Silva, 2022
Silva, 2022
Silva, 2022
Estudo da vida em fadiga de uma junta soldada no aço carbono ASTM A516 grau 70
soldada por GMAW
Guaratinguetá - SP
2022
Patrícia Stella de Oliveira Martins da Silva
Estudo da vida em fadiga de uma junta soldada no aço carbono ASTM A516 grau 70
soldada por GMAW
Guaratinguetá - SP
2022
DADOS CURRICULARES
PALAVRAS-CHAVE: Fadiga. Juntas soldadas. Solda GMAW. Aço ASTM A516 G70.
ABSTRACT
The study of fatigue resistance properties is always a concern in several areas of engineering.
However, this concern becomes even more present when it comes to welded materials. It is
well known how welding, in the midst of so many applications, brings numerous structural
changes, as well as the material properties in and near the weld region, which can bring
defects and weaknesses. Some defects, such as small fractures, can be disastrous, greatly
reducing the fatigue life of the material. To estimate the fatigue strength of a material, S-N
curves are used, which relate the loading stress and the number of cycles until failure. This
work seeks to obtain the S-N curve, through the test of welded joints by the GMAW and
GTAW processes, using the A 516-70 alloy, which is very resistant and ideal for use in
welding processes. For this, hardness tests are carried out on specimens of the A 516-70 alloy,
with welded joints by the aforementioned processes and fatigue test, obtaining the S-N
curves. The results obtained showed a significant decrease in fatigue life in specimens welded
by the GMAW process compared to laminated base metal and sanded base metal specimens,
the latter having the longest fatigue life.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................15
1.1 OBJETIVO ............................................................................................................16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................17
2.1 JUNTA SOLDADA E SUA GEOMETRIA.......................................................... 17
2.2 PROCESSOS DE SOLDAGEM........................................................................... 18
2.2.1 Processos de soldagem por pressão.................................................................... 18
2.2.2 Soldage m por fusão.............................................................................................. 18
2.2.3 Soldage m GMAW................................................................................................ 20
2.3 TENSÕES RESIDUAIS........................................................................................ 22
2.3.1 Consequências das tensões residuais................................................................. 24
2.4 ANÁLISE METALÚRGICA DE UMA JUNTA SOLDADA ..............................26
2.5 FADIGA.................................................................................................................28
2.5.1 História da Fadiga ...............................................................................................28
2.5.2 Mecanismo ............................................................................................................29
2.5.3 Ensaio de Fadiga ..................................................................................................32
2.5.4 Curvas S-N ou Curvas de Wöehler.....................................................................33
2.6 AÇO CARBONO A516 GR 70 .............................................................................35
3 MATERIAIS E MÉTODOS ...............................................................................38
3.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA ..................................................................................38
3.2 PROCEDIMENTOS DE SOLDAGEM GMAW...................................................38
3.3 PARÂMETROS DO CORPO DE PROVA ..........................................................39
3.4 ENSAIO EM FADIGA ..........................................................................................40
3.5 ENSAIO DE MICRODUREZA ............................................................................42
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................44
4.1 ENSAIO EM FADIGA .........................................................................................44
4.2 ENSAIO DE MICRODUREZA ............................................................................46
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................48
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................49
15
1 INTRODUÇÃO
O estudo de juntas soldadas e suas fragilidades através das curvas S-N no ensaio em
fadiga possuem poucas publicações, tornando seu estudo tão necessário.
1.1 OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo determinar a curva de fadiga S-N para a liga ASTM
A516-70, sob regime de tração, em corpos de prova com juntas soldadas pelo processo
GMAW (Gás Metal Arc Welding), com reforço de solda e com o reforço removido e o corpo
de prova lixado. A obtenção destas curvas visa auxiliar projetos em engenharia para
carregamentos cíclicos.
17
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Junta, do inglês joint, é a região onde é executada a soldagem na peça. Elas podem
apresentar diversas formas e geometrias, sendo algumas apresentadas na Figura 2.
apresentando uma tendência a se unir com outros. Apesar disso, sabe-se que a união entre
metais não ocorre simplesmente com a aproximação de suas superfícies. Isso ocorre devido a
irregularidades superficiais, como rugosidades, cobertura de óxidos sobre os metais, umidade,
gordura, poeira, etc. Com o objetivo de superar essas irregularidades foi que surgiram dois
grandes grupos de processos de soldagem: soldagem por pressão e soldagem por fusão.
Segundo Modenesi et al. (2012), neste grupo inclui processos de soldagem por
forjamento, ultrassom, fricção, explosão entre outros. São processos em que ocorrem
deformações plásticas na superfície, devido a elevada pressão, permitindo uma aproximação
entre os átomos. Estes processos podem ser vistos na Figura 3:
Este método consiste em aplicar calor na região da junta até a fusão do metal de
adição, quando ele é utilizado. Quando o metal fundido se solidifica, as superfícies das peças
são eliminadas, formando a solda (Modenesi et al., 2012). Este processo pode ser visto pelo
Figura 4:
Neste trabalho o processo utilizado foi o de soldagem GMAW (Gas Metal Arc
Welding), discutido a seguir.
ativo, como oxigênio e hidrogênio. Quando inerte é chamado de MIG (Metal Inert Gas) e
quando ativo é chamado de MAG (Metal Active Gas), (MODENESI et al., 2012).
Figura 7: Modos de transferência, (a) curto-circuito, (b) globular e (c) spray ou aerosol
de diâmetro, até que por fim toca a poça de metal fundido e é atraída devido à tensão
superficial.
Ainda segundo Kou (2003), a transferência globular ocorre com gotas de metal sob
influência da gravidade, geralmente produzindo vários respingos, que podem ser minimizados
com a utilização de CO2 como gás de proteção. Por fim a transferência de solda por spray as
gotas são pequenas e frequentes, ocasionando uma transferência estável, com baixo nível de
respingo.
Para efetuar a soldagem, o equipamento de utilização básico consiste em uma tocha de
soldagem, fonte de energia e corrente constante, fonte de gás e alimentador de arame.
(SARNI, 2011).
A área hachurada M-M’ é onde ocorre a deformação plástica. Na seção A-A, que está
acima da fonte de calor, não possui valores significativos de mudança na temperatura e nem
na tensão. Já na seção B-B há um pico de temperatura por passar pela fonte de calor e, a
tensão סx, se torna zero na região embaixo da fonte de calor, devido à poça de fusão, que não
possui aplicação de força. Porém, nas regiões um pouco distantes da fonte de calor, as tensões
se apresentam compressivas (סx negativo), porque a expansão dessas áreas fica restrita devido
ao resto do metal que mantém uma temperatura menor. Devido ao baixo limite de elasticidade
do metal nas altas temperaturas, סx atinge o limite de elasticidade do metal base e sua
temperatura correspondente. E nas áreas longe da poça de solda, a tensão é tracionada e é
balanceada com as tensões de compressão na área próxima à poça de solda. (KOU, 2003).
Na seção C-C há uma temperatura menos acentuada devido a distância da fonte de
calor, sendo assim, a poça de metal e o metal base também possuem uma temperatura mais
baixa e por isso uma tendência a contrair, produzindo uma tensão de tração (סx é positivo)
nesta região e uma tensão negativa nas regiões ao redor, de compressão. (KOU, 2003).
24
Por fim, na seção D-D no gráfico de temperatura há valor zero por estar muito distante
da fonte de calor. Nesta situação, a poça de metal e o metal base estão resfriados e contraídos,
produzindo maiores tensões de tração na região próxima da solda e de compressão na região
mais distante da solda. Estando esta seção bem distante da fonte de calor, a distribuição de
tensão não tem uma mudança significativa, se tornando uma tensão residual. (KOU, 2003).
(1)
Onde סm é a máxima tensão residual, que varia conforme o limite de elasticidade do
metal; b é a largura do cordão de solda e y é a tensão residual longitudinal formada ao longo
da direção transversal. Na Figura 9a pode-se observar a variação da tensão residual סx ao
longo do cordão de solda (KOU, 2003).
Figura 9: Distribuição longitudinal סx e transversal סy de tensão residual num cordão
de solda
Figura 10: Distribuições medidas e calculadas da tensão residual em uma junta de topo
do alumínio 5083
Figura 11: Efeito da temperatura com o tempo no alívio das tensões de um aço soldado
Ainda segundo Modenesi et al., 2012, a formação da ZTA ocorre devido aos ciclos
térmicos durante o processo de soldagem e é influenciada pelas características do metal base.
Na Figura 12 demonstra as regiões da solda de um aço carbono, material utilizado neste
trabalho.
27
2.5 FADIGA
2.5.2 Mecanismo
Figura 13: Tipos de tensão em fadiga: (a) ciclo de tensões alternadas, (b) ciclo
assimétrico de tensão e (c) ciclo de tensões aleatórias
(2)
31
(3)
(4)
(5)
Além das tensões cíclicas já descritas, neste trabalho é realizado o ensaio com uma
tensão axial estritamente positiva, ou seja, sob o regime de tração-tração, conforme na Figura
15 (SIEMENS, 2019).
32
Vários corpos de prova são necessários ser testados para obter uma curva S-N. Na
Figura 17 está ilustrada uma curva S-N derivada de um ensaio de um corpo de prova de
material metálico. Nesta curva percebemos que, quanto maior a amplitude de tensão cíclica
aplicada, menor é o número de ciclos até a fratura. (SIEMENS, 2019)
A Curva S-N é o gráfico de uma tensão alternada pelo número de ciclos até a fadiga de
um determinado material, com a tensão e números de ciclos normalmente obtidos em escala
34
logarítmica. A curva S-N pode ser dividida em três regiões: região plástica, elástica e de vida
infinita, como podemos ver na Figura 18 (SIEMENS, 2019).
Figura 18: Curva S-N contendo a força máxima, força de rendimento e limite de
resistência
Três fatores separam as regiões: tensão máxima, que é a tensão requerida para que a
falha ocorra com um ciclo; tensão de rendimento, dividindo a área plástica da elástica,
também conhecida por região de alto ciclo, onde um grande número de ciclos de tensão de
baixa amplitude pode fazer com que a peça falhe; e tensão limite, onde se as tensões
permaneceram abaixo desta, não ocorrerá falha. Estas regiões também podem ser claramente
observadas no gráfico de tensão deformação, Figura 19 (SIEMENS, 2019).
35
Alguns materiais, como o aço, possuem uma região chamada de vida infinita, onde, se
operarem em tensões abaixo da tensão limite dessa região, nunca ocorrerá uma falha. Porém,
para que isso ocorra, a região de vida infinita deve levar em conta algumas condições: está
baseada somente no número de ciclos, assumindo que a corrosão e outros fatores não estão
presentes; se qualquer um dos níveis de tensão cíclica estiver mais alto e na região plástica ou
elástica, o limite de resistência já não está mais em vigor (SIEMENS, 2019).
faixa de trabalho de -45°C a 350°C. Ainda segundo a norma, as chapas estão definidas com
espessuras máximas de acordo com o grau, conforme a Tabela 1.
As propriedades mecânicas desse aço, segundo a norma ASTM A516 (1990), estão
descritas na Tabela 2.
LE Alongamento (%)
LR (MPa)
(MPa) em 200 mm em 50 mm
≥ 260 De 485 a 620 ≥ 17 ≥ 21
Obs.: corpos-de-prova retirados no sentido transversal à laminação da
chapa.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foi utilizado como metal base o aço carbono ASTM A516 Gr 70 e
como metal de adição o AWS ER 70S-6, com as composições químicas segundo a Tabela 4.
Os corpos de prova foram preparados segundo a norma ASTM E466 (1990) de corpos
de prova para ensaio em fadiga. Os CDP’s foram usinados removendo 1mm de material no
último passe e em seguida, lixados no sentido longitudinal, conforme a norma. Na Figura 20
se encontra o esquema do corpo de prova utilizado, com suas medidas.
Figura 20: Corpo de prova segundo o padrão da norma E466 para fadiga
Para a realização do ensaio em fadiga, foram aplicadas cargas axiais nos corpos de
prova com uma razão de tensão R=0,1, com carregamento cíclico em regime de tração-tração,
com frequência de 20Hz. Conforme Callister (1940), as tensões foram calculadas em função
da área de cada corpo de prova. Foram selecionados 03 níveis de tensões na faixa de
deformação plástica dos materiais: 481MPa, 512 MPa e 534 MPa. Foram testados corpos de
prova com metal base laminado, metal base lixado e com processo de solda GMAW (Gás
Metal Arc Welding).
O equipamento utilizado é a maquina universal INSTRON modelo 8801, do
laboratório do DMT (Departamento de Materiais e Tecnologia) da FEG/UNESP de
Guaratinguetá (Fotografias 21 e 22). O ensaio foi realizado com o corpo de prova em
temperatura ambiente, conforme a Fotografia 23.
Para realizar o ensaio, cada corpo de prova foi fixado com uma fita na base do
microdurômetro, com valor de dureza Vickers de 0,5HV, conforme Fotografia 5.
43
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram aplicados três níveis de tensão máxima, para assim obter o número de ciclos
entre a solda e o metal base até a ruptura. Neste gráfico, ao analisarmos o metal base
laminado, o número de ciclos aumenta de forma significativa conforme é diminuída a tensão
máxima aplicada, assim como no metal base lixado. Porém, no metal base lixado, quando
aplicadas tensões cíclicas mais baixas, observa-se um aumento ainda maior de sua vida em
fadiga, o que pode ser resultado de uma menor rugosidade superficial após o processo de
lixamento, diminuindo as tensões residuais, aumentando a resistência à nucleação. Já no corpo
de prova soldado pelos processos MIG/MAG percebe-se que, ainda que haja uma diminuição
na tensão máxima aplicada, o número de ciclos não tem grandes alterações, o que pode ser
resultado das alterações microestruturais causadas pelo processo de soldagem, gerando
maiores tensões residuais, regiões de maior dureza, favorecendo a nucleação.
45
Fotografia 6: Ruptura do corpo de prova com reforço de solda removido após o ensaio
em fadiga
Na Fotografia 7 foi ensaiado um corpo de prova com reforço de solda, podendo ser
observado a nucleação na margem do reforço de solda. Isto se deve ao fator geométrico de
seção, que gerou um concentrador de tensão no pé da solda (linha de fusão), corroborado pela
RGGZTA, de menor tenacidade, vencendo a competição com possíveis trincas que possam ter
sido nucleadas no MS sob tensões residuais trativas. Uma vez nucleada a trinca, propiciada
pelo concentrador de tensão geométrico, a maior dureza da RGGZTA favoreceu sua
propagação.
46
Fotografia 7: Ruptura do corpo de prova com reforço de solda após o ensaio em fadiga
5 CONCLUSÃO
Analisando a curva S-N obtida do ensaio em fadiga do metal base laminado, metal
base lixado e os corpos de prova com solda MIG/MAG, percebemos uma pequena variação
do número de ciclos dos corpos de prova com solda MIG/MAG. Como explicitado no início
desse trabalho, o processo de soldagem causa alterações microestruturais, levando a uma
diminuição do número de ciclos para vida em fadiga do material. Isso foi comprovado com a
curva obtida, onde o ciclo de tensões permanece quase invariável com a diminuição da tensão
máxima aplicada no ensaio para a análise no corpo de prova com solda GMAW.
Através da análise microestrutural, com a análise de dureza, percebe-se um aumento
de dureza na Zona Termicamente Afetada (ZTA) podendo apresentar uma baixa tenacidade,
favorecendo a formação de trincas.
Através dos corpos de prova com reforço de solda e com reforço removido e lixado,
conforme as Fotografia 6 e 7, respectivamente, observam-se diferentes regiões de nucleação,
sendo o corpo de prova com reforço removido iniciar a nucleação na região central, podendo
ser resultado das tensões residuais trativas, como discutido em teoria. Já o corpo de prova com
reforço de solda apresenta nucleação na região das margens do reforço, onde há uma região
de concentração de tensão devido à descontinuidade geométrica, tornando-se favorável à
nucleação.
49
REFERÊNCIAS
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of mechanical properties and fatigue life by shot peening process on ASTM A516 Grade 70
steel. Journal of Fundamental and Applied Sciences, Malaysia, v. 14, n. 4, p. 440-442,
dec. 2018.
LIPPOLD, J. C. Welding Metallurgy and Weldability. Hoboken: John Wiley & Sons,
2015.
RANKINE. On the causes of the unexpected breakage of the journals of railway axles and
on the means of preventing such accidents by observing the law of continuity in their
construction. Minutes Of Proceedings Institution Of Civil Engineers, London, p. 105-
108, jan. 1842.
WÖHLER, A. Versuche zur Ermittlung der auf die Eisenbahn wagenachsen einwirkenden
Kräfte und die Widerstandsfaihigkeit der Wagen-Achsen. Zeitschrift für Bauwesen, p.
583-616, 1960.
51
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
PATEL, Sachin; PATEL, Piyush; MEHTA, Vishal. Experimental Study of the Effect of Heat
Input on Mechanical Properties of TIG Welded Joints of SA516 Grade 70 Material.
International Journal Of Research And Scientific Innovation (Ijrsi). Surat, p. 29-35. maio
2017.