Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Estupido Desejo (Trilogia V.D.A. Livro 1) - Carlie Ferrer

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 421

Estúpido

desejo
Trilogia V.D.A. Volume I

Carlie Ferrer
Copyright © 2015 Carlie Ferrer
Revisão: Bárbara Pinheiro
Capa: Amanda Lopes
1ª Edição

Todos os direitos reservados. É proibida a


distribuição ou cópia de qualquer parte dessa
obra sem o consentimento escrito do autor.
Agradecimentos
A trilogia V.D.A. sempre será dedicada a
Amanda Lopes e Bárbara Pinheiro...
Agradeço primeiramente a Deus, por cada pessoa especial que
colocou em minha vida, por todas as oportunidades que me
permitiu, por esse amor que me move em cada segundo.

A minha família agora e sempre, por todo o trabalho que esses


livros dão a vocês. Mamãe, Aninha e Lukas em especial, obrigada!

As minhas amigas, meus anjos, minha força e porto seguro: Ellen,


Nanda, Vick, Olívia, Daniele, Mel, Maria Rosa, Ale Lacombe,
Sara, Jessica Souza, Nathalia, Naty, Andréia, Regiane e Mia Klein.

As minhas meninas, porque sem vocês eu não seria nada, porque


vocês são a família mais linda que eu poderia ter, amo vocês
demais: Andrezza, Emily, Mika, Keissiane, Livia, Anna, Nessah,
Raquel, Karol, Luana, Kétleen, Carla, Josi, Jessica Bidoia, Julia,
Diana, Alinne, Daya, Emanuela, Rozzy, Cynthia, Flavia, Mony,
Mirelle, Amanda, Catarina, Shirlene, Krisley, Ana Rita e Gaby.

A Nathalie Graff, Ângela Aguiar, Denise Bernardes, Danny Lobo,


Sheyla Mesquita, Cristiane Spezzaferro, Simone Camargo, Alda
Andrade, Bianca Patacho, Amanda Feitosa, Natália de Souza,
Jessica Laine, Rayane, Claudia Mariana, Mariana Dias, Leila Rios,
Jaine Gonçalves, Ana Mendes, Jaqueline Borges, Camila Lima,
Débora Gomes, Shirley Nonato, Rebeca Xavier, Eliane Crispim,
Erika Will, Emanuela Ferreira, Dany Lobo, Raquel Tavares,
Jaqueline Renata, Alessandra Fernanda, Cleidi Natal, Isnathyelly,
Graziela Rodrigues, Diana Medeiros e Uennia Soares.

Aos grupos: Recanto das Autoras Brasileiras sempre, Viciados em


livro novo e o blog Livros do coração, muito obrigada por todo
apoio!

Aos meus amores do Wattpad, tudo isso só é possível graças a


vocês: Jessica Lorraine, Larissa e Ícaro, Amanda Fonteli, Ana
Paula Leguli, Fernanda Maria, Fabi del Col, Bianca Gonçalves,
Monica Medeiros, Kamila Santos, Fernanda Ramalho, Maria Elisa,
Fabiana Nunes e Eddye Castro.
Capítulo 01

Celina

Merda. Essa é a palavra que define a minha vida hoje. Não que ela
sempre tenha sido uma merda, mas, ultimamente não consigo limpar a
merda que domina minha vida. Não, não tenho nenhum problema grave de
saúde. Tenho um teto para morar e comida na geladeira, mesmo assim estou
reclamando. Julgue-me!
Olho para o prédio onde trabalho há seis meses e tomo um ar antes de
entrar. Era para ser provisório; ficaria nesse lugar trabalhando de secretária
até daqui a duas semanas, quando me casaria com Edmundo e daria “adeus”
à vida de trabalhadora. Não que eu me importasse em trabalhar, mas ele não
aceitaria que com todo dinheiro que tem, a esposa dele precisasse obedecer
às ordens de outros que não fossem ele.
Sabe o que é pior? Eu tinha aceitado abrir mão da minha independência
e viver dependendo de um marido. Mesmo que um marido rico, dependeria
de um dinheiro que não era meu. Agora, um dia depois de o flagrar
comendo a secretária, penso que a merda já estava na minha cabeça há
muito tempo.
Entro no elevador e fico olhando o chão, tentando esconder meus olhos
vermelhos. Não tive uma boa noite de sono. Para ajudar, com o casamento
cancelado, eu tenho um milhão de dívidas, sim, eu deveria fazer o idiota do
Edmundo arcar com cada uma delas. Mas, tenho meu orgulho. Não vou
pedir que ele pague meu enxoval de cama, mesa e banho (só peças
caríssimas que eu comprei), os tapetes persas, as pinturas maravilhosas da
última exposição que havíamos ido e nem meu enxoval de lua de mel.
Imagina!
Ele nem sabe das bolinhas comestíveis e as quinze fantasias que eu
comprei para que pudéssemos nos divertir na lua de mel. Resultado: estou
falida. Nem mesmo tirando todo o dinheiro que tenho no banco vai dar para
cobrir tudo. Nem sei se ainda tenho um emprego, pois fui contratada por
apenas seis meses. Acabei de rejeitar uma proposta excelente de trabalho
porque me casaria. Além de tudo, vou ter que implorar a Matheus que me
mantenha como secretária, tomara que ele não tenha dado meu cargo para
outra pessoa.
Olho para cima bem a tempo de ver que estou no décimo primeiro andar,
eu deveria ter descido no décimo. Apresso-me para sair do elevador, não me
importo de descer um lance de escadas, mas, no momento que dou um
passo para frente, esbarro em um braço segurando um copo que vira em
mim, molhando minha blusa social branca de café, além da pasta do
homem. Ouço um palavrão escapando dos lábios dele e, para piorar meu
constrangimento, olho para cima e vejo minha vítima, e então faço uma
careta. Por que Senhor? De todos os idiotas que trabalham nessa empresa,
por que toda vez que algo dá errado comigo é na frente de Sebastian
Vaughn?
Sebastian é um dos sócios da V.D.A Rede Hoteleira, e o mais estúpido
dos três donos dessa empresa. Só trata bem as mulheres bonitas. É
desagradável, mal humorado e pervertido. Claro que ele nunca deu em cima
de mim, pelo menos não do jeito que eu me visto para vir trabalhar, por
isso, só sobra para mim os insultos e as humilhações.
― Me desculpe senhor Vaughn.
― Tinha que ser você! ― esbraveja ele.
Nós dois saímos do elevador e eu corro para o banheiro mais próximo, o
café quente está queimando minha barriga. Tiro a blusa e passo a parte suja
na água. Então, uma voz me faz pular:
― Está vermelho na sua barriga, é melhor lavar isso.
Viro-me e lá está Sebastian Vaughn, com um sorriso malicioso, e embora
esteja falando da minha barriga, está de olho no meu sutiã. Ele vê minha
expressão espantada e sorri mais ainda.
― Onde você esconde isso tudo, senhorita Morelli? ― Fala ele olhando
para os meus seios. Rapidamente, cubro os seios com as mãos.
― O que você está fazendo aqui? Esse é o banheiro feminino!
― Na verdade, é o banheiro masculino ― fala ele apontando para os
mictórios e só então reparo que havia mesmo entrado no banheiro
masculino ― Eu ficaria de bom grado olhando seus seios a manhã toda,
mas não queremos que mais alguém veja sua comissão de frente, não é
mesmo? ― fala se aproximando. Então pega minha blusa molhada de cima
da pia e passa levemente na mancha vermelha na minha barriga.
Eu puxo a blusa da mão dele com um solavanco:
― Eu sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma!
― Estou vendo.
Tenho um grande defeito: pago o mico do século, mas não perco meu
orgulho. Ergo a cabeça o máximo que posso e saio do banheiro segurando a
blusa em frente aos seios. Assim que desvio do olhar de Sebastian, corro
para o banheiro feminino.
Claro que ficou uma mancha horrível na minha blusa. Para ajudar,
cheguei atrasada, e Matheus nem me deu tempo de falar nada, foi logo
passando quinhentos relatórios para eu terminar. Perdi meu horário de
almoço e Mônica, a minha assistente, não veio trabalhar, de novo.
Perto da hora de ir embora, eis que surge à minha frente Sebastian
Vaughn, com um sorrisinho afetado no rosto, a olhar para os meus seios e
depois para a minha cara. Eu faço a pior careta possível, deixando claro que
não aprovo a atitude dele.
― Sua blusa ficou horrível. ― fala ele apontando para a mancha marrom
na minha blusa.
Eu quero responder “não está pior que a sua cara”, mas eu sei quando
estou errada, e nesse caso, eu fui a estabanada que derramou café na mala
dele. Então tento sorrir e digo:
― Espero não ter estragado nenhum documento importante.
― Ah, mas você estragou. Eu deveria te mandar refazer tudo.
Ok, eu tento ser legal, mas ele é insuportável. Antes que eu possa
responder, ele prossegue:
― Cadê a Mônica? Está lá dentro com o Matheus?
― O quê? Não, ela não veio hoje,
― Hum. Que pena, eu tinha grandes planos para nós dois hoje.
Faço uma careta. Eu sei que ele tem um caso com a Mônica, mas ele não
precisa ficar espalhando isso pela empresa. Também, a culpa é dela,
nenhuma garota de respeito sairia com Sebastian Vaughn. Todo mundo sabe
que ele pega todas, e no final, acabam apaixonadas, e sofrendo quando ele
se cansa.
― Que pena ver seus planos darem errado.
Sem querer, falo com muito sarcasmo, e ele sorri para mim. Vê se pode?!
Ele fica um tempo me encarando, então de repente, solta:
― Você parece ser bonita. Por que vem trabalhar parecendo uma velha?
O quê? Eu tenho mesmo que aguentar isso? Tá bom, eu não sou nenhum
exemplo de beleza e capricho no trabalho. Na verdade, venho trabalhar
desarrumada de propósito, mas ele não precisa jogar isso na minha cara. E
se eu realmente não tivesse conserto? Tento me segurar, afinal ele é meu
superior e eu preciso do emprego, não posso sair por aí dando patadas nos
donos da empresa. Mas, quando olho meu relógio, vejo que meu horário de
trabalho já acabou, então, eu não devo nada a ele. Dou um sorriso afetado e
respondo calmamente:
― Não é da sua conta.
Ele parece surpreso.
― Eu pensava que as secretárias deveriam ter mais respeito com seus
superiores.
― Meu horário de trabalho já acabou. Fora desse horário, eu só respeito
quem merece.
Ele fecha a cara e vai responder, quando Matheus sai da sala e o
cumprimenta. Aproveito a oportunidade e corro atrás de Matheus antes que
ele entre no elevador. Consigo segurá-lo pelo braço:
― Senhor Amorim, preciso muito falar com o senhor.
Ele consulta o relógio:
― Tem que ser agora, Celina?
― É urgente.
Ele assente.
― Tudo bem, fale.
― Aqui?
Ele revira os olhos parecendo impaciente.
― Eu não vou voltar para minha sala e ter uma reunião com a senhorita,
então, se quiser falar, fale agora.
― Tudo bem. É que eu estava pensando... eu gosto muito de trabalhar
para o senhor, e gostaria de aceitar a proposta que me fez e continuar sendo
sua secretária por tempo indeterminado.
Primeiro ele me encara, depois faz uma careta, e eu sinto meu mundo
ruir ao perceber o que ele vai me dizer:
― Sinto muito Celina. Eu realmente preferia continuar com você como
secretária, mas você disse que não iria ficar. Dei sua vaga para a Mônica.
― A Mônica? Mas ela nem vem trabalhar!
― Bom, a Mônica está com alguns problemas pessoais, mas como você
disse com certeza que não ficaria mais na empresa, eu precisei arrumar uma
substituta. E não posso voltar com a minha palavra agora.
Claro que não pode. A Mônica já deve estar ansiosa esperando uma
promoção. Então por que ela não se dignava a aparecer no trabalho?
Suspiro e ambos ficam me olhando.
― O senhor tem alguma outra vaga para mim? Talvez eu possa ser
assistente da Mônica. ― engulo em seco ao falar isso. Eu, me rebaixando à
metida da Mônica, mas estou desesperada!
― Sinto muito, mas já contratei outra assistente, ela chega na semana
que vem. Eu não tenho nenhuma outra vaga para você.
Assinto cabisbaixa e agradeço. Quando me viro para voltar para minha
mesa, alguém segura meu braço. Viro-me para ver Sebastian me encarando.
― Eu também não tenho uma vaga fixa para te oferecer, mas vou fazer
uma viagem em uma semana e a minha secretária não pode me acompanhar
porque está com um bebê de poucos meses. Preciso de uma secretária que
me acompanhe nessa viagem; seria mais fácil se fosse alguém que já
entende como as coisas funcionam.
Espera. Ele está me oferecendo um emprego?
― Eu? Viajar com você?
Meu desprezo deve ter sido claro, porque ele fecha a cara e com uma
carranca, fala:
― Se está em condições de escolher, não precisa aceitar.
Sim, eu mereci! Abaixo minha crina e humildemente me desculpo.
― Não foi o que eu quis dizer, só estranhei o convite.
― Não vejo por que.
― Porque pensei que levaria algum dos seus casos, você sabe... para se
divertir durante a viagem.
Eu disse mesmo isso em voz alta? Matheus dá uma gargalhada e ele me
olha divertido, avaliando meu corpo de cima a baixo.
― Eu não vou transar com você! ― Me apresso em esclarecer, fazendo
Matheus rir mais ainda.
― Não me lembro de ter te pedido isso. ― responde ele convencido,
então se aproxima de mim e sussurra ― Mas se eu quisesse você, ficaria
comigo sem pensar duas vezes. ― então ele se afasta de novo ― Esteja na
minha sala amanhã às oito... Não se atrase e não chegue amassada ou suja
como hoje.
Dito isso, ele entra no elevador e desaparece. Eu quero de novo mandar
ele para aquele lugar, mas estou muito feliz porque acabei de conseguir um
emprego.
Encontro Gil na saída e vamos caminhando até nosso apartamento.
Somos amigas desde a faculdade; ela mora comigo e trabalha na empresa. É
assistente do Cleber, o terceiro dono da empresa.
― Uau! Então você vai viajar com o gostosão do Vaughn.
― Nós não vamos a passeio. É só um trabalho. E pretendo manter
distância daquele arrogante.
― Arrogante ou não, ele é maravilhoso, até você tem que admitir! E pela
fama que ele tem não deve ser fraco. Você sabe em quê, como seu ex-noivo.
― Não precisa jogar isso na minha cara. De qualquer forma eu só aceitei
porque estou praticamente falida. Assim que pagar minhas dívidas vou
procurar outro emprego.
Ela está com um sorriso no rosto.
― O que foi Gil?
― Você pode negar, mas nós duas sabemos que você vai transar com
Sebastian Vaughn.
Eu paro no mesmo instante.
― É claro que não! Em primeiro lugar, eu não o suporto!
― Foi o que você disse quando começou a trabalhar para o Edmundo. E
veja no que isso deu.
É verdade, assim que me formei na faculdade, fui trabalhar na O.C.A.
Engenharia. Edmundo era meu chefe. Ele era insuportável, mandão, e
ficamos juntos por três anos e noivos. Claro que eu deveria saber; assim
como ele transou comigo quando eu trabalhava para ele, também transou
com as secretárias que vieram depois de mim. Eu não entendo essa modinha
de executivo e suas secretárias! Não vejo mesmo qual é a graça. Talvez para
uma secretária de um “Sebastian da vida”, eu possa até abrir uma exceção.
Ele é um idiota, mas é muito gostoso. Mas o Edmundo, não é vingança de
mulher traída, ele não é atraente, é pão-duro e muito ruim de cama.
― É totalmente diferente dessa vez. Mesmo porque ele não vai nem
olhar para mim. Esqueceu como venho trabalhar?
Outra verdade. Desde que atraí a atenção indesejada do velho que foi
meu chefe depois do Edmundo, saí da empresa. O meu outro chefe também
deu em cima de mim e chegou a me chantagear, resolvi que nos dias de hoje
não dá para ser uma secretária bem apresentável. Então, desde que entrei na
V.D.A. eu ia trabalhar com um coque no cabelo, óculos enormes e roupas
largas e sem graça. Ninguém nunca olhou para mim naquela empresa.
Bem, ninguém exceto Sebastian quando me viu de sutiã, mas isso não
conta. Qualquer homem olharia para uma mulher seminua.
― É uma viagem. Você não vai manter esse disfarce horroroso a viagem
toda. Ele vai acabar vendo você e com certeza vai desejá-la.
Faço uma careta.
― Não mesmo. Eu te garanto que entre mim e Sebastian Vaughn nunca,
nunquinha vai acontecer nada.
Sebastian
A porra do despertador está tocando há cinco minutos e meus
pensamentos confusos já começam a repetir esse barulhinho irritante. Hora
de levantar.
Depois de tomar um banho, olho minha geladeira, vazia como sempre.
Não sei nem mesmo porque tenho uma geladeira, minhas bebidas só ficam
no bar e eu nunca tenho comida em casa, coisa que minha mãe acharia um
absurdo se estivesse viva. Se bem que, se minha mãe estivesse viva eu
nunca teria saído da Inglaterra, para começar.
Paro para tomar um café na cafeteria da esquina de onde trabalho. Dessa
vez não vou correr o risco de subir com o café para o meu andar e a louca
da Morelli derrubá-lo em mim. Sento-me numa mesa e ouço risos. Quer
saber uma coisa que sempre desperta minha atenção? Risos femininos.
Nada melhor que uma mulher bem humorada. Viro-me para ver quem é e
seguro um palavrão: lá está ela, o perigo ambulante, a razão do pesadelo
que tive a noite. Célie Morelli! Quer dizer... acho que o nome dela é esse, só
me lembro do sobrenome dela.
Tento me esconder e até penso em sair de fininho. Onde eu estava com a
cabeça quando contratei essa mulher? Ela me pareceu desesperada quando
estava falando com o Matheus, eu realmente preciso de uma secretária para
a viagem, mas por que tinha que bancar o bonzinho e dar o cargo a ela? Ela
estava certa quando disse que eu deveria levar um dos meus casos. Seria a
coisa certa a se fazer! Depois de cada reunião exaustiva eu teria um bom
sexo a noite para relaxar. Mas, viajando com aquela bruaca, mal humorada,
só me restaria papéis estragados, más respostas e noites solitárias
desacompanhado no Hotel Quatro Estações, o hotel da minha rede onde
sempre fico.
Droga! Olho para ela novamente, e percebo que há algo errado com essa
mulher. Eu a vi sem camisa ontem, quando ela derramou café em mim, e...
uau! Ela tem um corpo que eu nunca imaginaria por baixo daquelas blusas
largas e daqueles saiões. A cintura dela é fina e os seios fartos, o tipo de
mulher que eu pegaria facilmente. Mas, depois que ela vestiu a blusa de
novo, meu desejo por ela brochou. Não sei que grau de miopia alguém
precisa ter para usar óculos tão grandes, e nem o quanto um cabelo pode ser
ruim a ponto de precisar ficar sempre naquele coque apertado. Mas o cabelo
dela, pelo menos olhando de longe, parece ser tão macio! É negro e
lustroso, ela não deve ser tão descuidada assim.
Me dou um tapa para sair do transe. Por que diabos eu estou preocupado
com o cabelo dessa Morelli? Saio da cafeteria sem nem mesmo terminar
meu café. Já sei do que preciso. Preciso de uma boa noite de sexo, é esse o
meu problema: falta de sexo. Já faz dois dias que vi a Mônica, só pode ser
isso!
Como a Mônica não está indo trabalhar, preciso de uma substituta.
Lembro-me então da Lurdinha, do RH. Entro na empresa e vou direto para
o terceiro andar e paro no RH, de longe vejo Lurdinha com seu sorriso
metálico para mim. Ela é bem bonitinha, cabelo curto, marrom e olhos da
mesma cor do cabelo. O aparelho nos dentes dá um charme para ela. Não
que eu vá deixar ela por meu pau na boca com aquele negócio metálico,
mas no resto ela é boazinha. Depois de dois minutos de papo, já tenho um
encontro marcado para depois do trabalho. Pronto, resolverei minhas
tensões essa noite.
Quando viro para ir para o meu andar, dou de cara com um convite de
casamento. O convite branco com letras douradas convida para o casamento
de Celina e Edmundo que ocorrerá daqui a duas semanas. Que porra é essa?
Daqui a duas semanas a louca estará numa viagem comigo! Como ela aceita
uma viagem a negócios se vai se casar?! A não ser, que não haverá mais
casamento. Isso explicaria porque ela estava tão desesperada para manter o
emprego.
Depois de chegar à minha sala, ligo para o Matheus que confirma minhas
suspeitas. A senhorita Morelli negou uma proposta feita por ele, porque iria
se casar. Mas, depois ela pediu o emprego de volta. Então não iria mais se
casar. Será que teria adiado o casamento ou cancelado de vez? Bem, mal
humorada do jeito que aquela mulherzinha é, aposto que o cara caiu fora
antes que fosse tarde demais. Abro um sorriso com essa explicação quando
alguém bate à minha porta. A senhorita Morelli entra com uma blusa verde
lodo, os enormes óculos, uma trança mal feita puxando seu cabelo para trás
e uma saia social enorme (vai quase até o pé). O lado bom dessa saia
horrorosa que ela está usando, é que é colada ao corpo e posso ver
claramente os contornos do quadril e das pernas dela. Que corpo essa
mulher tem! Deu-me até uma curiosidade de ver essa mulher nua. Dou-me
outro tapa e saio do meu devaneio. Essa noite Sebastian, essa noite você vai
acabar com esses problemas de tesão acumulado. Sorrio para ela e a
convido a sentar-se. Olho o relógio; ela está três minutos adiantada e sua
roupa parece limpa.
― Vejo que não fez nenhuma vítima hoje, senhorita Morelli.
Ela faz uma careta antes de responder.
― Ainda não.
Ora! Ela tem senso de humor. Isso sim é uma novidade.
― Vamos direto ao assunto então. Como eu disse ontem, vou fazer uma
viagem a negócios na semana que vem e preciso de uma secretária para
acompanhar-me. Você já conhece tudo sobre o andamento dos negócios da
empresa, só precisa conhecer o projeto que estou indo conseguir no Rio.
Isso eu posso te mostrar hoje mesmo em uma reunião que teremos daqui a
pouco, da qual você vai participar para ficar por dentro de tudo.

Ela assente.
― Tudo bem para você viajar na semana que vem?
― Sim.
― Vamos ficar fora por duas semanas.
― Ok.
A curiosidade finalmente me vence.
― Sabe que hoje dei uma passada no RH e adivinha o que encontrei lá?
― A Lurdinha, é claro.
Olho para ela espantado.
― Ah, qual é?! Todo mundo sabe do seu caso com a Lurdinha.
Dou um sorriso.
― Mesmo? Eu nunca quis que fosse segredo. Mas não foi isso que
encontrei lá. Bom, a Lurdinha também. Vamos fazer um bom sexo hoje.
Ela fica vermelha no mesmo instante.
― Poupe-me dos detalhes sórdidos da sua vida, senhor Vaughn. ― fala
irritada.
― Eu só acho que você se divertiria muito com os detalhes sórdidos da
minha vida.
― Eu duvido.
Sim, ela é bem atrevida. Eu gosto disso numa mulher. Droga! Estou
pensando nela como uma mulher de novo. Preciso mesmo me encontrar
com a Lurdinha.
― Mas o que eu encontrei no mural do RH foi um certo convite de
casamento. ― Pronto, foi só eu falar a palavra casamento e ela se sentou
ereta na cadeira e pude sentir sua tensão, vindo em minha direção.
― Esqueci de tirar.
― E o que vai acontecer com seu casamento se você vai viajar?
― Não haverá mais casamento. Não se preocupe senhor Vaughn, estou
livre para essa viagem.
Então ela realmente cancelou o casamento, não apenas adiou. Sei que
não é da minha conta e posso pensar em mil e um motivos diferentes para o
cara ter pulado fora, mas fico curioso assim mesmo. Contenho-me para não
perguntar o motivo. Não quero que ela abra seu coração partido. Deus me
livre me tornar o amiguinho dessa mulher.
― Ótimo. Pegue esses papéis, você tem até as onze para lê-los.
Encontre-me às onze em ponto na sala de reuniões do décimo primeiro
andar.
― Sim senhor.
Ela pega os papeis da minha mão e, quando se vira para sair posso
reparar a bunda dela com aquela saia colada. E que bunda! Bela comissão
de frente e bela comissão de trás. A trança longa quase alcança sua bunda e
percebo que seu cabelo negro é comprido. Um mistério. Celina Morelli é
um mistério para mim.
Capítulo 02
Celina
Li o monte de papéis que aquele estúpido me deu o mais rápido que
pude. Antes de subir para a reunião, fui até o RH, arranquei de lá o convite
de casamento e o arremessei na lixeira mais próxima. Olhei para Lurdinha
com um ar sonhador, Sebastian nem precisava ter me dito o que eles fariam
essa noite, estava na cara de boba dela. Eu não entendo essas mulheres que
vivem por sexo. Sexo nem é tudo isso! Resultado: cheguei dois minutos
atrasada para a reunião. Foram só dois minutinhos, mas Sebastian estava me
esperando do lado de fora da sala e praticamente agarrou meu cotovelo
quando me viu.
― Atrasada na sua primeira reunião Célie? Isso não é nada bom.
― Me desculpa. E meu nome é Celina.
― Tanto faz.
Ele me arrasta para dentro da sala que já estava cheia, restando apenas
dois lugares vazios à mesa. Merda! Vou ter que me sentar ao lado dele. Nós
nos acomodamos e não, ele não puxou a cadeira para mim. Mas, eu não
esperava realmente que ele fosse algum tipo de cavalheiro.
A reunião começa e estou prestando o máximo de atenção, anotando
tudo o que acho importante para me preparar para a viagem. De vez em
quando Sebastian olha para mim, vê que eu estou anotando alguma coisa e
faz um sinal leve com a cabeça de aprovação. Sabe o que é mais estranho?
Conversei com a Maura, a secretária dele, e ela disse que ele é um ótimo
patrão. Que é paciente, que entendera que ela não poderia viajar por causa
do bebê e vive dando presentes para o bebê dela. Dá para imaginar isso?
Sebastian Vaughn, o sempre grosso e mal educado, um bom chefe?
De repente, no meio da reunião um barulho de um bipe começa a tocar.
Olho para os lados irritada, perguntando-me quem entra para uma reunião
de negócios e não deliga o celular? Então sinto uma vibração na cintura e
percebo que o celular que está tocando é o meu. Depois que terminei com o
Edmundo, apaguei a música que era toque dele, e agora meu celular toca
esse bipe horroroso, parecendo um grilo engasgado! Todos percebem de
onde está vindo o barulho e olham para mim. Rapidamente tento tirar minha
blusa de dentro da saia para alcançar o celular, derrubo alguns papéis no
processo e a reunião para, enquanto esperam que eu desligue o celular.
Quando consigo finalmente alcançar meu celular, olho para Sebastian que
está possesso. Mas, não é para menos! Sussurro um “me desculpe” para ele
e aperto o botão de desligar, mas ouço baixinho uma voz gritando (eu
apertei o botão errado).
Então tiro meu celular da saia e coloco na orelha a tempo de ouvir
Edmundo falando:
― Me perdoa Passarinha, você sabe que eu te amo, não foi minha
intenção. ― Não posso falar agora! ― sussurro e aperto um botão
para desligar o celular. E, de repente a voz de Edmundo está no viva-voz, e
ele está falando:
― Amor, eu juro que não que não queria comer a secretária, eu prefiro
mil vezes comer você.
Pronto! Consigo finalmente interromper a chamada e desligo o aparelho
para não correr o risco de tocar de novo. Sei que estou vermelha porque
estou sentindo meu rosto queimar. Olho pelo canto do olho para Sebastian,
esperando encontrar uma careta, e ele está sorrindo. Meu Deus! Olho em
volta disfarçadamente e todos estão tentando segurar o riso. Eu virei o
motivo de piada da reunião! Olho para o homem que estava mostrando um
quadro de gráficos e falando antes do meu celular tocar.
― Pode continuar.
Ele, segurando o riso pergunta.
― Tem certeza?
― Sim, desculpe a interrupção.
Durante o resto da reunião sinto olhares em mim e ouço Sebastian rindo
mais de uma vez. Acho que ninguém mais prestou atenção na reunião
depois daquela ligação. Se eu pudesse eu mataria o Edmundo. Depois de
tudo ainda me apronta uma dessas! Eu juro que vou arrancar aquele pau
minúsculo dele e ele nunca mais vai falar de comer ninguém, comigo!
Quando a reunião acaba, tento sair de fininho, mas Sebastian é mais
rápido e me segura pelo braço:
― Eu quero a senhorita na minha sala em dois minutos ― ele diz e se
afasta conversando com um investidor.
Passo no banheiro e vejo meu rosto ainda vermelho. Então jogo um
pouco de água e respiro fundo antes de ir para a sala do Sebastian. Agora
sim eu serei demitida! Nem preciso bater, a porta está aberta. Ao entrar,
percebo que ele está ao telefone. Faz um sinal com a mão para que eu
espere e eu aguardo onde estou, em pé perto da porta. Assim fica mais fácil
se eu precisar fugir.
Ele termina a ligação e faz um sinal para que eu me acomode na cadeira
de frente para ele. Eu me sento sem graça e fico olhando os papéis que estão
em cima da mesa.
― Então Célie, deu para entender a proposta que faremos e o que desejo
exatamente que você faça?
― Sim senhor. E meu nome é Celina.
― Ótimo. Pensei que com aquela ligação, você não teria prestado
atenção na reunião.
Olho para ele e percebo que ele está segurando o riso. Então é isso, em
vez de brigar comigo ele vai tirar uma com a minha cara. Tudo bem, eu
mereço essa.
― Desculpe-me por aquilo senhor. Não levarei meu celular durante a
viagem. Agora sim ele sorri.
― Então foi por isso que cancelou o casamento? Por que seu noivo
estava comendo a secretária? E eu que achei que fosse porque você anda
vestida desse jeito. Mas se bem que ele disse que prefere mil vezes comer
você, então você não deve ser tão ruim assim!
A raiva me sobe. Como ele ousa falar assim comigo?
― Te garanto que sou bem melhor que a Lurdinha ou a Mônica. Aliás, o
seu gosto para mulheres é duvidoso, para você ficar me julgando assim...
Ele fecha a cara, mas sua carranca dura pouco. Logo ele está sorrindo
novamente e eu sei que mais algum insulto está por vir:
― Mas, se você não é tão ruim assim eu imaginei que ele tivesse
desistido por causa do seu mau humor. Você sabe, nenhum homem suporta
uma mulher mal humorada. E você minha cara, está sempre com essa careta
que está fazendo agora.
― O meu humor varia de acordo com a pessoa que está perto de mim.
Eu sou sempre mal humorada perto de idiotas.
Ele sorri mais ainda.
― Suponho que seu noivo seja um idiota.
― Bom, ele comeu a secretária. E não é mais meu noivo. Será que
podemos falar da reunião?
Ele balança na cadeira de um lado para o outro, depois completa:
― Eu estou começando a achar que saber dos seus detalhes sórdidos
também me divertiria muito Célie.
― É Celina!
Gil e eu passamos na sorveteria que fica na esquina de nosso prédio. Eu
estava contando a ela a cena na reunião e ela estava se acabando de rir de
mim, quando entramos no hall do prédio e avisto alguém cochilando no
sofá. Apavoro-me, mas Gil faz um sinal de silêncio com o dedo e vamos
andando na ponta dos pés para que ele não nos veja entrar. Mas o elevador
desce nesse momento fazendo um barulho alto que o faz despertar, e ele me
vê.
Ele está horrível, a barba está por fazer, o terno todo amassado e o cabelo
completamente despenteado. Rapidamente Edmundo se levanta e se ajoelha
aos meus pés:
― Me perdoa, Passarinha! Eu juro que nunca mais faço isso. Eu só vou
contratar secretários a partir de agora. Eu já demiti aquela assanhada, por
favor, volta para mim!
Todos que estão no hall olham essa cena lamentável. Admito, estou no
meu momento “deusa”, toda mulher sonha em ver um homem mal passado,
descabelado e acabado por causa dela. Essa cena de se ajoelhar aos seus pés
em público, então! Momento “deusa” total! Mas eu não estou curtindo meu
momento. Pelo contrário, estou morrendo de vergonha de todo mundo ver
esse homem, que já não é muito bonito, todo bagunçado e se jogando aos
meus pés. É como se eu fosse a má da história, e ele o pobre coitado que
está se humilhando para mim. Até recebo um olhar de desaprovação do
porteiro. Oh céus eu mereço.
Rapidamente faço com que ele se levante. Ele começa a fingir um choro
(sim, fingir, porque eu olho bem os olhos dele e não há sequer o brilho de
uma lágrima) e, para evitar um constrangimento ainda maior, tenho que
convidá-lo para entrar no meu apartamento para que possamos conversar
sem uma plateia.
― Já que vocês precisam ficar sozinhos, vou voltar para a sorveteria e
ver se aquele loiro ainda está por lá. ― fala Gil saindo de novo para a rua.
― Não! Gilcelle, volta aqui!
E lá se vai minha tábua de salvação. Agora quem vai me impedir de
jogar o Edmundo pela janela? Nós subimos em silêncio e fico igual a uma
lagartixa no elevador, praticamente colada ao espelho, o mais longe
possível dele.
Entramos no meu apartamento e coloco minha bolsa no sofá. Antes que
diga qualquer coisa, ele está de joelhos e fingindo chorar de novo.
--- Passarinha, me deixa explicar!
Minha paciência do dia havia terminado com meu chefe estúpido tirando
sarro da minha cara. Por isso, vou logo explodindo:
― Edmundo, pode parar com essa cena ridícula e ficar de pé!
Ele faz um barulho ainda mais alto imitando um choro. Então não tenho
outra saída, a não ser agarrá-lo pelos cabelos e levantá-lo, para que olhe
para mim. Como eu desconfiei nenhuma “lagrimazinha” sequer. Seria um
momento “deusa” se um homem chorasse por mim, é meu sonho ver isso
acontecer. Ele parece assustado com a minha atitude, o que me dá tempo de
falar:
― Viu? Nenhuma lágrima. Pode parar com esse choro falso! Só vou
ouvir o que tem a dizer se eu vir uma lágrima rolando pelo seu rosto!
Ele fica espantado, então gagueja:
― Mas Passarinha, seja razoável.
― E não me chama de passarinha! Que pássaro eu seria com esse cabelo
preto? Um urubu que come carniça? Um corvo daqueles de filme de terror?
― Passarinha, eu...
Faço uma careta que o faz se calar. Ele sempre me chamou de
passarinha, era meu apelido carinhoso, e por ele eu já deveria saber que esse
homem não prestava. Que homem chama o amor de sua vida de passarinha?
Amor, sim. Vida, sim. Até fofinha eu aceitaria, mas passarinha? Tenha dó!
― Desculpa Celina. Eu só preciso de alguns segundos.
― Então levanta desse chão e aja como homem. Coisa que nós dois
sabemos que você não é.
Ele assente como se tivesse recebido uma ordem e fica de pé. Respiro
fundo para aguentar uma explicação.
― Você tem dois minutos.
Ele imediatamente começa a falar.
― Celina, eu nunca traí você. Aquilo só aconteceu daquela vez e você
chegou bem na hora. E eu não queria ter feito aquilo! Eu estava cansado, a
gente não dormia junto há duas semanas, você sabe, com os preparativos
para o casamento. Ela apareceu ali se oferecendo para mim e eu recusei, eu
juro que não queria transar com ela.
― Mesmo? E como o seu pau foi parar dentro dela? Hein? ― eu estou
gritando nesse momento― Me explica! Porque você não estava amarrado,
nem obrigado a fazer nada. Ela não poderia ter tirado sua roupa à força, ter
feito seu pauzinho ficar duro, coisa que eu sei como é difícil fazer, e ter
enfiado nela sem o seu consentimento.
― Celininha, eu não queria...
― Celininha o caralho! Você acha que sou idiota a esse ponto? Eu sei o
que eu vi, e imagino quantas outras você deve ter comido antes que eu
descobrisse tudo!
― Eu juro que não! Foi só ela.
Então, me lembro de Aline, uma mulher cinquentona, com mais rugas
que minha avó, que tinha sido secretária dele e seguro para não desabar.
Toda vez que eu ia ao trabalho dele, ela me olhava como se estivesse
escondendo alguma coisa. Me apoio no sofá para não desabar, o quão ruim
de cama eu devo ser para o meu noivo me trair com uma “mexerica”
chupada daquela? Percebo que vou chorar e seguro minhas lágrimas. Esse
projeto de homem não vai me ver derramar uma lágrima sequer por ele.
― Sai da minha casa!
― Celina, pensa bem. Foram três anos, é muita coisa para você jogar
fora por um capricho.
Olho para ele como se fosse matá-lo.
― Tudo bem, não foi um capricho, mas onde fica o perdão? Quem ama
perdoa!
Cerro meus punhos ao lado do corpo, me segurando para não socar a
cara de pau dele. Ele parece perceber, porque dá um passo para trás.
― Celina, eu te amo.
Foi a gota d’água! Quando estávamos juntos, ele dizia um “eu te amo”
para cada vinte “eu te amo” que eu falava. E, provavelmente isso acontecia
nos dias em que ele comia a secretária e vinha me adular depois. Meu Deus!
Eu sou chifruda. E imagino o tanto de mulher que sempre o rodeou: a
vizinha “boazuda” que ele tem, se bem que ela não deve ter dado mole para
um cara como ele. Tem a síndica do prédio dele, a cunhada viúva dele, ele
pode ter querido fazer “as vezes” do irmão. A cozinheira dele (uma vez ele
me disse que o tempero dela era muito bom com uma cara que indicava
alguma coisa indecente), não um tempero de comida.
Então, piro. Começo a imaginar todo ser feminino que convive com ele,
a sócia dele na empresa, a recepcionista, a prima que ficou hospedada em
sua casa umas semanas atrás, até a cachorra dele. Meu Deus! De repente
meu noivo, que a Gil dizia ser ruim de cama pela minha cara de insatisfação
toda vez que a gente dormia junto, parece um “deus do sexo”, transando
para todo lado com um bando de desesperadas que não tem um homem
melhor! O que faz de mim a desesperada chefe. Antes que eu enlouqueça
com tantos pensamentos levanto minha mão para enfim socar a cara dele.
― Isso! Me bate! Me bate e põe para fora a sua raiva e aí tudo vai ficar
bem. ― Ele fecha os olhos e dá um passo na minha direção: ― Vamos, me
bate!
Eu não sei se rio dessa situação, se choro ou se eu realmente desço um
soco na cara dele. Mas, antes que possa decidir, a campainha toca. Nem
acredito que o porteiro tenha deixado alguém subir depois daquela cena no
hall, mas ele nunca foi com a minha cara. Abro a porta e lá estão dois caras
com uniforme azul.
― Pois não?
― Estamos procurando por Celina Morelli.
― Sou eu.
― Somos da loja Sonho de Casa Enxovais e como você não pagou o
material que comprou, viemos levá-lo de volta para a loja.
― O quê? Vocês não podem fazer isso!
O mais baixinho deles me olha e explica calmamente, como se estivesse
falando com uma pessoa totalmente burra.
― Moça, se você compra uma coisa numa loja, e paga, essa coisa passa
a ser sua. Mas se você compra uma coisa e dá o calote, como a senhora fez,
essa coisa deve ser devolvida à loja, porque a loja não pode ficar no
prejuízo.
Fico em choque. Aqueles homens estão aqui para levar meu enxoval dos
sonhos e estão fazendo isso na frente do Edmundo. Dá para me humilhar
mais? Desespero-me, não quero dar “adeus” aos meus tapetes persas, aos
meus jogos de cama de seda importada, meus travesseiros de plumas
egípcias...
Resolvo apelar para o lado misericordioso dos homens. Faço uma cara
de choro e falo pelo nariz:
― Por favor, meu noivo me traiu, sabe?! Ele comeu a secretária, o
casamento foi cancelado e tenho que pagar tudo sozinha. Estou sofrendo
muito, mas vou dar um jeito nisso e até semana que vem eu pago à loja.
Eles sequer alteram a expressão:
― Moça, se a loja fosse dar um enxoval para cada noiva traída, já teria
falido. Se a senhora vai ter o dinheiro na semana que vem, então volte lá na
semana que vem e compre tudo de novo!
Fico com raiva da insensibilidade desses monstros.
― Não se trata assim uma dama. Aposto como os dois são solteiros e
moram com as pobres das mães, que tem que aguentar esses homens cruéis
e insensíveis, barbudos e velhos sob o teto delas.
Eles parecem impacientes.
― Eu sou casado e por isso conheço as artimanhas de uma mulher.
Agora por favor, nos mostre onde está o enxoval.
― E se eu já tiver usado e deixado tudo velho?
― Então a senhora será presa e processada.
Fico em choque. Arregalo os olhos e aponto para o corredor que dá no
meu quarto.
― Primeira porta a esquerda.
Os homens entram marchando e vão recolher minhas caixas. Eu não
tinha usado nada ainda, estava tudo nas caixas da loja, do jeito que vieram.
Quando eles saem pela porta com minhas coisas de rico, metade do meu
coração vai com eles. A dor é quase a mesma de pegar o Edmundo
comendo a secretária.
― Celina, não precisa ser assim. Você pode ter tudo isso de volta e
muito mais. Eu posso te dar uma vida de rainha e você sabe disso. É só me
perdoar e tudo fica bem de novo.
Sim, eu queria matá-lo. Nunca achei que seria uma assassina, mas
consigo pensar em vinte formas diferentes de matá-lo em apenas dois
segundos. Isso aí “serial killers”, eu sou pior que vocês. Aponto o dedo para
a porta que ficou aberta depois que os homens saíram.
― Sai da minha casa agora!
― Celina, a igreja já está reservada, a gente não precisa cancelar tudo.
Os convites já foram entregues, alguns parentes meus já vieram de outros
estados para esse casamento. A decoração, o bufê, tudo que você escolheu
com tanto carinho, tudo está reservado. É só você aparecer, e...
― Então cancele! Foi você que pagou por tudo, você que pode quebrar
os contratos.
― Eu não posso fazer isso. Essa é só uma crise que vamos superar e...
Aponto de novo para a porta.
― Junto com as coisas de cozinha, eu comprei um jogo de facas,
enormes e bem afiadas, que ficariam ótimas enfiadas no seu peito em um
minuto se você não sair agora.
Ele arregala os olhos e anda até a porta. Então, volta um pouco e fala:
― Eu não vou cancelar nada. Estarei esperando por você na igreja, como
combinado.
― Então fará papel de idiota. O que cairá muito bem em você.
― Vou esperar por você. ― fala ele e sai.
E eu desabo no sofá e começo a chorar. Eu normalmente não sou uma
pessoa fraca, mas é coisa demais acontecendo num único dia.
Quando a Gil chega, conto a ela o que aconteceu com meu enxoval e
com minha vida; está tudo desandando. Então ela me sugere que tire umas
fotos com as minhas quinze fantasias, para o caso do sex shop resolver
pegar de volta se eu não conseguir pagar. E eu sei que não vou conseguir.
Me maquio, boto um sorriso no rosto e visto cada uma das minhas fantasias
posando para que Gilcelle possa me fotografar. No final da noite, tenho
fotos maravilhosas no meu celular e nunca me esquecerei dessas fantasias.
Ainda tem o lado bom: já posso devolvê-las, afinal de contas já as usei e
vi como ficam em mim, mesmo. É certo que eu não vou usar essas roupas
sexy com ninguém.
Sebastian
Chego em casa no sábado de manhã. Tinha passado a noite com a
Lurdinha num motel elegante e caro que ela escolheu. As palavras de
Celina me vieram à mente, dizendo que meu gosto por mulheres é
duvidoso. Tenho que admitir que Lurdinha não é mesmo uma gata de parar
o trânsito, mas dá para o gasto. E, por falta de tempo, há muito tenho
pegado apenas mulheres que dão para o gasto. Tomo um banho e resolvo
não ir dormir. Não estou com sono, apenas cansado. Vou para meu
escritório trabalhar um pouco, e para variar, uma coisa me preocupa:
Celina. Com tudo o que está acontecendo na vida dela eu tenho medo que
ela não consiga dar conta do recado na viagem. E eu irei atrás de três
investidores nessa viagem, nada pode dar errado. Consulto meu registro de
funcionários e encontro a ficha da senhorita Morelli. Vinte e cinco anos,
solteira, mora perto do serviço e acho os números dos telefones dela. O
engraçado é que na ficha dela não tem uma foto. Bom, melhor assim.
Ninguém vai querer ficar olhando para aquela bruaca mesmo. Pego logo o
número do celular dela e disco.
― O que foi? ― atende uma voz sonolenta e irritada.
― Bom dia senhorita Morelli, é Sebastian Vaughn falando.
Ela fica em silêncio e depois ouço um som; parece que ela bufou ao
telefone:
― Claro que é você! Você já viu que horas são?! Não se liga para o
celular das pessoas num sábado de manhã.
Tenho que conter um sorriso. Essa mulher é irritantemente folgada.
― Sinto muito se acordei a bela adormecida, mas você tem um trabalho
a fazer e está atrasada. E eu não ligaria se não fosse urgente.
Ela resmunga e responde:
― Não, você não sente. É melhor que alguém tenha morrido para me
acordar às seis da manhã. O que você quer?
― Não me ameace senhorita Morelli. Eu ainda sou seu chefe.
― Eu não estou no meu horário de trabalho.
― Claro, e o seu respeito para comigo é apenas quando você é minha
subordinada.
― Exatamente.
Não consigo conter o riso dessa vez. Nunca conheci mulherzinha
mais abusada que essa Morelli!
― Preciso que esteja em uma reunião às sete horas em ponto.
― Você está de brincadeira, não é?!
― Eu não sou homem de brincadeiras, senhorita Morelli. Essa viagem é
muito importante para a empresa e, devido aos últimos acontecimentos
durante a reunião, quero ter certeza de que está preparada para a
responsabilidade que terá.
Ela solta um palavrão.
― Eu sou só uma merda de secretária. Minhas responsabilidades serão
somente fazer anotações e organizar sua agenda. Qual o seu problema?
― As anotações, senhorita Morelli. Meu problema são as anotações.
Você sabe que precisarei delas e você deve estar preparada para fazê-las da
maneira correta. Agora, levanta esse grande traseiro da cama e anota o
endereço que vou te passar.
― Ok, mas é melhor eu receber uma gorda hora extra, por me acordar
num sábado às seis da manhã e pelo seu linguajar nada profissional!
― Respeito é uma via de mão dupla senhorita Morelli.
― Vai à merda!
Às sete horas em ponto a campainha da minha casa toca. Abro a porta
para encontrar uma Morelli com cara de sono, olhos vermelhos, o cabelo
todo embolado em uma espécie de coque. Os óculos enormes e tortos em
seu rosto, uma calça de moletom larga e uma blusa toda amassada mais
larga ainda. Ela está horrorosa. Isso me faz abrir um sorriso.
― Devia ser crime sair na rua vestida assim. ―provoco.
Ela levanta o dedo do meio para mim.
― Devo lembrá-la de que já que chegou aqui, está em horário de
trabalho, ou não quer mais a hora extra? Eu exijo respeito, subordinada.
― Ok. Desculpe-me, digníssimo senhor Vaughn se a minha aparência
não é digna de entrar em sua residência, mas tive uma noite longa e um
completo imbecil me acordou às seis da manhã de um sábado. O senhor
pode imaginar uma idiotice dessas?
Eu sorrio.
― Que pena que ande em companhias tão desagradáveis que a acordam
num sábado de manhã, senhorita Morelli.
Ela dá um sorriso e reparo que seus dentes são perfeitos.
― Não se pode escolher quem vai ser rico e quem vai obedecer esses
ricos. O senhor sabe das injustiças do mundo. Imagine que um perfeito
idiota é dono de uma empresa, e uma boa menina como eu tem que fingir
suportá-lo para ter o que comer no fim do mês?! Nada justo.
― Se está tão descontente com seu trabalho peça as contas. ―desafio,
sei que ela precisa do emprego.
― Seu eu pedir conta, o imbecil do meu chefe não vai achar uma
secretária a tempo de viajar com ele, e em dois dias conseguir ensinar tudo
o que me mostrou durante a semana. Ou será que vai?
Maldita. Essa mulher é uma megera! O ex-noivo deve estar agradecendo
aos céus por ter comido a secretária nesse momento.
― Por causa dessa ameaça senhorita Morelli, irei descontar cinquenta
por cento da sua hora extra de hoje.
Ela faz uma careta. Eu a convido para entrar e vejo que ela repara em
tudo na minha sala de estar. Seus olhos curiosos pousam em cada detalhe da
sala e ela parece impressionada. Por um motivo totalmente desconhecido,
me agrada saber que ela tenha ficado impressionada com a minha casa.
― Imagino que este palácio seja sua residência.
― Sim.
― E por que a reunião será aqui e não no prédio da V.D.A.?
― Porque não quis fazer com que a recepcionista e o ascensorista
fossem trabalhar hoje. Era mais fácil nos encontrarmos aqui.
Ela faz uma cara de deboche.
― Quanta bondade!
― Você não faz ideia do quanto eu sou bom, senhorita Morelli.
Ela faz uma careta.
― Então, onde estão os outros?
― Perdão?
― Os outros que você chamou para a reunião.
― Não haverá mais ninguém para a reunião. O que preciso passar é
apenas para a senhorita.
Ela parece assustada.
― Está me dizendo que seremos apenas você e eu?
― Algum problema?
― Além de você não ter mais ninguém para dirigir suas piadinhas
infames e sua total falta de educação?
― Devo lembrá-la que a mal humorada de nós dois é você. E esse mau
humor é coisa de mulher mal comida. Eu aposto que você nunca teve um
orgasmo.
Ela fica vermelha como um pimentão e parece em choque. Gagueja por
alguns instantes, depois respira fundo e responde:
― Como se atreve a falar assim comigo? Eu não estou aqui para discutir
meus detalhes sórdidos com você. E a minha hora extra acaba de dobrar
nesse momento se não quiser ter um processo por assédio moral.
Tenho que dar uma gargalhada. Há muito tempo não me divirto tanto. Eu
estou certo, essa mulherzinha nunca teve um orgasmo! Isso explica o mau
humor, as caretas e as roupas horrorosas que ela usa.
Percebo que ela está mesmo brava e a conduzo ao meu escritório. Peço a
empregada um chá e alguns biscoitos, mas ela responde que quer um café
forte e sem açúcar. Claro, uma mulher de vinte e cinco anos que nunca teve
um orgasmo tem que ser amarga até para tomar café. De repente essa
viagem está me parecendo mais interessante do que eu teria imaginado.
Nós passamos a manhã toda repassando tudo o que ela tinha que fazer.
Eu não disse isso para ela, mas a achei bem mais inteligente do que havia
imaginado. Até mesmo coisas que não são da alçada dela, está disposta a
fazer. Eu tenho que admitir que aprendeu bem rápido, como se tivesse
acompanhado toda a negociação com os possíveis investidores desde o
começo.
Lá pelas duas da tarde ouço o estômago dela roncar e me toco que
deveríamos ter almoçado. Vou à cozinha e peço à cozinheira que prepare
alguma coisa rápida e leve pra gente no escritório e informo a ela que
comeremos em breve.
― Até que enfim. Achei que planejava me matar de fome.
Certo, quando ela tem esses ataques de humor eu desgosto um pouco
menos dela. Uma coisa que me chama atenção numa mulher é bom humor.
Claro que eu não me engano por uma frase bem humorada; a cada trinta
frases que ela fala (e como ela fala), vinte e nove são algum insulto,
reclamação ou palavrão.
Ela continua lendo os relatórios da minha secretária fixa enquanto eu a
observo. Por algum motivo não consigo tirar os olhos dela. Tenho a
impressão que alguma coisa está errada com ela, alguma coisa está faltando,
como se estivesse escondida de mim. Eu estou louco, mas as maçãs do rosto
dela são lindas, os lábios então... Eu posso imaginar meus lábios e outras
coisas entre eles. E aqueles olhos castanhos claros, como olhos de gata! A
pele tão branca parece macia como veludo. Dou um pulo na cadeira para
sair dos devaneios que estou tendo. Deus! Eu acabei de passar a noite com a
Lurdinha, fazendo de tudo e ainda estou devaneando com a horrorosa da
senhorita Morelli!
Ela me pega olhando e fica me encarando com uma careta. Apresso-me
em inventar alguma coisa:
― Como vamos viajar juntos, acho que podemos nos tratar pelo
primeiro nome. Sem cerimônias. O que acha?
― Ok, sem problemas senhor Sebastian.
― Não, sem esse senhor. Me chame apenas de Sebastian.
Ela assente e volta a prestar atenção no relatório. Para atrair de novo a
atenção dela e irritá-la, eu digo:
― E eu chamo você apenas de Célie.
Deu certo. Ela me lança um olhar furioso.
― Meu nome é Celina!
Eu abro meu melhor sorriso.
― Tanto faz.
E ouço quando ela bufa e volta a olhar para os papéis. Então me lembro
do que fiquei fazendo durante essa hora que ela demorou em chegar à
minha casa. Eu andei pesquisando sobre uma pessoa no Google, e estou
curioso para saber se ela pretende voltar com essa pessoa. Pigarreio para
chamar a atenção dela e puxo o assunto:
― Sabe, eu andei pesquisando um pouco sobre o seu ex.
Ela larga imediatamente o relatório e olha para mim surpresa. Espero
que ela demonstre raiva, qualquer coisa, mas ela parece apenas curiosa.
― Não posso imaginar porque você faria uma coisa dessas.
― Eu gosto de conhecer bem as pessoas que trabalham para mim.
Ela não engole essa. Na verdade, essa desculpa saiu esfarrapada até
mesmo para mim. Eu estou mesmo curioso sobre os detalhes sórdidos da
vida dela.
― Eu não sou ele. ―é tudo o que ela diz e volta a olhar para o relatório.
Sequer me pergunta o que eu descobri sobre ele.
― Sinto muito por ele ter comido a secretária.
Ela me olha novamente, dessa vez em seu rosto, além da curiosidade, há
deboche.
― Não, você não sente.
Eu sorrio.
― Bom, melhor você ter descoberto tudo antes do casamento, não é
mesmo?
Espero que ela demonstre qualquer sinal de tristeza ou arrependimento
por não ter se casado, mas ela assente e sua expressão curiosa não altera.
Tenho que puxar conversa novamente, antes que ela volte a atenção para o
relatório. Ela não vai falar dele de boa vontade.
― Fiquei surpreso por ele ser tão rico. Era por isso que ia pedir
demissão da empresa? Por que ia se casar com um homem rico?
Ela parece envergonhada.
― Eu sei, é ridículo eu abandonar minha independência para depender
de um homem. Mas não é como se eu tivesse uma grande carreira para
largar, e ele fazia tanta questão que eu não trabalhasse.
― Não é por isso. Acho que também iria querer dar uma boa vida para
minha esposa se eu me casasse um dia. Fiquei surpreso por você não tê-lo
perdoado.
Ela parece confusa.
― E por que eu faria isso?
Arrependo-me de ter falado isso no mesmo momento em que ela entende
o que eu quero dizer.
― Você está dizendo que achou que eu o perdoaria por causa do dinheiro
dele?
Ela parece furiosa e eu sei que está com a razão. Tento falar alguma
coisa, mas as palavras me escapam.
― Por que está me ofendendo?
― Desculpe! Eu não devia ter pensado isso. É que existem muitas
mulheres que perdoariam no seu lugar por um bem maior.
Quanto mais eu tento explicar, mais percebo o quanto estou sendo
estúpido.
― Um bem maior? ― parece que ela vai me bater a qualquer momento
― Não existem, não! Eu sei o meu valor e o meu orgulho não pode ser
comprado!
Pior do que a raiva que eu posso sentir nela, é a mágoa que está em seus
olhos, o que me faz sentir ainda mais idiota.
― Célie, me desculpe! Eu não tive a intenção em ofendê-la.
Ela começa a juntar os papéis que estava analisando e joga tudo dentro
da bolsa velha dela.
― Acho que é melhor encerrar essa reunião por aqui, senhor Vaughn.
Ótimo, voltamos ao estágio sobrenomes. Ela sai pisando duro e eu corro
atrás dela.
― Me deixe ao menos levá-la em casa.
― Não precisa se incomodar!
Ela fala com tanta raiva que nem insisto. Logo, ela bate a porta ao sair e
eu fico aqui parado, feito um idiota. E então percebo que nem todas as
mulheres são como a Jamille.
Capítulo 03
Celina
Depois de pegar um ônibus lotado para minha casa, meu estômago
roncando a cada cinco segundos, fazendo todos olharem para mim,
finalmente chego ao meu prédio. A raiva de Sebastian Vaughn ainda me
atinge com força! Quero muito mandar ele para aquele lugar e deixar que se
vire em sua viagem importante, mas, uma mulher falida não tem condições
de se vingar.
Eu preciso mesmo desse emprego. Assim que pagar minhas dívidas de
um casamento que não acontecerá, eu o mandarei ir tomar num lugar bem
específico e jogarei um copo de café quente naquele cabelo desgrenhado
dele. Isso, essa ideia me faz ficar mais calma. Eu sonho com o dia em que
verei Sebastian Vaughn ser humilhado.
Assim que entro no meu prédio, recebo um olhar no mínimo curioso do
porteiro. Como eu disse, ele nunca foi com a minha cara, diz que eu
reclamo demais, mas normalmente ele simplesmente ignora a minha
presença. Agora ele está me olhando como se tivesse aprontado alguma
coisa, e estivesse com medo que eu descobrisse. Corro para minha casa e
olho tudo em meu apartamento, uma vez que ele tem uma cópia da minha
chave. Mas, nada está fora do lugar.
À noite, recebo uma mensagem do estúpido Vaughn dizendo que a
viagem foi adiada para segunda-feira à noite por conta de uma reunião de
última hora de manhã, e detalhe, eu terei que estar nessa reunião ao lado
dele. Só de pensar em ver de novo todos aqueles que ficaram rindo de mim
na última reunião, sinto meu rosto queimar. Oh! meu Deus, por quanto
tempo ainda serei motivo de piada? Minha resposta vem na segunda de
manhã.
Chego à empresa depois de uma péssima noite de sono. Desde que eu
terminei com o segundo maior imbecil do mundo, não consigo dormir
direito. Assim que chego, logo na recepção, percebo pessoas me olhando e
cochichando, e alguns risinhos. Penso que a história do meu telefonema
deve ter vasado, é claro. E agora eu serei motivo de piada da empresa
inteira!
Fico na cantina boa parte da manhã, já que a mesa de secretária do
Sebastian é ocupada pela secretária dele. Estudo mais um pouco os
relatórios que ele havia me passado e vou para a reunião. Entro lá já de
cabeça baixa, procurando um buraco para enfiar minha cabeça, e
novamente, aqueles olhares, cochichos e risinhos. Isso está acontecendo de
tal maneira, que uma hora Sebastian puxa minha cadeira para perto da dele
e sussurra em meu ouvido.
― O que está havendo? Por que todos estão rindo?
Eu dou de ombros, confusa.
― Acho que deve ser por causa daquela ligação.
Ele nega com a cabeça.
― Acho que não, nem no dia eles reagiram assim.
Continuamos a reunião sem saber o que está acontecendo. Até que vou
ao RH receber meu salário. Lá, no painel onde dias antes estava o meu
convite de casamento, agora havia uma foto minha impressa, no hall do
meu prédio, com o ridículo do Edmundo ajoelhado aos meus pés. Eu, com
uma cara horrorosa de espanto, e ele com aquela careta de choro, e escrito
embaixo: menina má.
Arranco a folha do mural e vejo que as meninas estão rindo. Saio
correndo do RH e topo com Gil, que me arrasta para a mesa dela, e me
mostra um vídeo. Oh meu Deus! Por quê? Um vídeo no Youtube do
Edmundo ajoelhado aos meus pés, e eu, com cara de pamonha assustada
pedindo que ele levantasse do chão. E o vídeo já tinha mais de cinco mil
acessos!
Muita gente sonha com seus quinze minutos de fama, eu não sou uma
dessas pessoas. A menina má está sendo vista e eu estou mais uma vez,
sendo motivo de piada. A Gil me explica que a foto foi postada no
Instagram do porteiro do nosso prédio. Aquele traste! Eu vou arrancar as
bolas dele e colar com prego na testa dele! Que merda! Penso em ir para o
banheiro, bancar a covarde que estou sendo nos últimos dias, mas antes que
consiga uns minutos de paz, Sebastian aparece e me chama até a sala dele.
Quando entro na sala vejo uma cópia da foto do Edmundo ajoelhado na
minha frente em cima da mesa dele.
― Pela sua cara você já descobriu porque estavam rindo.
Eu apenas assinto.
― Você tem ideia de quem pode ter feito isso?
Falo com a voz mais baixa do que esperava.
― O porteiro do meu prédio.
Ele parece supresso.
― Por Deus, mulher! Até o porteiro do seu prédio não te suporta!
Eu quero gritar com ele e mandá-lo para aquele lugar, mas começo a
chorar. E aí fico mais envergonhada ainda porque estou chorando na frente
desse estúpido. Ele todo sem graça, anda até mim e põe as mãos nos meus
ombros. Não é ridículo uma mulher adulta chorar por causa de problemas?
Sim? Imagina o quanto é pior quando ela pula nos braços de um homem
que odeia. Isso mesmo, ele coloca as mãos nos meus ombros e eu agarro a
cintura dele e começo a chorar. Ele tenta me afastar sem graça, mas eu me
prendo a ele. Só o ouço falando:
― Não chora Celina, não chora, você vai manchar minha camisa
caríssima.
E, para piorar, quando vou me acalmando, adivinha qual a primeira coisa
que percebo? O abdômen dele. Sim minha gente, eu sou mais uma vez
motivo de piada na empresa, estou chorando na frente do bastardo do meu
chefe, agarrei ele para chorar e, em vez de encontrar vergonha na cara,
percebo como o peitoral dele é duro. Continuo fingindo chorar, com a cara
enterrada no ombro dele e passo a mão por sua barriga. Como eu
imaginava, sinto a barriga dura e aqueles gominhos deliciosos que homens
malhados têm.
Então percebo que quando o agarrei ele passou o braço em volta de mim
e sinto aqueles braços fortes me acalmando. Fecho os olhos e me esqueço
de fingir chorar, fico ali aproveitando aquele abraço gostoso e aquele corpo
musculoso colado ao meu.
De repente, ele se afasta e só então tudo volta a mim. Todos rindo da
minha cara e da minha total falta de noção ao agarrar o homem daquele
jeito. Abaixo a cabeça e olho para o chão, sem graça.
― Você já parou de chorar? ― pergunta ele e parece realmente
preocupado.
Eu apenas assinto.
― Ótimo. Eu poderia dizer que sinto muito pelo que aconteceu, mas
estaria mentindo. Toda vez que alguma coisa desse tipo acontece com você
eu sempre me divirto. E confesso que dei boas risadas com essas coisas de
hoje.
Eu deveria sentir raiva dele. É o que ele merece, mas o que eu posso
fazer? Eu sou mesmo uma comédia para as outras pessoas, a retardada,
menina má, estabanada. Sempre acontece alguma coisa que me constrange.
Por que o estúpido do meu chefe se compadeceria da minha maré de azar?
Claro que não! Ele tinha que se divertir mesmo, como todos os outros.
― Que bom que sirvo ao menos para diverti-lo! Minha vida está ganha
por saber disso, senhor.
Ele abre um enorme sorriso e passa a mão gentilmente pelo meu cabelo.
Sebastian
Macio, o cabelo da senhorita Morelli é macio como eu havia
imaginado. Eu queria que nesse ato desesperado de me abraçar, alguns fios
tivessem se soltado daquele coque horroroso, mas isso não aconteceu.
Então me contento em deslizar o dedo por seu cabelo e contornar o coque.
E o cabelo dela é muito macio. Por que ela anda com esse penteado
horrível?
Afasto-me dela ao perceber o que estou fazendo. Sua última frase bem
humorada depois de tudo a que tinha sido submetida me surpreendeu a tal
ponto, que me fez perder a consciência de que era ela, ali na minha frente, e
eu tive vontade de tocá-la. Mas isso passou e agora preciso mesmo me
concentrar na viagem que faremos daqui a algumas horas, não no cabelo
macio e nas curvas dela encostadas em mim.
No começo, ela me assustou com aquele abraço, e eu quis empurrá-la
para longe da minha camisa cara, que agora está amassada e manchada de
lágrimas, mas assim que passei os braços a sua volta, senti o calor do seu
corpo colado ao meu. Seu cheiro me atingiu e alguma coisa me impediu de
afastá-la. Deus! Estou ficando maluco!
Ela está sentada na cadeira a minha frente e olha para todos os lados,
menos para mim. Deve estar envergonhada pela atitude que teve. Sei que
ela é durona, tenta não dar o braço a torcer, mas posso imaginar o que deve
estar passando por pegar o noivo comendo outra. Lembro-me do estado em
que a Jamille ficou quando eu a traí. Até que a Morelli está segurando bem
a barra. E eu estou parecendo “um mariquinha”, psicólogo sentimental de
mulheres, analisando o comportamento pós-traição dela. Meu Deus!
Tento me concentrar no trabalho e volto a falar da viagem.
― A senhorita acha que estará pronta para a viagem às dezoito horas?
― Sim senhor.
― Então pode ir para casa. Eu passo para pegá-la às 17h30 para irmos
ao aeroporto. O voo sai às 19h, mas temos que chegar cedo.
― Não precisa me pegar. É mais fácil se eu encontrá-lo no aeroporto às
18h.
Prefiro não discutir. Concordo e dou o resto do dia de folga para ela.
Quando ela sai da minha sala, viro minha mente para várias coisas ao
mesmo tempo, para não pensar nela. Está perto da hora do almoço e resolvo
comer no restaurante chinês que tem em um shopping próximo. Pego minha
carteira e saio.
Assim que chego à rua, avisto a senhorita Morelli saindo do prédio. Ela
parece acabada. Com a cabeça baixa, a bolsa velha pendurada ao ombro e
sem os óculos enormes. Isso me surpreende de tal forma que paro e olho
bem para o rosto dela.
Como eu imaginava, a maldita é muito bonita! As maçãs proeminentes,
os lábios cheios, os olhos de gata brilhando por causa das lágrimas. Fico ali
parado, olhando para ela. Ela me vê com cara de bobo e para onde está.
Espero que ela me mostre o dedo do meio, mas um homem aparece na
frente dela, ofuscando minha visão. Ele pega a mão dela e a arrasta, e,
assim que ele se vira eu o reconheço. É o tal do Edmundo, o ex-noivo dela.
Pelo vídeo que vi no Youtube, ela parecia constrangida com a
perseguição dele, mas agora, ela está tão triste, tão desanimada, que não
fala nada quando ele a arrasta até um canto para conversarem. E eu sei que
a senhorita Morelli normal não o deixaria a arrastar assim. Ela diria algum
impropério, gritaria alguns palavrões, o empurraria, socaria a cara dele,
faria qualquer coisa, mas não se deixaria levar como está fazendo.
E isso me preocupa, o que há de errado com ela? Será que ainda o ama?
Será que está sofrendo por causa do término do noivado? Ele pega na mão
dela e a arrasta até o shopping, e quando dou por mim, já os estou seguindo.
Eles se sentam na praça de alimentação e ele pede alguma coisa, ela apoia a
cabeça nas mãos e fica assim. Eu também me sento na praça de alimentação
e peço uma pizza, deixo a comida chinesa para outro dia.
De onde eu estou, posso vê-los bem, o cara fala apressadamente,
gesticula, vez ou outra pega a mão dela. A comida dele chega e ele começa
a comer e a falar ao mesmo tempo. Espero que ela faça uma careta pela
falta de educação dele, mas ela está com a mesma expressão desligada,
como se não estivesse ali, olha para o nada e não diz uma só palavra.
Eu mal consigo comer a pizza, tão absorto estou na cena diante de mim.
Eles ficam lá por uma hora mais ou menos. Eu assumo que não estou com
apetite para comer o pedaço de pizza que ainda tenho no meu prato.
Durante todo o tempo ela não diz uma palavra. Nem quando ele a toca.
Eu conheço esse estado, me parece desprezo. Ele começa a ficar
desesperado. De repente ela se levanta e pega sua bolsa velha. Ele se
levanta também e sai a seguindo. Eu solto um palavrão por ela ter se
levantado de repente e deixo uma nota de cinquenta na mesa, chamo o
garçom para que ele veja que eu paguei e saio apressado seguindo os dois.
Eles caminham até o prédio dela, onde ela se vira e finalmente fala
alguma coisa para ele. Ele coloca um papel no bolso do casaco dela, que ela
nem faz questão de ler. Ela parece se despedir e quando se vira para entrar
no prédio, ele a puxa e a beija e então ela volta a ser a Morelli que eu
conheço. Empurra-o e desce um tapa na sua cara. E eu não posso conter a
gargalhada que escapa.
Volto ao prédio correndo para pegar minhas coisas e ir para casa, e
Cleber me aguarda na minha sala. Nós três: Matheus, Cleber e eu, somos
amigos de faculdade e fundamos juntos o negócio. Matheus é muito sério,
mas Cleber e eu temos gostos parecidos, só que ele é mais porra louca que
eu.
― Onde diabos você estava homem? ― pergunta ele.
― Por aí.
― Por aí o caralho! Eu vi você descendo para almoçar e fui atrás de
você para almoçarmos juntos. Percebi você feito um pateta olhando para
aquela secretária mal vestida do Matheus, e depois vi que ela saiu com um
cara e você os seguiu. ― ele passa a mãos pelos cabelos ―Porra!
Sebastian, você seguiu uma mulher?
― Por que você estava me seguindo?
― Eu não estava seguindo-o. Você estava seguindo aquela garota
estranha. Qual o seu problema?
Dou de ombros.
― Foi só curiosidade... Você viu o vídeo, ficou sabendo do telefonema
dela na reunião; eu fiquei curioso!
― Tá, pelo vídeo e pela história do telefonema, parece que o namorado
dela comeu a secretária e agora está se humilhando pelo perdão dela.
Normal, já cansamos de ver essa cena. Por que a curiosidade a ponto de
segui-los?
― Não foi nada demais, Cleber. É que eu a contratei para a viagem, e
fiquei curioso quando a vi com o ex, só isso!
Ele não parece convencido.
― Sei. Abre o seu olho garanhão, abre o seu olho!
Capítulo 04
Celina
Tiro um cochilo à tarde no sofá e acordo me sentindo outra pessoa.
Nada que um cochilo no sofá não resolva, não é mesmo?! Já havia feito o
meu papel mais ridículo da história, chorando nos braços do Estúpido
Vaughn, “almoçado” com o imbecil do Edmundo, (embora eu não tenha
comido nada) calada, ouvindo todas as baboseiras que ele tinha a me dizer
sem reagir, e tinha finalmente libertado meu estado de torpor ao dar um tapa
na fuça dele.
Depois de bater nele e cochilar no sofá, me sinto uma nova mulher.
Passou! Nada de chorar agora! Nada de agarrar chefes estúpidos em uma
crise de pena de mim mesma, nada de dar chances para o “ex idiota” falar
sem parar na minha cabeça. Só não posso prometer dessa nova “eu”, que
não serei mais motivo de piada, porque isso raramente é proposital. É
simplesmente meu destino cruel.
Meu estômago ronca, me lembrando que ainda não comi nada. Vou até a
cozinha e então avisto o micro-ondas, e nele as horas. Já são 17h30. Eu
tenho meia hora para chegar ao aeroporto. Por que, Senhor? Nunca dará
tempo!
Tomo um banho de gato, mas lavo “direitinho” os lugares importantes,
só para constar. Visto uma calça jeans, a primeira blusa que encontro,
penteio meu cabelo molhado, prende-o em um coque e jogo meu casaco por
cima. Ainda bem que já tinha separado meus documentos e feito a mala um
dia antes.
Pego minha bolsinha querida, minha mala e desço correndo pelo
elevador. Uma olhadinha no relógio me diz que eu tenho dez minutos para
chegar ao aeroporto. Até eu esperar o ônibus, ou mesmo que pegue um taxi,
levarei uns vinte e cinco minutos. Sebastian vai me matar!
Assim que saio do prédio, um taxi buzina para mim. Olho para dentro
dele e lá está Sebastian Vaughn, malditamente lindo com uma blusa social
azul escura. Merda! Quando eu comecei a reparar se Sebastian está bonito
ou não? Aliás, ele sempre está lindo e eu nunca me importei com isso. Não
é porque eu senti os músculos da barriga dele pela blusa que vou começar a
reparar no cara, não é?! Ele abre a porta e eu corro em direção ao carro. O
taxista já está pegando minha mala para colocar no porta-malas, então eu
entro e me jogo no banco.
― Você está atrasada.
― E eu achei que te encontraria no aeroporto.
― Ainda bem que fiz o que eu queria e não te dei ouvidos, não é Célie?
Ou que horas você chegaria saindo de casa a essa hora?
Nem faço questão de corrigir meu nome. Eu estou errada! Ele olha para
o taxista guardando a minha mala e comenta:
― Você vai mesmo viajar com essa mala velha?
Ele vai mesmo começar a me irritar desde o taxi?
― No meu contrato de trabalho não fala o estado em que meus objetos
pessoais devem estar na sua presença e se quiser que eu ande com uma
mala melhor, aumente o meu salário.
Ele sorri.
― Vejo que está de volta.
― De volta de onde?
Ele dá de ombros. Meu estômago ronca e ele pega uma sacola e joga no
meu colo.
― Ainda bem que eu trouxe isso.
Abro a sacola e encontro um hambúrguer, fritas e uma caixinha de suco.
Agradeço aos céus para não ter que agradecê-lo e começo a comer como a
esfomeada que sou nesse momento. Quando está acabando, ele enfia a mão
no meu bolso e de lá, tira um papel. Lembro-me que é o papel que o
Edmundo havia enfiado ali. Ele lê e meneia a cabeça.
― Então vocês fizeram as pazes?
Tem mesmo um sorrisinho no rosto dele?
― Não. ― respondo e tiro o papel da mão dele.
Está escrito “estarei esperando por você no dia treze às dezenove horas,
como combinado. Te amo”.
― Parece que ele não cancelou o casamento. ― comenta ele.
― Azar o dele.
Ele olha para fora e então percebo a estranheza dessa situação.
― Como você sabia que esse papel estava aqui?
― Eu não sabia, vi a ponta dele saindo do seu bolso.
― E como sabia que eu estava faminta?
― Pelo barulho horrendo que o seu estômago fez. Eu não trouxe isso
para você, mas não tem importância você ter comido.
Assinto.
― Não espere um agradecimento.
Ele dá uma gargalhada.
― Acredite, eu não espero.
Chegamos ao aeroporto e fazemos o check-in. Enquanto aguardamos o
voo, escovo meus dentes no banheiro. Quando saio, Sebastian está
esperando por mim. Ele me olha de cima a baixo e um sorriso idiota
aparece nos lábios dele.
― Satisfeito? ― pergunto.
― Belas coxas.
Faço uma careta e me afasto dele. Eu não tive tempo de procurar um
saião e uma blusona para me esconder e não tinha colocado essas roupas na
mala. Não adiantará manter meu disfarce na viagem, é chato me sentir tão
bagunçada e, além do mais, Sebastian não será meu chefe por muito tempo
mesmo. Tanto faz ele saber como sou. E eu nem sou tão bonita para temer
qualquer coisa. Se eu queria evitar as piadinhas safadas dele, não está
funcionando nem comigo vestida como me visto para ir trabalhar. É melhor
aceitar que ele é um idiota completo e tentar ter paciência, ou matá-lo
durante a noite em último caso!
Quando entramos no avião, ele pede para colocar minha bolsa no
bagageiro, mas eu digo que não precisa. Ele insiste, mas eu teimo e me
sento com a bolsa enorme no colo. Ele pega uma alça da bolsa e eu a seguro
por baixo.
― Por favor, Morelli, não seja ridícula. Essa bolsa velha é enorme, é
melhor deixá-la no bagageiro.
― A bolsa é minha e eu quero levá-la no colo.
― Você vai ficar desconfortável com essa coisa no colo. ―fala ele e
puxa a bolsa bem no momento em que algumas pessoas estão
passando.Com o puxão, eu solto a bolsa de uma vez, que vira na mão dele
derrubando algumas calcinhas no chão.
Eu escondo meu rosto entre as mãos. Ó, meu Deus! Por quê? Ele junta
minhas calcinhas e soca dentro da bolsa, mas fica com uma na mão.
Percebo que ele está olhando para a minúscula calcinha fio dental com um
laço atrás. Eu nunca sequer usei essa calcinha, mas havia esquecido de pôr
as calcinhas na mala e as joguei dentro da bolsa na última hora. Peguei um
amontoado de calcinhas na gaveta e nem parei para conferir quais estaria
levando.
― O que está fazendo? Guarde minha calcinha na bolsa!
Um homem que está sentando-se na poltrona atrás de mim ri e percebo
que gritei isso. Fico ainda mais vermelha, mas Sebastian fica rindo.
― Interessante você usar uma calcinha dessas por baixo daqueles saiões
horrorosos.
― Isso não é da sua conta! Devolve minha calcinha. ― dessa vez eu
sussurro.
― Acho que não. ― ele fala ainda com um sorriso.
Não tenho outra saída, tenho que mentir. Aproximo-me dele e sussurro.
― Essa calcinha está usada.
Ele olha para mim com algo nos olhos que eu não sei explicar, e eu,
achando que ele ia jogar a calcinha em mim, leva a peça até o rosto e
cheira-a.
― Eca! E se estivesse mesmo usada? Seu nojento!
Ele sorri e coloca minha calcinha no bolso.
― Então eu seria um homem muito feliz, senhorita Morelli.
Fico ainda mais vermelha.
― Você não pode estar falando sério. Tem fetiche por calcinhas então?
― Não. Mas vou pensar em você a viagem toda, cada vez que pegar essa
calcinha. Vou imaginar você usando apenas ela.
Fico sem reação por cinco segundos e sinto meu corpo todo formigar.
Então, a comissária de bordo se aproxima para falar alguma coisa e volto
para minha poltrona ainda em choque. Logo, ele se senta também. Nós nos
sentamos lado a lado no avião, eu na janela, e ele no meio.
― Então, vamos conversar? ― ele fala.
Eu faço uma careta.
― Prefiro não ouvir sua voz.
― Como queira.
Ele não fala mais comigo, e quando me viro, está conversando com a
mulher que sentou do outro lado. Loira, com um decote exagerado, seus
peitos estão quase pulando para fora! Já está toda assanhadinha para cima
dele. Oh céus! Essa viagem vai ser longa.
Nem vinte minutos depois, ouço um risinho da loira que está ao lado do
Sebastian. Estico meu pescoço para ver o que está acontecendo e ele está
falando ao ouvido dela e ela dando risinhos. Bufo. Gostaria de ler o livro
que trouxe, mas o idiota do Sebastian o colocou no bagageiro, e para pegá-
lo, precisaria passar por ele e pela loira assanhada.
Desisto. Penso em olhar a paisagem pela janela, mas está escurecendo e
não dá para ver nada. Ouço outro riso alto e respiro fundo para ter
paciência. De repente, ouço um barulho semelhante a uma chupada, olho e
eles estão se beijando. Recosto-me na cadeira e cerro os punhos, só mesmo
o pervertido do Sebastian para beijar uma desconhecida no avião enquanto
ainda está com a minha calcinha no bolso. E eu não sei por que estou tão
nervosa com isso, mas ele está viajando comigo, deve no mínimo respeitar-
me.
Claro que eu estou sendo ridícula por esperar algum respeito de
Sebastian Vaughn. Ele é o imbecil número um da minha lista. Pior até do
que o Edmundo! Começo a cantarolar para ver se atrapalha os amassos dos
dois, mas o cara que está sentado atrás chuta a minha poltrona e resmunga
que está tentando ler. Nós somos quase os últimos no avião, e nenhuma
comissária de bordo passa por aqui. Será que elas não vão passar e mandar
Sebastian e a loira pararem com esse showzinho?!
Então o barulho do beijo cessa e respiro aliviada. Tomara que ele pegue
uma doença por sair beijando estranhas desse jeito. É aí que ouço um
gemido. Oh céus! Estico novamente o pescoço e, por Deus! Sebastian está
com a mão enfiada debaixo da saia da mulher, e ela revira os olhos e geme.
Sinto meu rosto corar e a raiva me dominar. Será que ele não se lembra que
eu estou aqui ao seu lado? Será que ele não tem medo de alguém passar e
ver o que eles estão fazendo? Será que ele não tem vergonha de estar com a
minha calcinha no bolso e tocando as partes íntimas de outra?
Não é que eu queira que ele estivesse tocando as minhas partes íntimas.
Ah! Quero que ele aja como um homem decente uma vez na vida e
simplesmente durma durante a viagem, em vez de quase trepar com uma
desconhecida ao meu lado. A mulher dá um grito e Sebastian volta a beijá-
la, abafando os gemidos. Eu o odeio. Odeio Sebastian Vaughn.
Às vinte horas em ponto, o piloto anuncia que o avião já vai pousar.
Sebastian recosta em sua poltrona e fala alguma coisa, mas finjo que não
ouvi. Quando o avião para, a moça faz a maior cena para se afastar dele, e
eu praticamente passo por cima deles, empurro-a na poltrona para conseguir
sair. Ela resmunga, mas Sebastian está sorrindo. Começo a puxar minha
bolsa do bagageiro e ele rapidamente aparece ao meu lado.
― Deixa que eu pego para você.
Eu praticamente grito.
― Não ponha essa mão imunda nas minhas coisas!
O maldito ri mais ainda. Eu puxo minha bolsa e saio apressada do avião
sem esperar que ele se despeça da loira. Desço no aeroporto Santos Dumont
e solto um palavrão. Eu nem sei em que hotel ficaremos não fiz nenhuma
reserva. Eu como secretária, deveria ter cuidado disso, mas estava tão
preocupada com as coisas relacionadas aos negócios, que não pensei nisso.
Como ele não me deu nenhuma ordem em relação à reserva de um hotel,
penso que ele deve ter pedido à Maura para reservar. Eu só quero tomar um
banho e dormir até o dia seguinte quando terei que aguentar esse nojento o
dia todo.
Vou andando para o lado das bolsas e espero minha mala passar. Ouço
um risinho conhecido atrás de mim e nem preciso olhar para saber que
Sebastian e a loira estão logo atrás. Será que ele a levará para o quarto dele
no hotel também? Merda! A minha mala vem e, quando ameaço pegá-la,
Sebastian estica a mão e a pega para mim. Ele a estende para mim e eu só
consigo sentir nojo por ele ter tocado minha mala com essa mão. Faço uma
careta e me afasto.
Ele percebe minha reação e fica rindo enquanto pega a sua bagagem na
esteira e se despede da loira. Vou andando para um lado qualquer para dar-
lhes privacidade, mas ele me chama:
― Célie, espere bem aí ou pegarei sua mão para te levar para o lugar
certo.
Faço uma careta e paro onde estou. Permaneço ali parada por quinze
minutos; achei que o pervertido estava se despedindo da loira com uns bons
beijos enquanto a tonta aqui espera, mas quando me viro ele está é tentando
se desvencilhar dela. A loira está com os braços em volta do pescoço dele,
este tira os braços dela com um sorriso sem graça, e ela volta a colocá-los.
Ele me olha como que pedindo socorro, e eu tenho que rir da cena dele.
Bem feito! Ele me lança um olhar ameaçador, mas eu dou de ombros e vou
até uma banca ver as revistas.
Uns trinta minutos depois, Sebastian me puxa pelo braço.
― Ei, tira essa mão imunda de mim.
Percebo que ele está impaciente.
― Então me siga. Imagino que você não tenha reservado nenhum hotel.
Sinto-me corar! Eu não gosto de ser incompetente, mas foi uma falha
não ter verificado esse detalhe com a Maura.
― Não, eu achei que a Maura teria reservado o hotel.
― Eu liguei para ela, mas ela achou que você faria isso, já que você
viajaria comigo.
― Bom, a culpa é sua por não esclarecer as coisas.
Ele me lança um olhar irritado. E eu tenho um choque por aqueles olhos
verdes ficarem tanto tempo olhando meu rosto. Recomponho-me no
instante em que ele desvia o olhar e volta a andar.
― Tanto faz, nós podemos ficar num hotel da V.D.A. Eu sempre fico no
Quatro Estações. Sou um dos donos, então não preciso de reserva. Eles é
que têm que reservar um quarto para mim!
E eles têm. Somente um quarto. Está havendo uma convenção de alguma
coisa na cidade e eles só conseguem um quarto, na cobertura, que é
reservado aos donos e nunca é alugado. Sebastian manda que eu o siga, e
começo a temer onde eu ficarei. Será que ele me mandará para outro hotel e
eu terei que fazer o percurso até ele toda manhã? Tomara que não seja um
hotel muito longe e que eu possa vir até ele a pé.
Subimos de elevador até o vigésimo terceiro andar. Assim que entramos,
me afasto dele o máximo possível, mas só há nós dois no elevador. Então
observo quando ele enfia a mão no bolso da calça e fica tocando minha
calcinha. Aí a raiva me domina, não consigo controlá-la. Para piorar, ele
começa a falar.
― Não sei por que está tão longe de mim. Não tenho nenhuma doença
contagiosa.
― Como posso ter certeza, se você trepa com qualquer uma que
conhece?
Ele me olha surpreso.
― Não me lembro de ter trepado com ninguém na sua presença.
― E o que foi aquela cena ridícula com aquela loira piranha no avião?
Ele abre um enorme sorriso.
― Isso te incomodou?
― Claro! Tive que ficar escutando os gemidos e os gritos daquela
“zinha”! Você podia ao menos ter me respeitado.
― Não desrespeitei você hora nenhuma.
Eu estou uma pilha de nervos, mas ele fala tranquilo, com minha
calcinha na mão e um sorriso idiota no rosto.
― Eu estava ao seu lado! Você podia ter levado em consideração que
havia uma pessoa a mais ali que foi obrigada a presenciar seu ato de
perversão.
Ele dá uma gargalhada, e eu devo frear minha língua, mas não, tenho que
continuar:
― Você não tem vergonha de tocar as partes íntimas de uma mulher que
você nunca viu na vida? E se ela tiver uma doença? – Ele começa a falar
alguma coisa, mas eu avanço e puxo a calcinha de sua mão, o que o deixa
ainda mais surpreso.
― Me devolve isso, Morelli.
― Não. Para começar essa calcinha é minha. E você deveria ter
vergonha de enfiar a mão na calcinha de outra enquanto está com a minha
calcinha no bolso!
― Então esse é seu problema. Você queria que eu enfiasse a mão na sua
calcinha. Eu pretendia fazer isso, mas você logo cortou conversa.
Sinto-me corar ainda mais.
― Não seja ridículo. Você teria que me matar antes de enfiar a mão na
minha calcinha.
― Sabe qual o seu problema Morelli? Você está incomodada porque ela
gozou. Esse é seu problema. Você viu uma mulher gozar facilmente ao seu
lado com um estranho, mas você nunca gozou com seu noivo. Esse é o mal
de uma mulher mal comida, invejar os orgasmos das outras.
Nesse momento o elevador para no décimo oitavo andar e as portas se
abrem. Olho rapidamente e não há ninguém ali. Quem chamou o elevador
já deve ter pegado outro. Então me concentro em Sebastian e no absurdo
que ele está falando sobre mim.
― Se eu gozei ou deixei de gozar não é da sua conta! E eu não invejo
uma piranha que abre as pernas para um desconhecido num avião! Como
ela poderia saber onde você tinha enfiado essa mão antes de colocar nela?
Além do mais, eu tenho coisas mais importantes com o que me preocupar.
Eu não vivo em função de sexo e você não tem nada a ver com meus
orgasmos.
Ouço um som como se alguém tivesse se assustado e olho para ver um
japonês que está entrando no elevador com uma criança. Ele está com a
mão no ouvido do filho, que ri, e me olha com uma carranca.
― Me desculpa. ― falo.
Ele vira de costas para mim e prende o filho ao corpo dele, não o
deixando em meu campo de visão. Oh Senhor, eu tinha acabado de olhar
para fora e não tinha ninguém. De onde surgiu esse ser? Nem preciso olhar,
pois posso ouvir Sebastian rindo.
Descemos no vigésimo terceiro andar e sigo Sebastian cabisbaixa. Antes
de abrir a porta, ele para abruptamente e eu acabo trombando nele. Então
ele me prensa na parede, com um braço em cada lado da minha cabeça.
― Por favor, não toque em mim com essa mão!
Ele fica me olhando com um risinho nos lábios, olhando dentro dos meus
olhos, mas eu estou com tanto medo de ser tocada com “aquela” mão
pervertida que mal presto atenção naqueles olhos verdes. Ele diz
calmamente.
― Me devolve a calcinha.
Era só o que me faltava.
― Não!
― Devolve ou eu vou acariciar seu rosto.
Sinto meu estômago embrulhar, mas não cederei a ele.
― Toque meu rosto e eu acuso você de assédio sexual!
― Você nunca provaria nada.
― Mas valeria o escândalo.
Ele sorri.
― Você que sabe Célie, mas eu te garanto que terei essa calcinha mais
cedo ou mais tarde.
― Se gosta tanto de calcinhas, compre umas para você.
Ele me solta e abre a porta do quarto. Que lugar maravilhoso! Entramos
em uma sala enorme, com um sofá de canto creme, uma tela enorme num
painel, as janelas que vão do chão ao teto e vista para o mar. A decoração é
impecável! Do chão ao teto, os móveis e as cores, tudo é chique. Essa sala é
do tamanho do apartamento onde moro. Com certeza tem dois quartos aqui
e ele me deixará ficar num deles. Num canto há um frigobar abastecido e
numa mesa, uma cesta de frutas.
Sebastian tira o sapato e se joga no sofá. Então, pega o telefone e faz
algumas ligações. Eu permaneço em pé, perto da porta, já que não recebi
nenhuma ordem. Depois da terceira ligação ele olha para mim e fala:
― Acho que você devia se sentar. ― então ele aponta para aponta do
sofá onde ele está deitado, de forma que eu ficarei perto do quadril dele.
― E eu acho que você deveria lavar essas mãos. ―respondo e me sento
em uma poltrona mais confortável que a minha cama, que está do outro
lado.
Ele faz mais algumas ligações e depois diz:
― Nós temos um encontro hoje. Quer tomar um banho?
― Já? Achei que sua agenda começasse amanhã.
― Sim, mas um futuro investidor está indo para uma boate agora e me
chamou para ir. E seria deselegante recusar.
― Então vá. Por que tenho que ir com você?
Ele me olha como se eu fosse idiota.
― Você é minha secretária. Irá comigo a qualquer lugar que eu for.
Como a minha sombra. ― então ele se levanta― Como imagino que você
não tenha nada decente para usar, vou pedir a uma funcionária do hotel que
te arrume um vestido.
― Não será necessário, eu trouxe minhas roupas.
― Você não vai sair comigo usando “saiões” e aquelas blusas
horrorosas.
― Eu vou usar o que eu quiser.
― Vou mandar buscar o vestido.
― Estará perdendo o seu tempo.
Ele bufa e resmunga:
― Faça como quiser, mas se me envergonhar com sua vestimenta
horrorosa, eu juro que vou descontar toda a minha consumação da noite no
seu salário. E te garanto que não será pouca coisa!
Faço uma careta. Tiro meu casaco, enrolo ele em volta da minha mão e
pego a alça da mala que ele havia tocado com aquela mão imunda.
― Onde vai ser o meu quarto?
Ele sorri e nesse momento sei que alguma coisa está errada.
― Me siga.
Eu o sigo até um quarto enorme, com uma cama box imensa. Sério!
Caberiam umas oito pessoas nessa cama tranquilamente. Fico
impressionada. Nunca havia nem visto um lugar imponente como esse,
ainda mais dormido numa cama parecida com essa! De repente fico ansiosa
para a hora de dormir chegar logo.
― Esse é o meu quarto. ― ele fala e sinto meus sonhos murcharem.
― Então acho que está com problema de audição. Eu perguntei onde
seria o meu quarto.
Ele aponta para o quarto.
― Não estou entendendo.
― Célie, esse aposento só tem um quarto.
― Você está brincando, não é?
― Absolutamente. Você não ouviu quando a recepcionista disse que
havia somente um quarto disponível?
― Está me dizendo que vamos ter que dividir esse quarto?
― Você ouviu que é o único quarto disponível. ― fala ele impaciente.
― Mas, mas... Será que não há nenhum outro hotel, que tenha mais
quartos?
― Eu só fico nesse hotel.
Isso só pode ser um pesadelo. Por que, Senhor? Por quê?
― Então eu poderia ir para outro hotel.
― Você não vai achar nenhum hotel Célie. A culpa é sua por não ter
feito reserva. Terá de aceitar o que tem disponível.
― Mas, eu não quero ficar no mesmo quarto que você.
― Eu acho que eu não estou muito preocupado com a sua vontade.
É isso. Está decidido. Celina sua burra! Devia ter olhado a questão das
reservas de um hotel, agora terá que aguentar esse nojento e suas
conquistas. Oh Céus! Isso não vai ser nada fácil para mim, mas também não
vai ser para ele.
― Deveria, já que sou eu que vou preparar seu drinque.
― Está me ameaçando senhorita Morelli?
Tomo um banho demorado. Sebastian bate na porta por uns dez minutos
me mandando sair. Enxugo-me vagarosamente e tiro a touca que havia
colocado para não molhar o cabelo. Saio do banheiro enrolada na toalha,
corro para o quarto e bato a porta. Ouço quando ele resmunga um palavrão
e bate a porta do banheiro. Primeiro de tudo, eu levo para o quarto um
paninho com álcool do banheiro, e passo nas alças da minha mala, para
limpar onde a mão de Sebastian havia encostado. Então jogo a mala naquela
cama enorme, quero me jogar em cima dela também, mas sei que não terei
tempo. Reviro minha mala e encontro o que estou procurando. Meu vestido
de noivado.
É um vestido todo de renda, curto, perolado, cheio de pedrinhas e colado
ao corpo. Primeiro me perfumo e faço uma maquiagem que a Gil tinha me
ensinado e que, segundo ela, destaca meus olhos castanhos. Quando estou
terminando a maquiagem, Sebastian começa a bater na porta mandando eu
me apressar. Mostro o dedo do meio para a porta, e resmungo dez palavrões
em voz baixa, mas ele grita que escutou, que eu deveria morder minha
língua venenosa e andar mais rápido. Finalmente, solto meu cabelo. Como
eu o tinha prendido em um coque ainda molhado, ele agora tem um efeito
ondulado, com ondas enormes que vão até minha cintura. Só jogo um
pouco de laquê nele e está pronto. Então vou para o meu vestido. É hora de
ter uma nova história para contar com ele, que não seja sobre um noivado
que havia sido o maior erro da minha vida.
Visto cuidadosamente meu vestido, não me importando com as
reclamações de Sebastian, perguntando quanto tempo uma mulher precisa
para vestir um saião, ou se eu ainda estava limpando os meus óculos. Olho-
me no espelho uma última vez. É isso! Se qualquer homem olhar para mim
essa noite, Sebastian Vaughn não poderá descontar nem um centavo do meu
salário. Respiro fundo uma última vez e abro a porta.
Sebastian

A maldita está me atrasando, e ainda por cima não permitiu que eu


arrumasse para ela um vestido elegante. Vou ter que sair carregando esse
projeto de tribufu para a boate. Pelo menos ninguém dará em cima dela.
Não que eu me importe se alguém se interessar nela, mas prefiro que não se
interessem.
Quando a maldita finalmente abre a porta, perco o ar. Ela está usando um
vestido de renda perolado colado ao corpo. O cabelo negro realça a palidez
de sua pele. Os lábios vermelhos mais chamativos do que posso suportar!
Fico sem reação, vendo essa mulher maravilhosa de parar o trânsito diante
de mim e, por um momento, quero perguntar onde está a maldita da
senhorita Morelli.
― Pronto! Ficou me apressando e agora vai ficar aí parado olhando para
mim? Não estamos atrasados?
Com a voz dela eu acabo voltando a mim. Não dá para sair com essa
mulher para uma boate, vestida desse jeito. Ainda mais conhecendo o
Adrian como eu conheço, ele vai ficar louco por ela. O que eu estou
dizendo? Todos os homens daquela maldita boate vão ficar loucos por ela.
Ela vai se divertir enquanto eu vou ficar louco para vigiá-la. Espera, por que
eu precisaria vigiá-la? Ela acabou de ser traída, seria até bom para ela dar
uns beijos em uns desconhecidos, para ver se ela para com esse moralismo
ridículo. Mas merda, a ideia de vê-la com outros homens me irrita por
algum motivo desconhecido. Ela solta um palavrão, anda até a porta e a
abre esperando por mim.
― Você vem ou não?
Eu a sigo ainda sem dizer nada. Sabe quando eu disse que estava
pegando apenas mulheres que davam para o gasto e não as de parar o
trânsito? Pois é, aqui está uma mulher de parar o trânsito e eu não vou
comê-la. Caralho!
Chegamos à Lounge 69 e Adrian me espera na entrada. Ele é um
mauricinho de vinte e seis anos que herdou a fortuna do pai e só faz merda
com o dinheiro. Procura investimentos para aumentar sua fortuna e meu
trabalho é garantir que um desses investimentos seja um dos meus hotéis.
Nós nos cumprimentamos e ele me apresenta as meninas que estão com ele.
Uma é loira, cabelo curto e seios pequenos, se chama Sara ou Lara, não
ouço direito. A outra é uma ruiva que tem um belo par de seios com um
decote do jeito que eu gosto, se chama Lorena. Eu não quero apresentar a
Morelli, mas ela pigarreia e tenho que fazê-lo.
― Essa é a Célie Morelli, minha secretária.
Vejo quando os olhos de Adrian brilham ao olhar para ela. Não é para
menos, as duas mulheres que estão com ele são gostosas, mas não chegam
aos pés da maldita da Morelli. Adrian estica a mão, pegando a mão dela e
levando aos lábios.
― É Celina Morelli, na verdade. ― corrige ela.
A merda está feita. Entramos e Adrian sequer fala comigo ou com as
acompanhantes dele, é todo charme para cima da Celina! Fez questão de
sentar numa cadeira ao lado dela, pede drinques para ela toda hora, chega a
alisar suas ondas negras, e eu tenho que me segurar para não socar a cara
dele.
Preciso ficar me lembrando que Celina não é nada minha e fica com
quem ela quiser, mesmo que seja o idiota do Adrian Campanaro. Para não
ter que ficar vendo-o dar em cima dela, acabo me divertindo com a ruiva.
Dou-lhe um beijo e fico contente em ver que Celina para de prestar atenção
na conversa de Adrian para olhar a cena. Então beijo a ruiva mais ainda.
Não adianta tentar falar de negócios com o barulho que está rolando
nessa boate, por isso marcamos uma reunião para daqui a dois dias, já que
na manhã seguinte terei uma reunião com outro dos possíveis investidores.
Lorena e a loira se levantam para ir ao toalete e eu me arrasto no banco,
ficando quase ao lado da Morelli, perto o suficiente para ver as belas coxas
dela que estão tentadoramente à mostra.
Enquanto viajo naquelas coxas grossas, reparo que Adrian conversa com
ela olhando seu decote. Será que ela não percebe o que ele está olhando?
Presto atenção em um pouco da conversa. Como eu imaginei, Adrian está
falando de todos os bens que tem, tentando impressioná-la, mas Celina não
o está afastando e até ri das coisas que ele diz. Qual é o problema dela? Tem
mesmo uma queda por idiotas como ele?
Tento desviar meus pensamentos; olho novamente para as coxas dela e
para os saltos pretos que ela usa. A sandália tem uma tira fina com um laço
e me faz lembrar de sua calcinha sexy. Será que ela a está usando? Inferno!
Eu preciso tirar a Celina daqui o mais rápido possível. Preciso levantar a
saia dela e por minha boca naquelas coxas, ou ficarei maluco!
Quando vou chamá-la para dançar, ela diz que vai ao toalete e se levanta.
Reparo que é justamente quando a ruiva e a loira estão voltando. Celina
passa por Adrian, que falta babar em sua bunda e vai em direção ao toalete.
Lorena logo vem para cima de mim, mas eu desconverso e espero uns dois
minutos antes de seguir a Celina.
Paro no meio do caminho ao ver que ela sequer chegou ao banheiro,
havia sido abordada por um cara alto, musculoso e tatuado, ele a segura
pela cintura e passa a mão pelo rosto dela. E ela parece querer se afastar
dele. Esse cara pode me quebrar, mas ele não vai ficar passando a mão na
Celina desse jeito! Logo me aproximo e grito para ser ouvido:
― Algum problema aqui?
Celina parece aliviada em me ver. O grandão me olha com uma
expressão fechada, como que marcando território. Rapidamente puxo
Celina pelo braço para perto de mim. Ele reluta um pouco em soltá-la, mas
pergunta:
― Ela está com você?
― Ela é minha namorada.
Ele assente.
― Então você não devia deixar sua namorada gostosa rodando por aí
sozinha. Da próxima vez ela pode cair nas garras de um cara que não seja
tão legal quanto eu.
― Pode deixar que eu vou cuidar dela.
Ele ainda dá uma boa olhada para as pernas dela antes de se afastar.
Assim que ele se afasta, percebo Celina relaxar nos meus braços. Ela me dá
um beijo no rosto em agradecimento e vai em direção ao banheiro. Merda!
Foi só uma merda de um beijo inocente no rosto, mas meu pau acordou com
esse simples toque dos lábios dela. Eu estou mesmo fodido!
Paro na porta do banheiro, aguardando que ela saia para escoltá-la até a
mesa. Por mais de uma vez quero entrar lá, ver que está sozinha e comê-la
ali mesmo, mas sempre entra alguém no banheiro e eu desisto. Por fim, ela
sai. Ela retocou o batom e esses lábios vermelhos estão quase me
enlouquecendo. Ela sorri ao me ver.
― O que está fazendo aqui?
― Vou levá-la para a mesa. Para que não tenha nenhum empecilho no
caminho.
Ela passa os dedos no meu rosto e eles saem manchados, percebo que
meu rosto estava com a marca do batom dela.
― E a troco de que vai servir de segurança? ― pergunta desconfiada.
É a minha deixa. Finalmente vou ter esses lábios vermelhos nos meus.
― Bom, já que perguntou. Nada que um beijinho não resolva. ― falo e
vou para cima dela puxando-a para junto do meu corpo e segurando seu
cabelo.
Mas, antes que minha boca alcance a dela, ela se afasta.
― Você está louco se acha que vai chegar com essa boca perto de
qualquer parte do meu corpo!
― Relaxa Morelli! Ninguém vai ficar sabendo. Por que não pode se
divertir um pouco?
Eu tento segurá-la, mas ela se afasta de novo.
― Nem pensar. Você estava praticamente chupando aquelazinha
desconhecida agora mesmo. De jeito nenhum eu vou beijar você!
Sorrio como um idiota por saber que ela só não me beijará porque eu
havia beijado outra. E merda! Por que eu tinha que ter beijado a ruiva?
― Não preciso da sua segurança! Eu me viro. ― ela fala e sai andando.
Então, tenho que segui-la de longe.
Assim que voltamos à mesa, percebo que a loira e a ruiva estão de um
lado, e Adrian do outro. Ele jogará pesado para ter Celina, mas eu não
deixarei que isso aconteça! A loira se insinua para mim e, lembrando do
ciúme de Celina por causa da ruiva, dou um beijo nela. Celina olha me
censurando. Eu praticamente podia ouvi-la gritando quando a gente voltasse
ao hotel, se eu não sentia vergonha de tentar beijá-la e em seguida beijar
outra.
Ela pega o celular na bolsa e mexe em alguma coisa enquanto Adrian
ainda está falando com ela. Logo, meu celular vibra no bolso. Pego ele por
debaixo da mesa e vejo a mensagem dela:

Celina: Cafajeste.

Respondo com um sorriso que eu sei que vai irritá-la ainda mais:
Sebastian: O que foi que eu fiz agora?

Logo, a reposta:

Celina: Vc acabou de tentar me beijar e já está beijando outra.

Sorrio mais ainda. Ela está com ciúme.

Sebastian: Vc negou meu beijo. Mas se tiver mudado de ideia, dou um pé


na bunda da loira agora mesmo e serei todo seu.

Ela me olha como se fosse me matar e bebe um gole de sua bebida.


Então, a resposta chega:

Celina: Não mudei de ideia a seu respeito, mas não pretendo ficar
sozinha a noite toda!

Maldição! Ela vai se vingar. Malditas mulheres e sua mania de dar o


troco. Penso no que poderia responder para desencorajá-la, quando Lorena
a chama para dançar. Ela olha para Lorena com uma cara de nojo e me
apresso em responder por ela.
― Ela não gosta de dançar.
Ela faz uma careta.
― Quem disse que não? Vamos lá.
Fico aqui, estupefato enquanto ela sai com Lorena e a loira. As três vão à
pista de dança. E, como eu previ, logo todos os caras estão olhando para
ela, mas não é para menos! Ela rebola e desce até o chão com aquele
vestido minúsculo. De onde estou, consigo ver que a calcinha dela é preta.
Deve ser a que eu tinha pegado, a minha calcinha.
Merda! Meu pau se agita feito um louco enquanto ela desce as mãos pelo
corpo, eu queria que fosse minha língua lambendo cada gota de suor dela.
Sou tirado do meu devaneio com um cumprimento de Adrian.
― Que delícia de mulher Sebastian! Leve-a para a reunião na quarta e
teremos um acordo.
Volto o olhar para a pista e ela está dançando com um homem. Ele
desliza a mão por sua cintura e ela não faz nada para impedi-lo. Lorena
volta à mesa e senta no meu colo, mas eu não consigo prestar atenção nela,
só consigo ver a maldita gostosa da Morelli se esfregando em um
desconhecido.
Não aguento, empurro Lorena e vou até a pista de dança. Lanço um
olhar ameaçador ao cara que dança com ela e ele logo se afasta. Ela vira
para trás para ver o que aconteceu e abre um sorriso quando me vê ali. Era o
que ela esperava que eu fizesse e eu, retardado caí na armadilha dela
direitinho. Mas já que estou aqui, vou aproveitar. Puxo o corpo dela junto
ao meu e minha mão logo encontra a bunda dela, então aperto-a. Ela geme,
me deixando ainda mais louco.
― Achei que estava ocupado. ― grita no meu ouvido.
― Estou ocupado agora.
Ela sorri e se afasta um pouco. Levanta a cabeça na minha direção e me
preparo para beijá-la, mas ela me empurra.
― Vai sonhando, estúpido!
Então ela se afasta e vai se esfregar em dois homens que estão dando
sopa por perto. Eu poderia ir até lá e espantá-los de novo. É o que eu quero
fazer, mas seria ridículo. Volto à mesa e tenho que me contentar com a loira
e a ruiva. Mas, se a Morelli acha que pode mexer comigo, não pego leve
com as duas, menos ainda na presença dela. Ela não volta a falar comigo a
noite toda e até dança com o Adrian. Nenhuma vez sequer a vejo olhando
na minha direção, mas tenho certeza que vez ou outra ela olhou.
Quando saímos da boate, Adrian tenta beijá-la, mas ela desvia dele e vai
andando na frente. Fico combinando com ele a reunião e tentando me livrar
das meninas que querem ir para o hotel comigo. Quando percebo, tem um
cara conversando com a Celina. Merda! Por que ela tinha que sair com um
vestido tão curto? Despeço-me rapidamente e vou em direção a eles, bem a
tempo de ouvi-la falar “não” e o cara puxá-la e beijá-la.
Aquilo me cega de ódio! Como ele consegue assim o que eu estou
tentando a noite toda? Eu o empurro e soco a cara dele. Ele cai no chão
alarmado. Vou para cima dele de novo, mas Celina entra na minha frente,
me contendo. Então a pego pelo braço e a arrasto para o carro.
Ela fica calada durante a viagem. O cheiro do perfume dela, misturado
com o suor do seu corpo está me deixando de pau duro. Eu devia ter trazido
as meninas para casa, visto que essa maldita nunca dormirá comigo.
Resolvo puxar assunto para desviar meus pensamentos:
― Então, você é tudo isso.
Ela não responde.
― Por que vai trabalhar com aquelas roupas de velha? E aquele cabelo
horroroso?
― É uma longa história. ― ela diz e fecha os olhos.
Maldição! Eu estou tentado a beijá-la, mas me pego dizendo.
― Você é linda Morelli! Não devia esconder essa beleza toda.
Ela me olha espantada e não diz nada. Então seguimos o resto do
caminho até o hotel em silêncio.
Capítulo 05
Celina
As atitudes de Sebastian ainda me confundem. Ele havia me
defendido do cara tatuado e do atrevido que me beijou. Chegou a bater num
cara por minha causa! Esse sim seria um momento “deusa total”, se ele não
tivesse feito isso por questão de princípios. Ele faria isso por qualquer outra
mulher que estivesse naquela situação.
Tento não pensar tanto nele grudado com as duas mulheres a noite inteira
e me concentrar no quanto tinha me divertido. Dancei como não fazia desde
que havia começado a namorar o Edmundo. Até voltei a usar roupa curta,
ele pirou quando me viu naquele vestido de noivado, dizendo que era
indecente. E eu me pego agora pensando quando eu tinha ficado tão sem
vontade própria a ponto de parar de sair, e de vestir apenas roupas recatadas
por causa de um noivo.
Ainda estou triste por ter sido feita de palhaça por três anos e tenho
aquela sensação de traição, que corrói a minha alma. Mas não sofro por
amor. Eu me sinto leve, como se pudesse finalmente voltar a ser eu. E, se
me lembro bem de como eu era antes de começar a namorar o Edmundo, eu
deveria ter deixado o Adrian me beijar hoje. Era a coisa certa a se fazer,
para completar a diversão.
Mas, na hora achei cedo demais. De qualquer forma eu o verei
novamente, ele é um idiota que fica olhando para os meus seios e falando
do tanto de coisas que possui, para me impressionar. Até me pergunto por
que eu atraio esse tipo de idiotas para a minha vida, mas é bonitinho. Não
faria mal nenhum calar a boca dele com uns beijos e dar uns amassos. Faz
tanto tempo que eu não dou uns amassos que “periga” eu nem saber mais
como fazer!
O carro entra no estacionamento do hotel e para. Eu desço do carro ainda
sem falar nada com Sebastian. A boca dele está manchada do batom das
duas mulheres que ele beijou e eu sinto nojo ao olhar para ele. Safado,
pervertido! Veio com um papo para cima de mim e logo já estava com as
outras.
Imagina se eu tivesse deixado ele me beijar? Ele me beijaria e se sentaria
à mesa e as beijaria. Eu seria apenas a terceira da noite. Não que eu tenha
sequer cogitado a ideia de deixá-lo me beijar. De maneira nenhuma, isso
nem passou pela minha cabeça. Mas, se eu for olhar o quanto ele é lindo
com esse corpo malhado, os olhos verdes, esse cabelo castanho escuro
desgrenhado caindo no olho, ah! Como o estúpido é lindo! Se eu
fosse olhar a beleza dele, já estaria na sua cama essa hora, junto com as
outras duas que eu nem sei por que ele não trouxe para o hotel para terminar
a noite. E falar na noite no hotel me faz lembrar aquela cama enorme e
maravilhosa, e do fato de que eu terei que dormir na poltrona. Claro que
Sebastian Vaughn jamais deixará a cama para mim. Eu, a incomodada que
vá para outro lugar!
Entramos no elevador e percebo que ele me olha e um sorrisinho idiota
aparece no rosto dele.
― O que foi?
― Estou aqui imaginando qual calcinha você estaria usando.
Sinto-me corar.
― É bom que tenha uma excelente imaginação. Porque vai ser o mais
perto que você vai chegar da minha calcinha!
― É aquela, não é? A preta, sexy? A minha calcinha?
Como ele sabe?
― Não sabia que você usava calcinhas.
― Não adianta fingir de boba, Morelli. Eu sei que está usando aquela
calcinha. E sei que só a colocou por minha causa, para pensar em mim. ―
ele se aproxima de mim e me prensa na parede do elevador ― Eu sei que
quando estava dançando daquele jeito era para me atrair e sei que quando
estava vestindo essa calcinha você me imaginou tirando ela com os dentes.
Uau! Ele sabe ser pervertido. Eu olho bem para os olhos dele meio
hipnotizada, mas percebo o que estou fazendo e começo a rir. Ele não sabe
o que fazer com a minha reação e parece bravo.
― Qual o problema, Morelli?
― Você é mesmo uma figura. “Se acha” mesmo tudo isso?
A confiança dele vacila por um momento, cedendo lugar a raiva, mas
logo ele está sorrindo e se afasta de mim.
― Você ainda vai me implorar para tirar sua calcinha Morelli, e vai fazer
isso gritando meu nome e gozando na minha mão. Mas não se preocupe, eu
atenderei o seu pedido com o maior prazer.
― Isso só vai acontecer nos seus sonhos!
É um fato quando entramos exaustos no quarto: eu não dormirei de
maneira alguma na mesma cama que Sebastian. Ainda mais depois das
coisas que ele me disse. Eu realmente coloquei a calcinha por causa dele,
mas não havia pensado que ele a veria, nem imaginado ele a tirando, até
agora. Até ele plantar essas cenas na minha mente. E eu bebi muito e estou
exausta, e dormir com um homem como ele não pode acabar bem!
Tomo um banho rápido, me enrolo num roupão, pego uma manta e vou
me aconchegar na poltrona da sala. Depois de um tempo, Sebastian vem
atrás de mim.
― O que está fazendo aqui? O quarto fica para o outro lado.
― Vou dormir aqui, obrigada.
― Não seja ridícula. A cama é enorme. Dá para nós dois dormirmos nela
e nem chegar perto um do outro.
Eu olho para ele.
― E você vai fazer isso? Vai ficar o mais longe possível de mim?
Ele dá um sorriso malicioso.
― Não posso prometer que farei isso.
― Então vou dormir aqui mesmo.
Ele bufa.
― Você não pode estar falando sério.
― Por que você não vai dormir? Me deixa em paz pelo menos o restinho
da noite!
― Você vai acordar com dores no corpo todo se ficar encolhida aí.
― Isso é problema meu!
― Tudo bem! Eu prometo que não vou tocá-la e vou manter distância de
você.
― Não confio em homens que voltam atrás nas suas palavras.
Ele solta um palavrão.
― Quer saber? Faça como quiser, mas não diga que eu não avisei.
― Agradeço a sua preocupação. ― falo com todo sarcasmo que posso.
Ele começa a rir.
― Eu já entendi qual é o seu problema: você tem medo de dormir
comigo! Tem medo, não de eu tocar você, mas de você perder o controle
perto de mim.
Eu bufo.
― Claro, porque você é um convite ambulante a um sexo maravilhoso.
― Ainda bem que reconhece senhorita Morelli. Mas pode vir se deitar
comigo, eu prometo tentar frear você se me atacar.
Dessa vez eu dou uma risada.
― Você deve ser muito feliz com toda essa imaginação. Fique feliz com
ela essa noite querido.
Ele resmunga alguns palavrões e bate a porta do quarto.
Eu não consigo dormir. Estou com tanto sono que meus olhos nem
abrem, mas minha coluna dói e meus braços já estão dormentes, não tem
como mudar de posição nessa poltrona.
De repente, sinto braços me envolvendo e me levantando da poltrona.
Consigo abrir meus olhos para ver um delicioso Sebastian, com o cabelo
mais bagunçado ainda me levando para o quarto. Ele me coloca gentilmente
na cama e puxa a coberta para cima de mim. Eu quero protestar, mas estou
cansada demais, e a cama é tão macia! Deus, como é gostosa! Ele dá a volta
na cama e se deita ao outro lado, o mais longe possível. Antes de ameaçá-
lo, ou tentar me levantar para voltar para a poltrona, já estava dormindo.
Sebastian
Mal consigo dormir à noite. Primeiro, fiquei preocupado com a imbecil
da Morelli dormindo naquela poltrona pequena e desconfortável. Pensei em
deixá-la lá, deixar que ela amanhecesse com dores por todo corpo para
aprender a ser tão teimosa. Mas, de madrugada ainda não tinha conseguido
dormir preocupado com ela e acabei indo lá, ver como ela estava.
Ela estava sonolenta, mas ainda acordada, claro que por causa do
desconforto. Pensei em dizer que eu tinha avisado que não dava para dormir
ali, mas acabei por carregá-la para a cama. Merda, meu pau sonolento
acordou no instante em que toquei o corpo daquela mulher. Ela se
aconchegou a mim e seu calor misturado ao seu perfume me deixou louco!
Precisei mesmo me controlar para colocá-la na cama e tive que me deitar
o mais longe possível dela. Mesmo assim, sentia o seu cheiro. Toda vez que
eu estava quase dormindo, ela se mexia e meu pau acordava. Fui conseguir
dormir quando o dia já estava nascendo.
Pouco depois que durmo, o maldito despertador começa seu som infernal
na minha cabeça. Celina resmunga e se senta para desligá-lo. Quando por
fim abro meus olhos, quase tenho um troço. Aqui, na minha frente, está uma
mulher deliciosamente descabelada, com o rosto rosado, uma camisola
transparente que aparece por baixo de seu roupão aberto, se espreguiçando.
Meu pau desperta no mesmo instante e caralho! Como eu desejo essa
maldita Morelli! Ela se levanta sem nem me dar bom dia e vai tomar um
banho.
Trato de levantar também e vou comer alguma coisa enquanto a Morelli
não sai do banheiro. Quando finalmente ela sai, mais um ataque para o meu
coração, ela está enrolada na toalha com o cabelo molhado em um coque
sexy, não aqueles coques bagunçados que ela fazia...
― Você está mesmo querendo que eu te agarre. ― comento para irritá-
la.
Ela faz uma careta.
― Claro, estou quase te implorando que me coma!
― Você não vai precisar fazer isso, basta dar mais um passo a frente e eu
te agarro aqui mesmo.
Ela para abruptamente e eu dou uma gargalhada.
― Saindo de toalha na minha frente? Se isso não é provocar, não sei
mais o que é.
― Sinto te informar que o mundo não gira em torno de Sebastian
Vaughn. Eu só saí do banheiro de toalha porque não temos muito tempo e
pensei que adiantaria se eu trocasse de roupa no quarto para você tomar
banho logo...
Ela faz menção de ir para o quarto, mas eu entro na frente dela, barrando
sua passagem. Só quero olhar esse corpo molhado nessa minúscula toalha
mais um pouquinho.
― Sabe, eu deixaria o Luciano esperando se fosse para “dar” uma com
você. ― Ela faz uma careta e cora.
― Eu não sou as desconhecidas que você pega em qualquer canto para
dar “umazinha”.
― Quem falou em “umazinha”? Estou falando de uma completa
Morelli! Uma que vai levar a manhã toda e boa parte da tarde. Uma que vai
te deixar tão louca, que você nem vai saber seu nome depois, só o meu.
Ela cora mais ainda e fica sem graça. Então esse é o ponto fraco da
Morelli, sexo. Ela, obviamente não tem muita experiência nisso e fica sem
graça e sem respostas sarcásticas quando eu brinco com sexo. “Touché”
para mim. Todas as nossas conversas a partir de agora vão conter uma
inclinação sexual.
― Se você é tão bom assim, não estaria subindo pelas paredes como está
agora!
Sim, essa maldita me pega desprevenido com essa observação.
― Acha que eu não percebo? Aposto como não transa desde aquele dia
com a Lurdinha. Posso até imaginar: mulherzinha mais ou menos, transa
mais ou menos, e o “Sr. Tudo Isso Aí” não se satisfaz de verdade há um
bom tempo!
Tenho que rir do atrevimento dela. Deus! O atrevimento dela deveria me
irritar, mas me excita. Eu tenho que dar um jeito de levar essa maldita para
a cama.
― E você Morelli? Há quanto tempo não fica satisfeita com uma transa?
Não, espera: você nunca ficou!
Ela empurra meu braço e entra no quarto batendo a porta. E eu fico
pensando durante o banho, enquanto acaricio meu pau duro, que não é justo
que uma mulher tão linda como essa não tenha um orgasmo decente na
vida. E serei eu a proporcionar isso a ela, com o maior prazer. Antes do
final dessa viagem, ela estará gemendo nos meus braços!

Chegamos à filial da V.D.A. que fica no Rio de Janeiro e vamos logo


para o nono andar, onde terei uma reunião importante com Luciano
Cartariam. Ele, ao contrário do Adrian, é uma raposa velha. Astuto como só
ele e que sabe fazer negócios. É o cliente mais difícil que fui buscar e o
mais importante, pois o capital que ele investirá será quase o dobro dos
outros dois juntos. Luciano está com as ações em alta e procura um bom
investimento. Cleber e Matheus falaram mil vezes na minha cabeça que eu
deveria mostrar esse investimento a ele.
Luciano ainda não chegou. É um velhaco de trinta e cinco anos, viúvo e
mal humorado. Mas tem um fraco comum entre os homens: mulheres
bonitas. Eu sei que a presença da Morelli ao meu lado garantirá cinquenta
por cento da participação dele.
Olho para ela que está com uma saia preta social colada às pernas
grossas, àquela comissão traseira espetacular e uma blusa social branca de
botões, fechada até o pescoço. Aproximo-me dela e abro três botões da
blusa, deixando a mostra um pedaço do sutiã preto sexy que ela usa.
― O que você está fazendo?
― Relaxa Morelli, não vou agarrar você aqui. Só estou garantindo o
sucesso do meu negócio.
Ela me olha como se fosse me matar com o comentário, e faz menção de
fechar a blusa. Tiro as mãos dela da blusa e as seguro.
― Nem pense nisso. Acho que está bem mais sexy assim. Muito mais
agradável de olhar.
― Estou pouco me lixando para o que você acha sexy, e menos ainda
preocupada em agradar seus olhos pervertidos! Solta minha mão ou eu
começo a gritar.
― Você está muito arisca, Célie! Agora, lembre-se que está em seu
horário de trabalho. Desobedeça-me e será demitida hoje mesmo! Acha que
não consigo me virar sozinho aqui?
Ela se acalma contra a vontade.
― Mostrar meus seios para você não faz parte do meu contrato de
trabalho!
― Verdade, me lembre de incluir isso da próxima vez!
Ela faz uma careta e eu a arrasto até o espelho que fica ao lado dos
elevadores. Seguro os braços dela para trás, o que faz com que seus seios
levantem mais ainda.
― Está vendo Morelli? Vê como é sexy? Nenhum homem resistiria a
você se andasse vestida assim.
Ela cora e fica um tempo se olhando no espelho, parece espantada.
― Você é linda. Deveria explorar mais essa beleza.
Puxo o corpo dela para mais perto do meu, e o movimento faz a blusa
dela abrir mais. Posso ver pelo espelho um pequeno laço preto no meio dos
seus seios.
― Esse sutiã é conjunto daquela calcinha sexy, senhorita Morelli?
Ela parece sair do transe e me empurra.
― Oras! Eu já poderia acusar você de assédio sexual há muito tempo
com esse linguajar infame que você usa comigo!
― Sim, poderia. E sabe por que não faz isso? Porque no fundo você
gosta. Aposto que eu te excito mais com esse linguajar infame do que seu
noivo com as proezas dele!
Ela fica uma fera. Abre a boca para soltar algum impropério, mas o
elevador abre e ela se cala.
Luciano sai do elevador acompanhado de dois advogados, ele sempre
anda com eles, mesmo quando vai apenas falar sobre negócios. O
cumprimento e apresento Celina.
― Essa é a Célie, minha secretária.
― Celina. ― ela corrige quase bufando.
Não preciso falar mais nada. Os olhos dele crescem no decote dela e ele
chega a engolir em seco. Meu investimento está garantido! Entramos para a
sala de reuniões e começo a explicar sobre os hotéis que pretendemos abrir
na Europa. Temos hotéis por todo o Brasil, mas expandir para fora é um
passo muito grande e por isso, precisamos de investidores.
Ele parece realmente interessado no negócio; mais ainda na Celina!
Enquanto conversamos, vejo que ele pega a agenda dela e escreve alguma
coisa e então, devolve-a. Ela cora, dá um sorriso sem graça e rabisca
alguma coisa em resposta. Eles ficam com isso até que termino de explicar
tudo. Luciano parece muito interessado e fala que dará a resposta definitiva
no coquetel que teremos na semana seguinte. Claro que eu não posso deixar
meu principal futuro investidor solto até lá.
Mas Celina é bem mais esperta e planta um convite para sair com
Luciano. Ele cai como um patinho, chamando-a para sair. Isso me deixa
possesso! Uma coisa é ela usar uma blusa sexy para atrair a atenção dele.
Outra muito diferente é ela “trepar” com ele. Isso eu não permitirei mesmo!
Assim que Luciano se despede, vamos para a sala reservada a mim na
empresa. Mas, durante o caminho já vou para cima dela.
― Que negócio é esse de sair com ele?
Ela abre um sorriso lindo. É muito raro ela sorrir, e como ela fica linda
quando sorri!
― Só entrei no seu joguinho. Você não precisava de uma puta para
trocar sexo por seu negócio?
― Não! Não foi isso que quis dizer! Eu só precisava que você o
distraísse um pouco, não que trepasse com ele.
Ela levanta as mãos na defensiva.
― Quem falou em trepar? Vamos só tomar uns drinques, nada demais.
― Você não vai sair com ele, Célie! Você é ingênua e ele é um velhaco
experiente, que vai dobrar você como se fosse uma folha de papel. Sabe o
que eu faço com as mulheres? Ele faz muito pior!
Ela dá de ombros.
― Como se você tivesse moral para falar da “cafajestice alheia”. E o que
importa para você é garantir seu negócio, não foi o que você disse? Garanto
que se ele sair comigo seu negócio estará garantido.
― Não a esse preço.
― O preço é meu!
― Você não vai trepar com ele!
― Você não manda na minha vagina!
― Não seja ridícula! Você não tem que dar para ele.
― Se eu quiser dar, eu vou dar para quem eu quiser! ― ela grita.
Corrigindo, ela grita isso bem no meio da sala principal, onde cerca de
onze pessoas estão totalmente caladas, prestando atenção nela e em mim.
Tenho que segurar o riso, mas fracasso. Ponho as mãos nos ombros dela,
que está vermelha como um tomate ao perceber a cena e tento acalmá-la.
― Dê a vontade Célie. ― sussurro ― Acho que está precisando.
Por que isso sempre acontece com ela? Ela parece um ímã ao
constrangimento! Ainda rindo, entro na minha sala e ela praticamente voa
lá para dentro.
Celina
Se o dia havia sido uma merda, a noite não prometia ser muito
diferente. Sebastian e eu discutimos o caminho todo até o hotel, tudo
porque ele não quer que eu saia com Luciano.
Acho que ele está com medo que eu consiga o investimento e não ele.
Mas eu não pretendo roubar os créditos desse acordo, menos ainda transar
com o Luciano. Ele é um homem maduro, atraente e sexy, e eu até sairei
com ele e darei uns amassos, mas não passará disso. Eu sei, posso ser a
senhora careta, mas não transo com um desconhecido. Mesmo porque não
acho tanta graça em sexo.
E o imbecil do meu chefe está certo. As coisas indecentes que ele me
fala, conseguem mexer mais comigo do que o Edmundo pelado, por
exemplo. Isso deve ser um dom de todo pervertido: perverter os
pensamentos das pessoas alheias.
Quando enfim chegamos ao hotel, eu já não respondo mais às
provocações de Sebastian. Estou cansada, com fome e louca por um banho.
Ele quer me convencer que só não me deixará sair com Luciano pelo meu
bem, mas nunca que vou acreditar que ele esteja realmente preocupado
comigo; o buraco é mais embaixo!
Sebastian entra no quarto e se joga no sofá da sala. Liga a tela plana e
fica mudando de canal. Aproveito e me sento à mesa, abro o notebook e vou
atualizar a agenda dele com as novas reuniões que ele terá. Faço tudo de um
jeito que possamos ir embora antes dos quinze dias previstos. Não que eu
tenha alguma coisa importante para fazer em casa, nem emprego eu terei
quando voltar. Mas preciso me afastar urgentemente de Sebastian.
A convivência com ele está me alterando, eu já reparo a roupa que ele
está usando, me arrepio com suas conversas pervertidas e até cheguei a
sonhar com ele a noite. Não! Preciso mesmo me afastar dele. Enquanto
digito no notebook, dou uma olhada em Sebastian.
Ele tirou a blusa social que estava usando e está largado no sofá,
tomando uma cerveja. Seu corpo definido e bronzeado prende minha
atenção por mais tempo do que eu pretendia olhar. E me pego pensando
como um homem tão lindo, rico e pervertido como ele pode ser solteiro?
Nos seis meses em que estive na empresa, sempre ouvir falar que ele estava
transando com uma e outra, sempre casos, nunca ouvi falar que ele teve
uma namorada.
Mesmo que ele goste de ficar com várias e não se interesse em um
compromisso sério, uma hora ele teria que ter tido uma namorada, não
teria? Fico curiosa e abro o Google: então pesquiso “Sebastian Vaughn
namorada”. E, para minha surpresa, aparece uma foto dele com uma loira
espetacular. A foto é de dois anos atrás. Procuro por mais informações, mas
não há mais nada sobre nenhum outro relacionamento além daquela
namorada.
― O que está fazendo?
De repente a voz dele atrás de mim me assusta e fecho o notebook com o
susto. Sebastian está atrás de mim; havia se levantado e ido ao frigobar
pegar outra cerveja e eu nem reparei. Ele parece desconfiado com minha
reação.
― O que está fazendo aí Morelli? Olhando sites pornôs?
Faço uma careta.
― Eu não preciso de mais material pornô do que conviver com você.
Ele dá uma gargalhada.
― Então, o que está escondendo?
― Nada.
― Mentirosa. Você se assustou e fechou o notebook.
― Porque você me assustou. Não vi que estava atrás de mim.
Ele dá a volta e se senta na ponta do sofá, bem ao meu lado, e fica
olhando meu rosto. Resolvo perguntar qual o seu problema, mas olho em
seus olhos, tão verdes, tão profundos, aquela barriga a mostra... Ele não
devia andar com aquela barriga se exibindo para mim desse jeito! Será que
ele não sabe que eu estou na seca? Que o sexo com o Edmundo era sem
graça e eu estou ficando curiosa para conhecer o tal sexo fabuloso que ele
tanto fala?
Mas o que eu estou pensando? Estou mesmo pensando em sexo e
Sebastian na mesma frase? Estou mesmo ficando louca, só pode ser isso!
Viro o notebook, abro e fecho rapidamente a página do Google com as fotos
dele. Ele continua olhando para mim: se espera me intimidar, não vai
conseguir!
― Você não se sente sozinho? ― Pergunto de repente e ele parece se
assustar.
Levanta-se e volta a deitar no sofá com a cerveja na mão.
― Você está com fome? Pede o serviço de quarto. Pode pedir qualquer
coisa, o que você escolher eu como. ― fala ele.
Peço uma comida leve, do jeito que eu sei que ele não gosta e volto ao
assunto.
― Eu perguntei se você não se sente sozinho.
― Eu ouvi.
― E?
Ele se senta e olha para mim.
― Por que isso agora?
― Curiosidade. Eu nunca vi você com uma namorada.
― Talvez porque eu nunca tenha tido uma.
Ele está mentindo. Sebastian Vaughn esconde alguma coisa. Por que
mentir sobre já ter namorado alguma vez na vida?
― Você está dizendo que nunca teve uma namorada?
Ele sorri.
― Estou dizendo que sempre tive várias e nenhuma delas foi séria o
bastante para ser a única.
Faço uma careta.
― Mas, não se sente sozinho vivendo assim?
― Sim e não. Eu posso ter companhia a qualquer hora que desejar, ter a
liberdade de morar onde eu quero, fazer o que eu quero e sair com quem eu
quero. Eu não me vejo preso a uma única mulher, tendo que dar satisfações,
ser fiel, ser romântico, essa merda toda!
― Acho que uma mulher que te conhecesse pelo menos um pouco,
nunca ia esperar romantismo de você.
Ele sorri, mas é um sorriso triste.
― Você iria se surpreender...
― Você nunca se apaixonou?
Dessa vez ele faz uma careta.
― Que papo ruim é esse Célie? Por que não voltamos a falar de sexo?
Quando foi sua última vez?
Eu sorrio.
― Achei que fosse mais inteligente que isso. Que pudesse falar de outras
coisas além de sexo.
― Não com você. Você me lembra sexo.
Certo, eu tento conversar com ele, mas ele me irrita ao extremo. Volto
para o meu notebook e resolvo ignorá-lo. Depois de uns minutos, ele fala:
― E você? Depois que terminou com seu noivo está se sentindo
sozinha?
Sem nem olhar para ele eu respondo:
― Eu tenho a Gil.
Antes que ele possa falar qualquer besteira, vou logo esclarecendo:
― Não para isso que você está pensando! Quero dizer para companhia.
Ela é minha amiga e divide o apartamento comigo e sempre posso contar
com ela.
― Mas, e se ela não morasse com você?
― Eu não conseguiria. Não consigo ficar sozinha. Não gosto.
― Por que não?
Eu não quero contar detalhes da minha vida para ele, ainda mais detalhes
de um passado que eu tento a todo custo esquecer. Sou salva por uma batida
na porta e corro para atender.
Como eu imaginei, Sebastian faz uma careta quando vê as saladas.
― É disso que eu estava falando. Gosto de comer o que eu quiser, e não
um monte de folhas escolhidas por uma mulher. ― ele pega o telefone e
pede dois hambúrgueres pra gente e tenho que rir.
Enquanto comemos o enorme hambúrguer que ele pediu, seu celular
toca. Ele sequer faz menção de se levantar para atender. Resmungo um
xingamento e atendo o celular. A pessoa do outro lado fica em silêncio, mas
eu posso ouvi-la respirar.
― Olá? Quem fala?
A pessoa não responde e desliga.
― Estranho, tinha alguém na linha, mas não quis falar. Deve ser um dos
seus casos. ― falo e jogo o celular para ele, bem na hora que ele toca de
novo.
Sebastian olha o número não reconhecendo e atende. Então sua
expressão muda totalmente. Ele gagueja um pouco, se levanta e sai de perto
de mim. Alguns minutos depois, quando sai do quarto, está com uma
expressão de raiva. Ele pega outra cerveja e se joga no sofá. Como ele não
toca no assunto, não quero perguntar o que era. Aviso que vou tomar um
banho antes de terminar um relatório que precisaria apresentar a Adrian no
dia seguinte.
Saio do banheiro após vestir uma calça de ginástica e um top, e percebo
que Sebastian não está na sala. Eu vou bater na porta do quarto, mas ela está
aberta. Entro e ele está debruçado na cama, minha bolsa revirada e ele com
minha agenda na mão.
― O que está fazendo?
Ele dá um pulo e deixa a agenda cair. Então, eu a pego rapidamente.
Espero que ele fique sem graça por ter sido pego no flagra mexendo nas
minhas coisas, mas ele sorri.
― Está gostosa com essa barriga de fora.
― Quero saber o que estava fazendo mexendo nas minhas coisas!
― Mexendo nas suas coisas?! ― fala ele se divertindo.
― Então podemos mexer nas coisas um do outro?! Simples assim?
― Você pode mexer à vontade nas minhas coisas, mas não me
responsabilizo se ficar traumatizada com algumas coisas que pode
encontrar!
Perco a paciência.
― Sebastian, Por que estava mexendo na minha agenda?
Ele fica sério.
― Porque queria vê-la.
― Para quê?
― Para ver o que o idiota do Luciano escreveu para você, satisfeita?
Fico sem reação. Por que ele quer ver isso? Ele parece nervoso depois
que confessa, mas eu não entendo qual sua curiosidade no que Luciano e eu
estávamos falando. Mesmo porque não é nada demais!
― E você encontrou o que queria?
― Não, você chegou antes.
― Ótimo. ― falo enfiando a agenda na minha calça e saindo do quarto.
Ele vem atrás.
― Isso quer dizer que você não vai me dizer o que vocês conversaram,
ou prefere que eu pegue a agenda de dentro da sua calça? Porque eu escolho
a segunda opção!
― Isso quer dizer que se você mexer nas minhas coisas de novo, eu vou
cortar fora seus dedinhos!
― Qual é Morelli? Não deve ser nada demais! Qual o problema de me
mostrar?
Eu sorrio para ele.
― Problema nenhum. Eu só não quero te mostrar. Ele escreveu para
mim, na minha agenda e não para você!
Ele fecha a cara, mas não insiste e se joga de novo no sofá. Quando abro
o notebook, tem uma chamada de vídeo da Gil. Ligo de volta e vejo minha
amiga com seu cabelo vermelho estiloso, sentada no nosso sofá. Sinto
saudade de casa.
― E ai? Como está o Rio?
― Chato. E você, o que tem de novo?
Ela pega o notebook, vira pelo apartamento e posso ver que ele está
repleto de flores.
― O que é isso Gil? Assaltou uma floricultura?
― Não! Isso é o peso na consciência do seu ex.
Faço uma careta.
― Por que não joga tudo isso fora?
― Porque cheiram bem e são bonitas. Deixe as pobres flores, elas não
têm culpa.
Sebastian se levanta e vem ver com quem eu estou falando. Dá um “oi”
para Gil, pega uma cerveja e se joga de novo no sofá. Gil arregala os olhos
e fica se abanando.
― O que esse gato está fazendo pelado aí com você?
― Ele não está pelado e nem está comigo. Bom, não como você
imagina! Estamos no mesmo quarto no hotel, só isso.
― No mesmo quarto? Celina, você está no mesmo quarto com esse
“deus do sexo”? Você vai transar com ele! Eu sabia.
Apresso-me em abaixar o volume do notebook quando ouço Sebastian
rindo.
― Quer falar mais baixo? E eu não vou transar com ele, não viaja! Só
estou aqui com ele porque não reservei um quarto para mim. Acredite!
Nossa convivência não poderia ser pior...
― Sexo com ódio é o sexo mais quente!
Eu tenho que rir.
― De onde tirou isso?
― Aposto como ele já tentou transar com você!
Devo ter corado, porque ela começa a gritar. Então, me desespero
pedindo que faça silêncio.
― Claro que não tentou! Sou a secretária dele, nada mais!
Nesse momento ouço um gemido, seguido de um grito e mais gemidos.
Levanto a cabeça e vejo Sebastian sentado no sofá de frente para a tela, que
mostra um casal transando. Oh céus! Ele vai mesmo assistir um filme pornô
na minha presença?
― Que “gemeção” é essa, ai? Celina, o que está acontecendo?
― Gil, depois eu te ligo. ― falo e fecho o notebook.
Cruzo os braços e espero, mas Sebastian nem se mexe. Então me levanto
e paro na frente dele, tampando a vista da tela.
― Você não tem respeito? Há uma dama com você no aposento, não
pode ficar vendo essas porcarias.
Ele avalia meu corpo todo e de repente, me puxa pelo braço para o colo
dele. Eu começo a gritar e ele tenta me beijar. Eu desvio enquanto ele ri,
mas posso sentir a ereção dele através da calça. Quando consigo me
desvencilhar dele, estou descabelada, meu top torto e ele com um sorriso
satisfeito no rosto.
― Você ficou louco? Vou agora mesmo registrar um boletim de
ocorrência contra você!
― Já que vai fazer um escândalo, me deixe ao menos consumar o ato. ―
ele me puxa de novo, mas consigo me soltar.
Ele começa a rir.
― Relaxa Célie, eu estava vendo um filminho bom, mas você entrou de
repente na minha frente com esse top minúsculo... Achei que quisesse um
pouco de diversão também!
Faço uma careta, pego o controle no sofá e desligo a tela.
― Agora chega, Sebastian! Vá tomar um banho e depois dormir para se
preparar para a reunião de amanhã! ― ordeno.
Ele sorri e se levanta. Acho que vai falar alguma coisa, mas ele sai
resmungando para o banheiro.
Volto para o notebook e começo a conversar com a Gil pelo bate-papo.
Será mais seguro caso Sebastian apareça só de cueca por aqui. Meu Deus!
Que ele não resolva fazer isso! Aguentar ele sem camisa já é demais para a
minha libido, só de cueca então!
Começo a tentar explicar a ela que não aconteceu nada além de que ele
tenha me irritado como sempre. Depois de um tempo, Sebastian sai do
banheiro, vai ao quarto e sai de lá com uma camisa social amarrotada.
Ele joga a camisa social azul em cima da mesa, perto de mim e sequer
me olha antes de ordenar:
― Passe essa camisa! Preciso usá-la amanhã. ― e se afasta, voltando a
se deitar no sofá.
Minha primeira reação é querer mandá-lo para aquele lugar, mas apenas
praguejo baixinho e continuo conversando com a Gil.
Depois de um tempo, ele se levanta para pegar outra cerveja e pelo canto
do olho o vejo fazendo uma careta ao ver a blusa ainda embolada em cima
da mesa.
― Eu acho que mandei você passar essa blusa há meia hora! Ou será que
você não escutou?
Sem desviar meus olhos da tela do notebook, respondo:
― Ouvi sim. Só não sabia que estava falando comigo, já que sou sua
secretária, não sua passadeira!
Ele arregala os olhos:
― Como?
― Eu quis dizer que não é função de uma secretária passar sua roupa!
― Eu entendi o que você quis dizer.
Ele se senta de novo na ponta do sofá, perto de mim e coloca a mão na
minha perna. Então me olha com toda aquela beleza jogada em mim:
― Será que você poderia, por favor, passar essa blusa para mim?
Ele se aproxima tanto de mim, que eu posso sentir seu hálito me
causando arrepios e tenho que respirar fundo para que ele não perceba o
efeito que me causa. Ele pode ser um idiota de marca maior, mas é
uma tentação! Ainda bem que eu já estou vacinada contra caras do tipo
dele. Tiro sua mão da minha perna e dou meu melhor sorriso:
― Não!
Ele parece surpreso.
― O quê?
Eu bufo impaciente, será que eu precisarei ficar repetindo tudo?
― Eu disse que não posso passar a blusa para você.
― Eu entendi. E por que não?
― Porque eu não estou com vontade.
Ele me olha por um momento como se quisesse me estrangular. Então,
respira fundo e abre aquele sorriso delicioso:
― Por favor, é que eu não posso aparecer amassado na reunião amanhã e
o serviço de quarto não atende mais a essa hora.
Sorrio de volta:
― Se vira!
Ele se levanta, puxa a blusa, entra no quarto e bate a porta.
Quando vou me deitar, ele está dormindo na outra extremidade da cama
novamente, bem longe de mim. Eu me deito sem fazer barulho,
aproveitando aquela cama maravilhosa. De repente o braço dele rodeia
minha cintura e ele me puxa para junto dele. Eu resmungo, mas ele finge
estar dormindo. Então dou uma cotovelada nele, não bato com força, mas é
o suficiente para ele se afastar e falar que eu não preciso ser tão estressada,
que ele só está “brincando”. Com isso, ele se afasta novamente e vira de
costas para mim. Mesmo estando naquela cama enorme e confortável,
mesmo morrendo de sono, não consigo dormir direito. Além de estar
consciente da respiração dele tão perto de mim, ainda sinto o calor do braço
dele na minha cintura. Merda! Eu quero dormir nos braços dele. Repreendo-
me mentalmente, fecho bem os olhos e adormeço.
Durmo como um bebê e acordo sentindo um calor delicioso em volta do
meu corpo. Uma respiração na minha orelha e dois braços em volta me
apertando. Mexo-me um pouco e percebo algo cutucando minha bunda.
Paro de me mexer, abro os olhos, e me vejo deitada nos braços de
Sebastian, de “conchinha”.
Quando isso havia acontecido? Eu dormi pensando nele. Reparo que
estou no meio da cama, o que significa que, ou ele me arrastou até aqui (o
que é improvável porque eu acordaria), ou que eu procurei por ele a noite!
Céus! Eu dormi com ele! Sinto meu rosto esquentar, não quero me
mexer, para não ficar esbarrando na ereção dele, mas ele está com os braços
apertados em volta do meu corpo. Não tenho saída. Tento sair do braço dele
sem acordá-lo, mas enquanto rebolo para me soltar, ele sussurra:
― Continua fazendo isso e eu vou gozar aqui mesmo.
Dou um tapa no peito dele e puxo os seus braços, beliscando até ele me
soltar. Não importa se fui eu que procurei pelo corpo dele a noite, ele é um
abusado!
Preparamos tudo para a reunião com Adrian. Sebastian não falou nada
comigo sobre eu ter procurado por ele a noite, e ele é do tipo que tiraria
uma com a minha cara por causa disso, não é?
Será que havia sido ele mesmo que havia me agarrado? Entramos no
elevador e reparo a camisa social azul toda amassada. Quando ele se vira,
tem um queimado no formato perfeito de um ferro atrás. Tento segurar a
risada, mas não consigo. Ele me olha e tenho que explicar:
― Acho melhor você colocar o terno.
Ele olha pelo espelho e solta um palavrão ao avistar a marca.
― Você me paga por isso!
Capítulo 06
Sebastian
O perfume da maldita Morelli está confundindo meus pensamentos
no elevador. Vou deixar uma coisa bem clara: eu quero muito transar com
essa mulher, e se ela der qualquer pista de que também quer isso, eu vou
com tudo.
Mas não vou tentar seduzi-la. Eu poderia tê-la facilmente se me esforçar
um pouco mais: uns presentinhos aqui, umas palavras românticas ali e ela
estaria na minha! Ainda mais no estado frágil pós-rompimento em que ela
se encontra. Só não vou fazer isso, porque ela já sofreu bastante, eu não sou
o homem que vai pedi-la em casamento e ser fiel.
Ela não precisa de mais um idiota que não consegue frear o pau, na sua
vida. Por isso, tenho que me contentar em admirá-la, porque cara, ela é
gostosa! E gosto de falar besteiras com ela só para irritá-la. Porque
ironicamente, quando ela está mais irritada, é quando fica mais bem
humorada! Com aquelas respostas sarcásticas e todo seu atrevimento...
Um homem, como o Luciano, por exemplo, daria tudo para tê-la em
casa. E esse é mais um motivo pelo qual ela não vai de maneira nenhuma
sair com ele. Eu não permitirei que ela seja seu próximo troféu, como era a
primeira esposa dele.
Luciano e eu já saímos juntos algumas vezes, e sei que ele gosta de
mulheres atrevidas e indomáveis, como a Celina, mas ele saía comigo
enquanto era casado. E se eu não vou trepar com ela para não colocar outro
infiel na vida dela, não permitirei que Luciano faça isso! Tenho que rir de
mim mesmo; eu, o bom cara, deixando de ter relações sexuais com uma
mulher gostosa e ainda impedindo que outro imbecil o faça, para protegê-la.
O mundo deve mesmo estar acabando.
Ela está o mais longe possível de mim no elevador, e cada vez que olha
para mim, cora. Isso se deve ao fato dela ter me procurado a noite. Imagine
como fiquei surpreso quando a mão dela tocou minha barriga, ela nem
precisou insistir, eu rapidamente passei meus braços em volta dela e dormi
com ela assim. E foi a primeira vez na minha vida que eu dormi com uma
mulher gostosa sem trepar.
Estranhamente, estou me sentindo bem, dormi como não fazia há dias!
Quando ela me procurou à noite, percebi que ela estava dormindo. Até torci
para que ela fosse sonâmbula... Imagina se ela procura por sexo enquanto
dorme? Eu seria o homem mais sortudo desse planeta!
Ela está mesmo muito calada, preciso ouvir um pouco sua voz:
― Achei que fosse me agradecer depois de ontem. ― falo.
Ela me olha confusa:
― Agradecer pelo que exatamente?
― Por eu ter tê-la abraçado durante a noite. Você sabe, resmungou e veio
para cima de mim como uma menina carente! Eu poderia ter sido mau, e já
que não iria transar com você, te empurrar para o seu lugar ou te acordar.
Mas, eu fui um cara legal! Eu te abracei até que se acalmasse e deixei você
dormir comigo.
Ela parece em choque por um segundo. Depois cora e abaixa a cabeça.
Espero por uma resposta sarcástica dela, ou um pedido de desculpas; de vez
em quando ela é humilde. Mas seus ombros sacodem e ela começa a chorar:
coloca as mãos no rosto e fala com voz de choro:
― Me desculpa! Eu sinto falta de dormir com meu noivo e estava
sonhando com ele. Achei que você fosse ele. ― ela funga ―Eu só queria
sentir o calor dele me envolvendo de novo... Desculpa-me se te perturbei,
vou voltar a dormir na poltrona!
Eu fico em pânico! Não sei lidar com mulheres chorando. Ainda mais
uma que tenha passado por tudo que ela passou, e sendo eu, o insensível
que fui ao tentar zoar com ela! Sinto-me ainda pior.
Coloco a mala no chão e me aproximo sem jeito. O que eu posso fazer?
Lembro que abraçá-la a acalmou da outra vez, então pego suas mãos, que
estão em seu rosto, e as puxo para baixo, de modo que a puxo para mais
perto. Então, falo:
― Me desculpa, Célie! Eu não me importei, não queria magoar você.
Você não teve culpa, não me incomodou, não precisa dormir na poltrona.
Quando olho para o rosto dela, não há nenhuma lágrima. Pelo contrário,
ela está sorrindo.
― Brincadeira! ― diz com toda alegria e me empurra afastando-me ―
Não precisa olhar desse jeito. Tenho certeza que você apreciou muito ao
dormir de conchinha com uma mulher para variar. E eu não ouvi você
reclamando durante a noite. Pelo contrário, você estava bem “felizinho”
com a minha companhia essa manhã.
Eu ainda estou em choque! Sinto vontade de estrangular essa maldita por
me deixar numa situação dessas, mas tenho que dar o braço a torcer. Foi
engraçado.
― Sabe Morelli, quando eu digo que você precisa ter mais senso de
humor, não é disso que eu estou falando.
Ela abre aquele sorriso lindo e algo faz um barulho, parecido com um
grilo. Ela pega o celular da bolsa e olha a tela.
― Achei que você tivesse dito que não ia trazer isso.
Ela fica um tempo olhando a tela e depois joga o celular na bolsa. Pelo
seu semblante, imagino que seja o tal Edmundo. Ele não dá trégua! A
alegria some de seu rosto e percebo que ele ainda mexe com ela. Será que
ainda o ama? Será que ainda o perdoará quando a gente voltar para casa?
De repente me dá uma vontade súbita de ficar mais tempo aqui. Talvez
haja mais investidores para conquistar, mais reuniões. Talvez a filial do Rio
precise de maiores acompanhamentos. Qualquer coisa que a mantenha mais
tempo aqui comigo e longe daquele retardado do ex dela. E por que caralho
eu estou pensando isso? Se ela voltar para casa e voltar para aquele idiota é
problema dela! Deus! Estou ficando louco!
Chegamos ao prédio da V.D.A. e percebo que ela passa de cabeça baixa
e ainda recebe uns cochichos pela cena do dia anterior. Adrian, já chegou e
sequer olha para mim quando saímos do elevador. Vai logo para cima da
Celina, dizendo que ela está linda e tomando sua mão até a sala de reuniões.
Durante a reunião toda, eu tento falar com ele e ele fica dando em cima
dela. Quando eu fico nervoso, ele apenas diz:
― Não precisa ser chato Vaughn, você sabe que vou dar o dinheiro a
você, só me deixe conseguir algo com a belezura aqui!
Maravilha! Um dos investidores eu já consegui! Quero comemorar.
Ainda mais quando Celina dá três foras educados em Adrian, e um quarto
não tão educado.
Ele me chama em um canto antes de sair:
― Difícil essa sua secretária, hein?! Mas quanto mais difícil melhor.
Você já conseguiu pegá-la?
― Eu? Eu não! Ela é minha secretária, nós não...
― Não venha com essa para cima de mim, Sebastian! Nós dois sabemos
que você não resiste a um rabo de saia, ainda mais um tão lindo quanto o
dela. O que rolou entre vocês? Porque se ela for do tipo que está apaixonada
pelo chefe, eu não tenho a mínima chance!
― Não, não rolou nada entre a gente! Se ela não te der uma chance é por
incompetência sua mesmo.
Ele faz uma careta e vai se despedir dela mais uma vez.
Eu estou feliz. Um dos negócios foi garantido bem mais fácil do que
imaginava. Não que Adrian seja inteligente o suficiente... Ele não é mesmo!
Mas, esperava que por ser tão burro, fosse mostrar mais resistência. O fato
de que ele tenha concordado tão rapidamente é excelente, pois deste modo
poderei me concentrar nos outros dois investidores que preciso.
A isca para Luciano já foi lançada, o que me lembra do jantar da Celina
com ele. Quase acaba com meu humor! Durante todo o dia, resolvo me
vingar da Celina por não poder tirar meu terno. Não é sua obrigação passar
minhas roupas, mas ela não morreria se tivesse feito esse pequeno favor. E
olha que eu pedi com educação! Bom, pelo menos a partir da segunda vez.
Fico o dia todo mandado ela para todo lado, ela não fica sequer cinco
minutos sentada na mesa dela. E a cada coisa absurda que eu peço, faço
questão de lembrá-la que faz parte das funções dela, cada vez que me olha
como se não entendesse o porquê eu estou pedindo tal coisa. Só de cafés,
faço-a pegar uns quinze! Tomo um gole e peço outro. Estou vendo a hora
em que ela vai arremessar todos os cafés na minha cabeça, mas está no
horário de trabalho dela, e apesar de ser desbocada e atrevida, é uma boa
funcionária.
Dispenso o motorista na hora de irmos e vou dar uma volta pela orla da
praia com a Celina, para que ela conheça um pouco. Descemos do carro e a
convido para andar pela areia. Espero que ela vá me bater por já ter
andando o dia todo no escritório, mas ela apenas fica surpresa e aceita. Ela
deixa o sapato no carro e tira o casaco, descendo com uma blusa de seda de
“alcinhas” e uma calça social.
Vamos andando pela praia, sem falar nada. Ela também parece feliz por
ter dado certo o primeiro investidor. Avisto uma barraca de água de coco e
paro ali. Pego um coco e dou-lhe o outro. Ela fica me olhando por um
tempo, e parece confusa.
― O que foi Célie?
― Você é tão estranho.
― Obrigado, eu acho.
― Não, eu só acho você diferente. Você toma cerveja, come sanduíches
de rua, bebe água de coco em barracas. E você nem se importou de dividir
seu quarto de hotel com sua secretária. A maioria dos empresários famosos
e ricos como você tem um gosto mais seletivo para as coisas!
― Você quer dizer que a maioria dos ricos que você conhece são frescos.
.
Ela ri.
― Isso. O Matheus mesmo é um merda “dum” fresco, você já viu os
almoços dele?
Tenho que rir, ele é mesmo.
― Mas você não, você parece tão simples.
Dou de ombros e continuo tomando minha água de coco.
― Você sempre foi rico?
― Não. Eu nasci em uma família de classe média, mas quando meu pai
foi embora, as coisas pioraram. Minha mãe costurava para fora e eu vendia
biscoitos na rua para sobrevivermos.
Espero encontrar aquele olhar de pena, o mesmo que a Jamille me deu
quando contei a história a ela, mas Celina parece fascinada.
― Jura? E como foi que ficou tão rico?
― Sendo muito esforçado e inteligente.
Ela faz uma careta.
― E convencido.
― Não, isso veio depois que fiquei rico. Eu conheci o Matheus e o
Cleber na faculdade. Já estava com essa ideia dos hotéis há algum tempo,
mas não tinha capital. Eles tinham, mesmo sendo “frescos”, como você
disse. Eu era mais inteligente e fazia os trabalhos deles. Assim, ficamos
amigos. Quando nos formamos, resolvemos tirar do papel minhas ideias,
eles entraram com o capital, e eu com o trabalho pesado. Por fim, estamos
aqui hoje.
Ela parece admirada.
― E hoje você é chefe, irritante, folgado, rico e pervertido.
― Não, eu já era irritante, folgado e pervertido antes de ser rico.
Acredite, as mulheres já ficavam loucas com o meu pau desde quando eu
tinha quinze anos.
Ela me dá um tapa.
― Não, estávamos conversando numa boa, sem detalhes sórdidos nem
sua imaginação fértil.
Eu dou uma gargalhada.
― Não é imaginação Morelli. Ainda vou provar para você que sou muito
melhor do que imagina.
Ela ri, sai andando e eu a sigo. Não falamos nada por mais um tempo,
mas quando o sol está se pondo, a luz banha os seus cabelos deixando-os
mais negros, e destacando o branco de sua pele. Ele é linda. Permaneço
alguns minutos apenas admirando sua beleza, enquanto ela olha o sol se
pôr.
― É lindo não é? ― pergunta ela.
― Muito, muito linda.
Ela me olha por um tempo, e depois volta a andar.
― E a sua mãe? Deve estar muito orgulhosa de você.
― Ela faleceu quando eu tinha quinze anos. Ainda não tinha vindo para
o Brasil.
Ela para de andar e coloca a mão no meu braço.
― Eu sinto muito.
― Foi há muito tempo. ― respondo, mas faço uma cara de tristeza e ela
passa os braços pela minha cintura. Eu a abraço e finjo suspirar para ficar
mais um tempo ali.
― Sabe, eu acho que você não está triste coisa nenhuma. Só está se
aproveitando de mim!
Eu começo a rir. Ela se afasta e me dá um tapa. E assim caminhamos
mais um pouco, antes dela dizer que não aguenta mais andar. Então,
voltamos para o hotel.
Celina
Ele foi insuportável me dando ordens que faziam parte do meu trabalho o
dia inteiro. Teve uma hora que ele chegou a me pedir um relatório que eu
sabia que não ia precisar, e depois que tive todo o trabalho de deixar
prontinho, quando fui entregar, ele me disse que havia mudado de ideia e
me mandou jogar o relatório no lixo. Idiota!
Mas depois que saímos do escritório, me surpreendeu com aquela
caminhada na praia. E me surpreendeu mais ainda contando um pouco de
sua vida, e isso foi uma merda. Saber que era pobre e que tudo o que
conseguiu foi por mérito dele, o torna aos meus olhos, uma pessoa melhor.
E eu já ando tendo pensamentos demais com Sebastian Vaughn, mesmo ele
sendo cem por cento idiota. Não preciso admirá-lo para piorar tudo!
Assim que chegamos ao quarto, praticamente me jogo no sofá e tiro os
sapatos. Meus pés estão me matando. Ele joga a pasta no sofá ao meu lado.
A reunião havia sido ótima, com os resultados que ele queria, mas ele
parece tenso. Eu não entendo qual motivo ele teria para não estar
comemorando ainda. Será que está com medo por causa de Luciano
Cartariam? Ouvi dizer que ele é terrível, uma raposa velha, como Sebastian
o chama.
Sebastian se joga ao lado da pasta no sofá e ordena:
― Me traz um Martini.
Gemo. Eu terei mesmo que me levantar?
― Agora! ― ordena ele.
Pronto. O chefe admirável foi embora, e o irritante e folgado está de
volta. Quando vou me levantar, vejo no relógio de pulso que já passa das
oito horas da noite. Havíamos feito um trato quando aceitei a viagem, que
estipulava um horário para o término dos meus serviços, a não ser no dia do
tal coquetel. Então me sento de novo e fecho os olhos sorrindo.
Mesmo sem abrir os olhos, eu posso sentir o olhar dele em mim.
― Qual o seu problema? Eu preciso repetir a ordem?
― Não.
Continuo de olhos fechados
― O que você está esperando? Precisa que eu desenhe para você o que
eu quero?
Uau! De onde saiu tanto mau humor? Ele está mais de lua que mulher de
TPM.
― Não. ― respondo.
Ele praticamente grita:
― Então?
― Eu não vou.
― O quê? Não precisa repetir, eu entendi. Quero saber por que você não
vai?
Viro meu pulso para que ele possa ver meu relógio; ele me olha sem
entender:
― São mais de oito horas, meu horário de trabalho é até as sete!
Ele solta um palavrão. Então, quando acho que vai me deixar em paz, ele
joga uma nota de cinquenta em mim.
― Toma. Hora extra. Agora prepara meu drinque.
Eu jogo a nota de volta nele. Por mais que precise de dinheiro, tenho
meu orgulho.
― É mais fácil eu te pagar só para ter o prazer de te ver preparando seu
próprio drinque.
Resmungando, ele se levanta e vai fazer o drinque. Eu me levanto
também e gemo quando meus pés tocam o chão.
― Algum problema? ― ele pergunta e só então reparo que ele está
olhando para mim.
― Nada demais! São meus pés. Vou tomar um banho e me deitar.
― Tome um banho e venha aqui que eu vou fazer uma massagem nos
seus pés.
Olho para ele desconfiada:
― A troco de quê?
Ele dá uma gargalhada.
― Por Deus, mulher! A troco de nada. Eu não vou morrer por fazer uma
massagem no seu pé, deixe de ser desconfiada! Aliás, eu sou muito bom em
massagem.
Faço uma careta.
― Claro que é.
Ele dá um sorriso malicioso.
― Eu sou bom em muitas outras coisas também.
Tomo banho bem devagar, aproveitando a água quente. Não consigo tirar
da cabeça a tarde na praia com Sebastian, nem aquele papo de fazer
massagem em meus pés. Espero que ele esteja brincando.
Quando saio do banho e vou me vestir, tenho um dilema: não esperava
ficar no mesmo quarto que ele quando viajei, então trouxe apenas roupas
confortáveis para dormir, uma camisola transparente, um top, um short
minúsculo e minha calça de ginástica. Nenhuma blusa velha e comprida,
nada decente!
Depois de ficar um bom tempo escolhendo o que posso vestir, decido
não vestir nada. Se ele me pedir para tirar o roupão, e eu não estiver usando
nada, posso dizer que estou só de lingerie e pronto! Faço questão de não
vestir a calcinha preta dele, aff! Enrolo-me no roupão e saio para a sala.
Para a minha surpresa, ele arredou a poltrona colocando-a de frente para
o sofá e tem um pote de alguma coisa em suas mãos.
― Sente-se Célie, e relaxe.
Ainda desconfiada eu me sento o mais cuidadosamente possível para ele
não ver nada, mas meu roupão abre e ele arregala os olhos.
― O que você está usando por baixo desse roupão?
Sinto-me corar:
― O normal. Calcinha, sutiã.
― E?
― Mais nada.
Ele abre um sorriso malicioso e respira fundo.
― Ah Célie, como eu vou dormir depois de saber que você está quase
nua por baixo desse roupão?
― Muito bem, eu imagino.
Ele sorri e senta na poltrona de frente para mim. Pega meu pé e passa
algo gelado nele, então reparo que o pote que está em suas mãos é algum
hidratante. Fecho os olhos enquanto ele faz a mágica nos meus pés, e como
ele é bom nisso! Suas mãos ágeis passam por todo meu pé e me
sinto relaxar como há muito não fazia. Acabo gemendo, e ele para quando
faço isso.
― Me desculpe.
― Tudo bem, pode gemer à vontade. Eu gosto de ouvir você.
Coro mais ainda e volto a fechar os olhos. Logo, as mãos dele passam
para o meu tornozelo, e ele começa a massagear minha perna. Como ele é
bom com as mãos! Isso faz passar pela minha cabeça várias imagens dele
usando aquelas mãos em outros lugares, mas me repreendo no mesmo
momento em que penso nisso. Ele deixa meus pés e se levanta. Abro os
olhos resmungado:
― Calma, vou só ligar o som.
Ele coloca uma música lenta para tocar e eu desconfio.
― Para que a música?
― Para te ajudar a relaxar.
― Você não está tentando me seduzir, não é?
― Por que? Estou conseguindo?
Eu preparo para me levantar, mas ele me empurra gentilmente de volta
ao sofá.
― Relaxa Morelli, não estou tentado te seduzir. Se eu a quisesse, não
precisaria fazer isso. Eu a teria e pronto!
Faço uma careta e volto a fechar os olhos. Logo, as mãos mágicas dele
estão de novo nos meus pés, e nas minhas pernas. Deixo-me levar pela
música e pelo toque dele. Ele vai subindo o toque até tocar minha coxa, e
quando ele faz isso, sinto meu corpo todo acender e algo pulsar no meio das
minhas pernas. Gemo de novo. Percebo que ele também geme e abro meus
olhos. Meu roupão está aberto nas pernas e ele está com as mãos na minha
coxa e o rosto bem próximo do meu centro. Eu me assusto e me levanto.
Ele ainda respira fundo antes de se levantar também.
― Você não relaxa mesmo, hein!
― Você disse que ia massagear meus pés, não minhas coxas!
― Achei que você estava com o corpo todo muito tenso.
Percebo ele balançar o pescoço de um lado para o outro. Penso em
oferecer uma massagem, mas mudo de ideia. Ele aperta os ombros e penso
de novo na massagem, afinal ele foi legal ao fazer massagem em mim. Ele
se senta na poltrona e continua balançado o pescoço de um lado para o
outro. Quando ouço um estalo e ele geme, me decido. Vou para trás da
poltrona e começo a massagear os ombros dele.
Assim que o toco ele se assusta, mas olha para mim e abaixa de novo a
cabeça, deixando que eu o massageie. A camisa social fica escorregando na
minha mão, fico sem graça de ter que pedir isso, mas não tem outro jeito:
― Preciso que tire sua roupa.
Ele arregala os olhos com um sorriso malicioso:
― Tiro tudo o que você quiser, Morelli!
― Só a camisa! Está atrapalhando a massagem.
Ainda sorrindo ele tira a camisa, abrindo botão por botão lentamente e
olhando nos meus olhos. Percebo que já estou arfando e quase perco o
fôlego; volto a mim e olho para outro lado. Ele ri. Quando termina, se senta
de novo e me chama.
― Pronto Morelli. Se quiser que eu tire mais alguma coisa é só falar. A
propósito, você está sexy pra caralho com essa lingerie vermelha!
Finjo não ter escutado o comentário e continuo a massagem. Mas, assim
que meus dedos tocam a pele nua dele, sinto um choque percorrer meu
corpo e outro pulsar no meio das minhas pernas. Céus! Se ele quisesse me
seduzir, conseguiria facilmente. Mesmo sem tentar fazer isso eu já estou
ficando louca! Ainda bem que ele disse que não quer nada comigo.
Mas por que ele não quer nada comigo? Se ele pega a Lurdinha e a
Mônica, por que não eu? O que tem de errado comigo? Começo a ficar com
raiva da rejeição dele e aperto demais seu ombro, ele grita e segura a minha
mão.
― Relaxa, Célie! Está tentando se vingar de mim por ter feito você
andar tanto hoje?
― Não, me desculpa, vou fazer mais devagar.
― Fazer devagar é o segredo Célie.
Me sinto corar e continuo a massagem. Mas cada vez que ele se mexe,
ou emite qualquer som, eu sinto aquela pulsação no meio das pernas. O
ombro dele está quente sob meu toque e de repente me vejo abaixando a
mão e descendo por seus braços. Ele fica tenso, mas num movimento, me
puxa pelo braço e me joga no sofá.
Meu roupão abre e ele já está em cima de mim, beijando meu pescoço,
me deixando louca. Ele dá mordidas no meu pescoço e chupa o lóbulo da
minha orelha. Eu sou toda sensações e pulsações nesse momento. Ele vai
abaixando os beijos até meus seios, e os rodeia com a língua. Eu não
aguento mais, preciso tê-lo em mim. Ele sobe me beijando e beija meu
queixo. Quando olha em meus olhos para de beijar minha boca, eu me toco
do que estou fazendo. É apenas um segundo de lucidez, mas nesse segundo
eu o empurro e me sento arfando.
― Meu Deus! Desculpa-me. Eu não devia ter tocado você, desculpa. ―
começo a me desesperar.
― Relaxa Célie! Está tudo bem. Não aconteceu nada. ― ele parece
nervoso ― Eu vou tomar um banho. ―ele fala e sai. Logo depois, bate a
porta do banheiro.
Quando vou para o quarto, não quero me deitar na cama. A tensão sexual
entre nós não está só na minha cabeça, ela existe. E se eu dormir com ele
acabaremos transando, eu não sou de ferro, afinal de contas! Fico em pé ali
analisando a cama, decidindo o que fazer, quando ele aparece atrás de mim,
sem camisa, com o corpo molhado e eu quase o agarro ali mesmo.
― Não se preocupe. Eu não vou dormir com você. ― diz ele.
― E onde vou dormir?
― Na cama.
― Mas e você?
― Eu durmo no sofá.
― Não, eu não posso permitir isso. É seu quarto, sua cama. Você dorme
na cama, eu vou para o sofá!
Ele bufa e se aproxima de mim. Então pega minhas mãos.
― Célie, eu não posso dormir perto de você porque não vou parar da
próxima vez que tocar em você. Então, para o seu bem é melhor que eu
durma longe. Eu nunca permitiria que você dormisse no sofá enquanto eu
durmo na cama. Então, ou eu durmo no sofá e você na cama, ou nós dois
dormimos na cama e aí transaremos a noite inteira. O que você prefere?
Minha cabeça dá um nó. O que eu prefiro? Prefiro mil vezes transar a
noite inteira. Transar agora! Mas a razão ainda está ali. Eu abaixo a cabeça
e agradeço pelo sacrifício dele. Ele parece desapontado, mas pega suas
coisas e sai do quarto.
Sebastian
Levanto-me cedo e vou ao quarto pegar uma roupa. Celina está
dormindo, metade do corpo descoberto. Então posso admirar aquelas pernas
deliciosas e um pedaço de seu sutiã vermelho; aquela lingerie vermelha
destaca a brancura da sua pele e até seus olhos de gata, deixando-a ainda
mais linda.
Eu sei que disse que não transaria com essa mulher, sei que ela merece
coisa melhor do que eu, mas mesmo não tentando seduzi-la, ela me deseja,
e isso é demais para mim. Se eu conseguir chegar tão perto do corpo seminu
dela de novo, não pararei.
A quem estou querendo enganar? Eu quero essa mulher. Quero transar
com ela e fazê-la ter todos os orgasmos que deveria ter tido a vida toda. E
quero fazê-la rir mais vezes, quero que ela perca toda essa pressão que
parece carregar e seja apenas a Celina atrevida e desbocada que ela é.
Quero que ela nem pense mais nesse ex idiota, mas só em mim!
Merda! O que está acontecendo comigo? Eu não posso desejar tanto uma
mulher que eu sequer cheguei a beijar. Pelo contrário! Uma mulher que me
detesta, que me irrita como ninguém mais, que me provoca como ninguém
também. Eu preciso transar com ela, é isso. Eu a desejo desde o dia que ela
derrubou café em mim, desde quando a vi sem camisa pela primeira vez.
Desde aquele dia ando com essa tensão sexual, e nem transando com a
Lurdinha isso dissipou, porque não é a Lurdinha que eu quero, é a Celina. E
isso só vai passar quando eu estiver dentro dela!
Eu queria ser um homem bom e protegê-la de caras como eu, mas não
sou. Sou um homem que pensa com a cabeça de baixo, e nesse momento, a
única coisa que eu quero é ter Celina Morelli gemendo nos meus braços.
Está decidido, antes de irmos embora, quando não a verei mais, eu vou
transar com ela! Ao menos uma vez. Uma vez e eu tenho certeza que essa
obsessão toda vai acabar.
Volto a mim, pego uma roupa tentando não fazer barulho e saio. Nós não
temos nenhum compromisso durante o dia, apenas um jantar com o Dante,
o terceiro investidor.
Vou dar uma volta pela cidade, há muito tempo que não venho aqui.
Entro em um shopping, tomo meu café, e depois começo a andar entre as
lojas. Passando por uma loja de roupas femininas, avisto um vestido no
manequim que chama minha atenção. É um vestido vermelho escuro, justo,
não muito curto, mas com uma abertura na lateral e com um decote enorme.
É um vestido perfeito para a Celina. Ela ficaria deslumbrante com esse
vestido. Eu posso imaginá-la nele tanto quanto posso me imaginar tirando-o
dela depois. Sem pensar duas vezes, entro na loja e compro-o para ela.
Ainda não estou pronto para voltar ao hotel e encará-la; o desejo ainda
está em mim só de pensar nela. Passo numa concessionária para olhar novos
modelos. Talvez troque um dos meus carros. Dou mais algumas voltas e
almoço num restaurante. Quando a tarde está indo embora, não tenho mais
nada para fazer. Não tenho saída, a não ser voltar.
Chegando à entrada do Hotel, avisto aquele cabelo negro balançando
com o vento de fim de tarde. Olho para uma Celina que eu nunca havia
visto, com um sorriso enorme no rosto, sem aquele peso que ela geralmente
carrega. Como eu quero que ela seja sempre assim comigo. Mas, ela está
sendo a minha Celina para outro homem, pois atrás dela está Luciano
Cartariam.
Ela parece sem graça quando me aproximo e me cumprimenta com um
leve aceno de cabeça.
― Você dormiu bem? ― pergunto a Celina para irritar Luciano, o que
funciona bem pela careta que ele faz.
― Sim, e você?
― Poderia ter dormido melhor, você sabe.
Ela cora e desvia o olhar. Logo Luciano me cumprimenta e diz que vai
levar Celina para dar uma volta. Eu a lembro do jantar que teremos, mas ela
diz que só vai tomar um drinque e já volta.
Eu não estou feliz em deixá-la sozinha com ele, mas pelo menos eles não
terão muito tempo juntos. Até ele convencer essa cabeça dura a ir para a
cama com ele, a hora deles já terá passado. Assim eu espero!
Capítulo 07
Celina
Ao chegar a um bar próximo ao hotel somos colocados numa mesa
com vista para o mar. A brisa do mar me atinge e eu posso respirar esse
cheiro delicioso; me passa pela cabeça que se eu tivesse me casado com o
Edmundo, poderia talvez ter uma casa na praia.
Logo, afasto esses pensamentos, prefiro continuar morando no meu
apartamento minúsculo a ser enganada a vida toda! Volto a mim com
Luciano chamando minha atenção. E aqui estou eu, tentando ser de novo a
antiga eu, a que eu era antes de me relacionar com o Edmundo. E a antiga
eu agarraria esse Luciano em dois tempos.
Ele é muito bonito, charmoso, mais velho, atencioso, tudo que uma
mulher pode querer. Então porque em vez de prestar atenção na conversa
dele eu estou pensando no Sebastian? Mal dormi durante a noite, sentindo
falta dele na cama, e o pouco que consegui cochilar, sonhei com ele. Está
me deixando louca! Louca de desejo por ele, e louca por desejá-lo.
Luciano chama minha atenção novamente e me sinto corar por estar tão
distraída diante desse homem lindo:
― Me desculpa.
― Tudo bem, espero que sua cabecinha não esteja no trabalho.
Conhecendo o Vaughn como eu o conheço, ele deve deixar você louca!
Engasgo na hora com o Martini que estou tomando.
― Como?
― Ele deve te deixar louca, deve dar ordens, gritar o tempo todo e ser
bem mal humorado. Que eu me lembre ele é assim.
Respiro aliviada ao constatar que eu não havia pensando em voz alta
como costumo fazer. Ele se refere a outro tipo de loucura. E na verdade,
tirando o dia em que Sebastian fez isso para se vingar, ele até que está
sendo bonzinho comigo. Ceder sua cama, por exemplo, foi um gesto de
cavalheirismo que nunca esperaria dele!
― Até que ele não é tão mau assim.
Luciano me olha por um tempo, antes de voltar a falar.
― Então, você é comprometida?
Como uma adolescente envergonhada, faço que não com a cabeça. Na
mesma hora me repreendo. Celina sua burra! Por que não pode falar como
uma pessoa normal? Faz tanto tempo que eu não paquero desse jeito, que
não sei mais como fazer.
― E sendo você tão linda e solteira, o Sebastian não dá em cima de
você?
Engasgo pela segunda vez na noite.
― Não! Claro que não! Sou apenas uma secretária.
Ele sorri.
― Não posso imaginar isso. Pelo que conheço do Sebastian ele não
resiste a uma mulher bonita, e você é muito bonita.
― Obrigada.
Ele segura minha mão por cima da mesa e a leva aos lábios.
― Pensei que talvez pudéssemos estender essa noite, só você e eu.
Darmos uma volta pela praia, o que acha?
― Infelizmente não vou poder. O Sebastian tem um jantar de negócios e
preciso acompanhá-lo. Fica para outro dia.
Ele parece decepcionado:
― Mas nosso jantar ainda está de pé, não está?
― Claro! ― falo e vou me levantando para me arrumar para o tal jantar.
Luciano vem se despedir de mim e acreditem, ele tenta me beijar. Eu
desvio o rosto bem a tempo, mas ele beija o canto da minha boca. Eu saio
sem graça, mas volto a mim quando entro no elevador e finalmente fico
sozinha.
O que eu estou fazendo? Por que não deixei que ele me beijasse? Eu
estou mesmo precisando ser beijada. Quem sabe assim não paro de pensar
nos lábios do Estúpido Vaughn na noite anterior? Penso em ligar para
Luciano do elevador, mas o que poderia dizer? “Oi Luciano, é que eu estou
precisando de uns beijos e acho que pode ser você!”. Não, eu tinha que ter
cortado o clima?! Como sou burra!
Quando entro no quarto, Sebastian está andando de um lado para o outro.
Ao me ver, se aproxima de mim como um louco e me puxa pelo pulso,
praticamente me jogando no sofá:
― Isso é hora de dar passeios Morelli? Não sabe que temos um jantar
importante hoje?
Olho no relógio e vejo que ainda tenho tempo.
― Acho que cheguei a tempo, então não sei por que está agindo assim.
Ele fica mais nervoso ainda.
― Por que estou agindo assim? Deve ser porque tive uma noite de
merda nesse sofá duro!
― Eu não mandei você sair da sua cama!
Se tem uma coisa que me irrita é alguém fazer algo por mim e depois
ficar jogando na minha cara. Bem que eu deveria ter desconfiado da
bondade desse ser imbecil, tinha que dar nisso.
― Você praticamente mandou! Afinal de contas, você me seduziu e
depois se fez de santa.
Tenho que rir. Na verdade, começo a gargalhar. Imagina! Eu, uma
mulher nada sexy e sem experiência alguma em sedução, seduzindo um
pervertido como Sebastian Vaughn? Ele parece surpreso com a minha
reação, mas logo está rindo também.
Ele se joga ao meu lado no sofá:
― Eu disse para você ficar longe do Luciano. Ele vai usar você!
― Talvez eu o use primeiro.
― Você não pode com ele, Célie! Ele te possuiria e acabaria com você
antes de você entender o que está acontecendo. E não estou dizendo que
você é burra, mas ele é muito esperto, e é acostumado a usar mulheres
bonitas!
― Então vocês têm algo em comum!
― Touché! Mas eu não estou tentando seduzir você.
Eu nem respondo. Ele não está mesmo tentado me seduzir, mas eu me
sinto totalmente seduzida por ele. Escolho essa hora para olhar a poltrona,
ainda de frente para o sofá e lembro-me da cena da noite anterior. Meu
corpo todo arrepia, mas Sebastian me tira de meus devaneios:
― Como vocês se encontraram hoje?
― Ele me ligou.
― Então ele simplesmente te chama e você sai para dar uns beijos nele?
― Ele não me ligou e disse para sairmos e dar uns beijos. Ele disse:
“vamos sair para conversar” ...
― É o que os homens dizem quando querem comer uma mulher!
― E o que eles dizem quando querem realmente conversar?
― Homens nunca querem realmente conversar.
Eu jogo uma almofada nele.
― Fale por você, que é um pervertido.
― Devo lembrá-la que tenho muito em comum com o Luciano.
Faço uma careta para ele e vou tomar meu banho. Passei a tarde toda,
antes de sair com Luciano, escolhendo um vestido para essa noite, e foi
então que percebi que não tinha roupa para ir a um jantar como aquele.
Como o tal Dante, o terceiro investidor é casado, eu acho que Sebastian
não precisará que eu o distraia como aconteceu com o Adrian e o Luciano.
Então separei um terno cinza sem graça e uma saia preta mais sem graça
ainda.
Vou me trocar no quarto para que Sebastian possa usar o banheiro, e
quase caio para trás quando abro a porta. Ali, em cima da cama, está um
dos vestidos mais lindos que já vi na vida! O vestido vermelho, justo,
elegante e com certeza caríssimo. Parece ter sido feito para mim. Fico um
tempo apenas admirando-o, até Sebastian aparecer atrás de mim:
― É para você usar hoje à noite.
― Você pediu a alguém do hotel para arrumar um vestido para mim?
Ele parece sem graça:
― Não, eu vi esse vestido e me lembrei de você. Então resolvi comprá-
lo.
Espera! Eu estou mesmo ouvindo isso? Sebastian Vaughn comprou um
vestido lindo para mim? A troco de nada? Algo está muito errado! Ele deve
ter percebido meu assombro, porque se apressa em explicar:
― Eu imaginei que não tivesse nenhuma roupa decente para o jantar de
hoje, então preferi te dar esse vestido a passar vergonha com você!
Pronto! Todo o encanto pelo gesto dele acaba aqui. Ele é mesmo um
imbecil. Mostro o dedo do meio para ele, que abre um sorriso e sai falando:
― Esteja linda quando eu sair do banho, Célie. Eu não saio
acompanhado por mulheres feias!
Sebastian
Nem preciso dizer o que senti quando a vi com aquele vestido
vermelho minúsculo. Ela está simplesmente deliciosa. Por um momento,
penso em jogá-la na cama e tirar aquele vestido com os dentes, mas me
contenho e vamos para o jantar. No elevador, com o perfume dela
enchendo o ar, já começo a provocá-la:
― Então, que calcinha está usando hoje?
Ao invés de soltar um xingamento, ou fazer uma careta, ela sorri. Merda!
Se ela deixar de ser uma fera comigo e me deixar se aproximar, eu a terei.
Eu já mal tenho controle sobre mim mesmo perto dela, com ela facilitando
as coisas, então! Não sairemos desse elevador vestidos!
― Você está me perguntando? E eu que achava que pelo seu grau de
perversão, pudesse adivinhar a cor da lingerie de uma mulher!
Tenho que rir; ela está me provocando. Eu nunca tinha visto esse lado
dela, mas estou cada vez mais tentado em tirar a roupa dela aqui mesmo.
― Você está usando uma lingerie branca.
Ela me olha espantada e eu seguro o riso. Foi um chute, mas pelo visto
eu acertei. Logo, seu espanto some e ela continua como se eu não tivesse
perguntado nada.
― Então? Acertei?
Ela dá de ombros e mantém sua cara de paisagem.
― Aí é que está a graça da coisa! Você nunca vai saber. ― ela diz e sai
do elevador.
Maldita! Antes da noite terminar eu vou descobrir a cor da lingerie dessa
maldita! Com toda certeza do mundo.
O clima no carro não podia estar mais quente, quando ela se senta ao
meu lado. Seu vestido sobe, revelando suas coxas grossas, e eu quero tocá-
las. Fico batucando com a mão no volante para me controlar.
Eu tenho uma decisão na mão: posso agir com a razão e não transar com
a Celina, assim não corro risco algum de magoá-la, só ficando ferrado o
resto da viagem cada vez que a vir, tendo que dormir naquele sofá duro por
mais uma semana e meia (mas, isso será um preço pequeno a pagar pela paz
de espírito dela), ou eu posso mandar tudo para o inferno e transar de uma
vez com essa mulher. Posso acabar com todo esse tesão reprimido e dar o
primeiro e melhor orgasmo da vida dela!
Talvez ela me agradeça depois e nem se importe quando a gente voltar
para casa e eu não ligar para ela. Talvez ela prefira gozar uma vez na vida, e
ter o coração partido depois, do que não se arriscar e nunca conhecer as
maravilhas de um bom sexo. Não, eu não posso fazer isso! Dou um soco no
volante, o que a assusta e tento me controlar até chegarmos ao restaurante.
A viagem até o restaurante parece durar uma eternidade. Quando paro o
carro, entrego a chave ao manobrista, abro a porta para a Celina e a ajudo a
descer. Ela me olha espantada, pois não sou de gentilezas e não tenho
paciência com isso. Mas não sei o que deu em mim, quis abrir a porta para
ela.
Eu finjo que não foi nada demais e a conduzo para dentro do restaurante.
Avisto Dante e a esposa assim que entro. Vou até ele e apresento Celina;
como sempre, ela corrige quando a chamo de Célie, e começamos a
conversa.
Dante não está realmente interessado em investir em um hotel
internacional. Argumento com ele sobre os possíveis lucros e defendo
minha causa. Insisto mesmo sabendo que estou sendo chato, mas ele parece
decidido a não investir. Mas eu não sou o tipo de homem que desiste
facilmente. Olho para o lado e vejo que Celina conversa animadamente com
Mirella, a esposa de Dante. Meus olhos se demoram nela por um instante a
mais e Dante já coloca um sorriso no rosto.
― Você sempre teve um ótimo gosto para mulheres, Vaughn.
― Ela é minha secretária.
― Sei. E você não está transando com ela?
― Por incrível que pareça, não.
Ele não parece convencido. Então, escuto um barulho da bolsa da Celina
e ela pede licença para atender o celular. Converso um pouco com Mirella,
talvez se convencê-la, possa convencer Dante. Todos sabem que ele faz
tudo o que a mulher quer. Pouco depois, Celina retorna pálida e se senta
quieta à mesa. Mirella também percebe que há algo errado, pois a chama
para irem ao toalete e as duas somem lá por uns trinta minutos. Dante fica
me falando de suas últimas férias e dos filhos, mas eu estou com a cabeça
naquela porta do banheiro que não abre, no quanto elas estão demorando e
na expressão de Celina antes de sair. Alguma coisa está errada: será foi o
ex que ligou para ela? O que será que ele disse para deixá-la daquele jeito?
Depois de um tempo as duas voltam. Celina está com os olhos
vermelhos e sorri. Ela havia chorado. Noto a mudança em Mirella assim
que elas se sentam. Ela começa a perguntar pelo investimento e argumentar
com o marido que ele deve investir. Olho para Celina que pisca para mim.
Ela fez alguma coisa, e convenceu a mulher do Dante a investir na V.D.A.
Finalmente o jantar acaba com a promessa de Dante, que analisará minha
proposta e me responderá no coquetel, mas Mirella garante que ele vai
investir. Prendo Celina no restaurante por um tempo, até os dois sumirem
de vista.
Quando eles saem, parto para cima dela:
― O que você fez?
Ela dá de ombros, como se não soubesse do que eu estou falando.
― Não se faça de boba Morelli. A Mirella nem estava prestando atenção
na conversa sobre os investimentos! De repente vocês duas somem e
quando ela volta, está toda interessada no negócio e querendo investir.
Um garçom se aproxima e Celina pede uma bebida.
― Não fiz nada. Ela só ficou tocada com minha situação e resolveu me
ajudar.
― Que situação?
― Você sabe, sou uma mulher sozinha, quase desempregada e que
acabou de ser traída. Quando contei a ela uma parte da minha história, ela
ficou com tanta pena que estava disposta a tudo para me ajudar. Eu disse a
ela que meu emprego dependia dos negócios que você fecharia aqui, então
ela me disse que o marido iria investir!
Ela é incrível! Muito mais esperta do que teria imaginado. O garçom
chega com nossos drinques e Celina vira o copo dela e pede outro.
― Parabéns Morelli! Você está me saindo uma excelente executiva.
― Eu deveria ter tentado essa área em vez de me tornar uma secretária e
me contentar em ser esposa de um homem rico.
― Você seria muito perigosa, com certeza.
Ela sorri e vira o segundo copo. Logo, seu rosto está vermelho.
― Então, o que aconteceu quando seu celular tocou? Você saiu para
atender e voltou assustada. O que foi?
― Nada demais. Era só a Gil com notícias que eu já esperava...
― Que tipo de notícias?
― Notícias do tipo, dívidas!
― Você tem muitas dívidas?
Ela assente.
― Então você é uma dessas descontroladas que sai comprando tudo com
o cartão de crédito e agora deve o banco?
Ela sorri.
― Não mesmo! Eu sou uma dessas iludidas que achou que fosse se
casar. Que comprou um enxoval caríssimo, pegou o noivo comendo outra e
agora não sabe como vai fazer para pagar tudo!
Isso me pega de surpresa! A Celina normal jamais revelaria isso para
mim, mas ela está mais solta por causa da bebida. É por isso que ela precisa
tanto do emprego: tem dívidas do casamento.
― Por que não faz o imbecil do seu ex pagar tudo?
Ela nega rapidamente com a cabeça.
― Tenho meu orgulho. Só passo por cima dele para aturar você!
Eu sorrio.
― Qual é Morelli? Eu nem sou tão difícil assim!
― Você é quase impossível.
Ela volta a beber e parece triste.
― A sua dívida é muito grande? Ou vai dar para você pagar tudo com o
salário que vou te pagar?
― Digamos que o salário que vou receber por essa viagem vai quitar
quase metade da dívida.
― E como você vai fazer para pagar o resto?
― Você não quer mesmo que eu encontre a solução mágica para os meus
problemas, bêbada, não é?!
― Eu posso dar para você o dinheiro.
Ela engasga.
― Dinheiro não é problema para mim, Morelli! Eu posso te dar. E só
me falar de quanto precisa.
― Não, obrigada! Eu nunca aceitaria dinheiro seu.
― Então eu vou dobrar seu salário.
― Claro que não. Nós já temos um contrato.
― Que pode ser alterado... Talvez eu queira te pagar hora extra!
― Não, não precisa fazer isso! Na verdade, eu não aceitaria se você
fizesse isso. Não quero seu dinheiro.
― Por que você tem que ser tão teimosa? Eu só quero te ajudar.
Ela pega minha mão e aperta.
― Eu sei, e agradeço, mas não posso aceitar seu dinheiro! Quando
voltarmos, vou arrumar outro emprego e vou dar um jeito em tudo.
Eu não fico satisfeito. Quero realmente ajudá-la. Talvez seja por isso que
ela anda tão mal humorada e tensa; está endividada por causa de um
casamento que nem acontecerá.
Eu não me importo em dar o dinheiro a ela, na verdade, eu quero fazer
isso! Mas, sei que ela é orgulhosa demais para aceitar e isso me faz admirá-
la ainda mais. Qualquer outra mulher no seu lugar aproveitaria a chance de
estar sozinha com um mulherengo rico para quitar suas dívidas, mas ela tem
caráter. É muito diferente da Jamille! Muito diferente de qualquer mulher
que eu tenha conhecido.
Quando estamos saindo do restaurante, ela tropeça e eu a seguro. Ela
passa os braços pelo meu pescoço e fica um tempo assim.
― O quão tonta você está?
Ela sorri e se afasta.
― Não estou tonta, então, não se anime!
Eu sorrio e entramos no carro. Quando ela sorri para mim, a decisão é
tomada. Eu não tenho outra saída, sei exatamente o que fazer com o que
sinto por Celina Morelli.
Celina
O jantar foi bem melhor do que eu havia imaginado. Mirella é uma
figura: uma mulher rica e mimada que manda no marido, mas que tem um
coração enorme e gosta de ajudar, como pude constatar.
Quando a Gil me ligou e disse que a loja havia recolhido minhas coisas
de cozinha e que o sex shop me ligara oito vezes porque meu cheque tinha
voltado, tive vontade de chorar. Como a vida de uma pessoa pode virar de
pernas para o ar em tão pouco tempo? Se me dissessem há duas semanas,
que hoje eu estaria aqui, em uma viagem com Sebastian Vaughn, eu teria
cuspido na pessoa e mandado ela para aquele lugar.
Mas aqui estou eu, viajando com um imbecil que é tão idiota quanto
sexy, e confusa em relação à atração que ele exerce sobre mim. Com um
homem lindo dando em cima de mim, mas sem coragem de me entregar a
ele, e com um milhão de dívidas para pagar. Essa é minha vida agora e não
tenho nenhuma expectativa do que está por vir. Não tenho mais um
casamento no fim de semana para pensar, não tenho uma casa para mobiliar,
não tenho empregados para contratar, nem lua de mel para planejar.
É tão estranho ser apenas eu, sem plano nenhum, sem nada depois dessa
viagem. O que eu vou fazer quando voltar para casa? Arrumar um novo
emprego de secretária, ser assediada por outro chefe, ter que andar
fantasiada de novo e tentar pagar minhas dívidas?
Talvez eu possa revender minhas fantasias! Não precisarei mais delas e
não vou usá-las mesmo! Sim, talvez eu faça isso e consiga pagar uma parte
do sex shop vendendo-as. Eu até tentei devolvê-las, mas a loja não aceita de
volta fantasias, mesmo que eu nunca as tenha usado, mesmo que só para
tirar fotos. E isso me faz ser ainda mais patética!
Alguém puxa meu cabelo e só então volto a mim. Estou no elevador com
o Imbecil Delicioso Vaughn olhando para mim:
― Um real pelos seus pensamentos. ― ele diz.
― Só estava pensando se posso revender minhas fantasias.
― Que fantasias?
Eu disse isso em voz alta? Sinto-me corar e tento desconversar:
― Nada, só estava pensando alto, deixa para lá!
― Começou agora termina Morelli. De quais fantasias está falando?
― Fantasias! Você sabe que eu comprei para... ― olho para ele
embaraçada e ele está sorrindo. Claro que ele sabe de quais fantasias estou
me referindo ―Você sabe, que eu comprei para a lua de mel.
― Isso sim é surpreendente, nunca pensaria que você fosse uma menina
travessa na cama.
Sem querer, solto uma gargalhada. Como se uma mulher pudesse ser
travessa com o “Edmundo pinto pequeno” e sem imaginação nenhuma!
Sebastian solta uma gargalhada e percebo que falei aquilo em voz alta.
― Sebastian, eu bebi. Não me faça falar nada, por favor! Me deixa
quieta.
Ele continua rindo enquanto desço do elevador e me atrapalho com a
chave. Deixo-a cair e me abaixo para pegá-la. Não, eu não me abaixo como
uma moça faria, eu abaixo mesmo, deixando minha bunda à mostra para
Sebastian, que está atrás de mim. E só quando sinto um ventinho gelado na
bunda percebo que estou fazendo isso, então me levanto rapidamente e nem
consigo pegar a chave.
Sebastian me olha com uma intensidade que me assusta, se aproxima e
pega a chave, destranca a porta e espera que eu entre.
Eu praticamente me jogo no sofá:
― Então, você já está com dor de cabeça?
Faço que não com a cabeça.
― E você está consciente?
― O suficiente. ― respondo.
Ele ri e se senta ao meu lado. Eu olho para ele, para aqueles olhos
verdes, aquele cabelo desgrenhado, aquele sorriso convencido e sem
perceber, pulo em cima dele. Isso mesmo minha gente, pasmem! Eu, uma
garota reservada e contida, que bebeu uns três copos de uma bebida forte,
está se jogando em cima do pervertido do chefe. Pior, quando fui beijá-lo
ele me afastou.
Claro que fico com a cara mais vermelha que um tomate, procuro um
buraco para enfiar minha cabeça para sempre, mas não acho. Está certo, às
vezes, os micos que eu pago são por culpa minha mesmo. Tento sair do colo
dele, mas ele me segura e sussurra em meu ouvido:
― Vá tomar um banho, Celina! Preciso ter certeza que sabe exatamente
o que está fazendo antes de dar o próximo passo.
Pronto! Já estou totalmente bêbada de novo! Eu me levanto e vou para o
banheiro. Tomo um banho gelado, que acaba de me despertar. O que foi que
eu fiz? Eu tentei agarrar Sebastian Vaughn, e agora ele está lá fora,
esperando eu sair do banho para fazer só Deus sabe o quê comigo! E a pior
parte é que eu estou realmente curiosa para saber o que ele pretende fazer.
Saio de meus devaneios e decido que não devo fazer nada, devo apenas
pedir-lhe desculpas, enfiar minha cabeça num buraco imaginário e
permanecer ali para sempre! Agora não tenho mais moral para barrar as
piadinhas infames dele, pelo contrário, dei motivos para ele fazer isso.
Termino meu banho e me seco vagarosamente. Visto minha camisola
transparente e o roupão do hotel por cima. Saio do banho toda sem graça, e
quando o vejo ali, sem camisa, jogado no sofá de olhos fechados, esqueço
por um segundo das desculpas e percebo que pela primeira vez ele me
chamou pelo nome certo.
Ele me olha e não diz nada. Eu me aproximo cautelosa, olhando para
baixo.
― Desculpa-me pela minha reação! Foi a bebida.
― Não sabia que beber te deixa com tesão.
Eu quero mandá-lo para aquele lugar, mas me contenho. Eu estou errada
e claro que ele não vai facilitar as coisas.
― Você não precisa ser um idiota sempre. Eu bebi, tentei te agarrar, você
me rejeitou, eu sou ridícula, e ponto. Agora esse assunto morre aqui!
― Nada disso, Célie! Você me deseja e eu não vou mais fingir que não
percebo isso.
Dou uma risada.
― Eu te desejo? Então seu ego aceita atitudes desesperadas de mulheres
bêbadas? Fico imaginando quantas mulheres você pega e realmente
conquista ou quantas você apenas embebeda!
Ele abre um sorriso.
― O importante é que no final, eu pego todas.
Eu bufo e dou a volta para entrar no quarto, mas ele me puxa para o seu
colo.
― Sebastian, me solta! Isso não tem graça.
― Só se você olhar nos meus olhos e disser que não me deseja!
Ele só pode estar brincando. Olho para ele e percebo que está sério.
Então é isso, por mais que eu o deseje (e como eu desejo), nunca vou
admitir isso para ele!
Olho bem naqueles olhos verdes lindos e falo:
― Eu não te desejo, seu imbecil convencido de merda!
Ele abre um enorme sorriso.
― Claro que não.
Então me puxa para mais perto dele e num segundo sua boca já está na
minha. Seus lábios tomam os meus e sua língua invade minha boca, me
deixando tonta. Ele se move, deitando meu torso no sofá enquanto minhas
pernas permanecem no colo dele. Começa a passar a mão pelos meus
braços e seu beijo se torna mais voraz.
Estou quase sem ar quando ele se afasta da minha boca e começa a beijar
meu pescoço, descendo para os meu seios. Ele abre meu roupão e eu não
tenho forças para pará-lo (eu não quero pará-lo). Ele toma meu seio na boca
através da camisola, mas isso não impede que eu sinta o calor dos lábios
dele em mim, eu nunca senti nada parecido com o desejo que sinto por ele
nesse momento.
Vejo-me arquear de encontro a ele e gemer como nunca tinha feito. Sua
mão continua passeando por meu corpo, quando ele levanta minha camisola
e toca minhas coxas, eu grito. Ele volta a me beijar, ainda com mais força
quando sua mão entra em minha calcinha. Ele para de me beijar e olha para
baixo, para minha calcinha preta, a calcinha que ele conhece bem. Um
sorriso surge em seu rosto e ele fala com a voz rouca:
― Eu acertei. Quando você abaixou vi que estava usando lingerie
branca. E sabia que agora estaria com a minha calcinha.
Ele tira vagarosamente minha calcinha e me acaricia, fazendo-me gemer.
Então pega minha calcinha e põe de novo no bolso.
― Ela agora é minha, nem tente pegá-la de volta!
Então sua boca já está na minha de novo e sua mão está mexendo com
tudo no meio das minhas pernas. Eu arquejo e gemo e tudo parece novo
para mim. Nunca tinha sentido tanto prazer na vida!
Ele enfia um dedo em mim e perco o fôlego, logo ele enfia outro dedo e
começa a se movimentar. Eu sinto algo me tomando, algo que nunca senti
antes, como se eu perdesse meus sentidos, e existisse apenas um sentimento
arrebatador que vem de dentro de mim. Aquilo vai ficando mais forte, mais
forte, até que não aguento mais e grito enquanto sou levada para outro
mundo!
Quando passa, eu volto a respirar novamente, Sebastian beija minha testa
e se afasta. Ele enfia os dois dedos na boca e chupa e isso faz com que algo
pulse no meio das minhas pernas de novo. Então ele se levanta e diz:
― Você é deliciosa! É uma pena que não me deseje.
E sai de perto de mim me deixando ali, sem forças até para me mexer e
frustrada como eu nunca estive na vida.
Capítulo 08
Sebastian
Não durmo nada durante a noite. A imagem da Celina nua fica voltando
a minha mente, e eu a desejo como nunca desejei nada na vida. Eu deveria
ter terminado aquilo, deveria ter metido nela de uma vez e acabado com
todo esse desejo, mas eu quis dar uma lição nela e acabei pagando por isso.
Ela não quis admitir que me desejava. Posso ser um safado, mas não sou
um cafajeste, não tomo nada que não queiram me dar. Se ela tivesse dito
que me queria, como eu sei que queria, eu a teria tido a noite inteira, talvez
ainda estivesse transando com ela naquela cama macia até agora. Mas ela é
teimosa como uma mula! Então tive a ideia de dar a ela o prazer que ela
desconhecia, mas negar o que ela mais precisava: meu pau.
Claro que ela ficou uma fera! Olhou-me como se não acreditasse que eu
estava fazendo aquilo e tive que tomar um banho gelado para não perder o
controle e manter meu plano. Quando saí do banheiro ela tinha ido deitar,
mas duvido que tenha dormido mais do que eu essa noite.
Agora estou aqui pensando nela e a desejando mais do que nunca. Sou
arrancado de meus devaneios quando ela abre a porta. Ela sequer me dá
bom dia, entra no banheiro e bate a porta. Eu me levanto, separo minha
roupa de trabalho e encontro na minha mala a calcinha dela. A calcinha que
agora é minha, que ainda tem o cheiro dela, que me lembra do que podia ter
tido na noite passada.
Eu paro na porta do banheiro e espero ela sair. Quando ela abre a porta,
se assusta ao me ver ali, mas ao perceber o que tenho na mão, parece ficar
possessa. Ela avança para me tomar a calcinha, mas eu sou mais rápido,
(sabia que ela faria isso), então enfio a calcinha dela na minha cueca.
Ela me olha como se não acreditasse que eu estou fazendo isso e faz uma
careta.
― Bom dia Morelli, dormiu bem?
Ela me mostra o dedo do meio e entra no quarto para pentear o cabelo.
Eu vou atrás dela:
― Eu tive uma noite de sono ótima.
Ela não responde. Continua penteando o cabelo, mas vejo que está
ficando vermelha, e fico satisfeito de ver que ainda consigo irritá-la.
― Você não vai nem falar comigo? Achei que estaria mais receptiva e
até que me agradeceria depois de ontem.
Ela finalmente me olha. Aperta a escova na mão e por um momento a
vejo arremessando aquela escova em mim, mas escolho me arriscar.
― Pelo que exatamente eu deveria te agradecer?
― Não se faça de esquecida, Morelli! Você deveria estar beijando o chão
que eu piso depois de eu te dar o primeiro orgasmo da sua vida.
Primeiro ela me olha, depois fecha os olhos e respira fundo, então, como
eu previ, atira a escova em mim. Eu desvio por pouco e começo a rir. Então
ela pega um pote em cima da penteadeira e arremessa em seguida, mas
consigo desviar novamente.
Ela vai para o lado do secador, mas eu corro até ela e seguro seus dois
braços a contendo:
― Poxa Morelli, para que tudo isso? E eu que achava que seu mau
humor era falta de orgasmo, mas vejo que estava errado.
― Você não me fez nenhum favor seu safado, pervertido de merda!
Eu sorrio mais ainda.
― Claro que não, eu não disse isso hora nenhuma. Na verdade, eu teria
me divertido muito se você me desejasse, mas você disse que não me
queria. Eu não costumo tomar nada a força!
Ela então começa a rir. Um riso nervoso, mas um sorriso! Quando me
olha de novo, não há a raiva que havia antes em seu rosto. Ela está calma, e
isso me assusta.
Ela se recompõe muito rápido:
― Você tem razão. Obrigada por me dar meu primeiro orgasmo. Agora
que sei como é, quero muito mais. ― ela se aproxima de mim e raspa os
dentes em meu pescoço, enviando uma onda de eletricidade por meu corpo
e despertando meu pau.
Sem perceber passo a língua pelos lábios dela, ela não se afasta. Não
acredito que foi tão fácil seduzi-la.
― Sério? ― pergunto já me aproximando para beijá-la, mas ela me dá
uma joelhada no meio das pernas e se afasta.
― Não, não é sério! E você não é tudo isso, então não se gabe tanto.
Ela se afasta enquanto eu fico espremido no chão esperando meu saco
parar de latejar.
― Sua maldita! Você ainda vai implorar por isso, você me paga!
O dia de trabalho não podia ser pior. Celina fica sentada quieta na mesa
em frente a minha e nenhuma vez sequer a pego olhando para mim. Pelo
contrário, ela está me evitando hoje mais do que o normal, o que me irrita.
Eu não fiz o serviço completo, mas tenho certeza que dei a ela o melhor
momento de sua vida e ela me agradece com uma joelhada no saco e
indiferença?! Não dá para entender a cabeça dessa mulher. Ela é uma
víbora, não sei como o tal Edmundo pôde aguentá-la por longos três anos.
Eu escolho não puxar assunto. Ela deveria estar puxando meu saco;
depois do que fiz por ela, não tenho que ficar adulando para que ela
converse comigo, então também a ignoro e não nos falamos o dia todo. E
isso me deixa com um mau humor do caralho!
Sinto falta de conversar com ela, da sua língua afiada e suas atitudes
atrevidas. Sinto falta até dos seus insultos, de simplesmente ouvir a voz
dela. Deus! Estou ficando maluco. Saio da sala e subo para o térreo do
prédio. Fico ali até a noite cair.
Quando desço ela está cochilando na mesa, o que prova que também não
dormiu a noite. Será que ficou pensando em mim? Desejando-me? E que
merda estou fazendo preocupado com o que ela pensa de mim?
Bato na mesa o mais forte que consigo e ela dá um pulo, assustada:
― Eu não te pago para dormir, Morelli! Essas últimas horas serão
descontadas do seu salário.
― Estúpido. ― ela murmura, mas eu escuto.
Quando saímos da minha sala percebo que quase todos já foram embora.
Estamos no décimo primeiro andar. Chamo o elevador e a ignoro. Quando
finalmente entramos no elevador, ela vai para o mais longe possível de
mim. O elevador nem desce dois andares, quando para de repente e as luzes
se apagam. Tento mexer no painel, mas está tudo apagado. Sei que todo
elevador tem um botão de emergência, mas no escuro não consigo enxergar
qual é.
Pego meu celular e ela faz o mesmo, mas não há sinal. Então ligo a
lanterna dele e uso para iluminar o painel. Acho que encontro o botão de
emergência, mas nada acontece. Nem sei se ainda tem porteiro nesse prédio
a essa hora. Bato na porta e grito por alguém, mas não dá para ouvir
nenhum barulho do lado de fora.
― Parece que estamos presos. ― falo mais para constatar o que nós dois
já sabemos.
Celina está estranhamente calada. Depois de pegar o celular, não vi mais
nenhum movimento dela. Fico quieto também por uns minutos e o calor
começa a me incomodar. A quietude de Celina também me irrita:
― Deve ter acabado a luz no prédio. ― falo, mas ela mais uma vez não
responde.
Preparo-me para aproximar dela, mas quando a ilumino com o celular,
ela está com as duas mãos na cabeça como se estivesse nervosa. De repente,
ela começa a chorar e bater os braços na parede do elevador, desesperada.
― O que foi? ― pergunto já me aproximando dela.
― Tenho claustrofobia. ― ela responde aos gritos.
Era só o que me faltava, ficar preso com essa louca no elevador tendo
um ataque de pânico. Aproximo-me mais dela para tentar acalmá-la e a
puxo para meus braços apertando bem forte. De repente, ela começa a rir.
Olho para ela confuso, enquanto ela me empurra e se afasta.
― Brincadeira! ― diz com a cara mais lavada. Sinto vontade de matá-
la!
Celina
― Sua megera! ― é tudo o que ele diz, mas sei que por dentro ele quer
me matar.
Reparo que ele está branco e muito assustado. Tenho até um pouco de
dó, mas passa muito rápido. Ele mereceu por ter me tratado da maneira que
tratou, na verdade ele mereceu por tudo que me fez! Por me negar o que eu
mais queria na noite passada e depois ficar jogando na minha cara o que
tinha feito, como se tivesse feito um favor a uma desesperada.
Quer dizer, eu estava desesperada, mas não pedi nada a ele. Tocou-me
porque quis! Ele foi um babaca maior ainda por ficar me dando gelo por
causa de uma joelhada leve que dei no saco dele. Mas ele também mereceu,
quem sabe assim aprende a não ser tão estúpido?!
O tempo parece não passar e o calor está me deixando louca. Sei que
essas coisas de elevador demoram, e sem ter o que fazer e sem saber quanto
tempo ficaremos aqui, me sento no chão e passo os braços em volta dos
joelhos. Depois de algum tempo, vejo pela luz da lanterna do seu celular
que ele se sentou também, do outro lado.
Dessa distância eu não consigo ver o rosto dele.
― Então... ― ele diz.
― Então. ― respondo.
― Você não tem medo de ficar presa no elevador?
― Não.
Ele dá uma risada.
― Deveria ter medo de ficar presa aqui comigo.
― É mesmo? Por quê?
Ele fica calado. Calado demais para o meu gosto. De repente um barulho
ao meu lado me assusta e eu grito.
― Eu disse que você deveria ficar com medo. ― ele fala e percebo que
ele se sentou ao meu lado no chão.
― Fala sério! Por que veio se sentar aqui? Volte para o outro lado! ―
reclamo.
Ele passa o braço pelo meu ombro e me puxa para o peito dele.
― Prefiro ficar aqui bem pertinho de você. Nós dois aqui, nesse escuro,
sem ninguém por perto...
O cheiro dele invade meus sentidos e meu coração parece que vai sair
pela boca! O calor dos braços dele à minha volta me aquece e tenho
dificuldade de respirar presa àqueles braços. Percebo o que estou fazendo,
me afasto rapidamente e o empurro.
Ele começa a rir:
― Eu disse que você ficaria com medo. Achou mesmo que eu faria
alguma coisa com você?
― Eu não confio em você. Quem sabe o que seria capaz de fazer contra
a minha vontade?
Ele ri mais ainda.
― Contra a sua vontade? Celina! Você não estava exatamente se
queixando quando gozou na minha mão na noite passada.
Ainda bem que está escuro e ele não pode ver a cor do meu rosto, que
está pegando fogo! Eu fico calada. O que poderia dizer? Não dá para acertar
um chute no saco dele nesse escuro que nos cerca.
Ele volta a falar:
― Eu não faria nada contra a sua vontade, você sabe bem disso. Não
tomo o que não querem me dar. Mas estou louco para fazer quando você
implorar por isso!
― Eu nunca vou implorar nada a você!
― Ah Sebastian, não para! ― ele começa a imitar as coisas que eu gritei
na noite em que me deu o primeiro e único orgasmo da minha vida.
― Idiota! ― murmuro e dou um tapa nele.
Ele ri por um tempo. Depois me pergunta com a voz séria.
― Se você não quer fazer isso, o que deseja fazer até sairmos daqui?
― Nada.
― Vamos conversar então.
― Prefiro não ouvir sua voz.
Nós dois nos lembramos da cena no avião e começamos a rir. Por fim,
ele fala.
― Confessa, você ficou irritada daquele jeito porque a loira estava tendo
um orgasmo e você nunca havia tido um!
― Eu fiquei irritada daquele jeito porque você é um sem noção
pervertido e estava me envergonhando.
― Te envergonhando por que se eu nem estava tocando em você?
Porque eu queria que você estivesse tocando em mim. As palavras
aparecem em minha mente, mas eu não as pronuncio. Também não
respondo. Fico calada e espero que ele faça o mesmo. Claro que ele não faz.
― É melhor você conversar comigo, Célie! Se eu não tiver nada para me
concentrar, minhas mãos vão começar a agir. Você sabe que é linda e está
sozinha comigo nesse elevador.
― Nojento! Ok, do que quer falar?
Ele fica um tempo em silêncio, acho que desistiu ao perceber que não
tínhamos nada de interessante para falar, mas de repente ele solta:
― Você ainda sofre por causa do seu ex?
Essa pergunta me pega de surpresa. Por que ele quer saber isso? Não
temos nada pior para falar?
― Jura! Você quer falar sobre o meu ex?
― Quero saber como se sente.
Fico ainda mais surpresa. Penso em deixar para lá, mas é raro ele ter um
momento em que não é um verdadeiro babaca. Então decido responder.
― Acho que estou bem. Às vezes me lembro do que aconteceu ou penso
no que poderia ter acontecido. Eu ainda não parei para pensar em como me
sinto...
Ele pega minha mão e começa a massageá-la. E esse gesto de alguma
forma me acalma.
― Então pense agora. Como você se sente sobre tudo isso?
Ele aperta mais meus dedos e seu polegar desliza vagarosamente pela
palma da minha mão.
― Não consigo pensar com você fazendo isso. ― respondo.
Ele sorri e para de massagear minha mão, mas a mantém entre as suas.
Pela primeira vez paro para pensar em como me sinto. Não em como vou
pagar minhas dívidas, ou como vou arrumar um empego quando voltar para
a casa, mas em como realmente me sinto depois de tudo pelo que passei e
pelo que ainda estou passando.
Sei que poderia ser pior! Eu sei o que você está pensando “o que poderia
ser pior que ser traída às vésperas do casamento? Ficar com um monte de
dívidas e desempregada?” Mas podia ser pior! Eu poderia estar na fossa,
por exemplo, ou estar sofrendo e sentindo falta de um homem que com
certeza não mereceria essa atitude. Então, apesar de tudo, em meu interior,
estou até calma demais.
― Bem. ― respondo ― Eu me sinto bem. Só fico pensando onde eu
estaria agora se não tivesse descoberto tudo.
― Acho que você estaria casada com um completo imbecil, infeliz e
nunca teria tido um orgasmo.
Eu acabo rindo com a observação.
― Tem razão. Isso seria trágico.
De repente me vem à cabeça que no estado em que minha vida está, do
jeito que as coisas estão andando, provavelmente nunca mais terei outro
orgasmo.
― Você preferiria não ter descoberto nada? ― ele pergunta de repente.
― Eu preferiria ter descoberto antes! Fiz papel de boba por muito
tempo. Perdi muito tempo da minha vida com alguém que nunca me amou.
― Eu acho esse seu ex é um perfeito babaca e acho que você não deve
nunca mais sequer falar o nome dele. Mas, o fato de ele trepar com outra
não quer dizer que ele não ame você.
Tiro imediatamente minha mão da dele:
― Claro que quer dizer! Se você ama alguém não quer ficar com outra
pessoa!
― Isso é paixão! Você pode amar muita gente. Pode amar a namorada, a
família, amigos e a secretária. Mas quando você se apaixona por alguém, só
enxerga essa pessoa. Quando a paixão te domina é que você não deseja ter
mais ninguém!
― Você já se apaixonou?
Ele demora para responder. Penso que não devia ter perguntado isso, que
nossa primeira conversa séria estaria acabada aqui. Mas ele finalmente
responde.
― Eu já achei que estava apaixonado.
― E o que aconteceu?
― Eu tinha uma namorada, Jamille. Eu a amava. Mas isso não me
impediu de comer a prima dela!
Dou outro tapa nele.
― Canalha!
― Essa não foi a pior parte!
― E o que poderia ser pior do que isso?
― Quando ela descobriu ficou furiosa. Ela chorou e gritou, quebrou as
coisas, me bateu e foi embora. Eu liguei para ela a noite toda, mas ela não
me atendeu. Dois dias depois ela apareceu na minha casa e agiu como se
nada tivesse acontecido. Estava calma, dócil, fazendo planos para o fim de
semana. Eu toquei no assunto e ela me disse que já tinha esquecido. Que era
melhor a gente fingir que nada aconteceu e seguir em frente. Ela chegou a
me dizer que eu tivesse mais cuidado na próxima vez que fosse me divertir!
Fico horrorizada e ele continua falando:
― Eu não entendi a atitude dela e disse que era melhor a gente dar um
tempo para ela me perdoar de verdade. Ela ficou desesperada, disse que não
podia viver sem mim, que não tinha como bancar a vida que estava levando
sem minha ajuda. Que o mínimo que eu podia fazer depois de tudo era
continuar dando a ela do bom e do melhor. E que ela não se importaria com
as minhas diversões amorosas se eu continuasse pagando suas contas.
Dessa vez eu seguro a mão dele e falo:
― Eu sinto muito.
Ele aperta minha mão.
― Ela não teve valor, nem orgulho se fosse por um bem maior. Por isso
achei que você...
Ele não precisa terminar a frase para que eu saiba exatamente do que ele
está falando. Lembro-me bem da insinuação que ele fez uma vez sobre eu
passar por cima do que Edmundo havia feito por causa do dinheiro dele.
― Por isso achou que eu perdoaria meu ex? Para ter uma vida boa?
― Sim, e sinto muito por ter pensado isso de você.
― Tudo bem, você não foi o único. Minha própria mãe me disse que
homens eram assim mesmo. Que eu deveria relevar o que ele tinha feito e
pensar na posição social que eu teria.
― Eu sinto muito. E admiro o seu caráter.
Eu sempre fico sem reação quando ele me elogia. Acho que é porque ele
não é disso, é um estúpido, e esse lado mais humano dele me fascina, mas
me deixa sem saber como agir! Não posso dar uma resposta sarcástica se
ele está sendo legal comigo.
Nós ficamos em silêncio de mãos dadas por um tempo. É ele que quebra
o silêncio com mais perguntas:
― Será que você pode me contar agora aquela longa história sobre você
ir vestida como uma velha para o trabalho?
Eu começo a rir.
― É, acho que temos tempo para uma longa história. Meu primeiro
emprego foi na empresa do Edmundo. Ele era meu chefe e eu sua secretária.
Ele faz uma careta e tenho que conter o riso.
― Ele deu em cima de mim e eu caí no conto dele como uma boba. Você
sabe no que isso deu! Mas o fato é que quando começamos a namorar, achei
que não ficaria bem se eu ainda fosse sua secretária, então arrumei outro
emprego, em outra empresa. Meu chefe era o Arnaldo, um velho barrigudo
com um bigode imundo. Logo começou a dar em cima de mim. Chegou
num ponto em que ele só me chamava à sua sala para falar pornografias e
dar suas cantadas ridículas. Um dia a esposa dele escutou uma dessas
cantadas e foi uma confusão. Então acabei pedindo demissão. Aí fui para
meu terceiro emprego, também de secretária.
― Me deixa adivinhar, seu chefe deu em cima de você?
Eu assenti.
― Você não pode reclamar disso, é realmente linda! É difícil um homem
se conter perto de uma mulher como você.
― Então a culpa por esses executivos serem uns pervertidos é das
secretárias?
― Claro! Se elas não fossem trabalhar com aqueles decotes, aquelas
saias coladas que deixam pouco para a imaginação... ― ele para de falar e
sorri ―Acho que entendo onde você vai chegar. Mas me conta, o que
aconteceu na terceira empresa?
― O chefe deu em cima de mim, é claro. Eu dava uns foras nele, mas ele
era impossível. Chegou a me chantagear para eu sair com ele. Então pedi
demissão novamente. E foi ai que consegui emprego na V.D.A. Como eu já
estava escaldada, resolvi me fantasiar. E deu certo, ninguém deu em cima
de mim lá. Quer dizer, além de você, que sempre veio com essas cantadas
infames para cima de mim.
Ele começa a rir.
― Eu sempre soube que havia alguma coisa errada com você. Sempre
achei seus traços e seus cabelos perfeitos demais para você ser feia. E ficava
me perguntando por que você andava tão mal vestida. Você me intrigava.
― Bom, agora você já sabe!
Ele aperta minha mão e a leva aos lábios, então dá um beijo terno em
cada um dos meus dedos. E eu sei que devo me afastar dele, mas não sei
como agir nessa situação. A verdade é que gosto desse Sebastian, gosto
muito. E apesar de não justificar a perversão dele, a história sobre a tal
namorada me fez entender melhor o que ele pensa sobre mulheres. É muito
fácil generalizar, é o que faço também por causa do Edmundo. Assim como
eu, ele está escaldado.
― Me fale sobre a sua mãe. ― fala ele de repente.
― Não. Chega de assuntos tensos por hoje.
― Então sua mãe é um assunto tenso? Tudo bem! Então me fale por que
você não gosta de ficar sozinha...
― Assunto errado, senhor Vaughn!
― Isso também é um assunto tenso? Então devo presumir que sua mãe e
o motivo de você não querer ficar sozinha estão conectados de alguma
maneira.
― Não quero realmente falar disso. Por que não falamos de uma coisa
mais interessante?
Oh céus por que ainda dou ideias para Sebastian Vaughn? Uma vez um
estúpido pervertido, sempre um estúpido pervertido.
― Acho que você deveria acariciar meu pau depois do que fez hoje de
manhã.
Tento tirar minha mão da dele, mas ele a segura forte:
― Nem sonhando. E nem está doendo mais, não seja um bebê chorão!
Ele ri.
― Você é uma menina muito má, Morelli! ― sua voz está rouca e isso
me assusta ― E linda. E mulheres lindas e más como você são o meu fraco.
― Mulheres são o seu fraco. Não importa a aparência nem o caráter!
Ele ri mais ainda. Depois fica em silêncio e volta a massagear meus
dedos.
― Eu nunca desejei alguém tanto quanto eu desejo você.
A sinceridade que sinto nas palavras dele me assusta. Fico sem reação.
Ele continua a falar:
― E eu desejo você desde o dia em que te vi naquele banheiro
masculino sem blusa. Desde quando olhei seus seios, soube que precisava
colocar minha boca neles.
Dou um tapa nele e tento me afastar.
― Porque você é um pervertido!
― Não, porque você é linda demais.
Ele me puxa e sua boca já está na minha, ao mesmo tempo em que ele
leva minha mão até a ereção que aperta a calça. Eu não tenho como fugir,
eu também o desejo, muito!
Correspondo ao beijo e aperto a ereção dele através da calça, e ele geme
em minha boca. Seu braço rodeia a minha cintura e ele me puxa ainda mais
de encontro ao corpo dele. Eu subo em seu colo de frente para ele e ele
aprofunda os beijos, enquanto sua mão entra por baixo da minha blusa e ele
toca minhas costas, depois passa pela minha barriga e sobe para os meus
seios.
De repente o elevador dá um solavanco e desce um pouco, a luz acende e
eu nem tenho tempo de pensar antes das portas se abrirem e dois homens
entrarem no elevador para nos ajudar.
Ao perceber a cena, eles ficam sem graça. Eu me levanto rapidamente do
colo de Sebastian e arrumo minha saia, sem saber onde enfiar minha cara.
Mas Sebastian, como sempre, fica rindo.
Vamos o caminho todo até o hotel no mais absoluto silêncio. Escondo
meu rosto atrás do meu cabelo e não tenho coragem de olhar para ele
nenhuma vez sequer. Quando chegamos ao hotel eu desço praticamente
correndo, mas ele consegue me acompanhar e entra no elevador comigo.
Graças a Deus mais pessoas entram com a gente, o que impede que ele
tente qualquer coisa, mas não impede minha imaginação de voltar ao outro
elevador, às suas palavras e aos beijos. Foco minha atenção nos andares que
faltam e finalmente chegamos.
Entro no quarto e tento correr para o banheiro, mas ele me segura:
― O que foi Celina? Você sabe que não precisa ficar constrangida
comigo.
― Não estou constrangida.
― Então por que está correndo de mim?
Ele passa uma mecha do meu cabelo por trás da minha orelha e se
aproxima para me beijar. Eu me afasto bem a tempo e ele parece surpreso.
― Sebastian, eu não sei o que deu em mim ontem à noite, quando deixei
que me tocasse daquele jeito. E não sei o que deu em mim naquele
elevador, mas isso não vai acontecer de novo!
Ele parece em choque. Aproxima-se de mim e eu me afasto de novo.
― Celina, você não precisa...
Eu o interrompo antes que ele me convença de qualquer coisa.
― Não Sebastian! Você é meu chefe e eu sou sua secretária. Eu já
cometi esse erro antes e não pretendo fazer isso de novo. O que aconteceu
entre nós acaba aqui.
Antes que ele possa responder eu corro para o banheiro e tranco a porta.
E tento convencer a mim mesma que estou fazendo a coisa certa!
Capítulo 09
Celina
Quando saio do banheiro, já vestida para dormir, não avisto Sebastian.
Melhor assim, prefiro mesmo nem olhar para ele. Tiro o roupão do hotel e
me deito rapidamente, me enfiando embaixo do cobertor com minha
camisola transparente. Tudo está quieto demais e fico pensando se
Sebastian saiu para algum lugar. Talvez ele tenha ido encontrar uma mulher,
afinal, um homem lindo como ele não deve ter nenhuma dificuldade em
encontrar alguma companhia de última hora!
Talvez eu o tenha irritado ao ponto dele finalmente me deixar sozinha
para dar uma “trepada”. Coisa que ele ainda não havia feito desde que
chegamos ali. De repente imaginar que ele está comendo uma por aí me
machuca. Fico com raiva dele por ser tão pervertido e movido a sexo, mas
sei que não tenho esse direito. Eu neguei sexo a ele hoje, fui eu que cortei o
clima.
Droga! Por que tenho que ser tão burra? Sei que não posso pensar assim,
que fiz a coisa certa, mas ainda fica aquela vozinha dentro da minha cabeça,
aquela voz que deve vir direto do meio das minhas pernas, me dizendo que
eu fui burra em dizer não a ele. Tenho essa mania de imaginar o que estaria
fazendo se tivesse acontecido determinada situação, e nesse momento estou
imaginando o que estaria fazendo com Sebastian uma hora dessas.
O que ele estaria fazendo comigo? Com certeza me dando outro orgasmo
daqueles, mas ao invés disso, estou sozinha nessa cama enorme fazendo o
que é certo. Sei que estou fazendo drama, as coisas podem ser mais simples;
ou você dá para o cara e curte bem sua noite, ou você diz não e esquece,
mas não é assim que acontece.
Há uma batalha em minha cabeça quando duas vozes duelam em mim.
Uma fica me dizendo que fui uma “idiota de marca maior”, que poderia
estar na cama com ele agora, descobrindo a graça que existe no sexo. Mas a
voz da razão, aquela que a gente deve ouvir, diz que fiz a coisa certa. Eu
transaria com ele essa noite, seria mais uma da V.D.A. que ele comeu e
depois? Depois, nada. Depois que ele me tivesse, nem me desejaria mais, eu
devo ser péssima de cama.
O Edmundo era um chato e só transei com ele na vida. Que experiência
eu tenho? O Sebastian, como bom pervertido que é, deve ter transado com
mulheres incríveis, que sabiam fazer de tudo por ele na cama. Fico
imaginando aquelas mulheres lindas, atrevidas, safadas, contorcionistas. Ele
tiraria uma com a minha cara depois que transássemos. Isso mesmo, sairia
por aí espalhando o quanto sou ruim de cama. Não, foi melhor mesmo
cortar logo no início!
Fico me virando na cama, não adianta mesmo ficar martelando minha
decisão. Estou parecendo essas mulheres desesperadas por pinto, e eu juro
que não sou assim! Pelo menos posso dormir nessa cama enorme e
deliciosa e só terei que pensar no problema “Sebastian” amanhã de manhã.
Talvez eu saia e nem precise vê-lo. Amanhã é sábado, não há nenhuma
reunião ou compromisso. Isso mesmo! Vou me levantar e sair na surdina e
ele nem vai ficar sabendo.
Fecho os olhos para tentar dormir quando ouço a porta do quarto abrir.
Oh céus que ele não tenha vindo insistir! Por favor, não faça isso comigo!
Eu já disse que sou uma boa garota, mas não sou de ferro. Ouço seus passos
pelo quarto e aperto os olhos fingindo que estou dormindo. Tudo fica em
silêncio por um tempo, depois, sinto a cama se mexer. Esforço-me para nem
respirar alto e espero que ele veja que estou dormindo e saia da cama, mas
isso não acontece. Ao contrário, ele se deita na cama e sinto quando ele
puxa a coberta para se cobrir. Abro meus olhos e acendo o abajur.
― Que merda é essa?
― Boa noite para você também, Morelli.
― Boa noite o caralho! O que está fazendo aqui?
Ele me olha e abre um sorriso idiota.
― O que duas pessoas adultas fazem numa cama a noite Celina? Vou
dormir, é claro.
― Seu lugar de dormir é na sala.
― Eu nunca disse isso. Eu dormi lá por duas noites para não constranger
você, mas agora foda-se. Não vou ficar me martirizando naquele sofá duro e
deixar essa cama enorme e deliciosa chamando por mim!
― Você vai dormir aqui?
― Não é para isso que essa cama serve? Porque se você tiver uma ideia
melhor de como utilizar essa cama, eu sou todo ouvidos!
Levanto-me irritada na mesma hora. Se ele vai dormir na cama, eu não
vou. Pego meu travesseiro e me preparo para ir para a sala, mas antes de
consegui sair, ele fala.
― Sério Morelli? Você acha mesmo que não pode se controlar?
Eu me viro para ele:
― O quê?
― Por que está indo para a sala? Você sabe que a cama é grande o
suficiente para caber nós dois. Se está correndo assim é porque sabe que
não vai resistir a mim!
Solto uma risada debochada que normalmente o irrita.
― Resistir a você? Eu sequer desejo você ou já se esqueceu?
Ele fica rindo, e me irrita mais ainda.
― Se quer ir para a sala, vá, mas eu vou entender isso como uma
confissão de que você me deseja e não pode se controlar.
― Não me trate como uma criança. ― resmungo.
Mas claro que caio na dele. A verdade é que fico pensando, por que
mesmo não posso dormir na cama com ele? Ah sim, porque eu o desejo.
Mas sei que posso me controlar. E se eu for para o sofá, vou perder essa
cama deliciosa à toa e ainda estarei admitindo que ele está certo. E ele não
está! Jogo meu travesseiro na cama e me jogo em seguida. Decido então
não me cobrir a noite; já estou na mesma cama que ele, não preciso ficar
debaixo da mesma coberta.
― Belos seios. Acho que já te disse isso.
Olho para ele que está olhado fixamente meus seios, e só então percebo
que estou com a camisola transparente e com a luz do abajur acesa. Enfio-
me debaixo da coberta e apago a luz.
― Você não sabe mesmo receber um elogio. ― reclama ele.
― Ah, cala a merda dessa boca!
Ouço sua risada, mas ele finalmente fica quieto. Por pouco tempo. Logo,
ouço um gemido. Em seguida outro. Depois um grito. Passa um tempo em
silêncio e ele começa de novo. Os gemidos, os gritos, ouço um barulho
como se ele estivesse batendo a mão na perna, o que lembra o som que faz
o movimento do pênis entrando e saindo. Ele geme de novo e grita meu
nome e só então percebo o que está fazendo. Ele está simulando sexo
comigo e fazendo os barulhos, para me enlouquecer, para me irritar, para
me fazer querer matá-lo.
E é isso que faço. Pego meu travesseiro e pulo em cima dele, mirando o
travesseiro em sua cara de pau, pretendo sufocá-lo. Ele começa a rir e
segura meus braços. Claro que ele é muito mais forte do que eu e logo
arranca o travesseiro da minha mão e me joga na cama, prendendo meu
corpo embaixo do dele.
― Por Deus mulher, você é descontrolada!
Faço uma careta enquanto ele continua rindo. Assim que me acalmo, ele
solta um dos meus braços e acaricia meu rosto. Fico sem reação tempo o
suficiente para ele aproximar o rosto do meu. Primeiro ele beija minha
bochecha, depois a ponta do meu nariz.
― Sebastian. ― digo, mas nem eu sei se estou pedindo que ele pare ou
que continue.
―Shhh! É só um beijo. ― ele responde e sua boca já está na minha,
voraz, faminta, me deixando sem ar.
Eu correspondo ao seu beijo, não tenho forças para fazer diferente, ele
solta meus braços e passo as mãos pelo cabelo dele o puxando para mais
perto de mim. Quando estamos sem ar ele se afasta, deita na cama e me
puxa para os braços dele.
Antes que eu possa reclamar, ele fala:
― Só fica aqui comigo, eu não vou fazer nada com você.
Como se eu tivesse forças para me afastar dele. Apenas concordo com a
cabeça e adormeço usando o peito dele como travesseiro.
Sebastian
Ela está nos meus braços quando acordo. E já fazia tempo que eu não
dormia tão bem. Coincidentemente, as últimas duas vezes que dormi bem,
Celina estava nos meus braços. Tento não fazer barulho para me levantar,
mas ela acorda, me olha com uma cara assustada, então sorri.
Ela se levanta e vai para o banheiro, e eu fico ali tentando entender o que
significou aquele sorriso. Será que significa que ela finalmente aceitou que
me deseja e vai ficar comigo? Será que quis dizer que ela curtiu a noite, mas
não vai mais acontecer? Merda! Estou parecendo esses adolescentes
apaixonados. E eu quero mesmo transar com ela, mas nem a pau vou me
apaixonar de novo. Fico mais um tempo na cama, sentindo o cheiro dela.
Eu sei, preciso transar logo, pois estou ficando patético!
Depois de tomarmos café no mais absoluto silêncio, finalmente Celina
fala.
― Milagre você não ter vindo ainda com suas piadinhas infames para
cima de mim.
― Está sentindo falta? Porque tenho um monte delas prontinhas para
você.
Ela faz uma careta.
― Não disse que estou sentindo falta, só que achei estranho você ficar
calado. Mas admiro seu silêncio, só para constar.
― Vou tomar mais cuidado com você de agora em diante, Morelli. Não
quero morrer asfixiado pelo travesseiro enquanto durmo!
Ela engasga com o chá que está tomando e começa a rir.
― Não é sempre que eu faço isso. Mas você tem uma incrível
capacidade de me irritar.
― Você não é a primeira a me dizer isso.
Ela volta a tomar o chá em silêncio. Mas sei que ela quer me dizer
alguma coisa, porque vez ou outra, ela me olha pelo canto do olho. Decido
não puxar o assunto, se ela vai vir com aquele papo de “não vamos transar
Sebastian”, prefiro adiar o máximo possível ouvir isso.
Finalmente ela fala:
― Hoje é sábado e não temos compromisso. Imagino que esteja de folga
hoje.
― Sim. ― respondo já não gostando do rumo que as coisas estão
tomando.
― Estava pensado em dar uma volta. Sei que já deve estar cansado da
minha companhia, então quero sair um pouco. Sozinha! Sei que você
entende.
Eu entendo e fico com raiva. Ela quer sair de perto de mim justo hoje!
Justo no dia em que mais quero que ela fique comigo?! Mas não posso
prendê-la a mim, ela não é minha. Não é mesmo?
― Claro, pode sair sim. Precisa de algum dinheiro?
― Não, obrigada. Vou mesmo só dar uma volta pela cidade.
Fico mal humorado depois disso. Eu tinha planos para nós hoje, ia sair
com ela, levá-la aos pontos turísticos da cidade, almoçar com ela ou talvez
pegar uma praia. Mas agora vou passar justo esse dia sozinho.
Alguém bate na porta e Celina vai atender, Luís, o gerente do hotel, entra
trazendo uma cesta de frutas e uma garrafa de champanhe.
― Me desculpe incomodá-lo senhor Vaughn, mas queria lhe desejar os
parabéns. ― ele estende a cesta meio sem graça.
Eu me aproximo e pego a cesta, já esperava por alguma coisa do tipo.
Cumprimento Luís e agradeço pelo presente, então ele se retira. Fico
mexendo no que tem na cesta, mas Celina continua parada na porta, feito
uma estátua.
Por fim, ela fala:
― Por que não me disse que hoje é seu aniversário?
― Você não me perguntou.
Ela se aproxima de mim sem graça. Eu me viro ficando de frente para
ela, para facilitar. Ela então passa os braços pela minha cintura e eu a
envolvo em meus braços. Ela encosta a cabeça no meu ombro e fica assim
um tempo.
Depois de alguns segundos, fala:
― Feliz aniversário. Eu não comprei nada para você. Se tivesse me
avisado, teria feito alguma coisa.
Ela se afasta cedo demais e fica olhando para mim.
― Tudo bem, não achei nem que me daria os parabéns, levando em
conta que me queria morto ontem à noite!
Ela sorri sem graça.
― Esqueça isso. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
Sim, claro. Você pode deitar em cima dessa mesa e abrir as pernas, o
resto eu mesmo faço, pensei.
― Não se preocupe, Morelli! Vá dar o seu passeio.
Ela parece indecisa, mas anda até a porta. Porém, para antes de abri-la e
olha para mim de novo.
― Você vai passar seu aniversário sozinho?
É minha chance, preciso fazê-la ficar comigo por vontade própria. Não
posso ser ridículo ao ponto dela perceber que quero a companhia dela.
― Não se preocupe, já estou acostumado. ― ela assente e ainda indecisa
se vira para sair. Merda! ― Desde que minha mãe morreu sempre fico
sozinho.
Dá certo. Ela para de novo e olha para mim. Posso ver a indecisão no seu
olhar.
Finalmente ela anda de volta até onde estou.
― Eu não preciso sair hoje. O que quer fazer?
Celina

Fizemos de tudo durante o dia. Ele me levou ao Corcovado e aos


Arcos da Lapa, depois almoçamos num restaurante a beira mar. Quando
estávamos voltando para o hotel, passamos em frente a uma loja de
biquínis, e ele parou ali.
― Vamos dar um mergulho?
― Eu não trouxe biquíni.
Ele apontou para a loja.
― Você não vai comprar um biquíni para mim. ― reclamei.
― Por que não? É só um biquíni, não precisa ser tão orgulhosa.
― Não mesmo! Você já pagou pelo almoço, pelos passeios, não vai me
comprar um biquíni.
― Célie, não seja uma vaca! É meu aniversário e eu quero mergulhar,
com você. Então ou você aceita e mergulha com um lindo biquíni, ou vai
entrar na água de lingerie mesmo!
Dei-lhe um tapa por ter me chamado de vaca e agora aqui estou eu. Em
frente ao imenso mar da Praia do Pepê, com Sebastian deliciosamente de
cueca, estendendo a mão para mim e me desafiando a tirar a roupa. Olho
mais uma vez para os lados e antes que perca a coragem e pague pau para
ele, tiro minha blusa. Em seguida a calça e fico só de calcinha e sutiã.
Ele fica mais tempo que o necessário olhando meu corpo, mas passo por ele
correndo em direção ao mar.
― Anda logo, antes que alguém nos veja!
Percebo que ele está atrás de mim, mas entra na água, enquanto eu me
abaixo bem na pontinha mesmo. Ele para quando percebe que eu não o
estou seguindo.
― Você ainda está na areia, Morelli. Vem!
― Eu não sei nadar.
Ele dá uma gargalhada e anda até onde estou.
― Eu vou segurar você. ― sussurra no meu ouvido e eu vou com ele.
Quando chegamos a um lugar em que meus pés não alcançam o fundo,
passo as pernas pela cintura dele e ficamos assim. Há anos que eu não
entrava no mar. Havia ido uma vez, com dez anos, para Cabo Frio com
minha tia, mas assim que entrei na água, tomei um caldo duplo, entrou água
e areia em todos os buracos possíveis! Comecei a chorar e fui sair do mar,
quando fui sapecada por uma água-viva. Resultado: nunca mais entrei no
mar.
Mas com Sebastian não tenho medo. Assusto-me cada vez que sinto
alguma coisa encostar em mim, mas ele me acalma. Depois de alguns
minutos, começo a relaxar, e até desço da cintura dele, mas não permito que
ele solte minha mão, o que arranca risos dele.
Pouco tempo depois, já estou cansada. O mar é lindo, maravilhoso, mas
não tem graça ficar dentro dele se você não sabe nadar. Sebastian percebe
que estou impaciente para ir embora, e me puxa para bem perto dele,
passando os braços pela minha cintura.
― Eu queria pedir um presente de aniversário para você!
― Pode pedir. Mas tenha em mente que estou falida.
Ele dá uma gargalhada.
― O que eu quero de você, não há dinheiro no mundo que possa
comprar.
― Não posso imaginar o que seria isso.
Ele se aproxima de mim e me beija. Docemente, praticamente roça os
lábios nos meus.
Então se afasta:
― É isso? Você queria um beijo de aniversário?
Ele abre aquele sorriso safado e sei que estou mais ou menos
encrencada.
― Não, um beijo não. O beijo é só o começo do que quero de você.
Fico em choque. Sinto como se mil águas-vivas estivessem me
sapecando, mas sem a dor, só a adrenalina e o susto. Claro que penso em
descer um tapa na cara dele por sugerir aquilo, mas ali estamos nós. Aquele
corpo musculoso dele todo molhado, colado ao meu, seus olhos verdes
brilhando enquanto me olham, aquela boca deliciosa tão perto da minha.
Eu já disse que não sou de ferro? Assinto com a cabeça concordando, e
ele parece supresso pela minha resposta. Então é ele quem está doido para ir
embora. Ele me pega no colo e saímos da praia. Visto-me correndo para que
ninguém me veja de lingerie, mas não deixo de observar enquanto ele se
veste, a ereção que já está visível nele. Oh céus! Essa noite promete!
Ele praticamente me arrasta até o hotel e me manda direto para o
chuveiro. Depois de tomar banho não sei o que vestir. Nem sei se devo me
vestir. Mas ele interrompe minhas dúvidas batendo na porta do banheiro e
pedindo gentilmente que eu me apresse, pois vamos jantar primeiro. Isso,
eu disse que ele pediu gentilmente. Como um homem pode mudar quando
quer comer uma mulher!
Então nós saímos primeiro. Repare bem que essa palavra “primeiro”
promete! Ele é totalmente carinhoso e atencioso durante o jantar. Toca em
mim o tempo todo, pega minha mão, beija meu ombro, meu cabelo. Sorri
para mim nessa noite mais vezes do que já o vi sorrir desde que o conheço.
Quando o jantar acaba, começo a ficar nervosa. É só uma noite, é o
aniversário dele, e eu quero muito isso. Sei que vai ser mais fácil conviver
com ele mais uma semana se eu liberar logo, e acabar com esse desejo, mas
estou realmente nervosa. Edmundo sempre transava comigo no escuro. Eu
mal o vi pelado, e nunca deixei que ele me visse direito. Mas algo me diz
que com Sebastian não será assim e isso me assusta.
Assim que chegamos ao hotel, ele prova que eu estou certa. Antes
mesmo de trancar a porta, ele já tira minha blusa e começa a me beijar. Eu
decido não sentir medo e deixar rolar. Ele me beija como se o mundo fosse
acabar. Então me pega no colo e me leva até o quarto. Eu não consigo
controlar a risada quando ele faz isso.
Quando entramos no quarto, a coisa muda. Eu apago a luz, mas ele a
acende. Nota que estou vermelha, então acende os dois abajures e apaga a
luz. Mas ainda há luz suficiente para ele enxergar meu corpo.
Abaixo a cabeça, mas ele se aproxima:
― O que foi Celina? Não precisa ter vergonha, você é linda!
― Você sabe que eu não sou como as mulheres que você está
acostumado a ter. Eu não sou perfeita.
― Sim, você é. Para mim você é perfeita, exatamente assim. Você não
pode imaginar a quanto tempo tenho desejado ter você, Celina. Não há nada
em seu corpo que diminua o tesão que você provoca em mim. Não tem com
o que se preocupar. Vem aqui! ― ele me puxa para os braços dele e me
beija.
Acho que para me acalmar, ele tira a roupa dele primeiro e isso faz todo
medo sumir. Ele é lindo! Maravilhoso! Esplêndido! Não, não estou
exagerando! Quando ele tira a cueca, quase tenho um treco. É grande
demais! Ele vê que me assustei e volta a me beijar; saber que o corpo dele
está tão perto do meu, que ele está nu, me excita mais do que posso
explicar!
Então ele começa a tirar minha roupa. Primeiro, ele abre meu sutiã,
deixo que ele o tire. Ele toca meus seios gentilmente, mas vejo no olhar
dele que está se controlando. Ele me olha e eu dou um leve aceno com a
cabeça, ele entende o que quero dizer e toma meu seio na boca. Não
consigo me controlar e gemo. Ele então passa o dente pelo meu mamilo, e
sinto que vou explodir. Ele continua trabalhando em meus seios, e nem
percebo quando ele tira minha calça. Mas quando ele se afasta de mim,
minha calça já está em meus pés. Eu termino de tirá-la e ele fica mais um
tempo me admirando.
Ele toca a lateral do meu corpo, desde o ombro até a coxa, e de repente
se ajoelha na minha frente. Levo um susto e me afasto, mas ele me olha de
cara feia e me aproximo de novo. Ele então começa a tirar minha calcinha.
Enquanto faz isso sinto o medo voltar.
― Sebastian, espera! Você tem que me prometer que isso vai ficar só
entre a gente. Quero dizer, por pior que eu seja na cama, você tem que
prometer que não vai falar com ninguém.
Ele parece assustado e se levanta.
― Você está com medo de ser ruim de cama?
― Eu sei que eu sou. Só transei com o Edmundo, e ele não era
exatamente bom de cama, então sei que também não sou. Tenho medo que
você vá zoar comigo depois.
Ele parece em choque.
― Celina, eu nunca faria isso. Posso ser um estúpido como você diz,
mas você nunca me viu contando realmente os detalhes sórdidos das minhas
noites com outras mulheres.
Ele está certo. Eu tento me desculpar com o olhar, mas ele não parece
mais com raiva. Me segura gentilmente pelos ombros e beija minha testa.
― Não se preocupe com isso, Celina. É impossível você ser ruim de
cama, mas essa noite, você não vai ter que fazer nada. Essa noite, você só
vai sentir.
Então ele me empurra para a cama e antes que eu perceba, sua boca está
no meio das minhas pernas e sinto um prazer que nunca pensei que seria
possível. Ele é implacável, sua língua não para e ele começa a enfiar um
dedo em mim. Rapidamente perco o controle e sinto meu mundo ruir,
percebo que gritei muito e me concentro em não fazer isso na próxima vez.
― Segundo. ― ele fala e eu mostro o dedo do meio para ele, precisa
ficar contando meus orgasmos?
Então ele está ali de novo, sua língua me enlouquecendo e perco os
sentidos. Quando estou prestes a gozar de novo ele se afasta e eu reclamo.
Ele então sobe na cama e me beija, e posso sentir meu gosto nos lábios dele,
mas isso me excita. Ele continua me beijando enquanto vai guiando sua
ereção até minha entrada. Gemo quando ele encosta a cabeça ali, mas ele
logo retira. Quando estou prestes a reclamar, ele toma minha boca de novo e
enfia em mim de uma vez. Dou um grito na boca dele, e ele começa a se
movimentar dentro de mim.
Posso sentir minha parede se esticando para recebê-lo e isso me deixa
ainda mais perto do paraíso. Ele atinge um ponto em mim, que aumenta
meu prazer e eu dou um grito. Então tampo minha boca. Ele atinge esse
ponto de novo e outro grito escapa de mim, mas me contenho para não fazer
escândalo. Não consigo controlar os gemidos que saem da minha boca, mas
estou fazendo de tudo para não gritar! Ele então olha para mim e diz.
― Grita mais alto, Celina! Mais alto, eu ainda não estou ouvindo você!
― Então você deve ter algum problema de audição. ― consigo
responder.
― Não. Quero que grite mais alto. Mais alto!
― Mas se eu gritar mais alto, todo mundo vai ouvir!
― Qual o problema dos outros hóspedes saberem que você está tendo o
melhor sexo da sua vida?
― Convencido!
Ele ri e mete mais fundo, me pegando desprevenida e me fazendo dar um
grito.
― Isso! Assim que eu gosto. Eu quero ouvir você, quero saber que está
gostando.
Mas eu estou adorando, não quero que isso acabe nunca. Mas logo mudo
de ideia. Aquela sensação deliciosa vai se apoderando de mim, crescendo
cada vez mais, e quero chegar lá. Enfio as unhas nas costas dele e ele geme,
e logo nós dois gritamos quando enfim o êxtase mais absoluto nos atinge!
Ele ainda fica um tempo dentro de mim, recuperando o fôlego, quando se
retira, sinto imediatamente sua falta. Mas ele deita ao meu lado na cama e
me puxa para os braços dele.
― Tenho duas perguntas para você. ― diz ele.
― Sim, foi o melhor sexo da minha vida.
Ele ri.
― Eu já sabia disso. O que quero saber é por que você não queria gritar.
― Não é que eu não quisesse. É que o Edmundo não gostava de dar
show para os vizinhos, então ficava me pedindo silêncio. Quer dizer, não
que ele já tenha feito alguma coisa que me fizesse realmente querer gritar,
mas ele já me deixava avisada.
― Ele é realmente um babaca. Aposto como ele só fazia isso porque
sabia que você não teria motivos para gritar e não queria ferir o próprio ego.
Começo a rir.
― Qual a segunda pergunta?
― Você toma anticoncepcional?
Faço uma cara de assustada e ele arregala os olhos, então começo a rir.
― Agora que você pergunta? Muito fácil dar o golpe da barriga em
você. Mas eu tomo, sim.
Quero dizer, eu tomava, tomei por anos, quando estava com o Edmundo.
Desde que terminei com ele não tomei mais, não achei que fosse precisar,
mas sei que o remédio ainda não saiu do meu organismo. Vou voltar a
tomar amanhã mesmo.
Ele me abraça mais forte e puxa a coberta para cima de nós. Fico feliz
por ele não ter se afastado depois do sexo, quero muito dormir de novo nos
braços dele. Ele fica acariciando meu cabelo e me pego pensando que ele
tem razão em ser tão convencido, ele é realmente tudo isso que diz que é, e
até mais. E essa foi de longe a melhor noite da minha vida.
Recosto-me nele e quando estou quase dormindo, ele diz com a voz
baixa:
― Você foi maravilhosa, Celina! Mas amanhã, vou pegar mais pesado
com você!
― Não terá amanhã, Sebastian. Foi seu presente de aniversário. Nós não
faremos mais isso!
Ele fica tenso por um momento e espero uma discussão, mas logo ele
relaxa e me aperta nos braços dele.
― Claro que não vamos mais fazer isso. Não vamos mesmo. ― ele fala,
mas sinto que está rindo.
Capítulo 10
Sebastian
Quando ela acorda, eu já pedi o serviço de quarto e estou tomando
meu café. Ela me dá um sorriso sem graça e vai para o banheiro. Preciso
admitir que tive uma das melhores noites de que me lembro. Finalmente
peguei uma mulher de parar o trânsito!
Tá, depois ela veio com aquele papo de “não vamos mais fazer isso”,
mas duvido que ela vá resistir, estando nesse quarto de hotel e na mesma
cama que eu, porque eu não pretendo facilitar para ela. Quero tê-la de novo,
quero tê-la mais um monte de vezes, e vou tê-la!
Ouço o barulho de um grilo vindo da mesa, está vindo de dentro da bolsa
da Celina. As últimas duas vezes que ouvi esse barulho era o tal do
Edmundo, então olho para conferir se ela ainda está no banho, ouço o
barulho da água caindo e abro a bolsa dela. Pego o tijolo que ela chama de
celular e aparece apenas um número; ela deve ter apagado o contato dele da
agenda do celular. Então eu atendo.
Fico em silêncio por um momento, mas ele começa a falar:
― Celina, onde você está? Eu fui à igreja ontem, fiquei esperando você.
Tinha certeza que você ia aparecer, por que fez isso?
Continuo em silêncio, mas percebo que ele espera uma resposta, então
resolvo falar:
― A Celina está no banho. Não pode atender agora!
Ele gagueja, mas consegue perguntar:
― Quem está falando?
― Sebastian Vaughn.
― Sebastian? Da V.D.A.?
― Isso mesmo.
― Por que diabos você está atendendo o telefone dela?
― Porque ela foi para o banho e o deixou na cama, então resolvi atender.
― Na cama? Onde vocês estão?
Perco a paciência e já falo de forma que ele perceba isso.
― Quem é você?
― Sou Edmundo, o noivo dela. Ela não falou de mim?
― Tenho absoluta certeza de que se ela tivesse um noivo, não teria
viajado comigo.
― Viajado? Para onde?
― Olha Edmundo, a Celina está ocupada agora. Na verdade pretendo
mantê-la ocupada pelo resto do dia, então pode ligar para ela outra hora.
Até mais!
Desligo antes que ele possa dizer qualquer coisa, e um sorriso nasce em
meus lábios ao imaginar a cena. Se ele estava falando a verdade, então ele
não cancelou o casamento, ela deveria ter se casado ontem, mas ficou o dia
todo comigo e em momento algum pareceu se lembrar disso.
É melhor guardar o celular dela, se ela não se lembrou, não sou eu que
vou lembrá-la. Apago a ligação dele do celular, e estou prestes a guardá-lo,
quando aperto um botão e uma imagem aparece. Ergo o celular novamente
para ter certeza que estou vendo direito, mas estou. É uma foto de Celina
vestida com uma fantasia sexy pra caralho! Ela está vestida de coelhinha,
com as orelhas e tudo.
Lembro-me que ela comentou sobre as fantasias que comprou para a lua
de mel e passo para a próxima foto. Sorrio quando constato que eu estou
certo, ela deve ter tirado foto com todas as fantasias. A segunda foto a
mostra deliciosamente vestida de enfermeira. Meu sorriso agora domina
todo meu rosto e meu pau já está acordado. Vou até o quarto e pego meu
celular, preciso ter essas fotos, preciso me lembrar delas para sempre.
Quando Celina sai do banho, me aproximo dela e dou um beijo em sua
boca. Ela se assusta e se afasta.
― O que foi isso?
― Um beijo. ― digo calmamente e ela arregala os olhos.
― Sebastian, nós conversamos sobre isso. Aquilo que aconteceu ontem
não vai acontecer de novo.
― Porque você é minha secretária, eu sou seu chefe e blá-blá-blá... Você
já disse isso Morelli, relaxa, foi só um beijo! Ainda não estou tirando sua
roupa.
Ela bufa.
― Você não vai tirar minha roupa! E não é para ficar me beijando
também.
― Ok, relaxa.
Ela vai para o quarto trocar de roupa, mas eu a sigo. Claro que sigo.
Depois de ver aquelas fotos dela, não tem a menor possibilidade de não
estar dentro dela nos próximos dez minutos.
Quando abro a porta ela se assusta e se enrola de novo na toalha:
― O que está fazendo aqui?
― Vim ver você.
― Você não pode esperar eu vestir a roupa para me ver?
― Não, você fica bem mais interessante nua!
Ela se irrita e atira um frasco de algum creme. Eu não saio rápido o
suficiente e ele acerta meu ombro.
― Ah Celina, não acredito que você fez isso!
Ela começa a rir. Eu avanço na direção dela, ela grita e corre para a
porta, mas eu a agarro e a jogo na cama.
― Você me paga! ― reclamo e antes que ela possa pensar no que estou
fazendo, minha boca já está na dela e minha mão já está no meio de suas
pernas, ela é minha, e precisa aceitar isso de uma vez por todas!
Celina
Não acredito que transamos de novo, e novamente foi maravilhoso!
Quando me recupero, me visto e vou comer alguma coisa. Pouco depois ele
se senta ao meu lado na mesa e começa a comer também. Não falamos
nada.
Não sei mais o que fazer com essa situação. Era para ter sido somente
uma transa no aniversário dele, nada mais que isso. Mas já foram duas
vezes, e hoje nem é um dia especial.
Que desculpa eu vou dar agora para mim mesma para que não ocorra
uma terceira vez? Distraio-me em meus pensamentos por um minuto e a
boca dele já está na minha de novo. Eu correspondo ao beijo, não consigo
me afastar, mas quando ele me pega no colo e vai em direção ao quarto. Eu
reajo e bato nele até me colocar no chão.
Afasto-me imediatamente.
― O que acha que está fazendo?
― Te levando para o quarto. Ou você quer fazer aqui mesmo, na sala?
Eu não me importo.
― Nós não vamos fazer, nem no quarto e nem na sala! Você não ouviu o
que eu disse?
Ele abre aquele sorriso safado.
― Ouvi. Você disse que não ia fazer de novo, mas foi pouco antes de
fazer de novo. Então acho que não devo levar em consideração o que você
fala.
Faço uma careta. Ele realmente me irrita!
― Sebastian, presta atenção! Nós transamos, duas vezes, foi ótimo, mas
acaba aqui! Eu não vou ser sua amante e você não vai me ter de novo!
Ele dá um passo na minha direção e eu dou um passo para trás.
― Você não vai ser minha amante, porque eu não sou comprometido.
― Você entendeu o que eu quis dizer. Não quero ficar fazendo sexo com
você!
― Você não gostou?
― Não se trata disso.
― E se trata do que então?
Eu suspiro e me sento no sofá. Ele se senta na poltrona, longe de mim.
― Eu não sei fazer isso, Sebastian. Não sei ter esse tipo de relação!
― De que relação estamos falando Celina? Você sabe que eu não vou ser
o cara que vai te pedir em casamento e te chifrar depois.
Ele se senta ao meu lado e pega minha mão.
― O que estou te propondo é muito mais fácil, não é uma relação, não é
um compromisso. É só sexo. Você só tem que me deixar te dar todo o
prazer do mundo, e eu prometo fazer isso. Quando você se cansar, não
faremos mais.
Parece simples, e bom demais. E eu sei que nada realmente bom é tão
simples. Eu realmente quero transar com ele de novo e de novo e de novo,
mas não sei se estou pronta para ter uma relação. Ou uma “não-relação”,
como ele diz.
― Não precisa pensar tanto, Celina. Isso é comum hoje em dia, duas
pessoas se conhecem, confiam uma na outra, sentem atração uma pela
outra, acaba em sexo. É simples e delicioso assim!
― Eu não sei. Você é meu chefe, isso vai ser estranho.
― Vamos fazer o seguinte: durante o dia, quando a gente estiver na
empresa, você é só minha secretária, nada de beijos, nada de sexo. Quando
voltarmos para o Hotel, ou quando anoitecer, você é minha. Vai deixar eu
fazer de tudo com você, na hora que eu quiser e em troca te prometo todo
prazer que você sequer pode imaginar. Quando a viagem acabar e voltarmos
para a casa, nosso sexo acaba. Pense nisso como umas férias da sua rotina!
― Férias? ― ainda estou em dúvida, ainda sinto que alguma coisa vai
dar muito errado nisso tudo.
― Celina, você acha mesmo que vai conseguir ficar ao meu lado a
semana inteira e não fazer amor comigo? Acha mesmo que vai resistir?
― Você não tem que ser tão convencido! Sabe, eu poderia dormir
tranquilamente na mesma cama que você e não tirar a sua roupa!
― Claro que poderia, mesmo porque eu já estarei nu, quando estiver na
cama com você.
― Sebastian! ― vou dar um tapa nele, mas ele me puxa e me beija.
― Relaxa Celina, só relaxa e curte!
Então volta a me beijar e assim inauguramos o sofá da sala.
Não preciso detalhar como passamos aquela tarde de domingo, acho que
transamos umas oito vezes. Sebastian é incansável, e quanto mais eu o
tenho, mais o quero! Tento não pensar muito nisso, ele não vai ser sempre
esse cara atencioso e quente que está sendo hoje, isso é só pelo sexo.
Amanhã é segunda, voltaremos ao trabalho, à rotina, e ele voltará a ser o
estúpido que sempre foi! Assim eu vou parar de pensar tanto nele.
Saio do que deve ser meu quarto banho do dia e ouço o som do celular
de Sebastian. Ele está sentado no sofá, perto do telefone, mas claro que não
atende. Eu reclamo, mas atendo o celular dele e uma mulher pede para falar
com ele. Pergunto quem é, mas ela fica em silêncio. Então entrego o
telefone a ele:
― Alguém não identificado quer falar com você.
Ele me olha estranhando, mas pega o telefone, e então sua expressão
muda totalmente. Ele se levanta e gagueja. Eu disse que ele ga-gue-ja, e
nunca na vida vi Sebastian gaguejar. Ele sempre é confiante demais. Sinto
que tem alguma coisa errada, mas ele sai do quarto e vai para o corredor,
me deixando ali.
Visto-me e fico trocando de canal, não consigo prestar atenção em nada.
Sebastian está no corredor, ao telefone com a pessoa não identificada a pelo
menos quinze minutos. Ele não fica esse tempo no telefone nem por
questões de trabalho, ele sempre passa o telefone para mim.
Quando ele volta, decido não perguntar o que aconteceu, não sou nada
dele, se quiser, ele que me conte! Senta-se ao meu lado e apoia a cabeça
entre as mãos, mas continuo ignorando. Depois de um tempo, ele toma o
controle da minha mão e desliga a televisão. Parece irritado.
― Você não vai perguntar quem era? ― diz.
― Não é da minha conta!
Ele parece surpreso. Joga o controle no sofá do outro lado e volta a
colocar a cabeça entre as mãos.
― Pode me devolver o controle? ― reclamo.
― Não! Não quero esse zumbido na minha cabeça.
Eu me aproximo dele.
― Está acontecendo alguma coisa? Você quer conversar?
Ele dá uma risada, mas não há nada de feliz nela.
― Eu sabia! Esse papo de não é da minha conta só vale por um minuto.
Você vai perguntar quem era, não vai?
Ele tem um dom de me irritar. E além de ser irritante ainda é um imbecil
mal humorado e sem noção. Eu me levanto e praticamente grito.
― Não venha descontar o seu mau humor em mim! Eu não te perguntei
hora nenhuma quem te ligou, perguntei se você quer conversar. Mas se você
não é civilizado o suficiente para fazer isso, então vai à merda!
O barulho da música Erva Venenosa começa a tocar me alertando que a
Gil está me ligando.
Então me afasto dele e vou atender ao celular:
― Celina, como você está?
― Bem, e você?
― Bem também.
Ela fica em silêncio e percebo que quer me contar alguma coisa.
― O que foi Gil? Pode falar. O que aconteceu agora?
― Eu nem ia te falar isso, mas achei que era melhor saber por mim. Eu
passei em frente à igreja ontem, às dezenove horas e ele estava lá. Estava
vestido de noivo, no altar, toda a família dele e alguns conhecidos de vocês
estavam lá. Ele não cancelou o casamento Celina, ficou esperando por você!
Fico em silêncio. Estou em choque, não sei o que fazer, o que dizer, nem
sei o que pensar. Eu deveria ter me casado ontem, deveria estar em lua de
mel nesse momento. Como eu nem me toquei que ontem foi dia treze de
fevereiro? Como eu pude deixar passar? E o que quer dizer o Edmundo não
ter cancelado o casamento? O que quer dizer ele ter ficado como um idiota
na igreja, esperando por mim? Sou arrancada de meus devaneios, quando
Gil grita:
― Você está ai?
― Desculpe, sim.
― Você está chorando? Celina, eu não te disse isso para te fazer chorar!
Eu quero que você ria, porque o imbecil ficou lá com uma cara de panaca
abandonado no altar. Só te avisei para você desligar o celular, caso algum
parente vingativo dele resolva te ligar.
Não consigo mais responder. O que aconteceu com a minha vida? Como
fui parar nessa situação? Não duvido nem por um segundo que esteja
pegando pesado com o Edmundo, ele mereceu, mas por que não me deixa
simplesmente em paz? Será que um dia poderei perdoá-lo?
De repente Sebastian envolve minha cintura em seus braços e tira o
telefone da minha mão. Ele me abraça forte e eu encosto minha cabeça no
ombro dele e choro. Ficamos assim por uns minutos. Quando paro de
chorar, ele se senta no sofá e me puxa para o colo dele. O tempo todo ele
fica beijando minha testa, alisando meu cabelo e dizendo que está tudo bem
e isso acaba me acalmando.
Quando estou recuperada, ele me olha.
― O que aconteceu, Celina?
― A Gil, ela disse que ele não cancelou o casamento. Disse que todos
foram e ficaram lá na igreja esperando por mim.
― Ótimo. Assim ele fez papel de ridículo!
Concordo com a cabeça, mas ele percebe que algo está errado.
― Celina, o que foi? Você está arrependida por não ter se casado? É
isso?
― Não. Eu não sei. Não sei o que estou sentindo. Acho que queria
apenas esquecer tudo isso!
Ele me puxa de novo para o peito dele e fica acariciando meu cabelo.
― Você ainda o ama?
― No momento eu o odeio.
Ele respira fundo.
― Acha que vai perdoá-lo quando essa mágoa passar?
Eu penso por um momento: sou mesmo capaz disso? De esquecer o que
vi, o quanto fui humilhada e voltar para ele? Será que sou mesmo capaz de
continuar com o Edmundo egoísta, depois de ter por um único dia toda a
atenção que Sebastian tem me dado?
― Não. Acho que sou vingativa demais para perdoar.
Percebo ele relaxar quando falo isso.
― Então não vale a pena chorar por ele. Se você vai chorar por um
homem Celina, ele tem que valer a pena. Você vai chorar por mim, mas eu
vou valer cada lágrima!
Olho para ele, mas ele cobre minha boca com a sua.
― Tudo vai ficar bem. ― ele sussurra e me beija de novo.
Eu me deixo levar nos braços dele. Ele me carrega ao quarto, mas não
afasta a boca da minha hora nenhuma, porém seus beijos não são mais
aqueles urgentes, que me devoram. Ele me beija pacientemente, com
carinho, quase devagar demais.
Assim ele me deita na cama, bem devagar e abre meu roupão do mesmo
jeito. Ele me beija novamente, ainda carinhosamente e então vai descendo
seus beijos pelo meu pescoço, até alcançar meus seios. Espero ele chupar
com força, como sempre faz, mas ele brinca com a língua neles, dando
beijos leves e mordiscando bem de leve. Aquilo me irrita e me excita ao
mesmo tempo. Fico louca esperando que ele faça logo, que faça alguma
coisa rude e acabe com aquilo, mas ele não faz. Ele deixa meus seios e
desce seus beijos pela minha barriga, demora um tempo beijando o que
parece cada centímetro do meu corpo, até chegar ao meio das minhas
pernas. É mais frustrante ainda a forma como ele me beija ali, tão devagar,
tão de leve.
Eu resmungo e arqueio meu corpo em direção a boca dele, mas ele ri e
continua me beijando de leve. Quero que ele me chupe, que enfie seus
dedos em mim, mas ele não faz isso.
― Sebastian. ― resmungo.
― Fica calma Celina, me deixa amar você do jeito certo ― ele sussurra
e volta a me beijar de leve, mas as palavras dele me fazem acalmar e
apreciar o que ele está fazendo.
E ele está me deixando a beira do abismo, e recuando. Está me
enlouquecendo, entendo o jogo dele. Quando estou prestes a explodir, ele se
afasta, sorrindo. Então começa a tirar sua roupa vagarosamente, eu me
levanto ainda meio grogue e começo a tirar sua camisa, ele afasta as mãos e
me deixa fazer o resto.
Quando tiro a camisa dele, beijo cada centímetro de seu rosto, lábios e
seu ombro. Desabotoo sua calça e a tiro, junto com a cueca. Ele as tira pelos
pés e eu o empurro na cama, e monto em cima dele. Ouço sua risada e meu
coração se alegra que ele tenha gostado.
Nem sei o que estou fazendo, nunca fui ousada na cama, mas quero
retribuir o carinho e a raiva que ele me fez. Então vou beijando
delicadamente cada pedaço de seu peito, ouço ele gemer, quando raspo as
unhas levemente em sua barriga. Vou descendo meus beijos, beijo cada
músculo, cada gominho de seu abdômen e então chego ao seu pau. Eu o
toco levemente com a mão.
― Celina! ― ele grita.
Mas eu continuo lentamente, então encosto minha boca na cabeça dele.
Ele geme e arremete contra a minha boca, mas eu me afasto. Quando ele se
acalma volto a tomá-lo com a boca. Nunca fiz isso antes, não quero que ele
perceba que estou nervosa, ou que não sei como fazer. Já vi minha quota de
filmes pornô para ter uma ideia de como fazer, então lambo sua cabeça e o
ouço gritar. Então concluo que devo estar fazendo certo.
Quando enfio seu pau na boca, faço com que ele entre vagarosamente,
até alcançar o limite da minha garganta, então o tiro da boca com a mesma
lentidão. Ele grita meu nome de novo e tenta meter na minha boca, mas eu
me afasto e espero novamente ele se acalmar. Quero torturá-lo da mesma
forma que ele me torturou!
― Você é muito vingativa! ― ele reclama quando volto a lambê-lo bem
devagar.
Eu sorrio para ele e respondo:
― Nada disso, estou apenas amando você do jeito certo.
Ele dá uma gargalhada, mas me puxa para os braços dele.
― Vou te ensinar a amar bem direitinho. ― Então sua boca está na
minha e ele me joga de costas na cama, seu corpo cobrindo o meu.
Seu beijo voltou a ser voraz e violento. Ele entra no meio das minhas
pernas e para a cabeça do pau na minha entrada. Eu não acredito que ele vai
fazer isso, mas ele faz.
― Implora.
― Filho da mãe!
― Você não terá o que quer se continuar tão malcriada.
― Não vou implorar.
― Então não vai ter!
Ele fica passando a cabeça do pau pela minha entrada e no meu clitóris,
me enlouquecendo!
― Sebastian. ― não resisto e grito o nome dele.
― Está implorando?
― Merda! Estou! Faça logo. Estou implorando, me come!
Ele me beija e morde meu lábio, então, bem lentamente vai entrando em
mim, e a sensação de senti-lo entrar tão devagar é tão diferente de quando
ele mete de uma vez, que fico quieta, apenas sentindo. Fecho os olhos e
suspiro e ele começa a se retirar bem devagar, então entra vagarosamente de
novo.
― Você não vai ficar fazendo isso. ― reclamo e o empurro, subindo em
cima dele.
Ele dá gargalhadas enquanto eu cavalgo em cima dele, com pressa, do
jeito que eu gosto. Ele segura meu quadril e guia meus movimentos,
metendo ainda mais fundo e cada vez mais rápido. Quando nós dois
alcançamos o clímax, ele me puxa para o peito dele e me abraça forte.
― Você não vai sair daqui tão cedo. ― sussurra em meu ouvido.
― Não quero ir a lugar nenhum. ― respondo pouco antes de adormecer
no calor dos braços dele.
Sebastian
Acordo com uma sensação que há muito tempo não sentia. A
sensação de estar completo e realizado. Sei que foi a primeira vez que a
Celina pôs um pau na boca, mas fez isso tão bem, que se não conhecesse a
história dela, diria que é uma puta disfarçada.
Toco o lado da cama, mas ela não está ali. Então vou procurá-la. É
estranho que tenha trepado com ela há tão pouco tempo e já sinta falta do
seu corpo junto ao meu. Acho que estava precisando mais de sexo do que
imaginava! E por mais vingativa e malcriada que ela seja, é maravilhosa na
cama. Simplesmente deliciosa.
Eu a encontro sentada a mesa, com meu celular na mão. Ela se assusta
quando me vê, mas me olha como se fosse me matar, e sei exatamente o que
ela achou ali, meu papel de parede.
― Sebastian, que merda é essa? ― ela pergunta virando a tela do celular
para mim.
Tomo o celular da mão dela e digo calmamente:
― Acho que é uma mulher deliciosa vestida de dominatrix!
― Muito engraçadinho. Onde você achou essa foto e o que ela está
fazendo como protetor de tela do seu celular?
― Celina, relaxa! Ninguém mexe no meu celular além de você e eu.
Ninguém vai ver!
― Você vai.
― Não queria acabar com sua ilusão, mas eu já a vi com bem menos
roupa do que isso.
Ela se levanta e começa a dar socos em meu peito.
― Seu idiota! Não é para você ter fotos minhas indecentes no seu
celular! Como conseguiu isso?
Eu seguro os pulsos dela, tenho que conter um sorriso, ela está realmente
nervosa. Fica ainda mais linda quando está assim.
― Peguei do seu celular.
― E quem te deu permissão para mexer no meu celular?
― Você mexe no meu.
Ela bufa e se afasta de mim.
― Eu sou sua secretária, infelizmente sou obrigada a mexer no seu
celular! Você não tem direito nenhum de mexer nas minhas coisas! E para
quê passar minhas fotos para o seu celular?
― Por que você acha que eu vou querer uma foto sua seminua no
celular? Para pensar em você cada vez que...
Ela não me deixa terminar de falar, arremessa um vaso na minha direção
e desvio por pouco. Tenho que conter o riso para ter forças para segurá-la,
antes que ela alcance o segundo vaso.
― Celina, sua louca! Pare com essa mania de atirar as coisas! Vou
descontar o valor desse vaso do seu salário!
Eu não vou fazer isso, mas isso a faz se acalmar. Quando acho que é
seguro a solto. Eu quero mesmo puxá-la para meus braços e beijá-la. Adoro
quando ela dá esses ataques, mas me mantenho firme.
Ela respira fundo e pega meu celular de novo:
― O que está fazendo Celina?
― Apagando essas fotos, é claro.
Deixo que ela mexa um pouco no celular, depois o tomo da mão dela, e
antes dela reclamar, já a estou beijando de novo. Preciso tê-la, já me segurei
por tempo demais!
Acordo com um sorriso idiota no rosto que não quer sumir. Celina ainda
me provoca, mas não me deixa tocá-la.
― Amanhã! Sou sua secretária agora. Nada de beijos, nada de sexo!
― Como queira, Célie!
Ela faz uma careta e arremessa uma almofada em mim. Adoro irritá-la.
Chegamos à empresa e ela se senta calada em sua mesa. Percebo que
todos a estão olhando e cochichando. Incomoda-me que ela esteja sendo
motivo de chacota de novo. Ainda mais porque não saí de perto dela nos
últimos dias e dessa vez ela não fez nada. Penso que pode ser alguma coisa
com o seu ex noivo, chamo um funcionário num canto para perguntar, mas
ele desvia os olhos e diz que não é nada.
A resposta para a minha pergunta vem depois do almoço, quando recebo
uma ligação de Matheus.
― Que merda está acontecendo entre você e a Morelli, Sebastian?
Engasgo.
― O quê? Nada. Ela está viajando a trabalho comigo.
― A trabalho? E você não transou com ela?
― Que pergunta é essa Matheus?
― Quero saber, por que a foto da Celina usando uma fantasia de
dominatrix está no seu Instagram? Que merda você acha que está fazendo?
Você sabe que não permitimos relacionamentos entre funcionários da
empresa. Que merda é essa, Sebastian?
― Instagram?
Não digo mais nada enquanto ele vai soltando um monte de palavrões.
Abro meu notebook e vou direto para o meu Instagram. Lá está: a foto da
Celina vestida de dominatrix, enviada ontem à noite, na hora em que ela
estava mexendo no meu celular. Ouço um arquejo atrás de mim, e Celina
está parada, com a mão no rosto, vermelha como um tomate.
― Ah não... Isso não é verdade! Me diz que você não fez isso!
― Na verdade, você fez isso.
Ela parece que vai desmaiar, então jogo meu celular na mesa e a puxo
para o meu colo.
― Relaxa, vamos apagar isso, ainda não deu tempo de quase ninguém
ver.
Apago a foto, mas claro que todo mundo já viu. Bem que o Matheus
podia ter ligado para me xingar mais cedo!
― Claro que todo mundo viu! Por isso estão cochichando de novo.
― Não se preocupe, daqui a pouco todo mundo esquece.
― Quantos seguidores você tem no Instagram?
Engulo em seco e penso em mentir, mas não adiantaria, ela poderia
acessar meu Instagram depois e ver a verdade.
― Um pouco mais de dez mil. ― falo baixinho, mas ela sai do meu colo
horrorizada.
― Dez mil?
Tento acalmá-la, mas nada do que faço a deixa melhor. Merda, dessa vez
foi culpa minha. Eu não devia ter colocado sua foto como tela do celular.
Claro que ela ia ver e ia tentar apagar. E sendo a Celina, eu devia saber que
tinha uma grande probabilidade de acabar assim.
― Desculpe-me, Celina. A culpa foi minha. Você pode me processar, vai
ficar rica.
Ela dá um sorriso sem graça e volta para sua mesa e não sai de lá nem
para almoçar.
Depois de horas, consegui convencer a Celina a ir comer alguma coisa,
mas ela está demorando demais, então vou atrás dela. Olho no refeitório,
mas ela não está lá. Então saio pela empresa procurando por ela. Avisto seus
cabelos negros próximo ao banheiro feminino, mas ela não está sozinha.
Tem dois homens a encurralando.
Escuto apenas o final do que um deles está dizendo.
― Você não precisa se fazer de difícil, gatinha! Não sou o dono da
empresa, mas posso fazer você esquecê-lo em dois tempos. ― ele passa a
mão pelo cabelo dela, que tenta se afastar, mas ele segura o seu braço ―
Não se faça de santa, eu vi sua foto. Você é deliciosa!
Então entro em ação, afasto-o pelos cabelos, mas sei que não posso
agredi-lo. Não quero um processo de verdade nas minhas costas. Eu o
imobilizo e o viro na direção da Celina. Sei bem o quanto ela tem a mão
pesada.
― Vamos, Célie, ele é todo seu! Pode descontar.
E é o que ela faz. Descarrega toda sua raiva na cara dele. Ela consegue
arrancar sangue dele e fico muito orgulhoso dela. Depois que suas mãos
doem, ela começa a chutá-lo, chuta várias vezes no meio das pernas e tenho
que segurá-lo em pé. O outro cara fica apenas olhando, se divertindo com a
situação.
Quando ela cansa, põe a mão nos joelhos.
― Já chega, não estou mais com raiva!
Olho para ele e vejo que o estrago foi muito bom para uma mulher.
― Eu vou processar você. ― reclama ele.
― Sério? Por quê? Eu não te dei um tapa. Se pretende dar queixa contra
a senhorita Morelli, devo lembrá-lo que ela pode acusá-lo de assédio, eu
sou testemunha dela!
Ele sai resmungando e eu decido levá-la para o hotel. Espero que essa
história da surra se espalhe e que não haja mais cochichos quando ela passar
amanhã.
Ela fica calada o caminho todo. Quando chegamos ao hotel, deixo que
ela tome um banho, e peço o serviço de quarto. Enquanto tomo meu banho
espero que ela coma, mas ela não faz isso. Tento convencê-la a comer, mas
ela parece chateada e sem fome.
― Não precisa ficar assim. Você vai ver amanhã que a história da surra
vai sobrepujar a história da foto. Daqui a pouco ninguém lembrará mais
disso!
Ela não diz nada, continua chateada.
― Celina, você é linda! Vai que você consegue um contrato para posar
nua por causa dessa foto, hein? Vai ficar rica! ― tento brincar, e ela dá um
sorriso, mas logo volta a ficar triste.
Eu me aproximo para abraçá-la, mas ela se afasta.
― Não, Sebastian! Eu estava pensando. Acho melhor pararmos com
isso.
― Pararmos com o quê?
Sei o que ela vai dizer, e não quero, não quero de jeito nenhum ouvir
isso.
― Esse caso. Isso que há entre a gente. Isso não pode ser bom para
nenhum de nós. Acho que não vale a pena, estamos arriscando demais. Olha
no que deu!
― Celina, foi um acidente. Nada parecido vai acontecer de novo.
― Eles vão falar, Sebastian! Todo mundo vai falar que eu estou tendo
um caso com você e como eu vou me defender? Eles estarão certos, não
estarão?
Começo a ficar desesperado. Ela se afasta e vai para o quarto. Eu não sei
o que fazer, só sei que não quero perdê-la agora. Não posso!
Vou atrás dela e a puxo para meus braços, a apertando o máximo que
consigo.
― Você não vai fazer isso Celina! Eu não vou desistir de nós! Que
pensem ou digam o que quiserem, mas você e eu não vamos acabar aqui!
Você é minha essa viagem inteira e ponto.
Eu a beijo, e ela não se afasta. Então deito com ela na cama e a prendo
em meus braços, acariciando seu cabelo até ela adormecer. Não transamos
essa noite, mas o fato dela ter ficado em meus braços depois de dizer que
não ia mais ficar comigo, me conforta. O que temos está muito longe de
acabar.
Capítulo 11
Celina
Os cochichos diminuíram bastante. Ainda há alguns, mas percebo
que estão falando sobre a surra que dei no Ângelo, não sobre a minha foto
no Instagram do meu chefe. Nem sei como me meto nessas situações, mas
elas sempre acontecem comigo. Estava até demorando para eu ser motivo
de piada de novo, e não vai demorar, serei novamente. Essa é minha vida, o
que posso fazer? Sebastian está andando ao meu lado em silêncio.
Ele está assim desde quando entramos no elevador, ainda no hotel e meu
celular começou a tocar aquele som de grilo engasgado.
Sebastian me olhou e pediu para eu não atender, não pretendia mesmo
atender o Edmundo, mas não entendo o porquê disso! Não é como se ele
soubesse que era o Edmundo ligando, ou será que ele percebeu que meu
celular só toca esse grilo engasgado quando ele liga?
De qualquer forma, eu não atendi, e ele me ligou mais umas cinco vezes
depois disso. Eu ainda não estou pronta para falar com ele, não quero ouvir
que ele fora à igreja e ficara esperando por mim. Não quero ter de dizer a
ele que eu sequer lembrei que era a data do nosso casamento, que estava
ocupada demais tendo o melhor sexo da minha vida com o meu chefe.
Então o melhor para nós dois é não nos falarmos por agora. Quem sabe um
dia eu queira falar com ele de novo? Acho que isso não vai acontecer, mas
nunca se sabe.
Sebastian continua em silêncio, eu fiz o que ele queria então não entendo
por que está tão sério. Resolvo não perguntar o motivo. Se quiser, ele falará
comigo! Não quero dar uma de “namorada ciumenta”, se nem namorada
dele eu sou.
Deixo-o com seus pensamentos; nos entenderemos a noite, na cama.
Estou contando os minutos para chegarmos logo ao hotel, não transamos na
noite passada e essa noite ele terá que me dar prazer em dobro, para
compensar.
Entramos em sua sala e ele vai para a mesa ligar o computador. Logo,
percebe que há um buquê de flores na mesinha de centro da sala, ele lê um
cartão e joga as flores no lixo.
Quero perguntar de quem são as flores, o que está acontecendo, mas é
como eu disse, deixo ele com seus pensamentos, afinal, não são da minha
conta. Ele fica com um mau humor do caralho depois de receber as flores, e
mal fala comigo.
Também não insisto, falo o que tenho que falar com ele por e-mail, o que
o faz dar o primeiro sorriso ao conversarmos no bate-papo:

Sebastian: Por que está me mandando mensagem se estou na sua frente?

Celina: Porque vc parece estar em outro mundo.

Sebastian: Não se engane, estou muito consciente da sua saia curta.

Celina: Vc é um pervertido. Mesmo quando está tão mal humorado.

Sebastian: Não estou de mau humor, impossível ficar mal humorado com
essa vista.

Percebo que a forma como estou com as pernas cruzadas está mostrando
um pedaço da minha bunda para ele, então abro as pernas, e o ouço gemer:

Sebastian: Vc é uma menina muito safada. Adoro isso!

Celina: Pena que não pode me tocar, apenas me ver.

Sebastian: Não me desafie, sabe que não tenho limites.

Resolvo parar de provocá-lo antes que ele tome mesmo isso como um
desafio e queira transar na sala dele, o que seria constrangedor, já que eu
não conseguiria dizer não e odiaria dizer sim. Paro de mandar mensagens e
volto ao meu trabalho, recebo ainda algumas carinhas tristes dele, mas as
ignoro.
Vejo que ele olha para as flores no lixo de vez em quando e faz uma
careta, então presumo que quem quer que as tenha enviado, o irritou muito,
e isso me deixa muito curiosa. Então tenho uma ideia.
Eu não pretendia ficar dando voltas na empresa, mas preciso de um café.
Acabo rindo quando percebo que todos se afastam quando passo e ninguém
mais mexe comigo. Agora eles têm medo de mim, e devo isso a Sebastian.
Odeio o fato de que no momento devo muitas coisas a ele, inclusive
minha paz de espírito! Pego o café com pouco açúcar, do jeito que ele gosta
e levo à mesa. Ele me agradece com um sorriso enorme e fico tentada a
beijá-lo, mas me contenho. Enquanto ele toma o café olho de relance para
as flores no lixo e percebo que o cartão está por cima, de forma que eu
poderia pegá-lo tranquilamente, mas Sebastian percebe o que estou olhando
e começa a falar coisas comigo sobre o negócio que está fechando. Não me
deixa olhar de novo naquela direção...
Desisto por enquanto e volto à minha mesa, quando chego, há uma
mensagem dele.

Sebastian: Não vejo a hora de comer vc.

Faço uma careta!

Celina: Não diga essas coisas, pois alguém pode interceptar essa
conversa. Vc sabe que essa rede é de toda a empresa. Não preciso ser
motivo de chacota de novo.

Sebastian: Desculpe.

Volto a trabalhar, mas logo recebo outra mensagem.

Sebastian: Que calcinha está usando?

Celina: SEBASTIAN!!!!!!!!!

Uso letras maiúsculas e um monte de pontos de exclamação para ele


entender que estou chamando sua atenção.
Sebastian: Desculpe, última mensagem. Venha aqui e sente-se na minha
mesa com as pernas abertas.

Celina: Filho da mãe! Vou ter que abrir a porta agora!

Penso que se alguém ler o que ele está falando comigo, é melhor que
vejam que a porta está aberta e, portanto não tem como eu ter feito o que ele
me pediu, mas quando me levanto para abrir a porta, ele corre em minha
direção e me puxa, me beijando feito um louco.
Quando enfim ele se afasta, sussurra:
― Celina, por favor, senta na minha mesa. Só um pouco!
Faço o que ele me pede. Sento-me à mesa e abro as pernas. Ele senta na
cadeira de frente para mim e parece me devorar com os olhos. Ele se
aproxima de mim e quando vai me tocar, eu me afasto.
― Nada disso, senhor Vaughn! Na empresa somos apenas chefe e
secretária, lembra? Você não pode me tocar!
― Sua megera! Vem aqui!
Ele vem em minha direção e eu consigo descer da mesa, mas assim que
ponho os pés no chão, me desequilibro e caio de quatro. Nessa hora, alguém
entra na sala com alguns papéis na mão. Eu me levanto rapidamente,
arrumo minha saia, mas a mulher diante de mim fica me olhando com uma
careta e algo no olhar que identifico como inveja.
Faço uma cara de “sim, estou dando para ele e você não”, mas logo me
recomponho. Estou parecendo a Lurdinha, o que há de errado comigo?
― Você não pode entrar na minha sala sem bater! ― esbraveja
Sebastian.
A mulher pede desculpas e só falta pular em cima dele, mas quando ela
sai, sei que vai espalhar pela empresa que eu estava de quatro no chão da
sala dele, e eu nem estava fazendo nada demais! Sebastian me olha e digo
isso para ele a beira das lágrimas.
― Eu nem estava fazendo nada demais!
― Está vendo! Antes estivéssemos mesmo fazendo alguma coisa, assim
você levaria a fama, mas receberia algo em troca. Agora vai ficar falada
sem ter aproveitado o lado bom disso!
Faço uma careta e vou para a minha mesa.
― Ainda dá tempo Celina, de aproveitar o que estão falando de você
nesse momento!
Mostro o dedo do meio para ele.
― Isso é culpa sua!
― Relaxa, Célie. Se você não quer, não vou insistir.
Ele vai para o banheiro e essa é minha chance. Corro até a cesta de lixo e
pego o cartão. Estou me sentindo uma namorada ciumenta mexendo nas
coisas do namorado, mas não me importo. Ele nem vai saber!
Quando abro e vejo a assinatura no cartão, percebo que Sebastian vai
sim saber que eu li o cartão, aliás, ele vai ter que me explicar isso. Pois no
cartão está escrito:

Celina, espero que um dia possamos ser pelo menos amigos.


Saiba que não presto, mas amo você assim mesmo. Do sempre seu,
Edmundo.

Sebastian sai do banheiro e estaca onde está quando me vê com o cartão


na mão. Eu não falo nada, olho para as flores e para ele.
― Você não devia ficar mexendo nas minhas coisas! ― diz ele.
― É mesmo? Mas você pode jogar as minhas coisas no lixo? ―eu grito.
Ele se aproxima, parece desesperado.
― Por favor, não atire nada em mim! Eu posso explicar.
Eu queria que ele passasse um aperto, que tivesse mesmo medo de mim,
mas não consigo e começo a rir.
Logo ele relaxa.
― Não vou jogar coisas em você, não sou tão desequilibrada assim.
Quero saber por que você jogou minhas flores no lixo.
Ele gagueja. Isso mesmo, ga-gue-ja.
― Eu não... Eu quis... Eu acho...
― Sebastian para com isso. Porque jogou minhas flores no lixo?
― Se você faz tanta questão assim das flores dele, pegue-as e ponha na
sua mesa.
― Não seja criança.
― Então não me provoque.
Cruzo os braços e olho para ele com uma cara de reprovação. Ele mexe
na gravata e se senta. Então abaixa a cabeça, como se aceitasse que foi
derrotado e fala:
― Eu estou com ciúme. E isso é uma merda.
Ele me pega tão desprevenida que não falo nem faço nada. Fico ali
parada, olhando o cartão. Quando me recupero do choque, jogo o cartão de
volta no lixo e vou para a minha mesa. Volto a trabalhar e finjo que nada
aconteceu. Mas não paro de pensar nenhum segundo sequer que ele,
Sebastian Vaughn, está com ciúme de mim. E estou batendo palmas por
dentro de tanta felicidade!
Chegamos ao hotel e eu corro para o banheiro, não quero encará-lo
ainda. Não falamos sobre o que aconteceu no caminho de volta, e não
pretendo falar tão cedo. Quando saio do banho, ele vai tomar o dele. Depois
de um tempo resolvo pedir serviço de quarto, mas Sebastian aparece e diz
que vamos jantar fora. Eu não discuto e saio com ele. Ainda com aquele
clima estranho, nenhum de nós dois fala quase nada. Jantamos assim.
Quando estamos comendo a sobremesa, ainda sem olhar direito nos
olhos um do outro, olho para ele de soslaio e percebo que ele está me
olhando. Então desvio o olhar rapidamente. Ficamos assim até a sobremesa
acabar, e de repente, não aguento mais e começo a rir. Ele começa a rir
também, do nada, e todos a nossa volta ficam nos olhando, como se
fôssemos loucos.
Ele paga a conta e pega na minha mão quando saímos do restaurante.
Vamos passando por lojas de roupas e joias, e toda hora ele oferece alguma
coisa para mim. Eu não posso olhar demais para alguma coisa e ele já quer
entrar na loja e comprar. Não permito que ele me compre nada, o que o
deixa frustrado.
― Sebastian, você não tem que me dar nada.
― Mas eu quero. Quero te dar essas roupas, essas joias e tudo o que
achar que vai ficar lindo em você!
― Valeu estilista, mas não quero nada seu.
― Celina, eu realmente amo sua personalidade, mas você podia ser
menos orgulhosa de vez em quando.
Eu não respondo. Ainda estou na palavra “amo”. Meu coração acelera só
de pensar que ele ama alguma coisa em mim. Eu sei, estou parecendo uma
adolescente boba apaixonada, mas não estou apaixonada, só boba. Lembre-
se disso.
Em vez de me levar de volta ao hotel, ele me arrasta em direção a praia.
― Para onde estamos indo?
― O que você acha? Está muito calor, não?
Sim está, mas nem por isso quero nadar de lingerie de novo. Digo isso a
ele, mas ele me corrige dizendo que vamos nadar nus. Faço uma careta,
pois por nada no mundo eu farei isso. Ao chegarmos à praia, praticamente
deserta, ele começa a tirar a roupa, então começo a duvidar da minha
certeza.
Reparo que há apenas um casal, não muito perto da gente, mas também
não muito longe.
― Eu não vou tirar minha roupa. Tem gente ali.
― Celina, me desculpe, mas acho que eles estão ocupados demais para
prestar atenção em algum coisa além deles mesmos!
Reparo o casal na areia. Eles estão deitados de lado, de conchinha e
olhando bem, reparo que a perna dela está em cima da dele, e há um
movimento discreto, mas contínuo dos corpos.
― Meu Deus! Não acredito que eles estão fazendo isso aqui, na praia,
em público!
― Por que o espanto? O que acha que viemos fazer aqui?
Olho para Sebastian com a cara mais inocente que consigo fazer:
― Viemos nadar, é claro.
Ele abre um enorme sorriso.
― É claro. ― então tira a cueca e sua ereção já está apontando para
mim.
Entro em pânico:
― Sebastian, cobre isso! Alguém vai ver você, ficou louco?!
Ele começa a rir.
― Relaxa Celina, ninguém vai me ver! E se o casal ali olhar para cá, o
máximo que vai acontecer é que a mulher vai querer trocar o namorado sem
graça dela, por mim!
Faço uma careta:
― Desculpe-me por esperar humildade de você.
― Você acha mesmo que um cara com um pau desse tamanho precisa
ser humilde?
Dou um tapa nele, mas ele me puxa para seus braços e sussurra em meu
ouvido:
― Tira a roupa e vem comigo.
E é o que faço. Tiro rapidamente minha roupa e praticamente corro para
a água. Mesmo no calor que está fazendo, a água está fria e dá um choque
em meu corpo. Só me aqueço de novo quando Sebastian me abraça, então
eu passo minhas pernas pela cintura dele e ele me penetra. A sensação de
senti-lo na água, em um lugar público, me dá uma adrenalina que faz o sexo
ser ainda mais gostoso!
Sebastian
Fui um estúpido. Tive medo de assustá-la quando revelei que estava
com ciúme. Eu estava mesmo, ainda estou. Irrita-me que ele pense que tem
o direito de procurar por ela depois de tudo o que fez, e me irrita que ela
demonstre algum interesse nele.
Quando vi as flores que ele havia mandado, perdi o controle. O que não
preciso agora é que eles façam as pazes e ela não queira mais dormir
comigo. Não permitirei que isso aconteça! E esse é o motivo do meu ciúme,
não quero que ela deixe de dormir comigo. Nada mais que isso.
Não há sentimentos envolvidos, apenas posse. Eu a desejo como nunca
desejei ninguém. Achei que transaria com ela uma vez e esse desejo louco
acabaria, mas só fez aumentar. Quanto mais a tenho, mais a quero. E sei que
isso tem um prazo de validade, até o fim da semana, mas não importa. Eu a
quero até lá. Quero aproveitar cada noite com ela; ainda irei convencê-la a
transar na minha sala, e assim poderei aproveitar cada dia ao seu lado.
Quando voltamos ao hotel, meu celular toca. Dessa vez atendo antes que
Celina apareça. Tenho medo que seja alguém com quem não quero que ela
fale, mas é Cleber. Ele pergunta como estou, como estão os negócios, e fica
contente quando digo que Adrian já está garantido, e possivelmente Dante
também.
Então ele finalmente toca no assunto pelo qual sei que ele ligou: Celina.
― Você está transando com ela.
Ele não pergunta, afirma. Resolvo não desmentir:
― Eu sabia que isso ia acontecer. Desde quando você a seguiu como um
lunático, eu sabia que tinha mais nisso!
― Cleber, se vai me falar das normas da empresa, que funcionários não
podem se envolver, isso não é exatamente um envolvimento. E eu já transei
com muitas mulheres da empresa e ninguém nunca se importou com isso!
― Você nunca pôs fotos delas no seu Instagram, mas não vou falar isso.
Estou pouco me lixando para as normas da empresa, isso é coisa do
Matheus. Só queria dizer que sei que está comendo a senhorita Morelli.
Cara! Como ela é gostosa! Eu até salvei a foto dela vestida de dominatrix;
ela se vestiu assim para você?
A raiva enfim começa a me tomar.
― Não é da sua conta e apague a foto dela! Não quero você olhando
para ela seminua.
Ele começa a rir:
― Você seguiu a mulher antes de comê-la e agora está todo possessivo!
Acho que meu melhor amigo foi fisgado. Que pena, vou ter que marcar com
as indianas só para mim...
― Idiota!
― Tonto apaixonado!
― Não estou apaixonado! ― olho para o lado e vejo Celina entrar no
quarto ao telefone.
Isso acaba com minha paz, ela está ao telefone, será que é o ex? Ou a
amiga com notícias do ex? Despeço-me de Cleber e vou para o quarto e
ouço apenas o fim da conversa:
― Não, eu não vou te visitar e não precisa fazer essa cena. Ótimo! Quem
está falida sou eu, isso não é da sua conta! Também te amo, tchau.
Fico confuso. Quando a ouvi brigando achei que era o ex, mas ela disse
“eu te amo” no final. Será que fez as pazes com ele? Não quero dar uma de
homem enxerido, mas que se dane, preciso saber!
― Quem era?
Ela parece espantada com a minha pergunta.
― Sabe Sebastian, eu não fico me metendo na sua vida pessoal!
― Porque não quer! Eu me meto na sua. Quem era ao telefone?
― Minha mãe.
― Não seja mal criada! Diga-me quem era. Era seu ex?
Ela começa a rir.
― Não, seu idiota. Era Cecília Morelli, a minha mãe!
Percebo que ela está falando sério e vejo como estou realmente sendo
um idiota.
― Não sabia que tratava a sua mãe assim!
― Você não viu nada. De vez em quando ela precisa de um puxão de
orelha.
Ela suspira e percebo que há alguma coisa errada entre ela e a mãe.
Lembro-me então de algo que ela me disse há algum tempo.
― Por que não gosta de ficar sozinha? Você disse que está bem porque
tem sua amiga, que não conseguiria se estivesse sozinha. Por quê?
― É uma história complicada.
― Conte-me!
― Não, vamos transar! Não precisamos contar nossos detalhes trágicos
um para o outro. Eu não fico perguntando da sua vida...
― Mas eu já te contei sobre a minha mãe! A sua história não pode ser
mais trágica que a minha.
― Tudo bem! Você pediu. Minha mãe trocava de namorado como quem
troca de roupa. Quando eu tinha quinze anos ela conheceu o Ronaldo. Ele
era um cara estranho, eu falava isso para ela, mas ela nunca me deu
ouvidos. Um dia, ela brigou com ele, o colocou para fora de casa e viajou
com uma amiga, me deixando sozinha por uma semana. Nós morávamos
afastadas, então não tínhamos vizinhos. No último dia antes do dia previsto
para ela voltar, Ronaldo apareceu lá em casa. Eu disse para ele que ela não
estava...
Ela para de falar e eu sinto meu peito apertar só de imaginar o que pode
ter acontecido.
― Ele estava bêbado.
Vejo uma lágrima rolar por seu rosto e a puxo para meus braços.
― Tudo bem Celina, não precisa dizer mais nada!
― Não, eu vou dizer senão você vai pensar o pior. Ele disse que não
estava ali pela minha mãe, então veio para cima de mim. Eu comecei a
gritar, mas sabia que ninguém ia me ouvir, então deixei que ele tirasse
minha roupa, consegui alcançar um canivete que estava na mesa, perto de
onde estávamos, e quando ele ia tirar minha calcinha, eu cortei seu rosto.
Saí debaixo dele e tentei correr, mas ele me segurou pelo pé e me bateu no
rosto. Eu segurei sua mão e o mordi até sair sangue. Ele ficou furioso, veio
para cima de mim de novo, mas nessa hora minha mãe chegou. Ela resolveu
voltar um dia mais cedo da viagem porque ficou sem dinheiro; ela chamou a
polícia, mas ele conseguiu fugir. A partir disso eu nunca mais consegui ficar
sozinha! Quando fui para a faculdade conheci a Gil, então saí de casa e fui
morar com ela.
Preciso de um momento para assimilar tudo o que ela me disse. Saber
que alguém tenha feito tanto mal a ela me dá muita raiva. Se eu descobrisse
quem fez isso, faria questão de torturá-lo por várias horas, minuto a minuto.
Abraço-a ainda mais forte!
― Então imagino que sua relação com a sua mãe não seja muito boa.
― Não pense mal de mim, eu a amo. Mas acho que como mãe ela
deveria ter mais responsabilidade.
Quero acabar com essa tensão, quero que ela saiba que estou aqui por
ela, quero que ela se sinta protegida ao meu lado. Eu a puxo para que se
sente em meu colo e a beijo, delicadamente.
― Eu não te julgo. Estou aqui agora e nada vai te acontecer. Você não
precisa mais ficar sozinha! E não precisa sair por ai esfaqueando os outros,
nem atirando coisas!
Ela sorri. Eu adoro o sorriso dela, a sua fragilidade... Eu a adoro mais do
que deveria! E quero que ela saiba disso, então a beijo, beijo com tudo o
que posso oferecer para que ela saiba. E ela entende, porque tira minha
blusa bem devagar e sussurra no meu ouvido que eu a cale e faça amor com
ela. É o que mais quero fazer.
Capítulo 12
Celina
Estou me sentindo estranha hoje. Não aconteceu nada de ruim, pelo
contrário. Eu contei minha história mais cabulosa para Sebastian, coisa que
nunca achei que faria. Esperava que ele nem fosse prestar atenção, ou que
se esqueceria disso em cinco segundos e me pediria sexo, mas ele me
surpreendeu. Ele entendeu o que eu senti, não me julgou, me consolou, me
abraçou e fez amor comigo da maneira que eu precisava. E incrivelmente
foi nossa melhor transa até agora!
Ele foi carinhoso, intenso e apaixonado. Aliás, essa é uma palavra que o
descreve bem, intenso. Deixou-me sem reação duas vezes ontem, quando
disse que estava com ciúme, e quando foi tudo aquilo que eu precisava que
ele fosse.
Agora não sei mais como agir perto dele. Isso é só sexo, não temos
compromisso, não temos sequer um acordo de fidelidade, ele vai a um
coquetel daqui a duas noites, provavelmente vai encontrar uma conhecida
por lá. Ele pode querer passar a noite com ela e eu não posso fazer nada a
respeito disso, é um direito dele. Mas quando paro para pensar que
Sebastian pode ficar com outra pessoa, isso me irrita. E não me irrita de um
jeito fácil, como ele me irritou no avião e logo eu esqueci. Irrita-me de um
jeito que dói, e isso me assusta!
Ele também não parece tão à vontade comigo. Ele me beijou de manhã,
antes de virmos para o trabalho, mas depois disso sequer olhou na minha
direção. Quando chegamos ao prédio da V.D.A. os cochichos recomeçaram;
sei que estão falando sobre eu estar de quatro na sala dele.
Não adianta tentar me fazer de inocente, mesmo sendo inocente nesse
caso, e nem fingir que não sei do que todos estão falando. Então ando com a
cabeça empinada e faço questão de olhar para cada uma daquelas invejosas
por cima. Que elas saibam que eu durmo com o chefe gostosão delas, elas
não precisam saber que eu sei que qualquer uma delas também pode dormir.
Trabalho assim o dia todo, em silêncio, e ele também. A forma como ele
se afasta de mim me atinge. Merda! Deus, não permita que eu me apaixone
por esse imbecil. Respiro fundo e penso no Edmundo, e a raiva é tanta que
entendo que não estou me apaixonando por Sebastian, ainda não estou
pronta para isso, graças a Deus!
Quando o dia cansativo acaba, vamos embora. Ainda há os cochichos
quando eu passo, mas tenho a mesma atitude e estranhamente não me sinto
tão atingida dessa vez. Talvez a vergonha por tudo que acontece comigo já
estivesse gravada na minha postura, o que fazia tudo parecer bem pior do
que realmente era. Ao entrarmos no prédio do hotel, meu telefone toca.
Não é o toque do grilo engasgado, então sei que não é o Edmundo. Olho
para a tela é o Luciano, mas fico sem graça de atender perto do Sebastian.
É como se eu estivesse traindo-o, mas logo percebo como essa ideia é
ridícula e atendo:
― Oi Celina, como está?
― Bem, e você?
― Ótimo agora que ouvi sua voz. Então, nosso jantar hoje está de pé,
certo?
Jantar? Hoje? Eu tinha me esquecido completamente, penso em inventar
uma desculpa, mas vai ser bom me afastar um pouco do Sebastian e arejar
minha cabeça. Mesmo porque agora que dormi com meu chefe, não vou
mais sequer dar uns amassos no Luciano. Espero não ter que dizer isso a
ele!
― Claro, onde nos encontramos?
Sebastian imediatamente me olha quando falo isso.
― Eu vou buscar você. Melhor, Te espero no hall do hotel.
― Excelente.
Nós nos despedimos e finjo que nada aconteceu. Sebastian me olha como
se esperasse uma explicação, mas não pretendo dar isso a ele. Afinal de
contas, ele não é meu namorado!
Devo confessar que estava interessada no Luciano. Ele me liga de vez
em quando e me manda mensagens quase todos os dias. É muito bonito,
educado e uma ótima companhia, mas agora sairei com ele apenas como
amiga!
Quando chegamos ao quarto, vou tomar meu banho. Ao sair, Sebastian
está nu na sala. Me assusto e um sorriso malicioso aparece no rosto dele.
Vejo que ele arrastou a mesa até o centro da sala e tirou tudo de cima dela.
― Vem aqui Celina, deite-se!
― Deitar aonde?
Ele aponta para a mesa.
― Não sei se isso é seguro.
― Eu nunca te colocaria em risco.
Não quero confiar, mas confio nele. Dou um passo para perto da mesa,
mas Sebastian me para e me manda tirar a roupa. Faço isso lentamente,
estou tremendo e ansiosa demais com o que ele está planejando para mim
em cima daquela mesa. Percebo o mesmo frasco que ele usou para fazer
massagem em meu pé da outra vez. O que será que ele vai fazer agora?
Depois de tirar toda a roupa, Sebastian me levanta e me deposita
gentilmente na mesa. O frio do vidro dá um choque em meu corpo, e já
sinto o meio das minhas pernas pulsar.
― Deite-se de barriga para baixo!
Faço o que ele pede e logo suas mãos estão tocando as minhas costas.
Ele está me fazendo uma massagem.
― Achei que passou o dia todo muito tensa hoje Celina, acho que devo
deixá-la relaxada!
Eu não respondo, apenas gemo. Não existo nesse momento, sou apenas
sensações e pulsações e adoro quando ele me deixa nesse estado. Apesar da
excitação, realmente eu relaxo. Olho pelo vidro enorme da sala, e sei que
alguém pode estar nos vendo pela janela aberta, mas ao invés de me
acanhar, me sinto ainda mais excitada com essa possiblidade.
Quando estou quase dormindo, ele sussurra que eu me vire de frente. Ao
fazer isso, ele acaricia minha barriga, fecho os olhos e me deixo levar pelo
toque dele. Então toca meus seios, gentilmente, me torturando. Logo, aperta
meu mamilo entre os dedos e gemo. Continua com isso até eu chamar pelo
nome dele. Então volta a me massagear na barriga e desce as mãos, indo
direto para as minhas pernas. Eu resmungo e o ouço rir.
Finalmente, ele chega onde eu quero. Passa levemente a mão no meio
das minhas pernas e se afasta:
― Abra as pernas! ― diz com a voz rouca.
Eu mal consigo firmar minhas pernas na mesa, mas faço isso, espero que
ele venha massagear o meio das minhas pernas, mas ele puxa uma cadeira e
se senta de frente, ele as separa ainda mais com os braços, e logo sua boca
já está onde eu mais preciso dele. Dessa vez ele não vai devagar, ele é
ávido, faminto, e me leva rapidamente ao clímax.
Quando volto a mim percebo que ele está excitado. Ele então sobe em
cima da mesa.
― Sebastian, você acha que isso é uma boa ideia?
― Sexo com você sempre é uma ótima ideia!
― Mas em cima de mesa? E se ela não aguantar o peso de nós dois?
― Do chão não passaremos. ― ele sorri ― Relaxa, Celina! Nos meus
hotéis só usamos móveis de qualidade, essa mesa aguenta e eu não pretendo
fazer devagar!
E ele cumpre isso, faz como um louco, como se estivesse com saudade
de estar dentro de mim, e me surpreendo quando ele sussurra que estava
com saudade de me penetrar, e isso me leva ao orgasmo.
Depois que tomamos outro banho, separadamente, ficamos um tempo
assistindo a tevê deitados no sofá. Chega a hora e vou me arrumar.
Sebastian fica parado na porta, com um sorriso bobo olhando o que estou
fazendo.
Quando coloco meu vestido de noivado, ele fecha a cara.
― Aonde você vai?
Não quero dizer a ele, mas não tenho outra saída:
― Jantar, com o Luciano. Lembra, que marcamos esse jantar naquela
reunião na empresa?
Sua expressão se transforma. Ele bate a porta e passa a chave.
― Você não vai a lugar nenhum com ele!
― Não seja ridículo!
― Não seja burra! Eu já disse o que ele vai fazer com você!
― Sebastian abre essa porta. Quem decide minha vida sou eu!
― Não!
Isso me irrita. Irrita-me que ele tente me dar ordens, eu nunca recebi
ordens nem da minha mãe, e já me submeti as ordens do Edmundo por
muito tempo, não vou aceitar que Sebastian faça o mesmo. Como sei que
brigar não vai adiantar, termino de me arrumar enquanto ele parece soltar
fogo. Depois me aproximo dele e o beijo, ele parece surpreso, mas passa os
braços em volta da minha cintura e me puxa para os seus braços.
― Sebastian. ― sussurro ― Nós não temos um relacionamento, temos
apenas sexo. Você não pode me proibir de sair com outro, então não faça
isso.
Eu enfio a mão no bolso dele, puxo a chave e destranco a porta. Ele vem
andando atrás de mim, mas não fala mais nada. Enquanto espero o elevador,
olho para ele, que está na porta com uma expressão triste.
― Celina, não vá.
Por um momento penso em correr para os seus braços e ficar aqui com
ele, onde quero ficar, mas se eu fizer isso estarei admitindo para mim
mesma que estou apaixonada por ele. E não posso estar. Então entro no
elevador e o deixo ali.
Luciano está me esperando no hall, como combinado. Ele sorri quando
me vê e fica uns vinte minutos me elogiando. Vamos andando até um
restaurante próximo, e acho isso ótimo, porque preciso mesmo de ar fresco.
Ao contrário do Adrian, ele não fica olhando meu decote, nem falando
sobre os bens dele. Ele é educado, fino e divertido. É incrível a forma como
ele me faz rir sem que eu perceba. Ele seria um excelente amigo.
Eu sei, ele seria um excelente, muito mais que amigo, mas não quero
pensar nisso. Chegamos ao restaurante e nos sentamos no fundo, num lugar
onde não há quase ninguém, o ambiente é mais tranquilo e tem vista para o
mar. Nós falamos um tempo sobre a beleza da cidade, sobre o tempo quente
e comemos a entrada, que ele mesmo escolhera porque eu estava com a
cabeça muito longe. Quando o prato principal chega, ele decide ser direto.
― Celina, eu sou viúvo, e desde que a minha esposa morreu, confesso
que nunca me interessei em ter outro relacionamento sério. Até conhecer
você.
Engasgo na mesma hora com o peito de frango defumado. Ele me
estende um lenço e pega minha mão:
― Estou realmente muito interessado em você. Você é linda, inteligente,
divertida e tão viva! É exatamente o que eu estava procurando sem mesmo
saber que estava. Sei que você está de passagem, e que logo vai embora,
mas se eu fechar o negócio com a V.D.A. terei que ir a Belo Horizonte, e
poderei te conhecer melhor. Eu não quero apressar as coisas, mas desejo ter
algo sério com você, e quero que me permita procurá-la em BH para
estreitarmos nosso relacionamento.
Não sei o que fazer. Se ele tivesse me dito isso há uma semana eu
aceitaria sem pensar duas vezes, mas agora, agora tem o Sebastian.
― Luciano, eu realmente fico lisonjeada por ouvir isso de um homem
como você. Confesso que você é o que qualquer mulher poderia querer!
― Mas?
― Mas eu não estou pronta para um relacionamento agora. Eu disse a
você que acabei de terminar um noivado longo, e não quero outro
relacionamento.
― Eu entendo Celina, por isso vou te dar tempo. Mas o que quero saber
é se você pode me dar esperanças. Se pudermos ser amigos íntimos, até que
você se recupere e me conheça o suficiente para confiar em mim e se
entregar.
Ele está mesmo me pedindo sexo até termos um relacionamento? Não
seria nada mau em outras circunstâncias. E eu acabo falando isso em voz
alta, porque ele ri alto e depois me olha com um brilho travesso no olhar.
― Qual circunstância te impede de ter isso agora?
― Eu... Eu não... Eu não quis dizer isso.
De repente ele se afasta e parece sério.
― Você já conheceu alguém, é isso não é?
― Não! Estou falando sério quando digo que não estou pronta para um
relacionamento.
― E para diversão? Porque é o que estou te propondo para começar.
Você já achou alguém que te proporcione isso?
Acho que ele está muito bravo, e estou ficando irritada com a atitude
insistente dele!
― Celina eu quero que entenda que não gosto de perder meu tempo. Se
eu me envolver com você será para tentarmos uma coisa a mais. Mesmo
que depois você perceba que não sou o homem certo, eu entenderei. Mas
não gosto de ser enrolado.
Quem ele pensa que é para falar assim comigo? Vou dar uma resposta,
mas esbarro na taça de champanhe e a derrubo nele, manchando toda sua
calça.
― Ah meu Deus, me desculpe!
Eu pego o guardanapo e começo a esfregar em sua virilha e em sua coxa,
onde o champanhe caiu. Ele começa a rir e pede para eu parar, dois garçons
se aproximam para ajudar, mas param com a cena que se desenrola diante
deles. Eu ainda não entendo porque todos estão olhando para mim, mas de
repente um garçom se afasta e percebo Sebastian sentado na mesa ao lado
da nossa. Ele olha a cena e arregala os olhos, e só então percebo o que estou
fazendo.
Eu paro no mesmo instante e me sinto corar, mas não tenho tempo para
sentir vergonha, Luciano também percebeu Sebastian escondido na mesa ao
lado e se levanta para tirar satisfações com ele.
― O que está fazendo aqui?
― Jantando. ― responde ele com certa raiva.
Nós olhamos para a mesa dele, mas não há nenhum prato.
― Já estou indo embora. ― ele diz e sai andando.
Penso em ir atrás dele para tirar satisfações, mas Luciano me arrasta de
volta para a mesa.
― É com ele que você está se divertindo?
Eu tinha acabado de colocar o champanhe na boca e engasgo de novo.
― Não! Claro que não! Entre Sebastian e eu não há absolutamente nada!
Ele parece acreditar, mas percebo como ele muda depois disso. Passa a
rir menos, e não conta mais suas piadas. Terminamos o jantar e ele nem
pede sobremesa, diz logo que temos que ir. Ele me leva até a porta do
quarto e me dá um beijo no rosto para se despedir. E eu penso ainda dois
minutos antes de entrar no quarto, pois não sei o que fazer com Sebastian.
Sebastian
Merda! O que ela pensa que está fazendo? Eu sequer me lembrava
desse jantar dela com o Luciano, mas depois de tudo o que fizemos, não
esperava que ela ainda fosse querer sair com ele. E o que ela me disse? Que
não temos nada.
O pior de tudo é que ela está certa, e fui eu quem disse isso a ela quando
começamos o nosso não-relacionamento. Fiquei tão puto por ela ter se
arrumado toda para sair com ele que fiz o que nunca mais achei que faria,
pelo menos não por ela, eu os segui.
Segui a Celina de novo. Escondi-me numa mesa próxima para tentar
ouvir o que eles falavam, mas consegui ouvir apenas a parte em que ele
pedia para ter um relacionamento sério ou apenas diversão com ela. Depois
disso um garçom se aproximou para insistir que eu deveria pedir alguma
coisa para ficar na mesa e eu não vi o que aconteceu, pois quando olhei
novamente ela estava com as mãos nas bolas dele. E estava fazendo isso em
público!
Estou sentado no sofá com a cabeça entre os joelhos quando ouço a porta
bater. Não me movo, mas posso sentir a raiva emanando dela. Eu devo ter
estragado o seu encontro de hoje. Bem feito!
― O que deu em você? ― ela grita.
Permaneço como estou, não respondo.
― Sebastian eu estou falando com você, o que deu em você?
Finalmente olho para ela, ela está malditamente linda, e muito brava.
― Eu que te pergunto! Um pau só não é suficiente para você?
Ela pega o frasco que eu usei para fazer massagem nela mais cedo e
arremessa em mim.
― Seu estúpido! Não fale assim comigo!
Quero responder e gritar! Quero que ela se dane, não, quero que ele se
foda, ela não! Ela é minha. É isso, quero que ela entenda isso. Levanto-me
de uma vez e a puxo para meus braços, ela fica tão supressa que não reage.
― Você o beijou quando ele veio te trazer?
― O quê?
― Você o beijou? Responda!
― Não seu idiota! Eu não o beijei!
Assim que ela termina de falar, minha boca já está na dela. Eu a beijo
como se o mundo fosse acabar, quero marcá-la, quero que ela se lembre
amanhã que é minha e só minha. Eu quase rasgo o seu vestido na pressa
para tirá-lo, mas me afasto o suficiente para ela segurar meus ombros.
Ela parece assustada, mas excitada também:
― Espera, precisamos falar sobre isso, precisamos esclarecer umas
coisas.
― Não quero falar, quero foder você! É só isso que temos, nós não
precisamos conversar.
Ela parece magoada.
― Quer saber, Sebastian? Vai à merda! Você e o seu pau!
Ela me empurra e corre para o quarto, mas eu corro atrás dela e consigo
impedi-la de bater a porta.
Antes de me aproximar, ela já começa a gritar:
― Sai daqui! Sai de perto de mim! Eu não sou seu objeto!
― Eu sei que não, merda! Você acha que eu sairia por ai seguindo um
objeto? Acha que eu me importaria tanto se fosse um objeto?
Vejo a dúvida brilhar nos olhos dela. Ela respira fundo e se acalma.
― Por que você me seguiu?
― Você sabe a resposta.
Ela me olha.
― Por ciúme?
― Ciúme, possessividade, medo de ver você com outro. Pode chamar do
que quiser.
― Mas, eu não entendo. Você deixou bem claro que não temos nada. Foi
você que disse que era só sexo, não um relacionamento. Isso mudou?
Merda, mudou? Será que eu devo dizer a ela que mudou e fazer com que
ela seja só minha? Não, eu a quero desesperadamente e morro de ciúme
dela, mas não estou apaixonado por ela. Eu tenho quase certeza que não.
Não posso fazer uma promessa que sei que não vou cumprir!
― Não Celina, isso não mudou. Nós não temos nada, é só sexo. E eu
gostaria de fazer sexo com você agora, pode ser?
Ela parece confusa, depois algo passa pelo seu olhar. Acho que é mágoa.
Será que não respondi o que ela gostaria de ouvir? Depois ela assente com a
cabeça, mas quando vou em direção ela põe a mão na minha barriga me
afastando.
― Espera, preciso dizer mais uma coisa.
― Eu não quero falar. ― digo mais secamente do que esperava.
Ela se assusta e concorda. Eu a puxo para meus braços e a beijo, e beijo
e beijo e me acalmo enquanto vou fazendo amor com ela.
Quando acabamos eu a puxo para debaixo da coberta comigo, mas ela se
afasta e deita longe de mim, virada de costas. Sei que está com raiva, ela foi
quente durante o sexo, mas não teve a ternura, o carinho que ela sempre
entregava a mim, e eu senti falta disso.
― Você não pode estar com raiva de mim, Celina! Não fui eu quem
ficou dando showzinho em público.
Ela se vira para mim, posso ver a raiva nela.
― Showzinho?
― Acha que eu não vi você esfregando as partes íntimas dele em
público?
Ela começa a rir e isso me irrita.
― Fala sério Sebastian, você acha mesmo que eu faria um papel desse
num restaurante?
― Eu não acho Celina. Eu vi!
Ela se aproxima de mim.
― O que você viu foi...
― Eu não quero saber. Não preciso que você desenhe o que fez com ele.
― Eu não fiz nada com ele. E foi você que agiu como um louco
enciumado e me seguiu!
― Pelo menos eu não fui comer outra depois de ter feito amor com você
na sala!
―Eu não fui dar para ele! Será que você pode deixar de ser ridículo?
― Por que você não cala a boca e vem aqui?
A verdade é que vê-la tão nervosinha está me excitando. Meu pau já está
acordado de novo e tudo o que eu quero é puxá-la para meus braços e
acabar com isso.
― Você é um estúpido! Eu não sei como fui abrir as pernas para você.
― Eu sei exatamente como você fez isso. E não se faça de arrependida,
você nunca reclamou nenhuma das vezes que abriu as pernas para mim!
Ela não me responde apenas me olha com toda raiva que sinto nela. E
isso me preocupa, se ela não está respondendo deve estar realmente puta
comigo.
― Celina, eu não quero brigar. Só quero que você venha aqui e vamos
esquecer tudo isso!
― Você é um idiota!
― Eu sei, agora vem aqui. ― eu a puxo pelo braço, mas ela se
desvencilha.
― Sabe por que eu saí com ele hoje?
― Eu não quero saber.
― Claro! Você acha que um pau não é suficiente para mim não é? Mas
não foi por isso que eu saí com ele, eu saí com ele porque achei que se não
o fizesse, ele não investiria nas suas preciosas ações. Achei que se ele
ficasse bravo comigo, descontaria em você. Por isso pensei em pelo menos
jantar com ele, para não irritá-lo e não prejudicar você! E o que você acha
que foi um gesto de carinho nas partes íntimas dele, foi eu tentando limpar a
taça de champanhe que derrubei. Seu estúpido!
Ela sai da cama, se enrola no roupão e vai para a sala. Eu não vou atrás
dela, fico aqui me afundando em minha estupidez e sei que nenhum de nós
dormiu nada a noite.
Isso se confirma quando me levanto. Celina já está de banho tomado e já
pediu café. Ela sequer olha para minha cara. Eu tento agir como se nada
tivesse acontecido, mas não dá. A verdade é que estou puto, estou bravo
comigo mesmo. Por que caralho eu a segui? O que passou pela minha
cabeça? Eu nunca tive ciúme de ninguém, nem da Jamille eu tinha ciúme e
eu achava que a amava. Por que eu estou agindo assim com ela? Estou
sendo ridículo e por causa de um sentimento mais ridículo ainda! Eu não
forço a conversa com ela.
Quando chegamos a empresa, antes de descer do carro, eu a seguro pelo
pulso.
― Me desculpa Celina! Isso nunca mais vai acontecer. Eu não vou mais
ter ciúme de você, você não é nada minha. Na verdade, se não quiser mais
transar comigo eu vou entender. Você pode sair com quem quiser e eu
também.
Ela parece chateada, mas assente e bate a porta do carro quando sai. E eu
torço para que ela não leve a sério essas coisas que eu disse só da boca para
fora. Claro que não vou deixar que ela pare de transar comigo, mas preciso
que ela pense que tem essa escolha nas mãos.
Não nos falamos durante o dia todo, e fico martelando o que me faz agir
como um ciumento apaixonado com ela. Eu já disse, não estou apaixonado
por ela, merda, não posso estar! Ela não está pronta para um
relacionamento, e eu não tenho certeza de que não a trairia com a primeira
mulher de parar o trânsito que eu encontrasse no coquetel de amanhã.
Preciso me controlar. Já sei, preciso beijar outra boca, comer outra
mulher e esquecer do corpo da Celina, das suas curvas, do seu cheiro, do
seu gosto. É disso que eu preciso!
Quando saímos do trabalho eu a levo ao hotel, mas não desço do carro.
Ela desce e fecha a porta e eu arranco o carro e a deixo ali. Não olho para
trás para ver a reação dela. Nós não somos nada, como ela fez questão de
me lembrar, eu só preciso tirar a prova, não preciso que ela descubra o que
eu fiz isso. A questão é simples. Se eu conseguir comer outra mulher
tranquilamente, então não estou mesmo “fodidamente” apaixonado por ela.
Mas se eu não conseguir me interessar por outra mulher, aí, merda, aí eu me
atiro da primeira ponte, porque não posso estar mesmo apaixonado por ela.
Fico dando voltas com o carro e acabo parando em frente a Lounge 69.
Sei que não é uma boa ideia ir a um lugar onde tenho tantas lembranças da
Celina dançando com aquele vestido minúsculo. Mas assim é melhor, o
teste será mais eficaz.
Há muitas mulheres dançando quando eu entro, elas se insinuam para
mim e chego a dançar com um delas, mas ela não me atrai, e acabo parando
sozinho no balcão perto do bar. Merda! Estou fodido! Depois de dar o fora
amigavelmente em três gatas de parar o trânsito, percebo que estou
realmente, inegavelmente fodido!
Só me resta encher a cara antes de procurar a Celina e tentar convencê-la
a ter mais que um não-relacionamento. Se gosto tanto assim dessa mulher a
ponto do meu pau não acordar para nenhuma outra, só posso estar
apaixonado por ela. Bebo tudo o que posso e sei que nem terei condições de
dirigir. Talvez eu ligue para ela vir me buscar, a mulher que eu amo, que
merda! Ela tem que merecer esse amor, tem que sair do conforto do hotel e
pegar um taxi até uma boate para me arrastar totalmente bêbado de volta
para o quarto.
Será que ela faria isso? Será que ela também está apaixonada por mim?
E se não estiver? Como vou conquistá-la? Ela é a mulher mais difícil e
imprevisível que eu conheço. Não, não posso querer começar um
relacionamento com ela, já fazendo ela me buscar bêbado em uma boate.
Preciso que alguém me leve.
É ai que avisto um par de seios enormes e um cabelo ruivo vindo na
minha direção.
― Sebastian, que supressa!
Tento falar com ela, mas estou muito bêbado e ela percebe.
― Vamos, garotão! vou levar você para casa.
Eu me apoio nela e vou cambaleando, mostro para ela onde está meu
carro e deixo que ela me leve até o hotel.
Celina
Acordo com um barulho de um grito, mas não um grito de susto, um
grito de prazer. Por um momento acho que é minha cabeça pregando peças
porque estou com saudade do Sebastian. Mas quando fecho os olhos
novamente, ouço de novo o grito. Enrolo-me no roupão do hotel e vou
cambaleando até a sala, o grito parece vir de muito perto.
Quando acendo a luz da sala, quase caio para trás: Sebastian está jogado
no tapete do chão, e uma mulher ruiva está cavalgando nele. Ela se assusta
quando eu acendo a luz, mas sorri quando vê quem sou eu e a reconheço; é
a tal Lorena, amiguinha do Adrian.
Sebastian me olha e abre um sorriso, o olhar dele está desfocado e sei
que ele está bêbado:
― Celina, oi meu amor. ― ele fala com a voz arrastada.
Eu sinto tanta raiva, mas tanta raiva, que sei que as lágrimas vão correr a
qualquer momento. Eu apago de novo a luz e saio do quarto. Fecho a porta
atrás de mim e seguro para não chorar. Não posso chorar, não vou chorar!
Nem me lembro que estou apenas de roupão ao descer de elevador, mas
quando chego ao saguão do hotel, não quero descer. Então subo de elevador
novamente. Não quero ir até o vigésimo terceiro andar, então desço no
vigésimo.
Resolvo descer de escada. Vou descendo enquanto as lágrimas rolam e
aos poucos me sinto acalmar. Qual o meu problema? Por que estou sentindo
essa dor no peito se eu sempre soube que ele não é nada meu? Eu sempre
soube que o que tínhamos era só sexo, nada mais. Ele me disse de manhã,
que entenderia se eu nem quisesse mais transar com ele, então por que estou
agindo assim?
De repente me vem à cabeça que quando estava confusa sobre o que
sentia por ele, eu tive que sair um pouco, dar uma volta para esfriar a
cabeça, mas se é isso o que o motivou, ele foi longe demais.
Não, é mais fácil aceitar que ele quis esfregar aquilo na minha cara. Por
que não levá-la para um motel? Tinha mesmo que ir para o nosso quarto?
Nosso quarto, o que eu estou falando? Seco as lágrimas quando chego ao
saguão de novo e dessa vez resolvo ir para a rua. Não me importa se estou
de roupão, que se dane.
Assim que saio, topo com Luciano:
― Celina! Está tudo bem?
Faço que sim com a cabeça, mas sei que não posso convencer ninguém
dessa mentira.
Ele se aproxima de mim:
― Por que não vamos dar uma volta? Vem comigo ao bar do hotel,
vamos beber alguma coisa!
― Acho melhor não! Estou de roupão.
― O que importa? É o bar do hotel, é como se fosse a cozinha da sua
casa. Vem, vamos beber um pouco e aí você me conta o que aconteceu!
― Acho melhor não, desculpe! ―respondo e viro para subir de novo
pelas escadas.
Merda, merda, merda! Por que estou tentando me desculpar, quando na
verdade eu devia mesmo era sair com ele?! Isso! Eu devia ir com ele, dar
para ele e esquecer aquele imbecil do Sebastian!
Viro-me novamente e ele ainda está parado, olhado para mim.
― Pensando bem, vamos. Vamos beber.
Ele passa o braço pela minha cintura e me acompanha até o bar. Claro
que quando entro todos olham para mim. Uns caras até tentam fazer
gracinha, mas Luciano é firme ao meu lado, e logo deixo de ser o centro das
atenções. Ele fala gentilmente sobre uns negócios que está pretendendo
fechar, mas reparo que ele não fala nada sobre a V.D.A. Que se dane! Que
Sebastian e os sócios dele se danem também!
Quando o assunto morre, ele pergunta:
― Pode me dizer agora por que estava chorando?
― Não estava chorando. Estou meio gripada.
― Sei, e por que está chateada? Porque isso você não pode negar.
― Nada demais.
Ele tenta mais uma vez:
― Então por que estava no saguão do hotel de roupão em vez de estar no
seu quarto?
― Isso é porque estou no mesmo quarto que o Sebastian. Quando nós
chegamos, não havia quartos disponíveis por causa de uma convenção de
alguma coisa. Ele está lá em cima agora transando com uma mulher
qualquer e eu não quis atrapalhar!
Percebo que a frase saiu mais fácil do que eu teria imaginado.
― Mas a convenção já acabou há três dias! Tenho certeza que o hotel já
tem quartos disponíveis. Quando acabarmos aqui, vamos providenciar um
quarto para você, e não terá mais que se sujeitar a ele.
Eu agradeço e continuamos bebendo. A bebida aquece meu corpo e
acabo sorrindo com ele e esquecendo um pouco o que aconteceu. Quando
acabamos, ele aluga um quarto para mim como prometido. Resolvo não ir
até o quarto de Sebastian pegar minhas coisas, faço isso amanhã de manhã.
Despeço-me dele e agradeço por toda paciência comigo e me jogo na
cama, que não é tão grande e macia como a do quarto do dono, mas ainda é
mil vezes melhor que a minha! Acabo adormecendo.
Capítulo 13
Celina
Dormi bem a noite porque a bebida sempre me dá um pouco de sono.
Ao acordar, tenho três mensagens do Luciano; eu queria realmente sentir
alguma coisa por ele, mas não consigo. Sonhei com Sebastian à noite, que
ele me deixava e eu ficava arrasada. Eu não posso correr o risco de me
apaixonar de novo, não estou pronta para isso!
Por que me incomoda tanto o que ele faz? Pior que isso, doeu vê-lo com
outra. E não deveria ser assim. Chego a pensar que ele fez isso de propósito,
porque eu saí com o Luciano e ele quis vingar-se. Mas eu não dei para o
Luciano, e mesmo se tivesse dado, acho que não ele se importaria tanto
quanto eu me importo com a atitude dele.
Sei que não tenho o direito de me sentir como estou me sentindo, nós
não temos nada, conversamos sobre isso ontem mesmo, mas ele não
precisava esfregar isso na minha cara tão rápido.
Nem tenho como fazer a higiene nesse quarto novo, pois todas as minhas
coisas estão no quarto do Sebastian. Pelo menos hoje não temos que ir à
empresa, é o dia do tão esperado coquetel, e só preciso pegar minhas coisas
e sair de fininho sem que Sebastian perceba. Depois vou desligar meu
celular e ele não vai saber onde estou até a hora do coquetel. Não preciso
vê-lo hoje. Não saberei como agir perto dele, tampouco posso demonstrar
raiva, ou ele saberá que sinto alguma coisa. Preciso agir como se fosse a
coisa mais natural do mundo tê-lo visto comendo outra.
Me enrolo no roupão e me certifico de que não há ninguém no corredor,
estou no décimo oitavo andar. Resolvo não ir de elevador, para não correr o
risco de encontrar alguém. Ontem saí por aí com esse roupão porque estava
desesperada. Agora que estou pensando direito e não há a menor chance de
fazer isso novamente!
Subo as escadas até o vigésimo terceiro andar. Meu coração acelera
quando me aproximo do quarto, e preciso me recompor por um momento
antes de entrar. Quando abro a porta, tudo está escuro. Vou até a cortina na
enorme janela e a abro, e então ouço o resmungo de Sebastian.
Ele está jogado no sofá, com o cabelo mais emaranhado que o normal, os
olhos inchados e um monte de comprimidos estão ao seu lado na mesinha
de centro.
― Que merda é essa? ― ele resmunga.
― Foi mal. ― digo, mas não fecho a cortina.
Vou até o quarto pegar minhas coisas. Quando estou juntando tudo, ele
aparece cambaleando na porta.
― Eu preciso falar com você.
― Pode falar.
― Sobre o que aconteceu ontem. Eu não queria ter feito aquilo, eu bebi
demais! Ela veio me trazer em casa porque eu não podia dirigir e acabou
acontecendo. Eu juro que não tinha a intenção de magoar você...
― Você não me magoou, Sebastian! Nós não temos nada, lembra? Você
sai com quem você quiser, é um direito seu.
Ele me olha por um tempo, depois completa:
― Por que está chegando agora? Onde você passou a noite?
Continuo juntando minhas coisas e não respondo.
― Celina, onde você passou a noite? Para onde foi quando saiu daqui?
― O que eu faço ou deixo de fazer fora do meu horário de trabalho não é
da sua conta!
Ele tenta vir na minha direção, mas tropeça em um sapato e cai, batendo
a cabeça na cama. Corro até ele e o ajudo a levantar.
― Sebastian! Você ainda está bêbado?
― Não, só com um pouco de dor de cabeça. Eu disse, ontem bebi muito
mais do que estou acostumado.
― E a troco de que você fez isso?
― Porque precisava tirar você da cabeça mesmo que por cinco minutos.
Eu só queria esquecer você!
Preciso fingir que as palavras dele não me atingiram, mas meu coração
quase saiu pela boca quando ele disse isso. Eu o empurro até o banheiro, e
não respondo ao que ele disse, mas minha mente já está a mil pensando no
que aquilo significa.
Ele tem ciúme de mim, mas isso pode ser explicado, nós estávamos
transando. Ele pode ser desses homens possessivos que não aceitam que a
mulher queira outros se já tem a eles. Mas ele ter bebido para me esquecer,
se parece muito com a minha atitude quando saí com Luciano, para tirá-lo
da cabeça. Mas eu não fui tão longe como ele, e não posso me esquecer
disso.
Entro com ele no banheiro e percebo que ele está olhando para mim,
esperando que eu diga alguma coisa. Não quero falar sobre o assunto, mas
sem querer escapa dos meus lábios:
― E você conseguiu?
É óbvio que ele conseguiu. Ele estava aqui transando com outra! Que
pergunta ridícula!
― Nem por um segundo. Mas vi você em cada rosto que encontrava a
minha frente. Talvez isso explique porque dormi com outra, eu estava
enxergando você. Sei que isso não justifica o que eu fiz. Acho que se você
tivesse dormido com outro, eu seria capaz de matá-lo!
Não posso ficar ouvindo essas coisas, ele não pode achar que me engana
tão fácil.
Então, mudo de assunto.
― Espero que esteja bem para o coquetel hoje à noite.
Eu o recosto na bancada e vou sair do banheiro, mas ele me segura.
― Toma banho comigo.
― Nem sonhando! Não vou tocar em você enquanto ainda estiver com o
cheiro daquelazinha!
Ele abre um sorriso enorme e me abraça, mas eu me afasto.
― Espera! Me ajuda a tirar essa cueca.
― Fala sério Sebastian! Você consegue fazer isso sozinho.
Eu saio do banheiro e bato a porta. Volto para o quarto e tento não pensar
nas coisas que ele me disse, mas elas ficam voltando aminha mente e então
começo a pensar numa música, isso, começo a cantar uma música qualquer
para tirá-lo da minha cabeça, mas acabo trocando as palavras pelo nome
dele, e não consigo esquecer a sensação de que ele está me fazendo de
boba. Mesmo sabendo disso, estou caindo na dele. Oh céus não posso ser
tão fraca!
Arrasto a minha mala pelo corredor, quando ouço um barulho enorme
vindo do banheiro. Largo a mala e corro até lá, e Sebastian está caído no
chão, com a cabeça encostada no box.
― Quer parar de bater essa cabeça? Você precisa estar bem no coquetel
hoje.
Ele começa a rir.
― Eu não estou batendo minha cabeça de propósito, Morelli.
O fato de que ele tenha me chamado pelo sobrenome me irrita. Já estou
acostumada a ser chamada pelo meu nome, saber que ele se lembra de
quem eu sou. Eu o ajudo a levantar e ele me puxa para debaixo da água.
― Sebastian! Não acredito que fez isso!
Ele ri e beija meu pescoço. Tenho que me afastar dele, eu tenho que
fazer isso. Mas ele passa o braço pela minha cintura e então não tenho mais
forças para ir a lugar algum. E a forma como meu corpo precisa do dele tão
perto me assusta, ele sussurra meu nome e me beija e eu retribuo. Ele me
beija com desespero, com vontade, chega a morder meus lábios. Nossas
línguas se encontram numa dança da qual não quero me afastar nunca.
Quando estamos sem fôlego, ele começa a beijar meu rosto, me abraça
forte e fica sussurrando no meu ouvido.
― É você que eu quero, só você. Nunca mais vou ficar com nenhuma
outra mulher que não seja você.
Fecho os olhos e me deixo acreditar nisso por cinco minutos, quando ele
volta a me beijar. Mas, quando ele tenta abrir meu roupão, me afasto dele.
Estou magoada, estou confusa com o que sinto por ele. E por mais que
necessite tê-lo em mim agora, não estou pronta ainda.
Eu me afasto e saio do banheiro. Vou pingando pelo corredor até minha
mala, procurar uma roupa. Ele vem atrás de mim segurando uma toalha, e
me enrola nela quando tiro a roupa. Eu permito que me enrole e me afasto
em seguida.
― Você está chateada. ― ele diz cabisbaixo.
― Estou confusa. Ontem você me disse que não se importaria se eu não
quisesse mais transar com você. Desde então estou pensando nisso.
― Eu disse isso da boca para fora. Jamais permitiria que você se
afastasse de mim!
Mais uma vez ele me pega de surpresa. Eu visto a primeira roupa que
encontro e deixo o roupão molhado pendurado no banheiro. Ele ainda está
só com a toalha em volta da cintura, e fica avaliando cada movimento meu.
― Para onde você foi ontem?
― Bom, eu não queria atrapalhar vocês, então fui para o bar beber um
pouco.
― Você foi para o bar de roupão e sozinha? Celina, como faz uma coisa
dessas?!
Quero gritar “você estava comendo outra, o que queria que eu fizesse?”,
mas não faço isso. Ele não precisa saber que me atingiu.
Dou de ombros e comento calmamente:
― Não estava sozinha. Encontrei com o Luciano lá embaixo e ele foi
comigo. Não corri risco algum!
Ele se aproxima de mim a passos largos e me pega pelos ombros.
― Onde você passou a noite? Você dormiu com ele?
Ele está com tanta raiva pela possibilidade de eu ter dormido com o
Luciano, mas não se lembra que saí daqui porque ele estava transando com
outra. Qual o problema dele? Só ele pode fazer isso?
Sinto a raiva me dominar e o empurro.
― Não é da sua conta onde eu passei minha noite!
― Você dormiu com ele. ― afirma ele.
― Não acho que preciso explicar o que fiz para você. Você não é
ninguém para julgar minhas atitudes, não é mesmo?
Volto a arrastar a mala pelo corredor e ele vem atrás de mim.
― Para onde vai com essa mala?
― Para o meu quarto.
― Para onde?
Bufo. Detesto ter que repetir as coisas, mas antes que o faça ele assente,
para que eu saiba que ele entendeu o que eu disse.
― Luciano disse que a convenção acabou há três dias e arrumou um
quarto para mim.
Ele fica ainda mais nervoso.
― É mesmo? E foi lá que você passou a noite?
― Sim.
― E ele passou a noite com você?
― Não é da sua conta.
Ele se aproxima de mim de repente e me puxa para os seus braços. Ele
sempre tem essas ações que me deixam sem reação.
― Por favor Celina, eu sei que não sou ninguém para julgar você, não
vou fazer isso. Não precisa entrar em detalhes, eu nem quero que entre.
Quero apenas saber se ele passou a noite no seu quarto com você. Por favor,
me diz!
Fico tentada a responder, mas que espécie de mulher sou eu que não
pode resistir a um abraço molhado de um homem delicioso só de toalha?
― Sebastian, isso realmente não é da sua conta.
Espero ele se afastar, mas ele me aperta ainda mais.
― Tudo bem! Mas me diz o que você pensou, nós ainda vamos ficar
juntos, não vamos?
Então eu me afasto, antes que perca as foças para ir para o meu quarto.
― Não pensei nisso ainda. Mas você não precisa de mim, Sebastian!
Você consegue sexo fácil, não é mesmo?
― Não diga isso! Você não é só sexo para mim.
Tento fingir que não ligo para o que ele disse, mas por dentro estou
começando a gostar desse negócio de Sebastian arrependido e doido para
me ter de volta. Talvez eu possa tirar algum proveito disso. Mas, quando
olho para ele, ele parece em pânico, parece mais despedaçado do que eu.
Será que ele sente mesmo alguma coisa por mim? Para com isso, Celina,
sua burra! Ele estava comendo outra! Outra! Lembre-se disso!
Ele tenta pegar minha mão, mas eu me afasto e abro a porta. Vejo que ele
vai me seguir e aviso.
― Não acho que você deveria sair no corredor só de toalha. Estou indo
para o meu quarto. E só para constar, as despesas estão na sua conta. ―
tento abrir um sorriso brincalhão para ele e vou para o meu quarto.
Enquanto espero o elevador, fico pensando no que fazer. Será que eu
devo dormir com ele de novo? Não, por mais que eu o deseje é melhor não.
Nossa viagem já está acabando, só faltam dois dias, então é melhor cortar o
que quer que esteja começando a sentir e não ficar mais com ele.
Sebastian
Tento não me concentrar tanto na merda que fiz. Fiquei tão bêbado que
só pensava na Celina. Cheguei a sentir o cheiro dela! Tenho certeza que
chamei a Lorena de Celina, mas ela pareceu não se importar. Achei que
estava com ela, até que ela acendeu a luz e apareceu ali na minha frente, em
choque. Assim que ela bateu a porta, consegui interromper o grande erro
que estava cometendo e disse a Lorena que estava apaixonado por aquela
mulher que havia acabado de sair do quarto furiosa comigo. Ela ficou brava,
mas entendeu, disse que homens têm um jeito estranho de mostrar que
amam.
Passei a madrugada toda procurando pela Celina, mas não tinha ideia de
onde ela estava. Por fim, quando minha cabeça doeu demais, me joguei no
sofá e fiquei ali pensando nela até ela aparecer. O pior foi ver que ela nem
se importou. Achei que estaria furiosa comigo, que gritaria, jogaria as
coisas, mas ela agiu como se eu não tivesse feito nada. Eu deveria ficar
aliviado por não precisar lidar com a raiva dela, só imagino como essa
mulher deve ser quando está com raiva, mas a verdade é que eu queria que
ela se importasse, queria que ela tivesse ficado com raiva e quebrado as
coisas em mim. Assim pelo menos eu saberia que ela sente alguma coisa
por mim, que ela se importa.
Minha esperança é o fato dela ter parecido pelo menos chateada com o
que aconteceu. Talvez não seja tão indiferente assim a mim, ainda tenho que
lidar com o fato dela ter o próprio quarto agora, e que pode ter passado a
noite com o imbecil do Luciano. Nem quero pensar nisso, sou capaz de
matá-lo!
Acabei de receber uma ligação do Matheus dizendo o quanto é
importante que eu consiga o investimento do Luciano. Então, por ora,
preciso me concentrar menos na Celina e me dedicar inteiramente a
conseguir o investimento do Luciano.
Faltam apenas quinze minutos para a hora marcada da gente sair, mas ela
ainda não apareceu. Ela não me deixou comprar um vestido para essa noite,
disse que tinha trazido um de casa para a ocasião, então só me resta esperar
para apreciá-la.
Não sei em qual quarto ela está, mas não é impossível descobrir, então
decido ir a recepção descobrir, mas quando abro a porta, dou de cara com
ela, usando um vestido preto colado ao corpo, com uma renda que vai até o
pé. O vestido destaca sua cintura fina e seus seios fartos. Ela está
maravilhosa! Fico um tempo sem ação, apenas admirando sua beleza. Ela
fica sem graça e me empurra para eu voltar a mim, mas a puxo e a beijo.
Ela corresponde o beijo, o que me deixa mais tranquilo. Não que ela vá
realmente conseguir não dormir mais comigo, como eu disse a ela, jamais
permitirei isso, mas fico mais tranquilo que ela não negue meus beijos.
É estranho saber que estou apaixonado por ela. Sinto vontade de fugir
para bem longe dela para ver se tiro essa merda da cabeça, mas ao mesmo
tempo, sei que não conseguiria ficar longe por muito tempo. Olho para ela
agora e quero beijá-la, fazer amor com ela e declarar que ela é minha, e
também quero que sinta o mesmo, que precise de mim como eu preciso
dela.
Sentir isso tudo nesse grau de intensidade cada vez que a olho é uma
enorme merda! Ainda nem sei como vou fazer para conquistá-la, mas vou
fazer isso. Já não escondo mais as coisas, acho que aos poucos vou dizendo
o que sinto, para não assustá-la, mas ela vai ser minha de qualquer jeito,
porque não há a menor chance no mundo de eu ser tão apaixonado por essa
mulher e ela não sentir o mesmo.
Quando nos afastamos, ela entra resmungando que precisa retocar o
batom e eu a sigo. Assim que ela acaba de retocar, a puxo de novo e a beijo.
Ela ri nos meus braços e eu a abraço bem forte, sentindo cada curva do seu
corpo colado ao meu.
― Talvez a gente possa se atrasar um pouco. ― sussurro.
― Nem pensar, e eu ainda não pensei sobre isso. Foco, senhor Vaughn.
Sua noite hoje não pode ser sobre mim, tem que ser sobre seus
investimentos.
Ela está certa. Ela retoca a maquiagem e limpa meus lábios. Quando
passa batom de novo, me aproximo dela, mas me ameaça com minha
máquina de cortar cabelo, então deixo que ela vá para o coquetel maquiada.
Minha felicidade pelos beijos correspondidos dura pouco. No caminho
para o coquetel, tento tocá-la e ela não deixa. Conversa comigo, ri, mas
quando faço alguma piada sobre sexo, ela desconversa. É como se nem se
importasse com isso. Como se nem sentisse falta.
Sinto o peso do que fiz mais uma vez. Por que tive que ser tão burro?
Como fui transar com outra? Agora quero a minha Celina de volta, a que
arde quando a olho, a que entra em meu jogo quando a toco. Não essa
Celina que não sente nada, que não se importa comigo. Estou a ponto de
parar o carro e agarrá-la ali mesmo, quando percebo que chegamos.
A festa está acontecendo em um grande salão de festas, situado a beira-
mar. Tudo está bem arrumado quando chegamos, as pessoas desfilam de
braços dados e nariz empinado, como se ir a um evento desses fosse algo
para poucos, o que de fato não é bem verdade. Poucos executivos levam
suas secretárias, mas estou muito feliz por ter a minha comigo.
Assim que entramos, nos deparamos com Dante e Mirella, que se
aproxima feliz de Celina e as duas ficam conversando animadamente,
enquanto Dante me confirma que irá investir no meu projeto. Nós
combinamos dele passar na empresa amanhã à tarde para fecharmos o
negócio. Quero brindar minha conquista, mas não quero beber. Tomo
apenas um champanhe leve para não fazer como na outra noite.
Tento me concentrar nas pessoas que param para conversar comigo, mas
meus olhos sempre buscam a Celina. Ela está linda, radiante, todos a olham
em algum momento e me sinto orgulhoso porque ela é minha. Ela só não
sabe disso ainda!
Estou num papo até animado com Abimael Carvalho, um amigo de
faculdade que hoje é dono de uma empreiteira. Quando percebo que Celina
não está mais ao meu lado, olho em volta e a vejo conversando com
Luciano. Meu sangue ferve, sei que tenho que tratá-lo com cordialidade,
mas é muito difícil quando ele desliza os dedos pelo braço dela.
O que será que aconteceu entre eles ontem à noite? Quero me aproximar
dos dois, mas ele a leva para dançar, e isso me irrita mais ainda. Devo estar
deixando claro meu desagrado, pois Adrian se aproxima com um sorriso
afetado.
― Nem você, nem eu conseguimos nada. Ela foi cair justo nas garras de
Luciano Cartariam. Fazer o que não é? Pelo menos disfarce sua dor de
cotovelo, homem!
Mando-o ir à merda e resolvo beber. Nunca me senti assim, não sei o que
fazer com isso. Quero matá-lo por tocar nela, quero me matar por ter sido
tão burro. Percebo que ela não está apaixonada por mim, reagiu calma
demais com a merda que eu fiz, enquanto eu estou prestes a ficar louco só
por ela estar dançando com outro. E isso me atormenta!
O que tenho que fazer para conquistá-la? Para provar que por ela estou
disposto a não ser o estúpido que sempre fui? Eu a quero e preciso dela
mais que tudo no mundo! Por que ela consegue dançar com outro sem
precisar de mim?
Ela fica com ele por três danças inteiras, quando finalmente se afasta e
vai na direção do banheiro. Eu a sigo e a arrasto para o segundo andar.
Entro com ela em uma sala enorme e acho o que precisava: uma mesa.
Eu a arrasto até a mesa e a empurro.
― Sebastian, o que está acontecendo?
― Nada demais, apenas estou irritado com a sua atitude com o Luciano.
O que houve, Celina? Decidiu então ficar com ele? Sinto te informar que
não vou permitir que isso aconteça!
― Sebastian eu não sei...
Eu a calo colando minha boca à dela. Sei que estou sendo selvagem, mas
não posso impedir, estou explodindo de raiva, de medo e de desejo por ela.
Começo a tirar seu vestido bruscamente, mas quando penso que posso
rasgá-lo, respiro fundo e o tiro mais devagar, os cachos do seu cabelo
desfazem quando faço isso.
― O que está fazendo Sebastian? Todo mundo vai saber o que fizermos.
― É exatamente o que eu quero.
Respondo e a viro de costas, empurro seu ombro para que ela se apoie na
mesa e separo suas pernas. Sorrio ao ver a lingerie que ela está usando, a
mesma vermelha da primeira vez em que ela gozou comigo.
Enfio a mão em sua calcinha e sinto que está molhada.
― Vejo que já está preparada, querida. – digo. Ela apenas geme
enquanto movimento meus dedos no meio de suas pernas. Eu a empurro de
repente para cima da mesa e abaixo a minha calça. Coloco uma perna dela
para cima, e meto nela com força. Assim que sinto as paredes dela se
fecharem a minha volta, me acalmo. Quero perguntar se Luciano foi melhor
nisso com ela, mas ela está se contorcendo e gemendo, e não quero estragar
o momento. E nesse momento ela é minha.
Começo a me mover com força, sem me importar com os gritos que ela
está soltando, nem o barulho que a mesa está fazendo arranhando o chão.
Que todos vejam, que todos saibam que ela é minha! Estou prestes a
explodir, então a abraço pela cintura e começo a mexer os dedos em seu
clitóris, ela goza rapidamente com um grito, que tenta abafar mordendo os
dedos da minha mão que estava em seus seios. E então, finalmente gozo,
me entregando ao que sinto!
Demoro um pouco para sair de dentro dela e me afastar. Ela ainda está
bamba, então visto rapidamente minha calça, tiro um lenço do bolso e a
limpo. Ajudo-a colocar o vestido e ela tem que soltar o cabelo, pois
bagunçou demais. Quando ela solta o cabelo e se vira para mim,
espero ansiosamente sua reação.
― O que foi isso? ― diz ela secamente.
Percebo que ela está com raiva. Não era a reação que eu esperava dela
depois de ter um orgasmo.
― Me desculpe, eu perdi a cabeça. Eu vi você dançando com ele, as
mãos dele em você, pensei em tudo o que devem ter feito ontem à noite e
fiquei com raiva.
― Raiva? ― ela parece prestes a me matar ― Em primeiro lugar, eu
nunca ficaria com outro homem enquanto estou transando com você!
Então ela não transou com ele. Seguro-me para não soltar um viva na
frente dela quando está tão nervosa.
― E em segundo lugar, com quem eu fico ou deixo de ficar não é
problema seu! O nosso acordo não inclui fidelidade, ou já se esqueceu da
Lorena?
Ui! Essa eu mereci!
― Tudo bem, nós precisamos mudar esse acordo agora mesmo. Eu
quero que você seja só minha!
Ela me olha espantada por um tempo, por fim, diz:
― Não.
― O quê?
― Eu disse não! Você transou com a Lorena. Eu não vou ser fiel a você
enquanto não der o troco.
E dizendo isso, ela sai da sala. Merda! Eu precisarei de mais que um
bom sexo para domar essa megera!
Saio atrás da Celina, mas não a vejo em lugar nenhum. Avisto Luciano
conversando com alguns conhecidos, mas ela não está perto dele. Meu
primeiro intuito é procurá-la, pois saiu da sala procurando vingança. Linda
do jeito que está, conseguirá isso facilmente! Então me lembro da bronca
que levei do Matheus, do quanto esse negócio dos hotéis internacionais é
importante para mim; respiro fundo e vou até Luciano. Assim que me vê ele
se afasta das pessoas e vem ao meu encontro.
Nos cumprimentamos com a cabeça, o clima está tenso entre nós.
― Vaughn. ― ele diz por fim.
Nunca nos chamamos pelo sobrenome, mas entro na dele.
― Cartariam, você ficou de dar a resposta hoje.
Sim, o investimento dele é muito importante, mas quando olho para ele
só consigo vê-lo com as mãos na Celina, e não dá para tratá-lo melhor do
que estou fazendo.
― Sim, eu pensei bem sobre isso. De fato o investimento é algo
promissor, portanto, é provável que eu invista. Porém...
Ele para de falar e sei que alguma coisa ruim está por vir.
― Porém?
― Farei isso. Irei investir na sua empresa desde que você se afaste da
Celina.
Fico tão em choque que nem respondo.
― Sei que o contrato de trabalho dela acaba no fim de semana, mas
gostaria de assegurar que não irá procurá-la quando ele acabar.
― Você não tem o direito de me pedir isso!
― Tenho direito a partir do momento que fui eu que a socorri quando ela
estava aos prantos por sua causa! Tenho direito porque estou realmente
interessado nela, não vou usá-la para me divertir como você. Você deveria
agir como um homem ao menos uma vez na vida e reconhecer o que é
melhor para ela!
Minha vontade é de dar um murro para que ele cale a maldita boca.
― Isso não vai acontecer. Não é da sua conta, mas não estou com ela por
diversão.
― Está me dizendo que sente alguma coisa por ela? ― ele pergunta
incrédulo.
― É exatamente o que estou dizendo.
― Eu nunca acreditaria nisso!
― Não me importa que acredite ou não. Não vou me afastar dela, e não
quero mais vê-lo a rondando.
― Se não se afastar dela, não investirei no seu projeto!
― Que se dane! Não invista! Conseguirei outro investidor, mas não se
meta com a Celina.
Ele concorda com a cabeça e sai andando. Merda! Acabei de
praticamente afundar uma coisa que levei anos para idealizar, mas não
posso deixar que ele fique com a minha mulher.
Celina
Não sei mais o que está havendo. Ainda sinto o pau do Sebastian no
meio das minhas pernas cada vez que me movo. Ele não pegou leve, estava
mais intenso que o normal, com raiva até, mais apaixonado. Paro quando
penso nessa palavra, apaixonado. Será possível? Não, claro que não! Só
posso estar louca!
Encontro de novo com Mirella, que está com uma cara de tédio, então a
arrasto para um canto, para beber comigo.
― Essa batida está ótima. ― comento.
Ela apenas concorda com a cabeça, depois me puxa para o lado de fora,
onde há um jardim enfeitado com luzes e as flores mais lindas que já vi. Há
poucas pessoas do lado de fora, então encostamos ao balaústre da pequena
varanda.
― Então, o que há entre você e Sebastian Vaughn?
Engasgo assim que ela diz o nome dele. Merda! Preciso parar de
engasgar cada vez que alguém fala de Sebastian comigo.
― Nada.
― Não parece. Ele não tirou os olhos de você a noite toda. Precisava ver
a cara dele quando você estava dançando com Luciano Cartariam. Dante e
eu chegamos a apostar se ele iria até a pista tirá-la dos braços dele.
― Bobagem, Sebastian é incapaz de se sentir assim por uma mulher só.
― Não acho que esse seja o caso. Acredite, sou mais velha que você e
mais experiente. Reconheço um homem apaixonado quando vejo um, e
Sebastian Vaughn está totalmente apaixonado por você.
Engasgo de novo e não digo nada. Não quero pensar sobre isso, não
posso pensar sobre isso. Ela parece perceber meu desconforto, pois começa
a falar da filha.
― Você quer ter filhos, Celina?
― Acho que não, nunca pensei nisso, mas acho que não daria conta de
cuidar de mais alguém que não seja eu mesma. Na verdade, eu mal cuido de
mim.
Lanço um sorriso sem graça para ela.
― É uma pena, um filho seu e de Sebastian seria a coisa mais linda desse
mundo!
Engasgo de novo e ela bate nas minhas costas.
― Beba mais devagar se vai ficar engasgando tanto, Celina.
De repente Sebastian aparece, ele vem em nossa direção e percebo que
está transtornado. Sei que aconteceu alguma coisa.
― Olá Mirella. Celina, estou indo embora. Se quiser ficar, pode me ligar
quando quiser ir embora e eu venho buscá-la.
Ele parece realmente preocupado, e triste até.
― Não, eu vou com você!
Nos despedimos de Mirella que faz um gesto para que eu ligue para ela
depois. Vamos em silêncio até o carro. Ele não diz nada durante o caminho
de volta, mas de vez em quando bate no volante, e sei que está nervoso.
― Quer me dizer o que aconteceu?
― Não. Só quero extravasar a tensão que estou sentindo.
― Por favor, eu não aguento mais uma sessão de sexo selvagem de
descarregar raiva como a de mais cedo. ― brinco.
Ele abre um sorriso e respiro aliviada. Como ele não diz nada, ligo o
rádio, coloco numa música bem alta, eu conheço a música, então começo a
cantá-la aos gritos. Sebastian ri, mas logo se junta a mim e começa a gritar
também. Seus gritos são terríveis e machucam meus ouvidos, mas eu não
digo nada. Sei que estou gritando também, mas pelo menos sou um pouco
afinada, ele realmente não deveria cantar na presença de mais ninguém que
possa ouvi-lo.
Quando ele para o carro, percebo que está mais relaxado:
― Então, a terapia de descarrego da música funcionou?
― Nada mal. Mas eu preferia o sexo selvagem de descarrego. ― ele
pisca para mim.
Faço uma careta e desço do carro. Quando entramos no elevador ele fica
me olhando.
― O que foi?
― Você é linda. Simplesmente linda.
Ele é tão sincero quando diz isso, que me sinto corar e não penso em
nada sarcástico para dizer a ele. Ele acaricia meu rosto com carinho, depois
se afasta. O elevador para no décimo oitavo andar e eu desço. Ele segura a
porta.
― O que está fazendo?
― Meu quarto é nesse andar.
― Você ainda pode ficar comigo. Prometo que não irá mais ninguém
para lá além de nós dois.
― Acho melhor não.
Ele parece zangado, mas tenta disfarçar.
― Celina, tenho certeza que a cama desse quarto não é tão macia quanto
a do presidencial.
― Não é mesmo! Mas estou cansada. Quero apenas tomar um banho e
dormir. Nada de sexo hoje.
― Não é por isso que estou chamando você para o meu quarto!
― É por que então?
Ele gagueja. Não, não vou mais detalhar que ele gagueja, agora já o vi
fazendo isso muitas vezes. Depois assente e deixa a porta do elevador
fechar. Tenho a impressão de que o que vi no olhar dele antes das portas
fecharem foi tristeza.
Tomo meu banho e me deito. A cama não é tão grande nem tão macia, e
o calor dele não está a minha volta. Mas preciso me livrar desses vícios,
afinal de contas, nossa viagem está no fim e ele não dormirá comigo depois
que voltarmos para casa. Custo a adormecer, e quando o faço, alguém bate
na porta.
Resmungo um palavrão e me levanto sonolenta. Quando abro a porta,
encontro um Sebastian descabelado, com uma cara de sono e de samba
canção na porta.
― Por favor, não me diz que você bateu em cada porta desse andar
usando essa cueca!
― Na verdade eu perguntei direto na recepção.
Eu sorrio e o convido a entrar. Assim que fecho a porta vou logo
falando:
― Sebastian, eu estou realmente cansada e ainda não me recuperei do
que fez hoje na festa. Será que não podemos transar outro dia?
Um sorriso malicioso aparece no rosto dele.
― Claro, podemos transar quando você quiser, não vim aqui para isso.
― Então por que veio?
― Porque não consigo dormir sem você. E estou cansado, realmente
preciso dormir.
Mais uma vez, ele me surpreende e me deixa sem reação. Eu apenas
concordo com a cabeça e ando até o quarto. Ele me segue. Reclama quando
vê o tamanho da cama, mas se deita comigo. Ele me puxa para os seus
braços e fica acariciando minha cabeça.
Nunca pensei que faríamos isso, que dormiríamos juntos, como um
casal, sem ter tido sexo antes. Respiro o perfume dele e me sinto acalmar
com os seus braços a minha volta. Tão melhor dormir assim!
Quando estou quase adormecendo ele fala, sua voz está arrastada e
sonolenta.
― Estava pensando, não consigo dormir sem você. Quando a gente
voltar para casa, será que ainda podemos dormir juntos?
― Como? ― eu praticamente grito.
Ele me aperta mais ainda em seus braços.
― Eu disse a você quando isso começou que quando a viagem acabasse,
nosso sexo também acabaria! Mas não quero isso. Não estou pronto para
ficar sem você. Será que quando voltarmos para casa ainda podemos ficar
juntos? Eu posso dormir na sua casa, mas se sua amiga achar ruim, você
pode ir para a minha!
― Depois a gente vê isso. ― estou em choque para responder.
― Não, quero saber! Quero ter certeza de que não vou precisar
sequestrar você do aeroporto mesmo.
― Vamos fazer assim: quando voltarmos para casa, esperamos uma
semana, e se você tiver ficado com saudade de dormir comigo, eu passo o
fim de semana na sua casa.
― Uma semana? Sem chance. A gente chega em BH sábado, você pode
passar na sua casa, pegar suas coisas e tomar banho na minha!
― Sábado? Claro que não! Eu estou com saudade da minha cama! E da
Gil, quero conversar com ela.
― Então eu durmo na sua casa domingo.
― Vamos fazer assim, eu vou para sua casa na segunda.
― Não, não quero ficar domingo à noite sem você.
Eu começo a rir, ele só pode estar brincando. Mas não está, e eu percebo
isso.
― Você sobrevive sem mim, quando voltar para casa terá a Lurdinha e a
Mônica para te entreter, nem vai sentir minha falta!
Ele bufa e me aperta, então puxa meu rosto e me beija.
― Não diga isso, ninguém vai me fazer não querer você. Você nem faz
ideia!
Então me aperta de novo.
― Vamos dormir juntos no domingo e não se fala mais nisso. ― ele diz.
― Segunda.
― Tudo bem Celina, mas segunda assim que sair da empresa vou buscar
você na sua casa.
― Tudo bem.
E assim adormecemos.
Capítulo 14
Sebastian
Acordo sozinho numa cama pequena e nem tão confortável. Não
estou tirando o mérito do conforto do meu hotel, mas sou mais exigente do
que a maioria dos hóspedes que recebemos, graças a Deus. Olho pelo
quarto, mas não avisto Celina. Eu a ouço falando ao telefone e me levanto.
Ela está embolada no sofá e a ouço dizer o nome do Edmundo.
Logo sinto a raiva subir e tomo o telefone de sua mão.
― Ela não pode falar agora, ligue mais tarde! Aliás, não ligue nunca
mais.
Desligo o telefone e jogo no sofá. Ela está com as pernas em cima do
sofá, enrolada no roupão e com um sorriso no rosto.
― Você é terrivelmente ciumento, sabia?!
― Não sei lidar com o ciúme. ― respondo e ela ri mais ainda ― Por que
você ainda o atende?
― Não sabia que era ele, ele ligou de outro número.
― E o que ele queria?
Ela fica ajoelhada no sofá e passa o dedo pelo meu peito e minha barriga.
― Que tal nos concentrarmos mais no que você quer?
― Acho uma excelente ideia.
Eu a puxo para junto de mim e minha boca toma a dela. Eu a carrego até
o quarto e a jogo na cama. Tiro a roupa dela rapidamente e tomo seu seio na
minha boca. Adoro quando ela geme. Enfio dois dedos nela e vejo que já
está molhada, então, tiro minha cueca e paro com o pau em sua entrada.
― Então... ― digo e ela faz uma careta ― O que me diz sobre a
mudança no nosso acordo?
― Já disse que vou dormir com você.
― Não sobre isso. Sobre você ser fiel a mim e eu ser fiel a você...
Ela bufa.
― Sebastian, você mesmo me disse que não se imagina sendo fiel a
alguém!
― Mudei de ideia.
― Rápido assim?
― Não, foi lento e doloroso, por isso, que tal sermos fiéis um ao outro?
Não faça essa careta, só quero garantir que nenhum outro homem vai pôr as
mãos em você e em troca te garanto que nenhuma outra mulher vai ver meu
lindo pau!
Ela dá uma risada.
― Ok. ― responde.
Eu estranho. Foi fácil demais, mas a beijo e finalmente me perco dentro
dela. Quando acabamos ela gruda em mim e eu fico beijando o seu
pescoço.
Por fim, ela diz:
― O que aconteceu ontem? Por que estava daquele jeito?
― Luciano Cartariam não vai investir na V.D.A.
― Eu sinto muito. Sei o quanto era importante o investimento dele. Você
acha que eu tive algo a ver com a decisão dele?
Não gosto de mentir para ela, mas não fará bem algum que ela se sinta
culpada, então omito a informação:
― Acho que não. Ele não deu o braço a torcer desde o começo.
Ela fica calada, depois fala com a voz baixa:
― Eu acho que a culpa foi minha. Quando saímos, ele disse que se
fechasse negócio com você iria a Belo Horizonte se encontrar comigo.
Como eu neguei o pedido dele, ele se vingou. Sinto muito Sebastian, não
queria prejudicar você. Se eu pudesse fazer alguma coisa para você
conseguir esse investimento, eu juro que faria!
― Eu sei meu bem. Não se preocupe com isso agora! A culpa não foi
sua, ele é um idiota. Mas vou conseguir outro investidor.
Nós vamos para o meu quarto, pois ainda estou cansado e como só tenho
que ir a empresa à tarde, arrasto Celina para a minha cama, que é maior e
mais confortável. Assim que chegamos ao meu quarto nos beijando, ouço
meu celular tocar.
Eu o ignoro, mas Celina se irrita com a música e atende. Ela chama
algumas vezes e passa o telefone para mim.
― Para você, aquela pessoa não identificada de novo.
Sinto o mau humor querer me dominar, mas não digo nada. Atendo e
digo rapidamente que não posso falar, então desligo o celular para ela não
ligar novamente. Celina está me olhando com curiosidade estampada nos
olhos, ela não pergunta quem era. Nunca faz isso, mas sei que quer que eu
diga.
― É só uma ex que vive pegando no meu pé. ― digo, o que não é de
todo mentira.
Ela faz uma careta, mas eu a beijo e a faço se esquecer dessa ligação, e
tento esquecer também. Depois de transarmos pela segunda vez no dia, eu a
puxo para meus braços.
― Estou feliz por você ter concordado em continuar comigo quando
voltarmos.
― Você não me deu outra opção!
― Não mesmo. Mas se eu desse, você diria não?
Ela ri.
― Eu diria sim. E você sabe disso, não me faça ficar te elogiando!
― Que é isso, Celina?! Você tem que alimentar meu ego, já que agora é
minha única mulher.
Ela fica rígida nos meus braços.
― Celina, estamos conversados sobre isso, certo? Vamos ficar somente
um com o outro.
― Por que isso agora? ― ela pergunta e percebo que está insegura.
O que posso dizer? Se eu disser que é porque estou desesperadamente
apaixonado por ela, ela não vai acreditar. E não quero mentir para ela nunca
mais. Resolvo contar outra meia verdade.
― Porque não preciso de mais ninguém se tiver você.
Ela suspira e diz:
― Não foi o que pareceu na outra noite.
Merda!
― Eu sei, e nunca vou conseguir te pedir desculpas o suficiente por
aquilo.
― Na verdade, você não tem que me pedir desculpas, Sebastian. Nós
não temos nada, não tínhamos um acordo de fidelidade. Assim como eu saí
com o Luciano, você poderia ter saído com quem fosse. O que me chateou
foi você tê-la levado para o quarto onde dormia comigo. Você podia ao
menos ter me respeitado.
Obrigado Celina pelo belo tapa na cara!
― Não precisa esfregar no meu focinho que você não sente ciúme de
mim. Eu percebi isso! E dane-se, sinto ciúme de você assim mesmo, sou
possessivo mesmo. Aceite que não permitirei que nenhum outro homem
ponha as mãos em você. E estou falando sério agora, Celina. Eu quero só
você, não terei outra mulher, não tocarei outra mulher! Se quiser eu nem
olho mais para outra mulher...
Ela sorri e isso me anima um pouco. Mas não responde. E essa
indiferença dela está me deixando louco!
― Sebastian, eu não posso julgar você pelo que fez na outra noite,
porque você é livre. Mas se quiser ter um acordo de fidelidade comigo,
precisa entender que vou exigir que seja fiel. Eu não quero outro Edmundo
na minha vida! Não quero me envolver com você e te pegar com outra,
como aconteceu. Não vou aceitar nada sequer parecido com isso! Você
precisa saber no que está se metendo, sou ciumenta, possessiva e louca.
Solto uma gargalhada e a aperto contra meu corpo:
― Do jeitinho que eu sempre sonhei!
Ela sorri, mas não me responde, não posso deixar que ela pense muito.
Ouço quando ela murmura que não confia em mim, e preciso que ela diga
sim. Preciso impedir que ela fique se lembrando da minha burrada.
― Então? Você concorda? Vamos manter nosso acordo de fidelidade?
― Claro, vamos sim. Eu aceito o seu acordo Sebastian, mas só depois
que eu der o troco.
― Como é que é?
― O que você ouviu. Eu serei fiel a você, assim que encontrar outro
homem e dar para ele a vontade. Ai estarei vingada pelo que você fez com a
Lorena e poderei ser fiel a você em paz.
Sinto meu sangue ferver.
― Celina, você não pode estar falando sério! Pensa bem no que está
dizendo. Eu sei que fui um babaca, mas você não precisa se vingar.
― Claro que preciso!
― Eu não vou permitir que você fique com outro!
― Você provavelmente só vai saber depois que eu contar.
― Então vou contratar um detetive para seguir você o dia todo. E o dia
que você estiver conversando com um homem, eu aparecerei antes que você
possa pensar em dar para ele!
Ela começa a gargalhar.
― Você está falando sério? Não acredito que faria isso!
― Não me ponha a prova, Celina!
Ela me beija e começa a rir.
― É tão fácil irritar você.
― Você está falando isso só para me irritar?
― Eu não disse isso. ― ela fala e me beija.
E eu fico aqui sem saber se ela está falando sério ou não. E isso me irrita.
Não sei o que fazer com ela, não sei como conquistá-la. Quando acho que
ela gosta de mim, ela age como se eu fosse apenas o senhor sexo fabuloso
para ela. Ela nem teve ciúme da Lorena, porra! Ficou irritada só porque eu a
levei para o quarto em vez de um motel.
Tudo o que eu queria era uma reação dela, qualquer reação que não seja
agir como se nada tivesse acontecido. Ela não sente uma gota de ciúme de
mim e eu mataria por ela. E saber disso me faz sentir uma coisa esquisita no
peito que aperta e me faz sentir um maricas perdido. E nem posso gritar
para ela o que sinto, senão ela nunca mais vai confiar em mim. Vai lembrar
que mesmo sabendo que a amava eu ainda assim transei com outra.
Merda! Maldita Lounge 69. Maldita bebida. Maldito pau que sobe
mesmo quando eu não quero. Como vou provar para ela agora que posso
ser o que ela precisa se fiz exatamente o contrário?
À tarde, a deixo de folga e vou para a empresa me encontrar com Dante.
Quando chego lá, recebo uma ligação de Matheus.
― Sebastian, estou ligando para o seu celular, mas não está chamando.
― Ele está desligado. Esqueci de ligar.
― É ela te ligando de novo?
― Infelizmente.
― Eu disse que ia dar nisso. Mas você nunca me ouve. De qualquer
forma estou ligando para falar sobre Luciano Cartariam.
― Eu sei, ele me disse ontem que não vai investir no projeto. Sinto
muito, mas vou procurar outro investidor à altura dele.
― Não existe outro investidor à altura dele e você sabe disso. E não foi o
que ele me disse quando me ligou.
― Ele ligou para você?
― Sim, Sebastian. E disse exatamente a proposta que ele te fez. E eu não
sei que merda está acontecendo entre você e a senhorita Morelli, mas
precisa acabar agora! É o seu trabalho Sebastian, nosso negócio. Você não
vai colocar uma mulher qualquer acima disso. Se ele quer que você se
afaste da Celina é o que você vai fazer. Deixe-a para ele!
― Eu não vou fazer isso! Ela não é qualquer mulher!
― Vou colocar você no viva-voz.
Mateus coloca no viva-voz e Cleber me cumprimenta. Mas é Matheus
que volta a falar:
― Você pode ter a mulher que quiser Sebastian, a Celina já nos causou
problemas demais. Você já se divertiu com ela, agora a deixe em paz e se
concentre no investimento de Luciano Cartariam. Você vai procurar por ele
antes que ele vá embora hoje à noite, e vai dizer que aceita a condição dele.
― O caralho que eu vou! A Celina não é qualquer mulher, e eu não vou
abrir mão dela por causa de um capricho de um homem que quer se
aproveitar dela!
― O que deu em você, homem? Você nunca perdeu a cabeça por uma
mulher antes! Você sabe que vai ser só voltar para casa que já vai querer
várias mulheres. Esse encanto que sente por ela vai passar, o investimento é
mais importante!
― Chega Matheus! Não vou ficar aqui discutindo com você. Eu estou
apaixonado pela Celina e não vou abrir mão dela!
Ele fica em silêncio e ouço Cleber comentar que tinha avisado que eu
diria isso.
Depois de um tempo ele fala:
― Você que sabe! Espero que valha a pena e que saiba o que está
fazendo. Se não conseguir outro investidor como o Luciano a tempo, a
culpa do fracasso será toda sua!
Ele desliga o telefone e eu fico ali desnorteado. Tenho pouco tempo para
achar um investidor que queira investir mais do que é pedido em obras
normalmente. É praticamente impossível. Mas pelo menos ainda tenho a
Celina ao meu lado.
Celina

Encontro o celular do Sebastian jogado em cima do sofá e penso em


ligá-lo. Mas mudo de ideia, tenho simplesmente que acreditar nele. Mas
essa história de que uma ex o está perseguindo me parece estranha, não pela
história em si, que seria a cara dele, mas pela reação que ele tem quando ela
liga.
Será que é a tal da Jamille? A única mulher que ele achou que amava?
Sou tirada dos meus devaneios pelo toque do meu celular. Vejo que é
Luciano e penso em não atender, mas mudo de ideia, ele sempre foi legal
comigo.
― Celina, tudo bem? É que estou indo embora hoje e gostaria de me
despedir de você. Pode tomar um drinque comigo aqui em baixo, no hotel?
― Claro, estou indo.
Desço para o meu quarto e visto uma roupa, então vou me encontrar com
ele. Nós vamos até o bar do hotel e ele me elogia antes de ir direto ao
assunto.
― Queria me despedir de você e saber como está. Mas queria
principalmente saber se pensou bem na minha proposta.
Fico sem graça. Esperava que ele não se lembrasse disso, mas acho
melhor resolver isso de uma vez. Sei que tenho nas mãos a chance de me
vingar de Sebastian, mas não pretendo fazer isso. Na verdade, não
conseguiria.
Então escolho ser sincera:
― Eu sinto muito Luciano, mas realmente não estou emocionalmente
disponível. Ainda estou me recuperando de um relacionamento e não estou
em busca de diversão. Mas ficaria feliz se pudéssemos ser amigos...
Ele toma um gole da bebida e dá um sorriso sem graça.
― Não sou amigo de mulheres bonitas, Celina!
Não digo nada. Sinto como o clima esfria entre a gente depois disso.
Preparo-me para me despedir e ir embora, mas ele volta a falar:
― O Sebastian te contou sobre a proposta que eu fiz para investir no
projeto dele?
― Ele disse que você não quis investir.
― Imaginei que ele não teria contado.
― Contado o quê?
Ele se vira para mim com um sorriso no rosto.
― Ele mentiu. Eu aceitei investir no projeto dele, desde que ele se
afastasse de você.
Levo um choque com a revelação e deixo a taça que está na minha mão
bater na bancada.
― Como é?
― A única condição para eu investir no projeto dele, foi que ele deixasse
você livre para mim! Mas o bastardo não aceitou. O Matheus e o Cleber não
ficaram contentes quando eu contei a eles sobre a decisão do seu precioso
Sebastian.
― Você contou a eles?
Isso explica porque Sebastian estava tão nervoso ontem à noite. E
explica o desespero dele para que eu prometesse ser fiel. Ele havia
escolhido a mim em vez do negócio mais importante da carreira dele. E eu
ainda não sei o que fazer com isso.
― Claro que contei!
― Você é um idiota se acha que eu sou um objeto que pode manipular
desse jeito! Bem feito que Sebastian tenha recusado! Tomara que ele tenha
te mandado para o lugar certo também.
Ele sorri com a minha reação:
― Ah, ele mandou! E eu imaginei que você reagiria assim, mas escute
com muita atenção Celina...
Ele me puxa pelo pulso e se aproxima do meu ouvido.
― O Matheus está pensando em tirar o Sebastian da diretoria da V.D.A!
― Ele não faria isso!
― Faria, porque eu ofereci ser sócio da empresa se ele tirar o Sebastian.
Mas há uma chance de você ajudá-lo. Há uma chance de eu resolver dar o
investimento ao Sebastian e retirar minha proposta para o Matheus.
― O que você quer que eu faça?
― Quero que se afaste dele! Quero que termine o que quer que esteja
acontecendo entre você e Sebastian Vaughn. Se fizer isso, eu darei o
investimento a ele!
― Eu não entendo. Você sabe que mesmo que eu não fique com o
Sebastian, eu nunca ficaria com você. O que ganha com isso?
― Eu ganho porque ele perde! Há dois anos eu me apaixonei, senti o
mesmo que sinto por você, por outra mulher. Mas ela conheceu o Sebastian,
e mesmo sabendo o que eu sentia, ele começou a namorar com ela. E a
exibia como um troféu!
― A Jamille?
― Ela mesma.
― Mas eles não estão mais juntos. Por que não foi procurá-la?
― E ficar com o que o Vaughn jogou fora? Nem pensar. Eu vejo a forma
como ele quer você! Escolheu você em vez do maior investimento da sua
carreira! Não quero que ele a tenha. Eu posso não ter você, mas ele também
não terá! É você que escolhe Celina, ou acaba com ele de vez, ou ele será
demitido da V.D. A!
Eu não duvidei nem por um momento do que seria certo escolher. Estou
diante de uma cobra, mas só me resta fazer o jogo dele. Por nada nesse
mundo prejudicaria Sebastian desse jeito. Eu estou apaixonada por ele, e
por isso, vou fazer o que é melhor para ele!
― Tudo bem! Eu aceito. Prometo que assim que voltarmos a Belo
Horizonte não haverá mais nada entre Sebastian e eu.
Ele abre um enorme sorriso vitorioso.
― Muito bem, Celina! Tenha certeza que eu terei homens de olho em
vocês dois para assegurar isso. Você fez a escolha certa. É uma pena que
demonstre tanta antipatia por mim, eu poderia te fazer feliz.
― Aposto que sim. ― respondo com todo sarcasmo que consigo ―
Posso ir agora?
― Ah sim, claro!
Ele me solta e assim que sua mão não está na minha, eu pego a taça de
champanhe e a viro na cabeça dele. Ele parece em choque. Então eu dou um
tapa na cara dele!
Todos no bar estão olhando para nós.
― Isso é por tentar me negociar como um objeto! Se você precisa descer
a esse nível para conseguir o que quer, eu tenho pena de você, porque o seu
final será terrível. Seu monstro!
Ele se levanta e me segura pelo pulso possesso. Eu começo a gritar,
dizendo que ele está me machucando. Ele me solta rapidamente, mas meu
show é tão convincente que logo dois seguranças o estão segurando. Eu não
vou dar queixa dele, claro, sei que estou inventando isso. Mas reparo que
algumas pessoas fotografaram o que aconteceu e acho que é o suficiente
para prejudicá-lo.
Então subo ao quarto ainda sem saber como terminar tudo com Sebastian
sem que ele descubra o porquê de eu estar fazendo isso. Ele jamais
permitiria que eu me sacrificasse por ele!
Eu entendo isso agora. Entendo que esse tempo todo em que tive medo
de me apaixonar por ele, ele sentia o mesmo. Mas ainda temos vinte e
quatro horas, tenho um dia para viver a maior paixão que já senti na vida e
depois precisarei dar adeus.
Assim que chego, Sebastian abre a porta. Vejo que está zangado.
― Onde você estava?
― Com o Luciano.
Ele arregala os olhos.
― Celina, você não foi realmente cumprir a sua vingança...
― Não. Não foi nada disso! Só fui me despedir dele.
Eu prendo os braços em torno da cintura dele e o abraço.
― Me beija! ― peço ― Faz amor comigo! Eu preciso de você.
Ele toma meu rosto nas mãos e me beija.
Depois me olha com preocupação nos olhos:
― O que foi meu amor? O que ele fez com você? Se ele tiver tocado em
você eu juro que sou capaz de matá-lo!
― Ele não me tocou. Nunca mais quero falar dele. Vamos embora
amanhã, então só quero ficar com você hoje!
Ele sabe que estou escondendo alguma coisa. Mas me puxa de novo e
me beija. E faz amor comigo como eu pedi. Nós passamos a noite toda
acordados fazendo amor.
Acordamos no dia seguinte quase na hora do nosso voo. Eu preciso bater
nele para que não enfie a mão na minha saia durante o voo, mas não
consigo impedir que ele me beije. E eu o beijo de volta, beijo muito, porque
sei que serão nossos últimos beijos!
Capítulo 15
Sebastian
Assim que chegamos a Belo Horizonte, Celina me dá um beijo
apaixonado e desce do carro. Eu digo que vou ligar para ela, mas ela diz
que vai dormir e pede que eu não ligue. Acho estranho, mas a Celina nunca
foi uma pessoa normal, por isso faço como ela quer.
Tenho uma noite de merda, longe dela! Não consigo dormir um segundo.
No domingo de manhã, tento ligar para ela, mas não me atende o dia todo.
À noite, não aguento mais e passo em sua casa, mas Gilcelle me diz que ela
foi para a casa da mãe e que não sabe onde fica.
Sei que ela está mentindo. Primeiro porque Celina não tem uma boa
relação com a mãe, segundo que não existe a menor chance no mundo da
melhor amiga não saber onde a mãe dela mora. E terceiro, porque ela está
estranha desde sexta à noite, desde que se encontrou com o Luciano, eu sei
que alguma coisa está errada.
Mal durmo no domingo também, sou vencido pelo sono quando o dia já
está quase nascendo, mas tenho que me levantar pouco depois para ir para a
empresa. Sou recebido com festa pelos meus funcionários, e recebo olhares
furtivos de Lurdinha e Mônica, mas não me importo com isso, não pretendo
ficar com nenhuma das duas de novo.
Assim que chego, Matheus me chama para uma conversa. Espero
encontrá-lo com raiva, e espero até uma briga, mas quando entro, ele está
com um sorriso enorme no rosto e Cleber está com uma cara de
desconfiado.
― O que houve?
― Muito obrigado por ter me ouvido, Sebastian! Achei que estivesse
mesmo ficando louco, mas você agiu como o homem de negócios que eu
conheço. ― diz Matheus me abraçando.
― Do que ele está falando? ― pergunto a Cleber.
― Luciano Cartariam entrou em contato e disse que vai investir no
projeto dos hotéis internacionais.
― Como?
Matheus volta a falar.
― O que você ouviu! Depois de resolver tudo com você, ele estará aqui
no mês que vem para assinar o contrato e saber dos detalhes.
Percebendo meu olhar confuso, Matheus explica:
― Você disse a ele que se afastaria da Morelli, eu imagino.
― Claro que não!
Ele também parece confuso.
― Tem certeza? Porque ele disse que resolveu tudo com você e que irá
investir!
― Não sei o que aconteceu para ele ter mudado de ideia, mas eu não
falei mais com ele. E não mudei de ideia, ainda estou com a Celina e espero
que ele não se aproxime dela, ou não respondo por mim!
Saio da sala e bato a porta. Deveria estar contente por ter conseguido o
investimento. Não tenho mais que encontrar outro investidor em cima da
hora, mas tem alguma coisa me dizendo que se eu não resolvi as coisas com
o Luciano, a Celina o fez. Ela foi a última de nós dois a vê-lo, e parecia
arrasada quando voltou para o quarto de hotel.
Eu sei que ele fez alguma coisa que a magoou, e o fato de ela não ter me
contado só pode significar que tem alguma coisa a ver comigo. Minha
vontade é de ir procurá-la agora mesmo para saber o que está acontecendo,
mas nós combinamos de dormir juntos hoje. Então vou agir como um
homem maduro e esperar até a noite para falar com ela.
O dia parece se arrastar infinitamente, mas finalmente anoitece. Tinha
planejado ir para casa e tomar um banho primeiro, mas estou ansioso
demais, vou direto à casa da Celina. Nós podemos tomar banho juntos em
minha casa.
O porteiro, o que imagino que deva ter postado a foto do Edmundo
ajoelhado aos pés da Celina, interfona para o apartamento delas, mas
Gilcelle diz que ela não está. Eu não acredito e molho a mão dele para que
me deixe subir.
Quando Gilcelle abre a porta, eu invado o apartamento. Sei que estou
sendo ridículo, mas preciso vê-la. Revisto o pequeno apartamento
rapidamente e ela realmente não está lá. Então volto aos quartos e olho
debaixo das camas e dentro dos armários.
Quando volto à sala Gilcelle está com os braços cruzados e uma cara
fechada.
― Acabou? Saiba que está sendo ridículo ao fazer isso!
― Eu sei. Aonde ela foi?
― Não faço ideia, e não estou mentindo! Ela estava aqui quando saí de
manhã, mas ao chegar já não estava. Tentei ligar, mas ela deixou o celular
aqui.
Agradeço e decido ir embora. Será que ela voltou para o ex? Será que
está com ele nesse momento? Fico dentro do carro em frente ao prédio dela
até que finalmente a avisto chegar. Ela carrega umas dez sacolas e mal
consegue pegar a chave para abrir a porta. Vejo que o porteiro vê sua
dificuldade, mas não se movimenta para ajudá-la.
Tenho vontade de quebrar a cara dele! Mas vou até ela e seguro suas
sacolas. Ela se assusta quando me vê, mas noto algo passar pelo por seu
rosto e ela dá um pequeno sorriso. Por um minuto acho que tudo vai ficar
bem.
Ela me convida para ira o seu apartamento, e quando entramos, Gilcelle
me olha e pega a bolsa.
― Tudo bem, nem precisam dizer nada! Estou de saída e não devo voltar
cedo. Boa noite a vocês! ― ela pisca para Celina, sai e percebo que gosto
muito dela.
― Você sumiu. ― Digo quando ela não fala nada.
― Foi bom você ter aparecido porque precisamos conversar.
― Eu apareci porque nós combinamos de você dormir na minha casa
hoje, lembra?
― É sobre isso que temos que falar:
Pela expressão dela, posso imaginar o que vai falar, mas não pretendo
deixá-la dizer isso.
Eu a puxo para meus braços.
― Nós conversamos depois. Estou com saudade de você.
Então a beijo, ela passa o braço pelo meu pescoço e cola o corpo ao meu.
Respiro aliviado ao ver que ela ainda me corresponde e a beijo com
voracidade. Nós acabamos no sofá duro e pequeno da sala. Ela ri quando eu
reclamo, mas monta em mim, e assim que a penetro, sinto todas as dúvidas
e medo se esvaírem. Ela é minha, posso sentir isso pela maneira como ela
geme, como se entrega e me beija. Ela é minha!
Depois que gozamos, ficamos abraçados no sofá. Ela não sai do meu
colo e eu adoro tê-la assim. Quando a chamo para ir para minha casa tomar
um banho comigo, ela se levanta e vejo sua expressão mudar totalmente.
― Sobre isso. ― ela diz vestindo a roupa ―Não vou dormir na sua casa
hoje. Na verdade, não irei dormir na sua casa dia nenhum!
Eu me levanto e me visto.
― Que merda é essa, Celina?
― Eu pensei melhor. Por favor, não fique com raiva de mim, mas eu não
estou pronta para um relacionamento! Ainda mais um relacionamento com
você. Depois de ser traída você é a última pessoa que uma mulher pensaria
em confiar. Será que é tão difícil entender que preciso ficar sozinha agora?
Minha primeira reação é raiva. Eu soco a parede e digo uns palavrões,
mas penso melhor e sinto desespero. Eu vou até ela e a puxo para meus
braços, mas ela se afasta.
Então, finalmente, penso no que ela me disse.
― Olha para mim Celina. ― eu a seguro de frente para mim, olhando
nos olhos dela ―Você quer se afastar de mim ou precisa se afastar de mim?
Percebo um sorriso se formar nos lábios dela, mas passa logo e ela diz:
― Eu preciso me afastar de você!
Tem alguma coisa errada. Ela não quer isso, é o que está dizendo. Há
algo ou alguém que a está obrigando a isso!
― Celina, se alguém tiver ameaçado você... O Luciano, se o Luciano
falou alguma coisa, você pode me dizer e daremos um jeito nisso juntos,
mas não me afaste!
Ela parece surpresa e vejo novamente o sorriso nos seus lábios. Mas ela
se afasta de mim.
― Sebastian, não torne as coisas mais difíceis! O que aconteceu naquela
sexta quando você percebeu que eu não estava bem, não pode ser mudado
agora. Preciso que entenda que não posso ficar com você agora. Preciso
realmente que me deixe em paz! Você não pode me ligar e não pode
aparecer aqui...
Hora nenhuma ela diz que não sente nada por mim, apenas que precisa
se afastar.
― Você sente alguma coisa por mim, Celina? Qualquer coisa?
Os olhos dela brilham e vejo que estão cheios de água.
― Não faça isso, não torne as coisas ainda mais difíceis.
Eu me aproximo dela de novo, mas ela se afasta.
― Celina, me diz o que está acontecendo! Deixe-me ajudá-la! Vamos
resolver qualquer coisa juntos.
― Não, Sebastian! Que droga! Me deixa fazer as coisas do meu jeito,
estou cansada de ter que seguir ordens suas. Não sou mais sua empregada,
então me escute! Não vou mais transar com você, o que tínhamos, nosso
sexo, acabou!
Ela fala de uma maneira tão firme, que me faz sentir abalado por um
momento. Então ela ri e me manda um beijo. Fico confuso. Ela vai até a
mesinha do telefone, escreve alguma coisa e me entrega.
Depois diz de novo com a voz firme:
― Vai embora e não me procure Sebastian! Escute bem: não me
procure!
― Você vai me procurar?
Ela aponta para o bilhete. Não entendo o que está acontecendo, mas ela
abre a porta e pede que eu saia. Ainda tento ir até ela, mas ela me afasta e
parece realmente brava. Então saio do seu apartamento sem saber o que
fazer, o que pensar. Será que ela quer me dar um fora e está brincando
comigo? Seria bem a cara da megera fazer isso, mas não, alguma coisa está
errada!
Quando entro no carro abro o bilhete, que diz apenas:

“Espere
até a hora certa, senhor
Sexo Sensacional.”
No dia seguinte Matheus vai cedo à minha sala e diz que sabia que meu
caso com a Celina não iria durar. Eu a desobedeço e tento ligar para ela,
mas ela não me atende. A semana inteira passo na sala do Cleber e Gil fica
me dando notícias. Ela sempre diz que eu devo deixar a Celina em paz e
pisca para mim e me sinto confuso sobre o que isso quer dizer. Os dias
seguintes são uma tremenda merda.
Na sexta, estou na cantina me afundando no meu décimo café do dia,
quando Cleber aparece.
― Que cara de bosta é essa Vaughn?
― Não tenho dormido bem.
― Aposto que não.
Espero por uma piada, afinal é o Cleber, mas ela não vem. Olho para ele
que parece preocupado.
― Que merda está acontecendo com você? ― pergunto.
― Tem alguma coisa errada. O Luciano de repente aceita assinar o
contrato depois de ter sido um babaca e a Celina simplesmente decide
terminar! Quer dizer, eu não sei o que ela sente por você, mas me parece
coincidência demais!
― Também acho.
― Vou falar com o Matheus e descobrir o que está acontecendo!
― Você acha que ele sabe?
― Tenho certeza que sim.
Penso se devo procurar a Celina de novo, mas decido não fazer isso. Ela
sabe onde moro, tem meu telefone, mas sequer me atende. Não sei o que
estão correndo, mas sei que precisa do tempo dela agora.
Entro na minha sala depois da conversa com Cleber, e ouço a porta bater
atrás de mim e o barulho da chave sendo passada. Mônica está na minha
frente com uma cinta liga a vista por baixo da saia levantada.
― Senti sua falta garanhão!
Ela vem para cima de mim, mas eu a afasto.
― Não vai rolar, gata.
Ela tenta de novo, mas eu a afasto de novo.
― Qual o problema, Sebastian? ― ela diz chorosa.
― Não estou no clima!
― Podemos nos encontrar amanhã então?
― Também não estarei no clima!
― O que há com você?
― Mônica, tudo o que fizemos antes foi muito bom, mas agora não
quero mais. Entendeu?
Ela parece em choque e sei que estou sendo um cretino, mas não
importa. Não quero ter nenhuma outra mulher! Ela me lança um olhar
magoado e sai da sala.
Quando estou indo embora, entro na garagem vazia e vou até meu carro,
mas me assusto ao ver algo em cima dele, alguém na verdade. Pois ali está
Lurdinha, com seu sorriso metálico em cima do meu carro.
― Sebastian, estava morrendo de saudade de você!
Merda. Preciso ser mais claro! Sei que a Mônica deve ter contado que
levou um fora. Preciso que todas as mulheres que eu costumava comer da
empresa entendam que não estou mais disponível.
Então a desço do carro e a seguro para dizer de uma vez. Não me
preocupo em ser sutil.
― Eu e você, não vai mais rolar! Aliás, é bom que saiba e que todas
saibam que estou comprometido. E não pretendo trair minha noiva!
Ela me olha em choque e sei que exagerei. Celina sequer é minha
namorada, mas não importa. Quero que todas elas me deixem em paz!
Celina
Chego sexta à noite feliz porque consegui uma entrevista de emprego.
Isso afasta da minha cabeça o fato da minha menstruação estar atrasada. Faz
uma semana que não vejo Sebastian, e sinto uma saudade enorme dele. É
duro não poder atendê-lo quando ele me liga, mas ele não está realmente
correndo atrás de mim. Sinceramente depois de ele quase acabar com sua
carreira por minha causa, eu esperava que ele fosse rastejar aos meus pés,
que fosse chorar para me ter de volta. É decepcionante que ele tenha
simplesmente aceitado minha escolha e nem tenha insistido muito.
Encontro Gil com uma cara fechada no sofá esperando por mim. Eu a
evitei a semana toda, e sei que está na hora de falar a verdade. Ela me
arrasta assim que entro e se senta de frente para mim.
― Tenho uma super notícia para te dar! Mas só o farei se me contar
primeiro o que aconteceu na viagem entre você e o “Delícia Vaughn”.
― Gil, isso é chantagem!
― Não, isso é o cúmulo da curiosidade. Não aguento mais ele
perguntado por você todos os dias!
― Ele pergunta? ― eu sinto o sorriso bobo que aparece em meus lábios
e Gil percebe também, porque grita.
― Não acredito! Você está apaixonada.
― Você não precisa gritar isso. Parece ridículo com você falando assim!
― Me conta agora!
Então conto a ela tudo o que aconteceu, inclusive a parte onde fui
chantageada por Luciano Cartariam. Ela fica revoltada e solta quinhentos
palavrões, nós rimos e conto a ela que tenho uma entrevista de emprego.
― Não muda de assunto, Celina! O que você vai fazer? Você está de
quatro por ele, vai simplesmente aceitar e desistir?
― Claro que não! Vou dar um tempo para o Luciano dar o dinheiro para
o projeto. Assim que ele fizer isso, você vai me avisar e eu vou procurar o
Sebastian. Isso é, se ele ainda me quiser depois de tanto tempo...
― Ele vai querer! Era isso que queria falar com você. A Lurdinha e a
Mônica estavam aos prantos na empresa hoje, porque ele deu o fora nas
duas e disse que está comprometido.
Sinto meu coração inchar no peito. Será possível que ele fez isso por
mim? Gil percebe a pergunta no meu olhar.
― Por quem mais seria sua tonta!
Nós comemoramos com um brigadeiro de panela e trinta minutos depois,
eu boto todo o brigadeiro para fora. Gil me olha espantada quando digo que
minha menstruação ainda não desceu. Mas prefiro não me preocupar com
isso. Sei que tenho passado por estresse demais e é normal atrasar nesses
casos.

Faz mais de um mês que não vejo o Sebastian, mas ele continuou
perguntando por mim todos os dias, como a Gil me contara. Há duas
semanas ele nem me liga mais e fico aqui me perguntando se ele já se
acostumou a dormir sem mim.
Claro que já, ele já deve ter arrumado outra! Não posso imaginar
Sebastian um mês e meio sem fazer sexo. Consegui o emprego de secretária
há duas semanas e adivinhem? Meu chefe está dando em cima de mim, mas
trato de fingir ser bem burra e não perceber as indiretas dele, o que acaba
deixando-o irritado. Ele me deixa em paz cada vez que faço isso.
Chego em casa com o envelope nas mãos. Não queria ter feito o exame,
mas a Gil me obrigou depois de minha menstruação ainda não ter descido e
do excesso de coisas estragadas que pareço estar comendo. Jogo o envelope
nela e vou tomar um copo de leite. Nunca gostei de leite, mas ultimamente,
tenho tomado como se fosse água.
Ela abre o exame e faz uma careta quando olha. Eu me preocupo por um
segundo, mas passa. Sei que o exame deu negativo. Ela se aproxima de
mim e diz calmamente:
― Celininha, você sabe que uma contagem inferior a 1,0 do nível de
HCG não quer dizer gravidez...
Sorrio aliviada, mas ela continua:
― Entre 1,0 e 25,0 seria preciso repetir o exame.
― Que merda Gil! Fala logo, qual foi a minha contagem?
― Ok, mas acho melhor você parar com essa boca suja porque a sua
contagem deu 15.000.
Não digo nada, e também não sinto nada. Solto o copo que está na minha
mão e caio para trás.
Quando volto a mim, Gil já me arrastou até o sofá. Puxo o exame de sua
mão e olho. O número 15.000 está bem grande na parte superior da folha.
― Merda, merda, merda! Como isso pôde acontecer?
― Você quer mesmo que eu te explique sobre alguém que transou sem
camisinha e que havia parado de tomar a pílula?
― Eu voltei a tomar no dia seguinte! E sempre me disseram que o
remédio demora para sair do organismo!
― Eles mentiram, e você está grávida! Precisa contar para o futuro
papai.
Então a história que Sebastian me contou sobre Jamille me vem à mente.
O tempo todo ela estava tentando dar um golpe nele. O que ele vai achar de
mim? Eu disse a ele que tomava remédio, mas agora ele vai achar que sou
igual à Jamille. Oh céus por quê? Por que comigo?
― Gil, eu não sei nem cuidar de mim! Eu não consigo nem me manter
num emprego e nem manter um noivo! Como vou cuidar de uma criança?
Tadinha dela, Gil!
Eu começo a chorar e ela me abraça. Quando me acalmo, ela tenta me
animar.
― Pensa pelo lado positivo. Melhor ter um filho do Sebastian que do
Edmundo. Pelo menos seu filho vai ser lindo!
Lembro-me que alguém já comentou isso comigo e começo a chorar de
novo.
― Não! Isso foi praga da Mirella. Tenho certeza. Ela disse como meu
filho com o Sebastian seria lindo! Droga, o que eu vou fazer agora? Se
descobrirem na empresa que estou grávida, eles irão me demitir!
― Eles não podem fazer isso Celina. É contra a lei!
― Então vou ter que aguentar o idiota do Leandro dando em cima de
mim por mais nove meses! ― volto a chorar.
― Como você pretende contar isso para o Sebastian?
― Eu não pretendo.
― Celina, você não pode mesmo achar que dará conta de cuidar de uma
criança sozinha. E mesmo porque ele tem o direito de saber que vai ser pai!
― Eu sei, vou contar, mas não agora! Talvez quando minha barriga
estiver bem grande, aí ele não vai ter coragem de me bater. Ou talvez,
quando o bebê nascer. Isso, ele vai olhar a criança linda, com os seus olhos
verdes, e não vai ter coragem de me matar e deixar ela sem mãe...
― Você está exagerando! Além do mais, ele provavelmente vai querer
acompanhar sua gravidez.
― Não diga essa palavra! Ainda não aceitei. E você realmente não
entende. Ele quase levou um golpe de uma mulher uma vez. Eu disse a ele
que tomava pílula, o que acha que ele vai pensar se eu disser agora que
estou grávida? Vai achar que quero dar o golpe nele!
Ela não disse nada. Mas entendeu que a situação era muito mais “fodida”
do que parecia.
Capítulo 16
Celina
Querido Sebastian,
Não, não posso ser tão melosa ou ele vai desconfiar.

Sebastian,
Não, falta alguma coisa. Já sei:

Senhor Sexo Sensacional...


Perfeito!

Senhor Sexo Sensacional,


Sei que passou esses últimos meses
se perguntando o que aconteceu comigo.
Sei que deveria tê-lo procurado quando o
dinheiro do Luciano caiu na conta.
Acredite, o que eu desejei pular no seu
colo e sentir seu lindo e enorme pau, mas
temos um pequeno problema.
Não, não posso tratar meu bebê recém-nascido como um problema. Por
mais que agora ele seja um. Continuo:

Peço por favor que me encontre na


Maternidade...
Não, não tenho que pedir “por favor” para o safado ir conhecer o próprio
filho. Preciso fazer melhor que isso:

Estou internada, costurada e com


dores, então nem venha reclamar ao
saber que tem um filho. Pronto, falei,
estou nesse momento na maternidade e
preciso que venha registrá-lo.
Não, não posso ser tão direta ou ele achará que é mais uma das minhas
piadas. Senhor, por que não fui uma garota mais séria? Ok! Vamos tentar de
novo.

Senhor Sexo Sensacional,


Parabéns! Hoje você alcançou mais
uma grande conquista! Um filho!
Não, não vou usar meu bebê como um troféu. O que escrever?
Gil para na minha frente e me encara pela enésima vez. Faço uma careta
para ela enquanto tomo meu copo de leite.
― O que está fazendo há três horas nessa mesa? ― ela pergunta.
― Tentando contar ao Sebastian que ele vai ser pai.
― Com uma carta?
― Ah não, isso é só o rascunho! Vou mandar uma mensagem de texto.
Assim terei certeza que ele leu quando receber a confirmação.
Ela faz uma careta.
― Achei que fosse fazer isso depois que o bebê nascesse...
― E vou! Só vou mandar a mensagem depois que ele nascer.
Ela me olha como se eu fosse louca, mas por fim dá de ombros e volta
para seu quarto. Então volto para minha deprimente carta. Merda! Não
estou falando nada com nada. Preciso ser séria e direta para que entenda
que não é uma piada.
Que se dane! Preciso apenas avisá-lo que ele é pai!

Sebastian,
Sei que faz muito tempo, mas
lembra da nossa primeira noite juntos,
quando eu disse que tomava pílula?
Imagine você que eu, uma pobre garota
recém traída, realmente tomava a pílula
até uns dias antes daquela noite, e claro,
como todos dizem, achei que o efeito do
remédio ainda ficasse um tempo no
organismo, e voltei a tomar no dia
seguinte.
Bom, acho que já deu meio que para
captar onde quero chegar. Sou um
desastre, se algo pode dar errado, comigo
vai dar! E bem, eu engravidei de você.
Não faça essa cara! A culpa não foi
minha e não foi nenhum golpe. A culpa
foi sua por ser um imbecil pervertido que
não controla o próprio pau.
Você me seduziu, eu não queria. Ok,
talvez eu quisesse um pouco, mas nunca
teria chegado àquela cama se não fosse
aquele papinho furado sobre presente de
aniversário. Enfim, a culpa é sua! E não
me venha com reclamações porque quem
sofreu para colocar essa criança no
mundo fui eu. Quem engordou como
uma porca e carregou peso por nove
meses, fui eu. Quem está com os peitos
cheios e vazando como uma teta de vaca
sou eu.
Você ficou com a parte fácil: o
dinheiro. Queria dizer que vou entender
se não quiser assumir seu filho, mas a
verdade é que não vou. O filho é seu, é
sua cara! E você é rico. Portanto, apareça
na maternidade em vinte e quatro horas
para registrar o bebê ou eu coloco você
na cadeia.
Não, ele vai chegar à maternidade munido de quatro advogados, e ainda
é capaz de tirar o bebê de mim. Aí sim, eu o mato! Sem falar que o bebê
tem que nascer a cara dele.
Meu Deus! O Senhor é testemunha que eu queria realmente contar, mas
infelizmente não será possível. Tenho mais longos sete meses para pensar
em um jeito de dizer isso a ele sem prejudicar a segurança do meu bebê.
Maldito Sebastian e seu pau! Maldita eu e minha fertilidade.
Obrigada Senhor! Por esse filho não ser do Edmundo, ou eu juro que me
mataria. Está decidido, não dá para contar. Ainda não estou pronta para
dizer a Sebastian que ele vai ser pai. E eu o amo, e isso é uma droga, porque
sinto tanta falta dele!
Chega! Nada de lamentações, não quero um filho mal humorado. Vamos
bebê, vamos tomar mais leite.
Sebastian
Faz um mês e meio que não a vejo. Normalmente, nesse tempo eu já
teria encontrado outras, transado muito, e esquecido. Tive oportunidades
para isso. Mas merda, sequer consigo dormir direito sem ela. Tenho andado
assim na empresa, sempre cabisbaixo e não saio mais para beber com os
meninos. Matheus vive dizendo que devo voltar ao normal, mas não me
sinto normal. Minha vontade é de ir até a casa daquela maldita e me
ajoelhar aos seus pés, mas me lembro do patético do ex dela fazendo isso e
sei que serei patético também.
Tenho que deixá-la livre e isso é uma merda sem tamanho. Para piorar, a
Gilcelle me pediu que eu não pergunte mais por ela. Disse que não pode
falar. Penso que a Celina deve ter pedido para ela não dar mais notícias.
Fico pensando se ela sequer imagina o estado em que estou por sua causa.
Quando descobri que estava apaixonado por ela, eu sabia que não seria fácil
conquistá-la, que ela não estaria pronta para um novo romance. Quero dar
esse tempo a ela, será que um mês já é tempo suficiente para ela se envolver
comigo?
No começo, achei que assim que Luciano depositasse o dinheiro do
investimento em nossa conta, ela me procuraria. Achei que era isso que ela
estava esperando, mas ele fez isso há uma semana e nem sinal dela. Pelo
contrário, fiz questão de dizer a Gilcelle que ele já tinha dado o dinheiro,
mas ao invés de me trazer algum recado da Celina, disse que não pode mais
falar sobre ela.
Avisto Luciano de longe e minha vontade é de quebrar a cara dele! Ele já
assinou o contrato e veio à empresa apenas para saber mais detalhes e me
ver derrotado, tenho certeza. Fico me perguntando se ele procurou pela
Celina. Se ela o recebeu, se ela ficou com ele.
Tento não ter contato com Luciano, mas claro que ele passa pela minha
sala.
― Soube que você e a Celina não estão mais juntos. É uma pena.
― E eu sei que tem dedo seu nisso!
― Ah! Por favor, Sebastian. Você não pode achar que uma mulher teve
que ser chantageada para não ficar com você. Aceite que ela não o quis!
― Quem falou em chantagem? ― pergunto.
Ele se assusta com o erro que cometeu e parto para cima dele. Sei que
ele é o motivo da Celina ter se afastado. Soco a cara dele até o nariz
sangrar, então Matheus e Cleber aparecem e nos separam.
Cleber sai com ele da sala e Matheus permanece. Espero uma bronca,
pois Matheus é arcaico e moralista como ele só! Detesta confusão.
Mas em vez de me passar um sermão, ele se senta e me olha:
― Eu sei que está sendo difícil. Achei que fosse mais uma mulher com
quem você queria se divertir, e que se importasse tanto com ela porque não
podia tê-la. Mas agora vejo que você realmente a ama.
― Eu disse isso desde o começo.
Ele tira do bolso uma página de jornal velho e atira em mim.
― Eu deveria ter te dado isso antes, mas tive medo de que você fizesse
algo que atrapalhasse o investimento do Luciano.
Pego a página e vejo a notícia de um mês e meio atrás, do dia em que
Celina e eu estávamos voltando da viagem. É uma foto do Luciano todo
molhado e da Celina. E o título diz que ele havia tentado agarrá-la e ela
havia gritado por socorro, atirando champanhe nele. Não entendo essa
reportagem, nem porque Matheus a está me dando agora.
― O que isso quer dizer?
― Pelo amor de Deus Sebastian, você é burro ou o quê? Será que não
percebe? O Luciano não queria investir por causa da Celina, aí ele se
encontra com ela e a irrita a ponto de jogar uma taça de champanhe nele e
gritar por socorro. Em seguida ela termina com você e ele decide investir no
projeto.
― E ele me falou agora a pouco sobre uma chantagem...
― Demorou para você perceber! Eu soube que era isso assim que ela
terminou com você, mas não tive coragem de te falar. Ele a está
chantageando, só pode ser isso. Eu sei que agi errado e quero que saiba que
vou devolver o dinheiro do Luciano e cancelar o contrato com ele.
Minha primeira vontade é dar um soco no Matheus, mas sei que eu
deveria ter percebido isso. Ela me deu vários sinais de que não queria
realmente acabar com nosso relacionamento. Decido ir atrás dela agora
mesmo, não posso esperar nem mais um segundo.
Dirijo como um loco até o prédio dela, mas o porteiro diz que ela não
está. Molho de novo a mão dele para entrar no apartamento. E decido fazer
uma denúncia sobre isso, ele não pode deixar qualquer desconhecido entrar
no apartamento dela assim. Não é seguro!
Assim que entro no apartamento, sinto o cheiro delicioso dela. Então
percebo como estou com saudade, como a amo! Sento no sofá e decido
esperar por ela ali. Mexo na sua agenda, vejo sua letra, vejo o nome do
Edmundo riscado, procuro por meu nome e sorrio ao ver que está na agenda
como “Estúpido Vaughn”. Estou louco para tê-la logo em meus braços!
Ela demora e começo a pensar, se Luciano a chantageou. Ela poderia ter
me procurado assim que ele depositou o dinheiro na conta. Por que ainda
não fez isso? Será que se separou de mim por causa dele e durante esse
tempo me esqueceu?
Olho novamente para um papel dobrado em cima da mesa do telefone.
Sem nada para fazer, pego o papel e percebo que é um exame de sangue em
nome da Celina. Leio o que está escrito, mas não entendo. Só quando vejo o
número grande que está na parte de cima da folha, especificado em semanas
embaixo, é que entendo.
― Que porra é essa?
Celina
Tive um dia de merda. Além de o meu chefe ser um perfeito cretino, ao
sair do serviço me deparei com Luciano me dando os parabéns por eu ser
uma mulher de palavra. Ele levou para mim um buquê de flores, que fiz
questão de tentar enfiar no rabo dele!
Todos na rua riram, eu também acabei caindo na gargalhada, mas ele
não. Odeio homens sem senso de humor. Credo! Pareço até o Sebastian
falando. Sebastian! Assim que entro em meu apartamento, sinto o cheiro do
perfume dele. Senhor, estou mesmo ficando louca, é isso? Já comecei até a
sentir o cheiro dele! Ótimo, meu filho além de ter uma mãe estabanada, vai
ter uma mãe louca! Penso na frase que me vem à cabeça todo dia quando
acordo “coitada dessa criança”.
Assim que acendo a luz, um vulto no meu sofá me dá um susto e grito
deixando tudo o que está na minha mão cair. Sebastian se levanta e para de
frente para mim. Quero gritar com ele, perguntar porque está aqui, como
entrou aqui. Quero bater nele por ter desistido de mim tão facilmente!
Quero beijá-lo e quero me afastar urgentemente dele antes que descubra
sobre a gravidez, pois ainda não está na hora.
Porém, antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me puxa para os seus
braços e me beija. E como eu senti falta do seu beijo! Eu me entrego a ele e
já passo as pernas pela sua cintura. Ele me levanta e me encosta na parede.
Sinto a ereção dele pressionado o meio das minhas pernas, seus beijos ficam
cada vez mais vorazes, quando ele toca meu mamilo, eu explodo e gozo.
Ele me olha espantado e fico muito sem graça. São os hormônios da
gravidez, mas ele não pode saber disso.
― Poxa, você estava mesmo com saudade, hein! ― ele comenta com um
sorriso.
Eu me afasto dele e desço da sua cintura. Arrumo minha saia e me
recomponho.
― O que você quer aqui, Sebastian?
― Quero saber quanto tempo mais esse seu “preciso de tempo” vai
durar. O dinheiro do Luciano já está na nossa conta Celina. Por que você
não me procurou?
― Você sabia que era por causa disso que eu estava me afastando de
você?
Ele fala um palavrão e percebo que ele não sabia.
― Não, eu desconfiei que havia alguma coisa errada! Mas sofri como
um louco imaginando você com outro, pensando que não me queria mais.
Quando o dinheiro dele caiu na conta, fiz questão de contar a Gilcelle para
que ela te contasse, mas mesmo assim você não me procurou. Eu vim aqui
para procurar você e fazer uma cena até você ir para a minha casa comigo,
Celina!
Eu abro um sorriso ao ouvir aquelas palavras.
― Ele me procurou. Disse o que havia te proposto para investir na
V.D.A., também disse que você não aceitou. Eu fiquei surpresa, mas então
ele disse que o Matheus pretendia te excluir da sociedade da empresa e que
ele impediria isso te dando o investimento, se eu me afastasse de você.
Disse que ia ter gente me seguindo, para garantir que eu estaria cumprindo
minha palavra.
Ele me puxa para os seus braços.
― Celina, ele mentiu! O Matheus nunca me demitiria, somos sócios, ele
não pode fazer isso, tenho o mesmo tanto de ações que ele. Eu preferiria ter
ficado como um louco em busca de um novo investidor, do que ter ficado
todas essas semanas sem você.
Eu o aperto e deixo que ele me beije de novo. Então, sinto um enjoo e
me afasto dele. Ainda não é hora de fazermos as pazes. Preciso que nosso
filho nasça primeiro.
― Tanto faz, já faz muito tempo Sebastian. Eu estou trabalhando, sabe.
Acabei de chegar e estou exausta. Acho que é melhor nos falarmos outro
dia.
Ele parece indignado com minha sugestão.
― O caralho que eu vou me afastar de você agora!
Ele vem na minha direção, mas sinto o enjoo voltar e a ânsia me domina,
corro até o banheiro e vomito. Ele vem atrás de mim e segura meu cabelo.
Quero mandar que ele saia daqui, não quero que ele me veja assim, mas
quando digo isso a ele, diz que é bobagem, se senta no chão e me põe no
seu colo, enquanto eu vomito tudo que comi durante o dia e até o que comi
no dia de ontem.
E eu que achei que essa fase do enjoo havia passado...
― Quanto tempo demora para passar?
Percebo que falei isso em voz alta e me levanto.
― É só uma virose, já vai passar!
Escovo meus dentes e tomo um copo de leite, pois já estou com fome.
Sebastian está me esperando na sala e quando saio, ele está com um papel
na mão. Mas o papel ainda está fechado. Sinto o sangue fugir do meu corpo
e ele corre até mim e me segura.
― Você está bem? Vai desmaiar?
― O que está fazendo com esse papel na mão?
Ele me deposita no sofá e ergue o papel.
― Quando pretendia me contar sobre isso?
Merda! Ele descobriu. Isso não pode estar acontecendo. Só falta dizer
que o bebê não é dele!
― Quando o bebê nascesse!
― Você não pode estar falando sério!
― Acredite, estou.
Ele fica andando de um lado para o outro. Parece maravilhado e irritado.
― Celina, eu não sei o que você pensou, mas esse exame já tem uma
semana. Você já devia ter me contado isso desde uma semana atrás! Eu sou
o pai, droga! Você pretendia mesmo me manter longe da sua gravidez? Ia
me impedir de ver meu filho crescer?
― Não diga a palavra gravidez em voz alta! Ainda não aceitei.
Ele se aproxima de mim e se ajoelha entre minhas pernas.
― Por que você faria isso? Por que esconderia de mim o meu filho?
― Não é óbvio? Porque seu eu contasse que estou grávida, você ia
pensar que estou dando um golpe. Eu disse a você que tomava pílula, mas
eu fiquei sem tomar por uns dias, quando terminei com o Edmundo. Voltei a
tomar assim que transamos. Mas você não entenderia isso, você acharia que
eu engravidei de propósito. E eu nunca faria isso Sebastian. Eu juro!
Ele passa a mão pelos meus cabelos para me acalmar. Sinto uma lágrima
rolar por meu rosto, mas ele a seca gentilmente.
― Foi por isso que você não me procurou quando o dinheiro do Luciano
caiu na conta? Por que teve medo de como eu reagiria?
Concordo com a cabeça.
― Celina, eu nunca pensaria isso de você! Fui eu que te seduzi, eu
transei com você sem camisinha sabendo muito bem o que poderia
acontecer. Depois você disse que estava tomando o remédio, mas eu não
perguntei antes, então não adiantaria nada, não é mesmo? Não foi um
deslize só seu, foi de nós dois. Mas não me arrependo nem por um segundo,
porque amo você e vamos ter um filho. E você nunca mais vai poder se
livrar de mim.
Meu coração dá um pulo no peito e quase desmaio.
― Você... você me ama? ― pergunto ainda sem acreditar que ele sinta
mesmo isso por mim.
― Mais que isso, também sou perdidamente apaixonado por você!
Sinto as lágrimas rolarem por meu rosto, mas ele me puxa e me beija, e
logo estou em seu colo. Nesse momento, a porta abre e Gil estaca ao ver a
cena.
― Desculpe, já estou de saída de novo.
Ela sai e nós ficamos rindo.
― Eu também te amo, Sebastian!
Ele abre um enorme sorriso.
― Achei que não diria isso nunca!
Então me beija de novo e me leva para o quarto. Ele tira minha roupa
lentamente e comenta que ainda não dá para ver nosso bebê, então começa
a beijar meu pescoço. Toma meu mamilo na boca e quase gozo quando faz
isso. Ele me toca no meio das pernas e me contorço embaixo dele, então
finalmente me penetra. Ele sai e entra em mim duas vezes e eu gozo. Ele me
olha espantado.
― São os hormônios da gravidez, não pare! ― grito.
Ele sorri.
― Acho que vou adorar ter você grávida.
Eu resmungo e ele volta a me penetrar, com vontade, gozo ainda mais
duas vezes até ele se entregar e gozar dentro de mim.
Ele me puxa para os seus braços e sussurra:
― Eu te amo Celina. Te amo como nunca amei ninguém! Vai ser
maravilhoso ter você na minha casa e na minha cama todo dia.
― Como?
― Você está grávida, Celina. Achei que era óbvio que agora vai morar
comigo. Quero cuidar de você e do meu filho.
― Eu não vou morar com você.
Ele bufa.
― Tudo bem, vamos fazer do seu jeito. Celina, quer se casar comigo?
Eu começo a rir.
― Claro que não! Eu não vou me casar por causa do bebê. Em que
época você vive? Além do mais, não vou me casar com você até ter certeza
de que você será fiel a mim!
Ele fica nervoso e se senta.
― Celina, nós ficamos separados por quase dois meses e nesse tempo
todo eu sequer olhei para outra mulher. Você precisa de mais provas da
minha fidelidade do que isso?
― Sebastian, eu vou ficar enorme e vai chegar uma época em que não
vou aguentar fazer sexo. E depois vai ter o resguardo, quarenta e cinco dias!
Não vou me casar com você para ser traída quando isso acontecer.
― Não seja infantil! Eu não preciso te dar mais provas do meu amor.
Você vai se casar comigo e ponto.
― Provas do seu amor? Que amor? Você simplesmente concordou
quando eu te mandei embora e sequer se arrastou aos meus pés!
― Eu não acredito que você queria que eu fizesse isso.
Eu olho para ele brava, mas ele está rindo.
― Você me privou do meu momento deusa.
Digo e começo a rir também, ele deita em cima de mim.
― Você vai se casar comigo!
― Não vou!
Ele me beija.
― Vai sim!
Ele enfia os dedos no meio das minhas pernas e me toca.
― Não. ― sussurro com dificuldade.
― Vamos ver se não. ― ele responde e ficamos a noite toda nessa briga.
Eu o amo, de verdade, e vamos ter um filho. Mas você me conhece há
várias páginas. Acha mesmo que seria uma boa esposa e mãe?
Capítulo 17
Celina
― Pinto pequeno!
Estou deitada em uma cama enorme e macia; a cama do hotel Quatro
Estações. Estou usando minha fantasia de dominatrix, aquela mesma, que
me fez ser alvo das risadas de dez mil pessoas. E um pinto pequeno faz algo
parecido com cócegas no meio das minhas pernas. Fecho os olhos e tento
me concentrar. O que está havendo? Eu conheço essa sensação, a sensação
das cócegas. As cócegas que não me fazem rir.
Olho para Sebastian pronta para implorar que ele tire o dedo mindinho e
meta logo seu pau enorme, mas quando reparo em seus olhos, não são
verdes, são castanhos. E há uma pequena macha em um deles.
Merda! A barriga protuberante toca em mim e entro em pânico. Merda,
merda, merda!
Então percebo que não é um dedo dentro de mim, mas sim o micro pau
do Edmundo. Ele me olha como se o que estamos fazendo fosse “o
paraíso”, e eu só quero sair desse inferno.
― Saia daqui! Não me toque ― Grito e tento me afastar.
― Você me ama, Passarinha. ― ele diz com a voz rouca que mais parece
um grasno.
― Que merda está fazendo? Como entrou aqui? Não quero você, não me
toque!
Ele se zanga e se afasta. E eu nem sinto a hora que ele sai de dentro de
mim, para você ter uma noção do que é um pinto pequeno. Sei que ele está
gritando alguma coisa, mas estou ocupada olhando para os lados,
procurando por Sebastian. Onde ele está? E se ele chegar e pegar Edmundo
nu aqui?
Cubro-me com o lençol e finalmente olho para Edmundo ajoelhado na
cama. Ele está nervoso. Segura meus ombros, me joga de volta na cama e
aproxima de mim aquele...
― Pinto pequeno!
― Celina! Acorde! Celina! 4.2:
Meus ombros são sacudidos
Nada por mãos, de mas de repente Edmundo some e
sinto o cheiro de Sebastian. Abro os olhos lentamente e o vejo à minha
demonstrar
frente. logo de cara
Ele parece preocupado.que quer dar
― Celina, está tudo bem! paraFoi um sonho.o
Respiro fundo e me sento também.
homem, porEle me estende um copo de água, que
tomo rapidamente. Quando ele começa
favor, não a me perguntar o que sonhei, pulo
em cima dele. O derrubo na cama eisso.
façam abaixo sua cueca: ali está! Meu menino.
Ele está dormindo e mesmo Não assim deixe
é quatro vezes maior que o do Edmundo.
Suspiro aliviada e o acaricio
queemocionada.ele
Sebastian me olha como se euo fosse
perceba seu louca. Abre a boca para falar de
novo, mas coloco seu pau interesse,
lindo e enorme na boca e ele substitui as palavras
por gemidos. mas nessa
Estou tão desesperada fase,
que o faço nãogozar rapidamente. E mesmo depois
que ele goza, fico ali, sentindo-o
negue pulsar em minha boca, tendo a certeza que
aquilo ali é a realidade. Quando
totalmenteele seseacalma, me puxa para seus braços e
me aperta contra ele. ele insinuar
Preparo-me para dormir, oumas ele fala:
perguntar
― Com quem você sonhou? E não venha me dizer que foi comigo,
algo. Deixe-o
porque você estava gritando semprepinto pequeno. Não poderia estar falando de
mim... desconfiando,
― Convencido. ― murmuro. mas sem ter
― Celina, por favor! Não me digado
certeza que você sonhou com o Edmundo?!
― Ok. que você
― Ok, o quê? Ok vocêdeseja.
sonhou com ele?
― Ok, não vou dizer.
Ele se levanta e me encara:
― Então você não sonhou com ele?
― Agora você quer que eu responda?
Ele bufa e assente.
― Sim. ― repondo.
― Sim você vai dizer ou sim você sonhou com ele?
9° DICA:
Começo a rir. Tudo isso está ridículo demais.
― Sim euAestava sonhando com ele.
ACEITE
― Nu?
Preparo-me para dar uma resposta espertinha quando vejo o seu rosto.
PROPOSTA
Ele está com raiva.
DELE.
― Sim, sonhei que ele estava me fazendo cócegas. É o que ele chama de
comer!
Ele parece confuso, mas logo se joga na cama, o mais distante possível
de mim. Corro o dedo por seu peito, mas ele pega a minha mão e afasta.
― Não acredito que esteja com raiva por causa de um sonho!
― Por que você sonhou com ele? Nu ainda por cima? Você estava
pensando nele?
― Não. ― respondo me sentando ― Sebastian, que insegurança é essa?
Ele se senta também e parece ainda mais irritado.
― Não estou inseguro! Você não vai desejar outro homem enquanto
tiver meu pau à sua disposição. Estou confuso.
Ele se levanta e fica dando voltas.
― Você não aceitou meu pedido de casamento, não quis dormir dia
nenhum na minha casa, certezae agora sonha com seu ex! Isso só é meio
inesperado. fez isso para
fazê-lapensei que teria que lidar com um Sebastian
Não sei como agir. Nunca
inseguro. Arrogância é dormir,
seu nomeela do
o meio, insegurança passa longe dele.
Mas por que isso? ama. Mas
― Vou para sua casanão amanhã.tem― digo para apaziguar o que quer que ele
esteja sentindo. ― E não estava tendo um sonho erótico com o Edmundo,
como não
era mais um pesadelo. amar. Eu os
Um sorriso brilha emamo, muito!
seu rosto e ele fica me olhando.
― Merda, Sebastian!Ultimamente
Venha aqui e me faça esquecer essa porcaria de
pesadelo. quebro
― Nem precisa pedirpoucas
duas vezes. ― ele diz e pula em cima de mim.
coisas pela
casaquando
Estou saindo do serviço e quaseo vejo.
― E o pesadelo aparece! ― sussurro enquanto Edmundo abre os braços
não brigo
com um sorriso amarelo.com
Como se eu fosse mesmoSebastian.
me jogar nos braços dele. Louco! Paro a uma
distância segura, que eleSei que dois passos na minha direção:
ignora, dando
― Celina... ― ele sempre
diz avaliando meu corpo dos pés à cabeça com
aprovação. teremos
― Encosto! ― respondo.algum
Seu sorriso some e aquela
conflito,
expressão de causar pena surge no rosto dele.
― Eu fui à igreja Celina,
afinalespereidepor você!
― Fiquei sabendo. contas, a
Ele me olha com expectativa.
vida seria
Ok, vamos ser sinceros aqui. Tudo bem
que ele pagou um micomuito
“à lá Celina” ficando plantado na igreja como um
idiota, mas gente! Pintomonótona
pequeno!seComedor de secretárias! Não dá para
perdoar esse homem. Ainda
não tivesse,
mais depois de experimentar o senhor sexo
sensacional. Ele continua
masme sei
encarando,
que esperando que eu demonstre pena,
e eu me seguro para nãotudo
rir. dará
Faço isso por poucocerto,
tempo,pois
logo o enjoo me toma, preciso vomitar.
Interrompo o que quer que
no elefinal
estava
eu falando e digo:
― Preciso ir Edmundo,estarei
tchau.
Viro-me para correr, sempre
mas ele segura meu braço e me puxa de encontro a
ele, o rodopio que faço certa.
com o gesto me leva a beira do abismo e não tenho
saída, me afasto o suficiente e vomito em seu pé, o nojo tomando seus
olhos.
Quero rir, muito, mas um braço enlaça minha cintura e Sebastian está
com um sorriso enorme no rosto.
― Olha, se não é o Edmundo Pinto Pequeno!
Edmundo o encara com mais raiva ainda no olhar. Quero dizer a ele para
não fazer isso, quero dizer que ele já é feio o bastante, não pode fazer
caretas, mas estou meio que tendo um ataque de pânico. Sebastian já
andava estranho desde o meu sonho com Edmundo. O que irá pensar em
vê-lo ali, na porta do meu trabalho, justo no dia em que não tinha me
avisado que viria me buscar?
Não vou ficar dando explicações, mas tento controlar a ansiedade que me
toma e me concentro na expressão dele. Ele está sorrindo.
― Vaughn. ― responde Edmundo com algo parecido com nojo ― Então
é verdade!
― Sim, como pode ver.
Verdade? O que é verdade?
― Sinto muito pelo incidente. ― Sebastian diz olhando o pé de
Edmundo. ― A Celina está grávida, isso acontece muito no início da
gestação.
De branco, Edmundo fica azul. E começa gaguejar.
― Grávida? A Celina está grávida? De você?
Sebastian abre um sorriso debochado.
― É claro! De quem mais seria? Cócegas não geram bebês.
Dou uma cotovelada em Sebastian e Edmundo parece em choque. E pela
primeira vez desde que o peguei comendo a secretária, tenho pena dele. Ele
me olha ferido, exatamente como olhei para ele quando o peguei com a
secretária. Sei o que ele está sentindo, mas não posso fazer nada por ele. Eu
sempre desejei uma vingança, mas agora que acidentalmente consegui, vejo
que na verdade não queria me vingar.
Ele havia me ajudado no fim das contas; se não fosse por ele eu não teria
ficado endividada, e não teria aceitado viajar com o Sebastian.
Indiretamente ele foi o meu cupido.
Edmundo, Sebastian e eu ficamos em silêncio. Sebastian não está mais
rindo, acho que percebeu que isso realmente afetou o Edmundo. Ele abaixa
a cabeça, derrotado e diz com a voz baixa:
― Você vai se arrepender disso, Vaughn!
Sebastian parece tão surpreso quanto eu pela ameaça. Mas apenas diz:
― Acho que não!
Então Edmundo me olha, bem nos olhos, vejo a dor em seus olhos e
quero me sentir culpada, mas não me sinto. Ciclo totalmente encerrado
Edmundo, sua fase já passou!
Ter certeza disso me faz abrir um sorriso, e ele diz para mim:
― Eu queria te dar filhos, Passarinha! Muitos. Você não precisava buscar
isso em outro assim, tão rápido.
Filhos? Com o Edmundo? Eu não os queria nem com o Sebastian,
imagina com o Edmundo? Deus me livre ter um monte de passarinhos, nem
pensar! Vou dizer isso a ele, mas ele já parece derrotado o suficiente, então
apenas dou de ombros e não digo nada.
Sebastian parece inquieto, me puxa para mais perto e me afasta de
Edmundo.
― Precisamos ir, amor. ― diz para mim e eu concordo com a cabeça.
Ele olha para Edmundo ainda ali, parado, derrotado, vomitado.
― Adeus, Edmundo Pinto Pequeno e Pés Vomitados! Espero que não
procure a minha noiva novamente.
Edmundo e eu piscamos os olhos com a palavra noiva, mas tento
disfarçar. Sebastian só está marcando seu território, como um cachorro.
Sinto-me uma cadela ao pensar assim, mas é melhor ser uma cachorra, do
que uma passarinha, convenhamos!
― Ah, mas não é ela que pretendo procurar. ― Edmundo responde antes
de sair batendo o pé e espirrando respingos de vômito pela calçada.
Ficamos parados, Sebastian ainda com os braços em volta da minha
cintura. Espero ansiosamente que ele diga alguma coisa, que pergunte o que
Edmundo estava fazendo ali, pois sei o quanto é ciumento e possessivo,
mas ele não diz.
Ele me guia ao carro e me leva direto para casa. Eu desço sem entender e
espero que ele desça atrás de mim, mas buzina, arranca com o carro e vai
embora.
Eu não entendo a reação dele, e só posso rezar para que ele não cometa
nenhuma burrice. Porque da próxima vez que ele falhar comigo, não haverá
vingança que me faça perdoá-lo.
Sebastian
Pai, eu vou ser pai. Fico dando voltas pela sala enquanto tento
assimilar. Há três dias, quando recebi a notícia de que irei ser pai, foi uma
maravilha. Mas estava tão concentrado em estar dentro da Celina que não
parei para pensar no que aquilo significava. Nas duas primeira noites, só
queria tê-la e nem lembrei desse assunto. Mas depois, quando ela se
recusou a dormir na minha casa pela terceira vez, a palavra me atingiu. Pai.
Eu vou ter um filho com a Celina!
Encontro Cleber no mesmo bar de sempre. Um bar de rua, no centro da
cidade, em que noventa por cento dos frequentadores são do sexo feminino.
Ele já está com o copo de cerveja na boca e de olho em uma mulata quando
me jogo na cadeira de frente para ele.
― Porra! Você me assustou, homem!
Então ele repara minha cara e faz uma careta também.
― O que aconteceu Sebastian? Você brigou com a Celina de novo?
― Eu vou ser pai. ― digo.
Ele cospe a cerveja na minha cara.
― Merda!
―Pois é. ― digo me limpando com um guardanapo.
― A Celina vai te matar, cara!
Olho para ele confuso e então me dou conta. Ele acha que é de outra
mulher.
― Ela é a mãe!
― Ah...
Ele fica um tempo assimilando, depois começa a rir. Não entendo onde
está a graça da situação! Vou ter um filho com a Celina, a Celina. Dentre
todas as mulheres que eu peguei na vida, logo a Celina, vulgo louca, foi
engravidar! Mas quando penso isso, penso que não queria ter filhos com
nenhuma outra mulher além dela. Aliás, nem com ela. Merda!
Cleber se recupera de sua crise de riso quando vê a cara que estou
fazendo. Vamos, me provoque cara! Estou precisando extravasar minha
tensão no rosto de alguém.
Ele fica sério e fala, tentando conter o riso:
― Então, você vai ser pai...
― Pois é.
― Como você se sente sobre isso?
― Não sei.
Não sei mesmo. Me sinto feliz, eu acho. Terei um elo eterno com a única
mulher que amei, a mulher que amo. Por que estou falando no passado?
Mas não estou pronto para ser pai. A Celina mal está pronta para um
relacionamento, imagina para ser mãe? E mesmo que ela não tivesse sofrido
uma decepção tão grande com o ex noivo e comigo, e uma chantagem de
Luciano, acho que ela não estaria preparada par ser mãe nunca! Posso
vislumbrar a Celina atirando a mamadeira na cabeça da criança se ela
chorar demais. Não, ela não faria isso. Ela é boa e responsável. Merda...
― Às vezes acho que a Celina tem problema de cabeça! ― solto.
Ele me encara, sei que ele quer rir e torço que ele faça isso, porque ai
vou ter um motivo para quebrar a cara dele.
Mas ele diz, ainda tentando se manter sério:
― Imagina se for uma menina com o temperamento dela? Você terá duas
Celinas!
― Merda.
― Merda dupla, eu diria!
Tiro o copo da mão dele e viro. Então peço outro, que viro assim que
chega e peço algo mais forte. Quando o uísque é depositado na mesa, me
preparo para virá-lo, mas Cleber me impede.
― Tá legal Vaughn! Eu detesto ser o responsável, mas como o Matheus
não está aqui, serei seu grilo falante por hoje. Beber não vai fazer você
voltar no tempo e lembrar-se de encapar a criança antes de mandá-la para
chuva.
Faço uma careta. Que comparação mais ridícula!
― Não tenho experiência em dar conselhos. ― ele justifica― Se você
não quer a criança, pode pedir para ela tirar!
― Nunca faria isso! E não disse que não quero a criança. Só não estou
preparado ainda.
Penso por um momento em uma menina, com o sorriso da Celina, o seu
cabelo, até mesmo seu temperamento. E me pego sorrindo.
― O que foi agora? ― pergunta Cleber.
― Seja como for, se tiver uma menina, ela será linda!
― Se puxar a mãe...
Deixo o uísque para lá e peço outra cerveja.
― O que vai fazer agora? Você sabe que não precisa se casar com ela.
Embora eu acho que vá querer fazer isso.
― Sou louco por ela, não é segredo. Eu já queria tê-la em minha cama
todas as noites. Mas isso, um filho?! Quero estar ao seu lado em cada
momento, quero estar quando o bebê chutar pela primeira vez, quero
segurá-la enquanto ela vomita.
― Chega! Você não faz ideia do quanto está gay dizendo essas merdas
todas! E pare por aí porque não quero saber mais nada que grávidas fazem!
A questão é simples: você aparentemente quer a criança e quer a Celina?
Qual é o problema?
― O tempo. Não era para ter acontecido agora! A Celina não está
pronta. Hoje o seu ex noivo imbecil foi procurá-la e vi que ela ficou
mexida. Talvez se ela não estivesse esperando um filho meu, teria feito as
pazes com ele.
Cleber me olha sério, depois começa a rir, alto.
― Não acredito! Morri e fui para o céu! Sebastian Vaughn, o ser mais
convencido que eu conheço, está inseguro. Já posso morrer feliz!
Pronto. Era tudo o que eu precisava! Me levanto em um rompante e
acerto um soco na cara dele. A cadeira dele tomba para trás e as pessoas à
nossa volta gritam. Ele não se mexe por um tempo e sinto a tensão se esvair
do meu corpo. Estendo o braço que Cleber segura e o puxo para cima. Há
sangue escorrendo do seu nariz.
Ele o toca e solta um palavrão.
― Melhor agora? ― pergunta.
Apenas concordo com a cabeça.
― Porra Sebastian! Nunca mais chamo você para beber.
Nem respondo. Saio a procura do que preciso para ficar melhor. Minha
droga favorita: Celina. Dane-se a reação dela diante do ex! Dane-se se não
estamos prontos para ser pais! Eu a quero. Agora ela é minha em dobro. E
eu preciso ouvir da boca dela, enquanto geme, que não pensa mais no ex
imbecil.
Celina
Alguma coisa ainda está errada. Sebastian e eu voltamos ao nosso
não-relacionamento há uma semana, coisa que ele quer transformar em um
relacionamento sério. Mas, não sei se confio nele o suficiente para isso.
Nas primeiras noites, ele não saiu da minha casa, e transamos o
equivalente ao que teríamos transado no tempo todo que passamos
separados. Mas há dois dias, desde que sonhei com Edmundo, Sebastian
está estranho. Ele não dormiu mais na minha casa, sequer o vi. Ele me liga
toda noite e diz que está cansado.
Eu diria que o maldito já arrumou outra, se não fosse a Gil Patrulha. Ela
meio que está obcecada em vigiá-lo, e garante que ele não tem uma amante.
Então, o que está acontecendo?
Chego em casa e encontro Gil jogada no sofá, o que é incomum. Ela
sempre sai nas sextas à noite.
― Preciso falar com você. ― digo e ela se senta.
Então conto a ela sobre o sonho estranho e a reação mais estranha ainda
de Sebastian.
― O que você acha?
Ela pensa um pouco.
― Será que você sente falta de dormir com o Edmundo?
Faço o sinal da cruz.
― Credo! Claro que não! Gil, meu namorado é super bem dotado!
Jamais sentiria falta do Edmundo pinto pequeno.
― Tem razão. Ninguém desejaria cócegas se pode ter orgasmos, mas
você é meio estranhas às vezes. Mas não, você ama o Sebastian, e isso é
fato!
Ficamos as duas pensando e logo, pergunto:
― Quando o Matheus foi embora você sonhou com ele?
Ela faz uma careta.
― Não Celina! Nós não tínhamos uma relação, e quando ele foi embora
eu abri as pernas para outro no dia seguinte e nunca mais pensei nele.
Ok, isso não é uma reação normal. Eu não sonhei mais com ele, foi
somente um pesadelo. Já a reação de Sebastian, bem, não sei o que dizer
sobre Sebastian, não sei o que está acontecendo com ele.
De repente alguém bate na porta, com força e repetidas vezes. Corro para
atender receosa, mas é Sebastian. Ele está com o cabelo bagunçado, a blusa
social com os primeiros botões abertos e cheira a cerveja. Ah merda! O que
foi que ele fez?
Antes que eu diga qualquer coisa, ele me puxa e me beija com força.
― Eu te amo! ― sussurra ― Te amo. Você é louca, encrenqueira e mal
humorada, e eu te amo assim mesmo.
Começo a rir como uma boba em seus lábios e o puxo para mais perto.
Mal vejo a Gil sair e nem escuto o que ela fala. Estou concentrada em
Sebastian, o homem que eu amo, que eu desejaria muito que fosse meu.
Ele me arrasta até meu quarto e me deposita gentilmente na cama. Deita
sobre mim e espero que ele tire minha roupa. Fecho os olhos e espero,
espero, mas o contato dos seus dedos não vem.
Abro os olhos e ele está me olhando:
― O que houve?
Ele continua me olhando e não responde:
― Merda Sebastian, o que foi que você fez? Você bebeu?
Ele começa a rir.
― Fique sabendo que não vou aceitar mais nenhuma merda sua, ouviu?
Não tem filho no mundo que me faça perdoar você de novo.
Ele ri ainda mais alto e me cala com um beijo.
― Eu só tomei umas cervejas com o Cleber e o máximo que fiz foi socar
a cara de pau dele!
Arregalo os olhos. Sempre soube dessa amizade esquisita dos dois, mas
um soco me parece ser demais!
― Celina, precisamos conversar. Preciso saber exatamente o que você
sentiu quando viu o Edmundo hoje.
Será que isso é um teste? Um jogo? Que merda é essa? Para quê ele quer
saber de Edmundo quando estamos na cama totalmente excitados?
Olho para ele para dizer isso, mas lá está, no olhar dele, a insegurança:
― Enjoo. ― respondo ― Senti um enjoo terrível, por isso vomitei no pé
dele!
― Você sabe que não é disso que estou falando.
― Então não sei do que você está falando. O que espera que eu tenha
sentido ao vê-lo?
― Não sei, levando em conta que você sonhou com ele...
― Eu já disse que foi um pesadelo! E a culpa é sua por me deixar mal
acostumada com o seu pau. Sinto medo de perdê-lo.
Ele sorri e parece relaxar:
― Sabe Celina, às vezes acho que você só está comigo por causa do meu
pau.
― Acha é? Eu tenho absoluta certeza disso.
Ele sorri e me beija, mas quando começa a tirar minha roupa, eu o
empurro e me sento.
― Acho que está na hora de termos uma conversa séria, Sebastian! E
não faça essa cara. É muito fácil você vir aqui e transarmos a noite toda e
brincarmos com respostas engraçadinhas e provocações. Mas as coisas
estão diferentes agora. Vamos ter um filho! Eu quero saber exatamente
como se sente sobre isso!
Ele me olha em choque. Quero dar um soco nele pela descrença com
minhas palavras. Por que todo mundo reage assim quando falo alguma
coisa séria?
Mas por fim, diz:
― Assustado.
― Ainda bem que não sou só eu, então.
― E maravilhado, para falar a verdade. Vamos ter um filho, Celina! Um
pedaço de nós dois em um só ser. Você pode imaginar isso?
― Posso. Pobre criança!
Ele sorri e me beija. Puxa-me para os seus braços e espero que ele fale.
Sei que há algo mais na sua insegurança. Sei que não é por causa de um
sonho bobo com o Edmundo. Há algo mais!
Ele começa a desabotoar minha blusa, mas paro sua mão.
― Sebastian!
Ele suspira e me aperta mais forte antes de começar a falar.
― Eu quero me casar com você! E não é somente por causa da criança.
Eu te amo. Não consigo dormir sem você, detesto acordar longe do seu mau
humor matinal e claro, quero aproveitar os hormônios da gravidez para
transarmos o dia todo!
Começo a rir.
― Mas não quero forçá-la a nada! Eu sei que você não está pronta. Sei
que não confia em mim. E não quero que você aceite só porque vamos ter
um filho, porque eu serei pai dessa criança independente da situação.
― Nós nos conhecemos há pouquíssimo tempo, Sebastian. Eu sei,
vamos ter um filho, mas isso foi um acidente, não era para ter acontecido.
De qualquer forma, é nossa responsabilidade agora, será para sempre. Mas
casamento? Esse é um passo que não temos que dar. Eu quase cometi um
grande erro uma vez e não quero passar por isso de novo. Se eu me casar
um dia, quero ter absoluta certeza do que estou fazendo!
― O que eu tenho que fazer para te dar essa certeza?
― Você fez. Dormiu com outra na primeira oportunidade. Sentiu-se
inseguro e foi beber em vez de falar comigo. Como espera que eu confie em
você?
― Eu vou mudar, Celina! Entenda que nunca me apaixonei assim antes.
Nunca senti esse grau de ciúme, de necessidade de ter alguém. Eu sei que
estou pirando, que não sei lidar com esse sentimento. Há momentos que
parece que ele irá me dominar e serei tão ridículo quanto o Pinto Pequeno...
Eu o abraço e beijo seu pescoço.
― Isso nunca vai acontecer! Eu sei que você me ama, Sebastian. Você
deixou o maior negócio da sua vida por mim. Não duvido disso, eu sinto
pela forma como você me toca. Mas amor não é suficiente! Você precisa
crescer. Eu preciso crescer. Nós temos algo que nos unirá para sempre. Por
que não podemos esperar? Dar um tempo para nos conhecermos melhor,
para termos certeza de que devemos mesmo passar o resto da vida sob o
mesmo teto?
Ele pensa um pouco e depois um suspiro triste escapa de seu peito.
― Você não me ama, Celina. Está ferida demais para amar de verdade! E
não sei mais o que fazer para te conquistar.
― Você está errado, eu o amo muito! Chega a ser assustador! E não
quero estragar isso. Sebastian, as merdas que você faz não me afetam
muito, porque não espero nada de você. Mas, a partir do momento que você
assumir um compromisso comigo e colocar uma aliança no meu dedo, eu
vou esperar tudo de você. E se você pisar na bola, eu vou te matar. E não
quero deixar meu filho sem pai!
Ele sorri e me aperta. Ficamos um tempo em silêncio, mas sei que ele
está magoado.
― O que eu sinto por você é o sentimento mais forte que já senti na
vida. ― digo.
Ele me beija, com paixão, com desespero. Deita-me de costas e sobe em
mim. Fica acariciando meu rosto.
― Entendi Celina. Eu ainda preciso provar que posso ser o homem que
você merece.
― E precisa ter certeza que pode aguentar meu mau humor todos os
dias, porque os hormônios da gravidez estão me deixando ainda mais louca!
Ele sorri.
― Disso eu tenho absoluta certeza! Celina, a minha mãe se casou porque
estava grávida. E foi infeliz. Não quero ser o homem que irá fazê-la infeliz.
Nunca mais quero vê-la chorar. Se você não estivesse grávida, ainda estaria
comigo?
― Sebastian, se eu não estivesse grávida eu teria procurado você assim
que o dinheiro do idiota do Luciano caiu na conta da empresa! Teria te
mantido no quarto por longas duas semanas, porque já estava ficando louca
sem você...
Um sorriso enorme surge no rosto dele.
― Então venha morar comigo!
Começo a protestar, mas ele me interrompe:
― Escuta! Não é um casamento. A qualquer hora, se eu agir como um
estúpido de novo, você pode ir embora. Melhor ainda, você vai me
processar, e tomar todo meu dinheiro e minha casa. Talvez nem tenha que ir
embora, e consiga me expulsar. Então, o que diz? Você não tem nada a
perder!
Começo a rir.
― Celina, pensa! Assim saberíamos se vamos dar certo juntos. Eu sei
que vamos, mas posso provar isso a você. E tem o bebê, quero vê-lo crescer
de perto, e estar com você em cada momento. Vem morar comigo.
Quero dizer não. Não quero que ele assuma um compromisso, que não
sabe se vai poder cumprir. Mas vamos ter um filho, e se Sebastian não for
capaz de manter um namoro, imagina como será como pai? Preciso ter
certeza que ele dará conta disso, de ser um bom pai. Preciso ter certeza que
ele pode mudar, e é melhor que ele machuque a mim se não der certo do
que ao nosso filho. Talvez essa seja a solução perfeita.
Mas não é tão fácil. Vou morar com ele, no dia em que decidir que devo
ir! No dia em que ele não estiver me esperando. Vamos ver se ele vai
desistir se eu persistir em recusar.
― Posso pensar sobre isso? ― digo por fim.
Sua expressão murcha, mas ele concorda. Deita a cabeça em meus seios
e fica ali, aninhado a mim.
― Sebastian, se eu for morar com você, fique ciente que você será meu.
Não vou aceitar que você sequer olhe com desejo para outra mulher! Não
vou aceitar que fuja quando tiver que enfrentar algo. Vou exigir que seja
sincero comigo sempre!
― Eu sei.
― Se eu não for morar com você, não impedirei de ver seu filho nunca.
Continuarei fazendo amor com você e não te cobrarei nada.
― Eu prefiro mil vezes que você vá morar comigo e seja minha por
inteiro. Não quero sentimentos e relacionamento pela metade, Celina. Eu
quero você por inteiro! Quero que seja minha da maneira como eu sou seu.
Pisco os olhos e meu coração pula no peito. Ah, esse lado fofo dele é
meu maior perigo!
― É um risco, Sebastian. Você sabe que não sou boa em perdoar!
― Não tenho medo de arriscar e tenho certeza que seu perdão não será
necessário.
― Eu mato você no primeiro deslize!
― Eu não vivo direito sem você por perto! Não tenho nada a perder...
Quero argumentar mais, mas como poderia? Enfio os dedos em seus
cabelos e o puxo de encontro a minha boca. Preciso dele. Ele corresponde à
altura e logo estamos nus.
Capítulo 18
Celina
A manhã está uma verdadeira merda. Estou vomitando a cada cinco
minutos, e ficando com fome de novo. Para piorar, na terceira vez que corri
para o banheiro, escorreguei no piso molhado e molhei toda a minha roupa.
Justo no dia em que estou usando uma blusa social branca! O idiota do meu
chefe vai me matar se me vir com a blusa nesse estado.
Jogo meu casaco por cima, apesar do calor infernal de Belo Horizonte e
quando Leandro sai de sua sala, me olha como se eu fosse louca.
― Senhorita Morelli, estarei na sala de conferências com os acionistas.
Transfira todas as ligações para lá.
― Sim senhor.
Ele ainda me encara por um tempo e sai batendo o pé. É a minha chance.
Corro para sua sala e vou até seu banheiro privado. Tiro a blusa e tento
limpá-la. Claro que não faria isso no banheiro da empresa, onde qualquer
uma poderia me ver. Estou ficando mais esperta depois de pagar tantos
micos.
Parabenizo-me internamente pela excelente ideia, quando o telefone
começa a tocar. Corro até a mesa e ao identificar um dos acionistas da
empresa, faço a conferência para a sala onde o “mala” se encontra.
Corro para o banheiro de novo, e o telefone toca.
― Merda! ― grito e corro de volta para repetir o processo.
Isso se repete por cinco vezes seguidas. Quando finalmente para de tocar,
volto ao banheiro. Estou tonta e preciso vomitar de novo. Resmungo muito,
porque eu nem comi nada desde a última sessão de descarrego do meu
estômago, mas ele não se importa com isso.
Parece que a mancha na blusa vai sair, sorrio satisfeita. Então o telefone
toca de novo.
Corro até ele e vejo o número, não é nenhum acionista.
― Acompanhantes Travecas, bom dia.
Ele engasga e começo a rir.
― Celina! Juro que já ia mandar a polícia aí agora mesmo para te
resgatar!
― O que é isso, Sebastian? Eu nunca seria confundida com uma traveca.
― digo rindo e ele ri também. ― Por que está me ligando? Você sabe que
não pode me ligar no meu horário de trabalho.
― Preciso saber uma coisa, é muito importante.
Fico apreensiva. Raramente ele fala comigo nesse tom sério:
― Que calcinha está usando? ― ele diz com sua voz de pervertido
profissional.
― O quê? ― Eu praticamente grito.
― Você ouviu amor, que calcinha está usando? Usando meu dom de
pervertido, posso dizer que é a minha calcinha!
Não sei se rio ou se chamo a sua atenção por me atrapalhar em horário
de trabalho por uma besteira dessas! Mas, Leandro não está ali mesmo, que
mal vai fazer brincar um pouco?
― Ah, senhor Vaughn! Não deveria dizer essas coisas. Imagina se
alguém escuta que você usa calcinha? Estou exatamente com ela.
Ele engasga ao telefone:
― E ela está bem apertadinha, por causa da gravidez.
― Ah Celina. Onde você está?
― Na sala do chefe. Ele está em conferência.
― Está sozinha?
― Claro! Não estaria falando sobre a minha calcinha se não estivesse.
― Abre as pernas.
― O quê?
― Vamos Celina, quero ouvir você.
― De jeito nenhum! Não vou fazer isso na sala do meu chefe.
― Vamos, amor! Estou com saudade. Só um pouquinho... Abra as
pernas!
Sem perceber faço o que ele pede.
― Agora, arraste minha calcinha preferida para o lado!
― Sebastian... ― digo temerosa e dou uma olhada na porta fechada.
Mais uma vez, faço o que ele pede.
― Você está molhada? ― ele pergunta com a voz rouca. Aquela voz
sexy que derrete minhas calcinhas!
― Agora estou.
― Ah, Celina! Agora feche os olhos, e leve seu dedo até meu botão
preferido, imagine que é o meu dedo, brincando com você. Não estou te
ouvindo, Celina.
Solto um gemido sem querer e o ouço gemer também.
― Isso meu amor! O quão molhada você está?
― Muito. ― digo com dificuldade.
― Agora, imagine meu pau passeando em você, te tocando bem de
leve...
Gemo de novo, é incontrolável.
― Agora leve meu pau até sua entrada.
Vou com o dedo na direção que ele pede.
― Imagine meu pau te penetrando bem devagar.
― Não dá! Meu dedo nem se compra com o seu pau...
Ele sorri.
― Imagine amor. Tente!
Começo a fazer o que ele pede, quando o enjoo me toma. Não, não, não!
Isso não é hora.
― Sebastian! ― digo tapando a boca.
― Mas já?
― Não é isso!
Não dá tempo de correr para o banheiro e tudo acontece muito rápido.
Eu vomito na primeira gaveta da enorme mesa de Leandro. A porta da sala
se abre e um Leandro furioso aparece.
― Celina Morelli! Posso saber por que ouço sexo ao telefone com seu
namorado no Viva Voz da sala de conferências?
― Não!
Não. Não. Não.
― Sim!
E então ele percebe meu estado, descabelada, o rosto corado, e sem
blusa. Imediatamente pego a blusa jogada na mesa e me cubro. Ele pisca os
olhos e parece que vai explodir a qualquer momento de tão vermelho.
Quero dizer “eu posso explicar”, mas a verdade é que não posso.
Começo a bater a cabeça na mesa, merda, eu devo ter transferido a
ligação de Sebastian para a conferência, como fiz a manhã inteira! E agora
os principais acionistas da empresa me ouviram fazendo sexo ao telefone
com meu namorado.
Quanto tempo será que essa notícia vai demorar para rodar?
Provavelmente na hora da minha saída, os costumeiros cochichos e risinhos
já estarão à minha volta. Meu Deus! Como posso pensar em ser mãe assim?
Pobre criança!
Volto a mim quando um tapa forte atinge a mesa, me fazendo dar um
pulo.
― Você ouviu o que eu disse? Saia da minha sala agora!
Estou demitida. Merda, merda, merda! Saio com a cabeça baixa e o
rabinho entre as pernas. Visto a blusa rapidamente do lado fora enquanto ele
me observa.
― Senhorita Morelli, não irei demiti-la por causa da sua gravidez! Mas
que fique claro que estou sendo muito generoso com a senhorita, pois o que
fez é passível de uma justa causa!
― Obrigada senhor.
De repente, toda a raiva some e ele está me avaliando abotoar a blusa, o
que faz com que eu enfie os botões todos nas casinhas erradas e ela fica
torta. De jeito nenhum vou tirá-la de novo.
Ele me avalia um tempo e depois diz, sem nenhum vestígio de raiva na
voz:
― Não me agradeça. Lembre-se disso da próxima vez que eu precisar
que fique até mais tarde!
Ele volta para a sala dele com uma piscadela e eu quero bater minha
cabeça mais forte dessa vez. O homem está me cantando de novo! Achei
que isso tinha parado depois de revelar minha gravidez, mas não! Oh
Senhor eu devo ser mesmo muito gostosa! Ou esses executivos de hoje não
tem um bom sexo em casa.
Volto a minha mesa e me fecho em minha maré de vergonha e fico ali.
Pouco depois os outros acionistas que estavam presentes começam a passar
por mim e mesmo com a cabeça quase enfiada dentro da gaveta da minha
mesa, percebo que eles me olham, cochicham e riem.
Quero chorar, mas não sou disso, então discretamente mostro o dedo do
meio para o último deles, que me olhou mais tempo. Ele arregala os olhos e
entra na sala.
Então tiro finalmente minha cabeça da gaveta. Gaveta?!
― Ah, merda!
Assim que me levanto, Leandro abre a porta furioso. Na mão dele há
algum contrato totalmente manchado com meu vômito.
― O que significa isso?
― Hum... Coisas da gravidez?
Ele sacode a mão, mas o papel está grudado nela. Eca!
― Celina Morelli, você está DEMITIDA!
O berro que ele dá é tão grande que tenho a impressão que Sebastian o
escutou do outro lado da cidade.
Nem fico surpresa quando saio da empresa, minhas coisas em uma
caixinha, minha cara derrotada, e minha blusa totalmente torta e o vejo.
Nem me importo com os olhares que estão sobre mim, nem os de pena e
nem os de zombaria. Que se danem todos eles!
Desejo internamente que um raio caia e parta esse prédio ao meio,
torrando todos aqueles que riem nesse momento da minha desgraça. Até
consigo vislumbrar um Leandro totalmente torrado e muito bem morto!
Sebastian corre até mim e me segura pelo ombro.
― Ei, o que houve? Por que os botões da sua blusa estão todos nos
buracos errados?
Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar...
― Ah! O I-aaaah-di-aaaaah-o-aaaah-tahaaaaaaaa!
Ele me aperta entre seus braços quando os soluços me tomam.
― O que ele fez? O que fez? Vou lá em cima agora e o mato se ele tiver
colocado as mãos em você!
Então começo a rir. Sebastian me olha como se eu fosse louca. Quero
dizer a ele que esses hormônios extras estão me deixando doida, mas
desisto. Vamos ver se ele se assusta com essa nova Celina.
― Na verdade ele pegou em algo meu. O vômito que deixei espalhado
na gaveta dele.
Sebastian abre um enorme sorriso.
― E isso foi antes ou depois de ele te pegar no flagra na sala dele?
Ele está rindo, mas faço uma careta. Com certeza ele ouviu o grito de
Leandro quando entrou na sala.
― Não fiquei aí sorrindo! Fui demitida, justa causa. Sou um fiasco!
― Ei, não fale assim! Você é linda e a mulher mais inteligente que eu
conheço!
― Sou estabanada e realmente há algo errado comigo. Algo cósmico,
castigo eu acho. Não é possível que todas as situações vergonhosas do
universo tenham que ser comigo?!
Ele me aperta mais uma vez junto ao seu corpo.
― Não fale assim!
― Você já me imaginou dando banho em uma criança? Não pense que
vou derrubá-la, vou derrubar a banheira com tudo! Meu filho não vai
sobreviver nem uma semana nas minhas mãos.
Ele tenta conter, mas sei que quer rir. Belisco-o e ele se explica.
― Sinto muito pelo que passou, mas a verdade é que estou muito
contente! Não aguentava mais imaginar você trabalhando perto daquele
homem maluco cheio de dedos. Muito melhor assim, você pode se dedicar
ao bebê e arrumar um emprego melhor!
― Não fique ai cantando vitória! Fique feliz se o seu nome não estiver
no jornal de amanhã: “Sebastian Vaughn é chegado a uma calcinha”.
Ele dá uma gargalhada e me beija, e por um momento, esqueço tudo pelo
que passei.

Na manhã seguinte, acordo desanimada. Estou desempregada. E grávida.


E não venha me dizer que o pai do meu pobre bebê é rico, porque não quero
que meu filho dependa somente dele! Estou tomando meu café,
desanimada, quando a campainha toca. Nem faço questão de atender.
Sebastian vai e sorri ao ver Matheus. Gil, que estava jogava novamente
no sofá, se levanta como um furacão e nem vejo de onde ela tira a bolsa,
mas já está de saída.
― Gilcelle, não sabia que estaria aqui. ― diz Matheus olhando
diretamente para ela.
Mas ela desconversa e sai falando.
― Não estou mais!
Sebastian convida Matheus a tomar café conosco, mas sei que ele não
vai fazer isso, é fresco demais para encostar qualquer coisa que não saiba a
exata procedência na boca.
― Não, obrigado! Só vim aqui para vê-la Celina.
― Eu? O que eu fiz agora?
Sebastian sorri e Matheus parece não entender.
― Nada, creio eu. Só queria te fazer uma proposta. Fiquei sabendo que
está desempregada. E bem, a Mônica é uma péssima secretária, ela falta
mais do que vai, e quando vai, some não sei com quem e só aparece no final
da tarde!
Ah! Eu avisei! Quero gritar, mas a verdade é que sabia disso, mas
guardei para mim.
― Eu quero que você volte a ser minha secretária.
Fico surpresa, mas Sebastian está com um sorriso no rosto. O encaro em
busca de uma explicação e ele dá de ombros.
― Celina, nem vou te pedir para ficar sem trabalhar porque sei que você
não aceitaria. Mas sei que você gostava de trabalhar com o Matheus. Ele
estava precisando de uma secretária, então pensei que poderia ser você.
Fico tocada com a consideração dele, e com o fato de mesmo tendo todo
dinheiro e mesmo deixando claro que queria que eu não trabalhasse mais,
ainda respeitou a minha vontade e pensou em mim, em vez de pensar nele.
Quero abraçá-lo e dizer que o amo, mas me controlo. Não sou sentimental,
não sou.
― Eu estou grávida. ― digo para Matheus ter certeza. Não vou aceitar
reclamações posteriores.
― Eu sei.
― Eu vomito muito.
Ele faz uma cara de nojo e quase posso sentir a vontade que ele está de
enfiar a mão no bolso do paletó e tirar um lenço para se proteger.
― Não é problema, desde que não faça isso perto de mim.
Concordo. Mas não sei se quero isso. Não sei que quero voltar para o
lugar onde fui tão humilhada.
― Eu posso pensar?
― Claro, pense à vontade Celina. De qualquer maneira, a vaga é sua. E
espero muito mesmo que a aceite de volta, pois estou ficando louco.
Sorrio e ele se despede, sem pegar na minha mão. Imagino que por causa
do meu papo sobre vomitar.
Assim que Sebastian fecha a porta, nem o espero virar-se para mim. Pulo
em suas costas e começo a beijar seu pescoço.
― Eu te amo, te amo, obrigada.
Ele se vira rapidamente me prendendo em sua cintura e me beija com
paixão.
― Ah Celina. Eu adoro quando você tem essas crises de amor tão raras.
Amo ouvir você dizer que me ama. Mas, amo mais ainda quando você grita
que me ama.
Ele dá um tapa em minha bunda, me fazendo gritar.
― Ai seu filho da puta!
― Quase lá. ― ele diz e me arrasta para o quarto.
Sebastian
Ainda sinto o cheiro dela. Mais um dia em que estou totalmente fora
do ar pensando na maldita da Celina. Ela parece uma praga, me pegou de
jeito e fico totalmente infestado. Vejo-a em todos os lugares. Chega a ser
assustador. Cleber está na minha frente rindo pela milésima vez da minha
cara de bobo.
É ridículo, eu sei. Um marmanjo com barba e um pau enorme, sorrindo
feito um menino por causa de uma mulher. Mas dane-se, nunca fui tão feliz
assim. Percebo então a diferença do que sentia pela Jamille, que eu achava
que era amor, e o que sinto pela Celina, que sei que é amor.
Pensar em Jamille é como convocá-la, Vernee. O telefone toca e Cleber
atende, faz uma senhora careta e rapidamente sacudo a cabeça para que ele
diga que não estou.
Ele diz, insiste, mas depois estende o telefone para mim, derrotado.
― Ela está lá embaixo. Disse que se você não atender, ela virá até aqui e
fará uma cena.
― Merda.
Pego o telefone com o tratamento especial reservado a Vernee.
― O que é que você quer me enchendo de novo, porra?
― Meu pai está vindo para o Brasil. ― diz aquela voz esganiçada.
Como pude sentir tesão com essa voz no meu ouvido? Claro, eu
amordacei a boca dela na hora h.
― Azar o seu! ―respondo irritado.
― Azar o nosso Sebastian, porque se meu pai sonhar que você mentiu,
você será um homem morto!
― Nós mentimos, Vernee, não se esqueça disso. Além do mais, foi há
dois anos. Se não cumprimos até agora ele já deve saber que não deu certo.
Diga a ele que terminamos, que deu tudo errado e que você tem outro.
― Não vou fazer isso. Eu disse a ele que iriamos marcar a data e ele está
vindo para cá.
― Você é maluca? Eu já tenho uma noiva! O nome dela é Celina!
― Não quero saber das mulheres que você come, Sebastian! Você
assumiu um compromisso. Vai dizer para o meu pai que ainda está comigo
até ele ir embora, ou eu vou à imprensa e acabo com você.
Não respondo. Pondero, penso, desespero-me. Maldita, maldita, maldita.
Maldita família interesseira.
― Você é pior do que a Jamille, maldita hora que eu enfiei meu pau em
você. O prazer não pagou nem ter ouvido sua voz na manhã seguinte.
Ela bufa, grita palavrões e por fim, diz:
― Se vire, Sebastian Vaughn. Mas esteja na minha casa hoje a noite ou
eu juro que acabo com a sua vida e da sua preciosa Morelli!
― Aproxime-se da Celina e será uma mulher morta.
Mas ela já desligou.
Cleber me encara com aquele olhar de “eu te avisei”. Sim, ele me avisou
na época, há dois anos, mas claro, eu tinha que pensar com a cabeça de
baixo. Começo a puxar meus cabelos, tentando encontrar a solução. O mais
importante é que a Celina não descubra isso. Preciso dar um jeito de me
livrar da Vernee urgente, antes que ela se aproxime da Celina.
Cleber cuida dessa parte, ele contrata um segurança particular para
Celina. Ela não sabe disso, mas esse homem impedirá que a louca da
Vernee se aproxime. Não quero colocar minha mulher e meu filho em risco.
De repente ele começa a rir.
― Qual é a graça? ― pergunto irritado.
― Não é engraçado? Que você tenha uma noiva maluca que não quer de
jeito nenhum e queira uma mulher maluca que não quer ser sua noiva?
― Não tem graça nenhuma nisso!
No final da tarde, Cleber e eu já exaustos de tantas contas, finalmente
uma notícia boa. Não, uma notícia ótima, esplêndida.
― Finalmente. ―Cleber diz.
― Finalmente. Luciano Cartariam vai aprender com quem ele deve
mexer.
Nós bebemos e brindamos a falência das empresas de Luciano, quando
Maura entra em minha sala com uma caixa preta.
― Chegou para você, Sebastian.
Pego a caixa ainda comemorando minha pequena vingança contra
Luciano, mas quando a abro, há apenas pétalas negras e murchas. Não
entendo o que é. Não há um cartão, assinatura, nada. Viro as pétalas em
cima da minha mesa sob o olhar atento de Cleber e lá está, um papel. Cleber
o abre e faz uma careta, então o estende para mim.
― Você não vai gostar nem um pouco disso, Vaughn.
Tomo o papel de sua mão e mal posso acreditar.

Vaughn,
Você vai pagar por ter me humilhado. Contarei a Celina sobre sua noiva.
Imagina como ela vai se sentir ao descobrir que está sendo traída de novo?
E.F.D

― Maldito! ― grito ― Cleber, ligue para o segurança. Diga a ele para


garantir que o imbecil do Edmundo também não possa se aproximar da
Celina em hipótese nenhuma.
Cleber nem discute. Liga rapidamente e passa as novas ordens.
― Você tem uma foto dele?
― O quê?
― Uma foto, como a que tinha da Vernee, para eu enviar pra ele. Senão
ele não vai saber quem é!
― Não tenho uma foto desse imbecil. Mas ele é um empresário
conhecido, mande que ele procure na internet.
Cleber faz uma careta de reprovação, mas repassa novamente as
instruções e desliga. Ele estende um copo de Gim pra mim e diz:
― Porra, Sebastian! Parece que todo mundo resolveu te ameaçar hoje!
― Bem vindo a minha vida feliz.
― Isso é tudo culpa da Celina. Não que ela seja culpada pelo mau
caráter do ex dela e da sua ex, mas se você não estivesse aí, feito um
mariquinhas suspirando pelos cantos, poderia seguir o plano com a Vernee
sem maiores problemas e não teria o Edmundo Pinto Pequeno na sua cola.
Eu não quero me apaixonar nunca!
Penso por um momento na minha Celina e no meu filho que está para
chegar.
― Você vai me achar louco se eu te disser que vale a pena?
― Vou. Não acredito nisso nem por um momento. Acho que a Celina
deve ser espetacular na cama, tem mel na xoxota, não há outra explicação.
― Não fale da xoxota dela ou vou quebrar seu nariz dessa vez!
― Ok, nada sobre a xoxota mágica da Celina. Não está mais aqui quem
falou.
Ele se levanta e sai da minha sala.
Então tudo desanda. Não consigo me concentrar e Matheus chega a me
dar um safanão para que eu volte a mim em determinado momento. Perto
da hora de ir embora, Cleber aparece na minha sala com uma pasta e a joga
em cima da mesa.
― Pronto. Você me deve sua vida, parceiro.
― Que merda é essa?
― Tudo o que consegui sobre Edmundo Ferraz Diniz.
― O que diabos eu vou fazer com isso?
― Você? Absolutamente nada. Mas eu? Estou indo agora mesmo
procurar esse imbecil. O apartamento dele não é longe da nossa empresa.
― E vai fazer o que quando o encontrar?
― Deixa comigo meu amigo. Posso te garantir que depois da minha
ilustre visita, Edmundo Diniz nunca mais dirá o seu nome ou o da Celina.
Fico olhando meu amigo de longa data, imaginando se ele está maluco
de vez, ou se tem uma identidade secreta.
― Que se dane! Faça o que quiser fazer. Só preciso impedir que a Celina
descubra sobre a Vernee.
Ele se senta a minha frente com uma expressão séria, atípica dele.
― Sebastian, eu sou um merda no quesito amor, mesmo porque nem sei
o que é isso. Mas vou te dar um conselho assim mesmo. Bom, eu vou
procurar o Pinto Pequeno e tentar resolver isso, mas seria bom você contar
a verdade para a Celina.
Olho para ele tentando entender de onde saiu esse Cleber que quase
parece um homem adulto.
― Você tem razão, vou explicar toda a situação a ela.
Ele me olha, eu o olho, e um sorriso nasce em seu rosto. Cleber Dantas,
o verdadeiro, está de volta.
― Isso mesmo. Pare de ter medo da sua mulher, homem. ― ele diz
debochado.
― Não tenho medo. Não é como se ela fosse me matar, nem nada. ―
digo, mas não tenho certeza disso, ela já tentou me matar uma vez, com o
travesseiro, e eu a irritei bem menos na ocasião ― Mesmo porque entre a
Vernee e eu não há absolutamente nada!
Cleber levanta as mãos em sinal de paz e diz:
― Eu sei disso. Você sabe disso. Mas tenta convencer a Vernee disso.
Ele está certo. Isso não pode dar certo. Não há uma maneira segura de
contar isso para a Celina. ― A Celina não vai gostar nada. ― sussurro.
― Ou talvez ela coloque a megera no seu devido lugar.
Agora ele está sorrindo, mas fala com convicção.
― Acho que não. Ela não é ciumenta.
Ele faz uma careta e levanta a mão.
― Vamos apostar?
― O que? ― pergunto.
Ele pensa e vou logo avisando.
― Se você disser qualquer coisa relacionada a xoxota da Celina não
sobreviverá para vencer aposta nenhuma.
Ele sorri.
― Não se preocupe, quero distância da xoxota dela. E nem é por você,
na verdade. Mas não quero ser pego no mesmo feitiço que te transformou
num gay.
― Sabe Cleber, eu ainda vou rir muito quando vir você com a mesma
cara que estou fazendo nas últimas semanas.
Ele imediatamente bate na madeira.
― Nem brinca com isso, homem! Pare de me rogar pragas! Cleber e
paixão são palavras que não combinam na mesma frase.
― Você acabou de combinar.
― Foi explicativo, não conta. E vamos mudar de assunto que isso já está
enchendo. Vai pra casa homem, vou lá dar um jeito no ex da sua verdadeira
noiva!
― Claro que não vou para minha casa, e mais uma vez, o fato de a
Celina não estar morando comigo me irrita. Ela está grávida, sei que me
ama, e é tão corajosa normalmente, mas por que tanto medo de tentar?
Tudo bem, ainda vou convencê-la. Eu não queria me apaixonar assim,
mas já que a megera provocou isso, vai ter que aguentar as consequências!
Não vou sossegar enquanto não a tiver debaixo do mesmo teto que eu, na
minha cama, nos meus braços, durante todas as noites.
Ela está ao telefone quando chego, mas desliga assim que me vê. Espero
que pule em cima de mim, como tem feito nos últimos dias. Essa coisa de
gravidez a está deixando mais emotiva. Mas ela caminha a passos largos e
aponta um dedo para o meu peito. Estou encrencado.
― Sebastian! Pode me dizer por que tem uma porra de segurança me
seguindo?
― Como você descobriu?
― Você não pode achar que sou tão burra assim! Acha mesmo que eu
não perceberia um homem de três metros de altura me seguindo para todos
os lados? Achei que era um maníaco, que queria me sequestrar por causa do
seu dinheiro! Você tem ideia do trabalho que me deu para acertar as bolas
dele quando ele se aproximou de mim?
― Você o quê?
Sei que é errado, e ela está muito nervosa, mas tenho uma crise de riso.
O segurança que Cleber contratou é conhecido por Montanha, pela altura e
porte. E não consigo imaginar a Celina, essa mulher aparentemente
delicada, acertando as bolas dele. Pobre homem.
― Isso não tem graça! Eu não quero um guarda roupa me seguindo!
― Amor, é para sua proteção.
― Ninguém está me ameaçando!
― Pode ser que ameace. ― levanto o envelope que trago na mão e a
curiosidade a acalma um pouco.
― O que é isso?
― Números. Isso, minha querida Célie, é nada mais nada menos, que a
falência de Luciano Cartariam.
Ela fica em choque. Abre a boca e arregala os olhos. Tomas os papéis da
minha mão e analisa.
― Ele não está pobre, infelizmente. Mas conseguimos fazer com que
80% dos investidores dele retirem seu dinheiro. Isso é o suficiente para ele
ter que fechar as portas. Podemos dizer que ele está bem menos rico agora.
― Sebastian, isso foi vingativo demais. Você não pode ser assim tão frio.
―ela me olha totalmente incrédula e estou prestes a me explicar quando ela
sorri ― Eu adorei! Queria só ver a cara daquele safado quando descobrir
isso.
Eu a puxo e a beijo. Deus, eu amo essa mulher!
― Entende por que precisa de segurança?
― Sim, mas você terá que contratar outro, não acho que o grandalhão vá
querer se aproximar de mim depois de hoje.
― Ah, Celina! O que eu faço com você?
― Você sabe muito bem o que tem que fazer.
Ela me beija e puxa meu cabelo e eu esqueço das ameaças, de Pinto
Pequeno, de Vernee e do resto do mundo nos braços dela.
Bônus Cleber
O edifício é elegante e discreto. O tipo de prédio em que eu moraria.
Tenho que admitir que Pinto Pequeno tem bom gosto. Não titubeio ao
avistar o porteiro, preciso subir ao apartamento de Edmundo sem ser
anunciado. Não quero que ele fuja como um rato, o que sei que ele é.
Nesses casos, postura é tudo. Estou bem vestido, tenho cara de rico, e um
corpo invejável, mas isso não vem ao caso, só estou citando para que você
saiba. Enfim, não paro na recepção, ajo como se morasse ali, como se
entrasse naquele hall todos os dias. Claro que dá certo, o porteiro me olha
mais de uma vez, mas apenas me cumprimenta com um sorriso quando o
encaro, e não me impede de entrar.
Claro que ele não impediria, sabendo que tenho dinheiro e por causa do
meu porte, nem estou falando da minha beleza, e sim dos meus músculos.
São enormes, e muitos, e é muito difícil um ser magro e raquítico como
aquele porteiro se meter comigo.
Quando as portas do elevador estão se fechando, avisto uma mulher
correndo e gritando em direção ao elevador. Imediatamente seguro o
elevador para ela. Ela entra desajeitada com umas dez sacolas a cobrindo.
Eu tiro metade das sacolas de sua mão e a vejo.
Ela tem olhos negros, mas grandes. Um óculos elegante os deixa ainda
maiores. Seu cabelo negro está preso em um rabo de cavalo muito bem
arrumado, e a franja longa cai pelas laterais de seu rosto. Ela é bonita.
Agradece sem enrubescer, o que é incomum quando uma mulher olha
para mim. O andar do idiota do Edmundo é o décimo, mas a mulher para no
oitavo e estende a mão para pegar as sacolas. Como o bom moço que sou, a
levo até seu apartamento. Ela parece surpresa pelo meu gesto, mas mais
uma vez, não enrubesce. Será que é lésbica? Ou casada? Não, mesmo as
casadas enrubescem diante de mim.
Ela parece nervosa enquanto abre a porta do apartamento e me pego
sorrindo, finalmente alguma reação, mas a vaca entra correndo e bate a
porta na minha cara. Fico ali no corredor, sem entender, com cinco sacolas
na mão. Meio fora do ar. Quando de repente ela abre a porta e a fecha
rapidamente atrás de si. Pega as outras sacolas da minha mão dizendo:
- Me perdoe senhor. E muito obrigada pela ajuda.
Seguro a última sacola para que ela não a retire da minha mão. O que faz
com que ela olhe para cima.
- Isso não é jeito de tratar alguém que foi gentil com você.
- Eu sei, me desculpe.
Ela ainda não está ruborizando.
- Não. Só a desculpo se me convidar para beber uma cerveja.
Ela pisca os olhos confusa e depois de um bom tempo, sua amabilidade
desaparece, ela parece desconcertada, mas ainda assim não enrubesce. Qual
o problema dessa mulher? Será que é assim tão fria?
- Sinto te desapontar, mas não vai encontrar cerveja na minha casa. - ela
diz, mas sem cordialidade na voz.
- Um suco, então?
- Não tem.
- Café? – tento mais uma vez.
- Na verdade, você não vai tomar absolutamente nada na minha casa.
Pode me dar minha sacola ou terei que acusá-lo de roubo?
Uau! A mulher é brava! Isso me faz rir.
- Você é lésbica?
Ela pisca os olhos vermelha e sei que está se controlando. Mas por fim,
responde:
- Claro. Pense assim se isso servir para amaciar o seu ego.
Ela tenta puxar a sacola da minha mão e eu a afasto.
- Como? – pergunto divertido.
- Senhor Não Me Interessa Seu Nome, entenda três coisas: Uma, eu não
sou lésbica, só não te acho tudo isso. Duas, você não vai, em hipótese
alguma entrar em meu apartamento. E três, você definitivamente não faz o
meu tipo. Pode me devolver minha sacola agora?
Sim, ela foi incrível e eu fui nocauteado, olho sério para ela e digo:
- O que você esconde nesse seu apartamento?
Touché. Ela pisca os olhos assustada e percebo como ficou tensa.
Esconde alguma coisa. Por isso não vai me deixar entrar em seu
apartamento, não tem nada a ver com não me desejar.
Ela parece irritada, pois tenta puxar a sacola da minha mão, quando não
consegue, respira fundo, dá de ombros e diz:
- Tudo bem, se faz tanta questão de ficar com a sacola, pode pegar para
você. Faça bom proveito do que está dentro dela.
Assim ela bate de novo a porta na minha cara e desaparece para dentro.
Imediatamente abro a tal sacola e quase tenho um infarto quando vejo o que
tem dentro. Uma calcinha vibratória. Nem acredito. A mulher é
aparentemente culta, se veste elegantemente coberta e usa uma coisa
dessas! Em vez de abrir a porta para um homem como eu, que daria a ela
muito mais prazer do que essa minúscula calcinha. Que imagino que nem
caiba em toda aquela bunda. Posso imaginar o que esconde no apartamento
dela.
Com um sorriso no rosto, penduro a calcinha no trinco da porta. Vamos
deixar que a safada escondida dentro dela seja descoberta pelos vizinhos.
Volto para o elevador e subo para o andar de Pinto Pequeno. Toco a
campainha e fico longe do olho mágico, a porta se abre apenas um pouco,
mas a empurro e entro. Uma mulher assustada dá um grito e trato de
tranquilizá-la.
- Olá, não se assuste. Só preciso falar com o Edmundo.
Ela se prepara para gritar de novo, mas sou mais rápido. Coloco uma
mecha do cabelo dela atrás de sua orelha e digo com a voz arrastada.
- Como se chama?
Funciona. O medo desparece e ela dá um risinho antes de responder.
- Eliete.
- Seu patrão está, Eliete? – continuo acariciando seu cabelo.
Ela concorda com um sorrisinho e então vai me conduzindo até o Pinto
Pequeno. Ele está sentado em uma poltrona lendo um jornal, eu já chego
pegando-o pelo colarinho.
- Olá Pinto Pequeno.
Ele se assusta e tenta se afastar. Depois de ele murmurar que posso levar
o que eu quiser e de eu perceber que está quase mijando nas calças, eu o
solto.
- Não sou um assaltante, para o seu azar. Só vim te dar um aviso.
Aproxime-se de Celina Morelli novamente e será um homem morto. Eu fui
claro? Um telefonema, uma palavra, um olhar sequer na direção dela e eu
venho atrás de você, e salvarei as mulheres que você come de ter que
aguentar seu minúsculo pau.
Vejo o vermelho tomar seu rosto e ele murmura:
- Então o Vaughn está mandando o cão de guarda?
- Ah sim, com certeza. E o cão aqui é bem bravo. Estou falando sério,
Edmundo, se eu pegar você sequer falando o nome dela outra vez, você não
será homem para mulher nenhuma nunca mais. Entendido?
Ele assente com uma careta.
- Eu entendi. Não vou procurar a Celina.
- Você disse o nome dela? – digo dando um passo em sua direção, e ele se
afasta amedrontado.
- Não, não conheço nenhum Vaughn e ninguém ligado a ele.
- Melhor assim. – digo e antes de sair dou uns tapas em seu rosto, o
alertando da minha força.
Saio feliz e com a sensação de dever cumprido. O imbecil do Sebastian
me deve mais essa. Quando o elevador para no oitavo andar, penso em
descer, mas, é só mais uma mulher entre muitas, nem vale o esforço.
Porém, quando estou saindo do prédio, vejo o quadro de correio, finjo
atender o celular e olho o que há na caixinha do apartamento 802. Há um
envelope. Eu o pego despistadamente e vejo o nome da safada embutida.
Suzana. Um belo nome, para uma bela mulher. Devolvo o envelope e saio
do prédio pensando em outras coisas. Mas, durante todo o dia, o nome dela
fica aparecendo na minha cabeça. Suzana, lindo nome. Linda mulher.
Celina
Olho novamente o relógio, nervosa. Ele está atrasado e isso é
totalmente incomum nele. Tudo está pronto. Há velas em todo o
apartamento, Gil vai dormir fora e estou usando minha fantasia de
dominatrix. Eu sei, a do sonho, mas quero acabar com aquela imagem
ridícula. Sem falar, que foi a que Sebastian escolheu para protetor de tela de
seu celular, deve ter gostado mais dela.
Eu nunca imaginei que usaria essas fantasias um dia, mas agora, vestida
com uma, me sinto quase uma expert. Se bem que, pelo tanto que tenho
praticado, e pela variedade que tenho experimentado, já posso me nomear
uma expert em sexo.
Finalmente o clique da porta me tira de meus devaneios e fico tensa. E se
ele não gostar? E se eu já tiver engordado? Para Celina! É o Sebastian! Ele
sempre vai gostar de uma mulher seminua.
Vejo quando ele entra, faz uma careta ao ver as velas e acende a luz.
Quando faz isso, seus olhos param em mim. Ele abre a boca, arregala os
olhos e passeia seu olhar preguiçosamente por todo meu corpo. Sua mala já
está no chão e sua gravata também, eu nem o vi tirando-a.
Ele apaga a luz novamente e se aproxima de mim. Primeiro afaga meu
rosto e meu cabelo, a admiração que vejo em seu olhar só não mexe mais
comigo do que a luxúria que vejo neles. Ele me deseja. Desce o dedo pelo
meu corpo, parando em cada tira de couro da fantasia e puxando.
― Deliciosa. ― murmura me fazendo gemer.
Eu não aguento mais, me aproximo dele e rodeio sua cabeça com meus
braços, logo sua boca está na minha. Ele me beija com voracidade,
desespero. Puxa-me para seu colo e me leva até o quarto. Desce-me
vagarosamente pelo corpo dele, sinto sua ereção queimar em cada ponto
onde toca até me depositar totalmente na cama.
― Ah Celina! Você ainda vai acabar comigo.
― Espero que sim. ― respondo com dificuldade para falar. E isso o faz
gemer e deitar-se sobre mim.
Ele começa a abrir minha fantasia. Passeia o dedo por meu ombro nu,
desce-o entre meus seios levantados pelo corpete, abaixa mais e desamarra
a primeira fita que o prende. Quando faz isso, beija meu pescoço, me
provocando arrepios. Então desamarra a segunda fita, mordisca minha
orelha e desamarra a terceira. Sobe a mão vagarosamente de volta aos meus
seios e puxa cada um, deixando o mamilo para fora do corpete. Ele suga
cada um com toda calma e isso quase me faz explodir.
― Sebastian. ―suplico.
― Calma, amor.
― Sem essa de me amar da maneira certa.
Ele sorri.
― Não é isso, só quero amar cada pedaço de você.
― Você não pode fazer isso outro dia?
― Ah não! Quero cada pedaço de você, agora.
Ele me beija, calando minhas próximas súplicas. Enquanto sua mão ágil
solta as ligas da fantasia. Num rompante, ele se levanta e desce minha
calcinha preta.
― Minha calcinha. ― murmura com aprovação.
Rapidamente ele tira a roupa e vejo sua ereção apontar. Achei que ele
fosse me despir totalmente, mas não é o que ele quer.
― Ah Celina. Você não faz ideia do quanto fantasiei em ter você
exatamente assim. Com esse corpete, seus seios me tentando e bem aberta
para mim.
Ele me toca com o dedo e me contorço. Quando ele enfia o dedo em mim
quase gozo, mas percebendo, ele o retira rapidamente.
― Nada disso! Você vai gozar no meu pau.
― Então faça logo!
Ele sorri e volta a me beijar.
― Paciência minha deliciosa Celina.
E tudo acontece rápido, num segundo ele está me beijando bem devagar,
quase me enlouquecendo, e no seguinte sua boca me devora e ele está
dentro de mim. Grito o seu nome quando gozo e ele não para de se mexer.
Sua boca não sai da minha, até que o orgasmo me atinge de novo, então ele
se apoia nos braços e mete com mais força, levando-me ao abismo outra
vez. Grito novamente seu nome, arranho suas costas suadas com as unhas e
ele grita de volta o meu nome, com toda reverência e paixão.
Ele deita ao meu lado na cama e me puxa para os seus braços. Estou
mole depois de três orgasmos e apenas me aconchego para dormir, mas ele
me beija. Passeia sua mão por meu corpo, me despertando.
― Quer me deixar dormir? ― resmungo.
― Nem pensar, não amei cada parte de você ainda.
― Acredite Sebastian, estou me sentindo completamente amada.
― Que bom Celina. ― ele diz, mas há algo em sua voz. Um alerta.
Forço-me a abrir os olhos e o encaro. Sua mão está segurando apertado a
minha. Quero perguntar o que está acontecendo, mas antes que o faça, ele
se deita sobre mim e me beija, intensamente. Murmura que me ama e volta
a desamarrar as tiras restantes do corpete.
Joga o corpete no chão e deposita beijos na minha barriga. Ele a caricia e
me olha, há um brilho intenso em seu olhar.
― Meu bebê. ― ele diz.
Eu confirmo com a cabeça e ele beija novamente minha barriga. Fecho
os olhos, tocada com seu gesto de carinho, mas logo desce os beijos e já
estou agarrando seus cabelos e gritando o nome dele quando sua língua me
dá o quarto orgasmo.
Ainda com meu gosto na boca ele sobe beijando meu corpo, mordisca
meu pescoço, meu queixo, meus lábios. Me beija, ao mesmo tempo me
penetra de novo já estou agarrada a ele, pernas e braços enroscados,
gritando seu nome enquanto ele me ama da maneira exata que preciso ser
amada.
Quando terminamos, estou realmente mole, mal consigo abrir os olhos,
mas sinto algo gelado em minha mão. Sebastian sai da cama e vai apagar as
velas, abro os olhos um pouco apenas para admirá-lo nu, mas no
movimento que faço para me virar, vejo algo em meu dedo. Sento-me
imediatamente, totalmente desperta. Não acredito que isso está aqui!
Como? Quando?
― Sebastian Vaughn! Por que tem uma aliança enorme no meu dedo?
Capítulo 19
Celina
Ele se aproxima de mim, calmo. Como se nada demais tivesse
acontecido. Mas não está em seu modo brincalhão, então sei que está tenso.
― Porque você vai usá-la amanhã.
― Amanhã?
― Sim, na V.D.A.
― V.D.A.? Sebastian, você bebeu? Eu não vou à V.D.A. amanhã.
― Sim, você vai. Recuperar seu posto de secretária do Matheus.
― Ainda não me decidi quanto a isso.
Ele se senta na beira da cama e segura minha mão, que agora pesa o
mundo com essa aliança enfiada nela.
― Amor, essa é sua chance. Você está grávida. Nenhuma outra empresa
vai empregar você. A não ser que você queria realmente não trabalhar
durante a gestação. O que eu acharia ótimo.
Ficar sem trabalhar? Depender dele?
― Não, você está certo! Vou voltar amanhã. Mas não preciso estar com
essa aliança no dedo.
Começo a retirar a aliança, mas ele me impede imediatamente.
― Não é uma aliança de casamento, Celina. É um anel de compromisso.
Apenas um anel. Por favor, não tire!
Há um certo desespero no modo como pede que eu não tire. Mas anéis
me lembram casamentos, que me lembram traições, que me lembram anos
perdidos e amores não correspondidos.
― Não gosto de anéis. ― digo.
― Eu sei que não. Mas isso é uma coisa que você precisa superar! Você
é minha Celina. Eu sou seu. Na sociedade em que vivemos, não posso
marcar meu nome em você de outra maneira. Nem o seu em mim.
Ele estende a mão que também tem uma aliança enorme. Tiro a aliança
da mão dele e meu nome está escrito nela. Não sei explicar o que sinto.
Tenho medo, que esse pequeno objeto de ouro acabe com a felicidade que
sentimos. Mas, ao mesmo tempo, saber que Sebastian carrega meu nome o
dia todo me faz sentir tão bem, que parece loucura!
― Você já deixou sua marca em mim. ― digo passando a mão dele na
minha barriga.
― Essa foi a melhor marca, Celina. Mas vai demorar para aparecer.
Preciso dizer que você é minha, agora. Preciso assumir você, entende isso?
Eu entendo. Ele é um famoso e cobiçado executivo. Quer mandar o
recado, dizer que está comprometido. Não posso achar isso ruim, mas algo
nisso me assusta. É compromisso demais! Preparo-me para contra-
argumentar quando ele diz algo que acaba com qualquer ressalva em
relação à aliança.
― Pense na cara da Mônica e da Lurdinha quando virem essa aliança no
seu dedo.
Até que a Lurdinha nunca me encheu muito, mas a Mônica, essa sim
sempre tentou me humilhar.
― Ok, eu uso esse anel. Mas que fique claro que é apenas um anel.
― Como quiser, minha noiva.
Eu acerto um tapa nele, que me puxa e me joga na cama para a terceira
rodada da noite.

Não quero que ele segure minha mão. Não preciso estar sob a proteção
dele. Quero mostrar que me virei sozinha, que sou linda, recontratada e
namorada do chefe delicioso delas. Há uma comoção enquanto vamos
passando. Sebastian pareceu entender meu recado, pois hora nenhuma
tentou me tocar, está andando ao meu lado. As pessoas cochicham quando
passamos e pela primeira vez esses cochichos não estão zombando de mim,
mas sim me elogiando. Ouço os murmúrios, “linda”, “namorada do
Vaughn”, “grávida” ... Não sei como as notícias correram tão rápido, mas
não me importa.
Mônica está sentada em sua mesa de assistente, de onde não deveria ter
saído. Abre um sorriso falso quando me vê e abro um enorme sorriso de
“sim, sua piranha, ele é meu”. Matheus aparece e me dá um longo abraço,
ficamos na sala dele alguns minutos enquanto ele repassa algumas coisas
comigo e logo estou na minha mesa. Mônica não para de me olhar,
principalmente para a aliança enorme na minha mão. De vez em quando
alguém aparece para falar com ela, só para ficar me olhando.
É estranho ter tanta atenção positiva.
Quando vou ao banheiro, apertada para fazer xixi, escuto saltos no
azulejo e ouço as vozes de Lurdinha e Mônica:
― Você a viu? Nem parece a mesma mulherzinha horrorosa de antes! O
que o dinheiro não faz?
― Mas como ela conseguiu conquistá-lo? Ele nunca olharia para uma
mulherzinha sem sal como ela.
― Ela deve ter feito macumba.
Abro a porta e as duas ficam brancas de susto. Elas gaguejam, mas trato
de falar antes delas.
― Ah meninas, que coisa feia essa inveja toda! Sabe, quando eu era a
mulherzinha horrorosa eu nunca tive inveja de vocês. Nem uma vez sequer.
Nem teria motivos, não é?
Vejo Mônica ficar vermelha, mas ela não ousa me responder. Adoro
impor respeito.
― Em vez de ficarem aí conjecturando sobre como eu fiz para conquistar
o Sebastian, por que não vão cuidar das suas vidas?! Se preocupem com
vocês, quem sabe assim os próximos homens para quem vocês abrirem as
pernas, não se cansem tão rápido de mulherzinhas mais ou menos.
Mônica vem para cima de mim, mas Lurdinha a segura.
― Ela está grávida! ― grita ― E é a noiva do chefe, quer ser demitida?
Mônica sai batendo o pé e Lurdinha corre atrás dela.
Ok, não sou uma pessoa má, mas esse negócio de o mundo dar voltas e
estar por cima vendo seus inimigos lá embaixo, é uma maravilha!
Sebastian
Todos só falam dela. Do quanto está linda, diferente, segura. E estou
como um bobo babando na reação que ela provoca. Mas fiz questão de bater
um papo “amigável” com cada indivíduo do sexo masculino dessa empresa
e deixar bem claro que ela é só minha.
Na hora do almoço, quero me sentar com ela e beijá-la. É um saco vê-la
tão perto de mim e não poder tocá-la. Mas não vou fazer isso, não vou
deixar que pensem que ela só está aqui por minha causa, quando o Matheus
teve todo o trabalho para garantir que todos soubessem que ela voltaria por
mérito próprio. Mas fico o almoço todo a olhando embasbacado.
Quando volto a minha sala, tomo uma decisão. Ligo para a mesa dela.
― Celina! Venha a minha sala, por favor.
― O que houve? ― ela pergunta alarmada.
― Apenas procedimentos, Célie.
Ela bufa e bate o telefone na minha cara. Ligo de novo e ela atende com
um insolente “o que é?”.
― Atrevida. ― digo.
― Vai à merda. ― ela responde e bate o telefone outra vez na minha
cara.
Eu amo essa mulher!
Pouco depois ela entra. Está deliciosa com esse vestido preto colado. A
barriga ainda não aparece e não vejo a hora de vê-la com minha melhor
marca bem estampada.
― Pois não.
― Como ousa desligar o telefone duas vezes na minha cara? ― digo me
fingindo de bravo, mas ela nem liga.
― Já fiz coisas piores, não sei porque o drama.
Levanto-me e em dois passos estou atrás dela. Nem dou tempo para ela
se virar, seguro seus braços para trás e sussurro em seu ouvido.
― Você vai pagar por essa grosseria, menina malvada.
Eu a empurro até a mesa e a viro de frente para mim, para capturar sua
boca num beijo voraz. Quando me afasto para respirar, ela diz meio sem ar.
― Não quero transar na sua sala. Não sou a Mônica nem a Lurdinha.
Pressiono meu joelho no meio das pernas dela.
― Não quer?
Mordisco seu pescoço e belisco seu mamilo por cima do vestido. Ela
geme e aperta os olhos.
― Mudei de ideia, eu quero!
Volto a beijá-la enquanto abro minha calça.
― Eu te amo Celina, e nunca transei com ninguém na minha sala. Nem
dentro das dependências da empresa.
Ela abre os olhos surpresa, e volto a beijá-la, para finalmente, penetrá-la.
― Eu quis fazer isso desde o instante em que você se afastou de mim.
― Então por que demorou tanto? ― ela reclama.
Volto a beijá-la e não pego leve.

À tarde, estou concentrado em alguns documentos quando o primeiro


telefonema é passado. Maura tem ordens expressas de não passar nenhum
telefonema da Vernee, mas ela sempre dá um jeito de enganá-la.
― Então você assumiu a secretária? O que acha que está fazendo,
Sebastian?
Imito a Celina e bato o telefone na cara dela. Algumas horas depois, meu
celular pessoal toca, penso em nem atender, mas acabo atendendo.
― Isso não vai ficar assim! Você não vai fazer isso comigo!
Encerro a chamada novamente e volto aos meus papéis. Pouco depois,
outro telefonema.
― Merda! ― grito para que Maura ouça e entenda que não deve
transferir mais nenhuma ligação.
Atendo pronto para gritar com Vernee, quando a voz de Luciano me cala.
― O que foi que você fez, Vaughn?
― Oras, olá Cartariam.
― Não me venha com saudações. Não sei que merda fez, mas trate de
recuperar meus investidores ou irei acabar com você.
― Não sei do que está falando. Mas se não consegue segurar seus
investidores, o problema não é meu.
― Faça como quiser Vaughn, mas também sei atacar onde dói mais.
― Está me ameaçando, Luciano? Poxa, será que você não se lembra das
coisas que eu sei sobre você e sua empresa? Imagine que tenho muitas
pessoas de confiança totalmente instruídas e se qualquer coisa acontecer
comigo, com a Celina, ou qualquer empregado da V.D.A., a Cartariam
Empreendimentos será desmascarada. Acho que agora que perdeu tanto
dinheiro, não é o momento de ter seus bens e suas contas, todas elas,
confiscadas. Não é mesmo?!
Ele balbucia alguma coisa ininteligível e desliga o telefone. E me sinto
radiante. Até ouvir Maura gritando ao telefone com a Vernee. Preciso
mesmo resolver isso. Seria muito fácil, se o buraco não fosse mais embaixo.
Arrasto Matheus até a sala de Cleber e desabafo.
― Vernee.
― Eu avisei. ― os dois dizem em coro.
― Eu sei, sou o estúpido com um pau descontrolado, mas isso não vem
ao caso. Como podemos resolver isso? Porque se Nicolas Mathieu retirar
seus investimentos da V.D.A. teremos sérios problemas.
Nicolas Mathieu, o pai da Vernee é o maior investidor da V.D.A. Perdê-
lo está totalmente fora de cogitação. Ele investe sempre que precisamos e
mantém um de seus bancos à nossa disposição, fazendo tudo isso pelo
futuro genro: Eu.
Matheus e Cleber tentam pensar em uma forma de resolver o problema
Vernee. Até sugiro que Cleber dê em cima dela; quem sabe se ela cismar
com outro não me deixe em paz. Mas ele nega veementemente. Amigo da
onça!
― Nicolas nem pode sonhar que foi enganado. ― diz Matheus.
― Mas a louca da Vernee está ameaçando contar a ele e à imprensa o
que fizemos. ― justifico.
― Ela também perde muito com isso, ele com certeza a deserdaria.
― Mas o que ela lucraria em campanhas com a imagem da pobre
menina traída poderia valer o risco. ― Cleber diz.
Estamos em uma sinuca. Matheus me encara como se a resposta fosse
óbvia. Eu devo me casar com a Vernee.
Mas antes que ele diga esse absurdo, já vou logo falando.
― Se você vai falar algo sobre eu me casar com a Vernee e terminar com
a Celina, já vou avisando que prefiro perder a empresa...
― Ei! Abaixa a guarda, homem! Eu não ia dizer nada disso, não quero
acabar com um hematoma no nariz como o Cleber. Não vou pedir que se
separe dela. Sei que a ama, e que terão um filho, pelo amor de Deus! Não
sou nenhum monstro!
― Desculpa.
― Vamos pensar em alguma coisa, Sebastian. Mas acho que deveria
falar com a Celina. Ela é meio assustadora, talvez consiga colocar a
francesinha pra correr.
― Ela não é assustadora! E não é ciumenta! Qual o problema de vocês?
Os dois dão de ombros e volto para minha sala sem uma solução.
Mal termino de me sentar, Celina entra como um furacão. Seu rosto
ainda está rosado e ela parece furiosa.
― Sebastian, seu safado, pervertido de merda!
― O que houve?
Ela não diz nada, apenas aponta o dedo para a blusa dela. É aí que vejo,
o botão aberto, deixando à mostra um pedaço de seu seio, e a marca que
deixei nele com os dentes mais cedo. Então me dou conta de que ela deve
estar com a blusa assim desde que saiu da minha sala, e deve ter rodado a
empresa toda com o seio mordido à mostra.
Levanto-me imediatamente. Merda! Eu jurei que não iria expô-la ao
ridículo de novo. Vou até ela que se joga em meus braços.
― Eu vou matar você! Me fez perder o respeito que custei impor nesse
lugar!
― Celina, meu amor! Em primeiro lugar, você não teve trabalho algum
para impor respeito, é a noiva do chefe.
Ela resmunga e me morde, me fazendo rir.
― E em segundo lugar, acredite, as pessoas saberem que você está
desconjuntada porque estava transando comigo só aumenta seu respeito.
Dessa vez recebo uma joelhada fraca na virilha, e ela se afasta enquanto
eu rio.
― Você me paga por isso, Sebastian Estúpido Vaughn!
E sai da minha sala antes que eu possa consertar sua blusa. Corro até a
porta e grito:
― A blusa amor, você precisa esconder o chupão!
Todos a olham, ela fica vermelha como um tomate, mostra o dedo do
meio para mim e sai batendo o pé. E eu fico todo feliz, hoje à noite vamos
ter um sexo selvagem de punição na casa dela.
Celina
Chego em casa preocupada, recebi uma mensagem no mínimo
estranha do Sebastian. Ele disse que precisa muito conversar comigo.
Liguei para ele, e embora tenha brincado e feito suas piadas infames, pude
sentir que algo o incomoda, e não é uma coisa fácil de dizer. Penso que
deve ser novamente sobre o assunto casamento.
Jogo-me no sofá e analiso minha situação. Não sou só eu; há uma vida
bem aqui dentro de mim que devo levar em conta ainda mais do que a
minha própria. E talvez, Sebastian esteja certo. Talvez, eu esteja sendo
paranoica em negar ao menos tentar ter uma família com ele. Um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar; Sebastian não é o Edmundo. E eu o amo.
Não há razão para vivermos separados.
Sorrio como uma boba e coloco em minha mala apenas as coisas mais
necessárias: umas roupas de trabalho, sapatos, alguns livros e claro, as
quinze fantasias. Só experimentamos uma, há mais quatorze que precisam
de atenção.
Com esse pensamento saio feliz e quase saltitante do meu pobre
apartamento em direção à mansão de Sebastian. Farei uma surpresa para ele
essa noite. Provarei para ele que o escolhi; independente do que aconteça,
quero ficar com ele.
Espero por um taxi quando alguém segura meu braço, no mesmo
instante, uma voz diz:
― Não precisa gritar, sou eu.
Então começo a gritar ao ouvir a voz de Edmundo.
― Celina!
Paro de gritar quando ele tenta tapar minha boca. Ok! Quero essas mãos
pequenas longe de qualquer parte do meu corpo.
― O que é que você quer? Já vou avisando que ainda estou na fase do
vômito.
Ele automaticamente dá um passo para trás.
― Eu só queria te contar uma coisa, sobre o seu precioso Vaughn.
Antes que eu possa sequer perguntar o que é, duas mãos enormes
seguram Edmundo que arregala os olhos.
― Eu falei pra você não se aproximar dela!
Edmundo me olha suplicando, mas estou ocupada, me envergonhando
por ter chutado as bolas do homem que agora está ali me defendendo.
― Olá Montanha.
― Olá, senhorita Morelli.
― Me desculpa por ontem.
Ele abre um sorriso.
― Não se preocupe, o senhor Dantas me avisou que a senhorita era
assustadora.
― Ei! Eu não sou assustadora! Só estava me defendendo!
Ele sorri mais ainda e pergunta:
― O que eu faço com o elemento?
― Ah, sei lá, faça o que sentir vontade.
Edmundo arregala os olhos e começa a gritar meu nome e o de
Sebastian, mas o taxi aparece e nem o escuto mais.
Até o momento em que ele grita:
― Ele tem uma noiva! Sebastian Vaughn tem uma noiva.
Paro na porta do carro e olho para ele com um sorriso.
― Claro que tem. Conta outra. ― digo mostrando a enorme aliança no
meu dedo. Então entro no carro.
A casa de Sebastian é ainda maior do que eu me lembrava. Tiro nervosa
da bolsa a chave que ele me deu. Ainda não acredito que estou mesmo
fazendo isso, indo morar com ele. Estou louca, só pode. Tudo culpa dele e
do efeito que ele causa em mim.
Olho os móveis chiques, a casa enorme e tão bonita e penso que minha
mãe ficaria no céu se conhecesse essa casa, ela me parabenizaria o resto da
vida por ter engravidado do Sebastian. Como se eu tivesse feito um
excelente investimento. Nunca entenderia que eu não queria de jeito
nenhum estar grávida. Que não tenho como cuidar de uma criança. Que não
quero ser uma mãe como ela. Pensar nisso me faz lembrar que devo contar
a ela sobre a gravidez.
Deixo os assuntos difíceis para outro momento e entro na sala de estar,
quando um vulto pula na minha frente. Meu susto dura dois segundos até
perceber a criatura loira, magra e com enormes olhos azuis me encarando.
― Quem é você? ― pergunto já jogando a mala no chão.
Senhor, por que tem uma mulher na casa de Sebastian? Que não seja o
que estou pensando ou vou arrancar o pau dele fora!
― Sou Vernee Mathieu, a noiva de Sebastian.
Olho bem para a cara dela, aquela cara magrela e agora totalmente sem
sal e começo a rir.
― Noiva? Você?
Ela me encara sem entender, parecendo ultrajada com minha reação.
Então estendo a mão com a enorme aliança dourada para ela.
― Acho que está enganada, querida, eu sou a noiva do Sebastian.
Ela abre um sorriso afetado e estende a mão magrela na minha direção,
onde um anel prateado brilha. Nem espero ela dizer nada, arranco o anel do
seu dedo e lá está: o nome do maldito escrito elegantemente.
Por um momento, quero ser criança e gritar que a aliança que está na
mão dele é a que conta, e que essa, tem meu nome. Mas estou em choque.
Isso tem que ser uma maldita piada. Uma brincadeira sem graça de
Sebastian, só pode ser isso! Ele não está me traindo, não pode ser!
Um barulho na porta me traz de volta e ouço a voz de Sebastian.
― Vernee, o que está...
Ele corre até mim e me segura pelos ombros.
― Celina, amor, você está bem? Celina, fala comigo.
Eu o olho, quero chorar, mas não vou fazer isso. Não na frente dele.
Espero que ele explique. Ele entende o que quero que ele faça, como
sempre, pois segura minha mão e começa a explicar bem devagar, como se
eu fosse uma criança com dificuldade para entender.
― Amor, eu posso explicar. Não é tão ruim quanto parece.
― Não tenta me enrolar, Sebastian. Essa mocreia magricela é sua noiva?
Ele responde “não” ao passo que ela responde “sim”.
― Que brincadeira é essa?
Ele abre a boca para falar, mas a mulherzinha se adianta.
― Somos noivos há dois anos.
Espero que Sebastian a desminta, mas ele está olhando para minha mala.
― Você veio morar comigo? ― pergunta emocionado.
― Você ouviu o que ela disse?
― Ouvi. E posso explicar.
Afasto-me dele imediatamente.
― Como pode explicar? Isso é verdade?
― Não. É. Não é bem assim.
Não preciso ouvir mais nada. Saio batendo o pé e entro no primeiro lugar
que vejo, o Porshe 911 de Sebastian. As lágrimas ameaçam sair, mas não
vou fazer isso na frente deles. De jeito nenhum. Estou com tanta raiva que
tremo e custo a conseguir ligar o carro. Quando finalmente o motor ganha
vida, avisto Sebastian chamando meu nome e a magricela, Verme, com a
mão no braço dele, como que pedindo para que ele não vá atrás de mim.
― Experimenta não vir atrás de mim, Sebastian. ― sussurro e sei como
extravasar a minha raiva.
Acelero o carro diretamente na porta fechada da garagem. Ouço o grito
dele, o grito dela e o barulho do carro amassando. Pronto! Estou me
sentindo melhor agora. Dou a ré com o carro e acelero para longe desse
traidor e seu Verme ambulante.

Chego em casa aos pedaços. Meu celular não para de tocar e o que mais
me assusta é a dimensão da dor que estou sentindo. Quando eu peguei o
Edmundo com a secretária achei que tivesse sofrido, mas isso, nem tem
comparação. Estou me sentindo vazia, pela metade. E só o que vejo é o
rosto de Sebastian quando pôs essa maldita aliança no meu dedo.
Penso em tirar a aliança nesse momento, embaixo do jato de água que
me cobre, mas não tenho forças para isso. Deixo que a água escorra, quero
derreter e escorrer com ela. Quero acordar e descobrir que foi mais um
pesadelo, como aquele do Edmundo, e que Sebastian está na minha cama,
sorrindo para mim e dizendo que me ama. Fecho os olhos e vislumbro isso.
Mas essa visão é substituída pela visão da Verme, e de Sebastian
aparecendo na casa dele. E então uma coisa chama minha atenção, ele não
ficou desesperado quando me viu ali, frente a frente com a “noiva” dele. Ele
pareceu até emocionado por ver que minha mala estava ali. Mas não
desmentiu o que ela disse. Alguma coisa não faz sentido. Não importa! Ele
está lá com ela agora, sequer veio atrás de mim! Não importa se eu acabei
com o carro importado dele, ele deveria vir atrás de mim!
É aí que a porta do banheiro abre e ele aparece. Respira fundo quando
me vê e recosta-se na porta. Fica ali, me olhando. Permaneço como estou:
parada embaixo da água, deixando minha raiva escorrer.
Sebastian se cansa da brincadeira primeiro que eu, pois pega uma toalha,
desliga o chuveiro e me enrola nela.
― Você vai me ouvir agora!
Não digo nada. Quero brigar e ameaçá-lo, mas mais que isso. Quero que
ele diga que é um mal entendido, que ela mentiu, que ele nunca me traiu.
Ele me arrasta até meu quarto e quando finalmente o olho, ele diz:
― É tudo um mal entendido, amor. Ela mentiu! As coisas não são como
ela fez parecer. Eu fiquei tão bobo de ver que você finalmente foi morar
comigo, que nem consegui raciocinar para te explicar direito. Mas eu nunca
traí você. Você precisa entender isso, Celina! Desde que assumi um
compromisso com você, foi somente você.
Respiro aliviada, quero chorar de novo e pular nos braços dele, mas
ainda consigo perguntar.
― Como ela conseguiu aquela aliança com seu nome?
Ele faz uma careta e dou um passo para perto da minha penteadeira e
longe dele.
― Eu dei a ela. Mas não foi agora, foi antes de...
Nem espero ele terminar de falar, arremesso o ferro de passar nele. Vejo
que ele desvia por pouco e logo arremesso o pote de creme hidratante; esse
o acerta em cheio no ombro, ele geme e vem na minha direção, mas estou
atirando tudo o que encontro pela frente.
Tudo o atinge, mas ele continua, até chegar a mim. Não há mais nada na
penteadeira, então começo a bater nele. Com força. Dou socos conforme as
lágrimas ardem, mas não quero derramá-las, quero que ele chore, não eu!
Ele me deixa extravasar por um tempo, depois me puxa de encontro ao seu
corpo e me aperta.
― Eu te amo. ― ele diz.
― Você mentiu!
― Não menti, não amor! Por favor, me deixa explicar.
Engulo as lágrimas, tento me afastar, mas ele me segura mais firme.
Então me joga na cama. Antes que eu consiga me levantar, ele junta minhas
duas mãos e as amarra com a gravata que estava usando.
― O que está fazendo?
― Preciso que você me ouça! E preciso sair vivo dessa conversa, tenho
um filho para criar e uma mulher descontrolada para domar.
― A culpa do meu descontrole é toda sua!
― Eu sei.
Ele amarra meus pulsos e amarra a gravata na cabeceira da cama. Isso
faz com que a toalha escorregue e expõe meus seios. Sebastian para o
movimento de se levantar da cama e fixa os olhos neles.
― Nem pensar, Sebastian! Conversa. Quero ouvir você, lembra? E é
bom que tenha uma excelente explicação ou eu mato você.
Ele volta a si e se senta na cama. Tenta focar o olhar no meu rosto ao
falar:
― O nome dela é Vernee Mathieu. Ela é uma modelo francesa...
― Uma modelo? Francesa? Isso só pode ser brincadeira!
― Me escuta! Não é isso que importa. O que você deve saber, em
primeiro lugar, é que ela é filha de Nicolas Mathieu.
Só então ligo os sobrenomes dos dois. Não pode ser!
― Merda!
― Pois é.
― Então, você seduziu a filha do seu maior investidor para conseguir o
que tem hoje.
― Meu Deus, Celina, claro que não! Não é nada disso. Eu dormi com
ela, houve um escândalo e bem...
― Sebastian eu não estou entendendo nada.
― Vou ser mais claro então.
Ele puxa a toalha me deixando nua. Não entendo onde ele quer chegar
com isso, mas antes de perguntar, sua mão está no meio das minhas pernas
e o meu corpo traiçoeiro reage imediatamente ao toque dele.
― Para com isso. ― digo com dificuldade.
Mas ele não para. Continua movimentando os dedos no meu clitóris
enquanto fala.
― Lembra da Jamille?
Só consigo gemer em resposta.
― Lembra que peguei a prima dela?
Gemo novamente.
― Vernee é a prima da Jamille.
Abro os olhos e começo a tentar chutá-lo, ele segura imediatamente
minhas pernas, e enfia um dedo em mim. Isso me faz arquejar e me faz
perder os movimentos raivosos.
― Não tenho um caso com ela. Foi uma noite apenas, acabou ali. Mas
ela cismou comigo e vive me perseguindo e me ligando.
Alguma coisa na minha mente diz algo sobre ligações, mas não consigo
pensar direito. Não quando dois dedos de Sebastian estão em movimento
dentro de mim.
― Eu ia falar sobre isso com você hoje. ― ele continua, o olhar fixo no
meio das minhas pernas e a voz rouca ― Mas não disse antes porque não
tem importância. Ela não significa nada. Minha única mulher é você. Eu
assumi você publicamente Celina, sabe que não faria isso se fosse noivo da
filha do meu maior investidor.
Há coerência no que ele fala, mas não há coerência alguma em meus
pensamentos. Quero dizer que entendo, mas na verdade, nem estou
pensando, estou sentindo. Ele retira os dedos de mim e resmungo, mas logo
sou preenchida pelo pau dele. Ele solta minhas mãos e volta a me penetrar e
eu posso tocá-lo, arranhá-lo. Gemo mais alto, ele toma minha boca e me
beija com voracidade. Seus movimentos são rápidos e fortes e logo nós dois
gozamos e gritamos.
Ele se enrosca em mim enquanto eu passeio a mão pelo seu cabelo.
Sentindo-me totalmente saciada, feliz, boba.
― Belo método de me fazer ouvir Sebastian, mas devo admitir que é um
tremendo golpe baixo.
Ele dá uma gargalhada.
― Estou aprendendo como domar você, Celina. Essa é a melhor
maneira, para nós dois.
Seguro o cabelo dele e puxo até que esteja olhando para mim.
― Sebastian, você jura pra mim que não está com ela?
― Eu juro amor, não tenho nada com ela. Com nenhuma outra mulher.
Eu juro que no meu coração, na minha mente e no meu pau, só há você.
Abro um sorriso e o beijo.
― Desculpa pelo carro.
― Eu mereci.
― Mereceu mesmo! Você quase me matou de susto.
Ele me dá um beijo e diz:
― Eu sei, desculpa amor. Não vamos esconder mais nada a partir de
agora. Mesmo as coisas mais insignificantes eu vou contar para você, para
que não haja mais sustos.
Concordo com a cabeça e o beijo. É impressionante como minha raiva
sumiu.
Ele se afasta e acaricia meus pulsos antes de dizer:
― Vem amor, vamos voltar pra casa.
E eu me deixo ser levada pelo meu amor, para aquela que será a nossa
casa.
Capítulo 20
Sebastian
Preciso contar a ela a história toda, porque Vernee está na minha casa.
Tenho que dizer, mas ela vai me matar. Ela não precisa saber, não precisa.
Vamos chegar em casa, vou dar um jeito de tirar Vernee de lá e pronto, que
se dane o pai dela. Que se dane a V.D.A.! Só não posso perder a Celina.
Olho para ela que está calada, olhando a rua, o que quer dizer que está
pensando. E não gosto quando fica quieta para fazer isso.
Resolvo mexer com ela. Pego sua mão com a aliança e a beijo. Ela me
olha e sorri.
― Sebastian, eu não entendo uma coisa.
Merda.
― O que, amor?
― Por que a magricela está na sua casa?
― Não estará mais, vou tirá-la de lá.
― Ia te pedir para fazer isso. Eu reparei as malas dela, sei que pretende
ficar lá. Mas não vou me sentir bem com outra mulher na sua casa. Ainda
mais uma ex sua.
― Eu entendo. Vou tirá-la de lá.
Ela concorda e sei que estou agindo errado. Não é assim que as coisas
devem ser entre nós. Ela quer confiar em mim, não posso começar nosso
noivado com mentiras. Preciso contar toda a verdade.
Como contar isso de um jeito fácil? Não existe jeito fácil. Rezo para que
ela esteja saciada e contente e não tente virar o carro. Diminuo a velocidade
por precaução e fico mais perto das calçadas, para o caso de precisar parar o
carro abruptamente.
― Então, há dois anos, quando eu traí a Jamille com a Vernee, foi um
escândalo. Você sabe como Nicolas Mathieu é moralista?!
Ela assente, já bem atenta ao que estou falando. Ela sabe que vou dizer
algo que não vai agradá-la.
― Ele queria deserdá-la, expulsá-la de casa e acabar com a V.D.A. – não
digo mais nada, ela pensa um pouco, e deduz sozinha.
― E você fez alguma coisa que o fez perdoá-la, te perdoar e investir na
V.D.A.? Sebastian, o que foi que você fez?
― Nada demais, amor. Ela inventou para o pai que estávamos noivos.
Eu confirmei, ele acreditou, e foi embora do país feliz. Ela foi pouco depois
e todo mundo ficou feliz.
Ela não responde. Está quieta demais. Olho de relance e ela está me
encarando.
― Isso é alguma piada?
Fico calado. Diminuo mais ainda a velocidade do carro. Deveríamos ter
vindo de taxi, quem sabe assim ela ao menos esperaria descermos do carro
para tentar me matar.
― Sebastian, você é noivo dessa mulher?
― Não, eu sou seu noivo. O noivado com ela foi uma mentira!
― Mas você deu a merda da aliança para ela, não deu?
― Fazia parte da mentira.
― E por que é que você nunca desmentiu isso?
― Porque achei que ela já teria encontrado outro e já estaria feliz e nem
se lembrasse mais de mim.
― E enquanto isso você ia usando o dinheiro do pai dela como se ainda
estivessem juntos, é isso?
― Parece muito errado com você falando assim.
― Porque é muito errado! Onde você está com a cabeça? Sebastian, meu
Deus! É assim que quer que eu confie em você?
Merda, preferia que ela tivesse virado o volante do carro. Mas essa
mágoa na voz dela é pior do que um acidente.
― Não, amor me escuta, não é assim. Ele tem retorno de tudo o que
investe na V.D.A.
― Não importa! Por que ela está na sua casa com todas aquelas malas se
vocês não tiveram mais contato?
― Eu não disse exatamente que não tivemos mais contato.
― Para o carro! ― ela ordena.
Acelero o carro imediatamente. Não posso permitir que ela se afaste de
mim agora.
― Celina, me escuta. Eram as ligações. Lembra da ligações? Esse foi o
único contato que tivemos, juro que não a tinha visto até aquele dia em que
ela apareceu lá em casa.
― E por que ela resolveu aparecer agora?
Merda. Deus me ajude. Não vou sair vivo dessa. Meu Deus, se ela virar
o carro, não deixe nada de mal acontecer com ela, só comigo, por favor.
Adeus vida, adeus Belo horizonte. Olho pela última vez para o movimento
no centro da cidade e para o meio das minhas pernas. Adeus amigo, valeu
por tudo. É por sua culpa que vou perder minha vida, mas valeu pelas
alegrias.
Então finalmente a respondo:
― Porque o pai dela está vindo para o Brasil. ― digo. Vamos Sebastian,
seja homem e conte tudo de uma vez ― Para o nosso casamento.
Espero um grito, que ela quebre o vidro, que me bata. Mas ela não faz
nada. Não faz absolutamente nada. Olho para ela e está parada, como se
estivesse em choque.
― Um raio não cai duas vezes. ― ela sussurra.
Não sei o que quer dizer, mas não pode ser bom. Estou prestes a chamá-
la quando ela diz:
― Pare a merda desse carro!
Há tanta raiva em sua voz, que paro. Celina e raiva são duas coisas
perigosas quando andam juntas.
Ela abre a porta e desce. Eu desço imediatamente atrás dela.
― Celina, aonde vai? Amor, espera!
Saio correndo atrás dela. Pouco a frente está havendo uma blitz, avisto
os carros de polícia e o movimento. Finalmente a alcanço e a seguro pelos
ombros. Viro-a para que fique de frente para mim, mas ela não olha nos
meus olhos. Não consigo saber o que está sentindo, nem o que está
pensando.
― Celina. ―chamo de novo.
Ela está calma, calma demais para a revelação que eu fiz. Ou está muito
machucada e sem forças, ou está tramando alguma coisa. Só percebo que é
a opção B, quando ela começa a gritar.
― Socorro! Socorro!
― O que está fazendo?
Ao invés de soltá-la, eu a aperto mais ainda. Um erro, claro. Em questão
de segundos dois policiais se aproximam com armas em punhos. Celina
começa a chorar e eu tento explicar.
― Ela é minha noiva.
― Mentira! Ele quer me agarrar!
― Tire as mãos dela e se afaste. ― ordena o policial.
― Ela é minha noiva! ―digo mais nervoso.
― Vou repetir pela última vez! Tire suas mãos dela ou eu atiro.
Faço o que ele manda. Olho para ela, mas ela não me olha de volta. Os
policias se aproximam, um deles vai até ela enquanto o outro segura meus
braços para trás.
― Celina, eu sei que sou um imbecil, mas pelo amor de Deus, me
perdoa! Eu não me importo se você quiser que eu seja preso, se quando eu
sair da cadeia você já tiver me perdoado.
O policial quer rir e sei que estou sendo ridículo. Mas estou desesperado,
porra!
― Celina, amor por favor! Vamos ter um filho. Celina você precisa
falar comigo. Exploda, bata em mim, mas põe o que está sentindo para fora.
Amor!
Finalmente ela me olha. Seu olhar é como uma lança me perfurando.
― Você quer que eu ponha a raiva que estou sentindo de você para fora?
― pergunta baixinho.
Já não tenho certeza disso, mas confirmo com a cabeça. Ela respira
fundo e tudo acontece muito rápido. Ela puxa o cassetete da cintura do
guarda e parte para cima de mim. Acerta aquilo na minha cabeça, nos meus
braços, no meio das minhas pernas. Não tento impedi-la. O policial se
afasta e deixa que eu apanhe. Tudo está doendo, mas não importa. Ela chora
enquanto me acerta.
Aos poucos, me aproximo. Quando consigo segurar seu braço, ela joga o
cassetete no chão e chora. Eu a abraço, mas ela me empurra e se afasta.
― Você quer dar queixa contra ele, senhorita? ― pergunta o policial
para ela.
― Não, não precisa. ― ela diz e sai andando.
Encaro os policiais para ver se estou liberado para ir atrás dela, e o que
estava me segurando, diz:
― Vá homem, não vou prendê-lo! Essa mulher é louca. Você vai sofrer
mais com ela do que na cadeia.
Quero acertar um soco nele, mas ele está certo. Minha amada
maluquinha. Corro atrás dela.
Celina
Chego em casa e logo Sebastian chega atrás de mim. Ele não diz
nada, tenta se aproximar, mas me afasto e ele entende que não o quero perto
agora. Até a forma como ele sempre entende o que quero me irrita. Não
acredito que fui enganada de novo. Mesmo que ele não tenha de fato ficado
com ela, mentiu para mim. Isso é uma traição. Não importa quais foram as
intenções dele ao não me dizer nada.
Entro para o quarto e digo para ele.
― Vá embora. Vai para casa. Não quero ver você agora, nem ouvir sua
voz. Só vá embora.
― Você me disse que devemos crescer, que devemos parar de fugir dos
problemas, lembra? Este é o momento de fazermos isso.
― Não venha me dar sermões a essa hora.
― Não estou te dando nenhum sermão, amor. Preciso que me diga o que
está sentindo.
Isso é ridículo. Ele está todo machucado, eu estou machucada e não
estamos chegando a lugar nenhum. Por um momento me questiono se vale a
pena o risco de amar alguém como ele.
― Não venha atrás de mim, Sebastian. Quero ser pirracenta agora,
quando eu estiver pronta para crescer, te procuro.
― Não vou sair daqui sem você, Celina! Eu não volto para casa sem
você. Fique o tempo que quiser nesse quarto, mas eu estarei aqui quando
precisar de mim.
Maldito! Quero bater nele de novo por agir como se fosse o melhor dos
homens.
― Seu traste!
― Eu sei amor. Sei que você me odeia.
― Ah, você não faz nem ideia. Eu te odeio! Você não vale nada
Sebastian, maldita hora em que me apaixonei por você.
Ele abaixa a cabeça e eu o empurro para fora do quarto e bato a porta,
antes que diga coisas que nunca poderão ser esquecidas. Não sinto mais
raiva, mas mágoa. O que é pior!
Pouco depois a Gil chega. Sei que é bem tarde. Imagino que Sebastian
tenha ido embora, já que não ouvi nenhum barulho dele. Gil entra em meu
quarto e senta na beirada da cama.
― O que houve Celina? Por que você está aqui acabada e o Sebastian
está sentado na porta, acabado?
― Ele está aqui?
― A sombra dele está. Parece um fantasma. Como um cão de guarda
vigiando sua porta. Mas me pediu para ver se você precisa comer. Disse que
não come há horas.
― Ele me traiu. ― digo.
Gil se levanta em choque.
― Impossível. Quando não está com você, está na V.D.A., não daria
tempo.
― Não assim, ele mentiu. Ele tem uma noiva, Gil.
Ela fica confusa, mas depois uma expressão de entendimento surge em
seu rosto.
― Está falando da Vernee?
― Você sabia sobre ela?
― Claro que sim. Achei que também soubesse, mas eles não são noivos.
Foi uma mentira que ela inventou para se salvar e foi muito esperta fazendo
o pai investir na empresa para prender o Sebastian. Mas eles não se veem há
séculos. Ele nunca teve nada com ela.
― Ela está na casa dele agora.
― Então é por isso que o Cleber está tão nervoso. Celina, isso não é
culpa do Sebastian. Quer dizer, foi quando ele traiu a namorada e tudo mais,
mas ele caiu na armadilha dela. Eu sabia que um dia ela ia parecer para dar
o bote.
― O que quer dizer?
― Você não vê? Ela fez o pai acreditar que eles estavam noivos e o fez
investir pesado na empresa do Sebastian. Aí ela some e o deixa livre, mas,
para todos os efeitos eles são noivos. Aí quando a empresa está prestes a
fechar o maior negócio da vida do Sebastian, ela reaparece ameaçando
acabar com isso. O que acha que ela espera?
― Que ele se case com ela?
― Claro! O que devo admitir, seria exatamente o que ele faria se não
estivesse com você.
― Ele não seria tão burro.
― Sim, ele seria. A empresa dele depende disso. Mais do que isso, o
trabalho de toda vida dos melhores amigos dele depende disso. Ele se
sacrificaria sem pensar duas vezes. Sabe por que não está fazendo isso?
Porque ele te ama.
Jogo-me na cama e cubro a cabeça com o travesseiro.
― Não defenda aquele pervertido. Não é isso que quero ouvir.
Ela puxa o travesseiro da minha mão.
― Não estou defendendo ele, e sim você e seu filho. Você vai mesmo
ficar aqui se lamentando enquanto a lambisgoia está na sua casa vivendo no
luxo?
― Eu não disse que faria isso! Na verdade, isso nem passou pela minha
cabeça.
Ela fica confusa.
― Como assim? Você não vai terminar com ele?
Eu vou matá-lo na primeira oportunidade, mas não. Não pretendo deixar
que essa mulherzinha tome posse do que é meu. Sebastian é meu!
― Então por que estava aqui sozinha e com essa cara?
― Estou deixando que ele sofra um pouco. Gil, o que ele fez foi errado,
ele mentiu. Mas eu no seu lugar faria o mesmo. Quer dizer, quem poderia
imaginar que a louca ia parecer? Só que ele deveria ter me contado isso
assim que ela apareceu, não depois de eu dar de cara com ela na casa dele.
― O que vai fazer?
― Estava aqui pensando em um jeito de castigá-lo. Já sei como vou
fazer isso. Mas antes, preciso resolver outra coisa.
Levanto-me, dou um abraço nela e saio do quarto. Sebastian está
andando de um lado para o outro. Está acabado. Seu rosto tem marcas e
seus olhos estão inchados. Por um momento quero esquecer tudo e pular
nos braços dele, mas não posso.
É nosso começo, preciso que ele aprenda agora. Preciso que entenda que
se esconder as coisas de mim de novo terá consequências. Preciso podá-lo.
Sei que isso parece ridículo, mas se não mostrar como deve se comportar
desde agora, não conseguirei fazer isso depois. E se vamos mesmo fazer
isso dar certo, preciso poder confiar nele.
Saio andando em direção à porta e ele me segue imediatamente.
― Celina, aonde vai?
― Aonde você acha? Vou tirar aquela mocreia da nossa casa.
Bato a porta ao sair, mas logo ele está atrás de mim. Corre até o carro e
abre a porta para eu entrar. E vai cantarolando o caminho todo até sua casa.
Ah Sebastian, você não sabe o que o aguarda!
Sebastian
Ela não fala comigo, nem olha para mim em nenhum momento, mas
está indo comigo, o que já é um grande, enorme, passo. Quando ela
amaldiçoou a hora em que se apaixonou por mim, achei que a tivesse
perdido para valer, ou que ela não voltaria nunca. Estava disposto a
implorar se fosse preciso. Merda, não há o que eu não faria por ela. Eu a
amo. Desesperadamente.
Sei que não pode ser tão fácil, que ela não vai simplesmente chegar na
minha casa e agir como se eu não tivesse feito nada. Ela vai se vingar, tenho
certeza. Mas não importa, pelo menos vai fazer isso na minha casa, debaixo
do nosso teto, perto de mim. Estou disposto a aguentar as consequências.
Ela desce sem esperar que eu abra a porta e entra na casa como se
morasse ali a vida toda. Não demora, Vernee aparece. Antes que eu possa
dizer qualquer coisa, Celina abre um sorriso para ela.
― Você ainda está aqui? Por quê? ― pergunta com uma falsa calma.
Vernee pisca os olhos confusa.
― Tenho um desfile na cidade no fim de semana.
― E eu com isso?
― Não tenho onde ficar. ― responde Vernee e Celina lhe lança um olhar
que me faria tremer se fosse direcionado a mim.
― Você a convidou para ficar aqui, amor? ―pergunta olhando para
mim.
― Eu não.
― Nem eu. Rua querida!
Vernee parece em choque e me olha esperando ajuda.
― Sebastian. Meu pai não vai ficar nada contente com isso.
― Não posso fazer nada. Ela é minha noiva, a casa é dela. Ela decide
essas coisas de visita.
Vernee parece ainda mais nervosa enquanto Celina caminha
elegantemente até as malas dela, que estão em um canto da sala e pega uma.
Ela volta desfilando e joga a mala na varanda da frente. Vernee fica ainda
mais em choque.
― Sebastian! ― choraminga enquanto Celina vai buscar a outra mala.
Imediatamente vou ajudá-la, essa segunda mala é maior.
― Não posso fazer nada, Vernee. Nunca ouviu falar que ela é louca?
Não posso ir contra ela.
Vernee então entra na frente da Celina, barrando que ela saia com a mala
de mão.
― Eu posso até sair dessa casa, mas se fizer isso, não sairei sozinha. Vou
chamar toda a imprensa aqui e dizer que você me enganou esse tempo todo
e está me expulsando da sua casa.
Eu não me importo com o escândalo que ela pode fazer. Não me importo
mais se vai ou não manchar o nome da V.D.A., nem se o pai dela vai retirar
o que investe. Que se dane! Eu me importo com a mulher que está calada ao
meu lado fuzilando a Vernee com o olhar. E com o bebê que está crescendo
no ventre dela.
Espero que a Celina pule em cima da Vernee e a expulse a tapas. Na
verdade, até torço para que isso aconteça.
Mas, indo contra tudo o que conheço sobre ela, ela sorri para Vernee e
diz com toda calma:
― Pode ficar até o tal desfile Verme, eu a convido.
― É Vernee.
― Tanto faz. ― diz Celina dando de ombros e pega minha mão.
― Amor, podemos deitar agora?
Merda, merda, merda. Ela está apertando meus dedos, com força. Está
nervosa e vai descontar em mim de novo.
Ela praticamente me arrasta escada acima até o meu quarto, e assim que
entramos, vai até sua mala e tira de lá suas roupas. Entra na suíte e vai
tomar um banho. Eu me sento na cama e fico ali, sem saber como agir. Sei
que ela não convidou a Vernee de boa vontade, é claro. Está armando
alguma coisa. O que me preocupa é se essa coisa que ela está armando
também é direcionada contra mim.
Quando ela sai do banheiro com aquela camisola transparente, esqueço
planos, vinganças, Vernee, esqueço até meu nome. Caminho até ela como
um ímã atraído pelo outro. Mas, quando vou tocá-la, ela se afasta.
― Regra número um da nossa convivência: não toque em mim.
― Co-como? ― gaguejo.
― Você ouviu. Regra número dois: não toque nela.
― Eu não pretendia fazer isso.
― Eu sei, mas é bom reforçar. Regra número três: se eu pegar você
sozinho com ela em qualquer cômodo da casa, não me importa o motivo,
vou matá-lo!
― Entendi. Quero distância dela. Agora venha aqui.
Eu a puxo para meus braços, mas ela se afasta rapidamente.
― Você não ouviu a regra número um? Não toque em mim.
― Celina, você não pode estar falando sério, acha que vou conseguir
dormir na mesma cama que você e não tocá-la? Acha que sou capaz...
Ela põe a mão na minha boca me calando e parece prestar atenção em
algo.
― Você ouviu? ― pergunta sussurrando.
― O quê?
― Ela está no corredor. Quer saber o que estamos fazendo.
Vejo a sombra de um pé na porta e sei que Vernee está por ali. Antes que
eu possa dizer qualquer coisa, Celina pula na cama, e faz com que a
cabeceira bata na parede, o que provoca um estrondo.
― Ah! ― ela geme. ― Ah, Sebastian, mais forte.
― O que está fazendo? ― sussurro.
― Gema também. ― ela ordena.
― O quê?
― Ah, Sebastian, meu Deus.
Ela se levanta da cama e me acerta um chute na canela.
Ah! ― grito.
― Isso mesmo, querido. Vai gemer sozinho ou precisa de ajuda?
Ela é louca. Quero rir da situação, mais do que isso, quero agarrá-la e
fazer barulho de verdade para a Vernee escutar. Decido que a melhor forma
de fazer isso, é entrando no jogo dela.
― Ah, Celina! Você é tão gostosa.
― Ah! ― ela grita de volta, sobe em cima da cama e bate na parede.
Quero rir, ela também, porque põe a mão na boca e se controla.
― Ah Celina, eu te amo!
Quero que ela grite que me ama, mas ela faz uma careta percebendo meu
jogo e me mostra o dedo do meio. Não aguento mais, puxo-a e a beijo, mas
a maldita da Vernee escolhe essa hora para bater a porta em algum quarto
do corredor e a Celina se afasta num pulo.
― Sebastian Vaughn, a próxima vez que tocar em mim sem minha
permissão vai ficar sem essa mão pervertida!
Ela se joga na cama, vira para o lado e dorme. E eu fico ali, de pau duro,
louco por ela, sem saber o que fazer.
Essa é a terceira noite em que a Celina não me deixa tocá-la. Estou
enlouquecendo, não aguento mais isso. Nesses últimos dias, ela conseguiu
estragar três blusas da Vernee, a queimou com leite quente e prendeu o
cabelo dela na fivela de um cinto.
Não sei como a Vernee ainda não foi embora. Eu já teria desistido! Não
dá para ficar em uma guerra com a Celina, ela é terrível. O lado bom da
presença da Vernee, é que sempre que ela está por perto, a Celina vira outra.
Ela me beija, me abraça, diz que me ama. Sei que é só para irritar a Vernee,
mas sempre me aproveito desses momentos. Com tudo isso, meu humor
anda péssimo.
Ontem à noite, quase a agarrei de novo, na verdade, eu fiz isso. Esperei
ela sair do banho e a agarrei, ainda de toalha. Consegui um beijo delicioso
antes de ela afastar minha cabeça da dela pelos cabelos. Mas estava rindo, o
que já é um começo.
― Celina! ― choraminguei ― Quanto tempo mais essa regra vai durar?
― Vai durar até minha alma ficar totalmente livre do rancor que sinto
por você nesse momento.
Merda.
― Você só pode estar querendo me matar!
― Há uma mulher louca para abrir as pernas pra você no quarto ao lado,
Sebastian. Quer ir até lá?
Então foi minha vez de abrir um sorriso.
― Não senhora, esse meninão em pé aqui tem dona. É só dentro dela
que ele vai entrar. É uma pena que a dona dele está de greve.
Isso a fez dar gargalhadas. Mas depois ela deitou na cama e dormiu. Dez
a zero para a maldita.

Essa noite, Celina parece mais calma, ela não provocou a Vernee no
jantar, não a machucou de maneira nenhuma, nem fez piadas com o nome
dela, como vinha fazendo nos outros dias. Alguma coisa está errada.
Quando vamos nos deitar, ela diz:
― Amanhã tenho uma ultrassom. Mas é no horário de uma reunião sua.
Você não vai poder ir.
Olho para ela imediatamente.
― Ultrassom? Quer dizer que dá para ver o bebê?
― Acho que não. Mas dá para ouvir o coração dele bater.
― Eu vou.
Ela sorri e volta a olhar para o teto. Tento tocar sua mão, mas ela a
afasta. Resolvo tomar um banho. Saio do banheiro seminu, pingando água,
mas ela sequer me olha. Jogo-me ao seu lado na cama e deixo minha perna
encostar na dela. Ela não a afasta, mas não reage de maneira nenhuma.
A Celina que eu conheço teria pulado em cima de mim por muito menos.
Será que os hormônios da gravidez dela não a estão enlouquecendo mais?
As horas passam e não consigo dormir. E fico me perguntando por que não
contei antes sobre a Vernee? Por que esperei que ela descobrisse sozinha?
Merda! Nunca mais escondo nada da Celina.
Estamos deitados, lado a lado, mas ela não me deixa tocá-la. Estou
enlouquecendo por isso. Preciso tocá-la, nem que seja só a sua mão. Eu
queimo por ela e ela parece nem se abalar. Estou aprendendo com essa
convivência com a Celina, que ela é ótima em esconder o que sente, sua
cara de paisagem é profissional. Mas nesse momento ela não está com a
respiração acelerada, nem inquieta, como fica quando está excitada. Merda.
Roço meu dedo pelo braço dela, sei que a estou irritando com tantas
tentativas vãs e então começo a falar do bebê, isso sempre a acalma.
― Você já pensou em algum nome para o bebê?
― Ainda não. Ainda não sei se é menino ou menina.
Dá certo, ela não me manda não tocar nela.
― Quero ajudar a escolher.
― Eu sei Sebastian, não fiz esse bebê sozinha. Estava pensando, se for
uma menina, queria homenagear alguém. Alguém que admiramos.
Penso muito e não chego a ninguém que admiramos em comum.
― Se for menino pode chamar Sebastian Júnior.
Finalmente ela me olha. Não, ela me fuzila com o olhar.
― Nunca! Meu filho jamais vai pagar esse mico. Peço a Deus todos os
dias que ele não seja como eu, mas um nome desses é como assinar uma
sentença.
Começo a rir. Pego sua mão e a aperto. Estou com saudade do contato,
do calor dela. Do número de vezes que ela goza agora que está grávida.
― Como se chamava sua mãe? ― ela pergunta.
― Nathalia, por quê?
― Um belo nome. ― ela diz.
Olho para ela meio em choque. Será que ela está pensando em colocar o
nome da minha mãe em nossa filha? Se for uma menina, claro. Mas só a
ideia de ela fazer isso já me faz sentir aquela coisa estranha no peito e no
estômago. Penso em prender os seus braços e beijá-la, mas ela tem a mão
pesada e sei que iria usá-la em mim se eu encostar meus lábios nela, assim
que tiver a mão livre.
― Você já pensou em algum nome de menina? ― pergunto.
Espero pela reposta, mas ela está quieta, lambendo os beiços, com os
olhos arregalados.
― Celina?
― Melancia. ― ela diz de repente.
― O quê? Celina, não acho que esse seja um nome...
― Não, seu imbecil! Preciso comer uma melancia. Estou com desejo.
― Merda.
Levanto-me correndo e vou até a cozinha. Vernee está sentada na sala e
me segue quando eu passo. Onde tem uma melancia? Onde? Reviro a
geladeira, a despensa, a fruteira. Não tem uma maldita melancia nessa casa?
Já li na internet sobre esses desejos de grávida, e não quero que minha filha
nasça parecida com uma melancia.
― O que houve, Sebastian? A louca te expulsou do quarto?
Nem tenho tempo para brigar.
― Você sabe onde acho uma melancia?
― À essa hora? Esquece.
― Eu vou achar.
Digo e saio correndo do jeito que estou, apenas com uma cueca samba
canção, e entro no carro. Rodo o bairro todo e nada está aberto. Passam
duas horas e nada de achar a melancia, mas não vou voltar para casa sem
ela. É o primeiro desejo da Celina, preciso ser um pai melhor do que isso.
Passo a madrugada rodando bairros à procura da melancia. Finalmente
vejo uma luz acesa dentro de um hipermercado. Desço do carro e quase
arrombo a porta. Um funcionário todo de branco abre a portinha lateral com
cara de poucos amigos.
― Amigo, preciso de uma melancia.
Ele me olha como se eu fosse louco.
― Minha esposa está grávida, e está com desejo.
Ele assente e começa a rir.
― Claro, sinto muito, mas o mercado não abre agora e não posso deixar
você entrar para procurar.
Tiro três notas de cem e mostro a ele.
― É uma emergência.
Ele me olha, vê que estou apenas de cueca e assente.

Chego em casa correndo e entro depressa no quarto esperando encontrar


uma Celina irritada e com algo na mão para atirar em mim, mas a maldita
está dormindo. Seu cabelo negro está espalhado pelo travesseiro e ela
parece inquieta. Murmura algumas coisas e parece resmungar. Toco seu
rosto bem devagar para não acordá-la.
― Ah Celina, mesmo dormindo tem que resmungar?
Volto à cozinha e guardo a melancia na geladeira. Então me junto a
Celina na cama. Eu mal termino de colocar minha mão na sua barriga e ela
chama meu nome e se aconchega a mim. Sinto-me o homem mais feliz do
mundo. Eu a amo.
Quando acordo, ela está sentada na bancada da cozinha, toda molhada,
descabelada, a camisola com uma enorme mancha vermelha, devorando a
melancia. Não há outra palavra para descrever o que ela está fazendo, não
está comendo aquilo civilizadamente.
Aproximo-me cauteloso, mas ela sorri. Então me aproximo e a beijo, e
ela corresponde. Sei que é porque Vernee está ali horrorizada pelo modo
como ela está comendo.
― Me desculpe não ter chegado a tempo. ― digo.
Ela aperta minha mão e pelo olhar que me dá, sei que o que ela diz não é
para irritar Vernee.
― Você foi ótimo, Sebastian. Eu te amo.
Capítulo 21
Celina
Sebastian fica como um bobo quando ouve o coração do bebê. Ele
aperta minha mão e posso ver como está maravilhado. Percebo nesse
momento que não poderia ter escolhido um pai melhor. Quando saímos do
consultório ele quer comprar tudo de bebê que vê pela frente, e eu preciso
lembrá-lo a todo momento que não sabemos o sexo da criança. O tempo
todo ele me beija e me agradece, e finjo que esqueci da regra número um,
pois também não sei como agradecê-lo por isso.
Chegamos em casa com as mãos cheias de sacolas e coisas que não
consegui impedi-lo de comprar, e assim que vejo a Verme esticada no sofá
como se a casa fosse dela, a regra número um volta com tudo. Ao
chegarmos, ela se aproxima, e assim que vê o urso enorme nos meus braços
e as bolsas de bebê nos braços de Sebastian, estaca.
― Por que compraram tudo isso? Vão a algum chá de bebê?
Sebastian não contou a ela. Presto bastante atenção na expressão dela
quando ele abre um sorriso enorme e diz todo orgulhoso:
― Não, é para o nosso filho. Não sabemos se é menino ou menina, mas
as coisas que compramos dá para usar nos dois sexos.
Ele tira um macacão da sacola e mostra a ela.
― Olha que lindo!
Ela está em choque! Está com os olhos arregalados enquanto Sebastian
fala animado sobre o bebê. Sinto pena dela, por seu plano de amarrar o
Sebastian ter ido por água abaixo. Mentira! Não sinto não, quero muito rir.
Mas sei que é feio rir da tristeza do outro, mesmo que esse “outro” seja uma
mocreia que quer roubar meu noivo.
Digo a Sebastian que estou cansada e subo para o nosso quarto. Reparou
que o deixei sozinho com ela? Pois é, tomara que ele fale do bebê por horas,
como está fazendo desde que saímos da clínica, e que ela entenda de um
vez por todas que perdeu. Ainda bem que o tal desfile está chegando, não
aguento mais essa mulherzinha em casa.
Sebastian ainda está falando do bebê quando vamos nos deitar. Fico
olhando para ele e rindo como uma boba, é notável sua felicidade. Eu o vi
ligar para o Matheus pelo menos três vezes para falar do filho. Decidi que
se for uma menina terá o nome da mãe dele. E se for um menino, ele
escolhe o nome, desde que não venha com essa de Sebastian Júnior, isso
nunca!
Ele para de falar de repente e noto que está olhando meu decote. Mexo-
me, como que espreguiçando para mostrar mais dos seios e o vejo engolir
em seco. Vou ser sincera, esse negócio de regra número um está acabando
comigo. Acho que estou sendo mais afetada do que ele. Estou subindo pelas
paredes, ficando desesperada e muitas vezes quase o agarro enquanto ele
dorme.
Eu o amo muito, mas é tão difícil essa coisa de relacionamentos, de
confiar em uma pessoa mesmo depois que ela te machuca! Porque todo
mundo que você ama vai te machucar em algum momento, e você precisa
ser a pessoa que vai saber amar apesar disso, ou então será a pessoa que irá
perder um amor por não saber superar. Eu não sei superar. Todo mundo me
traiu em algum momento. Quero conseguir isso com o Sebastian, porque o
amo, porque vamos ter um filho. Apesar de tudo, ele é a melhor coisa que
aconteceu na minha vida: me entende como ninguém, e me aceita como
sou. Ele não tem medo da minha forma de encarar a dor, não tem medo das
minhas crises, nem dos meus piores dias. Por isso sei que estará sempre
aqui, já o assustei demais e mesmo assim ele não desistiu.
Não era assim com o Edmundo, eu não podia ser quem sou com ele.
Sempre aceitava tudo calada e acho que acumulei por tanto tempo as
pequenas mágoas, que chegou o momento em que não o suportei mais. Não
quero isso com o Sebastian; prefiro explodir, gritar, atirar coisas e esquecer
isso no dia seguinte.
Estou perdida em pensamentos quando ele me toca, passa levemente o
dedo pelo meu braço, e segura minha mão. Meu corpo todo acorda com o
seu toque, mas não sei se é o momento de acabar com a regra. Ele ainda não
tirou a Verme da casa, ele é quem tem que fazer isso. Ou eu a faço sair por
vontade própria.
Resolvo ser forte e afasto a mão. Mas ele toca meu cabelo.
― Sebastian, não me toque.
― É só o seu cabelo. ― ele diz com aquela voz rouca e tenho que me
controlar para a minha voz sair normal.
― O cabelo faz parte do meu corpo. Não toque em nada que é meu.
Ele bufa e afasta a mão. Fecho os olhos e peço forças, mas estou quase
pulando em cima dele. É aí que ouço um barulho, abro bem os olhos e ele
está acariciando o pau. Pisco os olhos para ter certeza que não é uma
alucinação, mas não é. Ele está deitado ao meu lado na cama, acariciado o
pau duro. Merda!
― Sebastian! ― grito.
― O que foi? Não estou tocando em nada seu.
― É claro que está! Meu menino! Minha propriedade! Tire logo suas
mãos daí!
Ele me olha surpreso e logo um sorriso malicioso surge em seu rosto.
― Isso é seu?
― Você sabe que sim.
― Bem, se isso é seu, algo aí é meu.
Quero sorrir, mas não posso. Preciso ser mais forte, preciso ser mais
forte...
― Eu sei. Mas isso que está na sua mão agora é meu menino, não quero
que fique acariciando ele assim.
― Sem problemas, amor. Eu prefiro mil vezes acariciar o que é meu.
Ele vem pra cima de mim e eu desvio por pouco, me levantando. Mas
vejo pelo seu olhar que não dá para fugir: dessa vez ele está no limite. Hora
de acabar com essa regra; ele já foi punido, eu fui punida, nossos meninos
foram punidos, é hora de matar a saudade.
― Vem aqui Celina. ― ele diz com a voz carregada.
Não é necessário que ele repita a ordem, pulo na cama e mal me
equilibro, já estou em seus braços. Ele me vira de costas na cama e sua boca
toma a minha. Ele me beija com tanta força, que sei que meus lábios ficarão
inchados, mas não me importo.
― Eu te amo, sua peste! ―ele sussurra ― Sinto sua falta. A vida não é
vida se eu não tiver você em meus braços.
― Estou aqui agora.
― E não vai se afastar nunca. Celina eu sei que sou um idiota, mas sou
um idiota totalmente apaixonado por você. Por favor, não me castigue assim
de novo. Prefiro que quebre meus ossos a ser privado de entrar em você.
Você é meu lar. ― ele sussurra antes de tomar minha boca de novo.
Ah como eu o amo!
É aí que acontece, alguém bate na porta. Nós ignoramos no começo, e
continuamos nos beijando, mas aquele clima de fogo já não existe mais. A
voz esganiçada da Verme fere nossos ouvidos.
― Sebastian! Preciso de ajuda!
É sério, não é por ela ser ex do Sebastian, mas essa voz deveria ser
proibida!
― Pelo amor de Deus, Sebastian. Vá ver o que ela quer antes que meus
tímpanos estourem.
Ele sai resmungando e vou imediatamente atrás.
― O que foi? ― diz irritado.
Noto que ela repara a ereção dele, repara muito, aliás. Estou quase
enfiando os dedos nos olhos dela, quando ela diz:
― Tem uma barata no meu quarto.
Posso enfiar os dedos nos olhos dela agora?
― Não acredito! ― reclamo ―Você acabou com nosso sexo por causa
de uma barata?
Ela faz uma careta e abre a boca, mas antes de ouvir sua voz esganiçada,
já vou falando para Sebastian.
― Sebastian, vá tirar a merda da barata do quarto dela logo porque
temos que continuar.
Ele sorri e vai ao quarto, ela vai atrás e eu também. Os dois sozinhos no
quarto dela? Nem pensar! A barata está ali, miudinha e quieta no tapete, e
não sei por que essa lambisgoia está dando esse ataque. É aí que Sebastian
se aproxima para matá-la e a bicha voa. Verme dá um grito e se esconde
atrás de mim e até Sebastian dá um pulo para trás.
Quero rir. Lembro de minha mãe dizendo que a masculinidade morre
quando a barata voa. Sebastian fica desconcertado procurando por ela, e as
unhas afiadas da Verme estão quase perfurando meus braços. Decido acabar
logo com isso. Pego uma folha em cima da penteadeira e a coloco próximo
a barata, que anda até ela.
― Meu contrato! Sebastian, ela sujou meu contrato! ― reclama Verme.
Perco a paciência, vou com o papel na direção dela, que começa a gritar
e pular feito uma louca.
― E depois a louca sou eu.
Sebastian me olha segurando um sorriso e saio do quarto com a
bichinha, que apelido de Vernee e abro a janela para soltá-la.
― Vá Vernee, você não é bem vinda nessa casa. Adeus. ― digo bem
alto para que a Verme escute e ouço a crise que ela dá com Sebastian.
Mas logo Sebastian está fechando a porta e vem na minha direção. Só
que eu não estou mais no clima. Claro que a lambisgoia fez isso só para nos
atrapalhar, e isso não vai ficar assim. O primeiro a pagar será Sebastian, por
não ser homem para expulsar essa mulher de casa.
Entro no quarto e me jogo na cama, me cubro e apago a luz.
― Mas o que...
― Quero dormir. ― corto o que quer que ele ia dizer.
Ele anda a passos largos e acende a luz.
― Não vai dormir não! Você vai tirar a camisola e vai fazer amor
comigo.
Sento-me na cama assustada. Ele está aos berros.
― Não vou! Não quero mais. Temos uma regra...
― Dane-se esse negócio de regras. Vê isso aqui? ― ele diz apontando
para o pau acordado ―Você diz que é seu mas não cuida direito.
― Sebastian...
― Sebastian nada! Não quero saber o que fiz, onde errei nem da sua
alma vingativa! Não quero ouvir a palavra regra nessa casa nunca mais. Tira
a camisola agora ou eu vou rasgá-la!
Ele está possesso, e acho que nunca esteve tão sexy.
― Não acredito que gritou comigo. ― digo.
― Ah sim, eu gritei. E vou agarrá-la e lhe dar uma surra se não estiver
nua em um minuto.
Eu não disse que ele estava no limite? Conheço meu homem. Ele
começa a contar e rapidamente me levanto e tiro a camisola, toda
desajeitada pela cabeça. Mal termino de tirá-la ele já está nu em cima de
mim. Prende-me na cama com os braços acima da minha cabeça e me olha.
― Onde estávamos? Ah sim, diz que me ama.
― Mas que merda é essa?
― Diga, Celina! Não teste mais minha paciência. Se eu tiver que
arrancar isso da sua boca vou fazê-la repetir a noite inteira.
Não sei o que é melhor, dizer que o amo agora e acabar com a aflição
dele, ou deixar que ele me convença a falar isso a noite toda. Antes de
tomar uma decisão ele chupa meu seio com força e morde. Sei que vai ficar
uma marca, mas é tão gostoso que me contorço toda embaixo dele.
― Você vai dizer ou eu vou ter que marcar cada pedaço do seu corpo?
― Ah, essa é uma oferta tentadora.
Ele sorri e segura minha cabeça.
― Diga! ― ordena.
― Não sou o tipo de mulher que recebe ordens. Não vá achando que
pode agir como se eu fosse sua empregada.
Ele fecha os olhos e se prepara para mais uma bronca, quando digo.
― Eu te amo.
Ele arregala os olhos e abre um sorriso enorme.
― Achei que você nunca mais fosse dizer isso, nua embaixo de mim.
― Eu também.
Então ele me beija. Devora meus lábios, passeia as mãos pelas minhas
pernas e as crava abaixo da minha bunda. Passo as pernas por sua cintura e
ele se ergue, me levando em seu colo. Não tira a boca da minha. Nem
mesmo quando me penetra lentamente. Quase gozo só por senti-lo, fazia
tanto tempo!
― A próxima vez que você fizer greve de sexo eu juro que a amarro em
uma cama e a deixo louca, Celina.
― Nunca mais vou fazer greve de sexo. Eu sofri mais do que você.
― Não sofreu não. Não sofreu mesmo. ― ele diz e volta a me beijar e
quando se movimenta dentro de mim de novo eu gozo.
Ele ri e volta a me penetrar, com mais força me levantando e abaixando
com pressa. Estou gritando feito louca, faz muito tempo, tempo demais,
preciso tê-lo cada vez mais. Agarro seus cabelos e mordo seu pescoço
quando o segundo orgasmo me atinge. E continuamos assim a noite toda.
Quando acordo Sebastian está no banho e estou faminta. Sei que fizemos
muito barulho ontem à noite, por isso, quando avisto a Verme na bancada da
cozinha, começo a andar com as pernas abertas e as mãos nas costas,
gemendo.
― Ai, o Sebastian não pegou leve.
Vejo que ela arregala os olhos e me seguro para não rir.
― Bom dia, Verme.
Ela bufa e não me corrige, já desistiu. Pego um copo de suco, uma fatia
de queijo, alguns pães, geleia de amora, um croissant, e a faca. Sento com
aquilo, abro os pães e misturo o queijo, a geleia e os pedaços do croissant.
Fecho o pão contente e mordo.
Verme quase engasga e Lia, a cozinheira elogia meu apetite. Essas
comidas esquisitas ainda vão me enlouquecer. Como no mais absoluto
silêncio, já que minha boca está lotada. Mas a Verme, é claro, quebra minha
paz com aquela voz esganiçada dela. Já falei que a odeio? Não? Que isso
fique bem claro então. Eu queria que um raio caísse na cadeira em que ela
está sentada e a partisse em duas. Uma parte de Verme tostada para cada
lado. Começo a rir, quando ela fecha a cara e presto atenção ao que está
falando.
― O Sebastian disse que eu estava linda hoje de manhã.
― É, ele tem esse hábito de mentir pela manhã.
Ela faz uma careta e continua.
― Quando estávamos juntos, ele era insaciável, transávamos a cada
hora.
Ela fala isso tão alto, que até a cozinheira faz uma careta.
― Hum, e ele amordaçava sua boca, eu imagino. Porque pau nenhum
sobrevive com essa voz.
Ela fica vermelha como um tomate e me dou conta que Sebastian
realmente a amordaçou. Pervertido! Não vale nada mesmo!
― Eu o convidei para ir a Paris comigo.
― É mesmo? Que bom! Sabe que com esse negócio de gravidez, meus
hormônios estão tão alterados, que ando com vontade de ver sangue. E
acredita que uma mulherzinha qualquer convidando meu noivo para viajar
me fez querer mais ainda ver sangue?
Pego a faca de pão e a mocreia sai correndo. Então Lia e eu temos uma
crise de riso.
Pouco depois Sebastian aparece e vem direto até mim, me puxa da
cadeira em seus braços e me beija.
― Bom dia meu amor, você está linda! Eu te amo. ― e me beija de
novo.
Nossa, será que se não existisse a Verme e não tivéssemos brigado, seria
assim nossa convivência todos os dias? Uma garota pode se acostumar com
isso, com um “deus” desses a beijando, elogiando e dizendo que a ama.
Sorrio como uma boba, me penduro nele e avisto a Verme nos olhando do
canto da porta. Preciso tirá-la urgentemente dessa casa.

Mal me sento à minha mesa, Cleber aparece.


― Bom dia Celina.
― Dia. ― respondo.
― Posso falar com você um minuto?
Lá vem problemas.
― O que foi?
― Sei que não tenho nada a ver com seu relacionamento e que o
Sebastian é um idiota que faz muitas merdas, mas pelo amor de Deus, faça
as pazes com o homem. Não estou criticando sua greve, não é isso, você
sabe melhor do que ninguém como domá-lo, mas quem aguenta as
consequências, minha querida Celina, somos nós. Matheus e eu. Ele anda
insuportável. Chato mesmo! Pior do que sempre foi.
Começo a rir enquanto ele reclama de Sebastian.
― Não entendo o que você tem que o fez se apaixonar desse jeito, mas
Celina, amor é uma coisa perigosa. Credo! O Sebastian virou outro. É seu
capacho!
― Ei, não fale assim! Ele me dá muito trabalho e é muito bem
recompensado por tudo que faz por mim.
Ele faz uma careta.
― Não tem sexo no mundo que me faça mudar assim por causa de uma
mulher.
― Sabe Cleber, eu ainda vou rir muito da sua cara quando estiver
apaixonado. Apaixonado mesmo, bem de quatro, por uma mulher.
Ele bate na madeira e isola.
― Cruz cerdo! Pare de me rogar pragas. O assunto aqui é o Vaughn e
sua chatice ambulante por falta da sua xoxota mágica.
Antes que eu possa perguntar o que ele quer dizer, Sebastian aparece
sorridente, dá um abraço em Cleber, me beija, diz que me ama e estende
para Cleber a ultrassom que eu fiz.
― Está vendo esse ponto pequenino aqui? É meu filho.
Cleber pega a ultrassom, a analisa e abre um sorriso.
― Cara! Só não vou dizer que está muito gay fazendo isso, porque
realmente é bonitinho. Como pode ser tão pequeno?
― É pequeno, mas já dá para ver o pau.
― Você não quer uma menina?
― Sim, estou falando no caso de ser um menino...
Os dois saem da minha sala e acho que nunca me senti tão feliz na vida.
Sebastian
Não me lembro de já ter estado com humor melhor do que hoje. Nem
de já ter estado tão feliz assim. Está vendo como a Celina, mesmo sendo
louca às vezes, consegue me fazer feliz? Eu sei, isso foi brega pra caralho,
mas foda-se estou mesmo feliz. Depois de mostrar a foto do meu filho para
o prédio todo, retorno à minha sala animado, mas encontro um Cleber
agitado à minha espera.
― Sebastian! Muito lindo seu filho, parabéns, você vai ser pai. Mas onde
diabos você estava? Há um trabalho aqui que precisa ser feito se você
quiser sustentar essa criança.
De onde saiu tanto mau humor?
― O que eu perdi?
― Uma reunião com Nicolas Mathieu.
― Ele está aqui? Merda.
Cleber está estranho, parece ansioso e irritado.
― O que há com você?
― Nada, homem! Vamos procurar Nicolas.
― Você falou com o Edmundo ontem?
― Edmundo, por que eu falaria com o Pinto Pequeno?
― Você não disse que ia dar uma lição nele por ter te desobedecido?
Ele faz uma careta e diz desanimado:
― Não cheguei ao andar dele. Encontrei uma pedra no meio do
caminho.
― Uma o quê?
Antes de ele me responder, Matheus aparece vermelho e respirando com
dificuldade.
― Ele sumiu! O homem sumiu! Temos que achá-lo.
E lá vamos nós, três marmanjos, a procura do velho rico que banca nossa
vida luxuosa. Mentira, não é assim, mas ele banca uma boa parte dela.
Rodamos a empresa toda, descemos três vezes em cada andar, e nem sinal
do velho. Quando já estamos desesperados, e desistimos, prestes a chamar a
polícia, quem avistamos? O próprio. Nicolas Mathieu está sentado na
cantina, com um copo descartável de café, mas pior do que isso é quem está
à sua frente. De todas as pessoas no mundo, ele está conversando
justamente com a Celina.
― Porra! ― diz Cleber. ― Me diz que vocês fizeram as pazes ou já
podemos fechar as portas.
― Nós fizemos as pazes. Mas é a Celina. Nunca se sabe o que ela vai
aprontar.
― Quão rancorosa a Celina é? ― pergunta Cleber.
― O bastante.
― Porra!
― O que vamos fazer?
É Matheus que interrompe nosso diálogo e diz passando por nós.
― A Celina é vingativa, mas não é burra. Ela trabalhou duro nesse
projeto, você sabe disso melhor do que ninguém Sebastian, não vai colocar
tudo a perder.
Ele está certo. Claro que está. Ela é a mulher mais inteligente que eu
conheço. Cleber faz uma careta quando digo isso em voz alta.
― E a mais vingativa.
É aí que Nicolas dá uma gargalhada. Nós nos aproximamos e ele me
abraça todo animado.
― Vaughn, como vai meu futuro genro?
Encaro a Celina que cerra os punhos e respira fundo. Ela não disse. Não
contou a ele. E só posso imaginar como deve ter se segurado. Meu Deus,
como eu amo essa mulher!

À tarde com Nicolas foi terrível. Tentamos mostrar a ele as ações da


V.D.A. que dobraram de preço e o projeto dos hotéis internacionais, mas ele
só sabia falar do casamento e de como a mãe da Vernee está contente por
finalmente pararmos de enrolar. E a Celina está certa, isso é errado. Não
importa o lucro que ele está tendo, não posso continuar com isso.
Assim que ele vai embora, Matheus me encara e diz:
― Conte a ele. Se ele retirar seu dinheiro, o problema é dele. Está
lucrando muito também, diga logo a verdade, mande ele e a filha maluca de
volta para Paris.
― Vou fazer isso.
Chego em casa e imediatamente procuro por Celina. Mas ela não está em
lugar nenhum. Quando pego meu celular para ligar para ela, vejo sua
mensagem:

Celina: Sorvete com a Gil. Não vou demorar. Quero meu menino
acordado quando eu chegar. Te amo seu estúpido.

Imediatamente respondo:

Sebastian: Também te amo sua safada. Seu menino já está acordado. Ele
acorda só à menção do seu nome, Célie.

Em seguida ela responde:

Celina: Imbecil. Só por causa disso não terá minha língua ávida hoje,
Sebs.

Sebs? Que merda é essa?

Sebastian: Não gostei do apelido.

Celina: Desculpe, não o chamo mais assim Sebs.

Maldita. Sei que vou pagar por chamá-la de Célie. Mas Célie é aceitável,
Sebs parece apelido de guerra de traveco. NÃO ME CHAME ASSIM!

Sebastian: Vou fazer vc gritar SEBASTIAN bem alto a noite toda.

Ela responde:

Celina: Estou contando com isso.


Sebastian: Te encontro na banheira quando chegar, CELINA.

Celina: Ok, banheira + Sebs = noite perfeita.

Sebs de novo? Tem como desenhar um palavrão nesse teclado?

Estou relaxado na banheira quando ela chega.


― Adivinha quem está acordado e louco por sua boca ávida, amor? ―
digo e quando olho para Celina, não é ela ali, e sim Vernee.
― Mais que merda!
Puxo a espuma para cobrir meu pau em pé e a fuzilo com o olhar.
― Sai daqui agora mesmo! ―ordeno.
Mas, ao invés de sair, a maldita se aproxima e se joga na banheira com
roupa e tudo. Imediatamente eu me levanto, uso as duas mãos para cobrir
meu pau. E quando olho para a porta me preparando para correr. Ela está
ali: Celina.
Espero que ela grite, me bata com a bolsa, arremesse o enfeite de vidro
da pia em mim, mas ela não faz absolutamente nada. Olha para Vernee de
uma forma que faria qualquer um sair correndo. Esta se levanta da banheira
escorregando com a água e me encara, pedindo proteção, mas estou com
vontade de matá-la. Não sei o que está esperando para sair.
Celina então diz com aparente calma na voz:
― Vai sair sozinha ou vou ter que tirá-la?
Vernee sai depressa, escorregando e desaparece. Já falei que estou com
vontade de matá-la?
Olho para Celina e tento ir até ela, mas ela levanta as mãos para que eu
pare e diz:
― Agora não.
Então vai para o quarto. Mas eu a sigo. O que acabou de acontecer aqui?
Ela me pegou nu, na banheira com Vernee e não vai fazer nada? Será que
não sente nem um pouco de ciúme de mim?
― Celina.
― Agora não, Sebastian!
― Agora sim! Que merda! Você não vai fazer nada?
Ela me fuzila com o olhar.
― E o que você quer que eu faça?
― Reaja! Sinta ciúme de mim! Se importe por me encontrar nu no
banheiro com outra! Que merda, Celina! Sinta ciúme ao menos uma vez! –
Ela parece em choque, joga a bolsa no chão e se aproxima de mim.
― Você acha que eu não sinto ciúme de você? Acha que eu não me
importo?
Então ela pula em mim e começa a socar meu peito. Está com raiva.
― Seu safado, estúpido, pervertido, idiota! Eu morro de ciúme de você!
Estou me controlando agora para não matar aquela lambisgoia a tesouradas.
E você acha que eu não tenho ciúme?
Ela respira, descansa um pouco e depois recomeça a me bater e falar:
― Eu quase saí aos tapas com a Mônica no banheiro da empresa, mudei
para sua casa quando soube que a Vernee estava aqui. Eu chorei como uma
louca quando te vi com a Lorena e você acha que eu não tenho ciúme?
Eu seguro as mãos dela e a puxo para meus braços.
― Eu te amo, Celina.
― Não venha me adular! ― ela diz se afastando ―Sebastian, eu te amo!
Mas é tão difícil ter paz com você! Você precisa tirar a Verme dessa casa!
Precisa dar um jeito nisso!
― Eu sei, vou tirá-la. O desfile é amanhã. Prometo que amanhã mesmo
ela vai embora.
Ela concorda, se aproxima e enfia a mão em meus cabelos. Então puxa
minha boca de encontro à dela. Imediatamente a abraço e a arrasto para o
banheiro. Ela para de me beijar e diz:
― Se você me levar para essa água contaminada eu juro que mato você!
― Nem pensei nisso. ― digo tirando sua roupa.
Ela acaricia meu pau e gemo em seus lábios.
― Não aconteceu nada entre a Vernee e eu. Eu sequer a toquei.
― Eu sei, não sou tão idiota. Reparei que ela estava vestida, você estava
cobrindo o pau e com cara de pintinho assustado.
Começo a rir e a beijo.
― E quando foi que reparou tudo isso?
― Assim que entrei. Sebs, uma mulher consegue analisar uma cena
dessas nos mínimos detalhes em um segundo.
― Sebs? Eu vou te mostrar o Sebs!
Eu a prendo na parede, passo as pernas dela pela minha cintura e a
torturo até ela gritar meu nome correto. SEBASTIAN!
Vernee está sentada na sala com cara de tédio quando me aproximo.
Olha-me com um olhar esperançoso, mas ao ver a felicidade que anda
pregada em meu rosto, essa esperança desmorona.
― Então, o que a louca aprontou dessa vez?
― Não fale assim dela. E a próxima vez que ficar em algum cômodo
sozinha comigo irá embora dessa casa na mesma hora.
Ela pisca os olhos e tenta falar com a voz melosa, mas seu ganido ainda
é de machucar os ouvidos.
― Sebastian! Não entendo o que viu nela. Admito que ela é bonita, mas
é completamente louca! Pensa! Se você se casar comigo eu viverei em
Paris, e você será livre, e ainda terá o dinheiro do meu pai. Mas se ficar com
essa louca é provável que nem chegue aos trinta anos.
― Vernee, está claro que não nos amamos. Por que quer tanto se casar
comigo?
― Amamos? Desde quando você se importa com amor? Estou te
oferecendo o relacionamento perfeito! Papai está no meu pé. Vai cortar
minha mesada se eu não me casar logo. Não quero um compromisso sério.
Quero que esteja disponível para transarmos quando eu vier e que não se
importe se eu for embora depois!
Se ela tivesse me feito essa proposta há quatro meses eu teria aceitado
sem pensar duas vezes. Agora? Agora tenho a Celina, não quero mais nada
além dela.
― Vernee, por que não vive com o dinheiro dos desfiles?
― Porque isso não é para sempre! Vou envelhecer e não conseguir mais
emprego, e aí o que vou fazer? Não quero ter que economizar agora para ter
dinheiro depois.
Ela se levanta e toca meus ombros.
― Sebastian, pense. É perfeito! Você pode até continuar com a louca se
quiser, desde que eu seja a esposa oficial. Ou pode ser o Sebastian de
sempre, com várias mulheres e sem nenhuma responsabilidade.
É estranho como a oferta dela sequer mexe comigo. Quando penso em
viver como antes, sem a Celina, sem o bebê que cresce nela, não consigo
me imaginar feliz. Sou feliz com ela. Mesmo com todas as loucuras, as
brigas, ela é minha felicidade.
Estou tirando as mãos de Vernee do meu ombro quando noto que Celina
está nos espionando. Escondida atrás da porta com o celular em mãos.
Então, para aproveitar e fazer uma média com ela, digo em alto e bom tom:
― Não sou mais o Sebastian de sempre. Sou um homem melhor agora,
um homem completo. Eu amo a Celina, sou feliz com ela como nunca
pensei que fosse possível. Ela é perfeita para mim, se é louca é porque é
exatamente assim que deve ser. Ela é minha vida. É meio louco e repentino,
mas não consigo me imaginar sem ela.
Vernee pisca os olhos confusa.
― Por que está fazendo uma declaração para ela?
― Porque esse safado sabia que eu estava aqui. ― Celina responde
entrando na sala, com os olhos marejados e joga o celular na poltrona ― Eu
te amo Sebastian. Você é um pervertido, estúpido e me deixa louca, e eu te
amo.
Não enxergo mais Vernee ali, nem a casa, nem penso em mais nada,
somente nela. Minha Celina. Minha amada maluquinha. Ela já enfia a mão
no meu cabelo, e só escuto a porta bater quando Vernee sai, e aí já começo a
tirar a roupa da minha Celina.

É a manhã do desfile da Vernee, finalmente. Ela está uma pilha de


nervos. Talvez por isso tenha me dito que não vai deixar essa casa, mas por
via das dúvidas, a procuro assim que ela acorda.
― Bom dia Sebastian. ― ela diz de má vontade, mal olhando para mim.
― Vernee. Hoje é seu desfile. Boa sorte.
― Obrigada.
― Aproveite e leve suas malas, de lá você já pode ir embora.
Finalmente ela me encara.
― Você está muito enganado se acha que eu vou sair como a mentirosa
para o meu pai. Não posso perder a mesada dele. Se quiser que eu saia, terá
que me expulsar Sebastian. Entendeu?
Maldita. Se eu expulsá-la o escândalo estará armado. Mas se não tiver
outro jeito, eu a expulso. Não quero nada entre a Celina e eu. Nosso
relacionamento já é complicado demais, não precisamos de ninguém de fora
para atrapalhar ainda mais. Talvez se eu falar com jeito com Nicolas, ele
mesmo tire a maluca da filha da minha casa. Ligo para ele, confesso que
estou nervoso, meio tremendo até. Há muito dinheiro envolvido, mas não é
isso que me incomoda. E sim, Matheus e Cleber. Eles dão o sangue pela
V.D.A. há dez anos, e agora eu posso pôr tudo a perder assim, por causa do
meu pau.
Por um momento até torço para que ele não atenda, mas ele atende no
terceiro toque.
― Sebastian! Como vai meu filho?
Merda, isso vai ser mais difícil do que imaginei.
― Nicolas, precisamos conversar.
― Claro! Do que você precisa? Parabéns pelos hotéis internacionais.
Sabia que estava fazendo a coisa certa ao investir na V.D.A.
― Obrigado. ― penso em comentar sobre o tempo para enrolar, mas é
melhor não.
É melhor contar tudo de uma vez. Que ele exploda comigo por telefone,
vai ser mais seguro assim.
― Preciso que consiga um lugar para a Vernee ficar.
― Vocês brigaram? Não se preocupe filho, essas coisas acontecem. É o
nervosismo por causa do casamento. Daqui a pouco vocês fazem as pazes.
Merda!
― Não é isso, preciso mesmo que ela se afaste.
― Relaxa! Isso sempre acontece com os noivos pouco antes do
casamento. Isso passa. Depois você percebe que cometeu um erro, mas já é
tarde demais. Mas não desista, você precisa se casar para saber como é.
Tem que cometer seu próprio erro, sabe.
― Nicolas, eu realmente não quero...
― Como vai a secretária do Matheus?
― O quê?
― Celina, não é? A secretária linda e divertida dele. Que mulher
Sebastian! Que mulher! Você poderia ser um bom genro e me dar o telefone
daquela belezura. Ela é comprometida? – Isso é sério? Ele está interessado
na Celina? Minha Celina?
― Sim ela é comprometida! É noiva, e está gravida. ― digo com mais
raiva do que pretendia.
― Que pena! Que pena mesmo! Eu preciso desligar, filho. Fique calmo e
mais tarde eu passo aí.
Então ele desliga. Merda, como vou tirar a Vernee dessa casa?
Vou procurar pela Celina que está na cozinha comendo um abacate com
geleia de uva. Meu estômago embrulha só de sentir o cheiro das duas coisas
ao mesmo tempo, e isso me dá uma pista da personalidade do nosso filho.
Estou ferrado.
Vernee está na outra ponta da mesa observando a Celina comer, com
nojo. Celina se levanta, mexe nos armários e depois vejo que pegou alho.
― Amor, o que vai fazer?
― Uma omelete.
― Com alho?
― Cala a boca Sebastian, você não sabe cozinhar.
― Nem você.
― Isso não vem ao caso.
Concentro-me em meu jornal e deixo que ela coma as “gororobas” que
quiser comer. Vernee pigarreia, mas como ninguém lhe dá atenção, ela
começa a falar assim mesmo.
― Meu desfile é hoje.
Celina e eu não a escutamos.
― Serei a modelo principal.
Continuamos a ignorando. Estou tão concentrado em meu jornal que só
ouço o final da frase que ela está falando quando Celina para de socar o
alho e bufa.
― Porque é obvio que essa criança vai ser louca como a mãe, olha as
coisas que sua noiva está comendo!
Tudo acontece muito rápido. Noto que Celina enrijece, começa a se
virar, e antes que eu possa impedir, arremessa o socador de alho na Vernee.
Acerta em cheio bem no nariz dela.
Vernee começa a gritar, mas Celina grita ainda mais alto:
― Se falar do meu filho de novo eu quebro todos os seus dentes, sua
lambisgoia desnutrida e oxigenada!
Vernee está chorando, fazendo um escândalo, enquanto eu seguro a
Celina para que ela não bata na Vernee. Quero rir, e quando Vernee sai da
cozinha chorando, finalmente faço isso.
Sei que não deveria, deveria estar puto por Vernee ter insultado meu
filho e minha mulher, mas porra! A Celina tem uma pontaria perfeita!
Acertar a Vernee da distância em que estava. Dou-me conta que às vezes
em que não acertou as coisas em mim foi porque não quis acertar.
― Você não quis acertar aquele ferro de passar, não é? ― pergunto a
abraçando.
Aos poucos ela se acalma.
― Ah eu quis, errei a pontaria.
― Não errou não, sua pontaria é ótima. Você só queria me assustar.
Ela sorri.
― Você merecia o ferro bem no meio da cara aquele dia.
― Eu sei, assim como a Vernee mereceu aquilo na cara dela. Você sabe
que acabou com o desfile dela, não sabe? Aquilo com certeza vai deixar
uma marca.
― É mesmo? Que pena! Sinto muito por ela.
― Cínica. ― digo e a beijo.
Ela sorri.
Mas nossa paz dura pouco, pois logo Vernee aparece com um pano no
nariz e o celular na orelha.
― Isso mesmo, foi uma tentativa de homicídio.
Celina arregala os olhos e não acredito que a Vernee está mesmo
registrando uma queixa contra ela.
Celina
A polícia não demora a chegar. Estou sentada, tranquilamente com
as pernas para cima, acariciando a barriga. Já sinto uma diferença quando a
toco, dá para sentir que há algo dentro de mim. Isso é o máximo!
A mocoronga está sentada na poltrona e não tira os olhos de mim. Tive
uma crise de riso no momento em que ela tirou o pano do nariz, acho que
teve muita sorte por não ter quebrado, mas ficou uma bola, que até
combinou com ela. Ela deveria me agradecer afinal de contas.
Agora ela está ao telefone se desculpando e fazendo todo um drama
porque não vai poder desfilar. E estou olhando bem para a cara dela e rindo.
O sorriso não quer sumir do meu rosto. Sei que a estou irritando mais, mas
fazer o que se estou feliz?
Quando ela desliga o telefone olha para mim e diz:
― Você vai ser presa, sua louca! E internada.
― Reza para eu ser mesmo, porque agora só fiz uma bola no seu nariz.
Mas, se eu não for presa, vou atrás de você e quebro seu nariz enorme em
mil pedacinhos.
Ela tampa o nariz imediatamente e sua expressão de espanto me faz rir
ainda mais.
― Sebastian! ― choraminga.
É aí que a campainha toca. Permaneço onde estou enquanto Sebastian
abre a porta. Dois policiais aparecem, e um deles abre um enorme sorriso
para Sebastian.
― O que foi que a sua noiva louca fez agora?
Percebo que é o mesmo policial que segurou o Sebastian no dia do
cassetete.
― Ei! A noiva dele está bem aqui!
Ele sorri ao olhar para mim.
― Foi mal.
Mas noto que coloca uma mão no cassetete e a outra na arma. Idiota! Eu
nem pretendia pegar nada dele. Vernee se levanta e começa a contar aos
prantos que tentei matá-la. Mas a voz dela já é esganiçada, chorando então.
Rapidamente ele tapa os ouvidos e pede que ela se cale.
Então se aproxima de mim, senta-se na mesinha de centro e diz:
― Quer me explicar como tentou matá-la?
― Não tentei. Seria uma tentativa de homicídio se eu tivesse enfiado a
faca no peito dela cem vezes seguidas, como pensei em fazer. Ou se eu
tivesse atirado o secador de cabelo ligado quando ela estivesse na banheira,
também pensei em fazer isso. Você sabe, como nos filmes?
Sei que ele está segurando o riso quando concorda.
― E o que foi que você fez?
― Nada demais. Apenas atirei um socador de alho no nariz dela.
― No nariz?!― ele diz admirado.
― Ah sim, minha pontaria é muito boa.
― Estou vendo. E por que você fez isso?
Aí eu me sento. Cruzo as pernas e olho bem para ele.
― Imagine o senhor, que essa mocoronga descolorida apareceu aqui
querendo roubar o meu noivo. E eu tenho um filho desse pervertido na
barriga. Não posso permitir que uma qualquer apareça aqui e ache que tem
o direito de se instalar nessa casa. Ele era um tremendo de um pervertido.
Imagina se todas as mulheres que ele já comeu resolvem fazer isso? Isso
aqui vai virar um hospício.
O policial dá uma risada, mas se controla e continua me encarando.
― Bom, o fato é que ela inventou um noivado para fazer o pai investir
na empresa do meu noivo e claro, depositar uma grana alta todo mês na
conta dela. E agora ela precisa confirmar essa farsa. Ela queria armar um
casamento falso. Isso não é falsidade ideológica?
Observo Vernee arregalar os olhos e ficar ainda mais branca.
― Sim, pode ser caraterizado assim. Se ela tivesse realmente assinado
algum documento.
― Entendo. E seu eu tiver provas das intenções dela?
Claro que isso nunca daria certo. Mesmo porque, se eles já tivessem
assinado algum documento, Sebastian também pagaria. Só quero assustar
Verme. E claro, o policial gente boa está me ajudando. Acho que por medo
do que posso fazer com a arma que está na cintura dele.
― Isso não vem ao caso! ― grita Verme ― Ela tentou me matar! ― diz
e mostra a bola no nariz.
O policial se levanta e diz para ela com toda paciência.
― Senhorita Mathieu, levando-se em conta que o objeto utilizado foi um
socador de alho, que não é uma arma, e que a senhora está viva e bem, isso
não se caracteriza como tentativa de homicídio. A senhorita pode dar
queixa por agressão. Mas pelo que entendi, nesse caso, a senhorita Morelli
poderia dar queixa contra a senhora por invasão. Então sugiro que deixe as
coisas como estão.
― O quê? Não é possível. Mas a justiça nesse país é atrasada mesmo!
Ela diz e sai batendo o pé, mas sei que ela desistiu por medo do crime de
falsidade ideológica, que é burra demais para saber que não cometeu.
O policial diz alguma coisa para Sebastian, que sorri em agradecimento,
depois se despede de mim e vai embora.
Sebastian se aproxima sorridente e me pega no colo.
― O que ele disse?
― Que você não é louca afinal de contas, só esperta demais.
Antes de chegarmos ao nosso quarto, Verme passa por nós como um
furacão, em suas mãos está uma das malas e ela sai andando com o que lhe
resta de dignidade.
― Já vai Verme? Que pena! Adeus!
Ela me encara com fúria no olhar e se dirige a Sebastian.
― Pegue minhas malas, por favor.
Rapidamente ele me deposita no chão e corre para pegar, vou também, é
claro. Quero ajudar a levar as coisas dela. Nada a ver com o fato de querer
atirar a mala dela na varanda de novo. Não é isso. Mas acredita que quando
chego a entrada da casa a mala escorrega da minha mão e desse os degraus
sozinha?
― Ops! Foi mal!
― Meus cremes! ―ela grita em mais uma cena.
Ela deveria ser atriz e não modelo, mas se bem que com essa voz, não,
não dava mesmo para ser atriz.

À noite Sebastian recebe um telefonema de Cleber, fica cerca de trinta


minutos com ele ao telefone. Os dois estão discutindo alguma coisa e
Sebastian está nervoso. Fico atrás da porta de seu escritório prestando
atenção e então entendo. Ele não está falando mais com Cleber, está falando
com Nicolas, que deve estar gritando, pois Sebastian grita ainda mais alto.
― Não me importa. Nunca houve noivado, nunca haverá casamento!
Nós mentimos! E o motivo foi o seu dinheiro. Tanto para a minha empresa
quanto para a conta da sua filha. É uma farsa. Pode pegar sua família, seu
dinheiro e voltar para o seu país! Que se dane! Retire todo seu dinheiro, eu
não me importo! Nunca me casaria com uma pessoa tão fria e mentirosa
quanto sua filha!
Não preciso ouvir mais. Ele e Nicolas estão brigando. Vernee fez alguma
coisa, se fez de vítima, no mínimo. Não queria que Sebastian fosse
prejudicado, por isso aceitei-a na minha casa. De que valeu todo meu
esforço se no fim das contas ela venceu?
Volto para a cama e finjo estar dormindo. Sebastian me beija quando
chega, me cobre e me puxa para seus braços. E apesar dos planos que estão
em minha mente, adormeço também. Acordo mais cedo que ele, me levanto
sem fazer barulho e me arrumo. Deixo um bilhete dizendo que precisei sair.
Vou até minha antiga casa e peço a ajuda de Gil. Ela não concorda com o
que vou fazer, mas ajuda assim mesmo.
E é graças a sua ajuda que estou aqui agora, em frente à porta do quarto
em que Nicolas Mathieu está hospedado. Ele mesmo abre a porta e sorri ao
me ver. Acho que não sabe que a noiva de Sebastian sou eu.
Ele me oferece um monte de coisas, mas digo que estou enjoada por
conta da gravidez, o que ele entende imediatamente e não me oferece mais
nada. Comenta sobre algumas coisas que são diferentes no Brasil e na
França, e por fim, pergunta por que estou aqui.
― Preciso falar sobre Sebastian Vaughn.
― Não quero falar desse manipulador! Ele enganou a mim e minha filha
e não vou descansar até acabar com a empresa dele.
Eu sabia que ele faria isso. Foi o que Sebastian fez com Luciano quando
ele o enganou, não foi? Claro que Nicolas agiria da mesma maneira.
― É sobre isso que quero falar. Ele não o enganou exatamente. Bom,
enganou, mas não enganou sua filha.
Ele começa a protestar, mas o interrompo.
― Eu a conheço, a Vernee. Ela esteve hospedada na minha casa esses
últimos dias.
― Mas ela estava na casa do Vaughn.
― Sim, também é minha casa. Quer dizer, estou morando lá há um
tempo. Eu sou a noiva dele. O filho que estou esperando, é dele.
Nicolas se levanta chocado.
― Então você também estava nessa farsa?
― Não, não é nada disso. Escuta-me. Eu não sabia sobre a Vernee até ela
aparecer lá em casa com as malas e tudo dizendo que ela e Sebastian
precisavam se casar. Eu quis matar o Sebastian por ter me escondido isso, e
foi aí que ele me explicou. Ele traiu a Jamille com a Vernee, e foi um
escândalo quando o senhor descobriu. Para se safar, ela inventou que estava
noiva de Sebastian, e ele confirmou para que o senhor não a deserdasse. Ele
se sentiu culpado. Depois o senhor investiu todo aquele dinheiro na V.D.A.,
como rapidamente começou a ter retorno do dinheiro, Sebastian e os sócios
deixaram para lá. Mas ele e Vernee nunca mais tiveram contato depois
disso. Agora ela aparece de repente querendo se casar porque o senhor está
ameaçando cortar a mesada dela.
Ele pensa por um momento e depois diz:
― Não acredito em você! Está inventando essa coisas para defender seu
noivo. O que ele fez não tem defesa. Ele tem que pagar.
― O que ele fez foi errado, sim, foi uma mentira. Mas ele não deve ser
punido mais do que merece. Acredite, ele já pagou por isso, eu mesma fiz
questão de fazê-lo pagar. Entendo se quiser retirar seu capital da empresa,
embora vá sair perdendo, pois tem obtido excelentes lucros. Tenho como
provar que não estou mentindo.
Tiro o celular da bolsa e encontro a gravação. A gravação do dia em que
Sebastian se declarou para mim, a gravação da Vernee fazendo uma
proposta para ele. Nicolas assiste aquilo calado. Quando percebe que estou
falando a verdade, parece em choque. Tem um momento que acho que ele
vai desmaiar, mas o velho aguenta firme.
Quando a gravação acaba, ele não diz nada. Seus olhos estão marejados
e me sinto culpada. Mas tinha que fazer isso, tinha que defender Sebastian.
― Eu vou indo senhor Mathieu. O senhor tem o direito de agir como
quiser para punir sua filha, mas não Sebastian. Ele é minha
responsabilidade, não sua. Só peço que antes de decidir acabar com a
empresa em que muitas pessoas trabalham duro por causa disso, pense no
que o senhor mesmo faria se fosse ele. O que faria se recebesse uma
proposta como essa? Só pense um pouco nisso.
Então eu saio e o deixo ali, com seus pensamentos e sua decepção.
Capítulo 22
Celina
Chego à empresa atrasada. Mal me sento, Mônica me avisa que os
chefes estão me aguardando na sala do Cleber. Os três. Merda, alguma coisa
deu errada. Meu plano não deu certo. Tanto trabalho para gravar a Verme
confessando as coisas, mesmo que tenha sido quase sem querer, e o imbecil
do Nicolas vai ferrar com a V.D.A. assim mesmo.
Mas então penso que ainda não deu tempo de Nicolas ter feito algo para
prejudicar a empresa. Então, o que eles querem? O que eu fiz para ser
convocada pelos três estúpidos?
Ergo a cabeça, finjo uma confiança que com certeza não estou sentindo,
e entro na sala. Cleber e Matheus estão em pé conversando, não parecem
desesperados. Mas é Sebastian que me assusta. Ele está sentado, e assim
que me vê, se levanta como um louco na minha direção, mas Cleber o
segura e não deixa que ele se aproxime. O que está havendo?
― Olá Celina, chegou atrasada? ― pergunta Matheus.
― Desculpe Matheus, tive um problema para resolver.
― Que seria?
O que devo dizer? Acho melhor descobrir primeiro o que aconteceu
antes de dizer que a culpa foi minha.
― Uma coisa aí, nada demais.
Então Sebastian diz, de onde está, sem se aproximar de mim.
― Celina, você foi ver Nicolas Mathieu?
E agora? Minto? Não minto? Saio correndo? Olho para a porta, mas
Matheus rapidamente se aproxima de mim e a fecha. Merda!
― Talvez. ― respondo.
Ah, que saco! Não vou ficar aqui bancando a medrosa, fui vê-lo mesmo.
E se alguém reclamar vou mandar que eles façam melhor.
― Sim, fui vê-lo. Por quê? Algum problema?
― Problema? Não. Problema nenhum Celina. ― diz Cleber muito
animado.
― Celina, o que foi que você disse para ele? ― pergunta Matheus.
Dou de ombros e tiro o celular do bolso.
―Disse a verdade, que o Sebastian é um estúpido, mas que cabe a mim
puni-lo. E que ele deve punir apenas a filha mimada dele e não descontar a
decepção dele na empresa e em nós, reles funcionários que não temos nada
a ver com a vida ruim dele. Ah, e claro, eu mostrei isso. ― digo dando play
na gravação.
Os três estúpidos assistem à gravação, embasbacados.
Quando acaba, Cleber pergunta, admirado:
― Como você pensou em gravar isso?
― Eu não pensei. Estava falando com a Gil, quando vi que a mocoronga
ia aprontar alguma. Foi automático, eu sabia que ela falaria alguma coisa
sobre o noivado falso, então gravei para ver se tinha sorte.
― Brilhante! ― elogia Matheus.
Sebastian está me encarando e não diz nada. Estou começando a ficar
nervosa com a reação dele. Oh céus será que realmente piorei tanto assim as
coisas?
― O que houve? Nicolas Mathieu retirou o dinheiro dele da V.D.A.?
Ninguém me responde, Cleber olha para Matheus que olha para
Sebastian. Então de repente Sebastian dá dois passos largos e para na minha
frente. Espero que ele brigue, ou me responda, mas o que ele faz me pega
totalmente desprevenida. Ele se ajoelha.
― Celina Morelli, eu te amo. Se eu já não fosse totalmente louco por
você, hoje eu teria me apaixonado completamente. Você é a mulher mais
linda, inteligente, corajosa e forte que eu conheço.
― Merda, o que foi que você fez, Sebastian?
Sabemos que quando o homem começa a te elogiar assim, do nada, é
porque aprontou alguma...
― Não é o que eu fiz meu amor, é o que você fez.
― E o que eu fiz?
Ele passa os braços pela minha cintura e coloco a mão no cabelo dele,
não sei se devo ficar emocionada por vê-lo ali aos meus pés, no melhor
momento deusa que eu poderia ter, ou se devo ter medo do que quer que eu
tenha feito. Você sabe, eu faço muitas coisas, nem todas tem o resultado
positivo.
― Você salvou a V.D.A., Celina. De novo. ― diz Cleber.
Olho para Sebastian confusa e posso sentir o orgulho na voz dele,
quando diz:
― Nicolas entrou em contato com o Matheus. Ele disse que não vai
retirar o dinheiro da V.D.A.. E que não vai fazer absolutamente nada contra
mim ou contra a empresa. Ele também disse que você é adorável e que eu
sou um puta sortudo por você me amar desse jeito.
Estou confusa.
― Ele disse?
― Celina, você salvou a V.D.A.. Você convenceu Nicolas Mathieu a não
só desistir de se vingar, como manter seu investimento. Você é incrível. Não
sei o que fiz de tão bom para merecer você.
― Ah, Sebastian!
Dou um beijo em sua cabeça, muito feliz por ter dado certo, afinal de
contas. Não disse que tudo o que eu faço dá certo? Pode demorar, mas no
final dá certo. Está vendo esse ex-pervertido ajoelhado aos meus pés? Ele é
a prova disso.
― Eu te amo, mas você poderia fazer isso na frente do prédio inteiro. ―
brinco.
Ele sorri, se levanta e me beija. Mas antes que eu possa derreter em seus
braços, somos afastados por dois solteirões safados que não entendem o que
sentimos.
― Chega vocês dois. Deixem para comemorar em casa. – diz Cleber.
E é aí que a bomba vem. Matheus me afasta de Sebastian e me senta
gentilmente em uma cadeira. Noto que ele olha para Cleber que faz um
movimento mínimo com a cabeça e então é Sebastian quem fala:
― Celina, levando em conta que você salvou a empresa duas vezes
nesses últimos meses, temos uma proposta...
― Não é uma proposta, Sebastian. Você não sabe dar uma promoção. ―
ralha Matheus.
― Promoção? ―pergunto interessada.
― Isso, Celina, infelizmente você não será mais minha secretária, e na
verdade precisarei que me ajude a encontrar duas secretárias, uma para mim
e uma para você.
― Para mim?
Então Sebastian diz novamente:
― Amor, você está sendo promovida a diretora geral da V.D.A..
― O quê? ― eu praticamente grito.
Sebastian percebe que estou nervosa, noto que Cleber e Matheus estão
fazendo careta. Não quero ser promovida, quero dizer, quero, mas não
agora. Já tenho um noivo e um filho para administrar, é responsabilidade
demais, e se eu não der conta?
Sebastian parece ler meus pensamentos, pois se ajoelha novamente a
minha frente e diz com toda convicção:
― Amor, você dá conta. Celina olha para você, veja como se ergueu
quando tudo estava de pernas para o ar, como sempre resolve tudo, como é
inteligente e boa. Celina, será que não enxerga o quanto é perfeita?
― Eu não sou perfeita, Sebastian, sou louca, e...
― Linda, leal, esperta demais, muito inteligente. E também é corajosa e
forte. Sei que você dá conta. Dar ordens? Isso vai ser fichinha para você.
Não sei o que dizer. Ficaria contente em ser promovida ao RH, mas
diretora geral é um passo grande demais. Matheus segura minha mão e diz:
― Não precisa responder agora, Celina. Mas pense direito antes de
recusar assim.
Concordo e ganho o dia de folga. Resolvo ir para a casa, minha nova
casa, agora sem uma intrusa e fico no jardim a tarde toda pensando.

Chego à empresa e todos abaixam a cabeça quando passo. Gosto de


impor esse respeito. Gosto que ninguém mais se atreva a rir de mim. Vou
direto para o elevador da direita, que agora somente os sócios têm
permissão de usar. Hoje, ele é meu. Entro nele sozinha, e assim que as
portas se fecham, começo a dar pulinhos de alegria! Tenho um elevador só
meu!
Quando desço no último andar, o mesmo respeito. A conversa para,
todos fingem estar trabalhando duro. Sei que não estão, mas gosto que
finjam na minha presença. Quando eu fechar a porta da minha sala, eles
podem “morcegar” à vontade.
Desfilo entre eles, divando no meu salto agulha dez centímetros, é claro
que não caio, nem viro o pé hora nenhuma. Sou uma diva! Entro em minha
sala e ali está, em cima da enorme mesa de vidro, a placa dourada, com meu
lindo nome escrito.

CELINA VAUGHN
CEO

Vaughn? Mas quando? Como?


É aí que reparo em minha sala, nas paredes há vários quadros
pendurados, fotos minhas e de um monte de crianças.
― Mas, o que é isso?
Aproximo-me e vejo que estou nas fotos, Sebastian também, em cada
uma delas. Consigo contar seis crianças diferentes. Todas se parecem
comigo, e com Sebastian.
― Seis? Meu Deus, não!
Saio da minha sala e vejo o que a empresa se tornou. Há coisas voando
para todos os lados, pisco os olhos e reparo que são as mulheres da
empresa, atirando as coisas em seus subordinados. Começo a me
desesperar. Olho para a mesa da minha secretária e quem está ali?
― Sebastian! ― digo pedindo socorro.
― Oi, amor. ― ele responde e vem até mim, me abraça e me arrasta para
dentro da minha sala.
Assim que entramos, tento perguntar o que está acontecendo, mas
rapidamente sua boca está na minha e ele me encosta na parede. Quando se
afasta para respirarmos, diz:
― Vem meu amor, vamos fazer nosso sétimo filho.
― O quê?
Então ele abre uma porta que eu não havia reparado e adivinhe o que há
lá dentro.
― O que é isso? ― pergunto assustada.
Sebastian me olha confuso.
― Nosso ninho, amor. Celina o que há com você? Transamos aqui todos
os dias, até três vezes por dia. Por que essa cara?
― Todos os dias?
Olho de novo para o “quarto”, pode ser chamado assim. Há uma cama,
uma poltrona espaçosa e uma mesa de vidro. As paredes são acolchoadas e
há barras para apoio entre o acolchoamento. É a prova de som e todo preto.
― Celina! ―Sebastian me chama ― Nós fizemos todos os nossos
últimos cinco filhos aqui. O que há com você?
Isso só pode ser uma piada! Corro para os seus braços que me aperta e
me arrasta para a cama.
― Acalme-se amor. Vem aqui, vou acalmar você com seu menino.
Sorrio aliviada, esse é o Sebs, meu Sebs, tudo volta ao normal. Mas,
quando ele tira a calça eu vejo, na lateral do seu corpo, há nomes escritos.
Muitos nomes, seis para ser mais exata. Os nomes dos nossos filhos.
― Não!
― Celina, o que houve?
― Nãaaaaao! ― começo a gritar.
― Celina, acorde! ―Sebastian me sacode e abro os olhos.
Seus olhos verdes estão em cima de mim, carregados de preocupação.
― Foi um sonho, amor. Acalme-se.
Afasto-me dele num pulo e passo a mão na barriga. Está ali, meu bebê, o
único bebê. Olho em volta e o quarto é igual. Sebastian está sentado na
cama me avaliando, parece confuso.
― Com o que você sonhou?
― A empresa. Eu era a CEO. Não quero isso, não quero ser promovida.
Ele respira fundo, e me puxa para o seu colo.
― Celina, você não está sendo promovida a CEO, não seríamos tão
loucos de fazer isso. É apenas um passo.
― Um passo grande demais.
― Um passo do tamanho certo para você. Celina, você dá conta e sabe
disso.
― Não sei se quero mais responsabilidades agora. Não sei se estou
pronta para isso. Vamos ter um filho, Sebastian. Terei um bebê que será
minha responsabilidade. Uma vida que vai depender de mim. Isso já não te
parece responsabilidade demais?
Ele me aperta mais ainda em seus braços e se recosta na cabeceira da
cama, me levando com ele.
― Sim, é uma responsabilidade enorme, e você vai dar conta disso
brincando. Você é a pessoa mais forte que eu conheço, mais corajosa e mais
cara de pau.
― Não, você é muito mais cara de pau do que eu.
Ele começa a rir. E me sinto relaxar em seus braços.
― Eu vou estar lá Celina, ao seu lado. Não importa o que aconteça. Se
você for uma péssima chefe e foder com tudo, eu estarei lá para ajudá-la a
consertar suas merdas, como você conserta as minhas. E se você for a
executiva maravilhosa que eu acho que vai ser, então estarei ali orgulhoso,
te aplaudindo de pé
Eu o amo, gente! Amo esse homem! Eu o abraço mais forte e respiro seu
cheiro, sentindo todo o medo ir embora.
― Você vai se arrepender por me dar tanto poder, bonitão.
Ele dá uma gargalhada gostosa.
― Tenho certeza disso. Você já é um perigo como secretária, como
diretora será arrasadora.
Concordo com a cabeça e começo a cochilar nos braços dele, quando ele
diz:
― Posso te fazer uma pergunta?
Confirmo com a cabeça.
― Se você não estivesse grávida, ainda estaria comigo?
Preciso pensar para responder, faço isso rapidamente, analiso o que nos
aconteceu nos últimos dias em questão de segundos. Não há muito o que
dizer, sei exatamente o que senti quando vi a Vernee ali, com aquela aliança
no dedo.
― Não. Se não estivesse esperando um filho seu, eu teria desistido
quando a Vernee me mostrou aquela aliança. Teria me acovardado e
escolhido não me arriscar.
Ele me aperta mais em seus braços e sussurra.
― Eu sabia.
― Não pense que não amo você, ou que o amo só por causa do bebê.
Não é assim. Mas eu não estava pronta para sentir isso, você sabe disso
melhor do que ninguém, eu tinha muito medo, ainda tenho. Você ter
escondido a Verme foi muito doloroso Sebastian, foi como uma traição,
mesmo que não tenha feito por mal. E mesmo amando você como amo, eu
teria ido embora. Teria dito para viver sua vida e provavelmente estaria
sofrendo agora, sentindo sua falta. Precisávamos mesmo ter algo que nos
unisse, forte o suficiente para me fazer enfrentar seu passado.
Ele toca levemente minha barriga.
― Acho que amo ainda mais esse bebê então, se é que isso é possível.
Olho para ele, meu amado pervertido. Ele parece assustado. Toco seu
rosto e digo:
― Ainda bem que não desisti, porque te amo agora muito mais do que
na semana passada.
Ele sorri e me beija, e sinto meu menino cutucar minha bunda.
― Hum, acho que meu Sebs acordou.
Imediatamente ele fecha a cara.
― Seu o quê?
Vou em direção do pau dele e o liberto da cueca.
― Celina, você não vai apelidar meu pau de Sebs, de jeito nenhum!
Ele está bravo, olho para ele com um sorriso e respondo calmamente.
― O menino é meu, eu o chamo como quiser.
E antes que ele possa retrucar o coloco na boca, e Sebastian esquece
naquele momento de discutir comigo. Posso garantir que meu menino será
Sebs. Sebastian não vai se opor.

Na manhã seguinte resolvo assumir que sou corajosa. Pego o telefone e


disco o número, o último que queria estar discando. Mas lembre-se, sou
uma mulher corajosa. Sei que essa será uma conversa difícil, se dependesse
de mim, mamãe nunca saberia sobre Sebastian. Sei que após essa ligação a
paz dele vai acabar, ela vai enlouquecê-lo. Bom, que ele saiba de uma vez
que venho em um pacote, e que a louca sem noção da minha mãe faz parte
dele.
Ela atende no sexto toque, como sempre.
― Celina! Se não é a filha ingrata lembrando que tem mãe!
― Oi mãe. Como está?
― Se estivesse morta não faria diferença para você.
Viu por que não tenho paciência para drama?
― Se você estivesse morta eu teria ficado sabendo.
― O que deseja, Celina? Você só me liga para dar notícias ruins.
Bufo ao telefone. Minha mãe me estressa quase tanto quanto o
Sebastian.
― Não é uma notícia ruim. São algumas notícias que quero dividir. –
Antes que ela comece a fazer perguntas, vou soltando ― Eu consegui meu
emprego de volta. A empresa fechou um negócio internacional, estou
grávida, finalmente hoje choveu...
― O quê? ― ela grita ― Repete o que você falou!
― Consegui meu emprego de volta.
― Você sabe que não é essa parte!
― Finalmente está chovendo.
― Celina!
Ela grita tão alto que preciso afastar o telefone do ouvido.
― Quem é o pai? ― pergunta.
― Mãe, o importante é que ele me ama e faz tudo por mim.
― Quem é Celina? Onde o conheceu?
― Então, eu o conheci na rua, pedindo esmola, tive pena, coitado. Mas
ele é um homem bom...
De repente ouço um barulho alto do outro lado da linha e a ligação fica
muda.
― Mãe! Mãe! Mãe fala comigo, é brincadeira! Mãe!
Merda, ela desmaiou.
Sebastian

3 meses depois...
Calmo, escuro. Tudo está tranquilo. Não, espera, algo encostou-se à
minha perna. Que diabo é isso? A coisa está subindo. Subindo direto para...
― Sebs.
O sussurro de Celina me faz abrir os olhos e acender a luz, mas ela já
está com meu pau na boca, sugando como uma desesperada, então não
tenho mais forças para fazer nada. Deixo-me levar na sensação da sua boca.
Quando gozo, ela sorri satisfeita e deita em cima de mim, sua barriga
arredondada não a atrapalha, pelo contrário, adoro a sensação de senti-la.
― Oi. ― ela diz com um sorriso.
Olho para o relógio de cabeceira e são três e meia da manhã.
― O que foi? Não conseguiu dormir? ― pergunto preocupado.
― Sim, mas acordei.
― Está se sentindo bem?
― Estou, mas me sentiria melhor se você estivesse dentro de mim.
Ela não precisa falar duas vezes, eu a viro de costas na cama e em dois
segundos estou dentro dela. Começo bem devagar, mas ela implora que eu
acelere. Quando nego, ela crava as unhas nas minhas costas, e acabo
cedendo, essa mulher me enlouquece!
Quando gozamos, ela adormece imediatamente nos meus braços.

Luz está entrando no quarto; o sol. Já deve ser de manhã. Há algo


roçando minha barriga.
― Mas o que...
Não tenho tempo de terminar a pergunta, pois enquanto abro os olhos,
Celina já está montando no meu pau, bem acordado pelo toque dela. Sinto-
me deslizar para dentro dela e agarro seu quadril, guiando seus
movimentos. Essa mulher me enlouquece!
Quando gozamos ela me deseja um bom dia e vai tomar um banho.
Almoço gostoso, e ao meio da tarde, estou analisando alguns papéis em
minha sala quando a porta bate me fazendo jogá-los para o alto.
― Mas que merda está...
Corto a frase ao meio ao ver Celina invadindo minha sala, já abrindo o
zíper do vestido.
― Sebastian! ― implora.
Não é necessário que ela peça, sei exatamente o que quer. Viro a cadeira
na direção dela e abaixo o zíper da calça enquanto ela monta em mim. Mais
uma vez tento pegar leve, mas ela não deixa, cavalga em mim rápido, com
força e chegamos rapidamente ao clímax.

Ela me procura mais duas vezes, antes de irmos embora. Estou adorando
essa coisa de hormônios.
Quando chegamos em casa, noto que ela corre para o banheiro. Vou
atrás, e mal abro a porta, ela pula em mim, passando as pernas pela minha
cintura, quando a seguro pela bunda. Entre beijos, ela diz:
― Isso não é normal. Será que preciso de um médico?
― Para quê? ― pergunto sugando um seio dela.
Ela geme e depois parece se esforçar para responder.
― Quero transar com você o tempo todo. É desesperador. Acho que
deve haver algum remédio, tratamento ou terapia que diminua essa vontade.
― De jeito nenhum!
Eu a coloco sobre a pia e a penetro.
― Eu adoro esses hormônios, nada de inibir os pobrezinhos.
Então meto com força para que ela não reclame mais.

Nós jantamos e ela estava radiante, sorriu, brincou e conversou numa


boa. Até que na hora da sobremesa seu semblante mudou. Ela parecia
preocupada, depois percebi que parecia estar sentindo dor. Segurei sua mão
por cima da mesa.
― Amor, está tudo bem?
Ela assentiu, mas largou o sorvete pela metade e correu. Peguei as taças
e subi atrás dela. Quando abri a porta, ela estava nua, ajoelhada na cama,
me olhando.
― Eu sabia que você entenderia. ― ela disse.
― Ah sim, entendo perfeitamente.
Eu me aproximo e a empurro na cama, o que arranca uma gargalhada
dela. Então começo a beijar seus pés.
― Não Sebastian, preciso de você, agora!
― Nada disso. Já demos um milhão de rapidinhas hoje, agora quero
amar você.
― Me fode primeiro, me ame depois.
Dou uma risada e mordo seu pé, o que a faz se contorcer. Adoro a forma
como ela está ainda mais sensível.
― Não senhora, vamos fazer isso bem devagar.
― Pervertido filho da mãe!
― Não reclama, baby. Porque você sabe que posso te fazer engolir cada
palavra.
Antes que ela retruque, meu dedo gelado está no meio das suas pernas,
lambuzo tudo com sorvete. Ela geme com a sensação do gelo e geme mais
ainda, quando chupo tudo. Cada pedaço coberto de sorvete. O melhor sabor
do mundo. Mal termino e ela goza.
― Isso amor, vamos ver quantas vezes você é capaz de aguentar?
― Não, não faça isso, Sebastian!
Mas já estou passando sorvete em seus seios e minha boca rapidamente
cobre cada um deles, sugando tudo. A noite vai ser ótima.

Ela aparece linda como sempre, mesmo com aquela roupa horrorosa do
hospital. Sorri para mim ao deitar e descobrir a barriga. Aproximo-me e
seguro sua mão.
― Hoje vai dar para ver, amor.
Essa deve ser a quarta ultrassom que fazemos para saber o sexo do bebê,
ele sempre está com as perninhas fechadas. Torço para que seja uma
menina, pois sei que será bem comportada.
― Enfim papais, o bebê está com as perninhas bem abertas. ― diz o
doutor.
Bem abertas? Talvez não deva mesmo ser uma menina. Filha minha de
jeito nenhum terá as pernas bem abertas.
― O que vocês querem? ― ele pergunta fazendo hora.
Celina aperta minha mão e responde ansiosa:
― Saber o sexo?
O doutor sorri, continua olhando para a tela e não diz o que é. Noto que
Celina está ficando nervosa conforme vai apertando minha mão.
Olho bem para a tela, consigo ver perfeitamente as perninhas abertas,
procuro pelo piu piu da criança, que sendo meu filho deveria estar em
evidência, mas não o encontro.
― É uma menina! ― digo.
Celina olha para a tela confusa.
― Como você sabe?
― Simples. Não estou vendo o pau dele, que deveria estar bem ali no
meio.
Celina faz uma careta e o médico ri.
― Acertou papai, vocês terão uma menina.
Celina finalmente relaxa o aperto em minha mão e seus olhos estão
marejados. Os meus também. Eu a beijo e repito o que digo cada vez que
toco sua barriga e a bebê chuta:
― Obrigado, amor.
Ela beija minha mão e o médico volta a nos mostrar o rosto da nossa
filha.

Como sempre, saímos da consulta direto para o shopping. Agora que sei
que é uma menina, já sei que cor comprar as roupinhas. Entro em um
corredor repleto de rosa e saio pegando tudo. Imediatamente Celina grita e
vai tirando tudo do carrinho.
― Sebastian Vaughn, o que acha que está fazendo? Minha filha não vai
andar feito um projeto de Barbie toda vestida de rosa!
― Mas rosa é a cor que as meninas usam. ― defendo.
― É mesmo? Você já me viu de rosa?
Busco na memória e é provável que já tenha visto, mas como não
consigo me lembrar, ela deve usar bem pouco. Pensando por esse lado, a
maioria das roupas que a Celina usa é preta.
― Você vai vestir o bebê todo de preto?
― É claro que não! Minha filha vai usar todas as cores, mas,
principalmente essa. ― ela diz levantando um macacão vermelho.
Gosto disso. Gosto de imaginar minha filha, linda como a mãe, de
vermelho. Celina fica maravilhosa de vermelho.
Saio pegando tudo vermelho que vejo e jogando no carrinho. Celina
mais uma vez vai tirando tudo do carrinho e escolhendo o que vamos levar.
― Todas as cores, lembra? E não precisamos de tantas roupas. Bebês
crescem rápido e nem vamos conseguir usar todas elas.
― Tudo bem, você está certa.
Ela abre um sorriso enorme, se aproxima de mim e me beija.
― Eu amo quando você diz isso.
Ela se encosta em mim e meu pau imediatamente acorda. Merda.
Controle-se amigo, isso aqui é uma loja de bebês.
Uma vendedora se aproxima e nos oferece coisas para o quarto. Deixo
que a Celina decida o que quer levar. É aí que ela oferece um quadro de
parede personalizado. Celina acha lindo.
― Olha isso Sebastian, é lindo! Eu vou querer um!
A vendedora sorri satisfeita.
― E qual é o nome do bebê?
Antes que eu diga que ainda não escolhemos, pois quero convencer
Celina a colocar o nome da minha mãe, ela responde:
― Nathalia.
― Um lindo nome. ― diz a vendedora.
― O que você disse? ― digo puxando Celina para meus braços ― Qual
o nome da nossa filha?
― Nathalia. ― ela repete calmamente com um sorriso ― Se não tiver
problema para você, é claro.
Minha mãe, minha filha. Nem sei descrever a puta sensação que me
toma. Processo aquilo antes de apertar a Celina em meus braços. Nem
precisei pedir, e mesmo assim ela soube exatamente o que eu queria. Não
sei como agradecer a ela, a primeira forma de mostrar o que estou sentindo
me toma com força total.
― Onde tem um banheiro? ― pergunto a vendedora.
― Como? ― ela pergunta.
― Um banheiro, provador, depósito, qualquer lugar onde eu possa ter
privacidade.
Depressa! Estou desesperado aqui! A vendedora pisca os olhos confusa e
explico:
― Preciso fazer amor com minha noiva agora!
Ela arregala os olhos e em seguida olha para o meio das minhas pernas e
fixa o olhar ali.
― Sebastian! Moça, ele está brincando! E não olhe para o meio das
pernas dele! ― grita Celina.
A vendedora imediatamente se afasta, vermelha como um tomate e diz
que vai providenciar o quadro e depois pegar nosso endereço. Assim que
ela se afasta, abraço Celina.
― Sebastian, pelo amor de Deus! O que eu faço com você?
Pressiono minha ereção na bunda dela e sussurro.
― Você sabe o que fazer, amor. E não estou brincando. Vamos pagar
essas coisas e ir embora logo ou eu abro suas pernas aqui mesmo.
― Isso é uma loja de bebês! Não acredito que pense em sexo estando em
um lugar assim.
― E como os bebês são feitos? Do sexo. Sexo puro, não tem outro jeito.
Ela sorri e me beija e assim que pagamos e passamos nosso endereço, eu
praticamente a arrasto até o carro. Vamos cometer atentado ao pudor hoje,
não dá para esperar chegar em casa. Acho que essa coisa de hormônios que
fazem querer transar toda hora também pega nos pais, afinal de contas.

A casa está pronta, as pessoas, escondidas. Não faço ideia de qual será a
reação da Celina, e torço para que não esteja de mau humor, e nem chegue
em casa tirando a roupa, como tem feito nesses últimos dias. De jeito
nenhum quero o Cleber e o Matheus vendo minha noiva nua.
Vou explicar o que está havendo. Mesmo depois de resolver a confusão
com a Vernee, e de sabermos que ela foi obrigada pelo pai a se casar com
um velho milionário asqueroso para não perder sua adorada mesada, Celina
ainda não quer se casar comigo. Eu sei que ela me ama, sei que já deu um
passo enorme vindo morar comigo, mas preciso que ela seja minha
legalmente. Quero meu sobrenome no nome dela. Quero que ela seja
apresentada sempre como a senhora Vaughn. É tão errado querer isso?
O problema é que ela ainda não superou seu trauma pela palavra
casamento. Do jeito que estamos, ela pode dar uma de louca e ir embora a
qualquer momento, mas, se estivermos casados, sei que isso vai pesar caso
ela pense em tomar uma atitude dessas.
Preciso ter essa certeza. Sim estou parecendo um maricas desesperado e
inseguro, mas porra, eu amo essa mulher, mais do que a mim mesmo, e não
quero de maneira nenhuma correr qualquer risco de perdê-la. Não posso.
Preciso que ela seja minha.
As pessoas escondidas pela casa, a música leve que está soando e a festa
que preparei, não fazem parte de um pedido de casamento, mas sim, de um
pedido de noivado. Embora esteja com uma aliança no dedo, ela não me
disse sim quando a aceitou. Disse que era uma aliança de compromisso.
Cleber me aconselhou a dar um passo de cada vez, deu certo para ele, tem
que dar para mim também. Então vou fazer isso. Vou pedi-la para ser minha
noiva, e quando ela aceitar, pedi-la em casamento. Um maldito passo de
cada vez.
Vejo pela janela o farol do carro dela encostar na entrada da casa. Todos
fazem silêncio, ela abre a porta e como eu previ, vai abrindo a blusa.
Imediatamente acendo a luz, todos gritam surpresa, ela arregala os olhos e
fecha a blusa rapidamente, colocando os botões nas casinhas erradas.
Aproximo-me dela sorrindo e corrijo os botões. Por que tinha que chamar
tanta gente? Seria muito mais fácil convencê-la na cama.
― O que é isso? ― ela pergunta olhando as pessoas, desconfiada.
― Nossa festa de noivado.
― Fes- festa de noivado?
Seguro seus ombros e beijo sua testa e cada lado de seu rosto.
― Acalme-se, isso não é um pedido de casamento. É um pedido de
noivado.
― Não entendi. O que essa aliança está fazendo no meu dedo?
― Lembra que quando a aceitou só o fez porque não era de noivado?
Era de compromisso?
A compreensão brilha em seus olhos e ela assente.
― Agora vou te dar a de noivado.
― Eu...eu...
― Calma. Não precisa dizer nada. Isso não é um pedido de casamento.
― garanto.
― Você está me enrolando. Para que as pessoas ficam noivas se não para
se casarem?
Todos começam a rir, mas estou calmo, mesmo que ela esteja
aparentemente determinada a me dizer não.
― Eu quero me casar com você, nunca escondi isso, mas não estou te
pedindo que seja agora. Estou te pedindo a garantia de que será um dia.
Você entende?
A expressão dela muda totalmente, de desconfiada, para emocionada e
ela assente. Tiro as alianças novas do bolso e estendo a caixinha para ela.
Gilcelle se aproxima e tira a bolsa de seu ombro.
― Celina Morelli, hoje convidei todos os nossos amigos e familiares,
para serem testemunhas do que quero que você me prometa. Para que assim
você não possa escapar. Eu te amo muito, desesperadamente. Você sabe
disso, todo mundo sabe disso.
― Está na sua cara de bobo. ― diz Cleber e todos riem.
― Eu sei, está mesmo, e merda, estou muito feliz por isso. Celina, você
é minha vida. Não basta dizer que a amo, nem que preciso de você, nem
que você é quem me faz rir e quem me faz ser melhor. Nem que você me
deu o melhor presente do mundo. digo tocando sua barriga enorme ― Vou
resumir isso tudo nessa frase, você é minha vida. Não posso ficar sem você.
Não tem jeito. Não dá. Por favor, aceite meu não pedido de casamento.
Aceite ser minha noiva.
Seus olhos agora escorrem lágrimas, ela coloca as mãos no rosto e por
um momento fico tenso, acho que terei realmente que carregá-la para a
cama e convencê-la do modo a lá Celina, mas ela pula em meu pescoço e
sussurra.
― Sim, eu aceito.
Quero beijá-la e fazer amor com ela. Quero arrastá-la agora mesmo para
nosso quarto. Mas, antes que possa pensar em como mandar toda essa gente
que só serviu de testemunha embora, ela diz:
― Com uma condição.
― Merda.
― Não diga palavrão, Sebastian, não estrague o momento. ― ralha Gil.
Olho para ela, a mulher que tem minha vida nas mãos e aguardo o que
quer que ela vá impor para aceitar ser minha. Sei que farei qualquer coisa.
― Só vamos nos casar depois que a Nath nascer, e estiver grandinha.
Faço uma careta, mas ela se explica.
― Sebastian não dá tempo de arrumarmos tudo agora, ela vai nascer em
dois meses e não vou me casar às pressas com a barriga desse tamanho.
Vamos deixar que ela nasça e cresça um pouco para podermos viajar em lua
de mel, com ela. Tudo bem para você?
Parece razoável com ela falando assim, mas por que tenho a sensação
que é uma maneira de adiar o casamento?
― Celina, isso não é nenhum plano para não se casar comigo, não é?
― Não, juro que não. Eu o amo Sebastian, mais que tudo. Vou me casar
com você, só não agora.
Tudo bem, isso vai ter que servir por agora, mas não pretendo de jeito
nenhum desistir de tê-la como esposa. E em breve, nada de depois que a
bebê nascer. Ou no máximo assim que a bebê nascer.
― Tudo bem.
― Eu aceito. ― ela diz em alto e bom tom ― Eu te amo, Sebastian
Estúpido Vaughn.
― Eu te amo mais ainda Celina Louca Morelli.
Ela sorri e me beija. E logo estamos sendo abraçados e nossos amigos
nos parabenizam.
Rodo a festa ouvindo piadas de Cleber e Matheus sobre como virei um
capacho. Tenho o prazer de dizer bem alto que transo dez vezes mais que os
dois juntos e eles calam a boca. Procuro por minha noiva e a encontro em
um canto, aparentemente tensa, perto da mãe. Vou até ela imediatamente, e
ouço apenas o final do que está falando.
― Não sei se posso fazer isso. Não quero ser uma mãe como você.
Ela está com medo. Apesar de sempre parecer estar certa sobre tudo, e
saber exatamente o que fazer, está perdida. Como eu não vi isso antes? Esse
medo? Como ela não vê o quão maravilhosa é? Tudo bem que há uma
chance mínima de ela machucar acidentalmente a criança algumas vezes,
mas para isso estarei sempre ali, ao lado das mulheres da minha vida.
Envolvo sua cintura com meus braços e beijo sua cabeça. Ela se recosta
em mim e sua mãe responde:
― Você não será como eu Celina, será uma mãe maravilhosa. Sempre
foi maravilhosa. Sempre cuidou de mim, quando eu é que deveria estar
fazendo isso. Não tenha medo, menina, nada nunca derrubou você. Um
bebê será fichinha.
Ela sorri, abraça a mãe e sinto como está aliviada. Eu as abraço e porra!
Nunca fui tão feliz!
Celina
É estranho como tudo anda tão bem nesses últimos meses. É
estranho que depois de tantas tempestades, tenhamos conseguido nos
manter protegidos. E em paz. Acredita que faz semanas que não atiro nada
em Sebastian? Pois é, e mesmo assim não posso dizer que a vida anda
monótona. Não anda mesmo.
Minha barriga está enorme, mal consigo andar, mas incrivelmente
consigo transar, muito! Lembra aquela fase de querer sexo a todo
momento? Então, ela ainda não passou. Acredito que o fato do meu noivo
ser o Sebastian, ajuda muito. Que homem!
O que mais posso dizer sobre nossa vida? Ah sim, Nath. Minha filha está
enorme, saudável e acha que está em uma escola de samba. Chuta dia e
noite, não sei de quem herdou tanta energia.
Sebastian está cada dia mais turrão, não aceitou bem nos casarmos só
depois do nascimento da Nath, acho que não acredita que eu vou me casar
com ele, mas, apesar de ainda sentir pânico da palavra casamento, eu
pretendo mesmo fazer isso. Não sou burra, de maneira nenhuma vou deixar
um homem como Sebastian Vaughn, lindo, rico e bem dotado, escapar.
Além do mais, até eu adestrar outro homem, como fiz com ele, daria tanto
trabalho! Brincadeira, eu realmente o amo.
No fim das contas, eu aceitei a promoção na V.D.A., e sabe quem é
minha assistente? A Mônica. Ela é uma péssima assistente, muito
preguiçosa. Só não a demito porque descobri que ela tem uma filha
pequena. Somente por isso estou tendo todo o trabalho de adestrá-la. Não,
você não leu errado, ela é uma cadela, precisa ser adestrada.
Acredita que ela ainda manda mensagens para o Sebastian? Aproveito-
me disso para arremessar nela todas as coisas que não estou arremessando
nele. Erro a mira, é claro. Divirto-me apenas por assustá-la.
Ao contrário do que pensei, o meu setor não é uma bagunça total. Tenho
ótimos funcionários que me respeitam e até têm medo de mim, não entendo
o porquê.
Falando na V.D.A., Cleber está como um bobo apaixonado. Namorando
firme, ou tentando pelo menos. Rio da cara dele cada vez que me pede
conselhos sobre seu relacionamento. Está muito apaixonado mesmo, quem
em sã consciência pediria conselhos amorosos para mim? Se bem que,
posso escrever um livro: Como domar um pervertido. Ia ser muito útil a
vocês, mulheres.
E o Matheus está viajando com a Gil, e eles não foram juntos como
namorados, foram juntos por causa de uma proposta estúpida, que apostei
com o Sebastian que vai acabar bem. Se eles não se matarem antes, é claro!
E você acredita que sou uma excelente dona de casa? Sei dar ordens
como ninguém. Descobri que adoro isso. Mas que fique claro que as
funcionárias da minha casa se animaram muito mais a me agradar depois
que dobrei o salário delas. Sou esperta, fazer o quê?
Quem mais está me dando trabalho é minha mãe. Ela adorou Sebastian,
até demais. Queria comprar uma casa para ela na Cochinchina, mas a
ingrata não gostou da sugestão. O lado bom é que Sebastian descobriu que
ela odeia falar de sexo. Então sempre falamos disso quando ela está por
perto, e suas visitas passaram a não demorar muito, e serem menos
frequentes também.

― O que está fazendo há tanto tempo na frente desse computador? ―


pergunta Sebastian beijando minha cabeça.
― Atualizando seu fã clube sobre a nossa vida.
Ele abre seu sorriso safado.
― Você sabe que não são minhas fãs, são fãs do Sebs, seu Sebs.
Abro um sorriso e toco meu menino por cima da calça. Nem estranho ao
notar que já está acordado.
― Vem comigo. ― ele diz com aquela voz rouca e me estende a mão.
Imediatamente o sigo. Ele me leva ao terraço da casa. Ali, forrado no
chão, há um lençol repleto de almofadas, cercado por velas. Uma cesta de
frutas está no meio dele. Tão romântico!
Sim, há o risco de alguém nos ver, mas isso me excita ainda mais.
Ele não espera que eu diga nada. Guia-me gentilmente até o lençol, se
ajoelha a minha frente e tira minha sandália. Massageia cada um dos meus
pés e vai subindo as mãos pela minha perna, até alcançar a coxa, ele arranha
minha coxa e sinto meu corpo todo arrepiar.
― Sebastian!
― Já está implorando? ― ele diz sorrindo.
Abaixa minha calcinha lentamente, estou meio tonta quando o ajudo a
tirá-la. Me apoio no ombro dele enquanto ele deposita um beijo suave no
meio das minhas pernas. Agarro o seus cabelos e o obrigo a se levantar. Mal
consigo falar, ao pedir:
― Preciso. Dentro. Agora!
Ele me deita nas almofadas, e abre a calça. Vejo que tira os sapatos e as
meias, mas não espero que termine de tirá-los, puxo sua calça para baixo,
puxando seu quadril de encontro ao meu.
Assim que ele me preenche, sinto uma dor forte e dou um berro. Respiro
fundo enquanto a dor passa.
Sebastian tem um sorriso enorme no rosto. Acho que o imbecil está
pensando que gritei tão alto por causa do Sebs. Abro a boca para esclarecer
que estou sofrendo quando ele me penetra de novo e uma nova dor me
atinge. Grito ainda mais alto e mordo o ombro dele com força.
― Uau Celina! Hoje você está selvagem!
― Sebas... ― tento falar, mas ele me penetra e sinto a dor novamente.
Belisco Sebastian enquanto grito e ele para de se mover de novo.
― Amor, eu adoro que você grite, mas está parecendo uma atriz pornô.
Imbecil. Imbecil. Imbecil.
Meu Deus, será que o sexo vai doer agora? Falta uma semana para a
Nath nascer, não posso ficar sem transar até lá. Abro a boca para dizer a
Sebastian para sair de dentro de mim, mas ele faz isso. Afasta-se e começa
a tirar a camisa. É quando sinto algo molhar o lençol.
Sebastian deixa a camisa presa entre os braços e a cabeça e arregala os
olhos.
― Celina, amor. Você acabou de fazer xixi?
IMBECIL!
Finalmente consigo falar:
― A bolsa estourou seu imbecil, me leva para o hospital!
Vejo o rosto de Sebastian perder a cor e ele parece não estar respirando.
― Sebastian Vaughn! Não ouse desmaiar agora! Preciso que me leve a
um hospital.
Ele concorda com a cabeça e tenta vestir a blusa de volta, mas ela fica
presa na cabeça dele e ele começa a gritar:
― Anda! Passa logo! Celina, calma amor! Anda!
― Sebastian! ― grito mais alto ― Venha aqui!
Ele se aproxima e desenrolo a blusa. Ele a veste rapidamente e enfia os
sapatos de qualquer jeito nos pés, corre para um lado, para o outro e preciso
gritar de novo.
― Hospital, Sebastian!
― Claro, chamar uma ambulância.
― Ambulância, não! Levanta-me e me leva para o carro.
― Ok. ― ele diz desesperado.
Corre até mim e me levanta no colo, me leva correndo até um de seus
carros.
― A bolsa, amor. ― peço.
― Eu vi que estourou.
― Não sua anta, a minha bolsa e a do bebê!
― Ah!
Ele volta correndo para dentro de casa e retorna pouco depois com as
bolsas. Entra no carro e sai como um louco. Noto que está suando.
― Isso só era para estar acontecendo na semana que vem. ― diz
desesperado.
― Relaxa Sebastian, fica calmo. Vai dar tudo certo.
Chegamos à maternidade e ele corre até uma cadeira de rodas, me
deposita nela e sai correndo. Tiro a chave do carro do bolso dele e aciono o
alarme, coisa que ele não se lembrou de fazer. Ele já entra na maternidade
fazendo um escândalo, e sou levada imediatamente a um quarto.
Só quando sou depositada na cama e Sebastian entra correndo atrás é que
reparo como ele está. Então tenho uma crise de riso.
Ele e a enfermeira ficam me encarando, como se eu fosse louca, mas não
consigo parar de rir. Sebastian está com um pé calçado e o outro não, a
blusa de trás para frente e a calça aberta.
― Amor, olha como você está. ― digo rindo.
Meu riso dura até que a enfermeira pergunta:
― Senhorita Morelli, por que está sem calcinha?
Meu riso para, meu rosto esquenta e é Sebastian quem está rindo agora.
― Vamos amor, explica para ela por que está sem calcinha. – Ele diz
fechando vagarosamente o zíper da calça. Reparo que a enfermeira está
com os olhos vidrados no movimento dele.
― Eu, hum...estava apertada?
Ela finalmente me encara, o rosto corado e de repente, começa a rir.
― O médico já virá atendê-la. ― diz saindo do quarto.
Sebastian fica uns cinco minutos rindo da minha cara, até o médico
entrar. Que. Homem. Lindo. Sei que estou vidrada no médico, mas não
consigo desviar o olhar. O homem é alto (muito alto), os braços musculosos
cobertos por tatuagens, e com enormes olhos verdes. Lindo!
― Olá senhorita Morelli. ― ele diz beijando minha mão.
― É senhora Vaughn. ― diz Sebastian. ― Quer dizer, quase senhora
Vaughn.
O médico lindo cumprimenta Sebastian e volta a atenção para mim. Ele
começa a falar sobre o tempo e levanta o lençol que cobre minhas partes de
baixo.
Ah meu Deus! Esse homem lindo vai mexer ali? Agora? Na frente do
Sebastian?
Olho para Sebastian que está com os olhos arregalados e no segundo
seguinte, o médico enfia os dedos em mim, sem o menor cuidado e fica
apalpando lá dentro, como se eu fosse uma carne exposta em um açougue.
― Quatro centímetros, aguenta só mais um pouquinho.
Ele pisca os olhos para mim e sai do quarto.
Eu aguento realmente só mais um pouco, pois logo as dores voltam,
quase quebro os dedos do Sebastian, o mordo, puxo seu cabelo, arranho
seus braços. E ele fica o tempo todo tentando me acalmar. Grito como uma
louca e fico chamando o açougueiro.
Por fim um enfermeiro se cansa do meu escândalo e entra no quarto.
Imediatamente Sebastian pede:
― Será que você pode chamar um anestesista? Ela está sentindo muita
dor.
― É normal quando as contrações vêm. Ela não pode tomar anestesia, só
no caso do parto ser por cesariana.
O quê? Vou ter que ficar sentindo dor? Agarro a mão do enfermeiro e
aperto com toda força.
― Está doendo! Chama um anestesista ou a porcaria do açougueiro!
Ele arregala os olhos e tenta tirar a mão, mas aperto ainda mais.
― Vou chamar o médico! Vou chamar o médico! ― ele diz com cara de
dor.
― Viu como é ruim sentir dor?
Ele assente e solto sua mão, então ele sai correndo.
― Eu sempre disse que você tem a mão pesada. ― diz Sebastian rindo.
A dor me atinge novamente e grito:
― Sebastian!
Ele massageia um pouco a mão antes de colocá-la nas minhas. Começo a
apertá-la e falar:
― Você me paga por toda essa dor!
― A culpa não é minha!
― É sim, o bebê estava em você antes de estar em mim! Para que você
colocou em mim?
― Calma, amor, calma! Já vai passar.
Finalmente o açougueiro aparece, agora nem o acho bonito mais. Ele
sem cerimônia enfia a mão em mim e diz:
― Está na hora, vamos tirar seu bebê.
Finalmente!

Não há palavras que possam explicar o que senti quando meu pacotinho
foi depositado no meu braço. Esqueci imediatamente toda a dor que passei,
todo o medo de não dar conta, quando aquela coisinha pequena encostou a
cabeça na minha e parou de chorar. Nunca pensei que pudesse existir um
amor assim. Quando Sebastian a pegou, as lágrimas desciam por seu rosto
como uma torneira aberta. Ele a beijou mil vezes, e dizia que a amava.
Nossa pequena princesinha.
Hoje ela tem dois meses, é tão esperta e risonha! Sebastian ganhou um
senhor tapa quando disse todo contente para Matheus e Cleber que Nath
não tinha herdado meu mau humor. Retruquei que tomara que não herdasse
então a estupidez dele, e os padrinhos babões caíram na risada.
Vou me vangloriar agora, nunca derrubei meu bebê. Nem uma vez, nem
dando banho. Sebastian, quase a matou afogada na primeira vez que foi dar
banho e só não ri mais da cara dele, porque a pequena chorou muito. Vou
retirar um pouco minha glória ao confessar que todos os móveis da casa,
contém leite. Sim minha gente, eu tenho tendência a virar a mamadeira.
Não sei o que acontece, ela sempre escorrega da minha mão e espirra leite
em todo canto. Por isso prefiro dar o peito. E também porque adoro a forma
como ela fica me olhando quando está mamando.
Tirando as mamadeiras que não gostam da minha mão, e Sebastian que
definitivamente não sabe dar banho em uma criança, estamos nos saindo
bem. Bem até demais. Nathalia está grande, fofíssima e sempre risonha.
Hoje a trouxemos a V.D.A., para que os funcionários pudessem conhecê-
la. Ela foi a sensação. Vesti nela um macacão vermelho com pequenas
joaninhas desenhadas, seu cabelo negro, a pele clara e os olhos verdes do
pai combinam perfeitamente com vermelho. Não teve quem não babou por
ela. E olha que nem estou dizendo isso por ser uma mãe coruja. Fico
impressionada em como uma coisa tão linda e pura pode sair de um pau,
mas o brilho da minha princesa foi ofuscado por causa de Sebastian.
Estamos saindo da V.D.A., Nath adormecida no colo de Matheus, que
não tem nojo da baba dela, (só para constar), Sebastian à minha frente e eu
andando de cabeça baixa. Quando o elevador do nosso andar se abre, três
músicos saem de dentro dele, um com um saxofone, um com um violão e o
outro com um violino.
― Mas o que...
Antes que eu possa terminar de falar, Sebastian se ajoelha aos meus pés.
Isso mesmo meninas, babem, eu disse que ele se ajoelha aos meus pés. Não
diz nada, olha nos meus olhos. Não sei o que fazer, sei o que ele pretende,
mas Nath ainda não cresceu, não sei se devo correr ou agarrá-lo. Olho para
os lados e vejo que todos me olham, mais que isso, todas me olham. Mortas
de inveja. Meu Deus! Estou no meu momento “deusa total”. O homem mais
lindo, delicioso e pervertido do mundo está ajoelhado aos meus pés.
― Eu já esperei demais. ― ele sussurra enquanto abre a caixinha com as
alianças enormes de ouro.
Ouço apenas duas coisas, o burburinho de admiração e meu coração
batendo feito um louco.
― Eu te amo, você é minha vida. Isso resume tudo. E mesmo assim, não
expressa quase nada do que sinto por você, vai muito além disso; muito
além das palavras, dos risos e das vezes que fazemos amor. Vai muito além
de sentir sua falta no minuto que você se afasta. Muito além de sonhar com
você quase todas as noites e de saber que sou o homem mais sortudo do
mundo, só porque posso acordar ao seu lado todas as manhãs. Eu te amo. É
simples assim, é tudo isso.
Não sei o que dizer, não sei como agir. Eu o amo tanto! E ele é a melhor
coisa que me aconteceu, graças a ele eu tive o melhor que poderia sonhar
em ter. Sei que as lágrimas teimosas correm por meu rosto, e minha voz não
sai.
― Celina Morelli, aceita se casar comigo?
Olho para ele, meu amado pervertido, o homem da minha vida. Abro
meu melhor sorriso, que o faz arregalar os olhos, e digo em alto e bom tom:
― Não.
Ele sorri. .
― Não?
― Não mesmo. Vai ter que fazer melhor que isso.
Ele sorri novamente, me puxa para seus braços, ali no chão, e me beija.
Quando nos afastamos, há algo pesado em minha mão.
― Sebastian Vaughn, por que tem duas alianças enormes no meu dedo?
Ele sorri e responde.
― Porque você é minha. Case-se comigo Celina, não é uma opção.
Olho para ele, toco seu rosto que amo tanto, e digo com toda minha
alma.
― Não.
Epílogo
Celina
Nós estamos mesmo aqui. Nesse lugar cheio. Com esse homem a nossa
frente, falando sem parar. Não consigo escutá-lo, estou muito nervosa, e
ansiosa. Estou mesmo aqui? Estou mesmo fazendo isso?
― Não acredito que estamos fazendo isso. ― sussurro.
― Celina, segure a minha mão, cale a boca e sorria. ― Sebastian diz
baixinho.
― Acho que estamos nos precipitando.
O padre me olha feio e eu abaixo a cabeça.
― Tarde demais para arrependimentos.
― Merda.
― Não diga palavrão na igreja
O padre me encara com horror e sussurro um pedido de desculpas.
Sebastian aperta mais forte a minha mão.
― Nós não temos que fazer isso, Sebastian.
― Temos sim, eu gastei uma pequena fortuna nessa festa e agora você
vai até o fim e vai dizer sim.
Fico calada, o coração aos pulos, nervosa. Ele acaricia minha mão com o
polegar me tranquilizando.
― O que foi Celina? Você não me ama?
― Às vezes.
Respondo e o padre pigarreia para que eu cale a boca enquanto Sebastian
sorri alto e pede desculpas por interromper o padre.
― Isso já é o suficiente, Celina. Não tenha medo, eu a farei muito feliz.
― Tenho minhas dúvidas, você tende a ser estúpido.
― Sei que você não me permitirá ser estúpido.
Olho para Nath, quietinha em seu cesto, e meu coração se enche de
amor. Respiro fundo e resolvo ser corajosa.
― Eu castro você na primeira estupidez.
Sebastian dá uma gargalhada de novo e o padre quase o fuzila com o
olhar.
― Desculpe. ― ele diz, assim que o padre volta a falar, ele sussurra –
Não tenho dúvidas quanto a isso meu amor. Agora será que pode calar a
boca e prestar atenção ao seu casamento?
― A palavra casamento me causa coceiras. ― sussurro de volta.
― Mesmo? Em mim causa coisas diferentes.
Ele passa a minha mão levemente pela sua ereção e suspira.
― Ah Celina, me deixe ficar emocionado e não excitado perto de você
ao mesmo uma vez.
Eu concordo e me calo e acho que o padre dá um suspiro dramático
quando isso acontece. Agora estou excitada. Será que é pecado? Claro que é
pecado, estou em uma igreja. Mas Sebastian é meu marido. Quer dizer, está
se tornando nesse momento. Meu Deus! Eu estou em uma igreja, só pode
ser pecado. De repente quero que o padre pare de falar. Meu sapato está
apertado, esse vestido é pesado e está muito calor. Sem falar que Sebastian
está rodando o dedo na palma da minha mão, provocando sensações em
outros lugares mais ao sul.
Quero sair dessa igreja e mandar todo mundo embora para ter meu
marido. Marido. Eu tenho um marido. Não um de pinto pequeno, mas um
simplesmente esplêndido. Ele é meu.
Olho para as meninas da empresa emburradas atrás de mim e sorrio. Ele
é meu, suas vacas! Então me repreendo, ainda estou em uma igreja.
Olho pelo canto do olho para Sebastian e ele pisca para mim. Eu sorrio e
o padre fala mais alto a palavra me chamando atenção. Aperto a mão de
Sebastian e sussurro:
― Quero sair daqui logo. Quero fazer amor com meu marido.
Sebastian engasga e o padre para pela milésima vez fuzilando-o com os
olhos.
― Não me fale essa coisas no altar, Celina. Por Deus!
― Ok, estou quieta...
Sinto que ele está tenso. Será que o estou confundido?
― Eu te amo. ― sussurro.
Ele suspira e aperta minha mão, a leva aos lábios e a beija.
― Eu te amo mais, Celina. Você sabe disso.
Concordo, tem que amar muito para aguentar alguém como eu. Mas eu o
amo tanto! Será que existe mesmo amor maior que esse? Então me dou
conta que não, é impossível que ele me ame mais do que eu a ele. Eu daria a
vida por ele sem pensar duas vezes. Ele me domina como nunca achei que
seria possível. Por causa dele eu tenho uma filha, nunca tinha imaginado
isso. E estou me casando. Eu jurei que nunca faria isso. Mas não há nada
que eu não faria por ele.
― Merda. ― murmuramos juntos.
É a gota d’água. O padre ergue a Bíblia, vermelho como um tomate e
grita:
― Calem a boca! Calem a boca!
Nós nos assustamos e algumas pessoas na igreja arquejam. Então ele
guarda a Bíblia e diz:
― Mandem entrar as alianças, vamos acabar logo com isso.
Sebastian
― Não acredito que você é minha.
Digo me sentindo mais feliz do que pinto no lixo. Minha. Celina
Vaughn. Finalmente. Estou ansioso para despi-la. Para tirar cada camada de
seu vestido, a festa está rolando animada e por mais que eu queira, sei que
não posso impedir que a Celina curta o momento dela. Eu me obrigo a me
afastar e ela diz:
― Por que essas pessoas não vão embora? Quero que você me dispa.
Ah, como eu a amo!
Estamos no meu escritório, escondidos, pois mal conseguimos ficar perto
um do outro desde que chegamos a festa. Aconteceu uma coisa estranha, as
mulheres não se aproximam mais de mim. Fico me perguntando se Celina
precisou ameaçá-las, ou se elas temem por suas vidas mesmo. Sei que estar
casado com a Celina dá a ela total poder sobre mim, mas também sei
dominá-la, por isso damos tão certo.
― Precisamos voltar para a festa. – ela sussurra.
― Eu sei, já vamos.
Colo minha boca na dela de novo, estou prestes a levantar seu vestido e
tocá-la, quando Nath resmunga.
― A Nath está com fome. ―Celina diz.
Sei que tenho que soltá-la para ir fazer a mamadeira, mas não consigo
afastar meus lábios do seu corpo. Ela está maravilhosa nesse vestido de
noiva. Nunca a vi tão linda.
Nathalia está com sete meses agora. Sim, a Celina ainda me cozinhou
por cinco meses após o pedido de casamento do século, mas foi cuidando
dos preparativos do casamento, então aceitei. Ainda tive certo medo de que
ela fugisse da igreja, por isso contratei seguranças para ficarem na porta, e a
trancarem por fora ao menor sinal da Celina olhar para trás. Mas ela não
fugiu. Sei que estava nervosa, e com medo, mas disse sim. Demorou dois
minutos para dizer sim quando o padre perguntou e quase tive um infarto,
mas depois ela sussurrou que estava prestando atenção no volume das
minhas calças e não no padre. Acho que criei uma pervertida.
Colo minha boca à dela novamente para me despedir por enquanto,
quando algo acerta meu ombro.
Nos afastamos em um pulo e olhamos para Nath, ela agora está sorrindo.
― Celina, o que acabou de acontecer aqui?
― Eu acho, que a Nath arremessou a chupeta em você.
― Não é possível.
Pego a chupeta e a coloco em sua boca. É automático, ela chupa um
pouco, percebe que não sai leite, então tira a chupeta com a mãozinha
pequena, olha para mim e a arremessa, com uma careta de indignação.
Celina dá uma gargalhada e pega a menina nos braços.
― Isso mesmo. Ela arremessou a chupeta em você. Isso é que dá tentar
enganá-la.
Mas não respondo, não posso. Ela arremessou a chupeta em mim. Com
sete meses. Meu Deus, ela herdou a loucura da mãe!
Bônus:
COMO DOMAR SEU PERVERTIDO
Por Celina Vaughn
Olá,
Nesse manual darei algumas dicas e ideias infalíveis para você
mulher solteira, sozinha ou encalhada, ou você, criatura safada que é
comprometida e está apaixonada por outro, conquistar o seu pervertido.
Prestem bastante atenção e sigam à risca essas dicas valiosas.

1° DICA: NÃO SE APAIXONE POR UM PERVERTIDO!

Gente! Homens não prestam por natureza, os pervertidos, então, nunca


poderão ter 100% da sua confiança, pois o cérebro deles menospreza a
palavra FIDELIDADE e tem pavor a palavra COMPROMISSO. Dá para
mudar isso, mas dá muito trabalho, então procure um homem bonzinho e
decente antes de se dedicar ao seu futuro “ex-pervertido”.

2° DICA: DESCUBRA SE É BOM DE CAMA.

Se não tiver um bonzinho e decente, ou se sua paixão for realmente o


pervertido, a primeira coisa que deve confirmar é se todo o seu trabalho vai
valer à pena. Meninas, nada de entregar sua dedicação, tempo e seu corpo a
um pervertido ruim de cama! Sim, eles existem e são os piores. Tipo o
Edmundo, sabe? E depois você fica se perguntando como alguém tão fraco
consegue tanta mulher. Não seja uma dessas desesperadas.

2.1: O ideal é reparar como ele a beija, se tem pegada e se há volume na


calça dele quando faz isso.
2.2: Caso ainda não tenham intimidade suficiente para dar uns amassos,
tente encontrar alguma ex. Um pervertido sempre deixa rastros. De
preferência encontre mais de uma, porque alguma vaca pode mentir.
2.3: Último caso: Somente se não tiver outro jeito mesmo, é que você vai
testar isso. (NÃO VÁ PARA A CAMA COM ELE AINDA!) Essas coisas a
gente consegue perceber com mãos e bocas.

― Até parece que alguma mulher vai conseguir parar na boca e não
aproveitar o pau!
― Sebastian! Não dê pitaco no meu manual!
― Só estou dizendo.
3° DICA: CHAME A ATENÇÃO DELE.

Um bom pervertido sempre tem um monte de mulheres aos pés dele. A


quem estamos enganando? Até um ruim pervertido tem! Com essa escassez
de homem que estamos enfrentando, qualquer homem pode ter seu harém.
Cabe a você ter algo a mais que as outras. Mas, tomem cuidados: com
certeza esse pervertido está sendo caçado, então nada de coisas óbvias,
como mostrar o decote ou as pernas, nada disso. Seja mais criativa. Siga os
rastros desse pervertido, procure saber do que ele gosta, lugares que ele
frequenta e o mais importante: Não dê bola para ele ainda! Pervertidos
tomam como desafio mulheres que fingem que não gostam deles.

― Então era isso o tempo todo? Um plano?


― Sebastian, pare de ler meu manual, você não é uma mulher
tentando fisgar um pervertido.
― Sou um ex-pervertido. Tenho o direito de saber se toda a sua
indiferença desde o começo foi um plano.
― Não foi, eu realmente detestava você. Satisfeito?
― Sim.
― Agora saia daqui e pare de rir.
4° DICA: APROXIME-SE DELE E NÃO DEMONSTRE
CLARAMENTE SEU INTERESSE.
Agora você deve começar a ter contato com seu pervertido. Cuidado,
não fale demais, não conte nada sobre sua vida, seus problemas, deixe que
ele queria descobrir algo sobre você. Também não pergunte nada sobre a
vida dele. Mas deixe escapar frases de duplo sentido e leves insinuações.
Confundir um homem é um dos melhores caminhos para se aproximar dele.
Acredite, ele vai tentar te desvendar.

4.1: É bom você se tornar amiguinha dele, mas cuidado, amiga colorida,
nada de virar a confidente do homem. Você precisa viver as aventuras com
ele, não ouvi-las.

5° DICA: PROVOQUE-O.

Isso mesmo minha gente. A essa altura, seu pervertido já sabe que você
existe e acha que não está de quatro por ele. Ele vai começar a investir para
ver se você reage. Essa é a hora de reagir. Calma! Não vá pular no pescoço
do homem ainda. Há gestos que valem muito mais do que palavras, do tipo,
uma mãozinha ali enquanto conversam, agora sim, um decotezinho à
mostra cai bem, uma saia bem apertada. Um susto qualquer que a faça pular
nos braços dele. Inventem, sejam criativas dependendo da situação de cada
uma. O importante é que o corpo dele tenha contato com o seu, mas não o
suficiente para saciá-lo, e sim para fazê-lo querer mais.

5.1: Ele vai começar a te cantar e jogar indiretas ou diretas mesmo, se


faça de desentendida, mas não totalmente de desinteressada, ele não pode
achar que você não quer nada, nem saber que você quer. Lembre-se, deixe-o
confuso.

6° DICA: OS FINALMENTES.

A essa altura, seu pervertido já está subindo pelas paredes. Está dando em
cima de você, te encurralando pelos cantos e fazendo propostas e mais
propostas para te usar. O que você faz agora? Transa com ele, é claro! Você
não é de ferro, se chegou a esse estágio já merece uma medalha! Vá minha
filha, se jogue, aproveite, deite e role e apronte muito mesmo, porque isso
será apenas uma noite. Isso mesmo, você não leu errado. Não faça essa cara
de choro, faz parte do roteiro. Você precisa ser de alguma maneira
inesquecível para ele. O fato de ele ter tido trabalho para tê-la, já será um
enorme ponto ao seu favor, então seja uma puta entre quatro paredes
(somente entre quatro paredes e somente com o pervertido alvo) e aproveite
bastante. Aproveite para confirmar que ele valerá a pena o resto do trabalho.

7° DICA: FINJA QUE NÃO QUER MAIS.

Mas Celina, não acabou? Não! Você já deu o passo mais importante,
agora falta fisgar esse partido. Assim que passar a noite maravilhosa de
vocês, aja como se nada tivesse acontecido. Cuidado, não vá insultar o
homem ou ferir o ego dele, pelo menos não muito. Mas finja que não foi
nada demais, que foi apenas uma noite de sexo e você não tem interesse em
repetir a dose. De maneira nenhuma procure por ele, espere que ele a
procure. E mesmo que ele demore a fazer isso, nada de cara feia ou
vinganças, abra seu melhor sorriso, esteja na sua roupa mais sexy

― Isso é muita maldade, Celina. O que planeja? Criar monstros?


― Qual é Sebastian? Vai dizer que vocês homens não fazem isso?
Não transam com uma mulher e no dia seguinte fingem que nada
aconteceu?
― Sim, mas isso não faz parte de algum plano maligno pra domar
suas xoxotas.
― Não importa os motivos, vocês fazem, então nós também
fazemos.
― Só acho que isso é muita maldade.
― Sebastian, cala a boca e vá dar banho na Nath! Estou ouvindo ela
resmungar.
― Se eu afogá-la de novo, vou pegar você pelos cabelos e afogá-la
também. E depois meter em você com força por me mandar calar a boca.
― Ok, ok, agora vá. E segure ela direito!
Então meninas, não é maldade, lembrem-se que eles sempre fazem
isso com a gente, também podemos!
8° DICA: ARRUME OUTRO.

Não é pra vocês, divas, arrumarem outro e já irem abrindo as pernas para
ele. Vigiem! Foco no seu pervertido. É para arrumar um amigo, de
preferência bem gato e cuidar para que seu pervertido saiba desse amigo.
Veja bem, ele não pode ter certeza que você ficou com outro, ele tem que
ficar na dúvida e desconfiado. Mais uma vez vale a regra: deixe-o confuso.
Ele precisa querer investigar se está com outro e isso vai incentivá-lo a
garantir que seja só dele antes que outro a possua.

8.1: Cuidado! Nessa hora ele já estará lhe fazendo promessas, não caia
como uma boba apaixonada, faça um doce básico, que toda mulher tem o
direito de fazer e lembre-se de não cortá-lo totalmente e nem aceitar o que
ele propor depressa demais. Cozinhe um pouco, faça promessas,
desmarque, o beije de vez em quando, uma mãozinha não faz mal algum,
um contato menos completo, pois mais intimidade é excelente nessa fase.
Pode até ir para a cama com ele de novo, apenas uma vez, mas não prometa
fidelidade e não cobre de maneira nenhuma um compromisso.

Claro, desde que tenha feito ele compreender que também tem que ser só
seu. Não imponha isso de cara, mas deixe claro que estamos em pleno
século XXI e você vive por direitos iguais. Se ele comer outra, você vai dar
para outro, ele tem que entender que é simples assim, mesmo que na
realidade não seja. Então pode dizer sim, se jogar, aproveitar, gozar muito e
ser feliz, por um tempo é claro. Calma, você não vai dar o fora no homem
nem nada, prestem atenção na décima e última dica:

10ª DICA: AFASTE-SE UM POUCO.

Não, você não leu errado. É isso mesmo. Gente, é para se afastar um
pouquinho, nada de sumir, arrumar outro e esquecer o pobre ex-pervertido.
A essa altura, o homem já está doidinho por você. E provavelmente já é até
fiel a você. Mas você precisa fazer com que ele entenda que a ama. E nada
melhor pra gente perceber o quanto ama alguma coisa, do que o risco de
perdê-la, então é isso. Nada de dar uma crise infantil ou de TPM e
assustar o cara. Apenas fique um pouco mais na sua, fria, não esteja sempre
disponível, mas continue tratando seu pervertido com todo carinho quando
se virem. Arrume outros compromissos quando ele chamá-la para sair,
deixa ele sentir um pouco sua falta. Ele vai ficar louco, vai se declarar e
querer ter certeza que não vai perdê-la e aí sim você pode se jogar de corpo
e alma nesse pervertido.

DICA DE OURO: AME MAIS A VOCÊ MESMA DO QUE A ELE!

Essa é a dica mais importante, é o essencial em qualquer relacionamento.


Não se ame a ponto de se tornar egoísta e só pensar em você, mas se ame o
suficiente para saber os limites que pode aceitar por alguém e nunca,
jamais, deixar que ninguém ultrapasse esses limites. Sempre pese em uma
balança se o que ele quer de você é o que a faz feliz e se não for, bom, joga
tudo pro alto e vá à caça de outro pervertido, principalmente, lute sempre
por você. A essa altura você sabe que ele é o cara certo e é improvável que
ele vá ferir seus limites, mas nunca se esqueça disso.
Bom meninas, espero tê-las ajudado com esse manual e que
consigam um pervertido tão intenso e apaixonado como o meu. Por falar
nele, preciso ver como está. Sumiu no banheiro com a Nath.
É disso que estou falando, ele está deitado dentro do berço com ela,
com
Um beijo enorme para vocês e muitas felicidades com seus homens.
Ah! E quero ser a madrinha desses casamentos, hein? Beijão!
Conheça Estúpida Chantagem
Segundo livro da trilogia V.D.A.
Lançamento em Agosto

Sinopse: Suzana é uma boa garota. Professora, solitária e muito


comportada, mas esconde um segredo cabeludo. Miss Sue é a
sensualidade em pessoa, dança como ninguém e é objeto de desejo
nas noites mineiras. O que tem de sensual, tem de misteriosa. E
Cleber, está apaixonado pelas duas. Se não bastasse se apaixonar,
o que já é ruim o suficiente, e por duas mulheres, o que torna tudo
pior, nenhuma das duas se interessa por ele. Para Cleber, esse era
o fim do que ele conhecia como mundo, até que um dia, ele
finalmente descobre o segredo de Suzana. Entre o ódio por ter sido
enganado e o desejo desenfreado que sente por ela, Cleber não vê
outra saída para ter as mulheres de sua vida, ele precisa
chantageá-la. Só que Suzana não está disposta a desistir do sonho
que está prestes a alcançar por causa de um convencido e
maravilhoso sexo, e ambos transformarão a estúpida chantagem
em uma verdadeira guerra.
Contato com a autora:
https://www.facebook.com/carlieferrerautora
http://www.wattpad.com/user/Carlie_Ferrer

carlieferrers@gmail.com
http://carlieferrers.wix.com/autora

Você também pode gostar