Dissertação Priscilla Ohno - Versão Final
Dissertação Priscilla Ohno - Versão Final
Dissertação Priscilla Ohno - Versão Final
Belo Horizonte
2017
PRISCILLA MOREIRA OHNO
Belo Horizonte
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PPG
l3Si
t,,-.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA UFM G
FOLHA DE APROVAÇÃO
.Iv ,
Prof(a). LEONARDO MAURíCIO DIN
UFM
Agradeço primeiramente a Deus, pela vida. Por nunca me desamparar, por colocar em
meu caminho pessoas queridas e especiais que me apoiaram, auxiliaram, ensinaram,
compartilharam comigo tantos momentos de conquistas e realizações, pessoais e profissionais.
Agradeço aos meus pais por todas às vezes que me deram forças para seguir adiante.
Por todos os valores que me ensinaram e que fizeram de mim uma pessoa melhor, e por estarem
comigo incondicionalmente até hoje.
Aos meus irmãos Thiago e Arnaldo pelo companheirismo e amizade de sempre, pelo
apoio e torcida em todos os momentos, por estarem comigo em qualquer tempo e circunstância.
Ao meu marido Kelson por estar ao meu lado todo esse tempo me apoiando e
incentivando para que eu trilhasse meu próprio caminho e crescesse profissionalmente.
Agradeço ao Maycoln, meu orientador, que com paciência e dedicação me acompanhou
durante todos esses anos, me mostrando o caminho para me tornar uma profissional e uma
pessoa melhor. Agradeço pela sua sinceridade, pelo seu companheirismo e apoio nesta jornada,
por todo o conhecimento que compartilhou comigo, e por acreditar e confiar em mim quando
eu mesma duvidava.
Aos meus professores, pelos ensinamentos que me ajudaram a desenvolver minhas
habilidades. Por todos os dias que vocês moldaram e lapidaram o conhecimento contribuindo
verdadeiramente para a minha formação.
Às “minhas meninas de ouro” Ana Carolina, Sofia, Luanna e Juliana que tornaram esse
trabalho muito mais fácil e prazeroso. Mais do que alunas de iniciação científica, e que
contribuíram grandemente para a condução desse trabalho, foram grandes companheiras e
amigas. Vocês me enchem de orgulho!
Aos meus colegas do LabCog, pela ajuda e disponibilidade durante esse tempo, e por
compartilharem tantos momentos de aprendizagem e novas descobertas. Agradeço
especialmente à Mariana, ao Santhiago e à Suzana que trilharam comigo as empreitadas
acadêmicas, sendo mais do que companheiros de equipe amigos valiosos e indispensáveis.
O conhecimento amplia a vida. Conhecer é viver uma realidade que a ignorância
impede desfrutar. Ninguém pode ir ao lugar que se propõe, se ao mesmo tempo pretende
permanecer no ponto de partida.
Raumsol
RESUMO
A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença grave, de etiologia múltipla, ocasionada pela
deficiência na secreção e/ou ação da insulina e, se não tratada de forma rigorosa, pode trazer
graves complicações para a saúde. O curso e prognóstico da DM dependem da qualidade do
controle do paciente, o que requer práticas de autocuidado, o que pode ser dificultado por um
quadro depressivo, por exemplo. A presente dissertação teve como objetivo a investigação da
intensidade de cognições disfuncionais, qualidade de vida (QV) e estratégias cognitivas de
enfrentamento (coping cognitivo) em grupos de pacientes diabéticos com e sem sintomas de
depressão. Inicialmente foi conduzida uma revisão narrativa da literatura sobre estudos que
avaliaram a relação diabetes-depressão e os impactos dessa associação na QV dos pacientes
diabéticos, bem como as cognições disfuncionais e coping cognitivo dos mesmos. A revisão
mostrou que a presença da depressão potencializa os impactos negativos no controle da
diabetes, o que pode dificultar o tratamento e diminuir a QV do sujeito. Quanto às cognições
disfuncionais, os estudos sugerem que estilos cognitivos negativos e processamento falho de
informações, produzem um maior risco de eclosão da depressão nesses indivíduos e que
cognições negativas interferem no estado de ânimo e adesão ao tratamento, resultando em mais
complicações. Já a busca por estudos que avaliaram as estratégias cognitivas de enfrentamento
mais utilizadas por pessoas com DM não foi conclusiva, uma vez que este tema não foi avaliado
nesse público até o presente, o que pode ser devido à escassez de instrumentos de avaliação
apropriados. Sendo assim, viu-se a necessidade de adaptar para o Brasil, uma ferramenta de
avaliação desse construto, o Cognitive Emotional Regulation Questionnaire (CERQ). Os
resultados encontrados nesse processo indicam a adequação do CERQ para a avaliação desse
construto na população geral, uma vez que a estrutura fatorial encontrada foi semelhante à
estrutura original e demais versões desse instrumento. Esse estudo serviu como base para a
construção de uma versão específica do CERQ para pessoas com DM que foi utilizada na
investigação do coping cognitivo desse público. Diante das constatações e hipóteses levantadas
na revisão, foi realizado um estudo comparativo com 43 participantes, todos diagnosticados
com DM, sendo 13 com sintomas depressivos proeminentes e 30 sem esses sintomas, no intuito
de avaliar as cognições, coping cognitivo, QV e nível de sofrimento emocional. Os participantes
foram avaliados individualmente por meio de entrevistas clínicas e testes padronizados. Os
resultados mostraram que os pacientes diabéticos com sintomas depressivos apresentam pior
QV, maior sofrimento emocional decorrente da DM, bem como mais cognições disfuncionais
do que aqueles sem esses sintomas. Além disso, mostrou-se que as estratégias cognitivas menos
adaptativas utilizadas pelos diabéticos para lidarem com a doença, são as que mais se associam
à pior QV e maior sofrimento emocional. Por fim, mesmo considerando a DM como algo
negativo e estressante, as estratégias mais utilizadas por esse público para lidar com essa doença
são aquelas mais adaptativas o que pode contribuir para um melhor ajustamento psicossocial e
QV. Sugestões de novas pesquisas que deem continuidade às questões levantadas são
apresentadas.
OHNO, P. M. Cognitions and cognitive coping related to quality of life in diabetics. Dissertação
(Mestrado), Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
Diabetes Mellitus (DM) is a serious illness, of multiple etiology, caused by the deficiency of
insulin secretion and/or its action. If not treated accurately, DM can bring several health
complications. The course and prognostics of DM depend on the level of self-control of the
patient, which can become difficult if the person has a condition such as depression. The present
work aimed the investigation of the intensity of dysfunctional cognitions, quality of life (QL)
and cognitive coping, in groups of diabetic patients with and without symptoms of depression.
First, a literature review was conducted about studies that evaluated the relation between
diabetes and depression and the impacts of this association in diabetic patients’ QL. This review
also addressed dysfunctional cognitions and cognitive coping strategies. The results of the
review show that the presence of depression amplifies the negative impacts on the diabetes
control, which can make treatment more difficult and decrease the subject’s QL. As for the
dysfunctional cognitions, studies suggest that negative cognitive styles and flawed information
processing increase the risk of depression in these individuals, and that negative cognitions
interfere on the vitality and adherence to treatment, which may lead to more complications. On
the other hand, the search for studies that evaluate the types of cognitive coping most used by
patients with DM was inconclusive, since such aspect has yet to be studied in this type of group.
This may be due to the lack of appropriate evaluation instruments. Therefore, there was a need
to adapt to Brazil an evaluation instrument of this construct, the Cognitive Emotional
Regulation Questionnaire (CERQ). The results found in this process indicate that CERQ is
appropriate to evaluate this aspect in the general population, since the factorial structure found
was similar to the original structure and other versions of the instrument. This study was used
as a base line for the construction of a specific version of CERQ – for people with diabetes –
which was used in the investigation of their cognitive coping. Before the confirmations and
hypothesis raised in the literature review, a comparative study was conducted with 43
participants, all diagnosed with DM, 13 of whom expressed clear symptoms of depression and
30 who did not show depression symptoms. The objective of this comparative study was to
evaluate the cognitions, cognitive coping, QL and level of emotional suffering. Participants
were evaluated individually with clinical interviews and standardized tests. The results showed
that diabetics with depression symptoms have worse QL, more emotional suffering due to DM,
as well as more dysfunctional cognitions, than others without depression symptoms. Moreover,
it was showed that the less adaptive cognitive coping strategies used by diabetics to deal with
the illness are the ones that are more associated with worse QL and more emotional suffering.
At last, even considering DM as something negative and stressful, the strategies that were most
used by this public to deal with the disease are the more adaptive approaches which can
contribute to a better psycho-social adjustment and QL. Lastly, suggestions of new researches
that would continue the matters raised are presented.
Key-words: diabetes mellitus; depression; quality of life; cognitive triad; cognitive beliefs;
cognitive coping.
LISTA DE FIGURAS
Anexo A – SF-36
Anexo B – Inventário da Tríade Cognitiva
SUMÁRIO
ABSTRACT ........................................................................................................................... 8
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ 9
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... 10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 12
LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS .................................................................................. 14
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18
1.1. Apresentação ................................................................................................................. 18
1.2. Diabetes Mellitus: Diagnóstico e Prevalência ................................................................ 20
1.3. Diabetes e Depressão: causa ou consequência? .............................................................. 23
1.4. Diabetes e Depressão: Impactos na Qualidade de Vida .................................................. 25
1.4.1. Relação/associação entre sintomas depressivos e qualidade de vida em diabéticos ...... 26
1.4.2. Sintomas depressivos em diabéticos: fatores associados a comorbidade depressão-
diabetes, dentre eles a qualidade de vida ............................................................................... 28
1.4.3. Complicações, comorbidades e outros fatores relacionados à qualidade de vida em
diabéticos, dentre eles a depressão ........................................................................................ 30
1.4.4. Impacto da terapia medicamentosa em sintomas depressivos e qualidade de vida de
pacientes diabéticos .............................................................................................................. 31
1.5. Modelo Cognitivo da Depressão .................................................................................... 34
1.6. Cognições Disfuncionais na Diabetes ............................................................................ 38
1.7. Estratégias cognitivas de enfrentamento na diabetes....................................................... 44
2. TRADUÇÃO BRASILEIRA E ADAPTAÇÕES DOS ITENS DO COGNITIVE
EMOTION REGULATION QUESTIONNAIRE ................................................................. 48
2.1. Etapa 1: Tradução e validade de conteúdo dos itens do CERQ ....................................... 52
2.1.1. Objetivo ...................................................................................................................... 52
2.1.2. Método ....................................................................................................................... 52
2.1.2.1. Análise de conteúdo dos itens .................................................................................. 52
2.1.2.1.1. Participantes.......................................................................................................... 52
2.1.2.1.2. Instrumento ........................................................................................................... 53
2.1.2.2.3. Procedimentos....................................................................................................... 53
2.1.2.2.4. Análise dos dados ................................................................................................. 54
2.1.3. Resultados e Discussão ............................................................................................... 54
2.1.4. Versão Final do Questionário de Regulação Emocional Cognitiva (CERQ-B) ............. 55
2.2. Etapa 2: Validade Interna do Questionário de Regulação Emocional Cognitiva (CERQ-
B)...............................................................................................................................................58
2.2.1. Objetivos .................................................................................................................... 58
2.2.1.1. Objetivo Geral ......................................................................................................... 58
2.2.1.2. Objetivos Específicos ............................................................................................... 58
2.2.2. Método ....................................................................................................................... 58
2.2.2.1. Participantes ............................................................................................................ 58
2.2.2.2. Instrumentos ............................................................................................................ 59
2.2.2.3. Procedimentos éticos................................................................................................ 60
2.2.2.4. Procedimentos para coleta de dados ......................................................................... 60
2.2.2.5. Procedimentos para análise de dados ........................................................................ 61
2.2.3. Resultados .................................................................................................................. 62
2.2.3.1. Características da amostra e das variáveis da AFE .................................................... 62
2.2.3.2. Características da amostra da AFC ........................................................................... 62
2.2.3.3. Análise exploratória do modelo (AFE) ..................................................................... 64
2.2.3.4. Consistência interna ................................................................................................. 65
2.2.3.5. Teste dos modelos (AFC) ......................................................................................... 68
2.2.3.6. Validade de construto do CERQ-B ........................................................................... 68
2.2.3.7. Diferenças de Sexo, Idade e Tipo de coleta .............................................................. 71
2.2.3.8. Confiabilidade teste-reteste e consistência interna do CERQ-B ................................ 75
2.2.3.9. Correlações entre o CERQ-B e sintomas depressivos e ansiosos............................... 76
2.3. Considerações Finais ..................................................................................................... 80
3. COGNIÇÕES E COPING COGNITIVO RELACIONADOS A QUALIDADE DE VIDA
EM DIABÉTICOS ............................................................................................................... 82
3.1. Objetivos ....................................................................................................................... 82
3.1.1. Objetivo Geral ............................................................................................................ 82
3.1.2. Objetivos Específicos.................................................................................................. 83
3.2. Método .......................................................................................................................... 83
3.2.1. Participantes ............................................................................................................... 83
3.2.2. Instrumentos ............................................................................................................... 85
3.2.3. Procedimentos Éticos e de Pesquisa ............................................................................ 88
3.2.4. Análise dos Dados ...................................................................................................... 90
3.3. Resultados ..................................................................................................................... 90
3.3.1. Depressão e outros transtornos mentais ....................................................................... 90
3.3.2. Qualidade de vida e sofrimento emocional específico da diabetes ............................... 91
3.3.3. Cognições disfuncionais.............................................................................................. 92
3.3.4. Estratégias cognitivas de enfrentamento .................................................................... 100
3.5. Discussão..................................................................................................................... 104
4. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 108
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 111
APÊNDICES ...................................................................................................................... 129
ANEXOS ........................................................................................................................... 147
18
1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação
fim de que o paciente possa gerir de forma mais efetiva a DM. Acredita-se que uma modalidade
terapêutica para este grupo seja a terapia cognitivo-comportamental, de eficácia já reconhecida
para pacientes deprimidos (Beck & Alford, 2011). De acordo com o modelo da terapia
cognitiva, pacientes deprimidos apresentam negatividade acentuada, manifestada
principalmente na sua forma de interpretar a realidade, e que conduz à manifestação sintomática
característica deste transtorno de humor. Além disso, ocorrem erros sistemáticos no
processamento da informação recebida do meio e na forma de verem a si, os outros e o futuro,
mantendo crenças distorcidas mesmo diante de evidências contrárias (Beck, 2008). Tal
característica confere ao indivíduo um nível acentuado de sofrimento psíquico, emocional e um
funcionamento social inadequado. Detectar a cognição disfuncional é essencial para o
tratamento psicoterápico que se pauta em aspectos da reestruturação cognitiva e da mudança
comportamental, visando melhor qualidade de vida para o indivíduo em sofrimento.
O temor pelas complicações do quadro e pela falta de suporte interpessoal é comum em
algumas condições clínicas, como a diabetes. O indivíduo tende a reagir negativamente,
desenvolvendo um quadro de estresse emocional, sofrendo mais ao tentar ajustar-se
adequadamente à sua doença (Gonzalez, Fisher, & Polonsky, 2011). Um dos objetivos das
intervenções psicossociais é educar os pacientes quanto ao seu transtorno e ensinar-lhes técnicas
de resolução de problemas e estratégias de enfrentamento (coping) mais funcionais. Apesar
disso, poucos estudos científicos têm se dedicado à investigação do coping em pacientes
diabéticos, principalmente quanto às estratégias cognitivas utilizadas por eles para regular suas
emoções diante da própria doença. Possivelmente, essa escassez se deva ao fato da ausência de
ferramentas apropriadas para a avaliação desse construto. A identificação dessas estratégias é
essencial para que esses indivíduos possam, posteriormente, regulá-las e adquirir um
funcionamento psicossocial mais adequado. Diante disso, evidencia-se a necessidade de
empreender esforços para desenvolver instrumentos adequados para esse tipo de investigação.
Diante do exposto, é esperado que indivíduos com depressão clinicamente manifesta,
ou mesmo subclínica, possuam um rebaixamento na sua QV e que apresentem cognições
disfuncionais e estratégias cognitivas de enfrentamento pouco efetivas, que podem conduzi-los
a um sofrimento emocional mais intenso. Esse quadro tende a se agravar na presença de
comorbidade com uma doença clínica debilitante como a diabetes. Apesar da importância de se
avaliar as crenças e estratégias cognitivas de coping em indivíduos diabéticos, principalmente
naqueles mais deprimidos, poucos estudos têm se dedicado a tais investigações. Sendo assim,
pretende-se nesse trabalho colaborar com o preenchimento da lacuna encontrada na área,
20
crianças, adolescentes e adultos jovens. Os sintomas surgem de forma abrupta e têm progressão
clínica acentuada e rápida, podendo levar ao coma hiperglicêmico em poucos dias.
Na diabetes tipo 2 (DM2) pelo menos duas situações estão presentes: redução da
produção de insulina – relativa nos primeiros anos de doença e progressiva com a evolução – e
má utilização da insulina pelo organismo, fenômeno atribuído à resistência a esse hormônio. É
mais frequentemente diagnosticada em adultos acima dos 35 anos de idade, com evolução
insidiosa e paucissintomática, pelo que pode passar despercebida por longos períodos de tempo
e retardar o diagnóstico e tratamento. Os pacientes com DM2 são tratados com dieta alimentar,
prática de exercícios físicos e medicação oral; ao longo da evolução, a maior parte dos pacientes
demandará tratamento com insulina.
A diabetes gestacional acomete mulheres na gestação, mas normalmente desaparece
após o término da gravidez. Percentual significativo destas mulheres desenvolverá diabetes do
tipo 2 no futuro. Outros tipos de diabetes são mais raros e podem ser o resultado de defeitos
genéticos específicos nas células Beta, doenças do pâncreas, endocrinopatias, drogas e
infecções. A forma mais comum de DM é o tipo 2, que representa 90% do total de indivíduos,
80% destes obesos ou com sobrepeso, seguido em termos de frequência pela DM tipo 1 com
cerca de 8% (American Diabetes Association [ADA], 2010).
O diagnóstico de diabetes é baseado nos sintomas clínicos de fome excessiva (polifagia),
aumento da frequência e volume urinário (poliúria), sede excessiva (polidipsia) e boca seca,
perda inexplicada de peso, cansaço excessivo e dores no corpo. O diagnóstico laboratorial é
feito com base no achado de concentração aumentada de glicose no sangue. O diagnóstico de
DM é estabelecido quando a glicemia em jejum está acima de 126 mg/dL e esse resultado é
confirmado em pelo menos mais uma ocasião. As glicemias em jejum entre 100 e 125mg/dL
indicam que a pessoa pode ser portadora de pré-diabetes, o que requer novo exame, como o
teste de tolerância à glicose com sobrecarga oral de 75 g.; neste exame a glicemia não deve
ultrapassar os 139 mg/dL após duas horas da ingestão da glicose. Ainda neste teste, níveis de
glicemia entre 140 e 199 mg/dL caracterizam intolerância à glicose, ou pré-diabetes, e valores
iguais ou superiores a 200 mg/dL confirmam o diagnóstico de diabetes. Uma glicemia aleatória
– sangue coletado a qualquer hora do dia – superior a 200mg/dL., na presença de sintomas
típicos, já é suficiente para o diagnóstico de DM. Em alguns casos o diagnóstico também pode
ser feito com base na hemoglobina glicada ou HbA1c, uma forma de hemoglobina presente
naturalmente nos eritrócitos humanos que serve para identificar altos níveis de glicemia durante
um período de até 120 dias; por isso é mais utilizado como instrumento de avaliação do controle
22
em pacientes adultos diabéticos quando comparados com os não diabéticos, sendo mais
frequente nas mulheres (28,2%) do que nos homens (18%), e na população acometida de
sintomas clínicos (32%), quando comparada à assintomática (20%). No estudo qualitativo de
Tanenbaum e colaboradores (2013), 61% dos 70 participantes afirmaram que a diabetes causava
diretamente seus sintomas depressivos ou estava interligada com eles. Do mesmo modo,
Schmitz e colaboradores (2013) estudaram o curso longitudinal da depressão por três anos em
pacientes diabéticos tipo 2 e identificaram quatro padrões distintos de depressão: um grupo sem
depressão (66,7%), um grupo com aumento moderado de depressão ao longo do tempo (20,2%),
um grupo com prevalência elevada e crescente do transtorno (6,5%), e um grupo com
diminuição da prevalência de depressão (6,6%). Dois terços dos 1.388 participantes deste
estudo não sofreram de depressão ao longo do tempo; no entanto, os demais foram classificados
como de risco para o desenvolvimento do transtorno depressivo. Resultados semelhantes
também foram encontrados por Meurs e colaboradores (2016) em um estudo de coorte realizado
no norte da Holanda, entre os anos de 2006 e 2013, com 90.686 participantes. Os autores
demonstraram que a depressão foi mais frequente em indivíduos diabéticos (com suspeita e/ou
confirmação do diagnóstico de DM) do que naqueles que não apresentavam a doença.
Em uma condição clínica, crônica e incapacitante como a diabetes, é esperado que os
pacientes diabéticos apresentem sintomas intensos de tristeza, estados subclínicos de disforia e
estresse (SBD, 2015). Tais características podem proporcionar confusão na hora do diagnóstico
de depressão nesses indivíduos e, assim, prejudicar o tratamento adequado para os mesmos.
Geralmente, os indivíduos que apresentam um quadro de depressão como comorbidade de uma
doença clínica recebem menos tratamento para este transtorno de humor do que aqueles que
apresentam exclusivamente a depressão (Sartorius, 2001). No caso dos diabéticos, Katon e
colaboradores (2004) mostraram que apenas 50% daqueles com a comorbidade depressão-
diabetes foram corretamente diagnosticados, sendo que somente um terço deles recebeu o
tratamento adequado. Os sintomas depressivos subclínicos (ou subsindrômicos) são comuns em
indivíduos diabéticos e estão associados à diminuição do autocuidado e aumento de
complicações da diabetes (SBD, 2015).
presença da depressão, somada ao quadro crônico, interfere nas atividades do dia a dia e, por
isso, a relação entre diabetes, depressão e qualidade de vida será explorada a seguir.
As mudanças decorrentes da diabetes afetam de forma intensa a vida do paciente,
sobrecarregando-o com as múltiplas exigências do tratamento. O esgotamento emocional alia-
se ao sofrimento físico de hipoglicemias ou hiperglicemias e às complicações decorrentes da
diabetes, afetando, assim, a QV da pessoa diabética. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), o construto qualidade de vida é multidimensional e incorpora a percepção subjetiva que
o indivíduo tem sobre seu bem-estar físico, social, psicológico e dos seus relacionamentos
interpessoais, sua saúde, educação e outras vivências que afetam a vida humana. A QV varia
conforme a cultura da pessoa e de acordo com seus objetivos e expectativas pessoais, e possui
um componente cognitivo – satisfação –, e um emocional, que é a felicidade. Os principais
aspectos que determinam a QV de uma pessoa são o bem-estar físico e psicológico, as relações
sociais, o ambiente, o nível de independência e as crenças pessoais ou religiosas (OMS, 1995).
Com o intuito de melhor compreender a relação entre diabetes, depressão e QV,
realizou-se uma revisão narrativa da literatura. Por meio de buscas em importantes bases de
artigos científicos, foi possível verificar o estado atual desta inter-relação. Os estudos foram
agrupados de acordo com os seus objetivos em quatro blocos temáticos e serão relatados a
seguir com o intuito de fornecer uma visão mais geral do tema pesquisado. Os critérios
utilizados para a seleção dos artigos podem ser visualizados no Apêndice A.
Gelfand, Tang, & Simons, 1999; Beck & Alford, 2011). Trata-se de uma abordagem breve,
estruturada, diretiva, orientada para o presente, baseada na compreensão de que o modo como
o indivíduo estrutura suas experiências internamente determina, em grande parte, o modo como
ele se sente e se comporta. Nesta perspectiva, a psicopatologia é considerada um “exagero” das
respostas adaptativas normais e, por isso, o tratamento baseado na TCC tem o objetivo de
modificar os pensamentos (reestruturação cognitiva) e comportamentos disfuncionais do
indivíduo (Dattilio & Freeman, 1998). É um processo cooperativo de investigação empírica,
percepção da realidade e resolução de problemas no qual, tanto paciente quanto terapeuta,
possuem um papel ativo (Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1997). A TCC tem se mostrado uma
boa opção para o tratamento psicológico de indivíduos diabéticos e deprimidos, por
proporcionar a remissão dos sintomas depressivos e ansiosos, redução do nível de estresse e de
sofrimento psíquico (Lustman, Griffith, Freedland, Kissel, & Clouse, 1998; Amsberg et al.,
2009; Markowitz, Gonzalez, Wilkinson, & Safren, 2011; Welschen et al., 2013).
indivíduo terá sobre uma determinada situação, modificando, assim, a sua maneira de pensar,
sentir e agir. Este conjunto de crenças, que funciona como um “mecanismo de sobrevivência”
consiste em atitudes, regras e suposições criadas pelo sujeito para conviver com as suas ideias
absolutas, negativas e não adaptativas, que não estão diretamente relacionadas com a situação
em si. Os PAs, por sua vez, são considerados o nível mais superficial de cognição e são
específicos à situação. São ativados pelas crenças intermediárias mediante uma situação
específica que influenciam a emoção e o comportamento do indivíduo. Estes estão presentes
cotidianamente na vida das pessoas de forma quase imperceptível; eles surgem e desaparecem
de forma espontânea, frequentemente conduzindo a uma resposta fisiológica, fazendo com que
a pessoa se concentre mais na sua mudança de humor do que no pensamento que a ocasionou
(Beck et al., 1997).
Ao desenvolverem um modelo cognitivo da depressão, Beck e colaboradores (1997)
afirmam que há três conceitos específicos capazes de explicar o substrato psicológico desta
entidade clínica, chamados de tríade cognitiva, esquemas e erros cognitivos. A tríade cognitiva
consiste em três padrões maiores que orientam o indivíduo a considerar suas experiências de
forma idiossincrática. O primeiro componente da tríade gira em torno da percepção negativa
que a pessoa deprimida tem de si mesma, fazendo com que ela se veja como sendo indesejável
e sem valor. O segundo componente consiste na tendência da pessoa deprimida em interpretar
suas experiências atuais com os outros de forma negativa; sua realidade é percebida como
ameaçadora, exigente e cheia de obstáculos insuperáveis. O terceiro componente é a visão
negativa da pessoa deprimida com relação ao seu futuro, do qual ela espera a permanência das
privações, dificuldades e fracassos. As distorções sistemáticas relacionadas à tríade cognitiva
nos pacientes deprimidos reforçam as crenças centrais disfuncionais subjacentes, ocasionando
a sintomatologia típica da depressão (Beck et al. 1997, Beck & Alford, 2011). A tríade cognitiva
tem sido empiricamente ligada à depressão, exercendo um papel ativador de outros sintomas
negativos (Pössel, 2009).
Os esquemas são padrões cognitivos estáveis, constituídos pelas crenças centrais,
utilizados para conceituar e interpretar situações específicas (Beck et al., 1997). Quando
disfuncionais, eles comprometem a qualidade de vida, pois conduzem a emoções e
comportamentos desadaptativos. Eles podem ser tidos como os responsáveis pela permanência
da visão negativa e derrotista da vida pela pessoa deprimida, fazendo com que ela ignore as
situações positivas e realce os eventos negativos vivenciados (Dobson & Dozois, 2006). O
último componente do modelo cognitivo para a depressão é o processamento falho de
36
informações, que são erros sistemáticos na forma de pensar do paciente deprimido, fazendo
com que ele mantenha a tendência de estruturar o seu pensamento de maneira primitiva, fazendo
julgamentos negativos, amplos, extremos e categóricos com relação à sua vida, mesmo diante
de evidências contraditórias (Beck et al., 1997; Beck & Alford, 2011).
De acordo com este modelo, também conhecido como “diátese-estresse”, a vivência de
um evento tido como estressor é a responsável pela ativação de determinados estilos cognitivos
depressogênicos que conduzem à vulnerabilidade cognitiva para a depressão (Beck et al., 1997).
Eventos estressores moderados também podem servir como gatilho para o desenvolvimento
deste transtorno em indivíduos vulneráveis. Essa vulnerabilidade cognitiva está relacionada ao
conjunto de atitudes (ou conceitos) negativas duradouras que a pessoa tem sobre si mesma, os
outros e seu futuro, e permanecem em um estado latente até o momento em que são ativadas
por determinadas condições (Beck & Alford, 2011). Além disso, a vivência de episódios
depressivos consecutivos aumenta a probabilidade de uma pessoa se tornar cada vez mais
sensível a eventos estressores (Beck, 2008). Esta predisposição cognitiva à depressão pode ser
observada nas reações cognitivas e emocionais que o indivíduo apresenta em situações
específicas. Ademais, a tendência que algumas pessoas têm para processarem negativamente
as informações e experimentarem intensas reações biológicas diante de situações estressantes,
são provenientes da genética, de traumas passados ou mesmo da interação entre ambos. Esta
tendência é mediada por alterações em regiões cerebrais que estão envolvidas no processamento
cognitivo e na regulação emocional, podendo, assim, conduzir a pessoa ao desenvolvimento de
crenças depressogênicas sobre si mesma, os outros e seu futuro (Beck & Bredemeier, 2016).
Revisando o modelo criado há mais de 40 anos, verifica-se a relação existente entre as
variáveis cognitivas e os fatores genéticos e neuroquímicos que podem conduzir um indivíduo
a um quadro depressivo (Beck, 2008; Beck & Bredemeier, 2016). Alguns estudos têm discutido
o papel que os sistemas monoaminérgicos têm na depressão, mais especificamente, como a
baixa disponibilidade de serotonina, noradrenalina e/ou dopamina, está relacionada com as
alterações presentes nos transtornos de humor (Vismari, Alves, & Palermo-Neto, 2008;
Saveanu & Nemeroff, 2012). Além disso, déficits na conectividade entre regiões do córtex pré-
frontal, estruturas límbicas e paralímbicas estão relacionados à hiperatividade simpática e
desregulação endócrina (Maletic et al., 2007). Dentre as estruturas límbicas, a amígdala
desempenha um papel importante no processamento emocional e na ativação do eixo HPA e,
aparentemente, está associada à resposta ao estresse. Em indivíduos deprimidos ocorre uma
hiperativação da amígdala quando eventos negativos são processados, consequentemente
37
Diátese genética
Amígdala reativa
Vieses cognitivos
Sintomas depressivos
exemplo de erro de percepção é a abstração seletiva, por meio da qual a pessoa focaliza sua
atenção em um aspecto específico (geralmente negativo) da situação vivenciada em detrimento
de outras informações relevantes. A inferência arbitrária e a supergeneralização, por sua vez,
são erros de inferência. No primeiro, a pessoa conclui algo a respeito de dada situação sem
provas conclusivas para tanto ou mesmo a partir de indícios contrários a essa interpretação. No
segundo erro, o indivíduo tira conclusões gerais sobre a própria capacidade, desempenho ou
valor a partir de um único evento e passa a aplicar essa regra geral no seu cotidiano. Esses erros
de interpretação geralmente são cometidos quando as informações do ambiente são ambíguas
e possuem plausibilidade para a pessoa. (Beck & Alford, 2011).
O curso e prognóstico da DM dependem da qualidade do controle metabólico
dependente à sua vez, da orientação terapêutica a mais adequada e das práticas de autocuidado
pelo paciente. Os comportamentos de autogestão podem evocar pensamentos específicos sobre
a doença e suas possíveis complicações, que por si só aumentam o nível de angústia e a vivência
de emoções e cognições negativas relacionados à DM (Van der Ven, Weinger & Snoek, 2002;
Gregg, Callaghan, Hayes, & Glenn-Lawson, 2007). Em condições de descontrole, é comum
que a pessoa pense que não importa o quanto ela tente, pois, ainda assim, terá as complicações
decorrentes da diabetes, ou mesmo pensar que sempre entende as orientações médicas erradas
e, por isso, é uma fracassada (Van der Ven, Weinger, & Snoek, 2002). Tais ideias ocasionam
emoções negativas e comportamentos ineficazes para o controle da doença. Sendo assim,
percebe-se que a presença de cognições disfuncionais e/ou distorções cognitivas em indivíduos
diabéticos, pode interferir no seu funcionamento cotidiano, podendo ocasionar e/ou intensificar
o sofrimento emocional. Portanto, é essencial identificar estas cognições
disfuncionais/distorcidas para a compreensão de como foram instalados, e são mantidos, os
padrões de funcionamento, emocional e/ou comportamental, do indivíduo em sofrimento. A
avaliação dessas cognições se dá por meio de escalas e testes psicológicos padronizados e
entrevistas clínicas que visem a construção da conceitualização cognitiva do caso, em um
processo contínuo e interligado com a intervenção clínica.
Na busca por trabalhos que tenham como foco a investigação das cognições nesse grupo
clínico, verificou-se que alguns estudos têm demonstrado que processos cognitivos atuam como
mediadores entre estresse geral e específico da diabetes, controle metabólico e aderência ao
tratamento de indivíduos diabéticos (Bennett-Murphy, Thompson, & Morris, 1997; Farrel,
Hains, Davies, Smith, & Parton, 2004). No entanto, estes estudos foram feitos com jovens com
DM1, não tendo a população adulta recebido a mesma atenção nesse tipo de investigação.
40
Considerando o público adulto, apenas quatro estudos foram encontrados e serão relatados a
seguir, no intuito de fornecer um panorama geral (ver Apêndice A que apresenta os critérios
para a seleção dos trabalhos aqui apresentados).
Clarke e Goosen (2009) avaliaram 114 pacientes diabéticos (tipo 1 e 2) com idade
variando de 28 a 88 anos (Média=59,26; DP=14,58), sendo 57 homens e 57 mulheres. O tempo
médio de diagnóstico de DM foi de 10,26 anos (DP=8,67), variando de seis meses a 38 anos.
O intuito dos autores foi verificar se as estratégias de enfrentamento atuam como mediadoras
na relação entre os pensamentos automáticos negativos e os sintomas depressivos nesses
indivíduos. O instrumento utilizado pelos autores para a avaliação dos PAs foi o Automatic
Thoughts Questionnaire (ATQ). Os resultados indicaram que a frequência de PAs negativos foi
significativamente maior naqueles com alto nível de sintomas depressivos. No que diz respeito
às estratégias de enfrentamento, elas podem ser focadas na emoção, levando o indivíduo a ter
comportamentos de passividade ou negação, ou focadas no problema, conduzindo a um
comportamento ativo para solucionar a situação. Ao avaliar o tipo de estratégia que os pacientes
tinham para lidar com a doença, os resultados indicaram que aquela focada na emoção, ao invés
de centrada no problema, atuou como mediadora parcial entre os PAs negativos e os sintomas
depressivos. Estes resultados demonstram as implicações de se compreender as estratégias de
enfrentamento como possível potencializador da relação entre PAs negativos e depressão. O
que mostra a importância de se trabalhar não só os PAs, mas também, estas estratégias para
melhorar a eficácia da redução dos sintomas depressivos.
Diferentemente do estudo anterior, que investigou se os pensamentos automáticos
negativos são mediados por estratégias de enfrentamento, Gregg e colaboradores (2010)
investigaram se os PAs negativos atuariam como mediadores na relação entre sintomas
depressivos e comportamentos de autocuidado – adesão ao tratamento da diabetes. Para isso,
conduziram um estudo online com 121 pessoas com diabetes tipo 2. A média etária dos
participantes foi de 43 anos de idade e a amostra foi composta em sua maior parte por mulheres
(59,9%) e pessoas casadas (65,7%). O nível de HbA1C dos indivíduos foi, em média, de 6,97
(DP=2,19). Os autores testaram duas hipóteses, a primeira era de que os sintomas depressivos
seriam preditores de não adesão ao tratamento da diabetes, sendo que o nível em que os
diabéticos acreditam em seus PAs negativos mediaria essa relação. No entanto, essa hipótese
não foi confirmada. A segunda hipótese testada era de que os comportamentos de autocuidado
na diabetes exerceriam impacto nos sintomas depressivos, sendo que os PAs negativos
possuiriam um papel mediador nesta relação. Os resultados confirmaram a segunda hipótese,
41
mostrando que a credibilidade que o indivíduo dá para seus PAs negativos media o impacto da
sua baixa adesão ao tratamento da diabetes nos seus sintomas depressivos, e não há um impacto
direto desta não adesão sobre estes sintomas. Sendo assim, para os autores, existem outros
caminhos, que não apenas o da autoeficácia conforme apontado em estudos anteriores, para
explicar a relação entre comportamentos de autocuidado e depressão nos pacientes diabéticos.
Além disso, mais do que avaliar a frequência desses PAs, é importante considerar o seu
conteúdo e o grau em que as pessoas acreditam neles (a sua credibilidade).
No que diz respeito à avaliação de crenças disfuncionais, Moldovan (2009) buscou
avaliar as emoções e cognições presentes em indivíduos com câncer e diabetes, bem como
esclarecer alguns aspectos fundamentais da relação entre as crenças irracionais e o estresse
emocional nessa população. A amostra foi composta por 30 mulheres com câncer de mama e
26 pacientes com diabetes, sendo que 43% destes eram homens. Todos os participantes
encontravam-se hospitalizados. A idade dos participantes variou entre 24 e 79 anos
(Média=53,9) e a maioria era de indivíduos casados (79,6%). Não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre os indivíduos com câncer e com diabetes quanto ao nível
de depressão, ansiedade, angústia e racionalidade/ irracionalidade das crenças. O autor
demonstrou que o impacto que as crenças irracionais dos indivíduos têm sobre as suas respostas
emocionais (depressão, ansiedade e estresse emocional) é completamente mediado pelas
crenças irracionais que eles têm sobre a própria doença. A partir da investigação foi possível
categorizar as crenças mais comuns entre esses indivíduos, considerando o que eles acreditam
quanto à causa, evolução, controle, tratamento e consequências da doença. Em relação à causa
da diabetes, 73,1% dos participantes acreditam que seja devido ao estresse. Além disso, todos
os pacientes diabéticos creem que podem controlar o curso e evolução da sua doença, e 54%
deles afirmam que ter um “pensamento positivo” e “vontade de melhorar” são fatores decisivos
para o controle da evolução da diabetes.
Já a presença de crenças disfuncionais e depressão como preditores para uma visão
negativa do indivíduo sobre o tratamento da diabetes com insulina foi investigada por
Gherman e Alionescu (2015). A amostra foi composta por 215 pacientes romenos com diabetes
tipo 1 (n=30, 14%) e tipo 2 (n=185, 86%), com uma média etária de 57,95 anos, sendo em sua
maior parte do sexo feminino (n=146, 68%). Este estudo foi conduzido considerando que,
dentre os indivíduos que recebem a prescrição para o tratamento com insulina, 15% deles
apresentam sérias dúvidas quanto a essa opção e, cerca de 40% dos diabéticos tipo 2 estão em
risco de não aceitarem a insulinoterapia. Os participantes tinham, em média, o diagnóstico de
42
diabetes há 7,3 anos e uma hemoglobina glicada entre 5,4 e 16 (Média=9,07; DP=2,11).
Dividiu-se a amostra em dois subgrupos: não deprimidos (n=48; escore < 9 no BDI) e
deprimidos (n=63; escore > 10 no BDI). Os resultados mostraram que as pessoas deprimidas
avaliam o tratamento com insulina de forma mais negativa quando comparadas àquelas não
deprimidas. Em outras palavras, os indivíduos que têm uma visão mais negativa da
insulinoterapia são os que apresentam mais sintomas depressivos e que possuem crenças mais
disfuncionais sobre sua doença. As crenças mais comuns nesse grupo são as de baixa tolerância
à frustração (acreditar que não é capaz de superar situações difíceis) e de demandas não realistas
sobre si mesmo (acreditar que não se deve estar em situações negativas). Por outro lado, as
crenças disfuncionais gerais não possuem o mesmo papel mediador nesta relação,
demonstrando assim a necessidade de se avaliar as crenças específicas que contribuem para que
o indivíduo diabético deprimido veja a insulinoterapia como uma opção mais negativa para o
seu tratamento.
Dentre os estudos mencionados, dois focaram na avaliação de PAs (Clarke & Goosen,
2009; Greeg et al., 2010) e dois nas crenças disfuncionais (Moldovan, 2009; Gherman &
Alionescu, 2015). Tal enfoque tem diferentes implicações práticas uma vez que os PAs são
mais superficiais e específicos à situação e, as crenças são mais gerais, consistindo em atitudes,
regras e suposições que não estão diretamente relacionadas com a situação em si. Sendo assim,
encontrar uma relação significativa entre PAs e problemas específicos dos diabéticos pode ser
mais fácil do que encontrar essa mesma significância no que tange às crenças. Analisando os
instrumentos utilizados nesses estudos, é possível concluir que os autores estavam considerando
apenas os PAs e crenças comumente encontrados em pessoas com sintomas depressivos e não
aquelas cognições que podem ser específicas da DM. É necessário, portanto, salientar a
importância de se considerar e avaliar a especificidade de conteúdo dessas cognições nesses
indivíduos como destacaram Gherman e Alionescu (2015).
Independentemente do nível dessas cognições, é possível perceber, de modo geral, que
as cognições negativas encontradas nesse público interferem no estado de ânimo da pessoa e na
adesão ao tratamento da doença como um todo. Esse processamento cognitivo negativo, além
de conduzir a um quadro de sofrimento emocional, possivelmente diminui a qualidade de vida
do sujeito e conduz a complicações da diabetes de maneira mais progressiva e acentuada. Duas
hipóteses que expliquem a presença destas cognições nesses indivíduos podem ser levantadas.
A primeira é de que essas cognições são decorrentes das mudanças que ocorrem no estilo de
vida do paciente diabético e não pelo estabelecimento do diagnóstico de DM propriamente dito.
43
sejam mais efetivas para a diminuição do sofrimento psíquico e, também, para promover a
melhora da adesão ao tratamento médico da diabetes como um todo. Além disso, pode
contribuir para a construção de ferramentas psicoeducativas que auxiliem os pacientes a
compreenderem como suas cognições estão relacionadas à suas emoções e comportamentos, já
que a simples educação sobre diabetes sozinha não é suficiente para manter, a longo prazo, o
controle glicêmico desses indivíduos (Norris, Lau, Smith, Schmid, & Engelgau, 2002).
Outro ponto importante de ser analisado se refere aos instrumentos utilizados nos
estudos para a avaliação dessas cognições disfuncionais. Foi possível verificar que nenhum dos
quatro estudos utilizaram instrumentos que fossem capazes de identificar cognições,
especificamente, relacionadas a diabetes, pois possuem itens que representam PAs e crenças
gerais. Além disso, a ordem de aplicação dos instrumentos deve ser analisada, uma vez que
dependendo da sequência escolhida pode levar a viés de resposta. Como alternativa a esse
problema, a aplicação desses instrumentos poderia ser feita de forma aleatória. Ainda no que
tange a questão dos instrumentos utilizados, deve-se ter cautela na interpretação de resultados
que utilizaram medidas de autorrelato, uma vez que esse tipo de medida pode aumentar a força
das relações entre as variáveis analisadas. Especificamente pensando na avaliação da depressão
– o transtorno avaliado em todos os estudos incluídos nesta revisão – diferentes medidas devem
ser utilizadas já que é comum que alguns sintomas depressivos podem estar sobrepostos aos
sintomas decorrentes da própria doença clínica e, muitas vezes, serem sub ou superestimados.
O uso de diferentes métodos, como entrevistas clínicas e escalas padronizadas, quando
utilizados conjuntamente, minimizam esse confundimento de sintomas. E tal estratégia
metodológica não foi utilizada em nenhum dos estudos apresentados aqui. No entanto, os
estudos encontrados nesta busca demonstraram o importante papel que as cognições possuem
em pessoas com diabetes, evidenciando ainda, a necessidade da execução de mais pesquisas
sobre o tema.
A maneira como a pessoa enfrenta a sua doença é o que permitirá, em certa medida, que
ela dimensione adequadamente a sua condição e se torne capaz de resolver os problemas
decorrentes de seu quadro clínico. As estratégias de enfrentamento podem ser adaptativas ou
não, levando à superação do problema e/ou estabilização do humor, ou mesmo ao agravamento
da reação emocional e até do problema em si (Carver & Connor-Smith, 2010). No entanto,
embora essas estratégias se refiram a estilos pessoais de enfrentar determinado evento negativo,
elas são passíveis de serem influenciadas, modificadas, aprendidas e desaprendidas (Garnefski,
Kraaij, & Spinhoven, 2002), o que é um importante fator a ser considerado em intervenções
terapêuticas. Possivelmente, o uso de estratégias menos adaptativas esteja relacionado com o
desenvolvimento ou com a manutenção de sintomas e/ou problemas emocionais, que podem
potencializar as complicações da DM. Porém, a inexistência de estudos com esse enfoque, até
o presente momento, impossibilita confirmar ou não esta hipótese, constatação que se deu a
partir de uma revisão da literatura especializada cujo critérios de busca podem ser vistos no
Apêndice A.
A principal limitação dessa revisão foi a restrição das bases de dados pesquisadas, bem
como dos dois idiomas selecionados, fato que impossibilita a inclusão de artigos relacionados
ao tema abordado. No entanto, a hipótese de que as estratégias cognitivas de enfrentamento
utilizadas por indivíduos diabéticos que possuem um rebaixamento em sua QV e diferentes
complicações da doença não são efetivas (ou menos adaptativas), abre um campo de
investigação a ser explorado em estudos futuros.
Apesar do importante papel que essas estratégias parecem desempenhar no ajustamento
psicossocial dos seres humanos, poucos estudos brasileiros têm se dedicado à sua investigação.
Um dos motivos da existência dessa lacuna se deve à ausência de instrumentos de mensuração
adequados deste construto. Sendo assim, para avaliar as estratégias cognitivas de enfrentamento
nas pessoas com DM, viu-se a necessidade de adaptar para o Brasil um instrumento que foca
exclusivamente na parcela cognitiva do coping, o Cognitive Emotion Regulation Questionnaire
(CERQ). Esse processo será descrito no próximo capítulo.
48
psicopatologias do que o não uso das estratégias mais adaptativas. A conclusão a que se chegou
nesse estudo foi de que, apesar de as estratégias mais adaptativas serem menos utilizadas por
pacientes psicopatológicos, o uso daquelas menos adaptativas tem um papel mais relevante na
psicopatologia (Martins, Freire, & Ferreira-Santos, 2016).
Sendo assim, considerando a ausência de uma versão desse instrumento no cenário
nacional, e dada a importância da avaliação desse construto na prática clínica e científica, em
especial para a avaliação das estratégias cognitivas utilizadas pelos pacientes diabéticos, foco
principal da presente dissertação, este estudo teve como objetivo realizar a tradução, adaptação
e investigação de algumas propriedades psicométricas do CERQ. Para tanto, foram conduzidas
três etapas distintas e interligadas. Primeiramente, realizou-se a tradução e adequação dos itens
do instrumento. Em seguida, verificou-se a validade interna do CERQ por meio de análises
fatoriais (exploratória e confirmatória) e confiabilidade, bem como sua estabilidade temporal.
Diferenças entre grupos e a relação das estratégias cognitivas de enfrentamento com sintomas
ansiosos e depressivos na população adulta em geral também foram investigadas.
2.1.1. Objetivo
O objetivo geral desta etapa foi traduzir, adaptar e verificar a adequação dos itens do
Cognitive Emotion Regulation Questionnaire (CERQ, Garnefski, Kraiij, & Spinnhoven, 2001).
2.1.2. Método
2.1.2.1.1. Participantes
2.1.2.1.2. Instrumento
2.1.2.2.3. Procedimentos
Tabela 1.
Adequações dos itens do Questionário de Regulação Emocional Cognitiva (CERQ-B)
Item Tradução Adequação
Eu penso em coisas mais agradáveis do que a Eu penso em coisas mais agradáveis do que o
4
experiência que tive. ocorrido.
Uma análise qualitativa preliminar das respostas indicou que quem se sente menos
culpado pela situação tende a se concentrar mais em pensamentos positivos, buscando
compreender melhor seus sentimentos e o que pode aprender com a situação, bem como pensar
em como lidar melhor com ela. Dificilmente essas pessoas focam o pensamento nos outros, seja
para culpá-los pelo ocorrido ou imaginar como eles estariam em seu lugar. Por outro lado, quem
se sente mais culpado pela situação tende a aceitar mais o ocorrido e pensar com mais
frequência no evento. Dificilmente pensa que a situação tenha um lado positivo, mas acredita
55
que possa aprender algo com ela e se concentra nos seus sentimentos, buscando encontrar uma
maneira de modificar o que aconteceu.
Tabela 2.
Itens do Questionário de Regulação Emocional Cognitiva (CERQ-B)
Item Versão original Versão brasileira
1. I feel that I am the one to blame for it Eu sinto que sou eu o(a) culpado(a) pelo que aconteceu.
2. I think that I have to accept that this has happened Eu penso que tenho que aceitar o que aconteceu.
3. I often think about how I feel about what I have experienced Eu penso sobre como me sinto em relação ao que aconteceu.
4. I think of nicer things than what I have experienced Eu penso em coisas mais agradáveis do que o ocorrido.
5. I think of what I can do best Eu penso no que é que posso fazer melhor.
6. I think I can learn something from the situation Eu penso que posso aprender alguma coisa com a situação.
7. I think that it all could have been much worse Eu penso que tudo poderia ter sido muito pior.
I often think that what I have experienced is much worse than what others have Eu penso que o que aconteceu comigo é muito pior do que o que aconteceu com
8.
experienced os outros.
9. I feel that others are to blame for it Eu sinto que os outros são os culpados pelo que aconteceu.
10. I feel that I am the one who is responsible for what has happened Eu sinto que sou eu o(a) responsável pelo que aconteceu.
11. I think that I have to accept the situation Eu penso que tenho que aceitar a situação.
12. I am preoccupied with what I think and feel about what I have experienced Eu me preocupo com o que penso e sinto sobre o que aconteceu comigo.
13. I think of pleasant things that have nothing to do with it Penso em coisas agradáveis que não têm nada a ver com a situação.
14. I think about how I can best cope with the situation Eu penso sobre como eu posso lidar melhor com a situação.
Eu penso que posso me tornar uma pessoa mais forte como resultado do que
15. I think that I can become a stronger person as a result of what has happened
aconteceu.
16. I think that other people go through much worse experiences Eu penso que outras pessoas passam por experiências muito piores.
17. I keep thinking about how terrible it is what I have experienced Continuo pensando no quão terrível foi o que aconteceu.
18. I feel that others are responsible for what has happened Eu sinto que os outros são responsáveis pelo que aconteceu.
Continua
57
Tabela 2 (continuação)
19. I think about the mistakes I have made in this matter Eu penso nos erros que cometi nesta situação.
20. I think that I cannot change anything about it Eu penso que não tem como eu mudar nada sobre a situação.
21. I want to understand why I feel the way I do about what I have experienced Eu quero entender por que eu me sinto dessa forma sobre o que aconteceu.
22. I think of something nice instead of what has happened Eu penso em algo de bom, em vez do que aconteceu.
23. I think about how to change the situation Eu penso sobre como mudar a situação.
24. I think that the situation also has its positive sides Penso que a situação também tem seu lado positivo.
25. I think that it hasn’t been too bad compared to other things Eu penso que não foi tão ruim assim comparado a outras coisas.
Eu penso que o que aconteceu comigo é o que de pior poderia acontecer a uma
26. I often think that what I have experienced is the worst that can happen to a person
pessoa.
Eu penso nos erros que outras pessoas cometeram em relação a esse
27. I think about the mistakes others have made in this matter
acontecimento.
28. I think that basically the cause must lie within myself Eu penso, basicamente, que a causa encontra-se em mim mesmo(a).
29. I think that I must learn to live with it Eu penso que tenho que aprender a viver com isso.
30. I dwell upon the feelings the situation has evoked in me Eu tento pensar sobre os sentimentos que a situação provocou em mim.
31. I think about pleasant experiences Eu penso em experiências agradáveis.
32. I think about a plan of what I can do best Eu penso em um plano sobre o melhor que eu posso fazer.
33. I look for the positive sides to the matter Procuro pelos lados positivos da situação.
34. I tell myself that there are worse things in life Eu digo a mim mesmo que há coisas piores na vida.
35. I continually think how horrible the situation has been Eu fico pensando o tempo todo em como a situação foi horrível.
36. I feel that basically the cause lies with others Eu sinto que, basicamente, a causa está nos outros.
58
A validade interna do CERQ-B foi verificada por meio de dois estudos distintos. No
primeiro, realizou-se uma análise fatorial exploratória (AFE) dos dados e consistência interna.
No segundo, conduziu-se uma análise fatorial confirmatória, comparando o modelo original do
instrumento com o modelo encontrado na AFE.
2.2.1. Objetivos
O objetivo geral desta etapa foi verificar a estrutura fatorial por meio de análises
exploratórias e confirmatórias, bem como investigar algumas propriedades psicométricas do
Questionário de Regulação Emocional Cognitiva (CERQ-B).
2.2.2. Método
2.2.2.1. Participantes
Para a condução deste estudo, foi realizada a coleta de dados em formato presencial e
virtual (online). A amostra inicial foi composta de 1045 participantes. Foram excluídos deste
estudo os indivíduos com idade inferior a 18 anos (n=4) por não haver a autorização dos
59
responsáveis legais e aqueles que não preencheram o questionário por completo (n=9). A
amostra final foi de 1032 pessoas, com idade variando de 18 a 59 anos (Média=24,77;
DP=8,04), sendo 59,0% do sexo feminino. Os participantes foram majoritariamente
universitários de diferentes cursos. Destes participantes, 135 responderam ao questionário em
sua versão online e 897 à versão presencial. O critério de seleção amostral foi o de conveniência.
A amostra foi dividida em dois grupos para a condução dos estudos, adotando-se como critério
o formato da coleta, virtual e presencial, e no caso daqueles que responderam presencialmente,
considerou-se também o tipo de curso superior que frequentavam. Esta divisão foi feita de
modo que garantisse que se houvesse representantes equivalentes em ambos os estudos. Sendo
assim, a subamostra utilizada na AFE foi composta por 481 indivíduos, com idade entre 18 e
58 anos (Média=24,21; DP=7,58), sendo 28 mulheres. Treze participantes não informaram a
idade. Já a subamostra da AFC teve 553 pessoas, com idade variando de 18 a 66 anos (M=25,39;
DP=8,68), sendo 59,5% do sexo feminino. Sete participantes não informaram a idade e um não
informou o sexo.
2.2.2.2. Instrumentos
composta por 110 pessoas, com idade variando de 18 a 34 anos (Média=21,07; DP=3,24), sendo
que 61 (55,5%) eram homens.
Primeiramente, com o intuito de preparar os dados para a análise fatorial, foram obtidas
medidas de tendência central e de frequência de respostas aos itens, possibilitando a substituição
pontual dos itens não respondidos (missings) pela média. O teste Kolmogorov-Smirnov foi
utilizado para verificar a normalidade da distribuição dos dados. A validade interna do
instrumento foi avaliada por meio de duas técnicas. A primeira foi a análise fatorial exploratória
(AFE), utilizando-se o método de análise dos eixos principais e rotação Direct Oblimin,
permitindo, assim, que os fatores se correlacionassem entre si. Foram mantidos os itens com
carga fatorial ≥ 0,30. A segunda, pela consistência interna (alfa de Cronbach). Todas as análises
foram realizadas no programa SPSS 22.0 (Statistical Package for Social Science). Em seguida,
realizou-se a análise fatorial confirmatória (AFC), correlações item-fator e novas análises de
consistência interna. O primeiro passo foi comparar o modelo original do instrumento (nove
fatores) com o modelo encontrado na AFE (oito fatores), por meio do método de estimação
Maximum Likelihood (ML), a fim de verificar o que melhor se ajustava à adaptação para o
Brasil. Na investigação dos modelos analisaram-se alguns indicadores. O primeiro é a razão do
valor do Qui-quadrado com o grau de liberdade (χ²/gl), no qual valores inferiores a cinco
indicam o ajuste do modelo. O segundo, o Root Mean Squared of the Residuals (RMSEA)
considera como aceitáveis os valores abaixo de 0,08. Também foram analisados o Comparative
Fit Index (CFI) e o The Tucker-Lewis Index (NNFI, Non-Normed Fit Index), nos quais escores
superiores a 0,90 foram considerados satisfatórios. A comparação entre os modelos foi
realizada pelo Akaike Information Criterion (AIC), na qual o menor valor indicou o melhor
modelo (Akaike, 1974). As associações foram feitas por meio de correlação de Pearson e
comparações entre grupos foram realizadas com o Teste t de Student e Análise de Variância
(ANOVA). Para as análises, utilizaram-se os programas estatísticos Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS) 22 e Lisrel 8.8.
62
2.2.3. Resultados
Tabela 3.
Características sociodemográficas da amostra da análise fatorial exploratória
Características Frequência Porcentagem
Sexo
Feminino 280 58,2
Masculino 201 41,8
1
Idade
De 18 a 25 anos 347 72,1
De 26 a 40 anos 95 19,8
De 41 a 59 anos 26 5,4
Escolaridade
Médio Completo 5 1,0
Superior Incompleto 436 90,6
Superior Completo 25 5,2
Pós-Graduação 15 3,1
Cursos Superiores (em formação)
Psicologia 100 20,8
Enfermagem 14 2,9
Serviço Social 19 4,0
Engenharia Civil 77 16,0
Engenharia de Produção 48 10,0
Engenharia de Computação 33 6,9
Pedagogia 29 6,0
História 5 1,0
Educação Física 27 5,6
Publicidade e Propaganda 10 2,1
Matemática 10 2,1
Química 17 3,5
Ciências Biológicas 5 1,0
Não mencionaram o curso 87 18,1
1
Nota. Treze participantes não informaram a idade (2,7%).
64
Tabela 4.
Características sociodemográficas da amostra da análise fatorial confirmatória
Características Frequência Porcentagem
Sexo
Feminino 329 59,7
Masculino 222 40,1
1
Idade
De 18 a 25 anos 386 70,1
De 26 a 40 anos 114 20,7
De 41 a 59 anos 45 8,2
Escolaridade
Médio Completo 1 0,2
Superior Incompleto 490 88,9
Superior Completo 33 6,0
Pós-Graduação 27 4,9
Cursos Superiores (em formação)
Psicologia 95 17,2
Enfermagem 4 0,7
Serviço Social 34 6,2
Engenharia Civil 78 14,2
Engenharia de Produção 55 10,0
Engenharia de Computação 44 8,0
Pedagogia 38 6,9
História 6 1,1
Educação Física 9 1,6
Publicidade e Propaganda 11 2,0
Matemática 13 2,4
Química 6 1,1
Ciências Biológicas 6 1,1
Não mencionaram o curso 152 27,6
Nota. 1 Seis participantes não informaram a idade (1,1%).
Tabela 5.
Distribuição dos itens, cargas fatoriais, variância explicada e consistência interna da versão exploratória do CERQ-B
Carga % de Consistência
Fator Item
Fatorial variância interna (α)
5. Eu penso no que é que posso fazer melhor. 0,70
6. Eu penso que posso aprender alguma coisa com a situação. 0,67
Redirecionamento 14. Eu penso sobre como eu posso lidar melhor com a situação. 0,63
do Foco para o 15. Eu penso que posso me tornar uma pessoa mais forte como resultado do que aconteceu. 0,61
Planejamento e 23,44 0,92
Reavaliação 23. Eu penso sobre como mudar a situação. 0,68
Positiva 24. Penso que a situação também tem seu lado positivo. 0,51
32. Eu penso em um plano sobre o melhor que eu posso fazer. 0,57
33. Procuro pelos lados positivos da situação. 0,42
3. Eu penso sobre como me sinto em relação ao que aconteceu. 0,67
12. Eu me preocupo com o que penso e sinto sobre o que aconteceu comigo. 0,64
Ruminação 13,27 0,81
21. Eu quero entender por que eu me sinto dessa forma sobre o que aconteceu. 0,66
30. Eu tento pensar sobre os sentimentos que a situação provocou em mim. 0,81
9. Eu sinto que os outros são os culpados pelo que aconteceu. 0,80
Culpabilizar 18. Eu sinto que os outros são responsáveis pelo que aconteceu. 0,79
outros 6,26 0,79
27. Eu penso nos erros que outras pessoas cometeram em relação a esse acontecimento. 0,39
36. Eu sinto que, basicamente, a causa está nos outros. 0,74
2. Eu penso que tenho que aceitar o que aconteceu. 0,87
Aceitação 11. Eu penso que tenho que aceitar a situação. 0,79 4,02 0,69
29. Eu penso que tenho que aprender a viver com isso. 0,42
Continua
67
Tabela 5 (continuação)
Carga % de Consistência
Fator Item
Fatorial variância interna (α)
1. Eu sinto que sou eu o(a) culpado(a) pelo que aconteceu. 0,70
10. Eu sinto que sou eu o(a) responsável pelo que aconteceu. 0,77
2,96 0,80
Autopunição 19. Eu penso nos erros que cometi nesta situação. 0,43
28. Eu penso, basicamente, que a causa encontra-se em mim mesmo(a). 0,74
4. Eu penso em coisas mais agradáveis do que o ocorrido. 0,65
Reorientação 13. Penso em coisas agradáveis que não têm nada a ver com a situação. 0,71
2,52 0,88
Positiva 22. Eu penso em algo de bom, em vez do que aconteceu. 0,84
31. Eu penso em experiências agradáveis. 0,57
7. Eu penso que tudo poderia ter sido muito pior. -0,61
16. Eu penso que outras pessoas passam por experiências muito piores. -0,75
Colocando em 2,23 0,81
perspectiva 25. Eu penso que não foi tão ruim assim comparado a outras coisas. -0,58
34. Eu digo a mim mesmo que há coisas piores na vida. -0,74
8. Eu penso que o que aconteceu comigo é muito pior do que o que aconteceu com os outros. -0,27
17. Continuo pensando no quão terrível foi o que aconteceu. -0,62
Catastrofização 0,74
20. Eu penso que não tem como eu mudar nada sobre a situação. -0,46 1,39
26. Eu penso que o que aconteceu comigo é o que de pior poderia acontecer a uma pessoa. -0,40
35. Eu fico pensando o tempo todo em como a situação foi horrível. -0,72
Nota. Os itens marcados em negrito são aqueles que não pertencem a mesma estrutura de nove fatores do instrumento original.
68
Tabela 6.
Resumo dos resultados para os modelos de oito e nove fatores do Questionário de Regulação
Emocional Cognitiva
O modelo com oito fatores foi elaborado de acordo com os resultados encontrados na
AFE. A análise realizada indicou que houve um agrupamento de dois dos fatores propostos
pelos autores originais (Redirecionamento do Foco para o Planejamento e Reavaliação Positiva)
do instrumento em apenas um fator. Os resultados para este modelo mostraram escores
satisfatórios para os três índices de adequação analisados (RMSEA, NNFI e CFI) e um menor
Akaike Information Criterion (AIC). O modelo com nove fatores foi calculado com quatro itens
para cada variável latente de acordo com o estudo de Garnefski, Kraaij e Spinhoven (2001).
Todos os índices de adequação avaliados mostraram-se satisfatórios e foi o modelo que
apresentou a menor razão Qui-quadrado/Grau de liberdade. Apesar de apresentar um maior AIC
na comparação dos modelos, optou-se por utilizar para o CERQ-B uma estrutura de nove
fatores, uma vez que a diferença foi pequena e todos os demais índices analisados se mostraram
adequados e satisfatórios.
Tabela 7.
Itens divididos por fatores com respectivas correlações item-total.
Correlação item-
Item
total
Autopunição
1. Eu sinto que sou eu o(a) culpado(a) pelo que aconteceu. 0,63
10. Eu sinto que sou eu o(a) responsável pelo que aconteceu. 0,62
19. Eu penso nos erros que cometi nesta situação. 0,47
28. Eu penso, basicamente, que a causa encontra-se em mim mesmo(a). 0,64
Aceitação
2. Eu penso que tenho que aceitar o que aconteceu. 0,64
11. Eu penso que tenho que aceitar a situação. 0,68
20. Eu penso que não tem como eu mudar nada sobre a situação. 0,31
29. Eu penso que tenho que aprender a viver com isso. 0,50
Ruminação
3. Eu penso sobre como me sinto em relação ao que aconteceu. 0,57
12. Eu me preocupo com o que penso e sinto sobre o que aconteceu comigo. 0,61
21. Eu quero entender por que eu me sinto dessa forma sobre o que aconteceu. 0,64
30. Eu tento pensar sobre os sentimentos que a situação provocou em mim. 0,68
Reorientação Positiva
4. Eu penso em coisas mais agradáveis do que o ocorrido. 0,67
13. Penso em coisas agradáveis que não têm nada a ver com a situação. 0,73
22. Eu penso em algo de bom, em vez do que aconteceu. 0,71
31. Eu penso em experiências agradáveis. 0,72
Redirecionamento do Foco para o Planejamento
5. Eu penso no que é que posso fazer melhor. 0,62
14. Eu penso sobre como eu posso lidar melhor com a situação. 0,71
23. Eu penso sobre como mudar a situação. 0,67
32. Eu penso em um plano sobre o melhor que eu posso fazer. 0,69
Reavaliação Positiva
6. Eu penso que posso aprender alguma coisa com a situação. 0,64
15. Eu penso que posso me tornar uma pessoa mais forte como resultado do que
0,70
aconteceu.
24. Penso que a situação também tem seu lado positivo. 0,75
33. Procuro pelos lados positivos da situação. 0,74
Continua
70
Tabela 7 (continuação)
Correlação item-
Item
total
Colocando em perspectiva
7. Eu penso que tudo poderia ter sido muito pior. 0,54
16. Eu penso que outras pessoas passam por experiências muito piores. 0,64
25. Eu penso que não foi tão ruim assim comparado a outras coisas. 0,63
34. Eu digo a mim mesmo que há coisas piores na vida. 0,68
Catastrofização
8. Eu penso que o que aconteceu comigo é muito pior do que o que aconteceu com
0,47
os outros.
17. Continuo pensando no quão terrível foi o que aconteceu. 0,57
26. Eu penso que o que aconteceu comigo é o que de pior poderia acontecer a uma
0,36
pessoa.
35. Eu fico pensando o tempo todo em como a situação foi horrível. 0,57
Culpabilizar outros
9. Eu sinto que os outros são os culpados pelo que aconteceu. 0,58
18. Eu sinto que os outros são responsáveis pelo que aconteceu. 0,62
27. Eu penso nos erros que outras pessoas cometeram em relação a esse
0,42
acontecimento.
36. Eu sinto que, basicamente, a causa está nos outros. 0,54
As correlações dos itens com o total de cada fator mostraram dois escores inferiores a
0,40, sendo que um deles se encontra no fator Aceitação (item 20) e o outro no fator
Catastrofização (item 26). Além disso, encontraram-se correlações significativas entre os
fatores do CERQ-B com coeficientes de baixa a alta magnitude (Tabela 8).
71
Tabela 8
Correlações entre os fatores do CERQ-B
Fator Auto Ace Rum ReoP Plan ReaP Pers Cat Culpa
Auto -
Ace O,33** -
Rum 0,45** 0,31** -
ReoP -0,24** 0,14** 0,04 -
Plan 0,02 0,17** 0,33** 0,58** -
ReaP -0,07* 0,19** 0,21** 0,61** 0,78** -
Pers -0,03 0,26** 0,16** 0,54** 0,52** 0,65** -
Cat 0,49** 0,25** 0,32** -0,23** -0,18** -0,25** -0,11** -
Culpa 0,17** 0,14** 0,22** -0,05 -0,01 -0,02 0,02 0,39** -
Nota. *p<0,05; **p<0,01; Auto: Autopunição; Ace: Aceitação; Rum: Ruminação; ReoP: Reorientação Positiva;
Plan: Redirecionamento do Foco para o Planejamento; ReaP: Reavaliação Positiva; Pers: Colocando em
perspectiva; Cat: Catastrofização; Culpa: Culpabilizar outros.
Tabela 9.
Média, desvio-padrão, mediana e percentis dos fatores do CERQ-B, de acordo com o sexo do participante
Média (DP) Percentil 10 Percentil 25 Mediana Percentil 75 Percentil 95
Fator
M F M F M F M F M F M F
Auto 10,02 (3,32) 10,67 (3,76) 6,00 7,00 8,00 8,00 10,00 10,00 12,00 13,00 16,00 18,00
Ace 11,19 (3,51) 10,88 (3,52) 7,00 6,00 8,00 8,00 11,00 11,00 14,00 13,00 17,00 17,00
Rum 11,42 (3,81) 12,98 (4,07) 7,00 8,00 9,00 10,00 11,00 13,00 14,00 16,00 19,00 20,00
ReoP 11,50 (4,23) 11,07 (4,47) 6,00 5,00 8,00 8,00 11,00 11,00 15,00 14,00 19,00 19,00
Plan 14,73 (3,75) 14,23 (3,87) 9,00 9,00 12,00 11,75 15,00 15,00 18,00 17,00 20,00 20,00
ReaP 14,58 (4,04) 13,89 (4,35) 9,00 8,00 12,00 11,00 16,00 14,00 18,00 17,00 20,00 20,00
Pers 12,00 (4,06) 12,45 (4,09) 7,00 7,00 9,00 9,00 12,00 12,00 15,00 16,00 19,00 19,00
Cat 7,40 (2,88) 8,10 (3,34) 4,00 4,00 5,00 6,00 7,00 7,00 9,00 10,00 15,00 15,00
Culpa 7,29 (2,67) 7,22 (2,59) 4,00 4,00 5,00 5,00 7,00 7,00 9,00 9,00 12,00 12,00
Nota: Auto: Autopunição; Ace: Aceitação; Rum: Ruminação; ReoP: Reorientação Positiva; Plan: Redirecionamento do Foco para o Planejamento; ReaP: Reavaliação
Positiva; Pers: Colocando em Perspectiva; Cat: Catastrofização; Culpa: Culpabilizar Outros.
74
Tabela 10.
Média e desvio-padrão dos fatores do CERQ-B, de acordo com a idade e tipo de coleta
Média (DP) Idade Média (DP) Coleta
Fator Grupo Grupo
Grupo 1* Presencial Online
2** 3***
10,55 10,40 9,45 10,17 12,05
Autopunição
(3,70) (3,55) (2,67) (3,60) (3,67)
11,19 11,10 9,35 10,97 11,55
Aceitação
(3,52) (3,62) (2,68) (3,58) (3,43)
12,37 12,72 11,34 12,02 14,47
Ruminação
(4,09) (4,06) (3,27) (3,95) (4,00)
11,00 11,59 12,37 11,51 9,46
Reorientação Positiva
(4,34) (4,51) (4,35) (4,40) (3,87)
Redirecionamento do Foco para o 14,23 14,72 15,38 14,45 14,43
Planejamento (3,93) (3,72) (3,11) (3,86) (3,67)
13,80 14,78 15,62 14,22 13,80
Reavaliação Positiva
(4,32) (4,14) (3,28) (4,25) (4,19)
11,94 12,69 14,10 12,39 11,45
Colocando em Perspectiva
(4,06) (4,00) (3,90) (4,07) (4,04)
8,00 7,67 6,99 8,07
Catastrofização 7,80 (3,22)
(3,28) (2,86) (2,79) (3,24)
7,37 7,07 6,75 7,72
Culpabilizar Outros 7,18 (2,65)
(2,68) (2,58) (2,15) (2,39)
Nota. * Idade entre 18 e 26 anos; ** Idade entre 27 e 66 anos; Nove participantes não declararam a idade.
menos desadaptativas, os índices de consistência interna foram de 0,85 para o primeiro grupo
e de 0,72 para o segundo na primeira avaliação e de 0,81 e 0,79 na segunda etapa (Tabela 11).
Tabela 11.
Confiabilidade do alfa de Cronbach dos fatores do CERQ-B, teste-reteste
α seguimento Teste-reteste
Fator α inicial (n=1043)
(n=58) (n=58)
Autopunição 0,79 0,75 0,54**
Aceitação 0,72 0,70 0,42**
Ruminação 0,81 0,77 0,51**
Reorientação Positiva 0,87 0,88 0,58**
Dos 926 estudantes universitários, somente 126 foram selecionados aleatoriamente para
responderem às escalas Beck que avaliam sintomas depressivos e ansiosos. A maior parte dos
participantes apresentou sintomas mínimos de ansiedade (n=89; 71%) e de depressão (n=82;
67%). Com exceção do fator Colocando em Perspectiva, todos os demais fatores do CERQ-B
se correlacionaram de maneira significativa com os sintomas depressivos. As correlações
variaram de -0,38 (Redirecionamento do Foco para o Planejamento) a 0,50 (Autopunição),
sendo que o conjunto das estratégias menos adaptativas foi o que teve maior valor (r=0,52). No
77
que diz respeito aos sintomas ansiosos, houve menos fatores que se correlacionaram
significativamente. Os valores variaram de -0,33 (Reavaliação Positiva) a 0,38 (Autopunição)
e, assim como aconteceu com os sintomas depressivos, as estratégias menos adaptativas foi o
que teve maior magnitude de correlação com a ansiedade (r=0,42). A Tabela 12 apresenta todos
os resultados.
Tabela 12
Correlações entre os fatores do CERQ-B e sintomas depressivos e ansiosos
Fator Depressão Ansiedade
Autopunição 0,50** 0,38**
Aceitação 0,21* 0,15
Ruminação 0,29** 0,30**
Reorientação Positiva -0,19* -0,21*
Redirecionamento do Foco para o
-0,38** -0,29**
Planejamento
Reavaliação Positiva -0,35** -0,33**
Colocando em Perspectiva -0,06 -0,10
Catastrofização 0,44** 0,33**
Culpabilizar Outros 0,20** 0,12
Estratégias mais adaptativas1 -0,23* -0,23**
2
Estratégias menos adaptativas 0,52** 0,42**
3
Estratégias cognitivas de enfrentamento 0,07 0,01
Nota. *p<0,05; **p<0,01; 1Agrupamento dos fatores Reorientação Positiva, Reavaliação Positiva, Colocando
em Perspectiva, Redirecionamento do Foco para o Planejamento e Aceitação; 2Agrupamento dos fatores
Ruminação, Autopunição, Culpabilizar Outros e Catastrofização; 3Agrupamento de todos os fatores – escala
total.
2.2.4. Discussão
Para as análises exploratórias deste estudo optou-se por uma Análise Fatorial
diferentemente da estratégia utilizada pelos autores do instrumento original, que optaram pela
análise de Componentes Principais (ACP). Tal escolha estatística se deu devido ao fato de que
a ACP não diferencia a variância comum da variância específica entre os itens do instrumento,
avaliando apenas a correlação linear entre as variáveis observadas (Damásio, 2012). Percebe-
se que na ACP pode haver uma discrepância muito acentuada entre as variâncias das variáveis
observadas e, tal fato, pode afetar os valores das cargas fatoriais e comunalidade dos itens, bem
como inflar a variância total explicada. Tendo como objetivo observar um construto latente que
78
que servisse como base para a investigação desse construto em pacientes diabéticos o principal
objetivo da presente dissertação.
82
3.1. Objetivos
3.2. Método
3.2.1. Participantes
A amostra deste estudo foi composta por 43 indivíduos diagnosticados com diabetes
mellitus, tipo 1 ou 2 (detalhes na Tabela 13). O diagnóstico dos participantes foi dado por um
especialista. Em relação ao tempo de diagnóstico, 70% daqueles com DM1 souberam de sua
condição clínica há menos de 10 anos, já para os com DM2, a maior parte (75%) tem o
diagnóstico há mais de uma década. Todos os participantes são pacientes atendidos no Serviço
Especial de Endocrinologia e Metabologia (SEEM) do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG
ou no Centro de Saúde (CS) Alcides Lins. Foram avaliadas ao todo 34 mulheres (79,1%), com
idade variando de 21 a 77 anos (Média=48,53; DP=14,50) e 9 homens, com idade entre 20 e
78 anos (Média=50,44; DP=18,34). A escolaridade dos participantes variou entre aqueles que
tinham o ensino fundamental incompleto e pós-graduação, sendo que a maior parte (n=31; 74%)
estudou apenas até o ensino médio completo. Do total de pacientes avaliados, 26 (60,5%) deles
apresentaram alguma complicação decorrente da DM e apenas 12 (27,9%) não possuem outras
doenças clínicas.
Os participantes foram divididos em dois grupos. O Grupo I foi constituído por 24
mulheres e 6 homens que apresentaram sintomas depressivos leves ou ausência completa dos
mesmos, sendo, portanto denominados de não deprimidos. O Grupo II, nomeado de deprimidos,
foi composto por 10 mulheres e 3 homens que possuem um escore maior do que 16 na Escala
84
Tabela 13
Características demográficas e clínicas dos participantes dos grupos I e II
Grupo I – Não deprimidos Grupo II – Deprimidos
(n=30) (n=13)
Sexo
Feminino 24 10
Masculino 6 3
Idade (Média, DP) 50,50 (15,75) 45,31 (13,58)
Escolaridade (Frequência, %)
Ensino fundamental incompleto 10 (33,3%) 3 (23,1%)
Ensino fundamental completo 3 (10,0%) -
Segundo grau incompleto 2 (6,7%) 3 (23,1%)
Segundo grau completo 9 (30,0%) 4 (30,8%)
Graduação incompleta 2 (6,7%) 1 (7,7%)
Graduação completa 3 (10,0%) 1 (7,7%)
Pós-graduação 1 (3,3%) 1 (7,7%)
Diabetes Mellitus
Tipo 1 14 6
Tipo 2 16 7
2 a 40 anos 7 a 39 anos
Tempo de diagnóstico de DM (Média, DP)
15,23 (10,74) 17,92 (11,56)
GRID-HAMD (Média, DP) 7,40 (4,67) 17,77 (5,28)
HADS: Depressão (Média, DP) 6,43 (3,48) 12,38 (2,75)
HADS: Ansiedade (Média, DP) 6,57 (3,75) 12,46 (4,20)
Nota. GRID-HAMD: Escala de Avaliação de Depressão GRID de Hamilton; HADS: Escala Hospitalar de
Ansiedade e Depressão
85
3.2.2. Instrumentos
Sendo assim, o CERQ-BD manteve a mesma estrutura fatorial com nove dimensões:
• Autopunição – pensamentos de se sentir responsável pela diabetes, colocando a culpa
em si mesmo e se preocupar com os erros que cometeu para ter a doença;
• Aceitação – pensamentos em que a pessoa se resigna e aceita a sua diabetes, pensando
que não pode modificá-la e que a vida continua;
• Ruminação – pensar constantemente ou se preocupar com os sentimentos sobre ter
diabetes;
• Reorientação Positiva – pensar em coisas mais agradáveis do que no fato de ter diabetes;
• Redirecionamento do Foco para o Planejamento – pensar em quais passos tomar para
lidar com sua diabetes;
• Reavaliação Positiva – atribuir, mentalmente, um significado positivo ao fato de ter
diabetes, pensando que a doença pode lhe ensinar algo ou que tem um lado positivo;
• Colocando em Perspectiva – pensamentos que diminuem a seriedade da diabetes em
comparação a outras doenças ou problemas, enfatizando que há coisas piores no mundo;
• Catastrofização – pensamentos recorrentes sobre o quão terrível é ter diabetes e que isso
é a pior coisa que poderia acontecer a alguém;
• Culpabilizar Outros – pensar que os outros são os culpados pela sua diabetes ou que esta
condição clínica é decorrente do erro que outras pessoas cometeram.
questionário apresenta um escore de 0 a 100, no qual zero corresponde ao pior estado geral de
saúde e 100 ao melhor estado (Ciconelli, 1997; Vilagut et al., 2005).
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (processo
45217015.9.0000.5149). Após a aprovação e anteriormente ao início da etapa de recrutamento
dos participantes, foram realizadas reuniões com as equipes de saúde do ambulatório de
endocrinologia do HC da UFMG e no CS Alcides Lins. Tal procedimento foi realizado com o
intuito de não só divulgar a pesquisa como promover o diálogo com os profissionais que
acompanham os pacientes diabéticos e, assim, garantir que os dados referentes ao tratamento
da DM e, ainda desconhecidos pelas equipes de saúde, servissem para beneficiar os próprios
pacientes. Ambas as instituições escolhidas para a captação dos participantes são públicas,
prestando serviços gratuitos, sendo uma delas pertencente a rede de atenção primária (CS
Alcides Lins) e a outra um centro de referência especializado no tratamento de transtornos
metabólicos (SEEM do HC-UFMG).
A divulgação do programa de avaliação foi feita por meio de cartazes afixados no
ambulatório de endocrinologia do HC da UFMG e no CS Alcides Lins. Além disso, foi
realizada uma busca ativa dos pacientes. No HC essa busca se deu por meio de contato
telefônico realizado pelos pesquisadores diretamente com os pacientes, já no CS houve o auxílio
dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) das cinco equipes que compareceram à residência
de cada paciente convidando-os a participarem. Em ambas as instituições a busca ativa foi
89
conduzida considerando-se a ordem alfabética dos nomes dos pacientes. Porém, aqueles
pacientes que buscaram diretamente pelos profissionais envolvidos com a presente pesquisa,
após a divulgação do programa, foram avaliados conforme disponibilidade de horário
compatível, indiferentemente de seguir-se a ordem alfabética.
O consentimento dos participantes foi documentado por meio do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndices C e H). Os pacientes que aceitaram participar
foram avaliados nas dependências do HC e do CS, conforme a disponibilidade dos mesmos.
Esta avaliação foi realizada em duas sessões, em dias distintos, com tempo médio de duração
de 1 hora e trinta minutos cada sessão. Em alguns casos, foi necessária uma terceira sessão para
encerrar o processo. As avaliações foram individuais e ocorreram em salas apropriadas que
garantiram o conforto dos pacientes e o sigilo das informações relatadas por eles. O presente
estudo apresentou risco mínimo aos participantes. Durante a avaliação o participante que se
sentiu desconfortável ao responder as perguntas, ficou cansado ou se emocionou teve todo o
acolhimento e atenção necessários.
Os resultados da avaliação foram informados a cada paciente em caráter individual e
um relatório com esses dados foi anexado ao seu prontuário após terem sido discutidos com as
equipes que acompanham o paciente, salvaguardando o sigilo das informações pessoais que
não estavam relacionadas à DM em si, ou que não fossem auxiliar no seu tratamento. A
indicação de intervenção psicoterápica foi discutida caso a caso, com base nas entrevistas
iniciais, na avaliação do estado mental e nos resultados dos testes psicológicos. Todo o processo
de avaliação e encaminhamento foi realizado de modo a garantir que nenhum paciente ficasse
sem a assistência necessária. Os pacientes que apresentaram sintomas depressivos leves a
moderados foram encaminhados para uma intervenção em grupo específica. Os pacientes que
não se encaixaram nos critérios de elegibilidade para esta modalidade grupal, foram
encaminhados para a psicoterapia individual no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da
UFMG ou atendidos no próprio CS por um psicólogo capacitado da UFMG, pertencente à
equipe deste projeto. Aqueles pacientes que apresentaram dificuldades emocionais que não são
decorrentes da diabetes, ou que apresentaram outros transtornos psiquiátricos, também foram
encaminhados para a psicoterapia individual.
90
3.3. Resultados
No que diz respeito aos problemas e/ou transtornos mentais (ver Tabela 14), foi mais
frequente entre os homens a presença de Episódio Hipomaníaco (atual), Transtorno de Humor
com características psicóticas (atual) e Transtorno de Personalidade Antissocial. Nos demais
transtornos não houve diferença significativa entre os sexos. As mesmas análises de frequência
também foram feitas considerando-se o tipo (DM 1 ou DM2) e o tempo de diagnóstico (grupo
1: de 2 a 10 anos; grupo 2: de 11 a 40 anos) de DM. No entanto, tais análises não apresentaram
diferenças significativas. A presença de sintomas depressivos não diferiu entre os grupos ao se
considerar o tipo de tratamento utilizado pelo paciente (uso de insulina, de antidiabéticos orais,
da associação de ambos ou da insulina com a prática de exercícios físicos), e se havia, ou não,
comorbidade da DM com outras doenças clínicas como hipertensão arterial ou obesidade, por
exemplo. No entanto, aqueles que apresentam quatro ou mais problemas decorrentes da DM
(como retinopatia, neuropatia, nefropatia), apresentaram mais sintomas depressivos quando
comparados aqueles que não apresentam nenhuma complicação (F=2,74; GL=4; p<0,05). Ter
de um a três tipos de complicações não faz diferença quanto à presença de sintomas depressivos.
91
Tabela 14
Problemas e/ou transtornos mentais apresentados pelos participantes (n=43)
Frequência (%)
Nenhum 12 (28,0%)
Apenas um EDM passado 3 (7,0%)
EDM passado e atual c/ características melancólicas 1 (2,3%)
TAG 2 (4,6%)
TOC 1 (2,3%)
EDM passado e atual c/ risco de suicídio 1 (2,3%)
De dois a três EDM e TAG 4 (9,3%)
EDM e outros transtornos 4 (9,3%)
TAG e outros transtornos 3 (7,0%)
Síndrome psicótica passada e atual c/ risco de suicídio 1 (2,3%)
Quatro ou mais EDM, TAG e outros transtornos 9 (21,0%)
EDM atual c/ características melancólicas e outros transtornos 1 (2,3%)
EDM passado e atual c/ características melancólicas e outros 1 (2,3%)
transtornos
Nota. EDM: Episódio Depressivo Maior; TAG: Transtorno de Ansiedade Generalizada; TOC: Transtorno
Obsessivo Compulsivo; TEPT: Transtorno de Estresse pós-Traumático
Tabela 15
Média, desvio-padrão e significância entre os grupos não deprimidos e deprimidos em relação
a qualidade de vida e sofrimento emocional específico da diabetes
Média (DP)
Medida T
Não deprimidos Deprimidos
SF-36 Capacidade funcional 65,33 (29,33) 45,77 (24,05) 2,11*
Limitação por aspectos físicos 60,00 (42,35) 21,15 (26,70) 3,63**
Dor 59,53 (28,47) 37,00 (18,66) 2,61*
Estado geral de saúde 45,87 (17,62) 31,15 (19,38) 2,44*
Vitalidade 49,67 (19,43) 30,00 (13,23) 3,32**
Aspectos sociais 65,83 (33,14) 40,38 (22,33) 2,94**
Limitação por aspectos emocionais 53,33 (39,73) 7,69 (14,62) 5,49***
Saúde mental 61,47 (20,74) 30,85 (18,59) 4,74***
PAID Problemas emocionais 29,88 (15,34) 42,78 (14,33) -2,59*
Problemas relacionados ao
5,17 (4,26) 5,19 (3,71) -0,19
tratamento
Problemas relacionados à
6,67 (5,00) 9,33 (5,17) -1,57
alimentação
Problemas relacionados ao apoio
2,04 (2,78) 5,58 (3,05) -3,73**
social
Problemas total 43,75 (22,48) 62,89 (18,76) -2,67*
Nota. *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001; SF-36: Medical Outcomes Study 36, sendo que quanto menor o escore
pior é a qualidade de vida do indivíduo; PAID: Questionário de avaliação dos problemas relacionados à diabetes,
sendo que quanto maior o escore pior será a qualidade de vida e estresse específico da diabetes.
Tabela 16
Correlações entre as cognições e qualidade de vida e sofrimento emocional estresse específico da diabetes
CF AF Dor SG Vit AS AE SM Emoc Trat Alim Apoio Total
Self positivo -0,12 0,05 -0,10 0,20 0,09 0,16 0,12 0,27 -0,26 -0,10 -0,11 -0,46** -0,27
Self negativo -0,22 -0,22 -0,28 -0,29 -0,42** -0,38* -0,45** -0,56** 0,51** 0,10 0,38* 0,62** 0,53**
Mundo positivo 0,26 0,29 0,30 0,39** 0,25 0,29 0,40** 0,41** -0,33* 0,10 -0,17 -0,53** -0,32*
Mundo negativo -0,16 -0,37* -0,41** -0,41** -0,32* -0,28 -0,49** -0,51** 0,41** -0,10 0,24 0,39** 0,39**
Futuro positivo 0,14 0,24 0,10 0,41** 0,23 0,28 0,26 0,39** -0,37* -0,10 -0,05 -0,41** -0,33*
Futuro negativo -0,41** -0,37** -0,36* -0,42** -0,42** -0,31* -0,47** -0,45** 0,61** 0,10 0,35* 0,45** 0,59**
Baixa
-0,35* -0,36* -0,35* -0,58** -0,48** -0,53** -0,53** -0,69** 0,56** 0,04 0,37* 0,59* 0,56**
autoestima/desesperança
Funcionalidade das
-0,33* -0,16 -0,31* -0,38* -0,24 -0,27 -0,36* -0,45** 0,33* 0,18 0,21 0,64** 0,40**
relações
Nota. *p<0,05; **p<0,01; CF: capacidade funcional; AF: limitação por aspectos físicos; SG: estado geral de saúde; Vit: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos
emocionais; SM: saúde mental; Emoc: problemas emocionais; Trat: problemas com o tratamento; Alim: problemas com a alimentação; Apoio: problemas com o apoio social;
Total: nível de sofrimento emocional
95
Na comparação entre grupos ambos os grupos (Grupo I: não deprimidos; e Grupo II:
deprimidos), os resultados indicaram diferenças estatisticamente significativas em todos os
tipos de cognições, exceto no que diz respeito à visão positiva do futuro. Os pacientes diabéticos
deprimidos apresentam uma visão mais negativa de si mesmo (t=-4,98; p<0,001), do mundo
(t=-2,61; p<0,01) e do futuro (t=-3,20; p<0,01) quando comparados aos não deprimidos. Por
outro lado, aqueles pacientes não deprimidos têm uma visão mais positiva de si mesmos
(t=2,51; p<0,05) e das pessoas (t=3,21; p<0,01) do que os deprimidos. A presença de cognições
relacionadas à baixa autoestima/desesperança e funcionalidade das relações foi maior no Grupo
II (t=-4,90; p<0,001 e t=-2,91; p<0,01 respectivamente) em comparação ao Grupo I (ver Tabela
17). Ao se considerar o tipo de DM do paciente, verificou-se que não houve nenhuma diferença
significativa entre os grupos no que diz respeito a presença de cognições disfuncionais.
Tabela 17
Média, desvio-padrão e significância entre os grupos não deprimidos e deprimidos em relação
as cognições
Média (DP)
Medida T
Não deprimidos Deprimidos
ITC Self positivo 23,73 (3,24) 20,69 (4,50) 2,51*
Self negativo 14,27 (6,14) 24,62 (6,53) -4,98***
Mundo positivo 27,33 (4,42) 22,08 (5,47) 3,21**
Mundo negativo 17,37 (6,16) 22,31 (4,42) -2,61**
Futuro positivo 30,93 (2,63) 28,31 (4,87) 1,83
Futuro negativo 13,43 (5,83) 19,38 (5,01) -3,20**
EPD Baixa autoestima/desesperança 16,13 (3,16) 26,38 (7,25) -4,90***
Funcionalidade das relações 15,07 (3,87) 18,92 (4,29) -2,91**
Nota. *p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001; ITC: Inventário da Tríade Cognitiva; EPD: Escala de Pensamentos
Depressivos.
A análise de frequência de resposta dos itens nos instrumentos utilizados para avaliar as
cognições disfuncionais (ITC e EPD) permitiu verificar quais ideias são relatadas de forma
semelhante, ou não, entre os dois grupos. No que diz respeito à visão de si mesmo (self), o
Grupo I não concorda com a afirmação de que seja culpado por muitas coisas (item 29 do ITC),
que não consegue fazer nada direito (item 13 do ITC) ou que tenha defeitos graves (item 35 do
ITC), exatamente o oposto do que o Grupo II acredita. Em relação à visão do mundo, quando
comparado com o Grupo I, aqueles que apresentam mais sintomas depressivos acreditam que
96
coisas ruins acontecem com eles (item 23 do ITC) e que não importa o que façam os outros
sempre tornam aquilo que querem mais difícil (item 30 do ITC), e, também, não acreditam que
suas atividades diárias sejam divertidas e gratificantes (item 12 do ITC). Quanto ao futuro, para
o Grupo II o futuro não reserva coisas boas (item 11 do ITC), pois acreditam que será tão terrível
que não gostam de pensar no assunto (item 26 do ITC) e que não há razão para estar esperançoso
quanto ao futuro (item 19 do ITC). Os resultados da EPD apontaram que o Grupo II tem mais
pensamentos relacionados a baixa autoestima/desesperança quando comparado aos do Grupo I
(itens 1, 4, 5, 7, 8, 10, 12, 13, 14, 16, 18, 19, 22 e 24 da EPD). Além disso, a única diferença
entre ambos os grupos no que tange a pensamentos depressivos relacionados a funcionalidade
das relações está no item 6, sendo que o Grupo II não acredita que as pessoas entendem o que
eles sentem ao contrário do Grupo I que discorda dessa afirmação com maior frequência. As
Tabelas 18 e 19 apresentam a descrição detalhada das respostas em cada instrumento.
97
Tabela 18
Frequência de respostas nos itens do ITC de acordo com os grupos não deprimidos e deprimidos
Grupo I – Não deprimidos (n=30) Grupo II – Deprimidos (n=13)
Fator Item Não concorda, Não concorda,
Não concorda Concorda Não concorda Concorda
nem discorda nem discorda
17 2 (6,7%) 5 (16,7%) 23 (76,7%) 2 (15,4%) 2 (15,4%) 9 (69,2%)
Continua
98
Tabela 18 (continuação)
Fator Grupo I – Não deprimidos (n=30) Grupo II – Deprimidos (n=13)
Item
Não concorda, Não concorda,
Não concorda Concorda Não concorda Concorda
nem discorda nem discorda
Tabela 19
Frequência de respostas nos itens da EPD de acordo com os grupos não deprimidos e
deprimidos
Grupo I – Não deprimidos Grupo II – Deprimidos
(n=30) (n=13)
Item
Não
Não concorda Concorda Concorda
concorda
1* 25 (83,3%) 5 (16,7%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
4* 20 (66,7%) 10 (33,3%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
5* 25 (83,3%) 5 (16,7%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
7* 18 (60,0%) 12 (40,0%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
8* 25 (83,3%) 5 (16,7%) 5 (38,5%) 8 (61,5%)
10* 23 (76,7%) 7 (23,3%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
12* 24 (80,0%) 6 (20,0%) 5 (38,5%) 8 (61,5%)
Baixa
13* 23 (76,7%) 7 (23,3%) 3 (23,1%) 10 (76,9%)
autoestima/desesperança
14* 26 (86,7%) 4 (13,3%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
16* 26 (86,7%) 4 (13,3%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
18* 22 (73,3%) 8 (26,7%) 5 (38,5%) 8 (61,5%)
22* 27 (90,0%) 3 (10,0%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
24* 19 (63,3%) 11 (36,7%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
25 22 (73,3%) 8 (26,7%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
26* 23 (76,7%) 7 (23,3%) 3 (23,1%) 10 (76,9%)
2 5 (16,7%) 25 (83,3%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
3 1 (3,3%) 29 (96,7%) 0 (0,0%) 13 (100,0%)
6* 7 (23,3%) 23 (76,7%) 8 (61,5%) 5 (38,5%)
9 0 (0,0%) 30 (100%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
11 4 (13,3%) 26 (86,7%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
Funcionalidade das
15 4 (13,3%) 26 (86,7%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
relações
17 3 (10,0%) 27 (90,0%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
19* 25 (83,3%) 5 (16,7%) 5 (38,5%) 8 (61,5%)
20 2 (6,7%) 28 (93,3%) 4 (30,8%) 9 (69,2%)
21 1 (3,3%) 29 (96,7%) 3 (23,1%) 10 (76,9%)
23 2 (6,7%) 28 (93,3%) 2 (15,4%) 11 (84,6%)
Nota. * indica os itens cuja pontuação em um grupo foi diferente do outro grupo; a marcação em negrito indica
a maior frequência de resposta nos itens.
100
Tabela 20
Correlações entre as estratégias cognitivas de enfrentamento e qualidade de vida e sofrimento emocional específico da diabetes
CF AF Dor SG Vit AS AE SM Emoc Trat Alim Apoio Total
Autopunição 0,01 -0,14 -0,29 -0,05 -0,08 -0,15 0,01 -0,13 0,07 0,02 0,29 -0,15 0,10
Aceitação -0,06 -0,04 -0,32* -0,11 -0,23 -0,25 -0,19 -0,21 -0,02 0,05 -0,02 -0,05 -0,02
Ruminação -0,14 -0,17 -0,28 -0,41** -0,27 -0,49** -0,22 -0,28 0,39* 0,21 0,16 0,29 0,38*
Reorientação
0,19 0,07 -0,16 0,39** 0,07 0,28 0,14 0,25 -0,32* -0,17 -0,24 -0,44** -0,37*
Positiva
Redirecionamento
do Foco para o 0,11 -0,04 -0,15 -0,03 0,12 -0,11 -0,00 0,08 -0,06 -0,03 -0,10 -0,08 -0,08
Planejamento
Reavaliação Positiva 0,25 0,01 0,02 0,22 0,07 -0,04 -0,10 0,05 -0,23 -0,23 -0,07 -0,20 -0,24
Colocando em
0,08 0,14 -0,12 0,07 -0,05 -0,20 0,11 -0,05 -0,18 0,10 -0,09 -0,04 -0,13
Perspectiva
Catastrofização -0,17 -0,04 -0,03 -0,42** -0,30* -0,34* -0,07 -0,28 0,48** 0,18 0,28 0,30 0,47**
Culpabilizar Outros 0,06 0,21 0,06 -0,10 0,20 0,04 0,14 0,00 0,20 -0,09 0,04 0,27 0,17
Nota. *p<0,05; **p<0,01; CF: capacidade funcional; AF: limitação por aspectos físicos; SG: estado geral de saúde; Vit: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos
emocionais; SM: saúde mental; Emoc: problemas emocionais; Trat: problemas com o tratamento; Alim: problemas com a alimentação; Apoio: problemas com o apoio social;
Total: nível de sofrimento emocional
102
Tabela 21
Tipo e frequência das estratégias cognitivas de enfrentamento utilizadas pelos pacientes diabéticos
Frequência do uso da estratégia cognitiva (n=43)
Tipo de estratégia (Fator) Item
Quase nunca Algumas vezes Regularmente Frequentemente Quase sempre
1 14 (32,6%) 17 (39,5%) 3 (7,0%) 3 (7,0%) 6 (14,0%)
10 9 (20,9%) 9 (20,9%) 4 (9,3%) 8 (18,6%) 13 (30,2%)
Autopunição
19 16 (37,2%) 4 (9,3%) 6 (14,0%) 9 (20,9%) 8 (18,6%)
28 9 (20,9%) 10 (23,3%) 10 (23,3%) 4 (9,3%) 10 (23,3%)
2 6 (14,0%) 8 (18,6%) 8 (18,6%) 9 (20,9%) 12 (27,9%)
11 6 (14,0%) 6 (14,0%) 5 (11,6%) 9 (20,9%) 17 (39,5%)
Aceitação*
20 19 (44,2%) 10 (23,3%) 5 (11,6%) 3 (7,0%) 6 (14,0%)
29 7 (16,3%) 7 (16,3%) 4 (9,3%) 3 (7,0%) 22 (51,2%)
3 8 (18,6%) 6 (14,0%) 5 (11,6%) 12 (27,9%) 12 (27,9%)
12 11 (25,6%) 7 (16,3%) 7 (16,3%) 7 (16,3%) 11 (25,6%)
Ruminação
21 8 (18,6%) 12 (27,9%) 8 (18,6%) 8 (18,6%) 7 (16,3%)
30 9 (20,9%) 7 (16,3%) 8 (18,6%) 10 (23,3%) 9 (20,9%)
4 6 (14,0%) 10 (23,3%) 7 (16,3%) 9 (20,9%) 11 (25,6%)
13 8 (18,6%) 8 (18,6%) 6 (14,0%) 10 (23,3%) 11 (25,6%)
Reorientação Positiva*
22 6 (14,0%) 7 (16,3%) 5 (11,6%) 11 (25,6%) 14 (32,6%)
31 8 (18,6%) 3 (7,0%) 3 (7,0%) 14 (32,6%) 15 (34,9%)
Continua
103
Tabela 21 (continuação)
3.5. Discussão
Ademais, os pacientes com DM1 pertencem, usualmente a grupos etários mais jovens, com
hábitos de vida menos cristalizados e têm, talvez, o viés de receber melhor orientação pelo alto
impacto da doença (instável e fatal se não muito bem abordada) nos próprios pacientes e nos
seus familiares. Esses argumentos podem explicar os resultados encontrados quanto à essa
diferença entre os grupos no que diz respeito aos problemas com a alimentação.
No que se refere à avaliação das cognições disfuncionais presentes nos diabéticos, os
resultados apontaram que ter visões mais negativas de si mesmo, do mundo e do futuro, ou ter
pensamentos depressivos relacionados à baixa autoestima, estão relacionados à pior QV e nível
mais elevado de SEED. O contrário acontece quando se tem uma visão positiva do mundo, que
se relaciona a ter um menor nível de sofrimento emocional, de problemas emocionais e com o
apoio social, e melhor QV. Uma visão positiva de si mesmo também está associada a não ter
problemas com o apoio social necessário na diabetes. A inexistência de diferença significativa
entre os grupos I e II no que diz respeito à visão positiva do futuro, pode ser explicada pelo fato
de os diabéticos, de modo geral, não esperarem que coisas boas aconteçam com eles com o
passar do tempo. Isso aponta para o fato de que esperar por um prognóstico ruim, o que acontece
com a maioria dos indivíduos com DM, tendo que sofrer com a possibilidade de complicações
do quadro e lidar com o medo de morrer prematuramente, não proporcione que os mesmos
tenham uma visão positiva do seu futuro, independentemente de terem, ou não, sintomas
depressivos. A presença mais frequente de cognições (PAs) negativas em pacientes diabéticos
deprimidos também foi encontrada no estudo de Clarke e Goosen (2009). No entanto, até o
momento, não há relatos de investigações quanto às cognições positivas em pessoas com DM.
Destaca-se, ainda, que a presença de cognições disfuncionais independe do tipo de
diabetes que o indivíduo possui. Provavelmente o fato de que os pacientes diabéticos com mais
sintomas depressivos apresentarem uma maior frequência de cognições disfuncionais – em
comparação aqueles sem estes sintomas de humor –, pode ser devido à própria depressão em
si, e não, necessariamente à DM. A literatura apresenta fortes evidências desses tipos de
cognições disfuncionais naqueles com depressão (Beck et al., 1997; Beck & Alford, 2011;
Carneiro & Baptista, 2014). No entanto, os dados encontrados no presente estudo podem servir
para nortear futuras intervenções terapêuticas em diabéticos que apresentem sintomas
depressivos, independentemente da compreensão das suas causas. Assim como nos demais
estudos encontrados na literatura (Clarke & Goosen, 2009; Moldovan, 2009; Gregg et al., 2010;
Gherman & Alionescu, 2015), o presente estudo não utilizou instrumentos que avaliassem
cognições específicas da DM, tal escolha se deu devido à escassez de ferramentas para tal
106
grupo de comparação que permitiria verificar se as variáveis analisadas são específicas, ou não,
da DM. Esses dois pontos, somado ao fato dessa investigação ter sido realizada apenas em duas
instituições públicas de Belo Horizonte, devem ser considerados na hora de se interpretar e,
consequentemente, generalizar os resultados aqui encontrados o que deve ser feito com cautela.
111
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Welschen, L.M. van Oppen, P., Bot, S.D., Kostense, P.J., Dekker, J.M., & Nijpels, G. (2013).
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Psychiatrica Scandinavica, 67, 361-370.
129
APÊNDICES
A busca para a seleção dos artigos foi realizada no período de 17 a 20 de abril de 2016
nas seguintes bases de dados: PubMed, ScienceDirect, PsycInfo e PsycArticles (APA), Scielo
Brasil, Lilacs e Pepsic. Os descritores e operadores booleanos que foram escolhidos para a
busca podem ser visualizados nas tabelas a seguir. Estes termos foram selecionados com base
em palavras-chave utilizadas em artigos analisados anteriormente à busca. Optou-se pela busca
de artigos publicados em periódicos revisados por pares, que contemplassem os descritores em
seus resumos (abstracts) e que possuíssem o artigo completo disponível gratuitamente pela
internet. Foi realizada a leitura do resumo de todos os artigos encontrados, permitindo a
exclusão dos artigos repetidos e dos trabalhos que não se adequassem aos critérios de inclusão.
Fase 1:
Bases de dados: PubMed, ScienceDirect,
Definição
PsycInfo e PsycArticles (APA), Scielo Brasil,
das bases
Lilacs e Pepsic
de dados
Figura 1 – Esquema representativo dos procedimentos de seleção dos artigos sobre qualidade
de vida em indivíduos diabéticos e deprimidos
Considerou-se como critérios para inclusão de artigos: (1) tratar-se de estudo com
adultos com idade igual ou superior a 18 anos e (2) ter como um dos objetivos avaliar as crenças,
pensamentos automáticos, e/ou as distorções cognitivas em pacientes diabéticos. Realizou-se a
leitura do resumo de todos os artigos encontrados, possibilitando a exclusão de artigos repetidos
ou que não se adequassem aos critérios de inclusão. O processo de seleção dos artigos pode ser
visto na figura abaixo.
131
43 artigos excluídos:
Fase 3: 47 artigos potencialmente relevantes Artigos repetidos (n = 11)
Análise dos Artigos com crianças e/ou
resumos adolescentes (n = 8)
Estudos que não avaliam as
cognições em diabéticos (n = 23)
4 artigos analisados integralmente Estudo de adaptação de escala
para avaliar crenças (n = 1)
Fase 4:
Análise
integral dos 4 artigos incluídos na revisão
textos
Figura 2 – Esquema representativo dos procedimentos de seleção dos artigos sobre cognições
em indivíduos diabéticos
Os critérios para inclusão de artigos foram: (1) tratar-se de estudo com adultos, com
idade igual ou superior a 18 anos; (2) ter como um dos objetivos avaliar as estratégias cognitivas
de enfrentamento utilizadas por pacientes diabéticos; (3) possuir artigo completo disponível
gratuitamente pela internet. Conduziu-se a leitura do resumo de todos os artigos encontrados
para verificar a adequabilidade dos mesmos aos critérios de inclusão. A figura abaixo apresenta
todo o processo de seleção e exclusão dos artigos.
132
Fase 1:
Bases de dados: PubMed, ScienceDirect,
Definição
PsycInfo e PsycArticles (APA), Scielo Brasil,
das bases
Lilacs e Pepsic
de dados
Figura 3 – Esquema representativo dos procedimentos de seleção dos artigos sobre coping
cognitivo em indivíduos diabéticos
133
Prezado participante,
Você está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem o objetivo de adaptar um
instrumento psicológico que visa conhecer as estratégias cognitivas que as pessoas adultas
geralmente utilizam para enfrentar um acontecimento estressante ou ameaçador. Esta pesquisa
faz parte de um estudo maior, conduzido no Laboratório de Processos Cognitivos e coordenado
pelo Prof. Dr. Maycoln Leôni Martins Teodoro e pela psicóloga Priscilla Moreira Ohno, do
Departamento de Psicologia da UFMG. Trata-se de um estudo que investigará a intensidade de
cognições disfuncionais, qualidade de vida e estratégias de enfrentamento em pacientes
diabéticos deprimidos e sem este transtorno do humor. Caso queira conhecer um pouco mais
sobre este, ou os demais projetos desenvolvidos por nós, acesse o nosso site
(http://labcog.webnode.com/projetos/o-identificacao-de-marcadores-cognitivos-de-depressao-
em-pacientes-diabeticos/).
A sua participação nessa pesquisa é voluntária e o preenchimento do questionário será online e
gratuito, não causando qualquer tipo de prejuízo para os participantes da pesquisa. Durante
qualquer etapa você possui o direito de recusar-se a participar da pesquisa ou de retirar seu
consentimento, sem penalidades ou prejuízos pessoais. Todas as informações obtidas serão
criptografadas de modo a garantir a segurança da fonte e impossibilitar a manipulação indevida.
Os dados que serão coletados farão parte de um relatório geral de pesquisa e não serão utilizados
individualmente para qualquer outra finalidade administrativa ou comercial.
Você poderá entrar em contato com a pesquisadora principal, a mestranda Priscilla Moreira
Ohno, a qualquer momento durante a pesquisa, ou posteriormente, para solicitar quaisquer
esclarecimentos acerca da sua participação e/ou da pesquisa através do e-mail
priscillaohno@hotmail.com e/ou pelo telefone (31) 98772-3319.
O tempo estimado para completar o questionário é 10 minutos. Nós nos esforçamos bastante
para tornar essa atividade de responder uma experiência agradável para você. Para participar,
você precisa ler e concordar com todos os pontos elencados no Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) que lhe será apresentado a seguir. Ao consentir, você declara que autoriza
a sua participação no projeto de pesquisa e que seus dados serão utilizados como parte de um
relatório de pesquisa científica. Você também declara que foi informado dos objetivos e dos
procedimentos a serem utilizados para a coleta de dados, assim como esclarecido o fato de que
sua participação sigilosa não acarretará nenhum prejuízo para a sua situação profissional e
pessoal.
Ressaltamos que sua participação é muito importante para nós!
Muito obrigado!
134
Autorização:
Eu, __________________________________________________________________
declaro que fui informado dos objetivos e finalidades do estudo “Avaliação e Intervenção
Cognitivo-Comportamental para Depressão em Pacientes Diabéticos”. Li e entendi as
informações. Tive oportunidade de fazer perguntas e tirar minhas dúvidas. Este formulário está
sendo assinado voluntariamente por mim e concordo em participar do estudo até que eu decida
o contrário, bem como autorizo a divulgação e publicação das informações que dei, exceto os
meus dados pessoais, em eventos e publicações científicas. Sendo assim, assino este
documento, juntamente com o pesquisador, em duas vias de igual teor, ficando uma via sob
minha responsabilidade e a outra via com o pesquisador.
_______________________________________
Assinatura do Participante
136
Nome: _____________________________________________________________
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Idade: __________________
Cidade onde reside atualmente: _________________________________________
Endereço:___________________________________________________________________
Telefones:_________________________________
Escolaridade:
( ) Não ( ) Sim
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Você perdeu recentemente (nos últimos três meses) algum ente querido?
Houve alguma mudança nos seus relacionamentos com outras pessoas depois que você
descobriu que tinha diabetes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
142
Tem alguém que te ajuda com a diabetes? Quem e como essa pessoa te ajuda?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
O que você espera que aconteça com você daqui para frente?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
143
Prezado participante, você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa Avaliação e
Intervenção Cognitivo-Comportamental para Depressão em Pacientes Diabéticos, coordenada pelo Prof. Dr.
Maycoln Leôni Martins Teodoro, e pelas psicólogas Priscilla Moreira Ohno e Alessandra de Fátima Almeida
Assumpção, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. A pesquisa será
desenvolvida no Centro de Saúde Alcides Lins e tem como objetivo principal identificar os pensamentos,
sentimentos e comportamentos relacionados à depressão e diabetes. Para a condução dessa pesquisa será necessária
a aplicação de alguns instrumentos que você precisará responder individualmente. Esses instrumentos avaliam
crenças e pensamentos que você pode ter sobre o seu tratamento da diabetes. O tempo médio para responder os
questionários é de 3 horas, e a avaliação será realizada em dois dias distintos, cada dia com a duração máxima de
1 hora e trinta minutos.
Informamos que a pesquisa que vamos desenvolver não apresenta nenhum risco à sua saúde física ou
psicológica e possui como benefício a possibilidade de verificar a presença de cognições depressivas e se elas
influenciam na sua adesão ao tratamento da diabetes, bem como na sua qualidade e estilo de vida. Durante a
avaliação você poderá se sentir desconfortável ao responder as perguntas, ficar cansado ou se emocionar, mas se
algo assim acontecer fale para o pesquisador que ele saberá como te ajudar. Se durante a avaliação for constatado
a presença de problemas ou dificuldades psicológicas, você terá direito à assistência psicológica gratuita que será
realizada no próprio centro de saúde por um profissional qualificado da nossa equipe. Você tem garantido o seu
direito de não aceitar participar ou de retirar sua permissão, a qualquer momento, sem nenhum tipo de prejuízo ou
retaliação, pela sua decisão. Você também poderá a qualquer momento solicitar maiores informações, para isto
basta entrar em contato com o pesquisador. Você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa
além do custo com o deslocamento até o centro de saúde, bem como nada será pago por sua participação. Fica
garantida a indenização em casos de danos, comprovadamente decorrentes da sua participação na pesquisa,
conforme decisão judicial ou extrajudicial.
Os resultados obtidos poderão ser publicados em artigos e eventos científicos. Contudo, em nenhuma
hipótese os participantes serão identificados por seus nomes, sendo mantida em sigilo a sua identidade. Os
instrumentos e documentos utilizados nesta avaliação serão armazenados por 5 (cinco) anos, em local apropriado
no Departamento de Psicologia, ficando sob a responsabilidade dos pesquisadores, sendo garantido o acesso
restrito à essas informações e o sigilo das mesmas.
Caso você concorde em participar desta pesquisa, você precisa rubricar esta folha do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e preencher a autorização apresentada a seguir com as suas informações e
assina-la juntamente aos pesquisadores. Este documento possui duas vias, sendo uma delas sua, e a outra, do
pesquisador responsável pela pesquisa. Estamos disponíveis para quaisquer esclarecimentos sobre eventuais
dúvidas que possam surgir a respeito desta pesquisa. Seguem os telefones e o endereço institucional dos
pesquisadores responsáveis e dos Comitês de Ética em Pesquisa – CEP, onde você poderá tirar suas dúvidas sobre
o projeto e sua participação nele, agora ou a qualquer momento.
146
Autorização:
_______________________________________
Assinatura do Participante
ANEXOS
ANEXO A – SF-36
INSTRUÇÕES: As questões que se seguem pedem-lhe a opinião sobre a sua saúde, a forma
como se sente e sobre a sua capacidade de desempenhar as atividades atuais.
Pedimos que leia com atenção cada pergunta e responda o mais honestamente possível. Se não
tiver a certeza sobre a resposta a dar, dê-nos a que achar mais apropriada e, se quiser, escreve
um comentário a seguir à pergunta.
Para as perguntas 1 e 2, por favor coloque um círculo no número que melhor descreve a sua saúde.
2- Comparada há um ano atrás, como você se classificaria sua idade em geral, agora?
Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase a Mesma Um Pouco Pior Muito Pior
1 2 3 4 5
3- Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia comum. Devido à
sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas atividades? Neste caso, quando?
(Por favor, assinale com um círculo um número em cada
linha)
Não, não
Sim, dificulta Sim, dificulta um
Atividades dificulta de
muito pouco
modo algum
a) Atividades Rigorosas, que exigem muito
esforço, tais como correr, levantar objetos 1 2 3
pesados, participar em esportes árduos.
b) Atividades moderadas, tais como mover uma
mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, varrer a 1 2 3
casa.
c) Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3
d) Subir vários lances de escada 1 2 3
e) Subir um lance de escada 1 2 3
f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3
g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3
h) Andar vários quarteirões 1 2 3
i) Andar um quarteirão 1 2 3
j) Tomar banho ou vestir-se 1 2 3
148
4- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou com alguma
atividade regular, como consequência de sua saúde física?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras 1 2
atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades. 1 2
d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. ex. necessitou de 1 2
um esforço extra).
5- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou outra atividade
regular diária, como consequência de algum problema emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?
Sim Não
a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras 1 2
atividades?
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2
c) Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto cuidado como geralmente 1 2
faz.
6- Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas emocionais interferiram nas
suas atividades sociais normais, em relação à família, amigos ou em grupo?
De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente
1 2 3 4 5
8- Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal (incluindo o trabalho dentro
de casa)?
De maneira alguma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente
1 2 3 4 5
149
9- Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você durante as últimas 4
semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se aproxime de maneira como você se sente,
em relação às últimas 4 semanas.
Uma
A maior Uma boa Alguma
Todo pequena
parte do parte do parte do Nunca
Tempo parte do
tempo tempo tempo
tempo
a) Quanto tempo você tem se
sentindo cheio de vigor, de 1 2 3 4 5 6
vontade, de força?
b) Quanto tempo você tem se
sentido uma pessoa muito 1 2 3 4 5 6
nervosa?
c) Quanto tempo você tem se
sentido tão deprimido que 1 2 3 4 5 6
nada pode anima-lo?
d) Quanto tempo você tem se
sentido calmo ou tranquilo? 1 2 3 4 5 6
10- Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou problemas emocionais interferiram
com as suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)?
Todo A maior parte do Alguma parte do tempo Uma pequena parte Nenhuma parte do
Tempo tempo do tempo tempo
1 2 3 4 5
150
11- O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
A maioria das A maioria Definitiva-
Definitivamente
vezes Não sei das vezes
verdadeiro mente falso
verdadeiro falso
a) Eu costumo obedecer um
pouco mais facilmente que as 1 2 3 4 5
outras pessoas
b) Eu sou tão saudável quanto
qualquer pessoa que eu 1 2 3 4 5
conheço
c) Eu acho que a minha saúde
1 2 3 4 5
vai piorar
d) Minha saúde é excelente 1 2 3 4 5
Questão Pontuação
01 Se a resposta for Pontuação
1 5,0
2 4,4
3 3,4
4 2,0
5 1,0
02 Manter o mesmo valor
03 Soma de todos os valores
04 Soma de todos os valores
05 Soma de todos os valores
151
Nesta fase você irá transformar o valor das questões anteriores em notas de 8 domínios que
variam de 0 (zero) a 100 (cem), onde 0 = pior e 100 = melhor para cada domínio. É chamado
de raw scale porque o valor final não apresenta nenhuma unidade de medida.
Domínio:
• Capacidade funcional
• Limitação por aspectos físicos
• Dor
• Estado geral de saúde
• Vitalidade
• Aspectos sociais
• Aspectos emocionais
• Saúde mental
153
Para isso você deverá aplicar a seguinte fórmula para o cálculo de cada domínio:
Domínio:
Valor obtido nas questões correspondentes – Limite inferior x 100
Variação (Score Range)
Na fórmula, os valores de limite inferior e variação (Score Range) são fixos e estão estipulados
na tabela abaixo.
Exemplos de cálculos:
• Capacidade funcional: (ver tabela)
O valor para o domínio capacidade funcional é 55, em uma escala que varia de 0 a 100, onde o
zero é o pior estado e cem é o melhor.
154
- Aplicar fórmula:
Domínio: Valor obtido nas questões correspondentes – limite inferior x 100
Variação (Score Range)
Dor: 9,4 – 2 x 100 = 74
10
O valor obtido para o domínio dor é 74, numa escala que varia de 0 a 100, onde zero é o
pior estado e cem é o melhor.
Assim, você deverá fazer o cálculo para os outros domínios, obtendo oito notas no final,
que serão mantidas separadamente, não se podendo soma-las e fazer uma média.
Obs.: A questão número 02 não faz parte do cálculo de nenhum domínio, sendo utilizada
somente para se avaliar o quanto o indivíduo está melhor ou pior comparado a um ano atrás.
Se algum item não for respondido, você poderá considerar a questão se esta tiver sido
respondida em 50% dos seus itens.
155
Nome: _____________________________________________________________________
Este inventário lista diferentes ideias que as pessoas às vezes têm. Mostre o quanto você concorda com
cada uma dessas ideias, marcando a resposta que melhor descreve a sua opinião. Certifique-se de escolher
apenas uma resposta para cada frase. Responda de acordo com o que você está pensando NESTE
MOMENTO.
EXEMPLO:
CONCORDO TOTALMENTE
CONCORDO MUITO
CONCORDO UM POUCO
NEM CONCORDO, NEM DISCORDO
DISCORDO UM POUCO
DISCORDO MUITO
DISCORDO TOTALMENTE
Concordo muito
Nem concordo,
Concordo um
nem discordo
Discordo um
totalmente
totalmente
Concordo
Discordo
Discordo
pouco
pouco
muito
1. A vida tem seus altos e baixos.
No exemplo acima, a marca em “Concordo um pouco” indica que quem respondeu a este questionário
concorda um pouco com a ideia de que “a vida tem seus altos e baixos”.
Instruções: Marque a resposta que melhor descreva a sua opinião. Escolha uma única resposta para cada ideia.
Responda as frases de acordo com o que você está sentindo NESTE MOMENTO.
CONCORDO TOTALMENTE
CONCORDO MUITO
CONCORDO UM POUCO
NEM CONCORDO, NEM DISCORDO
DISCORDO UM POUCO
DISCORDO MUITO
DISCORDO TOTALMENTE
RESPONDA as frases de acordo com o que você está pensando NESTE MOMENTO.
Nem concordo,
Concordo um
nem discordo
Discordo um
totalmente
totalmente
Concordo
Concordo
Discordo
Discordo
pouco
pouco
muito
muito
1. Eu tenho muitos talentos e habilidades.
2. Meu trabalho (trabalho doméstico,
trabalho escolar, tarefas diárias) é
desagradável.
3. A maioria das pessoas são amigáveis e
prestativas.
4. Nada parece dar certo para mim.
5. Eu sou um fracasso.
6. Eu gosto de pensar sobre as coisas boas que
terei pela frente.
7. Eu faço o meu trabalho (emprego, escola,
trabalho doméstico) adequadamente.
8. As pessoas que eu conheço me ajudam
quando eu preciso.
9. Espero que as coisas dêem certo para mim
a partir de agora.
10. Tenho estragado quase todas as relações
importantes que já tive.
11. O futuro reserva muita emoção para mim.
12. Minhas atividades diárias são divertidas e
gratificantes.
13. Eu não consigo fazer nada direito.
14. As pessoas gostam de mim.
15. Não resta nada em minha vida para
desejar.
16. Meus problemas ou preocupações atuais
estarão sempre presentes, de uma forma ou de
outra.
17. Eu me comporto tão bem quanto as outras
pessoas que eu conheço.
18. O mundo é um lugar muito hostil.
19. Não há nenhuma razão para eu estar
esperançoso quanto ao futuro.
20. As pessoas importantes na minha vida são
prestativas e me apoiam.
21. Eu me odeio.
157
Concordo muito
Nem concordo,
Concordo um
nem discordo
Discordo um
totalmente
totalmente
Concordo
Discordo
Discordo
pouco
pouco
muito
22. Eu vou superar meus problemas.
23. Acontecem muitas coisas ruins comigo.
24. Eu tenho um(a) companheiro(a) ou
amigos que são calorosos e prestativos.
25. Eu posso fazer bem várias coisas.
26. Meu futuro é simplesmente terrível
demais para se pensar.
27. Minha família não se importa com o que
acontece comigo.
28. As coisas vão funcionar bem para mim no
futuro.
29. Sou culpado por muitas coisas.
30. Não importa o que eu faça, as outras
pessoas tornam as coisas que eu quero mais
difíceis.
31. Eu sou uma pessoa com muitas
qualidades.
32. Não há nada para desejar nos próximos
anos.
33. Eu gosto de mim mesmo.
34. Eu estou enfrentando muitas dificuldades.
35. Eu tenho defeitos graves.
36. Espero estar contente e satisfeito com o
passar dos anos.