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Esenvolvimento Infantil Facilitação DO Meio Holding Violências Resiliência E Estilos Cognitivo Afetivos

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DESENVOLVIMENTO

ARTIGO INFANTIL VS. HOLDING


ORIGINAL

DESENVOLVIMENTO INFANTIL FACILITAÇÃO DO


MEIO (HOLDING): VIOLÊNCIAS, RESILIÊNCIA E
ESTILOS COGNITIVO-AFETIVOS

Eloisa Quadros Fagali

RESUMO - Este texto aborda a importância do processo maturacional e


a facilitação do meio no desenvolvimento das crianças, segundo a teoria
psicanalítica de Winnicott1,2,3 e Gilberto Safra4,5,6. O estudo focaliza as
distorções de relacionamentos “crianças-família- escola-cultura” , e diferente
violências, colocando ênfase na possibilidade de integração humana e criação
cultural. A pesquisa discute aspectos essenciais para a aprendizagem
eficiente na família, escola, comunidade e terapias. Este trabalho apresenta
a satisfatória “relação criança- mãe”, o “holding”, os diferentes estilos
cognitivos-afetivos (Carl Jung,7 Won Franz,8 e os processos arte-terapêuticos
(Fagali)9,10, abrindo portas para a aprendizagem de psicopedagogos e
crianças.

UNITERMOS: Processo de maturação. Função Materna. Holding.


Violência. Resiliência. Aprendizagem.

Eloisa Quadros Fagali - Doutora e Mestre em Psicologia Correspondência


da Educação; arteterapeuta, psicodramatista e Eloisa Quadros Fagali
psicopedagoga clínica e institucional, especialista em Rua Itapicuru, 125 - Perdizes - São Paulo
grupos operativos , aperfeiçoamentos em psicanálise CEP: 05006-000
Winnicottiana (PUC) e abordagem em Jung (Sedes E-mail: eqfagali@uol.com.br
Sapientiae). Supervisora e professora no curso de
Psicopedagogia (PUC-SP), uma das fundadoras,
coordenadoras e supervisoras do curso de Psico-
pedadogia do Instituto Sedes Sapientiaee; professora e
orientadora do curso de arteterapia do mesmo Instituto.
Orientadora de pesquisas e formação de cuidadores
para o desenvolvimento infantil para prevenções frente
às diferentes dimensões de violência, (enfoque sistêmico
e psicanalítico) Fundadora e supervisora do Núcleo
Integração Psicopedagógica: orientação e pesquisa e
da Ong “Interação” para o apoio educacional e clinico
de crianças, adolescentes, adultos e familiares, com
baixa renda. Conselheira da ABPp.

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INTRODUÇÃO relação “ bebê-ambiente”. Precisamos estar


Desenvolvo nesse artigo reflexões e análises atentos às sutis diferenças das dinâmicas
de pesquisas e projetos psicopedagógicos, interpessoais, dos contatos com o outro e os
realizados com a participação e colaboração diferentes objetos do meio. Outro aspecto a ser
da equipe interdisciplinar do Núcleo Psico- considerado refere-se ao pensamento e à
pedagógico de estudos e pesquisas Integração percepção humana que fragmenta a criança, o
e da Ong Interação, que presta serviços de homem e o conhecimento, ao dissociar os
orientações psicopedagógicas à população de aspectos fisiológicos, psíquicos e sociais,
baixa renda. Um dos objetivos das pesquisas separando o cognitivo do afetivo e padronizando
refere-se à orientação de cuidadores, professores as avaliações sobre o homem, sua aprendizagem
e psicopedagogos, bem como orientação aos pais e desenvolvimento, nos diferentes ciclos de vida.
e familiares, escolas, e outras organizações, na As práticas educativas e sociais, bem como os
área de educação e saúde, tendo como foco o tratamentos na área de saúde, muitas vezes
desenvolvimento e apoio psico-sócio-educa- reproduzem este olhar fragmentado e
cional de crianças, adolescentes e adultos. padronizado.
Selecionei, dentre os diferentes estudos, a Compartilho com pensadores contem-
pesquisa e projeto que diz respeito aos cuidados porâneos que se propõem a ampliar e aprofundar
maternos com as crianças, nas suas relações com nas pesquisas e projetos psico-educacionais e
adultos. O estudo focaliza as dificuldades e sociais, levando em conta a complexidade da
facilitações da cultura contemporânea, frente aos percepção, do diagnóstico e das formas de
diferentes níveis e significados de violências, e intervenção que facilitam o desenvolvimento
traz sugestões sobre o desenvolvimento psico-educacional da criança. São concepções
saudável. As questões que norteiam nossas que se libertam dos paradigmas que isolam e
reflexões são as seguintes: padronizam o homem, provocando sérios
• Qual o olhar saudável para a infância, problemas psico-educacionais. Com base nesses
libertando-nos dos paradigmas que isolam, propósitos, um dos desafios psico-sócio-
fragmentam e padronizam o homem em geral? educacionais dizem respeito à necessidade de
• Quais os pensamentos e observações que olharmos a relação “criança-ambiente”, tendo em
possibilitam escutar e lidar com crianças de vista as diferentes dinâmicas afetivas e as
uma forma mais integrada, levando em conta múltiplas condições da criança, adolescente e
a dinâmica relacional “criança-ambiente” e adulto, nesta relação “eu-outro”.
o respeito às diferenças? A intenção destas reflexões e pesquisas,
• Como ampliar nossas percepções e apresentadas no presente artigo, é refletir sobre
conhecimentos para observarmos as sutis algumas entres as diferentes dinâmicas
dimensões de violências, nesta relação entre relacionais do bebê com o ambiente, tendo como
crianças, adultos e ambientes, a fim de objetivo aprofundamento sobre o diagnóstico
podermos criar condições de aprendizagem psicopedagógico e criações das condições de
que possibilitem o desenvolvimento integral aprendizagem, aperfeiçoando o “manejo
e saudável da criança e dos futuros ado- terapêutico”1. A pesquisa analisa as dinâmicas
lescentes e adultos? relacionais e as falhas ambientais que geram
Percebemos nos estudos clássicos da fraturas e sugere recursos para as percepções e
psicologia clínica e da educação, da psiquiatria aprendizagens que possibilitam o gesto criativo
e de outras áreas de estudos científicos, bem do bebê e o desenvolvimento dos diferentes
como nas atuações dos adultos, uma tendência estilos cognitivo-afetivos da criança e de quem
a olhar a criança como um ser isolado, não cuida da mesma. Estes estilos referem-se às
levando em conta a dinâmica interpessoal, a diferentes formas de contato e de expressão,

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segundo as avaliações e estudos psicopeda- (holding) ao bebê. Durante o desenvolvimento


gógicos 2 . São estudos fundamentados na relacional com a “mãe-ambiente”, o bebê liberta-
abordagem analítica de Carl Jung 3 e de se gradativamente da condição de dependência
VonFranz4, sobre tipos psicológicos e que se absoluta, para a relativa, constituindo-se
ampliam com um enfoque psicopedgaógico, progressivamente nas trocas entre frustrações e
estudos sobre múltiplas inteligências 5 e satisfações, limites e possibilidades. Por meio
contribuições da Arteterapia2. das trocas de sensações e sentimentos, a “ mãe
A meta dos projetos psicopedagógicos ambiente ”permite que o “ nascente” manifeste
apoiados nas pesquisas é ampliar as condições o seu “gesto criativo”, necessário para a
educacionais e terapêuticas da criança, tendo constituição da sua auto-confiança e da iden-
em vista o desenvolvimento da resiliência, frente tidade, possibilitando a experiência integrativa
aos riscos de violências, que se manifestam com momentânea do “eu sou”, condição “que só se
sutis diferenças. instala realmente no self do bebê, à medida em
Apresento alguns recortes e conclusões que o comportamento da figura materna é
destas pesquisas e estudos com análises de suficientemente bom”, no que diz respeito às
dados e sugestões de diagnósticos e práticas de “adaptações e desadaptações” Winnicott 1 .
intervenções psico-educacionais-pedagógicas, Segundo Winnicott1, o Self não é ego e se refere
focalizando as seguintes questões: Como olhar à “... pessoa que eu sou que é somente eu (me)
o desenvolvimento da criança segundo e relação que possui uma totalidade baseado na operação
dinâmica “bebê-mãe-ambiente”? Como ocorre do processo maturativo”.. O Self é um conceito
a condição de receber e dar o suporte necessário, complexo que não será possível aprofundar
considerando a relação “bebê-mãe ambiente” e neste artigo, mas que colocarei em destaque
a dinâmica cultural? Que dimensões de como um movimento constante em busca do
violências se apresentam nesta relação “criança- “eu sou”, da possível integração que se inicia
mãe ambiente-cultura”? Como gerar condições na dinâmica relacional do bebê com a “mãe-
psicopedagógicas de aprendizagem para o ambiente”. Este processo ocorre no início do
desenvolvimento da resiliência e criar recursos desenvolvimento do bebê, que experimenta
terapêuticos, frente aos riscos de violências do subjetivamente as facilitações e falhas da “ mãe
ambiente? ambiente” 6,7 . Como então acolher e dar a
sustentação necessária para a constituição
REFLEXÕES TEÓRICAS criativa desse “ser criança”, fundamental para o
Winnicott1,6, pediatra e psicanalista inglês, seu desenvolvimento emocional e cognitivo?
aprofunda-se nos estudos sobre o desen- Como evitar as interrupções traumáticas que
volvimento da criança, com um enfoque muito fragmentam e geram consequências dolorosas
singular sobre os processos de maturação do e mais difíceis de serem superadas?
homem, tendo em vista as origens e o desen- As respostas a estas indagações são
volvimento psíquico da criança, sempre complexas e exigem concepções que requerem
permeados pela dinâmica relacional “bebê- mãe- novas formas de pensar, em relação aos conceitos
ambiente”. Como pediatra e psicanalista, ele sobre o homem, abordagens que integram as
amplia os conceitos clássicos psicanalíticos, dinâmicas psíquicas, fisiológicas, neurológicas
considerando a concepção do homem como e as forças ambientais.
essencialmente social. Ressalta a relação inicial Gilberto Safra 8 , psicólogo clínico “pós
de dependência absoluta do bebê com a “mãe docto”(USP. S.P.), avança nos estudos de
ambiente”. O autor aprofunda sobre essa Winnicott sobre o desenvolvimento dos bebês,
dinâmica relacional em que se faz necessário a levando em conta a dinâmica das culturas,
função materna que dá segurança e suporte associando-as aos conceitos de “mãe ambiente”.

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Destaco a reflexão do autor com as articulações MÉTODO


das diferentes dinâmicas relacionais “bebê-mãe- A “pesquisa-participação”, complementada
ambiente-cultura”,que geram interrupções do com estudos de casos e com análises
desenvolvimento emocional da criança, qualitativas dos dados, se desenvolveu
caracterizando-se no que Safra denomina de acoplada a projetos psicopedagógicos
“fragmentos” e sofrimentos humanos que educacionais de orientação escolar, visando à
repercutem em todo processo evolutivo da formação de cuidadores e terapeutas, à
criança, adolescente e adulto. Com base nos orientação familiar e ao aprofundamento dos
estudos de Safra, a presente pesquisa coloca diagnósticos e intervenções. Seleciono para o
como indicadores de avaliações os “fragmentos” presente artigo alguns dados de pesquisa e
resultantes dos desvios na relação “bebê- projeto desenvolvidos em duas escolas de
ambiente”. O presente estudo destaca estes educação infantil (escola A, de pequeno porte,
indicadores de desvios como referências para e escola B, de grande porte) e nas orientações
se criar condições opostas que possibilitam o psicopedagógicas aos familiares (2 grupos de
desenvolvimento da resiliência. Outras análises 6 mães de crianças de educação infantil e de
e criações desenvolvidas nesta pesquisa referem- pré-adolescentes).
se às condições da “mãe- ambiente facilitadora”,
levando em conta a aprendizagem, segundo os Procedimentos e Instrumentos
diferentes estilos cognitivo-afetivos, mediados As pesquisas ocorreram durante o próprio
pelos jogos e pelas artes. Estilos referem-se às desenvolvimento do projeto, coletando
constituições singulares, próprias de cada respostas verbais e não verbais, no início, meio
criança, que podem se associar aos tipos e final do processo. Analisou-se as perma-
psicológicos de Carl Jung3, ampliados segundo nências e alterações de percepções e posturas
estudos psicopedagógicos com enfoque dos adultos e o desenvolvimento cognitivo-
arteterapêutico fenomenológico 2 . Nessas afetivo das crianças, durante 4 meses, uma vez
articulações entre diferentes fundamentações por semana, com encontros de 3 a 4 horas,
teóricas, não se pretende forçar uma integra-ção dependendo das dinâmicas e expressões dos
entre as abordagens, por respeitar as concepções participantes.
epistemológicas de cada autor. A proposta é Os instrumentos de pesquisa para avaliação
desenvolver, nas análises e reflexões dos dados, e intervenção referiam-se às dinâmicas e
uma construção psicopedagógica que faz expressões não verbais e verbais que se
aproximações entre alguns conceitos, segundo desdobraram durante o desenvolvimento dos
um enfoque fenomenológico e as convergências projetos de intervenção. Destaco, a seguir, as
sobre a “concepção de homem em processo” que dinâmicas mais significativas para as
se revela na experiência relacional com o discussões que propus apresentar no artigo:
“ambiente-cultura”.
1.Sensibilização: resgate da história e o
A minha intenção, no presente artigo, é
encontro com a condição de ser criança; 2)
apresentar alguns recortes das pesquisas e
Atividades de relaxamentos e visualizações
reflexões que refletem e analisam as falhas da
para o adulto sentir subjetivamente a condição
“mãe ambiente-cultura”, para chegar ao pólo
oposto: as condições de desenvolvimento e infantil e reviver a experiência do contato com
aprendizagem saudáveis que possibilitam o o outro; 3) Dinâmicas de grupo mediadas por
“holding”, integração do self e a expressão da músicas, contos de heróis com os quais os pais
criança, respeitando o seu jeito singular de ser e e cuidadores se identificam, ampliando estas
de se expressar cognitivamente e afetivamente, práticas no trabalho com as crianças; 4)
no percurso do seu desenvolvimento. Entrevistas com pais e educadores.

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Análise das Respostas da escola esta variação de atividades e


As análises qualitativas foram obtidas por estimulações. Na escola tipo A (Instituição de
meio de expressões em desenhos, com colagens pequeno porte), havia consciência desta
de imagens e esculturas em argilas e arames; necessidade do tempo de espera da criança, por
expressões dos níveis de satisfação e cons- parte dos orientadores e coordenadores
cientização, segundo escala de valores; auto- psicopedagogos, fato que contribuía para aplacar
percepção verbal associada à força do herói que a ansiedade dos professores e pais da escola,
se manifesta na aprendizagem. com relação às exigências de outras escolas
As análises qualitativas e reflexões dos maiores que recebem estas crianças para o nível
dados, bem como as criações de aprendizagem, fundamental, a ponto de estimular adaptações
foram desenvolvidas, levando em conta as mecânicas e aceleradas, não havendo o tempo
condições das escolas, da família e da cultura necessário para a alfabetização e assimilação de
em geral, segundo os indicadores derivados das informações das crianças. Nos sujeitos adultos
reflexões de Gilberto Safra8,9 sobre desvios da com os quais trabalhamos, constatou-se o
relação ”bebê-mãe-ambiente” e indicadores desenvolvimento de consciência, com mudanças
sobre as condições facilitadoras de aprendizagem de atitudes no sentido de desconstruir este valor
que possibilitam o desenvolvimento dos contemporâneo da ”cultura da excitação e do
diferentes estilos cognitivo-afetivos, segundo consumismo” geradora de dispersões,
pesquisas e estudos psicopedagógicos2,10,11. excitações, desvios da conduta e problemas de
aprendizagem da própria criança, impossi-
RESULTADOS E DISCUSSÃO bilitada de manifestar seu gesto criativo, no
passado e no presente. Na escola infantil de
Indicadores para avaliação e intervenção pequeno porte (tipo A), este processo era mais
Com base nas reflexões de Gilberto Safra8,9 cuidado, o que gerava um estado saudável de
sobre fragmentos humanos devido às falhas nas relaxamento da criança e dos educadores, com
relações “bebê –mãe-ambiente”, destacamos para escutas que permitiam a expressividade criativa
discutir, no presente artigo, os seguintes e espontânea infantil.
indicadores, entre muitos outros, por terem sido 2 - A “mãe -objeto ausente”: função da mãe
mais presentes nas análises e intervenções e características do meio cultural , em que o outro
desenvolvidas: não se coloca presente para receber , acolher e
1 - A “mãe intrusiva”: função de mãe e garantir a sustentação da criança. Há apenas
característica do meio cultural em que há ausência, levando o bebê a sentir a profunda
presença excessiva de quem está no lugar da sensação de solidão que impede a constituição
mãe, intensificando a percepção da criança e do Self, ou seja, a sensação momentânea do “eu
suas defesas com respostas prematuras, sem o sou”. Com relação à “mãe-objeto ausente”,
tempo para poder expressar-se no seu gesto constatamos que estas experiências apareceram
criativo. Há então uma adaptação forçada àquilo com grande frequência nas condições familiares
que é apresentado pela “mãe-ambiente” . em que os pais trabalham fora e as crianças
Observou-se na escola de educação infantil ficavam precocemente institucionalizadas. Entre
e na orientação familiar com mães, princi- os pais de baixa renda, ocorriam situações de
palmente as de classe média, uma certa desvios relacionais na inserção das crianças em
voracidade nas apresentações de estímulos e a ambientes educacionais devido ao número muito
tendência a valorizar o excesso de atividade, e grande de aprendizes infantis e aos despreparos
ocupações para o bebê, associando-os ao valor dos cuidadores em relação às condições de
positivo de cuidados que atendem à demanda escutar e acolher a criança. Mas as fraturas
da aceleração cultural. As mães tendiam a cobrar maiores apresentavam-se nos relatos e nas

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experiências das mães de classe média cujos e abertura com as crianças, repetindo
bebês ficavam com “babás” despreparadas ou já ocorrências vividas na sua infância, associados
precocemente institucionalizados. Por outro lado, a depressões, doenças, abandonos e convi-
estas condições saudáveis se apresentavam mais vências com pais alcoólatras. Observou-se nas
nas mães de baixa renda, por obterem suporte famílias nucleares, em que havia deslocamento
de tios e avós que moram na própria casa ou para os cuidados de avós, uma tendência a
nas proximidades. Na escola de educação compensações de acolhimentos, possibilitando
infantil de classe média “tipo A” já se desenvolvia maior vitalidade diante da frágil condição
uma necessidade da presença, da abertura para materna da mãe. Algumas dessas crianças, que
escutar a criança, aspectos muito trabalhados não têm outros apoios, apresentavam uma falsa
pela profissional com formação psicopedagógica. auto-sustentação (falso self) com desconfianças
Segundo suas avaliações, muitas crianças já diante da ajuda e escuta do outro.
chegavam com a experiência da ausência vivida A “mãe-tecnológica”: função da mãe e
no âmbito familiar, o que gerava maiores valores do ambiente cultural associados ou
dificuldades para o acolhimento no âmbito sustentados pelas máquinas, de forma que a “a
escolar. Estas avaliações e processos apontaram criança é apresentada em mundo onde não se
a necessidade de projetos focalizando a vislumbra a presença humana em seu meio
aprendizagem familiar que irá ocorrer no ambiente. Os cuidados recebidos não se
próprio espaço da escola, apesar de se perceber remetem à corporeidade humana e sim às
e termos consciência que muitos destes pais não medidas e às mediações das máquinas.
se aproximam da escola como parceiros A mãe-tecnológica se manifestou mais na
educadores. Foram observados tanto na escola escola Tipo B, de grande porte, com número
A como B muitos traços de crianças precocemente grande de crianças. Havia muitos recursos
solitárias que geravam desadaptações e eletrônicos que mobilizavam as crianças a ponto
dificuldades de atenção. Observou-se na escola de afastarem-se dos contatos com os cuidadores,
tipo A que, após as acolhidas no ambiente que, por sua vez, se distanciavam, compen-
escolar, depois de um certo tempo, essas crianças sando-se pelos apoios das técnicas, descui-
que chegam apáticas e ficam “soltas no espaço”, dando-se da atenção pessoal necessária e da
com os contatos e atenção dos cuidadores, necessária presença corpórea como “pessoa-
demonstram progressivamente um grau de educador ” . Na escola de educação infantil Tipo
vitalidade e espontaneidade, mas retornam a A, de pequeno porte, as crianças sempre estavam
postura de tristeza e isolada em cada momento acompanhadas dos cuidadores, revelando na
inicial de chegada à escola. rotina a presença corpórea intensa, apesar de
3 - A “mãe adoecida”: função da mãe e contatos e brinquedos eletrônicos num tempo
valores do ambiente cultural carregados de suficiente, não ocupando o espaço para a
fragilidade, sofrimento, impotência e medos, de presença corpórea do outro. Nesta escola A,
forma que a criança fica impossibilitada de contribuíam muito para estes contatos
confiar suficientemente para receber o que interpessoais as experiências de artes, trabalhos
precisa na relação de dependência absoluta. corporais e contatos com a natureza. Na
Nessa condição, o bebê mobiliza defesas e fica orientação familiar, constatou-se, durante as
incapaz de expressar seu gesto criativo, em sensibilizações com os pais de classe média,
busca do “eu-sou”. Observou-se, nos dois muita dificuldade de contatos consigo próprios,
grupos familares (Fam.1 e Fam.2), grande com os colegas e relatos sobre este distan-
incidência de fragilidade daqueles que se ciamento com seus filhos. Valorizavam as escolas
colocam na função materna. Muitas dessas que apresentavam maior número de recursos
mulheres apresentavam dificuldades de contatos técnicos e eletrônicos. Algumas mães comen-

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tavam como estavam distantes destas expe- ambiente”, entre muitos outros diferenciados por
riências que requerem mais brincadeiras e Safra, revelam níveis de violências gerando
contatos com seus filhos e até com elas mesmas. fraturas e sofrimentos psíquicos no desen-
Esta característica de ausência corpórea foi volvimento da criança, repercutindo na adoles-
menor entre os integrantes familiares de baixo cência e na fase adulta.
poder aquisitivo, mas também estas mães Outro aspecto avaliado e aprofundado na
apresentavam, no seu imaginário, o valor pesquisa diz respeito às condições de resiliência,
positivo e a necessidade de aumentar as nas relações da criança com a “mãe ambiente” e
intermediações tecnológicas que compensariam nas situações de aprendizagem em que há
algumas horas de dedicação mais presencial. aceitação e valorização dos diferentes estilos
A “mãe status social”: a função materna e cognitivo-afetivos. Como então podemos
ambiente cultural cuida do bebê como um signo responder à questão: Quais as capacidades e
social , um objeto que dá prestígio ou que precisa fragilidades do “ambiente-mãe-cultura” em
atender ao status social , ao sucesso. A escola de relação ao ato de receber e ao reconhecimento
educação infantil B, de grande porte, com grande dos valores criativos das crianças, levando em
número de pessoas de classe média e alta, que conta as características dos diferentes estilos
tende a valorizar as condições de sucesso e cognitivo-afetivos?
prestígio dos seus alunos, reproduzindo as Para responder a esta questão, foram
expectativas das famílias e antecipando as considerados os estudos iniciais que desenvolvo
assimilações de conhecimentos acadêmicos, nas pesquisas desde 1990 sobre os estilos
tendo em vista os resultados e sucessos futuros. cognitivo-afetivos, os estudos e pesquisas sobre
Este excesso de conhecimentos ocupa o espaço educação infantil que Analu Gonçalves desen-
que deveria ser dedicado ao contato e à volveu em sua monografia sob a minha
socialização das crianças. A escola A valoriza mais orientação (2002- Instituto Sedes Sapientiae)12
as construções artísticas, lúdicas e as expressões e as complementações e atualizações de
corporais, não expondo a criança às dinâmicas e pesquisas e projetos (2005 a 2009) realizadas
às aprendizagens que objetivam socialmente a por psicólogos e psicopedagogos integrantes da
criança. Segundo expressões dos profissionais Ong Interação: Regina Del Coco, Liliane
desta Instituição, estes valores de aprendizagem Henriques, Carla Marquart, Denise Formenton
são gerados pelas próprias exigências de uma e Irene Maluf. Atualmente esta equipe inter-
parcela de pais de classe média que tendem a disciplinar aprofunda-se nas facilitações e
olhar seus filhos como signo social, projetando condições de resiliência das “mães-ambientes-
neles o sucesso e prestígio a ser alcançado. culturas”, fazendo associações entre os estudos
Outro fator que merecia ser aprofundado e de Gilberto Safra8,9 e as condições de resiliência
que não destaco neste artigo refere-se à “mãe relacionadas à aprendizagem e aos diferentes
ambiente”, em que ocorreu violências associadas estilos cognitivo-afetivos2,10,13.
a agressões físicas e sexuais, geradoras de Sintetizamos, a seguir, alguns destes indi-
traumas que repercutem na criança e no seu cadores e análises das respostas e avaliações
desenvolvimento até a fase adulta, com efeitos dos projetos e pesquisas.
psicossomáticos e anti-sociais. Nesses grupos de
pesquisa, no entanto, houve pouca incidência Facilitação da “mãe-ambiente” com valo-
dessas experiências e não foram pesquisadas em rização do estilo cognitivo-afetivo intuitivo
profundidade estas dimensões de fraturas, (Abertura para as brincadeiras que incitam a
apesar de estar muito presente na nossa cultura imaginação, por meio de jogos de faz de conta)
contemporânea. De qualquer forma, todos esses Atividades que requerem o diálogo com os
indicadores de desvios nas relações “bebê-mãe- sonhos, associações livres de imagens,

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elaborações sobre o impossível, projeções e apresentada neste artigo, constatou-se que a


identificações com personagens fictícias e escola tipo A se associava a “ mãe-ambiente”,
místicas (monstros, fadas, anjos). Narrações que facilita o estilo intuitivo, mantendo nas
carregadas de mistérios, lendas e mitos. relações de aprendizagem a valorização do
Condições de aprendizagem que possibilitam o imaginário por meio das artes plásticas, do conto
desenvolvimento de atividades em que se e da música. No contexto escolar de educação
apresentam metáforas, associadas ao real. Por infantil, tipo B, havia poucas explorações
exemplo, identificações com personagens “o destas atividades. Quando o conto ou jogos
menino sol e a menina lua” em suas ações e imaginários ocorriam, referiam-se a meios
diálogos, em que se articulam o imaginado com pedagógicos que direcionavam à alfabetização,
as experiências vividas. Posturas de aceitação para garantir a aprendizagem da leitura e da
das fantasias das crianças com estilo predo- escrita, impedindo, muitas vezes, a maior
minantemente intuitivo, com suas defesas na expansão do imaginário e da intuição, fatores
fantasia e imaginação, com intervenções que fundamentais para o desenvolvimento e criação
mobilizam um diálogo associativo entre a das crianças.
fantasia e o real concreto vivido, possibilitando As avaliações da aprendizagem na orientação
a expressão oral, escrita, não verbal, com familiar demonstraram que, entre os integrantes
representações de bonecos e outros objetos familiares, o valor e a prática da imaginação
simbólicos. Abertura para associar o imaginário alteravam em função dos estilos de pais e de
aos conhecimentos e atividades que geram famílias mais ou menos criativas. Alguns atribuíam
resistências da criança intuitiva por exigirem um valor positivo da capacidade criativa dos
atenção de detalhes, descrições, organizações e “heróis “ ou mitos familiares que se destacam na
explorações sensório-perceptivas. Envol- sua história familiar, trazendo o valor dos contos
vimentos com atividades ricas nas variações e da música, das artes e mobilizando nos seus filhos
diversidades, não focando a cópia, repetição e a capacidade de imaginar.
adaptações às rotinas, características que
dificultam as crianças mais intuitivas. Desen- Facilitação da mãe-ambiente com valorização
volvimento de diálogos que se libertam dos do estilo sensório-perceptivo concreto
padrões e conversas lógicas e controladas, como Apresentações de brincadeiras em que
por exemplo “conversas malucas”, atividades em ocorrem muitos movimentos, ações e explorações
que as crianças, dispostas em um círculo, fazem de sensações, aspectos que facilitam o estilo
associações livres de palavras sem um sensório-perceptivo, com atitudes mais extro-
significado aparente e encadeamentos lógicos. vertidas. Brincadeiras com areia, terra, água,
Sensibilizações mediadas por “viagens de explorações de sensações táteis, contatos e
imaginação” que se iniciam com um relaxamento toques corporais. Atividades que se remetem à
por meio de visualizações como “vôos para um imitação do dia a dia, ou lembranças das
lugar desconhecido, imaginado, ou para um experiências já vividas. A aceitação das defesas
´mundo louco’. Expressões do imaginário por das crianças com estes estilos, quando se apóiam
meio da fala, da escrita, do desenho e da colagem em demasia nos modelos, nas construções
livre e espontânea sobre o que observam e o que concretas, na praticidade ou no produto final,
acontece. Abertura de espaço para criações de ampliando as condições de criação com
‘histórias absurdas’ em busca de soluções ou aproximações progressivas de imagens,
narrativas que buscam transformações, fantasias e abstrações. Desenvolvimento da
mobilizadas pela questão: se eu tivesse poderes imaginação sempre a partir do real concreto, do
e fosse mágico o que eu transformaria e como?. sensorial e de referências objetivas. Vivências
Nas análises e avaliações da pesquisa com base no já experimentado, apoiando-se na

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memória visual, auditiva, tátil, cinestésica e Facilitação da mãe-ambiente com valorização


espacial. Apresentações de contos com rimas dos estilos cognitivo-afetivos subjetivos (função
sonoras ou sons de natureza, ricos nas imagens sentimento)
visuais e cromáticas com descrições dos espaços, Abertura de espaço para brincadeiras
das ações e das aventuras das personagens. As simbólicas repletas de valores e trocas afetivas,
atividades mais facilitadoras são, portanto, as dramatizações, identificações e troca de
construções tridimensionais com caixas, argilas papéis. Sugestões de atividades que envolvam
e outros volumes, bem como as expressões emoção. Apresentações de histórias que
gráficas, desenhos e movimentos corporais e representam conflitos e diálogos emocionais
os jogos de adivinhações por meio de sensi- entre as personagens. Atividades que
bilizações sensório-perceptivas, tais como requerem escuta e aproximação afetiva de
adivinhações das pessoas, por meio de sons, quem acolhe. Sensibilizações e contatos
cheiros e tatos. Os processos cognitivos afetivos para gradativamente se aproximar do
facilitadores são observações, memória visual, que é difícil para estes estilos, como as
espacial, auditiva, atenção a detalhes, o propostas teóricas e abstratas. Respeito às
raciocínio a partir da observação e da expe- defesas destas crianças frente às regressões
riência concreta. O ambiente facilitador deste emocionais ou agressões e seduções, com
estilo possibilita o progressivo deslocamento do intervenções para um deslocamento gradativo
excesso do movimento e do apoio nas ações e que possibilita elaborações imaginárias,
no concreto para as relações com imagens e abstrações e construções objetivas. São faci-
abstrações. litadores para a aprendizagem destes estilos
Na análise dos resultados da pesquisa, subjetivos o convite para que a criança entre
constatou-se que estas experiências e atividades nos contos de fadas, narrativas ou qualquer
se apresentavam com uma frequência história em que haja emoções, sentimentos de
significativa na escola de educação Infantil A, alegria, tristeza, raiva e ódio, conflitos. Este
em que se valorizavam a inteligência cinestésica mergulho na história possibilita à criança
e expressão das artes plásticas e corporais. O colocar-se no lugar da personagem, gerando
número menor de criança da escola tipo A foi transformações, escolhendo e decidindo.
uma variável que contribuiu para maiores Nas análises e avaliações da pesquisa,
experiências e contatos dos educadores com as constatou-se que, apesar dessa experiência
crianças, mediados por expressões corporais, subjetiva ser valorizada por todos, a escola
relaxamentos e sensibilizações. Constatou-se, que apresentou adequado e satisfatório
nas análises da aprendizagem da escola B, que diálogo com a subjetividade foi a do Tipo A.
a grande quantidade de alunos e um foco maior Os educadores desta escola avaliam a
na produção final destas crianças, em relação à necessidade de desenvolver mais este
alfabetização e ao desenvolvimento cognitivo aspecto com os familiares para ampliar e
foram fatores que influenciaram na menor garantir esta relação afetiva entre pais e
frequência dessas experiências sensório- filhos.
motoras. Na orientação familiar, observou-se que Na orientação familiar desenvolvida na
a maioria dos integrantes familiares não pesquisa, percebeu-se que os integrantes de
alimentava estas experiências sensoriais com as família, em sua maioria, apresentavam difi-
crianças, apesar de que aqueles originados do culdade para lidar com os seus próprios
interior demonstravam valorizar as experiências sentimentos e os das crianças, mas muitos
cinestésicas na sua infância, nas brincadeiras se conscientizaram da necessidade de se
de rua e contato com a natureza, reconhecendo cuidar destas relações consigo próprio, com
o valor desta aprendizagem. seus parceiros e com as crianças.

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FAGALI EQ

Facilitação da mãe-ambiente com valorização imaginário, o sensório-motor e a subjetividade,


do estilo cognitivo-afetivos mentais (função apesar de considerar a importância gradativa
pensamento) do desenvolvimento mental e intelectual.
Brincadeiras desafiantes para construções Na orientação familiar, percebeu-se maior
mentais, com identificações e relações de idéias, incidência de valorização entre os pais e
dos signos conceituais. Planejamentos e familiares, em relação à intelectualidade e ao
explicações, respondendo aos porquês exces- sucesso acadêmico, quando traziam uma história
sivos das crianças que apresentam esta e mito familiar do herói mental intelectual bem
capacidade mental. Contatos com jogos de regras sucedido.
e respostas explicativas frente às perguntas e Nas fontes de pesquisa indicadas no final
adivinhações (o que é , o que é), em busca das deste artigo 13, há pesquisas e projetos que
relações de causa e efeito, das antecipações apresentam variações de contos, poesias, cantigas
sobre o que vai acontecer, das resoluções de e jogos possibilitadores do desenvolvimento
charadas. Apresentações de experiências em que intuitivo, sensório-motor, sentimento e pensa-
haja explicações e relações de causa e efeito para mento. Nessas fontes, há detalhes e fundamentos
progressivamente se aproximar das relações sobre formas de diagnósticos e de intervenções,
afetivas e dos diálogos com as emoções, aspectos com jogos, atividades, literaturas infantis e
que estas crianças apresentam maiores músicas que facilitam a aprendizagem destes
dificuldades. As informações verbais, indagações diferentes estilos cognitivo-afetivos.
e desafios para respostas, não assustam as As respostas finais, após o desenvol-
crianças com tendências a estes estilos. Respeito vimentos dos projetos nos diferentes contextos,
frente às defesas que se manifestam com demonstraram maior conscientização dos
excessos de porquês e explicações, ou com cuidadores e criações de condições de apren-
voracidades sobre o saber e informações, mas dizagem que possibilitaram o desenvolvimento
com intervenções gradativas deslocando-se mais integrado destas crianças. Esta “pesqui-
para o desenvolvimento de outros processos sa-participação”, pela sua natureza e pelo
cognitivos perceptivos ou imaginários, e para o enfoque fenomenológico e ecológica do desen-
diálogo com os sentimentos, à medida que o volvimento humano14, tinha como compromisso
aprendiz adquira confiança em si e no outro. fazer as devolutivas, avaliar e garantir as
Favorecem muito a aprendizagem destas condições de continuidade do projeto. Nessas
crianças os jogos de “detetive” e as narrações devolutivas ampliaram-se novos projetos numa
de histórias repletas de situações-problemas, construção em rede “escola-família”, com foco
com mobilizações das relações lógicas de causa nas condições saudáveis de desenvolvimento
e efeito e articulações começo-meio e fim, em integral da criança.
busca das soluções. Os livros que facilitam
estes estilos mentais são os que mobilizam CONSIDERAÇÕES FINAIS
definições, com mistérios que exigem lógica, As pesquisas e projetos tinham como meta
charadas ou que envolvem algum tipo de diagnosticar os diferentes níveis de sofrimentos
conceito matemático. associados às primeiras relações da criança com
Nas avaliações feitas à escola, esta forma o ambiente em que se encontram presentes sutis
de aprender era mais frequente na escola tipo variações das funções maternas. Gilberto Safra
B, desenvolvendo excessivamente as ela- 8
, ao se referir à função materna, destaca as
borações mentais, mediadas pelos porquês e “fraturas éticas” da cultura, associadas aos
pelas explicações (função racional mental), com diferentes níveis de desvios que ocorrem nesta
tendências a excluir as outras experiências. A relação “criança-mãe ambiente”. Coloca em
escola tipo A tendia a enfatizar mais o destaque a importância desta condição de

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DESENVOLVIMENTO INFANTIL VS. HOLDING

receber a criança atenuando os sofrimentos tendo em vista o seu desenvolvimento integral


humanos contemporâneos, devido ao descuido e as conquistas presentes e futuras da autonomia
ou falhas do ambiente: e da criatividade. Uma das metas destas
“ a recepção que cada bebê encontra estará pesquisas é o aprimoramento dos diagnósticos,
marcada pela possibilidade que sua família tem intervenções psicopedagógicas, interdis-
de estar enraizada, em cada uma das dimensões ciplinares e transdisciplinares e o desenvolvi-
do ethos humano. Cada família proporcionará mento educacional, tendo em vista a cons-
uma recepção peculiar ao bebê, matizada pelo cientização das pessoas envolvidas nessa
que traz preservado de suas tradições, pelas dinâmica. É necessário perceber e atuar, em
questões que a atravessaram ao longo das busca das mudanças saudáveis que possam
gerações e pelo momento histórico em que o bebê reverberar em todos os contextos educacionais,
chega”. atentos aos sinais que revelam possíveis fraturas
Safra aproxima esta condição saudável geradoras de sofrimentos e que se encontram
integradora de encontros do bebê com o outro e o potencializadas na nossa cultura contemporânea.
ambiente, ampliando para questões históricas Há necessidade de se cuidar das relações de
culturais: “...A apresentação da mãe ou do seu acolhimento e de atuação psicopedagógica, de
pai ao seu bebê é fenômeno histórico que uma forma em que não gere as solidões precoces
depende do contexto sócio-cultural histórico no e não potencialize os medos, ameaças de mortes
qual está colocada a família”8. Prossegue suas excessivas e destrutivas, intensificando as fobias.
reflexões, destacando a qualidade desta postura É de grande urgência possibilitar o “holding”
de quem recebe e que não se associa apenas a (o segurar e dar suporte) às crianças, aos pais e
um conhecimento pedagógico, científico, técnico aos educadores, cuidando também da
ou acadêmico, referindo à qualidade “mãe- reintegração possível destes adultos cuidadores
educador ”: “...um verdadeiro educador é para que a criança possa confiar, ser amada e
constituído pela seiva das gerações de um povo ter esperanças. Faz-se necessárias as projeções
e não por uma faculdade de pedagogia 8. e introjeções de heróis em busca da integração,
Os objetivos da pesquisa e projeto dizem não se fixando na concepção de “heróis
respeito às análises das posturas dos cuidadores, Hércules”, onipotentes. O desafio é buscar iden-
em relação ao ato do receber, diferenciando as tificações com o “herói que reconhece sua força
sutis violências ocorridas nesta dinâmica. Os complementada com a do outro”, com movi-
projetos aprofundam-se nas criações de jogos e mentos semelhantes aos que nos ensinam os
atividades que possibilitam mediações psico- “gansos selvagens”, nos seus vôos em bando:
pedagógicas educacionais e terapêutica, “Quando um ganso bate as asas, por exemplo,
voltadas à educação e ao desenvolvimento voando numa formação em V, cria um vácuo para
saudável da criança (salutogênese). Foram a ave seguinte passar, e o bando inteiro tem um
destacados para este artigo pesquisas que desempenho de 71% melhor do que se voasse
focalizam a aprendizagem da criança de 0 a 6, sozinho”15.

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FAGALI EQ

SUMMARY
Child development through facilitation (Holding): violence, resilience
and cognitive-affective style

This paper aproaches the importance of the maturational process and the
environment facilitation in the children´s development, according to
Winnicott´s and Safra´s psychoanalitical theory .The study focuses on the
relationships distortions “children – family- school- culture” and also on
different violences, putting emphasis on the possibility of human integration
and cultural creation. The research discuss some essential aspects for an
efficient learning in the family, at school, in the community and in therapies.
This work presents the satisfactory relationship “children- parent”, the
holding, the different cognitives and affectives styles, Carl Jung, WonFranz
and art-therapeutics processes, opening the doors to the psychopedagogics´,
families´ and children´s learning.

KEY WORDS: Maturational process. Maternal function. Holding.


Violence. Resilience. Learning.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos a equipe de profissionais psicopedagogos, psicólogos e
arteterapeutas da Ong Interação, em especial a Regina Del Coco, Carla
Marquart que dão suporte às orientações familiares e Denise Formenton
pela excelente realização e bons resultados dos projetos desenvolvidos na
escola de educação infantil.

REFERÊNCIAS 6. Winnicott DW. O brincar & a realidade. Rio


1. Winnicott DW. O ambiente e os processos de Janeiro:Imago;1975.
de maturação: estudos sobre a teoria do 7. Winnicott DW. Holding e interpretação. São
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Paulo:Artmed;2007. 8. Safra G. A poética na clínica contemporânea.
2. Fagali EQ. Encontros entre arteterapia e São Paulo:Idéias;2004. p.128.
psicopedagogia: arteterapia no contexto 9. Safra G. Desvelando a memória do humano:
educacional e psicopedagógico. In: Ciornai o brincar, o narrar, o corpo, o sagrado, o
(org). Percursos em arteterapia. São silêncio. São Paulo:Edições Sorbornost;2006.
Paulo:Summus;2000. 10. Fagali EQ. Contribuições da Gestal-terapia
3. Jung CG. Tipos psicológicos. Rio de para a Psicopedagogia. In: Karina (org).
Janeiro:Guanabara. Expandindo fronteiras: Gestalt-terapia
4. Von Franz, Hillman J. A tipologia de Jung. aplicada em vários contextos. Campinas:
São Paulo:Cultrix;1974. Livro Pleno;2007.
5. Gardner H. Inteligências múltiplas. Porto 11. Fagali EQ, Del Coco R. Contos, cantigas,
Alegre:Artes Médicas;1999. jogos e dinâmicas de grupo para o

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DESENVOLVIMENTO INFANTIL VS. HOLDING

diagnóstico e desenvolvimento dos estilos Integração Interação. Diagnósticos psico-


cognitivo afetivos. Vol. I. Educação infantil. pedagógicos: estilos cognitivo-afetivos e
Produção independente: núcleo_ integracao dinâmica complexa. Produção indepen-
@ibest.com.br dentes: www.oscipinteracao.org.br nucleo_
12. Suringar APG. Dialogando com os estilos integracao@ibest.com.br
cognitivos da criança no nível da educação 14. Bronfenbrenner U. A ecologia do desen-
infantil: reflexão e práticas inspiradas em cons- volvimento humano: experimentos naturais
truções psicopedagógicas derivadas da abor- e planejados. São Paulo:Artes Médicas;
dagem de C. Jung. Monografia Psicope- 1996.
dagogia. São Paulo: Sedes Sapientiae; 2002. 15. Rangel A. O que podemos aprender com os
13. Fagali EQ e colaboradores. Cadernos gansos. São Paulo:Original;2006.

Trabalho realizado na ONG Interação, em parceria com Artigo recebido: 6/6/2009


escolas públicas e particulares de Educação Infantil – Aprovado: 21/08/2009
São Paulo, SP.

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