2 Volume VOZES E LETRAS
2 Volume VOZES E LETRAS
2 Volume VOZES E LETRAS
Organizadores
Mônica Alvim
Paulo Barros
Silvia Alencar
Vanessa Brito
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Rebeca Viana – Anavi design
Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual [recurso
eletrônico] / Mônica Alvim; Paulo Barros; Silvia Alencar; Vanessa Brito (Orgs.) -- Porto Alegre, RS:
Editora Fi, 2022.
762 p.
ISBN: 978-65-5917-643-4
DOI: 10.22350/9786559176434
CDD: 150
Índices para catálogo sistemático:
1. Psicologia 150
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 39
SEÇÃO 1
INTERFACES CRÍTICAS:
DE QUE MODO GÊNERO, RAÇA E CLASSE SE FAZEM PRESENTES NO CAMPO?
Critical interfaces: how are gender, race and class present in the field?
Interfaces críticas: ¿cómo están presentes el género, la raza y la clase en el campo?
1 47
ELEMENTOS PARA PENSAR UMA GESTALT-TERAPIA (REALMENTE) CRÍTICA E POLÍTICA
Mônica Alvim
RESUMO
Neste capítulo discutimos de forma ampla a dimensão política da Gestalt-terapia, promovendo um diálogo interdisciplinar
com teorias críticas, objetivando pensar a produção de subjetividades na perspectiva de campo. Partindo da teoria do self,
exploramos a ação de forças estruturais que compõem o fundo invisível da experiência sobre os processos de subjetivação
ou selfing,explorando as relações entre poder, normatividade, opressão e estruturas sociais e sua incidência nos processos de
produção de si. Abordamos a colonização das Américas e a gênese das divisões raciais e de gênero, mostrando de que modo
o eurocentrismo e o ocidentalismo tornaram-se dominante na produção de subjetividades e de epistemologias, postulando
um falso universalismo como mecanismo de poder e dominação que privilegia projetos imperiais, coloniais e patriarcais. A
partir disso, discutimos o mundo contemporâneo e a configuração que articula capitalismo neoliberal e estruturas sociais
racistas, sexistas e classistas como uma lógica normativa que é disseminada nas subjetividades. Concluímos por um
chamado à Gestalt-terapia e aos Gestalt-terapeutas para um esforço teórico, metodológico e de investigação pessoal que
nos permita visibilizar nos clientes – e especialmente em nós - a dimensão invisível das forças estruturais opressivas e violentas
que moldam nossas formas de perceber, sentir e agir.
Palavras-chave: teoria do self; estruturas sociais; racismo; sexismo; neoliberalismo
RESUMO
Muitos Gestalt-terapeutas valorizam culturalmente a terapia com foco na dimensão sensível com seus
clientes. Recentemente, esse foco se deslocou para analisar como certas vantagens sociais (como
privilégio de classe ou raça) que eles recebem podem impactar a relação terapêutica. A Gestalt-terapia
oferece caminhos excitantes e estimulantes para terapeutas compreenderem melhor - e estratégias para
desfazer - como a opressão social pode ser reproduzida na terapia. Este artigo explora a opressão social
e o privilégio como fenômenos do campo organismo/ambiente, analisa a identidade de terapeutas e o
ambiente social, sugere conhecimentos e habilidades para expandir a competência cultural e aplica as
ideias de Philip Lichtenberg a um método específico para diagnosticar e desfazer a parte de terapeutas
na "dinâmica da opressão".
RESUMO
A Gestalt-terapia afirma que a dimensão social é intrínseca à vivência no mundo, propondo superar um fazer
psicológico que historicamente tendeu a considerar sintomas e patologias sob ótica individualizante e
psicopatologizante e preconizando a experiência do sujeito como ser-no-mundo, produzido pelo mundo
enquanto também o produz. Esse olhar é político, por estabelecer que o sofrimento é dado na relação com a
situação, atravessada por dimensões estruturais de raça, classe e gênero. Neste trabalho apresentamos uma
pesquisa que investigou como as queixas que chegam à clínica são produzidas em um campo sócio-histórico-
político-econômico-cultural. Discutimos 4 casos clínicos que envolviam problemáticas estruturais atendidos
pela equipe de Gestalt-terapia da Divisão de Psicologia Aplicada (DPA) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), buscando agregar à perspectiva gestáltica outras disciplinas. Compreender essas dimensões
estruturais como elementos fundantes na produção de vida e sofrimento sustenta uma escuta clínica política
que amplia a Gestalt-terapia.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; gênero; raça; classe; clínica.
Gestalt therapy as a clinic for contemporary situations: the structural dimensions of race, class and
gender as a figure
ABSTRACT
The Gestalt-therapy states that the social dimension is intrinsic to the worldly experience, suggesting the
overcoming of a psychological making that has historically leaned towards considering symptoms and
pathologies under an individualizing and psychopatologizing gaze and preconizing the subject’s experience as
a bring-in-the-world, produced by the world while also producing it. This view is a political for establishing that
the suffering is given in the relationship with the situation, perpassed by structural dimensions such as race,
class and gender. This manuscript presents research that has investigated how the complaints that reach the
clinic are produced in a socio-historical-political-economical-cultural field. We have discussed four clinical cases
that involved structural problems and were seen by the Gestalt-therapy interns at the Applied Psychology
Division (DPA) from the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), in the search of aggregating to the Gestalt
perspective other subjects. To understand these structural dimensions as pillars of the production of life and
suffering supports a political clinical listening that widens the gaze of the Gestalt-therapy.
Keywords: gestalt-therapy; gender; race; class; clinical work
RESUMO
Este ensaio debate o modelo universal de corpo amparado em normatividades e discute como a
confluência com padrões hegemônicos coloniais nos torna suscetíveis a reprodução de violências na
clínica gestáltica. A finalidade foi refletir sobre a importância de protagonizar Gestalt-terapias pluriversas
circunscritas pelo contexto sócio-histórico. Com o alicerce teórico decolonial, o entrelaçamento deste
estudo se deu primordialmente em corpo na Gestalt-terapia, a partir de Alvim (2020), pensamento
“mono” baseado em Núñez (2021), transfeminismo no Brasil, sob o olhar de Nascimento (2021),
decolonialidades por Segato (2007) e Oyewùmí (2021), e confluência no campo gestáltico norteada por
Billies (2005). O objetivo foi localizar como situações contemporâneas de violências sociais
invisibilizadas atravessam o campo de Gestalt-terapeutas enviesadas pelo universalismo cultural
eurocentrado que move a roda-viva de opressões. A relevância é de contribuir à práxis da Gestalt-
terapia, re-existindo a sistemas de alienação e confluências opressoras.
Palavras-chave: “monocorpo”, confluência, Gestalt-terapia, pluriversalidade, decolonialidade
RESUMO
Este ensaio dialoga com a temática do curta-metragem “Iansã”, produzido no âmbito de uma pesquisa
de pós-doutorado que teve como objetivo produzir audiovisuais inspirados nos temas que sobressaíram
em atendimentos clínicos de plantão psicológico. O audiovisual trata da branquitude na clínica
psicológica, problematizando o lugar do terapeuta branco ao atender uma pessoa preta envolvida em
situações de racismo e teve inspiração em várias situações trazidas durante outros atendimentos e
supervisões clínicas. O título “Iansã” foi inspirado em uma das usuárias atendidas que vivenciou uma
situação de preconceito religioso, sendo o roteiro focado em elementos que aludem a princípios
civilizatórios e tecnologias de cuidado bem presentes em religiões de tradição africana e que não são
abordados na formação em psicologia. O nome de Iansã é tomado aqui como um repertório da tradição
yorubá, representante da tempestade, raios e ventos, lançando para o ar questões-limites da
branquitude na clínica psicológica.
Palavras-chave: branquitude, racismo, audiovisual, psicologia clínica.
RESUMO
Este relato de experiência tem o objetivo de refletir sobre a psicoterapia racializada na Gestalt-terapia a
partir de situações clínicas. A reprodução do racismo institucional na relação terapêutica, o campo das
famílias interraciais, os sentimentos suscitados na jornada de ascensão social, os ajustamentos criativos
feitos diante do trauma colonial e a necessidade de resgatar o corpo na escuta de pessoas negras são
discutidos com base na Gestalt-terapia em diálogo com referenciais das Relações Étnico Raciais. Diante
da amplitude do fenômeno, oferecemos nossas notas vitais para uma escuta clínica qualificada com
vistas à afirmação da condição de liberdade das pessoas negras.
Palavras-chave: psicologia; psicoterapia; raça; racismo; Gestalt-terapia.
RESUMO
Pessoas negras, ainda na infância e na escola, absorvem o impacto do racismo a partir da reprodução da
imagem negativa da população negra nos livros didáticos, que representam esse grupo como algozes
das pessoas brancas, valorizadas positivamente. O objetivo principal desta pesquisa foi explorar de que
forma o racismo sofrido na escola impacta a autoestima de mulheres negras adultas. Trata-se de uma
pesquisa exploratória, cujas participantes são mulheres negras, de 27 a 45 anos, realizada de modo
virtual. Participaram 139 mulheres no questionário online e 10 na entrevista individual. Os resultados
confirmam o impacto do racismo sofrido na escola na autoestima de mulheres adultas, por meio das
principais categorias encontradas a) silenciamento; b) baixa autoestima e a dificuldade de se relacionar
c) professores negros como minoria; d) alunos negros como minoria; e) problemas psicológicos. É
preciso chamar atenção para como o tema da negritude tem sido apresentado nas escolas. Palavras-
chave: autoestima, infância, racismo, escola
RESUMO
Partindo da experiência de atendimento clínico grupal do COM-POR pessoas negras UERJ, o presente
artigo propõe-se a apresentar o conceito de “pele coletiva”, relacionando-o com conceitos da Gestalt-
terapia, principalmente o de fronteira de contato. Nesse percurso, serão utilizados diários de campo
como ferramenta metodológica, a fim de nos mostrar como tal conceito é experimentado no campo, à
medida que forma e é formado pelas pessoas que vivenciam o dispositivo clínico. Refletir sobre essa
experiência nos possibilita discutir como a pele coletiva do COM-POR UERJ pode contribuir para
pensarmos na importância de racializar a fronteira de contato e, consequentemente, ajudar a nós —
Gestalt-terapeutas — a cuidarmos de nossas práticas, relações e formações de uma forma engajada com
a luta antirracista.
Palavras-chave: com-por, pele coletiva, fronteira de contato, prática antirracista, Ubuntu.
RESUMO
Ubuntu é uma filosofia africana em que se expressa a ideia de que a essência humana está centrada na
consciência do pertencimento ao coletivo, eu sou ser através do outro mas ao mesmo tempo possuo
um valor singular como ser humano. A tradução de Ubuntu é “Eu sou, porque nós somos”, e a filosofia
está constituída em cima da generosidade, solidariedade, compaixão, partilha, vivência em comunidade
e o desejo genuíno de harmonia na humanidade. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo
refletir sobre o existir fenomenológico, humanista e existencial dos aspectos epistemológicos do Ubuntu
correlacionando com a abordagem psicoterapêutica "Gestalt-terapia''. Portanto, por meio de tais
aproximações, visamos valorizar e ressaltar a relevância dos saberes, conhecimentos e práticas culturais
existentes para além das advindas das culturas ocidentais e eurocêntricas.
Palavras-chave: ubuntu; Gestalt-terapia, comunidade, humanidade.
RESUMO
Este capítulo visa refletir sobre o cuidado antirracista na perspectiva da Gestalt-terapia. Trata-se de um
estudo descritivo, qualitativo do tipo relato de experiência, realizado a partir da vivência de profissionais
da área da saúde e humanas que compõem um grupo de estudos e pesquisas de forma independente
relacionado às temáticas de saúde mental, questões étnico-raciais e a Gestalt-terapia. São discutidos os
fenômenos decorrentes do racismo e, em sequência, apresenta-se a análise dos dados a partir da
Gestalt-terapia, considerando a perspectiva anti-racista. Os autores fazem uma reflexão sobre os
ajustamentos criativos, o racismo estrutural no Brasil dos afrodescendentes e indígenas a partir do
regime colonial, e as consequentes violações dos direitos desses povos até os dias atuais, apontando as
responsabilidades dos profissionais de saúde e Gestalt-terapeutas nas questões étnico-raciais e as
opressões na prática clínica, como atuar de forma a afirmar a importância da reparação dos direitos que
foram violados e que ameaçam cotidianamente a saúde mental da população brasileira.
Palavras-chave: Racismo; Cuidado; Gestalt-terapia.
RESUMO
Trazemos aqui os impactos vivenciados ao incluirmos textos de autoras negras, em especial de Audre
Lorde, na discussão de temas e conceitos gestálticos na disciplina de Gestalt-terapia numa universidade
pública do Rio de Janeiro. Através de narrativas singularizadas, apoiamo-nos na descrição da experiência
vivenciadas pelas autoras. Seguindo a proposição da disciplina, discutimos a noção de raiva a partir de
Audre Lorde dialogando com a Gestalt-terapia e a aposta que fizemos foi de que a experiência narrada
neste texto possibilite uma ampliação da awareness acerca de atravessamentos racistas na vida da
população negra. Abordar a temática a partir da autonarrativa de uma mulher preta, viabiliza que
pessoas negras possam pensar a si próprias “fora do espelhamento branco” (Arrelias, 2020). Acreditamos
na necessidade de discutir a descolonização do pensamento, especialmente em Gestalt-terapia, em
busca uma formação ética e, sobretudo, política.
Palavras-chave: gestalt-terapia; raiva; descolonização do pensamento; racialização.
Black voices in the Psychology undergraduate classroom: an experience stitched together with
Gestalt-therapy
ABSTRACT
We present here the impacts experienced when we include texts by black female authors, especially Audre
Lorde, in the discussion of Gestalt themes and concepts in the Gestalt-therapy discipline at a public
university in Rio de Janeiro. Through singular narratives, we rely on the description of the experience lived
by the authors. Following the proposition of the discipline, we discussed the notion of anger from Audre
Lorde dialoguing with Gestalt-therapy and the bet we made was that the experience narrated in this text
allows an expansion of awareness about racist crossings in the life of the black population. Approaching the
theme from the self-narrative of a black woman makes it possible for black people to think about themselves
“outside the white mirror” (Arrelias, 2020). We believe in the need to discuss the decolonization of thought,
especially in Gestalt-therapy, in search of an ethical and, above all, political formation.
Keywords: gestalt-therapy; anger; decolonization of thought; racialization.
Voces negras en el aula de grado de Psicología: una experiencia cosida con la terapia Gestalt
RESUMEN
Presentamos aquí los impactos experimentados al incluir textos de autores negros, especialmente Audre
Lorde, en la discusión de temas y conceptos de terapia gestáltica en el curso de terapia gestáltica de una
universidad pública de Río de Janeiro. A través de narraciones singularizadas, nos basamos en la descripción
de la experiencia vivida por los autores. Siguiendo la propuesta de la disciplina, discutimos la noción de ira
de Audre Lorde en diálogo con la Gestalt-terapia y la apuesta que hicimos fue que la experiencia narrada en
este texto permite ampliar la conciencia sobre los cruces racistas en la vida de la población negra. Abordar
el tema desde la autonarrativa de una mujer negra, permite a los negros pensarse a sí mismos "fuera del
espejo blanco" (Arrelias, 2020). Creemos en la necesidad de discutir la descolonización del pensamiento,
especialmente en la terapia Gestalt, en busca de una formación ética y, sobre todo, política
Palabras clave: terapia Gestalt; ira; descolonización del pensamiento; racialización.
12 297
A GESTALT-TERAPIA NO DEBATE SOBRE A POLÍTICA SOBRE DROGAS E RACISMO
Welison de Lima Sousa
RESUMO
Este texto busca discutir sobre a atual política sobre drogas em sua interface com o proibicionismo e
racismo, indicando como esta política tem produzido encarceramento e morte na população negra e
periférica. Nisso, indicamos a redução de Danos como alternativa ao modelo proibicionista, por se tratar
de uma diretriz ética e política no cuidado diante de pessoas que fazem uso de drogas. Por fim,
realizamos uma articulação entre o racismo e Gestalt-terapia a partir da teoria do self, e a imposição do
sofrimento aflição (misery) na população negra. Assim, a redução de danos se mostra uma aliada no
enfrentamento do racismo diante da questão do uso de drogas, se configurando como uma estratégia,
uma ética e uma metodologia capaz de dialogar com a Gestalt-terapia, e daí produzir reconhecimento
de alteridade e intervenções a partir de um enfoque holístico.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; Drogas; Redução de Danos; Racismo.
RESUMO
Construir elementos que possam contribuir na clínica antirracista no Brasil na psicologia e na Gestalt-
terapia, ainda tem sido desafiante diante das bases teóricas, metodológicas racistas que ainda violentam
a saúde mental das pessoas negras, quando os psicólogos não brancos não racializam o seu contato
terapêutico. Ainda existe poucos aportes teóricos e metodológicos no campo da psicologia e da Gestalt-
terapia que dê conta de compreender a subjetividade das pessoas negras, tendo em vista as que os
estudos teóricos e formativos ainda estão pautados apenas em uma referência cultural, existencial
branco. Diante disso, como quebrar essa gestaltem rígida epistêmica no campo da Gestalt-terapia
brasileira, para que ocorra um afetamento na relação de contato necessário para uma honesta e
verdadeira relação terapêutica comprometida com a realidade que o campo oferece da vida de pessoas
pretas atravessada pelas diferentes formas de racismo?
Palavras-chave: racismo, psicologia africana, Gestalt-terapia.
Elementos para una clínica antirracista: reflexiones para una profundización gestalt
RESUMEN
Construir elementos que puedan contribuir a la clínica antirracista en Brasil en psicología y en terapia
Gestalt todavía ha sido un desafío debido a los fundamentos teóricos y metodológicos del racismo que
aún violan la salud mental de las personas negras, cuando los psicólogos no blancos no racializan su
contacto terapéutico. Todavía son pocas las contribuciones teóricas y metodológicas en el campo de la
psicología y la terapia Gestalt que tienen como objetivo comprender la subjetividad de las personas
negras, dado que los estudios teóricos y formativos todavía se basan solo en una referencia cultural
existencial blanca. Frente a eso, ¿cómo romper esta rígida gestaltem epistémica en el campo de la
Gestalt-terapia brasileña, para que se produzca un efecto en la relación de contacto necesaria para una
relación terapéutica honesta y verdadera comprometida con la realidad que el campo ofrece a la vida
de los negros a través de diferentes formas de racismo?
Palabras clave: racismo, psicología africana, terapia Gestalt.
SEÇÃO 3
TRANSGRESSÕES GESTÁLTICAS: DESAFIANDO AS NORMAS DE GÊNERO E
SEXUALIDADE
Gestalt Transgressions: Challenging the gender and sexuality norms
Transgresiones Gestalt: Cuestionando las normas de género y sexualidad
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PARA QUEM ME ABRO NA CLÍNICA GESTÁLTICA? UM ENCONTRO COM CORPOS
LGBTQIAP+
Paulo Barros
RESUMO
Embora existam inúmeros textos na Gestalt-terapia que falem sobre encontro, relação dialógica e
alteridade, poucas são as publicações sobre o encontro entre Gestalt-terapeutas e corpos dissidentes
das normas de gênero e sexualidade. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo discutir sobre a
prática clínica desimplicada ou implicada que pode, respectivamente, contribuir com processos de
violência e manutenção das normas ou pelo contrário, com crescimento e resgate da espontaneidade.
Para tal, inúmeros convites ao longo do texto são feitos para que Gestalt-terapeutas possam redescobrir
seus gêneros e sexualidades, percebendo-se como mantenedores e/ou transgressores do regime da
diferença sexual.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, gênero, sexualidade, cisgeneridade, LGBTQIAP+.
RESUMO
Partindo da compreensão da violência como um fenômeno social, multifacetado e amplamente
utilizado e difundido, o presente texto se trata de um ensaio teórico com o objetivo de ampliar a
interlocução da Gestalt-terapia e teoria do self com temas e autoras contemporâneos, nesse caso em
relação às violências de gênero e suas reproduções na sociedade capitalista e patriarcal em que vivemos.
Nesse sentido, a insubmissão e a transgressão podem se erguer como formas de atualização do campo
como ajustamentos. Por fim, esse texto objetiva também possibilitar a reflexão acerca da prática clínica
e da ética gestáltica no acolhimento e pessoas vítimas de violências e das possibilidades de intervenção
quando, enquanto terapeutas, estamos diante de pessoas que reproduzem e produzem violências.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; Violência; Gênero; Ética.
La violencia como fenómeno social: teoría del self, insumisión y ética clínica
RESUMEN
Partiendo de la comprénsion de la violencia como un fenómeno social, multifacético y de amplio uso y
difusion, el presente texto es um ensayo teórico com el objetivo de ampliar el diálogo entre la terapia
Gestalt y la teoria del self com temas y autores contemporâneos, em este caso em relación a la violência
de género e su reproducción em la sociedade capitalista e patriarcal em la que vivimos. Em este sentido
la insumisión y la transgresión pueden ser planteadas como formas de actualización como ajustes del
campo. Finamlemte, este texto pretende también possibilitar la reflexión sobre la práctica clínica y la
ética de la Gestalt em la acogida de personas víctimas de violência y las possibilidades de intervención
cuando, como terapeutas, nos encontramos ante personas que reproducen e producen violência.
Palabras Clave: Gestalt-terapia: Violencia; Genéro; Ética.
16 371
A IMPOSSIBILIDADE DE NEUTRALIDADE NA CLÍNICA GESTÁLTICA: POR UMA
GESTALT-TERAPIA CONTRANORMATIVA
Kahuana Leite
RESUMO
Esse ensaio teórico se desdobrou em uma proposta de interlocução para (re)pensar a clínica gestáltica
a partir de uma perspectiva contranormativa, resgatando a dimensão política imbricada na abordagem.
Ao longo do trabalho se discorreu sobre temas que perpassam a construção teórica da Gestalt-terapia,
como a noção de fronteira, campo e o fundo de criticidade ao sistema normativo presente em sua
construção. O convite ao diálogo transcorreu também por conceitos como cisheteronormatividade,
binarismo, branquitude, fenômenos estruturais que incidem violentamente sobre corpas dissidentes de
gênero e sexualidade, prioritariamente, as corpas negras. Nesse sentido, apresentou uma abertura a
questionamentos quanto à impossibilidade de uma clínica gestáltica neutra, considerando o próprio
fundo histórico-político da abordagem. Conclui considerando que o debate por uma clínica implicada
politicamente, nutrida por uma perspectiva crítica, se demonstra como um percurso que necessitará de
constantes questionamentos ao conhecido.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, cisheteronormatividade, branquitude, dissidência, política.
RESUMO
Essa construção teórica partiu do entendimento de que a Psicologia e a Gestalt-terapia foram
capturadas por lógicas e práticas individualizantes e cisheteronormativas que, em muitos níveis,
funcionam de modo a homogeneizar as pessoas, cumprir prescrições sociais e perpetuar violências.
Aqui, a proposta foi a de construir caminhos iniciais para uma aproximação entre preceitos da Gestalt-
terapia e da Teoria Queer que pudessem questionar aquilo que é pré-estabelecido por normativas
estruturais de gênero, favorecendo compreensões mais críticas e oferecendo novos contornos para a
prática clínica. Para isso, abordou-se a perspectiva queer enquanto propositora do desconhecimento, do
estranhamento e desestabilização de pressupostos rígidos, bem como uma perspectiva sociopolítica da
Gestalt-terapia em sua origem e em alguns de seus conceitos. Por fim, apontou-se aos Gestalt-
terapeutas a urgência de honrarem a ética gestáltica de acolhimento à diferença e abertura ao encontro
na fronteira, reconhecendo-se como parte das estruturas sociais e implicando-se em um papel
contrahegemônico.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, teoria queer, gênero, cisheteronormatividade.
RESUMO
A proposta deste relato de experiência é discutir, a partir de recortes de atendimentos clínicos realizados
com pessoas dissidentes de gênero e sexualidade, sobre como as introjeções de regras, normas, crenças
e leis, como a cisheteronormatividade e o sistema de binarismos, se expressam nas existências dessas
pessoas como imperativos de lugares sociais e produzem sofrimento; além de apontar alguns caminhos
e pistas sobre como o sentimento de fracasso e de sermos um erro de existência podem ser
transformados em potência e sobre o papel da Gestalt-terapia e de Gestalt-terapeutas para uma ética
da alteridade. Abordo o tema recorrendo à Gestalt-terapia como principal referencial teórico e também
às discussões acerca de relações de gênero e sexualidade.
Palavras-chave: introjeção, psicoterapia, gênero, sexualidade, Gestalt-terapia.
RESUMO
Ser Gestalt-terapeuta significa atuar na prática gestáltica cotidianamente: buscar o crescimento na
fronteira através do contato com o que é novo. No entanto, nem sempre é o novo o que encontro. Muito
do contato de um organismo com um ambiente normatizador é sobre como se deve ser ao invés da
possibilidade de ser. Este texto é um compromisso para revelar algumas possibilidades de como, apesar
da atitude fenomenológica-existencial, a psicoterapeuta arrisca-se a (re)produzir essencialismos
supostamente científicos. Para tal, é proposta a articulação da Gestalt-terapia, enquanto teoria das
relações, com outros conhecimentos, principalmente aqueles que questionam um modo eurocêntrico
e normativo de fazer psicoterapia.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; gênero; poder.
RESUMO
O presente ensaio poético manifesta-se como uma forma de praticar o mundo, ante as colonialidades
do saber. Ao evidenciar as categorias imbricadas de raça-gênero-sexo busca-se apresentar outras
epistemologias não assimiláveis ou despotencializadas pela norma. A heterocisnorma é um sistema
colonial que inventa a binaridade de gênero, o masculino, o feminino, classificações raciais e a evidente
necessidade de estabelecer um cistema hierárquico entre raças. A escola, a educação formal, torna-se
lugar que reproduz e reafirma a norma, coagindo, discrimando saberes distintos daqueles reproduzíveis
e esperados dentro deste contexto, dessa instituição. O chamado poético explicitado neste texto é a um
corpo sensível, onde integre outras inteligências. Um convite subversivo à institucionalização do sentir
e saber pela lógica da colonialidade e do patriarcado e, é este também o convite que a Gestalt-terapia
realiza, em minha percepção, desnaturalizar a percepção, romper com a alienação corporal,
restabelecendo um fluir. Uma busca em saber onde mora o afeto cosmoperceptivo nos processos de
formação em Gestalt-terapia.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, colonialidades, heterocisnorma, ancestralidade, encantamento.
RESUMO
Este ensaio busca elaborar uma abordagem complementar às perspectivas que constroem o luto e o
suicídio como experiencia individual e circunscrita a vida privada do sujeito, ao passo que denuncia o
atual reducionismo de um fenômeno que é descrito como multifatorial e multicausal, porém
extensivamente reduzido ao campo da saúde mental. A partir de uma reflexão sobre os processos de
luto e de suicídio de pessoas sexo-gênero diversas, com ênfase na população trans e travesti, o ensaio
objetiva fornecer, à luz da Gestalt-terapia, uma matriz de compreensão ético-política do suicídio.
Partimos do entendimento de que a subjetivação e o sofrimento psíquico são atravessados por
processos políticos articulados em diferentes relações de poder e de saber. Nesse sentido, até mesmo
aqueles carregados de individualidade, como a decisão de retirar-se da vida, podem ser pensados a
partir de uma perspectiva de campo, que leve em consideração os aspectos psicossociais das relações
de saber-poder.
Palavras-chave: suicídio, luto, Gestalt-terapia, transgênero.
RESUMO
Atendimento arteterapêutico online a uma senhora transgênera articulado à pesquisa do contexto
social foram os fios condutores deste relato, que buscou dar visibilidade à realidade vivida pela
população trans em situação de vulnerabilidade social na cidade de São Paulo, no Projeto
Transcidadania ao longo de 2020. Buscou-se refletir sobre a potência da atividade criativa e artística, por
meio da arteterapia gestáltica, na promoção da saúde mental e do empoderamento com o objetivo de
oferecer atividades arteterapêuticas online, para promover bem-estar emocional. A metodologia
empregada foi a fenomenológica existencial, que fundamenta a abordagem da Arteterapia Gestáltica.
Os resultados atingidos foram de uma melhoria na autoestima e autopercepção da cliente, que além de
evoluir em seus trabalhos artísticos, renovou seus sonhos, objetivos de vida e realizações. Concluiu-se
que a arteterapia gestáltica foi um recurso valioso como uma linguagem não verbal que merece ser
analisada com a população transgênera, entre outras em situação de vulnerabilidade social.
Palavras-chave: travestis; transexuais; arteterapia; transgenêneras.
Gestalt art therapy as co-construction of welcoming spaces: experience report in the Program
“Transcidadania” (SP-BRAZIL)
ABSTRACT
Therapeutic art online service to a transgender lady, articulated with research in the social context, were
the guiding threads of this report, which sought to give visibility to the reality experienced by the trans
population in a situation of social vulnerability in the city of São Paulo, in the Transcidadania Project
throughout 2020. We sought to reflect on the power of creative and artistic activity, through gestalt art
therapy, in promoting mental health and empowerment with the aim of offering online therapeutic art
activities to promote emotional well-being. The methodology used was existential phenomenology,
which underlies the approach of Gestalt Art Therapy. The results achieved were an improvement in the
client's self-esteem and self-perception, who in addition to evolving in her artistic works, renewed her
dreams, life goals and achievements. It was concluded that gestalt art therapy was a valuable resource
as a non-verbal language that deserves to be analyzed with the transgender population, among others
in situations of social vulnerability.
Keywords: transvestites; transsexuals; art therapy; transgender people.
RESUMO
Propõe-se, neste trabalho, lançar algumas discussões acerca da comunicação entre o jovem e seus
familiares sobre orientação sexual ou identidade de gênero. O tema é abordado tomando como
referencial teórico a Gestalt-terapia e recorrendo a experiências da autora com sessões familiares em
processos de terapia individual dos jovens LGBTQIA+ ou em processos de terapia familiar. A facilitação
da comunicação familiar é considerada como potente recurso de cuidado, considerando que muitas
famílias ainda estão com suas fronteiras de valores enrijecidas pela cis-heteronorma, e precisam de
ajuda para revê-las e ampliá-las. Fundamenta-se no paradigma de campo relacional e propõem-se
intervenções que considerem todos os atores familiares como partes igualmente pertinentes,
conferindo espaço de encontro onde possam emergir a aceitação e integração das diferenças. Denuncia
a necessidade da revisão de valores por parte dos psicoterapeutas a fim de que possam estar
comprometidos com uma clínica política e transformadora.
Palavras-Chave: Identidade de gênero, Orientação sexual, Família, Gestalt-terapia.
LGBTQIA+ youth and their families: facilitating communication about sexual orientation and gender
identity
ABSTRACT
It is proposed, in this work, to launch some discussions about communication between young people
and their families about sexual orientation or gender identity. The theme is approached taking Gestalt
therapy as a theoretical framework and using the author's experiences with family sessions in individual
therapy processes for LGBTQIA+ young people or in family therapy processes. The facilitation of family
communication is considered a powerful care resource, considering that many families still have their
borders of values hardened by the cis-heteronorm, and they need help to review and expand them. It is
based on the relational field paradigm and proposes interventions that consider all family actors as
equally relevant parts, providing a meeting space where the acceptance and integration of diferences
can emerge. It denounces the meed for psychotherapists to review values so that they can be committed
to a political and transformative clinic.
Keywords: Gender identity, Sexual orientation, Family, Gestalt therapy.
Jóvenes LGBTQIA+ y sus familias: facilitando la comunicación sobre orientación sexual e identidad
de género
RESUMEN
Se propone, en este trabajo, lanzar algunas discusiones sobre la comunicación entre los jóvenes y sus
familias sobre la orientación sexual o la identidad de género. El tema se aborda tomando como marco
teórico la terapia Gestalt y utilizando las experiencias de la autora con sesiones familiares en procesos de
terapia individual para jóvenes LGBTQIA+ o en procesos de terapia familiar. La facilitación de la
comunicación familiar es considerada un poderoso recurso de cuidado, considerando que muchas familias
aún tienen sus fronteras de valores endurecidas por la cis-heteronorma, y necesitan ayuda para revisarlas y
ampliarlas. Se parte del paradigma del campo relacional y se proponen intervenciones que consideren a
todos los actores familiares como partes igualmente relevantes, brindando un espacio de encuentro donde
pueda surgir la aceptación e integración de las diferencias. Denuncia la necesidad de que los
psicoterapeutas revisen valores para que puedan comprometerse con una clínica política y transformadora.
Palabras clave: Identidad de género, Orientación sexual, Familia, Terapia gestalt.
24 531
A ABORDAGEM GESTÁLTICA COM GAYS EM PROCESSO DE MORTE PELA AIDS:
EXPERIÊNCIAS EM CLÍNICA AMPLIADA
Gustavo Alves Pereira de Assis
RESUMO
Esse relato de experiência tematiza o atendimento em Gestalt-terapia, no contexto de clínica ampliada,
com homens que se declaravam como gays, em processo de morte pela Aids. Sendo assim, objetiva
descrever as experiências clínicas de um Gestalt-terapeuta gay com esses pacientes, discutindo o saber-
fazer na abordagem gestáltica, com enfoque na perspectiva dialógica. O estudo deslinda-se a partir de
vinhetas clínicas para refletir sobre as interlocuções entre o processo de morte pela Aids e a orientação
homossexual em homens, considerando as peculiaridades desse campo. Conclui-se que as atitudes
dialógicas do terapeuta são figurais no processo de atendimento na abordagem gestáltica e
fundamentais para a ampliação da awareness no processo de morte desse público. A clínica gestáltica
configurou-se, portanto, como uma clínica do encontro, ética e política.
Palavras-chave: Gestalt-terapia, HIV/Aids, sexualidade, terminalidade.
The gestalt approach with gay men in the process of dying from AIDS: experiences in an expanded
clinic
ABSTRACT
This experience report thematizes care in gestalt therapy, in the context of an expanded clinic, with men
who declared themselves as gay and in the process of dying from AIDS. Therefore, it aims to describe
the clinical experiences of a gay gestalt therapist with these patients, discussing the know-how in the
gestalt approach by focusing on the dialogic perspective. The study is based on clinical vignettes to
reflect on the interlocutions between the process of death from AIDS and homosexual orientation in
men, considering the peculiarities of this field. We conclude that the therapist's dialogic attitudes are
figural in the service process in the gestalt approach and fundamental for the expansion of awareness
in the death process of this public. Gestalt clinic was configured, therefore, as a clinic of encounter,
ethics, and politics.
Keywords: Gestalt-therapy, HIV/AIDS, sexuality, terminality.
El abordaje gestalt con hombres gays en proceso de morir por SIDA: experiencias en una clínica
ampliada
RESUMEN
Este relato de experiencia tematiza el cuidado en terapia gestáltica, en el contexto de una clínica
ampliada, con hombres que se declararon homosexuales, en proceso de muerte por SIDA. Siendo así,
tiene como objetivo describir las experiencias clínicas de un terapeuta gestáltico homosexual (gay) con
estos pacientes, debatiendo el saber hacer en el abordaje gestáltico, con foco en la perspectiva
dialógica. El estudio se desenreda en viñetas clínicas para reflejar sobre las interlocuciones entre el
proceso de muerte por SIDA y la orientación homosexual en hombres, considerando las peculiaridades
de este campo. Se concluye que las actitudes dialógicas del terapeuta son figurativas en el proceso de
atención en el abordaje gestáltico y fundamentales para la ampliación de lo darse cuenta en el proceso
de muerte de este público. La clínica gestáltica se configuró, así pues, como una clínica del encuentro,
de la ética y de la política.
Palabras clave: Terapia gestáltica, VIH/Sida, sexualidad, terminalidad.
25 544
A CLÍNICA GESTÁLTICA COMO CAMPO QUEER: A ALTERIDADE COMO CAMINHO
Stephanie Boechat
RESUMO
É perceptível que ao longo da história a população LGBTQIAP+ é capturada pela segregação e
marginalização imposta pelo cis-tema heteronormativo, justificadas pelo estranhamento e aversão
deste às formas experienciais da população queer. Diante disso, a clínica psicológica se coloca como um
espaço de acolhimento às alteridades, ainda que não seja uma prática universal. Nesse viés, a Gestalt-
terapia, será abordada como ferramenta para o exercício de uma clínica do estranhamento, a fim de
promover uma psicologia clínica crítica e diversificada. Em vista disso, o objetivo deste trabalho é tecer
questionamentos e hipóteses acerca da violência simbólica sofrida pela comunidade LGBTQIAP+ nos
espaços da clínica psi a partir de um referencial bibliográfico, contribuindo para o desenvolvimento de
novas perspectivas diante do fazer clínico.
Palavras-chave: clínica; Gestalt-terapia; LGBTQIAP+; alteridade; sofrimento.
RESUMO
Este ensaio trata-se de um diálogo entre O Manifesto Contrassexual, de Paul B. Preciado e a Gestalt-
terapia, com o objetivo de ir além da norma e propor novos saberes acerca das questões de gênero e
sexualidade. A metodologia deu-se pelos encontros das autoras de modo online, para compartilhar
relatos de experiências e reflexões, além da criação de uma síntese da obra escolhida. Com este trabalho
é possível, assim, fazer reflexões acerca do papel ético da Gestalt-terapeuta, na relação, diante do
estranhamento que os questionamentos acerca de gênero e sexualidade podem causar na pessoa que
busca atendimento.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; Contrassexualidade; gênero.
New forms, new possibilities, new bridges: dialogues between Contrasexuality and Gestalt-therapy
ABSTRACT
This essay is a dialogue between the Contersexual Manifesto, by Paul B. Preciado and Gestalt-Therapy,
with the aim of going beyond the norm and proposing new knowledge about gender and sexuality. The
methodology happened as the authors met online, to share experiences and reflections, in addition to
creating a synthesis of the chosen book. With this work, it is possible, therefore, to reflect on the ethical
role of the gestalt-therapist, in the relationship, in the face of the weirdness that the questions about
gender and sexuality can cause in the person who seeks care.
Keywords: Gestalt-therapy; Contersexuality; gender.
Nuevas formas, nuevas posibilidades, nuevos puentes: diálogos entre Contrasexualidad y Terapia Gestalt
RESUMEN
Este ensayo es un diálogo entre El Manifiesto Contrasexual, de Paul B. Preciado y la Gestaloterapia, con
el objetivo de ir más allá de la norma y proponer nuevos conocimientos sobre cuestiones de género y
sexualidad. La metodología estuvo dada por las reuniones en línea de los autores, para compartir
informes de experiencias y reflexiones, además de la creación de una síntesis del trabajo elegido. Con
este trabajo es posible hacer reflexiones sobre el papel ético del terapeuta Gestalt, en la relación, frente
a la extrañeza que las cuestiones de género y sexualidad pueden causar en la persona que busca ayuda.
Palabras clave: Terapia Gestalt; contrasexualidad; género.
SEÇÃO 4
SEMINÁRIO “DESCONSTRUINDO FRONTEIRAS”
Seminar “Deconstructing Borders”
Seminario “Deconstruyendo Fronteras”
27 587
CISGENERIDADE E GESTALT-TERAPIA
Cisgenderness and Gestalt Therapy
Cisgeneridad y Terapia Gestalt
28 612
NÃO-MONOGAMIA
Non-monogamy
No monogamia
29 638
FILOSOFIA AFRICANA
African Philosophy
Filosofía Africana
30 671
BRANQUITUDE
Whiteness
Blancura
31 727
O NÚCLEO DE RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS NA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GESTALT-
TERAPIA
The Group of Ethnic Racial Relations at the Brazilian Association of Gestalt-therapy
El Núcleo de Relaciones Étnico-Raciales de la Asociación Brasileña de Terapia Gestalt
32 735
NÚCLEO DE RELAÇÕES DE GÊNERO E DE DIVERSIDADE SEXUAL DA ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE GESTALT-TERAPIA E ABORDAGEM GESTÁLTICA
The Group of Gender Relations and Sexual Diversity of the Brazilian Association of Gestalt Therapy
and Gestalt Approach
Núcleo de Relaciones de Género y Diversidad Sexual de la Asociación Brasileña de Terapia Gestalt y
Enfoque Gestalt
Este livro nasceu dos trabalhos dos Núcleos Temáticos criados pela
Associação Brasileira de Gestalt-terapia e Abordagem Gestáltica (ABG)
no início da gestão 2021-2022 e se constitui no segundo volume da
Coleção Vozes em Letras organizada pela Associação.
Núcleos temáticos são espaços de reflexão e diálogos em torno de
questões teórico-metodológicas propostas para fortalecer discussões
presentes como fundo no campo vivencial contemporâneo. O objetivo
desse projeto foi de ampliar as possibilidades de atuação da Gestalt-
terapia no Brasil, considerando as dinâmicas territoriais e as
problemáticas estruturais de nossa sociedade, na busca de alcançar um
pensamento gestaltista teórico e prático que pudesse contribuir para a
construção de uma psicologia comprometida com a dimensão social e
política e com uma sociedade mais justa.
Dado que as estruturas sociais influenciam nossa experiência do
mundo, não apenas em casos isolados, mas de uma forma que é
profundamente constitutiva de quem somos e como damos sentido ao
mundo e aos outros, consideramos necessário desenvolver discussões
em torno de fundamentos, conceitos e recursos metodológicos que
permitam identificar estruturas sociais e históricas, analisar
criticamente seus modos de funcionamento e abrir novas possibilidades
de ação no campo da Gestalt-terapia. Tal como proposto por Lisa
Guenter, para o desenvolvimento de uma postura crítica é necessário
aprender sobre a experiência vivida de poder e opressão e o papel dessas
40 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
1. Esse é um trabalho de cunho formativo que deve se dar pautado pelo cuidado
e pelo respeito às diferentes perspectivas, sem perder de vista seu caráter
crítico. Desse modo, as ações e propostas deverão ter consenso com as
políticas da diretoria da ABG, responsável legal pela associação, cujos
Os Organizadores • 41
Mônica Alvim
INTRODUÇÃO
1
Grupo de Pesquisas Quinta Coletiva, Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Fenomenologia e Clínica
de Situações Contemporâneas, Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
48 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
2
Aula ministrada por Jean-Marie Robine no curso A situação em carne e osso, modalidade online, Brasil,
5 a 7 nov.2021
56 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Começo aqui com uma citação de Donna Haraway (2009, p.25) que
traz uma pergunta que muito me impactou quando li e que considero
uma boa provocação para nós, Gestalt-terapeutas.
REFERÊNCIAS
Billies, M. (2005). Therapist confluence with social systems of oppression and privilege.
International Gestalt Journal, 28(1), 71-92.
Carvalho, J.J. (2018). Encontro de saberes e descolonização: para uma refundação étnica,
racial e epistêmica das universidades brasileiras. In Bernardino-Costa, J.;
Maldonado-Torres, N; Grosfoguel, R. Decolonialidade e pensamento afro-diaspórico.
Ed. Autêntica.
Dardot, P. & Laval, C. (2016) A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal.
Ed. Boitempo.
Gago, V.. (2020) A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo. Ed. Elefante.
Gago, V.. (2018). A razão neoliberal: pragmáticas populares e economias barrocas. Editora
Elefante. Edição do Kindle.
Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia. Ed.Summus. (Trabalho
original publicado em 1951).
Michelle Billies
1
Artigo originalmente publicado no International Gestalt Journal, 28 (01), p.71-83 e traduzido para o
Português com autorização da autora. Tradutoras: Ariane Lima de Brito e Tatiana de Paula Soares. Revisão
da tradução: Mônica Alvim.
80 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
2
NT: Optamos por assumir a forma do feminino para aludir a terapeutes, seguindo o que faz a autora.
Ainda que na língua inglesa a terceira pessoa do plural seja neutra, quando ela fala no singular, utiliza
sempre a forma do feminino. Ao nos referir a pessoas trans utilizamos a linguagem neutra.
Michelle Billies • 81
... privilégio branco como um pacote invisível de bens não adquiridos com
os quais eu posso contar todos os dias, mas sobre os quais ‘devo’ permanecer
inconsciente. O privilégio branco é como uma mochila invisível e sem peso
de provisões especiais, mapas, passaportes, livros de códigos, vistos, roupas,
ferramentas e cheques em branco (McIntosh, 1988, p. 264).
3
Lewin concebe todo comportamento individual como “...uma mudança de algum estado de um campo
em uma dada unidade de tempo...” onde o campo inclui todos os fatos que afetam o comportamento
(Lewin, 1951, p. xi). Ele sugere três áreas de fatos úteis para a psicologia: o “espaço vital” do indivíduo
que é “... a pessoa e o ambiente psicológico tal como existe para ele”; os “... processos no mundo físico
ou social que não afetam o espaço de vida...” em determinado momento; e a “zona fronteiriça” onde
“...certas partes do mundo físico ou social afetam o espaço vital naquele momento” (Lewin, 1951, p. 57).
4
Lewin define “força” como “... a tendência à locomoção...” e “poder” como “... a possibilidade de induzir
forças” (ibid., pp. 39f.). Uso o termo "recursos" para indicar elementos do campo úteis à manutenção e
desenvolvimento humano.
Michelle Billies • 87
5
Uso "gestalten fixadas" para indicar padrões resultantes da interrupção habitual do contato e "gestalten
vívidas" para me referir àquilo que emerge no processo de contato pleno, aberto, aware e energizado.
Michelle Billies • 89
1. excitação
2. ansiedade
3. raiva
4. culpa/auto-ódio
5. culpa/desprezo
6. confluência
... depois que a pessoa basicamente trabalhou livre de esforços para fundir
desejos com o outro, a culpa e o ódio a si mesmo se tornam focais; ... quando
a culpa projetada e o ódio a si mesmo, na forma de culpa e desprezo pelos
fracos, são reconhecidos e reexperimentados como culpa própria e ódio a si
mesmo, ... o auto perdão torna-se possível; se a raiva pode ser... mantida na
experiência pessoal por tempo suficiente,... pode ser feito um melhor uso
dela nas relações sociais onde é pertinente; se as pessoas podem aceitar sua
ansiedade e permanecer com ela no caminho para se preparar para o perigo,
então também estão no caminho para transformar sua ansiedade de volta
para o excitamento de encontros espontâneos. (1990, p. 109f)
que devemos seguir, mas sim um modelo que muitas de nós, sem saber,
seguimos. Ver a sequência e aplicá-la às relações terapêuticas pode ser
útil para identificar maneiras pelas quais a pessoa continua a assumir
aspectos do papel opressor e interromper o contato.
Usando a sequência acima como um guia e extraindo diretamente
da minha própria experiência ou da experiência de outros (com as
informações de identificação alteradas), oferecerei um exemplo (em
itálico) e comentarei (em caracteres normais) cada momento do
processo de circuito rápido de uma terapeuta assumindo o papel do
opressor. É crucial notar que estou usando uma lente estreitamente
construída com o propósito de entender a relação entre o
comportamento da terapeuta, o processo de circuito rápido e o papel de
opressor. O exemplo omite a riqueza do trabalho e a variedade de fatores
que contribuem para o comportamento da terapeuta.
Com grande dor e terror, alguém começa a avaliar a história que a colocou
onde está e formou o seu ponto de vista. Com grande dor e terror porque
entra-se, então, em batalha com essa criação histórica, Eu mesmo, e tenta
recriar a si próprio segundo um princípio mais humano e mais libertador;
inicia-se a tentativa de alcançar um nível de maturidade pessoal e de
liberdade que rouba a história do seu poder tirânico, e também muda a
história. (BALDWIN, 1965, p.410)
REFERÊNCIAS
Baldwin, J. (1985). The price of tire ticket: Collected nonfiction 1948- 1985. St.
Martin's/Marek. (Original publicado em 1965).
Habermas, J. (1984). The theory of communicative action - Vol. 1: Reason and the
rationalization of society. Beacon Press.
Human Rights Watch (HRW) (1999). Racism, racial discrimination, xenophobia, and all
forms of discrimination. www.hri.ca/racism/Submitted/Author/humanrights
watch.- html
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openness to dialogue. British Gestalt Journal 12(2), 88-96.
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www.usatoday.com/money/companies/management/2003-12-30womenceos_x.
htm
Lewin, K. (1951). Field theory in social science: Selected theoretical papers (D. Carhvright,
Ed.). Harper & Brothers.
Lichtenberg, P. (1990). Community and confluence: Undoing the clinch of oppression. Peter
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McIntosh, P. (1995). White privilege: Unpacking the invisible back pack. In Kesselman,
A., McNair, L., & Schniedewind, N. (Eds.), Women images and realities (pp. 264-267).
Mayfield Publishing Company.
Ontario Consultants on Religious Tolerance (OCRT) (2001). Legal and economic benefits of
marriage. www.religioustolerance.org/ mar_bene.htm
Michelle Billies • 107
Perls, F. S., Hefferline, R. F., & Goodman, P. (1951). Gestalt therapy: Excitement and growth
in the human personality. The Julian Press.
Mônica Alvim
Paulo Antonio de Oliveira Muniz
Cheyenne Monteiro Wolf Von Arcosy
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTOS DA PESQUISA
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ametista (AM)
A primeira cliente é Ametista, uma mulher preta de 24 anos,
heterossexual, cisgênero e casada, moradora da Baixada Fluminense,
região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. A cliente traz como
queixa principal uma ansiedade impulsionada por conflitos familiares
devido à sua situação de vida atual, na qual fez a escolha de ocupar o
lugar de provedora familiar enquanto o marido, um homem negro,
desempregado e estudante de mestrado, ocupa o papel de cuidados com
o lar e rotina domiciliar.
Em sua configuração familiar pode-se perceber que há uma
inversão dos papéis cis-branco-heteronormativos de gênero que nos
socializam desde o nascimento, transgredindo o modelo dominante de
divisão sexual do trabalho. Historicamente essa divisão feita na
sociedade capitalista designou à mulher o trabalho doméstico,
Mônica Alvim; Paulo Antonio de O. Muniz; Cheyenne M. Wolf Von Arcosy • 119
nessa situação, dado que Ônix é um homem negro e pobre que se sente
inferiorizado. Os estudos no campo das relações raciais demonstram
que a suposta hierarquia entre brancos e negros é uma naturalização
herdeira da colonização europeia das Américas e da fundação do
capitalismo. Essa hierarquização é central no racismo, fenômeno
estrutural que informa nossos modos de perceber, sentir e agir. A partir
disso, as relações intersubjetivas são articuladas por posições de
superioridade e domínio dos brancos e subalternidade e inferiorização
dos não-brancos.
Ônix enxerga claramente a diferença de oportunidades entre ele e
outros colegas de escola, sobretudo entre ele e o terapeuta branco, o
estagiário que o atende na clínica escola da universidade. Ele explicita
sua percepção de que esse estagiário alcançaria o lugar que ele próprio
deseja, mas não acha possível. Tal relação tem um enraizamento na
meritocracia, uma ideologia que reforça as desigualdades históricas e
tenta justificar a desigualdade e os privilégios dos brancos, “ao mesmo
tempo em que oferece a promessa de uma saída para essas
desigualdades. Ela individualiza os problemas estruturais, atribui
responsabilidade de resultados aos indivíduos e torna essas estruturas
invisíveis à crítica” (Wayne; Cabral, 2022).
Nesse sentido, a terapia lida com uma situação claramente
atravessada por questões sócio-políticas, fato apontado pelo próprio
cliente. O que nos alerta para os riscos de agir no sentido de psicologizar
o que é trazido por ele em detrimento de um olhar para os problemas
estruturais.
Quartzo (QZ)
Nosso terceiro cliente, Quartzo, é um homem pardo, cisgênero,
solteiro e homossexual, morador de uma república para estudantes em
Mônica Alvim; Paulo Antonio de O. Muniz; Cheyenne M. Wolf Von Arcosy • 123
O autor (Balieiro, 2012) estabelece que nem tudo é sobre dor, como
se pessoas gays fossem sempre vítimas passivas à violência, e discute
propostas do uso do caráter transformador da vergonha a partir das
suas dimensões performativas, em que, em sua dimensão relacional, a
vergonha é a “emoção limite entre a introversão, que advém do
isolamento, e a extroversão enquanto movimento de resposta à ela” (p.
539). A performatividade queer se daria, por assim dizer, não por
remover ou mesmo reprimir a vergonha, mas por colocá-la em
movimento, nos propondo estratégias críticas para enfrentarmos um
128 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Meu ideal de beleza é o cabelo liso. Estou passando por transição capilar e
não consigo me sentir bonita. Quando outras pessoas falam que o meu
cabelo está ficando bonito eu até passo a me achar mais bonita. Mas quando
me olho no espelho me acho horrível. O único momento que me senti bonita
foi quando meu cabelo era liso (ES).
Quando abri a porta do consultório pela primeira vez para João (nome
fictício), ele me olhou um tanto surpreso e perguntou: você é o Lucas? Sim,
respondi. João sorriu e sentou-se no sofá. Estava se sentindo em casa.
Partilhou suas questões doídas com um leve sorriso no rosto. “É tão bom
não precisar explicar o que estou sentindo”, ele disse ao longo da sessão.
“Bom sentir que você está me entendendo”. O paciente é um jovem negro
que iniciava terapia pela terceira vez, mas agora com um psicólogo negro.
Ao longo de suas tentativas anteriores de cuidado em saúde mental, João
Mônica Alvim; Paulo Antonio de O. Muniz; Cheyenne M. Wolf Von Arcosy • 131
chegou a ouvir por parte de psicólogos brancos frases como “você acha que
ainda existe racismo no Brasil?”; “sofrimento não tem cor”; “você não acha
que está atribuindo a causa de tudo à questão racial?” Enunciados que
tinham como efeito direto deslegitimar o sofrimento do paciente e, como
consequência, fazê-lo experimentar a solidão de ser negro, de não ser
compreendido nem acolhido devidamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Alvarenga, C. F., & Vianna, C. P. (2012). Relações sociais de gênero e divisão sexual do
trabalho: desafios para a compreensão do uso do tempo no trabalho docente,
Laboreal, 8(1).
Alvim, M.B. (2012). A clínica como poiética. Estud. pesqui. Psicol., 12(3), pp. 1007-1023.
Alvim, M.B. (2016). Id of the situation as a common ground. In Robine, J. (Org.) Self: a
polyphony of contemporary gestalt therapists. Bourdeaux: L’exprimerie.
Balieiro, F. (2012). Políticas em prol da Vergonha Gay: uma contribuição queer para uma
outra gramática dos conflitos e normas sociais. Contemporânea, 2(2), 536-547.
Bortoni, L. (2018). Brasil é o país que mais se assassina homossexuais no mundo. Rádio
Senado. https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2018/05/16/brasil-e-o-pais-
que-mais-mata-homossexuais-no-mundo.
Freitas, G. (2018). Cabelo crespo e mulher negra: a relação entre cabelo e a construção da
identidade negra. Idealogando, 2(2), 66-87.
Hirata, H., & Kergoat, D. (2007) Novas configurações da divisão sexual do trabalho.
Cadernos de Pesquisa, 37(132), pp.595-609.
Lichtenberg, P. (2002) Honte et creation d’un systeme de classes sociales. Instituto Francês
de Gestatlt-terapia.
Souza et al. (2019). A produção literária sobre homofobia internalizada. Rebeh, 2(1), 171-
189.
Wayne, M., & Cabral, V. N. de. (2022). Capitalismo, Classe e Meritocracia: um estudo
transnacional entre o Reino Unido e o Brasil. Educação & Amp; Realidade, 46(3).
https://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/117535.
INTRODUÇÃO
1
A grafia do termo “filhes” possui o propósito de posicionar gênero em uma configuração não-dualista
e não-universalista, tendo em vista que a padronização da linguagem formal normatiza a terminologia
“o” no plural para designar ao gênero masculino a referência tanto para o masculino como para o
feminino, em uma perspectiva dual, binária e universalizante.
2
A grafia do termo “outres” também possui entendimento e escrita não-binária.
Tatiana de Paula Soares • 137
3
Projeto de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
4
Professora Associada do Departamento de Psicologia Clínica (UFRJ/PPGP). Membro do GT
Fenomenologia e Psicologia - ANPEPP. Presidente da Associação Brasileira de Gestalt-terapia (ABG).
138 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
5
A referência do termo ao pronome feminino não é de direcioná-lo a um público específico, e sim, de
protagonizar a escrita sem padronização formal da linguagem de flexionar o pronome masculino para
representar a diversidade de gênero.
140 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
CORPO E GESTALT-TERAPIA
6
Comunicação Pessoal. Curso on-line intitulado Gestalt-terapia e Merleau-Ponty: conversações, Módulo
“Gestalt-Terapia como Experiment-ação: resgatando a plasticidade da forma”, em 25 de junho de 2022.
7
Manual Diagnóstico e Estatístico de Classificação dos Transtornos Mentais elaborado pela Associação
Americana de Psiquiatria (APA).
8
Classificação Internacional de Doenças elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
142 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
9
Disponível em formato eletrônico pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade
na Amazônia, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
10
Termo oriundo do texto "Monoculturas do pensamento e a importância do reflorestamento do
imaginário", publicado em 2021.
11
A grafia dos termos “e autore” possui o propósito de posicionar a escrita não-binária. Neste caso, Núñez
se identifica como pessoa não-binárie.
Tatiana de Paula Soares • 143
12
Nesta seção, o trocadilho pronominal masculino/feminino refere-se à mesme cliente, visando o
exercício de leitura sob perspectiva de alteridade perante categorizações de gênero.
148 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
13
Nome fictício para preservar a identidade do cliente.
14
Idem.
Tatiana de Paula Soares • 149
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Alvim, M. B. (2012). A clínica como poiética. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 12(3), 1007-
1023.http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808428120120
00300018&lng=pt&tlng=pt.
154 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Goldstein, K. (1995). The organism: a holistic approach to biology derived from pathological
data in man. Zone Books.
Mono. (2022). In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. [em linha], 2008-2022.
https://dicionario.priberam.org/mono.
Perls, L. (1992). Living at the Boundary: Collected Works of Laura Perls. Gestalt Journal
Press Bookstore.
Segato, R. L. (2007). La nación y sus otros: raza, etnicidad y diversidad religiosa en tiempos
de políticas de la identidad. Prometeo Libros Editorial.
Wilber, K. (2012). A união da alma e dos sentidos: Integrando ciência e religião. Editora
Cultrix.
World Health Organization. (2019). ICD-11 for mortality and morbidity statistics. Version:
April. WHO. https://icd.who.int/browse11/l-m/en.
SEÇÃO 2
Section 2
Sección 2
INTRODUÇÃO
1
https://youtu.be/F-F80y0y6F8.
Sérgio Lizias Costa de O. Rocha; Paulo Antonio de O. Muniz; Mônica Alvim • 163
2
Gestalt therapists who receive privileges of social location have developed habitual interruptions of
contact that perpetuate systems of privilege and oppression.
3
Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. Recuperado de https://educa.ibge.gov.br/jovens/
materias-especiais/21039-desigualdades-sociais-por-cor-ou-raca-no-brasil.html
4
Specifically, under certain circumstances, those of us with privilege wittingly or unwittingly fill the role
of opressor.
166 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Ao tentar ver Deus se olha em uma única Consegue-se olhar para deusas de
direção deuses em todas as direções
Quadro 1: quadro comparativo das cosmovisões cristã e pagã (Fonte: Santos, 2015).
DESCRIÇÃO DO PROJETO
O DOCUDRAMA “IANSÔ
5
• dismiss the significance of a client’s identity as a member of an opressed group;
• generalize to the client based on their privileged group experience;
• minimize the extent of sexism, racism, and other forms of oppression;
• distance themselves by exoticizing client experience;
Sérgio Lizias Costa de O. Rocha; Paulo Antonio de O. Muniz; Mônica Alvim • 173
• diagnose certain identity groups such as gay people or people of a transgender experience as
psychologically or developmentally impaired;
• remain underskilled in to working with clients from oppressed groups;
• relate to clients based on stereotypes;
• ignore the implications of privilege with a client from the same privileged group; among others.
174 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Iansã: é a senhora dos ventos e dos raios. Uma força guerreira, perigosa,
insubordinada. É ela que, desobedecendo à regra que vedava às mulheres a
participação no culto dos mortos, obteve o poder de penetrar suas
Sérgio Lizias Costa de O. Rocha; Paulo Antonio de O. Muniz; Mônica Alvim • 175
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6
I can also choose not to explore how racism and poverty may be affecting therapeutic relationships.
Sérgio Lizias Costa de O. Rocha; Paulo Antonio de O. Muniz; Mônica Alvim • 177
REFERÊNCIAS
Alvim, M. (2012). A clínica como poiética. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 12(3), 1007-
1023.
Billies, M. (2005). Therapist Confluence with Social Systems of Oppression and Privilege.
International Gestalt Journal, 28(1), pp. 71-92.
7
As the therapist brings material from the background into awareness, she can recognize and engage
with more of what the client presents and notice more of what the client does not, expanding their
shared experiential worlds.
178 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Carneiro, A. S. (2005). A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. [Tese
de doutorado]. Universidade de São Paulo.
Santos, B. de S. (1995). Towards a New Common Sense. Law, science and politics in the
paradigmatic transition. Routledge.
PONTO DE PARTIDA
TRILHANDO AS REFLEXÕES
FAMÍLIAS INTERRACIAIS
ASCENSÃO SOCIAL
O CORPO COLETIVO
NOTAS VITAIS
REFERÊNCIAS
Carone, I., & Bento, M. A. S. (2002). Psicologia Social do Racismo: estudos sobre a
branquitude e branqueamento no Brasil. Vozes.
Carneiro, A. S. (2005). A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. [Tese
de Doutorado, Universidade de São Paulo]. Biblioteca Digital de produção
Intelectual da universidade de São Paulo. https://repositorio.usp.br/item/
001465832
196 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Kendi, I. X. (2020). Como ser antirracista (E. Sieget Trad.). Alta Books.
Moore, C. (2007). Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo.
Mazza Edições.
Njeri, A., & Aziza, D. (2020). Entre a fumaça e as cinzas: estado de maafa pela perspectiva
mulherismo africana e a psicologia africana. Problemata, 11(2), 57-80.
https://doi.org/10.7443/problemata.v11i2.53729
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Coetzee, & P. J. Abraham (Orgs.). The african philosophy reader. Routledge.
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Perls, F. S., Hefferline, R., & Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia (F. R. Ribeiro Trad.).
Summus. (Trabalho original publicado em 1951).
Rattz, A., & Gomes, B. (2015). Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz
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198 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Walker, A. (1982). If the present looks like the past, what does the future look like? 1982.
In A. Walker . In search of our mothers’ gardens: womanist prose. Harcourt Brace
Jovanovich.
7
MULHERES NEGRAS E AUTOESTIMA: EXPLORANDO
O IMPACTO DO RACISMO NA INFÂNCIA
Black women and self-esteem: exploring the impact of racism on childhood
Mujeres negras y autoestima: explorando el impacto del racismo en la infância
INTRODUÇÃO
A AUTOESTIMA
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
EXCLUSÃO EM BRINCADEIRAS
41,3% tinham facilidade em expor sua opinião, mas que 58,6% não tinha
facilidade por medo de exposição ou retaliações.
A. SILENCIAMENTO
Tal como apontado por Silva (1995, como citado em Silva, 2002) é
evidente que uma relação estudante-professor conflituosa, marcada
por diferenças e preconceitos, impacta vigorosamente o psicológico da
criança, trazendo danos ao seu desenvolvimento com impactos
importantes em sua autoestima e visão de si mesmo enquanto pessoa
merecedora de atenção.
Sobre isso, Cavalleiro (2012) adverte:
não se fala, eu lembro que criaram um grupo no Whatsapp, mas quando deu
assim uns três meses de aula no grupo, eu saí do grupo, porque eu não
estava fazendo nada lá sabe, era a mesma relação do ensino médio, eu não
gosto deles e eles não gostam de mim (Tereza, 25 anos).
No início foi bem complicado, foi a mesma coisa que carregava comigo, eu
cheguei fui ver se tinha alguém semelhante a mim, se tinha entrado
ingressado como bolsista para eu ter assim alguma coisa incomum com
alguém entendeu? (Ruth, 36 anos).
Eu era uma das poucas crianças negras que tinham na sala, na escola pública
tinha mais uns dois ou três alunos, no máximo, mas foi bem difícil. Uma
menina me falou ... 'Sua mãe deve estar muito feliz porque você tá aqui', mas
gente a mãe dela também deve estar feliz de ela estar aqui (disse pensar),
mas eu não tinha associado a questão de eu ser a única negra da sala. (Taís,
35 anos)
E. PROBLEMAS PSICOLÓGICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Doutorado, Universidade Federal Da Paraíba]. Repositório Institucional da UFPB.
https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/20341
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Practice,15, 244-247.
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223-244.
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Andrea dos Santos Nascimento; Emanuella Moreira Cintra; Maiara da Silva • 219
Silva, S. P. dos S., Medeiros, J. L. de, Delfino, J., Matias, E. F & Ribeiro, R. M. B. (2015). A
autoestima da criança negra e suas implicações no processo de aprendizagem. In
Joca, A. M., Nepomuceno, C. M. Bezerra & Nascimento Filho, V. B. do (Orgs.). Anais
VII FIPED. Realize editora. https://www.editorarealize.com.br/edicao/detalhes/
anais-vii-fiped.
INTRODUÇÃO
1
Escolhemos nomeá-la de Anastácia porque, em um dos encontros, ela mencionou sobre a nossa
necessidade, como pessoas negras, de aprender a falar, evocando em uma de nós uma imagem que, ao
Loíse L. do N. Santos; Daniele Miranda; Sonalle C. de A. da Fonseca; Alexandra C. Tsallis • 221
ser com-partilhada, possibilitou que todas fôssemos transportadas para a imagem de Anastácia (pintada
em 1817 pelo francês Jacques Etienne Arago) sem a máscara de flandres que prende sua boca. Esta
imagem é uma arte feita pelo artista visual Yhuri Cruz e se chama Anastácia Livre. Anastácia foi uma
mulher negra escravizada cuja imagem, hoje, é símbolo de resistência.
2
Escrevi em maiúscula para com-partilhar o impacto que tal informação causou em mim.
222 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
3
Silmara da Costa Pereira Cestari é uma mulher branca, dermatologista e professora.
4
Edith Piza (2003), mulher, psicóloga e pesquisadora das relações raciais, diz, a partir dos estudos de
Ruth Frankenberg, mulher branca, socióloga e pesquisadora do tema branquitude nos Estados Unidos,
que: "Frankenberg vai definir branquitude a partir do significado de ser branco, num universo
racializado: um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê os outros e a si mesmo; uma posição de
poder não nomeada, vivenciada em uma geografia social de raça como um lugar confortável e do qual
se pode atribuir ao outro aquilo que não atribui a si mesmo" (Piza, 2002, p.71).
Loíse L. do N. Santos; Daniele Miranda; Sonalle C. de A. da Fonseca; Alexandra C. Tsallis • 223
(Emicida - Ismália) 5
5
Moreira, V. L.; Samam. R; Emicida. (2019). Ismália [Gravado por: Emicida part. Larissa Luz & Fernanda
Montenegro]. Álbum: AmarElo. (2019)
6
Os Dispositivos de Regeneração Social são produtos tecnológicos criados e desenvolvidos pelo
Laboratório afeTAR/UERJ contemplados no Edital Inova 2020. Os DRS consistem na produção de rede a
partir da implementação de grupos que são acompanhados por uma equipe treinada para fomentar
vínculos que atuem no cultivo de práticas de regeneração social. Entendendo a regeneração como
capacidade dos organismos vivos de se renovarem frente aos desafios, revitalizando suas próprias fontes
de energia e recursos.
224 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
7
Adotamos o uso do primeiro nome, a raça e/ou gênero como forma de corporificar a escrita, de mostrar
quem fala e por que fala. Trazemos esses dados como uma política de nomes que pretende convidar o
outro para com-por conosco: “Quando os nomes deixam transbordar esta capacidade que o outro
enquanto sujeito tem de compor um mundo conosco, os participantes compõem a pesquisa não pela
condição de qualquer um, mas por suas intensidades e é a partir delas que podemos produzir interesse.”
(Tsallis et al., 2020). Tomamos como participantes todos os que contribuem com essa produção, seja os
que estiveram no campo de pesquisa, seja aqueles com quem dialogamos com suas produções.
226 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
8
Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética. Número do CAAE 38878320.4.0000.5282.
Loíse L. do N. Santos; Daniele Miranda; Sonalle C. de A. da Fonseca; Alexandra C. Tsallis • 227
fomentar o debate sobre uma luta que inclui pensar uma prática clínica
antirracista, ou seja, implicada em combater o racismo em todas as suas
camadas.
A proposta é que o dispositivo clínico contribua para a
implementação de mais ofertas de cuidado de saúde mental voltadas
para a população negra. A realidade brasileira mostra que pessoas
negras, devido ao racismo, são colocadas em condições inferiores e
subalternizadas, sendo estes fatores condicionantes da saúde desta
população. Um dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar
(Pesquisa por Amostra de Domicílios [PNAD], 2021), aponta que, entre
as pessoas de 14 anos ou mais com rendimento mensal, a população
branca tem média salarial maior do que a população preta e parda:
respectivamente, R$ 3.276, R$ 1.847 e R$ 1.894.
Temos como propósito seguir assegurando e contribuindo para a
efetivação do direito universal à saúde, com práticas de cuidado
direcionadas para as especificidades que pessoas negras possuem,
conforme o artigo 196 da Constituição Federal (1988), o qual também é
resgatado na Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90, que aponta:
Este primeiro encontro aconteceu um dia após o feriado de 23 de abril, e uma das
questões trazidas pelas participantes foi a de não ter feito nada da faculdade
no feriado. Uma revolta abraçada por culpa incomodava todas elas que
frequentavam a universidade, ou que já a haviam frequentado. Uma das queixas
era a sobrecarga, outras o horário das turmas que não permitia que quem
trabalhasse ou morasse muito distante pudesse frequentar. Elas se sentiam
obrigadas a dizer não para as oportunidades, quando na verdade o não já estava
dito nas disposições das atividades. Foi aí, então, que uma pessoa da equipe de
atendimento perguntou como as meninas achavam que seria uma universidade
que contemplasse -elas- (no momento em que escrevi "elas" no caderno, parei,
risquei e escrevi "a gente"). Nesse instante eu me deparei com a questão de quem
seriam “elas” e “nós”. Eu me sentia tão contemplada por tudo o que estava sendo
dito por pessoas tão iguais a mim/nós que ficou confuso esse lugar. O que eu
estava anotando não era só sobre elas (?) era sobre mim/nós todos também.
(Santos, trecho do diário de campo, 2019)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Frazão, L.M. & Fukumitsu, K.O. (2014). Gestalt-terapia. Conceitos Fundamentais. Summus.
Grijalbo Ilustrados.
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua anual: tabela 7441 - Rendimento
médio mensal real das pessoas de 14 anos ou mais de idade, de todos os trabalhos, a
preços médios do último ano, por cor ou raça. In: IBGE. Sidra: sistema IBGE de
recuperação automática. (2020). https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7441
INTRODUÇÃO
ndebele, sutu...) (Kashindi, 2017). Este povo utiliza do termo como forma
de expressar seus valores. Como afirma Tempels (1959, p. 21, citado por
Dju & Muraro, 2022): “Certas palavras são constantemente usadas pelos
africanos. São aquelas que expressam seus valores supremos; e elas se
repetem como variações sobre um mantra presente em sua língua, seu
pensamento, e em todos os seus atos e afazeres”. O termo ubuntu, na
atualidade, é muito correlacionado com o tradicional aforismo africano,
em sua versão zulu: “Umuntu ngumuntu ngabantu” (“Uma pessoa é uma
pessoa através de outras pessoas”).
Como filosofia, o termo ubuntu possui três sentidos inter-
relacionados básicos: ontológico, epistemológico e ético 1. Nos propomos
aqui, discutir o conceito ubuntu dentro de sua concepção filosófica,
relacionando e aproximando com os conceitos básicos filosóficos da
Gestalt-terapia em parte de suas perspectivas fenomenológicas,
humanistas e existenciais, pretendendo resgatar a filosofia e o saber
africano em concordância a fundamentação da Gestalt-terapia como
abordagem e em seu olhar para o homem, no objetivo de valorizar o
conhecimento e as práticas existentes para além dos saberes ocidentais
e eurocentristas.
DESENVOLVIMENTO
1. UBUNTU
Uma pessoa se torna pessoa através dos outros. Ninguém vem ao mundo já
completamente formado. Não saberíamos pensar ou andar ou falar ou
comportar como seres humanos se não o tivéssemos aprendido dos outros
1
Dentre os sentidos atribuídos ao termo ubuntu, neste trabalho nos limitaremos às perspectivas
ontológicas e epistemológicas, com ênfase na visão do homem e do homem em relação.
Alice Dias do Nascimento; Ana Clara Peres Couri; Vitor Hugo Santos Nunes • 241
(Kashindi, 2017, p. 10). Kashindi (2017) ainda apresenta que as forças são
ontológicas e também relacionais:
3. GESTALT-TERAPIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Dju, A. O. & Muraro, D. N. (2022). Ubuntu como modo de vida: contribuição da filosofia
africana para pensar a democracia. TRANS/FORM/AÇÃO: Revista De Filosofia, 45, pp.
239–264. https://doi.org/10.1590/0101-3173.2022.v45esp.13.p239
Kashindi, J. K. (2017). Cadernos IHUideias: Volume 1: Ubuntu como ética africana, humanista
e inclusiva, 15, H. D. Lucas Trad. Instituto Humanitas Unisinos. https://www.ihu.
unisinos.br/images/stories/cadernos/ideias/254cadernosihuideias.pdf
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pp. 324-330. Routledge.
Van Niekerk, J. (2013). Ubuntu and Moral Value [Tese de Doutorado, University of the
Witwatersrand] Faculty of Humanities. https://go.exlibris.link/WsFy8R4R
Vasconcelos, F. A. (2017). Filosofia Ubuntu. Logeion Filosofia da Informação, 3(2), pp. 100-
112. https://doi.org/10.21728/logeion.2017v3n2.p100-112
10
REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA ANTIRRACISTA NA
PERSPECTIVA DA GESTALT-TERAPIA
Reflections for an anti-racist practice in a Gestalt-therapy perspective
Reflexiones para una práctica antirracista desde la perspectiva de la
Terapia Gestalt
INTRODUÇÃO
atingível do qual ele tentará se ajustar. “Que fique bem claro, ao tentar
se ajustar a um ideal não atingível, é ter a praga do perfeccionismo como
condição para o adoecimento” (Stevens, 1977).
Coerente com essa perspectiva, sendo a Gestalt-terapia uma
abordagem psicológica de caráter holístico e organísmico que contribui
para a compreensão dos aspectos envolvidos no processo saúde-doença,
sugere-se que o adoecimento e o sofrimento psíquico ocorram a partir
de interrupções na relação processual da pessoa no campo em que se
encontra (Estevão & Silveira, 2014; Freitas, Stroiek & Botin, 2010). Dessa
forma, o resgate da pessoa, da tradicionalidade e do reconhecimento de
suas raízes socioculturais podem ser compreendidos como um
mecanismo de busca pelo saudável, no reestabelecimento de
prioridades e do que é importante para a pessoa. Freitas, Stroiek e Botin
(2010) afirmam que o adoecimento denuncia excessos, faltas ou
desconexões:
expressa; a pessoa não está toda aí, ou seja, o campo não lhe empresta
sua urgência e recursos para complementar a figura (Perls, et.al., 1997).
Nesse sentido, compreende-se que no processo de contato a pessoa
como corporeidade percebe as necessidades dominantes e a partir delas
sente, orienta-se e movimenta para manipular a situação, retomando o
equilíbrio e a integração, tornando-se movimento criador ou um
exercício de liberdade. Ou seja, torna-se possível transformar-se e
refazer o mundo (Alvim, 2016). Diante desta configuração psicossocial,
este estudo pretendeu refletir sobre o cuidado antirracista dentro da
perspectiva da Gestalt-terapia.
Assim, este estudo é um compromisso com a linguagem didática,
atenta a um léxico que dê conta de uma interlocução por um viés social,
político e coletivo, na medida em que amplia o campo de diálogo e o
coloca como oportunidade de uma produção intelectual relacional.
Sendo fiel ao objetivo da Gestalt-terapia de buscar ampliar a trajetória
que contribui para o desenvolvimento do potencial humano através do
processo criativo que promova a integração. Reconhecendo-se como
seres de relação, posto, toda realidade é uma realidade compartilhada.
Alguém absolutamente só, não teria consciência da realidade, é no
contato com outro que percebemos existentes, o campo é o lugar do
contato; é nele que tudo acontece, permitindo que todos os seres em
relação ao se definirem, se distingam, se individualizam e possam assim
serem reconhecidos (Ribeiro, 2007).
METODOLOGIA
“Para a criança branca que deixa o meio familiar ela reencontra as mesmas
leis, os mesmos princípios, valores. Uma criança normal, crescida num
meio normal. Constatamos o inverso no caso do homem de cor. Uma criança
negra, normal, tendo crescido no seio de uma família normal, ficará
anormal ao menor contato com o mundo branco” (Fanon, pg. 129, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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José Montero (2020). Análise de dados qualitativos em pesquisa: múltiplos usos em
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Stevens, J. O. (1977). Isto é Gestalt [coletânea de artigos escritos por Frederick S. Perls e
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Editora Summus.
———— (1994). 1492: El encubrimiento del uma: hacia el origen del mito de la
Modernidad (conferencias de Frankford, octubre 1992). Plural Editores.
1
A ideia de racialização é entendida como um processo de categorização social baseado em traços de
distintividade racial de grupos populacionais, que redunda na generalização de características que
descrevem essas populações de modo hierarquizado, quer pela suposta superioridade biológica de uma
(banca) sobre as demais, quer pela também suposta superioridade cultural. (Schucman, 2012) Este
fenômeno é determinante “para a produção de ações concretas" (como, por exemplo, práticas
discriminatórias e formação de identidades étnicas), "que demarcam um lugar de inclusão e exclusão”.
(Martins, 2009, p. 24).
276 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
...ódio, esse desejo de morte que a sociedade manifesta contra nós desde o
momento em que nascemos mulheres negras. Na infância, absorvemos esse
ódio, somos atravessadas por ele, e, quase sempre, ainda vivemos nossas
vidas sem reconhecer o que ele é de fato e como ele funciona. Ele retumba
Laura Quadros; Cecilia Barbosa; Viviane Santos; Angelica (Angel) Siqueira; Barbara Remane • 281
como ecos de crueldade e raiva nas relações que mantemos umas com as
outras. Pois cada uma de nós carrega o rosto que ele procura, e aprendemos
a nos sentir à vontade com a crueldade, pois temos sobrevivido tantas vezes
a ela em nossa existência. (Lorde, 2019, p.168).
A imagem que os Estados Unidos fazem de mim se impôs como uma barreira
à percepção dos meus próprios poderes. Tive que examinar e derrubar essa
barreira, pedaço por pedaço, dolorosamente, para usar minhas energias de
modo pleno e criativo. (Lorde, 2019, p.169).
282 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Minha raiva de mulher negra é um lago de lava que está no meu cerne, o
segredo que guardei de modo mais intenso. Eu sei o quanto da minha vida
como mulher de sentimentos poderosos está emaranhado nessa rede de
fúria. Ela é um fio elétrico entrelaçado em cada tapeçaria emocional em que
coloco o que há de essencial na minha vida – uma fonte quente e
borbulhante que pode entrar em erupção a qualquer momento, irrompendo
da minha consciência como fogo numa paisagem. Como adestrar essa raiva
com precisão, em vez de negá-la, tem sido uma das tarefas mais
importantes da minha vida. (Lorde, 2019, p. 168.).
de sua raiva, vista nos olhos de outras mulheres negras e sua forma de
interagirem. O ódio, a raiva, a culpa, o medo e os silêncios são escritos
de Lorde pelas suas experiências, afetações enquanto criança, jovem e
mulher negra, que ampliaram gradativamente sua percepção acerca de
como o sistema racista forja as maneiras como as mulheres negras
entram em contato com seus afetos. Para Lorde (2019), as mulheres
negras recebem os olhares de ódio de maneira passiva e internalizam a
raiva e o ódio a partir de suas vivências de opressão e violências vividas
no cotidiano, e direcionam essas emoções a outras mulheres negras,
sendo essas relações, muitas vezes, atravessadas por culpa, silêncio e
medo.
Costurando a elaboração de Lorde à abordagem gestáltica,
entendemos a raiva como uma emoção que pode paralisar e criar
impasses quando não reconhecida e integrada. Fritz Perls (1977) ensina
que as emoções são a força vital, força motora vivida nos movimentos
do corpo, como a alegria, a raiva e a culpa. Ele aponta que emoções como
a raiva não devem ser vividas como incômodos, mas como força motora
mais importante para o nosso comportamento.
Nos rastros da proposição de Fritz, a agressividade e a raiva nos
retiram da passividade diante do que nos é imposto. Segundo ele (op.cit),
é preciso morder, mastigar e digerir, assimilando o que nos interessa
para não engolir, simplesmente. Ainda sobre esse tema, Kamilla
Valentim Silva (2020, p.33) nos traz uma importante constatação: “A
raiva irá cumprir a função não apenas de reação aos valores e lugares
sociais que diminuem nossa condição de sujeito, mas também de ponte
para construção de estratégias criativas onde a mesma não se torne
ódio”.
284 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
“Eu, como mulher negra, escrevo com palavras que descrevem minha
realidade, não com palavras que descrevam a realidade de um erudito
branco, pois escrevemos de lugares diferentes. Escrevo da periferia, não do
centro. Esse é também o lugar de onde estou teorizando, pois coloco meu
discurso dentro da minha própria realidade.” (Kilomba, 2020, pp. 58-59).
REFERÊNCIAS
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Brasileira de Gestalt-terapia. (Org). Olhares da Gestalt-terapia para a situação de
pandemia. CRV.
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1 reimp. Autêntica.
Laura Quadros; Cecilia Barbosa; Viviane Santos; Angelica (Angel) Siqueira; Barbara Remane • 295
Martins, H. V. (2009). As ilusões da cor: sobre raça e assujeitamento no Brasil. 243 f. Tese
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INTRODUÇÃO
marca do mito da democracia racial, que faz com que a problemática das
drogas acabem por cair no binômio racismo-pobreza, que caracterizam
e orientam seletivamente os processos de criminalização, prisão e
homicídios no Brasil, aparecendo de forma regular nas estatísticas
oficiais sobre a violência, revelando assim, os perfis dos sujeitos que são
alvos principais da repressão e controle do Estado, sendo eles: jovens e
adultos negros e pobres principalmente.
Nesta mesma direção, Macrae (2017) afirma que a guerra às drogas
é uma desculpa para a genocídio da juventude negra das periferias,
sendo esta uma questão histórica de tentativa de manutenção do
controle por parte das elites diante de grupos populacionais cada vez
mais excluídos. Da escravidão até os dias atuais a população negra sofre
um genocídio institucionalizado e sistemático como tão bem
denunciado por Abdias Nascimento (2016) e que podemos falar de uma
prática de extermínio direto em moldes necropolíticos como discutido
por Achille Mbembe (2014; 2018). Assim, podemos afirmar que o
problema não é a droga, mas, a pobreza e o racismo, lembrando que a
pobreza tem cor no Brasil como já dizia Sueli Carneiro (2011).
Isso acontece por um lado como exercício de controle social, e por
outro, como estratégia para a ampliação da economia neoliberal a partir
do exercício do poder e da violência (Passos & Souza, 2011). De modo que
ocorre o gerenciamento violento e repressivo da desigualdade e da
exclusão social, mascarado pelo foco dado ao combate às drogas,
justificado pela perspectiva mística com relação ao poder das drogas em
gerar dependência química e destruição dos usuários, ignorando
problemas sociais na análise do problema (Alvarenga, Rosaneli, Ferreira
& Lima, 2021).
300 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
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condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e para tratar do
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141-156). Hucitec.
INTRODUÇÃO
Embora não seja novidade sobre o alto índice de violência racial no Brasil, o
último Atlas de violência de 2021, aponta que 77% da vítimas de homicídios,
em 2019, (somando pretos e pardos), De acordo com a classificação do IBGE,
chega a 29.2 por 100 mil habitante, comparado aos não negros ( soma de
amarelos, brancos e indígenas), que foi “de 11,2, para cada 100 mil, ou seja,
a taxa de violência letal conta pessoa negras foi de 162%. O mesmo ocorre
com as mulheres negras 66,0% do total assassinadas no Brasil, com 4,1 de
taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, comparada a 2,5 para mulheres
não negras”. (ATLAS, 2021, p.49 1).
1
Cerqueira, Daniel (2021) Atlas da Violência 2021 / Daniel Cerqueira et al., — São Paulo: FBSP, Inclui
Bibliografia. 1. Violência. 2. Segurança Pública. 3. Políticas Públicas. 4. Brasil.
Rozangela da Piedade Leite • 311
2
Para além de comemorar a data do dia 20 de novembro como lembrança do assassinato de Zumbi dos
Palmares contrapondo o dia 13 de maio que, até então, era visto como dádiva de cima para baixo, como
argumento que é importante a lembrança da capacidade de resistência dos antepassados, muito mais
positiva do que a abolição da escravatura. (Nascimento, 1985, p. 47).
Rozangela da Piedade Leite • 317
o que difere o ódio racista dos outros sentimentos como amor, inveja,
generosidade, é que o ódio racista é focado apenas no fenótipo, para ele
deixa de ser uma questão de sentimento ou uma interação efetiva entre
os indivíduos, e lamentavelmente passa ser converter a um sistema
normativo de realidade social. (Moore, 2007 p. 283).
Conforme Hooks (1978), a descolonização, para se efetivar, deve ser
um movimento pensado tanto por parte do colonizador como do
colonizado. Para combater o pensamento colonizador, se faz necessário
que a descolonização seja uma forma de contestar toda forma de
dominação, seja ela linguística, discursiva ou ideológica. Para a autora,
o processo educacional de pessoas pretas faz parte do nosso campo de
atuação a partir de nossas percepções, instituições e representações
sociais, clinicas e pessoais. Conforme a pesquisadora a ambivalência é
pouco observada e considerada no processo de desconstrução do
pensamento na área educacional, consequentemente afetando o campo
emocional.
A Gestalt-terapia, de atitude fenomenológico-existencial, a pessoa
é um ser inerentemente relacional, dotado de singularidade, além de
concreto e corporificado, que pode se atualizar e se realizar ao longo de
sua existência. Deve ter liberdade para fazer escolhas, viver suas
angústias e inquietações, entendendo que ele é capaz de ser responsável
de transformar sua própria vida e destino, ou seja, ele é o interprete
mais fiel de si mesmo. Pode ser o centro de sua própria liberdade.
Por mais que hooks (2019) retrata diretamente o existencialismo,
mas sim traze uma boa contribuição para tal reflexão sobre auto
recuperação pautada na consciência crítica, com bases na tradição
budista. Como também a Gestalt-terapia aprecia essa tradição tem como
filosofia a temática da “iluminação da consciência ”, como um tipo de
Rozangela da Piedade Leite • 321
volta para casa- mundo da forma, da não forma e do desejo como não
sendo lares propriamente ditos, para ela são lugares que vamos por
muitas existências, alienados de nossa própria natureza.
Para entendermos sobre essa a “iluminação”, a consciência é a
maneira de voltar, e, essa volta é o esforço de recuperação de si, da sua
integridade, ou seja, de sua identidade humana como pessoas pretas.
Novamente a questão que se coloca no processo dessa confluência no
afetamento clinico do campo da Gestalt-terapia estamos trabalhando
com o “com” (juntos) ou com o “para”? Será que não estamos ainda
reproduzindo essa ambivalência como aponta Bell Hoolks (2019)?
Teixeira (2019), em seu livro “Inflexões éticas” também nos oferece
pistas como elementos do ponto de vista da ética que contribuem para
ampliação do campo das relações raciais para uma ética da clínica
antirracista. Conforme o autor citado acima especifica, Parafraseando
Teixeira (2019) “a retroalimentação da violência passa por uma
manutenção de uma moral restritiva que sustenta de modo significativo
uma oposição eu-versus outro, quando restringimos a existência dos
outros diferente. esse modelo de polaridade no desvio desses valores
moral que coloca o risco, o perigo e ausência, como caráter homicida de
nivelamento da percepção sobre o outro”. (p.21). É o que a psicologia vem
fazendo durante todos esses anos, visto que as teorias aprendidas no
espaço acadêmico ainda não contemplam as diversidades raciais e
étnicas de nossa população.
A proposta realizada pelo autor de perfaz em uma ética inflexiva
enquanto caminho possível desta desconstrução que é o que os
psicólogos negros vem fazendo na Psicologia, um caminho desviante de
ressignificação de sentidos, de resistência e de afirmação, já que não
existe espaço para nossa diferença, nossa memória, nossa história e
322 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Nobles (1970) aponta que não é possível fazer análise das pessoas
pretas pautada no modelo e ideal de comportamento de pessoas
brancas, bem como destaca que muitos psicólogos e cientistas sociais
descrevem as pessoas negras como psicologicamente desajustadas
quando estas não respondem aos parâmetros estabelecidos pelo modelo
e ideal branco. Contudo, para Akbar (1996) em leitura, nomeada de
sanidade democrática, desconsidera-se a competência/incompetência
mental de quem escravizou, oprimiu e hostilizou, aspectos que se
percebem ainda hoje e que não são considerados nas produções de
estudiosos brancos no campo existencial do contato com pessoas negras.
Acerca da elaboração de teorias pautadas nas polaridades
negativas da realidade de crianças e jovens negros, Nobles (1970)
desenvolveu uma crítica aos psicólogos brancos que negligenciam o self
desse campo de análise. O autor destacou que desde cedo, por terem a
consciência de que vivem em ambientes hostis, crianças e jovens negros
desenvolvem certas capacidades e criatividades psicológicas, tais como
a capacidade de lidar com a sua realidades, o que seria na Gestalt-
terapia um ajustamento criativo, ainda pouco considerado por
professores, assistentes sociais, diretores de escola, psicólogos, ou seja,
a falta de compreensão dessa realidade opera uma distorção tendo como
base no modelo existencial branco, e essas estratégias específicas como
auto e hétero suporte para lidarem com todos os tipos de violências do
campo racista não são consideradas no campo de análise de suas
subjetividades.
326 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A clínica antirracista deve contribuir para que pessoas pretas possam criar
laços de intimidade com sua historicidade a fim assumir e conhecer a sua
cultura tradição ampliando a sua capacidade de amar sua negritude. Como
apontou Santos (1983) apud Fanon, esses processos teria como consequência
o ato de descolonizar a mente.
REFERÊNCIAS
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Gestalt-terapia [recurso eletrônico]: novas vozes, outros olhares / Organizadores
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FBSP, Inclui Bibliografia. 1. Violência. 2. Segurança Pública. 3. Políticas Públicas. 4.
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Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante.
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o racismo. Mazza Edições, p. 344 p; 21 cm. ISBN 78-85- 7160-429-2.
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Ribeiro, São Paulo: Summus.
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Augusto. São Paulo; Sumus.
Teixeira, THIAGO. (2020) Inflexões éticas. Ed. Senso, 1ª edição. Belo Horizonte.
Paulo Barros
Ele chamou meu nome. Várias e várias vezes. Chamou, então, meu nome
completo. Algumas pessoas olhavam para mim. Sabiam que “Favero” era
344 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Os “você deve” começam cedo, e muitas vezes têm pouca congruência com
as necessidades que a criança sente que têm. No final, a alma acaba sendo
abatida. A confiança da criança é esgotada pelas autoridades externas cujos
julgamentos se estabelecem, corroendo sua própria identidade clara e
abrindo-a a conquistadores adultos que tomam posse do território. A
rendição é odiosa no início, sendo depois esquecida (p. 86)
REFERÊNCIAS
Preciado, B. Multidões queer: notas para uma política dos anormais. Revista Estudos
Feministas. 19(1), 11-20.
Preciado, P. B. (2020). Yo soy o monstruo que os habla: informe para una academia de
psiconalistas. Angrama.
1
O termo aparece uma única vez na página 432 do livro Gestalt Therapy no tópico sobre A neurose
como perda das funções de ego e é traduzido para o português, no livro de 1997, como aflição e é posto
como o distúrbio do self espontâneo: “a neurose encontra-se a meio do caminho entre o distúrbio do
self espontâneo, que é a aflição, e o distúrbio da função id, que é a psicose” (PHG, p.235). Dessa maneira,
propomos que o distúrbio do self espontâneo, misery ou aflição, pode tratar-se das interdições que nem
são relacionadas à neurose, nem à psicose, mas relativas à situação, ao campo, às formações culturais e
sócio-históricas.
2
Violência contra a mulher: vitimização secundária e Gestalt-terapia (Gimbo, 2020) e A violência como
hábito: leitura de um fenômeno social a partir da teoria do self (Gimbo, 2021).
354 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
3
Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/cultura/.
Leda Mendes Gimbo • 357
que também jamais serão privadas ou individuais pois são sempre dadas
numa situação e campo relacional (PHG, 1997).
Logo, é importante considerar que o campo inclui e é muito mais
do que a espacialidade e a temporalidade como categorias. Pensemos
nas formações sócio-históricas, na cultura e em toda a sorte de
regimentos sociais, formações discursivas, discursos que são tomados
como verdades de um tempo e que orientam a sociedade em suas
práticas e ritos. Se faz necessário compreender e analisar os discursos e
práticas, além de elementos não discursivos como o contexto
sociocultural, econômico e político da região que possibilitam as
condições de manutenção das estruturas sociais (Gimbo, 2021). Dessa
forma, em termos gestálticos, podemos compreender que a violência
está imbricada no campo e, correspondendo às três funções parciais de
self, pode ser lida também em três dimensões: 1) a violência
operacionalizada na situação, dimensão que corresponde ao presente-
vivo, à função ego; 2) violência como fundo habitual, passível de
reedição, que emerge como excitamento diante de novas demandas no
campo, correspondente à função id e 3) a violência como função
personalidade, ou os lugares e representações socialmente
compartilhados quando se exerce ou sofre violência.
Aqui, se pensarmos nos contextos clínicos, temos também duas
outras perspectivas: a de terapeutas gestálticas atuando no acolhimento
a vítimas de violências e as possibilidades éticas de intervenção quando
o lugar clínico é o de atender pessoas que exercem ou cometem
violências. Retomaremos esse debate no tópico 4 desse texto. Antes
disso, podemos preparar o terreno pensando sobre possibilidades de
fazer frente às situações de violência e suas reedições. Ajustamentos são
operacionalizações, comportamentos, são a possibilidade criativa de
Leda Mendes Gimbo • 361
REFERÊNCIAS
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16
A IMPOSSIBILIDADE DE NEUTRALIDADE NA CLÍNICA
GESTÁLTICA: POR UMA GESTALT-TERAPIA
CONTRANORMATIVA
The impossibility of neutrality in the gestalt clinic: for a counternormative
Gestalt-therapy
La imposibilidad de la neutralidad en la clínica gestalt: por una terapia
Gestalt contranormativa
Kahuana Leite
INTRODUÇÃO
1
Segundo Louro (2001) “Queer pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro,
extraordinário. Mas a expressão também se constitui na forma pejorativa com que são designados
homens e mulheres homossexuais. (...) Este termo, com toda sua carga de estranheza e de deboche, é
assumido por uma vertente dos movimentos homossexuais precisamente para caracterizar sua
perspectiva de oposição e de contestação. Para esse grupo, queer significa colocar-se contra a
normalização – venha ela de onde vier” (p. 546).
Kahuana Leite • 373
2
O uso da palavra “corpa” é consonante com uma perspectiva não-binárie, no intento de ressignificar e
destruir adjetivos e substantivos da linguagem “UNIversal” androcêntrica. Ao longo do ensaio
substantivos flexionados em gênero masculino/feminino “o/a” serão terminados em “e/u”. Essa decisão
é um posicionamento ético-político ao passo que a dicotomia de gênero como estatuto linguístico se
constitui como uma violência colonial.
3
Situação em que por volta dos dez anos fui convidade por uma amiga do colégio para ir à casa de sua
avó a qual não me conhecia. Na ocasião, chegando na casa, fui impedide de entrar pela avó com a frase
citada
374 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
4
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2017 em pesquisa
prestada ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) constatou que referente a raça, apenas 16,5% das
psicólogas são negras, o que corresponde a 24.162 pessoas de 146.721 pessoas.
Kahuana Leite • 379
5
O termo “trans” nesse ensaio será utilizado contemplando as identidades travestis, transexuais,
mulheres transgêneras, homens transgêneros, pessoas intersexo, pessoas transmasculinas e pessoas
não-bináries.
380 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Majur - Flua
CONSIDER(AÇÕES) FINAIS
REFERÊNCIAS
Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2016). Dieese divulga pesquisa sobre a inserção de
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388 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
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17
GESTALT-TERAPIA E TEORIA QUEER:
APROXIMAÇÕES POSSÍVEIS
Gestalt-therapy and Queer Theory: possible connections.
Terapia Gestalt y Teoría Queer: posibles aproximaciones.
A mudança necessária é tão profunda que se costuma dizer que ela é impossível.
Tão profunda que se costuma dizer que ela é inimaginável. Mas o impossível está
por vir. E o inimaginável nos é devido.
Paul B. Preciado (2014, s.p.)
INTRODUÇÃO
GESTALT-TERAPIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(...) não nos é recomendado tapar os olhos para evitar ver o que nos
inquietaria ao olharmos, mas, ao contrário disso, lançarmo-nos na aventura
do encontro na fronteira, apostando na premissa gestáltica do encontro
com a diferença que é o melhor modo de combater a polarização e a
invisibilização (p.887).
REFERÊNCIAS
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Agosto de 2022, disponível em Diálogos do Sul - Opera Mundi:
https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/51728/afinal-o-que-e-a-
teoria-queer-o-que-fala-judith-butler
18
COM QUANTOS INTROJETOS SE CONSTROEM
EXISTÊNCIAS DISSIDENTES?
With how many introjects are dissident existences built?
¿Con cuántos introyectos se construyen existencias disidentes?
INTRODUÇÃO
uma universidade pública fora de sua cidade por ser muito imaturo.
Dessa forma, por seu desejo ter sido considerado imaturo no passado,
alienou suas próprias necessidades e abandonou seu desejo de cursar
graduação. Ele ainda, em algumas sessões, indagava minha opinião
sobre determinados assuntos e sobre sua forma de agir em algumas
situações com o desejo de saber se estava correto.
Podemos perceber que ao tentar falar grosso e ser mais viril, não
conseguiu expressar espontaneidade e experienciou um conflito. Perls
et al. (1997) explicam que todo conflito se dá nas premissas da ação, “um
conflito entre necessidades, desejos, fascínios, imagens de si próprio; e
a função do self é atravessar esse conflito, sofrer perdas, mudar e alterar
o que está dado” (Perls et al., 1997, p. 216).
Júpiter incorporou ideias, comportamentos e sentimentos do
ambiente e engoliu tudo que aparecia de fora, assim, suas próprias
escolhas, desejos e opiniões se entrelaçavam com de sua mãe e da
sociedade, fazendo com que tivesse dificuldade em diferenciar o que era
dele e dos outros.
A aceitação de sua forma de falar, se expressar com as mãos e sair
do auto silenciamento se deu a partir do desenvolvimento da awareness
em relação a expectativa social de uma performatividade de
masculinidade, bem como a retomada e assimilação de seu desejo em
frequentar uma universidade pública.
Já na psicoterapia com Vênus, que se identifica como mulher cis e
lésbica, ela me contatou para iniciar terapia por estar em conflito entre
contar aos pais sobre sua sexualidade ou esconder. Acredita que eles não
entenderiam, que perderia o amor que sentiam por ela e dessa forma se
sentiria rejeitada. Sentia uma grande demanda para “se assumir” aos
pais pois experienciava a culpa por omitir ser lésbica. Ela conta sentir
408 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
1
Importante lembrar que anos antes, Fritz e Laura Perls anunciavam suas discordâncias com a
psicanálise e o surgimento de um novo método psicoterapêutico. Em 1942, a publicação do livro Ego,
Hunger and Agression: a revision of Freud’s theory and method, Perls expõe discordâncias em relação a
psicanálise.
Camila Bugni Salerno • 417
2
A Gestalt-terapia se estrutura teoricamente em torno de uma visão organísmica, a partir das noções de
fronteira de contato, self, campo organismo-ambiente, ajustamento criativo e agressão (Perls et al.,
1997).
418 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Viver a diferença é uma tarefa que não se faz sozinho, se faz com o
outro e coletivamente.
422 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
atrasada, meus gostos e desejos são errados. Porém nunca estive mais
certe de minha existência como hoje e nunca fui mais coerente comigo
mesme. Evitar errar, não contribui com a aprendizagem, evitar cair,
atrapalha o crescimento. Com tantos fracassos, cheguei onde estou hoje
e não poderia estar em outro tempo-espaço senão aqui-agora. E ainda
que pensemos enquanto caminhamos que estamos errados, que
andamos com a angústia e desespero de mãos dadas, perder-se é uma
arte. Durante o trajeto podemos até sentir sermos um desastre, mas por
já estarmos acostumados a essa sensação, construiremos novos mundos
ao atravessarmos veredas desconhecidas. Desejo que possamos errar,
pois só assim nos livraremos da rigidez e dos introjetos que aprisionam
toda nossa potência criativa.
Retomar as origens e premissas da Gestalt-terapia enquanto teoria
e prática nos indicam caminhos de criação possíveis para encontrar com
o outro, com o desconhecido e com a diferença. A aposta na Gestalt-
terapia enquanto práxis política, não adaptadora e não normativa pode
nos conduzir à criação de outros mundos nos quais as pessoas
dissidentes de gênero e sexualidade experimentem possibilidades de
existência e intentarem o futuro.
Não trago aqui soluções e nem resoluções, mas algumas
inquietações profundas sobre nossos modos de produzir, nos
relacionar, pensar, fazer, agir, organizar e contar sobre nós e o mundo,
no sentido de apontar alguns caminhos para pensarmos juntes.
E o que mais precisamos?
Camila Bugni Salerno • 425
REFERÊNCIAS
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19
GESTALT-TERAPIA E GÊNERO: PERSPECTIVAS EM
RELAÇÕES ASSIMÉTRICAS DE PODER
Gestalt therapy and gender: perspectives on asymmetrical power relations
Terapia gestalt y género: perspectivas sobre las relaciones asimétricas de poder
INTRODUÇÃO
INTERSECCIONALIDADES
CONCEITUANDO GÊNERO
poder (Scott, 2019). Deste modo, é possível descrevê-lo como uma ilusão
situada em uma temporalidade social (Butler, 2019). Assim, gênero não
representa um indivíduo, mas uma relação (Lauretis, 2019a; Wittig, 2019).
Distingue-se as dimensões biológica e social, pois ser-no-mundo
enquanto “homem” ou “mulher” é definido pela cultura e não pela
anatomia dos corpos. São produzidas crenças compartilhadas de gênero
em um grupo social, no qual estão compreendidos certos
comportamentos e desejos tidos como “naturais”, pois seriam
determinados por aparatos genitais e hormônios sexuais. Assim,
diferenças de gênero emergem tanto na vida íntima das famílias quanto
nos espaços públicos como instituições acadêmicas, profissionais,
religiosas e políticas (Heilborn, 1994).
Entende-se que a divulgação científica da biomedicina sobre o
funcionamento destes corpos exerça influência cultural e política no
ambiente. Um exemplo disso é uma ideia generalizante de que as
mulheres estão mais próximas da natureza e de que são destinadas à
maternidade devido ao seu papel na reprodução, enquanto a
paternidade seria episódica e cultural (Haraway, 2004; Wittig, 2019).
DIFERENCIAÇÃO E INTEGRAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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446 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
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Gestalt-terapia: conceitos fundamentais (pp. 63-87). Summus.
APRESENTAÇÃO
Este texto vai pra você que, como eu, já buscou demais se encaixar nos padrões, nas
normas, para você que já se travestiu de bondade, entendimento, luz e gratidão. Para
você que já anestesiou suas existência e desejos para caber.
Leonardo Brandão Delvalle Regis • 451
Também é para você que uma vez fora da caixa, busca ou buscou pertencer a grupos
diversos, mas nunca se sentiu pleno ou pertencente, de fato.
Vai para você que reside no hiato definitório. Não é branco nem preto, nem homem
nem mulher, nem uma coisa nem outra. Vai também margear você que está no centro.
Que este texto possa te provocar.
Para você que acha cafona definições, mas que sabe que não tem como fugir
plenamente delas.
Para você que quase eu não ouço falar. Mas que deve existir também. Também
inquietado por inquietações como a minha ou pelas suas próprias formas.
outros? Quantos de nós temos que a todo instante deixar “mais claro” o
que pensamos e sentimos? Quantos de nós silenciamos para caber, num
espaço gestáltico? Essa é a razão gestáltica?
Não quero aqui te convencer de nada do que falo. Mas quero te
dizer que a mim faz sentido que meu corpo tenha se sentido mais à
vontade quando num ato de descalçar-se eu me lembrasse que eu só
havia presenciado esse ato antes quando meu corpo visitava espaços de
espiritualidades, e, por fim, de cuidado com os outros.
Quero aqui convocar todas as possibilidades de ser um Gestalt-
terapeuta. E que, possa trazer ao foco um cuidado maior para
desmantelarmos o colonialismo em nosso fazer profissional. Quero e,
acredito, que muitos outras, corpas LGBTQIAP+, pretos, indígenas,
entre outres, sim, tem o direito aos pés descalços, a causarem
desconfortos aos seguidores da “norma”, em seus sossegados platôs de
conhecimentos. Ao que isso significa para mim e que pode significar
para outres: devolvam nossos espaços e modos de ser!
Quero sim dizer que a ciranda, os pés descalços, as
experimentações, o contato com a natureza também são
epistemologias, ancestrais, por sinal. Que haja mais espaço para a forma
diferente de cada qual se afetar. Espaço para todes. E a
interseccionalidade, as corpas queer, trans, travestis, não bináries,
dissidentes estão aqui no incômodo e para incomodar a heterocisnorma
eurocêntrica que paira, inclusive dentro de nossas corpas e em nossas
diferenças.
Reitero, vivo num estado que faz fronteira com o Paraguai e a
Bolívia. Filho de pai carioca e macumbeiro, filho de mãe e neto de
paraguaio. Uma bixa preta-ameríndia, silenciada e colonizada e que,
agora começa a refazer sua história, não num movimento heroíco e/ou
458 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
REFERÊNCIAS
Oyèwumi, O. (2002) Visualizing the Body: Western Theories and African Subjects in:
Coetzee, P. H.; Roux, A. P.J. (eds) Routledge
Mais que denunciar que a vida não vale a pena ser vivida, a morte
por suicídio também denuncia que o mundo e os outros, de alguma
maneira também não valem (Silva 2020a). Segundo a autora, quando
alguém decide antecipar sua morte através do suicídio, essa morte
também se refere a nós, a toda gente, visto que somos lançados a esse
mundo e construímo-nos sempre com o outro. Assim, cabe questionar
quais horizontes de sentido se constituem no mundo contemporâneo
para que a experiência de morrer, faça mais sentido do que a de viver.
Pensar o suicídio a partir de uma perspectiva gestáltica, é fluir
entre as dinâmicas e processos individuais, sem perder de vista o todo
estruturante da experiência, considerando os aspectos macrossociais
que se fazem presentes nas relações. A obra de Perls (1997) enfatizou
sistematicamente que o indivíduo só pode ser compreendido a partir da
sua interação constante com o campo, sendo ambos mutuamente
constituídos. Não há como pensar o sujeito fora de um campo: todo
sujeito está inserido em um dado contexto, pois existe em um campo
organismo/ambiente que o atravessa (Cardoso, 2019; PHG, 1997). Em
Gestalt-terapia, o ser é sempre em relação, é um ser-no-mundo e,
portanto, não pode ser entendido fora deste.
Cardoso (2019) ressalta que uma relação não está nunca restrita ao
indivíduo e ao outro, mas contém em si o fundo, que é responsável pela
sustentação da figura. Se o fundo não oferece o suporte necessário para
a figura emergir na fronteira de contato, pode-se gerar experiências de
ansiedade e sofrimento (Francesetti, 2013 apud Cardoso, 2019). Este
fundo pode ser a sociedade, a família, um grupo específico ou até
mesmo, o Gestalt-terapeuta. Desse modo, buscamos pensar os
processos de suicídio e de luto de pessoas sexo-gênero diversas, tendo
como base a indissociabilidade entre o sujeito e o meio.
462 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
1
https://oglobo.globo.com/brasil/era-que-ela-mais-me-pedia-para-que-nao-acontecesse-diz-amiga-
de-mulher-trans-enterrada-de-terno-bigode-no-sergipe-1-25235187.
Gabriel Fernandes Rodrigues • 467
DADOS ESTATÍSTICOS
2
Pesquisadores alertam para risco de desmonte da ciência no Brasil. Disponível em:
https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/pesquisadores-alertam-para-risco-de-desmonte
-da-ciencia-no-brasil/.
Gabriel Fernandes Rodrigues • 477
REFERÊNCIAS
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Gabriel Fernandes Rodrigues • 479
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bisexual y trans: revisión sistemática de una década de investigación (2004-2014).
480 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Eliane Capel
INTRODUÇÃO
PROBLEMÁTICAS E VULNERABILIDADE
[...] nós estamos descoladas do que é o direito à cidade, como nosso corpo só
serve para estar nas esquinas de madrugada, quando nós não saímos às
ruas, quando nós não vamos ao teatro, quando nós não vamos ao
restaurante, ao cinema, ao shopping, quando nós somos vistas em uma
cidade como São Paulo apenas para sermos humilhadas, apedrejadas,
assassinadas, quantos equipamentos de saúde não sabem lidar com os
nossos nomes, não sabem lidar com as nossas questões... esse caminho que
esse corpo traça é babado, é confusão e gritaria... eu quero poder ir à um
parque sem ser ridicularizada pela família tradicional brasileira que se
sente superior... nós estamos na exclusão, nós estamos nas margens, nós
estamos tendo que processar o que é essa negação, processar o que é esse
não direito para pensar sobre ele... é muito violento! (Hilton, Erica.
vereadora trans da cidade de São Paulo, Programa Roda Viva, 01/02/2021)
ARTETERAPIA GESTÁLTICA
...o aqui e agora das nossas relações sempre traz um ingrediente do novo;
quando você só projeta o velho na situação atual você está perdendo uma
dimensão importante. Então... na abordagem gestáltica há uma afinidade
muito grande com a criatividade. A palavra criatividade remete a
ajustamento criativo, à awareness criativa. (Ciornai, in Silva; Carvalho;
Lima,2012, p.32).
ATENDIMENTOS À VERÔNICA
No início, tudo era muito novo, tanto para mim, que atendia
individualmente pela primeira vez e ainda virtualmente, quanto para
ela, que nunca havia participado de um processo terapêutico. Então,
juntas fomos construindo como seriam esses momentos. Aos poucos ela
foi me contando sua história e a nova realidade de estar em casa, sem as
atividades cotidianas.
Verônica veio de Pernambuco, onde considera que teve uma
infância feliz, mas difícil, com problemas de agressão paterna e
sofrendo preconceito das crianças na escola que frequentava. Cuidou de
sua mãe durante oito anos, até o falecimento da mesma e disse que
sentia muito a sua falta.
Morava em um quartinho alugado e fora dele dividia com outros
moradores uma pia, uma lavanderia e um banheiro. Disse que sabia
costurar, logo me mandou fotos de máscaras que fez para seu uso na
pandemia.
Naquele momento estava cursando o terceiro ano do ensino
fundamental, afirmava estar muito contente com as novas experiências
e que, com a pandemia, temia muito o que poderia acontecer.
Sobre a relação com a pintura, artes e possibilidade de
experimentos arteterapêuticos, dizia que na escola, antes da pandemia,
a professora e os colegas de classe estavam admirando a forma como ela
desenhava. Entretanto, ela não gosta de pintar, nem de colorir os
desenhos. Nos contatos iniciais, ela me enviou alguns desenhos que fez
na escola, exercícios de reproduções de obras de Tarsila do Amaral.
Eliane Capel • 491
Figura 1
Tarsila
Verônica me disse:
.. tenho mania de pintar, mas eu não gosto, ... se eu tiver que pintar é em
uma tela, tinta grossa... mas eu não penso em me meter nesse meio... de
fazer essas coisas, enquanto não passar todos esses problemas e eu não
voltar para a alegria da minha escola... eu não tenho vontade de nada... só
de tomar banho, me cuidar, desinfetar as coisas e depois já fico na minha
cama, sem vontade para nada... a única coisa que faço é dormir...
Figura 2 Figura 3
Flores Nascimento
Não me quebro
Só abaixo a cabeça para firmar meus sapatos e manter minha postura,
Limpo minhas lágrimas
Ajusto meu decote e sigo em pé (Verônica)
Figura 4
Lagarta e borboleta
Figura 5
Flores mãe
Figura 6
Folhas
Figura 7 Figura 8
Espanha Dançarina
Foi também nesse período que Verônica foi convidada pela escola
onde estudava, a fazer uma live em que o secretário da educação também
participou. Sentiu-se valorizada e ocupando novos espaços.
Ao longo dos meses subsequentes, realizou várias pinturas em telas
e anotações com sentimentos e ideias para pinturas futuras.
Na pintura abaixo, Verônica trouxe lembranças de infância de sua
cidade natal. Contou-me que o cercado de sua casa era feito de vários
pedaços de madeira e que cada um tinha uma cor diferente. Ela lembrou
desse espaço e desenhou seu rosto, como criança, com cicatrizes, que
disse serem “da vida, das dificuldades” que passou. Falou da escola, do
preconceito das outras crianças e de que nesse quintal ela já imitava
cantoras e entrava em contato com sua feminilidade.
Figura 9
Cicatrizes
Figura 10
Refúgio
com o chapéu como forma de proteção e que sentia muito a falta desse
amor.
Figura 11
Eu e meu amor
Figura 12
Metamorfose
Figura 13
Saudades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Eliane Capel • 505
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http://igt.psc.br/ojs3/index.php/IGTnaRede/index
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
nenhuma parte do campo deve ser excluída nem considerada a priori como
não pertinente: cada elemento do campo faz parte da organização total e é
potencialmente significativo. Os automatismos que se tornaram invisíveis
devem ser levados em consideração tanto quanto as figuras que podem se
impor por sua força e estabilidade (pregnância).
O terapeuta precisa estar aberto para considerar de que modo ele próprio
contribui para criar o sofrimento ali encontrado. É uma perspectiva que
requer que o terapeuta queira se questionar a si próprio em todo encontro
e ter a humildade de se assumir como parte da estrutura (Francesetti, 2018,
p. 157).
dar alguma voz aqueles gestos para que ficasse mais claro aos seus pais
o que acontecia com ela naquele momento. Ela, então, me afirmou que
eles já sabiam o que ela estava sentindo e deu de ombros como quem nos
dizia que não adiantava falar mais nada e suas esperanças eram
mínimas. Propus a ela que disséssemos a ela o que líamos em seus gestos
e passei essa minha percepção. A mãe contou que sentia que ela estava
impaciente e o pai informou que ela não se importava mais com eles.
Diante dessas falas, indaguei-a se aquilo era tudo o que ela
precisava que os pais soubessem sobre ela e o que ela tem vivido. Muito
emocionada, minha cliente afirmou que não. Perguntei-lhe se ela já
podia se responsabilizar um pouco mais por comunicar o que ela precisa
aos seus pais. Ela mencionou que era difícil para ela, e propus
emprestar-me para dar voz por ela a sua fala do início da sessão. Ela me
olhou e acenou que sim. Então, ficando por trás dela, fiz uma fala “como
se” fosse ela. Incluí no início da fala o pedido de que eles me ouvissem
até o final. Mencionei em seguida que sabia ser difícil para eles o que
estavam passando e afirmei que mesmo sabendo disso não era mais
possível adiar a sua necessidade de ser quem ela era. Que já não havia
mais como seguir de forma saudável como estava e algo precisava ir
mudando nem que fosse aos poucos.
Quando uso essa forma de intervenção sempre checo com a cliente
se minha fala correspondeu a sua experiência e depois indago como foi
para ela se ouvir através da minha voz. Esse é um exemplo de
intervenções que geram um aprendizado de habilidades
comunicacionais além de promover uma maior fluidez na interação.
Minha cliente e seus pais puderam perceber que, com determinados
cuidados, como legitimar a experiência do outro e ter
518 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
para a família e mais ainda para o jovem LGBTQIA+, que já lida com
tantas repercussões da cis-heteronorma internalizada, como a
vergonha, os sentimentos de menos valia, o isolamento, as ansiedades
crônicas, a supressão da expressão de seus sentimentos, dentre outras
formas de autorrestrições.
Atendi a uma garota que me perguntou se poderia me indicar ao
seu colega que precisava de ajuda para contar aos seus pais sobre sua
orientação sexual. João (nome fictício), aos 15 anos estava com uma
psicoterapeuta escolhida pela mãe, mas a profissional o desencorajava
a falar com os pais antes que “tivesse mais certezas”. Exponho essa
peculiaridade dos fatos para dar luz a essa grave questão, em que é
imposta a condição de certeza aos processos autodeterminados e
passíveis de mudança ao longo de todo o desenvolvimento. Meses
depois, a mãe do garoto me procurou afirmando ter sido uma solicitação
do filho mudar de profissional, e iniciamos a psicoterapia dele. Com o
evoluir do processo, chegou o momento em que ele se sentiu seguro para
conversar com sua mãe e me mantive à disposição caso ele escolhesse
trazer familiares em alguma sessão. Seu pai ficou sabendo logo em
seguida, por conseguinte os pais me solicitaram uma conversa apenas
entre mim e eles. Com a anuência de João, recebi seus pais, e foi uma
sessão difícil para eles, cada um com a sua experiência. Para a mãe, os
valores religiosos predominavam no conflito com o valor de acolher seu
filho. Para o pai, a desconstrução de seus anseios foi o que figurou, pois
meu cliente não correspondia a tantas expectativas suas relativas aos
interesses mais diversos, como robes, esportes e futuro profissional.
Aquele momento era a culminância de frustrações vividas no seu
imaginário de pai e como uma explosão estavam em erupções de
emoções. Uma série de desconstruções já existiam em forma de dores
520 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Dizer às pessoas que vêm para a terapia familiar aquilo que elas fazem bem
pode parecer uma negação ou uma deflexão de seus problemas. Porém,
descobrimos que reconhecer o bom funcionamento dá suporte à tarefa de
encarar os aspectos negativos ou disfuncionais do processo da família. Na
verdade, isso mobiliza a energia para lidar com os problemas ao acrescentar
uma aura de esperança de que as coisas podem e irão melhorar (Zinker,
2001, p. 226).
Nem sempre foi fácil ouvir o pai e a mãe de João presos às suas
experiências de dor e medo e muito desconectados da experiência de
opressão vivida por João. Foi desafiador cuidar também deles, pois eu
Sâmia Silva Gomes • 521
dizendo que: “Já achei que era trans, mas agora acho mesmo que sou é
lésbica”. Os pais esperavam que eu lhes dissesse que tudo isso não se
passava de uma “confusão na cabecinha dela”, “influência da namorada”
e que rapidamente tudo passaria. Busquei conhecê-los de forma mais
ampla e a relação deles com Camila. Acolhi suas dores e seus
sentimentos tão diversos, deixando que expressassem suas crenças,
seus valores, suas fantasias e medos. Argumentei, quando apropriada de
seus modos de lidar com a situação vivida, que não havia como sabermos
se Camila teria interesses sempre por meninas, se essa relação se
estenderia e se depois viriam outras meninas ou meninos para se
relacionar com ela, pois Camila tinha uma vida pela frente para
vivenciar encontros e relações que também contariam mais sobre ela e
sua sexualidade a ela mesma. Entretanto, nesse momento, Camila
estava vivenciando algo importante para ela, querendo compartilhar
com eles, e havia feito um pedido explícito de apoio. Precisávamos olhar
como isso era visto por eles e considerar o que Camila estava vivendo.
Por algumas sessões, eram repetitivos, em suas falas, com
discursos relativos à rigidez religiosa dos avós; as memórias da infância
da filha; as frustrações que fantasiavam viver dali para frente; as
inúmeras dúvidas. Trabalhamos com os valores e crenças presentes em
suas análises, busquei facilitar hierarquizá-los, fiz orientações
psicoeducativas, e trabalhamos as emoções que emergiam. Mas o
processo pedia algo novo, e várias vezes sugeri que incluíssem Camila.
Eles somente se convenceram quando ela conversou com sua irmã mais
nova e com uma prima bem próxima, o que abalou muito os pais, mas
ajudou-os a compreender que as fronteiras da Camila eram desenhadas
por ela e não por eles.
Sâmia Silva Gomes • 527
faz suporte para a família como nos diz Terezinha Mello da Silveira
(2022, p. 39): “a mudança acontece quando o suporte no campo muda,
quando é mais potente do que o que a pessoa vive habitualmente. A
relação terapêutica deve oferecer esse suporte”. As famílias
testemunham nossa forma de nos relacionar com as diferentes
percepções e experiências. Assistem nossa ausência de julgamento e
como incluímos e integramos diferenças, conferindo legitimidade a
elas. E neste sentido todo o trabalho, desde o seu início, é um processo
de experimentação, como chama Alvim (2014; 2018). As intervenções
terapêuticas vão sendo orientadas pelo que se dá na situação de
interação família-terapeuta, não nasce em nós nem neles, dá-se no
entre, na experiência daquele encontro de presenças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Francesetti, G. (2018) “Você chora, eu sinto dor”. O self emergente, cocriado, como o
fundamento da antropologia, psicopatologia e psicoterapia na Gestalt-terapia. In:
530 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Lavratti, C., Silveira, A. B., & Gomes, S. S. (2021). Intervenções na comunicação familiar
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Fukumitsu, K. (Org.). Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia. Summus.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
O termo paciente não remete aqui a um sujeito passivo no processo psicoterapêutico. Uso-o
lembrando-me de uma gestalt-terapeuta que, em sua velhice, em uma atitude de profunda humildade,
contou-me que nossos consulentes precisam ter muita paciência com nossas resistências, por isso são
pacientes. O jogo de palavras impactou-me fazendo sentido para mim e revelando uma inerente
dimensão dialógica nessa terminologia.
2
Esse relato de experiência no modelo de vinheta clínica segue aspectos éticos tais como a
confidencialidade, a proteção da imagem e a não estigmatização dos indivíduos e de suas comunidades.
532 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Gustavo Alves Pereira de Assis • 543
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encontro: compreendendo a relação dialógica. Revista da Abordagem Gestáltica,
26(especial), 382-392.
Stephanie Boechat
INTRODUÇÃO
1
Alicerçado pelo discurso patologizante, faz-se menção ao projeto "Cura Gay" ou Terapia da
Reorientação Sexual, Terapia de Conversão ou Terapia Reparativa, proposto em 2011 pelo deputado
federal do PSDB de Goiás, João Campos, o qual objetivava "transformar" a orientação sexual dos
indivíduos considerados desviantes. Disponível em: https://examedaoab.jusbrasil.com.br/noticias/
376191509/entenda-o-projeto-da-cura-gay.
Stephanie Boechat • 545
2
A violência simbólica é salientada através dos discursos de profissionais da psicologia que envolvem
crenças individuais e preceitos religiosos em sua prática clínica.
3
Aqui é utilizado o termo Queer (estranho) a fim de re-contatar e manter o lugar político e social da luta
contra a normatização, apodera-se do insulto, visando o estranhamento como potência existencial e
espaço de elaboração das subjetividades (Louro, 2001).
4
Refere-se à relação dialógica, proposta da Gestalt-terapia para a construção de relação entre terapeuta
e cliente, a qual necessita de reciprocidade, engajamento, respeito e amorosidade, a fim de promover
uma clínica genuína do encontro.
546 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
5
As palavras ‘o estranho’, assim como ‘o eu’ não terão o gênero flexionado, uma vez que ‘o estranho’ é
elaborado neste estudo como um conceito, uma forma abstrata e não pertencente a um plano físico.
Stephanie Boechat • 547
MÉTODO
DISCUSSÃO TEÓRICA
6
A análise bibliográfica contou com a utilização do “Manual para o uso da linguagem neutra em Língua
Portuguesa”, como auxiliar à escrita de gênero flexível, evidenciando o estranhamento diante de tal
prática e tornando possível através das palavras a inclusão de existências diversas.
Stephanie Boechat • 549
7
Identidade como conceito que atravessa a cis heteronormatividade diante das diversas percepções de
identidades de gênero e orientações sexuais.
550 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
8
“A utopia não é a busca por um paraíso perdido . . . é pensar além daquilo que está dado e construir
ações práticas de transformação” Belmino, 2021 p.45
556 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
9
ajustes criativos, são caracterizados aqui por modificações feitas pelo(a/e) sujeito(a/e) a partir da falta,
sintoma, sofrimento, a fim de fechar suas gestalten abertas, ou visando um funcionamento
possivelmente mais saudável. É importante lembrar que os ajustes criativos nem sempre são criações
positivas, exemplificando o sintoma, citado acima.
10
Referência ao livro “A Parte que Falta” Shel Silverstein, 2018.
Stephanie Boechat • 557
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Caê, G. (2020) Manual para o uso da linguagem neutra em Língua Portuguesa. ResearchGate.
https://www.researchgate.net/publication/341736329_Manual_para_o_uso_da_l
inguagem_neutra_em_Lingua_Portuguesa
Motta, H. L., Assis, G. A. P. D., & Satelis, L. R. (2020). A Gestalt-terapia como clínica do
encontro: compreendendo a relação dialógica. Revista da Abordagem Gestáltica, 26,
382-392.
DE ONDE PARTIMOS?
Mas, caso a minha memória esteja correta, essa foi a primeira vez em
que isso foi reconhecido e exposto ao desconhecido de encontrar uma
resposta do porquê aquilo me afetava. Entendo que agora, começando o
final do percurso de uma graduação, vivi em meu corpo uma formação
que toca muitas vezes o tema desse ensaio.
Eu, Zay, percebo então como o mesmo corpo, que anda em direção
à formação de Gestalt-terapeuta, também mergulha na transgeneridade
e se afeta na leitura, por exemplo, do texto Manifesto Contrassexual. O
recorte desses dois movimentos - a leitura de Paul Preciado e o estudo
da Gestalt-terapia - acontecem no mesmo território: o meu corpo. E,
então, abrem-se muitas possibilidades de conexões, feitas
artesanalmente nesse território, e que posteriormente são
amadurecidas, procurando construir pontes entre essas duas margens
de um rio em que caminho.
Empresto esta experiência ao grupo que desenvolve este ensaio e
seguimos tecendo com os fios das nossas experiências. Então
caminhamos no estudo da relação terapêutica ainda banhados por
questionamentos sobre o sistema sexo-gênero, e podemos nos recordar
de Laura Perls (1991) que, ao descorrer sobre a Gestalt-terapia, afirma
como as teorias que construímos e aderimos possuem importantes
propositos, entretanto, caso se tornem fixos construtos, podem
interferir no movimento da experiência presente. Portanto, indagamos
qual a forma do solo teórico no qual, após os atendimentos, a
experiência da relação terapêutica irá decantar? Quais aberturas
possíveis nesse solo para que essas experiências tomem forma na
relação terapêutica, na terapia e, entrelaçado nisso, também na cliente
enquanto ela vivencia a escuta da terapeuta e a relação terapêutica?
Essas perguntas podem ser dispostas ao redor de um eixo: a
Zay Sales; Marcos Barbalho; Paula Moura; Ana Júlia Melo; Lorena Andrade • 563
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Alvim, M. (2018). O id da situação como o solo comum da experiência. IN: J. M., Robine
(Org.), Self: Uma polifonia de Gestalt-terapeutas contemporâneos (pp. 333-353). Editora
Escuta.
Bandín, C. V. (2018). “Como o rio que flui, passa e está sempre presente”: a teoria do self
na Gestalt-terapia. IN: J. M., Robine (Org.), Self: Uma polifonia de Gestalt-terapeutas
contemporâneos (pp. 13-29). Editora Escuta.
Butler, J. (2019). Corpos que importam (1ª ed.V. Daminelli & D. Y. Françoli, Trad.). n-1
edicões, 400.
Chagas, E. (2016). Psicoterapia dialógica. IN: L. M., Frazão & K. O., Fukumitsu. (Orgs.),
Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia. (Coleção Gestalt-terapia:
fundamentos e práticas, v. 4, 216 p.). Summus Editorial.
Foucault, M. (1999). Vigiar e punir: nascimento da prisão (20ª ed. R. Ramalhete, Trad.).
Editoras Vozes.
Nascimento, M. (Compositor). (1972). Cais [Música]. Brasil: EMI Records Brasil Ltda.
Perls, F. S., Hefferline, R. & Goodman, P. (1997). Gestalt-terapia (3ª ed. F. R. Oliveira,
Trad.). Summus.
Perls, F. S. (1988). A abordagem gesltáltica e testemunha ocular da terapia (2ª ed.). Editora
LTC.
584 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Perls, L. (1992). Living at the boundary. Highland: The Gestalt Journal Press.
Colour e trânsitos para o Sul. Cadernos Pagu, n. 53, 1-38. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/18094449201800530015>
Sugar, M., Pitt, B., Gardner, D., Kleiner, J., Esberg, S., Marling, B. & Batmanglij, Z.
(Produtores). (2016). The Oa [Série]. Estados Unidos: Netflix.
SEÇÃO 4
Section 4
Sección 4
ABERTURA DA LIVE
a não ser que eu esteja querendo fazer algo muito pontual, mas a própria
necessidade disso, de procurar um psicólogo, especialista em gênero, fala
de uma violência, fala de um desconhecimento da própria psicologia, que
é preciso repensarmos e problematizarmos
Se eu não tenho conhecimento, o que eu faço? Eu vou atrás, eu
procuro. Eu não coloco para outra pessoa. Eu não coloco para depois, eu
não me desresponsabilizo desse lugar. Porque até quando eu vou ficar
encaminhando pessoas que fogem a uma determinada norma, um
determinado padrão? E se o meu cliente é cis e nesse processo ele se
descobre uma pessoa trans, eu vou encaminhar, sempre que isso aconteça?
Também é preciso falar dessa violência que acontece dentro da própria
psicologia, de pessoas que estão até bem intencionadas, que dizem: “eu não
me sinto segura para atender, então eu vou encaminhar”. Mas o que é que
fala de mim essa minha “não segurança”, esse meu “não interesse” em
buscar? Que possamos olhar para as nossas próprias transfobias, porque
eu também sou transfóbica, eu também sou homofóbica. A gente está
dentro de uma estrutura, logo, precisamos olhar com desconfiança para
essas nossas atitudes, para os nossos distanciamentos.
Paulo Barros: Natália, isso que você trouxe sobre a não
responsabilização me chama muita atenção, pois o quanto falamos em
Gestalt-terapia sobre responsabilidade. O quanto isso não acontece em
muitos atendimentos por parte do(a) Gestalt-terapeuta. Eu não me
responsabilizo e vou passando, passando e não me questiono, não olho
para esse movimento que estou fazendo. E às veze em um discurso que
parece ser bonito, como : “Não, mas eu estou fazendo isso porque é o
melhor para a pessoa”. Mas é só isso mesmo?
Antonia Nathalia Duarte de Moraes: é esse “é só isso mesmo” que é
a chave, a gente precisa se perguntar, precisa colocar a lupa para si
594 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
mesmo. Acontece que muitas pessoas confundem lugar de fala com “eu
não posso falar”. Lugar de fala com “eu não vou me especializar” nesse
conhecimento, eu não vou me aprofundar nesse conhecimento, e não é
sobre isso. Algumas pessoas se utilizam disso para silenciar. Está aí
Djamila, com o livro dela “Lugar de fala”, para quem quiser se aprofundar.
Eu procuro aqui no Google acadêmico ou procuro aqui na Scielo e
não acho informação. Então não tem, então não vou procurar esse
conhecimento? Mas esse conhecimento passou na academia? A forma
que mais podemos aprender é escutando as pessoas. E aí tem livros
maravilhosos autobiográficos. Ao invés de você começar por Judith
Butler, uma realidade bem distante da nossa, leia “Viagem solitária”, de
João Nery (2019). Leia “E se eu fosse puta?”, de Amara Moura (2020), que
é maravilhoso, onde ela traz a realidade dela de professora e
profissional do sexo, e faz interlocução desses lugares. Leia Jaqueline
Gomes de Jesus, leia a própria Letícia Nascimento que está aqui com a
gente. Vai ler Céu Cavalcanti, Emily Mel, Sofia Favero. A gente tem
tantas autoras e autores dentro da própria psicologia que estão fazendo
também essa implosão, de dentro para fora, depois de alcançar esses
espaços, mas esses espaços também só foram alcançados devido à muita
luta que veio das bases, que veio das comunidades, das ONGs, que veio
dos movimentos de mulheres, de outros espaços que foram permitindo
e causando tensionamentos para que hoje essas pessoas também
possam falar de dentro da psicologia.
Muitas vezes, nos cursos de gênero e sexualidade, eu faço a
pergunta: “Quando é que você se descobriu cisgênero? Como você se
percebeu homem cis? Quando é que você se percebeu, mulher cis?” E as
pessoas dão um bug! Geralmente dou um tempinho, elas param,
pensam, e quando elas voltam a falar, elas dizem “Eu nunca tinha
Antonia Natalia Duarte de Moraes; Letícia Carolina Nascimento • 595
pensado sobre isso, porque para mim foi tão natural, eu sempre fui
assim, é falar do que eu sou.”
E quando a gente se coloca nesse lugar do natural, a gente não se
pensa, e a gente está colocando o outro no lugar do não natural, do
desvio, do transtorno. E isso é um perigo muito grande, quando coloco
a minha experiência da cisgeneridade como natural. Faz mais de meio
século que a gente escutou a Simone de Beauvoir dizendo “não se nasce
mulher, torna-se mulher”, e mesmo assim a gente não se pensa. Quando
foi que eu me tornei mulher? Quando foi que eu me tornei homem?
Quando foi que eu me percebi dessa forma? Nessas identificações, o que
foi que eu introjetei que realmente eu me identificava? O que foi que eu
introjetei que não tinha nada a ver comigo, e eu o fiz por pressão?
Então, o meu ser homem e o meu ser mulher, passa por essas
demandas, passa por esses atravessamentos violentos também. E eu me
pensar, eu me perguntar, eu me questionar, é um papel importantíssimo
para a própria psicologia, para os próprios psicólogos. Assim vamos
percebendo as limitações do nosso olhar sobre essa lente da branquitude,
da cisgeneridade, da heteronormatividade. E só conseguiremos perceber
isso, se começarmos a nos questionar também enquanto cisgeneridade.
Muitas pessoas respondem: “eu só me percebi cisgênero, quando eu
estava aqui no curso do gênero e vocês começaram a falar sobre isso.
Quando eu escutei a palavra pela primeira vez”. É quase um movimento
de: a transexualidade inventou a cisgeneridade. Antes, não tinha isso. E é
justamente o oposto. Foi a cisgeneridade que inventou a transexualidade,
então que os inventores desfaçam essa invenção.
Não cabe a nós, pessoas cis, esperar que pessoas trans venham nos
salvar da ignorância. É realmente um movimento de nos convidarmos,
eu também me incluo, a pensar de que maneira isso afeta a minha escuta
596 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
REFERÊNCIAS
Favero, S. (2020b). Por uma ética pajubariana: a potência epistemológica das travestis
intelectuais. Equatorial, v. 7, n. 12, jan/jun 2020.
CISGENERIDADE
Letícia Nascimento
sempre está na relação. Não sou eu que sou diferente, não são as pessoas
cis que são diferentes.
A diferença só pode ser entendida na relação entre as pessoas. A
diferença ela só pode ser percebida na relação entre as pessoas trans e as
pessoas cis. Então, a diferença, ela não está no trans, na trans, não está no
cis, na pessoa cis, a diferença está na relação. Por isso que eu tenho que
pensar branquitude, a negritude, as diversas questões, étnico-raciais, de
classe, as diversas questões de identidade, de gênero, de orientação
sexual, as percepções sobre as diferenças são construídas nas relações,
A partir dessas análises eu irei encontrando o meu lugar de fala, de
onde eu parto para pensar a minha existência, o lugar que ocupa e por
isso mesmo marca o modo pelo qual eu me relaciono com o mundo, como
eu posso falar deste lugar? Nesse processo eu me entendo com alguém
que tem uma identidade de gênero, uma identidade étnico-racial e um
pertencimento classe, que lugares eu ocupo nessa estrutura colonial?
Além de perceber este lugar de onde falo, penso, vivo e sinto, vamos
aprendendo a falar de nós, para nós e de nós para as outras pessoas.
Na relação terapêutica tanto a/o terapeuta como a/o cliente precisa
ter percepções sobre seus lugares de fala. Eu sou uma mulher branca e
cisheterossexual que atende uma mulher travesti negra, estamos nessa
relação, a percepção dos diferentes lugares que ocupamos precisa ser
considerada. Não é sobre se colocar no lugar do outro, cada um só vive
na sua pele, mesmo que você tente nunca conseguirá calçar o meu
sapato, vestir a minha pele, sentir o que eu sinto diariamente como uma
travesti negra e gorda.
O que eu quero da minha terapeuta não é que ela se coloque no meu
lugar, eu desejo que ela me sinta do lugar dela. Que quando ela me
atenda ela não se coloque no centro, no cerne de quem ela é, que ela se
Antonia Natalia Duarte de Moraes; Letícia Carolina Nascimento • 611
REFERÊNCIAS
Godard, Hubert. Olhar cego. Entrevista com Hubert Godard, por Suely Rolnik. In:
ROLNIK, Suely. (Org.). Lygia Clark, da obra ao acontecimento. Somos o molde. A você
cabe o sopro. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2006. p. 73-80.
Lugones, Maria. Colonialidad y género, Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, nº.9, pp. 73-101,
julio/diciembre 2008.
Mombaça, Jota. Notas estratégicas quanto aos usos políticos do conceito de lugar de fala.
Buala, 2017.
ABERTURA DA LIVE
Paulo Barros: Olá, boa noite a todos, todas e todes. Vamos começar
mais um Seminário Descontruindo Fronteiras. Muito obrigade por
vocês terem topado esse convite, esse é um projeto da Associação
Brasileira de Gestalt-terapia (ABG) para falar de temáticas que são
pouco faladas na Gestalt-terapia e não somente nela, então nossa
proposta é convidar alguém que seja da Gestalt-terapia e outra que não
seja para poder realizar este encontro, essa troca, e hoje, eu irei mediar.
Para falar dessa temática, estamos hoje com Raíssa e Thereza, teremos
uma horinha para ir trocando essa ideia, então vamos lá.
Thereza Cristina Santos; Raíssa Éris Grimm Cabral • 613
fazia para turma era a seguinte: como é que na ementa dessa disciplina
só estamos lendo homens cis, brancos, europeus ou norte-americanos?
Que Psicologia é essa que a gente tem como referência? Todos os
aparatos da clínica que temos como referência teórica são dessas
pessoas. O próprio Engels (1884/2019), quando propõe pensar a ideia da
propriedade, naquele texto clássico da Sociologia, “A origem da família
da propriedade privada e do estado”, diz que a monogamia surge como
um ideal da sociedade de classes, a serviço da propriedade. Mas no final
do texto ele romantiza também a monogamia, pontuando que uma
sociedade comunista, que rompesse com a lógica de classes, de
propriedade, a monogamia seria uma escolha, e que a exclusividade
seria algo natural do ser humano. Logo, mesmo ele, cai na armadilha de
não conseguir pensar outro formato, que não seja o modelo de família
monogâmica. Esse arranjo está muito impregnado em nós, e isso é fruto
do processo de colonização. Principalmente se tratamos do Brasil, da
América Latina, da monogamia atravessada não somente pela questão
de classe, mas também de raça. Eu trabalho no SUS há 11 anos, trabalhei
já na assistência social e cotidianamente me deparo com documentos
psicológicos colonizadores, relatórios psicológicos impregnados da
visão de família monogâmica. Mesmo que eles não usem em termos
pejorativos, mas as formas de vida que fogem ao arranjo da família
nuclear, e da exclusividade da parceria são retratadas de forma
pejorativa. Já vi profissionais chegarem em uma casa para fazer uma
entrevista social e ter uma mãe, com 3 filhos, sendo um de cada pai e
essa mãe ser taxada como alguém disfuncional. Porque entende-se que
ela tem que romantizar a maternidade e ter uma exclusividade de
parceria. A não monogamia não atravessa somente quem está
conscientemente buscando essas leituras e querendo praticar. Mas
Thereza Cristina Santos; Raíssa Éris Grimm Cabral • 615
THEREZA: Acho que Raissa foi bem didática na fala, trouxe alguns
pontos bem importantes para pensar a hierarquia dos afetos, a
centralidade do casal. Na sociedade capitalista, a grande questão é isolar
o indivíduo, tirá-lo das redes coletivas porque elas são muito perigosas
para o sistema. A não monogamia quebra essa estrutura de hierarquia.
O casal, e mesmo o trisal, não rompe com a logica monogâmica, porque
é so mais um ou mais dois ou mais três que vão estar no seu núcleo
fechado sem pensar a ideia de coletivo. Todos os ritos que ocorrem
quando alguém vai casar e faz aquela cerimônia, os discursos cristãos
que dizem que a pessoa deixou a família e vai constituir outra família e
aquele núcleo vai ser o central. Você pode estar com um amigo numa
“bad”, precisando de você, mas se o seu parceiro ou sua parceira devem
ser prioridades. Logo, muitas práticas que se dizem não monogâmicas
não rompem com a monogamia. O próprio termo é amplo para nomear
várias práticas e não tem uma definição exclusiva. Como Raíssa
pontuou, podemos até falar de não monogamia no plural, refletindo
quais rompem com a estrutura de gênero e quais perpetuam.
O relacionamento aberto, por exemplo, reproduz a centralidade do
casal, com a regra de não envolvimento afetivo. Isso já ocorre dentro da
monogamia, pois a prostituição e a traição, são a mesma face do
casamento, como aponta Engels (1884/2019). O relacionamento aberto
reproduz o sagrado da família, você pode transitar, transar/beijar
outras pessoas, mas depois você descarta. E aí entramos em parcerias
adoecidas, porque quando escuto pessoas que se envolvem como alguém
que tenha uma relação aberta, por exemplo, muitas são descartadas,
para não ameaçar o casal. Como Raissa pontuou, a saída para romper a
monogamia, é muito mais coletiva do que individual. Recentemente saiu
Thereza Cristina Santos; Raíssa Éris Grimm Cabral • 623
pode abortar, não pode fazer eutanásia, não pode fazer uma série de
coisas).
Se não temos autonomia sobre nosso próprio corpo como é que
vamos ter sobre o corpo de uma outra pessoa? Isso é um grande delírio,
uma grande fantasia, que todo esse sistema fez a gente acreditar e que
é muito difícil romper. Por isso que é importante a criação de redes
coletivas. Pois quando nos aproximamos da não monogamia e vamos
partilhar com um/a amigo/a ou com um/a terapeuta que não tem
aproximação nenhuma com o tema, provavelmente vai sair uma
atrocidade como “ah, mas você está gostando de duas pessoas porque
você ainda não encontrou o amor verdadeiro da sua vida ou porque você
está na adolescência, não amadureceu” como Raissa pontuou. Assim,
cabe perguntar: que promessas são essas, que nós, do campo psi,
reproduzimos? Quantas das escutas que fazemos nos chegam com
queixas a respeito da monogamia? Acho que na minha atuação não
passa uma semana em que eu não escute uma queixa sobre traição, ou
sobre o desejo do outro, do controle do corpo da outra pessoa, das
fantasias que se constroem a respeito disso. Antes de passar a palavra
para a Raissa eu queria fazer uma provocação e recitar uma poesia que
foi publicada recentemente na página do instagram do NM em foco,
(@naomonoemfoco):
implica. Geni tem alguns textos que discutem muito bem sobre esse
lugar de autocentramento que a insegurança do ciúme coloca - é
insegurança sim, mas também é sobre autocentramento, eu me colocar
como totalmente responsável pelo afeto que a outra pessoa vai sentir ou
deixar de sentir por outras pessoas. “Se eu for boa e seu for foda
suficiente a outra pessoa não vai gostar de mais ninguém” - olha que
ridículo, olha que viagem doida e adoecedora, quanta carga eu coloco
sobre quem eu sou, em termos de precisar vigiar quem a outra pessoa
vai amar ou deixar de amar para dizer quem sou eu e para dizer quem
sou no mundo.
Acredito que a não monogamia também propõem construir formas
bastante éticas e saudáveis de como a gente se relaciona com nós
mesmes e como a gente se individua. É sobre como as próprias
identidades no mundo, nossos sentidos de pertencimento... para além
do estar ou não estar em determinadas formas de relacionamento, para
além dessa ilusão de ocuparmos um suposto lugar central na vida de
outra pessoa. Necessidade de ocupar um lugar central na vida de outra
pessoa para ter um senso de importância de valores na sociedade, na
vida e no mundo.
Será que não posso pautar pertencimento e valor social de vida a
partir de outros referenciais que não dependam da limitação da
autonomia da outra pessoa? Se a pessoa com quem eu me relaciono se
interessa ou não interessa por outra boyzinha/boyzinho/boyzinhe isso
diz apenas sobre ela, não diz sobre mim, não diz sobre quem eu sou. Isso
só diz respeito a ela, sobre algo que é exclusivo íntimo dela, sobre seu
próprio corpo... não diz sobre quem eu sou. E isso que diz sobre o outro
a gente acaba agindo como se dissesse sobre nós… puro delírio. E esse
628 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
a gente podia
tá tudo agora envolvida
umas em cima das outras
algumas nos lados
várias embaixo
tantas ao longe observando como é bonito demais
e
como acender essa vela aqui
faz bem pra contemplar
essa cena privilegiada
a gente podia
voltar naquela noite
e contar de verdade
em quantas estávamos
quando
chegaram mais duas
e
perdemos contagem
na memória café da manhã ainda juntas
[alguém disse oito,
mas a gente se lembra
que éramos ímpar]
e quem se importa com números?
a gente podia
voraz
634 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Faço uma piada que é uma piada interna (minha e com os meus
neurônios), e compartilho aqui como provocação: quem escreveu a
teoria do ciclo de contato com certeza foi alguém que nunca viveu um
ménage, uma orgia. Parece trivial, mas sinto que há uma certa
monogamia pressuposta no conceito de “bom contato”, dando a
entender que o contato de qualidade só ocorre quando se vive uma coisa
de cada vez, em atenção plena e exclusivamente dedicada a uma coisa
só. E isso não abarca o que se vive, por exemplo, numa orgia, ou mesmo
num menáge, onde há uma polifonia de sensações e necessidades que –
ao invés de competirem – constroem dinâmicas muito potentes de
serem vividas.
Até que ponto a Gestalt-terapia se propõe a rever seus
pressupostos teóricos sobre o que é uma “gestalt vigorosa”? Tenho
pensado em como pensar, na clínica e na vida, sobre a potência dos
ruídos, das contaminações, das deformações: a potência das más
gestalten, a partir de experimentações perversas e promíscuas de
contato.
REFERÊNCIAS
https://medium.com/barbaraesmenia/vivas-no-contempor%C3%A2neo-99c234f6e906
Vasallo, B. (2022). O desafio poliamoroso: por uma nova política dos afetos. Elefante.
Data: 11/08/2022
Convidados: Rozangela da Piedade Leite e Wanderson Flor do
Nascimento
Mediadores: Paula Campos e Silvia Alencar
ABERTURA DA LIVE
depois passo a palavra para cada um, que terão 30 minutos em média
para explanar suas ideias e em seguida partimos para o debate.
Rozangela é mineira, psicóloga e mestre em Psicologia pela PUC de
São Paulo, especialista em Gestalt-terapia e análise existencial pela
UFMG e educação contemporânea pela Faculdade Arnaldo. Atuou como
professora no departamento de Psicologia na Faculdade de Ciências
Econômicas, Administrativas e Contábeis. No presente momento é
psicóloga clínica atuando na construção de uma clínica antirracista,
supervisora, pesquisadora e simpatizante da Filosofia Africana.
Wanderson é professor de filosofia e direitos humanos na
universidade de Brasília, onde pesquisa sobre Filosofia Africana,
relações raciais, tradições brasileiras de matrizes africanas e processos
subjetivos de formação de docentes.
Paula Campos: Vamos começar. Então eu passo a palavra para os
nossos convidados da noite. A ideia é que cada um possa falar uns 30
minutinhos depois a gente vai abrir para perguntas. E à medida que a
conversa for desenrolando, a gente vai entrando e abrindo para
participação do público.
Rozangela Leite: Passo a fala para o professor Wanderson por ele
ser uma autoridade a respeito do tema. Sou simpatizante da Filosofia
Africana e vou fazer uma interlocução com a minha área de atuação,
então vou deixar o professor introduzir e aí depois eu vou falar um
pouco da minha visão como terapeuta. Relatar que estou pesquisando e
estudando de forma que articule um pouco com a minha prática clínica.
640 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
FILOSOFIA AFRICANA
racismo, para o caso das pessoas que foram subjetivadas aqui; não só na
perspectiva de um individualismo adoecedor, sobretudo em tempos de
subjetividades neoliberais, nas quais o indivíduo é convocado a ser um
empreendedor de si, em uma competição enlouquecedora, que imprime
o sofrimento na própria marca de vida das pessoas. Compreender esse
conjunto de estratégias também pode fazer com que tenhamos outros
parâmetros de enfrentamento desse próprio sofrimento.
Nestas percepções do processo de subjetivação não se nega que
existam pessoas particulares; não se trata de dizer que não existe o eu,
que não existe o indivíduo, que não existe uma pessoa. Entretanto, essa
dimensão não joga o mesmo papel, não desempenha a mesma
centralidade que no pensamento ocidental moderno. Como seria
possível pensar em estratégias não só de compreensão de outras
maneiras de subjetivação que foram presentes e são presentes no
Brasil?
Quando olhamos, por exemplo, a constituição de estratégias de
proteção comunitárias, como foram os quilombos no caso do Brasil
vemos essa dimensão africana entre nós. No próprio movimento negro
que se organiza em torno de células e comunidades e não de atuações
individuais percebemos o mesmo. Embora a individualidade não suma
nos terreiros e nas tradições de matrizes africanas como: o candomblé,
o batuque, o xangô encontramos uma subjetivação coletiva e
coletivizante. O próprio o catolicismo popular foi completamente
moldado em torno de práticas das comunidades negras. Se olhamos, por
exemplo, na história da Bahia, encontraremos a Irmandade da Boa
Morte como uma dessas experiências muito conhecidas. Olhando para
Minas Gerais, encontraremos os reinados e as congadas que são
Rozangela da Piedade Leite; Wanderson Flor do Nascimento • 647
REFERÊNCIAS
Fanon, Frantz (2008). Pele negra, máscaras brancas. Tradução: Renato da Silveira. Editora
EDUFBA.
Rozangela Leite
Depois da fala não há muito o que dizer. Desse modo queria trazer
uma reflexão que porventura condiz com o que o que o prof. Wanderson
Nascimento trouxe assim, porque eu tenho percebido como psicóloga
negra. Que vem ocorrendo um movimento aqui no Brasil, acredito que
um pouco como ocorreu nos Estados Unidos, quando os próprios
Psicólogos pretos entenderam que a psicologia não estava dando conta
de cuidar da população. De maneira que hoje a gente vê, há inúmeros
grupos de diferentes vertentes da psicologia, psicólogos pretos,
preocupados em pensar uma estratégia, metodológica, fenomenológica,
de tratar as pessoas pretas. Ainda sim, eu entendo que esse movimento
vem acontecendo aqui no Brasil, como o Wanderson falou, da própria
AMMA PSIQUE, enfim, é a própria ANPSINEP, da qual faço parte, no
qual temos representantes em todos os estados, de psicólogos que faz
esse movimento político, porque a clínica também ela é política. Nós que
somos da Gestalt-terapia entendemos que o nosso corpo é político,
então a gente não pode perder isso de vista, quando a gente pensa que o
nosso corpo, ele é um corpo político, e nesse sentido, presumo que a
filosofia africana ela deixa essa herança para nós assim. Sobretudo do
ponto de vista da espiritualidade, penso que é uma herança que
contribui, para pensar uma clínica diferenciada, é importante dizer isso
aqui, com o referencial da Gestalt-terapia.
Como Wanderson falou, os nossos referenciais ainda são da linha
da psicanálise, com o próprio Franz Fanon, a própria Neusa Santos, são
Rozangela da Piedade Leite; Wanderson Flor do Nascimento • 651
Para que ajude ele como ferramenta para dar conta de sobreviver, nessa
sociedade.
Dessa forma, eu queria trazer um pouco essa reflexão, do que eu
venho pensando; e eu reflito que a espiritualidade, tem sido um grande
legado para pensar a clínica hoje, eu considero demais o ponto de vista
das pessoas que eu acompanho, e fico sempre pensando, se não tem
espiritualidade, tem alguma coisa aí! Medito, o que é espiritualidade? É
a forma que a pessoa escolhe, pode ser uma arte, pode ser uma dança,
pode ser... Enfim, alguma coisa, mas isso também ajuda como
ferramenta para entender o campo. Além do mais, o campo
fenomenológico da Gestalt-terapia dialoga aí, dá para gente pensar
nessa autorregulação, pensar nesse desafio. Para nós, psicólogos pretos,
de fazer essa autorregulação, inclusive dialogar com outros colegas, que
pensam só do ponto de vista mental, e esquecem de entender que os
corpos e os corpos pretos são corpos políticos. Porque são corpos
políticos, uma vez que são corpos que necessitam de quase que 24 horas
para pensar em estratégia. Dessa maneira, eu queria trazer essa
reflexão, mais que uma reflexão, uma provocação, no sentido que eu
acho uma certa defasagem ainda do ponto de vista da formação, na
própria Gestalt-terapia.
Cogito que esse espaço é uma grande abertura para a gente
dialogar, eu acho que tem sido, a gente tem tentado aí fazer esse diálogo,
nesse grupo de estudo. Avalio que são pequenos passos que a gente tem
conseguido, mas ainda com muita resistência de abrir esse diálogo com
outros colegas, talvez intelectuais, que ainda tem dificuldade de
entender um pouco essa dimensão mais ampla, dos corpos pretos da
Filosofia Africana, dessas dimensões mais amplas. Desde já, eu queria
Rozangela da Piedade Leite; Wanderson Flor do Nascimento • 657
REFERÊNCIAS
Noguera, R. (2012). Ubuntu como modo de existir: elementos gerais para uma ética
afroperspectiva. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as
(ABPN), 3(6), 147-150.
DEBATE
terapeuta preta que faz toda a diferença, o olhar dela para a escuta é
diferenciado. Eu tenho uma cliente que sempre fez terapia, porém, com
uma com uma terapeuta branca. E aí ela ficava se culpando, se culpava
pelo fato de que ainda não estava casada, e dentro dessa estrutura que
nós temos hoje, racista, a pessoa se culpabiliza, acreditando que é uma
questão dela. E nós sabemos que não é; eu falo isso, falando da solidão
da mulher preta, não é a mulher que vai ser escolhida para casar, e numa
das nossas sessões, quando eu comecei a fazer algumas perguntas, ela
foi percebendo que não tinha nada a ver com ela, e sim com a questão
racial e da estrutura. Ela começou a chorar e falar, ela virou para mim e
falou assim: eu passei uma vida inteira achando que eu tinha algum
problema. E foi uma coisa simples que eu fiquei assim, muito chocada,
mas dentro da minha experiência é. Nesse processo de me perceber e
me descobrir negra, se eu não tivesse percebido que eu era uma mulher
negra, eu não teria conseguido ouvi-la também, porque eu comecei esse
que vocês racialização tem pouco tempo foi de 2019 para cá. E a é a
importância, de estar em grupos de estudo, a importância de estar
nesses ambientes, dialogando, conversando e acolhendo essas pessoas
que chegam, que tem chegado. Graças a diversas outras iniciativas tem
tirado a psicologia desse lugar, de classe e raça e tem alcançado,
alcançado as periferias. Eu venho também da periferia. Por isso que eu
queria estar colocando aqui neste momento.
qualquer outra pessoa. E por elas serem racializadas, elas entendem que
tem um lugar superior de privilégio e nós não vamos querer tirar o lugar
de ninguém. No entanto, nós não queremos tirar clientes de colegas de
cor branca. Se o colega branco se comprometer a estudar. Entender,
Filosofia negra, estudar sobre racismo. Ele vai poder atender qualquer
pessoa preta, só que ele não está afim. Assim, quando a pessoa vai chegar
lá e falar sobre racismo na clínica, vai falar que é mimimi, vai falar que
é uma questão social. É só para a gente entender um pouco o contexto a
fim de que não haja confusão. Wanderson, que quiser dizer alguma coisa
também e a colega fica à vontade.
absurdo, não estar preparado para isso. E acho que isso é uma questão
de todos nós, pessoas brancas, pretas, e que esses espaços de provocação
são extremamente importantes para que a gente possa evoluir por meio
da discussão e trocas, pois todos estamos implicados nessa questão.
Nesse sentido, é uma construção de todes, mais ou menos isso.
cenário formativo e clínico. Por isso, penso que uma coisa é reconhecer
que a branquitude confere às pessoas um lugar de poder diferente
daquele que as pessoas negras experimentam, outra coisa é achar que
apenas as pessoas negras devem se responsabilizar pelo enfrentamento
do racismo. Que uma pessoa negra opte por procurar um terapeuta
negro ou negra é uma coisa, que os cursos de formação, que as políticas
de formação determinem que só as pessoas negras devam tratar das
temáticas raciais é outra coisa completamente diferente. Esta última
dimensão é já, ela mesma, uma atuação do racismo.
A responsabilidade de enfrentar o racismo, sobretudo em um país
como o nosso, é de todas as pessoas. Sem esse entendimento, findamos
por sobrecarregar ainda mais a experiência das pessoas negras, que
além de sentirem na pele o próprio racismo, terão a responsabilidade –
e o peso – de ensinar para as pessoas racistas a não serem racistas. E
isso amplifica ainda mais o sofrimento das pessoas negras que
trabalham na clínica. Vejam a história de vida da própria Neusa Santos
Souza e para onde esse tipo de consideração levou a experiência dela. E
não foi a única.
E outras, como a própria Virgínia Bicudo, que foi nossa primeira
psicanalista negra e que morreu no esquecimento. E quantas outras
figuras, que mesmo tendo produzido, ainda que fora da psicanálise, um
conhecimento bastante sofisticado, estão relegadas ao esquecimento,
como forma de o racismo lembrá-las de que, embora elas estejam
colocando o dedo na ferida, elas sozinhas não conseguirão resolver
nossas mazelas raciais.
Esse é um ponto fundamental: ou bem entendemos o que
chamamos de racismo estrutural e todas e todos devemos ter um
compromisso com o seu enfrentamento ou então alimentaremos a
Rozangela da Piedade Leite; Wanderson Flor do Nascimento • 663
Data: 17/08/2022
Convidados: Priscila Elisabete da Silva e Mônica Alvim
Mediadora: Kênia Résiley
ABERTURA DA LIVE
Kênia Résiley: Boa noite a todos que estão nos assistindo, vamos
dar início ao nosso encontro. Essa é mais uma live que faz parte do nosso
projeto de seminários intitulado Desconstruindo Fronteiras,
organizado pelos Núcleos de Relações Étnico Raciais e Gênero e
Diversidade Sexual. O tema da live de hoje é branquitude, e a ideia desses
seminários surgiu para trazer essa discussão aqui para ABG de
temáticas sociais importantes que a gente não vê sendo discutidas nesse
espaço.
Vou me apresentar para vocês e apresentar as nossas convidadas
de hoje. Me chamo Kênia Résiley, sou Psicóloga Clínica (UFMG), atuante
com uma perspectiva de Clínica Racializada. Especialista em Psicologia
Clínica em Gestalt-terapia e Análise Existencial (UFMG). Estudiosa da
temática de relações raciais na psicologia e integrante da coordenadoria
do Núcleo de Relações Étnico Raciais da ABG.
A live de hoje é sobre o tema da Branquitude e as palestrantes serão
Priscila Elisabete da Silva, doutora em educação e pesquisadora do tema
672 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
• ser humano;
• desbravador, conquistador;
• civilizado e moderno;
• quem detém a capacidade intelectual e de governança;
• detentor de direitos e deve ter assegurada sua individualidade.
• Construiu o racismo;
• Escravizou seres humanos;
• Violou (e viola) corpos e mentes;
• Tem sido o grande explorador da força de trabalho de outros seres humanos;
• Segregou, matou (e mata) por acreditar que é superior aos demais humanos.
REFERÊNCIAS
Diangelo, R. (2018) Fragilidade branca. Dossiê Racismo. Revista Eco-pós, v.21, n.3.
Cardoso, L..(2020) O branco ante a rebeldia do desejo: um estudo sobre o pesquisador branco
que possui o negro como objeto científico tradicional. A branquitude acadêmica: v.2.
Appris.
Finguerut, A.; Silva, P. E. da. (2020).Crise democrática e racismo no Brasil. In: Dossiê
Crise e novos rumos da democracia. Revista Ambivalências, v. 8, n. 16, p-56-87,
Silva, P. E. da. (2021)O potencial de práticas decoloniais na formação docente. In: ITAÚ
SOCIAL ET AL. Equidade Racial na Educação Básica: artigos científicos [recurso
eletrônico]. São Paulo. https://editalequidaderacial.ceert.org.br/.
Silva, P. E. da. (2017)O conceito de branquitude: reflexões para um campo de estudo. In:
MÜLLER, T; CARDOSO, L. C. Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil.
Appris.
682 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
Quijano, A. (2014) Colonialidad del poder y clasificación social. In: Cuestiones y horizontes:
de la dependencia histórico-estructural a la colonialidad/descolonialidad del poder.
Buenos Aires. CLACSO.
Mônica Alvim
Uma pessoa não nasce branca ou negra, mas torna-se a partir do momento
em que seu corpo e sua mente são conectados a toda uma rede de sentidos
compartilhados coletivamente, cuja existência antecede a formação de sua
consciência e de seus afetos.
Silvio de Almeida (2019, p. 47).
1
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/10/09/apos-trauma-na-terapia-negros-
buscam-psicologos-da-mesma-cor.htm?cmpid=copiaecola.
2
https://site.cfp.org.br/dieese-divulga-pesquisa-sobre-a-insercao-de-psicologos-as-no-mercado-de-
trabalho/.
3
Quando a pesquisa foi feita, os (as) psicólogos (as) negros (as) ocupados (as) recebiam, em média,
menos que os (as) não negros. Um (a) psicólogo (a) negro (a), em média, recebia R$ 2.921, valor que
corresponde aproximadamente a 83% do que um (a) não negro (a) (R$ 3.514). Quanto à remuneração
por tipo de atuação, eram os que trabalhavam por “conta própria” que recebiam valores superiores (R$
Priscila Elisabete da Silva; Mônica Alvim • 687
3.772) aos auferidos pelos que atuam como funcionários públicos estatutários (R$ 3.246), empregados
com carteira (R$ 3.214) e sem carteira (R$ 2.452).
688 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
4
Refiro-me aqui especificamente aos autores do grupo Modernidade/Colonialidade. Anibal Quijano,
Grosfoguel, Enrique Dussel, Santiago Castro-Gomez.
Priscila Elisabete da Silva; Mônica Alvim • 689
A BRANQUITUDE
situação já consumada, visto que ela é habitual, nos dando apenas uma
sensação de segurança. O que predomina é o medo disso ser perdido,
roubado o que nos fixa em um controle ferrenho nas relações
interpessoais.
Podemos, a partir daí, aproximar a confluência da noção de pacto
narcísico da branquitude proposta por Cida Bento, pensando-a como
um tipo de interrupção que mantém o sujeito branco apegado a uma
situação de segurança produzida no mito da superioridade de sua raça.
Considerando que não há nenhuma evidencia que justifique a noção de
raça, tampouco uma suposta superioridade, o apego pode ser
considerado uma confluência neurótica, calcada no medo de ser
roubado desse lugar de segurança.
Resgatando a noção de colonialidade, podemos pensar nesse ponto
nas discussões trazidas por Nelson Maldonado-Torres (2020) em suas
dez teses sobre colonialidade e decolonialidade. A primeira delas é:
colonialismo, descolonização e conceitos relacionados provocam
ansiedade. O autor argumenta que as discussões sobre colonialismo
questionam o senso de legitimidade do que está instituído pelo
pensamento moderno em todos os níveis, o que gera desestabilidade,
“perturba a tranquilidade e a segurança do sujeito-cidadão moderno e
das instituições modernas” (p.33).
O autor aponta um segundo aspecto gerador de ansiedade, qual
seja, o lugar do colonizado como questionador e potencial agente, o que
difere “da posição esperada deles como entidades sub-humanas dóceis.
O chamado “Giro decolonial” implica justamente nesse questionamento.
Há segundo ele, fobia e terror quando o colonizado ocupa o lugar de
agente. Ele justifica a colocação dessa tese como a primeira: “representa
um a priori performativo em relação a todas as outras (...)”. Ele recorre
698 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
a Aime Césaire para pensar nas formas evitativas dos brancos (como por
ex. meus antepassados também foram colonizados, meus pais eram
pobres, tenho um amigo negro) uma demonstração da atitude colonial
decadente, “formas de uma decadência genocida e homicida” (Césaire,
apud Maldonado-Torres, p.34). Ele cita o “jogo de gato e rato” nomeado
por Fanon que visa a adiar a importância das discussões sobre
colonialismo e descolonização, deslegitimando o colonizado em seu
lugar de agente.
Assim, a atitude a priori na evitação da ansiedade, propõe
Maldonado-torres, é de “evasão e má-fé”. No mesmo sentido, afirma
Bento (2022, p.121): “a ausência de compromisso moral e o
distanciamento psicológico em relação aos excluídos são características
do pacto narcísico”.
Quando a confluência é crônica, o sujeito não percebe o que o
diferencia do outro e distorce a relação eu/não eu. Na relação com o
outro, que como eu é um corpo e se mostra a mim como identidade e
como diferença, vivemos a experiência da alteridade. Ao confluir com
seu grupo identitário, branco, e com as estruturas racistas, é
reproduzida uma forma de relação pautada nas relações de dominação,
onde o outro é invisibilizado, apagado em suas formas singulares de ser
e subjugado como inferior, falhado ou mesmo considerado sub-
humano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Giroux nos diz que brancos, em ações antirracistas, têm que aprender a
conviver com o significado de sua branquitude, desaprender ideologias e
histórias que os ensinaram a colocar o outro em lugar onde os valores
morais e éticos não estão em vigência. A destruição de um pacto narcísico
não é só individual, mas tem sua âncora em ações coletivas estruturais
envolvendo a responsabilidade social das organizações que precisam se
Priscila Elisabete da Silva; Mônica Alvim • 703
REFERÊNCIAS
Alvim, M. (no prelo). Elementos para pensar uma Gestalt-terapia (realmente) crítica e
política.
Billies, M. (2005). Therapist confluence with social systems of oppression and privilege.
International Gestalt Journal, 28(1), 71-92.
Carvalho, J.J. (2018). Encontro de saberes e descolonização: para uma refundação étnica,
racial e epistêmica das universidades brasileiras. In: Bernardino-Costa, J.;
Maldonado-Torres, N; Grosfoguel, R. Decolonialidade e pensamento afro-diaspórico.
Ed. Autêntica.
Fanon, F. (2020). Pele negra, máscaras brancas. São Paulo (SP): UBU. [trabalho original
publicado em 1952]
Guerreiro Ramos, A. (1955). Patologia social do branco brasileiro. Jornal do Comércio, jan.
Rahv, P. (1939). Paleface and Redskin. The Kenyon Review, 1(3), 251–256.
http://www.jstor.org/stable/4332082
DEBATE
falando no texto, é sobre a gente não ter mais como fugir, a gente não
passa ileso. A gente precisa se dar conta de que a nossa reação, a nossa
atitude, ela reverbera a ponto de voltar a nós mesmos. Então, ou a gente
assume isso, a minha formação é deficiente. E onde eu vou buscar a
formação? Não existe uma perspectiva somente, como da psicologia, ou
da sociologia ou da história, só existe o mundo eurocêntrico. Na
verdade, eu estou trazendo as contribuições de Ângelo, quando ela
chama atenção sobre a necessidade de trabalhar essa questão, que é essa
arrogância racial. Tem muito a dizer sobre a nossa forma de se formar,
de formar o nosso pensamento, os teóricos que nós recorremos. Os
teóricos que recorremos para pensar a nós e os outros. E eu e eu falo
isso porque tenho estudado a academia, o ensino superior e vivenciado
isso. Inclusive, recentemente, junto com a professora Ana Passos, que é
pesquisadora da branquitude e que fez um levantamento sobre as
expressões da branquitude, no ensino superior em tempos de pandemia.
E responderam diversas pessoas que estavam como estudantes, e em
diferentes instituições de ensino superior no Brasil, públicas e privadas.
E é unânime, quando apontam que uma das principais expressões da
branquitude é o pensamento eurocêntrico. O foco no pensamento do
eurocêntrico, nas teorias que são abordadas em diferentes áreas de
conhecimento. A gente não está falando só nas ciências humanas,
também da biologia, das ciências exatas. Inclusive os professores
desconsideram quando os alunos trazem outra perspectiva, se sentem
inclusive, afrontados. São falas que estão publicadas no nosso artigo.
Então percebe, há uma arrogância racial, que é uma necessidade, mas
um apego a uma concepção que já é uma concepção eurocêntrica. E é
que já se mostra, mais do que nunca fragilizada. A gente precisa ampliar
isso, ela não dá conta. Ela não dá conta de superar, porque como é que
714 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
vai dar conta de superar algo que ela está reafirmando a todo o tempo?
Se a gente não traz outra forma de pensar. De comunidades não
europeias, de pensamentos milenares inclusive, como é que a gente vai
arejar o nosso pensamento?
Mônica Alvim: Eu acho que aí você toca num ponto que me que me
provoca, porque eu sou uma defensora da bandeira da
transdisciplinaridade como fundamental pra gente exercitar um
pensamento crítico e o pensamento antirracista. Pensar relações raciais
exige um pensamento crítico, da crítica social. A gente não pode fazer
isso numa disciplina, não é? É, a gente não pode. A gente precisa
necessariamente dialogar de modo interdisciplinar, e eu eu trago isso
ha anos, mas hoje, eu amplio isso não é? Concordando também com a
com as suas colocações para pensar outras modos de saber de outros
povos. Outras epistemologias, não é isso? É fundamental, né?
O René Barbier tem uma frase que eu adoro que é: Você no
paradigma da simplicidade, se você trabalhar com uma disciplina, tem
a ilusão de beber o real com um canudinho de um conceito. O canudinho
de uma disciplina, no caso, eu acho genial essa frase. É uma ilusão você
achar que vai beber o real com um canudinho de uma disciplina, de um
conceito. Não é? Então eu acho que que é essa caminhada, ela é
fundamental, não é? E para a gente no Brasil pensar uma Gestalt-
terapia Brasileira não dá para a gente pensar de modo disciplinar.
Assim, a gente precisa é avançar nessa exploração de outras
epistemologias, de outros saberes. O corpo, como você trouxe esse
exemplo, né? Eu acho fundamental a gente buscar ampliar essa pesquisa
para somar com outras perspectivas que a gente, enfim, vem
desenvolvendo. Eu acho fundamental. Tinha umas perguntas do pessoal
que apareceu aqui na tela, a gente já está no nosso finalzinho. Faltam
alguns minutos para encerrar.
718 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
E queria também dizer para você Kênia que foi muito bom estar
aqui com você nesse outro espaço. A gente já tem convivido bastante no
núcleo temático e é uma alegria muito grande ter você também aqui
com a gente fazendo parte. E trazendo essa mediação tão gostosa, tão
leve, tão competente, muito bom, não é? E eu agradeço a você também.
Kênia Résiley:
Eu que agradeço mesmo, pelo convite de estar aqui, como eu tenho
prazer de estar aqui na live. E professora Priscila, alguém perguntou
aqui que se tem indicações de referências. Tem o seu capítulo, no livro
Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil, mas você tem
mais algumas referências de leitura sobre o que a gente conversou hoje?
tem a tese, que está aberta para público, basta colocar o meu nome
completo para ter acesso ao banco de teses da USP.
E tem um texto que eu acho que vai ajudar bastante, porque fala
sobre essa questão da fragilidade branca, que é um conceito que vocês
precisam entender um pouquinho, eu digo o pessoal da psicologia, de
modo geral, que vai ajudar bastante. O texto chama-se: Fragilidade
branca. O artigo, ele tem uma boa síntese do conceito. Mas eu acho que
o artigo vai ser interessante, talvez quem quiser se aprofundar vai para
o livro, mas o artigo está disponível na internet. Vocês me dão um
segundo que eu localizei o artigo. Eu vou pegar, porque aí eu passo a
referência certinho.
Mônica Alvim: É acho que a gente também vai poder fazer essas
recomendações no próprio livro, no e-book da ABG.
Kênia Résiley: Acho que a gente poderia ficar aqui uma noite
inteira falando do assunto. Fica aí o convite para você voltar, Priscila.
Mais uma vez agradecemos a sua presença, a de Mônica também. Muito
obrigada as pessoas que ficaram aqui conosco até esse momento. Boa
noite!
SEÇÃO 5
Section 5
Sección 5
ESCURECENDO OS FATOS
REFERÊNCIAS
Arrelias, L. Racismo: gestalt aberta que mantém ausências. In: Olhares da Gestalt-terapia
para a situação de pandemia / Organização: ABG – Associação Brasileira de Gestalt-
terapia e Abordagem Gestáltica (organizador). CRV, 2020. 322 p. (Coleção: Vozes em
letras, v. 1).
1
Nascimento (2021) ao articular autores como Grada Kilomba e Simone de Beauvoir, emprega o termo
outreridades, ou seja, o modo de ser do outro, para ressaltar que as transexuais e as travestis são o “Outro
do Outro do Outro, uma imagem distante daquilo que é determinado normativamente na sociedade
como homem e mulher” (p.52).
736 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
REFERÊNCIAS
alteridade, 29, 45, 50, 57, 107, 141, 143, 144, 118, 125, 130, 132, 137, 138, 147, 178, 207,
174, 222, 230, 248, 300, 335, 376, 381, 399, 249, 261, 279, 289, 366, 369, 377, 411, 413,
412, 413, 424, 430, 439, 522, 533, 538, 540, 424, 426, 447, 466, 477, 484, 558, 576, 596,
541, 545, 546, 547, 551, 552, 554, 661, 671, 599, 600, 602, 604, 608, 614,652, 673, 694,
688, 692, 699, 705, 729 703, 722, 753
ancestralidade, 123, 206, 209, 258, 279, 722 clínica, 9, 11, 18, 19, 20, 21, 28, 41, 42, 44, 45,
49, 50, 66, 67, 68, 69, 70, 78, 102, 104, 107,
arteterapia, 476, 477, 478, 480, 481, 482, 497 108, 110, 114, 116, 120, 124, 125, 126, 127,
133, 136, 138, 140, 141, 142, 147, 153, 162,
audiovisual, 156, 163 163, 164, 165, 169, 171, 174, 177, 185, 189,
219, 221, 222, 228, 256, 264,269, 283, 286,
autoestima, 13, 120, 122, 124, 125, 193, 194, 297, 298, 303, 304, 305, 306, 308, 310, 311,
197, 198, 199, 200, 202, 203, 204, 205, 208, 312, 313, 315, 318, 321, 322, 323, 324, 329,
209, 210, 211, 213, 318, 348, 481 333, 336, 344, 346, 347, 360, 362, 363, 365,
366, 367, 368, 370, 377, 378, 379, 380, 381,
branquitude, 11, 58, 59, 65, 119, 122, 128, 132, 382, 386, 391, 393, 394, 399, 400, 412, 421,
153, 157, 158, 159, 160, 165, 169, 170, 178, 423, 425, 426, 435, 438, 439, 449, 450, 467,
188, 189, 195, 211, 216, 231, 250, 258, 262, 473, 498, 500, 501, 506, 522, 524, 525, 526,
265, 288, 290, 303, 367, 368, 372, 373, 379, 528, 534, 535, 536, 537, 539, 542, 544, 545,
381, 413, 425, 439, 441, 558, 589, 604, 654, 546, 547, 549, 551, 552, 554, 574, 577, 585,
656, 657, 659, 665, 667, 668, 669, 670, 671, 590, 592, 596, 608, 626, 629, 633, 634, 635,
672, 673, 674, 675, 681, 683, 684, 685, 686, 638, 643, 644, 645, 646, 647, 648, 649, 650,
687, 688, 689, 691, 692, 693, 695, 696, 697, 653, 655, 656, 657, 659, 677, 679, 680, 694,
698, 699, 700, 701, 705, 707, 709, 710, 713, 695, 704, 726, 734, 746, 747, 748, 749, 750,
714, 715, 716, 722, 726, 754 752, 753, 754, 755, 756, 757, 758
cisgeneridade, 136, 370, 383, 396, 434, 470, colonialidades, 145, 382, 442, 631
583, 584, 589, 590, 597, 603, 610, 622, 729,
732 COM-POR, 214, 217, 218, 219, 220, 221, 226,
228, 229, 231, 751, 756
cisheteronormatividade, 132, 368, 374, 389,
392, 398, 399, 407, 408, 409, 411, 464, 467, comunidade, 35, 36, 37, 44, 48, 61, 65, 119,
586, 596, 750 160, 236, 242, 333, 335, 336, 342, 363, 368,
428, 538, 541, 597, 613, 641, 657, 690, 692,
classe, 7, 9, 37, 39, 41, 53, 58, 61, 76, 77, 78, 80, 696, 704, 710, 722, 736
83, 102, 103, 104, 108, 110, 112, 115, 117,
Índice Remissivo • 745
confluência, 45, 50, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 504, 505, 506, 512, 513, 514, 515, 516, 518,
82, 85, 86, 87, 92, 94, 99, 119, 132, 138, 139, 519, 522, 524, 532, 534, 566, 607, 609, 616,
140, 141, 143, 166, 170, 179, 184, 315, 340, 623, 630, 631, 688, 689, 690, 755
402, 427, 568, 690, 691, 692, 693
fronteira de contato, 45, 46, 219, 222, 223,
contrassexualidade, 433 224, 229, 252, 270, 312, 313, 392, 393, 397,
411, 412, 427, 455, 509, 510, 542, 545, 546,
cuidado, 34, 124, 126, 176, 215, 218, 221, 222, 552, 565, 606, 648, 730
224, 227, 228, 230, 233, 236, 241, 244, 247,
253, 255, 257, 258, 260, 262, 263, 264, 265, gênero, 6, 7, 9, 19, 23, 27, 34, 35, 37, 39, 41, 53,
278, 282, 291, 294, 295, 296, 297, 299, 300, 54, 56, 57, 58, 59, 64, 76, 80, 81, 83, 88, 89,
303, 332, 336, 358, 381, 426, 434, 435, 439, 90, 97, 102, 103, 104, 108, 110, 111, 112, 113,
448, 449, 451, 452, 471, 472, 500, 504, 510, 114, 115, 117, 118, 123, 125, 127, 128, 130,
514, 519, 528, 534, 536, 539, 545, 552, 582, 132, 133, 137, 141, 142, 144, 145, 147, 155,
583, 607, 615, 617, 622, 624, 625, 639, 659, 219, 261, 269, 275, 327, 330, 331, 332, 333,
688, 727 334, 335, 336, 337, 338, 339, 340, 341, 343,
347, 348, 350, 356, 357, 358, 359, 366, 367,
Decolonialidade, 71, 72, 132, 171, 265, 698 369, 371, 377, 382, 383, 384, 385, 386, 387,
388, 389, 390, 391, 392, 394, 396, 398, 399,
descolonização do pensamento, 269, 288 407, 408, 409, 411, 413, 415, 417, 418, 419,
421, 422, 423, 424, 427, 428, 429, 430, 431,
dissidência, 386, 389, 448, 610 432, 433, 434, 435, 438, 440, 442, 446, 447,
455, 456, 458, 459, 460, 461, 462, 463, 464,
drogas, 18, 291, 292, 293, 294, 295, 296, 297, 465, 466, 467, 468, 469, 470, 471, 472, 476,
298, 300, 301, 302, 303, 320, 420, 468, 490 477, 479, 480, 496, 499, 500, 502, 504, 505,
506, 507, 509, 512, 516, 517, 539, 540, 542,
543, 544, 551, 554, 556, 557, 558, 560, 561,
encantamento, 447, 452
562, 563, 565, 566, 567, 568, 569, 570, 571,
572, 573, 575, 576, 581, 582, 583, 584, 585,
escola, 51, 84, 98, 115, 116, 193, 194, 198, 200,
587, 588, 589, 591, 593, 594, 596, 597, 598,
204, 206, 207, 319, 339, 417, 442, 448, 476,
599, 600, 602, 603, 604, 605, 610, 612, 616,
479, 484, 485, 491, 566, 602, 612, 628, 688,
662, 670, 673, 676, 678, 693, 694, 713, 725,
689
729, 730, 731, 732, 733, 734, 735, 747, 749,
750, 751, 753, 754, 755, 756
estruturas sociais, 33, 42, 51, 64, 66, 68, 119,
256, 354, 668, 682, 689
Gestalt-terapia, 6, 7, 9, 11, 12, 16, 17, 18, 21,
23, 30, 32, 33, 37, 38, 41, 42, 44, 45, 46, 47,
ética, 20, 42, 43, 45, 103, 104, 107, 182, 218,
60, 64, 65, 66, 69, 70, 72, 73, 74, 79, 87, 89,
222, 233, 243, 244, 288, 291, 295, 297, 300,
99, 102, 103, 109, 110, 111, 118, 127, 128,
315, 323, 346, 347, 360, 362, 377, 394, 399,
130, 131, 132, 133, 134, 135, 138, 142, 145,
412, 413, 425, 450, 522, 523, 536, 539, 552,
146, 147, 148, 149, 151, 153, 155, 156, 163,
574, 590, 592, 624, 649, 651, 673, 702, 726
169, 172, 173, 174, 175, 176, 187, 189, 190,
191, 199, 212, 220, 222, 228, 229, 230, 231,
família, 51, 82, 113, 114, 178, 180, 186, 219,
232, 233, 234, 237, 238, 239, 240, 241, 242,
259, 260, 279, 331, 371, 417, 428, 455, 458,
243, 244, 245, 250, 251, 253, 254, 256, 258,
460, 465, 478, 479, 488, 494, 500, 501, 502,
746 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
263, 264, 265, 266, 267, 268, 269, 270, 273, LGBTQIAP+, 19, 329, 336, 341, 344, 399, 451,
276, 280, 283, 285, 286, 288, 289, 290, 291, 538, 539, 541, 542, 543, 551, 552, 597, 735,
299, 300, 301, 302, 303, 305, 306, 307, 308, 757
309, 312, 313, 314, 315, 319, 320, 321, 322,
324, 325, 329, 330, 331, 332, 335, 336, 338, monocorpo, 10, 130, 132, 133, 136, 140, 141,
343, 344, 345, 347, 351, 352, 361, 363, 364, 142
365, 366, 367, 368, 369, 375, 377, 378, 379,
380, 381, 382, 383, 384, 386, 387, 390, 391, neoliberalismo, 61, 62, 63, 393, 675
393, 394, 395, 396, 397, 399, 410, 411, 412,
413, 418, 419, 420, 421, 423, 425, 426, 427, orientação sexual, 27, 76, 83, 117, 356, 424,
428, 436, 437, 438, 439, 440, 441, 443, 445, 463, 466, 479, 480, 500, 513, 517, 534, 538,
448, 449, 450, 452, 453, 455, 456, 471, 472, 539, 594, 604, 694, 730
473, 481, 482, 483, 499, 501, 503, 510, 522,
523, 524, 526, 528, 533, 536, 537, 539, 542, pele coletiva, 14, 214, 218, 220, 222, 223, 226,
545, 547, 548, 552, 553, 554, 555, 556, 557, 228
558, 559, 563, 564, 565, 570, 571, 572, 573,
574, 576, 577, 581, 583, 584, 585, 587, 591,
pluriversalidade, 131, 147
593, 595, 602, 606, 610, 615, 624, 625, 629,
633, 644, 645, 646, 649, 650, 651, 661, 663,
poder, 23, 33, 44, 51, 53, 54, 57, 59, 60, 65, 66,
665, 676, 677, 678, 679, 686, 688, 689, 690,
67, 79, 80, 81, 88, 91, 93, 99, 103, 106, 115,
693, 697, 699, 708, 711, 713, 719, 721, 723,
124, 145, 146, 154, 157, 158, 159, 168, 172,
726, 727, 728, 729, 730, 731, 733, 734, 735,
176, 179, 181, 216, 229, 246, 247, 248, 249,
737, 746, 747, 748, 749, 750, 752, 753, 754,
251, 261, 264, 267, 274, 280, 285, 290, 293,
755, 756, 757, 758
303, 316, 333, 334, 337, 342, 343, 346, 348,
349, 351, 357, 359, 360, 361, 364, 368, 372,
heterocisnorma, 442, 446, 451
374, 380, 384, 385, 386, 388, 389, 390, 392,
395, 398, 402, 404, 407, 408, 409, 411, 416,
HIV/AIDS, 468 417, 421, 424, 425, 426, 428, 429, 431, 433,
435, 439, 440, 454, 470, 478, 483, 497, 516,
humanidade, 57, 100, 131, 174, 233, 236, 241, 541, 542, 543, 553, 560, 562, 568, 573, 576,
242, 248, 255, 269, 282, 294, 313, 317, 324, 582, 590, 600, 605, 606, 612, 613, 615, 617,
385, 417, 442, 456, 462, 546, 566, 673, 684, 637, 653, 656, 659, 662, 663, 671, 676, 682,
703, 704, 705, 709, 712, 732 683, 687, 696, 698, 699, 701, 703, 704, 709,
712, 713, 715, 729
identidade de gênero, 89, 463, 516, 585, 596,
597 política, 6, 7, 18, 33, 34, 41, 42, 43, 44, 46, 49,
56, 61, 66, 67, 69, 70, 90, 103, 104, 121, 123,
infância, 13, 60, 121, 193, 194, 199, 200, 201, 126, 130, 134, 136, 143, 145, 153, 168, 185,
209, 211, 219, 265, 274, 357, 358, 367, 374, 188, 217, 219, 231, 247, 249, 257, 264, 268,
478, 479, 484, 488, 491, 520 274, 288, 291, 294, 295, 296, 297, 300, 302,
303, 309, 342, 343, 344, 364,366, 367, 368,
introjeção, 76, 184, 209, 307, 340, 398, 404, 373, 374, 380, 382, 386, 387, 391, 394, 395,
532 396, 408, 418, 425, 426, 429, 431, 432, 438,
439, 440, 441, 442, 450, 454, 456, 457, 461,
469, 471, 473, 483, 497, 522, 528, 536, 547,
Índice Remissivo • 747
548, 552, 570, 591, 631, 635, 638, 644, 657, 698, 700, 704, 706, 712, 714, 715, 716, 721,
658, 683, 706, 721, 726, 727, 737, 754 725, 726, 727
prática antirracista, 11, 16, 37, 90, 151, 163, raiva, 93, 94, 95, 97, 140, 177, 187, 272, 273,
174, 175, 177, 182, 187, 191, 243, 245, 263, 274, 275, 276, 277, 278, 284, 285, 286, 290,
278, 350, 365, 375, 378, 401, 410, 412, 424, 404, 406, 421, 521, 532
425, 426, 427, 438, 439, 440, 502, 513, 519,
523, 524, 536, 545, 552, 553, 563, 571, 577, redução de danos, 291, 295, 296, 297, 300,
583, 624, 677, 757 303, 471, 624
psicologia africana, 191, 704, 708 sexismo, 61, 64, 71, 78, 166, 172, 212, 286, 302,
307, 324, 424, 437, 600, 698
psicologia clínica, 103, 164
sexualidade, 19, 37, 59, 60, 145, 155, 327, 330,
raça, 7, 9, 37, 39, 41, 53, 57, 58, 76, 78, 81, 96, 331, 332, 334, 335, 336, 340, 341, 350, 367,
102, 103, 104, 108, 110, 111, 113, 115, 123, 369, 386, 388, 391, 394, 395, 398, 399, 401,
125, 128, 137, 138, 141, 144, 157, 159, 175, 402, 403, 407, 408, 409, 411, 415, 417, 418,
176, 178, 179, 180, 188, 190, 195, 202, 216, 419, 431, 434, 435, 436, 440, 441, 444, 445,
219, 230, 231, 245, 246, 247, 257, 261, 262, 447, 461, 462, 466, 509, 517, 520, 526, 527,
263, 289, 290, 324, 336, 359, 366, 367, 369, 528, 544, 553, 558, 561, 562, 566, 571, 578,
372, 377, 411, 413, 423, 424, 442, 447, 466, 581, 582, 584, 585, 588, 591, 593, 598, 678,
558, 576, 594, 600, 602, 608, 614, 652, 653, 713, 730, 734, 747, 750, 754, 756
670, 673, 675, 682, 683, 684, 691, 694, 704,
714, 722, 726, 753, 754 sofrimento, 68, 80, 103, 104, 107, 108, 110,
112, 114, 115, 118, 119, 123, 125, 126, 154,
racialização, 157, 158, 269, 271, 285, 307, 318, 180, 185, 188, 205, 208, 250, 251, 254, 255,
652, 681, 684 256, 265, 273, 275, 278, 289, 299, 306, 357,
358, 370, 377, 378, 379, 381, 384, 393, 405,
racismo, 13, 18, 58, 61, 64, 71, 73, 74, 78, 97, 407, 427, 439, 450, 454, 455, 457, 471, 472,
116, 123, 124, 125, 128, 132, 138, 141, 153, 498, 508, 515, 523, 530, 549, 550, 553, 574,
154, 155, 156, 157, 158, 160, 161, 163, 164, 585, 595, 600, 610, 634, 635, 639, 640, 641,
165, 166, 167, 168, 169, 170, 172, 173, 174, 642, 643, 656, 658, 659, 662, 680, 685, 700,
176, 178, 179, 180, 181, 184, 185, 186, 188, 701, 703, 705
190, 191, 193, 194, 195, 196, 199,200, 201,
209, 211, 212, 220, 221, 229, 231, 245, 246, teoria do self, 20, 46, 134, 292, 302, 344, 346,
247, 254, 255, 260, 261, 262, 263, 272, 273, 347, 395, 473, 554, 564, 572, 576, 577, 689
275, 278, 284, 285, 286, 288, 289, 291, 292,
293, 299, 300, 301, 302, 305, 306, 307, 308, Teoria queer, 382, 395, 396, 440
312, 313, 316, 324, 325, 335, 359, 423, 424,
440, 543, 599, 600, 601, 634, 635, 636, 637, transexuais, 60, 373, 381, 428, 462, 465, 467,
638, 640, 642, 643, 645, 646, 648, 651, 653, 472, 473, 475, 476, 477, 497, 498, 499, 583,
654, 655, 656, 657, 658, 660, 666, 669, 670, 592, 729, 732, 753
671, 672, 673, 674, 675, 677, 678, 679, 680,
681, 682, 683, 684, 687, 688, 690, 693, 694,
748 • Por uma Gestalt-terapia crítica e política: relações raciais, gênero e diversidade sexual
travestis, 60, 338, 343, 373, 381, 416, 451, 462, 211, 220, 245, 256, 273, 275, 276, 293, 294,
465, 471, 473, 475, 476, 477, 480, 497, 498, 301, 302, 304, 307, 312, 315, 320, 334, 342,
582, 583, 591, 592, 729, 732 344, 346, 347, 348, 350, 351, 354, 357, 358,
360, 361, 367, 373, 374, 376, 378, 384, 392,
ubuntu, 233, 234, 235, 236, 244 426, 448, 456, 461, 462, 463, 464, 465, 470,
478, 479, 498, 528, 539, 541, 542, 543, 544,
violência, 60, 65, 67, 68, 70, 80, 118, 121, 155, 545, 550, 551, 553, 582, 583, 587, 612, 613,
167, 177, 181, 183, 185, 186, 197, 198, 199, 615, 625, 626, 658, 679, 680, 685, 695, 696,
703, 726, 734, 753
SOBRE OS AUTORES
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7614804437537834
Daniele Miranda
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social – UERJ; Psicóloga;
Gestalt-terapeuta; Palhaça; Trabalha atualmente na Vara de Infância de Nova Iguaçu.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0977170269780999
Eliane Capel
Psicóloga, graduada em 2001 pela Universidade Metodista de Piracicaba, especializada
em Arteterapia pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Apaixonada por artes do corpo, visuais e musicais. Trabalha com grupos de mulheres à
mais de 20 anos, com atenção especial entre a arte/dança e o terapêutico. Pesquisa
questões de gênero e feminismo desde 2013 e atualmente atente, na cidade de São Paulo,
mulheres cis e trans virtualmente e em clínica presencial.
Maiara da Silva
Foi extensionista do Projeto de Extensão “Gestalt-terapia: Escuta e Acolhimento
Psicológico de Grupos” e facilitadora do Grupo de Juventudes Negras. Atualmente é
Psicóloga Clínica autônoma com atuação fundamentada e orientada pela Gestalt-
terapia.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1396278925872366
Michelle Billies
Ph.D, LCSW-R é professore associade* na City University of New York onde ensina
aconselhamento multicultural e teoria racial crítica. As pesquisas de Billies estão
centradas sobre os temas da justiça racial, respostas civis proativas à violência estatal, bem
como justiça e construção de comunidades entre pessoas de baixa renda, lésbicas, gays,
bissexuais, transexuais, não bináries e não conformes com o gênero. Billies é Gestalt-
terapeuta há mais de vinte anos e ensina teoria e prática sociocultural no Centro Gestáltico
de Psicoterapia e Formação em Nova Iorque. Tem um pequeno consultório privado e é
responsável por uma incrível criança de sete anos. *Billies usa o pronome pessoal 'elu'
Mônica Alvim
Psicóloga, Gestalt-terapeuta, doutorado em psicologia e pós-doutorado em filosofia
contemporânea pela Universidade Paris 1, Panthéon-Sorbonne. Presidente da ABG,
Associação Brasileira de Gestalt-terapia e Abordagem Gestaltica. Atua em cursos de
formação em Gestalt-terapia em todo o Brasil e no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da UFRJ. Pesquisa as dimensões teórico-metodológicas da clínica da Gestalt-
terapia em contextos psicoterápico e comunitário, dialogando com a fenomenologia e a
arte, tendo Merleau-Ponty como autor principal no campo da filosofia. Coordena o
NEIFeCS - Núcleo de estudos interdisciplinares em fenomenologia e clínica de situações
contemporâneas, investigando o contemporâneo e fenômenos sociais estruturais, como
raça, gênero e classe. Autora do livro A Poética da Experiência: Gestalt-terapia,
Fenomenologia e Arte, co-autora de outros livros assim como de capítulos e artigos, no
Brasil e no exterior.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9864083719253243
Paulo Barros
Gestalt-terapeuta, psicólogue, especialista em sexualidade. Cursou psicologia na
Universidade Federal de Roraima, realizando parte da graduação em Coimbra, Portugal.
Atualmente está como coordenadore do Instituto de Gestalt-terapia de Roraima,
atuando como professore em diversos institutos pelo Brasil e faz parte da atual diretoria
da Associação Brasileira de Gestalt-terapia, no cargo de comunicação. Atua com
psicologia clínica e supervisão clínica, tendo como principais áreas de pesquisa: Gestalt-
terapia, gênero, sexualidade, neurose, corpo.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0839961135937835
Stephanie Boechat
Me chamo Stephanie Boechat, sou mulher branca cis, moro em Vitória, Espírito Santo,
onde atuo como psicóloga clínica, atentendendo público adulto e jovem adulto. Sou
formada pela Universidade Vila Velha (2017-2021) e faço formação em Gestalt-terapia
pelo Instituto SATI. Além da clínica privada, fiz atendimentos voluntários na associação
GOLD em Vitória - ES, a qual volta seus cuidados à população LGBTQIAP+ através do
projeto ACONCHEGO (fev.2022 - jul.2022).
Tatiana Campbell
Mãe, não-binárie, psicólogue, Gestalt-terapeuta, supervisore em clínica, coordenadore
do curso de Pós-formação em Gestalt-terapia do Instituto Ciclos e do curso de
Desformação em Sexualidade, Gênero e Gestalt-terapia do IGT-RR, professore
convidade em institutos de Gestalt-terapia. Estuda temas relacionados a
contracolonialidades e desidentidades.
www.editorafi.org
contato@editorafi.org