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Segunda Seção: Processo CC 181.190-AC

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Número 722 Brasília, 26 de janeiro de 2022.

Este periódico, elaborado pela Secretaria de Jurisprudência do STJ, destaca teses jurisprudenciais
firmadas pelos órgãos julgadores do Tribunal nos acórdãos proferidos nas sessões de julgamento, não
consistindo em repositório oficial de jurisprudência

SEGUNDA SEÇÃO

PROCESSO CC 181.190-AC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda


Seção, por unanimidade, julgado em 30/11/2021, DJe
07/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO FALIMENTAR

TEMA Empresa em recuperação judicial. Execução fiscal.


Constrição judicial dos bens da recuperanda. Conflito de
competência. Materialização da oposição concreta à
efetiva deliberação do Juízo da recuperação judicial.
Imprescindibilidade.

DESTAQUE

✔ A caracterização de conflito de competência perante o Superior Tribunal de Justiça pressupõe a


materialização da oposição concreta do Juízo da execução fiscal à efetiva deliberação do Juízo da
recuperação judicial a respeito do ato constritivo.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O incidente processual centra-se em saber se o Juízo em que tramita execução fiscal contra
empresa em recuperação judicial - ao rejeitar a exceção de pré-executividade e determinar o
prosseguimento do feito executivo, com a realização de atos constritivos sobre o patrimônio da
executada -, invade ou não a competência do Juízo da recuperação judicial, segundo dispõe o § 7º-B
do art. 6º da Lei de Recuperação e Falência, com redação dada pela Lei n. 14.112/2020.
A divergência jurisprudencial então existente entre esta Segunda Seção e as Turmas integrantes

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da Seção de Direito Público do Superior Tribunal de Justiça acabou por se dissipar em razão da
edição da Lei n. 14.112/2020, que, a seu modo, delimitou a competência do Juízo em que se processa
a execução fiscal (a qual não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial) para determinar
os atos de constrição judicial sobre os bens da recuperanda; e firmou a competência do Juízo da
recuperação judicial para, no exercício de um juízo de controle, "determinar a substituição dos atos
de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial
até o encerramento da recuperação judicial".
A partir da vigência da Lei n. 14.112/2020, com aplicação aos processos em trâmite (afinal se
trata de regra processual que cuida de questão afeta à competência), não se pode mais reputar
configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça pelo só fato de o Juízo da
recuperação ainda não ter deliberado sobre a constrição judicial determinada no feito executivo
fiscal, em razão justamente de não ter a questão sido, até então, a ele submetida.
A submissão da constrição judicial ao Juízo da recuperação judicial, para que este promova o juízo
de controle sobre o ato constritivo, pode ser feita naturalmente, de ofício, pelo Juízo da execução
fiscal, em atenção à propugnada cooperação entre os Juízos. O § 7º-B do art. 6º da Lei n.
11.101/2005 apenas faz remissão ao art. 69 do CPC/2015, cuja redação estipula que a cooperação
judicial prescinde de forma específica. E, em seu § 2º, inciso IV, estabelece que "os atos concertados
entre os juízos cooperantes poderão consistir, além de outros, no estabelecimento de procedimento
para a efetivação de medidas e providências para recuperação e preservação de empresas".
Caso o Juízo da execução fiscal assim não proceda, tem-se de todo prematuro falar-se em
configuração de conflito de competência perante o STJ, a pretexto de se obter o sobrestamento da
execução fiscal liminarmente. Não há, nesse quadro, nenhuma usurpação da competência, a ensejar
a caracterização de conflito. A inação do Juízo da execução fiscal - como um "não ato" que é - não
pode, por si, ser considerada idônea a fustigar a competência do Juízo recuperacional ainda nem
sequer exercida.
Assim, na hipótese de o Juízo da execução fiscal não submeter, de ofício, o ato constritivo ao Juízo
da recuperação judicial, deve a recuperanda instar o Juízo da execução fiscal a fazê-lo ou levar
diretamente a questão ao Juízo da recuperação judicial, que deverá exercer seu juízo de controle
sobre o ato constritivo, se tiver elementos para tanto, valendo-se, de igual modo, se reputar
necessário, da cooperação judicial preconizada no art. 69 do CPC/2015.
Registre-se que, após o exercício de tais competências, a caracterização de conflito perante esta
Corte de Justiça somente se fará presente se o Juízo da execução fiscal vier, concretamente, a se opor
à deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito da constrição do bem, substituindo-o ou
tornando-a sem efeito, ou acerca da essencialidade do bem de capital constrito, o que, por ora, nem
se cogita.

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PRIMEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.677.414-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa,


Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
14/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Faixa de domínio. Concessionária de serviço público.


Cobrança pelo ente federado. Não cabimento. RE
581.947. Distinguishing. Art. 11 da Lei n. 8.987/1995.
Conflito entre concessionárias. Exigência de
contraprestação. Possibilidade. ERESP 985.695/RJ.

DESTAQUE

As concessionárias de serviço público podem efetuar a cobrança pela utilização de faixas de
domínio de rodovia, mesmo em face de outra concessionária, desde que haja previsão editalícia e
contratual.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Tema n. 261 de repercussão geral, concluiu pela
impossibilidade de o ente público realizar cobrança de taxa pelo uso de espaços públicos municipais
por parte das concessionárias de serviço público.
Dessa forma, a Suprema Corte possui orientação consolidada segundo a qual é vedada a cobrança
de valores ao concessionário de serviço público pelo uso de faixas de domínio de rodovia quando tal
exigência emana do próprio Poder Concedente, tendo em vista que: a) a utilização, nesse caso, se
reverte em favor da sociedade - razão pela qual não cabe a fixação de preço público; e b) a natureza
do valor cobrado não é de taxa, pois não há serviço público prestado ou poder de polícia exercido.
No entanto, situação distinta exsurge quando o poder concedente autoriza concessionária de
serviço público, com base no art. 11 da Lei n. 8.987/1995, a efetuar cobrança pela utilização de
faixas de domínio de rodovia, mesmo em face de outra concessionária, desde que haja previsão
editalícia e contratual.
Essa obrigação "(...) envolve justificativas importantes no contexto do interesse público, haja vista
que a previsão de outras fontes, receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos
associados, em benefício do concessionário do serviço público - nos termos do art. 11 da Lei n.

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8.987/1995 - desde que devidamente previstas no edital de licitação e no respectivo contrato
firmado com o poder concedente, encerra elemento a ser considerado no equilíbrio econômico-
financeiro contratual e na obtenção do princípio da modicidade tarifária" (AREsp 977.205/SP, Rel.
Min. Og Fernandes, Segunda Turma, julgado em 19.04.2018, DJe 25.04.2018).
No caso, a cobrança não abrange ente da Federação, mas conflito entre concessionárias de serviço
público com previsão editalícia e contratual da cobrança de remuneração pelo uso das faixas de
domínio.
Assim, o entendimento fixado no Recurso Extraordinário 581.947/RO (Tema 261/STF), segundo
o qual os entes da federação não podem cobrar retribuição pecuniária pela utilização de vias
públicas, inclusive solo, subsolo e espaço aéreo, para a instalação de equipamentos destinados à
prestação de serviço público, não impede que concessionárias de rodovias realizem tal exigência
pela utilização das faixas de domínio, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.987/1995, desde que tal
exação seja autorizada pelo poder concedente e esteja expressamente prevista no contrato de
concessão, porquanto não houve discussão sobre esta hipótese.
Esse distinguishing, por seu turno, foi realizado no julgamento dos Embargos de Divergência no
Recurso Especial 985.695/RJ, apreciados pela Primeira Seção.
Tal orientação vem sendo replicada em inúmeras decisões desta Corte, autorizando-se o poder
concedente a prever, no edital de licitação e em favor da concessionária, a possibilidade de outras
fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados,
com ou sem exclusividade, para favorecer a modicidade das tarifas, na forma do art. 11 da Lei n.
8.987/1995.

PROCESSO REsp 1.941.987-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira


Turma, por unanimidade, julgado em 07/12/2021, DJe
10/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO ADMINISTRATIVO

TEMA Servidor público. Demissão. Anulação administrativa do


ato. Reintegração ao cargo. Recebimento das rubricas
concernentes ao auxílio-transporte e ao adicional de
insalubridade. Exercício ficto. Impossibilidade.

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DESTAQUE
✔ O servidor público reintegrado não faz jus ao recebimento das parcelas remuneratórias
referentes ao auxílio-transporte e ao adicional de insalubridade pelo período em que esteve
indevidamente afastado do cargo público.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Nos termos do art. 28 da Lei n. 8.112/1990, "A reintegração é a reinvestidura do servidor estável
no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua transformação, quando invalidada a
sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens".
A partir da conjugada interpretação dos arts. 15, caput, e 102, I, da Lei n. 8.112/1990 c/c o art. 22
da Lei n. 8.460/1992, conclui-se que o direito às férias indenizadas e ao auxílio-alimentação tem
como fato gerador o exercício efetivo concernente ao cargo público pelo servidor.
Ocorre que, na forma da jurisprudência desta Corte, anulada a demissão do servidor, sua
reintegração ao respectivo cargo público deverá lhe assegurar, em princípio, todos os efeitos
funcionais e financeiros, como se em efetivo exercício estivesse.
Presente essa premissa, tem-se que a anulação da demissão do servidor implica para a
Administração o dever de lhe pagar, relativamente ao período em que esteve indevidamente
afastado do cargo público, as parcelas remuneratórias referentes às férias indenizadas, acrescidas
de 1/3 (um terço), bem como aquelas alusivas ao auxílio-alimentação, além de seus respectivos
reflexos.
De outro giro, porém, certo é que determinadas rubricas pecuniárias, mesmo em caso de
reintegração ao cargo, não poderão ser pagas ao servidor reintegrado à conta do tão só exercício
ficto exercício das funções do cargo público, uma vez que reclamam o atendimento a requisitos
específicos, como sucede em relação ao auxílio-transporte e ao adicional de insalubridade.
Com efeito, o adicional de insalubridade somente será devido aos servidores que, nos termos do
art. 68 da Lei n. 8.112/1990, "trabalhem com habitualidade em locais insalubres ou em contato
permanente com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida".
A Primeira Seção desta Corte Superior, ao julgar o Pedido de Uniformização de Interpretação de
Lei (PUIL) n. 413/RS, pacificou o entendimento de que o pagamento do adicional de insalubridade
está condicionado ao laudo que prove efetivamente as condições insalubres a que esteja submetido
o servidor.
Idêntica conclusão se aplica ao auxílio-transporte, uma vez que seu pagamento é devido a título
de indenização pelas despesas realizadas pelo servidor ou militar com transporte coletivo
municipal, intermunicipal ou interestadual, nos deslocamentos de suas residências para os locais de
trabalho e vice-versa.

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TERCEIRA TURMA

PROCESSO REsp 1.918.949-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
07/12/2021, DJe 13/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Condomínio. Assembleia ordinária ou extraordinária.


Promitente comprador. Ciência da alienação. Imissão na
posse do imóvel. Direito a voto. Legitimidade.

DESTAQUE

Os promissários compradores têm legitimidade para participar das assembleias, ordinária ou
extraordinária, desde que tenha havido a imissão na posse da unidade imobiliária e a cientificação
do condomínio acerca da transação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge-se a controvérsia a definir se o adquirente de unidade imobiliária em condomínio, portador


de promessa de compra e venda sem averbação no registro de imóveis, tem direito de voto na
condominial.
O art. 1.335 do Código Civil de 2002 estabelece o direito do condômino de usar, fruir e livremente
dispor da sua unidade imobiliária, de utilizar-se das partes comuns e de votar nas deliberações das
assembleias. Para a última hipótese, exige-se que esteja adimplente com o pagamento das despesas
condominiais.
Nesse contexto, não há dúvidas de que o proprietário da unidade imobiliária pode exercer o
direito de voto, permitindo-lhe que constitua procurador com poderes específicos para representá-
lo na assembleia condominial.
A par disso, o art. 9º da Lei n. 4.591/1964 prescreve que "os proprietários, promitentes
compradores, cessionários ou promitentes cessionários dos direitos pertinentes à aquisição de
unidades autônomas, em edificações a serem construídas, em construção ou já construídas,
elaborarão, por escrito, a Convenção de condomínio (...)".
Ademais, o art. 1.334 do CC/2002, ao disciplinar as cláusulas obrigatórias da convenção
condominial, também dispõe que são "equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo
disposição em contrário, os promitentes compradores e os cessionários de direitos relativos às

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unidades autônomas."
Com base nos referidos dispositivos, verifica-se que os promissários compradores têm, em regra,
legitimidade para participar das assembleias - ordinária ou extraordinária -, haja vista que são
equiparados aos respectivos proprietários. Por mais que não tenham efetivamente a propriedade do
bem, que somente ocorrerá com o registro imobiliário da escritura pública, detêm um título que, a
princípio, obriga as partes negociantes em relação a determinada unidade imobiliária.
Para tanto, importa inicialmente que seja estabelecida a relação jurídica de direito material entre
as partes em relação ao imóvel, com a celebração do compromisso de compra e venda que confirme
a obrigação e a intenção de alienar o referido bem.
Todavia, para que o promissário comprador tenha a legitimidade de votar em assembleia
condominial, também há a necessidade de imissão na posse do imóvel, visto que é partir desse
momento que ele também terá o dever de arcar com as despesas condominiais, instituindo, assim, a
referida relação jurídica entre condômino e condomínio.
Ou seja, o compromisso de compra e venda firma a mera vinculação negocial entre as partes
contratantes, mas é somente a partir da imissão na posse na unidade imobiliária que será
concretizada a relação do promissário comprador com o condomínio, independentemente de o
contrato estar registrado Cartório de Imóveis.
Portanto, para a jurisprudência desta Corte, inclusive firmada no julgamento de recurso especial
repetitivo (Tema n. 886), o que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações
condominiais não é o registro do compromisso de venda e compra, mas a relação jurídica material
com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência
inequívoca do condomínio acerca da transação (REsp 1.345.331/RS, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, Segunda Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 20/4/2015).
Além disso, o condomínio precisa ser cientificado da transação e da imissão na posse, com vistas a
cumprir a vontade formalizada pelas partes. Se tal comunicação for feita pelo promissário
comprador, nada impede que o condomínio notifique o promitente vendedor se houver dúvida
razoável acerca do contrato ou simplesmente para confirmar a realização do negócio.
Dessa forma, o promissário comprador, a partir da ciência do condomínio acerca do compromisso
de compra e venda e da imissão na posse da unidade imobiliária, tem o direito de participar e de
votar nas assembleias.

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PROCESSO REsp 1.929.806-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira
Turma, por unanimidade, julgado em 07/12/2021, DJe
13/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL

TEMA Ação renovatória de locação. Diferenças dos aluguéis


vencidos. Termo inicial dos juros de mora. Prazo fixado
na sentença transitada em julgado. Intimação para o
cumprimento de sentença.

DESTAQUE

O termo inicial dos juros de mora relativos às diferenças dos aluguéis vencidos será a data para
pagamento fixada na própria sentença transitada em julgado (mora ex re) ou a data da intimação do
devedor - prevista no art. 523 do CPC/2015 - para pagamento no âmbito da fase de cumprimento de
sentença (mora ex persona)

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Cinge a controvérsia a determinar, no âmbito de ação renovatória de aluguel, o termo inicial dos
juros de mora relativos às diferenças de aluguéis vencidos.
De início, vale destacar que a sentença de procedência do pedido renovatória produz efeitos ex
tunc, isto é, o novo aluguel é devido desde o primeiro dia imediatamente posterior ao fim do
contrato primitivo.
Dessa forma, fixado o novo valor do aluguel, pode remanescer saldo relativo às diferenças de
aluguéis vencidos em favor do locador ou do locatário, a depender de o novo valor ser,
respectivamente, maior ou menor do que o original.
Com efeito, as diferenças, se existentes, a teor do art. 73 da Lei n. 8.245/1991, serão executadas
nos próprios autos da ação renovatória.
Em razão disso, na ação renovatória, a citação não tem o condão de constituir em mora o devedor,
pois, quando da sua ocorrência, ainda não é possível saber quem será o credor e quem será o
devedor das diferenças, se existentes, o que somente ocorrerá após o trânsito em julgado.
Na hipótese de ação renovatória de locação, portanto, tendo em vista que, em regra, não há mora
sem fato ou omissão imputável e sem dívida certa, líquida e exigível, é de fundamental importância
verificar se a sentença que julga procedente a pretensão autoral fixa prazo para pagamento do saldo
de aluguéis.

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Isso porque, após o trânsito em julgado, se a própria sentença marcar data para pagamento das
diferenças, incorrerá em mora o devedor que não adimplir no termo estipulado, pois esta data
integrará, definitivamente o título executivo. Trata-se de hipótese de mora ex re. Por outro lado,
inexistindo o referido prazo na própria sentença, o devedor deverá ser interpelado para pagar, sob
pena de incidir em mora. Trata-se, aqui, de mora ex persona.
Ocorre, no entanto, que o referido entendimento merece ser atualizado, levando-se em
consideração as modernas balizas do processo civil. De fato, no processo civil contemporâneo, em
virtude da adoção do chamado processo sincrético, a "citação na ação de execução" foi substituída
pela intimação do devedor para pagar no âmbito da fase de cumprimento de sentença, data que
deverá ser considerada, portanto, como termo inicial dos juros moratórios, se a própria sentença
não estipular prazo para pagamento.
Assim, pode-se afirmar que: a) renovada a locação, os novos aluguéis fixados em sentença são
devidos desde o primeiro mês subsequente o fim do contrato primitivo; b) o termo inicial dos juros
de mora relativos às diferenças dos aluguéis vencidos será a data para pagamento fixada na própria
sentença transitada em julgado (mora ex re) ou a data da intimação do devedor - prevista no art.
523 do CPC/2015 - para pagamento no âmbito da fase de cumprimento de sentença (mora ex
persona).

PROCESSO REsp 1.943.335-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira


Turma, por unanimidade, julgado em 14/12/2021, DJe
17/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Seguro empresarial contra incêndio. Seguro de dano.


Perda total do bem segurado. Limitação da indenização
ao prejuízo efetivamente experimentado.

DESTAQUE

Na hipótese de perda total do bem segurado, o valor da indenização só corresponderá ao
montante integral da apólice se o valor segurado, no momento do sinistro, não for menor.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

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Cumpre salientar que, segundo a doutrina, a indenização a ser recebida pelo segurado, no caso da
consumação do risco provocador do sinistro, deve corresponder ao real prejuízo do interesse
segurado. Há de ser apurado por perícia técnica o alcance do dano. O limite máximo é o da garantia
fixada na apólice. Se os prejuízos forem menores do que o limite máximo fixado na apólice, o
segurador só está obrigado a pagar o que realmente aconteceu.
Se a própria lei estabelece que a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse
segurado no momento da conclusão do contrato (art. 778 do CC/2002), e se o valor do bem
segurado corresponde, de ordinário, ao valor da apólice (uma vez que de outra forma não se teria
uma reparação efetiva do prejuízo sofrido, escopo maior do contrato de seguro), parece lícito
admitir que a indenização deva ser paga pelo valor integral da apólice na hipótese de perecimento
integral do bem.
Mas essa assertiva precisa ser tomada com bastante cautela. Isso porque o art. 781 do CC/2002,
inovando em relação aos art. 1.437 do CC/16 e 778 do CC/2002, e prestigiando ainda mais o
princípio indenitário, afirmou que o valor da coisa segurada, que servirá de teto para a indenização,
deve ser aferido no momento do sinistro.
Assim, o valor da coisa no momento da celebração do negócio (que corresponde de ordinário ao
valor da própria apólice) serve apenas como um primeiro limite para a indenização securitária, uma
vez que a garantia contratada não pode ultrapassar esse montante.
Como segundo limite apresenta-se o valor do bem segurado no momento do sinistro, pois é esse
valor que reflete, de fato, o prejuízo sofrido pelo segurado em caso de destruição do bem.
Vale mencionar que a regra contida na primeira parte do art. 781 do CC/2002, tem em vista a
variação na expressão econômica do interesse segurado ao longo do tempo.
Deste modo, pode ocorrer variação no valor do interesse segurado. Tal circunstância deve ser
considerada para que o sinistro não resulte em fonte de lucro para o segurado, ou, ao contrário, em
fonte de prejuízo.

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PROCESSO REsp 1.946.388-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, por maioria, julgado em 07/12/2021,
DJe 17/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR

TEMA Compra e venda de automóvel. Vício do produto.


Resolução do contrato de financiamento.
Responsabilidade de agente financeiro não vinculado à
montadora. Não cabimento. Exceção. Banco integrante do
grupo econômico da montadora.

DESTAQUE

Os agentes financeiros ("bancos de varejo") que financiam a compra e venda de automóvel não
respondem pelos vícios do produto, subsistindo o contrato de financiamento mesmo após a
resolução do contrato de compra e venda, exceto no caso dos bancos integrantes do grupo
econômico da montadora ("bancos da montadora").

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica no sentido da ausência de responsabilidade da


instituição financeira que atua como mero "banco de varejo" por vício do veículo financiado.
A exceção a esse entendimento fica por conta dos bancos integrantes do grupo econômico da
própria montadora, hipótese em que a jurisprudência estende a responsabilidade por vício do
produto para o agente financeiro.
Assim, a responsabilidade solidária entre a instituição financeira e a concessionária de
automóveis somente se perfaz quando existe vinculação entre ambas, isto é, a instituição financeira
atua como "banco da montadora", integrando a cadeia de consumo e, portanto, sendo responsável
pelo defeito no produto.

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PROCESSO REsp 1.801.518-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
14/12/2021, DJe 16/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO CIVIL, DIREITO DO CONSUMIDOR, DIREITO


PROCESSUAL CIVIL

TEMA Ação Civil Pública. Execução coletiva. Art. 98 do CDC.


Direitos individuais homogêneos. Ausência de
legitimidade do Ministério Público.


DESTAQUE

O Ministério Público não possui legitimidade para promover a execução coletiva do art. 98 do
Código de Defesa do Consumidor por ausência de interesse público ou social a justificar sua atuação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Inicialmente, cumpre salientar que os direitos individuais homogêneos, por sua própria natureza,
comportam execução individual na fase de cumprimento de sentença, conforme previsto no art. 97
do CDC.
Além da execução individual, surgem ainda duas outras possibilidades, a execução "coletiva" do
art. 98, e a execução residual (fluid recovery) prevista no art. 100, ambos do CDC.
Embora o art. 98 do CDC faça referência aos legitimados elencados no art. 82 do CDC, cumpre
observar que, na fase de execução da sentença coletiva, a cognição judicial se limita à função de
identificar o beneficiário do direito reconhecido na sentença (cui debeatur) e a extensão individual
desse direito (quantum debeatur), pois, nessa fase processual, a controvérsia acerca do núcleo de
homogeneidade do direito já se encontra superada.
Essa particularidade da fase de execução constitui óbice à atuação do Ministério Público na
promoção da execução coletiva, pois o interesse social, que justificaria a atuação do parquet, à luz do
art. 129, inciso III, da Constituição Federal, está vinculado ao núcleo de homogeneidade do direito,
sobre o qual não se controverte na fase de execução.
Segundo a doutrina, "a legitimidade do Ministério Público fica reservada para as hipóteses de
direitos difusos ou de direitos coletivos em sentido estrito ou, subsidiariamente, para a hipótese de
'coletivização' do resultado do processo, o que se dá quando a quantidade de habilitações
individuais é inexpressiva (art. 100 do Código de Defesa do Consumidor). Essa excepcionalíssima
hipótese, em que admitimos a legitimidade do Ministério Público em causas que versem direitos

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individuais homogêneos, decorre justamente dessa nova destinação do resultado concreto da ação".
Nessa linha de entendimento, impõe-se declarar a ilegitimidade ativa do Ministério Público para o
pedido de cumprimento da sentença coletiva, sem prejuízo da legitimidade para a execução residual
prevista no art. 100 do CDC.

PROCESSO REsp 1.878.653-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,


Terceira Turma, por unanimidade, julgado em

14/12/2021, DJe 17/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL CIVIL, DIREITO FALIMENTAR

TEMA Cooperativa de crédito. Liquidação pelo Banco Central do


Brasil. Submissão ao processo de falência. Cabimento.
Especialidade da Lei n. 6.024/1974 ante a Lei n.
11.101/2005.

DESTAQUE

É possível a submissão de cooperativa de crédito ao processo de falência.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Inicialmente, cumpre salientar que a cooperativa de crédito se equipara a instituição financeira,


sujeitando-se, portanto, ao regime de liquidação especial previsto na Lei n. 6.024/1974.
Como se verifica do art. 2º, inciso II da Lei n. 11.101/2005, a Lei de Recuperação Judicial e
Falência excluiu de seu âmbito de incidência as cooperativas de crédito.
Nesse passo, tendo em vista a especialidade da Lei n. 6.024/1974, o art. 2º, inciso II, da Lei n.
11.101/2005 excluiu tão somente o regime da recuperação judicial, não afastando a possibilidade
de decretação da quebra com base na previsão normativa expressa da Lei n. 6.024/1974, em seu art.
21, alínea b, com natural aplicação das disposições da Lei n. 11.101/2005, em caráter subsidiário.
A doutrina afirma que "a cooperativa de crédito distingue-se das cooperativas em geral. Enquanto
as primeiras, por desempenharem atividade de intermediação financeira, poderão ser submetidas à
falência, as cooperativas em geral são consideradas pela Lei sociedades simples,
independentemente do objeto por elas desenvolvido (art. 982, parágrafo único, do CC)".
Deste modo, admite-se a possibilidade de decretação da quebra de sociedades cooperativas de

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crédito.

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SEXTA TURMA

PROCESSO <<AgRg nos EDcl no >>REsp 1.863.977-SC, Rel. Min.


Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
14/12/2021, DJe 17/12/2021.

RAMO DO DIREITO DIREITO PENAL

TEMA Contravenção de perturbação da tranquilidade. Art. 65


do Decreto-Lei n. 3.688/1941. Revogação pela Lei n.
14.132/2021. Abolitio criminis. Princípio da
continuidade normativo-típica. Incidência.

DESTAQUE

A revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade - art. 65 do Decreto-Lei n.
3.688/1941 - pela Lei n. 14.132/2021, não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação
a todos os fatos que estavam enquadrados na referida infração penal.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

De início, convém analisar a Lei n. 14.132, de 31 de março de 2021, a qual acrescentou o art. 147-
A ao Código Penal, para prever o crime de perseguição, conhecido como stalking, e revogou o art. 65
da Lei das Contravenções Penais.
Segundo o art. 147-A do Código Penal, constitui crime "perseguir alguém, reiteradamente e por
qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade". A pena é de reclusão de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Como já dito, a par de criar um novo tipo penal, a Lei n. 14.132/2021 revogou expressamente o
artigo 65 da Lei das Contravenções Penais, cuja redação era a seguinte: "Artigo 65 - Molestar alguém
ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de
quinze dias a dois meses, ou multa".
Com efeito, a revogação da contravenção de perturbação da tranquilidade pela Lei n.
14.132/2021, não significa que tenha ocorrido abolitio criminis em relação a todos os fatos que
estavam enquadrados na referida infração penal.
De fato, a parte final do art. 147-A do Código Penal prevê a conduta de perseguir alguém,
reiteradamente, por qualquer meio e "de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de

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liberdade ou privacidade", circunstância que, a toda evidência, já estava contida na ação de
"molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável", quando
cometida de forma reiterada, porquanto a tutela da liberdade também abrange a tranquilidade.
No caso, está consignado que o acusado, mesmo depois de processado e condenado em primeira
instância pelo mesmo crime (art. 65 da LCP), cometido contra a mesma vítima, voltou a tentar
contato ao lhe enviar três e-mails e um presente.
Assim, considerando que o comportamento é reiterado - ação que, no momento atual, está
contida no art. 147-A do Código Penal, em razão do princípio da continuidade normativo-típica -, de
rigor, no caso, a incidência da lei anterior mais benéfica (art. 65 do Decreto Lei n. 3.688/1941).

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