Suicídio Digital
Suicídio Digital
Suicídio Digital
Tudo isso, e a percepção sobre tais coisas, tem encorajado um número cada
vez maior de pessoas a cometerem o chamado suicídio digital, ou seja, um
procedimento que possibilita desaparecer do mundo virtual. É possível apagar as
contas das redes sociais e também solicitar aos mecanismos de busca e pesquisa,
como o Google por exemplo, que os dados que possibilitam rastrear as trajetórias
no universo online do interessado sejam efetivamente deletados. Tentar retomar a
realidade e efetivamente viver, sem filtros. Decisão complicada quando nosso dia é
tomado pela participação efetiva em redes sociais, compartilhando sonhos, ideias e
perfis falsos, tentando acreditar que somos aquilo que gostamos de teclar.
Poucas pessoas relacionam-se com as redes sociais sem serem tragadas para um
universo digital paralelo. O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Baumann, em seu
livro A modernidade líquida , trata da ideia do sujeito líquido, ou seja, aquele em
que inúmeras identidades se manifestam em momentos diferentes. Esse conceito
se aplica perfeitamente à construção de uma identidade fragmentada que podemos
observar nas pessoas que são usuárias de várias redes sociais. É relativamente
simples viver uma fantasia de poder e empoderamento através da navegação
online.
Decidir então, por afastar-se desse universo torna-se muito difícil, principalmente
para a geração dos denominados nativos digitais , que possuem uma relação muito
mais imbricada ao uso das ferramentas tecnológicas. Libertar-se, portanto, de uma
vida regrada por uma dependência à participação em um mundo virtual significa
amadurecer a ideia de conviver de forma mais simples, mais humana.
Obviamente não significa distanciar-se da tecnologia ou algo neste sentido, mas
deixar de expor publicamente suas escolhas e sua vida como algo natural. Claro
que se a vida da pessoa se baseia 100% em articulações presentes no mundo
digital, é preciso verificar as consequências que um sumiço das redes pode
proporcionar.
Ter milhares de amigos nas redes sociais e ninguém para conversar pessoalmente,
em um barzinho, ou mesmo em casa. Coisa de gente velha? Coisa obsoleta já que
é possível trocar impressões via redes digitais? Pode ser...Ou não...
Marcos Rohfe