pro meu peixe: naquele
mesmo texto sobre o "Auparishtaka" sobra um lembretezinho final a
respeito da possibilidade de que a fela��o seja praticada entre homens,
pelo servo no seu superior, na falta de solu��o mais convencional...
Pelo menos o KAMA SUTRA n�o descarta a rela��o homo, como faz o
"moderninho" Legman...
-- Exato. Quando ele diz que na fela��o o homem fica passivo e a mulher
ativa, d� pra entender que ele sinta falta de bombar e controlar a
penetra��o. Mas quando ele insiste que o macho � quem tem de foder a
boca da f�mea, n�o consegue disfar�ar a brutalidade. Bem que ele tenta
dar uma de "cavalheiro": alerta que ningu�m precisa dar porrada na
coitada nem estuprar a boca dela. Basta segurar firme pelo cabelo ou
pela orelha, pra mostrar "delicadamente" o que ela "deve" fazer... Muito
"gentil", mesmo...
-- Vejam bem (insisto) que, al�m dessa quest�o de quem seria ativo ou
passivo, dominador ou dominado, o que importa � o lado sujo do sexo
oral. Nesse ponto o Ableman � bem categ�rico: n�o se pode exigir muita
assepsia, e um pouco de falta de higiene faz parte da natureza e at� da
sa�de humana, j� que, quanto mais limpo, mais vulner�vel fica nosso
organismo.
-- Por que voc� n�o aproveita e participa mais? Esmiuce a coisa! (sugiro
logo, antes que os outros desviem o papo para vias mais vaginais)
"Estou. Por isso mesmo � que resolvi que voc� vai continuar trabalhando
pra n�s."
"Nesse caso o senhor pode ter certeza de que vou fazer o servi�o
direitinho, do jeito que fiz pro doutor Osvaldo."
///
O soneto 949 me veio, bem como v�rios outros sobre futebol, depois que
conheci Deliberaldo Braga, ex-artilheiro de v�rzea que hoje ganha a vida
como radialista, apresentando um programa de m�sica sertaneja para
caminhoneiros fora do hor�rio nobre. Antes de se firmar numa emissora
interiorana, Deliberaldo tentou a carreira de comentarista, mas foi
banido da cr�nica esportiva porque ia direto ao ponto, sem enrola��o,
mas sobretudo porque dava nome aos bois, aos vaqueiros, aos capatazes e
aos fazendeiros, coisa inadmiss�vel nesse territ�rio da "pol�mica" e da
"crise" posti�as, seja entre os cerebrais (como Juca ou Fl�vio), seja
entre os passionais (como Chico ou Jorge), seja entre os "malas" (como
Milton ou Orlando). Na curta fase de respons�vel pela narra��o ou pela
"an�lise" das partidas locais, Dibre (seu nome de guerra dentro e fora
do campo) ficou sabendo de pelo menos o dobro das coisas que p�de
comentar no ar, fofocas chamadas "de bastidor" que acabaram hibernando
numa gaveta, anotadas em diversos cadernos, � espera de serem
aproveitadas num livro "revelador" que nunca sair�. Mas o que me
interessei em saber do Dibre n�o foi nada a respeito da bichice ou da
viadagem deste ou daquele craque ou perna-de-pau, coisa que j� sei de
outras fontes. Minha curiosidade era de ouvi-lo contar alguns dos casos
mais escabrosos desse acidentado terreno dos gramados varzeanos. Uma
noite peguei-o de veneta na casa do Z� Maria. Aproveitando uma sa�da,
mais ou menos demorada, do hospitaleiro poeta para buscar maconha, puxei
papo com o Dibre, retomando um fio de meada desplugado:
-- Que nada! Aquilo � um saco sem fundo! Cada dia tiro mais coisa do
ba�...
-- Isso. Aqueles dois s�o-paulinos. Acho que eram primos, n�o me lembro
bem.
-- O que acho estranho � ningu�m ter escutado nem visto nada depois que
os dois foram levados pra dentro da casa. Ser� que foi medo de
denunciar?
-- Parece que ligaram o som bem alto pra que nenhum grito fosse ouvido
de fora.
-- Algu�m saiu punido depois que os dois tiveram coragem de dar queixa?
-- Adiantaria pra punheta dos leitores m�rbidos que nem voc�, Glauco.
Sei de situa��es muito piores que essa da Mancha, mas s� os tarados iam
querer ler esse tipo de material.
-- Exato. Pra torcida do Capim ele contou que tinha levado uma surra e
um banho. Pra torcida do Cap�o a hist�ria que rolou foi a vers�o do
Frediney, mas como entre rivais s� vale a fanfarronada, ningu�m podia
garantir se o Reba tinha felado no duro. De qualquer maneira, a revanche
foi planejada. S� n�o se consumou porque Z�io foi trabalhar em Bauru e
Frediney veio estudar em S�o Paulo.
-- O Trivela. Ele era um dos outros dois caponenses que foderam a boca
do Reba mas que se livraram da repres�lia capinista porque Reba s�
reconhecia o Frediney e o Z�io. Hoje o Trivela nem usa esse apelido, � o
doutor Linhares. Se formou em direito e defende gente de periculosidade
muito maior que a do Z�io ou do Frediney... Mas sempre na maior
"dignidade", sem apelar pro baixo cal�o, s� pras inst�ncias superiores,
sabe como �?
///
-- Leva esse aqui. Tem mais putaria, foi feito em cima do marqu�s de
Sade...
-- Mas bem que o menino tem algo de comum conosco: conhece gibi de arte.
E prefere justamente meu �lbum favorito: a HIST�RIA DE O do Crepax.
-- Isso me lembra a mulher que chupou o Gilberto. Acho que foi por isso
que ele se ligou tanto naquela mesma cena que voc� lembra.
-- Simples: o Valmor vive cantando tudo quanto � bofinho, voc� sabe, mas
nunca consegue quem ele quer. Acabou dando em cima at� do Gilberto, que
nenhuma bicha digna cobi�aria. Pois sabe o que o gordinho prop�s pra
ele? Deixaria ele chupar s� depois que a Of�lia chupasse!
-- Mas que id�ia! Por que voc� acha que a m�e do Valmor faria uma coisa
dessas? Ela tem filho viado mas n�o � puta, que eu saiba. N�o �
costureira?
-- Mas o Valmor nunca comenta nada... Por que foi confessar justo pra
voc�?
-- Porque foi a �nica vez que ele presenciou, e n�o tinha ningu�m mais
interessado que eu pra ouvir coisas excepcionais... De mais a mais, quem
resiste ao meu faro investigativo? O "Dani Daninho" aqui sabe perguntar,
meu querido! Se perco o emprego na farm�cia, viro rep�rter ou detetive,
pode apostar!
-- Diz ele que sim, mas n�o entra em detalhe. Acho que o Gilberto n�o se
excita mesmo com viado... Deve ter sido uma experi�ncia meio
frustrante... At� porque foi o Valmor quem deu ao Gilberto a grana pra
pagar a m�e. Pra ela tamb�m n�o foi boa a coisa, porque n�o quis saber
de repetir a dose...
-- Esse do Pichard � forte! Pode levar que voc� vai gostar! (dizia o
outro)
-- J� conhe�o. Prefiro o Crepax. Acho legal isso tudo que fazem com a
freira, mas o Crepax � mais realista nas cenas de chupada, a mulher se
rebaixa mais...
Gilberto falava s�rio, mas quando tocou na "rola grossa" riu da pr�pria
express�o. Pensei comigo que era mesmo uma pena aquela indiferen�a da
juventude para com a agonia dos deficientes visuais, que poderiam ser
t�o �teis aos gordinhos em dificuldades er�teis, mas como desta vez n�o
era Daniel quem me acompanhava, tive que guardar para mim o coment�rio
que quis fazer sobre esse desperd�cio de oportunidades. E j� que minha
boca n�o estaria na cogita��o dos Gilbert�es da vida, nem me dei ao
trabalho de elucubrar como seria o p� descal�o dum gordinho desses na
minha l�ngua...
///
-- Pra isso nem precisa ir longe: aqui mesmo rola coisa bem mais
expl�cita.
-- Achei.
-- Que tal? Quem foi seminarista sabe que essas coisas rolam mesmo, com
maior ou menor grau de fantasia.
-- Voc� sabe que n�o fui santo. Teve �poca em que precisei fugir de
Uberl�ndia pra n�o ser preso. Mas na adolesc�ncia toda a minha turma j�
tinha passado pela m�o do padre T�lio, ou antes, o padre T�lio j� tinha
passado a m�o na cabe�a de n�s todos.
-- A molecada variava dos dez aos quinze. O padre era daqueles com mania
de "Vinde a mim..." e a crian�ada vivia rodeando o cara. Minha turma era
mais barra-pesada e o T�lio n�o se arriscava a tentar alguma intimidade
maior com a gente. Preferia os mais p�-de-arroz, que os pais obrigavam a
freq�entar a missa, fazer primeira comunh�o, ter aula de catecismo, e
tal. A gente sabia, pelos buchichos no meio da molecada, que o T�lio se
metia com este ou aquele, mas nem o Abobr�o, que liderava minha gangue,
sabia dizer com certeza qual era a do padre, j� que ningu�m tinha
flagrado ningu�m no ato.
-- Pois �. Tinha quem jurasse que o T�lio chupava. Outros achavam que os
preferidos dele eram justamente os mais delicadinhos, mais f�ceis de
serem fodidos.
-- N�o precisou. O Abobr�o achou que a li��o tava de bom tamanho. Ali�s,
o Beto nunca mais andou sozinho em lugar deserto. N�o sei se contou
alguma coisa pro T�lio, mas se contou foi mais um segredinho que ficou
entre os dois. A gente at� espalhou o caso, mas a molecada j� tava
acostumada com os buchichos e deu desconto, como pra qualquer boato. J�
o Beato n�o perdeu nem ganhou fama, mais do que j� tinha...
-- Pode crer!
///
-- N�o discuto que Pirandello seja genial, mas tem muito personagem
procurando autor e que n�o foi procurado pelo Pirandello.
-- Claro, Glauco! T� ironizando por qu�? Voc� sabe que a arte n�o
consegue imitar a vida quando o neg�cio � sadismo ou sacanagem, n�o
sabe? Nenhum escritor retrataria certas realidades, e se retratasse
seria acusado de invencionice.
Todos se dispuseram, e mais uma vez sabatinei o Dani Daninho para que
fosse aprovado com distin��o e louvor:
-- T� falando do Nestor?
-- N�o, falo dum branc�o que trabalhou na �rea antes dele. Um tal de
Oleg�rio, acho que voc� n�o conheceu. Mas enquanto ainda n�o vendia
bilhete, esse cara esteve bem melhor de vida. Recolhia dinheiro do bicho
nos v�rios pontos, contabilizava tudo e repassava pro chef�o do
territ�rio, que na �poca era o Guilherme Taveira.
-- Pelo menos � o que falavam. Mas o fato � que, al�m de v�rios outros
departamentos da jogatina e do cambismo, o Oleg�rio tava na equipe do
Taveira e faturava bem. At� comprou ap� naquele pr�dio chique com
sacada, que voc� tanto cobi�a...
-- Ali mesmo. E a sorte do cara n�o parou nisso: conseguiu casar com uma
doninha que era o sonho er�tico de muito gal� garanh�o por a�: a Din�,
que o pessoal da padoca chamava de Din� Angor�.
-- N�o tava, mas acabou servindo de moeda. Foi assim: o padr�o de vida
do Oleg�rio ia subindo, os gastos aumentando, e teve uma hora que ele
lan�ou m�o da grana a ser entregue pro Taveira. Durante um tempo a coisa
foi tratada como "empr�stimo", mas o Taveira n�o era homem de muita
paci�ncia e logo encostou o Oleg�rio na parede: ou paga ou... A� Taveira
foi criativo. Em vez de eliminar o devedor como qualquer rato de esgoto,
ofereceu ao rato uma chance: caso n�o tivesse a grana devida dentro do
prazo extra, entregaria sua gata pro cachorr�o. S� que a entrega n�o
seria uma simples transfer�ncia de patrim�nio, teria que ser uma
cerim�nia particular onde o rato ia chafurdar ainda mais no esgoto e a
gata ia virar cadela, um na frente do outro. Ou Oleg�rio topava aquela
animalidade, ou deixava o conv�vio dos humanos. E voc� que � cego sabe,
Glauco, como o ser humano � capaz de se adaptar a qualquer fen�meno da
natureza, n�o sabe?
-- Mas foi isso mesmo, Glauco! O Taveira n�o dava colher de ch� pra
ningu�m, mas como o Oleg�rio tinha sido um funcion�rio leal durante
tanto tempo, o jeito foi improvisar um castigo diferente, s� pra n�o
parecer bonzinho demais perante a m�fia toda. Foi a solu��o mais
"moral", de acordo com as palavras do bicheiro, que Din� repetiu ao j�
ex-marido. Mais cruel ainda foi a explica��o da pr�pria Din� pra ter
colaborado t�o descontra�da com as vontades do Taveira: "Mas meu bem,
que queria que eu fizesse? N�o v� que salvei sua vida? Se n�o fosse por
bem, eu iria na marra e voc� ia pro saco! Tive que facilitar as coisas,
e continuo tendo, j� que agora estou � disposi��o dele... Voc�, n�o:
comeu coc�, bebeu xixi, mas j� gargarejou e agora s� lembra do gosto se
quiser..."
///
Tudo come�ou quando a banda Punkadaria me pediu letra para um som que
deveria ser inclu�do no segundo disco, ainda em vinil. Escrevi uma
intitulada "A mulher que se disputa" e, no dia em que o vocalista
Maskar�o veio buscar a encomenda, viu o gibi do Angeli na pilha de
zines.
-- Vai dar um trabalhinho pra decorar, mas bate com a base mel�dica que
voc�s tinham me passado.
-- N�o, Glauc�o, � isso mesmo! Eu n�o queria uma letrinha de dois versos
e um refr�o. Disso a gente j� gravou um monte. Eu queria um tro�o assim,
mais elaborado, mesmo. Voc� pegou bem o esp�rito da coisa.
-- Como concorrente, n�o. Falei s� pra criar clima. Mas fiz parte duma
comiss�o julgadora, sim, levado por um poeta underground que me hospedou
l� e sabia da minha fama de fetichista.
-- Quanto desperd�cio! Bem que algum louco podia copiar essa moda
americana, n�? Copiam tanta coisa careta e brega...
-- Em vez de ficar perguntando, por que n�o damos uma resposta? Que tal
um concurso desses aproveitando o show de lan�amento do nosso LP? Voc�
toparia ser juiz?
La�rcio j� tinha dado nome, idade (19), profiss�o (balconista numa loja
de discos), n�mero do sapato (42) e marca preferida (All Star
importado). Naquela oportunidade cal�ava um Converse azul de cano alto,
que fui puxando devagar, sem aproximar o nariz. Mesmo antes de solt�-lo
do calcanhar, foi poss�vel distinguir a exala��o da meia branca.
Retirado do p�, segurei o t�nis de acordo com o procedimento-padr�o dos
ju�zes americanos: a palma da m�o sob o solado, o bico do cal�ado
voltado para o pulso, de modo a encaixar o cano no nariz como se fosse
uma m�scara de oxig�nio, calcanhar virado para cima. Desse modo a narina
absorve mais diretamente as emana��es que sobem do interior do t�nis,
oriundas do ponto cr�tico onde se acomodam os artelhos e onde o chul�
atinge seu teor mais elevado. O impacto foi sensacional. Inalei
longamente aquele vapor morno e concentrado, fechando os olhos para
melhor apreciar as nuances odor�feras durante a passagem do ar pelas
fossas nasais. Ao afastar o pisante da cara, deparei com o pez�o ainda
apoiado no mesmo lugar, a meia empapada de suor, escurecida por baixo, a
mancha de umidade formando o contorno da sola, enquanto La�rcio mexia os
dedos provocativamente.
-- N�o posso garantir porque n�o vou julgar sozinho. Mas se voc� n�o
vencer lhe dou um pr�mio de consola��o bem mais valioso, que tal? Um
pr�mio s� pelo gosto, sem contar o cheiro.
-- Pr�mio em dinheiro?
-- Se voc� quiser.
Antes que ele tirasse a meia, eu mesmo acompanhei seu gesto de m�o e
desnudei aquele pez�o branquelo. N�o era de dias a gel�ia que se
acumulava entre os dedos magros e compridos: era simplesmente o
resultado dum �nico expediente de trabalho ap�s um banho matinal e a
troca de meia, mas o suficiente para reativar uma verdadeira usina
bacteriana e impregnar o pano e a palmilha. Para n�o protelar demais a
sess�o, ca� de boca no mindinho e chupei-o at� o v�o, passando
repetidamente a l�ngua em volta. Fiz o mesmo em cada dedo, mas do ded�o
s� dei um beijo na ponta. La�rcio abriu ainda mais seu sorriso
descarado:
///
-- Tamb�m uso o Dos Vox, Glauco, mas n�o tenho um s�tio como voc�. S�
mesmo o "emeio". Acontece que fiz uma coisa que voc� ainda n�o se animou
a fazer: pus um classificado me oferecendo como chupeteiro.
-- Pra mim seria perda de tempo. Quem vai querer um cego chupador de p�
de macho? Nem tem se��o de classificados onde eu pudesse anunciar na
rede...
-- Isso � o que voc� pensa, Glauco. Tem portal pra tudo, e quem tem dedo
pra digitar tem com que ocupar a boca, pode estar certo.
-- N�o tanto quanto uma puta com olho de lim�o, cabelo de milho e l�bio
de morango, mas que pingavam uns gatos, pingavam.
-- E o cara tinha mesmo esse poder de persuas�o? Ou era voc� que tava
carente demais?
-- Nada! E voc� acredita, Glauco, que mesmo tendo falado com ele por
fone, n�o me toquei que era a voz do Jamil do ap� de cima? T� certo que
at� ali pouco t�nhamos conversado, mas sendo ele t�o folgado, rindo e
cantando alto dentro e fora de casa, n�o d� pra entender como n�o
reconheci aquele vozeir�o de feirante...
-- Sei l�. Disse ele que foi pelo buscador. Depois de ter se divertido
sapateando no quarto, bem em cima da minha cabe�a, lembrou da minha
cegueira e resolveu pesquisar p�ginas de cegos pra ver como reagiam aos
desrespeitos e �s ofensas. No meio de muita "dignidade" e "cidadania"
achou minha confiss�o de fraqueza e minha proposta de "servi�o"
compat�vel com minha posi��o inferiorizada, ou seja, chupar rola. Ah,
imediatamente come�ou a me mandar "emeios".
-- Mudou, mas s� pra ficar ainda mais abusado. Primeiro escrevia que
tava a fim de me foder a garganta at� sufocar; depois que pegou meu fone
avisou que ia me usar como mict�rio...
-- At� que n�o, porque na hora cr�tica a gente parece que entra em
transe e s� se concentra naquilo... Mas deixei que ele pensasse que tava
me arrasando ao m�ximo, me reduzindo a lixo...
-- Porrada n�o chegou a dar, mas amea�ava cada vez que dava uma ordem.
Duro mesmo foi s� ag�entar a rola quando ele metia fundo e bombava.
Ficava sentado, de perna bem aberta, e eu ajoelhado no tapete. De vez em
quando ele chegava a passar as coxas por cima dos meus ombros, cruzando
os p�s nas minhas costas. Eu era fodido como um bicho, Glauco, minha
boca parecia buceta de cadela. Eu suava, sentia meu nariz escorrendo,
mas tinha que continuar at� que ele resolvesse mudar de posi��o e
mandasse lamber o talo ou o saco...
-- Ele fedia?
-- O normal. Achei que ia ser mais forte, mas o cheiro era de cueca
suja, como qualquer um antes do banho. S� depois de gozar � que o bicho
pegava, porque ele n�o deixava tirar da boca e acabava aliviando a
bexiga depois de esporrar...
-- A chupeta sim, muitas vezes, mas n�s dois no banheiro foi s� aquela
vez.
-- Acho que n�o. A comunica��o nunca era pelo interfone. Ele sempre
avisava antes de vir, e pra que n�o tocasse a campainha eu deixava a
porta s� encostada.
-- N�o, cada vez mais r�pidas. At� que ele acabou enjoando. Ficou tudo
f�cil demais, perdeu a gra�a de me ver sem jeito, passado de vergonha,
como das primeiras vezes. A coisa foi ficando indiferente, eu aprendi a
controlar a �nsia, a beber os jatinhos de mijo sem babar, tudo
funcionava sem trauma. De repente at� a mulher dele parou de viajar. Era
jornalista, sempre pautada pra cobrir o que rolava em tudo quanto era
lugar. Parece que promoveram a fulana e ela j� n�o precisava ficar
saindo de S�o Paulo. Com ela em casa, o Jamil falava menos, sa�a menos,
enchia menos o saco dos vizinhos... e enchia menos minha boca, tamb�m.
-- A coisa morreu assim, sem mais nem menos?
///
Fomos at� a estante e Agenor abriu um dos volumes das TRUE HOMOSEXUAL
EXPERIENCES em que o editor da Gay Sunshine Press re�ne os depoimentos
que sa�am no incorret�ssimo fanzine STRAIGHT TO HELL de Boyd McDonald. O
relato relido por Agenor era o dum leitor que testemunhava: "I've been
sucking cock since I was a boy, when my older brother and I used to
sleep together. I remember how funky his groin smelled and how big his
dick seemed. It took some effort, but I was able to open my mouth wide
enough to insert the smooth cut head of his prick and about 2" of his
shaft. He never wasted any time with 'fag romancing' (as he called it);
he just pulled me over to him in the middle of the night, pushed my head
under the covers to his already hard cock and used my mouth as a
receptacle for his somewhat sweet cum. Since I lived in fear of my big
brother (he was the oldest in a family of 5 boys and 3 girls), he was
pretty certain that I wouldn't squeal on him and his shocking
activities. I really hated him, but he was usually in charge of
baby-sitting me when our parents were out and he would regularly beat
the shit out of me so I knew better than to say anything to our parents.
He is now a big wheel in law enforcement in Northern Michigan. As time
went on he used to order me to suck his balls (the hairs from those
balls were forever getting caught in my teeth), lick around his smelly
asshole and lick his dick like it was a big hot lollipop. He loved to
straddle me while I was laying on my back, stick his prick in my mouth
and then pull it out when he was ready to shoot so he could squirt his
sticky cum all over my face. Then he told me to wipe it off my face with
my hand and eat it. All this (and other refinements) went on EVERY
SINGLE NIGHT for two years until we moved into a bigger house and I got
my own bedroom. I locked my door. In two whole years of 'servicing' my
brother, he never once touched me. [Editor's note: This sounds like an
ideal relationship; please tell us more -- what was said and done,
especially the refinements. It's time we got some refinement in this
magazine.]"
-- Passou, mas na situa��o inversa. Foi o mais novo que abusou dele.
-- Acho que sim. Ele procurava ao mesmo tempo um motivo pra brigar e pra
puxar o assunto proibido. Mas com que inten��o?
-- Ent�o vai ter de pensar em mais uns detalhes. Uma vez o J� resolveu
brincar com os limites do nojo daquele mano feito de bobo. Terminou de
cagar e nem limpou a bunda: chamou o Z�, que tava ocupado fazendo li��o
de casa, e mandou deitar no ch�o do banheiro, de cara pra cima. Z�
sentiu o cheiro que vinha da privada e quis recusar, mas recebeu a ordem
como uma bofetada: "Deita a�, t� mandando! Anda, deixa de frescura!
Quero sua boca debaixo do meu cu! Vai me servir de papel higi�nico! N�o,
n�o, nada de conversa! Vai lamber meu cu e � j�!" Z� sentiu o sangue
subir. Era hora de descer o bra�o naquele folgado e acabar duma vez com
tanta falta de respeito. Mas fraquejou, foi tomado pelo del�rio da
obedi�ncia cega e pelo fasc�nio da molecagem descontrolada. Parou de
retrucar e caiu de costas, deixando que J� lhe montasse no rosto. O
moleque at� gritava "I�pi!" quando sentiu a l�ngua do mano entrando por
onde a merda tinha acabado de sair, quase a mesma gostosura de se
aliviar dum tolete bem molhadinho. O cu piscava de del�cia. Resultou da�
que Z� teve de descobrir como o masoquismo � praticamente inesgot�vel...
Hoje ele nem tem cara e coragem pra se arriscar nesses excessos, mas
ainda lembra da coisa com uma saudade que d� at� inveja...
/// [19/6/2012]