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História

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DISCIPLINA: História dos Povos Indígenas

Módulo: Ascensão, crises e questionamentos do capitalismo.

Nome do Professor: Pablo Rodrigo Ferreira


Nome da Disciplina: História Econômica – Faculdade Campos Elíseos
(FCE) – São Paulo – 2018.
Guia de Estudos – Módulo 03
Faculdade Campos Elíseos
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO.

2. DA ASCENÇÃO AOS QUESTIONAMENTOS E ÀS CRISES DO CAPITALISMO.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
MÓDULO 03 – Ascensão, crises e questionamentos do capitalismo.

Conversa Inicial

Olá! Seja bem-vindo (a) ao nosso terceiro módulo de História


Econômica.
A transição do feudalismo para o capitalismo e o desenvolvimento
capitalista a partir da Revolução Industrial, é a temática desse módulo
intitulado de “Ascensão, crises e questionamentos do capitalismo”.
A primeira parte de nossos estudos, buscaremos tratar os fatores envolvidos na
transição histórica entre o feudalismo e o capitalismo, mencionando o mercantilismo e as
principais condições de superação do feudalismo e da instauração do capitalismo.
No segundo momento, abordaremos a ascensão do capitalismo europeu,
considerando a sua consolidação; as suas principais características e os seus problemas;
suas crises; os questionamentos levantados pelos movimentos reacionários; e as
tendências e preocupações do capitalismo contemporâneo.
Ao final, pretendemos que você tenha uma boa percepção a respeito dos potenciais
e fragilidades desse sistema socioeconômico e tenha condições de desenvolver uma
senso crítico a respeito das propostas políticas, econômicas, sociais e culturais em torno
do assunto.
Acelere conosco e bons estudos!
INTROUÇÃO

Sem concordar necessariamente que o atual vasto âmbito de "feudalismo"


esteja inteiramente justificado, é claro que se trata de uma formação social
muitíssimo difundida. Na verdade, a forma específica de feudalismo varia
bastante. O mais próximo paralelo da versão europeia integral sem dúvida é o
encontrado no Japão — as semelhanças são extraordinárias — enquanto em
outras áreas o paralelismo é menos acentuado, e em outras ainda os elementos
feudais constituem apenas uma parte de uma sociedade constituída de modo
muito diferente. [...] é muito duvidoso que se possa falar de uma tendência
universal do feudalismo em transformar-se em capitalismo. Com efeito, ele só o
fez em uma única região do mundo, a saber, Europa ocidental e parte da área
mediterrânea. [...] O triunfo do capitalismo ocorreu integralmente apenas em um
único lugar do mundo, e essa região, por sua vez, transformou o resto.
(HOBSBAWN, 2004, pp. 202,203).

As contribuições de Hobsbawm para os estudos do período de transição entre


feudalismo e capitalismo são de extrema relevância, afinal, como temos enfatizado desde o
primeiro módulo de nossa disciplina, não podemos acreditar em qualquer processo
histórico puramente linear e homogêneo, nem mesmo reproduzi-lo como se assim fosse.
Assim como outros regimes históricos, existiu uma considerável diversidade de
‘feudalismos’, como por exemplo, os ocorridos na Europa Ocidental, no Japão, etc., e
tempos diferentes em que essas distintas formas de feudalismo foram desenvolvidas.
A própria consolidação, o desenvolvimento e as crises do capitalismo aconteceram
de maneiras diferentes e em momentos distintos no mundo, o que reforça ainda mais a
desconfiança e os questionamentos de Hobsbawm em "falar de uma tendência
universal do feudalismo em transformar-se em capitalismo".
Contudo, em se tratando do desenvolvimento do capitalismo é plausível
considerarmos que os lugares em que ele aconteceu primeiro e de maneira mais intensa
se prevaleceram em detrimento de outros; esses últimos, com o desenvolvimento atrasado
e dificultado pelos primeiros.
1. TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO PARA O CAPITALISMO.

Qual a ligação existente entre a revolta dos pequenos produtores e a gênese do


capitalismo? A revolta camponesa contra o feudalismo, mesmo se bem
sucedida, não implica o aparecimento simultâneo de relações burguesas de
produção. Em outras palavras, o elo entre elas não é direto, mas indireto, o que
explica, creio eu, a razão por que a dissolução do feudalismo e a transição
tendem a ser demoradas, e por que o processo às vezes se interrompe.
(DOBB, 2004, p. 211).

Antes que qualquer outra questão é importante ressaltarmos que geralmente, em


história, se dá ênfase na transição ocorrida entre feudalismo e capitalismo na Europa
Ocidental, pois é justamente por meio dessa região e desse processo que o restante do
mundo seria impactado, de uma forma ou de outra, pelo capitalismo, especialmente a partir
da expansão imperialista e, posteriormente, com a globalização. Em momento algum
queremos dar a ideia de que outros lugares não devem ter a sua história econômica
retratada, contudo, para fins didáticos, priorizaremos o feudalismo ocorrido na Europa
Ocidental e a sua transição para o capitalismo.
Outro aspecto, que também merece a nossa consideração preliminar é sobre o
termo ‘mercantilismo’. Existem diferentes concepções a respeito desse período histórico,
que compreende pelo menos os séculos XV ao XVIII. Dentre essas distintas perspectivas,
podemos destacar:
a) Perspectiva de que a Idade Moderna rompeu com a Idade Média
Esse ponto de vista parte dos grandes contrastes entre Idade Média e Idade
Moderna, como, por exemplo, no campo econômico, em que a Idade Moderna traz a
expansão marítimo-comercial e colonialismo em oposição à estagnação comercial da
Idade Média; no político, em que a Idade Moderna apresenta os Estados Nacionais, com
monarcas centralizadores, em oposição à descentralização política do regime feudal,
baseado nos senhores feudais; no social, em que a Idade Moderna se apresentou como
período de mobilidade social em oposição da Idade Média, com uma sociedade
estamental, sem mobilidade social.; e nos âmbitos espiritual e ideológico, em que a Idade
Moderna desponta-se com o humanismo, o Renascimento e a Reforma Protestante, em
oposição à Idade Média, com sua ideologia e a espiritualidade firmadas no teocentrismo da
Igreja Católica.
b) Perspectiva de continuidade
Segundo os que assim pensam, defendem que as relações feudais se mantiveram
de uma maneira geral até o século XVIII, com a Revolução Francesa, exceto para a
Inglaterra, que superou esse regime com um século de antecedência. Para esses, todos
os campos mencionados acima, na Idade Moderna, são apenas uma continuidade da
Idade Média, apresentando algumas nuanças de alterações.
c) Perspectiva da novidade
Adeptos desse ponto de vista consideram que o mercantilismo é um período pré-
capitalista, quando importantes aspectos do capitalismo são fomentados e amadurecidos.
d) Perspectiva do dualismo estrutural
Considerações a esse respeito, muito comuns na historiografia atual, reforçam a
coexistência e interdependência das relações feudais e das capitalistas. Para esses, os
séculos XV ao XVIII são vistos como uma transição feudalismo-capitalismo, ainda que o
termo ‘transição’ em história seja um tanto quanto redundante, já que os fatos históricos
sempre estão apresentando mudanças e transformações.
Dito isto, podemos voltar a nossa atenção às questões pertinentes ao colapso do
feudalismo e aos principais fundamentos para o advento do capitalismo. Para isso,
vale incluirmos dentro desse cenário o papel desempenhado pelos pequenos produtores
feudais, que segundo Dobb (2004) contribuem de maneira indireta, mas muito
contundente, para o declínio do regime feudal, particularmente, quando passaram a ter um
pouco mais de emancipação da exploração feudal, talvez numa transição da renda-
trabalho para renda-dinheiro.
Desse abrandamento da dependência camponesa dos domínios senhoriais surgiu a
possibilidade de obter para si – não mais para o senhor – uma produção excedente e o
início do acúmulo de capital, que, por sua vez, deu condições para uma embrionária,
mas visível, hierarquização de classes no modo de produção servil. Essa nova situação
passou a aguçar as resistências contra as limitações impostas pelo regime feudal, além de
fomentar a apropriação do trabalho assalariado, que culminaria – depois de um longo
tempo, chegando há séculos – nas relações burguesas de produção. Deve ficar claro que
essa transição não transcorreu de maneira harmônica e muito menos sem conflito de
interesses. A história constantemente relata que profundas mudanças estruturais
acontecem em meio ao choque de interesses.
Acredita-se, também, que, além da insatisfação camponesa com o domínio
senhorial, outros elementos concorreram para que tais insatisfações ganhassem mais
volumes; como, por exemplo, os conflitos feudais, que requeriam cada vez mais dos
produtores explorações “tributárias” por parte dos senhores; e a falta de mão-de-obra servil
nos feudos, grande parte em decorrência da acolhida dos núcleos urbanos aos refugiados
dos feudos, que viam nas cidades e nos seus entornos a oportunidade de se conseguir
novas terras e sua autoafirmação produtiva.

Geralmente, em história, se dá ênfase na transição ocorrida entre


feudalismo e capitalismo na Europa Ocidental, pois é justamente
por meio dessa região e desse processo que o restante do mundo
seria impactado, de uma forma ou de outra, pelo capitalismo.

As cidades estabelecidas, de fato, cooperam para o advento do capitalismo da


Europa Ocidental, a final, os aglomerados urbanos são mercados relevantes ao
capitalismo. Mas, mais do que as aglomerações, o que mais importa ao capitalismo, e à
burguesia, é a capacidade do mercado de produção de mercadorias, ou seja, a sua
dinâmica produtiva que desenvolve uma importante e crucial divisão social.
É por isso, que para alguns estudiosos, como Pierre Vilar (1975), não existe
capitalismo propriamente dito nas cidades do período feudal, já que em suas
configurações não estava consolidada a separação entre os meios de produção e o
produtor. Segundo o autor, até se pode falar em produção industrial na Idade Média,
porém, “obtida de forma artesanal e corporativa, em que o mestre artesão compromete seu
capital e trabalho, e alimenta em sua casa os companheiros e aprendizes, de maneira que
as relações sociais não se reduzem a laços apenas de dinheiro” (Ibid. p.36). Portanto, as
aglomerações urbanas medievais, mesmo em seu período mais tardio, apenas deram
condições para que as estruturas do capitalismo viessem a existir, mas não podem ser
consideradas estruturas nitidamente burguesas capitalistas, como as verificadas no século
XIX.
A esse respeito, vale as considerações de John Merrington:
Para os proponentes da nova e revolucionária história "conjetural" da
"sociedade civil" – Smith, Steuart, Ferguson, Millar – as origens da divisão do
trabalho e do mercado no "estágio comercial" da civilização deveriam ser
procuradas na separação da cidade e campo. [...] A separação da produção e
consumo provocada pela troca urbano-rural foi a causa daquela "revolução"
mediante a qual a auto-suficiência da economia rural foi minada pelos padrões
de consumo urbano, destruindo a ordem estática da autoridade patriarcal
baseada na posse da terra, na qual o "consumo não é um prêmio mas um
preço de subordinação" (2004, p. 215).

Por volta dos séculos XV e XVI, então, no decorrer da crise do feudalismo, que as
forças produtivas passaram a ser impactadas, abrindo espaço para outras sobreposições
históricas. Pierre Vilar, comenta que:
No século XV o número de inventos foi maior do que no século XVII. O uso da
artilharia obrigou a impulsionar a produção metal. O primeiro alto forno data do
século XV. A difusão do pensamento humano, com a invenção da imprensa, o
progresso da ciência da navegação desenharam um papel não menos
importante. Observamos que, pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas
de comunicação ultrapassam a técnica agrícola. é o começo de um processo
que colocará a indústria no primeiro plano do progresso. [...] o apelo comercial
da indústria têxtil, faz com que na Inglaterra e em Castela a criação de
carneiros concorra com a agricultura e despovoe os campos. É uma
especialização que vai no sentido do capitalismo (produção para o grande
comércio, êxodo rural, com vantagem para as cidades, proletarização do
campesinato). [...]
Uma nova era abria-se para o capital mercantil, mais fecunda que as das
repúblicas mediterrâneas da Indade Média, porque desta vez constituía-se um
mercado mundial e seu impulso afetava todo o sistema produtivo europeu, e
porque grandes Estados (e não mais simples cidades) daí iriam aproveitar-se
para se constituírem (1975, pp. 38-39).

Nesse período, acontece um expressivo acúmulo de capital, proporcionado,


especialmente, como resultado da expansão marítimo-comercial e do colonialismo
europeu; da prática da pirataria; do despovoamento e o empobrecimento do campo,
obrigando camponeses rumarem para as cidades, se tornando proletariado da indústria;
e da capitalização, seja pelo empréstimo a juros ou pela especulação comercial.
O regime feudal já estava esgotado e gradativamente as bases para o capitalismo
se consolidavam na Europa Ocidental. Dentre os fatores de destaque do final desse
período de transição, estão: o controle do capital mercantil sobre a produção
industrial, em que os mercadores financiavam as matérias-primas e os meios de produção
têxtil, estabelecendo as manufaturas e a divisão do trabalho; a formação dos Estados
nacionais, que estimularam ainda mais o acúmulo de capital, por meio da criação de
instituições financeiras e do estabelecimento das alfândegas, que tributavam a
comercialização com outros países; e o avanço das forças produtivas, tanto na indústria,
quanto na agricultura.
A indústria experimentou o advento das máquinas, substituindo as manufaturas,
aumentando a produtividade e expandindo a capacidade de novos produtos, como, os da
metalurgia. A agricultura, por sua vez, experimentou uma produção em massa, que
possibilitou o comércio de grãos e uma divisão internacional do trabalho, que alguns
países, especialmente os de origem colonial, especializaram-se na produção agrícola
(alguns, até hoje, se mantém nessa condição, o que os colocam em condição de balança
comercial desfavorável).
A respeito da implementação da maquinofatura, vale destacar que o acúmulo
primitivo de capital, vindo desde o século XV, cede lugar para as mercadorias e para a
monetarização da economia, em que o dinheiro e a lucratividade assumem o cenário
econômico.

2. DA ASCENÇÃO AOS QUESTIONAMENTOS E ÀS CRISES DO


CAPITALISMO.

Durante as últimas décadas do século XVIII, na região que se havia tornado


dominante dentro da área central economia0mundo – a Inglaterra –, o sistema
econômico comercial foi superado pela implantação de uma nova forma de
produção – a fabril. Esse tipo de produção permite o crescimento do volume
através do aumento da produtividade, via introdução de inovações contínuas de
técnicas, ao mesmo tempo em que assegura a reprodução do capital, dentro da
própria esfera produtiva. A adoção dessa forma fabril de produção marca a
assunção do sistema econômico capitalista. [...]
É importante que se assinale que a reunião de vários trabalhadores em um
mesmo local, para efetuarem uma tarefa produtiva, com matérias-primas e
ferramentas que não lhes pertencem – o que em última análise sintetiza uma
fábrica –, poderia ter ocorrido em qualquer época, como de fato ocorreu em
algumas. Nas cidades helenísticas e em Roma durante a escravidão clássica
houve esse tipo de organização assim como nas “fábricas reais” durante o
mercantilismo francês, embora aí não se configurasse o sistema capitalista.
Para que tal acontecesse, duas pré-condições foram absolutamente
necessárias: a concentração dos meios de produção (capital, terras,
ferramentas, etc.) nas mãos de uma única classe social – a burguesia;
enquanto a classe que se viu excluída da propriedade desses meios de
produção – o proletariado – viu-se compelida a vender a única mercadoria cuja
posse lhe restou: sua força de trabalho. Força de trabalho é a capacidade de
realizar determinada tarefa, livremente, no mercado, a fim de garantir sua
sobrevivência. (REZENDE FILHO, 2010, pp. 138-139).
A Revolução Industrial caracteriza-se como o fato histórico que inaugurou o
capitalismo no mundo, a partir da Europa Ocidental, mais especificamente durante a
segunda metade do século XVIII, na Inglaterra; até meados do século XIX, no restante
dessa região e nos Estados Unidos da América; e daí por diante, ainda em avanço pelo
mundo.
Mas o que é o capitalismo? Ou melhor, o que é o capital? Fernand Braudel nos
auxilia, definindo:
Capitais ou bens capitais (são a mesma coisa) dividem-se em duas categorias:
os capitais fixos, bens de longa ou bastante duração física que servem de
pontos de apoio ao trabalho dos homens: uma estrada, uma ponte, um dique,
um aqueduto, um barco, uma ferramenta, uma máquina, e os capitais
circulantes (outrora chamados em giro) que se precipitam, se afogam no
processo de produção: o trigo das sementes, as matérias-primas, os produtos
semi-acabados e o dinheiro de muitos acertos de contas (rendimentos, lucros,
rendas, salários) (2009, pp. 209-210).

Para alguns estudiosos, como Pierre Vilar (1975), não existe


capitalismo propriamente dito nas cidades do período feudal, já que
em suas configurações não estava consolidada a separação entre
os meios de produção e o produtor.

Ascenção do capitalismo
Essa revolução teve o seu início na Grã-Bretanha e na Europa Ocidental,
particularmente, porque a região era bem-sucedida no âmbito econômico-financeiro;
apresentou uma expansão comercial acelerada; conseguiu estabelecer um considerável
acúmulo de riquezas durante os séculos anteriores; instituiu um governo centralizador;
preparou-se belicamente contra as ameaças político-militares, estimulando um
comércio; uma agricultura mais diversificada e com boas terras cultiváveis; além de
mão-de-obra suficiente para o trabalho no campo e nas indústrias.
A respeito da influência dos Estados-nacionais sobre o capitalismo e a
revolução industrial, segue as considerações de Lourival Santos:
O Estado nacional teve um papel fundamental para criar condições políticas,
jurídica e militar favoráveis à formação do capitalismo. O poder responsável
pela edição e aplicação de leis que regulamentaram as atividades econômicas,
a consolidação de uma concepção de mundo, que justificasse e legitimasse o
enriquecimento oriundo dos juros, o que desmontou o discurso emanado da
Igreja Católica medieval.
A formação do estado nacional está articulada à necessidade de setores da
nobreza e dos grandes comerciantes que viam no desenvolvimento da
economia, através do comércio, o meio de subsidiar o fortalecimento do Estado,
necessário para criar as condições viabilizadoras do comércio (2011, p. 15).

A respeito da população europeia, vale mencionar, que a partir do século XVIII, a


mesma experimentava um abundante crescimento, provavelmente, pela superação das
epidemias; redução dos conflitos; superação da miséria e da fome; melhora das
condições de saúde; crescente produtividade agrícola, que assume inovações técnicas
e se enquadra nos moldes capitalistas; e alteração nas relações de apropriação da terra
(podendo ser comprada, vendida e comercializada).
Mais especificamente, a Grã-Bretanha se despontou por possuir suprimentos
minerais (carvão e ferro) em abundância; ter tradição na metalurgia e na mineração; ter
um sistema favorável de escoamento de mercadorias (rios, canais e estradas,
posteriormente, ferrovias); apresentar um expressivo número de trabalhadores
disponíveis à indústria, forçados pela política nacional a deixarem o campo; possuir uma
legislação que resguardava a propriedade privada; além, é claro, por ter um alto
investimento nessa atividade econômica.

Movimentos e Pensamentos Reacionários


Contudo, Rezende Filho, relata que todo o apogeu econômico da Revolução
Industrial também tinham altos custos, como se pode observar:
É lógico que os custos sociais dessa transformação estrutural foram enormes,
recaindo sobre as camadas menos favorecidas. A generalização do pagamento
dos salários semanais aos trabalhadores rurais (nas cidades eles eram pagos
muitas vezes diariamente, dado o grau de miséria a que viram-se reduzidos),
cortou os antigos vínculos que uniam o produtor à terra. O trabalhador viu-se
transformado em componente acessório à produção, podendo ser substituído a
qualquer tempo sem prejuízo desta. Houve uma aceleração da migração para
as cidades industriais, onde qualquer inovação técnica ampliava imediatamente
o mercado de trabalho. [...]
Longas jornadas de trabalho, de 14 e até 16 horas diárias, seis dias por
semana; remuneração no nível de subsistência; habitação em cortiços sem as
mínimas condições higiênicas; e constante situação de desemprego de um ou
mais membros das famílias operárias (Ibid., pp. 143,144).

Um dos primeiros problemas do capitalismo – e aquele que se tornaria um dos


seus grandes gargalos –, deve-se à condição socioeconômica do proletariado. A
industrialização, ao mesmo tempo em que abarrotou os cofres dos burgueses industriais e
enriqueceu o Estado, também produziu uma baixa qualidade de vida, principalmente para
os trabalhadores da indústria, que tinham graves problemas de moradia, de saúde e
jornadas de trabalho quase desumanas. O advento da produção industrial,
paradoxalmente, trouxe muita riqueza e tão grande pobreza, acentuando as diferenças
entre a burguesia e o proletariado.
Dessa condição, muito cedo começaram as movimentações de combate aos
problemas trazidos pela industrialização e pela urbanização desordenada. Restava
saber quem iria assumir as responsabilidades por realinhar as questões emergentes, se o
Estado, a sociedade civil organizada ou o próprio proletariado. Nesse contexto de
insatisfação social, tanto nas cidades como no campo, surgem as revoluções e lutas de
classes, incluindo os fundamentos do socialismo utópico, do marxismo e o anarquismo,
da segunda metade do século XIX em diante.
Dentre os pensadores da resistência, podemos destacar Louis Auguste Blanqui,
Pierre J. Proudhon, Ferdinand Lassale, Mikhail A. Bakunin, Karl Marx e Friedrich Engels,
estes dois últimos, com destaque a partir da publicação do ‘Manifesto do Partido
Comunista’. Antes de Marx e Engels, os pensadores do socialismo fazem parte da
corrente utópica, ou do socialismo utópico, já que nenhum deles concebia o socialismo
como resultado da luta de classes e nem mesmo das contradições do capitalismo.
No entanto, o socialismo científico, assumido pelo marxismo, entendia que as
revoluções sociais são consequências das condições sociais apresentadas pelo
capitalismo, devendo tais condições ser superadas para a instauração de uma ordem
genuinamente socialista. Em sua perspectiva dialética, entendiam que as transformações
históricas eram o resultado das contradições e conflitos estabelecidos pela
humanidade, como, por exemplo, pelas lutas de classes, os movimentos operários e
camponeses. Como solução para tais conflitos, propuseram a dissolução das classes
existentes, a fim de estabelecer uma nova classe universal, em que os direitos privados
dão lugar aos direitos coletivos.
Se Marx e Engels podem ser considerados os precursores do socialismo científico,
Proudhon e Bakunin estão entre aqueles que elaboraram o pensamento do anarquismo.
Num contexto de revoluções, no primeiro momento, ao contrário do marxismo, os
anarquistas propuseram a afirmação do indivíduo. Essa corrente ficou conhecida como
anarquismo individualista, que exaltava a liberdade humana em oposição às opressões
religiosas e políticas. Num segundo momento, a partir de Proudhon, o anarquismo passa a
defender que a liberdade individual se processa em meio à associação de indivíduos
que se unem em torno de um contrato. Essa corrente, conhecida como anarquismo
mutualista superou a fase individualista, estabelecendo inúmeras associações de ajuda e
cooperativas. Dentre as principais defesas do anarquismo estão o anticlericalismo, o anti-
partidarismo político, o anti-militarismo, o internacionalismo, além, é claro, da defesa de
ausência de governo centralizado e do direito à liberdade individual.

Um dos primeiros problemas do capitalismo – e aquele que se


tornaria um dos seus grandes gargalos –, deve-se à condição
socioeconômica do proletariado. A industrialização, ao mesmo
tempo em que abarrotou os cofres dos burgueses industriais e
enriqueceu o Estado, também produziu uma baixa qualidade de
vida, principalmente para os trabalhadores da indústria, que tinham
graves problemas de moradia, de saúde e jornadas de trabalho
quase desumanas.

O desenrolar do capitalismo
O capitalismo desenvolvido a partir da Revolução Industrial passou a se firmar como
sistema econômico prevalecente mundial. Dentre as suas as heranças, podemos destacar
o antagonismo entre o meio rural e urbano; a laicidade da sociedade; o crescimento
das desigualdades sociais dentro dos países e entre países mais desenvolvidos e
subdesenvolvidos; a crescente reivindicação pela democracia e por direitos humanos e
trabalhistas; maior influência econômico-financeira sobre a política; avanços
tecnológicos com impactos sociais; aumento dos impasses ambientais; maior acesso
aos bens de consumo; aumento das crises de âmbito nacional e internacional,
incluindo o desemprego, inflação, etc.
Do desenrolar do capitalismo, especialmente do século XIX em diante, vale nos
atentar para o liberalismo econômico, em grande parte, influenciado pelo crescimento
absurdo da burguesia, que passou a trabalhar para eliminação das restrições à obtenção
dos lucros. Fundamentado pelos movimentos iluminista e das revoluções francesa e
americana, o liberalismo – representado, inicialmente, por John Locke e Adam Smith – se
firmou como uma doutrina em defesa da liberdade individual nas mais diversas áreas da
vida, inclusive econômica, em oposição a interferência do Estado.
Nesse contexto de avanço capitalista, também merece destaque a política
imperialista ou o neocolonialismo fomentado pelas potências econômicas do século XIX
e início do século XX, todas elas atreladas ao desenvolvimento industrial. O
neocolonialismo constituiu-se basicamente pelo domínio político e econômico das
potências capitalistas sobre áreas coloniais, notadamente da África e da Ásia.
Estiveram envolvidos nessa empreitada, o Reino Unido, a França, a Bélgica, a Alemanha,
os Estados Unidos, Itália, Rússia e Japão.
Com o crescimento vertiginoso da produção industrial durante o século XIX, por
volta de 1873, eclodiu a primeira grande depressão econômica, quando o excesso de
produção produziu uma saturação da economia mundial. O mundo capitalista
experimentou uma preocupante elevação dos custos de produção, como o aumento de
salários e de preços dos bens; a redução dos mercados consumidores; a baixa
lucratividade atrelada aos preços baixos de venda; e uma intensa concorrência, em que
Inglaterra já não era mais a única força produtiva.
Dessa crise, surgiu a principal justificativa para o imperialismo, que se baseou na
necessidade de distribuir o capital excedente das grandes potências industriais do
mundo, que viram a alternativa para manter a expansão do sistema capitalista,
evitando, assim, o acirramento da competitividade entre elas. Essa competitividade
político-econômica, logo nas primeiras décadas do século XX, geraria as duas grandes
guerras mundiais.
Nesse contexto de instabilidade política imperialista, o capitalismo, que acabara de
superar sua primeira crise, ao final do século XIX, presenciou nova crise, dessa vez, em
1929. Entre as altas e baixas econômicas antes e depois da primeira guerra mundial, o
capitalismo mais uma vez gerou uma superprodução, o que proporcionou acumulação
de capital excessiva, desencadeando falta de venda, redução drástica da
lucratividade, aumento considerável de desempregos, da miséria e da estagnação
econômica não só entre os países pobres, mas também, entre os mais ricos, dentre eles,
os Estados Unidos, que já se constituía como maior potência mundial da época.
Ao contrário da ordem liberal do mundo, a saída para essa crise se deu pela
intervenção estatal, quando, o então presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, instituiu
um programa de recuperação econômica norte-americana, conhecido como o New Deal. A
partir daí, os Estados Unidos assume de vez a condução econômica mundial; posição
reforçada após a segunda guerra mundial. Mesmo em meio à Guerra Fria, entre a potência
soviética socialista frente aos Estados Unidos, o capitalismo experimentou grande
prosperidade, marcado pela intervenção estatal, que dá uma condição mais equilibrada ao
trabalhador não apenas como mão-de--obra, mas também, como consumidor necessário
para o sistema.
Essa fase iria até a década de 1970, quando novamente o mundo capitalista
enfrenta vestígios de crise, basicamente, pela crise do dólar, em 1971; pelas crises do
petróleo, em 1973 e 1979; e, a partir de 1980, pela inadimplência do mundo
subdesenvolvido; pelas crises das bolsas de valores; pelas lutas trabalhistas; pelo
aumento dos custos produtivos em função do crescente impacto ambiental da
industrialização e urbanização; pela desaceleração do mercado consumidor, que mais
uma vez promoveu e pelo um desequilíbrio diante do aumento da capacidade produtiva; e
pela ampliação da competitividade comercial.
Aparece dentre os mecanismos de regulação capitalista o neoliberalismo e a
globalização, características de uma nova ordem mundial, promovendo as fusões
empresarias, o surgimento das multinacionais, o investimento em serviços complementares
e no desenvolvimento do marketing, como instrumento de investigação e planejamento do
mercado.
A respeito dessa tendência do capitalismo de nossos dias, vale as considerações de
Fernando Loch, comentando considerações de Maria Silveira:
Apesar do surgimento de novas necessidades produtivas e, consequentemente,
novas profissões, o aparecimento desses novos postos de trabalho não
compensariam o desaparecimento dos postos antigos, e ainda demandariam
um empregado altamente qualificado.
Essa nova sociedade ficaria, então, marcada por uma maior concentração de
renda. [...] O problema da economia seria estrutural, o excedente seria
transformado em lucro, apropriado pelo poder privado, não sendo revertido em
melhorias sociais. [...] A intelectual também discute a existência de uma
pobreza estrutural e faz uma relação com o território. Haveria um uso seletivo
do território nacional comandado pelo neoliberalismo. O setor privado tenderia a
se instalar onde existisse, ou houvesse, a possibilidade de existir, uma
demanda. Com isso as populações de lugares mais pobres tenderiam a ser
excluídas. Essa exclusão levaria a uma dificuldade destes sítios em obter bens
e serviços, contribuindo para o seu enfraquecimento. A tecnologia agindo em
conjunto com os contínuos processos de fusão levariam a uma redução do
número de pólos decisórios (LOCH, 2013, pp. 63-64).

Assim sendo, numa análise histórica, torna-se imprescindível consideramos que a


globalização – por meio da integração das atividades produtivas, comerciais e financeiras,
a partir de redes de comunicações cada vez mais dinâmicas – coopera com os interesses
neoliberais, que estão interessados em obter mais lucro, inclusive, pela exploração da
mão-de-obra e das matérias-primas mais disponíveis e baratas do mundo
subdesenvolvido; reafirmando, assim, uma divisão internacional do trabalho limitante para
aqueles que pretendem superar sua fase de atraso tecnológico, social e econômico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final de nosso terceiro módulo, podemos considerar que o modo de produção


capitalista, de fato, estabeleceu-se em todo o mundo e ainda prevalece, em grande parte,
por sua capacidade de auto-ajustes constantes, além, é claro, da sua imposição sobre
outros aspectos da vida humana, como o político, social e cultural, por exemplo.
Observamos que as estruturas cristalizadas por esse regime econômico
dependeram de sucessivas conjunturas estabelecidas num longo período de transição, que
conseguiram sobrepor os interesses financeiro-econômicos da classe burguesa.
Dessa maneira, percebemos que, apesar das condições desiguais perpetuadas pelo
capitalismo, a humanidade ainda não conseguiu superar as relações de poder
estabelecidas por esse regime, seja pelos movimentos de classes, pelas ideologias
socialistas, anarquistas, entre outras. Talvez isso aconteça, devido esse regime
socioeconômico representar bem os anseios mais intrínsecos do ser humano, a saber, o
poder disponível a “qualquer um”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII: os


jogos das trocas. 2. vol.; 2. ed., São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

DOBB, Maurice. Do feudalismo para o capitalismo. In: SWEEZY, Paul (et. al.) A transição
do feudalismo para o capitalismo. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004. pp. 209-214.

HOBSBAWM, Eric. Do feudalismo para o capitalismo. In: SWEEZY, Paul (et. al.) A
transição do feudalismo para o capitalismo. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004.
pp. 201-208.

LOCH, Fernando Antônio Salomão. Os impactos da globalização sobre a pobreza do


Brasil. Curitiba, 2013. Dissertação de Mestrado em Geografia, Universidade Federal do
Paraná, UFPR.

MERRINGTON, John. A cidade e o campo na transição para o capitalismo. In: SWEEZY,


Paul (et. al.) A transição do feudalismo para o capitalismo. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 2004. pp. 215-247.

REZENDE FILHO, Cyro de Barros. História econômica geral. 9. ed. 2. reimp. São Paulo:
Contexto, 2010.

SANTOS, Lourival Santana. História econômica geral e do Brasil. São Cristóvão:


Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2011.

VILAR, Pierre. A transição do feudalismo ao capitalismo. In: Santiago, Théo Araújo,


Capitalismo: transição. 2. ed., Rio de Janeiro: Eldorado,1975.
LEITURAS COMPLEMENTARES:
Cap. 4 – O Capitalismo em Casa, do livro “Civilização material, economia e capitalismo”,
de Fernand Braudel. Ano, 2009. pp. 329-405.

Cap. Suplementar – Do feudalismo para o capitalismo, do livro “A transição do


feudalismo para o capitalismo”, de Paul Sweezy (et. al.), 2004. pp. 209-214.

SUGESTÃO DE VÍDEO:
Vídeo para complementar os conhecimentos:
Na Íntegra – Flávio Saes – Capitalismo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fnvCInpRvGk>.

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