Apostila para EJA 2 Bimestre
Apostila para EJA 2 Bimestre
Apostila para EJA 2 Bimestre
SEMANA 1
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
Violências, Criminalidade e Políticas Públicas, na área de Segurança.
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer a diferença entre violência física e Simbólica.
HABILIDADE (S):
Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica, etc.) políticos, sociais e culturais, ava-
liando e propondo mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos. Elaborar hipóteses, se-
lecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais,
culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e etc.
INTERDISCIPLINARIDADE:
História, Geografia, Filosofia e Português (Redação).
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Apenas leis mais rígidas resolveriam o problema da violência no Brasil ?
Será que se todas as pessoas tivessem uma arma em casa para se defender teríamos uma sociedade
mais segura?
Como enfrentar verdadeiramente o problema do crescimento da violência nas cidades ?
Como apresentado nas primeiras aulas, o estudo da Sociologia busca ,a partir de pesquisa e investi-
gações ,discutir essa e outras questões ligadas ao fenômeno da violência. São debates para além de
visões intuitivas e por vezes preconceituosas ,que buscam resolver questões complexas como a violên-
cia a partir de soluções simples.
As raízes da violência no Brasil são históricas, culturais e estruturais. Nas próximas páginas deste plano
de estudos iremos abordar, pelo olhar da sociologia, as diferentes facetas das violências no Brasil e no
Mundo. Acreditamos que ao tomarmos contato com conhecimentos sociológicos sobre o tema da vio-
lência estaremos mais próximos de verdadeiramente enfrentar esse grande problema social que assola
nossas vidas.
Bons Estudos!
Violência Física
Como já mencionado, esse tipo de violência pode ferir fisicamente e até mesmo levar à morte. Há diver-
sos exemplos: socos, chutes, empurrões, golpes e ferimentos com utensílios cortantes ou com armas
de fogo. Poderíamos citar dezenas de formas de violência física.
É importante, contudo, entendermos que, muitas vezes, a violência física vem associada ao outro tipo
de violência: a violência simbólica. E é a respeito dela que iremos falar com mais ênfase, pois a ela po-
demos associar causas e consequências históricas e sociais.
Violência Simbólica
De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, violência simbólica é a:
“Produção contínua de crenças que fazem com que, em sua socialização, os indivíduos se posicionem
seguindo critérios do discurso dominante. Assim, a violência simbólica está no reconhecimento e uso
deste discurso dominante.”
Para Bourdieu, o discurso das pessoas de maior poder na sociedade exerce influência nas pessoas
de menor poder, isso se dá de forma bem sutil, ou seja, as pessoas dominadas quase não percebem
essas influência.
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Essa dominância dá-se por diversos fatores:
Um exemplo simples é a forma com que o Estado determina quais pessoas podem ou não frequentar
determinados espaços. Quando, por exemplo, na festa da escola, alunos pedem para tocar funk, mas
não é autorizado, sob o discurso de que funk não é cultura ou que não é agradável; sabemos que há mui-
tas músicas do gênero que poderiam ser tocadas na escola, mas existe todo um discurso simbólico que
criminaliza o Funk. Sendo, pois, uma violência simbólica contra jovens que gostam de funk.
Um dos elementos que caracterizam a violência simbólica é o fato de que esse tipo de violência é natu-
ralizada em nosso cotidiano. O próprio processo de socialização dos indivíduos, que ocorre via contato
com a família, escola, igreja e demais espaços de convivência reproduzem tais violências como aceitá-
veis e por vezes justas.
É possível também, as próprias vítimas desse tipo de violência passarem a entender como normal os
discursos que as oprimem, chegando ao ponto de reproduzi-los. Para entendermos melhor essa lógica
de como aprendemos a sermos violentos com nós mesmas/os, vamos aos exemplos:
— Quando uma mulher refere-se à outra usando uma lógica machista, fazendo julgamentos e proferin-
do ofensas pelo fato de estar usando roupa curta.
— Quando uma pessoa negra usa termos racistas ao se referir a outra pessoa negra.
— Quando um homossexual utiliza palavras homofóbicas para ofender alguém.
A pessoa vítima desse tipo de violência, comumente, reconhece como legítimo (verdadeiro) o discurso
e a visão de mundo de quem a discrimina, e passa a reproduzi-lo. Assim, alguém vítima de um precon-
ceito, influenciada pela cultura e estruturas que fundamentam a sociedade, pode reproduzir preconcei-
tos em seus discursos e ações.
Pequenas atitudes revelam a postura machista de uma mulher, como julgar alguém pelo que ela veste
Imagem: Lumi Mae/UOL
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Tipos de Violência Simbólica:
Se você não entendeu o que é violência simbólica, vamos discutir alguns exemplos para ficar mais fácil:
Violência Social: São opressões ou repressões de minorias sociais* por meio de discriminação, segre-
gação, perseguição e intolerância.
Um exemplo que podemos destacar nesta Pandemia, sobre violência social, é o fato de órgãos de saúde
determinarem o uso de álcool em gel, a lavagem das mãos e o isolamento dentro de suas casas, sendo
que existe um número significativo de pessoas que ocupam os espaços das ruas, muitas vezes sem
acesso a banheiros ou ao álcool em gel.
Violência Doméstica: Ocorre no ambiente familiar, geralmente contra mulheres, crianças ou idosos.
É praticada, na maioria das vezes, por parentes: pais, mães, irmãos, maridos ou outras pessoas próxi-
mas que sejam tutores (no caso de violência contra crianças). A violência, nestes casos, pode ser física
(agressões físicas) e também simbólica (violência moral e psicológica). Vale ressaltar que esta última
pode se dar, inclusive, fora do ambiente familiar, pois o agressor exerce domínio psicológico sobre a
vítima por meio de ameaças, produzindo o medo de fugir ou denunciar.
Agora que já entendemos melhor o conceito de violência e suas formas na nossa sociedade, é o mo-
mento de construirmos melhor este conhecimento por meio de exercícios.
*Minoria social: “Parcela da população que se encontra, de algum modo, marginalizada, ou seja,
excluída do processo de socialização. São grupos que, em geral, são compostos por um número
grande de pessoas, mas são excluídos por questões relativas à classe social, ao gênero, à orienta-
ção sexual, à origem étnica, ao porte de necessidades especiais, entre outras razões.” (“Minorias
Sociais”; Brasil Escola).
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ATIVIDADES
A estrutura social é um tema presente nos estudos sociológicos. Com base na charge, é CORRETO
afirmar que
a) a desigualdade social fundamenta-se na habitação, pois a obtenção de outros elementos de
sobrevivência depende, exclusivamente, dos indivíduos.
b) os movimentos sociais funcionam como mecanismos que incentivam a criação de espaços
sociais, a exemplo do apresentado na charge.
c) a estratificação da sociedade brasileira é dividida em classes sociais, que são determinadas
por condições econômicas e sociais de vida.
d) o morador de uma das casas da charge compara sua residência com a de uma classe social
superior. Esse fato o deixa satisfeito com sua condição social.
e) a classe média no Brasil é caracterizada por possuir grande acúmulo de dinheiro que a torna
uma estrutura social frágil, se comparada a outras organizações sociais.
2 — (FGV-2016) Em junho de 2015, o Papa Francisco tornou pública a encíclica Laudato sí (Louvado
sejas), na qual trata do meio ambiente e da atual crise ecológica, conforme trecho a seguir.
48. O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos en-
frentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm
a ver com a degradação humana e social. De fato, a deterioração do meio ambiente e a da socie-
dade afetam de modo especial os mais frágeis do planeta: “Tanto a experiência comum da vida
quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as
agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres”. Por exemplo (...), a poluição da água
afeta particularmente os mais pobres que não têm possibilidades de comprar água engarrafada,
e a elevação do nível do mar afeta principalmente as populações costeiras mais pobres que não
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têm para onde se transferir. O impacto dos desequilíbrios atuais manifesta-se também na morte
prematura de muitos pobres, nos conflitos gerados pela falta de recursos e em muitos outros pro-
blemas que não têm espaço suficiente nas agendas mundiais.
Apudhttp://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/
papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
3 — Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal de uma pessoa é considerada
violência
a) física.
b) psicológica.
c) verbal.
d) integral.
e) simbólica.
4 — (UEL-2007)
Em relação à violência, analise o texto anterior e selecione a alternativa que corresponde à ideia
desenvolvida pelo autor:
a) A democracia brasileira é fortemente responsável pelo surgimento de uma cultura da violên-
cia no Brasil.
b) Muito mais do que os traços culturais, é o desenvolvimento econômico que acarreta o desres-
peito aos direitos humanos no Brasil.
c) Com a democratização, as não-elites brasileiras finalmente tiveram pleno acesso ao sistema
judiciário e aos direitos próprios do Estado de Direito.
d) Historicamente, o desrespeito aos direitos humanos afeta de modo igual a brancos e negros,
ricos e pobres.
e) A violência no Brasil expressa-se na vida cotidiana e, para ser superada, depende de ações da
sociedade civil.
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REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre & PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de
ensino. Rio de Janeiro: F. Alves, 1992.
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2013/01/10/mulheres-tambem-sao-responsaveis-
-pela-perpetuacao-do-machismo.htm
https://moisescartuns.wordpress.com/2020/02/27/meritocracia/
https://tonidagostinho.tumblr.com/
https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2019/12/30/todos-sabem-que-emprego-e-e-
ducacao-reduzem-a-violencia-menos-o-presidente.htm?cmpid=copiaecola
https://iwastesomuchtime.com/102126
Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 2015. Editora Melhoramentos Ltda. ISBN: 978-85-
06-04024-9
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/creditos/
https://www.portaldovestibulando.com/2014/11/desigualdades-sociais-questoes-de.html
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/ciencias-sociais-sociologia/violen-
cia-e-conflitos-urbanos/questoes
SOUZA, Jessé. (2006), A invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte, Editora UFMG.
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SEMANA 2
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
Violências, Criminalidade e Políticas Públicas na área de Segurança.
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer a diferença entre os termos Violência e Criminalidade.
HABILIDADE (S):
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas causas, sig-
nificados e usos políticos, sociais e culturais, avaliando e propondo mecanismos para combatê-las, com
base em argumentos éticos. (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos
relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na
sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos
filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Diversidade Cultural, História das desigualdades, Violência Urbana, Violência Doméstica.
INTERDISCIPLINARIDADE:
História, Geografia, Filosofia e Português (Redação).
VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE
Marcos Antônio Silva
Compreender o que de fato significa o termo criminalidade, a forma como opera o sistema de justiça
e como ele busca combater às diversas formas de violência que foram naturalizadas ao longo da histó-
ria é um importante passo para entender esse fenômeno e pode indicar caminhos que nos leve a supe-
ração do quadro epidêmico de violência vivenciado hoje no Brasil. Dizer isso não é um exagero, como
podemos verificar no Infográfico abaixo, a violência em nosso país mata tanto quanto epidemias graves
como a COVID-19 e por isso merece ser vista com maior atenção por toda a sociedade.
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Ao consultarmos o dicionário, a diferença entre os termos violência e criminalidade torna-se evi-
dente. Enquanto a violência é definida como constrangimento físico ou moral, a criminalidade é a ex-
pressão dada pelo conjunto de infrações de leis que são produzidas em um tempo e lugar determinado.
A criminalidade ainda pode ser definida como ato de cometer crimes, seja de natureza violenta ou não.
Portanto, violência e criminalidade, como às vezes nos fazem parecer, não são sinônimos.
Com essa definição, podemos entender que criminalidade é um fenômeno relacionado à classifi-
cação de determinadas condutas como crime e a criação de lei por parte do Estado (Governo) como
medida de repressão a comportamentos tidos como nocivos aos membros da sociedade, tendo como
objetivo impedir condutas não desejáveis dos indivíduos, sob ameaça de restrição de liberdade entre
outras penalidades.
Os estudos sociológicos sobre violência e criminalidade nos faz perceber que a definição de cri-
me pode modificar-se ao longo do tempo e do espaço, reproduzindo valores culturais, costumes e até
mesmo preconceito sociais. Ao investigar os crimes ligados a corrupção, também chamados de “crimes
do colarinho branco” em referência às roupas utilizadas e alto poder econômico das pessoas que os
praticam (políticos, funcionários públicos com cargos importantes no governo e altos executivos de
empresas). O sociólogo Estadunidense Howard Becker analisa como a criminalidade nem sempre está
associada a violência física, mas nem por isso deixa de ter sérias consequência para a sociedade. Essa
modalidade de crime geralmente não se utiliza de violência física e por mais que prejudique a vida de
milhares de pessoas, costuma ser tolerado pela sociedade e suas penas são menores. Por vezes esses
delitos não são considerados crimes, e quando de fato são, os envolvidos pegos na maioria dos casos
pagam fiança — com o próprio dinheiro que roubaram — e assim esses infratores da lei respondem seus
crimes em liberdade. Como raras são as vezes que pessoas da alta classe social vão de fato para a ca-
deia, mesmo que cometam crimes, além da sensação de impunidade fica a falsa impressão por parte
da sociedade de que apenas a população pobre e vulnerável comete crimes gerando inclusive precon-
ceitos frente essa parcela de indivíduos.
Vários exemplos de como a violência e seu devido combate pelas leis podem se apresentar em des-
compasso estão presentes em diferentes momentos históricos. Episódios recentes da história da hu-
manidade como a institucionalização das leis de segregação racial pode exemplificar esse fenômeno. A
aplicação destas leis, definidas como um tipo de política de Estado, separa os indivíduos, ou grupos de
indivíduos, de uma mesma sociedade por meio de critérios raciais (ou étnicos), privando-os de direitos.
As leis de segregação racial passaram a ser executadas a partir do fim do século XIX e teve forte vigor
no século XX, em países como a Alemanha nazista, com a perseguição de judeus, na África do Sul, com
o apartheid - separação das cidades sul-africanas em bairros brancos e Negros-, e nos Estados Unidos.
Ao visitar a história dos Estados Unidos, nação que simboliza o modelo de democracia no ocidente,
verificamos que até a década de 1960 esse país convivia com uma legislação que instituía a violência
racial como algo naturalizado, entendendo todos os membros da população negra do país como uma
espécie de ‘cidadão de segunda classe’ como evidenciado no trecho abaixo:
“Leis de segregação racial (Nos estados Unidos) haviam feito breve aparição durante a reconstrução, mas
desapareceram até 1868. Ressurgiram no governo de Grant, a começar pelo Tennesse, em 1870: lá, os
sulistas brancos promulgaram leis contra o casamento inter-racial. Cinco anos mais tarde, o Tennessee
adotou a primeira Lei Jim Crow e o resto do sul o seguiu rapidamente. O termo “Jim Crow”, nascido de uma
música popular, referia-se a toda lei (foram dezenas) que seguisse o princípio “separados, mas iguais”,
estabelecendo afastamento entre negros e brancos nos trens, estações ferroviárias, cais, hotéis, barbe-
arias, restaurantes, teatros, entre outros. Em 1885, a maior parte das escolas sulistas também foram divi-
didas em instituições para brancos e outras para negros. Houve “leis Jim Crow” por todo o sul. Apenas nas
décadas de 1950 e 1960 a suprema Corte derrubaria a ideia de “separados, mas iguais”. (Fonte: Leandro
Karnal. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.)
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A análise desse fragmento nos permite entender porque mesmo atualmente, após décadas da ex-
tinção da legislação racista no país, os Estados Unidos ainda tenha como um dos principais problemas
a ser enfrentado em seu território a violência institucional contra a população negra. Problema este
amplamente evidenciado pelos recentes protestos motivados pela brutal morte do segurança George
Floyd por um policial branco na cidade de Minneapolis.
A naturalização via legislação de formas de violência motivadas pela questão de gênero também
são recorrentes inclusive na atualidade. Casos extremos de como as leis de um país podem naturalizar
as violências infligidas contra mulheres estampa incontáveis páginas de jornais ao redor do mundo. Do
Afeganistão, nos dias atuais, recebemos revoltantes notícias de mulheres que são presas após serem
vítimas de estupro. Na legislação afegã essas mulheres são criminosas por terem desonrado suas famí-
lias ao realizar sexo fora do casamento. Nesse país, a pena alternativa à prisão oferecida a essa mulhe-
res é casar-se com o homem que a violentou e assim restituir a honra de sua família.
No Brasil, um exemplo de como a violência e a injustiça podem ser naturalizadas e até mesmo es-
timuladas pelas leis é o instituto da Legítima Defesa da Honra presente no código penal Brasileiro de
1940. No passado essa lei serviu como atenuante e até mesmo causa de perdão de crimes passionais
(motivados por fortes impulsos emotivos). Utilizando-se desse artigo do código penal homens que as-
sassinaram suas esposas ou namoradas eram comumente inocentados, sob o pretexto de serem toma-
dos por elevado episódio de ciúmes, e por isso estavam privados da inteligência e dos sentidos.
Nas últimas décadas com o advento da organização de movimentos sociais ligados à luta pelos di-
reitos das mulheres e contra a violência doméstica, esse cenário, apesar de ainda muito grave, vem se
modificando com a criação de leis que buscam fazer frente à tentativa de invisibilização da violência
contra a mulher no, Brasil. Uma das medidas mais significativas na mudança da legislação brasileira na
busca da criação de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher foi a pro-
mulgação da Lei n. 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006, que passou a ser chamada Lei Maria da
Penha, em homenagem à mulher cujo marido tentou matá-la duas vezes, e que desde então se dedica à
causa do combate à violência contra as mulheres.
Mesmo com avanços na formulação de leis que tenham como propósito garantir direitos básicos
a todos e comprometidas com o fim de privilégios e que criminalizam qualquer forma de preconceito,
verificamos que as instituições brasileiras (Escola, Polícia, Hospitais, Governos entre outras ) trazem
ainda muito de nosso passado que remonta tempos coloniais, patriarcal e escravista onde , assim como
nos Estados Unidos antes da luta por direitos civis, temos um quadro de sub-cidadanias, com pessoas
sendo privadas dos seus direitos básicos garantidos por lei, como as populações das periferias, vilas e
favelas, camponeses, os negros e indígenas, a população LGBTQI+ entre outros grupos que configuram
os mais vulneráveis e vítimas preferenciais da violência em nossa sociedade.
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Nossa identificação com os recentes episódios ocorridos nos Estados Unidos de violência institucional
cometida pela Polícia Norte-Americana que resultou na morte de George Floyd, não é por acaso. O lema
“vidas negras importam” ecoa aqui no Brasil e nos faz lembrar de episódios como as mortes do ado-
lescente João Pedro Mattos Pinto, da Menina Agatha Felix, do Músico Evaldo dos Santos, do Pedreiro
Amarildo de Souza e tantos outros cidadãos brasileiros, não por acaso negros e moradores de periferia,
mortos por ações criminosas de agentes do Estado e que ainda esperam por justiça.
Segundo o Sociólogo Sérgio Adorno em sociedades como a Brasileira onde convivemos com altos ín-
dice de exclusão e de desigualdade social a violência passa a ser algo que nos divide. O especialista em
estudos sobre criminalidade e violência argumenta que o caminho mais seguro para superação das
diversas formas de violência em que nos acostumamos a presenciar cotidianamente seria a inclusão
social dos indivíduos que foram historicamente excluídos. Portanto, a implementação de políticas pú-
blicas que garanta a todos direitos básicos como serviços dignos de Saúde, Educação, Lazer, garantia
de emprego, moradia entre outros direitos e o combate de privilégios, se configuram como medidas, ao
médio e longo prazo, muito mais eficazes do que a defesa de “soluções mágicas” como a formulação de
leis mais rígidas, como: a redução da maioridade penal, pena de morte, prisão perpétua entre outras.
Percebemos a relevância dessa argumentação ao analisarmos que países que garantem esses direitos
a sua população e apresentam menores índices de desigualdades são os locais onde presenciamos os
menores índices de crimes violentos.
A busca por uma sociedade de fato justa vai bem além da formulação de leis que garantam direitos
básicos a toda a população, criminalize e corrija as violências que historicamente são invisibilizadas e
que naturalizam privilégios no Brasil. Passa também, e necessariamente, pela inscrição desses direitos
em nossas leis, como por exemplo na Constituição Federal. Com a garantia desses direitos em nossas
leis podemos, não pedir, mas, sim, exigir de nossos governantes educação de qualidade, um sistema de
saúde pública eficiente, proteção para o trabalho, combate a privilégios e discriminações entre outras
medidas que nos aproxime cada vez mais do ideal descrito nas leis.
Glossário
Para entender melhor o texto, segue breve explicação de palavras que você provavelmente terá
dúvidas sobre o seu real sentido.
Cidadão: indivíduo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civis e políticos por este
garantidos e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos.
Democracia: Sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições
periódicas. Regime em que há liberdade de associação e de expressão e no qual não existem distin-
ções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.
Estado: Conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e
administram uma nação.
Étnico: Relativo a etnia (grupo étnico): influências étnicas. Que se pode referir a uma certa popula-
ção, ao povo. Característico de um povo, especialmente falando de um grupo social com uma cultura
própria, específica.
Naturalização: A naturalização significa dizer que a desigualdade social entre homens e mulheres,
classes sociais, jovens e adultos, é natural, ao invés de ser o que é: social e histórica.
Parâmetro: padrão, regra, princípio etc. por intermédio do qual se estabelece uma relação ou com-
paração entre termos.
Patriarcal: dominação exclusiva da figura do masculino nas sociedades em várias instituições sejam
elas políticas, econômicas, sociais ou familiar.
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Saiba Mais:
O tema em vídeos: Indicamos agora alguns vídeos que podem ajudar você a compreender todas as
informações contidas no texto, não deixe de assisti-los. Caso você não possa acessá-los agora, faça
quando tiver a oportunidade.
Violência que rola. (Direitos Humanos) — https://www.youtube.com/watch?v=JF0uWUnd-YE
Por que o Merthiolate não arde mais? — https://www.youtube.com/watch?v=A-jIUPEqYdw&t=63s
Documentário Falcão — Meninos do Tráfico — https://www.youtube.com/watch?v=B-s2SDi3rkY
ATIVIDADES
2 — O desrespeito aos direitos do homem, seja em nosso país ou em outros lugares do mundo, é
noticiado pelos meios de comunicação com certa frequência. O texto abaixo foi extraído da De-
claração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU)
em 1948: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade (…)”
(Artigo 1). Entende-se que o documento da ONU recomenda a todos os países a:
a) Manutenção da liberdade de comunicação e informação.
b) Garantia de direitos, independente da cor, sexo ou crença.
c) Prisão arbitrária daqueles que fazem oposição aos governos.
d) Restrição à liberdade de pensamento e de ir e vir.
e) Nenhuma das alternativas.
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4 — (Enem-2012) TEXTO I: O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação
da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalida-
de, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder público,
seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a
fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários
territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência
fincam suas raízes.
Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ.
Edição 2099; 3 fev. 2010.
TEXTO II: Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsações e emoções do in-
divíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo
é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações são
convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo.
ELIAS, N. O Processo Civilizador.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argumento do
Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a
a) incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos
de controle policial.
b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e
atos administrativos.
c) inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias nas
grandes cidades brasileiras.
d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle social
compatíveis com valores democráticos.
e) incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle
social específicos à realidade social brasileira.
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REFERÊNCIAS
AFRANIO, et al. SOCIOLOGIA EM MOVIMENTO. 1ª ed. São Paulo: Ed. Moderna, 2013.
BECKER, Howard S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 2.ed. São Paulo: Hucitec. 1994.
Carvalho, Josiel. Afinal, o que é a legítima defesa da honra? — Disponível em : https://canalciencias
criminais.jusbrasil.com.br/artigos/459668535/afinal-o-que-e-a-legitima-defesa-da-honra
Leandro Karnal. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/creditos/
https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/
https://jus.com.br/artigos/55607/o-lado-sub-da-cidadania-a-partir-de-uma-leitura-critica-da-midia
https://camilavazvaz.jusbrasil.com.br/artigos/453920021/conheca-as-22-leis-mais-bizarras-de-todo-
-o-mundo
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SEMANA 3
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
Violências, Criminalidade e Políticas Públicas na área de Segurança.
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer fatores que levam às altas taxas de Letalidade de jovens negros e pobres no Brasil.
HABILIDADE (S):
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas causas, sig-
nificados e usos políticos, sociais e culturais, avaliando e propondo mecanismos para combatê-las, com
base em argumentos éticos. (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos
relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na
sistematização de dados e informações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos
filosóficos e sociológicos, documentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Diversidade cultural, História das desigualdades, Violência Urbana, Violência Doméstica.
INTERDISCIPLINARIDADE:
História, Geografia, Filosofia e Português (Redação).
Mas, o que é juventude, afinal? Às vezes, não pensamos com profundidade sobre aquilo que vemos ou
vivemos todos os dias e, nesse sentido, é comum que concordemos com pensamentos como: “juventu-
de é sinônimo de problema”, ou então, “juventude não se interessa por política”, ou “essa juventude não
quer saber de trabalhar”. Para que pensemos a juventude em termos sociológicos, é necessário que co-
mecemos a nos questionar sobre essas ideias e que busquemos compreender a juventude como uma
categoria social, ou seja, um modo, entre outros, a partir do qual a sociedade se organiza e pode ser
compreendida. Nesse sentido, importa olhar a juventude como um fenômeno social e reconhecer a sua
complexidade, dado que se encontra envolta por diversas dimensões da vida social, tais como: classe
social, família, pertença racial, educação, gênero, trabalho, territorialidade, por exemplo. Por isso, é
importante que, em paralelo à questão etária, compreendamos a juventude não como uma experiência
homogênea, ou seja, igual para todas/os jovens, em todos os lugares, mas, ao contrário, como uma
experiência marcada pelos diversos contextos em que os sujeitos se inserem. Assim, podemos pensar
que pessoas pobres ou da classe média baixa vivem a juventude de um modo diferente das pessoas de
classe média alta ou ricas, do mesmo modo, a vivência da juventude pode ser diferente entre pessoas
negras e brancas, ou entre homens e mulheres. É a partir desse ponto que vamos para nossa discussão
sobre Juventude e Violência no Brasil, focando principalmente no contexto que envolve juventude, raça
e classe. Nesse sentido, falaremos de um assunto sério: a violência contra a juventude negra e pobre.
JUVENTUDE E VIOLÊNCIA
O trabalho de Jacobo Waiselfisz aponta para vigência da violência contra a juventude no interior do Bra-
sil, pois, de acordo com o levantamento produzido por este autor, para o intervalo entre 1980 e 2012, são
jovens, do sexo masculino e negros, os sujeitos que têm sido, em níveis altíssimos, recorrentemente
assassinados no país. No que tange especificamente à questão etária, o autor nos informa que: “Se na
143
população não jovem, só 2,0% dos óbitos foram causados por homicídio entre os jovens .os homicídios
foram responsáveis por 28,8% das mortes acontecidas no período 1980 a 2012”. Associando a dimensão
etária à questão racial, o autor, a partir de dados do período entre 2002 e 2012, nos informa que: “para
cada jovem branco que morre assassinado, morrem 2,7 jovens negros”. Dados do IBGE para o período
entre 2012 e 2017 confirmam esse estado de coisas e indicam para uma taxa de homicídios de 34 jovens
brancos por 100 mil habitantes, ao passo que, entre os jovens negros, essa taxa é de 98,5 homicídios
por 100 mil habitantes. Em termos de escolaridade, os dados do Atlas da Violência 2019, publicado pelo
IPEA, indicam que entre os anos de 2007 e 2017 as vítimas de homicídio possuíam, em sua maioria, o en-
sino fundamental incompleto. Feitas essas considerações estatísticas, importa compreendermos que
os homicídios de jovens negros, pobres e moradores de periferia encontram-se associados, principal-
mente, à dinâmicas de violência policial, chacinas e ao conflito entre grupos diversos, conflitos esses
atrelados à noções de honra, à luta pela defesa de territórios ou à vingança.
Contudo, para além dos índices de letalidade, outro ponto deve ser acrescentado na nossa discussão so-
bre os contextos de violência que afetam jovens negros e pobres, trata-se da questão do encarceramento.
Vejamos! Dados do Mapa do Encarceramento para o período entre 2005 e 2012 indicam que a população
carcerária no Brasil é composta, majoritariamente, por jovens com idades entre 18 e 24 anos. Em para-
lelo, a dimensão racial aponta, novamente, para uma predominância da população negra, que em 2012
compunha 60,08% das pessoas encarceradas. Neste sentido, podemos verificar que: “os jovens negros
estão mais suscetíveis ao homicídio, assim como ao encarceramento”. Jovens esses que, assim como nos
contextos de homicídio, não chegaram, em sua maioria, a completar o ensino fundamental, visto que, em
relação aos dados sobre escolaridade, essa é a principal característica das pessoas encarceradas no país.
Considerações necessárias:
Dados do IBGE para o ano de 2018 indicavam que, no Brasil, cerca de 11 milhões de jovens com idades en-
tre 15 e 29 estavam fora dos espaços de educação formal, como escolas, cursos técnicos e faculdade,
assim como estavam fora do mercado de trabalho. Em um estudo de 2009, Rosana Ribeiro e Henrique
Neder nos informam que, em termos comparativos, as/os jovens pobres possuíam índices de desocupa-
ção mais elevados em relação aos índices apresentados pelas/os jovens não pobres, fato relacionado,
diretamente, a um menor índice de escolaridade por parte dos jovens pobres. Esses dados, assim como
144
os de homicídio e encarceramento, nos ajudam a compreender o quadro de baixas expectativas em
relação ao futuro por parte das/os jovens pobres e, entre essas/es, mais especificamente as/os jovens
negras/os. Ora, se prestarmos atenção, com bastante cuidado, veremos um contexto de constantes
violências físicas e simbólicas que atravessam a vida dessas/es jovens, e, nesse sentido, precisamos
nos questionar quais têm sido as consequências dos modos como nossa sociedade tem se organizado,
em relação a essa juventude e se devemos continuar da forma como estamos.
Glossário
Conservador: pessoa que se opõe às transformações sociais, econômicas e/ou morais de uma socie-
dade, defendendo a manutenção do estado de coisas em que essa sociedade se encontra.
Desnaturalizar: deixar de ver algo como natural para compreendê-lo como uma construção social, ou
seja, fruto da ação e intenção humana.
Encarceramento: aprisionamento.
Experiência geracional: experiência de vida relacionada ao período histórico em que se é criança,
adolescente, jovem, adulto ou idoso, A experiência geracional se relaciona diretamente com a sepa-
ração entre descendências, de modo que, por exemplo, se os avós representam a 1ª geração, os filhos
representam a 2ª geração e os netos a 3ª geração de uma família.
Letalidade: mortalidade.
Progressista: pessoa que defende a necessidade das transformações sociais, econômicas e/ou mo-
rais da sociedade, tendo em vista uma ideia de progresso constante.
Saiba Mais:
O tema em vídeos: Indicamos agora alguns vídeos que podem ajudar você a compreender todas as
informações contidas no texto, não deixe de assisti-los. Caso você não possa acessá-los agora, faça
quando tiver a oportunidade.
O genocídio da juventude periférica no Brasil: os cinco de Maricá — https://www.youtube.com/watch?-
v=p9t_GykiMYU
Mapa da Violência: maiores vítimas ainda são os homens jovens e negros — https://www.youtube.com/
watch?v=OTR7LHeeKNY
ATIVIDADES
A partir do texto lido e de seus conhecimentos sobre o contexto de violência letal contra jovens no
Brasil, faça uma análise do assunto, com as suas palavras.
145
REFERÊNCIAS
146
SEMANA 4
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
Violências, Criminalidade e Políticas Públicas na área de segurança.
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer as causas e consequências da violência vivenciada no ambiente escolar: bullying e ciberbullying.
HABILIDADE (S):
Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas causas, significados e usos
políticos, sociais e culturais, avaliando e propondo mecanismos para combatê-las, com base em argumen-
tos éticos. Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e infor-
mações de natureza qualitativa e quantitativa (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, docu-
mentos históricos, gráficos, mapas, tabelas etc.).
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Violência Escolar, Preconceito e Discriminação, Cibercultura.
INTERDISCIPLINARIDADE:
História, Geografia, Filosofia e Português (Redação) .
Nesta semana,vamos discutir sobre as violências que ocorrem especificamente dentro do ambiente
escolar. Como vimos nas semanas anteriores, as violências não são atitudes que levam a agressão fí-
sica, necessariamente. Um xingamento, uma fotografia compartilhada sem a autorização da pessoa
fotografada ou até mesmo uma atitude de excluir uma pessoa dentro de um grupo de conversas podem
ser ações violentas.
Dan Olweus, um pesquisador Sueco, foi a primeira pessoa a publicar textos pensando sobre as vio-
lências dentro das escolas. Ele percebeu que houve um significativo aumento no número de estudantes
que se suicidavam em seu país. Quando investigou a fundo o motivo pelo qual levaram as/os estudantes
ao suicídio, identificou que em todos os casos as/os crianças passavam por situações de constrangi-
mento constante na escola. Foi assim que ele começou a chamar a atenção para o fato de que algu-
mas pessoas dentro da escola passavam por constantes opressões e exclusão, o que ele chamou de
Bullying. O termo tem origem na língua inglesa da palavra bully, que significa brigão, afrontoso.
Se pensarmos bem, na escola existe o encontro de muitas diferenças, pessoas que pensam com-
pletamente diferente uma das outras e dependendo da forma como as pessoas ali dentro lidam com
essas diferenças, pode haver violência. Você e cada estudante da sua sala tiveram uma criação dife-
rente, aprenderam a conviver com determinadas diferenças e identidades de uma forma. Infelizmente
algumas pessoas aprendem que a maneira certa de ser e existir no mundo é padronizada, todas aquelas
pessoas que não estão dentro desse padrão merecem ser alvo de piadas e de constrangimento. Basta
analisarmos as piadas que conhecemos, normalmente sempre existe um alvo nessas piadas, seja uma
pessoa mais gordinha, uma menina que pinta o cabelo de loiro, um homem que gosta de atividades ro-
tuladas como “femininas”, uma pessoa que tem o jeito de falar diferente.
Percebe que quando falamos sobre essas violências estamos falando de preconceitos? Quando um
grupo de crianças zomba de outra por ser mais gordinha, falamos de gordofobia, quando fazem piada
147
por um rapaz gostar de dançar com as meninas, isso é homofobia, quando criam apelidos e piadas para
um jovem por causa de sua cor de pele, racismo, e por aí podemos discorrer sobre muitas formas de
preconceito presentes na escola.
É importante destacar que essas violências não ocorrem apenas entre estudantes, uma professora
ou professor, também podem ser responsáveis por ações de bullying contra um adolescente. Seja pelos
comentários, seja por responsabilizar essa pessoa por mal comportamento sendo que outras pessoas
ao redor também apresentam o mesmo comportamento, e por aí vai. Vocês estudantes já conhecem
o bullying, pois vivenciam essa experiência diariamente. Assim como professoras/es também podem
passar por situações de violências constantes dentro do ambiente escolar, seja por sua orientação se-
xual, seja por sua cor de pele, sua forma de falar e andar, etc…
Contudo, é importante que a gente consiga separar as agressões físicas que ocorrem em momentos
específicos, uma briga entre dois alunos por conta de um ocorrido na queimada, ou uma briga entre duas
alunas por um incidente no futebol não necessariamente se configura enquanto bullying, são violências
pontuais. O bullying é um processo constante, violências que se dão de forma simbólica ou de forma ver-
bal, podendo sim chegar a uma agressão física, mas que de uma forma contínua agridem e constrangem
uma pessoa. Por isso, os efeitos do bullying são tão perversos, podendo levar uma/um adolescente ao
suicídio. No infográfico abaixo, podemos identificar as ocorrências mais frequentes em todo o Brasil:
148
Até então ,falamos das formas presenciais, ou seja, quando estamos juntas/os dentro da escola.
E neste período de Pandemia que estamos em ambientes virtuais? Ainda é possível existir o bullying?
Para responder a essa pergunta é preciso analisar dentro dos grupos de Whatsapp, nos grupos do Fa-
cebook e em outras redes sociais. Infelizmente,o ambiente virtual reproduz as violências presenciadas
no ambiente físico. As formas são as mesmas, piadas, comentários, exclusões, entretanto existem ou-
tras possibilidades como a divulgação de fotografias sem a devida autorização das pessoas, a criação
de memes, edição de imagens, figurinhas no whatsapp, uma diversidade de mecanismos que podem
ofender e criar constrangimento para outras pessoas.
As violências dentro do ambiente virtual de grupos escolares também são consideradas bullying,
mas por estarem no ciberespaço, ou seja, em espaços digitais, as nomeamos de ciberbullying. Nor-
malmente, essas violências ocorrem de forma pública, ou seja, não são mensagens inbox para estudan-
tes, mas compartilhamentos de imagens, comentários e memes dentro de grupos com muitas pessoas
acessando, inclusive pessoas que não fazem parte do círculo de pessoas conhecidas da vítima. Sendo
assim, podemos pensar que o impacto dessas ações podem ser maiores do que quando no espaço fí-
sico. Inclusive, não só a vítima específica, mas outras alunas e alunos podem se sentir constrangidos
com a manifestação violenta.
É preciso ter muito cuidado, e muito respeito com todas as diferenças. Todas e todos nós podemos
ajudar, se você é testemunha de uma dessas ações, cuide da vítima, acolha ela e converse com a pessoa
agressora, com quem está causando todo esse sofrimento. Se preciso, converse com uma professora
ou professor mais próximo e que você acredita que possa intervir de forma a auxiliar. Não aceite, de
forma alguma ,nenhum tipo de preconceito e discriminação dentro do espaço escolar, nem de estu-
dantes nem de professoras/es. Vamos cuidar para que a escola seja um espaço acolhedor para todas
as pessoas.
Glossário
Para você entender melhor o texto segue breve explicação de palavras que você provavelmente terá
dúvidas sobre o seu real sentido
Bullying: Violências de forma constante motivada pela dificuldade em lidar com as diferenças e que
ocorrem dentro do ambiente escolar, indiferente de quem sejam as pessoas envolvidas.
Ciberbullying: Violências de forma constante motivada pela dificuldade em lidar com as diferenças e
que ocorrem dentro do ambiente digital relacionada às escolas, indiferente de quem sejam as pesso-
as envolvidas.
Saiba Mais:
149
ATIVIDADES
A troca de mensagens de cunho sexual, com imagens e comentários eróticos dentro de qualquer meio
eletrônico, é conhecido como sexting. O nome “sexting” é baseado em uma junção de palavras, oriun-
das dos radicais “Sex” (sexo) e “Ting” (sufixo de texting), exatamente por essa origem histórica do “sexo
por mensagens de texto”. O sexting é uma prática constante entre as/os adolescentes do Ensino Médio,
mas que pode ser motivo de muito estresse. Leia a charge abaixo:
Com base na nossa aula sobre ciberbullying, faça um comentário de no mínimo 5 linhas sobre a charge
acima. Para isso, observe todos os perigos e consequências que essa prática aparentemente inofen-
siva, pode causar na vida das pessoas; tente observar se há um gênero específico (masculino ou femi-
nino) que mais sofra com essa situação, caso acredite que sim, discorra ao longo da sua dissertação,
apontando o porquê de você achar isso. Caso considere necessário pesquise na internet por meio do
celular um pouco mais sobre o conteúdo abordado.
150
SEMANA 2
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer a diversidade cultural Brasileira e as desigualdades que ainda persistem no país e no Mundo.
HABILIDADE(S):
Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas
distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de
trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
INTERDISCIPLINARIDADE:
153
DESIGUALDADE SOCIAL
154
um modelo de distribuição de recursos, prêmios ou vantagens, cujo critério único a ser considerado
é o desempenho e as aptidões individuais de cada pessoa. Como uma das ideias que fundamenta
moralmente o liberalismo, a meritocracia é um princípio essencial de justiça nas sociedades ocidentais
modernas. A partir dessa ideia é que se justifica e se legitima a forma como os recursos estão distribuídos
na sociedade. Segundo essa tese, a mobilidade social deve ser um resultado exclusivo dos esforços
individuais através da qualificação e do trabalho.
Você já se perguntou por que existem pessoas pobres e pessoas ricas em nossa sociedade? Será
que o “sucesso” depende da ação individual das pessoas (agência) ou é definido por questões sociais
(estrutura social) definida pelas maiores ou menores oportunidade que as pessoas tem ao nascer e
desfrutam ao longo de toda a sua vida. Para lhe ajudar a responder essa questão sugerimos que assista
o vídeo “O segredo da meritocracia” (acesse: https://www.youtube.com/watch?v=YINTTVjBrY4), ele
ajudará a entender as inúmeras variáveis que define a trajetória social de um indivíduo.
Concentração de riqueza
Fenômeno presente em sociedades marcadas por intensas desigualdades, onde grande parte da
riqueza produzida acaba por ficar nas mãos de uma pequena parcela de indivíduos. Tal situação acaba
por dificultar as possibilidades de mobilidade social (principalmente no que se refere à ascensão
social dos estratos mais pobres).
155
Mobilidade Social
Possibilidade de um indivíduo migrar de um grupo social para outro. Existem dois modelos de
mobilidade: ascensão social (migração de um grupo em
posição socialmente inferior para uma superior) e declínio ou
queda social (passagem de um grupo socialmente superior
para outro inferior). A mobilidade pode ser obtida mediante
esforços ou conquistas individuais (como nas sociedades de
classes) ou por concessões de grupos superiores (como nas
sociedades estamentais). No modelo de castas não existe
a possibilidade de ocorrer mobilidade social. Os indivíduos
nascem e permanecem no mesmo grupo social até a sua
Fonte: Disponivel em:
morte. https://www.portaldovestibulando.com/2014/10/
estratificacao-social-diferencas.html - acesso
15/06/2020
Status social
Construção da noção de prestígio a partir de características
individuais. Conceito determinado pela configuração de prestígio social presente em características
individuais. Assim como os elementos que determinam as desigualdades sociais, a noção de status
também é construída socialmente.
O status pode ser “adquirido” (quando conquistado por ações individuais reconhecidas coletivamente,
como, por exemplo, a profissão) ou “atribuído” (mediante características individuais que não podem ser
transformadas, como a etnia).
Alguns dos principais elementos que determinam status na sociedade brasileira são renda, etnia,
gênero, formação educacional, local de moradia e profissão. Os indivíduos que não possuem as
características geradoras de status acabam por ser estigmatizados nas relações sociais.
Estratificação social
156
FORMAS DE MEDIR A DESIGUALDADE, ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANOS — IDH
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa usada para classificar os países
pelo seu grau de “desenvolvimento humano” e para ajudar a classificar os países como desenvolvidos
(desenvolvimento humano muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto)
e subdesenvolvidos (desenvolvimento humano baixo). A estatística é composta a partir de dados de
expectativa de vida ao nascer, educação e PIB (PPC) per capita (como um indicador do padrão de vida)
recolhidos em nível nacional.
Cada ano, os países membros da ONU são classificados de acordo com essas medidas. O IDH também
é usado por organizações locais ou empresas para medir o desenvolvimento de entidades subnacionais
como estados, cidades, aldeias, etc.
IDH — Mundo
157
IDH — Brasil
158
ATIVIDADE 1
ATIVIDADE 2
CARTA AO PREFEITO
Pesquisar em seu bairro/comunidade (Verifique com os pais, avós, tios, amigos mais velhos):
a) Quais os principais problemas relacionados a desigualdade social em seu bairro?
b) Como são tratados esses problemas? (segurança, educação, saúde, moradia, transporte,
emprego).
c) Em comparação aos problemas de antigamente e aos atuais, o que mudou? Cite exemplos.
O que você acha que pode ser feito para amenizar essa desigualdade.
d) Utilize a pesquisa como referência e elabore uma carta ou e-mail ao prefeito expondo os
problemas sociais existentes em seu bairro.
ATIVIDADE 3
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manoel Bandeira)
159
Banco Mundial alerta para desigualdades de renda no Brasil
Em 1971, o economista holandês Jan Pen publicou um célebre tratado sobre a distribuição de renda
no Reino Unido, no qual descreveu um desfile reunindo das pessoas mais pobres, na abertura, às mais
ricas, no fim. Daí surgiu o termo “O Desfile de Pen”. Neste mês, um estudo do Banco Mundial para a
América Latina e Caribe propôs o mesmo exercício para o Brasil, colocando na Sapucaí “o desfile mais
estranho da história”. “Por muito tempo, só se veriam pessoas incrivelmente pequenas (apenas alguns
centímetros de altura), um incrível desfile de anões. Levaria mais de 45 minutos para os participantes
alcançarem a mesma altura que os espectadores. Nos minutos finais, gigantes incríveis, mais altos do
que montanhas, apareceriam”, descreve o relatório, produzido pelo Gabinete do Economista-Chefe da
regional do Banco Mundial. O encerramento seria feito pelos milionários brasileiros, que teriam dois
terços de seus corpos a 100 km acima do nível do mar.
PARA SABER MAIS — Os vídeos abaixo nos ajudam a refletir sobre o quadro de desigualdade social no
Brasil, que nos leva a vivenciar uma triste e contraditória realidade onde somos ao mesmo tempo um
país rico com muita pobreza.
Ilha das Flores — https://www.youtube.com/watch?v=RRady6kla34
Lixo Extraordinário — https://www.youtube.com/watch?v=ZdZHab1ZB8Q
160
ATIVIDADES
5 — Diante dos vários espaços de sociabilidade, todos têm o mesmo acesso aos mesmos
bens materiais?
161
SEMANA 3
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S):
OBJETO DE CONHECIMENTO:
Reconhecer a diversidade cultural Brasileira e as desigualdades que ainda persistem no país e no Mundo.
HABILIDADE(S):
Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas
distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de
trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.
CONTEÚDOS RELACIONADOS:
INTERDISCIPLINARIDADE:
162
SOCIALIZAÇÃO E IDENTIDADE DE GÊNERO
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” — Simone de Beauvoir
“Um caminho dentro da Sociologia para se analisar “as origens das diferenças de gênero é estudar a
socialização do gênero, a aprendizagem de papéis do gênero com o auxílio de organismos sociais, como
a família e a mídia. Essa abordagem faz distinção entre sexo biológico e gênero social — uma criança nasce
com o primeiro e desenvolve o segundo. Pelo contato com vários organismos sociais, tanto primários
como secundários, as crianças internalizam gradualmente as normas e as expectativas sociais que
são percebidas como correspondentes ao seu sexo. As diferenças de gênero não são biologicamente
determinadas, são culturalmente produzidas. De acordo com essa visão, as desigualdades de gênero
surgem porque homens e mulheres são socializados em papéis diferentes.” Na socialização do gênero
“meninos e meninas são guiados por “sanções” positivas e negativas, forças socialmente aplicadas
que recompensam ou restringem o comportamento. Por exemplo, um menino poderia ser sancionado
positivamente em seu comportamento (“Que menino valente você é!”), ou ser alvo de sanções negativas
(“Meninos não brincam com bonecas”). Essas afirmações positivas e negativas ajudam meninos e
meninas a aprender os papéis sociais esperados e a adequar-se a eles.”
“As influências sociais na identidade de gênero fluem por meio de diversos canais;” …
“Estudos sobre as interações entre pais e filhos, por exemplo, mostram diferenças distintas no
tratamento de meninos e meninas, mesmo quando os pais acreditam que suas reações para ambos
sejam iguais. Os brinquedos, os livros ilustrados e os programas de televisão experienciados por crianças
tendem a enfatizar diferenças entre os atributos masculinos e femininos. Embora a situação, de alguma
forma, esteja mudando, os personagens masculinos em geral superam em número os femininos na maior
parte dos livros infantis, contos de fadas, programas de televisão e filmes. Os personagens masculinos
tendem a representar papéis mais ativos e aventurosos, enquanto os femininos são retratados passivos,
esperançosos e voltados à vida doméstica. Pesquisadoras feministas demonstraram como produtos
culturais e de mídia, comercializados para audiências jovens, encarnam atitudes tradicionais para com
o gênero e os tipos de objetivos e ambições esperados em meninos e meninas.”
Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br
163
Processo de socialização
A socialização designa o processo que introduz uma pessoa à sua cultura e na qual aprende a viver
em sociedade e a decodificar as formas de fazer, de agir, de pensar e de sentir do seu ambiente social
e cultural. (Rocher, 1968) Deste modo através do processo de socialização a pessoa constrói a sua
identidade social e interioriza as normas, os valores e os saberes que lhe permitem entrar em relação
com os outros e de funcionar no seio de um grupo, na sociedade.
MULHERES EM RISCO
As mulheres vivenciam episódios de assédio sexual ao longo das suas vidas. Dados da ONG
Catalyst apontam que cerca de 50% das mulheres da União Europeia denunciaram algum tipo de
assédio sexual no local de trabalho. No mundo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica
que mais de 50% das mulheres já foram vítimas de assédio sexual, mas a maioria não denuncia por
falta de provas;
No Brasil, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 67% dos casos de
violência contra as mulheres são cometidos por parentes próximos ou conhecidos das famílias
das vítimas, 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes e apenas 10% dos estupros
são notificados;
Entre as mulheres pretas e pardas brasileiras, os assassinatos aumentaram 54% em dez anos
(entre 2003 e 2013), segundo o Mapa da Violência de 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana
de Ciências Sociais (Flacso), OPAS, ONU Mulheres Brasil e Ministério das Mulheres, Igualdade Racial
e Direitos Humanos. O número entre esse grupo é muito superior aos 21% de incremento nos
assassinatos entre todas as mulheres. Das mortes violentas, 50,3% são cometidas por familiares e
33,2% por parceiros ou ex-parceiros;
164
No Brasil, a média salarial feminina corresponde a 74,5% da média salarial masculinas, de acordo
com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). Para as mulheres negras, além da diferença salarial temos ainda uma maior
concentração em ocupações de menor remuneração: um estudo de 2009 do IPEA apontou que 21%
das mulheres negras no Brasil são trabalhadoras domésticas contra 12,5% das mulheres brancas e
apenas 22% têm carteira assinada.
Além de desafios práticos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, como a conciliação
da carreira e família de forma mais intensa que os homens, precisam lidar com obstáculos invisíveis:
os estereótipos. O Center for WorkLife Law da Universidade da Califórnia validou em pesquisa a
existência de quatro grupos de estereótipos que dificultam o avanço profissional feminino: barreira
da maternidade, corda justa, prove novamente e guerra de gênero.
Fonte: Cartilha: Principio de empoeiramento das Mulheres - adaptado Disponível em http://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2016/04/cartilha_WEPs_2016.pdf – acesso 15/06/2020
AS MULHERES E A PRODUTIVIDADE
As mulheres são uma grande força para a economia mundial: representam mais de 40% da mão
de obra global, 43% da força de trabalho atuante e mais da metade dos estudantes universitários do
mundo, de acordo com um relatório de 2012 do Banco Mundial:
• De acordo com um relatório de 2015 do McKinsey Global Institute, resolver a desigualdade de
gênero em todas as suas dimensões poderia adicionar US$ 28 trilhões ao PIB global em 2025,
o equivalente à soma das economias e da China e dos Estados Unidos somadas. Apenas no
Brasil, essa mudança poderia gerar um PIB 30% maior, em 2025, com até US$ 850 bilhões a
mais em circulação;
• Os países que promovem os direitos das mulheres e aumentam o acesso delas aos recursos e
ao ensino têm taxas de pobreza mais baixas, crescimento econômico mais rápido e menos
corrupção do que os países onde isso não ocorre, de acordo com evidências do estudo
Desenvolvimento e Gênero — Igualdade de Género em Direitos, Recursos e Voz, do Banco Mundial.
165
Políticas de segurança para as mulheres
As políticas públicas podem ser aplicadas em forma de programas, ações, campanhas, serviços,
leis e diversas outras atividades desenvolvidas pelos governos (federal, estadual ou municipal), com a
participação de entes públicos ou privados. Essas ações têm como objetivo assegurar determinados
direitos à população, de forma difusa ou focada especificamente em algum segmento social, cultural,
étnico ou econômico. Trata de direitos garantidos constitucionalmente ou publicamente reconhecidos
por sua necessidade.
Fonte: Políticas Públicas: conceitos e práticas. SEBRAE, 2008.
HOMOFOBIA
Homofobia é o termo utilizado para designar uma espécie de medo irracional diante da
homossexualidade ou da pessoa homossexual, colocando este em posição de inferioridade e utilizando-
se, muitas vezes, para isso, de violência física e/ou verbal. A palavra homofobia significa a repulsa ou
o preconceito contra a homossexualidade e/ou o homossexual. Esse termo teria sido utilizado pela
primeira vez nos Estados Unidos em meados dos anos 70 e, a partir dos anos 90, teria sido difundido
ao redor do mundo. A palavra fobia denomina uma espécie de “medo irracional”, e o fato de ter sido
empregada nesse sentido é motivo de discussão ainda entre alguns teóricos com relação ao emprego
do termo. Assim, entende-se que não se deve resumir o conceito a esse significado.
Podemos entender a homofobia, assim como as outras formas de preconceito, como uma atitude
de colocar a outra pessoa, no caso, o homossexual, na condição de inferioridade, de anormalidade,
baseada no domínio da lógica heteronormativa, ou seja, da heterossexualidade como padrão, norma. A
homofobia é a expressão do que podemos chamar de hierarquização das sexualidades. Todavia, deve-se
compreender a legitimidade da forma homossexual de expressão da sexualidade humana. No decorrer
da história, inúmeras denominações foram usadas para identificar a homossexualidade, refletindo o
caráter preconceituoso das sociedades que cunharam determinados termos, como: pecado mortal,
perversão sexual, aberração.
Outro componente da homofobia é a projeção. Para a psicologia, a projeção é um mecanismo de
defesa dos seres humanos, que coloca tudo aquilo que ameaça o ser humano como sendo algo externo
a ele. Assim, o mal é sempre algo que está fora do sujeito e ainda, diferente daqueles com os quais se
identifica. Por exemplo, por muitos anos, acreditou-se que a AIDS era uma doença que contaminava
exclusivamente homossexuais. Dessa forma, o “aidético” era aquele que tinha relações homossexuais.
Assim, as pessoas podiam se sentir protegidas, uma vez que o mal da AIDS não chegaria até elas
(heterossexuais). A questão da AIDS é pouco discutida, mantendo confusões, como essa, em vigor
e sustentando ideias infundadas. Algumas pesquisas apontam ainda para o medo que o homofóbico
tem de se sentir atraído por alguém do mesmo sexo. Nesse sentido, o desejo é projetado para fora e
rejeitado, a partir de ações homofóbicas.
Assim, podemos entender a complexidade do fenômeno da homofobia que compreende desde
as conhecidas “piadas” para ridicularizar até ações como violência e assassinato. A homofobia
implica ainda numa visão patológica da homossexualidade, submetida a olhares clínicos, terapias
e tentativas de “cura”. A questão não se resume aos indivíduos homossexuais, ou seja, a homofobia
compreende também questões da esfera pública, como a luta por direitos. Muitos comportamentos
homofóbicos surgem justamente do medo da equivalência de direitos entre homo e heterossexuais,
uma vez que isso significa, de certa maneira, o desaparecimento da hierarquia sexual estabelecida,
como discutimos.
166
Podemos entender então que a homofobia compreende duas dimensões fundamentais: de um lado
a questão afetiva, de uma rejeição ao homossexual; de outro, a dimensão cultural que destaca a questão
cognitiva, onde o objeto do preconceito é a homossexualidade como fenômeno, e não o homossexual
enquanto indivíduo.
Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade da união estável entre pessoas
do mesmo sexo no Brasil. A decisão retomou discussões acerca dos direitos da homossexualidade,
além de colocar a questão da homofobia em pauta. Apesar das conquistas no campo dos direitos, a
homossexualidade ainda enfrenta preconceitos. O reconhecimento legal da união homoafetiva não
foi capaz de acabar com a homofobia, nem protegeu inúmeros homossexuais de serem rechaçados,
muitas vezes de forma violenta.
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/psicologia/homofobia.htm
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ATIVIDADES
5 — Proposta de Redação
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos
ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal
da língua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade
brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de
seu ponto de vista. (25 linhas)
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TEXTO IV
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