Hebreus - J. Dwight Pentecost
Hebreus - J. Dwight Pentecost
Hebreus - J. Dwight Pentecost
victora de Hebreus
Ao contrário de todas as outras cartas neotestamentárias, exceto
1João, essa carta não tem uma saudação na qual o autor identifica a
si mesmo e as pessoas às quais escreve. Por isso, parece que o
autor desejava permanecer anônimo.
Clemente, bispo de Roma, menciona a carta no ano 96 d.C.,
embora não faça referência ao seu autor. Por volta do ano 180 d.C.,
Clemente de Alexandria atribuiu-a a Paulo, mas sem apresentar
evidências que apoiassem essa tese. É bem possível que essa
atribuição tenha sido feita para que não houvesse questionamento a
respeito da autenticidade e da canonicidade da carta.
☙ Para refletir ❧
Embora a cultura na qual vivemos não esteja tão impregnada por uma
religiosidade específica como era a comunidade judaica do primeiro
século, quem se identifica com Cristo hoje pode, em virtude de sua
profissão de fé, ser impedido de manter certos relacionamentos e
desfrutar de determinados privilégios. Se você já foi maltratado por causa
de seu relacionamento com Cristo, lembre-se de que o sistema do mundo
odeia Jesus Cristo e que vai odiar você por pertencer a ele. Mas lembre-
se também de que o livro de Hebreus tem palavras de encorajamento
para você!
Embora a autoria de Hebreus seja amplamente debatida, há
muitas boas razões para aceitar a ideia de que Paulo seria seu
escritor. Elas podem ser classificadas em duas categorias.
Similaridades nas circunstâncias
A citação a Timóteo em 13.23 é muito parecida a referências ao
jovem companheiro que Paulo faz em suas cartas, como quando
Timóteo estava com ele em Roma. A expectativa do autor de ser
restituído aos destinatários da carta ( 13.18-19) sugere que ele
estivesse na prisão. As saudações enviadas pelos da Itália em 13.24
sugerem que a carta talvez tenha sido redigida em Roma. Assim,
cronologicamente, a carta poderia ter sido escrita por Paulo na
capital do império, na mesma época em que escreveu aos efésios,
aos filipenses e aos colossenses.
A menção em 10.34 à ajuda que os leitores da carta deram ao
autor poderia ser uma referência aos dois anos que Paulo passou
preso em Cesareia. Teria sido totalmente possível que, naquela
época, essas pessoas tivessem prestado assistência a Paulo.
Durante o aprisionamento em Cesareia, Paulo teria tido ampla
oportunidade de tomar conhecimento da situação da comunidade
cristã. Não sendo possível atendê-los pessoalmente, ele poderia ter-
lhes ministrado por meio dessa carta. Assim, parece muito fácil, com
base nas referências feitas nessa carta, encaixar sua redação na
cronologia das experiências de Paulo conforme registradas no livro
de Atos.
☙ Para refletir ❧
Você já se sentiu tentado a ceder ou contemporizar em determinadas
áreas da sua vida simplesmente para aliviar a pressão de declarar-se a
favor de Cristo? Alguns cristãos prefeririam renunciar à sua posição a
respeito de Deus como Criador de todas as coisas se isso significar que
eles não serão ridicularizados por suas crenças. Outros acham melhor
ceder e começar a beber socialmente para que os outros não zombem
deles por serem abstêmios. Um terceiro grupo talvez prefira ficar em uma
igreja liberal ou apóstata para não enfrentar as consequências sociais (ou
familiares) de deixá-la. Assim como os leitores originais de Hebreus
enfrentaram uma pressão tremenda para ceder aos seus pares, a maioria
dos cristãos de hoje é pressionada pelas pessoas à sua volta a ceder aos
conceitos populares sobre temas como moralidade, divórcio, aborto e até
mesmo a natureza em torno de nós. É inevitável que a opção mais difícil
sempre seja manter-se fiel à Palavra e ao chamado de Deus.
Similaridades na doutrina
Um exame cuidadoso mostrará numerosas semelhanças doutrinárias
entre o que aparece escrito nessa carta e o que é registrado nas
cartas de Paulo. Além disso, nenhuma doutrina da carta aos Hebreus
discorda – seja da forma que for – da doutrina encontrada nas cartas
de Paulo.
O autor demonstra um respeito muito grande pelas Escrituras do
Antigo Testamento. Ele manifesta alta estima pela Lei em si, pelo
sacerdócio de Arão, pelo tabernáculo, pelas festas e pelos sacrifícios
que eram parte tão importante da Lei. Como disse Paulo em
Filipenses 3.4-7, o autor renuncia ao bom em favor do melhor, mas
continua tendo grande reverência pelo Antigo Testamento.
O escritor aos Hebreus também mostra que as bênçãos
possibilitadas pela vinda de Jesus Cristo são melhores que qualquer
benefício encontrado debaixo da Lei. Mesmo sem desprezar o
judaísmo revelado no Antigo Testamento, o autor da carta comprova
a superioridade do cristianismo sobre o judaísmo. Isso é muito
parecido com a atitude de Paulo em relação à Lei e à superioridade
do cristianismo sobre o judaísmo. Como o apóstolo, o escritor de
Hebreus enfatiza a fé em detrimento das tentativas carnais de
observar a Lei.
☙ Para refletir ❧
A verdadeira beleza de Hebreus está na forma pela qual a carta
demonstra que Jesus Cristo é melhor do que o velho sistema que ele veio
cumprir. O contraste entre o que era bom e o que é melhor traz uma lição
para nós hoje. Muitas vezes, somos sobrecarregados por várias causas e
projetos bons – mas que ameaçam dominar nosso tempo às custas de
algo melhor. À medida que estudamos a Palavra de Deus e
compreendemos o que ele entende como sendo mais importante na vida,
podemos nos tornar capazes de deixar algumas coisas boas de lado em
favor do que é melhor aos olhos dele.
Na presente carta, há grande ênfase na pessoa de Cristo, que
certamente é um tema essencial nas cartas de Paulo. De forma
específica, essa ênfase se concentra na morte de Cristo como
sacrifício propiciatório.
Há uma forte semelhança entre esse escritor e Paulo no uso das
Escrituras. Na carta aos Hebreus, em 18 ocasiões o autor cita a
Escritura, referindo-se a ela como a palavra falada de Deus ( 1.5-7,
10, 13; 2.12-13; 3.7; 4.3; 5.5-6; 7.21; 8.8; 10.5, 15, 17; 13.5). Da
mesma forma, há citações diretas do Antigo Testamento em todos os
capítulos. Veja alguns exemplos:
HEBREUS ANTIGO TESTAMENTO
Sl 2.7
1.5a
2Sm 7.14
1.5b
Sl 104.4
1.7
Sl 45.6-7
1.8-9
Sl 102.25-27
1.10-12
Sl 110.1
1.13
Sl 8.4-6
2.6-8a
Sl 22.22
2.12
Is 8.17
2.13a
Is 8.18
2.13b
Nm 12.7
3.2, 5
Sl 95.7b-11
3.7-11
Gn 2.2
4.4
Sl 2.7
5.5
Sl 110.4
5.6
Gn 22.17
6.14
Gn 14.17-20
7.1-2
Sl 110.4
7.17, 21
Êx 25.40
8.5
Jr 31.31-34
8.8-12
Êx 24.8
9.20
Sl 40.6-8
10.5-7
Dt 32.35a
10.30a
Dt 32.36a; Sl 135.14a
10.30b
Is 26.20
10.37-38
Gn 21.12
11.18
Pv 3.11-12
12.5-6
Êx 19.12-13
12.20
Dt 9.19
12.21
Ag 2.6
12.26
Dt 31.6
13.5
Sl 118.6
13.6
1.2
2Co 4.4; Fp 2.6; Cl 1.15
1.3
Cl 1.17
1.3
Ef 1.21; Fp 2.9
1.4
Rm 8.29; Cl 1.15
1.6
Gl 3.19
2.2
Rm 12.6; 1Co 12.4, 11
2.4
1Co 15.27; Ef 1.22; Fp 3.21
2.8
Rm 11.36; 1Co 8.6; Cl 1.16
2.10
2Tm 1.10
2.14
Rm 4.16; Gl 3.7, 29
2.16
Rm 11.29; Fp 3.14
3.1
Ef 6.17
4.12
Fp 2.8
5.8
Rm 2.20; 1Co 3.1; Gl 4.3; Ef 4.14
5.13
1Co 14.20
5.14
1Co 3.14
6.1
1Co 16.7
6.3
2Co 8.24
6.10
Cl 2.17
8.5
Gl 3.19-20; 1Tm 2.5
8.6
Rm 2.15; 2Co 3.3; 6.16
8.10
Rm 3.25
9.15
Rm 5.2; Ef 2.18; 3.12
10.19
2Co 13.1; 1Tm 5.19
10.28
Rm 12.19
10.30
Fp 1.30; Cl 2.1; 1Ts 2.2
10.32
1Co 4.9; Fp 4.14
10.33
Rm 1.17; Gl 3.11
10.38
1Co 9.24; Fp 3.14
12.1
1Ts 5.25
13.18
Rm 15.33; 16.29; 1Co 14.33;
2Co 13.11; Fp 4.9; 1Ts 5.23
13.20
Destinatários da carta
Uma segunda informação importante que normalmente aparece na
saudação, mas falta em Hebreus, é a identificação de seus
destinatários. Assim, resta-nos deduzir da própria carta a quem o
autor escrevia, qual era a situação espiritual deles e que
circunstâncias enfrentavam. O título de carta aos Hebreus, como
aparece em nossas versões modernas, não consta em nenhum
manuscrito antigo. Em 180 d.C., Clemente de Alexandria fez
referência a uma carta aos Hebreus, embora não fosse esse o título
dado pelo autor. Ainda assim, esse nome obviamente passou a ser
amplamente aceito.
Por causa dos pressupostos teológicos do livro, alguns
imaginaram que ele fora endereçado a gentios. Essa ideia, no
entanto, decorre do equívoco de transferir para a igreja todas
aquelas alianças veterotestamentárias dadas à nação de Israel. Esse
ponto de vista considera a igreja como recebedora de tudo o que foi
prometido e prefigurado no Antigo Testamento. No entanto, uma vez
que todas essas alianças foram pactuadas com Abraão e seus
descendentes, a igreja não pode suplantar Israel como a entidade na
qual elas se cumprirão.
Há outros que sugerem que o livro se dirige a um público misto,
composto tanto por judeus quanto por gentios. Isso com certeza vale
para muitas das cartas paulinas que tratam de problemas práticos e
doutrinários que surgiram entre esses dois grupos. Mas na presente
carta não há nenhuma referência a conflitos entre judeus e gentios,
quer doutrinários quer práticos. Se essa carta tivesse sido
endereçada a uma congregação mista, dificilmente o autor poderia
ter evitado tratar de assuntos desse tipo.
A única conclusão razoável a que podemos chegar com base no
estudo cuidadoso da carta é que ela se dirigia a cristãos que eram
também descendentes físicos de Abraão, conhecidos como hebreus.
Tal conclusão é apoiada pelas frequentes referências do autor ao
Antigo Testamento e à história veterotestamentária como base para
suas advertências e exortações. O autor também pressupõe que os
destinatários tenham um conhecimento detalhado do tabernáculo, do
sacerdócio, dos sacrifícios e das festas que constituíam parte
essencial do sistema levítico do Antigo Testamento.
O perigo vislumbrado pelo autor é que seus leitores hebreus
cristãos estavam considerando um retorno exterior ao sistema que
haviam abandonado quando, pelo batismo, confessaram
publicamente sua fé em Jesus Cristo.
Não é possível que os cristãos de Corinto, Éfeso ou Colossos
tenham sido os destinatários dessa carta (como alguns sugerem),
pois essas igrejas estabelecidas por Paulo eram formadas por
crentes de primeira geração. Os que receberam essa carta, por sua
vez, já eram a segunda geração de cristãos ( Hb 2.3).
Em resumo, pouca atenção real se deu a qualquer interpretação
que não fosse a que assevera que os hebreus eram os destinatários
dessa carta.
Outra questão a considerar é o local de residência dos leitores
originais da carta. Ao longo do tempo, já foram sugeridas quase
todas as cidades do mundo greco-romano nas quais se soubesse de
igrejas estabelecidas. No entanto, uma análise detalhada do livro
sugere que esses cristãos hebreus viviam na Palestina. Há várias
observações que dão suporte a essa tese.
Por exemplo, os leitores tinham conhecimento íntimo de rituais do
tabernáculo e do templo, sacrifícios, formas de adoração, cultos,
sacerdócio e festas. Tal conhecimento requer longa exposição a
esses assuntos, algo que não teria acontecido a quem vivia em
outros lugares.
Além disso, as perseguições e provações que causaram o tipo de
sofrimento discutido no livro ( 10.32-34) foram empreendidas pelo
judaísmo institucionalizado e pelos judeus devotados a esse sistema
religioso, e sabemos que essa perseguição era restrita à Palestina.
Já as perseguições a cristãos que Paulo cita em suas cartas não
tinham origem judaica, mas vinham de pessoas envolvidas em
sistemas religiosos pagãos ou da opressão política de Roma.
Outro fator importante a considerar é que a solução proposta para
o sofrimento – a saber, o retorno exterior à observância de práticas e
determinadas festas judaicas – só seria possível para quem vivia na
Palestina. Parece claro que os destinatários tinham acesso direto a
Jerusalém e ao templo. Por isso, a conclusão razoável é que, mesmo
que não morassem em Jerusalém ou no seu entorno imediato, esses
cristãos estavam suficientemente próximos da cidade para visitá-la
em ocasiões especiais.
Data da carta
A carta obviamente foi redigida antes do ano 96 d.C., visto que
Clemente de Roma a menciona. Além disso, se o templo já não
existisse, os cristãos não teriam se sentido tentados a buscar alívio
para a perseguição por meio do retorno às práticas do santuário.
Portanto, essa carta necessariamente data de antes do ano 70 d.C.,
quando o templo foi destruído pelo general romano Tito. Esse evento
marcante não teria ficado sem menção na carta, particularmente
porque rituais e sacrifícios judaicos desempenham um papel tão
importante na argumentação do autor. De fato, o autor parece prever
esse acontecimento ao fazer referência a uma calamidade que se
aproximava ( 10.25).
Outro fator que delimita a época de redação da carta é a
expectativa pelo início das guerras judaicas, que culminaram com a
desolação de Jerusalém ( Hb 8.13). Uma vez que essas atividades
militares começaram no ano 67 d.C., a carta precisa ter sido escrita
antes disso. Se Paulo estava escrevendo na prisão em Cesareia
(onde tinha sido confinado por Félix, que governou até o ano 58 d.C.)
e foi transferido para Roma por Festo (que governou até 61 d.C.), o
livro teria sido escrito por volta do ano 60 d.C. Por fim, se
considerarmos que Paulo teria influenciado esse livro e lembrarmos
que ele foi martirizado em 65 d.C., uma data entre os anos 60 e 65
d.C. se encaixaria bem nas circunstâncias. E, mesmo que Paulo não
tenha influenciado o livro, uma datação por volta do ano 65 d.C.
ainda assim se encaixaria na situação histórica.
Contexto histórico
Para entender a situação em que viviam os leitores originais dessa
carta, precisamos analisar o pano de fundo histórico específico da
nação de Israel. O estudo aprofundado desse contexto histórico e da
situação contemporânea da carta e de seus leitores é essencial para
entender grande parte do que o apóstolo escreveu.
Antes do nascimento de Cristo, anjos anunciaram a Maria a vinda
do Filho de Davi, que ocuparia o trono davídico e governaria seu
reino ( Lc 1.31-33). Um anjo do Senhor levou um aviso parecido a
José, alertando-o da chegada daquele que cumpriria a profecia
messiânica de Isaías 7.14 (Mt 1.20-23). Quando Cristo nasceu, mais
uma vez anjos anunciaram aos pastores que o Salvador Messias
tinha chegado ( Lc 2.9-11). Oito dias depois, Simeão proclamou
publicamente que tinha visto o Senhor Cristo ( Lc 2.26-35), e seu
anúncio foi corroborado pela profetisa Ana ( Lc 2.36-38).
O Deus que deu suas alianças a Israel prometendo a vinda de um
Messias não apenas revelou a chegada do Rei por meio de anjos,
mas também enviou aquele que os profetas anunciaram que viria
para apresentar o Messias ( Is 40.1-5; Ml 3.1). Quando João Batista
apresentou Jesus Cristo à nação de Israel como seu Salvador ( Jo
1.29) e Rei ( Mt 3.2), o conhecimento a respeito da pregação de João
já estava tão disseminado ( Mt 3.5) que a nação sabia que o Messias
chegara e que o reino messiânico estava próximo. É claro que uma
precondição divinamente revelada para o recebimento do reino
messiânico e das bênçãos prometidas era o arrependimento da
nação ( Dt 30.1-6; 2Cr 7.14; Mt 3.2; 4.17).
A fim de autenticar a apresentação de si mesmo como Rei e
comprovar a proximidade de seu reino messiânico, Jesus realizou
muitos milagres. Israel fora chamado como nação para avaliar as
evidências que ele apresentou e responder-lhe à luz dessas provas.
Mas, ainda que parte dos israelitas estivesse disposta a aceitar as
evidências como uma autenticação válida de Cristo e do reino que
ele oferecia, os líderes religiosos de Israel proclamaram
publicamente a sua rejeição. Em sua posição como representantes
da nação devidamente nomeados por Deus, afirmavam que Cristo
não recebera seu poder de Deus, mas de Satanás; que não tinha
vindo do céu, mas do inferno; que era um impostor e blasfemador
(Mt 12.24).
☙ Para refletir ❧
Hoje em dia, às vezes ouve-se que não crentes podem ser levados à fé
em Cristo por algum tipo de influência externa – o sucesso de cristãos,
eventos milagrosos ou outras provas da ação de Deus. No entanto, a
Bíblia mostra que, mesmo provando sua verdadeira identidade por meio
de milagres, Jesus foi rejeitado por aqueles que se recusavam a se
achegar a ele pela fé. Precisamos lembrar que é pelo evangelho puro e
simples – salvação pela graça por meio da fé com base no sangue – que
as pessoas são resgatadas. Quem rejeita o evangelho continuaria
rejeitando a Cristo mesmo que ele lhe aparecesse pessoalmente. Ao
testemunhar de Cristo, concentre-se em comunicar verbalmente as boas
novas do evangelho e permita que Deus atraia as pessoas a ele por meio
da Palavra.
A despeito de todas as provas em contrário, os mestres insistiram
em sua rejeição ao Messias. Diante disso, Cristo advertiu seriamente
os líderes e a nação como um todo, dizendo que, se persistissem
nessa rejeição formal, aquela geração de Israel (a que o rejeitou
como Salvador e Soberano) sofreria um severo juízo físico e
temporal, para o qual não haveria perdão ( Mt 12.31-32). Quando o
momento da rejeição final de Cristo por parte dos líderes se
aproximava – o que se consumaria na sua crucificação ( Jo 19.15) –,
Jesus repetiu sua advertência a respeito do juízo que viria sobre
aquela geração se continuassem a rejeitá-lo e à sua oferta do reino
davídico prometido (Mt 23.37-39; 24.2).
Como sabemos com base na história, a crucificação de Cristo de
fato selou o juízo de Deus sobre aquela geração – algo que os
líderes religiosos de Israel aceitaram ao declarar: “Que o sangue
dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27.25). Esse juízo foi
executado por Tito ao destruir Jerusalém no ano 70 d.C.
Esse juízo próximo, que Cristo descreveu como inevitável ( Mt
12.31-32), ocupava boa parte dos pensamentos dos apóstolos entre
o Pentecostes e a destruição de Jerusalém. Como lemos em Atos 2,
Pedro dirigiu-se à nação que tinha assumido sua responsabilidade
na crucificação de Jesus com uma exortação: “Salvem-se desta
geração corrompida” ( At 2.40). Enquanto se identificasse como
integrante daquela nação, o indivíduo continuaria debaixo do juízo
que Deus derramaria sobre aquela geração de Israel.
☙ Para refletir ❧
Algumas pessoas equivocadamente acreditam que a palavra de juízo de
Cristo sobre aquela geração de Israel representa a condenação definitiva
de Deus sobre os judeus. Tragicamente, esse erro provocou maus-tratos
a esse povo em diferentes momentos e lugares ao longo da história
moderna. Como veremos adiante, Deus ainda não terminou sua história
com Israel, nem ama os judeus menos do que todos os gentios em favor
dos quais veio e se entregou. Se você tem amigos ou conhecidos judeus,
lembre-se de tratá-los com amor e respeito cristãos, entendendo que
Deus os ama muito e deseja que eles cheguem à fé no Messias.
Era possível, no entanto, que aqueles que aceitassem a pregação
de Pedro escapassem do juízo vindouro. Para ser exato, se eles se
desligassem da nação, não estariam mais sujeitos ao juízo que Deus
pronunciara sobre ela. Por isso, Pedro convidou-os: “Arrependam-se,
e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo...” ( At
2.38).
Pelo fato de a ressurreição ter sido a validação definitiva de Deus
tanto da pessoa de Cristo quanto da oferta do seu reino, a pregação
de Pedro a respeito da ressurreição de Jesus Cristo convenceu
muitos do erro da nação ao condenar Jesus à morte. Com base
nessa mudança de atitude em relação a Jesus Cristo e no
reconhecimento do pecado da nação ao rejeitá-lo, eles foram
convidados a separar-se do povo e passar a identificar-se com Jesus
Cristo por meio do ato do batismo. O batismo na água, naquela
época, era um sinal de que aqueles que antes se identificavam com
a nação de Israel – agora debaixo de juízo – renunciavam a esse
relacionamento e passavam a identificar-se com Jesus Cristo.
O escritor de Hebreus refere-se a esse ato de batismo como
profissão de fé ( Hb 3.1; 4.14; 10.23). Judeus batizados em nome de
Jesus Cristo foram “expulsos da sinagoga” ( Jo 16.2). Não eram mais
considerados judeus nem membros da comunidade de Israel. Eram
tratados como gentios. Não eram mais bem-vindos na sinagoga nem
no templo. Também tinham de desistir de conseguir qualquer
emprego, pois eram considerados impuros.
☙ Para refletir ❧
Em determinadas partes do mundo, a identificação pública com Cristo por
meio do batismo acarreta o mesmo tipo de perseguição e sofrimento que
os cristãos judeus enfrentaram no primeiro século. Isso deveria nos levar
a refletir se a nossa profissão de fé em Cristo é realmente “pública” no
sentido de que nossos amigos e conhecidos sabem que pertencemos a
ele – e se de fato é suficientemente nítida para certas pessoas a ponto de
também experimentarmos a mesma reação que Cristo receberia caso
estivesse aqui hoje. Embora não devamos intencionalmente buscar
perseguição, a Bíblia parece mostrar que, quando vivemos de forma
agradável a Deus, algumas pessoas à nossa volta se incomodarão com
nossa identificação com Cristo. Dessa forma, a perseguição será uma
marca de um testemunho agradável ao Senhor.
Por outro lado, se, por causa da fé em Jesus Cristo, um judeu se
identificasse publicamente com o Senhor, seria libertado do juízo que
Deus promulgara sobre aquela geração de Israel. Assim, o batismo
levantava um muro entre os cristãos judeus e a comunidade na qual
viviam antes. Antes de sua separação de Israel, essas pessoas
frequentavam a sinagoga, sentavam-se aos pés dos rabinos e eram
instruídas nas Escrituras. Mas agora, em vez de reunirem-se na
sinagoga, juntavam-se para serem ensinadas pelos apóstolos ( At
1.12-14; 2.42; 4.34-37; 9.26-27). Os apóstolos assumiram o papel
que era desempenhado pelos rabinos, e os cristãos cultuavam juntos
de casa em casa em vez de buscar comunhão na sinagoga. Esse
afastamento da sinagoga e dos rabinos apenas enfatizava ainda
mais a sua separação da nação israelita, que estava diante de um
juízo vindouro irrevogável.
Para quem realmente entendia a mensagem, a ressurreição
validava Jesus Cristo e demonstrava que a rejeição de Israel ao
Messias era um pecado aos olhos de Deus. Isso, por sua vez,
justificava o juízo que Jesus anunciara àquela geração de Israel. Por
isso, a saída de milhares de cristãos hebreus da sinagoga produziu
ódio por eles e, em última análise, despertou uma perseguição
prolongada e intensa da parte dos judeus que permaneciam não
convertidos.
O livro de Atos fornece muitos exemplos dessa perseguição,
começando com a pregação de Pedro e continuando até a conclusão
do ministério de Paulo (cf. At 4.1-3; 5.17-28; 7.57-60; 8.3-4; 9.2; 12.1-
4; 19.8-9; 21.10-11, 20, 27-31; 22.4, 19; 23.12; 26.10-11). Uma vez
que essas perseguições começaram em Jerusalém, os cristãos
submetidos a elas necessariamente viviam na Palestina, se não até
mais próximos ainda do ponto central da repressão.
Enquanto muitos cristãos sofriam por causa da fome que grassava
na terra ( At 11.27-30), alguns que tinham sido batizados em nome
de Cristo perderam toda e qualquer oportunidade de trabalho. Por
isso, outros cristãos, em razão do seu conceito de um
relacionamento familiar, contribuíam como podiam para atender às
necessidades uns dos outros. Sabemos que essas circunstâncias
também levaram cristãos de outras partes a levantar ofertas para os
santos em Jerusalém ( At 2.44-45; 4.32-37).
☙ Para refletir ❧
Diante de tudo o que se fala hoje em dia sobre pobreza e pessoas
desabrigadas, os cristãos têm dificuldade de identificar exatamente quais
são as suas responsabilidades. Com base em exemplos tanto do Antigo
quanto do Novo Testamentos, a prioridade de Deus para seus
verdadeiros filhos em relação aos necessitados é que eles devem sempre
cuidar, em primeiro lugar, da família da fé, especialmente daqueles que
estão próximos de nós. Embora alimentar o “pobre anônimo” seja um ato
genuinamente compassivo e possa render oportunidades evangelísticas
maravilhosas, tanto a Lei de Moisés quanto a história do Novo
Testamento mostram que se espera dos fiéis que ajudem aqueles na
família da fé que têm uma vida piedosa, mas sofrem com necessidades
materiais. Como seria maravilhoso se mais igrejas levassem a sério esse
chamado para ajudar os membros de sua própria congregação e os fiéis
em outros lugares que estejam passando pela provação da carência
material.
A lei romana garantia liberdade religiosa, e Roma já fizera todos os
esforços para não impedir as práticas religiosas dos povos sob o seu
domínio. O cristianismo era considerado uma seita judaica, por isso
era tolerado. No entanto, depois do incêndio devastador que destruiu
Roma no ano 64 d.C., pelo qual os cristãos foram responsabilizados,
iniciaram-se as guerras judaicas que Roma travou contra a Palestina.
Esses conflitos militares culminaram na destruição de Jerusalém sob
Tito, no ano 70 d.C., cumprindo a profecia de Cristo a respeito do
juízo.
O escritor de Hebreus considerava que esses dias devastadores
se aproximavam com grande rapidez. Ao falar sobre a aliança
mosaica, o fundamento dos cultos no templo, ele escreveu: “... o que
se torna antiquado e envelhecido está a ponto de desaparecer” ( Hb
8.13). Ele parecia prever a desolação trazida por Tito – na qual um
milhão e meio de judeus perderiam a vida – ao escrever: “Na luta
contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar
o próprio sangue” ( Hb 12.4). E ainda: “... vocês veem que se
aproxima o Dia” ( Hb 10.25). Dessa forma, vemos claramente que os
leitores dessa carta viviam em uma época imediatamente anterior ao
juízo calamitoso que cairia sobre a nação de Israel, sobre Jerusalém
e sobre o templo.
De acordo com o livro de Atos, há mais uma coisa que se torna
evidente durante o estudo do contexto histórico dessa carta: embora
os cristãos se afastassem da sinagoga, aparentemente não tinham
se separado do templo. Uma vez que a sinagoga era uma instituição
humana, não divinamente introduzida, e os rabinos ali não tinham
sido nomeados por Deus, sem dúvida os cristãos se sentiam livres
para afastar-se dela e de seus mestres. Já o tabernáculo/templo era
uma instituição divina, e a participação em seus cultos era
obrigatória.
Em Atos, encontramos frequentes menções a cristãos cultuando
juntos no templo (At 2.1; 3.1, 11; 5.12, 21, 42; 20.16; 21.26-28).
Evidentemente, eles entendiam Cristo como o cumprimento dos
aspectos proféticos das festas do Antigo Testamento e continuavam
a observar tais ritos como memoriais de Cristo ( At 20.6; 1Co 5.7-8;
16.8). A centralidade do tabernáculo/templo nos seus pensamentos
teria facilitado a conclusão de alguns de que, uma vez que o
apóstolo Paulo desejava estar em Jerusalém na época das festas (
At 20.16), seria apropriado que os cristãos observassem as festas
nas épocas e lugares determinados. O que é ainda mais importante,
muitos aparentemente esperavam que essa atitude apagasse da
memória de seus perseguidores o fato de que tinham abandonado
aquele sistema ao identificar-se com Cristo pelo batismo.
Um panorama de Hebreus nos ajuda a concluir certos fatos a
respeito dos destinatários originais dessa carta.
Primeiro, o livro deixa claro que o autor vê seus destinatários como
cristãos genuínos. Essa perspectiva afeta todo o resto daquilo que
sabemos a respeito do público a quem essa carta é endereçada.
Considere as seguintes passagens: 1.3 – “... havendo feito por si
mesmo a purificação dos nossos pecados...” (ARC).
2.1-3 – O autor adverte contra negligenciar (não “rejeitar”) a
salvação operada.
3.1 – O apóstolo refere-se a eles como “santos irmãos,
participantes do chamado celestial”, e descreve Jesus Cristo como o
“apóstolo e sumo sacerdote que confessamos”.
4.1 – O apóstolo argumenta que o perigo não é que eles iriam
falhar em obter a salvação, mas que não iriam experimentar o
descanso que essa salvação produz.
4.3 – O apóstolo inclui os destinatários no mesmo grupo de
crentes do qual ele mesmo faz parte.
4.14 – Cristo é entendido como o sumo sacerdote que intercede
por esses cristãos.
4.16 – Eles têm acesso ao trono da graça não para obter salvação,
mas para receber ajuda em sua situação atual.
5.12 – São suficientemente maduros e bem instruídos para
estarem qualificados a ensinar outros.
6.4-5 – Quando cita aqueles que uma vez foram iluminados,
provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito
Santo e experimentaram a bondade da palavra de Deus e os
poderes da era que há de vir, o apóstolo refere-se às experiências
espirituais reais que seus leitores originais tiveram.
6.9-10 – Suas obras demonstravam a genuinidade de sua
salvação.
7.26–8.1 – O escritor afirma mais uma vez que Jesus Cristo é o
sumo sacerdote que intercede por eles.
9.14 – Eles podem servir ao Deus vivo.
10.10 – Foram santificados.
10.15 – Receberam a ministração do Espírito.
10.19 – São chamados de “irmãos”.
10.21 – Têm um sumo sacerdote.
10.22-25 – O coração deles foi aspergido para eliminar toda a
consciência culpada. Foram purificados. Fizeram pública confissão
de sua fé em Cristo. São identificados com outros cristãos.
10.34 – Sacrificaram-se em favor do escritor.
10.36-39 – A necessidade deles não é de salvação, mas de
paciente perseverança, o que é produto de uma fé genuína.
12.2 – Jesus Cristo é o autor e consumador da sua fé.
12.7 – São chamados de “filhos”.
12.28 – São herdeiros de um reino.
13.1-19 – Todas essas exortações aos destinatários aplicam-se
apenas a cristãos.
Em poucas palavras: a investigação desse livro leva
necessariamente à conclusão de que os destinatários originais dessa
carta eram cristãos de verdade.
☙ Para refletir ❧
Os maravilhosos benefícios que acompanham o relacionamento com
Cristo muitas vezes são chamados de “herança espiritual”. Como
veremos, o autor de Hebreus acreditava que essa herança espiritual
deveria ter um efeito dramático e permanente em nossa vida. Mas será
que isso é realidade nos cristãos de hoje? O fato de termos sido
iluminados pela Palavra de Deus tirou nosso apetite pelo linguajar rude e
pelo humor grosseiro do mundo secular à nossa volta? O fato de sermos
participantes do Espírito Santo nos leva a conduzir nosso casamento,
família e trabalho de forma diferente de antes da nossa submissão a ele?
Hoje – e todos os dias – é um bom momento para rever alguns aspectos
da nossa herança espiritual e buscar formas concretas pelas quais seus
benefícios transformaram o nosso modo de vida.
Segundo, tinham sido batizados, identificando-se publicamente
com Jesus Cristo e renunciando à sua antiga associação com o
sistema religioso de Israel, que rejeitara o Messias. A confissão
mencionada em 3.1, 4.14 e 10.23 é o batismo.
Terceiro, estavam passando por perseguição intensa ( 10.34; 12.4;
13.3, 5).
Quarto, mesmo que não fossem abastados, também não haviam
passado necessidade ( 6.10), mas agora tinham empobrecido.
Quinto, dadas as provações e a perseguição, sofreram um
retrocesso espiritual sério ( 5.11-14). Em vez de crescerem debaixo
da disciplina, tinham se afastado.
Sexto, precisavam de encorajamento para viver pela fé, a fim de
que ela pudesse produzir paciência e perseverança ( 11.39-40).
Sétimo, fica óbvio que os leitores não eram cristãos de primeira
geração ( 2.3) nem recém-convertidos ( 5.11-12). Grande parte da
decepção que sofreram pode ter decorrido do fato de terem
fracassado em cultivar uma expectativa alegre pela volta de Jesus
Cristo para subjugar o mundo, estabelecer seu reino e livrá-los da
perseguição. Por isso, corriam o perigo de perder a esperança. Por
esse motivo, o apóstolo encorajava-os a manter uma fé firme com
base na esperança que lhes tinha sido apresentada.
☙ Para refletir ❧
“Perder a esperança” ou ficar desanimado por causa da corrupção no
mundo à nossa volta é um problema tão real para os cristãos de hoje
quanto o era para os cristãos do primeiro século. Infelizmente, muitos
crentes simplesmente cedem ao desânimo, à desobediência e até mesmo
à depressão quando há oposição avassaladora às coisas de Deus e à
Bíblia. Uma solução simples – ou pelo menos um começo – seria dedicar
à perspectiva de Deus sobre o mundo o mesmo tempo que passamos
expostos à perspectiva do mundo a respeito de Deus. Por exemplo, talvez
você possa dedicar ao seu devocional bíblico diário a mesma quantidade
de tempo que passa assistindo à televisão. Ou talvez possa ser tão fiel na
realização da sua “hora silenciosa” com a Palavra de Deus quanto é
comprometido com o tempo na internet. Quando você começar a tentar
fazer isso, é bem provável que descubra que seu dia não está mais
completo sem sua “hora marcada” com Deus.
Natureza da carta
Durante gerações, houve muita discórdia em torno da natureza
essencial desse livro. Por causa da sua forte ênfase doutrinária,
algumas pessoas concluíram que é um tratado teológico. Essa tese é
apoiada pelo fato de não haver saudação nem endereçamento a
algum grupo em particular. Outros sugeriram tratar-se de um tratado
teológico com uma carta anexada. Ao observar que em 13.24 há
uma saudação final, os proponentes dessa tese entendem o capítulo
13 como uma carta pessoal que o escritor teria adicionado à
dissertação contida nos capítulos 1-12.
No entanto, a natureza da carta argumenta contra essas
conclusões. Um tratado é um documento geral, não direcionado a
algum público específico, e é essencialmente impessoal em toda a
sua extensão. No entanto, há muitas referências pessoais ao longo
de todo o livro de Hebreus (2.1; 3.1, 12; 4.1, 14; 5.11; 6.19; 10.19;
13.7, 22-25). O autor obviamente conhecia bem o pano de fundo e
as circunstâncias atuais do grupo específico ao qual endereça sua
carta. Além disso, o escritor identifica-se pessoalmente com aqueles
aos quais escreve, apresentando-se como alguém que compartilhou
das mesmas experiências que eles ( 1.2; 2.1, 3; 3.19; 4.1-2, 11, 14-
16; 6.1, 6, 18-20; 7.26; 8.1; 9.24; 10.10; 11.3, 40).
Essas observações demonstram que a carta aos Hebreus é uma
das mais pessoais de todas as cartas do Novo Testamento. Talvez o
próprio autor tenha sido quem melhor definiu a natureza do livro ao
chamá-lo, em 13.22, de “palavra de exortação”. Na verdade, essa
declaração possivelmente nos dê a pista mais valiosa para a
interpretação correta de Hebreus. É fácil concentrar-se no grande
corpo doutrinário desse livro e ignorar este fato: o autor usa a
doutrina como base para exortar os crentes.
☙ Para refletir ❧
Não muitos anos atrás, numerosos cristãos ficaram obcecados com
assuntos doutrinários a ponto de ignorar suas aplicações práticas. Mais
recentemente, boa parte da literatura cristã passou a concentrar-se na
experiência cristã a ponto de desconsiderar a verdade bíblica por trás de
tudo. No livro de Hebreus, veremos que Deus quer que seus filhos
conheçam o que sua Palavra diz – e que reajam a isso de forma
apropriada. É esse o seu compromisso com a Palavra? Certo método de
estudo bíblico encoraja os cristãos a fazer a si mesmos três perguntas
lógicas ao ler ou estudar a Bíblia. São elas: (1) o que o texto diz? (2) o
que isso significa? e (3) o que isso significa para mim? Ao considerar
essas questões e responder a elas de forma cuidadosa toda vez que você
abre a Palavra de Deus, você pode descobrir que sua interação pessoal
com a Bíblia se tornará muito mais significativa e transformadora.
Quando se entende isso, uma lista de exortações mostra-se muito
útil.
2.1 – Prestem atenção a tudo o que já ouviram.
3.1 – Considerem o apóstolo e sumo sacerdote que confessamos,
Cristo Jesus.
3.8 – Não endureçam o coração.
3.12 – Cuidado para que nenhum de vocês tenha um coração
perverso e incrédulo.
3.13 – Exortem-se uns aos outros diariamente.
3.15 – Não endureçam o coração.
4.1 – Não se privem da promessa do descanso de Deus.
4.11 – Esforcem-se para entrar nesse descanso.
4.14 – Apeguem-se com firmeza à fé que vocês professam.
4.16 – Aproximem-se com ousadia do trono da graça.
6.1 – Prossigam em direção à perfeição (ARC).
6.11 – Demonstrem a mesma prontidão até o fim, até obter plena
certeza da esperança.
6.12 – Não se tornem negligentes.
10.22 – Aproximem-se com um coração sincero, em plena
convicção de fé.
10.23 – Apeguem-se com firmeza à esperança professada, sem
vacilar.
10.24 – Busquem formas de incentivar uns aos outros ao amor e
às boas obras.
10.25 – Não abandonem as reuniões e os encontros entre vocês,
mas encorajem-se mutuamente.
10.32 – Lembrem-se dos primeiros dias.
10.35 – Não abram mão da confiança.
12.1 – Deixem de lado o que atrapalha e corram com
perseverança a corrida que está posta diante de vocês.
12.3 – Pensem naquele que suportou a oposição dos pecadores.
12.12 – Fortaleçam as mãos enfraquecidas.
12.14 – Busquem a paz com todos.
12.15 – Cuidem com diligência para que ninguém se exclua da
graça de Deus.
12.25 – Não rejeitem aquele que fala.
12.28 – Adorem a Deus com reverência e temor santo.
13.1 – Sejam constantes no amor fraternal.
13.2 – Não se esqueçam de hospedar desconhecidos.
13.3 – Lembrem-se dos prisioneiros.
13.5 – Mantenham-se sem cobiça e contentem-se com o que
vocês têm.
13.7 – Lembrem-se daqueles que governam sobre vocês.
13.9 – Não se deixem levar por ensinos variados e estranhos.
13.13 – Saiam até onde ele está, fora do acampamento.
13.15 – Ofereçam continuamente sacrifícios de louvor a Deus.
13.17 – Obedeçam àqueles que os lideram.
13.18 – Orem por nós.
13.22 – Suportem a palavra de exortação.
13.24 – Saúdem todos os seus líderes e todos os santos.
Como vemos, nessa carta a doutrina é a base para as exortações
do autor à fé e à perseverança paciente.
Propósito da carta
O autor parece ter tido vários propósitos em mente ao escrever essa
carta.
Em primeiro lugar, queria advertir seus leitores contra os perigos
que enfrentavam. Havia o risco de negligenciarem a revelação de
Deus por meio de Cristo, que suplantava a revelação dada por meio
de Moisés. O autor aborda esse perigo em 1.1–2.18. Igualmente
havia o perigo de que, assim como os que tinham sido redimidos sob
Moisés tinham fracassado debaixo de sua autoridade, também os
destinatários da carta fracassassem sob a direção do Redentor
superior, Jesus Cristo. Esse aspecto é desenvolvido em 3.1-18.
Outro perigo é discutido em 4.1-13. Essa seção alerta para o fato
de que, assim como seus antepassados tinham fracassado em entrar
no descanso que Deus providenciara na Terra Prometida, dada a
incredulidade demonstrada em Cades-Barneia, a atual geração
poderia não se apropriar pela fé do descanso oferecido por Deus,
consequentemente perdendo as bênçãos prometidas.
E havia o perigo explicado em 4.14–10.39 de que os destinatários
da carta deixassem de se apropriar da plenitude da obra sacerdotal
de Cristo. Ao longo desse trecho, encontramos ainda o risco
adicional de que esses crentes retrocedessem na fé e não
continuassem no caminho em direção à maturidade, conforme
tratado em 5.12–6.20.
Assim, o propósito do autor é apresentar esses perigos aos seus
leitores, para que não atrapalhassem o crescimento espiritual deles.
O segundo propósito do escritor era levar esses cristãos à
maturidade em Cristo, conforme se vê em 5.11-14 e na exortação de
6.1.
Em terceiro lugar, o objetivo do autor era preparar esses crentes
para a perseguição que viria. Embora aquela geração já tivesse
sofrido com a hostilidade por parte dos judeus, seus sofrimentos se
intensificariam à medida que a repressão romana se aproximava. É a
esse aumento na intensidade das aflições que o autor se refere em
8.13, 10.25 e 12.3-15.
☙ Para refletir ❧
Embora ainda não enfrentemos o mesmo tipo de ataque físico que os
leitores originais de Hebreus sofreram, nossas crenças passam por
ataques diários em nossa cultura. O movimento Nova Era, o humanismo
ateísta, o liberalismo popular e uma forma distorcida e diluída de
“crentianismo” ameaçam minar nossa confiança na verdade absoluta de
Deus. Por isso, as exortações dessa carta à fé e à perseverança são tão
relevantes para nós hoje quanto foram no primeiro século. E, de acordo
com esse livro bíblico, o nosso prazer com o “descanso de Deus” – uma
vida cristã vitoriosa – depende de como reagimos a essas exortações.
Em quarto lugar, o autor queria advertir seus leitores contra falsos
ensinos ( 13.9). Dessa forma, o conjunto de verdades apresentado
nessa carta serviria de teste para qualquer doutrina.
O quinto objetivo do autor era impedir que os cristãos deixassem
de se reunir como igreja, segundo o costume de alguns ( Hb 10.25).
Alguns desses cristãos tinham enfraquecido na fé e abandonaram a
esperança de que Jesus Cristo voltaria para libertar os oprimidos e
estabelecer seu reino. Por isso, tinham abandonado a comunhão
com os irmãos e estavam buscando refúgio no retorno aos rituais
exteriores do culto no templo. Havia outros que estavam cogitando
fazer o mesmo. Por isso, o desejo do escritor da carta era que eles
não abandonassem as reuniões entre si, porque a ajuda de que
precisavam não estava no templo nem na comunhão com quem o
frequentava. Encorajava-os a, pelo contrário, buscar o apoio que só
podia ser encontrado na comunhão com outros cristãos verdadeiros.
☙ Para refletir ❧
Ao longo dos últimos anos, a prioridade do culto praticamente
desapareceu de nossa cultura. Embora filmes e até programas de TV de
gerações anteriores ocasionalmente retratem famílias em cultos ou outras
práticas religiosas, atualmente as únicas menções a serviços religiosos
na mídia são depreciativas ou pejorativas. Mesmo entre quem se declara
cristão, a fidelidade ao culto semanal é facilmente deixada de lado em
prol de entretenimento, práticas esportivas ou questões de agenda e
conveniência. No entanto, a Palavra de Deus atribui alta prioridade à
prática da adoração coletiva, em especial em meio a circunstâncias
adversas. Se Deus considera o culto tão importante, por que nós também
não o faríamos?
A fim de alcançar seus objetivos, o escritor registrou algumas
advertências bastante sérias e graves. Na sequência do nosso
estudo, será necessário considerar muito detalhadamente cada uma
dessas advertências. Por ora, no entanto, basta uma rápida menção
a algumas delas.
Em 2.3, lemos o seguinte alerta: “Como escaparemos, se
negligenciarmos tão grande salvação?”. Esta é uma advertência
contra negligenciar a revelação que Deus fizera por meio de Jesus
Cristo. Em 4.11-13, encontramos o seguinte aviso: “... para que
ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência”.
Veremos adiante que isso era uma exortação para não se repetir um
pecado semelhante ao que Israel cometeu em Cades-Barneia, onde
uma geração redimida perdeu as bênçãos que Deus dera. Em 6.4-6,
o autor adverte contra voltar atrás em suas experiências espirituais
atuais, o que confirmaria sua imaturidade. Em 10.26-31, aparece um
alerta que envolveria esses cristãos em “uma terrível expectativa de
juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus”. Ou seja:
se, a fim de escapar da perseguição, esses crentes voltassem a se
identificar com o templo e a nação, eles voltariam a estar sujeitos ao
juízo físico que Cristo decretara sobre aquela geração.
Em 10.31, o autor aponta os resultados de negligenciar essas
advertências. Ele diz que é terrível cair nas mãos do Deus vivo. Em
10.38, escreve: “... se retroceder, não me agradarei dele”. Em 12.14-
15, afirma: “Esforcem-se para viver em paz... para serem santos...
Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus; que nenhuma raiz
de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos”. Em
12.16-17, adverte-os de que, caso ignorem esses alertas, poderão, a
exemplo de Esaú, ter definitivamente confirmada a sua rejeição às
bênçãos prometidas. Em 12.25-27, citando uma profecia, o autor
lembra seus leitores de que, na vinda de Cristo, esta terra será
abalada, e exatamente aquelas instituições nas quais foram tentados
a se refugiar serão removidas. Dessa forma, voltariam ao templo
apenas para ver-se imediatamente debaixo da mesma condenação
que ele.
Essas advertências tão sérias foram formuladas para chamar a
atenção dos ouvintes, para alertá-los das consequências de não se
viver pela fé, de modo que assim passassem a exercitar
perseverança e paciência. Repito: o tempo em que eles viviam era
um período de transição que começou com o importante evento do
Pentecostes. Era uma transição da aliança de Deus com Israel para
um novo programa a ser desenvolvido na igreja. Era uma mudança
do judeu para o gentio. Da Lei para a graça. Da habitação de Deus
no tabernáculo/templo para uma nova moradia, o conjunto dos
crentes. Era uma mudança da expectativa por um reino davídico
terreno para a inauguração de uma nova forma de governo
teocrático, conforme delineado em Mateus 13.
☙ Para refletir ❧
Nossa sociedade é próspera em encontrar formas rápidas ou
“instantâneas”. Fornos de micro-ondas possibilitam refeições
instantâneas; telefones permitem contato imediato com amigos e colegas
de trabalho; e-mails viabilizam correspondência rápida; concursos e
sorteios oferecem a esperança fugaz de riqueza instantânea. Para nosso
prejuízo, às vezes acreditamos, erroneamente, que uma migalha de
conhecimento ou determinado tipo de experiência pode nos trazer
maturidade espiritual imediata. A Bíblia, no entanto, é clara em ensinar
que a maturidade em Cristo é um longo processo de crescimento no
conhecimento de sua Palavra e de submissão e obediência a ele. Da
mesma forma que acontece no condicionamento físico ou no crescimento
da infância à idade adulta, não há atalhos para a maturidade espiritual.
Isso valia para os leitores originais de Hebreus, assim como é verdadeiro
para nós hoje.
Esse período de transição iniciado em Atos 2 continuaria até a
destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Determinadas práticas
perfeitamente normais no início desse período não continuariam
sendo consideradas normativas à medida que o fim da transição se
aproximava. Embora a doutrina seguida por esses novos cristãos e a
pessoa à qual seguiam fossem odiados pela nação que tinham
deixado, no começo os seguidores em si eram tolerados. Mas, com o
passar do tempo, o abismo entre o judaísmo e o cristianismo
aumentou. O que era tolerado pela nação no começo da transição
deixou de ser admitido no fim. A intensificação da perseguição contra
os cristãos por parte da nação impediu que eles tivessem qualquer
chance de ser aceitos novamente na comunidade.
Na época em que o livro de Hebreus foi escrito, já se passara
tempo suficiente para que todos os que eram imaturos no começo da
transição amadurecessem na fé ( 5.11ss). Por isso, qualquer
continuação ou regresso às práticas associadas com o período de
imaturidade teriam representado um retrocesso grave.
☙ Para refletir ❧
Com demasiada frequência, pensamos na desobediência ou na apatia
espiritual em termos de “vida futura” em vez de pensar no “aqui e agora”.
Quando entendemos a Escritura corretamente, no entanto, percebemos
que há consequências presentes, temporais e físicas para a nossa
desobediência ou negligência. Muitas vezes, a Bíblia associa a
obediência espiritual (como a fidelidade em cultuar, a honra aos pais e a
fidelidade conjugal) a benefícios temporais, como preservação do corpo,
vida longa e resposta às orações. Quando nossa vida é tomada por
constantes dificuldades, o primeiro lugar em que deveríamos buscar
ajuda é nossa própria fidelidade a Deus e à sua Palavra. Só quando
sabemos que o sofrimento não é autoinfligido é que podemos começar a
procurar pelos propósitos maiores que Deus talvez esteja operando em
nossa vida.
Assim, as doutrinas dessa carta, as advertências que ela traz e as
exortações que apresenta almejam prevenir o retrocesso e encorajar
um desenvolvimento contínuo e dinâmico em direção à maturidade
espiritual.
☙ Para refletir ❧
Com todas as seitas, os movimentos, as filosofias e os “ismos” que
enfrentamos hoje em dia, podemos muito bem nos perguntar como
proteger-nos melhor contra o engano. De acordo com o autor de Hebreus,
a melhor defesa é um bom ataque. Ou seja: o melhor jeito de manter-se
seguro contra o engano é submeter-se a um crescimento contínuo em
direção à maturidade. E o melhor modo de dirigir-se com firmeza para a
maturidade é praticar com diligência tudo o que a Palavra de Deus revela.
Isso dá um novo significado à importância dos sermões dominicais, ao
estudo bíblico em casa e às classes de escola bíblica, já que essas
possivelmente são as melhores fontes de alimento para o crescimento
espiritual de que dispomos. Deveríamos fazer tudo o que estiver ao nosso
alcance para garantir que essas práticas nos tragam o que precisamos
para crescer – e que cresçamos de acordo com o “alimento” espiritual que
recebemos!
1 Ver Moses Stuart, Commentary on the Epistle to the Hebrews (Andover, NY:
Warren F. Draper, 1833), p. 147-151.
1. JESUS CRISTO É SUPERIOR AOS
ANJOS
Hebreus 1.1–2.18
Quando Deus colocou Adão e Eva no jardim do Éden, não havia ali
qualquer barreira para a comunhão do ser humano com o Senhor.
Enquanto o restante da criação dava testemunho da existência de
Deus e da suprema grandeza de seu poder, Adão e Eva cresciam no
conhecimento do Senhor por meio de uma comunhão íntima com
ele. No passeio diário no jardim ( Gn 3.8), Deus se revelava
continuamente a eles. Assim, enquanto desfrutavam da intimidade
com ele, também o conheciam cada vez melhor.
☙ Para refletir ❧
Qualquer pessoa que já tenha trabalhado com ferramentas ou utensílios
de cozinha sabe que cada um deles foi projetado para um propósito ou
tarefa específicos. Se tentarmos usar algum desses instrumentos para
outra finalidade, experimentaremos frustração e talvez até o
danifiquemos. Essa referência aos capítulos iniciais de Gênesis lembra-
nos de que Deus criou a vida humana para um propósito específico –
conhecer o Senhor e desfrutar de intimidade com ele. E usar essa vida –
nossa própria vida – para qualquer outra coisa além desse objetivo
supremo resultará apenas em frustração e possivelmente até uma vida
em pedaços. Embora conhecer a Cristo com certeza nos capacite a
buscar prazer, riqueza, sucesso ou qualquer outro alvo desejável de
forma bem melhor que antes, não podemos nos esquecer de que o
propósito para a nossa vida hoje continua sendo o mesmo de sempre:
conhecer a Deus.
No entanto, depois da desobediência intencional de Adão e Eva (
Gn 3.1-6), não era mais possível que Deus caminhasse com eles e
se revelasse a eles. Dessa forma, o conhecimento humano a
respeito do Criador passou a depender da revelação divina por meio
da natureza. A luz da presença pessoal de Deus cedeu à escuridão
espiritual, e o conhecimento de Deus que tinham obtido pela
intimidade com ele foi dando lugar a uma crescente ignorância
espiritual.
É por isso que Paulo declara que o ser humano não se caracteriza
pela luz, mas pelas trevas ( Rm 1.21-23; Ef 4.17-18). Essa escuridão
é a ignorância a respeito de Deus. Além disso, Paulo também diz
que “quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do
Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las,
porque elas são discernidas espiritualmente” ( 1Co 2.14). E ainda: “...
o mundo não o conheceu [isto é, a Deus] por meio da sabedoria
humana” ( 1Co 1.21). Em outras palavras, quando alguém chega ao
conhecimento de Deus, isso não acontece pelo uso de seu intelecto
caído. Em vez disso, vem por revelação divina. Felizmente para nós,
nosso Deus não escolheu se esconder da raça humana, mas agiu
para se mostrar por revelação especial, para que assim pudéssemos
conhecê-lo.
☙ Para refletir ❧
O retardamento mental – o defeito que leva o cérebro humano a não se
desenvolver na mesma proporção que o restante do corpo – é uma das
realidades mais tristes da vida. Qualquer pessoa que tenha um amigo ou
ente querido com esse tipo de deficiência conhece a incoerência do corpo
adulto controlado por uma mente juvenil ou mesmo infantil. Mas para
essas pessoas especiais não há escolha. Na maioria dos casos, trata-se
de um aparente acidente, um erro genético ordenado por Deus para seus
propósitos divinos. Em um trágico contraste, no entanto, estão os muitos
milhares de cristãos para quem o retardamento espiritual é uma escolha
consciente. Embora “adultos” em número de anos que conhecem Cristo,
são adolescentes ou até mesmo crianças em sua maturidade espiritual,
em razão de seu fracasso em cultivar com dedicação o relacionamento
com o Senhor. É claro que esse não é o plano ideal de Deus para eles ou
para nós. E as características listadas em Hebreus deveriam ir além de
apenas nos convencer do nosso erro, mas também nos motivar a
progredir e sair da nossa condição de retardamento em direção à
maturidade.
Uma vez que ignorar ou negligenciar a verdade produz retrocesso,
nesse trecho o apóstolo tira suas conclusões e faz soar um grave
alerta contra o perigo de não avançar em direção à maturidade. Isso
é introduzido pela palavra “portanto” em 6.1. O escritor começa com
uma exortação: “... avancemos para a maturidade”. Maturidade aqui
é qualidade do “adulto” de 5.14, ou seja, refere-se à maturidade
espiritual. Esse alerta implica que seus leitores eram bebês e que
não seriam considerados dessa forma se já não tivessem dado prova
de estarem vivos. Em outras palavras, são pessoas salvas. São
cristãos de verdade. Assim, o que eles precisam não é de
conhecimento; em vez disso, devem usar o conhecimento de que já
dispõem. Ao negligenciarem a Palavra, caíram em apatia ou mesmo
regresso à infância espiritual, e a “maturidade” que o apóstolo lhes
recomenda não é a salvação, mas o crescimento em direção à vida
espiritual adulta em Cristo.
Se quiserem “avan[çar] para a maturidade”, então há certas coisas
que precisam ser abandonadas. O significado fundamental do verbo
“deixar” é ir de um ponto a outro e pode incluir a ideia de construir
um edifício sobre um alicerce. Havia certas verdades que a nova
Revelação/Filho tinha em comum com o que tinha sido revelado no
Antigo Testamento. Nesse sentido, o cristianismo foi levantado sobre
o alicerce da revelação dada por meio dos profetas ( Hb 1.1). Por
isso, alguns podem ter argumentado que, pelo fato de o cristianismo
ser construído sobre essa fundação, seria legítimo que os cristãos
mantivessem sua identificação com a antiga ordem representada
pelo templo.
☙ Para refletir ❧
Sendo este o foco de Hebreus, podemos partir do princípio de que este é
também um dos principais interesses de Deus para todos os cristãos: que
“avancemos” para a maturidade espiritual. Infelizmente, as pressões e
preocupações do dia a dia muitas vezes nos levam a nos concentrar na
simples sobrevivência, deixando de buscar crescimento real. Essa é uma
daquelas áreas na qual certamente se aplica o irônico ditado: “Quem não
mira em nada com certeza acerta o alvo!”. Se você nunca tirou tempo
para anotar seus objetivos espirituais, nada como o dia de hoje para
começar. Fundamentado na admoestação de “avancemos para a
maturidade”, anote algumas metas específicas que você gostaria de ver
realizadas na sua vida espiritual daqui a um ano. Coloque a lista em sua
Bíblia ou em algum outro lugar onde você a verá com frequência. Então,
ore, estude a Palavra de Deus com diligência e ande em submissão a ele,
confiando nele para o levar em direção à verdadeira maturidade espiritual.
Contudo, o apóstolo não estava pedindo a eles que edificassem
um novo prédio sobre um alicerce antigo. Em vez disso, deviam
abandonar completamente a fundação velha – a antiga ordem. Sem
a liberdade de tomar decisões por si mesmos, quem permanecia
debaixo da antiga ordem da Lei era considerado criança ( Gl 4.1-3),
alguém preso na infância. A verdade revelada pelos profetas não era
definitiva. Ela anunciava uma revelação mais completa que viria por
intermédio de Jesus Cristo. E se os leitores se contentassem em
edificar sobre algo que era apenas uma sombra do que viria, adverte
o escritor, eles continuariam sendo crianças e nunca avançariam
para a maturidade. Não se exigia deles que abandonassem as
verdades que o cristianismo tinha em comum com a revelação
veterotestamentária; em vez disso, esperava-se deles que
deixassem a sombra para entrar na realidade plena da verdade
revelada por meio de Jesus Cristo.
Os seis tópicos que o apóstolo cita nos versículos 1-2 como áreas
que eles deveriam deixar eram todas doutrinas enfatizadas pelo
judaísmo farisaico. Certamente não eram coisas erradas; mas eram
elementares e não constituíam base para a maturidade. Os “atos que
conduzem à morte”, dos quais deveriam se arrepender, eram
aqueles descritos em Romanos 8.5-8. A fé sempre foi um pré-
requisito para o relacionamento com Deus ( Gn 15.6). Os “batismos”
tinham relação com a necessidade de remover a contaminação
externa da corrupção e com ser purificado antes de poder ter
comunhão com Deus ( Mc 7.2-5). A “imposição de mãos” era o sinal
da identificação com outra pessoa e enfatizava a unidade entre
aquele que impunha as mãos e aquele sobre o qual eram impostas.
A “ressurreição dos mortos” era uma doutrina fundamental do Antigo
Testamento ( Jo 11.23-24). Quem vivia debaixo da antiga ordem
tinha o conceito de um “juízo” vindouro ( Sl 1.5-6). E, embora
houvesse verdade em todas essas doutrinas, elas conservavam na
infância aqueles que as usavam como alicerce para construir sua
vida. Quem quisesse progredir rumo à maturidade precisava deixar
essas doutrinas fundamentais e avançar.
☙ Para refletir ❧
Ao longo de toda a Escritura, aproximar-se de Deus sempre inclui deixar
para trás o que pode impedir nosso progresso. Há algo na sua vida hoje
que atrasa você do ponto de vista espiritual? Se sim, decida aqui e agora
abandonar isso e avançar em sua caminhada com Cristo.
A confiança que o escritor tem em seus leitores aparece no
versículo 3: “Assim faremos...”. Embora alguns considerem que o
ponto de referência de “assim” seja o deixar princípios fundamentais,
parece melhor considerar que a palavra se refere à frase
“avancemos para a maturidade”. O autor está convicto de que a
apatia ainda não atingiu um estado irreversível. Seus leitores ainda
podem chegar à maturidade. Não há dúvida de que Deus deseja que
esses cristãos avancem para a maturidade, mas o autor reconhece a
possibilidade de que alguém possa regredir tanto que seja
impossível voltar a avançar rumo à maturidade. Por isso, ele explica
nos versículos 4-6 que pode ser impossível renovar certos cristãos
de forma que possam progredir em direção à maturidade. Esse é um
alerta sério, que nos deve levar à reflexão, que o apóstolo dirige a
todos que voltaram à infância espiritual!
Para entender o alcance completo disso, precisamos primeiro
reconhecer que o apóstolo entende seus leitores como indivíduos
salvos. Refere-se a eles como pessoas que “uma vez foram
iluminados”. Essa iluminação não se refere a ver a luz e rejeitá-la,
mas a uma luz da qual a pessoa de fato se apropriou e dispunha ( Ef
5.8). Pessoas assim “provaram o dom celestial”, o dom da vida
eterna ( Rm 6.23). Tornaram-se “participantes do Espírito Santo” (
Rm 8.9-11). Elas “experimentaram a bondade da palavra de Deus”.
Aqui essa palavra não se refere à revelação completa como a
encontramos na Bíblia, mas a respostas específicas que Deus lhes
dera individualmente, possivelmente uma direção divina por meio da
palavra escrita em circunstâncias específicas.
☙ Para refletir ❧
Observe que há uma correlação direta entre doutrina correta e vitalidade
espiritual. Embora nos últimos anos a ênfase tenha recaído sobre os
aspectos práticos da fé cristã, a Bíblia deixa claro que um alicerce
apropriado de doutrina sadia é absolutamente essencial. Ainda que nem
todos possamos buscar educação profunda na doutrina cristã, todos nós
podemos e devemos ser diligentes em estudar a Palavra de Deus com
cuidado e saber por que cremos o que cremos.
Por fim, eles provaram “os poderes da era que há de vir”. Isso
refere-se à promessa veterotestamentária de que durante a vindoura
era milenar o Espírito Santo habitaria nos fiéis e capacitaria aqueles
que estão no reino a obedecer ( Ez 36.27; Jl 2.28-29). Como todos
os fiéis da presente era são habitados pelo Espírito Santo, eles já
experimentaram o poder do Espírito que os futuros habitantes do
reino milenar experimentarão. Todas essas palavras usadas pelo
escritor – “iluminados”, “provaram”, “tornaram-se participantes” –
nunca aparecem no Novo Testamento para falar de uma confissão
vazia, mas sempre se referem a experiências reais. Dessa forma,
não deve restar nenhuma dúvida de que o apóstolo entendia seus
leitores como cristãos.
Agora, porém, ele apresenta uma condição no versículo 6: “Mas
caíram...”. Dizer que “cair” é perder a salvação seria uma contradição
com o conjunto completo do ensino neotestamentário de que a vida
que Deus dá ao fiel é sua própria vida eterna. O cristão não tem mais
como perder essa vida, assim como Deus não pode deixar de existir.
A questão da salvação não está em jogo em lugar nenhum desse
contexto. Dessa forma, o escritor não está advertindo contra uma
possível perda da salvação. Em vez disso, ele enxerga a experiência
do filho de Deus como uma jornada da infância à maturidade. O
projeto de Deus é que houvesse crescimento constante e ininterrupto
da imaturidade à maturidade. É possível, no entanto, que essa
jornada seja interrompida, que a natureza dessa interrupção seja tal
que o progresso para a maturidade fique permanentemente
impedido, e que o cristão retorne a um estado infantil do qual não
haja mais saída. Esse “cair” é o fracasso do cristão em avançar rumo
à maturidade.
☙ Para refletir ❧
A atitude otimista do autor é algo que nos deveria caracterizar como
cristãos. Infelizmente, o efeito cumulativo do pecado em nossa vida pode
nos impedir de reconhecer o “novo começo” que Deus oferece se tão
somente estivermos dispostos a renunciar a nós mesmos para viver para
ele. O otimismo do “assim faremos” de Hebreus 6.3 está à distância de
apenas uma decisão nossa!
Isso pode ser bem ilustrado por aquela experiência na história de
Israel à qual o autor se refere no capítulo 3. Quando a nação foi
liberta da servidão no Egito, o povo redimido de Deus começou a
jornada que o levaria à Terra Prometida, onde desfrutaria de uma
vida de paz e descanso. Depois de alguns meses de viagem,
chegaram à fronteira dessa terra. Mas, por causa de sua
incredulidade em Cades-Barneia, rebelaram-se contra Deus, e ele
não permitiu que entrassem na terra. Em vez disso, mandou que
retornassem ao deserto até que uma nova geração se formasse.
Foi Deus quem disse: “Até quando esta comunidade ímpia se
queixará contra mim? Tenho ouvido as queixas desses israelitas
murmuradores. Diga-lhes: Juro pelo meu nome, declara o SENHOR ,
que farei a vocês tudo o que pediram: Cairão neste deserto os
cadáveres de todos vocês, de vinte anos para cima, que foram
contados no recenseamento e que se queixaram contra mim.
Nenhum de vocês entrará na terra que, com mão levantada, jurei
dar-lhes para sua habitação, exceto Calebe, filho de Jefoné, e Josué,
filho de Num. Mas, quanto aos seus filhos, sobre os quais vocês
disseram que seriam tomados como despojo de guerra, eu os farei
entrar para desfrutarem a terra que vocês rejeitaram. Os cadáveres
de vocês, porém, cairão neste deserto” ( Nm 14.27-32).
Por causa dessa desobediência intencional e deliberada, Deus não
permitiu que aquela geração entrasse na terra da promessa.
Quando os rebeldes ouviram esse anúncio de juízo, mudaram de
ideia e mostraram-se determinados a ocupar a terra, a despeito do
que Deus dissera. Responderam: “Subiremos ao lugar que o SENHOR
prometeu, pois cometemos pecado” ( Nm 14.40). O povo
arrependeu-se. Reconheceu seu pecado e pensou que isso
reverteria o juízo de Deus. E, apesar da advertência de Moisés,
partiu em direção à Terra Prometida. No entanto, “os amalequitas e
os cananeus que lá viviam desceram, derrotaram-nos e os
perseguiram até Hormá” ( Nm 14.45). Dessa forma, Deus tornou
impossível que aqueles que tinham se rebelado – ainda que se
tenham arrependido – entrassem na terra para desfrutar de suas
bênçãos. Em outras palavras, a perda do privilégio deles era
irreversível.
☙ Para refletir ❧
Para entender ainda melhor a nossa herança espiritual como cristãos, tire
um tempo para ler Efésios 1.3–2.10.
Outra ilustração para esse princípio aparece na experiência de
Esaú, em Gênesis 25.29-34, quando ele renunciou ao seu direito de
primogenitura por um prato de ensopado. Esaú não acreditava nas
promessas das alianças de Deus e considerou que o ensopado era
mais importante para ele do que qualquer benefício que as
promessas de Deus poderiam lhe dar. Dessa forma, Jacó tornou-se o
herdeiro das promessas da aliança. Mais tarde, quando chegou o
momento de Isaque abençoar seu filho, essa bênção foi para Jacó.
E, quando Esaú descobriu que a bênção que deveria ter sido sua
fora dada a outro, arrependeu-se e disse ao pai: “‘Meu pai, o senhor
tem apenas uma bênção? Abençoe-me também, meu pai!’ Então
chorou Esaú em alta voz” ( Gn 27.38). No entanto, nem a súplica de
Esaú nem suas lágrimas puderam conseguir-lhe a bênção de Isaque.
Por causa de sua atitude consciente anterior, os privilégios e as
bênçãos que poderiam ter pertencido a ele estavam perdidos para
sempre. E, embora nessas circunstâncias possamos ver Esaú como
um não crente, o princípio ainda assim fica claramente ilustrado. A
incredulidade ou desobediência intencionais e contínuas de uma
pessoa podem resultar na perda de privilégios e bênçãos para os
quais Deus a qualificara. Só Deus é capaz de determinar o momento
em que um indivíduo ou um povo chega àquele ponto em que, por
ter interrompido seu crescimento espiritual, ficou impossível retomar
novamente o avanço rumo à maturidade. Deus é gracioso, por isso
não nos entrega a esse estado irreversível de infância espiritual a
qualquer ato de desobediência nosso. Mas o grave alerta que o
apóstolo faz aos seus leitores é que alguma de suas decisões ou sua
negligência em relação à Palavra pode criar obstáculos ao seu
crescimento espiritual, de forma que permaneçam em um estado
imaturo imperfeito pelo resto de sua vida.
☙ Para refletir ❧
Por causa da segurança e prosperidade que temos em nossa sociedade,
muitas vezes os efeitos devastadores do pecado em nossa vida são
atenuados pelos benefícios que podemos obter por nós mesmos, apesar
da nossa culpa. Essas “soluções rápidas” e passageiras, no entanto, não
curam o real problema nem impedem que o pecado nos roube as
bênçãos do crescimento espiritual e da maturidade.
Esse “cair” não é acidental; é deliberado. Não é um pecado de
ignorância, mas um abandono obstinado da caminhada rumo à
maturidade. Se esses cristãos hebreus conscientemente
retornassem às antigas formas exteriores do judaísmo, eles estariam
se identificando com a geração de Israel que condenou Cristo à
crucificação e assim participariam do juízo físico e temporal
decretado por Deus por causa dessa rejeição ( Mt 23.38; 24.2). Essa
identificação representaria apoio à decisão da nação e, dessa forma,
“para si mesmos est[ariam] crucificando de novo o Filho de Deus,
sujeitando-o à desonra pública”.
Para melhor entender isso, podemos imaginar um esquiador no
topo de uma pista de saltos bem íngreme. O atleta não sofre
nenhuma pressão externa para se jogar pista abaixo a fim de ser
lançado para o ar. Mas se, por um ato de vontade consciente, ele
firmar seus bastões no chão e se projetar para além da borda da
pista, não haverá nada que ele possa fazer para reverter sua
descida, não importa quanto deseje fazê-lo. Por causa daquela
decisão, ele com certeza acabará na base da descida. Essa é a
advertência que o autor de Hebreus apresenta contra o mau uso da
Palavra ou a desobediência consciente ao que ela diz.
O progresso de seus leitores em direção à maturidade foi
interrompido e, se isso se consolidar em um estado permanente,
Deus poderá intervir, tornando-lhes impossível voltar a progredir em
direção à maturidade. Eles continuariam perpetuamente em seu
estado de imaturidade. A história está cheia de exemplos de pessoas
que pareciam maduras, mas que, por um ato deliberado, foram
colocadas de lado e entregues a um estado de inutilidade do qual
não há volta.
☙ Para refletir ❧
Infelizmente, alguns cristãos lutam e sofrem com a ideia errada de que,
embora desejem caminhar com Deus, regrediram para além desse “ponto
sem volta” e nunca mais poderão andar em comunhão com Deus. Se
você deseja sinceramente viver para Jesus Cristo, esse simples anseio
mostra que seu coração ainda não está endurecido para ele! Tudo o que
você precisa fazer é voltar-se novamente para ele com compromisso e
submissão e retomar seu progresso rumo à maturidade.
A ilustração ( 6.7-8)
6.7-8 Pois a terra, que absorve a chuva que cai frequentemente e dá
colheita proveitosa àqueles que a cultivam, recebe a bênção de Deus.
Mas a terra que produz espinhos e ervas daninhas, é inútil e logo será
amaldiçoada. Seu fim é ser queimada.
Nos versículos 7-8, o escritor recorre à natureza a fim de ilustrar a
verdade que estava ensinando. Ao longo de toda a Escritura, a
chuva é uma evidência da provisão do Criador para a criação. Aqui o
autor imagina dois campos que recebem a bênção da chuva. Um
deles aproveita a provisão de Deus para produzir uma lavoura
benéfica para seus cultivadores. O campo vizinho, no entanto,
recebe a mesma bênção do Senhor, mas produz espinhos e ervas
daninhas.
A questão aqui é que as bênçãos que vêm de Deus podem ser
usadas bem ou mal . Bênçãos bem aproveitadas trazem resultados
úteis, enquanto as dádivas mal aproveitadas produzem o que não
serve para nada. Dessa forma, a advertência termina com a
observação de que, embora todos os crentes recebam bênçãos de
Deus, alguns as usarão para dar bons frutos, enquanto outros as
aproveitarão para produzir o que é inútil.
A garantia ( 6.9-12)
6.9-12 Amados, mesmo falando dessa forma, estamos convictos de
coisas melhores em relação a vocês, coisas próprias da salvação. Deus
não é injusto; ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que
demonstraram por ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los.
Queremos que cada um de vocês mostre essa mesma prontidão até o
fim, para que tenham a plena certeza da esperança, de modo que vocês
não se tornem negligentes, mas imitem aqueles que, por meio da fé e da
paciência, recebem a herança prometida.
Nos versículos 9-12, o apóstolo reafirma sua confiança (como no v.
3) de que seus leitores continuarão ou retomarão seu progresso
rumo à maturidade. Ele diz: “... estamos convictos de coisas
melhores em relação a vocês...”. Essas “coisas melhores” referem-se
à ilustração dada nos versículos 7-8. Ele está confiante de que quem
recebe as bênçãos de Deus as usará para dar frutos bons e úteis.
Essa confiança é consistente com sua certeza a respeito da salvação
deles. Mesmo que pareça que ele está falando com não cristãos, ele
tem certeza de que são salvos e que essa salvação produzirá bons
frutos. Ele já viu esses bons frutos no trabalho e no amor que
exerceram em nome de Cristo. Esse não era apenas amor por
Cristo; era também amor pelos santos por causa do seu amor a
Cristo. É possível que o trabalho deles em favor dos santos fosse
necessário por causa da severidade da perseguição que alguns de
seus irmãos tinham sofrido. É muito provável até que se haviam
identificado com aqueles que sofriam por causa de Cristo, e o
escritor está confiante de que, assim como lembra de suas boas
obras como provas da salvação deles, também Deus não se
esquecerá desse trabalho e amor. Certamente receberão
recompensa por isso.
Nos versículos 11-12, o apóstolo expressa seu desejo para esses
cristãos. Da mesma forma que os exortou em 4.11 a serem diligentes
para entrar no descanso oferecido por Deus, aqui ele os encoraja a
mostrar a mesma diligência na busca por maturidade. O objetivo que
ele tem em mente é a maturidade em Cristo, e essa esperança certa
de progresso vai sustentá-los, para que não se tornem negligentes.
O escritor não diz que eles já se tornaram negligentes; no entanto, vê
esse perigo como um risco sempre presente.
☙ Para refletir ❧
Observe que o amor por Jesus Cristo e a obediência a ele sempre se
manifestam no amor pelos irmãos na fé.
☙ Para refletir ❧
O conceito oriental de superioridade e subordinação é estranho à nossa
cultura ocidental contemporânea. Por isso, é popular entre os não cristãos
a atitude condenatória em relação a Deus, levantando questões tais
quais: “Como um Deus amoroso pode permitir o sofrimento?” ou “Como
um Deus de amor pode mandar pessoas para o inferno?”. Às vezes, essa
atitude se mantém mesmo depois que confiamos nossa vida a Cristo
como nosso Salvador e vemo-nos questionando sua sabedoria, seu amor
ou sua compreensão. É interessante que a Bíblia parece indicar que a
verdadeira compreensão da obra de Deus em nossa vida começa com o
reconhecimento humilde de nossa parte de que ele é superior a nós;
então, baseados tão somente nessa verdade – quer a entendamos quer
não –, submetemo-nos à sua vontade em nossa vida. Essa foi a lição que
Jó precisou aprender, e Abraão também teve essa atitude. Não
deveríamos seguir o exemplo deles?
1) Transitório ( 7.11-14). O autor enfatiza que, se retornarem ao
sistema aarônico, seus leitores estariam voltando a um acordo que
jamais poderá levá-los à maturidade. Esse sistema era marcado por
certas fraquezas.
A primeira que o escritor aponta é que não conduzia quem estava
sob sua autoridade à maturidade. Enquanto estavam debaixo da Lei,
as pessoas eram consideradas crianças imaturas ( Gl 4.1-3). Mas
não era intenção de Deus deixar seu povo em um estado perpétuo
de imaturidade. Assim, quando Deus constituiu Cristo como
sacerdote da ordem de Melquisedeque no momento de sua
ressurreição (Sl 110.4), isso mostrou que Deus não conservaria o
sistema que prendia seus seguidores à imaturidade. Em vez disso,
instituiu uma nova ordem sacerdotal que pudesse conduzir as
pessoas à maturidade.
Contudo, era impossível que Cristo fosse instituído como sumo
sacerdote da ordem de Melquisedeque se o sistema sacerdotal
levítico não fosse antes encerrado. Era preciso abolir o alicerce
sobre o qual aquele sacerdócio se baseava. O sistema levítico era
parte de uma aliança que Deus fizera com Israel por meio de Moisés,
no Sinai. Era uma aliança condicional , que podia ser anulada sem
que isso violasse o caráter daquele que a estabelecera. Em Salmos
110.4, a indicação do Messias antecipava o término da Lei mosaica
que fundamentava o sacerdócio levítico. Isso demonstrava que o
sacerdócio de Arão era mutável e que em algum momento seria
abandonado. Um sistema transitório não poderia prover base para a
maturidade espiritual.
2) Temporário ( 7.15-19). O autor apresenta uma segunda razão
para a abolição do sacerdócio levítico. A Lei mosaica prescrevia que
os sacerdotes tinham de ser da família de Arão, da tribo de Levi (cf.
Nm 16–18). Uma vez que Jesus era da família de Davi, da tribo de
Judá, teria sido impossível que ele assumisse a função de um
sacerdote levítico. Para que Cristo fosse instituído em uma ordem
sacerdotal, esta teria de ser diferente. Por isso, seu Pai constituiu-o
sacerdote da ordem de Melquisedeque, não da ordem de Arão. Essa
escolha também indica que Deus via a ordem aarônica como uma
solução temporária que em algum momento seria deixada de lado.
☙ Para refletir ❧
Da mesma forma que a Lei era incapaz de conduzir seus seguidores à
maturidade, também o legalismo (o ensino de que a nossa salvação
depende da nossa capacidade de seguir um conjunto de regras ou de
obedecer aos mandamentos morais da Bíblia) nas nossas igrejas nunca
conseguirá produzir maturidade espiritual em alguém.
Em contraste com os sacerdotes levíticos, cujo serviço seria
abandonado, Cristo foi nomeado “sacerdote para sempre” ( 7.17). A
ordem na qual Cristo foi instituído nunca se encerrará.
Consequentemente, a lógica mostra que qualquer ordem
permanente é superior à que é transitória e temporária.
O autor resume seu argumento destacando a fraqueza
fundamental do sistema levítico ( 7.18). Era temporário porque seria
sucedido por outra ordem sacerdotal. E era inútil porque não
conduzia seus seguidores à maturidade. A nova ordem permanente,
por outro lado, introduziria uma “esperança superior”, isto é, levaria à
maturidade em Cristo todos os que se submetessem a ela. Portanto,
hoje não tentamos nos aproximar de Deus por meio de uma ordem
antiga, temporária e inútil, mas pela nova ordem instituída no
momento da constituição de Cristo como sacerdote da ordem de
Melquisedeque.
O sacerdócio de Cristo é superior porque
baseia-se em uma aliança melhor ( 7.20-22)
7.20-22 E isso não aconteceu sem juramento! Outros se tornaram
sacerdotes sem qualquer juramento, mas ele se tornou sacerdote com
juramento, quando Deus lhe disse: “O Senhor jurou e não se arrependerá:
‘Tu és sacerdote para sempre’”. Jesus tornou-se, por isso mesmo, a
garantia de uma aliança superior.
O sacerdócio aarônico baseava-se na aliança mosaica, que era
temporária e condicional. Por isso, os ministros da ordem levítica não
tinham garantia de que seu cargo permaneceria. Jesus Cristo, por
sua vez, foi instituído no sacerdócio por um juramento ou aliança que
Deus Pai celebrou com Deus Filho. Referindo-se mais uma vez a
Salmos 110.4, o escritor afirma: “O Senhor jurou e não se
arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre’”. A declaração que
nomeia seu Filho como sacerdote é entendida como uma aliança
incondicional e imutável. Deus jamais estabelecera um fundamento
dessa espécie para o sacerdócio levítico. Portanto, o sacerdócio de
Cristo segundo Melquisedeque apoia-se sobre um alicerce melhor. E
a “aliança superior” ( 7.22) é a aliança que o Pai fez com o Filho,
confirmando-o como sacerdote eterno da ordem de Melquisedeque.
Isso significa que Cristo é um sacerdote singular, individual,
atemporal e real, um sacerdote de quem virão bênçãos espirituais e
materiais. E certamente qualquer sacerdócio apoiado em uma
aliança eterna é superior ao sacerdócio anterior, que se baseava em
uma aliança temporária e condicional.
O sacerdócio de Cristo baseia-se
na vida da ressurreição ( 7.23-25)
7.23-25 Ora, daqueles sacerdotes tem havido muitos, porque a morte os
impede de continuar em seu ofício; mas, visto que vive para sempre,
Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de salvar
definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, pois
vive sempre para interceder por eles.
☙ Para refletir ❧
Jesus Cristo é único tanto em relação ao sacerdócio do Antigo
Testamento quanto em relação a todas as religiões do mundo. Ele é o
único fundador de uma religião que hoje não está em um túmulo. É o
único que oferece a si mesmo como caminho para Deus em vez de impor
um conjunto de regras ou um código moral. E ele é o único que afirma ser
a palavra definitiva e final de Deus sobre pecado, salvação e vida eterna.
O sacerdócio aarônico compunha-se de uma sequência interminável
de sacerdotes que em algum momento morreram. Nenhum
sacerdote dessa ordem era permanente, pois seu serviço terminava
com sua morte. Jesus Cristo, no entanto, foi introduzido em seu
ministério sacerdotal após sua ressurreição; e, sendo alguém que
possui vida ressurreta eterna, seu sacerdócio nunca terminará.
Quando o povo vivia sob a ordem levítica, mal conseguia acostumar-
se a um sacerdote, pois logo precisava, por causa da morte deste,
acostumar-se a outro. Mas, como o sacerdócio de Cristo se baseia
em vida ressurreta, quem desfruta de seu ministério nunca precisará
adaptar-se a um sucessor, pois o Senhor exerce “um sacerdócio
permanente”.
O autor mostra o resultado de ter um sacerdote que ministra com
base em uma vida ressurreta eterna: “Portanto, ele é capaz de salvar
definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de
Deus...”. Aqui ele não se refere à obra redentora que salva os
pecadores do juízo e da morte, mas usa a expressão “salvar” no
sentido de “levar ao fim que Deus deseja”, isto é, de conduzi-los da
imaturidade à plena maturidade nele. O que a Lei não conseguia
realizar por meio de uma sucessão interminável de sacerdotes cujo
ministério temporário se baseava em uma aliança condicional, nosso
Sumo Sacerdote realizará porque seu serviço se baseia na aliança
eterna estabelecida por Deus Pai. Essa aliança instituiu-o em um
sacerdócio eterno baseado no fato de que ele “vive sempre para
interceder por eles”.
O sacerdócio de Cristo é superior por
causa do caráter desse Sacerdote ( 7.26-28)
7.26-28 É de um sumo sacerdote como esse que precisávamos: santo,
inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado a cima dos céus. Ao
contrário dos outros sumos sacerdotes, ele não tem necessidade de
oferecer sacrifícios dia após dia, primeiro por seus próprios pecados e,
depois, pelos pecados do povo. E ele o fez uma vez por todas quando a
si mesmo se ofereceu. Pois a Lei constitui sumos sacerdotes a homens
que têm fraquezas; mas o juramento, que veio depois da Lei, constitui o
Filho perfeito para sempre.
Aqueles que viviam sob a antiga ordem eram beneficiados pelo
sacerdócio aarônico organizado com base na Lei mosaica, a
despeito de sua fraqueza e inutilidade, mas ainda assim
intuitivamente reconheciam que algo mais era necessário.
Instintivamente, as pessoas sabiam que quem precisava oferecer
sacrifício pelos próprios pecados não era capaz de satisfazer
completamente as exigências de um Deus justo e santo. A mesma
intuição revela qual era a necessidade. O escritor descreve agora o
tipo de sacerdote capaz de atender às nossas necessidades.
Em primeiro lugar, ele precisa ser santo . Essa palavra indica
pureza pessoal, alguém que é intrinsecamente limpo. Nesse sentido,
a palavra só pode ser aplicada a Jesus Cristo. Isso demonstra seu
relacionamento com Deus. Em seguida, ele precisa ser inculpável .
Isso destaca o fato de que nosso sacerdote não pode praticar o mal.
Isso se refere ao seu relacionamento com o ser humano. Puro
representa ausência de qualquer contaminação ou impureza que
pudesse deixar o sacerdote impuro, impedindo-o de cumprir sua
função sacerdotal. Nenhum sacerdote podia exercer seu cargo antes
que os sacrifícios requeridos fossem oferecidos, a fim de remover
suas máculas. Se nosso Sumo Sacerdote deve servir em nosso favor
sem qualquer interrupção, não pode haver nenhuma impureza que
interrompa seu ministério. Somente Cristo está livre dessas
impurezas a ponto de poder ministrar perpetuamente em nosso
favor.
A expressão “separado dos pecadores” parece sugerir o lugar em
que o ministério sacerdotal será exercido. O sacerdote da ordem de
Arão ministrava cercado por pecadores, que o procuravam para que
ele apresentasse seus sacrifícios pelos pecados. Mesmo cercados
por pecadores, os sacerdotes aarônicos retiravam-se para o Lugar
Santíssimo no Dia da Expiação, a fim de apresentar sangue para
cobrir a Lei transgredida. Mas Cristo, na sua ressurreição, deixou a
esfera de habitação do ser humano pecador e foi para a presença
imediata de Deus, a fim de ministrar em nosso favor. A frase final –
“[foi] exaltado acima dos céus” – mostra o caminho pelo qual o Sumo
Sacerdote “foi” separado dos pecadores. O verbo implícito “foi”
enfatiza que ele entrou em um estado permanente de exaltação que
não abandonará mais, enquanto no Dia da Expiação o sumo
sacerdote precisava sair do Santo dos Santos para voltar a ficar em
meio ao povo pecador. Assim, o caráter pessoal de Cristo torna-o
muito superior a qualquer sacerdote que tenha ministrado sob a
tradição aarônica.
☙ Para refletir ❧
Se o próprio Jesus Cristo é santo, inculpável e puro, que tipo de vida
caracterizará aqueles que se aproximaram dele e confiam nele para levá-
los à maturidade espiritual? Quem deseja viver para Cristo e se submete
à sua obra em sua vida vai se tornar cada vez mais parecido com ele.
Agora o autor apresenta uma segunda diferença, a saber, em
relação ao objeto do sacrifício e à frequência com que era oferecido.
Os sacerdotes levíticos apresentavam sacrifícios animais dia após
dia. Por causa da sua insuficiência para eliminar definitivamente o
pecado, os sacrifícios precisavam ser repetidos. Eles eram
realizados tanto em favor do sacerdote quanto em favor do povo.
Já nosso Sumo Sacerdote apresentou uma única oferta. Ofereceu
a si mesmo. Seu sacrifício atendeu às exigências da santidade e da
justiça divinas, de forma que nunca mais precisará ser repetido. O
que ele fez valeu “uma vez por todas”. Seu sacrifício de si mesmo
não foi por si mesmo, já que ele não tem pecado. Antes, foi um
sacrifício suficiente por todos os pecadores. É preciso observar que,
embora na crucificação o sacrifício seja o próprio Cristo, naquele
momento ele não atuava como sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque. Em vez disso, Deus Pai foi quem ofereceu seu Filho
como sacrifício ( Sl 22.15; Is 53.10). Jesus Cristo tornou-se sacrifício
quando se submeteu sem reservas à vontade de seu Pai, da mesma
forma que Isaque se tornou sacrifício quando se submeteu à vontade
de Abraão. Tornou-se sacrifício quando “a si mesmo se ofereceu”.
A Lei nomeava homens pecadores, fracos e mortais para o cargo
de sacerdote; mas, quando Deus confirmou a aliança que nomearia
um sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, ele
escolheu seu próprio Filho, que, por ser “santo, inculpável, puro,
separado dos pecadores, exaltado acima dos céus”, é capaz de ser o
mediador sacerdotal que representa Deus perante o ser humano e o
ser humano, perante Deus.
☙ Para refletir ❧
Fica óbvio que, se Jesus Cristo era o sacrifício perfeito de Deus e
ofereceu a si mesmo “uma vez por todas”, coisa alguma pode ser
acrescentada ao seu sacrifício pelos nossos pecados – nem rituais
religiosos, nem autocontrole moral, nada! Nossa salvação baseia-se única
e exclusivamente em seu sacrifício perfeito executado “uma vez por
todas”.
Resumindo o que o autor apresentou ao longo do capítulo 7 a
respeito do sacerdócio de Cristo: ele destacou que Cristo é um
sacerdote universal que representa Deus diante de todos os homens,
diferentemente do sacerdote levítico, cujo ministério limitava-se ao
povo de Israel. Cristo uniu em sua pessoa os cargos de sacerdote e
rei. Isso não acontecia na ordem de Arão, uma vez que nenhum
sacerdote dessa ordem jamais ocupou o trono. O ministério de Cristo
como Rei/Sacerdote caracterizou-se por justiça e paz, enquanto o
sacerdócio aarônico ocupava-se de pecado e juízo. Cristo foi um
sacerdote singular pelo fato de não ter herdado o sacerdócio de
antepassados religiosos nem o ter transmitido a filhos que vieram a
sucedê-lo. O ministério de Cristo como Rei/Sacerdote levou o ser
humano ao alvo desejado por Deus, isto é, à maturidade, enquanto
as pessoas que viviam sob a ordem de Arão permaneciam em
perpétuo estado de infância espiritual. O ministério de Cristo resultou
em bênção, enquanto a ordem aarônica produziu apenas resultados
fracos e inúteis. O sacerdócio de Cristo apoiava-se em uma aliança
feita pelo Pai com o Filho, que confirmou o segundo como Sacerdote
para sempre. Por isso, o ministério de Cristo como sacerdote é
imutável e permanente, baseado em sua vida ressurreta, enquanto o
ministério aarônico era executado por uma sucessão interminável de
sacerdotes mortais. E o sacerdócio de Cristo fundamentava-se no
caráter sem pecado do sacerdote, enquanto a ordem de Arão era
exercida por homens pecadores.
☙ Para refletir ❧
Quanto mais estudamos a Palavra de Deus, mais entendemos que o
epicentro de sua revelação não é a nossa salvação, por mais maravilhosa
que ela seja. Antes, o foco da Escritura é o plano perfeito de Deus para
toda a criação, que culminará no reino e domínio de seu Filho, Jesus
Cristo, sobre todas as coisas. Foi só pela execução do plano perfeito de
Deus que fomos criados, autorizados a cair sob o domínio de Satanás,
apenas para sermos redimidos por sua graça e assim escapar do juízo
que recairá sobre Satanás e seu rebelde exército de seres angelicais. O
mais incrível de tudo: em todo esse plano – incluindo sua aliança com
Abraão, a entrega da Lei mosaica e tudo aquilo que antecipava o
ministério de Cristo –, não há um único erro ou contradição!
Dessa forma, não resta dúvida a respeito da superioridade do
sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico.
☙ Para refletir ❧
A oração de arrependimento de Davi e sua súplica por purificação pelo
sangue oferecido no Dia da Expiação eram a base do seu perdão diante
de Deus. E, embora saibamos, pelo relato bíblico, que as consequências
de seu pecado não foram eliminadas, ele não sofreu a pena de morte
prescrita pela Lei. Quando nós mesmos lidamos com nosso pecado,
precisamos manter esses dois aspectos da provisão de Deus em mente:
(1) é somente pelo sangue de Jesus Cristo que somos perdoados, não
pelo nosso próprio mérito nem pelas nossas promessas de que
“tomaremos jeito”; (2) as consequências do nosso pecado podem ficar,
mesmo quando somos perdoados. Isso, por si só, deveria ser suficiente
para nos motivar a viver de forma santa e fazer todo o possível para evitar
o pecado no futuro.
No versículo 13, o autor refere-se a dois rituais levíticos destinados à
purificação exterior. O primeiro era o sacrifício propiciatório no Dia da
Expiação ( Lv 16). O segundo era a purificação por meio da
cerimônia da novilha vermelha ( Nm 19). O primeiro estava ligado à
impureza nacional; o segundo, à impureza individual. Ambos traziam
purificação, mas apenas tornavam “exteriormente puros”, ou seja,
traziam pureza externa. Removiam a impureza externa e limpavam
por fora.
No entanto, o que o pecador precisava ia muito além do exterior.
Havia também uma necessidade na esfera da consciência, que era
interior. Essa necessidade era espiritual, não física. Para tratar dela,
era preciso uma oferta muito mais valiosa do que a de bezerros,
bodes ou novilhas. Lembre-se: os animais estavam debaixo da
maldição de Gênesis 3.14, e o que está amaldiçoado não é capaz de
trazer reparação completa a um Deus santo. No entanto, uma vez
que Jesus era “imaculad[o]”, seu sangue foi oferecido para prover um
sacrifício propiciatório totalmente aceitável a Deus. Enquanto o
sangue de animais trazia purificação exterior, o sangue de Cristo era
capaz de “purificar... a nossa consciência”. Só ele poderia satisfazer
a profunda carência espiritual do pecador.
Aqui o autor faz diversas comparações. A primeira refere-se ao
tipo de sangue que estava sendo oferecido. Há uma grande
diferença entre o sangue de animais amaldiçoados e o sangue de
Cristo, que estava totalmente isento de qualquer mancha de pecado.
O segundo contraste aparece no tipo de purificação – a diferença
entre a purificação exterior, por meio do sangue de sacrifícios
animais, e a purificação interior, por meio da oferta do sangue de
Cristo.
☙ Para refletir ❧
Nunca se esqueça de que é a consciência humana que precisa de
purificação, não apenas nosso comportamento. Se você leva uma vida
exteriormente aceitável, mas não tem uma consciência limpa diante de
Deus, seu relacionamento com Cristo está incompleto. Permita sempre
que a Palavra de Deus sonde não apenas suas ações, mas também os
“pensamentos e as intenções do coração”.
Também havia uma diferença no fato de que os sacrifícios animais
eram involuntários, enquanto o sacrifício de Cristo foi voluntário. Ele
“ofereceu a si mesmo” (NVT), e o que foi oferecido a Deus de forma
voluntária tem mais valor do que o que era involuntário. Sobre isso, o
texto diz que “pelo Espírito eterno se ofereceu”. O Espírito pode ser
uma referência ao Espírito Santo, o que parece ser apoiado pelo uso
da palavra “eterno”. No entanto, pode referir-se ao espírito humano
de Cristo, chamado de eterno por causa da união perfeita entre sua
humanidade e sua divindade. A primeira interpretação talvez se refira
a uma capacitação que Cristo teria recebido do Espírito Santo para
poder oferecer-se como sacrifício, mas a segunda parece preferível.
O argumento do apóstolo parece destacar que os animais iam
involuntariamente para o sacrifício, enquanto a oferta de Cristo foi
voluntária. Por sua própria decisão, entregou a si mesmo à morte
como substituto pelo pecador. Portanto, sua oferta foi um ato
espiritual, não uma ação exterior e carnal. Como resultado desse tipo
de sacrifício, a morte de Cristo não apenas remove a corrupção, mas
também a fonte dela. A consciência é purificada, de forma que não
realiza mais sua obra condenatória. Como resultado, o ser humano
se sente livre para servir a Deus. Alguém que está sob a condenação
de sua consciência não tem liberdade para servir ao Senhor; mas o
indivíduo libertado da incômoda culpa do pecado consegue servir-lhe
com alegria.
A ratificação da nova aliança ( 9.15-22)
9.15-22 Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para
que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto
que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a
primeira aliança. No caso de um testamento, é necessário que se
comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado
no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo quem o
fez. Por isso, nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue. Quando
Moisés terminou de proclamar todos os mandamentos da Lei a todo o
povo, levou sangue de novilhos e de bodes, e também água, lã vermelha
e ramos de hissopo, e aspergiu o próprio livro e todo o povo, dizendo:
“Este é o sangue da aliança que Deus ordenou que vocês obedeçam”. Da
mesma forma, aspergiu com o sangue o tabernáculo e todos os utensílios
das suas cerimônias. De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são
purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão.
☙ Para refletir ❧
O desejo de servir a Deus será uma consequência natural da purificação
da consciência. É por isso que o Novo Testamento ensina que alguém
que professa conhecer a Cristo, mas não demonstra qualquer evidência
de um desejo de servir a Deus, na verdade não o conhece. Pelo lado
positivo, quem vem a Cristo para obter sua purificação perfeita fica livre
para servir a Deus com alegria por meio de uma consciência limpa!
O versículo 15 extrai uma conclusão baseada no tipo de sacrifício
realizado por Cristo e na natureza do sangue oferecido ( 9.14). Com
sua morte, Cristo estabeleceu a “nova aliança”, que é a base da
“eterna redenção” ( 9.12). Essa nova aliança foi estabelecida quando
ele “morreu”. E essa nova aliança operou em primeiro lugar o
“resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança”.
Essa “primeira aliança” é uma referência à Lei mosaica. No Dia da
Expiação, os pecados da nação eram cobertos pelo sangue até o Dia
da Expiação seguinte, quando os pecados acumulados precisavam
ser compensados novamente. Para entender melhor esse processo,
poderíamos comparar o Dia da Expiação com uma nota promissória.
Essa nota tinha vencimento anual e, em razão da inadimplência, os
devedores solicitavam uma prorrogação de sua dívida por mais doze
meses. Da mesma forma, os pecados da nação acumulavam-se ano
a ano. O Dia da Expiação não cancelava a dívida; apenas adiava a
cobrança por mais um ano. Mas então veio Jesus Cristo, de forma
que, por sua morte, pudesse pagar por completo a dívida das
transgressões acumuladas. É isso que Paulo afirma em Romanos
3.25, quando, falando de Cristo, escreve: “Deus apresentou Jesus
como sacrifício pelo pecado, com o sangue que ele derramou,
mostrando assim sua justiça em favor dos que creem. No passado
ele se conteve e não castigou os pecados antes cometidos” (NVT).
O segundo resultado é a possibilidade de que aqueles que vivem
depois do estabelecimento da nova aliança “recebam a promessa da
herança eterna” ( 9.15). Depois de afirmar que a nova aliança foi
inaugurada quando “houve uma morte” (NAA), o escritor passa a
mostrar, no versículo 16, que essa morte era necessária para o início
da nova aliança – aquela que pode oferecer redenção por pecados
passados e prover uma herança eterna no futuro.
A palavra traduzida por “testamento” no versículo 16 seria mais
bem vertida como “aliança”, como foi feito em textos anteriores ( Hb
7.22; 8.7-13). O motivo é que o escritor não está se referindo ao
documento que transfere o espólio para um herdeiro após a morte do
testador. Antes, refere-se à formalização ou ratificação de uma
aliança. Nos tempos bíblicos, as alianças podiam ser seladas
mediante aperto de mãos ( Ed 10.19), pela troca de sandálias ( Rt
4.7) ou pela troca de sal ( 2Cr 13.5). Pelas características formais
desses rituais, essas alianças eram consideradas temporárias. Já
para celebrar uma aliança permanente, precisava-se do sangue de
um sacrifício (veja Gn 15.9-21). Como já demonstramos
anteriormente, quando se celebrava uma aliança de sangue,
inicialmente os participantes do acordo negociavam os termos. Em
seguida, sacrificavam um animal e dividiam a carcaça em duas
partes, que eram colocadas no chão. O animal era visto como um
substituto na morte para as duas pessoas que entravam em aliança.
Então, os dois passavam juntos entre as metades do animal, ficando
assim ligados pelo sangue. Como o animal era um substituto para as
pessoas que celebravam o acordo, ele indicava que, uma vez que
ambos tinham morrido, era-lhes impossível mudar os termos da
aliança.
☙ Para refletir ❧
Se a salvação pessoal hoje se baseia na mesma certeza inabalável
implícita na aliança de Deus com Abraão e depende da capacidade do
Senhor para cumprir o que prometeu, é impossível que um cristão “perca”
ou seja privado de uma salvação que Deus já lhe concedeu.
Neste ponto, é preciso enfatizar que, numa aliança de sangue, o
animal sacrificado era um substituto na morte para os celebrantes do
acordo. A nova aliança que garante a redenção eterna era uma
aliança de sangue. Portanto, uma vez que Cristo é quem firma essa
aliança, sua morte era essencial ( 9.16). Quando duas pessoas
celebravam uma aliança de sangue, mesmo que concordassem nos
termos, não estariam obrigadas a cumpri-la enquanto o sacrifício
animal não fosse realizado. Pela lógica, então, ainda que o Antigo
Testamento prometesse redenção eterna, as bênçãos dessa
promessa não estariam disponíveis enquanto aquele que oferecia a
nova aliança não se oferecesse como sacrifício pelos pecados do
mundo. Agora que Cristo derramara seu sangue, oferecendo-o a
Deus em sacrifício, as bênçãos da nova aliança estavam
imediatamente disponíveis.
Ao prever a celebração dessa nova aliança por meio da morte de
Cristo, Jeremias 31.34 prometeu: “... eu lhes perdoarei a maldade e
não me lembrarei mais dos seus pecados”. A remoção prefigurada
dos pecados dos culpados (pelo envio do bode expiatório para o
deserto no Dia da Expiação) agora se concretizava na celebração da
nova aliança. A necessidade de consolidar uma aliança com sangue
fica clara na constatação de que “nem a primeira aliança [a de
Moisés] foi sancionada sem sangue”. Com essa referência a Êxodo
24.1-8, os leitores são lembrados de que a aliança mosaica foi
confirmada com sangue. Embora todo o sistema levítico fosse
ordenado por Deus, ele era inútil sem o sangue que o fundamentava,
pois “sem derramamento de sangue não há perdão” ( 9.22).
Dessa forma, o escritor mostra que a remoção do pecado e a
eterna salvação que Deus dá por meio da nova aliança estão
baseadas no fato de que Cristo ofereceu seu sangue puro de forma
voluntária, racional e espontânea. Ele não ratificou sua aliança com o
sangue de um animal, mas com seu próprio sangue. Uma vez que a
nova aliança foi confirmada pelo sangue de uma pessoa eterna, ela
se torna igualmente eterna e imutável, concedendo uma herança
eterna. Assim como a confirmação da antiga aliança mediante
sangue mostrava que ela era imutável, a ratificação da nova aliança
por meio do sangue superior de Cristo mostra que ela é eterna e
imutável.
O ministério de Cristo no novo tabe rnáculo ( 9.23-28)
O ministério no céu ( 9.23-24)
9.23-24 Portanto, era necessário que as cópias das coisas que estão nos
céus fossem purificadas com esses sacrifícios, mas as próprias coisas
celestiais com sacrifícios superiores. Pois Cristo não entrou em santuário
feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou
nos céus, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor.
Ao comparar a obra do nosso grande Sumo Sacerdote com o serviço
de Arão no Dia da Expiação, o escritor aborda primeiro a diferença
de lugar na realização do ministério. Cristo não entrou em um
tabernáculo terreno, mas “nos céus, para agora se apresentar diante
de Deus em nosso favor” ( 9.24). Ao falar das “cópias”, o autor se
refere ao tabernáculo terreno com todos os seus objetos, sacerdócio
e rituais. O terreno não é realidade, mas apenas uma representação
obscura do ideal divino. No Dia da Expiação, tudo o que estava do
lado de fora do Lugar Santíssimo precisava ser purificado com
sangue, pois tudo o que estava fora do lugar em que Deus habitava
era considerado contaminado pelo pecado. O escritor afirma que “as
próprias coisas celestiais [precisam ser purificadas] com sacrifícios
superiores” ( 9.23).
O escritor pode ter tido várias razões para dizer que os céus
precisavam ser purificados. Assim como as coisas terrenas
precisavam de purificação e eram cópias de coisas celestiais, assim
também as coisas celestiais precisavam de purificação. Além disso,
há várias passagens que deixam claro que o céu não é puro ( Jó
4.18; 15.15; 25.5). Igualmente, está claro que as pessoas são
identificadas com a criação ( Rm 8.19-22); portanto, se o ser humano
pecou, essa contaminação estende-se para além da terra e alcança
o próprio céu, de forma que este necessita de purificação (cf. Cl
1.20). É por isso que toda a criação anseia pela sua redenção (Rm
8.19-22). Assim, como Sumo Sacerdote, Cristo não entra na
presença de Deus apenas por nós, mas também para levar
purificação às “coisas celestiais”.
☙ Para refletir ❧
Nesses dias de pluralidade religiosa, precisamos separar o conceito de
tolerância – suportar com graça a existência de muitas ideias – do
conceito de liberalismo, que seria aceitar muitos pontos de vista opostos
como igualmente válidos. A Bíblia deixa claro que a salvação que Deus
oferece por meio de Jesus Cristo não pode ser melhorada e nunca será
alterada. E, ao mesmo tempo que devemos permitir graciosamente que
seguidores de outras religiões expressem suas opiniões, em nenhum
lugar a Bíblia ensina que devemos aceitar esses pontos de vista em pé de
igualdade com o que Deus revelou por meio das Escrituras.
A exortação ( 10.19-25)
10.19-25 Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar
Santíssimo pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele
nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande
sacerdote sobre a casa de Deus. Assim, aproximemo-nos de Deus com
um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações
aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e os nossos
corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança
que professamos, pois aquele que prometeu é fiel. E consideremos uns
aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras. Não
deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas
procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês
veem que se aproxima o Dia.
Nessa exortação, os leitores são tratados como sacerdotes. É a
mesma verdade que Pedro declara quando, ao falar com os cristãos,
diz: “Vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na
edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo,
oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de
Jesus Cristo” ( 1Pe 2.5). João reitera essa verdade ao afirmar que
Cristo “nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e
Pai” ( Ap 1.6). As ilustrações usadas nessa exortação baseiam-se no
conceito de que todos os crentes foram feitos sacerdotes diante de
Deus. Ao separar Arão e seus filhos para o sacerdócio, Deus
ordenou: “... unja-os e consagre-os, para que me sirvam como
sacerdotes” ( Êx 28.41). E mais: “... consagrarei também Arão e seus
filhos para me servirem como sacerdotes” ( Êx 29.44).
Havia instruções cuidadosas a seguir em relação às roupas que o
sacerdote usava ao ministrar no tabernáculo. Antes que Arão ou
seus filhos pudessem vesti-las, eles precisavam ser lavados com
água ( Êx 29.4). Então, Arão se paramentava, para em seguida ser
ungido com um óleo especial que Deus mandara que fosse
produzido ( Êx 30.22-29). Deus disse: “Unja Arão e seus filhos e
consagre-os para que me sirvam como sacerdotes” ( Êx 30.30). Só
depois de lavar-se, vestir-se e ser ungido é que Arão estava pronto
para assumir seu ministério no tabernáculo. Arão tinha certeza de
poder ministrar na presença de Deus, pois, junto com a instituição do
holocausto contínuo, Deus dissera: “... eu os encontrarei e falarei
com você; ali me encontrarei com os israelitas... habitarei no meio
dos israelitas e serei o seu Deus... eu sou o SENHOR , o seu Deus...” (
Êx 29.42-46).
O mesmo privilégio que Arão recebeu – ministrar na presença
imediata de Deus – é entendido como o privilégio dos cristãos aos
quais o apóstolo escreve. Portanto, ele os exorta: “Assim,
aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena
convicção de fé...”. Ao dizer que nosso coração foi aspergido “para
nos purificar de uma consciência culpada” (cf. 10.22), ele sem dúvida
se refere à unção que Arão recebeu com aquele óleo especialmente
preparado. E sua referência aos “nossos corpos lavados com água
pura” (cf. 10.22) era certamente uma lembrança da lavagem que
preparava Arão para entrar no sacerdócio. Uma vez que fomos
purificados e ungidos ou separados para um ministério sacerdotal, é
nosso privilégio aproximar-nos da presença de Deus para ministrar
diante dele. Poderia haver um temor natural por entrar na presença
de Deus; mas o autor garante que podemos entrar com plena
confiança no Lugar Santíssimo, pois o véu que antigamente
separava o sacerdote da presença de Deus foi removido. Mais que
isso: podemos entrar com “ousadia” porque o fazemos “pelo sangue
de Jesus” ( 10.19, NAA). O sangue de Cristo nos purifica de tal forma
que não há mais obstáculo para que entremos na presença direta de
Deus como crentes e sacerdotes.
Enquanto na antiga ordem esse acesso à presença de Deus
estava reservado aos sacerdotes, agora esse privilégio é concedido
a todos os crentes aqui identificados como “irmãos”. Entramos não
apenas “pelo sangue”, mas também “por meio do véu”. Uma
interpretação possível é que, enquanto o véu no tabernáculo impedia
o acesso à presença de Deus, agora que ele foi rasgado em dois (
Mt 27.51) podemos ir à presença de Deus sem que haja qualquer
obstáculo entre nós e ele. Mas uma interpretação ainda melhor, e
que parece ser a intenção do escritor aqui, é que o corpo humano de
Cristo – unido à sua divindade eterna pela encarnação – é o véu.
Mediante o sacrifício de Cristo na cruz – entendido como a ruptura
do véu –, temos acesso direto a Deus. Quando Cristo se tornou
homem, foi necessário manter sua glória velada para que ele não
consumisse as pessoas com o brilho dela. Como o povo de Israel
reunido junto ao tabernáculo não podia ver a shekinah de Deus
sobre o trono da graça dentro do Lugar Santíssimo, assim quem
olhava para Jesus Cristo durante os seus anos de ministério público
não via sua real glória. Sua carne era o véu que a ocultava. Mas
essa carne foi rasgada na crucificação, de forma que agora, por
causa do véu partido, podemos nos achegar à presença desvendada
de Deus.
☙ Para refletir ❧
Talvez você já tenha tido a experiência de conviver com pessoas que
gostam de “ostentar” seus conhecidos famosos e fazem questão de citar
seus nomes. Algo em nós diz que o privilégio de poder se aproximar de
alguém com muitos recursos ou influência tem um reflexo significativo
sobre a nossa importância também. Sendo isso verdade ou não, a Bíblia
nos ensina que conhecer a Cristo nos permite entrar diretamente na
presença de Deus. Isso indica algo muito importante a nosso respeito!
Significa que agora temos acesso direto ao Criador do universo, para
quem nada é impossível. Temos linha direta para comunicar-nos com ele
em qualquer necessidade ou dificuldade. E, uma vez que nossos pecados
foram lavados pelo sangue de Cristo, somos tão amados por Deus quanto
seu próprio Filho.
Embora os crentes sejam sacerdotes e tenham o direito de
aproximar-se diretamente de Deus, eles estão debaixo da autoridade
de um Sumo Sacerdote que governa a casa do Senhor. Esse Sumo
Sacerdote não apenas nos convida a entrar na presença de Deus,
mas trabalha em nós de forma que podemos fazê-lo de “coração
sincero” e com “plena convicção de fé”. Um “coração sincero” é
aquele que, pela fé, tem segurança de que é aceitável a Deus e tem
acesso direto a ele. A única alternativa para ele é um coração que
duvida e se aproxima com medo.
A segunda exortação, baseada em nossa posição privilegiada, é:
“Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos...” (
10.23). De acordo com o uso anterior que o autor faz da palavra
“professamos” ( Hb 4.14), ela se refere ao fato de que os leitores
reconheceram publicamente a sua fé em Jesus Cristo e se
identificaram com ele pelo batismo. Ele não está pedindo que eles
façam uma nova profissão de fé, mas que se apeguem sem
hesitação, sem dúvida e sem indecisão àquela que já tinham feito. A
base para seu apelo é a fidelidade de Deus, pois “aquele que
começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo
Jesus” ( Fp 1.6).
O que o autor pede aqui é o oposto à experiência de Israel em
Cades-Barneia, quando, depois de receber a promessa da posse da
terra e das bênçãos da aliança que ela daria, o povo duvidou, vacilou
em seu compromisso e mostrou incredulidade diante do conflito que
iriam enfrentar.
☙ Para refletir ❧
Muitas empresas descobriram que uma das formas mais eficientes de
conquistar novos consumidores é anunciar um número 0800 – um
número telefônico pelo qual podem entrar em contato gratuitamente a fim
de fazer pedidos ou obter informações. Neste mundo dirigido pela
propaganda, as pessoas correm para aproveitar um acesso gratuito. Às
vezes, no entanto, isso não vale para o âmbito espiritual. Temos livre
acesso ao trono do Deus onipotente, mas muitas vezes não tiramos
proveito desse privilégio maravilhoso. Se atualmente o tempo diário para
oração não está na sua lista de prioridades, talvez seja hora de reavaliar
seu privilégio de acesso a Deus e começar a recorrer ao privilégio mais
maravilhoso disponível à humanidade.
Segue-se uma terceira exortação: “E consideremos uns aos
outros...”. Isso é consistente com a ordem de Paulo: “Por isso, pela
graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si
mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao
contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da
fé que Deus lhe concedeu. Assim como cada um de nós tem um
corpo com muitos membros e esses membros não exercem todos a
mesma função, assim também em Cristo nós, que somos muitos,
formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros” (
Rm 12.3-5). O alvo dessa exortação é incentivar “ao amor e às boas
obras”. O amor a é atitude para com os demais cristãos, enquanto as
boas obras são as ações dirigidas às necessidades dos irmãos como
demonstração desse amor.
Em seguida, o escritor considera um aspecto negativo e outro
positivo. A exortação negativa aparece quando ele recomenda que
“não deixemos de reunir-nos como igreja” ( 10.25). Parece claro que
alguns leitores, cansados dos conflitos gerados pela perseguição por
parte da comunidade religiosa, queriam esconder o fato de que
tinham deixado a antiga ordem pelo batismo. Assim, buscavam
novamente uma identificação exterior com o sistema antigo, a fim de
aliviar suas provações. Talvez alguns deles até já tivessem retornado
à exterioridade do judaísmo. Isso não é evidência de amor e boas
obras.
Já pelo lado positivo, os cristãos devem exortar uns aos outros.
Essa exortação traria encorajamento e ajuda para os crentes em
dificuldade, o que é evidência do amor pelos irmãos. Há
encorajamento para mostrar amor e boas obras no fato de que
“veem que se aproxima o Dia”. Cristo advertira os líderes religiosos
que concluíram que ele realizava os milagres pelo poder de Satanás
de que, caso persistissem em sua rejeição, aquela geração de Israel
seria culpada de um pecado para o qual não haveria perdão ( Mt
12.31-32). Como a nação insistiu em sua rejeição, Cristo anunciou
um juízo que viria sobre aquela geração (Mt 23.37–24.2). Disse:
“Haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão pela
espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações.
Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se
cumpram” ( Lc 21.23b-24).
☙ Para refletir ❧
Essa atitude de humildade e autoanulação é literalmente o oposto da
natureza humana! No entanto, esse é o modelo para o cristianismo bíblico
a ser exercido em nossa vida diária. Não importa o que digam os
marqueteiros de sucesso e os palestrantes motivacionais, na igreja cristã
não há lugar para o conceito humano de “inovadores e influenciadores”
ou para qualquer pessoa que insista em colocar a si mesmo e suas ideias
acima das necessidades de outros cristãos.
Quando Pilatos consentiu em atender à exigência dos líderes
religiosos de que Cristo fosse crucificado ( Jo 19.15), aquela geração
de Israel caiu sob juízo físico e temporal. Pedro reconheceu o estado
da nação quando, no dia de Pentecostes, suplicou ao povo: “Salvem-
se desta geração corrompida!” ( At 2.40). Enquanto continuassem
filiados àquela nação, estavam debaixo do juízo que Deus decretara
sobre aquela geração. Só quem se identificasse com Cristo por meio
do batismo, cortando assim os laços com Israel, escaparia do juízo
vindouro. Ao registrar as palavras “vocês veem que se aproxima o
Dia” ( Hb 10.25), o escritor reconhece que a geração que exigiu a
crucificação de Cristo e consequentemente caiu sob o juízo divino
estava perto de desaparecer. Já se previa o começo da guerra de
Roma contra os judeus, e em pouco tempo o general Tito conduziria
a 10a legião romana para dentro do território de Israel. Ele subjugaria
o país inteiro e, nessa conquista, destruiria a cidade de Jerusalém e
seu templo. Dessa forma, “o Dia” refere-se ao juízo divino executado
por intermédio de Tito, no qual a terra e o povo seriam forçados a se
sujeitar à autoridade de Roma. Assim, o escritor está encorajando os
fiéis a exercer perseverança e paciência, pois em breve Deus julgaria
a geração de Israel que crucificara a Cristo e estava mostrando seu
ódio por ele perseguindo os cristãos. Esse juízo acabaria com a
perseguição por parte dos judeus.
☙ Para refletir ❧
Historicamente, os cristãos que não abandonaram suas reuniões, ainda
mais à medida que a queda de Jerusalém se aproximava, passaram pela
perseguição juntos. Mas na verdade essa perseguição expulsou-os de
Jerusalém, de forma que não sofreram as atrocidades que Deus permitiu
que caíssem sobre aquela cidade pelas mãos do general romano Tito. A
resposta de Deus à perseguição atual contra a igreja bíblica conservadora
não é dissociação e distanciamento, mas unidade, comunhão e um
testemunho crescente diante de descrentes. Em vez de tentar descobrir
formas de fazer a igreja mais parecida com o mundo, para que o mundo a
frequente, deveríamos estar buscando formas de deixar a igreja mais
parecida com Cristo, para que assim a igreja vá até o mundo. E quanto
mais aumentar a oposição, mais deveríamos nos reunir exatamente com
essa finalidade.
A advertência ( 10.26-31)
10.26-31 Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que
recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos
pecados, mas tão somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo
intenso que consumirá os inimigos de Deus. Quem rejeitava a Lei de
Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três
testemunhas. Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele
que pisou aos pés o Filho de Deus, profanou o sangue da aliança pelo
qual ele foi santificado e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos
aquele que disse: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei”; e outra vez:
“O Senhor julgará o seu povo”. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus
vivo!
A palavra “se” no versículo 26 introduz a razão pela qual os cristãos
deveriam dar atenção às exortações apresentadas. As
consequências de não andar pela fé, mas pela carne e em
incredulidade, seriam de fato gravíssimas. À luz de tudo o que o
escritor lhes explicou, abandonar a reunião com os irmãos e voltar às
formas exteriores do judaísmo seria um pecado deliberado. O autor
presume que sua carta foi suficiente para que recebessem o
“conhecimento da verdade”. Uma vez que a Lei fora cancelada e
tinha sido suplantada pelo ministério de um grande Sumo Sacerdote
nas regiões celestiais, eles estariam retornando a um sistema no
qual “já não resta sacrifício pelos pecados” ( 10.26). Desde o seu
início no Sinai até a morte de Cristo, o sistema levítico tinha
oferecido sacrifícios pelos pecados, mas agora que tinha sido
eliminado não havia mais qualquer valor em realizar aqueles
sacrifícios antiquados. Portanto, o retorno a um sistema morto não
tinha mais qualquer utilidade a quem deixasse a comunhão com
outros cristãos. Em vez de encontrar benefícios, haveria apenas
“uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso” ( 10.27). Esse
juízo é aquele que Cristo predisse para a geração que o rejeitara
como Salvador e Soberano. As palavras “terrível” e “fogo intenso”
descrevem a severidade daquele juízo físico e temporal que viria em
breve.
Jesus prometera esse juízo. Em resposta à questão sobre o que
aconteceria com quem rejeitasse o Filho, é declarado: “Matará de
modo horrível esses perversos...” ( Mt 21.41), e: “Virá, matará
aqueles lavradores e dará a vinha a outros” ( Lc 20.16). A nação que,
durante várias gerações, desfrutara de relativa liberdade debaixo do
domínio romano seria desolada por um invasor implacável. Era um
juízo inevitável.
Debaixo da antiga ordem, era possível apresentar uma oferta pelo
pecado quando alguém pecava sem intenção ( Nm 15.22-29). Mas,
quando alguém pecava de forma desafiadora ou intencional, não
havia sacrifício previsto, e o pecador deliberado deveria ser
“eliminado do meio do seu povo” ( Nm 15.30). Pecado deliberado
recebia juízo. A única esperança para o pecador era suplicar por
misericórdia com base no sangue do Dia da Expiação aspergido
sobre o trono da graça. Como mostra o salmo 51, esse foi o refúgio
de Davi depois de seu pecado intencional.
Com base nesse princípio, o autor faz uma advertência severa
àqueles que entenderam que a Lei foi encerrada com a morte de
Cristo e mesmo assim estavam considerando um retorno às formas
exteriores do judaísmo. É pecado não andar pela fé ( Rm 14.23). Se
de fato voltassem, estariam retornando para um sistema no qual não
há mais nenhum sacrifício que tenha utilidade, e, por causa de seu
pecado deliberado, podiam ter certeza do juízo de Deus. Por terem
se identificado com Cristo pelo batismo, não estavam mais debaixo
do juízo que viria sobre aquela geração. Mas, se abandonassem a
comunhão com os outros cristãos e voltassem à comunidade do
templo, estariam se identificando novamente com uma nação
debaixo de juízo, e não haveria escapatória para eles quando este
chegasse.
O apóstolo certamente não está ameaçando seus leitores com a
perda da salvação; antes, advertia-os de que o juízo físico e temporal
que cairia sobre os adversários de Cristo e de seus seguidores
também os alcançaria.
A Lei exigia a pena de morte por apedrejamento para quem
pecava deliberadamente contra a Lei. Essa pena valia para o pecado
da blasfêmia ( Lv 24.15-16, 23), do adultério ( Dt 22.21-24), da
idolatria ( Dt 17.2-5; Lv 20.2) e da violação do sábado ( Nm 15.32-
36). A mesma punição era prevista para falsos profetas ( Dt 13.10),
médiuns ( Lv 20.27) e filhos rebeldes ( Nm 21.21-23). Para evitar
injustiças, era preciso a apresentação de no mínimo duas
testemunhas comprobatórias antes que fosse possível executar a
pena ( Dt 17.4-7). O autor alerta com seriedade que quem
cometesse o pecado deliberado de que trata aqui mereceria “mais
severo castigo” ( 10.29). É difícil imaginar um castigo pior do que a
morte por apedrejamento; ainda assim, quem abandonasse a
comunhão com os irmãos para identificar-se com um ritual
ultrapassado mereceria tal pena. A razão é que quem se
identificasse com a geração de Israel que deliberadamente rejeitou
Jesus Cristo como Salvador e Senhor estaria, na realidade, tolerando
esse pecado. “Pisou aos pés” refere-se a um desprezo flagrante ao
Filho de Deus. Além disso, à luz das informações que estava
recebendo por meio dessa carta, esse pecador estaria equiparando o
sangue que o santificara com o sangue comum dos sacrifícios
veterotestamentários. Dessa forma, sua atitude estaria sugerindo
que o sangue de Cristo não seria em absolutamente nada superior
ao sangue de animais.
☙ Para refletir ❧
Por mais que devamos reagir com sensibilidade e amor àqueles entre nós
que lutam contra o pecado, também devemos estar prontos e dispostos a
interpelar com honestidade e clareza quem deliberadamente escolhe uma
vida de pecado constante. O pecado sempre tem consequências, e estas
podem ser extremamente desagradáveis e dolorosas para um filho de
Deus rebelde.
Por fim, esse comportamento indicaria hostilidade ao Espírito
Santo, por cujo ministério gracioso a pessoa tinha sido levada à fé
em Jesus Cristo. A palavra “pois” no versículo 30 aponta a razão
pela qual é preciso que haja juízo para o pecado deliberado, e essa
razão deriva do caráter de Deus. Ao citar Deuteronômio 32.35-36, o
autor reitera um princípio muito bem definido. Deus é um Deus justo,
e, quando sua santidade é violada, o caráter de Deus exige que haja
punição para o culpado. Deus não pode e não irá ignorar o pecado
deliberado. E o autor lembra a quem estivesse considerando essa
decisão de que “terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” ( 10.31).
Quem se identificasse com a nação sob juízo não seria
pessoalmente considerado objeto desse juízo, mas, por causa de
sua identificação, não escaparia das consequências desse juízo.
Ilustrações da fé ( 11.2-3)
11.2-3 Pois foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho.
Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de
modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível.
No versículo 2, o autor faz uma declaração resumida que será
demonstrada no restante desse capítulo. Ele usa o termo “antigos”
como sinônimo para os patriarcas judeus. A história do Antigo
Testamento testifica que os ancestrais dos leitores receberam uma
promessa de Deus, apropriaram-se dela pela fé e então
perseveraram pacientemente até que ela estivesse cumprida. Em
momento algum, as promessas se concretizaram sobre outra base.
Ele não está dizendo que os antepassados deram testemunho da
vida de fé; antes, que sua forma de vida pela fé foi observada por
outras pessoas.
Para a fé, é necessário que ela opere igualmente tanto em relação
ao que está no passado quanto ao que está no futuro. Não havia
testemunhas humanas presentes no momento da Criação. Por isso,
precisamos depositar nossa fé no testemunho do Criador a respeito
da forma pela qual os mundos foram moldados. Vê-se isso de modo
vívido no discurso de Deus a Jó, quando o Senhor perguntou: “Onde
você estava quando lancei os alicerces da terra?” ( Jó 38.4a).
Evidentemente, as hostes angelicais presenciaram a obra da criação,
já que Jó 38.7 menciona especificamente “as estrelas matutinas” e
“os anjos” como testemunhas. Mas os anjos nunca contaram aos
homens o que viram ali, por isso não fomos chamados a depositar
nossa fé na palavra deles. No entanto, ao longo de toda Escritura
Deus deu testemunho de que tudo veio à existência por ordem dele.
É nesse fato que somos chamados a crer. A credibilidade da palavra
a respeito da criação na qual devemos crer baseia-se na pessoa que
fez essa revelação. No âmbito natural, é impossível que algo venha a
existir do nada. Mas o Deus em cuja palavra devemos crer é um
Deus que pôde trazer do nada todos os seres à existência. Um Deus
tão poderoso é digno de nossa fé.
☙ Para refletir ❧
Mais uma vez, a Bíblia estabelece uma conexão direta entre o fato de que
Deus criou todas as coisas, conforme o registro de Gênesis 1, e a fé do
crente em relação à credibilidade de Deus. Cristãos confessos que
procuram menosprezar o relato de Gênesis ou que comprometem sua fé
nele estão, na realidade, comprometendo sua fé na credibilidade de Deus
e de sua palavra. Não se pode desconsiderar isso.
Se a fé é suficiente para o que já está no passado, certamente
basta também para o que ainda está no futuro. “Ninguém jamais viu
a Deus” ( Jo 1.18), e mesmo assim cremos que ele existe com base
em tudo o que criou, de forma que a mera existência da criação
continua a falar da realidade da pessoa infinita que é seu Autor.
Mesmo sem ter visto a Deus, pela fé sabemos que ele existe.
Exemplos de fé ( 11.4-40)
Fé exemplificada no período pré-patriarcal ( 11.4-7)
11.4-7 Pela f é Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim.
Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas
ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala. Pela fé Enoque
foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; “e já não foi
encontrado, porque Deus o havia arrebatado”, pois antes de ser
arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus. Sem fé é
impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que
ele existe e que recompensa aqueles que o buscam. Pela fé Noé, quando
avisado a respeito de coisas que ainda não se viam, movido por santo
temor, construiu uma arca para salvar sua família. Por meio da fé ele
condenou o mundo e tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a fé.
O primeiro exemplo de fé que o autor cita é Abel. Ele não foi o
primeiro a exercitar fé, pois Adão creu na promessa de Deus quando
deu à mulher o nome de Eva, “pois ela seria mãe de toda a
humanidade” ( Gn 3.20). Mas o escritor destaca um evento
específico da vida de Abel – o sacrifício que ele trouxe a Deus ( Gn
4.4). Esse sacrifício é descrito como sendo “superior”, o que pode se
referir à qualidade da oferta. A palavra também poderia significar
“mais abundante”, enfatizando a quantidade que ele sacrificou.
Aparentemente, os sacrifícios tanto de Abel quanto de Caim foram
oferecidos como atos de adoração. Ambos reconheceram sua
obrigação como criaturas diante do Criador. Mais tarde, segundo a
Lei levítica, a pessoa podia adorar a Deus por meio de um sacrifício
animal (o holocausto de Lv 1 ou a oferta de comunhão de Lv 3), ou
por meio de uma oferta de cereal ( Lv 2). Tanto o sacrifício animal
quanto o cereal eram perfeitamente aceitáveis a Deus como atos de
adoração. Por isso, quando Caim ofereceu seu sacrifício – que tinha
custado bem mais esforço do que o sacrifício de Abel –, ele poderia
ter sido aceito. No entanto, o sacrifício de Caim foi oferecido por
obrigação e sem fé , enquanto o sacrifício de Abel, ao mesmo tempo
que reconhecia sua obrigação, foi oferecido em fé . Dessa forma, o
escritor de Hebreus enfatiza o fato de que a obrigação de Abel foi
substituída pela fé ( Hb 11.4). Abel não foi justificado por causa de
seu sacrifício, mas por causa da fé que produziu obediência. Por
isso, foi declarado justo. Deus viu seu sacrifício como evidência de
sua fé. Mesmo que isso tenha acontecido há muito tempo, Abel
continua dando testemunho de que a fé produz obediência e que
adoração oferecida a Deus pela fé é aceitável.
Enoque é o próximo que dá testemunho da vida de fé ( 11.5-6).
Pela fé, ele andou em comunhão com Deus, e sua fé produziu uma
justiça que agradou ao Senhor. Mesmo vivendo em uma época
corrupta que caminhava a passos largos para o juízo pelo Dilúvio,
Enoque não se conformou com os padrões da sua época, mas
andou de acordo com os padrões da justiça de Deus. Sua fé
produziu uma vida que agradou tanto a Deus que este o trasladou
para a sua presença sem que ele passasse pela morte física.
Enoque não pregou uma mensagem que chamava os homens à fé;
antes, outros deram testemunho do fato de que, pela fé, Enoque
levara uma vida que agradou a Deus. O escritor toma o cuidado de
deixar claro que a única forma possível de andar de modo agradável
a Deus é caminhar pela fé. Por isso, o versículo 6 destaca o conceito
de que “sem fé é impossível agradar a Deus”. Quem quer viver de
forma que agrade a Deus precisa, em primeiro lugar, crer que ele
existe e depois acreditar que Deus tem comunhão com aqueles que
procuram agradar-lhe pela fé. Sem esses dois conceitos básicos,
ninguém procuraria andar pela fé.
Noé é o próximo personagem do período pré-patriarcal que recebe
nossa atenção. Deus disse-lhe: “Darei fim a todos os seres humanos,
porque a terra encheu-se de violência por causa deles. Eu os
destruirei com a terra” ( Gn 6.13). Noé acreditou no Senhor, ainda
que a ação prometida por Deus estivesse em um futuro distante. A
causa para seu temor reverente a Deus era sua fé. Ele a demonstrou
por sua obediência, ao passar à construção da arca de acordo com o
plano que Deus lhe revelara ( Gn 6.14-22). A obediência de Noé
pôde ser vista no empreendimento da construção da arca, que
decretou o juízo sobre sua geração desobediente. A obediência de
Noé condenou a desobediência das pessoas. Não foi sua obediência
que lhe deu justiça como herança; antes, sua fé no Deus que
anunciara o juízo produziu justiça, que o Senhor lhe creditou por sua
fé.
Dessa forma, no período pré-patriarcal, Abel demonstrou sua fé
quando reconheceu sua obrigação para com o Criador; a fé de
Enoque ficou clara em sua comunhão com Deus; e a fé de Noé
manifestou-se em sua obediência às ordens do Senhor.
Fé exemplificada no período patriarcal ( 11.8-22)
11.8-22 Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um
lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para
onde estava indo. Pela fé peregrinou na terra prometida como se
estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como Isaque e Jacó,
co-herdeiros da mesma promessa. Pois ele esperava a cidade que tem
alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus. Pela fé Abraão – e também a
própria Sara, apesar de estéril e avançada em idade – recebeu poder
para gerar um filho, porque considerou fiel aquele que lhe havia feito a
promessa. Assim, daquele homem já sem vitalidade originaram-se
descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e tão incontáveis
como a areia da praia do mar. Todos esses viveram pela fé e morreram
sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o
saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra.
Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se
estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de
voltar. Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria
celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o
Deus deles e lhes preparou uma cidade. Pela fé Abraão, quando Deus o
pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido
as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho, embora Deus
lhe tivesse dito: “Por meio de Isaque a sua descendência será
considerada”. Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os
mortos e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos. Pela
fé Isaque abençoou Jacó e Esaú com respeito ao futuro deles. Pela fé
Jacó, à beira da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou a
Deus, apoiado na extremidade do seu bordão. Pela fé José, no fim da
vida, fez menção ao êxodo dos israelitas do Egito e deu instruções acerca
dos seus próprios ossos.
☙ Para refletir ❧
O Dilúvio em Gênesis e o papel de Noé nele é outro episódio de Gênesis
1–11 que o autor de Hebreus interpreta de forma literal e sem qualquer
questionamento. É interessante que a credibilidade dessa passagem
esteja perpetuamente sob fogo cerrado do mundo, enquanto a própria
Bíblia usa o mesmo trecho crucial como base para grande parte do que
ensina sobre a natureza de Deus e a fé dos seguidores que confiam nele.
Agora o autor apresenta acontecimentos da vida de Abraão (Abrão)
a fim de mostrar que a fé dele produziu obediência ao Deus que lhe
fez as promessas. Deus manifestou-se a um pagão, que vivia em
uma família pagã, em um país pagão ( Js 24.2). O Senhor
convenceu Abraão a segui-lo pela fé. Estêvão conta que o Deus
glorioso apareceu a Abraão enquanto ele ainda morava na sua terra
natal ( At 7.2). As promessas que o Senhor lhe fez não foram, em si
mesmas, suficientes para começar uma longa viagem sem saber
para onde iria; mas a revelação da glória que pertence ao Deus que
faz as promessas bastou para chamar Abraão a crer nele. E essa fé
produziu obediência imediata. Essa obediência foi acompanhada por
perseverança e paciência, pois, antes de entrar na Terra Prometida,
Abraão precisou realizar uma jornada que cobriu quilômetros
infindáveis e durou vários anos. A fé de Abraão não era cega, ainda
que não soubesse para onde ia; afinal, a fé dele não estava
fundamentada na terra, mas no Deus que lhe prometera terra e
descendentes. E, como sua fé estava depositada em uma pessoa
tão gloriosa, não dá para chamá-la de cega. A viagem de Abraão foi
uma jornada de fé que o tirou de Ur, passando por Harã junto ao
Eufrates, até finalmente chegar a Canaã, que Deus então revelou ser
a terra que ele havia prometido ( Gn 12.6-7).
Embora os cananeus vivessem em cidades, Abraão contentou-se
em morar em tendas ( Hb 11.9). O habitante da cidade considera-se
residente permanente, enquanto aquele que mora em tendas se vê
como residente temporário. Mesmo tendo recebido a terra de Canaã
por decreto de Deus, Abraão se considerava estrangeiro em terra
estranha. Embora isso pareça indicar incredulidade da parte de
Abraão em relação à posse da terra que Deus lhe dera, na verdade
essa atitude revela que havia algo inerente à promessa de Deus que
Abraão tinha entendido e pela qual esperava pela fé. É o que aponta
o fato de que Abraão “esperava a cidade que tem alicerces, cujo
arquiteto e edificador é Deus” ( 11.10). A cidade que Deus prometera
a Abraão não seria construída na terra de Canaã que o Senhor lhe
dera, mas seria uma cidade celestial, na qual Abraão por fim
habitaria junto ao Deus que lhe fizera as promessas nas quais crera (
Hb 12.22-24). Como essa cidade celestial era seu destino maior,
Abraão se considerava apenas um residente temporário de Canaã.
Essa era a terra pela qual ele passaria em sua caminhada para o
que Deus lhe prometera. Por isso, vemos que a fé de Abraão em
Deus produziu obediência imediata. Essa obediência incluía paciente
perseverança, pois a jornada foi longa. E, até mesmo quando se
assentou na terra da promessa, ele foi chamado a perseverar com
paciência, pois aquele lugar não era seu destino definitivo. Pela fé,
ele esperaria pelo cumprimento de tudo o que Deus lhe prometera.
É interessante que o escritor não dirija nossa atenção para o
grande exemplo da fé de Abraão registrado em Gênesis 15, onde
Abraão, em resposta à promessa de Deus de que lhe daria um filho,
“creu no SENHOR , e isso lhe foi creditado como justiça” ( Gn 15.6). Se
o escritor estivesse se dirigindo a descrentes, a fim de levá-los à fé
salvadora em Cristo, dificilmente poderia ter deixado de lado o
resultado da fé de Abraão que criou a base para que Deus o
declarasse publicamente como justo (isto é, aceitável a Deus). Mas,
uma vez que o escritor fala com crentes e deseja chamar a atenção
deles para a obediência e perseverança produzidas pela fé de
Abraão, ele dirige seu foco para os incidentes específicos em que
essa fé e obediência de Abraão são demonstradas com maior
clareza.
Em seguida, ele apresenta Sara como alguém cuja fé na promessa
de Deus produziu paciência para perseverar. Logo no começo de seu
relacionamento com Abraão, Deus lhe prometera que faria dele uma
grande nação. Isso significava que Abraão precisaria ter um filho.
Essa promessa permaneceu em primeiro plano na mente de Abraão
( Gn 15.1-4). Quando Sara, que sempre tinha sido estéril ( Gn 16.1),
percebeu que não tinha condições de dar a Abraão o filho pelo qual a
promessa de Deus se realizaria, e crendo que essa promessa
precisava se cumprir, ofereceu sua escrava para que fosse
concubina do marido. Foi a fé de Sara na promessa que levou a essa
solução errada, e dessa união nasceu Ismael. Naquela época,
Abraão estava com 86 anos ( Gn 16.16). Cerca de 13 anos depois,
quando Abraão já tinha 99 ( Gn 17.1), Deus reiterou sua aliança com
ele ( Gn 17.4-8) e reafirmou a promessa de que Abraão seria pai do
filho da promessa por meio de Sara ( Gn 17.15-16).
☙ Para refletir ❧
Nossa fé frequentemente é testada quando nossas circunstâncias
presentes parecem totalmente contrárias ao que Deus nos revelou por
meio de sua Palavra. Foi exatamente essa situação que Abraão
enfrentou, mas mesmo assim ele não caiu no erro de “duvidar à noite do
que Deus lhe disse de dia”. Em vez disso, ele levou sua vida em
conformidade com o que Deus dissera. Essa é, em essência, a lição de
Hebreus 11.
Do ponto de vista humano, um nascimento assim seria impossível.
Se Sara tivesse concebido imediatamente, a criança teria nascido
quando Abraão estivesse com 100 anos e Sara, com 90 ( Gn 17.17).
Isso seria fisicamente inviável. Quando Abraão ofereceu Ismael
como opção para que a promessa original se cumprisse, Deus o
rejeitou e garantiu que o filho da promessa viria por intermédio de
Sara ( Gn 17.19). E ainda revelou o momento específico em que
essa criança nasceria ( Gn 17.21). Aparentemente, embora Sara
conhecesse a promessa original e soubesse a respeito da revelação
de Deus de que ela seria a mãe do filho prometido, sua esterilidade (
Gn 16.1) e idade avançada ( Gn 18.11-12) levaram sua fé a vacilar.
Para fortalecê-la, Deus enviou mensageiros angelicais para reafirmar
o que lhe revelara anteriormente por meio de Abraão. Prometeu que
“Sara, sua mulher, terá um filho” ( Gn 18.10). Sara ouviu a
mensagem e reagiu com uma risada. Quando Abraão riu ao ouvir a
mensagem de Deus ( Gn 17.17), isso foi uma reação de alegria, pois
ele acreditou no que o Senhor lhe dissera. Já a risada de Sara era de
incredulidade, pois ela só conseguia pensar em sua esterilidade e
idade. Não olhou para além das circunstâncias, para o poder de
Deus que era suficiente para cumprir o que ele prometera ( Gn
18.14). Nesse momento, Sara certamente não estava respondendo
com fé à promessa de Deus. Era preciso que tanto Abraão quanto
Sara cressem na mensagem, por isso tornou-se necessário
fortalecer aquela fé hesitante.
☙ Para refletir ❧
Deus honra a motivação certa executada com métodos errados?
Aparentemente sim, embora possa permitir que os métodos errados
sigam seu curso e produzam seus resultados infelizes. Se você se viu em
uma enrascada, a despeito de seu desejo genuíno de agradar a Deus e
servir-lhe de forma obediente, não perca o ânimo. A fé de Sara na
promessa de Deus, ainda que mal aplicada no incidente com Hagar, foi
significativa o bastante para que Deus a incluísse nessa “galeria da fé”.
Ao entregar a mensagem sobre o nascimento de Isaque, os anjos
também anunciaram juízo sobre Sodoma e Gomorra. Em seguida,
deixaram Abraão e Sara e foram até Sodoma e Gomorra para
destruir essas cidades perversas ( Gn 19.13). Como Ló não teve
tempo para se preparar para a fuga ( Gn 19.15), podemos concluir
que o juízo sobre Sodoma e Gomorra se concretizou poucos dias
depois. E não apenas isso: Abraão e Sara tiveram a oportunidade de
ver a destruição das cidades ( Gn 19.27-28). Assim, a mensagem
dos anjos para Abraão e Sara tinha duas partes. Primeiro, Sara
conceberia e daria à luz um filho; segundo, Sodoma e Gomorra
seriam destruídas. A conclusão então é que, se Deus cumpriu uma
das partes de sua promessa de forma literal, eles poderiam confiar
em que ele faria o mesmo com a outra parte. Assim, a destruição das
cidades apoiou e fortaleceu a fé de Sara na promessa de Deus.
O escritor de Hebreus deixa muito claro que o nascimento de
Isaque foi resultado da fé de Sara e que o Senhor a levou a olhar
para além das circunstâncias contrárias, para o Deus que fizera as
promessas. Assim, Sara foi levada ao ponto em que “considerou fiel
aquele que lhe havia feito a promessa” ( Hb 11.11). É óbvio que
passou um longo tempo entre a primeira promessa sobre o filho ( Gn
12.2) até que ele de fato nascesse ( Gn 21). Também houve um
período mais longo entre a confirmação da promessa por parte de
Deus ( Gn 17.15-19) e o nascimento em si. Isso testou a fé de
Abraão e Sara, e eles demonstraram paciente perseverança
enquanto esperavam pelo cumprimento da promessa durante esse
tempo de provação.
Os descendentes de Abraão, aos quais o autor da carta escreve,
eram parte desse cumprimento. Deus prometera a Abraão que seus
descendentes seriam incontáveis como a areia da praia ou as
estrelas no céu ( Gn 13.16; 15.5; 22.17; 26.4). Mas o autor deixa
claro que a fé de Abraão e Sara olhava para além do nascimento de
Isaque, pois esse nascimento não cumpriu tudo o que Deus lhes
prometera. Até o nascimento de Isaque, eles continuaram vivendo de
acordo com a regra da fé, ou sob sua influência e conforme seu
princípio. Até o fim de seus dias, havia aspectos da promessa pelos
quais eles continuavam esperando. É evidente que a fé produziu
neles perseverança paciente e contínua.
Como o escritor tinha dito antes, eles “esperava[m] a cidade que
tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus” ( Hb 11.10). Mesmo
que não tivessem entrado naquela cidade prometida, tinham certeza
de que ela existia e que eles mesmos tinham direito a ela. Essa
certeza era resultado de sua fé, e isso mudou sua atitude em relação
à terra na qual viviam. Ela lhes fora dada como posse permanente
(Gn 12.7), e ainda assim eles se consideravam “estrangeiros e
peregrinos” ( Hb 11.13). Reconheciam que estavam em terra
estranha, pois a cidade prometida é que era sua posse permanente.
Como peregrinos, não tinham posse permanente da terra na qual
viviam, nem cidadania aqui, pois sua verdadeira cidadania estava
naquela cidade celestial prometida (cf. Fp 3.20). Não viam a
Mesopotâmia como sua pátria, embora não houvesse nenhum
impedimento ao seu retorno para lá. Pela fé, contentaram-se em
morar como estrangeiros e peregrinos em Canaã, esperando pelo
cumprimento definitivo do que Deus lhes assegurara. Pela fé,
esperaram por esse cumprimento e perseveraram com paciência.
Por causa da fé deles, Deus identificou-se de tal forma com
Abraão que, ao falar com os descendentes deste, apresentou-se ao
longo de todo o livro de Êxodo como “o Deus de Abraão , de Isaque
e de Jacó” ( Êx 3.16, ênfase acrescentada). A prova de que Deus se
identifica com quem anda pela fé aparece na explicação “lhes
preparou uma cidade” ( Hb 11.16). Em resposta à fé deles, Deus
preparou uma cidade na qual os identificará consigo mesmo ( 12.22-
24).
☙ Para refletir ❧
Isso deveria servir de encorajamento para quem entende os resultados
animadores e motivadores do estudo da profecia bíblica. A revelação do
Senhor sobre aquela “cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador
é Deus” está muito mais completa hoje do que nos dias de Abraão; dessa
forma, podemos extrair do nosso estudo a respeito das coisas futuras o
mesmo tipo de certeza e esperança que aqueles dois santos tinham.
Enquanto aguardava pelo cumprimento definitivo da promessa de
Deus, Abraão mostrou perseverança e paciência pela fé ao obedecer
à ordem do Senhor de oferecer-lhe em sacrifício o filho prometido.
Isso demonstra com muita nitidez a obediência da fé de Abraão.
Deus tinha deixado muito claro que a aliança feita com Abraão só
poderia se cumprir por intermédio de Isaque ( Gn 17.19). Por isso,
Abraão deve ter estranhado muito a ordem divina: “Tome seu filho,
seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de
Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe
indicarei” ( Gn 22.2). Embora Abraão não tivesse percebido isso,
essa ordem destinava-se a testar não apenas a sua fé, mas também
a obediência derivada dessa fé. A prova não era tanto para saber se
ele obedeceria a Deus, mas se ele acreditaria que Deus cumpriria
suas promessas, apesar da morte do único por meio do qual elas
poderiam se cumprir.
A fé de Abraão não vacilou, e sua obediência foi imediata. Ele
conseguia acreditar que a promessa se cumpriria por meio de Isaque
porque “levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos” ( Hb
11.19). Como a determinação era oferecer Isaque em holocausto ( Lv
1.1-17), não se tratava de um sacrifício para a expiação de algum
pecado, mas de um ato de adoração a Deus. E a obediência de
Abraão foi, em si mesma, adoração aceitável. Assim, baseado na
vida de Abraão, o escritor expressa o desejo de que seus leitores
“imitem aqueles que, por meio da fé e da paciência, recebem a
herança prometida” ( Hb 6.12) e mostrem a mesma perseverança e
obediência como resultado de sua fé.
A aliança prometida a Abraão foi confirmada a Isaque ( Gn 26.1-5).
Isaque designou Jacó como o herdeiro escolhido das promessas e
lhe deu a bênção ( Gn 27.26-29). E, embora Esaú devesse ser servo
de Jacó, Isaque também o abençoou ( Gn 27.38-40). Da mesma
forma, Jacó escolheu José como seu herdeiro ( Gn 37.3) e abençoou
seus filhos antes de morrer ( Gn 48.10-22). Em cada um desses
momentos históricos, a promessa original de Deus e a aliança com
Abraão são reiteradas, lembrando que Deus deu Canaã a Abraão e
seus descendentes como sua posse incondicional e eterna. Cada
patriarca que abençoou a geração seguinte fez isso pela fé,
prevendo o cumprimento final da aliança de Deus. Assim, a fé
resultou em paciente perseverança.
Pouco antes de morrer, José confirmou sua fé na promessa de
Deus ao dizer: “... Deus certamente virá em auxílio de vocês e os
tirará desta terra, levando-os para a terra que prometeu com
juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” ( Gn 50.24). Por causa
dessa fé em Deus, ele tinha tanta certeza de que os descendentes
de Jacó seriam, por fim, levados de volta à terra da promessa que
fez que os israelitas lhe prometessem sob juramento que, quando
chegasse essa hora, tirariam os ossos dele do Egito e os levariam à
Terra Prometida ( Gn 50.25).
Assim, vemos que todos os personagens importantes para a
história de Israel no período patriarcal demonstraram sua fé por meio
de perseverança e obediência. É isso que o escritor de Hebreus quer
que seus leitores imitem.
Fé exemplificada na vida de Moisés ( 11.23-29)
11.23-29 Pela fé M oisés, recém-nascido, foi escondido durante três
meses por seus pais, pois estes viram que ele não era uma criança
comum e não temeram o decreto do rei. Pela fé Moisés, já adulto,
recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser maltratado
com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum
tempo. Por amor de Cristo, considerou sua desonra uma riqueza maior do
que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa. Pela fé
saiu do Egito, não temendo a ira do rei, e perseverou, porque via aquele
que é invisível. Pela fé celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue,
para que o destruidor não tocasse nos filhos mais velhos dos israelitas.
Pela fé o povo atravessou o mar Vermelho como em terra seca; mas,
quando os egípcios tentaram fazê-lo, morreram afogados.
☙ Para refletir ❧
É verdade que “Deus não tem netos” em termos de decisão pessoal em
favor de Cristo, mas a história dos patriarcas hebreus mostra a fé
salvadora sendo perpetuada de geração em geração por meio de
instrução e admoestação cuidadosas. Alguns descendentes optaram por
rejeitar esse ensino, mas outros continuaram a esperar pelo cumprimento
das promessas de Deus porque já sabiam quais eram. Não podemos
nunca negligenciar nossa grande responsabilidade em ensinar à próxima
geração os maravilhosos feitos de Deus!
A fé em Deus exemplificada por Moisés foi vista primeiro em seus
pais. O faraó havia decretado que todos os meninos hebreus
deveriam ser afogados assim que nascessem ( Êx 1.22). Mas a fé na
promessa de Deus a respeito do futuro dos descendentes de Abraão
foi maior que o medo das represálias do faraó. Procuraram um jeito
de poupar a vida desse herdeiro da promessa ( Êx 2.3). Os pais de
Moisés viveram numa época de grande adversidade, mas a fé deles
manteve-se viva mesmo em meio àquelas circunstâncias. Isso
certamente deveria influenciar a experiência dos leitores que
estavam sendo chamados a viver pela fé em meio ao seu presente
sofrimento. Vemos como Deus honrou a fé dos pais de Moisés.
Há fortes indícios históricos de que Moisés foi salvo do destino
planejado pelo faraó por Hatshepsut, a jovem filha de Tutmés I (que
ordenou a destruição dos meninos hebreus recém-nascidos – Êx 2.5-
10). Moisés tornou-se seu filho adotivo ( At 7.21). Os estudiosos
dizem que esse faraó teve um filho que, quando subiu ao trono como
Tutmés II, viu sua irmã Hatshepsut tornar-se regente e governante de
fato do país. Por fim, Tutmés II morreu sem deixar herdeiro legítimo,
mas, como tanto seu pai quanto sua irmã tinham previsto essa
ausência de um sucessor, é possível que tenham decidido que
Moisés se tornaria o herdeiro do trono. Assim, desde a sua infância
Moisés foi muito bem educado, como declara Estêvão: “Moisés foi
educado em toda a sabedoria dos egípcios e veio a ser poderoso em
palavras e obras” ( At 7.22).
Nesse ponto, Moisés mostrou sua fé no Deus que fizera as
promessas a seus ancestrais. O plano do Senhor não se cumpriria
por intermédio do trono egípcio, mas por meio de um trono que o
Senhor estabeleceria com os descendentes de Abraão. A palavra
“recusou” ( 11.24) mostra que Moisés tomou uma decisão
consciente, inspirada por sua fé. A expressão “filho da filha do faraó”
enfatiza a posição real a que Moisés renunciou deliberadamente e
todos os privilégios que um posto assim traria. Ele não trocou uma
posição privilegiada por outra igual. Antes, abriu mão da realeza para
“ser maltratado”. Desassociou-se da família real para identificar-se
com um povo reduzido à mais abjeta escravidão ( Êx 1.8-14). Não
havia nenhuma perspectiva de privilégio na decisão que Moisés
tomou pela fé. Ela claramente demonstrou que a fé prefere enfrentar
adversidade a ser desobediente. O pecado de que Moisés poderia
ter desfrutado ( Hb 11.25) era a desobediência – permanecer na
corte, embora as bênçãos da promessa só pudessem ser
encontradas longe dali. Essa desobediência lhe teria dado a chance
de aproveitar os benefícios de sua posição como príncipe, mas ele
não teria considerado os hebreus escravizados como “povo de
Deus”. Mas pela fé Moisés conseguia ver a nação como herdeira da
promessa e da aliança do Senhor.
☙ Para refletir ❧
O que faria você optar pelas ofertas do mundo em lugar da comunhão
íntima e permanente com Deus? Riqueza suficiente para garantir uma
vida tranquila? Um casamento aparentemente melhor do que o seu atual?
Prazeres sensuais à vontade? Bens materiais além de seus sonhos mais
loucos? Para alguns cristãos, essas coisas não seriam nem um pouco
tentadoras, assim como não foram para Moisés. Mas, para outros, é
possível que o compromisso com Cristo tenha um preço. Se esse é o seu
caso, resolva esse assunto ainda hoje. Reconheça que não há nada igual
ao privilégio de servir a Cristo.
A base para a escolha de Moisés aparece no versículo 26. Com
paciência e perseverança, Moisés esperava pelo cumprimento do
que Deus prometera ao seu povo. A versão Almeida Revista e
Atualizada traduz aqui que ele “considerou o opróbrio de Cristo por
maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o
galardão”. A expressão “opróbrio de Cristo” pode ser entendida de
diversas formas: pode referir-se à desonra que Cristo sofreria, que,
embora ainda não tivesse acontecido nos dias de Moisés, já era fato
histórico do ponto de vista dos leitores (cf. Rm 15.3); ou pode ser
interpretada como a desonra que Moisés suportou por causa de seu
relacionamento com o Messias prometido e esperado que viria para
cumprir as alianças. Este era o objeto da sua fé.
O objetivo do autor é destacar que tudo o que Moisés esperava
pela fé estava no futuro; nada daquilo era presente. Mesmo assim,
ele tinha tanta certeza do que Deus prometera que, com base nessa
confiança, conseguiu afastar-se de todos os privilégios da corte do
faraó. Enquanto o registro de Êxodo parece indicar que Moisés fugiu
do Egito por medo do castigo do faraó por causa do assassinato de
um egípcio, o autor de Hebreus declara, no versículo 27, que essa
saída do Egito foi resultado de sua fé. E ele fez isso por causa de
sua fé em um Deus que nunca tinha visto ( 11.27). Acreditou que
quem se aproxima de Deus “precisa crer que ele existe e que
recompensa aqueles que o buscam” ( 11.6).
A fé de Moisés também é demonstrada na celebração da Páscoa.
A Páscoa foi o recurso por meio do qual Deus providenciou proteção
para os primogênitos que tinham sido condenados à morte ( Êx 12).
De acordo com as instruções de Deus, quem quisesse escapar da
praga da morte dos primogênitos precisava sacrificar um animal, o
que seria feito no pátio da casa. Em seguida, o sangue do animal
deveria ser aplicado no batente da porta da casa. Os membros da
família que então entrassem em casa passando pelo sangue
encontravam ali a segurança prometida por Deus: “Quando o SENHOR
passar pela terra para matar os egípcios, verá o sangue na viga
superior e nas laterais da porta e passará sobre aquela porta, e não
permitirá que o destruidor entre na casa de vocês para matá-los” ( Êx
12.23).
As palavras traduzidas por “passará sobre” significam literalmente
“pairar sobre”. A imagem traçada é que, ao ver o sangue, o Senhor
posicionou-se acima da porta a fim de proteger todos os que, pela fé,
tinham buscado refúgio ao passar debaixo do sangue, afastando
assim o destruidor que viera executar o juízo. Esse tipo de libertação
da morte nunca tinha sido visto. Por isso, o povo que recebera essa
instrução tinha de exercitar sua fé no Deus que prometera protegê-lo
do juízo da morte. Moisés foi um dos que mostraram fé na provisão
divina e encontraram libertação do juízo. A implicação disso para os
leitores fica muito clara: caso, pela fé, se apropriassem das
promessas de Deus, então seriam – como Moisés – libertos do juízo
vindouro que cairia sobre aquela geração.
O exemplo final da fé de Moisés é a ocasião em que, obedecendo
ao comando de Deus, “atravessou o mar Vermelho” ( Hb 11.29). Para
os filhos de Israel, passar pelo mar Vermelho foi um ato de fé, pois
não tinham nenhuma experiência prévia nesse aspecto para
fundamentar sua confiança. Em vez disso, tiveram de imitar a fé de
Moisés e atravessar o mar Vermelho em obediência à ordem de
Deus. Mais uma vez, a implicação é clara: se os israelitas
encontraram libertação da escravidão por meio da fé em Deus e da
obediência ao seu líder, os leitores também seriam libertos das
circunstâncias que os oprimiam por meio da fé em Deus e da
obediência aos seus líderes.
Fé exemplificada na época da conquista ( 11.30-31)
11.30-31 Pela fé caí ram os muros de Jericó, depois de serem rodeados
durante sete dias. Pela fé a prostituta Raabe, por ter acolhido os espiões,
não foi morta com os que haviam sido desobedientes.
O relatório trazido pelos dez espias depois de sua passagem pelo
território dos cananeus ( Nm 13.28-33) deixou muito claro que os
israelitas eram incapazes de conquistar a terra, sujeitar seus
habitantes e ocupar a área. Josué e Calebe exortaram o povo a fazer
tudo isso pela fé nas promessas divinas e em obediência às ordens
de Deus. Disseram: “Se o SENHOR se agradar de nós, ele nos fará
entrar nessa terra, onde há leite e mel com fartura, e a dará a nós” (
Nm 14.8). Mas, em vez de prosseguir pela fé, o povo se rebelou
contra Deus e, por causa da sua incredulidade, desobedeceu à
ordem divina de ocupar a terra. Perderam assim as bênçãos da Terra
Prometida.
Uma geração mais tarde, um povo renovado, liderado por Josué,
agiu pela fé e, em obediência às ordens de Deus, entrou na terra que
Deus dera como posse a Abraão e seus descendentes e a ocupou.
Deus respondeu a essa fé abrindo-lhes um caminho pelas águas do
rio Jordão para que pudessem entrar na terra ( Js 3.14-17). Pela fé,
aproximaram-se da cidade fortificada de Jericó, construída para
proteger a terra contra invasores vindos do oriente. Jericó parecia
inexpugnável. Mas, pela fé em Deus e pela obediência às suas
ordens, a fortaleza caiu ( Js 6.1-21).
Raabe ilustra o fato de que até mesmo uma gentia de caráter
questionável podia ser liberta, pela fé, do juízo decretado sobre os
moradores de Jericó. Os homens que Josué enviara para espionar a
cidade ( Js 2.1) descobriram que, por algum meio desconhecido, o
conhecimento a respeito do Deus vivo e verdadeiro havia chegado
até Raabe, pois ela confessou que “o SENHOR , o seu Deus, é Deus
em cima nos céus e embaixo na terra” ( Js 2.11). Ela também
acreditava que o Deus a quem passara a adorar estava prestes a
trazer juízo sobre sua cidade por meio de uma derrota total. Por isso,
suplicou que sua vida e a de sua família fossem poupadas ( Js 2.12-
13). Josué ordenou então que, quando a cidade caísse, Raabe e sua
família permanecessem vivas ( Js 6.17).
☙ Para refletir ❧
Não há dúvida de que nossa confiança em Deus passa pelas suas provas
mais difíceis quando nos vemos repentinamente em terreno
desconhecido, enfrentando circunstâncias com as quais nunca lidamos.
Nesses momentos, podemos olhar para Moisés, que, em uma situação
desesperadamente desconhecida, obedeceu a Deus e avançou com firme
confiança.
A veracidade da fé de Raabe ficou clara na proteção que ela
concedeu aos espiões, e foi por causa dessa fé que ela foi poupada
quando Jericó caiu. Raabe não foi salva do juízo por causa de suas
obras, mas sua fé no Deus que trouxe o juízo é que permitiu que
fosse salva na derrota da cidade. Raabe, que não pertencia ao povo
das alianças, recebeu suas bênçãos com base no mesmo critério já
mencionado pelo autor: pela fé. Raabe acreditou em Deus e creu
que a terra seria entregue aos israelitas, de acordo com as
promessas divinas. Os moradores de Jericó tinham recebido o
mesmo testemunho, mas, ao contrário de Raabe, foram “incrédulos”
( Hb 11.31, ARC). Não tiveram fé, e assim foram entregues ao juízo.
Esse registro mostra que a fé opera da mesma maneira para todas
as pessoas, não importa se elas estão debaixo da aliança ou não.
Também mostra que falta de fé é base para o juízo.
Fé exemplificada nas provações ( 11.32-38)
11.32-38 Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão,
Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé
conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de
promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e
escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se
poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve
mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos. Uns
foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma
ressurreição superior; outros enfrentaram zombaria e açoites; outros
ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados
ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes,
vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e
maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e
montes, pelas cavernas e grutas.
Depois de conduzir seus leitores pelo período dos patriarcas e pela
época da conquista da terra, agora o autor avança pelo tempo dos
juízes, dos reis e dos profetas, a fim de mostrar que o princípio da fé
se estende por toda a história de Israel.
A vitória de Gideão sobre os midianitas é mais um exemplo da
suficiência da fé em meio a conflitos. Quando foi escolhido pelo
Senhor para libertar Israel dos midianitas ( Jz 6.14), Gideão presumiu
que seria necessário reunir um exército enorme para derrotar o
inimigo. Mas, se um exército de milhares de soldados tivesse obtido
sucesso nessa guerra, a própria nação de Israel teria assumido o
crédito por sua vitória ( Jz 7.2). Assim, o efetivo foi diminuído até que
restassem apenas 300 homens ( Jz 7.8). Diante de suas chances
ínfimas, Gideão exercitou fé em Deus ( Jz 7.15) e foi para a batalha.
Sua fé inabalável produziu a obediência que levou à vitória.
Quando Sísera, capitão do exército de Jabim, rei de Canaã,
ameaçou Israel, Deus prometeu a Débora que entregaria os inimigos
nas suas mãos ( Jz 4.7). Pela fé – a fé no Deus que fizera a
promessa de que “este é o dia em que o SENHOR entregou Sísera em
suas mãos. O SENHOR está indo à sua frente!” ( Jz 4.14) –, Baraque
liderou dez mil homens das tribos de Naftali e Zebulom à luta contra
Sísera. Deus honrou a fé de Débora e de Baraque e “derrotou Sísera
e todos os seus carros de guerra e o seu exército ao fio da espada” (
Jz 4.15). Mais uma vez, a fé triunfou em meio às adversidades.
Quando os filisteus ocuparam Judá e ameaçaram sua existência (
Jz 15.9), Sansão atacou as forças inimigas com nada mais que uma
queixada de jumento ( Jz 15.15) e matou mil homens.
Evidentemente, o Espírito do Senhor estava sobre Sansão nesse
conflito, assim como estivera com ele antes quando deparou com um
leão ( Jz 14.5-6). O Espírito do Senhor dará vitória a qualquer um
que andar e lutar pela fé.
☙ Para refletir ❧
Em nossa experiência de continuar avançando pela fé, a despeito das
circunstâncias, podemos descobrir que Deus talvez não cumpra seu
propósito da forma que imaginamos. Talvez passemos até por um período
de aparente perda antes de chegar ao ponto em que ele resolverá nossos
problemas.
Quando os amonitas entraram em guerra com Israel ( Jz 11.4), os
líderes convidaram Jefté para comandá-los na luta ( Jz 11.11). No
poder do Espírito do Senhor ( Jz 11.29), Jefté enfrentou os inimigos
na batalha “e o SENHOR os entregou nas suas mãos. Ele conquistou
vinte cidades... Assim os amonitas foram subjugados pelos israelitas”
( Jz 11.32-33).
Davi é outro exemplo da paciente perseverança que a fé produz.
Samuel recebeu a ordem do Senhor para que ungisse Davi como rei
( 1Sm 16.12-13). Só muitos anos depois, porém, Davi foi coroado rei
de Judá ( 2Sm 2.4) e depois sobre todas as tribos de Israel ( 2Sm
5.3). Assim, ele precisou exercitar perseverança e paciência
enquanto aguardava pelo cumprimento do que Deus prometera. Seu
reinado envolveu muitos conflitos. Houve problemas dentro da
família. Havia dificuldades na nação. Houve guerras com as nações
vizinhas. Consequentemente, Davi foi levado a montar um enorme
exército para enfrentar seus inimigos no campo de batalha ( 2Sm 8).
Em todos esses conflitos, ele foi sustentado pela fé e triunfou por
meio da fé.
Antes da escolha de Samuel como profeta de Deus ( 1Sm 3.20-
21), os sacerdotes levíticos serviam como mediadores entre Deus e
o homem. O sacerdote era o porta-voz do Senhor em Israel. Mas,
com a escolha de Samuel para a função de profeta, Deus passou a
canalizar sua revelação à nação por meio daqueles que
desempenhavam essa função. Samuel também foi escolhido para
ser juiz em Israel ( 1Sm 7.15-17). Seu papel como profeta/juiz foi
caracterizado por sua pronta obediência à vontade de Deus que lhe
era revelada. Tal obediência era resultado de sua fé. A fé de Samuel
produziu justiça em sua vida, de forma que ninguém conseguia
encontrar falta nenhuma nele ( 1Sm 12.1-5). Como intercessor da
nação diante de Deus, Samuel reconheceu a necessidade de ser fiel
como mediador e considerava ser pecado não orar continuamente
pelo povo. Em seu papel de representante divino diante do povo,
Samuel tornou-se seu mestre ( 1Sm 12.23). Dessa forma, vemos que
a fé gerou fidelidade e justiça nesse homem separado por Deus para
ser profeta.
A fidelidade que caracterizou Samuel, o primeiro profeta, diz o
escritor, também caracterizou seus sucessores nos anos seguintes.
Em Hebreus 11.33-38, o escritor, sem citar referências específicas,
mostra o que a fé produz em quem passa por severas aflições,
adversidades e provações. Ao listar essas experiências, enfatiza que
as provações não devem anular a fé, mas fortalecê-la. A fé não é
apenas testada pelas provas, mas fortalecida por elas. Sem dúvida,
aqui o autor tem em mente as experiências de seus leitores. Ele quer
que a fé deles seja reforçada pelas dificuldades que enfrentam, da
mesma forma que ela trouxe vitórias militares a Israel.
A fé sempre produziu uma vida justa que agrada a Deus. Pela fé,
muitos experimentaram o cumprimento das promessas de Deus. Ela
libertou de danos físicos. Fechou a boca de leões. Pela fé, filhos de
Deus foram salvos do fogo ou da espada. Pela fé, fraqueza tornou-se
força. Houve até quem se sujeitasse voluntariamente a torturas em
vez de tentar encontrar uma forma de escape. Essa tortura pode ter
sido emocional, mediante zombaria, ou física, se a pessoa foi
flagelada ou mesmo presa.
Houve os que, pela fé, testemunharam a ressurreição de mortos (
1Rs 17.17-23; 2Rs 4.17-37; Lc 7.11-15; Jo 11; At 9.36-41). Nas
Escrituras, os milagres de ressurreição representam o ápice do que
pode ser obtido pela fé, visto que a fé triunfa sobre a morte para
aqueles que, pela fé, aceitam a morte ( Hb 11.37). Outros foram
proscritos de suas comunidades por causa da fé. Tornaram-se
peregrinos e passaram a viver em pobreza. Não tinham casa e
viviam isolados em grutas e cavernas.
Ao escrever, o autor deve ter percebido muitos paralelos entre
suas referências e as experiências de seus leitores. Muitos deles
tinham sido banidos da sociedade, perderam trabalho e foram
reduzidos à miséria. Muitos que tinham sido ricos agora eram
indigentes. Tinham sido expostos a escárnio e prisão. Mas ainda não
tinham sacrificado sua vida por causa da sua fé em Cristo.
☙ Para refletir ❧
Tiago 1.2-4 apoia o argumento de que as provações deveriam fortalecer
nossa fé. É uma perspectiva difícil de manter no meio das dificuldades,
mas ainda assim é verdade.
A vitória da fé ( 11.39-40)
11.39-40 Todos esses receberam bom testemunho por meio da fé; no
entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia
planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles
aperfeiçoados.
O escritor percorreu toda a gama de experiências humanas para
mostrar que a fé pode triunfar em qualquer circunstância. Quem
passou por elas precisava demonstrar perseverança e paciência,
pois “nenhum deles recebeu o que havia sido prometido” ( 11.39).
Durante essas fases de prova de fé, esperavam pelo que Deus lhes
prometera. O destino que Deus prometeu a Abraão ( 11.10)
sustentou-o em meio ao seu sofrimento. E os leitores dessa carta
eram participantes da mesma promessa. Por isso, o escritor
encorajou-os a se apropriarem dela pela fé e serem perseverantes.
Afinal, se essa expectativa conseguira sustentar os que tinham
sofrido conforme descrevem os versículos 33-38, ela certamente
conseguiria sustentá-los em seus conflitos atuais. As provações que
seus ancestrais passaram não os levaram a abandonar a fé nem a
deixar de andar por ela. Antes, viveram pela fé e foram pacientes e
perseverantes, aguardando pelo cumprimento da promessa de Deus.
Da mesma forma, os leitores da carta devem manifestar paciência
em seus sofrimentos, até que recebam o cumprimento da promessa
de Deus. Se seus antepassados já tivessem recebido o que
esperavam, de forma que a promessa estivesse exaurida, não teria
restado nada para os leitores da carta aguardarem. Mas, como seus
antepassados ainda não tinham recebido aquilo pelo que
aguardavam, os leitores deveriam imitar sua perseverança e
paciência. A unidade do plano de Deus exige que todos os seus
filhos assumam sua herança juntos. Pela fé, nós e eles aguardamos,
juntos, pela consumação da promessa. E, ainda que os leitores
originais da carta estivessem de fato sofrendo, suas dificuldades não
se comparavam às aflições daqueles que vieram antes deles. Se a fé
sustentou seus ancestrais, certamente os sustentaria também – e
sustentará também a nós.
☙ Para refletir ❧
A questão do “misturar-se ao mundo” é um bom tema para desafiar os
cristãos da geração mais nova. Muitos jovens anseiam por ouvir que é
normal ser zombado, ridicularizado e até fisicamente maltratado por sua
fé em Cristo. Saber que a perseguição é algo que os ajudará a
amadurecer é muito mais motivador do que desanimador.
A exortação ( 12.1)
12.1 Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão
grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha
e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que
nos é proposta.
Agora o escritor passa a aplicar, com muita precisão, a verdade
apresentada no capítulo 11. A palavra “portanto” ( 12.1) introduz a
aplicação. A base para seu apelo é o fato de que “estamos rodeados
por tão grande nuvem de testemunhas”. Ele imagina seus leitores
como participantes de uma maratona. A corrida começou, mas ainda
não terminou. O que motiva o corredor é estar rodeado “por tão
grande nuvem de testemunhas”. Elas não são espectadoras que
observam nosso desempenho na corrida nem se conseguimos
alcançar a linha de chegada. Antes, testemunham a nós a respeito
da vida de fé. As testemunhas são todos aqueles que foram
apresentados no capítulo anterior. Elas comprovam a suficiência da
fé, demonstram que ela produz perseverança e paciência, que
resulta em obediência e que não vacila diante das provações. Não
há necessidade de nenhuma outra prova para mostrar que a fé
sustentará o corredor ao longo do percurso, até que chegue no final.
Com base nisso, o autor faz, então, três exortações.
Em primeiro lugar, os leitores são exortados a livrar-se “de tudo o
que nos atrapalha”. Para um corredor, esse peso pode ser tanto
excesso de gordura corporal quanto uma carga cansativa. A
expressão “livremo-nos” transmite a ideia de tirar um roupão ou
capa. Se alguém deseja chegar ao alvo da corrida iniciada, precisará
abandonar qualquer embaraço. Por isso, ele terá de emagrecer até
atingir o peso desejado e tirar todas as peças de roupa que possam
atrapalhar seu progresso.
A segunda exortação é para deixar de lado o “pecado que nos
envolve”. Embora seja verdade que qualquer pecado impede o
avanço do competidor, o fato de o escritor se referir especificamente
a “o pecado” (ARC) sugere que ele tinha em mente o pecado da
incredulidade ( 10.38-39). A palavra traduzida por “envolve” é um
termo composto que significa literalmente “estar à nossa volta”. Da
mesma forma que o corredor está cercado por uma multidão de
testemunhas que falam da validade da fé, a incredulidade também
nos cerca e tenta nos induzir a abandonar a fé. No momento em que
o corredor perde a certeza de que terminará a corrida, ele começa a
duvidar de que será capaz de fazê-lo. E então facilmente desiste.
A terceira exortação é para que “corramos com perseverança a
corrida que nos é proposta”. A fé dá ao corredor a certeza de que ele
terminará o percurso e alcançará o alvo, que é a maturidade ( Hb
6.1). Não se trata de uma corrida de velocidade, em que se chega ao
destino em pouco tempo. Antes, é uma maratona prolongada, que
abrange toda a nossa vida. Assim, o autor não nos exorta a correr
com fé, mas a correr com perseverança gerada pela fé.
O exemplo de Cristo ( 12.2-4)
12.2-4 Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé.
Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a
vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensem bem
naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para
que vocês não se cansem nem desanimem. Na luta contra o pecado,
vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue.
☙ Para refletir ❧
Se você gosta de correr, jogar tênis ou praticar algum outro tipo de
esporte, tente este experimento: da próxima vez que for se exercitar, leve
uma mochila cheia de livros nas costas (só não faça isso se for nadar).
Então, sempre que se incomodar com o peso da mochila atrapalhando
sua performance, lembre-se: “Esse é o efeito que o pecado tem sobre a
minha vida cristã”.
O autor usa a expressão “tendo os olhos fitos em Jesus” para
descrever a atitude contínua que seus leitores devem adotar ao
correr. Como todo atleta corre em direção a um alvo, alguns sugerem
que o próprio Jesus é o alvo; e, uma vez que estamos em busca de
maturidade, que é encontrada em Cristo, isso parece uma explicação
razoável. No entanto, o autor continua seu raciocínio apontando para
Jesus como aquele que demonstrou paciente perseverança em tudo
o que sofreu. Portanto, devemos seguir seu exemplo. É significativo
que o autor use o nome “Jesus”, que enfatiza a verdadeira
humanidade daquele que devemos contemplar enquanto corremos.
Já que o autor citou tantos santos do Antigo Testamento que
correram com paciente perseverança, os leitores poderiam se sentir
tentados a usá-los como exemplos ideais. No entanto, quase todas
as pessoas citadas como testemunhas de uma vida de fé também
tiveram seus defeitos, de forma que não poderiam ser exemplos
perfeitos. Jesus, por sua vez, exemplificou de forma perfeita o que é
ser perseverante, paciente e obediente. A palavra traduzida por
“tendo os olhos fitos” implica a ideia de dar as costas aos demais,
para que estes não sirvam de exemplo para nós no lugar de Jesus.
Dessa forma, concluímos que os santos anteriormente citados não
deveriam ser considerados como exemplos de fé, mas como
testemunhas da perseverança paciente produzida pela fé. O fato de
Jesus ser mencionado aqui tanto como autor da fé quanto como
aquele que a leva à plena expressão enfatiza o exemplo perfeito
deixado por aquele para quem os fiéis devem olhar.
Não há exemplo maior de paciente perseverança no sofrimento do
que Jesus, seja durante o julgamento, seja na sua crucificação. O
profeta Isaías afirmou a respeito dele: “Ele foi oprimido e afligido; e,
contudo, não abriu a sua boca; como um cordeiro, foi levado para o
matadouro; e, como uma ovelha que diante de seus tosquiadores
fica calada, ele não abriu a sua boca” ( Is 53.7). Pedro testificou a
respeito da perseverança de Cristo em seu sofrimento ao dizer que
“também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando exemplo, para
que sigam os seus passos. ‘Ele não cometeu pecado algum, e
nenhum engano foi encontrado em sua boca.’ Quando insultado, não
revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se
àquele que julga com justiça” ( 1Pe 2.21-23).
O que motivava Jesus em seu sofrimento era a “alegria que lhe
fora proposta”. Sua grande alegria era submeter-se sem reservas à
vontade de seu Pai. Seu prazer brotava de sua obediência. Paulo
referiu-se a isso ao dizer que Cristo “humilhou-se a si mesmo e foi
obediente até a morte, e morte de cruz!” ( Fp 2.8). Seu pedido para
que fosse restaurado à glória que tinha com o Pai desde a
eternidade passada ( Jo 17.5) foi respondido por causa da sua
entrega à vontade de Deus. O Senhor honrou a obediência e a
perseverança de seu Filho entronizando-o à sua direita. Paulo diz
que a consequência da obediência de Jesus foi que “Deus o exaltou
à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra
e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o
Senhor, para a glória de Deus Pai” ( Fp 2.9-11). A cruz, que era
símbolo de vergonha entre os homens, tornou-se fonte de alegria
incomparável para o Filho de Deus.
Para que Jesus pudesse demonstrar perseverança e paciência, foi
necessário que ele sofresse morte espiritual e física a fim de operar
salvação para os pecadores. O autor destaca que, por mais
extenuantes que os cristãos oprimidos considerem suas aflições,
eles não foram chamados a sofrer pela vontade de Deus da mesma
forma que Jesus o foi ( 12.3-4). Embora seja verdade que alguns
seguidores, como Estêvão e Tiago, foram chamados a sofrer morte
física, estes pertenciam a uma geração anterior. Infere-se assim que
os sofrimentos da igreja da segunda geração não eram tão severos
quanto os experimentados pela primeira geração e, com certeza, não
tão duros quanto os padecimentos de Jesus. Por isso, deviam olhar
para a perseverança dele como o exemplo a seguir.
☙ Para refletir ❧
Embora não seja possível realmente aplicar as Escrituras de forma
prática sem antes descobrir o que elas dizem de fato, também não
deveríamos estudar a Palavra de Deus sem explorar os efeitos que ela
deveria ter sobre nossa vida. Não se trata de fazer “um ou outro”, mas
“ambos”. É a união perfeita entre a forma em que deveríamos trabalhar
com a Palavra de Deus e a forma em que a Palavra de Deus deveria
trabalhar em nós.
☙ Para refletir ❧
Novamente, santidade e justiça estão inseparavelmente ligadas ao
processo de amadurecimento espiritual. Como esse é um verdadeiro
processo de crescimento espiritual, cada vez que comprometemos a
santidade de Deus com nosso modo de vida estamos nos prejudicando
muito mais do que nos ajudando. Isso inclui tanto as “grandes coisas” –
como infidelidade ou atividade criminal – quanto as “pequenas coisas”,
como fofoca, mentira ou desonestidade.
Os que estavam passando por perseguição intensa precisavam de
um lugar onde se refugiar. Alguns pensavam que esse refúgio estaria
no retorno às formas exteriores do judaísmo, de forma que quem
passara a persegui-los depois do seu batismo público esquecesse
que tinham cortado os laços com o antigo sistema. A Lei dada a
Israel no Sinai era uma manifestação da gloriosa santidade que
pertencia ao Deus que se revelara ao povo da sua aliança. Mas, ao
voltar seus pensamentos novamente para Êxodo 20.18-19, o escritor
lembra a seus leitores que, no momento da promulgação da Lei, o
povo ficou dominado pelo medo por causa do fogo, das trevas, da
escuridão, da tempestade e do som da trombeta, levando-os a fugir
da presença do Senhor. Não tinham experimentado quietude,
descanso e paz, mas um pavor esmagador. O Deus que se revelara
no Sinai era tão inacessível que tinha dado instruções para que
qualquer animal que tocasse a montanha fosse executado ( Êx
19.12-13). O povo ficou com tanto medo desse Deus que suplicou
para que sua voz se silenciasse ( Êx 20.18-19). E essa reação não
veio apenas do povo, mas até do próprio Moisés – a despeito de
tudo o que Deus já lhe revelara até ali ( Hb 12.21). O autor
argumenta então que, se a pessoa voltasse a buscar refúgio na Lei,
ela não encontraria a paz e o descanso desejados, mas, como
Moisés, sentiria um pavor opressivo.
A palavra “mas” em 12.22 introduz o contraste para o refúgio
oferecido aos crentes. Eles não se aproximam de um Sinai terreno,
mas do monte Sião celestial. Não chegam a uma cidade que é
orgulho de homens, mas à cidade do Deus vivo. Não entram em uma
Jerusalém terrena, fundada por Davi como capital de seu reino, mas
na Jerusalém celestial. A Jerusalém terrena – com seu templo ao
qual alguns se sentiam tentados a retornar – era habitada por
multidões que, por rejeitarem Cristo, tinham se declarado seus
inimigos. Mas os habitantes dessa cidade celestial são bem
diferentes. Moram ali “milhares de milhares de anjos”, uma vasta
multidão de seres angelicais não caídos.
☙ Para refletir ❧
A Escritura deixa claro que a igreja não deve ser um “exército que
executa seus feridos”. A prolongada discussão sobre a maturidade cristã
aqui em Hebreus indica que um dos resultados mais visíveis, importantes
e imediatos da maturidade é que o cristão passa a ajudar outros cristãos
em dificuldade. Ele não critica, não condena, não menospreza – mas
ajuda.
Mais do que isso, essa cidade é a morada da “igreja dos
primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus”. Essa descrição
refere-se a todos os crentes da presente era, que começou no dia de
Pentecostes e continua até que os santos sejam transportados deste
mundo para a glória ( 1Ts 4.13-17). Estarão ali também os “espíritos
dos justos aperfeiçoados”. Esses são os santos do Antigo
Testamento, em conjunto com os santos da tribulação, que serão
ressuscitados e arrebatados para lá na segunda vinda de Cristo à
terra ( Is 26.19-20; Dn 12.1-2; Ap 20.6).
Todos eles estão na presença de “Deus, juiz de todos os homens”,
na companhia de “Jesus, mediador de uma nova aliança”. Essa
cidade é o lugar que o Senhor descreveu como a “casa de meu Pai” (
Jo 14.2). Esse é o lugar que os cristãos compartilharão com Cristo (
Jo 14.3). João descreve-a como “a Cidade Santa, a nova Jerusalém”
( Ap 21.1-8), a habitação eterna de todos os redimidos de todas as
eras. Essa é a cidade pela qual Abraão esperava ( Hb 11.10), na
qual “o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele
viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e
será o seu Deus” ( Ap 21.3).
Cristo declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém
vem ao Pai, a não ser por mim” ( Jo 14.6). Assim, o escritor de
Hebreus nos lembra que os cristãos entrarão nessa cidade com base
no sangue da nova aliança ( 12.24). Abel ofereceu um sacrifício
aceitável com sangue animal, mas Jesus Cristo ofereceu sangue
superior, que se tornou o fundamento de um refúgio superior, pois ele
entregou seu próprio sangue. Esse não resulta em medo e vontade
de fugir, como a revelação de Deus no Sinai. O sangue da nova
aliança dá descanso e paz.
☙ Para refletir ❧
Com frequência, avaliamos nosso progresso espiritual comparando-nos
com outros cristãos – particularmente com aqueles que parecem não
estar indo tão bem quanto nós. O verdadeiro padrão para avaliação, no
entanto, deveria ser Jesus Cristo e quanto estamos nos parecendo com
ele.
A bênção ( 13.20-25)
13.20-25 O Deus da paz, que pelo sangue da aliança eterna trouxe de
volta dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das
ovelhas, os aperfeiçoe em todo o bem para fazerem a vontade dele e
opere em nós o que lhe é agradável, mediante Jesus Cristo, a quem seja
a glória para todo o sempre. Amém. Irmãos, peço que suportem a minha
palavra de exortação; na verdade o que eu escrevi é pouco. Quero que
saibam que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se ele chegar
logo, irei vê-los com ele. Saúdem a todos os seus líderes e a todos os
santos. Os da Itália enviam saudações. A graça seja com todos vocês.
Depois de pedir a oração dos leitores em seu favor, o autor derrama
seu coração em favor deles. Em sua oração, reafirma sua confiança
de que o Deus da paz é capaz de atender a cada uma de suas
necessidades em suas tribulações atuais. Essa referência a Deus
como Deus da paz é significativa. Seria de esperar que ele
mencionasse o Deus de poder ou o Senhor dos exércitos celestiais,
que poderia derrotar todos os seus adversários. Mas a maior
necessidade deles nessas circunstâncias era da paz de Deus. O
encorajamento que ele lhes oferece é o mesmo que Paulo deu aos
filipenses perseguidos, ao dizer: “E a paz de Deus, que excede todo
o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo
Jesus” ( Fp 4.7).
O Deus capaz de lhes dar essa paz é o mesmo que “trouxe de
volta dentre os mortos o nosso Senhor Jesus”. Mesmo que a criação
do universo seja um exemplo do poder de Deus, esse poder é
exemplificado de forma ainda mais marcante na redenção de Israel
da servidão no Egito. Mas a demonstração máxima da suprema
grandeza do poder de Deus é a ressurreição do Senhor Jesus dentre
os mortos ( Ef 1.19-20). A expressão “trouxe de volta” enfatiza a
obtenção de uma vitória gloriosa depois de sofrer a derrota da morte.
Ele foi trazido de volta para se tornar o “grande Pastor das ovelhas”.
Todos os crentes fazem parte do seu rebanho. Ele é um Pastor fiel,
que cuida do seu rebanho e o protege, a fim de guardar, guiar,
instruir e suprir cada necessidade que as ovelhas tiverem.
Seu trabalho como pastor é “aperfeiço[ar] em todo o bem para
fazerem a vontade dele”. Sua vontade, conforme revelada nessa
carta, é levar esses crentes à perfeição, ou maturidade espiritual. E
Deus está trabalhando neles para atingir esse exato propósito, até
mesmo por meio de seus sofrimentos. Seu objetivo para os crentes
será realizado por meio do trabalho pastoral de Jesus Cristo. Aquele
que nos é apresentado como quem se “assentou à direita da
Majestade nas alturas”, na glória ( Hb 1.3), é o mesmo que agora é
glorificado à medida que os crentes progridem rumo à maturidade.
Dessa forma, o tema da perfeição ou da maturidade dos crentes, que
percorreu toda essa carta, torna-se o tema da oração final do
apóstolo.
Responder a qualquer exortação não é obrigatório, mas opcional.
Por isso, o escritor termina com um apelo muito forte para que os
leitores que receberam essa “palavra de exortação” não a ignorem,
nem a esqueçam, nem a rejeitem; antes, que a abracem de forma
que Deus – que trabalha por meio de suas experiências para deixá-
los mais parecidos com Cristo – possa cumprir sua vontade neles.
O autor tem o cuidado de respeitar a autoridade dos líderes
daquele grupo. Não quer que pensem que está usurpando a
autoridade deles, por isso saúda-os como a iguais. O escritor
encaminha as saudações dos “da Itália”. Embora alguns sugiram que
essa carta tenha sido escrita na Itália, essa expressão pode, na
verdade, indicar que vários daqueles que haviam fugido da Itália
agora estavam na companhia do escritor. Por causa da perseguição
de Cláudio aos judeus ( At 18.2), muitos, como Áquila e Priscila,
fugiram de Roma e estabeleceram-se em outras partes do império. A
intenção do autor ao fazer referência aos cristãos da Itália é mostrar
que havia outros crentes em outros lugares sofrendo perseguição
dura, mas que nem assim tinham comprometido seu testemunho
para escapar das dificuldades e, por amor a Cristo, abandonaram
Roma para morar em outro lugar. A fidelidade desses irmãos da Itália
diante da perseguição era um exemplo para os destinatários dessa
carta.
O apóstolo encerra com a bênção: “A graça seja com todos
vocês”. A graça era o recurso mencionado pelo escritor quando
convidou os cristãos: “Assim, aproximemo-nos do trono da graça
com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e
encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (
4.16). A graça de Deus é suficiente para qualquer necessidade. A
graça de Deus está disponível, e todos os cristãos têm a liberdade
de recorrer a ela para serem capazes de resistir à perseguição e
avançar continuamente em direção à maturidade, com paciente
perseverança.
Portanto, cultivemos em nós e encorajemos nos outros a busca
por uma fé perseverante por meio do seu Espírito.
☙ Para refletir ❧
Ao longo de toda essa carta, vimos que a responsabilidade real de
conduzir os crentes à maturidade apoia-se em Jesus Cristo e em sua
capacidade de cumprir suas promessas. A responsabilidade do cristão é
abandonar o que é obstáculo no caminho para a maturidade e submeter-
se deliberadamente a ele. A fórmula dupla é simples: nossa
responsabilidade é submeter-nos a ele pela fé; a responsabilidade dele é
levar-nos à maturidade.
ÍNDICE DE TEXTOS BÍBLICOS
Gênesis
1 [<<]
1–11 [<<]
1.26 [<<]
1.26-28 [<<]
1.28 [<<]
2.2 [<<] , [<<]
2.17 [<<]
3.1-6 [<<]
3.8 [<<]
3.14 [<<] , [<<]
3.20 [<<]
4.4 [<<]
6.13 [<<]
6.14-22 [<<]
12.1 [<<]
12.1–15.6 [<<]
12.2 [<<] , [<<]
12.3 [<<]
12.6-7 [<<]
12.7 [<<] , [<<]
13.1-5 [<<]
13.15-16 [<<]
13.16 [<<]
14 [<<] , [<<]
14.16 [<<]
14.17-20 [<<]
14.18 [<<]
14.18-20 [<<]
14.19 [<<]
14.20 [<<]
15 [<<] , [<<]
15.1 [<<]
15.1-4 [<<]
15.2-5 [<<]
15.4 [<<]
15.5 [<<]
15.6 [<<] , [<<] , [<<] , [<<]
15.7-21 [<<]
15.9-21 [<<]
15.12 [<<]
15.13-14 [<<]
15.17 [<<]
15.18 [<<]
15.18-19 [<<]
16 [<<]
16.1 [<<] , [<<]
16.16 [<<]
17.1 [<<]
17.4-8 [<<]
17.6-7 [<<]
17.15-16 [<<]
17.15-19 [<<]
17.16-19 [<<]
17.17 [<<]
17.19 [<<] , [<<]
17.21 [<<]
18 [<<]
18.10 [<<]
18.11-12 [<<]
18.14 [<<]
19.13 [<<]
19.15 [<<]
19.27-28 [<<]
21 [<<]
21.2 [<<]
21.12 [<<]
22.2 [<<]
22.11-18 [<<]
22.17 [<<] , [<<]
22.17-18 [<<]
25.27-34 [<<]
25.29-34 [<<]
26.1-5 [<<]
26.4 [<<]
27.26-29 [<<]
27.34 [<<]
27.38 [<<]
27.38-40 [<<]
28.11-16 [<<]
31.11-13 [<<]
37.3 [<<] , [<<]
37.5-9 [<<]
41 [<<]
48.10-22 [<<]
50.24 [<<]
50.25 [<<]
Êxodo
1.8-14 [<<] , [<<]
1.22 [<<]
2.3 [<<]
2.5-10 [<<]
2.24-25 [<<]
3.1-2 [<<]
3.8 [<<]
3.10-12 [<<]
3.11–4.17 [<<]
3.16 [<<]
4.1-9 [<<]
12 [<<]
12.23 [<<]
15.24 [<<]
16.2 [<<]
16.7-8 [<<]
16.33 [<<]
17.3 [<<]
19.6 [<<]
19.12-13 [<<] , [<<]
19.19 [<<]
20.18-19 [<<]
24.1-8 [<<]
24.8 [<<]
25.10-22 [<<]
25.16 [<<]
25.23-30 [<<]
25.31-40 [<<]
25.40 [<<]
27.20-21 [<<]
28.41 [<<]
29.4 [<<]
29.42-46 [<<]
29.44 [<<]
30.1-10 [<<]
30.6 [<<]
30.7-8 [<<]
30.22-29 [<<]
30.30 [<<]
33.9 [<<]
33.11 [<<]
34.1 [<<]
Levítico
1 [<<]
1–6 [<<] , [<<]
1.1-17 [<<]
2 [<<]
3 [<<]
4 [<<]
4.1-35 [<<]
16 [<<] , [<<] , [<<]
16.5-6 [<<]
16.8 [<<]
16.11 [<<]
16.12-13 [<<]
16.14 [<<]
16.15-16 [<<]
16.18-19 [<<]
16.21a [<<]
16.24 [<<]
20.2 [<<]
20.27 [<<]
23 [<<]
23.27b [<<]
23.32 [<<]
24.15-16 [<<]
24.23 [<<]
26 [<<]
26.1-46 [<<]
Números
12.6 [<<]
12.7 [<<]
13.1-2 [<<]
13.28-33 [<<]
14 [<<]
14.2 [<<]
14.7-8 [<<]
14.8 [<<]
14.9 [<<]
14.11 [<<]
14.11-12 [<<]
14.27-32 [<<]
14.27-36 [<<]
14.40 [<<]
14.45 [<<]
15.22-29 [<<]
15.30 [<<]
15.32-36 [<<]
16–18 [<<]
16.41 [<<]
17.5 [<<]
17.10 [<<]
19 [<<]
20.22-29 [<<]
21.21-23 [<<]
22 [<<]
Deuteronômio
1.27 [<<]
5.22 [<<]
6.16 [<<]
9.19 [<<]
13.10 [<<]
17.2-5 [<<]
17.4-7 [<<]
18.15 [<<]
22.21-24 [<<]
23.19 [<<]
28 [<<]
28.15-68 [<<]
30.1-6 [<<]
31.6 [<<] , [<<]
32.35a [<<]
32.36a [<<]
32.35-36 [<<]
32.43 [<<]
Josué
2.1 [<<]
2.11 [<<]
2.12-13 [<<]
3.14-17 [<<]
6.1-21 [<<]
6.17 [<<]
24.2 [<<]
Juízes
4.7 [<<]
4.14 [<<]
4.15 [<<]
6 [<<]
6.14 [<<]
7.2 [<<]
7.8 [<<]
7.13-15 [<<]
7.15 [<<]
11.4 [<<]
11.11 [<<]
11.29 [<<]
11.32-33 [<<]
13 [<<]
14.5-6 [<<]
15.9 [<<]
15.15 [<<]
Rute
4.7 [<<]
1Samuel
3.11-15 [<<]
3.20-21 [<<]
7.15-17 [<<]
12.1-5 [<<]
12.23 [<<]
16.12-13 [<<]
2Samuel
2.4 [<<]
5.3 [<<]
7.14 [<<] , [<<]
7.16 [<<]
8 [<<]
1Reis
3.5-15 [<<]
17.2-4 [<<]
17.17-23 [<<]
19.12 [<<]
2Reis
4.17-37 [<<]
2Crônicas
7.14 [<<]
13.5 [<<]
Esdras
10.19 [<<]
Jó
1.5 [<<]
4.18 [<<]
15.15 [<<]
25.5 [<<]
38.4a [<<]
38.7 [<<]
Salmos
1.5-6 [<<]
2.6-9 [<<]
2.7 [<<] , [<<] , [<<] , [<<]
8 [<<]
8.4-6 [<<] , [<<]
22 [<<] , [<<]
22.1 [<<]
22.15 [<<]
22.22 [<<] , [<<]
40 [<<]
40.1 [<<]
40.4 [<<]
40.5 [<<]
40.6 [<<]
40.6-8 [<<]
40.7-8 [<<]
40.11 [<<]
45 [<<]
45.6-7 [<<] , [<<]
51 [<<] , [<<]
51.7 [<<]
95.7-8 [<<]
95.7-11 [<<]
95.7b-11 [<<]
95.11 [<<]
102.25-27 [<<] , [<<]
104.4 [<<] , [<<] , [<<]
106.23-25 [<<]
110.1 [<<] , [<<] , [<<] ,
[<<] , [<<]
110.4 [<<] , [<<] , [<<] , [<<] ,
[<<] , [<<] , [<<] , [<<]
118.6 [<<]
118.27 [<<]
135.14a [<<]
Provérbios
3.11-12 [<<] , [<<]
Isaías
7.14 [<<]
8.11 [<<]
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Jeremias
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Ezequiel
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Daniel
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Oseias
12.10 [<<]
Joel
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Naum
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Habacuque
2.2-3 [<<]
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Ageu
2.6 [<<]
2.6-7 [<<]
Zacarias
1.7–6.15 [<<]
1.9 [<<]
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Malaquias
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Mateus
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3.5 [<<]
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26.28 [<<]
26.36-44 [<<]
27.25 [<<]
27.51 [<<] , [<<]
Marcos
7.2-5 [<<]
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15.20 [<<]
Lucas
1.8-9 [<<]
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1.28-32 [<<]
1.31-33 [<<]
2.9-11 [<<]
2.26-35 [<<]
2.36-38 [<<]
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18.13 [<<]
20.16 [<<]
21.23b-24 [<<]
21.24 [<<] , [<<] , [<<] , [<<]
22.20 [<<]
João
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Atos
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Romanos
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1Coríntios
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2Coríntios
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Gálatas
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Efésios
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Filipenses
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Colossenses
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1Tessalonicenses
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1Timóteo
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2Timóteo
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Filemom
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Hebreus
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Tiago
1.1 [<<]
1.2-4 [<<]
1.13 [<<]
1.23-25 [<<]
1Pedro
1.1 [<<]
2.5 [<<]
2.21-23 [<<]
5.1-3 [<<]
1João
2.16 [<<]
3.4 [<<]
3.16-18 [<<]
5.16 [<<]
Apocalipse
1.6 [<<]
20.2-3 [<<]
20.6 [<<]
20.10 [<<]
21.1-8 [<<]
21.3 [<<]
J. Dwight Pentecost (Th.D., Dallas Theological Seminary)
nasceu nos EUA em 1915. Ensinou teologia academicamente
por décadas no Philadelphia College of Bible e posteriormente
no Dallas Theological Seminary. Além disso, foi pastor por 35
anos e autor de 21 livros, com um enfoque principal em
escatologia. É conhecido principalmente pela obra Manual de
Escatologia , publicada no Brasil pela Editora Vida. Casado
com Dorothy Harrison, com quem teve duas filhas e dois netos,
foi ao encontro do Senhor em 2014, aos 99 anos.
Table of Contents
Rosto
Créditos
Sumário
Prefácio
Introdução
1. Jesus Cristo é superior aos anjos
2. Jesus Cristo é superior a Moisés
3. Jesus Cristo é superior a Arão
4. Aplicação da superioridade de Jesus Cristo
Índice de textos bíblicos
Sobre o autor