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A Prisão Preventiva

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INTRODUÇÃO

No âmbito da elaboração de um trabalho de fim de curso para a obtenção do grau de


licenciatura em direito pelo Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola, escolhe-
se abordar a temática do Excesso de Prisão Preventiva no Ordenamento Jurídico angolano.
A motivação para abordar este tema parte também pela necessidade de contribuir com
uma visão moderna e atual no seio social particularmente na Comarca de Viana em que incide
a nossa investigação.
A liberdade consiste na “faculdade ou poder que a pessoa tem de adoptar a conduta
que bem lhe apetecer, sem que deva obediência a outrem”, ou “sem que seja constrangido por
outrem a fazer ou a não fazer qualquer coisa nem que seja para satisfação positiva de um
direito alheio”.
O reconhecimento da liberdade de uma pessoa pelos outros membros da sociedade
significa a aceitação de um direito natural, isso é, um direito inerente à sua individualidade e
anterior a qualquer contrato social, e é condição de sociabilidade, pois dela depende, também,
a integração do homem no meio social em que está inserido. Daí que o direito à liberdade, nas
suas diversas formas de manifestação, liberdade física, moral, profissional e jurídica, seja um
direito fundamental, limitável apenas nos termos legais (artigo. 36.º da CRA).
Mesmo quando se pretende evitar a prática de novos crimes ou garantir a
responsabilização criminal dos delinquentes, as sociedades modernas procuram, cada vez
mais, adoptar meios menos invasivos das liberdades individuais.
O Estado e os seus órgãos e agentes estáimpedido de praticar actos que interfiram nas
liberdades físicas das pessoas sob pena de poderem redundar em inconstitucionalidade. A
garantia do comprimento desta obrigação é, essencialmente uma competência do poder
judicial (nº 2 do art 174˚ CRA).
Mas essa proibição de interferir no direito à liberdade física das pessoas não é
absoluta. Excecionalmente, e dentro dos limites legais o Estado pode coartar o exercício deste
direito (nº do 36 CRA).
A lei da prisão preventiva em instrução preparatória estabelece situações de
inadmissibilidade de liberdade provisória para crimes puníveis com determinadas molduras
penais, ignorando as razões que, em concreto, podem ou não determinar a aplicação desta
medida de coação. É essencialmente sobre esta questão que pretendemos refletir no presente
trabalho, apontando alguns dos principais problemas queresultam da citada lei e da forma
comas instâncias de controlo em Angola têm lidado com esta sensível medida de coação.
11
Como se sabe, Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como
fundamento, entre outros, a dignidade da pessoa humana e o respeito pela sua liberdade em
harmonia com os dispostos nos arts. 1.º e 2.º da Constituição. Ora, é comum os princípios
geras do Direito, vigentes num dado ordenamentos jurídicos, comportarem exceções, pelo que
os direito e liberdades individuas dos cidadãos podem, em certas circunstâncias, sofrerem
algumas restrições impostas pelas instâncias de controlo, desde que estejam legalmente
previstas e estejam em conformidade com o texto constitucional. Por outro lado, é imperativo
que tais restrições, sobre tudo as que respeitam à liberdade dos cidadãos sejam feitas apenas
em caso de manifesta necessidade e de modo a salvaguardar valores ou interesse jurídico de
igual ou maior dignidade e por um período de tempo determinado.
O presente trabalho buscará analisar aspetos centrais sobre aplicação da prisão
preventivae sobre as consequências que daí derivam. Procuramos também suscitar nos
operadores de Direito de Angola a consciência da urgência de um debate intenso sobre este
tema sensível.
O arguido goza do princípio constitucional da presunção de inocência ao longo da
marcha processual, mas deverá permanecer sob prisão preventiva nos casos de
inadmissibilidade de liberdade provisória, até que haja no processo um despacho de
arquivamento da acusação, de não pronuncia ou uma sentença absolutória transitada em
julgado para que possa ver a sua liberdade restituída. Isto porque contra si recai uma suspeita.
Ora, essa situação acaba por causar danos irreparáveis, não só ao arguido que posteriormente
vinha a ser declarado inocente, mas também aos seus próximos, sobre tudo quando aquele era
o único garante do sustento familiar. Por essa razão, é preciso repensar o regime da prisão
preventiva.
O presente trabalho é constituído por três capítulos. No primeiro capítulo abordar-se-á
sobre os aspectos gerais das medidas de coerção processual e sobre a prisão preventiva em
grosso modo. O segundo capítulo tem por escopo proceder e analisar os aspetos da prisão
preventiva concernente ao seu excesso de prazo e sobre as garantias oferecidas para combater
eventuais excessos. No terceiro será feita a análise e interpretação dos dados recolhidos por
via do estudo de campo.
Diante do problema do excesso de prisão preventiva, levanta-se a questão: quais
são os mecanismos legais para contrapor o excesso de prisão preventiva?
Para o efeito, apresentamos as seguintes Hipóteses: A análise dos prazos é
fundamental para se evitar o excesso de prisão preventiva na aplicação da medida cautelar no
processo penal angolano; É importante que se leve em conta a proporcionalidade na aplicação

12
das medidas cautelares em processo penal; O excesso de prisão preventiva pode ser revertido
por via de mecanismos legais que buscam a reposição da legalidade.
Para dar resposta ao problema levantado, definimos como Objetivo Geral “analisar
mecanismos para a liberdade pessoal e garantia fundamentais do cidadão nos casos de excesso
de prisão preventiva.”
Definimos como Objetivos Específicos:
• Descrever as medidas de coação aplicável ao arguido;
• Explorar os aspectos centrais da prisão preventiva no processo penal;
• Descrever as consequências do excesso de prisão preventiva.
Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa, que no qual requer um estudo exaustivo
da bibliografia, tal como a Legislação e da pesquisa de campo, utilizando para tal o método
indutivo dialético, também será utilizado questionários dirigidos ao funcionário da Comarca
de Viana.
Quanto às técnicas de pesquisa: adotou-se a pesquisas documentais, bibliográficas,
entrevista e pesquisa de campo. Pesquisa documental: seu estudo é dado com base em
documentos; tudo aquilo que pode ser registrado pode servir de objeto desta pesquisa; seu
objetivo é o registro de informações e a organização destas. Pesquisa bibliográfica: estudo
sistematizado desenvolvido por meio de material escrito, gravado ou filmado, de acesso ao
público em geral. Estudo de campo: investigação que coleta dados in loco, na qual se busca
informações sobre determinado objeto, a fim de comparar os dados coletados com o
referencial teórico sobre o dado.
Sobre o método de investigação: o presente baseou-se no método Dedutivo, por ser um
processo de análise de informação que nos leva a uma conclusão. Dessa maneira, no presente
trabalho, usa-se da dedução para encontrar o resultado final.
Classificação das Pesquisas: o presente trabalho adotou à uma pesquisa básica, por ser
uma pesquisa científica focada na melhoria das teorias científicas e se busca aqui dar uma
nova visão sobre o tema do excesso de prisão preventiva.
Quanto à forma de abordagem, baseou-se numa abordagem quantitativa, por ser a mais
adequada ao tema proposto, combinando dados qualitativos e quantitativos; Quanto aos seus
objetivos, a pesquisa é exploratória, porque com este trabalho procura-se gerar maior
proximidade com a problemática.

13
CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. DEFINIÇÃO DE TERMOS E CONCEITOS

Antes de fazer um estudo mais profundo e preciso das medidas de coerção processual
é necessário apresentar a definição termos e conceitos fundamentais para a compreensão deste
capítulo.
Excesso
O que excede ou vai além do permitido, do legal, do normal. Do poder:
ultrapassar alguém, em razão da sua autoridade, os limites normais do
exercício de suas funções, em detrimento do direito alheio. Do prazo: perda
sem justificativa do prazo legal, por parte dos órgãos enunciados em lei.
(GUIMARÃES, 2016, p. 382)
Preventiva
“Próprio para prevenir; usado como medida de segurança: prisão preventiva. Que evita
a realização de algo por antecipação: medidas preventivas. Capaz de prevenir ou utilizado
com esse propósito. Aquilo que se destina a prevenir ou evitar que algo aconteça.”
(GUIMARÃES, 2016, p. 417)
Prisão
Sobre isso define o professor Vasco Grandão Ramos (2013, p. 216):

A prisão é a privação da liberdade de alguém, quer em consequência da


aplicação pelo tribunal de pena privativa de liberdade, revestindo então a
natureza de pena ou sanção penal, quer com vista à realização de certos fins
processuais, bem podendo suceder que o arguido preso em razão destes fins,
venha a ser declarado inocente, absolvido por falta de provas e,
eventualmente, não chegue a ser acusado ou pronunciado.

A prisão é conceituada pelos estudiosos do direito penal levando-se em consideração


sua dupla função, tanto no direito penal quando no direito processual penal, sendo
considerada como “toda forma de privação legal da liberdade deambulatória de alguém, seja
em decorrência de cumprimento de pena imposta por sentença definitiva, seja em razão de
providência cautelar processual penal”. (CABETTE, 2013)

1.2. AS MEDIDAS DE COAÇÃO PROCESSUAL

Antes de se fazer um estudo mais profundo sobre a prisão preventiva é indispensável


estudar as medidas de coação processual, pois do ponto de vista doutrinário e legal é aí que a
prisão preventiva se encontra enquadrada de forma sistemática.

14
A lei das medidas cautelares em processo penal (Lei nº 25/15 de 18 de Setembro), no
seu 1º artigo e o Código de Processo Penal (art. 248º) estabelecem entre as medidas
processuais de natureza cautelar as medidas de coação pessoal.
Nos termos dos arts. 260º e segs do CPP e 16º e segs da Lei 25/15, são medidas de coação
pessoal: O termo de identidade e residência; A obrigação de apresentação periódica às
autoridades; A caução; A proibição e a obrigação de permanência em local concreto e a
proibição de contactos; A interdição de saída do país; A prisão domiciliária; A prisão
preventiva.
Por agora interessa-nos desenvolver a prisão preventiva porquanto é aquela que mais
se adapta à especificidade do tema que aqui iremos abordar de forma exaustiva, mas é ainda
imperioso que abordemos alguns princípios e aspetos gerais que regem as medidas de coação
pessoal.
As medidas de coação pessoal são aplicadas mediante a emissão de despacho do
Magistrado do Ministério Público durante a instrução preparatória. Esse despacho é notificado
ao arguido, com advertência das consequências do incumprimento das obrigações que lhe são
impostas e, tratando-se de prisão preventiva, notificado também o seu defensor. Devendo o
despacho preencher os requisitos estabelecidos nos termos do artigo 21º da Lei 25/15 e 264º
do CPP.
1.2.1. Princípios Orientadores
As medidas de coação pessoal orientam-se segundo dois princípios:
O princípio da legalidade. Com previsão constitucional no artigo 6º da CRA, 261º do
CPP e 17º da Lei 25/15, define a supremacia da constituição e da legalidade. Nos termos
desse artigo, todos os atos do Estado e todos os agentes devem fundar-se na legalidade. Com
isso entende-se que as medidas de coação pessoal são exclusivamente as previstas lei, não se
admitindo a aplicação outras medidas que não sejam previstas na lei 25/15 ou noutra
complementar.
Os princípios com aplicação conjugada da necessidade, adequação, proporcionalidade
e subsidiariedade, art. 18º da Lei 25/15 e 262º do CPP. O magistrado deve aplicar as medidas
de coação pessoal que forem necessárias e adequadas às exigências do caso concreto, de
forma proporcional à gravidade da infração cometida e só deve aplicar as medidas de coação
mais gravosas para o arguido se as medidas menos gravosas não forem suficientes ou
adequadas ao caso concreto.
A prisão preventiva, por consistir numa privação da liberdade, é um meio
extremo que apenas poderá ser utilizado quando a utilização de qualquer um
dos demais meios de coação que existam não permita atingir os objetivos
15
que se pretendem, sendo, portanto, inadequados ou insuficientes. (SIMÃO,
2017, p.33)
1.2.2. Pressupostos De Aplicação
Com exceção do termo de identidade e residência, nenhuma das medidas de coação
pessoal acima mencionadas pode ser aplicada se, no momento da sua aplicação, não se
verificar pelo menos uma das seguintes circunstâncias: Fuga ou perigo de fuga; Perigo de
perturbação da instrução do processo; Perigo continuação da atividade criminosa ou de
perturbação grave da ordem e tranquilidade públicas;

1.3. O REGIME REGRA DAS MEDIDAS DE COAÇÃO PESSOAL

O regime regra da prisão preventiva é claramente visível, pela forma como a lei 18-
A/92, estruturam as medidas de coação, regulando em primeiro lugar e com maior destaque a
prisão preventiva e, só na sua parte final é dedicou apenas o artigo (26.º) onde estabelece as
demais medidas de coação e, por sinal os menos gravosos (Lei 18-A/ 92 de 17 de Julho, Lei
da Prisão preventiva em Medidas Cautelares).

Acrescenta-se ainda que dentro da prisão preventiva nada impede que uma vez
relaxada a prisão em flagrante 1,seja decretada, na sequência, a preventiva, se atendidas as
exigências para a decretação da medida. Mas é fundamental que compreendamos que, a
preventiva é absolutamente incompatível com o instituto da liberdade provisória, seja ela com
o sem fiança.

Versa a regra que a prisão preventiva só correra se verificando todos os requisitos


legalmente previstos no nosso ordenamento jurídico, quando neste caso forem inadequadas ou
insuficientes as outras medidas.

A prisão preventiva tem, por via de regra, cabimento na persecução penal para
apuração dos crimes dolosos a pena dos com reclusão. Excecionalmente, os crimes dolosos
apenados com detenção a medida, se o criminoso é vadio; existe dúvida sobre a identidade e o
agente não oferece elementos para estabelece-la; se o condenado é reincidente em crimes
dolosos; se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher.

Deve se entender ainda que as infrações que comportam a medida de coação são
aquelas que comportam o dolo, nos crimes de perigo concreto, os crimes dolosos abrangem,
1
A prisão em flagrante acontece quando o infrator é encontrado a seguir a prática da infração com objetivos ou
sinais que mostrem claramente que a cometeu ou nela participou ou é perseguido por qualquer pessoa, logo após
a infração (Grandão Ramos 1995, P. 277).
16
para além dos de mais elementos típicos, o próprio perigo, pelo que o agente pretende, nesta
categoria de crime, a produção do próprio perigo.

Dada as circunstâncias o juiz pode decretar a prisão preventiva de ofício, atendendo o


requerimento do Ministério Público ou do querelante: ou provocado por representação da
autoridade policial. A preventiva terá cabimento durante toda a persecução, tanto nos crimes
de Acão pública, quanto nos de Acão penal privada, desde que atendidos os requisitos legais.
Nos tribunais a medida poderá ser tomada pelo relator, nos crimes de competência originária.
A medida não poderá ser executada em até 5 dias antes e 48 horas depois das eleições.

As decisões interlocutoras que versem sobre a prisão e a liberdade são recorríveis


quando desfavoráveis ao pleito carcerário. Negando a liberdade, normalmente irrecorríveis,
hipóteses em que a defesa devera valer-se do habeas corpus.2

1.4. BREVE INTRODUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A PRISÃO PREVENTIVA

Antes de fazer enquadramento sistemático doutrinário e legal da prisão preventiva,


dentro das medidas de coerção processual, é importante que se apresentem os principais
aspetos históricos prisão preventiva, pois não é um fenómeno que surgiu hoje e do nada.

Quanto a isso, a prisão preventiva assumiu ao longo do tempo diferentes modelos até
chegar ao que hoje conhecemos: uma medida de coação processual que deve sempre ser
aplicada com a devida submissão ao princípio da legalidade.Na antiguidade, a prisão
preventiva era vista como uma forma de manter o acusado sob o controle da sociedade, para
que se evitasse fugas ou o pior até à data presumível da sentença. Mas essa concepção teve
uma evolução muito notável, porque para o nosso sistema processual penal atual ninguém
pode ser preso sem um mandado proferido por um juiz. Na antiguidade, a prisão como pena
não era conhecida e havia tão-somente, o encarceramento provisório. A prisão era vista como
forma de preservar a integridade do acusado e manter sem domínio físico enquanto esperava
para ser julgado e submetido a execução da pena que lhe fosse imposta.

2
Como se depreende da interpretação do artigo 68º da CRA, todos têm direito à providência de habeas corpus
contra o abuso de poder em virtude de prisão ou detenção ilegal, a impor perante Tribunal competente.
17
Para o Direito Romano e no direito Grego o indivíduo que cometesse algum crime
deveria ser preso em estabelecimentos mantidos pelo Estado ou em casa, de forma que fosse
possível segrega-lo até a aplicação das penas.

Neste sentido e nesta época a prisão era utilizada tão-somente em carácter a cautelar,
visando ou garantir a execução da pena, ou execução da divida. A justiça privada era na época
que tinha o poder público, essa justiça que foi uma fase histórica, qualitativamente nova, de
repreensão organizada.

Ramos (1995, p. 20) complementa essa afirmando que “a vingança e a guerra privada
começaram a revelar-se pouco a pouco incompatíveis com as novas formas de organização
pública.”

Já na Idade Media, período que prevaleceu o sistema inquisitório como sistema


processual penal, a prisão passou a ser empregada com maior frequência e sem os critérios de
excecionalidade e substituição anteriores, e tinha o propósito de permitir ao inquisidor ter o
acusado à sua disposição para os fins determinados pelo sistema. A cautelar idade deixou de
ser observada e a prisão denominada preventiva tinha de facto o carácter a aflitivo, como
meio de tortura e obtenção de confissões forjadas.

Do ponto de vista histórico a prisão preventiva é uma medida cautelar muito antiga
quase tão antiga, quanto a própria civilização. Sendo que a prisão preventiva é uma medida de
natureza cautelar decretada pela autoridade judiciária competente, não se confundindo com a
sanção penal definida na sentença condenatória. É a sanção máxima que um suspeito de crime
pode ter antes julgamento e não se confunde o cumprimento provisório de pena visto que,
neste caso, já há uma decisão de mérito sobre a acusação formulada.

Quanto à sua finalidade, a prisão preventiva, como qualquer outro fenómeno e facto
social que esteja em contante evolução, sofreu inúmeras alterações ao longo do tempo. No
período compreendido com a antiguidade era possível a verificação da existência da prisão
preventiva como forma garantidora da execução da pena, no entanto em carácter excecional.
A prisão tinha função de custódia. Nesta época, as penas aplicadas em decorrência da
condenação recaiam sobre a pessoa do condenado.

18
Com tudo, nesta época surgiu as bases ideológicas para aplicação da prisão como forma de
penalizar o réu, neste mesmo período surgiu a detenção temporal, onde o crime praticado pelo
acusado não era motivo bastante para a condenação de morte ou pensa de mutilação. Até ao
século XVIII a prisão era vista como meio de preservação a integridade do acusado e manter
seu domínio físico enquanto esperava para ser julgado e submetido à execução da pena que
lhe fosse imposta. Havia, nesse momento apenas a prisão sobre forma de custódia.

1.5. PRISÃO PREVENTIVA

Segundo Comidando (2013, P. 115), “a prisão preventiva consiste na privação de


locomoção do arguido, aplicável apenas quando todas as outras medidas coativas forem
inadequadas ou insuficientes. (n.º 1 do artigo. º 36.º)”

Ainda sobre o conceito de prisão preventiva, Ramos (1995, P. 267) corrobora


afirmando que “a prisão preventiva como uma medida de coação processual que consiste na
privação da liberdade de um arguido para o colocar à disposição da entidade encarregada da
investigação criminal e da instrução processual ou de um juiz na face judicial.”

É uma medida de natureza cautelar decretada pela autoridade


judiciária competente, não se confundindo coma sanção penal definida
na sentença condenatória. É a sanção máxima que um suspeito de
crime pode ter ante julgamento e não se confunde com o cumprimento
provisório da pena visto que, neste caso, já há uma decisão de mérito
sobre a acusação formulada. (Cruz, Machado, 2011. P. 8).

Prata et. al.(2008, p76) apresentam uma outra definição, segundo a qual compreende-
se a prisão preventiva como uma medida de coação aplicável ao arguido subsidiariamente, ou
seja, quando se considerem todas as outras inadequadas ou insuficientes e quando houver
fortes indícios da prática de crimes dolosos punível com pena de prisão de máximo superior a
cinco anos, ou se se tratar de pessoa que tiver penetrado ou se mantenha irregularmente em
território nacional.

Decretar a prisão de uma pessoa não é vista apenas de hoje. A Lei 25/15, de 18 de
Setembro surgiu para acabar com a confusão conceitual que antes existia, já que a
Constituição superveniente não resolvia, por si só, o problema.

Ressalta Comidando (2016) bastava que o suspeito fosse privado da sua liberdade de
deslocação para qua a prisão preventiva se desse por consumada, restando apenas a sua
validação pelo Ministério Público
19
A prisão preventiva sucede quando um indivíduo é detido e aguarda por julgamento
em tribunal, estando a sua liberdade limitada. Se alguém for detido por um agente da polícia
ou qual quer outra entidade e não for apresentado ao procurador para realizar a detenção,
dentro dos prazos que a lei estipula essa prisão é contra a Lei e por isso deve ser libertado.
Quer a prisão preventiva quer a pena de prisão privam o homem de um dos bens mas valioso
que possui: á liberdade de andar, de se locomover, de ir para onde entender, dentro dos limites
e condicionalismos que naturalmente a lei impõe. A Lei constitucional considera a liberdade
individual como um direito fundamental da cidadania.

A CRA confere aos cidadãos, na sistematização dos direitos e garantias fundamentais


dos cidadãos (arts. 36º, 56º e segs), a liberdade de locomoção, permitindo ao cidadão a
possibilidade livremente se movimentarem. A Constituição define ainda nos seus artigos 64º e
36º as possibilidades e condições para a limitação ou privação dos cidadãos dessa referida
liberdade.

Nos termos do número 2 do artigo 64º e da alínea a) do artigo 63º, todos da CRA, a
polícia ou outra entidade com competência para tal efeito só poderá deter ou prender nos
casos previstos na Constituição e na lei, em flagrante delito ou quando munidas de mandato
de autoridade competente.

Por ser um direito fundamental, essa liberdade é garantida tanto pela lei substantiva
como pela lei processual. Por ser um bem jurídico de elevadíssimo valor, o seu titular poderá
legitimamente defender-se contra qualquer ataque ilegal que venha a ser desferido contra ela.
Trata-se neste caso de uma defesa justificada. Entende-se ser, por princípio, legitima e
desobediência e a resistência a uma ordem de prisão manifestamente ilegal.

Por outro lado, a ofensa ao direito de liberdade intelectual poderá constituir infração
penal grave, quer quando o agente é um particular querem quando é um agente da autoridade.
Dois pressupostos abarcam a prisão preventiva: Quando houver prova de existência de um
crime, Quando haja indícios suficientes da autoridade.

Quando é que se aplica? A resposta para essa questão reside na combinação dos
arts.279º do CPP, 36º da Lei 25/15 e 2º da Lei 18-A/92. 1.

Quando, no caso concreto, considerar inadequadas ou insuficientes as medidas de


coacção estabelecidas nos artigos antecedentes e o crime for doloso, punível com prisão
superior, no seu limite máximo, a 3 anos e existirem fortes indícios da sua prática pelo
20
arguido, o magistrado judicial competente pode, oficiosamente ou sob promoção do
Ministério Público, impor-lhe a medida de prisão preventiva. (artigo 279º nº 1 do CPP)

No despacho em que o magistrado judicial competente impuser a prisão preventiva


deve, obrigatoriamente, indicar as razões por que considere inadequadas ou suficientes outras
medidas de coacção pessoal.

A prisão preventiva é obrigatória: Nos crimes de genocídio e contra a humanidade;


Nos crimes de organização terrorista, terrorismo e financiamento do terrorismo. (art. 61º da
CRA e art. 279º nº 3 do CPP)

É ilegal a prisão preventiva destinada a obter indícios de que o arguido cometeu o


crime que lhe é imputado. (art. 279º nº 4)

1.5.1. Objetivo Da Prisão Preventiva

Depreende-se da análise da alínea a) do artigo 63º da CRA que somente se decreta a


prisão preventiva por ordem escrita e fundamentada da ordem da autoridade judiciária
competente.

A prisão preventiva, enquanto medida de coação, tendo o seu assento legal


previsto nos artigos 202.º do CPP e 28.º da CRP e, à semelhança das outras
medidas de coação tem, como objetivo garantir as finalidades do processo
penal, desde que estejam em causa um dos requisitos gerais consagrados no
artigo 204.º do CPP, sem o que nenhuma medida de coação poderá ser
aplicada, excetuado o Termo de Identidade e Residência. Face ao que acima
se refere podemos afirmar, com segurança, que a liberdade constitui a regra,
sendo a prisão preventiva uma exceção. Aliás, a própria CRP, nos artigos
27.º e 28.º, conforme já verificámos, determinam que a prisão preventiva
deve ser entendida como uma medida excecional e subsidiária. (SIMÃO,
2015, p.32)

A prisão preventiva tem deste modo o objectivo tutelar a presunção penal, objetivando
prevenir que eventuais condutas praticadas pelo autor ou por terceiro possam colocar em risco
a efetividade do processo.

Outro escopo da prisão preventiva é o de evitar que o acusado comete novos crimes ou
ainda que, em liberdade, prejudique, a colheita de provas (destruição de evidencia,
intimidação de testemunha) ou ainda perigo de fuga.

Na relação direita e liberdade, muitas vezes, o processo penal demonstra posições


antagónicas, uma vez que nesse campo os direitos fundamentais do acusado acabam sempre

21
se contrapondo às exigências de segurança da comunidade, um verdadeiro embate, visto por
alguns doutrinadores como um processo dialético, em tese, norteado pelo consenso de que as
Leis penais devem dar respostas equilibradas aos interesses públicos e do acusado, que não
pode ser prejudicado em seus direitos individuais.

1.5.2. O Princípio Da Presunção De Inocência

Como nos esclarece COELHO (2019, P.56):

Desde a Revolução Francesa, em 1789, tornou-se expresso, através da


Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que todo acusado deve ser
presumido inocente, até que seja declarado culpado (art. 9º). De igual modo,
após os horrores do regime fascista e com o fim da Segunda Guerra
Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948)
consagrou o princípio da presunção de inocência ao estabelecer que “toda
pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo
público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa.

O princípio da presunção de inocência também mereceu atenção a nível constitucional,


dentro do nosso ordenamento jurídico. É o que se lê no nº 2 do artigo 67º da CRA: "presume-
se inocente todo cidadão até ao trânsito em julgado da sentença de condenação".

Feio este esclarecimento, torna-se imperioso desenvolver e aferir até que ponto ele é
compatível com o regime regra da prisão preventiva. Este princípio em análise impõe que só
as necessidades processuais do caso em concreto podem legitimar a aplicação de medida de
coação e que, entre as medidas admissíveis e adequadas, seja aplicada a menos gravosa.

Este princípio é visto como uma tutela constitucional à semelhança de muitos outros
ordenamentos jurídicos, não sendo por acaso que além de receber atenção constitucional foi
colocado dentre as garantias do processo criminal. E mais do que isso, dentro do Capítulo II
que versa sobre os Direito, Liberdade e Garantias Fundamentais.

O princípio da presunção de inocência, como se afirmou no parágrafo acima, dá corpo


aos direitos e liberdades fundamentais vigente no Estado Democrático de Direito em que se
vive. Assegurando assim que será o acusado tratado de maneira igual a qualquer outro
cidadão, que não responda a processo, até ao momento em que haja sido definitivamente
condenado pelo poder jurisdicional, privando deste modo a decisão do Estado.

22
Deste estado de inocência extrai-se que enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da
sentença, não pode haver prisão sem justa causa, a qual só se dará para garantir a efetividade
do processo ou da jurisdição penal.
1.5.3. Prisão Preventiva Em Angola

Não existe nenhuma referência expressa à nível constitucional sobre a natureza da


prisão preventiva, é tida como medida a ser aplicada a título de regra ou de exceção. Sendo
assim, o seu artigo. º 61.º CRA com epigrafe” crime hediondo e violentos”, determina, como a
natureza, a nosso ver, a sua aplicação obrigatória para certos tipos de crimes, quando este
aqui.

São imprescritíveis e imprescindíveis de amnistia e liberdade provisória, mediante a


aplicação de medidas de coação processual: o genocídio e os crimes contra a humanidade
previstas na lei; Os crimes como tal previstos na lei, vamos analisar este artigo com maior
profundidade em outros pontos deste trabalho.

A detenção é um aprisionamento muito rápido e temporário, não podendo durar mas


de 48 horas. Esta prevista no art.º 4.º da Lei das Medidas Cautelares. A detenção pode ser
feita por várias razões, até em relação a quem não cometeu nenhum crime, cuja presença num
tribunal é imprescindível, ficar em liberdade, quem é detido pode, após as 48 horas, ficar em
prisão preventiva ou ser libertado.

A prisão preventiva está prevista nos artigos. º 35.º e §, da Lei das Medidas Cautelares.
Para que se aplique a prisão preventiva, o Ministério Publico tem de considerar que há fortes
indícios da prática de um crime.

No entanto, a prisão preventiva visa evitar que a pessoa fuja, destrua provas, continue
a atividade criminosa ou suscite perigo de perturbação grave da ordem e tranquilidade publica
artigo 19.º da Lei das Medidas Cautelares. Para que a prisão preventiva seja aplicada, estes
requisitos têm de se verificar de forma muito intensa- artigo 36.º Isso quer dizer que, quando
aplica a prisão preventiva, o Ministério Publico tem a convicção de que a pessoa praticou um
crime, mas não está a condena-lo.

Apenas está a evitar determinados perigos que possam colocar a investigação em


causa. O direito à liberdade encontra ainda tutela constitucional nos artigos 56.º e 57.º, sendo
que o primeiro estabelece a garantia geral da sua inviolabilidade ao determinar que: O Estado

23
reconhece como inviolável os direitos e a liberdade fundamentais consagradas na constituição
e cria condições políticas, económicas, sociais, culturais, de paz e estabilidade que garantam a
sua efetivação e promoção, nos termos da constituição e da lei; Todas as autoridades públicas
têm o dever de respeitar e de garantir o livre exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais e o cumprimento dos deveres constitucionais e legais. É nosso entendimento
que este preceito constitucional impõe, no ordenamento jurídico angolano, a liberdade como
regra.

Diferente da detenção e da prisão preventiva é a pena de prisão. A pena de prisão


resulta de uma decisão final de um julgamento, em que o Ministério Publico acusou e o
arguido se defendeu. É uma decisão tomada por juízes e implica que a pessoa seja condenada
por se ter provado que cometeu um crime. Neste caso, vai cumprir uma fixa.

A prisão preventiva deve ser revista, regra geral, de 2 em 2 meses artigo 39.º da Lei
das Medidas Cautelar. Portanto, um preso preventivo pode ser libertado ao fim de 2 meses, de
4 meses ou de 6 meses. Ou não ser libertado e continuar sempre preso até à condenação,
desde que os prazos legais sejam respeitados. Na verdade, o fundamental e explicitar que a
prisão preventiva não é o fim de um processo, mas meramente o fim do início do mesmo.

1.6. REGIME DA PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva é um mal, embora um mal necessário, como se vê, que restringe
gravemente o direito de liberdade pessoal física ou corporal dos cidadãos. Porém, o regime da
prisão preventiva é tomado em ordem à realização de objetivos de natureza processual,
nomeadamente, a segurança da prova e a exequibilidade da sentença.

Segundo o artigo 10.º da Lei 18-A/92 em conjugação com o art. 2.º b) do presente
diploma exige, como pressuposto ou requisito da prisão preventiva fora do flagrante delito,
para além da existência de um crime doloso punível com pena superior a um ano e de forte
suspeita praticada pelo arguido.

No que se discute, Ramos, (1995, p. 272) afirma que não é, lícita a prisão preventiva
para «descobrir» um arguido, ou seja, ninguém pode ser preso preventivamente, a título de
mera investigação ou perseguição de uma hipótese policial. Há que relacionar este conceito
com o do arguido, estabelecidos no artigo 390.º do CPP.

24
Nos termos dos dispostos no art. 10.º nº 2 da Lei 18-A/92, a liberdade provisória é
inadmissível: Nos crimes puníveis com pena superior de 2 a 8 anos, ou com qualquer outra
privação de liberdade cujo máximo seja superior a 8 anos; Nos crimes puníveis com pena de
prisão superior a um ano, cometidos por reincidentes, vadios ou equiparados; Nos crimes
militares, puníveis com pena de prisão superior a 2 anos.

A prisão preventiva tem como fins concretos: A normal e regular instrução do


processo (nomeadamente pela disponibilidade do arguido), Que o arguido não cometa nova
infração e não se perturbe a ordem pública; e, sendo condenado a final, O cumprimento da
pena pelo arguido.

1.6.1. Prisão preventiva sem culpa formada fora do flagrante delito

Fora do flagrante delito, a prisão preventiva sem culpa formada só pode ser ordenada
por ordem escrita da autoridade competente desde que haja fundamentos objetivos, isto é
motivo para que o arguido seja preventivamente privado da sua liberdade. «Vimos já que
excecionalmente o art.º 10.º - 1 e 12 da lei 18-A /92,» autorizam a prisão direta, sem mandado
escrito, por conseguinte, de certas autoridades. Convém ressaltar, que esses fundamentos vêm
enumerados nos arts.º 10.º e art.º 11º da lei nº 18-A/92.

É importante observar que a prisão preventiva sem culpa formada determinada pela
realização dos fins do processo, é razoável supor que igualmente o arguido ser solto, com o
sem caução, sempre qua a prisão preventiva se torne útil ou desnecessário art.º 281.º do CPP.
Os prazos de prisão preventiva têm o seu início desde a captura até a notificação do arguido
da acusação ou do pedido de instrução contraditória pelo M.P. não pode exceder:30 dias, por
crimes dolosos, com pena superior a um ano; 45 dias, com crime de prisão maior; 90 dias, por
crime contra segurança do Estado.

Os prazos seguintes são usados em caso de instrução contraditória segundo o art. 308.º
do C.P. Penal: 3 Meses, se a infração couber pena a que corresponde processo de polícia
correcional, 4 Meses, se ao crime couber pena que corresponda processo de querela. Findados
os prazos de prisão preventiva, sem prejuízos dos despostos em relação à instrução
contraditória, é obrigatória a libertação do arguido que será colocado em liberdade provisória
mediante caução e sujeito a uma ou mais das obrigações indicadas no artigo. 26º nº 1 e 4 da
lei nº 18-A/92.

25
1.6.2. A prisão preventiva com culpa formada

O professor Ramos (2013, p.229) salienta: “A prisão preventiva com culpa formada é
a prisão que tem lugar depois de terminar a instrução do processo e de confirmado na
pronúncia o juízo de probabilidade que presidiu à acusação do arguido”.

Por seu turno, a prisão preventiva com culpa formada é sempre ordenada pelo juiz,
precisamente no despacho de pronúncia ou equivalente. Oque constitui, penhor seguro de que
os seus fundamentos foram apreciados com serenidade.

A duração da prisão preventiva com culpa formada vai, em princípio, até à decisão
final proferida no processo. Nos Impedimentos e Obstáculos à Prisão Preventiva É de
sublinhar que existe situações em que os mandados não poderão ser cumpridos e o arguido
não poderá ser recolhido à cadeia. A isso chama-se impedimento à prisão.

O Código Processual Penal, distingue que: se o crime admitisse caução, ninguém


poderia ser preso: Estando doente e podendo a doença em perigo a sua vida, No dia do
falecimento do cônjuge ou qualquer ascendente, ou afim nos mesmos graus e nos três dias
imediatos, Se tivesse tratando o cônjuge ou algum ascendente, descendente, irmão ou afim
nos mesmos graus. Art.º280º do CPP.

Outas vezes, a prisão preventiva não é logo possível ou tem de processar-se de uma
forma particular, em virtude da imunidade previstos na Lei de que gozam pessoas que gozam,
pessoas que ocupam determinados cargos ou exercem determinadas funções, enquanto os
ocuparem e os exercerem.

1.7. Carácter excecional da prisão preventiva

Do enunciado do nº 1 do Artigo 36.º da Lei nº 25/15 Lei das Medidas Cautelares


pressupõe-se que o carácter excecional da prisão preventiva, implica que para sua adoção não
basta somente haver perigo de fuga ou de perturbação do processo, de continuação da
autoridade criminosa ou ainda da perturbação grave da ordem e tranquilidade da ordem
pública.

26
1.8. Incapacidade da medida da prisão preventiva

A inaplicabilidade da prisão preventiva vem regulada no artigo. 280.º do C.P.P. Nos


termos do qual, a prisão preventiva não pode ser imposta: À pessoa portadora de doença grave
e que declaradamente torne incompatível a privação da sua liberdade; À mulher grávida com
mais de 6 meses de gestação ou até 3 meses depois do parto; A quem tiver mais de 70 anos de
idade, sempre que o seu estado de saúde comprovadamente desaconselhe a privação de
liberdade; À pessoa que estiver a tratar de cônjuge, ascendente, descendente ou afim nos
mesmos graus que esteja doente, quando o tratamento prestado comprovadamente se
considere indispensável; No dia em que tenha falecido o cônjuge ou qualquer ascendente,
descendente ou colaterais até ao 3.º grau e afim nos mesmos graus e nos 3 dias imediatos;

Disso depreende-se que as razões da inaplicabilidade dessa medida de coerção


processual são aquelas que de facto fundamentam relacionam-se com doença grave, luto,
gravidez, velhice e auxílio a doente. No entanto essa são situações que devem ser
comprovadas para que seja efetuado a inaplicabilidade da prisão preventiva. Na suspensão da
Execução da Prisão Preventiva o legislador não fixou taxativamente o tempo limite de
suspensão. É lógico que a suspensão cessa logo que deixem de se verificar as circunstâncias
que a determinem. Também pelo que, em despacho sustentado, o Magistrado pode levantar a
suspensão da medida e mandar conduzir o arguido à cadeia ou aplicar outra medida de coação
menos gravosa.

Por fim, é mister dizer que em termos gerais o prazo da caducidade não se surpreende
nem se interrompe se não nos casos em que a Lei o determina artigo 328.º C. Civil. Portanto,
a interrupção do prazo da caducidade é uma exceção.

1.9. PRAZOS DA PRISÃO PREVENTIVA

No entanto, muito se comenta acerca do excesso de prazo, mas pouco se sabe quando
ele está configurado no caso concreto e pode vir a conceder a liberdade provisória ao réu de
um processo criminal. Embora o devido processo legal e a duração razoável do processo
sejam garantias fundamentais do acusado, não é raro que estejamos diante de presos sofrendo
o constrangimento ilegal de ter a sua liberdade restringida por período superior ao
estabelecido pela Lei.

27
O nosso ordenamento jurídico não possui prazo para sua duração, mas deve atender
aos princípios da proporcionalidade.3 O n.º 1 do artigo 25.º da Lei 18-A/92 Lei da Prisão
Preventiva em Instrução Preparatória, remetendo para o art. 262.º do CPP, enumera alguns
prováveis prazos da prisão preventiva em determinados casos e forma de crime.

O legislador não faz uma abordagem direta, a cerca dos prazos mínimos da prisão
preventiva; pois a todo tempo, na fase de instrução, e em outros momentos específicos da fase
do processo, o magistrado competente deve alterar a medida de coação. Como inexiste em Lei
um prazo determinado para a duração da prisão preventiva, a regra é que perdure até quando
seja necessário. Claro que é necessário respeitar a razoabilidade de duração, atendendo
sempre os princípios da proporcionalidade e necessidade. Os presumíveis prazos da prisão
preventiva vêm regulados no n.º 1 do artigo. º 40.º, da Lei n, º 25/15. Que são:

• 4 Meses sem acusação do arguido;

• 6 Meses sem pronúncia do arguido;

• 12 Meses sem condenação em primeira instância;

• 18 meses, sem haver condenação com trânsito em julgado.

A prisão preventiva tem a finalidade de assegurar o bom andamento da instrução


criminal, não podendo se prolongar indefinidamente, posto que se isto ocorrer configura
constrangimento ilegal. Seguindo esta análise, o excesso de prazo, quando exclusivamente
imputável ao aparelho judiciário, não derivado, portanto, de qualquer fato procrastinatório
causalmente atribuível ao réu, traduz situação anómala que compromete a efetividade do
processo.

Além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra uma
prorrogativa básica que assiste a qualquer pessoa: o direito á resolução do litígio sem dilações
indevidas.

A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar, ofende, de modo


frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa significativo vetor
interpretativo, verdadeiro valor. Fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
constitucional. Justamente porque ainda que a lei cuide de estabelecer alguns prazos para
conclusão de determinadas fases do processo penal, há ampla margem o julgador, no caso
3
Princípio decorrente do princípio do Estado de direito democrático, segundo o qual as restrições de direitos e liberdades fundamentais só podendo legitimamente ter lugar desde que

proporcionais à gravidade e aos efeitos dos factos cuja prática os fundamentos (Dic Jurídico 2016, P. 120).

28
concreto, avaliar se o referido prazo se aplica ou não. Isso porque, conforme entendimento de
juízes e tribunais, certas investigações podem demorar período superior ao estabelecido pela
lei em virtude da chamada complexidade do caso.4

Por vezes essa complexidade de casos é utilizada para embasar uma prisão que, na
verdade, persista em razão do argumento genérico de garantia da Ordem Publica. Se entende
que o réu é perigoso, e que se se concedida a sua liberdade, ele provavelmente retornará a
praticar delitos ou ainda porque o crime praticado é grave.

Portanto, desde já, é necessário esquecer do famoso pensamento de que “o processo


deve terminar em 4 meses”. A grande maioria dos prazos estabelecidos pela lei não vem
sendo cumpridos pela polícia e pelo poder judiciário, por inúmeras razões peculiares a cada
repartição. Diante do exposto, fica claro que a preventiva, apesar de não ter prazo
determinado por Lei, não pode ser aplicada por prazo superior à razoabilidade da duração de
um processo.

1.10. EFEITOS DA PRISÃO PREVENTIVA

Um dos efeitos da prisão preventiva é a prisão. Os efeitos negativos sobre esses


direitos fundamentais se alargam ainda mais devidos as condições deploráveis e desumanas
dos centros prisionais angolanos, afetando a integridade física e moral dos detidos.

Nas prisões, nos quais uma quantidade significativa corresponde a presos provisórios,
que a espera de um julgamento, permanecem nesses estabelecimentos por longos períodos,
tornando-se a prisão preventiva uma espécie da antecipação da pena.

Quando a privação de liberdade cautelar se tornar a regra, situando o interesse difuso


pela segurança geral acima dos direitos e garantias individuais, o regime democrático esta
comprometida, uma vez que a democracia será reduzida à mera aparência, conforme se pode
verificar nos inaceitáveis casos envolvendo graves violações de direitos em alguns países
tidos como democráticos. Nesse caso, a prisão cautelar não se opõe ao Estado de direito,
contudo, será compatível antes da condenação somente quando for realmente necessário e
estiver de acordo com os requisitos estabelecidos, devendo também uma medida proporcional.

4
Embora verdade, o tempo é um só, que do primeiro dia de detenção ou de prisão até nos 12 meses, mas cuja contagem é parcelada em função das fases do processo-crime (Comidando 2016, P.

120).

29
As medidas cautelares, dentre elas, a prisão preventiva, têm como função essencial
apenas cautelar a sentença e, quando utilizadas, deverão sempre estar vinculadas á ideia de
proteção ao imputado com o respeito aos seus direitos e garantias fundamentais. O carácter
instrumental dos cautelares possui especial importância no processo penal, uma vez que
nenhuma delas (nem mesmo a prisão preventiva) possui um fim em se mesmo, na medida em
que, em sentido amplo, têm como função precípua garantir a sentença e a sua execução no
final do processo. A prisão cautelar é a última solução e cumpri fins estritamente processuais,
ou seja, deve utilizado apenas para garantir que o imputado não destrua provas ou se evada da
aplicação da sentença, devendo ser substituída sempre que outras medidas menos severas
mostrem suficientes para assegurar os interesses processuais.

CAPÍTULO II - O EXCESSO DENTRO DA PRISÃO PREVENTIVA

É agora fundamental fazer a abordagem profunda sobre a peça central deste trabalho,
o estudo do excesso de prisão preventiva para possamos compreender com maior propriedade
a temática em estudo.
O excesso dentro da prisão preventiva se constata quando há incumprimento dos
prazos da preventiva, isto é, quando um cidadão é privado da sua liberdade por um período
superior ao previsto e definido.
Sendo a prisão preventiva uma simples antecipação da execução penal devendo o
magistrado fundamentar sua decisão, demonstrando o preenchimento dos pressupostos
necessários para a decretação da custódia preventiva, sob pena de repercussão negativa nos
direitos fundamentais do acusado. Assim sendo é mas do que normal que a prisão preventiva
seja revista para que se previna o excesso dentro da mesma.
Neste sentido, é importante que se compreenda que quando termina o prazo
estabelecido da prisão preventiva, é obrigatória a libertação do arguido, que será colocado em
liberdade provisória mediante caução e sujeito às obrigações que lhes forem prescritas. Se
findado o prazo prescrito da prisão preventiva, aí alega-se excesso de prazo da prisão
preventiva.
É importante que se compreenda que pelo facto de ser o excesso a ultrapassagem do
limite do que é considerado normal, podemos neste ponto constatar que o excesso de prisão
preventiva muita das vezes notasse falta de cumprimento da tarefa dos órgãos do Estado com
competência para evitar tais práticas.

30
O estudo sobre o excesso de prisão preventiva passa sobretudo sobre estudo dos
limites para a aplicação da prisão preventiva em si. Devendo deste modo ser compreendido
em contrário sensu, isto é, sempre que se violar um limite se de prazo para tal privação da
liberdade se estará diante de um excesso de prisão preventiva.

A prisão preventiva cessa quando, desde o seu início, decorrerem os prazos previstos
nos artigos 283º do CPP e 40º da Lei 25/15.

Sobre esse mesmo ponto, nos esclarece Simão (2015, p.35) que:

O arguido sujeito à prisão preventiva, deve ser colocado em liberdade


quando tiverem decorrido os seguintes prazos: quatro meses para o caso do
processo decorrer sem que tenha havido acusação, oito meses quando não
tenha sido proferida decisão instrutória desde o início da fase de instrução,
catorze meses quando há inexistência de condenação de 1.ª instância, dezoito
meses sem que tenha havido condenação com trânsito em julgado, ou seja,
quando todos os recursos possíveis já terminaram ou porque o prazo para
recorrer da decisão proferida pelo juiz também já prescreveu e de vinte e
quatro meses.

Os prazos acima mencionados são alargados, respectivamente, para 6, 8, 14 e 20


meses, quando se tratar de crime punível com pena de prisão superior, no seu limite máximo,
a 5 anos e o processo se revestir de especial complexidade, em função do número de arguidos
e ofendidos, do carácter violento ou organizado do crime e do particular circunstancialismo
em que foi cometido. Sendo o Processo Penal suspenso para julgamento de questão
prejudicial ou havendo recurso para o Tribunal Constitucional, o prazo é acrescido de 4
meses.

Os prazos estabelecidos na lei são suspensos durante o internamento hospitalar do


arguido, sempre que a presença deste seja necessária à continuação da investigação. O tempo
de detenção e o de prisão domiciliária cumpridos pelo arguido contam para efeito de
determinação do prazo decorrido, como tempo de prisão preventiva.

O Estado é a organização política de um determinado povo. A sua existência é


consubstanciada no acordo comum entre os seus membros. Pois, não seria possível manter a
paz e a segurança dentro e fora das fronteiras do Estado sem que antes houvesse um acordo
comum entre os seus membros, ouseja, a necessidade de superar os conflitos de interesses,
levou os homens a conceber sociedades mais complexas que englobam as sociedades
primarias e criam entre elas possibilidades de colaboração pelas subordinações obrigatória a

31
deveres, comuns e pelo reconhecimento de direitos recíprocos garantidos por autoridades
dotados de poder coercitivo.

Assim o Estado proporciona ou cria mecanismos para reduzir o excesso em


determinadas cadeias, o Estado procura soluções como: O aumento das cadeias, alargamento
das celas e melhores condições de estadia, alimentação e melhores lugares para dormir. O
Estado cria ainda Leis que facilitam a vida dos detidos, como a Amnistia, o Indulto e a
Comutação.

Esses institutos são criados pelo Estado para dar solução ao excesso que tem havido
dentro dos estabelecimentos penitenciários. Em situações de resolução do caso de género o
Estado é indispensável para a realização dos fins que o homem prossegue de acordo com a
sua natureza e que excedem o apoio que podem encontrar na família ou na associação das
famílias e nas sociedades, fazendo com que reina a paz, a tranquilidade e a ordem, evitando o
surgimento de milícias, de bandos armados, da chamada justiça privada popular.

Para que o Estado cumpra a sua missão com sucesso, dispõe de meios próprios que
visam a legitimação da sua actividade, ou seja, é necessário a existência de um aparelho
preventivo, repreensivo que visa a garantia da autoridade.

2.1. MEDIDAS DE TUTELA PENAL E DISCIPLINAR

Acreditando que se tenha feita uma exposição coesa e exaustiva do conteúdo referente
ao excesso de prisão preventiva é importante fazer uma exposição das garantias oferecidas aos
arguidos para defesa da sua liberdade individual.

“Quer a prisão preventiva quer a pena de prisão privam o homem de um dos bens mais
valioso que possui: a liberdade de andar, de se locomover, de se deslocar, de ir para onde
entender, dentro dos limites e condicionalismo que naturalmente a lei impõe.” (RAMOS,
2013, p.239)

Antes de seguirmos para o desenvolvimento deste ponto é também fundamental que se


faça uma excursão sobre da visão e salvaguarda constitucional sobre o direito a liberdade.

O nº 1 do artigo 36º da CRA estabelece que “todo o cidadão tem direito à liberdade
fisica e à segurança individual.”

32
“Qualquer cidadão que resida livremente em Angola pode livremente fixar residência,
movimentar-se e permanecer em qualquer parte do território nacional” é o que se lê no art.º
46.º, nº 1 da CRA.

Da análise destes artigos depreende-se que os cidadãos residentes em Angola têm a


sua liberdade salvaguardada, devendo o Estado criar mecanismos suficientes para impedir que
se viole esse direito fundamental dos homens, permitindo apenas a sua restrição nas situações
previamente previstas e reguladas pela constituição e pela lei, vide: nº2 do artigo 36º CRA.

Continuando, a CRA nos artigos supracitados, no artigo 66º, 67º e segs. estabelece
ainda que a detenção, a prisão preventiva e a pena de prisão só são permitidas nos casos
previstos na lei, i.e., o homem não pode ser privado da sua liberdade pessoal fora das
situações previstas na Constituição e na lei. E sendo, como é, direito fundamental, essa
liberdade é garantida tanto pela lei substantiva como pela lei processual.

Esse posicionamento do legislador constituinte se deve ao facto de a liberdade


individual ser um bem jurídico de elevadíssimo valor. Por isso permite ao seu titular a
legítima defesa contra qualquer ataque ilegal que venha a ser desferido contra si.

Sustenta Ramos (2013, p.240) afirmando que:

Entender-se ser, por princípio, legítima a desobediência e a resistência a uma


ordem de prisão manifestamente ilegal.Por outro lado, as ofensas ao direito
de liberdade pessoal poderão constituir infração penal grave, quer quando o
agente é um particular quer quando é uma autoridade ou agente de
autoridade.

Esse direito é de tamanha importância que o legislador responsável pela elaboração do


Código de Processo Penal dedicou um capítulo exclusivo sobre os crimes contra a liberdade
das pessoas.

O artigo 174.º do CPP, sobre o Sequestro, estabelece que “quem prender, detiver,
mantiver presa ou detida uma pessoa ou, de qualquer forma, a privar da sua liberdade é
punido com pena de prisão de 6 meses a 3 anos ou com a de multa de 60 a 360 dias.”

Essa salvaguarda não se limita aos particulares, não pode igualmente os entes públicos
restringir a liberdade individual fora dos limites da lei. Vide: art. 2º da Lei 18-A/92 de 17 de
Julho.

33
Desse raciocínio deve se compreender que: Nenhum empregado público poderá
prender alguma pessoa, sem que poder tenha para prender (falta de competência genérica para
prender); Quem tiver esse poder não o pode exercer fora dos casos determinado na lei ou
contra alguma pessoa cuja prisão for da exclusiva atribuição de outra autoridade (falta de
competência específica para prender); Não pode manter retido preso que deva ser posto em
liberdade, em virtude da lei ou de sentença passada em julgado, cujo cumprimento lhe
competir, ou por ordem superior competente(excesso de prisão preventiva ou de cumprimento
de pena de prisão);

Sendo a responsabilidade do empregado público no exercício das suas


funções ou mesmo fora delas, uma vez que os efeitos da prática do crime
irão repercutir-se nesse exercício no art.º26.º, 5.º da lei n. 18-/92, de 17 de
julho, ordena expressamente contra os que infringirem a observância dos
prazos de prisão preventiva a instauração de procedimento disciplinar sem
prejuízo, entretanto, da pena prevista no n.º 1. do art.º 43.º da lei n.º 4/94, de
28 de janeiro.( lei dos crimes militares), no caso de reiteração( crime de
negligência no serviço sendo o agente militar ou equiparado). (RAMOS,
2013, p240)

2.2. DIREITO DOS DETIDOS

Nessa continuidade, o direito a liberdade é tão relevante que o legislador


constitucional se preocupou também com a situação dos cidadãos que estejam com a
liberdade restringida, mesmo que de forma legal. Neste sentido, o artigo 63º da Constituição
da República de Angola define e estabelece os direitos dos detidos e presos.

O senso comum nos leva pensar que os direitos dos detidos têm pouco haver
connosco, que eles trocaram os seus direitos com uma vida criminosa. Podemos afirmar desde
já que esse posicionamento esta errado em dois aspetos. Em primeiro lugar, todas as pessoas
têm os mesmos direitos, os quais nunca lhes podem ser retirados de forma ilegal,
independentemente de quem for e do que tiver feito. Em segundo lugar, o facto de alguém se
encontra sob custódia do Estado não significa que seja culpado de um crime. Se tiver tido a
sorte de ter um julgamento, poderá não ter sido um julgamento justo.

Pode se depreender da análise do texto do nº 2 do art. 66º da CRA que os detidos têm
os seus direitos protegidos, i.e., o preso, tanto o que ainda está respondendo ao processo
quanto o condenado, continua tendo os mesmos direitos que não lhes foram retirados pela
pena e pela lei. Desta forma os detidos possuem alguns direitos básicos (trabalho remunerado,
visita de familiares e amigos, direito de assistência médica, direito de assistência religiosa,

34
direito de assistência judiciária) tem direito a um tratamento digno, e direito de não sofrer
violência física e moral.

A lei determina para efeito de internamento de qualquer pessoa em


estabelecimento de detenção mediante mandato de captura ou mandado de
condução datado e assinado pela entidade competente, do qual constará a
identificação do detido e a indicação dos motivos da sua prisão nos termos
do art 23º da lei nº 18/92. (RAMOS, 2013, 241)

Mais importante ainda são as garantias que visam remediar e a sanar ataques
eminentes ou consumados à liberdade individual e situações presumidas ou perfeitamente
desenhadas pela privação dessa liberdade dos indivíduos.

O Mundo prisional é uma realidade que se encontra escondida de baixo do tapete


social. Normalmente, a sociedade, prefere não saber oque se passa nas prisões, ignorando a
vida dos seus habitantes.

2.3. HABEAS CORPUS

Um dos mecanismos oferecidos aos arguidos para a salvaguarda dos seus direitos
dentro da situação de excesso de prisão preventiva é o instituto do Habeas Corpusque visa
tutelar o direito fundamental de ir, vir e ficar.Etimologicamente, o habeas corpus vem de
Habeas, de habeo, habes, habui, habitum, habere, que significa ter, possuir, apresentar e,
Corpus, significa o corpo, a pessoa, podendo ser traduzido para a expressão "que tenhas o
corpo".

O surgimento do instituto do Habeas Corpus em Angola, remonta do ano de 1929,


aquando da entrada em vigor do Código de Processo Penal em Portugal e, consequentemente,
em Angola enquanto colónia portuguesa.

Dada proclamada a independência de Angola, foi entendido nomeadamente por


jurisprudência do então tribunal da relação, instância máxima da jurisdição comum do país,
terem sido revogados todos os preceitos do código do processo penal de 1929 relativos ao
habeas corpus que não estaria de acordo com o processo de transformações em curso e com o
espírito da lei constitucional que também não o consagrava no respetivo texto.

Atualmente a CRA consagra o habeas corpus no art.º 68º: O nº 1 estabelece que


“todos têm o direito à providência de habeas corpus contra o abuso de poder, em virtude de
prisão ou detenção ilegal, a interpor perante o Tribunal Competente. O nº 2 prevê, de forma
35
mais específica, quanto à legitimidade para o seu requerimento, que “a providência do habeas
corpus pode ser requerida pelo próprio ou por qualquer pessoa no gozo dos seus direitos
políticos”. Por fim o nº 3 dispõe que “lei própria regula o processo de habeas corpus”.

“As garantias organizadas pela lei processual são interessantes considerar no curso de
Direito, porque algumas delas procuram prevenir situações de perigo ou de lesão da liberdade
de locomoção e de movimentação concedidas aos cidadãos.” (RAMOS, 2013, p.241)

Lê-se no texto do artigo 290º do CPP:

1. O «habeas corpus» é uma providência extraordinária e expedita destinada


a assegurar de forma especial o direito à liberdade constitucionalmente
garantido, e que visa reagir de modo imediato e urgente contra o abuso de
poder em virtude de detenção ou prisão, efectiva e actual, ferida de
ilegalidade, por qualquer dos fundamentos mencionados no n.º 4. 2. Em caso
de privação ilegal da liberdade, pode ser requerida providência de «habeas
corpus», nos termos das disposições seguintes, em favor da pessoa detida ou
presa. O habeas corpus é um “remédio constitucional, contra o ato de
ilegalidade, ou de abuso de poder, configurador de constrangimento à
liberdade de locomoção. Esse constrangimento pode efetivar-se na prisão ou
detenção, bem como revestir forma de ameaça ao direito de ir e vir”

Existem, no geral, duas espécies de habeas corpus: O habeas corpus preventivo –


aquele que é requerido na iminência do constrangimento; O habeas corpus liberativo ou
repressivo – aquele que se requer contra a efetiva coação.

A sua finalidade é, sem sombras de dúvidas, proteger a liberdade individual


do abuso de poder, em clara concordância com a função do poder judicial
que o aplica: a de assegurar ou garantir os direitos fundamentais.
Concluímos esta ideia dizendo que, o habeas corpus não é mais do que a
intervenção do poder judicial, como remédio extraordinário para pôr fim a
abusos de poder, que sejam ofensivos do direito à liberdade. (COSTA, 2015,
p.24)

Costa (2015, p.38) correlaciona a prisão preventiva e o habeas corpus:

A prisão preventiva, tal como já referimos, vai mais longe na


compreensão dos direitos fundamentais, visto que ela permite a
prossecução de maior eficácia do processo penal, mas por outro lado,
menor proteção de direitos fundamentais.30 O instituto do habeas
corpus é pro-libertate, logo protege mais os direitos fundamentais do
que prossegue a eficácia do processo penal. Portanto, “preferir o
habeas corpus, é preferir a proteção de direitos fundamentais, em
detrimento da eficácia do processo, bem como, inversamente,
defender a prisão preventiva é preferir a satisfação da maior eficácia”

36
Competência. A competência para decidir a petição de «habeas corpus» é do Juiz
Presidente do Tribunal competente para apreciação dos factos criminais que são imputados ao
detido ou preso. Caso a detenção ou prisão tenha sido ordenada pelo Juiz Presidente do
Tribunal competente, cabe ao presidente do Tribunal imediatamente superior decidir a petição
de habeas corpus.

Prazo da decisão. A decisão sobre a providência de «habeas corpus» deve ser tomada
num prazo nunca superior a cinco dias úteis, contados da data da entrada da petição na
Secretaria do Tribunal competente.

O nº 4 do artigo 290º do CPP estabelece que o «habeas corpus» pode ser requerido
com base num dos seguintes fundamentos: Ser a prisão ou detenção efectuada sem mandado
da autoridade competente; Estar excedido o prazo para entrega do arguido detido ou preso
preventivamente ao magistrado competente para a validação da detenção ou prisão
preventiva; Manter-se a privação da liberdade para além dos prazos fixados pela lei ou por
decisão judicial; Manter-se a privação da liberdade fora dos locais para este efeito autorizados
por lei; Ter sido a privação da liberdade ordenada ou efectuada por entidade incompetente;
Haver violação dos pressupostos e das condições da aplicação da prisão preventiva.

O nº 5 do artigo supracitado define que a petição de «habeas corpus» é apresentada


por meio de requerimento, cujos duplicados devem ser entregues na secretaria do Tribunal
competente, devendo de ela constar: A identificação do detido ou preso; A entidade que
ordenou a detenção ou prisão ou à ordem de quem se encontra detido ou preso; A data da
captura; O local da detenção ou prisão; Os motivos da detenção ou prisão; Os fundamentos da
ilegalidade da detenção ou prisão.

É também importante ressaltar que tem legitimidade para requerer o habeas corpus o
detido ou preso, ou qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos, a pedido ou
no interesse daquele.
2.3.1. Procedimento Da Providência De Habeas Corpus

Autuado o original da petição de habeas corpus, o juiz competente, se o requerimento não for
indeferido liminarmente por manifesta falta de fundamento:

a) Ordena, pela via mais rápida e simples que tiver à sua disposição, nomeadamente
por via telefónica, à autoridade, agente da autoridade ou entidade pública que tiver o detido à

37
sua guarda ou disposição para, sob pena de desobediência qualificada, lho apresentar
imediatamente.

b) Envia, num prazo não superior a vinte e quatro horas, o duplicado à entidade
responsável pela privação da liberdade ou à entidade à ordem de quem o detido ou preso se
encontra, para que informe, por escrito, no prazo máximo de 48 horas, em que circunstâncias
a prisão foi efectuada e em que condições ela se mantém, juntando a respectiva prova
documental. A falta de resposta à solicitação de informação faz incorrer o faltoso na prática
do crime de desobediência, nos termos previstos na lei penal.

Sem se descartar o que foi acima exposto, é fundamental que se entenda também que o
pedido de informação pode ser feito por qualquer meio de comunicação.

Caso a entidade responsável pela privação da liberdade responder à informação que o


detido ou o preso foi libertado ou entregue ao magistrado competente para validar a prisão
preventiva, a providência suspende-se, extinguindo-se logo que se confirme tal facto, sem
prejuízo de eventual averiguação da responsabilidade criminal do responsável pela detenção
ou prisão ilegal.

Se o juiz não tiver elementos suficientes para decidir, pode convocar o Ministério
Público e o defensor constituído, se o houver, ou o defensor para o efeito nomeado, no caso
contrário, para uma sessão de esclarecimentos e informações com o objectivo de colher os
elementos necessários à decisão sobre o pedido formulado pelo requerente.

Sessão. Aberta a sessão, o juiz ouve, em primeiro lugar, o detido e o seu advogado ou
o defensor para o efeito nomeado, no caso contrário, assim como o Ministério Público, se esti-
verem presentes, e, logo em seguida, a autoridade, agente de autoridade ou entidade pública
referidas nos números anteriores, após o que decide, indeferindo o pedido ou repondo a
legalidade, nos termos do artigo seguinte.

Decisão do juiz. Se o juiz considerar que não se verifica nenhum dos fundamentos da
ilegalidade da detenção ou prisão enumerados no n.º 4 do artigo 290.º, indefere o pedido,
declarando a privação de liberdade legal e conforme à lei. Se o juiz indeferir o requerimento
por manifesta falta de fundamento, deve condenar o requerente em multa a fixar entre 50 e
400 UCF.

38
Caso a entidade a quem foi solicitada a informação, nos termos do artigo anterior
confirmar que a prisão se mantém ou deixar de prestar a informação no prazo legal, o juiz
competente, ouvido o Ministério Público, aprecia e decide a petição de «habeas corpus». Na
decisão que tomar, o juiz competente pode:Indeferir o pedido por falta de
fundamento;Declarar a prisão ilegal e ordenar a restituição do preso à liberdade; Ordenar que
a prisão se mantenha mas em outro estabelecimento ou que o preso fique à ordem do Tribunal
competente e aí seja apresentado, no prazo máximo de vinte e quatro horas.

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS


RECOLHIDOS

No presente capítulo apresentaremos de forma sintética os resultados recolhidos da


pesquisa de campo, feita por meio de inquéritos e uma entrevista, a fim de obter informações
úteis para concretização dos objetivos dos nossos estudos.

Procurando alcançar os objetivos e comprovar as hipóteses levantadas realizamos


estudos de campo, tendo selecionado um grupo de pessoas bem entendidas na matéria do
Direito, da Prisão Preventiva e do seu excesso, tendo nos apoiado no método quali-
quantitativo realizamos entrevistas à entes legados à direção da Comarca de Viana e também
aprsentamos inquéritos à juristas para nos fornecerem as informações almejadas.

DISTRIBUIÇÃO DOS INQUERIDOS PELO GÉNERO

33% Masculino
Feminino

67%

Fontes: Entrevista e Inquérito.

39
No primeiro gráfico observa-se que houve mais contato com o público do género
masculino (4) em relação ao público do género feminino (2), por uma questão de
disponibilidade. Totalizando 6 inqueridos.

Gráfico das questões com opções de resposta similares

SIM NÃO

TALVEZ
100%

As respostas dos inqueridos não divergiram muito durante todo o processo. Quando
questionados se já testemunharam uma situação em que alguém ficou detido por mais de 12
meses sem ter sido condenado, os inqueridos responderam de forma categórica e unânime que
“sim”. 5 dos inqueridos afirmam que o arguido não foi posto em liberdade após término do
prazo de 12 meses. O que perfaz um excesso de prisão preventiva.

O EXCESSO DE PRISÃO PREVENTIVA TEM EFEITOS NEGATIVOS


PARA O ARGUIDO?

SIM NÃO

TALVEZ

100%

A unanimidade prevaleceu quando questionados se o excesso de prisão preventiva tem


efeitos negativos na vida do arguido. Tendo todos afirmando que sim.

Os inquéritos responderam em unanimidade que se deve respeitar o princípio da


legalidade durante a prisão preventiva o que atesta a supremacia da constituição e da lei e o
facto de o princípio estar intimamente ligado à espinha dorsal das medidas de coação pessoal.

Os inqueridos afirmaram de forma unânime que o arguido em situação de excesso de


prisão preventiva pode defender-se por meio de institutos que estudamos como sucede com o
habeas corpus. Sobre este instituto afirmam os inqueridos que este tem serve ainda para
prevenir que se prenda alguém de forma ilegal e para salvaguardar o direito à liberdade de
40
quem for preso de forma ilegal. O sustenta o que afirmamos ao longo do presente estudo
sobre a amplitude deste instituto e sobre a importância da liberdade enquanto direito
fundamental prevista pela nossa Constituição.

Responsabilidade pela aplicação da prisão preventiva

Juiz

Particular

100% Ministério Público

O mesmo sucedeu quando questionados sobre quem recai a responsabilidade da


aplicação da medida cautelar de prisão preventiva. Tendo todos afiando que esta pertence ao
Ministério público.

Qual é o objetivo da prisão preventiva?


Gráfico nº4

20% Privar a liberdade dos individuos

20%
Garantir a finalidade do processo
60% penal
20%
60% 20%
Tutelar a presunção penal

As respostas foram divergentes quanto à sétima questão o que atesta que apesar de ser
uma realidade muito presente entre nós ainda é motivo de muita divergência de ideias quanto
ao seu objetivo efetivo.

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Quando é que há excesso de prisão preventiva?

Quando o arguido não quer que


lhe seja aplicada prisão preven-
tiva
Quando prende ou detém de
forma ilegal
50% 50%
Quando se excede o prazo legal
para a prisão preventiva

Questionados sobre “quando é que ocorre o excesso de prisão preventiva?”, 50% dos
inqueridos afirmou que ocorre quando há detenção ou prisão ilegal e os restantes 50%
afirmou que ocorre quando se excede o prazo legal da prisão preventiva o que atesta que
apesar de diversas há uma convergência pois ambas são situações geradoras de excesso de
prisão preventiva, como vimos no capítulo anterior. O que nos mostra que os inqueridos têm
domínioda matéria legal sobre os limites da detenção e da prisão preventiva

Finalidade do Habeas Corpus Proteger a liberdade individual do


abuso de poder

Proteger o arguido de forma


incondicional
33% 33%
Salvaguarda do direito à liberdade de
quem foi prezo de forma ilegal

Prevenir que não se prenda alguém de


forma ilegal
33%

Quando perguntado sobre a finalidade os institutos do habeas corpus 2 dos inqueridos


afirmaram que esta visa proteger a liberdade individual de abuso de poder, 2 afirmam que visa
salvaguardar o direito à liberdade que quem foi preso de forma ilegal e outros dois afirmam
que visa prevenir a detenção ilegal. Isso ocorreu porque todas estas opções escolhidas
perfazem parcelas da finalidade do habeas corpus tanto o preventivo como o restitutivo.
Havia apenas uma opção falsa à qual ninguém adotou, validando a nossa hipótese.

De forma complementar procedeu-se ainda à uma entrevista com perguntas abertas à


um ente ligado aos serviços prisionais, tendo este se identificado do seguinte modo: Pedro
Golombolo, Chefe da Área de Contencioso Laboral da UESI/SO/MININT. Ao entrevistado
foram apresentadas 15 questões, tendo este respondido 10.

42
Ao entrevistado foi feita seguinte pergunta: De quem é a responsabilidade da prisão
preventiva?

O entrevistado respondeu do seguinte modo: A prisão preventiva é uma medida de


coação pessoal da responsabilidade do magistrado judicial que pode ser aplicada
oficiosamente ou sob promoção do Ministério Público.

Na sequência, foi-lhe perguntado: Qual é o alcance do princípio da legalidade na


prisão preventiva?

O entrevistado respondeu: o alcance do princípio da legalidade na prisão preventiva


centra-se no facto de que para a aplicação desta medida deve-se observar estritamente a
Constituição da República na medida em que ninguém pode ser privado da liberdade exceto
nos casos previstos por lei, ou seja, não se pode aplicar esta medida ao indivíduo a fim de se
obterem indícios de que tenha praticado um crime (não se prende prender), conforme o nº 2
do artigo 36º da CRA., conjugado com onº 4 do art. 279º do CPP. Outrossim, o alcance do
princípio da legalidade incide também nos prazos que muitas vezes não são cumpridos pelos
órgãos de justiça o que nos leva àquilo que chamamos excesso de prisão preventiva.

Qual é o objetivo da prisão preventiva?

A prisão preventiva tem como objetivo assegurar que o indivíduo indiciado na prática
de crime doloso punível por pena superior a 3 anos não se evada, não interfira nas
investigações, não coaja as vítimas e não cometa outros crimes.

Quais são os prazos máximo da prisão preventiva?

Os prazos máximos da prisão preventiva são: 4 meses sem acusação do arguido; 6


meses sem o arguido ser pronunciado; 12 meses, até a condenação à primeira instância; e 18
meses, sem haver condenação com trânsito em julgado, nos termos do art. 283º do CPP.

Que mecanismos o arguido que esteja em situação de excesso de prisão preventiva


pode usar para ver reposta a legalidade e, consequentemente, reposto à liberdade?

O arguido que esteja em situação de excesso de prisão preventiva e tenciona ver a sua
liberdade restituída, pode através do seu advogado, por ele ou por qualquer outra pessoa no
gozo dos direitos políticos, arguir a providência de habeas corpus por prisão ilegal, nos termos
do art. 68º da CRA.
43
Na sequência, foi-lhe perguntado: que papel desempenha o Habeas Corpus diante
deste mal?

O entrevistado respondeu que: o habeas corpus é uma providência cautelar que serve
como uma garantia fundamental dos cidadãos face aos abusos do poder do Estado. É
preponderante o seu papel na medida em que ajuda a dirimir esses conflitos.

CONCLUSÃO

É com enorme satisfação que se chega a este capítulo conclusivo do presente TFC,
especialmente por que apesar das adversidades impostas pela situação pandémica que
vivemos, que limita muito a obtenção de dados, conseguiu-se alcançar os objetivos traçados.

Do exame dos dados da pesquisa e da análise de todo o sistema das normas jurídicas
angolana baseado no instituto do excesso da prisão preventiva como caso específico. Conclui-
seque a prisão preventiva é uma medida de coação pessoa que surge no processo com o
objetivo de prevenir que o indivíduo indiciado na prática de crime doloso não se evada, não
interfira nas investigações, não coaja as vítimas e não cometa outros crimes. Mas quando não
aplicada com respeitos aos princípios que a oriental, como o da legalidade, e quando não
respeitados os prazos pode se estar diante de um abuso de poder de autoridade, que configura
excesso de prisão preventiva.

O nosso Código penal estabelece os prazos legais para a prisão preventiva, mas ainda é
necessário que os operadores de direitos compreendam a importância e magnitude do direito à
liberdade individual e que compreendam também que não podem agir com arbitrariedade,
devendo sempre cumprir o que está estritamente previsto por lei.

Dentro do nosso ordenamento jurídico, o arguido tem direitos e goza do princípio


constitucional da presunção de inocência ao longo da marcha processual, mas ele tem que
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suportar nos casos de inadmissibilidade de liberdade provisória, encargos com a sua sujeição
à prisão preventiva até que haja no processo uma sentença absolutória transitada em julgado
para que possa ver sua liberdade restituída.

O desrespeito pelo que está previsto na lei, pode, como se tem vindo a esclarecer aos
longo do presente trabalho gerar situações de Excesso de Prisão Preventiva. O arguido diante
deste mal, pode socorrer-se às garantias constitucionais a ele oferecidas e aqui também se
inclui o instituto do habeas corpus. Estas garantias surgem na medida da proteção da
liberdade dos indivíduos que à semelhança do direito à vida são bens supremos e cuja
limitação deve nos termos criteriosamente previstos.

A boa atuação dos entes com competência para privar a liberdade dos indivíduos
garantirá que as medidas de coação pessoa cumpram o seu real objetivo e que sobretudo se
evite a violação dum direito tão importante.

SUGESTÃO

Tendo em conta tudo que conseguimos apurar ao longo da pesquisa em torno da


problemática da importância social do excesso da prisão preventiva, e levando em
consideração que o Estado, é o detentor da ordem e da tranquilidade social. Oque serve como
unidade de análise, temos as seguintes sugestões:
1. Qualificação e capacitação dos entes com competência e poderes para a aplicação das
medidas de coação pessoal:
2. Melhorara o sistema penitenciário, a fim de salvaguardar os direitos dos detidos;
3. Melhorar a fiscalização da situação carcerária dos indivíduos a fim de acabar com os
excessos dentro do nosso sistema;
4. Cumprir com os prazos estipulados no processo;
5. Ciar mecanismos de acompanhamento psicológico aos indivíduos que estejam ou
tenham estado preventivamente presos de forma excessiva.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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 Constituição da República de Angola 1.ª Edição Fevereiro de 2010

 Código de Processo Civil Anotado

 Código Penal da República de Angola

 Lei das Medidas Cautelares Lei nº 25/ 15

 Lei da Prisão Preventiva em Instrução Preparatória (Lei nº 18 – A / 92 de 17 de Junho)

 Lei da Amnistia (Lei nº 11/ 16 de 12 Agosto)

 Lei Penitenciaria (Lei 8/08 de 29 de Agosto)

 Regulamento Orgânico do Sistema Penitenciário (Lei 184/2017 de 11 de Agosto).

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