A Tradição Como Princípio de Conhecimento Teológico - W. Kasper
A Tradição Como Princípio de Conhecimento Teológico - W. Kasper
A Tradição Como Princípio de Conhecimento Teológico - W. Kasper
TEOLOGIA 2020.2
TEOLOGIA FUNDAMENTAL
Docente: Pe. Ronny Santos de Abreu
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Cf. IRENEO, Adv. Haer. III, 3, 1: «Podemos encontrar a tradição, anunciada pelos
Apóstolos em todo o mundo, em cada igreja, somente porque que estamos dispostos a ver
a verdade». - TERTULLIANO, De praescript. 21; cf. 6 e 37; Apol. 47; De corona 2-4:
«Portanto, é certo que toda doutrina ... em sintonia com aquelas igrejas apostólicas deve
ser considerada verdade, pois sem dúvida possui o que as igrejas receberam dos
Apóstolos, os Apóstolos de Cristo e Cristo de Deus».
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Cf. DS 1501; 1507; NR 87; 93. Neste sentido, a Constituição Dogmática do Vaticano II
Dei Verbum não somente confirmou o Concílio de Trento, mas inseriu seus próprios
enunciados no conjunto de "Cristo-Espírito-Igreja", e desta forma os aprofundou.
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5
Cf. K. BARTH, Kirchliche Dogmatik, vol. I/2, § 16, onde se fala do Espírito Santo como
realidade e possibilidades objetivas da revelação.
6
É o que ele descreveu, utilizando o conceito de “autotradição”, J. S. DREY (cf. J. R.
GEISELMANN, op. cit. 177ss., 250ss.).
7
É uma concepção pneumática já encontrada nos Santos Padres. Cf. IRENEO, Adv. Haer.
III, 24, 1; cfr. III, 4, 2; Demonstr. 41.
5
1Cor 12, 3). O critério primário de toda tradição é o próprio Jesus Cristo, a
Tradição primitiva. Mas Jesus Cristo é “perceptível” para nós apenas no
testemunho dos apóstolos, de modo que o testemunho apostólico é
constitutivamente parte do evento de Cristo. Mas também os escritos do
Novo Testamento, que condensam precisamente este testemunho, participam
da normatividade do evento de Cristo8. A tradição neotestamentária deve ser
a alma e a norma de toda sucessiva tradição eclesial (cf. DV 24; OT 16). Este
poderia ser considerado o “princípio católico da Escritura”, aquele que está
precisamente no fato de que a Escritura, lida à luz e sob a orientação da
tradição, pode se tornar, por si mesma, determinante quando se trata de
interpretar a tradição e de examinar criticamente as singulares tradições. Por
esta razão, o método histórico-crítico de exegese das Escrituras, dentro da
tradição eclesial, tem uma função importante, que naturalmente será
especificada de forma mais adequada.
2. O Espírito nos une à Bíblia não apenas de uma forma legalista, mas
espiritual. A própria Bíblia critica um biblicismo rígido, desprovido de
espírito e apegado à letra, já que expressa sua mensagem em situações de
constante mudança. O Senhor é Espírito e “onde está o Espírito do Senhor,
aí há liberdade” (2Cor 3, 17). O Espírito recorda Jesus e ao mesmo tempo
introduz profeticamente no futuro (cf. Jo 16, 13). A sua tarefa está na
atualização da novidade de Jesus, próprio em seu caráter de novidade,
tornando-a espiritualmente fascinante9. Ele atualiza a mensagem e a obra de
Jesus Cristo em termos sempre respondentes aos diversos “sinais dos
tempos” (cf. GS 3s). Isto significa que não se trata de uma adaptação acrítica
às mentalidades do tempo, mas de um confronto sempre novo com o tempo
e com o “mundo” (cf. Jo 16, 18s). Neste sentido, é próprio conforme à
tradição superar continuamente a letra da Escritura mirando o Espírito.
Definitivamente, a tradição é o que os Santos Padres chamavam de “sentido
espiritual da Escritura”10. A renovação desta exegese espiritual ou tipológica
é uma das tarefas mais importantes do aprofundamento metodológico da
teologia católica. Somente por esta via é possível elaborar - o que no fundo
ainda falta na teologia católica - uma teoria e uma criteriologia adequadas da
história dos dogmas e da teologia.
3. É o único e mesmo Espírito que opera com os seus diversos dons.
Portanto, os diferentes dons e efeitos do Espírito devem se integrar,
interpretar e corrigir uns aos outros (cf. Rm 12, 3s; 1Cor 12, 4s; Ef 4, 2s). O
critério indispensável para o discernimento dos espíritos é, então, aquele que
mostra como a unidade do Espírito é garantida e a comunhão eclesial não
comprometida, mas sim “edificada”. O critério da tradição verdadeira estará,
8
Cf. K. RAHNER, Über die Schriftinspiration (QD 1), Freiburg i.Br. 1958, 55ss.
9
Cf. IRINEO DI LIONE, Adv. Haer. III, 17, 1.
10
Cf. H. DE LUBAC, Geist aus der Geschichte. Das Schriftverständnis des Origenes,
Einsiedeln 1968.
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Walter KASPER.
Resumo e tradução: Pe. Ronny SANTOS DE ABREU.
11
Cf. EUSEBIO, Hist. eccl. V, 28, 5: Phrónēma ekklēsiastikón.