Estupido Desejo (Trilogia V.D.A. Livro 1) - Carlie Ferrer
Estupido Desejo (Trilogia V.D.A. Livro 1) - Carlie Ferrer
Estupido Desejo (Trilogia V.D.A. Livro 1) - Carlie Ferrer
desejo
Trilogia V.D.A. Volume I
Carlie Ferrer
Copyright © 2015 Carlie Ferrer
Revisão: Bárbara Pinheiro
Capa: Amanda Lopes
1ª Edição
Celina
Merda. Essa é a palavra que define a minha vida hoje. Não que ela
sempre tenha sido uma merda, mas, ultimamente não consigo limpar a
merda que domina minha vida. Não, não tenho nenhum problema grave de
saúde. Tenho um teto para morar e comida na geladeira, mesmo assim estou
reclamando. Julgue-me!
Olho para o prédio onde trabalho há seis meses e tomo um ar antes de
entrar. Era para ser provisório; ficaria nesse lugar trabalhando de secretária
até daqui a duas semanas, quando me casaria com Edmundo e daria “adeus”
à vida de trabalhadora. Não que eu me importasse em trabalhar, mas ele não
aceitaria que com todo dinheiro que tem, a esposa dele precisasse obedecer
às ordens de outros que não fossem ele.
Sabe o que é pior? Eu tinha aceitado abrir mão da minha independência
e viver dependendo de um marido. Mesmo que um marido rico, dependeria
de um dinheiro que não era meu. Agora, um dia depois de o flagrar
comendo a secretária, penso que a merda já estava na minha cabeça há
muito tempo.
Entro no elevador e fico olhando o chão, tentando esconder meus olhos
vermelhos. Não tive uma boa noite de sono. Para ajudar, com o casamento
cancelado, eu tenho um milhão de dívidas, sim, eu deveria fazer o idiota do
Edmundo arcar com cada uma delas. Mas, tenho meu orgulho. Não vou
pedir que ele pague meu enxoval de cama, mesa e banho (só peças
caríssimas que eu comprei), os tapetes persas, as pinturas maravilhosas da
última exposição que havíamos ido e nem meu enxoval de lua de mel.
Imagina!
Ele nem sabe das bolinhas comestíveis e as quinze fantasias que eu
comprei para que pudéssemos nos divertir na lua de mel. Resultado: estou
falida. Nem mesmo tirando todo o dinheiro que tenho no banco vai dar para
cobrir tudo. Nem sei se ainda tenho um emprego, pois fui contratada por
apenas seis meses. Acabei de rejeitar uma proposta excelente de trabalho
porque me casaria. Além de tudo, vou ter que implorar a Matheus que me
mantenha como secretária, tomara que ele não tenha dado meu cargo para
outra pessoa.
Olho para cima bem a tempo de ver que estou no décimo primeiro andar,
eu deveria ter descido no décimo. Apresso-me para sair do elevador, não me
importo de descer um lance de escadas, mas, no momento que dou um
passo para frente, esbarro em um braço segurando um copo que vira em
mim, molhando minha blusa social branca de café, além da pasta do
homem. Ouço um palavrão escapando dos lábios dele e, para piorar meu
constrangimento, olho para cima e vejo minha vítima, e então faço uma
careta. Por que Senhor? De todos os idiotas que trabalham nessa empresa,
por que toda vez que algo dá errado comigo é na frente de Sebastian
Vaughn?
Sebastian é um dos sócios da V.D.A Rede Hoteleira, e o mais estúpido
dos três donos dessa empresa. Só trata bem as mulheres bonitas. É
desagradável, mal humorado e pervertido. Claro que ele nunca deu em cima
de mim, pelo menos não do jeito que eu me visto para vir trabalhar, por
isso, só sobra para mim os insultos e as humilhações.
― Me desculpe senhor Vaughn.
― Tinha que ser você! ― esbraveja ele.
Nós dois saímos do elevador e eu corro para o banheiro mais próximo, o
café quente está queimando minha barriga. Tiro a blusa e passo a parte suja
na água. Então, uma voz me faz pular:
― Está vermelho na sua barriga, é melhor lavar isso.
Viro-me e lá está Sebastian Vaughn, com um sorriso malicioso, e embora
esteja falando da minha barriga, está de olho no meu sutiã. Ele vê minha
expressão espantada e sorri mais ainda.
― Onde você esconde isso tudo, senhorita Morelli? ― Fala ele olhando
para os meus seios. Rapidamente, cubro os seios com as mãos.
― O que você está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino!
― Na verdade, é o banheiro masculino ― fala ele apontando para os
mictórios e só então reparo que havia mesmo entrado no banheiro
masculino ― Eu ficaria de bom grado olhando seus seios a manhã toda,
mas não queremos que mais alguém veja sua comissão de frente, não é
mesmo? ― fala se aproximando. Então pega minha blusa molhada de cima
da pia e passa levemente na mancha vermelha na minha barriga.
Eu puxo a blusa da mão dele com um solavanco:
― Eu sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma!
― Estou vendo.
Tenho um grande defeito: pago o mico do século, mas não perco meu
orgulho. Ergo a cabeça o máximo que posso e saio do banheiro segurando a
blusa em frente aos seios. Assim que desvio do olhar de Sebastian, corro
para o banheiro feminino.
Claro que ficou uma mancha horrível na minha blusa. Para ajudar,
cheguei atrasada, e Matheus nem me deu tempo de falar nada, foi logo
passando quinhentos relatórios para eu terminar. Perdi meu horário de
almoço e Mônica, a minha assistente, não veio trabalhar, de novo.
Perto da hora de ir embora, eis que surge à minha frente Sebastian
Vaughn, com um sorrisinho afetado no rosto, a olhar para os meus seios e
depois para a minha cara. Eu faço a pior careta possível, deixando claro que
não aprovo a atitude dele.
― Sua blusa ficou horrível. ― fala ele apontando para a mancha marrom
na minha blusa.
Eu quero responder “não está pior que a sua cara”, mas eu sei quando
estou errada, e nesse caso, eu fui a estabanada que derramou café na mala
dele. Então tento sorrir e digo:
― Espero não ter estragado nenhum documento importante.
― Ah, mas você estragou. Eu deveria te mandar refazer tudo.
Ok, eu tento ser legal, mas ele é insuportável. Antes que eu possa
responder, ele prossegue:
― Cadê a Mônica? Está lá dentro com o Matheus?
― O quê? Não, ela não veio hoje,
― Hum. Que pena, eu tinha grandes planos para nós dois hoje.
Faço uma careta. Eu sei que ele tem um caso com a Mônica, mas ele não
precisa ficar espalhando isso pela empresa. Também, a culpa é dela,
nenhuma garota de respeito sairia com Sebastian Vaughn. Todo mundo sabe
que ele pega todas, e no final, acabam apaixonadas, e sofrendo quando ele
se cansa.
― Que pena ver seus planos darem errado.
Sem querer, falo com muito sarcasmo, e ele sorri para mim. Vê se pode?!
Ele fica um tempo me encarando, então de repente, solta:
― Você parece ser bonita. Por que vem trabalhar parecendo uma velha?
O quê? Eu tenho mesmo que aguentar isso? Tá bom, eu não sou nenhum
exemplo de beleza e capricho no trabalho. Na verdade, venho trabalhar
desarrumada de propósito, mas ele não precisa jogar isso na minha cara. E
se eu realmente não tivesse conserto? Tento me segurar, afinal ele é meu
superior e eu preciso do emprego, não posso sair por aí dando patadas nos
donos da empresa. Mas, quando olho meu relógio, vejo que meu horário de
trabalho já acabou, então, eu não devo nada a ele. Dou um sorriso afetado e
respondo calmamente:
― Não é da sua conta.
Ele parece surpreso.
― Eu pensava que as secretárias deveriam ter mais respeito com seus
superiores.
― Meu horário de trabalho já acabou. Fora desse horário, eu só respeito
quem merece.
Ele fecha a cara e vai responder, quando Matheus sai da sala e o
cumprimenta. Aproveito a oportunidade e corro atrás de Matheus antes que
ele entre no elevador. Consigo segurá-lo pelo braço:
― Senhor Amorim, preciso muito falar com o senhor.
Ele consulta o relógio:
― Tem que ser agora, Celina?
― É urgente.
Ele assente.
― Tudo bem, fale.
― Aqui?
Ele revira os olhos parecendo impaciente.
― Eu não vou voltar para minha sala e ter uma reunião com a senhorita,
então, se quiser falar, fale agora.
― Tudo bem. É que eu estava pensando... eu gosto muito de trabalhar
para o senhor, e gostaria de aceitar a proposta que me fez e continuar sendo
sua secretária por tempo indeterminado.
Primeiro ele me encara, depois faz uma careta, e eu sinto meu mundo
ruir ao perceber o que ele vai me dizer:
― Sinto muito Celina. Eu realmente preferia continuar com você como
secretária, mas você disse que não iria ficar. Dei sua vaga para a Mônica.
― A Mônica? Mas ela nem vem trabalhar!
― Bom, a Mônica está com alguns problemas pessoais, mas como você
disse com certeza que não ficaria mais na empresa, eu precisei arrumar uma
substituta. E não posso voltar com a minha palavra agora.
Claro que não pode. A Mônica já deve estar ansiosa esperando uma
promoção. Então por que ela não se dignava a aparecer no trabalho?
Suspiro e ambos ficam me olhando.
― O senhor tem alguma outra vaga para mim? Talvez eu possa ser
assistente da Mônica. ― engulo em seco ao falar isso. Eu, me rebaixando à
metida da Mônica, mas estou desesperada!
― Sinto muito, mas já contratei outra assistente, ela chega na semana
que vem. Eu não tenho nenhuma outra vaga para você.
Assinto cabisbaixa e agradeço. Quando me viro para voltar para minha
mesa, alguém segura meu braço. Viro-me para ver Sebastian me encarando.
― Eu também não tenho uma vaga fixa para te oferecer, mas vou fazer
uma viagem em uma semana e a minha secretária não pode me acompanhar
porque está com um bebê de poucos meses. Preciso de uma secretária que
me acompanhe nessa viagem; seria mais fácil se fosse alguém que já
entende como as coisas funcionam.
Espera. Ele está me oferecendo um emprego?
― Eu? Viajar com você?
Meu desprezo deve ter sido claro, porque ele fecha a cara e com uma
carranca, fala:
― Se está em condições de escolher, não precisa aceitar.
Sim, eu mereci! Abaixo minha crina e humildemente me desculpo.
― Não foi o que eu quis dizer, só estranhei o convite.
― Não vejo por que.
― Porque pensei que levaria algum dos seus casos, você sabe... para se
divertir durante a viagem.
Eu disse mesmo isso em voz alta? Matheus dá uma gargalhada e ele me
olha divertido, avaliando meu corpo de cima a baixo.
― Eu não vou transar com você! ― Me apresso em esclarecer, fazendo
Matheus rir mais ainda.
― Não me lembro de ter te pedido isso. ― responde ele convencido,
então se aproxima de mim e sussurra ― Mas se eu quisesse você, ficaria
comigo sem pensar duas vezes. ― então ele se afasta de novo ― Esteja na
minha sala amanhã às oito... Não se atrase e não chegue amassada ou suja
como hoje.
Dito isso, ele entra no elevador e desaparece. Eu quero de novo mandar
ele para aquele lugar, mas estou muito feliz porque acabei de conseguir um
emprego.
Encontro Gil na saída e vamos caminhando até nosso apartamento.
Somos amigas desde a faculdade; ela mora comigo e trabalha na empresa. É
assistente do Cleber, o terceiro dono da empresa.
― Uau! Então você vai viajar com o gostosão do Vaughn.
― Nós não vamos a passeio. É só um trabalho. E pretendo manter
distância daquele arrogante.
― Arrogante ou não, ele é maravilhoso, até você tem que admitir! E pela
fama que ele tem não deve ser fraco. Você sabe em quê, como seu ex-noivo.
― Não precisa jogar isso na minha cara. De qualquer forma eu só aceitei
porque estou praticamente falida. Assim que pagar minhas dívidas vou
procurar outro emprego.
Ela está com um sorriso no rosto.
― O que foi Gil?
― Você pode negar, mas nós duas sabemos que você vai transar com
Sebastian Vaughn.
Eu paro no mesmo instante.
― É claro que não! Em primeiro lugar, eu não o suporto!
― Foi o que você disse quando começou a trabalhar para o Edmundo. E
veja no que isso deu.
É verdade, assim que me formei na faculdade, fui trabalhar na O.C.A.
Engenharia. Edmundo era meu chefe. Ele era insuportável, mandão, e
ficamos juntos por três anos e noivos. Claro que eu deveria saber; assim
como ele transou comigo quando eu trabalhava para ele, também transou
com as secretárias que vieram depois de mim. Eu não entendo essa modinha
de executivo e suas secretárias! Não vejo mesmo qual é a graça. Talvez para
uma secretária de um “Sebastian da vida”, eu possa até abrir uma exceção.
Ele é um idiota, mas é muito gostoso. Mas o Edmundo, não é vingança de
mulher traída, ele não é atraente, é pão-duro e muito ruim de cama.
― É totalmente diferente dessa vez. Mesmo porque ele não vai nem
olhar para mim. Esqueceu como venho trabalhar?
Outra verdade. Desde que atraí a atenção indesejada do velho que foi
meu chefe depois do Edmundo, saí da empresa. O meu outro chefe também
deu em cima de mim e chegou a me chantagear, resolvi que nos dias de hoje
não dá para ser uma secretária bem apresentável. Então, desde que entrei na
V.D.A. eu ia trabalhar com um coque no cabelo, óculos enormes e roupas
largas e sem graça. Ninguém nunca olhou para mim naquela empresa.
Bem, ninguém exceto Sebastian quando me viu de sutiã, mas isso não
conta. Qualquer homem olharia para uma mulher seminua.
― É uma viagem. Você não vai manter esse disfarce horroroso a viagem
toda. Ele vai acabar vendo você e com certeza vai desejá-la.
Faço uma careta.
― Não mesmo. Eu te garanto que entre mim e Sebastian Vaughn nunca,
nunquinha vai acontecer nada.
Sebastian
A porra do despertador está tocando há cinco minutos e meus
pensamentos confusos já começam a repetir esse barulhinho irritante. Hora
de levantar.
Depois de tomar um banho, olho minha geladeira, vazia como sempre.
Não sei nem mesmo porque tenho uma geladeira, minhas bebidas só ficam
no bar e eu nunca tenho comida em casa, coisa que minha mãe acharia um
absurdo se estivesse viva. Se bem que, se minha mãe estivesse viva eu
nunca teria saído da Inglaterra, para começar.
Paro para tomar um café na cafeteria da esquina de onde trabalho. Dessa
vez não vou correr o risco de subir com o café para o meu andar e a louca
da Morelli derrubá-lo em mim. Sento-me numa mesa e ouço risos. Quer
saber uma coisa que sempre desperta minha atenção? Risos femininos.
Nada melhor que uma mulher bem humorada. Viro-me para ver quem é e
seguro um palavrão: lá está ela, o perigo ambulante, a razão do pesadelo
que tive a noite. Célie Morelli! Quer dizer... acho que o nome dela é esse, só
me lembro do sobrenome dela.
Tento me esconder e até penso em sair de fininho. Onde eu estava com a
cabeça quando contratei essa mulher? Ela me pareceu desesperada quando
estava falando com o Matheus, eu realmente preciso de uma secretária para
a viagem, mas por que tinha que bancar o bonzinho e dar o cargo a ela? Ela
estava certa quando disse que eu deveria levar um dos meus casos. Seria a
coisa certa a se fazer! Depois de cada reunião exaustiva eu teria um bom
sexo a noite para relaxar. Mas, viajando com aquela bruaca, mal humorada,
só me restaria papéis estragados, más respostas e noites solitárias
desacompanhado no Hotel Quatro Estações, o hotel da minha rede onde
sempre fico.
Droga! Olho para ela novamente, e percebo que há algo errado com essa
mulher. Eu a vi sem camisa ontem, quando ela derramou café em mim, e...
uau! Ela tem um corpo que eu nunca imaginaria por baixo daquelas blusas
largas e daqueles saiões. A cintura dela é fina e os seios fartos, o tipo de
mulher que eu pegaria facilmente. Mas, depois que ela vestiu a blusa de
novo, meu desejo por ela brochou. Não sei que grau de miopia alguém
precisa ter para usar óculos tão grandes, e nem o quanto um cabelo pode ser
ruim a ponto de precisar ficar sempre naquele coque apertado. Mas o cabelo
dela, pelo menos olhando de longe, parece ser tão macio! É negro e
lustroso, ela não deve ser tão descuidada assim.
Me dou um tapa para sair do transe. Por que diabos eu estou preocupado
com o cabelo dessa Morelli? Saio da cafeteria sem nem mesmo terminar
meu café. Já sei do que preciso. Preciso de uma boa noite de sexo, é esse o
meu problema: falta de sexo. Já faz dois dias que vi a Mônica, só pode ser
isso!
Como a Mônica não está indo trabalhar, preciso de uma substituta.
Lembro-me então da Lurdinha, do RH. Entro na empresa e vou direto para
o terceiro andar e paro no RH, de longe vejo Lurdinha com seu sorriso
metálico para mim. Ela é bem bonitinha, cabelo curto, marrom e olhos da
mesma cor do cabelo. O aparelho nos dentes dá um charme para ela. Não
que eu vá deixar ela por meu pau na boca com aquele negócio metálico,
mas no resto ela é boazinha. Depois de dois minutos de papo, já tenho um
encontro marcado para depois do trabalho. Pronto, resolverei minhas
tensões essa noite.
Quando viro para ir para o meu andar, dou de cara com um convite de
casamento. O convite branco com letras douradas convida para o casamento
de Celina e Edmundo que ocorrerá daqui a duas semanas. Que porra é essa?
Daqui a duas semanas a louca estará numa viagem comigo! Como ela aceita
uma viagem a negócios se vai se casar?! A não ser, que não haverá mais
casamento. Isso explicaria porque ela estava tão desesperada para manter o
emprego.
Depois de chegar à minha sala, ligo para o Matheus que confirma minhas
suspeitas. A senhorita Morelli negou uma proposta feita por ele, porque iria
se casar. Mas, depois ela pediu o emprego de volta. Então não iria mais se
casar. Será que teria adiado o casamento ou cancelado de vez? Bem, mal
humorada do jeito que aquela mulherzinha é, aposto que o cara caiu fora
antes que fosse tarde demais. Abro um sorriso com essa explicação quando
alguém bate à minha porta. A senhorita Morelli entra com uma blusa verde
lodo, os enormes óculos, uma trança mal feita puxando seu cabelo para trás
e uma saia social enorme (vai quase até o pé). O lado bom dessa saia
horrorosa que ela está usando, é que é colada ao corpo e posso ver
claramente os contornos do quadril e das pernas dela. Que corpo essa
mulher tem! Deu-me até uma curiosidade de ver essa mulher nua. Dou-me
outro tapa e saio do meu devaneio. Essa noite Sebastian, essa noite você vai
acabar com esses problemas de tesão acumulado. Sorrio para ela e a
convido a sentar-se. Olho o relógio; ela está três minutos adiantada e sua
roupa parece limpa.
― Vejo que não fez nenhuma vítima hoje, senhorita Morelli.
Ela faz uma careta antes de responder.
― Ainda não.
Ora! Ela tem senso de humor. Isso sim é uma novidade.
― Vamos direto ao assunto então. Como eu disse ontem, vou fazer uma
viagem a negócios na semana que vem e preciso de uma secretária para
acompanhar-me. Você já conhece tudo sobre o andamento dos negócios da
empresa, só precisa conhecer o projeto que estou indo conseguir no Rio.
Isso eu posso te mostrar hoje mesmo em uma reunião que teremos daqui a
pouco, da qual você vai participar para ficar por dentro de tudo.
Ela assente.
― Tudo bem para você viajar na semana que vem?
― Sim.
― Vamos ficar fora por duas semanas.
― Ok.
A curiosidade finalmente me vence.
― Sabe que hoje dei uma passada no RH e adivinha o que encontrei lá?
― A Lurdinha, é claro.
Olho para ela espantado.
― Ah, qual é?! Todo mundo sabe do seu caso com a Lurdinha.
Dou um sorriso.
― Mesmo? Eu nunca quis que fosse segredo. Mas não foi isso que
encontrei lá. Bom, a Lurdinha também. Vamos fazer um bom sexo hoje.
Ela fica vermelha no mesmo instante.
― Poupe-me dos detalhes sórdidos da sua vida, senhor Vaughn. ― fala
irritada.
― Eu só acho que você se divertiria muito com os detalhes sórdidos da
minha vida.
― Eu duvido.
Sim, ela é bem atrevida. Eu gosto disso numa mulher. Droga! Estou
pensando nela como uma mulher de novo. Preciso mesmo me encontrar
com a Lurdinha.
― Mas o que eu encontrei no mural do RH foi um certo convite de
casamento. ― Pronto, foi só eu falar a palavra casamento e ela se sentou
ereta na cadeira e pude sentir sua tensão, vindo em minha direção.
― Esqueci de tirar.
― E o que vai acontecer com seu casamento se você vai viajar?
― Não haverá mais casamento. Não se preocupe senhor Vaughn, estou
livre para essa viagem.
Então ela realmente cancelou o casamento, não apenas adiou. Sei que
não é da minha conta e posso pensar em mil e um motivos diferentes para o
cara ter pulado fora, mas fico curioso assim mesmo. Contenho-me para não
perguntar o motivo. Não quero que ela abra seu coração partido. Deus me
livre me tornar o amiguinho dessa mulher.
― Ótimo. Pegue esses papéis, você tem até as onze para lê-los.
Encontre-me às onze em ponto na sala de reuniões do décimo primeiro
andar.
― Sim senhor.
Ela pega os papeis da minha mão e, quando se vira para sair posso
reparar a bunda dela com aquela saia colada. E que bunda! Bela comissão
de frente e bela comissão de trás. A trança longa quase alcança sua bunda e
percebo que seu cabelo negro é comprido. Um mistério. Celina Morelli é
um mistério para mim.
Capítulo 02
Celina
Li o monte de papéis que aquele estúpido me deu o mais rápido que
pude. Antes de subir para a reunião, fui até o RH, arranquei de lá o convite
de casamento e o arremessei na lixeira mais próxima. Olhei para Lurdinha
com um ar sonhador, Sebastian nem precisava ter me dito o que eles fariam
essa noite, estava na cara de boba dela. Eu não entendo essas mulheres que
vivem por sexo. Sexo nem é tudo isso! Resultado: cheguei dois minutos
atrasada para a reunião. Foram só dois minutinhos, mas Sebastian estava me
esperando do lado de fora da sala e praticamente agarrou meu cotovelo
quando me viu.
― Atrasada na sua primeira reunião Célie? Isso não é nada bom.
― Me desculpa. E meu nome é Celina.
― Tanto faz.
Ele me arrasta para dentro da sala que já estava cheia, restando apenas
dois lugares vazios à mesa. Merda! Vou ter que me sentar ao lado dele. Nós
nos acomodamos e não, ele não puxou a cadeira para mim. Mas, eu não
esperava realmente que ele fosse algum tipo de cavalheiro.
A reunião começa e estou prestando o máximo de atenção, anotando
tudo o que acho importante para me preparar para a viagem. De vez em
quando Sebastian olha para mim, vê que eu estou anotando alguma coisa e
faz um sinal leve com a cabeça de aprovação. Sabe o que é mais estranho?
Conversei com a Maura, a secretária dele, e ela disse que ele é um ótimo
patrão. Que é paciente, que entendera que ela não poderia viajar por causa
do bebê e vive dando presentes para o bebê dela. Dá para imaginar isso?
Sebastian Vaughn, o sempre grosso e mal educado, um bom chefe?
De repente, no meio da reunião um barulho de um bipe começa a tocar.
Olho para os lados irritada, perguntando-me quem entra para uma reunião
de negócios e não deliga o celular? Então sinto uma vibração na cintura e
percebo que o celular que está tocando é o meu. Depois que terminei com o
Edmundo, apaguei a música que era toque dele, e agora meu celular toca
esse bipe horroroso, parecendo um grilo engasgado! Todos percebem de
onde está vindo o barulho e olham para mim. Rapidamente tento tirar minha
blusa de dentro da saia para alcançar o celular, derrubo alguns papéis no
processo e a reunião para, enquanto esperam que eu desligue o celular.
Quando consigo finalmente alcançar meu celular, olho para Sebastian que
está possesso. Mas, não é para menos! Sussurro um “me desculpe” para ele
e aperto o botão de desligar, mas ouço baixinho uma voz gritando (eu
apertei o botão errado).
Então tiro meu celular da saia e coloco na orelha a tempo de ouvir
Edmundo falando:
― Me perdoa Passarinha, você sabe que eu te amo, não foi minha
intenção. ― Não posso falar agora! ― sussurro e aperto um botão
para desligar o celular. E, de repente a voz de Edmundo está no viva-voz, e
ele está falando:
― Amor, eu juro que não que não queria comer a secretária, eu prefiro
mil vezes comer você.
Pronto! Consigo finalmente interromper a chamada e desligo o aparelho
para não correr o risco de tocar de novo. Sei que estou vermelha porque
estou sentindo meu rosto queimar. Olho pelo canto do olho para Sebastian,
esperando encontrar uma careta, e ele está sorrindo. Meu Deus! Olho em
volta disfarçadamente e todos estão tentando segurar o riso. Eu virei o
motivo de piada da reunião! Olho para o homem que estava mostrando um
quadro de gráficos e falando antes do meu celular tocar.
― Pode continuar.
Ele, segurando o riso pergunta.
― Tem certeza?
― Sim, desculpe a interrupção.
Durante o resto da reunião sinto olhares em mim e ouço Sebastian rindo
mais de uma vez. Acho que ninguém mais prestou atenção na reunião
depois daquela ligação. Se eu pudesse eu mataria o Edmundo. Depois de
tudo ainda me apronta uma dessas! Eu juro que vou arrancar aquele pau
minúsculo dele e ele nunca mais vai falar de comer ninguém, comigo!
Quando a reunião acaba, tento sair de fininho, mas Sebastian é mais
rápido e me segura pelo braço:
― Eu quero a senhorita na minha sala em dois minutos ― ele diz e se
afasta conversando com um investidor.
Passo no banheiro e vejo meu rosto ainda vermelho. Então jogo um
pouco de água e respiro fundo antes de ir para a sala do Sebastian. Agora
sim eu serei demitida! Nem preciso bater, a porta está aberta. Ao entrar,
percebo que ele está ao telefone. Faz um sinal com a mão para que eu
espere e eu aguardo onde estou, em pé perto da porta. Assim fica mais fácil
se eu precisar fugir.
Ele termina a ligação e faz um sinal para que eu me acomode na cadeira
de frente para ele. Eu me sento sem graça e fico olhando os papéis que estão
em cima da mesa.
― Então Célie, deu para entender a proposta que faremos e o que desejo
exatamente que você faça?
― Sim senhor. E meu nome é Celina.
― Ótimo. Pensei que com aquela ligação, você não teria prestado
atenção na reunião.
Olho para ele e percebo que ele está segurando o riso. Então é isso, em
vez de brigar comigo ele vai tirar uma com a minha cara. Tudo bem, eu
mereço essa.
― Desculpe-me por aquilo senhor. Não levarei meu celular durante a
viagem. Agora sim ele sorri.
― Então foi por isso que cancelou o casamento? Por que seu noivo
estava comendo a secretária? E eu que achei que fosse porque você anda
vestida desse jeito. Mas se bem que ele disse que prefere mil vezes comer
você, então você não deve ser tão ruim assim!
A raiva me sobe. Como ele ousa falar assim comigo?
― Te garanto que sou bem melhor que a Lurdinha ou a Mônica. Aliás, o
seu gosto para mulheres é duvidoso, para você ficar me julgando assim...
Ele fecha a cara, mas sua carranca dura pouco. Logo ele está sorrindo
novamente e eu sei que mais algum insulto está por vir:
― Mas, se você não é tão ruim assim eu imaginei que ele tivesse
desistido por causa do seu mau humor. Você sabe, nenhum homem suporta
uma mulher mal humorada. E você minha cara, está sempre com essa careta
que está fazendo agora.
― O meu humor varia de acordo com a pessoa que está perto de mim.
Eu sou sempre mal humorada perto de idiotas.
Ele sorri mais ainda.
― Suponho que seu noivo seja um idiota.
― Bom, ele comeu a secretária. E não é mais meu noivo. Será que
podemos falar da reunião?
Ele balança na cadeira de um lado para o outro, depois completa:
― Eu estou começando a achar que saber dos seus detalhes sórdidos
também me divertiria muito Célie.
― É Celina!
Gil e eu passamos na sorveteria que fica na esquina de nosso prédio. Eu
estava contando a ela a cena na reunião e ela estava se acabando de rir de
mim, quando entramos no hall do prédio e avisto alguém cochilando no
sofá. Apavoro-me, mas Gil faz um sinal de silêncio com o dedo e vamos
andando na ponta dos pés para que ele não nos veja entrar. Mas o elevador
desce nesse momento fazendo um barulho alto que o faz despertar, e ele me
vê.
Ele está horrível, a barba está por fazer, o terno todo amassado e o cabelo
completamente despenteado. Rapidamente Edmundo se levanta e se ajoelha
aos meus pés:
― Me perdoa, Passarinha! Eu juro que nunca mais faço isso. Eu só vou
contratar secretários a partir de agora. Eu já demiti aquela assanhada, por
favor, volta para mim!
Todos que estão no hall olham essa cena lamentável. Admito, estou no
meu momento “deusa”, toda mulher sonha em ver um homem mal passado,
descabelado e acabado por causa dela. Essa cena de se ajoelhar aos seus pés
em público, então! Momento “deusa” total! Mas eu não estou curtindo meu
momento. Pelo contrário, estou morrendo de vergonha de todo mundo ver
esse homem, que já não é muito bonito, todo bagunçado e se jogando aos
meus pés. É como se eu fosse a má da história, e ele o pobre coitado que
está se humilhando para mim. Até recebo um olhar de desaprovação do
porteiro. Oh céus eu mereço.
Rapidamente faço com que ele se levante. Ele começa a fingir um choro
(sim, fingir, porque eu olho bem os olhos dele e não há sequer o brilho de
uma lágrima) e, para evitar um constrangimento ainda maior, tenho que
convidá-lo para entrar no meu apartamento para que possamos conversar
sem uma plateia.
― Já que vocês precisam ficar sozinhos, vou voltar para a sorveteria e
ver se aquele loiro ainda está por lá. ― fala Gil saindo de novo para a rua.
― Não! Gilcelle, volta aqui!
E lá se vai minha tábua de salvação. Agora quem vai me impedir de
jogar o Edmundo pela janela? Nós subimos em silêncio e fico igual a uma
lagartixa no elevador, praticamente colada ao espelho, o mais longe
possível dele.
Entramos no meu apartamento e coloco minha bolsa no sofá. Antes que
diga qualquer coisa, ele está de joelhos e fingindo chorar de novo.
--- Passarinha, me deixa explicar!
Minha paciência do dia havia terminado com meu chefe estúpido tirando
sarro da minha cara. Por isso, vou logo explodindo:
― Edmundo, pode parar com essa cena ridícula e ficar de pé!
Ele faz um barulho ainda mais alto imitando um choro. Então não tenho
outra saída, a não ser agarrá-lo pelos cabelos e levantá-lo, para que olhe
para mim. Como eu desconfiei nenhuma “lagrimazinha” sequer. Seria um
momento “deusa” se um homem chorasse por mim, é meu sonho ver isso
acontecer. Ele parece assustado com a minha atitude, o que me dá tempo de
falar:
― Viu? Nenhuma lágrima. Pode parar com esse choro falso! Só vou
ouvir o que tem a dizer se eu vir uma lágrima rolando pelo seu rosto!
Ele fica espantado, então gagueja:
― Mas Passarinha, seja razoável.
― E não me chama de passarinha! Que pássaro eu seria com esse cabelo
preto? Um urubu que come carniça? Um corvo daqueles de filme de terror?
― Passarinha, eu...
Faço uma careta que o faz se calar. Ele sempre me chamou de
passarinha, era meu apelido carinhoso, e por ele eu já deveria saber que esse
homem não prestava. Que homem chama o amor de sua vida de passarinha?
Amor, sim. Vida, sim. Até fofinha eu aceitaria, mas passarinha? Tenha dó!
― Desculpa Celina. Eu só preciso de alguns segundos.
― Então levanta desse chão e aja como homem. Coisa que nós dois
sabemos que você não é.
Ele assente como se tivesse recebido uma ordem e fica de pé. Respiro
fundo para aguentar uma explicação.
― Você tem dois minutos.
Ele imediatamente começa a falar.
― Celina, eu nunca traí você. Aquilo só aconteceu daquela vez e você
chegou bem na hora. E eu não queria ter feito aquilo! Eu estava cansado, a
gente não dormia junto há duas semanas, você sabe, com os preparativos
para o casamento. Ela apareceu ali se oferecendo para mim e eu recusei, eu
juro que não queria transar com ela.
― Mesmo? E como o seu pau foi parar dentro dela? Hein? ― eu estou
gritando nesse momento― Me explica! Porque você não estava amarrado,
nem obrigado a fazer nada. Ela não poderia ter tirado sua roupa à força, ter
feito seu pauzinho ficar duro, coisa que eu sei como é difícil fazer, e ter
enfiado nela sem o seu consentimento.
― Celininha, eu não queria...
― Celininha o caralho! Você acha que sou idiota a esse ponto? Eu sei o
que eu vi, e imagino quantas outras você deve ter comido antes que eu
descobrisse tudo!
― Eu juro que não! Foi só ela.
Então, me lembro de Aline, uma mulher cinquentona, com mais rugas
que minha avó, que tinha sido secretária dele e seguro para não desabar.
Toda vez que eu ia ao trabalho dele, ela me olhava como se estivesse
escondendo alguma coisa. Me apoio no sofá para não desabar, o quão ruim
de cama eu devo ser para o meu noivo me trair com uma “mexerica”
chupada daquela? Percebo que vou chorar e seguro minhas lágrimas. Esse
projeto de homem não vai me ver derramar uma lágrima sequer por ele.
― Sai da minha casa!
― Celina, pensa bem. Foram três anos, é muita coisa para você jogar
fora por um capricho.
Olho para ele como se fosse matá-lo.
― Tudo bem, não foi um capricho, mas onde fica o perdão? Quem ama
perdoa!
Cerro meus punhos ao lado do corpo, me segurando para não socar a
cara de pau dele. Ele parece perceber, porque dá um passo para trás.
― Celina, eu te amo.
Foi a gota d’água! Quando estávamos juntos, ele dizia um “eu te amo”
para cada vinte “eu te amo” que eu falava. E, provavelmente isso acontecia
nos dias em que ele comia a secretária e vinha me adular depois. Meu Deus!
Eu sou chifruda. E imagino o tanto de mulher que sempre o rodeou: a
vizinha “boazuda” que ele tem, se bem que ela não deve ter dado mole para
um cara como ele. Tem a síndica do prédio dele, a cunhada viúva dele, ele
pode ter querido fazer “as vezes” do irmão. A cozinheira dele (uma vez ele
me disse que o tempero dela era muito bom com uma cara que indicava
alguma coisa indecente), não um tempero de comida.
Então, piro. Começo a imaginar todo ser feminino que convive com ele,
a sócia dele na empresa, a recepcionista, a prima que ficou hospedada em
sua casa umas semanas atrás, até a cachorra dele. Meu Deus! De repente
meu noivo, que a Gil dizia ser ruim de cama pela minha cara de insatisfação
toda vez que a gente dormia junto, parece um “deus do sexo”, transando
para todo lado com um bando de desesperadas que não tem um homem
melhor! O que faz de mim a desesperada chefe. Antes que eu enlouqueça
com tantos pensamentos levanto minha mão para enfim socar a cara dele.
― Isso! Me bate! Me bate e põe para fora a sua raiva e aí tudo vai ficar
bem. ― Ele fecha os olhos e dá um passo na minha direção: ― Vamos, me
bate!
Eu não sei se rio dessa situação, se choro ou se eu realmente desço um
soco na cara dele. Mas, antes que possa decidir, a campainha toca. Nem
acredito que o porteiro tenha deixado alguém subir depois daquela cena no
hall, mas ele nunca foi com a minha cara. Abro a porta e lá estão dois caras
com uniforme azul.
― Pois não?
― Estamos procurando por Celina Morelli.
― Sou eu.
― Somos da loja Sonho de Casa Enxovais e como você não pagou o
material que comprou, viemos levá-lo de volta para a loja.
― O quê? Vocês não podem fazer isso!
O mais baixinho deles me olha e explica calmamente, como se estivesse
falando com uma pessoa totalmente burra.
― Moça, se você compra uma coisa numa loja, e paga, essa coisa passa
a ser sua. Mas se você compra uma coisa e dá o calote, como a senhora fez,
essa coisa deve ser devolvida à loja, porque a loja não pode ficar no
prejuízo.
Fico em choque. Aqueles homens estão aqui para levar meu enxoval dos
sonhos e estão fazendo isso na frente do Edmundo. Dá para me humilhar
mais? Desespero-me, não quero dar “adeus” aos meus tapetes persas, aos
meus jogos de cama de seda importada, meus travesseiros de plumas
egípcias...
Resolvo apelar para o lado misericordioso dos homens. Faço uma cara
de choro e falo pelo nariz:
― Por favor, meu noivo me traiu, sabe?! Ele comeu a secretária, o
casamento foi cancelado e tenho que pagar tudo sozinha. Estou sofrendo
muito, mas vou dar um jeito nisso e até semana que vem eu pago à loja.
Eles sequer alteram a expressão:
― Moça, se a loja fosse dar um enxoval para cada noiva traída, já teria
falido. Se a senhora vai ter o dinheiro na semana que vem, então volte lá na
semana que vem e compre tudo de novo!
Fico com raiva da insensibilidade desses monstros.
― Não se trata assim uma dama. Aposto como os dois são solteiros e
moram com as pobres das mães, que tem que aguentar esses homens cruéis
e insensíveis, barbudos e velhos sob o teto delas.
Eles parecem impacientes.
― Eu sou casado e por isso conheço as artimanhas de uma mulher.
Agora por favor, nos mostre onde está o enxoval.
― E se eu já tiver usado e deixado tudo velho?
― Então a senhora será presa e processada.
Fico em choque. Arregalo os olhos e aponto para o corredor que dá no
meu quarto.
― Primeira porta a esquerda.
Os homens entram marchando e vão recolher minhas caixas. Eu não
tinha usado nada ainda, estava tudo nas caixas da loja, do jeito que vieram.
Quando eles saem pela porta com minhas coisas de rico, metade do meu
coração vai com eles. A dor é quase a mesma de pegar o Edmundo
comendo a secretária.
― Celina, não precisa ser assim. Você pode ter tudo isso de volta e
muito mais. Eu posso te dar uma vida de rainha e você sabe disso. É só me
perdoar e tudo fica bem de novo.
Sim, eu queria matá-lo. Nunca achei que seria uma assassina, mas
consigo pensar em vinte formas diferentes de matá-lo em apenas dois
segundos. Isso aí “serial killers”, eu sou pior que vocês. Aponto o dedo para
a porta que ficou aberta depois que os homens saíram.
― Sai da minha casa agora!
― Celina, a igreja já está reservada, a gente não precisa cancelar tudo.
Os convites já foram entregues, alguns parentes meus já vieram de outros
estados para esse casamento. A decoração, o bufê, tudo que você escolheu
com tanto carinho, tudo está reservado. É só você aparecer, e...
― Então cancele! Foi você que pagou por tudo, você que pode quebrar
os contratos.
― Eu não posso fazer isso. Essa é só uma crise que vamos superar e...
Aponto de novo para a porta.
― Junto com as coisas de cozinha, eu comprei um jogo de facas,
enormes e bem afiadas, que ficariam ótimas enfiadas no seu peito em um
minuto se você não sair agora.
Ele arregala os olhos e anda até a porta. Então, volta um pouco e fala:
― Eu não vou cancelar nada. Estarei esperando por você na igreja, como
combinado.
― Então fará papel de idiota. O que cairá muito bem em você.
― Vou esperar por você. ― fala ele e sai.
E eu desabo no sofá e começo a chorar. Eu normalmente não sou uma
pessoa fraca, mas é coisa demais acontecendo num único dia.
Quando a Gil chega, conto a ela o que aconteceu com meu enxoval e
com minha vida; está tudo desandando. Então ela me sugere que tire umas
fotos com as minhas quinze fantasias, para o caso do sex shop resolver
pegar de volta se eu não conseguir pagar. E eu sei que não vou conseguir.
Me maquio, boto um sorriso no rosto e visto cada uma das minhas fantasias
posando para que Gilcelle possa me fotografar. No final da noite, tenho
fotos maravilhosas no meu celular e nunca me esquecerei dessas fantasias.
Ainda tem o lado bom: já posso devolvê-las, afinal de contas já as usei e
vi como ficam em mim, mesmo. É certo que eu não vou usar essas roupas
sexy com ninguém.
Sebastian
Chego em casa no sábado de manhã. Tinha passado a noite com a
Lurdinha num motel elegante e caro que ela escolheu. As palavras de
Celina me vieram à mente, dizendo que meu gosto por mulheres é
duvidoso. Tenho que admitir que Lurdinha não é mesmo uma gata de parar
o trânsito, mas dá para o gasto. E, por falta de tempo, há muito tenho
pegado apenas mulheres que dão para o gasto. Tomo um banho e resolvo
não ir dormir. Não estou com sono, apenas cansado. Vou para meu
escritório trabalhar um pouco, e para variar, uma coisa me preocupa:
Celina. Com tudo o que está acontecendo na vida dela eu tenho medo que
ela não consiga dar conta do recado na viagem. E eu irei atrás de três
investidores nessa viagem, nada pode dar errado. Consulto meu registro de
funcionários e encontro a ficha da senhorita Morelli. Vinte e cinco anos,
solteira, mora perto do serviço e acho os números dos telefones dela. O
engraçado é que na ficha dela não tem uma foto. Bom, melhor assim.
Ninguém vai querer ficar olhando para aquela bruaca mesmo. Pego logo o
número do celular dela e disco.
― O que foi? ― atende uma voz sonolenta e irritada.
― Bom dia senhorita Morelli, é Sebastian Vaughn falando.
Ela fica em silêncio e depois ouço um som; parece que ela bufou ao
telefone:
― Claro que é você! Você já viu que horas são?! Não se liga para o
celular das pessoas num sábado de manhã.
Tenho que conter um sorriso. Essa mulher é irritantemente folgada.
― Sinto muito se acordei a bela adormecida, mas você tem um trabalho
a fazer e está atrasada. E eu não ligaria se não fosse urgente.
Ela resmunga e responde:
― Não, você não sente. É melhor que alguém tenha morrido para me
acordar às seis da manhã. O que você quer?
― Não me ameace senhorita Morelli. Eu ainda sou seu chefe.
― Eu não estou no meu horário de trabalho.
― Claro, e o seu respeito para comigo é apenas quando você é minha
subordinada.
― Exatamente.
Não consigo conter o riso dessa vez. Nunca conheci mulherzinha
mais abusada que essa Morelli!
― Preciso que esteja em uma reunião às sete horas em ponto.
― Você está de brincadeira, não é?!
― Eu não sou homem de brincadeiras, senhorita Morelli. Essa viagem é
muito importante para a empresa e, devido aos últimos acontecimentos
durante a reunião, quero ter certeza de que está preparada para a
responsabilidade que terá.
Ela solta um palavrão.
― Eu sou só uma merda de secretária. Minhas responsabilidades serão
somente fazer anotações e organizar sua agenda. Qual o seu problema?
― As anotações, senhorita Morelli. Meu problema são as anotações.
Você sabe que precisarei delas e você deve estar preparada para fazê-las da
maneira correta. Agora, levanta esse grande traseiro da cama e anota o
endereço que vou te passar.
― Ok, mas é melhor eu receber uma gorda hora extra, por me acordar
num sábado às seis da manhã e pelo seu linguajar nada profissional!
― Respeito é uma via de mão dupla senhorita Morelli.
― Vai à merda!
Às sete horas em ponto a campainha da minha casa toca. Abro a porta
para encontrar uma Morelli com cara de sono, olhos vermelhos, o cabelo
todo embolado em uma espécie de coque. Os óculos enormes e tortos em
seu rosto, uma calça de moletom larga e uma blusa toda amassada mais
larga ainda. Ela está horrorosa. Isso me faz abrir um sorriso.
― Devia ser crime sair na rua vestida assim. ―provoco.
Ela levanta o dedo do meio para mim.
― Devo lembrá-la de que já que chegou aqui, está em horário de
trabalho, ou não quer mais a hora extra? Eu exijo respeito, subordinada.
― Ok. Desculpe-me, digníssimo senhor Vaughn se a minha aparência
não é digna de entrar em sua residência, mas tive uma noite longa e um
completo imbecil me acordou às seis da manhã de um sábado. O senhor
pode imaginar uma idiotice dessas?
Eu sorrio.
― Que pena que ande em companhias tão desagradáveis que a acordam
num sábado de manhã, senhorita Morelli.
Ela dá um sorriso e reparo que seus dentes são perfeitos.
― Não se pode escolher quem vai ser rico e quem vai obedecer esses
ricos. O senhor sabe das injustiças do mundo. Imagine que um perfeito
idiota é dono de uma empresa, e uma boa menina como eu tem que fingir
suportá-lo para ter o que comer no fim do mês?! Nada justo.
― Se está tão descontente com seu trabalho peça as contas. ―desafio,
sei que ela precisa do emprego.
― Seu eu pedir conta, o imbecil do meu chefe não vai achar uma
secretária a tempo de viajar com ele, e em dois dias conseguir ensinar tudo
o que me mostrou durante a semana. Ou será que vai?
Maldita. Essa mulher é uma megera! O ex-noivo deve estar agradecendo
aos céus por ter comido a secretária nesse momento.
― Por causa dessa ameaça senhorita Morelli, irei descontar cinquenta
por cento da sua hora extra de hoje.
Ela faz uma careta. Eu a convido para entrar e vejo que ela repara em
tudo na minha sala de estar. Seus olhos curiosos pousam em cada detalhe da
sala e ela parece impressionada. Por um motivo totalmente desconhecido,
me agrada saber que ela tenha ficado impressionada com a minha casa.
― Imagino que este palácio seja sua residência.
― Sim.
― E por que a reunião será aqui e não no prédio da V.D.A.?
― Porque não quis fazer com que a recepcionista e o ascensorista
fossem trabalhar hoje. Era mais fácil nos encontrarmos aqui.
Ela faz uma cara de deboche.
― Quanta bondade!
― Você não faz ideia do quanto eu sou bom, senhorita Morelli.
Ela faz uma careta.
― Então, onde estão os outros?
― Perdão?
― Os outros que você chamou para a reunião.
― Não haverá mais ninguém para a reunião. O que preciso passar é
apenas para a senhorita.
Ela parece assustada.
― Está me dizendo que seremos apenas você e eu?
― Algum problema?
― Além de você não ter mais ninguém para dirigir suas piadinhas
infames e sua total falta de educação?
― Devo lembrá-la que a mal humorada de nós dois é você. E esse mau
humor é coisa de mulher mal comida. Eu aposto que você nunca teve um
orgasmo.
Ela fica vermelha como um pimentão e parece em choque. Gagueja por
alguns instantes, depois respira fundo e responde:
― Como se atreve a falar assim comigo? Eu não estou aqui para discutir
meus detalhes sórdidos com você. E a minha hora extra acaba de dobrar
nesse momento se não quiser ter um processo por assédio moral.
Tenho que dar uma gargalhada. Há muito tempo não me divirto tanto. Eu
estou certo, essa mulherzinha nunca teve um orgasmo! Isso explica o mau
humor, as caretas e as roupas horrorosas que ela usa.
Percebo que ela está mesmo brava e a conduzo ao meu escritório. Peço a
empregada um chá e alguns biscoitos, mas ela responde que quer um café
forte e sem açúcar. Claro, uma mulher de vinte e cinco anos que nunca teve
um orgasmo tem que ser amarga até para tomar café. De repente essa
viagem está me parecendo mais interessante do que eu teria imaginado.
Nós passamos a manhã toda repassando tudo o que ela tinha que fazer.
Eu não disse isso para ela, mas a achei bem mais inteligente do que havia
imaginado. Até mesmo coisas que não são da alçada dela, está disposta a
fazer. Eu tenho que admitir que aprendeu bem rápido, como se tivesse
acompanhado toda a negociação com os possíveis investidores desde o
começo.
Lá pelas duas da tarde ouço o estômago dela roncar e me toco que
deveríamos ter almoçado. Vou à cozinha e peço à cozinheira que prepare
alguma coisa rápida e leve pra gente no escritório e informo a ela que
comeremos em breve.
― Até que enfim. Achei que planejava me matar de fome.
Certo, quando ela tem esses ataques de humor eu desgosto um pouco
menos dela. Uma coisa que me chama atenção numa mulher é bom humor.
Claro que eu não me engano por uma frase bem humorada; a cada trinta
frases que ela fala (e como ela fala), vinte e nove são algum insulto,
reclamação ou palavrão.
Ela continua lendo os relatórios da minha secretária fixa enquanto eu a
observo. Por algum motivo não consigo tirar os olhos dela. Tenho a
impressão que alguma coisa está errada com ela, alguma coisa está faltando,
como se estivesse escondida de mim. Eu estou louco, mas as maçãs do rosto
dela são lindas, os lábios então... Eu posso imaginar meus lábios e outras
coisas entre eles. E aqueles olhos castanhos claros, como olhos de gata! A
pele tão branca parece macia como veludo. Dou um pulo na cadeira para
sair dos devaneios que estou tendo. Deus! Eu acabei de passar a noite com a
Lurdinha, fazendo de tudo e ainda estou devaneando com a horrorosa da
senhorita Morelli!
Ela me pega olhando e fica me encarando com uma careta. Apresso-me
em inventar alguma coisa:
― Como vamos viajar juntos, acho que podemos nos tratar pelo
primeiro nome. Sem cerimônias. O que acha?
― Ok, sem problemas senhor Sebastian.
― Não, sem esse senhor. Me chame apenas de Sebastian.
Ela assente e volta a prestar atenção no relatório. Para atrair de novo a
atenção dela e irritá-la, eu digo:
― E eu chamo você apenas de Célie.
Deu certo. Ela me lança um olhar furioso.
― Meu nome é Celina!
Eu abro meu melhor sorriso.
― Tanto faz.
E ouço quando ela bufa e volta a olhar para os papéis. Então me lembro
do que fiquei fazendo durante essa hora que ela demorou em chegar à
minha casa. Eu andei pesquisando sobre uma pessoa no Google, e estou
curioso para saber se ela pretende voltar com essa pessoa. Pigarreio para
chamar a atenção dela e puxo o assunto:
― Sabe, eu andei pesquisando um pouco sobre o seu ex.
Ela larga imediatamente o relatório e olha para mim surpresa. Espero
que ela demonstre raiva, qualquer coisa, mas ela parece apenas curiosa.
― Não posso imaginar porque você faria uma coisa dessas.
― Eu gosto de conhecer bem as pessoas que trabalham para mim.
Ela não engole essa. Na verdade, essa desculpa saiu esfarrapada até
mesmo para mim. Eu estou mesmo curioso sobre os detalhes sórdidos da
vida dela.
― Eu não sou ele. ―é tudo o que ela diz e volta a olhar para o relatório.
Sequer me pergunta o que eu descobri sobre ele.
― Sinto muito por ele ter comido a secretária.
Ela me olha novamente, dessa vez em seu rosto, além da curiosidade, há
deboche.
― Não, você não sente.
Eu sorrio.
― Bom, melhor você ter descoberto tudo antes do casamento, não é
mesmo?
Espero que ela demonstre qualquer sinal de tristeza ou arrependimento
por não ter se casado, mas ela assente e sua expressão curiosa não altera.
Tenho que puxar conversa novamente, antes que ela volte a atenção para o
relatório. Ela não vai falar dele de boa vontade.
― Fiquei surpreso por ele ser tão rico. Era por isso que ia pedir
demissão da empresa? Por que ia se casar com um homem rico?
Ela parece envergonhada.
― Eu sei, é ridículo eu abandonar minha independência para depender
de um homem. Mas não é como se eu tivesse uma grande carreira para
largar, e ele fazia tanta questão que eu não trabalhasse.
― Não é por isso. Acho que também iria querer dar uma boa vida para
minha esposa se eu me casasse um dia. Fiquei surpreso por você não tê-lo
perdoado.
Ela parece confusa.
― E por que eu faria isso?
Arrependo-me de ter falado isso no mesmo momento em que ela entende
o que eu quero dizer.
― Você está dizendo que achou que eu o perdoaria por causa do dinheiro
dele?
Ela parece furiosa e eu sei que está com a razão. Tento falar alguma
coisa, mas as palavras me escapam.
― Por que está me ofendendo?
― Desculpe! Eu não devia ter pensado isso. É que existem muitas
mulheres que perdoariam no seu lugar por um bem maior.
Quanto mais eu tento explicar, mais percebo o quanto estou sendo
estúpido.
― Um bem maior? ― parece que ela vai me bater a qualquer momento
― Não existem, não! Eu sei o meu valor e o meu orgulho não pode ser
comprado!
Pior do que a raiva que eu posso sentir nela, é a mágoa que está em seus
olhos, o que me faz sentir ainda mais idiota.
― Célie, me desculpe! Eu não tive a intenção em ofendê-la.
Ela começa a juntar os papéis que estava analisando e joga tudo dentro
da bolsa velha dela.
― Acho que é melhor encerrar essa reunião por aqui, senhor Vaughn.
Ótimo, voltamos ao estágio sobrenomes. Ela sai pisando duro e eu corro
atrás dela.
― Me deixe ao menos levá-la em casa.
― Não precisa se incomodar!
Ela fala com tanta raiva que nem insisto. Logo, ela bate a porta ao sair e
eu fico aqui parado, feito um idiota. E então percebo que nem todas as
mulheres são como a Jamille.
Capítulo 03
Celina
Depois de pegar um ônibus lotado para minha casa, meu estômago
roncando a cada cinco segundos, fazendo todos olharem para mim,
finalmente chego ao meu prédio. A raiva de Sebastian Vaughn ainda me
atinge com força! Quero muito mandar ele para aquele lugar e deixar que se
vire em sua viagem importante, mas, uma mulher falida não tem condições
de se vingar.
Eu preciso mesmo desse emprego. Assim que pagar minhas dívidas de
um casamento que não acontecerá, eu o mandarei ir tomar num lugar bem
específico e jogarei um copo de café quente naquele cabelo desgrenhado
dele. Isso, essa ideia me faz ficar mais calma. Eu sonho com o dia em que
verei Sebastian Vaughn ser humilhado.
Assim que entro no meu prédio, recebo um olhar no mínimo curioso do
porteiro. Como eu disse, ele nunca foi com a minha cara, diz que eu
reclamo demais, mas normalmente ele simplesmente ignora a minha
presença. Agora ele está me olhando como se tivesse aprontado alguma
coisa, e estivesse com medo que eu descobrisse. Corro para minha casa e
olho tudo em meu apartamento, uma vez que ele tem uma cópia da minha
chave. Mas, nada está fora do lugar.
À noite, recebo uma mensagem do estúpido Vaughn dizendo que a
viagem foi adiada para segunda-feira à noite por conta de uma reunião de
última hora de manhã, e detalhe, eu terei que estar nessa reunião ao lado
dele. Só de pensar em ver de novo todos aqueles que ficaram rindo de mim
na última reunião, sinto meu rosto queimar. Oh! meu Deus, por quanto
tempo ainda serei motivo de piada? Minha resposta vem na segunda de
manhã.
Chego à empresa depois de uma péssima noite de sono. Desde que eu
terminei com o segundo maior imbecil do mundo, não consigo dormir
direito. Assim que chego, logo na recepção, percebo pessoas me olhando e
cochichando, e alguns risinhos. Penso que a história do meu telefonema
deve ter vasado, é claro. E agora eu serei motivo de piada da empresa
inteira!
Fico na cantina boa parte da manhã, já que a mesa de secretária do
Sebastian é ocupada pela secretária dele. Estudo mais um pouco os
relatórios que ele havia me passado e vou para a reunião. Entro lá já de
cabeça baixa, procurando um buraco para enfiar minha cabeça, e
novamente, aqueles olhares, cochichos e risinhos. Isso está acontecendo de
tal maneira, que uma hora Sebastian puxa minha cadeira para perto da dele
e sussurra em meu ouvido.
― O que está havendo? Por que todos estão rindo?
Eu dou de ombros, confusa.
― Acho que deve ser por causa daquela ligação.
Ele nega com a cabeça.
― Acho que não, nem no dia eles reagiram assim.
Continuamos a reunião sem saber o que está acontecendo. Até que vou
ao RH receber meu salário. Lá, no painel onde dias antes estava o meu
convite de casamento, agora havia uma foto minha impressa, no hall do
meu prédio, com o ridículo do Edmundo ajoelhado aos meus pés. Eu, com
uma cara horrorosa de espanto, e ele com aquela careta de choro, e escrito
embaixo: menina má.
Arranco a folha do mural e vejo que as meninas estão rindo. Saio
correndo do RH e topo com Gil, que me arrasta para a mesa dela, e me
mostra um vídeo. Oh meu Deus! Por quê? Um vídeo no Youtube do
Edmundo ajoelhado aos meus pés, e eu, com cara de pamonha assustada
pedindo que ele levantasse do chão. E o vídeo já tinha mais de cinco mil
acessos!
Muita gente sonha com seus quinze minutos de fama, eu não sou uma
dessas pessoas. A menina má está sendo vista e eu estou mais uma vez,
sendo motivo de piada. A Gil me explica que a foto foi postada no
Instagram do porteiro do nosso prédio. Aquele traste! Eu vou arrancar as
bolas dele e colar com prego na testa dele! Que merda! Penso em ir para o
banheiro, bancar a covarde que estou sendo nos últimos dias, mas antes que
consiga uns minutos de paz, Sebastian aparece e me chama até a sala dele.
Quando entro na sala vejo uma cópia da foto do Edmundo ajoelhado na
minha frente em cima da mesa dele.
― Pela sua cara você já descobriu porque estavam rindo.
Eu apenas assinto.
― Você tem ideia de quem pode ter feito isso?
Falo com a voz mais baixa do que esperava.
― O porteiro do meu prédio.
Ele parece supresso.
― Por Deus, mulher! Até o porteiro do seu prédio não te suporta!
Eu quero gritar com ele e mandá-lo para aquele lugar, mas começo a
chorar. E aí fico mais envergonhada ainda porque estou chorando na frente
desse estúpido. Ele todo sem graça, anda até mim e põe as mãos nos meus
ombros. Não é ridículo uma mulher adulta chorar por causa de problemas?
Sim? Imagina o quanto é pior quando ela pula nos braços de um homem
que odeia. Isso mesmo, ele coloca as mãos nos meus ombros e eu agarro a
cintura dele e começo a chorar. Ele tenta me afastar sem graça, mas eu me
prendo a ele. Só o ouço falando:
― Não chora Celina, não chora, você vai manchar minha camisa
caríssima.
E, para piorar, quando vou me acalmando, adivinha qual a primeira coisa
que percebo? O abdômen dele. Sim minha gente, eu sou mais uma vez
motivo de piada na empresa, estou chorando na frente do bastardo do meu
chefe, agarrei ele para chorar e, em vez de encontrar vergonha na cara,
percebo como o peitoral dele é duro. Continuo fingindo chorar, com a cara
enterrada no ombro dele e passo a mão por sua barriga. Como eu
imaginava, sinto a barriga dura e aqueles gominhos deliciosos que homens
malhados têm.
Então percebo que quando o agarrei ele passou o braço em volta de mim
e sinto aqueles braços fortes me acalmando. Fecho os olhos e me esqueço
de fingir chorar, fico ali aproveitando aquele abraço gostoso e aquele corpo
musculoso colado ao meu.
De repente, ele se afasta e só então tudo volta a mim. Todos rindo da
minha cara e da minha total falta de noção ao agarrar o homem daquele
jeito. Abaixo a cabeça e olho para o chão, sem graça.
― Você já parou de chorar? ― pergunta ele e parece realmente
preocupado.
Eu apenas assinto.
― Ótimo. Eu poderia dizer que sinto muito pelo que aconteceu, mas
estaria mentindo. Toda vez que alguma coisa desse tipo acontece com você
eu sempre me divirto. E confesso que dei boas risadas com essas coisas de
hoje.
Eu deveria sentir raiva dele. É o que ele merece, mas o que eu posso
fazer? Eu sou mesmo uma comédia para as outras pessoas, a retardada,
menina má, estabanada. Sempre acontece alguma coisa que me constrange.
Por que o estúpido do meu chefe se compadeceria da minha maré de azar?
Claro que não! Ele tinha que se divertir mesmo, como todos os outros.
― Que bom que sirvo ao menos para diverti-lo! Minha vida está ganha
por saber disso, senhor.
Ele abre um enorme sorriso e passa a mão gentilmente pelo meu cabelo.
Sebastian
Macio, o cabelo da senhorita Morelli é macio como eu havia
imaginado. Eu queria que nesse ato desesperado de me abraçar, alguns fios
tivessem se soltado daquele coque horroroso, mas isso não aconteceu.
Então me contento em deslizar o dedo por seu cabelo e contornar o coque.
E o cabelo dela é muito macio. Por que ela anda com esse penteado
horrível?
Afasto-me dela ao perceber o que estou fazendo. Sua última frase bem
humorada depois de tudo a que tinha sido submetida me surpreendeu a tal
ponto, que me fez perder a consciência de que era ela, ali na minha frente, e
eu tive vontade de tocá-la. Mas isso passou e agora preciso mesmo me
concentrar na viagem que faremos daqui a algumas horas, não no cabelo
macio e nas curvas dela encostadas em mim.
No começo, ela me assustou com aquele abraço, e eu quis empurrá-la
para longe da minha camisa cara, que agora está amassada e manchada de
lágrimas, mas assim que passei os braços a sua volta, senti o calor do seu
corpo colado ao meu. Seu cheiro me atingiu e alguma coisa me impediu de
afastá-la. Deus! Estou ficando maluco!
Ela está sentada na cadeira a minha frente e olha para todos os lados,
menos para mim. Deve estar envergonhada pela atitude que teve. Sei que
ela é durona, tenta não dar o braço a torcer, mas posso imaginar o que deve
estar passando por pegar o noivo comendo outra. Lembro-me do estado em
que a Jamille ficou quando eu a traí. Até que a Morelli está segurando bem
a barra. E eu estou parecendo “um mariquinha”, psicólogo sentimental de
mulheres, analisando o comportamento pós-traição dela. Meu Deus!
Tento me concentrar no trabalho e volto a falar da viagem.
― A senhorita acha que estará pronta para a viagem às dezoito horas?
― Sim senhor.
― Então pode ir para casa. Eu passo para pegá-la às 17h30 para irmos
ao aeroporto. O voo sai às 19h, mas temos que chegar cedo.
― Não precisa me pegar. É mais fácil se eu encontrá-lo no aeroporto às
18h.
Prefiro não discutir. Concordo e dou o resto do dia de folga para ela.
Quando ela sai da minha sala, viro minha mente para várias coisas ao
mesmo tempo, para não pensar nela. Está perto da hora do almoço e resolvo
comer no restaurante chinês que tem em um shopping próximo. Pego minha
carteira e saio.
Assim que chego à rua, avisto a senhorita Morelli saindo do prédio. Ela
parece acabada. Com a cabeça baixa, a bolsa velha pendurada ao ombro e
sem os óculos enormes. Isso me surpreende de tal forma que paro e olho
bem para o rosto dela.
Como eu imaginava, a maldita é muito bonita! As maçãs proeminentes,
os lábios cheios, os olhos de gata brilhando por causa das lágrimas. Fico ali
parado, olhando para ela. Ela me vê com cara de bobo e para onde está.
Espero que ela me mostre o dedo do meio, mas um homem aparece na
frente dela, ofuscando minha visão. Ele pega a mão dela e a arrasta, e,
assim que ele se vira eu o reconheço. É o tal do Edmundo, o ex-noivo dela.
Pelo vídeo que vi no Youtube, ela parecia constrangida com a
perseguição dele, mas agora, ela está tão triste, tão desanimada, que não
fala nada quando ele a arrasta até um canto para conversarem. E eu sei que
a senhorita Morelli normal não o deixaria a arrastar assim. Ela diria algum
impropério, gritaria alguns palavrões, o empurraria, socaria a cara dele,
faria qualquer coisa, mas não se deixaria levar como está fazendo.
E isso me preocupa, o que há de errado com ela? Será que ainda o ama?
Será que está sofrendo por causa do término do noivado? Ele pega na mão
dela e a arrasta até o shopping, e quando dou por mim, já os estou seguindo.
Eles se sentam na praça de alimentação e ele pede alguma coisa, ela apoia a
cabeça nas mãos e fica assim. Eu também me sento na praça de alimentação
e peço uma pizza, deixo a comida chinesa para outro dia.
De onde eu estou, posso vê-los bem, o cara fala apressadamente,
gesticula, vez ou outra pega a mão dela. A comida dele chega e ele começa
a comer e a falar ao mesmo tempo. Espero que ela faça uma careta pela
falta de educação dele, mas ela está com a mesma expressão desligada,
como se não estivesse ali, olha para o nada e não diz uma só palavra.
Eu mal consigo comer a pizza, tão absorto estou na cena diante de mim.
Eles ficam lá por uma hora mais ou menos. Eu assumo que não estou com
apetite para comer o pedaço de pizza que ainda tenho no meu prato.
Durante todo o tempo ela não diz uma palavra. Nem quando ele a toca.
Eu conheço esse estado, me parece desprezo. Ele começa a ficar
desesperado. De repente ela se levanta e pega sua bolsa velha. Ele se
levanta também e sai a seguindo. Eu solto um palavrão por ela ter se
levantado de repente e deixo uma nota de cinquenta na mesa, chamo o
garçom para que ele veja que eu paguei e saio apressado seguindo os dois.
Eles caminham até o prédio dela, onde ela se vira e finalmente fala
alguma coisa para ele. Ele coloca um papel no bolso do casaco dela, que ela
nem faz questão de ler. Ela parece se despedir e quando se vira para entrar
no prédio, ele a puxa e a beija e então ela volta a ser a Morelli que eu
conheço. Empurra-o e desce um tapa na sua cara. E eu não posso conter a
gargalhada que escapa.
Volto ao prédio correndo para pegar minhas coisas e ir para casa, e
Cleber me aguarda na minha sala. Nós três: Matheus, Cleber e eu, somos
amigos de faculdade e fundamos juntos o negócio. Matheus é muito sério,
mas Cleber e eu temos gostos parecidos, só que ele é mais porra louca que
eu.
― Onde diabos você estava homem? ― pergunta ele.
― Por aí.
― Por aí o caralho! Eu vi você descendo para almoçar e fui atrás de
você para almoçarmos juntos. Percebi você feito um pateta olhando para
aquela secretária mal vestida do Matheus, e depois vi que ela saiu com um
cara e você os seguiu. ― ele passa a mãos pelos cabelos ―Porra!
Sebastian, você seguiu uma mulher?
― Por que você estava me seguindo?
― Eu não estava seguindo-o. Você estava seguindo aquela garota
estranha. Qual o seu problema?
Dou de ombros.
― Foi só curiosidade... Você viu o vídeo, ficou sabendo do telefonema
dela na reunião; eu fiquei curioso!
― Tá, pelo vídeo e pela história do telefonema, parece que o namorado
dela comeu a secretária e agora está se humilhando pelo perdão dela.
Normal, já cansamos de ver essa cena. Por que a curiosidade a ponto de
segui-los?
― Não foi nada demais, Cleber. É que eu a contratei para a viagem, e
fiquei curioso quando a vi com o ex, só isso!
Ele não parece convencido.
― Sei. Abre o seu olho garanhão, abre o seu olho!
Capítulo 04
Celina
Tiro um cochilo à tarde no sofá e acordo me sentindo outra pessoa.
Nada que um cochilo no sofá não resolva, não é mesmo?! Já havia feito o
meu papel mais ridículo da história, chorando nos braços do Estúpido
Vaughn, “almoçado” com o imbecil do Edmundo, (embora eu não tenha
comido nada) calada, ouvindo todas as baboseiras que ele tinha a me dizer
sem reagir, e tinha finalmente libertado meu estado de torpor ao dar um tapa
na fuça dele.
Depois de bater nele e cochilar no sofá, me sinto uma nova mulher.
Passou! Nada de chorar agora! Nada de agarrar chefes estúpidos em uma
crise de pena de mim mesma, nada de dar chances para o “ex idiota” falar
sem parar na minha cabeça. Só não posso prometer dessa nova “eu”, que
não serei mais motivo de piada, porque isso raramente é proposital. É
simplesmente meu destino cruel.
Meu estômago ronca, me lembrando que ainda não comi nada. Vou até a
cozinha e então avisto o micro-ondas, e nele as horas. Já são 17h30. Eu
tenho meia hora para chegar ao aeroporto. Por que, Senhor? Nunca dará
tempo!
Tomo um banho de gato, mas lavo “direitinho” os lugares importantes,
só para constar. Visto uma calça jeans, a primeira blusa que encontro,
penteio meu cabelo molhado, prende-o em um coque e jogo meu casaco por
cima. Ainda bem que já tinha separado meus documentos e feito a mala um
dia antes.
Pego minha bolsinha querida, minha mala e desço correndo pelo
elevador. Uma olhadinha no relógio me diz que eu tenho dez minutos para
chegar ao aeroporto. Até eu esperar o ônibus, ou mesmo que pegue um taxi,
levarei uns vinte e cinco minutos. Sebastian vai me matar!
Assim que saio do prédio, um taxi buzina para mim. Olho para dentro
dele e lá está Sebastian Vaughn, malditamente lindo com uma blusa social
azul escura. Merda! Quando eu comecei a reparar se Sebastian está bonito
ou não? Aliás, ele sempre está lindo e eu nunca me importei com isso. Não
é porque eu senti os músculos da barriga dele pela blusa que vou começar a
reparar no cara, não é?! Ele abre a porta e eu corro em direção ao carro. O
taxista já está pegando minha mala para colocar no porta-malas, então eu
entro e me jogo no banco.
― Você está atrasada.
― E eu achei que te encontraria no aeroporto.
― Ainda bem que fiz o que eu queria e não te dei ouvidos, não é Célie?
Ou que horas você chegaria saindo de casa a essa hora?
Nem faço questão de corrigir meu nome. Eu estou errada! Ele olha para
o taxista guardando a minha mala e comenta:
― Você vai mesmo viajar com essa mala velha?
Ele vai mesmo começar a me irritar desde o taxi?
― No meu contrato de trabalho não fala o estado em que meus objetos
pessoais devem estar na sua presença e se quiser que eu ande com uma
mala melhor, aumente o meu salário.
Ele sorri.
― Vejo que está de volta.
― De volta de onde?
Ele dá de ombros. Meu estômago ronca e ele pega uma sacola e joga no
meu colo.
― Ainda bem que eu trouxe isso.
Abro a sacola e encontro um hambúrguer, fritas e uma caixinha de suco.
Agradeço aos céus para não ter que agradecê-lo e começo a comer como a
esfomeada que sou nesse momento. Quando está acabando, ele enfia a mão
no meu bolso e de lá, tira um papel. Lembro-me que é o papel que o
Edmundo havia enfiado ali. Ele lê e meneia a cabeça.
― Então vocês fizeram as pazes?
Tem mesmo um sorrisinho no rosto dele?
― Não. ― respondo e tiro o papel da mão dele.
Está escrito “estarei esperando por você no dia treze às dezenove horas,
como combinado. Te amo”.
― Parece que ele não cancelou o casamento. ― comenta ele.
― Azar o dele.
Ele olha para fora e então percebo a estranheza dessa situação.
― Como você sabia que esse papel estava aqui?
― Eu não sabia, vi a ponta dele saindo do seu bolso.
― E como sabia que eu estava faminta?
― Pelo barulho horrendo que o seu estômago fez. Eu não trouxe isso
para você, mas não tem importância você ter comido.
Assinto.
― Não espere um agradecimento.
Ele dá uma gargalhada.
― Acredite, eu não espero.
Chegamos ao aeroporto e fazemos o check-in. Enquanto aguardamos o
voo, escovo meus dentes no banheiro. Quando saio, Sebastian está
esperando por mim. Ele me olha de cima a baixo e um sorriso idiota
aparece nos lábios dele.
― Satisfeito? ― pergunto.
― Belas coxas.
Faço uma careta e me afasto dele. Eu não tive tempo de procurar um
saião e uma blusona para me esconder e não tinha colocado essas roupas na
mala. Não adiantará manter meu disfarce na viagem, é chato me sentir tão
bagunçada e, além do mais, Sebastian não será meu chefe por muito tempo
mesmo. Tanto faz ele saber como sou. E eu nem sou tão bonita para temer
qualquer coisa. Se eu queria evitar as piadinhas safadas dele, não está
funcionando nem comigo vestida como me visto para ir trabalhar. É melhor
aceitar que ele é um idiota completo e tentar ter paciência, ou matá-lo
durante a noite em último caso!
Quando entramos no avião, ele pede para colocar minha bolsa no
bagageiro, mas eu digo que não precisa. Ele insiste, mas eu teimo e me
sento com a bolsa enorme no colo. Ele pega uma alça da bolsa e eu a seguro
por baixo.
― Por favor, Morelli, não seja ridícula. Essa bolsa velha é enorme, é
melhor deixá-la no bagageiro.
― A bolsa é minha e eu quero levá-la no colo.
― Você vai ficar desconfortável com essa coisa no colo. ―fala ele e
puxa a bolsa bem no momento em que algumas pessoas estão
passando.Com o puxão, eu solto a bolsa de uma vez, que vira na mão dele
derrubando algumas calcinhas no chão.
Eu escondo meu rosto entre as mãos. Ó, meu Deus! Por quê? Ele junta
minhas calcinhas e soca dentro da bolsa, mas fica com uma na mão.
Percebo que ele está olhando para a minúscula calcinha fio dental com um
laço atrás. Eu nunca sequer usei essa calcinha, mas havia esquecido de pôr
as calcinhas na mala e as joguei dentro da bolsa na última hora. Peguei um
amontoado de calcinhas na gaveta e nem parei para conferir quais estaria
levando.
― O que está fazendo? Guarde minha calcinha na bolsa!
Um homem que está sentando-se na poltrona atrás de mim ri e percebo
que gritei isso. Fico ainda mais vermelha, mas Sebastian fica rindo.
― Interessante você usar uma calcinha dessas por baixo daqueles saiões
horrorosos.
― Isso não é da sua conta! Devolve minha calcinha. ― dessa vez eu
sussurro.
― Acho que não. ― ele fala ainda com um sorriso.
Não tenho outra saída, tenho que mentir. Aproximo-me dele e sussurro.
― Essa calcinha está usada.
Ele olha para mim com algo nos olhos que eu não sei explicar, e eu,
achando que ele ia jogar a calcinha em mim, leva a peça até o rosto e
cheira-a.
― Eca! E se estivesse mesmo usada? Seu nojento!
Ele sorri e coloca minha calcinha no bolso.
― Então eu seria um homem muito feliz, senhorita Morelli.
Fico ainda mais vermelha.
― Você não pode estar falando sério. Tem fetiche por calcinhas então?
― Não. Mas vou pensar em você a viagem toda, cada vez que pegar essa
calcinha. Vou imaginar você usando apenas ela.
Fico sem reação por cinco segundos e sinto meu corpo todo formigar.
Então, a comissária de bordo se aproxima para falar alguma coisa e volto
para minha poltrona ainda em choque. Logo, ele se senta também. Nós nos
sentamos lado a lado no avião, eu na janela, e ele no meio.
― Então, vamos conversar? ― ele fala.
Eu faço uma careta.
― Prefiro não ouvir sua voz.
― Como queira.
Ele não fala mais comigo, e quando me viro, está conversando com a
mulher que sentou do outro lado. Loira, com um decote exagerado, seus
peitos estão quase pulando para fora! Já está toda assanhadinha para cima
dele. Oh céus! Essa viagem vai ser longa.
Nem vinte minutos depois, ouço um risinho da loira que está ao lado do
Sebastian. Estico meu pescoço para ver o que está acontecendo e ele está
falando ao ouvido dela e ela dando risinhos. Bufo. Gostaria de ler o livro
que trouxe, mas o idiota do Sebastian o colocou no bagageiro, e para pegá-
lo, precisaria passar por ele e pela loira assanhada.
Desisto. Penso em olhar a paisagem pela janela, mas está escurecendo e
não dá para ver nada. Ouço outro riso alto e respiro fundo para ter
paciência. De repente, ouço um barulho semelhante a uma chupada, olho e
eles estão se beijando. Recosto-me na cadeira e cerro os punhos, só mesmo
o pervertido do Sebastian para beijar uma desconhecida no avião enquanto
ainda está com a minha calcinha no bolso. E eu não sei por que estou tão
nervosa com isso, mas ele está viajando comigo, deve no mínimo respeitar-
me.
Claro que eu estou sendo ridícula por esperar algum respeito de
Sebastian Vaughn. Ele é o imbecil número um da minha lista. Pior até do
que o Edmundo! Começo a cantarolar para ver se atrapalha os amassos dos
dois, mas o cara que está sentado atrás chuta a minha poltrona e resmunga
que está tentando ler. Nós somos quase os últimos no avião, e nenhuma
comissária de bordo passa por aqui. Será que elas não vão passar e mandar
Sebastian e a loira pararem com esse showzinho?!
Então o barulho do beijo cessa e respiro aliviada. Tomara que ele pegue
uma doença por sair beijando estranhas desse jeito. É aí que ouço um
gemido. Oh céus! Estico novamente o pescoço e, por Deus! Sebastian está
com a mão enfiada debaixo da saia da mulher, e ela revira os olhos e geme.
Sinto meu rosto corar e a raiva me dominar. Será que ele não se lembra que
eu estou aqui ao seu lado? Será que ele não tem medo de alguém passar e
ver o que eles estão fazendo? Será que ele não tem vergonha de estar com a
minha calcinha no bolso e tocando as partes íntimas de outra?
Não é que eu queira que ele estivesse tocando as minhas partes íntimas.
Ah! Quero que ele aja como um homem decente uma vez na vida e
simplesmente durma durante a viagem, em vez de quase trepar com uma
desconhecida ao meu lado. A mulher dá um grito e Sebastian volta a beijá-
la, abafando os gemidos. Eu o odeio. Odeio Sebastian Vaughn.
Às vinte horas em ponto, o piloto anuncia que o avião já vai pousar.
Sebastian recosta em sua poltrona e fala alguma coisa, mas finjo que não
ouvi. Quando o avião para, a moça faz a maior cena para se afastar dele, e
eu praticamente passo por cima deles, empurro-a na poltrona para conseguir
sair. Ela resmunga, mas Sebastian está sorrindo. Começo a puxar minha
bolsa do bagageiro e ele rapidamente aparece ao meu lado.
― Deixa que eu pego para você.
Eu praticamente grito.
― Não ponha essa mão imunda nas minhas coisas!
O maldito ri mais ainda. Eu puxo minha bolsa e saio apressada do avião
sem esperar que ele se despeça da loira. Desço no aeroporto Santos Dumont
e solto um palavrão. Eu nem sei em que hotel ficaremos não fiz nenhuma
reserva. Eu como secretária, deveria ter cuidado disso, mas estava tão
preocupada com as coisas relacionadas aos negócios, que não pensei nisso.
Como ele não me deu nenhuma ordem em relação à reserva de um hotel,
penso que ele deve ter pedido à Maura para reservar. Eu só quero tomar um
banho e dormir até o dia seguinte quando terei que aguentar esse nojento o
dia todo.
Vou andando para o lado das bolsas e espero minha mala passar. Ouço
um risinho conhecido atrás de mim e nem preciso olhar para saber que
Sebastian e a loira estão logo atrás. Será que ele a levará para o quarto dele
no hotel também? Merda! A minha mala vem e, quando ameaço pegá-la,
Sebastian estica a mão e a pega para mim. Ele a estende para mim e eu só
consigo sentir nojo por ele ter tocado minha mala com essa mão. Faço uma
careta e me afasto.
Ele percebe minha reação e fica rindo enquanto pega a sua bagagem na
esteira e se despede da loira. Vou andando para um lado qualquer para dar-
lhes privacidade, mas ele me chama:
― Célie, espere bem aí ou pegarei sua mão para te levar para o lugar
certo.
Faço uma careta e paro onde estou. Permaneço ali parada por quinze
minutos; achei que o pervertido estava se despedindo da loira com uns bons
beijos enquanto a tonta aqui espera, mas quando me viro ele está é tentando
se desvencilhar dela. A loira está com os braços em volta do pescoço dele,
este tira os braços dela com um sorriso sem graça, e ela volta a colocá-los.
Ele me olha como que pedindo socorro, e eu tenho que rir da cena dele.
Bem feito! Ele me lança um olhar ameaçador, mas eu dou de ombros e vou
até uma banca ver as revistas.
Uns trinta minutos depois, Sebastian me puxa pelo braço.
― Ei, tira essa mão imunda de mim.
Percebo que ele está impaciente.
― Então me siga. Imagino que você não tenha reservado nenhum hotel.
Sinto-me corar! Eu não gosto de ser incompetente, mas foi uma falha
não ter verificado esse detalhe com a Maura.
― Não, eu achei que a Maura teria reservado o hotel.
― Eu liguei para ela, mas ela achou que você faria isso, já que você
viajaria comigo.
― Bom, a culpa é sua por não esclarecer as coisas.
Ele me lança um olhar irritado. E eu tenho um choque por aqueles olhos
verdes ficarem tanto tempo olhando meu rosto. Recomponho-me no
instante em que ele desvia o olhar e volta a andar.
― Tanto faz, nós podemos ficar num hotel da V.D.A. Eu sempre fico no
Quatro Estações. Sou um dos donos, então não preciso de reserva. Eles é
que têm que reservar um quarto para mim!
E eles têm. Somente um quarto. Está havendo uma convenção de alguma
coisa na cidade e eles só conseguem um quarto, na cobertura, que é
reservado aos donos e nunca é alugado. Sebastian manda que eu o siga, e
começo a temer onde eu ficarei. Será que ele me mandará para outro hotel e
eu terei que fazer o percurso até ele toda manhã? Tomara que não seja um
hotel muito longe e que eu possa vir até ele a pé.
Subimos de elevador até o vigésimo terceiro andar. Assim que entramos,
me afasto dele o máximo possível, mas só há nós dois no elevador. Então
observo quando ele enfia a mão no bolso da calça e fica tocando minha
calcinha. Aí a raiva me domina, não consigo controlá-la. Para piorar, ele
começa a falar.
― Não sei por que está tão longe de mim. Não tenho nenhuma doença
contagiosa.
― Como posso ter certeza, se você trepa com qualquer uma que
conhece?
Ele me olha surpreso.
― Não me lembro de ter trepado com ninguém na sua presença.
― E o que foi aquela cena ridícula com aquela loira piranha no avião?
Ele abre um enorme sorriso.
― Isso te incomodou?
― Claro! Tive que ficar escutando os gemidos e os gritos daquela
“zinha”! Você podia ao menos ter me respeitado.
― Não desrespeitei você hora nenhuma.
Eu estou uma pilha de nervos, mas ele fala tranquilo, com minha
calcinha na mão e um sorriso idiota no rosto.
― Eu estava ao seu lado! Você podia ter levado em consideração que
havia uma pessoa a mais ali que foi obrigada a presenciar seu ato de
perversão.
Ele dá uma gargalhada, e eu devo frear minha língua, mas não, tenho que
continuar:
― Você não tem vergonha de tocar as partes íntimas de uma mulher que
você nunca viu na vida? E se ela tiver uma doença? – Ele começa a falar
alguma coisa, mas eu avanço e puxo a calcinha de sua mão, o que o deixa
ainda mais surpreso.
― Me devolve isso, Morelli.
― Não. Para começar essa calcinha é minha. E você deveria ter
vergonha de enfiar a mão na calcinha de outra enquanto está com a minha
calcinha no bolso!
― Então esse é seu problema. Você queria que eu enfiasse a mão na sua
calcinha. Eu pretendia fazer isso, mas você logo cortou conversa.
Sinto-me corar ainda mais.
― Não seja ridículo. Você teria que me matar antes de enfiar a mão na
minha calcinha.
― Sabe qual o seu problema Morelli? Você está incomodada porque ela
gozou. Esse é seu problema. Você viu uma mulher gozar facilmente ao seu
lado com um estranho, mas você nunca gozou com seu noivo. Esse é o mal
de uma mulher mal comida, invejar os orgasmos das outras.
Nesse momento o elevador para no décimo oitavo andar e as portas se
abrem. Olho rapidamente e não há ninguém ali. Quem chamou o elevador
já deve ter pegado outro. Então me concentro em Sebastian e no absurdo
que ele está falando sobre mim.
― Se eu gozei ou deixei de gozar não é da sua conta! E eu não invejo
uma piranha que abre as pernas para um desconhecido num avião! Como
ela poderia saber onde você tinha enfiado essa mão antes de colocar nela?
Além do mais, eu tenho coisas mais importantes com o que me preocupar.
Eu não vivo em função de sexo e você não tem nada a ver com meus
orgasmos.
Ouço um som como se alguém tivesse se assustado e olho para ver um
japonês que está entrando no elevador com uma criança. Ele está com a
mão no ouvido do filho, que ri, e me olha com uma carranca.
― Me desculpa. ― falo.
Ele vira de costas para mim e prende o filho ao corpo dele, não o
deixando em meu campo de visão. Oh Senhor, eu tinha acabado de olhar
para fora e não tinha ninguém. De onde surgiu esse ser? Nem preciso olhar,
pois posso ouvir Sebastian rindo.
Descemos no vigésimo terceiro andar e sigo Sebastian cabisbaixa. Antes
de abrir a porta, ele para abruptamente e eu acabo trombando nele. Então
ele me prensa na parede, com um braço em cada lado da minha cabeça.
― Por favor, não toque em mim com essa mão!
Ele fica me olhando com um risinho nos lábios, olhando dentro dos meus
olhos, mas eu estou com tanto medo de ser tocada com “aquela” mão
pervertida que mal presto atenção naqueles olhos verdes. Ele diz
calmamente.
― Me devolve a calcinha.
Era só o que me faltava.
― Não!
― Devolve ou eu vou acariciar seu rosto.
Sinto meu estômago embrulhar, mas não cederei a ele.
― Toque meu rosto e eu acuso você de assédio sexual!
― Você nunca provaria nada.
― Mas valeria o escândalo.
Ele sorri.
― Você que sabe Célie, mas eu te garanto que terei essa calcinha mais
cedo ou mais tarde.
― Se gosta tanto de calcinhas, compre umas para você.
Ele me solta e abre a porta do quarto. Que lugar maravilhoso! Entramos
em uma sala enorme, com um sofá de canto creme, uma tela enorme num
painel, as janelas que vão do chão ao teto e vista para o mar. A decoração é
impecável! Do chão ao teto, os móveis e as cores, tudo é chique. Essa sala é
do tamanho do apartamento onde moro. Com certeza tem dois quartos aqui
e ele me deixará ficar num deles. Num canto há um frigobar abastecido e
numa mesa, uma cesta de frutas.
Sebastian tira o sapato e se joga no sofá. Então, pega o telefone e faz
algumas ligações. Eu permaneço em pé, perto da porta, já que não recebi
nenhuma ordem. Depois da terceira ligação ele olha para mim e fala:
― Acho que você devia se sentar. ― então ele aponta para aponta do
sofá onde ele está deitado, de forma que eu ficarei perto do quadril dele.
― E eu acho que você deveria lavar essas mãos. ―respondo e me sento
em uma poltrona mais confortável que a minha cama, que está do outro
lado.
Ele faz mais algumas ligações e depois diz:
― Nós temos um encontro hoje. Quer tomar um banho?
― Já? Achei que sua agenda começasse amanhã.
― Sim, mas um futuro investidor está indo para uma boate agora e me
chamou para ir. E seria deselegante recusar.
― Então vá. Por que tenho que ir com você?
Ele me olha como se eu fosse idiota.
― Você é minha secretária. Irá comigo a qualquer lugar que eu for.
Como a minha sombra. ― então ele se levanta― Como imagino que você
não tenha nada decente para usar, vou pedir a uma funcionária do hotel que
te arrume um vestido.
― Não será necessário, eu trouxe minhas roupas.
― Você não vai sair comigo usando “saiões” e aquelas blusas
horrorosas.
― Eu vou usar o que eu quiser.
― Vou mandar buscar o vestido.
― Estará perdendo o seu tempo.
Ele bufa e resmunga:
― Faça como quiser, mas se me envergonhar com sua vestimenta
horrorosa, eu juro que vou descontar toda a minha consumação da noite no
seu salário. E te garanto que não será pouca coisa!
Faço uma careta. Tiro meu casaco, enrolo ele em volta da minha mão e
pego a alça da mala que ele havia tocado com aquela mão imunda.
― Onde vai ser o meu quarto?
Ele sorri e nesse momento sei que alguma coisa está errada.
― Me siga.
Eu o sigo até um quarto enorme, com uma cama box imensa. Sério!
Caberiam umas oito pessoas nessa cama tranquilamente. Fico
impressionada. Nunca havia nem visto um lugar imponente como esse,
ainda mais dormido numa cama parecida com essa! De repente fico ansiosa
para a hora de dormir chegar logo.
― Esse é o meu quarto. ― ele fala e sinto meus sonhos murcharem.
― Então acho que está com problema de audição. Eu perguntei onde
seria o meu quarto.
Ele aponta para o quarto.
― Não estou entendendo.
― Célie, esse aposento só tem um quarto.
― Você está brincando, não é?
― Absolutamente. Você não ouviu quando a recepcionista disse que
havia somente um quarto disponível?
― Está me dizendo que vamos ter que dividir esse quarto?
― Você ouviu que é o único quarto disponível. ― fala ele impaciente.
― Mas, mas... Será que não há nenhum outro hotel, que tenha mais
quartos?
― Eu só fico nesse hotel.
Isso só pode ser um pesadelo. Por que, Senhor? Por quê?
― Então eu poderia ir para outro hotel.
― Você não vai achar nenhum hotel Célie. A culpa é sua por não ter
feito reserva. Terá de aceitar o que tem disponível.
― Mas, eu não quero ficar no mesmo quarto que você.
― Eu acho que eu não estou muito preocupado com a sua vontade.
É isso. Está decidido. Celina sua burra! Devia ter olhado a questão das
reservas de um hotel, agora terá que aguentar esse nojento e suas
conquistas. Oh Céus! Isso não vai ser nada fácil para mim, mas também não
vai ser para ele.
― Deveria, já que sou eu que vou preparar seu drinque.
― Está me ameaçando senhorita Morelli?
Tomo um banho demorado. Sebastian bate na porta por uns dez minutos
me mandando sair. Enxugo-me vagarosamente e tiro a touca que havia
colocado para não molhar o cabelo. Saio do banheiro enrolada na toalha,
corro para o quarto e bato a porta. Ouço quando ele resmunga um palavrão
e bate a porta do banheiro. Primeiro de tudo, eu levo para o quarto um
paninho com álcool do banheiro, e passo nas alças da minha mala, para
limpar onde a mão de Sebastian havia encostado. Então jogo a mala naquela
cama enorme, quero me jogar em cima dela também, mas sei que não terei
tempo. Reviro minha mala e encontro o que estou procurando. Meu vestido
de noivado.
É um vestido todo de renda, curto, perolado, cheio de pedrinhas e colado
ao corpo. Primeiro me perfumo e faço uma maquiagem que a Gil tinha me
ensinado e que, segundo ela, destaca meus olhos castanhos. Quando estou
terminando a maquiagem, Sebastian começa a bater na porta mandando eu
me apressar. Mostro o dedo do meio para a porta, e resmungo dez palavrões
em voz baixa, mas ele grita que escutou, que eu deveria morder minha
língua venenosa e andar mais rápido. Finalmente, solto meu cabelo. Como
eu o tinha prendido em um coque ainda molhado, ele agora tem um efeito
ondulado, com ondas enormes que vão até minha cintura. Só jogo um
pouco de laquê nele e está pronto. Então vou para o meu vestido. É hora de
ter uma nova história para contar com ele, que não seja sobre um noivado
que havia sido o maior erro da minha vida.
Visto cuidadosamente meu vestido, não me importando com as
reclamações de Sebastian, perguntando quanto tempo uma mulher precisa
para vestir um saião, ou se eu ainda estava limpando os meus óculos. Olho-
me no espelho uma última vez. É isso! Se qualquer homem olhar para mim
essa noite, Sebastian Vaughn não poderá descontar nem um centavo do meu
salário. Respiro fundo uma última vez e abro a porta.
Sebastian
Celina: Cafajeste.
Respondo com um sorriso que eu sei que vai irritá-la ainda mais:
Sebastian: O que foi que eu fiz agora?
Logo, a reposta:
Celina: Não mudei de ideia a seu respeito, mas não pretendo ficar
sozinha a noite toda!
Sebastian: Não estou de mau humor, impossível ficar mal humorado com
essa vista.
Percebo que a forma como estou com as pernas cruzadas está mostrando
um pedaço da minha bunda para ele, então abro as pernas, e o ouço gemer:
Resolvo parar de provocá-lo antes que ele tome mesmo isso como um
desafio e queira transar na sala dele, o que seria constrangedor, já que eu
não conseguiria dizer não e odiaria dizer sim. Paro de mandar mensagens e
volto ao meu trabalho, recebo ainda algumas carinhas tristes dele, mas as
ignoro.
Vejo que ele olha para as flores no lixo de vez em quando e faz uma
careta, então presumo que quem quer que as tenha enviado, o irritou muito,
e isso me deixa muito curiosa. Então tenho uma ideia.
Eu não pretendia ficar dando voltas na empresa, mas preciso de um café.
Acabo rindo quando percebo que todos se afastam quando passo e ninguém
mais mexe comigo. Agora eles têm medo de mim, e devo isso a Sebastian.
Odeio o fato de que no momento devo muitas coisas a ele, inclusive
minha paz de espírito! Pego o café com pouco açúcar, do jeito que ele gosta
e levo à mesa. Ele me agradece com um sorriso enorme e fico tentada a
beijá-lo, mas me contenho. Enquanto ele toma o café olho de relance para
as flores no lixo e percebo que o cartão está por cima, de forma que eu
poderia pegá-lo tranquilamente, mas Sebastian percebe o que estou olhando
e começa a falar coisas comigo sobre o negócio que está fechando. Não me
deixa olhar de novo naquela direção...
Desisto por enquanto e volto à minha mesa, quando chego, há uma
mensagem dele.
Celina: Não diga essas coisas, pois alguém pode interceptar essa
conversa. Vc sabe que essa rede é de toda a empresa. Não preciso ser
motivo de chacota de novo.
Sebastian: Desculpe.
Celina: SEBASTIAN!!!!!!!!!
Penso que se alguém ler o que ele está falando comigo, é melhor que
vejam que a porta está aberta e, portanto não tem como eu ter feito o que ele
me pediu, mas quando me levanto para abrir a porta, ele corre em minha
direção e me puxa, me beijando feito um louco.
Quando enfim ele se afasta, sussurra:
― Celina, por favor, senta na minha mesa. Só um pouco!
Faço o que ele me pede. Sento-me à mesa e abro as pernas. Ele senta na
cadeira de frente para mim e parece me devorar com os olhos. Ele se
aproxima de mim e quando vai me tocar, eu me afasto.
― Nada disso, senhor Vaughn! Na empresa somos apenas chefe e
secretária, lembra? Você não pode me tocar!
― Sua megera! Vem aqui!
Ele vem em minha direção e eu consigo descer da mesa, mas assim que
ponho os pés no chão, me desequilibro e caio de quatro. Nessa hora, alguém
entra na sala com alguns papéis na mão. Eu me levanto rapidamente,
arrumo minha saia, mas a mulher diante de mim fica me olhando com uma
careta e algo no olhar que identifico como inveja.
Faço uma cara de “sim, estou dando para ele e você não”, mas logo me
recomponho. Estou parecendo a Lurdinha, o que há de errado comigo?
― Você não pode entrar na minha sala sem bater! ― esbraveja
Sebastian.
A mulher pede desculpas e só falta pular em cima dele, mas quando ela
sai, sei que vai espalhar pela empresa que eu estava de quatro no chão da
sala dele, e eu nem estava fazendo nada demais! Sebastian me olha e digo
isso para ele a beira das lágrimas.
― Eu nem estava fazendo nada demais!
― Está vendo! Antes estivéssemos mesmo fazendo alguma coisa, assim
você levaria a fama, mas receberia algo em troca. Agora vai ficar falada
sem ter aproveitado o lado bom disso!
Faço uma careta e vou para a minha mesa.
― Ainda dá tempo Celina, de aproveitar o que estão falando de você
nesse momento!
Mostro o dedo do meio para ele.
― Isso é culpa sua!
― Relaxa, Célie. Se você não quer, não vou insistir.
Ele vai para o banheiro e essa é minha chance. Corro até a cesta de lixo e
pego o cartão. Estou me sentindo uma namorada ciumenta mexendo nas
coisas do namorado, mas não me importo. Ele nem vai saber!
Quando abro e vejo a assinatura no cartão, percebo que Sebastian vai
sim saber que eu li o cartão, aliás, ele vai ter que me explicar isso. Pois no
cartão está escrito:
“Espere
até a hora certa, senhor
Sexo Sensacional.”
No dia seguinte Matheus vai cedo à minha sala e diz que sabia que meu
caso com a Celina não iria durar. Eu a desobedeço e tento ligar para ela,
mas ela não me atende. A semana inteira passo na sala do Cleber e Gil fica
me dando notícias. Ela sempre diz que eu devo deixar a Celina em paz e
pisca para mim e me sinto confuso sobre o que isso quer dizer. Os dias
seguintes são uma tremenda merda.
Na sexta, estou na cantina me afundando no meu décimo café do dia,
quando Cleber aparece.
― Que cara de bosta é essa Vaughn?
― Não tenho dormido bem.
― Aposto que não.
Espero por uma piada, afinal é o Cleber, mas ela não vem. Olho para ele
que parece preocupado.
― Que merda está acontecendo com você? ― pergunto.
― Tem alguma coisa errada. O Luciano de repente aceita assinar o
contrato depois de ter sido um babaca e a Celina simplesmente decide
terminar! Quer dizer, eu não sei o que ela sente por você, mas me parece
coincidência demais!
― Também acho.
― Vou falar com o Matheus e descobrir o que está acontecendo!
― Você acha que ele sabe?
― Tenho certeza que sim.
Penso se devo procurar a Celina de novo, mas decido não fazer isso. Ela
sabe onde moro, tem meu telefone, mas sequer me atende. Não sei o que
estão correndo, mas sei que precisa do tempo dela agora.
Entro na minha sala depois da conversa com Cleber, e ouço a porta bater
atrás de mim e o barulho da chave sendo passada. Mônica está na minha
frente com uma cinta liga a vista por baixo da saia levantada.
― Senti sua falta garanhão!
Ela vem para cima de mim, mas eu a afasto.
― Não vai rolar, gata.
Ela tenta de novo, mas eu a afasto de novo.
― Qual o problema, Sebastian? ― ela diz chorosa.
― Não estou no clima!
― Podemos nos encontrar amanhã então?
― Também não estarei no clima!
― O que há com você?
― Mônica, tudo o que fizemos antes foi muito bom, mas agora não
quero mais. Entendeu?
Ela parece em choque e sei que estou sendo um cretino, mas não
importa. Não quero ter nenhuma outra mulher! Ela me lança um olhar
magoado e sai da sala.
Quando estou indo embora, entro na garagem vazia e vou até meu carro,
mas me assusto ao ver algo em cima dele, alguém na verdade. Pois ali está
Lurdinha, com seu sorriso metálico em cima do meu carro.
― Sebastian, estava morrendo de saudade de você!
Merda. Preciso ser mais claro! Sei que a Mônica deve ter contado que
levou um fora. Preciso que todas as mulheres que eu costumava comer da
empresa entendam que não estou mais disponível.
Então a desço do carro e a seguro para dizer de uma vez. Não me
preocupo em ser sutil.
― Eu e você, não vai mais rolar! Aliás, é bom que saiba e que todas
saibam que estou comprometido. E não pretendo trair minha noiva!
Ela me olha em choque e sei que exagerei. Celina sequer é minha
namorada, mas não importa. Quero que todas elas me deixem em paz!
Celina
Chego sexta à noite feliz porque consegui uma entrevista de emprego.
Isso afasta da minha cabeça o fato da minha menstruação estar atrasada. Faz
uma semana que não vejo Sebastian, e sinto uma saudade enorme dele. É
duro não poder atendê-lo quando ele me liga, mas ele não está realmente
correndo atrás de mim. Sinceramente depois de ele quase acabar com sua
carreira por minha causa, eu esperava que ele fosse rastejar aos meus pés,
que fosse chorar para me ter de volta. É decepcionante que ele tenha
simplesmente aceitado minha escolha e nem tenha insistido muito.
Encontro Gil com uma cara fechada no sofá esperando por mim. Eu a
evitei a semana toda, e sei que está na hora de falar a verdade. Ela me
arrasta assim que entro e se senta de frente para mim.
― Tenho uma super notícia para te dar! Mas só o farei se me contar
primeiro o que aconteceu na viagem entre você e o “Delícia Vaughn”.
― Gil, isso é chantagem!
― Não, isso é o cúmulo da curiosidade. Não aguento mais ele
perguntado por você todos os dias!
― Ele pergunta? ― eu sinto o sorriso bobo que aparece em meus lábios
e Gil percebe também, porque grita.
― Não acredito! Você está apaixonada.
― Você não precisa gritar isso. Parece ridículo com você falando assim!
― Me conta agora!
Então conto a ela tudo o que aconteceu, inclusive a parte onde fui
chantageada por Luciano Cartariam. Ela fica revoltada e solta quinhentos
palavrões, nós rimos e conto a ela que tenho uma entrevista de emprego.
― Não muda de assunto, Celina! O que você vai fazer? Você está de
quatro por ele, vai simplesmente aceitar e desistir?
― Claro que não! Vou dar um tempo para o Luciano dar o dinheiro para
o projeto. Assim que ele fizer isso, você vai me avisar e eu vou procurar o
Sebastian. Isso é, se ele ainda me quiser depois de tanto tempo...
― Ele vai querer! Era isso que queria falar com você. A Lurdinha e a
Mônica estavam aos prantos na empresa hoje, porque ele deu o fora nas
duas e disse que está comprometido.
Sinto meu coração inchar no peito. Será possível que ele fez isso por
mim? Gil percebe a pergunta no meu olhar.
― Por quem mais seria sua tonta!
Nós comemoramos com um brigadeiro de panela e trinta minutos depois,
eu boto todo o brigadeiro para fora. Gil me olha espantada quando digo que
minha menstruação ainda não desceu. Mas prefiro não me preocupar com
isso. Sei que tenho passado por estresse demais e é normal atrasar nesses
casos.
Faz mais de um mês que não vejo o Sebastian, mas ele continuou
perguntando por mim todos os dias, como a Gil me contara. Há duas
semanas ele nem me liga mais e fico aqui me perguntando se ele já se
acostumou a dormir sem mim.
Claro que já, ele já deve ter arrumado outra! Não posso imaginar
Sebastian um mês e meio sem fazer sexo. Consegui o emprego de secretária
há duas semanas e adivinhem? Meu chefe está dando em cima de mim, mas
trato de fingir ser bem burra e não perceber as indiretas dele, o que acaba
deixando-o irritado. Ele me deixa em paz cada vez que faço isso.
Chego em casa com o envelope nas mãos. Não queria ter feito o exame,
mas a Gil me obrigou depois de minha menstruação ainda não ter descido e
do excesso de coisas estragadas que pareço estar comendo. Jogo o envelope
nela e vou tomar um copo de leite. Nunca gostei de leite, mas ultimamente,
tenho tomado como se fosse água.
Ela abre o exame e faz uma careta quando olha. Eu me preocupo por um
segundo, mas passa. Sei que o exame deu negativo. Ela se aproxima de
mim e diz calmamente:
― Celininha, você sabe que uma contagem inferior a 1,0 do nível de
HCG não quer dizer gravidez...
Sorrio aliviada, mas ela continua:
― Entre 1,0 e 25,0 seria preciso repetir o exame.
― Que merda Gil! Fala logo, qual foi a minha contagem?
― Ok, mas acho melhor você parar com essa boca suja porque a sua
contagem deu 15.000.
Não digo nada, e também não sinto nada. Solto o copo que está na minha
mão e caio para trás.
Quando volto a mim, Gil já me arrastou até o sofá. Puxo o exame de sua
mão e olho. O número 15.000 está bem grande na parte superior da folha.
― Merda, merda, merda! Como isso pôde acontecer?
― Você quer mesmo que eu te explique sobre alguém que transou sem
camisinha e que havia parado de tomar a pílula?
― Eu voltei a tomar no dia seguinte! E sempre me disseram que o
remédio demora para sair do organismo!
― Eles mentiram, e você está grávida! Precisa contar para o futuro
papai.
Então a história que Sebastian me contou sobre Jamille me vem à mente.
O tempo todo ela estava tentando dar um golpe nele. O que ele vai achar de
mim? Eu disse a ele que tomava remédio, mas agora ele vai achar que sou
igual à Jamille. Oh céus por quê? Por que comigo?
― Gil, eu não sei nem cuidar de mim! Eu não consigo nem me manter
num emprego e nem manter um noivo! Como vou cuidar de uma criança?
Tadinha dela, Gil!
Eu começo a chorar e ela me abraça. Quando me acalmo, ela tenta me
animar.
― Pensa pelo lado positivo. Melhor ter um filho do Sebastian que do
Edmundo. Pelo menos seu filho vai ser lindo!
Lembro-me que alguém já comentou isso comigo e começo a chorar de
novo.
― Não! Isso foi praga da Mirella. Tenho certeza. Ela disse como meu
filho com o Sebastian seria lindo! Droga, o que eu vou fazer agora? Se
descobrirem na empresa que estou grávida, eles irão me demitir!
― Eles não podem fazer isso Celina. É contra a lei!
― Então vou ter que aguentar o idiota do Leandro dando em cima de
mim por mais nove meses! ― volto a chorar.
― Como você pretende contar isso para o Sebastian?
― Eu não pretendo.
― Celina, você não pode mesmo achar que dará conta de cuidar de uma
criança sozinha. E mesmo porque ele tem o direito de saber que vai ser pai!
― Eu sei, vou contar, mas não agora! Talvez quando minha barriga
estiver bem grande, aí ele não vai ter coragem de me bater. Ou talvez,
quando o bebê nascer. Isso, ele vai olhar a criança linda, com os seus olhos
verdes, e não vai ter coragem de me matar e deixar ela sem mãe...
― Você está exagerando! Além do mais, ele provavelmente vai querer
acompanhar sua gravidez.
― Não diga essa palavra! Ainda não aceitei. E você realmente não
entende. Ele quase levou um golpe de uma mulher uma vez. Eu disse a ele
que tomava pílula, o que acha que ele vai pensar se eu disser agora que
estou grávida? Vai achar que quero dar o golpe nele!
Ela não disse nada. Mas entendeu que a situação era muito mais “fodida”
do que parecia.
Capítulo 16
Celina
Querido Sebastian,
Não, não posso ser tão melosa ou ele vai desconfiar.
Sebastian,
Não, falta alguma coisa. Já sei:
Sebastian,
Sei que faz muito tempo, mas
lembra da nossa primeira noite juntos,
quando eu disse que tomava pílula?
Imagine você que eu, uma pobre garota
recém traída, realmente tomava a pílula
até uns dias antes daquela noite, e claro,
como todos dizem, achei que o efeito do
remédio ainda ficasse um tempo no
organismo, e voltei a tomar no dia
seguinte.
Bom, acho que já deu meio que para
captar onde quero chegar. Sou um
desastre, se algo pode dar errado, comigo
vai dar! E bem, eu engravidei de você.
Não faça essa cara! A culpa não foi
minha e não foi nenhum golpe. A culpa
foi sua por ser um imbecil pervertido que
não controla o próprio pau.
Você me seduziu, eu não queria. Ok,
talvez eu quisesse um pouco, mas nunca
teria chegado àquela cama se não fosse
aquele papinho furado sobre presente de
aniversário. Enfim, a culpa é sua! E não
me venha com reclamações porque quem
sofreu para colocar essa criança no
mundo fui eu. Quem engordou como
uma porca e carregou peso por nove
meses, fui eu. Quem está com os peitos
cheios e vazando como uma teta de vaca
sou eu.
Você ficou com a parte fácil: o
dinheiro. Queria dizer que vou entender
se não quiser assumir seu filho, mas a
verdade é que não vou. O filho é seu, é
sua cara! E você é rico. Portanto, apareça
na maternidade em vinte e quatro horas
para registrar o bebê ou eu coloco você
na cadeia.
Não, ele vai chegar à maternidade munido de quatro advogados, e ainda
é capaz de tirar o bebê de mim. Aí sim, eu o mato! Sem falar que o bebê
tem que nascer a cara dele.
Meu Deus! O Senhor é testemunha que eu queria realmente contar, mas
infelizmente não será possível. Tenho mais longos sete meses para pensar
em um jeito de dizer isso a ele sem prejudicar a segurança do meu bebê.
Maldito Sebastian e seu pau! Maldita eu e minha fertilidade.
Obrigada Senhor! Por esse filho não ser do Edmundo, ou eu juro que me
mataria. Está decidido, não dá para contar. Ainda não estou pronta para
dizer a Sebastian que ele vai ser pai. E eu o amo, e isso é uma droga, porque
sinto tanta falta dele!
Chega! Nada de lamentações, não quero um filho mal humorado. Vamos
bebê, vamos tomar mais leite.
Sebastian
Faz um mês e meio que não a vejo. Normalmente, nesse tempo eu já
teria encontrado outras, transado muito, e esquecido. Tive oportunidades
para isso. Mas merda, sequer consigo dormir direito sem ela. Tenho andado
assim na empresa, sempre cabisbaixo e não saio mais para beber com os
meninos. Matheus vive dizendo que devo voltar ao normal, mas não me
sinto normal. Minha vontade é de ir até a casa daquela maldita e me
ajoelhar aos seus pés, mas me lembro do patético do ex dela fazendo isso e
sei que serei patético também.
Tenho que deixá-la livre e isso é uma merda sem tamanho. Para piorar, a
Gilcelle me pediu que eu não pergunte mais por ela. Disse que não pode
falar. Penso que a Celina deve ter pedido para ela não dar mais notícias.
Fico pensando se ela sequer imagina o estado em que estou por sua causa.
Quando descobri que estava apaixonado por ela, eu sabia que não seria fácil
conquistá-la, que ela não estaria pronta para um novo romance. Quero dar
esse tempo a ela, será que um mês já é tempo suficiente para ela se envolver
comigo?
No começo, achei que assim que Luciano depositasse o dinheiro do
investimento em nossa conta, ela me procuraria. Achei que era isso que ela
estava esperando, mas ele fez isso há uma semana e nem sinal dela. Pelo
contrário, fiz questão de dizer a Gilcelle que ele já tinha dado o dinheiro,
mas ao invés de me trazer algum recado da Celina, disse que não pode mais
falar sobre ela.
Avisto Luciano de longe e minha vontade é de quebrar a cara dele! Ele já
assinou o contrato e veio à empresa apenas para saber mais detalhes e me
ver derrotado, tenho certeza. Fico me perguntando se ele procurou pela
Celina. Se ela o recebeu, se ela ficou com ele.
Tento não ter contato com Luciano, mas claro que ele passa pela minha
sala.
― Soube que você e a Celina não estão mais juntos. É uma pena.
― E eu sei que tem dedo seu nisso!
― Ah! Por favor, Sebastian. Você não pode achar que uma mulher teve
que ser chantageada para não ficar com você. Aceite que ela não o quis!
― Quem falou em chantagem? ― pergunto.
Ele se assusta com o erro que cometeu e parto para cima dele. Sei que
ele é o motivo da Celina ter se afastado. Soco a cara dele até o nariz
sangrar, então Matheus e Cleber aparecem e nos separam.
Cleber sai com ele da sala e Matheus permanece. Espero uma bronca,
pois Matheus é arcaico e moralista como ele só! Detesta confusão.
Mas em vez de me passar um sermão, ele se senta e me olha:
― Eu sei que está sendo difícil. Achei que fosse mais uma mulher com
quem você queria se divertir, e que se importasse tanto com ela porque não
podia tê-la. Mas agora vejo que você realmente a ama.
― Eu disse isso desde o começo.
Ele tira do bolso uma página de jornal velho e atira em mim.
― Eu deveria ter te dado isso antes, mas tive medo de que você fizesse
algo que atrapalhasse o investimento do Luciano.
Pego a página e vejo a notícia de um mês e meio atrás, do dia em que
Celina e eu estávamos voltando da viagem. É uma foto do Luciano todo
molhado e da Celina. E o título diz que ele havia tentado agarrá-la e ela
havia gritado por socorro, atirando champanhe nele. Não entendo essa
reportagem, nem porque Matheus a está me dando agora.
― O que isso quer dizer?
― Pelo amor de Deus Sebastian, você é burro ou o quê? Será que não
percebe? O Luciano não queria investir por causa da Celina, aí ele se
encontra com ela e a irrita a ponto de jogar uma taça de champanhe nele e
gritar por socorro. Em seguida ela termina com você e ele decide investir no
projeto.
― E ele me falou agora a pouco sobre uma chantagem...
― Demorou para você perceber! Eu soube que era isso assim que ela
terminou com você, mas não tive coragem de te falar. Ele a está
chantageando, só pode ser isso. Eu sei que agi errado e quero que saiba que
vou devolver o dinheiro do Luciano e cancelar o contrato com ele.
Minha primeira vontade é dar um soco no Matheus, mas sei que eu
deveria ter percebido isso. Ela me deu vários sinais de que não queria
realmente acabar com nosso relacionamento. Decido ir atrás dela agora
mesmo, não posso esperar nem mais um segundo.
Dirijo como um loco até o prédio dela, mas o porteiro diz que ela não
está. Molho de novo a mão dele para entrar no apartamento. E decido fazer
uma denúncia sobre isso, ele não pode deixar qualquer desconhecido entrar
no apartamento dela assim. Não é seguro!
Assim que entro no apartamento, sinto o cheiro delicioso dela. Então
percebo como estou com saudade, como a amo! Sento no sofá e decido
esperar por ela ali. Mexo na sua agenda, vejo sua letra, vejo o nome do
Edmundo riscado, procuro por meu nome e sorrio ao ver que está na agenda
como “Estúpido Vaughn”. Estou louco para tê-la logo em meus braços!
Ela demora e começo a pensar, se Luciano a chantageou. Ela poderia ter
me procurado assim que ele depositou o dinheiro na conta. Por que ainda
não fez isso? Será que se separou de mim por causa dele e durante esse
tempo me esqueceu?
Olho novamente para um papel dobrado em cima da mesa do telefone.
Sem nada para fazer, pego o papel e percebo que é um exame de sangue em
nome da Celina. Leio o que está escrito, mas não entendo. Só quando vejo o
número grande que está na parte de cima da folha, especificado em semanas
embaixo, é que entendo.
― Que porra é essa?
Celina
Tive um dia de merda. Além de o meu chefe ser um perfeito cretino, ao
sair do serviço me deparei com Luciano me dando os parabéns por eu ser
uma mulher de palavra. Ele levou para mim um buquê de flores, que fiz
questão de tentar enfiar no rabo dele!
Todos na rua riram, eu também acabei caindo na gargalhada, mas ele
não. Odeio homens sem senso de humor. Credo! Pareço até o Sebastian
falando. Sebastian! Assim que entro em meu apartamento, sinto o cheiro do
perfume dele. Senhor, estou mesmo ficando louca, é isso? Já comecei até a
sentir o cheiro dele! Ótimo, meu filho além de ter uma mãe estabanada, vai
ter uma mãe louca! Penso na frase que me vem à cabeça todo dia quando
acordo “coitada dessa criança”.
Assim que acendo a luz, um vulto no meu sofá me dá um susto e grito
deixando tudo o que está na minha mão cair. Sebastian se levanta e para de
frente para mim. Quero gritar com ele, perguntar porque está aqui, como
entrou aqui. Quero bater nele por ter desistido de mim tão facilmente!
Quero beijá-lo e quero me afastar urgentemente dele antes que descubra
sobre a gravidez, pois ainda não está na hora.
Porém, antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me puxa para os seus
braços e me beija. E como eu senti falta do seu beijo! Eu me entrego a ele e
já passo as pernas pela sua cintura. Ele me levanta e me encosta na parede.
Sinto a ereção dele pressionado o meio das minhas pernas, seus beijos ficam
cada vez mais vorazes, quando ele toca meu mamilo, eu explodo e gozo.
Ele me olha espantado e fico muito sem graça. São os hormônios da
gravidez, mas ele não pode saber disso.
― Poxa, você estava mesmo com saudade, hein! ― ele comenta com um
sorriso.
Eu me afasto dele e desço da sua cintura. Arrumo minha saia e me
recomponho.
― O que você quer aqui, Sebastian?
― Quero saber quanto tempo mais esse seu “preciso de tempo” vai
durar. O dinheiro do Luciano já está na nossa conta Celina. Por que você
não me procurou?
― Você sabia que era por causa disso que eu estava me afastando de
você?
Ele fala um palavrão e percebo que ele não sabia.
― Não, eu desconfiei que havia alguma coisa errada! Mas sofri como
um louco imaginando você com outro, pensando que não me queria mais.
Quando o dinheiro dele caiu na conta, fiz questão de contar a Gilcelle para
que ela te contasse, mas mesmo assim você não me procurou. Eu vim aqui
para procurar você e fazer uma cena até você ir para a minha casa comigo,
Celina!
Eu abro um sorriso ao ouvir aquelas palavras.
― Ele me procurou. Disse o que havia te proposto para investir na
V.D.A., também disse que você não aceitou. Eu fiquei surpresa, mas então
ele disse que o Matheus pretendia te excluir da sociedade da empresa e que
ele impediria isso te dando o investimento, se eu me afastasse de você.
Disse que ia ter gente me seguindo, para garantir que eu estaria cumprindo
minha palavra.
Ele me puxa para os seus braços.
― Celina, ele mentiu! O Matheus nunca me demitiria, somos sócios, ele
não pode fazer isso, tenho o mesmo tanto de ações que ele. Eu preferiria ter
ficado como um louco em busca de um novo investidor, do que ter ficado
todas essas semanas sem você.
Eu o aperto e deixo que ele me beije de novo. Então, sinto um enjoo e
me afasto dele. Ainda não é hora de fazermos as pazes. Preciso que nosso
filho nasça primeiro.
― Tanto faz, já faz muito tempo Sebastian. Eu estou trabalhando, sabe.
Acabei de chegar e estou exausta. Acho que é melhor nos falarmos outro
dia.
Ele parece indignado com minha sugestão.
― O caralho que eu vou me afastar de você agora!
Ele vem na minha direção, mas sinto o enjoo voltar e a ânsia me domina,
corro até o banheiro e vomito. Ele vem atrás de mim e segura meu cabelo.
Quero mandar que ele saia daqui, não quero que ele me veja assim, mas
quando digo isso a ele, diz que é bobagem, se senta no chão e me põe no
seu colo, enquanto eu vomito tudo que comi durante o dia e até o que comi
no dia de ontem.
E eu que achei que essa fase do enjoo havia passado...
― Quanto tempo demora para passar?
Percebo que falei isso em voz alta e me levanto.
― É só uma virose, já vai passar!
Escovo meus dentes e tomo um copo de leite, pois já estou com fome.
Sebastian está me esperando na sala e quando saio, ele está com um papel
na mão. Mas o papel ainda está fechado. Sinto o sangue fugir do meu corpo
e ele corre até mim e me segura.
― Você está bem? Vai desmaiar?
― O que está fazendo com esse papel na mão?
Ele me deposita no sofá e ergue o papel.
― Quando pretendia me contar sobre isso?
Merda! Ele descobriu. Isso não pode estar acontecendo. Só falta dizer
que o bebê não é dele!
― Quando o bebê nascesse!
― Você não pode estar falando sério!
― Acredite, estou.
Ele fica andando de um lado para o outro. Parece maravilhado e irritado.
― Celina, eu não sei o que você pensou, mas esse exame já tem uma
semana. Você já devia ter me contado isso desde uma semana atrás! Eu sou
o pai, droga! Você pretendia mesmo me manter longe da sua gravidez? Ia
me impedir de ver meu filho crescer?
― Não diga a palavra gravidez em voz alta! Ainda não aceitei.
Ele se aproxima de mim e se ajoelha entre minhas pernas.
― Por que você faria isso? Por que esconderia de mim o meu filho?
― Não é óbvio? Porque seu eu contasse que estou grávida, você ia
pensar que estou dando um golpe. Eu disse a você que tomava pílula, mas
eu fiquei sem tomar por uns dias, quando terminei com o Edmundo. Voltei a
tomar assim que transamos. Mas você não entenderia isso, você acharia que
eu engravidei de propósito. E eu nunca faria isso Sebastian. Eu juro!
Ele passa a mão pelos meus cabelos para me acalmar. Sinto uma lágrima
rolar por meu rosto, mas ele a seca gentilmente.
― Foi por isso que você não me procurou quando o dinheiro do Luciano
caiu na conta? Por que teve medo de como eu reagiria?
Concordo com a cabeça.
― Celina, eu nunca pensaria isso de você! Fui eu que te seduzi, eu
transei com você sem camisinha sabendo muito bem o que poderia
acontecer. Depois você disse que estava tomando o remédio, mas eu não
perguntei antes, então não adiantaria nada, não é mesmo? Não foi um
deslize só seu, foi de nós dois. Mas não me arrependo nem por um segundo,
porque amo você e vamos ter um filho. E você nunca mais vai poder se
livrar de mim.
Meu coração dá um pulo no peito e quase desmaio.
― Você... você me ama? ― pergunto ainda sem acreditar que ele sinta
mesmo isso por mim.
― Mais que isso, também sou perdidamente apaixonado por você!
Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto, mas ele me puxa e me beija, e
logo estou em seu colo. Nesse momento, a porta abre e Gil estaca ao ver a
cena.
― Desculpe, já estou de saída de novo.
Ela sai e nós ficamos rindo.
― Eu também te amo, Sebastian!
Ele abre um enorme sorriso.
― Achei que não diria isso nunca!
Então me beija de novo e me leva para o quarto. Ele tira minha roupa
lentamente e comenta que ainda não dá para ver nosso bebê, então começa
a beijar meu pescoço. Toma meu mamilo na boca e quase gozo quando faz
isso. Ele me toca no meio das pernas e me contorço embaixo dele, então
finalmente me penetra. Ele sai e entra em mim duas vezes e eu gozo. Ele me
olha espantado.
― São os hormônios da gravidez, não pare! ― grito.
Ele sorri.
― Acho que vou adorar ter você grávida.
Eu resmungo e ele volta a me penetrar, com vontade, gozo ainda mais
duas vezes até ele se entregar e gozar dentro de mim.
Ele me puxa para os seus braços e sussurra:
― Eu te amo Celina. Te amo como nunca amei ninguém! Vai ser
maravilhoso ter você na minha casa e na minha cama todo dia.
― Como?
― Você está grávida, Celina. Achei que era óbvio que agora vai morar
comigo. Quero cuidar de você e do meu filho.
― Eu não vou morar com você.
Ele bufa.
― Tudo bem, vamos fazer do seu jeito. Celina, quer se casar comigo?
Eu começo a rir.
― Claro que não! Eu não vou me casar por causa do bebê. Em que
época você vive? Além do mais, não vou me casar com você até ter certeza
de que você será fiel a mim!
Ele fica nervoso e se senta.
― Celina, nós ficamos separados por quase dois meses e nesse tempo
todo eu sequer olhei para outra mulher. Você precisa de mais provas da
minha fidelidade do que isso?
― Sebastian, eu vou ficar enorme e vai chegar uma época em que não
vou aguentar fazer sexo. E depois vai ter o resguardo, quarenta e cinco dias!
Não vou me casar com você para ser traída quando isso acontecer.
― Não seja infantil! Eu não preciso te dar mais provas do meu amor.
Você vai se casar comigo e ponto.
― Provas do seu amor? Que amor? Você simplesmente concordou
quando eu te mandei embora e sequer se arrastou aos meus pés!
― Eu não acredito que você queria que eu fizesse isso.
Eu olho para ele brava, mas ele está rindo.
― Você me privou do meu momento deusa.
Digo e começo a rir também, ele deita em cima de mim.
― Você vai se casar comigo!
― Não vou!
Ele me beija.
― Vai sim!
Ele enfia os dedos no meio das minhas pernas e me toca.
― Não. ― sussurro com dificuldade.
― Vamos ver se não. ― ele responde e ficamos a noite toda nessa briga.
Eu o amo, de verdade, e vamos ter um filho. Mas você me conhece há
várias páginas. Acha mesmo que seria uma boa esposa e mãe?
Capítulo 17
Celina
― Pinto pequeno!
Estou deitada em uma cama enorme e macia; a cama do hotel Quatro
Estações. Estou usando minha fantasia de dominatrix, aquela mesma, que
me fez ser alvo das risadas de dez mil pessoas. E um pinto pequeno faz algo
parecido com cócegas no meio das minhas pernas. Fecho os olhos e tento
me concentrar. O que está havendo? Eu conheço essa sensação, a sensação
das cócegas. As cócegas que não me fazem rir.
Olho para Sebastian pronta para implorar que ele tire o dedo mindinho e
meta logo seu pau enorme, mas quando reparo em seus olhos, não são
verdes, são castanhos. E há uma pequena macha em um deles.
Merda! A barriga protuberante toca em mim e entro em pânico. Merda,
merda, merda!
Então percebo que não é um dedo dentro de mim, mas sim o micro pau
do Edmundo. Ele me olha como se o que estamos fazendo fosse “o
paraíso”, e eu só quero sair desse inferno.
― Saia daqui! Não me toque ― Grito e tento me afastar.
― Você me ama, Passarinha. ― ele diz com a voz rouca que mais parece
um grasno.
― Que merda está fazendo? Como entrou aqui? Não quero você, não me
toque!
Ele se zanga e se afasta. E eu nem sinto a hora que ele sai de dentro de
mim, para você ter uma noção do que é um pinto pequeno. Sei que ele está
gritando alguma coisa, mas estou ocupada olhando para os lados,
procurando por Sebastian. Onde ele está? E se ele chegar e pegar Edmundo
nu aqui?
Cubro-me com o lençol e finalmente olho para Edmundo ajoelhado na
cama. Ele está nervoso. Segura meus ombros, me joga de volta na cama e
aproxima de mim aquele...
― Pinto pequeno!
― Celina! Acorde! Celina! 4.2:
Meus ombros são sacudidos
Nada por mãos, de mas de repente Edmundo some e
sinto o cheiro de Sebastian. Abro os olhos lentamente e o vejo à minha
demonstrar
frente. logo de cara
Ele parece preocupado.que quer dar
― Celina, está tudo bem! paraFoi um sonho.o
Respiro fundo e me sento também.
homem, porEle me estende um copo de água, que
tomo rapidamente. Quando ele começa
favor, não a me perguntar o que sonhei, pulo
em cima dele. O derrubo na cama eisso.
façam abaixo sua cueca: ali está! Meu menino.
Ele está dormindo e mesmo Não assim deixe
é quatro vezes maior que o do Edmundo.
Suspiro aliviada e o acaricio
queemocionada.ele
Sebastian me olha como se euo fosse
perceba seu louca. Abre a boca para falar de
novo, mas coloco seu pau interesse,
lindo e enorme na boca e ele substitui as palavras
por gemidos. mas nessa
Estou tão desesperada fase,
que o faço nãogozar rapidamente. E mesmo depois
que ele goza, fico ali, sentindo-o
negue pulsar em minha boca, tendo a certeza que
aquilo ali é a realidade. Quando
totalmenteele seseacalma, me puxa para seus braços e
me aperta contra ele. ele insinuar
Preparo-me para dormir, oumas ele fala:
perguntar
― Com quem você sonhou? E não venha me dizer que foi comigo,
algo. Deixe-o
porque você estava gritando semprepinto pequeno. Não poderia estar falando de
mim... desconfiando,
― Convencido. ― murmuro. mas sem ter
― Celina, por favor! Não me digado
certeza que você sonhou com o Edmundo?!
― Ok. que você
― Ok, o quê? Ok vocêdeseja.
sonhou com ele?
― Ok, não vou dizer.
Ele se levanta e me encara:
― Então você não sonhou com ele?
― Agora você quer que eu responda?
Ele bufa e assente.
― Sim. ― repondo.
― Sim você vai dizer ou sim você sonhou com ele?
9° DICA:
Começo a rir. Tudo isso está ridículo demais.
― Sim euAestava sonhando com ele.
ACEITE
― Nu?
Preparo-me para dar uma resposta espertinha quando vejo o seu rosto.
PROPOSTA
Ele está com raiva.
DELE.
― Sim, sonhei que ele estava me fazendo cócegas. É o que ele chama de
comer!
Ele parece confuso, mas logo se joga na cama, o mais distante possível
de mim. Corro o dedo por seu peito, mas ele pega a minha mão e afasta.
― Não acredito que esteja com raiva por causa de um sonho!
― Por que você sonhou com ele? Nu ainda por cima? Você estava
pensando nele?
― Não. ― respondo me sentando ― Sebastian, que insegurança é essa?
Ele se senta também e parece ainda mais irritado.
― Não estou inseguro! Você não vai desejar outro homem enquanto
tiver meu pau à sua disposição. Estou confuso.
Ele se levanta e fica dando voltas.
― Você não aceitou meu pedido de casamento, não quis dormir dia
nenhum na minha casa, certezae agora sonha com seu ex! Isso só é meio
inesperado. fez isso para
fazê-lapensei que teria que lidar com um Sebastian
Não sei como agir. Nunca
inseguro. Arrogância é dormir,
seu nomeela do
o meio, insegurança passa longe dele.
Mas por que isso? ama. Mas
― Vou para sua casanão amanhã.tem― digo para apaziguar o que quer que ele
esteja sentindo. ― E não estava tendo um sonho erótico com o Edmundo,
como não
era mais um pesadelo. amar. Eu os
Um sorriso brilha emamo, muito!
seu rosto e ele fica me olhando.
― Merda, Sebastian!Ultimamente
Venha aqui e me faça esquecer essa porcaria de
pesadelo. quebro
― Nem precisa pedirpoucas
duas vezes. ― ele diz e pula em cima de mim.
coisas pela
casaquando
Estou saindo do serviço e quaseo vejo.
― E o pesadelo aparece! ― sussurro enquanto Edmundo abre os braços
não brigo
com um sorriso amarelo.com
Como se eu fosse mesmoSebastian.
me jogar nos braços dele. Louco! Paro a uma
distância segura, que eleSei que dois passos na minha direção:
ignora, dando
― Celina... ― ele sempre
diz avaliando meu corpo dos pés à cabeça com
aprovação. teremos
― Encosto! ― respondo.algum
Seu sorriso some e aquela
conflito,
expressão de causar pena surge no rosto dele.
― Eu fui à igreja Celina,
afinalespereidepor você!
― Fiquei sabendo. contas, a
Ele me olha com expectativa.
vida seria
Ok, vamos ser sinceros aqui. Tudo bem
que ele pagou um micomuito
“à lá Celina” ficando plantado na igreja como um
idiota, mas gente! Pintomonótona
pequeno!seComedor de secretárias! Não dá para
perdoar esse homem. Ainda
não tivesse,
mais depois de experimentar o senhor sexo
sensacional. Ele continua
masme sei
encarando,
que esperando que eu demonstre pena,
e eu me seguro para nãotudo
rir. dará
Faço isso por poucocerto,
tempo,pois
logo o enjoo me toma, preciso vomitar.
Interrompo o que quer que
no elefinal
estava
eu falando e digo:
― Preciso ir Edmundo,estarei
tchau.
Viro-me para correr, sempre
mas ele segura meu braço e me puxa de encontro a
ele, o rodopio que faço certa.
com o gesto me leva a beira do abismo e não tenho
saída, me afasto o suficiente e vomito em seu pé, o nojo tomando seus
olhos.
Quero rir, muito, mas um braço enlaça minha cintura e Sebastian está
com um sorriso enorme no rosto.
― Olha, se não é o Edmundo Pinto Pequeno!
Edmundo o encara com mais raiva ainda no olhar. Quero dizer a ele para
não fazer isso, quero dizer que ele já é feio o bastante, não pode fazer
caretas, mas estou meio que tendo um ataque de pânico. Sebastian já
andava estranho desde o meu sonho com Edmundo. O que irá pensar em
vê-lo ali, na porta do meu trabalho, justo no dia em que não tinha me
avisado que viria me buscar?
Não vou ficar dando explicações, mas tento controlar a ansiedade que me
toma e me concentro na expressão dele. Ele está sorrindo.
― Vaughn. ― responde Edmundo com algo parecido com nojo ― Então
é verdade!
― Sim, como pode ver.
Verdade? O que é verdade?
― Sinto muito pelo incidente. ― Sebastian diz olhando o pé de
Edmundo. ― A Celina está grávida, isso acontece muito no início da
gestação.
De branco, Edmundo fica azul. E começa gaguejar.
― Grávida? A Celina está grávida? De você?
Sebastian abre um sorriso debochado.
― É claro! De quem mais seria? Cócegas não geram bebês.
Dou uma cotovelada em Sebastian e Edmundo parece em choque. E pela
primeira vez desde que o peguei comendo a secretária, tenho pena dele. Ele
me olha ferido, exatamente como olhei para ele quando o peguei com a
secretária. Sei o que ele está sentindo, mas não posso fazer nada por ele. Eu
sempre desejei uma vingança, mas agora que acidentalmente consegui, vejo
que na verdade não queria me vingar.
Ele havia me ajudado no fim das contas; se não fosse por ele eu não teria
ficado endividada, e não teria aceitado viajar com o Sebastian.
Indiretamente ele foi o meu cupido.
Edmundo, Sebastian e eu ficamos em silêncio. Sebastian não está mais
rindo, acho que percebeu que isso realmente afetou o Edmundo. Ele abaixa
a cabeça, derrotado e diz com a voz baixa:
― Você vai se arrepender disso, Vaughn!
Sebastian parece tão surpreso quanto eu pela ameaça. Mas apenas diz:
― Acho que não!
Então Edmundo me olha, bem nos olhos, vejo a dor em seus olhos e
quero me sentir culpada, mas não me sinto. Ciclo totalmente encerrado
Edmundo, sua fase já passou!
Ter certeza disso me faz abrir um sorriso, e ele diz para mim:
― Eu queria te dar filhos, Passarinha! Muitos. Você não precisava buscar
isso em outro assim, tão rápido.
Filhos? Com o Edmundo? Eu não os queria nem com o Sebastian,
imagina com o Edmundo? Deus me livre ter um monte de passarinhos, nem
pensar! Vou dizer isso a ele, mas ele já parece derrotado o suficiente, então
apenas dou de ombros e não digo nada.
Sebastian parece inquieto, me puxa para mais perto e me afasta de
Edmundo.
― Precisamos ir, amor. ― diz para mim e eu concordo com a cabeça.
Ele olha para Edmundo ainda ali, parado, derrotado, vomitado.
― Adeus, Edmundo Pinto Pequeno e Pés Vomitados! Espero que não
procure a minha noiva novamente.
Edmundo e eu piscamos os olhos com a palavra noiva, mas tento
disfarçar. Sebastian só está marcando seu território, como um cachorro.
Sinto-me uma cadela ao pensar assim, mas é melhor ser uma cachorra, do
que uma passarinha, convenhamos!
― Ah, mas não é ela que pretendo procurar. ― Edmundo responde antes
de sair batendo o pé e espirrando respingos de vômito pela calçada.
Ficamos parados, Sebastian ainda com os braços em volta da minha
cintura. Espero ansiosamente que ele diga alguma coisa, que pergunte o que
Edmundo estava fazendo ali, pois sei o quanto é ciumento e possessivo,
mas ele não diz.
Ele me guia ao carro e me leva direto para casa. Eu desço sem entender e
espero que ele desça atrás de mim, mas buzina, arranca com o carro e vai
embora.
Eu não entendo a reação dele, e só posso rezar para que ele não cometa
nenhuma burrice. Porque da próxima vez que ele falhar comigo, não haverá
vingança que me faça perdoá-lo.
Sebastian
Pai, eu vou ser pai. Fico dando voltas pela sala enquanto tento
assimilar. Há três dias, quando recebi a notícia de que irei ser pai, foi uma
maravilha. Mas estava tão concentrado em estar dentro da Celina que não
parei para pensar no que aquilo significava. Nas duas primeira noites, só
queria tê-la e nem lembrei desse assunto. Mas depois, quando ela se
recusou a dormir na minha casa pela terceira vez, a palavra me atingiu. Pai.
Eu vou ter um filho com a Celina!
Encontro Cleber no mesmo bar de sempre. Um bar de rua, no centro da
cidade, em que noventa por cento dos frequentadores são do sexo feminino.
Ele já está com o copo de cerveja na boca e de olho em uma mulata quando
me jogo na cadeira de frente para ele.
― Porra! Você me assustou, homem!
Então ele repara minha cara e faz uma careta também.
― O que aconteceu Sebastian? Você brigou com a Celina de novo?
― Eu vou ser pai. ― digo.
Ele cospe a cerveja na minha cara.
― Merda!
―Pois é. ― digo me limpando com um guardanapo.
― A Celina vai te matar, cara!
Olho para ele confuso e então me dou conta. Ele acha que é de outra
mulher.
― Ela é a mãe!
― Ah...
Ele fica um tempo assimilando, depois começa a rir. Não entendo onde
está a graça da situação! Vou ter um filho com a Celina, a Celina. Dentre
todas as mulheres que eu peguei na vida, logo a Celina, vulgo louca, foi
engravidar! Mas quando penso isso, penso que não queria ter filhos com
nenhuma outra mulher além dela. Aliás, nem com ela. Merda!
Cleber se recupera de sua crise de riso quando vê a cara que estou
fazendo. Vamos, me provoque cara! Estou precisando extravasar minha
tensão no rosto de alguém.
Ele fica sério e fala, tentando conter o riso:
― Então, você vai ser pai...
― Pois é.
― Como você se sente sobre isso?
― Não sei.
Não sei mesmo. Me sinto feliz, eu acho. Terei um elo eterno com a única
mulher que amei, a mulher que amo. Por que estou falando no passado?
Mas não estou pronto para ser pai. A Celina mal está pronta para um
relacionamento, imagina para ser mãe? E mesmo que ela não tivesse sofrido
uma decepção tão grande com o ex noivo e comigo, e uma chantagem de
Luciano, acho que ela não estaria preparada par ser mãe nunca! Posso
vislumbrar a Celina atirando a mamadeira na cabeça da criança se ela
chorar demais. Não, ela não faria isso. Ela é boa e responsável. Merda...
― Às vezes acho que a Celina tem problema de cabeça! ― solto.
Ele me encara, sei que ele quer rir e torço que ele faça isso, porque ai
vou ter um motivo para quebrar a cara dele.
Mas ele diz, ainda tentando se manter sério:
― Imagina se for uma menina com o temperamento dela? Você terá duas
Celinas!
― Merda.
― Merda dupla, eu diria!
Tiro o copo da mão dele e viro. Então peço outro, que viro assim que
chega e peço algo mais forte. Quando o uísque é depositado na mesa, me
preparo para virá-lo, mas Cleber me impede.
― Tá legal Vaughn! Eu detesto ser o responsável, mas como o Matheus
não está aqui, serei seu grilo falante por hoje. Beber não vai fazer você
voltar no tempo e lembrar-se de encapar a criança antes de mandá-la para
chuva.
Faço uma careta. Que comparação mais ridícula!
― Não tenho experiência em dar conselhos. ― ele justifica― Se você
não quer a criança, pode pedir para ela tirar!
― Nunca faria isso! E não disse que não quero a criança. Só não estou
preparado ainda.
Penso por um momento em uma menina, com o sorriso da Celina, o seu
cabelo, até mesmo seu temperamento. E me pego sorrindo.
― O que foi agora? ― pergunta Cleber.
― Seja como for, se tiver uma menina, ela será linda!
― Se puxar a mãe...
Deixo o uísque para lá e peço outra cerveja.
― O que vai fazer agora? Você sabe que não precisa se casar com ela.
Embora eu acho que vá querer fazer isso.
― Sou louco por ela, não é segredo. Eu já queria tê-la em minha cama
todas as noites. Mas isso, um filho?! Quero estar ao seu lado em cada
momento, quero estar quando o bebê chutar pela primeira vez, quero
segurá-la enquanto ela vomita.
― Chega! Você não faz ideia do quanto está gay dizendo essas merdas
todas! E pare por aí porque não quero saber mais nada que grávidas fazem!
A questão é simples: você aparentemente quer a criança e quer a Celina?
Qual é o problema?
― O tempo. Não era para ter acontecido agora! A Celina não está
pronta. Hoje o seu ex noivo imbecil foi procurá-la e vi que ela ficou
mexida. Talvez se ela não estivesse esperando um filho meu, teria feito as
pazes com ele.
Cleber me olha sério, depois começa a rir, alto.
― Não acredito! Morri e fui para o céu! Sebastian Vaughn, o ser mais
convencido que eu conheço, está inseguro. Já posso morrer feliz!
Pronto. Era tudo o que eu precisava! Me levanto em um rompante e
acerto um soco na cara dele. A cadeira dele tomba para trás e as pessoas à
nossa volta gritam. Ele não se mexe por um tempo e sinto a tensão se esvair
do meu corpo. Estendo o braço que Cleber segura e o puxo para cima. Há
sangue escorrendo do seu nariz.
Ele o toca e solta um palavrão.
― Melhor agora? ― pergunta.
Apenas concordo com a cabeça.
― Porra Sebastian! Nunca mais chamo você para beber.
Nem respondo. Saio a procura do que preciso para ficar melhor. Minha
droga favorita: Celina. Dane-se a reação dela diante do ex! Dane-se se não
estamos prontos para ser pais! Eu a quero. Agora ela é minha em dobro. E
eu preciso ouvir da boca dela, enquanto geme, que não pensa mais no ex
imbecil.
Celina
Alguma coisa ainda está errada. Sebastian e eu voltamos ao nosso
não-relacionamento há uma semana, coisa que ele quer transformar em um
relacionamento sério. Mas, não sei se confio nele o suficiente para isso.
Nas primeiras noites, ele não saiu da minha casa, e transamos o
equivalente ao que teríamos transado no tempo todo que passamos
separados. Mas há dois dias, desde que sonhei com Edmundo, Sebastian
está estranho. Ele não dormiu mais na minha casa, sequer o vi. Ele me liga
toda noite e diz que está cansado.
Eu diria que o maldito já arrumou outra, se não fosse a Gil Patrulha. Ela
meio que está obcecada em vigiá-lo, e garante que ele não tem uma amante.
Então, o que está acontecendo?
Chego em casa e encontro Gil jogada no sofá, o que é incomum. Ela
sempre sai nas sextas à noite.
― Preciso falar com você. ― digo e ela se senta.
Então conto a ela sobre o sonho estranho e a reação mais estranha ainda
de Sebastian.
― O que você acha?
Ela pensa um pouco.
― Será que você sente falta de dormir com o Edmundo?
Faço o sinal da cruz.
― Credo! Claro que não! Gil, meu namorado é super bem dotado!
Jamais sentiria falta do Edmundo pinto pequeno.
― Tem razão. Ninguém desejaria cócegas se pode ter orgasmos, mas
você é meio estranhas às vezes. Mas não, você ama o Sebastian, e isso é
fato!
Ficamos as duas pensando e logo, pergunto:
― Quando o Matheus foi embora você sonhou com ele?
Ela faz uma careta.
― Não Celina! Nós não tínhamos uma relação, e quando ele foi embora
eu abri as pernas para outro no dia seguinte e nunca mais pensei nele.
Ok, isso não é uma reação normal. Eu não sonhei mais com ele, foi
somente um pesadelo. Já a reação de Sebastian, bem, não sei o que dizer
sobre Sebastian, não sei o que está acontecendo com ele.
De repente alguém bate na porta, com força e repetidas vezes. Corro para
atender receosa, mas é Sebastian. Ele está com o cabelo bagunçado, a blusa
social com os primeiros botões abertos e cheira a cerveja. Ah merda! O que
foi que ele fez?
Antes que eu diga qualquer coisa, ele me puxa e me beija com força.
― Eu te amo! ― sussurra ― Te amo. Você é louca, encrenqueira e mal
humorada, e eu te amo assim mesmo.
Começo a rir como uma boba em seus lábios e o puxo para mais perto.
Mal vejo a Gil sair e nem escuto o que ela fala. Estou concentrada em
Sebastian, o homem que eu amo, que eu desejaria muito que fosse meu.
Ele me arrasta até meu quarto e me deposita gentilmente na cama. Deita
sobre mim e espero que ele tire minha roupa. Fecho os olhos e espero,
espero, mas o contato dos seus dedos não vem.
Abro os olhos e ele está me olhando:
― O que houve?
Ele continua me olhando e não responde:
― Merda Sebastian, o que foi que você fez? Você bebeu?
Ele começa a rir.
― Fique sabendo que não vou aceitar mais nenhuma merda sua, ouviu?
Não tem filho no mundo que me faça perdoar você de novo.
Ele ri ainda mais alto e me cala com um beijo.
― Eu só tomei umas cervejas com o Cleber e o máximo que fiz foi socar
a cara de pau dele!
Arregalo os olhos. Sempre soube dessa amizade esquisita dos dois, mas
um soco me parece ser demais!
― Celina, precisamos conversar. Preciso saber exatamente o que você
sentiu quando viu o Edmundo hoje.
Será que isso é um teste? Um jogo? Que merda é essa? Para quê ele quer
saber de Edmundo quando estamos na cama totalmente excitados?
Olho para ele para dizer isso, mas lá está, no olhar dele, a insegurança:
― Enjoo. ― respondo ― Senti um enjoo terrível, por isso vomitei no pé
dele!
― Você sabe que não é disso que estou falando.
― Então não sei do que você está falando. O que espera que eu tenha
sentido ao vê-lo?
― Não sei, levando em conta que você sonhou com ele...
― Eu já disse que foi um pesadelo! E a culpa é sua por me deixar mal
acostumada com o seu pau. Sinto medo de perdê-lo.
Ele sorri e parece relaxar:
― Sabe Celina, às vezes acho que você só está comigo por causa do meu
pau.
― Acha é? Eu tenho absoluta certeza disso.
Ele sorri e me beija, mas quando começa a tirar minha roupa, eu o
empurro e me sento.
― Acho que está na hora de termos uma conversa séria, Sebastian! E
não faça essa cara. É muito fácil você vir aqui e transarmos a noite toda e
brincarmos com respostas engraçadinhas e provocações. Mas as coisas
estão diferentes agora. Vamos ter um filho! Eu quero saber exatamente
como se sente sobre isso!
Ele me olha em choque. Quero dar um soco nele pela descrença com
minhas palavras. Por que todo mundo reage assim quando falo alguma
coisa séria?
Mas por fim, diz:
― Assustado.
― Ainda bem que não sou só eu, então.
― E maravilhado, para falar a verdade. Vamos ter um filho, Celina! Um
pedaço de nós dois em um só ser. Você pode imaginar isso?
― Posso. Pobre criança!
Ele sorri e me beija. Puxa-me para os seus braços e espero que ele fale.
Sei que há algo mais na sua insegurança. Sei que não é por causa de um
sonho bobo com o Edmundo. Há algo mais!
Ele começa a desabotoar minha blusa, mas paro sua mão.
― Sebastian!
Ele suspira e me aperta mais forte antes de começar a falar.
― Eu quero me casar com você! E não é somente por causa da criança.
Eu te amo. Não consigo dormir sem você, detesto acordar longe do seu mau
humor matinal e claro, quero aproveitar os hormônios da gravidez para
transarmos o dia todo!
Começo a rir.
― Mas não quero forçá-la a nada! Eu sei que você não está pronta. Sei
que não confia em mim. E não quero que você aceite só porque vamos ter
um filho, porque eu serei pai dessa criança independente da situação.
― Nós nos conhecemos há pouquíssimo tempo, Sebastian. Eu sei,
vamos ter um filho, mas isso foi um acidente, não era para ter acontecido.
De qualquer forma, é nossa responsabilidade agora, será para sempre. Mas
casamento? Esse é um passo que não temos que dar. Eu quase cometi um
grande erro uma vez e não quero passar por isso de novo. Se eu me casar
um dia, quero ter absoluta certeza do que estou fazendo!
― O que eu tenho que fazer para te dar essa certeza?
― Você fez. Dormiu com outra na primeira oportunidade. Sentiu-se
inseguro e foi beber em vez de falar comigo. Como espera que eu confie em
você?
― Eu vou mudar, Celina! Entenda que nunca me apaixonei assim antes.
Nunca senti esse grau de ciúme, de necessidade de ter alguém. Eu sei que
estou pirando, que não sei lidar com esse sentimento. Há momentos que
parece que ele irá me dominar e serei tão ridículo quanto o Pinto Pequeno...
Eu o abraço e beijo seu pescoço.
― Isso nunca vai acontecer! Eu sei que você me ama, Sebastian. Você
deixou o maior negócio da sua vida por mim. Não duvido disso, eu sinto
pela forma como você me toca. Mas amor não é suficiente! Você precisa
crescer. Eu preciso crescer. Nós temos algo que nos unirá para sempre. Por
que não podemos esperar? Dar um tempo para nos conhecermos melhor,
para termos certeza de que devemos mesmo passar o resto da vida sob o
mesmo teto?
Ele pensa um pouco e depois um suspiro triste escapa de seu peito.
― Você não me ama, Celina. Está ferida demais para amar de verdade! E
não sei mais o que fazer para te conquistar.
― Você está errado, eu o amo muito! Chega a ser assustador! E não
quero estragar isso. Sebastian, as merdas que você faz não me afetam
muito, porque não espero nada de você. Mas, a partir do momento que você
assumir um compromisso comigo e colocar uma aliança no meu dedo, eu
vou esperar tudo de você. E se você pisar na bola, eu vou te matar. E não
quero deixar meu filho sem pai!
Ele sorri e me aperta. Ficamos um tempo em silêncio, mas sei que ele
está magoado.
― O que eu sinto por você é o sentimento mais forte que já senti na
vida. ― digo.
Ele me beija, com paixão, com desespero. Deita-me de costas e sobe em
mim. Fica acariciando meu rosto.
― Entendi Celina. Eu ainda preciso provar que posso ser o homem que
você merece.
― E precisa ter certeza que pode aguentar meu mau humor todos os
dias, porque os hormônios da gravidez estão me deixando ainda mais louca!
Ele sorri.
― Disso eu tenho absoluta certeza! Celina, a minha mãe se casou porque
estava grávida. E foi infeliz. Não quero ser o homem que irá fazê-la infeliz.
Nunca mais quero vê-la chorar. Se você não estivesse grávida, ainda estaria
comigo?
― Sebastian, se eu não estivesse grávida eu teria procurado você assim
que o dinheiro do idiota do Luciano caiu na conta da empresa! Teria te
mantido no quarto por longas duas semanas, porque já estava ficando louca
sem você...
Um sorriso enorme surge no rosto dele.
― Então venha morar comigo!
Começo a protestar, mas ele me interrompe:
― Escuta! Não é um casamento. A qualquer hora, se eu agir como um
estúpido de novo, você pode ir embora. Melhor ainda, você vai me
processar, e tomar todo meu dinheiro e minha casa. Talvez nem tenha que ir
embora, e consiga me expulsar. Então, o que diz? Você não tem nada a
perder!
Começo a rir.
― Celina, pensa! Assim saberíamos se vamos dar certo juntos. Eu sei
que vamos, mas posso provar isso a você. E tem o bebê, quero vê-lo crescer
de perto, e estar com você em cada momento. Vem morar comigo.
Quero dizer não. Não quero que ele assuma um compromisso, que não
sabe se vai poder cumprir. Mas vamos ter um filho, e se Sebastian não for
capaz de manter um namoro, imagina como será como pai? Preciso ter
certeza que ele dará conta disso, de ser um bom pai. Preciso ter certeza que
ele pode mudar, e é melhor que ele machuque a mim se não der certo do
que ao nosso filho. Talvez essa seja a solução perfeita.
Mas não é tão fácil. Vou morar com ele, no dia em que decidir que devo
ir! No dia em que ele não estiver me esperando. Vamos ver se ele vai
desistir se eu persistir em recusar.
― Posso pensar sobre isso? ― digo por fim.
Sua expressão murcha, mas ele concorda. Deita a cabeça em meus seios
e fica ali, aninhado a mim.
― Sebastian, se eu for morar com você, fique ciente que você será meu.
Não vou aceitar que você sequer olhe com desejo para outra mulher! Não
vou aceitar que fuja quando tiver que enfrentar algo. Vou exigir que seja
sincero comigo sempre!
― Eu sei.
― Se eu não for morar com você, não impedirei de ver seu filho nunca.
Continuarei fazendo amor com você e não te cobrarei nada.
― Eu prefiro mil vezes que você vá morar comigo e seja minha por
inteiro. Não quero sentimentos e relacionamento pela metade, Celina. Eu
quero você por inteiro! Quero que seja minha da maneira como eu sou seu.
Pisco os olhos e meu coração pula no peito. Ah, esse lado fofo dele é
meu maior perigo!
― É um risco, Sebastian. Você sabe que não sou boa em perdoar!
― Não tenho medo de arriscar e tenho certeza que seu perdão não será
necessário.
― Eu mato você no primeiro deslize!
― Eu não vivo direito sem você por perto! Não tenho nada a perder...
Quero argumentar mais, mas como poderia? Enfio os dedos em seus
cabelos e o puxo de encontro a minha boca. Preciso dele. Ele corresponde à
altura e logo estamos nus.
Capítulo 18
Celina
A manhã está uma verdadeira merda. Estou vomitando a cada cinco
minutos, e ficando com fome de novo. Para piorar, na terceira vez que corri
para o banheiro, escorreguei no piso molhado e molhei toda a minha roupa.
Justo no dia em que estou usando uma blusa social branca! O idiota do meu
chefe vai me matar se me vir com a blusa nesse estado.
Jogo meu casaco por cima, apesar do calor infernal de Belo Horizonte e
quando Leandro sai de sua sala, me olha como se eu fosse louca.
― Senhorita Morelli, estarei na sala de conferências com os acionistas.
Transfira todas as ligações para lá.
― Sim senhor.
Ele ainda me encara por um tempo e sai batendo o pé. É a minha chance.
Corro para sua sala e vou até seu banheiro privado. Tiro a blusa e tento
limpá-la. Claro que não faria isso no banheiro da empresa, onde qualquer
uma poderia me ver. Estou ficando mais esperta depois de pagar tantos
micos.
Parabenizo-me internamente pela excelente ideia, quando o telefone
começa a tocar. Corro até a mesa e ao identificar um dos acionistas da
empresa, faço a conferência para a sala onde o “mala” se encontra.
Corro para o banheiro de novo, e o telefone toca.
― Merda! ― grito e corro de volta para repetir o processo.
Isso se repete por cinco vezes seguidas. Quando finalmente para de tocar,
volto ao banheiro. Estou tonta e preciso vomitar de novo. Resmungo muito,
porque eu nem comi nada desde a última sessão de descarrego do meu
estômago, mas ele não se importa com isso.
Parece que a mancha na blusa vai sair, sorrio satisfeita. Então o telefone
toca de novo.
Corro até ele e vejo o número, não é nenhum acionista.
― Acompanhantes Travecas, bom dia.
Ele engasga e começo a rir.
― Celina! Juro que já ia mandar a polícia aí agora mesmo para te
resgatar!
― O que é isso, Sebastian? Eu nunca seria confundida com uma traveca.
― digo rindo e ele ri também. ― Por que está me ligando? Você sabe que
não pode me ligar no meu horário de trabalho.
― Preciso saber uma coisa, é muito importante.
Fico apreensiva. Raramente ele fala comigo nesse tom sério:
― Que calcinha está usando? ― ele diz com sua voz de pervertido
profissional.
― O quê? ― Eu praticamente grito.
― Você ouviu amor, que calcinha está usando? Usando meu dom de
pervertido, posso dizer que é a minha calcinha!
Não sei se rio ou se chamo a sua atenção por me atrapalhar em horário
de trabalho por uma besteira dessas! Mas, Leandro não está ali mesmo, que
mal vai fazer brincar um pouco?
― Ah, senhor Vaughn! Não deveria dizer essas coisas. Imagina se
alguém escuta que você usa calcinha? Estou exatamente com ela.
Ele engasga ao telefone:
― E ela está bem apertadinha, por causa da gravidez.
― Ah Celina. Onde você está?
― Na sala do chefe. Ele está em conferência.
― Está sozinha?
― Claro! Não estaria falando sobre a minha calcinha se não estivesse.
― Abre as pernas.
― O quê?
― Vamos Celina, quero ouvir você.
― De jeito nenhum! Não vou fazer isso na sala do meu chefe.
― Vamos, amor! Estou com saudade. Só um pouquinho... Abra as
pernas!
Sem perceber faço o que ele pede.
― Agora, arraste minha calcinha preferida para o lado!
― Sebastian... ― digo temerosa e dou uma olhada na porta fechada.
Mais uma vez, faço o que ele pede.
― Você está molhada? ― ele pergunta com a voz rouca. Aquela voz
sexy que derrete minhas calcinhas!
― Agora estou.
― Ah, Celina! Agora feche os olhos, e leve seu dedo até meu botão
preferido, imagine que é o meu dedo, brincando com você. Não estou te
ouvindo, Celina.
Solto um gemido sem querer e o ouço gemer também.
― Isso meu amor! O quão molhada você está?
― Muito. ― digo com dificuldade.
― Agora, imagine meu pau passeando em você, te tocando bem de
leve...
Gemo de novo, é incontrolável.
― Agora leve meu pau até sua entrada.
Vou com o dedo na direção que ele pede.
― Imagine meu pau te penetrando bem devagar.
― Não dá! Meu dedo nem se compra com o seu pau...
Ele sorri.
― Imagine amor. Tente!
Começo a fazer o que ele pede, quando o enjoo me toma. Não, não, não!
Isso não é hora.
― Sebastian! ― digo tapando a boca.
― Mas já?
― Não é isso!
Não dá tempo de correr para o banheiro e tudo acontece muito rápido.
Eu vomito na primeira gaveta da enorme mesa de Leandro. A porta da sala
se abre e um Leandro furioso aparece.
― Celina Morelli! Posso saber por que ouço sexo ao telefone com seu
namorado no Viva Voz da sala de conferências?
― Não!
Não. Não. Não.
― Sim!
E então ele percebe meu estado, descabelada, o rosto corado, e sem
blusa. Imediatamente pego a blusa jogada na mesa e me cubro. Ele pisca os
olhos e parece que vai explodir a qualquer momento de tão vermelho.
Quero dizer “eu posso explicar”, mas a verdade é que não posso.
Começo a bater a cabeça na mesa, merda, eu devo ter transferido a
ligação de Sebastian para a conferência, como fiz a manhã inteira! E agora
os principais acionistas da empresa me ouviram fazendo sexo ao telefone
com meu namorado.
Quanto tempo será que essa notícia vai demorar para rodar?
Provavelmente na hora da minha saída, os costumeiros cochichos e risinhos
já estarão à minha volta. Meu Deus! Como posso pensar em ser mãe assim?
Pobre criança!
Volto a mim quando um tapa forte atinge a mesa, me fazendo dar um
pulo.
― Você ouviu o que eu disse? Saia da minha sala agora!
Estou demitida. Merda, merda, merda! Saio com a cabeça baixa e o
rabinho entre as pernas. Visto a blusa rapidamente do lado fora enquanto ele
me observa.
― Senhorita Morelli, não irei demiti-la por causa da sua gravidez! Mas
que fique claro que estou sendo muito generoso com a senhorita, pois o que
fez é passível de uma justa causa!
― Obrigada senhor.
De repente, toda a raiva some e ele está me avaliando abotoar a blusa, o
que faz com que eu enfie os botões todos nas casinhas erradas e ela fica
torta. De jeito nenhum vou tirá-la de novo.
Ele me avalia um tempo e depois diz, sem nenhum vestígio de raiva na
voz:
― Não me agradeça. Lembre-se disso da próxima vez que eu precisar
que fique até mais tarde!
Ele volta para a sala dele com uma piscadela e eu quero bater minha
cabeça mais forte dessa vez. O homem está me cantando de novo! Achei
que isso tinha parado depois de revelar minha gravidez, mas não! Oh
Senhor eu devo ser mesmo muito gostosa! Ou esses executivos de hoje não
tem um bom sexo em casa.
Volto a minha mesa e me fecho em minha maré de vergonha e fico ali.
Pouco depois os outros acionistas que estavam presentes começam a passar
por mim e mesmo com a cabeça quase enfiada dentro da gaveta da minha
mesa, percebo que eles me olham, cochicham e riem.
Quero chorar, mas não sou disso, então discretamente mostro o dedo do
meio para o último deles, que me olhou mais tempo. Ele arregala os olhos e
entra na sala.
Então tiro finalmente minha cabeça da gaveta. Gaveta?!
― Ah, merda!
Assim que me levanto, Leandro abre a porta furioso. Na mão dele há
algum contrato totalmente manchado com meu vômito.
― O que significa isso?
― Hum... Coisas da gravidez?
Ele sacode a mão, mas o papel está grudado nela. Eca!
― Celina Morelli, você está DEMITIDA!
O berro que ele dá é tão grande que tenho a impressão que Sebastian o
escutou do outro lado da cidade.
Nem fico surpresa quando saio da empresa, minhas coisas em uma
caixinha, minha cara derrotada, e minha blusa totalmente torta e o vejo.
Nem me importo com os olhares que estão sobre mim, nem os de pena e
nem os de zombaria. Que se danem todos eles!
Desejo internamente que um raio caia e parta esse prédio ao meio,
torrando todos aqueles que riem nesse momento da minha desgraça. Até
consigo vislumbrar um Leandro totalmente torrado e muito bem morto!
Sebastian corre até mim e me segura pelo ombro.
― Ei, o que houve? Por que os botões da sua blusa estão todos nos
buracos errados?
Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar...
― Ah! O I-aaaah-di-aaaaah-o-aaaah-tahaaaaaaaa!
Ele me aperta entre seus braços quando os soluços me tomam.
― O que ele fez? O que fez? Vou lá em cima agora e o mato se ele tiver
colocado as mãos em você!
Então começo a rir. Sebastian me olha como se eu fosse louca. Quero
dizer a ele que esses hormônios extras estão me deixando doida, mas
desisto. Vamos ver se ele se assusta com essa nova Celina.
― Na verdade ele pegou em algo meu. O vômito que deixei espalhado
na gaveta dele.
Sebastian abre um enorme sorriso.
― E isso foi antes ou depois de ele te pegar no flagra na sala dele?
Ele está rindo, mas faço uma careta. Com certeza ele ouviu o grito de
Leandro quando entrou na sala.
― Não fiquei aí sorrindo! Fui demitida, justa causa. Sou um fiasco!
― Ei, não fale assim! Você é linda e a mulher mais inteligente que eu
conheço!
― Sou estabanada e realmente há algo errado comigo. Algo cósmico,
castigo eu acho. Não é possível que todas as situações vergonhosas do
universo tenham que ser comigo?!
Ele me aperta mais uma vez junto ao seu corpo.
― Não fale assim!
― Você já me imaginou dando banho em uma criança? Não pense que
vou derrubá-la, vou derrubar a banheira com tudo! Meu filho não vai
sobreviver nem uma semana nas minhas mãos.
Ele tenta conter, mas sei que quer rir. Belisco-o e ele se explica.
― Sinto muito pelo que passou, mas a verdade é que estou muito
contente! Não aguentava mais imaginar você trabalhando perto daquele
homem maluco cheio de dedos. Muito melhor assim, você pode se dedicar
ao bebê e arrumar um emprego melhor!
― Não fique ai cantando vitória! Fique feliz se o seu nome não estiver
no jornal de amanhã: “Sebastian Vaughn é chegado a uma calcinha”.
Ele dá uma gargalhada e me beija, e por um momento, esqueço tudo pelo
que passei.
Vaughn,
Você vai pagar por ter me humilhado. Contarei a Celina sobre sua noiva.
Imagina como ela vai se sentir ao descobrir que está sendo traída de novo?
E.F.D
Não quero que ele segure minha mão. Não preciso estar sob a proteção
dele. Quero mostrar que me virei sozinha, que sou linda, recontratada e
namorada do chefe delicioso delas. Há uma comoção enquanto vamos
passando. Sebastian pareceu entender meu recado, pois hora nenhuma
tentou me tocar, está andando ao meu lado. As pessoas cochicham quando
passamos e pela primeira vez esses cochichos não estão zombando de mim,
mas sim me elogiando. Ouço os murmúrios, “linda”, “namorada do
Vaughn”, “grávida” ... Não sei como as notícias correram tão rápido, mas
não me importa.
Mônica está sentada em sua mesa de assistente, de onde não deveria ter
saído. Abre um sorriso falso quando me vê e abro um enorme sorriso de
“sim, sua piranha, ele é meu”. Matheus aparece e me dá um longo abraço,
ficamos na sala dele alguns minutos enquanto ele repassa algumas coisas
comigo e logo estou na minha mesa. Mônica não para de me olhar,
principalmente para a aliança enorme na minha mão. De vez em quando
alguém aparece para falar com ela, só para ficar me olhando.
É estranho ter tanta atenção positiva.
Quando vou ao banheiro, apertada para fazer xixi, escuto saltos no
azulejo e ouço as vozes de Lurdinha e Mônica:
― Você a viu? Nem parece a mesma mulherzinha horrorosa de antes! O
que o dinheiro não faz?
― Mas como ela conseguiu conquistá-lo? Ele nunca olharia para uma
mulherzinha sem sal como ela.
― Ela deve ter feito macumba.
Abro a porta e as duas ficam brancas de susto. Elas gaguejam, mas trato
de falar antes delas.
― Ah meninas, que coisa feia essa inveja toda! Sabe, quando eu era a
mulherzinha horrorosa eu nunca tive inveja de vocês. Nem uma vez sequer.
Nem teria motivos, não é?
Vejo Mônica ficar vermelha, mas ela não ousa me responder. Adoro
impor respeito.
― Em vez de ficarem aí conjecturando sobre como eu fiz para conquistar
o Sebastian, por que não vão cuidar das suas vidas?! Se preocupem com
vocês, quem sabe assim os próximos homens para quem vocês abrirem as
pernas, não se cansem tão rápido de mulherzinhas mais ou menos.
Mônica vem para cima de mim, mas Lurdinha a segura.
― Ela está grávida! ― grita ― E é a noiva do chefe, quer ser demitida?
Mônica sai batendo o pé e Lurdinha corre atrás dela.
Ok, não sou uma pessoa má, mas esse negócio de o mundo dar voltas e
estar por cima vendo seus inimigos lá embaixo, é uma maravilha!
Sebastian
Todos só falam dela. Do quanto está linda, diferente, segura. E estou
como um bobo babando na reação que ela provoca. Mas fiz questão de bater
um papo “amigável” com cada indivíduo do sexo masculino dessa empresa
e deixar bem claro que ela é só minha.
Na hora do almoço, quero me sentar com ela e beijá-la. É um saco vê-la
tão perto de mim e não poder tocá-la. Mas não vou fazer isso, não vou
deixar que pensem que ela só está aqui por minha causa, quando o Matheus
teve todo o trabalho para garantir que todos soubessem que ela voltaria por
mérito próprio. Mas fico o almoço todo a olhando embasbacado.
Quando volto a minha sala, tomo uma decisão. Ligo para a mesa dela.
― Celina! Venha a minha sala, por favor.
― O que houve? ― ela pergunta alarmada.
― Apenas procedimentos, Célie.
Ela bufa e bate o telefone na minha cara. Ligo de novo e ela atende com
um insolente “o que é?”.
― Atrevida. ― digo.
― Vai à merda. ― ela responde e bate o telefone outra vez na minha
cara.
Eu amo essa mulher!
Pouco depois ela entra. Está deliciosa com esse vestido preto colado. A
barriga ainda não aparece e não vejo a hora de vê-la com minha melhor
marca bem estampada.
― Pois não.
― Como ousa desligar o telefone duas vezes na minha cara? ― digo me
fingindo de bravo, mas ela nem liga.
― Já fiz coisas piores, não sei porque o drama.
Levanto-me e em dois passos estou atrás dela. Nem dou tempo para ela
se virar, seguro seus braços para trás e sussurro em seu ouvido.
― Você vai pagar por essa grosseria, menina malvada.
Eu a empurro até a mesa e a viro de frente para mim, para capturar sua
boca num beijo voraz. Quando me afasto para respirar, ela diz meio sem ar.
― Não quero transar na sua sala. Não sou a Mônica nem a Lurdinha.
Pressiono meu joelho no meio das pernas dela.
― Não quer?
Mordisco seu pescoço e belisco seu mamilo por cima do vestido. Ela
geme e aperta os olhos.
― Mudei de ideia, eu quero!
Volto a beijá-la enquanto abro minha calça.
― Eu te amo Celina, e nunca transei com ninguém na minha sala. Nem
dentro das dependências da empresa.
Ela abre os olhos surpresa, e volto a beijá-la, para finalmente, penetrá-la.
― Eu quis fazer isso desde o instante em que você se afastou de mim.
― Então por que demorou tanto? ― ela reclama.
Volto a beijá-la e não pego leve.
Chego em casa aos pedaços. Meu celular não para de tocar e o que mais
me assusta é a dimensão da dor que estou sentindo. Quando eu peguei o
Edmundo com a secretária achei que tivesse sofrido, mas isso, nem tem
comparação. Estou me sentindo vazia, pela metade. E só o que vejo é o
rosto de Sebastian quando pôs essa maldita aliança no meu dedo.
Penso em tirar a aliança nesse momento, embaixo do jato de água que
me cobre, mas não tenho forças para isso. Deixo que a água escorra, quero
derreter e escorrer com ela. Quero acordar e descobrir que foi mais um
pesadelo, como aquele do Edmundo, e que Sebastian está na minha cama,
sorrindo para mim e dizendo que me ama. Fecho os olhos e vislumbro isso.
Mas essa visão é substituída pela visão da Verme, e de Sebastian
aparecendo na casa dele. E então uma coisa chama minha atenção, ele não
ficou desesperado quando me viu ali, frente a frente com a “noiva” dele. Ele
pareceu até emocionado por ver que minha mala estava ali. Mas não
desmentiu o que ela disse. Alguma coisa não faz sentido. Não importa! Ele
está lá com ela agora, sequer veio atrás de mim! Não importa se eu acabei
com o carro importado dele, ele deveria vir atrás de mim!
É aí que a porta do banheiro abre e ele aparece. Respira fundo quando
me vê e recosta-se na porta. Fica ali, me olhando. Permaneço como estou:
parada embaixo da água, deixando minha raiva escorrer.
Sebastian se cansa da brincadeira primeiro que eu, pois pega uma toalha,
desliga o chuveiro e me enrola nela.
― Você vai me ouvir agora!
Não digo nada. Quero brigar e ameaçá-lo, mas mais que isso. Quero que
ele diga que é um mal entendido, que ela mentiu, que ele nunca me traiu.
Ele me arrasta até meu quarto e quando finalmente o olho, ele diz:
― É tudo um mal entendido, amor. Ela mentiu! As coisas não são como
ela fez parecer. Eu fiquei tão bobo de ver que você finalmente foi morar
comigo, que nem consegui raciocinar para te explicar direito. Mas eu nunca
traí você. Você precisa entender isso, Celina! Desde que assumi um
compromisso com você, foi somente você.
Respiro aliviada, quero chorar de novo e pular nos braços dele, mas
ainda consigo perguntar.
― Como ela conseguiu aquela aliança com seu nome?
Ele faz uma careta e dou um passo para perto da minha penteadeira e
longe dele.
― Eu dei a ela. Mas não foi agora, foi antes de...
Nem espero ele terminar de falar, arremesso o ferro de passar nele. Vejo
que ele desvia por pouco e logo arremesso o pote de creme hidratante; esse
o acerta em cheio no ombro, ele geme e vem na minha direção, mas estou
atirando tudo o que encontro pela frente.
Tudo o atinge, mas ele continua, até chegar a mim. Não há mais nada na
penteadeira, então começo a bater nele. Com força. Dou socos conforme as
lágrimas ardem, mas não quero derramá-las, quero que ele chore, não eu!
Ele me deixa extravasar por um tempo, depois me puxa de encontro ao seu
corpo e me aperta.
― Eu te amo. ― ele diz.
― Você mentiu!
― Não menti, não amor! Por favor, me deixa explicar.
Engulo as lágrimas, tento me afastar, mas ele me segura mais firme.
Então me joga na cama. Antes que eu consiga me levantar, ele junta minhas
duas mãos e as amarra com a gravata que estava usando.
― O que está fazendo?
― Preciso que você me ouça! E preciso sair vivo dessa conversa, tenho
um filho para criar e uma mulher descontrolada para domar.
― A culpa do meu descontrole é toda sua!
― Eu sei.
Ele amarra meus pulsos e amarra a gravata na cabeceira da cama. Isso
faz com que a toalha escorregue e expõe meus seios. Sebastian para o
movimento de se levantar da cama e fixa os olhos neles.
― Nem pensar, Sebastian! Conversa. Quero ouvir você, lembra? E é
bom que tenha uma excelente explicação ou eu mato você.
Ele volta a si e se senta na cama. Tenta focar o olhar no meu rosto ao
falar:
― O nome dela é Vernee Mathieu. Ela é uma modelo francesa...
― Uma modelo? Francesa? Isso só pode ser brincadeira!
― Me escuta! Não é isso que importa. O que você deve saber, em
primeiro lugar, é que ela é filha de Nicolas Mathieu.
Só então ligo os sobrenomes dos dois. Não pode ser!
― Merda!
― Pois é.
― Então, você seduziu a filha do seu maior investidor para conseguir o
que tem hoje.
― Meu Deus, Celina, claro que não! Não é nada disso. Eu dormi com
ela, houve um escândalo e bem...
― Sebastian eu não estou entendendo nada.
― Vou ser mais claro então.
Ele puxa a toalha me deixando nua. Não entendo onde ele quer chegar
com isso, mas antes de perguntar, sua mão está no meio das minhas pernas
e o meu corpo traiçoeiro reage imediatamente ao toque dele.
― Para com isso. ― digo com dificuldade.
Mas ele não para. Continua movimentando os dedos no meu clitóris
enquanto fala.
― Lembra da Jamille?
Só consigo gemer em resposta.
― Lembra que peguei a prima dela?
Gemo novamente.
― Vernee é a prima da Jamille.
Abro os olhos e começo a tentar chutá-lo, ele segura imediatamente
minhas pernas, e enfia um dedo em mim. Isso me faz arquejar e me faz
perder os movimentos raivosos.
― Não tenho um caso com ela. Foi uma noite apenas, acabou ali. Mas
ela cismou comigo e vive me perseguindo e me ligando.
Alguma coisa na minha mente diz algo sobre ligações, mas não consigo
pensar direito. Não quando dois dedos de Sebastian estão em movimento
dentro de mim.
― Eu ia falar sobre isso com você hoje. ― ele continua, o olhar fixo no
meio das minhas pernas e a voz rouca ― Mas não disse antes porque não
tem importância. Ela não significa nada. Minha única mulher é você. Eu
assumi você publicamente Celina, sabe que não faria isso se fosse noivo da
filha do meu maior investidor.
Há coerência no que ele fala, mas não há coerência alguma em meus
pensamentos. Quero dizer que entendo, mas na verdade, nem estou
pensando, estou sentindo. Ele retira os dedos de mim e resmungo, mas logo
sou preenchida pelo pau dele. Ele solta minhas mãos e volta a me penetrar e
eu posso tocá-lo, arranhá-lo. Gemo mais alto, ele toma minha boca e me
beija com voracidade. Seus movimentos são rápidos e fortes e logo nós dois
gozamos e gritamos.
Ele se enrosca em mim enquanto eu passeio a mão pelo seu cabelo.
Sentindo-me totalmente saciada, feliz, boba.
― Belo método de me fazer ouvir Sebastian, mas devo admitir que é um
tremendo golpe baixo.
Ele dá uma gargalhada.
― Estou aprendendo como domar você, Celina. Essa é a melhor
maneira, para nós dois.
Seguro o cabelo dele e puxo até que esteja olhando para mim.
― Sebastian, você jura pra mim que não está com ela?
― Eu juro amor, não tenho nada com ela. Com nenhuma outra mulher.
Eu juro que no meu coração, na minha mente e no meu pau, só há você.
Abro um sorriso e o beijo.
― Desculpa pelo carro.
― Eu mereci.
― Mereceu mesmo! Você quase me matou de susto.
Ele me dá um beijo e diz:
― Eu sei, desculpa amor. Não vamos esconder mais nada a partir de
agora. Mesmo as coisas mais insignificantes eu vou contar para você, para
que não haja mais sustos.
Concordo com a cabeça e o beijo. É impressionante como minha raiva
sumiu.
Ele se afasta e acaricia meus pulsos antes de dizer:
― Vem amor, vamos voltar pra casa.
E eu me deixo ser levada pelo meu amor, para aquela que será a nossa
casa.
Capítulo 20
Sebastian
Preciso contar a ela a história toda, porque Vernee está na minha casa.
Tenho que dizer, mas ela vai me matar. Ela não precisa saber, não precisa.
Vamos chegar em casa, vou dar um jeito de tirar Vernee de lá e pronto, que
se dane o pai dela. Que se dane a V.D.A.! Só não posso perder a Celina.
Olho para ela que está calada, olhando a rua, o que quer dizer que está
pensando. E não gosto quando fica quieta para fazer isso.
Resolvo mexer com ela. Pego sua mão com a aliança e a beijo. Ela me
olha e sorri.
― Sebastian, eu não entendo uma coisa.
Merda.
― O que, amor?
― Por que a magricela está na sua casa?
― Não estará mais, vou tirá-la de lá.
― Ia te pedir para fazer isso. Eu reparei as malas dela, sei que pretende
ficar lá. Mas não vou me sentir bem com outra mulher na sua casa. Ainda
mais uma ex sua.
― Eu entendo. Vou tirá-la de lá.
Ela concorda e sei que estou agindo errado. Não é assim que as coisas
devem ser entre nós. Ela quer confiar em mim, não posso começar nosso
noivado com mentiras. Preciso contar toda a verdade.
Como contar isso de um jeito fácil? Não existe jeito fácil. Rezo para que
ela esteja saciada e contente e não tente virar o carro. Diminuo a velocidade
por precaução e fico mais perto das calçadas, para o caso de precisar parar o
carro abruptamente.
― Então, há dois anos, quando eu traí a Jamille com a Vernee, foi um
escândalo. Você sabe como Nicolas Mathieu é moralista?!
Ela assente, já bem atenta ao que estou falando. Ela sabe que vou dizer
algo que não vai agradá-la.
― Ele queria deserdá-la, expulsá-la de casa e acabar com a V.D.A. – não
digo mais nada, ela pensa um pouco, e deduz sozinha.
― E você fez alguma coisa que o fez perdoá-la, te perdoar e investir na
V.D.A.? Sebastian, o que foi que você fez?
― Nada demais, amor. Ela inventou para o pai que estávamos noivos.
Eu confirmei, ele acreditou, e foi embora do país feliz. Ela foi pouco depois
e todo mundo ficou feliz.
Ela não responde. Está quieta demais. Olho de relance e ela está me
encarando.
― Isso é alguma piada?
Fico calado. Diminuo mais ainda a velocidade do carro. Deveríamos ter
vindo de taxi, quem sabe assim ela ao menos esperaria descermos do carro
para tentar me matar.
― Sebastian, você é noivo dessa mulher?
― Não, eu sou seu noivo. O noivado com ela foi uma mentira!
― Mas você deu a merda da aliança para ela, não deu?
― Fazia parte da mentira.
― E por que é que você nunca desmentiu isso?
― Porque achei que ela já teria encontrado outro e já estaria feliz e nem
se lembrasse mais de mim.
― E enquanto isso você ia usando o dinheiro do pai dela como se ainda
estivessem juntos, é isso?
― Parece muito errado com você falando assim.
― Porque é muito errado! Onde você está com a cabeça? Sebastian, meu
Deus! É assim que quer que eu confie em você?
Merda, preferia que ela tivesse virado o volante do carro. Mas essa
mágoa na voz dela é pior do que um acidente.
― Não, amor me escuta, não é assim. Ele tem retorno de tudo o que
investe na V.D.A.
― Não importa! Por que ela está na sua casa com todas aquelas malas se
vocês não tiveram mais contato?
― Eu não disse exatamente que não tivemos mais contato.
― Para o carro! ― ela ordena.
Acelero o carro imediatamente. Não posso permitir que ela se afaste de
mim agora.
― Celina, me escuta. Eram as ligações. Lembra da ligações? Esse foi o
único contato que tivemos, juro que não a tinha visto até aquele dia em que
ela apareceu lá em casa.
― E por que ela resolveu aparecer agora?
Merda. Deus me ajude. Não vou sair vivo dessa. Meu Deus, se ela virar
o carro, não deixe nada de mal acontecer com ela, só comigo, por favor.
Adeus vida, adeus Belo horizonte. Olho pela última vez para o movimento
no centro da cidade e para o meio das minhas pernas. Adeus amigo, valeu
por tudo. É por sua culpa que vou perder minha vida, mas valeu pelas
alegrias.
Então finalmente a respondo:
― Porque o pai dela está vindo para o Brasil. ― digo. Vamos Sebastian,
seja homem e conte tudo de uma vez ― Para o nosso casamento.
Espero um grito, que ela quebre o vidro, que me bata. Mas ela não faz
nada. Não faz absolutamente nada. Olho para ela e está parada, como se
estivesse em choque.
― Um raio não cai duas vezes. ― ela sussurra.
Não sei o que quer dizer, mas não pode ser bom. Estou prestes a chamá-
la quando ela diz:
― Pare a merda desse carro!
Há tanta raiva em sua voz, que paro. Celina e raiva são duas coisas
perigosas quando andam juntas.
Ela abre a porta e desce. Eu desço imediatamente atrás dela.
― Celina, aonde vai? Amor, espera!
Saio correndo atrás dela. Pouco a frente está havendo uma blitz, avisto
os carros de polícia e o movimento. Finalmente a alcanço e a seguro pelos
ombros. Viro-a para que fique de frente para mim, mas ela não olha nos
meus olhos. Não consigo saber o que está sentindo, nem o que está
pensando.
― Celina. ―chamo de novo.
Ela está calma, calma demais para a revelação que eu fiz. Ou está muito
machucada e sem forças, ou está tramando alguma coisa. Só percebo que é
a opção B, quando ela começa a gritar.
― Socorro! Socorro!
― O que está fazendo?
Ao invés de soltá-la, eu a aperto mais ainda. Um erro, claro. Em questão
de segundos dois policiais se aproximam com armas em punhos. Celina
começa a chorar e eu tento explicar.
― Ela é minha noiva.
― Mentira! Ele quer me agarrar!
― Tire as mãos dela e se afaste. ― ordena o policial.
― Ela é minha noiva! ―digo mais nervoso.
― Vou repetir pela última vez! Tire suas mãos dela ou eu atiro.
Faço o que ele manda. Olho para ela, mas ela não me olha de volta. Os
policias se aproximam, um deles vai até ela enquanto o outro segura meus
braços para trás.
― Celina, eu sei que sou um imbecil, mas pelo amor de Deus, me
perdoa! Eu não me importo se você quiser que eu seja preso, se quando eu
sair da cadeia você já tiver me perdoado.
O policial quer rir e sei que estou sendo ridículo. Mas estou desesperado,
porra!
― Celina, amor por favor! Vamos ter um filho. Celina você precisa
falar comigo. Exploda, bata em mim, mas põe o que está sentindo para fora.
Amor!
Finalmente ela me olha. Seu olhar é como uma lança me perfurando.
― Você quer que eu ponha a raiva que estou sentindo de você para fora?
― pergunta baixinho.
Já não tenho certeza disso, mas confirmo com a cabeça. Ela respira
fundo e tudo acontece muito rápido. Ela puxa o cassetete da cintura do
guarda e parte para cima de mim. Acerta aquilo na minha cabeça, nos meus
braços, no meio das minhas pernas. Não tento impedi-la. O policial se
afasta e deixa que eu apanhe. Tudo está doendo, mas não importa. Ela chora
enquanto me acerta.
Aos poucos, me aproximo. Quando consigo segurar seu braço, ela joga o
cassetete no chão e chora. Eu a abraço, mas ela me empurra e se afasta.
― Você quer dar queixa contra ele, senhorita? ― pergunta o policial
para ela.
― Não, não precisa. ― ela diz e sai andando.
Encaro os policiais para ver se estou liberado para ir atrás dela, e o que
estava me segurando, diz:
― Vá homem, não vou prendê-lo! Essa mulher é louca. Você vai sofrer
mais com ela do que na cadeia.
Quero acertar um soco nele, mas ele está certo. Minha amada
maluquinha. Corro atrás dela.
Celina
Chego em casa e logo Sebastian chega atrás de mim. Ele não diz
nada, tenta se aproximar, mas me afasto e ele entende que não o quero perto
agora. Até a forma como ele sempre entende o que quero me irrita. Não
acredito que fui enganada de novo. Mesmo que ele não tenha de fato ficado
com ela, mentiu para mim. Isso é uma traição. Não importa quais foram as
intenções dele ao não me dizer nada.
Entro para o quarto e digo para ele.
― Vá embora. Vai para casa. Não quero ver você agora, nem ouvir sua
voz. Só vá embora.
― Você me disse que devemos crescer, que devemos parar de fugir dos
problemas, lembra? Este é o momento de fazermos isso.
― Não venha me dar sermões a essa hora.
― Não estou te dando nenhum sermão, amor. Preciso que me diga o que
está sentindo.
Isso é ridículo. Ele está todo machucado, eu estou machucada e não
estamos chegando a lugar nenhum. Por um momento me questiono se vale a
pena o risco de amar alguém como ele.
― Não venha atrás de mim, Sebastian. Quero ser pirracenta agora,
quando eu estiver pronta para crescer, te procuro.
― Não vou sair daqui sem você, Celina! Eu não volto para casa sem
você. Fique o tempo que quiser nesse quarto, mas eu estarei aqui quando
precisar de mim.
Maldito! Quero bater nele de novo por agir como se fosse o melhor dos
homens.
― Seu traste!
― Eu sei amor. Sei que você me odeia.
― Ah, você não faz nem ideia. Eu te odeio! Você não vale nada
Sebastian, maldita hora em que me apaixonei por você.
Ele abaixa a cabeça e eu o empurro para fora do quarto e bato a porta,
antes que diga coisas que nunca poderão ser esquecidas. Não sinto mais
raiva, mas mágoa. O que é pior!
Pouco depois a Gil chega. Sei que é bem tarde. Imagino que Sebastian
tenha ido embora, já que não ouvi nenhum barulho dele. Gil entra em meu
quarto e senta na beirada da cama.
― O que houve Celina? Por que você está aqui acabada e o Sebastian
está sentado na porta, acabado?
― Ele está aqui?
― A sombra dele está. Parece um fantasma. Como um cão de guarda
vigiando sua porta. Mas me pediu para ver se você precisa comer. Disse que
não come há horas.
― Ele me traiu. ― digo.
Gil se levanta em choque.
― Impossível. Quando não está com você, está na V.D.A., não daria
tempo.
― Não assim, ele mentiu. Ele tem uma noiva, Gil.
Ela fica confusa, mas depois uma expressão de entendimento surge em
seu rosto.
― Está falando da Vernee?
― Você sabia sobre ela?
― Claro que sim. Achei que também soubesse, mas eles não são noivos.
Foi uma mentira que ela inventou para se salvar e foi muito esperta fazendo
o pai investir na empresa para prender o Sebastian. Mas eles não se veem há
séculos. Ele nunca teve nada com ela.
― Ela está na casa dele agora.
― Então é por isso que o Cleber está tão nervoso. Celina, isso não é
culpa do Sebastian. Quer dizer, foi quando ele traiu a namorada e tudo mais,
mas ele caiu na armadilha dela. Eu sabia que um dia ela ia parecer para dar
o bote.
― O que quer dizer?
― Você não vê? Ela fez o pai acreditar que eles estavam noivos e o fez
investir pesado na empresa do Sebastian. Aí ela some e o deixa livre, mas,
para todos os efeitos eles são noivos. Aí quando a empresa está prestes a
fechar o maior negócio da vida do Sebastian, ela reaparece ameaçando
acabar com isso. O que acha que ela espera?
― Que ele se case com ela?
― Claro! O que devo admitir, seria exatamente o que ele faria se não
estivesse com você.
― Ele não seria tão burro.
― Sim, ele seria. A empresa dele depende disso. Mais do que isso, o
trabalho de toda vida dos melhores amigos dele depende disso. Ele se
sacrificaria sem pensar duas vezes. Sabe por que não está fazendo isso?
Porque ele te ama.
Jogo-me na cama e cubro a cabeça com o travesseiro.
― Não defenda aquele pervertido. Não é isso que quero ouvir.
Ela puxa o travesseiro da minha mão.
― Não estou defendendo ele, e sim você e seu filho. Você vai mesmo
ficar aqui se lamentando enquanto a lambisgoia está na sua casa vivendo no
luxo?
― Eu não disse que faria isso! Na verdade, isso nem passou pela minha
cabeça.
Ela fica confusa.
― Como assim? Você não vai terminar com ele?
Eu vou matá-lo na primeira oportunidade, mas não. Não pretendo deixar
que essa mulherzinha tome posse do que é meu. Sebastian é meu!
― Então por que estava aqui sozinha e com essa cara?
― Estou deixando que ele sofra um pouco. Gil, o que ele fez foi errado,
ele mentiu. Mas eu no seu lugar faria o mesmo. Quer dizer, quem poderia
imaginar que a louca ia parecer? Só que ele deveria ter me contado isso
assim que ela apareceu, não depois de eu dar de cara com ela na casa dele.
― O que vai fazer?
― Estava aqui pensando em um jeito de castigá-lo. Já sei como vou
fazer isso. Mas antes, preciso resolver outra coisa.
Levanto-me, dou um abraço nela e saio do quarto. Sebastian está
andando de um lado para o outro. Está acabado. Seu rosto tem marcas e
seus olhos estão inchados. Por um momento quero esquecer tudo e pular
nos braços dele, mas não posso.
É nosso começo, preciso que ele aprenda agora. Preciso que entenda que
se esconder as coisas de mim de novo terá consequências. Preciso podá-lo.
Sei que isso parece ridículo, mas se não mostrar como deve se comportar
desde agora, não conseguirei fazer isso depois. E se vamos mesmo fazer
isso dar certo, preciso poder confiar nele.
Saio andando em direção à porta e ele me segue imediatamente.
― Celina, aonde vai?
― Aonde você acha? Vou tirar aquela mocreia da nossa casa.
Bato a porta ao sair, mas logo ele está atrás de mim. Corre até o carro e
abre a porta para eu entrar. E vai cantarolando o caminho todo até sua casa.
Ah Sebastian, você não sabe o que o aguarda!
Sebastian
Ela não fala comigo, nem olha para mim em nenhum momento, mas
está indo comigo, o que já é um grande, enorme, passo. Quando ela
amaldiçoou a hora em que se apaixonou por mim, achei que a tivesse
perdido para valer, ou que ela não voltaria nunca. Estava disposto a
implorar se fosse preciso. Merda, não há o que eu não faria por ela. Eu a
amo. Desesperadamente.
Sei que não pode ser tão fácil, que ela não vai simplesmente chegar na
minha casa e agir como se eu não tivesse feito nada. Ela vai se vingar, tenho
certeza. Mas não importa, pelo menos vai fazer isso na minha casa, debaixo
do nosso teto, perto de mim. Estou disposto a aguentar as consequências.
Ela desce sem esperar que eu abra a porta e entra na casa como se
morasse ali a vida toda. Não demora, Vernee aparece. Antes que eu possa
dizer qualquer coisa, Celina abre um sorriso para ela.
― Você ainda está aqui? Por quê? ― pergunta com uma falsa calma.
Vernee pisca os olhos confusa.
― Tenho um desfile na cidade no fim de semana.
― E eu com isso?
― Não tenho onde ficar. ― responde Vernee e Celina lhe lança um olhar
que me faria tremer se fosse direcionado a mim.
― Você a convidou para ficar aqui, amor? ―pergunta olhando para
mim.
― Eu não.
― Nem eu. Rua querida!
Vernee parece em choque e me olha esperando ajuda.
― Sebastian. Meu pai não vai ficar nada contente com isso.
― Não posso fazer nada. Ela é minha noiva, a casa é dela. Ela decide
essas coisas de visita.
Vernee parece ainda mais nervosa enquanto Celina caminha
elegantemente até as malas dela, que estão em um canto da sala e pega uma.
Ela volta desfilando e joga a mala na varanda da frente. Vernee fica ainda
mais em choque.
― Sebastian! ― choraminga enquanto Celina vai buscar a outra mala.
Imediatamente vou ajudá-la, essa segunda mala é maior.
― Não posso fazer nada, Vernee. Nunca ouviu falar que ela é louca?
Não posso ir contra ela.
Vernee então entra na frente da Celina, barrando que ela saia com a mala
de mão.
― Eu posso até sair dessa casa, mas se fizer isso, não sairei sozinha. Vou
chamar toda a imprensa aqui e dizer que você me enganou esse tempo todo
e está me expulsando da sua casa.
Eu não me importo com o escândalo que ela pode fazer. Não me importo
mais se vai ou não manchar o nome da V.D.A., nem se o pai dela vai retirar
o que investe. Que se dane! Eu me importo com a mulher que está calada ao
meu lado fuzilando a Vernee com o olhar. E com o bebê que está crescendo
no ventre dela.
Espero que a Celina pule em cima da Vernee e a expulse a tapas. Na
verdade, até torço para que isso aconteça.
Mas, indo contra tudo o que conheço sobre ela, ela sorri para Vernee e
diz com toda calma:
― Pode ficar até o tal desfile Verme, eu a convido.
― É Vernee.
― Tanto faz. ― diz Celina dando de ombros e pega minha mão.
― Amor, podemos deitar agora?
Merda, merda, merda. Ela está apertando meus dedos, com força. Está
nervosa e vai descontar em mim de novo.
Ela praticamente me arrasta escada acima até o meu quarto, e assim que
entramos, vai até sua mala e tira de lá suas roupas. Entra na suíte e vai
tomar um banho. Eu me sento na cama e fico ali, sem saber como agir. Sei
que ela não convidou a Vernee de boa vontade, é claro. Está armando
alguma coisa. O que me preocupa é se essa coisa que ela está armando
também é direcionada contra mim.
Quando ela sai do banheiro com aquela camisola transparente, esqueço
planos, vinganças, Vernee, esqueço até meu nome. Caminho até ela como
um ímã atraído pelo outro. Mas, quando vou tocá-la, ela se afasta.
― Regra número um da nossa convivência: não toque em mim.
― Co-como? ― gaguejo.
― Você ouviu. Regra número dois: não toque nela.
― Eu não pretendia fazer isso.
― Eu sei, mas é bom reforçar. Regra número três: se eu pegar você
sozinho com ela em qualquer cômodo da casa, não me importa o motivo,
vou matá-lo!
― Entendi. Quero distância dela. Agora venha aqui.
Eu a puxo para meus braços, mas ela se afasta rapidamente.
― Você não ouviu a regra número um? Não toque em mim.
― Celina, você não pode estar falando sério, acha que vou conseguir
dormir na mesma cama que você e não tocá-la? Acha que sou capaz...
Ela põe a mão na minha boca me calando e parece prestar atenção em
algo.
― Você ouviu? ― pergunta sussurrando.
― O quê?
― Ela está no corredor. Quer saber o que estamos fazendo.
Vejo a sombra de um pé na porta e sei que Vernee está por ali. Antes que
eu possa dizer qualquer coisa, Celina pula na cama, e faz com que a
cabeceira bata na parede, o que provoca um estrondo.
― Ah! ― ela geme. ― Ah, Sebastian, mais forte.
― O que está fazendo? ― sussurro.
― Gema também. ― ela ordena.
― O quê?
― Ah, Sebastian, meu Deus.
Ela se levanta da cama e me acerta um chute na canela.
Ah! ― grito.
― Isso mesmo, querido. Vai gemer sozinho ou precisa de ajuda?
Ela é louca. Quero rir da situação, mais do que isso, quero agarrá-la e
fazer barulho de verdade para a Vernee escutar. Decido que a melhor forma
de fazer isso, é entrando no jogo dela.
― Ah, Celina! Você é tão gostosa.
― Ah! ― ela grita de volta, sobe em cima da cama e bate na parede.
Quero rir, ela também, porque põe a mão na boca e se controla.
― Ah Celina, eu te amo!
Quero que ela grite que me ama, mas ela faz uma careta percebendo meu
jogo e me mostra o dedo do meio. Não aguento mais, puxo-a e a beijo, mas
a maldita da Vernee escolhe essa hora para bater a porta em algum quarto
do corredor e a Celina se afasta num pulo.
― Sebastian Vaughn, a próxima vez que tocar em mim sem minha
permissão vai ficar sem essa mão pervertida!
Ela se joga na cama, vira para o lado e dorme. E eu fico ali, de pau duro,
louco por ela, sem saber o que fazer.
Essa é a terceira noite em que a Celina não me deixa tocá-la. Estou
enlouquecendo, não aguento mais isso. Nesses últimos dias, ela conseguiu
estragar três blusas da Vernee, a queimou com leite quente e prendeu o
cabelo dela na fivela de um cinto.
Não sei como a Vernee ainda não foi embora. Eu já teria desistido! Não
dá para ficar em uma guerra com a Celina, ela é terrível. O lado bom da
presença da Vernee, é que sempre que ela está por perto, a Celina vira outra.
Ela me beija, me abraça, diz que me ama. Sei que é só para irritar a Vernee,
mas sempre me aproveito desses momentos. Com tudo isso, meu humor
anda péssimo.
Ontem à noite, quase a agarrei de novo, na verdade, eu fiz isso. Esperei
ela sair do banho e a agarrei, ainda de toalha. Consegui um beijo delicioso
antes de ela afastar minha cabeça da dela pelos cabelos. Mas estava rindo, o
que já é um começo.
― Celina! ― choraminguei ― Quanto tempo mais essa regra vai durar?
― Vai durar até minha alma ficar totalmente livre do rancor que sinto
por você nesse momento.
Merda.
― Você só pode estar querendo me matar!
― Há uma mulher louca para abrir as pernas pra você no quarto ao lado,
Sebastian. Quer ir até lá?
Então foi minha vez de abrir um sorriso.
― Não senhora, esse meninão em pé aqui tem dona. É só dentro dela
que ele vai entrar. É uma pena que a dona dele está de greve.
Isso a fez dar gargalhadas. Mas depois ela deitou na cama e dormiu. Dez
a zero para a maldita.
Essa noite, Celina parece mais calma, ela não provocou a Vernee no
jantar, não a machucou de maneira nenhuma, nem fez piadas com o nome
dela, como vinha fazendo nos outros dias. Alguma coisa está errada.
Quando vamos nos deitar, ela diz:
― Amanhã tenho uma ultrassom. Mas é no horário de uma reunião sua.
Você não vai poder ir.
Olho para ela imediatamente.
― Ultrassom? Quer dizer que dá para ver o bebê?
― Acho que não. Mas dá para ouvir o coração dele bater.
― Eu vou.
Ela sorri e volta a olhar para o teto. Tento tocar sua mão, mas ela a
afasta. Resolvo tomar um banho. Saio do banheiro seminu, pingando água,
mas ela sequer me olha. Jogo-me ao seu lado na cama e deixo minha perna
encostar na dela. Ela não a afasta, mas não reage de maneira nenhuma.
A Celina que eu conheço teria pulado em cima de mim por muito menos.
Será que os hormônios da gravidez dela não a estão enlouquecendo mais?
As horas passam e não consigo dormir. E fico me perguntando por que não
contei antes sobre a Vernee? Por que esperei que ela descobrisse sozinha?
Merda! Nunca mais escondo nada da Celina.
Estamos deitados, lado a lado, mas ela não me deixa tocá-la. Estou
enlouquecendo por isso. Preciso tocá-la, nem que seja só a sua mão. Eu
queimo por ela e ela parece nem se abalar. Estou aprendendo com essa
convivência com a Celina, que ela é ótima em esconder o que sente, sua
cara de paisagem é profissional. Mas nesse momento ela não está com a
respiração acelerada, nem inquieta, como fica quando está excitada. Merda.
Roço meu dedo pelo braço dela, sei que a estou irritando com tantas
tentativas vãs e então começo a falar do bebê, isso sempre a acalma.
― Você já pensou em algum nome para o bebê?
― Ainda não. Ainda não sei se é menino ou menina.
Dá certo, ela não me manda não tocar nela.
― Quero ajudar a escolher.
― Eu sei Sebastian, não fiz esse bebê sozinha. Estava pensando, se for
uma menina, queria homenagear alguém. Alguém que admiramos.
Penso muito e não chego a ninguém que admiramos em comum.
― Se for menino pode chamar Sebastian Júnior.
Finalmente ela me olha. Não, ela me fuzila com o olhar.
― Nunca! Meu filho jamais vai pagar esse mico. Peço a Deus todos os
dias que ele não seja como eu, mas um nome desses é como assinar uma
sentença.
Começo a rir. Pego sua mão e a aperto. Estou com saudade do contato,
do calor dela. Do número de vezes que ela goza agora que está grávida.
― Como se chamava sua mãe? ― ela pergunta.
― Nathalia, por quê?
― Um belo nome. ― ela diz.
Olho para ela meio em choque. Será que ela está pensando em colocar o
nome da minha mãe em nossa filha? Se for uma menina, claro. Mas só a
ideia de ela fazer isso já me faz sentir aquela coisa estranha no peito e no
estômago. Penso em prender os seus braços e beijá-la, mas ela tem a mão
pesada e sei que iria usá-la em mim se eu encostar meus lábios nela, assim
que tiver a mão livre.
― Você já pensou em algum nome de menina? ― pergunto.
Espero pela reposta, mas ela está quieta, lambendo os beiços, com os
olhos arregalados.
― Celina?
― Melancia. ― ela diz de repente.
― O quê? Celina, não acho que esse seja um nome...
― Não, seu imbecil! Preciso comer uma melancia. Estou com desejo.
― Merda.
Levanto-me correndo e vou até a cozinha. Vernee está sentada na sala e
me segue quando eu passo. Onde tem uma melancia? Onde? Reviro a
geladeira, a despensa, a fruteira. Não tem uma maldita melancia nessa casa?
Já li na internet sobre esses desejos de grávida, e não quero que minha filha
nasça parecida com uma melancia.
― O que houve, Sebastian? A louca te expulsou do quarto?
Nem tenho tempo para brigar.
― Você sabe onde acho uma melancia?
― À essa hora? Esquece.
― Eu vou achar.
Digo e saio correndo do jeito que estou, apenas com uma cueca samba
canção, e entro no carro. Rodo o bairro todo e nada está aberto. Passam
duas horas e nada de achar a melancia, mas não vou voltar para casa sem
ela. É o primeiro desejo da Celina, preciso ser um pai melhor do que isso.
Passo a madrugada rodando bairros à procura da melancia. Finalmente
vejo uma luz acesa dentro de um hipermercado. Desço do carro e quase
arrombo a porta. Um funcionário todo de branco abre a portinha lateral com
cara de poucos amigos.
― Amigo, preciso de uma melancia.
Ele me olha como se eu fosse louco.
― Minha esposa está grávida, e está com desejo.
Ele assente e começa a rir.
― Claro, sinto muito, mas o mercado não abre agora e não posso deixar
você entrar para procurar.
Tiro três notas de cem e mostro a ele.
― É uma emergência.
Ele me olha, vê que estou apenas de cueca e assente.
Celina: Sorvete com a Gil. Não vou demorar. Quero meu menino
acordado quando eu chegar. Te amo seu estúpido.
Imediatamente respondo:
Sebastian: Também te amo sua safada. Seu menino já está acordado. Ele
acorda só à menção do seu nome, Célie.
Celina: Imbecil. Só por causa disso não terá minha língua ávida hoje,
Sebs.
Maldita. Sei que vou pagar por chamá-la de Célie. Mas Célie é aceitável,
Sebs parece apelido de guerra de traveco. NÃO ME CHAME ASSIM!
Ela responde:
CELINA VAUGHN
CEO
3 meses depois...
Calmo, escuro. Tudo está tranquilo. Não, espera, algo encostou-se à
minha perna. Que diabo é isso? A coisa está subindo. Subindo direto para...
― Sebs.
O sussurro de Celina me faz abrir os olhos e acender a luz, mas ela já
está com meu pau na boca, sugando como uma desesperada, então não
tenho mais forças para fazer nada. Deixo-me levar na sensação da sua boca.
Quando gozo, ela sorri satisfeita e deita em cima de mim, sua barriga
arredondada não a atrapalha, pelo contrário, adoro a sensação de senti-la.
― Oi. ― ela diz com um sorriso.
Olho para o relógio de cabeceira e são três e meia da manhã.
― O que foi? Não conseguiu dormir? ― pergunto preocupado.
― Sim, mas acordei.
― Está se sentindo bem?
― Estou, mas me sentiria melhor se você estivesse dentro de mim.
Ela não precisa falar duas vezes, eu a viro de costas na cama e em dois
segundos estou dentro dela. Começo bem devagar, mas ela implora que eu
acelere. Quando nego, ela crava as unhas nas minhas costas, e acabo
cedendo, essa mulher me enlouquece!
Quando gozamos, ela adormece imediatamente nos meus braços.
Ela me procura mais duas vezes, antes de irmos embora. Estou adorando
essa coisa de hormônios.
Quando chegamos em casa, noto que ela corre para o banheiro. Vou
atrás, e mal abro a porta, ela pula em mim, passando as pernas pela minha
cintura, quando a seguro pela bunda. Entre beijos, ela diz:
― Isso não é normal. Será que preciso de um médico?
― Para quê? ― pergunto sugando um seio dela.
Ela geme e depois parece se esforçar para responder.
― Quero transar com você o tempo todo. É desesperador. Acho que
deve haver algum remédio, tratamento ou terapia que diminua essa vontade.
― De jeito nenhum!
Eu a coloco sobre a pia e a penetro.
― Eu adoro esses hormônios, nada de inibir os pobrezinhos.
Então meto com força para que ela não reclame mais.
Ela aparece linda como sempre, mesmo com aquela roupa horrorosa do
hospital. Sorri para mim ao deitar e descobrir a barriga. Aproximo-me e
seguro sua mão.
― Hoje vai dar para ver, amor.
Essa deve ser a quarta ultrassom que fazemos para saber o sexo do bebê,
ele sempre está com as perninhas fechadas. Torço para que seja uma
menina, pois sei que será bem comportada.
― Enfim papais, o bebê está com as perninhas bem abertas. ― diz o
doutor.
Bem abertas? Talvez não deva mesmo ser uma menina. Filha minha de
jeito nenhum terá as pernas bem abertas.
― O que vocês querem? ― ele pergunta fazendo hora.
Celina aperta minha mão e responde ansiosa:
― Saber o sexo?
O doutor sorri, continua olhando para a tela e não diz o que é. Noto que
Celina está ficando nervosa conforme vai apertando minha mão.
Olho bem para a tela, consigo ver perfeitamente as perninhas abertas,
procuro pelo piu piu da criança, que sendo meu filho deveria estar em
evidência, mas não o encontro.
― É uma menina! ― digo.
Celina olha para a tela confusa.
― Como você sabe?
― Simples. Não estou vendo o pau dele, que deveria estar bem ali no
meio.
Celina faz uma careta e o médico ri.
― Acertou papai, vocês terão uma menina.
Celina finalmente relaxa o aperto em minha mão e seus olhos estão
marejados. Os meus também. Eu a beijo e repito o que digo cada vez que
toco sua barriga e a bebê chuta:
― Obrigado, amor.
Ela beija minha mão e o médico volta a nos mostrar o rosto da nossa
filha.
Como sempre, saímos da consulta direto para o shopping. Agora que sei
que é uma menina, já sei que cor comprar as roupinhas. Entro em um
corredor repleto de rosa e saio pegando tudo. Imediatamente Celina grita e
vai tirando tudo do carrinho.
― Sebastian Vaughn, o que acha que está fazendo? Minha filha não vai
andar feito um projeto de Barbie toda vestida de rosa!
― Mas rosa é a cor que as meninas usam. ― defendo.
― É mesmo? Você já me viu de rosa?
Busco na memória e é provável que já tenha visto, mas como não
consigo me lembrar, ela deve usar bem pouco. Pensando por esse lado, a
maioria das roupas que a Celina usa é preta.
― Você vai vestir o bebê todo de preto?
― É claro que não! Minha filha vai usar todas as cores, mas,
principalmente essa. ― ela diz levantando um macacão vermelho.
Gosto disso. Gosto de imaginar minha filha, linda como a mãe, de
vermelho. Celina fica maravilhosa de vermelho.
Saio pegando tudo vermelho que vejo e jogando no carrinho. Celina
mais uma vez vai tirando tudo do carrinho e escolhendo o que vamos levar.
― Todas as cores, lembra? E não precisamos de tantas roupas. Bebês
crescem rápido e nem vamos conseguir usar todas elas.
― Tudo bem, você está certa.
Ela abre um sorriso enorme, se aproxima de mim e me beija.
― Eu amo quando você diz isso.
Ela se encosta em mim e meu pau imediatamente acorda. Merda.
Controle-se amigo, isso aqui é uma loja de bebês.
Uma vendedora se aproxima e nos oferece coisas para o quarto. Deixo
que a Celina decida o que quer levar. É aí que ela oferece um quadro de
parede personalizado. Celina acha lindo.
― Olha isso Sebastian, é lindo! Eu vou querer um!
A vendedora sorri satisfeita.
― E qual é o nome do bebê?
Antes que eu diga que ainda não escolhemos, pois quero convencer
Celina a colocar o nome da minha mãe, ela responde:
― Nathalia.
― Um lindo nome. ― diz a vendedora.
― O que você disse? ― digo puxando Celina para meus braços ― Qual
o nome da nossa filha?
― Nathalia. ― ela repete calmamente com um sorriso ― Se não tiver
problema para você, é claro.
Minha mãe, minha filha. Nem sei descrever a puta sensação que me
toma. Processo aquilo antes de apertar a Celina em meus braços. Nem
precisei pedir, e mesmo assim ela soube exatamente o que eu queria. Não
sei como agradecer a ela, a primeira forma de mostrar o que estou sentindo
me toma com força total.
― Onde tem um banheiro? ― pergunto a vendedora.
― Como? ― ela pergunta.
― Um banheiro, provador, depósito, qualquer lugar onde eu possa ter
privacidade.
Depressa! Estou desesperado aqui! A vendedora pisca os olhos confusa e
explico:
― Preciso fazer amor com minha noiva agora!
Ela arregala os olhos e em seguida olha para o meio das minhas pernas e
fixa o olhar ali.
― Sebastian! Moça, ele está brincando! E não olhe para o meio das
pernas dele! ― grita Celina.
A vendedora imediatamente se afasta, vermelha como um tomate e diz
que vai providenciar o quadro e depois pegar nosso endereço. Assim que
ela se afasta, abraço Celina.
― Sebastian, pelo amor de Deus! O que eu faço com você?
Pressiono minha ereção na bunda dela e sussurro.
― Você sabe o que fazer, amor. E não estou brincando. Vamos pagar
essas coisas e ir embora logo ou eu abro suas pernas aqui mesmo.
― Isso é uma loja de bebês! Não acredito que pense em sexo estando em
um lugar assim.
― E como os bebês são feitos? Do sexo. Sexo puro, não tem outro jeito.
Ela sorri e me beija e assim que pagamos e passamos nosso endereço, eu
praticamente a arrasto até o carro. Vamos cometer atentado ao pudor hoje,
não dá para esperar chegar em casa. Acho que essa coisa de hormônios que
fazem querer transar toda hora também pega nos pais, afinal de contas.
A casa está pronta, as pessoas, escondidas. Não faço ideia de qual será a
reação da Celina, e torço para que não esteja de mau humor, e nem chegue
em casa tirando a roupa, como tem feito nesses últimos dias. De jeito
nenhum quero o Cleber e o Matheus vendo minha noiva nua.
Vou explicar o que está havendo. Mesmo depois de resolver a confusão
com a Vernee, e de sabermos que ela foi obrigada pelo pai a se casar com
um velho milionário asqueroso para não perder sua adorada mesada, Celina
ainda não quer se casar comigo. Eu sei que ela me ama, sei que já deu um
passo enorme vindo morar comigo, mas preciso que ela seja minha
legalmente. Quero meu sobrenome no nome dela. Quero que ela seja
apresentada sempre como a senhora Vaughn. É tão errado querer isso?
O problema é que ela ainda não superou seu trauma pela palavra
casamento. Do jeito que estamos, ela pode dar uma de louca e ir embora a
qualquer momento, mas, se estivermos casados, sei que isso vai pesar caso
ela pense em tomar uma atitude dessas.
Preciso ter essa certeza. Sim estou parecendo um maricas desesperado e
inseguro, mas porra, eu amo essa mulher, mais do que a mim mesmo, e não
quero de maneira nenhuma correr qualquer risco de perdê-la. Não posso.
Preciso que ela seja minha.
As pessoas escondidas pela casa, a música leve que está soando e a festa
que preparei, não fazem parte de um pedido de casamento, mas sim, de um
pedido de noivado. Embora esteja com uma aliança no dedo, ela não me
disse sim quando a aceitou. Disse que era uma aliança de compromisso.
Cleber me aconselhou a dar um passo de cada vez, deu certo para ele, tem
que dar para mim também. Então vou fazer isso. Vou pedi-la para ser minha
noiva, e quando ela aceitar, pedi-la em casamento. Um maldito passo de
cada vez.
Vejo pela janela o farol do carro dela encostar na entrada da casa. Todos
fazem silêncio, ela abre a porta e como eu previ, vai abrindo a blusa.
Imediatamente acendo a luz, todos gritam surpresa, ela arregala os olhos e
fecha a blusa rapidamente, colocando os botões nas casinhas erradas.
Aproximo-me dela sorrindo e corrijo os botões. Por que tinha que chamar
tanta gente? Seria muito mais fácil convencê-la na cama.
― O que é isso? ― ela pergunta olhando as pessoas, desconfiada.
― Nossa festa de noivado.
― Fes- festa de noivado?
Seguro seus ombros e beijo sua testa e cada lado de seu rosto.
― Acalme-se, isso não é um pedido de casamento. É um pedido de
noivado.
― Não entendi. O que essa aliança está fazendo no meu dedo?
― Lembra que quando a aceitou só o fez porque não era de noivado?
Era de compromisso?
A compreensão brilha em seus olhos e ela assente.
― Agora vou te dar a de noivado.
― Eu...eu...
― Calma. Não precisa dizer nada. Isso não é um pedido de casamento.
― garanto.
― Você está me enrolando. Para que as pessoas ficam noivas se não para
se casarem?
Todos começam a rir, mas estou calmo, mesmo que ela esteja
aparentemente determinada a me dizer não.
― Eu quero me casar com você, nunca escondi isso, mas não estou te
pedindo que seja agora. Estou te pedindo a garantia de que será um dia.
Você entende?
A expressão dela muda totalmente, de desconfiada, para emocionada e
ela assente. Tiro as alianças novas do bolso e estendo a caixinha para ela.
Gilcelle se aproxima e tira a bolsa de seu ombro.
― Celina Morelli, hoje convidei todos os nossos amigos e familiares,
para serem testemunhas do que quero que você me prometa. Para que assim
você não possa escapar. Eu te amo muito, desesperadamente. Você sabe
disso, todo mundo sabe disso.
― Está na sua cara de bobo. ― diz Cleber e todos riem.
― Eu sei, está mesmo, e merda, estou muito feliz por isso. Celina, você
é minha vida. Não basta dizer que a amo, nem que preciso de você, nem
que você é quem me faz rir e quem me faz ser melhor. Nem que você me
deu o melhor presente do mundo. digo tocando sua barriga enorme ― Vou
resumir isso tudo nessa frase, você é minha vida. Não posso ficar sem você.
Não tem jeito. Não dá. Por favor, aceite meu não pedido de casamento.
Aceite ser minha noiva.
Seus olhos agora escorrem lágrimas, ela coloca as mãos no rosto e por
um momento fico tenso, acho que terei realmente que carregá-la para a
cama e convencê-la do modo a lá Celina, mas ela pula em meu pescoço e
sussurra.
― Sim, eu aceito.
Quero beijá-la e fazer amor com ela. Quero arrastá-la agora mesmo para
nosso quarto. Mas, antes que possa pensar em como mandar toda essa gente
que só serviu de testemunha embora, ela diz:
― Com uma condição.
― Merda.
― Não diga palavrão, Sebastian, não estrague o momento. ― ralha Gil.
Olho para ela, a mulher que tem minha vida nas mãos e aguardo o que
quer que ela vá impor para aceitar ser minha. Sei que farei qualquer coisa.
― Só vamos nos casar depois que a Nath nascer, e estiver grandinha.
Faço uma careta, mas ela se explica.
― Sebastian não dá tempo de arrumarmos tudo agora, ela vai nascer em
dois meses e não vou me casar às pressas com a barriga desse tamanho.
Vamos deixar que ela nasça e cresça um pouco para podermos viajar em lua
de mel, com ela. Tudo bem para você?
Parece razoável com ela falando assim, mas por que tenho a sensação
que é uma maneira de adiar o casamento?
― Celina, isso não é nenhum plano para não se casar comigo, não é?
― Não, juro que não. Eu o amo Sebastian, mais que tudo. Vou me casar
com você, só não agora.
Tudo bem, isso vai ter que servir por agora, mas não pretendo de jeito
nenhum desistir de tê-la como esposa. E em breve, nada de depois que a
bebê nascer. Ou no máximo assim que a bebê nascer.
― Tudo bem.
― Eu aceito. ― ela diz em alto e bom tom ― Eu te amo, Sebastian
Estúpido Vaughn.
― Eu te amo mais ainda Celina Louca Morelli.
Ela sorri e me beija. E logo estamos sendo abraçados e nossos amigos
nos parabenizam.
Rodo a festa ouvindo piadas de Cleber e Matheus sobre como virei um
capacho. Tenho o prazer de dizer bem alto que transo dez vezes mais que os
dois juntos e eles calam a boca. Procuro por minha noiva e a encontro em
um canto, aparentemente tensa, perto da mãe. Vou até ela imediatamente, e
ouço apenas o final do que está falando.
― Não sei se posso fazer isso. Não quero ser uma mãe como você.
Ela está com medo. Apesar de sempre parecer estar certa sobre tudo, e
saber exatamente o que fazer, está perdida. Como eu não vi isso antes? Esse
medo? Como ela não vê o quão maravilhosa é? Tudo bem que há uma
chance mínima de ela machucar acidentalmente a criança algumas vezes,
mas para isso estarei sempre ali, ao lado das mulheres da minha vida.
Envolvo sua cintura com meus braços e beijo sua cabeça. Ela se recosta
em mim e sua mãe responde:
― Você não será como eu Celina, será uma mãe maravilhosa. Sempre
foi maravilhosa. Sempre cuidou de mim, quando eu é que deveria estar
fazendo isso. Não tenha medo, menina, nada nunca derrubou você. Um
bebê será fichinha.
Ela sorri, abraça a mãe e sinto como está aliviada. Eu as abraço e porra!
Nunca fui tão feliz!
Celina
É estranho como tudo anda tão bem nesses últimos meses. É
estranho que depois de tantas tempestades, tenhamos conseguido nos
manter protegidos. E em paz. Acredita que faz semanas que não atiro nada
em Sebastian? Pois é, e mesmo assim não posso dizer que a vida anda
monótona. Não anda mesmo.
Minha barriga está enorme, mal consigo andar, mas incrivelmente
consigo transar, muito! Lembra aquela fase de querer sexo a todo
momento? Então, ela ainda não passou. Acredito que o fato do meu noivo
ser o Sebastian, ajuda muito. Que homem!
O que mais posso dizer sobre nossa vida? Ah sim, Nath. Minha filha está
enorme, saudável e acha que está em uma escola de samba. Chuta dia e
noite, não sei de quem herdou tanta energia.
Sebastian está cada dia mais turrão, não aceitou bem nos casarmos só
depois do nascimento da Nath, acho que não acredita que eu vou me casar
com ele, mas, apesar de ainda sentir pânico da palavra casamento, eu
pretendo mesmo fazer isso. Não sou burra, de maneira nenhuma vou deixar
um homem como Sebastian Vaughn, lindo, rico e bem dotado, escapar.
Além do mais, até eu adestrar outro homem, como fiz com ele, daria tanto
trabalho! Brincadeira, eu realmente o amo.
No fim das contas, eu aceitei a promoção na V.D.A., e sabe quem é
minha assistente? A Mônica. Ela é uma péssima assistente, muito
preguiçosa. Só não a demito porque descobri que ela tem uma filha
pequena. Somente por isso estou tendo todo o trabalho de adestrá-la. Não,
você não leu errado, ela é uma cadela, precisa ser adestrada.
Acredita que ela ainda manda mensagens para o Sebastian? Aproveito-
me disso para arremessar nela todas as coisas que não estou arremessando
nele. Erro a mira, é claro. Divirto-me apenas por assustá-la.
Ao contrário do que pensei, o meu setor não é uma bagunça total. Tenho
ótimos funcionários que me respeitam e até têm medo de mim, não entendo
o porquê.
Falando na V.D.A., Cleber está como um bobo apaixonado. Namorando
firme, ou tentando pelo menos. Rio da cara dele cada vez que me pede
conselhos sobre seu relacionamento. Está muito apaixonado mesmo, quem
em sã consciência pediria conselhos amorosos para mim? Se bem que,
posso escrever um livro: Como domar um pervertido. Ia ser muito útil a
vocês, mulheres.
E o Matheus está viajando com a Gil, e eles não foram juntos como
namorados, foram juntos por causa de uma proposta estúpida, que apostei
com o Sebastian que vai acabar bem. Se eles não se matarem antes, é claro!
E você acredita que sou uma excelente dona de casa? Sei dar ordens
como ninguém. Descobri que adoro isso. Mas que fique claro que as
funcionárias da minha casa se animaram muito mais a me agradar depois
que dobrei o salário delas. Sou esperta, fazer o quê?
Quem mais está me dando trabalho é minha mãe. Ela adorou Sebastian,
até demais. Queria comprar uma casa para ela na Cochinchina, mas a
ingrata não gostou da sugestão. O lado bom é que Sebastian descobriu que
ela odeia falar de sexo. Então sempre falamos disso quando ela está por
perto, e suas visitas passaram a não demorar muito, e serem menos
frequentes também.
Não há palavras que possam explicar o que senti quando meu pacotinho
foi depositado no meu braço. Esqueci imediatamente toda a dor que passei,
todo o medo de não dar conta, quando aquela coisinha pequena encostou a
cabeça na minha e parou de chorar. Nunca pensei que pudesse existir um
amor assim. Quando Sebastian a pegou, as lágrimas desciam por seu rosto
como uma torneira aberta. Ele a beijou mil vezes, e dizia que a amava.
Nossa pequena princesinha.
Hoje ela tem dois meses, é tão esperta e risonha! Sebastian ganhou um
senhor tapa quando disse todo contente para Matheus e Cleber que Nath
não tinha herdado meu mau humor. Retruquei que tomara que não herdasse
então a estupidez dele, e os padrinhos babões caíram na risada.
Vou me vangloriar agora, nunca derrubei meu bebê. Nem uma vez, nem
dando banho. Sebastian, quase a matou afogada na primeira vez que foi dar
banho e só não ri mais da cara dele, porque a pequena chorou muito. Vou
retirar um pouco minha glória ao confessar que todos os móveis da casa,
contém leite. Sim minha gente, eu tenho tendência a virar a mamadeira.
Não sei o que acontece, ela sempre escorrega da minha mão e espirra leite
em todo canto. Por isso prefiro dar o peito. E também porque adoro a forma
como ela fica me olhando quando está mamando.
Tirando as mamadeiras que não gostam da minha mão, e Sebastian que
definitivamente não sabe dar banho em uma criança, estamos nos saindo
bem. Bem até demais. Nathalia está grande, fofíssima e sempre risonha.
Hoje a trouxemos a V.D.A., para que os funcionários pudessem conhecê-
la. Ela foi a sensação. Vesti nela um macacão vermelho com pequenas
joaninhas desenhadas, seu cabelo negro, a pele clara e os olhos verdes do
pai combinam perfeitamente com vermelho. Não teve quem não babou por
ela. E olha que nem estou dizendo isso por ser uma mãe coruja. Fico
impressionada em como uma coisa tão linda e pura pode sair de um pau,
mas o brilho da minha princesa foi ofuscado por causa de Sebastian.
Estamos saindo da V.D.A., Nath adormecida no colo de Matheus, que
não tem nojo da baba dela, (só para constar), Sebastian à minha frente e eu
andando de cabeça baixa. Quando o elevador do nosso andar se abre, três
músicos saem de dentro dele, um com um saxofone, um com um violão e o
outro com um violino.
― Mas o que...
Antes que eu possa terminar de falar, Sebastian se ajoelha aos meus pés.
Isso mesmo meninas, babem, eu disse que ele se ajoelha aos meus pés. Não
diz nada, olha nos meus olhos. Não sei o que fazer, sei o que ele pretende,
mas Nath ainda não cresceu, não sei se devo correr ou agarrá-lo. Olho para
os lados e vejo que todos me olham, mais que isso, todas me olham. Mortas
de inveja. Meu Deus! Estou no meu momento “deusa total”. O homem mais
lindo, delicioso e pervertido do mundo está ajoelhado aos meus pés.
― Eu já esperei demais. ― ele sussurra enquanto abre a caixinha com as
alianças enormes de ouro.
Ouço apenas duas coisas, o burburinho de admiração e meu coração
batendo feito um louco.
― Eu te amo, você é minha vida. Isso resume tudo. E mesmo assim, não
expressa quase nada do que sinto por você, vai muito além disso; muito
além das palavras, dos risos e das vezes que fazemos amor. Vai muito além
de sentir sua falta no minuto que você se afasta. Muito além de sonhar com
você quase todas as noites e de saber que sou o homem mais sortudo do
mundo, só porque posso acordar ao seu lado todas as manhãs. Eu te amo. É
simples assim, é tudo isso.
Não sei o que dizer, não sei como agir. Eu o amo tanto! E ele é a melhor
coisa que me aconteceu, graças a ele eu tive o melhor que poderia sonhar
em ter. Sei que as lágrimas teimosas correm por meu rosto, e minha voz não
sai.
― Celina Morelli, aceita se casar comigo?
Olho para ele, meu amado pervertido, o homem da minha vida. Abro
meu melhor sorriso, que o faz arregalar os olhos, e digo em alto e bom tom:
― Não.
Ele sorri. .
― Não?
― Não mesmo. Vai ter que fazer melhor que isso.
Ele sorri novamente, me puxa para seus braços, ali no chão, e me beija.
Quando nos afastamos, há algo pesado em minha mão.
― Sebastian Vaughn, por que tem duas alianças enormes no meu dedo?
Ele sorri e responde.
― Porque você é minha. Case-se comigo Celina, não é uma opção.
Olho para ele, toco seu rosto que amo tanto, e digo com toda minha
alma.
― Não.
Epílogo
Celina
Nós estamos mesmo aqui. Nesse lugar cheio. Com esse homem a nossa
frente, falando sem parar. Não consigo escutá-lo, estou muito nervosa, e
ansiosa. Estou mesmo aqui? Estou mesmo fazendo isso?
― Não acredito que estamos fazendo isso. ― sussurro.
― Celina, segure a minha mão, cale a boca e sorria. ― Sebastian diz
baixinho.
― Acho que estamos nos precipitando.
O padre me olha feio e eu abaixo a cabeça.
― Tarde demais para arrependimentos.
― Merda.
― Não diga palavrão na igreja
O padre me encara com horror e sussurro um pedido de desculpas.
Sebastian aperta mais forte a minha mão.
― Nós não temos que fazer isso, Sebastian.
― Temos sim, eu gastei uma pequena fortuna nessa festa e agora você
vai até o fim e vai dizer sim.
Fico calada, o coração aos pulos, nervosa. Ele acaricia minha mão com o
polegar me tranquilizando.
― O que foi Celina? Você não me ama?
― Às vezes.
Respondo e o padre pigarreia para que eu cale a boca enquanto Sebastian
sorri alto e pede desculpas por interromper o padre.
― Isso já é o suficiente, Celina. Não tenha medo, eu a farei muito feliz.
― Tenho minhas dúvidas, você tende a ser estúpido.
― Sei que você não me permitirá ser estúpido.
Olho para Nath, quietinha em seu cesto, e meu coração se enche de
amor. Respiro fundo e resolvo ser corajosa.
― Eu castro você na primeira estupidez.
Sebastian dá uma gargalhada de novo e o padre quase o fuzila com o
olhar.
― Desculpe. ― ele diz, assim que o padre volta a falar, ele sussurra –
Não tenho dúvidas quanto a isso meu amor. Agora será que pode calar a
boca e prestar atenção ao seu casamento?
― A palavra casamento me causa coceiras. ― sussurro de volta.
― Mesmo? Em mim causa coisas diferentes.
Ele passa a minha mão levemente pela sua ereção e suspira.
― Ah Celina, me deixe ficar emocionado e não excitado perto de você
ao mesmo uma vez.
Eu concordo e me calo e acho que o padre dá um suspiro dramático
quando isso acontece. Agora estou excitada. Será que é pecado? Claro que é
pecado, estou em uma igreja. Mas Sebastian é meu marido. Quer dizer, está
se tornando nesse momento. Meu Deus! Eu estou em uma igreja, só pode
ser pecado. De repente quero que o padre pare de falar. Meu sapato está
apertado, esse vestido é pesado e está muito calor. Sem falar que Sebastian
está rodando o dedo na palma da minha mão, provocando sensações em
outros lugares mais ao sul.
Quero sair dessa igreja e mandar todo mundo embora para ter meu
marido. Marido. Eu tenho um marido. Não um de pinto pequeno, mas um
simplesmente esplêndido. Ele é meu.
Olho para as meninas da empresa emburradas atrás de mim e sorrio. Ele
é meu, suas vacas! Então me repreendo, ainda estou em uma igreja.
Olho pelo canto do olho para Sebastian e ele pisca para mim. Eu sorrio e
o padre fala mais alto a palavra me chamando atenção. Aperto a mão de
Sebastian e sussurro:
― Quero sair daqui logo. Quero fazer amor com meu marido.
Sebastian engasga e o padre para pela milésima vez fuzilando-o com os
olhos.
― Não me fale essa coisas no altar, Celina. Por Deus!
― Ok, estou quieta...
Sinto que ele está tenso. Será que o estou confundido?
― Eu te amo. ― sussurro.
Ele suspira e aperta minha mão, a leva aos lábios e a beija.
― Eu te amo mais, Celina. Você sabe disso.
Concordo, tem que amar muito para aguentar alguém como eu. Mas eu o
amo tanto! Será que existe mesmo amor maior que esse? Então me dou
conta que não, é impossível que ele me ame mais do que eu a ele. Eu daria a
vida por ele sem pensar duas vezes. Ele me domina como nunca achei que
seria possível. Por causa dele eu tenho uma filha, nunca tinha imaginado
isso. E estou me casando. Eu jurei que nunca faria isso. Mas não há nada
que eu não faria por ele.
― Merda. ― murmuramos juntos.
É a gota d’água. O padre ergue a Bíblia, vermelho como um tomate e
grita:
― Calem a boca! Calem a boca!
Nós nos assustamos e algumas pessoas na igreja arquejam. Então ele
guarda a Bíblia e diz:
― Mandem entrar as alianças, vamos acabar logo com isso.
Sebastian
― Não acredito que você é minha.
Digo me sentindo mais feliz do que pinto no lixo. Minha. Celina
Vaughn. Finalmente. Estou ansioso para despi-la. Para tirar cada camada de
seu vestido, a festa está rolando animada e por mais que eu queira, sei que
não posso impedir que a Celina curta o momento dela. Eu me obrigo a me
afastar e ela diz:
― Por que essas pessoas não vão embora? Quero que você me dispa.
Ah, como eu a amo!
Estamos no meu escritório, escondidos, pois mal conseguimos ficar perto
um do outro desde que chegamos a festa. Aconteceu uma coisa estranha, as
mulheres não se aproximam mais de mim. Fico me perguntando se Celina
precisou ameaçá-las, ou se elas temem por suas vidas mesmo. Sei que estar
casado com a Celina dá a ela total poder sobre mim, mas também sei
dominá-la, por isso damos tão certo.
― Precisamos voltar para a festa. – ela sussurra.
― Eu sei, já vamos.
Colo minha boca na dela de novo, estou prestes a levantar seu vestido e
tocá-la, quando Nath resmunga.
― A Nath está com fome. ―Celina diz.
Sei que tenho que soltá-la para ir fazer a mamadeira, mas não consigo
afastar meus lábios do seu corpo. Ela está maravilhosa nesse vestido de
noiva. Nunca a vi tão linda.
Nathalia está com sete meses agora. Sim, a Celina ainda me cozinhou
por cinco meses após o pedido de casamento do século, mas foi cuidando
dos preparativos do casamento, então aceitei. Ainda tive certo medo de que
ela fugisse da igreja, por isso contratei seguranças para ficarem na porta, e a
trancarem por fora ao menor sinal da Celina olhar para trás. Mas ela não
fugiu. Sei que estava nervosa, e com medo, mas disse sim. Demorou dois
minutos para dizer sim quando o padre perguntou e quase tive um infarto,
mas depois ela sussurrou que estava prestando atenção no volume das
minhas calças e não no padre. Acho que criei uma pervertida.
Colo minha boca à dela novamente para me despedir por enquanto,
quando algo acerta meu ombro.
Nos afastamos em um pulo e olhamos para Nath, ela agora está sorrindo.
― Celina, o que acabou de acontecer aqui?
― Eu acho, que a Nath arremessou a chupeta em você.
― Não é possível.
Pego a chupeta e a coloco em sua boca. É automático, ela chupa um
pouco, percebe que não sai leite, então tira a chupeta com a mãozinha
pequena, olha para mim e a arremessa, com uma careta de indignação.
Celina dá uma gargalhada e pega a menina nos braços.
― Isso mesmo. Ela arremessou a chupeta em você. Isso é que dá tentar
enganá-la.
Mas não respondo, não posso. Ela arremessou a chupeta em mim. Com
sete meses. Meu Deus, ela herdou a loucura da mãe!
Bônus:
COMO DOMAR SEU PERVERTIDO
Por Celina Vaughn
Olá,
Nesse manual darei algumas dicas e ideias infalíveis para você
mulher solteira, sozinha ou encalhada, ou você, criatura safada que é
comprometida e está apaixonada por outro, conquistar o seu pervertido.
Prestem bastante atenção e sigam à risca essas dicas valiosas.
― Até parece que alguma mulher vai conseguir parar na boca e não
aproveitar o pau!
― Sebastian! Não dê pitaco no meu manual!
― Só estou dizendo.
3° DICA: CHAME A ATENÇÃO DELE.
4.1: É bom você se tornar amiguinha dele, mas cuidado, amiga colorida,
nada de virar a confidente do homem. Você precisa viver as aventuras com
ele, não ouvi-las.
5° DICA: PROVOQUE-O.
Isso mesmo minha gente. A essa altura, seu pervertido já sabe que você
existe e acha que não está de quatro por ele. Ele vai começar a investir para
ver se você reage. Essa é a hora de reagir. Calma! Não vá pular no pescoço
do homem ainda. Há gestos que valem muito mais do que palavras, do tipo,
uma mãozinha ali enquanto conversam, agora sim, um decotezinho à
mostra cai bem, uma saia bem apertada. Um susto qualquer que a faça pular
nos braços dele. Inventem, sejam criativas dependendo da situação de cada
uma. O importante é que o corpo dele tenha contato com o seu, mas não o
suficiente para saciá-lo, e sim para fazê-lo querer mais.
6° DICA: OS FINALMENTES.
A essa altura, seu pervertido já está subindo pelas paredes. Está dando em
cima de você, te encurralando pelos cantos e fazendo propostas e mais
propostas para te usar. O que você faz agora? Transa com ele, é claro! Você
não é de ferro, se chegou a esse estágio já merece uma medalha! Vá minha
filha, se jogue, aproveite, deite e role e apronte muito mesmo, porque isso
será apenas uma noite. Isso mesmo, você não leu errado. Não faça essa cara
de choro, faz parte do roteiro. Você precisa ser de alguma maneira
inesquecível para ele. O fato de ele ter tido trabalho para tê-la, já será um
enorme ponto ao seu favor, então seja uma puta entre quatro paredes
(somente entre quatro paredes e somente com o pervertido alvo) e aproveite
bastante. Aproveite para confirmar que ele valerá a pena o resto do trabalho.
Mas Celina, não acabou? Não! Você já deu o passo mais importante,
agora falta fisgar esse partido. Assim que passar a noite maravilhosa de
vocês, aja como se nada tivesse acontecido. Cuidado, não vá insultar o
homem ou ferir o ego dele, pelo menos não muito. Mas finja que não foi
nada demais, que foi apenas uma noite de sexo e você não tem interesse em
repetir a dose. De maneira nenhuma procure por ele, espere que ele a
procure. E mesmo que ele demore a fazer isso, nada de cara feia ou
vinganças, abra seu melhor sorriso, esteja na sua roupa mais sexy
Não é pra vocês, divas, arrumarem outro e já irem abrindo as pernas para
ele. Vigiem! Foco no seu pervertido. É para arrumar um amigo, de
preferência bem gato e cuidar para que seu pervertido saiba desse amigo.
Veja bem, ele não pode ter certeza que você ficou com outro, ele tem que
ficar na dúvida e desconfiado. Mais uma vez vale a regra: deixe-o confuso.
Ele precisa querer investigar se está com outro e isso vai incentivá-lo a
garantir que seja só dele antes que outro a possua.
8.1: Cuidado! Nessa hora ele já estará lhe fazendo promessas, não caia
como uma boba apaixonada, faça um doce básico, que toda mulher tem o
direito de fazer e lembre-se de não cortá-lo totalmente e nem aceitar o que
ele propor depressa demais. Cozinhe um pouco, faça promessas,
desmarque, o beije de vez em quando, uma mãozinha não faz mal algum,
um contato menos completo, pois mais intimidade é excelente nessa fase.
Pode até ir para a cama com ele de novo, apenas uma vez, mas não prometa
fidelidade e não cobre de maneira nenhuma um compromisso.
Claro, desde que tenha feito ele compreender que também tem que ser só
seu. Não imponha isso de cara, mas deixe claro que estamos em pleno
século XXI e você vive por direitos iguais. Se ele comer outra, você vai dar
para outro, ele tem que entender que é simples assim, mesmo que na
realidade não seja. Então pode dizer sim, se jogar, aproveitar, gozar muito e
ser feliz, por um tempo é claro. Calma, você não vai dar o fora no homem
nem nada, prestem atenção na décima e última dica:
Não, você não leu errado. É isso mesmo. Gente, é para se afastar um
pouquinho, nada de sumir, arrumar outro e esquecer o pobre ex-pervertido.
A essa altura, o homem já está doidinho por você. E provavelmente já é até
fiel a você. Mas você precisa fazer com que ele entenda que a ama. E nada
melhor pra gente perceber o quanto ama alguma coisa, do que o risco de
perdê-la, então é isso. Nada de dar uma crise infantil ou de TPM e
assustar o cara. Apenas fique um pouco mais na sua, fria, não esteja sempre
disponível, mas continue tratando seu pervertido com todo carinho quando
se virem. Arrume outros compromissos quando ele chamá-la para sair,
deixa ele sentir um pouco sua falta. Ele vai ficar louco, vai se declarar e
querer ter certeza que não vai perdê-la e aí sim você pode se jogar de corpo
e alma nesse pervertido.
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