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Julgado Conflito

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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 181.190 - AC (2021/0221593-7)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


SUSCITANTE : CONCRENORTE INDUSTRIA DE ARTEFATOS DE CONCRETO
EIRELI - EM - EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
ADVOGADOS : THALES ROCHA BORDIGNON - AC002160
VANESSA FANTIN MAZOCA DE ALMEIDA PRADO - SP214894
MARCELO FEITOSA ZAMORA - AC004711
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 2A VARA CÍVEL DE RIO BRANCO - AC
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 3A VARA CÍVEL E CRIMINAL DO ACRE - SJ/AC
INTERES. : FAZENDA NACIONAL
EMENTA

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA PELA FAZENDA NACIONAL


CONTRA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. REJEIÇÃO DA EXCEÇÃO DE
PRÉ-EXECUTIVIDADE, COM O PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO, A AUTORIZAR A
CONSTRIÇÃO JUDICIAL DOS BENS DA RECUPERANDA. A CARACTERIZAÇÃO DE
CONFLITO DE COMPETÊNCIA PERANTE ESTA CORTE DE JUSTIÇA PRESSUPÕE A
MATERIALIZAÇÃO DA OPOSIÇÃO CONCRETA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO FISCAL À
EFETIVA DELIBERAÇÃO DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL A RESPEITO DO ATO
CONSTRITIVO. CIRCUNSTÂNCIA NÃO VERIFICADA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA NÃO
CONHECIDO.
1. O dissenso constante do presente incidente centra-se em saber se o Juízo em que se
processa a execução fiscal contra empresa em recuperação judicial, ao rejeitar a exceção de
pré-executividade e determinar o prosseguimento do feito executivo, com a realização de
atos constritivos sobre o patrimônio da executada –, invade ou não a competência do Juízo
da recuperação judicial, segundo dispõe o § 7º-B do art. 6º da Lei de Recuperação e
Falência, com redação dada pela Lei n. 14.112/2020.
2. A divergência jurisprudencial então existente entre esta Segunda Seção e as Turmas
integrantes da Seção de Direito Público do Superior Tribunal de Justiça acabou por se
dissipar em razão da edição da Lei n. 14.112/2020, que, a seu modo, delimitou a
competência do Juízo em que se processa a execução fiscal (a qual não se suspende pelo
deferimento da recuperação judicial) para determinar os atos de constrição judicial sobre os
bens da recuperanda; e firmou a competência do Juízo da recuperação judicial para, no
exercício de um juízo de controle, "determinar a substituição dos atos de constrição que
recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o
encerramento da recuperação judicial".
3. Ainda que se possa reputar delimitada, nesses termos, a extensão da competência dos
Juízos da execução fiscal e da recuperação judicial a respeito dos atos constritivos
determinados no feito executivo fiscal, tem-se, todavia, não se encontrar bem evidenciado,
até porque a lei não o explicita, o modo de como estas competências se operacionalizam na
prática, de suma relevância à caracterização do conflito positivo de competência perante esta
Corte de Justiça.
3.1 É justamente nesse ponto – em relação ao qual já se antevê uma tênue dispersão nas
decisões monocráticas e que motivou a submissão da presente questão a este Colegiado –
que se reputa necessário um direcionamento seguro por parte do Superior Tribunal de
Justiça, para que o conflito de competência perante esta Corte Superior não seja mais
utilizado, inadvertidamente, como mero subterfúgio para se sobrestar a execução fiscal (ao
arrepio da lei), antes de qualquer deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito da
constrição judicial realizada, e, principalmente, antes de uma decisão efetivamente proferida
pelo Juízo da execução fiscal que se oponha à deliberação do Juízo da recuperação judicial
acerca da constrição judicial.
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4. A partir da vigência da Lei n. 14.112/2020, com aplicação aos processos em trâmite (afinal
se trata de regra processual que cuida de questão afeta à competência), não se pode mais
reputar configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça pelo só fato de o
Juízo da recuperação ainda não ter deliberado sobre a constrição judicial determinada no
feito executivo fiscal, em razão justamente de não ter a questão sido, até então, a ele
submetida.
4.1 A submissão da constrição judicial ao Juízo da recuperação judicial, para que este
promova o juízo de controle sobre o ato constritivo, pode ser feita naturalmente, de ofício,
pelo Juízo da execução fiscal, em atenção à propugnada cooperação entre os Juízos. O §
7ª-B do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 apenas faz remissão ao art. 69 do CPC/2015, cuja
redação estipula que a cooperação judicial prescinde de forma específica. E, em seu §
2º, inciso IV, estabelece que "os atos concertados entre os juízos cooperantes poderão
consistir, além de outros, no estabelecimento de procedimento para a efetivação de
medidas e providências para recuperação e preservação de empresas".
4.2 Caso o Juízo da execução fiscal assim não proceda, tem-se de todo prematuro falar-se
em configuração de conflito de competência perante esta Corte de Justiça, a pretexto, em
verdade, de obter o sobrestamento da execução fiscal liminarmente. Não há, por ora, nesse
quadro, nenhuma usurpação da competência, a ensejar a caracterização de conflito perante
este Superior Tribunal. A inação do Juízo da execução fiscal – como um "não ato" que é –
não pode, por si, ser considerada idônea a fustigar a competência do Juízo recuperacional
ainda nem sequer exercida.
4.3 Na hipótese de o Juízo da execução fiscal não submeter, de ofício, o ato constritivo ao
Juízo da recuperação judicial, deve a recuperanda instar o Juízo da execução fiscal a fazê-lo
ou levar diretamente a questão ao Juízo da recuperação judicial, que deverá exercer seu
juízo de controle sobre o ato constritivo, se tiver elementos para tanto, valendo-se, de igual
modo, se reputar necessário, da cooperação judicial preconizada no art. 69 do CPC/2015.
5. Em resumo, a caracterização de conflito de competência perante esta Corte de Justiça
pressupõe a materialização da oposição concreta do Juízo da execução fiscal à efetiva
deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito do ato constritivo.
6. Conflito de competência não conhecido.
ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do conflito de competência e revogar liminar anteriormente deferida pela
Presidência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul
Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco
Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Brasília, 30 de novembro de 2021 (data do julgamento).

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 181.190 - AC (2021/0221593-7)

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:

Trata-se de conflito de competência suscitado por Concrenorte Indústria de


Artefatos de Concreto Eireli – Em Recuperação Judicial –, apontando como suscitados o
Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Rio Branco/AC e o Juízo Federal da 3ª Vara Cível e
Criminal do Acre – SJ/AC.

Alega a suscitante que, em 29/12/2017, ingressou com pedido de


recuperação judicial, tramitando perante a 2ª Vara Cível de Rio Branco/AC, sob o
n. 0717143-61.2017.8.01.0001.

Informa que, no dia 08/02/2018, houve o deferimento do processamento do


pedido de recuperação judicial da empresa suscitante; e, no dia 13/08/2019, o plano de
recuperação judicial foi devidamente aprovado pela assembleia de credores,
encontrando-se em fase de cumprimento, com prazos de carência e os parcelamentos
que se estendem por até 12 (doze) anos.

Afirma que "o Juízo da 3ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado
do Acre, nos autos da Ação de Execução Fiscal ajuizada pela Fazenda Nacional, sem
levar em consideração a decisão proferida pelo juízo da 2ª Vara Cível de Rio Branco/AC,
que homologou o plano de recuperação judicial e concedeu à recuperação judicial a
empresa Concrenorte Indústria de Artefatos de Concreto-Eireli, rejeitou a exceção de
pré-executividade apresentada pela empresa suscitante e determinou a intimação da
exequente para promover o prosseguimento da execução [em que se objetiva o
pagamento de R$ 693.748,07 – seiscentos e noventa e três mil setecentos e quarenta e
oito reais e sete centavos], requerendo o que entender de direito" (e-STJ, fl. 4).

Entende, nesse contexto, estar caracterizado o conflito ora suscitado,


devendo prevalecer a competência do Juízo da recuperação judicial para deliberar sobre
seu patrimônio, principalmente sobre penhora de valores destinados ao pagamento dos
seus credores. Defende, a esse propósito, que, embora "as execuções fiscais não se
suspendam em razão de recuperação judicial, são vedados atos judiciais que reduzam o

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patrimônio da empresa em recuperação judicial, devendo passar pelo crivo do juízo
universal a prática de qualquer ato de execução voltado contra o patrimônio das empresas
em recuperação judicial" (e-STJ, fl. 9).

Anota haver "entendimento pacífico na jurisprudência deste Superior Tribunal


de Justiça de que compete apenas ao Juízo de Falências e Recuperações Judiciais a
prática de atos de execução em face de empresa que enfrenta Recuperação Judicial"
(e-STJ, fl. 9).

Postula, ao final (e-STJ, fls. 27-28 - sem grifos no original):

a) O conhecimento e processamento deste conflito de competência e


conceda liminarmente, sem a oitiva da parte contrária, para
reconhecer a incompetência do d. Juízo da 3ª Vara Federal Cível e
Criminal da Seção Judiciária do Estado do Acre e declarar sem efeitos
os atos executórios por ele determinados, suspendendo-se o
processo de execução 1000500-07.2020.4.01.3000, até decisão final
de mérito;

b) Seja designada a oitiva dos juízos suscitados (3ª Vara Federal Cível
e Criminal da Seção Judiciária do Estado do Acre e 2ª Vara Cível da
Comarca de Rio Branco/AC), como dispõe o art. 954, do Código de
Processo Civil;

c) Seja reconhecida a incompetência absoluta do Juízo da 3ª Vara


Federal Cível e Criminal da Seção Judiciária do Estado do Acre,
julgando procedente a demanda e determinando que a competência
para executar o Plano de Recuperação Judicial e ordenar atos de
constrição patrimonial seja da 2ª Vara Cível da Comarca de Rio
Branco–AC, submetendo-se o crédito ao Plano de Recuperação
Judicial, estabelecendo, por consequência lógica, a suspensão
de qualquer ato executório visando a constrição e alienação
patrimonial determinado pelo Juízo Federal.

A Presidência do Superior Tribunal de Justiça deferiu o pedido liminar "para


suspender, até ulterior deliberação do relator, os atos executórios promovidos pelo Juízo
Federal da 3ª Vara Cível e Criminal do Acre (SJ/AC), na Execução Fiscal n.
1000500-07.2020.4.01.3000 ajuizada pela Fazenda Nacional" (e-STJ, fl. 592), nos termos
da seguinte fundamentação:

Inicialmente, observa-se que as execuções fiscais não estão


sujeitas aos efeitos da recuperação judicial da devedora e,
notadamente, às suspensões e restrições determinadas pelo art. 6º,
incisos I, II e III, da Lei n. 11.101/2005, com redação dada pela Lei n.
14.112/2020.
Entretanto, conforme a nova sistemática legal, cabe ao Juízo da
recuperação judicial determinar a substituição dos atos de
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constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à
manutenção da atividade empresarial até o encerramento
da recuperação judicial, a qual será implementada mediante
a cooperação jurisdicional, conforme o art. 6º, § 7º-B, da
Lei n. 11.101/2005, com redação dada pela Lei n. 14.112/2020.
Evidentemente, cabe ao Juízo da recuperação judicial definir a
qualidade do bem de capital constrito na execução fiscal como
essencial, bem como cabe àquele Juízo determinar a sua substituição
por outro ativo da devedora em recuperação judicial, em atividade
cooperativa com o Juízo da execução fiscal.
Assim, até que seja definida a qualidade do bem constrito e
implementada a referida cooperação jurisdicional para sua
substituição, deve a execução fiscal permanecer suspensa.
Verifica-se, portanto, a presença do fumus boni iuris relativo ao
pedido de suspensão da execução fiscal.
O periculum in mora, por sua vez, está demonstrado por meio da
decisão do Juízo suscitado, que determinou o prosseguimento da
execução movida contra a empresa suscitante (fls. 33-35).

O Juízo da 3ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado do Acre


prestou as informações solicitadas, nestes termos (e-STJ, fls. 598-602):

Na execução fiscal n. 1000500-07.2020.4.01.3000, em trâmite nesta


Vara Federal, a empresa executada apresentou exceção de
pré-executvidade, objetivando a suspensão e/ou cancelamento dos
atos de constrição contra seu patrimônio, em razão do noticiado
deferimento da sua Recuperação Judicial.
A decisão proferida rejeitou o pedido da executada, sob o
fundamento de que a Lei de Falências, com a redação dada pela Lei
n. 14.112/2020, não proíbe a prática de atos constritivos pelo juízo da
execução fiscal, mas permite eventual substituição por parte do juízo
universal. Nesses termos:
[...]
Dessa forma, a decisão encontra-se fundamentada em
expressa disposição legal. São estas as informações.

O Ministério Publico Federal ofertou parecer pelo conhecimento do conflito,


declarando-se a competência do Juízo em que se processa a recuperação judicial da
suscitante, sintetizado pela ementa abaixo reproduzida (e-STJ, fl. 641):

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


EXECUÇÃO FISCAL. ART. 6º, § 7º-B, DA LEI 11.101/2005.
RELATIVIZAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL.
1. O deferimento da recuperação judicial não suspende a execução
fiscal, consoante o § 7º-B do art. 6º da Lei 11.101/2005. Contudo, a
competência para exercer o controle sobre os atos de constrição do
patrimônio da empresa recuperanda é do juízo universal, tendo em
vista o princípio da preservação da empresa e o

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entendimento consolidado desse Superior Tribunal de Justiça.
2. Parecer pela competência do juízo universal.

Às fls. 648-664 (e-STJ), a Fazenda Nacional noticia que, em 26 de outubro


de 2021, sobreveio sentença de encerramento da recuperação judicial, o que evidenciaria,
em sua compreensão, a perda superveniente de objeto do presente conflito de
competência.

Subsidiariamente, defende a inexistência de conflito de competência,


pugnando, assim, pelo não conhecimento do presente incidente, reputando, todavia, "ser
importantíssimo que a Segunda Seção julgue um leading case acerca do artigo 6º, § 7-B
da Lei n. 11.101/05, definindo sua interpretação e alcance.

É o relatório.

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 181.190 - AC (2021/0221593-7)

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):

Antes, propriamente, de adentrar na questão posta quanto à configuração de


conflito de competência entre os Juízos suscitados, relevante sopesar a matéria trazida
pela Fazenda Nacional a respeito da prejudicialidade do presente incidente, considerada a
prolação de sentença de encerramento da recuperação judicial na data de 26/10/2021.

Em pesquisa sobre o andamento processual da recuperação judicial da


suscitante (Processo n. 0717143-61.2017.8.01.0001), no sítio eletrônico do Tribunal de
Justiça do Estado do Acre, constatou-se que a sentença de encerramento da recuperação
judicial ainda não transitou em julgado, ante a interposição de insurgência recursal (ut
https://esaj.tjac.jus.br/cpopg/show.do?processo.codigo=01000BAJ60000&processo.foro=1&pr
ocesso.numero=0717143-61.2017.8.01.0001&uuidCaptcha=sajcaptcha_03fe4f33caa94dbc9
80e508b23e7049c).

De acordo com a uníssona jurisprudência da Segunda Seção do STJ, a


sentença de encerramento da recuperação judicial, enquanto não transitada em julgado,
não tem o condão de tornar sem objeto o conflito de competência, viabilizando, pois, em
caso de configuração da usurpação da competência do Juízo recuperacional, seu
conhecimento e julgamento de mérito, do que são exemplos os seguintes julgados:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE


COMPETÊNCIA. JUÍZO DO TRABALHO E JUÍZO DA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
PARA A PRÁTICA DE ATOS EXECUTÓRIOS OU CONSTRITIVOS QUE
PERSISTE ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA QUE
DECLARA O ENCERRAMENTO DO PROCESSO.
1. Nos termos da jurisprudência consolidada desta Corte, é
competente o juízo universal para prosseguimento de atos de
execução que incidam sobre o patrimônio de empresa em processo
falimentar ou de recuperação judicial.
2. Não compete ao juízo trabalhista interferir no acervo
patrimonial da suscitante enquanto não houver a certificação
do trânsito em julgado da sentença que declara o
encerramento da sua recuperação judicial.
3. Nos estreitos limites cognitivos do conflito de competência, cabe a
esta Corte apenas declarar o juízo competente para dirimir a
controvérsia. Qualquer questão referente à reserva e/ou registro do
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crédito do ora agravante no Quadro Geral de Credores deve ser
apresentada ao juízo competente.
4. Agravo interno não provido.
(AgInt no CC 167.826/PA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA
SEÇÃO, julgado em 18/08/2020, DJe 21/08/2020)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA.


SENTENÇA DE ENCERRAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SEM
TRÂNSITO EM JULGADO.
1. A jurisprudência do STJ, em casos de recebimento, no duplo
efeito, do recurso de apelação interposto contra sentença de
encerramento da recuperação judicial, tem se erigido no
sentido de que, não tendo ocorrido o trânsito em julgado dessa
decisão, permanece a competência do juízo da recuperação
para deliberar acerca do patrimônio da empresa recuperanda.
2. No caso, a sentença de encerramento da recuperação judicial ainda
não transitou em julgado, encontrando-se o processo ainda ativo e
com despachos recentes do Juízo recuperacional.
3. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no AgInt no CC 169.765/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 01/12/2020, DJe
10/12/2020) E ainda: AgRg no CC 142.082/DF, Segunda Seção, DJe
19/3/2020; AgInt nos Edcl no CC 158.249/SP, Segunda Seção, DJe
21/11/2018.

Afasta-se, assim, a alegação de perda superveniente do objeto do presente


conflito de competência.

A controvérsia inserta no presente incidente centra-se em saber se o Juízo


em que se processa a execução fiscal contra empresa em recuperação judicial, ao rejeitar
a exceção de pré-executividade e determinar o prosseguimento do feito executivo, com a
realização de atos constritivos sobre o patrimônio da executada –, invade ou não a
competência do Juízo da recuperação judicial, segundo dispõe o § 7º-B do art. 6º da Lei de
Recuperação e Falência, com redação dada pela Lei n. 14.112/2020.

Registre-se, de início, que a novel legislação promoveu, a seu modo, a


conciliação dos posicionamentos divergentes entre si, perfilhados por esta Segunda Seção
e pela Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, o que ensejou a desafetação do
Tema 987 pela Primeira Seção (ut REsp ) e corroborou para tornar sem relevância o
julgamento do Conflito de Competência n 144.433/GO, afetado à Corte Especial, que veio
a, inclusive, perder, posteriormente, seu objeto, em virtude do encerramento da
recuperação judicial, com decisão transitada em julgado.

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Relembre-se que, antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, as Turmas
integrantes da Primeira Seção já adotavam a compreensão de que "a execução fiscal não
se suspende pelo deferimento da recuperação judicial, permitindo-se a realização de atos
constritivos, máxime quando evidenciada a inércia da empresa recuperanda em adotar as
medidas necessárias à suspensão da exigibilidade dos créditos tributários, em especial,
por meio do parcelamento especial disciplinado pelo art. 10-A da Lei n. 10.522/2002,
incluído pela Lei 13.043/2014" (ut REsp 1.673.421/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 17/10/2017, DJe 23/10/2017).

Citam-se, ainda: AgRg no AREsp 707.833/DF, Rel. Ministro Herman


Benjamin, Segunda Turma, julgado em 03/09/2015, DJe 10/11/2015; REsp 1.480.559/RS,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 03/02/2015, DJe 30/03/2015.

Por sua vez, esta Segunda Seção, diversamente, em conflito de


competência entre os Juízos da recuperação judicial e da execução fiscal, reconhecia a
competência do primeiro, assentando que, embora a execução fiscal não se suspenda, os
atos de constrição e de alienação de bens voltados contra o patrimônio social das
sociedades empresárias submetem-se ao Juízo universal, em homenagem ao princípio da
conservação da empresa. A Seção de Direito Privado do Superior Tribunal de Justiça
adotou o posicionamento, ainda, de que a edição da Lei n. 13.043/2014 – que acrescentou
o art. 10-A à Lei n. 10.522/2002 e disciplinou o parcelamento de débitos de empresas em
recuperação judicial – não descaracterizava o conflito de competência, tampouco tem o
condão de alterar o entendimento jurisprudencial destacado, conforme decidiu a Segunda
Seção por ocasião do julgamento do AgRg no CC 136.130/SP, Relator o Ministro Raul
Araújo, Relator p/ Acórdão Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em
13/05/2015, DJe 22/06/2015.

Com essa compreensão, destacam-se, ainda: AgInt no CC 150.414/SP, Rel.


Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em 22/11/2017, DJe 04/12/2017;
AgInt no CC 149.641/PR, Rel. Ministro Marco Buzzi, Segunda Seção, julgado em
22/11/2017, DJe 28/11/2017; AgInt no CC 150.571/MG, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, Segunda Seção, julgado em 08/11/2017, DJe 20/11/2017; AgInt no CC 138.810/PE,
Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, julgado em 08/11/2017, DJe 23/11/2017;
AgInt no CC 49.827/RN, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em
27/09/2017, DJe 29/09/2017); AgInt no CC 144.157/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,

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Segunda Seção, julgado em 26/04/2017, DJe 03/05/2017.

Como adiantado, o dissenso jurisprudencial então existente entre esta


Segunda Seção e as Turmas integrantes da Seção de Direito Público desta Corte de
Justiça acabou por se dissipar em razão da edição da Lei n. 14.112/2020, que, a seu
modo, delimitou a competência do Juízo em que se processa a execução fiscal (a qual
não se suspende pelo deferimento da recuperação judicial) para determinar os atos de
constrição judicial sobre os bens da recuperanda; e firmou a competência do Juízo da
recuperação judicial "para determinar a substituição dos atos de constrição que
recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial
até o encerramento da recuperação judicial".

Confira-se a redação do § 7º-B do art. 6º da LRF, com redação dada pela Lei
n. 14.112/2020:

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento


da recuperação judicial implica:
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor
sujeitas ao regime desta Lei;
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive
daquelas dos credores particulares do sócio solidário, relativas a
créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência;
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora,
sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial
sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou
extrajudiciais cujos créditos ou obrigações sujeitem-se à recuperação
judicial ou à falência.
[...]
§ 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não
se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a
competência do juízo da recuperação judicial para determinar a
substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de
capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o
encerramento da recuperação judicial, a qual será
implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do
art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido
Código.

Em relação à extensão dessa competência, definida pela Lei n. 14.112/2020,


há um julgado recente desta Segunda Seção, em agravo interno, que reconhece a
competência do Juízo da execução fiscal, seja para determinar o prosseguimento do feito,
seja para determinar a constrição judicial de bem da recuperanda; e delimita, de outro
vértice, a competência do Juízo recuperacional para realizar o controle sobre tais atos de
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constrição e de disposição sobre o patrimônio da recuperanda, podendo, em seus dizeres,
"substituí-los, mantê-los ou até mesmo torná-los sem efeito".

Refiro-me ao seguinte julgado (sem grifos no original):

AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA.


RECUPERAÇÃO JUDICIAL. FALÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL.
TRAMITAÇÃO. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE SUSPENSÃO.
POSSIBILIDADE DE CITAÇÃO E PENHORA NO JUÍZO DA EXECUÇÃO
FISCAL. NECESSÁRIO CONTROLE DOS ATOS DE CONSTRIÇÃO
PELO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. Os atos de execução dos créditos individuais e fiscais promovidos
contra empresas falidas ou em recuperação judicial, tanto sob a égide
do Decreto-Lei n. 7.661/45 quanto da Lei n. 11.101/2005, devem ser
realizados pelo Juízo universal. Inteligência do art. 76 da Lei n.
11.101/2005.
2. Tal entendimento estende-se às hipóteses em que a penhora seja
anterior à decretação da falência ou ao deferimento da recuperação
judicial. Ainda que o crédito exequendo tenha sido constituído depois
do deferimento do pedido de recuperação judicial (crédito
extraconcursal), a jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de
que, também nesse caso, o controle dos atos de constrição
patrimonial deve prosseguir no Juízo da recuperação. Precedentes.
3. O deferimento da recuperação judicial não possui o condão
de sobrestar a execução fiscal, todavia, conquanto o
prosseguimento da execução fiscal e eventuais embargos, na
forma do art. 6º, § 7º-B, da Lei 11.101/2005, com redação dada
pela Lei 14.112, de 2020, deva se dar perante o juízo federal
competente - ao qual caberão todos os atos processuais,
inclusive a ordem de citação e penhora -, o controle sobre atos
constritivos contra o patrimônio da recuperanda é de
competência do Juízo da recuperação judicial, tendo em vista o
princípio basilar da preservação da empresa.
4. Em outros termos, o Juízo da execução fiscal poderá
determinar a constrição bens e valores da recuperanda,
todavia, o controle de tais atos é incumbência exclusiva do
Juízo da recuperação, o qual poderá substituí-los, mantê-los
ou, até mesmo torná-los sem efeito, tudo buscando o
soerguimento da empresa, haja vista a sua elevada função
social.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no CC 177.164/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 31/08/2021, DJe 09/09/2021)

Ainda que se possa reputar delimitada, nesses termos, a extensão da


competência dos Juízos da execução fiscal e da recuperação judicial a respeito dos atos
constritivos determinados no feito executivo fiscal, tem-se, todavia, não se encontrar
bem evidenciado, até porque a lei não o explicita, o modo de como estas

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competências se operacionalizam na prática, de suma relevância à caracterização
do conflito positivo de competência perante esta Corte de Justiça.

É justamente nesse ponto – em relação ao qual já se antevê uma tênue


dispersão nas decisões monocráticas que se seguiram após o referido julgado e que
motivou a submissão da presente questão a este Colegiado – que considero ser
necessário um direcionamento seguro por parte desta Corte de Justiça, para que o conflito
de competência perante este Superior Tribunal não seja mais utilizado, inadvertidamente,
como mero subterfúgio para se sobrestar a execução fiscal (ao arrepio da lei), antes de
qualquer deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito da constrição judicial
realizada, e, principalmente, antes de uma decisão efetivamente proferida pelo
Juízo da execução fiscal que se oponha à deliberação do Juízo da recuperação
judicial acerca da constrição judicial.

Insta ressaltar, no ponto, que a Lei n. 14.112/2020, embora tenha promovido,


a seu modo, a conciliação dos entendimentos então perfilhados pelas Turmas da Primeira
Seção do Superior Tribunal de Justiça e por esta Segunda Seção, não deixou de
representar uma alteração na compreensão então adotada por este Colegiado quanto à
caracterização dos conflitos de competência.

Bastava, pois, à caracterização do conflito perante esta Corte de


Justiça, que a parte interessada mostrasse a mera "pretensão constritiva
direcionada ao patrimônio da empresa em recuperação judicial" (AgInt no CC
172.416/SC, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em 1º/12/2020,
DJe 09/12/2020). Nessa medida, era suficiente à caracterização do conflito, o mero
prosseguimento do feito executivo ou a determinação de constrição judicial,
reconhecendo-se, pois, a prevalência do Juízo da recuperação judicial para deliberar sobre
qualquer ato que se voltasse contra o patrimônio da recuperanda.

O tratamento legal dado pelo art. 6º, § 7º-B, da Lei 11.101/2005 não autoriza
mais reputar configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça em virtude
da decisão proferida pelo Juízo da execução fiscal que, no exercício de sua competência,
determine a constrição judicial.

Efetivamente, a partir da vigência da Lei n. 14.112/2020, com aplicação aos


processos em trâmite (afinal se trata de regra processual que cuida de questão afeta à
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competência), o Juízo da execução fiscal, ao determinar o prosseguimento do feito
executivo ou, principalmente, a constrição judicial de bem da recuperanda, não adentra
indevidamente na competência do Juízo da recuperação judicial, não ficando
caracterizado, até esse momento, nenhum conflito de competência perante esta Corte de
Justiça.

Com a vênia daqueles que entendem de modo diverso, não se pode mais
reputar configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça pelo só fato de o
Juízo da recuperação ainda não ter deliberado sobre a constrição judicial, em razão
justamente de não ter a questão sido, até então, a ele submetida.

Com essa diretriz – da qual ora se dissuade –, citam-se, na mesma senda


do referido AgInt no CC n. 177.164/SP, as seguintes decisões monocráticas: EDcl no CC
172.258/SP, Relator Ministro Marco Buzzi, de 1º/10/2021; CC 182.902/SC, Relatora
Ministra Nancy Andrighi [liminar], Dje 21/9/2021; e CC 181.431/SP, Relator Ministro Luis
Felipe Salomão, DJe 27/09/2021, com destaque para esta última que reputou
caracterizado o conflito de competência perante esta Corte de Justiça em razão da não
submissão, até aquele momento, do ato constritivo ao Juízo da recuperação judicial,
nestes termos (sem grifos no original):

[...]
Em outros termos, o Juízo da execução fiscal poderá determinar a
constrição de bens e valores da recuperanda, todavia, o controle de
tais atos é incumbência exclusiva do Juízo da recuperação, o qual
poderá substituí-los, mantê-los ou, até mesmo torná-los sem efeito,
tudo buscando o soerguimento da empresa, haja vista a sua elevada
função social.
3. No caso sob análise, evidencia-se o conflito de competência
entre o JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DE BEBEDOURO -
SP, que deferiu o cujo pedido de recuperação judicial em
16/02/2018, o qual encontra-se em tramitação (fls. 224-226) e o
JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA DE RIBEIRÃO PRETO - SJ/SP que
determinou a constrição de valores de titularidade da
suscitante com a finalidade de quitar o débito da execução
fiscal nº 5008681- 46.2018.4.03.6102 (fl. 06), sem que tal
constrição fosse submetida ao crivo do Juízo da recuperação.
Como afirmado acima, as execuções fiscais não se suspendem com o
deferimento da recuperação judicial, nada obstante há necessidade
de análise dos constritivos pelo Juízo da recuperação.

Nessa linha, cabe destacar, ainda, decisão monocrática, em situação similar


à tratada nos autos, em que se conheceu do conflito de competência "para estabelecer

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que os atos de alienação ou de constrição que possam comprometer o cumprimento do
plano de reorganização da empresa, somente serão efetivados após a anuência do
Juízo da recuperação judicial, sem prejuízo do prosseguimento da execução fiscal
objeto da controvérsia, em outros aspectos" (CC 178.230/AL, Relator Ministro Raul Araújo,
DJe 30/09/.2021).

Faz-se a menção aos julgados monocráticos apenas para evidenciar a


noticiada dispersão das decisões desta Corte Superior, que, embora não divirjam quanto à
extensão da competência propriamente dita dos Juízos da execução fiscal e da
recuperação judicial, há um claro dissenso a respeito do modo como tais competências se
operacionalizam na prática, questão absolutamente recente.

Diversamente, permissa venia, tem-se por necessário à configuração do


conflito de competência perante esta Corte de Justiça que o Juízo da execução fiscal se
oponha, concretamente, à superveniente deliberação do Juízo da recuperação judicial
a respeito da constrição judicial, determinando a substituição do bem constrito ou
tornando-a sem efeito, ou acerca da essencialidade do bem de capital constrito.

A submissão da constrição judicial ao Juízo da recuperação judicial, para


que este promova um juízo de controle sobre o ato constritivo, pode ser feita naturalmente,
de ofício, pelo Juízo da execução fiscal, em atenção à propugnada cooperação entre os
Juízos.

Caso o Juízo da execução fiscal assim não proceda, tem-se de todo


prematuro falar-se em configuração de conflito de competência perante esta Corte de
Justiça, a pretexto, em verdade, de obter o sobrestamento da execução fiscal
liminarmente. Não há, por ora, nesse quadro, nenhuma usurpação da competência, a
ensejar a caracterização de conflito perante esta Corte de Justiça. A inação do Juízo da
execução fiscal – como um "não ato" que é – não pode, por si, ser considerada idônea a
fustigar a competência do Juízo da recuperação judicial ainda nem sequer exercida.

No ponto, anota-se que o § 7ª-B do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 apenas faz


remissão ao art. 69 do CPC/2015, cuja redação estipula que a cooperação judicial
prescinde de forma específica. Em seu § 2º, inciso IV, estabelece-se que "os atos
concertados entre os juízos cooperantes poderão consistir, além de outros, no
estabelecimento de procedimento para a efetivação de medidas e providências para

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recuperação e preservação de empresas".

Naturalmente, a cooperação judicial pode se dar também por provocação


das partes interessadas.

Reproduz-se, a propósito, comentário da doutrina especializada a respeito


da modificação legislativa em comento (sem grifos no original):

A Lei faz ressalva expressa a respeito das aplicações dos incs. I, II e III
também às execuções fiscais, que têm seu trâmite garantido no curso
da recuperação judicial.
Todavia, da mesma forma que em relação à cobrança de créditos não
sujeitos, caso seja determinada a restrição sobre bem essencial, fica
assegurada a substituição de tais bens por outros não essenciais, de
valor equivalente.
Dessa forma, fica garantida a execução fiscal sem inviabilizar a
recuperação judicial da empresa devedora. Tanto no disposto no §
7°-A quanto no § 7°-B existe disposição sobre o princípio da
cooperação judicial previsto no art. 69 do CPC/2015, que
disciplina que os órgãos do Poder Judiciário devem, sempre
que solicitados, cooperar em relação a diversos atos do
processo.
(Costa, Daniel Carnio. Comentários à lei de recuperação de empresas
e falência: Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 / Daniel Carnio
Costa, Alexandre Correa Nasser de Melo, 2. ed., Curitiba: Juruá, 2021,
página 97)

Assim, na hipótese de o Juízo da execução fiscal não submeter o ato


constritivo ao Juízo da recuperação judicial, deve a recuperanda instar o Juízo da
execução fiscal a fazê-lo ou levar diretamente a questão ao Juízo da recuperação
judicial, que deverá exercer seu juízo de controle sobre o ato constritivo, se tiver
elementos para tanto, valendo-se, de igual modo, se reputar necessário, da cooperação
judicial preconizada no art. 69 do CPC/2015.

A caracterização de conflito de competência, como dito, pressupõe a


materialização da oposição concreta do Juízo da execução fiscal à efetiva
deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito do ato constritivo.

Essa linha de decidir, tem sido adotada por este subscritor (ut CC
183.127/AC, DJe 1º/10/2021; CC 182.052/PE, DJe 1º/10/2021, entre outros). Citam-se, da
lavra de outros Ministros, com essa diretriz, as seguintes decisões monocráticas: CC
182.959/GO, Relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 30/09/2021; CC 182.790/SC,
Relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 30/09/2021; CC182.647/RN, Relatora Ministra

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Maria Isabel Gallotti, DJe 23/09/2021 (entre outras), com destaque para o último decisum,
em que S. Exa fez constar de seu teor estas considerações:

[...]
Desse modo, de acordo com a nova sistemática legal, a atuação
do juízo da recuperação judicial ficou restrita ao juízo de
essencialidade do bem constrito e ao controle e "determinação
de substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens
de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial,
até o encerramento da recuperação" (CC 181127/MG, relator
Ministro Marco Aurélio Belizze, 9.9.2021), o que será viabilizado
por meio da cooperação judicial prevista no artigo. 69 do CPC.
Nesse novo panorama, portanto, a configuração de conflito de
competência entre o Juízo Federal, condutor da execução
fiscal, e o Juízo da recuperação judicial, somente se dará caso
seja efetiva a constrição de algum bem ou valor da
recuperanda pelo Juízo da execução, e o Juízo universal,
sendo informado disso, reconheça, por decisão judicial, a
essencialidade do bem ou valor à manutenção da atividade
empresarial durante o curso da recuperação e, determinando
ele a substituição do bem, encontre oposição ou resistência do
Juízo da execução.
Assim, é de rigor que seja notificado o Juízo universal para que
delibere sobre os atos constritivos, conforme preceitua o art. 6º, § 7º-B
da Lei 11.101/05, e, somente se houver resistência, pelo Juízo da
execução, de cumprimento das determinações do Juízo da
recuperação, é que se configurará o conflito, sendo ônus da parte
suscitante trazer aos autos as decisões que comprovem o contexto
exposto.

Efetivamente, o conflito positivo de competência afigura-se caracterizado,


não apenas quando dois ou mais Juízos, de esferas diversas, declaram-se
simultaneamente competentes para julgar a mesma causa, mas também quando, sobre o
mesmo objeto, duas ou mais autoridades judiciárias tecem deliberações excludentes entre
si.

A existência do conflito de competência depende, portanto, conforme o inciso


I do art. 66 do CPC, que é o pertinente para o caso concreto, da demonstração de que
o Juízo da execução fiscal tenha adentrado, indevidamente, na matéria cuja competência é
atribuída, por lei, ao Juízo da recuperação judicial.

É preciso, pois, à caracterização de conflito de competência perante


esta Corte de Justiça, que o Juízo da execução fiscal, por meio de decisão judicial,
se oponha concretamente à deliberação do Juízo da recuperação judicial a respeito
da constrição judicial, determinando a substituição do bem constrito ou tornando-a
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sem efeito, ou acerca da essencialidade do bem de capital constrito.

No particular, não fica configurado o conflito de competência, a ensejar, a


intervenção desta Corte de Justiça, sobretudo porque o Juízo Federal suscitado, até o
presente momento, exerceu sua competência, nos estritos termos legais.

Na espécie, o Juízo Federal da 3ª Vara Cível e Criminal do Acre – SJ/AC, no


bojo da Execução Fiscal n. 1000500-07.2020.4.01.3000, determinou a citação da parte
executada para pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na
Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, sob pena de penhora de tantos bens
quantos bastem à satisfação da dívida (art. 7º e seguintes da Lei n. 6.830/1980, no
prazo de 5 (cinco) dias (e-STJ, fls. 155).

Esta decisão, ensejou a arguição de exceção de pré-executividade, sob o


exclusivo argumento de que o Juízo Federal seria absolutamente incompetente para
determinar atos de constrição, devendo a pretensão constritiva ser submetida ao Juízo
universal.

O Juízo Federal da 3ª Vara Cível e Criminal do Acre – SJ/AC rejeitou a


exceção de pré-executividade, com esteio no § 7º-B do art. 6º da Lei n. 11.101/2005,
reconhecendo que o deferimento do processamento da recuperação judicial não sobresta
a execução fiscal, tampouco impede a determinação de ato constritivo por este Juízo,
cabendo, posteriormente, ao Juízo da recuperação judicial determinar eventualmente a
substituição dos atos de constrição (e-STJ, fl. 34):

Sobre o pedido de suspensão do feito e da impossibilidade do juízo da


execução fiscal praticar atos constritivos, a Lei de Falências, já com a
nova redação trazida pela Lei nº. 14.112/2020, dispõe:
“Art. 6º
(…) § 7º-B.
[...]
Como se vê, o dispositivo não proíbe a prática de atos constritivos
pelo Juízo da execução fiscal, permitindo, todavia, eventual
substituição dos atos de constrição por parte do juízo universal.
Quanto à afetação da matéria no tema nº 987, o STJ, em 13/04/2021,
desafetou-o, julgando-o prejudicado em razão das alterações
promovidas na Lei 11.101/2005, por meio da Lei 14.112/2020.
Portanto, rejeito a exceção de pré-executividade.

Esta decisão, como se constata, teria, segundo defende a parte suscitante,


adentrado indevidamente na competência do Juízo da recuperação judicial.

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Nos termos da fundamentação desenvolvida ao longo deste voto, o presente
incidente mostra-se absolutamente prematuro, não ficando configurado conflito de
competência.

A decisão, objeto deste conflito de competência, determinou simplesmente o


prosseguimento da execução fiscal, a autorizar, oportunamente, a constrição sobre bens
da executada/recuperanda, providências que se inserem, indiscutivelmente, na
competência do Juízo Federal suscitado.

Na espécie, nem sequer há, por ora, decisão de constrição judicial


propriamente. Logo, tampouco o Juízo da recuperação exerceu, até este momento, o juízo
de controle sobre a vindoura constrição, o que será viabilizado por meio da
cooperação entre os Juízos envolvidos, oficiosamente, ou por provação da parte
interessada, no caso a recuperanda.

Registre-se que, após o exercício de tais competências, a


caracterização de conflito perante esta Corte de Justiça somente se fará presente
se o Juízo da execução fiscal vier, concretamente, a se opor à deliberação do Juízo da
recuperação judicial a respeito da constrição do bem, substituindo-o ou tornando-a sem
efeito, ou acerca da essencialidade do bem de capital constrito, o que, por ora, nem se
cogita.

Por fim, assinala-se que o fato noticiado pela Fazenda Pública a respeito do
conteúdo da sentença de encerramento da recuperação judicial, em que o Juízo
recuperacional assinala a possibilidade de prosseguimento das execuções fiscais perante
os respectivos juízos competentes (em virtude justamente do encerramento da
recuperação), apenas corrobora a compreensão de não ter havido, na hipótese em exame,
em momento algum, configurado conflito de competência entre os Juízos suscitados.

Em arremate, na esteira dos fundamentos acima delineados, não conheço


do conflito de competência e revogo a liminar anteriormente deferida pela Presidência do
Superior Tribunal de Justiça.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2021/0221593-7 PROCESSO ELETRÔNICO CC 181.190 / AC

Números Origem: 07171436120178010001 10005000720204013000 7171436120178010001

EM MESA JULGADO: 30/11/2021

Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
SUSCITANTE : CONCRENORTE INDUSTRIA DE ARTEFATOS DE CONCRETO EIRELI - EM
- EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
ADVOGADOS : THALES ROCHA BORDIGNON - AC002160
VANESSA FANTIN MAZOCA DE ALMEIDA PRADO - SP214894
MARCELO FEITOSA ZAMORA - AC004711
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 2A VARA CÍVEL DE RIO BRANCO - AC
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 3A VARA CÍVEL E CRIMINAL DO ACRE - SJ/AC
INTERES. : FAZENDA NACIONAL

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Empresas - Recuperação judicial e Falência

SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignada a presença, pela Interessada FAZENDA NACIONAL, do Procurador Dr. MARCELO
KOSMINSKY.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Segunda Seção, por unanimidade, não conheceu do conflito de competência e revogou
liminar anteriormente deferida pela Presidência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo,
Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco Buzzi
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.

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