Globo em Bola
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Resumo
Este artigo resulta da análise de implementação de estratégia didática lúdica para motivar
estudantes da Educação Básica a se interessarem pelas aulas de geografia e a aprenderem
com elas. A pesquisa foi realizada com três turmas de oitavos anos do Ensino Fundamental de
uma escola pública localizada no Distrito Federal, na periferia de Brasília. A estratégia
didática, que consistia em transformar uma bola de brinquedo em uma representação do globo
terrestre, foi realizada ao longo de um bimestre durante as aulas de Geografia. As etapas da
atividade consistiram em: cada grupo de estudantes inserir, na bola, o sistema de coordenadas
geográficas; a partir desse referencial, proceder à inserção dos continentes; por fim,
apresentar o trabalho à turma, a partir de questões feitas pela professora. As falas realizadas
na ocasião da apresentação e um questionário aplicado aos estudantes forneceram
informações empíricas que foram aqui analisadas qualitativamente, na perspectiva do
pensamento espacial e do raciocínio geográfico. Os resultados demonstraram que estratégias
didáticas pautadas pela ludicidade favoreceram a apropriação de conceitos geográficos e de
alguns princípios lógicos da Geografia, como o de localização, o desenvolvimento de relações
espaciais projetivas e euclidianas, configurando-se uma oportunidade de motivar estudantes a
se apropriarem dos conhecimentos geográficos para que sejam capazes de ler, entender e
analisar o espaço, construindo uma representação de mundo condizente com a realidade.
Introdução
A Geografia Escolar, enquanto campo de estudo da ciência geográfica, vem ganhando
visibilidade graças ao aumento das pesquisas sobre ensino e aprendizagem. Tais pesquisas
1
Este trabalho é parte da pesquisa que vem sendo realizada no âmbito do doutorado.
2
Doutoranda em Geografia da Universidade de Brasília-UnB e professora da Secretaria de Estado de Educação
do Distrito Federal-SEEDF.
3
Professora da Faculdade de Educação-FE da Universidade de Brasília-UnB.
indicam que, se por um lado, há esforços por parte dos professores em praticar um ensino eficaz,
por outro, as aulas de geografia na educação básica não têm atraído o interesse dos jovens em
razão de metodologias tradicionais que insistem em reproduzir uma educação bancária, que
pressupõe que ensinar é transferir conhecimento (FREIRE, 2004). O desinteresse dos
estudantes acarreta desmotivação dos docentes, o que leva a um ciclo vicioso que compromete
a boa convivência no ambiente escolar e as aprendizagens.
Assim, os princípios devem nortear as ações do professor que, por sua vez, deve
promover situações de aprendizagem que instiguem os estudantes a questionar os porquês de
as coisas estarem onde estão e a observarem intencionalidades na organização espacial. A
ênfase na localização aparece também nos estudos de Gersmehl (2008), para quem o
pensamento espacial se desenvolve a partir de estímulos que acionam funções cerebrais
específicas. O pensamento espacial, assim, é uma ferramenta que permite leitura de mapas,
gráficos e resolução de problemas que envolvam informações geográficas.
Para iniciar o segundo passo, que consistia em traçar os demais paralelos, foram
consultados globos e atlas físicos e/ou no formato digital. Aqui, fez-se necessário uma aula
expositiva sobre o fato de a distância dos trópicos e círculos polares em relação ao Equador ser
representada em graus. O estudante precisa compreender, nessa etapa, que os graus que
demarcam a distância, a partir da linha do Equador até o polo norte ou até o polo sul, resultam
dos ângulos formados pelo encontro da linha do Equador com o eixo da Terra. Uma parceria
com professores de Matemática, para que destinem algumas aulas à abordagem de tais
conteúdos, contribui para a compreensão desses conceitos. Compreendida a relação entre
No geral, o globo terrestre não permite essa mesma apropriação, uma vez que ele já está
pronto, ao passo em que confeccionar um globo torna o sujeito ativo na construção desses
conhecimentos.
Os questionários foram aplicados para as três turmas, em sala de aula, após a finalização
das apresentações. Do total de seis perguntas abertas, selecionamos uma que expressa o foco
de discussão deste trabalho, a saber: “Caso esse trabalho tivesse sido realizado em uma folha
de papel, o que mudaria?” 25% dos estudantes respondeu que desenhar em uma folha de papel
teria sido mais fácil, porque bastaria colocar a folha em cima de um mapa e contornar, o que
sugere não terem compreendido as relações que diferenciam o decalque de um mapa e o
processo de construí-lo em uma superfície esférica a partir de um sistema de coordenadas. No
entanto, 50% responderam que, independente de ser mais fácil ou mais difícil, não conseguiriam
Considerações finais
Referências bibliográficas