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Direito Ao Esquecimento e Repercussão Geral No STF

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Supremo Tribunal Federal

Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 16

11/12/2014 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


833.248 RIO DE JANEIRO

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


RECTE.(S) : NELSON CURI
RECTE.(S) : ROBERTO CURI
RECTE.(S) : WALDIR CURY
RECTE.(S) : MAURÍCIO CURI
ADV.(A/S) : ROBERTO ALGRANTI E OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : GLOBO COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A
ADV.(A/S) : JOÃO CARLOS MIRANDA GARCIA DE SOUSA E
OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : GUSTAVO BINENBOJM

EMENTA

DIREITO CONSTITUCIONAL. VEICULAÇÃO DE PROGRAMA


TELEVISIVO QUE ABORDA CRIME OCORRIDO HÁ VÁRIAS
DÉCADAS. AÇÃO INDENIZATÓRIA PROPOSTA POR FAMILIARES
DA VÍTIMA. ALEGADOS DANOS MORAIS. DIREITO AO
ESQUECIMENTO. DEBATE ACERCA DA HARMONIZAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
DO DIREITO À INFORMAÇÃO COM AQUELES QUE PROTEGEM A
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A INVIOLABILIDADE DA
HONRA E DA INTIMIDADE. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Decisão: O Tribunal, por maioria, reputou constitucional a questão,


vencido o Ministro Marco Aurélio. Não se manifestou a Ministra Cármen
Lúcia. O Tribunal, por maioria, reconheceu a existência de repercussão
geral da questão constitucional suscitada, vencido o Ministro Marco
Aurélio. Não se manifestou a Ministra Cármen Lúcia.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 7799323.
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Decisão sobre Repercussão Geral

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ARE 833248 RG / RJ

Ministro DIAS TOFFOLI


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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Manifestação sobre a Repercussão Geral

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11/12/2014 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


833.248 RIO DE JANEIRO

DIREITO CONSTITUCIONAL. VEICULAÇÃO DE PROGRAMA


TELEVISIVO QUE ABORDA CRIME OCORRIDO HÁ VÁRIAS
DÉCADAS. AÇÃO INDENIZATÓRIA PROPOSTA POR FAMILIARES DA
VÍTIMA. ALEGADOS DANOS MORAIS. DIREITO AO
ESQUECIMENTO. DEBATE ACERCA DA HARMONIZAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
DO DIREITO À INFORMAÇÃO COM AQUELES QUE PROTEGEM A
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A INVIOLABILIDADE DA
HONRA E DA INTIMIDADE. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Nelson Curi e outros interpõem agravo contra a decisão


em que se negou seguimento ao recurso extraordinário
com que se impugnou acórdão da Décima Quinta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, o qual foi assim ementado:

INDENIZATÓRIA. PROGRAMA LINHA DIRETA JUSTIÇA. AUSÊNCIA


DE DANO.
Ação indenizatória objetivando a compensação
pecuniária e a reparação material em razão do uso, não
autorizado, da imagem da falecida irmã dos Autores, em
programa denominado Linha Direta Justiça.
1- Preliminar - o juiz não está obrigado a apreciar
todas as questões desejadas pelas partes, se por uma
delas, mais abrangente e adotada, as demais ficam
prejudicadas.
2- A Constituição Federal garante a livre expressão da
atividade de comunicação, independente de censura ou
licença, franqueando a obrigação de indenizar apenas
quando o uso da imagem ou informações é utilizada para
denegrir ou atingir a honra da pessoa retratada, ou

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ainda, quando essa imagem/nome for utilizada para fins


comerciais.
Os fatos expostos no programa eram do conhecimento
público e, no passado, foram amplamente divulgados
pela imprensa. A matéria foi, é discutida e noticiada
ao longo dos últimos cinquenta anos, inclusive, nos
meios acadêmicos.
A Ré cumpriu com sua função social de informar,
alertar e abrir o debate sobre o controvertido caso.
Os meios de comunicação também têm este dever, que se
sobrepõe ao interesse individual de alguns, que querem
e desejam esquecer o passado.
O esquecimento não é o caminho salvador para tudo.
Muitas vezes é necessário reviver o passado para que
as novas gerações fiquem alertadas e repensem alguns
procedimentos de conduta do presente.
Também ninguém nega que a Ré seja uma pessoa jurídica
cujo fim é o lucro. Ela precisa sobreviver porque gera
riquezas, produz empregos e tudo mais que é notório no
mundo capitalista. O que se pergunta é se o uso do
nome, da imagem da falecida, ou a reprodução midiática
dos acontecimentos, trouxe um aumento do seu lucro e
isto me parece que não houve, ou se houve, não há
dados nos autos.
Recurso desprovido, por maioria, nos termos do voto do
Desembargador Relator.

Opostos dois embargos declaratórios pelos autores, ora


recorrentes, nenhum deles foi acolhido, tendo, no
último deles, sido imposta multa de 1% sobre o valor
da causa.
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
maioria, negou provimento ao recurso especial
interposto paralelamente ao recurso extraordinário.

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No presente apelo, amparado na alínea a do permissivo


constitucional, os autores sustentam violação dos
arts. 1º, inciso III; 5º, caput e incisos III e X; e
220, § 1º, da Constituição Federal.
Defendem, em preliminar, a existência de repercussão
geral da matéria versada no recurso, dada a importante
discussão que nele se trava, relativa ao direito dos
recorrentes a proteger sua dignidade humana, atingida
pelo exercício abusivo e ilegal da liberdade da
expressão por parte da recorrida.
Afirmam que o caso em tela versa sobre um aspecto da
proteção da dignidade humana que ainda não foi
apreciado por esta Corte: o direito ao esquecimento -
instituto que possui regulamentação na esfera penal e
que é comumente invocado por aqueles que, em nome da
própria ressocialização, não querem ver seus
antecedentes trazidos à tona após determinado lapso de
tempo.
Nessa linha, destacam que o que se busca é um
precedente inédito em que o referido instituto será
analisado na esfera civil e sob a perspectiva da
vítima, salientando, também, que esse julgamento terá
o condão de detalhar e tornar um pouco mais nítida a
proteção à dignidade humana frente aos órgãos de mídia
e de imprensa, inclusive à luz do que decidido pelo
Plenário desta Corte no julgamento da ADPF nº 130, no
qual se assentou a incompatibilidade da Lei de
Imprensa com a ordem constitucional vigente.
No mérito, sustentam que o direito ao esquecimento é
um atributo indissociável da garantia da dignidade
humana, com ela se confundindo, e que a liberdade de
expressão não tem caráter absoluto, não podendo se
sobrepor às garantias individuais, notadamente à
inviolabilidade da personalidade, da honra, da

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dignidade, da vida privada e da intimidade da pessoa


humana.
Assim, defendem que o programa veiculado pela ora
recorrida não teve cunho jornalístico e que a
exploração de forma sensacionalista do lamentável fato
ocorrido há várias décadas teve objetivo meramente
comercial, tendo implicado o revolvimento dessa
tragédia, mesmo após longo período de tempo, inegáveis
danos morais à família da vítima, que devem ser
exemplarmente indenizados.
Entendo que as matérias abordadas no recurso
extraordinário, além de apresentarem nítida densidade
constitucional, extrapolam os interesses subjetivos
das partes, uma vez que abordam tema relativo à
harmonização de importantes princípios dotados de
status constitucional: de um lado, a liberdade de
expressão e o direito à informação; de outro, a
dignidade da pessoa humana e vários de seus
corolários, como a inviolabilidade da imagem, da
intimidade e da vida privada.
Assim, a definição por este Supremo Tribunal das
questões postas no feito repercutirá em toda a
sociedade, revelando-se de inegável relevância
jurídica e social.
Manifesto-me, portanto, pela existência de repercussão
geral da matéria constitucional versada no apelo
extremo.
Brasília, 18 de novembro de 2014.

Ministro Dias Toffoli


Relator
Documento assinado digitalmente

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REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


833.248 RIO DE JANEIRO

PRONUNCIAMENTO

REPERCUSSÃO GERAL – AUSÊNCIA DE


MATÉRIA CONSTITUCIONAL –
INADEQUAÇÃO DO INSTITUTO.

1. A Assessoria prestou as seguintes informações:

Eis a síntese do que discutido no Recurso Extraordinário


com Agravo nº 833.248/RJ, da relatoria do ministro Dias Toffoli,
inserido no sistema eletrônico da repercussão geral em 21 de
novembro de 2014.

O processo revela ação indenizatória formalizada em


virtude do uso não autorizado da imagem da falecida irmã dos
autores – Aída Curi – em programa de televisão.

A Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do


Estado do Rio de Janeiro desproveu a apelação interposta pelos
ora recorrentes, asseverando, incialmente, não haver vícios de
natureza procedimental a inquinar a sentença. Consignou, que,
no programa televisivo “Linha Direta Justiça”, reconstruiu-se a
história do crime perpetrado contra a vítima e do respectivo
julgamento com base em dados colhidos do acervo judiciário
bem como em depoimentos de testemunhas, jurados,
familiares, promotores e magistrados, isto é, reuniram-se
informações públicas e acessíveis a qualquer pessoa que se
interessasse, não sendo possível responsabilizar a empresa por
disponibilizá-las aos telespectadores. Assentou serem de
conhecimento comum os fatos expostos, os quais foram
amplamente divulgados pela imprensa na época dos
acontecimentos e permaneceram acessíveis à coletividade.
Sublinhou serem aqueles tema de discussão nos meios
acadêmicos até os dias atuais. Ressaltou ter a empresa apenas
cumprido a função social de informar, alertar e debater o

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controvertido caso, o que não poderia encontrar obstáculo no


interesse individual de alguns. Afirmou que a família da vítima
não teria direito absoluto de esquecer o evento e acrescentou
haver o programa televisivo gerado efeitos positivos para a
sociedade. Anotou que a Carta da República garante a livre
expressão da atividade de comunicação independentemente de
censura ou licença, assegurada a indenização nos casos em que
ofendida a honra de pessoa retratada. Frisou ser a empresa uma
pessoa jurídica de fins lucrativos e observou que o uso do nome
e da imagem da falecida bem como a reprodução dos
acontecimentos não trouxe vantagem econômica ou, pelo
menos, não houve comprovação no processo.

Os dois embargos de declaração interpostos foram


desprovidos.

No extraordinário, protocolado com alegada base na


alínea “a” do permissivo constitucional, os recorrentes arguem
transgressão aos artigos 1º, inciso III, 5º, cabeça e incisos III e X,
e 220, cabeça e § 1º, da Carta da República . Alegam que a
liberdade de expressão não é absoluta e deve respeito às
garantias inerentes à personalidade, cabendo, inclusive,
indenização quando violadas. Informam haver notificado a
empresa quanto à objeção ao revolvimento do drama familiar,
tendo buscado a não veiculação do programa televisivo.
Entendem que a transmissão deve ser considerada de natureza
exclusivamente comercial – como filme que explorou o nome, a
imagem, a vida e o calvário de Aída Curi e família –, não
podendo ser enquadrada como jornalística, ante a ausência de
contemporaneidade e de interesse público. Apontam o caráter
sensacionalista do programa, utilizando-se como atrativo cenas
exageradas de violência, tendo ultrapassado os limites da
razoabilidade, ao representar o ocorrido de modo ofensivo à
memória da vítima. Ressaltam ter direito ao esquecimento,
sustentando que também a vítima do crime e os respectivos
parentes têm jus a que os eventos vivenciados não sejam

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trazidos à tona após certo tempo. Salientam que, apesar de os


acontecimentos serem de conhecimento público e notório, isso
não afasta a violação de direitos de personalidade nem o direito
à indenização pelo uso não autorizado do nome e da imagem
da falecida. Consoante afirmam, ainda que o programa
televisivo seja considerado jornalístico, teriam direito ao
ressarcimento pleiteado, porquanto a transmissão foi
conduzida de forma extremamente desrespeitosa, mostrando
cenas chocantes sem qualquer interesse público.

Sob o ângulo da repercussão geral, assinalam que o tema


versado no recurso ultrapassa os limites subjetivos da lide,
sendo relevante do ponto de vista político, social e jurídico.
Sublinham a importância de o Supremo manifestar-se sobre o
direito ao esquecimento ante a aparente antinomia entre o
princípio da dignidade da pessoa humana e a liberdade de
expressão. Aduzem estar o recurso destinado a impugnar
decisão contrária à jurisprudência do Supremo, caso em que a
transcendência da matéria é presumida.

A parte recorrida apresentou contrarrazões, destacando,


inicialmente, a inexistência de repercussão geral e de
prequestionamento bem como a inviabilidade do exame de
tema infraconstitucional e de reapreciação do acervo
probatório. No mérito, elucida que o programa “Linha Direta
Justiça” objetivou abordar casos criminais de grande relevância
e que fazem parte da história brasileira. Esclarece que a
transmissão foi composta principalmente por informações e
imagens de arquivos jornalísticos da época bem como por obras
sobre o assunto – inclusive dois livros escritos por autor desta
ação –, sendo possível obter dados sobre o homicídio de Aída
Curi em arquivos públicos, bibliotecas e páginas da internet.
Anota ser o acontecimento de interesse geral da coletividade
por trazer à balha questões importantes como a violência contra
a mulher, a impunidade e a responsabilidade penal de menores

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de idade. Enfatiza que os direitos à intimidade e à imagem dos


recorrentes e da respectiva irmã não se sobrepõem ao interesse
coletivo da sociedade de ter acesso às informações sobre o fato
histórico. Frisa tratar-se de documentário jornalístico cuja
produção e divulgação está amparado pelo direito
constitucional de informar. Entende que o suposto direito ao
esquecimento alegado pelos recorrentes não encontra
fundamento no genérico princípio da dignidade humana.
Discorre sobre os precedentes mencionados no extraordinário e
cita julgados em que se asseverou a licitude dos programas da
série “Linha Direta Justiça”. Diz da inexistência de ilícito e de
dano indenizável, porquanto o programa narrou o episódio tal
como ocorreu, sem sensacionalismo, não se podendo falar em
ofensa em virtude da dor sentida pelos recorrentes, a qual é
uma realidade com a qual eles têm de conviver e não gera
direito a ressarcimento. Por fim, refuta o laudo pericial alusivo
aos danos materiais, por não refletir a realidade das cotas de
publicidade e dos gastos com a realização do documentário.

O extraordinário não foi admitido na origem. Seguiu-se a


interposição de agravo, no qual se defendeu a sequência do
recurso.

Eis o pronunciamento do ministro Dias Toffoli:

DIREITO CONSTITUCIONAL. VEICULAÇÃO DE


PROGRAMA TELEVISIVO QUE ABORDA CRIME
OCORRIDO HÁ VÁRIAS DÉCADAS. AÇÃO
INDENIZATÓRIA PROPOSTA POR FAMILIARES DA
VÍTIMA. ALEGADOS DANOS MORAIS. DIREITO AO
ESQUECIMENTO. DEBATE ACERCA DA
HARMONIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
DO DIREITO À INFORMAÇÃO COM AQUELES QUE
PROTEGEM A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A

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INVIOLABILIDADE DA HONRA E DA INTIMIDADE.


PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Nelson Curi e outros interpõem agravo contra a


decisão em que se negou seguimento ao recurso
extraordinário com que se impugnou acórdão da Décima
Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, o qual foi assim ementado:

INDENIZATÓRIA. PROGRAMA LINHA DIRETA


JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE DANO.
Ação indenizatória objetivando a compensação
pecuniária e a reparação material em razão do uso, não
autorizado, da imagem da falecida irmã dos Autores, em
programa denominado Linha Direta Justiça.
1- Preliminar - o juiz não está obrigado a apreciar
todas as questões desejadas pelas partes, se por uma delas,
mais abrangente e adotada, as demais ficam prejudicadas.
2- A Constituição Federal garante a livre expressão
da atividade de comunicação, independente de censura ou
licença, franqueando a obrigação de indenizar apenas
quando o uso da imagem ou informações é utilizada para
denegrir ou atingir a honra da pessoa retratada, ou ainda,
quando essa imagem/nome for utilizada para fins
comerciais.
Os fatos expostos no programa eram do
conhecimento público e, no passado, foram amplamente
divulgados pela imprensa. A matéria foi, é discutida e
noticiada ao longo dos últimos cinquenta anos, inclusive,
nos meios acadêmicos.
A Ré cumpriu com sua função social de informar,
alertar e abrir o debate sobre o controvertido caso. Os
meios de comunicação também têm este dever, que se
sobrepõe ao interesse individual de alguns, que querem e
desejam esquecer o passado.
O esquecimento não é o caminho salvador para tudo.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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ARE 833248 RG / RJ

Muitas vezes é necessário reviver o passado para que as


novas gerações fiquem alertadas e repensem alguns
procedimentos de conduta do presente.
Também ninguém nega que a Ré seja uma pessoa
jurídica cujo fim é o lucro. Ela precisa sobreviver porque
gera riquezas, produz empregos e tudo mais que é notório
no mundo capitalista. O que se pergunta é se o uso do
nome, da imagem da falecida, ou a reprodução midiática
dos acontecimentos, trouxe um aumento do seu lucro e
isto me parece que não houve, ou se houve, não há dados
nos autos.
Recurso desprovido, por maioria, nos termos do voto
do Desembargador Relator.

Opostos dois embargos declaratórios pelos autores,


ora recorrentes, nenhum deles foi acolhido, tendo, no
último deles, sido imposta multa de 1% sobre o valor da
causa.
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
maioria, negou provimento ao recurso especial interposto
paralelamente ao recurso extraordinário.
No presente apelo, amparado na alínea a do
permissivo constitucional, os autores sustentam violação
dos arts. 1º, inciso III; 5º, caput e incisos III e X; e 220, § 1º,
da Constituição Federal.
Defendem, em preliminar, a existência de
repercussão geral da matéria versada no recurso, dada a
importante discussão que nele se trava, relativa ao direito
dos recorrentes a proteger sua dignidade humana,
atingida pelo exercício abusivo e ilegal da liberdade da
expressão por parte da recorrida.
Afirmam que o caso em tela versa sobre um aspecto
da proteção da dignidade humana que ainda não foi
apreciado por esta Corte: o direito ao esquecimento -
instituto que possui regulamentação na esfera penal e que
é comumente invocado por aqueles que, em nome da

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própria ressocialização, não querem ver seus antecedentes


trazidos à tona após determinado lapso de tempo.
Nessa linha, destacam que o que se busca é um
precedente inédito em que o referido instituto será
analisado na esfera civil e sob a perspectiva da vítima,
salientando, também, que esse julgamento terá o condão
de detalhar e tornar um pouco mais nítida a proteção à
dignidade humana frente aos órgãos de mídia e de
imprensa, inclusive à luz do que decidido pelo Plenário
desta Corte no julgamento da ADPF nº 130, no qual se
assentou a incompatibilidade da Lei de Imprensa com a
ordem constitucional vigente.
No mérito, sustentam que o direito ao esquecimento
é um atributo indissociável da garantia da dignidade
humana, com ela se confundindo, e que a liberdade de
expressão não tem caráter absoluto, não podendo se
sobrepor às garantias individuais, notadamente à
inviolabilidade da personalidade, da honra, da dignidade,
da vida privada e da intimidade da pessoa humana.
Assim, defendem que o programa veiculado pela ora
recorrida não teve cunho jornalístico e que a exploração de
forma sensacionalista do lamentável fato ocorrido há
várias décadas teve objetivo meramente comercial, tendo
implicado o revolvimento dessa tragédia, mesmo após
longo período de tempo, inegáveis danos morais à família
da vítima, que devem ser exemplarmente indenizados.
Entendo que as matérias abordadas no recurso
extraordinário, além de apresentarem nítida densidade
constitucional, extrapolam os interesses subjetivos das
partes, uma vez que abordam tema relativo à
harmonização de importantes princípios dotados de status
constitucional: de um lado, a liberdade de expressão e o
direito à informação; de outro, a dignidade da pessoa
humana e vários de seus corolários, como a
inviolabilidade da imagem, da intimidade e da vida
privada.

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Assim, a definição por este Supremo Tribunal das


questões postas no feito repercutirá em toda a sociedade,
revelando-se de inegável relevância jurídica e social.
Manifesto-me, portanto, pela existência de
repercussão geral da matéria constitucional versada no
apelo extremo.

Brasília, 18 de novembro de 2014.

Ministro Dias Toffoli


Relator
Documento assinado digitalmente

2. Observem a organicidade do Direito. O instituto da repercussão


geral refere-se a recurso extraordinário que veicule matéria de índole
constitucional. É o que decorre do disposto no § 3º do artigo 102 da Carta
Federal:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(…)
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá
demonstrar a repercussão geral das questões
constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim
de que o Tribunal examine a admissão do recurso,
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois
terços de seus membros.

Até aqui, para apreciação do Supremo, há o agravo interposto, que


veio, ante a legislação instrumental, no próprio processo. Em síntese, o
recurso extraordinário teve a sequência indeferida na origem. O
interessado protocolou o agravo, o qual deve ser julgado pelo relator, o
que ainda não ocorreu.

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Descabe fragilizar o instituto da repercussão geral e isso acontecerá


caso, de cambulhada, seja colado a processo que não se apresenta a este
Tribunal com o recurso extraordinário admitido.

3. Concluo pela inadequação do instituto da repercussão geral.

4. À Assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente.

5. Publiquem.

Brasília, 9 de dezembro de 2014.

Ministro MARCO AURÉLIO

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