TCC Gustavo Stallivieri Carra
TCC Gustavo Stallivieri Carra
TCC Gustavo Stallivieri Carra
CAXIAS DO SUL
2014
GUSTAVO STALLIVIERI CARRA
Caxias do Sul
2014
RESUMO
Motivado pela grande incerteza que existe no mundo da fadiga na estimativa de vida de um
componente com a utilização de critérios de correção da tensão média convencionais, este
trabalho visa avaliar a influência destes critérios de tensão média e da curva S-N na estimativa
de vida de um aço mola. Para a realização do trabalho, foram utilizados duas curvas S-N, um
de bibliografia e outra experimental. Ambas foram corrigidas com alguns critérios de tensão
média e avaliadas juntamente com alguns pontos coletados em ensaio de bancada realizado
com razão de carregamento igual a -1. Com isso foi possível avaliar a influência dos critérios
de tensão média na correção de curvas S-N e a própria influência da curva S-N na estimativa
de vida de um aço mola. Foi possível verificar que o critério de tensão média de Walker é o
que melhor se adapta pois pode ser ajustado pelo fator 𝜸.
Driven for the doubts of the fatigue world on the component life prediction based on the
conventional methods, this project seeks to evaluate the life prediction for a spring steel using
the mean stress and S-N curve criteria. For this study, two S-N curves were used to realize the
studies, one from the literature and other obtained on an experimental method. Both curves
were corrected by the mean stress criteria and evaluated together with some points collected
on the bench test which was performed with loading rate equal to -1. With these studies it was
possible to assess the influence of the mean stress criteria in correcting S-N curves and the
actual influence of the S-N curve in the estimated life for a spring steel. Also it was possible
to verify that the Walker’s mean stress criteria is the best fitted approach because it can be
adjusted by the factor 𝜸.
Key words: mean stress criteria, S-N curve, review of results, fatigue, durability.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 7
1.1 LOCAL DE ESTÁGIO ................................................................................................ 8
1.2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 9
1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 10
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 10
1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 10
3 DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 20
3.1 ESPECIFICAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA LÂMINA DE AÇO
MOLA ..................................................................................................................... 21
3.2 DEFINIÇÃO DA GEOMETRIA DA LÂMINA DE AÇO MOLA .......................... 21
3.3 NÚMERO DE AMOSTRAS E TENSÃO RESULTANTE NA LÂMINA .............. 22
3.4 CALCULAR FORÇAS APLICADAS SOBRE A LÂMINA DE AÇO MOLA ....... 22
3.5 INSTRUMENTAÇÃO DA LÂMINA DE AÇO MOLA .......................................... 23
3.6 EXECUÇÃO DO ENSAIO ....................................................................................... 24
3.7 ANÁLISE METALOGRÁFICA ............................................................................... 25
3.8 AVALIAÇÃO DA ESTIMATIVA DE VIDA COM DIVERSOS CRITÉRIOS DE
TENSÃO MÉDIA E CURVAS S-N DISPONÍVEIS. ............................................... 26
4 RESULTADOS ........................................................................................................ 29
4.1 FORÇA APLICADA NA LÂMINA DE MOLA ...................................................... 29
4.2 PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO .......................................................................... 29
4.3 ANÁLISE METALOGRÁFICA ............................................................................... 30
4.3.1 Microestrutura ......................................................................................................... 30
4.3.2 Microdureza ............................................................................................................. 31
4.3.3 Fratura do material ................................................................................................. 33
4.4 PONTOS PARA AVALIAÇÃO DA CURVA S-N .................................................. 34
4.5 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS AMOSTRAS ENSAIADOS ................ 35
5 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 37
1 INTRODUÇÃO
com isso a utilização de amortecedores é quase sempre desnecessária. Exemplo deste feixe de
mola pode ser visto na Figura 1.
Com os resultados obtidos nos ensaios de durabilidade do corpo de prova, será possível
avaliar qual método teórico é o mais aproximado da realidade e aonde se encontram, caso
existam, os possíveis erros para que a estimativa de vida teórica seja diferente dos valores
obtidos em teste de bancada.
Segundo STEPHENS et al. (2001), fadiga de materiais é um assunto de abordagem
ampla, que tem ainda muito a ser compreendido. O que se sabe atualmente foi desenvolvido
gradativamente até tornar-se uma teoria de menor complexidade, a qual pode ser amplamente
utilizada. Esta base de menor complexidade continua praticamente a mesma, entretanto, a
análise e processamento computacional possibilitaram a expansão e emprego da metodologia
nos mais variados problemas envolvendo fadiga.
Fonte: Autor
original (OEMs); ENCL – Engenharia de Clientes, com foco no atendimento aos clientes
internos e externos da empresa, atuando em melhorias propostas ou necessidades identificadas
ao longo da operação, melhorias de processo e desenvolvimento de componentes para o
mercado de reposição.
O estágio será na engenharia de implementos em parceria com o Campo de Provas da
Randon, onde serão realizados os testes de bancada em flexão em um corpo de prova de um
aço mola até a falha por fadiga com atuadores hidráulicos. A área do laboratório possibilita
ainda a reprodução de testes de validação de engenharia acelerado em diferentes bancadas,
construídas sobre uma base sísmica. Ele ainda possui diversas pistas de testes, são elas: alta e
baixa velocidade, medição de ruído, medição do coeficiente de atrito, pista circular, rampas,
além das pistas especiais: cobblestones (pedras de rio), Belgian blocks (paralelepípedos), body
twist, chuck holes e pot holes (buracos), washboard (costeletas), off-road e slalom test.
1.2 JUSTIFICATIVA
Segundo Schuh, Corso e Hoss (2014), utilizando critérios de tensão média comumente
conhecidos, curva S-N de atlas bibliográfico e contagem de danos por métodos lineares, são
encontrados erros na previsão da vida em fadiga de componente de até 300%.
O conhecimento da durabilidade dos componentes empregados em projetos de sistemas
mecânicos é de grande importância para posterior aprovação do sistema. Com isso, faz-se
necessário estudar qual critério de tensão média melhor se adapta para a lâmina de aço mola
a ser utilizado na fabricação do feixe de mola.
Após esta definição, será possível estudar qual é influência dos diversos critérios de
contagem de ciclos na estimativa de vida para o feixe de mola que esta sujeito a
carregamentos aleatórios.
Este estudo deve ser feito também para verificar a influência da curva S-N do material e
da curva S-N do componente nos resultados estimados de vida em fadiga. Isto permitirá que
erros relacionados a critérios de tensão média e utilização de curvas S-N equivocadas sejam
evitados quando se pretende estimar a durabilidade de um feixe de mola que está sujeito a
cargas de fadiga.
10
1.3 OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é avaliar qual a influência dos critérios de tensão média e
da curva S-N na estimativa de vida em fadiga de um aço mola com shot- peening.
Para alcançar o objetivo geral deste trabalho, alguns objetivos específicos devem ser
alcançados, são eles:
- Especificar o procedimento de ensaio de fadiga sob flexão em uma lâmina de aço mola
utilizada em um feixe de mola trapezoidal.
- Estimar analiticamente a durabilidade das lâminas de aço mola, com base em curvas já
existentes na literatura e experimental.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 FADIGA
Falhas por fadiga devem-se à formação e propagação de trinca. Uma trinca terá início,
tipicamente, em uma descontinuidade no material em que a tensão cíclica é máxima. A falha
por fadiga deve-se ao fato do componente estar submetido a estas cargas, repetitiva ou
variável (SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005).
Os três principais métodos de avaliação de vida sob fadiga são: o método da vida sob
tensão, o método da vida sob deformação e o método da mecânica de fratura linear elástica.
Todos eles tentam predizer a vida em número de ciclos até a ocorrência de falha, N, para um
nível de carregamento especificado. A durabilidade do componente de 1 < N < 10³ ciclos é
geralmente classificado como de baixo ciclo, enquanto para N ≥ 10³ é considerado de alto
ciclo. A vida infinita do componente situa-se em algum ponto entre 106 e 107 ciclos
(SHIGLEY, MISCHKE e BUDYNAS, 2005).
Segundo Norton (2013), qualquer carga que varia no tempo pode provocar falhas
relacionadas à fadiga. O comportamento destas cargas varia de acordo com a sua aplicação.
Componentes utilizados em veículos de serviços de todos os tipos tendem a ter cargas
variáveis, tanto em sua amplitude quanto frequência no decorrer do tempo. Assim, considera-
se que para estas aplicações têm-se sinais de carregamentos aleatórios. Porém, ao se referir
aos testes de bancadas normalmente utilizam-se carregamentos com amplitudes e frequências
constantes. Um exemplo de carregamento pode ser visto na Figura 2.
A aplicação da lâmina em testes de bancadas com amplitude e carregamento constantes é
importante para a comparação com o cálculo de vida, de maneira teórica, onde é necessário o
conhecimento de tensões máximas, mínimas, médias e amplitudes que podem ser calculados
através das equações (1) a (4).
𝝈𝒎í𝒏 = 𝝈𝒎 − 𝝈𝒂 (3)
𝝈𝒎í𝒏 (4)
𝑹=
𝝈𝒎á𝒙
Onde:
𝝈𝒎 = tensão média (MPa)
𝝈𝒎á𝒙 = tensão máxima (MPa)
𝝈𝒂 = amplitude de tensão (MPa)
𝝈𝒎í𝒏 = tensão mínima (MPa)
R = razão de tensão
Onde:
𝑺𝒂 = amplitude de tensão (MPa)
𝑺𝒆 = limite de resistência à fadiga corrigido, para 𝑹 = -1 (MPa)
𝑺𝒎 = tensão média (MPa)
𝑺𝒖𝒕 = limite de resistência à tração (MPa)
𝑺𝒚 = limite de escoamento (MPa)
𝑺𝒇 = limite de resistência à fadiga (MPa)
𝑺𝒎𝒂𝒙 = tensão máxima (MPa)
𝜸 = parâmetro do material
De acordo com Norton (2013), o método de vida sob tensão é o mais frequentemente
utilizado quando se deseja que o componente opere por mais de 10³ ciclos de tensão, mesmo
sendo o mais empírico e menos preciso dos três métodos (método da vida sob deformação e o
método da mecânica de fratura linear elástica). Este método apresenta os melhores resultados
quando as amplitudes de carregamento são constantes e um dos seus objetivos é determinar os
valores de resistência à fadiga do componente ou material.
Para determinar os valores de resistência à fadiga, corpos de provas ou amostras do
próprio componente são submetidos a ensaios de bancadas, com carregamentos de amplitude
constante pré-determinadas até a falha. Para a obtenção dos valores, este ensaio é repetido
diversas vezes com carregamentos de amplitude menor que o limite de escoamento em
diversas amplitudes. A partir destes resultados, é possível traçar a curva S-N do material ou
15
𝑺𝒇 = 𝒂. 𝑵𝒃 , sendo: (12)
𝟏 𝒇. 𝑺𝒖𝒕 (14)
𝒃 = − 𝒍𝒐𝒈 ( )
𝟑 𝑺𝒆
𝟏 (15)
𝒌=−
𝒃
Onde:
𝒂 = Coeficiente que representa o valor de 𝑺𝒇
𝑵 = Número de ciclos até a falha do material
16
Segundo Fatemi e Yang (1998), o dano acumulado por fadiga ainda é um assunto a ser
resolvido, onde o método de maior utilização, Palmgren-Miner foi desenvolvido entre os anos
de 1924 e 1945. A contagem do dano na aplicação de um componente sob tensões cíclicas é
de extrema importância para a estimativa de vida do mesmo.
De um modo geral existem seis categorias diferentes para a contagem do dano
cumulativos para componentes sob fadiga, são eles:
- Contagem e soma de danos lineares;
- Curva de soma de danos não linear e abordagem por duas curvas lineares;
- Alterações da curva de vida para abordar as iterações de carga;
- Abordagens baseadas no conceito de crescimento de trinca;
- Modelos baseados na mecânica do dano contínuo;
- Métodos baseados em energia.
2.2.1 Palmgren-Miner
Segundo Fatemi e Yang (1998), o método linear de contagem e soma de danos de Miner
ainda é o mais utilizado. Ele consiste simplesmente na relação de ciclos aplicados com a
quantidade de ciclos que este material é capaz de absorver a certa faixa de tensão até a falha,
dado retirado da curva S-N. A falha é alcançada quando o somatório de dano acumulado
atinge o valor de 1. O dano a qual o componente foi submetido pode ser definido pela
equação (16), enquanto o somatório do dano acumulado é definido pela equação (17).
𝒏 (16)
𝑫=
𝑵𝒇
17
𝒏𝟏 𝒏𝟐 𝒏𝒏 (17)
∑ + + ⋯+ = 𝟏
𝑵𝟏 𝑵𝟐 𝑵𝒏
Onde:
𝑫 = Dano acumulado
𝒏 = Número de repetições de um ciclo de carregamento
𝑵𝒇 = Número de repetições deste ciclo de tensão que levará o material a falha.
Vários são os trabalhos que comprovam que o encruamento superficial aumenta a vida
em fadiga do componente que passou por este processo.
Segundo Silva (2008), a camada superficial de uma peça metálica manufaturada terá em
geral uma tensão residual positiva ou de tração deixada pelos processos de fabricação:
laminação, solda, tratamento térmico entre outros. Geralmente as trincas provocadas em
18
É o teste mais comum para verificar a intensidade de tensões residuais do processo de SP.
Basicamente consiste em uma comparação entre chapas com tamanho, propriedades
mecânicas, dureza conhecida e perfeitamente plana com chapas deformadas pelo processo de
SP, gerando tensões residuais. O ensaio parte do princípio que existem deformações iguais
nestas chapas de pequena espessura e padronizadas. (SCURACCHIO, 2012)
John O. Almen idealizador do teste padronizou três plaquetas, denominadas como tipo
“N”, “C” e “A”. As plaquetas do tipo “N” são usadas para verificar máquinas com intensidade
baixa, em geral utiliza esferas de vidro. As do tipo “C” para aferição de máquinas com
intensidade média, em geral é a mais utilizada. Por último as do tipo “A” verificam máquinas
com intensidade alta, geralmente utilizam granalhas de arame cortado ou de aço fundido. A
Tabela 1 apresenta a classificação de cada plaqueta e sua respectiva espessura. (MELLO et
al., 2013; SCURACCHIO, 2012)
3 DESENVOLVIMENTO
Para verificar a influência dos critérios de tensão média e da curva S-N na estimativa de
vida em análise de fadiga de um aço mola, se faz necessário a realização de ensaios de
bancada com razões de carregamentos diferentes, sendo que um destes carregamentos a
influência da tensão média seja nula. Para que os objetivos fossem atingidos, os passos
descritos na Figura 8 foram seguidos, os quais são explicados na sequência.
As propriedades mecânicas das lâminas de aço mola, utilizadas nos testes de bancada
para levantamento da curva S-N, seguiram a norma NBR 11865, fabricadas conforme os
mesmos padrões das lâminas utilizadas em um feixe de mola trapezoidal aplicada em
semirreboques.
O processo de manufatura conta com o tratamento térmico e shot peening (SP) na face de
tração da lâmina. O material utilizado para a fabricação das lâminas é um aço classificado
como SAE 5160 que tem as seguintes propriedades mecânicas:
- Tensão de escoamento: 1215 MPa
- Limite de resistência à tração: 1350 MPa
- Dureza de 437 a 484 HV
- Módulo de elasticidade: 210 GPa
- Coeficiente de Poisson: 0,3
A geometria da lâmina de aço mola foi definida com base no equipamento e dispositivo
disponível para realização do teste, bem como a deflexão máxima que a lâmina sofreu. Foi
levado em conta o valor do limite de escoamento do material para que não houvesse
deformações plásticas na lâmina de aço mola. A mesma permaneceu com sua geometria
plana, isto é, não sofreu o processo de arqueamento e suas dimensões eram de 400 mm de
22
Para a plotagem dos pontos no diagrama S-N foram utilizadas dez amostras, garantindo-
se que as tensões nas lâminas estavam abaixo da tensão de escoamento.
Com a definição das tensões máximas que a lâmina deveria suportar, foi calculada a força
necessária que deveria ser aplicada na lâmina. O carregamento foi aplicado no centro da
lâmina que estava apoiada em roletes a uma distância de 300 mm entre si. Para o cálculo de
força foi necessário fazer um arranjo das equações (18) à (21), chegando à equação (22),
conforme mostrado a seguir.
23
𝑴𝒎𝒂𝒙 (18)
𝝈= .𝒄
𝑰
𝑭. 𝑳 (19)
𝑴𝒎𝒂𝒙 =
𝟒
𝒃. 𝒉𝟑 (20)
𝑰=
𝟏𝟐
𝒉 (21)
𝒄=
𝟐
𝟐 𝒃𝒉𝟐 (22)
𝑭= .𝝈 .
𝟑 𝑳
Onde:
𝝈 = tensão (MPa)
𝑴𝒎𝒂𝒙 = momento máximo (N.mm)
𝑭 = força (N)
𝑰 = momento de inercia (mm4 )
𝒄 = distância entre linha neutra e ponto de tensão máxima (mm)
𝑳 = comprimento entre apoios (mm)
𝒃 = largura (mm)
𝒉 = espessura (mm)
L2 L1
50 mm
100 mm
O ensaio em bancada foi realizado com servoatuadores da marca MTS com capacidade
de dez toneladas e erro de aproximadamente 0,87% na aplicação de força e 0,052 mm no
deslocamento. A lâmina foi posicionada em um dispositivo construído para que não houvesse
a possibilidade de iniciar fora posição ou se deslocar durante o teste. Nos roletes de apoio da
mola, existiam folgas permitindo que a lâmina trabalhasse livremente, caracterizando uma
viga biapoiada nos dois sentidos de aplicação de força. Contudo, no braço de aplicação de
força existia uma regulagem para eliminar a folga entre os roletes e a lâmina. O ensaio foi
realizado seguindo os seguintes passos:
1. Realizou-se a montagem da lâmina de aço mola no dispositivo de testes, mantendo a
mesma distância de apoio ao centro de carga, procedimento realizado para todas as
amostras.
25
A coleta de dados referente ao número de ciclos e tensão aplicada na mola foi feita para
as dez amostras. Com os dados retirados foi possível verificar pontos nas curvas S-N
corrigidas com os critérios de tensão média apresentados na seção 2.1.2. A ciclagem das
amostras que chegaram a dois milhões de ciclos sem falha foram encerradas considerando
vida infinita da mesma.
A avaliação dos resultados obtidos nos ensaios de bancada foi feita comparando as
estimativas de vida teórica, utilizando todos os critérios de tensão média apresentados na
revisão bibliográfica, seção 2.1.2, e curvas S-N disponíveis. Uma das curvas disponíveis para
comparação dos resultados dos ensaios é a curva de bibliografia, obtida com ciclagem de
flexão unidirecional caracterizada por um valor de 𝑹 = 0, ou seja, 𝝈𝑚𝑖𝑛 = 0, e tensão máxima
igual à duas vezes a amplitude de tensão.
A teoria de fadiga foi desenvolvida para curvas de caracterização de 𝑹 = -1, com isso foi
necessário fazer a correção da curva de 𝑹 = 0 para 𝑹 = −1 . Para isso, foram utilizados
todos os critérios de tensão média apresentados na revisão bibliográfica, equação (5) a (11)
obtendo assim os valores apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Dados obtidos da correção da curva S-N de bibliografia do aço SAE 5160, de
𝑹 = 0 para 𝑹 = −1 .
𝑏 -0,10265
Goodman 𝑘 9,74
𝑏 -0,19083
Gerber 𝑘 5,24
𝑏 -0,09049
Soderberg 𝑘 11,05
𝑏 -0,19080
SWT - Smith-Watson-Topper 𝑘 5,24
𝑏 -0,19080
Walker
𝑘 5,24
𝜸 = 0,25
𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 527
𝑏 -0,19293
Morrow 𝑘 5,18
𝑏 -0,19310
ASME Elíptico 𝑘 5,18
A outra curva S-N disponível para avaliação, trata-se de uma curva experimental, obtida
também com flexão unidirecional caracterizada por um valor de 𝑹 = 0,1, ou seja, tensão
mínima é dez vezes menor que a tensão máxima e a amplitude de tensão representa 45% da
tensão máxima. Os dados iniciais da curva S-N experimental para 𝑹 = 0,1, estão
apresentados na Tabela 4. Está também foi corrigida com as equações (5) a (11) obtendo
assim os valores apresentados na Tabela 5.
Tabela 4 – Dados obtidos da curva S-N experimental do aço SAE 5160, 𝑹 = 0,1.
𝑏 -0,09638
Goodman 𝑘 10,38
𝑏 -0,09195
Gerber 𝑘 10,88
𝑏 -0,09185
Soderberg 𝑘 10,89
𝑏 -0,17398
𝑏 -0,17398
Walker
𝑘 5,75
𝜸 = 0,25
𝑆𝑒 para 106 ciclos [MPa] 401
𝑏 -0,18271
Morrow 𝑘 5,47
4 RESULTADOS
Conforme definido pela equação (22), a força aplicada sobre a lâmina é dependente da
tensão máxima desejada na mola. Foram utilizados quatro níveis de tensão que estão
apresentados na Tabela 6, juntamente com os respectivos valores de tensão máxima que a
lâmina está suportando e estimativa de vida com as cargas aplicadas. Os valores de vida
foram estimados utilizando a correção da curva S-N experimental com o critério de Walker
e ajuste do parâmetro 𝜸 = 0,25.
Tensão máxima
Tensão L1 Tensão L2 Variação de
Força (N) no centro da
(MPa) (MPa) medição (MPa)
lâmina (MPa)
11970 413 202 618 ±1
11221 375 184 561 ±2,5
10610 361 178 541 ±2
8337 282 139 422 ±2,5
Fonte: Autor (2014)
4.3.1 Microestrutura
4.3.2 Microdureza
500
490
480
Microdureza (H0,1)V
470
460
450
440
430
420
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
Amostra 1
Distância (mm)
Amostra 2
É possível observar que a dureza na lâmina de aço mola não segue uma tendência,
havendo variações de dureza de até 69 HV, inclusive com microdureza de pontos afastados da
superfície da lâmina com valores muito próximos ao encontrado na superfície. Esperavam-se
valores de microdureza mais elevados na superfície e após isso os valores de dureza deveriam
baixar e se manter e apenas próximo à outra extremidade da lâmina subir novamente.
A Figura 15 mostra a fratura de uma amostra com carregamento que resultou em 618
MPa de tensão máxima. A amostra com tensão máxima resultante de 541 MPa apresentou
fratura similar a apresentada. Já a amostra com tensão máxima de 1200 MPa apresenta uma
fratura frágil, sem alongamento do material e indícios de falhas por fadiga. Não é possível
observar onde houve o início da trinca, apenas suposições de que a fratura se iniciou no lado
direito e houve um possível arrancamento de material do lado esquerdo quando a trinca
iniciada no lado direito se propagou e se iniciou outro ciclo.
A B
Os valores de vida e tensão máxima para cada uma das amostras ensaiadas estão
apresentados na Tabela 8. Foram ensaiadas quatro amostras com carregamentos de 618 MPa,
duas com 422 MPa, duas com 541 MPa, uma com 561 MPa e uma com 1200 MPa,
totalizando 10 amostras. A amostra 7 teve seu ensaio suspenso, devido a falta de tempo e
disponibilidade do equipamento para realização do ensaio.
Tabela 8 – Dados obtidos da curva experimental do aço SAE 5160, para 𝑹 = −1.
Figura 16 – Pontos obtidos do ensaio da lâmina de aço SAE 5160, shot-peening com
tensão residual - 480 MPa, para R = −1
1000
Vida Infinita
σ máxima (MPa)
100
1000 10000 100000 1000000 10000000
nº de ciclos
Fonte: Autor (2014)
Figura 17 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 595 MPa, de 𝑹 = 0
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1
R=0 Literatura
1000
R=-1 Goodman
R=-1 Gerber
σ máxima (MPa)
R=-1 Soderberg
R=-1 SWT
R=-1 Walker
R=-1 Morrow
R=-1 ASME Elíptico
618 MPa
100 422 MPa
100000 nº de ciclos 1000000
Fonte: Autor (2014)
36
É possível observar que a média dos pontos próximos a 100.000 ciclos e tensão de 618
MPa tendem a se aproximar das curvas de Soderberg e Morrow. Já os pontos para vida
infinita estão bem dispersos, mostrando que a lâmina de aço mola tem tendência de ter um
comportamento extremamente aleatório para altos ciclos de vida, é possível observar a grande
diferença que existe na escolha do critério de tensão média para correção da curva, onde
existem diferenças de até 450 MPa entre os critério de Morrow e Gerber.
Na Figura 19 é possível verificar o gráfico dos dados obtidos da correção da curva
experimental do aço SAE 5160, de 𝑹 = 0,1 para 𝑹 = −1 plotados juntamente com os pontos
obtidos no ensaio realizado com R = −1, onde a tensão média é nula.
Figura 18 – Curva aço SAE 5160, shot-peening com tensão residual - 500 MPa, de 𝑹 = 0,1
corrigida para 𝑹 = −1, junto com a curva ensaiada com 𝑹 = −1
R=0,1 Experimental
1000
R=-1 Goodman
R=-1 Gerber
R=-1 Soderberg
R=-1 SWT
σ máxima (MPa)
R=-1 Walker
R=-1 Morrow
618 MPa
422 MPa
541 MPa
561 MPa
100
100000 nº de ciclos 1000000
Fonte: Autor (2014)
37
5 CONCLUSÕES
Este trabalho teve com objetivo avaliar a influência do critério de tensão média e da curva
S-N na estimativa de vida em fadiga de um aço mola com shot – peening. Este objetivo foi
atingido observando que a diferença na correção das curvas S-N de bibliografia e
experimental com o critério de tensão média de ASME Elíptico apresenta uma diferença de
até 39% no valor da tensão para 100.000 ciclos. Para este valor de ciclos, a curva
experimental apresenta um valor de tensão de 705 MPa, enquanto a de bibliografia estimaria
um valor de 550.000 ciclos. Na avaliação do critério de tensão média se observou que para a
curva de bibliografia com razão de carregamento de 𝑹 = 0 possui diferenças de até 330 MPa
entre os critérios de Soderberg e ASME Elíptico também para 100.000 ciclos.
As diferenças de tensão com a correção da curva S-N experimental com razão de
carregamento de 𝑹 = 0,1 para os critérios de tensão média apresentado na revisão
bibliográfica, apresentaram diferenças de 230 MPa entre os critérios de SWT e Morrow para
estimativa de 1.000.000 ciclos. Com um valor de tensão de 500 MPa a estimativa de vida para
Morrow é de 100.000 ciclos enquanto para SWT este valor sobe para 850.000 ciclos. Com
isso é possível concluir que a correta escolha do critério de tensão média e curva S-N,
proporcionará efeito direto na estimativa de vida de um componente.
Assim, como o objetivo geral foi atingido, os objetivos específicos também foram
alcançados. O procedimento de ensaio de fadiga sob flexão unidirecional foi definido para
𝑹 = −1, este com o intuito de eliminar a influência da tensão média na vida do componente e
posterior comparação com a curva experimental do mesmo material para 𝑹 = 0,1. A curva de
bibliografia apresenta um material com limite de escoamento maior, o que proporciona
influência direta na curva S-N. Isso mostra que curvas S-N da bibliografia, para materiais de
alta resistência mecânica com propriedades mecânicas semelhantes e não idênticas, não são
recomentadas para o cálculo de estimativa de vida em fadiga de um componente.
Os ensaios com razão de carregamento 𝑹 = −1 foram realizados para dez amostras da
lâmina de aço mola, o que não permitiu a plotagem da curva S-N com esta razão de
carregamento, sendo necessário um número maior de amostras para a confecção da curva.
Outro ponto observado foi que as lâminas de aço mola tendem a ter um comportamento
aleatório em vida sob tensões cíclicas, sendo que este fato pode ser observado com as
amostras ensaiadas com tensão de 531 MPa, onde uma amostra foi ciclada até 2.000.000 de
ciclos sem falhae outra quebrou com 165.565 ciclos. Provavelmente, variações das tensões
residuais na superfície da amostra podem ocasionar esta variabilidade.
38
Para uma melhor avaliação dos resultados seria necessário fazer o levantamento de um
número maior de amostras.
Com intuito de dar continuidade a aplicação da metodologia relatada ao longo deste
trabalho, sugere-se aqui a execução de diferentes trabalhos futuros, os quais viriam somar
conhecimentos à área de testes de durabilidade.
1. Avaliar os critérios de contagem de acúmulo de danos, utilizando diversos
carregamentos;
2. Avaliar o efeito do atrito presente entre as lâminas de um feixe de mola utilizadas em
semirreboques;
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