Aula tEORICA 2 de Calculo Financeiro
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INTRODUÇÃO
1.1. Aplicação do Rendimento
Os agentes económicos de uma economia auferem rendimentos da sua actividade
económica, que aplicam de acordo com as suas necessidades, preferências, gostos e
estilos de vida. De acordo com a teoria económica, o rendimento das pessoas pode ser
aplicando de duas grandes formas: consumo ou poupança.
O consumo é entendido como o total da despesa em bens ou serviços que têm um
tempo de vida definido e são utilizados de uma forma específica. Esta forma de
aplicação do rendimento caracteriza-se por não gerar qualquer retorno do capital
investido.
A parcela de rendimento que não é afecta ao consumo designa-se por poupança.
Ainda recorrendo à teoria económica podemos encontrar duas grandes formas de
aplicação da poupança: o entesouramento e o investimento.
O entesouramento consiste em manter, guardar o montante de rendimento poupado sob
a forma de moeda, o que não permitirá qualquer ganho ao longo do tempo.
O investimento consiste em aplicar um determinado capital com o objectivo de o
multiplicar. Ao capital, montante de dinheiro poupado e aplicado em investimento,
chamaremos capital financeiro.
Este investimento pode ser concretizado essencialmente de duas formas distintas:
Investimentos reais diretos – construção de uma unidade fabril, aquisição de
um equipamento produtivo ou de um estabelecimento comercial, etc.)
Investimentos financeiros – depósito numa instituição financeira ou ainda
aquisição de títulos (acções, obrigações, opções, etc.) nos mercados financeiros.
O cálculo financeiro, enquanto disciplina, preocupa-se essencialmente com a
abordagem dos investimentos financeiros, ou seja, com o estudo das relações
matemáticas subjacentes ao processo de formação de juros.
1.2. Capital, juro e tempo
O capital objecto de um investimento financeiro é portanto, a quantidade de moeda
cedida pelo seu proprietário a outrém por um determinado período de tempo acordado
entre ambas as partes.
O tempo é o prazo durante o qual o capital é aplicado ou cedido. Na nossa perspectiva
de análise considerar-se-á que o tempo global da aplicação é o somatório de n parcelas
de tempo. A cada unidade de tempo chamaremos período de capitalização.
O período de capitalização será mensal, trimestral ou anual consoante a unidade de
tempo considerada seja o mês, o trimestre ou o ano, respectivamente.
O juro é o rendimento proveniente de um capital cedido (aplicado) por um dado
período de tempo. Nesta perspectiva o juro deve ser considerado como o preço do
dinheiro cedido e será função do montante (capital) e do prazo em que o seu
proprietário esteve privado da sua utilização (tempo).
1.3. Juro e taxa de juro
No ponto anterior definimos que o juro aparece como uma compensação pelo
“sacrifício” de deixar de dispor, no momento, de determinada importância capaz de
proporcionar consumo imediato e certo em troca dessa disponibilidade em data futura.
Embora se entenda que uma parte dessa compensação é objectiva, porque será exigida
por todos ou a maior parte, mais ou menos da mesma forma, o seu valor total é
claramente subjectivo.
Se o proprietário do capital C0 cede pelo período de tempo t o seu capital a outrém, no
fim do tempo t vai receber o seu capital C0 mais o juro produzido.
Teremos então que definir qual a função que traduz a relação entre juro, capital e tempo.
Consideremos o princípio fundamental do juro de acordo com o qual “o juro é
directamente proporcional ao valor capital no início de cada período”. De acordo
com este princípio o juro obtém-se multiplicando o capital inicial por uma dada
constante de proporcionalidade.
J K ¿C K−1∗i FÓRMULA GERAL DO JURO PERIÓDICO
Em que:
J K – juro do período k.
C K −1 -capital no início do período k.
i – constante de proporcionalidade.
Esta constante de proporcionalidade tem a designação de taxa de juro, podendo ser
definida como o rendimento gerado por um capital unitário num tempo unitário.
Podemos encontrar diversos factores determinantes na fixação da taxa de juro.
Entre esses factores encontramos certamente o perfil dos próprios credores,
nomeadamente a forma como lidam com situações de risco e consequentemente a forma
como o avaliam.
Entre os factores determinantes do valor da taxa de juro podemos destacar:
A desvalorização do dinheiro e a necessidade de repor o seu poder de compra. A
taxa de inflação poderá ser uma boa medida;
O risco de não reembolso – incumprimento;
A duração do negócio – tempo;
O nível de intervenção do Estado, encarecendo ou não o custo dos negócios,
através da criação de impostos sobre o crédito;
As condições dos mercados monetário e financeiro;
O tipo de negócio, nomeadamente o destino da aplicação e suas especificidades;
A qualidade das partes envolvidas.
Vimos então que um determinado capital aplicado durante um certo período de tempo
sofre um acréscimo consequência do vencimento de juros. Assim, teremos que o capital
no final de um dado período k será:
C K ¿ C K −1 + J k
A este processo de acréscimo que o capital sofre ao longo do tempo iremos chamar
capitalização.
O processo de capitalização é portanto o processo que leva à formação do juro e produz
um capital acumulado (geralmente superior) no futuro:
Exemplo 1
Qual o capital acumulado daqui a um ano, por um depósito, feito hoje, de
5.000 €, se este for remunerado à taxa anual de 5%?
Representemos o capital inicial por Co e por C1 o valor acumulado no final de 1
período de capitalização.
C1 = Co + J1 ⇔ C1 = 5.000 + 5.000 * 0,05 = 5.250 €
1.4. Desconto e taxa de desconto
O desconto ou actualização é o processo inverso da capitalização, pelo qual se calcula
o valor actual (hoje) de um capital futuro, conhecido.
Enquanto o processo de capitalização transforma o capital inicial num capital superior,
o desconto transforma o capital num valor inferior.
O conceito de actualização só tem interesse se pretendermos recuar no tempo. A sua
aplicabilidade tem alguma relevância quando um devedor pretende liquidar a sua dívida
ou o credor tem necessidade de receber os seus créditos antes da data de vencimento
previamente acordada entre as partes.
Sendo um conceito semelhante ao do juro também o desconto depende do tempo,
antecipação do vencimento e do capital em referência.
Esta dependência pode também ser representada por uma constante de
proporcionalidade que se designa por taxa de desconto (d):
D k =Ck ∗d 1
em que:
Dk – desconto do período
C k−1 – capital no início do período k.
C k – capital no fim do período k.
Exemplo 2
Quanto deverá ser pago, hoje, por uma dívida de 1.000 €, que se vence dentro de um
ano e será descontada à taxa anual de 10%?
C0 = C1 - D1 ⇔ C1= 1.000 - 1.000 * 0,10 = 900 €
1.5. Valor de um capital
Valor Acumulado
Se um determinado capital C0 for aplicado durante um espaço de tempo t e gerar um
juro Jt, no fim do período teremos:
Ct = C0 + Jt
Valor Actual
Inversamente teremos que C0 é o valor actual do capital Ct:
C0 = Ct - Dt
1 Admite-se que o desconto é calculado sobre o capital final. Como veremos mais à
frente o desconto poderá também ser calculado sobre o capital inicial.