O Sítio Das Drogas
O Sítio Das Drogas
O Sítio Das Drogas
CURSO DE SOCIOLOGIA
AVALIAÇÃO DE ANTROPOLOGIA
BRAGA - 2023
1. Justificação da escolha:
O nosso intuito como investigadoras é analisar a obra “O Sítio das Drogas” de Luís
Fernandes e extrair da mesma o conhecimento necessário das motivações, ações e
significados atribuídos aos entorpecentes de modo a encontrar modos condizentes de ajudar
os toxicodependentes e simultaneamente, alertar para o estigma que constantemente impede
esses indivíduos de integrar dignamente o meio social. Por esse motivo, adotaremos uma
abordagem afastada do senso comum e dos juízos de valores assentes em preconceitos.
Desta forma, o objetivo para a elaboração deste trabalho é desconstruir um tema atemporal
que retrata, essencialmente, uma questão de saúde física, mental e, inevitavelmente, uma
problemática social.
2. Elaboração de um breve resumo da obra, com uma apresentação clara das suas
ideias principais:
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considerado um elemento criminal. Em termos político-económicos, é uma substância que
movimenta mercados e requer políticas internacionais de contenção, como a vigilância de
rotas e alfândegas a nível internacional. Ou seja, o uso dessa substância causa
comportamentos e reações sociais complexas e muito estigmatizadas. Na obra etnográfica a
ser analisada, foca-se na influência do objeto droga nos bairros sociais, bem como na
insegurança desses mesmos bairros em razão do objeto. O estudo foi feito mais
especificamente na região da Pasteleira durante a década de 90.
Configura, portanto, um trabalho que visa conhecer desde o interior. A partir do ponto
de vista dos atores, os estudiosos tiveram acesso às práticas sociais em torno das drogas
ilegais, o significado que estas assumem para quem as usa, o que pensam indivíduos
externos a essa realidade, como interagem com ele e com as forças de controlo social.
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perversão da moral social e vandalismo, na diferente socialização que é muito mais
próxima do que vemos nas aldeias do que na vida na cidade, onde o público e o pessoal
misturam-se, onde todos se conhecem e forasteiros são logo percebido se também por essa
interação social ter um carácter mais “violento” e, simultaneamente, de gozo onde os
palavrões são normalizados e os erro vigiados ao microscópio.
Uma grande crítica feita durante o texto é a média, que ajuda na criação da imagem
do bairro como lugar perigoso e desumano, sempre falando dos bairros, mas nunca dando
voz as pessoas que lá vivem. Durante a estadia dos etnógrafos foram recolhidas várias
notícias sobre a região que estudavam e perceberam que a maioria tinha uma conotação
negativa e mesmo as que tinha uma conotação positiva acabavam por ressaltar aspetos
negativos do local como, por exemplo, intervenções da polícia para diminuir o tráfico de
drogas. Essa cobertura constante da média, o constante medo da polícia, a exclusão sofrida
e a degradação estética acabam por criar um sentimento fatalista nos indivíduos que
acreditam que nunca conseguiram uma vida melhor.
Já falamos muito de como a vida no bairro, mas pouco sobre como as drogas lá
funcionam. A venda de drogas é feita a frente de todos, mas só quem tem bagagem nesse
setor de vendas consegue ver o que realmente acontece. É necessário ter experiencia prévia
para saber aonde ir, com quem falar e a linguagem que deve ser utilizada durante está
transação (linguagem reduzida, muitas vezes usando metáforas para não chamar a atenção).
Apesar de todos os tipos de pessoas envolverem-se nesse ramo, existe um perfil mais
comum como citado pelo autor: “O junkie é também muitas vezes vendedor. Nas zonas
quentes é predominantemente masculino, entre os 15-16 e os 35-40 anos.”.
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Os junkies tem a sua vida completamente consumida pela droga, passam a maioria
do tempo pensando na próxima dose. Isso afeta a vida deles em todos os aspetos, o
junkie está sempre tentando arranjar um modo de pagar pelo seu vício (até mesmo com
objetos materiais), o que muitas vezes o leva a cometer outros crimes como o furto. A vida
social dele também é afetada, sendo a maior parte das suas relações de interesse. Muitas
vezes eles acabam por virar dealers para financiar o seu vício.
Uma das obras que ajudam a aprofundar a relação entre estratificação social e
ecologia é o artigo científico “Meio ambiente e igualdade social” escrito por Álvaro García
Linera, professor titular de sociologia e ciências políticas da “Universidad Mayor de San
Andrés”, o mesmo também atuou como vice-presidente da Bolívia entre 2006 e 2019.
Nesse artigo o autor conclui que a gestão dos recursos naturais, bem como o próprio
espaço, é dominado por um campo de forças e políticas dominantes. Essas seriam
controladas pelas classes sociais mais ricas e restritas. Desse modo, o sociólogo ressalta a
importância das temáticas sociais e ambientais serem abordadas conjuntamente para
projetar uma política ecológica a partir da perspetiva das classes subalternas.
Além do espaço, a obra analisada também explicita o papel que as redes sociais
possuem para a difusão da droga e também no tratamento do indivíduo dependente. Nesse
sentido, o artigo“Família, redes sociais e o uso de drogas: tensionamento entre o risco e a
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proteção” aprofunda as relações sociais dos dependentes químicos. A obra é escrita por
quatro psicólogas renomadas: Claudia Daiana Borges, Mestre em Psicologia e docente do
curso de graduação em Psicologia na Faculdade Metropolitana de Guaramirim; Carmen
Leontina Ojeda Ocampo OMoré, Doutora em Psicologia, professora do Departamento de
Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Scheila Krenkel,
Doutoranda em Psicologia pela UFSC e, por fim, Daniela Ribeiro Schneider, Doutora em
Psicologia, também professora do Departamento de Psicologia da UFSC.
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esse motivo a obra ajuda a compreender tanto a problemática social, quanto organizacional
das drogas.
O estudo foi feito a quase 30 anos e precisa ser atualizado, nesse tempo muita coisa mudou.
E nesse estudo dois fatores de análise deveriam ser adicionados. O primeiro remete a
frenética evolução da tecnologia e como isso afetou a mecânica do tráfico. O outro como a
crescente ideologia de que drogas deveriam ser legalizadas e que viciados também
merecem respeito e acesso aos diretos humanos afetou essa população.
Outro estudo que poder ser feito é um estudo com enfoque nas pessoas que conseguiram
sair deste mundo (ex-dealers, ex-junkies). Tentando entender o que aconteceu de diferente
na sua trajetória, o que as levou a sair dessa vida, se isso as afetou positivamente, se foi
necessária interferência do estado ou de outros apoios externos, se elas tiveram apoio
familiar/de amigos. Outro foco importante seria entrevistar os trabalhadores dos centros de
reabilitação, perguntando que tipo de indivíduos geralmente retornam, que métodos lhes
parecem mais eficazes no tratamento. Essa pesquisa teria objetivo de arrecadar as
condições necessárias para um indivíduo melhorar, assim podendo melhorar as políticas de
intervenção nessas populações.