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TCC Gustavo Stallivieri Carra

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TECNOLOGIA


CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

GUSTAVO STALLIVIERI CARRA

INFLUÊNCIA DOS CRITÉRIOS DE TENSÃO MÉDIA E DA CURVA S-N NA


ESTIMATIVA DE VIDA EM ANÁLISE DE FADIGA

CAXIAS DO SUL
2014
GUSTAVO STALLIVIERI CARRA

INFLUÊNCIA DOS CRITÉRIOS DE TENSÃO MÉDIA E DA CURVA S-N NA


ESTIMATIVA DE VIDA EM ANÁLISE DE FADIGA

Trabalho de conclusão do curso de Engenharia


Mecânica apresentado como requisito para a obtenção
do título de Engenheiro Mecânico na Universidade de
Caxias do Sul.

Supervisor: Prof. Alexandre Viecelli, Dr. Eng.

Orientador: Sr. Eslovam Renato Possamai, Eng. Mec.

Caxias do Sul
2014
RESUMO

Motivado pela grande incerteza que existe no mundo da fadiga na estimativa de vida de um
componente com a utilização de critérios de correção da tensão média convencionais, este
trabalho visa avaliar a influência destes critérios de tensão média e da curva S-N na estimativa
de vida de um aço mola. Para a realização do trabalho, foram utilizados duas curvas S-N, um
de bibliografia e outra experimental. Ambas foram corrigidas com alguns critérios de tensão
média e avaliadas juntamente com alguns pontos coletados em ensaio de bancada realizado
com razão de carregamento igual a -1. Com isso foi possível avaliar a influência dos critérios
de tensão média na correção de curvas S-N e a própria influência da curva S-N na estimativa
de vida de um aço mola. Foi possível verificar que o critério de tensão média de Walker é o
que melhor se adapta pois pode ser ajustado pelo fator 𝜸.

Palavras chaves: critérios de tensão média, curva S-N, fadiga, durabilidade.


ABSTRACT

Driven for the doubts of the fatigue world on the component life prediction based on the
conventional methods, this project seeks to evaluate the life prediction for a spring steel using
the mean stress and S-N curve criteria. For this study, two S-N curves were used to realize the
studies, one from the literature and other obtained on an experimental method. Both curves
were corrected by the mean stress criteria and evaluated together with some points collected
on the bench test which was performed with loading rate equal to -1. With these studies it was
possible to assess the influence of the mean stress criteria in correcting S-N curves and the
actual influence of the S-N curve in the estimated life for a spring steel. Also it was possible
to verify that the Walker’s mean stress criteria is the best fitted approach because it can be
adjusted by the factor 𝜸.
Key words: mean stress criteria, S-N curve, review of results, fatigue, durability.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Feixe de mola trapezoidal ......................................................................................... 8


Figura 2 – Tensões Alternadas ................................................................................................. 12
Figura 3 – Efeitos das tensões médias de tração e compressão. ............................................... 13
Quadro 4 – Critérios de tensão média ...................................................................................... 13
Figura 5 – Curva S-N ............................................................................................................... 15
Figura 6 – Blocos de tensão com amplitude constante e curva S-N......................................... 17
Figura 7 – Processo de SP, impacto de uma esfera na superfície do material.......................... 18
Figura 8 – Fluxograma de desenvolvimento ............................................................................ 20
Figura 9 – Geometria da lâmina de aço mola utilizada nos ensaios de bancada. ..................... 22
Figura 10 – Posição do sensor de strain gauge ........................................................................ 24
Figura 11 – Dispositivo de ensaio. ........................................................................................... 25
Figura 12 – Microestrutura com ataque de Nital 2% e aumento de 1000x. ............................. 31
Figura 13 – Pontos de medição da microdureza em mm. ......................................................... 32
Figura 144 – Resultado da microdureza da amostra 2 com carga de 0,1 kg ............................ 32
Figura 155 – Fratura de uma amostra com 596 MPa de tensão. .............................................. 33
Figura 16 – Pontos obtidos do ensaio da lâmina de aço SAE 5160, shot-peening com tensão
residual - 480 MPa, para R = −1 ............................................................................................. 35
Figura 17 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 595 MPa, de 𝑹 = 0
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1 .......................................... 35
Figura 18 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 500 MPa, de 𝑹 = 0,1
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1 .......................................... 36
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação do SP conforme Almen. ................................................................... 19


Tabela 2 – Dados obtidos da curva S-N de bibliografia do aço SAE 5160, 𝑹 = 0. ................ 26
Tabela 3 – Dados obtidos da correção da curva S-N de bibliografia do aço SAE 5160, de
𝑹 = 0 para 𝑹 = −1 . ................................................................................................................ 26
Tabela 4 – Dados obtidos da curva S-N experimental do aço SAE 5160, 𝑹 = 0,1. ................ 27
Tabela 5 – Dados obtidos da correção da curva experimental do aço SAE 5160, de 𝑹 = 0,1
para 𝑹 = −1. ............................................................................................................................ 28
Tabela 6 – Força e tensão máxima calculada para a lâmina de aço mola. ............................... 29
Tabela 7 – Força aplicada e tensões resultantes na lâmina de aço mola. ................................. 30
Tabela 8 – Dados obtidos da curva experimental do aço SAE 5160, para 𝑹 = −1................. 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ENIM Engenharia de Implementos


ENCO Engenharia de Caminhões e Ônibus
ENCL Engenharia do Cliente
OEM Original Equipment Manufacturer
SWT Smith-Watson-Topper
SP Shot Peening
HV Hardness Vickers
UCS Universidade de Caxias o Sul
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 7
1.1 LOCAL DE ESTÁGIO ................................................................................................ 8
1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 9
1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 10
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 10
1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 11


2.1 FADIGA .................................................................................................................... 11
2.1.1 Tensões Alternadas .................................................................................................. 11
2.1.2 Tensão Média ........................................................................................................... 12
2.1.3 Método da Vida sob Tensão .................................................................................... 14
2.2 MÉTODO DE CONTAGEM DE DANOS ............................................................... 16
2.2.1 Palmgren-Miner ....................................................................................................... 16
2.3 EFEITO DO ENCRUAMENTO SUPERFICIAL À RESISTÊNCIA A FADIGA... 17
2.3.1 Arco de Almen .......................................................................................................... 19

3 DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 20
3.1 ESPECIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA LÂMINA DE AÇO
MOLA ..................................................................................................................... 21
3.2 DEFINIÇÃO DA GEOMETRIA DA LÂMINA DE AÇO MOLA .......................... 21
3.3 NÚMERO DE AMOSTRAS E TENSÃO RESULTANTE NA LÂMINA .............. 22
3.4 CALCULAR FORÇAS APLICADAS SOBRE A LÂMINA DE AÇO MOLA ....... 22
3.5 INSTRUMENTAÇÃO DA LÂMINA DE AÇO MOLA .......................................... 23
3.6 EXECUÇÃO DO ENSAIO ....................................................................................... 24
3.7 ANÁLISE METALOGRÁFICA ............................................................................... 25
3.8 AVALIAÇÃO DA ESTIMATIVA DE VIDA COM DIVERSOS CRITÉRIOS DE
TENSÃO MÉDIA E CURVAS S-N DISPONÍVEIS. ............................................... 26

4 RESULTADOS ........................................................................................................ 29
4.1 FORÇA APLICADA NA LÂMINA DE MOLA ...................................................... 29
4.2 PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO .......................................................................... 29
4.3 ANÁLISE METALOGRÁFICA ............................................................................... 30
4.3.1 Microestrutura ......................................................................................................... 30
4.3.2 Microdureza ............................................................................................................. 31
4.3.3 Fratura do material ................................................................................................. 33
4.4 PONTOS PARA AVALIAÇÃO DA CURVA S-N .................................................. 34
4.5 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS AMOSTRAS ENSAIADOS ................ 35

5 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 37

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 39


7

1 INTRODUÇÃO

Cada vez mais fabricantes de implementos rodoviários buscam utilizar as mesmas


ferramentas de análise, já consagradas pelas montadoras de automóveis, as quais estão na
vanguarda da indústria da mobilidade. Entre as diferentes metodologias utilizadas, uma das
mais importantes, é a determinação da vida mínima dos componentes em suas devidas
aplicações, de forma a garantir a durabilidade do mesmo e minimizar falhas associadas a
defeitos de projetos.
O cálculo de vida mínima utiliza estudos relacionados à fadiga, que em uma linguagem
comum, nada mais é que o tempo e número de ciclos que um determinado componente
suporta, sujeito a séries repetitivas de tensão e deformação em regime elástico. Este tipo de
falha ocorre principalmente devido à propagação de defeitos oriundos de ciclos alternados de
tensões e deformações. Segundo Rosa (1994), a fadiga é responsável por grande parte das
falhas de componentes em serviços.
A vida em fadiga do componente pode ser calculada com o conhecimento prévio dos
esforços ao qual este é submetido em testes de campo e testes de bancadas acelerados, aonde
pode ser feita a coleta de sinais para uma possível validação do componente. Porém, antes de
estimar a durabilidade de um sistema, é preciso estimar a durabilidade de cada componente
que o compõe.
Este trabalho pretende analisar quanto os critérios de tensão média e curva S-N
influenciam na estimativa de vida em fadiga de uma lâmina de aço mola utilizada em feixes
de mola trapezoidal, para isto, serão feitos testes de bancadas com tensões cíclicas em
diversas lâminas para a avaliação destes métodos de tensão média e das curvas S-N teórica e
real.
Um feixe de mola trapezoidal é formado basicamente por lâminas sobrepostas em
formato de trapézio. Neste tipo de feixe de mola as forças estão distribuídas entre as diversas
lâminas que possuem uma única geometria em todo o seu comprimento. Porém, as lâminas
que o compõem podem ser de espessuras diferentes, sendo que as lâminas de menor espessura
chamadas mestres, estão localizadas na parte superior do feixe.
Geralmente, para aplicações em veículos comerciais são utilizadas de duas a três lâminas
mestres, isto porque os maiores valores de tensão devem estar presentes nas lâminas
auxiliares, que possuem maior espessura. Neste tipo de feixe, a rigidez da mola é definida
pela deflexão das lâminas em regime elástico. O amortecimento da suspensão é feito por
histerese pelo próprio feixe de mola que possui um elevado atrito interno entre as lâminas,
8

com isso a utilização de amortecedores é quase sempre desnecessária. Exemplo deste feixe de
mola pode ser visto na Figura 1.
Com os resultados obtidos nos ensaios de durabilidade do corpo de prova, será possível
avaliar qual método teórico é o mais aproximado da realidade e aonde se encontram, caso
existam, os possíveis erros para que a estimativa de vida teórica seja diferente dos valores
obtidos em teste de bancada.
Segundo STEPHENS et al. (2001), fadiga de materiais é um assunto de abordagem
ampla, que tem ainda muito a ser compreendido. O que se sabe atualmente foi desenvolvido
gradativamente até tornar-se uma teoria de menor complexidade, a qual pode ser amplamente
utilizada. Esta base de menor complexidade continua praticamente a mesma, entretanto, a
análise e processamento computacional possibilitaram a expansão e emprego da metodologia
nos mais variados problemas envolvendo fadiga.

Figura 1 – Feixe de mola trapezoidal

Fonte: Autor

1.1 LOCAL DE ESTÁGIO

A Suspensys Sistemas Automotivos LTDA. foi criada em 1997 com o objetivo de


fornecer eixos, suspensões e componentes para veículos comerciais e implementos
rodoviários. Hoje a empresa está dividida em matriz e filial, sendo a matriz no bairro
Interlagos em Caxias do Sul, RS e a filial em Resende, RJ, no parque de fornecedores da
MAN. Atualmente, a empresa conta com cerca de 1.800 funcionários e pertence ao grupo de
empresas da Randon. No presente momento a engenharia do produto da empresa está dividida
em três setores, são eles: ENIN – engenharia de implementos com foco no desenvolvimento
de suspensões, eixos e componentes para a linha de implementos rodoviários; ENCO –
engenharia de caminhões e ônibus, focada no desenvolvimento de suspensão, eixos e
componentes para a linha de veículos comerciais, as chamadas fabricantes de equipamento
9

original (OEMs); ENCL – Engenharia de Clientes, com foco no atendimento aos clientes
internos e externos da empresa, atuando em melhorias propostas ou necessidades identificadas
ao longo da operação, melhorias de processo e desenvolvimento de componentes para o
mercado de reposição.
O estágio será na engenharia de implementos em parceria com o Campo de Provas da
Randon, onde serão realizados os testes de bancada em flexão em um corpo de prova de um
aço mola até a falha por fadiga com atuadores hidráulicos. A área do laboratório possibilita
ainda a reprodução de testes de validação de engenharia acelerado em diferentes bancadas,
construídas sobre uma base sísmica. Ele ainda possui diversas pistas de testes, são elas: alta e
baixa velocidade, medição de ruído, medição do coeficiente de atrito, pista circular, rampas,
além das pistas especiais: cobblestones (pedras de rio), Belgian blocks (paralelepípedos), body
twist, chuck holes e pot holes (buracos), washboard (costeletas), off-road e slalom test.

1.2 JUSTIFICATIVA

Segundo Schuh, Corso e Hoss (2014), utilizando critérios de tensão média comumente
conhecidos, curva S-N de atlas bibliográfico e contagem de danos por métodos lineares, são
encontrados erros na previsão da vida em fadiga de componente de até 300%.
O conhecimento da durabilidade dos componentes empregados em projetos de sistemas
mecânicos é de grande importância para posterior aprovação do sistema. Com isso, faz-se
necessário estudar qual critério de tensão média melhor se adapta para a lâmina de aço mola
a ser utilizado na fabricação do feixe de mola.
Após esta definição, será possível estudar qual é influência dos diversos critérios de
contagem de ciclos na estimativa de vida para o feixe de mola que esta sujeito a
carregamentos aleatórios.
Este estudo deve ser feito também para verificar a influência da curva S-N do material e
da curva S-N do componente nos resultados estimados de vida em fadiga. Isto permitirá que
erros relacionados a critérios de tensão média e utilização de curvas S-N equivocadas sejam
evitados quando se pretende estimar a durabilidade de um feixe de mola que está sujeito a
cargas de fadiga.
10

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é avaliar qual a influência dos critérios de tensão média e
da curva S-N na estimativa de vida em fadiga de um aço mola com shot- peening.

1.3.2 Objetivos Específicos

Para alcançar o objetivo geral deste trabalho, alguns objetivos específicos devem ser
alcançados, são eles:
- Especificar o procedimento de ensaio de fadiga sob flexão em uma lâmina de aço mola
utilizada em um feixe de mola trapezoidal.

- Especificar geometricamente o corpo de prova para o ensaio de fadiga sob flexão.

- Executar o ensaio de fadiga sob flexão nos corpos de provas.

- Estimar analiticamente a durabilidade das lâminas de aço mola, com base em curvas já
existentes na literatura e experimental.

- Comparar os critérios de tensão média com as curvas S-N disponíveis para a


estimativa de vida do aço mola com shot- peening.
11

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 FADIGA

Falhas por fadiga devem-se à formação e propagação de trinca. Uma trinca terá início,
tipicamente, em uma descontinuidade no material em que a tensão cíclica é máxima. A falha
por fadiga deve-se ao fato do componente estar submetido a estas cargas, repetitiva ou
variável (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005).
Os três principais métodos de avaliação de vida sob fadiga são: o método da vida sob
tensão, o método da vida sob deformação e o método da mecânica de fratura linear elástica.
Todos eles tentam predizer a vida em número de ciclos até a ocorrência de falha, N, para um
nível de carregamento especificado. A durabilidade do componente de 1 < N < 10³ ciclos é
geralmente classificado como de baixo ciclo, enquanto para N ≥ 10³ é considerado de alto
ciclo. A vida infinita do componente situa-se em algum ponto entre 106 e 107 ciclos
(SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005).

2.1.1 Tensões Alternadas

Segundo Norton (2013), qualquer carga que varia no tempo pode provocar falhas
relacionadas à fadiga. O comportamento destas cargas varia de acordo com a sua aplicação.
Componentes utilizados em veículos de serviços de todos os tipos tendem a ter cargas
variáveis, tanto em sua amplitude quanto frequência no decorrer do tempo. Assim, considera-
se que para estas aplicações têm-se sinais de carregamentos aleatórios. Porém, ao se referir
aos testes de bancadas normalmente utilizam-se carregamentos com amplitudes e frequências
constantes. Um exemplo de carregamento pode ser visto na Figura 2.
A aplicação da lâmina em testes de bancadas com amplitude e carregamento constantes é
importante para a comparação com o cálculo de vida, de maneira teórica, onde é necessário o
conhecimento de tensões máximas, mínimas, médias e amplitudes que podem ser calculados
através das equações (1) a (4).

𝝈𝒎á𝒙 + 𝝈𝒎í𝒏 (1)


𝝈𝒎 =
𝟐

𝝈𝒎𝒂𝒙 − 𝝈𝒎𝒊𝒏 (2)


𝝈𝒂 =
𝟐
12

𝝈𝒎í𝒏 = 𝝈𝒎 − 𝝈𝒂 (3)

𝝈𝒎í𝒏 (4)
𝑹=
𝝈𝒎á𝒙

Onde:
𝝈𝒎 = tensão média (MPa)
𝝈𝒎á𝒙 = tensão máxima (MPa)
𝝈𝒂 = amplitude de tensão (MPa)
𝝈𝒎í𝒏 = tensão mínima (MPa)
R = razão de tensão

Figura 2 – Tensões Alternadas

Fonte: SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, (2005)

O fator 𝑹 caracteriza o grau de simetria do carregamento e, de acordo com Niesłony e


Böhm (2013), os valores típicos de 𝑹 utilizados para o levantamento de curvas de
propriedades mecânicas referentes à fadiga são de 𝑹 = 0 e 𝑹 = -0,5.
De acordo com Sander, Müller e Lebahn (2012), a inclinação da curva S-N diminui
com o aumento do fator 𝑹, além disso, o número de ciclos até a falha é maior conforme maior
é o 𝑹.

2.1.2 Tensão Média


13

Conforme a seção anterior, a tensão média é um fator a ser considerado na estimativa


de vida em fadiga. De acordo com Sander, Müller e Lebahn (2012), a influência da tensão
média para alto ciclo de vida é muito importante, porém raramente são investigadas. A tensão
média tem forte influência na vida em fadiga de componentes e seu efeito deve ser
considerado em projetos contra a fadiga (HERINGER, 2014; STEPHENS et al., 2001).
Tensões médias de tração são prejudiciais à durabilidade do componente (acelera a
propagação da trinca), já as de compressão são benéficas para a vida do componente, pois
retardam o crescimento das trincas, como pode ser visto na Figura 3.

Figura 3 – Efeitos das tensões médias de tração e compressão.

Fonte: STEPHENS et al., (2001)

Abaixo no Quadro 4 são apresentados alguns modelos empíricos utilizados para


determinar a vida em fadiga utilizando a tensão média.

Quadro 4 – Critérios de tensão média

Critério de tensão média Equação


Goodman, (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005) 𝑺𝒂 𝑺𝒎 (5)
+ =𝟏
𝑺𝒆 𝑺𝒖𝒕

Gerber, (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005) 𝑺𝒂 𝑺𝒎 𝟐 (6)


+( ) =𝟏
𝑺𝒆 𝑺𝒖𝒕
14

Soderberg, (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005) 𝑺𝒂 𝑺𝒎 (7)


+ =𝟏
𝑺𝒆 𝑺𝒚

SWT - Smith-Watson-Topper, (DOWLING, 1999) 𝑺𝒆 = √(𝑺𝒎 + 𝑺𝒂 ). 𝑺𝒂 (8)

Walker, (DOWLING, 1999) 𝑺𝒆 = 𝑺𝒎𝒂𝒙 𝟏−𝜸 . 𝑺𝒂 𝜸 (9)

Morrow, (DOWLING, 1999) 𝑺𝒂 𝑺𝒎 (10)


+ =𝟏
𝑺𝒆 𝑺𝒇
𝟐
ASME Elíptico, (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 𝑺𝒂 𝟐 𝑺𝒎 (11)
( ) +( ) =𝟏
2005) 𝑺𝒆 𝑺𝒚
Fonte: Autor (2014)

Onde:
𝑺𝒂 = amplitude de tensão (MPa)
𝑺𝒆 = limite de resistência à fadiga corrigido, para 𝑹 = -1 (MPa)
𝑺𝒎 = tensão média (MPa)
𝑺𝒖𝒕 = limite de resistência à tração (MPa)
𝑺𝒚 = limite de escoamento (MPa)
𝑺𝒇 = limite de resistência à fadiga (MPa)
𝑺𝒎𝒂𝒙 = tensão máxima (MPa)
𝜸 = parâmetro do material

2.1.3 Método da Vida sob Tensão

De acordo com Norton (2013), o método de vida sob tensão é o mais frequentemente
utilizado quando se deseja que o componente opere por mais de 10³ ciclos de tensão, mesmo
sendo o mais empírico e menos preciso dos três métodos (método da vida sob deformação e o
método da mecânica de fratura linear elástica). Este método apresenta os melhores resultados
quando as amplitudes de carregamento são constantes e um dos seus objetivos é determinar os
valores de resistência à fadiga do componente ou material.
Para determinar os valores de resistência à fadiga, corpos de provas ou amostras do
próprio componente são submetidos a ensaios de bancadas, com carregamentos de amplitude
constante pré-determinadas até a falha. Para a obtenção dos valores, este ensaio é repetido
diversas vezes com carregamentos de amplitude menor que o limite de escoamento em
diversas amplitudes. A partir destes resultados, é possível traçar a curva S-N do material ou
15

do componente. Na Figura 5 é possível observar um exemplo de curva S-N de um aço UNS


G41300 (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005; NORTON 2013). A forma matemática
de construção do gráfico na região de alto ciclo antes de se atingir o limite de resistência à
fadiga pode ser representada pela equação (12).

Figura 5 – Curva S-N

Fonte: SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS. (2005)

𝑺𝒇 = 𝒂. 𝑵𝒃 , sendo: (12)

(𝒇. 𝑺𝒖𝒕 )𝟐 (13)


𝒂=
𝑺𝒆

𝟏 𝒇. 𝑺𝒖𝒕 (14)
𝒃 = − 𝒍𝒐𝒈 ( )
𝟑 𝑺𝒆

𝟏 (15)
𝒌=−
𝒃

Onde:
𝒂 = Coeficiente que representa o valor de 𝑺𝒇
𝑵 = Número de ciclos até a falha do material
16

𝒃 = Inclinação da curva S-N representada em log x log


𝒇 = Fração de 𝑺𝒖𝒕 adotado normalmente como 0,9
𝑺𝒇 = Resistência à fadiga do material (MPa)
𝒌 = Inclinação inversa da curva S-N
𝑺𝒆 = Limite de resistência à fadiga (MPa)
𝑺𝒖𝒕 = Limite de resistência à tração (MPa)

2.2 MÉTODO DE CONTAGEM DE DANOS

Segundo Fatemi e Yang (1998), o dano acumulado por fadiga ainda é um assunto a ser
resolvido, onde o método de maior utilização, Palmgren-Miner foi desenvolvido entre os anos
de 1924 e 1945. A contagem do dano na aplicação de um componente sob tensões cíclicas é
de extrema importância para a estimativa de vida do mesmo.
De um modo geral existem seis categorias diferentes para a contagem do dano
cumulativos para componentes sob fadiga, são eles:
- Contagem e soma de danos lineares;
- Curva de soma de danos não linear e abordagem por duas curvas lineares;
- Alterações da curva de vida para abordar as iterações de carga;
- Abordagens baseadas no conceito de crescimento de trinca;
- Modelos baseados na mecânica do dano contínuo;
- Métodos baseados em energia.

2.2.1 Palmgren-Miner

Segundo Fatemi e Yang (1998), o método linear de contagem e soma de danos de Miner
ainda é o mais utilizado. Ele consiste simplesmente na relação de ciclos aplicados com a
quantidade de ciclos que este material é capaz de absorver a certa faixa de tensão até a falha,
dado retirado da curva S-N. A falha é alcançada quando o somatório de dano acumulado
atinge o valor de 1. O dano a qual o componente foi submetido pode ser definido pela
equação (16), enquanto o somatório do dano acumulado é definido pela equação (17).

𝒏 (16)
𝑫=
𝑵𝒇
17

𝒏𝟏 𝒏𝟐 𝒏𝒏 (17)
∑ + + ⋯+ = 𝟏
𝑵𝟏 𝑵𝟐 𝑵𝒏

Onde:
𝑫 = Dano acumulado
𝒏 = Número de repetições de um ciclo de carregamento
𝑵𝒇 = Número de repetições deste ciclo de tensão que levará o material a falha.

Na Figura 6 é possível observar a relação entre dois blocos de carregamento e a


perspectiva de vida na curva S-N. Onde, 𝑺𝒂𝟏 representa a amplitude de tensão que o
componente está sujeito no primeiro bloco de carregamento e assim é possível determinar o
número de ciclos que este deve suportar até a falha, 𝑵𝒇𝟏 . O mesmo se repete para o segundo
bloco de carregamento e assim é possível determinar o somatório de dano a qual o
componente foi submetido.

Figura 6 – Blocos de tensão com amplitude constante e curva S-N

Fonte: STEPHENS et.al.; (2001)

2.3 EFEITO DO ENCRUAMENTO SUPERFICIAL À RESISTÊNCIA A FADIGA

Vários são os trabalhos que comprovam que o encruamento superficial aumenta a vida
em fadiga do componente que passou por este processo.
Segundo Silva (2008), a camada superficial de uma peça metálica manufaturada terá em
geral uma tensão residual positiva ou de tração deixada pelos processos de fabricação:
laminação, solda, tratamento térmico entre outros. Geralmente as trincas provocadas em
18

componentes sujeitos a carregamentos cíclicos se formam em áreas com estas tensões


residuais positivas.
De acordo Gonzales (2009), as tensões residuais negativas ou de compressão produzem
um incremento significativo na vida à fadiga do componente tratado. Elas mantêm os limites
entre grãos juntos, evitando assim a iniciação da trinca por fadiga e diminuindo
consideravelmente a velocidade do crescimento da trinca caso venha a ocorrer.
A obtenção de tensões residuais negativas pode ser feitas através do processo de
encruamento que é aplicado na superfície de um material ou componente que se deseja
melhorar a resistência à fadiga e resistência à corrosão, quando aplicadas cargas de tração.
Este encruamento em lâminas de aço mola geralmente é feito bombardeando partículas
sólidas esféricas ou arames cortados esferoidizados com diâmetros de 0,1mm a 0,5 mm com
alta velocidade (até 100 m/s) nesta superfície. Isto faz com que a superfície fique com tensões
residuais de compressão e endurecimento da camada superficial. (SILVA, 2009)
Este processo de encruamento em lâminas de aço mola é conhecido como shot peening
(SP), aparentemente com conceito simples, que apenas recentemente se tornou totalmente
técnico devido a sua complexibilidade, já que as propriedades mecânicas finais do metal
tratado são afetadas diretamente pelo tipo e tamanho da granalha, ângulo de impacto,
intensidade, velocidade, diâmetros dos bocais, tempo de exposição, o tipo de material e a
cobertura da superfície. (SILVA, 2009)
Como pode ser visto na Figura 7, o SP deforma plasticamente a superfície do material, o
que cria uma camada de tensão residual de compressão, onde tem-se que 𝒅 é o diâmetro da
esfera, 𝒗 é a velocidade da esfera, 𝒎 é a massa da esfera e 𝒉𝒑 é a profundidade da região
encruada.

Figura 7 – Processo de SP, impacto de uma esfera na superfície do material.

Fonte: SILVA (2008)


19

2.3.1 Arco de Almen

É o teste mais comum para verificar a intensidade de tensões residuais do processo de SP.
Basicamente consiste em uma comparação entre chapas com tamanho, propriedades
mecânicas, dureza conhecida e perfeitamente plana com chapas deformadas pelo processo de
SP, gerando tensões residuais. O ensaio parte do princípio que existem deformações iguais
nestas chapas de pequena espessura e padronizadas. (SCURACCHIO, 2012)
John O. Almen idealizador do teste padronizou três plaquetas, denominadas como tipo
“N”, “C” e “A”. As plaquetas do tipo “N” são usadas para verificar máquinas com intensidade
baixa, em geral utiliza esferas de vidro. As do tipo “C” para aferição de máquinas com
intensidade média, em geral é a mais utilizada. Por último as do tipo “A” verificam máquinas
com intensidade alta, geralmente utilizam granalhas de arame cortado ou de aço fundido. A
Tabela 1 apresenta a classificação de cada plaqueta e sua respectiva espessura. (MELLO et
al., 2013; SCURACCHIO, 2012)

Tabela 1 – Classificação do SP conforme Almen.

Classificação Espessura da Chapa

Tipo “N” (0,81mm ± 0,025)


Tipo “C” (1,30mm ± 0,025)
Tipo “A” (2,30mm ± 0,025)
Fonte: MELLO et al., (2013)
20

3 DESENVOLVIMENTO

Para verificar a influência dos critérios de tensão média e da curva S-N na estimativa de
vida em análise de fadiga de um aço mola, se faz necessário a realização de ensaios de
bancada com razões de carregamentos diferentes, sendo que um destes carregamentos a
influência da tensão média seja nula. Para que os objetivos fossem atingidos, os passos
descritos na Figura 8 foram seguidos, os quais são explicados na sequência.

Figura 8 – Fluxograma de desenvolvimento

Fonte: Autor (2014)


21

3.1 ESPECIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA LÂMINA DE AÇO


MOLA

As propriedades mecânicas das lâminas de aço mola, utilizadas nos testes de bancada
para levantamento da curva S-N, seguiram a norma NBR 11865, fabricadas conforme os
mesmos padrões das lâminas utilizadas em um feixe de mola trapezoidal aplicada em
semirreboques.
O processo de manufatura conta com o tratamento térmico e shot peening (SP) na face de
tração da lâmina. O material utilizado para a fabricação das lâminas é um aço classificado
como SAE 5160 que tem as seguintes propriedades mecânicas:
- Tensão de escoamento: 1215 MPa
- Limite de resistência à tração: 1350 MPa
- Dureza de 437 a 484 HV
- Módulo de elasticidade: 210 GPa
- Coeficiente de Poisson: 0,3

As lâminas sofreram o processo de tratamento térmico para atingirem as propriedades


mecânicas desejadas. As amostras também passaram pelo processo de têmpera e revenimento,
seguindo as especificações técnicas do fornecedor de mola.
Em seguida, as lâminas sofreram o processo de SP, que foi aplicado em ambas as faces
da mola, pois o ensaio considera tensão média igual à zero. Para aplicação em veículos e
semirreboques, as lâminas sofrem o SP apenas na face de tração. A granalha utilizada neste
processo é do tipo arame cortado com diâmetro entre 0,2 mm e 3 mm e com dureza 350 à 850
HV. A superfície da lâmina atingida pelo SP é de aproximadamente 97%. O resultado do arco
de Almen para o processo de jateamento é especificado entre 0,533 mm e 0,762 mm.

3.2 DEFINIÇÃO DA GEOMETRIA DA LÂMINA DE AÇO MOLA

A geometria da lâmina de aço mola foi definida com base no equipamento e dispositivo
disponível para realização do teste, bem como a deflexão máxima que a lâmina sofreu. Foi
levado em conta o valor do limite de escoamento do material para que não houvesse
deformações plásticas na lâmina de aço mola. A mesma permaneceu com sua geometria
plana, isto é, não sofreu o processo de arqueamento e suas dimensões eram de 400 mm de
22

comprimento, 90 mm de largura e 10 mm de espessura. A Figura 9 apresenta um esboço do


corpo de prova da lâmina.

Figura 9 – Geometria da lâmina de aço mola utilizada nos ensaios de bancada.

Fonte: Autor (2014)

3.3 NÚMERO DE AMOSTRAS E TENSÃO RESULTANTE NA LÂMINA

Para a plotagem dos pontos no diagrama S-N foram utilizadas dez amostras, garantindo-
se que as tensões nas lâminas estavam abaixo da tensão de escoamento.

3.4 CALCULAR FORÇAS APLICADAS SOBRE A LÂMINA DE AÇO MOLA

Com a definição das tensões máximas que a lâmina deveria suportar, foi calculada a força
necessária que deveria ser aplicada na lâmina. O carregamento foi aplicado no centro da
lâmina que estava apoiada em roletes a uma distância de 300 mm entre si. Para o cálculo de
força foi necessário fazer um arranjo das equações (18) à (21), chegando à equação (22),
conforme mostrado a seguir.
23

𝑴𝒎𝒂𝒙 (18)
𝝈= .𝒄
𝑰

𝑭. 𝑳 (19)
𝑴𝒎𝒂𝒙 =
𝟒

𝒃. 𝒉𝟑 (20)
𝑰=
𝟏𝟐

𝒉 (21)
𝒄=
𝟐

Substituindo as equações (19) à (21) em (18), tem-se:

𝟐 𝒃𝒉𝟐 (22)
𝑭= .𝝈 .
𝟑 𝑳

Onde:
𝝈 = tensão (MPa)
𝑴𝒎𝒂𝒙 = momento máximo (N.mm)
𝑭 = força (N)
𝑰 = momento de inercia (mm4 )
𝒄 = distância entre linha neutra e ponto de tensão máxima (mm)
𝑳 = comprimento entre apoios (mm)
𝒃 = largura (mm)
𝒉 = espessura (mm)

3.5 INSTRUMENTAÇÃO DA LÂMINA DE AÇO MOLA

A instrumentação da lâmina foi feita posicionando dois extensômetros na lâmina. O


primeiro extensômetro posicionado a 50 mm do centro da lâmina e o segundo a 100 mm.
Estas posições foram definidas em função do ensaio realizado não permitir a colocação de
um extensômetro no centro da lâmina, pois a mesma sofria cargas de tração e compressão
pelos dois roletes. O extensômetro foi utilizado para verificação dos valores das tensões
resultantes aplicada na lâmina. A instrumentação foi realizada em apenas uma lâmina no
24

ensaio. Os parâmetros dos extensômetros utilizados para a medição da tensão aplicada na


lâmina de aço mola estão descritos abaixo.
 Extensômetro: HBM 1LY41-6/120
 Fator do strain gage: 2,04
 Equipamento utilizado: MGC Plus HBM
 Padrão de ligação extensômetro na mola: ¼ de ponte de Wheatstone

A Figura 10 mostra a posição do strain gaug.

Figura 10 – Posição do sensor de strain gauge

L2 L1

50 mm

100 mm

Fonte: Autor (2014)

3.6 EXECUÇÃO DO ENSAIO

O ensaio em bancada foi realizado com servoatuadores da marca MTS com capacidade
de dez toneladas e erro de aproximadamente 0,87% na aplicação de força e 0,052 mm no
deslocamento. A lâmina foi posicionada em um dispositivo construído para que não houvesse
a possibilidade de iniciar fora posição ou se deslocar durante o teste. Nos roletes de apoio da
mola, existiam folgas permitindo que a lâmina trabalhasse livremente, caracterizando uma
viga biapoiada nos dois sentidos de aplicação de força. Contudo, no braço de aplicação de
força existia uma regulagem para eliminar a folga entre os roletes e a lâmina. O ensaio foi
realizado seguindo os seguintes passos:
1. Realizou-se a montagem da lâmina de aço mola no dispositivo de testes, mantendo a
mesma distância de apoio ao centro de carga, procedimento realizado para todas as
amostras.
25

2. Baseando-se nas tensões desejadas para a lâmina, foi aplicado um carregamento


cíclico com razão de 𝑹 = -1 até a falha da lâmina ou dois milhões de ciclos. Este
procedimento foi realizado para todas as amostras e com todos os carregamentos.

A Figura 11 mostra um esboço do dispositivo de teste.

Figura 11 – Dispositivo de ensaio.

Fonte: Autor (2014)

A coleta de dados referente ao número de ciclos e tensão aplicada na mola foi feita para
as dez amostras. Com os dados retirados foi possível verificar pontos nas curvas S-N
corrigidas com os critérios de tensão média apresentados na seção 2.1.2. A ciclagem das
amostras que chegaram a dois milhões de ciclos sem falha foram encerradas considerando
vida infinita da mesma.

3.7 ANÁLISE METALOGRÁFICA

A análise metalográfica foi feita de uma amostra com o intuito de verificar a


microestrutura e microdureza do material. Esta última foi realizada em dois locais diferentes
da mesma amostra, verificou-se também o tamanho médio dos grãos e realizou-se uma
análise visual de fratura para verificar a existência de indícios de fratura por fadiga. A
microestrutura esperada para amostra era martensita revenida, enquanto a dureza deveria
ficar entre 437 a 484 HV.
26

3.8 AVALIAÇÃO DA ESTIMATIVA DE VIDA COM DIVERSOS CRITÉRIOS DE


TENSÃO MÉDIA E CURVAS S-N DISPONÍVEIS.

A avaliação dos resultados obtidos nos ensaios de bancada foi feita comparando as
estimativas de vida teórica, utilizando todos os critérios de tensão média apresentados na
revisão bibliográfica, seção 2.1.2, e curvas S-N disponíveis. Uma das curvas disponíveis para
comparação dos resultados dos ensaios é a curva de bibliografia, obtida com ciclagem de
flexão unidirecional caracterizada por um valor de 𝑹 = 0, ou seja, 𝝈𝑚𝑖𝑛 = 0, e tensão máxima
igual à duas vezes a amplitude de tensão.

Para a curva de bibliografia se tem os seguintes dados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Dados obtidos da curva S-N de bibliografia do aço SAE 5160, 𝑹 = 0.

Curva aço SAE 5160, shot-peening com


tensão residual -595 MPa, 𝑹 = 𝟎
𝒃 -0,1908
𝒌 5,24
𝑺𝒆 para 𝟏𝟎𝟔 ciclos [MPa] 887
𝑺𝒖𝒕 [MPa] 1570
Fonte: Adaptado de BOYER (1986)

A teoria de fadiga foi desenvolvida para curvas de caracterização de 𝑹 = -1, com isso foi
necessário fazer a correção da curva de 𝑹 = 0 para 𝑹 = −1 . Para isso, foram utilizados
todos os critérios de tensão média apresentados na revisão bibliográfica, equação (5) a (11)
obtendo assim os valores apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Dados obtidos da correção da curva S-N de bibliografia do aço SAE 5160, de
𝑹 = 0 para 𝑹 = −1 .

Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual


Critério de tensão média
-595 MPa, 𝑹 = 𝟎 corrigida para 𝑹 = −𝟏

𝑏 -0,10265
Goodman 𝑘 9,74

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 525


27

𝑏 -0,19083
Gerber 𝑘 5,24

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 656

𝑏 -0,09049
Soderberg 𝑘 11,05

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 469

𝑏 -0,19080
SWT - Smith-Watson-Topper 𝑘 5,24

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 595

𝑏 -0,19080
Walker
𝑘 5,24
𝜸 = 0,25
𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 527

𝑏 -0,19293
Morrow 𝑘 5,18

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 399

𝑏 -0,19310
ASME Elíptico 𝑘 5,18

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 562


Fonte: Autor (2014)

A outra curva S-N disponível para avaliação, trata-se de uma curva experimental, obtida
também com flexão unidirecional caracterizada por um valor de 𝑹 = 0,1, ou seja, tensão
mínima é dez vezes menor que a tensão máxima e a amplitude de tensão representa 45% da
tensão máxima. Os dados iniciais da curva S-N experimental para 𝑹 = 0,1, estão
apresentados na Tabela 4. Está também foi corrigida com as equações (5) a (11) obtendo
assim os valores apresentados na Tabela 5.

Tabela 4 – Dados obtidos da curva S-N experimental do aço SAE 5160, 𝑹 = 0,1.

Curva aço SAE 5160, shot-peening com


tensão residual -595 MPa, 𝑹 = 𝟎
𝒃 -0,1740
𝒌 5,75
28

𝑺𝒆 para 𝟏𝟎𝟔 ciclos [MPa] 729


𝑺𝒖𝒕 [MPa] 1350
Fonte: Adaptado de BOYER (1986)

Tabela 5 – Dados obtidos da correção da curva experimental do aço SAE 5160,


de 𝑹 = 0,1 para 𝑹 = −1.

Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual


Critério de tensão média
-500 MPa, 𝑹 = 𝟎, 𝟏 corrigida para 𝑹 = −𝟏

𝑏 -0,09638
Goodman 𝑘 10,38

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 439

𝑏 -0,09195

Gerber 𝑘 10,88

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 549

𝑏 -0,09185
Soderberg 𝑘 10,89

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 421

𝑏 -0,17398

SWT - Smith-Watson-Topper 𝑘 5,75

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 489

𝑏 -0,17398
Walker
𝑘 5,75
𝜸 = 0,25
𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 401

𝑏 -0,18271
Morrow 𝑘 5,47

𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 328


𝑏 -0,18348
ASME Elíptico 𝑘 5,45
𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 462
Fonte: Autor (2014)
29

4 RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados desenvolvidos nesse trabalho, os quais


buscam verificar a influência da escolha do critério de tensão média e da curva S-N para o
cálculo de vida de um aço SAE 5160 utilizado em molas.

4.1 FORÇA APLICADA NA LÂMINA DE MOLA

Conforme definido pela equação (22), a força aplicada sobre a lâmina é dependente da
tensão máxima desejada na mola. Foram utilizados quatro níveis de tensão que estão
apresentados na Tabela 6, juntamente com os respectivos valores de tensão máxima que a
lâmina está suportando e estimativa de vida com as cargas aplicadas. Os valores de vida
foram estimados utilizando a correção da curva S-N experimental com o critério de Walker
e ajuste do parâmetro 𝜸 = 0,25.

Tabela 6 – Força e tensão máxima calculada para a lâmina de aço mola.

Estimativas dos ciclos


Tensão máxima
Força (N) conforme critério de
(MPa)
Walker
11970 598 100.000
11221 561 145.000
10610 531 200.000
8337 417 800.000

Fonte: Autor (2014)

4.2 PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO

Os valores coletados dos strain-gauge resultantes das forças aplicadas e consequentes


tensões na lâmina estão apresentados na Tabela 7. Estes mostram que os valores calculados
são muito próximos ao que o ensaio na bancada reproduz, com isso é possível observar que
o dispositivo de ensaio foi bem projetado, permitindo que a lâmina de aço mola trabalhasse
biapoiada e que os cálculos analíticos são muito precisos. As pequenas diferenças
apresentadas entre o cálculo teórico e os ensaios devem-se às variações de espessura da
lâmina de aço mola, bem como a sua geometria não ser exatamente retangular. A Tabela 7
30

também indica a variação da medição de tensão, calculada entre os valores máximos e


mínimos obtidos no ensaio.

Tabela 7 – Força aplicada e tensões resultantes na lâmina de aço mola.

Tensão máxima
Tensão L1 Tensão L2 Variação de
Força (N) no centro da
(MPa) (MPa) medição (MPa)
lâmina (MPa)
11970 413 202 618 ±1
11221 375 184 561 ±2,5
10610 361 178 541 ±2
8337 282 139 422 ±2,5
Fonte: Autor (2014)

4.3 ANÁLISE METALOGRÁFICA

Conforme definido na metodologia, a análise metalográfica foi realizada para


verificação da microestrutura da lâmina de aço mola, tamanho de grão, microdureza e
análise visual da fratura. Os resultados encontrados estão detalhados nos itens a seguir.

4.3.1 Microestrutura

A microestrutura da lâmina de aço mola foi verificada utilizando um microscópio


Nikon Epiphot 200. As amostras foram preparadas e embutidas pelo laboratório da UCS –
Universidade de Caxias do Sul. Como já era esperado, o resultado encontrado na amostra
apresenta microestrutura de martensita revenida, como pode ser visto na Figura 12.
Observou-se também uma leve descarbonetação superficial, que pode ser decorrente do
processo de têmpera da lâmina. Foi verificado o tamanho do grão das amostras, que ficou
em média com 0,047 mm. Para visualizar a microestrutura e tamanho de grão, foram
utilizados ataque de Nital 2% e TEEPOL, respectivamente, com aumento de 1000x.
31

Figura 12 – Microestrutura com ataque de Nital 2% e aumento de 1000x.

Fonte: Autor (2014)

4.3.2 Microdureza

A microdureza da lâmina de aço mola foi realizada utilizando um microdurômetro da


marca Shimadzu. A carga utilizada para a inspeção da dureza foi de 0,1 kg em dois locais
diferentes da mesma lâmina de aço mola, o primeiro mais na extremidade da lâmina e o
segundo próximo ao centro da mesma. A microdureza foi medida seguindo o padrão
apresentado na Figura 13, os primeiros pontos próximos à superfície estão espaçados por
0,015 mm e após um espaçamento de 0,025 mm. O ensaio foi realizado no Laboratório de
Metalografia da UCS.
O resultado da avaliação dos pontos de microdureza está apresentado na Figura 14.
Foram avaliados vinte e cinco pontos de dureza HV para cada amostra, a partir da superfície
até o centro da mesma. Não havia diferença na escolha da superfície pela qual se mediria a
microdureza, pois ambas as superfícies das lâminas passaram pelo processo de SP.
32

Figura 13 – Pontos de medição da microdureza em mm.

Fonte: Autor (2014)

Figura 144 – Resultado da microdureza da amostra 2 com carga de 0,1 kg

500
490
480
Microdureza (H0,1)V

470
460
450
440
430
420
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Amostra 1
Distância (mm)
Amostra 2

Fonte: Autor (2014)


33

É possível observar que a dureza na lâmina de aço mola não segue uma tendência,
havendo variações de dureza de até 69 HV, inclusive com microdureza de pontos afastados da
superfície da lâmina com valores muito próximos ao encontrado na superfície. Esperavam-se
valores de microdureza mais elevados na superfície e após isso os valores de dureza deveriam
baixar e se manter e apenas próximo à outra extremidade da lâmina subir novamente.

4.3.3 Fratura do material

A Figura 15 mostra a fratura de uma amostra com carregamento que resultou em 618
MPa de tensão máxima. A amostra com tensão máxima resultante de 541 MPa apresentou
fratura similar a apresentada. Já a amostra com tensão máxima de 1200 MPa apresenta uma
fratura frágil, sem alongamento do material e indícios de falhas por fadiga. Não é possível
observar onde houve o início da trinca, apenas suposições de que a fratura se iniciou no lado
direito e houve um possível arrancamento de material do lado esquerdo quando a trinca
iniciada no lado direito se propagou e se iniciou outro ciclo.

Figura 155 – Fratura de uma amostra com 596 MPa de tensão.

A B

Fonte: Autor (2014)


34

4.4 PONTOS PARA AVALIAÇÃO DA CURVA S-N

Os valores de vida e tensão máxima para cada uma das amostras ensaiadas estão
apresentados na Tabela 8. Foram ensaiadas quatro amostras com carregamentos de 618 MPa,
duas com 422 MPa, duas com 541 MPa, uma com 561 MPa e uma com 1200 MPa,
totalizando 10 amostras. A amostra 7 teve seu ensaio suspenso, devido a falta de tempo e
disponibilidade do equipamento para realização do ensaio.

Tabela 8 – Dados obtidos da curva experimental do aço SAE 5160, para 𝑹 = −1.

Amostra Tensão (MPa) Ciclos Resultado


1 618 93.273 Falhou
2 618 116.723 Falhou
3 618 129.247 Falhou
4 422 2.000.000 Não falhou
5 422 2.000.000 Não falhou
6 541 2.000.000 Não falhou
7 561 1.072.121 Ensaio suspenso
8 618 150.877 Falhou
9 541 165.565 Falhou
10 1200 6.117 Falhou
Fonte: Autor (2014)

A Figura 17 apresenta um gráfico em escala Log-Log e os pontos de tensão e vida


coletados no ensaio de fadiga por flexão realizada no Campo de Provas da Randon. O número
de ciclos adotados para cada amostra mostrou-se extremamente aleatório para alta ciclagem.
Não foi possível traçar a curva S-N com o número de amostras ensaiadas, um número muito
maior se faz necessário para o mesmo, principalmente com amostras onde ocorra a falha
próximo a um milhão de ciclos.
35

Figura 16 – Pontos obtidos do ensaio da lâmina de aço SAE 5160, shot-peening com
tensão residual - 480 MPa, para R = −1

1000
Vida Infinita
σ máxima (MPa)

Ensaio paralisado sem falha da


amostra
Falha

100
1000 10000 100000 1000000 10000000
nº de ciclos
Fonte: Autor (2014)

4.5 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS AMOSTRAS ENSAIADOS

A Figura 18 representa o gráfico dos dados obtidos da correção da curva S-N de


bibliografia do aço SAE 5160, de R = 0 para R = −1, juntamente com os pontos obtidos no
ensaio realizado com 𝐑 = −1 , no Campo de Provas da Randon onde a tensão média é nula.

Figura 17 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 595 MPa, de 𝑹 = 0
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1

R=0 Literatura
1000
R=-1 Goodman
R=-1 Gerber
σ máxima (MPa)

R=-1 Soderberg
R=-1 SWT
R=-1 Walker
R=-1 Morrow
R=-1 ASME Elíptico
618 MPa
100 422 MPa
100000 nº de ciclos 1000000
Fonte: Autor (2014)
36

É possível observar que a média dos pontos próximos a 100.000 ciclos e tensão de 618
MPa tendem a se aproximar das curvas de Soderberg e Morrow. Já os pontos para vida
infinita estão bem dispersos, mostrando que a lâmina de aço mola tem tendência de ter um
comportamento extremamente aleatório para altos ciclos de vida, é possível observar a grande
diferença que existe na escolha do critério de tensão média para correção da curva, onde
existem diferenças de até 450 MPa entre os critério de Morrow e Gerber.
Na Figura 19 é possível verificar o gráfico dos dados obtidos da correção da curva
experimental do aço SAE 5160, de 𝑹 = 0,1 para 𝑹 = −1 plotados juntamente com os pontos
obtidos no ensaio realizado com R = −1, onde a tensão média é nula.

Figura 18 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 500 MPa, de 𝑹 = 0,1
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1

R=0,1 Experimental
1000
R=-1 Goodman

R=-1 Gerber

R=-1 Soderberg

R=-1 SWT
σ máxima (MPa)

R=-1 Walker

R=-1 Morrow

R=-1 ASME Elíptico

618 MPa

422 MPa

541 MPa

561 MPa
100
100000 nº de ciclos 1000000
Fonte: Autor (2014)
37

5 CONCLUSÕES

Este trabalho teve com objetivo avaliar a influência do critério de tensão média e da curva
S-N na estimativa de vida em fadiga de um aço mola com shot – peening. Este objetivo foi
atingido observando que a diferença na correção das curvas S-N de bibliografia e
experimental com o critério de tensão média de ASME Elíptico apresenta uma diferença de
até 39% no valor da tensão para 100.000 ciclos. Para este valor de ciclos, a curva
experimental apresenta um valor de tensão de 705 MPa, enquanto a de bibliografia estimaria
um valor de 550.000 ciclos. Na avaliação do critério de tensão média se observou que para a
curva de bibliografia com razão de carregamento de 𝑹 = 0 possui diferenças de até 330 MPa
entre os critérios de Soderberg e ASME Elíptico também para 100.000 ciclos.
As diferenças de tensão com a correção da curva S-N experimental com razão de
carregamento de 𝑹 = 0,1 para os critérios de tensão média apresentado na revisão
bibliográfica, apresentaram diferenças de 230 MPa entre os critérios de SWT e Morrow para
estimativa de 1.000.000 ciclos. Com um valor de tensão de 500 MPa a estimativa de vida para
Morrow é de 100.000 ciclos enquanto para SWT este valor sobe para 850.000 ciclos. Com
isso é possível concluir que a correta escolha do critério de tensão média e curva S-N,
proporcionará efeito direto na estimativa de vida de um componente.
Assim, como o objetivo geral foi atingido, os objetivos específicos também foram
alcançados. O procedimento de ensaio de fadiga sob flexão unidirecional foi definido para
𝑹 = −1, este com o intuito de eliminar a influência da tensão média na vida do componente e
posterior comparação com a curva experimental do mesmo material para 𝑹 = 0,1. A curva de
bibliografia apresenta um material com limite de escoamento maior, o que proporciona
influência direta na curva S-N. Isso mostra que curvas S-N da bibliografia, para materiais de
alta resistência mecânica com propriedades mecânicas semelhantes e não idênticas, não são
recomentadas para o cálculo de estimativa de vida em fadiga de um componente.
Os ensaios com razão de carregamento 𝑹 = −1 foram realizados para dez amostras da
lâmina de aço mola, o que não permitiu a plotagem da curva S-N com esta razão de
carregamento, sendo necessário um número maior de amostras para a confecção da curva.
Outro ponto observado foi que as lâminas de aço mola tendem a ter um comportamento
aleatório em vida sob tensões cíclicas, sendo que este fato pode ser observado com as
amostras ensaiadas com tensão de 531 MPa, onde uma amostra foi ciclada até 2.000.000 de
ciclos sem falhae outra quebrou com 165.565 ciclos. Provavelmente, variações das tensões
residuais na superfície da amostra podem ocasionar esta variabilidade.
38

Para uma melhor avaliação dos resultados seria necessário fazer o levantamento de um
número maior de amostras.
Com intuito de dar continuidade a aplicação da metodologia relatada ao longo deste
trabalho, sugere-se aqui a execução de diferentes trabalhos futuros, os quais viriam somar
conhecimentos à área de testes de durabilidade.
1. Avaliar os critérios de contagem de acúmulo de danos, utilizando diversos
carregamentos;
2. Avaliar o efeito do atrito presente entre as lâminas de um feixe de mola utilizadas em
semirreboques;
39

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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