RolePlay - Roteiro Final
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P: Bom, senhor José eu estou aqui para ajudar no que for preciso mas proponho que
para que seja mais fácil ajudar, se o Senhor José puder, não tenha receio de me contar o
que achar (…)
J: Parece me bem, mas… doutora não sei se poderá ajudar me. Os médicos a a quem fui
disseram-me que tinha um quadro muito difícil… dizem que sou um homem muito
ansioso… acho que não me compreendem e nem ao vazio que sinto…
P: Certo, entende-se a situação, o senhor José quer perceber o que se passa consigo e
assim não irei maçá-lo com demasiadas perguntas, vamos dedicar o nosso tempo a
refletir sobre as questões que o incomodam e o que lhe parece ser mais confortável de
falar. Está bom assim?
J: Está bom assim doutora… eu ando tão triste que preciso mesmo de alguém para
partilhar sobre a minha angústia (pausa) perdi a minha mulher num acidente de
automóvel e os meus filhos dizem que desde aí… nunca mais fui o mesmo , não sei o que
sinto sequer, sinto me um inútil, nem da casa sei cuidar, e perdi o emprego recentemente
(cala-se).
P: O meu papel aqui é ajudá-lo irei respeitar as suas ideias, e dentro das minhas
possibilidades irei ajudar em relação as coisas que o incomodam, por isso…quer falar me
um pouco mais sobre esse acidente?
J: Eu acho melhor sim… se não falar rebento. Eu ia a conduzir e perdi o controle da
viatura, o carro caiu por uma ribanceira… foi a polícia, bombeiros… aquilo foi mau… eu
perdi a minha mulher (cala-se) e desde aí que olhe nada foi igual… o rapaz não me
perdoa, acusa-me de ser um bêbado (pausa) eu menti disse que não tinha bebido nada,
mas… eu tinha, e culpo-me por isso todos os dias.
P: Situação difícil de facto, vê-se claramente que o marcou… sente-se capaz de continuar
Senhor José?
J: Eu sou um traste (e levanta a voz) vê… é o que lhe digo doutora… (pausa) eu era feliz,
amava tanto a minha mulher…
P: Senhor José, vejo que este assunto mexeu muito consigo, já se sente mais calmo e
quer continuar?
J: Sim, doutora eu ando assim há cerca de meses para cá, deixou me assim e nem sequer
durmo, de tão sem jeito que sou, os meus filhos saíram de casa, a rapariga ainda fala
comigo o rapaz esse…ralha comigo, diz que a mãe dele é que sabia fazer tudo…é
verdade, eu não tenho vontade de fazer nada, nem sair de casa sequer, e ai como o
tempo passa tão rápido para eles e tão lento para mim, ate já casaram …eu ate já tenho
um neto lindo doutora…oxalá ele não venha a sofrer…agora chamam aquilo bullying,
mas acho que não é nada disso acho que ninguém sofreu, como eu sofri em miúdo…na
escola…e isso deixou me marcas confesso doutora.
P: Senhor José, por momentos percebo que muda de assunto para assunto, vamos então
ver, o Senhor José tem sentido um vazio muito grande, e isso entendo que o esteja a
perturbar bastante, você sente que o seu filho não o entende e claro que também lhe
traz tristeza e depois ainda me contou que sofreu bastante pela vida fora e referenciou a
escola, pode especificar e falar me mais desse assunto?
J: Posso, nem sei se isso me ajuda mas pronto… sei que quer ajudar me e por isso vou
contar-lhe. Eu era um miúdo rebelde sabe… raramente me dava com os outros miúdos
na escola e era muito mal educado, um dia um grupo de miúdos veio e combinaram la
entre eles dar me porrada eu ainda hoje me lembro parecia um saco de pancada, tanta
tareia que levei que tive de ficar internado em recuperação… foi uma fase muito
complicada… já passei por muito. Os meus pais chegaram a contar me que tinha
momentos em que não parava de me mexer e era elétrico, outros momentos fechava-me
no quarto tao amargurado e triste, e não queria falar com ninguém cheguei a estar assim
durante semanas… acho que nem fui bom filho e nem bom pai, e….não sei…tenho
medo de não vir a ser um bom avô. Hoje não me apetece assim dizer mais sobre, só
quero que me ajude doutora….afinal… o que tenho de tomar para me passar esta
angústia…
P: Senhor José, estamos aqui para entende-lo percebe? O foco aqui não é prescrever
comprimidos ou encontrar uma cura e sim ajudar o Senhor José a sentir se bem e
encontrar uma forma de o ajudar. O senhor José falou que em certa altura foi
acompanhada por uma psiquiatra quer contar um pouco sobre essa experiência.
J: Conto sim, eu acerca de seis anos atrás estive mal e como consequência acordava
sempre muito angustiado, os meus filhos viram a minha situação, estava tão mal…
passava o dia apático e indiferente a tudo, eles apontavam para mim e parecia que nem
estava ali, falavam comigo mas era como se eu não ouvisse nada, não reagia… era como
eu me sentia e continuo a sentir sabe.
2
P: Percebo, o Senhor José sente uma tristeza acompanhada de um vazio muito grande,
percebo que pelo que diz já teve momentos e episódios depressivos semelhantes ao que
está a ter e diga-me então senhor José, esta situação do seu filho não lhe falar, quer falar
sobre este assunto, quer fazer esta partilha?
J: Já, já tive isto doutora, isso que falou a… depressão…quanto ao ter de falar do
assunto do meu filho, não senhora doutora, está arrumado se ele não quer fazer nada
para melhorar eu também não tenho forças para tal…
P: Vejo que é um assunto que o está a incomodar então vamos passar à frente. Depois de
falar de todas estas coisas como se está a sentir Senhor José?
J: Sinto-me bem, pois de facto falei coisas que não tinha falado com mais ninguém até
hoje… senti que posso confiar em si.
P: Fico feliz de saber isso, vejo que está mais calmo, percebo a sua tristeza mas o
primeiro passo o senhor já deu, que é estar aqui hoje.
J: Claro doutora, fico feliz de a ouvir dizer isso… perdendo continuar com os nosso
encontros.
3 Meses Depois
P: É bom tê-lo de volta ao fim deste tempo de pausa, como tem sido a sua recuperação
nos últimos meses?
J: Muito boa! Ai senhora doutora nem lhe sei explicar o quão melhor estou! A vida está
muito melhor, muito melhor digo-lhe! (Com muita euforia e gestos grandiosos)
não tenho de responder a ninguém… muito menos aos meus filhos (múrmura - onde é
que já se viu isto). Está a ver doutora… estava tudo tão bem e tinham de vir com estes
assuntos desagradáveis… supor causa dumas raspadinhas (múrmura - onde é que já se
viu isto)…
P: Sim recordo-me que na nossa entrevista se referiu com muito carinho ao seu neto, mas
tinha um certo receio de não ser um bom avô. Sente que esse medo ainda está presente?
J: Muito menos… começámos a passar mais tempo juntos desde que tenho mais tempo
livre… sabe, desde que estou desempregado… nos fundo não foi tudo mau.
P: Senhor José, imagino que desde aí tenha menos atividades do que o habitual, conto-
me como é o seu dia-a-dia típico? E, se se sentir confortável, como é o seu estado de
humor ao longo de um dia típico.
J: Ora bem, os meus dias são muito vazios… não tanto como antes (diz abruptamente)…
mas as únicas alegrias que tenho é ir buscar o meu neto todos os dias à escola… a pé
claro… desde o acidente da minha mulher que não tenho coragem de conduzir com
outra pessoa no carro… muito menos com o meu neto!… e nem o meu filho deixava (a
expressão nesta fase deve ser de culpa mas continuando com agitação) o rapaz diz que
me perdoou… até pediu desculpa de me ter culpado veja lá! (Agitação) mas eu não
acredito… se eu não perdoo pense no rapaz… (silencio e menos euforia - meio que
relaxa para trás)
P: Entendo-o, ainda é algo muito recente (…) sente-se confortável para continuar?
J: Sim, senhora doutora… como lhe disse… tenho de falar ou vou rebentar… e sinto que
melhorei, não acha que melhorei? (Ás vezes já não sei nada… sinto que por mais que
melhore ninguém acredita em mim (mais agitação) por isso que já venho sozinho a estas
consultas… não preciso deles)
P: Entende-se que na sua situação se sinta assim, mas assegure-lhe que isto é processo,
mas estar aqui já é um grande passo na direção certa (…)
J: Ás vezes já não sei nada… sinto que por mais que melhore ninguém acredita em mim
(mais agitação) por isso que já venho sozinho a estas consultas… não preciso deles… só
preciso de mim…
P: Ok senhor José, então sugeria que voltássemos a falar na próxima semana na quinta-
feira às duas da tarde. Dá para si?
J: Sim, está ótimo. Obrigada, resto de um bom dia