Retratos Da Literatura Baiana Contemporânea - Livro
Retratos Da Literatura Baiana Contemporânea - Livro
Retratos Da Literatura Baiana Contemporânea - Livro
baiana contemporânea
(2000-2014)
Fica o convite!
Retratos da literatura
baiana contemporânea
(2000-2014)
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Reitor
João Carlos Salles Pires da Silva
Vice-reitor
Paulo Cesar Miguez de Oliveira
Diretora
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Conselho Editorial
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Niño El-Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Maria do Carmo Soares de Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo
Retratos da literatura
baiana contemporânea
(2000-2014)
Salvador
EDUFBA
2022
2022, autoras.
Direitos para esta edição cedidos à Edufba. Feito o Depósito Legal.
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
CDU: 869(813.8)
Editora da UFBA
Rua Barão de Jeremoabo
s/n – Campus de Ondina
40170-115 – Salvador – Bahia
Tel.: +55 71 3283-6164
www.edufba.ufba.br
edufba@ufba.br
Dedicamos este livro aos estudantes pesquisadores que colaboraram
com o desenvolvimento do Projeto de Pesquisa Deslocamentos, às
escritoras, escritores, editoras e editores baianos que tiveram seus
livros lidos por nós do grupo Contemporâneos, e aos nossos familia-
res, dos quais nos distanciamos em muitos momentos para realizar
este projeto.
Agradecemos à FAPESB pelo apoio financeiro através do Edital
08/2015, à UNEB pela estrutura e algum suporte técnico e à professo-
ra Regina Dalcastagnè pela parceria no desenvolvimento da pesquisa.
SUMÁRIO
Primeiras palavras11
Referências115
Primeiras palavras
Primeiras palavras 13
na Bahia entre estudantes dos cursos de Letras, professores da rede básica
e demais interessados no assunto.
Além de propiciar diálogos frequentes com grupos de pesquisa cujo fun-
cionamento acontece no âmbito da UNEB, com destaque para o Grupo de
Estudos Literatura e Periferias (GELPS) e o Grupo de Pesquisa em Literatura
e Diversidade Cultural: imaginário, linguagens, imagens, o Contemporâneos
pôde traçar parceria com o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira
Contemporânea (GELBC), da UnB, na pessoa de sua Coordenadora, a Profª
Drª Regina Dalcastagnè, que se predispôs a auxiliar o Contemporâneos na
execução do Projeto (Des)locamentos: retratos da literatura baiana contem-
porânea. De fundamental importância para o desenvolvimento das ações
do Contemporâneos, destaca-se o apoio de cada Departamento envolvido,
bem como a parceria com o Programa de Pós-Graduação em Estudo de
Linguagens (PPGEL – UNEB). A multicampia que caracteriza a Universidade
do Estado da Bahia foi pilar fundamental da prática do Contemporâneos,
o que possibilitou ampliar o debate entre diversos campi da mesma univer-
sidade, assegurando a efetivação de trocas fundamentais para a pesquisa,
o ensino e a extensão. Os desafios enfrentados em decorrência da distância
entre os departamentos funcionaram como molas propulsoras na busca
de soluções capazes de assegurar a unidade das ações no planejamento,
desenvolvimento, avaliação e divulgação dos estudos e pesquisas.
A pesquisa trouxe-nos grandes desafios desde o pensar a questão nor-
teadora até viabilizar um trabalho onde a multicampia se fez na prática,
pelo processo de interação interdepartamental entre docentes e discentes.
Quando da conclusão de todo o percurso feito, ver a pesquisa se materia-
lizar neste livro, escrito a partir de tantas leituras e buscas por respostas,
faz valer a pena olhar para trás e perceber como fomos resilientes com os
obstáculos que precisaram ser transpostos e que nos fizeram quedar por
momentos. Os encontros, as reuniões, os fóruns, cada resultado conquis-
tado criou motivação para os passos que foram se seguindo, funcionando
como um tônico que restabelecia a dinâmica de uma pesquisa de interesse
para pesquisadores de literatura e, especificamente, da literatura baiana.
Assim, damos ao público páginas que analisam o romance baiano, ao
passo que noticiam sobre um mercado editorial que se constitui a partir da
Bahia, com inúmeras dificuldades que se fazem menores quando conside-
rado o ato revolucionário de fazer livros, de caminhar junto com autoras
Primeiras palavras 15
de estabelecer um pensamento segregador, tendem a centralizar a literatura
brasileira num eixo centro-sul, como se a literatura lá produzida fosse o bas-
tante para fotografar as diversidades culturais e/ou nacionais dos tantos
brasis, inclusive da Bahia.
O segundo capítulo, Detalhando os métodos, historicizando os trajetos, traz
os caminhos metodológicos da pesquisa. Descreve os tipos de teoria, abor-
dagem, estudo, análise e leitura dos documentos que nortearam a investi-
gação, assim como os objetivos e os meios que nos levaram das obras aos
autores e personagens. Detalha como mapeamos e selecionamos as edi-
toras, localizamos seus catálogos, realizamos a compra dos romances publi-
cados no período delimitado e, também, como organizamos a pesquisa em
suas várias etapas.
A primeira seção do segundo capítulo, Interfaces de um território contes-
tado:1 referência às fontes, dá notícias sobre a ponte que deu caminho para
este trabalho, quer seja a pesquisa coordenada pela Professora Dra. Regina
Dalcastagnè (UnB), bem como o interesse em desenvolvê-la no contexto
da Bahia, no intuito de verificar se os resultados seriam ou não diferentes.
A segunda seção, Das editoras aos romances: trilhas percorridas e algumas
reflexões, aborda como realizamos o mapeamento do romance contem-
porâneo na Bahia num universo praticamente desconhecido. Apresenta
o percurso para encontrar as editoras e suas publicações através de órgãos
e instituições que teriam o registro da produção livresca/editorial no Brasil
e na Bahia. Traz informações sobre o mercado editorial, com gráficos sobre
as editoras mapeadas, localização, ano de fundação e gêneros publicados,
evidenciando um panorama das editoras baianas em funcionamento entre
os anos 2000 e 2014 e, ao final, como se chegou às editoras que vieram
a integrar o corpus da pesquisa.
Em Percepção analítica sobre os dados, terceiro capítulo, encontra-se
o detalhamento e análise dos resultados da pesquisa, estando o mesmo
composto por três seções: Autoria, Editoras e Personagens. Na seção Autoria,
encontram-se organizados dados e tabelas que espelham as informações
que foram extraídas da leitura dos livros – organizadas em fichas, posterior-
mente lançadas no software de análise estatística, acerca de cada autora/
1. A expressão "um território contestado" faz referência ao título do livro publicado pela
Professora Regina Dalcastagnè sobre a pesquisa acerca das personagens do romance brasileiro
contemporâneo (2012).
Primeiras palavras 17
Provocações sobre
a literatura baiana2
2 Parte das discussões empreendidas neste capítulo estão em artigos publicados por
Lílian Almeida de Oliveira Lima (2020) e na tese de doutoramento de Milena Guimarães
Andrade Tanure.
produzido em solo baiano: uma literatura “com marcas de pluralidade que
fazem toda a diferença em meio aos contextos atuais de criação e publi-
cação de obras literárias”. (SILVA, 2016, p. 12) Essa análise, não se exaurindo
em si, busca, portanto, problematizar uma questão que perpassa o pro-
cesso de produção e circulação das obras no intuito de dialogar sobre o que
a categoria “literatura baiana” tem representado no campo cultural.
Para começarmos a percorrer os meandros por onde essa literatura se
constitui, é importante irmos pelos caminhos através dos quais a literatura
brasileira é consolidada como tal, de maneira a assumir representatividade
na identidade cultural (literária) do país para os seus leitores brasileiros
e também para os estrangeiros. Conforme a pesquisa de Regina Dalcastagnè
(2012), a literatura que representa o Brasil é proveniente do Sudeste brasi-
leiro e tem face masculina e branca. A partir da percepção de que a litera-
tura que representa o país, definida como literatura brasileira, é proveniente
majoritariamente do Sudeste, seria ingenuidade pensar que inexiste pro-
dução literária nas outras regiões do Brasil ou que a dita qualidade literária
compromete a presença de nomes oriundos delas. A pergunta que nasce
diante desse cenário é: Por que a literatura que se faz e que é publicada em
outras partes do país não figura no rótulo “literatura brasileira”? O que acon-
tece com essa literatura, uma vez que ela não aparece naquilo que é apre-
sentado como “literatura brasileira”?
Tais inquietações convocam a pensar na dinâmica de centro e margens
que visibiliza ou invisibiliza, dependendo de onde se esteja, e como os
fatores geopolítico e econômico interferem na constituição desses espaços
de poder. Ao pensarmos nos processos de legitimação literária, sabemos
que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro ocupam uma posição no
cenário literário nacional que implica em uma série de relações de poder
que abarcam não só a literatura, mas a cultura em geral. Como assinala Lima
(2017), se a cidade de Brasília é a capital político-administrativa do Brasil,
não assumindo maior importância na cena cultural, as cidades de São Paulo
e Rio de Janeiro constituem o polo difusor de padrões e modelos cultu-
rais. A capital paulista é o centro financeiro do país, responsável pelo maior
produto interno bruto brasileiro (IBGE, 2019), seguida de perto pelo Rio de
Janeiro, que foi capital do Brasil por 197 anos e que manteve, após o des-
locamento da sede administrativa do país para Brasília, a concentração das
instituições culturais ali existentes. Ambas detêm forte poder econômico,
3 As ideias apresentadas aqui fazem parte de discussão mais aprofundada presente no livro
Tear de fios, tecer de mulheres: o tecido narrativo de Helena Parente Cunha, de Lílian Almeida
de Oliveira Lima (Eduneb, 2017).
5 Desde a década de 1980 já se percebia a falta de uma política de Estado voltada para a eco-
nomia do livro (livro, editora, leitura). Essa realidade só começará a ser pensada a partir do
Plano Estadual do Livro, em 2007.
8 Foram duas as fichas preenchidas: uma para Autor e Obra, outra para Personagem.
Entretanto, nem todas as personagens estavam descritas nos romances com informações sufi-
cientes para o preenchimento, o que levou o grupo a realizar uma separação entre: persona-
gens importantes para a trama e personagens apenas mencionadas. Consideramos personagens
importantes aquelas que têm identificação por nome ou característica, que têm descrição psico-
lógica e/ou física, com atuação e circulação efetiva dentro da trama.
9 A leitura dos romances foi seguida do preenchimento das fichas de autores e personagens
por três pesquisadores, professores da equipe executora e alunos das graduações em Letras dos
campi envolvidos na pesquisa, a saber: Conceição de Coité, Itaberaba e Santo Antônio de Jesus.
A orientação foi que cada dupla lesse o romance pelo qual era responsável e respondesse sepa-
radamente o questionário sobre perfil do autor e dos personagens. Posteriormente, a dupla
se reunia e avaliava as respostas apontando convergências e divergências e discutindo incon-
gruências na intenção de preencher uma ficha com o consenso de ambos os pesquisadores.
Por fim, após a dupla de leitores terem preenchido uma ficha única, havia um encontro com a
professora do campus responsável pelos encaminhamentos da pesquisa para análise das fichas
e resolução das incongruências.
10 O mapeamento das editoras foi realizado com a intenção de incluir todas que estivessem
em funcionamento no recorte temporal da pesquisa; entretanto, por falta de uma fonte que
fornecesse resultados mais precisos não pode ser descartada a possibilidade de alguma editora
ter ficado de fora do levantamento.
Nº % cit.
Editora 29 87,9%
Selo editorial 4 12,1%
Total 33 100,0%
Tabela 2 - Cidade
Nº % cit.
Não resposta 3 9,1%
Salvador 19 57,6%
Vitória da Conquista 2 6,1%
Itabuna 2 6,1%
Arembepe/Camaçari 1 3,0%
Feira de Santana 1 3,0%
Ilhéus 1 3,0%
Cachoeira 1 3,0%
Lauro de Freitas 1 3,0%
Anajé 1 3,0%
12 As tabelas e figuras apresentados neste livro foram elaboradas pelas autoras com dados
obtidos da pesquisa.
Nº % cit.
Não resposta 4 4,3%
Poesia 21 22,3%
Romance 18 19,1%
Conto 17 18,1%
Crônica 12 12,8%
Sobre o ano de fundação, indicamos que 9,1% das editoras não regis-
tram em seus sites e/ou materiais impressos o ano em que foram fundadas.
A mais antiga a figurar nesse levantamento foi fundada no final dos anos
1970. Entre 1979 e 1991 há um hiato, não há registro de novas editoras.
A partir dos anos 1990 nota-se o surgimento de novos empreendimentos
(27,3%), que é acentuado a partir dos anos 2000 (42,4% de novas editoras
entre 2000 e 2010). Observa-se, na tabela 4, que do final dos anos 1990 até
os anos 2010, foram fundadas mais da metade das editoras identificadas na
pesquisa, o que corrobora com a ideia de que, apesar de certa prevalência
do capital estrangeiro no mercado editorial como um todo, vem havendo
um crescente aparecimento de espaços editoriais locais, desde o final do
século XX.
Nº % cit.
Não resposta 3 9,1%
2010 4 12,1%
1991 3 9,1%
1998 3 9,1%
2014 2 6,1%
2012 2 6,1%
2002 2 6,1%
2004 2 6,1%
2005 2 6,1%
1979 1 3,0%
2007 1 3,0%
2008 1 3,0%
2009 1 3,0%
1999 1 3,0%
2011 1 3,0%
2006 1 3,0%
2013 1 3,0%
Total 33 100,0%
Para Iara Augusta da Silva (2014), vê-se que em nível mundial as mudanças
desse mercado são intensas e acirradas, pois no setor da indústria gráfica
ocorrem as fusões de redes de editoras e livrarias internacionais que mono-
polizam o mercado cuja forte presença é do capital estrangeiro. Assim,
empresas locais e de menor porte apresentam sérias dificuldades de sobre-
viver neste cenário, por um lado; mas, por outro, compreendem que devem
investir nas brechas e ranhuras deixadas por um mercado internacional que
hegemoniza a produção livresca e pouco apresenta as diversidades e espe-
cificidades locais.
Neste cenário contemporâneo em que as tecnologias da informação
e comunicação e as redes sociais mediam as relações humanas e são basi-
lares para a divulgação, visibilização, promoção e venda dos produtos
oriundos do mercado livresco, ressalta-se a importância de as editoras iden-
tificadas na pesquisa possuírem endereços on-line, como também de haver,
nesses sites, uma gama de informações para ampliar o acesso aos materiais
comercializados por tais espaços. Nesse quesito, de acordo com a Tabela 5,
verificamos que 84,8% das editoras possuem site com informação de con-
tato por endereço eletrônico; 9,1% delas não possuem site, mas informam
endereços eletrônicos como forma de acesso à editora e 6,1% não respon-
deram à questão.
Nº % cit.
Sim 28 84,8%
Não 3 9,1%
Total 33 100,0%
Nº % cit.
Sim 27 81,8%
Não 2 12,1%
Total 33 100,0%
Autoria
Voltando o olhar para os vinte e seis autores(as) que figuram na pes-
quisa, nota-se a presença majoritária de homens, brancos, acima de
cinquenta anos de idade. Os homens constituem 76,9% enquanto as
mulheres somam 23,1% de acordo com a Tabela 7, a seguir.
Tabela 7 - Sexo
Nº % cit.
Masculino 20 76,9%
Feminino 6 23,1%
Total 26 100,0%
Masculino Feminino
Nº % cit. Nº % cit.
Brancos 15 75,0% 4 66,7%
Pretos 3 15,0% 1 16,7%
Pardos 2 10,0$ 1 16,7%
Total 20 100,0% 6 100,0
Nº % cit.
50-60 6 23,1%
+80 4 15,4%
60-70 3 11,5%
40-50 2 7,7%
30-40 1 3,8%
70-80 1 3,8%
15-20 0 0,0%
20-30 0 0,0%
Total 26
Nº % cit
Interior 16 61,5%
Capital 10 38,5%
Total 26 100,0%
Nº % cit
Interior 11 42,3%
Capital 9 34,6%
Total 26 100,0%
Nº % cit
Escritor 19 30,6%
Professor 12 19,4%
Jornalista 6 9,7%
Ator 1 1,6%
Contabilista 1 1,6%
A maioria dos autores aparece com apenas uma obra publicada durante
os quinze anos investigados pela pesquisa, levando em consideração apenas
o gênero textual romance. Dos vinte e seis, vinte e três participaram com uma
obra cada, e três participaram com dois títulos integrando o corpus de vinte
e nove obras no total. Importa lembrar que o mercado editorial baiano tem
se voltado primeiramente para o gênero poesia, e que o romance Figura em
segundo lugar no ranking de gêneros publicados.
Editoras
Seguindo as investigações sobre os(as) autores(as) e suas publicações, des-
taca-se que as editoras baianas constituem o espaço editorial que os acolhe
na estreia literária. Assim, 61,5% deles publicaram o primeiro livro por edi-
toras baianas, contrastando com 30,8% que iniciaram a carreira por editoras
fora do estado. Para 7,7% dos autores não foi possível identificar a editora
do primeiro livro, de acordo com o que vemos na Tabela 16.
Total 26 100,0%
Figura 2 - Editora
Personagens
Quando um leitor resolve se embrenhar pelas páginas de um livro, princi-
palmente do gênero romance, encontra toda uma construção ficcional pró-
pria que acaba por juntar, no triângulo resultante da obra literária – autor,
obra, leitor – formas de (con)viver que evocam o elemento humanizante,
muitas vezes soterrado pela pragmática vida em sociedade com suas ações
e funções diversas. Há, no plano ficcional, um contexto sociocultural e his-
tórico delineando sujeitos fragmentados e demarcados nas narrativas por
seus próprios criadores, indivíduos que integram a sociedade, recebem
cobranças, infiltram-se em contextos nos quais fazem recortes, atravessam
o jogo do imaginário versus real versus fictício, retratando um panorama rico
em diversidades, em que os leitores se permitem enredar em condições que
vivem ou que sonham/temem viver.
No rastreamento da produção literária do gênero romance editado na
Bahia no período de 2000 a 2014, personagens se revelam singulares, múl-
tiplas e coletivas no processo de afirmação de si próprias e de seus espaços.
Na esteira da criação, observa-se uma escrita de autores, na sua maioria,
homens que, talvez por conta da idade, estabeleçam relação de maior pro-
ximidade com uma tradição literária fundamentada ainda nas oligarquias,
senão nas elites, o que desvincula as populações periféricas, na amostra em
17 A terceira margem do rio (1968), conto canônico de Guimarães Rosa, busca criar
a imagem de uma terceira margem, aqui entendida como espaço do diferente, que muito se
aproxima do entrelugar, um conceito trazido por Silviano Santiago em O entre-lugar do discurso
latino-americano (1978), quando determina um espaço imaginário que os sujeitos buscam na
zona física, mas não a encontram construindo um outro processo, a desterritorialização.
18 Personagens apenas mencionadas na trama dos romances não tiveram fichas de análise
preenchidas.
19 Em vários cruzamentos vai-se notar a quantidade de personagens superior aos 471 que
compõem o corpus da pesquisa. Isto deve-se à possibilidade de marcar mais de uma opção
para as respostas a algumas questões da ficha.
Sexo
Os números da pesquisa apontam uma grande representatividade mascu-
lina em relação à feminina, sendo que as questões mais delicadas conven-
cionadas pela sociedade pudica aparecem pouco, como o caso da transge-
neridade (0,2%), presente em apenas uma personagem. Assim, do número
total de personagens dos romances (471), observa-se nos resultados um
quadro do feminino ainda marcado pela subalternidade: a quantidade de
autores do sexo masculino bem superior à autoria feminina, mesma obser-
vação que se faz em relação às personagens. Conforme a Tabela 17, vemos
que o número de personagens masculinas (62%) se sobrepõe às femininas
(37,4%), de um total de 468 humanas, uma vez que a opção "outro" diz res-
peito à personificação de espaços ou outros seres, como pode ser consta-
tado na Tabela abaixo:
Nº % cit
Outro 3 0,6%
Ambígua/
5 1,7% 1 0,6% 1 33,3% 7 1,5%
indefinida
pucsp.br/bitstream/handle/19428/2/Val%C3%A9ria%20Konc%20dos%20Santos.pdf e https://
www.assexualidade.com.br/p/pesquisas.html
Espaços naturais,
111 13,6% 58 13,2% 1 33,3% 170 13,5%
campo
Restaurantes
25 3,1% 15 3,4% 0 0,0% 40 3,2%
e lanchonetes
Escolas
16 2,0% 13 2,9% 0 0,0% 29 2,3%
e universidades
Sindicatos
17 2,1% 6 1,4% 1 33,3% 24 1,9%
e associações
Outros 15 1,8% 6 1,4% 0 0,0% 21 1,7%
Cor
Mais uma vez, a fotografia histórica da exclusão dos negros e indígenas se
insere no contexto da escrita e, por conseguinte, na construção das perso-
nagens. A invisibilização da cultura e da história de grupos étnicos ainda
é ratificada pelos registros discursivos comumente cristalizados e pelas
potenciais inflexibilizações ante o diverso mosaico cultural brasileiro.
Consequentemente, pretos, pardos e indígenas22 aparecem com baixo
registro no quadro das personagens aqui estudadas.
Faz-se relevante lembrar que, do conjunto de autores (26), 19 são do sexo
masculino (2 pardos; 3 pretos; 14 brancos) e 7 do sexo feminino (1 parda;
1 preta; 5 brancas); números que ainda revelam a supremacia branca no
tocante à autoria, que é refletida nas personagens. Em contraponto à
Nº % cit
Preta 57 12,1%
Parda 28 5,9%
Não pertinente 6 1,3%
Indígena 3 0,6%
Amarela 2 0,4%
[…] a História feita nos papéis deixa passar tudo aquilo que não se
botou no papel e só se bota no papel o que interessa. Alguém que
tenha o conhecimento da escrita pega de pena e tinteiro para botar
no papel o que não lhe interessa? Alguém que roubou escreve que
roubou, quem matou escreve que matou, quem deu falso testemu-
nho escreve que foi mentiroso? Não confessa. Alguém escreve bem
sem indícios branca preta parda não pertinente indígena amarela Total
Não mencionada 139 71,6% 126 68,1% 41 70,7% 20 71,4% 1 16,7% 2 66,7% 2 100,0% 331 69,5%
Católica 50 25,8% 51 27,6% 4 6,9% 5 17,9% 1 16,7% 0 0,0% 0 0,0% 111 23,3%
Culto de matriz
3 1,5% 0 0,0% 6 10,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 9 1,9%
africana
Não pertinente 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 7,1% 4 66,7% 0 0,0% 0 0,0% 6 1,3%
Sem religião 1 0,5% 1 0,5% 2 3,4% 1 3,6% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 5 1,1%
Protestante
1 0,5% 0 0,0% 1 1,7% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 0,4%
histórica
81
No tocante à relação entre a cor das personagens e os estratos sociais
a que pertencem, nota-se, na Tabela 31, que as brancas estão nos estratos
sociais mais elevados: classe média (42,2%) e elite econômica (36,2%).
Apenas 13,8% delas são pobres e 1,4% miseráveis. As pretas são predomi-
nantemente pobres (55,2%), mas também estão na classe média (23,9%), na
elite econômica (9%) e entre os miseráveis (1,5%). As pardas têm o maior
contingente de pobres (58,1%) e de miseráveis (3,2%). As três indígenas são
pobres e as duas amarelas são de classe média.
Os números relativos ao capital simbólico proveniente de educação
formal e acesso a bens culturais prestigiados socialmente mostram (ver
Tabela 32) o não pertencimento a uma elite intelectual com percentuais
decrescentes na seguinte ordem: indígenas (100%), pardos (67,9%), pretos
(57,9%), amarelos (50,0%) e brancos (43,1%). No registro oposto, daqueles
que pertencem a uma elite intelectual, temos brancos (33,1%), pretos
(22,8%) e pardos (17,9%).
Interessa também perceber que profissões desempenham, os papéis
sociais a que estão relacionadas, por onde e como transitam. Foram inú-
meras as ocupações identificadas nos romances. Quando cruzadas com
as cores das personagens, os números muitas vezes pulverizam-se, assim,
vamos apresentar aquelas com maior número de ocorrências. As perso-
nagens brancas são fazendeiras (7,4%), donas de casa (4,3%), empresário
(3,9%), comerciante (3,5%) e sem ocupação (3,5%). As pretas são estudantes
(7,9%), domésticas (4,8%), professoras (3,2%), empresário (3,2%), cangaceiro
(3,2%) e engenheiro (3,2%). As pardas são vaqueiro (7,3%), garota de pro-
grama (7,3%) doméstica (4,9%), capanga (4,9%), escritor (4,9%). Duas das três
personagens indígenas não têm registradas a ocupação e a terceira é benze-
deira. As duas amarelas são dona de casa e socióloga.
Sem indícios 13 6,2% 37 18,1% 7 10,4% 3 9,7% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 60 11,5%
sem indícios branca preta parda não pertinente indígena amarela Total
Sem indícios 54 27,8% 43 23,8% 11 19,3% 3 10,7% 1 16,7% 0 0,0% 0 0,0% 112 23,8%
83
Tabela 33 - Cor personagem x Papéis sociais e afetivos
84
branca sem indícios preta parda não pertinente indígena amarela Total
Amigo(a) 78 12,8% 83 18,1% 27 17,6% 15 18,8% 1 12,5% 1 16,7% 1 25,0% 214 16,1%
Cônjuge 85 14,3% 60 12,3% 16 10,5% 7 8,8% 0 0,0% 1 16,7% 1 25,0% 170 12,8%
Filho(a) 75 12,6% 49 10,0% 17 11,1% 12 15,0% 1 12,5% 1 16,7% 0 0,0% 155 11,6%
Pai/mãe 70 11,8% 54 11,1% 19 12,4% 8 10,0% 1 12,5% 1 16,7% 1 25,0% 154 11,6%
Irmão/irmã 52 8,8% 42 8,6% 8 5,2% 5 6,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 107 8,0%
Parceiro sexual 14 2,4% 14 2,9% 3 2,0% 5 6,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 36 2,7%
Relações
acadêmicas 16 2,7% 4 0,8% 4 2,6% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 24 1,8%
e profissionais
Sócio(a) (cúmplice) 12 2,0% 4 0,8% 5 3,3% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 22 1,7%
Prestador/
9 1,5% 7 1,4% 2 1,3% 1 1,3% 1 12,5% 0 0,0% 0 0,0% 20 1,5%
fornecedor
Sem relações 1 0,2% 12 2,5% 4 2,6% 0 0,0% 1 12,5% 0 0,0% 0 0,0% 18 1,4%
Total 594 100,0% 488 100,0% 153 100,0% 80 100,0% 8 100,0% 6 100,0% 4 100,0% 1333
branca sem indícios preta parda não pertinente indígena amarela Total
Espaço domésticos 134 26,0% 117 23,7% 36 23,4% 17 22,4% 3 27,3% 3 42,90% 2 100,0% 312 24,8%
Ruas e praças 86 16,7% 83 16,8% 31 20,1% 13 17,1% 1 9,1% 1 14,3% 0 0,0% 215 17,1%
Espaços naturais, campo 67 13,0% 69 14,0% 16 10,4% 12 15,8% 3 27,3% 3 42,9% 0 0,0% 170 13,5%
Local de trabalho 62 12,0% 69 14,0% 22 14,3% 13 17,1% 2 18,2% 0 0,0% 0 0,0% 168 13,3%
Locais de lazer 54 10,5% 44 8,9% 13 8,4% 6 7,9% 1 9,1% 0 0,0% 0 0,0% 118 9,4%
Espaços religiosos 36 7,0% 30 6,1% 10 6,5% 4 5,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 80 6,4%
Restaurantes e lanchonetes 23 4,5% 7 1,4% 8 5,2% 2 2,6% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 40 3,2%
Escolas e universidades 12 2,3% 10 2,0% 6 3,9% 1 1,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 29 2,3%
Sindicatos e associações 7 1,4% 9 1,8% 7 4,5% 0 0,0% 1 9,1% 0 0,0% 0 0,0% 24 1,9%
Repartições públicas
8 1,6% 4 0,8% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 12 1,0%
(exceto como funcionário)
Total 516 100,0% 493 100,0% 154 100,0% 76 100,0% 11 100,0% 7 100,0% 2 100,0% 1259
87
Se as personagens estão mais no ambiente privado do que no público
e quando neste mais em espaços abertos do que fechados, o modo de loco-
moção predominante para as distintas cores de personagens será os pés, com
maiores percentuais entre pardas (47,5%) e pretas (35,3%), como pode ser visto
na Tabela 35. O carro particular é equivalentemente acessado por brancas
(18,6%) e pretas (17,6%), mas bem menos por pardas (5,0%). Ônibus e metrô
também fazem parte dos veículos utilizados por brancos (5,2%), pretos (4,4%)
e pardos (2,5%), enquanto avião é acessado muito mais por brancos (6,9%)
do que por pretos (2,9%). As personagens indígenas se deslocam apenas a pé
e não há indícios sobre o meio de transporte usado pelas amarelas.
Em relação ao desfecho dessas personagens, vemos na Tabela 36 que
apenas as brancas se suicidam ou enlouquecem e que o assassinato é mais
presente entre pretas (12,3%) do que brancas (5,9%) e pardas (3,6%). A morte
que não seja por suicídio ou assassinato é mais presente entre pardos (21,4%),
seguida por brancos (17,3%) e pretos (8,8%). Os indígenas e amarelos não
morrem ou enlouquecem, têm outro tipo de desfecho. Na opção "outro"
predominou o registro de personagens que continuam suas vidas.
Os vários dados evidenciam que as diferenças sociais entre personagens
brancas, pretas, pardas, indígenas e amarelas são sintomáticas da sociedade
brasileira, mostrando espaços e posições marcados pela subalternização
muito mais de pardos que de pretos, mas de ambos em relação aos brancos,
ao mesmo tempo em que também escancaram um forte apagamento de
indígenas e amarelos.
branca sem indícios preta parda não pertinente indígena amarela Total
Não há indícios 48 16,6% 49 20,1% 22 32,4% 7 17,5% 3 50,0% 1 33,3% 2 100,0% 132 20,2%
Carro particular 54 18,6% 23 9,4% 12 17,6% 2 5,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 91 13,9%
Ônibus/ metrô 15 5,2% 8 3,3% 3 4,4% 1 2,5% 0 0,0% 0 0,,0% 0 0,0% 27 4,1%
Não se desloca 3 1,0% 9 3,7% 1 1,5% 1 2,5% 1 16,7% 0 0,0% 0 0,0% 15 2,3%
Veículo por
6 2,1% 9 3,7% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 15 2,3%
tração animal
90
sem indícios branca preta parda não pertinente indígena amarela Total
Outro 143 73,3% 138 74,6% 45 78,9% 21 75,0% 5 83,3% 3 100,0% 2 100,0% 357 75,0%
Outro tipo de morte 28 14,4% 32 17,3% 5 8,8% 6 21,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 71 14,9%
Total 195 100,0% 185 100,0% 57 100,0% 28 100,0% 6 100,0% 3 100,0% 2 100,0% 476
Nº % cit
Classes médias 176 33,7%
Pobres 164 31,4%
Elite econômica 105 20,1%
Sem indícios 60 11,5%
Miseráveis 12 2,3%
Não pertinente 6 1,1%
Outro 0 0,0%
Total 523 100,0%
94
branca sem indícios preta parda não pertinente indígena amarela Total
Classes
89 50,6% 62 35,2% 16 9,1% 6 3,4% 1 0,6% 0 0,0% 2 1,1% 176 100,0%
médias
Pobres 29 17,7% 76 46,3% 37 22,6% 18 11,0% 1 0,6% 3 1,8% 0 0,0% 164 100,0%
Elite
76 72,4% 21 20,0% 6 5,7% 2 1,9% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 105 100,0%
econômica
Sem indícios 13 21,7% 37 61,7% 7 11,7% 3 5,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 60 100,0%
Miseráveis 3 25,0% 7 58,3% 1 8,3% 1 8,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 12 100,0%
Não
0 0,0% 1 16,7% 0 0,0% 1 16,7% 4 66,7% 0 0,0% 0 0,0% 6 100,0%
pertinente
96
heterossexual não mencionada homossexual ambígua/indefinida não pertinente bissexual assexuado Total
Classes médias 144 81,8% 24 13,6% 3 1,7% 2 1,1% 1 0,6% 2 1,1% 0 0,0% 176 100,0%
Pobres 129 78,7% 30 18,3% 0 0,0% 5 3,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 164 100,0%
Elite econômica 93 88,6% 9 8,6% 2 1,9% 1 1,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 105 100,0%
Sem indícios 34 56,7% 17 28,3% 5 8,3% 2 3,3% 0 0,0% 1 1,7% 1 1,7% 60 100,0%
Não pertinente 0 0,0% 1 16,7% 0 0,0% 0 0,0% 5 83,3% 0 0,0% 0 0,0% 6 100,0%
Outro 0 0 0 0 0 0 0 0 100,0%
Total 410 78,4% 83 15,9% 10 1,9% 10 1,9% 6 1,1% 3 0,6% 1 0,2% 523
cidade pequena meio rural grande cidade outro múltiplos incerto Total
Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit
Classes médias 84 35,1% 62 25,9% 86 36,0% 4 1,7% 2 0,8% 1 0,4% 239 100,0%
Elite econômica 48 31,2% 50 32,5% 38 24,7% 10 6,5% 5 3,2% 3 1,9% 154 100,0%
Outro 0 0 0 0 0 0 0 100,0%
Total 243 34,5% 226 32,1% 198 28,1% 17 2,4% 12 1,7% 8 1,1% 704
Ao se deslocarem pelo espaço urbano, os pobres ficam limitados ao
centro (36,1%), à periferia pobre (24,4%) ou não têm suas localizações des-
tacadas ("sem indícios": 33,2%). Bem menor é o número que dá conta da
presença dos pobres, como fica explicitado na Tabela 43, em bairros de elite:
6,3%. Notadamente, as classes médias e as elites econômicas Figuram com
maior destaque nos locais aos quais é atribuído maior prestígio, como um
retrato do país ou do estado, no caso do estudo, que privilegia as classes
mais favorecidas, enquanto as áreas periféricas ainda estão povoadas por
aqueles que não são assistidos, os invisibilizados.
98
classes médias pobres elite econômica sem indícios miseráveis não pertinente outro Total
Espaço domésticos 126 26,4% 113 23,8% 87 24,9% 20 19,0% 10 26,3% 3 30,0% 0 359 24,7%
Ruas e praças 75 15,7% 84 17,7% 54 15,4% 25 23,8% 7 18,4% 1 10,0% 0 246 16,9%
Espaços naturais, campo 51 10,7% 70 14,7% 47 13,4% 11 10,5% 7 18,4% 3 30,0% 0 189 13,0%
Local de trabalho 53 11,1% 76 16,0% 43 12,3% 11 10,5% 3 7,9% 1 10,0% 0 187 12,8%
Locais de lazer 57 11,9% 34 7,2% 35 10,0% 13 12,4% 1 2,6% 1 10,0% 0 141 9,7%
Espaços religiosos 28 5,9% 33 6,0% 33 9,4% 4 3,8% 5 13,2% 0 0,0% 0 103 7,1%
Comércio (exceto
Repartições públicas
4 0,8% 2 0,4% 6 1,7% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 12 0,8%
(exceto como funcionário)
Total 478 100,0% 475 100,0% 350 100,0% 105 100,0% 38 100,0% 10 100,0% 0 100,0% 1259
Quando buscamos conhecer os meios de transporte (Tabela 45), entre-
tanto, alguma diferenciação aparece marcada, e os pobres, aproximando-se
mais dos miseráveis (85,7%), aparecem como pessoas que prioritariamente
se locomovem a pé (47,9%), sendo que as duas outras categorias que se
seguem em ordem decrescente explicitam que, em 15,1%, não há preo-
cupação acerca de como se locomovem os pobres, e em 10,9 % há indi-
cação de que utilizam meios que compõem a categoria “outro”, opção que
engloba, por exemplo, o uso de animais para o deslocamento com grande
ocorrência de locomoção a cavalo.
Quanto aos papéis sociais e afetivos, destacam-se amigo(a), filho(a), pai,
mãe, cônjuge, empregado(a), como pode ser visto na Tabela 46. Aqui o que
difere das outras classes é a condição de empregado que nas classes médias
e elites econômicas aparece com índice menor, sobressaindo-se, nesses
casos, a categoria patrão/patroa:
100
classes médias pobres elite econômica sem indícios miseráveis não pertinente outro Total
Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit Nº % cit
a pé 56 22,4% 114 47,9% 47 26,7% 23 34,8% 12 85,7% 2 33,3% 0 254 33,9%
não há indícios 53 21,2% 36 15,1% 21 11,9% 24 36,4% 0 0,0% 2 33,3% 0 136 18,1%
carro particular 63 25,2% 12 5,0% 42 23,9% 3 4,5% 1 7,1% 0 0,0% 0 121 16,1%
outro 23 9,2% 26 10,9% 23 13,1% 3 4,5% 0 0,0% 0 0,0% 0 75 10,0%
ônibus/ metrô 18 7,2% 10 4,2% 6 3,4% 2 3,0% 1 7,1% 0 0,0% 0 37 4,9%
avião 17 6,8% 4 1,7% 13 7,4% 2 3,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 36 4,8%
embarcação 6 2,4% 10 4,2% 7 4,0% 1 1,5% 0 0,0% 0 0,0% 0 24 3,2%
táxi 6 2,4% 6 2,5% 3 1,7% 2 3,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 17 2,3%
veículo por tração animal 2 0,8% 7 2,9% 5 2,8% 1 1,5% 0 0,0% 1 16,7% 0 16 2,1%
não se desloca 3 1,2% 5 2,1% 1 0,6% 5 7,6% 0 0,0% 1 16,7% 0 15 2,0%
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