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Ética e Deontologia

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Ética e deontologia

Ano letivo 2007/2008 (2º Stre)


Curso de Solicitadoria

1
Definir a ética
Ética: do grego “ethiké” ou do latim “ethica” (ciência relativa aos
costumes), ética é o domínio da filosofia que tem por objectivo o
juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o comportamento
correcto e o incorrecto.

Deontologia: surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa


dever e “lógos” que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim,
a deontologia seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres,
princípios e normas adoptadas por um determinado grupo
profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial
adaptada ao exercício da uma profissão.

2
Da deontologia
 Deontologia (do grego δέον, dever + λόγος, tratado) é um
termo introduzido em 1834 por Jeremy Bentham para
referir-se ao ramo da ética cujo objecto de estudo são os
fundamentos do dever e as normas morais. É conhecida
também sob o nome de "Teoria do Dever". É um dos dois
ramos principais da Etica Normativa juntamente com a
axiologia.

 Pode-se falar, também, de uma deontologia aplicada:

 Ética descritiva

 Ética prescritiva.

 Por exemplo: a "Deontologia Profissional".

3
Deontologia Profissional
 códigos de deontologia:

 codificação da responsabilidade de associações ou ordens


profissionais.

 têm por base as grandes declarações universais (Direitos Humanos)

 procuram traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o,


no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo
profissional.

 propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos,


para os infractores do mesmo.

 Alguns não têm funções normativas e vinculativas, tendo apenas uma


função reguladora.
4
Moral e Direito
 Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em
regras que visam estabelecer uma certa
previsibilidade para as acções humanas.
 Porém são distintos:

 A Moral estabelece regras que são assumidas


pela pessoa, como uma forma de garantir o seu
bem estar.
 O Direito procura estabelecer a legalidade de
uma sociedade delimitada pelas fronteiras do
Estado.
5
Moral e Direito
 A Moral não depende das fronteiras geográficas e
garante uma identidade entre pessoas que não se
conhecem, mas utilizam este mesmo referencial moral
comum.

 O Direito, as leis tem uma base territorial, elas valem


apenas para a área geográfica onde uma determinada
população vive.

6
Conflito Moral e Direito
 O Direito é uma sub-categoria ou sub-conjunto
da Moral?

 Esta perspectiva leva a concluir que toda a lei é


moralmente aceitável.

A desobediência civil ocorre quando argumentos


morais impedem que uma pessoa acate uma
determinada lei.

7
O Objectivo da Ética
 A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau.
 Um dos objectivos da Ética é a procura de
explicações para as regras propostas pela Moral
e pelo Direito.
 A Ética é diferente da Moral e do Direito –
porque não estabelece regras.
 É esta reflexão sobre a acção humana que a
caracteriza.

8
Concepções de Moral
 A palavra Moral tem origem no latim - morus - significando os usos e
costumes.
 Moral é o conjunto das normas para o agir específico ou concreto. A Moral
está contida nos códigos, que tendem a regulamentar o agir das pessoas.

 Segunto Augusto Comte (1798-1857)[1], "a Moral consiste em fazer


prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas." Entende-
se por instintos simpáticos aqueles que aproximam o indivíduo dos outros.

  Moral: (substantivo)
 1. O mesmo que Ética.
 2. O objecto da Ética, a conduta enquanto dirigida ou disciplinada por
normas, o conjunto dos mores. Neste significado a palavra é usada nas
seguintes expressões: "a moral dos primitivos", "a moral contemporânea"
etc.[2]

[1] Roux A. La pensée d'Auguste Comte. Paris: Chiron, 1920:254


[2] Abbagnano N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970:652

9
Concepções de Moral (Cont.)
 Para Piaget, toda Moral é um sistema de regras
e a essência de toda a moralidade consiste no
respeito que o indivíduo sente por tais regras.[3]

“Eu sei o que é moral apenas quando me sinto


bem após fazê-lo e Imoral é quando me sinto
mal após faze-lo”.[4]

[3] Piaget J. El juicio moral en el niño. Madrid: Beltrán, 1935:9-11.


[4] Ernest Hemingway. Death in the afternoon. (1932)

10
Ética/Moral/ Direito

Direito Ética

Moral

11
Teorias Éticas Fundamentais

NA GRÉCIA ANTIGA:
DOIS REFERENTES FUNDAMENTAIS:
A Polis: “cidades-estado” - ideal de cidadãos e de sociedade
O Cosmos: teorias éticas baseadas nas concepções cósmicas.

 Sofistas. Defendem o relativismo de todos os valores. Alguns


sofistas, como Cálicles ou Trasimaco afirmam que o valor supremo
de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. O máximo prazer
pressupunha o domínio do poder político. 

 Sócrates (470-399 a.C). Defende o carácter eterno de certos


valores como o Bem, Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da
vida é atingir a perfeição e tudo deve ser feito em função deste
ideal, o qual só pode ser obtido através do saber.

12
Teorias éticas: GRÉCIA ANTIGA (CONT.)

 Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal


que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para que isto
acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições:

 1. Os homens deviam seguir apenas a razão desprezando os


instintos ou as paixões;

 2. A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado


aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas
pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos
instintos ou paixões.
 Para Platão o mundo sensível em que nos movemos é uma cópia, uma participação do
verdadeiro mundo: o mundo das ideias. Comportar-se bem é dar-se conta de que a
verdadeira realidade é a ideal – “sou muito amigo de Sócrates, mas sou mais amigo da
Verdade” Actuar eticamente é actuar segundo o logos melhor, com rectidão de
consciência. A inteligência quando bem utilizada leva ao Bem e com o Bem está o Belo e
o Justo.
13
Teorias éticas: GRÉCIA ANTIGA (CONT.)
 Aristóteles (384-322 a.C.). Defende o valor supremo da
felicidade. A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isto
aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza,
evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa
Medida). A virtude é um hábito que torna bom quem o pratica.
Refere, num dos seus textos, a virtude é o termo médio entre
dois extremos viciosos. Mas em si mesma a virtude é um cume,
é o que há de mais oposto à mediocridade.

 Ninguém consegue todavia ser feliz sozinho. Aristóteles, à


semelhança de Platão coloca a questão da necessidade de
reorganizar a sociedade de modo a proporcionar que cada um do
seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e
política acabam sempre por estar unidas.

 Segundo Aristóteles a ética é a ciência prática do bem. O Bem é o


que todos desejam, pois ninguém actua pretendendo o mal. Do
bem depende a auto-realização do homem, o seu prazer, a sua
felicidade. O bem próprio do homem é a inteligência e, portanto, o
homem tem de viver segundo a razão.
14
Teorias éticas (Cont.)
2. Mundo Helenístico e Romano

 Com o domínio da Grécia por Alexandre Magno, e os


Impérios que lhe seguiram, alteram-se os contextos em
que o homem vive. 
 As cidades-Estados são substituídas por vastos Impérios
constituídos por uma multiplicidade de povos e de
culturas. Os cidadãos sentem que vivem numa sociedade
na qual as questões políticas  são sentidas como algo
muito distante das suas preocupações.
 As teorias éticas são nitidamente individualistas,
limitando-se em geral a apresentar um conjunto de
recomendações (máximas ) sobre a forma mais agradável
de viver a vida. 
 A relação do homem com a cidade é substituída pela sua
relação privilegiada com o cosmos. Viver em harmonia
com ele é a suprema das sabedorias. 15
Teorias éticas:
 Epicuristas (Epicuro de Samos, Lucrécio ). O objectivo
da vida do sábio  é atingir máximo de prazer, mas para
que isso seja possível ele deve apartar-se do mundo.
Atingir a imperturbabilidade do espírito e a tranquilidade
do corpo.
 O que deve fazer o homem? O que gosta mais, sendo que o mais gosta é o
que lhe é agradável, o que lhe dá prazer. Mas para Epicuro o homem
compõe-se de corpo e alma - ainda que a alma seja também material, uma
matéria finíssima; os prazeres da alma- o gozo- são superiores aos do
corpo. A busca do prazer tem de estar regida pela prudência e esta há-de
encaminhar-se à tranquilidade interior. Para tal, mais do que desejar muito é
preferível diminuir os desejos. Não se trata de ter mais mas de desejar
menos. O essencial é a auto-suficiência, não se preocupar com nada,
suportar tudo com tranquilidade.
 Cínicos (Antistenes, Diógenes ). O objectivo da vida do
sábio é viver de acordo com a natureza. Afastando-se de
tudo aquilo provoca ilusões e sofrimentos: convenções
sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada
um deve viver de forma simples e despojada. 
16
Teorias éticas (Cont.)
 Estóicos (Zenão de Cítio, Séneca e Marco Aurélio). O homem é um
simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso destino.
O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o auto-domínio,
evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode
provocar sofrimento.  Para viver rectamente é preciso lutar contra as
paixões, contra as boas e as más, de modo que nada inquiete, nada
perturbe
 A ética estóica não é uma ética de conquista, mas de compreensão. É típico
o cosmopolitismo estóico, ou antes, a doutrina de que o homem é cidadão
não de um país, mas sim do mundo. É também característico o seu sentido
de igualdade de todos os homens e a sua forte dimensão temporal: “todas as
coisas nos são alheias, só o tempo é nosso” (Séneca)
 Cépticos (Pirro, Sexto Empírio).Defendem que nada sabemos, pelo
nada podemos afirmar com certeza. Face a este posição de princípio
a felicidade só pode ser obtida través do alheamento do que se
passa à nossa volta, cultivando o equilíbrio interior.
[1] O epicurismo é do século IV a. C. mas dura até hoje sob o nome de “hedonismo” ou “utilitarismo”. O
epicurismo histórico foi bastante associal e é este aspecto que o utilitarismo irá procurar corrigir.

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Teorias éticas (Cont.)
 3.Idade Média
 O longo período que se estende entre o século IV e o século XV, é
marcado pelo predomínio absoluto da moral cristã. Deus é
identificado com o Bem, Justiça e Verdade. É o modelo que todos os
homens deviam procurar seguir. Neste contexto dificilmente se
concebe a existência de teorias éticas autónomas da doutrina da
Igreja Cristã, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que
estar de concordo com os seus princípios.   
 Teorias Éticas Fundamentais 
 Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristão, com
elementos filosóficos da filosofia clássica. O objectivo da moral é
ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade suprema
consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através
pela graça de Deus podemos ser verdadeiramente felizes. 
 St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo
Agostinho, mas procura fundamentar a ética tendo em conta as
questões colocadas na antiguidade clássica por Aristóteles.

[1] O epicurismo é do século IV a. C. mas dura até hoje sob o nome de “hedonismo” ou “utilitarismo”. O
epicurismo histórico foi bastante associal e é este aspecto que o utilitarismo irá procurar corrigir.
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Teorias éticas (Cont.)
 4.Idade Moderna (Entre os séculos XVI e XVIII, a sociedade
Europeia é varrida por profundas mudanças que alteram
completamente as concepções anteriores)
 Renascimento. Em Itália a partir do século XIV desenvolve-se um
movimento filosófico e artístico que retoma explicitamente ideias da
Antiguidade Clássica. O homem ocupa nestas ideias o lugar central
(antropocentrismo).
 Descobertas Geográficas. A aventura iniciada em 1415 pelos
portugueses, teve um profundo impacto na sociedade europeia, com
novas concepções sobre a Terra e o Universo. Com Copérnico o
universo deixa de ser concebido como um mundo fechado para ser
encarado como espaço infinito.
 Divisões na Igreja. O século XVI é marcado por diversos
movimentos de ruptura no cristianismo, que provocam o
aparecimento de novas igrejas, cada uma reclamando para si a
interpretação mais correcta da palavra divina. O resultado global foi o
aumento da descrença e o desenvolvimento do ateísmo.
 Ciência Moderna. O grande critério do conhecimento deixa de ser a
tradição, a autoridade e passa a ser a experiência.  O
desenvolvimento do Individualismo e a afirmação da razão humana.
19
Teorias éticas (Cont.)

 Descartes (1596-1650). Este filósofo simboliza toda a fé


que a Idade Moderna depositava na razão humana. Só
ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto.
Em termos morais mostrou-se todavia muito cauteloso.
Limitou-se a recomendar uma moral provisória de
tendência estóica: O seu único princípio ético consistia em
seguir as normas e os costumes morais que visse a
maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos.

 John Locke (1632-1704). Este filósofo parte do princípio


que todos os homens nascem com os mesmos direitos
(Direito à Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade
foi constituída, através de um contrato social, que visava
garantir e reforçar estes mesmos direitos.

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Teorias éticas (Cont.)
 David Hume (1711-1778). Defende que as nossas acções são em
geral motivadas pelas paixões. Os dois princípios éticos
fundamentais são a utilidade e a simpatia. Hume é um moralista
descritivo, fixando-se na origem das ideias morais para determinar
em que medida os sentimentos básicos de que derivam são
susceptíveis de explicar a vida colectiva que é, na essência, o
mundo moral. Seguindo o espírito científico Hume considera que a
moralidade se deve apoiar em questões de facto não podendo ser
gratuitamente especulativa, sendo a justiça a virtude suprema. A
justiça é o vínculo da vida social: as regras de justiça têm por objecto
o bem ou interesse comum, a utilidade de todos, mas politicamente o
vínculo é a sua utilidade.

 Ilustração. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), concebe o


homem como um ser bom por natureza (mito do "bom selvagem) e
atribui a causa de todos os males à sociedade e à moral que o
corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e
despreza as convenções sociais. A natureza é entendida como algo
harmonioso e racional.

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Teorias éticas (Cont.)
 5. Idade Contemporânea (Nos finais do Século XVIII)
 Revoluções. A Revolução Francesa (1789) marcou uma ruptura
deliberada e radical com o passado.
 Guerras Mundiais. A grande novidade na Idade Contemporânea
assentou num aspecto essencial: a crescente eficiência da barbárie
praticada por poderosas máquinas de guerra passaram a operar
numa escala cada vez mais global.
 Progresso científico e tecnológico. A ciência substituiu o lugar que
antes era ocupado pela religião na condução dos homens:
  a) A ciência e a tecnologia mudaram o mundo possibilitando uma
melhoria muito significativa da vida de uma parte significativa da
humanidade. Mas as desigualdades a nível mundial não diminuíram antes
se acentuaram. Uns não sabem o que fazer a tanto desperdício, outros
lutam diariamente por obter restos que lhes permitam sobreviver. 
 b) Não parecem existir limites para o desenvolvimento da ciência e da
técnica. Aquilo que era antes impensável tornou-se hoje banal:
manipulações genéticas, clonagem de seres, inseminação artificial, morte
assistida, etc.
 c) O progresso humano fez-se mais lentamente que o progresso científico
e tecnológico, ou dito de outro modo, o progresso moral não acompanhou
o científico.  
22
Teorias éticas (Cont.)

 Kant (1724-1804). Partindo de uma concepção universalista do


homem, afirma que este só age moralmente quando, pela sua livre
vontade, determina as suas acções com a intenção de respeitar os
princípios que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é
o puro dever de cumprir aquilo que racionalmente estabeleceu sem
considerar as suas consequências.
 A moral assume assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não
nos diz o que devemos fazer (conteúdo da acção), mas apenas o
princípio (forma) que devemos seguir para que a acção seja
considerada boa. 
 Imperativos da moral kanteana: 

 "Age de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa


como na de qualquer outro, sempre e simultaneamente como um fim
em si mesmo e nunca simplesmente como um meio".

 "Age apenas seguindo as máximas que possas ao mesmo tempo


querer como leis universais".   23
Teorias éticas (Cont.)

 Os princípios da moral kantiana são imperativos categóricos


(incondicionados). Diz-Se:

 imperativo porque a lei moral não aconselha, mas obriga e

 categórico porque não é um juízo hipotético mas absoluto.

A ética de Kant não dita conteúdos mas normas formais:


(“actua de tal modo que possas querer que essa actuação se
converta em lei universal .por exemplo não é ético roubar ou matar
porque o homem não pode querer que essa actuação -roubar ou
matar – se converta em lei universal”).

24
Teorias éticas (Cont.)

 O imperativo categórico supõe uma vontade autónoma e livre. Se o


homem não se sentisse livre não poderia sentir-se obrigado a
obedecer e portanto a lei moral seria absurda.
 Para Kant só o homem que busca o dever pelo dever poderá
esperar atingir o bem supremo.
 O Imperativo Categórico é uma das ideias centrais para a
adequada compreensão da moralidade e da eticidade.
 Nesta proposta Kant sintetizou o seu pensamento sobre as
questões da moralidade.
 Kant valorizava esta ideia de lei moral. Ele cunhou uma das mais
célebres frases a este respeito:
“Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu
estrelado acima de mim e a lei moral que está em mim. (Crítica da
Razão Pura)”

25
Teorias éticas (Cont.)
 São apresentados, a seguir, diferentes textos que contém as várias formas apresentadas para
o imperativo categórico e alguns comentários sobre os mesmos[1].
 

 Imperativo Categórico:
 Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao
mesmo tempo que se torne lei universal.
 Imperativo Universal:
 age como se a máxima de tua acção devesse tornar-se, por tua
vontade, lei universal da natureza.

 Imperativo Prático:
 age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua
pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim
ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio.
[1] Kant E. Fundamentos da metafísica dos costumes. Rio de Janeiro: Ediouro, sd:70-1,79.

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Teorias éticas (Cont.)
 Kant criou o termo “Imperativo”, no seu livro “Fundamentação da
Metafísica dos Costumes”, escrito em 1785. Esta palavra pode ser
entendida, segundo alguns autores como uma analogia ao termo
bíblico “Mandamento”.

 "a representação de um princípio objectivo enquanto constrange a


vontade, denomina-se uma ordem da razão; e a fórmula do mando
denomina-se Imperativo"(II)[2]

 Na dialéctica da liberdade o homem precisa de sintetizar o necessário e


o possível, e tanto o necessário quanto o possível variam através da
história. Mas a sintetização sendo responsabilidade do próprio indivíduo
existente, não tem parâmetros fornecidos definitivamente. E a ética da
liberdade (responsável) tem o mérito de exigir constantemente o respeito
a cada ser humano. Quantas vezes, mesmo os que defendem a vida ou a
vida humana não o fazem de maneira tão dogmática e intransigente que
acabam por tratar os outros homens como apenas coisas

[2] Abbagnano N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970:519.

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Teorias éticas (Cont.)
 Adam Smith (1723-1790). Há quem refira que para Smith a simpatia é a
condição necessária e suficiente para fundamentar a moral.

 O juízo moral explicar-se-ia pela simpatia, porque julgar é aprovar ou


desaprovar e isto não é mais do que a presença ou ausência da simpatia.
 Ora isto não é inteiramente verdade pois ao aderirmos ou aprovarmos uma
conduta é algo que resulta do nosso interior, de cada um de nós, sendo esse
juízo fruto da nossa experiência.
 A diferença em relação a Hume é que para Smith quando aprovamos a
conduta de um homem fazemo-lo porque é apropriada e não só porque é útil,
enquanto para o primeiro toda a acção tem um fim prático.
 Para Smith o homem não actua com a finalidade de obter uma utilidade,
embora reconheça que as acções virtuosas são úteis e as viciosas o não
são.
 Esta postura parece um reflexo de uma frase de Locke : “a rectidão de uma
acção não depende da utilidade, antes a utilidade é uma consequência da
rectidão”.

28
Teorias éticas (Cont.)
 Para Smith são as regras de conduta que tornam possível a vida em
sociedade e a cooperação.
 O homem necessita de se integrar num grupo para a sua
sobrevivência e para o seu desenvolvimento. Por isso a natureza
dotou a raça humana de aptidões e qualidades que a levam à vida
em sociedade e, inclusive, a movem a procurar o respeito e a
aprovação dos outros.
 Adam Smith coloca ao lado da simpatia e das paixões as virtudes e
por isso o espectador honrado e imparcial de Smith não se contenta
em garantir simplesmente que a humanidade se alimente, deseja,
também que mostre sentimentos generosos, nobres e que desfrute
de mentes activas, curiosas e inovadoras.
 Smith deseja que o homem atinja um equilíbrio entre os diversos
aspectos da vida, pois a insensatez levaria a um desiquilíbrio. A
doentia admiração da riqueza é, em última instância, a grande e
universal causa da corrupção dos nossos sentimentos morais. O
homem não vive só de pão e –tão-pouco só de benevolência. Para
alcançar o equilíbrio é necessário perseguir simultaneamente as três
virtudes de “ prudência, justiça rigorosa e correcta benevolência”.

29
Teorias éticas (Cont.)

 Habermas (1929). Após a 2ª.Guerra Mundial, Habermas surge a


defender uma ética baseada no diálogo entre indivíduos em situação
de equidade e igualdade. A validade das normas morais depende de
acordos livremente discutidos e aceites entre todos os implicados na
acção.  

 
 Utilitarismo. Jeremy Bentham(1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873)
desenvolverão uma ética baseada no princípio da utilidade. As
acções morais são avaliadas em função das consequências morais
que originam para quem as pratica, mas também para quem recai os
resultados. Princípio que deve nortear a acção moral: "A máxima
felicidade possível para o maior número possível de pessoas". O
Bom é aquilo que for útil para o maior número de pessoas,
melhorando o bem-estar de todos, e o Mal é o seu contrário. Esta
concepção deu origem no século XX às éticas pragmatistas ou
utilitaristas.
30
Teorias éticas (Cont.)
 Sartre. A moral é uma criação do próprio homem que se faz a si
próprio através das suas escolhas em cada situação. O relativismo é
total. Mas este facto não o desculpa de nada. A sua responsabilidade
é total dado que ele é livre de agir como bem entender. A escolha é
sempre sua.

 Hans Jonas (1903-1993). Perante a barbárie quotidiana e a ameaça


da destruição do planeta, Hans Jonas, defende uma moral baseada
na responsabilidade que todos temos em preservar e transmitir às
gerações futuras uma terra onde a vida possa ser vivida com
autenticidade. Daí o seu princípio fundamental: "Age de tal modo que
os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência da
uma vida humana autêntica na terra".

31
Teorias éticas (Cont.)
 Crítica.Ao longo de todo o século XIX e XX sucederam-se as
teorias que denunciaram o carácter repressivo da moral, estando
muitas vezes ao serviço das classes dominantes (Karl Marx, 1818-
1883) ou dos fracos (Nietzsche,1844-1900).Outros demonstram a
falta de sentido dos conceitos éticos, como "Dever", "Bom" e outros
(Alfred J.Ayer), postulando o seu abandono por se revelarem pouco
científicos. Sigmund Freud (1856-1939) demonstrou o carácter
inconsciente de muitas das motivações morais. Um das correntes
que maior expressão teve no século XX, foi a que procurou
demonstrar as raízes biológicas da moral, comparando o
comportamento dos homens e de outros animais. Aquilo que
denominamos por "ética" é apresentado como uma forma camuflada
ou racionalizada de instintos básicos da nossa natureza animal
idênticos a outros animais.

 Novas Problemáticas . As profundas transformações sociais,


culturais e científicas das nossas sociedades colocaram novos
problemas éticos, nomeadamente em domínios como a tecnociência
(clonagem, manipulação genética, eutanásia,etc), ecologia,
comunicação de massas, etc.
32
Ética Profissional
 Conceito: O que é Ética Profissional?
 Esta reflexão sobre as acções realizadas no exercício de uma
profissão deve iniciar muito antes da prática profissional.
 A fase da escolha da profissão, ainda durante a adolescência
muitas vezes, já deve ser permeada por esta reflexão.
 Geralmente, quando se é jovem, escolhe-se a carreira sem
conhecer o conjunto de deveres que está prestes ao assumir
tornando-se parte daquela categoria que escolheu.
 Toda a fase de formação profissional, a aprendizagem das
competências e habilitações referentes à prática específica numa
determinada área, deve incluir a reflexão, desde antes do início dos
estágios práticos.
 Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um
juramento, que significa a sua adesão e comprometimento com a
categoria profissional onde formalmente ingressa.
 Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional,
esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como
sendo as mais adequadas para o seu exercício.

33
Ética Profissional
 É fundamental ter sempre em mente que há uma série de
atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as
profissões, mas que são comuns a todas as actividades
que uma pessoa pode exercer.
 Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em
equipa, mesmo quando a actividade é exercida
solitariamente numa sala, faz parte de um conjunto maior
de actividades que dependem do bom desempenho.
 Uma postura pró-activa, ou seja, não ficar restrito apenas
às tarefas que lhe foram dadas, mas contribuir para o
engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja
temporário.
 E isto é parte do que se chama boa empregabilidade: a
capacidade que você pode ter de ser um profissional que
qualquer patrão desejaria ter entre os seus empregados,
um colaborador. Isto é: ser um profissional eticamente
bom.
34
Ética Profissional e relações sociais
 As leis de cada profissão são elaboradas com o objectivo de proteger os profissionais,
a categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele profissional, mas há
muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do compromisso do
profissional em ser eticamente correcto, aquele que, independente de receber elogios,
faz A COISA CERTA, O QUE DEVE FAZER.

 Ética Profissional e actividade voluntária 


 Outro conceito interessante de examinar é o de Profissional
 Profissional é aquele que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou
actividade que exerce, em oposição a amador.
 Nesta definição, pode-se dizer que aquele que exerce actividade voluntária não seria
profissional, e esta é uma definição muito polémica.
 Na realidade, Voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a prática
Profissional não remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestação de serviços em
beneficência, por um período determinado ou não.
 Aqui, é fundamental observar que só é eticamente adequado, o profissional que age,
na actividade voluntária, com todo o compromisso que teria no mesmo exercício
profissional se este fosse remunerado. Seja esta actividade voluntária na mesma
profissão da actividade remunerada ou em outra área.
Por exemplo: Um engenheiro que faz a actividade voluntária de dar aulas de
matemática. Ele deve agir, ao dar estas aulas, como se esta fosse a sua
actividade mais importante. É isto que aquelas crianças cheias de dúvidas
em matemática esperam dele!
 Se a actividade é voluntária, foi sua opção realizá-la. Então, é eticamente adequado
que você a realize da mesma forma como faz tudo que é importante em sua vida. 35
Ética Profissional: Pontos para reflexão[1]:

  É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não


apenas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área
profissional, mas também nos aspectos legais e normativos.
 Vá e procure o conhecimento.
 Muitos processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais
acontecem por desconhecimento, por negligência.
 Competência técnica, formação constante, respeito pelas pessoas,
confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade,
envolvimento, afectividade, correcção de conduta, boas maneiras,
relações genuínas com as pessoas, responsabilidade, corresponder
à confiança que é depositada em nós...

 Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são


indissociáveis!

[1] Glock, RS, Goldim JR. Ética profissional é compromisso social. Mundo Jovem (PUCRS, Porto Alegre)

36
DIREITOS HUMANOS
 Quais as limitações das concepções objectivas e subjectivas dos valores?
 Qual a necessidade de valores universais?
 Baseados em que valores condenamos as guerras, os genocídios,as
manipulações genéticas; os atentados ambientais; as perseguições de
minorias étnicas ou religiosas?
 "De tudo quanto se disse antes (sobre os valores) podemos sintetizar numa
definição.
 1) Não existem valores em si, como entes ideais ou reais, mas objectos reais
(ou bens) que possuem valor.
 2) Uma vez que os valores não constituem um mundo de objectos que exista
independentemente do mundo dos objectos reais, só se dão na realidade -
natural e humana- como propriedades valiosas desta realidade. 
 3) Os valores requerem, por conseguinte - como condição necessária-, a
existência de certas propriedades reais - naturais ou físicas - que constituem
o suporte necessário das propriedades que consideramos valiosas.
 4) As propriedades reais sustentam o valor, e sem as quais não se daria este,
só são valiosas potencialmente. Para se actualizarem e se converterem em
propriedades valiosas efectivas, é indispensável que o objecto se encontre
em relação com o homem social, com os seus interesses ou necessidades.
Deste modo, o que só vale potencialmente adquire um valor efectivo.
A. Sánchez Vásquez, Ética 

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VALORES E CONSENSOS MUNDIAIS (Síntese)
 1. A oposição "valores objectivos"/ "valores subjectivos" ao dicotomizar a
questão dos valores, tende a secundarizar o papel desempenhado por
movimentos sociais, políticos e filosóficos ao longo da história na sua
selecção e consagração num contexto mundial. 
 2. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela ONU,
em 1948, consagrou no plano mundial um conjunto de valores que
reputados de essenciais, não apenas para servirem de ideal à acção
humana, mas também para definirem o enquadramento legal dentro do
qual os Estados podem legislar, julgar e actuar. 
 3.Estes valores são assumidos como universais. Neste sentido, apesar da
diversidade das culturas e das sociedades, esta diversidade não pode ir
contra estes valores. A Declaração serve não apenas para julgar os actos
humanos (plano ético), mas também para avaliar e julgar a acção do
diferentes Estados em relação aos seus cidadãos, configurando também
um modelo de uma sociedade global livre e democrática. 
 4.Entre os valores da Declaração destacamos os seguintes:
 - A Pessoa como um valor em si
 - A Dignidade Humana
 - A Liberdade
 - A Igualdade
 - A Fraternidade

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