Divaldo Franco - Joanna de Angelis - S-O-S - Família
Divaldo Franco - Joanna de Angelis - S-O-S - Família
Divaldo Franco - Joanna de Angelis - S-O-S - Família
S.O.S. FAMÍLIA
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO POR JOANNA DE ÂNGELIS E DIVERSOS ESPÍRITOS
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ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
Laços de Família
Introdução
CAPÍTULO 1 = Família
CAPÍTULO 2 = Vida em Família
CAPÍTULO 3 = Casamento e Família
CAPÍTULO 4 = Responsabilidade no Matrimônio
CAPÍTULO 5 = Problemas no Matrimônio
CAPÍTULO 6 = Desquite e Divórcio
CAPÍTULO 7 = Anticonceptivos e Planejamento Familiar
CAPÍTULO 8 = Tarefas
CAPÍTULO 9 = Dentro do Lar
CAPÍTULO 10 = Espiritismo no Lar
CAPÍTULO 11 = Cristo em Casa
CAPÍTULO 12 = Jesus Contigo
CAPÍTULO 13 = Estudo Evangélico no Lar
CAPÍTULO 14 = Deveres dos Pais
CAPÍTULO 15 = Educação
CAPÍTULO 16 = Laços Eternos
CAPÍTULO 17 = Perante a Prole
CAPÍTULO 18 = Limitação de Filhos
CAPÍTULO 19 = Personalidades Parasitas
CAPÍTULO 20 = Alienação Infanto-juvenil e Educação
CAPÍTULO 21 = Campanhas
CAPÍTULO 22 = Necessidade de Evolução
CAPÍTULO 23 = Deveres dos Filhos
CAPÍTULO 24 = Filho Deficiente
CAPÍTULO 25 = Filhos Ingratos
CAPÍTULO 26 = Mãe Adotiva
CAPÍTULO 27 = Filhos Alheios
CAPÍTULO 28 = Filho Adotivo
CAPÍTULO 29 = Frutos de Delinqüência
CAPÍTULO 30 = Delinqüência, Perversidade e Violência
CAPÍTULO 31 = Alucinógenos, Toxicomania e Loucura
CAPÍTULO 32 = Viciação Alcoólica
CAPÍTULO 33 = Entrevistas
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AGRADECIMENTOS
À FEB, que nos permitiu gentilmente transcrever algumas páginas dos livros
Estudos Espíritas e Lampadário Espírita.
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PREFÁCIO
O grupo familial é conquista nobre do processo antropológico-sociológico no
qual o ser humano cresce.
Superando o período das atrações sexuais sem objetivos dIgnificantes, no
qual os filhos permaneciam sob os cuidados da mãe, na condição de crias,
sem que ela tivesse responsabilidade de educá-los e desenvolvê-los, a
poliandria passou a predominar, gerando o matriarcado que prevaleceu
soberano com resultados perturbadores.
Mais tarde, a poligamia, inferiorizando a mulher, respondeu pelos filhos que
ficavam abandonados, sem a paternidade responsável.
A monogamia veio facultar o exercício da dignificação no lar, através dos
cônjuges, oferecendo à prole os recursos da educação e os valores ético-
morais que favorecem os celeiros da paz e da felicidade possíveis de serem
fruídos na Terra.
A família, por essa razão, tornou-se a célula máter do organismo social
onde se desenvolvem os sentimentos, a inteligência, e o espírito desperta para
as realizações superiores da vida.
Por isso, toda vez que a família se desestrutura a sociedade cambaleia, a
cultura degenera, a civilização se corrompe...
A tecnologia atual aliada à ciência, que ensejou a conquista do Cosmo,
infelizmente não pôde impedir o deterioramento da família, vitimada por
inúmeros fatores que se têm enraizado no organismo social de forma cruel.
Como conseqüência, uma vaga de perturbação varre o planeta, ameaçando
as belas construções dos milênios e quase tudo reduzindo a escombros e
loucura.
A família, na condição de grupo consangüíneo, está formulando um
vigoroso pedido de socorro à sociedade em geral.
Esse S.O.S. alcança as mentes e os corações, convidando à reflexão e á
ação imediata no dever e no bem; à seriedade no que tange aos compromissos
domésticos; à renúncia em benefício da prole; à abnegação, ampliando as
áreas do amor no lar; ao respeito recíproco dos cônjuges, que se
comprometeram educar o clã feliz...
Graças à promiscuidade sexual que desvaira as criaturas, no atual
contexto social, parecendo conduzir os seres humanos a um retrocesso moral,
os filhos, órfãos de pais vivos e irresponsáveis, clamam por justiça e amor,
carentes e frustrados, usando a linguagem alucinada, que se expressa pela
forma de violência, de agressividade, de exibicionismo, de irreverência
hauridos nas drogas aditivas, no álcool, na exaustão dos sentidos, a tudo
perturbando com vandalismo e insensibilidade.
Lançamos um S.O.S. para a família!
Joanna de Ângelis
Laços de Família
Pergunta 774. Há pessoas que, do fato de os animais ao cabo de certo
tempo abandonarem suas crias, deduzem não serem os laços de família, entre
os homens, mais do que resultado dos costumes sociais e não efeito de uma
lei da Natureza. Que devemos pensar a esse respeito?
Resposta: “Diverso do dos animais é o destino do homem. Por que, então,
querem identificá-lo com estes? Há no homem alguma coisa mais, além das
necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços sociais são
necessários ao progresso e os de família mais apertados tomam os primeiros.
Eis por que os segundos constituem uma lei da Natureza. Quis Deus que, por
essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos.” (205)
Introdução
A magna questão da família é tema de sempre. Apesar de sabermos que
a família é a unidade básica da sociedade, sua célula primeira, sua importância
merece permanente vigilância e estudo de todos os segmentos da coletividade
humana. Não pretendemos, aqui, fazer um estudo enciclopédico ou histórico da
família, já que este livro não é o único, tampouco visa esgotar uma matéria tão
complexa e delicada que envolve os dramas de almas que se amam e se
odeiam na escalada das múltiplas existências. Considerando, sobretudo, que a
família é um laboratório vivo de experiências e aprendizado, uma verdadeira
escola para educação dos espíritos, na sua ansiosa busca da felicidade, que
ainda não é deste mundo, mas pode nele começar. Devemos considerar,
outrossim, que a visão espírita de família, difere das filosofias não
reencarnacionistas. O Espiritismo apresenta a família como o instituto
abençoado em que as criaturas humanas se reencontram com um programa de
provas e expiações, com vistas ao futuro. Por outro lado, a família, na
concepção espírita, antes de ser a reunião de corpos é o reduto sagrado de
espíritos imortais. A visão reencarnacionista traz um entendimento que motiva
as criaturas ao esforço pelo próprio progresso moral, através da renúncia, da
boa vontade, da ajuda mútua, do perdão, da tolerância e muito mais, se se
alcançar um grau de consciência desperta. A grande batalha que se trava no
imo do ser humano, ainda se debita ao egoísmo, que gera os grandes
problemas e até tragédias de conseqüências imprevisíveis.
A consciência desperta pela razão e pela lógica dos ensinamentos espíritas
leva a criatura a aceitar certas conjunturas decorrentes do passado,
apresentadas em forma de antipatia, ódio, ciúmes, entre familiares. Igualmente
se explicam atrações sexuais doentias entre pais e filhos, entre irmãos,
adultério e até os incestos podem ter raízes em encarnações anteriores. Da
mesma forma se podem explicar a simpatia, a afinidade e o amor que brotam
espontaneamente entre as criaturas.
Daí, o presente trabalho visa trazer uma contribuição aos pais, educadores,
evangelizadores e à sociedade, numa tentativa de encontrar soluções que
minorem o sofrimento oriundo da ignorância do que seja família e sua missão
na Terra.
A família não é somente foco de lutas e problemas, mas também fonte
geradora de felicidade quando há entre todos os seus componentes a
iluminação de princípios espirituais superiores.
Reunimos nesta obra o que já foi escrito pelos Espíritos Joanna de Ângelis,
Amélia Rodrigues, Benedita Fernandes, Manoel Philomeno de Miranda, em
diversos títulos editados pela LEAL, pela FEB e outras editoras. Destacamos,
igualmente, algumas questões inseridas na codificação Kardequiana e
entrevistas com Divaldo Pereira Franco abordando a família e os problemas
correlatos, como: pais, filhos, casamento, separação, vícios, educação para a
vida e para a morte, resgate, influência da religião, sexo, evangelização infantil
e juvenil, entre outros, já que o lar é a primeira escola e os pais os primeiros
educadores.
Como já vem sendo amplamente divulgado, este é o Ano internacional da
Família, instituído pela ONU, em seu calendário oficial. A USE, União das
Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, lançou no ano passado, a
campanha “Viver em Família” com o slogan “Vamos apertar (mais) este laço”. A
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Família
Conceito — Grupamento de raça, de caracteres e gêneros semelhantes,
resultado de agregações afins, a família genericamente, representa o clã social
ou de sintonia por identidade que reúne espécimes dentro da mesma
classificação. Juridicamente, porém, a família se deriva da união de dois seres
que se elegem para uma vida bem comum, através de um contrato, dando
origem à genitura da mesma espécie. Pequena república fundamental para o
equilíbrio da grande república humana representada pela nação.
A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de bom
comportamento dentro do impositivo do kespeito ético, recíproco entre os seus
membros, favorável à perfeita harmonia que deve vigir sob o mesmo teto em
que se agasalham os que se consorciam.
Animal social, naturalmente monogâmico, o homem, na sua
generalidade, somente se realiza quando comparte necessidades e aspirações
na conjuntura elevada do lar.
O lar, no entanto, não pode ser configurado como a edificação material,
capaz de oferecer segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a
argamassa, os tijolos, a cobertura, os alicerces e os móveis, enquanto o lar são
renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se
vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consangüíneo,
decorrente da união.
A família, em razão disso, é o grupo de espíritos normalmente
necessitados, desajustados, em compromisso inadiável para a reparação,
graças à contingência reencarnatória. Assim, famílias espirituais
freqüentemente se reúnem na Terra em domicílios físicos diferentes, para as
realizações nobilitantes com que sempre se viram a braços os construtores do
Mundo.
Retornam no mesmo grupo consangüíneo os espíritos afins, a cuja
oportunidade às vezes preferem renunciar, de modo a concederem aos
desafetos e rebeldes do passado o ensejo da necessária evolução, da qual
fruirão após as renúncias às demoradas uniões no Mundo Espiritual...
Modernamente, ante a precipitação dos conceitos que generalizam na
vulgaridade os valores éticos, tem-se a impressão de que paira rude ameaça
sobre a estabilidade da família.
Mais do que nunca, porém, o conjunto doméstico se deve impor para a
sobrevivência a benefício da soberania da própria Humanidade.
A família é mais do que o resultante genético... São os ideais, os sonhos, os
anelos, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições
morais elevadas que se cimentam nos liames da concessão divina, no mesmo
grupo doméstico onde medram as nobres expressões da elevação espiritual na
Terra.
Quando a família periclita, por esta ou aquela razão, sem dúvida a
sociedade está a um passo do malogro...
Histórico — Graças ao instinto gregário, o homem, por exigência da
preservação da vida, viu-se conduzido ànecessidade da cooperação recíproca,
a fim de sobreviver em face das ásperas circunstâncias nos lugares onde foi
colocado para evoluir. A união nas necessidades inspirou as soluções para os
múltiplos problemas decorrentes do aparente desaparelhamento que o fazia
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sofrer ao lutar contra os múltiplos fatores negativos que havia por bem superar.
Formando os primitivos agrupamentos em semi-barbárie, nasceram os
pródromos das eleições afetivas, da defesa dos dependentes e submissos,
surgindo os lampejos da aglutinação familial.
Dos tempos primitivos aos da Civilização da Antigüidade Oriental, os valores
culturais impuseram lentamente as regras de comportamento em relação aos
pais —representativos dos legisladores, personificados nos anciãos; destes
para os filhos — pela fragilidade e dependência que sempre inspiram; entre
irmãos — pela convivência pacífica indispensável à fortaleza da espécie; ou
reciprocamente entre os mais próximos, embora não subalternos ao mesmo
teto, num desdobramento do próprio clã, ensaiando os passos na direção da
família dilatada...
A Grécia, aturdida pela hegemonia militar espartana, não considerou
devidamente a união familial, o que motivou a sua destruição, ressalvada
Atenas, que, não obstante amando a arte e a beleza, reservava ao Estado os
deveres pertencentes à família, facultando-a sobreviver por tempo maior, mas
não lobrigando atingir o programa estético e superior a que se propuseram os
seus excelentes filósofos.
A Roma coube essa indeclinável tarefa, a princípio reservada ao patriciado,
e depois, através de leis coordenadas pelo Senado, que alcançaram as classes
agrícolas, militares, artísticas e a plebe, facultando direitos e deveres que,
embora as hediondas e infelizes guerras, se foram fixando no substrato social e
estabelecendo os convênios que o amor sancionou e fixou como técnica
segura de dignificação do próprio homem, no Conjunto da família.
A Idade Média, caracterizada pela supremacia da ignorância, desfigurou a
família com o impositivo de serem doados os filhos à Igreja e ao suserano
dominador, entibiando por séculos a marcha do espírito humano.
Aos enciclopedistas foi reservada a grandiosa missão de, em
estabelecendo os códigos dos direitos humanos, reestruturarem a família em
bases de respeito para a felicidade das criaturas.
Todavia, a dialética materialista e os modernos conceitos sensualistas,
proscrevendo o matrimônio e prescrevendo o amor livre, voltam a investir
contra a organização familial por meio de métodos aberrantes, transitórios, e
certo, mas que não conseguirão, em absoluto, qualquer triunfo significativo.
São da natureza humana a fidelidade, a cooperação e a fraternidade como
pálidas manifestações do amor em desdobramento eficaz. Tais valores se
agasalham, sem dúvida, no lar, no seio da família, onde se arregimentam
forças morais e se caldeiam sentimentos na forja da convivência doméstica.
Apesar de a poliandria haver gerado o matriarcado e a promiscuidade
sexual feminina, a poligamia, elegendo o patriarcado, não foi de menos
infelizes conseqüências.
Segundo o eminente jurista suíço Bachofen, que procedeu a pesquisas
históricas inigualáveis sobre o problema da poliandria, a mulher sentiu-se
repugnada e vencida pela vulgaridade e abuso sexual, de cuja atitude surgiria o
regime monogâmico, que ora é aceito por quase todos os povos da Terra.
Conclusão — A família, todavia, para lograr a finalidade a que se destina,
deve começar desde os primeiros arroubos da busca afetiva, em que as
realizações morais devem sublevar às sensações sexuais de breve
durabilidade.
Quando os jovens se resolvem consorciar, impelidos pelas imposições
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Joanna de Ângelis
ESTUDO E MEDITAÇÃO:
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Vida em Família
Os filhos não são cópias xerox dos pais, que apenas produzem o corpo,
graças aos mecanismos do atavismo biológico.
As heranças e parecenças físicas são decorrências dos gametas, no
entanto, o caráter, a inteligência e o sentimento procedem do Espírito que se
corporifica pela reencarnação, sem maior dependência dos vínculos genéticos
com os progenitores.
Atados por compromissos anteriores, retornam, ao lar, não somente aqueles
seres a quem se ama, senão aqueloutros a quem se deve ou que estão com
dívidas....
Cobradores empedernidos surgem na forma fisiológica, renteando com o
devedor, utilizando-se do processo superior das Leis de Deus para o reajuste
de contas, no qual, não poucas vezes, se complicam as situações, por indis-
posições dos consortes...
Adversários reaparecem como membros da família para receber amor, no
entanto, na batalha das afinidades padecem campanhas de perseguição
inconsciente, experimentando o pesado ônus da antipatia e da animosidade.
A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências reparadoras, na
qual a felicidade e a dor se alternam, programando a paz futura.
Nem é o grupo da bênção, nem o élan da desdita.
Antes é a escola de aprendizagem e redenção futura.
Irmãos que se amam, ou se detestam, pais que se digladiam no proscênio
doméstico, genitores que destacam uns filhos em detrimento dos outros, ou
filhos que agridem ou amparam pais, são Espíritos em processo de evolução,
retornando ao palco da vida física para a encenação da peça em que
fracassaram, no passado.
A vida é incessante, e a família carnal são experiências transitórias em
programação que objetiva a família universal.
compromisso libertador.
Ante o filhinho deficiente não te inculpes. Ama-o mais e completa-lhe as
limitações com os teus recursos, preenchendo os vazios que ele experimenta.
Suas carências são abençoados mecanismos de crescimento eterno.
Faze por ele, hoje, o que descuidaste antes.
A vida em família é oportunidade sublime que não deve ser descuidada ou
malbaratada.
Joanna de Ângelis
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Casamento e Família
Diante das contestações que se avolumam, na atualidade, pregando a
reforma dos hábitos e costumes, surgen os demolidores de mitos e de
Instituições, assinalando necessidade de uma nova ordem que parece assentar
as bases na anarquia.
A onda cresce e o tresvario domina, avassalador ameaçando os mais
nobres patrimônios da cultura, da ética e da civilização, conquistados sob ônus
pesados, no largo processo histórico da evolução do homem.
Os aficionados da revolução destruidora afirmam que valores ora
considerados, são falsos, quando não falidos, que os mesmos vêm
comprimindo o indivíduo, a sociedade e as massas, que permanecem jungidos
ao servilismo e a hipocrisia, gerando fenômenos alucinatórios e mantendo, na
miséria de vários matizes, grande parte da humanidade.
Entre as instituições que, para eles, se apresentam ultrapassadas,
destacam o matrimônio e a família, propondo a promiscuidade sexual, que
disfarçam com o nome “amor livre”, e a independência do jovem, imaturo e
inconseqüente, sob a justificativa de liberdade pessoal, que não pode nem
deve ser asfixiada sob os impositivos da ordem, da disciplina, da educação...
Excedendo-se, na arbitrariedade das propostas ideológicas ainda não
confirmadas pela experiência social nem pela convivência na comunidade,
afirmam que a criança e o jovem não são dependentes quanto parecem,
podendo defender-se e realizar-se, sem a necessidade da estrutura faniliar, o
que libera os pais negligentes de manterem os vínculos conjugais, separando-
se tão logo enfrentam insatisfações e desajustes, sem que se preocupem com
a prole.
- Não é necessário que analisemos os problemas eXistenciais destes dias,
nem que façamos uma avaliação dos comportamentos alienados, que parecem
resultar da insatisfação, da rebeldia e do desequilíbrio, que grassam em larga
escala.
Não podemos, no entanto, numa visão apressada, mediante exame
superficial, acusar o casamento dos fracassos das uniões carnais, sem o
amadurecimento emocional dos parceiros, nem o instituto da família, ainda
vítima de tal situação.
A monogamia é conquista de alto valor moral da criatura humana, que se
dignifica pelo amor e respeito ao ser elegido, com ele compartindo alegrias e
dificuldades, bem-estar e sofrimentos, dando margem às expressões da
afeição profunda, que se manifesta sem a dependência dos condimentos
sexuais, nem dos impulsos mais primários da posse, do desejo insano.
Utilizando-se da razão, o homem compreende que a vida biológica é uma
experiência muito rápida, que ainda não alcançou biotipos de perfeição, graças
ao que, é frágil, susceptível de dores, enfermidades, limitações, sendo, os
estágios da infância como o da juventude, preparatórios para os períodos do
adulto e da velhice.
Assim, o desgaste e o abuso de agora tornam-se carência e infortúnio mais
tarde, na maquinaria que deve ser preservada e conduzida com morigeração.
Aprofundando o conceito sobre a vida, se lhe constata a anterioridade ao
berço e a continuidade após o túmulo, numa realidade de interação espiritual
com objetivos definidos e inamovíveis, que são os mecanismos inalienáveis do
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Benedita Fernandes
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Responsabilidade no Matrimônio
Interrogam, muitos discípulos do Evangelho: não é mais lícito o desquite
ou o divórcio, em considerando os graves problemas conjugais, à manutenção
de um matrimônio que culmine em tragédia? Não será mais conveniente uma
separação, desde que a desinteligência se instalou, ao prosseguimento de uma
vida impossível? Não têm direito, ambos os cônjuges, a diversa tentativa de
felicidade, ao lado de outrem, já que se não entendem?
E muitas outras inquirições surgem, procurando respostas honestas para o
problema que dia-a-dia mais se agrava e avulta.
Inicialmente, deve ser examinado que o matrimônio em linhas gerais é uma
experiência de reequilíbrio das almas no orçamento familiar. Oportunidade de
edificação sob a bênção da prole — e, quando fatores naturais coercitivos a
impedem, justo se faz abrir os braços do amor espiritual às crianças que
gravitavam ao abandono— para amadurecer emoções, corrigindo sensações e
aprendendo fraternidade.
Não poucas vezes os nubentes, mal preparados para o consórcio
matrimonial, dele esperam tudo, guindados ao paraíso da fantasia, esquecidos
de que esse é um sério compromisso, e todo compromisso exige
responsabilidades recíprocas a benefício dos resultados que se deseja colimar.
A “lua de mel” é imagem rica da Ilusão, porqüanto, no período primeiro do
matrimônio, nascem traumas e desajustes, Inquietações e receios, frustrações
e revoltas, que despercebidos, quase a Princípio, espocam mais tarde em
surdas guerrilhas ou batalhas lamentáveis no lar, em que o ódio e o ciúme
explodem, descontrolados, impondo soluções, sem dúvida, que sejam menos
danosas do que as trágicas.
Todavia, há que meditar, no que concerne aos compromissos de qualquer
natureza, que a sua interrupção, somente adia a data da justa quitação. No
casamento, não raro, o adiamento promove o ressurgir do pagamento em
circunstâncias mais dolorosas no futuro em que, a pesadas renúncias e a fortes
lágrimas, somente, se consegue a solução.
Joanna de Ângelis
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Problemas no Matrimônio
A exceção dos casos de relevantes compromissos morais, o matrimônio,
na Terra, constitui abençoada oportunidade redentora a dois, que não se pode
desconsiderar sem gravames complicados.
Em toda união conjugal as responsabilidades são recíprocas, exigindo de
cada nubente uma expressiva contribuição, a benefício do êxito de ambos, no
tentame encetado.
Pedra angular da família — o culto dos deveres morais
—, a construção do lar nele se faz mediante as linhas seguras do
enobrecimento dos cônjuges, objetivando o equilíbrio da prole.
Somente reduzido número de pessoas, se prepara convenientemente,
antes de intentar o consórcio matrimonial; a ausência desse cuidado, quase
sempre, ocasiona desastre imediato de conseqüências lamentáveis.
Açulados por paixões de vária ordem, que se estendem desde a
atribulação sexual aos jogos dos interesses monetários, deixam-se colher por
afugentes desvarios, que redundam maior débito entre os consorciados e em
relação à progenitura...
Iludidos, face aos recursos da atual situação tecnológica, adiam, de início,
o dever da paternidade sob justificativas indébitas, convertendo o tálamo
conjugal em recurso para o prazer como para a leviandade, com que estiolam
os melhores planos por momento acalentados...
Logo despertam, espicaçados por antipatias e desajustes que lhes parecem
irreversíveis, supõem que somente a separação constitui fórmula solucionadora
quando não derrapam nas escabrosidades que conduzem aos lúgubres crimes
passionais.
Com a alma estiolada, quando a experiência se lhes converteu em
sofrimento, partem para novos conúbios amorosos, carregando lembranças
tormentosas, que se transformam em pesadas cargas emocionais
desequilibrantes.
Alguns, dentre os que jazem vitimados por acerbas incompreensões e
anseiam refazer o caminho, se identificam com outros espíritos aos quais se
apegam, sôfregos, explicando tratar-se de almas gêmeas ou afins, não rece-
ando desfazer um ou dois lares para constituir outro, por certo, de efêmera
duração.
Outros, saturados, debandam na direção de aventuras vis, envenenando-se
vagarosamente.
Enquanto a juventude lhes acena oportunidades, usufruem-nas, sem
fixações de afeto, nem intensidade de abnegação. Surpreendidos pela velhice
prematura, que o desgaste lhes impõe, ou chegados à idade do cansaço
natural, inconformam-se, acalentando pessimismo e cultivando os resíduos das
paixões e mágoas que os enlouquecem, a pouco e pouco.
Joanna de Ângelis
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Desquite e Divórcio
Na sua generalidade o matrimônio é laboratório de reajustamentos
emocionais e oficina de reparação moral, através dos quais Espíritos
comprometidos se unem para elevados cometimentos no ministério familial.
Sem dúvida, reencontros de Espíritos afins produzem vida conjugal
equilibrada, em clima de contínua ventura, através da qual missionários do
saber e da bondade estabelecem a união, objetivando nobres desideratos, em
que empenham todas as forças.
Outras vezes, programando a elaboração de uma tarefa relevante para o
futuro deles mesmos, se penhoram numa união conjugal que lhes enseje
reparação junto aos desafetos e às vítimas indefesas do passado, para cuja
necessidade de socorrer e elevar compreendem ser inadiável.
Fundamental, entretanto, em tais conjunturas, a vitória dos cônjuges sobre o
egoísmo, granjeando recursos que os credenciem a passos mais largos, na
esfera das experiências em comum.
Normalmente, porém, através do consórcio matrimonial, exercitam-se
melhor as virtudes morais, que devem ser trabalhadas a benefício do lar e da
compreensão de ambos os comprometidos na empresa redentora. Nessas
circunstâncias a prole, quase sempre vinculada por desajustes pretéritos, é
igualmente convocada ao buril da lapidação, na oficina doméstica, de cujos
resultados surgem compromissos vários em relação ao futuro individual de
cada membro do clã, como do grupo em si mesmo.
Atraídos por necessidades redentoras, mas despreparados para elas, os
membros do programa afetivo, não poucas vezes, descobrem, de imediato a
impossibilidade de continuarem juntos.
De certo modo, a precipitação resultante do imediatismo materialista que
turba o discernimento, quase sempre pelo desequilíbrio no comportamento
sexual, é responsável pelas alianças de sofrimento, cuja harmonia difícil, quase
sempre, culmina em ódios ominosos ou tragédias lamentáveis.
Indispensável, no matrimônio, não se confundir paixão com amor,
interesse sexual com afeição legítima.
Causa preponderante nos desajustes conjugais o egoísmo, que se
concede valores e méritos superlativos em detrimento do parceiro a quem se
está vinculado.
Mais fascinados pelas sensações brutalizantes do que pelas emoções
enobrecidas, fogem os nubentes desavisados um do outro a princípio pela
imaginação e depois pela atitude, abandonando a tolerância e a compreensão,
de pronto iniciando o comércio da animosidade ou dando corpo às frustrações,
que degeneram em atritos graves e enfermidades perturbadoras.
Comprometessem-se, realmente, a ajudar-se com lealdade,
estruturassem-se nos elementos das lições evangélicas, compreendessem e
aceitassem como legítimas a transitoriedade do corpo e o valor da experiência
provacional, e se evitariam incontáveis dramas, inumeráveis desastres do lar,
que ora desarticulam as famílias e infelicitam a sociedade.
O casamento é contrato de deveres recíprocos, em que se devem
empenhar os contratantes a fim de lograrem o êxito do cometimento.
A sociedade materialista, embora disfarçada de religiosa, facilita o
rompimento dos liames que legalizam o desposório por questões de somenos
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Joanna de Ângelis
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Anticonceptivos e Planejamento Familiar
Alegações ponderosas que merecem consideração vêm sendo arroladas
para justificar-se a planificação familiar através do uso dos anticonceptivos de
variados tipos. São argumentos de caráter sociológico, ecológico, econômico,
demográfico, considerando-se com maior vigor os fatores decorrentes das
Possibilidades de alimentação numa Terra tida como semi-exaurida de
recursos para nutrir aqueles que se multiplicam geometricamente com
espantosa celeridade...
Entusiastas sugerem processos definitivos de impedimento procriativo pela
esterilização dos casais com dois filhos, sem maior exame da questão, no
futuro, transformando o indivíduo e a sua função genética em simples máquina
que somente deve ser acionada para o prazer, nem sempre capaz de propiciar
bem-estar e harmonia.
Sem dúvida, estamos diante de um problema de alta magnitude, que deve
ser, todavia, estudado à luz do Evangelho e não por meios dos complexos
cálculos frios da precipitação materialista.
O homem pode e deve programar a família que deseja e lhe convém ter:
número de filhos, período propício para a maternidade, nunca, porém, se
eximirá aos imperiosos resgates a que faz juz, tendo em vista o seu próprio
passado.
Melhor usar o anticonceptivo do que abortar...
Os filhos, porém, não são realizações fortuitas, decorrentes de
circunstâncias secundárias, na vida. Procedem de compromissos aceitos antes
da reencarnação pelos futuros progenitores, de modo a edificarem a família de
que necessitam para a própria evolução. É-lhes lícito adiar a recepção de
Espíritos que lhes são vinculados, impossibilitando mesmo que se reencarnem
por seu intermédio.
Irrisão, porém, porqüanto as Soberanas Leis da Vida dispõem de meios
para fazer que aqueles rejeitados venham por outros processos à porta dos
seus devedores ou credores, em circunstâncias quiçá mui dolorosas,
complicadas pela irresponsabilidade desses cônjuges que ajam com
leviandade, em flagrante desconsideração aos códigos divinos.
Assevera-se que procriar sem poder educar, ter filhos sem recursos para
cuidá-los, aumentando, incessantemente, a população da Terra, representa
condená-los à miséria e
a sociedade do futuro a destino inditoso...
Ainda aí o argumento se reveste do sofisma materialista, que um dia
inspirou Malthus na sua conceituação lamentável e no não menos infeliz néo-
malthusianismo que adveio posteriormente...
Ninguém pode formular uma perfeita visão do porvir para a Humanidade, e
os futurólogos que aí se encontram têm estado confundidos pelas próprias
previsões, nas surpresas decorrentes da sucessão dos acontecimentos ainda
nos seus dias...
A cada instante recursos novos e novas soluções são encontrados para os
problemas humanos.
Escasso, porém, é o amor nos corações, cuja ausência fomenta a fome de
fraternidade, de afeição e de misericórdia, responsável pelas misérias que se
multiplicam em toda parte.
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Joanna de Ângelis
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8
Tarefas
Gostarias de servir, guindado porém, aos altos postos, e dirimirias muitas
dificuldades, Solvendo os aflitivos problemas que esmagam o povo.
Preferirias atuar em relevantes compromissos, onde a própria atividade se
convertesse em repressão ao crime de todos os matizes.
Desejarias abraçar missões especiais, no mundo das pesquisas científicas
ou no campo das ciências sociais, abrindo horizontes claros para a
Coletividade.
Pretenderias o trabalho nas altas esferas religiosas, comentando as
necessidades das massas junto aos administradores do mundo e sugerindo
roteiros iluminativos quanto libertadores.
Estimarias a liderança na Coletividade favorecido pelos recursos que
enxergas nos outros, e lamentas serem inúteis onde se encontram...
No entanto, não sabes as lutas das posições frontais.
Desconheces, talvez, que todos eles, Convidados pelas leis a atenderem as
dificuldades dos outros homens, são, igualmente, homens em dificuldade.
Atormentam-se, sofrem, choram e vivem com a máscara sobre o cariz,
conforme os figurinos da política infeliz ou os modelos da cultura em
abastardamento.
Lutam contra máquinas emperradas e odiosas.
Muitas vezes são vencidos.
Alçaram-se às culminâncias do poder sem base para os pés.
São iguais a ti mesmo.
A posição de relevo não faz o caráter reto.
A mudança de governo não opera repentina mudança de moral.
O problema social é mais complexo do que parece.
Podes, todavia, muito fazer. Não de cima, mas de onde te encontras.
O suntuoso palácio subalterniza-se ao alicerce que serve de apoio à
construção.
Se o sacerdócio que anelas não te alcança o ideal, recorda que o lar é a
escola da iniciação primeira para qualquer investidura. Todos aqueles que se
notabilizaram, no mundo, passaram pelas mãos anônimas do domicílio familiar,
onde se apagaram os pais e os mestres na extensão de sacrifícios grandiosos
e desconhecidos.
A ferramenta humilde que rasga o solo onde repousará o monumento é
irmã do buril que talhou a pedra.
A enxada gentil que prepara a terra é companheira da pena que sanciona
as leis agrárias de justa distribuição de terrenos.
Todas as tarefas do bem são ministérios divinos em que devemos
empenhar a vitalidade, sem esmorecimento nem reclamação.
Sem as mãos da humilde cozinheira, as mãos do sábio não poderiam
movimentar o progresso humano...
Cumpre, pois, o dever que te cabe, com a alma em prece, e embora não
sejas notado na Terra, demorando-te desconhecido, recorda que Jesus, até
agora, é o Grande Servidor Anônimo, a ensinar-nos que a maior honra da vida
é o privilégio de ajudar e passar adiante, servindo sempre e sem cansaço.
Joanna de Ângelis
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9
Dentro do Lar
Famílias-problemas!...
Irmãos que se antagonizam...
Cônjuges em lamentáveis litígios...
Animosidades entre filho e pai, farpas
filha e mãe...
Afetos conjugais que se desmantelam
torvas acrimônias...
Sorrisos filiais que se transfiguram
idiossincrasias e vinditas...
Tempestades verbais em discussões extemporâneas...
Agressões infelizes de conseqüências fatais...
Tragédias nas paredes estreitas das famílias...
Enfermidades rigorosas sob látegos de impiedosa maldade...
Mãos encanecidas sob tormentos de filhos dominados por ódios
inomináveis.
Pais enfermos açoitados por filhas obsidiadas, em conúbios satânicos de
reações violentas em cadeia de ira...
Irmãos dependentes sofrendo agressões e recebendo amargos pães,
fabricados com vinagre e fel de queixa e recriminações...
Famílias em guerras tiranizantes, famílias-problemas!
Joanna de Ângelis
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Espiritismo no Lar
“Deus permite que, nas famílias, ocorram essas encarnações de
Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de
prova para uns e, para outros, de meio de progresso.”
Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 4º — Ítem 18.
Joanna de Ângelis
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11
Cristo em Casa
Contrapondo-se à onda crescente da loucura que irrompe avassaladora de
toda parte e domina penetrando os lares e os destroçando, o Evangelho de
Jesus, hoje como no passado, abre larga faixa para a esperança, facultando a
visão de um futuro promissor onde os desassossegos do coração não terão
ensejo de medrar.
A par da lascívia e do moderno comércio do erotismo, que consomem as
mais elevadas aspirações humanas na indústria da devassidão, as sementes
luminosas da Boa Nova, plantadas na intimidade do conjunto familiar, des-
dobram-se em embriões de amor que enriquecem os espíritos de paz,
recuperando os homens portadores das enfermidades espirituais de longo
curso e medicando-os com as dádivas da saúde.
Enquanto campeia a caça desassisada aos estupefacientes e barbitúricos,
aos narcóticos e aos excessos do sexo em desalinho, a mensagem do Reino
de Deus cada semana, na família, representa remédio valioso que consegue
recompor das distonias psíquicas aqueles que jazem anestesiados sob o jugo
de forças ultrizes e vingadoras de existências pretéritas.
Há mais enfermos no mundo do que se supõe que existam. Isto porque, no
reduto familiar raramente fecundam a conversação edificante, o entendimento
fraterno, a tolerância geral, o amor desinteressado... Vinculados por compro-
missos vigorosos para a própria evolução, os Espíritos reencarnam-se no
mesmo grupo cromossomático, endividados entre si, para o necessário
reajustamento, trazendo nos refolhos da memória espiritual as recordações
traumáticas e as lembranças nefastas, deixando-se arrastar, invariavelmente, a
complexos processos de obsessão recíproca, graças ao ódio mantido, às
animosidades conservadas e nutridas com as altas contribuições da rebeldia e
da violência.
Em razão disso, o desrespeito grassa, a revolta se instala, a indiferença
insiste e a aversão assoma...
A família, em tais circunstâncias, se transforma em palco de tragédias
sucessivas, quando não se faz aduana de traições e insídias...
Estimulando os desajustes que se encontram inatos nos grupos da
consangüinidade, a hodierna técnica da comunicação malsã tem conspirado
poderosamente contra a paz do lar e a felicidade dos homens.
Abre o “livro da vida” e medita nos “ditos do Senhor” pelo menos uma vez
na semana, entre aqueles que vivem Contigo em conúbio familiar. Mergulha a
mente nas suas lições, embriaga o espírito na esperança, sobre a água lustral
da “fonte viva” generosa e abundante, esquece os painéis tumultuados que são
habituais e marcha na direção da alegria.
Se não consegues a companhia dos que te repartem a consangüinidade
para tal ministério, não desfaleças. Faze-o, assim mesmo.
Se assomam óbices inesperados não descoroçoes, insistindo, ainda assim.
Se surpresas infelizes Conspiram à hora do teu encontro semanal com Ele,
não desesperes e retoma as tentativas, perseverando
Quando Cristo penetra a alma do discípulo, refá-la, quando visita a família
em prece, sustenta-a.
Faze do teu lar um santuário onde se possa aspirar o aroma da felicidade e
fruir o néctar da paz.
Joanna de Ângelis
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Jesus Contigo
Dedica uma das sete noites da semana ao Culto Evangélico no Lar, a fim de
que Jesus possa pernoitar em tua casa.
Prepara a mesa, coloca água pura, abre o Evangelho, distende a
mensagem da fé, enlaça a família e ora. Jesus virá em visita.
Quando o Lar se converte em santuário, o crime se recolhe ao museu.
Quando a família ora, Jesus se demora em casa. Quando os corações se
unem nos liames da Fé, o equilíbrio oferta bênçãos de consolo e a saúde
derrama vinho de paz para todos.
Jesus no Lar é vida para o Lar.
Não aguardes que o mundo te leve a certeza do bem invariável. Distende,
da tua casa cristã, a luz do Evangelho para o mundo atormentado.
Quando uma família ora em casa, reunida nas blandícias do Evangelho,
toda a rua recebe o benefício da comunhão com o Alto.
Se alguém, num edifício de apartamentos, alça aos Céus a prece da
comunhão em família, todo o edifício se beneficia, qual lâmpada ignorada,
acesa na ventania.
Não te afastes da linha direcional do Evangelho entre os teus familiares.
Continua orando fiel, estudando com os teus filhos e com aqueles a quem
amas as diretrizes do Mestre e, quanto possível, debate os problemas que te
afligem à luz clara da mensagem da Boa Nova e examina as dificuldades que
te perturbam ante a inspiração consoladora do Cristo. Não demandes a rua,
nessa noite, senão para os inevitáveis deveres que não possas adiar. Demora-
te no Lar para que o divino Hóspede aí também se possa demorar.
E quando as luzes se apagarem à hora do repouso, ora mais uma vez,
comungando com Ele, como Ele procura fazer, a fim de que, ligado a ti,
possas, em casa, uma vez por semana em sete noites, ter Jesus contigo.
Joanna de Ângelis
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13
Estudo Evangélico no Lar
Na expressiva república do lar, onde se produzem as experiências de
sublimação, estabelece o estatuto do Evangelho de Jesus como diretriz de
segurança e legislação de sabedoria, a fim de equilibrares e conduzires com
retidão os que aí habitam em clima familial.
Semanalmente, em regime de pontualidade e regularidade, abre as páginas
fulgurantes onde estão insculpidos os “ditos do Senhor” e estuda com o teu
grupo doméstico as sempre atuais lições que convidam a maduras ponde-
rações, de imediata utilidade.
Haurirás inusitado vigor que te fortalecerá do íntimo para o exterior,
concitando-te à alegria.
Compartirás, no exame das questões sempre novas na pauta dos estudos,
dos problemas que inquietam os filhos e demais membros do clã, encontrando,
pela inspiração que fluirá abundante, soluções oportunas e simples para as
complexas dificuldades, debatendo com franqueza e honestidade as limitações
e os impedimentos, que não raro geram atrito, estimulando animosidade no
conserto de reparação na intimidade doméstica.
Penetrarás elucidações dantes não alcançadas, robustecendo o espírito
para as conjunturas difíceis em que transitarás inevitavelmente.
Ensejar-te-ás diálogos agradáveis sob a diamantina claridade da fé e a
balsâmica medicação da paz, estabelecendo vigorõsos liames de
entrosamento anímico e fraternal entre os participantes do ágape espiritual.
Dramas que surgem na família; incompreensões que se agravam; urdiduras
traiçoeiras; pessoas em rampa de perigo iminente; enfermidades em fixação;
cerco obsessivo constritor; suspeitas em desdobramento pernicioso; angústias
em crises a caminho do autocídio; inquietações de vária ordem em painéis de
agressividade ou loucura recebem no culto evangélico do lar o indispensável
antídoto com as conseqüentes reservas de esclarecimento e coragem para
dirimir equívocos, finalizar perturbações, predispor à paz e ajudar nos embates
todos quantos aspirem à renovação, entusiasmo e liberdade.
Onde se acende uma lâmpada, coloca-se um impedimento à sombra e à
desfaçatez...
No lugar em que a ordem elabora esquema de produtividade, escasseia a
incúria e se debilita a estroinice.
O convite do Evangelho, portanto, — lâmpada sublime e lei dignificante —
tem caráter primeiro.
Da mesma forma que a enxada operosa requisita braços diligentes e a terra
abençoada espera serviço de proteção e cultivo, a lavoura do bem entre os
homens exige trabalho contínuo e operários especializados.
Começa, desse modo, na família, a tua obra de extensão à fraternidade
geral.
Inconseqüente arregimentar esforços de salvação externa e falires na
intimidade doméstica, adiando compromissos.
Faze o indispensável, da tua parte, todavia, se os teus se negarem
compartir o ministério a que te propões, a sós, reservadamente na limitação da
tua peça de dormir, instala a primeira lâmpada de estudo evangélico e porfia...
Se, todavia, os teus filhos estiverem, ainda, sob a tua tutela, não creias na
validade do conceito de deixá-los ir, sem religião, sem Deus... Como lhes dás
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Joanna de Ângelis
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14
Deveres dos Pais
Por impositivo da sabedoria divina, no homem a infância demora maior
período do que em outro animal qualquer.
Isto, porque, enquanto o Espírito assume, a pouco e pouco, o controle da
organização fisiológica de que se serve para o processo evolutivo, mais fácil se
fazem as possibilidades para a fixação da aprendizagem e a aquisição dos
hábitos que o nortearão por toda a existência planetária.
Como decorrência, grande tarefa se reserva aos pais no que tange aos
valores da educação, deveres que não podem ser postergados sob pena de
lamentáveis conseqüências.
Os filhos — esse patrimônio superior que a Divindade concede por
empréstimo —, através dos liames que a consangüinidade enseja, facultam o
reajustamento emocional de Espíritos antipáticos entre si, a sublimação de
afeições entre os que já se amam, o caldeamento de experiências e o delinear
de programas de difícil estruturação evolutiva, pelo que merecem todo um
investimento de amor, de vigilância e de sacrifício por parte dos genitores.
A união conjugal propiciatória da prole edificada em requisitos legais e
morais constitui motivo relevante, que não deve ser confundida com as
experiências do prazer, que se podem abandonar em face de qualquer
conjuntura que exige reflexão, entendimento e renúncia de algum ou de ambos
nubentes.
Joanna de Ângelis
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15
Educação
CONCEITO — A educação é base para a vida em comunidade, por meio de
legítimos processos de aprendizagem que fomentam as motivações de
crescimento e evolução do indivíduo.
Não apenas um preparo para a vida, mediante a transferência de
conhecimentos pelos métodos da aprendizagem. Antes é um processo de
desenvolvimento de experiências, no qual educador e educando desdobram as
aptidões inatas, aprimorando-as como recursos para a utilização consciente,
nas múltiplas oportunidades da existência.
Objetivada como intercâmbio de aprendizagens, merece considerá-la nas
matérias, nos métodos e fins, quando se restringe à instrução. Não somente a
formar hábitos e desenvolver o intelecto, deve dedicar-se a educação, mas,
sobretudo, realizar um continuum permanente, em que as experiências por não
cessarem se fixam ou se reformulam, tendo em conta as necessidades da
convivência em sociedade e da auto-realização do educando.
Os métodos na experiência educacional devem ser consentâneos às
condições mentais e emocionais do aprendiz. Em vez de se lhe impingir, por
meio do processo repetitivo, os conhecimentos adquiridos, o educador há de
motivá-lo às próprias descobertas, com ele crescendo, de modo que a sua
contribuição não seja o resultado do pronto e concluído”, processo que,
segundo a experiência de alguns, “deu certo até aqui.
Na aplicação dos métodos e escolha das matérias merece considerar as
qualidades do educador, sejam de natureza intelectual ou emocional e
Psicológica, como de caráter afetivo ou sentimental.
Os fins, sem dúvida, estão além das linhas da escolaridade. Erguem-se
como permanente etapa a culminar na razão do crescimento do indivíduo,
sempre além, até transcenderse na realidade espiritual do porvir.
A criança não é um “adulto miniaturizado”, nem uma cera plástica”,
facilmente moldável.
Trata-se de um espírito em recomeço, momentaneamente em esquecimento
das realizações positivas e negativas que traz das vidas pretéritas, empenhado
na conquista da felicidade.
Redescobrindo o mundo e se reidentificando, tende a repetir atitudes e
atividades familiares em que se comprazia antes, ou através das quais
sucumbiu.
Tendências, aptidões, percepções são lembranças evocadas
inconscientemente que renascem em forma de impressões atraentes,
dominantes, assim como limitações, repulsas, frustrações, agressividade e
psicoses constituem impositivos constritores ou restritivos — não poucas vezes
dolorosos — de que se utilizam as Leis Divinas para corrigir e disciplinar o
rebelde que, apesar da manifestação física em período infantil, é espírito
relapso, mais de uma vez acumpliciado com o erro, a ele fortemente vinculado,
em fracassos morais sucessivos.
Ao educador, além do currículo a que se deve submeter, são indispensáveis
os conhecimentos da psicologia infantil, das leis da reencarnação, alta
compreensão afetiva junto aos problemas naturais de processus educativo e
harmonia interior, valores esses capazes de auxiliar eficientemente a
experiência educacional.
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Joanna de Ângelis
ESTUDO E MEDITAÇÃO:
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Laços Eternos
A reencarnação estreita os vínculos do amor, tornando-os laços eternos,
pelo quanto faculta de experiência na área da afetividade familiar.
Enquanto as ligações de sangue favorecem o egoísmo, atando as criaturas
às algemas das paixões possessivas, a pluralidade das existências ajuda,
mediante a superação das conveniências pessoais, a união fraternal.
Os genitores e nubentes, os irmãos e primos, os avós e netos de uma
etapa trocarão de lugar no grupo de companheiros que se afinam,
permanecendo os motivos e emulações da amizade superior.
O desligamento físico pela desencarnação faz que se recomponham, no
além-túmulo, as famílias irmanadas pelo ideal da solidariedade, ensaiando os
primeiros passos para a construção da imensa família universal.
Quando a força do amor vigilante detecta as necessidades dos corações
que mergulharam na carne, sem egoísmo, pedem aos programadores
espirituais das vidas que lhes permitam acompanhar aqueles afetos que os
anteciparam, auxiliando-os nos cometimentos encetados, e reaparecem na
parentela corporal ou naquela outra, a da fraternidade real que os une e faculta
os exemplos de abnegação, renúncia e devotamento.
Este amigo que te oferece braço forte; esse companheiro a quem estimas
com especial carinho; aquele conhecido a quem te devotas com superior
dedicação; estoutro colega que te sensibiliza; essoutro discreto benfeitor da tua
vida; aqueloutro vigilante auxiliar que se apaga para que apareças, são teus
familiares em espírito, que ontem envergaram as roupagens de um pai
abnegado ou de uma mãe sacrificada, de um irmão zeloso ou primo generoso,
de uma esposa fiel e querida ou de um marido cuidadoso, ora ao teu lado,
noutra modalidade biológica e familiar, alma irmã da tua alma, diminuindo as
tuas dores, no carreiro da evolução e impulsionando-te para cima, sem
pensarem em si...
Os adversários gratuitos que te sitiam e perturbam, os que te buscam
sedentos e esfaimados, vencidos por paixões mesquinhas, são, também,
familiares outros a quem ludibriaste e traíste, que agora retornam, necessitados
do teu carinho, da tua reabilitação moral, a fim de que se refaça o grupo
espiritual, que ascenderá contigo no rumo da felicidade.
Joanna de Ângelis
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17
Perante a Prole
Fitando o anjo corporificado nas carnes do filhinho que dorme, deténs-te
junto ao berço de alegrias e exultas, dominado por compreensível júbilo,
meditando quanto ao futuro risonho e abençoado que almejas para ele.
Não te ocorre a idéia de que o “rebento” das tuas células é também filho
de Deus em vilegiatura evolutiva, seguindo hoje ao teu lado, sob a direção da
tua experiência.
Naquele corpo que o tempo desdobrará e na fragilidade dos músculos
que se enrijecerão dia-a-dia, momentaneamente repousa um espírito que se
prepara para as ingentes e santificantes tarefas do porvir.
Possivelmente não pensarás que essa concessão divina poderá um dia
armar-se de revolta e agredir-te a velhice cansada, investindo, ao impacto de
inomináveis ingratidões e rebeldias, contra as tuas fracas forças de então.
Parece-te impossível, pois que ele é tão pequenino, formoso e meigo!
Os amigos afirmam que o teu filhinho se parece contigo, tendo a
meiguice da mamãe e o nobre caráter do papai, apesar de tão diminuto. E têm
razão, por enquanto.
Dás-lhe o legado do corpo, emprestas-lhe alguns sinais fisionômicos e
poderás plasmar nele alguns dos teus caracteres morais. Ele, porém, te
solicita, desde já, mais do que deslumbramento e carinho. Necessita de ti,
muito mais do que pensas.
Os pais não são os construtores da vida, porém, os médiuns dela,
plasmando-a, sob a divina diretriz do Senhor. Tornam-se instrumentos da
oportunidade para os que sucumbiram nas lutas ou se perderam nos tentames
da evolução, algumas vezes se transformando em veículos para os
embaixadores da verdade descerem ao mundo em agonia demorada.
Pensa, portanto, e cogita com maturidade, educando o filho que Deus te
concede por algum tempo, nas diretrizes enobrecedoras da fé cristã,
ministrando-lhe as lições vivas do exemplo dignificante.
Talvez a educação não consiga fazer tudo por ele, caso seja alguém
assinalado por graves problemas que o acompanhem de outras existências...
Prepará-lo-ás, no entanto, para melhor experiência e maior aprendizagem.
Não descures de iluminá-lo com as claridades do amor à verdade, ao bem e
à justiça, em nome do Supremo Amor.
A carne gera a carne, mas o espírito não produz o espírito.
O filhinho que te chega é compromisso para a tua existência.
Não o temas, nunca.
Não o ofendas com a falsa valorização dele, em demasia.
Recorda-lhe a humildade, considerando a procedência de todos nós e o
lugar comum do barro orgânico...
E orienta-o dignamente, sem cessar.
Joanna de Ângelis
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Limitação de Filhos
O problema da planificação familiar, antes de maiores cogitações, deve
merecer dos cônjuges mais profundas análises e reflexões.
Pela forma simplista como alguns o apresentam, a desordenada utilização
de métodos anticonceptivos interfere negativamente, na economia moral da
própria família.
Na situação atual, os pais dotados de recursos econômicos, menos
procriam, em considerando as disponibilidades que possuem, enquanto os
destituídos de posses aumentam a prole, tornando muito mais complexas e
difíceis as engrenagens do mecanismo social. Os filhos são programados na
esfera extra-física da vida, tendo-se em vista as injunções crédito-débito,
defluentes das reencarnações passadas.
Normalmente, antes do mergulho do corpo carnal, o Espírito reencarnante
estabelece intercâmbio com os futuros genitores, de cujo concurso necessitam
para o cometimento a empreender.
Os filhos não chegados pela via normal, não obstante, alcançarão a casa
dos sentimentos negados, utilizando-se dos sutis recursos da Vida, que
reaproximam os afins pelo amor ou pela rebeldia quando separados, para as
justas reparações.
Chegarão a outros tetos, mas dali sairão atraídos pelas necessidades
propelentes ao encontro da família que lhe é própria, nem sempre forrados em
objetivos relevantes...
Joanna de Ângelis
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19
Personalidades Parasitas
Na psicopatologia das personalidades múltiplas ou anômalas, não podemos
descartar a realidade espiritual do próprio paciente.
Espírito eterno, herdeiro das ações transatas, ei-lo que marcha mediante as
etapas reencarnacionistas, acumulando experiências e somatizando problemas
que, a contributo do amor — na realização edificante, ou na dor, expungindo
delitos — alcança a plenitude da sua realidade: a destinação feliz para a qual
foi criado!
Evidentemente, os conflitos e traumas da infância, que dão origem às
personificações parasitárias, são de relevância em tal problemática. Mesmo aí
defrontamos, no lar dificil, nas agressões da família, nos vários distúrbios
domésticos, a mão da justiça infalível estabelecendo os mecanismos corretivos
para o infrator libertar-se dos débitos, sob a injunção de fugas espetaculares,
as quais dão surgimento às construções de variantes personagens que
assomam do inconsciente, em processos de defesa do ser frágil e tímido, aflito
e receoso...
Bem sabemos que as agressões da brutalidade a criança, da violência
sexual, do temor sistemático, geram conflitos e aspirações libertáveis que, na
impossibilidade de agir com a energia própria, dão nascimento a entidades que
assomam, dominando o Inconsciente e realizando-se além das conjunturas
impiedosas dessas frustrações de impotência moral, social, econômica ou
psíquica.
A criança é mais do que um ser em formação. Trata-se de um universo
individualizado, um somatório de valores que aos pais e educadores cabe
penetrar para bem desenvolver e conduzir.
O pavor que se lhe insufla, o desamor de que se sente objeto, as ofensas
não digeridas que sempre lhe são atiradas como calhaus e chuvas de
humilhação terminam por produzir tormentos asfixiantes, dando gênese aos
seres que a dominarão ao largo dos tempos, tornando-a venal, fingida ou
igualmente violenta, rebelde, desagregada
Somente o amor possui os ingredientes de correção destes equipamentos
do inconsciente, geradores dos distúrbios alienadores da pessoa.
A terapia especializada, ao largo dos anos, consegue reintegrar as diversas
personificaçôes na identidade do eu consciente, libertando o paciente da
perturbadora situação.
Vezes, porém, ocorrem, nas quais, além das personificações construídas
pelo inconsciente predominam entidades conscientes de outra dimensão, que
obsediam e atormentam aqueles a quem odeiam ou supõem lhes devam
Compreensão e amor.
A psicoterapia dos passes, da renovação moral do paciente e do
esclarecimento da personalidade subjugadora, conseguem liberar a vítima, que
deverá passar a envidar esforços para conquistar um elenco de recursos
morais, nos quais estejam luzindo a caridade e a compaixão.
A obsessão sutil e perigosa grassa dominadora, e, na área das
enfermidades mentais de todo porte, o doente é sempre o réu na COnSciência
culpada, reparando os gravames das vidas passadas e erigindo a sua
realidade moral, com a qual o pensamento e a ação se conjugam para a
elevação e a saúde real, que somente são possíveis através da consciência
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20
Alienação Infanto-juvenil e Educação
O surto das alienações mentais infanto-juvenil, num crescendo assustador,
deve reunir-nos todos em torno do problema urgente, a fim de que sejam
tomadas providências saneadoras dessa cruel pandemia.
Nas sórdidas favelas, onde os fatores criminógenos se desenvolvem com
facilidade e morbidez; nos agrupamentos escolares, nos quais enxameiam os
problemas de relacionamento sem ética, sem estruturação moral; nas famílias
em desagregação por distonias emocionais dos pais, egoístas e arbitrários; nas
ruas e praças desportivas, em razão da indiferença dos adultos e dos exemplos
perniciosos por eles praticados, as drogas, o sexo, a violência, induzem
crianças e jovens ao martírio da alienação mental e do suicídio.
Desamados, quanto indesejados, passam pelas avenidas do mundo esses
seres desamparados, objeto de promoção de homens ambiciosos e sem
escrúpulos, que deles fazem bandeira de auto promoção e sensibilização das
massas, esquecendo-os logo depois de atingidas as metas que perseguem.
Pululam, também, essas vítimas das atuais desvairadas cultura e
tecnologia, nos lares ricos e confortáveis de onde o amor se evadiu, substituído
pela indiferença e permissividade com que compensam o dever, enganando a
floração infantil que emurchece com as terríveis decepções antes do tempo.
Ao lado de todos esses fatores psicossociais, econômicos e morais,
destacam-se os espirituais, que decorrem dos vínculos reencarnacionistas que
imanam esses espíritos em recomeço àqueloutros que lhes sofreram danos,
prejuízos e acerbas aflições pretéritas, de que não se liberaram.
As disciplinas que estudam a psique, seguramente, penetram na
anterioridade do ser ao berço, identificando, na reencarnação, os mecanismos
desencadeadores das alienações, seja através dos processos orgânicos e
psíquicos ou mediante os conúbios obsessivos.
A obsessão irrompe em toda parte, na condição de chaga aberta no
organismo social, convidando as mentes humanas à reflexão.
Desatentos e irrequietos os homens avançam sem rumo, distanciados
ainda de responsabilidades e valores morais.
Urge que a educação assuma o seu papel no organismo social da Terra
sofrida destes dias. Educação, porém, no seu sentido profundo, integral, de
conhecimento, experiência, hábitos e fé racional. Estruturando o homem nos
seus equipamentos de espírito, perispírito e corpo, nele fixando os valores
éticos de cuja utilização se enriqueça conscientizando-se da sua realidade
externa e vivendo de forma consentânea com as finalidades da existência
terrena, que o levará de retorno à Pátria de origem em clima de paz.
Não se pode lograr êxito, na área da saúde mental como na da felicidade
humana, utilizando-se um comportamento que estuda os efeitos sem remontar
às causas, erradicando-as em definitivo.
Para tanto, é fundamental que o lar se transforme num santuário e a escola
dê prosseguimento nobre à estrutura familiar, preparando o educando para a
vida social, herdeiros de guerras cruéis, remotas e recentes, de crimes contra a
Humanidade e o indivíduo, os reencarnantes atuais estão atados a penosas
dívidas, que o amor e o Evangelho devem resgatar, alterando o
comportamento da família e da sociedade, assim poupando o futuro de danos
inimagináveis.
50
Benedita Fernandes
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Campanhas
Sob os acordes maviosos da mensagem espírita que entesouras na mente,
despertas, por fim, para a vida, desejando promover campanhas de
enobrecimento.
Para tanto, começa na intimidade do lar, exercitando desapego e
renunciação.
Se o fizeres, transferirás do largo campo do planejamento o ideal que
acalentas para as rudes e valiosas experiências da ação, cultivando o bem em
todas as latitudes.
Remove, inicialmente, de velhas gavetas objetos que se constituem
excessos, e das cômodas antigas retira tecidos e roupas usadas a se gastarem
na inutilidade, oferecendo-lhes melhor aplicação.
Objetos mortos, que conservam valores de duvidosa expressão,
catalogados como “de estimação” se transformariam em pães e socorro para
quantos sofrem ao lado da tua indiferença.
Alfaias e baixelas cinzeladas, recordando antepassados queridos, poderiam
tornar-se luz e esperança para aqueles que espreitam além da porta do teu
domicílio.
Desapega-te hoje dos haveres, antes que se consumam amanhã,
expressando coerência com as aspirações que vitalizas.
No entanto, se desejares traduzir melhor os sentimentos que atestam as
tuas novas concepções através das campanhas que movimentas, faze mais.
Leva adiante, a outrem, não somente o tecido surrado e gasto, mas também
o novo, para que a tua dádiva signifique mais do que transferência do desvalor.
Não apenas aquilo que não serve.
Em verdade é nosso tudo quanto oferecemos.
O que damos, possuímos, por demorar-se indestrutível dentro de nós.
E como os pertences, de que somos somente mordomos transitórios,
mudam de mãos ao impositivo do tempo e da morte, distribuamos aquilo que
supomos possuir a fim de que possuamos realmente.
Joanna de Ângelis
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22
Necessidade de Evolução
Educação-Fonte de Bênção
Joanna de Ângelis
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23
Deveres dos Filhos
Toda a gratidão sequer retribuirá a fortuna da oportunidade fruída através
do renascimento carnal.
O carinho e respeito contínuos não representarão oferenda compatível com
a amorosa assistência recebida desde antes do berço.
A delicadeza e a afeição não corresponderão à grandeza dos gestos de
sacrifício e da abnegação demoradamente recebidos...
Os filhos têm deveres intransferíveis para com os pais, instrumentos de
Deus para o trâmite da experiência carnal, mediante a qual o Espírito adquire
patrimônios superiores, resgata insucessos e comprometimentos
perturbadores.
Joanna de Ângelis
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Filho Deficiente
A decepção passou a ser-te um ferrete em brasa, dilacerando sem cessar
os teus sentimentos.
Todos os planos ficaram desfeitos, quando esperavas entesourar felicidade
e vitória.
No suceder dos dias, desde os primeiros sinais, anelaste por um ser
querido que chegaria aos teus braços com os louros e a predestinação da
grandeza em relação ao futuro.
O pequeno príncipe deveria trazer no corpo, na mente, na vida, as
características da raça pura, grandioso no porte, lúcido na inteligência,
triunfador nas realizações.
O que agora contemplas não é o filho desejado, mas um feio espécime,
mutilado, enfermo, frágil...
Mal acreditas que se haja gerado por teu intermédio, que seja teu filho.
Por pouco não o detestas.
Mal te recobras do choque e da vergonha que experimentas quando os
amigos o vêem, quando sabem que é teu descendente.
Surda revolta assenhoreia-se da tua alma e, a pouco e pouco, a amargura
ganha campo no teu coração.
Reconsidera, porém, quanto antes, atitudes e posições mentais.
Não podes arbitrar com segurança no jogo dos insondáveis sucessos da
reencarnação.
Pára a reflexionar e submete-te à injunção redentora.
A tua frustração decorre do orgulho ferido, do desamor que cultivas.
Teu filho deficiente necessita de ti. Tu, porém, mais necessitas dele.
capacidade atrofiada.
Sê-lhe o que lhe falta.
Da convivência nascerá a interdependência recíproca.
No labor com ele, amá-lo-ás.
Infatigavelmente renova os quadros mentais e por enquanto desce ao solo
da realidade, fora das ilusões mentirosas, a fim de seres, também, feliz.
Joanna de Ângelis
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25
Filhos Ingratos
A ingratidão — chaga pestífera que um dia há de desaparecer da Terra —
tem suas nascentes no egoísmo, que é o remanescente mais vil da natureza
animal, lamentavelmente persistindo na Humanidade.
A ingratidão sob qualquer forma considerada expressa o primarismo
espiritual de quem a carrega, produzindo incoercível mal-estar onde se
apresenta.
O ingrato, isto é, aquele que retribui o bem pelo mal, a generosidade pela
avareza, a simpatia pela aversão, o acolhimento pela repulsa, a bondade pela
soberba é sempre um atormentado que esparze insatisfação, martirizando
quantos o acolhem e socorrem.
O homem vitimado pela ingratidão supõe tudo merecer e nada retribuir,
falsamente acreditando ser credor de deveres do próximo para consigo, sem
qualquer compensação de sua parte.
Estulto, desdenha os benefícios recolhidos a fim de exigir novas
contribuições que a própria insânia desconsidera. E arrogante e mesquinho
porque padece atrofia dos sentimentos, transitando nas faixas da
semiconsciência e da irresponsabilidade.
Sendo a ingratidão, no seu sentido genérico, detestável nódoa moral, a dos
filhos para com os pais assume proporções relevantes, desde que colima
hediondo ato de rebeldia contra a Criação Divina.
O filho ingrato é dilacerador do coração dos pais, ímpio verdugo que se não
comove com as doloridas lágrimas maternas nem com as angústias somadas e
penosas do sentimento paterno.
Com a desagregação da família, que se observa generalizada na
atualidade, a ingratidão dos filhos torna-se responsável pela presença de vários
cânceres morais, no combalido organismo social, cuja terapia se apresenta
complexa e difícil.
Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam
em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no
comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo podem, se rebelam contra
estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da
agressividade contínua, culminando, não raro, em cenas de pugilato e
vergonha.
Muitos progenitores, igualmente, imaturos ou versáteis, que transitam no
corpo açulados pelo tormento de prazeres incessantes — que os fazem
esquecer as responsabilidades junto aos filhos para os entregarem aos servos
remunerados, enquanto se corrompem na leviandade —, respondem pelo
desequilíbrio e desajuste da prole, na desenfreada competição da utópica e
moderna sociedade.
Todavia, filhos há que receberam dos genitores as mais prolíferas
demonstrações e testemunhos de sacrifício e carinho, aspirando a um clima de
paz, de saúde moral, de equilíbrio doméstico, nutridos pelo amor sem fraude e
pela abnegação sem fingimentos, e revelam-se, de cedo, frios, exigentes e
ingratos.
Se diante de pais irresponsáveis a ingratidão dos filhos jamais se justifica
ou procede, a proporcionada por aqueles que tudo recebem e tudo negam,
somente encontra explicação na reminiscência dos desajustes pretéritos dos
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Espíritos, que, não obstante reunidos outra vez para recuperar-se, avivam as
animosidades que ressumam do inconsciente e se corporificam em forma de
antipatia e aversão, impelindo-os à ingratidão que os atira às rampas inditosas
do ódio dissolvente.
A família é abençoada escola de educação moral e espiritual, oficina
santificante onde se lapidam caracteres, laboratório superior em que se
caldeiam sentimentos, estruturam aspirações, refinam ideais, transformam
mazelas antigas em possibilidades preciosas para a elaboração de misteres
edificantes.
O lar, em razão disso, mesmo quando assinalado pelas dores decorrentes
do aprimorar das arestas dos que o constituem, é forja purificadora onde se
devem trabalhar as bases seguras da Humanidade de todos os tempos.
Quando o lar se estiola e a família se desorganiza a Sociedade combale e
estertora.
De nobre significação, a família não são apenas os que se amam, através
dos vínculos da consangüinidade, mas, também, da tolerância e solidariedade
que se devem doar os equilibrados e afáveis aos que constituem os elos
fracos, perturbadores e em deperecimento no clã doméstico.
Aos pais cabem sempre os deveres impostergáveis de amar e entender até
o sacrificio os filhos que lhes chegam pelas vias sacrossantas da
reencarnação, educando-os e depondo-lhes nas almas as sementes férteis da
fé, das responsabilidades, instruindo-os e neles inculcando a necessidade da
busca de elevação e felicidade. O que decorra serão conseqüências do estado
moral de cada um, que lhes não cabem prever, recear ou sofrer por
antecipação pessimista.
Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou
irresponsáveis porqüanto é do código Superior da Vida, o impositivo: “Honrar
pai e mãe”, sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim
mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas
redentoras e pungitivas expiaçôes liberativas.
Ante o filho ingrato, seja qual for a situação em que se encontre, guarda
piedade para com ele e dá-lhe mais amor...
Agressivo e calceta, exigente e impiedoso, transformado em inimigo
insensível quão odioso, oferta, ainda, paciência e mais amor...
Se te falarem sobre recalques que ele traz da infancia, em complexos que
procedem desta ou daquela circunstância, em efeito da libido tormentosa com
que os simplistas e descuidados pretendem excusá-lo, culpando-te, recorda,
em silêncio, de que o Espírito precede ao berço, trazendo gravados nas
tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e
delinqüência, podendo, então, melhor compreendê-lo, mais ajudá-lo, desculpá-
lo com eficiência e socorrê-lo com probidade prosseguindo ao seu lado sem
mágoa e encorajado no programa com a família inditosa e os filhos ingratos,
resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios erros, até o dia em que,
redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras.
Joanna de Ângelis
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Mãe Adotiva
A mente repassa os acontecimentos felizes da nossa vida e envolvo em
ternura a memória da nossa convivência.
Esta mulher extraordinária, de quem me recordo, fez tudo quanto o amor
poderia lograr, a fim de amparar-me, ocultando a minha procedência obscura e
anônima.
Cercou-me de carinho e protegeu-me, para que nada me afetasse.
Insuflou-me a força do seu devotamento, que era o hálito poderoso do seu
amor, em emoção carregada de bênçãos. no verbete sublime que é: mamãe!
Jamais deixou-me perceber as lágrimas que vertera antes de eu chegar e
sempre me demonstrou a felicidade que a minha presença lhe causava.
No entanto, na sua inocência, pensava que todas as pessoas seriam
benignas e gentis quanto ela sempre o foi.
Assim, não demorou muito para que, em plena adolescência, o seu segredo
me fosse desvelado de maneira cruel, por meio de um coração leviano que,
pensando que nos iria destruir, chamou-me de filha de ninguém.
Abalada, quase tombei ante o golpe insano. Todavia, a transparência do
seu olhar e a devoção do seu afeto fizeram-me silenciar o acontecimento no
imo da alma.
Não me foi fácil, nem tampouco difícil enfrentar a nova circunstância e
nessa conjuntura eu descobri, em júbilo, a grandeza do amor de mãe adotiva.
As outras, as mães carnais, ás vezes, são compelidas pelo corpo a amar os
filhos que geram, mas você e todas as mães de adoção, amam pelo espírito,
elegendo quem lhes vai receber o devotamento, a dedicação.
E não se tornam menos mães!
Sofrem mais, certamente.
Quando revelam ao filho as circunstâncias da sua origem, temem magoá-lo
e, quando não o dizem, vivem sempre temendo perdê-lo, quando forem
descobertas.
Seu querer é suave como a claridade lunar e forte como somente o amor
abnegado pode tornar-se.
São anjos anônimos e abençoados na multidão.
Homenageando-a, mãezinha adotiva, desejo dizer a outras que lhe são
iguais que, desde o dia em que pensem em receber um filho que lhes não
proceda do seio, considerem também, a necessidade de dizer-lhe, sem receio,
demonstrando que o amor é Deus e dEle tudo procede, para ele retornando,
não sendo, pessoa alguma, propriedade de outrem, senão, todos filhos do Seu
amor, nutridos pelo Amor, para a glória do Eterno Amor.
Amélia Rodrigues
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Filhos Alheios
Ei-lo, rude e soberbo, que te afronta, desrespeitoso e ingrato, exaurindo-te
as reservas de ânimo e deixando-te em lamentável estado emocional.
Insensível aos teus apelos e indiferente às tuas colocações apresenta-se
marcado por fundos traumas dos quais não tens culpa, olhar desvairado,
parecendo estar a um passo da loucura, amedrontando-te e inspirando-te a de-
sistência do ideal educativo.
Tomando atitude vulgar, suas palavras são chulas ou brutais, passando,
através do tempo, a desconsiderar-te, como se a tua fosse a tarefa de servi-lo
e deixá-lo à vontade.
É gentil, quando estás de acordo com os seus desejos absurdos, anelando
por uma vida ociosa e desprezível. Tão pronto lhe falas em dever, obrigações,
rebela-se, resmunga, desobedece e ameaça.
Estás a ponto de o abandonar.
Indagas-te, muitas vezes, pela criança indefesa e necessitada que
recebeste nos braços, requerendo-te ternura e amor... Através das recordações
revés o corpo frágil e enfermo que cuidaste e atendeste com esperanças de
preparar um cidadão para o mundo, um homem para a sociedade!
Não pode ser o mesmo, este agressivo adversário, o menino que
albergaste no coração.
Se o rebelde fora teu filho ou tua filha, isto é, se nascido do teu corpo, como
procederias?
Deixá-lo-ia ao abandono, porque é doente moral e se encontra em crise
emocional?
Pergunta às mães sacrificadas, que não desistem nem abandonam os
filhos, e elas nublarão de lágrimas os olhos, informando-te que, assim mesmo,
os amam e porfiarão até o fim.
Pensas que ainda podes gozar uma vida melhor, livre de problemas e de
tais inquietações.
Onde, porém, essa paisagem de lazer e de paz, na Terra?
Se não recebes o retributo do bem próximo que fizeste, é porque te estão
chegando os efeitos do mal que realizaste antes.
Chegará a vez da colheita da paz, cuja semente de amor depuseste no solo
dos corações da carne alheia, que aceitaste como tua oportunidade de
redenção.
São doentes, sim, os filhos alheios a quem amas e que te não reconhecem
o carinho, como o são também os filhos da própria carne, que se debatem nas
armadilhas da desdita, tornando-se arrogantes e perversos, desconhecidos e
prepotentes.
Com Jesus aprendemos que o amor deve enfrentar os desafios da
dificuldade, robustecendo-se na fé e servindo com as mãos da caridade até a
plenitude, quando o homem regenerado esteja numa Terra feliz que ele mesmo
edificará.
Contemplarás, então, a gleba humana ditosa e te alegrará pelo quanto
contribuíste para que ela se fizesse plena.
Joanna de Ângelis
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Filho Adotivo
Mãezinha querida:
Eu sei que você me recebeu com a alma em festa, vestida de sonhos e
esperanças.
Em momento algum lhe passou pela mente que o fato de eu não lhe
pertencer à carne pudesse alterar o nosso infinito amor.
Eu venho de regiões ignotas e dos tempos imemoriais do seu passado, no
qual estabelecemos estes vínculos de afeto imorredouro...
Foi necessário que nós ambos nos precisássemos, na área da ternura,
impedidos, porém, de nascer um da carne do outro, por motivos que nos
escapam, a fim de que outra mulher me concebesse, entregando-me a você.
Ela não se deu conta da grandeza da maternidade; não obstante, sou-lhe
reconhecido, pois que, sem a sua contribuição, eu não teria recebido este
carinho de mãe espiritual saudosa, nem fruiria da sua convivência luminosa,
graças à qual eu me enterneço e sou feliz.
Filho adotivo!
Quantas vezes me golpearam com azedume, utilizando essas palavras!
O seu amor, todavia, demonstrou-me sempre que a maternidade do coração
é muito mais vigorosa do que a do corpo.
Não há mães que asfixiam os filhinhos, quando estes nascem? E outras,
não há, que sequer os deixam desenvolver-se no seu ventre, matando-os antes
do parto?
No entanto, quem adota, fá-lo por amor e doa-se por abnegação.
De certo modo, somos todos filhos adotivos uns dos outros, pelo corpo ou
sem ele, porqüanto, a única paternidade verdadeira é a que procede de Deus,
o Genitor Divino que nos criou para a glória eterna.
Mãezinha de adoção é alma que sustenta outra alma, vida completa que
ampara outra vida em desenvolvimento.
Venho hoje agradecer-lhe, em meu nome e no daqueles filhos adotivos
que, ingratos e doentes, pois que também os há em quantidade, não souberam
valorizar os lares que os receberam, nem os corações que se dilaceraram na
cruz espinhosa dos sofrimentos em favor da vida e da segurança deles.
Recordando-me da Mãe de Jesus, que a todos nos adotou como filhos, em
homenagem ao Seu Filho, digo-lhe, emocionada e feliz: Deus a abençoe,
mamãe, hoje e sempre!
Amélia Rodrigues
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Frutos de Delinqüência
O delinqüente deve sempre ser considerado um espírito enfermo,
padecendo injunções alienantes que o levam ao delito.
Não obstante, cumpre à sociedade o dever de ensejar-lhe a reeducação e o
tratamento, quando colhido nas malhas da Lei.
Afastá-lo do convívio social, trabalhando pela sua reabilitação, a fim de que
se transforme em cidadão útil, que contribua para o progresso da Humanidade,
quanto à própria evolução moral, é dever impostergável de quantos pautam a
vida pelos códigos de ética e de dignidade.
Evitar-se aplicar no infrator os mesmos processos violentos de que ele usa
para colimar os seus objetivos malsãos, constitui uma atitude de civilidade e
cultura superiores.
Impedir-se a usança de técnicas da agressividade ou da corrupção, ou os
métodos da punição física, da coerção moral, da lavagem cerebral, significa
utilização da Justiça que se propõe a soerguer o infeliz, embora implicitamente
aplicando-lhe as penalidades que funcionam, como terapia retificadora e
edificante.
O delinqüente nem sempre se origina dos sórdidos guetos e favelas, onde
fermenta o caldo de cultura da desagregação da personalidade, locais de
fomento ao crime em razão dos fatores sócio-morais e econômicos que
constringem e alucinam os que ali se encontram, mas de muitas outras
comunidades e lares dignamente constituídos.
Crimes repulsivos e hediondos, agressões revoltantes e homicídios
dantescos, furtos e roubos acompanhados de estupros e lamentáveis
perversidades, lutas físicas e chantagens impiedosas, lenocínios e viciações
toxicômanas apresentam altas e alarmantes taxas da delinqüência que ora
assola a Terra e dizima multidões em desespero...
Joanna de Ângelis
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Delinqüência, Perversidade e Violência
A onda crescente de delinqüência que se espalha por toda a Terra assume
proporções catastróficas, imprevisíveis, exigindo de todos os homens probos e
lúcidos acuradas reflexões. Irrompendo, intempestivamente, faz-se
avassaladora, em vigoroso testemunho de barbárie, qual se loucura de
procedência pestilencial se abatesse sobre as mentes, em particular grassando
na inexperiente Juventude, em proporções inimagináveis, aflitivas.
Sociólogos, educadores, psicólogos e religiosos preocupados com a
expressiva mole de delinqüentes de toda lavra, especialmente os perversos e
violentos, aprofundam pesquisas, improvisam soluções, experimentam
métodos mal elaborados, aderem aos impositivos da precipitação, oferecem
sugestões que triunfam por um dia e sucumbem no imediato, tudo
prosseguindo como antes, senão mais turbulento, mais inquietador.
Os milênios de cultura e civilização parece que em nada contribuíram a
benefício do homem, que, intoxicado pela violência generalizada, adotou
filosofias esdrúxulas, em tormentosa busca de afirmações, mediante o
vandalismo e a obscenidade, em fugas espetaculares para as “origens”.
Numa visão superficial das conseqüências calamitosas desse estado sócio-
moral decorrentes, asseveram alguns observadores que a delinqüência, a
perversidade e a violência fluem, abundantes, dos campos das guerras sujas e
cruéis, engendradas pela necessidade da moderna tecnologia em libertar os
países super-desenvolvidos do excesso de armamentos bélicos e dos
equipamentos militares ultrapassados, gerando focos de conflitos a céus
abertos entre povos em fases embrionárias de desenvolvimento ou
subdesenvolvidos, martirizados e destroçados às expensas dos interesses
econômicos alienígenos, dominadores arbitrários, no entanto, transitórios...
Indubitavelmente, a Humanidade vê-se compelida a responder por esse
pesado ônus, fruto do egoísmo de homens e governos impenitentes, que
fomentam as desgraças imediatas, geratrizes de males que tais...
O homem condicionado à técnica da matança desenfreada e selvagem,
atormentado pelo medo contínuo, submetido às demoradas contingências da
insegurança, incerteza e angústia disso resultantes, adestrado para matar
antes e examinar depois, a fim de a si mesmo poupar-se, obrigando-se a
cruciais situações, ingerindo drogas para sustentar-se, açular sensações,
aniquilar sentimentos, só, mui dificilmente, poderá reencontrar-se mesmo que
transladado dos campos de combate para as comunidades pacíficas e
ordeiras.
A simples injunção de uma paz assinada longe do caos dos conflitos onde
perecem vidas, ideais e dignidade jamais conseguirá transformar de improviso
um “veterano” num pacato cidadão.
Além desse fator odioso, com suas intercorrências, referem-se os
estudiosos aos da injustiça social vigente entre as diversas classes humanas,
de que padecem os proletários e os menos favorecidos sempre arrojados às
posições subalternas ou nenhures, mal remunerados, ou sem salário algum,
subnutridos, abandonados. Atirados aos redutos sórdidos das favelas, guetos e
malocas, vivendo de expedientes, dependentes uns dos outros, em aventuras,
urdem na mais penosa miséria econômica, da qual se derivam as condições
mesológicas deploráveis — causas de enfermidades orgânicas e psíquicas de
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Joanna de Ângelis
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Alucinógenos, Toxicomania e Loucura
Dentre os gravames infelizes que desorganizam a economia social e
moral da Terra atual, as drogas alucinógenas ocupam lugar de destaque, em
considerando a facilidade com que dominam as gerações novas, estrangulando
as esperanças humanas em relação ao futuro.
Paisagem humana triste, sombria e avassaladora, pelos miasmas
venenosos que distilam os grupos vencidos pelo uso desregrado dos tóxicos,
constitui evidência do engano a que se permitiram os educadores do passado:
pais ou mestres, sociólogos ou éticos, filósofos ou religiosos.
Cultivado e difundido o hábito dos entorpecentes entre povos estiolados
pela miséria econômica e moral, foi adotado pela Civilização Ocidental quando
o êxito das conquistas tecnológicas não conseguiu preencher as lacunas
havidas nas aspirações humanas — mais ampla e profunda integração nos
objetivos nobres da vida.
Mais preocupado com o corpo do que com o espírito, o homem moderno
deixou-se engolfar pela comodidade e prazer, deparando, inesperadamente, o
vazio interior que lhe resulta amarga decepção, após as secundárias conquis-
tas externas.
Acostumado às sensações fortes, passou a experimentar dificuldade
para adaptar-se às sutilezas da percepção psíquica, do que resultariam
aquisições relevantes promotoras de plenitude intima e realização
transcendente.
Tabulados, no entanto, programados por aferição externa de valores
objetivos, preocuparam-se pouco os encarregados da Educação em penetrar a
problemática intrínseca dos seres, a fim de, identificando as nascentes das
inquietações no espírito imortal, serem solvidos os efeitos danosos e
atormentadores que se exteriorizam como desespero e angústia.
Estimulado pelo receio de enfrentar dificuldades, ou motivado pela
curiosidade decorrente da falta de madureza emocional, inicia-se o homem no
uso dos estimulantes —sempre de efeitos tóxicos —, a que se entrega, inerme,
deixando-se arrastar desde então, vencido e desditoso.
Não bastassem a leviandade e intemperança da maioria das vítimas
potenciais da toxicomania, grassam os traficantes inditosos que se encarregam
de arrebanhar catarmas que se lhes submetem ao comércio nefando,
aumentando, cada hora, os índices dos que sucumbem irrecuperáveis.
A má Imprensa, orientada quase sempre de maneira perturbante, por
pessoas atormentadas, colocada para esclarecer o problema, graças à falta de
valor e de maior conhecimento da questão por não se revestirem os seus
responsáveis da necessária segurança moral, tem contribuído mais para torná-
lo natural do que para libertar os escravizados que não são alcançados pelos
“slogans” retumbantes, porém vazios das mensagens, sem efeito positivo.
O cinema, a televisão, o periodismo dão destaque desnecessário às
tragédias, aumentam a carga das informações que chegam vorazes às mentes
fracas, aparvalhando-as sem as confortar, empurrando-as para as fugas
espetaculares através de meandros dos tóxicos e de processos outros
dissolventes ora em voga...
Líderes da comunicação, ases da arte, da cultura, dos esportes não se
pejam de revelar que usam estimulantes que os sustentam no ápice da fama,
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Joanna de Ângelis
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Viciação Alcoólica
Sob qualquer aspecto considerado, o vício — esse condicionamento
pernicioso que se impõe como uma “segunda natureza” constritora e voraz —
deve ser combatido sem trégua desde quando e onde se aloje.
Classificado pela leviandade de muitos dos seus aedos como de pequeno e
grande porte, surge com feição de “hábito social” e se instala em currículo de
longo tempo, que termina por deteriorar as reservas morais, anestesiando a
razão e ressuscitando com vigor os instintos primevos de que se deve o
homem libertar.
Insinuante, a princípio perturba os iniciantes e desperta nos mais fracos
curiosa necessidade de repetição, na busca enganosa de prazeres ou
emoções inusitados, conforme estridulam os aficionados que lhe padecem a
irreversível dependência.
Aceito sob o acobertamento da impudica tolerância, seu contágio destrutivo
supera o das mais virulentas epidemias, ceifando maior número de vidas do
que o câncer, a tuberculose, as enfermidades cardiovasculares adicionados...
Inclusive, mesmo na estatística obtuária dessas calamidades da saúde,
podem-se encontrar como causas preponderantes ou predisponentes as
matrizes de muitos vícios, que se tornaram aceitos e acatados qual motivo de
relevo e distinção...
Os vitimados sistemáticos pela viciação escusam-se abandoná-la,
justificando que o seu é sempre um simples compromisso de fácil liberação em
considerando outros de maior seriedade que, examinados, a sua vez, pelos
seus sequazes, se caracterizam, igualmente, como insignificantes.
Há quem a relacione como de conseqüência secundária e de imediata
potência aniquilante. Obviamente situam suas compressões, como irrelevantes
em face de “tantas coisas piores”... E argumentam: “antes este”, como se um
mal pudesse ter sopesadas, avaliadas e discutidas as vantagens decorrentes
da sua atuação...
Indiscutivelmente, a ausência de impulsão viciosa no homem dá-lhe valor e
recursos para realizar e fruir os elevados objetivos da vida, que não podem ser
devorados pela irrisão das vacuidades.
A vinculação alcoólica, por exemplo, escraviza a mente desarmonizando-a e
envenena o corpo deteriorando-o. Tem início através do aperitivo inocente,
quão dispensável, que se repete entre sorrisos e se impõe como necessidade,
realizando a incursão nefasta, que logo se converte em dominação absoluta,
desde que aumenta de volume na razão direta em que consome.
Os pretextos surgem e se multiplicam para as libações:
alegria, frustração, tristeza, esperança, revolta, mágoa, vingança,
esquecimento... Para uns se converte em coragem, para outros em
entusiasmo, invariavelmente impondo-se, dominador incoercível. Emulação
para práticas que a razão repulsa, o alcoolismo faz supor que sustenta os
fracos, que tombam em tais urdiduras, quando, em verdade, mais os debilita e
arruina.
Não fossem tão graves, por si só, os danos sociais que dele decorrem,
transformando cidadãos em párias, jovens em vergados anciãos precoces,
profissionais de valor em trapos morais, moçoilas e matronas em torpes
simulacros humanos, aceitos e detestados, acatados e temidos nos sítios em
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Joanna de Ângelis
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Entrevistas
PERGUNTA:
O adultério, como entendo, é coabitar com alguém e aventurar-se
simultaneamente com outrem. Certo?
DIVALDO:
Sim.
PERGUNTA:
Não se pode ter dois parceiros ao mesmo tempo?
DIVALDO:
Não nos parece legal nem moral esse comportamento.
PERGUNTA:
O que aqui se faz aqui se paga?
DIVALDO:
Sim. Desrespeitando-se as leis, estas, em desarmonia, giram em torno
dos infratores, até que eles venham reorganizá-las. Todo mal que fazemos
émal que produzimos a nós mesmos. Os erros que aqui engendramos nos
perturba e devemos resgatálos aqui mesmo, na Terra, reeducando-nos.
PERGUNTA:
Como proceder no caso de criança de 12 anos que manifesta ódio
extremado pelos pais?
DIVALDO:
Quando estiver dormindo, que os pais tentem conversar com ela, que
falem com ternura, procurem dizer-lhe que a amam. Porque embora o corpo
esteja repousando, o Espírito está vigilante. Pode tal situação ter origem no
passado espiritual ou na atualidade carnal. Muitas vezes, quando nasce o
nosso filho, utilizamos de palavras impróprias, temos uma reação negativa
dizendo que o menino é feio ou que aguardávamos um ser mais bonito,
queríamos uma filha, ou vice-versa. O Espírito ouve, magoa-se e pode criar
ressentimento. Então, a melhor terapêutica, no caso, é envolver essa criança
em vibrações de ternura, de amor, e quando esteja dormindo falar-lhe de que a
ama e amá-la realmente.
PERGUNTA:
Uma criança recém-nascida e totalmente deformada tem uma vida
vegetativa. A pena serve para quem reencarnou nessa criança ou para os
que convivem com ela?
DIVALDO:
Para ambos. Principalmente para quem está reencarnando.
Possivelmente aquela criança deformada foi um suicida. Mas os pais atuais ou
aqueles com quem ela convive podem ter sido os autores intelectuais do
suicídio ou equivalente. Talvez sejam aqueles que lhe desrespeitaram os
valores morais ou então os responsáveis negativos do pretérito que volvem
para ajudá-la a suportar as circunstâncias.
PERGUNTA:
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PERGUNTA:
Como o espírita vê o divórcio?
DIVALDO:
Nós o vemos como uma necessidade para os problemas existentes. O
ideal seria sempre que os indivíduos se amassem a ponto de não necessitarem
da separação legal, porque no momento em que desaparece o amor,
desaparecem os vínculos exteriores. Como vivemos numa sociedade
constituída por estatutos e leis, é mister que respeitemos estas normas. No
entanto, quando o casal não consegue mais se suportar, a fim de evitar males
maiores, o divórcio é uma fórmula para ajudar na recuperação da vida de
ambos, bem como para atender aos aspectos moral e legal da nova situação.
PERGUNTA:
Quer dizer que essa história de almas irmãs morreu?
DIVALDO:
Quando o matrimônio ocorre entre almas afins não sucedem tais
dificuldades. Segundo a teoria das “almas gêmeas”, as várias uniões pelo
matrimônio, quando não bem-sucedidas, tornam-se provas recíprocas,
preparando-as para futuros cometimentos ditosos.
PERGUNTA:
Divaldo, uma questão sobre comportamento. Qual deve ser a
posição do jovem espírita perante a prática sexual antes do casamento?
DIVALDO:
É uma questão muito controvertida, porque é um problema de
consciência. Por mais amplitude que me permita, não consigo conceber o sexo
como parte de uma vida promíscua. O estômago, quando se come demais, tem
indigestão. Qualquer órgão de que se abusa, sofre o efeito imediato. O
problema do sexo é a mente. Criou-se o mito que a vida foi feita para o sexo, e
não este para a vida. Depois da revolução sexual dos anos 60, o sexo saiu do
aparelho genésico para a cabeça. Só se pensa, fala, respira sexo. E quando
não funciona, por exaustão, parte-se para os estimulantes, como mecanismos
de fuga, o que demonstra que o problema não é dele, e sim, da mente viciada.
Se o problema fosse do sexo, as pessoas “saciadas” seriam todas felizes, o
que, realmente não se dá. Ou a criatura conduz o sexo, ou este a arruina. Ou
se disciplina o estômago, ou se morre de indigestão. Tenho aprendido, com a
experiência pessoal e com a adquirida em nossa comunidade, que o sexo
antes do casamento constitui um mecanismo de desequilíbrio. Mesmo porque,
com tanto sexo antes do casamento, já não se faz necessário casamento
depois do sexo. Acho perfeitamente natural, embora não justifica que nem
estimule, que a pessoa, num arrebatamento afetivo, em um momento, realize
uma comunhão sexual. Não encaro isso como escândalo, porque o sexo, como
qualquer departamento orgânico, é setor de vida. O que me parece grave, é
que a esse momento de arrebatamento se sucederão outros, como a sede de
79
água do mar, que, quanto mais se bebe mais sede se tem. Conheço casos de
frustrações sexuais terríveis, de neuroses, psicoses, porque as pessoas foram
traidas nos seus sentimentos profundos, pelo abandono a que foram relegadas.
Sugiro ao jovem espírita a atitude casta. Uma atitude casta não quer dizer
isenta de comunhão carnal, mas sim, de respeito, de pureza. Colocar o sexo no
lugar e o amor acima do sexo, que moralizado pelo amor, sabe-se quando,
como e onde atuar.
Quando se ama, não se atira o outro na ruína. O sexo, antes do
matrimônio, deve ser muito bem estudado, porque, sob a alegação de que se
“tem necessidade” dele, não se o torne vulgar. Cada consciência eleja para o
próximo o que gostaria que o próximo elegesse para si.
PERGUNTA:
As crianças que estão sendo evangelizadas, de que maneira podem
os pais ajudá-las, a fim de que a evangelização continue no lar?
DIVALDO:
Aos pais compete a observação das tendências, das naturezas dos seus
filhos para bem orientá-los e despertarem nos mesmos as qualidades que se
contrapõem aos defeitos. Entretanto, isto deve ser feito quando os filhos são
muito pequenos, e é justamente quando os pais são mais inexperientes, menos
maduros. Então, quando vemos os resultados, o tempo já passou. Como agir?
por mais imaturos que sejam os pais, há, entre eles e os filhos, o largo período
que já viveram. Nesse período, adquiriram as experiências das suas próprias
vivências.
Há, em todo indivíduo, a tendência para o bem, porque somos
lucigênitos. Esse heliotropismo divino nos leva sempre a discernir entre o que é
certo e o que é errado. Se, por acaso, por inexperiência, não orientamos bem o
filho na primeira infância, é sempre tempo de começar, porque estamos sendo
educados até a hora da própria desencarnação. Os pais que não lograram
encaminhar bem os seus filhos, porque lhes faltava o equilíbrio do
discernimento, quando se estava no período da formação da personalidade,
podem recomeçar em qualquer instante, de maneira suave, perseverante e
otimista afravés do exemplo e da vivência do amor. Os pais podem ajudar a
evangelização no lar, sobretudo pela exemplificação. E a exemplificação a
melhor metodologia para que se inculquem as idéias que desejamos penetrem
naqueles que vivem conosco.
Se examinarmos Jesus, Ele disse muito menos do que viveu e viveu
muito mais do que nos falou. A mim, me sensibiliza muito uma cena que me
parece culminante na vida do Cristo.
Quando Ele estava com Anás¹, o Sumo Sacerdote, que Lhe perguntou
sobre Sua doutrina ao que respondeu Jesus, que nada falara em oculto e que
ele deveria perguntar aos que o ouviram.
Um soldado que estava ao lado do representante de César, agrediu-O,
esbofeteando-lhe a face.
Para mim, este gesto é dos mais covardes: bater na face de um homem
atado.
Então Jesus não reagiu. Agiu com absoluta serenidade.
Pacifista por excelência, voltou-se para o agressor e lhe perguntou:
Soldado, por que me bateste? Se errei, aponta-me o erro, mas, se eu disse a
verdade, por que me bateste?
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É uma lição viva, porque Ele poderia apelar ali para a justiça do
representante de César; poderia ter-se encolerizado; ter tido um gesto de
reação, mas Ele preferiu agir.
PERGUNTA:
Por que a mediunidade começa cedo no jovem, principalmente
quando não é espírita?
DIVALDO:
Ela se manifesta, quiçá, cedo, porque a mediunidade é uma faculdade
do Espírito que se exterioriza pelo organismo.
Allan Kardec, no capítulo 14º de O Livro dos Médiuns, afirma que todo
aquele que sente em determinado grau a presença dos Espíritos é, por isso
mesmo, um médium.
A faculdade é do Espírito e o instrumento é o corpo. Naturalmente se
manifesta cedo qual ocorre com a memória, a inteligência, as aptidões. Por um
lado, isto é uma forma providencial, porque ao se apresentar cedo no homem,
ela abre um elenco de oportunidades edificantes, cerceando-lhe o direito de
assumir compromissos negativos que seriam difíceis de erradicados mais
tarde. Convidado no exercício saudável da mediunidade na juventude, o
indivíduo tem a oportunidade de pautar a vida nas linhas do equilíbrio, que lhe
facilitará exercê-la com elevação e sabedoria, antes que os problemas de vária
ordem, atormentando-o, torne-lhe o exercício nobre mais difícil, porque
vinculado a débitos desta existência e conectado a mentes perversas que
procedem da Erraticidade inferior, o adulto tem muito mais dificuldade de
reeducar-se, de modificar a paisagem íntima a fim de assumir as tarefas que
lhe são propostas pela vida. Deste modo, é uma bênção que a mediunidade se
revele em plena idade juvenil, como também surge noutros períodos da vida.
Há indivíduos que passaram a registrá-la melhor na fase da razão. E outros até
mesmo na terceira idade, sem nenhum prejuízo para a desincumbência das
tarefas que a mediunidade impõe.
PERGUNTA:
O que fazer quando o jovem adolescente desiste de estudar a
Doutrina apesar de os pais continuarem? O jovem vem freqüentando
desde pequeno.
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DIVALDO:
Á nossa existência é feita de períodos. Há um no qual o jovem tem
necessidade de viver as suas próprias experiências, eleger aquilo que lhe
parece melhor. Se este jovem teve, na infância e no primeiro período da
adolescência, um bom embasamento doutrinário, ele vai realizar outras
experiências. E, naturalmente aquilo que está ensementado nele terá ocasião
de oportunamente germinar, crescer e frondejar, albergando-o nas horas mais
difíceis da sua existência.
Se a pergunta parte dos pais, convém que instem para que o filho
prossiga na participação das atividades doutrinárias. Instar sem impor. Insistir
sem violentar, tendo porém, a preocupação de continuarem a dar os melhores
exemplos, aqueles que são compatíveis com o que se ensina na Casa Espírita.
As vezes, ocorre que o jovem, quando vai chegando à idade da reflexão
e examina a conduta da família diante dos postulados que a Doutrina ensina,
constata que algo está errado: ou o Espiritismo não é legítimo, porque não
logrou modificar a família, ou a família não é honesta, porque não assimilou os
postulados que diz abraçar. Assim, resolve pela realização das suas próprias
buscas.
Passado o período em que ele parece ter-se libertado do compromisso
semanal que mantinha com a Casa Espírita, vale considerar que isto não nos
deve constituir motivo de pesar nem de desânimo, pelo contrário, deve emular-
nos a acender mais a luz da esperança, e agora, ao invés de impor-lhe o
estudo da doutrina, provar-lhe a excelência da vivência espírita.
PERGUNTA:
Como educar os nossos filhos com relação a casamento civil e
religioso, se eles, apesar de não serem malcomportados em relação a
casamento, passam por cima de todas as convenções? A minha filha
perguntou se eu queria vê-la casada ou feliz. Isso porque eu não estava
aprovando a união dela com um jovem desquitado.
DIVALDO:
Em Doutrina Espírita não temos casamento religioso, que é uma criação
eclesiástica, teológica, para realizar um culto externo sem maior significado na
área emocional da criatura. Lendo o Capítulo 22º, Allan Kardec escreveu em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, a respeito do matrimônio, explicando que o
importante não é a fórmula com a qual se regularizam a herança e o respeito
social diante das leis.
O casamento surgiu como uma necessidade de evitar a poligamia, a
corrupção sexual, a variação de parceiros, fazendo que o indivíduo se vincule a
outro até quando o amor estiver presente, exigindo o respeito dos cônjuges.
Jesus chegou a dizer que no começo não era assim, não havia uma fórmula. O
casamento é uma conquista sócio-cultural da legalização de um sentimento
existente. Nós, espíritas, somente consideramos o casamento através do ato
civil, porque o importante é a eleição dos sentimentos de profundidade.
Ocorre que a dissolução dos costumes faz que se elejam pessoas,
graças à ação da libido em nosso comportamento emocional. E o prazer do
sexo, o tormento do sexo que se busca aplacar e atender através das fórmulas
das uniões apressadas, e, como é natural, das desuniões desesperadas. Por-
que, passado o ardor, acabado o combustível que mantém a labareda do
desejo, acaba o interesse. Desde que não houve o sentimento de amor nem de
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PERGUNTA:
Hoje é muito grande o envolvimento do jovem na política.
Preocupado com as leis humanas, indiferente às Divinas. É um processo
educacional? Como conciliar as duas coisas?
DIVALDO:
Ocorre que o jovem padece constrição de uma sociedade que não tem
sido justa para com os seus membros. Ele não tendo recebido no lar a forma-
ção de uma educação nas bases reencarnacionistas, assim, tem buscado uma
forma de cortar os efeitos através de leis que, infelizmente, não alcançam a
causalidade. É perfeitamente justa a necessidade e a busca de engajamento
do jovem na política, para eqüacionar o problema que ele apenas vê nos
resultados negativos. A maneira de conciliar a situação é educá-lo para um
saudável engajamento, não através do jogo dos interesses imediatos, mas
ensinando-o a ser bom eleitor. Politizá-lo, conscientizá -lo. Dizer-lhe que numa
sociedade democrática, o voto é a grande arma do cidadão. No momento que
ele esgrimir essa arma, não venderá a consciência aos corruptos, pelo
contrário, os eliminará.
83
PERGUNTA:
Qual deverá ser a atitude de um evangelizador ao deparar-se com
um jovem com tendências homossexuais, sabendo que o mesmo se
encontra nessa situação sentindo amor por outro do mesmo sexo?
DIVALDO:
O problema é de ordem íntima. Não temos o direito de invadir a
privacidade de ninguém, a pretexto de querer ajudar os outros.
Há uma preocupação em nós, de querermos salvar os outros, antes de
nos salvarmos a nós mesmos. Devemos sempre ensinar corretamente o que a
Doutrina nos recomenda. Se alguém vier pedir-nos ajuda, estendamo-la sem
puritanismo, sem atitudes ortodoxas, porque o problema posto em pauta e de
muita profundidade para uma análise de natureza superficial.
Se notamos que um dos nossos condiscípulos está numa fase de
transição — e a adolescência, além de ser um período de formação da
personalidade, é também de bipolaridade sexual — procuremos estimulá-lo
para que canalize corretamente as suas emoções para a ação do bem, mas
também sem castrar-lhe as manifestações do sentimento. Façamo-lo de uma
forma edificante, e, quando as circunstáncias nos permitirem, falemos que as
Divinas Leis estabeleceram, nas duas polaridades — a masculina e a feminina
84
PERGUNTA:
Como o evangelizador pode contribuir para a evolução espiritual de
uma criança excepcional?
DIVALDO:
Inicialmente, a criança excepcional não estará na classe das crianças
normais, suponho. Porque não lhe será o lugar adequado, porque ela irá
perturbar o trabalho junto as crianças consideradas normais.
Teremos que criar uma classe especial para ministrarmos, quanto
possível ao grau de entendimento do excepcional, o conhecimento da realidade
do Espírito.
Mas teremos em vista que a excepcionalidade não é do Espírito. São limites
orgânicos impostos pelas próprias dívidas ao ser em evolução. Toda instrução
que lhe dermos será arquivada no perispírito e irá beneficiar o Espírito. Ainda
que na Terra, acalmando-se, a criança que estiver num quadro neuropatológico
muito acentuado, tendo melhores momentos de lucidez, avançará mais na área
da razão. E quando se libertar da injunção expiatória, recobrará o patrimônio
recém-adquirido. Essas patologias graves, que chegam a deformar, como o
mongolismo e outras, estão enqüadradas no capítulo das expiações, defluentes
de suicídios ou de crimes de largo porte que não foram alcançados pela justiça
terrestre e a consciência culpada insculpiu no hoje organismo deficiente. O
nosso trabalho é de amor!
Quando encontro a mãe de um excepcional, sempre a parabenizo. Digo-
lhe — porque ela priva muito mais com o filho limitado que o pai, que normal-
mente tem atividades externas e, nesse sentido, há pais, masculinos, que são
de uma abnegação comovedora que o suicídio cometido por esse Espírito, é
fruto de um relacionamento pais-e-filho no passado, que não deu certo. E
acrescento que os pais de hoje, quiçá, hajam sido os autores intelectuais
daquele gesto tresloucado. De acordo com o grau de limitação da
excepcionalidade, faço o seguinte paralelo. Imagine que vocês pertenceram a
uma classe abastada socialmente, por genealogia ou clã, e seu filho ou sua
filha se apaixonou por alguém de uma classe denominada inferior; ou tomou
determinada atitude que vocês enfrentaram com rebeldia, levando o ser, por
capricho de vocês, a uma atitude de fuga.
Adveio o suicídio. O desesperado foi a mão que a intolerância da família
armou.
Então é natural que ele, tendo sido vítima das circunstâncias, renasça
nos braços daqueles que o levaram ao ato desesperador, para que o amor a
todos santifique, diminuindo os efeitos e as bases afetivas se refaçam nesse
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inter-relacionamento evolutivo.
Assim, eu parabenizo e acrescento: Não posso avaliar o que é ter
um filho com problemas nervosos. Uma criança que bate no rosto da mãe
toda hora, que morde, que escouceia, que grita toda a noite e que cala
todo o dia. Ser pai e mãe de um filho assim credencia-os a parabéns,
porque é um resgate que os liberará de dores muito mais terríveis no
além da morte. Daí, a criança excepcional deve receber um tratamento
evangélico-espírita em caráter de excepcionalidade, com muito amor, com
muita ternura e, sobretudo, com a terapia psíquica da boa palavra,
estimulando-a a liberar-se do cárcere para que guarde as informações e
seja feliz além da vida.
PERGUNTA
Qual o papel dos treinamentos em meditação para o
aperfeiçOamento da criança e do jovem?
DIVALDO:
Preponderante. Se não ensinarmos a meditar, a reflexionar, a concentrar,
teremos uma idade adulta doudivanas, porque o tempo nos é tomado depois,
sem espaços para esse nobre fim. É necessário criarmos o hábito da
meditação. Todos temos, aliás, o hábito da meditação e da concentração nas
coisas erradas, negativas. Se alguém nos diz um desaforo, temos dificuldade
de o tirar da cabeça. Ficamos dias e dias atormentados, fixando-o.
Quando se trata de coisas positivas, tem-se dificuldade de reter,
reflexionar, porque não se tem espaço mental, já que todo ele está reservado
para as coisas irrelevantes. Concentrar é fixar a mente em algo. Para
conseguir-se, basta o exercício e treinamento.
Somos, às vezes, infelizes, porque cultivamos as horas negativas. As
boas não, esquecemo-las. Se temos um momento feliz, participamos daquela
hora e ficamos indiferentes ou pensamos que nos irá acontecer alguma coisa
negativa com certeza, porque todo bem que nos vem, logo ocorre alguma coisa
para nos desagradar. Não é uma atitude correta. Devemos cultivar os
momentos bons, felizes. Quando alguém nos ofende, queixamo-nos a muitos,
falamos sobre o assunto. No momento feliz somos egoístas, nada falamos. O
que se dá? Fixamos o momento mau e não retemos o momento bom. É uma
questão de memória. Dilatemos o momento feliz e o fruamos. Meditemos
diariamente num texto evangélico, em uma ação que iremos desenvolver com
otimismo. Digamos — Que maravilhoso dia de sol! Isto vai dar certo!
Maravilhoso é olhar as coisas com otimismo. E a meditação nos prepara
para uma vida saudável e otimista.
PERGUNTA:
Por que tantas crises nos lares? Por que tanto desamor?
DIVALDO:
O homem está doente e como efeito, neste período de transição, ele
exterioriza os estados de desequilíbrio. Á ciência e a tecnologia, que tanto
contribuíram para o progresso intelectual e para as conquistas pessoais do
homem e da sociedade, não eqüacionaram o problema da consciência, o pro-
blema do ser.
Depois de mais de seis mil anos de pesquisas na área da ciência logramos
atingir o ápice. Mas ainda não tivemos a coragem de atingir o ego, de criar uma
86
Fim