História
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INTRODUÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MÓDULO 03 – Ascensão, crises e questionamentos do capitalismo.
Conversa Inicial
Por volta dos séculos XV e XVI, então, no decorrer da crise do feudalismo, que as
forças produtivas passaram a ser impactadas, abrindo espaço para outras sobreposições
históricas. Pierre Vilar, comenta que:
No século XV o número de inventos foi maior do que no século XVII. O uso da
artilharia obrigou a impulsionar a produção metal. O primeiro alto forno data do
século XV. A difusão do pensamento humano, com a invenção da imprensa, o
progresso da ciência da navegação desenharam um papel não menos
importante. Observamos que, pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas
de comunicação ultrapassam a técnica agrícola. é o começo de um processo
que colocará a indústria no primeiro plano do progresso. [...] o apelo comercial
da indústria têxtil, faz com que na Inglaterra e em Castela a criação de
carneiros concorra com a agricultura e despovoe os campos. É uma
especialização que vai no sentido do capitalismo (produção para o grande
comércio, êxodo rural, com vantagem para as cidades, proletarização do
campesinato). [...]
Uma nova era abria-se para o capital mercantil, mais fecunda que as das
repúblicas mediterrâneas da Indade Média, porque desta vez constituía-se um
mercado mundial e seu impulso afetava todo o sistema produtivo europeu, e
porque grandes Estados (e não mais simples cidades) daí iriam aproveitar-se
para se constituírem (1975, pp. 38-39).
Ascenção do capitalismo
Essa revolução teve o seu início na Grã-Bretanha e na Europa Ocidental,
particularmente, porque a região era bem-sucedida no âmbito econômico-financeiro;
apresentou uma expansão comercial acelerada; conseguiu estabelecer um considerável
acúmulo de riquezas durante os séculos anteriores; instituiu um governo centralizador;
preparou-se belicamente contra as ameaças político-militares, estimulando um
comércio; uma agricultura mais diversificada e com boas terras cultiváveis; além de
mão-de-obra suficiente para o trabalho no campo e nas indústrias.
A respeito da influência dos Estados-nacionais sobre o capitalismo e a
revolução industrial, segue as considerações de Lourival Santos:
O Estado nacional teve um papel fundamental para criar condições políticas,
jurídica e militar favoráveis à formação do capitalismo. O poder responsável
pela edição e aplicação de leis que regulamentaram as atividades econômicas,
a consolidação de uma concepção de mundo, que justificasse e legitimasse o
enriquecimento oriundo dos juros, o que desmontou o discurso emanado da
Igreja Católica medieval.
A formação do estado nacional está articulada à necessidade de setores da
nobreza e dos grandes comerciantes que viam no desenvolvimento da
economia, através do comércio, o meio de subsidiar o fortalecimento do Estado,
necessário para criar as condições viabilizadoras do comércio (2011, p. 15).
O desenrolar do capitalismo
O capitalismo desenvolvido a partir da Revolução Industrial passou a se firmar como
sistema econômico prevalecente mundial. Dentre as suas as heranças, podemos destacar
o antagonismo entre o meio rural e urbano; a laicidade da sociedade; o crescimento
das desigualdades sociais dentro dos países e entre países mais desenvolvidos e
subdesenvolvidos; a crescente reivindicação pela democracia e por direitos humanos e
trabalhistas; maior influência econômico-financeira sobre a política; avanços
tecnológicos com impactos sociais; aumento dos impasses ambientais; maior acesso
aos bens de consumo; aumento das crises de âmbito nacional e internacional,
incluindo o desemprego, inflação, etc.
Do desenrolar do capitalismo, especialmente do século XIX em diante, vale nos
atentar para o liberalismo econômico, em grande parte, influenciado pelo crescimento
absurdo da burguesia, que passou a trabalhar para eliminação das restrições à obtenção
dos lucros. Fundamentado pelos movimentos iluminista e das revoluções francesa e
americana, o liberalismo – representado, inicialmente, por John Locke e Adam Smith – se
firmou como uma doutrina em defesa da liberdade individual nas mais diversas áreas da
vida, inclusive econômica, em oposição a interferência do Estado.
Nesse contexto de avanço capitalista, também merece destaque a política
imperialista ou o neocolonialismo fomentado pelas potências econômicas do século XIX
e início do século XX, todas elas atreladas ao desenvolvimento industrial. O
neocolonialismo constituiu-se basicamente pelo domínio político e econômico das
potências capitalistas sobre áreas coloniais, notadamente da África e da Ásia.
Estiveram envolvidos nessa empreitada, o Reino Unido, a França, a Bélgica, a Alemanha,
os Estados Unidos, Itália, Rússia e Japão.
Com o crescimento vertiginoso da produção industrial durante o século XIX, por
volta de 1873, eclodiu a primeira grande depressão econômica, quando o excesso de
produção produziu uma saturação da economia mundial. O mundo capitalista
experimentou uma preocupante elevação dos custos de produção, como o aumento de
salários e de preços dos bens; a redução dos mercados consumidores; a baixa
lucratividade atrelada aos preços baixos de venda; e uma intensa concorrência, em que
Inglaterra já não era mais a única força produtiva.
Dessa crise, surgiu a principal justificativa para o imperialismo, que se baseou na
necessidade de distribuir o capital excedente das grandes potências industriais do
mundo, que viram a alternativa para manter a expansão do sistema capitalista,
evitando, assim, o acirramento da competitividade entre elas. Essa competitividade
político-econômica, logo nas primeiras décadas do século XX, geraria as duas grandes
guerras mundiais.
Nesse contexto de instabilidade política imperialista, o capitalismo, que acabara de
superar sua primeira crise, ao final do século XIX, presenciou nova crise, dessa vez, em
1929. Entre as altas e baixas econômicas antes e depois da primeira guerra mundial, o
capitalismo mais uma vez gerou uma superprodução, o que proporcionou acumulação
de capital excessiva, desencadeando falta de venda, redução drástica da
lucratividade, aumento considerável de desempregos, da miséria e da estagnação
econômica não só entre os países pobres, mas também, entre os mais ricos, dentre eles,
os Estados Unidos, que já se constituía como maior potência mundial da época.
Ao contrário da ordem liberal do mundo, a saída para essa crise se deu pela
intervenção estatal, quando, o então presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, instituiu
um programa de recuperação econômica norte-americana, conhecido como o New Deal. A
partir daí, os Estados Unidos assume de vez a condução econômica mundial; posição
reforçada após a segunda guerra mundial. Mesmo em meio à Guerra Fria, entre a potência
soviética socialista frente aos Estados Unidos, o capitalismo experimentou grande
prosperidade, marcado pela intervenção estatal, que dá uma condição mais equilibrada ao
trabalhador não apenas como mão-de--obra, mas também, como consumidor necessário
para o sistema.
Essa fase iria até a década de 1970, quando novamente o mundo capitalista
enfrenta vestígios de crise, basicamente, pela crise do dólar, em 1971; pelas crises do
petróleo, em 1973 e 1979; e, a partir de 1980, pela inadimplência do mundo
subdesenvolvido; pelas crises das bolsas de valores; pelas lutas trabalhistas; pelo
aumento dos custos produtivos em função do crescente impacto ambiental da
industrialização e urbanização; pela desaceleração do mercado consumidor, que mais
uma vez promoveu e pelo um desequilíbrio diante do aumento da capacidade produtiva; e
pela ampliação da competitividade comercial.
Aparece dentre os mecanismos de regulação capitalista o neoliberalismo e a
globalização, características de uma nova ordem mundial, promovendo as fusões
empresarias, o surgimento das multinacionais, o investimento em serviços complementares
e no desenvolvimento do marketing, como instrumento de investigação e planejamento do
mercado.
A respeito dessa tendência do capitalismo de nossos dias, vale as considerações de
Fernando Loch, comentando considerações de Maria Silveira:
Apesar do surgimento de novas necessidades produtivas e, consequentemente,
novas profissões, o aparecimento desses novos postos de trabalho não
compensariam o desaparecimento dos postos antigos, e ainda demandariam
um empregado altamente qualificado.
Essa nova sociedade ficaria, então, marcada por uma maior concentração de
renda. [...] O problema da economia seria estrutural, o excedente seria
transformado em lucro, apropriado pelo poder privado, não sendo revertido em
melhorias sociais. [...] A intelectual também discute a existência de uma
pobreza estrutural e faz uma relação com o território. Haveria um uso seletivo
do território nacional comandado pelo neoliberalismo. O setor privado tenderia a
se instalar onde existisse, ou houvesse, a possibilidade de existir, uma
demanda. Com isso as populações de lugares mais pobres tenderiam a ser
excluídas. Essa exclusão levaria a uma dificuldade destes sítios em obter bens
e serviços, contribuindo para o seu enfraquecimento. A tecnologia agindo em
conjunto com os contínuos processos de fusão levariam a uma redução do
número de pólos decisórios (LOCH, 2013, pp. 63-64).
DOBB, Maurice. Do feudalismo para o capitalismo. In: SWEEZY, Paul (et. al.) A transição
do feudalismo para o capitalismo. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004. pp. 209-214.
HOBSBAWM, Eric. Do feudalismo para o capitalismo. In: SWEEZY, Paul (et. al.) A
transição do feudalismo para o capitalismo. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004.
pp. 201-208.
REZENDE FILHO, Cyro de Barros. História econômica geral. 9. ed. 2. reimp. São Paulo:
Contexto, 2010.
SUGESTÃO DE VÍDEO:
Vídeo para complementar os conhecimentos:
Na Íntegra – Flávio Saes – Capitalismo. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=fnvCInpRvGk>.