Julgado Conflito
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Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não
conhecer do conflito de competência e revogar liminar anteriormente deferida pela
Presidência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul
Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco
Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
Brasília, 30 de novembro de 2021 (data do julgamento).
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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 181.190 - AC (2021/0221593-7)
RELATÓRIO
Afirma que "o Juízo da 3ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado
do Acre, nos autos da Ação de Execução Fiscal ajuizada pela Fazenda Nacional, sem
levar em consideração a decisão proferida pelo juízo da 2ª Vara Cível de Rio Branco/AC,
que homologou o plano de recuperação judicial e concedeu à recuperação judicial a
empresa Concrenorte Indústria de Artefatos de Concreto-Eireli, rejeitou a exceção de
pré-executividade apresentada pela empresa suscitante e determinou a intimação da
exequente para promover o prosseguimento da execução [em que se objetiva o
pagamento de R$ 693.748,07 – seiscentos e noventa e três mil setecentos e quarenta e
oito reais e sete centavos], requerendo o que entender de direito" (e-STJ, fl. 4).
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patrimônio da empresa em recuperação judicial, devendo passar pelo crivo do juízo
universal a prática de qualquer ato de execução voltado contra o patrimônio das empresas
em recuperação judicial" (e-STJ, fl. 9).
b) Seja designada a oitiva dos juízos suscitados (3ª Vara Federal Cível
e Criminal da Seção Judiciária do Estado do Acre e 2ª Vara Cível da
Comarca de Rio Branco/AC), como dispõe o art. 954, do Código de
Processo Civil;
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entendimento consolidado desse Superior Tribunal de Justiça.
2. Parecer pela competência do juízo universal.
É o relatório.
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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 181.190 - AC (2021/0221593-7)
VOTO
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Relembre-se que, antes da vigência da Lei n. 14.112/2020, as Turmas
integrantes da Primeira Seção já adotavam a compreensão de que "a execução fiscal não
se suspende pelo deferimento da recuperação judicial, permitindo-se a realização de atos
constritivos, máxime quando evidenciada a inércia da empresa recuperanda em adotar as
medidas necessárias à suspensão da exigibilidade dos créditos tributários, em especial,
por meio do parcelamento especial disciplinado pelo art. 10-A da Lei n. 10.522/2002,
incluído pela Lei 13.043/2014" (ut REsp 1.673.421/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 17/10/2017, DJe 23/10/2017).
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Segunda Seção, julgado em 26/04/2017, DJe 03/05/2017.
Confira-se a redação do § 7º-B do art. 6º da LRF, com redação dada pela Lei
n. 14.112/2020:
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competências se operacionalizam na prática, de suma relevância à caracterização
do conflito positivo de competência perante esta Corte de Justiça.
O tratamento legal dado pelo art. 6º, § 7º-B, da Lei 11.101/2005 não autoriza
mais reputar configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça em virtude
da decisão proferida pelo Juízo da execução fiscal que, no exercício de sua competência,
determine a constrição judicial.
Com a vênia daqueles que entendem de modo diverso, não se pode mais
reputar configurado conflito de competência perante esta Corte de Justiça pelo só fato de o
Juízo da recuperação ainda não ter deliberado sobre a constrição judicial, em razão
justamente de não ter a questão sido, até então, a ele submetida.
[...]
Em outros termos, o Juízo da execução fiscal poderá determinar a
constrição de bens e valores da recuperanda, todavia, o controle de
tais atos é incumbência exclusiva do Juízo da recuperação, o qual
poderá substituí-los, mantê-los ou, até mesmo torná-los sem efeito,
tudo buscando o soerguimento da empresa, haja vista a sua elevada
função social.
3. No caso sob análise, evidencia-se o conflito de competência
entre o JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL DE BEBEDOURO -
SP, que deferiu o cujo pedido de recuperação judicial em
16/02/2018, o qual encontra-se em tramitação (fls. 224-226) e o
JUÍZO FEDERAL DA 1A VARA DE RIBEIRÃO PRETO - SJ/SP que
determinou a constrição de valores de titularidade da
suscitante com a finalidade de quitar o débito da execução
fiscal nº 5008681- 46.2018.4.03.6102 (fl. 06), sem que tal
constrição fosse submetida ao crivo do Juízo da recuperação.
Como afirmado acima, as execuções fiscais não se suspendem com o
deferimento da recuperação judicial, nada obstante há necessidade
de análise dos constritivos pelo Juízo da recuperação.
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que os atos de alienação ou de constrição que possam comprometer o cumprimento do
plano de reorganização da empresa, somente serão efetivados após a anuência do
Juízo da recuperação judicial, sem prejuízo do prosseguimento da execução fiscal
objeto da controvérsia, em outros aspectos" (CC 178.230/AL, Relator Ministro Raul Araújo,
DJe 30/09/.2021).
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recuperação e preservação de empresas".
A Lei faz ressalva expressa a respeito das aplicações dos incs. I, II e III
também às execuções fiscais, que têm seu trâmite garantido no curso
da recuperação judicial.
Todavia, da mesma forma que em relação à cobrança de créditos não
sujeitos, caso seja determinada a restrição sobre bem essencial, fica
assegurada a substituição de tais bens por outros não essenciais, de
valor equivalente.
Dessa forma, fica garantida a execução fiscal sem inviabilizar a
recuperação judicial da empresa devedora. Tanto no disposto no §
7°-A quanto no § 7°-B existe disposição sobre o princípio da
cooperação judicial previsto no art. 69 do CPC/2015, que
disciplina que os órgãos do Poder Judiciário devem, sempre
que solicitados, cooperar em relação a diversos atos do
processo.
(Costa, Daniel Carnio. Comentários à lei de recuperação de empresas
e falência: Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 / Daniel Carnio
Costa, Alexandre Correa Nasser de Melo, 2. ed., Curitiba: Juruá, 2021,
página 97)
Essa linha de decidir, tem sido adotada por este subscritor (ut CC
183.127/AC, DJe 1º/10/2021; CC 182.052/PE, DJe 1º/10/2021, entre outros). Citam-se, da
lavra de outros Ministros, com essa diretriz, as seguintes decisões monocráticas: CC
182.959/GO, Relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 30/09/2021; CC 182.790/SC,
Relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe 30/09/2021; CC182.647/RN, Relatora Ministra
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Maria Isabel Gallotti, DJe 23/09/2021 (entre outras), com destaque para o último decisum,
em que S. Exa fez constar de seu teor estas considerações:
[...]
Desse modo, de acordo com a nova sistemática legal, a atuação
do juízo da recuperação judicial ficou restrita ao juízo de
essencialidade do bem constrito e ao controle e "determinação
de substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens
de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial,
até o encerramento da recuperação" (CC 181127/MG, relator
Ministro Marco Aurélio Belizze, 9.9.2021), o que será viabilizado
por meio da cooperação judicial prevista no artigo. 69 do CPC.
Nesse novo panorama, portanto, a configuração de conflito de
competência entre o Juízo Federal, condutor da execução
fiscal, e o Juízo da recuperação judicial, somente se dará caso
seja efetiva a constrição de algum bem ou valor da
recuperanda pelo Juízo da execução, e o Juízo universal,
sendo informado disso, reconheça, por decisão judicial, a
essencialidade do bem ou valor à manutenção da atividade
empresarial durante o curso da recuperação e, determinando
ele a substituição do bem, encontre oposição ou resistência do
Juízo da execução.
Assim, é de rigor que seja notificado o Juízo universal para que
delibere sobre os atos constritivos, conforme preceitua o art. 6º, § 7º-B
da Lei 11.101/05, e, somente se houver resistência, pelo Juízo da
execução, de cumprimento das determinações do Juízo da
recuperação, é que se configurará o conflito, sendo ônus da parte
suscitante trazer aos autos as decisões que comprovem o contexto
exposto.
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Nos termos da fundamentação desenvolvida ao longo deste voto, o presente
incidente mostra-se absolutamente prematuro, não ficando configurado conflito de
competência.
Por fim, assinala-se que o fato noticiado pela Fazenda Pública a respeito do
conteúdo da sentença de encerramento da recuperação judicial, em que o Juízo
recuperacional assinala a possibilidade de prosseguimento das execuções fiscais perante
os respectivos juízos competentes (em virtude justamente do encerramento da
recuperação), apenas corrobora a compreensão de não ter havido, na hipótese em exame,
em momento algum, configurado conflito de competência entre os Juízos suscitados.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO
Relator
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER
AUTUAÇÃO
SUSCITANTE : CONCRENORTE INDUSTRIA DE ARTEFATOS DE CONCRETO EIRELI - EM
- EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL
ADVOGADOS : THALES ROCHA BORDIGNON - AC002160
VANESSA FANTIN MAZOCA DE ALMEIDA PRADO - SP214894
MARCELO FEITOSA ZAMORA - AC004711
SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 2A VARA CÍVEL DE RIO BRANCO - AC
SUSCITADO : JUÍZO FEDERAL DA 3A VARA CÍVEL E CRIMINAL DO ACRE - SJ/AC
INTERES. : FAZENDA NACIONAL
SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignada a presença, pela Interessada FAZENDA NACIONAL, do Procurador Dr. MARCELO
KOSMINSKY.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Segunda Seção, por unanimidade, não conheceu do conflito de competência e revogou
liminar anteriormente deferida pela Presidência do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo,
Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Ricardo Villas Bôas Cueva e Marco Buzzi
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira.
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